universidade de sorocaba prÓ-reitoria de pÓs...

98
UNIVERSIDADE DE SOROCABA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA Renata Müller Veiga São Leandro PUBLICIDADE E SUSTENTABILIDADE: A PROPOSTA DO “ITAÚ” EM FOCO Sorocaba/SP 2015

Upload: doanminh

Post on 04-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DE SOROCABA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU MESTRADO

EM COMUNICAÇÃO E CULTURA

Renata Müller Veiga São Leandro

PUBLICIDADE E SUSTENTABILIDADE:

A PROPOSTA DO “ITAÚ” EM FOCO

Sorocaba/SP

2015

Renata Müller Veiga São Leandro

PUBLICIDADE E SUSTENTABILIDADE:

A PROPOSTA DO “ITAÚ” EM FOCO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa

de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da

Universidade de Sorocaba, como exigência parcial para

obtenção do título de Mestre em Comunicação e Cultura.

Orientadora: Profª. Dra. Maria Ogécia Drigo.

Sorocaba/SP

2015

Renata Müller Veiga São Leandro

PUBLICIDADE E SUSTENTABILIDADE:

A PROPOSTA DO “ITAÚ” EM FOCO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa

de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da

Universidade de Sorocaba, como exigência parcial para

obtenção do título de Mestre em Comunicação e Cultura.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA:

Pres.: Prof.ª Dra. Maria Ogécia Drigo

Universidade de Sorocaba

1º Exam.: Prof. Dr. Eneus Trindade Barreto Filho

Universidade de São Paulo

2º Exam.: Prof.ª Dra. Luciana C. Pagliarini de Souza

Universidade de Sorocaba

Dedicatória

Dedico este Mestrado aos meus pais, Edgard e Maria Apparecida, pelo apoio e incentivo

incondicionais à vida. Pelo amor com que acompanharam e acompanham, até hoje, todos os meus

passos.

Ao meu querido companheiro de jornada, meu marido, Evandro São Leandro e aos meus

filhos, Laura e Gustavo, joias raras do meu coração.

Aos meus queridos amigos de Mestrado Daniela Andrade Jara, Antonio Ferreira Santos,

Jéssica Almeida Bastida Ralzs, Elton Caramante Antunes e Ligia Bardou.

Aos inseparáveis companheiros Nilton José Pereira, Paulo Sérgio Talachia, Giovani Arruda

Campos e Régis Domingues Bastida.

Agradecimentos

Gratidão é um sentimento nobre que devemos cultivar em nossos corações. Aquece,

tranquiliza e agasalha a alma.

Assim, agradeço a todas as pessoas que encontrei nesta vida e que me fizeram chegar até aqui.

Agradeço por todas as dificuldades que tive na minha trajetória acadêmica. Não fosse por elas,

não teria saído do lugar.

Agradeço à minha família, pela generosidade e pelo respeito que sempre tiveram por mim, por

compreender minha ausência nas muitas horas de estudo e pesquisa.

Muito especialmente, minha eterna gratidão à Professora Maria Ogécia Drigo, pelas horas de

dedicação, por não ter desistido de me acompanhar, pelo encorajamento frente às minhas limitações e

dificuldades, por me mostrar o encantamento e a riqueza da vida acadêmica.

.

Epígrafe

“(...) Se as pessoas forem esclarecidas, atuantes e se comunicarem em todo mundo, se as

empresas assumirem sua responsabilidade social, se os meios de comunicação se tornarem

mensageiros, e não mensagem, se os atores políticos reagirem contra a descrença e

restaurarem a fé na democracia, se a cultura for reconstruída a partir da experiência, se a

humanidade sentir a solidariedade da espécie em todo o globo, se consolidarmos a

solidariedade intergeracional, vivendo em harmonia com a natureza; se partirmos para a

exploração do nosso ser interior, tendo feito as pazes conosco mesmo... Se tudo isso for

possibilitado por nossa decisão bem informada, consciente e compartilhada, enquanto

ainda há tempo, então, talvez, finalmente possamos ser capazes de viver, amar e ser

amados.”

(Manuel Castells)

RESUMO

O contexto da pesquisa, de um lado envolve a publicidade; de outro, agrega o conceito de

sustentabilidade. Dele veio a questão norteadora da pesquisa: Como a publicidade engendra o

conceito de sustentabilidade, envolvendo a Instituição Financeira “Itaú”? Para responder tal

questão delineia-se o objetivo geral de compreender como a publicidade propõe o conceito de

sustentabilidade, bem como os objetivos específicos de explicitar aspectos da identidade da

instituição, enquanto marca, em suas diversas manifestações e expressões; tratar do conceito

de sustentabilidade; explicitar características da publicidade na contemporaneidade e o

potencial de sentidos latentes nas peças publicitárias selecionadas, bem como avaliar como o

conceito de sustentabilidade está nelas engendrado. O corpus da pesquisa é constituído por

peças publicitárias impressas, veiculadas na internet, do período de 2007 a 2012, que foram

separadas em três grupos. Compõem o Grupo 1: Dimensão Econômica trinta e três (33)

representações visuais que priorizam as relações bancárias com os clientes e que

correspondem ao aspecto econômico do desenvolvimento sustentável; no Grupo 2: Dimensão

Social alocamos sessenta e oito (68), que tratam de aspectos sociais e culturais, enquanto no

Grupo 3: Dimensão Ambiental estão trinta e nove (39) peças, que enfatizam a preservação do

meio ambiente e que correspondem aos aspectos ambientais da sustentabilidade. Entre as

estratégias metodológicas, além dos critérios de seleção das peças, está a análise semiótica, na

perspectiva da semiótica peirceana, de duas peças por dimensão, enquanto as reflexões

sustentam-se em teorias sobre os processos comunicacionais e culturais que envolvem marca,

publicidade e sustentabilidade, com ênfase no conceito de “cultura-mundo”. Independente de

análises do mundo financeiro, sobre o alcance da sustentabilidade do “Itaú”, as peças exibem

uma marca em expansão, que firma sua identidade assumindo-se sustentável, em suas três

dimensões: Econômica, Social e Ambiental, bem como se mostra sustentável em

manifestações da sua identidade, na publicidade. A marca se humaniza por compartilhar

deveres com os usuários e se aproxima deles também por propiciar o prazer do dever

cumprido, via publicidade. Tratar dos caminhos da publicidade e da marca no contexto

contemporâneo, da “cultura-mundo”, envolvendo a sustentabilidade, constitui a importância

desta pesquisa.

Palavras-chave: Publicidade. Marca. Sustentabilidade. Representação visual. “Cultura-

mundo”.

Advertising and Sustainability: the proposal of "Itaú" in focus

ABSTRACT

The context of this research, on the one hand, involves advertising; on the other hand, adds

the concept of sustainability. Therefrom it arises the guiding question: How does advertising

engender the concept of sustainability, involving the Financial Institution "Itaú"? To answer

this question, one outlines the overall goal of both understanding how advertising proposes

the concept of sustainability, and the specific objectives to explain aspects of the identity of

the institution, as a mark of multiple manifestations and expressions; also addressing the

concept of sustainability, clearing publicity features in contemporaneousness and the

potentiality for latent meanings in the selected advertisements, as well as to assess how the

concept of sustainability is engendered in them. The corpus of the research consists of printed

advertising materials, diffused in the Internet, from 2007 to 2012, which were separated into

three groups, namely: Group 1: Economic Dimension, is composed by thirty-three (33) visual

representations that prioritize banking relationships with customers and that are representative

of the economic aspect of sustainable development; Group 2: Social Dimension, encompasses

sixty-eight (68), dealing with social and cultural aspects, whereas in Group 3: Environmental

Dimension, there are thirty-nine (39) pieces that emphasize environment preservation, and

that correspond to the environmental aspects of sustainability. Among the methodological

strategies, in addition to the part-separating criteria, there is also the semiotic analysis from

the perspective of Peirce's semiotics, two pieces by size, whereas the reflections lie upon

theories of communication and cultural processes that involve brand, advertising and

sustainability, with emphasis on the concept of "world-culture". Independently on analyses of

the financial world, on the scope of “Itaú’s” sustainability, the pieces exhibit an expanding

brand, which has firmed its identity by assuming itself as sustainable, in its three dimensions:

Economic, Social and Environmental, as well as shows itself sustainable by means of

demonstrations of its identity, in advertising. The brand gets humanized, by sharing duties

with users, and gets close to them also for providing accomplishing satisfaction, via

advertising. The importance of this research lies upon addressing the ways of advertising and

brand – involving sustainability – within the “world culture” contemporaneousness.

Keywords: Advertising. Brand. Sustainability. Visual representation. "World culture”.

Lista de Figuras

Figura 1 - Grupo 1: Peças publicitárias que tratam da dimensão econômica ........................................ 22

Figura 2 - Grupo 2: Peças publicitárias que tratam da dimensão social ................................................ 23

Figura 3 - Peças publicitárias relativas à dimensão ambiental .............................................................. 24

Figura 4 - Mapa de Sustentabilidade ..................................................................................................... 54

Figura 5 - Logotipo do Banco Federal Itaú Sul Americano .................................................................. 56

Figura 6 - Símbolo do Banco Itaú S.A. ................................................................................................. 57

Figura 7 - O azul e o amarelo traduzindo o crescimento da marca ....................................................... 58

Figura 8 - A cor alaranjada envolvendo a marca (e os usuários/clientes) numa seara onírica e prazerosa

............................................................................................................................................................... 59

Figura 9 - Itaú feito para você ............................................................................................................... 61

Figura 10 - Campanha Seguro Itaú Vida ............................................................................................... 69

Figura 11 - Relação com o cliente/usuário ............................................................................................ 74

Figura 12 - Reprodução de ilustração do livro “O pequeno príncipe” .................................................. 78

Figura 13 - Representação do Pequeno Príncipe e seu planeta ............................................................. 79

Figura 14 - “Direitos Humanos” - O Direito à Cidadania ..................................................................... 80

Figura 15 - “Ler Para Uma Criança # Isso Muda O Mundo” ................................................................ 83

Figura 16 - As diferenças em foco ........................................................................................................ 87

Figura 17 - A Sustentabilidade no símbolo da marca ........................................................................... 88

Figura 18 - O planeta Terra e sua biodiversidade ................................................................................. 90

Sumário

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11

1.1 O tema da pesquisa ...................................................................................................................... 11

1.2. Em busca da pergunta norteadora .............................................................................................. 17

1.3. Dos objetivos e estratégias metodológicas ................................................................................. 21

1.4. Dos resultados ............................................................................................................................ 27

2 CULTURA-MUNDO E PUBLICIDADE ............................................................................. 29

3 O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE EM FOCO ...................................................... 40

4 ITAÚ: INSTITUIÇÃO FINANCEIRA/MARCA ................................................................. 51

4.1 Aspectos históricos em foco ........................................................................................................ 51

4.2 Os focos estratégicos e a sustentabilidade ................................................................................... 53

4.3 Os sentidos engendrados nos símbolos da marca “Itaú” ............................................................. 55

4.4 Os slogans da marca .................................................................................................................... 60

5 AS PEÇAS PUBLICITÁRIAS E OS VALORES PARA ALÉM DA

SUSTENTABILIDADE ........................................................................................................... 64

5.1 A semiótica peirceana em foco ................................................................................................... 64

5.2 O conceito de sustentabilidade que as peças publicitárias engendram ........................................ 68

5.2.1 Dimensão Econômica ........................................................................................................... 68

5.3 Dimensão Social ......................................................................................................................... 79

5.4 Dimensão Ambiental ................................................................................................................... 87

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 92

Referências ............................................................................................................................... 94

11

1 INTRODUÇÃO

1.1 O tema da pesquisa

Iniciamos com explorações acerca da Economia. Na graduação, muitos foram os estudos

que projetaram nosso interesse e preocupação em entender, dentro do contexto da Economia, as

relações entre os seres humanos como resultado das necessidades que impulsionam o seu

despertar para o desenvolvimento econômico e os recursos de produção disponíveis. À medida

que aprofundamos as análises destas relações, o sutil entrelaçamento da economia com outras

áreas do conhecimento tornou-se mais evidente.

Trata-se, portanto, de uma ciência social que estuda a potencialidade produtiva de cada

sociedade e que mantém um compromisso maior com a compreensão e a complexidade das

organizações sociais frente às necessidades de bem estar coletivo. Mas, como qualquer outra

ciência, ela pluraliza suas particularidades, seus pontos fortes e suas limitações. Contudo, esta

ciência dá respostas sobre questões do domínio da vida social e, especialmente, das transações

econômicas projetadas para o favorecimento comum das instituições sociais.

De um lado, neste contexto, veio o nosso interesse pelo tema da sustentabilidade. Faz-se

necessário observar que até meados do século XX, a história da Economia moderna revelava um

progressivo afastamento do papel que a natureza representava para os processos de produção,

circulação e consumo da riqueza. Na teoria clássica, por exemplo, a natureza era enfatizada

como substrato inerte, somente passível de transformações por meio da atividade humana. Com

Marx, o mais profundo crítico da economia clássica, a natureza constituiu-se apenas como

referência de complexidade corporal dos indivíduos. Somente no período neoclássico é que se

nota uma pequena preocupação com recursos finitos e com a necessidade de alocações eficientes

desses recursos naturais a fim de se combater o exaurimento dos mesmos. A economia

neoclássica desmaterializou, dentro de suas proporções de alcance, o processo de produção,

tomando a terra como um equivalente do capital.

O desejável seria que o crescimento econômico beneficiasse a todos e que propiciasse

maior desenvolvimento tanto do ponto de vista do bem estar individual como do ponto de vista

coletivo.

O significado de “suficiência para uma vida boa” e “sustentabilidade para um futuro

longo” são conceitos relativamente novos e que começam a se destacar nas abordagens teóricas

das ciências econômicas. Para Savitz e Weber (2007), o termo sustentabilidade se transformou

12

em assunto de amplas discussões sociais e ambientais, sobretudo no mundo dos negócios e

denota uma ideia poderosa e objetiva: empresa sustentável é aquela que gera lucro para os

acionistas, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e melhora a vida das pessoas com

que mantém interações.

Vivenciamos – agora - tempos de grandes preocupações com questões econômicas,

sociais e de preservação ambiental. Sem dúvida, as mídias – independentes de como possamos

conceber o seu papel, quer seja o de manipular, ou persuadir, ou divulgar produtos, ou contribuir

para o bem estar da sociedade – merece um olhar especial. Assim, outra interface se desenha

para a Economia, na sua relação com a Comunicação. Portanto, o tema da nossa pesquisa, se de

um lado envolve a sustentabilidade, de outro, agrega as mídias.

Para tanto, inicialmente, buscamos uma mídia que elabora um levantamento sobre as

práticas de responsabilidade corporativa no Brasil e que define a importância destas práticas na

fundamentação da relação ética e transparente entre empresas e o público.

O Guia Exame de Sustentabilidade foi este referencial. A publicação de informações

ambientais e sociais é uma estratégia de comunicação crescente, adotada por corporações

nacionais e internacionais, em resposta à demanda, tanto das empresas quanto de consumidores,

de modo geral, na adoção de práticas sustentáveis.

A demonstração pública de informações constitui-se, hoje, uma estratégia de construção

da imagem das empresas, haja vista que a sociedade contemporânea espera que estas assegurem

boas condições de trabalho aos empregados, adotem medidas de preservação e reparo aos danos

causados ao meio ambiente, respeitem e valorizem fornecedores e consumidores e contribuam

para o bem-estar da sociedade como um todo, ou seja, trata-se de um compromisso que a

organização assume para além da geração de empregos, impostos e lucros.

Costa e Carvalho (2006) explicam que a visão de responsabilidade empresarial expandiu-

se à medida que as empresas aumentaram seu poder de atuação na sociedade, adquirindo um

papel mais significativo no contexto da globalização. Conforme Macedo (2007), o conceito de

Responsabilidade Social Corporativa e Sustentabilidade Empresarial compreendem padrões de

boas práticas que podem ser aplicados a todos os tipos de organizações.

Assim, cada vez mais, as empresas procuram investir em projetos e divulgar suas ações,

com o propósito de conquistar o reconhecimento da sociedade e de seus stakeholders. O caráter

de responsabilidade e de preocupação com desempenhos positivos contribui para uma imagem

que resulta em confiança e credibilidade para a organização. “A credibilidade pública das

13

organizações tornou-se estratégia de sobrevivência e de liderança competitiva quando o que se

espera é crescer com sustentabilidade.” (KUNSCH E OLIVEIRA, 2009, p.128)

Segundo Argenti (2006, p. 60), “a imagem é a empresa vista pelos olhos de seu público.

Uma organização pode ter diferentes imagens junto a diferentes públicos”. Acrescenta que “a

credibilidade que uma empresa adquire através da aplicação continuada de um excelente padrão

de comportamento determinará a sua imagem nas mentes dos públicos de modo muito mais

profundo do que uma campanha de anúncios corporativos.” (ARGENTI, 2006, p. 60).

Logo, para as empresas que querem adotar a sustentabilidade na consolidação de sua

imagem, de sua identidade, faz-se necessário adotar medidas de transparência e ética.

O discurso institucional produzido tem que ser regido pela integridade, ou seja, pela

coerência entre o que se diz e o que se faz no dia a dia das organizações. A ética nos

negócios não é algo isolado da ética pessoal e profissional. Se uma organização está

causando danos ao meio ambiente, não adianta produzir uma sofisticada comunicação

institucional. Sua credibilidade e aceitação por parte dos públicos dependerão de sua

veracidade e transparência. Querer construir imagem, identidade e reputação positivas

sem fundo de verdade é ilusão superada. (KUNSCH E OLIVEIRA, 2009, p.72-73).

Na busca incessante por uma identidade fortalecida em parâmetros sustentáveis, muitas

empresas atribuem aos seus ativos intangíveis, como imagem e identidade, aqueles citados nos

balanços contábeis convencionais, um valor muito superior e muito mais significativo que o

valor atribuído aos bens tangíveis.

De uma forma ou de outra, as empresas consideram que a sustentabilidade não é apenas

uma necessidade de cumprimento de regulamentações legais, padronizadas. Trata-se de um

investimento econômico para garantir a sustentabilidade para manter o desenvolvimento da

empresa em equilíbrio com o bem-estar social e a preservação do planeta.

Para se alcançar a sustentabilidade, faz-se necessário observar que as empresas dependem

da sociedade para existir, assim como o homem depende do meio ambiente para sobreviver.

Portanto, se as empresas hoje se posicionam entre os principais agentes indutores de

sustentabilidade, devem aprender a desenvolver-se dentro dos limites que o próprio planeta

oferece.

Para Almeida (2007), as empresas globais, mais do que quaisquer outras instituições, tem

um papel fundamental a desempenhar diante de desafios sociais e ambientais, evoluindo da

responsabilidade legal para a responsabilidade moral.

Neste sentido, para Lipovetsky (2004, p.14), “num mundo de economia desregulada,

onde o capitalismo tomou uma forma utilitarista tacanha, a ética nos negócios aparece como uma

14

vontade de recolocar a dimensão humana nas empresas”. E como bem coloca Esteves (2009,

p.121):

Cuidar dos recursos naturais, prevenir riscos sócio ambientais e conduzir-se com ética

são, assim, procedimentos estabelecidos no âmbito dos interesses econômicos imediatos

– por meio de projetos com resultados limitados a priori e não no âmbito do interesse da

sociedade, o que exigiria um diferente conjunto de mecanismos e interações –

aparentemente incompatíveis com os interesses de um capital cuidado por executivos

pragmáticos, auto centrados e imediatistas.

Com o exponencial crescimento das preocupações com a sustentabilidade e com a

necessidade de enfrentamento de novos desafios na condução dos objetivos empresariais.

Conforme Almeida (2007, p. 229):

O futuro das atividades empresariais se confunde com a sobrevivência dos recursos

naturais e com a inclusão de mais da metade da população mundial no universo da

cidadania. Disso dependem a estabilidade democrática e o respeito às leis, ambiente

básico para o desenvolvimento dos negócios. Instrumentos como a ecoeficiência e a

responsabilidade social corporativa, concebidos ao longo dos últimos dez anos e que só

agora começam a entrar na prática das empresas e instituições, têm se revelado de

extrema importância.

Se a sustentabilidade pressupõe valor e a orientação para o futuro, as empresas que

desejarem se tornar sustentáveis precisam buscar novas práticas, novos comportamentos,

tecnologias e, principalmente, precisam estabelecer diálogos criativos com as partes interessadas.

É preciso interagir com o meio externo. Neste aspecto, segundo Almeida (2007, p.171), “o

processo de gestão de inovação deve, desde a fase inicial, confrontar a ideia básica com o

conceito de Sustentabilidade e manter esse procedimento até o final. Para isso, muito ajudará se

estiver exposto à visão e à crítica de atores externos.”

Imprescindível, portanto, a publicação de informações, por meio de instrumentos eficazes

e de boa qualidade que legitimem as práticas de responsabilidade social e ambiental adotadas

pelas empresas.

Assim, para acompanhar a evolução da responsabilidade social corporativa no Brasil e

em outros países, com um propósito pioneiro de publicação, nasceu, no ano de 2000, o Guia

Exame de Sustentabilidade, inicialmente chamado de Guia EXAME de Boa Cidadania

Corporativa. Trata-se de um trabalho jornalístico associado ao Instituto Ethos de Empresas e

Responsabilidade Social, instituição que se ocupa da divulgação do conceito de responsabilidade

social corporativa no Brasil e que contribui para o mapeamento das empresas sustentáveis no

mundo dos negócios.

15

O Guia Exame de Sustentabilidade é uma publicação anual, que destaca as empresas

modelo em responsabilidade social corporativa e que incentiva a participação de toda e qualquer

empresa interessada, seja ela privada ou pública, de capital aberto ou fechado, de grande, médio

ou pequeno porte. Trata-se do maior e mais respeitado levantamento de dados sobre o tema

sustentabilidade feito no Brasil.

Em 2007, em sua oitava edição, houve um novo marco em sua trajetória jornalística. O

Guia Exame de Boa Cidadania Corporativa foi então denominado Guia Exame de

Sustentabilidade e, decidiu-se pelo aprimoramento da estrutura metodológica utilizada para

avaliação das empresas participantes ao se escolher as empresas-modelo. Para tanto, esta revista

passou a contar com a ajuda de um parceiro do mundo acadêmico – o Centro de Estudos em

Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas

(FGV-EAESP), instituição que tornou-se referência no Brasil, nos estudos sobre sustentabilidade

e que, também, muito contribui para a tarefa de avaliação e a atuação financeiro-sócio-ambiental

das maiores empresas brasileiras.

A edição de 2007 chega num momento de profunda reflexão para as empresas,

pressionadas pela ameaça do aquecimento global, pela escassez cada vez maior de

recursos naturais, pela necessidade brutal de atrair os melhores talentos e se posicionar

perante a sociedade. (Guia Exame Sustentabilidade, 2007, Carta ao Leitor, p. 6).

O Guia Exame de Sustentabilidade – 2007, com o objetivo de identificar, avaliar e

divulgar as melhores práticas de responsabilidade social adotadas pelas companhias no Brasil,

bem como escolher, após essas análises, as chamadas “empresas-modelo”, deu início à aplicação

de uma nova metodologia.

Empresas serão sempre empresas. Nasceram para dar lucro e assim assegurar seu

futuro. Mas hoje, está claro que este lucro não será alcançado no longo prazo se seus

impactos na sociedade e no meio ambiente não forem administrados. Mostrar isso –

com informações, análises, conceitos e exemplos – é o objetivo deste guia. (VASSALO,

2007, p. 6).

No ano seguinte, em 2008, baseando-se em critérios editoriais e jornalísticos, selecionou-

se entre as empresas-modelo, a Empresa Sustentável do Ano, título conferido pela primeira vez

na história do Guia e empregado, a partir de então, em todas as suas próximas edições.

Firmou-se assim o compromisso jornalístico de identificar as empresas que objetivavam

práticas sustentáveis. Neste mesmo ano, apesar das preocupações com a crise financeira e a

expectativa de desaceleração da economia global, o Guia Exame de Sustentabilidade não

registrou mudanças consideráveis no posicionamento das empresas-modelo em responsabilidade

sociocorporativa no Brasil. Esta edição, acompanhando o crescimento do conceito e da prática da

16

sustentabilidade no Brasil e no exterior, trouxe, como resultado de pesquisa, um estudo completo

sobre as estratégias, sobre os compromissos e sobre as práticas sustentáveis adotadas pelas

organizações.

Por sua continuidade ao longo dos anos e sua constante renovação - mudanças de

conceitos, cobertura jornalística e metodologia de avaliação das companhias participantes - o

Guia Exame de Sustentabilidade, em sua décima edição, no ano de 2009, demonstrou que o

conceito de sustentabilidade estava longe de ser um modismo empresarial. Em verdade, os dez

anos de existência do Guia Exame de Sustentabilidade, permitiu a construção de um retrato da

evolução da sustentabilidade nas empresas brasileiras, bem como conseguiu definir padrões

criteriosos e estratégicos para a sustentabilidade no mundo dos negócios.

A edição de número onze, publicada em 2010, dedicou-se à discussão do potencial

econômico brasileiro e do real significado do conceito de sustentabilidade para os brasileiros, em

seu dia a dia. Os textos colocaram em evidência que a sustentabilidade, no Brasil, não poderia

estar calcada única e exclusivamente na preservação de sua biodiversidade. Deveria ir além

dessa percepção, ou seja, deveria abranger a eliminação dos rincões da miséria universalizados

pela falta de saneamento básico, de educação, de pesquisa, de inovação tecnológica e

desenvolvimento socioeconômico.

Em 2011, sua décima segunda edição, o Guia Exame de Sustentabilidade apresentou as

empresas brasileiras mais comprometidas com as questões relacionadas à responsabilidade

socioambiental, que mantiveram, de modo sustentável e harmônico, a relação entre práticas

empresariais e práticas de conservação da natureza.

Em 2012, alcançando treze anos de publicação, a revista mostrou que o Brasil conta com

um grupo empresarial de elite, cujas ações e investimentos são dirigidos para consolidar o

conceito de sustentabilidade em suas operações. Nesta edição, enfatiza-se que é possível o uso

dos recursos naturais a favor de um país mais desenvolvido.

Em 2013, em sua 14ª edição, a pesquisa então apresentada, que contou com a

participação de 200 companhias, comprovou, a partir do desempenho das empresas, que a

sustentabilidade se deu com os seguintes desmembramentos: governança da sustentabilidade,

direitos humanos, relação com a comunidade, gestão de fornecedores, gestão da água, gestão da

biodiversidade e gestão de resíduos. Neste mesmo ano e pela primeira vez na história do Guia, as

empresas foram apresentadas e catalogadas por setor.

Em 2014, 15ª. edição, além dos temas sugeridos em 2013, o Guia Exame de

Sustentabilidade, encontra três novos desdobramentos: mudanças climáticas, relação com o

17

cliente e transparência e combate à corrupção. Enfatizou-se, assim, a ideia de que não haveria

solução possível no terreno ambiental se não houvesse a participação direta da iniciativa privada.

Não por acaso e com destaque especial para as companhias com as melhores práticas em

cada um deles, em 2014, 61 empresas-modelo foram apresentadas por 19 setores. Igualmente,

tiveram destaque, nesta edição, as companhias com as melhores práticas em 10 categorias da

sustentabilidade.

A metodologia de avaliação adotada pelo Guia Exame de Sustentabilidade agrega,

atualmente, aspectos ambientais, socioculturais e econômicos. Embora, ainda não exista um

consenso generalizado acerca da pertinência ou não das empresas assumirem posturas

socioambientais, alguns setores da economia constataram que, ao agir de forma responsável, de

um lado, são geradas oportunidades de diferenciação, antecipação, consciência e uma nova

relação com o mercado consumidor. De outro, se a sustentabilidade é um conceito sistêmico,

então, deve ir além do cumprimento legal, deve incluir uma abordagem adequada e racional para

o uso dos recursos naturais que são, obviamente, finitos.

Assim, o Guia Exame de Sustentabilidade, dá a sua contribuição para a pesquisa

jornalística e aponta para a necessidade do redirecionamento da imagem das empresas

objetivando a dimensão ética da Responsabilidade Social Corporativa e da Sustentabilidade

Empresarial. Examinando as empresas analisadas, constatamos que a Instituição Financeira

“Itaú” permaneceu entre as mais sustentáveis por vários anos, o que nos levou a selecioná-la.

Vamos observar como a área da comunicação, em suas pesquisas, trata do tema

sustentabilidade ou da instituição financeira selecionada, para assim aproximar o tema

sustentabilidade e a Instituição Financeira “Itaú”, sob o ponto de vista da comunicação e, então,

eleger o corpus da pesquisa.

1.2. Em busca da pergunta norteadora

Conforme Santaella (2001, p. 159), “o pesquisador deve entregar-se aos estudos

preliminares sem os quais seria impossível caminhar da imprecisão para a definição.” Sem a

pretensão de dar conta do estado da arte sobre o tema da sustentabilidade nas pesquisas da área

da comunicação, mas com o propósito de amenizar o nosso desconforto inicial diante de tantas

possibilidades de abordagem deste tema, bem como pela incerteza sobre o bom senso na

definição do problema encontrado, elencamos algumas pesquisas relevantes e que estão

próximas do primeiro recorte que realizamos.

18

Em Civitati (2005), dissertação sob o título “Comunicação, Semiótica e Fabricação da

Realidade: Análise de Mensagens Publicitárias Impressas do Banco Itaú”, encontramos um

estudo sobre a eficácia da comunicação publicitária, analisada com base em discussões sobre o

universo da publicidade, os modelos comunicacionais, a semiótica – a teoria geral dos signos e

da significação de Peirce e o processo pelo qual a realidade dos anúncios é fabricada. A pesquisa

mostra como a empresa faz uso de uma mensagem publicitária elaborada por um remetente, com

o intuito de persuadir o destinatário – o cliente – e produzir uma resposta desejada, levando em

consideração a importância do profundo conhecimento que o criador de anúncio deve ter sobre a

interpretação de signos na mensagem publicitária para que possa atingir o consumidor, seu

destinatário na mensagem. A ênfase desse estudo está relacionada à criação de subsídios para o

entendimento de que o criador do anúncio deve ter por objetivo a fabricação de uma realidade

que produza um sentido condizente com o processo de significação realizado pelo cliente. Para

exemplificação da avaliação da eficácia da mensagem publicitária utiliza-se do caso específico

de campanhas publicitárias do Banco Itaú. A importância da pesquisa consiste em mostrar os

elementos essenciais de uma comunicação eficaz não só para os profissionais envolvidos com

publicidade, mas para todos aqueles que se interessem pela comunicação sob a ótica e o contexto

mercadológico.

Souza Bastos (2006) apresenta em sua dissertação, com o título “Criatividade em

Outdoor: Um Estudo da Campanha Feito Para Você – Itaú”, uma análise da campanha

publicitária “Feito para Você” do Banco Itaú, veiculada em outdoors. A pesquisa apresenta

teorias sobre técnicas de publicidade, de marketing e de psicologia aplicada ao consumidor.

Avalia também aspectos da evolução histórica dos sistemas de comunicação a partir do outdoor,

bem como o seu surgimento no Brasil, valorizando dados publicitários, a condição de

comercialização e a versatilidade comunicacional. Os recursos utilizados para atingir o

consumidor em potencial na era industrial - a persuasão, o raciocínio criativo -, também são

estudados. O corpus da pesquisa é composto de campanhas feitas sob medida para grupos de

consumidores, sob a ótica do marketing one to one, procurando assim, colocar em evidência o

caráter segmentado das mensagens publicitárias. O processo reflexivo dessa dissertação

concentra-se, especificamente, na análise de exemplos de outdoor da campanha Itaú,

demonstrando a ascensão deste case de marketing para a época.

Girard (2009) apresenta, em sua dissertação “A Influência da Comunicação na Reputação

Corporativa do Banco Itaú”, a avaliação da influência da comunicação na reputação corporativa

do Banco Itaú, maior banco privado do hemisfério sul e um dos vinte maiores bancos do mundo,

19

tomando por base o Modelo de Expressões Corporativas, de Halderen e Riel (2006). A pesquisa

objetivou compreender se os atributos da identidade do Banco Itaú foram expressos de forma

sincera, transparente e consistente através da comunicação realizada pelo banco, nos anos de

2007 e 2008, relacionando essa análise aos índices de reputação do Itaú, nas pesquisas do Global

ReptrakTM Pulse realizadas, no mesmo período, pelo Reputation Institute. A metodologia esteve

pautada na análise do processo comunicacional a partir de entrevistas – semiestruturadas -

realizadas com executivos da empresa, bem como na análise de conteúdo de veículos de

comunicação institucional. Para tanto, utilizou-se como referência de mensuração o índice do

Pulse do Banco, em 2008, comparado ao anterior, de 2007. A comunicação do Banco Itaú

projetava a identidade da empresa de forma sincera, transparente e consistente, cumprindo o seu

papel para a construção e manutenção de uma reputação corporativa forte foi o resultado

enfatizado. Entretanto, as pesquisas do Reputation Institute apontaram que a percepção do

público em geral acerca do Itaú, em 2008, não foi tão favorável quanto em 2007. Houve uma

queda nos índices globais de aceitação do público e de cada uma das dimensões da reputação

(desempenho, produtos e serviços, inovação, ambiente de trabalho, governança, cidadania, e

liderança) foi prejudicada. Esses dados permitiram concluir que além da necessidade de projetar

a identidade, segundo os indicadores de cada uma das três expressões corporativas, o

alinhamento entre o foco do que é comunicado e as expectativas dos stakeholders precisava ser

observado para que a comunicação cumpra sua missão com total eficácia, atingindo seu papel de

influenciar positivamente a reputação do Banco.

Garcia (2010), em “Representações da Sustentabilidade na Propaganda: Uma Visão do

Jovem Consumidor”, uma dissertação de mestrado, verificou como o jovem universitário

compreende o tema sustentabilidade, tão recorrente na mídia nos últimos tempos, especialmente

o que aparece por meio da propaganda. Para tanto, a pesquisa buscou entender esse público, bem

como suas percepções e apropriações de discursos e suas representações, a partir da propaganda

de uma empresa. A metodologia de pesquisa foi pautada na discussão sobre o consumo e a

relação com a sociedade contemporânea, levando em consideração o diálogo de diversos autores,

além de uma abordagem histórica de como o mundo globalizado é visto atualmente: uma

sociedade complexa, contraditória e oscilante que pode ser tratada como de sociedade de

consumo, e seus habitantes, retratando essa realidade, como consumidores. Foi feito, ainda, um

histórico dos conceitos de responsabilidade social, desenvolvimento sustentável e da

sustentabilidade, desde seu aparecimento como preocupação mundial e sua aplicação e

incorporação pelo universo empresarial, explorando o assunto através do discurso de propaganda

20

e sua utilização com ganhos de imagem e de credibilidade em sua representação. Essa

dissertação considerou ainda, outras observações que ganharam espaço a partir dos estudos de

recepção, da análise cognitiva da propaganda, examinando-se, aí, elementos que poderiam

favorecer a melhor compreensão do tema entre o público jovem.

Nascimento (2012), em “A sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável nas

entrelinhas do agronegócio: análise da revista Globo Rural”, uma dissertação de mestrado, faz

um estudo sobre representações dos conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável,

na Revista Globo Rural, publicação mensal, direcionada ao agronegócio, da Editora Globo.

Análise do Discurso, na perspectiva de Mikhail Bakhtin, foi a metodologia empregada, a qual

possibilitou, segundo a autora, investigar a construção dos enunciados, com seus elementos

verbais e não verbais, seus posicionamentos implícitos e explícitos, ideologia e vozes. Em

relação aos resultados da pesquisa, a autora explica que a revista Globo Rural é multivocal, pois

dá vozes a políticos e empreendedores bem-sucedidos do agronegócio; ela é a voz predominante,

pois edita os textos, seleciona as imagens, elabora as legendas, etc. e conclui que a revista

manipula os dois conceitos a seu favor para garantir a venda de seus exemplares.

Bonassi (2014), em “O sentido ambientalista como valor imaterial de marcas e

mercadorias nas peças publicitárias veiculadas em Veja e Exame”, uma tese de doutorado,

identifica os regimes de convocação ao ambientalismo promovidos pelas marcas e mercadorias

na publicidade impressa, das revistas Veja e Exame, partindo de um mapeamento das

modalizações dos enunciadores, construídas em sociedades impregnadas por uma cultura de

consumo descartável. O corpus é constituído por um total de sessenta marcas que, durante os

anos de 1995, 2000, 2005 e 2010, apresentam contratos de comunicação que estrategicamente

seguem uma estrutura lógica, ética e estética ambientalistas a ser desvendada pela análise

semiótica. As publicidades analisadas apresentaram conjuntos sincréticos que se dividiram em

grupos temáticos a partir das correntes discursivas ambientalistas definidas por Alier como

ecoeficientes, de culto ao silvestre e/ou ecologismo dos pobres. As modalizações discursivas

foram construídas, em sua lógica biopolítica, em torno de cinco pontos nodais, segundo conceito

de Laclau e Mouffe. Ao considerar-se o processo de semiose das marcas como um elemento

importante na construção do valor imaterial das mercadorias, uma segunda etapa de análise foi

feita utilizando a teoria de Peirce. Para essa segunda fase da análise optou-se por 13 peças da

marca enunciadora Natura. O contrato de comunicação proposto por essa marca tornou-se

exemplar em termos das modalizações que convocam os enunciatários aos valores identitários

ambientalistas de consumo nas sociedades capitalistas. Por fim, conclui-se que a marca é o

21

sujeito que transforma estados; é o destinador–manipulador cuja competência modal está nos

valores: querer-fazer; dever-fazer; saber-fazer e poder-fazer o ambiente verde.

A instituição Itaú foi selecionada por estar entre as mais sustentáveis do país, conforme a

Revista Guia Exame. Encontramos uma série de dados sobre como esta instituição opera a

sustentabilidade. Entre eles, despertaram a nossa curiosidade as peças publicitárias. Ao verificar

como podemos estudar esta modalidade de mídia – notadamente em relação às imagens - nosso

interesse se acentuou. Encontramos uma quantidade razoável de peças publicitárias, que

separamos em três grupos: as que priorizam as relações bancárias com os clientes; as que se

reportam à preservação do ambiente e as que tratam de relacionamentos, em geral.

Sendo assim, a pergunta norteadora da pesquisa pode ser anunciada: Como a publicidade

da Instituição Financeira “Itaú” constrói o conceito de sustentabilidade? Neste sentido, o nosso

objeto de pesquisa é o conceito de sustentabilidade na publicidade e o corpus é constituído por

peças publicitárias impressas da Instituição Financeira “Itaú”, que envolvem a sustentabilidade.

O diferencial da pesquisa, em relação as mencionadas, está no fato de tentar explicitar como a

sustentabilidade é construída, via publicidade. Assim, podemos anunciar os objetivos e a

metodologia.

1.3. Dos objetivos e estratégias metodológicas

Uma vez selecionados, o objeto e o corpus da pesquisa, podemos anunciar os objetivos e verificar

as estratégias metodológicas que eles demandam. O objetivo geral é compreender como a

publicidade constrói o conceito de sustentabilidade, enquanto os específicos são os de identificar

o movimento das marcas e da publicidade no contexto contemporâneo; explicitar aspectos da

identidade marcaria da Instituição Financeira “Itaú” e explicitar como o conceito de

sustentabilidade está engendrado nas peças selecionadas.

Deste modo cabe elencar um protocolo para o desenvolvimento da pesquisa. Os passos

são os seguintes: 1.Observação e seleção de peças publicitárias impressas, veiculadas na internet,

sendo que a seleção foi guiada pela palavra-chave: Itaú e Sustentabilidade; 2. Classificação das

peças e distribuição em três grupos, seguindo três desdobramentos do conceito de

sustentabilidade, ou dimensões: Econômica; Social e Ambiental; 3. Observação por grupo para

construção de subdimensões; 4. Escolha de duas peças por grupo, uma para cada subdimensão;

5. Seleção de estratégias metodológicas de análises das peças; 6. Realização de estudos sobre o

conceito de sustentabilidade, bem como sobre marca e publicidade no contexto contemporâneo;

6. Análise das peças; 7. Reflexões, a partir dos estudos realizados e dos resultados obtidos nas

22

análises, sobre os modos como a publicidade engendra o conceito de sustentabilidade, para a

Instituição Financeira “Itaú”.

Assim, no cumprimento do protocolo, selecionamos peças publicitárias veiculadas na

internet, do período 2007 a 2013, separadas em três grupos que indicamos por Grupo 1:

Dimensão Econômica, Grupo 2: Dimensão Social e Grupo 3. Dimensão Ambiental. Compõem o

Grupo 1, trinta e três (33) representações visuais que priorizam as relações bancárias com os

clientes e que correspondem ao aspecto econômico do desenvolvimento sustentável; no Grupo 2,

alocamos sessenta e oito (68) representações visuais que enfatizam relacionamentos em geral, o

que corresponde aos aspectos sociais e culturais do desenvolvimento sustentável e, no Grupo 3,

estão trinta e nove (39) representações visuais que priorizam a preservação do meio ambiente e

que correspondem aos aspectos ambientais do desenvolvimento sustentável. Para cada grupo

exibimos algumas peças, em painéis, como exibem as figuras numeradas de 1 a 3.

Fonte - Painel elaborado pela autora com imagens disponíveis em:< http://rodrigogigante.blogspot.com.br/2013/08/itau-festival-

de-danca.html>; </http://cargocollective.com/ironbrito/issomudaomundo-Itau>. Acesso em: 10 dez. 2014 e

<http://www.dm9ddb.com.br>. Acesso em: 26 out. 2013.

Figura 1 - Grupo 1: Peças publicitárias que tratam da dimensão econômica

23

Figura 2 - Grupo 2: Peças publicitárias que tratam da dimensão social

Fonte - Painel elaborado pela autora com imagens disponíveis em:< http://rodrigogigante.blogspot.com.br/>;

<http://cargocollective.com/ironbrito/issomudaomundo-Itau>; <//http://cargocollective.com/ironbrito/issomudaomundo-Itau>;

http://pensandomagro.net/2013/04/mudar-nossos-habitos-issomudaomundo-Acesso em: 10 dez. 2014

<http://mulherplus.blogspot.com.br/2013/01/aplicativos-gratis-ios-android.html#.VPOkgvnF-So–

https://www.itau.com.br/itaucrianca>. Acesso em: 26 out. 2013

24

Figura 3 - Peças publicitárias relativas à dimensão ambiental

Fonte - Painel elaborado pela autora com imagens disponíveis em: < https://www.behance.net/gallery/5396697/Marca-Grafica-

Itau-Sustentabilidade - http://featherwax.com/portfolio/itau/>; < http://www.sitedoartigo.com.br/banco-itau-sem-papel-www-

itau-com-br-sempapel/<; <http://www.casemagazine.info/2015/01/30/musica-sustentabilidade-e-marketing/>. Acesso em: 20 fev.

2014.

25

Após uma observação sistemática dessas peças, considerando-se os parâmetros

estabelecidos também no Guia Exame de Sustentabilidade, cada dimensão se dividiu em duas,

conforme o diagrama abaixo (Fig. 4).

Figura 4 – Diagrama para os desdobramentos do conceito de Sustentabilidade

1. Direitos e Deveres

1. Dimensão Econômica

2. Relação com os clientes

1. Direitos Humanos

Sustentabilidade 2. Dimensão Social

2. Relação com a comunidade

1. Governança da Sustentabilidade

3. Dimensão Ambiental

2. Gestão da Biodiversidade

Fonte: Elaborado pela autora a partir das questões teóricas apresentadas e da observação das peças publicitárias

selecionadas

O item 1.1 do diagrama – Direitos e Deveres na Dimensão Econômica- , refere-se aos

direitos e deveres, tanto da empresa como dos usuários, em geral, que devem agregar, portanto,

práticas destinadas a combater todas as formas de corrupção, com transparência em seus

processos de tomada de decisão e alocação de recursos quanto pela adoção de medidas

específicas em atividades críticas, como compras, vendas, contratações e relações institucionais.

O item 1.2 – Relações com os Clientes na Dimensão Econômica - envolve práticas da

empresa voltadas ao aperfeiçoamento de suas relações com clientes/usuários, especialmente com

aqueles em que haja não haja equivalência de poder, recursos, informações etc., bem como as

que atendem a uma grande quantidade de usuários/consumidores (pessoas físicas).

O item 2.1 - Direitos Humanos da Dimensão Social – refere-se às práticas da empresa

para proteção dos direitos humanos, incluídos na carta Internacional de Direitos Humanos e nos

princípios estabelecidos na Declaração da Organização Internacional do Trabalho.

26

O item 2.2 - Relação com a comunidade na Dimensão Social- , por sua vez, deve abarcar

as práticas da empresa para ampliar o diálogo com a comunidade ou fortalecer a imagem da

empresa junto às comunidades próximas à sua área de atuação.

O item 3.1 - Governança da Sustentabilidade na Dimensão Ambiental - agrega práticas da

empresa capazes de fortalecer a sua imagem sobre a relação com o meio ambiente, as relações

que ela estabelece com o meio ambiente, que devem estar em concordância com o planejamento

estratégico estabelecido nos níveis mais altos de decisão da empresa, ou seja, na sua governança.

O item 3.2 - Gestão da Biodiversidade na Dimensão Ambiental – agrega as práticas com

potencial de reduzir os impactos negativos sobre a biodiversidade, como planos e ações que

visem à proteção, manutenção e conservação de espécies nativas de fauna e flora e,

consequentemente, a manutenção da diversidade biológica.

Como mencionamos, via análise semiótica das peças publicitárias impressas

selecionadas, uma para cada subdimensão, colocamos em evidência os sentidos que elas

engendram e, em que medida, se aproximam da subdimensão mencionada.

O estudo bibliográfico, por sua vez, centrar-se-á nas contribuições teóricas sobre o

desenvolvimento sustentável, os conceitos de cultura-mundo e o de sustentabilidade e sobre

marca e publicidade.

Compreendemos que como linguagem, a publicidade tem maneiras específicas de

elaborar as mensagens. Constatamos por leituras já realizadas que o estudo de mensagens

publicitárias deve ir além do texto, das palavras propriamente ditas. Em Santaella e Nöth (2010);

Santaella (2002) e Drigo e Souza (2013) encontramos análises de peças publicitárias em que são

enfatizados os significados gerados pelas cores, formas, texturas, movimentos ou pelo arranjo

desses elementos, ou seja, pelos aspectos qualitativos; também pelo poder de referencialidade, de

possivelmente vincular o usuário a existentes; bem como pelos aspectos simbólicos vinculados

aos dois anteriores, os qualitativos e os referenciais.

A publicidade, no caso do corpus selecionado, será vista no encontro das linguagens

visual e verbal. Sendo assim, elas demandam estratégias metodológicas que possam dar conta

dessa mistura sígnica. A gramática especulativa nos fornece as definições e as classificações para

análise de todos os tipos de linguagens, considerando-se “as inumeráveis gradações entre o

verbal e o não verbal até o limite do quase-signo. Desse manancial conceitual, podemos extrair

estratégias metodológicas para a leitura e análise de processos empíricos de signos

(...).(SANTAELLA, 2002, p. XIV)

27

A análise semiótica, conforme Santaella (2002), toma a mensagem nos três níveis que a

representação engloba: 1º. a mensagem em si mesma, quanto aos aspectos qualitativos

envolvendo cores, formas, linhas, movimento etc.; no seu aspecto singular, em um determinado

contexto, e no seu caráter geral; 2º. a mensagem na sua referencialidade, ou seja, no seu poder de

referência, considerando-se os seguintes aspectos: o que germina dos aspectos qualitativos, ou

seja, o poder de sugestão; o poder de indicar algo fora ou de vinculação direta a algo existente e

ao poder de representar ideias abstratas e convencionais, compartilhadas culturalmente e 3º. os

possíveis efeitos da mensagem: os emocionais, os reativos e os de conduzir à reflexão.

Ao trazer à tona o potencial de sentidos latente nas peças publicitárias

concomitantemente podemos constatar como o conceito de sustentabilidade está nelas

engendrado. A teoria semiótica torna possível conhecermos o movimento das mensagens, o

modo como elas são engendradas, os procedimentos e recursos nelas utilizados. Segundo

Santaella (2002, p. 5), seguindo os esquemas gerais de análise que tal teoria propõe, podemos

captar não só a referencialidade a um contexto próximo, “mas também a um contexto estendido,

pois em todo processo de signos ficam marcas deixadas pela história, pelo nível de

desenvolvimento das forças produtivas econômicas, pela técnica e pelo sujeito que as produz.”

A importância da pesquisa está na possibilidade de explicitar, portanto, a teia de valores

que a publicidade propõe valendo-se do conceito de sustentabilidade e, deste modo, contribuir

para reflexões sobre marca e publicidade no contexto da cultura-mundo.

Sendo assim, tal pesquisa está vinculada à linha de Pesquisa “Análise de Processos e

Produtos Midiáticos”, por tomar da publicidade o corpus da pesquisa, bem como tornar evidente

o papel da internet na difusão da publicidade.

1.4. Dos resultados

No primeiro capítulo, “Cultura-mundo e publicidade”, apresentamos o conceito de

cultura-mundo, conforme Lipovetsky e Serroy (2011), bem como apresentamos reflexões sobre a

marca e publicidade neste contexto, com Bauman (1999, 2001, 2004, 2013) e com Lipovetsky

(1994, 2004, 2005, 2006).

O segundo capítulo, “O conceito de sustentabilidade em foco”, tem como propósito

discutir o conceito de sustentabilidade e averiguar a adequação deste tema para as marcas e a

publicidade no contexto da cultura-mundo. Para tanto, retomamos Lipovetsky (1989; 2004) e

Lipovetsky e Serroy (2011) e outros autores que tratam da questão da sustentabilidade e do

desenvolvimento sustentável, como Brown (2009) e Savitz e Weber (2006).

28

Para o terceiro capítulo, “Itaú: Instituição Financeira/Marca”, trazemos novas

informações sobre a instituição financeira enquanto marca e, por meio da análise semiótica de

símbolos da marca, apresentamos aspectos da identidade desta.

No quarto capítulo, “As peças publicitárias e os valores para além da sustentabilidade”,

tratamos de alguns aspectos da semiótica peirceana, da qual extraímos as estratégias

metodológicas para análise das peças publicitárias selecionadas, com o objetivo de revelar como

o conceito de sustentabilidade está engendrado nestas peças e que valores, que extrapolam os

envolvidos no conceito de sustentabilidade, contribuem para firmá-lo.

Em Considerações Finais, retomamos os resultados e avaliamos a nossa trajetória de

pesquisa, bem como as possíveis contribuições para a comunicação.

29

2 CULTURA-MUNDO E PUBLICIDADE

Neste capítulo, com o objetivo de explicitar como os novos caminhos da publicidade são

delineados no contexto da cultura-mundo, apresentamos tal conceito proposto por Lipovetsky e

Serroy (2011), que buscamos relacionar às ideias de Bauman (1999; 2001; 2004; 2013), bem

como de Lipovetsky (1994; 2004; 2005; 2006).

A cultura não pode mais ser considerada uma instituição com currículo uniforme, como

sinônimo de conservação, mas de transformações, de mudanças. Conforme Bauman (2014), a

cultura assume uma força crescente, tenta alcançar novos horizontes. Revela-se uma máquina de

sentidos, produtora de energia em si mesma, e que mistura o extremo contemporâneo da

sociedade digital com as lembranças de um passado secular. Desaparecem as formas diretivas e

coercitivas dos antigos padrões culturais e novos rumos apresentam-se para a existência, como a

alteração de gêneros de vida e de costumes, que estabelecem uma luta sem fim contra o

preexistente e o herdado. A nova ordem cultural, sob a influência da comunicação e da

informação, invade todo o mundo, transforma a sociedade, provoca rupturas, anacronismos,

dissonâncias, tensões e modificações no cotidiano. Assiste-se ao desaparecimento de fronteiras,

ao surgimento do capital volátil, à queda do sujeito cartesiano e a fragilidade representativa do

Estado-Nação. O passado e o presente se confundem em ritmos e direções diferentes e uma

constante e permanente mutação mostra a vulnerabilidade da sociedade-rede.

Para Harvey (1994, p. 103), estamos numa era de travessia, onde o tempo e o espaço se

transformam e ganham novos fluxos; uma era onde “a única coisa segura é a insegurança.”

Segundo Bauman (2001), vivemos um momento de profunda transformação cultural, momento

da modernidade fluida, em que se dá o derretimento dos elos que entrelaçam as escolhas

individuais: Nas palavras de Bauman (2001, p. 12):

a tarefa de construir uma ordem nova e melhor para substituir a velha ordem defeituosa

não está hoje na agenda — pelo menos não na agenda daquele domínio em que se supõe

que a ação política resida. O “derretimento dos sólidos”, traço permanente da

modernidade, adquiriu, portanto, um novo sentido, e, mais que tudo, foi redirecionado a

um novo alvo [...]. Os sólidos que estão para ser lançados no cadinho e os que estão

derretendo neste momento, o momento da modernidade fluida, são os elos que

entrelaçam as escolhas individuais em projetos e ações coletivas — os padrões de

comunicação e coordenação entre as políticas de vida conduzidas individualmente, de

um lado, e as ações políticas de coletividades humanas, de outro.

.

Assim, “dissolver tudo que é “sólido” tem sido a característica inata e definidora da

forma de vida moderna.” (BAUMAN, 2013, p.16). A cultura precisa ser “capaz de impulsionar e

intensificar-se a si mesma” isto porque “como ocorre com os líquidos, nenhuma das formas

30

consecutivas de vida social é capaz de manter seu aspecto por muito tempo.” (BAUMAN, 2013,

p.16).

Lipovetsky (1989) observa que essa transformação da sociedade e dos costumes se faz

visível através do seu estilo de vida contemporâneo: consumo de massa, individualização,

ruptura com o tradicional. Se antes, havia uma sociedade acostumada a viver em um sistema

estável, hoje, ela passa a atuar em uma rede intricada de estratégias tendo, como consequência, o

aumento da heterogeneidade e do individualismo.

Do ponto de vista da dinâmica social, segundo Bauman (2001), houve o rompimento do

elemento integrador de coesão social, ou seja, os freios sociais dilaceram-se, o que permite a

emergência e a manifestação de desejos subjetivos e de realizações individuais. A transitoriedade

substitui a perenidade. Trata-se de uma época em que outros horizontes permeiam o presente,

recriam o passado e instituem uma nova inteligência para as coisas, para as pessoas e para os

acontecimentos futuros.

Assim entendida, essa sociedade, incentiva o desapego das amarras tradicionais da vida,

forja o complexo império universal do consumo e alicerça sobre ele a sociedade do “presente”, o

que constitui para Lipovetsky (2006, p. 379), um grande “obstáculo para o desenvolvimento da

diversidade das potencialidades humanas”.

Na atual sociedade, o curto prazo substitui o longo prazo o que sustenta a ideia do

“momento presente” como meta final. Não há lugar para funções de longa duração.

Em uma sociedade de produtores, o “longo prazo” tinha preferência sobre o “curto

prazo”, e as necessidades do “todo” tinham prioridade em relação às necessidades de

suas “partes”. As alegrias e as satisfações extraídas dos valores “eternos” e “supra-

individuais” eram consideradas superiores aos efêmeros enlevos individuais, enquanto

os da coletividade eram colocados acima da sorte dos poucos, sendo vistos como as

únicas satisfações válidas e genuínas em meio a multiplicidade de “prazeres do

momento”, sedutores mas falsos, inventados, ilusórios e, em ultima instância,

degradantes. (BAUMAN,

2008, p.91).

Assim, com as imagens e a informação em abundância e, em meio à multiplicidade de

“prazeres do momento”, surge uma espécie de “hipercultura universal”, que rompe com as

fronteiras territoriais. Novas formas de comunicação e de tecnologia eliminam as barreiras entre

o tempo e o espaço.

Com o impacto da desterritorialização e dos deslocamentos de produção e consumo

surgem outras estruturas sociais, políticas, culturais e econômicas. Conforme Lipovetsky e

Serroy (2011, p. 7):

31

(..) a era hipermoderna transformou profundamente o relevo, o sentido, a superfície

social e econômica da cultura. Esta não pode mais ser considerada como uma

superestrutura de signos, como o aroma ou a decoração do mundo real: ela se tornou

mundo, uma cultura-mundo, a do tecnocapitalismo planetário, das indústrias culturais,

do consumismo total, das mídias e das redes digitais. Através da excrescência dos

produtos, das imagens e da informação, nasceu uma espécie de hipercultura universal

que, transcendendo as fronteiras e confundindo as antigas dicotomias

(economia/imaginário, real/virtual, produção/representação, marca/arte, cultura

comercial/alta cultura), reconfigura o mundo em que vivemos e a civilização por vir.

O que antes era hegemônico, hoje configura-se com a fluidez das informações e com a

virtualização da vida. “Não estamos mais nos tempos em que a cultura era um sistema completo

e coerente de explicação do mundo.” (LIPOVETSKY e SERROY, 2011, p.7).

Neste sentido, para Bauman (2001), há uma “nova ordem” que deve substituir a “velha

ordem”, o chamado “momento da modernidade fluida”. Deste modo, existe uma maleabilidade,

uma fluidez na sociedade moderna, cuja tendência é não permitir mais o “reenraizamento” ou a

“resolidificação” dos padrões culturais. Assim, os padrões não mantêm a forma por muito tempo.

Dar-lhes forma é mais fácil que mantê-los nela. Os sólidos são moldados para sempre. Manter os

fluidos em uma forma requer muita atenção, vigilância constante e esforço perpétuo – e mesmo

assim o sucesso do esforço é tudo menos inevitável. (BAUMAN, 2001, p. 14)

Em tempos hipermodernos, para Lipovetsky e Serroy (2011, p. 8), a cultura “tornou-se um

mundo cuja circunferência está em toda parte e o centro em parte alguma”. A cultura passa a ser

um legado de todos aqueles que são herdeiros fiéis do universo consumo-sedução/consumo-

distração. Assim, a cultura-mundo toma forma do tecnocapitalismo generalizado, das indústrias

culturais, do consumismo em escala global, das mídias, das redes digitais e deixa de ser uma

exclusividade das elites.

Segundo Lipovetsky e Serroy (2011, p.7), “terminaram, igualmente, as grandes épocas de

oposição entre cultura popular e cultura erudita, entre “civilização” das elites e “barbárie” do

populacho”.

A cultura-mundo rompe com a exclusividade e passa a representar “o fim da

heterogeneidade tradicional da esfera cultural e a universalização da cultura mercantil,

apoderando-se das esferas da vida social, dos modos de existência, da quase totalidade das

atividades humanas” (LIPOVETSKY E SERROY, 2011, p. 9). Ela é determinada por uma

ordem tecnológica de apropriação da linguagem, como uma narrativa que incorpora a oralidade,

a escrita e a espetacularidade na perspectiva da imagem.

Para Lipovetsky e Serroy (2011), a cultura-mundo nasce dessas transformações, do fácil

acesso à informação e do fim das barreiras que dividiam o globo. O universo da comunicação, da

32

informação e da midiatização expande-se amplamente, mantendo vínculos fortalecidos com a

tecnociência, com o indivíduo, com o mercado, a marca, o consumo e com as mídias, razão pela

qual as trocas tornam-se infinitas.

Sendo assim, conforme Lipovestky e Serroy (2011, p. 9):

A cultura-mundo designa a era da formidável ampliação do universo da comunicação,

da informação, da midiatização. O desenvolvimento de novas tecnologias e das

indústrias culturais e de comunicação tornou possível um consumo abundante de

imagens e, ao mesmo tempo, a multiplicação dos canais, das informações e das trocas

ao infinito.

A cultura-mundo propicia uma unificação planetária. Promove o alongamento das

conexões sociais entre diferentes modalidades regionais.

Para Lipovetsky e Serroy (2011, p. 9), apesar dos “novos problemas que põem em jogo

questões não só globais (ecologia, imigração, crise econômica, miséria do terceiro mundo,

terrorismo...) como também existenciais (identidade, crenças, crises de sentidos, distúrbios de

personalidade...)” a unificação planetária é necessária. Está atrelada à lógica do mercado, da

ciência, da informação, da indústria cultural e das novas tecnologias de comunicação e

individualização e resulta da aproximação entre as sociedades e suas semelhanças estruturais.

Para Bauman (1999), a unificação planetária não é apenas um processo de

homogeneização global. É muito mais que isso. É, sobretudo, uma estreita e controversa

diversidade de estruturas sociais, que desnudam suas raízes e problemas e, em conjunto,

compartilham e dividem forças, ideias, rupturas, realizações, ilusões e contradições culturais. De

um lado, o poder constituído pela nova ordem social, de outro, a grande massa, submissa às

consequências e aos reflexos dessas mudanças repentinas, ininterruptas e avassaladoras da

unificação planetária.

Apesar desse fluxo e desse domínio insólito da cultura mundo, Lipovetsky (2006, p.379),

afirma que “nem tudo é para ser rejeitado”. Por inúmeros motivos, os atrativos da modernidade

revolucionaram a cultura e, no todo, o efeito colateral, ainda que concebido como uma superfície

discursiva e não como um referencial empírico, indica o progresso da ciência e a reconfiguração

do mundo em que vivemos.

Assim, nasce o novo conceito de mundialização cultural. Trata-se de um conceito que

enaltece uma hierarquia de valores, onde os modos de vida e costumes instituem parâmetros

renovados na relação dos indivíduos com eles próprios e com os outros, bem como um novo

posicionamento para com o tempo, o espaço e o mundo. Um conceito que promove um novo

33

estágio do individualismo, o estágio do narcisismo individualista que, conforme Lipovetsky

(1989, p. 48), inaugura “pela sua indiferença, a pós-modernidade.”

Surge a sociedade do individualismo contemporâneo que instala uma apatia frívola e

enaltece a aparência, o simulacro, a virtualidade. A imagem passa a desempenhar um importante

papel na vida da sociedade e no imaginário das pessoas. Nela, as velhas ordens comunais se

desagregam e apenas a preocupação individualista caracteriza e engendra a atual sociedade

narcísica, cujo objetivo é viver do presente. Perde-se o sentimento de pertencimento a uma

geração, o sentido histórico da vida; uma preocupação excessiva e particular emerge dos

indivíduos.

O narcisismo coletivo é um sintoma da crise generalizada no mundo hipermoderno onde o

indivíduo tem consciência do nada existencial e mesmo assim age em busca do sucesso, do

prazer, da aceleração das sensações.

Lipovetsky (1989) refere-se a esse tempo como o tempo da “sedutora leveza do ser” e

Bauman (2001), como “tempo instantâneo”. Ambos concordam com o sentido de ausência de

interesses mais profundos e mais sólidos.

A cultura-mundo celebra e enaltece a aparência, o triunfo do espelho, o culto à imagem, o

poder e a importância que a imagem transfere ao indivíduo no momento presente. É a “cultura da

sobrevivência”, uma vez que a sociedade é forçada a enfrentar situações cada vez mais

inusitadas, nas quais, o individualismo torna-se excessivo e se debate sem nenhum controle da

situação. O imperialismo do consumo determina, uma vez mais, o que a sociedade deve viver: o

permanente estado de desejo, de inquietação, de insatisfação e desesperança na posteridade.

O tempo e o consumo comandam a vida que se torna sistematizada, tecnificada,

pragmática, com princípios de quantificação e de eficiência em todas as suas atividades

cotidianas e modos de vida.

Para Bauman (2008, p. 70), vivemos “numa sociedade de consumidores e esta é um

espécime de sociedade onde seus membros são compelidos a serem consumidores.” Assim, faz-

se imprescindível adestrar os espíritos das pessoas, num parâmetro cultural pré-estabelecido, a

fim de que se tornem futuros consumidores. Isto acontece porque pressões coercitivas são

aplicadas sobre os próprios indivíduos e torna-se de fundamental importância que estes

indivíduos adaptem-se ao seu “novo habitat natural” (cultura-mundo), onde suas vidas são

estruturadas em volta dos templos do consumo.

É importante que nesta sociedade, “seus filhos” sejam adestrados, desde o início da vida

aos ditames consumistas. “O envolvimento das crianças com as coisas materiais, a mídia, as

34

imagens e os significados que surgem se referem e se emaranham com o mundo do comércio,

são aspectos centrais na construção de pessoas e de posições morais na vida contemporânea.”

(BAUMAN, 2008, p. 73).

Lipovetsky (1989), diz que o consumo, via marcas e da publicidade, exerce, forte

influência sobre a identidade e o comportamento cotidiano da sociedade moderna em seu atual

estado de individualização.

O consumo, no essencial, não é mais uma atividade regrada pela busca do

reconhecimento social; manifesta-se, isto sim, em vista do bem-estar, da funcionalidade,

do prazer para si mesmo. O consumo maciçamente deixou de ser uma lógica do tributo

estatutário, passando para a ordem do utilitarismo e do privatismo individualista

(LIPOVETSKY, 1989, o. 173)

O mercado, portanto, não mais funciona com a lógica da produção de massa, ou seja, ele

busca a “produção personalizada de massa” que exige, além de uma rapidez frenética, estratégias

de diversificação capazes de suprir às demandas que se apresentam. Assim, para Lipovetsky

(1989, p. 39), “o espírito do tempo converteu-se no espírito do capitalismo, funcionando como

uma cultura sem fronteiras, uma cultura-mundo”. É a chamada globalização do capital, das

condições de produtividade, do mercado, do lucro e das exigências desse mesmo mercado.

Uma nova hierarquia de valores celebra este universo dominado pelo mercado onde tudo

tem que ser rentável, especialmente, para os grandes grupos e, embora nada escape aos domínios

da cultura, tudo passa a obedecer às leis da economia, seja na moda, na publicidade, no turismo,

na arte, na ciência ou no urbanismo. Tudo deve ser inquestionavelmente rentável mesmo que

isso represente o fútil, o frívolo, o culto ao bem-estar-material. Essa sedução econômica deve

atingir o público e o privado, como expressão da ideologia do consumo.

Conforme Lipovetsky e Serroy (2011, p. 10):

Trata-se de uma mercantilização integral da cultura que é, ao mesmo tempo, uma

culturalização das mercadorias. Na época da cultura-mundo, as antigas oposições da

economia e da cotidianidade, do mercado e da criação, do dinheiro e da arte

dissolveram-se, perderam o essencial de seu fundamento e de sua realidade social.

Produziu-se uma revolução: enquanto a arte, daí em diante, se alinha com as regras do

mundo mercantil e midiático, as tecnologias da informação, as indústrias culturais, as

marcas e o próprio capitalismo constroem, por sua vez, uma cultura, isto é, um sistema

de valores, objetivos e mitos.

É a era consumista, instaurada sob a lógica da sedução, do hedonismo, extensivo a todas as

camadas sociais. Na sociedade do hiperconsumo, o progresso e a felicidade estão cada vez mais

associados à melhoria das condições de vida e à aquisição de objetos de consumo. Parcelas da

35

população que antes não tinham acesso a determinados bens de consumo agora conseguem

adquiri-los, elevando seu status social. Amplia-se a diversificação dos produtos no mercado

como uma importante estratégia de sedução para o consumo efêmero e que permite a renovação

contínua de modelos e estilos:

Embora de natureza essencialmente fordista, a ordem econômica ordena-se já

parcialmente segundo os princípios da sedução, do efêmero, da diferenciação dos

mercados: ao marketing de massa típico da fase I sucedem estratégias de segmentação

centradas na idade e nos fatores socioculturais. É um ciclo intermediário e híbrido,

combinando lógica fordista e lógica-moda, que se instala. (LIPOVETSKY, 2006, p.34)

Inaugura-se a “sociedade do desejo”, na qual se substitui “a coerção pela sedução, o dever

pelo hedonismo, a poupança pelo dispêndio, a solenidade pelo humor, o recalque pela liberação,

as promessas do futuro pelo presente” (LIPOVETSKY, 2006, p. 35).

O modo de vida da “sociedade do desejo” passa a ser uma importante motivação na

decisão dos consumidores, que objetivam não só o uso do bem que adquirem, mas também o

prazer por ele proporcionado. É o chamado consumo emocional, num caminho em que a

abundância é acompanhada por um desejo inesgotável de consumir.

Viver melhor, gozar os prazeres da vida, não se privar, dispor do “supérfluo”

apareceram cada vez mais como comportamentos legítimos, finalidades em si. O culto

do bem-estar de massa celebrado pela fase II [segunda era do capitalismo de consumo]

começou a minar a lógica dos dispêndios com vista à consideração social, a promover

um modelo de consumo de tipo individualista. (LIPOVETSKY, 2006, p. 40)

A satisfação emocional e o prazer tornam-se mais importantes numa definição de compra

que o alardeamento de uma posição social:

Os bens mercantis funcionavam tendencialmente como símbolos de status, agora eles

aparecem cada vez mais como serviços à pessoa. Das coisas, esperamos menos que nos

classifiquem em relação aos outros e mais que nos permitam ser independentes e mais

móveis, sentir sensações, viver experiências, melhorar nossa qualidade de vida,

conservar juventude e saúde. (LIPOVETSKY, 2007, p. 42)

Neste sentido, uma nova realidade emerge: a cultura da virtualidade real, que integra

diversas culturas em um único universo; uma cultura onde o “cultural se difrata enormemente no

mundo material, que se empenha em criar bens impregnados de sentido, de identidade, de estilo,

de moda, de criatividade, através das marcas, de sua comercialização e de sua comunicação.”

(LIPOVETSKY E SERROY, 2011, p.10)

O bem-estar ergue-se como o novo deus, sendo o consumo o seu templo e o corpo a sua

permanente liturgia. Isto intensifica a febre pelo conforto, pela felicidade, pela qualidade de vida

e pelos lazeres incessantes. É isso que dá ao hiperconsumo o caráter desunificado e pluralista.

36

Deste modo, para além da exigência de ostentação e reconhecimento social, a busca pelos gozos

privados, “a época contemporânea vê afirmar-se um luxo de tipo inédito, um luxo emocional,

experiencial, psicologizado, substituindo a primazia da teatralidade social pela das sensações

íntimas.” (LIPOVETSKY, 2004, p. 26).

Uma marca, nos dias de hoje, não pode vender apenas um produto, deve vender muito mais

que isso. Deve vender cultura, estilo de vida, vender felicidade e, ao vender felicidade, tem que

reinventar-se a cada dia, levando em consideração os desejos de existência que também mudam

ao longo da vida da própria sociedade. Trata-se da revolução consumista, na qual se consome

prazer e é por isso que o “melhor-viver”, oferecido pelas marcas através das campanhas

publicitárias, torna-se a paixão generalizada e o objetivo supremo das sociedades democráticas.

Edificou-se uma nova civilização, não mais voltada para refrear o desejo, mas, ao

contrário, para levá-lo à sua exacerbação extrema, despojando-o de qualquer conotação

negativa. A fruição do momento presente, o culto a si próprio, a exaltação do corpo e do

conforto passaram a ser uma nova Jerusalém dos tempos pós-moralistas.

(LIPOVETSKY, 2005, p.29)

Nesse universo, o consumismo interpela as qualidades alienadas da vida social moderna,

prometendo aquilo que o indivíduo deseja através do consumo: beleza, sensualidade,

popularidade, felicidade, segurança, prazer. Para isso, vive como que cercado de espelhos,

procurando neles a aparência de um “eu” socialmente valorizado e aceito pelos outros.

Apesar desse fluxo e desse domínio insólito da cultura mundo, Lipovetsky (2006, p.379),

afirma que “nem tudo é para ser rejeitado”. Por numerosos motivos, os atrativos da modernidade

revolucionaram a cultura e, no todo, o efeito colateral, ainda que concebido como uma superfície

discursiva e não como um referencial empírico, indica o progresso da ciência e a reconfiguração

do mundo em que vivemos.

Assim, Lipovetsky (2011) menciona que é sensato manter a análise da cultura atrelada ao

consumo, a fim de que a ordem tentacular do hiperconsumo não esmague a multiplicidade dos

horizontes da cultura e da própria sociedade:

O imaginário cultural não é mais um véu acima do mundo “real”, e o mercado integra

cada vez mais em sua oferta as dimensões estéticas e criativas. Sem dúvida, o

econômico jamais foi totalmente externo à dimensão do imaginário social, sendo o

mundo da utilidade material ao mesmo tempo produtor de símbolos e de valores

culturais. Simplesmente agora essa combinação é explicitada, gerida, instituída em um

sistema-mundo globalizado. (LIPOVETSKY E SERROY, 2011, p. 11)

37

Explicam os autores que os parâmetros renovados da cultura-mundo trazem consigo um

grande desafio: tornar possível os objetivos da existência sem se desvincular do majestoso

império do consumo.

Aí, talvez, um dos grandes paradoxos decorrentes dessa “hipercultura universal”: a mesma

sociedade que esvazia suas formas tradicionais de vínculo, projeta a ideia de uma cultura-mundo

que se identifica com um ideal ético e liberal e que fortalece novas modalidades de participação,

interação e realização pessoal, ou seja, para Lipovetsky e Serroy (2011, p. 8), “a unidade do

gênero humano, os valores de liberdade e de tolerância, de progresso e de democracia” ainda

intensificam e conquistam o imaginário individual e coletivo”.

Entretanto, como preconiza Lipovetsky (2004), o maior desafio da sociedade hipermoderna

será fornecer instrumentos para que as pessoas tenham algum futuro, construam utopias e

compartilhem de um universo não dominado pelo mercado. Contudo, mesmo que as resistências

culturais entreguem-se às frivolidades da vida material, mesmo que a sociedade caminhe para o

individualismo, mais a individualidade humana se impõe como valor prioritário, mais a vida e o

respeito à pessoa se impõem como absolutos.

É por isso que as campanhas publicitárias vêm penetrando esferas como solidariedade,

proteção ambiental, desenvolvimento econômico sustentável. Ainda que as campanhas

publicitárias se caracterizem pelo efêmero, permeiam o mundo íntimo social, revelam

possibilidades e surpresas, possibilitam sonhar e, mesmo de modo fugaz, estabelecem conexões

com o sentido racional da vida, a aspiração a um mundo melhor.

Há estudos empíricos relacionados ao universo do consumo, que contribuem para

esclarecer a adesão, por parte das campanhas publicitárias, à solidariedade, à proteção ambiental

e ao desenvolvimento econômico sustentável. Segundo Perez e Trindade (2014, p.85), uma

tendência é um “movimento vigoroso, com continuidade”, que se apresenta na publicidade, no

cinema, na televisão, no design, na arquitetura, música, moda, nas artes em geral. Entre as

tendências elencadas, as “máximas experiências: o valor dos sentidos e das sensações” e “ética

em múltiplas dimensões” (PEREZ e TRINDADE, 2014, p. 87) perpassam as mais diversas

manifestações socioculturais.

Para Lipovetsky (2007, p. 217) o "conforto e o bem-estar sensitivo" se impõem como

"um novo horizonte de sentido", condição imprescindível para se alcançar a felicidade, "um dos

grandes fins da humanidade que já não aceita mais sofrer por sua evolução". Assim, a máxima é

embelezar a vida e conquistar, cada vez mais, satisfações materiais que concretizem o ideal de

bem viver. No mundo contemporâneo, não basta mais a ideia certeira ou a simples novidade, ou

38

o conforto mínimo. O novo modelo de tendências de consumo deve promover "dispositivos que

proporcionem prazeres sensitivos e emocionais.” (LIPOVETSKY, 2007, p. 220).

A sustentabilidade pode ser vista como um desdobramento da tendência “ética em

múltiplas dimensões”, como propõem Perez e Trindade (2014), enfatizando que ética é tomada

neste contexto na perspectiva peirceana, como a teoria da conduta voluntária, deliberada e

autocontrolada regida pela estética e sustentada pela lógica.

Há relação entre a sustentabilidade e o consumo consciente. Segundo Perez e Trindade

(2014, p. 88), “a luta pelo consumo consciente vem trazendo transformações em várias indústrias

e no mundo inteiro”, isto porque, “as manifestações de valorização da ética nas relações do

consumo envolvem desde questões relacionadas aos produtos, processos, fornecedores, passando

por políticas e leis trabalhistas, até impactos ambientais, inserção social e cultural.”

Portanto, pesam sobre o consumo consciente, desdobramentos comportamentais que vão

além das reflexões pontuais - a ética em múltiplas dimensões, o bem-estar, a criatividade, o

admirável, as manifestações identitárias, entre outros. Suas raízes estão centradas nas

manifestações do mundo globalizado e devem manter-se perfeitamente alinhadas e arraigadas

junto ao “corpo social para que possam ser reconhecidas e valorizadas.” (PEREZ e TRINDADE,

2014, p. 90).

O consumidor consciente tem o “desejo genuíno de que as marcas e as organizações

construam uma relação mais ética com as pessoas e com o meio ambiente”. (PEREZ e

TRINDADE, 2014, p. 88).

Logo, a sustentabilidade não é mais um modismo ou um movimento efêmero, dado que o

equilíbrio entre o desempenho econômico, social e ambiental passa a ser uma exigência do

mercado. Assume características “de movimento alongado, por conter valores e

posicionamentos” e nos estudos de tendência de consumo, assume o caráter de tema transversal

já que se fundamenta na continuidade e na permanência das discussões sobre “os fenômenos

macroeconômicos, políticos, tecnológicos e sociais” (PEREZ e TRINDADE, 2014, p. 86).

Desse modo, as organizações devem criar vínculos afetivos com seus consumidores e

fortalecer o sentido de humanização nas suas relações e posicionamentos.

Antes, as organizações pesquisavam o que era desejado por um grupo de consumidores,

empenhavam-se em criar ofertas que atendessem às exigências identificadas em suas

pesquisas. Agora, o que cobiçam é a criação de signos deslocados do próprio produto,

imateriais, mas com alta potencialidade transformadora. (PEREZ e TRINDADE, 2014,

p. 84).

39

Assim, dois aspectos contemporâneos constituem-se como de especial relevância para os

estudos de tendências de consumo: de um lado, o mundo movediço das sensações e, do outro, o

resoluto horizonte do desenvolvimento sustentável. Vamos apurar, com a análise das peças

publicitárias selecionadas, em que medida a marca “Itaú”, que se mostra como sinônimo de

sustentabilidade, via publicidade, engendra esse fazer e difunde sensorialidade. Segundo Perez e

Trindade (2014, p. 96), as campanhas publicitárias desta marca “explicitam o universo da magia

e dos contos de fada.” Assim extrapolam o mundo real revestindo-o de poderes mágicos, para

assim agregar valores aos seus produtos.

Vejamos como a publicidade da marca “Itaú”, com o tema da sustentabilidade, adere ao

contexto mencionado. No capítulo que segue, apresentamos reflexões sobre a publicidade e o

conceito de sustentabilidade.

40

3 O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE EM FOCO

Neste capítulo, apresentamos reflexões sobre sustentabilidade e discutimos a pertinência

deste tema para o universo das marcas e da publicidade. Retomamos Lipovestsky (1989; 2004;

2007) e Lipovetsky e Serroy (2011), bem como Brown (2009) e Savitz e Weber (2006), para

abordar algumas ideias sobre sustentabilidade.

O consumo de bens e serviços afasta-se, cada vez mais, do modelo da distinção social, da

ostentação. Entra em uma nova escala de valores, adapta-se a uma nova esfera de desejos: a

esfera do hiperconsumo, marcada pelos processos de individualização e dessincronização dos

usos coletivos. Com ele, cresce a necessidade da visibilidade e da reformulação de identidades,

cada vez mais presentes para que venham assegurar os princípios de inclusão e exclusão

elaborados por esse mercado.

Para Lipovetsky e Serroy (2011, p. 57), “as paixões transcendem as diferenças das esferas

sociais. Criam “tribos” transversais e diversificadas”. O modo de vida produzido pela pós-

modernidade desvencilha-se de todos os tipos tradicionais de ordem social, com o fim de

padrões, da estabilidade e das certezas. Surge o tempo da indefinição, do medo e da insegurança.

Frente a essa lógica, Lipovetsky (2007, p. 237) pondera, ”... o que é que, em nossos dias,

não está cercado de ameaças, de incertezas e de riscos? O emprego, o planeta, as novas

tecnologias, a globalização, a vida sexual, a escolha dos estudos, as aposentadorias, a imigração,

os ‘subúrbios’, quase tudo é suscetível de alimentar os sentimentos de inquietação.” Nas palavras

de Lipovetsky (2007, p. 239):

Essa é a ironia da civilização hedonista, que leva menos a degustar o instante puro que a

se projetar indefinidamente no futuro, que convida menos a buscar todos os prazeres

que a vigiar o corpo e seus hábitos, menos a viver de modo intenso que a se proteger

para prolongar o tempo da vida.

Vive-se, portanto, na interminável busca pela plenitude máxima que o consumo possa

oferecer e pelo desejo exponencial da felicidade. É a sociedade do frenesi, da excitação.

Para Lipovetsky (2007), a felicidade transformou-se em imperativo de euforia, criando

vergonha ou mal-estar naqueles que dela se sentem excluídos. Desta maneira, nasce a “felicidade

despótica”, onde os indivíduos sentem a culpabilidade de não se sentir bem. A felicidade se

apresenta como uma obrigação e mesmo que a sensação seja momentânea, o essencial é a

intensidade daquele único momento. O resultado final exigido é a plenitude da felicidade no ato

de consumir.

41

Segundo Bauman (2008), tal fenômeno, o da felicidade como obrigação, é uma

imposição do mercado, que obriga o indivíduo a ingressar nesta esfera ou, então, ficar à margem

do processo de socialização. Ninguém pode ser um sujeito social sem antes se tornar consumidor

e, isto, tem que ocorrer desde muito cedo.

Tão logo aprende a ler, ou talvez bem antes, a dependência das compras se estabelece

nas crianças. Não há estratégias de treinamentos distintos para meninos e meninas - o

papel de consumidor, diferente do de produtor não tem especificidade de gênero. Numa

sociedade de consumidores todo mundo precisa ser, deve ser e tem que ser consumidor

por vocação. (BAUMAN 2008, p.73)

A busca pela felicidade, neste contexto, é um imperativo. A não aceitação de uma vida

assim, de pleno gozo, é entendida como crime. O indivíduo que não cumpre o seu dever de

consumir e de ser consumido pelo mercado não merece ter vida social.

Os desejos de hoje são outros e surgem pela exacerbação dos valores criados na

modernidade, elevados e estimulados de forma exponencial, pois, segundo Lipovetsky e Serroy

(2011, p. 57), “as publicações, a publicidade, as ofertas comercias ecoam isso, visando alvos a

uma só vez ampliados a todo o corpo social, segmentados em função de sua inclusão neste ou

naquele universo de consumo”.

Para Lipovetsky (1989), vivemos num mundo onde as mudanças são inevitáveis. Não há

mais vínculo entre o passado e o presente como também não há mais controle sobre o futuro. Em

tempos hipermodernos, novas relações sustentam o consumo, relações estas, muitas vezes,

subjetivas, emocionais e que, em função dos antagonismos vividos pela sociedade, enaltecem a

dualidade de sentimentos como o poder e a fragilidade, a felicidade e a tristeza, o desejo e a

decepção. “O comprador de novo estilo deixou de ser compartimentado e previsível: tornou-se

errático, nômade, volátil, imprevisível, fragmentado, desregulado (...) o consumidor é um

zapeador descoordenado, liberto dos controles coletivos à antiga.” (Lipovetsky e Serroy, 2011, p.

57).

Lipovetsky (2007, p. 41) enfatiza que “novas aspirações e novos comportamentos vieram

à luz”, e relata que “os consumidores mostram-se mais e mais à espera de qualidade de vida, de

comunicação e de saúde”. Neste contexto, as marcas vão se moldando e se adaptando à realidade

de um consumo menos impositivo e mais subjetivo e, mesmo naquilo que, eventualmente, deva

obedecer a um imperativo comercial da marca, há que se observar a criatividade e a necessidade

de se proporcionar prazeres estéticos, como um combustível encarregado de acender e alimentar

as chamas incessantemente da paixão pelo consumo.

42

Assim, como enfatiza Lipovetsky (2007, p. 96), a publicidade não deve proclamar os

benefícios que o produto ou a marca propicia ao consumidor, mas “distrair, estabelecer uma

relação de cumplicidade, descobrir uma “ideia” de venda ou de marca, valorizar um modo de

vida ou um imaginário, criar um estilo, estetizar a comunicação.” Assim, vendem-se estilos de

vida, que contemplam o presente e que, ao invés de estabilidade, optam pela mutação. É um

produto seletivo e pluralizado, opondo-se ao único, ao engessado e que propicia identidade.

Neste modelo de relação entre a marca o e mercado consumidor, há agenciamento de desejos

que, na maioria das vezes, são híbridos e incontáveis. Cada indivíduo faz o seu mapa de desejos

e perambula por ele da forma que lhe convém.

Assim, nasce a cultura-mundo. “Qualquer que seja o lado fictício, frequentemente

denunciado desse universo, ele contribui para a edificação de uma cultura através da estetização

do mundo, da estilização dos objetos que o imaginário e a sensibilidade solicitam.”

(LIPOVETSKY, 2007, p. 97)

A publicidade hipermoderna projeta o seu olhar para espetaculosidade, muito

especialmente para atender aos anseios dessa sociedade, interessada em divertimento, satisfações

imediatas e bem-estar. Segundo Lipovetsky (2007, p. 96-7) é preciso “inovar, surpreender,

divertir, fazer sonhar, comover, criar um mito, e isso pela utilização de efeitos especiais, de

imagens sublimes, de jogos/ rítmicos e de montagem, de sinais de cumplicidade e de

interpretações não literais”.

Há um novo sistema de gestão de marcas onde a progressão da cultura de estetização do

mundo apresenta um novo estilo de vida global. É preciso atrair o consumidor, não mais pelas

características do produto mas, pela emoção, pelo conceito que essa emoção pode causar no seu

mundo perceptivo, É preciso levar em consideração que o consumidor está constantemente

submetido ao universo consumo-sedução/ consumo-distração, este, um universo imperativo, que

constrói e fortalece as relações de identidade com as marcas.

Segundo Lipovetsky e Serroy (2011, p. 94), “estamos na época em que criar produtos já

não basta: é preciso criar uma identidade ou uma cultura de marca por meio do marketing, do

superinvestimento publicitário e da hipertrofia da comunicação.” A comunicação publicitária

mudou. Não mantém mais o foco no produto e nos seus benefícios funcionais. Busca enfatizar,

difundir seus valores e enaltecer, numa visão estratégica, o espetacular, a emoção, o sentido não

literal daquilo que se toma por produto. Busca seduzir no que enfatiza Lipovetsky e Serroy

(2011, p. 96), “não há mais a publicidade baseada na repetição dos méritos do objeto, mas a

publicidade denominada criativa”.

43

As marcas almejam promover a sua imagem, num universo predominantemente

estético, e, para tanto, abarcam grandes causas. O apelo ao consumo é organizado e orientado

pela sedução, expressando-se na publicidade pela estética, design, argumento de criação e peças

provenientes para o lançamento do produto. Lipovetsky (1989, p. 188) refere-se à valorização

plástica do produto e de sua publicidade como uma poetização da marca e do produto,

idealizando o trivial, ou seja, a publicidade funcionaria como uma “maquiagem do real”.

A sedução, na cultura-mundo, não pode mais ser vista apenas como instrumento indutor

do consumo. Ela toma outras formas, assume outras amplitudes. Segundo Lipovetsky (1989), a

sedução pode ser vista como um processo geral regularizador não só do consumo, como também

das organizações, da educação, dos costumes. A repressão, como produtora de recalques, tornou-

se ultrapassada. O controle social, nos dias de hoje, é orientado pela sedução que, na esfera da

publicidade, torna o o indivíduo responsável por suas escolhas e, consequentemente, por sua

situação.

As campanhas publicitárias mudaram seu discurso. “Elas não se contentam em apenas

mobilizar as celebridades; ambicionam o cultural, falam de ética, de racismo, de proteção ao

meio ambiente: procuram construir sua notoriedade com base em mensagens de sentido e de

valores difundidos em todo o planeta.” (LIPOVETSKY e SERROY, 2011, p. 98). Tudo é

apresentado de forma simples, fácil e sempre com muitas opções o que dá, supostamente, ao

consumidor a sensação de poder de escolha. Os efeitos são perceptíveis. As campanhas

publicitárias atreladas às políticas de expansão comercial associam o mundo das escolhas a um

mundo sem limites, sem barreiras, movido pela paixão e pelo desejo e, quase que num gesto de

‘entorpecimento mental’, posicionam a marca no eixo central do imaginário coletivo.

A marca “Itaú” procura “construir sua notoriedade com base em mensagens de sentido e

de valores difundidos em todo o planeta”, com o conceito de sustentabilidade. Buscamos

explicitar como este conceito é construído pela publicidade da marca “Itaú”.

“Domina a ideia de que nossa civilização passa por uma crise de valores, uma crise de

proporções inauditas”, conforme (LIPOVETSKY e SERROY, 2011, p. 133), que inaugura a

cultura do fugaz, do abandono à solidez de todas as áreas, tempos de exaltação ao indivíduo e ao

seu desejo por prazer. É a cultura da persuasão, pouco racional e nada disciplinar.

A esse respeito, Lipovetsky (2007) manifesta sua preocupação. Afirma que na

“civilização do desejo”, construída ao longo da segunda metade do século XX, o capitalismo de

consumo tomou o lugar das economias de produção, sustentado pela nova religião do

melhoramento contínuo das condições de vida. Entretanto, a melhoria de qualidade de vida, que

44

uma parcela da população humana alcançou nos últimos anos, tem sido conquistada, em grande

parte, por um desenvolvimento científico e tecnológico desprovido de cuidados com os recursos

naturais disponíveis em nosso planeta. Em nome desse desenvolvimento econômico frenético e

desenfreado, os sistemas de produção atingem o limiar de exaustão dos recursos naturais, este,

um problema de alta complexidade e que atinge de maneira direta (algumas vezes de modo

irreversível) a qualidade de vida das populações presentes e futuras. É o desenvolvimento

econômico ilimitado, insuflado pela “civilização do desejo”, que entra em confronto com a

realidade, na esfera planetária, de recursos finitos e limitados. Nas palavras de Lipovetsky (2004,

p. 59):

O que significa tudo isso senão que o centro de gravidade temporal de nossas

sociedades se deslocou do futuro para o presente? (...). Um presente que substitui a ação

coletiva pelas felicidades privadas, a tradição pelos movimentos, as esperanças do

futuro pelo êxtase do presente sempre novo. Nasce toda uma cultura que incita à

satisfação imediata das necessidades, estimula a urgência dos prazeres, enaltece o

florescimento pessoal, coloca no pedestal o paraíso do bem estar, do conforto e do lazer.

Consumir sem esperar; viajar, divertir-se; não renunciar a nada: as políticas do futuro

radiante foram sucedidas pelo consumo como promessa de um futuro eufórico.

Se de um lado, o consumo representa um significativo mecanismo de estímulo à

irracionalidade dos indivíduos, de outro, revela a busca incessante da sociedade pela coerência

existencial, pelo pressuposto de interdependência que existe entre micro e macro organismos,

todos geradores de vida.

Para Lipovetsky e Serroy, ( 2011, p. 135), qualquer que seja a manifestação do

individualismo exacerbado, não se atinge o grau zero de valores, ou seja, a “indignação moral

não foi, de modo algum, erradicada em nossas sociedades, que reafirmam um núcleo estável de

valores partilhados: os direitos humanos, a honestidade, o respeito pelas crianças, a rejeição à

violência e à crueldade.”. Não há que se falar em naufrágio do espírito de responsabilidade e de

solidariedade, uma vez que, como enfatiza ainda Lipovetsky e Serroy (2011, p. 135),“o culto ao

presente impera, mas o senso de responsabilidade para com as gerações futuras não desaparece

de modo algum, como demonstram a sensibilidade ecológica e o interesse pelo desenvolvimento

duradouro”. O entendimento de “suficiência para uma vida boa” e “sustentabilidade para um

futuro longo” estão enraizados no hipermaterialismo e começam a se destacar nas abordagens

sociais. Assim, o tema da sustentabilidade ganha força e centralidade.

Utilizado constantemente em documentos internacionais e tema de várias conferências

ao redor do mundo, o desenvolvimento sustentável passa a ser um modelo desejado pela ampla

maioria dos países, bem como norteia a ação individual de grande parcela da população.

Apontado, inicialmente, pelo Relatório Brundtland, documento intitulado “Nosso Futuro

45

Comum”, o desenvolvimento sustentável foi definido como sendo "aquele que satisfaz as

necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas

próprias necessidades." (BRUNDTLAND (et al.), 1991, p. 46).

Num cenário de conformação entre desenvolvimento econômico, proteção ao meio

ambiente e a participação dos atores sociais nas decisões de ordem política, econômica e social,

o desenvolvimento sustentável potencializa as premissas básicas para a sobrevivência humana.

Severas críticas são impostas ao atual sistema de produção e consumo que insiste em se manter

fora do modelo sustentável.

Assim, as pessoas são conclamadas a refletir sobre o potencial transformador de suas

atitudes e de suas escolhas no universo do consumo. Uma oportunidade de reformular o modo de

agir e pensar da sociedade, com o propósito de se conquistar o crescimento econômico e o

avanço científico-tecnológico, mas pautados na ética, nas preocupações com o meio ambiente,

com a inclusão e a coesão social.

Num primeiro momento, o desenvolvimento sustentável passa a ser um mecanismo de

minimização das tensões e dos impactos causados pelo consumo irracional. Talvez, uma pausa

reflexiva para sociedade contemporânea a fim de que possa compreender a necessidade de

harmonizar-se em seus objetivos sociais, ambientais e econômicos, garantindo o bem estar das

gerações presentes e das gerações futuras.

A sustentabilidade não é tema inédito e contemporâneo. Este tema foi tratado, em 1798,

por Thomas R. Malthus, em sua obra An Essay on the Principle of Population e, posteriormente,

retomada com maior ênfase na segunda metade do século passado pelo chamado Clube de

Roma1, que elaborou e publicou o relatório intitulado The Limits to Growth, em 1972, sob a

organização de Dornella H. Meadows.

Thomas Maltus demonstrou sua preocupação com o estrangulamento da produção de

alimentos, que, na sua visão, crescia linearmente em relação ao crescimento exponencial da

população. O crescimento da população, para Malthus, seria sempre maior que o acréscimo na

produção de alimentos e chegaria o dia cuja sobrevivência da humanidade estaria comprometida

em relação a esse aspecto.

1 O Clube de Roma foi um marco importante na década de 1960 para questões relativas à sustentabilidade. A

organização não-governamental, criada em 1968, na Academia Dei Lincei, em Roma, pelo economista e industrial

italiano Arillio Peccei, tinha por objetivo debater a crise e o futuro da humanidade. Diante da preocupação quanto à

possibilidade de virem a se esgotar os recursos naturais, principalmente, os recursos não-renováveis (carvão,

petróleo, jazidas minerais) em virtude do uso desordenado, praticados pela moderna sociedade industrial, o Clube de

Roma, encomenda a uma equipe multidisciplinar do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), liderada por

Donella Meadows, a elaboração de um estudo, que seria lançado em 1972.

46

Do mesmo modo, conforme Meadows (et.al) (1972), o texto do Clube de Roma, de 1968,

retomou o postulado de Malthus, acrescendo novos elementos à discussão e apontando cinco

outros grandes temas de preocupação global: aceleração da industrialização, aumento dos

indicadores de desnutrição, rápido crescimento populacional, deploração dos recursos naturais

não renováveis e deterioração do meio ambiente. Com isso, chamou-se a atenção para problemas

como poluição e degradação do meio ambiente, que afetam a qualidade de vida de todo o

planeta, reacendendo a chama do debate sobre o sentido do desenvolvimento.

Nesta dinâmica, tornou-se consenso que o desenvolvimento sustentável, em qualquer

concepção, deveria resultar no crescimento econômico acompanhado de melhoria na qualidade

de vida, ou seja, deveria incluir, segundo Vasconcellos e Garcia (1998, p. 205), “as alterações de

composição do produto e a alocação de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma

a melhorar os indicadores de bem estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade,

condições de saúde, alimentação, educação e moradia).”

Conforme Brown (2009), mesmo diante deste desafio, há motivos pensar em ações que

possam amenizar ou dirimir estes problemas, que podem ser enfrentados para com tecnologias já

existentes, com os instrumentos econômicos e os recursos financeiros disponíveis. “Mobilizar

para salvar a civilização significa fundamentalmente reestruturar a economia global para

estabilizar o clima e a população, restaurar os suportes naturais da economia, e, sobretudo,

resgatar a esperança.” (BROWN, 2009, p. 323).

É chegada a hora de decidir. A exemplo de antigas civilizações que se envolveram com

problemas ambientais, podemos decidir se vamos continuar agindo como de costume e

observar nossa moderna economia declinar e eventualmente ruir ou conscientemente

mudaremos para novos caminhos de crescimento econômico sustentável. Na presente

situação, a omissão soará como tomar a decisão de permanecer na rota do declínio e

ruína. (BROWN, 2009, p.326)

Por sua vez, há o trabalho da Organização das Nações Unidas (ONU), empenhada em

promover o crescimento econômico e melhorar a qualidade de vida da população mundial, em

utilizar as instituições internacionais para a promoção e para o avanço econômico e social, em

conseguir a cooperação internacional necessária na resolução de problemas internacionais e que

envolvam questões econômicas, sociais, culturais ou de caráter humanitário, em promover e

estimular o respeito aos direitos humanos e a liberdade fundamental de toda a população do

globo, sem distinção de raça, credo, sexo, idioma ou cor.

Nesta linha de propósitos, o desenvolvimento sustentável passa a ser entendido como

uma resultante de um processo cuja maturidade está no crescimento econômico amparado por

47

uma sociedade que promove a consciência ambiental, a diversidade cultural, o pluralismo das

relações e a solidariedade.

O que se pretende é o entendimento comum de que novas conquistas para a vida da

sociedade devem estar associadas à preocupação com a preservação do meio ambiente, a fim de

oferecer à população presente e futura as mesmas condições e recursos naturais de que dispomos

hoje.

Podemos continuar agindo como de costume e fazer parte de uma economia que

continua a destruir seus sistemas naturais de suporte, até que ela própria se destrua, ou

adotamos o Plano B e nos tornamos a geração que mudou os destinos, recolocando o

mundo na trilha do progresso sustentável. A escolha será feita por nossa geração, mas

afetará a vida na Terra de todas as gerações futuras. (BROWN, 2009, p. 331)

Como um desafio contemporâneo, a sustentabilidade passa a ser o referencial de

equilíbrio para o comportamento e para o desenvolvimento econômico, associados a práticas

socioambientais e culturais, que estabeleçam forças convergentes em benefício da sociedade. É

necessário construir metodologias, políticas, teorias como um terreno propício para os processos

de aproximação das diversidades e de identidades. A sustentabilidade deve ser entendida como

uma forma abrangente, um estímulo por excelência ao desenvolvimento duradouro, que propicia

e dá essência ao desenvolvimento.

Na esfera do hiperconsumo, o desenvolvimento sustentável revela-se como uma nova

vertente comportamental: a do consumo responsável, acrescido do sentido humanitário e do

desejo de trabalhar em prol desse desenvolvimento duradouro.

Para Lipovetsky e Serroy (2011, p. 135), o engajamento humanitário, o desejo,

especialmente dos jovens “de prestar ajuda aos homens esquecidos de todas as partes do mundo

são ações que mostram que o consumo mercantil não colonizou o todo da vida”, e, mesmo que a

sociedade seja penalizada com o estilhaçamento promovido pelo individualismo desenfreado e

que isso debilite a força obrigatória de todo um conjunto de deveres sociais, haverá sempre o

lado oposto: "... um individualismo responsável, autolimitado e respeitador do direito alheio.”

(Lipovetsky e Serroy, 2011, p.136)

Assim, há abertura para preocupações com justiça, solidariedade e com o declínio das

desigualdades, ou seja, para Lipovetsky e Serroy (2011, p. 136-7), “qualquer que seja a extensão

das desigualdades, os ideais de justiça, de solidariedade, de abertura para o outro não

caducaram”. Isto constitui a dimensão humanista e desinteressada da cultura-mundo que, mesmo

em estado superficial, determina a escala coletiva e organizada no trabalho pela intervenção e

pela urgência de um mundo melhor para todos. Embora o hiperconsumo individualista esteja sob

48

o efeito do imaginário da igualdade e das imagens midiáticas, tudo pode ser contado a favor de

um resultado melhor para todos.

Para Lipovetsky e Serroy (2011, p. 194), os novos meios de composição na

hipermodernidade aliam, como exemplo, o desenvolvimento econômico e a proteção à natureza,

construindo “uma linha de ações comuns, de regulações trans e supranacionais injetadas na face

selvagem de um liberalismo que avilta os fracos e os desfavorecidos”.

Assim, mesmo que as imagens midiáticas sejam recursos meramente epidérmicos, de

sensibilização e passageiros podem promover, de alguma forma, a sentimentalização do

consumo consciente, fortalecendo a ideia de que o hiperindividualismo não é sinônimo absoluto

de desinteresse para com a ordem coletiva.

O altruísmo universal e o movimento transfronteiriço promovidos pelas mídias, ainda que

não traga, conforme Lipovetsky e Serroy (2011, p. 139), “nenhuma solução real para o recuo da

violência, injustiça e fome do mundo” ainda podem gerar a propagação e a sensibilização para a

ideia de mundo sustentável. Afinal, o conceito do desenvolvimento sustentável, mesmo tendo

sofrido inúmeras modificações e adaptações ao longo das décadas, continua representando um

significativo impulso epistemológico e permanece no ápice das discussões. É a partir daí, do

reflexo de uma forma de gestão globalizada, humanizada e ética, que nasce o novo discurso das

empresas, envolvendo o tema sustentabilidade.

Inicialmente, as empresas começaram a aderir à causa que defende o desenvolvimento

sustentável de fora para dentro, ou seja, como forma de responderem às críticas e oposições ao

seu desempenho, já que eram alvo de inúmeras instituições governamentais e da sociedade civil

organizada, considerando-as como responsáveis pela destruição social e ambiental em nível

global. Somente há pouco tempo, as empresas passaram a aderir a esse projeto, instigadas por

fatores relacionados às necessidades empresariais - ser integrante desse movimento passou a ser

um fator de competitividade, um diferencial para as empresas permanecerem no mercado

(BARBIERI, 2007).

Cada vez mais, as organizações entendem que o custo financeiro de diminuir o passivo

ambiental e gerir conflitos sociais pode ser mais elevado que o custo de promover ações

responsáveis, isso é, é mais lucrativo revelar respeito pelos direitos humanos e pelo meio

ambiente. Segundo Vinha (2003), tais ações têm o poder de influenciar a opinião pública com

relação à organização, garantindo a confiança dos investidores e consumidores, o que reflete nas

vendas e, consequentemente, no equilíbrio financeiro da organização.

49

Para Lipovetsky e Serroy (2011), a ascensão sustentável nos negócios decorre de quatro

fatores: 1. a necessidade real de preservação do meio ambiente e do ser humano; 2. a busca pela

maior transparência nos mercados corporativos; 3.a inovação em estratégias de marketing,

priorizando atitudes socialmente responsáveis para a imagem da marca e, por fim, 4. a promoção

de uma cultura organizacional, pautada na mobilização dos colaboradores, capaz de alcançar

uma imagem de respeito, fazendo com que isso influencie a dinâmica produtiva da empresa.

A crise ambiental é um reflexo da crise civilizatória diante das características das

sociedades contemporâneas baseadas em uma lógica mercadológica que não consegue

reconhecer limites e a problemática que envolve a construção de uma sociedade sustentável é

tarefa tão grandiosa que exige a colaboração de todos os segmentos sociais e organizações.

Nesse sentido, os planos de responsabilidade social corporativa e de desenvolvimento

econômico das organizações começam a convergir para as grandes questões sociais da

atualidade, como educação, saúde, inclusão social e diminuição da pobreza.

Conforme Savitz e Weber (2007), o termo sustentabilidade se transformou em assunto de

amplas discussões sociais e ambientais, sobretudo no mundo dos negócios. Denota uma ideia

poderosa e objetiva: empresa sustentável é aquela que gera lucro para os acionistas e, ao mesmo

tempo, protege o meio ambiente e melhora a qualidade de vida das pessoas com que mantém

interações.

O conceito definido por esse triplo resultado expressa uma nova realidade para o mundo

empresarial: o desempenho das organizações deverá estar atrelado aos seus resultados

financeiros, ao seu “desempenho” ambiental, cujos indicadores variam em função do ramo de

atividade em que atuam, e em relação ao seu “desempenho” social, já que passam a figurar como

agentes atuantes na melhoria da qualidade de vida de grupos sociais.

Para Savitz e Weber (2006), a responsabilidade social empresarial, em seus escopos

econômicos, sociais e ambientais, depende de três personagens fundamentais: as pessoas, o

planeta e o lucro. Assim, as iniciativas relacionadas a esse tipo de sustentabilidade

organizacional vão além das conformidades legais; não se limitam às preocupações com lucros.

A motivação para a sustentabilidade organizacional está no potencial humano, na

responsabilidade social das empresas e no cuidado com o planeta. A sustentabilidade se converte

em um princípio fundamental de gestão inteligente, que a partir de agora, será difícil ser

ignorado.

50

A chave para essa nova tendência, observada de forma crescente nos mercados mundiais,

é o reconhecimento de que os impactos sociais das empresas são fatores críticos para obtenção

de resultados competitivos.

Deste modo, a responsabilidade social diz respeito ao esforço mercadológico da empresa

de, enquanto marca, associar-se a uma causa social. A marca “Itaú” empreende esta tarefa e

veremos, nesta pesquisa, como a publicidade engendra esta associação.

No próximo capítulo, tratamos do processo de construção da identidade da marca “Itaú”,

tendo como elemento norteador a análise semiótica de símbolos da marca.

51

4 ITAÚ: INSTITUIÇÃO FINANCEIRA/MARCA

O objetivo deste capítulo é tratar de aspectos históricos da Instituição Financeira e

enfatizar o movimento desta enquanto marca, por meio de análise semiótica, na perspectiva da

semiótica peirceana, dos símbolos da marca “Itaú”, que são também manifestações da identidade

da marca.

4.1 Aspectos históricos em foco

A Instituição Financeira “Itaú”, ou o atual “Itaú Unibanco”, tem sua origem vinculada ao

Banco Central de Crédito, criado em 1943, mas que passou a funcionar efetivamente em 1945.

Neste período, com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, o governo brasileiro determinou a

liquidação de filiais de bancos cujas matrizes estivessem na Itália ou na Alemanha, o que

propiciou a abertura de novos bancos no Brasil.

Conforme dados disponíveis em sites2, a história deste banco inicia-se na cidade de

Pratápolis, distrito de Itaú, Minas Gerais, com a fundação do Banco Central de Crédito, por

Alfredo Egydio de Souza Aranha, no dia 30 de dezembro de 1943. No ano seguinte, a Caixa de

Mobilização e Fiscalização Bancária expediu as primeiras cartas patentes autorizando o banco a

realizar operações bancárias, com a abertura de quatro agências em locais diferentes. A primeira

agência sede, situada na Rua Benjamin Constant, 187, em São Paulo, iniciou suas atividades no

dia 02 de janeiro de 1945. Ao final do primeiro ano de atuação, o banco contava com três

agências, a sede e duas no interior de São Paulo, uma em Campinas e outra em São João da Boa

Vista, totalizando 22 funcionários.

Ao final da década de 1940, o Banco Central de Crédito contava com 11 agências, sendo

três delas na cidade de São Paulo e oito no interior. Em 1951, foi inaugurada a agência de

Santos, que permitiu a ampliação de negócios com exportadoras de café. Em 1952, atendendo à

recomendação do governo federal, o Banco Central de Crédito teve sua razão social alterada para

Banco Federal de Crédito S.A.; em 1964, recebeu a denominação de Banco Federal Itaú S.A.,

como resultado de fusão com o Banco Itaú S.A., ligado a empresários mineiros.

Nas décadas de 60 e 70 foram realizadas várias incorporações, fusões e aquisições, que

impulsionaram o crescimento do banco. O Banco Paulista de Comércio foi adquirido em 1961.

Em 1966, valendo-se da Reforma Bancária, ocorrida em 1964, que permitia a criação de bancos

2Disponível em: < https://ww2.itau.com.br/hotsites/sustentabilidade/_/No-itau-unibanco/mapa-da-

sustentabilidade.html>. Acesso em: 02 dez. 2014. Disponível em:<

http://mundodasmarcas.blogspot.com.br/2006/07/ita-feito-para-voc.html>. Acesso em: 05 dez. 2014.

52

de investimentos no Brasil, o Banco Federal Itaú obteve a primeira carta patente do país e

constitui o Banco Federal Itaú de Investimentos. Por sua vez, ao fundir com o Banco Sul

Americano do Brasil, recebeu a denominação de Banco Federal Itaú Sul Americano S.A., que

passou a contar com 184 agências concentradas, em maior número, no estado de São Paulo.

A Instituição, enquanto marca, mostra-se unificada e com identidade, criando também o

logotipo do Banco Federal Itaú Sul Americano (Fig.5), que permaneceu até 1973.

Em 1969, houve a fusão com o Banco da América S.A.. Com isto, com nova

denominação, Banco Itaú América S.A., a instituição passa a ter 274 agências distribuídas por

diversos estados no Brasil. Após outras fusões e incorporações, o banco passou, em 1973, a

denominar-se Banco Itaú S.A.

No que se refere à marca, o nome “Itaú”, que quer dizer pedra escura em tupi-guarani,

por ser um nome original, fácil de memorizar e composto por quatro letras, contribuía para

consolidar a marca, agregando-lhe solidez e simplicidade. Isto é reforçado também pelo logotipo

da marca (Fig. 6), que permaneceu até 1973, quando então Francesc Petit, da agência DPZ, criou

o símbolo (Fig. 7), uma região plana - quadrangular, negra, com os cantos arredondados-,

suporte para o nome “Itaú”, em letras minúsculas e na cor branca.

Em 1974, foi criada a Itaú S.A. - Investimentos Itaú, holding que detém controle

acionário do banco e de outras empresas. Em 1980, com a inauguração da agência de Nova

Iorque, iniciou-se a internacionalização do banco.

O processo de privatização dos bancos estatais no Brasil, ocorrido a partir de meados dos

anos de 1990, propiciou a expansão do Itaú, que adquiriu, em 1997, o Banco do Estado do Rio

de Janeiro S.A. (Banerj); em 1998, o Banco do Estado de Minas Gerais S.A. (Bemge); em 2000,

o Banco do Estado do Paraná S.A. (Banestado) e, em 2001, o Banco do Estado de Goiás S.A.

(BEG). Em 1994, o banco cria, em Lisboa, o Itaú Europa S.A., e compra, em 1998, o Banco Del

Buen Ayre, incorporando-o ao Itaú Argentina.

Em relação ao símbolo da marca, em 1992, as cores preta e branca são substituídas por

azul e amarela (Fig. 7). Nos anos seguintes, o símbolo é modificado. Ele ganha um fundo

alaranjado (Fig. 8).

Em 2001, o Itaú aderiu ao nível 1 de Governança Corporativa da Bovespa; em 2002, deu

início às operações do banco na Bolsa de Nova Iorque (NYSE); em 2003, adquiriu 99,99% do

capital do Banco Fiat e também uma reestruturação societária do Conglomerado Itaú que

resultou na criação do Banco Itaú Holding Financeira S.A. (Itaú), banco múltiplo que agrega o

Banco Itaú e o Banco Itaú BBA. Em 2006, tornou-se o primeiro banco não norte-americano com

53

ações listadas na bolsa de Nova Iorque a cumprir todos os dispositivos da seção 404 da lei

Sarbanes-Oxley, que trata de questões relativas aos controles internos sobre as demonstrações

contábeis consolidadas.

Nesse mesmo ano, o Itaú e o Bank of America Corporation adquiriram o BankBoston no

Brasil e o direito de exclusividade para adquirir as operações do BankBoston no Chile, Uruguai e

outros ativos financeiros de clientes da América Latina. Atualmente, o banco possui instalações

em Nova Iorque, Cayman, Lisboa e Londres (Banco Itaú Europa), Buenos Aires (Itaú Buen

Ayre), Tóquio e também na China (Itaú BBA).

Com mais de 60 anos de existência, o Banco Itaú é avaliado pela Moody’s Investors

Service, empresa de classificação de risco, como o banco de maior força financeira no Brasil e

pela Fitch Ratings, como o de melhor performance no mercado brasileiro.

A marca foi considerada, em 2008, a mais valiosa do país e passou a ocupar o primeiro

lugar entre as marcas da América Latina, segundo ranking da consultoria Internacional

Interbrand. Após associar-se ao Unibanco, o então Itaú-Unibanco passou a integrar o maior

conglomerado financeiro privado do hemisfério sul e tornou-se um dos vinte maiores do mundo.

No Guia Exame de Sustentabilidade, consta em 2007, Empresa Modelo - Aplicação com

Duplo Retorno; em 2008, Empresa Modelo - Apoio ao Microcrédito; em 2009, Empresa Modelo

- A Construção de uma Agenda Comum; em 2010, Empresa Modelo - O Poder da Colaboração;

em 2011, Empresa Modelo - Chega de Empurrar Seguros; em 2012 - Empresa Modelo - Para

Ficar no Azul; em 2013, Empresa Sustentável do Ano - Ser Responsável dá Lucro e, em 2014,

foi eleita “A Melhor entre as Instituições Financeiras”.

4.2 Os focos estratégicos e a sustentabilidade

Como consta no site oficial da Instituição Financeira “Itaú”3, o papel desta empresa é o

de “realizar sonhos, investir em grandes ideias e transformar uma sociedade”, o que será possível

com a construção de um ambiente economicamente saudável. Assim, o banco propõe crescer de

modo sustentável, o que implica na construção de relacionamentos equilibrados entre os

interlocutores, privilegiando o diálogo e a transparência. O desejo de mudar a vida das pessoas

para melhor depende da geração “de valores mais profundos e perenes que possam ser

compartilhados por todos aqueles envolvidos em nosso negócio, dos colaboradores aos clientes,

passando por nossos acionistas, parceiros e fornecedores.”

3Disponível em:< https://ww2.itau.com.br/hotsites/sustentabilidade/_/No-itau-unibanco/mapa-da-

sustentabilidade.html>. Acesso em: 04 dez. 2014.

54

Assim, há investimentos na formação de colaboradores, pois eles devem ser competentes

e ter orgulho de pertencer à organização. Explica-se ainda no mesmo site que há “105 mil

funcionários atuando em centros administrativos e agências bancárias, espalhados pelo Brasil e

em outros 19 países – todos conectados por um mesmo jeito de se relacionar com os públicos do

banco e guiados pelo compromisso de fomentar negócios que permitam que todos cresçam.”

Sendo assim, o conceito de sustentabilidade preconizado pela instituição, conforme

consta no mesmo site, abrange três dimensões: econômica, social e ambiental. O conceito

adotado passou por uma revisão dos estudos realizados sobre o tema, pois no site menciona-se o

Relatório de Brundtland – Nosso Futuro Comum, no qual sustentabilidade é definida como

aquilo que pode "satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das

gerações futuras de satisfazer as próprias necessidades". Vem de John Elkington, fundador da

Sustainability – uma das mais importantes instituições que trabalham com o tema – a definição

adotada, pois para este estudioso, a sustentabilidade corresponde à “busca pelo equilíbrio entre o

pilar econômico, social e ambiental, representada também pelo termo Triple bottom line".

O vínculo das prioridades do Itaú Unibanco em sustentabilidade à agenda de negócios da

organização, depois de discussões empreendidas nos seus mais diversos setores e envolvendo

cerca de 200 executivos, diretores e colaboradores do Itaú veio com a adoção de três focos

estratégicos: Educação Financeira, Riscos e Oportunidades Socioambientais e Diálogo e

Transparência. O movimento assim estabelecido pode ser visto no diagrama (Fig. 4).

Fonte: Disponível em: < https://ww2.itau.com.br/hotsites/sustentabilidade/index.html>. Acesso em: 15 dez. 2014.

Figura 4 - Mapa de Sustentabilidade

55

A Educação Financeira, conforme consta no site mencionado, tem como propósito

propiciar uma relação saudável com o dinheiro ao entender as necessidades das pessoas e

oferecer conhecimentos bem como propor soluções financeiras adequadas aos clientes/usuários.

Há várias ações em execução como Programa Uso Consciente do Dinheiro para clientes e o

público em geral, que envolve uma série de ações, como a distribuição de cartilhas nas agências,

tutoriais e o site www.itau.com.br/uso consciente.

Em Riscos e Oportunidades Socioambientais propõe-se que entre as práticas bancárias as

questões sociais e ambientais sejam consideradas, pois o conhecimento advindo destas práticas

favorece a gestão de riscos, principalmente aquelas atreladas à imagem da empresa. Essa

abordagem gera oportunidades para os bancos, clientes e para a sociedade.

A incorporação de indicadores sociais e ambientais aos negócios, em todo o mundo,

demonstra que, por sua importância na economia, o setor de serviços, em especial o financeiro,

que tem contato com todos os outros setores produtivos, tem um enorme potencial para

influenciar mudanças na sociedade.

Diálogo e transparência, outro foco estratégico, visam garantir a permanência da

empresa, que depende da interação construída com colaboradores, clientes, acionistas e com a

sociedade. Assim, “ouvir e entender suas demandas e comunicar os compromissos e resultados

dos negócios, com clareza e transparência, são práticas que promovem a parceria desses públicos

com a empresa” e, nesta interação, está “a oportunidade para aprimorar os negócios, inspirar

transformações positivas na sociedade e engajar mais e mais pessoas nas mudanças que devem

ser feitas.”

Em sendo este o caminho para a construção de relações de longo prazo, a instituição, no

caso, declara que busca “desenvolver continuamente um grande número de iniciativas que

abrangem nossos diferentes públicos.”

Vejamos como a identidade da marca manifesta-se em logotipos e símbolos da marca.

Vamos considerá-los como signos, na perspectiva da semiótica peirceana.

4.3 Os sentidos engendrados nos símbolos da marca “Itaú”

Iniciemos com a análise do logotipo (Fig. 5). O significado de uma mensagem visual,

conforme Dondis (2010, p. 22), “pode encontrar-se não apenas nos dados representacionais, na

informação ambiental e nos símbolos, inclusive a linguagem, mas também nas forças

compositivas que existem ou coexistem com a expressão factual e visual.”

56

Fonte: Disponível em:< https://www.itau.com.br/_arquivosestaticos/Itau/img/marca-logo.jpg>. Acesso em: 10 dez.

2014.

Os elementos visuais são manipulados com ênfase cambiável pelas técnicas de

comunicação visual, numa resposta direta ao caráter do que está sendo concebido e ao objetivo

da mensagem. A mais dinâmica das técnicas visuais é o contraste, que se manifesta numa relação

de polaridade com a técnica oposta, a harmonia. (DONDIS, 2010, p. 23-4).

As faixas negras, planas e intercaladas por partes brancas parecem regiões triangulares

entrelaçadas. O jogo das cores preta e branca, bem como as formas entrecortadas, sugerem

equilíbrio, simetria, simplicidade, economia, opacidade, estaticidade e planura, técnicas visuais

que tornam a figura harmônica. Assim, pela harmonia produz sensações agradáveis e de prazer.

Conforme Dondis (2010, p. 22), um “acontecimento visual é uma forma com conteúdo,

mas o conteúdo é extremamente influenciado pela importância das partes constitutivas, como a

cor, o tom, a textura, a dimensão, a proporção e suas relações compositivas com o significado”.

Neste caso, os aspectos qualitativos mencionados podem levar o usuário/intérprete a associar à

figura sensações ou emoções vinculadas a uma convivência agradável e prazerosa, que agrega

solidez e segurança. Quando o usuário/intérprete associa o logotipo à empresa, na perspectiva da

semiótica peirceana, este opera como sinsigno, que pode ser icônico ou remático, caso os efeitos

o levem à contemplação ou à constatação.

Mas, as cores e as formas, como elementos presentes na cultura e compartilhados nas

experiências, engendram simbolismos também - além dos que advêm da experiência do

usuário/intérprete com o banco -, que podem ser agregados aos sentidos da imagem (o logotipo)

Figura 5 - Logotipo do Banco Federal Itaú Sul Americano

57

e, consequentemente, à empresa, à medida que esta incorpora novos significados por representa-

la. Assim, o logotipo faz-se uma réplica (sinsigno) para um legissigno simbólico.

Vejamos os aspectos simbólicos que impregnam as cores preta e branca, bem como a

forma triangular. Há simbolismos atrelados ao triângulo na filosofia, nas religiões, na alquimia e

em culturas de povos da antiguidade. Entre os simbolismos, consideramos pertinente mencionar,

o vínculo com a maçonaria onde o triângulo equilátero, forma que a figura sugere, representa a

terra (Itaú – terra escura, em tupi-guarani). Por estar com a ponta para baixo, representa o sexo

feminino. Na filosofia platônica o triângulo simboliza harmonia e divindade.

O jogo preto/branco traz à tona muitas dicotomias: quente/frio, morte/vida, trevas/luzes,

opacidade/transparência, densidade/fluidez que se equilibram na figura. É uma figura estática, no

entanto, sugere movimentos sutis, pelo entrelaçamento de barras retangulares negras e brancas.

Assim, as convenções compartilhadas na cultura agregam sensações vinculadas ao equilíbrio, à

harmonia.

No entanto, todos os efeitos propiciados pelo jogo preto/branco caminha para o símbolo

(Fig. 6), que reforça o vínculo à terra, com a presença de uma região quadrangular, pois

conforme Chevalier e Gheerbrant (2008), o quadrado é símbolo da terra.

Figura 6 - Símbolo do Banco Itaú S.A.

Fonte: Disponível em:< https://www.itau.com.br/_arquivosestaticos/Itau/img/marca-logo.jpg>. Acesso em: 10 dez.

2014.

A região quadrangular negra vem com os cantos arredondados – que não atrapalha a

percepção da figura como sendo uma região quadrangular – e pode propiciar ao

58

usuário/intérprete sensações de leveza e fluidez. A estaticidade da região quadrangular rompe-se.

O arredondamento dos cantos agrega mobilidade, uma vez que o quadrado, conforme Chevalier

e Gheerbrant (2008, p. 750), “implica uma ideia de estagnação, de solidificação”. Por outro lado,

pelo fato de que o quadrado “evoca, com seus limites estritos, o sentido de secreto e poder

oculto” (CHEVALIER E GHEERBRANT, 2008, p. 754), então, há aspectos místicos neste

símbolo tal como no anterior.

O nome “Itaú” é então cravado na terra preta (região quadrangular, na figura), com letras

minúsculas, brancas e arredondadas, o que lhe dá movimento, fluidez e leveza. A opacidade,

simplicidade, equilíbrio, simetria, economia e planura são técnicas visuais presentes que dão

harmonia à figura. Assim, as sensações agradáveis e prazerosas persistem.

A forma que se apresenta, por todas as características mencionadas, passa a exercer o

papel de forma-padrão para a marca, internalizada e inquestionável. Assim, o símbolo pode

transformar-se sem perder a forma-padrão, para manifestar outros aspectos da identidade da

marca. Neste sentido, há variação das cores tal como a apresentada nos símbolos (Fig. 7 e Fig.

8).

Figura 7 - O azul e o amarelo traduzindo o crescimento da marca

Fonte: Disponível em:https://www.itau.com.br/_arquivosestaticos/Itau/img/marca-logo.jpg> Acesso em: 10 dez.

2014.

59

Figura 8 - A cor alaranjada envolvendo a marca (e os usuários/clientes) numa seara onírica e prazerosa

Fonte: Disponível em:< https://www.itau.com.br/_arquivosestaticos/Itau/img/marca-logo.jpg>. Acesso em: 10 dez.

2014.

A cor amarela, expansiva e ardente, traduz a origem divina do poder dos reis, príncipes,

imperadores, bem como, para Chevalier e Gheerbrant (2008, p. 40), simboliza a eternidade,

“como o ouro é o metal da eternidade”.

As letras, pela forma arredondada, por serem minúsculas, na cor amarela, agregam

movimento e leveza à figura. A cor azul (do céu) contribui para a construção de uma ambiência

mágica e propícia à imaginação.

O azul é a mais imaterial das cores: a natureza o apresenta feito apenas de transparência,

i.e.; de vazio acumulado, vazio de ar, vazio de água, vazio do cristal ou do diamante. O

vazio é exato, puro e frio. Os movimentos e os sons, assim como as formas,

desaparecem no azul, afogam-se nele e somem, como um pássaro no céu. (...) É o

caminho do infinito, onde o real se transforma em imaginário (CHEVALIER E

GHEERBRANT, 2008, p. 107)

Chevalier e Gheerbrant (2008, p. 107), “o azul é o caminho da divagação, e quando ele se

escurece, de acordo com sua tendência natural, torna-se o caminho do sonho.” Assim, este

símbolo pode produzir no usuário/interprete, vinculados à euforia, à liberdade, pode também

sugerir que ele pode valer-se da imaginação, realizar os seus sonhos sempre com segurança.

A cor alaranjada, em forma quadrangular, no símbolo (Fig. 8) envolve a marca numa

seara de energia vital, como sinônimo de libido, pois conforme Chevalier e Gheerbrant (2008, p.

27), o alaranjado é o “ponto de equilíbrio entre o espírito e a libido”. Também, segundo Farina

(2000), esta cor pode ser associada, afetivamente, à euforia e ao prazer. Aos sentidos de

expansão, crescimento, possibilidade de realização de sonhos agrega-se, então, com este

60

símbolo, uma ambiência prazerosa, alegre. Ou ainda, este símbolo traduz a identidade da marca

que se mostra com potencial para realizar os sonhos de seus usuários/clientes, ou mais “realizar

sonhos, investir em grandes ideias e transformar uma sociedade”, como consta no site da

empresa.

As técnicas visuais que constroem uma figura com harmonia continuam presentes nas

duas últimas. Como legissignos simbólicos, cujas réplicas (sinsignos) são as representações

visuais analisadas, como exemplos, a marca “Itaú” exibe sentidos nelas latentes. Via símbolos,

alcançamos a ideia de que a marca, com segurança e solidez, pode realizar os sonhos dos

clientes/usuários, operar transformações no meio, envolvendo-os, assim, numa ambiência

prazerosa, alegre. Deste modo, os símbolos, em questão, são manifestações da marca, de fato,

isto se considerarmos as declarações que constam no site oficial da marca.

Mas, o que os slogans podem acrescentar à identidade desta marca? Vejamos uma breve

análise de um dos slogans da marca “Itaú”.

4.4 Os slogans da marca

Para Iasbeck (2002), os slogans extrapolam os limites dos meios de comunicação e fazem

parte do discurso da modernidade, migrando para as conversas do dia a dia de profissionais, de

políticos e estão disseminados na internet. Os slogans são frases curtas e compactas e “tão

sedutores e significativos a ponto de perturbarem não só a produção de sentido de outras formas

de pensar e dizer, mas também – e até – a percepção daquilo que convencionamos denominar

realidade” (IASBECK, 2002, p 14).

Conforme Iasbeck (2002), o slogan é um elemento importante de uma peça publicitária,

que aparece no início ou no final e, de modo geral, é altamente persuasiva e não vem

acompanhada de imagens. A sua origem reporta-se aos ditos populares e sempre foi uma

estratégia do marketing político. O slogan pode ser elaborado com provérbios e máximas; com

frases de efeito, com palavras de ordem como normas, avisos ou princípios ideológicos e com

lemas, que são expressões imperativas e encorajadoras. Assim sendo, o slogan, quase sempre, é

uma frase de efeito. No entanto, uma frase de efeito não necessariamente é um slogan. Quanto

aos temas de campanha, frases fortes que tomam posse da estratégica publicitária, esses são

equivalentes ao slogan.

No contexto da publicidade de instituições financeiras, conforme Iasbeck (2002, p.137), é

importante que o slogan não enfatize o que o dinheiro pode comprar, mas o significado cultural

da aquisição, bem como mostre o comércio do dinheiro pelos bancos, com “metáforas eufêmicas

61

que atenuam a rudeza das relações financeiras, deslocando-as para as ‘qualidades de vida’

possíveis a quem detém riqueza acumulada”.

O slogan, portanto, neste sentido, para um banco, deve corresponder a algo que lhe caia

bem, que seja associável sem conflitos a outras manifestações da identidade da marca, ou seja,

que seja também uma manifestação da identidade deste.

De 1975 a 2006, os slogans da marca “Itaú” foram os seguintes: Seja cliente de um banco

só, de 1975; Itaú: pode entrar que a casa é sua, de 1979; O Itaú está onde você precisa, de1988;

Itaú: todo dia um banco melhor para você, de1992; Itaú: pronto para o futuro, de 1995; Itaú.

Feito para você, de 2001; Itaú: 60 Anos Sendo Feito para Você, de 2005, e, Feito para você, de

2006, que pode ser visto ao lado do símbolo (Fig. 9).

O slogan “O Itaú foi feito para você” estava presente também em uma das campanhas de

mídia externa mais bem sucedidas entre as criadas para o “Itáu”. Conforme consta em site4 sobre

marcas:

Com outdoors e mobiliários urbanos inovadores e criativos, a campanha fez sucesso

rapidamente, invadindo as ruas das principais capitais brasileiras, respeitando a

regionalidade e cultura de cada região. Por exemplo, em Porto Alegre, uma das peças

trazia como título “Guris e gurias. O Itaú foi feito para vocês”. No Rio de Janeiro,

estava nas ruas o outdoor “Garota de Ipanema e Meninos do Rio. O Itaú foi feito para

vocês”. Em Salvador: “Meu rei. O Itaú foi feito para você”.

Figura 9 - Itaú feito para você

Fonte: Disponível em:< https://www.itau.com.br/_arquivosestaticos/Itau/img/marca-logo.jpg>. Acesso em: 10 dez.

2014.

4Disponível em:< http://mundodasmarcas.blogspot.com.br/2006/07/ita-feito-para-voc.html>. Acesso em: 05 dez.

2014.

62

Vamos lançar um olhar para o slogan, sob a perspectiva da semiótica peirceana, com os

termos: feito e você. “Você”, pronome pessoal, exerce o papel de índice na frase, logo, chama a

atenção do usuário/intérprete, colocando-o no centro das atenções, tornando-o o alvo. “Palavras

tais como isto, aquilo, ei, alô, você, aí têm uma ação direta e compulsiva sobre o sistema nervoso

e compelem o ouvinte a olhar para o emissor; e assim, mais do que as palavras comuns, elas

contribuem para indicar sobre o que é a fala” (CP 3.419 apud DRIGO e SOUZA, 2013, p. 117).

Os índices, conforme Drigo e Souza (2013, p. 116), “trazem em si qualidades inerentes

ao ícone”. No caso, analisando o termo “você”, como se mostra na representação visual (Fig. 9),

então os aspectos qualitativos atrelados à cor e à forma das letras, na frase, agregam também

outras sensações ao caráter sinalizador da palavra, uma vez que, para Farina (2000), a cor branca,

afetivamente, pode ser associada à simplicidade, inocência, afirmação, harmonia e estabilidade.

As formas arredondadas, são femininas, propiciam sensações de leveza, conforto, aconchego,

uma vez que o feminino designa, conforme Chevalier e Gheerbrant (2008, p. 598), “a dádiva e a

receptividade”.

Assim, o usuário/intérprete (você) é bem recebido pelo “Itaú”. Acrescenta-se a estes

sentidos os advindos da memória do verbo “fazer”, uma vez que, como símbolo, a palavra, de

modo geral, agrega significados e sentidos construídos com as experiências da pessoa. Ao

observar o dicionário5, por exemplo, encontramos uma infinidade de usos do verbo todos

vinculados às ações das pessoas e, de modo especial, ao corpo.

O verbo fazer, que quer dizer “criar, dar existência ou forma”, pode ser usado no sentido

de compor ou escrever, como em “fazer versos”; também como representar como na frase:

“Quem faz o galã nesse filme?”; como ser causa de, em: “As crianças faziam uma algazarra dos

diabos.”; diligenciar, esforçar-se por, em “Faça que os alunos estudem mais.”, ou “Façamos com

que o nosso trabalho aproveite a todos.”; por em ordem ou arrumar, como na frase: “Fazer a

cama.”; preparar, cozinhando, como em “Fazer o almoço.”; transformar em, como em “Quero

fazer de você um bom estudante.”; seguido de um infinitivo, tem o sentido de constranger,

obrigar, ser causa de, como em: “O som daquela voz me fazia estremecer.”; em frases ligadas,

emprega-se como verbo vicário, como em: “Hei de prepará-lo como fiz a outros alunos.”; fazer

as sobrancelhas: cuidar delas, tornando-as delgadas e bem arqueadas; fazer as unhas: apará-las

ou esmaltá-las; fazer beicinho, ou seja, a) estender o lábio inferior ao dispor-se a chorar

(criança); b) mostrar-se agastado, amuar-se; Fazer crescer a água na boca: diz-se de alimento

apetitoso, ou de qualquer outra coisa que se deseja possuir; Fazer festas (ou festinhas) a, que

5 Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-

portugues&palavra=fazer>. Acesso em: 05 jan. 2015.

63

quer dizer acariciar, afagar, agradar; Fazer gosto em, que significa desejar que (um fato)

aconteça auspiciosamente, ou em fazer uma fezinha, que quer dizer arriscar a sorte, jogar.

Os usos do verbo fazer estão vinculados ao corpo, a ações que usam as mãos, a

proximidade com a força do corpo, ações que dependem de esforço físico, ou seja, são ações

calorosas e que envolvem as pessoas, de modo direto. Neste sentido, o banco foi “feito”,

organizado com a proximidade das pessoas, feito com as mãos, com calor humano, como algo de

pessoa para pessoa. Isto aproxima o banco da pessoa, pois ele exala calor humano. Ele se faz

humano.

O fato do slogan vir no símbolo da marca, uma vez que a frase “feito para você, aparece

na região alaranjada que contorna a parte azul do símbolo, como um prolongamento natural,

enfatiza-se que este aspecto está incorporado na identidade da marca.

Os sentidos em potencial no slogan pelo fato de agregar um índice e um símbolo com as

particularidades elencadas difundem afeto, emoção e compromisso para com o outro. Isto vai ao

encontro da função emotiva da linguagem, uma entre as funções propostas por Jakobson (1988)6.

Conforme Iasbeck (2202), o que determina o grau de afetividade são as peculiaridades do objeto

ou da ideia anunciada, que pode sensibilizar muitas pessoas. No caso, a frase “Feito para você”,

empolga o usuário/intérprete por revelar preocupação com o outro e sinalizar para o modo como

a marca foi construída. Ela se mostra calorosa, afetiva, humana.

Assim, como pessoa ou próximo dela, o banco assume deveres - pois estes são da seara

dos seres humanos-, tais como: como cuidar da família, da educação das pessoas, em geral, zelar

pelo meio ambiente, conforme anuncia-se no diagrama (Fig. 9).

Na modernidade, como explica Safatle (2013, p. 17), a noção de dever firma-se com duas

características: a “definição como norma dotada de universalidade, categoricidade e

intencionalidade” e como “expressão de uma vontade que submete outras vontades e que, através

dessa capacidade reflexiva de autocontrole, funda a identidade como sujeito autônomo”.

Ao compartilhar os deveres então propostos, o sujeito – o usuário/cliente - e o próprio

banco – fundam suas identidades. Vejamos se isto se consolida com os resultados das análises

das peças publicitárias, que vêm no próximo capítulo.

6 Segundo Jakobson (1988), as funções da linguagem são as seguintes: fática, referencial, conotativa, emotiva e

poética. A função fática fortalece a eficiência da mensagem sobre a mensagem ou o canal de comunicação; a

referencial privilegia o referente e busca transmitir informações objetivas sobre ele; a conotativa é a que organiza a

mensagem para que esta atue de forma persuasiva; a emotiva faz com que o receptor perceba a presença do emissor

na mensagem e, por fim, a poética desperta o prazer estético no receptor, por utilizar combinações sonoras ou

rítmicas, construir jogos com imagens e ideias.

64

5 AS PEÇAS PUBLICITÁRIAS E OS VALORES PARA ALÉM DA

SUSTENTABILIDADE

Neste capítulo, tratamos de alguns aspectos da semiótica peirceana, pois de um de seus

ramos advêm as estratégias metodológicas para análise das peças publicitárias, com o objetivo de

revelar como o conceito de sustentabilidade está engendrado nestas peças e o que, para além dos

inerentes à sustentabilidade, contribuem para firmá-lo. Seguem as análises também.

5.1 A semiótica peirceana em foco

Algumas definições relativas aos fundamentos do signo, conforme a semiótica peirceana,

fundada por Charles Sanders Peirce (1839-1914), foram tratadas nas análises realizadas nos

capítulos anteriores. Retomamos agora, no início deste capítulo, para tornar claro o modo como

utilizamos as estratégicas metodológicas extraídas desta semiótica, mais precisamente da

gramática especulativa, um dos seus ramos. Optamos pela semiótica peirceana7, por ser a ciência

geral dos signos e, assim, não se limitar somente aos signos verbais. Conforme Santaella

(SANTAELLA, 1996, p. 165):

A Semiótica (a ciência dos sistemas de signos) não considera o mundo extralinguístico

como um referente absoluto, mas como o lugar de manifestação do sensível, suscetível

de se tornar manifestação de sentido pelo fato de que fala à nossa percepção, sensação e

razão. É no homem e pelo homem que se opera o processo de alteração de sinais

(substratos físicos dos objetos do mundo) em signos (substratos fenomenais da

consciência). Porque é capaz de perceber ritmos, repetições no encadeamento (ação e

reação) dos fenômenos, o homem os traduz em normas, leis e os representa em

fórmulas.

Apresentamos a definição de signo, a classificação do signo na sua relação com seus

fundamentos; na relação com o objeto (do signo), ou seja, ao que ele sugere, apresenta ou

representa, bem como em relação ao efeito produzido em uma mente interpretadora. O efeito do

signo é o interpretante do signo.

Segundo Santaella (2005), a semiótica é uma das disciplinas que constituem a ampla

arquitetura filosófica de Peirce. Tal arquitetura se baseia na fenomenologia, que investiga as

maneiras como apreendermos os fenômenos, enquanto qualquer coisa que aparece ou que se

apresenta à mente. No contexto da nossa pesquisa, vamos tomar a mente como a mente humana.

7 Segundo Santaella (1996, p. 24), o termo semiótica foi introduzido, na filosofia, por John LocKe, no século XVII,

para designar o estudo dos signos em geral. Charles Sanders Peirce (1836-1914), lógico, filósofo, químico, norte

americano, o retoma na mesma acepção.

65

Segundo Santaella (2005), os estudos de Peirce o levaram à conclusão de que existem três

elementos em todos os fenômenos que se apresentam à percepção e à mente. As categorias:

primeiridade, secundidade e terceiridade, correspondem aos modos como as coisas parecem

predominando as qualidades, o fato de ser um existente, ou por desencadear o pensamento,

respectivamente.

A fenomenologia fundamenta as ciências normativas, que se dividem em estética, ética e

semiótica ou lógica, sendo que a última, se divide em três ramos: gramática especulativa, lógica

crítica e metodêutica.

A gramática especulativa é o estudo de todos os tipos de signos e forma de pensamento

que eles possibilitam. A lógica crítica toma como base as diversas espécies de signos e

estuda os tipos de inferências, raciocínios ou argumentos, que se estruturam através de

signos. [...] a metodêutica estuda os princípios do método científico, o modo como a

pesquisa científica deve ser conduzida e como deve ser comunicada. (SANTAELLA,

2005, p.3-4)

De acordo com Santaella (2005), na gramática especulativa, há elementos que permitem

descrever, analisar e avaliar todo e qualquer processo existente de signos verbais, não verbais e

naturais: fala, escrita, gestos, sons, comunicação dos animais, imagens fixas e em movimento,

audiovisuais, hipermídias, etc.

O signo, na perspectiva desta semiótica, é qualquer coisa de qualquer espécie que

representa algo, o objeto do signo, e produz um efeito em uma mente real ou potencial, o

interpretante do signo. Uma peça publicitária, por exemplo, é um signo que representa um objeto

– o produto ou a marca – e, os interpretantes são os efeitos produzidos nos usuários/intérpretes.

Nas palavras de Peirce:

Defino um Signo como qualquer coisa que, de um lado, é assim determinado por um

objeto e, de outro, assim determina uma ideia na mente de uma pessoa, esta última

determinação, que denomino o Interpretante do signo é, desse modo, mediatamente

determinada por aquele Objeto. Um signo, assim, tem uma relação triádica com seu

Objeto e com seu Interpretante (CP 8.343 apud DRIGO E SOUZA, 2013, p. 23).

São três aspectos que permitem que um objeto – qualquer coisa – funcione com signo.

Conforme Santaella (2005, p. 12): “Sua mera qualidade; Sua existência, isto é, o simples fato de

existir; E o seu caráter de lei. (...) Pela qualidade, tudo pode ser signo, pela existência, tudo é

signo e pela lei, tudo deve ser signo. É por isso que tudo pode ser signo, sem deixar de ter suas

outras propriedades.” (SANTAELLA, 2005, p.12).

A simples qualidade, a existência e o caráter de lei capacitam algo a se fazer signo.

Também, correspondendo a estes aspectos, são três os tipos de relação que o signo pode ter com

66

o objeto a que se refere. “Se o fundamento é um qualissigno, na sua relação o objeto, signo será

um ícone; se for um existente, na sua relação com o objeto, ele será um índice; se for uma lei,

será um símbolo.” (SANTAELLA, 2005, p.14)

Segundo Santaella (2005), um ícone é um signo que tem como fundamento um

qualissigno. Ele só pode sugerir ou evocar algo porque a qualidade que ele exibe se assemelha a

outra qualidade. O traço mais característico do símbolo é sua convencionalidade. O

legissigno funda-se numa lei que habilita algo a ser um signo.

Na definição de signo, um dos elementos da tríade, é o interpretante. A representação

corresponde a uma fase da semiose, ou ação do signo, processo que se dá com a interpretação de

um signo em outro signo (interpretante), que como signo gera outro signo (interpretante) e assim

sucessivamente. O interpretante, outro signo, é sempre outra representação relativa ao mesmo

objeto. Mas, por sua vez, esse signo gera como interpretante outro signo e assim sucessivamente

e infinitamente, pelo menos sob o ponto de vista teórico.

O interpretante é o membro menos problemático da tríade. É o efeito efetivamente

produzido pelo signo num ato de interpretação concreto e singular. É o efeito real

produzido por um dado intérprete, numa dada ocasião e num dado estágio de sua

consideração sobre o signo. Pode-se dizer também que o interpretante dinâmico é uma

determinação de um campo de representação exterior ao Signo (sendo tal campo a

consciência de um interprete), determinação essa que é afetada pelo Signo. (MS 339,

p.504 apud SANTAELLA, 2000, p.73)

São três os tipos de interpretantes: imediato, dinâmico e final. A partir das ideias de

Peirce, Santaella (2000) explica que o interpretante imediato consiste nos efeitos que o signo está

apto a produzir numa mente interpretadora qualquer, consiste numa mera potencialidade de

sentido, latente no signo. O interpretante dinâmico é o que se efetiva com a ação do signo. Ele

pode ser emocional, energético e lógico.

Para Santaella (2005), o primeiro efeito que um signo está apto a provocar em um

intérprete é uma qualidade de sentimento, isto é, um interpretante emocional. Os ícones

produzem esse tipo de interpretante com mais intensidade. O segundo efeito de um signo é o

energético, que corresponde a uma ação física ou mental, quer dizer, o interpretante exige um

gasto de energia de alguma espécie. O terceiro efeito do signo é o interpretante lógico, que está

atrelado aos pensamentos, às reflexões e ao desenvolvimento de hábitos no intérprete.

O terceiro tipo de interpretante, o interpretante final, é um interpretante geral abstrato.

Este interpretante, segundo Santaela (2000, p. 74), “deve ser entendido como um limite ideal,

aproximável, mas inatingível.” Os interpretantes dinâmicos atualizados na ação do signo tendem

67

ao interpretante final. Assim, este é um limite proposto, mas que pode ir além com o crescimento

do signo que vêm mesmo com as atualizações levadas adiante pelos possíveis intérpretes.

Nas análises não vamos classificar as peças, mas buscar aspectos nos recortes realizados

capazes de produzir efeitos no usuário/intérprete quer seja pelas qualidades ou pelas pistas que o

conduzam a determinado contexto.

De acordo com Santaella (2005), Peirce esclarece que o primeiro olhar que devemos

dirigir ao signo é o olhar contemplativo; o segundo, o observacional e o terceiro tipo de olhar

deve ser aquele capaz de abstrair o geral do particular, extrair de um dado fenômeno aquilo que

ele guarda em comum com todos os outros com que compõe uma classe geral. Então, conclui-se

que o primeiro olhar é aquele que capta a face de qualissigno. O segundo, leva em consideração

apenas o aspecto existente de um signo, ou seja, o sinsigno. O terceiro de olhar, que devemos

dirigir ao fundamento do signo, leva em conta a propriedade de lei, o legissigno.

Na análise de uma peça publicitária impressa, o primeiro olhar corresponde a verificar

quando o signo opera como qualitativo-icônico, que para Santaella (2005), destaca os aspectos

qualitativos de um produto, peça ou imagem, ou melhor, a qualidade da matéria de que é feito,

suas cores, linhas, volumes, dimensão, textura, luminosidade, composição, forma, design etc. A

impressão que nasce da primeira olhada propicia associações de ideias, de sensações, livre do

possível objeto do signo.

Sob segundo olhar, o produto, a peça, ou imagem é analisado como um existente em

determinado contexto. Este olhar conecta o signo a existentes e amplia as possibilidades de

associações, agora mais direcionadas, atreladas ao objeto do signo. De um lado, o produto é

analisado na sua relação com o contexto a que pertence; de outro, é analisado de acordo com as

funções que desempenha, as finalidades a que se presta. Sob o ponto de vista convencional-

simbólico, o produto é analisado no seu caráter de tipo, quer dizer, não como algo que se

apresenta na sua singularidade, mas como um tipo de produto.

Uma mensagem publicitária, na relação com o seu objeto, deve sempre conjugar uma

relação entre ícone e índice. Nas palavras de Santaella e Nöth (2010, p. 97):

O aspecto demonstrativo envolvido em cada anúncio publicitário é ou implica um signo

indicial, ou seja, um signo que indica seu objeto de referência por estar ou ter estado

existencialmente conectado a ele. Além disso, o produto precisa ser mostrado. Os meios

de comunicação de massa não podem mostrar o produto diretamente; eles tipicamente o

apresentam na forma de uma imagem, a qual envolve um signo do tipo icônico, que é

um signo que representa seu objeto através da estratégia de similaridade. Indexicalidade

e iconicidade encontram-se, portanto, na raiz da publicidade dos meios de comunicação.

68

Assim, ao realizar a análise, é necessário contemplar, dar tempo ao olhar que se perde na

mensagem e tenta captar que aspectos qualitativos podem mobilizar os sentidos de um intérprete.

Também, deve-se primar pelo olhar que se faz como verdadeiras lupas, para assim capturar

pistas do que guarda resquícios de simbolicidade, ou seja, do que tem caráter de convenção, de

lei, que lembra algo compartilhado por uma comunidade, por um grupo de pessoas, ou mesmo

por pessoas espalhadas pelo planeta.

São estes olhares que lançamos para as peças publicitárias da marca “Itaú” para avaliar

como a marca engendra o conceito de sustentabilidade.

5.2 O conceito de sustentabilidade que as peças publicitárias engendram

Vamos tomar peças publicitárias, inicialmente, do Grupo 1: Dimensão Econômica. As

subdimensões: “Direitos e Deveres” e “Relações com os clientes/usuários” são tratadas com as

peças publicitárias (Fig.10 e Fig. 11).

5.2.1 Dimensão Econômica

a) “Direitos e Deveres”

A partir dos resultados da análise semiótica, que vem a seguir, avaliamos em que medida

esta peça publicitária aproxima-se da sub-dimensão mencionada.

Na análise semiótica, inicialmente, o olhar pode captar os aspectos qualitativos da

representação visual: cores, formas, textura, dimensão, movimento. Neste olhar que captura estes

aspectos, a peça publicitária (Fig.10) se faz signo que tem como fundamento/natureza, a

qualidade, o que o faz, na terminologia peirceana, qualissigno. Tais aspectos qualitativos podem

ser convertidos pela consciência, que nessa instância se mantém em estado tênue, porosa, em

qualidades de sentimentos.

Na representação visual, os tons alaranjados e dourados, iluminados e em harmonia, se

misturam em movimento, num jogo que propicia a contemplação, firmada pelas marcas em azul.

Há linhas arredondadas e formas irregulares que acentuam o movimento.

Há harmonia na composição, a qual, segundo Itten (1990), vem com o jogo entre cores

análogas ou de tons próximos, sem contraste violento, o que implica no uso balanceado e

simétrico das forças das cores, mesmo que extremamente contrastantes. A harmonia cromática,

69

sob um aspecto científico, se baseia no estudo objetivo da satisfação do olho humano em obter

equilíbrio, sem que este produza cores ilusórias ausentes. As cores alaranjada e azul,

contrastantes, são usadas adequadamente agregando harmonia à figura na peça em análise.

Figura 10 - Campanha Seguro Itaú Vida

Fonte: Disponível em: <http://www.dm9ddb.com.br>. Acesso em: 26 out. 2013.

Se o usuário/intérprete permanecer em estado de contemplação, que pode vir como efeito

destes aspectos qualitativos mencionados, então, a peça publicitária, nestes instantes, de pequena

duração e fugidios, pode prevalecer como qualissigno icônico. O efeito, portanto, está vinculado

às sensações de leveza, espontaneidade e torpor. No entanto, o fato de que a peça é um existente,

que se põe diante do olhar do usuário/intérprete, faz com que esta predomine como sinsigno

icônico ou indicial, ou seja, o seu aspecto de existente pode guiar a ação da mente do

usuário/intérprete. Vejamos como isto pode ocorrer.

O segundo modo de olhar – observacional – discrimina, captura existentes. Existente na

linguagem visual é tudo o que podemos captar, tudo o que se apresenta e insiste para ser

recolhido, em entrar na nossa percepção, tudo o que é possível de ser identificado e nomeado. A

natureza de existência singular faz do signo um sinsigno. Um sinsigno é, portanto, parte do

70

contexto em que ele se manifesta; sendo parte do todo, notabiliza-se pela indicialidade, ou seja,

aponta para esse universo de que faz parte, daí ser, na relação com o objeto, um índice, que leva

a mente de um intérprete aos meandros da constatação.

Vejamos os aspectos indiciais presentes na representação visual. O símbolo da marca

“Itaú” mostra-se em meio aos tons alaranjados e dourados. O usuário/intérprete pode identificar

a peça publicitária da Campanha Seguro Itaú Vida, criada pela Agência DM9DDB, para o

produto Seguro Itaú Vida, veiculada, pela primeira vez, em dezembro de 2012, cujo objetivo era

o apelo emocional para o Seguro Itaú Vida.

Nestes instantes em que o usuário permanece em estado de constatação, a peça se faz

sinsigno indicial dicente e o efeito, portanto, é o da identificação de que se trata de uma peça

publicitária da marca “Itaú”. No entanto, os aspectos qualitativos, agora também ligados aos

existentes, ainda tendem a predominar, ou seja, o poder de sugestão da peça não se ameniza com

os aspectos existenciais.

Contribui para isto, a maneira como texto e imagem estão em harmonia, pois as letras

arredondadas e minúsculas, nas cores branca e amarela, iluminadas, misturam-se aos tons

alaranjados e dourados, incorporando movimento. O mesmo se dá pela presença da menina,

vestida com uma roupa florida e que, pelo movimento dos cabelos e pelo sorriso, parece se

deliciar com o movimento de ir e vir da rede, ao sabor do vento e da luz do sol. Os cabelos da

menina mostram-se iluminados, brilhantes e em movimento. O tecido estampado, com flores de

contornos pouco nítidos e que se fazem com a cor verde e tons alaranjados, sobre um fundo

branco, agrega suavidade, leveza, espontaneidade à imagem da menina.

A sensação de movimento também é construída pelo possível movimento da rede. É

válido lembrar que a percepção de movimento pode se construir por um processo fisiológico e

psicológico que varia de acordo com as vivências históricas e culturais já experimentadas pelo

usuário.

Deste modo, tal imagem parece se diluir em meio às cores e ao movimento. Logo,

mesmo como sinsigno indicial, os efeitos ainda prevalecem atados aos aspectos qualitativos, ou

seja, a peça tende a prevalecer como sinsigno indicial remático, pois os efeitos são os

propiciados pelas qualidades. Sensações atreladas à alegria, leveza e espontaneidade são alguns

dos efeitos possíveis.

O tom alaranjado, mesmo em composição com outras cores, não perde sua característica

de predominância. O amarelo, como matiz de intensidade, ocupa uma área menor e enaltece o

símbolo do “Itaú”. O azul, impondo seu potencial de abrandar formas e contornos, produz o

71

equilíbrio necessário para a imagem, mesmo diante da oposição propiciada por estas cores, o tom

alaranjado mantém-se e enaltece o branco nos dizeres: “Faça um seguro Itaú Vida. Tranquilidade

para você, mais segurança para sua família. Fale com seu gerente. Banco Itaú feito para você”.

Nota-se também que o texto que flui como cor, sob um olhar observacional, no entanto,

chama a atenção pela lógica nele inerente. O texto traduz a forma de proteção que a marca, bem

como o produto em questão, propiciam.

Mas, vejamos os significados que aspectos qualitativos e referenciais trazem à tona, uma

vez que estes podem ser percebidos e apreendidos pelo caráter de lei, de regras ou de convenções

compartilhados na cultura, que estão neles impregnados. Sem dúvida conta também a

experiência colateral do intérprete em relação ao objeto, ou seja, o seu repertório relativo a ele. O

olhar especializado – de um pesquisador ou profissional da publicidade, sem dúvida – pode

contribuir para um inventário maior de significados.

O olhar interpretativo ou generalizante – terceiro modo de olhar – apreende, no caso, os

sentidos latentes nos aspectos qualitativos e existenciais apresentados na peça, a partir de hábitos

associativos, culturais que o intérprete aciona de seu repertório. A peça pode se fazer assim um

legissigno, que na relação com o objeto é denominada símbolo. Os efeitos são os que

desencadeiam processos interpretativos que propiciam reflexões e podem desencadear a

mudança de hábitos. No caso, a representação visual (sinsigno) é uma réplica do legissigno

simbólico, ou seja, a peça publicitária inserida no contexto da publicidade/sustentabilidade e

atrelada à marca “Itaú”, que em virtude do repertório do usuário/intérprete agrega tal contexto de

formas diferenciadas.

Iniciemos pelos aspectos simbólicos que impregnam a cor, a textura, a forma, o

movimento ou a combinação destes elementos. Segundo Farina (2000), a cor exerce ação

tríplice: a de impressionar, a de expressar e a de construir. A cor é vista quando impressiona a

retina; sentida quando provoca emoção e construtiva quando tem um significado próprio e possui

valor de símbolo, podendo assim, construir uma linguagem e comunicar ideias.

Nesta representação visual, o nosso foco está na verificação de significados das cores

verde, azul, amarelo e o tom alaranjado. Materialmente, o verde na representação visual está

presente na natureza, em plantas no plano de fundo da imagem, que pode ser associado,

afetivamente, à tranquilidade, segurança e firmeza. O tom alaranjado, predominante, simboliza

energia, proteção, alegria, felicidade e criatividade, à medida que remete o usuário ao sol e sua

onipotência. Isto intensifica o conceito de ambiente que o usuário/intérprete deverá oferecer à

72

criança: um ambiente saudável, feliz, impregnado de criatividade e alegria e, acima de tudo,

seguro.

O amarelo, cor expansiva, símbolo do poder, cor do ouro, potencializa o alcance do tom

alaranjado. Assim, o poder da marca se firma. A expressão facial da menina está repleta de

contentamento. Há uma sinergia que envolve o usuário/intérprete convidando-o a fazer parte

desse mundo.

A criança ou a infância, por sua vez, é símbolo de simplicidade, espontaneidade e a

imagem da criança, conforme Chevalier e Gheerbrant (2008, p. 302), “pode indicar uma vitória

sobre a complexidade e a ansiedade, e a conquista da paz interior e da autoconfiança”.

Neste sentido, a marca propõe a conquista da paz interior, da autoconfiança e pela lógica

engendrada no texto, leva o usuário/intérprete a inferir que isto é possível com a aquisição do

“Seguro Itaú Vida”.

Com o texto reafirma-se, incessantemente, a incapacidade do usuário em oferecer total

segurança para a criança, ou de cumprir um dos deveres de chefe da família, ao longo da sua

vida:

“.... você não pode impedir que ela tenha medo.

....você não pode impedir que ela caia da bicicleta.

... você não pode impedir que ela tenha espinhas.

... você não pode impedir que ela vá mal na escola

... você não pode impedir que ela chore por amor.

... você não pode impedir que ela fique sem seu colo um dia:”

Isto só é possível com a ajuda da marca “Itaú”, o que pode ser constatado com a última

frase do texto: “mas você pode garantir que ela passe por tudo com mais segurança”. A repetição

do “não” - reitera os choques - e pode deixar o usuário/intérprete inoperante, em agitação. O

alívio e o conforto vêm com a opção dada pela marca “Itaú”, o que contribui para que o

usuário/intérprete reflita sobre a dificuldade de proteger seus filhos. No entanto, com o seguro

“Itaú Vida” é possível amenizar os pequenos embates que sua filha, no caso, possa sofrer.

Segundo Lipovetsky (1989), “a publicidade poetiza o produto e a marca; idealiza o trivial

da mercadoria”. Neste caso, não se trata de adquirir uma simples apólice de seguro, mas de

envolver toda a família no mundo mágico da infância, que se espalha e se prolonga.

Assim sendo, a peça em questão pode se fazer símbolo para a linguagem da publicidade.

Ela torna possível à marca, no caso “Itaú”, propor qualidade de vida aos usuários, por meio de

relações familiares permeadas de segurança, tranquilidade. A marca sugere mudanças nas

relações pessoais ao associar o seguro de vida ao amor à filha, ou seja, convida o cliente/usuário

73

a fazer parte deste mundo seguro e desfrutar da alegria e da felicidade da criança que ele pode

assegurar, bem como o auxilia no cumprimento de um dever. Nota-se que a imagem da criança

ou da infância é o mote para que uma das vertentes da sustentabilidade seja alcançada.

No que se refere à sub-dimensão “Direitos e Deveres”, constata-se que há um jogo com

direitos e deveres familiares, a proteção dos filhos e, consequentemente, da família, pelos pais

(clientes/usuários) e assumidos pela instituição ao oferecer auxílio no cumprimento de um dever.

Em certa medida, a instituição assume o dever e sente-se responsável pela família tanto quanto o

pai.

No que se refere ao dever e seus impasses, vale enfatizar, que segundo Safatle (2013),

baseando-se na Crítica da Razão Pura de Kant, há prazer estético no reconhecimento do dever.

Conforme Safatle (2013, p. 47):

É interessante como, no interior da sociedade dos indivíduos, o ideal de formação

subjetiva baseado na consciência do dever aparece necessariamente ligado à vontade de

não agirmos apenas como indivíduos. O que explica por que perspectivas sociais

fortemente individualistas sempre estiveram mais à vontade no interior da moral

utilitarista, que vincula a ação moral à procura da maior felicidade para o maior número

de pessoas, entendo aqui a ‘felicidade’ a partir do cálculo de maximização do prazer e

afastamento do desprazer.

Neste sentido, além da perspectiva utilitarista, o dever permite ultrapassar a finitude e

atingir a seara da sublimidade. Na peça, como constatamos com os resultados da análise, os

aspectos qualitativos agregados à imagem da criança contribuem para potencializar sensações

vinculadas ao sublime, que estão vinculadas ao cumprimento do dever de proteger a família.

b) “Relação com os clientes”

Em relação à Dimensão Econômica, outro desdobramento mencionado, foi a sub-

dimensão “Relação com os clientes”. A partir dos resultados da análise semiótica da peça

publicitária impressa (Fig. 11), vejamos a aproximação ou não da marca “Itaú” em relação ao

cumprimento desta sub-dimensão.

Iniciemos com os aspectos qualitativos. A mistura de cores azul e amarela e a

predominância do alaranjado, pelas associações materiais e afetivas que cada uma delas

possibilita, permite inferir que sensações prazerosas, num misto de alegria, liberdade,

espontaneidade predominam. A superfície esférica, pela mistura de cores que a envolvem, parece

flutuar em equilíbrio, o que firma sensações de segurança, estabilidade. Ainda, a mistura de

texturas incita ao toque e faz o usuário/intérprete sentir-se envolto em delicadeza, maciez,

74

leveza. Predomina, então, no usuário intérprete, efeitos decorrentes de um estado de

contemplação, que são fugazes.

Figura 11 - Relação com o cliente/usuário

Fonte: Disponível em: <http://cargocollective.com/ironbrito/issomudaomundo-Itau>

Acesso em: 10 dez. 2014

Além do fato que os momentos de contemplação são fugidios, uma vez que estão num

nível muito frágil de consciência, há o fato de que símbolo da marca está presente, no canto

inferior direito da peça publicitária, o que faz com que esta, enquanto um existente, predomine

como um sinsigno. No entanto, os efeitos podem ser decorrentes de instantes em que predomina

a constatação, ou a contemplação.

Ao predominar a constatação, a descrição vem como natural. O planeta terra, presente na

peça como uma esfera, exibe um acolchoado azul, delicadamente alinhavado em ponto cruz e

costurado à mão, para as regiões do planeta cobertas por água. Os continentes, por sua vez, vêm

cobertos com objetos de costura como agulhas, botões, fitas métricas, novelos, dedais metálicos,

75

pregadeiras e porta alfinetes. As agulhas de costura, perpassadas por linha azul e num

movimento retilíneo fixam pequenos botões, em diversos pontos desse oceano de tecido, como

que a selar pequenos lembretes, compromissos que não devem ser esquecidos pelo

usuário/intérprete.

Em contraste com a imensidão azul da esfera planetária, pequenas emendas de retalho

laranja dão vida a relevos e a superfícies terrestres. Em cada emenda surge a perfeição de divisas

fronteiriças, alinhavadas entre si e, como se fizessem parte de um jogo de quebra-cabeça,

expandem-se dando vida aos continentes.

Delimitado por novelos de diversas cores, formas e tamanhos, o território brasileiro toma

a cena. Faz valer a grande diversidade do seu relevo divido entre planaltos, planícies, montanhas

e depressões. Mais adiante, outros novelos e um dedal em metal espalham-se pelo território

mexicano. Em posição verticalizada, esses objetos remetem o usuário/intérprete às montanhas,

na parte central do país, e às planícies costeiras, próximas ao mar.

No extremo oposto, uma máquina de costura, linhas e tecidos de várias cores, novelos de

lã, agulhas de tricô e um porta alfinetes, em forma de coração, espalham-se pelos continentes

europeu e africano. Acentuam-se aí, as cores verde, amarelo, azul e laranja.

No topo da esfera planetária, uma mulher esbelta, de estilo casual, arremata a cena. Ela

aparece sentada, no polo da esfera, com as pernas cruzadas, vestindo jeans, camiseta e usando

tênis branco. Como está costurando, ela estende o braço direito, longilíneo, como se puxasse a

linha para sua direção, a fim de reforçar o fechamento de um ponto. Sustentada em sua mão

esquerda, uma pequena almofada em forma de nuvem e, ao redor de seu pescoço, uma fita

métrica que se alonga até suas pernas. À sua volta, outras pequenas almofadas em forma de

pássaros e nuvens dividem o espaço gravitacional e flutuam criando uma suave e graciosa órbita.

Vale lembrar que a posição da mulher – mãe, dona de casa - , no polo da esfera, pode

levar o usuário/intérprete a associar a imagem ao personagem da literatura, o pequeno príncipe,

que também caminhou para outras mídias, tais como cinema, história em quadrinhos e outras.

Lançados os olhares contemplativo e observacional, vejamos os aspectos generalizantes

impregnados nas pistas encontradas. Deste modo, a peça publicitária opera como um legissigno,

via réplica (sinsigno). Os efeitos podem ser os emocionais, caso prevaleçam os aspectos

qualitativos; de ação/reação, caso prevaleça o fato de ser um existente e o usuário/intérprete

identifique a peça ou, por fim, os aspectos de regra, normas ou convenções podem prevalecer, o

que leva a reflexões e, com o transcorrer do tempo, até à mudança de hábitos. Vejamos as

origens de possíveis efeitos.

76

A construção da esfera, como exemplo, reporta o usuário/intérprete ao que é feito à mão,

logo, a uma ambiência afetuosa, calorosa. O azul dos oceanos sugere liberdade e desperta a

imaginação, enquanto o alaranjado sugere espontaneidade e criatividade. É nesta ambiência,

onde a sensualidade também se manifesta, em equilíbrio, que a figura feminina, ainda atada à

imagem de “rainha do lar”, busca expandir seus “domínios”, bem como ampliar as possibilidades

de proteger o lar. Tudo se constrói a partir de retalhos, fragmentos, predominantemente em

laranja e azul, costurados um a um, com zelo, com gestos calorosos, femininos, o que leva o

usuário/intérprete a refletir sobre estratégias muito particulares de ascensão econômica, com

comunhão de objetivos.

A marca “Itaú” compartilha, com o cliente, o dever de proteger o lar e cuidar da ascensão

profissional e social da mulher, o que muda o seu mundo e o mundo, em geral. A cumplicidade

no propósito de construir um mundo melhor é reforçada pela mensagem: “Oferecemos

microcrédito porque ele pode gerar uma macromudança no seu mundo. Já são mais de R$ 140

mil em financiamentos de microcrédito.” #issomudaomundo#.” A relação com o cliente é de

aliança, parceria.

A questão da mulher enquanto “rainha-do-lar” emerge e se intensifica pelo fato de que o

novo empreendimento pode vir pelos dotes da dona de casa. A mulher que sabe costurar,

cozinhar, limpar a casa... De Lipovetsky (2000) vem a ideia de que esta mulher empreendedora,

proposta pela marca “Itaú”, para não ferir os valores familiares, pode crescer de modo tímido,

sem se desligar da sua tarefa de cuidar da família, do lar.

A mulher contemporânea, conforme Lipovetsky (2000), se libertou das amarras do

passado e passa a assumir cada vez mais intensamente um novo papel na sociedade. Os

dispositivos de socialização do estado social contemporâneo acabaram, de certa forma, por

aproximar os gêneros. No entanto, as distâncias que remontam do passado continuam exercendo

influência sobre as divergências de comportamento, de orientação e de percurso sobre os dois

sexos.

O homem permanece prioritariamente associado aos papéis públicos e “instrumentais”,

a mulher, aos papéis privados, estéticos e afetivos: longe de operar uma ruptura absoluta

com o passado histórico, a modernidade trabalha em reciclá-lo continuamente... a

terceira mulher conseguiu reconciliar a mulher radicalmente outra e a mulher sempre

recomeçada. (LIPOVETSKY, 2000, p. 15).

O movimento de aproximação e distanciamento dos gêneros pode ser percebido, nas

análises de Lipovetsky (2000), para a primeira, a segunda e a terceira mulher. No século XVIII, a

mulher como detentora do verdadeiro poder, o poder sobre os filhos e grandes homens, por trás

da aparência de sexo frágil; ou como propulsora da civilização por gerenciar os costumes e ser a

77

senhora dos sonhos masculinos; ou como representante do belo sexo, ou educadora dos filhos, ou

fada ou rainha do lar, constituiu o modelo da segunda mulher. Comparando as concepções

concernentes à primeira e à segunda, Lipovetsky (2000, p. 236), explica que sucedendo o “poder

maldito do feminino, edificou-se o modelo da segunda mulher, a mulher enaltecida, idolatrada,

na qual as feministas reconhecerão uma última forma de dominação masculina.”

Mas, no Ocidente começam a surgir novos sinais de que a mulher pode participar da vida

pública, pelo direito ao voto, de estudar, de inserir-se no mercado de trabalho. Elas conquistaram

a liberdade sexual e podem decidir quanto a ser mãe ou não, ser solteira, ou se divorciar de um

marido indesejado. Assim, ingressamos na era das mulheres à inteira disposição de si em todas

as esferas da existência, ou seja, na era da terceira mulher.

O feminino, segundo Lipovetsky (2000), entra pela primeira vez em uma era de abertura,

com direito de escolha. Assim, enquanto a primeira e a segunda mulher eram subordinadas ao

homem, a terceira mulher está sujeita de si mesma. No entanto, o modelo da terceira mulher não

fez desaparecer as desigualdades entre os sexos, especialmente no que se refere à orientação

escolar, à relação com a vida familiar, ao emprego e à remuneração. “Por certo, de agora em

diante mulheres e homens são reconhecidos como donos de seu destino individual, mas isso não

equivale a uma situação de permutabilidade de seus papéis e lugares”. (LIPOVETSKY, 2000, p.

239).

No que se refere ao mundo do trabalho, a mulher, no contexto da peça publicitária, não

perdeu a feminilidade, mostra-se apta para ir além das fronteiras do lar, no entanto, com a ajuda

do banco “Itaú”, ela mantém características da segunda mulher. A marca propõe mudanças,

torna-se parceira nesta nova empreitada, mas sem macular a imagem da “rainha do lar”, ou seja,

além de zelar pelo cumprimento de deveres já institucionalizados, os novos deveres propostos,

serão cumpridos em parceria, deveres estes que estão relacionados a um crescimento econômico

que mantêm a sustentabilidade, na sua dimensão econômica.

“Mudar o mundo” é um dever de todos e aqueles que assumem parceria com o Banco

Itaú não estão sozinhos nesta tarefa. Afinal, o “Banco Itaú” foi feito para servir a alguém, “feito

para você.” Assim, os usuários/intérpretes, que compartilham o mesmo ambiente, o mesmo

planeta, sentem-se aliados na construção de relações calcadas na sustentabilidade.

Ainda, como a representação visual remete o usuário/intérprete às imagens (aquarelas)

que constam no livro “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry (Fig. 12) novos

aspectos relacionados ao dever vêm à tona. A mulher, que aparece no topo do planeta, em certa

78

medida, observa ou toma para si o mundo, ou responsabilidades relativas aos modos de nele

permanecer, ou de manter a sua permanência. Conforme Chevalier e Gheerbrant (2008, p. 744):

O Príncipe simboliza a promessa de um poder supremo, a primazia entre seus iguais

(...). O príncipe e a princesa são a idealização do homem e da mulher, no sentido de

beleza, do amor, da juventude, do heroísmo. Nas lendas, o príncipe é frequentemente

vítima das feiticeiras, que o transformam em monstros ou animal e ele somente recupera

a sua forma de príncipe sob o efeito de um amor heroico. (...) A qualidade de príncipe é

a recompensa por um amor total, ou seja, absolutamente generoso.

A obra literária "O Pequeno Príncipe" é uma fábula que traz à tona julgamentos morais.

Embora seja destinada ao público infantil, ela se vale da infância para despertar atitudes

altruístas. Uma das mensagens da obra, que podem vir à tona, com esta peça publicitária, é a que

trata da importância de cativar alguém. "O essencial é invisível para olhos. Tu te tornas

eternamente responsável por aquilo que cativas." A importância de cativar reside no fato da

responsabilidade de quem cativa, atribuindo um peso moral aos atos dos homens. Neste aspecto,

caso o repertório do usuário constitua-se também com interpretações desta obra, o vínculo com a

questão da responsabilidade para com o meio ambiente pode acentuar-se.

Há que se considerar também que o usuário pode ter visto imagens similares à figura 12,

em outras mídias, uma vez que esta obra foi reproduzida em filmes, desenhos animados e outras

modalidades de criações artísticas. Na internet proliferam-se imagens similares (Fig. 13). O texto

da obra que mencionamos pode ser acessado facilmente na internet. Assim, estas imagens podem

estar incorporadas ao imaginário ou compor a cultura do usuário, o que propicia inúmeras

associações, inclusive com a questão da responsabilidade.

Figura 12 - Reprodução de ilustração do livro “O pequeno príncipe”

Fonte: Disponível em: < http://www.sinopsedolivro.net/capas-livros/o-pequeno-principe.jpg>. Acesso em: 24 set.

2014.

79

Figura 13 - Representação do Pequeno Príncipe e seu planeta

Fonte: SINGLESSALAMANCA. <Disponível em http://www.singlessalamanca.es/profiles/blogs/citas-frases-

poemas-que-os?id=2269387%3ABlogPost%3A26411&page=4>. Acesso em: 26 set.2014.

“Mudar o mundo” é um dever de todos e aqueles que assumem parceria com o Banco

Itaú não está sozinho nesta tarefa. Afinal, o “Banco Itaú” foi feito para servir a alguém, “feito

para você.” Assim, os usuários/intérpretes, que compartilham o mesmo ambiente, o mesmo

planeta, sentem-se aliados na construção de relações calcadas na sustentabilidade.

5.3 Dimensão Social

A Dimensão Social foi subdivida em “Direitos Humanos” e “Relação com a

Comunidade”. Apresentamos a análise da peça (Fig. 14) e, assim, avaliamos em que medida esta

abarca a primeira sub-dimensão mencionada, bem como para a peça (Fig.15), tratamos da

“Relação com a Comunidade”.

a) Direitos Humanos

A peça publicitária impressa (Fig. 14), criada pela Agência de Publicidade África e

veiculada a partir de abril de 2013, foi alocada na sub-dimensão “Direitos Humanos”. Segue a

análise semiótica desta peça.

As cores, azul e amarelo, constituem o plano de fundo para uma superfície esférica, que

tem no polo superior uma menina/bailarina, alegre e esvoaçante. A energia e a luminosidade

destas cores convergem para o entorno da esfera planetária, num sutil clareamento branco. Em

sua parte superior, a esfera torna-se infinitamente resplandecente, com a mescla de tons em cor-

de-rosa e azulados, que se espalham, com menor intensidade, ao redor dela, desenhando uma

80

órbita. A cor marrom destaca a perfeita simetria da esfera envolta por uma luminosidade

efêmera, tanto quanto a das lâmpadas que contornam as várias regiões que se põem sobre a

superfície lisa da esfera. Espalhadas pelo cenário, outras cores como o azul, o preto, o roxo, o

verde, o amarelo, o laranja e o branco materializam-se em diversas formas, com texturas

diferentes, sobre a superfície marrom.

Figura 14 - “Direitos Humanos” - O Direito à Cidadania

Fonte: Disponível em: <http://adsoftheworld.com/media/print/banco_itau_promoting_citizenship_through_culture>

Acesso em: 10 dez. 2014

Se o usuário intérprete permanecer envolvido pela composição de cores e de formas

realçadas pela luminosidade e pela órbita cor-de-rosa, sem se dar conta, por uma fração mínima

de tempo, que está diante de uma peça publicitária, então, a representação visual, no caso, opera

como um qualissigno. Os efeitos permanecem nos domínios das sensações, dos efeitos das cores

e formas, texturas, movimento.

Retomando os aspectos simbólicos das cores e formas... O amarelo vincula-se ao sol, ao

calor, à luz. Segundo Chevalier e Gheerbrant (2002, p.40), a cor amarela, “a mais ardente das

cores, difícil de atenuar e que extravasa sempre os limites (...) está associada ao mistério da

renovação”. Uma cor de força criadora, celestial, que intensifica os efeitos de proteção. A cor

81

laranja associa-se ao pôr do sol, aos raios de sol. Para Farina (2000), tal cor remete o

usuário/interprete ao prazer, à alegria. O azul pode ser associado, materialmente, ao céu, ao mar,

às águas tranquilas, às montanhas longínquas e, afetivamente, conforme Farina (2000), pode ser

associada à serenidade, à confiança. A madeira agrega calor ao ambiente, torna-o aconchegante.

E, por fim o marrom, uma cor vinculada à terra e que, sob o aspecto afetivo, está relacionada aos

sentimentos de vigor, de robustez e de resistência.

Assim, o usuário/intérprete permanece envolto numa ambiência prazerosa, permeada por

sensações de serenidade, confiança, proteção, vigor e que incita à criatividade.

No entanto, o caráter de existente, faz com que a representação visual prepondere como

sinsigno. A identificação desta, por parte do usuário/intérprete, faz com que esta opere como

sinsigno indicial. Caso os efeitos das qualidades elencadas predominem, então, a representação

visual opera como sinsigno icônico. Ao elencarmos as pistas que a representação visual exibe e

buscarmos os sentidos nelas latentes, a representação visual, opera então, por meio de uma

réplica (sinsigno) de um legissigno simbólico. Os efeitos do signo correm por conta dos sentidos

latentes nestas pistas, bem como pelo fato de ser classificada como uma peça publicitária que

enfatiza a Dimensão Social da Sustentabilidade, no que diz respeito aos Direitos Humanos.

Vejamos quais são as pistas e os sentidos que elas engendram. As cores, azul, laranja e

amarelo, que se espalham pela representação visual, reforçam a presença da marca “Itaú”, que se

dá via símbolo, colocado no canto inferior direito da representação visual. A esfera é o planeta

terra, marrom, que tem os continentes então visíveis, cobertos por objetos que remetem o

usuário/intérprete ao cinema, com as películas cinematográficas; ao teatro, com as máscaras

cênicas e a luz intensa e direta dos holofotes; a música, com a guitarra, o amplificador de som e o

toca discos de maleta; à pintura, com as telas, as tintas e os pincéis. No polo, insinua-se um

palco, onde a bailarina brilha, feliz e esvoaçante. Um vestido laranja, com uma saia de tule

sobreposta em diversas camadas, harmoniza-se perfeitamente com o delicado par de sapatilhas

brancas aninhados em seus pés. Este, o seu traje. Assim, o alaranjado, que contorna o símbolo da

marca, é colocado agora no polo da esfera, em evidência.

Apresenta-se ao usuário/intérprete o mundo das artes, portanto, que propicia

entretenimento e experiências estéticas inúmeras. O estado de leveza e encantamento que estas

experiências propiciam vem com os sentidos que podem estar vinculados à menina/bailarina

também. As bailarinas, principalmente, nas artes, estão associadas ao movimento, à leveza. A

criança, simbolicamente, está associada à criatividade, à espontaneidade e à pureza. Na tradição

cristã, conforme Chevalier e Gheerbrant (2008, p. 302), “os anjos são muitas vezes representados

82

como crianças, em sinal de inocência e pureza”, bem como “a imagem da criança pode indicar

uma vitória sobre a complexidade e a ansiedade, e a conquista da paz interior e da

autoconfiança”.

A peça exala feminilidade, pela presença do cor-de-rosa, o que contribui para reforçar a

ambiência então construída com pureza, energia luminosa e casta, coragem e bondade, isto pelos

aspectos simbólicos vinculados ao feminino, conforme Chevalier e Gheerbrant (2008), a Virgem

Maria é a mais perfeita encarnação do feminino.

Por outro lado, o planeta e a criança no topo dele podem remeter o usuário/intérprete às

imagens que envolvem “O Pequeno Príncipe”, como as figuras 12 e 13. Com isto a questão da

responsabilidade vem à tona também.

Na parte inferior da representação visual encontramos a frase: “Promover a cidadania

através da cultura, isso muda o mundo” e, ao seu lado, num extremo oposto, o símbolo da marca

“Itaú”.

Alinhado aos objetivos dessa campanha está o interesse da Instituição em esclarecer ao

usuário/intérprete que realiza ações em prol da manutenção dos direitos humanos. Para o Banco

Itaú, todo cidadão tem direito à educação e esta envolve as artes, em geral. A frase mencionada,

grafada em amarelo, mistura-se à cor do plano de fundo. Farina (2000) adverte que as cores das

palavras em uma peça publicitária precisam ser vistas considerando-se o jogo que estabelecem

com as outras cores presentes. No caso, por misturar-se com a cor do plano de fundo, a amarela,

suaviza-se o embate com a máxima anunciada, torna o “dever”, posto para a marca e o

usuário/cliente, mais natural e fácil de cumprir, ameniza o peso da responsabilidade. Ao cumprir

tal dever, atrelado aos Direitos Humanos, ambos mudam o mundo.

Ao assumir tal compromisso a marca compartilha deveres com os usuários/clientes, com

as pessoas, aproxima-se delas, humaniza-se.

b) “Relação com a comunidade”

A peça publicitária impressa (Fig. 15) foi criada pela agência de publicidade paulista

DPZ e veiculada nas Revistas Veja, no Jornal “Folha de São Paulo”, no período de outubro a

novembro de 2012. Iniciemos a análise com os aspectos qualitativos e seus possíveis efeitos.

Cor, forma, movimento, textura são aspectos qualitativos constitutivos da representação visual,

que podem levar o usuário/intérprete à contemplação. As cores provocam, conforme Farina

(2003, p. 2), “impressões, sensações e reflexos sensoriais de grande importância, porque cada

83

uma delas tem uma vibração determinada em nossos sentidos e pode atuar como estimulante ou

perturbador na emoção, na consciência e em nossos impulsos e desejos”.

Os tons alaranjados, que predominam na representação visual, conforme Farina (2003),

produzem efeitos vinculados à felicidade, à alegria, ao aconchego. O azul, cor também presente,

por ser uma cor fria, ameniza o poder de expansão do amarelo que compõe os tons alaranjados,

ou seja, condensa-o, levando este jogo de cores a reforçar a sensação de aconchego aliada à

força, à resistência dada pela cor marrom mais visível nos alaranjados mais fortes.

Figura 15 - “Ler Para Uma Criança # Isso Muda O Mundo”

Fonte: Disponível em:< https://www.itau.com.br/itaucrianca>. Acesso em: 26 out. 2013

A luz que incide nos elementos da representação visual, bem como a textura lisa,

reforçam os efeitos mencionados. A luminosidade é sutil, delicada, invade o ambiente e pode

propiciar ao usuário/intérprete uma sensação de encantamento.

O caráter figurativo dá vez às formas. Deste modo, os efeitos vinculados aos aspectos

qualitativos vêm com as cores, a textura e a iluminação. O intérprete pode permanecer em

contemplação, embalado por uma sensação de encantamento, momento fugaz devido aos

aspectos referenciais que elencamos a seguir.

Todos os aspectos qualitativos que compõem a representação visual podem ser

associados a existentes, a algo material. Destas associações novos significados vêm à tona. Os

84

tons alaranjados podem ser associados ao sol e à terra; a cor amarela, à energia do sol; a cor azul,

ao mar, ao céu, a águas tranquilas.

Uma mulher e uma criança observadas por possíveis personagens de contos de fadas ou

de aventuras – Chapéuzinho Vermelho, um pirata e a Bela Adormecida -, bem como um

personagem zoomórfico (sapo), estão em uma sala de estar. Neste ambiente, há brinquedos

espalhados (uma bicicleta, uma bola, um carrinho) e, ao fundo, uma estante de madeira com

livros. As personagens, situadas atrás da mulher e da criança, que estão sentadas em um sofá,

olham para o livro de estória, sorridentes. A mulher lê para a criança. A peça publicitária do

“Itaú” (com o logo da marca, no lado direito) apresenta a marca com a frase “Leia para uma

criança”.

Trata-se de uma representação visual, que pelo seu caráter eminentemente figurativo, leva

o usuário/intérprete à constatação, que pode ser amenizada pelos aspectos qualitativos. Contudo,

quando a constatação se ameniza, o usuário/intérprete, valendo-se de sua experiência colateral,

pode elencar outros significados latentes na peça. Há três marcas em azul – o logo, os livros e a

vestimenta de um dos personagens. As marcas sugerem uma forma triangular que fixam o plano

da “imagem”, bem como fixa o olhar do usuário/ intérprete, o que o leva a pôr o olhar em

movimento sobre a imagem.

Vejamos os efeitos vinculados aos aspectos simbólicos que impregnam tanto os

qualitativos como os referenciais mencionados.

Das associações possíveis com os tons alaranjados e os respectivos aspectos simbólicos a

eles agregados, ou seja, como o simbolismo do sol, vêm sentimentos de alegria, vivacidade e

proteção. O sol é símbolo de vida, calor, dia, luz, autoridade, bem como, conforme Chevalier e

Gheerbrant (2008, p. 839), “é o símbolo do psiquismo instaurado pela influência paterna no

papel da instrução, educação, disciplina e moral”.

O amarelo, iluminando na cena, por ser a cor da eternidade e a mais ardente das cores,

intensifica os efeitos de proteção e ao mesmo tempo confere ao ambiente um ar celestial,

convidando o usuário/intérprete a participar da cena. As associações com a cor azul propiciam

sentimentos vinculados à serenidade, fidelidade e paz.

As personagens apresentam-se sorridentes e envolvidas no ato de leitura, o que incita

também o desejo do usuário/intérprete a participar daqueles momentos, convidá-lo a adentrar o

mundo da fantasia, dos contos de fada.

Segundo Todorov (2003), os contos de fada se inserem em uma variedade do gênero

maravilhoso. Nas suas palavras:

85

No caso do maravilhoso, os elementos sobrenaturais não provocam qualquer reação

particular nem nas personagens nem no leitor implícito. Não é uma atitude para com os

acontecimentos contados que caracteriza o maravilhoso, mas a própria natureza desses

acontecimentos. Os contos de fadas, a ficção científica são algumas das variedades do

maravilhoso, mas eles já nos levam longe do fantástico. (TODOROV, 2003, p. 160)

O conto de fadas, para Todorov (2003), possui um esquema de narrativa estável, pois o

leitor vê realizadas suas expectativas de encontrar soluções aos conflitos propostos, ou confiando

nos elementos sobrenaturais, ou acompanhando as ações dos personagens.

Para Bettelheim (2002), os contos de fadas podem levar a criança à descoberta de sua

identidade, bem como sugerem quais experiências são necessárias para o desenvolvimento do

seu caráter. Eles mostram que existe uma vida compensadora e feliz ao alcance da pessoa, apesar

das adversidades. Ou seja, a pessoa não pode se intimidar diante das lutas, das dificuldades que

terá que enfrentar. Sem vencer as lutas, sem superar as dificuldades ela não adquire sua

verdadeira identidade. Traçando paralelos antropológicos, o mesmo autor menciona que os

contos de fadas são derivados, ou dão expressão simbólica a ritos de iniciação ou outros ritos de

passagem.

Neste sentido, as personagens, que estão em pé, atentos à mulher e à criança ou ao ato de

leitura - um pirata, Chapéuzinho Vermelho e a Bela Adormecida -, tornam o ambiente mágico,

encantado. Os trajes das personagens, que permitem identificá-las como pertencentes ao universo

da fantasia, mantêm as cores da cena, entre o azul e tons alaranjados. Isso as harmoniza com o

ambiente e reforça a receptividade do usuário/intérprete para com a cena.

O personagem zoomórfico, por sua vez, assume postura ereta, com articulação de braços

e expressão de envolvimento com o usuário/intérprete que é convidado, pelo seu olhar, a

adentrar à cena. Os adereços lhe conferem ar de realeza, como se fosse o sapo/príncipe do conto

de fadas.

A singularidade da mobília - com texturas suaves e lisas e tons próximos aos alaranjados

-, contribui para tornar o ambiente organizado e agradável e incita o usuário/intérprete a se

inserir na seara do universo do conto de fadas. A leitura do conto de fadas alinhava toda a cena.

Tudo se revela mágico, inocente, puro e prazeroso.

As palavras, tanto as que dão o nome à campanha como o texto, além de dar

esclarecimentos ao usuário/intérprete sobre a ação social do Itaú Unibanco, também agregam

novos significados à marca. A frase - “Leia para uma criança.” - vem com a letra “L”, como em

uma iluminura, tipo de pintura a cores que, em livros e outros manuscritos da Idade Média,

frequentemente aplicada às letras capitulares, com objetos, pessoas, flores em miniaturas. Esta

modalidade de ilustração leva o usuário/intérprete a agregar magia e tradição ao livro.

86

A frase acopla-se à imagem, aconchega-se nela, tanto pela tipologia como pela cor das

letras. A frase não é impositiva e sim supõe a adesão do intérprete pela ausência do ponto final,

que sugere continuidade entre o comando (implícito) e a ação em curso. O branco, por sua vez,

reforça o convite, por ser uma cor iniciática, que marca transições, rituais de passagem.

A marca enfatiza que tal ação deve ser realizada, pois junto a três livros infantis, vem o

texto: “Histórias desenvolvem a imaginação e a capacidade de pensar e aprender. A leitura de

histórias estimula a criatividade das crianças e ajuda no seu aprendizado. Por isso, o Itaú já

distribuiu mais de 22 milhões de livros e este ano vai distribuir novos títulos. Leia para uma

criança. Porque mudar a educação muda o país. Mude. E conte com o Itaú para mudar com

você.”

O texto explica as ações empreendidas pela instituição. As frases curtas e imperativas

requerem a participação efetiva do usuário, que pode contar com a parceria da instituição em

questão. O potencial transformador da leitura, por sua vez, é expresso em: “Porque mudar a

educação muda o país.”.

Com a lógica dada no texto, o usuário/intérprete pode se sentir compelido a ler para uma

criança. O poder de sugestão da representação visual pode prevalecer e com o movimento da

expressão... “leia para uma criança”, algo admirável entra em jogo, pois essas práticas podem

propiciar transformações cognitivas e afetivas nos leitores. A marca, a Instituição “Itaú” propõe,

por meio da peça analisada, a busca desse admirável.

Novamente, tal como em outra peça analisada (Fig. 10), o universo da infância rege esta

vertente da sustentabilidade.

Notamos que o diálogo se faz com uma ampla comunidade, quer seja a dos

clientes/usuários ou não. Os direitos e deveres, assumidos pela Instituição, no caso, fazem com

que esta adquira ares de sublimidade, por lidar com um grande número de pessoas ao assumir um

“dever” de “mudar o mundo”.

A partir das análises constatamos, que os aspectos qualitativos e as pistas engendradas na

imagem contribuem para potencializar a sugestão, o que permite que os interpretantes gerados

permaneçam no domínio das emoções e dos sentimentos.

A Instituição “Itaú” toma para si deveres vinculados aos “Direitos Humanos”, bem como

o de estabelecer vínculos com a comunidade, na sua “Relação com a comunidade”, o que

permite identificar uma construção estética para a marca, no caso, que permite que ela se liberte

da sua existência utilitarista, ou que amenize os efeitos da busca por lucros. Trata-se de um

processo de construção de uma imagem para a empresa que supera um sistema de interesses

87

construindo, via publicidade, em comunhão com os usuários/clientes, experiências prazerosas, de

gozo.

Para esta dimensão, há inúmeras peças publicitárias, que tratam da relação com o “outro”,

enquanto diferente, estranho. Há um convite para a convivência com o outro e a coexistência das

diferenças. Neste aspecto, podemos observar as peças (Fig. 16).

Figura 16 - As diferenças em foco

Fonte: Painel elaborado pela autora com imagens disponíveis em:

<http://www.superacomunicacao.com.br/tag/comunicacao-interna/page/20/ >;

<https://doisespressos.wordpress.com/2009/11/11/banco-itau-marketing-vs-realidade/>. Acesso em: 10 dez. 2014.

5.4 Dimensão Ambiental

As sub-dimensões “Governança da Sustentabilidade” e “Gestão da Biodiversidade” são

os desdobramentos da Dimensão Ambiental tratada nas peças (Fig. 17 e Fig. 18).

a) “Governança da Sustentabilidade”

Iniciemos pelas cores e formas. O símbolo da marca (Fig.8, p. ) - presente na peça

publicitária que agora analisamos (Fig. 17) -, como mencionamos em análise que consta no

capítulo anterior, traz com o contorno alaranjado, que envolve a região quadrangular azul, onde o

nome da marca se apresenta, o poder de expansão da marca, de crescimento, de flexibilidade no

sentido de atender aos propósitos que a sua identidade demanda. Assim, nesta peça, com a região

88

alaranjada bem alargada, apresenta-se, ao lado da região retangular azul, outra com as mesmas

dimensões e na cor branca. Nela, com linhas retas, levemente arredondadas nas extremidades,

colocadas em paralelo e cortadas por um eixo, que corresponde à diagonal do quadrado,

desenha-se uma folha. O cabo da folha extrapola os limites da região quadrangular. Abaixo, em

letras minúsculas, na cor branca, a palavra “sustentabilidade”.

Esse conjunto de formas e cores, vinculados à palavra “sustentabilidade”, transforma-se

no novo símbolo da marca, ou sinaliza que a identidade da marca constitui-se com a

sustentabilidade, o que é reforçado pelo fato de que este mesmo conjunto aparece na parte

inferior, à direita, na peça, exatamente na região onde os símbolos são comumente colocados

numa peça publicitária impressa.

Figura 17 - A Sustentabilidade no símbolo da marca

Fonte: Disponível em: <https://www.behance.net/gallery/5396697/Marca-Grafica-Itau-Sustentabilidade>. Acesso

em: 20 fev. 2014.

Em relação às técnicas visuais, ao combinar as cores laranja, azul e branca e manter as

formas quadrangulares, a peça prima pela simplicidade, estaticidade, opacidade, equilíbrio,

simetria, economia, e planura o que traz harmônica à figura. As sensações advindas com a

harmonia são prazerosas, sugerem segurança e estabilidade. O jogo amarelo e azul reforça o

equilíbrio e o alaranjado acentua a espontaneidade, a energia vital, a criatividade.

89

A folha, desenhada na região quadrangular branca, com fios alaranjados, pode remeter o

usuário/intérprete a um ramo dourado, que associado ao ramo verde, segundo Chevalier e

Gheerbrant (2008, p. 768), “é um símbolo universal de regeneração e de imortalidade”, bem

como simboliza força, sabedoria e conhecimento.

Regeneração quer dizer reprodução, restauração, substituição, bem como reabilitação

moral e reforma dos costumes. Assim, a “folha” inserida no símbolo pode remeter o

usuário/intérprete à possibilidade de que a natureza carece de “reprodução”, “restauração”. Pode

também sinalizar a necessidade de reforma de costumes, notadamente os usuários/clientes, no

que se refere ao meio ambiente.

Avaliadas algumas pistas, no que se refere aos sentidos nelas engendrados, inventariamos

os sentidos que o símbolo – que agora incorpora a sustentabilidade -, de fato, mostra que a

identidade da marca pode ser traduzida por sustentabilidade.

b) “Gestão da biodiversidade”

Iniciemos com os aspectos qualitativos da peça publicitária (FIG.18). Os tons alaranjados e

luminosos expandem-se e tocam o azul, ao mesmo tempo em que realçam o verde salpicado pela

cor branca e amarela em suas diversas tonalidades, que podem deixar o usuário/intérprete em

estado de contemplação. A peça, nestes momentos, se faz um qualissigno icônico e os efeitos são

os vinculados a este jogo de cores.

Conforme Farina (2000, p. 2), as cores provocam “impressões, sensações e reflexos

sensoriais de grande importância, porque cada uma delas tem uma vibração determinada em

nossos sentidos, podendo atuar como estimulante ou perturbador na emoção, na consciência e em

nossos impulsos e desejos”.

A textura e as formas também contribuem para prolongar os momentos de contemplação.

O fundo é extremamente liso e a superfície arredondada exibe uma textura felpuda que convida

ao toque. Os sentidos do usuário/intérprete são despertados por esta combinação de cores, formas

e texturas, portanto. Elas suscitam alegria, tranquilidade e sugerem maciez, delicadeza.

A cor azul (do céu) é o azul do símbolo do Itaú; as cores alaranjadas remetem o usuário

ao sol e a forma arredondada, verde e salpicada de flores brancas, ao planeta Terra. Flores

amarelas cobrem o continente americano e parte da Europa, continentes visíveis na imagem. No

polo superior da “esfera”, um jovem se mostra sorridente e ao lado de uma bicicleta, com o

símbolo do Itaú. No canto inferior direito há outro símbolo do Itaú e, no lado esquerdo, em letras

amarelas e brancas: “Trocar o carro pela bike: isso muda o mundo.” A bicicleta é um meio de

90

transporte não poluente e que propicia a prática de esportes, contribuindo para a qualidade de

vida do usuário e a preservação do meio ambiente, por não ser poluente. Por sua vez, uma

borboleta, ao lado do jovem e rente às flores, agrega leveza à imagem e reafirma a natureza

transbordando vida.

Figura 18 - O planeta Terra e sua biodiversidade

Fonte: Disponível em:< http://featherwax.com/portfolio/itau/>. Acesso em: 20 fev. 2014.

Essas associações, decorrentes do olhar observacional, podem levar à constatação. O

usuário/intérprete identifica uma peça publicitária da marca “Itaú”.

A peça se faz, portanto, nestes instantes, sinsigno indicial, no entanto, o efeito pode ser

tanto remático, característico de um estado de contemplação, como dicente, próprio de um estado

de constatação. Neste caso, os aspectos qualitativos preponderam sobre os indiciais, pois o jogo

de cores, formas e texturas se faz sutilmente e provoca certo encantamento. Assim,

possivelmente, ainda que identificada como uma peça publicitária da marca “Itaú”, os efeitos

podem prevalecer na seara das qualidades.

91

Vejamos, agora, os efeitos vinculados aos aspectos simbólicos que impregnam tanto os

qualitativos como os referenciais mencionados. Nas associações com cores, destacamos o tom

alaranjado e as cores amarela, azul, verde e branca. Todas essas cores guardam em si aspectos

simbólicos que rementem o usuário à plenitude da natureza: a cor alaranjada e a amarela

vinculam-se ao sol; a cor azul, à água; a cor verde, à flora e a branca, sobretudo, à vida.

Segundo Chevalier e Gheerbrant (2008, p. 939), a cor verde “é a cor do reino vegetal (...),

o despertar das águas primordiais e da vida”, enquanto para Durand (1997), esta cor desempenha

um papel terapêutico porque é associado ao repouso, à profundidade do acolhimento materno.

Os significados atrelados aos aspectos qualitativos fazem vir à mente do

usuário/intérprete, possivelmente, a ideia de um local agradável, onde a natureza se mostra com

frescor e convida ao convívio, pela energia, alegria, frescor, luz, vida que irradia.

A marca propõe a “mudança do mundo” e exibe tal mundo “transformado”, habitado por

um jovem feliz e em harmonia com a Terra. Este jovem – ou um usuário – trocou o carro pela

“bike”, o que contribui para a transformação do planeta. O símbolo da marca está na “bike”, o

que sugere que esta transformação se faz graças à marca, que também convida o usuário a operar

tal mudança, ou seja, convida-o a resolver o problema enfrentado pela sociedade: a morte da

natureza. A marca se apresenta, portanto, com a parceria do usuário, com potencialidade para

preservar o meio ambiente, outra faceta da sustentabilidade.

Ao considerar que a peça traduz a identidade da marca, no que se refere à

sustentabilidade, uma manifestação da marca, ou seja, como uma lei (identidade da marca) que

se atualiza, esta se faz legissigno. Os efeitos podem ser tanto os vinculados aos aspectos

qualitativos, como aos existenciais ou quanto aos que suscitam reflexões e mudança de hábitos.

O usuário/intérprete pode refletir sobre o conceito de sustentabilidade como o que agrega

a preservação do meio ambiente, por exemplo. Também pode identificar a marca em questão

como uma instituição (financeira) que promove a melhoria da qualidade de vida das pessoas ao

colocar em prática ações que contribuem para a preservação do meio ambiente.

O planeta Terra (Fig. 18) aparece envolto pelos tons alaranjados, cor símbolo do Itaú – o

Itaú abraça o planeta -, o que sugere que esta marca assumiu a responsabilidade, ou o dever, de

preservar o meio ambiente. A representação visual pode também remeter o intérprete a

representações visuais de ilustrações da obra “O Pequeno Príncipe”, onde a questão da

responsabilidade para com o outro é enfatizada, tal como mencionamos em análises anteriores,

relativas às figuras 11 e 14. Novamente, a peça exibe a marca “Itaú” compartilhando um

“dever”, bem como traz o universo da infância à tona.

92

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sustentabilidade, em suas três dimensões, engendra-se nas peças publicitárias da

Instituição Financeira “Itaú”.

A Dimensão Econômica, exercitada com base no compartilhar de deveres, coloca em

evidência valores relativos à infância e ao potencial da mulher de emancipar-se. Os deveres

compartilhados, no caso, são os relativos à família. No entanto, as peças constroem uma

ambiência permeada de feminilidade, espontaneidade e criatividade, pela presença da criança e

da mulher, bem como por estabelecer um jogo de cores e formas que agregam poder de sugestão

à peça. Assim, por mais que os aspectos existenciais sejam marcantes, por tratar-se de uma peça

publicitária, os efeitos sempre vêm permeados de sensações e emoções, que contribuem para

potencializar o prazer em decorrência do cumprimento de deveres.

Em relação à Dimensão Social, novamente a questão dos deveres vêm à tona. Em meio à

teia de valores relativos ao universo da infância, o dever de educar, entregue agora a ações de

instituições e às pessoas, em geral, passa a ser compartilhado, pela instituição ou pela marca,

com os usuários. O prazer do dever cumprido, a sublimidade que se instaura com o cumprimento

do dever, faz-se na ambiência construída pelas peças, que instaura sensações e emoções

possíveis ao universo da infância. Um mundo mágico, inventivo, repleto de criatividade e brilho.

Um mundo em transformação...

Na Dimensão Ambiental, o dever de preservar o planeta também é compartilhado. A

qualidade de vida vem em consequência do dever cumprido, tanto pela instituição como pelos

usuários. A marca mostra-se radiante, em expansão, torna-se sublime, por cumprir tal dever, a

ponto de acoplar a sustentabilidade (em palavra e em símbolo) ao símbolo da marca “Itaú”.

Assim, mostramos, via análise semiótica, como as peças engendram o conceito de

sustentabilidade em meio a valores relativos à infância, à família, à qualidade de vida, ao

potencial de transformação das pessoas e apresentamos reflexões sobre marca, sustentabilidade e

publicidade, o que nos leva a considerar que os objetivos propostos na pesquisa foram

alcançados.

A Instituição Financeira “Itaú”, ao compartilhar deveres, conforme mostram as análises

das peças, humaniza-se. As manifestações da identidade da marca, nas peças publicitárias

impressas, no caso, se dão com a construção de uma ambiência propícia às emoções, às

sensações, ou seja, o que contribui para que o prazer do dever cumprido também se atualize.

93

Independente de análises do mundo financeiro, sobre o alcance da sustentabilidade da

Instituição Financeira “Itaú”, como as que constam na Revista Guia Exame, conforme

mencionamos na introdução, as peças exibem uma marca em expansão, que firma sua identidade

assumindo-se sustentável e mostrando-se sustentável em manifestações da sua identidade, na

publicidade. No entanto, por fazer isto compartilhando deveres, ela se humaniza e por propiciar

que o prazer do dever cumprido seja também compartilhado, além de humanizar-se, ela também

se aproxima das pessoas. Ela, como você – usuário – “muda o mundo”. Cumplicidade que

arrebata, que atrai o usuário/intérprete com força irresistível, que encanta, movimento pertinente

ao contexto da “cultura-mundo” e que exibe tendências em movimento, o da sustentabilidade e

da propagação da sensorialidade.

Com a nossa pesquisa, não há como inferir que tais deveres serão, de fato, cumpridos

pelos usuários. O que podemos inferir, considerando-se os resultados das análises, é a

possibilidade de que as manifestações da identidade da marca, as peças publicitárias, no caso,

pelo poder de sugestão e pelos valores que engendram, que guardam na sua materialidade,

permitem que os usuários compartilhem as sensações e emoções que vêm com o cumprimento de

deveres então postos. Em geral, uma instituição financeira e pessoas têm objetivos últimos

distintos, logo, por maior que seja a aproximação do “Itaú” das pessoas, nada garante que as

metas que ela assume sejam também as mais propícias aos seres humanos.

94

Referências

ALMEIDA, Fernando - Os desafios da Sustentabilidade – uma ruptura urgente - Rio

deJaneiro: Elsevier, 2007

ARGENTI, Paul. Comunicação empresarial: a construção da identidade, imagem e

reputação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006;

BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos.

São Paulo: Saraiva, 2007.

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Tradução Marcus Penchel.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

__________ Modernidade Líquida, Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,

2001.

__________ A Sociedade Líquida, entrevista concedida ao Jornal Folha de São Paulo, Caderno

Mais! - 19/10/2003 - p.6

__________ Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos, Rio de Janeiro: Jorge

Zahar, 2004.

__________ Vida para consumo – A transformação das pessoas em mercadoria, Rio de

Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2008

__________ A cultura no mundo liquido moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

___________“Zygmunt Bauman: A cultura é um campo de batalha e um parque de

diversões", em 08/02/2014, à Revista Época, concedida à Luís Antônio Giron

BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

95

BONASSI, Bianca Ribeiro - O sentido ambientalista como valor imaterial de marcas e

mercadorias nas peças publicitárias veiculadas em Veja e Exame – São Paulo – 2014 – Tese

de doutorado – PUC-SP.

BROWN, Lester Russell. Plano B 4.0: Mobilização para Salvar a Civilização, São Paulo, Ed.

New Content, 2009.

BRUNDTLAND, Gro Harlem et al. Nosso Futuro Comum: Relatório da Comissão Mundial

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,

1991.

CHEVALIER, J. ; GHEERBRANT, A. - Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes,

gestos, formas, figuras, cores, números. Rio de Janeiro: J. Olympio. 2008.

CIVITATI, Eduardo - Comunicação, Semiótica e Fabricação da Realidade: Análise de

Mensagens Publicitárias Impressas do Banco Itaú – 2005 - 188f.- Dissertação (MPA) -

Escola de Administração de Empresas de São Paulo

COSTA, A. M.; CARVALHO, J. L. F. O Discurso da Responsabilidade Social Empresarial

no Brasil sob a perspectiva da Teoria da Estruturação. In: ENCONTRO DE ESTUDOS

ORGANIZACIONAIS, 4, 2006, Porto Alegre. Anais do IV EnEO. Porto Alegre: ANPAD, 2006.

1 CD.

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. São Paulo: Martins

Fontes,1997.

FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. 5° ed. São Paulo: Edgard

Blusher, 2003.

GARCIA, Solimar – Representações da Sustentabilidade na Propaganda: Uma visão do

consumidor – São Paulo – 2010 – 148f. – Dissertação - Instituto de Ciências Sociais e

Comunicação da Universidade Paulista – UNIP

96

GIRARD, Alessandra Coelho - A influência da comunicação na reputação corporativa do

Banco Itaú - Belo Horizonte, 2009 - 153f. - Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, Programa de Pós-Graduação em Administração.

GONÇALVES, Elizabeth Moraes. Propaganda & linguagem: análise e evolução, São

Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2006.

GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE – Editora Abril –

2007,2008,2009,2010,2011,2012,2013 e 2014.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança

cultural, Tradução Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. 4. ed. Rio de Janeiro:

Loyola, 1994

IASBECK, Luiz Carlos assis. A arte dos slogans: as técnicas de construção das frases de efeito

no texto publicitário. São Paulo: Annablume; Brasília: Upis, 2002.

ITTEN, Johannes. Art de la couleur. Paris: Dessain et Tolra, 1990.

KUNSCH, Margarida Maria Krohling e OLIVEIRA, Ivone de Lourdes (organizadoras). A

comunicação na gestão da sustentabilidade das organizações - São Caetano do Sul: Difusão,

2009;

LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaio sobre o individualismo contemporâneo,

Tradução Miguel Serras Pereira; Ana Luísa Faria. Lisboa: Relógio d’água Editores Ltda, 1989.

___________ Os tempos hipermodernos. Tradução Mário Vilela. São Paulo: Barcarolla, 2004.

____________ Metamorfoses da cultura: ética, mídia e empresa- tradução Juremir Machado

da Silva. – Porto Alegre: Sulina, 2004.

97

___________ A sociedade pós-moralista: o crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos

tempos democráticos. Tradução de Armando Braio Ara. – Barueri, SP: Manole.- 2005

___________ A Felicidade Paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Tradução

Maria Lucia Machado, São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LIPOVETSKY, Gilles, SERROY, Jean. A cultura-mundo. São Paulo: Companhia das Letras,

2011.

MACEDO, M.A.S.; et al. Desempenho de empresas socialmente responsáveis: uma análise

por índices contábil-financeiros. Revista Produção Online, ed. especial, p. 1-22. 2007

MEADOWS, Donella H. et al. The limits to growth. Nova Iorque: Universe Books, 1972.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução Catarina

Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; Revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho, 10 ed. São

Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2005.

NASCIMENTO, Fátima Costa do – A Sustentablidade e o Desenvolvimento Sustentável nas

entrelinhas do Agronegócio: Análise da revista Globo Rural – 2012 – 107f. - – Dissertação -

Instituto de Ciências Sociais e Comunicação da Universidade Paulista - UNIP

PEREZ, Clotilde; TRINDADE Eneus - Novos Horizontes: Marketing – Capítulo 04 -

Marketing e Tendências de Consumo: O Marketing do Entendimento - Publicações Dom

Quixote - 2014.

SAVITZ, Andrew W. WEBER, Karl. The triple bottom line: how today’s best-run companies

are achieving economic, social, and environmental success – and how you can too. San

Francisco: Wiley & Sons, 2006.

____________ A empresa sustentável: o verdadeiro sucesso é o lucro com responsabilidade

social e ambiental. Rio de Janeiro: Campus; 2007.

98

SAFATLE, V. O dever e seus impasses. São Paulo: WMF Martins fontes, 2013.

STEVES, Sérgio Augusto Pires - Verdades portáteis: dilemas, desafios conceituais e limites

da sustentabilidade no plano organizacional. / Sérgio Augusto Pires Esteves. – 2009. 299f.

SOUZA BASTOS, Renata Degani - Criatividade em Outdoor: Um estudo da campanha

Feito para você – Itaú – 2006 - Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de

Comunicação, Educação e Turismo da Universidade de Marília.

TODOROV, Tzvetan. Introdução a Literatura Fantástica. São Paulo: Editora Perspectiva,

2003.

VASCONCELOS, Marco Antonio; GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de Economia.

São Paulo: Saraiva, 1998.

VINHA, Valéria da. As empresas e o desenvolvimento sustentável: da ecoeficiência à

responsabilidade social corporativa. In: LUSTOSA, M. C.; MAY, P.; VINHA V. G. da.

Economia do meio ambiente: teoria e prática. São Paulo: Campus, 2003.