universidade de sÃo paulo faculdade de medicina de ... · bicarbonato de sódio e ácido cítrico....
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRO PRETO
Bruno Cimatti
Desenvolvimento e caracterizao de um cimento sseo esponjoso para
preenchimento de falhas sseas. Anlise morfomtrica e ensaio
mecnico.
Ribeiro Preto
2012
BRUNO CIMATTI
Desenvolvimento e caracterizao de um cimento sseo esponjoso para
preenchimento de falhas sseas. Anlise morfomtrica e ensaio
mecnico.
VERSO CORRIGIDA.
Verso original disponvel na seo de ps-graduao do Departamento de
Biomecnica, Medicina e Reabilitao do Aparelho Locomotor.
Dissertao apresentada Faculdade de
Medicina de Ribeiro Preto da
Universidade de So Paulo para obteno
de ttulo de Mestre em Cincias da Sade
Aplicadas ao Aparelho Locomotor
rea de concentrao: Ortopedia,
Biomecnica.
Orientador: Prof. Dr. Edgard Eduard Engel
Ribeiro Preto
2012
Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer
meio convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a
fonte.
Cimatti, Bruno
Desenvolvimento e caracterizao de um cimento sseo
esponjoso para preenchimento de falhas sseas. Anlise
morfomtrica e ensaio mecnico. Ribeiro Preto, 2012.
107 p.: il.; 30 cm
Dissertao de Mestrado, apresentada Faculdade de Medicina
de Ribeiro Preto/USP. rea de concentrao: Ortopedia,
Biomecnica.
Orientador: Engel, Edgard Eduard
1. Cimento sseo. 2. Cimento sseo poroso. 3.
Polimetilmetacrilato (PMMA). 4.Substitutos sseos. 5. Ortopedia.
6. Oncologia.
Esta tese foi redigida de
acordo com as Diretrizes para
apresentao de dissertaes e
teses da USP: documento
eletrnico e impresso parte I
(ABNT).
FOLHA DE APROVAO
Bruno Cimatti
Desenvolvimento e caracterizao de um cimento sseo esponjoso para
preenchimento de falhas sseas. Anlise morfomtrica e ensaio mecnico.
Dissertao apresentada Faculdade de Medicina
de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo
para obteno de ttulo de Mestre em Cincias da
Sade Aplicadas ao Aparelho Locomotor
rea de concentrao: Ortopedia, Biomecnica.
Aprovado em:_____/_____/_____
Banca Examinadora
Prof. Dr._______________________________________________________________
Instituio:______________________________Assinatura:______________________
Prof. Dr._______________________________________________________________
Instituio:______________________________Assinatura:_____________________
Prof. Dr._______________________________________________________________
Instituio:______________________________Assinatura:______________________
DEDICATRIA
Dedico este trabalho aos meus pais Luiz Carlos e Maria Helena pelo amor,
carinho, apoio e dedicao em toda a minha vida.
minha irm Nathalia, minha av D. Tia, meus tios e famlia pelo carinho e
por sempre me apoiarem.
Renata, pelo amor, pacincia, companheirismo e incentivo.
AGRADECIMENTOS
Agradeo, primeiramente, ao meu orientador Prof. Edgard Eduard Engel,
Obrigado pelos ensinamentos, orientaes, companheirismo e principalmente por
termos nos tornado amigos durante o projeto. Obrigado pela honra de ser o primeiro
aluno de mestrado do senhor.
Aos Professores Dr. Jos Batista Volpon, Dr. Marcello Henrique Nogueira-
Barbosa e Dr. Antnio Carlos Shimano pelos ensinamentos, por sempre me orientarem
e me apoiarem durante esta etapa.
Ao engenheiro de materiais Dr. Paulo Donato Frighetto pelas contribuies,
amizade e participao ativa no trabalho.
Ao Centro de Cincias das Imagens e Fsica Mdica do Hospital das Clnicas da
FMRP/USP pela contribuio no trabalho.
Aos funcionrios do Laboratrio de Bioengenharia, pelo apoio, amizade e
participao no projeto: Carlos Alberto Moro, Reginaldo Trevillato da Silva, Luiz
Henrique Alves Pereira, Francisco Carlos Mazzocato e Maria Teresinha de Morais.
secretria de ps-graduao do Programa de Cincias da Sade Aplicadas ao
Aparelho Locomotor Rita de Cssia Stela Cossalter e as secretrias do departamento de
Biomecnica, Medicina e Reabilitao do Aparelho Locomotor pela colaborao.
Amira Mohamede Hussein pela orientao durante o aprimoramento, pela
indicao ao Prof. Edgard e pela amizade.
Aos funcionrios da Oficina de Preciso da Faculdade de Medicina de Ribeiro
Preto, em especial ao Otvio Terra, pelos servios prestados.
A todos os amigos pelo convvio, companheirismo e de uma forma ou outra
sempre me ajudam.
FAPESP, CAPES e FAEPA, pelo apoio financeiro.
A educao a arma mais poderosa que
voc pode usar para mudar o mundo.
Nelson Mandela
RESUMO
CIMATTI, BRUNO. Desenvolvimento e caracterizao de um cimento sseo
esponjoso para preenchimento de falhas sseas. Anlise morfomtrica e ensaio
mecnico. 2012. 107 p. Dissertao (mestrado) Faculdade de Medicina de Ribeiro
Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2012.
Introduo: O tratamento dos tumores sseos benignos frequentemente
realizado por abordagem intralesional com curetagem do tumor e preenchimento da
falha ssea com substncias biolgicas ou sintticas. Entre as biolgicas esto os vrios
tipos de enxertos e o maior representante das sintticas o cimento sseo ou
polimetilmetacrilato (PMMA). O uso do cimento sseo compacto pode apresentar
problemas devido necrose trmica, ao afrouxamento assptico, incapacidade de
remodelao e elasticidade inadequada em relao ao osso normal. O
desenvolvimento de um cimento sseo esponjoso que atenda a estas demandas
mecnicas e biolgicas e que seja de fcil manipulao no ambiente cirrgico tem
estimulado alguns pesquisadores. Basicamente, possvel formar poros no interior do
cimento por mistura de substncias hidrossolveis ou por reao qumica produtora de
gs. Objetivo: Desenvolver e caracterizar fisicamente e mecanicamente um cimento
sseo com poros intercomunicantes de aspecto estrutural esponjoso. Material e
mtodos: A produo de cimento esponjoso foi realizada misturando-se o PMMA com
bicarbonato de sdio e cido ctrico. Foram confeccionados 90 corpos de prova com 40
mm de altura por 20 mm de dimetro distribudos em 6 grupos (n=15): G1 formado por
cimento esponjoso em que antes da polimerizao do cimento foram adicionados
bicarbonato de sdio e cido ctrico na proporo de 10% em relao ao componente
slido do cimento (polmero); G2 - cimento esponjoso na proporo de 20%; G3 -
cimento esponjoso na proporo de 30%; G4 - cimento sseo de PMMA compacto; G5
- formado por cimento de poliuretana de mamona (Biosteo) na proporo de 20%;
G6 formado de corpos de prova cilndricos de osso esponjoso extrado com trefina de
cndilos tibiais proximais de bovinos. A qualidade do cimento esponjoso foi avaliada
por macroscopia, clculo de densidade, imerso em azul de metileno, tomografia
computadorizada, microscopia eletrnica de varredura e ensaio mecnico de
compresso. Resultados: A melhor forma de produo de cimento esponjoso foi pela
mistura de PMMA e componentes efervescentes. O teste da imerso em azul de
metileno mostrou que os G2 e G3 apresentaram melhor intercomunicabilidade. As
anlises com o microscpio eletrnico de varredura (MEV) mostraram uma ampla
variao no tamanho e distribuio dos poros que medem de 50m a 3mm. Em relao
aos ensaios mecnicos no houve diferenas significativas entres os grupos de cimento
esponjoso G1, G2 e G3. Estes grupos apresentaram valores pouco inferiores aos do
grupo G6 de osso esponjoso bovino. O grupo G4 (PMMA compacto) apresentou valores
extremamente altos quando comparado ao osso esponjoso bovino e ao cimento
esponjoso. O grupo G5 de cimento sseo de mamona no atingiu os valores aceitveis
de resistncia mecnica. Concluso: Foi possvel desenvolver um cimento esponjoso
base de polimetilmetacrilato pela mistura com os aditivos efervescentes, bicarbonato de
sdio e cido ctrico, que apresenta caractersticas fsicas e mecnicas desejadas como
substituto sseo esponjoso nas curetagens para tratamento de tumores sseos benignos.
O cimento de mamona esponjoso na forma testada mostrou-se inadequado para os fins
pretendidos.
Palavras-chave: Cimento sseo, Cimento sseo poroso, Polimetilmetacrilato
(PMMA), Substitutos sseos, Ortopedia, Oncologia.
ABSTRACT
CIMATTI, BRUNO. Development and characterization of a cancellous cement
repair of bone defects. Morphometric analisys and mechanical testing. 2012. 107 p.
Dissertation ( Master). School of Medicine of RibeiroPreto, University of So Paulo,
2012.
Introduction: Benign bone tumors are usually treated by intralesional curettage.
The bone defect may be filled with synthetic or biological substitutes.
Polymetylmethacrylate (PMMA) is the most popular synthetic substitute and the solid
form is associated to thermal necrosis, aseptic loosening, bone remodeling prevention
and distinct elasticity. Research of porous cement that solves these drawbacks and can
be molded intraoperatively has encouraged many authors. For surgical purposes,
porosity can be achieved by mixing hydrosoluble substances or by gas-foaming
reactions. Objective: Development and physical and mechanical characterization of a
bone cement with interconnecting pores and cancellous bone like structural aspect.
Methods: Porous cement was produced by adding the effervescent components sodium
bicarbonate and citric acid to PMMA. Six groups of fifteen cylindrical samples (40 mm
height, 20 mm diameter) were compared. G1, G2 and G3 groups consisted of porous
cement specimens of PMMA with 10%, 20% and 30% of effervescent components
respectively. G4 consisted of solid PMMA cement specimens. G5 group consisted of
porous ricinic polyurethane cement (Biosteo) with 20% effervescent components
specimens. The control group G6 consisted of bovine cancellous bone samples. The
porous cements were characterized in terms of porosity, density, pore interconnectivity
and compressive strength. Macroscopic evaluation and measuring, methylene blue
immersion, Scanning Electron Microscopy (SEM), mechanical testing and a special
computed tomography reading software were employed for these evaluations. Results:
The pilot study showed that adding effervescent components to PMMA was the best
solution for porous cement production. The methylene blue immersion test showed that
G2 and G3 groups had better pore interconnection. Scanning electron microscopy
(SEM) showed a wide variation in pore size, from 50m to 3mm, and pore distribution.
No significant differences between G1, G2 and G3porous cement groups were found
regarding to mechanical strength and Young Modulus. Cancellous bovine bone, G6,
was slightly stronger and less elastic than these groups. This property is potentially
beneficial considering osteointegration as a consequence of Wolfs law. Solid PMMA is
extremely strength and inelastic. These properties do not match with cancellous bone.
The porous ricinic polyurethane cement (Biosteo) is unacceptably weak. Conclusion:
Porous cement was developed by adding effervescent components, sodium bicarbonate
and citric acid, to polymethylmetacrylate. Physical and mechanical properties are very
similar to cancellous bone. Further investigations to evaluate its bone substitute
potential should be encouraged. The porous ricinic polyurethane cement (Biosteo) is
inadequate these purpose.
Key-words: bone cement, porous bone cement, polymethylmetacrylate (PMMA), bone
substitutes, orthopedics, oncology.
NDICE DE FIGURAS
Figura 1. Tomografia computadorizada (TC) da primeira amostra de escolha
realizada com a mistura do PMMA com o bicarbonato de sdio e o cido ctrico. ....... 41
Figura 2. Foto ilustrando cimento sseo poroso inserido em regio proximal da
tbia bovina. .................................................................................................................... 41
Figura 3. Conjunto de para obteno do molde. A: tampa, B: molde cilndrico
vazado, C anel restritor, D base de apoio. ...................................................................... 46
Figura 4. Dispositivo de retirada do corpo de prova. E: pisto, B: molde
cilndrico vazado, F: base de apoio vazada. ................................................................... 46
Figura 5. Extrao dos corpos de prova de osso bovino. .................................... 48
Figura 6. Corpo de prova osso esponjoso bovino. .............................................. 49
Figura 7. Corpos de prova posicionados para anlise macroscpica. Em sentido
horrio: G2: cimento sseo esponjoso 20%; G3: cimento sseo esponjoso 30%; G1:
cimento sseo esponjoso 10%; G5: cimento poliuretana de mamona 20% e G4: cimento
sseo compacto. .............................................................................................................. 50
Figura 8. Mquina Instron, mod. 8872. ............................................................ 52
Figura 9. Anlise visual de preenchimento com azul de metileno grupos
G1(10%), G2(20%) e G3(30%). ..................................................................................... 56
Figura 10. Anlise visual de preenchimento com azul de metileno dos grupos . 57
Figura 11. Imagem do corte transversal de um corpo de prova. ....................... 58
Figura 12. Imagens do MEV grupos cimento esponjoso (a): G1, (b): G2, (c): G3;
........................................................................................................................................ 60
Figura 13. Imagens do MEV grupos cimento esponjoso (a): G1, (b): G2, (c): G3;
........................................................................................................................................ 61
Figura 14. MEV dos 6 grupos. Os valores de ampliao foram: G1: 64x; G2:
68x; G3: 64x; .................................................................................................................. 62
Figura 15. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da tenso mxima de
compresso em Megapascal segundo o grupo............................................................... 64
Figura 16. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () do mdulo de Young em
Megapascal segundo o grupo. ........................................................................................ 65
Figura 17. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da fora mxima de
compresso em Newtons (N) segundo o grupo. ........................................................... 66
Figura 18. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da tenso de escoamento
(off-set 0,2%) em Megapascal segundo o grupo. .......................................................... 67
Figura 19. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da tenso mxima de
compresso em Megapascal segundo o grupo............................................................... 68
Figura 20. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () do mdulo de Young em
Megapascal segundo o grupo. ........................................................................................ 69
Figura 21. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da fora mxima de
compresso em Newtons (N) segundo o grupo. ........................................................... 70
Figura 22. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da tenso de escoamento
(off-set 0,2%) em Megapascal segundo o grupo. .......................................................... 71
Figura 23. Grfico representando a mdia (-), desvio padro (I) da tenso
mxima de compresso em Megapascal segundo o grupo. .......................................... 72
Figura 24. Grfico representando a mdia (-), desvio padro (I) da tenso de
escoamento (off-set 0,2%) em Megapascal segundo o grupo. ..................................... 72
Figura 25. Grfico representando a mdia (-), desvio padro (I) da tenso
mxima de compresso em Megapascal segundo o grupo. .......................................... 73
Figura 26. Grfico representando a mdia (-), desvio padro (I) da tenso de
escoamento (off-set 0,2%) em Megapascal segundo o grupo. ..................................... 74
NDICE DE TABELAS
Tabela 1. Materiais utilizados e quantidade (g) de polmero, monmero,
bicarbonato de sdio (NAHCO3) e cido ctrico (C6H8O7) nos grupos . ....................... 47
Tabela 2. Valores de densidade dos grupos (g/cm3) ........................................... 55
Tabela 3. Anlise realizada pelo TC. Valores de volume total (mm3), porosidade
mdia(%), porcentagem de cimento e osso(%), volume mdio(mm3) e densidade
mdia(HU). ..................................................................................................................... 58
Tabela 4. Tenso mxima de compresso, mdulo de Young, fora mxima de
compresso e tenso de escoamento segundo os grupos. ............................................... 63
NDICE DE FLUXOGRAMAS
Fluxograma 1. Preparo do cimento de PMMA esponjoso .................................. 43
Fluxograma 2. Preparo do cimento de mamona esponjoso ................................ 44
NDICE DE APNDICES
APNDICE A Relatrio Ensaio Mecnico grupo G1. .................................... 96
APNDICE B. Relatrio Ensaio Mecnico grupo G2. ..................................... 98
APNDICE C. Relatrio Ensaio Mecnico grupo G3 .................................... 100
APNDICE D. Relatrio Ensaio Mecnico grupo G4 .................................... 102
APNDICE E. Relatrio ensaio mecnico grupo G5. .................................... 104
APNDICE F. Relatrio ensaio mecnico grupo G6. ..................................... 106
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
-TCP Trifosfato de clcio
BTU British Termal Unit
CEMEQ Centro de Mtodos Quantitativos
COR Composto sseo de ricinos
CPD Corpo de prova
ISO International Organization for Standardization
MEV Microscopia Eletrnica de Varredura
MMA metilmetacrilato
PMMA - polimetilmetacrilato
PTFE politetrafluoretileno
PTQ prtese total de quadril
TC Tomografia Computadorizada
Tg temperatura de transio vtrea
USP Universidade de So Paulo
HCFMRP/USP - Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da
Universidade de So Paulo
LISTA DE SMBOLOS
C graus Celsius.
g grama.
GPa gigapascal.
h altura.
HU - unidades Hounsfield (Hounsfield units).
KV quilovolt.
KN kilonewton.
J Joules.
m massa.
mA - miliampere.
ml mililitro.
mm milmetro.
mm3 milmetro cbico.
MPa megapascal.
N Newton.
r raio.
s segundo.
V volume.
densidade.
pi.
% - porcentagem.
Sumrio
1. Introduo ................................................................................................................... 24
1.1. Histrico da utilizao do cimento sseo acrlico ................................................... 24
1.2. Indicao clnica do uso de cimento nas cirurgias ortopdicas oncolgicas ........... 24
1.3. Avaliao crtica do uso de cimento em cirurgias ortopdicas oncolgicas ............ 25
1.3.1. Temperatura durante a polimerizao do cimento ................................................ 26
1.3.2. Comportamento mecnico .................................................................................... 27
1.3.3. Biocompatibilidade ............................................................................................... 28
1.4. Remodelao ssea (lei de Wolff) ........................................................................... 28
1.5. Cimento Esponjoso .................................................................................................. 29
1.6. Escolha do cimento sseo ........................................................................................ 30
1.7. Escolha dos componentes e dos mtodos de produo de poros ............................. 31
1.8. Poliuretana derivada do leo de mamona ................................................................ 33
1.9. Ensaio Mecnico ...................................................................................................... 35
2. Objetivos ..................................................................................................................... 38
2.1. Objetivo Geral.......................................................................................................... 38
2.2. Objetivos Especficos .............................................................................................. 38
3. Materiais e mtodos .................................................................................................... 40
3.1. Consideraes gerais................................................................................................ 40
3.2. Estudo Piloto ............................................................................................................ 40
3.3. Preparo do cimento sseo acrlico (PMMA) ........................................................... 41
3.4. Preparo do cimento de mamona (Biosteo) ........................................................... 43
3.5. Confeco dos conjuntos para obteno do molde .................................................. 45
3.6. Grupos ...................................................................................................................... 46
3.7. Armazenamento dos corpos de prova. ..................................................................... 48
3.8. Preparao dos corpos de prova de osso bovino...................................................... 48
3.9. Avaliao Morfomtrica .......................................................................................... 49
3.9.1. Exame Macroscpico ............................................................................................ 49
3.9.2. Clculo da densidade ............................................................................................ 50
3.9.3. Azul de Metileno .................................................................................................. 50
3.9.4. Tomografia Computadorizada (TC) ..................................................................... 51
3.9.5. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV) ...................................................... 51
3.10. Ensaios Mecnicos ................................................................................................. 52
3.10.1. Ensaios de compresso ....................................................................................... 52
3.11. Anlise dos Resultados .......................................................................................... 53
4. Resultados ................................................................................................................... 55
4.1. Anlise Morfomtrica .............................................................................................. 55
4.1.1. Clculo da densidade ............................................................................................ 55
4.1.2. Azul de metileno ................................................................................................... 55
4.1.3. Tomografia computadorizada (TC) ...................................................................... 57
4.1.4. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV) ...................................................... 58
4.2. Ensaios mecnicos ................................................................................................... 63
4.2.1. Cimento esponjoso de PMMA versus osso esponjoso bovino ............................. 68
4.2.2. Cimento PMMA slido versus osso esponjoso bovino ........................................ 72
4.2.3. Cimento esponjoso de mamona versus osso esponjoso bovino ............................ 73
5. Discusso .................................................................................................................... 76
5.1. Escolha dos componentes e do mtodo ................................................................... 77
5.2. Expectativa do desempenho biolgico baseado nos resultados do ensaio mecnico e
comparao com osso esponjoso .................................................................................... 78
5.3. Expectativa do desempenho biolgico baseado na avaliao morfomtrica ........... 79
5.4. Utilizao da TC para obteno de medidas de relevncia clnica .......................... 80
5.5. Discusso dos resultados ......................................................................................... 80
5.6. Avaliao inicial do cimento de mamona ................................................................ 81
5.7. Aplicao clnica...................................................................................................... 82
5.8. Possibilidades de aplicao do cimento esponjoso e trabalhos futuros ................... 83
6. Concluso.................................................................................................................... 85
7. Referncias.................................................................................................................. 87
8. Apndices.................................................................................................................... 96
INTRODUO
Introduo 24
1 Introduo
1.1 Histrico da utilizao do cimento sseo acrlico
O polimetilmetacrilato (PMMA), tambm conhecido como cimento sseo
acrlico, foi desenvolvido pela indstria qumica em 1843 e chamado de cido acrlico
devido ao cheiro acre do monmero. Em 1928 foi patenteado na Alemanha, sendo
produzido e comercializado por vrios fabricantes (BARROS, 2001). Observou-se que
a mistura do monmero a um polmero produzia uma massa que poderia ser manipulada
e modelada. Assim, tornou-se um dos primeiros biomateriais usado primeiramente por
dentistas para formatar dentes artificiais e dentaduras (BARROS, 2001;
WEBB; SPENCER, 2007).
O polimetilmetacrilato foi utilizado pela primeira vez em cirurgia ortopdica
pelo mdico americano Edward Haboush que em 1951 documentou a utilizao do
chamado acrlico dental, usado por dentistas, para fixao de uma prtese de quadril
(HABOUSH, 1953; KHN, 2005; VAN DE BELTH et al., 2002;
WEBB; SPENCER, 2007).
Scales e Herschell (1945) e Judet e Judet (1950) empregaram o PMMA para
fixao de prtese da cabea do fmur para tratamento de osteoartrose. No entanto, o
maior avano do uso de PMMA na prtese total de quadril foi o estudo de Charnley
publicado em 1970 sobre a fixao dos componentes acetabular e femoral e a
transferncia de foras para o osso (CHARNLEY, 1970; WEBB; SPENCER, 2007).
1.2 Indicao clnica do uso de cimento nas cirurgias ortopdicas oncolgicas
As aplicaes do cimento sseo acrlico em Ortopedia e Traumatologia so as
mais variadas. Alm do uso clssico na fixao de prteses, ele vem sendo utilizado
para substituir o osso de m qualidade, como na osteoporose, tanto para substitu-lo,
como nas vertebroplastias, como para aumentar a resistncia mecnica de
osteossnteses. Outra aplicao a de carreador de substncias, principalmente
antibiticos, proporcionando uma elevada concentrao do determinado frmaco numa
regio anatmica sem que a concentrao sistmica ultrapasse nveis perigosos ou
indesejveis (GARCIA FILHO et al.,1993).
Introduo 25
Em Oncologia Ortopdica a fixao de endoprteses e eventualmente a
substituio de segmentos sseos, por exemplo, o esterno, pode ser feita com cimento
sseo acrlico. No entanto, sua aplicao mais frequente como substituto de osso
esponjoso.
O tratamento dos tumores sseos benignos, agressivos ou no, frequentemente
realizado por abordagem intralesional com curetagem do tumor, tratamento adjuvante
local e correo da falha ssea. A tcnica de curetagem foi bastante desenvolvida ao
longo dos anos sendo que hoje consenso abordagem atravs de janela ampla,
utilizao de vrios tamanhos de curetas em ordem decrescente e, finalmente, o uso de
fresas esfricas em perfuradores de alta rotao para garantir a resseco completa do
tecido tumoral associada ao efeito trmico. Os mtodos de tratamento adjuvante
tambm j foram bastante estudados sendo as mais utilizadas hoje a eletrocauterizao,
a criocauterizao, a utilizao de fenol e a cimentao (GARCIA FILHO et al.,1993).
O tratamento das falhas sseas baseado no seu preenchimento com substncias
biolgicas ou sintticas. Entre as biolgicas esto os vrios tipos de enxertos e o maior
representante das sintticas o cimento sseo. Desde a utilizao do cimento sseo no
tratamento do Tumor de Clulas Gigantes em 1972, o mtodo vem sendo
exaustivamente estudado (CAMARGO et al., 2002). Vrios trabalhos procuraram
estabelecer sua eficcia do ponto de vista clnico, com relao biocompatibilidade e
aparecimento de complicaes, e mecnico, com relao resistncia mecnica da
reconstruo (FRAQUET et al., 2009; ODONNELL et al., 1994; VON STEYERN et
al., 2007). A possibilidade de o cimento ter dupla utilidade associando preenchimento e
adjuvncia pelo calor o tornaram ainda mais atrativo.
A literatura internacional recente tem abordado mais frequentemente a
intensidade dos efeitos necrotizantes da temperatura alcanada durante a polimerizao
na regio perifrica implantao do cimento e o desenvolvimento de tcnicas
percutneas de tratamento de metstases sseas nas vrtebras e ossos da bacia. A
associao de drogas quimioterpicas ao cimento para tratamento antineoplsico local
associado ao tratamento ortopdico tambm desperta a ateno dos centros de pesquisa.
1.3 Avaliao crtica do uso de cimento em cirurgias ortopdicas oncolgicas
Apesar das inmeras vantagens do uso do cimento acrlico como substituto de
falhas sseas, existem problemas que estimulam o desenvolvimento de mtodos mais
Introduo 26
seguros e modernos. Os problemas descritos so a necrose do osso subcondral em
curetagens epifisrias, a ausncia de osteointegrao com formao de pelcula fibrosa,
a falncia mecnica do osso por necrose ou falta de suporte mecnico, o afrouxamento
do cimento com deformao da articulao e artrose secundria. Devido importncia
destas complicaes uma discusso detalhada apresentada a seguir.
1.3.1 Temperatura durante a polimerizao do cimento
A polimerizao do cimento uma reao exotrmica. Em estudos in vitro, foi
observado que a produo de calor aumentada pela espessura do cimento, aumento da
temperatura ambiente e aumento da proporo de monmero para o polmero. Em
alguns estudos foram registradas temperaturas entre 70C e 120C (DIPISA; SIH;
BERMAN, 1976; WEBB; SPENCER, 2007). Belkoff et al.(2003) encontraram uma
variao de 39C a 113C em seu estudo. sabido que o colgeno desnatura com
exposies prolongadas que excedem os 56C. Por este motivo o risco de danos
trmicos ao osso tem sido cogitado por diversos autores ((DIPISA; SIH;
BERMAN, 1976; MJOBERG et al., 1984; WEBB; SPENCER, 2007).
Contudo, em estudos in vivo, tm sido registrados picos mais baixos de
temperatura. Reckling e Dillon (1977) mediram a temperatura na interface de 20
prteses totais de quadril (PTQ), a temperatura mxima foi de 48C. Estes modestos
aumentos foram atribudos aos efeitos de conveco do suprimento sanguneo local,
conduo trmica com implantes metlicos, grande rea da superfcie de interface e
baixa condutividade trmica do cimento. Harving, Soballe e Burger (1991) registraram
temperaturas na interface que excederam os 56C, durante o seu pico, mas se
mantiveram apenas por dois a trs minutos. Mesmo que tais temperaturas possam ser
alcanadas, estudos em animais indicam que nenhum efeito adverso possa decorrer
destas condies (LINDER, 1977; WEBB; SPENCER, 2007).
O superaquecimento do cimento e do osso adjacente pode ser visto como til e
danoso. considerado til nos casos de curetagem de tumores em que a necrose
perifrica ao tecido neoplsico curetado aumentaria a margem de segurana. O dano
est relacionado necrose do tecido normal provocando reabsoro e afrouxamento do
cimento em relao ao osso.
Em alguns casos de prteses cimentadas pode ser vista, na radiografia, uma fina
camada radiolucente na interface osso/cimento, constituda principalmente de
fibroblastos, macrfagos e clulas gigantes de corpo estranho. O aparecimento desta
Introduo 27
interface fibrtica atribudo s altas temperaturas de polimerizao combinados com a
liberao de monmeros metilmetacrilato (MMA) txicos, ambos gerando danos ao
tecido circundante. A soltura na interface osso/cimento nas prteses articulares
cimentadas o principal contribuinte para o afrouxamento do implante
(MITZNER et al., 2009).
1.3.2 Comportamento mecnico
No contexto do uso do cimento para fixao de prtese total de quadril as
propriedades mecnicas so da maior importncia. O Mdulo de Elasticidade (Mdulo
de Young) do cimento de 2400 MPa. Isto , cerca de dez vezes menor que o do osso
cortical e cem vezes inferior ao da haste metlica de ao inoxidvel da prtese (WEBB;
SPENCER, 2007). Assim, atua como uma camada intercalar elstica entre duas
camadas rgidas. Fato que intensificado pela menor elasticidade do cimento do que
temperatura ambiente em testes de laboratrio. Este fenmeno explicado pela
temperatura de transio vtrea (Tg) que varia de acordo com o peso molecular e
estrutura do monmero (WEBB; SPENCER, 2007). Essa diferena nos mdulos de
elasticidade parece proteger a fixao da prtese. Mas so as interfaces, principalmente
entre o cimento e o osso, que tem a menor resistncia do conjunto, sendo a regio mais
comum de soltura da prtese (HARRIGAN et al., 1992).
Quando consideramos um bloco de cimento preenchendo uma falha ssea
metafisria, a diferena dos mdulos de elasticidade pode provocar a reabsoro ssea a
sua volta e consequentemente a soltura do bloco (LEE, 2000). O Mdulo de
Elasticidade do cimento entre 2 e 3 GPa maior que o do osso trabecular que varia de
0,5 GPa a 1 GPa (BOGER, 2008). aceito que este seja um fator importante na
formao de tecido fibroso em volta do bloco de cimento. Tecido este que no tem
capacidade mecnica de sustentao permitindo deformao do osso que quando se trata
da camada subcondral periarticular pode levar artrose.
Outro fator fsico relacionado ao afrouxamento assptico a contrao
volumtrica e medido pelo monmero durante a fase final da polimerizao (KINDT-
LARSEN, 1995). Usando um modelo de deslocamento de fluidos, Chanrley, em 1970,
observou que h um aumento do volume do cimento durante a polimerizao, seguido
de ligeiro encolhimento, embora no retorne ao seu volume inicial, gerando uma
pequena falha que pode acarretar a incongruncia na interface cimento/osso.
Introduo 28
1.3.3 Biocompatibilidade
O cimento de polimetilmetacrilato uma estrutura densa e inabsorvvel. Sua
presena no permite a invaso vascular para nutrio de regies confinadas pelo
cimento. Esta tambm uma causa terica de reabsoro ssea ou necrose ssea na
periferia do bloco de cimento.
A substituio progressiva do elemento que preenche a falha por tecido sseo
tambm tema de intensa investigao cientfica. Cimentos de fosfato de clcio, no
entanto, apesar de mostrarem boa biocompatibilidade e osteoconduo, tm
propriedades mecnicas inadequadas, baixa biodegradabilidade in vivo, maior
fragilidade, perodos longos de endurecimento e menor flexibilidade do que o osso
natural (AMBARD; MUENINGHOFF, 2006). Muitos grupos de pesquisa tentaram
melhorar os biomateriais disponveis comercialmente (WEBB; SPENCER 2007;
YANG, 1998; ADEL-KADER et al., 2001), porm nenhum avano significativo foi
conseguido at o momento e o padro continua sendo o uso de cimento acrlico PMMA
compacto (MITZNER et al., 2009).
Outro fator bastante discutido a capacidade de partculas de cimento provocarem o
afrouxamento assptico, supostamente por ativao de macrfagos. Pequenas partculas
produzidas a partir do desgaste do cimento so vistas como iniciadores primrios das
reaes biolgicas mediadas por ativao de osteoclastos que provocam a ostelise
assptica (INGHAM; FISHER, 2000; WEBB, 2007).
1.4 Remodelao ssea (lei de Wolff)
A arquitetura trabecular do osso esponjoso parece ser estruturada de forma ideal
para a sua funo de suporte de carga, sugerindo que sua formao regida por foras
mecnicas (HUISKES, 2000). De acordo com Julius Wolff, cirurgio ortopedista e
anatomista alemo, em sua lei postulada em 1892, Toda mudana na forma e funo do
osso ou na sua funo isoladamente seguida de alteraes em sua arquitetura interna e
igualmente alteraes definitivas na sua conformao externa, de acordo com leis
matemticas (WOLFF, 1892). Segundo essa lei, aumentos da tenso aplicada sobre o
osso fazem com que ocorra remodelao com resultante aumento da massa ssea.
A intensidade necessria de tenso e a intensidade desta remodelao no esto
estabelecidas (FORWOOD, 2001). Acredita-se que uma diminuio na elasticidade do
cimento em relao ao osso esponjoso possa levar a um estmulo do crescimento sseo
e, portanto, o preenchimento natural da falha ssea total ou parcialmente.
Introduo 29
1.5 Cimento Esponjoso
Com o intuito de aumentar a osteointegrao do cimento sseo e de aproximar
suas propriedades mecnicas s do osso esponjoso, muitos pesquisadores vem
estudando formas para obteno de um cimento poroso ou esponjoso em que os poros
estejam interconectados de forma similar ao osso esponjoso (AHN et al.; 2009;
HESARAKI; MOZTARZADEH; SHARIFI, 2007; ALMIRALL et al., 2004). Outras
caractersticas desejadas so a diminuio da temperatura durante a polimerizao e a
diminuio da resistncia mecnica em relao ao cimento slido (AHN et al., 2009;
HESARAKI; MOZTARZADEH; SHARIFI, 2007).
Alm do uso clnico o cimento esponjoso alvo de pesquisa para o
desenvolvimento de substratos para engenharia celular. Nestes casos a forma de
obteno da porosidade nem sempre pode ser repetida no ambiente cirrgico. Neste
sentido, as tcnicas de formao de poros por troca hidrotrmica em corais, mistura por
dupla-fase e fabricao de forma livre, no tm interesse cirrgico.
As tcnicas que podem ser repetidas no ambiente cirrgico so as de mistura
com substncias produtoras de bolhas de gs ou com substncias solveis ou
absorvveis. Entre as produtoras de gs duas tcnicas so mais comuns. A mistura com
perxido de hidrognio (ALMIRALL et al., 2004) ou a mistura de aditivos
efervescentes em que se destaca o bicarbonato de sdio misturado a um cido fraco
(HESARAKI; MOZTARZADEH; SHARIFI, 2007; HESARAKI, ZAMANIAN,
MOZTARZADEH, 2008). Entre as substncias solveis e absorvveis esto os cristais
como sucrose, manitol e carbonato de sdio (TAKAGI; CHOW, 2001; MARKOVIC;
TAKAGI; CHOW, 2000), fibras reabsorvveis (XU; QUINN, 2002), partculas
congeladas (BARRALET et al., 2002), leos dispersveis (BOHNER, 2001), trifostato
de clcio (-TCP) (BERUTO et al.,2000), carboximetilcelulose (VAN MULLEM;
DE WIJN; VAANDRAGER, 1988) e hialuronato de sdio (BOGER et al.,2008).
As aplicaes clnicas do cimento esponjoso tambm so vrias: vertebroplastias
(URRUTIA et al.; 2008, BOGER et al.; 2008, ANH et al. 2009), cirurgias reconstrutivas
craniofaciais (VAANDRAGER; VAN MULLEM; DE WIJN, 1983; BRUENS et al.,
2003), eliminao gradativa de drogas para intensificar efeito local (MACCAURO et
al., 2007; VERRON et al., 2010) substituio de segmentos de ossos longos
(HAUTAMKI et al., 2008), e, com este estudo, o preenchimento de falhas sseas aps
resseco de tumores em cirurgias oncolgicas ortopdicas.
Introduo 30
As vantagens encontradas na literatura relacionadas a esta abordagem so
diversas: diminuio do pico de temperatura alcanado durante a polimerizao com
consequente menor risco de osteonecrose, possibilidade de associao com protenas e
diferentes tipos de drogas como anti-inflamatrios, antibiticos e antitumorais,
interconectividade por macroporosidade e/ou microporosidade possibilitando circulao
de fluidos (ALMIRALL et al., 2004), biocompatibilidade (HESARAKI;
MOZTARZADEH; SHARIFI, 2007), osteoconduo (SHINZATO et al., 2003) e,
quando so usados cimentos absorvveis, a acelerao da reabsoro por aumento da
superfcie de contato (MIO-FARINA et al., 2009).
Desvantagens tambm so referidas. Uma delas seria uma liberao maior de
partculas do que o cimento convencional compacto. A questo das propriedades
mecnicas tambm discutvel, pois ao mesmo tempo em que se deseja um material
com maior elasticidade ele poderia no suportar as cargas fisiolgicas (BERUTO et al.,
2000). Investigaes biomecnicas so necessrias para demonstrar a estabilidade
mecnica, o risco de fraturas e a incidncia de artrose (BOGER et al., 2008). A
discrepncia das caractersticas mecnicas entre cimento PMMA e osso esponjoso ainda
se apresenta como um problema a ser resolvido (BECK; BOGER, 2009). Resultante a
isso a busca de substitutos esponjosos a partir de cimentos absorvveis tambm uma
linha profcua de investigao (ALMIRALL et al., 2004).
1.6 Escolha do cimento sseo
So diversos os trabalhos que citam o PMMA no formato poroso (BERUTO
et al., 2000; BOGER et al., 2008; HAUTAMAKI et al., 2008; SHI et al., 2010), porm
mais recentemente o interesse tem sido dirigido mais intensamente para o cimento de
fosfato de clcio (CFC) que absorvvel (BOGER et al., 2008; HESARAKI;
MOZTARZADEH; SHARIFI , 2007; MIO-FARIA et al., 2009).
De acordo com a literatura, os trabalhos encontrados que utilizam o CFC,
observa-se o enfoque realizado a partir do ano 2000 ao cimento absorvvel devido
biocompatibilidade esperada. Takagi e Chow (2001) produziram macroporos em CFC e
hidroxiapatita a partir de grnulos de sacarose, onde obtiveram poros entre 125m e
150m e menor resistncia mecnica com o aumento da macroporosidade. Ressaltaram
a utilidade em diversas aplicaes clnicas devido s taxas de reabsoro e provvel
Introduo 31
remodelao ssea serem mais rpidas.
Em 2003 a produo de cimento esponjoso a partir de CFC pela reao com
bicarbonato de sdio e cido ctrico para a produo de gs carbnico e a consequente
formao de poros foi patenteada por Edwards, Highan e Zitelli (EDWARDS;
HGHAN; ZITELLI, 2003). Relatando a produo de poros intercomunicveis.
Bodde et al.(2007) desenvolveram um espaador sseo, base de CFC mais
adio de bicarbonato de sdio e fosfato dissdico. Observaram no haver crescimento
sseo, alegando rpida reabsoro e consequente colapso da estrutura porosa do
implante. Cita que o micromovimento das partculas de cimento influencia
negativamente a induo ssea.
Apesar dos resultados apresentados com o CFC seu custo e disponibilidade
ainda dificultam o acesso.
Boger et al.(2008) utilizaram o PMMA associado ao hialuronato de sdio em
diversas concentraes para aplicao nas vertebroplastias. Pelo fato do cimento ser
poroso encontraram uma menor resistncia mecnica. Mencionaram que a menor
diferena entre as resistncias mecnicas pode diminuir o risco de fraturas das vrtebras
vizinhas.
O PMMA um substituto sseo disponvel em grandes quantidades, de baixa
toxicidade e custo acessvel. Razes que o levaram a ser amplamente utilizado. A
possibilidade de melhorar a capacidade de osteointegrao e diminuir as complicaes
na forma slida associada s virtudes acima fizeram com que a escolha do cimento
recasse sobre o PMMA.
1.7 Escolha dos componentes e dos mtodos de produo de poros
Realizando busca na literatura vrios mtodos e componentes so encontrados
para a produo de poros. Porm, o intuito do trabalho que sejam aplicveis e
reprodutveis em sala intra-operatria.
A primeira patente foi realizada pelo alemo Dobrivoje Tomic (1981) que
relatou um cimento sseo poroso base de PMMA com os reagentes carbonato de
clcio e fosfato dissdico formando uma mistura efervescente com liberao de gs
carbnico.
Introduo 32
Na clnica, Van Mullen, de Winj e Vaandrager (1983, 1988) realizaram
trabalhos precursores no desenvolvimento e aplicao do cimento poroso, como
substncia foi inclusa ao PMMA a carboximetilcelulose de sdio aquosa, encontraram
ausncia de interconexo entre os poros e crescimento sseo somente na superfcie do
material.
Beruto et al.(2000) adicionaram PMMA ao TCP, que uma substncia
hidrossolvel. Em seus resultados encontraram poros intercomunicantes, com tamanho
de 100m e constataram o aumento do tempo de cura. Sucedeu uma diminuio na
resistncia mecnica com propriedades similares a matrizes cermicas de hidroxiapatita
porosas e alguns ossos naturais.
Almirall et al. (2004) apresentaram um trabalho pautado no tema da engenharia
de tecidos com a tentativa de criar substncias com macroporos e bioabsorvveis,
utilizaram o CFC adicionando-o a TCP associado a uma soluo de gua oxigenada
(H2O2), como resultados encontraram uma porcentagem de porosidade mdia de 66% e
que possvel controlar a porosidade a partir da alterao da concentrao dos
componentes.
Bisig, Bohner e Schneider (2006) patentearam um cimento sseo poroso base
de PMMA, com a mistura de um lquido no miscvel base de iopromida e cido
hialurnico, citando como caracterstica do material a boa biocompatibilidade.
Boger et al.(2008) utilizaram hialuronato de sdio associado ao PMMA.
Encontraram poros com o tamanho de 25-260m e porcentagem de porosidade de 56%,
porm no citam se os poros so intercomunicveis. No estudo piloto foram realizados
testes para a obteno de porosidade com o uso do hialuronato de sdio em forma de
hidrogel, no resultando em intercomunicabilidade entre os poros.
Hesaraki, Moztarzadeh e Sharifi (2007) apresentaram um estudo onde utilizaram
cido ctrico e bicarbonato de sdio, porm com a utilizao do cimento de fosfato de
clcio, no mesmo encontraram que o tamanho e o volume dos poros foraminfluenciados
pela proporo de aditivos na frmula.
Hesaraki, Zamanian e Moztarzadeh (2008) compararam cido ctrico e cido
actico, que foram utilizados no estudo piloto, reagindo com o CFC, a comparao
encontrou com o cido actico resulta numa fase de apatita maior, porm menos
injetvel e poroso que o cido ctrico.
Introduo 33
Mio-Faria et al. (2009) realizaram um teste experimental em coelhos
realizando o preenchimento sseo, o cimento poroso foi desenvolvido a partir de
CFC (-TCP) e albmen desidratada. Seus resultados foram de 35 % de reposio
ssea, em 12 semanas. Os tamanhos dos poros variaram de 100 a 300m. Cita
interconectividade em poros menores que 50m.
A patente mais recente foi desenvolvida por Shoji (2012) onde utilizou uma
mistura do CFC com um agente espessante na composio, resultando em um cimento
esponjoso, a partir de reao liberadora de gs carbnico, com porosidade mdia de
60% ou mais, permitindo assim entrada de clulas e protenas sseas morfogenticas.
1.8 Poliuretana derivada do leo de mamona
A partir da mamona (Ricinuscommunis), vegetal tpico do Brasil, extrai-se
industrialmente, por saponificao ou destilao fracionada, o leo de rcino que contm
89% de cido ricinoleico (KAWATA, 2001). O leo de rcino um produto que faz
parte da fabricao de plsticos, pinturas, lubrificantes e cosmticos e apresenta efeitos
analgsicos, anti-inflamatrios e bactericida, sendo utilizado em curativos (VIEIRA et
al., 2000).
Para o Brasil, com uma das maiores reservas de mamona do planeta, a sntese
das poliuretanas de origem vegetal se torna muito interessante, assim como outros usos
desse vegetal (MARIA; PADILHA FILHO; CASTRO, 2003; OHARA et al., 1995).
Em 1984, foi desenvolvida uma nova poliuretana vegetal extrada do leo de
mamona que tem demonstrado bons resultados com relao biocompatibilidade,
osteointegrao, ao antimicrobiana (PERASSI et al., 2008). Essa poliuretana foi
desenvolvida no Instituto de Qumica de So Carlos da Universidade de So Paulo pelo
Professor Gilberto Orivaldo Chierice (MASTRANTONIO; RAMALHO, 2003).
A poliuretana derivada do leo de mamona apresenta fcil processabilidade,
flexibilidade de formulao, controle de pico exotrmico, excelentes propriedades
estruturais, ausncia de emisso de vapores txicos, baixo custo e biodegradvel
(IGNCIO, 1995), tem propriedades bactericidas e fungicidas, aceita esterilizao e
colocao de parafusos e pode incorporar carbonato de clcio permitindo a remodelao
ssea (OHARA et al., 1995; KAWATA, 2001).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Saponifica%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Destila%C3%A7%C3%A3o_fracionadahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%A1sticohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Lubrificantehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cosm%C3%A9ticohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Analg%C3%A9sicohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Anti-inflamat%C3%B3riohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bactericidahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Band-Aid
Introduo 34
A poliuretana do leo de mamona sem adio de clcio apresenta plasticidade,
podendo variar do estado de gel at o slido. Na consistncia de gel pode substituir
materiais como o silicone (OHARA et al., 1995; KAWATA, 2001), j na forma slida,
normalmente vem associado ao carbonato de clcio, tornando-o microporoso, fazendo
que este material seja indicado para enxertia ssea (OHARA et al., 1995; KAWATA,
2001; IGNCIO, 1995). A adio de carbonato de clcio confere melhores padres de
resistncia e elasticidade em relao ao tecido sseo (CLARO NETO, 1997;
KAWATA, 2001). Ela est sendo aplicada na reconstruo do tecido sseo danificado
por acidentes ou doenas (MASTRANTONIO; RAMALHO, 2003).
Diversos autores atestaram a biocompatibilidade e a ausncia de citotoxicidade
da poliuretana de mamona. A biocompatibilidade da poliuretana de mamona foi
analisada aps implantao no fmur de coelhos; nesta espcie a poliuretana no
txica, formando uma reao fibrosa, que evoluiu para neoformao ssea aps 40 dias
(OHARA et al., 1995).
Em outro estudo, a poliuretana derivada do leo de mamona foi implantada na
cmara anterior do olho de camundongos. Os autores verificaram que este material foi
bem tolerado pelos camundongos, no inicio houve uma reao inflamatria que foi
diminuindo com o passar do tempo (VILARINHO; HETEM; RAMALHO, 1996).
A biocompatibilidade do material foi tambm comprovada aps implantao da
poliuretana em alvolo dental de ratos. Neste caso, ocorreu a osteointegrao
progressiva da resina, sem reao inflamatria ou de corpo estranho aps seis semanas
(CARVALHO et al., 1997; MARIA; PADILHA FILHO; CASTRO, 2003).
citado que o polmero de mamona, quando utilizado para o reparo de falhas
sseas, pode receber em seus poros a invaso de vasos sanguneos e consequentemente
de osteoblastos. A poliuretana vai sendo reabsorvida e em seu lugar ocorre o
crescimento do tecido sseo (CLARO NETO, 1997).
O polmero derivado do leo de mamona foi utilizado com sucesso na confeco
de prteses para pacientes com fraturas e tumores de coluna, no lugar do silicone em
pacientes com cncer de prstata, na reconstruo de mandbulas, na obturao de
dentes perfurados (MASTRANTONIO; RAMALHO, 2003) e sobre defeitos sseos ao
redor de implantes osteointegrados (AZEVEDO et al, 1997).
Introduo 35
Maria, Padilha Filho, Castro (2003) avaliaram a implantao de poliuretana de
mamona na tbia de ces e aps 30, 60 e 90 dias verificaram que a poro proximal dos
implantes estava recoberta por tecido fibroso e que os implantes encontravam-se
deslocados em relao ao local inicial de implantao. Ao corte longitudinal da tbia,
alguns implantes soltaram-se espontaneamente e outros foram retirados com muita
facilidade.
O exame histolgico do osso mostrou aspectos semelhantes em todos os grupos.
No foram observados fenmenos correspondentes a processos infecciosos ou de
rejeio nos tecidos estudados, porm no houve osteointegrao como sugeriam os
trabalhos anteriormente citados (MARIA; PADILHA FILHO; CASTRO, 2003).
Em estudos realizados com coelhos, observou-se que os implantes tambm se
destacavam com facilidade, embora as poliuretanas estivessem firmemente adaptadas ao
invlucro de osso (IGNCIO, 1995; IGNCIO et al., 1996, 1997; MARIA; PADILHA
FILHO; CASTRO, 2003). A ausncia de fixao da poliuretana no local de implantao
um indicativo de que no ocorreu a interligao mecnica entre o implante e o osso
hospedeiro (MARIA; PADILHA FILHO; CASTRO, 2003). Portanto, as caractersticas
biolgicas dos implantes de poliuretana de mamona merecem maior investigao.
Atualmente existem no Brasil duas formas comercializadas de poliuretana de mamona.
A forma original, tambm conhecida como Composto sseo de Rcinos (COR),
fabricada pela Poliquil
e a outra (Biosteo
) produzida pela Biomecnica. Elas
apresentam diferenas qumicas significativas e na maioria dos trabalhos citados acima
o cimento utilizado no especificado. Portanto, possvel que os resultados sejam
diferentes para cada marca.
1.9 Ensaio Mecnico
As propriedades mecnicas definem o comportamento de um material quando
sujeito a esforos de natureza mecnica (BARROS, 2001). O ensaio mecnico o
mecanismo prtico realizado no laboratrio para identificar estas propriedades. Alguns
ensaios, chamados destrutivos, identificam as foras necessrias para destruio do
material e a forma como ocorre esta destruio. Nestes casos a aplicao das foras
pode variar de intensidade, direo e ritmo. Os ensaios de compresso so exemplos de
ensaios destrutivos (SOUZA, 1982).
Introduo 36
O ensaio mecnico de materiais envolve a aplicao de foras de intensidade
conhecida e a medida da deformao produzida. As foras podem ser divididas em
relao ao sentido de aplicao: trao, toro e flexo, compresso e cisalhamento.
A escolha do ensaio mecnico mais interessante ou adequado depende da
finalidade do material, tipos de esforos que ir ser submetido, e propriedades
mecnicas que se deseja medir (SOUZA, 1982).
OBJETIVOS
Objetivos 38
2 Objetivos
2.1 Objetivo Geral
O objetivo deste estudo foi desenvolver e caracterizar fisicamente,
mecanicamente e microestruturalmente um cimento sseo esponjoso base de
polimetilmetacrilato (PMMA) para o preenchimento de falhas sseas em oncologia
ortopdica.
2.2 Objetivos Especficos
- Identificar o processo mais adequado de produo do cimento esponjoso base
de PMMA.
- Caracterizar os poros quanto ao tamanho e intercomunicabilidade.
- Caracterizar as propriedades mecnicas comparando-as com as do cimento
convencional de PMMA, do osso esponjoso bovino e do cimento esponjoso de
poliuretana de mamona.
- Caracterizar as propriedades mecnicas do cimento esponjoso produzido a
partir de poliuretana de mamona (Biosteo) pela mesma tcnica.
MATERIAIS E MTODOS
Materiais e mtodos 40
3 Materiais e mtodo
3.1 Consideraes gerais
Tanto os ensaios mecnicos quanto a anlise morfomtrica foram realizados em
corpos de prova. Nas normas internacionais para avaliao das caractersticas mecnicas
de cimento acrlico de uso cirrgico - ISO 5833 os corpos de prova so de dimenses
reduzidas ( 6 mm de dimetro x 12 mm de altura). Neste estudo foi analisado um
cimento esponjoso com poros grandes, eventualmente maiores que o dimetro dos
corpos de prova sugeridos. Para diminuir a variabilidade das amostras imposta pela
conformao espacial do cimento optamos por utilizar corpos de prova (CPDs)
cilndricos de tamanho maior (20 mm de dimetro x 40 mm de altura).
3.2 Estudo Piloto
Numa fase inicial foi desenvolvido o cimento esponjoso. Inicialmente procurou-
se criar o aspecto esponjoso do cimento despejando-o ainda em forma lquida em
recipiente contendo esferas de substncias que fossem facilmente dissolvidas. O
primeiro material usado para este fim foi o gelo. No entanto, a temperatura do gelo no
permitia a polimerizao do PMMA. Outros materiais utilizados foram esferas de
glicose anidra e amido de milho. A retirada destes materiais era bastante fcil com jato
dgua, mas as esferas, apesar de coalescentes, formavam trabculas muito finas de
cimento e a superfcie externa do bloco apresentava poucos orifcios de contato com a
parede do recipiente.
A melhor alternativa foi a mistura do polmero na forma de p com bicarbonato
de sdio e cido ctrico (Figura 1). Aps a mistura com o monmero lquido, em que se
acrescenta pequena quantidade de gua, ocorre polimerizao do metilmetacrilato e a
formao de bolhas de gs segundo a reao:
C6H8O7(aq) + 3NaHCO3(aq) 3H2O(l) + 3CO2(g) + Na3C6H5O7(aq)
cido ctrico + bicarbonato de sdio gua + dixido de carbono + citrato de sdio
Materiais e mtodos 41
Figura 1. Tomografia computadorizada (TC) da primeira amostra de escolha realizada com a
mistura do PMMA com o bicarbonato de sdio e o cido ctrico.
Estas bolhas de gs, na avaliao macroscpica, tambm coalescem e se
distribuem aleatoriamente pelo cimento mesmo na superfcie externa (Figura 2). Assim,
obteve-se um cimento que aparentemente tinha as caractersticas desejadas: grandes
espaos vazios entre as trabculas de cimento que pareciam permitir contato com o
meio externo e livre circulao de lquido no seu interior, sem perder grosseiramente a
resistncia mecnica. Este material merecia um estudo mais detalhado.
Figura 2. Foto ilustrando cimento sseo poroso inserido em regio proximal da tbia bovina.
3.3 Preparo do cimento sseo acrlico (PMMA)
Todos os procedimentos foram realizados no Laboratrio de Bioengenharia do
Materiais e mtodos 42
Departamento de Biomecnica, Medicina e Reabilitao do Aparelho Locomotor da
Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto USP.
A preparao do cimento sseo foi realizada em uma sala com temperatura de
23 1C e umidade relativa do ar de 50% 10% controladas por um
desumidificador/umidificador de ar porttil ABS da marca ETEC, um ar condicionado
da marca Springer 18000 BTUs e medidas por um termo-higrmetro da marca ETEC
modelo HT-200. Todos os experimentos foram realizados em uma capela apropriada
com sistema de exausto e iluminao utilizando equipamentos de proteo individual.
Todos os equipamentos eram ligados 2 horas antes de cada experimento para melhor
controle e padronizao das condies ambientais que seguiram a norma internacional
ISO 5833 para cimento acrlico.
A mistura manual foi realizada de acordo com as prescries do manual de
instrues do cimento acrlico base de PMMA utilizado no experimento (Cimento
cirrgico Jonhson & Jonhson, marca De Puy
Smart Set Endurance MV, England).
Quarenta gramas do componente em p (polmero) foram depositados na cuba
de ao inoxidvel. Em seguida, foram adicionadas as propores definidas por cada
grupo de cido ctrico e de bicarbonato de sdio. Com uma colher, os componentes
foram revolvidos at que se obteve uma mistura homognea. Em seguida foi adicionado
o lquido (monmero) e novamente os componentes foram misturados com uma colher
com uma frequncia de aproximadamente 100 movimentos/minuto, conforme
Boger et al.(2008), at que a mistura ficasse homognea. Trs minutos aps a mistura
do p e do lquido foram acrescentados 5 ml de gua destilada mantendo-se a
movimentao com a colher. Neste momento comeam a se formar as bolhas de gs
oriundas da reao do bicarbonato com o cido ctrico e a gua.
Esta substncia amorfa foi introduzida no conjunto de moldagem 4 minutos
aps o incio do experimento que corresponde a um minuto aps a adio da gua, para
formar os cilindros de dimenses padronizadas. Em mdia foram produzidos oito
corpos de prova para cada dose de cimento. A colocao do cimento nos moldes
demorava em mdia 1 minuto e meio e aps 8 minutos de experimento os conjuntos
eram tampados para que a expanso do cimento provocada pela formao de gs
ocorresse em todos os sentidos, preenchendo todo o volume dos cilindros. Utilizando
este protocolo a secagem completa do cimento ocorreu, em mdia, em 20 minutos.
Materiais e mtodos 43
Os corpos de prova eram desenformados aps 48 horas e acondicionados em
recipientes individuais, protegidos da luz e com temperatura e umidade controladas
evitando excessos, conforme Boger (2008). Este tempo de espera para retirada do
molde, devido s amostras apresentarem um menor risco de quebra devido ao perodo
de secagem do cimento sseo.
O modo de preparo est descrito no Fluxograma 1:
Fluxograma 1. Preparo do cimento de PMMA esponjoso
3.4 Preparo do cimento de mamona (Biosteo)
No experimento com o cimento base de mamona foi utilizado somente o poliol
e o pr-polmero juntamente com o bicarbonato de sdio e o cido ctrico, desprezando
o carbonato de clcio presente na composio comercial do polmero. Este descarte foi
baseado em experimentos anteriores em que a incluso do carbonato de clcio
ocasionou a no formao de poros nos corpos de prova.
Foram depositados na cuba de ao 2 gramas de bicarbonato de sdio e 2 gramas
de cido ctrico onde foram revolvidos at que se obtivesse uma mistura homognea.
Polmero + monmero Adio de 5 ml de gua aos
3 minutos
Colocao no molde aos 4
minutos
Tamponamento aos 8
minutos
Fim do experimento aos 20
minutos
Retirada do molde dois dias
aps o experimento
Materiais e mtodos 44
Em seguida foi adicionada a quantidade de 8,5 gramas de poliol e 10,0 gramas de
pr-polmero (quantias presentes em uma unidade do Biosteo).
Novamente os componentes foram misturados com uma colher com uma
frequncia de aproximadamente 100 movimentos/minuto at que a mistura ficasse
homognea. Cinco minutos aps a mistura do p e do lquido foram acrescentados 3 ml
de gua destilada (no incio da fase de modelagem, logo aps a fase adesiva),
mantendo-se a movimentao com a colher. Foi feita uma reformulao na quantidade
de gua baseada na proporo dos compostos.
Esta substncia amorfa foi introduzida no conjunto de moldagem 6 minutos aps
o incio do experimento que corresponde a um minuto aps a adio da gua, para
formar os cilindros de dimenses padronizadas onde ocorreu a expanso das bolhas de
gs. Em mdia trs corpos de prova eram produzidos com cada pacote de cimento. A
secagem completa ocorreu em mdia em 20 minutos.
Os corpos de prova eram desenformados e armazenados aps 48 horas,
conforme citado anteriormente. O modo de preparo est descrito no Fluxograma 2.
Fluxograma 2. Preparo do cimento de mamona esponjoso
Poliol + pr-polmero Adio de 3 ml de gua aos
5 minutos
Colocao no molde aos 6
minutos
Tamponamento aos 8
minutos
Fim do experimento aos 20
minutos
Retirada do molde dois dias
aps o experimento
Materiais e mtodos 45
3.5 Confeco dos conjuntos para obteno do molde
O conjunto de moldagem produzido na Oficina de Preciso da Prefeitura do
Campus da Universidade de So Paulo de Ribeiro Preto alm de padronizar o
tamanho dos corpos de prova cilndricos ajudou a desenform-los.
As dez unidades eram constitudas de cilindros vazados de
politetrafluoretileno (PTFE ou TEFLON
) que foram produzidos com dimetro interno
de 21 mm. O fundo foi formado por outro cilindro de 21 mm de dimetro que era
introduzido no primeiro. Um anel limitava a introduo do cilindro a 50 mm de
profundidade. O cimento era introduzido pelo outro orifcio (figura 3). Para
desenformar o corpo de prova, o anel era retirado e o pisto era introduzido, com o
auxlio de uma furadeira de bancada, at a sua exposio pelo orifcio do cilindro maior.
Desta forma foram evitados danos aos corpos de prova (figura 4).
Aps a mistura dos componentes do cimento ocorria grande expanso devido
formao das bolhas de gs. Neste momento os cilindros do conjunto para obteno do
molde eram cobertos por uma tampa firmemente adaptada para promover o completo
preenchimento do molde pelo cimento evitando o extravasamento pelo orifcio aberto.
Aps serem desenformados os corpos de prova foram submetidos usinagem da
extremidade superior e lateral produzindo cilindros regulares de 40 mm de comprimento
por 20 mm de dimetro.
O tamanho do corpo de prova tem grande influncia sobre os resultados dos
ensaios mecnicos. Devido distribuio aleatria e irregularidade do tamanho dos
poros quanto menor a amostra maior a influncia desta irregularidade. Adotamos a
medida dos corpos de prova de 20 mm por 40 mm de forma emprica para diminuir a
influncia desta variao.
Materiais e mtodos 46
Figura 3. Conjunto para obteno do molde. A: tampa, B: molde cilndrico vazado, C anel
restritor, D base de apoio.
Figura 4. Dispositivo de retirada do corpo de prova. E: pisto, B: molde cilndrico vazado,
F: base de apoio vazada.
3.6 Grupos
Foram estudados 6 grupos cada um formado por 15 corpos de prova (CPDs)
cilndricos com 20 mm de dimetro e 40 mm de altura. Um foi usado na anlise de
interconectividade com imerso no azul de metileno e tamanho dos poros com a
microscopia eletrnica de varredura, os outros quatorze CPDs para os ensaios de
compresso. Todos os 15 corpos de prova de cada grupo foram digitalizados com TC e
tiveram suas imagens analisadas pelo software.
Materiais e mtodos 47
Os trs primeiros grupos G1, G2 e G3 foram analisados para determinar a
melhor proporo de bicarbonato de sdio e cido ctrico em relao ao
polimetilmetacrilato (PMMA). Dois grupos controle para comparao com osso
esponjoso bovino (G6) e cimento sseo slido (G4). E um grupo para comparao com
o cimento de poliuretana de mamona (Biosteo
) (G5) para avaliao do potencial deste
material.
O detalhamento de cada grupo o seguinte:
O Grupo 1 (G1) formado por cilindros de cimento esponjoso base de
PMMA (Johnson & Johnson, marca De Puy
) em que antes da polimerizao do
cimento foram adicionados bicarbonato de sdio e cido ctrico na proporo de 10%
em relao ao componente slido do cimento (polmero) (Tabela 1).
O Grupo 2 (G2) formado por cilindros de cimento esponjoso na proporo de
20%.
O Grupo 3 (G3) formado por cilindros de cimento esponjoso na proporo de
30%.
O Grupo 4 (G4) formado por cilindros de cimento sseo de PMMA compacto.
O Grupo 5 (G5) formado por cimento de poliuretana de mamona (Biosteo)
na proporo de 20%.
O Grupo 6 (G6) formado de corpos de prova cilndricos de osso esponjoso
extrado com trefina de cndilos tibiais proximais de bovinos.
A quantidade de polmero, monmero, bicarbonato de sdio (NAHCO3) e cido
ctrico (C6H8O7) nos grupos foi apresentado na Tabela 1.
Tabela 1. Materiais utilizados e quantidade (g) de polmero, monmero, bicarbonato de sdio
(NAHCO3) e cido ctrico (C6H8O7) nos grupos.
Grupos Polmero Monmero NAHCO3 C6H8O7
1 40 18,88 4 4
2 40 18,88 8 8
3 40 18,88 12 12
4 40 18,88 - -
5 8,5(poliol) 10(pr-polmero) 2 2
6 - - - -
Materiais e mtodos 48
3.7 Armazenamento dos corpos de prova.
Depois de desenformados do conjunto de moldagem os CPDs foram
identificados e armazenados em local seco e protegido contra choques. Todos os corpos
de prova seguiram esta sequncia de anlise: avaliaes macroscpicas, tomografias
computadorizadas e ensaios mecnicos.
3.8 Preparao dos corpos de prova de osso bovino
Vinte tbias bovinas, refrigeradas, de frigorfico, foram levadas Oficina de
Preciso do Campus Ribeiro Preto da USP para extrao com trefina de 20 cilindros de
osso esponjoso da regio metafisria proximal, em sentido longitudinal, de 40 mm de
altura e 20 mm de dimetro (Figura 5). Seis corpos de prova foram desengordurados
para medida de densidade e da intercomunicabilidade imergindo-os em solues de
lcool, gua oxigenada e ter etlico. Quatorze corpos de prova de osso bovino
destinados aos ensaios mecnicos foram conservados - 20 C para preservarem suas
caractersticas mecnicas. Antes da realizao dos ensaios eram colocados em geladeira
durante 12 horas e mantidos por duas horas em temperatura ambiente (ROSA, 2007)
(Figura 6).
Figura 5. Extrao dos corpos de prova de osso bovino.
Materiais e mtodos 49
Figura 6. Corpo de prova osso esponjoso bovino.
3.9 Avaliao Morfomtrica
3.9.1 Exame Macroscpico
A avaliao morfomtrica precedeu os ensaios mecnicos. Inicialmente foi
realizada a avaliao macroscpica de cada corpo de prova a fim de observar a
existncia de irregularidades grosseiras. No houve necessidade de descartar corpos de
prova com defeitos de produo.
Para cada corpo de prova foram realizadas trs medidas seriadas da altura e do
dimetro, utilizando-se paqumetro digital Mitutoyo, com resoluo de 0,01 mm,
sendo utilizada a mdia destas medidas. Os corpos de prova tambm foram fotografados
com mquina fotogrfica digital em duas incidncias com diferena de 180 de rotao
(Figura 7).
Materiais e mtodos 50
Figura 7. Corpos de prova posicionados para anlise macroscpica. Em sentido horrio: G2:
cimento sseo esponjoso 20%; G3: cimento sseo esponjoso 30%; G1: cimento sseo esponjoso
10%; G5: cimento poliuretana de mamona 20% e G4: cimento sseo compacto.
3.9.2 Clculo da densidade
O clculo da densidade foi realizado a partir das medidas da altura e do dimetro
e da aferio do peso, em balana de preciso digital (Marte
AS2000C) segundo as
frmulas:
Onde:
Onde:
3.9.3 Azul de Metileno
Um corpo de prova de cada grupo foi imerso durante uma hora em soluo de
azul de metileno a 2%. Aps corte longitudinal do corpo de prova foi avaliada a
Materiais e mtodos 51
distribuio do corante no seu interior.
A intercomunicabilidade dos poros foi considerada adequada quando todos eles
estavam corados. Foram fotografadas as faces interna e externa de cada cilindro. O
nico parmetro de avaliao foi o visual.
3.9.4 Tomografia Computadorizada (TC)
Quatorze corpos de prova de todos os seis grupos foram avaliados pelo
equipamento de tomografia computadorizada multi-slice de 16 camadas de detectores
(modelo Brilliance CT Big Bore Phillips medical systems, 2009, Holanda). Os
exames foram realizados utilizando resoluo espacial de 768 x 768 e escala de nveis
de cinza representada por 12 bits/pixel correspondendo a 4096 valores diferentes de
intensidade de pixel.
O protocolo para aquisio das imagens foi o do osso mastideo, definido pelo
Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de
So Paulo (HCFMRP/USP), contendo a espessura de corte de 0,28mm, altura e largura
de pixel de 0,45mm.
Para anlise das imagens foi desenvolvido um software em parceria com o
Centro de Cincias das Imagens e Fsica Mdica do HCFMRP/USP. Este recurso
permite a caracterizao microestrutural do objeto considerando a porosidade mdia em
porcentagem, porcentagem do cimento, densidade mdia em Unidades Hounsfield
(HU), volume total e volume mdio em milmetros cbicos (mm3).
Foram digitalizados 8 corpos de prova em cada tomografia, sendo 4
posicionados na face anterior e 4 na face posterior de um molde de isopor. No total
foram realizadas 21 imagens.
3.9.5 Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV)
A caracterizao microestrutural dos corpos de prova foi feita utilizando-se um
microscpio eletrnico de varredura da marca Zeiss, modelo EVO MA10, do
Laboratrio de Bioengenharia da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto USP. A
tenso utilizada foi de 20 KV. As imagens foram obtidas e analisadas pelo engenheiro
de materiais Prof. Dr. Paulo Donato Frighetto, responsvel pela operao do MEV.
Para a observao no MEV as amostras foram cortadas na seco transversal, com
disco diamantado em um aparelho da marca Buehler, modelo Isomet 100. A seguir as
Materiais e mtodos 52
amostras foram recobertas com ouro em um pulverizador da marca Bal-Tec (modelo
SCD050-Sputter Coater, Liechtenstein), utilizando corrente de 40 mA por 240s.
3.10 Ensaios Mecnicos
3.10.1 Ensaios de compresso
Os mesmos 14 corpos de prova avaliados pela tomografia computadorizada,
foram submetidos ao teste de compresso na Mquina de Ensaios Mecnicos do
Laboratrio de Bioengenharia da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto USP
(Instron
, mod. 8872, EUA) com clula de carga da prpria empresa, com capacidade
de carga de 5 kN nos experimentos com cimento esponjoso e 25kN nos experimentos
com o cimento compacto e osso bovino (Figura 8).
O software Complete Bluehill 2 Software Suite, adaptado mquina de
ensaios, plota grficos fora x deslocamento e tenso x deformao e tabelas com
valores, mdia, mediana, desvio padro, mxima e mnima dos seguintes parmetros:
Fora mxima de compresso (N), Tenso mxima de compresso (MPa), Tenso de
escoamento (MPa) e Mdulo de Young (MPa).
Figura 8. Mquina Instron, mod. 8872.
Materiais e mtodos 53
3.11 Anlise dos Resultados
Primeiramente realizou-se uma anlise exploratria dos dados. Esta metodologia
tem como objetivo bsico sintetizar uma srie de valores de mesma natureza,
permitindo que se tenha uma viso global da variao desses valores, organizando e
descrevendo os dados de duas maneiras: por meio de tabelas com medidas descritivas e
de grficos. A anlise descritiva dos dados foi realizada com o auxlio software SAS
9.2, utilizando a PROC MEANS (SAS Institute Inc., Cary, USA).
Para atingir o objetivo, foi proposto o teste de Kruskal-Wallis, que uma tcnica
no paramtrica utilizada para comparar dois ou mais grupos. Sendo assim, ela no
requer suposies quanto distribuio normal dos dados. Como h diferena entre
algum par de grupos, foi feito o ps-teste de Dunn. Os resultados foram obtidos com o
auxilio do software gratuito R (R Foundation For Statistical Computing, Viena,
ustria). O nvel de significncia adotado nas anlises foi de 5%.
Todas as anlises estatsticas foram realizadas pelo Centro de Mtodos
Quantitativos (CEMEQ) da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto USP.
RESULTADOS
Resultados 55
4 Resultados
4.1 Anlise Morfomtrica
4.1.1 Clculo da densidade
O clculo da densidade mostrou valores aproximados entre os grupos G1, G2 e
G3. O grupo G4 apresentou densidades extremamente altas e o grupo G5, extremamente
baixas. O grupo G6 apresentou densidade mdia pouco superior ao do cimento
esponjoso (Tabela 2).
Tabela 2. Valores de densidade dos grupos (g/cm3)
Grupos G1(10%) G2(20%) G3(30%) G4(0%) G5(Mamona) G6(osso)
Mdia
DP
0,40
0,08
0,33
0,04
0,41
0,04
1,13
0,02
0,24
0,02
0,70
0,09
4.1.2 Azul de metileno
O grupo G1 (10%) apresentou regies internas que no foram coradas. Isto
significa que os poros formados no apresentam intercomunicao. J os grupos G2
(20%) e G3 (30%), com exceo de algumas pequenas regies, foram completamente
corados pelo azul de metileno, mostrando que efetivamente os poros permitem a livre
circulao de lquido no interior do cilindro, demonstrando que so intercomunicantes
(Figura 9).
Resultados 56
Figura 9. Anlise visual de preenchimento com azul de metileno grupos G1(10%), G2(20%) e
G3(30%).
Observa-se a ausncia de porosidade e impregnao no grupo G4. Presena de
impregnao no G5 somente na face externa, excluindo a hiptese de
intercomunicabilidade. Alta impregnao na face externa, porm pouca impregnao na
face interna em G6, mostrando fluidez lenta nas trabculas sseas (Figura 10).
Resultados 57
Figura 10. Anlise visual de preenchimento com azul de metileno dos grupos
G4 (PMMA compacto), G5 (cimento mamona), G6 (osso bovino).
4.1.3 Tomografia computadorizada (TC)
Os resultados preliminares realizados com a TC do cimento esponjoso indicam
uma porosidade mdia entre de 34,4% (G3) e 41%9 (G2), porcentagem de cimento
entre 59 % (G2) e 65,6% (G3), volume total de 12560 mm3, volume mdio entre 7410,4
(G2) e 8235,2 (G3) mm3 e densidade mdia entre 1387,3 (G3) e 1459,0 HU (Tabela 3).
Imagem do corte transversal gerado pela TC apresentada abaixo (figura 11).
Resultados 58
Tabela 3. Anlise realizada pelo TC. Valores de volume total (mm
3), porosidade mdia(%),
porcentagem de cimento e osso(%), volume mdio(mm3) e densidade mdia(HU).
Grupos Volume total
(mm3)
Porosidade
mdia(%)
Porcentagem de
cimento e
osso(G6) (%)
Volume
mdio(mm3)
Densidade
mdia(HU)
G1 12560 36,5 63,5 7975,6 1393,5
G2 12560 41,0 59,0 7410,4 1459,0
G3 12560 34,4 65,6 8235,2 1387,3
G4 12560 3,5 96,5 12120,4 950
G5 12560 34,6 65,4 8214,2 1379,5
G6 12560 29,0 71,0 8917,6 1384,3
Figura 11. Imagem do corte transversal de um corpo de prova.
4.1.4 Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV)
Com a microscopia eletrnica de varredura foi possvel caracterizar a
microestrutura, avaliou-se a distribuio e o tamanho dos poros dos diferentes materiais
(Figura 12 e 13).
Resultados 59
Na MEV do grupo G2 (20%) observa-se uma distribuio aleatria e irregular de
poros, no entanto, a distribuio abrange toda a extenso da amostra. O tamanho dos
poros variou bastante de 50m a 3 mm, porm com uma visvel predominncia dos
macroporos acima de 1mm (Figura 12 e 13).
O grupo G1(10%) no apresenta grande diferena de tamanho e distribuio de
poros quando comparado com ao grupo G2, porm apresenta uma menor quantidade de
macroporos. O grupo G3 (30%) quando comparado aos grupos G1 e G2 apresenta um
nmero de macroporos maior e distribuio mais heterognea (Figura 12 e 13).
No grupo G4 (PMMA slido) so encontrados raros poros esparsos na matriz
(Figura 14).
No grupo G5 (mamona) possvel observar poros bem definidos, porm com
grande variao no tamanho e distribuio (Figura 14).
No grupo G6 (osso bovino) notam-se trabculas bem definidas com distribuio
e tamanho dos poros bastante homogneos. A comparao desse grupo aos grupos G2 e
G3 de cimento esponjoso mostra que os tamanhos so semelhantes, mas a distribuio
bastante diferente (Figura 14).
Resultados 60
Figura 12. Imagens do MEV grupos cimento esponjoso (a): G1, (b): G2, (c): G3;
(a) e (c): ampliao 64x; (b): ampliao 68x.
Resultados 61
Figura 13. Imagens do MEV grupos cimento esponjoso (a): G1, (b): G2, (c): G3;
(a), (b) e (c): ampliao 100x.
Resultados 62
Figura 14. MEV dos 6 grupos. Os valores de ampliao foram: G1: 64x; G2: 68x; G3: 64x;
G4: 64x; G5: 72x e G6: 60x
Resultados 63
4.2 Ensaios mecnicos
Os dados da: tenso mxima de compresso (MPa), mdulo de Young (MPa),
fora mxima de compresso (N) e tenso de escoamento (off-set 0,2%), so
apresentados na tabela 4. A avaliao global dos resultados de todos os grupos
considerando os parmetros de tenso mxima de compresso e mdulo de Young
(figuras 15 e 16) mostram quatro blocos de comportamentos mecnicos. Em primeiro
lugar os trs grupos de cimento de PMMA esponjoso G1, G2 e G3, o grupo G4 de
cimento PMMA slido, o grupo G5 de cimento esponjoso de mamona e o grupo G6 de
osso esponjoso bovino. Como o objetivo desta obra o desenvolvimento de um
substituto sinttico para o osso esponjoso os dados sero analisados separadamente em
comparao com este grupo (G6).
Tabela 4. Tenso mxima de compresso, mdulo de Young, fora mxima de compresso e
tenso de escoamento segundo os grupos.
Propriedades
mecnicas
Tenso
mxima de
compresso
(MPa)
Mdulo de
Young (MPa)
Fora mxima de
compresso (N)
Tenso de
escoamento
(off-set
0,2%)(MPa)
G1(10%) 5,03 (1,97)d 238,88 (78,71)
d 1570,25 (612,11)
d 4,43 (1,75)
d
G2(20%) 2,73 (0,99) 158,76 (40,51) 857,03 (315,50)
2,21 (0,74)
G3(30%) 3,11 (0,66) 179,59 (43,57) 954,05 (213,90)
2,53 (0,45)
G4(0%) 76,89 (4,85)a 2342,26 (123,49)
a 24290,34 (1525,41)
a 66,96 (5,61)
a
G5(Mamona) 0,20 (0,09) 68,34 (239,40) 61,51 (28,76) 0,09 (0,05)
G6(osso) 8,08 (3,47)b
359,32 (163,22)c
2498,51 (1059,61)b
5,24 (2,47)b
Valores da mdia e desvio padro que apresentaram diferenas estatisticamente significativas
a - G4 > G1, G2, G3 e G5 (p < 0,05)
b - G6 > G2 e G5 (p < 0,05)
c - G6 > G5 (p < 0,05)
d - G1> G5 (p < 0,05)
Resultados 64
Figura 15. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da tenso mxima de
compresso em Megapascal segundo o grupo.
Os valores mdios de tenso mxima de compresso para os grupos foram: para
o G1 de 5,03(1,97) MPa, G2 de 2,73 (0,99) MPa, G3 de 3,11 (0,66) MPa, G4 de 76,89
(4,85) MPa, G5 de 0,20 (0,09) MPa, e, para o G6 de 8,08 (3,47) MPa. A anlise dos
resultados de tenso mxima do grupo G4 foi significativamente maior do que no grupo
G1, G2, G3, G5 (p
Resultados 65
Figura 16. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () do mdulo de Young em
Megapascal segundo o grupo.
Os valores mdios de mdulo de Young para os grupos foram: para o G1 de
238,88 (78,71) MPa, G2 de 158,76 (40,51) MPa, G3 de 179,59 (43,57) MPa, G4 de
2342,26 (123,49) MPa, G5 de 68,34 (239,40) MPa, e, para o G6 de
359,32 (163,22) MPa. A anlise dos resultados do mdulo de Young do grupo G4 foi
significativamente maior do que no grupo G1, G2, G3, G5 (p
Resultados 66
Figura 17. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da fora mxima de
compresso em Newtons (N) segundo o grupo.
Os valores mdios de fora mxima de compresso para os grupos foram: para o
G1 de 1570,25 (612,11) N, G2 de 857,03 (315,50) N, G3 de 954,05 (213,90) N, G4 de
24290,34 (1525,41) N, G5 de 61,51 (28,76) N, e, para o G6 de 2498,51 (1059,61) N. A
anlise dos resultados de fora mxima do grupo G4 foi significativamente maior do
que no grupo G1, G2, G3, G5 (p
Resultados 67
Figura 18. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da tenso de escoamento
(off-set 0,2%) em Megapascal segundo o grupo.
Os valores mdios da tenso de escoamento para os grupos foram: para o G1 de
4,43 (1,75) MPa, G2 de 2,21 ( 0,74) MPa, G3 de 2,53 (0,45) MPa, G4 de 66,96 (5,61)
MPa, G5 de 0,09 (0,05) MPa, e, para o G6 de 5,24 (2,47) MPa. A anlise dos resultados
de limite de escoamento (off-set 0,2%) do grupo G4 foi significativamente maior do que
no grupo G1, G2, G3, G5 (p
Resultados 68
4.2.1 Cimento esponjoso de PMMA versus osso esponjoso bovino
Os quatro grficos abaixo mostram que no houve diferena significativa entre
os grupos de cimento esponjoso de PMMA estudados (Figuras 23, 24, 25 e 26). No
entanto os parmetros tenso mxima de compresso, fora mxima de compresso e
tenso de escoamento apresentam diferenas significativas entre G2 e G6. Na
comparao do mdulo de Young no houve diferenas significativas.
Figura 19. Grfico representando a mdia (), mediana (---), desvio padro (),
intervalo de confiana (I) e valores mximo e mnimo () da tenso mxima de
compresso em Megapascal segundo o grupo.
As diferenas significativas foram representadas pelos conectores. Os valores
mdios de tenso mxima de compresso para os grupos foram: para o
G1 de 5,03 (1,97) MPa, G2 de 2,73 (0,99) MPa, G3 de 3,11 (0,66) MPa, e, para o
G6