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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES ARTE E MÍDIA: A Gestão da Comunicação no Arte na Escola on line Monica Kondziolková Trabalho apresentado junto ao Departamento de Comunicações e Artes da Escola de Comunicações e Artes da USP como requisito parcial para obtenção do título de especialista em nível de especialização em Gestão da Comunicação Orientadora Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa São Paulo 2006

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO ESCOLA DE COMUNICAES E ARTES

    DEPARTAMENTO DE COMUNICAO E ARTES

    ARTE E MDIA: A Gesto da Comunicao no Arte na Escola on line

    Monica Kondziolkov

    Trabalho apresentado junto ao Departamento de Comunicaes e Artes da

    Escola de Comunicaes e Artes da USP como requisito parcial para obteno do

    ttulo de especialista em nvel de especializao em Gesto da Comunicao

    Orientadora Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa

    So Paulo 2006

  • BANCA EXAMINADORA

    1. ____________________________________________

    2. ____________________________________________

    3. ____________________________________________

    So Paulo, _____ de _____________________ de 2006.

    II

  • DEDICATRIA

    Para o Luciano, a Larissa e as

    trigmeas: Vitria, Fernanda e Eduarda,

    que habitam este mundo h pouco tempo.

    Para Arthur - que est chegando por aqui -

    e para todas as crianas de sua gerao.

    III

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus pais, Leopoldo e Maria da Glria, meus verdadeiros

    educadores nesta vida, por possibilitarem ser quem eu sou, por me ensinarem

    a ser uma pessoa digna e, sobretudo, que o importante viver at morrer.

    Aos meus irmos: Peter, Ludmila e Paulo (in memoriam), pela

    fraternidade, pelas experincias que juntos vivenciamos e por toda uma vida

    compartilhada. Ao meu sobrinho Jan, pela companhia adorvel e divertida.

    Ao meu amigo Bernardo Guerra. Se hoje esse trabalho existe por seu

    estmulo e exemplo. Obrigada por todo o carinho e amizade eterna que temos

    um pelo outro. Agradeo tambm a todos os meus grandes amigos, sem os

    quais a vida no teria brilho. Em especial, minha amiga mais antiga, Daniela

    Rodrigues, me do Luciano. Obrigada Stella Botelho, Carla Magdaleno e Vivi,

    que me ensinam a usar o corpo com sabedoria e respeito.

    Evelyn Berg Ioschpe (av das trigmeas), pela oportunidade de

    trabalho, que me possibilitou fazer parte deste grande projeto que Arte na Escola e para toda a equipe da Fundao Iochpe: Maria Helena Webster, pelo companheirismo e confiana; Mirca Bonano, pelo incentivo e bom humor

    essencial vida; Silvana Cludio (me do Arthur), pela dupla que formamos,

    pelo empenho e dedicao de sempre; o sucesso deste site tambm mrito

    seu. Obrigada Zita Pimentel pelos sbios conselhos e pelos momentos de

    ateno e ternura, estendidos a toda equipe Formare, sempre vibrando comigo.

    s equipes da V6 e TRUST, que no medem esforos para tornar

    possvel no mundo virtual, aquilo que imaginamos no mundo real.

    Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa, minha orientadora neste

    trabalho, cuja sensibilidade, sabedoria e profundo respeito possibilitaram

    enriquecer os meus conhecimentos, ampliar o alcance de minha viso e ter um

    novo olhar. Obrigada pelos momentos de ricas trocas, sentidas e vivenciadas.

    Eliana Athi, que aceitou fazer parte desta banca e que uma dessas

    pessoas que no atravessam a nossa vida sem nos sensibilizar e que por isso,

    nos fazem querer ser pessoas melhores. Obrigada pelo presente!

    IV

  • RESUMO

    Este trabalho trata de Arte na Escola e seu site. Partindo de um breve histrico acerca de suas aes na histria da Arte e seu ensino no Brasil,

    aborda o surgimento de sua pgina eletrnica, criada em 2001 e aperfeioada

    no ano de 2004, que vem reunindo um grupo significativo de professores de

    arte.

    Realizando uma pesquisa junto aos usurios do Arte na Escola on line,

    fundamentada no conceito de consumo miditico, desenvolvido por Nestor

    Garca Canclini, procura conhecer as experincias e o background intelectual,

    cultural e artstico deste pblico e prope um projeto de interveno para

    atend-lo. O olhar que conduz esta proposta est alicerado no aporte terico e

    conceitual de Jess Martn-Barbero, que v a mdia como produtora de cultura

    e a escola como um espao de re-imaginao e recriao do espao pblico.

    O projeto de interveno, resultado final deste trabalho de Gesto da

    Comunicao, tem a arte como interface e o site Arte na Escola como meio de

    informao e formao para os professores de arte que o acessam, procurando

    corresponder aos novos paradigmas de um mundo em constante mutao, a

    fim de possibilitar que os alunos desses professores se tornem sensveis,

    crticos, participativos e exigentes.

    PALAVRAS-CHAVE Comunicao, arte, educao, mdias, internet, escola, professor, alunos.

    V

  • ABSTRACT

    This study is about the Art in School and its website. Beginning with a brief historical concerning its actions in the history of Art and in the teaching of

    this subject in Brazil, the present study analyses the appearance of its website,

    created in 2001 and perfected in the year of 2004, which has been gathering a

    significant group of art teachers.

    Through an on line research towards the users of Art in School website,

    based on the concept of media consumption, developed by Nestor Garca

    Canclini, the study aims at knowing this public experiences and their cultural,

    intellectual and artistic background and it proposes an intervention project in

    order to assist them. The view which conducts such proposal is founded on the

    theoretical and conceptual contribution of Jess Martn-Barbero, who considers

    media as a culture producer and school as a place for the re-imagination and

    recreation of the public space.

    The intervention project, final result of this study on Communication

    Management, has art as its interface, and the Art in School website as a means

    of information and formation of the art teachers, who access it, looking forward

    to corresponding to the new paradigms of a world in constant mutation, in order

    to enable their students to become sensible, critic, participative and demanding.

    KEY-WORDS Communication, art, education, media, internet, school, teacher, students.

    VI

  • LISTA DE IMAGENS

    Figura 1 - Uso do vdeo na sala de aula de artes

    Figura 2 - O livro da pesquisa

    Figura 3 - Metodologia Triangular

    Figura 4 - Fazer artstico associado leitura da imagem histria da arte

    Figura 5 - Mapa da Rede Arte na Escola

    Figura 6 - Videoteca Arte na Escola na UFRGS

    Figura 7 - Acervo

    Figura 8 - A imagem no ensino da arte, da Profa. Dra. Ana Mae Barbosa

    Figura 9 - Lanamento do livro

    Figura 10 - Seminrios: Arte na Escola Introduo da Imagem Mvel

    Figura 11 - Seminrios a Funo da Imagem, em parceria com a Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul

    Figura 12 - Encontro Tcnico na UFPA, em Belm-PA

    Figura 13 - Seminrio na UCS, em Caxias do Sul-RS

    Figura 14 - Disseminao dos PCNs-Arte em Manaus-AM

    Figura 15 - Disseminao PCNs-Arte em Recife-PE

    Figura 16 - Pasta arte br

    Figura 17 - Material para o professor

    Figura 18 - Home site Arte na Escola

    Figura 19 - Antes

    Figura 20 - Depois

    Figura 21 - Pgina Midiateca

    Figura 22 - Material arte br no site

    Figura 23 - Pgina Cadastre-se

    Figura 24 - Formulrio Cadsatre-se

    Figura 25 - Sistema de envio de infomativos V6mail

    Figura 26 - Informativo NOTCIAS

    Figura 27 - Pgina Galeria dos Alunos da professora Christiana Arcuri

    Figura 28 - Trabalho do aluno ilustrando a home

    Figura 29 - Imagem ampliada no Galeria dos Alunos

    Figura 30 - Pgina do Mural

    VII

  • Figura 31 - Pgina Frum

    Figura 32 - Frum sobre Planejamento de Aula de Arte

    Figura 33 - Seqncia Navegao pelo Mapa da Rede

    Figura 34 - Srie Luciano: 2 anos e meio, manipulado o DVD na sala de sua

    casa

    Figura 35 - Larissa na internet, ladeada por seus pais, Maurcio (da TRUST) e

    Gisele, logo aps o seu nascimento

    Figura 36 - Arthur, dentro da barriga da Silvana, com 12 semanas, ilustrando o

    seu MSN

    Figura 37 - Pginas da Vida 1

    Figura 38 - Pginas da Vida 2

    Figura 39 - Pginas da Vida 3

    Figura 40 - Pginas da Vida 4

    Figura 41 - Pginas da Vida 5

    Figura 42 - Pginas da Vida 6

    Figura 43 - Pginas da Vida 7

    Figura 44 - Pginas da Vida 8

    Figura 45 - Parede cega 1: neoarte

    Figura 46 - Antigas edificaes da Travessa Nestor de Castro (Curitiba-PR),

    servem de suporte para painis do artista curitibano Poty

    Lazzarotto, que constitui o Museu na Rua

    Figura 47 - Outdoor

    Figura 48 - Outdoor do Colgio Antares, Americana-SP, realizado pelo artista plstica

    Luciano Bortoletto e alunos do ensino mdio

    Figura 49 - Luciano e seus culos performticos

    Figura 50 - Game Sonic

    Figura 51 - Ilustraes de games

    Figura 52 - Games Dreamcast

    Figura 53 - Ilustrao de games 2

    Figura 54 - Engenharia dos games

    Figura 55 - Game sobre arte 1

    Figura 56 - Game sobre arte 2

    Figura 57 - Game God of war

    Figura 58 - Anncio filme Matrix

    VIII

  • Figura 59 - Game Matrix

    Figura 60 - Times Square, Nova Iorque 1

    Figura 61 - Times Square, Nova Iorque 2

    Figura 62 - Homem-placa na Praa Ramos, So Paulo

    Figura 63 La trahison des images (Ceci n'est pas une pipe), Ren Magritte,

    1928

    IX

  • LISTA DE TABELAS E GRFICOS

    TABELAS Tabela 1: Solicitaes Fale Conosco

    Tabela 2: O que significa para eles ser um professor

    Tabela 3: Como e porque se tornaram professores

    Tabela 4: O que significa para eles ser professor na escola em que lecionam,

    na cidade em que vivem e no Brasil de hoje

    GRFICOS Grfico 1: Professores Cadastrados

    Grfico 2: Visitantes nicos

    Grfico 3: Naturalidade por regio

    Grfico 4: Naturalidade por Estado

    Grfico 5: Profisso

    Grfico 6: Formao

    Grfico 7: Conheceram o site Arte na Escola

    Grfico 8: Tipo da instituio onde lecionam

    Grfico 9: Outras atividades que realizam com os alunos

    Grfico 10: Jornais mais lidos

    Grfico 11: Livros mais lidos

    Grfico 12: Quando leram o ltimo livro (por nmero de respondentes)

    Grfico 13: Freqncia com que vo ao cinema

    Grfico 14: Assistem TV

    Grfico 15: Gnero de programa de TV favorito

    Grfico 16: Freqncia com que vo ao teatro

    Grfico 17: Freqncia com que vo ao museu

    Grfico 18: Quanto tempo em mdia escutam rdio

    Grfico 19: Que tipo de msica gostam

    Grfico 20: Tipos de dana que mais gostam

    Grfico 21: Onde tm acesso/assistem dana

    Grfico 22: Notas atribudas aos meios de comunicao, do ponto de vista

    artstico

    X

  • Grfico 23: Linguagem da Arte que consideram mais artstica

    Grfico 24: Artistas mais citados, trabalhados com os alunos

    Grfico 25: Artistas com os quais se identificam

    Grfico 26: Outros sites que visitam

    Grfico 27: Freqncia com que acessam a internet

    Grfico 28: J participaram de cursos a distncia

    Grfico 29: O que o usurio espera do Arte na Escola

    Grfico 30: Tempo que gastam, em mdia, visitando um site na internet

    XI

  • 1

    SUMRIO

    CAPTULO 1: ARTE NA ESCOLA E NO BRASIL 1. Arte na Escola e a histria da Arte e seu ensino no Brasil 04 1.1 A Videoteca Arte na Escola dissemina a Metodologia Triangular 13 1.2 Instituto Arte na Escola: crescimento quantitativo em mbito

    Nacional 25 1.3 arte br: imagem enquanto linguagem 27

    CAPTULO 2: ARTE NA ESCOLA ON LINE 2. Site Arte na Escola 35 2.1 A primeira pgina 37 2.2 Antes e depois... 39 2.2.1 Identidade visual 39 2.2.2 Atualizao e apresentao de contedos no

    espao-informao 40 2.2.3 Navegabilidade: um rito de conexo e unidade 44 2.2.4 Contato com o usurio: construindo relacionamento 45 2.2.5 Interatividade 47 2.2.6 Comunicao com os Plos da Rede 51 2.2.7 Lies apreendidas 53 2.3 O Instituto Arte na Escola e seu pblico virtual 54 2.4 Comunicao digital: um novo mundo de percepes e de

    produo de conhecimentos 56 2.5 Arte na Escola on line: desafios e potencialidades 61

  • 2

    CAPTULO 3: CONHECENDO OS USURIOS DO ARTE NA ESCOLA ON LINE 3. Metodologia de pesquisa 66 3.1 Metodologia 66 3.2 Formulrio do questionrio 66 3.3 Divulgao do questionrio 67 3.4 Anlise descritiva dos dados 68 3.4.1 Dados Pessoais 68 3.4.2 Formao 70 3.4.3 Contato com Arte na Escola 71 3.4.4 Profisso 72 3.4.5 Consumo Miditico 75 3.5 Anlise interpretativa dos dados 89

    CAPTULO 4: ARTE, MDIAS E O ARTE NA ESCOLA ON LINE 4. O ensino da arte, as mdias e Arte na Escola on line 93 4.1 A televiso, o homem-placa e as mdias como aliados 105 4.2 Arte na Escola on line inovado: uma proposta de interveno 110 4.2.1 Objetivos 110 4.2.2 Home 111 4.2.3 reas do site e suas pginas 112 4.2.4 Sala de Aula renovada 113 4.2.5 Consideraes finais 114Bibliografia 116Anexos 120

  • 3

    CAPTULO 1

    ARTE NA ESCOLA E NO BRASIL

    A inspirao existe, porm

    tem que encontrar-se trabalhando.

    Picasso

  • 4

    1. Arte na Escola e a histria da Arte e seu ensino no Brasil

    Arte na Escola, organizao do Terceiro Setor de atividade educacional, sem fins lucrativos, o objeto de pesquisa para o qual se volta este trabalho. A fim

    de trazer reflexo os princpios e objetivos que nortearam a criao do Arte na

    Escola e que, at hoje, conduzem sua ao, faz-se necessrio um resgate histrico

    - um retorno sua gnese, suas razes sem o qual qualquer avano perderia o

    lastro.

    O ano 1989 e Evelyn Berg Ioschpe, ento presidente da Fundao

    Iochpe1, estava especialmente dedicada a investigar e descobrir caminhos que

    levassem a educao a apropriar-se dos saberes mediados pela arte. Sociloga,

    jornalista e colecionadora de arte, Evelyn Berg Ioschpe foi diretora do Museu de

    Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) de maro de 1983 a maro de 1987. Entre

    outras instituies s quais esteve ligada, ela participa hoje do Conselho da Bienal

    Internacional de So Paulo e do Museu Lasar Segall. Por certo que sua

    experincia - intelectual e artstica norteava e determinava os rumos da referida

    investigao. Seu objetivo inicial era melhorar a qualidade do ensino da arte

    realizado nas escolas de educao formal com vistas a prover aos alunos modos

    de acesso s imagens de obras de arte, a fim de educar a sensibilidade para a

    fruio da arte e conseqentemente para o conhecimento de si e do mundo, como

    fator de desenvolvimento cultural, intelectual e sensvel dos alunos, bem como a

    ampliao de seu pensamente crtico. Mais do que um objetivo, este era seu

    desejo.

    A histria de Arte na Escola parte do encontro do desejo de Evelyn Berg Ioschpe com a Profa. Dra. Ana Mae Barbosa, que na mesma poca introduziu e

    disseminava uma nova e revolucionria abordagem para o ensino da arte: a

    1 A Fundao Iochpe foi instituda em 1989, em Porto Alegre, pelo Grupo Empresarial Iochpe, atuante na rea de auto-peas e componentes ferrovirios e que at ento desenvolvia projetos culturais voltados difuso das artes plsticas no Rio Grande do Sul. O Grupo escolheu a Educao como foco central de seu investimento social.

  • 5

    Metodologia Triangular2. A este encontro, somou-se tambm a possibilidade de

    associar esse pressuposto conceitual ao uso do vdeo em sala de aula.

    Na poca, a Fundao Iochpe estava decidida a constituir uma videoteca

    documental sobre artes visuais, visando assim facultar aos professores e alunos

    das escolas de educao formal o acesso ao mundo da arte. Por conseguinte,

    dava incio, em 1989, a uma pesquisa que pretendia comprovar que a Metodologia

    Triangular, associada mdia vdeo, era uma eficiente proposta metodolgica para

    o ensino da arte na escola. Essa pesquisa culminou em 1992, com a publicao do

    livro O Vdeo e a Metodologia Triangular no Ensino da Arte, de Analice Pillar e

    Denyse Vieira, ambas coordenadoras da pesquisa, elaborada sob orientao da

    Profa. Dra. Ana Mae Barbosa.

    Figura 1 Uso do vdeo na sala de aula de artes Figura 2 O livro da pesquisa

    Cabe ainda esclarecer que tal pesquisa - que deu origem ao Projeto Arte na

    Escola desenvolveu-se num perodo de luta poltica e conceitual sobre o ensino

    da arte no Brasil.

    Um ano antes de iniciada a pesquisa, em 1989, comeava a ser discutida,

    na Cmara e no Senado, bem como reestruturada, uma nova Lei de Diretrizes e

    2 Sistematizada pela Profa. Dra. Ana Mae Barbosa, a Metodologia Triangular parte da proposta DBAE (Discipline-Based Art Education) para o contexto brasileiro. A proposta DBAE trata de forma integrada a produo, a crtica, a esttica e a histria da arte, representando um paradigma diferente da auto-expresso criativa, em voga at ento, nas aulas de arte. No caso brasileiro, uniram-se as vertentes da crtica e esttica em uma s: leitura da imagem; da a denominao triangular, que contempla o fazer artstico, a leitura da imagem e a histria da arte.

  • 6

    Bases da Educao (LDB), que ameaava retirar Arte do currculo escolar de

    ensino fundamental e mdio. O discurso oficial que imperava poca alegava que

    era preciso recuperar a educao atravs dos contedos e que Arte no tinha

    contedo. Era preciso resgatar o status de disciplina para a Arte na escola e, desse

    modo, seus protagonistas (pesquisadores e professores de arte) buscavam

    aprofundar o pensamento terico-metodolgico na Educao em Artes e explicitar

    seus contedos. Sendo assim, fazia-se necessria a organizao de um sistema

    de mtodos.

    A proposta DBAE (Discipline-Based Art Education), a partir da qual a

    Metodologia Triangular se desenvolveu, busca reunir conhecimentos de Arte num

    corpo organizado, o que exige certo rigor intelectual, como ocorre em outras reas

    do conhecimento, como as de cincias exatas e de humanidades, por exemplo. No

    captulo 3 do livro j citado, o mesmo que determinou a criao do Arte na Escola,

    possvel observar resultados quanto ao fazer artstico do aluno em duas e trs

    dimenses, fazer esse decorrente da influncia do vdeo nos processos de

    aprendizagem dos alunos. Essa era uma realidade concreta e palpvel que, como

    nas cincias exatas, procurava evidenciar contedos especficos da arte-educao,

    a partir da mensurao de resultados objetivos, avaliveis.

    Entre tantos outros mritos, esta pesquisa, conduzida com extraordinrio rigor, tem

    a qualidade de evidenciar que a arte, quando concebida como disciplina,

    analisvel por parmetros no subjetivos, mesmo em se levando em conta a

    magia da qual nos fala Elliot Eisner. Esta magia seria o dom que a verdadeira

    obra de arte tem de nos levar s estrelas. Todos os seres sensveis do planeta

    sabem o que isso significa e, por isso mesmo, podem aferir a importncia da

    construo de instrumentos de avaliao deste saber.3

    Os resultados da pesquisa, descritos na obra j referida, retratam, pois, uma

    reflexo metodolgica importante para definir Arte como disciplina escolar, com

    contedos prprios e especficos que respondiam a essa busca, no a limitando

    apenas a um momento de atividade no currculo escolar, como fora considerada a 3 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. XIV.

  • 7

    partir da LDB de 1971, lei 5692/71 e tambm como propunha fazer valer o

    Conselho Federal de Educao (CFE) a partir de novembro de 1986, ao eliminar a

    rea de Comunicao e Expresso do currculo escolar de ensino fundamental e

    mdio. O texto redigido e aprovado pelo CFE determinou como disciplinas bsicas

    Portugus, Estudos Sociais, Cincias e Matemtica, reduzindo assim a educao

    artstica, que pertencia rea de Comunicao e Expresso, a um mero pargrafo

    que fazia referncia exigncia da Educao Artstica no currculo. Tal

    ambigidade acabou por tornar Arte uma disciplina marginal, chegando mesmo a

    faz-la desaparecer da grade curricular de muitas escolas brasileiras.

    A dcada de 80, no Brasil, assinalou um perodo de crescente politizao

    dos professores de arte - intitulados arte-educadores - que fundaram e participaram

    de discusses em encontros nacionais acerca do lugar da arte na escola, da

    formao de professores de arte, da pesquisa em arte e da atuao do profissional

    de arte-educao (professor de arte), visando assim recuperar o valor dessa rea

    do conhecimento humano. Vale aqui citar a Semana de Arte e Ensino, realizada

    em setembro de 1980 na Universidade de So Paulo, e que contou com a

    participao de cerca de 3 mil professores, tendo da se organizado o ncleo do

    que viria a ser a Associao de Arte-Educadores de So Paulo (AESP). A partir de

    1980, comeam a surgir organizaes de carter associativo, com o objetivo de

    garantir a presena da arte no currculo escolar. Em 1988, havia 14 associaes

    estaduais - entre elas a AESP e a Associao de Arte-Educadores do Nordeste

    (ANARTE) que, juntas, criaram a Federao dos Arte-Educadores do Brasil

    (FAEB), inicialmente com sede em Braslia, em 1987.

    No final dos anos 80, as aulas de arte no eram contempladas no currculo

    oficial e existia uma postura crtica reflexiva sobre a educao artstica, assim

    denominada pela LDB de 1971, j citada aqui, dando nfase a atividades artsticas

    desprovidas de contedos ligados s linguagens da arte e tendente formao

    tcnica para o mercado de trabalho. Paralelamente havia uma busca por modos de

    ensinar e aprender arte, uma busca da arte enquanto saber e objeto de saber que

    possibilita o desenvolvimento da habilidade perceptiva, da capacidade reflexiva, da

    sensibilidade do educando e a formao de uma conscincia crtica, no se

  • 8

    limitando a desenvolver no aluno a auto-expresso e a criatividade, valores que

    marcaram o ensino da arte na dcada de 70 e meados de 80. A Metodologia

    Triangular configurava-se ento como uma resposta a essa busca, ao introduzir,

    alm do fazer artstico caracterizado at ento como enfeite, ao ilustrativa e

    meramente decorativa de outras disciplinas - a leitura da imagem e a histria da

    arte.

    At o surgimento dessa nova metodologia, com raras excees, o ensino da

    arte resumia-se a um certo fazer artstico encarado como entretenimento, muitas

    vezes confundido com artesanato, com a produo de decoraes e objetos para

    festas, principalmente em datas comemorativas. Era esse o tipo de fazer artstico

    que dominava as aulas de artes nos anos 70. Quem nunca viu crianas saindo das

    escolas na poca da Pscoa com os rostos pintados e as cabeas enfeitadas por

    orelhas de coelho feitas com cartolina branca e recheadas de algodo? Este

    apenas um exemplo, mas existem muitos outros.

    Figura 3 Metodologia Triangular Figura 4 Fazer artstico associado leitura da imagem histria da arte

    Para entender como a prtica docente no ensino da arte assumiu essa

    forma nos anos 70 e o que significou poca, em termos de pioneirismo, a

    Metodologia Triangular - que ainda ousava associar-se s imagens do vdeo em

    sala de aula - basta fazer uma breve retrospectiva acerca do que se praticava em

    aulas de artes nas dcadas anteriores.

  • 9

    Nas salas de aula nos anos 60, sob o regime da ditadura militar, dominava

    uma educao instrumental e utilitarista, tecnologicamente orientada. A aula de

    artes visava a construo de um objeto como produto, exigindo dos alunos um

    acabamento tcnico que no estava de acordo com o nvel de expresso do aluno.

    Era uma experincia artstica que muitas vezes levava o educando frustrao,

    pois o trabalho comumente era terminado pelo professor. Desde essa poca e

    em contraposio a este modo de ensinar arte j surgia o laissez-faire, como

    resposta e reao ao excesso de rigidez vigente no ensino da arte.

    Esse mtodo, totalmente desvinculado da tcnica, visava a livre-expresso

    do aluno, o que, j nos anos 70, apontava para um esvaziamento do ensino da

    arte, j que mais desorientava o educando do que o ajudava a se expressar. O

    laissez-faire colocava em dvida a capacidade do aluno de desenvolver seu

    potencial criativo, sua habilidade perceptiva e, em suma, de operar como

    protagonista sua formao como indivduo sensvel, atuante e participativo. Vale

    ainda ressaltar que, ao longo de todas essas dcadas, o uso da imagem na aula de

    artes era praticamente inexistente. Isso acontecia mesmo nos anos 80, uma vez

    que at nos cursos de especializao para professores universitrios de arte a

    imagem no era contemplada devidamente. Quem relata isso, em 1991, a Profa.

    Dra. Ana Mae Barbosa:

    A idia da auto-expresso e do preconceito contra a imagem no ensino de

    arte para crianas dominante nestes cursos. A primeira tentativa de analisar

    imagens em cursos de arte-educadores teve lugar durante a Semana de Arte e

    Ensino na Universidade de So Paulo (1980) atravs de workshop utilizando a

    imagem de TV, mas a maioria dos participantes considerou aquilo uma heresia.4

    Entretanto, se a Metodologia Triangular pde surgir, assim como outras

    metodologias e prticas de ensino da arte todas elas mais ricas e significativas,

    que trataram de ampliar o repertrio dos alunos e de promover vivncias

    prazerosas com o conhecimento - por que alguns pesquisadores e professores

    ousaram, desde sempre, fazer diferente. 4 Barbosa, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. p. 15.

  • 10

    Nesse sentido, vale citar a experincia da arte-educadora Maria Paula

    Palhares que, j nos anos 70, experimentou levar aos alunos da Juca - Escola

    Piaget, escola de educao infantil e de ensino fundamental situada no bairro do

    Sumar, em So Paulo - a imagem em movimento. Seu objetivo era romper com

    os padres tradicionais de ensino e aprendizagem da Arte, investindo no processo

    de conhecimento que se d por meio da interao entre o aluno e o professor.

    Pela primeira vez tive que enfrentar um grupo de pais e justificar meu trabalho,

    afirmando meu objetivo de desenvolver um olhar crtico e uma postura ativa diante

    dos meios de comunicao, que j tomavam conta do imaginrio infantil5, relata

    ela. Por meio do Cinema do Juca - como ficou conhecido na escola - e a partir de

    outras experincias profissionais que sucederam a esta, a professora Maria Paula

    Palhares confere arte um papel de elemento promotor de projetos educativos

    eficazes, ldicos e prazerosos que, apoiados na produo artstica disponvel na

    comunidade, propiciam o desenvolvimento de um leque de competncias nos

    alunos, pondo em circulao experincias e idias detonadoras de processos de

    auto-conhecimento e auto-realizao, bem como de transformao da realidade.

    Essa arte-educadora demonstrava, poca, uma postura de vanguarda,

    diferenciada e rara, no contexto do ensino da arte.

    As referncias que marcaram a trajetria da formao da arte-educadora

    Maria Paula Palhares certamente delinearam e constituram seu percurso

    profissional deslocado dos modelos convencionais. Uma de suas referncias foi a

    professora Maria Felisminda de Rezende e Fusari (Mariazinha Fusari) que, j nos

    anos 70, experimentara as possibilidades do uso das mdias audiovisuais no

    ensino de arte e se empenhou em capacitar o professor nas reas de Meios de

    Comunicao e Educao, dedicando-se investigao das interfaces entre

    educao, arte e comunicao. Outra importante referncia para a mesma arte-

    educadora foi Fanny Abramovich que, assim como Mariazinha Fusari, ousou adotar

    novos paradigmas para o ensino da arte e participou, nos anos 70, com outros

    nomes do Movimento das Escolinhas de Arte. Essas escolinhas, alm de

    5 Palhares, Maria Paula. Comunicao, Arte e Educao: um estudo de caso na E.M.E.F. Desembargador Theodomiro Dias de 1997 a 1999, 2001. 5f. Dissertao Mestrado em Comunicao Escola de Comunicao e Artes, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2001.

  • 11

    promoverem salutares transgresses metodolgicas no ensino da arte, tambm

    ofereciam cursos de arte-educao para professores e artistas.

    A lei federal que tornou obrigatrio artes nas escolas, entretanto, no pde

    assimilar como professores de arte os artistas que tinham sido preparados pelas

    Escolinhas, porque para lecionar a partir da quinta srie exigia-se o grau

    universitrio, que a maioria deles no tinha.

    O governo federal decidiu criar um novo curso universitrio para preparar

    professores para a disciplina educao artstica criada pela nova lei. Os cursos de

    licenciatura em educao artstica nas universidades foram criados em 1973,

    compreendendo um currculo bsico a ser aplicado em todo o pas.6

    Quem relata isso, em 1991, a Profa. Dra. Ana Mae Barbosa, ressaltando o

    absurdo epistemolgico cometido por cursos de licenciatura, ao destacar que

    seus currculos pretendiam preparar o professor, em apenas dois anos, para dar

    conta de lecionar diversas linguagens - msica, teatro, artes visuais, desenho,

    dana e desenho geomtrico -, sem considerar que cada uma dessas linguagens

    possui natureza e caractersticas prprias, especficas.

    No de se estranhar, portanto, que a maior parte dos professores de arte,

    nos anos 70, praticasse aulas empobrecidas, esvaziadas de significado e distantes

    da realidade dos alunos, conseqentemente fracas e desestimulantes at mesmo

    para os prprios professores. A anlise da Profa.Dra. Ana Mae Barbosa explica,

    em parte e pela tica da formao do professor, a realidade que marcou, durante

    os anos 70 e parte dos 80, as aulas de arte nas escolas de educao formal no

    pas: A identificao da criatividade com espontaneidade no surpreendente

    porque uma compreenso de senso comum. Os professores de arte no tm tido

    a oportunidade de estudar as teorias da criatividade ou disciplinas similares nas

    universidades porque estas no so disciplinas determinadas pelo currculo

    mnimo, logo s lhes resta o senso comum. Nas universidades que estendem o

    currculo alm do mnimo, no encontrei (examinei onze currculos) nenhuma

    6 Barbosa, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. p.10.

  • 12

    disciplina ligada ao estudo da criatividade, exceto na Universidade de So Paulo,

    onde um curso intitulado Teoria da Criatividade foi lecionado de 1977 a 1979 para

    alunos de artes nas reas de cinema, msica, artes plsticas e teatro.7

    Vale ainda ressaltar que, no incio da dcada de 90, somente a USP

    mantinha uma linha de pesquisa em arte-educao ligada s Artes.

    Na apresentao do livro O Vdeo e a Metodologia Triangular no Ensino da

    Arte, Evelyn Berg Ioschpe escreve: (...) a arte para todos, mas para chegar-se a

    ela necessrio muito trabalho.8 Esta frase revela no s o desejo da idealizadora

    do Arte a Escola, de possibilitar e democratizar o acesso arte, como tambm sua

    percepo da dimenso do trabalho decorrente disso, tendo em vista todo o

    repertrio intelectual e sensvel necessrio para chegar-se a ela, a arte, diante

    dos desafios polticos, burocrticos e conceituais que o ensino da arte apresentava

    naquele momento histrico em que o Arte na Escola nascia.

    possvel identificar, naqueles passos iniciais do Arte na Escola, em que a

    pesquisa testava a Metodologia Triangular associada ao uso do vdeo em sala de

    aula, o desenho, ou seja, a forma de atuao que marcaria as aes dessa

    organizao at o dia de hoje. Isso porque, ao desenvolver a pesquisa, a

    Fundao Iochpe estabeleceu uma parceria com uma universidade - Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atravs de sua Pr-Reitoria de Extenso

    com o objetivo de desenvolver a pesquisa acadmica, tendo atuado junto

    iniciativa pblica - Prefeitura Municipal de Porto Alegre, atravs da Secretaria

    Municipal de Educao -, uma vez que a maior parte dos professores participantes

    da pesquisa era da rede municipal de ensino. Hoje Arte na Escola conta com 55 Plos Universitrios distribudos pelo Brasil, compondo a Rede Arte na Escola que,

    com seus 413 parceiros (instituies educacionais e culturais, pblicas e privadas),

    dissemina e multiplica aes em todo o pas.

    7 Barbosa, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. p.11. 8 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. XIII.

  • 13

    Figura 5 Mapa da Rede Arte na Escola

    Outro ponto que deve ser ressaltado nestes primeiros ensaios do que viria a

    ser a atuao do Arte na Escola, a participao efetiva de professores da rede

    pblica e privada de ensino como sujeitos da pesquisa em referncia, os quais se engajaram voluntariamente na empreitada.

    (...) o grupo de professoras reunido pelo Projeto Arte na Escola um

    testemunho vivo e eloqente de que ainda se pode conceber a educao como um

    bem maior e uma razo de ser, criando excelncia a partir de seu prprio

    engajamento no trabalho.9

    Estava assim delineado, naquele momento, o contrato de participao, apoio

    e credibilidade entre Arte na Escola e os professores, compreendidos como 9 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. XIV.

  • 14

    sujeitos sensveis, ativos e transformadores da realidade. Mas estariam os

    professores preparados para abarcar essa nova metodologia e utilizar o recurso

    audiovisual em sala de aula? Este, inclusive, era um dos objetivos da pesquisa:

    definir o background de que o professor de artes necessitava para realizar um

    trabalho com a Metodologia Triangular.

    A Metodologia Triangular associada ao vdeo revelou-se (...) uma eficiente

    proposta de ensino da arte, quando comparada com a metodologia tradicional de

    ensino. Os alunos que participaram da pesquisa evoluram nas trs reas

    envolvidas na aprendizagem: o fazer, a leitura e a histria da arte.10 Entretanto, ao

    mesmo tempo em que se buscava qualificar o ensino da arte, percebia-se a falta

    de preparo, por parte dos professores, para lidar com ela. Embora tenha se

    constatado, com a referida pesquisa, que os professores adquiriam proficincia

    para realizar um trabalho baseado na metodologia triangular, ficavam igualmente

    claras as deficincias (...) na sua formao quanto leitura e histria da arte.

    Seus planos de ensino apresentados antes de participarem da pesquisa, em sua

    grande maioria, calcados no fazer artstico, no tinham estrutura e unidade.11

    fato que a pesquisa tambm espelhou a realidade cotidiana dos professores de

    arte e o cenrio do ensino da arte no Brasil, poca em que Arte na Escola surgia.

    O ambiente em que Arte na Escola foi concebido era, pois, efervescente, do ponto de vista da articulao poltica dos professores de arte que, por outro

    lado, percebiam uma importante lacuna em sua formao e apontavam a

    necessidade de aprofundamento terico-metodolgico e de acesso a materiais

    educativos, para avanar no ensino da arte como rea do conhecimento. Quando

    iniciamos, lembro das reunies, seminrios e oficinas em que os professores de

    arte s faziam se queixar. Faltava tudo: de material a salas adequadas, de horrio

    suficiente a desenvolvimento curricular12, lembra Evelyn Berg Ioschpe.

    10 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. 94. 11 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. 94. 12 Ioschpe, Evelyn Berg. Rede Arte na Escola: tecendo o amanh. Boletim Arte na Escola, So Paulo, n. 36, p. 12, 2004.

  • 15

    Foi assim, num contexto marcado por essas demandas, que Arte na Escola iniciou suas atividades, tendo como subsdios um desejo e dois instrumentos, que

    correspondiam ao momento histrico do ensino da arte no Brasil: uma metodologia

    testada e aprovada (uso do vdeo como auxiliar no ensino da arte a partir dos

    pressupostos da Metodologia Triangular) e um material de apoio didtico, a

    Videoteca Iochpe de Artes Visuais.

    1.1 A Videoteca Arte na Escola dissemina a Metodologia Triangular

    poca, a Videoteca era o maior acervo de vdeos documentais sobre artes

    visuais existente no Brasil. Voltada para o ensino da arte, a Videoteca foi lanada

    em 1991, em decorrncia da pesquisa j citada e com o objetivo de possibilitar

    acesso (...) ao mundo da arte, com sua riqueza de informaes, magia e histria,

    dados que dificilmente chegam aos alunos das escolas pblicas e particulares de

    1 e 2 graus.13

    Figura 6 Videoteca Arte na Escola na UFRGS Figura 7 Acervo

    De nada adianta, porm, dar existncia a um material educativo de

    qualidade se os professores que o utilizam em suas aulas no souberem explor-lo

    como ferramenta de ensino. Foi pensando nisso que a Fundao Iochpe passou a

    13 Pillar, Analice e Vieira, Denyse. O vdeo e a metodologia triangular no ensino da arte. p. 11.

  • 16

    preocupar-se com a ao de qualificao para o ensino de arte, desenvolvida junto

    s universidades brasileiras, por meio de um trabalho extensionista.

    A fim de viabilizar subsdios terico-prticos aos professores, vale destacar

    que a Fundao Iochpe solicitou Profa. Dra. Ana Mae Barbosa, consultora do

    Arte na Escola na rea de arte-educao, a elaborao de uma publicao sobre

    os fundamentos tericos da Metodologia Triangular de ensino da arte, com o intuito

    de melhor subsidiar os professores. Foi assim publicada, em 1991, a obra A

    imagem no ensino da arte, pela editora Perspectiva.

    Figura 8 A imagem no ensino da arte, da Profa.

    Dra. Ana Mae Barbosa Figura 9 Lanamento do livro

    Assim, entendendo a universidade como lcus de aquisio e transmisso

    do saber, configurava-se o tipo de parceria - entre a Fundao Iochpe e as

    universidades - que daria origem Rede Arte na Escola. O objetivo dessa

    estratgia era ampliar e desenvolver conhecimentos tendo como estmulo o

    confronto com a realidade em sala de aula, numa busca constante entre teoria e

    prtica e, sobretudo, entendendo portanto que papel fundamental da

    universidade a formao dos professores. Existia ainda uma convergncia de

    interesses - inicialmente entre a Fundao Iochpe e a UFRGS, primeira parceira de

    Arte na Escola -, como possvel observar no depoimento da Pr-Reitora de Extenso da UFRGS, Ana Maria de Mattos Guimares, publicado no Boletim Arte

    na Escola nmero 01, em 1992:

  • 17

    Participar, em parceria, com a Fundao Iochpe, de um projeto disseminador do

    ensino em arte-educao consiste, mais do que uma satisfao, numa obrigao da nossa

    Universidade, pois esta uma forma de explicitar o compromisso da UFRGS com o

    questionamento da educao e empenhar esforos para a construo de alternativas

    renovadoras e crticas. (...), comprometemo-nos em irradiar o Projeto Arte na Escola em

    at doze plos universitrios, que sero dotados de uma videoteca composta pelo acervo

    em artes plsticas de propriedade da Fundao Iochpe e devero, simultaneamente,

    executar aes em educao continuada com o intuito de repercutir na comunidade

    prxima.14

    Figura 10 Seminrios: Arte na Escola Introduo da

    Imagem Mvel Figura 11 Seminrios a Funo da Imagem, em parceria

    com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Logo a Rede Arte na Escola iria consolidar-se, pois o contexto era favorvel

    s prerrogativas de Arte na Escola. O acervo de vdeos passou a chamar-se Videoteca Arte na Escola, ganhando espao em outras universidades a partir da

    UFGRS, que funcionou como uma espcie de plo disseminador do trabalho

    proposto. Isso foi possvel graas a um convnio entre a Fundao Iochpe e o

    Ministrio da Educao, atravs do Fundo Nacional do Desenvolvimento da

    Educao (FNDE), que viabilizou a doao de equipamento de gravao e

    multiplicao de vdeos a laser. Em 1995, a Rede Arte na Escola j compreendia

    15 Plos em todo o Brasil, constituda quase que espontaneamente, em

    decorrncia da demanda.

    14 Guimares, Ana Maria de Mattos. UFRGS plo irradiador da rede nacional de arte-educao. Boletim Arte na Escola, Porto Alegre, n. 1, p. 7, 1992.

  • 18

    Ao que tudo indica, Arte na Escola tem uma histria de mobilizao pela valorizao da arte e de melhoria de seu ensino no Brasil que no se encerra na

    proposta de uma metodologia e na oferta de materiais de apoio didtico. Essa

    trajetria complementa-se e traduz-se em seminrios internacionais, encontros

    tcnicos, programas de intercmbio com universidades americanas e outras aes

    que, ao longo dos anos 90, no s corresponderam s necessidades histricas de

    seus protagonistas poca, como tambm colaboraram com a prpria construo

    do ensino da arte no Pas. A Fundao Iochpe preocupou-se tambm em formar

    uma parceria com o Estado, visando colaborar e interagir com as polticas pblicas.

    Nesse sentido, vale destacar com mais nfase algumas dessas aes, entre

    elas o intercmbio entre o Arte na Escola e as instituies ligadas ao Getty Center

    for Education in the Arts (EUA); universidades e instituies culturais americanas

    como a Universidade de Chattanooga, Ohio State University, Sheldon Memorial Art

    Gallery, entre outras -, iniciado em 1991, que possibilitou a vrios arte-educadores

    brasileiros15 participar do Summer Institute (curso de vero), em que foi possvel

    aprofundar conhecimentos sobre os fundamentos do DBAE (que no Brasil se

    configurou como Metodologia Triangular), trocar experincias e obter

    aperfeioamento. O curso durava trs semanas e comportava uma carga horria

    de oito horas por dia, combinando aulas tericas com atividades de aplicao em

    sala de aula, em que era possvel vivenciar, na prtica, as idias apresentadas.

    Alm disso, a programao inclua visitas a museus, para atividades em contato

    direto com os espaos e as obras de arte.

    As vivncias desse seleto grupo de arte-educadores no Summer Institute

    foram amplamente relatadas e divulgadas no Boletim Arte na Escola, veculo de

    comunicao voltado ao professor de arte que circula at hoje nos Plos da Rede

    Arte na Escola, sendo enviado a professores de todo o Brasil. Criado em 1992, o 15 Participaram, em 1992: Rosa Iavelberg, Amanda Tojal, Denise Grinspum, Iveta Maria Borges vila Fernandes, Maria Cristina Pires Fonseca, Silvia Mastrocola Almeida. Em 1994: Tarcsio Sapienza, Helosa Margarido Salles, Maria Cristina Biazus e Dora Maria Dutra Bay. Em 1995, com o apoio da CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior do Ministrio da Educao e do Desporto): Maria Cristina Biazus, Elizabeth Aguiar, Dora Dutra Bay, Sandra Salles, Marlia Diaz, Beatriz Venncio, Dulce Osinsky e Milene Chiovato. Em 1997, tambm com o apoio da CAPES: Denise Grinspum, Elizabeth Milititsky Aguiar, Mari Lucie da Silva Loretto, Rosa Iavelberg, Consuelo Schlichta, Maria Cristina Pessi, Maria Helena Rossi, Marilene Schramm, Marlene Franoise, Milene Chiovatto e Sebastio Pedrosa.

  • 19

    Boletim tem gerado, durante toda a sua existncia, reflexo, produo e registro de

    conhecimento em arte, ao veicular artigos tericos e relatos prticos sobre arte,

    sua importncia e seu ensino, ajudando inclusive a disseminar as experincias de

    professores e pesquisadores com a Metodologia Triangular associada ao uso do

    vdeo.

    Figura 12 Encontro Tcnico na UFPA, em Belm-PA Figura 13 Seminrio na UCS, em Caxias do Sul-RS

    O Boletim Arte na Escola tambm tem divulgado os encontros tcnicos da

    Rede, bem como os seminrios nacionais e internacionais organizados por Arte na Escola, em que foram recebidos importantes nomes da arte-educao, nacionais e internacionais: Brent Wilson (1989); Rebecca Keller, Ralph Smith, Elliot Eisner,

    Eilleen Adams e Udo Liebelt (1990); Anne Lindsey, Eduardo Peuela, Sara Pain e

    Mariazinha Fusari (1993); Fayga Ostrower (1994); Ronnie Hartfield (1995); Anna

    Kindler, Michael Parsons, Don Krug, Kerry Freedman, Ann Cheng Shiang Kuo e

    Vitor Kon (1996); Agnaldo Farias e Rosa Iavelberg (1997); Mariazinha Fusari

    (1998), entre outros.

    Outra ao de mobilizao deflagrada pelo ensino da arte, empreendida por

    Arte na Escola e iniciada em 1992 foi a elaborao dos Materiais Instrucionais, dirigidos aos professores de arte usurios da Videoteca. Esses materiais tinham o

    propsito de indicar caminhos estratgicos para utilizao dos vdeos em sala de

    aula. O objetivo dos mesmos era trabalhar as vertentes da Metodologia Triangular,

    de forma a apresentar ao professor possibilidades de abordagens dos vdeos mais

    ricas e diversificadas, que fugissem de receitas prontas. Afinal o vdeo ainda era

  • 20

    um recurso pouco utilizado pela maior parte dos professores de arte, que no

    estava capacitado para se apropriar dessa tecnologia da comunicao em sala de

    aula. No eram raros os professores que simplesmente deixavam rodar a fita sem

    compromisso, simplesmente para preencher o tempo da aula de artes. Os

    Materiais Instrucionais da Videoteca pretendiam ajudar os professores na

    explorao didtica dessa mdia, buscando uma experincia fecunda e prazerosa

    de aprendizagem para os alunos.

    O trabalho de construo desses materiais foi coordenado por Sylvio da

    Cunha Coutinho, que ento integrava um grupo de arte-educadores paulista

    Amanda Pinto da Fonseca Tojal, Heloisa Margarido Salles, Maria Silvia Costa

    Mastrocolla de Almeida, Rosa Iavelberg e Tarcsio Sapienza. Esse processo

    tambm envolveu o trabalho de outros 63 arte-educadores de diversos estados

    brasileiros. Os materiais produzidos passaram por um processo intenso de testes

    em sala de aula, o que possibilitou a avaliao e os ajustes necessrios, no sentido

    de adequar a teoria prtica. Em setembro de 1996, os professores de arte j

    podiam contar com 120 ttulos da Videoteca que acompanhavam materiais de

    apoio didtico.

    importante citar tambm os incentivos financeiros concedidos pela

    Fundao Iochpe aos Plos da Rede Arte na Escola a partir de 1994, que

    auxiliavam as universidades a desenvolver seus prprios projetos, patrocinando

    cursos, seminrios, oficinas etc. Esses cursos eram dirigidos, preferencialmente,

    aos professores da rede pblica de ensino. Uma ao que se destaca e diz

    respeito diretamente mobilizao pelo ensino da arte realizada por Arte na Escola refere-se srie de cursos - ministrados de outubro de 1997 a julho de 1998 - pela Rede, de sensibilizao e disseminao dos Parmetros Curriculares

    Nacionais de Artes (PCNs-Artes) nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste do

    Brasil.

    Em dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que h oito anos

    estava em processo de tramitao, finalmente foi aprovada pelo Congresso

    Nacional e sancionada pelo ento Presidente da Repblica Fernando Henrique

    Cardoso. A Arte foi finalmente incorporada ao currculo escolar como disciplina

  • 21

    obrigatria - fruto da luta poltica e conceitual encampada por arte-educadores

    durante todos os anos 80, envolvendo a Arte e seu ensino, conforme foi relatado

    acima. A disciplina passava a chamar-se Educao Artstica no texto da referida

    Lei. Naquele momento os PCNs de Arte significavam tambm um novo horizonte e

    uma nova perspectiva para a arte-educao no Brasil, posto que abordam as

    quatro linguagens da Arte artes visuais, teatro, dana e msica , tratando cada

    linguagem separadamente, com indicaes para o desenvolvimento de trabalhos

    que abrangem a correlao dessas linguagens com as outras disciplinas do

    currculo. Os PCNs promoviam assim a interdisciplinaridade, incorporando

    igualmente a questo da comunicao e da transversalidade no currculo. Ou seja,

    os PCNs possibilitaram uma abertura para novas formas de dilogo entre a

    educao e o cotidiano, indicando que necessrio no apenas trabalhar os

    contedos especficos de cada disciplina, mas tambm vincul-los aos hbitos e

    culturas locais, s referncias, aos imaginrios, s memrias, aos repertrios,

    enfim, aos contextos dos alunos.

    Depois de nacionalmente discutido por educadores de todo o Brasil entre

    1995 a 1996, os PCNs passaram a constituir-se numa referncia para anlise dos

    currculos das escolas pblicas. Sem carter de obrigatoriedade, eles visam

    melhorar a qualidade do ensino fundamental. poca em que os PCNs foram

    lanados, era necessria, entretanto, adotar uma poltica de implementao da

    proposta e por isso mesmo a Rede Arte na Escola foi convocada, a partir de um

    convnio assinado com o Ministrio da Educao, para a elaborao das

    atividades do projeto de disseminao dos PCNs de Arte.

    Figura 14 Disseminao dos PCNs-Arte em Manaus-AM Figura 15 Disseminao PCNs-Arte em Recife-PE

  • 22

    No depoimento abaixo, de Ana Mariza Filipouski, coordenadora tcnica

    deste projeto no Arte na Escola, possvel identificar os propsitos do trabalho e

    das atividades que seriam empreendidas pela Rede, em relao aos PCNs-Arte.

    Esse trabalho consistia na criao, elaborao e produo de materiais de apoio

    para os cursos de capacitao de professores que tambm seriam ministrados pela

    Rede. Partindo do objetivo de trabalhar a arte em cada cidade, esses cursos

    compreendiam aulas tericas, reflexo sobre a prtica, documentao de

    atividades executadas e oficinas de arte.

    A parceria estabelecida entre o MEC e a Rede Arte na Escola , sobretudo,

    o reconhecimento ao esprito de grupo que une os professores da Rede, ao

    trabalho conjunto que executam e permanente preocupao em considerar que

    Arte conhecimento que se aprende e aprimora. (...) Todas essas atividades

    constituiro um grande investimento para a melhoria do ensino por meio da

    qualificao do professor. Atravs delas, estaremos apresentando aos professores

    do Ensino Fundamental teorias e metodologias que, certamente, possibilitaro

    ampliar seu repertrio, estimulando-os a escolher aquela que mais se adapte a sua

    realidade imediata e favorea ao aprendiz o acesso s artes plsticas, capacitando-

    o a desfrutar da produo artstica da humanidade e a dominar os elementos

    expressivos que podero transform-lo em espectador e em produtor de arte.16

    importante lembrar a crena que unia os protagonistas da Rede Arte na

    Escola: uma maneira de ensinar arte alicerada na Metodologia Triangular, que

    vinha sendo desenvolvida pela Profa. Dra. Ana Mae Barbosa. Outra ao de

    mobilizao e melhoria do ensino da arte que tambm destacamos na trajetria de

    Arte na Escola - e que ocorreu em 1998, paralelamente a ao relacionada disseminao dos PCNs de Arte pela Rede diz respeito participao da Rede

    Arte na Escola na preparao das aes educativas da XXIV Bienal Internacional

    de So Paulo. A direo dessa ao esteve a cargo de Evelyn Berg Ioschpe,

    presidente da Fundao Iochpe, que implantou uma Diretoria de Educao, fato

    16 Filipouski, Ana Mariza. Cursos de arte para professores aproximam o norte e o sul do Brasil. Boletim Arte na Escola, Porto Alegre, n. 17, p. 4, 1997.

  • 23

    indito na Instituio Bienal. Foram produzidos 20 mil exemplares de materiais de

    apoio distribudos para toda a rede pblica de ensino do Estado de So Paulo.

    As Bienais sempre atraram um grande pblico visitante, muitas vezes sem

    nenhum preparo para o acesso e compreenso das obras e da curadoria. Vale

    destacar que a dcada de 90 foi marcada por um aumento significativo de espaos

    e instituies culturais, as quais por sua vez criaram seus setores educacionais,

    visando a fruio das obras de seus acervos. Esses ncleos educacionais

    instalados em museus e outros espaos expositivos ampliaram a oferta de

    atendimento a escolas no raro com propostas de capacitao de professores,

    para prepar-los para o trabalho em sala de aula com seus alunos, antes e aps a

    visita - num momento em que as escolas comeavam a ter atividades

    extracurriculares, possibilitando, por exemplo, visitas aos museus. A ao

    educativa da XXIV Bienal atendeu 74 mil alunos em visitas monitoradas.

    Para destacar os modos como essas aes de mobilizao e qualificao

    empreendidas pelo Arte na Escola interconectaram-se num processo de

    construo da histria do ensino da arte no Brasil, recortamos aqui dois

    depoimentos de Maria Cristina Biazus, coordenadora do Plo Arte na Escola na

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Rede desde 1989, e de Isabel

    Petry Kehrwald, coordenadora do Plo FUNDARTE, de Montenegro, Rio Grande

    do Sul. Esses depoimentos foram colhidos durante a elaborao da edio 36, de

    2004, do Boletim Arte na Escola, em comemorao aos 15 anos de atividade de

    Arte na Escola, oportunidade em que foram ouvidos vrios atores que marcaram e participaram da histria da organizao.

    O Arte na Escola teve uma participao especial na divulgao dos PCNs

    Arte (Parmetros Curriculares Nacionais/Ministrio da Educao). A idia do Arte

    na Escola, em ter Plos em todo o pas, certamente foi parte importante para que

    as novas idias sobre como ensinar arte fossem divulgadas. Acredito que tenha

    muita gente fazendo coisa boa neste pas e que, de alguma forma, o Arte na Escola

    est tendo este papel difusor e catalisador. (...) Tive muitos ganhos ao trabalhar

    diretamente com a Rede Arte na Escola no sentido de organizao e

    sistematizao de processos. Tivemos muitas caminhadas e aprendizagens das

  • 24

    quais destaco a elaborao dos Materiais Instrucionais de apoio ao professor da

    Videoteca Arte na Escola, quando coordenei os grupos de Santa Catarina e do Rio

    Grande do Sul. Isto nos ensinou muita coisa em termos de logstica. Quando do

    material para a Bienal e PCNs, j havia um saber construdo neste sentido. O

    intercmbio com projetos de DBAE (Discipline Based Arte Education) possibilitou a

    troca de experincias com professores americanos e a chance de ver e vivenciar o

    DBAE do outro lado. Tive a chance de ministrar uma oficina sobre O Bananal, de

    Lasar Segall, em Chattanooga, na Universidade do Tenessee, o que foi um timo

    aprendizado. Nos cursos de vero realizados nos EUA, tive a chance de conviver e

    trocar idias com tericos da arte como Michael Parsons, Brent Wilson, Judith

    Koroscik e Terry Barret. Estas foram oportunidades nicas que quero destacar.17

    (...) a formao de professores o foco principal (rever cursos de

    Magistrio/Normal, de Pedagogia e de Licenciatura em Arte), como tambm

    defender concursos para professores da rea de Arte e nesta, especificamente,

    Artes Visuais, Dana, Msica e Teatro e no Educao Artstica - termo que foi

    suprimido da LDB 9694/93 (Lei de Diretrizes e Bases da Educao Brasileira) e

    ainda usado pelas Secretarias de Educao - e oferecer formao continuada em

    servio e recursos para o uso em sala de aula. Neste ltimo item, exemplar a

    trajetria e contribuio do Arte na Escola. (...) o Arte na Escola oportunizou

    melhorias, cursos, reflexes, recursos materiais e qualificao de recursos

    humanos na rea da arte, suprimindo uma lacuna do sistema de ensino e do dever

    do Estado. Saliento o processo de disseminao dos PCNs Arte como um projeto

    exemplar sob o ponto de vista pedaggico e de estratgia educativa de resultados.

    (...) Foi uma construo interdisciplinar histrica e pela sua singularidade e forma

    de organizao, talvez, nica no universo educacional brasileiro.18

    Foi assim durante todos os anos 90: articulao em rede e construo de

    conhecimento sobre arte e seu ensino, cena na qual o Arte na Escola ocupou lugar

    de protagonista, tendo os coordenadores da Rede Arte na Escola como atores,

    autores, sujeitos das aes e a Fundao Iochpe como articuladora destas.

    17 Entrevista constante do arquivo do Boletim Arte na Escola nr. 36. 18 Entrevista constante do arquivo do Boletim Arte na Escola nr. 36.

  • 25

    O reconhecimento externo pela trajetria de Arte na Escola veio em dois momentos: em 1995, com a conquista do Prmio ECO, na categoria Cultura,

    concedido pela Cmara Americana de Comrcio Iochpe-Maxion S.A. pelo

    trabalho desenvolvido pela Fundao Iochpe com o Arte na Escola; e, em 1999,

    quando Arte na Escola recebeu a chancela da UNESCO.

    1.2 Instituto Arte na Escola: crescimento quantitativo em mbito nacional

    Em 2.000, a Fundao Iochpe resolveu criar, em So Paulo, o Instituto Arte

    na Escola, configurando-se assim uma situao sui generis: o irmo mais novo, o

    Instituto, tinha a incumbncia de cuidar do mais velho, a Rede Arte na Escola, j

    com 11 anos de atuao. O objetivo do Instituto? Ampliar, garantir consistncia,

    interconexo, efetividade e sustentabilidade Rede Arte na Escola. O quadro de

    scios fundadores do Instituto comps-se, basicamente, de coordenadores de

    Plos da Rede, de um reitor de universidade e de dois consultores americanos (ver

    anexo 01) a estratgia de trabalho foi definida em termos da valorizao e da

    incubao de projetos de ensino da arte e produo de materiais educativos que

    subsidiassem o professor em sala de aula e, frente aos resultados advindos da

    avaliao dos mesmos, sua disseminao, por meio de parcerias, na Rede Arte na

    Escola.

    Nesse mesmo ano, o Instituto criou o Prmio Arte na Escola Cidad, para

    reconhecer e valorizar os trabalhos de qualidade no mbito do ensino da arte,

    realizados por professores de todo o Brasil. Sobre o prmio, Kehrwald ressalta:

    Sua importncia est na visibilidade que deu a projetos executados em

    diferentes contextos do pas e ao conhecimento que oportunizou sobre professores

    comprometidos com o ensino da arte, em situao adversa e com poucos recursos,

    que tm desenvolvido projetos de incluso social de relevante beleza e

    significncia19

    19 Entrevista constante do arquivo do Boletim Arte na Escola nr. 36.

  • 26

    importante enfatizar que, com a criao do Instituto, ocorreu uma

    mudana no paradigma de participao que vinha se configurando at ento entre

    as universidades parceiras, Plos do Arte na Escola, representadas por seus

    coordenadores, e o Arte na Escola, causando certo distanciamento entre as partes

    e at mesmo, desnimo. Quem aponta isso a diretora do Instituto, Maria Helena

    Webster, que trabalha na Fundao Iochpe desde 1991.

    Todos os coordenadores de Plo eram envolvidos e se engajavam mais

    nos primeiros anos do Arte na Escola. Eles deixam de se envolver e se sentem

    abandonados quando o Arte na Escola (Fundao Iochpe) se muda para So

    Paulo. Antes disso, eles participavam da construo, se sentiam engajados,

    participantes. Em 1997 e 1998, conseguimos recuperar a Rede Arte na Escola com

    o trabalho dos PCNs. Foi um momento importantssimo e eles esperavam que este

    fosse o incio de muitos outros projetos similares. Eles construram os PCNs juntos,

    foram fazer capacitao por todo o Brasil e a capacitao de professores era o que

    mais o atraiam. Eles eram donos do processo e acharam que a vida com o Instituto

    Arte na Escola seria esta, mais autnoma, mas o que hoje: eles no so

    chamados para os grandes projetos. A idia era conseguir financiamento do BNDS

    para expanso da Rede em 2000, 2001, a curtssimo prazo, que seria feita pelos

    coordenadores, o que no ocorreu. Isso trouxe mgoa para alguns desses

    colaboradores. Eles eram autores e passaram a ser fazedores, de outros

    autores.20

    importante considerar esse fato, tendo em vista o maior patrimnio

    acumulado por Arte na Escola desde a sua concepo: o conhecimento tcnico e a experincia acumulada de professores e pesquisadores sobre Arte e seu ensino,

    que desde ento vinham realizando, juntos, um trabalho de abrangncia nacional,

    muito significativo no cenrio do ensino da arte brasileiro.

    Entretanto, independentemente do nvel de participao dos coordenadores

    da Rede nos processos do Arte na Escola, fato que hoje a produo de

    resultados quantitativos significativa, correspondendo ao objetivo do Instituto de

    20 Comentrio extrado durante entrevista para o pr-diagnstico deste Projeto de Interveno, em novembro de 2005, constante dos arquivos deste trabalho.

  • 27

    ampliar a Rede. Em 2005, a Rede Arte na Escola beneficiou cerca de 25 mil

    professores de arte em todo o Brasil, dados estes que foram obtidos na avaliao

    realizada pelo Instituto junto aos Plos da Rede em novembro de 2005.

    Esse resultado quantitativo foi alcanado graas a um convnio assinado,

    em 2003, entre o Instituto Arte na Escola e o BNDES. A parceria possibilitou a

    expanso da Rede Arte na Escola: de 17 Plos em 2003 para 55 em 2005. Mais

    plos, mais professores impactados pelas aes de Arte na Escola. Tal parceria tambm vem possibilitando a reedio da Videoteca Arte na Escola, revisada, ampliada, com uma nova proposta educativa e tecnologicamente atualizada:

    DVDteca Arte na Escola, em fase de distribuio.

    Nos ltimos quatro anos, o Instituto cresceu em tamanho e em pblico

    atendido. Em toda a sua histria, nunca a Rede Arte na Escola expandiu-se tanto e

    em to pouco tempo. importante destacar que os Plos da Rede Arte na Escola

    so unidades autnomas, vinculadas s suas Instituies de Ensino Superior que,

    por meio de convnio - assinado entre as Pr-Reitorias de Extenso de suas

    Universidades e o Instituto Arte na Escola - recebem do Instituto suporte e

    benefcios, materiais e aportes financeiros para o desenvolvimento de aes,

    prioritariamente, junto rede pblica de ensino local.

    O Instituto Arte na Escola tem uma ao expressiva em termos de

    resultados quantitativos em relao ao nmero de funcionrios e de recursos

    financeiros investidos. Talvez uma resposta a essa relao custo-benefcio positiva

    e grande capilaridade atingida seja a forma de organizao e atuao escolhida

    pela organizao. Elegendo a universidade como a principal parceira na realizao

    de sua misso o Instituto cumpre uma funo inerente ao Terceiro Setor de

    articular e otimizar capital humano e fsico, gerando capital social.

    1.3 arte br: imagem enquanto linguagem

    Como indicador de crescimento e impacto das aes do Arte na Escola hoje,

    vale citar o nmero de professores atingidos com a distribuio do kit arte br,

    ltima produo de material educativo para o professor, voltado ao

  • 28

    desenvolvimento de competncias relacionadas leitura da imagem da arte e

    desenvolvido pelo Instituto Arte na Escola: 15 mil docentes, de todas as regies do

    Brasil. O material foi distribudo por meio dos Plos da Rede, que tambm

    promoveram capacitao para uso do recurso didtico. arte br tambm envolveu a

    doao de algumas obras de arte a museus em todo o pas.

    Figura 16 Pasta arte br Figura 17 Material para o professor

    O material composto de 12 cadernos educacionais, 12 pranchas com duas

    obras de arte reproduzidas, uma na frente e outra no verso, 12 cartes com

    reprodues de fotos de obras de arte, um folder com informao institucional e

    outro, com uma linha do tempo que contextualiza as obras de arte abordadas. As

    obras so todas de autoria de artistas brasileiros do sculo 20. O curador Paulo

    Herkenhoff fez a seleo das obras e dos artistas buscando representar

    visualmente nosso pas e, por meio das imagens, discutir alguns valores,

    sentimentos e percepes que fazem parte do cotidiano dos brasileiros e que a

    arte expressa como universais. Por isso o ttulo arte br, de Brasil, mas tambm de

    estrada, de caminho que leva a outras vises da vida, por meio do contato

    significativo com as imagens da arte. Baseado na metodologia de leitura da

    imagem fundamentada pelos pressupostos da Semitica Greimasiana, esse

    material prope ao professor iniciar a abordagem da obra de arte pela imagem,

    demorando-se diante dela para sentir, imaginar, refletir antes mesmo de receber

  • 29

    qualquer informao sobre a obra em si e sobre a biografia do artista. Assim arte

    br busca valorizar a imagem enquanto linguagem, enquanto texto construdo

    intencionalmente pelo artista para comunicar sentimentos, pensamentos, vises de

    mundo, valores. O objetivo do arte br trabalhar a questo da leitura da imagem.

    Diante de um mundo povoado de imagens o sentido da obra vai se construindo no

    tempo do ler e nas relaes que esse tempo estabelece com o leitor em contato

    com a obra21, diz Anamelia Bueno Buoro, coordenadora do projeto.

    fato que hoje - ao contrrio do que ocorria no final da dcada de 80,

    quando o Arte na Escola surgiu - a oferta de materiais de apoio ao ensino da arte

    dirigidos ao professor, extensa e diversificada. Alm de instituies culturais e

    educacionais, como o Instituto Cultural Ita, a Fundao Banco do Brasil, o

    Educarede (Fundao Telefnica e CENPEC), Arte e Cidadania (Instituto Gthec),

    para citar apenas algumas, tambm os museus empreendem um papel importante

    na produo de materiais para o professor de arte, subsidiando sua prtica em sala

    de aula. O trabalho realizado pela Pinacoteca do Estado de So Paulo, o MAC-

    USP, o Museu Lasar Segall, o MAMAM (Recife), o MAC (Niteri), o MAM (So

    Paulo e Rio de Janeiro) so alguns bons exemplos dessas aes. Todas essas

    instituies tratam, inclusive, de oferecer cursos de capacitao para apropriao

    dos materiais produzidos.

    Se por um lado a oferta de material de apoio ao professor multiplicou-se nas

    ltimas dcadas, por outro, a formao do professor ainda deixa muito a desejar.

    As aulas de arte empobrecidas parecem ter atravessado a dcada de 90 sem se

    alterarem substancialmente. No limiar do terceiro milnio, elas ainda se mantm

    como um desafio diante das aceleradas inovaes cientficas e tecnolgicas dos

    ltimos anos, uma vez que a maior parte dos professores pratica aulas

    exclusivamente ligadas expresso, sem qualquer contextualizao. As aulas

    mantm-se tradicionais, o que indica a FAEB e alguns coordenadores de Plos

    da Rede Arte na Escola mais adiante.

    21 Buoro, Anamelia Bueno. arte br: construindo conhecimentos em arte. Boletim Arte na Escola, So Paulo, n. 32, p. 8, 2003.

  • 30

    Em relao ao trabalho do Instituto, realizado junto aos Plos da Rede no

    tocante a educao continuada - um dos pilares da ao do Arte na Escola no

    cumprimento de sua misso - h o desafio do intercmbio entre a universidade e a

    realidade do professor, vivida no embate da sala de aula, na prtica cambiante e

    desafiante do dia-a-dia. H uma distncia, que ainda no foi superada, entre a

    universidade e o universo dos professores, apesar do esforo de Arte na Escola em provocar conscientemente essa relao, a fim de renov-la e assim contribuir

    com o aprimoramento do processo de formao de professores nas universidades,

    em relao realidade do ensino pblico brasileiro.

    Essa distncia aprofunda-se no dficit crnico de formao dos professores,

    decorrente do mau aproveitamento de contedos fragmentados e dissociados da

    realidade, transmitidos pela universidade, mas tambm pela falta de contato da

    universidade com o universo escolar: a sala de aula, na qual os professores esto

    imersos na prtica de suas atividades.

    Uma das aes que tem contribudo para reverter esse quadro est

    relacionada com os Grupos de Estudos, realizados nos Plos Arte na Escola e que

    o Instituto considera fundamental. Os Grupos de Estudo renem professores e

    acadmicos, num processo de educao continuada e de troca de experincias

    coletivas que confrontam e desafiam a teoria. O que se tem, contudo, para analisar

    o impacto dessa ao so apenas dados quantitativos.

    De acordo com a avaliao realizada pelo Instituto em 2005, j citada aqui,

    sobre as aes realizadas pelos Plos da Rede Arte na Escola, apenas 2.249

    professores dos cerca de 25 mil atendidos pela Rede em 2005 participaram de

    Grupos de Estudos. Foram realizados em 2005, 94 Grupos de Estudo, sendo que

    34% deles trabalharam com professores formados em arte, 26% dos Grupos se

    voltaram para professores sem formao e 40% reuniram professores formados

    em arte ou no; portanto, atuaram com Grupos de Estudo mistos.

    Se por um lado esse dado reflete a falta de participao de professores em

    aes sistemticas de formao continuada nos Plos da Rede que possibilitariam

    sua constante qualificao para o ensino da arte, por outro salienta-se a falta de

    professores especializados no ensino de Arte, nas salas de aula das escolas

  • 31

    brasileiras de educao formal. Esse contexto extrapola os limites institucionais e

    ganha dimenso macro-estrutural, apontando para uma prtica do ensino de arte

    tradicional ainda muito centrada na oralidade e na escrita, em que a imagem e

    demais recursos audiovisuais so pouco utilizados.

    Para se ter uma idia do problema macro-estrutural e ilustrar o que o no

    reconhecimento do valor do ensino da Arte no Brasil durante todos os anos 80 e 90

    Arte enquanto rea do saber e da cultura humana - impactou na prtica docente,

    basta analisar a recente conquista da FAEB, junto Cmara de Educao Bsica

    do Conselho Nacional de Educao. Em 04/10/2005, a FAEB solicitou a retificao

    do termo Educao Artstica para Arte, com base na formao especfica plena

    em uma das linguagens - Artes Visuais, Dana, Msica e Teatro - no inciso IV,

    alnea b, do artigo 3 da Resoluo CNE/CEB nmero 2, de 07 de abril de 1998,

    que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.

    O objetivo dessa solicitao foi conferir Arte status de disciplina, no mais

    relegada condio de atividade educativa, conforme j havamos apontado

    acima, uma vez que, segundo membros da FAEB, a conseqncia do que foi

    determinado em 1998, acarretou a perda da qualidade dos saberes especficos das

    diversas formas de Arte, dando lugar a uma aprendizagem reprodutiva. Isso

    tambm explica o porqu da falta de especialistas em Arte nas salas de aula, uma

    vez que a legislao vigente requer professores formados em Educao Artstica.

    O depoimento de Edite Colares, coordenadora do Plo Arte na Escola da

    Universidade Estadual do Cear, d a dimenso dessa situao. Ele foi publicado

    no boletim eletrnico Oi! do Instituto Arte na Escola, em junho de 2006. Em nosso Estado (Cear) no temos professores formados em nmero

    suficiente para atender a demanda das escolas por professores de artes. O nico

    curso que forma professores de artes em Fortaleza, por exemplo, o curso de

    Msica da UECE, ficando assim as outras linguagens descobertas. Porm, no

    tenho sentido disposio das Secretarias de Ensino para se estabelecer convnios

    para uma formao dos professores que j se encontram na rede.22

    22 Colares, Edite. Como a LDB est sendo tratada no seu Estado? Oi!, So Paulo, Edio Especial, Junho de 2006. Disponvel em: Acesso em nov. 2006.

  • 32

    Em e-mail endereado ao Instituto Arte na Escola no dia 7 de junho de 2006,

    Eliane Tinoco, coordenadora do Plo Arte na Escola da Universidade Federal de

    Uberlndia, no s reafirma essa problemtica macro-estrutural como tambm

    aponta para uma outra realidade que extrapola a questo da formao

    especializada em Arte, demonstrando que ter um professor especialista na sala de

    aula no significa, necessariamente, garantir uma aula de qualidade para os

    alunos. Ela relata a situao do ensino de artes em Uberlndia e regio:

    Em Uberlndia temos uma situao privilegiada, por conta de existir cursos

    de licenciatura em Artes Cnicas, Artes Visuais e Msica na Universidade Federal

    de Uberlndia, sendo que o curso de Artes Visuais j funciona h 33 anos. Por isso,

    nas escolas pblicas temos 100% de professores formados ou em formao nas

    reas de Artes, da Educao Infantil ao Ensino Mdio. (...) No entanto, este dado

    no condio de um ensino de qualidade em todas as escolas. Infelizmente ainda

    temos profissionais que teimam em no participar dos cursos de formao

    continuada e continuam trabalhando com desenhos mimeografados em sala de

    aula, contrariando a tudo e a todos. (...) A justificativa sempre a questo salarial.

    (...) J nas cidades vizinhas Uberlndia, temos uma situao complicada. As

    Superintendncias Regionais de Ensino entendem que o professor formado em

    Artes tm prioridade para os cargos mas, qualquer outro profissional que tenha

    habilidade e para o qual estejam faltando aulas para completar a carga horria,

    pode ministrar as aulas. Assim, temos uma grande salada de professores de todas

    as reas trabalhando com Artes.

    nesse contexto da Educao e do ensino da Arte no Brasil que est

    inserida a instituio objeto de estudo escolhido para este trabalho: contexto que

    ora caracteriza Arte como atividade, ora como disciplina, tendo em vista as

    polticas educacionais implantadas durante a curta histria do ensino de Arte no

    Brasil; que contempla modelos curriculares imprecisos sobre o que o aluno deve

    aprender numa aula de artes; que apresenta um quadro precrio de professores de

    Arte, em que muitos no tm habilitao para atuar na disciplina, marcado pela

    polivalncia, por uma fase de licenciaturas curtas e, sobretudo, pela falta de oferta

    de cursos de formao nas quadro linguagens da Arte e de educao continuada.

  • 33

    Todos esses aspectos reforam o estigma da Arte como disciplina secundria,

    desvalorizada, sem importncia e sem contedo no mbito do currculo escolar;

    portanto, desnecessria.

    Alm das aes de educao continuada associada aos materiais

    educativos de apoio ao professor, desenvolvidas juntos aos Plos da Rede Arte na

    Escola, o Instituto Arte na Escola apia-se tambm em diversos recursos de

    comunicao, para atuar junto aos professores de arte e assim fazer valer sua

    misso, como no j citado Boletim Arte na Escola e no site do Arte na Escola -

    www.artenaescola.org.br -, para o qual se volta este trabalho.

    http://www.artenaescola.org.br/

  • 34

    CAPTULO 2

    ARTE NA ESCOLA ON LINE

    Uma simples linha pintada com o pincel

    pode levar liberdade e felicidade

    Mir

  • 35

    2. O site Arte na Escola

    Hoje o Instituto Arte na Escola abarca uma gama de professores muito alm

    daquela atendida pela Rede Arte na Escola que, de forma presencial, atinge cerca

    de 25 mil professores: os usurios do site www.artenaescola.org.br.

    Figura 18 Home site Arte na Escola

    Desde o lanamento de sua segunda verso, no dia 01 de setembro de

    2004, at hoje, a pgina j atendeu mais de 13 mil23 professores cadastrados, um

    nmero que no pra de crescer.

    0

    2.000

    4.000

    6.000

    8.000

    10.000

    12.000

    14.000

    jan/05 mar/05 mai/05 jul/05 set/05 nov/05 jan/06 mar/06 mai/06 jul/06 set/06

    Grfico 1: Professores cadastrados

    23 Dado obtido por meio da pgina administrativa do site Arte na Escola, www.artenaescola.org.br/adm/cadastros, no dia em 03 de novembro de 2006, que mostra o total de 13.380 professores cadastrados.

    http://www.artenaescola.org.br/

  • 36

    Alm disso, seu pblico usurio vem se constituindo e crescendo de forma

    vertiginosa.

    0

    10.000

    20.000

    30.000

    40.000

    50.000

    60.000

    jan/05 mar/05 mai/05 jul/05 set/05 nov/05 jan/06 mar/06 mai/06 jul/06 set/06

    Grfico 2: Visitantes nicos

    Uma pequena parcela dos professores cadastrados tem acesso s

    oportunidades de formao continuada oferecidas pela Rede - Grupos de Estudo,

    seminrios, encontros, oficinas etc. - e aos materiais educativos distribudos por

    ela, pilares fundamentais para a concretizao da misso de Arte na Escola desde seus primrdios. Os resultados da pesquisa do anexo 02 demonstram isso: do

    total, responderam 990 professores; destes, 71,7% no freqentam os Plos da

    Rede.

    Isso significa que, se por um lado o site sinaliza um novo pblico emergente

    que transcende a Rede, ampliando as possibilidades e o alcance das aes de

    Arte na Escola, por outro, induz a pensar que o Instituto no estaria cumprindo sua misso junto aos professores cadastrados, j que a maior parte do esforo de

    trabalho empreendida por ele est voltada Rede ou desenvolvida por meio

    dela. Ou seja, de forma presencial, sem um paralelo no ambiente virtual, como

    veremos adiante.

    Aps um ano de atividade, o pblico on line chegou a atingir, em nmero,

    metade daquele atendido presencialmente pela Rede, em 16 anos de atuao.

  • 37

    Desde 2005, o nmero de professores impactados eletronicamente passou

    tambm a ser apresentado nas reunies de Conselho do Instituto ao lado do

    nmero de professores beneficiados pela Rede. Esse fato legitima a incorporao

    desse pblico no sentido do cumprimento da misso do Instituto e, portanto,

    configura-se como o problema comunicacional deste trabalho, j que o Arte na

    Escola apia-se tambm nesse recurso de comunicao para atuar junto aos

    professores de arte e fazer valer os seus propsitos institucionais: incentivar e

    qualificar o ensino da arte por meio de educao continuada e do acesso a

    materiais educativos.

    Entender o fenmeno comunicacional que multiplica, a cada ms, o nmero

    do pblico interessado no site Arte na Escola, implica investigar o incio de sua

    trajetria on line e, sobretudo, conhecendo a histria da construo da verso atual

    de sua pgina.

    2.1 A primeira pgina

    O ingresso do Arte na Escola na web teve incio em 2001, quando o Instituto

    elegeu a internet como mdia para ampliar o atendimento aos professores de arte,

    para alm dos Plos da Rede, disponibilizando - atravs da primeira verso de seu

    site - alguns clipes dos vdeos da Videoteca Arte na Escola e seus respectivos

    materiais de apoio, entre outras informaes e servios24. O Instituto havia tomado

    essa deciso estimulado pela procura dos professores por esse recurso didtico

    nos Plos, bem como pelos resultados obtidos junto a eles nas aes de educao

    continuada, com uso da Videoteca, empreendidas pela Rede, que tanto o Boletim

    divulgou durante a primeira dcada de atividade de Arte na Escola. O objetivo principal da pgina era ampliar o acesso a esse material j

    existente, e sobretudo propiciar a troca de experincia entre professores, por meio

    da rea Relatos de Experincia, numa seo interativa a partir da qual os

    24 Esta primeira verso eletrnica tambm oferecia artigos, entrevistas e relatos de experincia publicados anteriormente no Boletim Arte na Escola; sugestes de livros; resenhas de monografias acadmicas; noticias sobre arte-educao e aes do Arte na Escola; uma seo de links afins; um roteiro cultural, com dicas sobre exposies, alm do tradicional Fale Conosco e um ambiente para interao, o Frum.

  • 38

    professores podiam enviar seus relatos de prtica em sala de aula com o uso dos

    materiais oferecidos por Arte na Escola, compartilhando suas experincias com outros professores, uma vez que publicados no site.

    Era evidente para o Instituto o potencial da internet para ampliar o acesso e

    conectar pessoas. Entretanto, com o site h trs anos no ar, os usurios da web

    pouco acessavam as pginas em que figuravam os materiais de apoio da

    Videoteca e nenhum professor havia enviado seus relatos de prtica, conforme o

    esperado.

    Essa primeira verso eletrnica caracterizava-se por oferecer informaes

    centradas nas atividades e aes de Arte na Escola acerca do que acontecia nos Plos da Rede e tambm por transpor contedos do meio impresso para o

    eletrnico. Ou seja, a forma adotada para a troca de informaes e construo de

    conhecimentos via internet estava pautada no modelo de comunicao

    interpessoal, face a face, tal como ocorre na Rede, entre os professores e os

    gestores que os atendem nos Plos.

    Aps o advento da rede mundial de computadores, o conceito de

    presencialidade mudou e se instaurou uma modalidade de comunicao miditica

    de natureza totalmente inusitada. inegvel que tal fato vem promovendo

    mudanas significativas nos processos institucionalizados e normatizados, em que

    o lugar do emissor e do receptor est definido e garantido, normalmente, de forma

    hierrquica. Isso porque a interface eletrnica tornou a comunicao entre as

    pessoas mltipla, fluda, descentralizada, multidirecional e participativa -

    transpondo barreiras de tempo e espao - na mesma proporo em que se revelou

    hbrida. A interatividade promovida pela internet exige agora novas formas de

    expresso e comunicao, j que articula uma constante e mutante negociao de

    significados entre as pessoas, sejam elas fsicas ou jurdicas.

    Como aproximar professores de arte daquilo que de melhor Arte na Escola pode oferecer utilizando o ambiente virtual, de forma a fazer sentido, estimulando a

    participao e, com isso, possibilitando que a misso do Instituto encontre nesse

    meio um outro espao para se concretizar? Meu encontro com Arte na Escola deu-se justamente no momento em que o Instituto buscava respostas para essa

  • 39

    questo complexa, visando a construo de um novo site para Arte na Escola, o qual tive o privilgio e a oportunidade de empreender.

    2.2 Antes e depois...

    Acesso e interao foram duas palavras-chave que nortearam meu

    imaginrio durante a concepo da nova pgina. Ao us-las como palavras

    mgicas, meu objetivo era de que abrissem as portas de uma nova home page

    para professores de todo o Brasil, desse modo criando um espao com o qual

    estes se identificassem; no qual se sentissem em casa e que os estimulasse a

    convidar os amigos a participar; que oferecesse o que eles mais buscavam; que os

    acolhesse de forma encantadora, significativa e produtiva; que, sobretudo, os

    colocasse em contato. Entre os professores e o que Arte na Escola tinha a lhes oferecer - um site idealizado - e o rico universo de possibilidades propiciado pela

    internet: uma nova forma de expresso, aberta a experimentaes de linguagem;

    velocidade; interao; conexo e uma promessa de relacionamento, mediado por

    distncias espaciais encurtadas por um clique e por um tempo, digamos, flexvel. A

    segunda verso eletrnica de Arte na Escola surge com base no contexto complexo que a web a oportuniz-la.

    O primeiro trabalho na construo da nova pgina foi realizar uma anlise

    crtica do site existente, a partir de seus pontos fracos, bem como de consultas a

    pginas afins.

    A seguir, elaboro um breve relato acerca dos aspectos desenvolvidos na

    verso atual e de seus precedentes no modelo antigo.

    2.2.1 Identidade visual A nova verso buscou fortalecer a identidade visual de Arte na Escola, pois

    a antiga desnorteava o usurio e gerava incmodo. Seu leiaute era dissonante da

    comunicao visual que circulava nos materiais impressos e que j utilizava a

    logomarca atual, mesclando visualmente as caractersticas desta com aquela que

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    passou a identificar a Rede Arte na Escola a partir de 2.000, em que a cor verde

    predominava. Essa mistura criava certa confuso de cores e formas que, em ltima

    instncia, polua a pgina, tornando-a um ambiente esteticamente mal resolvido, o

    que no condizente com um site sobre arte e seu ensino.

    Figura 19 Antes Figura 20 Depois

    2.2.2 Atualizao e apresentao de contedos no espao-informao

    O site antigo apresentava pouca e lenta atualizao de contedos, que era

    mensal e feita por uma empresa terceirizada, cujo processo compreendia vrias

    etapas que terminavam por retard-lo, o que no favorece em nada uma mdia

    digital, a qual pressupe agilidade, dinamismo e velocidade.

    O internauta tem acesso gratuito a um volume de informaes que excede,

    em muito, a sua capacidade de process-lo, cabendo a ele filtrar contedos, prtica

    que requer dele concentrao e esforo e o torna cada vez mais exigente e

    impaciente. Se tudo pode chegar num piscar de olhos ao clique do mouse, o

    internauta no ir insistir em pginas desatualizadas e nem estar disposto a clicar

    mais de trs vezes para obter o que busca.

    Hoje a atualizao do site diria. Sempre h algo novo para ver e

    consultar. A nova verso buscou autonomia e agilidade no processo de

    gerenciamento de contedos, por meio de um gil sistema interno de

    administrao, restrito aos gestores da pgina. Agora o Instituto no depende mais

    de empresas terceirizadas para estar em dia com o momento presente e oferecer

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    informaes atualizadas aos seus usurios. Assim que uma nova notcia chega, ela

    rapidamente inserida, o que trouxe velocidade e credibilidade ao Arte na Escola

    on line, estimulando a participao, tanto de quem o consulta, quanto daqueles que

    colaboram enviando novos contedos.

    Quem divulga informae