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UNIVERSIDADE DE SO PAULO ESCOLA DE COMUNICAES E ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAO E ARTES
ARTE E MDIA: A Gesto da Comunicao no Arte na Escola on line
Monica Kondziolkov
Trabalho apresentado junto ao Departamento de Comunicaes e Artes da
Escola de Comunicaes e Artes da USP como requisito parcial para obteno do
ttulo de especialista em nvel de especializao em Gesto da Comunicao
Orientadora Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa
So Paulo 2006
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BANCA EXAMINADORA
1. ____________________________________________
2. ____________________________________________
3. ____________________________________________
So Paulo, _____ de _____________________ de 2006.
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DEDICATRIA
Para o Luciano, a Larissa e as
trigmeas: Vitria, Fernanda e Eduarda,
que habitam este mundo h pouco tempo.
Para Arthur - que est chegando por aqui -
e para todas as crianas de sua gerao.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Leopoldo e Maria da Glria, meus verdadeiros
educadores nesta vida, por possibilitarem ser quem eu sou, por me ensinarem
a ser uma pessoa digna e, sobretudo, que o importante viver at morrer.
Aos meus irmos: Peter, Ludmila e Paulo (in memoriam), pela
fraternidade, pelas experincias que juntos vivenciamos e por toda uma vida
compartilhada. Ao meu sobrinho Jan, pela companhia adorvel e divertida.
Ao meu amigo Bernardo Guerra. Se hoje esse trabalho existe por seu
estmulo e exemplo. Obrigada por todo o carinho e amizade eterna que temos
um pelo outro. Agradeo tambm a todos os meus grandes amigos, sem os
quais a vida no teria brilho. Em especial, minha amiga mais antiga, Daniela
Rodrigues, me do Luciano. Obrigada Stella Botelho, Carla Magdaleno e Vivi,
que me ensinam a usar o corpo com sabedoria e respeito.
Evelyn Berg Ioschpe (av das trigmeas), pela oportunidade de
trabalho, que me possibilitou fazer parte deste grande projeto que Arte na Escola e para toda a equipe da Fundao Iochpe: Maria Helena Webster, pelo companheirismo e confiana; Mirca Bonano, pelo incentivo e bom humor
essencial vida; Silvana Cludio (me do Arthur), pela dupla que formamos,
pelo empenho e dedicao de sempre; o sucesso deste site tambm mrito
seu. Obrigada Zita Pimentel pelos sbios conselhos e pelos momentos de
ateno e ternura, estendidos a toda equipe Formare, sempre vibrando comigo.
s equipes da V6 e TRUST, que no medem esforos para tornar
possvel no mundo virtual, aquilo que imaginamos no mundo real.
Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa, minha orientadora neste
trabalho, cuja sensibilidade, sabedoria e profundo respeito possibilitaram
enriquecer os meus conhecimentos, ampliar o alcance de minha viso e ter um
novo olhar. Obrigada pelos momentos de ricas trocas, sentidas e vivenciadas.
Eliana Athi, que aceitou fazer parte desta banca e que uma dessas
pessoas que no atravessam a nossa vida sem nos sensibilizar e que por isso,
nos fazem querer ser pessoas melhores. Obrigada pelo presente!
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RESUMO
Este trabalho trata de Arte na Escola e seu site. Partindo de um breve histrico acerca de suas aes na histria da Arte e seu ensino no Brasil,
aborda o surgimento de sua pgina eletrnica, criada em 2001 e aperfeioada
no ano de 2004, que vem reunindo um grupo significativo de professores de
arte.
Realizando uma pesquisa junto aos usurios do Arte na Escola on line,
fundamentada no conceito de consumo miditico, desenvolvido por Nestor
Garca Canclini, procura conhecer as experincias e o background intelectual,
cultural e artstico deste pblico e prope um projeto de interveno para
atend-lo. O olhar que conduz esta proposta est alicerado no aporte terico e
conceitual de Jess Martn-Barbero, que v a mdia como produtora de cultura
e a escola como um espao de re-imaginao e recriao do espao pblico.
O projeto de interveno, resultado final deste trabalho de Gesto da
Comunicao, tem a arte como interface e o site Arte na Escola como meio de
informao e formao para os professores de arte que o acessam, procurando
corresponder aos novos paradigmas de um mundo em constante mutao, a
fim de possibilitar que os alunos desses professores se tornem sensveis,
crticos, participativos e exigentes.
PALAVRAS-CHAVE Comunicao, arte, educao, mdias, internet, escola, professor, alunos.
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ABSTRACT
This study is about the Art in School and its website. Beginning with a brief historical concerning its actions in the history of Art and in the teaching of
this subject in Brazil, the present study analyses the appearance of its website,
created in 2001 and perfected in the year of 2004, which has been gathering a
significant group of art teachers.
Through an on line research towards the users of Art in School website,
based on the concept of media consumption, developed by Nestor Garca
Canclini, the study aims at knowing this public experiences and their cultural,
intellectual and artistic background and it proposes an intervention project in
order to assist them. The view which conducts such proposal is founded on the
theoretical and conceptual contribution of Jess Martn-Barbero, who considers
media as a culture producer and school as a place for the re-imagination and
recreation of the public space.
The intervention project, final result of this study on Communication
Management, has art as its interface, and the Art in School website as a means
of information and formation of the art teachers, who access it, looking forward
to corresponding to the new paradigms of a world in constant mutation, in order
to enable their students to become sensible, critic, participative and demanding.
KEY-WORDS Communication, art, education, media, internet, school, teacher, students.
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LISTA DE IMAGENS
Figura 1 - Uso do vdeo na sala de aula de artes
Figura 2 - O livro da pesquisa
Figura 3 - Metodologia Triangular
Figura 4 - Fazer artstico associado leitura da imagem histria da arte
Figura 5 - Mapa da Rede Arte na Escola
Figura 6 - Videoteca Arte na Escola na UFRGS
Figura 7 - Acervo
Figura 8 - A imagem no ensino da arte, da Profa. Dra. Ana Mae Barbosa
Figura 9 - Lanamento do livro
Figura 10 - Seminrios: Arte na Escola Introduo da Imagem Mvel
Figura 11 - Seminrios a Funo da Imagem, em parceria com a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
Figura 12 - Encontro Tcnico na UFPA, em Belm-PA
Figura 13 - Seminrio na UCS, em Caxias do Sul-RS
Figura 14 - Disseminao dos PCNs-Arte em Manaus-AM
Figura 15 - Disseminao PCNs-Arte em Recife-PE
Figura 16 - Pasta arte br
Figura 17 - Material para o professor
Figura 18 - Home site Arte na Escola
Figura 19 - Antes
Figura 20 - Depois
Figura 21 - Pgina Midiateca
Figura 22 - Material arte br no site
Figura 23 - Pgina Cadastre-se
Figura 24 - Formulrio Cadsatre-se
Figura 25 - Sistema de envio de infomativos V6mail
Figura 26 - Informativo NOTCIAS
Figura 27 - Pgina Galeria dos Alunos da professora Christiana Arcuri
Figura 28 - Trabalho do aluno ilustrando a home
Figura 29 - Imagem ampliada no Galeria dos Alunos
Figura 30 - Pgina do Mural
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Figura 31 - Pgina Frum
Figura 32 - Frum sobre Planejamento de Aula de Arte
Figura 33 - Seqncia Navegao pelo Mapa da Rede
Figura 34 - Srie Luciano: 2 anos e meio, manipulado o DVD na sala de sua
casa
Figura 35 - Larissa na internet, ladeada por seus pais, Maurcio (da TRUST) e
Gisele, logo aps o seu nascimento
Figura 36 - Arthur, dentro da barriga da Silvana, com 12 semanas, ilustrando o
seu MSN
Figura 37 - Pginas da Vida 1
Figura 38 - Pginas da Vida 2
Figura 39 - Pginas da Vida 3
Figura 40 - Pginas da Vida 4
Figura 41 - Pginas da Vida 5
Figura 42 - Pginas da Vida 6
Figura 43 - Pginas da Vida 7
Figura 44 - Pginas da Vida 8
Figura 45 - Parede cega 1: neoarte
Figura 46 - Antigas edificaes da Travessa Nestor de Castro (Curitiba-PR),
servem de suporte para painis do artista curitibano Poty
Lazzarotto, que constitui o Museu na Rua
Figura 47 - Outdoor
Figura 48 - Outdoor do Colgio Antares, Americana-SP, realizado pelo artista plstica
Luciano Bortoletto e alunos do ensino mdio
Figura 49 - Luciano e seus culos performticos
Figura 50 - Game Sonic
Figura 51 - Ilustraes de games
Figura 52 - Games Dreamcast
Figura 53 - Ilustrao de games 2
Figura 54 - Engenharia dos games
Figura 55 - Game sobre arte 1
Figura 56 - Game sobre arte 2
Figura 57 - Game God of war
Figura 58 - Anncio filme Matrix
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Figura 59 - Game Matrix
Figura 60 - Times Square, Nova Iorque 1
Figura 61 - Times Square, Nova Iorque 2
Figura 62 - Homem-placa na Praa Ramos, So Paulo
Figura 63 La trahison des images (Ceci n'est pas une pipe), Ren Magritte,
1928
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LISTA DE TABELAS E GRFICOS
TABELAS Tabela 1: Solicitaes Fale Conosco
Tabela 2: O que significa para eles ser um professor
Tabela 3: Como e porque se tornaram professores
Tabela 4: O que significa para eles ser professor na escola em que lecionam,
na cidade em que vivem e no Brasil de hoje
GRFICOS Grfico 1: Professores Cadastrados
Grfico 2: Visitantes nicos
Grfico 3: Naturalidade por regio
Grfico 4: Naturalidade por Estado
Grfico 5: Profisso
Grfico 6: Formao
Grfico 7: Conheceram o site Arte na Escola
Grfico 8: Tipo da instituio onde lecionam
Grfico 9: Outras atividades que realizam com os alunos
Grfico 10: Jornais mais lidos
Grfico 11: Livros mais lidos
Grfico 12: Quando leram o ltimo livro (por nmero de respondentes)
Grfico 13: Freqncia com que vo ao cinema
Grfico 14: Assistem TV
Grfico 15: Gnero de programa de TV favorito
Grfico 16: Freqncia com que vo ao teatro
Grfico 17: Freqncia com que vo ao museu
Grfico 18: Quanto tempo em mdia escutam rdio
Grfico 19: Que tipo de msica gostam
Grfico 20: Tipos de dana que mais gostam
Grfico 21: Onde tm acesso/assistem dana
Grfico 22: Notas atribudas aos meios de comunicao, do ponto de vista
artstico
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Grfico 23: Linguagem da Arte que consideram mais artstica
Grfico 24: Artistas mais citados, trabalhados com os alunos
Grfico 25: Artistas com os quais se identificam
Grfico 26: Outros sites que visitam
Grfico 27: Freqncia com que acessam a internet
Grfico 28: J participaram de cursos a distncia
Grfico 29: O que o usurio espera do Arte na Escola
Grfico 30: Tempo que gastam, em mdia, visitando um site na internet
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SUMRIO
CAPTULO 1: ARTE NA ESCOLA E NO BRASIL 1. Arte na Escola e a histria da Arte e seu ensino no Brasil 04 1.1 A Videoteca Arte na Escola dissemina a Metodologia Triangular 13 1.2 Instituto Arte na Escola: crescimento quantitativo em mbito
Nacional 25 1.3 arte br: imagem enquanto linguagem 27
CAPTULO 2: ARTE NA ESCOLA ON LINE 2. Site Arte na Escola 35 2.1 A primeira pgina 37 2.2 Antes e depois... 39 2.2.1 Identidade visual 39 2.2.2 Atualizao e apresentao de contedos no
espao-informao 40 2.2.3 Navegabilidade: um rito de conexo e unidade 44 2.2.4 Contato com o usurio: construindo relacionamento 45 2.2.5 Interatividade 47 2.2.6 Comunicao com os Plos da Rede 51 2.2.7 Lies apreendidas 53 2.3 O Instituto Arte na Escola e seu pblico virtual 54 2.4 Comunicao digital: um novo mundo de percepes e de
produo de conhecimentos 56 2.5 Arte na Escola on line: desafios e potencialidades 61
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CAPTULO 3: CONHECENDO OS USURIOS DO ARTE NA ESCOLA ON LINE 3. Metodologia de pesquisa 66 3.1 Metodologia 66 3.2 Formulrio do questionrio 66 3.3 Divulgao do questionrio 67 3.4 Anlise descritiva dos dados 68 3.4.1 Dados Pessoais 68 3.4.2 Formao 70 3.4.3 Contato com Arte na Escola 71 3.4.4 Profisso 72 3.4.5 Consumo Miditico 75 3.5 Anlise interpretativa dos dados 89
CAPTULO 4: ARTE, MDIAS E O ARTE NA ESCOLA ON LINE 4. O ensino da arte, as mdias e Arte na Escola on line 93 4.1 A televiso, o homem-placa e as mdias como aliados 105 4.2 Arte na Escola on line inovado: uma proposta de interveno 110 4.2.1 Objetivos 110 4.2.2 Home 111 4.2.3 reas do site e suas pginas 112 4.2.4 Sala de Aula renovada 113 4.2.5 Consideraes finais 114Bibliografia 116Anexos 120
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CAPTULO 1
ARTE NA ESCOLA E NO BRASIL
A inspirao existe, porm
tem que encontrar-se trabalhando.
Picasso
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1. Arte na Escola e a histria da Arte e seu ensino no Brasil
Arte na Escola, organizao do Terceiro Setor de atividade educacional, sem fins lucrativos, o objeto de pesquisa para o qual se volta este trabalho. A fim
de trazer reflexo os princpios e objetivos que nortearam a criao do Arte na
Escola e que, at hoje, conduzem sua ao, faz-se necessrio um resgate histrico
- um retorno sua gnese, suas razes sem o qual qualquer avano perderia o
lastro.
O ano 1989 e Evelyn Berg Ioschpe, ento presidente da Fundao
Iochpe1, estava especialmente dedicada a investigar e descobrir caminhos que
levassem a educao a apropriar-se dos saberes mediados pela arte. Sociloga,
jornalista e colecionadora de arte, Evelyn Berg Ioschpe foi diretora do Museu de
Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) de maro de 1983 a maro de 1987. Entre
outras instituies s quais esteve ligada, ela participa hoje do Conselho da Bienal
Internacional de So Paulo e do Museu Lasar Segall. Por certo que sua
experincia - intelectual e artstica norteava e determinava os rumos da referida
investigao. Seu objetivo inicial era melhorar a qualidade do ensino da arte
realizado nas escolas de educao formal com vistas a prover aos alunos modos
de acesso s imagens de obras de arte, a fim de educar a sensibilidade para a
fruio da arte e conseqentemente para o conhecimento de si e do mundo, como
fator de desenvolvimento cultural, intelectual e sensvel dos alunos, bem como a
ampliao de seu pensamente crtico. Mais do que um objetivo, este era seu
desejo.
A histria de Arte na Escola parte do encontro do desejo de Evelyn Berg Ioschpe com a Profa. Dra. Ana Mae Barbosa, que na mesma poca introduziu e
disseminava uma nova e revolucionria abordagem para o ensino da arte: a
1 A Fundao Iochpe foi instituda em 1989, em Porto Alegre, pelo Grupo Empresarial Iochpe, atuante na rea de auto-peas e componentes ferrovirios e que at ento desenvolvia projetos culturais voltados difuso das artes plsticas no Rio Grande do Sul. O Grupo escolheu a Educao como foco central de seu investimento social.
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Metodologia Triangular2. A este encontro, somou-se tambm a possibilidade de
associar esse pressuposto conceitual ao uso do vdeo em sala de aula.
Na poca, a Fundao Iochpe estava decidida a constituir uma videoteca
documental sobre artes visuais, visando assim facultar aos professores e alunos
das escolas de educao formal o acesso ao mundo da arte. Por conseguinte,
dava incio, em 1989, a uma pesquisa que pretendia comprovar que a Metodologia
Triangular, associada mdia vdeo, era uma eficiente proposta metodolgica para
o ensino da arte na escola. Essa pesquisa culminou em 1992, com a publicao do
livro O Vdeo e a Metodologia Triangular no Ensino da Arte, de Analice Pillar e
Denyse Vieira, ambas coordenadoras da pesquisa, elaborada sob orientao da
Profa. Dra. Ana Mae Barbosa.
Figura 1 Uso do vdeo na sala de aula de artes Figura 2 O livro da pesquisa
Cabe ainda esclarecer que tal pesquisa - que deu origem ao Projeto Arte na
Escola desenvolveu-se num perodo de luta poltica e conceitual sobre o ensino
da arte no Brasil.
Um ano antes de iniciada a pesquisa, em 1989, comeava a ser discutida,
na Cmara e no Senado, bem como reestruturada, uma nova Lei de Diretrizes e
2 Sistematizada pela Profa. Dra. Ana Mae Barbosa, a Metodologia Triangular parte da proposta DBAE (Discipline-Based Art Education) para o contexto brasileiro. A proposta DBAE trata de forma integrada a produo, a crtica, a esttica e a histria da arte, representando um paradigma diferente da auto-expresso criativa, em voga at ento, nas aulas de arte. No caso brasileiro, uniram-se as vertentes da crtica e esttica em uma s: leitura da imagem; da a denominao triangular, que contempla o fazer artstico, a leitura da imagem e a histria da arte.
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Bases da Educao (LDB), que ameaava retirar Arte do currculo escolar de
ensino fundamental e mdio. O discurso oficial que imperava poca alegava que
era preciso recuperar a educao atravs dos contedos e que Arte no tinha
contedo. Era preciso resgatar o status de disciplina para a Arte na escola e, desse
modo, seus protagonistas (pesquisadores e professores de arte) buscavam
aprofundar o pensamento terico-metodolgico na Educao em Artes e explicitar
seus contedos. Sendo assim, fazia-se necessria a organizao de um sistema
de mtodos.
A proposta DBAE (Discipline-Based Art Education), a partir da qual a
Metodologia Triangular se desenvolveu, busca reunir conhecimentos de Arte num
corpo organizado, o que exige certo rigor intelectual, como ocorre em outras reas
do conhecimento, como as de cincias exatas e de humanidades, por exemplo. No
captulo 3 do livro j citado, o mesmo que determinou a criao do Arte na Escola,
possvel observar resultados quanto ao fazer artstico do aluno em duas e trs
dimenses, fazer esse decorrente da influncia do vdeo nos processos de
aprendizagem dos alunos. Essa era uma realidade concreta e palpvel que, como
nas cincias exatas, procurava evidenciar contedos especficos da arte-educao,
a partir da mensurao de resultados objetivos, avaliveis.
Entre tantos outros mritos, esta pesquisa, conduzida com extraordinrio rigor, tem
a qualidade de evidenciar que a arte, quando concebida como disciplina,
analisvel por parmetros no subjetivos, mesmo em se levando em conta a
magia da qual nos fala Elliot Eisner. Esta magia seria o dom que a verdadeira
obra de arte tem de nos levar s estrelas. Todos os seres sensveis do planeta
sabem o que isso significa e, por isso mesmo, podem aferir a importncia da
construo de instrumentos de avaliao deste saber.3
Os resultados da pesquisa, descritos na obra j referida, retratam, pois, uma
reflexo metodolgica importante para definir Arte como disciplina escolar, com
contedos prprios e especficos que respondiam a essa busca, no a limitando
apenas a um momento de atividade no currculo escolar, como fora considerada a 3 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. XIV.
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partir da LDB de 1971, lei 5692/71 e tambm como propunha fazer valer o
Conselho Federal de Educao (CFE) a partir de novembro de 1986, ao eliminar a
rea de Comunicao e Expresso do currculo escolar de ensino fundamental e
mdio. O texto redigido e aprovado pelo CFE determinou como disciplinas bsicas
Portugus, Estudos Sociais, Cincias e Matemtica, reduzindo assim a educao
artstica, que pertencia rea de Comunicao e Expresso, a um mero pargrafo
que fazia referncia exigncia da Educao Artstica no currculo. Tal
ambigidade acabou por tornar Arte uma disciplina marginal, chegando mesmo a
faz-la desaparecer da grade curricular de muitas escolas brasileiras.
A dcada de 80, no Brasil, assinalou um perodo de crescente politizao
dos professores de arte - intitulados arte-educadores - que fundaram e participaram
de discusses em encontros nacionais acerca do lugar da arte na escola, da
formao de professores de arte, da pesquisa em arte e da atuao do profissional
de arte-educao (professor de arte), visando assim recuperar o valor dessa rea
do conhecimento humano. Vale aqui citar a Semana de Arte e Ensino, realizada
em setembro de 1980 na Universidade de So Paulo, e que contou com a
participao de cerca de 3 mil professores, tendo da se organizado o ncleo do
que viria a ser a Associao de Arte-Educadores de So Paulo (AESP). A partir de
1980, comeam a surgir organizaes de carter associativo, com o objetivo de
garantir a presena da arte no currculo escolar. Em 1988, havia 14 associaes
estaduais - entre elas a AESP e a Associao de Arte-Educadores do Nordeste
(ANARTE) que, juntas, criaram a Federao dos Arte-Educadores do Brasil
(FAEB), inicialmente com sede em Braslia, em 1987.
No final dos anos 80, as aulas de arte no eram contempladas no currculo
oficial e existia uma postura crtica reflexiva sobre a educao artstica, assim
denominada pela LDB de 1971, j citada aqui, dando nfase a atividades artsticas
desprovidas de contedos ligados s linguagens da arte e tendente formao
tcnica para o mercado de trabalho. Paralelamente havia uma busca por modos de
ensinar e aprender arte, uma busca da arte enquanto saber e objeto de saber que
possibilita o desenvolvimento da habilidade perceptiva, da capacidade reflexiva, da
sensibilidade do educando e a formao de uma conscincia crtica, no se
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limitando a desenvolver no aluno a auto-expresso e a criatividade, valores que
marcaram o ensino da arte na dcada de 70 e meados de 80. A Metodologia
Triangular configurava-se ento como uma resposta a essa busca, ao introduzir,
alm do fazer artstico caracterizado at ento como enfeite, ao ilustrativa e
meramente decorativa de outras disciplinas - a leitura da imagem e a histria da
arte.
At o surgimento dessa nova metodologia, com raras excees, o ensino da
arte resumia-se a um certo fazer artstico encarado como entretenimento, muitas
vezes confundido com artesanato, com a produo de decoraes e objetos para
festas, principalmente em datas comemorativas. Era esse o tipo de fazer artstico
que dominava as aulas de artes nos anos 70. Quem nunca viu crianas saindo das
escolas na poca da Pscoa com os rostos pintados e as cabeas enfeitadas por
orelhas de coelho feitas com cartolina branca e recheadas de algodo? Este
apenas um exemplo, mas existem muitos outros.
Figura 3 Metodologia Triangular Figura 4 Fazer artstico associado leitura da imagem histria da arte
Para entender como a prtica docente no ensino da arte assumiu essa
forma nos anos 70 e o que significou poca, em termos de pioneirismo, a
Metodologia Triangular - que ainda ousava associar-se s imagens do vdeo em
sala de aula - basta fazer uma breve retrospectiva acerca do que se praticava em
aulas de artes nas dcadas anteriores.
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Nas salas de aula nos anos 60, sob o regime da ditadura militar, dominava
uma educao instrumental e utilitarista, tecnologicamente orientada. A aula de
artes visava a construo de um objeto como produto, exigindo dos alunos um
acabamento tcnico que no estava de acordo com o nvel de expresso do aluno.
Era uma experincia artstica que muitas vezes levava o educando frustrao,
pois o trabalho comumente era terminado pelo professor. Desde essa poca e
em contraposio a este modo de ensinar arte j surgia o laissez-faire, como
resposta e reao ao excesso de rigidez vigente no ensino da arte.
Esse mtodo, totalmente desvinculado da tcnica, visava a livre-expresso
do aluno, o que, j nos anos 70, apontava para um esvaziamento do ensino da
arte, j que mais desorientava o educando do que o ajudava a se expressar. O
laissez-faire colocava em dvida a capacidade do aluno de desenvolver seu
potencial criativo, sua habilidade perceptiva e, em suma, de operar como
protagonista sua formao como indivduo sensvel, atuante e participativo. Vale
ainda ressaltar que, ao longo de todas essas dcadas, o uso da imagem na aula de
artes era praticamente inexistente. Isso acontecia mesmo nos anos 80, uma vez
que at nos cursos de especializao para professores universitrios de arte a
imagem no era contemplada devidamente. Quem relata isso, em 1991, a Profa.
Dra. Ana Mae Barbosa:
A idia da auto-expresso e do preconceito contra a imagem no ensino de
arte para crianas dominante nestes cursos. A primeira tentativa de analisar
imagens em cursos de arte-educadores teve lugar durante a Semana de Arte e
Ensino na Universidade de So Paulo (1980) atravs de workshop utilizando a
imagem de TV, mas a maioria dos participantes considerou aquilo uma heresia.4
Entretanto, se a Metodologia Triangular pde surgir, assim como outras
metodologias e prticas de ensino da arte todas elas mais ricas e significativas,
que trataram de ampliar o repertrio dos alunos e de promover vivncias
prazerosas com o conhecimento - por que alguns pesquisadores e professores
ousaram, desde sempre, fazer diferente. 4 Barbosa, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. p. 15.
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Nesse sentido, vale citar a experincia da arte-educadora Maria Paula
Palhares que, j nos anos 70, experimentou levar aos alunos da Juca - Escola
Piaget, escola de educao infantil e de ensino fundamental situada no bairro do
Sumar, em So Paulo - a imagem em movimento. Seu objetivo era romper com
os padres tradicionais de ensino e aprendizagem da Arte, investindo no processo
de conhecimento que se d por meio da interao entre o aluno e o professor.
Pela primeira vez tive que enfrentar um grupo de pais e justificar meu trabalho,
afirmando meu objetivo de desenvolver um olhar crtico e uma postura ativa diante
dos meios de comunicao, que j tomavam conta do imaginrio infantil5, relata
ela. Por meio do Cinema do Juca - como ficou conhecido na escola - e a partir de
outras experincias profissionais que sucederam a esta, a professora Maria Paula
Palhares confere arte um papel de elemento promotor de projetos educativos
eficazes, ldicos e prazerosos que, apoiados na produo artstica disponvel na
comunidade, propiciam o desenvolvimento de um leque de competncias nos
alunos, pondo em circulao experincias e idias detonadoras de processos de
auto-conhecimento e auto-realizao, bem como de transformao da realidade.
Essa arte-educadora demonstrava, poca, uma postura de vanguarda,
diferenciada e rara, no contexto do ensino da arte.
As referncias que marcaram a trajetria da formao da arte-educadora
Maria Paula Palhares certamente delinearam e constituram seu percurso
profissional deslocado dos modelos convencionais. Uma de suas referncias foi a
professora Maria Felisminda de Rezende e Fusari (Mariazinha Fusari) que, j nos
anos 70, experimentara as possibilidades do uso das mdias audiovisuais no
ensino de arte e se empenhou em capacitar o professor nas reas de Meios de
Comunicao e Educao, dedicando-se investigao das interfaces entre
educao, arte e comunicao. Outra importante referncia para a mesma arte-
educadora foi Fanny Abramovich que, assim como Mariazinha Fusari, ousou adotar
novos paradigmas para o ensino da arte e participou, nos anos 70, com outros
nomes do Movimento das Escolinhas de Arte. Essas escolinhas, alm de
5 Palhares, Maria Paula. Comunicao, Arte e Educao: um estudo de caso na E.M.E.F. Desembargador Theodomiro Dias de 1997 a 1999, 2001. 5f. Dissertao Mestrado em Comunicao Escola de Comunicao e Artes, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2001.
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promoverem salutares transgresses metodolgicas no ensino da arte, tambm
ofereciam cursos de arte-educao para professores e artistas.
A lei federal que tornou obrigatrio artes nas escolas, entretanto, no pde
assimilar como professores de arte os artistas que tinham sido preparados pelas
Escolinhas, porque para lecionar a partir da quinta srie exigia-se o grau
universitrio, que a maioria deles no tinha.
O governo federal decidiu criar um novo curso universitrio para preparar
professores para a disciplina educao artstica criada pela nova lei. Os cursos de
licenciatura em educao artstica nas universidades foram criados em 1973,
compreendendo um currculo bsico a ser aplicado em todo o pas.6
Quem relata isso, em 1991, a Profa. Dra. Ana Mae Barbosa, ressaltando o
absurdo epistemolgico cometido por cursos de licenciatura, ao destacar que
seus currculos pretendiam preparar o professor, em apenas dois anos, para dar
conta de lecionar diversas linguagens - msica, teatro, artes visuais, desenho,
dana e desenho geomtrico -, sem considerar que cada uma dessas linguagens
possui natureza e caractersticas prprias, especficas.
No de se estranhar, portanto, que a maior parte dos professores de arte,
nos anos 70, praticasse aulas empobrecidas, esvaziadas de significado e distantes
da realidade dos alunos, conseqentemente fracas e desestimulantes at mesmo
para os prprios professores. A anlise da Profa.Dra. Ana Mae Barbosa explica,
em parte e pela tica da formao do professor, a realidade que marcou, durante
os anos 70 e parte dos 80, as aulas de arte nas escolas de educao formal no
pas: A identificao da criatividade com espontaneidade no surpreendente
porque uma compreenso de senso comum. Os professores de arte no tm tido
a oportunidade de estudar as teorias da criatividade ou disciplinas similares nas
universidades porque estas no so disciplinas determinadas pelo currculo
mnimo, logo s lhes resta o senso comum. Nas universidades que estendem o
currculo alm do mnimo, no encontrei (examinei onze currculos) nenhuma
6 Barbosa, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. p.10.
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disciplina ligada ao estudo da criatividade, exceto na Universidade de So Paulo,
onde um curso intitulado Teoria da Criatividade foi lecionado de 1977 a 1979 para
alunos de artes nas reas de cinema, msica, artes plsticas e teatro.7
Vale ainda ressaltar que, no incio da dcada de 90, somente a USP
mantinha uma linha de pesquisa em arte-educao ligada s Artes.
Na apresentao do livro O Vdeo e a Metodologia Triangular no Ensino da
Arte, Evelyn Berg Ioschpe escreve: (...) a arte para todos, mas para chegar-se a
ela necessrio muito trabalho.8 Esta frase revela no s o desejo da idealizadora
do Arte a Escola, de possibilitar e democratizar o acesso arte, como tambm sua
percepo da dimenso do trabalho decorrente disso, tendo em vista todo o
repertrio intelectual e sensvel necessrio para chegar-se a ela, a arte, diante
dos desafios polticos, burocrticos e conceituais que o ensino da arte apresentava
naquele momento histrico em que o Arte na Escola nascia.
possvel identificar, naqueles passos iniciais do Arte na Escola, em que a
pesquisa testava a Metodologia Triangular associada ao uso do vdeo em sala de
aula, o desenho, ou seja, a forma de atuao que marcaria as aes dessa
organizao at o dia de hoje. Isso porque, ao desenvolver a pesquisa, a
Fundao Iochpe estabeleceu uma parceria com uma universidade - Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atravs de sua Pr-Reitoria de Extenso
com o objetivo de desenvolver a pesquisa acadmica, tendo atuado junto
iniciativa pblica - Prefeitura Municipal de Porto Alegre, atravs da Secretaria
Municipal de Educao -, uma vez que a maior parte dos professores participantes
da pesquisa era da rede municipal de ensino. Hoje Arte na Escola conta com 55 Plos Universitrios distribudos pelo Brasil, compondo a Rede Arte na Escola que,
com seus 413 parceiros (instituies educacionais e culturais, pblicas e privadas),
dissemina e multiplica aes em todo o pas.
7 Barbosa, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. p.11. 8 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. XIII.
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13
Figura 5 Mapa da Rede Arte na Escola
Outro ponto que deve ser ressaltado nestes primeiros ensaios do que viria a
ser a atuao do Arte na Escola, a participao efetiva de professores da rede
pblica e privada de ensino como sujeitos da pesquisa em referncia, os quais se engajaram voluntariamente na empreitada.
(...) o grupo de professoras reunido pelo Projeto Arte na Escola um
testemunho vivo e eloqente de que ainda se pode conceber a educao como um
bem maior e uma razo de ser, criando excelncia a partir de seu prprio
engajamento no trabalho.9
Estava assim delineado, naquele momento, o contrato de participao, apoio
e credibilidade entre Arte na Escola e os professores, compreendidos como 9 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. XIV.
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sujeitos sensveis, ativos e transformadores da realidade. Mas estariam os
professores preparados para abarcar essa nova metodologia e utilizar o recurso
audiovisual em sala de aula? Este, inclusive, era um dos objetivos da pesquisa:
definir o background de que o professor de artes necessitava para realizar um
trabalho com a Metodologia Triangular.
A Metodologia Triangular associada ao vdeo revelou-se (...) uma eficiente
proposta de ensino da arte, quando comparada com a metodologia tradicional de
ensino. Os alunos que participaram da pesquisa evoluram nas trs reas
envolvidas na aprendizagem: o fazer, a leitura e a histria da arte.10 Entretanto, ao
mesmo tempo em que se buscava qualificar o ensino da arte, percebia-se a falta
de preparo, por parte dos professores, para lidar com ela. Embora tenha se
constatado, com a referida pesquisa, que os professores adquiriam proficincia
para realizar um trabalho baseado na metodologia triangular, ficavam igualmente
claras as deficincias (...) na sua formao quanto leitura e histria da arte.
Seus planos de ensino apresentados antes de participarem da pesquisa, em sua
grande maioria, calcados no fazer artstico, no tinham estrutura e unidade.11
fato que a pesquisa tambm espelhou a realidade cotidiana dos professores de
arte e o cenrio do ensino da arte no Brasil, poca em que Arte na Escola surgia.
O ambiente em que Arte na Escola foi concebido era, pois, efervescente, do ponto de vista da articulao poltica dos professores de arte que, por outro
lado, percebiam uma importante lacuna em sua formao e apontavam a
necessidade de aprofundamento terico-metodolgico e de acesso a materiais
educativos, para avanar no ensino da arte como rea do conhecimento. Quando
iniciamos, lembro das reunies, seminrios e oficinas em que os professores de
arte s faziam se queixar. Faltava tudo: de material a salas adequadas, de horrio
suficiente a desenvolvimento curricular12, lembra Evelyn Berg Ioschpe.
10 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. 94. 11 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. 94. 12 Ioschpe, Evelyn Berg. Rede Arte na Escola: tecendo o amanh. Boletim Arte na Escola, So Paulo, n. 36, p. 12, 2004.
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15
Foi assim, num contexto marcado por essas demandas, que Arte na Escola iniciou suas atividades, tendo como subsdios um desejo e dois instrumentos, que
correspondiam ao momento histrico do ensino da arte no Brasil: uma metodologia
testada e aprovada (uso do vdeo como auxiliar no ensino da arte a partir dos
pressupostos da Metodologia Triangular) e um material de apoio didtico, a
Videoteca Iochpe de Artes Visuais.
1.1 A Videoteca Arte na Escola dissemina a Metodologia Triangular
poca, a Videoteca era o maior acervo de vdeos documentais sobre artes
visuais existente no Brasil. Voltada para o ensino da arte, a Videoteca foi lanada
em 1991, em decorrncia da pesquisa j citada e com o objetivo de possibilitar
acesso (...) ao mundo da arte, com sua riqueza de informaes, magia e histria,
dados que dificilmente chegam aos alunos das escolas pblicas e particulares de
1 e 2 graus.13
Figura 6 Videoteca Arte na Escola na UFRGS Figura 7 Acervo
De nada adianta, porm, dar existncia a um material educativo de
qualidade se os professores que o utilizam em suas aulas no souberem explor-lo
como ferramenta de ensino. Foi pensando nisso que a Fundao Iochpe passou a
13 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. 11.
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16
preocupar-se com a ao de qualificao para o ensino de arte, desenvolvida junto
s universidades brasileiras, por meio de um trabalho extensionista.
A fim de viabilizar subsdios terico-prticos aos professores, vale destacar
que a Fundao Iochpe solicitou Profa. Dra. Ana Mae Barbosa, consultora do
Arte na Escola na rea de arte-educao, a elaborao de uma publicao sobre
os fundamentos tericos da Metodologia Triangular de ensino da arte, com o intuito
de melhor subsidiar os professores. Foi assim publicada, em 1991, a obra A
imagem no ensino da arte, pela editora Perspectiva.
Figura 8 A imagem no ensino da arte, da Profa.
Dra. Ana Mae Barbosa Figura 9 Lanamento do livro
Assim, entendendo a universidade como lcus de aquisio e transmisso
do saber, configurava-se o tipo de parceria - entre a Fundao Iochpe e as
universidades - que daria origem Rede Arte na Escola. O objetivo dessa
estratgia era ampliar e desenvolver conhecimentos tendo como estmulo o
confronto com a realidade em sala de aula, numa busca constante entre teoria e
prtica e, sobretudo, entendendo portanto que papel fundamental da
universidade a formao dos professores. Existia ainda uma convergncia de
interesses - inicialmente entre a Fundao Iochpe e a UFRGS, primeira parceira de
Arte na Escola -, como possvel observar no depoimento da Pr-Reitora de Extenso da UFRGS, Ana Maria de Mattos Guimares, publicado no Boletim Arte
na Escola nmero 01, em 1992:
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17
Participar, em parceria, com a Fundao Iochpe, de um projeto disseminador do
ensino em arte-educao consiste, mais do que uma satisfao, numa obrigao da nossa
Universidade, pois esta uma forma de explicitar o compromisso da UFRGS com o
questionamento da educao e empenhar esforos para a construo de alternativas
renovadoras e crticas. (...), comprometemo-nos em irradiar o Projeto Arte na Escola em
at doze plos universitrios, que sero dotados de uma videoteca composta pelo acervo
em artes plsticas de propriedade da Fundao Iochpe e devero, simultaneamente,
executar aes em educao continuada com o intuito de repercutir na comunidade
prxima.14
Figura 10 Seminrios: Arte na Escola Introduo da
Imagem Mvel Figura 11 Seminrios a Funo da Imagem, em parceria
com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Logo a Rede Arte na Escola iria consolidar-se, pois o contexto era favorvel
s prerrogativas de Arte na Escola. O acervo de vdeos passou a chamar-se Videoteca Arte na Escola, ganhando espao em outras universidades a partir da
UFGRS, que funcionou como uma espcie de plo disseminador do trabalho
proposto. Isso foi possvel graas a um convnio entre a Fundao Iochpe e o
Ministrio da Educao, atravs do Fundo Nacional do Desenvolvimento da
Educao (FNDE), que viabilizou a doao de equipamento de gravao e
multiplicao de vdeos a laser. Em 1995, a Rede Arte na Escola j compreendia
15 Plos em todo o Brasil, constituda quase que espontaneamente, em
decorrncia da demanda.
14 Guimares, Ana Maria de Mattos. UFRGS plo irradiador da rede nacional de arte-educao. Boletim Arte na Escola, Porto Alegre, n. 1, p. 7, 1992.
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Ao que tudo indica, Arte na Escola tem uma histria de mobilizao pela valorizao da arte e de melhoria de seu ensino no Brasil que no se encerra na
proposta de uma metodologia e na oferta de materiais de apoio didtico. Essa
trajetria complementa-se e traduz-se em seminrios internacionais, encontros
tcnicos, programas de intercmbio com universidades americanas e outras aes
que, ao longo dos anos 90, no s corresponderam s necessidades histricas de
seus protagonistas poca, como tambm colaboraram com a prpria construo
do ensino da arte no Pas. A Fundao Iochpe preocupou-se tambm em formar
uma parceria com o Estado, visando colaborar e interagir com as polticas pblicas.
Nesse sentido, vale destacar com mais nfase algumas dessas aes, entre
elas o intercmbio entre o Arte na Escola e as instituies ligadas ao Getty Center
for Education in the Arts (EUA); universidades e instituies culturais americanas
como a Universidade de Chattanooga, Ohio State University, Sheldon Memorial Art
Gallery, entre outras -, iniciado em 1991, que possibilitou a vrios arte-educadores
brasileiros15 participar do Summer Institute (curso de vero), em que foi possvel
aprofundar conhecimentos sobre os fundamentos do DBAE (que no Brasil se
configurou como Metodologia Triangular), trocar experincias e obter
aperfeioamento. O curso durava trs semanas e comportava uma carga horria
de oito horas por dia, combinando aulas tericas com atividades de aplicao em
sala de aula, em que era possvel vivenciar, na prtica, as idias apresentadas.
Alm disso, a programao inclua visitas a museus, para atividades em contato
direto com os espaos e as obras de arte.
As vivncias desse seleto grupo de arte-educadores no Summer Institute
foram amplamente relatadas e divulgadas no Boletim Arte na Escola, veculo de
comunicao voltado ao professor de arte que circula at hoje nos Plos da Rede
Arte na Escola, sendo enviado a professores de todo o Brasil. Criado em 1992, o 15 Participaram, em 1992: Rosa Iavelberg, Amanda Tojal, Denise Grinspum, Iveta Maria Borges vila Fernandes, Maria Cristina Pires Fonseca, Silvia Mastrocola Almeida. Em 1994: Tarcsio Sapienza, Helosa Margarido Salles, Maria Cristina Biazus e Dora Maria Dutra Bay. Em 1995, com o apoio da CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior do Ministrio da Educao e do Desporto): Maria Cristina Biazus, Elizabeth Aguiar, Dora Dutra Bay, Sandra Salles, Marlia Diaz, Beatriz Venncio, Dulce Osinsky e Milene Chiovato. Em 1997, tambm com o apoio da CAPES: Denise Grinspum, Elizabeth Milititsky Aguiar, Mari Lucie da Silva Loretto, Rosa Iavelberg, Consuelo Schlichta, Maria Cristina Pessi, Maria Helena Rossi, Marilene Schramm, Marlene Franoise, Milene Chiovatto e Sebastio Pedrosa.
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Boletim tem gerado, durante toda a sua existncia, reflexo, produo e registro de
conhecimento em arte, ao veicular artigos tericos e relatos prticos sobre arte,
sua importncia e seu ensino, ajudando inclusive a disseminar as experincias de
professores e pesquisadores com a Metodologia Triangular associada ao uso do
vdeo.
Figura 12 Encontro Tcnico na UFPA, em Belm-PA Figura 13 Seminrio na UCS, em Caxias do Sul-RS
O Boletim Arte na Escola tambm tem divulgado os encontros tcnicos da
Rede, bem como os seminrios nacionais e internacionais organizados por Arte na Escola, em que foram recebidos importantes nomes da arte-educao, nacionais e internacionais: Brent Wilson (1989); Rebecca Keller, Ralph Smith, Elliot Eisner,
Eilleen Adams e Udo Liebelt (1990); Anne Lindsey, Eduardo Peuela, Sara Pain e
Mariazinha Fusari (1993); Fayga Ostrower (1994); Ronnie Hartfield (1995); Anna
Kindler, Michael Parsons, Don Krug, Kerry Freedman, Ann Cheng Shiang Kuo e
Vitor Kon (1996); Agnaldo Farias e Rosa Iavelberg (1997); Mariazinha Fusari
(1998), entre outros.
Outra ao de mobilizao deflagrada pelo ensino da arte, empreendida por
Arte na Escola e iniciada em 1992 foi a elaborao dos Materiais Instrucionais, dirigidos aos professores de arte usurios da Videoteca. Esses materiais tinham o
propsito de indicar caminhos estratgicos para utilizao dos vdeos em sala de
aula. O objetivo dos mesmos era trabalhar as vertentes da Metodologia Triangular,
de forma a apresentar ao professor possibilidades de abordagens dos vdeos mais
ricas e diversificadas, que fugissem de receitas prontas. Afinal o vdeo ainda era
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um recurso pouco utilizado pela maior parte dos professores de arte, que no
estava capacitado para se apropriar dessa tecnologia da comunicao em sala de
aula. No eram raros os professores que simplesmente deixavam rodar a fita sem
compromisso, simplesmente para preencher o tempo da aula de artes. Os
Materiais Instrucionais da Videoteca pretendiam ajudar os professores na
explorao didtica dessa mdia, buscando uma experincia fecunda e prazerosa
de aprendizagem para os alunos.
O trabalho de construo desses materiais foi coordenado por Sylvio da
Cunha Coutinho, que ento integrava um grupo de arte-educadores paulista
Amanda Pinto da Fonseca Tojal, Heloisa Margarido Salles, Maria Silvia Costa
Mastrocolla de Almeida, Rosa Iavelberg e Tarcsio Sapienza. Esse processo
tambm envolveu o trabalho de outros 63 arte-educadores de diversos estados
brasileiros. Os materiais produzidos passaram por um processo intenso de testes
em sala de aula, o que possibilitou a avaliao e os ajustes necessrios, no sentido
de adequar a teoria prtica. Em setembro de 1996, os professores de arte j
podiam contar com 120 ttulos da Videoteca que acompanhavam materiais de
apoio didtico.
importante citar tambm os incentivos financeiros concedidos pela
Fundao Iochpe aos Plos da Rede Arte na Escola a partir de 1994, que
auxiliavam as universidades a desenvolver seus prprios projetos, patrocinando
cursos, seminrios, oficinas etc. Esses cursos eram dirigidos, preferencialmente,
aos professores da rede pblica de ensino. Uma ao que se destaca e diz
respeito diretamente mobilizao pelo ensino da arte realizada por Arte na Escola refere-se srie de cursos - ministrados de outubro de 1997 a julho de 1998 - pela Rede, de sensibilizao e disseminao dos Parmetros Curriculares
Nacionais de Artes (PCNs-Artes) nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste do
Brasil.
Em dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que h oito anos
estava em processo de tramitao, finalmente foi aprovada pelo Congresso
Nacional e sancionada pelo ento Presidente da Repblica Fernando Henrique
Cardoso. A Arte foi finalmente incorporada ao currculo escolar como disciplina
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obrigatria - fruto da luta poltica e conceitual encampada por arte-educadores
durante todos os anos 80, envolvendo a Arte e seu ensino, conforme foi relatado
acima. A disciplina passava a chamar-se Educao Artstica no texto da referida
Lei. Naquele momento os PCNs de Arte significavam tambm um novo horizonte e
uma nova perspectiva para a arte-educao no Brasil, posto que abordam as
quatro linguagens da Arte artes visuais, teatro, dana e msica , tratando cada
linguagem separadamente, com indicaes para o desenvolvimento de trabalhos
que abrangem a correlao dessas linguagens com as outras disciplinas do
currculo. Os PCNs promoviam assim a interdisciplinaridade, incorporando
igualmente a questo da comunicao e da transversalidade no currculo. Ou seja,
os PCNs possibilitaram uma abertura para novas formas de dilogo entre a
educao e o cotidiano, indicando que necessrio no apenas trabalhar os
contedos especficos de cada disciplina, mas tambm vincul-los aos hbitos e
culturas locais, s referncias, aos imaginrios, s memrias, aos repertrios,
enfim, aos contextos dos alunos.
Depois de nacionalmente discutido por educadores de todo o Brasil entre
1995 a 1996, os PCNs passaram a constituir-se numa referncia para anlise dos
currculos das escolas pblicas. Sem carter de obrigatoriedade, eles visam
melhorar a qualidade do ensino fundamental. poca em que os PCNs foram
lanados, era necessria, entretanto, adotar uma poltica de implementao da
proposta e por isso mesmo a Rede Arte na Escola foi convocada, a partir de um
convnio assinado com o Ministrio da Educao, para a elaborao das
atividades do projeto de disseminao dos PCNs de Arte.
Figura 14 Disseminao dos PCNs-Arte em Manaus-AM Figura 15 Disseminao PCNs-Arte em Recife-PE
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No depoimento abaixo, de Ana Mariza Filipouski, coordenadora tcnica
deste projeto no Arte na Escola, possvel identificar os propsitos do trabalho e
das atividades que seriam empreendidas pela Rede, em relao aos PCNs-Arte.
Esse trabalho consistia na criao, elaborao e produo de materiais de apoio
para os cursos de capacitao de professores que tambm seriam ministrados pela
Rede. Partindo do objetivo de trabalhar a arte em cada cidade, esses cursos
compreendiam aulas tericas, reflexo sobre a prtica, documentao de
atividades executadas e oficinas de arte.
A parceria estabelecida entre o MEC e a Rede Arte na Escola , sobretudo,
o reconhecimento ao esprito de grupo que une os professores da Rede, ao
trabalho conjunto que executam e permanente preocupao em considerar que
Arte conhecimento que se aprende e aprimora. (...) Todas essas atividades
constituiro um grande investimento para a melhoria do ensino por meio da
qualificao do professor. Atravs delas, estaremos apresentando aos professores
do Ensino Fundamental teorias e metodologias que, certamente, possibilitaro
ampliar seu repertrio, estimulando-os a escolher aquela que mais se adapte a sua
realidade imediata e favorea ao aprendiz o acesso s artes plsticas, capacitando-
o a desfrutar da produo artstica da humanidade e a dominar os elementos
expressivos que podero transform-lo em espectador e em produtor de arte.16
importante lembrar a crena que unia os protagonistas da Rede Arte na
Escola: uma maneira de ensinar arte alicerada na Metodologia Triangular, que
vinha sendo desenvolvida pela Profa. Dra. Ana Mae Barbosa. Outra ao de
mobilizao e melhoria do ensino da arte que tambm destacamos na trajetria de
Arte na Escola - e que ocorreu em 1998, paralelamente a ao relacionada disseminao dos PCNs de Arte pela Rede diz respeito participao da Rede
Arte na Escola na preparao das aes educativas da XXIV Bienal Internacional
de So Paulo. A direo dessa ao esteve a cargo de Evelyn Berg Ioschpe,
presidente da Fundao Iochpe, que implantou uma Diretoria de Educao, fato
16 Filipouski, Ana Mariza. Cursos de arte para professores aproximam o norte e o sul do Brasil. Boletim Arte na Escola, Porto Alegre, n. 17, p. 4, 1997.
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indito na Instituio Bienal. Foram produzidos 20 mil exemplares de materiais de
apoio distribudos para toda a rede pblica de ensino do Estado de So Paulo.
As Bienais sempre atraram um grande pblico visitante, muitas vezes sem
nenhum preparo para o acesso e compreenso das obras e da curadoria. Vale
destacar que a dcada de 90 foi marcada por um aumento significativo de espaos
e instituies culturais, as quais por sua vez criaram seus setores educacionais,
visando a fruio das obras de seus acervos. Esses ncleos educacionais
instalados em museus e outros espaos expositivos ampliaram a oferta de
atendimento a escolas no raro com propostas de capacitao de professores,
para prepar-los para o trabalho em sala de aula com seus alunos, antes e aps a
visita - num momento em que as escolas comeavam a ter atividades
extracurriculares, possibilitando, por exemplo, visitas aos museus. A ao
educativa da XXIV Bienal atendeu 74 mil alunos em visitas monitoradas.
Para destacar os modos como essas aes de mobilizao e qualificao
empreendidas pelo Arte na Escola interconectaram-se num processo de
construo da histria do ensino da arte no Brasil, recortamos aqui dois
depoimentos de Maria Cristina Biazus, coordenadora do Plo Arte na Escola na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Rede desde 1989, e de Isabel
Petry Kehrwald, coordenadora do Plo FUNDARTE, de Montenegro, Rio Grande
do Sul. Esses depoimentos foram colhidos durante a elaborao da edio 36, de
2004, do Boletim Arte na Escola, em comemorao aos 15 anos de atividade de
Arte na Escola, oportunidade em que foram ouvidos vrios atores que marcaram e participaram da histria da organizao.
O Arte na Escola teve uma participao especial na divulgao dos PCNs
Arte (Parmetros Curriculares Nacionais/Ministrio da Educao). A idia do Arte
na Escola, em ter Plos em todo o pas, certamente foi parte importante para que
as novas idias sobre como ensinar arte fossem divulgadas. Acredito que tenha
muita gente fazendo coisa boa neste pas e que, de alguma forma, o Arte na Escola
est tendo este papel difusor e catalisador. (...) Tive muitos ganhos ao trabalhar
diretamente com a Rede Arte na Escola no sentido de organizao e
sistematizao de processos. Tivemos muitas caminhadas e aprendizagens das
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quais destaco a elaborao dos Materiais Instrucionais de apoio ao professor da
Videoteca Arte na Escola, quando coordenei os grupos de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul. Isto nos ensinou muita coisa em termos de logstica. Quando do
material para a Bienal e PCNs, j havia um saber construdo neste sentido. O
intercmbio com projetos de DBAE (Discipline Based Arte Education) possibilitou a
troca de experincias com professores americanos e a chance de ver e vivenciar o
DBAE do outro lado. Tive a chance de ministrar uma oficina sobre O Bananal, de
Lasar Segall, em Chattanooga, na Universidade do Tenessee, o que foi um timo
aprendizado. Nos cursos de vero realizados nos EUA, tive a chance de conviver e
trocar idias com tericos da arte como Michael Parsons, Brent Wilson, Judith
Koroscik e Terry Barret. Estas foram oportunidades nicas que quero destacar.17
(...) a formao de professores o foco principal (rever cursos de
Magistrio/Normal, de Pedagogia e de Licenciatura em Arte), como tambm
defender concursos para professores da rea de Arte e nesta, especificamente,
Artes Visuais, Dana, Msica e Teatro e no Educao Artstica - termo que foi
suprimido da LDB 9694/93 (Lei de Diretrizes e Bases da Educao Brasileira) e
ainda usado pelas Secretarias de Educao - e oferecer formao continuada em
servio e recursos para o uso em sala de aula. Neste ltimo item, exemplar a
trajetria e contribuio do Arte na Escola. (...) o Arte na Escola oportunizou
melhorias, cursos, reflexes, recursos materiais e qualificao de recursos
humanos na rea da arte, suprimindo uma lacuna do sistema de ensino e do dever
do Estado. Saliento o processo de disseminao dos PCNs Arte como um projeto
exemplar sob o ponto de vista pedaggico e de estratgia educativa de resultados.
(...) Foi uma construo interdisciplinar histrica e pela sua singularidade e forma
de organizao, talvez, nica no universo educacional brasileiro.18
Foi assim durante todos os anos 90: articulao em rede e construo de
conhecimento sobre arte e seu ensino, cena na qual o Arte na Escola ocupou lugar
de protagonista, tendo os coordenadores da Rede Arte na Escola como atores,
autores, sujeitos das aes e a Fundao Iochpe como articuladora destas.
17 Entrevista constante do arquivo do Boletim Arte na Escola nr. 36. 18 Entrevista constante do arquivo do Boletim Arte na Escola nr. 36.
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O reconhecimento externo pela trajetria de Arte na Escola veio em dois momentos: em 1995, com a conquista do Prmio ECO, na categoria Cultura,
concedido pela Cmara Americana de Comrcio Iochpe-Maxion S.A. pelo
trabalho desenvolvido pela Fundao Iochpe com o Arte na Escola; e, em 1999,
quando Arte na Escola recebeu a chancela da UNESCO.
1.2 Instituto Arte na Escola: crescimento quantitativo em mbito nacional
Em 2.000, a Fundao Iochpe resolveu criar, em So Paulo, o Instituto Arte
na Escola, configurando-se assim uma situao sui generis: o irmo mais novo, o
Instituto, tinha a incumbncia de cuidar do mais velho, a Rede Arte na Escola, j
com 11 anos de atuao. O objetivo do Instituto? Ampliar, garantir consistncia,
interconexo, efetividade e sustentabilidade Rede Arte na Escola. O quadro de
scios fundadores do Instituto comps-se, basicamente, de coordenadores de
Plos da Rede, de um reitor de universidade e de dois consultores americanos (ver
anexo 01) a estratgia de trabalho foi definida em termos da valorizao e da
incubao de projetos de ensino da arte e produo de materiais educativos que
subsidiassem o professor em sala de aula e, frente aos resultados advindos da
avaliao dos mesmos, sua disseminao, por meio de parcerias, na Rede Arte na
Escola.
Nesse mesmo ano, o Instituto criou o Prmio Arte na Escola Cidad, para
reconhecer e valorizar os trabalhos de qualidade no mbito do ensino da arte,
realizados por professores de todo o Brasil. Sobre o prmio, Kehrwald ressalta:
Sua importncia est na visibilidade que deu a projetos executados em
diferentes contextos do pas e ao conhecimento que oportunizou sobre professores
comprometidos com o ensino da arte, em situao adversa e com poucos recursos,
que tm desenvolvido projetos de incluso social de relevante beleza e
significncia19
19 Entrevista constante do arquivo do Boletim Arte na Escola nr. 36.
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importante enfatizar que, com a criao do Instituto, ocorreu uma
mudana no paradigma de participao que vinha se configurando at ento entre
as universidades parceiras, Plos do Arte na Escola, representadas por seus
coordenadores, e o Arte na Escola, causando certo distanciamento entre as partes
e at mesmo, desnimo. Quem aponta isso a diretora do Instituto, Maria Helena
Webster, que trabalha na Fundao Iochpe desde 1991.
Todos os coordenadores de Plo eram envolvidos e se engajavam mais
nos primeiros anos do Arte na Escola. Eles deixam de se envolver e se sentem
abandonados quando o Arte na Escola (Fundao Iochpe) se muda para So
Paulo. Antes disso, eles participavam da construo, se sentiam engajados,
participantes. Em 1997 e 1998, conseguimos recuperar a Rede Arte na Escola com
o trabalho dos PCNs. Foi um momento importantssimo e eles esperavam que este
fosse o incio de muitos outros projetos similares. Eles construram os PCNs juntos,
foram fazer capacitao por todo o Brasil e a capacitao de professores era o que
mais o atraiam. Eles eram donos do processo e acharam que a vida com o Instituto
Arte na Escola seria esta, mais autnoma, mas o que hoje: eles no so
chamados para os grandes projetos. A idia era conseguir financiamento do BNDS
para expanso da Rede em 2000, 2001, a curtssimo prazo, que seria feita pelos
coordenadores, o que no ocorreu. Isso trouxe mgoa para alguns desses
colaboradores. Eles eram autores e passaram a ser fazedores, de outros
autores.20
importante considerar esse fato, tendo em vista o maior patrimnio
acumulado por Arte na Escola desde a sua concepo: o conhecimento tcnico e a experincia acumulada de professores e pesquisadores sobre Arte e seu ensino,
que desde ento vinham realizando, juntos, um trabalho de abrangncia nacional,
muito significativo no cenrio do ensino da arte brasileiro.
Entretanto, independentemente do nvel de participao dos coordenadores
da Rede nos processos do Arte na Escola, fato que hoje a produo de
resultados quantitativos significativa, correspondendo ao objetivo do Instituto de
20 Comentrio extrado durante entrevista para o pr-diagnstico deste Projeto de Interveno, em novembro de 2005, constante dos arquivos deste trabalho.
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ampliar a Rede. Em 2005, a Rede Arte na Escola beneficiou cerca de 25 mil
professores de arte em todo o Brasil, dados estes que foram obtidos na avaliao
realizada pelo Instituto junto aos Plos da Rede em novembro de 2005.
Esse resultado quantitativo foi alcanado graas a um convnio assinado,
em 2003, entre o Instituto Arte na Escola e o BNDES. A parceria possibilitou a
expanso da Rede Arte na Escola: de 17 Plos em 2003 para 55 em 2005. Mais
plos, mais professores impactados pelas aes de Arte na Escola. Tal parceria tambm vem possibilitando a reedio da Videoteca Arte na Escola, revisada, ampliada, com uma nova proposta educativa e tecnologicamente atualizada:
DVDteca Arte na Escola, em fase de distribuio.
Nos ltimos quatro anos, o Instituto cresceu em tamanho e em pblico
atendido. Em toda a sua histria, nunca a Rede Arte na Escola expandiu-se tanto e
em to pouco tempo. importante destacar que os Plos da Rede Arte na Escola
so unidades autnomas, vinculadas s suas Instituies de Ensino Superior que,
por meio de convnio - assinado entre as Pr-Reitorias de Extenso de suas
Universidades e o Instituto Arte na Escola - recebem do Instituto suporte e
benefcios, materiais e aportes financeiros para o desenvolvimento de aes,
prioritariamente, junto rede pblica de ensino local.
O Instituto Arte na Escola tem uma ao expressiva em termos de
resultados quantitativos em relao ao nmero de funcionrios e de recursos
financeiros investidos. Talvez uma resposta a essa relao custo-benefcio positiva
e grande capilaridade atingida seja a forma de organizao e atuao escolhida
pela organizao. Elegendo a universidade como a principal parceira na realizao
de sua misso o Instituto cumpre uma funo inerente ao Terceiro Setor de
articular e otimizar capital humano e fsico, gerando capital social.
1.3 arte br: imagem enquanto linguagem
Como indicador de crescimento e impacto das aes do Arte na Escola hoje,
vale citar o nmero de professores atingidos com a distribuio do kit arte br,
ltima produo de material educativo para o professor, voltado ao
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desenvolvimento de competncias relacionadas leitura da imagem da arte e
desenvolvido pelo Instituto Arte na Escola: 15 mil docentes, de todas as regies do
Brasil. O material foi distribudo por meio dos Plos da Rede, que tambm
promoveram capacitao para uso do recurso didtico. arte br tambm envolveu a
doao de algumas obras de arte a museus em todo o pas.
Figura 16 Pasta arte br Figura 17 Material para o professor
O material composto de 12 cadernos educacionais, 12 pranchas com duas
obras de arte reproduzidas, uma na frente e outra no verso, 12 cartes com
reprodues de fotos de obras de arte, um folder com informao institucional e
outro, com uma linha do tempo que contextualiza as obras de arte abordadas. As
obras so todas de autoria de artistas brasileiros do sculo 20. O curador Paulo
Herkenhoff fez a seleo das obras e dos artistas buscando representar
visualmente nosso pas e, por meio das imagens, discutir alguns valores,
sentimentos e percepes que fazem parte do cotidiano dos brasileiros e que a
arte expressa como universais. Por isso o ttulo arte br, de Brasil, mas tambm de
estrada, de caminho que leva a outras vises da vida, por meio do contato
significativo com as imagens da arte. Baseado na metodologia de leitura da
imagem fundamentada pelos pressupostos da Semitica Greimasiana, esse
material prope ao professor iniciar a abordagem da obra de arte pela imagem,
demorando-se diante dela para sentir, imaginar, refletir antes mesmo de receber
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qualquer informao sobre a obra em si e sobre a biografia do artista. Assim arte
br busca valorizar a imagem enquanto linguagem, enquanto texto construdo
intencionalmente pelo artista para comunicar sentimentos, pensamentos, vises de
mundo, valores. O objetivo do arte br trabalhar a questo da leitura da imagem.
Diante de um mundo povoado de imagens o sentido da obra vai se construindo no
tempo do ler e nas relaes que esse tempo estabelece com o leitor em contato
com a obra21, diz Anamelia Bueno Buoro, coordenadora do projeto.
fato que hoje - ao contrrio do que ocorria no final da dcada de 80,
quando o Arte na Escola surgiu - a oferta de materiais de apoio ao ensino da arte
dirigidos ao professor, extensa e diversificada. Alm de instituies culturais e
educacionais, como o Instituto Cultural Ita, a Fundao Banco do Brasil, o
Educarede (Fundao Telefnica e CENPEC), Arte e Cidadania (Instituto Gthec),
para citar apenas algumas, tambm os museus empreendem um papel importante
na produo de materiais para o professor de arte, subsidiando sua prtica em sala
de aula. O trabalho realizado pela Pinacoteca do Estado de So Paulo, o MAC-
USP, o Museu Lasar Segall, o MAMAM (Recife), o MAC (Niteri), o MAM (So
Paulo e Rio de Janeiro) so alguns bons exemplos dessas aes. Todas essas
instituies tratam, inclusive, de oferecer cursos de capacitao para apropriao
dos materiais produzidos.
Se por um lado a oferta de material de apoio ao professor multiplicou-se nas
ltimas dcadas, por outro, a formao do professor ainda deixa muito a desejar.
As aulas de arte empobrecidas parecem ter atravessado a dcada de 90 sem se
alterarem substancialmente. No limiar do terceiro milnio, elas ainda se mantm
como um desafio diante das aceleradas inovaes cientficas e tecnolgicas dos
ltimos anos, uma vez que a maior parte dos professores pratica aulas
exclusivamente ligadas expresso, sem qualquer contextualizao. As aulas
mantm-se tradicionais, o que indica a FAEB e alguns coordenadores de Plos
da Rede Arte na Escola mais adiante.
21 Buoro, Anamelia Bueno. arte br: construindo conhecimentos em arte. Boletim Arte na Escola, So Paulo, n. 32, p. 8, 2003.
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Em relao ao trabalho do Instituto, realizado junto aos Plos da Rede no
tocante a educao continuada - um dos pilares da ao do Arte na Escola no
cumprimento de sua misso - h o desafio do intercmbio entre a universidade e a
realidade do professor, vivida no embate da sala de aula, na prtica cambiante e
desafiante do dia-a-dia. H uma distncia, que ainda no foi superada, entre a
universidade e o universo dos professores, apesar do esforo de Arte na Escola em provocar conscientemente essa relao, a fim de renov-la e assim contribuir
com o aprimoramento do processo de formao de professores nas universidades,
em relao realidade do ensino pblico brasileiro.
Essa distncia aprofunda-se no dficit crnico de formao dos professores,
decorrente do mau aproveitamento de contedos fragmentados e dissociados da
realidade, transmitidos pela universidade, mas tambm pela falta de contato da
universidade com o universo escolar: a sala de aula, na qual os professores esto
imersos na prtica de suas atividades.
Uma das aes que tem contribudo para reverter esse quadro est
relacionada com os Grupos de Estudos, realizados nos Plos Arte na Escola e que
o Instituto considera fundamental. Os Grupos de Estudo renem professores e
acadmicos, num processo de educao continuada e de troca de experincias
coletivas que confrontam e desafiam a teoria. O que se tem, contudo, para analisar
o impacto dessa ao so apenas dados quantitativos.
De acordo com a avaliao realizada pelo Instituto em 2005, j citada aqui,
sobre as aes realizadas pelos Plos da Rede Arte na Escola, apenas 2.249
professores dos cerca de 25 mil atendidos pela Rede em 2005 participaram de
Grupos de Estudos. Foram realizados em 2005, 94 Grupos de Estudo, sendo que
34% deles trabalharam com professores formados em arte, 26% dos Grupos se
voltaram para professores sem formao e 40% reuniram professores formados
em arte ou no; portanto, atuaram com Grupos de Estudo mistos.
Se por um lado esse dado reflete a falta de participao de professores em
aes sistemticas de formao continuada nos Plos da Rede que possibilitariam
sua constante qualificao para o ensino da arte, por outro salienta-se a falta de
professores especializados no ensino de Arte, nas salas de aula das escolas
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brasileiras de educao formal. Esse contexto extrapola os limites institucionais e
ganha dimenso macro-estrutural, apontando para uma prtica do ensino de arte
tradicional ainda muito centrada na oralidade e na escrita, em que a imagem e
demais recursos audiovisuais so pouco utilizados.
Para se ter uma idia do problema macro-estrutural e ilustrar o que o no
reconhecimento do valor do ensino da Arte no Brasil durante todos os anos 80 e 90
Arte enquanto rea do saber e da cultura humana - impactou na prtica docente,
basta analisar a recente conquista da FAEB, junto Cmara de Educao Bsica
do Conselho Nacional de Educao. Em 04/10/2005, a FAEB solicitou a retificao
do termo Educao Artstica para Arte, com base na formao especfica plena
em uma das linguagens - Artes Visuais, Dana, Msica e Teatro - no inciso IV,
alnea b, do artigo 3 da Resoluo CNE/CEB nmero 2, de 07 de abril de 1998,
que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.
O objetivo dessa solicitao foi conferir Arte status de disciplina, no mais
relegada condio de atividade educativa, conforme j havamos apontado
acima, uma vez que, segundo membros da FAEB, a conseqncia do que foi
determinado em 1998, acarretou a perda da qualidade dos saberes especficos das
diversas formas de Arte, dando lugar a uma aprendizagem reprodutiva. Isso
tambm explica o porqu da falta de especialistas em Arte nas salas de aula, uma
vez que a legislao vigente requer professores formados em Educao Artstica.
O depoimento de Edite Colares, coordenadora do Plo Arte na Escola da
Universidade Estadual do Cear, d a dimenso dessa situao. Ele foi publicado
no boletim eletrnico Oi! do Instituto Arte na Escola, em junho de 2006. Em nosso Estado (Cear) no temos professores formados em nmero
suficiente para atender a demanda das escolas por professores de artes. O nico
curso que forma professores de artes em Fortaleza, por exemplo, o curso de
Msica da UECE, ficando assim as outras linguagens descobertas. Porm, no
tenho sentido disposio das Secretarias de Ensino para se estabelecer convnios
para uma formao dos professores que j se encontram na rede.22
22 Colares, Edite. Como a LDB est sendo tratada no seu Estado? Oi!, So Paulo, Edio Especial, Junho de 2006. Disponvel em: Acesso em nov. 2006.
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Em e-mail endereado ao Instituto Arte na Escola no dia 7 de junho de 2006,
Eliane Tinoco, coordenadora do Plo Arte na Escola da Universidade Federal de
Uberlndia, no s reafirma essa problemtica macro-estrutural como tambm
aponta para uma outra realidade que extrapola a questo da formao
especializada em Arte, demonstrando que ter um professor especialista na sala de
aula no significa, necessariamente, garantir uma aula de qualidade para os
alunos. Ela relata a situao do ensino de artes em Uberlndia e regio:
Em Uberlndia temos uma situao privilegiada, por conta de existir cursos
de licenciatura em Artes Cnicas, Artes Visuais e Msica na Universidade Federal
de Uberlndia, sendo que o curso de Artes Visuais j funciona h 33 anos. Por isso,
nas escolas pblicas temos 100% de professores formados ou em formao nas
reas de Artes, da Educao Infantil ao Ensino Mdio. (...) No entanto, este dado
no condio de um ensino de qualidade em todas as escolas. Infelizmente ainda
temos profissionais que teimam em no participar dos cursos de formao
continuada e continuam trabalhando com desenhos mimeografados em sala de
aula, contrariando a tudo e a todos. (...) A justificativa sempre a questo salarial.
(...) J nas cidades vizinhas Uberlndia, temos uma situao complicada. As
Superintendncias Regionais de Ensino entendem que o professor formado em
Artes tm prioridade para os cargos mas, qualquer outro profissional que tenha
habilidade e para o qual estejam faltando aulas para completar a carga horria,
pode ministrar as aulas. Assim, temos uma grande salada de professores de todas
as reas trabalhando com Artes.
nesse contexto da Educao e do ensino da Arte no Brasil que est
inserida a instituio objeto de estudo escolhido para este trabalho: contexto que
ora caracteriza Arte como atividade, ora como disciplina, tendo em vista as
polticas educacionais implantadas durante a curta histria do ensino de Arte no
Brasil; que contempla modelos curriculares imprecisos sobre o que o aluno deve
aprender numa aula de artes; que apresenta um quadro precrio de professores de
Arte, em que muitos no tm habilitao para atuar na disciplina, marcado pela
polivalncia, por uma fase de licenciaturas curtas e, sobretudo, pela falta de oferta
de cursos de formao nas quadro linguagens da Arte e de educao continuada.
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Todos esses aspectos reforam o estigma da Arte como disciplina secundria,
desvalorizada, sem importncia e sem contedo no mbito do currculo escolar;
portanto, desnecessria.
Alm das aes de educao continuada associada aos materiais
educativos de apoio ao professor, desenvolvidas juntos aos Plos da Rede Arte na
Escola, o Instituto Arte na Escola apia-se tambm em diversos recursos de
comunicao, para atuar junto aos professores de arte e assim fazer valer sua
misso, como no j citado Boletim Arte na Escola e no site do Arte na Escola -
www.artenaescola.org.br -, para o qual se volta este trabalho.
http://www.artenaescola.org.br/
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CAPTULO 2
ARTE NA ESCOLA ON LINE
Uma simples linha pintada com o pincel
pode levar liberdade e felicidade
Mir
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2. O site Arte na Escola
Hoje o Instituto Arte na Escola abarca uma gama de professores muito alm
daquela atendida pela Rede Arte na Escola que, de forma presencial, atinge cerca
de 25 mil professores: os usurios do site www.artenaescola.org.br.
Figura 18 Home site Arte na Escola
Desde o lanamento de sua segunda verso, no dia 01 de setembro de
2004, at hoje, a pgina j atendeu mais de 13 mil23 professores cadastrados, um
nmero que no pra de crescer.
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
jan/05 mar/05 mai/05 jul/05 set/05 nov/05 jan/06 mar/06 mai/06 jul/06 set/06
Grfico 1: Professores cadastrados
23 Dado obtido por meio da pgina administrativa do site Arte na Escola, www.artenaescola.org.br/adm/cadastros, no dia em 03 de novembro de 2006, que mostra o total de 13.380 professores cadastrados.
http://www.artenaescola.org.br/
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Alm disso, seu pblico usurio vem se constituindo e crescendo de forma
vertiginosa.
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
jan/05 mar/05 mai/05 jul/05 set/05 nov/05 jan/06 mar/06 mai/06 jul/06 set/06
Grfico 2: Visitantes nicos
Uma pequena parcela dos professores cadastrados tem acesso s
oportunidades de formao continuada oferecidas pela Rede - Grupos de Estudo,
seminrios, encontros, oficinas etc. - e aos materiais educativos distribudos por
ela, pilares fundamentais para a concretizao da misso de Arte na Escola desde seus primrdios. Os resultados da pesquisa do anexo 02 demonstram isso: do
total, responderam 990 professores; destes, 71,7% no freqentam os Plos da
Rede.
Isso significa que, se por um lado o site sinaliza um novo pblico emergente
que transcende a Rede, ampliando as possibilidades e o alcance das aes de
Arte na Escola, por outro, induz a pensar que o Instituto no estaria cumprindo sua misso junto aos professores cadastrados, j que a maior parte do esforo de
trabalho empreendida por ele est voltada Rede ou desenvolvida por meio
dela. Ou seja, de forma presencial, sem um paralelo no ambiente virtual, como
veremos adiante.
Aps um ano de atividade, o pblico on line chegou a atingir, em nmero,
metade daquele atendido presencialmente pela Rede, em 16 anos de atuao.
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Desde 2005, o nmero de professores impactados eletronicamente passou
tambm a ser apresentado nas reunies de Conselho do Instituto ao lado do
nmero de professores beneficiados pela Rede. Esse fato legitima a incorporao
desse pblico no sentido do cumprimento da misso do Instituto e, portanto,
configura-se como o problema comunicacional deste trabalho, j que o Arte na
Escola apia-se tambm nesse recurso de comunicao para atuar junto aos
professores de arte e fazer valer os seus propsitos institucionais: incentivar e
qualificar o ensino da arte por meio de educao continuada e do acesso a
materiais educativos.
Entender o fenmeno comunicacional que multiplica, a cada ms, o nmero
do pblico interessado no site Arte na Escola, implica investigar o incio de sua
trajetria on line e, sobretudo, conhecendo a histria da construo da verso atual
de sua pgina.
2.1 A primeira pgina
O ingresso do Arte na Escola na web teve incio em 2001, quando o Instituto
elegeu a internet como mdia para ampliar o atendimento aos professores de arte,
para alm dos Plos da Rede, disponibilizando - atravs da primeira verso de seu
site - alguns clipes dos vdeos da Videoteca Arte na Escola e seus respectivos
materiais de apoio, entre outras informaes e servios24. O Instituto havia tomado
essa deciso estimulado pela procura dos professores por esse recurso didtico
nos Plos, bem como pelos resultados obtidos junto a eles nas aes de educao
continuada, com uso da Videoteca, empreendidas pela Rede, que tanto o Boletim
divulgou durante a primeira dcada de atividade de Arte na Escola. O objetivo principal da pgina era ampliar o acesso a esse material j
existente, e sobretudo propiciar a troca de experincia entre professores, por meio
da rea Relatos de Experincia, numa seo interativa a partir da qual os
24 Esta primeira verso eletrnica tambm oferecia artigos, entrevistas e relatos de experincia publicados anteriormente no Boletim Arte na Escola; sugestes de livros; resenhas de monografias acadmicas; noticias sobre arte-educao e aes do Arte na Escola; uma seo de links afins; um roteiro cultural, com dicas sobre exposies, alm do tradicional Fale Conosco e um ambiente para interao, o Frum.
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professores podiam enviar seus relatos de prtica em sala de aula com o uso dos
materiais oferecidos por Arte na Escola, compartilhando suas experincias com outros professores, uma vez que publicados no site.
Era evidente para o Instituto o potencial da internet para ampliar o acesso e
conectar pessoas. Entretanto, com o site h trs anos no ar, os usurios da web
pouco acessavam as pginas em que figuravam os materiais de apoio da
Videoteca e nenhum professor havia enviado seus relatos de prtica, conforme o
esperado.
Essa primeira verso eletrnica caracterizava-se por oferecer informaes
centradas nas atividades e aes de Arte na Escola acerca do que acontecia nos Plos da Rede e tambm por transpor contedos do meio impresso para o
eletrnico. Ou seja, a forma adotada para a troca de informaes e construo de
conhecimentos via internet estava pautada no modelo de comunicao
interpessoal, face a face, tal como ocorre na Rede, entre os professores e os
gestores que os atendem nos Plos.
Aps o advento da rede mundial de computadores, o conceito de
presencialidade mudou e se instaurou uma modalidade de comunicao miditica
de natureza totalmente inusitada. inegvel que tal fato vem promovendo
mudanas significativas nos processos institucionalizados e normatizados, em que
o lugar do emissor e do receptor est definido e garantido, normalmente, de forma
hierrquica. Isso porque a interface eletrnica tornou a comunicao entre as
pessoas mltipla, fluda, descentralizada, multidirecional e participativa -
transpondo barreiras de tempo e espao - na mesma proporo em que se revelou
hbrida. A interatividade promovida pela internet exige agora novas formas de
expresso e comunicao, j que articula uma constante e mutante negociao de
significados entre as pessoas, sejam elas fsicas ou jurdicas.
Como aproximar professores de arte daquilo que de melhor Arte na Escola pode oferecer utilizando o ambiente virtual, de forma a fazer sentido, estimulando a
participao e, com isso, possibilitando que a misso do Instituto encontre nesse
meio um outro espao para se concretizar? Meu encontro com Arte na Escola deu-se justamente no momento em que o Instituto buscava respostas para essa
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questo complexa, visando a construo de um novo site para Arte na Escola, o qual tive o privilgio e a oportunidade de empreender.
2.2 Antes e depois...
Acesso e interao foram duas palavras-chave que nortearam meu
imaginrio durante a concepo da nova pgina. Ao us-las como palavras
mgicas, meu objetivo era de que abrissem as portas de uma nova home page
para professores de todo o Brasil, desse modo criando um espao com o qual
estes se identificassem; no qual se sentissem em casa e que os estimulasse a
convidar os amigos a participar; que oferecesse o que eles mais buscavam; que os
acolhesse de forma encantadora, significativa e produtiva; que, sobretudo, os
colocasse em contato. Entre os professores e o que Arte na Escola tinha a lhes oferecer - um site idealizado - e o rico universo de possibilidades propiciado pela
internet: uma nova forma de expresso, aberta a experimentaes de linguagem;
velocidade; interao; conexo e uma promessa de relacionamento, mediado por
distncias espaciais encurtadas por um clique e por um tempo, digamos, flexvel. A
segunda verso eletrnica de Arte na Escola surge com base no contexto complexo que a web a oportuniz-la.
O primeiro trabalho na construo da nova pgina foi realizar uma anlise
crtica do site existente, a partir de seus pontos fracos, bem como de consultas a
pginas afins.
A seguir, elaboro um breve relato acerca dos aspectos desenvolvidos na
verso atual e de seus precedentes no modelo antigo.
2.2.1 Identidade visual A nova verso buscou fortalecer a identidade visual de Arte na Escola, pois
a antiga desnorteava o usurio e gerava incmodo. Seu leiaute era dissonante da
comunicao visual que circulava nos materiais impressos e que j utilizava a
logomarca atual, mesclando visualmente as caractersticas desta com aquela que
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40
passou a identificar a Rede Arte na Escola a partir de 2.000, em que a cor verde
predominava. Essa mistura criava certa confuso de cores e formas que, em ltima
instncia, polua a pgina, tornando-a um ambiente esteticamente mal resolvido, o
que no condizente com um site sobre arte e seu ensino.
Figura 19 Antes Figura 20 Depois
2.2.2 Atualizao e apresentao de contedos no espao-informao
O site antigo apresentava pouca e lenta atualizao de contedos, que era
mensal e feita por uma empresa terceirizada, cujo processo compreendia vrias
etapas que terminavam por retard-lo, o que no favorece em nada uma mdia
digital, a qual pressupe agilidade, dinamismo e velocidade.
O internauta tem acesso gratuito a um volume de informaes que excede,
em muito, a sua capacidade de process-lo, cabendo a ele filtrar contedos, prtica
que requer dele concentrao e esforo e o torna cada vez mais exigente e
impaciente. Se tudo pode chegar num piscar de olhos ao clique do mouse, o
internauta no ir insistir em pginas desatualizadas e nem estar disposto a clicar
mais de trs vezes para obter o que busca.
Hoje a atualizao do site diria. Sempre h algo novo para ver e
consultar. A nova verso buscou autonomia e agilidade no processo de
gerenciamento de contedos, por meio de um gil sistema interno de
administrao, restrito aos gestores da pgina. Agora o Instituto no depende mais
de empresas terceirizadas para estar em dia com o momento presente e oferecer
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informaes atualizadas aos seus usurios. Assim que uma nova notcia chega, ela
rapidamente inserida, o que trouxe velocidade e credibilidade ao Arte na Escola
on line, estimulando a participao, tanto de quem o consulta, quanto daqueles que
colaboram enviando novos contedos.
Quem divulga informae