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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DEPARTAMENTO DE ESPORTE CARACTERIZAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS DO SURF E FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA ALEXANDRE LIMA ZENI SÃO PAULO 2002 ALEXANDRE LIMA ZENI

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE

DEPARTAMENTO DE ESPORTE

CARACTERIZAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS DO SURF E FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA

ALEXANDRE LIMA ZENI

SÃO PAULO2002

ALEXANDRE LIMA ZENI

CARACTERIZAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS DO SURF E FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA

Monografia apresentada à disciplinaMonografia em Esporte III,

do Curso de Bacharelado em Esporte,do Departamento de Esporte.

ORIENTADOR: PROFESSOR DR. ANTÔNIO CARLOS SIMÕES

SÃO PAULO 2002

RESUMO

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CARACTERIZAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS DO SURF E FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA

AUTOR: Alexandre Lima ZeniORIENTADOR: Prof. Dr. Antônio Carlos Simões

A preparação física vem sendo apontada como um dos principais componentes

do desempenho esportivo. Diversas modalidades desenvolvem estudos e pesquisas

sobre o assunto visando obter um conhecimento específico que possa ser aplicado no

treinamento dos atletas.

No surf, porém, ainda existe uma enorme carência de produção científica nas

áreas de fisiologia, biomecânica ou controle motor, entre outras, o que certamente

dificulta não só o planejamento e periodização do treinamento como toda a estrutura e

evolução do esporte.

Por ser atualmente uma das modalidades mais populares no Brasil e no mundo, o

surf atrai cada dia novos adeptos em busca dos prazeres de deslizar sobre o oceano. Ao

aprenderem os fundamentos e noções básicas para a prática, os surfistas envolvem-se

num estilo de vida indescritivelmente prazeroso e desafiador, contagiando-se pelo

espírito de liberdade de deslizar sobre as ondas.

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SUMÁRIO

Resumo..........................................................................................................031. INTRODUÇÃO.............................................................................................052. REVISÃO DE LITERATURA......................................................................062.1 A História do Surf..........................................................................................062.2 O Surf no Brasil.............................................................................................082.3 Atividades Físicas de Aventura na Natureza.................................................102.4 Variáveis Naturais do Surf.............................................................................112.4.1 Ondulação......................................................................................................112.4.2 Fundos............................................................................................................122.4.3 Ventos............................................................................................................122.4.4 Marés..............................................................................................................132.5 Equipamentos.................................................................................................132.5.1 Prancha...........................................................................................................132.5.2 Parafina...........................................................................................................152.5.3 Leash...............................................................................................................152.5.4 Roupa de Neoprene.........................................................................................162.6 A Preparação Para o Surf – Aspectos Técnicos, Táticos, Psicológicos e

Físicos.............................................................................................................162.6.1 Preparação Técnica.........................................................................................162.6.2 Preparação Tática............................................................................................172.6.3 Preparação Psicológica...................................................................................172.6.4 Preparação Física............................................................................................182.7 Caracterização das Capacidades Físicas do Surf............................................192.8 O Equilíbrio Como Parâmetro Motor da Eficiência das Habilidades dos

Praticantes do Surf..........................................................................................232.9 Fundamentos Para a Prática e Principais Manobras.......................................262.9.1 Remada...........................................................................................................272.9.2 Joelhinho.........................................................................................................272.9.3 Sentar na Prancha............................................................................................282.9.4 Drop.................................................................................................................282.9.5 Cavada.............................................................................................................292.9.6 Cut Back..........................................................................................................292.9.7 Batida...............................................................................................................302.9.8 Floater..............................................................................................................302.9.9 Tubo.................................................................................................................30

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3. CONCLUSÃO.................................................................................................32REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................33

1. INTRODUÇÃO

O surf é uma das modalidades esportivas que mais se desenvolveu nos últimos

anos. Prova disso é o significativo aumento de seu número de praticantes e as

proporções alcançadas pelo seu mercado em nível mundial. A imagem do surf já não é

mais aquela de tempos atrás, quando os surfistas eram vistos como irresponsáveis e

desocupados. Pelo contrário, com a evolução do esporte existe atualmente um grande

número de pessoas que vivem do surf e protagonizam um estilo de vida saudável e

profissional.

Desde sua criação pelos polinésios, seu desenvolvimento junto aos povos

havaianos e sua introdução nas sociedades ocidentais, o surf sempre apresentou uma

estreita relação com o bom condicionamento físico.

Mesmo assim, tudo que se sabe por enquanto está baseado mais na observação e

no senso comum do que na ciência, diferente de outras modalidades que apresentam

padrões bem definidos que facilitam bastante o entendimento e evolução de sua prática.

Tal dificuldade se explica por não ser possível a reprodução fidedigna dos

movimentos executados durante o surf, já que as condições naturais se alteram a cada

instante como conseqüência da ação dos ventos, correntes, ondulações e marés.

Apesar disso, o surf é atualmente um dos esportes mais praticados no Brasil e no

mundo, representando uma opção de lazer, saúde e desafio a todos os seus praticantes,

além de ser uma modalidade repleta de história, cultura e grandes personagens.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A HISTÓRIA DO SURF

De acordo com KAMPION e BROWN (1998), o culto do surf nasceu num

passado distante irrecuperável – ninguém sabe onde ou como ao certo. O primeiro povo

a fazer-se ao oceano em barcos, de certeza apercebeu-se rapidamente da capacidade

inerente das ondas para impelir ou se opor a uma embarcação. Talvez a resposta esteja

no DNA dos habitantes costeiros da África Ocidental ou do Peru, onde os dois maiores

poderes naturais eram o arco-íris e as ondas.

Segundo FINNEY e HOUSTON (1996), tudo começou aproximadamente dois

mil anos antes de Cristo, quando os ancestrais dos polinésios e outros habitantes do

Pacífico começaram-se a mover para explorar e colonizar esta vasta região. Ninguém

sabe exatamente quem primeiramente idealizou a idéia de domar as constantes

ondulações que faziam parte do dia a dia das ilhas. Para os autores, o ato de surfar uma

onda era uma atividade recreacional que provavelmente fazia parte da adaptação destes

pioneiros para adentrar o Oceano Pacífico.

Já para LORCH (1980), o surf vem sendo praticado desde 900 antes de Cristo,

quando o rei Moikeha, do Taiti, resolveu velejar até o Havaí só para surfar. Além de

encontrar ondas perfeitas, o rei também foi presenteado ao receber da monarquia local a

oportunidade de casar-se com duas princesas havaianas.

FARIAS (2000) afirma que alguns indícios apontam 1.500 anos atrás como

sendo o período em que os Polinésios desciam as ondas com pranchas de surf de

madeira. Era um ritual festivo onde os chefes agradeciam aos deuses a fartura do mar,

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das ondas e os prazeres de brincar nas suas águas.

Apesar da diversidade de informações, o que se sabe é que a semente do surf

surgiu no Pacífico Sul e no início era apenas diversão, o puro prazer de deslizar sobre as

ondas.

KAMPION e BROWN (1998) relatam que ao regressar à terra firme após horas

ou até mesmo dias trabalhando mar afora, descobriu-se ser mais emocionante e

desafiador descer as ondas de pé sobre o casco das embarcações. Navegando pelos

padrões que os ventos, a terra e as correntes criavam na água e seguindo o caminho das

estrelas e do coração, os aventureiros polinésios cruzaram o Equador. Vieram do sul, a

remar sobre as suas grandes canoas de viagem, embarcações de casco duplo equipadas

com velas de folhas de pândano tecidas. Sem saber ao certo para onde iam ou o que

iriam encontrar, atravessavam lentamente a imensidão do Pacífico. Chegaram às ilhas

mais remotas da terra pelo arquipélago havaiano, encontrando apenas formações

rochosas, tempestades e furacões de Kona (Kona wind = vento que sopra no Havaí),

produzindo um inconsciente coletivo fundamental para o desenvolvimento de uma

grande mitologia cultural. Uma vez no Havaí, os exploradores deram origem a uma

nova civilização, adaptando a mitologia e o modo de vida das ilhas à sua cultura,

especialmente no brincar com as ondas do oceano. As tarefas diárias eram deixadas de

lado sempre que houvesse um bom surf. Os homens, as mulheres, os jovens, todos

participavam, até mesmo a realeza das ilhas, que por seu grande amor à atividade, dava-

se ao luxo de reservar os melhores locais para uso particular. Na segunda metade do

século XVIII, os primeiros havaianos continuavam a ser peritos do surf. Como uma

árvore, a força dessas antigas raízes polinésias continua a ser a fonte de vida na cultura

moderna do surf. Infelizmente, as poucas relíquias que encontramos de 200 anos atrás

escassamente revelam o que se passou antes da frota de dois navios do Capitão James

Cook, Resolution e Discovery, avistarem as ilhas em 1778.

Segundo CARROLL (1991), a carreira de navegador e escritor do capitão James

Cook, descobridor das ilhas havaianas, acabou abruptamente no dia 14 de fevereiro de

1979, quando um grupo de nativos enfurecidos atacou e matou o capitão e quatro de

seus marinheiros. Seu segundo comandante, James King, foi então o responsável por

descrever o espetáculo que era o surf no antigo Havaí.

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Para KAMPION e BROWN (1998), a chegada do homem branco trouxe todo

tipo de novidades às ilhas: metais, armas, uniformes e uma nova religião, levando o

Havaí a um século de desintegração cultural, que culmina no desmoronamento da antiga

cultura do surf. No virar do século as ilhas tinham se tornado território americano, a

população de havaianos puros foi dizimada pelas doenças, os nativos eram sobretudo

cristãos e o surf regredira pelo menos 100 anos. Muitos surfistas resistiram à

colonização branca, mantendo o surf como a mais amada e praticada atividade cultural.

Com a ida de inúmeros turistas para o Havaí, aumentava o interesse e o mercado do

surf. Destaque nessa época para o jovem Duke Kahanamoku, que introduziu pranchas

mais largar e facilitou o aprendizado aos visitantes ávidos por surfar uma onda. Nascido

em 1890, Duke transformou-se num esportista fenomenal, ganhando duas medalhas de

ouro olímpicas (1912 e 1920) e batendo o recorde mundial dos 100 metros livres em

1914, com 53,8 segundos. Após as Olimpíadas de Estocolmo, na Suécia, foi tratado

como um rei ao viajar pela Europa e Estados Unidos. Sua popularidade era tanta que

chegou a gravar sete filmes, contracenando até com John Wayne em “Wake of the Red

Witch”, em 1948. Em 1914, foi convidado pela Associação de Natação de Nova Gales

do Sul para ir à Austrália. Entre as participações em demonstrações e competições de

natação, em 23 de dezembro o havaiano fez uma exibição de surf para as multidões de

Freshwater, perto de Sidney. Com a semente plantada na América, Europa e Oceania,

Duke tornou-se o símbolo universal do surf e do espírito aloha (alo = experiência / há =

sopro da vida), sendo lembrado até hoje como o pai do surf moderno.

Segundo HALL e AMBROSE (1995), Duke representou os Estados Unidos nas

olimpíadas por mais de vinte anos, ganhando não apenas medalhas mas o coração das

pessoas de todo mundo. Ele é lembrado como um nadador não apenas por sua incrível

velocidade, mas por sua graça na água, seu bom humor e seu espírito esportivo.

2.2 O SURF NO BRASIL

Analisando a história do surf em nosso país, pode-se concluir que o seu

surgimento e popularização ocorreram em momentos distintos.

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De acordo com SARLI (2001), o santista Thomas Rittscher afirma não ter visto

ninguém surfando no Brasil antes dele. Na praia juntava gente para assistir e o povo

dizia “olha o homem andando em cima da onda”. Isso foi entre 1934 e 1936.

Segundo GUTEMBERG (1989), em 1938 o santista Osmar Gonçalves ganhou

de presente de seu pai uma revista científica norte-americana, que entre outros assuntos

ensinava passo a passo como construir uma prancha de surf de madeira. Após mais de

três meses de dedicação e trabalho, no verão de 1939, estava pronta a primeira prancha

de surf brasileira. Osmar e seu amigo Juá foram durante muito tempo os únicos surfistas

no país, desfrutando sozinhos o prazer de deslizar em pé sobre as ondas da Praia do

Gonzaga, em Santos. Devido à falta de conhecimento generalizado em relação à

atividade, nenhuma outra prancha fora construída, limitando o surf nacional somente

aos amigos santistas. O outro momento de destaque da história do surf brasileiro

acontece na década de 50. Com o aumento do número de vôos internacionais para o

país, sobretudo para o Rio de Janeiro, os estrangeiros puderam descobrir todas as

maravilhas de nosso litoral, especialmente as ondas cariocas. Vindos principalmente dos

EUA, onde o surf já se desenvolvia há mais de meio século, os pilotos aproveitavam o

período de folga no Brasil para descansar e se divertir, e encontraram no surf uma ótima

opção. Contagiados pela nova mania que invadia as praias, logo os cariocas que

viajavam para o exterior começaram a trazer em suas bagagens algumas pranchas, afim

de também desfrutar do prazer proporcionado pelo surf. Nessa época os surfistas

concentravam-se em Copacabana, principal reduto “hippie” da juventude. Nos anos 60,

contudo, mudaram seu “point” para o Arpoador, buscando isolar-se de dois problemas

que transformariam para sempre a vida do Rio de Janeiro: o aterro de Copacabana (para

construir um emissário submarino, que acabou com as ondas) e o início da Ditadura

Militar, que reprimia todo e qualquer indivíduo que fosse contra seus argumentos (como

eram os surfistas, que buscavam viver sempre seguindo o lema “paz e amor” eram

vistos como vagabundos irresponsáveis pelas autoridades da época). Com a superação

desses obstáculos e a expansão do surf para o sul do país o esporte cresceu num ritmo

acelerado, originando as primeiras indústrias e competições nacionais na década de 70.

A explosão mesmo veio nos anos 80, com o apoio da mídia e a mudança da imagem do

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surf perante a sociedade, que passou a encará-la como uma atividade séria e

profissional.

Segundo ARAÑA e ÁRIAS (1996), foi a partir da década de 60, com as

exibições do australiano Peter Troy no Brasil, que a prática tornou-se mais eficiente. Os

brasileiros assimilaram as técnicas, aproveitamento das ondas, impulso, e também

formas de fabricação de pranchas com fibra de vidro.

Atualmente o Brasil é a terceira maior potência do surf mundial, junto com os

EUA e a Austrália. Em termos de competições, temos campeonatos e atletas de

altíssimo nível, nas categorias amadoras e profissionais, masculina e feminina.

Também em nível de educação, encontramos diversas escolas de surf espalhadas

por todo o litoral. Além disso, muitos colégios e faculdades ensinam o surf nas aulas de

educação física, sem contar o Circuito Universitário, que reúne anualmente mais de dois

mil jovens estudantes nas praias de todo o Brasil.

2.3 ATIVIDADES FÍSICAS DE AVENTURA NA NATUREZA

De acordo com FEIXA (1995), as AFAN são uma tendência social de se fazer

coisas fora do comum e escapar das grandes cidades, com o intuito de recuperar o

contato com a natureza.

BELTRÁN (1995) relata que essas novas atividades constituem-se em um

conjunto de práticas recreativas que surgiram na década de 70, desenvolveram-se,

estenderam-se e consolidaram-se nas décadas seguintes como novos hábitos e gostos da

sociedade pós industrial, com fins e características totalmente diferentes.

Para PEREIRA e MONTEIRO (1995), as AFAN caracterizam-se por

movimentos realizados num meio natural, variado e por vezes variável, com controle de

eventuais riscos. Nesta área podemos encontrar um vasto leque de atividades físicas e

desportivas, como a corrida de orientação, a escalada, os percursos terrestres e o surf,

tendo como denominador comum a sua prática num ambiente natural, proporcionador

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de uma estreita relação dialética com a natureza. Estas atividades são um bom exemplo

de prática física e desportiva num ambiente físico de incerteza. A ação concretiza-se

num meio enriquecedor, dadas as suas condições de imprevisibilidade, proporcionando

situações específicas de aprendizagem que muito enriquecem a estrutura psicomotora

dos praticantes. Por isso as AFAN encontram nos jovens diversos motivos de interesse e

um público apaixonado. Para ele, as práticas assumem uma nova maneira de viver o

esporte, uma maneira original de penetrar e “explorar” a natureza. É a chamada cultura

dos “Sports Fun”, que com ingredientes de conquista e liberdade, proporciona emoção e

aventura.

Para MIRANDA, LACASA e MURO (1995), todas as atividades em ambientes

naturais têm como peculiaridades as seguintes características: não está sujeita a horários

fixos; sua forma de praticar, intensidade, modo e ritmo podem variar de acordo com

cada praticante; são originais e criativas; troca tradicional do esforço por um paradigma

de equilíbrio e satisfação; o componente fundamental das atividades de aventura é a

sensação de risco, aumentando a motivação e as emoções das atividades.

MELO NETO (1995) coloca que o surf surgiu como esporte dos amantes da

praia e virou um esporte em ascensão. As razões do seu sucesso explicam-se pela

imagem que possui de um novo estilo de vida, saudável, naturalista e irreverente.

Pode-se perceber, desta maneira, que o surf é um esporte que representa muito

bem as características associadas às atividades físicas de aventura na natureza.

2.4 VARIÁVEIS NATURAIS DO SURF

Os oceanos ocupam atualmente cerca de três quartos da superfície do planeta,

sendo 53% no Oceano Pacífico, 24% no Atlântico e 23% no Índico. Debaixo de suas

águas aparentemente calmas e serenas vivem mais de 250 mil espécies de organismos.

Em algumas praias, ao aproximar-se da terra, o oceano oferece ondas perfeitas para a

prática do surf. No Brasil, essa afirmação pode ser constatada em diversos pontos dos

mais de 8 mil quilômetros de costa. O surf é um esporte praticado em contato direto

com a natureza, estando assim sujeito à influência de diversas variáveis que podem

interferir na formação e tamanho das ondas. Conjugados, esses fatores irão determinar

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as condições ideais para a prática do surf, ou seja, de acordo com o posicionamento da

praia, a intensidade e direção dos ventos, correntes, ondulações e marés, pode-se decidir

qual o local mais apropriado para surfar naquele momento.

2.4.1 ONDULAÇÃO

De acordo com GUTEMBERG (1989), os ventos transferem energia para a água

criando as ondulações, que carregam consigo quantidades enormes de energia.

LORCH (1980) afirma que as longas distâncias entre as massas de terra

possibilitam que a energia do vento seja transferida para a água do oceano. No entanto,

antes de estas ondas atingirem a costa, o vento tem de satisfazer três condições: (1)

soprar sobre a água com velocidade bastante para que a água da superfície se mova; (2)

soprar durante um período de tempo não muito curto; (3) soprar sobre uma longa

extensão de água. A altura de uma onda é mais ou menos a metade da velocidade do

vento. Assim, se o vento sopra a 20 quilômetros por hora, as ondas no oceano podem

crescer até 10 metros. Quando as ondulações chegam à praia, formam-se as ondas. Uma

onda quebra quando o fundo é suficientemente raso para forçar um movimento abrupto

no equilíbrio orbital. Dessa forma, as ondulações inclinam-se para a frente e

arrebentam, liberando a energia que carregam desde a sua formação em alto mar.

GUTEMBERG (1989) acredita que para cada praia vai existir uma ondulação

que quebra melhor do que as outras. Isto é definido pelo seu posicionamento, onde as

ondulações podem entrar mais perfeitas ou não, pois as ondulações podem ser barradas

por ilhas que estão em frente à praia, costões ou até mesmo morros. Por isso, torna-se

importante o conhecimento geográfico para a escolha da praia.

2.4.2 FUNDOS

Existem diferentes tipos de fundo espalhados pelas praias de nosso planeta, cada

um com características específicas que irão influenciar decisivamente na formação das

ondas.

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Para LORCH (1980), o primeiro é formado por um banco de areia e tem o nome

inglês de “beach break”. Uma onda de “beach break” quebra em bancos de areia

localizados em partes da plataforma continental, sendo a formação de grande parte da

costa brasileira. O fato de o fundo constituir-se de areia não faz o surf tão perigoso,

porém torna-o menos previsível, podendo a onda quebrar de diversas formas. Outro tipo

são os recifes de coral ou pedra conhecidos por “reef break”, e têm a vantagem de

quebrar sempre no mesmo local e de forma previsível, devido ao seu fundo fixo. O

perigo é a pouca profundidade e as pedras muito rasas, às vezes até visíveis. O terceiro

tipo de arrebentação recebe o nome de “point break” e quebra em uma ponta de terra

entrando em direção ao restante da praia em perfeita simetria. O “point break” é quase

sempre de pedra e quebra sempre igual às condições de vento e ondulação, sendo a onda

formada por seções proporcionais ao fundo sobre o qual estão quebrando.

2.4.3 VENTOS

Além da fundamental importância que têm na formação das ondulações, os

ventos também são responsáveis por determinar as condições ideais para a prática do

surf, dependendo de sua direção e intensidade.

Para GRÊ e MEDEIROS (2001), os ventos influenciam diretamente nas ondas,

marés e correntes. São formados pelo aquecimento diferenciado provocado pelo sol nos

continentes e oceanos. Os ventos se deslocam das áreas de alta pressão para as áreas de

baixa pressão, das regiões mais frias para as mais quentes. Durante o dia tanto os

oceanos como os continentes recebem a mesma quantidade de luz e calor. Acontece que

os continentes se aquecem mais rápido, então os ventos sopram do oceano para o

continente (vento maral ou brisa marítima). Durante a noite o processo se inverte, os

oceanos retêm mais calor que os continentes, o que provoca uma mudança de direção do

vento. Isto explica porque, geralmente, pela manhã o vento está terral, ideal para a

prática do surf.

2.4.4 MARÉS

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As marés, segundo GRÊ e MEDEIROS (2001), são a subida e a descida das

águas do mar causadas principalmente pela atração gravitacional da Lua sobre a água da

Terra. Diariamente temos em nosso litoral duas marés vazantes e duas marés enchentes.

Como as marés determinam os níveis de água nas praias, deverão ser sempre

observadas e consideradas no momento de escolher o local mais apropriado para a

prática do surf.

2.5 EQUIPAMENTOS

O surfista deve conhecer bem os diversos equipamentos para a prática esportiva,

pois além de sua influência na performance, são itens fundamentais para a segurança e

tranqüilidade dentro do mar.

2.5.1 PRANCHA

Segundo LORCH (1980), desde a época dos antigos polinésios as pranchas de

surf eram instrumentos feitos especialmente para uma certa condição de mar ou de

pessoa. Na antiga Polinésia as pranchas maiores, conhecidas como “ollo”, eram usadas

apenas pela realeza, enquanto as menores, ou “alaia”, eram usados pelo povo.

Em 1823, de acordo com FINNEY e HOUSTON (1996), o missionário inglês C.

S. Stewart observou no Havaí que a prancha de surf era uma propriedade particular

entre todos os chefes, homens e mulheres, e entre muitas das pessoas comuns. As

antigas pranchas havaianas eram esculpidas em troncos de árvores e chegavam a pesar

80 quilos ou mais, sendo que a primeira gravura sobre uma prancha de surf vem de um

desenho de 1778, durante a terceira viagem do capitão Cook ao Pacífico.

Para CONWAY (1988), a atual prancha de surf feita de fibra de vidro e

poliuretano demorou mais de trinta anos para se desenvolver.

Na verdade, FINNEY e HOUSTON (1996) afirmam que a evolução das

pranchas e a própria evolução do esporte caminham lado a lado, dependem uma da

outra. À medida que a prancha se tornou mais eficiente e acessível, mais pessoas

surfaram.

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LORCH (1980) afirma que com a difusão do surf no mundo várias pessoas

tentavam mudar algo nas pranchas em que usavam. No início dos anos 40 o californiano

Robert Simmons criou uma prancha de madeira balsa revestida de fibra de vidro. Por

apresentar um equipamento leve e viável o surf ganhava mais e mais adeptos. No final

da década de 60 as pranchas pequenas já haviam se firmando completamente, o que

proporcionou ao surf manobras totalmente novas e inacreditáveis, fazendo o surf atingir

dimensões nunca antes atingidas.

Outro personagem fundamental para a evolução das pranchas, segundo

WARSHAW (1997) foi Tom Blake, que além de desenhar e construir a primeira prancha

oca foi também a primeira pessoa a surfar em Malibu, famosa onda da Califórnia. Nas

décadas seguintes ele inventou a prancha à vela, a quilha, e ganhou diversos títulos em

competições de remada e surf.

CABRAL (2000) salienta a importância das condições da prancha, que não

devem apresentar rachados, lascas ou pedaços de fibra de vidro quebrado que possam

ocasionar cortes e lesões. Para este autor a prancha de surf é composta de diversas

partes, entre elas o bico, a rabeta, a borda, o deck (parte de cima da prancha, onde o

surfista se levanta), o bottom (parte de baixo da prancha) e as quilhas.

ARAÑA e ÁRIAS (1996) esclarecem que as pranchas podem ter tamanhos

diferentes. As medidas das pranchas são feitas em pés (unidade de medida linear anglo-

saxônica, de 12 polegadas, equivalente a cerca de 30,48 cm do sistema métrico

decimal), e as pranchas podem variar de 5 até 12 pés de comprimento.

Para WERNER (1999), a prancha certa para aprender é grande o suficiente para

se remar com facilidade e sentar confortavelmente sem afundar-se. Isso é crucial! O

surfista deve escolher uma prancha grande e larga durante a fase de aprendizagem,

lembrando apenas que uma prancha muito grande é mais difícil de transportar e manejar

durante o surf. Também existem algumas pranchas de espuma disponíveis que são

ideais para iniciação.

2.5.2 PARAFINA

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Para CABRAL (2000) parafina é um dever! Passando uma barra de parafina na

sua prancha em movimentos circulares, o praticante estará prevenindo-se de escorregar

para fora da prancha quando sentar ou ficar em pé.

CONWAY (1988) relata que a parafina é usada na parte de cima da prancha

(deck) para dar aderência. Existem muitas variedade, cada uma para diferentes

condições climáticas. Uma fina camada de parafina deve ser aplicada na prancha, pois a

aplicação excessiva de parafina não ajudará a estabilizar-se mais sobre a prancha. Pelo

contrário, seu excesso pode derreter com o sol, grudando areia ou detritos da praia. Esse

excesso irá formar uma superfície áspera contra sua pele, causando assaduras na região

da barriga. Além disso, a parafina deve ser periodicamente removida e trocada.

2.5.3 LEASH

Segundo WERNER (1999), o leash é uma corda elástica que conecta o surfista à

sua prancha de surf.

Para CABRAL (2000), o surfista deve sempre ter certeza que sua prancha está

equipada com leash, pois perseguir uma prancha perdida pode ser frustrante. O leash

deverá estar preso no tornozelo da perna que ficará localizada na parte de trás quando o

praticante levantar na prancha.

Já CONWAY (1988) afirma que a última coisa que um surfista quer é perder a

prancha enquanto está surfando, por isso o leash é um acessório muito importante. Seu

funcionamento é muito simples, com uma extremidade presa ao deck da prancha e a

outra no tornozelo do praticante. Quando o surfista se separa da prancha a onda vai

carregá-la até que o leash se estique ao máximo. Então o leash começa a voltar ao seu

comprimento original e a prancha retorna ao seu dono.

2.5.4 ROUPA DE NEOPRENE

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De acordo com CABRAL (2000) uma roupa de neoprene pode ser usada em

condições de água fria para evitar a fadiga muscular e a hipotermia. Existem muitos

modelos de roupa de neoprene, desde os que cobrem o corpo inteiro até os sem manga

e com shorts nas pernas.

A roupa de neoprene é uma barreira térmica entre o corpo e os elementos como

vento e água, considera CONWAY (1988). Uma vez molhada a roupa irá encharcar-se

de água, que será aquecida com o calor do corpo. Cada vez que o surfista cai da

prancha, no entanto, a água quente é trocada novamente por água fria e é nesse

momento que o surfista irá perceber como a roupa de neoprene realmente o aquece.

Para FARIAS (2000), do corpo nu à roupa de neoprene, os surfistas têm ao seu

dispor cada vez mais vestimentas especiais de proteção térmica. Um dos últimos

lançamentos é uma roupa de material sintético de espessura igual à da pele. Essa roupa

permite aos atletas realizarem os movimentos mais livremente. Como na natação a

indústria do vestuário surf investiga cada vez mais formas de evitar o frio.

2.6 A PREPARAÇÃO PARA O SURF – ASPECTOS TÉCNICOS, TÁTICOS,

PSICOLÓGICOS E FÍSICOS

2.6.1. PREPARAÇÃO TÉCNICA

Para MATVEIÉV (1977), a preparação técnica e o ensino ao atleta dos

fundamentos técnicos das ações a executar nas competições ou servem de meio de

treino ou ao aperfeiçoamento de determinadas formas da técnica do desporto. É um

processo de direção de formação de conhecimentos, aptidões e hábitos. Ele cita que o

preparo técnico deverá ter como propósito:

- A assimilação e a ampliação da teoria do desporto em treinamento;

- A ampliação do arsenal de destrezas e hábitos motores favoráveis ao

aperfeiçoamento do desporto eleito;

- O aperfeiçoamento dos gestos desportivos específicos da modalidade em

preparação.

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Segundo TUBINO (1980), por preparo técnico, isoladamente, entende-se o

treinamento dos fundamentos técnicos individuais acrescidos das estratégias ensaiadas,

tudo com o sentido de enfrentar a competição com recursos técnicos suficientes para o

alcance do êxito nos objetivos formulados.

2.6.2 PREPARAÇÃO TÁTICA

BOVCHERIN (apud TUBINO, 1980) selecionou, entre vários conceitos de

tática existentes na literatura internacional especializada, o de THEODORESCO:

“A tática é a totalidade das ações individuais e coletivas dos atletas de uma

equipe, a qual está organizada numa forma racional dentro de limites do regulamento e

da desportividade, cujo objetivo é conseguir a vitória, levando-se em conta, por um

lado, as qualidades e particularidades dos atletas, e por outro, as condições dos

adversários”.

Embora o preparo tático seja mais abordado nos desportos coletivos, ele também

tem a sua vez nos desportos individuais, onde sempre surgirão ocasiões oportunas para

indicações táticas.

A adaptação às condições adversárias dependerá sempre do chamado “olho

clínico” do treinador, nas observações precedentes.

2.6.3 PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA

Segundo DANTAS (1986), “ao encarar o homem como um ser total, percebe-se

que somente por submetê-lo à melhor preparação física e técnico-tática não se estará

conduzindo-o ao máximo de suas possibilidades. Há que considerá-lo como um

indivíduo diverso dos demais, com seus próprios motivos e emoções, sujeito às

exigências do meio e tendo que se relacionar com outros homens dentro da sociedade.

Surge a necessidade de se propiciar ao atleta uma perfeita preparação psicológica. A

preparação psicológica é a parte do treinamento desportivo que, considerando as

características individuais e hereditárias (genótipo) e as influências assimiladas do meio

18

(fenótipo), propiciará ao atleta suportar o treinamento a atingir o máximo de suas

potencialidades através de mobilização de sua vontade”.

ROCHA e CALDAS (1978), nos dizem que “uma avaliação psicológica deve ser

procedida constantemente, visando um desenvolvimento harmonioso da personalidade

do desportista. O treinador tem grande responsabilidade nesse setor, cabendo-lhe

observar constantemente o comportamento de seus atletas, para evitar ou sanar os

problemas extrínsecos os quais, muitas vezes, arruinam a performance de elementos em

perfeitas condições físicas, técnicas e táticas”.

Segundo ZULIANI (1977), “da própria definição de treinamento podemos

auferir que o atleta não é um feixe de músculos sujeito somente a reações fisiológicas,

concomitante ao desenvolvimento da força, velocidade, resistência, técnica, tática.

Devemos educar a vontade, as qualidades morais, considerar os fatores intelectuais e os

mecanismos psíquicos de reação e reflexão do atleta. O comportamento do atleta

quando treina ou compete é influenciado pelos estados afetivos, cognoscitivos e

evolutivos, portanto o preparo psicológico deve ser considerado como um dos fatores de

treinamento que deverá ser planejado, orientado e analisado igualmente como é feito

para o preparo físico, técnico e tático.”

2.6.4 PREPARAÇÃO FÍSICA

A preparação física é tida como base do treinamento desportivo. Caracteriza-se

esse aspecto da preparação do atleta como sendo maior que os outros, pela influência

que as cargas físicas exercem nas propriedades morfológicas do corpo humano,

conduzindo ao desenvolvimento físico.

Assim, a preparação física está intimamente ligada ao fortalecimento e

habituação do organismo, designando a educação das suas qualidade físicas que se

transferem para aptidões motrizes, necessárias à prática do desporto afim.

Conforme TUBINO (1980), a preparação física assumiu, nos últimos tempos,

uma grande importância no treinamento de alta competição, evidenciando inclusive uma

certeza de que grandes resultados desportivos serão sempre correlacionados com

19

condicionamentos físicos de padrões elevados e sempre com aplicação de programas

atualizados nas concepções científicas modernas.

Para que se possam discriminar as qualidades consideradas essenciais a um

praticante do surf, baseamo-nos em analogias e estudos feitos em modalidades

similares, pois pesquisas na área de treinamento dos surfistas se mostram carentes,

justificando-se a realização de mais trabalhos investigativos nesta área.

Para FERNANDES (1981), a melhorias das capacidades ou qualidades físicas é

conseguida mediante um trabalho feito sobre o sistema cárdio-respiratório, articular,

muscular e nervoso, voltados para os parâmetros de resistência, flexibilidade, força e

velocidade. Essas qualidades são necessárias como premissas e condições de

aperfeiçoamento de um determinado desporto, pois só assim se consegue evolução de

resultados e do próprio desporto em questão, tendo em vista o grau de complexidade

que possa envolvê-lo.

2.7 CARACTERIZAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS DO SURF

Segundo KAMPION e BROWN (1998), as primeiras competições de surf

aconteceram no início do século XX entre os clubes de surf havaianos, na praia de

Waikiki. Nestas ocasiões, os atletas eram divididos entre os havaianos e os “haoles”,

vencendo aquele que percorresse a maior distância deslizando sobre as ondas.

A partir de 1976, com a fundação da IPS (International Professional Surfing),

depois substituída pela ASP (Associação dos Surfistas Profissionais), vem acontecendo

o Circuito Mundial de Surf, que apresenta regras padronizadas e serve como modelo

para as competições tradicionais, onde os atletas devem seguir os critérios de

julgamento preestabelecidos.

Além das competições profissionais e amadoras, os eventos em ondas gigantes

vêm conquistando cada vez mais espaço entre a mídia e os próprios surfistas.

Para LYON (1997), estes atletas têm um grande senso de respeito mútuo, de

respeito às ilhas e aos oceanos que as cercam. Estão em busca da liberdade, é uma

jornada espiritual interior.

20

Também o surf feminino vem se desenvolvendo rapidamente. De acordo com

YOUNG (1994), as mulheres vem surfando na Califórnia desde da década de 20 e hoje

existem mulheres surfando em todos os países do mundo. Como os homens, elas

disputam o ranking amador e profissional, criando uma identidade própria que culminou

com o surgimento de marcas especializadas no surf feminino.

Apesar de sempre depender das variações das condições do mar, que

determinarão a intensidade da atividade, o surf envolve alguns exercícios básicos. As

fases do surf podem ser divididas para uma melhor compreensão e isolamento de suas

características neurológicas, motoras e metabólicas:

1. Remada para o outside (fundo): surfista deitado sobre a prancha, exige uma

resistência predominantemente aeróbica do praticante, que deverá atravessar

a arrebentação das ondas antes de chegar ao local ideal para a prática da

atividade;

2. Remada para entrar na onda – exige do atleta um bom condicionamento

anaeróbio de membros superiores para a realização de braçadas fortes e

rápidas que o permitam adquirir velocidade suficiente para entrar na onda;

3. Manobras – exigem do atleta um bom condicionamento anaeróbio

(sobretudo nos membros inferiores) para realizar manobras explosivas com

potência, precisão, agilidade, e controle.

Percebe-se, assim, a importância de um bom condicionamento, sobretudo da

parte física, para que os atletas suportem a alta intensidade da atividade no curto período

de tempo.

De acordo com LOWDON (1988), a prática do surf exige do praticante:

1- Velocidade, força e agilidade para realizar manobras

2- Resistência aeróbica para remar

3- Força para entrar na onda.

Segundo McCREREY (1987), nas manobras e situações inesperadas o surfista

tem de reagir rapidamente, e por isso deve possuir uma velocidade de reação alta, assim

poderá prevenir-se e não cair da prancha. Após surfar a onda, o surfista terá de retornar

em velocidade, necessitando portanto de uma boa resistência de força para que chegue

rapidamente à linha de arrebentação, sem que a fadiga o prejudique.

21

Baseando-se em observações do esporte, LOWDON (1988) especulou que a

energia predominante durante uma ou duas horas de surf provém do metabolismo

aeróbico, sendo que os movimentos vigorosos usados para entrar na onda e manter-se

sobre a prancha ao realizar-se manobras é fornecido pelo sistema anaeróbico alático, e

ainda diz que a energia utilizada durante a rápida remada de volta para o local de

formação das ondas é fornecida pelo sistema anaeróbico lático.

LOWDON, PATERMAN, PITMAN e ROSS (1987) sugeriram que a principal

forma de atividade muscular do surfista deriva da remada sobre a prancha, realizada

para deslocar-se na água.

Em estudo posterior, MEIR, LOWDON e DAVIE (1991) observaram que, em

uma hora, o tempo de realização real do surf representou apenas 5% do tempo total na

água, enquanto a remada representou 44%. O tempo gasto esperando a chegada das

ondas foi de 35% do tempo total.

CORRÊA, ANDRADE e JÚNIOR (1994) analisaram as características

metabólicas de sete surfistas profissionais brasileiros durante a prática do surf. Os dados

obtidos indicam a utilização das fontes aeróbica e anaeróbica para a realização da

atividade, sendo que a freqüência cardíaca (FC) variou nos 3 momentos da atividade:

146,5 na remada para o fundo, 165,2 na espera pelas ondas e 173,5 durante o ato de

surfar. A proporção de tempo total da atividade foi: na espera 12,52 minutos (65,23%),

na remada 5,14 minutos (26,51%) e no surf 1,38 minutos ( 8,26%).

Em estudo feito com o objetivo de determinar o somatotipo de surfistas

profissionais durante o circuito mundial, LOWDON (1980) usou o método Health-

Carter em 76 homens e 14 mulheres voluntários, encontrando os valores 2,6 / 5,2 / 2,6

para homens e 3,9 / 4,1 / 2,6 para mulheres. Em termos de somatotipo, os resultados

mostram que os homens possuem uma semelhança com nadadores olímpicos do estilo

livre, de peito e borboleta e ainda com jogadores de pólo aquático. Em relação ao grupo

feminino, as três primeiras do ranking possuíam o componente de ectomorfia maior,

sendo semelhantes às nadadoras do estilo livre.

Os parâmetros fisiológicos de surfistas do circuito mundial profissional foram

investigados por LOWDON e PATERMAN (1980). Assim, uma série de testes foram

aplicados nas áreas de velocidade de reação, velocidade de movimento, equilíbrio

22

estático e dinâmico, composição corporal, função pulmonar, estimativa de consumo de

oxigênio e velocidade de recuperação. A análise dos dados mostrou que não existe

diferença de velocidade de reação e velocidade entre homens e mulheres surfistas,

entretanto quando comparados com estudantes de educação física os surfistas

apresentam resultados melhores. Os surfistas também apresentaram altos índices para

capacidade pulmonar, consumo de oxigênio e velocidade de recuperação. A baixa

correlação obtida nos testes de equilíbrio sugerem que o equilíbrio é altamente

específico, como diz a literatura. Em relação ao percentual de gordura, os surfistas

apresentaram um baixo percentual quando comparados á população. O percentual de

gordura encontrado foi de 9,1% a 13% para homens (os universitários têm 14,6% em

média) e 18,2% a 20,8% para mulheres (24% em média nas universitárias).

Apesar da semelhança com os nadadores, os surfistas apresentam um percentual

de gordura maior, que segundo LOWDON (1988) seria devido aos estímulos de frio e

vento do ambiente.

MEIR, LOWDON e DAVIE (1991) examinaram a freqüência cardíaca (FC) e o

subsequente gasto energético de seis surfistas em uma hora de surf recreacional,

encontrando os seguintes valores para FC: 135 (+ ou – 6,9) para surf, 143(+ ou – 10,5)

para remada e 127 (+ ou – 6,9) na espera pelas ondas. O gasto médio de energia durante

uma hora de surf recreacional representou 33,7 kj/min ( 8,03 kcal/min), aproximando o

surf, em termos de gasto energético, a atividades físicas como a natação (estilo livre), o

ciclismo e o tênis.

Para Farias (2000), “o ambiente marinho é um excelente estimulante do sistema

nervoso e favorece a percepção espaço-temporal. Passar a arrebentação, em um tempo

relativamente extenuante, exige uma boa capacidade aeróbia e auxilia nos movimentos

de capacitação cardiorrespiratória. O surf, quando praticado regularmente, melhora a

força, a resistência muscular, aprimora a concentração, o tempo de reação e os

movimentos de equilíbrio sustentado.” Na densidade maior da água o surfista sofre

perda de sincronia corporal, por função do empuxo (princípio de Arquimedes). Com

isso, o deslocamento é mais lento na submersão, bem como na retomada da remada. Em

alguns casos o atleta é levado a remar trinta metros ou mais até atingir o ponto de

quebra das ondas. Nessa ação de deslocamento há uma degradação de trabalho podendo

23

chegar até a 70%. O surf, por solicitar nas suas manobras movimentos de curta duração,

é uma atividade predominantemente anaeróbia. Os mandamentos do treino para crianças

e jovens devem nortear as cargas e os métodos nas aulas. O surf, ao exigir a flutuação

sobre a prancha para esperar a onda, a remada explosiva em direção ao alcance das

ondas, a subida para ficar equilibrado durante o drop e as manobras, consome muitas

calorias. Em média o gasto energético de um surfista pode variar de 350 a 500 kcal/h.

Segundo SNYDER (2001), atualmente pessoas de todas as idades estão

surfando, muitos se preparando para competições, o que vem aumentando

significativamente o número de lesões no surf, principalmente no pescoço, ombros,

costas, costelas e joelhos. Dessa forma, necessita-se desenvolver um treinamento

específico aos praticantes da modalidade, com base em exercícios de força, de

resistência e de flexibilidade, além de um trabalho com atividades que possibilitem a

transferência de habilidades. Os elementos mais importantes a serem observados

durante os treinos de força devem ser a carga, o número de repetições, a amplitude do

movimento, o intervalo e o descanso. Já para os treinamentos de resistência deve-se

evidenciar a freqüência, a duração, a intensidade e o tipo de exercício.

A partir dos resultados obtidos, os autores consideram o surf uma atividade

capaz de desenvolver e manter bons níveis de aptidão física, técnica, tática e

psicológica, embora as condições do mar devam sempre ser consideradas, pois podem

alterar significativamente os parâmetros fisiológicos associados à modalidade.

2.8 O EQUILÍBRIO COMO PARÂMETRO MOTOR DA EFICIÊNCIA DAS

HABILIDADES DOS PRATICANTES DO SURF

De acordo com FARIAS (2000), o surf é mundialmente identificado como correr

uma onda apoiado ou estando em pé sobre uma prancha. Nesta intenção, o surf é um

desporto de equilíbrio instável. Ao deslizar, apoiado num implemento, uma superfície

móvel, instável e com alterações de forma quase sempre inconstante (a onda), o surfista

tem de buscar acomodar-se em várias posições. O equilíbrio então é uma condicionante

básica da aprendizagem do surf. Proporcionar aos alunos a descoberta do centro de

24

gravidade na posição deitado, remando, sentado e de pé na prancha é um importante

objetivo do ensino de surfar.

O surf atual procura a execução das manobras possantes e com mudanças de

direção muito rápidas, exigindo do executante uma precisa consciência da posição de

seu corpo no espaço, assumindo posturas em relação à gravidade que lhe permitem agir

e movimentar-se economicamente.

BUETTENMÜLLER e GLAPORT (1974) afirmam que a posição ideal é

“quando se mantém cada parte do corpo uma acima da outra, para que a linha central da

gravidade passe pelas pernas e pelos pés.” Raramente esta posição se manifesta durante

a execução das habilidades desportivas.

Segundo RACH e BUKK (1977), “o centro de gravidade de um corpo é o ponto

no qual se pode considerar concentrado o seu próprio peso.”

MOSSTON (apud GUISELINI, 1983), define o “equilíbrio como a capacidade

de assumir e sustentar qualquer posição contra a lei da gravidade”.

DAMBROZ (1988) considera o equilíbrio como a habilidade de distribuir o peso

do corpo, de maneira que este controle o centro de gravidade.

Os pés exercem função importante na obtenção do equilíbrio, pois são eles a

base do corpo na posição ereta. Se eles cedem, cedem também as demais partes do

corpo.

Na habilidade de equilíbrio, MEINEL (1984) dá importância especial às

informações por ele chamadas sensomotoras, processadas através do analisador

estático-dinâmico e do analisador cinestésico. Esses analisadores podem ser entendidos

como cada sistema parcial de caráter sensório que recebe, codifica, conduz e elabora

preliminarmente as informações, com base em sinais. São analisadores importantes para

a coordenação motora os seguintes:

Cinestésico: Apresenta-se como “sensor de movimento”. Seus receptores,

encontram-se em todos os músculos, nervos e articulações, com a característica que

apresentam velocidade de transmissão e rendimento superior em relação a outros

analisadores.

25

Estático-dinâmico: Analisador vestibular, localizado no ouvido interno, que

passa informações aos centros superiores sobre a posição da cabeça no campo

gravitacional.

Segundo MEINEL (1984), o ouvido interno é denominado de labirinto devido à

sua estrutura complexa. Apresenta duas partes: o labirinto ósseo e o membranoso. O

primeiro envolve, como uma cápsula, o segundo. O labirinto membranoso é constituído

por um sistema de vesículas (utrículos e sáculos) e tubos membranosos (canais

semicirculares superior, frontal e lateral), nos quais se abrigam células sensoriais para a

percepção do equilíbrio e da audição, transmitida até o sistema nervoso central pelo

nervo vestibular.

HOLLE (1979) analisa as percepções proprioceptivas da seguinte forma:

- as sensações visuais nos ajudam a orientar o corpo no espaço e nos indicam

onde podemos colocar o pé para obter o equilíbrio;

- as sensações labirínticas relacionam-se com o labirinto (ouvido interno),

influenciam o tônus muscular e reflexos posturais, orientam os movimentos da cabeça e

registram alterações de direção e velocidade;

- as sensações cinestésicas, entre outras coisas, registram a posição das partes do

corpo, ajudando a equilibrar todos os movimentos;

- as sensações plantares referem-se ao contato dos pés com o solo, influenciando na

posição em queda do corpo;

Exercitar-se de pés descalços tem por finalidade uma melhor consciência dos

apoios plantares. O arco plantar tem um papel importante no equilíbrio do ser humano.

A educação deve permitir um equilíbrio mais harmonioso e uma “economia de energia”,

seja em situações estáticas ou em movimento (DEFONTAINE, 1981).

As estruturas proprioceptivas fornecem dados aos reflexos da equilibração, que,

segundo ROSADAS (1986), são encontrados nos centros nervosos, desde os mais

inferiores aos mais sofisticados.

Estes reflexos são :

- reação de suporte positivo e reação de suporte negativo (medula);

- reflexos tônicos labirínticos e reflexos tônicos cervicais (bulbo);

- reflexos de endireitamento labirísticos;

26

- reflexos de endireitamento cervicais;

- reflexo de endireitamento do corpo sobre a cabeça e do corpo sobre o corpo

(mesencéfalo);

- reflexos do endireitamento (córtex);

- reflexos de endireitamento ótico;

- reações de apoio;

- reações de salto (córtex).

De acordo com o ponto de vista físico, GONZALES (1987) afirma que o

“equilíbrio de um corpo depende da superfície de base de sustentação, da altura do

centro de gravidade e do ponto de base de sustentação por onde passa a força da

gravidade.

FRACCAROLI (1981) concorda que os equilíbrios estão condicionados aos

fatores:

Base: A estabilidade é diretamente proporcional à área de base na qual o corpo

repousa;

Peso: A estabilidade é diretamente proporcional ao mesmo. Isto é, quanto mais

pesado o corpo, mais difícil será desequilibrá-lo, pois o centro de gravidade está mais

abaixo.

Altura do Centro de Gravidade: Quanto mais alto do solo estiver o centro de

gravidade, tanto mais fácil será o desequilíbrio.

Projeção Vertical da Gravidade: Para haver maior estabilidade, a projeção deverá

cair no centro da base de sustentação.

A soma dos mencionados fatores neurofisiológicos com os de origem física nos

leva a perceber a importância fundamental do desenvolvimento do equilíbrio, para uma

melhor retenção não só das habilidades atléticas como também dos gestos rotineiros.

A manutenção do equilíbrio se processa pela união dos estímulos do meio sobre

a visão e o aparelho vestibular, enviados ao cérebro e cerebelo, onde são decodificados

e analisados e por fim enviados ao aparelho executor (músculos), através do tronco e da

medula espinhal, para que sejam executadas as correções.

Segundo GOMES (1987), para o ser humano realizar qualquer movimento

orientado e preciso, é necessário um controle permanente e automático da equilibração

27

corporal, portanto o equilíbrio é elemento essencial para a coordenação. Este autor

enfatiza que as atividades que estimulam o equilíbrio como capacidade básica geral

devem seguir os seguintes critérios:

a) Equilíbrio em situações estáticas:

. diminuição das bases de sustentação;

. eliminação do fator visual;

. localização do corpo em posições que não são comuns e com apoio instável;

b) Equilíbrio em situações dinâmicas:

. diminuição da base de sustentação em movimento;

. realização de seqüências descontínuas de movimentos sobre bases reduzidas;

. equilibrar-se sobre bases de sustentação móveis

. equilibrar o corpo sobre base de sustentação elevada e/ou inclinada.

c) Equilibração do corpo frente à ação de forças externas.

2.9 FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA E PRINCIPAIS MANOBRAS

De acordo com ARAÑA e ÁRIAS (1996) para aprender a surfar é necessário

vontade e dedicação. Estilo é fundamental e as dicas de atletas experientes são sempre

bem vindas. Uma vez com a prancha correta nos pés é hora de realizar os fundamentos e

manobras radicais.

É consenso entre os autores que a segurança no mar é fundamento básico para a

prática do surf. Deve-se analisar as condições do mar, do equipamento, a habilidade do

praticante em relação ao ambiente, tomar precauções para proteção solar e

principalmente saber nadar, além de um aquecimento e alongamento específicos.

Para WERNER (1999), o surfista deve sentir-se confiante e confortável em sua

habilidade de ir de um ponta A para um ponto B no surf e no mar aberto.

2.9.1 REMADA

A remada, a princípio, é utilizada para progredir no meio líquido e chegar no

local onde as ondas começam a se formar. Quando realizada eficazmente, com o centro

28

de gravidade, os membros superiores e inferiores em perfeita sincronia, promove o

menor gasto energético inicial. Este fundamento ocorre basicamente com o surfista em

decúbito ventral, tórax e abdomêm apoiados na prancha, membros superiores em um

movimento semelhante ao nado crawl, com os braços penetrando na água

alternadamente e os membros inferiores preferencialmente unidos.

WERNER (1999) afirma que a remada é fundamental para o surf. O surfista

gasta a maior parte do seu tempo remando, é como ele se movimenta e pega as ondas.

CABRAL (2000) explica que a maioria das pranchas tem uma linha que divide a

prancha do bico à rabeta, conhecida como longarina. Quando deitado na prancha o

surfista deve usar a longarina como referência para manter o seu corpo equilibrado. A

cabeça deverá estar levantada para que se possa ver a direção a seguir. O bico da

prancha deverá estar pelo menos de 20 a 30 cm acima da água. Isso irá ajudar a deslizar

mais rapidamente na superfície do mar.

Já SANBORN (2000) afirma que para remar corretamente, o surfista deve

balancear seu peso corporal adequadamente sobre a prancha, podendo remar tão rápido

quanto possível sem que o bico afunde na água.

.2 JOELHINHO

É o fundamento utilizado para ultrapassar as ondas em direção ao fundo do mar.

CABRAL (2000) considera que há diversas maneiras de se praticar o joelhinho.

Uma maneira seria afundar o bico da prancha aproximadamente um metro antes da onda

atingir o surfista, que deverá mergulhar junto com o bico de sua prancha e depois voltar

a superfície, empurrando a rabeta da prancha com os joelhos. Uma segunda opção seria

segurar as bordas da prancha a uma distância aproximada de 2 metros da onda ou

espuma e fazer um movimento de rotação entre o corpo e a prancha, ficando o corpo

submerso e a prancha na superfície. O surfista deve segurar o bico da prancha e puxá-lo

para baixo até que a onda passe.

Em situações mais críticas, CONWAY (1988) aconselha que o surfista abandone

a prancha. No entanto, surfistas que indiscriminadamente abandonam as suas pranchas

29

são perigosos, pois poderão causar sérias lesões em outros surfistas que estiverem por

perto.

.3 SENTAR NA PRANCHA

Para visualizar melhor a série de ondas após ultrapassar a arrebentação, os

surfistas sentam sobre a prancha.

Para CABRAL (2000) ao sentar-se na prancha, o surfista deverá estender os dois

braços e segurar as bordas, mantendo o bico da prancha fora da água.

CONWAY (1988) considera esse fundamento muito fácil. O autor crê que o mais

difícil é partir da posição de remada para a posição sentada.

2.9.4 DROP

Segundo ARAÑA e ÁRIAS (1996), o drop significa descer a onda até a sua

base.

Para WERNER (1999), o ato de ficar em pé sobre a prancha é rápido como um

piscar de olhos e pode ser praticado antes de se entrar na água. O executante deverá

deitar-se no chão com se estivesse sobre a prancha de surf, empurrando o corpo para

cima com as mãos e posicionando seus pés abaixo do quadril. Depois de fazer isso

algumas vezes o surfista descobrirá se é “goofy” ou regular. Os que colocam o pé

direito à frente do esquerdo são denominados “goofy”. Os que colocam o pé esquerdo à

frente do direito são denominados regular. É uma preferência natural, como ser destro

ou canhoto.

SANBORN (2000) afirma que ao remar o surfista deve olhar e perceber para

que lado a onda vai quebrar. Ao sentir a onda carregando-o sem o auxílio da remada o

surfista deve ficar em pé, mantendo o corpo compacto e olhando atenciosamente a onda

para decidir qual direção irá tomar.

CABRAL (2000) considera que quando a onda está próxima ao surfista, este

deverá remar com toda a força possível até que a onda o impulsione. Neste momento o

30

surfista deve levantar-se e olhar adiante, com uma perna à frente e outra atrás e os

joelhos ligeiramente arqueados.

2.9.5 CAVADA

A cavada, ou “bottom turn”, é o ato de realizar uma curva na base da onda após

o drop, definindo a direção a ser seguida pelo surfista na onda .

Segundo SANBORN (2000), durante o drop o surfista deve decidir qual a

direção irá seguir. Para iniciar a sua cavada o surfista deverá posicionar os seus ombros

na direção que deseja seguir, enquanto pressiona com o pé de trás a rabeta da prancha

com um pouco mais de peso na direção que se deseja virar. Ao planejar a cavada o

surfista deve olhar a parede da onda, visualizando a área onde irá manobrar.

Para COHEN (1997), se a parte ventral do corpo do surfista estiver voltada para

onda, tal posição recebe o nome de “frontside”. Se a parte dorsal do corpo do surfista

estiver voltada para onda estará caracterizado o surf de “backside”.

2.9.6 CUT BACK

Definido por ARAÑA e ÁRIAS (1996) como ato de realizar curvas na parede da

onda que se assemelham a um “s”.

Uma vez na parede da onda e após a cavada, o surfista pode voltar para a área de

maior força da onda e para isso utiliza o cut back, uma manobra que envolve elementos

de “frontside” e “backside”. Para executar um cut back, a rabeta da prancha deve ser

empurrada com força até afundar a borda interna, afirma CONWAY (1988).

COHEN (1997) relata que o cut back é um retorno rápido em direção à espuma

da onda, a parte que concentra maior energia. É uma manobra relativamente fácil de se

realizar, sendo fundamental para um bom aproveitamento da onda.

2.9.7 BATIDA

31

A batida pode ser realizada tanto na crista da onda quanto na junção das espumas

e é caracterizada por colocar a parte de baixo da prancha em contato direto com a onda.

Para CONWAY (1988), o surfista deve dirigir a prancha verticalmente em

direção à crista da onda, atingindo um ponto de impacto perfeito onde possa colocar

novamente a prancha de volta na parede da onda.

SANBORN (2000) explica que a prancha irá seguir naturalmente a direção

apontada pelos ombros dos surfistas, que deve gradativamente tirar a pressão do pé de

trás e mover o peso para a frente. A batida poderá ser executada de “frontside” ou de

“backside”, devendo ao final o surfista permanecer na mesma posição que estava antes

de executar a manobra.

.8 FLOATER

Essa manobra é utilizada para ultrapassar uma sessão da onda já quebrada ou que

tende a fragmentar-se. O surfista deverá passar por cima da espuma como se estivesse

flutuando sobre ela até atingir a parede da onda.

CONWAY (1988) explica que se uma sessão da onda está fechando e mais adiante

ainda existe uma parede manobrável, o surfista pode projetar a prancha sobre a crista da

onda, descendo depois com a crista para a parte manobrável na parede da onda.

Segundo SANBORN (2000), o sucesso do floater depende da velocidade com que

o surfista se move na crista da onda.

.9 TUBO

O ponto máximo do surf, onde o surfista é engolido pela onda e consegue sair de

dentro dela seco e na maioria das vezes, segundo ARAÑA E ÁRIAS (1996), incrédulo

com o acontecimento.

COHEN (1997) afirma que o tubo é a manobra ideal, aquela que transporta o

surfista à essência do esporte, uma sensação inigualável.

Para CONWAY (1988), o tubo de uma onda é o melhor lugar para surfar e requer

bastante habilidade. Para a maioria dos surfista pegar um tubo é um momento

32

memorável e muito comentado. Dias perfeitos de surf são aqueles onde o vento acaricia

as ondas para que seus tubos quebrem numa rasa bancada, comprimindo o ar de seu

interior e soprando uma fina camada de vapor d’água em seu final.

33

3.CONCLUSÃO

Com o desenvolvimento do fenômeno esporte e a sua popularização em todas as

partes do mundo, parece natural que o interesse do público e mídia sobre o assunto

também cresça proporcionalmente.

Dessa forma, as competições adquirem importância cada vez maior no âmbito

sócio-cultural, pois é a partir daí que surgirão os novos mitos e heróis responsáveis pela

manutenção deste cenário.

Com o início das competições profissionais na década de 70, o surf também

passou a ocupar um lugar neste contexto, levando seus praticantes à busca de

instrumentos que maximizassem sua performance na água.

Mesmo assim, o máximo que podemos encontrar atualmente sobre o assunto são

séries de exercícios adaptados de outras modalidades, como a natação e a musculação.

Há uma enorme carência de estudos e pesquisas laboratoriais que permitam uma análise

complexa e real sobre o metabolismo humano durante a prática do surf.

Em termos gerais, sabe-se que o surf exige tanto um condicionamento aeróbio

(sobretudo durante a remada para o “outside”) como anaeróbio (para entrar na onda e

realizar manobras explosivas), sendo que sua predominância irá depender das condições

do mar e objetivos do surfista.

Devido à sua imensa contribuição para a obtenção de resultados expressivos, a

preparação física assume um papel fundamental no treinamento dos atletas.

Dessa forma, o desenvolvimento de trabalhos específicos junto ao público

especializado em educação física e esporte torna-se essencial para a evolução do surf e

para sua solidificação como uma das mais populares modalidades esportivas do mundo.

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