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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE CURSO DE EXTENSÃO MBA CONTABILIDADE EM IFRS RAFAEL ALEXANDRE MAFRA CPC 07 – Aplicabilidade Frente ao Benefício Fiscal Têxtil Estadual de SC RIBEIRÃO PRETO 2016

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DE

RIBEIRÃO PRETO

DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE

CURSO DE EXTENSÃO MBA CONTABILIDADE EM IFRS

RAFAEL ALEXANDRE MAFRA

CPC 07 – Aplicabilidade Frente ao Benefício Fiscal Têxtil Estadual de SC

RIBEIRÃO PRETO

2016

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Prof. Dr. Marco Antônio Zago

Reitor da Universidade de São Paulo

Prof. Dr. Dante Pinheiro Martinelli

Diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto

Profa. Dra. Adriana Maria Procópio de Araújo

Chefe do Departamento de Contabilidade

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RAFAEL ALEXANDRE MAFRA

CPC 07 – Aplicabilidade Frente ao Benefício Fiscal Têxtil Estadual em SC

Trabalho de Conclusão do Curso de Extensão MBA

Contabilidade: Governança e Controle junto à

Faculdade de Economia, Administração e

Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de

São Paulo – FEA-RP/USP.

RIBEIRÃO PRETO

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

MAFRA, Rafael Alexandre

CPC 07 – Aplicabilidade Frente ao Benefício Fiscal Têxtil de SC. Ribeirão Preto, 2016.

26 p.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto/USP. Área de concentração: Contabilidade.

1. CPC 07 A. 2. Benefício Fiscal. 3. IFRS.

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Dedico este trabalho a todos os Contadores do Brasil, pela oportunidade histórica que

temos em fazer o diferencial, participando, interpretando e aplicando as normas internacionais de contabilidade dando, assim, forma, conteúdo e relevância nacional e internacional à nossa profissão

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AGRADECIMENTOS

Agradeço de forma especial à minha esposa, Daniela, por dar valor a mais este relevante

estudo.

Ao meu orientar, Leandro Torres, pelo acompanhamento e orientações e proposições.

Aos meus colegas, que, verdadeiramente, foram como uma família, abrindo de forma

esplendorosa meus horizontes, proporcionando-me ampliar ainda mais o leque de minha

cognição e aprimorar minha atitude pessoal.

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RESUMO

MAFRA, Rafael Alexandre. CPC 07 – Aplicabilidade frente ao benefício fiscal têxtil estadual

em SC. 2016. Trabalho de Conclusão do Curso de Extensão MBA Contabilidade: Governança

e Controle – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

O presente trabalho versa sobre um dilema contábil, o qual se pauta como referencial

teórico, na norma CPC 07 (R1). Com o advento de um benefício fiscal concedido pelo estado

de Santa Catarina, exclusivo às indústrias têxteis, uma dúvida quanto ao correto reconhecimento

contábil recaiu sobre determinada empresa em estudo. Com base no referencial teórico e no

modelo de benefício fiscal concedido buscou-se a melhor forma de reconhecimento contábil

ficando assim a contabilidade em consonância às normas atuais de contabilidade. Assim sendo,

depois de aplicado o referencial teórico, ao caso prático em específico, constatou-se que a

aplicação do reconhecimento do efeito do benefício fiscal deve ser apartada dentro do

patrimônio líquido da empresa, e não no seu passivo não circulante, como inicialmente feito.

Palavras Chave: 1. CPC 07 A. 2. Benefício Fiscal. 3. IFRS.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABVTEX – Associação Brasileira do Varejo Têxtil

CFC – Conselho Federal de Contabilidade

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis

IAS – International Accounting Standard

IASB - International Accounting Standards Board

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

DRE – Demonstração do Resultado do Exercício

IFRS – International Financial ReportingStandards

SC – Santa Catarina

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SUMÁRIO

1. Introdução.........................................................................................................................................................10 2. Caracterização do Dilema Contábil..................................................................................................................12 2.1 Descrição da Entidade......................................................................................................................................12 2.2 Caracterização da Situação...............................................................................................................................14 3. Análise das Alternativas Levantadas................................................................................................................20 4. Proposta de Solução do Dilema........................................................................................................................21 5. Considerações Finais........................................................................................................................................24 6. Referências.......................................................................................................................................................26

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1. INTRODUÇÃO

Tratar de um tema contábil onde os seus reflexos são influenciados por diretrizes

tributárias torna o estudo e a aplicação da norma contábil sempre mais dificultosa. Pois há de

observar-se se a norma contábil trata de algum procedimento ajustável ao procedimento fiscal

adotado.

Este estudo é permeado na norma de contabilidade CPC 07, que trata das Subvenções

Governamentais. O procedimento que é estudado, doravante, é quanto a forma de

reconhecimento contábil de um benefício fiscal aplicado às indústrias têxteis do estado de Santa

Catarina. Tal benefício foi concedido para promover o reaquecimento deste setor, o qual pode

gerar competitividade frente a concorrência asiática.

Ocorre que a norma fiscal é aplicada num momento (2009) em que a transição da norma

de contabilidade internacional é recepcionada pelo Brasil através da Lei 11.638, no final de

2007, com aplicação parcial em 2008 e adiante. Notou-se que, aquela época, muito se tinha a

estudar para interpretar, e de forma incisiva aplicar os conceitos novos trazidos para o Brasil.

Assim, foi comum na região têxtil de Santa Catarina o referido CPC 07 ter aplicações diferentes

em vários momentos.

Observou-se que o benefício fiscal traria, por consequência, um registro contábil que

poderia ser entendido como uma receita, proporcionando, desta forma, melhorias na situação

contábil e econômica das empresas têxteis que passavam por um momento financeiro delicado,

visto que seus créditos estavam esgotados e suas atividades produtivas muito atrasadas devido

a falta de investimento. Esse momento foi aproveitado por muitas empresas que reconheceram

na receita contábil o resultado do ganho obtido pelo benefício fiscal.

Após essa fase inicial houve outra interpretação que ganhou mais força; a aplicação e

reconhecimento do resultado do benefício fiscal - lançado como um passivo não circulante.

Afinal, a Lei que estabelecia o benefício fiscal era bem evidente, caso as condições para se obter

o benefício fiscal não fossem cumpridas integralmente, a empresa optante de tal benefício fiscal

deveria devolver os recursos economizados. Ora, os requisitos eram muito severos, e constavam

basicamente em reaplicar toda economia apurada na própria empresa. Como o momento

econômico e financeiro deste ramo de atividade eram ruins, os empresários utilizaram o ganho

com o benefício para repassar descontos em suas mercadorias e produtos de forma a ganhar

mercado. Este procedimento, para os contadores, foi entendido como um passivo eminente,

uma vez que se havia um requisito legal para seu cumprimento, e, a partir daí, poder ser

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signatário de tal benefício fiscal. Sendo o mesmo não cumprido, numa eventual fiscalização,

essas empresas deveriam devolver toda a economia obtida.

Assim, mediante a este imbróglio entre a norma contábil e o benefício fiscal concedido

foi que surgiu a necessidade de um estudo maior e aplicado. Para que fosse possível a obtenção

do resultado a fim de compreender a melhor forma de contabilização prevista na norma

contábil. Desta forma desenvolveu-se um estudo mediante a um dilema contábil aplicado em

uma situação real.

Para melhor compreender e resolver o problema, neste estudo, e, para melhor atingir tal

proposito, foram estabelecidos alguns objetivos que consistem em procurar identificar a melhor

interpretação técnica prevista pelo CPC 07, bem como, estudar o caso deste dilema contábil

específico, interpretando a situação, para que haja a possibilidade de se explanar sobre qual

melhor critério a ser adotado.

Este estudo é importante, pois uma demonstração contábil que não permite concisão,

nem seja compreensível, frente à norma contábil pode trazer malefícios aos usuários da

informação contábil, inclusive o que já vinha incorrendo no caso em questão. Outro fator

relevante é que a contabilidade deve sempre se aprofundar e perceber que além da aplicação

estática e direta de uma norma existe toda a subjetividade caracterizada pela característica

qualitativa da contabilidade da essência sobre a forma. Dessa forma, com todos os elementos

disponíveis, procurou-se trazer, como resultado, a melhor prática de reconhecimento contábil

para o benefício fiscal disponibilizado para a indústria têxtil catarinense.

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2. Caracterização do Dilema Contábil

2.1 Descrição da Entidade

A empresa em estudo, para a aplicação do dilema contábil, é uma empresa do setor

Têxtil de Vestuário, situada em Blumenau, estado de Santa Catarina.

A empresa vende seus produtos para todo o Brasil, sendo fornecedora de grandes

Magazines, e tendo também uma certa parcela de seu faturamento baseado em criação própria

– Private Label.

A empresa está no mercado há 20 anos e tem faturamento médio anual de R$

25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais). Sua forma de tributação é o lucro real, e para a

tributação estadual possui um regime especial, não pagando, assim, seu ICMS na forma literal

de débitos e créditos.

Atualmente, Blumenau ainda é conhecida por suas indústrias têxteis. No passado, o setor

da indústria têxtil, de Blumenau, era muito conhecido pela produção de cama, mesa e banho.

Quando o setor passou pela crise houve a necessidade de - a antiga gigante - transformar-se e

renovar-se, e, devido a essa mesma crise, criaram-se outras empresas, no setor de vestuário.

Como a empresa é de um ramo de atividade tradicional, na região, e este ramo está em

crise desde meados de 2008, devido a aquisição de produtos importados, oriundos -

principalmente - da Ásia, o Estado de Santa Catarina editou um regime especial tributário. Este

regime trouxe um novo fôlego para as indústrias do ramo, fazendo com que a cadeia produtiva

mantivesse a si mesma, bem como a seus empregos. Porém, na mesma proporção positiva,

vieram as discussões judiciais de outros estados. E, com base nestas discussões, o Estado de

Santa Catarina teve de colocar, em seu decreto, amarras para justificar tal renúncia fiscal.

Atualmente, as empresas têxteis da região de Santa Catarina são de capital nacional, e a

maioria é controlada por estrutura familiar.

O que ocorre é que, apesar da estrutura da empresa ser familiar, local, provinciana, os

usuários da informação contábil são globais, por assim dizer. Como essas empresas têxteis

vendem para grandes empresas, conglomerados nacionais e internacionais, elas utilizam dados

financeiros para a política de gestão de crédito e pedidos. Assim sendo, os usuários da

informação contábil, destas empresas têxteis, são os próprios clientes, fornecedores, bancos e a

própria gestão - muitas vezes familiar, do negócio.

Por muito tempo as instituições financeiras, dado a crise do setor, olhavam com muito

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critério as demonstrações financeiras das empresas têxteis locais, o que, para a categoria dos

contabilistas, foi muito importante por um lado; afinal os bancos começaram a exigir

demonstrações contábeis num padrão mais completo, ajudando, assim, desde o ano de 2008, na

convergência das normas internacionais para o Brasil, com a Lei 11.638/07 (Planalto, 2016).

Para identificar e entender o setor no estado de Santa Catarina, o ramo têxtil produziu

nomes como: Artex, Hering, Sulfabril, Karsten, Malwee, Marisol, Buettner, dentre outros. No

caminho do crescimento, dos anos 80 para cá, muita coisa mudou na gestão dos negócios, tais

como, parcerias entre empresas para construir um mercado exportador, troca de informação

técnica, estudo mensal com programa alicerçado pela Fundação Dom Cabral e Fundação Fritz

Muller, uso de informação contábil, política de crédito de longo prazo, riscos maiores, negócios

globais...

O que ocorreu foi que essas empresas têxteis sentiram bastante a concorrência com o

mercado asiático, criando um ambiente hostil com a gestão analisando preços e orçamentos

medidos nos centavos e com grande geração de volume. Nesse ambiente foi que as empresas

têxteis se transformaram e se recriaram. Esta crise ocorreu em dois momentos: o primeiro, nos

anos 90, com a abertura da economia por meios de ações de plano do governo federal; o

segundo, em 2008, com o agravamento da crise internacional provocada, principalmente, pela

crise americana.

Adicionalmente, ao próprio meio produtivo e de negócio, a produção têxtil se tornou

cada vez mais relevante. Emergiram políticas governamentais com incentivos e/ou cobranças

de toda ordem, difíceis de implementar e cumprir; e somente aquele que tivesse uma boa

governança e uma boa gestão é quem poderia acompanhar. Nesse contexto, muitas empresas

cresceram, e que, em dado momento de dificuldade, poderiam representar algum tipo de

problema econômico, o qual criaria, assim, uma nova ordem financeira e contábil a se seguir.

Essas empresas, do novo mercado têxtil, têm estrutura compacta, portanto o

procedimento de elaboração das informações contábeis passa pela contabilidade terceirizada, e

muitas destas empresas têxteis, bem como a que está em análise, tem suas auditorias não

periódicas. A auditoria que existe com mais frequência é a de processos produtivos para se obter

um selo, o conhecido Selo ABVTEX – Associação Brasileira do Varejo Têxtil, o qual dá a

garantia de ser um fornecedor credenciado nos padrões mais rigorosos, visto que são exigidas

das empresas têxteis uma padronização de fornecimento.

Nesse contexto de mudanças, surge o conjunto de normas internacionais de

contabilidade emitidas pelo órgão internacional IASB - International Accounting Standards

Board, que visam harmonizar os procedimentos de políticas contábeis em todos os países que

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adotam esse conjunto, melhorando dessa forma a estrutura conceitual. As normas internacionais

de contabilidade, que são emitidas pelo IASB e que trazem a convergência para os países que

a adotam, são conhecidas como International Financial Reporting Standards - IFRS, foram

trazidas, ao Brasil, com a Lei 11.638 de 27 de dezembro de 2007, para serem aplicadas.

Já em 07 de outubro de 2005, foi criado o comitê de pronunciamentos contábeis - CPC,

pela resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o qual viria a ser o órgão

responsável em recepcionar as normas internacionais, para fazer a convergência das mesmas

no Brasil. Inclusive, houveram muitas barreiras no Brasil, conforme menciona Ernst & Young

e Fipecafi (2009, 23):

desde logo identificamos uma barreira conceitual no entendimento, aceitação e aplicação prática das IFRS no Brasil: o sistema contábil brasileiro, que sempre sofreu forte influência do ambiente fiscal, é fortemente baseado em regras definidas, ao passo que as IFRS tem sido tradicionalmente baseadas em princípios.

Com a referida Lei, o contador deverá - para elaborar as demonstrações contábeis -

conhecer bem o negócio, comunicar-se com a gestão da empresa, já que com a implementação

das IFRS, aqui no Brasil, deve-se utilizar uma característica qualitativa contábil: a da essência

sobre a forma. E com base nesse conceito criou-se várias discussões, sendo uma delas trazida

ao centro neste estudo frente ao CPC 07.

2.2 Caracterização da Situação

A situação analisada no dilema contábil é a de fazer uma escolha contábil, ou seja,

frente a uma tratativa do governo de representar, contabilmente, o efeito desta nova

regulamentação governamental frente à norma contábil, prevista pelo CPC 07 R1– Subvenção

e Assistência Governamental, cuja correlação internacional é com a IAS1 20, estando em sua

1 revisão e que foi homologada pelo CFC, por meio da NBC TG 07 (Comitê de

Pronunciamentos Contábeis, 2016).

Para manter a competitividade das empresas têxteis de Santa Catarina, o governo

estadual editou um novo método de cálculo do ICMS a recolher. Esse critério foi permitido

pelo governo de Santa Catarina, a fim de que a sua indústria têxtil, tão tradicional, não perdesse

competitividade. Para tanto, instituiu em 08/09/08 o Decreto nº 1669, publicado no diário do

1 IAS, International Accounting Standard, hoje conhecidas como IFRS International Financial Reporting Standards. São o conjunto de normas de contabilidade publicadas e revisadas pelo IASB.

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estado na mesma data em que introduziu no regulamento do ICMS/SC, a alteração 1.774 no

referido regulamento e posteriormente as alterações 2.638 e 2.639 (Secretaria de Estado da

Fazenda de Santa Catarina, 2016).

Essa mudança preconizou que a indústria têxtil poderia apurar o seu ICMS mensal por

critério diverso ao padrão, ou seja, ela poderia utilizar um crédito presumido de ICMS, cujo

produto seria um ICMS devido de 3% sobre seu faturamento. Porém, para adquirir este direito,

algumas regras deveriam ser cumpridas, e, caso não fossem, o estado iria glosar o benefício e

cobrar o valor pago a menor. Observa-se que o estado alocou a referida alteração no anexo II

do regulamento, este anexo trata dos benefícios fiscais.

As regras a serem cumpridas pelas indústrias têxteis para serem beneficiárias do sistema

de benefício fiscal, atualmente, são (Decreto 1669 de 08/09/08):

I – à apropriação dos créditos relativos à entrada de matérias-primas, materiais secundários, embalagens e bens do ativo permanente correspondentes ao ciclo de produção industrial das mesmas mercadorias; II – à utilização pelo estabelecimento industrial de no mínimo 85% (oitenta e cinco por cento) de matérias-primas produzidas em território nacional; III – ao reinvestimento do valor correspondente ao benefício na modernização, readequação ou expansão do parque fabril ou na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos; IV – ao lançamento do crédito presumido: no livro de Registro de Apuração do ICMS – RICMS, modelo 9, campo ‘Outros Créditos’; no Demonstrativo de Créditos Informados Previamente – DCIP; e na DIME de cada estabelecimento fabricante. § 36. Para efeito do disposto no inciso II do § 35: I – considerar-se-á o valor referente à entrada de matérias-primas, a cada ano, a partir da opção pelo regime; II – poderá ser incluída no percentual de 85% a utilização das seguintes matérias-primas importadas, desde que a importação seja realizada por meio de portos ou aeroportos situados neste Estado: a) fibras e fios de poliéster, poliamida e viscose; b) polietileno e polipropileno classificados, respectivamente, nos Códigos 3.901 e 3.902 da Nomenclatura Comum do Mercosul – NCM

Ou seja, o Estado permitiu um benefício fiscal em que a carga tributária da indústria

têxtil fosse reduzida, porém, exigiu que fossem cumpridos vários requisitos, sob pena de

exclusão e cobrança da diferença que foi reduzida.

Consoante a este contexto, desde 2008 começou a surgiu o dilema contábil de

reconhecimento dessa economia tributária condicionada. Assim, a empresa tinha um benefício,

estava pagando a menor, entretanto deveria cumprir alguns requisitos.

Dessa forma, a empresa viu, nessa nova tratativa fiscal, uma possibilidade de ganhar

mercado, de melhorar as vendas, inclusive perante os concorrentes no mercado nacional,

utilizando-se do benefício fiscal, não para se desenvolver, criar, atualizar, modernizar; mas para

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dar desconto no preço de venda de seu produto – embora pareça o meio mais rudimentar de

manter e atrair novos clientes. Outrossim, este foi o meio encontrado por centenas de empresas

para fazer frente a concorrência asiática, freando um pouco o caos em que o setor se encontrava.

Não foi preciso muita análise e gestão financeira para estudar o impacto e a aplicação do

benefício, mas, uma regra de três simples, de forma a saber qual o desconto no preço de venda

seria dado ao cliente.

Porém, o preço que a indústria poderia vir a pagar, por usar o benefício fiscal concedido

para aumentar suas vendas, era o risco de ser excluída e ter que devolver a economia gerada,

até então, aos cofres públicos.

O risco tributário foi corrido por inúmeras empresas, pois havia uma necessidade básica

primária de se manter no negócio e no mercado, e, por uma sinalização velada de que o Estado

não acompanharia, aplicaria o que sua própria lei trazia escrita.

Com essa situação, o reflexo por conceito básico de contabilidade, que é a ciência que

registra as operações do patrimônio das entidades, teve de se manifestar e aplicar a norma

contábil que mais se enquadraria ao modelo do benefício fiscal concedido. Então,

contabilmente, o raciocínio utilizado, no caso em questão, foi o de que a empresa teve um

benefício fiscal, mas que esse benefício poderá se tornar uma dívida, caso ela não cumpra com

as suas regras expressas no decreto - que foi o caso. Ela veria que esse benefício mensal obtido

era um passivo não circulante, pois, a empresa poderia ser excluída pelo o não cumprimento e

ter a dívida executada pelo estado, uma vez que ela utilizava do benefício fiscal, mas não

honrava na aplicação da economia em itens designados pelo decreto.

A empresa, em questão, obteve um ganho representativo em cada ano de aplicação da

lei, a saber dos últimos quatro anos (dados obtidos da apuração contábil da empresa):

2011 – 1.750.000,00 (um milhão, setecentos e cinquenta mil reais)

2012 – 1.125.000,00 (um milhão, cento e vinte e cinco mil reais)

2013 – 890.000,00 (oitocentos e noventa mil reais)

2014 – 1.024.000,00 (um milhão e vinte e quatro mil reais)

Outro fator, por conta da demanda financeira, foi determinante no processo de

contabilização. A empresa estava com dívidas tributárias grandes, não conseguia empréstimo

facilmente para fomentar sua atividade e tinha neste benefício um ganho. Este ganho poderia

ser entendido como uma receita, o que traria uma análise contábil benéfica aos olhos dos

usuários da informação contábil e fomentadores do crédito. Ora, se a empresa possuía um

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benefício, e esse benefício por sua vez era um ganho, e esse ganho uma receita, foi uma relação

de causalidade imediata. Sendo assim, essa receita era reconhecida como uma receita

financeira, por ser um desconto obtido.

Ato seguinte, até por ser num período de adaptação das normas IFRS, a empresa passou

a contabilizar esta redução do ICMS como um passivo não circulante, pois caso o fisco a

auditasse num prazo de 5 anos, ela teria indeferido o seu benefício e poderia ser obrigada a

devolver o mesmo por conta de não cumprir o que a lei determinava. Assim, de forma prudente,

a contabilidade reconhecia uma dívida, visto o não cumprimento, em contrapartida do benefício

fiscal. A posição foi conservadora, extremamente prudente, buscando obedecer ao conceito

puro do princípio contábil da prudência.

O que justificou esse entendimento foi a interpretação da IAS 37 – Provisões, ativos

contingentes e passivos contingentes. Conforme Deloitte (2009, p. 246), “deve ser reconhecida

uma provisão quando um fato passado resultou em uma obrigação legal ou implícita, uma saída

de recursos seja provável, e o valor da obrigação pode ser estimado de maneira confiável”. Ou

seja, o ambiente do momento foi propício para essa prévia interpretação, afinal, poderia ser

mensurável e geraria uma obrigação futura ao não cumprimento do decreto.

Após a empresa passar por uma auditoria contábil, o departamento de contabilidade,

estudando juntamente com a auditoria da empresa, encontrou uma nova aplicação da norma

IFRS para o caso, dando assim, outra tratativa para esse ganho, pois entendeu-se que o princípio

a ser utilizado era o de contabilizar esta diferença como se fosse uma subvenção governamental,

ou seja, ao patrimônio líquido.

Assim, já no ano de 2013, a empresa começou a adotar esse procedimento, porém, ela

contabilizou este ganho diretamente como uma receita, e, após, a receita era incorporada

anualmente ao patrimônio líquido. Assim o valor do referido benefício passou a ser estornado

da conta de lucros e prejuízos do ano e lançado contra a conta de subvenção governamental.

No período de uso do benefício fiscal, três foram os critérios que se passaram, os quais

foram, em alguns momentos, questionados por credores financeiros mais avisados e

conhecedores de análise de balanço e das demonstrações contábeis. Tal motivo levou a muita

análise sobre qual real critério de reconhecimento deste valor de ganho do benefício.

É relevante ressaltar que no CPC 07 é tratado o seu “alcance”, e, nele, na letra “c” é

destacado que não é abrangido pelo referido CPC os benefícios com redução de alíquotas. O

decreto do Governo Estadual, original, trata da redução de alíquota em 82,35%, assim sendo,

como a alíquota interna é de 17% ela passaria a ser de 3%.

Porém, o contribuinte não pode aplicar a alíquota direta, ele precisa calcular o ICMS

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normal (débitos menos créditos), além de, lançar em conta gráfica um valor redutor de crédito

presumido, reduzindo então o valor devido a 3%. Ou seja, na prática diz-se que a indústria têxtil

catarinense paga de ICMS 3% sobre o seu faturamento, mas, tecnicamente, é feito um cálculo

entre débitos e créditos tributários após um estorno de valor a título de crédito presumido,

restando ao final este percentual de 3%.

Paralelo a isto, o referido CPC 07, no item “definições” parte 3, “conceitua assistência

governamental como sendo a ação de um governo destinada a fornecer benefício econômico

específico a uma entidade ou a um grupo de entidades que atendam a critérios estabelecidos.”

Não inclui os benefícios proporcionados única e indiretamente por meio de ações que afetam

as condições comerciais gerais, tais como o fornecimento de infraestruturas em áreas em

desenvolvimento ou a imposição de restrições comerciais sobre concorrentes. Pela definição

deste conceito, acredita-se que o respectivo pronunciamento teria aplicabilidade ao dilema

proposto.

Mais além, no mesmo item “definição”, ocorre a isenção tributária, ou seja, a dispensa

legal do pagamento de tributo sob quaisquer formas jurídicas (isenção, imunidade, etc.). Já a

redução, por sua vez, exclui somente parte do passivo tributário, restando parcelas de imposto

a pagar. A redução ou a isenção podem ser processadas, eventualmente, por meio de devolução

do imposto recolhido mediante determinadas condições. Aqui fica corroborado ainda com

maior ênfase a utilização do CPC 07.

Outro fator evidente é que o item 12 do referido CPC trata que as subvenções

governamentais não devem ser contabilizadas diretamente no patrimônio líquido, enquanto o

item 15 A” trata que, se não atendidos os requisitos para reconhecimento da receita, a

contabilização deve ser feita a crédito no passivo.

Essa discussão permeou a referida empresa, visto que o decreto exige cumprimento de

metas, as quais não estavam sendo cumpridas, e para tal a contabilidade reconhecia o crédito

no passivo não circulante. Posteriormente, por questões financeiras, a empresa optou por

reconhecer esse montante não mais no passivo, mas como receita, de modo a expor uma

expectativa maior do resultado econômico para enfrentar a crise e cooptar os credores a

fomentar o negócio.

Caso a empresa não venha a cumprir o referido decreto e tenha de devolver a subvenção,

ou seja, aja uma perda de subvenção, vale a aplicação do item 32 do referido CPC, o qual ordena

abater da conta passiva em que a subvenção está demonstrada, e, se faltando saldo, o débito

será contra despesa, isto é, há previsão contábil caso a empresa não cumpra sua obrigação fiscal.

Desse modo, fica evidente contabilizar esse benefício como uma receita ou como um passivo.

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Caso o benefício seja contabilizado como sendo um passivo, ele seria mantido por cinco anos,

período de prescrição, no qual não pode mais haver a perda da subvenção, E após os cinco anos,

haveria a baixa do valor à receita no ano da baixa pelo total acumulado, ou ainda, direto ao

patrimônio líquido. Essas eram dúvidas latentes.

Assim, as discussões, acima, permearam o problema do dilema contábil.

Para facilitar o entendimento, observa-se no quadro, logo abaixo, o critério de apuração

do valor desse benefício na contabilidade.

Esses quadros são didáticos e ilustrativos, sendo os números da empresa, em estudo,

irreais, servindo apenas para compreensão do método abordado.

1 - Suponha uma compra de R$ 100,00 com crédito de 17% ICMS

D – ICMS a recuperar

C – Estoque – R$ 17,00

2 – Suponha venda de R$ 150,00 com débito de 17% de ICMS

D – ICMS sobre vendas (DRE)

C – ICMS a recolher – R$ 25,50

3 – Estorno do crédito pois o mesmo não é permitido (visto que o ICMS agora é 3% sobre

receita)

D – Benefícios Fiscais (DRE)

C – ICMS a recuperar – R$ 17,00

4 – Redução da alíquota devida de ICMS conforme benefício, chegando a 3% a alíquota devida

D – ICMS a recolher

C – Benefícios Fiscais (DRE) – R$ 21,00

Assim, o valor devido a pagar seria de R$ 4,50, e o montante do benefício fiscal será de

R$ 4,00.

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Consequentemente, a empresa, no referido mês, obteve um benefício de R$ 4,00,

reduzindo seu valor devido, e para manter seu benefício deverá cumprir os requisitos

mencionados no decreto lei.

Neste contexto, busca-se identificar a melhor interpretação técnica prevista pelo CPC

07, bem como estudar o caso deste dilema contábil interpretando a situação, de forma a explanar

sobre o critério interpretativo adotado para a resolução da pergunta problema. Surge, dessa

forma, o seguinte dilema contábil para o caso em questão: O benefício fiscal gerado deve ser

lançado como um passivo até a sua prescrição fiscal, visto que, se ele não cumprir os requisitos

do benefício, deve-se lançar o benefício como receita e separá-lo no patrimônio líquido em

conta específica?

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3. Análise das Alternativas Levantadas

Para tratar do problema em questão é necessário identificar os mecanismos para

determinar a correta aplicação do CPC 07. A saber, existem duas possibilidades para a

mensuração do referido benefício, sendo uma delas como contingência passiva e a outra como

uma subvenção no Patrimônio Líquido.

O CPC 07 determina que um benefício fiscal nas condições do tratado neste estudo, seja

enquadrado na aplicação do escopo do referido CPC – uma subvenção no Patrimônio Líquido,

visto que ele em suas definições respalda tal assertiva.

O cálculo do tributo, com base no Decreto do Benefício Fiscal, exige trazer ao centro

da discussão o CPC 25, onde o mesmo diz que, se uma obrigação é derivada de eventos

passados, cuja liquidação resulte em saída de recursos da entidade futuros, tem-se um passivo,

uma obrigação.

Sabe-se que as receitas e despesas são reconhecidas sempre que incorridas, as quais

resultam e demonstram o efeito econômico das transações da entidade. Assim, o imposto pago

ou o benefício fiscal gera uma movimentação incorrida e deve ser refletida ao resultado do

exercício, seja o tributo como uma despesa e o benefício como uma receita.

Adicionalmente, torna-se importante contextualizar, neste cenário, a essência sobre a

forma; o que realmente está ocorrendo e o que realmente é preciso demonstrar, para garantir e

subsidiar os usuários da informação contábil.

Esta análise é muito importante, embora cause desconforto a diversos usuários e

estudiosos da informação contábil, pois deve-se remontar a velha discussão do paradigma

contábil do common law (contabilidade subjetiva) e do code law (contabilidade rígida), modelos

que permeiam nossa classe contábil desde a implementação da contabilidade, aqui no Brasil,

com a Lei 6.404/76. Hoje, questiona-se, propõe-se, argumenta-se, e não só apenas se aplica a

norma como ela é. Afinal, trata-se de uma ciência social aplicada, e seu desenho não é lógico

apenas. Consoante Carvalho, (2009, p 10):

[...] nenhuma regra de agência reguladoras governamentais deve sobrepor à busca da essência na representação do estado patrimonial, jamais. Ou a regra das agências repete o que diz a sadia norma contábil – a aí a regra reguladora é inócua – ou a tal regra deturpa a norma contábil – e aí deve ser repudiada por conduzir à falsa representação patrimonial.

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Com estas inferências de passivos, provisões, contabilidade flexível, normas CPC´s,

para o referido caso, em que o crivo da dúvida está assentado sobre o lançamento contábil mais

correto e fidedigno de um benefício fiscal, fica bastante evidente qual o método a ser utilizado.

A contabilidade deve ser útil, pensada de forma sistêmica, não de forma estanque. As

partes não somam o todo. No caso proposto precisa ser atendido a lei contábil, conforme o CPC

07, bem como observar que há possibilidade de criação de obrigação pelo não cumprimento do

decreto. Esta dicotomia desse dilema contábil deverá ser objeto de solução abordada a seguir.

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4. Proposta de solução do Dilema

Desta forma, como o benefício fiscal requer uma contrapartida para que possa ser válido,

o valor do benefício apurado poderia ser lançado ao passivo ou o valor do benefício obtido

poderia ser lançado como Patrimônio Líquido, ficando, dessa forma, a conta de reserva de

subvenção sendo alimentada anualmente.

Ocorre que, pelo estudo e com a obrigação para se obter o benefício fiscal, entendeu-se

que o correto seria apurar uma reserva no patrimônio líquido, ou seja, não permitir que a

entidade use o lucro do exercício - o qual está contido com o ganho do benefício - seja

distribuído ou usado na sua capitalização. Assim seria atendido o requisito da norma contábil,

já que seria reconhecida uma subvenção em conta específica. O valor do ganho com o benefício

destacado do lucro da empresa figurando no patrimônio líquido não seria usado, respeitando o

decreto que - em caso de descumprimento - deveria ter o seu ganho revertido para o Estado,

que passado o seu período de direito, de cobrar pelo descumprimento do decreto, daria à

empresa uma reserva disponível para uso, pois não haveria mais possibilidade de devolução de

tais valores.

Deste modo, o lançamento do ganho do benefício fiscal seria alocado no resultado do

exercício, e este, ao ser trazido para o patrimônio líquido, seria segregado do lucro para a conta

de subvenções.

É necessário observar a essência do fato antes de sua forma, visto que, ao primeiro olhar,

sua forma é de um passivo, conforme já aludido acima, já que há um benefício atrelado a

diversas exigências, isto é, o gestor e o contador sabem que a empresa está usando um benefício

indevido, ou seja, um passivo oculto, conforme já discutido acima, no CPC 25. Porém, na

essência, existe a norma que traduz a prática ao lançamento contábil perfeito. Se há um

benefício fiscal, a norma CPC 07 recomenda reconhecê-lo no patrimônio líquido, como

subvenção governamental. No entanto, como a empresa tem exigências decorrentes do

benefício é preciso reservar o valor do lucro para que não se faça o uso do mesmo, conforme

preceitua Azevedo (2010, p. 211), “destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do

lucro líquido decorrente de doações ou subvenções governamentais”.

A empresa deve manter uma nota explicativa alertando o fato e controlando o prazo

prescricional para que os seus usuários da informação contábil possam acompanhar, a cada ano,

a parcela de benefício fiscal livre de ônus.

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Assim, o contador fica resguardado, uma vez que há reserva cumprindo o papel de um

possível passivo, afinal, a reserva tem um fim; ela serve de garantia ao propósito para qual foi

criada, e a norma CPC 07 fica aplicada corretamente.

É comum observar muitos contadores crédulos no lançamento correto ser no passivo

não circulante, e, após o prazo prescricional, o saldo ser remetido para reservas no patrimônio.

Não se vê desta forma tão conservadora, tão arraigada ao princípio da prudência, mas,

sim, por meio de uma análise contextual mais ampla.

Se na empresa em exercício for reconhecida como reserva em benefício fiscal no

patrimônio líquido, extraído do lucro do exercício, estará refletindo, por meio da demonstração

de seus resultados, o valor de imposto devido e sua redução pelo benefício, dando ao analista e

a todos os usuários da informação contábil a noção de receitas e despesas com o tributo,

podendo eles analisar o impacto na empresa, estando ela com ou sem o benefício, gerando assim

uma informação útil e mais concisa. Se o reconhecimento é através do passivo não circulante,

dado o critério de obrigação pelo não cumprimento do benefício, ficam tolhidos aos analistas e

aos usuários da informação contábil perpassar a demonstração do resultado da empresa afim de

que não haja engano, pois, a operação tem reflexo direto em receitas e despesas por terem

incorrido efetivamente.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O dilema contábil, discorrido no presente artigo, tem, para o Estado de SC, uma grande

relevância. Afinal, é um estado historicamente pautado na indústria têxtil, cuja base econômica

está enraizada nesse ramo da indústria, e, por conta disso, tem uma dependência muito grande

do setor produtivo. Essa dependência foi criada pelo movimento econômico e pela cultura têxtil,

que, por sua vez, acabaram criando uma dependência da população. Nesse sentido, as políticas

econômicas do Estado são de maximizar o setor, procurando manter a sua vanguarda e ao

mesmo tempo minimizar eventuais impactos em sua economia, visto o cenário econômico

global.

Para minimizar os efeitos da concorrência externa, o Estado de SC criou, por meio do

decreto supramencionado, um benefício fiscal, o qual consistia em ter como resultado final a

redução da alíquota do ICMS de 17% para 3%. Para que o benefício fosse mantido, algumas

obrigações previstas no decreto deveriam ser atendidas. Foi nesse momento que começaram os

problemas, pois atender aos requisitos significaria minimizar o ganho com a redução dos

tributos. Assim, algumas argumentações quanto ao critério de contabilização deste ganho

tributário, os contadores dessas empresas permearam.

Basicamente, ocorreram três formas de contabilização. A primeira, como receita

financeira, até por uma questão de melhora na análise da demonstração do resultado do

exercício; a segunda, como um passivo, visto que, se a empresa não cumprisse os requisitos do

benefício, ela poderia ser cobrada pelo benefício obtido; e a terceira, que atualmente é a usada,

lançada como receita, incorpora o resultado do ano ao patrimônio líquido, e o valor do benefício

é deslocado da conta de lucros para uma conta de reserva de subvenção governamental.

Esse último foi considerado o melhor entendimento, visto que a receita do ganho

tributário é mensurada, porém o lucro que ela gera que não é financeiro, mas econômico,

ficando reservado, não sendo utilizado para todas as possibilidades que esse lucro do exercício

permite, como por exemplo, ser distribuído aos sócios. Para atender os requisitos do benefício

que impõe contrapartida às empresas que o utilizam, o valor está segregado no grupo patrimônio

líquido, sendo assim, reconhecido uma dívida com terceiros. Todas as três alternativas foram

analisadas no decorrer da aplicação do decreto fiscal, porém, para a decisão contábil da melhor

aplicação, ficaram alguns critérios que envolvem a norma contábil, a necessidade de resultado

da empresa e a análise de balanço, pois cada critério de contabilização gerava um resultado

econômico adverso na análise dos fomentadores de crédito. Tendo em vista que a situação

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financeira do setor era muito severa, houve esses critérios diferentes, até se obter o que mais

seria próximo ao que preceituava a legislação contábil.

Imagina-se que questões como essa, abordada neste trabalho, tragam cada vez mais a

necessidade de aproximar a contabilidade e a administração das empresas em torno de uma

discussão sobre como aplicar a norma contábil de maneira a satisfazer as necessidades da

empresa sem macular os números para os terceiros interessados e usuários desta informação.

Embora uma decisão de lançamento contábil venha ser benéfica para a empresa, é

necessário, justo e correto que ela venha respeitar os limites das normas - é para isso que elas

existem - e que seja feito de forma concisa, transparente, tornando-se pública por meio de seu

maior instrumento de divulgação: as demonstrações contábeis em notas explicativas.

Não se deve perder a compreensão de que a contabilidade é uma ciência social que, de

forma ativa, é usada para medir dados econômicos e pautar decisões de terceiros sobre

investimentos e empréstimos, o que torna extremamente necessária a aplicação técnica das

normas contábeis nas empresas. Neste trabalho, a norma que buscou ser atendida é o CPC 07

R1, e acredita-se que o mesmo seja atendido em sua essência e não apenas em sua forma,

garantindo assim, aos usuários da informação, uma situação transparente deste procedimento

contábil especifico do setor econômico estudado.

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6. REFERÊNCIAS Azevedo, Osamar Reis. Comentários às novas regras contábeis brasileiras / 4 ed. Sao Paulo: IOB 201.0 Brasil. Lei 11.638 de 27 de dezembro de 2007 – Trata sobre as Normas Internacionais de Contabilidade. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em 29/01/2016 COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). CPC 07 (R1) – Subvenção e Assistência Governamental. Disponível em: <www.cpc.org.br>. Acesso em 29/01/2016 COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). CPC 25 – Provisões, Ativos Contingentes e Passivos Contingentes. Disponível em: <www.cpc.org.br>. Acesso em 29/01/2016 Carvalho, L. Nelson. Contabilidade Internacional: aplicação das IFRS 2005 / L. Nelson Carvalho, Sirlei Lemes, Fábio Moraes da Costa. – 1 ed. – 3 reimpr. – São Paulo: Atlas, 2009. Manual de normas internacionais de contabilidade: IFRS versus normas brasileiras / Ernst & Young, FIPECAFI – São Paulo: Atlas, 2009. Normas internacionais de contabilidade IFRS / Deloitte – 1 ed. – 3 reimpr. – São Paulo: Atlas 2009 Santa Catarina, Decreto Lei n. 1669 de 08/09/2008. Dispõe sobre o Crédito Presumido Têxtil. Disponível em: <http://legislação.sef.sc.gov.br>. Acesso em 29/01/2016