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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS E COMPORTAMENTO WILLIAM EDUARDO PATARROYO SERNA ADMINISTRAÇÃO DE MORFINA E COCAÍNA EM CONTINGÊNCIAS OPERANTES E PAVLOVIANAS: DIFERENÇAS GÊNICAS E COMPORTAMENTAIS EM RATOS (Versão Corrigida) São Paulo 2019

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS E

COMPORTAMENTO

WILLIAM EDUARDO PATARROYO SERNA

ADMINISTRAÇÃO DE MORFINA E COCAÍNA EM CONTINGÊNCIAS

OPERANTES E PAVLOVIANAS: DIFERENÇAS GÊNICAS E

COMPORTAMENTAIS EM RATOS

(Versão Corrigida)

São Paulo

2019

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WILLIAM EDUARDO PATARROYO SERNA

ADMINISTRAÇÃO DE MORFINA E COCAÍNA EM CONTINGÊNCIAS

OPERANTES E PAVLOVIANAS: DIFERENÇAS GÊNICAS E

COMPORTAMENTAIS EM RATOS

Tese de doutorado apresentada ao

Departamento de Neurociências e

Comportamento (NEC) da Universidade de

São Paulo (USP) como requisito para a

obtenção do título de Doutor

Área de concentração: Neurociências e Comportamento

Orientadora: Profa. Dra. Miriam García Mijares

Coorientador: Prof. Dr. Luciano Freitas Felício

São Paulo

2019

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O presente trabalho foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior (CAPES), processo 1453426, e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado de São Paulo (FAPESP), processos 2014/25020-7 e 2016/222210-5.

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WILLIAM EDUARDO PATARROYO SERNA

Administração de Morfina e Cocaína em Contingências Operantes e Pavlovianas:

Diferenças Gênicas e Comportamentais em Ratos

Tese de doutorado apresentado apresentada ao Departamento de Psicologia

Experimental da Universidade de São Paulo como requisito para a obtenção do título de

Doutor.

Área de concentração: Psicologia Experimental.

Apresentado e aprovado em: _____ / _____ / _____

Presidente da Banca

Prof. Dr. __________________________________________________________

Instituição: ___________________________ Assinatura:____________________

Banca Examinadora

Prof. Dr. __________________________________________________________

Instituição: ___________________________Assinatura: ____________________

Prof. Dr. __________________________________________________________

Instituição: ___________________________ Assinatura: ___________________

Prof. Dr. __________________________________________________________

Instituição: ___________________________ Assinatura: ___________________

Prof. Dr. __________________________________________________________

Instituição: ___________________________ Assinatura: ___________________

Prof. Dr. __________________________________________________________

Instituição: ___________________________ Assinatura:____________________

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À minha mãe, pelo seu amor e apoio incondicionais.

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A good walker leaves no tracks.

A good speech has no flaws to censure.

A good reckoner uses no tallies.

A good door needs no lock, Yet no one can open it.

Good binding requires no knots, Yet no one can loosen it.

The Wise Man is always good at helping people, so that none are cast out; he is always good at saving

things, so that none are thrown away. This is called applied intelligence.

Surely the good man is the bad man's teacher; and the bad man is the good man's business. If the one

docs not respect his teacher, or the other doesn't love his business, his error is very great.

This is indeed an important secret.

(Lao Tzu: Tao Té Ching – Chapter 27)

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Agradecimentos

A mi familia, em especial a mi madre, por creer em mí y apoyar mis desiciones, por

educarme y nunca rendirse. Por estar siempre ahí a pesar de la distancia. Por la preocupación

y los Buenos deseos. A mis hermanos, por querer que sea una mejor persona y un mejor

ejemplo cada día. A mi papá Mário, por estar siempre pendiente de mí, de lo que necesito y

de cómo me siento. A Armando, por su especial cariño, por abrirme sus brazos y su corazón.

A todos los que me han brindado su amor y cariño durante mi vida, mostrando su verdadero

interés día tras día, creyendo en mi y apoyando mis sueños, ¡muchísimas gracias!

A minha orientadora, Dra. Miriam Miriam García-Mijares, pela sua guia e orientação

durante o doutorado. Pelas reuniões e discussões que ajudaram à realização desta

dissertação. Por me mostrar novos caminhos, e especialmente, pelo jeito carinhoso em que

me acolheu desde que cheguei ao Brasil.

A Luciano Freitas Felício, meu co-orientador pela sua colaboração na realização

deste estudo e pela confiança que teve comigo desde o começo. Pelas reuniões e pela atenção

sempre disponível.

A Newton Canteras, pela disposição e aconselhamento. Por apoiar e acreditar em

mim e neste estudo de pesquisa. Por permitir a realização de procedimentos experimentais

no seu laboratório no ICB-USP.

A Emilio Ambrósio, mi amigo y orientador en Madrid. Muchas gracias por la

confianza y el cariño, por el tiempo dedicado y en especial por todo lo que me enseñaste,

para la academia y para la vida.

A Marisol Lamprea, por su apoyo todos estos años, sus enseñanzas, sus consejos y

su amistad, que atesoro en lo más profundo de mi pecho

A meus amigos Andeson, Alceu e Rodrigo, pelas incontáveis discussões, pelo

interesse e disposição, pela ajuda constante ante qualquer adversidade, por ser um ombro

para me apoiar e um ouvido para me escutar.

A Raquel e às famílias Reis e Paiva, pelo apoio, carinho e amizade. Por terem sido

um pilar na minha vida.

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Aos meus colegas do Laboratório de Psicofarmacologia, em especial Aline (LU3K),

Yulla e Gabriela pela assistência durante os procedimentos cirúrgicos.

Aos meus colegas do Laboratório de Neuroanatomia Funcional, em especial a

Amanda pela ajuda e disposição com os procedimentos experimentais.

A mis colegas del Laboratorio de Psicobiología de las Adicciones, en Madrid, por

las reuniones y discusiones, por abrirme sus puertas y por su amistad. Alberto, Alejandro,

David, Roberto, Mónica y Javier, muchas gracias!

A Rafael, Nicolás y Federico, pela grande amizade e pelo apoio constante e

incondicional, per estar sempre aí para mim e tornar a minha vida mais leve e feliz.

Gracias a Sandrita, Lina y a Nacho, por animarme y ayudarme a levantar en

incontables caídas. Por ayudarme a encontrar mi norte cuando me sentí perdido, por su

amistad.

To Alexia, thank you for bringing light to my path and smiles to my face. Thank you

for your sweetness and understanding.

Aos seguranças, pessoal de manutenção e limpeza, bioteristas e todos aqueles que

com o seu trabalho diário contribuíram e ajudaram direta ou indiretamente à realização deste

trabalho.

Um agradecimento muito, muito especial aos “péssimos exemplos”, por me

mostrarem o que não devo fazer e em quem devo evitar me converter.

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SUMÁRIO

ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................................................... 13

Resumo .................................................................................................................................................. 15

Abstract ................................................................................................................................................. 16

Administração de Morfina e Cocaína em Contingências Operantes e Pavlovianas: Diferenças Gênicas

e Comportamentais em Ratos ............................................................................................................... 17

Modelos de Estudo de Administração de Drogas ................................................................................. 26

Controle de Estímulos da procura, consumo e recaída ........................................................................ 30

Pavlovian to Instrumental Transfer ....................................................................................................... 34

Morfina e Cocaína como Drogas de Abuso em Estudos de Dependência ............................................ 44

Objetivos ............................................................................................................................................... 47

Justificativa Geral .................................................................................................................................. 48

Métodos e Equipamentos ..................................................................................................................... 49

Compromisso Ético ................................................................................................................................ 49

Animais .................................................................................................................................................. 49

Alojamento ............................................................................................................................................ 50

Procedimento Cirúrgico......................................................................................................................... 50

Equipamento ......................................................................................................................................... 51

Drogas.................................................................................................................................................... 53

Protocolo Imuno-histoquímico para Fos ............................................................................................ 54

Experimento 1. Expressão do IEG FosB na Administração de Morfina em Contingências Operante e

Pavloviana ............................................................................................................................................. 56

Sujeitos .................................................................................................................................................. 56

Fases Experimentais .............................................................................................................................. 56

Fase 1. Administração de Morfina em Esquema Acoplado ................................................................... 56

Fase 2. Imunohistoquímica Fos ........................................................................................................... 57

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Análise de dados.................................................................................................................................... 58

Resultados ............................................................................................................................................. 58

Discussão ............................................................................................................................................... 65

Experimento 2. Procedimento de Respostas de Busca e Administração de Morfina nas Associações

por Contingências Pavloviana e Operante ............................................................................................ 76

Sujeitos .................................................................................................................................................. 77

Fases Experimentais .............................................................................................................................. 78

Fase 1. Treino Associativo de Morfina e S1 em Esquema Acoplado ..................................................... 78

Fase 2. Treino Discriminativo em Contingência Operante ou Pavloviana de Morfina ......................... 79

Fase 3. Treino de Encadeamento das Respostas de Busca e Autoadministração de Morfina. ............. 80

Fase 4. Teste de Transferência Sob o Controle de S1 nas Respostas de Busca e Autoadministração de

Morfina .................................................................................................................................................. 81

Análise de dados.................................................................................................................................... 81

Resultados ............................................................................................................................................. 81

Discussão ............................................................................................................................................... 92

Experimento 3. Associações por Contingências Pavloviana e Operante nas Respostas de Busca e

Administração de COC e a na Expressão de FosB ............................................................................. 100

Sujeitos ................................................................................................................................................ 101

Fases Experimentais ............................................................................................................................ 101

Fase 1. Treino Associativo de COC e S1 em Esquema Acoplado ......................................................... 101

Fase 2. Treino Discriminativo em contingência operante ou Pavloviana de COC ............................... 102

Fase 3. Treino de Encadeamento das Respostas de Busca e Autoadministração de COC .................. 103

Fase 4. Teste de Transferência Sob Controle de S1 nas Respostas de Busca e Autoadministração de

COC ...................................................................................................................................................... 104

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Fase 5. Imunohistoquímica Fos ......................................................................................................... 104

Análise de dados.................................................................................................................................. 105

Resultados ........................................................................................................................................... 106

Discussão ............................................................................................................................................. 126

Discussão Geral ................................................................................................................................... 142

Conclusões ........................................................................................................................................... 149

Referências .......................................................................................................................................... 152

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema da caixa operante ................................................................................. 52

Figura 2 - Esquema da disposição das luzes estímulo, buzzer e dos operandos nas caixas

operantes dos experimentos. ................................................................................................ 53

Figura 3 – Média de infusões durante a Fase 1 do Experimento 1.. ...................................... 59

Figura 4 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no mPFC. .................................... 60

Figura 5 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no NAc. ....................................... 61

Figura 6 – Imagem microscópica da marcação de células imunorreativas a ΔFosB no NAc. 61

Figura 7 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Caudado Putamen (CPu). ........ 62

Figura 8 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Hipocampo. ............................ 63

Figura 9 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB na Amígdala. ............................... 64

Figura 10 – Índice discriminativo durante a Fase 2 do Experimento 2. ................................ 82

Figura 11 – Média de infusões durante a Fase 3 do Experimento 2. ..................................... 83

Figura 12 – Frequência de respostas de busca e autoadministração na presença de S1. ........ 84

Figura 13 – Frequência total de respostas de busca e autoadministração. ............................. 85

Figura 14 – Discriminação de S1 na Fase 4.. ....................................................................... 86

Figura 15 – Índice discriminativo por sujeito nas barras de busca e administração. .............. 87

Figura 16 – Preferência por B na presença dos estímulos discriminativos. ........................... 88

Figura 17 – Porcentagem de respostas de busca e administração em S1 e S2.. ..................... 89

Figura 18 – Latência da primeira resposta na Fase 4. ........................................................... 90

Figura 19 – Índice discriminativo durante a Fase 2 do Experimento 3. .............................. 108

Figura 20 – Média de infusões durante a Fase 3 do Experimento 3. ................................... 109

Figura 21 – Frequência de respostas de busca e autoadministração na presença de S1. ...... 110

Figura 22 – Frequência total de respostas de busca e autoadministração. ........................... 111

Figura 23 – Discriminação de S1 na Fase 4. ...................................................................... 112

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Figura 24 – Índice discriminativo por sujeito nas barras de busca e administração. ............ 113

Figura 25 – Preferência por B na presença dos estímulos discriminativos.. ........................ 114

Figura 26 – Porcentagem de respostas de busca e administração em S1 e S2. .................... 115

Figura 27 – Latência da primeira resposta na Fase 4. ......................................................... 116

Figura 28 – Células imunorreativas a ΔFosB No Córtex Pré-frontal Nas fases 2 e 4 do

Experimento 3. .................................................................................................................. 117

Figura 29 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Córtex Pre-Frontal Medial

(mPFC) no Experimento 3. ................................................................................................ 119

Figura 30 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Núcleo Acumbente (NAc) no

Experimento 3. .................................................................................................................. 120

Figura 31 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Caudado Putamen (CPu) no

Experimento 3. .................................................................................................................. 122

Figura 32 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Hipocampo no Experimento 3.

......................................................................................................................................... 123

Figura 33 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB na Amígdala no Experimento 3. 125

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PATARROYO SERNA, William Eduardo. Administração de Morfina e Cocaína em

Contingências Operantes e Pavlovianas: Diferenças Gênicas e Comportamentais em

Ratos. Tese de Doutorado. São Paulo, 2019. Universidade de São Paulo, Instituto de

Psicologia.

Resumo

Estudos reportando que a autoadministração repetida de drogas de abuso causa mudanças

comportamentais, e na expressão de ΔFosB, diferentes às causadas pela administração passiva

repetida da mesma droga, em conjunto com estudos de discriminação de estímulos, têm sido

chaves para compreender a dependência às drogas. Neste estudo se apresentam resultados de

3 experimentos que avaliaram diferenças gênicas e comportamentais entre a autoadministração

de morfina e cocaína sob uma contingência operante, e a administração passiva destas drogas

sob uma contingência Pavloviana, usando um modelo de administração de drogas acoplado e

um protocolo de transferência operante-Pavloviana (PIT) seletiva em ratos. Os sujeitos foram

distribuídos em três grupos: Administração por Contingência Operante (CO), Administração

por Contingência Pavloviana (CP) e Controle (Ctr). No Experimento 1, cada sujeito do grupo

CO foi exposto a sessões de autoadministração endovenosa de morfina. Depois, a expressão

do gene FosB foi medida utilizando uma técnica imuno-histoquímicas em diferentes áreas do

cérebro. No Experimento 2 os ratos foram expostos a um protocolo de PIT, treinando de forma

inicial as contingências operante e Pavloviana separadamente, em associação a S1, utilizando

infusões de morfina como reforçador. Em seguida foi treinado um encadeado de respostas

(busca e administração) e finalmente, os sujeitos foram testados para avaliar o controle de

estímulos que S1 adquiriu sobre as respostas de busca e administração. O Experimento 3 foi

realizado utilizando os métodos dos primeiros dois experimentos, utilizando cocaína como

reforçador. Em conjunto, os dados imunohistoquímicos e comportamentais sugerem que a

maior expressão de FosB em subáreas envolvidas na dependência às drogas, em comparação

entre os grupos CO e CP, está relacionada ao controle de estímulos estabelecido por S1 pelas

diferentes contingências de aprendizagem. Ainda, os resultados apontam que estas áreas em

que se encontrou uma expressão de FosB diferencial por diferentes contingências de

administração de drogas coincidem com algumas das reportadas como envolvidas na PIT. Os

resultados estão em concordância com estudos que reportam que a administração repetida de

uma droga em contingências operantes ou pavlovianas alteram diferencialmente estruturas

cerebrais envolvidas nos processos da dependência às drogas e apoiam a literatura que reporta

que o estabelecimento de controle de estímulos que caracteriza a dependência se pode

estabelecer por processos de aprendizagem na contingência operante e Pavloviana.

Palavras chave: ΔFosB, autoadministração de drogas, cocaína, dependência, morfina, ratos,

transferência operante-Pavloviana.

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PATARROYO SERNA, William Eduardo. Morphine and Cocaine Administration Under

Operant and Pavlovian Trainings: Genetic and Behavioral Differences in Rats. Doctoral

Thesis. Sao Paulo, 2019. University of Sao Paulo, Psychology Institute.

Abstract

Studies reporting that repeated drug self-administration produces behavioral changes, and in

ΔFosB expression, different from those produced by repeated passive administration of the

same drug have been very important, together with stimulus control studies, have been the key

to understand mechanisms underlying drug abuse. This study presents results from 3

experiments evaluating gene and behavioral differences between self-administration of

morphine and cocaine under an operant contingency, and passive administration of these drugs

under a Pavlovian contingency, using a yoked drug administration model and a selective

Pavlovian to instrumental transfer (PIT) protocol in rats. Subjects were divided into three

groups: Operant Contingency Administration (CO), Pavlovian Contingency Administration

(CP) and Control (Ctr). In Experiment 1, each subject in the CO group was exposed to

intravenous morphine self-administration sessions. Then, expression of ΔFosB gene was

measured using an immunohistochemical technique in different areas of the brain. In

Experiment 2 rats were exposed to a PIT protocol, initially training the operant and Pavlovian

contingencies separately in association with S1, using morphine infusions as a reinforcer. Then

a chain of responses (seeking and taking) was trained and finally, subjects were tested to

evaluate S1 stimulus control over search and administration responses. Experiment 3 was

performed using the methods from the first two experiments, using cocaine as a reinforcer.

Together, immunohistochemical and behavioral data interact and suggest that a higher

expression on ΔFosB expression in subareas involved in drug dependence, in comparison

between CO and CP groups, is related to stimuli control established by S1 through the different

learning contingencies. Moreover, results point out these same areas in which different ΔFosB

expression was found by different drug administration contingencies match some of those

reported as being involved in PIT. Results are in agreement with studies reporting that repeated

administration of a drug in operant or pavlovian contingencies differentially alter brain

structures involved in drug dependence processes and support literature reporting the

establishment of stimulus control characterizing addiction can be establish by learning

processes in the operant and Pavlovian contingencies.

Keywords: ΔFosB, drug self-administration, cocaine, dependence, morphine, Pavlovian to

instrumental transfer, rats.

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17

Administração de Morfina e Cocaína em Contingências Operantes e Pavlovianas:

Diferenças Gênicas e Comportamentais em Ratos

Quando uma droga, como cocaína (COC), morfina, anfetaminas (ANF), ou álcool,

ingressa repetidamente em um organismo, pode causar mudanças relativamente permanentes

no Sistema Nervoso Central (SNC) e no comportamento, que podem variar de acordo com as

contingências envolvidas na sua administração (Choi et al., 2011; Jacobs, Smit, de Vries, &

Schoffelmeer, 2003, 2005; Lüscher & Malenka, 2011). Por exemplo, a administração de uma

droga pode ser consequência de um comportamento emitido pelo próprio organismo, ou pode

ser produto de ação de agentes externos sobre o organismo (e.g., uma injeção administrada

por outra pessoa ou uma máquina). O primeiro caso, é comumente chamado de

“autoadministração” ou “administração ativa” e é considerado uma instância de

comportamento operante. O segundo caso, é denominado de “heteroadministração” ou

“administração passiva”.

A administração passiva envolve geralmente o Condicionamento Pavloviano de

respostas aos estímulos ambientais que precedem e acompanham o efeito da droga. Dado que

a relação entres esses estímulos e o efeito da droga é independente das respostas do

organismo, a administração passiva, na sua forma mais básica, pode ser considerada como

um exemplo de Contingência Pavloviana (CP).

Em termos gerais, a contingência Pavloviana consiste em uma relação de contingência

estímulo-estímulo (S-S). Um estímulo incondicional (US) pode evocar uma resposta

incondicional, como no exemplo clássico da salivação de um cão na presença de comida

(Pavlov, 1927). Quando se desenvolve uma relação CS-US entre um estímulo condicional

(CS) e um US, se observa uma resposta condicional (CR), se entende que uma contingência

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Pavloviana foi estabelecida (Skinner 1937), por exemplo, a salivação do cão na presença do

experimentador encarregado de disponibilizar a comida.

Por outro lado, a autoadministração envolve o condicionamento de respostas do

organismo aos efeitos da droga. Por exemplo, é verificado que o organismo se injeta morfina

quando sua consequência é a diminuição de dor. Dado que o efeito da droga depende da

resposta do organismo, a autoadministração é considerada uma instancia de Contingência

Operante1 (CO).

Na sua forma mais básica, a contingência operante é denotada como RSR (Skinner

1937), que indica a relação de dependência entre o estímulo reforçador (SR), por exemplo,

diminuição da dor, e a classe de respostas (R) que o produz, por exemplo, se injetar morfina

(Siegel, 1976). Porém é amplamente reconhecido que as relações entre respostas e suas

consequências dependem do ambiente em que acontecem, isto é, estímulos do ambiente

estabelecem as condições em que uma classe de respostas determinada terá determinada

consequência. Por exemplo, injetar-se diminuirá a dor apenas se o líquido da seringa for

morfina, mas não se for alguma substância inócua, como salina; portanto, estímulos que

sinalizem que o líquido da seringa é morfina, mas não os que sinalizem que é salina,

controlarão a resposta de se injetar. Essa relação de dependência a estímulos que antecedem a

relação reposta-consequência é denotada como Sd - R SR (Skinner, 1937; 1938). Assim, na

relação de CO, o SR mantém relações condicionais tanto com a R, quanto com o Sd (SR

apenas acontece se R é produzido na presença de Sd).

1 Os termos mais frequentemente achados na literatura em inglês são self-administration (autoadministração) para a contingência operante e passive administration (administração passiva) para a contingência Pavloviana.

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Em resumo, na contingência operante existe uma relação de dependência entre o

ambiente, o comportamento do sujeito e o efeito da droga, enquanto na contingência

Pavloviana existe relação de dependência entre o ambiente e o efeito da droga. Em qualquer

dos casos, a relação dos eventos antecedentes (CS ou Sd) com as respostas produzidas na sua

presença é denominada de controle de estímulos.

Existe um longo debate nas Ciências do Comportamento sobre os processos

comportamentais que envolvem cada tipo de contingência. Alguns autores argumentam que a

contingência operante e contingência Pavloviana são estratégias de treino diferente que

produzem controle de estímulo por processos comportamentais semelhantes (Bindra, 1972;

Delgado & Hayes, 2014; Donahoe, Burgos, & Palmer, 1993; Rehfeldt & Hayes, 1998).

Outros, no entanto, defendem que tanto o procedimento de treino, quanto os comportamentos

por eles estabelecidos são diferentes (Miller & Konorski, 1928; Pear & Eldridge, 1984;

Rescorla & Solomon, 1967; Skinner 1937). Essa discussão foge do escopo do presente

trabalho, mas trabalhos como os de Burgos (2018), Domjam (2016) e Troisi II e Mauro

(2017) evidenciam que essa questão continua ainda em debate.

Nas neurociências, a diferenciação entre administração passiva e autoadministração de

drogas é abordada pelo estudo dos mecanismos neurais que participam ou são alterados por

cada uma. A literatura a respeito sugere que as mudanças de longo prazo no SNC ocasionadas

pela administração passiva repetida de drogas (não contingente à emissão de uma resposta) é

diferente da autoadministração, (contingente à emissão de uma resposta), e que as mudanças

produzidas pela segunda estão relacionadas a padrões compulsivos de uso de drogas.

Sabe-se que a administração repetida de drogas de abuso como morfina, COC, ANF, e

álcool, entre outras, causam mudanças relativamente permanentes no Sistema Nervoso

Central (SNC), e que parte dessa neuroplasticidade está diretamente associada ao

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desenvolvimento de dependência (Jacobs et al, 2003). Estudos experimentais na área de

dependência às drogas têm demonstrado que administração repetida de uma droga sob

contingência operante produz mudanças gênicas (no SNC) diferentes às causadas pela

administração repetida sob contingência Pavloviana da mesma droga (Choi et al., 2011;

Jacobs et al., 2003, Lüscher et al, 2011, Miguéns et al.,2008).

Os fatores de transcrição mais estudados pela literatura da área são os genes de

resposta imediata ou IEGs (pela sua sigla em inglês, immediate-early genes). Quando estes

genes são transcritos, ativam proteínas quinases que produzem a fosforilação de várias

proteínas celulares (Nestler, 2014). Famílias de IEGs como Jun e Fos são rapidamente

ativadas pela ação de fármacos como COC, ANF, opióides, nicotina, entre outros; motivo

pelo qual se acredita que a expressão desses genes possa estar implicada direta ou

indiretamente na aquisição, manutenção e recaída da autoadministração e da dependência às

drogas (Nestler, 2012, 2014; Perrotti et al., 2008; Winstanley et al., 2007).

Um membro da família Fos, o FosB, tem sido diretamente ligado a estes

comportamentos relacionados às drogas de abuso, pois com administrações repetidas de

droga, os níveis de FosB acumulam-se gradualmente, sugerindo que tem funções de longo

prazo na regulação da expressão gênica da célula (Nestler, 2012, 2014). Devido a estas

características várias pesquisas têm procurado desvendar o papel do FosB no

comportamento de autoadministração de drogas. Por exemplo, aumentos significativos na

expressão de FosB no núcleo accumbens (NAc) (e outras partes do estriado), e outras áreas

do SNC (associadas ao consumo e dependência de drogas) são causados pela

autoadministração aguda de drogas de abuso como COC, morfina, anfetamina e álcool,

persistindo semanas após a administração da droga ter sido suspensa (Perrotti et al., 2008).

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Para comparar as mudanças produzidas pelos dois tipos de administração (CO e CP) é

frequentemente utilizado o procedimento de administração acoplada ou operante acoplado.

Esse procedimento permite o estudo simultâneo da administração de uma mesma droga sob

contingência operante (autoadministração) e sob contingência Pavloviana (administração

passiva), separando as histórias de administração sem alterar a dosagem de droga

administrada. O procedimento consiste em conectar ambientes experimentais de treino, de

forma que o desempenho de um sujeito determina a apresentação de estímulos e/ou esquemas

para si mesmo e outro(s) sujeito(s) acoplado(s) a este (Catania, 1999). No caso específico da

administração de drogas, o procedimento padrão com animais se caracteriza pelo

acoplamento de pelos menos três ambientes: contingente, acoplado e controle (ou veículo).

Em cada ambiente é alocado um animal. No ambiente contingente, a emissão de uma resposta

operante (como pressão à barra ou focinhar) tem como consequência a infusão da droga, ou

seja, existe uma relação de contingência entre a resposta e o efeito da droga (i.e., condição

CO). No ambiente acoplado, a administração da droga é independente da resposta do sujeito

alocado nele, mas contingente à resposta do animal alocado no ambiente contingente,

portanto, o animal acoplado recebe a mesma dose de droga simultaneamente ao sujeito no

ambiente contingente; note-se que no ambiente acoplado não é manipulada a relação de

contingência entre a resposta do animal e o efeito da droga e apenas o contexto pode ser

relacionado ao efeito da droga (i.e., condição CP). No ambiente controle, o animal é

submetido a um procedimento similar ao do ambiente acoplado, mas no lugar de uma droga,

uma infusão de veículo é administrada.

Usando um procedimento de administração acoplada como o descrito acima,

diferentes estudos têm reportado diferenças de expressão gênica em áreas cerebrais de

sujeitos que receberam uma droga sob contingência operante ou Pavloviana. Por exemplo,

Kuzmin e Johanson (1999) observaram que em animais que receberam COC sob

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contingência operante houve aumento do mRNA do c-Fos na amígdala lateral (LA) e

basolateral (BLA), enquanto os animais que receberam COC sob contingência Pavloviana

mostraram uma diminuição no mRNA de c-Fos nas mesmas áreas. Tendo em conta que a

BLA possui conexões eferentes dirigidas ao NAc Core e Shell que ajudam a mediar a

motivação e se acredita esteja implicada na aprendizagem relacionada a estímulos

ambientais/contextuais (Martinez, Carvalho-Netto, Ribeiro-Barbosa, Baldo, & Canteras,

2011; Setlow, Holland & Gallagher, 2002), é uma subárea de grande interesse para o presente

estudo.

Winstanley et al. (2007) reportam a expressão de ΔFosB unicamente em animais que

receberam COC sob CO, mas não sob CP, no Córtex Orbito-frontal (OFC), o qual está

relacionado a comportamentos de meta dirigida (goal-directed, em inglês) e também de

impulsividade, características da procura por drogas na dependência (Barbey, Krueger &

Grafman, 2009). Outro exemplo é reportado por Choi et al. (2011), em um estudo que mostra

que mudanças neurais como a hiper-regulação da expressão de receptores AMPA na Área

Tegmental Ventral (VTA), a qual está implicada na “motivação” da administração de COC,

após administração da droga sob CO, mas não sob CP.

Dois estudos de especial interesse para este trabalho, Perrotti et al. (2008) e

Winstanley et al. (2007), observaram a expressão do fator de transcrição de ΔFosB no NAc

(core e shell) e no Córtex Orbitofrontal (OFC), após a administração de COC sob

contingência operante e Pavloviana em ratos. No estudo de Winstanley et al. (2007), ratos

foram expostos durante três semanas em administração crônica de COC (0,5 mg/kg por

infusão) sob o procedimento de administração acoplada. A expressão de ΔFosB no OFC de

todos os animais foi medida por imunohistoquímica, sendo que este IEG foi expresso apenas

pelos sujeitos sob a contingência operante e não sob a Pavloviana. Segundo os autores, esta é

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uma região-chave não só regulação de comportamentos de meta dirigida, mas também de

impulsividade, características da procura por drogas na dependência.

No estudo de Perrotti et al. (2008) foram realizados dois experimentos. No primeiro,

ratos foram expostos durante duas semanas em administração crônica de COC (0,5 mg/kg por

infusão) sob o procedimento de administração acoplada. A expressão de ΔFosB foi medida

no NAc Core e Shell, e Caudado-Putamen (CPu) por imunohistoquímica. Não foram

encontradas diferenças significativas na expressão de ΔFosB entre os grupos sob a

contingência operante e sob a Pavloviana, sendo que ambos expressaram amplamente este

IEG. No segundo experimento, ratos receberam por duas semanas injeções intraperitoneais

diárias de uma de quatro substâncias, COC, morfina, etanol e tetraidrocanabinol, isto é, as

drogas foram administradas sob CP. Posteriormente, foram realizadas medidas de ΔFosB por

técnica imunohistoquímica em diferentes áreas do SNC (PFC, estriado dorsal, NAc, septum

lateral e medial, hipocampo, amígdala, substância cinzenta, área tegmental ventral e

substância nigra, entre outros), encontrando que as quatro drogas induziram a expressão deste

IEG em quantidades que variaram em relação à droga e a região, mas tendo todas as quatro

drogas em comum uma forte expressão de ΔFosB no NAc.

Juntos, os resultados dos estudos de Perrotti et al. (2008) e Winstanley et al. (2007),

indicam que: a) a indução por COC de ΔFosB em regiões estriatais (NAc e CPu) se pode dar

emCO ou CP; b) a indução por COC da expressão de ΔFosB no OFC depende do tipo de

contingência de administração, sendo apenas expresso após a autoadministração da droga

(CO). Portanto, os dados sugerem que ainda que ambas as formas de interação do organismo

com a COC produzam alterações em regiões chave na dependência às drogas, associadas com

a integração de informação emocional e cortical (Goto & Grace, 2008), implicação em

atribuir significado motivacional a estímulos pavlovianos (Ambroggi, Ghazizadeh, Nicola, &

Fields, 2011; Everitt, 2001), aquisição de informação de estímulos ambientais que podem

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modular o comportamento (Saddoris, Stamatakis, & Carelli, 2011), motivação e centro do

prazer responsável pelo processamento da sensação de gosto no reforço positivo (West &

Carelli, 2016), e mediação de funções como aprendizagem de sequências e seleção de

estratégias (Devan, McDonald, & White, 1999); apenas a administração da droga sob

contingência operante causou algumas das mudanças neurais necessárias para desenvolver

dependência.

Ainda que os estudos de Perrotti et al. (2008) e Winstanley et al. (2007) pareçam

direcionar a questão sobre a relação entre autoadministração e administração passiva de

drogas, os procedimentos comportamentais utilizados e os resultados derivados deles podem

não ser úteis para entender as diferencias produzidas na expressão de IEGs pela

administração de droga sob contingências operantes e pavlovianas. Isso porque em nenhum

desses experimentos são manipulados os estímulos que antecedem a emissão da resposta

operante (grupo contingente) ou que apenas antecedem a infusão da droga (grupo acoplado).

Ao não manipular essa variável, a infusão que recebe o grupo acoplado pode não estar

acontecendo sob um CP, pois os efeitos da droga não são contingentes aos estímulos

presentes na câmara experimental desse grupo (i.e. na sua presença e na sua ausência a droga

é infundida). Ainda que pode ser argumentado que, em teoria, alguns estímulos que aparecem

apenas no momento da infusão (e.g. som da bomba de infusão) devem adquirir função de CS

do efeito da droga.

O controle dos estímulos associados aos efeitos da droga é atualmente considerado

chave para se entender a passagem do uso recreativo de drogas ao seu abuso. Entretanto, não

existe consenso entre os processos de controle de estímulos que seriam críticos. Parte dos

estudos da área de dependência propõe que os comportamentos de busca e autoadministração

de drogas de sujeitos dependentes de drogas, são controladas por CSs estabelecidos durante a

administração das drogas (Bachteler, Economidou, Danysz, Ciccocioppo, & Spanagel, 2005;

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Robinson & Berridge, 1993, 2003, 2008). Em contrapartida, outros autores alegam que os

comportamentos de busca e autoadministração de drogas observados na dependência de

drogas são produto de relações operantes (Chen et al., 2008; Melzack, 1990; Stefanski,

Ladenheim, Lee, Cadet, & Goldberg, 1999), sendo a contingência operante considerada um

processo chave para compreender o comportamento de consumo abusivo e a busca por

drogas (Chen et al., 2008; Heyman, 2010; Herrnstein & Prelec, 1992; Jacobs et al., 2003;

Kuzmin & Johansson, 1999; Melzack, 1990; Stefanski et al., 1999).

Como será evidente posteriormente, a controvérsia entre as propostas acima

mencionadas parece estar associada a alguns equívocos conceituais, como por exemplo, a

distinção entre controle de estímulos operante ou pavloviano estar fundamentada na

controlabilidade ou não que o sujeito tem sobre o próprio comportamento: respostas operantes

seriam controladas pelo próprio sujeito e CRs seriam incontroláveis e involuntárias.

Adicionalmente, será explicado em uma seção posterior como seria possível que um CS tivesse

controle sobre respostas de busca e autoadministração de uma droga, por um processo

comportamental chamado Transferência Pavloviana-operante (PIT). Porém antes de entrarmos

nessa questão, primeiro definiremos os comportamentos alvo do estudo da área de Dependência

de Drogas: procura, consumo e recaída.

No estudo experimental sobre o controle de estímulos de respostas mantidas por drogas,

são frequentemente usados modelos animais que pretendem simular respostas de procura e

autoadministração por drogas, e também recaída a estas. A procura por drogas é definida pelos

comportamentos de busca, aquisição e forrageio da droga (Sanchis-Segura & Spanagel, 2006);,

conseguir o dinheiro para comprar a droga, comprar esta e frequentar os locais onde a droga

está disponível são exemplos destes comportamentos. A autoadministração de drogas pode ser

definida como o comportamento que imediatamente precede a ingestão da droga (por exemplo,

se injetar, cheirar, ingerir ou fumar uma droga são considerados comportamentos de

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autoadministração). Por último, a recaída é um termo usado para descrever a retomada da

autoadministração de drogas, após algum período de abstinência (Epstein, Preston, Stewart, &

Shaham, 2006). O controle de estímulos da procura, consumo e recaída às drogas são de

particular interesse para este trabalho, pois os dois primeiros os comportamentos que

caracterizam a dependência, e a recaída seria o processo de restabelecimento destes

comportamentos posteriormente à sua extinção. Por esse motivo serão melhor detalhados a

seguir.

Modelos de Estudo de Administração de Drogas

Para o estudo experimental do controle de estímulos da resposta mantida por drogas,

são frequentemente usados modelos animais que pretendem simular os comportamentos de

autoadministração, procura por drogas e recaída. Para este estudo são de particular interesse os

modelos denominados por Sanchis-Segura & Spanagel (2006), de procura e autoadministração

de drogas. No modelo de autoadministração operante (i.e., CO) é comumente utilizada uma

caixa operante (ou caixa de Skinner) a qual está equipada com operandi ou manipulandi que

transmitem uma resposta operante a um (ou mais) dispositivo que se encarrega de entregar um

reforçador. Estas caixas são geralmente adaptadas a depender das necessidades experimentais:

para transmitir a(s) resposta(s) operante(s), com alavancas, rodas, receptores infravermelhos,

entre outros; para entregar um reforçador, como sistema de entrega de comida ou soluções

líquidas, dispositivos de injeção para diferentes rotas (e.g. endovenosa, intragástrica, oral,

intracraniana), e adicionalmente, estas caixas podem ser adaptadas com módulos de luzes, tons,

e outros para seres utilizados como estímulos discriminativos ou reforçadores condicionados.

O procedimento básico de autoadministração consiste em equipar a caixa com um primer

operandum ligado a entrega de um reforçador e um segundo ligado a entrega de um veículo ou

sem consequências programadas. Infinidade de variações podem existir nos procedimentos de

autoadministração, dependendo do operandi, dispositivos de entrega e estímulos

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discriminativos que possa ter uma pesquisa particular, mas para ser considerado um

procedimento de autoadministração, deve existir minimamente a possibilidade de uma resposta

operante ter como consequência a administração de uma substância. Este modelo oferece maior

flexibilidade de delineamento experimental comparado com modelos não operantes. Enquanto

aos procedimentos de autoadministração de drogas, este tem se mostrado confiável e válido

como modelo de consumo de drogas em humanos (Sanchis-Segura et al., 2006).

No modelo de procura por drogas e recaída, comumente é realizado um treino como o

descrito anteriormente em primeira instância, e posterior ao de autoadministração operante,

os sujeitos são expostos a uma fase de extinção, na qual as suas respostas no operandi não

têm consequências programadas. Finalmente é realizada a fase de teste, em que as respostas

operantes produzem a mesma consequência que no treino inicial (i.e., administração da

mesma dose da substância). Segundo Sanchis-Segura et al. (2006), existe um erro de

definição neste modelo de recaída, pois estritamente falando, prévia à recaída, a

autoadministração de drogas não se passa por uma etapa de extinção, mas sim de privação.

Por este motivo, principalmente, talvez seja adequado definir este como um modelo de

recaída, porém continua sendo um valioso modelo de procura por drogas. O comportamento

de procura por drogas se interpreta como a busca, forrageio e aquisição de uma droga quando

esta não está disponível, fenômeno comumente referido por alguns autores como craving

(Sanchis-Segura et al., 2006). Dado isto, existem algumas opções procedimentais a depender

do estudo para a fase final (teste), comumente chamada de reinstalação. Uma destas é o

priming2, o qual consiste em administrar uma dose não operante nos sujeitos antes do teste,

2 O principal inconveniente metodológico com o priming como estímulo para desencadear (trigger)

comportamentos de busca e de autoadministração é a possível interferência produzida pelos efeitos psicoativos

da droga, a qual pode incrementar ou diminuir a locomoção, resultando em incrementos/decrementos espúrios.

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interpretando a reinstalação do responder previamente extinto como busca por drogas e

recaída desencadeada por ação farmacológica. Outro possível procedimento no teste é a

apresentação de estímulos previamente condicionados à administração da droga (ou em

alguns casos, condicionados a estímulos estressantes), interpretando a reinstalação do

responder previamente extinto na presença destes estímulos, e não de outros não

relacionados, como busca por drogas e recaída desencadeada por estímulos ambientais

(externas). Uma terceira opção procedimental é expor os sujeitos a algum protocolo de

estresse antes da fase de teste, interpretando a reinstalação do responder previamente extinto

como busca por drogas e recaída desencadeada por estresse.

Comumente, os modelos utilizados para estudar a procura por drogas incluem o treino

prévio da resposta de autoadministração de uma droga na presença de estímulos ambientais,

isto acontece tanto no modelo de autoadministração quanto no modelo de procura e

autoadministração. Em outras palavras, todos os sujeitos aprendem uma associação estímulo-

resposta-consequência. Isto representa um inconveniente procedimental para um estudo que

pretenda interpretar as respostas separadamente, dado que dificulta/impossibilita a

interpretação da CP e da CO por separado (Sanchis-Segura et al., 2006).

No modelo de autoadministração de drogas é geralmente assumido que a contingência

em vigor é de caráter exclusivamente operante, dada a relação resposta-consequência

implícita. Mesmo assim, não se pode descartar que o mesmo ambiente onde é realizado o

ambiente possui (e é em si mesmo) estímulos condicionados à droga, o que implica uma

relações S-S. Em outras palavras, também existe um condicionamento Pavloviano no

condicionamento operante (Donahoe et al., 1994, Colwill & Rescorla, 1988; Rescorla, 1991,

1994). Da mesma forma, no modelo de procura por drogas, no qual a contingência treinada é

operante discriminativa, criam-se relações S-S. A despeito de ambos modelos manipularem

contingências operantes, é assumido por boa parte da literatura que os modelos de procura

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por droga medem comportamentos condicionados por contingências Pavloviana e que os

modelos de autoadministração informam sobre comportamentos condicionados por

contingências operantes (e.g., Berridge, Robinson & Aldridge; 2009; Robinson & Berridge,

2008; Colwill & Rescorla, 1985). Assim, frequentemente os modelos de procura são

utilizados para pesquisar mudanças neurais relativas a processos em CP e os modelos de

autoadministração são utilizados para pesquisar mudanças neurais relativas a processos em

ACO. Entretanto, por ambos procedimentos envolverem contingências operantes e

possivelmente Pavlovianas, não são os mais adequados para se pesquisar mudanças neurais e

comportamentais produzidas pela CP ou pela CO.

Um modelo pouco usado pela área de dependência às drogas, mas que permite

observar a comparação direta entre CP e ACO, é o modelo de autoadministração acoplada

ou operante acoplado. Este permite o estudo simultâneo da administração de uma droga sob

contingências operantes (autoadministração) e administração da mesma droga sob

contingências Pavlovianas (administração passiva), separando as histórias de administração

sem alterar a dosagem de droga administrada. O modelo operante acoplado consiste na

conexão de ambientes experimentais, de forma que o desempenho de um sujeito determina a

apresentação de estímulos e/ou esquemas para si mesmo e outro(s) sujeito(s) acoplado(s) a

este (Catania, 1999). No caso específico da administração de drogas, o procedimento padrão

com animais se caracteriza pelo acoplamento de pelos menos três ambientes: contingente,

acoplado e controle (ou veículo). Em cada ambiente é alocado um animal. No ambiente

contingente, a emissão de uma resposta operante tem como consequência a infusão da droga,

ou seja, existe uma relação de contingência entre a resposta e o efeito da droga (ACO). No

ambiente acoplado, a administração da droga é independente da resposta do sujeito alocado

nele, mas contingente à resposta do animal alocado no ambiente contingente, portanto, o

animal acoplado recebe a mesma dose de droga simultaneamente ao sujeito no ambiente

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contingente; note-se que no ambiente acoplado não é manipulada a relação de contingência

entre a resposta do animal e o efeito da droga e apenas o contexto pode ser relacionado ao

efeito da droga (ACP). No ambiente controle, o animal é submetido a um procedimento

similar ao do ambiente acoplado, mas no lugar de uma droga, uma infusão de veículo é

administrada.

O modelo operante acoplado é de grande relevância para o estudo da dependência às

drogas dado que permite distinguir entre os dois tipos de efeitos que causam

neuroplasticidade quando uma droga ingressa em um organismo, um resultante do efeito

farmacológico3 de uma substância de ação central no SNC, como na CP, e outro resultante

dos processos comportamentais associados à autoadministração da droga, como na CO

(Dacher & Nugent, 2011; Lüscher & Malenka, 2011). Por permitir diferenciar entre

mudanças comportamentais produzidas por processos operantes e Pavlovianos na

administração de drogas, além de permitir a análise independente dos dois tipos de mudanças

no SNC produzidas pela autoadministração e a administração passiva, este modelo é uma

valiosa ferramenta para o desenvolvimento deste estudo.

Controle de Estímulos da procura, consumo e recaída

Estímulos ambientais podem adquirir controle sobre comportamentos reforçados por

drogas se foram associados de forma prévia ao efeito da droga. Esse fenômeno é verificado em

animais humanos (e.g. Childress, McLellan, Ehrman, & O'Brien, 1988; O'Brien, Ehrman, &

Ternes, 1986) e em animais não humanos (e.g. Goldberg, Spealman, & Kelleher, 1979; Woods

& Schuster, 1968; Weiss, Kearns, Cohn, Schindler, & Panlilio, 2003). Desde os anos 60,

3 Tendo em conta que não existe um efeito puramente farmacológico em um organismo vivo consciente, pois este está sempre em contato com estímulos ambientais, portanto os efeitos da droga estão sujeitos aos estímulos ambientais presentes no momento da ação central, existindo a probabilidade de aprendizagem, mesmo que não associativa.

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autores como Thompson e Ostlund (1965) mostraram que é possível que estímulos ambientais

ocasionem que um sujeito retome padrões comportamentais que previamente tiveram a função

de aliviar sintomas de abstinência, e desde então também se tem reportado que sintomas de

abstinência podem ser condicionados a um estímulo especifico e posteriormente ser evocados

por este, como na contingência Pavloviana (Goldberg & Schuster, 1967; Wikler & Pescor,

1967), produzindo padrões comportamentais de uso de drogas de abuso caracterizados como

dependência (McDonald & Siegel, 2004; Siegel, 2005; Siegel & Ramos, 2002) e recaída do

uso após períodos de abstinência prolongada (O’Brien, Childress, Ehrman, & Robbins, 1998;

Robinson & Berridge, 2008).

Fundamentados nessas pesquisas, vários autores da literatura especializada no estudo

da dependência de drogas tem proposto que os padrões de procura autoadministração e recaída

observadas em sujeitos dependentes são função do controle de estímulos ambientais associados

aos efeitos da droga (e.g. Everitt & Robbins, 2005; Kalivas & O'Brien, 2008; Kalivas, Peters,

& Knackstedt, 2006; Robinson & Berrigde 2003; Siegel, 2005; Siegel & Ramos, 2002).

Diferentes autores têm exposto as suas propostas para explicar como um estímulo

ambiental adquire controle sobre respostas de busca e autoadministração de drogas. A teoria

da saliência do Incentivo de Robinson & Berridge (1993, 2003, 2008) é uma das mais citadas

na literatura das neurociências, liderando várias das pesquisas realizadas na área e é usada

como fundamento para distinguir entre os processos pavlovianos e operantes da procura e

recaída (Everitt & Robbins, 2005; Berridge, Robinson & Aldridge, 2009). Por esse motivo,

descrevemos a seguir as propostas principais da teoria.

De acordo com a Teoria da Sensibilização do Incentivo, na sensibilização da saliência

do incentivo, o estímulo produzido pelo uso repetido de drogas em contextos específicos seria

o processo chave que leva à dependência. A sensibilização do incentivo aconteceria porque

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os sistemas neurais responsáveis pela saliência do incentivo dos estímulos são sensibilizados

pela administração repetida da droga, causando que o indivíduo sensibilizado, quando

exposto à droga ou a estímulos associados a ela, quisesse a droga mesmo não gostando dela

(Robinson & Berridge, 1993, 2003, 2008; Berridge & Robinson, 2016).

A teoria distingue dois processos no desenvolvimento da dependência, “gostar” da

droga e “querer” a droga” (Robinson & Berridge, 2003, 2008; Berridge e Robinson, 2016). O

gostar”4 é usado por estes autores para se referir abreviadamente ao impacto prazeroso de um

SR sobre um organismo, mediado por sistemas neurais não dependentes de dopamina, que

envolvem a saliência do incentivo de um estímulo. Por outro lado, o “querer” 5 seria uma

forma de motivação a qual é mediada por sistemas dopaminérgicos mesolímbicos, um

processo “não racional” que pode instigar e orientar um comportamento em um sujeito, sem

necessariamente ter emoção consciente, desejo ou um objetivo específico, i.e. sem “gostar”

necessariamente. Os autores definem o “querer” como a ativação de processos que envolvem

a saliência do incentivo de um estímulo. Em outras palavras, o querer está associado com CSs

que sinalizam um SR, que fariam esses CSs mais salientes, ou seja, mais chamativos e

atrativos para o organismo (Hickey & Peelen, 2015).

Na autoadministração de drogas não patológica estaria envolvida circuitaria neural do

gostar da droga, i.e., sistema opioide (Smith & Berridge, 2007), porém na dependência de

drogas seria a circuitaria do querer a que estaria envolvida, i.e., sistema dopaminérgico

(Koob, 1992; Pavuluri, Volpe & Yuen, 2017). A passagem do uso recreacional ao uso

compulsivo seria explicado pela sensibilização da circuitaria do querer aos estímulos do

ambiente associados com a droga, o que aconteceria após sua administração repetida. O que

4 Do inglês “liking”. 5 Do inglês “wanting”.

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se observa em termos comportamentais é que na presença desses estímulos respostas

fisiológicas que são interpretadas como querer ou fissura pela droga são produzidas e a

autoadministração da droga é incontrolável, pois a resposta do sistema neural está aumentada.

Berridge, Robinson e Aldridge (2009) reformularam a Teoria da Sensibilização do

Incentivo em termos da evidência empírica que sustenta a proposta dos diferentes

mecanismos neurofisiológicos de “querer” e “gostar”, mas descartam a correspondência

desses mecanismos com a diferenciação entre processos comportamentais operantes e

Pavlovianos. De acordo com os autores, “Estudos das neurociências dos efeitos de ‘gostar’,

‘querer’, e dos componentes de aprendizagem de recompensas, revelaram que estes processos

psicológicos são mapeados em distintos sistemas cerebrais de recompensa, neuroquímicos e

neurofisiológicos, em um grau determinado” (p. 71)6. Portanto, na teoria mais recente da

sensibilização do incentivo, o “querer” e o “gostar” envolvem mecanismos neuronais de

recompensa diferentes e não necessariamente correspondem exclusivamente a processos

operantes ou Pavlovianos, como afirmado na teoria original. Porém, segundo estes autores, a

ênfase na eliciação produzida por um estímulo condicionado em contingência Pavloviana

seria o mecanismo fundamental na dependência as drogas.

Garcia-Mijares e Silva (2006) apontam que existem vários problemas ao tentar

explicar a dependência em termos de “querer e gostar”, pois não fica claro se “querer” é um

comportamento/resposta ou um estímulo, comprometendo o uso do termo como variável

causal, ao ser definida pelos autores como um estímulo que ativa processos neurais

associados à saliência do estímulo (Robinson & Berridge, 2003). Portanto o processo

psicológico que explicaria a autoadministração de uma droga não está claro. Contudo, para os

6 Original em inglês: “Affective neuroscience studies of ‘liking’, ‘wanting’, and learning components of rewards have revealed that these psychological processes map onto distinct neuroanatomical and neurochemical brain reward systems to a marked degree”.

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objetivos do presente trabalho, a teoria é relevante por enfatizar que a contingência entre a

apresentação de dois estímulos (um estímulo ambiental e o efeito da droga), assim como a

sensibilização dos sistemas neuronais envolvidos, são os processos básicos da dependência.

Estudos reportam que circuitos dopaminérgicos de animais expostos

intermitentemente a comida ou drogas respondem exageradamente a infusões

autoadministradas de anfetamina, i.e., a resposta desse sistema ao efeito da anfetamina é

sensibilizada (Everitt & Robbins, 2005; Everitt et al., 2008; Robinson & Berridge,1993;

Volkow, Wang, Fowler, & Telang, 2008; Wyvell & Berridge 2001). Estes animais, quando

expostos a estímulos associados a esses reforçadores (CSs) produzem respostas de fissura, ou

seja, iniciam uma cadeia de respostas que se inicia pela sua busca e finaliza com a

autoadministração da droga (em consumo compulsivo). Esses estudos sugerem que tal como

proposto pela teoria do incentivo, a sensibilização é um mecanismo importante na

dependência de drogas.

Em resumo, é essencial à Teoria da Sensibilização do Incentivo a ideia que estímulos

ambientais são condicionados de forma pavloviana aos efeitos da droga, e que na presença

deles se produzem respostas no sistema nervoso central que instigam o sujeito a procurar e

consumir a droga. Portanto, segundo esta lógica, a procura e consumo de droga do

dependente seriam respostas operantes induzidas ou alterados pela presença de estímulos

eliciadores, ou seja, são comportamentos determinados por processos de transferência de

controle Pavloviano-operante, que serão explicados com maior detalhe a seguir.

Pavlovian to Instrumental Transfer

A Transferência Pavloviana-Operante, ou PIT pela sua sigla em inglês (Pavlovian to

instrumental transfer), se encontra comumente na literatura, tanto para descrever um

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processo comportamental, quanto para fazer referência ao procedimento experimental

desenvolvido para poder observar este processo ou fenômeno.

O procedimento de PIT possui diversas variações, mas todas envolvem, em geral, três

fases: treino Pavloviano (Fase 1), treino operante (Fase 2) e teste de transferência (Fase 3).

Os treinos Pavloviano e operante podem aparecer primeiro em qualquer ordem (ou na Fase 1

ou na Fase 2), a depender do objetivo do estudo, e em seguida um teste é realizado para se

observar o efeito do CS sobre o responder operante. No treino Pavloviano é realizado um

pareamento CS-US, e.g., uma luz pode se tornar um CS ao ser pareada com droga (i.e., US).

No treino operante, o animal recebe droga como consequência de emitir alguma resposta (por

exemplo, pressionar a barra). Uma vez realizados esses procedimentos independentes, o teste

de transferência é realizado em extinção (i.e., sem consequência programada para o

responder), no qual a resposta operante é avaliada na presença do CS e na sua ausência. O

objetivo do teste é verificar se o CS do treino Pavloviano adquire controle sobre a resposta

operante, sem nunca ter sido associado a ela. Em geral, o resultado indica uma maior

ocorrência de respostas operantes na presença do CS do que na sua ausência.

Os primeiros estudos relacionados à PIT datam da década dos 40s. Estes reportaram

que um estímulo associado com comida podia aumentar a frequência de uma resposta

operante que tinha também comida como consequência (Estes & Skinner, 1941; Estes, 1943).

Estes primeiros estudos não propunham os processos comportamentais que estariam

envolvidos na PIT. Posteriormente, foi proposta a Teoria dos Dois Processos (em inglês,

Two-process Learning Theory) sendo estudada inicialmente por Rescorla e Solomon (1967),

postulando que os condicionamentos decorrentes de CPs e a COs poderiam implicar

diferentes processos de aprendizagem. Nesse contexto, a PIT era considerada como a

alteração de um tipo de comportamento (i.e. operante) por manipulações no treino de outro

(i.e., pavloviano).

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Rescorla e Solomon (1967) consideravam que as respostas emocionais aversivas ou

apetitivas ficavam sob controle pavloviano de dicas ambientais, que quando eliciadas,

interferiam ou facilitavam a ocorrência de uma resposta operante. Por esse motivo, o

procedimento foi muito utilizado para o estudo da influência das respostas emocionais

condicionadas sobre operantes em curso.

Algumas décadas depois, a explicação da PIT foi refinada. Estudos como os de

Dickinson e Dawson (1987) e Balleine (1994) ajudaram a entender a transferência como um

processo caracterizado pela motivação no lugar da emoção. Ainda, neste momento, o fator

‘escolha’, que caracteriza principalmente a PIT, não estava sendo explicado. Com o

desenvolvimento de novas tecnologias no começo do século, as neurociências se uniram ao

estudo da transferência. Dois grandes contribuições foram obtidas: o processo

comportamental foi dividido de acordo em transferência seletiva, não seletiva e

generalizada, caracterizadas por diferentes substratos neurais (Corbit & Balleine, 2005;

2011). No procedimento de transferência seletiva o mesmo US1 (e.g droga) é usado para

treinar um CS1 e uma resposta operante R1. O procedimento de transferência não-seletiva é

uma variação do anterior, que avalia se a transferência depende de se usar o US como SR, e se

ela ocorre de forma seletiva em relação à resposta operante. Por último, o procedimento de

transferência generalizada permite avaliar a ocorrência de PIT para estímulos que foram

associados a reforçadores diferentes dos treinados na Fase 1.

Estudos com procedimentos de PIT, seletiva ou não-seletiva, têm mostrado que

quando o reforçador em um treino operante é o mesmo US, comumente resulta na maior

frequência de resposta na presença do CS do que na sua ausência (Allman, DeLeon, Cataldo,

Holland, & Johnson, 2010; Holland, 2004). Por outro lado, quando o US é aversivo e o

reforçador apetitivo, é comum observar a diminuição da taxa de resposta na presença do CS

(Holland, 2004; Colwill & Rescorla, 1985). Tanto o procedimento, quanto o fenômeno são

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comumente denominados de desvalorização (e.g., Holland, 2004; Rescorla, 1985). Ainda, o

efeito da PIT (transferência ou desvalorização) possa variar em razão de parâmetros como a

apetitividade ou adversidade de US, a PIT também pode variar em função de diferentes

fatores experimentais como a magnitude do US (van den Bos et al., 2004), a duração e

sincronicidade com que o CS é apresentado na CP (Crombag et al., 2008), a quantidade de

treino e o uso de múltiplos reforçadores (Holland, 2004), a similaridade entre as respostas no

treino operante e no teste de transferência (Baxter & Zamble, 1982), o tempo de exposição do

CS treinado na associação por contingência Pavloviana (Holmes, Marchand & R Coutureau,

2010), entre outros.

Três experimentos foram realizados por Galarce, Crombag e Holland (2007)

utilizando os procedimentos PIT e desvalorização para avaliar o efeito da especificidade do

reforço na transferência Pavloviana-operante, mostrando que, depois do CO, o valor de um

CS (apetitivo ou aversivo) associado a um US, pode alterar a frequência do responder

operante emitido na presença deste CS. No primeiro experimento, inicialmente, os animais

foram expostos ao treino sob contingência Pavloviana com dois tons de diferente intensidade

(CS1 e CS2), sendo CS1 associado à sacarose e CS2 à maltodextrina disponibilizadas em

receptáculos de comida diferentes. Posterirormente, os animais passaram por um treino de

contingência operante (uma barra para receber sacarose próxima a um receptáculo e uma

segunda barra para receber maltodextrina próxima a um segundo receptáculo). Quando os

CSs foram introduzidos em situação de extinção durante o teste de transferência, os animais

apresentaram PIT respondendo significativamente mais na barra que foi associada com cada

CS quando estes estavam presentes durante o treino.

O segundo experimento de Galarce, Crombag e Holland (2007) foi realizado expondo

os mesmos animais do primeiro experimento ao retreino de contingência Pavloviana e

contingência operante prévios. Depois os animais foram alimentados ad-libitum e foram

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medidos os consumos de sacarose e maltodextrina na presença de CS1 e CS2, sendo

registrado maior consumo de sacarose na presença de CS1 e de maltodextrina na presença de

CS2, o que sugere que a PIT se pode apresentar diretamente na resposta consumatória,

incrementando a administração de uma substância associada previamente a um CS. No

terceiro experimento os animais dos experimentos anteriores foram ainda expostos a um

procedimento de desvalorização. A contingência Pavloviana consistiu na apresentação de

CS1 ou CS2, disponibilizando sacarose ou maltodextrina junto com uma injeção de cloreto de

lítio (LiCl) para produzir aversão ao sabor. Depois de dez dias o teste de desvalorização foi

apresentado. Comportamentos apetitivos (aproximação e entrada ao receptáculo da comida) e

consumatório (consumir a comida) foram examinados na presença de CS1 e CS2, mostrando

a redução de ambos os comportamentos no receptáculo correspondente na presença de CS1 e

CS2. O que sugere que a desvalorização é um processo que pode ter efeito após uma tarefa

ser amplamente treinada e ainda se mostrar específico para uma CR quando várias relações

CS-US foram aprendidas. Juntos, estes três experimentos são um claro exemplo de como se

apresenta a PIT generalizada depois de adquiridas relações CS-US em um condicionamento

Pavloviano, tanto na PIT quanto na desvalorização.

Um exemplo de PIT seletiva são os dois experimentos de Holland (2004) que tinham

como objetivo avaliar a quantidade de treino sobre a PIT. No primeiro experimento, ratos

privados de comida foram treinados sob uma contingência Pavloviana com os tons CS1 e

CS2; um foi pareado com pellets de comida (US1) e outro não (US2), respectivamente. Em

seguida, estes receberam um treino sob contingência operante de pressão à barra para obter o

US1 comida por duas, cinco ou vinte sessões. Depois, foi realizada uma única sessão de

transferência, em que tentativas discretas de CS1 e CS2 foram apresentadas em condições de

extinção. Logo, foi realizada mais uma sessão de treino Pavloviano e uma de treino operante.

Posteriormente, quatro sessões de desvalorização foram efetuadas, disponibilizando US1

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seguido de uma injeção de LiCl. Foi então realizada mais uma sessão de transferência,

idêntica à primeira, e finalmente foi testada a aversão à comida nas caixas viveiro sem usar

LiCl. No segundo experimento de Holland (2004), outros sujeitos foram condicionados sob

um procedimento similar ao do primeiro experimento. Foram realizados pareamentos com

apresentações contrabalançadas de comida (US1) ou uma solução de sacarose (US2). As

apresentações de US1 e US2 foram randomizadas de modo que fossem iguais os pareamentos

de CS1-comida, CS1-sacarose, CS2-comida e CS2-sacarose. Depois, os ratos foram

distribuídos entre dois grupos e deu-se início ao treino operante das respostas de pressão à

barra (R1) e de pular uma corrente situada no teto da caixa operante (R2). Um dos grupos foi

treinado para responder em R1 e R2 para receber US1 ou US2, respectivamente, o outro

grupo foi treinado para responder em R1 para receber US1 e em R2 e R3 (apertar um painel)

para receber US2. Os sujeitos passaram por mais uma sessão de treino Pavloviano e

posteriormente por duas sessões de transferência nas mesmas condições que no experimento

1 (tentativas discretas de CS1 e CS2 foram apresentadas em condições de extinção), sendo

que uma destas sessões foi realizada disponibilizando unicamente R1 e a outra unicamente

com R2 (responder em R3 não foi registrado). Igual ao primeiro experimento, os animais

receberam mais uma sessão de treino Pavloviano e uma de treino operante (idênticas às

anteriores para cada grupo). Os grupos foram divididos em duas metades e foi realizado um

procedimento de desvalorização apresentando o US1+LiCl ou o US2+LiCl durante quatro

dias. Duas sessões de transferência idênticas às anteriores foram realizadas. Por último, o

US1 foi apresentado nas caixas viveiro.

Estes resultados mostram que a quantidade de treino em contingência operante com

um único reforçador tem efeitos diretamente proporcionais na taxa de frequência do operante

associado na presença do CS quando é de caráter apetitivo, e efeitos opostamente

proporcionais nesta frequência quando o CS e de caráter aversivo, durante a transferência

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(PIT). Quando múltiplos reforçadores foram usados (Experimento 2), os processos de PIT e

desvalorização foram menos influenciados pela quantidade de treino.

Crombag, Galarce e Holland (2008) mostraram como diferentes relações CS-US

estabelecidas em uma contingência Pavloviana podem influenciar as respostas de busca

(apetitivas e consumatórias), quando o CS é apresentado depois de um treino em CO. Dois

grupos de camundongos foram treinados sob CP. O primeiro grupo foi treinado com um tom

duração de 10s (CS), seguido de leite (US); o outro grupo passou por um treino semelhante,

mas o CS teve uma duração de 2 min. Depois, a resposta de pressão à barra foi treinada

usando o US como reforçador. Finalmente, durante o teste, o CS foi apresentado em extinção

e as respostas na barra registradas. O grupo de animais na condição de treino em contingência

Pavloviana de 2 min mostrou PIT e apresentou significativamente mais respostas em relação

ao grupo na condição de treino Pavloviano de 10s, mostrando que o tempo de exposição entre

a apresentação de CS e US utilizado em uma contingência Pavloviana é um parâmetro que

pode influenciar a aparição de PIT generalizada.

Considerados em conjunto, os experimentos descritos indicam que o fenômeno da PIT

é modulada por diversos parâmetros como o tempo de exposição apresentado entre CS e US

em um condicionamento sob CP, quantidade de treino no treino em contingência Pavloviana

e a quantidade de respostas treinadas no treino de CP. Sugerem, portanto, que o efeito do

estímulo condicionado sobre o responder operante não é um fenômeno de “tudo ou nada” e

que diferentes graus e tipos de transferência podem ser obtidos por manipulação do treino

CS-US. Usando um procedimento semelhante, diferentes autores tem a aparição de PIT com

resultados similares, como Stebbins e Smith (1964) com macacos, Rescorla e Lolordo (1965)

com cães, Morse e Skinner (1958) com pombos e Lansade et al., (2013) com cavalos. A

observação de PIT em diferentes espécies sugere que a PIT é um processo básico do

comportamento.

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Contudo, a pesquisa de PIT tem focado principalmente nesta transferência como

processo comportamental, medindo variáveis como índice discriminativo frequência de

respostas, e interpretando a interação entre contingência operante e Pavloviana (Holmes,

Marchard & Couterau, 2010), mas não discute o fenômeno comportamental da transferência

em termos de motivação. Como apontado previamente, a autoadministração de drogas é uma

questão de escolha (Balleine, 1994; Dickinson & Dawson;1987) e não unicamente uma

resposta emocional, sem controle, evocada por controle de estímulos em organismos. Ainda,

o estudo dos substratos neurais tem permitido caracterizar a PIT de acordo aos seus substratos

neurais (Corbit & Balleine, 2005; 2011), os quais são diferentes na transferência seletiva e na

transferência generalizada como explicado em seguida.

Diversos estudos apontam o Núcleo Accumbens (Goto & Grace, 2008), a Área

Tegmental Ventral (e.g. Corbit & Janak, 2007), a Amígdala (e.g. Corbit and Balleine, 2005),

e o Córtex Prefrontal (e.g. Ostlund & Balleine, 2007) como as principais áreas que participam

dos processos de PIT seletivo e generalizado.

Estudos do início do século pareciam ser contraditórios em relação às estruturas

neurais que estariam implicadas na PIT. Inicialmente, Hall et. al (2001) e Holland e

Gallagher (2003) reportam que lesões no NAc core, mas não shell, impedem a PIT, e seu

estudo sugere que a Amígdala Central (CeA) e o NAc core, mas não a Amígdala Basolateral

(BLA) nem o NAc shell, estão implicados nos processos de PIT. Entretanto, Blundell et al.

(2001) e Corbit e Balleine (2001) reportaram que lesões o NAc shell, mas não o core, afeta a

PIT, sugerindo de forma contraditória aos outros estudos (Hall et. al, 2001; Holland &

Gallagher, 2003) que o NAc shell cumpre sim um papel dentro dos processos de PIT. Estudos

posteriores realizados por Corbit e Balleine (2005, 2011) identificaram o paradigma fazendo

distinções entre PIT específica e PIT generalizada esclarecem que a primeira é impedida por

lesões de BLA e NAc shell e a segunda é impedida por lesões de CeA e NAc core.

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O NAc tem conexões diretas com o Córtex Pré-frontal (PFC). Se esperaria o

envolvimento do PFC no PIT dado que regula funções executivas relacionadas com

diferentes aspectos de comportamentos de meta dirigida, como uma sequência de respostas

que levam a obter um reforçador (Barbey, Krueger & Grafman, 2009), além de estar

associado à memória de trabalho e mediação de associações resposta-consequência (Corbit &

Balleine, 2003a) e à aprendizagem operante CS-CR (Tran-Tu-Yen, Marchand, Pape, Scala, &

Coutureau, 2009). Por este motivo, alguns estudos têm sido realizados para observar as

possíveis relações. Ostlund e Balleine (2007) reportam que lesões no Córtex Orbital Frontal

(OFC) do PFC impediu PIT seletiva, porém unicamente quando estas lesões foram realizadas

post-treino e não quando foram feitas prévio ao treino. O que indicaria, segundo os autores, a

função do OFC ventral na PIT seletiva está implicada na aquisição da relação CS-US, mas

não a da R-SR. Adicionalmente, lesões completas de OFC ventral e lateral ocasionaram

déficits na aparição de PIT específica, o que sugere que na PIT específica as subáreas ventral

e lateral do OFC são necessárias para a aquisição do CP. Keistler, Baker e Taylor (2015)

reportam que lesões bilaterais do PFC Pré-limbico (PL) impediram a aparição de PIT

específico e adicionalmente, ao fazer a desconexão entre o Córtex Infralímbico (IL) e Shell,

puderam confirmar que esta via faz parte específica dos circuitos de PIT específico, o que

indica a necessidade desta via e das subáreas implicadas para a aprendizagem a aquisição de

relações CS-US.

Estudos no Estriado Dorsomedial (DMS) e no Dorsolateral (DLS) mostram que a

inativação de estes tem efeitos diferentes na PIT. O estudo de Corbit e Janak (2007)

encontrou que a inativação de DSL impediu a apresentação de transferência seletiva,

enquanto a inativação de DMS impediu a apresentação de transferência generalizada.

Adicionalmente, em um estudo posterior destes autores, a DLS, a DMS anterior ou posterior

foram desativadas durante o CP, encontrando que, durante o teste de transferência, a

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inativação de DLS junto com a de DMS posterior podem afetar a aquisição da relação CS-

US, enquanto que a inativação de DMS anterior e posterior afetaram a aquisição de

associações R-SR (Corbit & Janak 2010). Juntos, estes estudos que utilizam lesões para

pesquisar as funções e relevância das conexões na PIT, têm aportado importantes dados sobre

as áreas e conexões implicadas na aquisição de associações CS-US e R-SR, para ajudar a

compreensão destes processos de aprendizagem e a sua função na PIT.

Existem vários estudos que indicam que a dopamina (DA) é um neurotransmissores

crítico do processo de PIT, pois (1) lesões na substância nigra (SN), que impedem a

liberação de dopamina no NAc, reduzem a PIT generalizada (El-Amamy & Holland, 2007);

(2) lesões na VTA, que impedem a liberação de DA no NAc, ocasionam redução tanto de PIT

seletiva quanto generalizada (Corbit et al., 2007); (3) a PIT generalizada é potencializado por

agonistas de DA (Pecina et al., 2006), é enfraquecida por antagonistas desse neurotransmissor

(Dickinson et al., 2000).

Leung e Balleine (2015) e Corbit et al. (2007) relataram que ao interromper a via do

Ventral Palladium medial (VP-m) para o VTA se reduze a taxa de respostas da PIT

específica. Os últimos autores argumentam que seus resultados sugerem que o VTA medeia o

“componente motivacional” (taxa global de respostas) da PIT e que o Tálamo Mediodorsal

(MD) media o “componente cognitivo” (o efeito da aprendizagem preditiva na escolha).

Em resumo, os resultados destes estudos reportam estruturas implicadas no processo

de PIT, as quais ao serem lesionadas podem alterar ou impedir o surgimento da transferência,

dada a sua função na aprendizagem operante e/ou pavloviana. Adicionalmente, como

apresentado na seção anterior, a autoadministração (na contingência operante) e a

administração passiva (na contingência Pavloviana) de uma droga podem induzir de forma

diferencial a expressão gênica de FosB, o qual tem sido reportado por ser um importante

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mecanismo biomolecular nos estudos de dependência às drogas, reportado pela a relação

direta que tem a sua expressão em áreas como o NAc e o aumento na resposta de

autoadministração de uma droga (Olsen, 2011; Robinson & Nestler, 2011; Ruffle, 2014).

Ainda, existe uma importante discussão sobre o controle que os estímulos associados às

drogas por contingência operante e contingência Pavloviana adquirem durante a

aprendizagem, originando a incógnita se realmente é um destes tipos de contingência seria a

chave para que um organismo desenvolva dependência às drogas.

Existe uma lacuna na literatura que permita tentar responder esta pergunta, pois além

dos estudos aqui mencionados, existem poucos estudos que estudem o controle de estímulos

que considerem fatores comportamentais e bioquímicos diretamente relacionados na

dependência às drogas, como o treino ou associação de drogas em contingência operante e

Pavloviana utilizando um esquema acoplado, e a medição da expressão génica de IEGs

usando procedimentos de administração passiva e autoadministração. Ainda, a maioria destes

usam apenas COC como droga de estudo, impossibilitando a comparação com outras drogas

de abuso para determinar aspectos gerais na dependência às drogas.

No presente estudo, propõe-se a morfina e a COC como as drogas a serem estudadas

na administração em contingência operante e Pavloviana, dadas as características que são

mencionadas a seguir.

Morfina e Cocaína como Drogas de Abuso em Estudos de Dependência

A morfina é um agonista dos receptores opióides e faz parte da família dos opióides7,

os analgésicos mais utilizados e eficazes para o tratamento da dor e transtornos afins (Dacher

et al., 2011), sendo amplamente utilizada no âmbito hospitalar. Contudo, também possui

7 Opióides são substâncias de origem endógena ou sintética, referindo-se de forma ampla a todos os compostos relacionados ao ópio.

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grande potencial para produzir dependência (Christie, 2008; De Vries & Shippenberg, 2002),

caracterizada pelo seu uso indiscriminado, recaída e busca compulsiva ou fissura (Everitt &

Robbins, 2005; Robinson & Berridge,1993). Junto a outros opióides, como o ópio e a

heroína, a morfina é autoadministrada por humanos (Comer et al., 2012) e animais não

humanos, como ratos (Alexander, Coambs, & Hadaway, 1978; Cicero, Aylward, & Meyer

2003; Silva & Heyman, 2001), camundongos (Criswell & Ridings, 1983) e primatas não

humanos (Sanchez-Ramos & Schuster, 1977).

Diferentes efeitos comportamentais podem ser observados quando a morfina é usada

como reforçador, dependendo tanto da dose administrada como do tipo de condicionamento.

Koob (1992) relatou uma função hiperbólica (parabólica), na relação dose-resposta gerada

por esquemas de FR (fixed ratio) baixos, indicando que pouco se pode observar do efeito da

morfina sobre o comportamento quando altas doses são usadas, dado seu efeito sedativo. Por

outro lado, Goldberg e Tang (1977) reportaram uma função linear na relação dose-resposta

quando o esquema utilizado foi de segunda ordem8.

Existe uma extensa literatura que demonstra que os efeitos incondicionados da

morfina são facilmente condicionados a estímulos presentes no ambiente (e.g., McDonald, &

Siegel, 2004; Siegel, 1988, 2001). Por exemplo, o efeito analgésico da morfina pode ser

induzido pela presença de um estímulo condicionado (CS) quando associada previamente a

este em um procedimento Pavloviano (Siegel, 1976; Siegel, Hinson, & Krank, 1978), mesmo

depois de um período de abstinência (Hinson, Poulos, Thomas, & Cappell, 1986). Tolerância

condicionada a diferentes efeitos produzidos pela morfina são adquiridos após alguns dias de

8 Um esquema de segunda ordem consiste basicamente em um esquema composto. Neste, uma sequência de respostas é requerida em um primeiro esquema para apresentar um estímulo condicionado (de um pareamento prévio entre este e um reforçador). Após completar este primeiro esquema múltiplas vezes, como segundo esquema, a consequência é a apresentação do reforçador.

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administração. Esta tolerância condicionada está ligada aos estímulos ambientais e é

observada de várias formas, como overdose em ratos ao receber uma dose alta, a qual foi

administrada por vários dias, em um ambiente diferente ao usual, ou como hiperalgesia em

ratos que são administrados com um placebo no mesmo ambiente no qual foram

administrados com morfina repetidas vezes (Siegel et al, 1978; Siegel, 1976, 1988, 2001,

2005). Quando a morfina é administrada repetidamente em um ambiente determinado,

observa-se sensibilização condicionada ao efeito ativador psicomotor (Badiani, Oates, &

Robinson, 2000) e preferência condicionada de lugar (PCL) marcada (Reid, Marglin, Mattie,

& Hubbell, 1989).

A cocaína (COC) é um forte estimulante que atua como inibidor da recaptação de

serotonina, norepinefrina e dopamina, motivo pelo qual é utilizada principalmente com fins

recreativos (Pomara et al. 2012). Entre seus efeitos psicoativos se tem reportado a perda do

contato com a realidade, intenso sentimento de felicidade, euforia e agitação (Zimmerman,

2012). A COC também possui algumas aplicações médicas, para produzir adormecimento e

reduzir o sangramento durante cirurgias de condutos lacrimais e nasais (Harper & Jones,

2006), porem sendo pouco utilizada com estas finalidades ao ser facilmente substituível por

anestésicos de uso local que não causam os efeitos secundários que esta produz, como

toxicidade cardiovascular e glaucoma (Dwyer, Sowerby, Rotenberg, 2016).

Esta droga tem sido reportada como reforçadora, sendo autoadministrada por

humanos (Childress, McLellan, Ehrman, & O’Brien, 1987, 1988; Ehrman, Robbins,

Childress, & O’Brien, 1992) e por animais de laboratório (Goldberg & Gardner 1981;

Goldberg, Spealman, & Kelleher, 1979; Koob 1992; Mierzejewski, Koroś, Goldberg,

Kostowski, & Stefański, 2003). Esta autoadministração é caracterizada por ser mantida por

altas taxas de resposta e por depender de apresentações de CSs associados à COC em

contingência operante ou Pavloviana (Goldberg et al. 1979; Katz 1979; Weissenborn,

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Robbins & Everitt, 1997). Existe um grande número de estudos na literatura que reporta que

estímulos ambientais podem adquirir controle sobre comportamentos reforçados por COC

quando associados previamente a esta (e.g. Childress et al., 1988; Ehrman, et al, 1992;

Goldberg, Spealman, & Kelleher, 1979; Weiss, et. al., 2003; Kruzich, Congelton, & See,

2001).

As propriedades que a COC possui como reforçador são atribuídas a seus efeitos nos

sistemas dopaminérgicos mesolímbicos, ao qual é atribuído o “centro do prazer”, ou em

outras palavras, o sistema do reforço (Pomara et al. 2012; Wise, 1996). Seus efeitos

reforçadores são caracterizados a nível neural pela capacidade que a COC tem para se unir a

transportadores de dopamina (Ritz et al., 1988; Rocha et al., 1998), serotonina (Uhl et al.,

2002), e também pelo seu envolvimento no sistema glutamatérgico (Kalivas, 2004).

Em resumo, os efeitos da morfina e da COC sobre o comportamento estão bem

caracterizados pela literatura e os seus atributos como reforçador estão bem estabelecidos e

documentados, portanto, reproduzíveis. Estas características fazem da morfina e da COC

drogas de abuso ideais para estudar o abuso e dependência de drogas, sendo de grande

relevância. O uso hospitalar de morfina e outros opioides representam o grande desafio

científico de manter as suas potentes propriedades analgésicas, limitando o desenvolvimento

de tolerância e dependência a estas. Adicionalmente, o abuso de opioides, assim como de

COC e seus derivados, traz uma grande preocupação na área da saúde.

Objetivos

O presente trabalho tem como objetivos verificar: i) o efeito da contingência operante

e Pavloviana de morfina e COC sobre a expressão gênica de FosB; e ii) o efeito da

contingência operante e Pavloviana de morfina e COC sobre as respostas de busca e

autoadministração destas drogas. Para atingir os objetivos mencionados foram realizados três

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experimentos comparando a contingência operante e a Pavloviana de morfina ou COC,

utilizando o modelo de administração acoplado. O primeiro experimento pretendendo

observar e medir a expressão de FosB (o qual se acredita estar associado ao aumento do

valor reforçador de drogas de abuso e, com isso, ao processo que conduz à dependência)

induzida pela contingência Pavloviana e a contingência operante de morfina em diferentes

áreas do cérebro implicadas na dependência às drogas. O segundo experimento pretendeu

observar e avaliar o controle de estímulos nas respostas de busca e autoadministração de

morfina na presença de um estímulo associado à droga por meio de contingência operante ou

Pavloviana. O Experimento 3 pretendeu avaliar tanto a expressão de FosB induzida pela

contingência Pavloviana e a contingência operante de COC em diferentes áreas do cérebro

implicadas na dependência às drogas, quanto o controle de estímulos nas respostas de busca e

autoadministração de COC na presença de um estímulo associado à droga por meio de

contingência operante ou Pavloviana.

Justificativa Geral

Os experimentos propostos no presente estudo têm como finalidade tentar resolver a

incógnita referente à dependência que pode causar ou não a administração repetida de uma

droga sob contingência operante ou Pavloviana, pois como exposto anteriormente, as

contingências envolvidas nestes dois tipos de administração poderiam ser a chave para

compreender os mecanismos relacionados à dependência às drogas. Adicionalmente, a

literatura anteriormente descrita mostra que sujeitos que autoadministram ativamente uma

droga de ação central (em CO) apresentaram diferenças gênicas e comportamentais

(relacionadas à dependência às drogas), comparados com sujeitos que receberam a mesma

droga passivamente (em CP). Foram encontradas na literatura unicamente publicações

usando drogas como COC, ANF e álcool para estudar diferenças gênicas e comportamentais

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entre contingência operante e Pavloviana, mas nenhuma reportando o uso de morfina, sendo

os dados produzidos pelo presente estudo totalmente inovadores no estudo da dependência do

medicamento anestésico de maior uso hospitalar no mundo.

O presente estudo ainda consolida uma linha nova de pesquisa no Laboratório de

Psicofarmacologia da Universidade de São Paulo e forma parcerias entre três laboratórios de

pesquisa das áreas de Neurociências e Análise do Comportamento. Os experimentos 1 e 2

foram realizados com a coorientação do Prof. Luciano F. Felício (Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da USP) e a colaboração do Prof. Newton Canteras (Instituto de

Ciências Biomédicas da USP). O experimento 3 foi realizado sob a supervisão e tutoria do

professor Emilio Ambrósio, no Laboratório de Psicobiologia da Dependência da Universidad

Nacional de Educación a Distáncia (UNED), em Madri, Espanha.

Método Geral e Equipamentos

Compromisso Ético

O presente estudo foi desenvolvido na sua totalidade com a prévia aprovação de

comités de ética. Os experimentos 1 e 2, executados na USP, Institutos de Psicologia e

Ciências Biomédicas do campus de São Paulo, foram aprovados pelo Comitê de Pesquisa em

Uso de Animais (CEUA, protocolo 2014/014). Os experimentos 3 e 4, executados na UNED,

Faculdade de Psicobiologia de Madri, foram aprovados pelo Comitê Europeio de ética e

pesquisa em animais (86/609/EEC Directive).

Animais

Foram utilizados na totalidade 120 ratos machos da cepa Wistar, provenientes do

Biotério de Produção de Ratos do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, para os

experimentos 1 e 2 realizados na USP; e 72 ratos machos da cepa Lewis, provenientes de

Charles River Laboratories, França, para o experimento 3, realizado na UNED. Os

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procedimentos experimentais foram iniciados após um período mínimo de adaptação de duas

semanas ao laboratório e após de ter atingido 280-300gr de peso.

Alojamento

Todos os sujeitos foram alojados e manipulados de acordo com as normas dos comités

de ética que aprovaram os estudos. Os sujeitos foram alojados em gaiolas-viveiro individuais

de policarbonato transparente (Euroestandard tipo II, 267 x 207 x 140 mm) com grade

superior para a alimentação. Estas gaiolas-viveiro foram alocadas em estante ventilada

(Alesco) especial para manutenção de animais de laboratórios, isolada acusticamente, com

controle interno de temperatura, ciclo de 12 h claro e 12 h escuro (luzes ligadas às 07:00 h) e

com acesso ad libitum à água e comida durante todas as fases.

Procedimento Cirúrgico

Antes do início dos procedimentos comportamentais, os sujeitos dos experimentos 1 e

2 foram anestesiados com uma injeção intraperitoneal de mescla de cetamina SYNTEC® (75

mg/kg) e xilazina SYNTEC® (9 mg/kg). Os sujeitos dos Experimentos 3 e 4 foram

anestesiados por meio de um sistema de vaporização de descarte de gás passivo (Harvard

Apparatus®), utilizando isoflurano (0,8 lpm) e oxigênio. Um cateter esterilizado de Dow

Corning SILASTIC® (I.D. 0.020 x O.D. 0.037 in., wall 0.010 in.) foi introduzido na veia

jugular direita de cada animal. A parte distal do cateter foi passada sob a pele da região

cervical anterior até a região cervical posterior, e exteriorizada utilizando um botão de acesso

bascular Instech Labs™ (VAB95BS). Na finalização do procedimento, os animais receberam

uma dose única de pentabiótico Pequeno Porte® (benzilpenicilina benzatina, benzilpenicilina

procaína, benzilpenicilina potássica, sulfato de diidroestreptomicina e sulfato de

estreptomicina base, Fort Dodge, Brasil, em dose 1 ml/kg) por via intramuscular, e uma dose

de Banamine® (Flunixina meglumina, Schering-Plough, em dose de 2,5 mg/kg) por via

subcutânea.

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Todos os locais de incisão foram desinfetados com uma solução de iodo antes e após

o procedimento cirúrgico. Vinte e quatro horas após a cirurgia, e diariamente durante o

transcurso do experimento (antes de depois de cada sessão experimental), os cateteres foram

lavados com uma mistura de 0,1 ml de solução de heparina Hemofol® (500 UI) e salina

bacteriostática a 0,9%, posteriormente com 0,1 ml salina bacteriostática a 0,9%, e finalmente

preenchidos com 0,1 ml de solução de sulfato de gentamicina Gentomicin Syntec® (120

µg/ml).

Equipamento

Foram usadas caixas de condicionamento operante de fabricação Med Associates®, de

dimensões 32 x 25 x 21 cm, isoladas acusticamente. As caixas dispunham de um orifício

circular de 2 cm de diâmetro no centro do teto para permitir a passagem da cânula que

transporta a droga através deste. Todas as caixas foram inseridas em cubículos individuais e

fechados, com ventilação interna e ruído branco para melhor isolamento de sons externos

(Fig. 1). A infusão de droga foi realizada através de um sistema de injeção instalado na parte

externa de cada caixa experimental. Esse sistema consistiu em um suporte giratório

conectado por um extremo a uma bomba de infusão (modelo Med Associates PHM-100-3.33

para os Experimentos 1 e 2 e modelo Harvard 22 para o Experimento 3), e por outro,

conectado ao cateter colocado cirurgicamente no animal.

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Figura 1 - Esquema da caixa operante. A figura mostra uma esquematização da distribuição do sistema de infusão integrado com a caixa operante e os seus componentes. A. Caixa de isolamento acústico. B. Exaustor. C. Caixa controladora. D. Bomba de infusão. E. Caixa operante. F. Suporte giratório. G. Teto de acrílico com orifício central. H. Parede com operandos e estímulos luminosos e sonoros.

No experimento 1 as caixas equipadas com uma barra retrátil (ENV-112CM MED's

Response Devices) situada no centro da parede direita (a 4 cm de altura da grade) e uma

lâmpada branca de 1 W (colocado 7 cm acima da barra). Para as fases 1 e 2 do Experimento

2, cada caixa foi equipada com uma roda operante (ENV-113M MED's Response Devices),

situado no centro da parede direita (a 4 cm da grade. As caixas também tiveram duas

lâmpadas de 1 W (uma verde e uma branca) colocadas nos cantos superiores (ENV-221M

MED’s Stimulus), esquerdo e direito respetivamente, 7 cm acima do sensor infravermelho.

Adicionalmente foi utilizado um tom de 1,5 kHz (aproximadamente 76 dB). Para as fases

restantes, a roda operante foi removida e duas barras retráteis foram colocadas embaixo de

cada lâmpada (4 cm acima da grade e 7 cm embaixo das lâmpadas), uma em cada canto

inferior (Fig. 2). O funcionamento das caixas, da bomba de infusão e o registro das respostas

foram feitos através de um computador IBM-PC, com programas e interface da Med

Associates.

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Figura 2 - Esquema da disposição das luzes estímulo, buzzer e dos operandos nas caixas operantes dos

experimentos. A figura mostra uma visão frontal esquemática da parede interior direita das caixas

operantes. No Experimento 1, o estímulo luminoso S1 (luz branca) foi colocado em cima da barra

retrátil, ambos na parte central da parede direita da caixa operante.

No experimento 2, em todas as fases, os estímulos luminosos S1 (luz verde) e S2 (luz

branca) foram colocados nos cantos superiores esquerdo e direito (respeitivamente) da parede

direita da caixa operante. Nas Fases 1 e 2, a roda operante foi localizada na parte central da

caixa, e durante as Fases 3 e 4, esta foi substituído por duas barras retráteis situadas embaixo

das luzes branca e verde. No Experimento 3 o S1 foi um clicker (ENV-135M MED’s

Stimulus) localizado na parte central exterior da parede dos operandos e o S2 foi o som

produzido por um buzzer (2,5 kHz), situado na mesma localização.

Drogas

Para os Experimentos 1 e 2, foi utilizado sulfato de morfina (Laboratório Cristália™,

São Paulo, Brasil) foi dissolvida em veículo salina (0,9% NaCl) para ser administrado por via

i.v. em volume de 3,33 mg/ml na dose de 0,75 mg/kg. A velocidade de infusão foi de 0,1 ml

de solução a cada 3s. Para o experimento 3 foi utilizado cloridrato de cocaína (Agencia

Española de Medicamentos y Productos Sanitarios, AEMPS) dissolvida em veículo salina

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(0,9% NaCl) para ser administrado por via i.v. em volume de 3,33 mg/ml na dose de 0,75

mg/kg. A velocidade de infusão foi aproximadamente de 0,1 ml de solução a cada s, sendo

ajustada para cada sujeito individualmente em função do seu peso.

Protocolo Imuno-histoquímico para Fos

Uma hora após o término da última sessão de administração da droga, os ratos foram

anestesiados com uma injeção intraperitoneal de hidrato de cloral 0,2% na proporção 0,4

ml/100 g de peso corpóreo. Em seguida, através de uma bomba peristáltica (Cole Parmer®)

foram perfundidos por via transaórtica inicialmente com 150 ml de uma solução salina 0,9%,

seguida de 500 ml de uma solução fixadora de paraformaldeído a 4% diluído em tampão

fosfato de sódio 0,1 M (pH 7,4). Os cérebros permaneceram na caixa craniana por 3 h antes

de serem removidos e transferidos para uma solução contendo sacarose 20% em tampão

fosfato de potássio, onde permaneceram por aproximadamente 12 h. Em seguida, cortes

frontais seriados (30m) foram obtidos utilizando-se um micrótomo de congelamento. Os

cortes foram colhidos sequencialmente em 5 compartimentos, de forma que a distância entre

os cortes num mesmo compartimento seja 200 m. Um compartimento foi usado para

detecção imuno-histoquímica de ΔFosB. Os cortes foram incubados inicialmente em uma

solução de tampão fosfato de potássio 0,02M contendo triton X-100 a 0,3%, soro normal de

cabra a 2% e anticorpo policlonal FosB, (102, SC-48/Sta Cruz Biothecnology®) numa

diluição de 1:20.000.

O complexo antígeno anticorpo foi localizado utilizando-se uma variação do sistema

formado pelo complexo avidinabiotina (ABC) (Hsu & Raine, 1981). Após a incubação com o

anticorpo primário, os cortes foram incubados em uma solução contendo anticorpo

biotinilado anti-IgG de coelho, feito em cabra (Ctrector Laboratories®), numa diluição de

1:200, em temperatura ambiente, por 1 hora e 30 minutos e em seguida, colocados em uma

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solução contendo o composto avidina-biotina-HRP (ABC Elite Kit, Vector Laboratories®)

numa diluição de 1:200, por 1 hora e 30 minutos, para ligar a peroxidase ao complexo

antígeno-anticorpo. Na reação da imunoperoxidase, para a revelação do complexo antígeno-

anticorpo foi utilizado o protocolo de Itoh, Konishi, Nomura, Mizuno, Nakamura, e

Suguimoto (1979). Resumidamente, os cortes foram incubados em uma solução contendo

50mg de tetrahidrocloreto de 3-3’ diaminobenzidina-DAB, 0,6mg de glicose oxidase

(Sigma), 2ml de uma solução aquosa de sulfato de níquel a 10% e 40mg de cloreto de amônia

em 100ml de tampão fosfato de sódio 0,1M, por 5 minutos. Em seguida, foi adicionado -D-

glicose (Sigma), e a reação foi interrompida após 15 min aproximadamente. Os cortes foram

então montados em lâminas recobertas com gelatina, desidratados e recobertos com DPX

(Aldrich Chemical Co.®).

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Experimento 1. Expressão do IEG FosB na Administração de Morfina em

Contingências Operante e Pavloviana

O objetivo do Experimento 1 foi verificar o efeito da CO e CP de morfina sobre a

expressão gênica de FosB em diferentes áreas do cérebro implicadas na dependência às

drogas, destacando o efeito diferencial entre as duas formas de administração.

Sujeitos

Foram usados 19 ratos albinos machos da cepa Wistar, experimentalmente ingênuos.

As cirurgias foram realizadas quando os sujeitos atingiram 280g-300g de peso. Sete dias após

a recuperação da cirurgia, os animais foram distribuídos aleatoriamente em três grupos:

Administração por Contingência Operante (ACO, n=7), Administração por Contingência

Pavloviana (ACP, n=7) e Controle (Ctrl, n=5), formando trios com um sujeito de cada grupo.

Fases Experimentais

Fase 1. Administração de Morfina em Esquema Acoplado

Os sujeitos do grupo CO foram expostos a uma contingência operante em esquema

CRF (continous reinforcement) de pressão à barra para obter uma infusão i.v. de morfina.

Cada vez que um sujeito do grupo CO recebeu uma dose de morfina, o sujeito do grupo CP e

o do grupo Ctrl a ele acoplados receberam sob contingência Pavloviana uma injeção i.v da

droga na mesma dose ou de veículo (1,0 ml/kg), respectivamente. Cada infusão foi sinalizada

pela apresentação simultânea de uma luz estímulo branca (1W) por 10s nas caixas

correspondentes ao trio, sendo sequenciada por um time out (TO) de 1 min, no qual a barra

retrátil não esteve disponível. Sessões diárias consecutivas foram realizadas durante três

semanas. Cada sessão teve duração máxima de 2 h programadas, mas podia terminar

antecipadamente para um trio se o membro do grupo CO atingisse 20 infusões naquela

sessão.

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Fase 2. Imunohistoquímica Fos

O procedimento é explicado com detalhe na secção de Métodos e Equipamentos do

presente trabalho. Em resumo, uma hora após o término da última sessão de administração da

droga, os sujeitos foram perfundidos para fixar os tecidos. Os cérebros foran removidos e

posteriormente processados para obter cortes frontais seriados, com 30m de espessura

usando um micrótomo de congelação. Os cortes foram incubados inicialmente em uma

solução de tampão fosfato de potássio 0,02M contendo triton X-100 a 0,3%, soro normal de

cabra a 2% e anticorpo policlonal FosB, (102, SC-48/Sta Cruz Biothecnology®). O

complexo antígeno-anticorpo foi localizado utilizando-se uma variação do sistema formado

pelo complexo avidina-biotina, e após a incubação com o anticorpo primário, os cortes foram

incubados em uma solução contendo anticorpo biotinilado anti-IgG de coelho, feito em cabra,

e em seguida, colocados em uma solução contendo o composto avidina-biotina-HRP, para

ligar a peroxidase ao complexo antígeno-anticorpo. Posteriormente se realizou a revelação do

complexo antígeno-anticorpo incubando os cortes em uma solução contendo 50mg de

tetrahidrocloreto de 3-3’ diaminobenzidina-DAB, 0,6mg de glicose oxidase (Sigma), 2ml de

uma solução aquosa de sulfato de níquel a 10% e 40mg de cloreto de amônia em 100ml de

tampão fosfato de sódio 0,1M, e em seguida, foi adicionado -D-glicose, interrompendo a

reacão após 10 min aproximadamente. Os cortes foram então montados em lâminas

recobertas com gelatina para poder obter as imagens de microscopia que foram analizadas.

Para analisar o material, foi realizada inicialmente uma avaliação semiquantitativa da

expressão das proteínas ΔFosB no NAc (core e shell), regiões do sistema nervoso central nas

quais estas proteínas se expressaram de forma diferencial para CO e CP em um estudo piloto

prévio. Posteriormente foi realizada a contagem de células imunorreativas à proteína ΔFosB

para as áreas neurais de maior interesse (ver Tabela 1) utilizando o software Image Pro Plus®.

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Tabela 1. Áreas Neurais Estudadas no Experimento 1

ÁREA SUBÁREA

Córtex Pre-Frontal Medial (mPFC) Córtex Cingulado (Cg1) Córtex Prelímbico (PrL) Córtex Infralímbico (IL)

Nucleo Acumbente (NAc) Core Shell

Caudado Putamen (CPu) Lateral Basolateral

Hippocampo Giro Dentado (DG) Corno de Amon 1 (CA1) Corno de Amon 3 (CA3)

Amígdala Basolateral Central Medial

Análise de dados

A diferença de expressão de ΔFosB das diferentes subáreas entre grupos foi calculada

realizando testes não paramétricos para amostras independentes. O teste de Kruskall-Wallis

foi realizado para detectar diferenças estatísticas, e quando achadas estas (p < 0,05), o teste U

de Mann-Whitney com fator de correção Bonferroni foi utilizado como post hoc. Todas as

análises estatísticas foram executadas fazendo uso do software aplicativo IBM SPSS®.

Resultados

Durante a única fase do Experimento 1, a Fase 1 (Administração de Morfina em

Esquema Acoplado), os sujeitos dos três grupos foram expostos a um arranjo experimental no

qual cada vez que um sujeito do grupo CO tinha como consequência do seu responder uma

dose de morfina, o sujeito do grupo CP e o do grupo Ctr a ele acoplados receberam sob

contingência Pavloviana uma injeção i.v da droga na mesma dose ou de veículo (1,0 ml/kg),

respectivamente. A média de infusões (M =5,617, SD = 1,093) esteve dentro do esperado

segundo o que se reporta para estudos de autoadministração de morfina (Mierzejewski et al,

2003; Suto, Wise, & Vezina, 2011).

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Figura 3 – Média de infusões durante a Fase 1 do Experimento 1. O gráfico mostra a frequência da média de infusões de morfina dos sujeitos integrantes dos grupos CO, CP e Ctr durante as últimas seis sessões da Fase 1.

Após as sessões de administração de morfina, os sujeitos foram perfundidos e as

amostras de tecido foram processadas para imunohistoquímica de ΔFosB. Em seguida são

mencionados os resultados das comparações das médias do número de células imunorreativas

a ΔFosB no mPFC utilizando o teste Kruskall-Wallis, região por região, junto com gráficos

que ilustram as diferenças entre grupos.

Como pode ser observado na Figura 4, a análise estatística revelou diferenças

significativas entre grupos em todas as subáreas estudadas do mPFC. Diferenças entre grupos

para Cg1 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =7,144 p =0,028), com uma mediana de 103,80

para o grupo CO, 94,28 para o CP e 110,20 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com

correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CP x Ctr (p =0,030). Diferenças

entre grupos para PrL (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =7,337 p =0,026), com uma

mediana de 11,93 para o grupo CO, 102,93 para o CP e 107,61 para o Ctr, e o teste pós-hoc

Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x CP (p

=0,020). Adicionalmente, foram achadas diferenças estatisticamente significativas entre

grupos para IL (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =10,694 p =0,005), com uma mediana de

0

2

4

6

8

10

12

1 2 3 4 5 6

Infu

ssõ

es

Sessão

ACO1 ACO2 ACO3 ACO4

ACO5 ACO6 ACO7 ACO8

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126,78 para o grupo CO, 112,97 para o CP e 99,94 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-

Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p

=0,003).

Figura 4 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no mPFC. O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do mPFC (Cg1, PrL e IL) no Experimento 1. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

Na Figura 5 se pode observar que existem diferenças estatisticamente significativas

entre grupos em ambas as subáreas do NAc. A análise estatística comparando as médias do

número de células imunorreativas a ΔFosB diferenças estatisticamente significativas entre

grupos para NAc Core (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =15,068 p =0,001), com uma

mediana de 374,78 para o grupo CO, 306,96 para o CP e 135,17 para o Ctr, e o teste pós-hoc

Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x CP (p

=0,006), CO x Ctr (p =0,007) e CP x Ctr (p =0,007). Para NAc Shell, foram encontradas

diferenças estatisticamente significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19)

=13,126 p =0,001), com uma mediana de 171,79 para o grupo CO, 202,28 para o CP e 124,43

para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados

significativos de CO x CP (p =0,033) e Co x Ctr (p =0,030) e CP x Ctr (p =0,007).

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Figura 5 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no NAc. A figura mostra a mediana (-25P e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do NAc (Core e Shell) no Experimento 1. Krusskal-Wallis mediana *p<0,05 **p<0,01.

A Figura 6 mostra um exemplo das marcações de ΔFosB realizadas, ilustrando à

esquerda um sujeito do grupo CO e à direita um do CP.

Figura 6 – Imagem microscópica da marcação de células imunorreativas a ΔFosB no NAc. A imagem mostra em uma escala de aumento 4X, o número de células imunorreativas a ΔFosB por mm² no CPu Core e Shell em sujeitos dos grupos CO (à esquerda) e CP (à direita) no Experimento 1.

A análise estatística comparativa nas subáreas do CPu revelaram que existem

diferenças significativas entre grupos tanto no CPu Lateral, como no CPu Medial, como pode

ser observado na Figura 7. Diferenças entre grupos para CPu Lateral (Kruskall-Wallis test: H

(2, N= 19) =11,314 p =0,003), com uma mediana de 100,33 para o grupo CO, 105,89 para o

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Core Shell

lula

s im

un

orr

eat

ivas

po

r m

Grupo

CO CP Ctr** **

**

* ***

CO CP

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CP e 41,58 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou

resultados significativos de CO x Ctr (p =0,007) e CP x Ctr (p =0,007). Para CPu Medial,

foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre grupos (Kruskall-Wallis

test: H (2, N= 19) =10,773 p =0,005), com uma mediana de 114,56 para o grupo CO, 112,99

para o CP e 58,09 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni

mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p =0,007) e CP x Ctr (p =0,007).

Figura 7 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Caudado Putamen (CPu). O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do CPu (Lateral e Medial), no Experimento 1. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

A Figura 8 mostra a comparação entre as subáreas DG, CA1 e CA3 do Hipocampo.

Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em todas estas. Diferenças entre

grupos para DG (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =15,068 p =0,001), com uma mediana de

229,69 para o grupo CO, 257,49 para o CP e 202,91 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-

Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p

=0,007) e CP cx Ctr (p= 0,007). Para CA1, foram encontradas diferenças estatisticamente

significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =10,566 p =0,005), com uma

mediana de 172,85 para o grupo CO, 153,39 para o CP e 105,43 para o Ctr, e o teste pós-hoc

Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p

0

20

40

60

80

100

120

140

Lateral Medial

lula

s im

un

orr

eat

ivas

po

r m

Grupo

CO CP Ctr

**** **

**

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63

=0,007) e CP x Ctr (p =0,007). Para CA3, foram encontradas diferenças estatisticamente

significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =15,916; p <0,001), com uma

mediana de 144,81 para o grupo CO, 71,73 para o CP e 31,49 para o Ctr, e o teste pós-hoc

Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x CP (p

=0,001), CO x Ctr (p =0,007) e CP x Ctr (p =0,007).

Figura 8 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Hipocampo. O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do Hipocampo (DG, CA1 e CA3), no Experimento 1. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

Por último são ilustradas as comparações entre as subáreas Basolateral, Medial e

Central da Amígdala. Como pode ser observado na Figura 9, existem diferenças significativas

entre grupos unicamente para as duas primeiras. Diferenças entre grupos para Amígdala

Basolateral (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =9,430 p =0,009), com uma mediana de

160,45 para o grupo CO, 125,40 para o CP e 127,06 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-

Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x CP (p

=0,012) e perto da significância estatística, CO x Ctr (0,053). Para Amígdala Central, foram

encontradas diferenças estatisticamente significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H

(2, N= 19) =8,754 p =0,013), com uma mediana de 187,90 para o grupo CO, 145,55 para o

CP e 150,89 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni

0

50

100

150

200

250

300

DG CA1 CA3

lula

s im

un

orr

eat

ivas

po

r m

Grupo

CO CP Ctr****

****

****

**

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mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p =0,015) e perto da significância estatística,

CO x CP (0,052). Para Amígdala Medial, não foram encontradas diferenças estatisticamente

significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =5,224 p =0,073), com uma

mediana de 165,49 para o grupo CO, 139,34 para o CP e 127,27 para o Ctr.

Figura 9 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB na Amígdala. O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas da Amígdala (Basolateral, Central e Medial), no Experimento 1. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

Em resumo, os resultados apresentados do Experimento 1 mostram que a o grupo CO

expressou maior quantidade de FosB comparado com o CP e Ctr no Core e CA3; e o grupo

CP expressou maior quantidade de FosB comparado com o CO e Ctr no Shell e no DG. No

lCPu, mCPu e CA1, o grupo CO e CP tiveram maior expressão que o Ctr (mas não ouve

diferença entre estes). Adicionalmente, no PrL e BLA o grupo CO teve maior expressão que

o CP e no IL e CeA o grupo CO teve maior expressão que o Ctr.

Por serem muitas variáveis dependentes (13 sub-áreas) e duas independentes (tipo de

contingência de administração e droga), elaborou-se uma tabela que mostra todos os

resultados possíveis derivados das comparações entre os grupos. Acredita-se que a Tabela 3

possa auxiliar o acompanhamento dos resultados e a discussão.

0

50

100

150

200

250

Basolateral Central Medial

Cél

ula

s im

un

orr

eat

ivas

po

r m

Grupo

CO CP Ctr

*

*

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Tabela 3. Resultados possíveis e sua interpretação (mudança de expressão de

DelafosB) de acordo com as variáveis independentes manipuladas (infusão de droga e

contingência de administração)

RESULTADO DROGA CONTINGÊNCIA INTERPRETAÇÃO

CO = CP CO = Ctr CP = Ctr

Não Não Nem a droga, nem a contingência alteraram ΔFosB

CO = CP CO ≠ Ctr CP = Ctr

Não Não Nem a droga, nem a contingência alteraram ΔFosB. A diferença explicada por outra variável

CO = CP CO = Ctr CP ≠ Ctr

Não Não Nem a droga, nem a contingência alteraram ΔFosB. A diferença explicada por outra variável

CO = CP CO ≠ Ctr CP ≠ Ctr

Sim Não A droga alterou ΔFosB independentemente da contingência

CO ≠ CP CO ≠ Ctr CP ≠ Ctr

Sim Sim A contingência operante e Pavloviana alterou ΔFosB de forma diferencial

CO ≠ CP CO ≠ Ctr CP = Ctr

Sim Sim A droga alterou a expressão de ΔFosB só sob CO

CO ≠ CP CO = Ctr CP ≠ Ctr

Sim Sim A droga alterou ΔFosB só sob contingência Pavloviana

CO ≠ CP CO = Ctr CP = Ctr

Não Não Nem a droga, nem a contingência alteraram ΔFosB. A diferença explicada por outra variável

Discussão

O objetivo do Experimento 1 foi explorar o efeito da administração de morfina sob

contingência operante e Pavloviana sobre a expressão gênica de FosB em diferentes áreas

do cérebro implicadas na dependência às drogas. Para isso, ratos de três grupos foram

expostos a um esquema acoplado. Sob esse esquema, cada vez que um animal do grupo CO

girava uma roda operante sob algum valor de FR na presença de um estímulo, uma infusão de

morfina era liberada como consequência; ao mesmo tempo, a droga era também infundida na

presença do mesmo estímulo no sujeito do grupo CP e o do grupo Ctr a ele acoplados.

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Posteriormente, os ratos foram perfundidos e amostras de tecido das áreas de interesse foram

tomadas para análise imunohistoquímica de FosB.

Os resultados do Experimento 1 confirmam os achados em todas as áreas reportadas

pelo estudo de Perrotti et al. (2008), reportando que a morfina pode induzir a expressão de

FosB no CPF, estriado dorsal, NAc Core e Shell, hipocampo DG e CA3 e amígdala BLA e

CeA. Ainda, de forma mais detalhada, os resultados mostram as subáreas do CPF e estriado

dorsal em que a morfina pode induzir a expressão de FosB, PrL e IL do CPF, e CPu do

estriado dorsal.

Os resultados do Experimento 1 mostraram que a expressão de FosB no NAc Core e

CA3 foi maior no grupo CO comparado com os animais dos outros dois grupos. Estes dados

são consonantes com a literatura que mostra que autoadministração repetida de uma droga

produz mudanças gênicas (no SNC) diferentes às causadas pela administração repetida da

mesma droga de forma passiva (Choi et al., 2011; Jacobs et al., 2002, 2003, 2005; Krawczyk,

2002; Kuzmin & Johansson, 1999; Lüscher & Malenka, 2011; Miguéns et al., 2008; Thomas

et al., 2003; Winstanley et al., 2007). Em contrapartida, os resultados também mostraram que

a expressão de FosB no NAc Shell e DG foi maior no grupo CP comparado com os animais

dos outros dois grupos. Na literatura atual não foram encontrados estudos que reportem que a

administração passiva de uma droga possa produzir uma maior mudança de expressão gênica

em comparação com a autoadministração da mesma. Ainda, dentro dos limites do

conhecimento bibliográfico, este é o primeiro estudo que avalia as diferenças de expressão de

FosB na autoadministração e administração passiva utilizando morfina.

A expressão de FosB no PrL, BLA e CeA foi maior no grupo CO comparado com o

grupo Ctr, mas não comparado com o CP. Parece existir um padrão ou tendência que não

conseguiu ser confirmado estatisticamente neste estudo, em que a expressão de FosB é

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CO>CP>Ctr nestas três subáreas mencionadas. As variáveis que não mostrem uma diferença

clara entre contingência operante e a Pavloviana não são relevantes para os objetivos desta

pesquisa, ergo, não serão discutidos.

Ainda, os resultados deste experimento parecem sustentar a proposta de que FosB

seria um IEG marcador do efeito reforçador de drogas no NAc e PFC (e.g Colby et al., 2003;

Zachariou et al., 2006).

O PFC regula funções executivas relacionadas com diferentes aspectos de

comportamentos de meta dirigida (Tran-Tu-Yen, Marchand, Pape, Scala, & Coutureau, 2009),

e outras tarefas de aprendizagem operante, como sequência de respostas que levam a obter um

reforçador (Barbey, Krueger & Grafman, 2009), memória de trabalho (Corbit & Balleine,

2003a), processamento de informação emocional, aprendizagem e memória (Hayden & Platt,

2010). Os resultados do Experimento 1 para o PFC revelaram que que a autoadministração de

morfina aumentou a expressão de FosB dos animais do grupo CO, quando comparados com

os animais dos grupos CP no Cg1, e dos animais do grupo CO, quando comparados com os

animais dos grupos Ctr no IL.

O PrL tem sido associado à memória de trabalho e mediação de associações resposta-

consequência (Corbit & Balleine, 2003a), entre outros. As diferencias entre os grupos CO e CP

é consistente com a atribuição dessa função, pois os sujeitos do grupo CO, mas não os do grupo

CP, foram treinados sob uma contingência operante (resposta-consequência). Entretanto, como

não foram observadas diferenças entre o grupo Ctr e os grupos CO e CP, não é possível atribuir

aos efeitos incondicionados ou condicionados da droga a disparidade entre contingência

operante e Pavloviana, nem às contingências de aprendizagem sob as quais cada grupo estava

sendo treinado. Assim, os resultados parecem indicar que a administração de morfina não altera

a expressão de FosB nesta subárea.

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Os resultados também mostraram que no Cg1 o grupo Ctr apresentou uma maior

expressão de FosB comparado com o grupo CP. O Cg1 tem uma função altamente relevante

para a aprendizagem das consequências que produz um comportamento, tendo um papel no

processamento de informação emocional, aprendizagem e memória relacionados com um

reforçador (Hayden & Platt, 2010). Entretanto, de acordo com os resultados apresentados, a

expressão de FosB não foi alterada pelos efeitos da droga, implicando que esta proteína não

seria um marcador de interesse no Cg1 na administração de morfina, a diferencia dos outros

subnúcleos do CPF. Ainda, esta expressão não se vê afetada pela administração de morfina em

contingência operante ou Pavloviana.

Por outro lado, os resultados no IL, o qual está associado à aprendizagem operante, mais

especificamente, às tarefas de meta dirigida (Tran-Tu-Yen, Marchand, Pape, Scala, &

Coutureau, 2009), mostraram uma diferença entre o grupo CO e o Ctr e CP e Ctr, mas não entre

CO e CP. Este dado está em concordância com o estudo de Perrotti et al. (2008) que indica que

a expressão de FosB no PFC é aumentada pela administração de morfina, esclarece que esta

expressão não depende do tipo de contingência de aprendizagem em que a morfina foi

administrada. Ainda, junto com os resultados de Cg1 e PrL, se especifica as subáreas do PFC

que são susceptíveis a expressão de FosB induzida pela administração de morfina, o qual não

se encontra descrito na literatura.

Os resultados no NAc foram os de maior interesse para a proposta de Winstanley et al.

(2007), que postula que a administração da droga sob contingência operante pode causar

algumas mudanças neurais, como expressão de FosB, que não se dariam em igual forma sob

CP. A expressão de FosB no Core dos sujeitos do grupo CO foi maior comparado com os

grupos CP e Ctr, porém a expressão desse IEg no Shell foi maior no grupo CP do que nos

grupos CO e Ctr, indicando que a contingência sob a qual a morfina é administrada produz

alterações diferencias nessas subáreas do NAC.

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De acordo com a literatura, mudanças no Core são críticas para a aquisição de

informação de estímulos ambientais que podem modular o comportamento, estando implicado

em tarefas de meta dirigida (Saddoris, Stamatakis, & Carelli, 2011), aprendizagem de tarefas

espaciais (Parkinson, Willoughby, Robbins & Everitt, 2000), PIT e devaluação (Corbit &

Balleine, 2001, 2005, 2011), e tarefas de escolha de reforçadores com atraso (Cardinal &

Cheung, 2005). Os resultados obtidos para o Core estão alinhados com as funções descritas

deste. A maior expressão de FosB no Core após a contingência operante de morfina na

presença de um estímulo, quando comparado com a contingência Pavloviana na presença do

mesmo estímulo, sugere que tanto o tipo de contingência quanto a droga, influenciaram este

resultado, de modo que a droga tivesse aumentado a expressão desta proteína no Core. Este

resultado é inédito na literatura. Se esperava encontrar diferenças na expressão FosB entre os

grupos CO e CP em algumas áreas, como no PFC, como reportado Zachariou et al. (2006), mas

foi surpreendente este achado no Core, pois no estudo de Perrotti et al. (2008), realizado com

COC, se reporta que não ouve diferença entre autoadministração e administração passiva na

expressão FosB no NAc.

O Shell está envolvido em processos de motivação e é frequentemente descrito como o

centro do prazer responsável pelo processamento da sensação de gosto no reforço positivo

(West & Carelli, 2016), assim como por ser sensível a estímulos salientes presentes no

ambiente (Ambroggi, Ghazizadeh, Nicola, & Fields, 2011). Uma maior expressão de FosB

no Shell após a administração passiva de morfina, quando comparado com a autoadministração

da mesma, sugere que tanto a contingencia de administração quanto a droga estiveram

envolvidos como fatores neste resultado, e que para o grupo CP a exposição à morfina em

conjunto com S1 durante o treino Pavloviano poderia ter incrementado a saliência deste

conjunto de estímulos, causando uma maior ativação do Shell, tanto pela sensação de prazer

causada pela morfina, como pela associação com S1.

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Ainda que já tinha sido reportado na literatura alterações da expressão de FosB no

NAc após autoadministração e administração passiva de COC (Perrotti et al., 2008), não

encontramos dados que mostrassem o efeito diferencial da contingência de administração de

morfina, operante ou pavloviana, sobre a indução desse IEG no Core e Shell do NAc. Em

conjunto, os resultados obtidos para o Core e Shell oferecem uma perspectiva em concordância

com a literatura que reporta estas duas subaéreas codificam informação associada a um

reforçador de forma diferencial, sendo no Core ligado a aspectos operantes e no Shell a aspectos

Pavlovianos da aprendizagem (e.g Saddoris et al., 2011; West & Carelli, 2016).

Os resultados para ambas as subáreas do CPu avaliadas neste estudo, são chamativos:

a morfina causou mudanças em ambas as subáreas avaliadas, lCPu e mCPu,

independentemente da contingência de administração. De acordo à literatura, o lCPu recebe

inputs do córtex somatossensorial e motor, tendo papel na mediação e programação de

movimentos, como mudanças na frequência, duração e amplitude dos movimentos em geral,

incluindo os envolvidos no aprendizado S-R, sendo que sua lesão prejudica a aprendizagem

de contingência S-R (Fricker, Annett, Torres, & Dunnett, 1996). Por outro lado, o mCPu

recebe inputs do mPFC e está implicado na mediação de funções como aprendizagem de

sequências e seleção de estratégias, sendo que a sua lesão impede a aprendizagem de tarefas

que envolvem aprendizagem de posição e de dicas ou estímulos presentes no ambiente, como

no labirinto de Morris e no de oito braços (Devan, McDonald, & White, 1999). Estes

resultados estão em concordância com o estudo de Perrotti et al. (2008), confirmando o

aumento na expressão de FosB na autoadministração de morfina para estas subáreas que

conformam o CPu. Ainda, especifica as subáreas que são sensíveis a expressão deste IEG, o

qual não estava reportado com tal detalhe, e mostra que esta expressão na lCPu e mCPu não

varia em razão da contingência em que a morfina seja administrada.

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No Hipocampo, a expressão de FosB no DG e CA3 foi alterada pela contingência

sob a qual a droga foi administrada; no CA1 foram também observadas mudanças da

expressão desse IEG, porém decorrentes do efeito da droga e independente da contingência

de administração. Subáreas como CA1 e CA3 têm sido reportadas como críticas para as

associações entre uma droga e estímulos ambientais (Gajewski, Eagle & Robison, 2017),

O DG tem sido reportado por ter funções de codificação conjuntiva (conjunctive

encoding processes), separação de padrões espaciais e separação de padrões contextuais

(Kesner, 2013). Em outras palavras, o DG estaria implicado na associação entre estímulos e a

discriminação destes. Os resultados para esta subárea mostram que o grupo CO e CP tiveram

uma maior marcação de FosB que o grupo Ctr, mas não houve diferença entre contingência

operante e Pavloviana. Este resultado confirma que a administração de morfina no DG pode

causar grande expressão FosB, como descrito por Perrotti et al., (2008). O dado sugere que

o DG é susceptível ao efeito farmacológico que a morfina causa sobre o organismo e não a

contingência de aprendizagem, estando em concordância com as funções atribuídas a esta

subárea, pois estando implicada na associação entre estímulos, se esperaria que ambas as

contingências tivessem um impacto nesta subárea, como mostra o resultado.

A CA1 é subárea descrita frequentemente pela sua relevância para a recuperação de

memória contextual e aprendizagem da ordem temporal de eventos, como em uma tarefa de

identificação de estímulos em sequência (Barrientos & Tiznado, 2016). Sabe-se que o CA1

expressa FosB quando morfina é administrada (Perrotti et al., 2008), porem dado que ambas

as contingências aqui estudadas envolvem a aprendizagem da ordem temporal de eventos,

não se esperavam diferenças entre os grupos CO e CP. Em alinhamento com esta ideia, os

resultados mostraram que, de forma similar ao DG, FosB foi induzido nos grupos CO e CP

em maior medida que no controle, porém sem ter diferença entre os dois primeiros. Isto

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indica que o CA1 é sensível à administração de morfina, mas é independente do tipo de

contingência em que esta seja administrada.

Por outro lado, o CA3, uma subárea caracterizada (entre outras funções) pelo seu

papel no processamento sequencial de informação em cooperação com CA1 e no

processamento de aspectos geométricos do ambiente em cooperação com o DG (Kesner,

2007). Os resultados mostram que nesta subárea o grupo CO apresentou uma maior marcação

de FosB comparado com os grupos CP e Ctr. Ainda, o grupo CP também apresentou uma

marcação maior deste IEG em comparação com o Ctr. Este resultado confirma o reportado

previamente, que indica que a administração de morfina pode induzir a expressão de FosB

no CA3 (Perrotti, et al., 2008) e mostra que esta expressão é susceptível do tipo de

contingência em que esta é administrada. Isto sugere que o efeito escalonado da manipulação

comportamental sobre a expressão de FosB (CO>CP>Ctr) poderia ser resultado da

sequência de informação mais complexa da contingência operante (Sd R SR), quando

comparada com a da pavlovianda (S R).

Na Amígdala observamos mudanças na expressão de FosB nas subáreas BLA e

CeA, mas não na MeA, após a autoadministração de morfina, mas não após sua

administração passiva.

A BLA possui conexões eferentes dirigidas ao NAc Core e Shell e se acredita que seja

necessária para que em conjunto se possa mediar a motivação implicada na aprendizagem

relacionada a estímulos ambientais/contextuais (Martinez, Carvalho-Netto, Ribeiro-Barbosa,

Baldo, & Canteras, 2011; Setlow, Holland & Gallagher, 2002) e na aprendizagem de

associações entre estímulos em comportamento de meta dirigida (Holland & Gallagher,

2003). De forma similar, na CeA, uma subárea a qual está implicada na atenção da

aprendizagem e está fortemente ligada à motivação em eventos relacionados a estímulos via

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ação reguladora do sistema dopaminérgico mesolímbico (Haney, Calu, Takahashi, Huges e

Schoenbaum, 2010). Os resultados mostram que em relação à expressão de FosB, para a

BLA o grupo CO foi diferente do CP, mas não do Ctr, e na CeA, o grupo CO foi diferente

comparado com o Ctr, mas não quando comparado com o CP. Estes dados estão em

concordância com o estudo de Perrotti et al. (2008), reportando que a administração de

morfina pode produzir um aumento na expressão de FosB na BLA e CeA.

De forma rigorosa, estes dado da BLA e CeA implicam que nem a morfina nem a

contingência influenciaram a expressão de FosB nestas subáreas e que estas diferenças

seriam explicadas por outras varáveis alheias a este estudo, porém seria de grande interesse

conferir estes resultados em um futuro estudo, pois o teste pós-hoc na BLA para CO x Ctr foi

0,053, e na CeA, para CO x CP foi 0,052, estando próximos a ser considerados diferentes em

termos estatísticos. Se fosse considerado que na BLA e na CeA o grupo CO foi diferente de

CP e Ctr, isto implicaria que a morfina aumentou a expressão de FosB unicamente sob CO,

e estaria em concordância com a função destas áreas na aprendizagem e motivação

relacionados a estímulos ambientais, tendo em conta o treino discriminativo que o grupo CO

teve.

Os resultados do MeA mostraram que não houve diferenças entre grupos. Isto sugere

que nem morfina nem o tipo de contingência pela qual esta foi administrada afeta a expressão

de FosB nesta subárea. A MeA tem um papel no processamento de cheiros e feromônios,

estando também envolvida em respostas aversivas, comportamento social e sexual (Carlson,

2012). Esta função não parece estar relacionada ao comportamento de administração de

drogas, porém a MeA foi incluída dentro do estudo para fazer uma avaliação mais completa

da amígdala.

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Em resumo, os resultados obtidos no Experimento 1, mostram que a

autoadministração de morfina ocasionou uma maior expressão de FosB que a administração

passiva desta, nas subáreas Core, CA3 e BLA, enquanto a contingência Pavloviana da mesma

droga causou uma maior expressão no Shell e no DG. Alguns destes resultados, como os do

Core e Shell, estão em concordância com dados reportados previamente na literatura sobre

estas subáreas estarem envolvidas na codificação de informação associada a um reforçador de

forma diferencial em relação ao tipo de contingência em que uma droga é repetidamente

administrada (Saddoris et al., 2011; West & Carelli, 2016). Dentro do limite da literatura

conhecida, o estudo aqui apesentado é o único que tem avaliado a expressão de FosB na

contingência operante e Pavloviana de morfina.

Outros dados aqui apresentados confirmam resultados reportado préviamente na

literatura, como os do estudo de Perrotti et al (2008), que mostra às subáreas em que a

morfina causa expressão de FosB. Por outro lado, em relação a este mesmo estudo, os

autores concluem que a indução de ΔFosB no NAc não está em função do tipo de

administração que uma droga é administrada, que estaria aparentemente em oposição aos

resultados apresentados mostrando que o Core e o Shell induziram diferencialmente a

expressão deste IEG em relação à contingencia em que a morfina foi administrada. Porém,

nesse estudo, esta conclusão foi tomada segundo dados de um experimento realizado com

COC. Adicionalmente, os mesmos autores concluem neste estudo que diferentes drogas

podem causar a expressão de FosB em diferentes subáreas cerebrais, portanto os resultados

deste experimento em relação ao Core e Shell não estariam em contradição.

Os resultados como os do NAc Core e Shell são de grande relevância. Dado que no

Core o grupo CO teve uma maior expressão de ΔFosB que a contingência Pavloviana e no

Shell foi de forma invertida. Isto sugere que os tipos de contingência podem produzir em um

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organismo não são questão de “tudo ou nada”, nem apenas que a administração de uma droga

sob contingência operante pode induzir mais ΔFosB que a administração da mesma sob

contingência Pavloviana, ou vice-versa, mas que a indução de ΔFosB pode variar em

diferentes subáreas cerebrais, segundo o tipo de contingência sob a qual uma droga é

administrada. Adicionalmente, além do Core e NAc, resultados similares foram achados para

outras subáreas, o PrL, CA3, BLA e CeA, mostraram uma maior marcação de ΔFosB sob

contingência operante que sob CP, e o DG apresentou uma maior marcação de ΔFosB sob

contingência Pavloviana que sob a operante. De forma geral, estas subáreas estão implicadas

na dependência às drogas por mecanismos associados ao processamento de informação

relacionada a estímulos presentes no ambiente e no comportamento de meta dirigido.

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Experimento 2. Procedimento de Respostas de Busca e Administração de Morfina nas

Associações por Contingências Pavloviana e Operante

Nos estudos de Patarroyo, Felício e García-Mijares (2014), ratos do grupo CO foram

expostos a treino discriminativo, obtendo infusões de morfina ao responder na presença de

um estímulo luminoso (S1). Desta forma, os animais dos grupos CP e Ctr acoplados,

receberam treino Pavloviano da relação de contingência entre a presencia de uma S1e a

infusão endovenosa de uma substância, morfina (CP) ou salina (CTR), ao mesmo tempo que

os sujeitos CO se auto administravam a morfina na presença da luz. Os resultados desse

experimento indicaram que sob esse procedimento a probabilidade condicional na relação

US–CS (luz-morfina) durante o condicionamento Pavloviano para os sujeitos CP foi igual ou

inferior a 0,2. Isto porque os animais do grupo CO responderam em torno de 20% das vezes

que S1 foi apresentado. Mesmo assim, a discriminação foi alta para esse grupo, pois

responderam 0% das vezes na ausência de S1. A despeito da baixa frequência de respostas, o

grupo CO, demonstrou bom controle de estímulo no teste de transferência (responderam

preferencialmente na presença do S1 associado com morfina). O grupo CP, porém, não ficou

sob controle se S1 (responderam igualmente na presença e na ausência de S1), mesmo que

recebeu o mesmo número de infusões da droga na presença de S1 do que o grupo CO. Os

autores discutem esses resultados em termos da relação de contingência entre S1-morfina no

treinamento do grupo CP, pois mesmo que as probabilidades condicionais morfina-S1,

morfina-nãoS1, não morfina-S1 e não morfina-nãoS1 fossem as mesmas para ambos os

grupos, a probabilidade de apenas 0,2 de apresentação de morfina na presença de S1 não foi

suficiente para estabelecer o aprendizado sob treino pavloviano.

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77

Considerando as limitações do procedimento de Patarroyo, Felício e García-Mijares

(2014), para o estudo adequado da relação entre a contingência de treino e o controle de

estímulos sobre a autoadministração e procura por drogas, ponto principal deste teste, o

objetivo principal do Experimento 2 foi desenvolver um procedimento melhorado para o

estudo do controle de estímulos associado por contingência Pavloviana ou por contingência

operante sobre as respostas de busca e autoadministração de morfina, implementando a

probabilidade CS–US (S1-morfina) durante o contingência operante para 100%. Para tanto, o

procedimento foi modificado para que as probabilidades fossem morfina-S1 =1, morfina-Não

S1 =0, Não morfina-S1 =0 e morfina-Não S1=1. Espera-se que as mudanças permitam

observar aquisição de controle de S1 sob o responder do grupo CP no teste de transferência,

isto é, o fenômeno PIT seja observado como documentado amplamente na literatura (e.g.,

Estes, 1948; Holland, 2004; Rescorla, 1994).

Sujeitos

Foram usados 24 ratos albinos machos da cepa Wistar. As cirurgias foram realizadas

quando os sujeitos atingiram 280g-300g de peso. Sete dias após a recuperação da cirurgia, os

animais foram distribuídos aleatoriamente em três grupos: Administração por Contingência

Operante (CO, n=8), Administração por Contingência Pavloviana (CP, n=8) e Controle (Ctr,

n=8), formando trios com um sujeito de cada grupo.

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Fases Experimentais

Fase 1. Treino Associativo de Morfina e S1 em Esquema Acoplado

A resposta de girar 90 graus uma roda operante foi modelada em esquema CRF para o

grupo CO. Os animais dos grupos CP e Ctr foram colocados em caixas operantes iguais às do

grupo CO (com a exceção da ausência do receptáculo) 9.

Cada vez que um sujeito do grupo CO introduziu a cabeça no receptáculo, este

recebeu uma infusão i.v. de morfina em dose eficaz para autoadministração (0,75 mg/kg), e

os sujeitos do grupo CP e do grupo Ctr acoplados a ele receberão sob contingência

Pavloviana uma injeção i.v da droga na mesma dose ou de veículo (1,0 ml/kg),

respectivamente. Para cada trio, as infusões de droga ou salina foram acompanhadas pela

apresentação simultânea10 de S1, uma luz estímulo verde (1W) por 30s, período no qual as

respostas do sujeito do grupo CO foram registradas, mas não tiveram consequências

programadas. Um time out (TO) de 1min seguirá cada apresentação de S1. Cada sessão teve

duração máxima de 2 h programadas, mas poderão terminar antecipadamente para um trio se

o membro do grupo CO conseguir atingir 20 infusões para o seu grupo. Esta fase teve uma

duração de três sessões.

9 As rodas operantes foram localizadas unicamente nas caixas dos sujeitos do grupo CO para evitar o reforçamento acidental (Pear & Eldridge, 1984) da resposta fazer girar a roda operante nos sujeitos dos outros grupos.

10 A apresentação de S1 é acionada simultaneamente ao bombeio da morfina e salina, porém, dado que a infusão demora três segundos em ser completamente realizada, a apresentação de S1 é realmente precedente à infusão, em outras palavras, um estímulo condicionado precedente e contiguo.

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Fase 2. Treino Discriminativo em Contingência Operante ou Pavloviana de

Morfina

O treino discriminativo para os sujeitos do grupo CO consistirá em 30 apresentações

de 30s de S1 (luz verde) e 30 de apresentações de 30s S2 (luz branca). As respostas foram

registradas quando os sujeitos giravam 90 graus uma roda operante. Uma resposta na

presença de S1 por parte do sujeito CO tinha como consequência uma infusão (i.v.)

contingente de morfina em dose eficaz para autoadministração (0,75 mg/kg), e os sujeitos do

grupo CP e do grupo Ctr acoplados a ele receberam sob contingência Pavloviana uma injeção

i.v da droga na mesma dose ou de veículo (1,0 ml/kg), respectivamente. Para cada trio,

simultânea à resposta do sujeito CO, as infusões de droga ou salina foram acompanhadas pela

apresentação de S1 por 30s. Dessa forma, a apresentação de S1 para os grupos CP e Ctr

estava sob o controle das respostas emitidas pelos ratos do grupo CO11. S2 foi apresentado

simultaneamente aos ratos de cada trio e as respostas na presença deste dos ratos CO não

tiveram consequências programadas.

As apresentações de S1 e S2 foram programadas para se apresentarem de forma

pseudoaleatória durante a sessão, de modo que apareceram no máximo duas vezes

consecutivamente. O critério de estabilidade estabelecido para passar de fase foram duas

sessões consecutivas sem aumento ou diminuição sistemática de infusões, ou seja ±10% de

variação do número de infusões por sessão.

11 Note-se que para o sujeito CO as apresentações de S1 são sempre 30, pois se encontra em treino discriminativo, em quanto que o sujeito CP, S1 é unicamente apresentado quando uma infusão de morfina é administrada. Desta forma, mesmo que o número de S1 não seja igual para os sujeitos destes grupos, se garante que o 100% das vezes S1 é apresentado para o sujeito CP, este recebe morfina.

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Fase 3. Treino de Encadeamento das Respostas de Busca e Autoadministração de

Morfina.

Os sujeitos não estiveram mais acoplados a partir desta fase e as infusões não foram

acompanhadas por S1. Inicialmente foi treinada a resposta de autoadministração de morfina.

Uma única barra retrátil (contrabalanceando lado esquerdo e direito) foi disponibilizada para

os ratos de todos grupos. Durante duas sessões a resposta de apertar esta barra em esquema

CRF teve como consequência uma dose de morfina, seguida por 30s de timeout (TO), no qual

a barra não estava disponível. Posteriormente foi treinada a resposta de busca por morfina

encadeada à resposta de autoadministração previamente treinada. A barra contralateral foi

disponibilizada no início das sessões de encadeamento. Uma resposta nesta barra (Barra B-

busca) tinha como consequência a disponibilização da outra barra (primeiro elo da cadeia), e

resposta nesta segunda barra (Barra A- autoadministração) teve como consequência uma

infusão de morfina (segundo elo da cadeia), seguida pela retração de ambas as barras (TO

30s). Após cada TO a primeira barra foi reintroduzida sinalizando que a contingência do

encadeado de busca-autoadministração estava disponível novamente. Ambos componentes

(barras) do encadeado estavam em esquema CRF durante duas sessões. O esquema de reforço

para cada elo da cadeia foi incrementado para FR2 (fixed ratio) durante duas sessões, e

posteriormente para FR3 até ser atingido o critério de estabilidade (duas sessões consecutivas

sem aumento ou diminuição sistemática da frequência de respostas – diferença ≤10%). Estas

sessões tiveram uma duração de 35 min, podendo terminar antecipadamente para um trio se o

membro do grupo CO conseguisse atingir 20 infusões para o seu trio.

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Fase 4. Teste de Transferência Sob o Controle de S1 nas Respostas de Busca e

Autoadministração de Morfina

Para o teste de transferência, ambas as barras, B e A, estavam disponíveis

permanentemente para todos sujeitos. Tentativas discretas de S1 e S2 foram apresentadas

para cada trio durante a sessão, da mesma forma que na Fase 2. As respostas nas barras foram

registradas, porém estavam em condições de extinção12. O teste foi realizado em uma única

sessão de duração de 2 h.

Análise de dados

Para analisar o desempenho dos sujeitos durante a Fase 3 (frequência de respostas e

administrações de morfina), e o desempenho dos sujeitos durante a Fase 4, ID atingido

durante o teste nas respostas de busca e autoadministração de morfina, persistência nas

respostas de busca e autoadministração de morfina durante a sessão de extinção, e latência13 à

primeira resposta; foram realizados testes não paramétricos para amostras independentes. O

teste de Kruskall-Wallis foi realizado para detectar diferenças estatísticas, e quando achadas

estas (p < 0,05), o teste U de Mann-Whitney com fator de correção Bonferroni foi utilizado

como post hoc. Todas as análises estatísticas foram executadas fazendo uso do software

aplicativo IBM SPSS®.

Resultados

12 Usualmente é administrado um veículo no lugar da droga para as sessões de extinção, mas foi decidido não usar infusões em geral para evitar que o som produzido pela bomba de infusão funcionasse como reforçador condicionado.

13 O sorteio de S1 e S2 não afetou a latência aqui apresentada, pois foi tomada desde o momento de aparição de S1 ou S2 até a primeira vez que uma Resposta de Busca ou Autoadministração é emitida durante a duração de um intervalo (de S1 ou S2), sendo restado o tempo anterior se foi um S diferente o apresentado.

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Para a Fase 1, a média de infusões foi 5,86 (SD = 0,813), o que está de acordo com o

Experimento 1 e com o padrão de autoadministração de morfina por ratos sob esquemas fixos

relatado pela literatura (Mierzejewski et al., 2003; Suto et al., 2011).

Na Figura 10 são mostrados os índices discriminativos (ID) das últimas seis sessões

da Fase 2 dos ratos CO. A figura mostra que todos os animais atingiram 90% ou mais de ID a

partir da sessão 5, que se manteve estável na sessão 6.

Figura 10 – Índice discriminativo durante a Fase 2 do Experimento 2. O gráfico mostra o ID dos sujeitos integrantes do grupo CO durante as últimas seis sessões da Fase 2 (Treino Discriminativo em contingência operante ou Pavloviana de Morfina). Pode-se observar que o ID vai aumentando até chegar a 90% ou superior nas últimas duas sessões.

Como mostrado na Figura 11, durante a Fase 3 (Treino de Encadeamento das

Respostas de Busca e Autoadministração de Morfina), os sujeitos de todos os grupos

atingiram estabilidade de resposta de autoadministração, com média de infusões (M =5,17 SD

= 0,734). Ainda, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre

grupos nas Respostas de Busca (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 21) =5,926 p =0,052), com

0,00,10,20,30,40,50,60,70,80,91,0

1 2 3 4 5 6

Índ

ice

Dis

crim

inat

ivo

SessãoACO1 ACO2 ACO3 ACO4

ACO5 ACO6 ACO7 ACO8

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uma média de 7,19 para o grupo CO, 8,92 para o CP e 6,07 para o Ctr. Tampouco foram

encontradas diferenças nas Respostas de Autoadministração (Kruskall-Wallis test: H (2, N=

21) =4,883 p =0,087), com uma média de 7,72 para o grupo CO, 9,31 para o CP e 8,14 para o

Ctr. Respostas Totais (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 21) =5,658 p =0,059), com uma media

de 7,78 para o grupo CO, 10,01 para o CP e 8,21 para o Ctr; nem nas Infusões por sessão

entre os grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 21) =1,739 p =0,419), com uma média de

13,22 para o grupo CO, 12,84 para o CP e 10,79 para o Ctr.

Figura 11 – Média de infusões durante a Fase 3 do Experimento 2. O gráfico mostra a média de infusões de morfina dos sujeitos integrantes dos grupos CO, CP e Ctr durante as últimas seis sessões da Fase 3 (Treino de Encadeamento das Respostas de Busca e Autoadministração de Morfina). Pode-se observar que o número de infusões tente se estabilizar durante as últimas sessões.

Na Figura 12 são mostrados os dados da frequência de respostas na barra busca (B) e

na barra de administração (A) na presença de S1. Nota-se na figura que os animais do grupo

CO responderam mais na barra B (primeiro elo da cadeia) na presença de S1 do que os outros

dois grupos. De fato, o teste Kruskall-Wallis revelou diferenças significativas entre a

frequência de respostas e na barra B dos grupos. Diferenças entre grupos para a frequência

total de respostas em S1 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 21) =10,349 p =0,006), com uma

mediana de 52,5 para o grupo CO, 25,5 para o CP e 14,5 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-

Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x CP (p

1

2

3

4

5

6

1 2 3 4 5 6

dia

de

Infu

ssõ

es

po

r Se

ssão

Sessão

CO CP Ctr

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84

=0,042) e CP x Ctr (p =0,024). Para a frequência de respostas na Barra B , foram encontradas

diferenças estatisticamente significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 21)

=15,637 p <0,001), com uma mediana de 46,00 para o grupo CO, 6,00 para o CP e 7,50 para

o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados

significativos de CO x CP (p <0,001) e CP x Ctr (p =0,001). Para a frequência de respostas na

Barra A em S1 (autoadministração) não foram encontradas diferenças estatisticamente

significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 21) =5,417 p =0,067), com uma

mediana de 7,00 para o grupo CO, 19,00 para o CP e 6,00 para o Ctr.

Figura 12 – Frequência de respostas de busca e autoadministração na presença de S1. Os dados representam a mediana (-P25 e +P75) da frequência de respostas na barra A, na barra B e o a frequência total (a somatória das repostas em ambas as barras), na presença de S1, dos sujeitos dos grupos CO, CP e Ctr durante a Fase 4. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

Na Figura 13 são mostrados os dados da frequência das respostas totais, na presença

de S1 e S2. Diferenças entre grupos para a frequência total de respostas (Kruskall-Wallis test:

H (2, N= 21) =10,349 p =0,006), com uma mediana de 59,5 para o grupo CO, 35,00 para o

CP e 24,00 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou

resultados significativos de CO x CP (p =0,001) e CP x Ctr (p =0,001).Para a frequência de

0

10

20

30

40

50

60

70

80

TOTAL B A

Fre

qu

ên

cia

de

Re

spo

stas

Barra

CO

CP

Ctr**

*

**

*

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85

respostas totais na Barra B , foram encontradas diferenças estatisticamente significativas

entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 21) =15,637 p <0,001), com uma mediana de

52,50 para o grupo CO, 25,50 para o CP e 14,50 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney

com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x CP (p =0,036), e CO x

Ctr (p =0,048). Para a frequência de respostas totais na Barra A em S1 (autoadministração),

não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre grupos (Kruskall-

Wallis test: H (2, N= 21) =5,417 p =0,067), com uma mediana de 8,00 para o grupo CO,

11,00 para o CP e 13,00 para o Ctr.

Figura 13 – Frequência total de respostas de busca e autoadministração. Os dados representam a mediana (-P25 e +P75) da frequência de respostas na barra A, na barra B e o a frequência total (a somatória das repostas em ambas as barras), na presença de S1 e S2, dos sujeitos dos grupos CO, CP e Ctr durante a Fase 4. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

Na Figura 14 são mostrados os Índices Discriminativos (respostas em S1/respostas

totais) da frequência total de respostas, frequência de respostas na Barra B e frequência de

respostas na barra A de cada grupo na Fase 4. O índice discriminativo permite observar o

controle de S1 sobre ambas as respostas de interesse, busca e autoadministração. Foram

observadas diferenças entre grupos no ID Total em S1 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 22)

=15,932 p =0,000), com uma mediana de 87,13 para o grupo CO, 71,57 para o CP e 57,63, e

o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos

0

10

20

30

40

50

60

70

80

TOTAL B A

Fre

qu

ên

cia

de

Re

spo

stas

Barra

CO

CP

Ctr

**

**

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de CO x CP (p =0,003), CO x Ctr (p=0,002), e CP x Ctr (p=0,037). Em relação aos indices

discriminativos de cada barra, a análise mostrou que houve diferença entre os grupos no

controle de S1 sob as respostas emitidas na barra B (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 22)

=14,000 p =0,001) e na Barra A (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 22) =13,584; p =0,001). As

análises pós-hoc revelaram que S1 controlou as respostas emitidas pelo grupo CO na barra B

quando comparado com CP (p <0,001) e Crt (p=0,007), mas não se observaram diferenças

entre os grupos CP e Crt (p=1). Por outro lado, quando foi comparado o ID na barra A, a

análise revelou que o grupo CP obteve índices significativamente maiores do que os grupo

CO (p=0,013) e do que o grupo Crl (p=0,002), mas não houve diferenças entre os grupos CO

e Crtl (p=0,243).

Figura 14 – Discriminação de S1 na Fase 4. O gráfico mostra o ID das de respostas de busca, respostas de administração e respostas totais, como mediana (-P25 e +P75), dos sujeitos integrantes dos grupos CO, CP e Ctr durante a Fase 4 (Teste de Transferência Sob o Controle de S1 nas Respostas de Busca e Autoadministração de Morfina). * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

A análise dos IDs por sujeito (Figura 15) permite observar com maior detalhe o

controle de S1 (índice discriminativo) sobre as respostas emitidas nas barras B e A. Nota-se

que S1 controlou as respostas de responder em B, mas não em A, de todos os animais do

grupo CO. Por outro lado, mais da metade dos animais do grupo CP obteve ID maior a 80%

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

TOTAL B A

S1/S

1+S

2

Barra

ACO

ACP

Ctr

****

*

*******

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87

na barra A. As respostas de apenas um animal do grupo Ctr ficaram sob controle de S1. Desta

forma, é evidente que houve controle diferencial de S1 sobre as respostas emitidas pelos

animais dos diferentes grupos.

Figura 15 – Índice discriminativo por sujeito nas barras de busca e administração. O gráfico mostra por sujeitos o ID das de respostas de busca e de administração, dos sujeitos integrantes dos grupos CO, CP e Ctr durante a Fase 4.

Na Figura 16, mostra-se a distribuição das respostas em percentual entre as barras B e

A na presença de S1 e S2, para cada grupo. Nota-se clara diferença de distribuição das

respostas entres os grupos. Todos os animais do grupo CO mostraram preferência pela Barra

B quando S1 estava presente. Em torno do 90% das respostas foram emitidas na barra B,

indicando uma forte preferência por essa barra. A análise estatística (Kruskall-Wallis test: H

(2, N= 22) =1,609 p =0,447) revelou diferenças significativas entre dois grupos em relação à

preferência pelas barras na presença de S1, e o pós-hoc mostrou resultados significativos de

CO x CP (p <0,001) e CO x Ctr (p=0,013). A análise estatística não revelou diferenças entre

grupos na presença de S2 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 22) =16,273 p =0,00). A diferença

entre os grupos em relação à preferência por B, o teste pós-hoc mostrou que a mediana do

grupo CO foi maior do que as dos grupos CP e Ctr (p=0,001 e p=0,002, respectivamente),

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88

porém não houve diferenças entre os grupos CP e Crt (p= 0,143). Como mostrado na mesma

figura, foi também observada diferença entre os grupos em relação à preferência por A,

independentemente do controle de S1 e S2 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 22) =15,043 p

=0,001). Novamente, a prova pós-hoc encontrou diferenças entre CO e CP (p=0,000) e entre

CO e Ctr (p=0,002), mas não entr CP e Ctr (p= 0,425).

Figura 16 – Preferência por B na presença dos estímulos discriminativos. Os dados mostram a distribuição das respostas entre a barra B e a barra A como mediana (-P25 e +P75) do índice de preferência (frequência de respostas em B/frequência de resposta em B + frequência de resposta em A) na presença de S1 e S2 na Fase 4 do Experimento 2, dos grupos CO, CP e Ctr. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

Como mostrado na Figura 17, onde se mostram os dados individuais, todos os ratos

do grupo CO, mas nenhum do grupo CP, preferiram a barra B quando S1 foi apresentado. Já

os animais do grupo CP mostraram maior variabilidade, sendo que a maioria preferiu a barra

A na presença desse estímulo. Quanto o grupo Ctr não se observa algum padrão.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

TOTAL S1 S2

B/B

+A

Estímulo

CO

CP

Ctr

***

****

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Figura 17 – Porcentagem de respostas de busca e administração em S1 e S2. O gráfico mostra a proporção de respostas na barra de busca (B) e de administração (A) na presença de S1 e S2, dos grupos CO, CP e Ctr, durante a Fase 4.

Por último, na Figura 18 podem ser observadas a latência da primeira resposta emitida

diante S1 e de S2 durante a Fase 4. A análise Kruskall-Wallis revelou diferenças na latência

de resposta em B (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 22) =13,589 p =0,001) e em A (Kruskall-

Wallis test: H (2, N= 22) =15,605 p =0,000) na presença de S1, e em A na presença de S2

(Kruskall-Wallis test: H (2, N= 22) =11,503 p =0,003). Não houve diferenças de latência de

respostas em B na presença de S2 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 22) =5,671 p =0,059). As

análises pós-hoc revelaram que na presença de S1 a latência em B do grupo CO foi menor do

que as latências dos grupos CP (p =0,001) e Ctr (p =0,002), mas foi maior em A (p < 0,001 e

p =0,002, respectivamente). Ainda, foi observado que na presença de S2, a latência de

resposta em A do grupo CO foi maior do que a dos grupos CP (p= 0,01) e Ctr (p= 0,29).

00,1

0,2

0,30,4

0,5

0,60,7

0,80,9

1

1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 4 5 6

%

Sujeitos

S1

CtrCPCO

1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 4 5 6

Sujeitos

S2

BARRA A

BARRA B

CO CP Ctr

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90

Figura 18 – Latência da primeira resposta na Fase 4. Os dados mostram a mediana (-P25 e +P75) do tempo em segundos transcorridos desde a 1ª apresentação de S1 ou S2 e a emissão da 1ª resposta na barra A ou na barra B, para cada grupo CO, CP e Ctr durante a Fase 4. *p<0,05 **p<0,01.

Em resumo, os resultados apresentados do Experimento 2 mostram que: a) durante a

Fase 1 os animais receberam um número de infusões de morfina normal dentro do reportado

na literatura, b) os sujeitos do grupo CO atingiram 90% ou mais de ID durante a a Fase 2, c)

os animais dos três grupos atingiram estabilidade no número de infusões de morfina durante a

Fase 3, e não foram encontradas diferenças entre grupos nas respostas de busca e

administração; d) Durante a Fase 4, os sujeitos do grupo CO mostraram maior número de

respostas de busca e respostas totais na presença de S1 comparados com os grupos CP e Ctr;

e) No teste de transferência da Fase 4, o grupo CO mostrou um ID superior a 80% nas

respotas de busca e respostas totais na presença de S1, sendo diferente dos grupos CP e Ctr,

porém o grupo CP mostrou um ID superior a 80% nas respostas de administração na presença

de S1, sendo diferente dos grupos CO e Ctr; e) o grupo CO mostrou preferência pela resposta

de busca na presença de S1 e nas respostas totais quando comparado com os grupos CP e Ctr

durante a fase 4; e f) no teste de transferência, a latência de resposta de busca na presença de

S1 foi menor no grupo CO comparado com o CP e Ctr, enquanto que a latência de resposta

de administração na presença de S1 foi menor no grupo CP comparado com o CO e Ctr.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

CO CP Ctr

Tem

po

em

se

gun

do

s

GrupoLat Busc S1 Lat Adm S1 Lat Busc S2 Lat Adm S2

******

**

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91

A Tabela 4 mostra todos os resultados possíveis derivados das comparações entre os

grupos. Acredita-se que a tabela possa auxiliar o acompanhamento dos resultados e a

discussão.

Tabela 4. Resultados possíveis e sua interpretação (mudança nos parâmetros comportamentais índice discriminativo ou preferência) de acordo com as variáveis independentes manipuladas (infusão de droga e contingência de administração na Fase I)

RESULTADO DROGA CONTINGÊNCIA INTERPRETAÇÃO

CO = CP CO = Ctr CP = Ctr

Não Não

Ausência de PIT. O estímulo controlou a resposta na Fase 4 independentemente da droga ou da contingência

CO = CP CO ≠ Ctr CP = Ctr

Não Não

Ausência de PIT. O estímulo controlou a resposta na Fase 4 independentemente da droga ou da contingência. A diferença explicada por outra variável

CO = CP CO = Ctr CP ≠ Ctr

Não Não

Ausência e PIT. O estímulo controlou a resposta na Fase 4 independentemente da droga ou da contingência. A diferença explicada por outra variável

CO = CP CO ≠ Ctr CP ≠ Ctr

Sim Não

Houve PIT. O estimulo controlou a resposta de autoadministração na Fase 4 independentemente do treino da Fase 2.

CO ≠ CP CO ≠ Ctr CP ≠ Ctr

Sim Sim

Houve PIT. O estímulo controlou a resposta de autoadministração dos animais na Fase 4 de acordo com o treino da Fase 2.

CO ≠ CP CO ≠ Ctr CP = Ctr

Sim Sim Ausência de PIT. O estímulo controlou apenas a resposta do grupo CO na Fase 3.

CO ≠ CP CO = Ctr CP ≠ Ctr

Sim Sim

PIT apenas pode ser avaliado após observação dos valores. O treino da Fase 3 teve efeito diferencial sobre o desempenho na Fase 4 dos grupos CO e CP.

CO ≠ CP CO = Ctr CP = Ctr

Não Não Ausência de PIT. O controle do estímulo na Fase 4 apenas pode ser avaliado após observação dos valores.

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Discussão

Este experimento teve como objetivo estabelecer e aperfeiçoar um protocolo de

autoadministração de drogas em esquema acoplado para comparar de forma adequada a

administração sob condicionamento operante e pavloviano separando as respostas de busca e

autoadministração de droga. O experimento consistiu em quatro fases: a) Fase 1, Treino

associativo de morfina e S1 em esquema acoplado; b) Fase 2, Treino discriminativo sob

contingência operante ou Pavloviana de morfina em esquema acoplado; c) Fase 3, Treino de

encadeamento das respostas de busca e autoadministração de morfina; e Fase 4, Teste de

transferência do controle de S1.

Durante a Fase 2, cada vez que um sujeito do grupo CO respondia na roda operante

tinha como consequência uma infusão de morfina e simultaneamente o sujeito do grupo CP e

o do grupo Ctr a ele acoplados receberam sob contingência Pavloviana uma injeção i.v da

droga na mesma dose ou de veículo, respectivamente. Cada infusão foi sinalizada pela

apresentação simultânea de S1. Como no Experimento 1, a média de infusões ficou na faixa

relatada pela literatura, assim como o número de sessões em que a o ID do grupo CO ficou

estável (Mierzejewski et al., 2003; Suto et al., 2011).

Na Fase 3 não foram observadas diferenças entre os grupos, indicando que o treino

realizado na Fase 1 não teve efeito sobre a aquisição da pressão de barra. Isto é, a taxa de

respostas e média de infusão dos animais dos três grupos foi similar a despeito da experiência

prévia com morfina e com diferentes contingências de sua administração. Portanto, a Fase 2

parece não ter ocasionado efeitos de tolerância aos efeitos reforçadores da morfina. Ainda,

esses dados validam os obtidos na Fase 4, uma vez que grandes diferenças no número de

infusões entre grupos durante esta fase poderiam alterar o responder durante a seguinte.

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Os resultados do teste de transferência (Fase 4) indicaram que os estímulos

antecedentes adquiriram controle sobre a resposta de pressão de barra dos animais do grupo

CO e CP, mas não dos animais do grupo Crt (ID de respostas totais e de respostas na

presença de S1), indicando transferência de controle desses estímulos para um novo operante,

no caso do grupo CO, e PIT para o grupo CP. Entretanto, o controle de S1 sobre a pressão à

barra foi dependente das contingências manipuladas na Fase 2. S1 controlou as respostas dos

ratos do grupo CO só na barra B (aqui denominada “Busca”), primeiro elo da cadeia da Fase

3 e apenas consequênciada com a apresentação da barra A (aqui denominada

“Autoadministração”). Ainda foi observado que os animais desse grupo mostraram

preferência por essa barra na presença de S1, mas não de S2. Por outro lado, S1 controlou as

respostas dos animais do grupo CP só na barra A, porém não foi observada preferência por

essa barra na presença de nenhum dos estímulos.

A transferência do controle de S1 da resposta de girar a roda para a resposta

topograficamente diferente de apertar a barra é um fenômeno esperado e relacionado ao

conceito bem conhecido na literatura de classes de respostas. Uma classe de respostas ou

classe operante é um conjunto de respostas operantes que podem variar em sua topografia,

mas que produzem a mesma consequência (Catania, 1999). Classes operantes são, assim,

funcionalmente equivalente, e essa equivalência é o que define a classe (Barnes-Holmes &

Barnes-Holmes, 2000). Portanto, uma vez que pressionar a barra era mantida pela mesma

consequência do que girar a rodar (i.e., morfina), pode-se dizer que ambas topografias eram

da mesma classe operante. De fato, o controle de S1 sob a pressão de barra seria um

indicador importante desses dois comportamentos serem funcionalmente equivalentes. Deste

modo, a transferência de controle observada no desempenho dos animais do grupo CO indica

que os procedimentos de treino estabeleceram os controles esperados e adequados sobre o

comportamento dos animais.

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Por outro lado, o controle de S1 sob a resposta de pressão de barra dos animais do

grupo CP é indicador de PIT. Os processos comportamentais envolvidos na PIT não estão

claramente caracterizados na literatura, porém, assim como nas classes operantes, o estímulo

comum (i.e., o mesmo estímulo ter função de SR e o US) é uma das variáveis que facilita sua

ocorrência (Alarcon, Bonardi & Delamater 2018; Cartoni et al., 2016; Delamater &

Oakeshott, 2007).

De caráter complexo é explicar o controle diferencial de S1 sobre as respostas nas

barras A e B dos animais dos grupos CO e CP. Primeiro se pretende explicar o controle de S1

sobre o comportamento do grupo CP e depois o do grupo CO.

A contingência pavloviana da Fase 2 estabelecia relação direta entre os eventos S1 e a

infusão de morfina (relação de contingência) e de contiguidade (relação de contiguidade14).

Na Fase 3, a infusão de morfina era seguida apenas depois da pressão da barra A, sendo que a

pressão da barra B apenas produzia a barra A. Assim, a pressão da barra A estabelecia uma

relação de contingência e contiguidade entre os eventos mais semelhante à da Fase 2 do que a

pressão da barra B, que não era contigua nem tinha relação direta de contingência com a

infusão de morfina.

Delamater e Oakeshott (2007) relatam um experimento onde ratos foram primeiro

treinados sob relações pavlovianas CS1-US1 e CS2-US2 e operantes R1-US1 e R2-US2;

depois, de forma semelhante como a realizada neste experimento, observaram a resposta (R1

ou R2) na presença desses estímulos. Os autores observaram que na presença de CS1 os

animais emitiam R1 e na presença de S2 emitiam R2. Adicionalmente, Corbit e Balleine

(2003b) utilizando comida, e LeBlanc et al. (2012) utilizando COC, realizaram experimentos

14 Após S1 ter adquirido o controle do responder dos ratos do grupo CO, o tempo entre a apresentação de S1 e a infusão de morfina era menor a 1 s.

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para avaliar PIT em que ratos passaram inicialmente por uma fase em que recebiam comida

ou COC, respectivamente, de forma passiva na presença de um CS. Posteriormente

aprenderam um encadeado de respostas com duas barras, uma de busca e outra de

administração, para ter acesso à comida ou se autoadministrar a COC. Ambas as barras

estiveram presentes ao mesmo tempo durante a fase de teste de transferência e os autores

reportaram que na presença do CS, os sujeitos apresentaram uma maior frequência de

respostas na resposta de administração. Esses resultados, junto com evidências de que o

desempenho observado em experimentos de PIT dependem do aprendizado da relação

temporal entre o CS e o US (Matell & Della Valle, 2018), suportam a ideia de que o controle

de S1 sobre a barra A foi função da relação de contingência e de contiguidade da resposta

nessa barra com a infusão de morfina.

Diferente do grupo CP, ao grupo CO foi ensinada a relação entre S1 e infusão de

morfina por meio de um treino operante em que respostas na presença de S1 sinalizavam a

resposta de girar a roda operante. Como já discutimos, a transferência da resposta de girar a

roda operante a um novo operante, pressionar barras, pode ser explicado usando-se o conceito

de classe operante. A questão de maior interesse é por que S1 controlou a resposta

discriminativa e a preferência pela barra B dos ratos desse grupo. Uma explicação plausível é

que S1 controlou toda a cadeia comportamental ensinada na Fase 3. Isto é, não apenas o

último elo da cadeia (responder na barra A) entrou na classe operante mantida pela morfina,

mas também o elo inicial (responder na barra B). Assim, uma vez que pressionar a barra B é a

primeira resposta a ser emitida na cadeia, então na presença de S1, os animais do grupo CO

pressionavam essa barra. Essa proposta é coerente com o estudo de Bachá-Mendez Reid e

Mendoza-Soylovna (2016), que sugere que sequencias comportamentais de duas respostas

podem se conformar como unidades comportamentais integradas, que são mantidas pelo

reforço “primário” (i.e., a comida fortalece toda a cadeia comportamental e não apenas a

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resposta do último elo). Também é consistente com dados de Thrailkill & Bouton (2015,

2016) que mostram que a extinção da resposta de procura (primeiro elo da cadeia) diminui o

controle do estímulo sobre a resposta de consumo (segundo e último elo da cadeia) a ela

associada e vice-versa (a extinção da resposta de consumo altera o controle do estímulo sobre

a resposta de procura).

Infelizmente, no momento não está realizada a análise da sequência de respostas que

permita mostrar que os animais emitiam toda a cadeia comportamental, porém, os dados

estão registrados e a análise será feita para complementar a publicação destes dados.

Entretanto, considerando que os animais adquiriram e mantiveram a cadeia comportamental

na Fase 3, é coerente e parcimonioso assumir que depois de pressionarem a barra A, os

animais pressionariam a barra B.

O dado que mostra que a frequência de respostas do grupo CO foi maior do que a do

resto dos grupos durante a Fase 4 parece menos complexo de interpretar. Essa diferença não

poderia ser explicada apenas pelas características motoras da resposta treinada na Fase 2, nem

pelo desempenho na Fase 3, pois como já apontado, a frequência de respostas (i.e.,número de

infusões) foi semelhante entre os grupos. Uma possível explicação para este resultado é que o

CS associado à morfina durante as Fases 1 e 2 foi de curta duração (30 s), o que causaria

segundo alguns autores um responder operante diminuído durante o teste de transferência na

Fase 4 (Lovibond, 1981; van Dyne, 1971) em comparação com um CS de alta duração, o qual

aumentaria esta taxa de respostas (Estes, 1943, 1948; Crombag et al., 2008). Outra possível

explicação poderia ser que mesmo que tanto a contingência operante, quanto a Pavloviana,

podem prover as condições para ter resistência a extinção no teste de transferência (Nevin &

Grace, 2000, 2005), aumentando temporalmente a taxa de respostas observadas (Catania,

1999), esta resistência à extinção se pode ver afetada por muitas variáveis (Lattal & Lattal,

2012) que teriam sido diferentes para as condições dos treinos dos grupos CO e CP, causando

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esta diferença na taxa de respostas na Fase 4. Por exemplo, o grupo CO teve maior treino

instrumental que o CP, tendo em conta as fases 1 e 2, nas quais o CP não teve nenhum tipo de

controle sobre a morfina. Segundo alguns autores (Holmes et. al., 2010; Lattal & Lattal,

2012), esta quantidade de treino instrumental, poderia ter causado que o grupo CO

apresentasse uma maior taxa de respostas durante a Fase 4, a qual se realizou em condições

de extinção.

A latência da primeira resposta acompanhou o controle de S1 sobre a pressão à barra.

O grupo CO mostrou menor latência de resposta na barra B na presença de S1 e o grupo CP

mostrou a menor latência na barra A na presença de S1. Com frequência, a latência de

resposta não é encontrada como uns dos parâmetros avaliados em estudos de controle de

estímulos, porém, a latência pode oferecer valiosos dados sobre o valor reforçador de um

estímulo (Domjan, 2015; Zeaman, 1949) e a aprendizagem da relação CS-US (Catania, 1999;

Supes et al., 1966). Os resultados da latência de resposta em conjunto com os resultados de

ID, preferência de resposta e frequência de respostas, parecem apontar a um padrão, em que o

tipo de contingência teria causado que o controle de estímulos que se desenvolveu no grupo

CO e CP tenha algumas diferenças. Quando S1 esteve presente na Fase 4, no grupo CO a

latência de resposta foi menor na barra B, teve uma maior taxa de respostas na barra B e uma

clara preferência por esta, assim como um alto ID nesta mesma resposta; por outro lado, no

grupo CP, a latência de resposta foi menor na barra A e a taxa de respostas, preferência de

resposta e ID foram maiores para a barra A.

Em resumo, nossos dados sugerem que o controle de estímulos ambientais sobre a

cadeia comportamental inerente a qualquer autoadministração de droga (i.e.,procura da droga

seguida de consumo) é função das contingências comportamentais sob as quais foi

estabelecida a relação desse estímulo com a droga. Também indicam que tanto

autoadministrada, quanto administrada de forma passiva, o controle de estímulos do ambiente

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é transferido para novos comportamentos de autoadministração reforçados pela mesma droga,

mesmo quando esses novos comportamentos são adquiridos na ausência desses estímulos.

Ainda, os dados sugerem que o controle de estímulos estabelecido pela contingência operante

foi mais efetivo que o estabelecido pela contingência Pavloviana.

Os dados produzidos por este experimento mostram a adequação do modelo de

administração acoplado (Catania, 1999; Sanchis-Segura& Spanagel, 2006) para o estudo do

efeito das contingências de treino operante e respondente sobre os comportamentos do

dependente de drogas. O delineamento experimental dos estudos prévios (Patarroyo, Felício e

García-Mijares, 2014) não tinha permitido uma probabilidade S1-morfina de 100% para o

grupo CP durante o treino em associação Pavloviana, nem permitia separar as respostas de

busca e autoadministração, o que poderia explicar que naquele estudo não tenha sido

observado PIT ao não ter se formado a relação CS-US para esse grupo (Estes, 1948; Holland,

2004; Rescorla, 1994).

De fato, como apontado por Sanchis-Segura e Spanagel (2006), o processo de

administração de uma droga inclui várias fases, como busca/forrageio, compra/aquisição e

finalmente o consumo. Portanto é importante que estudos que visam compreender a

dependência às drogas estudem estas respostas por separado, pois como mostrado neste

experimento, não todas as respostas no processo de consumo de uma droga são afetadas da

mesma forma por estímulos que foram associados a estas em diferentes histórias de

associação.

Finalmente, ainda destacando que o modelo e o delineamento utilizados neste

experimento sejam adequados estudo para estudar o controle de estímulos, é importante notar

as suas limitações. A Fase 4 dispunha simultânea e permanentemente as barras de busca e

administração, o que permitiu coletar os valiosos dados destas respostas por separado e

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observar os resultados discutidos, porém, ao estarem apresentadas ao mesmo tempo, não se

apresentou mais uma situação de cadeia de respostas, como treinado previamente, mas uma

situação de escolha. Portanto, a barra de busca não teve mais uma função de busca per se, e

entrou em concorrência com a barra de administração.

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Experimento 3. Associações por Contingências Pavloviana e Operante nas

Respostas de Busca e Administração de COC e a na Expressão de FosB

O Experimento 3 teve dois objetivos, o primeiro foi observar e comparar o possível

efeito diferencial nas respostas de busca e autoadministração de COC na presença de um

estímulo associado a esta droga por contingência operante ou Pavloviana, avaliando o

controle que estímulos ambientais associados à COC podem exercer em diferentes histórias

de administração. O segundo objetivo foi verificar o efeito da autoadministração e

administração passiva de COC sobre a expressão gênica de FosB em diferentes áreas do

cérebro implicadas na dependência às drogas.

Neste experimento foram realizadas algumas mudanças metodológicas em relação ao

experimento 1 e 2, que são resumidas a seguir.

Primeiro, a droga administrada foi COC em vez de morfina. Os resultados do

Experimento 2 mostraram que a morfina controlou o comportamento de autoadministração

dos ratos, porém as taxas de respostas mantidas foram baixas. Por outro lado, a COC tem

efeitos estimulantes sobre o comportamento e tipicamente produz altas taxas de resposta

(Arroyo, Markou, Robbins & Everitt, 1988; Negus & Mello, 2003) e potencial para causar

uma forte dependência (Deroche-Gamonet, 2004; Kreek et al., 2012; Roberts, Morgan & Liu,

2007). No delineamento de treino utilizado neste estudo, maiores taxas de respostas estão

correlacionadas a maior número de pareamentos entre o efeito da droga e o S1, facilitando a

aprendizagem das contingências (Catania, 1999), consequentemente facilitando a

transferência do pareamento respondente à contingência operante (i.e.,PIT).

Segundo, foram usados ratos Lewis em vez de wistar. Ratos Lewis são uma cepa

susceptível a rápida aquisição de dependência (e.g., Kosten & Ambrósio, 2002; Sánchez-

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Cardoso et al., 2009). Assim, procurou-se aumentar a probabilidade da droga ser uma

consequência reforçadora para os animais.

Terceiro, a técnica imunohistoquímica foi realizada após duas fases fundamentais,

após as contingências Pavloviana e operantes serem estabelecidas (Fase 2) e após finalizadas

todas as fases de treino, tendo realizado o teste transferência. Isto permitiu ter medidas

comportamentais, medidas imunohistoquímica e de autorradiografia nos momentos em que as

contingências de aprendizagem estavam recém estabelecidas em cada etapa do experimento.

Sujeitos

Foram usados no total 34 ratos albinos machos da cepa Lewis (CO = 12, CP = 12, Ctr

= 10), experimentalmente ingênuos. As cirurgias foram realizadas quando os sujeitos

atingiram 280g-300g de peso. Sete dias após a recuperação da cirurgia, os animais foram

distribuídos aleatoriamente em três grupos: Contingência Operante (CO), por Contingência

Pavloviana (CP) e Controle (Ctr), formando trios com um sujeito de cada grupo. Para realizar

os testes imunohistoquímica os encéfalos de metade dos grupos foram removidos após a Fase

2 (CO = 6, CP = 6, Ctr = 5), e a outra metade após a Fase 4.

Fases Experimentais

As fases experimentais 1, 2, 3 e 4 são similares as do experimento 2. As principais

variações são ajustes aos esquemas de reforço dada a natureza ativadora da CoC em

comparação à morfina utilizada nos experimentos anteriores.

Fase 1. Treino Associativo de COC e S1 em Esquema Acoplado

A resposta de girar 90 graus uma roda operante foi modelada por quatro dias

consecutivos em esquema CRF para o grupo CO, sendo incrementado gradativamente para

FR10 (FR2, FR5, FR10). Os animais dos grupos CP e Ctr foram colocados em caixas

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operantes iguais às do grupo CO (com a exceção da ausência do receptáculo). Cada vez que

um sujeito do grupo CO respondeu na roda operante, uma infusão endovenosa de COC em

dose eficaz para autoadministração (0,75 mg/kg) foi administrada automaticamente por meio

do cateter alocado cirurgicamente. Os animais dos grupos CP e Ctr receberam

simultaneamente uma dose de COC ou salina, respectivamente. O estímulo S1 (buzzer) esteve

sempre presente nas sessões desta fase para todos grupos.

Cada sessão teve duração máxima de 2 h programadas, podendo terminar

antecipadamente para um trio se o membro do grupo CO atingir 20 infusões para o seu grupo.

O critério de estabilidade estabelecido para passar de fase foram duas sessões consecutivas

sem aumento ou diminuição sistemática de infusões, ou seja ±10% de variação do número de

infusões por sessão.

Fase 2. Treino Discriminativo em contingência operante ou Pavloviana de COC

O treino discriminativo para os sujeitos do grupo CO consistiu em aproximadamente

21 sessões de 2 h utilizando a roda operante como operando e um buzzer como estímulo

discriminativo. Os animais do grupo CO foram treinados em um esquema múltiplo de dois

componentes, esquema FR10 e extinção. O esquema FR10 funcionou na presença do buzzer

(S1) e a extinção funcionou na ausência deste (S2). As apresentações dos componentes

tiveram uma duração de 180 s e foram apresentados de forma pseudoaleatória, sendo

programados para cada um se apresentar no máximo três vezes consecutivas. O responder nos

últimos 10 s de cada componente teve como consequência o aumento deste em 10 s até

nenhuma resposta fosse apresentada, isto com o objetivo de que a contingência do treino

fosse bem estabelecida e evitar assim um efeito de carry over. Para os animais acoplados CP

e Ctr as infusões de COC foram simultâneas (às dos sujeitos CO) e sinalizadas por S1, sendo

controladas sempre pelos sujeitos do grupo CO. As apresentações de S2 também foram

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simultâneas para os membros de cada trio. Este arranjo permitiu que os grupos CO e CP

tivessem o mesmo número de apresentações de COC pareadas com S1, 100% das vezes.

O critério de estabilidade estabelecido para passar de fase foram duas sessões

consecutivas sem aumento ou diminuição sistemática de infusões, ou seja ±10% de variação

do número de infusões por sessão.

Fase 3. Treino de Encadeamento das Respostas de Busca e Autoadministração de

COC

Os sujeitos não permaneceram mais acoplados durante esta fase e as infusões não

foram acompanhadas por S1. Inicialmente foi treinada a resposta de autoadministração de

COC: uma única barra retrátil (contrabalanceando lado esquerdo e direito) foi disponibilizada

para os ratos de todos os grupos. Durante duas sessões a resposta de apertar esta barra teve

como consequência uma dose de COC, seguida por 10s de timeout (TO), no qual a barra não

esteve disponível, com o fim de evitar uma possível overdose. Posteriormente foi treinada a

resposta de busca por COC encadeada à resposta de autoadministração previamente treinada.

A barra contralateral foi disponibilizada no início das sessões de encadeamento. Uma

resposta nesta barra (Barra B -busca) teve como consequência a disponibilização da outra

barra (primeiro elo da cadeia), e resposta nesta segunda barra (Barra A - autoadministração)

teve como consequência uma infusão de COC (segundo elo da cadeia), seguida pela retração

de ambas as barras (TO 10s). Após cada TO a barra B foi reintroduzida sinalizando que a

contingência do encadeado de busca-autoadministração estará disponível novamente. Ambos

os componentes (barras) do encadeamento estiveram em esquema CRF durante duas sessões,

sendo incrementado gradativamente para FR10 (FR2, FR5, FR10), até ser atingido o critério

de estabilidade (duas sessões consecutivas sem aumento ou diminuição sistemática da

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frequência de respostas – diferença ≤10%). Estas sessões tiveram uma duração de 2 h,

podendo terminar antecipadamente quando um sujeito atingir 20 infusões.

Fase 4. Teste de Transferência Sob Controle de S1 nas Respostas de Busca e

Autoadministração de COC

Para o teste de transferência, ambas as barras estiveram disponíveis permanentemente

para todos sujeitos. Tentativas discretas de S1 e S2 foram apresentadas de forma simultânea

para cada trio durante a sessão, da mesma forma que na Fase 2. As respostas em ambas as

barras foram registradas, porém estiveram sempre em condições de extinção. Este teste teve

uma duração de 2 h.

Fase 5. Imunohistoquímica Fos

Foi realizada a contagem de células imunorreativas à proteína ΔFosB para as áreas

neurais de maior interesse (ver Tabela 2) utilizando o software Image Pro Plus®. Comparado

com o Experimento 1, neste experimento foi possível realizar a contagem de células

imunorreativas após as fases experimentais 2 e 4, permitindo fazer a comparação entre grupos

e intragrupo em dois momentos relevantes, justo após a contingência discriminativa foi

treinada (Fase 2), ou seja, quando as contingências de CO e CP se mantinham puras para o

grupos, e após o teste de extinção (Fase 4), sendo que para esse então todos animais de todos

grupos tinham aprendido a se autoadministrar a droga, porem nunca sendo treinada uma

contingência operante no grupo de contingência Pavloviana.

O procedimento imunohistoquímico é explicado com detalhe na secção de Métodos e

Equipamentos do presente trabalho. Em resumo, uma hora após o término da última sessão de

administração da droga, os sujeitos foram perfundidos para fixar os tecidos. Os cérebros

foran removidos e posteriormente processados para obter cortes frontais seriados, com 30m

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de espessura usando um micrótomo de congelação. Os cortes foram incubados inicialmente

em uma solução de tampão fosfato de potássio 0,02M contendo triton X-100 a 0,3%, soro

normal de cabra a 2% e anticorpo policlonal FosB, (102, SC-48/Sta Cruz Biothecnology®).

O complexo antígeno-anticorpo foi localizado utilizando-se uma variação do sistema formado

pelo complexo avidina-biotina, e após a incubação com o anticorpo primário, os cortes foram

incubados em uma solução contendo anticorpo biotinilado anti-IgG de coelho, feito em cabra,

e em seguida, colocados em uma solução contendo o composto avidina-biotina-HRP, para

ligar a peroxidase ao complexo antígeno-anticorpo. Posteriormente se realizou a revelação do

complexo antígeno-anticorpo incubando os cortes em uma solução contendo 50mg de

tetrahidrocloreto de 3-3’ diaminobenzidina-DAB, 0,6mg de glicose oxidase (Sigma), 2ml de

uma solução aquosa de sulfato de níquel a 10% e 40mg de cloreto de amônia em 100ml de

tampão fosfato de sódio 0,1M, e em seguida, foi adicionado -D-glicose, interrompendo a

reação após 10 min aproximadamente. Os cortes foram então montados em lâminas

recobertas com gelatina para poder obter as imagens de microscopia que foram analisadas.

Tabela 2. Áreas Neurais Estudadas no Experimento 3

ÁREA SUBÁREA

Córtex Pre-Frontal (PFC) Córtex Lateral Orbital (LO)

Córtex Pre-Frontal Medial (mPFC) Córtex Cingulado (Cg1) Córtex Prelímbico (PrL) Córtex Infralímbico (IL)

Nucleo Acumbens (NAc) Core Shell

Caudado Putamen (CPu) Lateral Basolateral

Hippocampo Giro Dentado (DG) Corno de Amon 1 (CA1) Corno de Amon 3 (CA3)

Amígdala Basolateral Central Medial

Análise de dados

A diferença de expressão de ΔFosB das diferentes subáreas entre grupos foi calculada

realizando testes não paramétricos para amostras independentes. O teste de Kruskall-Wallis

foi realizado para detectar diferenças estatísticas, e quando achadas estas (p < 0,05), o teste U

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106

de Mann-Whitney com fator de correção bonferroni foi utilizado como post hoc. Para

comparar as diferenças intragrupo para as fases 2 e 4 foram realizados Testes de de Wilcoxon

(Willcoxon Signed-Ranks Test). Para analisar o desempenho dos sujeitos durante a Fase 3

(frequência de respostas e administrações de COC), e o desempenho dos sujeitos durante a

Fase 4, ID atingido durante o teste nas respostas de busca e autoadministração de COC,

persistência nas respostas de busca e autoadministração de COC durante a sessão de extinção,

e latência15 à primeira resposta; foram realizados testes não paramétricos para amostras

independentes. O teste de Kruskall-Wallis foi realizado para detectar diferenças estatísticas, e

quando achadas estas (p < 0,05), o teste U de Mann-Whitney com fator de correção

bonferroni foi utilizado como post hoc. Todas as análises estatísticas foram executadas

fazendo uso do software aplicativo IBM SPSS®.

Resultados

Os resultados deste experimento são mais extensos que os dos experimentos

anteriores, dado que incluem resultados comportamentais e bioquímicos. É importante

lembrar que o objetivo deste experimento não foi a replicação dos outros experimentos

anteriores e comparar os resultados comportamentais e bioquímicos entre morfina e COC,

mesmo sendo uma ideia tentadora. Porém, além de ter sido realizado com sujeitos da cepa

Lewis no lugar de Wistar, como nos dois experimentos anteriores, e ter sido usada COC no

lugar de morfina como droga para as infusões, o protocolo experimental sofreu algumas

pequenas alterações de adaptação aos efeitos da nova droga estudada.

Este experimento consistiu em cinco fases, que incluem, duas fases em esquema

acoplado para o treino discriminativo, uma terceira fase de treino de autoadministração sem

15 O sorteio de S1 e S2 não afetou a latência aqui apresentada, pois foi tomada desde o momento de aparição de S1 ou S2 até a primeira vez que uma Resposta de Busca ou Autoadministração é emitida durante a duração de um intervalo (de S1 ou S2), sendo restado o tempo anterior se foi um S diferente o apresentado.

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107

estarem os grupos acoplados, e uma fase de teste de transferência (PIT). O que é chamado de

Fase 5 faz referência ao protocolo imuno-histoquímico, realizado de igual forma ao

Experimento 1, em dois momentos cruciais do experimento, justo após culminada a Fase 2,

i.e.,quando os animais dos três grupos tiveram aprendido as associações nas suas respectivas

contingências, operante ou Pavloviana, e após o teste de transferência da Fase 4. Desta forma

só a metade dos 34 sujeitos foram expostos a todas as fases experimentais, pois a outra

metade foi perfundida após a Fase 2 para tomar as amostras necessárias para a imuno-

histoquímica.

Para a primeira fase, a média de infusões (M =19,35 SD = 0,903) esteve entre o

esperado, com a maioria dos sujeitos se administrando as 20 infusões máximas por sessão, o

que permitiu passar rapidamente para a seguinte fase.

Como pode ser observado na Figura 19, a qual ilustra os índices discriminativos (ID)

das últimas seis sessões durante a Fase 2, todos os animais do grupo CO atingiram ID

superior ou igual a 90%. Além da estabilidade e o critério de ID, os sujeitos continuavam

recebendo uma média de infusões igual à da sessão anterior, sendo em CO ou em CP,

atingindo o máximo de 20 infusões em quase todas as sessões diárias.

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1 2 3 4 5 6

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ACO1 ACO2 ACO3 ACO4 ACO5 ACO6

ACO7 ACO8 ACO9 ACO10 ACO11 ACO12

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Figura 19 – Índice discriminativo durante a Fase 2 do Experimento 3. O gráfico mostra o ID dos sujeitos integrantes do grupo CO durante as últimas seis sessões da Fase 2 (Treino Discriminativo em contingência operante ou Pavloviana de Morfina). Pode-se observar que o ID vai aumentando até chegar a 90% ou superior nas últimas duas sessões.

Durante a Fase 3 (Treino de Encadeamento das Respostas de Busca e

Autoadministração de Morfina), os sujeitos de todos os grupos aprenderam a tarefa de

encadeamento e atingiram estabilidade de respostas de autoadministração, com uma mediana

de infusões (Md =18,01). Na Figura 20 pode ser observado a média da taxa de infusões por

sessão por grupo das últimas seis sessões na Fase 3. Para esta fase não foram encontradas

diferenças estatisticamente significativas entre grupos, para Respostas de Busca, de

Autoadministração, nem em infusões. Para Respostas de Busca (Kruskall-Wallis test: H (2,

N= 34) =0,464 p =0,793), com uma mediana de 17,92 para o grupo CO, 15,92 para o CP e

15,25 para o Ctr. Respostas de Autoadministração (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 34) =2,126

p =0,345), com uma mediana de 19,54 para o grupo CO, 15,08 para o CP e 14,06 para o Ctr.

Tampouco em Respostas Totais (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 34) =3,256 p =0,196), com

uma mediana de 20,08 para o grupo CO, 13,21 para o CP e 16,06 para o Ctr; nem no número

de Infusões (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 21) =1,739 p =0,419), com uma mediana de

13,38 para o grupo CO, 11,86 para o CP e 9,00 para o Ctr.

14

15

16

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1 2 3 4 5 6 7 8

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Figura 20 – Média de infusões durante a Fase 3 do Experimento 3. O gráfico mostra a média de infusões de COC dos sujeitos integrantes dos grupos CO, CP e Ctr durante as últimas seis sessões da Fase 3 (Treino de Encadeamento das Respostas de Busca e Autoadministração de COC). Pode-se observar que o número de infusões tente se estabilizar durante as últimas sessões.

Na Figura 21 são mostrados os dados da frequência de respostas na barra busca (B) e

na barra de administração (A) na presença de S1. Nota-se na figura que os animais do grupo

CO responderam mais na barra B (primeiro elo da cadeia) na presença de S1 do que os outros

dois grupos. De fato, o teste Kruskall-Wallis revelou diferenças significativas entre a

frequência de respostas na barra B dos grupos. Diferenças entre grupos para a frequência total

de respostas em S1 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 34) =14,617 p =0,001), com uma mediana

de 122,00 para o grupo CO, 82,00 para o CP e 34,00 para o Ctr, e o pós-hoc mostrou

resultados significativos de CO x CP (p =0,043), CO x Ctr (p=0,001). Para a frequência de

respostas na Barra B, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre

grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 34) =20,199 p <0,001), com uma mediana de 98,00

para o grupo CO, 45,50 para o CP e 15,50 para o Ctr, e o pós-hoc mostrou resultados

significativos de CO x CP (p =0,003), CO x Ctr (p=0,001) e CP x Ctr (p= 0,006). Para a

frequência de respostas na Barra A em S1 (autoadministração), não foram encontradas

diferenças estatisticamente significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 34)

=3,206 p =0,201), com uma mediana de 30,00 para o grupo CO, 46,00 para o CP e 16,00 para

o Ctr.

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Figura 21 – Frequência de respostas de busca e autoadministração na presença de S1. Os dados representam a mediana (-P25 e +P75) da frequência de respostas na barra A, na barra B e o a frequência total (a somatória das repostas em ambas as barras), na presença de S1, dos sujeitos dos grupos CO, CP e Ctr durante a Fase 4. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

Na Figura 13 são mostrados os dados da frequência das respostas totais, na presença

de S1 e S2. Diferenças entre grupos para a frequência total de respostas (Kruskall-Wallis test:

H (2, N= 17) =8,710 p =0,013), com uma mediana de 138,50 para o grupo CO, 106,50 para o

CP e 72,00 para o Ctr, e o pós-hoc mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p =0,019).

Para a frequência de respostas totais na Barra B, foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =19,258 p ≤

0,001), com uma mediana de 122 para o grupo CO, 82,00 para o CP e 34,50 para o Ctr, e o

teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos

de CO x CP (p =0,043), e CO x Ctr (p =0,001). Para a frequência de respostas totais na Barra

A em S1 (autoadministração), não foram encontradas diferenças estatisticamente

significativas entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =0,487 p =0,784), com uma

mediana de 16,00 para o grupo CO, 21,50 para o CP e 36,50 para o Ctr.

0

20

40

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80

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160

TOTAL B A

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*

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Figura 22 – Frequência total de respostas de busca e autoadministração. Os dados representam a mediana (-P25 e +P75) da frequência de respostas na barra A, na barra B e o a frequência total (a somatória das repostas em ambas as barras), na presença de S1 e S2, dos sujeitos dos grupos CO, CP e Ctr durante a Fase 4. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

Na Figura 23 são mostrados os Índices Discriminativos (respostas em S1/respostas

totais) da frequência total de respostas, frequência de respostas na Barra B e frequência de

respostas na barra A de cada grupo na Fase 4. O índice discriminativo permite observar o

controle de S1 sobre ambas as respostas de interesse, busca e autoadministração. Foram

observadas diferenças entre grupos no ID Total em S1 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17)

=19,477 p ≤0,001) com uma mediana de 87,13 para o grupo CO, 71,57 para o CP e 57,63. Os

testes pós-hoc revelaram diferenças significativas entre o grupo CO e Ctr (p<0,001), e CP e

Ctr (p=0,003). Em relação aos IDs de cada barra, a análise mostrou que houve diferença entre

os grupos no controle de S1 sob as respostas emitidas na barra B (Kruskall-Wallis test: H (2,

N= 17) =14,927 p =0,001) e na Barra A (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =12,876 p

=0,002). As análises pós-hoc revelaram que S1 controlou as respostas emitidas pelo grupo

CO na barra quando comparado com CP (P=0,002) e Ctr (p=0,016), mas não se observaram

diferenças entre os grupos CP e Crt. Por outro lado, quando foi comparado o ID na barra A, a

análise revelou que o grupo CP obteve índices significativamente maiores do que os grupo

0

20

40

60

80

100

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160

180

TOTAL B A

Fre

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ên

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Barras

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*

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112

CO (p=0,012) e do que o grupo Crl (p=0,003), mas não houve diferenças entre os grupos CO

e Crtl.

Figura 23 – Discriminação de S1 na Fase 4. O gráfico mostra o ID das de respostas de busca, respostas de administração e respostas totais, como mediana (-P25 e +P75), dos sujeitos integrantes dos grupos CO, CP e Ctr durante a Fase 4 (Teste de Transferência Sob o Controle de S1 nas Respostas de Busca e Autoadministração de Cocaína). * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

A análise dos IDs por sujeito (Figura 24) permite observar com maior detalhe o

controle de S1 (índice discriminativo) sobre as respostas emitidas nas barras B e A. Nota-se

que S1 controlou as respostas de responder em B, mas não em A, de todos os animais do

grupo CO. Por outro lado, perto da metade dos animais do grupo CP obteve ID maior a 80%

na barra A. As respostas de apenas um animal do grupo Ctr ficaram sob controle de S1. Desta

forma, é evidente que houve controle diferencial de S1 sobre as respostas emitidas pelos

animais dos diferentes grupos.

0

10

20

30

40

50

60

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80

90

100

TOTAL B A

S1/S

1+S

2

Barras

CO

CP

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*** **

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Figura 24 – Índice discriminativo por sujeito nas barras de busca e administração. O gráfico mostra por sujeitos o ID das de respostas de busca e de administração, dos sujeitos integrantes dos grupos CO, CP e Ctr durante a Fase 4.

Na Figura 25, mostra-se a distribuição das respostas em percentual entre as barras B e

A na presença de S1 e S2, para cada sujeito. Todos os animais do grupo CO mostraram

preferência pela Barra B quando S1 estava presente, porém só em torno do 70% das respostas

foram emitidas na barra B. A análise estatística (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 32) =4,926 p

=0,852) revelou que não houve diferenças significativas entre grupos em relação à

preferência pelas barras na presença de S1, nem na presença de S2 (Kruskall-Wallis test: H

(2, N= 32) =3,714 p =0,156). A diferença entre os grupos em relação à preferência por B, o

teste pós-hoc mostrou que a mediana do grupo CO foi maior do que as dos grupos CP e Ctr

(p=0,001 e p=0,002, respectivamente), porém não houve diferenças entre os grupos CP e Crt

(p= 0,143).

0

20

40

60

80

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1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31

%

Sujeitos

B

CO CP Ctr

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31

Sujeitos

A

CO CP Ctr

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Figura 25 – Preferência por B na presença dos estímulos discriminativos. Os dados mostram a distribuição das respostas entre a barra B e a barra A como mediana (-P25 e +P75) do índice de preferência (frequência de respostas em B/frequência de resposta em B + frequência de resposta em A) na presença de S1 e S2 na Fase 4 do Experimento 3, dos grupos CO, CP e Ctr. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

Como mostrado na Figura 26, onde se mostram os dados individuais, todos os ratos

do grupo CO, preferiram a barra B quando S1 foi apresentado. Os animais do grupo CP

mostraram maior variabilidade, mostrando que não houve clara preferência por uma das

barras, na presença de S1, como grupo, mas de forma individual, pode-se observar que a

metade dos sujeitos preferiram a barra A e a outra metade a barra B, de forma similar ao

grupo Ctr.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

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0,6

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0,8

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TOTAL S1 S2

B/B

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Estímulo

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Figura 26 – Porcentagem de respostas de busca e administração em S1 e S2. O gráfico mostra a proporção de respostas na barra de busca (B) e de administração (A) na presença de S1 e S2, dos grupos CO, CP e Ctr, durante a Fase 4.

Na Figura 27 podem ser observadas a latência da primeira resposta emitida diante S1

e de S2 durante a Fase 4. A análise estatística comparando as médias da Latência à Primeira

Resposta durante a Fase 4 utilizando o teste Kruskall-Wallis revelou que houve diferenças

significativas entre grupos. A análise Kruskall-Wallis revelou diferenças na latência de

resposta em B (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =7,566 p =0,023), mas não em A

(Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =3,977 p =0,137) na presença de S1, nem em B

(Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =1,246 p =0,536) ou A na presença de S2 (Kruskall-

Wallis test: H (2, N= 22) =11,503 p =0,003). Não houve diferenças de latência de respostas

em B na presença de S2 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =,205 p =0,201). As análises pós-

hoc revelaram que na presença de S1, a latência em B do grupo CO foi menor do que as

latências do grupo CP (p=0,036).

0

1020

30

4050

60

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1 4 7 10 3 6 9 12 2 5 8

%

Sujeitos

S1

CO CP Ctr1 4 7 10 3 6 9 12 2 5 8

Sujeitos

S2

BARRA A

BARRA B

CO CP Ctr

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Figura 27 – Latência da primeira resposta na Fase 4. Os dados mostram a mediana (-P25 e +P75) do tempo em segundos transcorridos desde a 1ª apresentação de S1 ou S2 e a emissão da 1ª resposta na barra A ou na barra B, para cada grupo CO, CP e Ctr durante a Fase 4. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni.

São apresentados os dados bioquímicos das amostras de tecido processadas para

imuno-histoquímica de ΔFosB após a Fase 2 e a Fase 4. O teste de Kruskall-Wallis foi

realizado para detectar diferenças estatísticas em todas as subáreas de interesse. Estes

resultados são apresentados junto com os gráficos correspondentes. Adicionalmente foram

realizados testes de Wilcoxon para comparar os resultados das amostras tomadas após a Fase

2 com aquelas tomadas após a Fase 4.

A análise estatística comparando as médias do número de células imunorreativas a

ΔFosB no PFC LO utilizando o teste Kruskall-Wallis revelou que existem diferenças

estatisticamente significativas entre grupos na Fase 2, mas não na Fase 4 (Figura 28). Para a

Fase 2, foram encontradas diferenças entre grupos (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 34)

=14,253 p =0,001), com uma mediana de 23,87 para o grupo CO, 17,00 para o CP e 8,00 para

o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados

significativos de CO x CP (p =0,006) e CO x Ctr (p =0,012) e CP x Ctr (0,012); enquanto

que na Fase 4 não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (Kruskall-

0

10

20

30

40

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70

ACO ACP CTrl

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*

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Wallis test: H (2, N= 17) =5,131 p =0,077), com uma mediana de 31,00 para o grupo CO,

28,00 para o CP e 26,75 para o Ctr.

Figura 28 – Células imunorreativas a ΔFosB no Córtex Pré-frontal nas fases 2 e 4 do Experimento 3. A) O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr no Córtex Lateral Orbital (LO) do PFC nas amostras processadas após a Fase 2. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni. B) O gráfico mostra a comparação da marcação de células imunorreativas a ΔFosB nas amostras processadas após a Fase 2 e a Fase 4 para os grupos CO, CP e Ctr no Córtex Lateral Orbital (LO) do PFC.

De forma similar, para todas as subáreas do mPFC, a análise estatística comparando

as médias do número de células imunorreativas a ΔFosB utilizando o teste Kruskall-Wallis

revelou que existem diferenças estatisticamente significativas entre grupos na Fase 2, mas

nenhuma na Fase 4, como pode ser observado na Figura 29. Para a Fase 2, diferenças entre

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5

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grupos para Cg1 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =11,912 p =0,003), com uma mediana

de 20,00 para o grupo CO, 16,00 para o CP e 8,00 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-

Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p

=0,012) e CP x Ctr (0,012). Diferenças entre grupos para PrL (Kruskall-Wallis test: H (2, N=

19) =7,542 p =0,023), com uma mediana de 19,25 para o grupo CO, 19,62 para o CP e 12,50

para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados e

perto da significância estatística para CO x Ctr (0,051) e CP x Ctr (0,051). Adicionalmente,

foram achadas diferenças entre grupos para IL (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =10,767 p

=0,005), com uma mediana de 26,00 para o grupo CO, 22,37 para o CP e 17,25 para o Ctr, e

o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos

de CO x Ctr (p =0,025) e CP x Ctr (p =0,025). Na Fase 4 não foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas no Cg1 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =1,799 p =0,407),

com uma mediana de 21,75 para o grupo CO, 22,37 para o CP e 20,75 para o Ctr; PrL

(Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =0,901 p =0,637), com uma mediana de 20,05 para o

grupo CO, 21,62 para o CP e 22,75 para o Ctr; nem no IL (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17)

=0,830 p =0,660), com uma mediana de 23,62 para o grupo CO, 24,5 para o CP e 24,50 para

o Ctr.

0

5

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25

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CG1 PrL IL

lula

s im

un

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*

A

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119

Figura 29 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Córtex Pre-Frontal Medial (mPFC) no Experimento 3. A) O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do mPFC (Cg1, PrL e IL) nas amostras processadas após a Fase 2. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni. B) O gráfico mostra a comparação da marcação de células imunorreativas a ΔFosB nas amostras processadas após a Fase 2 e a Fase 4 para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do mPFC (Cg1, PrL e IL).

Ao serem observados os resultados da análise estatística comparando as médias do

número de células imunorreativas a ΔFosB no NAc utilizando o teste Kruskall-Wallis (Figura

30), foi revelado que existem diferenças estatisticamente significativas entre grupos em

ambas as subáreas na Fase 2, mas nenhuma na Fase 4. Para a Fase 2, diferenças entre grupos

para NAc Core (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =10,290 p =0,006), com uma mediana de

28,62 para o grupo CO, 27,37 para o CP e 14,25 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney

com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p =0,012), e CP x

Ctr (p =0,012). Diferenças entre grupos para NAc Shell (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19)

=10,327 p =0,006), com uma mediana de 34,00 para o grupo CO, 29,37 para o CP e 15,75

para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados

significativos de CO x Ctr (p =0,012), e CP x Ctr (p =0,012). Na Fase 4 não foram

encontradas diferenças estatisticamente significativas no NAc Core (Kruskall-Wallis test: H

(2, N= 17) =3,120 p =0,210), com uma mediana de 31,37 para o grupo CO, 28,12 para o CP e

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27,75 para o Ctr; nem para NAc Shell (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =0,171 p =0,918),

com uma mediana de 28,50 para o grupo CO, 30,50 para o CP e 29,00 para o Ctr.

Figura 30 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Núcleo Acumbente (NAc) no Experimento 3. A) O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do NAc (Core e Shell) nas amostras processadas após a Fase 2. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni. B) O gráfico mostra a comparação da marcação de células imunorreativas a ΔFosB nas amostras processadas após a Fase 2 e a Fase 4 para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do NAc (Core e Shell).

Para análise estatística comparando as médias do número de células imunorreativas a

ΔFosB no CPu utilizando o teste Kruskall-Wallis, também não foi diferente ao observado nas

outras áreas, revelando que existem diferenças estatisticamente significativas entre grupos em

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Core_F2 Core_F4 Shell_F2 Shell_F4

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ambas as subáreas na Fase 2, mas nenhuma na Fase 4, como pode ser observado na Figura

31. Para a Fase 2, diferenças entre grupos para CPu Lateral (Kruskall-Wallis test: H (2, N=

19) =7,144 p =0,028), com uma mediana de 30,50 para o grupo CO, 27,37 para o CP e 14,25

para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados

significativos de CO x Ctr (p =0,012). Diferenças entre grupos para CPu Lateral (Kruskall-

Wallis test: H (2, N= 19) =10,434 p =0,005), com uma mediana de 47,25 para o grupo CO,

45,37 para o CP e 36,25 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de

Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p =0,012), e CP x Ctr (p =0,012).

Na Fase 4 não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas no CPu Lateral

(Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =0,962 p =0,618), com uma mediana de 32,37para o

grupo CO, 28,12 para o CP e 27,75 para o Ctr; nem para CPu Medial (Kruskall-Wallis test: H

(2, N= 17) =0,110 p =0,946), com uma mediana de 49,87 para o grupo CO, 51,12 para o CP e

51,50 para o Ctr.

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Figura 31 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Caudado Putamen (CPu) no Experimento 3. A) O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do CPu (Lateral e Medial) nas amostras processadas após a Fase 2. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni. B) O gráfico mostra a comparação da marcação de células imunorreativas a ΔFosB nas amostras processadas após a Fase 2 e a Fase 4 para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do CPu (Lateral e Medial).

A análise estatística comparando as médias do número de células imunorreativas a

ΔFosB no Hipocampo utilizando o teste Kruskall-Wallis revelou que existem diferenças

estatisticamente significativas entre grupos para as subáreas DG e CA1 na Fase 2, mas

nenhuma na Fase 4, como pode ser observado na Figura 32. Para a Fase 2, diferenças entre

grupos para DG (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =7,970 p =0,019), com uma mediana de

23,62 para o grupo CO, 19,50 para o CP e 19,75 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney

com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x CP (p =0,045), e perto

da significância estatística, CO x Ctr (0,051). Diferenças entre grupos para CA1 (Kruskall-

Wallis test: H (2, N= 19) =10,447 p =0,005), com uma mediana de 26,50 para o grupo CO,

23,12 para o CP e 18,00 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com correção de

Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p =0,012) e CP x Ctr (0,012).

Adicionalmente, foram achadas diferenças entre grupos para CA3 (Kruskall-Wallis test: H (2,

N= 19) =3,005 p =0,223), com uma mediana de 21,00 para o grupo CO, 24,50 para o CP e

21,75 para o Ctr. Na Fase 4 não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas

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no DG (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =3,121 p =0,210), com uma mediana de 25,00

para o grupo CO, 23,50 para o CP e 22,75 para o Ctr; CA1 (Kruskall-Wallis test: H (2, N=

17) =0,206 p =0,902), com uma mediana de 23,50 para o grupo CO, 23,37 para o CP e 23,35

para o Ctr; nem no para CA3 (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =0,246 p =0,884), com uma

mediana de 23,87 para o grupo CO, 23,87 para o CP e 24,00 para o Ctr.

Figura 32 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB no Hipocampo no Experimento 3. A) O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do Hipocampo (DG, CA1 e CA3) nas amostras processadas após a Fase 2. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni. B) O gráfico mostra a comparação da marcação de células imunorreativas a ΔFosB nas amostras processadas após a Fase 2 e a Fase 4 para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas do Hipocampo (DG, CA1 e CA3).

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Os resultados da última área aqui apresentados são os da Amígdala. Se observam

diferenças entre grupos em duas das suas subáreas, Basolateral e Central, para a Fase 2,

porém nenhuma na Fase 4. A Figura 33 mostra a comparação das médias do número de

células imunorreativas a ΔFosB na Amígdala. Para a Fase 2, diferenças entre grupos para

Amígdala Basolateral (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =13,346 p =0,001), com uma

mediana de 72,87 para o grupo CO, 55,87 para o CP e 46,75 para o Ctr, e o teste pós-hoc

Mann-Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x CP (p

=0,025), CO x Ctr (p =0,012) e CP x Ctr (p =0,012). Diferenças entre grupos para a

Amígdala Central (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =10,430 p =0,005), com uma mediana

de 29,62 para o grupo CO, 18,00 para o CP e 16,70 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-

Whitney com correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x CP (p

=0,012), e CO x Ctr (0,012). Não foram achadas diferenças entre grupos para a Amígdala

Medial (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 19) =8,686 p =0,013), com uma mediana de 29,62

para o grupo CO, 18,00 para o CP e 16,70 para o Ctr, e o teste pós-hoc Mann-Whitney com

correção de Bonferroni mostrou resultados significativos de CO x Ctr (p =0,025). Na Fase 4

não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na Amígdala Basolateral

(Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =2,170 p =0,338), com uma mediana de 77,87 para o

grupo CO, 73,62 para o CP e 70,65 para o Ctr; Amígdala Central (Kruskall-Wallis test: H (2,

N= 17) =0,052 p =0,974), com uma mediana de 34,50 para o grupo CO, 34,00 para o CP e

33,75 para o Ctr; nem no para a Amígdala Medial (Kruskall-Wallis test: H (2, N= 17) =0,285

p =0,867), com uma mediana de 16,00 para o grupo CO, 16,00 para o CP e 16,75 para o Ctr.

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Figura 33 – Marcação de células imunorreativas a ΔFosB na Amígdala no Experimento 3. A) O gráfico mostra a mediana (-P25 e +P75) de células imunorreativas a ΔFosB para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas da Amígdala (Basolateral, Central e Medial) nas amostras processadas após a Fase 2. * p<0,05 ** p<0,01 para pós-hoc Mann-Whitney com correção Bonferroni. B) O gráfico mostra a comparação da marcação de células imunorreativas a ΔFosB nas amostras processadas após a Fase 2 e a Fase 4 para os grupos CO, CP e Ctr nas subáreas da Amígdala (Basolateral, Central e Medial).

Foram realizados testes de Wilcoxon para comparar em cada subárea, as medianas das

fases 2 e 4 em todos os grupos. As tabelas dos Anexos 1, 2 e 3 contém a informação dos

valores das medianas, do estatístico Z de Wilcoxon e os valores p. Em negrito são destacados

os valores p<0,05.

Em resumo, os resultados apresentados do Experimento 3 mostram que: a) durante a

Fase 1 os animais receberam um número de infusões de COC normal dentro do reportado na

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literatura, b) os sujeitos do grupo CO atingiram 90% ou mais de ID durante a a Fase 2, c) os

animais dos três grupos atingiram estabilidade no número de infusões de COC durante a Fase

3, e não foram encontradas diferenças entre grupos nas respostas de busca e administração; d)

Durante a Fase 4, os sujeitos do grupo CO mostraram maior número de respostas de busca e

respostas totais na presença de S1 comparado com o grupo CP e Ctr, e os sujeitos do grupo

CP mostraram maior número de respostas de busca na presença de S1 comparado com o

grupo Ctr ; e) No teste de transferência da Fase 4, o grupo CO mostrou um ID superior a 80%

nas respostas de busca e respostas totais na presença de S1, sendo diferente dos grupos CP e

Ctr, porém o grupo CP mostrou um ID superior a 80% nas respotas de administração na

presença de S1, sendo diferente dos grupos CO e Ctr; f) não houve uma clara preferência pela

resposta de busca nem de administração na presença de S1 durante a fase 4; e f) no teste de

transferência, a latência de resposta de busca na presença de S1 foi menor no grupo CO

comparado com o Ctr. Além disto, os resultados imunohistoquímicos mostram que a o grupo

CO expressou maior quantidade de FosB comparado com o CP e Ctr no LO, BLA e CeA.

No DG, MeA e lCPu o grupo CO teve maior expressão que o CP; e no Cg1, IL, Core, Shell,

mCPu e CA1, o grupo CO e CP tiveram maior expressão que o Ctr (mas não ouve diferença

entre estes). Ainda, foi evidente que houve aumento do número de células imunorreativas a

FosB, por mm², da Fase2 à Fase 4, na maioria das subáreas.

As tabelas 3 e 4, localizadas na seção de análise de dados dos experimentos 1 e 2,

respectivamente, podem auxiliar o acompanhamento dos resultados e da discussão deste

experimento.

Discussão

O experimento 3 teve como primeiro objetivo utilizar o protocolo de administração de

drogas aperfeiçoado durante o experimento 2 para observar o controle de estímulos

estabelecido durante os condicionamentos operante e pavloviano. O segundo objetivo foi

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avaliar o efeito dos condicionamentos operante e pavloviano na autoadministração e

administração passiva de COC, respectivamente, sobre a expressão de FosB em diferentes

áreas do cérebro implicadas na dependência às drogas.

Durante a Fase 1, cada vez que um sujeito do grupo CO respondia na roda operante

tinha como consequência uma infusão de COC e simultaneamente o sujeito do grupo CP e o

do grupo Ctr a ele acoplados receberam sob contingência Pavloviana uma injeção i.v da

droga na mesma dose ou de veículo, respectivamente. A média de infusões para esta fase

esteve entre o normal segundo o reportado outros estudos de autoadministração de COC

(Mierzejewski et al., 2003; Suto et al., 2011). Usualmente, na faixa das doses utilizadas, o

limite de infusões é de 20 em um período de 2h (que é o tempo total de sessão) para evitar

grandes diferenças de administração entre sujeitos, sendo comum que os sujeitos se

autoadministrem as 20 vezes, como aconteceu neste experimento. Uma vez foi estável o

número de infusões, se deu continuidade ao treino discriminativo da Fase 2, no qual os

sujeitos do grupo CO atingiram o critério de ID ≥ 90% nas últimas duas sessões, e se

autoadministraram um número de infusões (com dose programada) dentro do normal segundo

o reportado outros estudos de autoadministração de COC (Mierzejewski et al., 2003; Suto et

al., 2011). Esta fase se desenvolveu também sem imprevistos e de forma similar ao

Experimento 2.

Durante a Fase 3 os sujeitos não estiveram mais acoplados, portanto todos eles

aprenderam a se autoadministrar COC, independentemente do grupo ao qual pertenciam. Não

foram observadas diferenças entre os grupos, indicando que o treino realizado na Fase 1 não

teve efeito sobre a aquisição da pressão de barra. Isto é, a taxa de respostas e média de

infusão dos animais dos três grupos foi similar a despeito da experiência prévia com COC e

com diferentes contingências de sua administração. Esses dados validam os obtidos na Fase

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4, uma vez que grandes diferenças no número de infusões entre grupos durante esta fase

poderiam alterar o responder durante a seguinte.

Durante a Fase 4 foi realizado o teste de transferência em condições de extinção. Os

estímulos S1 e S2 foram apresentados em intervalos e as respostas de busca e de

autoadministração foram registradas, porém sem terem consequências programadas. Os

resultados indicaram que S1 adquiriu controle sobre a resposta de pressão de barra dos

animais do grupo CO e CP, mas não dos animais do grupo Ctr (ID de respostas totais e de

respostas na presença de S1), indicando transferência de controle desses estímulos para um

novo operante, no caso do grupo CO, e PIT para o grupo CP. Este resultado replica estudos

que utilizaram COC e reportaram a apresentação de PIT (Kruzic, Congelton & See, 2001;

LeBlanc, Ostlund & Maidment, 2012; Saddoris et al., 2011). Como discutido no Experimento

2, a transferência de controle observada indica que os procedimentos de treino estabeleceram

os controles esperados e adequados sobre o comportamento dos animais do grupo CO

(Barnes-Holmes et al., 2000; Catania, 1999) e no grupo CP (Alarcon et al.,2018; Cartoni et

al., 2016; Delamater et al., 2007).

O controle de estímulos estabelecido por S1 se viu refletido não só nos dados de ID,

mas também na frequência e na latência de respostas na presença deste estímulo, sendo que

este estímulo controlou as respostas dos animais do grupo CO unicamente na barra B e

adicionalmente ocasionou um aumento na frequência de resposta nesta barra, assim como

uma menor latência de resposta a esta, comparados com os grupos CP e Ctrl. Ainda se

observou controle de estímulos estabelecido por S1 no grupo CP, o qual teve um ID e uma

frequência de respostas significativamente maior em comparação com o grupo Ctr. Este

padrão foi observado no Experimento 2 e a explicação sobre o controle diferencial de S1

sobre as respostas na barra B e A dos animais dos grupos CO e CP é exposta na discussão dos

dados desse experimento.

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O controle de estímulos durante o teste de transferência que mostrou o grupo CP sobre

a resposta de autoadministração na presença de S1 é entendível em termos de eficiência de

respostas (Catania, 1999), pois uma vez as duas barras estiveram disponíveis, é mais eficiente

responder na barra que levaria a infusão da droga. Durante um teste de transferência, quando

disponibilizados simultaneamente dois operandos que formaram parte de um treino

encadeado de respostas, existe a tendência de responder no operando que dava acesso direto a

um reforçador. Esta tendência tem sido reportada em estudos de PIT com comida (Corbit &

Balleine, 2003b) e com COC (LeBlanc et al., 2012).

Os resultados do Experimento 3 sugerem que se apresentou um padrão observado no

Experimento 2, porém de forma menos robusta. No experimento 2 se observou uma

tendência do grupo CO responder na barra B e o grupo CP na barra A, tanto na frequência e

ID total, como quando S1 estava presente. Os resultados da latência e de frequência de

respostas sugerem em conjunto com resultados de ID discutidos previamente, que tenha se

originado esta tendência ou padrão, pelo menos para o grupo CO na barra B, pois a latência

na barra B na presença de S1 apresentou diferenças significativas, sendo muito menor no

grupo CO, comparado com o grupo CP. O grupo CP não apresentou uma menor latência de

resposta na barra A comparado com o grupo CO quando S1 foi apresentado pela primeira

vez, porém estas diferenças não foram estatisticamente significativas. Ainda, a frequência de

respostas na barra B foi muito mais alta no grupo CO comparado com o CP. Assim mesmo, a

frequência de respostas na barra B foi maior no grupo CP comparado com o Ctr, sustentando

o padrão observado no Experimento 2, porém de forma parcial, especificamente para o grupo

CO, mas não paro o CP. A formação desta tendência no grupo CO é discutida no

Experimento 2, porém a não formação desta no grupo CP neste experimento não será

discutida, ao não houverem dados suficientes para isto e ao não ser relevante para os

objetivos deste experimento.

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Os resultados do efeito dos condicionamentos operante e pavloviano na

autoadministração e administração passiva de COC sobre a expressão de FosB em

diferentes áreas do cérebro implicadas na dependência às drogas foram de grande interesse

para os objetivos deste estudo.

No grupo CO (Anexo 1) a diferença de expressão de ΔFosB entre Fase 2 e 4 foi

mínima para quase todas as subáreas, com exceção de LO, na qual ΔFosB continuou se

acumulando até a Fase 4. Este resultado era esperado, pois o grupo CO já devia ter atingido

uma estabilidade na expressão de ΔFosB desde a Fase 2, portanto não é de surpreender que

na Fase 4 não se apresentassem aumentos, porém, a subárea LO continuou acumulando

ΔFosB até a Fase 4, o que é de grande interesse ao destacar o envolvimento desta área, a qual

já foi reportada por Winstanley et al. (2007) por ter um papel importante na CO.

Em geral, para grupo CP, a diferença de expressão de ΔFosB entre Fase 2 e 4 (Anexo

2) teve diferenças estatisticamente significativas para LO, Cg1, PrL, mCPu, DG, BLA e CeA.

Com exceção de LO, as subáreas restantes não tinham sido previamente reportadas como

influenciadas diferencialmente pela contingência operante comparadas à Pavloviana em

experimentos que utilizaram COC como droga de estudo, o que também poderia ser

explicado por diferenças no modelo e delineamento experimental, pois em outros estudos não

terem utilizado o modelo de administração acoplado o qual, como mencionado na sessão

introdutória, é um modelo mais adequado para estudar as diferenças nas diferentes

contingências de aprendizagem da administração de drogas. Independentemente disto, é de

grande interesse e relevância ter indícios destas subáreas estarem implicadas na dependência

às drogas e apresentar diferenças de expressão de ΔFosB a depender do tipo de contingência

em que a COC foi administrada, contingência operante ou Pavloviana.

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Os resultados da comparação da expressão de ΔFosB entre Fase 2 e 4 para o grupo Ctr

(Anexo 3) mostraram que houve diferenças nas medições entre estas duas fases em quase

todas as sensíveis a ΔFosB (Perrotti et al., 2008; Winstanley et al., 2007) avaliadas neste

estudo. Isto poderia sugerir que em subáreas que apresentaram diferenças significativas entre

grupos CO e CP, mas que não apresentaram diferença no grupo Ctr entre as medições feitas

nas fases 2 e 4, que S1 ao ser apresentado durante a administração nos grupo CO e CP desde

a Fase 1, que também foi treinado discriminativamente e associado à droga na Fase 2, foi um

fator que potencializou a associação S-droga, o que teria levado ao aumento na expressão de

ΔFosB nesta subárea. Dado que até a Fase 2 os sujeitos do grupo Ctr só tinham recebido

salina e durante a Fase 3 aprenderam se autoadministrar COC, o que era esperado era

observar segundo a literatura (Jacobs et al., 2002, 2003, 2005; Lüscher & Malenka, 2011;

Miguéns et al., 2008; Winstanley et al., 2007). Os resultados apresentados neste experimento

estão em concordância com esta literatura ao mostrar o aumento de expressão de ΔFosB em

subáreas sensíveis a esta após a administração de COC.

De forma consistente, nenhuma subárea mostrou diferenças entre grupos na medição

da Fase 4. Este resultado era esperado, pois dado que FosB se acumula gradativamente com

administrações repetidas de uma droga (Nestler, 2012, 2014), para o momento da medição

após a Fase 4, todos os grupos já tinham passado por autoadministração de COC durante a

Fase 3. Portanto, os dados discutidos se focam principalmente nos resultados que mostram as

diferenças entre grupos obtidas nas medições de FosB após a Fase 2.

A seguir se discute os resultados imunohistoquímico nas diferentes subáreas avaliadas

e se menciona a implicação destas na PIT quando reportada previamente. Adicionalmente, se

integram estes dados aos dados comportamentais nas possíveis implicações que poderiam ter

as subáreas, dependendo das suas funções, porém, se destaca que como apontado por Nestler

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132

(2012, 2014) e Ruffle (2014), o FosB funcionaria como uma espécie de “interruptor

molecular” que ajuda iniciar e manter o estado de dependência em um organismo, e portanto

uma variação da sua expressão entre animais que se autoadministraram uma droga sob uma

contingência operante e os que a receberam passivamente sob uma contingência Pavloviana,

não necessariamente implicaria uma conexão com diferenças comportamentais entre estes

tipos de contingências. Portanto, as análises estão fundamentadas em possibilidades segundo

os resultados obtidos e a literatura que sugere esta conexão entre contingencia de

aprendizagem e mudanças génicas no SNC (e.g Choi et al., 2011; Jacobs et. al., 2003, 2005;

Lüscher & Malenka, 2011), especialmente a de FosB (Perrotti et al., 2008; Winstanley et

al., 2007).

A primeira subárea avaliada neste experimento foi o LO do OFC, uma área que está

implicada em características da procura por drogas na dependência, como impulsividade,

associações S-R e comportamentos de meta dirigida (Ostlund & Balleine, 2007; Shoenbaum,

Roesch, Stalnaker & Takahashi, 2009). Se sabe que no OFC, a COC produz uma grande

expressão deste IEG em comparação com outras subáreas, especialmente quando esta é

autoadministrada (Perrotti et al. 2008; Winstanley et al., 2007). Ainda se sabe que o OFC tem

sido reportado por estar implicado na PIT, já que lesões nesta área perturbam a manifestação

desta quando realizada antes dos treinos em contingência operante e Pavloviana (Ostlund &

Balleine, 2007). Segundo isto, é esperada a diferença que se observou entre os grupos CO,

CP e o Ctr, pois mesmo observando um padrão na expressão de FosB (CO>CP>Ctr), o

grupo CP teve uma diferença significativa comparada com o Ctr, sugerindo que o efeito

central que produz a COC é suficiente para expressar FosB no LO, mas que o tipo de

contingência, operante ou Pavloviana, pode modular ou potenciar esta expressão.

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Estes resultados estão em concordância e replicam o dado do estudo de Winstanley et

al. (2007), que reporta que foram encontradas diferenças na expressão de FosB, sendo maior

no grupo que autoadministrou COC em comparação com o que recebeu esta de forma

passiva. Ainda, tendo em conta a função mencionada desta subárea e a sua sensibilidade a

expressar FosB quando COC é administrada, os dados do LO acompanham o observado

comportamentalmente com o resultado que mostra que o grupo CO teve uma maior

frequência de respostas e ID na presença de S1 em comparação com o CP.

Os resultados para as diferentes subáreas avaliadas do PFC no Experimento 3

mostram que não houve diferenças significativas de expressão de FosB entre os grupos CO

e CP nas subáreas do PFC avaliadas, porém no CG1 e no IL se pode observar uma aparente

tendência a uma expressão maior no grupo CO, comparado com os outros. Os dados do PrL

mostraram que o grupo CO teve uma marcação de FosB igual à do grupo CP nesta subárea,

portanto a expressão nesta subárea seria mediada principalmente pelo efeito central da COC.

No Cg1, os grupos CO e CP tiveram diferenças na expressão de FosB, em

comparação com o Ctr, mas não entre estes, porém, os resultados mostraram que poderia

existir uma diferença entre os grupos CO e CP, sendo relevante conferir este dado em futuros

estudos, dado que o Cg1 tem um papel no processamento e aprendizagem das consequências

que produz um comportamento (Hayden & Platt, 2010). Os dados obtidos não são suficientes

para concluir que no Cg1, a COC aumenta a expressão de FosB de forma diferenciada em

função ao tipo de contingência em que esta foi administrada e não unicamente pela ação

farmacológica da droga.

De forma similar, os resultados das medições no IL são interessantes para o presente

estudo, e dada a sua função de associação na aprendizagem operante (Tran-Tu-Yen et al.,

2009), se esperava que o grupo CO apresentasse uma maior expressão de FosB que o CP,

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porém os resultados mostram diferenças entre o grupo CO comparado com o Ctr, e também

do CP comparado com o controle, mas não entre CO e CP. De forma similar aos resultados

do Cg1, parece existir um padrão de aumento na expressão de FosB regulado pela

contingência (CO>CP>Ctr) o qual seria interessante conferir em futuros estudos.

Como descrito no Experimento 1, o NAc é uma área de integração límbica e cortical

(Goto & Grace, 2008), implicada no processamento de estímulos pavlovianos e o estado

motivacional (Everitt, 2001). O NAc tem um papel importante na PIT. O Core e Shell têm

sido reportados bibliograficamente pelos seus diferentes papeis nesta. Por um lado, as lesões

no Core, mas não no Shell, tem mostrado impedir a PIT generalizada (Cardinal, Parkinson &

Everitt, 2002; Corbit & Balleine, 2005; 2011; Hal, Parkinson, Conor, Dickson & Everitt,

2001). Também tem sido previamente reportado que a PIT específica é impedida por les ões

no Shell e não no Core (Corbit et al., 2001; Corbit & Balleine, 2005; 2011).

Segundo o reportado por Perrotti et al. (2008), não se esperava que os resultados em

relação ao NAc mostrassem diferença na expressão de FosB entre o grupo Ctr e os outros

grupos, pois esta área é comumente reportada por expressar este IEG após a administração

crónica de COC em geral, sem estar esta expressão relacionada à contingência em que esta

droga foi administrada. Em concordância com este estudo, tanto os resultados no Core como

no Shell mostraram que os grupos CO e CP tiveram uma expressão muito maior comparados

com o Ctr, mais não entre estes dois.

Alguns autores têm proposto que o papel do NAc Core é mais relevante para a

autoadministração de COC quando associada a um S, pois a inativação reversível do Core,

mas não do NAc, alterou a reinstalação de COC induzida por um S (Fuchs, Evans, Parker, &

See, 2004). Porém, dado que é consistente que a expressão de FosB não diferencial na

administração de COC sob contingências operante e Pavloviana, no NAc Core e Shell, os

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resultados comportamentais e imunohistoquímicos de este estudo para essas subáreas não

parecem estar relacionados.

Os resultados para o lCPu mostram diferenças na expressão de FosB entre os grupos

que receberam COC nas contingências operante e Pavloviana, em comparação com o Ctr, o

que sugere que foi o efeito central da droga a causante da indução de expressão gênica, e esta

não se deu em relação às contingências. De forma similar, os resultados para o mCPu

mostraram que houve diferenças significativas entre os grupos CO e Ctr, e CP e Ctr, mas não

entre CO e CP. O conhecimento sobre como o CPu está envolvida na dependência as drogas

é bastante restrito, se limitando, entre outros fatores, às conexões do lCPu com o córtex

somatossensorial e motor, com que em conjunto regulam diferentes aspectos do movimento

(Fricker, et al., 1996), e às conexões que o mCPu recebe do mPFC, regulam funções como

aprendizagem de sequências e seleção de estratégias, (McDonald, & White, 1999).

Os dados obtidos em conjunto para lCPu e mCPu mostram que a administração de

COC induz a expressão de FosB no CPu em geral e que esta expressão não é regulada pelas

contingências e sim pelo efeito central da droga. Isto sugere que o papel que o CPu tem na

dependência às drogas está mais relacionado às conexões com áreas corticais com as que em

conjunto regulam movimentos e aprendizagem de sequências. Os dados obtidos neste

experimento, comportamentais e imunohistoquímico, são insuficientes para interagir com o

que se conhece na literatura destas subáreas para sugerir uma interação entre estes.

Em relação aos resultados no hipocampo, as subáreas DG e CA1 mostraram

diferenças entre grupos, mas estas não se observaram no CA3. Para o DG houve uma maior

marcação no grupo CO em relação ao CP e ao Ctr. Tendo em conta que o DG tem um papel

importante na codificação conjuntiva de informação e na separação de padrões espaciais e

separação de padrões contextuais (Kesner, 2013), este resultado sugere que essas funções

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poderiam ser atingidas diferencialmente na contingência operante e na contingência

pavloviana, induzindo portanto diferentes níveis de FosB nesta subárea entre grupos. Por

outro lado, os resultados para CA1 mostram marcações maiores nos grupos CO e CP em

comparação ao Ctr, mas não entre estes dois últimos, sugerindo que houve principalmente um

efeito central da COC sobre esta subárea como causa da expressão de FosB, sem ser afetada

pela contingência de aprendizagem. Dado que o mesmo resultado para CA1 foi obtido no

Experimento 1, parece houver consistência que esta subárea seja afetada unicamente pelo

efeito central de uma droga e não pela história de administração desta, porém seria possível

que uma outra droga diferente de morfina ou COC pudesse induzir um efeito diferencial

segundo a contingência, o qual poderia ser conferido em estudos posteriores. Os resultados

do DG e CA1 estão em concordância com o reportado por Perrotti et. al. (2008), em relação

ao aumento na expressão de FosB que a administração de COC causa nestas subáreas.

No CA3, os resultados obtidos não mostram diferenças significativas entre grupos, e

não parece existir um padrão de aumento ou diminuição de expressão de FosB em relação

ao tipo de contingência, pois as medidas de células imunorreativas por mm² são similares nos

três grupos. Como se pode observar na Figura 32, a quantidade de células imunorreativas foi

similar às das outras subáreas e se manteve estável nas medições feitas após a Fase 4, em

relação às primeiras, para todos os grupos, incluindo o Ctr. Dado que não houve diferenças

nesta medição entre os sujeitos que se autoadministraram COC ou receberam esta de forma

passiva com os sujeitos que receveram um veículo (grupo Ctr), e estes último grupo não

mostrou um aumento após ter autoadministrado a droga, o resultado indica que o CA3 não é

vulnerável à administração crónica de COC e que o papel que esta subárea poderia ter em

relação à dependência de COC, se existir, estaria ligado ao processamento sequencial de

informação em cooperação com CA1 e no processamento de geometria do ambiente em

cooperação com o DG (Kesner, 2007).

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O hipocampo tem sido reconhecido pelo seu papel em aprendizagem e memória e

existe evidência que sugere mudanças na plasticidade e mecanismos moleculares no

hipocampo foram associados a memórias contextuais induzidas por um S previamente

presente durante a administração da droga, levando a busca e autoadministração da droga

(Hou et al., 2009; Taubenfeld, Muravieva, Garcia-Osta, & Alberini, 2010). Estudos

específicos do hipocampo em relação a seu papel na PIT não foram encontrados. Isto

provavelmente porque a maioria destes estudos realizam lesões específicas das áreas de

estudo antes ou depois do treino para observar como se afeta o desempenho da tarefa durante

o teste de transferência. Lesões no hipocampo dificultariam ou impediriam diretamente a PIT,

a depender da subárea lesionada, porém, dado que os mecanismos de memória estariam

sendo afetados diretamente, não se poderia concluir que se a lesão afetou a PIT ou se

simplesmente incapacitou os sujeitos para manter ou recobrar as suas memórias (Knierim,

2004; Mumby, 2002; Palmer, 2002). Os resultados do presente experimento não são

conclusivos e estudos posteriores teriam que ser realizados para ampliar o conhecimento além

do que pode ser concluído com unicamente os dados apresentados. O papel do hipocampo é

realmente importante para compreender a dependência às drogas, dado a conexão que existe

entre Ss presentes no ambiente e o uso de uma droga que poderiam ser induzidos por

plasticidade nesta área (Dacher & Nugent, 2011).

Os resultados para os subnúcleos BLA, CeA e MeA da amígdala são interessantes

para os objetivos deste experimento. Segundo Blundell et al. (2001) e Corbit et al. (2001), a

BLA e o Shell estariam diretamente involucrados na PIT específica, e a CeA e o Core estão

implicados na PIT generalizada (Hall et al., 2001; Holland & Gallagher, 2003). Na BLA se

encontraram diferenças significativas entre o grupo CO comparado com o CP e Ctr,

observando a tendência que tem aparecido em outras subáreas em relação à expressão de

FosB (CO>CP>Ctr). Como mencionado previamente, a BLA possui conexões eferentes

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dirigidas ao NAc que ajudam a mediar a motivação, e se acredita esteja implicada na

aprendizagem relacionada a estímulos ambientais/contextuais (Martinez et al, 2011; Setlow,

et al., 2002). Este resultado é sem precedentes, pois nos estudos prévios como os de Perrotti

et al. (2008) e Wistanley et al. (2007), não foi avaliada esta subárea ou as outras da amígdala

para ver as diferenças na expressão de FosB na autoadministração e administração passiva

de COC. Segundo este resultado para a BLA, é possível que esta subárea pudesse estar

implicada em resultados comportamentamentais deste experimento, como que o grupo CO

teve uma maior frequência de respostas e ID na presença de S1 em comparação com o CP.

Na CeA mostraram diferenças no grupo CO comparado com o CP e com Ctr, sendo a

expressão de FosB significativamente maior em CO e praticamente igual entre CP e Ctr.

Isto sugere que o efeito farmacológico da COC não tem um efeito relevante na expressão de

FosB na CeA, mas sim na contingência é administrada, sendo induzida apenas pela CO.

Estes resultados na BLA e CeA foram similares no Experimento 1, o que poderia sugerir a

generalização para outras drogas, pelo menos outros opioides e derivados da COC.

Adicionalmente, como pode ser observado nas medições após da Fase 4 (Fig. 33), os

resultados sugerem que a BLA e a CeA se encontram estreitamente ligadas ao processo de

aprendizagem ou associação quando a COC é autoadministrada cronicamente por CO, pois os

níveis das células imunorreativas por mm² se estabilizaram na medição após a Fase 4 ao

mesmo nível que o as marcações no grupo CO na medição após a Fase 2.

Finalmente, os resultados obtidos na MeA não mostram diferenças estatisticamente

significativas entre grupos, sendo similares as medições para todos estes. Dado que as

medições realizadas após a Fase 4 não mostram diferenças com as realizadas após a Fase 2,

sendo similar ao observado nesta subárea no Experimento 1, parece ser que CeA não está

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implicada na aprendizagem relacionada à dependência às drogas, nem é afetada

diferencialmente em relação à expressão de FosB por CO ou CP.

Winstanley et al. (2007), reportaram que a expressão de ΔFosB, após de

autoadministração, mas não de administração passiva, no OFC. De forma similar, no

Experimento 3 se reporta uma diferença significativa entre estes dois grupos, sendo

claramente maior em CO, comparado com CP. Porém, contrário ao reportado nesse estudo,

neste experimento também se obteve marcação no grupo CP, o qual poderia ser explicado por

diferenças delineamento experimental, tendo em conta que no estudo de Winstanley et al.

(2007) o grupo CP recebeu injeções intraperitoneais e não foi um esquema acoplado com

infusões i.v acompanhadas de um S, como no presente estudo. Segundo esta ordem de ideias,

os resultados sugerem que a contingência S1-droga aprendida durante a contingência

Pavloviana a que teria induzido a expressão de ΔFosB no grupo CP, o que não se conseguiria

unicamente com uma administração passiva por meio injeções de COC.

Como mencionado anteriormente, a expressão gênica pode ser maior em algumas

subáreas cerebrais quando os sujeitos receberam a droga em contingência operante,

comparados com sujeitos que a receberam em contingência Pavloviana (Choi et al., 2011;

Jacobs et al., 2002, 2003, 2005; Krawczyk, 2002; Kuzmin & Johansson, 1999; Lüscher &

Malenka, 2011; Miguéns et al., 2008; Nestler, 2012; Thomas et al., 2003; Winstanley et al.,

2007). Esta expressão gênica tem sido reportada em áreas do SNC implicadas na regulação

do reforço de drogas, como PFC e OFC, nas que drogas como a COC e morfina aumentam a

sensibilidade aos efeitos reforçadores e de ativação locomotora (Colby et al., 2003;

Winstanley, 2007; Zachariou et al., 2006). Coerente com esses dados, os resultados de

Experimento 3 mostram que existem diferenças na expressão de FosB, em áreas cerebrais

implicadas na dependência às drogas, entre os sujeitos que receberam COC em contingência

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operante e os que receberam a mesma em contingência Pavloviana, assim como dos sujeitos

do grupo Ctr.

Em resumo, os resultados imunohistoquímico obtidos no Experimento 3 estão em

concordância com dados reportados previamente na bibliografia em relação diferenças da

expressão de FosB no OFC (Perrotti et al., 2008; Winstanley et al., 2007). Adicionalmente,

foram obtidos resultados similares para outras subáreas que não foram reportadas

previamente em outros estudos por terem uma expressão de ΔFosB afetada de forma

diferencial pela contingência operante ou Pavloviana na administração repetida de COC,

como o DG do hipocampo, a BLA e a CeA. Adicionalmente, os dados comportamentais

mostraram a transferência, replicando estudos prévios (Kruzic, Congelton & See, 2001;

LeBlanc, Ostlund & Maidment, 2012; Saddoris et al., 2011).

O grupo CP apresentou PIT com o delineamento experimental utilizado, sendo um

excelente indicador do procedimento utilizado, replicando estudos que tem mostrado o

surgimento de PIT em estudos com COC (Kruzic, Congelton & See, 2001; LeBlanc, Ostlund

& Maidment, 2012; Saddoris et al., 2011). Ainda, no estudo de LeBlanc et al., 2012, o qual

também utilizou duas barras para separar as respostas de busca e de autoadministração,

também se reporta uma maior frequência de respostas na resposta de autoadministração

quando o S associado ao efeito da COC foi apresentado durante o teste de transferência.

Resultados como esse em comum com outros estudos mostram consistência no procedimento.

Ainda, os resultados comportamentais mostraram que os sujeitos do grupo CO

apresentaram uma frequência de respostas total e na presença de S1 maior em comparação

com o grupo CP. De forma similar, o ID total e durante a apresentação de S1 foi maior no

grupo CO na resposta de busca, comparado com o CP, e a latência de respostas na barra B foi

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menor no grupo CO, comparado com o CP. Adicionalmente, na presença de S1, o grupo CP

apresentou um ID na barra A maior em comparação com o grupo Ctr.

Alguns dos resultados imunohistoquímico apoiam com os resultados comportamentais

e sugerem que a maior expressão de FosB no LO e na BLA no grupo CO em comparação ao

CP, estejam relacionados às diferenças entre estes grupos no controle de estímulos

estabelecido por S1 para estes dois grupos, em relação ao ID atingido na presença deste, e

pela diferença entre estes dois grupos na frequência e latência de resposta na barra B.

Poucos estudos são realizados com os fatores considerados no presente estudo para

tentar obter um modelo adequado de estudo de controle de estímulos na autoadministração e

administração passiva de drogas, pois existe um grande custo e variáveis a serem

consideradas ao trabalhar com PIT (Cartoni et. al 2016), assim como inumeráveis

dificuldades que acarretam os procedimentos em si ao estudar controle de estímulos neste

paradigma (LeBlanc et al., 2012).

Estudos posteriores devem ser realizados para conferir os dados aqui apresentados e

brindar valiosa informação complementar ao papel que estas subáreas têm na dependência às

drogas e como estas podem ser afetadas ou não de forma diferencial pela história de

administração de uma droga em contingência operante ou Pavloviana.

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Discussão Geral

Diferentes abordagens da dependência às drogas parecem concordar em atribuir aos

estímulos ambientais papel determinante sobre a autoadministração, procura por drogas e

recaída observadas em sujeitos dependentes (e.g. Everitt & Robbins, 2005; Kalivas &

O'Brien, 2008; Kalivas, Peters, & Knackstedt, 2006; Robinson & Berrigde 2003; Siegel &

Ramos, 2002). Porém, alguns autores propõem que são as relações pavlovianas estímulo-

droga (CS-US) estabelecidos durante a procura e consumo da droga que determinariam a

dependência a uma droga (Bachteler et al., 2005; Robinson & Berridge, 1993, 2003, 2008),

enquanto outros defendem que são as relações operantes estímulo-resposta-droga (SD-R-SR)

as que determinariam esses comportamentos (Chen et al., 2008; Melzack, 1990; Stefanski et

al., 1999). Os resultados aqui obtidos não parecem apoiar nenhuma das propostas em termos

de priorizar um ou outro processo de aprendizagem como determinante da dependência de

drogas e oferecem um panorama alternativo a essa dicotomia.

Os resultados apresentados poderiam ajudar a dar uma explicação a perguntas como

por que diferentes autores (e corpos teóricos) apontam e mostram resultados contraditórios,

indicando que seriam as associações aprendidas durante a contingência Pavloviana ou as

associações aprendidas durante a contingência operante as que levariam à dependência às

drogas. Como mencionado na introdução desta tese, é possível que a resposta não se ache

focando nos argumentos dados por estes estudos para tentar mostrar que é a contingência

operante ou a Pavloviana a responsável pela dependência a uma droga. Existem fatores em

comum entre estes autores/estudos, que não são contraditórios e que estão em concordância

com os resultados de inumeráveis pesquisas nas áreas da análise do comportamento e das

neurociências.

A controvérsia entre propostas sobre o desenvolvimento de dependência durante a

interação com uma droga em contingência Pavloviana ou operante pode ser consequência de

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diferentes paradigmas, pois com tantas variações possíveis não é de surpreender que se

obtenham resultados diferentes e aparentemente opostos, dependendo de fatores como o tipo

de PIT reportada, seletiva ou generalizada (Corbit & Balleine, 2005; 2011), a ordem dos

treinos operantes e Pavlovianos, a substância e dose usada como reforçador (ou punidor no

caso da devaluação), sujeitos de estudo, entre outros (Holmes, Marchand & Coutureau,

2010). Os resultados do presente experimento não teriam sido possíveis de obter se o

delineamento experimental não incluísse a separação das respostas. No estudo prévio

realizado no laboratório (Patarroyo et al., 2014), ao não ter a divisão de respostas, os

resultados indicaram a ausência de PIT em um protocolo muito similar ao aqui realizado,

porém, sem a divisão das respostas de busca e autoadministração.

Os resultados de expressão de FosB obtidos nas Fases 1 do Experimento 1 e 3 estão

em concordância com estudos que reportam que a administração repetida de uma droga em

contingências operantes ou pavlovianas alteram diferencialmente a expressão desta em

estruturas cerebrais envolvidas nos processos da dependência às drogas (e.g. Saddoris et al,

2011; West & Carelli, 2016). Perrotti et al. (2008), reportam que a autoadministração de COC

ocasiona uma expressão de FosB no NAc Core e Shell igual à que ocasiona a administração

passiva da mesma, indicando que para estas subáreas a indução deste IEG se dá em função do

efeito farmacológico e não da contingência na qual uma droga é administrada, porém, estes

mesmos autores reportam que a autoadministração de COC ocasiona uma expressão maior de

FosB no OFC que a que ocasiona a administração passiva da mesma, indicando que para

esta subárea não unicamente à exposição à COC a que causou a expressão de FosB, mas a

contingência na qual a droga foi administrada.

De forma similar, Jacobs et al. (2005) reportaram uma maior expressão de FosB no

NAc Core na contingência operante de heroína, que na contingência Pavloviana desta. O

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Experimento 1 registrou este mesmo dado empregando infusões de morfina, outro opioide,

sugerindo que talvez este efeito se possa generalizar para outras drogas, pelo menos outros

opioides. No Experimento 1 foi encontrado que a contingência operante ocasionou uma

maior expressão de FosB que a contingência Pavloviana em outras subáreas, além do NAc

Core, como o PrL, Core, CA3, BLA e CeA, as quais não têm sido reportadas previamente em

estudos similares medindo a expressão de FosB entre a contingência operante e Pavloviana

de drogas. Comparativamente, no Experimento 3, foi encontrado que a contingência operante

ocasionou uma maior expressão de FosB que a contingência Pavloviana no OFC, resultado

que replica o reportado em Winstanley et al. (2007). Este mesmo resultado também se

observou em áreas não reportadas previamente, o DG do hipocampo, a BLA e a CeA.

Os resultados também mostram algumas subáreas em comum (a BLA e a CeA) em

que a contingência operante de morfina e COC ocasionaram uma forte marcação de FosB

que a contingência Pavloviana destas mesmas, e alguma subáreas que só foram afetadas

diferencialmente pela contingência operante ou Pavloviana de morfina (NAc Shell, CA3) ou

COC (OFC, IL e DG). Esses dados podem indicar efeito específicos da droga, corroborando e

ampliando dados da literatura de que diferentes drogas podem causar a expressão de FosB

em diferentes subáreas Perrotti et al. (2008).

Em conjunto, os resultados dos experimentos 1 e 3 mostraram que a contingência na

qual uma droga é administrada, operante ou Pavloviana, pode induzir de forma diferencial a

expressão de FosB em diferentes áreas cerebrais. A literatura reporta o NAc (Goto & Grace,

2008), a Amígdala (Corbit and Balleine, 2005) e o PFC (Ostlund & Balleine, 2007), como

estruturas envolvidas dos processos de PIT, e os dados comportamentais dos experimentos 2

e 3 apontam uma conexão entre estas áreas envolvidas na PIT e a expressão de FosB

induzida por diferentes contingências de administração de drogas, pois coincidem com áreas

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em que se acharam diferenças entre os grupos CO e CP nos experimentos 1 e 3. Ainda, em

estruturas como o NAc, a literatura reporta que existe uma conexão direta entre aumento na

autoadministração de uma droga e o aumento na expressão de FosB (Olsen, 2011; Robinson

& Nestler, 2011; Ruffle, 2014).

Saddoris et al. (2011), mostraram que durante o teste de transferência de PIT a

atividade de neurônios no NAc aumentou em animais que se autoadministraram COC e que

receberam esta passivamente em comparação com o grupo controle. Os autores reportam que

no grupo que pasou pelo treino da contingência operante, os neurônios do Core, em

comparação com os do Shell, foram principalmente ativados na presença do CS, na presença

de um reforçador e durante a tarefa operante, sendo esta codificação no Core correlacionada

com o nível de transferência mostrado no teste de transferência da PIT. Por outro lado, em

ratos experimentalmente ingênuos, apenas os neurônios do Shell responderam ante US. De

acordo com o autor, seus dados indicariam que a atividade do Core está envolvida na

aquisição de informação sobre o S no ambiente e a contingência ao responder, enquanto que

o Shell seria importante para usar essas informações para modular o comportamento, sendo

especialmente afetado pela contingência de administração de uma droga, indicando que em

termos de atividade neuronal, ainda que ambos os subnúcleos do NAc se ativem na presença

de um CS ou US, o Core estaria mais envolvido na contingência operante e o Shell mais

envolvido na Pavloviana

Destaca-se a semelhança entre os grupos CO e CP em relação à expressão de FosB

para ambas as subáreas do NAc, Core e Shell, no Experimento 3, pois, a diferença dos

resultados tão característicos do Experimento 1, a administração de morfina sob as

contingências operantes e pavlovianas ocasionaram diferenças marcantes na expressão de

FosB no Shell. Uma possível explicação para a diferença encontrada entre os resultados dos

experimentos e as propriedades de droga e os efeitos que produz no organismo, pois segundo

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o segundo experimento de Perrotti et al. (2008), ao comparar expressão de FosB induzida

por diferentes drogas em diferentes subáreas cerebrais, cada droga pode pode induzir FosB

em diferentes subáreas. Ainda, o segundo experimento do estudo destes autores e o estudo de

Winstanley et al. (2007) mostram que as contingências sob as quais uma droga é

administrada tem um efeito diferencial na indução de FosB em algumas subáreas cerebrais.

Portanto, segundo esta lógica, é apenas razoável que os resultados de comparação entre

contingências de administração de duas drogas se tenham apresentado em diferentes

subáreas.

Mesmo que este estudo não pretendeu comparar as diferenças em expressão de FosB

causadas pela contingência operante ou Pavloviana entre morfina e COC, é interessante

destacar, que como reportado por Perrotti et al. (2008), diferentes drogas produzem expressão

de FosB em diferentes subáreas. Pois os resultados do Experimento 3, utilizando COC, que

mostraram diferenças de expressão deste IEG produzidas pelas contingências estudadas,

operante e Pavloviana, são em subáreas diferentes às reportadas no Experimento 1, no qual

foi utilizada morfina. Adicionalmente, como apontado por Holmes et al. (2010) as variações

importantes no delineamento (droga utilizada, dosagem, procedimento, modelo, ordem dos

treinos, etc), são fatores que influiriam importantemente nos estudos que avaliam o controle

de estímulos usando um procedimento com tantas variações como a PIT.

Na literatura se considera FosB como o mais importante mecanismo biomolecular

nos estudos de dependência às drogas pois tem sido reportado que aumentos na

autoadministração de uma droga são dependentes da expressão deste IEG no NAc (Olsen,

2011; Robinson & Nestler, 2011; Ruffle, 2014), porém, estes estudos têm focado no efeito

central que produz uma droga durante a autoadministração e portanto os resultados são em

relação a um protocolo simples de autoadministração e não em comparação de contingências

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de administração. De fato, Nestler (2012, 2014) e Ruffle (2014) sugerem que o FosB seria

uma espécie de “interruptor molecular”, que ajuda iniciar e manter o estado de dependência

em um organismo. Isto indica que ainda que a expressão de FosB induzida por uma droga

possa estar diretamente relacionada com o aumento da autoadministração da mesma, não

necessariamente esta expressão indica o desenvolvimento de dependência ou de controle de

estímulos, pois se fosse desse jeito, não existiriam as diferenças de expressão deste IEG em

diferentes subáreas e dadas por diferentes drogas, como apontado por Perrotti et al. (2008) e

Winstanley et al. (2007). Ainda, segundo este raciocínio, durante um procedimento como o

utilizado neste estudo, a expressão de FosB durante a Fase 2 poderia predizer unicamente de

forma parcial os resultados comportamentais da Fase 4.

No experimento 3, as medições imunohistoquímicas após da Fase 4 foram maiores

para a maioria das subáreas em comparação com as medições realizadas na Fase 2. Ainda,

estas medições na Fase 4 não revelaram diferença entre grupos, o que parece indicar que a

autoadministração da droga na Fase 3 induziu a expressão de FosB entre os grupos ao ponto

de “igualar” o nível de expressão, apoiando a proposta de Nestler, (2012) sobre estabilidade

de acumulação gradativa deste IEG produzida pela administração repetidas de uma droga.

Por outro lado, na Fase 4 houve diferenças importantes de comportamento entre os animais

dos diferentes grupos no Experimentos 2 e 3, que sugerem que o a expressão de FosB está

relacionado não unicamente ao aumento nas respostas de autoadministração de uma droga,

mas também depende da contingência em que esta droga foi administrada inicialmente,

podendo influenciar vaiáveis como ID e latência de resposta.

Tanto no Experimento 2, como no 3, o grupo CP apresentou PIT durante o teste de

transferência, replicando estudos que mostram esta transferência em estudos com drogas

(Kruzic, Congelton & See, 2001; LeBlanc, Ostlund & Maidment, 2012; Saddoris et al.,

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2011). Ainda, os resultados de estes experimentos apontam ao surgimento de um padrão de

respostas, de forma diferencial entre os grupos CO e CP durante o teste de transferência. Esta

tendência se sustenta nos dados de IDs e de frequência de respostas e de latência de respostas

quando S1 foi apresentado, sugerindo que a contingência operante ocasionou uma tendência a

responder na barra B.

Como exposto na introdução, se considera que o esquema acoplado (Catania, 1999;

Sanchis-Segura& Spanagel, 2006) é o mais adequando para um estudo como o presente,

porém, deve ir acompanhado de métodos como a implantação de cateter para infusões i.v.

para garantir a administração da droga sem a interrupção do procedimento, de uma forma

rápida, asséptica e sem dor, assim como da implementação de uma separação de respostas

(busca e autoadministração) do processo que levam a administração de uma droga (Sanchis-

Segura & Spanagel, 2006), que como visto nos resultados apresentados, pode brindar dados

relevantes para a compreensão do controle de estímulos na dependência às drogas, tendo em

conta que não todas as respostas no processo de consumo de uma droga são afetadas da

mesma forma por estímulos que foram associados a estas em diferentes histórias de

associação.

Os resultados dos três experimentos apresentados nesta tese aportam valiosos dados

desde a perspectivas comportámemtal e bioquímica para o entendimento sobre o controle de

estímulos e a dependência às drogas. Eles estão em concordância com a bibliografia que

suporta que a contingência operante e Pavloviana são processos diferentes de aprendizagem,

como discutido por Pear e Eldridge (1984), Rescorla e Solomon (1967), Rehfeldt e Hayes,

1998, e Skinner (1937), entre outros; e portanto, ainda tendo propriedades em comum,

poderiam influenciar diferencialmente um organismo, especialmente no caso da dependência

às drogas.

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Conclusões

Desde os estudos de Estes e Skinner (1941) reportando que um S associado com

comida podia aumentar a frequência de uma resposta operante que tinha também comida

como consequência, e a proposta dos dois processos por Rescorla e Solomon (1967), muito se

tem descoberto sobre o controle de estímulos e a sua relevância na dependência às drogas, e

muitas mais incógnitas têm surgido também em relação a estes novos conhecimentos. Se

considera que os objetivos de todos os experimentos foram atingidos durante o

desenvolvimento deste projeto de doutorado. Os resultados dos três experimentos

apresentados nesta tese aportam valiosos dados desde a perspectivas comportamental e

bioquímica para o entendimento sobre o controle de estímulos e a dependência às drogas.

Eles estão em concordância com a bibliografia que suporta que a contingência operante e

Pavloviana são processos diferentes de aprendizagem e, portanto, podem influenciar

diferencialmente um organismo, especialmente em casos como a dependência às drogas. Os

resultados apresentados não só replicam dados de estudos prévios na área, mas aportam dados

novos, não reportados previamente, que se complementam entre si. Ainda foi desenvolvido

um procedimento melhorado para o estudo da contingência operante e Pavloviana de drogas,

mostrando a sua eficácia e consistência.

Os dados em relação à expressão de FosB podem brindar informações valiosas em

relação a processos como aquisição, manutenção e recaída, na dependência às drogas. Mesmo

que não se conhece totalmente seu funcionamento, vale a pena destacar a proposta de Nestler

(2012, 2014) e Ruffle (2014), a qual sugere que o FosB pode ser uma espécie de

“interruptor molecular”, que ajuda iniciar e manter o estado de dependência em um

organismo.

Que além de todas as subáreas em que a autoadministração em contingência operante

causou uma maior expressão de FosB do que a administração passiva em contingência

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Pavloviana, no Experimento 1, se tenha achado que a contingência Pavloviana causou uma

maior expressão no NAc Shell e no DG, do que a operante, é um resultado que sugere que as

diferenças produzidas em um organismo na aprendizagem que se adquire durante diferentes

histórias de administração de drogas em contingência operante ou Pavloviana, não são

questão de “tudo ou nada”, nem tampouco apresentadas unicamente por uma das

contingências, mas diferentes em relação ao que implica a aprendizagem em cada tipo de

contingência. Isto é apoiado pelos resultados imunohistoquímico do Experimento 3, que

mostraram de forma similar maior expressão no LO, BLA e CeA, e ainda, em conjunto,

replicam e ampliam dados do estudo de Perrotti et al. (2008) que mostram que diferentes

drogas podem induzir a expressão de FosB em diferentes subáreas do SNC relacionadas à

administração de drogas.

De forma indubitável, a inclusão de medidas como IEGs brinda um complemento

ideal ao estudo da dependência às drogas se articulando aos dados comportamentais. Como

mostrado nos resultados apresentados, os dados comportamentais e bioquímicas estão em

concordância entre si, mostrando a compatibilidade e o complemento entre medidas ao

estudar a dependência às drogas.

Por outro lado, se tem proposto neste estudo que a PIT é relevante para a compreensão

dos comportamentos controlados por estímulos ambientais, como comer, beber e consumir

drogas. Dado que o procedimento e o delineamento experimentais utilizados permitiram a

aparição de PIT, se propõem como indicados e adequados para estudar a PIT como processo

básico do comportamento.

Ainda, dentro do limite da bibliografia conhecida, esta é o primeiro estudo

experimental que reporta que a contingência operante e a Pavloviana de uma droga tenha

ocasionado diferentes padrões de respostas, preferência na resposta de busca no grupo CO, e

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preferência na resposta de autoadministração no grupo CP. Adicionalmente, também é a

primeira vez que se reporta a apresentação de PIT com autoadministração i.v de morfina.

Futuros experimentos poderão utilizar o procedimento aqui desenvolvido indagando

questões que vão além das exploradas neste estudo, aperfeiçoando o procedimento e

adaptando este. Muito pode ser modificado ou adaptado no procedimento em pró de atingir

formas mais adequadas para diferentes questões sobre a dependência às drogas, por exemplo,

a possibilidade de dividir o comportamento de consumo de drogas em mais do que dois

respostas, uso de outras drogas além das clássicas nos estudos de dependência (incluindo

drogas modernas que afetam a saúde da população e a combinação de drogas), uso de

aparelhos que permitam o registro de resposta 24/7 (como as caixas de alojamento com

sistema de infusão), uso de machos e fêmeas, acesso a um ambiente enriquecido, entre outras.

Como cientistas devemos estar cientes das limitações dos nossos estudos, modelos e

procedimentos, que tentam replicar condições naturais isolando variáveis de forma artificial

para ter controle experimental, portanto é imprescindível aumentar as variáveis observadas

simultaneamente para tentar ter uma visão mais molar e natural dos mesmos fenômenos que

estudamos.

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Anexo 1. Valores de Medianas, estatístico Z de Wilcoxon e valores p - Grupo CO

Grupo CO

Subárea Mdn F2 Mdn F4 Z p

PFC LO 23,875 31 -2,201 ,028

mPFC Cg1 20,000 21,750 -0,943 ,345

mPFC PrL 19,250 20,500 -1,051 ,293

mPFC IL 26,000 23,625 -1,367 ,173

NAc Core 28,625 31,375 -1,363 ,172

NAc Shell 34,000 28,500 -1,153 ,249

CPu Lateral 30,500 32,370 -0,736 ,462

CPu Medial 47,250 49,875 -1,153 ,249

Hipp. DG 23,625 25,000 -0,734 ,463

Hipp. CA1 26,500 23,500 -1,472 ,141

Hipp. CA3 21,000 23,875 -9,43 ,345

Amig. Bas 72,875 77,875 -1,682 ,093

Amig. Cen 29,625 34,500 -1,153 ,249

Amig. Med 18,250 16,000 -2,201 0,028

Anexo 2. Valores de Medianas, estatístico Z de Wilcoxon e valores p - Grupo CP

Grupo CP

Sub-área Mdn F2 Mdn F4 Z p

PFC LO 82,284 135,527 -2,201 ,028

mPFC Cg1 77,444 108,301 -2,201 ,028

mPFC PrL 94,990 104,670 -2,201 ,028

mPFC IL 108,301 118,586 -1,472 ,141

NAc Core 132,502 136,132 -0,105 ,917

NAc Shell 142,182 147,628 -0,105 ,917

CPu Lateral 137,947 148,838 -1,214 ,225

CPu Medial 219,627 247,458 -2,201 ,028

Hipp. DG 94,385 113,746 -1,992 ,046

Hipp. CA1 11,931 113,141 -0,105 ,917

Hipp. CA3 118,586 115,561 0 1

Amig. Bas 270,450 356,364 -1,992 ,046

Amig. Cen 87,124 164,569 -2,201 ,028

Amig. Med 78,049 77,444 -0,405 0,686

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Anexo 3. Valores de Medianas, estatístico Z de Wilcoxon e valores p - Grupo Ctr

Grupo Ctr

Sub-área Mdn F2 Mdn F4 Z p

PFC LO 38,722 129,477 -2,023 ,043

mPFC Cg1 38,722 100,435 -2,023 ,043

mPFC PrL 60,503 110,116 -2,023 ,043

mPFC IL 83,494 118,586 -1,214 ,225

NAc Core 68,973 134,317 -0,944 ,345

NAc Shell 76,234 140,367 -0,405 ,686

CPu Lateral 118,586 151,258 -0,73 ,465

CPu Medial 175,459 249,273 -2,023 ,043

Hipp. DG 95,595 110,116 -1,753 ,080

Hipp. CA1 87,124 112,536 -0,135 0,893

Hipp. CA3 105,275 116,166 -0,271 0,786

Amig. Bas 226,286 342,449 -1,753 ,080

Amig. Cen 77,444 163,359 -2,023 ,043

Amig. Med 72,604 81,074 0 1