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O ARCO E A LIRA

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Silvia Sell Duarte Pillotto

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

O arco e a lira / Instituto Arte na Escola ; autoria de Silvia Sell Duarte Pillotto ;

coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo : Insti-

tuto Arte na Escola, 2006.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 129)

Foco: SE-A-3/2006 Saberes Estéticos e Culturais

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-7762-004-2

1. Artes - Estudo e ensino 2. Arte indígena 3. Curta-metragem 4. Tribo

Ikolen Gavião I. Pillotto, Silvia Sell Duarte II. Martins, Mirian Celeste III.

Picosque, Gisa IV. Título V. Série

CDD-700.7

DVDO ARCO E A LIRA

Ficha técnica

Gênero: Curta-metragem no qual imagem, música e palavrasindígenas cercam a fabricação de um instrumento musical.

Palavras-chave: Arte indígena; linguagem; códigos; música indí-gena; curta-metragem; heranças culturais; educação patrimonial.

Foco: Saberes Estéticos e Culturais.

Tema: O povo Ikolen Gavião de Rondônia com sua linguagem,usos e costumes, sua cestaria, sua música.

Artistas abordados: Povo Ikolen Gavião.

Indicação: A partir da 1ª série do Ensino Fundamental.

Direção: Priscilla Barrak Ermel.

Realização/Produção: Laboratório de Imagem e Som em An-tropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Huma-nas da Universidade de São Paulo.

Ano de produção: 2001.

Duração: 16’.

SinopseO olhar do leitor é conduzido pelos cantos, murmúrios, sons danatureza, pela fala indígena e pela música neste curta-metragem, que revela, de modo não linear, a vida, os costumes,as tradições e a cultura do povo Ikolen Gavião de Rondônia. Éfoco, a construção do instrumento musical iridinam – “arquinhode namoro”, tocado exclusivamente pelas mulheres dessa co-munidade indígena. O curta-metragem recebeu uma mençãohonrosa no II Ecocine - Festival Nacional de Cinema e VídeoAmbiental, em 2002.

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Trama inventivaHá saberes em arte que são como estrelas para aclarar o cami-nho de um território que se quer conhecer. Na cartografia, parapensar-sentir sobre uma obra ou artista, as ferramentas sãocomo lentes: lente microscópica, para chegar pertinho davisualidade, dos signos e códigos da linguagem da arte, ou len-te telescópica para o olhar ampliado sobre a experiência esté-tica e estésica das práticas culturais, ou, ainda, lente com zoomque vai se abrindo na história da arte, passando pela estéticae filosofia em associações com outros campos de saberes. Porassim dizer, neste curta-metragem, tudo parece se deixar verpela luz intermitente de um vaga-lume a brilhar no território dosSaberes Estéticos e Culturais.

O passeio da câmera

Paisagens sonoras, imagens enigmáticas, um linguajar desco-nhecido para nós, a vida na aldeia indígena convocam um outrotempo de nosso olhar. A linguagem poética deste curta-metragem apresenta: “os sentimentos de uma índia por seuamor, retratado de forma poética através da música e do arco”1 .

Alocado em Saberes Estéticos e Culturais, o curta-metragempossibilita a conexão com outros territórios, como pode servisualizado no mapa potencial.

Sobre povos indígenasSão 206 os povos indígenas no Brasil de hoje. Na maioria, socie-

dades diminutas, remanescentes de populações que já foram con-

sideráveis, destruídas por doenças, escravização, massacres, in-

vasão de seus territórios, deportação, programas de assimilação:

mais de dois terços desses grupos não chegam, hoje, a mil pesso-

as. No total, são uns 280 mil índios, contando-se apenas os que

moram em áreas indígenas.

Manuela Carneiro da Cunha2

São muitos os povos indígenas que habitaram e ainda habitamo Brasil. Pesquisadores como Niéde Guidon, estudiosa de

material educativo para o professor-propositor

O ARCO E A LIRA

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resquícios arqueológicos (restos de fogueiras) encontrados emSão Raimundo Nonato/Piauí3 , que datam de 48000 anos atrás,ou como Walter Neves, que encontrou uma ossada humana de12000 anos em Lagoa Santa/MG (nomeada de Luisa), eviden-ciam que a presença indígena é muito antiga. Estudos estimamque, antes da chegada dos europeus, cerca de 3,5 a 5 milhõesde pessoas habitavam o Brasil. Hoje, apenas 280 mil índios moramnas áreas indígenas. O que terá acontecido?

“Nos cem primeiros anos de colonização, o genocídio foi intensi-vo. Estima-se que, neste período, aproximadamente 70% dapopulação indígena brasileira tenha sido eliminada”4 . Esse nú-mero desvela os violentos massacres, as doenças, imposição deum sistema sócio-cultural externo à sua cultura, políticas gover-namentais pouco eficazes e disseminação de bebidas alcoólicas.

Os 206 povos indígenas são muito diversos entre si, falando 163línguas indígenas diferentes, ou 195, se forem incluídos os diale-tos. Elas são classificadas em dois troncos lingüísticos: tupi (comcerca de 10 famílias lingüísticas) e o macro-jê (com aproximada-mente 12 famílias)5 . O povo indígena Ikolen Gavião, de Rondônia,fala uma língua própria – gavião, que vem do tronco lingüísticotupi. Ouvimos a sonoridade de sua língua, que não tinha umaescrita própria, no curta-metragem. Logo no início, podemos lere ouvir: ambon ikorô akaragá - meu caçador gavião.

A grande oca, a cestaria, a criança que brinca com um pequenoanimal, a utilização das penas, a fabricação do instrumento –iridinam, nos aproximam da cultura indígena de um modo muitoparticular, pelas imagens do curta-metragem.

Sobre Priscilla Barrak Ermel[há] diferentes formas de utilização do som articulado na produ-

ção de vídeos direcionados ao estudo de sociedades da oralidade.

Normalmente, quando realizamos produções fílmicas, colocamos

o som como um elemento complementar à imagem; raramente

ouvimos a voz das palavras.

Priscilla Barrak Ermel6

Cantora, arranjadora, compositora, Priscilla Barrak Ermel é uma

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pesquisadora da música e dos mitos dos povos tupi-mondé –Cinta-Larga e Ikolen Gavião. Como multiinstrumentista, tocaflauta transversal, berimba-de-boca, kalimba africana,cavaquinho, violão, viola caipira, ocarina, gu-zen (harpa chine-sa), esraj (cítara indígena), chirimia (instrumento guatemalteco),flautas indígenas e charango. Nos créditos do curta-metragem,vemos o nome do Cacique Sebirop Catarino Gavião como res-ponsável pela “produção indígena”, nos indicando a busca porum contato muito próximo nas escolhas das cenas.

Professora da Universidade de São Paulo, atuando no Labora-tório de Imagem e Som em Antropologia, Ermel também traba-lha como produtora musical de programas musicais (Som Bra-

sil, em 1989) e trilhas sonoras de novelas. A música é parteintegrante de sua vida pessoal e profissional. Em 1995, sob aregência do maestro Nelson Ayres, a Orquestra Jazz Sinfônicade São Paulo, um grupo de índios da tribo Gavião/RO e o Gru-po Cupuaçu/MA interpretaram a peça de sua autoria Sinfônia

multi-étnica Imã-etê.

Os olhos da arte... estive garimpando um diamante raro, precioso: a música. Um dia-

mante ancestral que vive às claras, aconchegado nas areias finas, à

beira dos rios e igarapés. Tão pouco escondido que os garimpeiros

que por lá passaram nas últimas décadas, levando doenças e confli-

tos, não conseguiram enxergá-lo. Sem saber do futuro que nos espe-

rava, de 1981 a 1984, estive garimpando a compreensão e a beleza

de uma música que canta e conta, através dos clarinetes de bambu

tuku tuku áp, a história mítica da origem deste povo que, como os

Ikolen Gavião, nasceram de uma pedra ancestral.

Priscilla Barrak Ermel7

No texto apresentado em um seminário internacional, PriscillaBarrak Ermel conta os cuidados necessários para descobrirbelezas e jóias da natureza humana. Estudiosa da música e dosmitos dos povos tupi-mondé – Cinta-Larga e Ikolen Gavião, elanos aproxima de uma performance musical singular. Para ela8 :

a expressão sonora vocal e instrumental dos tupi-mondé é um canto

da memória que refaz, a cada momento em que soa, tanto as estórias

material educativo para o professor-propositor

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pessoais dos seus compositores-intérpretes, quanto as tramas da vida

nas aldeias Cinta-Larga e Ikolen Gavião. Mas, acima de tudo, as

músicas articuladas pelas vozes dos clarinetes totoráp tocam e can-

tam inúmeros mitos, conhecimento ancestral precioso a esses povos.

Assim, estes frágeis instrumentos, construídos com bambus nativos

destas terras que por milênios recobriram diamantes submersos, são

responsáveis pela sobrevivência dos conhecimentos que dá, ao tupi-

mondé, sua referência de origem histórica e mítica e, a nós, o alimen-

to simbólico para repensarmos os rumos da vida neste também frágil

e sonoro planeta.

São vários os estudiosos da música indígena, mas seus traba-lhos ainda não são tão divulgados. Talvez não saibamos que amúsica para os índios “é também a voz dos espíritos, das avesmíticas e dos seres sobrenaturais que, nos tempos primeiros,de acordo com a filosofia indígena, eram ‘gente’ como nós”,como nos diz Lux Vidal9 . Ela conta que os Palikur, em guerracom os Galibi, povo Carib, dos quais desconheciam a língua,conseguiram a comunicação por meio de uma flauta de osso deveado, cujos sons eram inteligíveis entre eles, possíveis deserem compartilhados.

Mas, o som da música, os passos da dança ritmada, a so-

noridade das várias línguas indígenas exigem de nós uma

outra experiência que ultrapasse o exotismo inicial de um

povo que poderia se julgar superior. Como compreender a

arte indígena como um saber estético e cultural, como sis-

temas simbólicos que criam linguagens diversas?

A arte está presente em cada momento de vida dos povos in-dígenas. Em cada objeto, em cada ritual, em cada gesto, a artesurge como expressão de força e conexão com o mundo míticoe espiritual.

A arte plumária talvez seja a mais conhecida e admirada porsua exuberância, colorido e riqueza. Quase todos os gruposindígenas utilizam plumas em combinações variadas para cons-truir peças rituais, de significados e usos diversos. Muitas sãoas informações contidas no arranjo das plumas: o clã a quepertence o dono do adorno, sua ligação familiar, sua posiçãodentro da cerimônia etc. Muitos conceitos e mensagens podemser decodificados por quem está dentro da tradição.

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A cerâmica, a cestaria, os pequenos adornos, a arquitetura dasocas e aldeias, os bancos zoomorfos, esculpidos em madeira,toda a cultura material dos povos nativos está carregada deprincípios e objetivos, de valores estéticos e sociais. O talentodos artistas está a serviço da manutenção da tradição do povo,da continuidade de sua identidade.

Uma questão que se coloca em relação à arte indígena é o modocomo defini-la ou caracterizá-la entre as muitas atividades re-alizadas pelos índios. Quando dizemos que um objeto indígenatem qualidades artísticas, podemos estar lidando com concei-tos que são próprios da nossa civilização, mas estranhos a eles.O objeto, para eles, precisa ser mais perfeito na sua execuçãodo que sua utilidade exigiria. Nessa perfeição, a noção indíge-na de beleza se encontra para além da finalidade.

Desse modo, um arco cerimonial emplumado, dos Bororo, ou umescudo cerimonial, dos Desana, podem ser considerados cria-ções artísticas porque são objetos cuja beleza resulta de suaperfeita realização. Outro aspecto importante a ressaltar: a arteindígena é mais representativa das tradições da comunidade emque está inserida do que da personalidade do indivíduo que a faz.É por isso que os estilos da pintura corporal, do trançado e dacerâmica variam significativamente de um povo para outro.

O passeio dos olhos do professorSugerimos que você registre suas impressões sobre o curta-metragem, com palavras, desenhos ou mapas em um diário debordo. Se quiser, tome como base uma pauta para o seu olhar:

Como o curta-metragem o toca? Ele solicita uma atitudediversa da que você teria frente a um documentário?

Como você percebe o movimento da câmera? E o ritmo? Érápido? Lento?

O fato de não ter narrador, predominando a imagem e o som,oferece uma experiência perceptiva diferente?

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É possível estabelecer conexões com a região em que vocêmora? Existe alguma reserva indígena ou locais comosambaquis, museus, artesanato indígena?

O que é possível perceber sobre os usos e costumes do povoindígena Gavião?

Quais aspectos seriam mais significativos para as criançascom relação à arte indígena? Por quê?

Essas reflexões podem sinalizar significativas proposições pe-dagógicas. Quais caminhos poderiam ser interessantes parapercorrer com seus alunos?

Percursos com desafios estéticos

As idéias colocadas aqui, sem uma seqüência pré-determina-da, são para você utilizar, recriar, transformar ou inventar pro-jetos de acordo com o seu contexto, a realidade da comunida-de com a qual trabalha e seu planejamento.

O passeio dos olhos dos alunos

Algumas possibilidades:

Antes de apreciar com os alunos o curta-metragem, vocêpode levantar com eles tudo o que já estudaram sobre ospovos indígenas, seus usos, costumes e arte. Algum de seusalunos tem descendência indígena? Quantos povos elesacham que existem no Brasil? Ou tem o conceito de queexiste “o índio”, como um ser genérico que, em qualquerlugar do Brasil, tem a mesma cultura? Essas questões po-dem prepará-los para assistir ao curta-metragem.

O que é um curta-metragem? Esta pode ser a questão inicial,dependendo da faixa etária de seus alunos. É provável queos alunos estejam habituados a assistir a filmes que possu-am outro movimento, tempo, ritmo e narrativa linear. Talvezeles tenham dificuldade na apreciação, e colocá-los em posi-

qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

Zarpando

SaberesEstéticos eCulturais

história da arte arte indígena, arte plumária

questões de gênero

linguagem, códigos, signos da cultura indígena

sistema simbólico

multiculturalidade,regionalismo,estética do cotidiano

práticas culturais

criadores e produtores de arte e cultura

Linguagens Artísticas

meios tradicionais

pintura, cestaria

artesvisuais

música indígena, música étnica

cinema

música

curta-metragem

preservação e memória

bens simbólicos

heranças culturais, conservação, documentação,tombamento, catalogação, acervo de memória

exercício de cidadania eresponsabilidade social

bens patrimoniais materiais eimateriais, cultura brasileira

PatrimônioCultural

educaçãopatrimonial

ConexõesTransdisciplinares

arte e ciênciashumanas

arte e ciênciasda natureza

filosofia, história do Brasil, antropologia,questões étnicas, arqueologia

meio ambiente, geografia

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ção de pesquisadores, tanto em relação à linguagem cine-matográfica, quanto ao povo indígena Gavião, pode ser ummodo de sensibilizá-los para a exibição do curta-metragem.Uma boa conversa pode refletir o que perceberam eproblematizar novas questões para prosseguir o projeto.

Uma idéia para iniciar é colocar o curta-metragem no mo-mento em que está escrito ambon ikorô akarangá e uma vozfala a frase (meu caçador gavião). De onde eles acham queé esta língua? O que percebem da sonoridade das palavras?Seria do Brasil? Depois da problematização e do levanta-mento de hipóteses, exiba o curta-metragem, que certamen-te abrirá novas questões.

Todas as sugestões apresentadas podem gerar outras com a in-tenção de convocar os alunos para assistirem ao curta-metragem,despertando novos fatos, idéias e sentidos. Tudo isso faz sentidosempre que, após a exibição, uma conversa leve à socialização dasua apreciação e encaminhe produções e pesquisas.

Ampliando o olharImagens sobre arte, usos e costumes dos povos indígenaspodem ser trazidas para a classe pelos alunos e por vocêtambém. As ilustrações dos livros sobre história do Brasiltambém podem ser lidas pelos alunos, revelando o que co-nhecem e o que gostariam de saber mais sobre esses po-vos, tanto no passado como no presente.

São 206 povos indígenas que falam 163 línguas indígenas dife-rentes, ou 195, se forem incluídos os dialetos. Sabemosidentificá-los? Ou apenas classificamos como “os índios”? Quaisos povos indígenas que podem ser elencados a partir das ima-gens trazidas para a classe na sugestão anterior? Se for possí-vel, marque um encontro na sala de informática para uma boapesquisa em sites da internet. O que os alunos descobriram?

Quais os instrumentos musicais os alunos conhecem? Osinstrumentos da “bandinha”, tão comuns na escola? Qual adiferença entre eles e o arco e a lira apresentados no curta-metragem? E com quais outros instrumentos eles se asse-

material educativo para o professor-propositor

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melham? Há outro instrumento composto por um arco quefaz ressoar o som?

É possível organizar uma visita de estudos a um local da ci-dade e/ou região que tenha objetos indígenas, arte plumária,cerâmica, cestaria, e outras informações sobre a arte dessespovos? Como planejar essa visita para que ela vá além daidéia de excursão e se torne uma expedição artística e cien-tífica? Professores de outras áreas poderiam compor seuprojeto interdisciplinar, juntamente com os alunos.

As cestas são comuns em nosso artesanato, não só indíge-na. O que os alunos conhecem sobre a arte de tecer? Expe-riências podem ser feitas com rolinhos fininhos de jornal tran-çados, formando potes e cestas. Depois, será precisoenvernizá-las, mas a pintura é opcional, pois é interessan-te, também, revelar a materialidade contemporânea junto aum procedimento tão ancestral.

O curta-metragem pode ser exibido de vários modos paraque os alunos possam perceber as escolhas poéticas da di-retora na filmagem. Por exemplo, você pode iniciar a exibi-ção com o pedido de que fechem os olhos e só prestematenção às sonoridades. Depois, peça para que eles ape-nas observem as cenas, sem som. O que podem perceberda linguagem sonora no curta-metragem? E do trabalho dacâmera na escolha de ângulos? O que gostariam depesquisar sobre cinema e sua linguagem?

Conhecendo pela pesquisaA música do arquinho iridinam, tocada exclusivamente pelasmulheres da aldeia dos índios Ikolen Gavião para expressar sen-timentos amorosos, transcende no ar e nos sentidos, buscando aharmonia entre o som cultural e o som da natureza. É criada uma“paisagem sonora” que exige ouvidos atentos. O que faz parteda paisagem sonora de nossos alunos? Eles podem gravar sono-ridades em suas casas, nas ruas, dentro dos ônibus, na escola emontar um jogo de descobertas destas colagens sonoras. O quepodem descobrir das culturas brasileiras, tão diversas?

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Desde os mais remotos tempos, transitavam e viviam na natu-reza milhões de nativos que foram chamados de índios pelos“descobridores”. As aves eram abundantes e suas penas ador-navam os céus e os corpos indígenas, assim como as árvores esuas variadas sementes: as contas de mil formas e cores colo-cadas em colares e enfeites, além dos pigmentos avermelhados,negros e marrons utilizados também na pintura corporal. O queos alunos gostariam de pesquisar sobre a materialidade na arteindígena? Que saberes podem desenvolver?

A riqueza de nossa cultura indígena nem sempre é valoriza-da. A mandioca, o milho, o amendoim foram por eles utiliza-dos e por nós incorporados. A cerâmica, a cestaria, a pintu-ra corporal, a arte plumária são algumas das linguagensartísticas que revelam sua sensibilidade e inteligência.Marcas dessa cultura subsistem em sua comunidade ouregião? Mário de Andrade afirma que ainda “se pode reco-nhecer a proveniência indígena em certos processos decantar que são comuns a todo país; especialmente o timbrenasal, muito usado pelas diversas raças indígenas aqui exis-tentes, e permanecido na voz brasileira”10 .

É possível identificar ainda hoje duas modalidades gerais deculturas indígenas: a dos silvícolas, que vivem nas áreas flo-restais, e a dos campineiros, que vivem nos cerrados e nassavanas. As atividades dos primeiros são mais diversificadasque as do segundo grupo, mas todos utilizam uma ampla va-riedade de elementos naturais para realizar seus objetos: ma-deiras, caroços, fibras, palmas, palhas, cipós, sementes, co-cos, resinas, couros, ossos, dentes, conchas, garras ebelíssimas plumas das mais diversas aves. Identificar os di-versos povos, percebendo suas diferenças, pode trazer sub-sídios para compreender a multiculturalidade contemporânea.

Há diferença entre nomear nossos índios como tribos oupovos? Qual a diferença entre esses dois termos? O queimplicam? Para alunos maiores, esta pode ser uma boapesquisa, assim como a investigação sobre a diferença en-tre língua e linguagem.

material educativo para o professor-propositor

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O livro Lendas de amor dos índios brasileiros, da professora e críticade arte Katia Canton, com ilustrações em aquarela da artista plás-tica Lina Kim, pode se tornar uma leitura provocadora de outrasquestões sobre a cultura indígena. Seria enriquecedor se outrashistórias fossem inventadas pelos alunos, abrindo espaço para acriação de desenhos, pinturas, colagens, ou mesmo pequenasesculturas. Essas produções podem se transformar em um gran-de painel informativo e artístico.

Como os indígenas foram e são representados nas obrasde arte? É interessante comparar, por exemplo, o famosoquadro A primeira missa no Brasil de Victor Meirelles, pin-tado em 1860, e a obra de Glauco Rodrigues - Segunda

missa no Brasil - dita da posse (D’après Victor Meirelles),pintada em 1996.

Um seminário e uma exposição no contexto da escola, a partir dapesquisa e das produções realizadas, podem ser planejados comtarefas específicas, como selecionar espaços, catalogar, desen-volver curadoria, criar convite, etiquetar e preparar monitoria. Essatambém é uma forma de interação entre a escola e a comunida-de, bem como um processo de construção cultural.

Com seus parceiros professores, é possível conhecer osParâmetros Nacionais para a comunidade indígena, cujoprincípio envolve a noção de que aprender português, paraos índios, é como aprender uma língua estrangeira, propon-do, assim, que as escolas sejam bilíngües. Essa pode seruma boa oportunidade de descobrir mais sobre nosso país.

Desvelando a poética pessoalA construção de uma série de trabalhos por cada criança, ex-plorando idéias provocadas pela arte indígena, pelos instrumen-tos musicais ou paisagens sonoras, pode oferecer oportunida-des para o desenvolvimento de poéticas pessoais.

Amarrações de sentidos: portfólio

Desde o início do projeto, os alunos podem iniciar seus portfólios,

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nos quais irão registrar e guardar as suas investigações artísti-cas, históricas, entrevistas, textos escritos, fotografias... Enfim,tudo o que realizaram durante o processo de aprendizagem.

Além das pesquisas e atividades em sala de aula, é importanteque as crianças escrevam o que foi mais significativo de toda aexperiência vivida, assim como as dificuldades e as perguntasque ainda não foram respondidas. Uma idéia bem interessanteé, ao final da proposição pedagógica, a organização de um se-minário para que os alunos (individualmente ou em grupos)apresentem seus portfólios e possam refletir coletivamentesobre seus processos de aprendizagem.

Valorizando a processualidade

Frente às ações, aos portfólios dos alunos e o seu próprio, épossível perceber se os alunos compreenderam os processosde construção cultural, o valor dos povos indígenas e a neces-sidade de pesquisas e estudos? Eles perceberam a diferençaentre um documentário e a linguagem do curta-metragem uti-lizada pela diretora e pesquisadora?

Ao avaliar a processualidade vivida, o que foi mais importantepara você? A ludicidade fez parte de suas ações pedagógicas?O que você gostaria de repetir? O que precisa ser revisto? E osseus conceitos sobre as questões abordadas, mudaram? Am-pliaram? Em que sentido?

GlossárioCultura – Edgar Morin define três sentidos principais para a palavra cultu-ra. O primeiro é antropológico: a cultura acumula em si aquilo que é trans-mitido e aprendido através dos princípios, da aquisição e da ação. O segun-do é social e histórico: as culturas são constituídas pelo conjunto de hábitos,costumes, saberes, regras, normas, proibições, idéias, crenças, mitos evalores eternizados entre gerações, mantendo a complexidade social. Oterceiro sentido relaciona-se à cultura das “humanidades”, como uma dis-cussão fundamentada nos problemas globais, éticos e existenciais aliadosà cultura científica, transformadora do saber em disciplinas desvinculadas efragmentadas. Fonte: MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à edu-

cação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2002.

material educativo para o professor-propositor

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Curta-metragem – formato de cinema em que a duração de projeção é inferiora uma hora. Fonte: <www.casacinepoa.com.br/port/conexoes/porquecm.htm>.

Etnomúsica – o termo se refere à expressão surgida do encontro da cul-tura afro-indígena sob influência dos colonizadores portugueses. Fonte:<www.pa.gov.br/portal/iap/noticias2004/julho/01_02.htm>.

Paisagem sonora – refere-se ao ambiente sônico que nos envolve comofenômeno musical, composto por sonoridades que vão do ruído estridentedas metrópoles aos sons dos elementos primordiais – terra, fogo, água ear. Fonte: SCHAFER, R. Murray. O ouvido pensante. 2.ed. São Paulo: Ed.da Unesp, 2003.

Pintura corporal indígena – embora muito divulgada, o significado profun-do dessa ornamentação do corpo, “um idioma-código” expresso graficamen-te, ainda precisa ser desvendado. Para Lévi-Strauss, “em vez de tratar apintura corporal como um traço cultural abstraído do contexto, examina-acomo um símbolo, com uma variedade de referenciais, ou seja, como umsistema”. Fonte: VIDAL, Lux B. (org.). Grafismo indígena: estudos de an-tropologia estética. São Paulo: Studio Nobel: Edusp: Fapesp, 1992, p. 143.

Símbolo/sistema simbólico – é portador de significação e se caracteri-za pela versatilidade e não pela uniformidade. A linguagem verbal, a arte,o mito e a religião, para o filósofo Cassirer (1874-1945), são parte do uni-verso simbólico construído pelo ser humano. Fonte: CASSIRER, Ernest.Ensaio sobre o homem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

BibliografiaALMEIDA, Maria Berenice de; PUCCI, Magda Dourado. Outras terras,

outros sons. São Paulo: Callis, 2003.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 1989.

MIRANDA, Marlui (org.). Ponte entre povos. São Paulo: Sesc, 2005.

RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do cotidiano no

ensino das artes visuais. Campinas: Mercado das Letras, 2003.

THOMAS, Omar R. A antropologia e o mundo contemporâneo: cultura ediversidade. In: SILVA, Aracy Lopes da; GRUPIONI, Luís Donisete Benzi(org.). A temática indígena na escola: novos subsídios para professo-res de 1º e 2º graus. Brasília: MEC: Mari: Unesco, 1995.

Bibliografia de arte para crianças

CANTON, Katia. Lendas de amor dos índios brasileiros. Il. Lina Kim. SãoPaulo: DCL, 1999.

MATUCK, Rubens. Cadernos de viagem. São Paulo: Terceiro Nome, 2003.

___ . Plantando uma amizade. São Paulo: Studio Nobel, 1996.

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MUNDURUKU, Daniel. Kaba Darebu. São Paulo: Brinque-Book, 2002.

Seleção de endereços sobre arte na rede internet

Os sites abaixo foram acessados em 21 set. 2005.

CURTA-METRAGEM. Disponível em: <www.curtaagora.com>.

ERMEL, Priscilla Barrak. A experiência com os Cinta-Larga e os mitos deorigem dos Ikolen Gavião. Disponível em: <www.sescsp.org.br/sesc/conferencias/subindex.cfm?Referencia=3503&ParamEnd=2#>.

HISTÓRIA DO CINEMA. Disponível em: <www.webcine.com.br/historia.htm >.

POVOS INDÍGENAS. Disponível em: <www.socioambiental.org/pib/portugues/org/quadroorg.shtm#t19>.

___. Disponível em: <www.indio.org.br>.

RODRIGUES, Glauco. Disponível em: <www.portalartes.com.br/portal/artigo_read.asp?id=581>.

SOM E MÚSICA EM ANTROPOLOGIA, Grupo de estudos. Disponível em:<www.fflch.usp.br/da/soma.html>.

Notas1 Fonte: <www.povosdomar.com.br/ecocine02.htm>. Acesso em 21 set. 2005.2 Fonte: <www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/polsoc/pindig/apresent/apresent.htm>. Acesso em 21 set. 2005.3 Na DVDteca Arte na Escola, você pode encontrar um documentário so-bre a pintura pré-histórica naquele local.4 Fonte: <www.sindadosba.org.br/diadoindio.html>. Acesso em 21 set. 2005.5 Classificação do professor Aryon Rodrigues, conforme informação dis-ponível em: <indio.org.br>. Acesso em 21 set. 2005.6 Fonte: <www.anpocs.org.br/encontro/2003/03gt01.htm>. Acesso em21 set. 2005.7 Fonte: <www.sescsp.org.br/sesc/conferencias>. Acesso em 21 set.2005. Procure o Seminário Internacional – Gemas da terra.8 Idem.9 VIDAL, Lux. A música dos índios e a música erudita no Amapá. In: MarluiMIRANDA (org.), Ponte entre povos, p. 23.10 Citado por Maria Berenice de ALMEIDA; Magda Dourado PUCCI, Ou-

tras terras, outros sons, p. 53.