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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEBIATRIA VALÉRIA MAYALY ALVES DE OLIVEIRA Dor no ombro em adolescentes atletas: prevalência, fatores associados e sua influência sobre medidas de função do membro superior. PETROLINA PE 2016

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEBIATRIA

VALÉRIA MAYALY ALVES DE OLIVEIRA

Dor no ombro em adolescentes atletas: prevalência, fatores associados e sua

influência sobre medidas de função do membro superior.

PETROLINA – PE

2016

2

VALÉRIA MAYALY ALVES DE OLIVEIRA

Dor no ombro em adolescentes atletas: prevalência, fatores associados e sua

influência sobre medidas de função do membro superior.

PETROLINA – PE 2016

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Hebiatria da Universidade de Pernambuco, como requisito para obtenção do título de Mestre em Hebiatria. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Cappato de Araújo

3

4

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, deste que citada à fonte.

5

Às pessoas mais importantes

da minha vida: Edson, Vanice e Vanessa.

6

AGRADECIMENTOS

Em uma retrospectiva rápida dos últimos dois anos, o sentimento que mais

prevalece entre todos os momentos desta caminhada é a gratidão. Grata ao tempo,

que diante dos esforços e abdicações por mim vividas, me presenteou com pessoas

as quais aqui dedico meus sinceros agradecimentos, por contribuírem com meu

crescimento profissional e pessoal. Grata a Deus, pois pude sentir sua presença do

começo ao fim, sempre.

Grata a minha família, em especial aos meus pais Edson e Vanice, os quais

me servem de inspiração e me fazem acreditar que a dedicação e o amor sempre

trazem boas colheitas, a eles o meu eterno amor. A minha irmã e ao meu cunhado

Vanessa e Igor, pelo apoio, aconselhamento, pela torcida e por saber que posso

sempre contar com vocês. Agradeço também ao meu companheiro Valmir, por toda

dedicação, incentivo, amor mas também muita paciência. Tenho refletido inúmeras

vezes o quanto sou feliz pela família que tenho.

Grata aos meus amigos, os quais me sinto mais ainda abençoada por não

serem poucos. Aline, Mayra e Alaine, minhas Hebes do Ubaia, quanta coisa aprendi

com cada uma. Era difícil pessoas tão diferentes não terem também opiniões e

pensamentos diferentes, mas acho que isso nos completa e posso afirmar que com

o tempo transformou-se em irmandade. Hítalo, meu irmão de coração, sempre ao

meu lado na hora da alegria e do aperto, por tudo que você foi e é para mim: muito

obrigada! Aos quatro, pelos oito anos de amizade e peculiaridade de cada um, estou

certa em dizer que sou o conjunto de vários vocês. Impossível listar todos os amigos

(velhos e novos) que torceram por mim, mas agradeço mentalmente a todos pela

preocupação e incentivo!

Existem pessoas que marcam nossa vida, que despertam algo valioso em

nós, que abrem nossos olhos de uma forma irreversível e mudam nosso modo de

ver o mundo. Rodrigo Cappato foi uma dessas pessoas, não só por me orientar e

me inspirar sempre a fazer da ciência uma ferramenta de questionamento e

instrumento para mudanças positivas e necessárias, mas por me fazer acreditar que

posso ser além do que imagino. Agradeço também a Carolina Pitangui por conseguir

7

ser simultaneamente para mim uma mãe, amiga, irmã e professora, um espelho

nobre por dentro e por fora.

―O segredo de um grande sucesso está no trabalho de uma grande equipe‖,

esta frase a qual usávamos nos folhetos da coleta reflete o quanto nossa equipe tem

um valor para mim. Aline, Alaine, Mayra, Hítalo, Muana, Ingrid, Vinícius e Gabriel,

todo esse trabalho foi fruto de meses que eu com certeza não teria conseguido sem

a responsabilidade, dedicação, abdicação, esforço e compromisso de vocês.

Obrigada pelo companheirismo e por fazer esse trabalho ser tão divertido. Como se

dizem por aí: nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos! Muito obrigada!!!

Agradeço também aos demais integrantes e ex-integrantes do LABSED, em

especial aos amigos Natália, André, Muana, Juliane e Laísla por estarem sempre

dispostos a me ajudar, me ensinar, aconselhar e principalmente, por torcerem por

mim.

Agradeço a todos os professores do Programa em Hebiatria e Educação

Física, pelo conhecimento compartilhado e pela contribuição no desenvolvimento

deste trabalho. A agência de fomento CAPES, pelo auxílio. À secretaria de esportes

de Petrolina, escolas e centros esportivos pela permissão da pesquisa. Aos

treinadores pelo acolhimento e colaboração. Aos pais e representantes dos

adolescentes por depositarem confiança na nossa equipe e permitirem a execução

da pesquisa e principalmente a todos os adolescentes, razão do estudo, muito

obrigada pela dedicação, paciência e pela diversão que era estar com vocês.

Obrigada também as seguintes pessoas: funcionários dos centros de coleta,

funcionários da UPE, amigos da Hebiatria, colegas da Faculdade São Francisco de

Juazeiro, especialmente Bruna, funcionários da gráfica BR-Tradex (Obama e Ceará)

que acharam impossível eu lembrar deles nesta hora, e a todos que puderam

acompanhar esta trajetória.

Meu verdadeiro obrigada a todos vocês!

8

RESUMO

OLIVEIRA, V.M.A. Dor no ombro em adolescentes atletas: prevalência, fatores associados e sua influência sobre medidas de função do membro superior. 2015. 113 f. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Hebiatria da Universidade de Pernambuco, Recife, 2015. Modalidades esportivas demandam máxima eficiência do membro superior,

especialmente do ombro. A imaturidade musculoesquelética, evento inerente à

população adolescente, quando aliada a falhas nas habilidades motoras do gesto

esportivo, podem expor esta população a maiores relatos de dor e lesões esportivas.

Com base no exposto, foram realizados três estudos com foco em dor e alterações

no ombro de adolescentes atletas com nível amador. O primeiro estudo tem como

objetivo abordar a prevalência de dor no ombro e verificar sua possível associação

entre fatores pessoais e esportivos e se esta queixa altera medidas de função do

membro superior. Para tanto, foi solicitado aos sujeitos (n=310) o preenchimento de

um questionário com perguntas pessoais, esportivas e sobre funcionalidade do

membro superior (Quick-DASH); mensuração de massa corporal, estatura, amplitude

de movimento passiva de rotação dos ombros e avaliação da estabilidade do

membro superior pelo CKCUES-teste. Os resultados mostraram uma alta

prevalência de dor no ombro em adolescentes atletas (43,5%), sendo esta dor

associada a maior idade (15 e 19 anos) e praticantes da modalidade handebol e

judô. O objetivo do segundo estudo foi avaliar a prevalência de discinese escapular

e sua possível associação com dor no ombro e fatores pessoais e esportivos bem

como se esta condição influencia em medidas de função do membro superior.

Foram avaliados adolescentes atletas do sexo masculino (n=178) por meio do

mesmo questionário e procedimento de avaliação, somado à avaliação da discinese

escapular pelo método observacional dinâmico por filmagem. Foi observada alta

prevalência de discinese escapular (56,7%) porém não foi possível observar

associação entre discinese escapular e dor no ombro, além disso, a alteração no

posicionamento escapular não afetou as medidas de função do ombro. As

modalidades específicas do membro superior e o volume de treinamento

aumentaram as chances de presença de discinese escapular. Por fim, o objetivo do

terceiro estudo foi avaliar a confiabilidade e concordância do CKCUES-teste em

adolescentes, ferramenta a qual mensura a estabilidade do membro superior em

cadeia cinética fechada. Foram avaliados 25 adolescentes do estudo piloto entre 15

9

e 19 anos, de ambos os sexos. Os sujeitos foram solicitados a executar o CKCUES-

teste por duas vezes com intervalo de sete dias entre as avaliações. Por meio da

análise de coeficiente de correlação intraclasse e plotagem de Bland-Altman foi

possível observar que o CKCUES-teste é uma medida questionável quando

realizada em apenas uma única sessão de familiarização, e entre os escores

propostos, o escore de potência do CKCUES-teste parece ser o mais viável para

utilização em adolescentes.

Palavras-chave: adolescente; ombro; dor; atletas.

10

ABSTRACT

OLIVEIRA, V.M.A. Shoulder pain in athletes adolescents: prevalence, associated factors and their influence on upper limb function measures. 2015. 113 f. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Hebiatria da Universidade de Pernambuco, Recife, 2015. Sports demand maximum upper limb efficiency, especially the shoulder.

Musculoskeletal immaturity, event inherent in adolescents, when combined with

shortcomings in the motor skills of the sport gesture, can expose this population to

increased reports of pain and sports injuries. Based on this, there were three studies

focusing on pain and changes on the shoulder of adolescent athletes to amateur

level. The first study aims to address the prevalence of shoulder pain and verify its

possible association between personal and sporting factors and this complaint

amends upper limb function measures. To that end, we asked the subjects (n = 310)

filling out a questionnaire with personal, sports and questions about upper limb

function (Quick-DASH); measurement of body weight, height, passive range of

motion of rotation of the shoulders and evaluation of upper limb stability by CKCUES

test. The results showed a high prevalence of shoulder pain in adolescent athletes

(43.5%), which is pain associated with older age (15 to 19) and practitioners of

handball and judo sport. The purpose of the second study was to evaluate the

prevalence of scapular dyskinesis and its possible association with shoulder pain and

personal and sporting factors and if this condition influence on upper limb function

measures. For this, we assessed adolescent males (n = 178) using the same

questionnaire and assessment procedure, coupled with the assessment of scapular

dyskinesis by the dynamic observational method for shooting. A high prevalence of

scapular dyskinesis (56.7%), but was not observed association between dyskinesis

and shoulder pain moreover, the change in shoulder position did not affect the

function of the shoulder measures. The specific modalities of the upper limb and the

volume of training increased the chances of the presence of scapular dyskinesis.

Finally, the objective of the third study was to evaluate the reliability and agreement

of CKCUES-test in adolescents, a tool which measures the stability of the upper limb

in closed kinetic chain. This study evaluated 25 adolescents on pilot study between

15 and 19 years, of both sexes. The subjects were asked to perform the CKCUES

test twice with an interval of seven days between assessments. By intraclass

correlation coefficient analysis and Bland-Altman it was observed that the CKCUES

11

test is a questionable measure when held in only one familiarization session, and

among the proposed scores, the power score CKCUES- test seems to be the most

feasible for use in adolescents.

Keywords: adolescents; shoulder pain; athletes.

12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Estudos sobre prevalência de dor no ombro em adolescentes atletas de

acordo com a localidade do estudo, tamanho da amostra, faixa etária amostral, tipo

de modalidade esportiva e instrumento de avaliação da dor. ................................... 32

13

LISTA DE FIGURAS ARTIGO 1 Figura 1 - Modelo teórico para investigação da presença de dor no ombro em

adolescentes atletas. Características pessoais e esportivas.................................... 46

ARTIGO 2

Figura 1 - Modelo teórico para investigação da presença de discinese no ombro em

adolescentes atletas. ................................................................................................. 66

ARTIGO 3

Figura 1 - Posicionamento para realização do CKCUES-teste. Posição inicial (A) e

execução do toque (B). ............................................................................................. 81

Figura 2 - Gráfico de Bland-Altman para a média de toques do CKCUES-teste. ..... 84

Figura 3 - Gráfico de Bland-Altman para o escore normalizado do CKCUES-teste. 84

Figura 4 - Gráfico de Bland-Altman para o escore de potência do CKCUES-teste. . 85

14

LISTA DE TABELAS

ARTIGO 1

Tabela 1 - Características pessoais e esportivas da amostra total e estratificada por

sexo representadas em média, desvio padrão, frequência absoluta e relativa

(n=310). ..................................................................................................................... 47

Tabela 2 - Valores absolutos (relativos) das taxas de prevalência de dor no ombro

no último ano e atual entre adolescentes atletas por modalidade esportiva. ............ 48

Tabela 3 - Frequência absoluta e relativa das variáveis relacionadas com a queixa

de dor e desempenho do ombro entre adolescentes atletas (n=168). ...................... 48

Tabela 4. Associação das variáveis independentes com a presença de dor no ombro

em adolescentes atletas (n=310). ............................................................................. 49

Tabela 5. Comparação das medidas de função do ombro: Quick-DASH, Quick-

DASH opcional esportivo, déficit de rotação interna e escore de potência do

CKCUES-teste (mediana e amplitude interquartil) e amplitude de movimento de

rotação externa (média e desvio padrão) entre os grupos sem e com dor (n=135). . 51

ARTIGO 2

Tabela 1. Características pessoais e esportivas da amostra total e estratificada por

ausência e presença de discinese escapular. Valores numéricos representados em

média e desvio padrão e categóricos em frequência absoluta e relativa (n=178). .... 67

Tabela 2. Associação das variáveis independentes com a presença de discinese

escapular em adolescentes atletas (n=178). ............................................................. 68

Tabela 3. Mediana (amplitude interquartil) das medidas de função do ombro entre

adolescentes com e sem discinese escapular (n=178). ............................................ 69

ARTIGO 3

Tabela 1. Média e desvio padrão do teste (avaliação) e reteste (reavaliação) dos

escores do CKCUES-teste. Valores do coeficiente de correlação intraclasse (CCI),

intervalo de confiança de 95% (IC95%), erro padrão da medida (EPM) e mínima

mudança detectável (MMD) dos escores de média de toques, normalizado e

potência do CKCUES-teste. ...................................................................................... 83

15

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 18

2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 22

2.1 Dor no ombro em atletas .................................................................................. 22

2.2 Adolescentes atletas ........................................................................................ 25

2.2.1 Lesões musculoesqueléticas em adolescentes atletas .............................. 27

2.3. Dor no ombro em adolescentes atletas ........................................................... 29

3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 35

3.1. Objetivo Geral ................................................................................................. 35

3.2. Objetivos Específicos ...................................................................................... 35

4 PROPOSTA DE ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ............................................. 37

5 ARTIGO 1 - Dor no ombro em adolescentes atletas: prevalência, fatores

associados e impacto sobre medidas de função do membro superior. ............ 38

5.1 RESUMO ......................................................................................................... 38

5.2 ABSTRACT ..................................................................................................... 39

5.3 CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................... 41

5.4 MÉTODOS ....................................................................................................... 42

5.5 RESULTADOS ................................................................................................ 46

5.6 DISCUSSÃO .................................................................................................... 51

5.7 CONCLUSÃO .................................................................................................. 56

5.8 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 56

6 ARTIGO 2 - Discinese escapular não está relacionada com dor e não altera a

função do ombro em adolescentes atletas amadores. ........................................ 59

6.1 RESUMO ......................................................................................................... 59

6.2 ASBTRACT ..................................................................................................... 60

6.3 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 61

6.4 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 62

6.5 RESULTADOS ................................................................................................ 66

6.7 CONCLUSÃO .................................................................................................. 72

6.8 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 72

7 ARTIGO 3 - Avaliação da confiabilidade do Closed Kinetic Chain Upper

Extremity Stability Test (CKCUES-teste) para adolescentes ............................... 75

7.1 RESUMO ......................................................................................................... 75

7.2 ABSTRACT ..................................................................................................... 76

7.3 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 78

7.4 MÉTODOS ....................................................................................................... 79

16

7.5 RESULTADOS ................................................................................................ 82

7.6 DISCUSSÃO .................................................................................................... 85

7.8 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 90

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 94

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 95

APÊNDICE 1 - CARTA DE ANUÊNCIA ................................................................. 101

APÊNDICE 2- TERMO DE ASSENTIMENTO ........................................................ 102

APÊNDICE 3 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO........... 104

APÊNDICE 4- QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO ................................................. 106

ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO QUICK-DASH .......................................................... 107

ANEXO 2 - INTENSIDADE E LOCALIZAÇÃO DA DOR ........................................ 111

ANEXO 3 - ESCALA DE AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DO OMBRO DO

ESPORTISTA (EROE) ............................................................................................ 112

17

INTRODUÇÃO

18

1 INTRODUÇÃO

O complexo articular do ombro é parte integrante da cadeia cinética do

membro superior. Devido à grande mobilidade desta articulação, existe a

necessidade da ação coordenada dos estabilizadores estáticos e dinâmicos com o

intuito de proporcionar adequada estabilidade para assegurar a movimentação

multidirecional do ombro (HUDSON, 2010). Apesar da constante exigência motora

em garantir, de forma simultânea, a estabilidade e mobilidade do ombro, sabe-se

que há um limite tênue entre o movimento ótimo e possíveis danos articulares

(LUBIATOWSKI et al., 2014).

As modificações na integridade dos estabilizadores dinâmicos e estáticos

podem gerar ao ombro potenciais lesões e queixas dolorosas. Problemas como a

síndrome do impacto no ombro, instabilidade articular, lesões no labrum e nos

tendões do manguito rotador ou possíveis disfunções na movimentação escapular,

são muito comuns principalmente em indivíduos que praticam atividade física ou

laboral com o membro superior acima da cabeça (EDMONDS; DENGERINK, 2014;

HANCHARD et al., 2013; SILVA, 2010). Nesta perspectiva, estudos epidemiológicos

têm se preocupado em identificar a dor no ombro nas diferentes populações, e os

resultados encontrados são expressivos.

Em uma revisão sistemática publicada em 2004 com dados de prevalência de

dor no ombro na população geral, observou-se nas diversas faixas etárias variação

entre 6,7% a 67,7% (LUIME et al., 2004). Considerando a população atleta,

Mohseni-Bandpei et al. (2012), propuseram verificar a prevalência de dor no ombro

em praticantes de diferentes modalidades esportivas e observaram que esta

condição era presente em 21,4% dos atletas, com maior frequência conforme a

variação temporal, sendo identificada prevalência de dor nos últimos seis meses de

29,0%, no último ano de 38,8% e na vida de 41,6%.

Adicionalmente, Seminati & Mineti (2013) verificaram em revisão sistemática

uma média de dor no ombro de 19% dos atletas de diferentes faixas etárias da

modalidade voleibol. Estes resultados alertam sobre a comum ocorrência de dor no

ombro nas mais diversas faixas etárias, e ressaltam que tais queixas podem

19

representar maiores gastos com a saúde, absenteísmo laboral ou afastamento

esportivo de forma temporária ou até mesmo definitiva (LUIME et al., 2004).

Com base no exposto, a literatura salienta a importância de explorar os

possíveis fatores de risco para o surgimento de dor no ombro em atletas. Tais

fatores podem variar de acordo com as características pessoais (MOHSENI-

BANDPEI et al., 2012; VANDERLEI et al., 2013), esportivas, como a modalidade, a

duração da sessão de treinamento, frequência de treinamento, tempo de prática, os

mecanismos e momento da lesão (KRAJNIK et al., 2010; MOHSENI-BANDPEI et al.,

2012; SPINKS; MCCLURE, 2007; VANDERLEI et al., 2013, 2014), como também

características de desempenho funcional, tendo em vista que estudos comprovam

que atletas com lesão e/ou dor no ombro apresentam menores índices de função,

alterações na amplitude de movimento articular, redução nos níveis de força,

diminuição na propriocepção articular e alterações no movimento da escápula

(HUDSON, 2010; IIDA et al., 2014; REESER et al., 2010; TATE et al., 2012; WILK et

al., 2009). Desse modo, todas essas características supracitadas revelam-se como

potenciais fatores para identificação de possíveis riscos de lesões desta articulação,

e podem exercer influências direta ou indiretamente sobre o desempenho do atleta

(MYKLEBUST et al., 2011; SHANLEY; THIGPEN, 2013).

O desenvolvimento de dor no ombro pode estar presente em diferentes faixas

etárias. No entanto, a investigação sobre lesões e dor musculoesquelética em

atletas torna-se ainda mais peculiar na população adolescente. Afinal, os

adolescentes encontram-se em fase de imaturidade musculoesquelética, que por

sua vez é decorrente de eventos inerentes à faixa etária tais como a incompleta

ossificação das placas epifisárias, maior lassidão ligamentar, cartilagens em

desenvolvimento e sistema neuromuscular em maturação (ADIRIM; CHENG, 2003;

CASSAS; CASSETTARI-WAYHS; SYSTEM, 2006; MERKEL; JR, 2012; MERKEL,

2013; WALTON et al., 2002; ZAREMSKI; KRABAK, 2012). Dessa forma, a

imaturidade do sistema musculoesquelético justifica a maior chance dos

adolescentes atletas estarem expostos à lesões (MERKEL; JR, 2012; MERKEL,

2013).

De acordo com o National Center for Sports Safety, mais de 3,5 milhões de

atletas americanos com idade máxima de 14 anos recebem atendimento médico

para lesões esportivas por ano (MERKEL; JR, 2012; MERKEL, 2013). Além disso,

20

cerca de 2,6 milhões das lesões avaliadas em emergências nos Estados Unidos

estão relacionadas a atletas de 5 a 24 anos (BURT; OVERPECK, 2001). No Brasil,

um estudo recente realizado por Vanderlei et al., (2014) identificou uma frequência

de lesões esportivas em adolescentes de 21% e taxa de lesão de 1.30 para cada

1.000 horas de exposição. Além disso, os estudos voltados à população adolescente

sustentam que a dor no ombro tem sido uma realidade frequente na prática

esportiva. Auvinen et al. (2007) avaliaram 5.993 adolescentes finlandeses de 15 e 16

anos e observaram que altos níveis atividade física apresentavam significativas

associações com dores no pescoço e no ombro.

Ao analisar a incidência de lesão no ombro em jovens do ensino médio de

diferentes modalidades esportivas, Bonza et al. (2009) observaram uma taxa de

lesão no ombro de 2.27 para 10.000 exposições, sendo esta taxa maior na

modalidade do futebol americano. Tate et al., (2012) observaram em atletas

nadadoras de 8 a 19 anos de idade uma prevalência de dor e disfunção no ombro

entre 18,6% a 22,6%. No cenário brasileiro, a prevalência de dor no ombro

encontrada em adolescentes que praticam natação foi de 36,9% (VENÂNCIO;

TACANI; DELIBERATO, 2012) e de 12,5% para os praticantes de voleibol

(VANDERLEI et al., 2013).

Em suma, os estudos voltados para identificação da dor no ombro tendem a

ser analisados em uma única modalidade esportiva e poucos são aqueles que

avaliam a prevalência de dor no ombro apenas nas modalidades que exigem o uso

do membro superior. Esta carência é ampliada quando se trata de estudos em

países sul-americanos e em adolescentes.

Embora tenha-se visto o envolvimento crescente de adolescentes nas

atividades esportivas, por meio de programas de incentivo ao esporte no Brasil, a

assistência em saúde e a fiscalização de lesões em atletas adolescentes, ainda é

falha, principalmente no que se refere aos atletas amadores. Dessa forma, visto que

as lesões podem repercutir no afastamento temporário ou definitivo do atleta e

aumentar os gastos públicos em saúde, expandir as investigações sobre a

ocorrência da dor no ombro em atletas pode ser considerada uma forma de auxílio

para elaboração de programas de intervenção sejam eles promovendo a saúde,

prevenindo as lesões ou reabilitando estes atletas.

21

REFERENCIAL TEÓRICO

22

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Dor no ombro em atletas

Para garantir um bom rendimento no esporte, os atletas encontram-se em

constante aperfeiçoamento de sua técnica esportiva (DAOLIO, 2002). Diante de

inúmeros conceitos, entende-se como técnica esportiva ou gesto esportivo a ação

motora eficiente em termos biomecânicos, fisiológicos e esportivos o qual o atleta

precisa alcançar, por meio de sucessivas tentativas, para obter melhor resultado

técnico (LEES, 2002). Para cada modalidade esportiva exige-se uma ação gestual

predeterminada e a perfeita execução desses movimentos pode determinar o

sucesso no objetivo esportivo, além de acrescer nas etapas de formação do atleta.

Os esportes em que predomina o uso do membro superior a exemplo do

voleibol, handebol, natação, basquete entre outros, exigem do atleta a máxima

eficiência da cadeia cinética do membro superior para realização de um gesto

esportivo ótimo. O bom funcionamento desta cadeia cinética é caracterizado pela

somatória da adequada elasticidade dos tecidos, força, resistência muscular e

propriocepção (KACZMAREK et al., 2014; SCIASCIA et al., 2012). Nesses esportes

a execução do gesto esportivo pode gerar ao complexo do ombro grandes

sobrecargas em um curto período de tempo, e qualquer variação na mobilidade,

estabilidade, força ou flexibilidade do ombro do atleta pode expor a episódios de

estresse articular com potenciais microtraumas, aumentando a vulnerabilidade a dor

e lesões (HUDSON, 2010; KACZMAREK et al., 2014; PARK et al., 2003; SCIASCIA

et al., 2012).

De fato, estes atletas se deparam com o que se considera ―contradição

inerente dos atletas‖, no qual o ombro precisa ser móvel o suficiente para realizar o

gesto esportivo e estável o suficiente para prevenir o risco de lesões (BORSA;

LAUDNER; SAUERS, 2008). Quando este equilíbrio é perturbado, as forças

resultantes do movimento se dissipam inadequadamente, sobrecarregando

seletivamente algum componente articular. Diversas condições podem causar a dor

no ombro do atleta, as quais podem variar de tendinites, lesões nos tendões do

manguito rotador, instabilidade articular, lesões no labrum, síndrome do impacto,

23

fraturas por ―stress‖ e até lesões nervosas, vasculares ou oclusões venosas

(EDMONDS; DENGERINK, 2014; LUBIATOWSKI et al., 2014; MANSKE, ROBERT;

ELLENBECKER, 2013; SILVA, 2010; WILK et al., 2009).

Estudos revelam que a presença de dor no ombro é comum entre as diversas

modalidades esportivas. Tate et al., (2012) analisaram 236 nadadoras americanas

de 8 a 77 anos de idade e observaram variações entre a faixa etária e prevalência

de dor, satisfação e função no ombro. A faixa etária compreendida entre 8 e 11 anos

apresentou prevalência de 21,4%, entre 12 e 14 anos de 18,6%, 22,6% em

nadadoras entre 15 e 19 anos e 19,4% em nadadoras adultas. Ainda na modalidade

da natação, Venâncio et al., (2012) observaram prevalência total de dor no ombro de

39,6% em atletas brasileiros de ambos os sexos nas categorias petiz, infantil, juvenil,

júnior e sênior. Quanto à modalidade handebol, Myklebust et al., (2011) verificou

uma prevalência de dor no ombro de 36% no momento da avaliação e 22% de dor

prévia a avaliação em 179 jogadoras.

Atletas da modalidade voleibol também foram avaliados quanto à presença de

dor no ombro. Seminati & Minetti (2013) realizaram um estudo de revisão sistemática

sobre prevalência de dor e lesão no ombro em atletas de voleibol entre o período de

1987 a 2012. Foi possível observar ampla variação nas taxas de prevalências (2% a

44%) nos diferentes estudos selecionados. Dessa forma, os autores apresentaram

uma média de 19,0% e justificam que a flutuação entre as prevalências decorreu dos

diferentes critérios metodológicos aplicados nos estudos. Reeser et al., (2010)

observaram em 422 atletas de voleibol uma prevalência de relato de dor no ombro

em 60% no sexo feminino e 57% no sexo masculino, sendo essas queixas em sua

maioria no membro dominante. Ainda, cerca de 64% dos atletas que relataram

problemas no ombro eram atacantes e quase metade (46%) destes acreditavam que

os sintomas no ombro interferiam nas habilidades e no desempenho para jogar vôlei.

Atualmente tem-se visto estudos que propõem verificar prevalência/incidência

de dor no ombro em atletas de diferentes tipos de modalidades, incluindo aquelas

que não enfatizam o uso do membro superior (BONZA et al., 2009; JONASSON et

al., 2011; MOHSENI-BANDPEI et al., 2012). Bonza et al., (2009) acompanharam

atletas de diversas modalidades esportivas (futebol americano, futebol, basquete,

voleibol, beisebol, luta e softball) por um período de dois anos com o intuito de

verificar a taxa de lesão no ombro, por meio do cálculo da exposição do atleta a

24

lesões. Dessa forma, foi observada uma taxa de 2.27 para cada 10.000 exposições.

Cerca de 45% dos atletas com lesões no ombro retornaram às práticas esportivas

com menos de uma semana pós-lesão, contudo, 22,9% e 6,2% precisaram de um

afastamento superior há três semanas e necessitaram de tratamento cirúrgico,

respectivamente. A modalidade que apresentou maior incidência de lesão no ombro

foi o futebol americano, seguido por lutas e beisebol.

Jonasson et al., (2011) avaliaram a prevalência do relato de dor na coluna e

em diferentes articulações das extremidades em 75 atletas do sexo masculino de

cinco modalidades esportivas (levantamento de peso, hóquei no gelo, salto

ornamental, lutadores e orienteers). O estudo revelou uma prevalência geral de dor

no ombro no último ano de 21%. Quando analisada a modalidade de forma isolada,

a prevalência se distribuiu em 50% nos levantadores de peso, 45% nos lutadores,

46% em atletas de orienteers, 38% jogadores de hóquei no gelo e 35% para saltos

ornamentais. Por fim, Mohseni-Bandpei et al., (2012) propuseram avaliar a

prevalência de dor no ombro em atletas iranianos de elite em modalidades que

enfatizam o membro superior (natação, handebol, voleibol, basquete, remo e luta).

Em seu estudo, composto por 630 atletas, pretendeu-se avaliar a prevalência em

diferentes intervalos de tempo: dor no ombro recente, há seis meses, há um ano e

durante a vida, e foi possível observar valores totais de 21,4%, 29%, 38,8% e 41,6%,

respectivamente.

Sumariamente, a literatura a respeito da dor no ombro nas diferentes

modalidades esportivas específicas de membro superior ainda é escassa,

principalmente na população brasileira. Torna-se evidente a necessidade de estudos

a fim de determinar a prevalência de dor no ombro em atletas e identificar os

possíveis fatores que podem estar associados a estas queixas. Diante do impacto

que a dor no ombro pode trazer para a saúde do atleta, estudos epidemiológicos

tornam-se relevantes para contribuir com estratégias que reforcem a inserção dos

profissionais de saúde no acompanhamento tanto preventivo quanto de reabilitação

destes adolescentes.

25

2.2 Adolescentes atletas

A prática regular de atividade física está associada a benefícios para a saúde

e diminuição dos riscos de mortalidade e desenvolvimento de doenças crônicas nos

adultos (CDC, 1997). Crianças e adolescentes aparentemente são mais ativas

fisicamente que os adultos, porém a participação desta população em práticas

saudáveis está reduzindo, especialmente entre a população adolescente (CDC,

2014). Nos países desenvolvidos, os desafios para melhoria da saúde por meio de

incentivo à prática de atividade física têm sido concentrados em programas

institucionais e governamentais (CDC, 1997).

De acordo com o Physical Activity Guidelines Advisory Committee (2008),

níveis regulares de atividade física durante a infância e adolescência promovem

melhoras na força, resistência, estimula a produção óssea e muscular, ajudam no

controle de peso, na redução da ansiedade e ―stress‖, aumentam a autoestima e

promovem a redução do risco de desenvolver obesidade e doenças crônicas como

diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. Além disso, tem sido observado

melhora no rendimento escolar e acadêmico em praticantes de atividade física

(CDC, 2010).

Janssen & LeBlanc (2010) realizaram uma revisão sistemática a respeito da

atividade física em crianças e adolescentes escolares. O estudo reafirma a

associação entre benefícios à saúde e a participação dos jovens em atividades

físicas. E embora os autores aconselhem a realização de mais estudos que avaliem

os efeitos da atividade física sobre a saúde dos jovens, de forma a proporcionar

maiores evidências, temas como o controle dos níveis de colesterol e da pressão

arterial, síndrome metabólica, sobrepeso e obesidade, densidade mineral óssea e

depressão vem sendo documentados (HALLAL et al., 2006; JANSSEN; LEBLANC,

2010; REZENDE et al., 2014).

Para o The Physical Activity Guidelines for Americans (2008), a

recomendação para crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos é praticar atividade

física por pelo menos 60 minutos diários, com intensidade moderada a vigorosa. Em

2013, apenas 29% dos estudantes americanos do ensino médio relataram participar

de atividades físicas de acordo com esta orientação (CDC, 2014). No Brasil, estudos

mostram altos valores de prevalência de inatividade física independente das regiões.

26

Tenório et al., (2010) entrevistaram 4.210 estudantes de 14 a 19 anos no

Estado de Pernambuco - região nordeste do Brasil - e observaram insuficientes

níveis de atividade física em 65,1% dos entrevistados. Oehlschlaeger et al., (2004) e

Beck et al., (2011) verificaram respectivamente uma prevalência de inatividade física

em 39% e 61,2% dos adolescentes habitantes de cidades do sul do país. Diante dos

resultados encontrados, estes estudos reforçam o planejamento e implementação de

programas no Brasil que promovam a saúde e incentivem a prática regular de

atividade física.

Ainda, o The Physical Activity Guidelines for Americans e a Sociedade

Brasileira de Pediatria (2008) recomendam que os adolescentes devem se engajar

em atividades que durem 60 minutos ou mais, por pelo menos 3 vezes por semana,

exigindo um nível de intensidade vigorosa. Atividades que promovem este tipo de

esforço incluem esportes de raquete, basquete, futebol, dança, natação, treinamento

de força, ciclismo, entre outros (DOBBINS et al., 2013).

No ano de 2006, o Governo Federal implantou a Lei nº 11.438/06 ou Lei de

Incentivo ao Esporte, que permite que empresas e pessoas físicas invistam em

projetos esportivos previamente aprovados pelo Ministério do Esporte. Com isso, é

estabelecido benefícios fiscais para os contribuintes que garantem patrocínio ou

doações para projetos desportivos e paradesportivos. De acordo com o Ministério do

Esporte, programas e ações como o Bolsa-Atleta, Plano Brasil Medalhas, Centro de

Iniciação ao Esporte, Programa Esporte e Lazer da Cidade e Futebol Feminino

incitam a reforma/construção de campos, centros de treinamento e acomodações,

promovem seminários para atletas, professores, técnicos e praticantes, estimulam o

treinamento anual de equipes da área olímpica. Além disso, custeiam participações

em competições no exterior, eventos esportivos e escolinhas de esportes.

Especificamente, os programas Segundo Tempo e Atleta na Escola incentivam a

pratica esportiva de crianças e adolescentes em áreas de vulnerabilidade social e

escolares. Diante disso, as escolas e a comunidade têm potencial influência em

melhorar a saúde dos jovens, contribuindo com programas, instruções e serviços

que promovam a prática de exercícios físicos.

Embora a maioria dos estudos direcionem para análise dos benefícios à

saúde devido à pratica esportiva, especial atenção deve ser tomada com os riscos

de lesões no esporte. Dobbins et al., (2013) apresentam em uma revisão sistemática

27

os efeitos adversos das estratégias de promoção da atividade física em escolas.

Dentre eles, pode-se citar a idealização negativa do esporte devido à

obrigatoriedade na participação de aulas esportivas, o constrangimento que os

indivíduos com sobrepeso e obesidade podem passar diante dos pares

principalmente em relação às roupas para prática esportiva e destacadamente, o

risco de lesões dos tecidos moles associado às atividades físicas vigorosas.

Hallal et al., (2006) também em uma revisão sistemática, descrevem as

possíveis desvantagens da prática de atividade física evidenciadas na literatura tais

como a obrigatoriedade em praticar esportes durante a infância ou adolescência e

sua associação com inatividade física na vida adulta, o desenvolvimento de

distúrbios alimentares, a ocorrência de amenorreia nas atletas e agravantes

problemas musculoesqueléticos. Merkel (2013) em seu estudo que descreveu o

impacto positivo e negativo da prática esportiva na saúde do jovem, defende que há

risco inerente de lesões em todos os praticantes de esportes, sobretudo na

população adolescente.

2.2.1 Lesões musculoesqueléticas em adolescentes atletas

A iniciação precoce em esportes e especializações do esporte quando

combinadas com a falha no preparo físico, pode predispor a criança ou adolescente

às lesões esportivas (MERKEL, 2013; STRACCIOLINI et al., 2013). Diante dos

inúmeros incentivos à pratica esportiva, a inserção de atletas jovens em um

treinamento esportivo intenso ou em múltiplas modalidades esportivas os expõe a

maiores riscos de lesões agudas ou por overuse (ADIRIM; CHENG, 2003). Estas

lesões além de causarem dores e disfunções, diminuem a produtividade do atleta e

aumentam as despesas médicas; em alguns casos, podem trazer deficiências de

forma definitiva (CAINE; MAFFULLI; CAINE, 2008; COLLARD et al., 2008). Dessa

forma, as lesões podem repercutir de maneira negativa a curto e longo prazo tanto

no domínio físico quanto emocional do atleta (MERKEL, 2013; STRACCIOLINI et al.,

2013).

A maior vulnerabilidade das crianças e adolescentes às lesões é justificada

pela imaturidade musculoesquelética inerente à fase da vida. Tal imaturidade se

28

deve aos seguintes eventos: as placas epifisárias ou placas de crescimento ainda

não se encontram totalmente ossificadas nesta faixa etária, e algumas atividades

aumentam a possibilidade de um fechamento precoce; a quantidade de colágeno do

tipo III é significativamente maior nos adolescentes do que nos adultos, promovendo

maior lassidão ligamentar; a cartilagem de crescimento fica mais susceptível ao

stress e por tanto sujeita às lesões por overuse; e a imaturidade nas habilidades

motoras também é vista como um fator contribuinte para aumentar o risco de lesões

(ADIRIM; CHENG, 2003; CASSAS; CASSETTARI-WAYHS; SYSTEM, 2006;

WALTON et al., 2002; ZAREMSKI; KRABAK, 2012).

De acordo com Adirim & Cheng (2003), nos adolescentes pré-púberes os

ossos são menos resistentes e mais porosos, sendo assim, os gestos esportivos que

geram força nos tendões, os quais se inserem nestes ossos, aumentam o risco de

fraturas principalmente nas placas de crescimento. Além disso, os hormônios

andrógenos que promovem o desenvolvimento de massa muscular e

consequentemente força e potência quando combinado à impulsividade e

imprudência durante o treinamento, ampliam as probabilidades de lesões.

Caine et al., (2008) elaboraram um estudo sobre os fatores de risco para

lesões em crianças e adolescentes atletas e dentre os diversos fatores (idade,

maturidade biológica, composição corporal, sexo, entre outros), acredita-se que o

estirão de crescimento na adolescência possa ser considerado um fator de risco

para desenvolvimento de lesões nos atletas. Segundo os autores, este risco é

atribuído ao aumento da tensão músculo-tendão e diminuição da resistência nas

placas epifisárias.

Maffulli et al., (2010) relata que as lesões que resultam em afastamento do

atleta adolescente do esporte incluem fraturas por ―stress‖, lesões meniscais, ruptura

do ligamento cruzado anterior, lesões no tornozelo e cotovelo e lesões crônicas no

manguito rotador. Stracciolini et al. (2013) ao avaliarem 2.133 atletas de 5 a 17 anos,

atendidos entre 2000 e 2009 em um centro médico acadêmico dos Estados Unidos,

puderam observar que os membros inferiores foi a região do corpo mais lesionada,

seguido de membros superiores e coluna.

Em relação a modalidade esportiva, Darrow et al., (2009) realizaram um

estudo envolvendo a severidade das lesões em atletas escolares do ensino médio.

O estudo identificou 1.378 lesões severas durante 3.550.141 exposições, o que

29

representa uma incidência de lesão severa de 0.39 para cada 1000 exposições. A

modalidade de futebol americano apresentou maior risco de lesão severa seguida

por luta, basquete feminino e futebol feminino. Além disso, os autores exibem que a

maior parte das lesões severas ocorrem durante a competição e as articulações do

corpo mais afetadas são joelho (29,0%), tornozelo (12,3%) e ombro (10,9%).

No cenário brasileiro, Tomazoni et al., (2011) verificou a prevalência de lesão

musculoesquelética em atletas adolescentes de diferentes modalidades (futebol,

futsal, voleibol, handebol, basquete, natação, taekwondo, atletismo, canoagem e tiro

esportivo). Os autores revelam um total de 611 lesões musculoesqueléticas durante

o período de 2005 a 2009. Em relação a modalidade esportiva, o voleibol foi o

esporte que apresentou maior número de lesões com 28%, seguido por futebol

(20,9%) e futsal (17,7%). Mais recentemente, Vanderlei et al., (2014) avaliaram 1311

crianças e adolescentes brasileiros e verificaram que as lesões esportivas ocorreram

em 234 atletas, além disso, foi possível observar que o valor total de lesões chegou

a 261 casos, o que correspondeu a mais de uma lesão por atleta.

É importante ressaltar que neste estudo diferenças significativas foram

encontradas na frequência de lesões esportivas entre os dois grupos, demonstrando

que os adolescentes apresentaram maior risco de lesões comparados às crianças.

Em suma, os estudos supracitados concluem que estes tipos de lesões além de

sujeitar os atletas à hospitalização ou procedimentos de correção precoces, podem

resultar em stress psicológico, absenteísmo escolar e deficiências físicas

permanentes.

2.3. Dor no ombro em adolescentes atletas

Devido à grande demanda esportiva, as modalidades que envolvem com

maior ênfase o membro superior, podem colocar o ombro do adolescente atleta em

risco de lesão (CASSAS; CASSETTARI-WAYHS; SYSTEM, 2006). De acordo com

Sciascia & Kibler (2006) estes riscos dependem de fatores extrínsecos e

intrínsecos. Entre os fatores extrínsecos, exemplos que possam contribuir com o

desenvolvimento de dor no ombro são a intensidade e frequência do treinamento e

competição, a demanda da modalidade esportiva e o nível de competitividade do

atleta. Os riscos intrínsecos por sua vez, estão associados à combinação entre uma

30

frágil placa epifisária, uma excessiva frouxidão ligamentar e desequilíbrios

musculares associados a significativas forças na região do ombro durante a

execução do gesto esportivo (ZAREMSKI; KRABAK, 2012).

Cabe destacar que quando trata-se de um esqueleto imaturo, o período de

fechamento dos centros de ossificação da região do ombro varia de acordo com a

idade. A epífise proximal do úmero, que contribui com 80% do crescimento

longitudinal do osso, funde-se geralmente entre os 14 a 18 anos de idade; o centro

de ossificação da porção medial da clavícula não se funde até os 22-25 anos; aos

16-18 anos a porção superior da cavidade glenoide completa sua consolidação

óssea; os centros de ossificação do acrômio que geralmente surgem na puberdade

tendem a fundir aos 22 anos e o processo coracoide aos 15-16 anos (KOCHER;

WATERS; MICHELI, 2000; KRABAK; ALEXANDER; HENNING, 2008;

MARISCALCO; SALUAN, 2011).

Dentre as principais lesões no ombro em adolescentes relatadas na literatura,

pode-se citar as lesões do manguito rotador, instabilidade glenoumeral, fratura

proximal do úmero, microtraumas na placa epifisária (Little League Shoulder),

fraturas de clavícula, síndrome do impacto e lesões no labrum (CASSAS;

CASSETTARI-WAYHS; SYSTEM, 2006; DASHE et al., 2013; ZAREMSKI; KRABAK,

2012). Estudo recente elaborado por Robinson et al., (2014) com amostra

representativa de adolescentes atletas de nove modalidades esportivas dos Estados

Unidos, observou taxa de incidência de lesões no ombro de 2.15 para cada 10.000

exposições. Entre todas as lesões, 84,3% eram atuais e 15,4% recorrentes. As

torções (37,9%) e subluxação/luxação (29,2%) foram as características de lesões

mais encontradas tanto em meninos quanto em meninas.

De fato, literatura tem se preocupado com a temática ―adolescente atleta x

lesão no ombro‖. A maioria dos estudos nos últimos cinco anos descrevem a

epidemiologia das lesões no ombro (BONZA et al., 2009; DASHE et al., 2013;

HEYWORTH; KOCHER, 2013; KRAJNIK et al., 2010; ROBINSON et al., 2014), a

compreensão, avaliação e diagnóstico das lesões (HEYWORTH; KOCHER, 2013;

KRABAK, 2012; LEONARD; HUTCHINSON, 2010; MARISCALCO; SALUAN, 2011;

MAY; BISHOP, 2013; VELTRI, 2010; ZAREMSKI; KRABAK, 2012), o tratamento das

lesões (DASHE et al., 2013; HEYWORTH; KOCHER, 2013; KRABAK, 2012;

LEONARD; HUTCHINSON, 2010; MARISCALCO; SALUAN, 2011; SHANLEY;

31

THIGPEN, 2013) e também discute sobre como preveni-las (LEONARD;

HUTCHINSON, 2010; ZAREMSKI; KRABAK, 2012). Porém, sabe-se que tanto para

as lesões agudas quanto por overuse, a dor é um dos primeiros indícios de

surgimento das lesões, no entanto, grande parte dos estudos analisam os atletas

quando estas condições patológicas já estão inseridas em seu contexto pessoal.

A quantidade de estudos atuais que avaliam a presença de dor no ombro em

atletas ainda é escassa e esta situação é mais crítica quando se trata da população

adolescente. O quadro 1 revela estudos dos últimos 5 anos em que a prevalência

de dor no ombro em adolescentes atletas foi avaliada. Uma sucinta descrição dos

estudos é feita levando em consideração a localização do estudo, tamanho da

amostra, idade da amostra, o tipo de modalidade esportiva, o instrumento utilizado

para avaliação da dor e a prevalência encontrada.

32

Quadro 1. Estudos sobre prevalência de dor no ombro em adolescentes atletas de acordo com a localidade do estudo, tamanho da amostra, faixa etária amostral, tipo de modalidade esportiva e instrumento de avaliação da dor.

Autor (ano) Tate et al.,

(2012)

Walker et al.,

(2012)

Venâncio et

al., (2012)

Vanderlei et al.,

(2013)

Local do estudo Estados

Unidos Austrália Brasil Brasil

Tamanho da

amostra

238 atletas do

sexo feminino

74 atletas de

ambos os

sexos

71 atletas de

ambos os

sexos

522 atletas de

ambos os sexos

Faixa etária da

amostra 8 a 77 anos 11-27 anos 13±0,67 anos 14,96±1,67 anos

Tipo de

modalidade

esportiva

Natação Natação Natação Voleibol

Instrumento de

avaliação da dor

Penn

Shoulder

Score

Auto relato Questionário

estruturado

Questionário

estruturado com

mapa corporal

Prevalência de

dor no ombro

8-11 anos:

21,4%

12-14 anos:

18,6%

15-19 anos:

22,6%

Acima de 19:

19,4%

38% 39,6%

Menores de 15

anos: 5,5%

Maiores de 15 anos:

12,5%

Como observado, estes estudos limitam-se a análise de apenas uma

modalidade esportiva, que em sua maioria é a natação. Dos questionários utilizados

para avaliar a presença de dor, apenas o Penn Shoulder Score apresenta validação,

os demais tratam-se de relatos e questionários construídos pelos próprios autores e

os mesmos não indicam a validação destes.

33

Apesar disso, tais estudos trazem resultados relevantes que auxiliam na

compreensão da frequência de dor no ombro em adolescentes atletas e suas

possíveis associações com características pessoais, esportivas e de desempenho

funcional do ombro. Estas estatísticas justificam a importância de compreender a

ocorrência e os aspectos que levam ao risco de dor em atletas dessa faixa etária,

além de sugerir que todos os profissionais envolvidos (técnicos, preparadores

físicos, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, etc.) devem estar cientes de

informações atuais para prevenção das dores e conseguintes lesões nesta

população.

34

OBJETIVOS

35

3 OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

Determinar a prevalência de dor no ombro entre adolescentes atletas amadores

e analisar como as características pessoais, esportivas e de desempenho funcional

do ombro contribuem para o relato de dor entre as diferentes modalidades

esportivas.

3.2. Objetivos Específicos

Identificar a prevalência de dor no ombro nos adolescentes atletas que

praticam diferentes modalidades que exigem o uso do membro superior

(voleibol, handebol, basquete, natação e judô), analisar a possível associação

entre dor e fatores pessoais e esportivos e verificar se esta queixa altera as

medidas de função do membro superior;

Identificar a prevalência de discinese escapular em adolescentes atletas do

sexo masculino, avaliar se existe associação entre discinese escapular, dor

no ombro e as características pessoais e esportivas e verificar se esta

condição altera as medidas de função do membro superior;

Investigar os níveis de confiabilidade e concordância de uma ferramenta que

avalia a função do membro superior - Closed Kinetic Chain Upper Extremity

Stability Test (CKCUES-Teste) em adolescentes.

36

PROPOSTA DE ESTRUTURA DA

DISSERTAÇÃO

37

4 PROPOSTA DE ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Essa dissertação foi estruturada no formato de três artigos, de forma que

cada um contemple um dos objetivos específicos descritos na seção anterior. Todos

os três estudos são investigações originais que estão formatadas de acordo com as

normas da revista a qual se tem intenção em publicar. O primeiro artigo trata-se da

observação da prevalência de dor no ombro em adolescentes atletas bem como dos

fatores associados a esta dor e as possíveis alterações nas medidas funcionais do

ombro. O segundo artigo aborda a prevalência de discinese escapular, em atletas

adolescentes do sexo masculino e sua possível associação com dor no ombro,

fatores pessoais e esportivos além das possíveis alterações sobre as medidas

funcionais o ombro. Por fim, o terceiro artigo trata-se de uma pesquisa realizada

durante o estudo piloto que investiga a confiabilidade e concordância de um teste

para avaliação da função do membro superior (Closed Kinetic Chain Upper Extremity

Stability Test – CKCUES) em uma população de adolescentes.

38

5 ARTIGO 1 - Dor no ombro em adolescentes atletas: prevalência, fatores

associados e impacto sobre medidas de função do membro superior.

Artigo submetido ao Brazilian Journal of Physical Therapy

5.1 RESUMO

Introdução: Modalidades esportivas que exigem o uso constante do membro

superior demandam a máxima eficiência da cadeia cinética deste segmento. A

imaturidade do sistema osteomioarticular seguida de falhas nas habilidades motoras,

pode expor o adolescente a maiores relatos de queixas dolorosas, principalmente no

ombro. Objetivo: Avaliar a prevalência de dor no ombro em adolescentes atletas,

identificar possíveis fatores associados à queixa e observar se esta altera medidas

de função do membro superior. Métodos: Foram avaliados 310 atletas de ambos os

sexos com idade entre 10 e 19 anos de idade. Os sujeitos preencheram um

questionário com informações pessoais, esportivas e sobre função do membro

superior (Quick-DASH). Avaliou-se a estatura, massa corporal, amplitude de rotação

do ombro e o teste de potência do membro superior (CKCUES-teste). A associação

entre dor e as variáveis foi determinada pela regressão logística com modelagem

multinível. Para comparação entre dor e medidas de função foi utilizado o teste t e

Mann-Whitney, todos com nível de significância de 5%. Resultados: A prevalência

de dor no ombro foi de 43,5%. Atletas entre 15 e 19 anos, praticantes de handebol e

judô, apresentaram 86%, 114% e 207% mais chances de relatar dor no ombro,

respectivamente. A dor no ombro reduziu os escores de função (p<0,001) e

aumentou as alterações na amplitude de movimento (p<0,036). Conclusão: A dor

no ombro apresenta alta prevalência em adolescentes e está associada

principalmente naqueles com maior idade praticantes do esporte handebol e judô, e

também afeta os níveis de função e amplitude do ombro.

Palavras-chave: adolescente; ombro; dor; atletas;

39

5.2 ABSTRACT

Background: Sports that require the constant use of the upper limb demands the

maximum kinetic chain efficiency in this segment. The immaturity of the

musculoskeletal system followed by failures in motor skills can expose adolescents to

major reports of pain complaints, particularly on the shoulder. Objective: Evaluate

the prevalence of shoulder pain in adolescents athletes, to identify possible factors

associated with the complaint and to observe if this changes upper limb function

measures. Methods: A total of 310 athletes, of both sexes aged between 10 and 19

years old. The subjects filled out a questionnaire with personal, sports and upper limb

function (Quick-DASH) questions. We evaluated the height, body mass, shoulder

rotation range and the stability of the upper limb by the CKCUES-test. The

association between pain and the variables was analyzed by logistic regression with

multilevel modeling. For comparison between pain and function we used the Mann-

Whitney test, all with 5% significance level. Results: The prevalence of shoulder pain

was 43.5%. Athletes between 15 and 19 years, handball and judo practitioners,

showed 86%, 114% and 207% more likely to report pain in the shoulder,

respectively. Shoulder pain reduced function scores (p <0.001) and increased

changes in range of motion (p <0.036). Conclusion: Shoulder pain is highly

prevalent in adolescents and is associated especially those with older practitioners of

handball and judo sport, and affects the levels of function and range of the shoulder.

Key-words: adolescent; shouler pain; athletes; sports performance.

40

Pontos-chaves:

A imaturidade musculoesquelética e motora pode potencializar lesões

esportivas;

Prevalência de dor no ombro ainda é escassa em adolescentes atletas;

A ocorrência desta queixa é alta e está associada com maior idade;

O handebol e judô aumentam as chances de relatos de dor no ombro;

A dor altera medidas de função e mobilidade articular.

41

5.3 CONTEXTUALIZAÇÃO

Modalidades esportivas que exigem o uso constante do membro superior

demandam do atleta a máxima eficiência da cadeia cinética deste segmento. A

proporcionalidade entre elasticidade dos tecidos, força, resistência muscular e

propriocepção conferem um bom funcionamento do membro e consequentemente a

realização de um gesto esportivo ótimo (KACZMAREK et al., 2014; SCIASCIA et al.,

2012). Por contribuir com a movimentação multidirecional do braço, o complexo

articular do ombro, exige simultaneamente mobilidade e estabilidade articular, e tal

exigência estabelece um limite tênue entre a excelência do gesto esportivo e

possíveis danos articulares (HUDSON, 2010; LUBIATOWSKI et al., 2014). Dessa

forma, a menor alteração nos componentes que estabilizam a articulação de forma

estática ou dinâmica pode expor o atleta ao risco de lesões e queixas dolorosas

(HUDSON, 2010; KACZMAREK et al., 2014; SCIASCIA et al., 2012).

Cabe salientar que a dor no ombro não é uma realidade apenas de atletas

profissionais e/ou adultos. A imaturidade do sistema osteomioarticular, evento

inerente à população adolescente, quando seguida da imaturidade nas habilidades

motoras esportivas, pode expor o adolescente atleta a maiores chances de relatar

queixas de dor e lesões musculoesqueléticas (ADIRIM; CHENG, 2003; MERKEL,

2013; STRACCIOLINI et al., 2013; ZAREMSKI; KRABAK, 2012). Grande parte dos

estudos têm se preocupado em analisar a prevalência ou incidência de lesões no

ombro quando estas já foram diagnosticadas (BONZA et al., 2009; DASHE et al.,

2013; ROBINSON et al., 2014), porém, sabe-se que a dor é um dos primeiros

indícios do surgimento de lesões.

Nesse sentido, poucos estudos abordam a prevalência de dor no ombro em

adolescentes atletas, e aqueles que avaliam tal ocorrência limitam-se a análise de

apenas uma modalidade. Dados sobre prevalência de dor em adolescentes revelam

que 18,6% a 39,6% dos atletas de natação queixam-se de dor no ombro (TATE et

al., 2012; VENÂNCIO; TACANI; DELIBERATO, 2012; WALKER et al., 2012).

Enquanto que uma frequência entre 5,5% e 12,5% foi observada entre os

adolescentes que praticam voleibol (VANDERLEI et al., 2013). Características

pessoais, esportivas e medidas de desempenho do membro superior, são

mencionadas como fatores que podem estar associados à presença de dor no

42

ombro em atletas (MOHSENI-BANDPEI et al., 2012; SPINKS; MCCLURE, 2007;

TATE et al., 2012; VANDERLEI et al., 2013, 2014). Tais evidências além de

alertarem sobre a comum ocorrência de dor no ombro, apontam a importância da

identificação dos fatores associados à queixa a fim de propor medidas preventivas.

Ressalta-se também que a presença de dor pode representar maiores gastos com a

saúde, bem como o afastamento esportivo temporário ou até mesmo definitivo do

atleta.

Contudo, é possível observar que os estudos que envolvem a população

adolescente e queixas de dor no ombro se limitam apenas a avaliar modalidades

isoladas e esta escassez é ampliada no que se refere as pesquisas em países sul-

americanos. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar a

prevalência de dor no ombro em adolescentes atletas amadores de diferentes

modalidades, identificar os possíveis fatores associados a presença de dor e

observar se esta altera medidas de função do membro superior.

5.4 MÉTODOS

Delineamento do estudo e amostragem

Trata-se de um estudo observacional, descritivo e correlacional de corte

transversal, no qual a população alvo foi adolescentes, atletas amadores, com faixa

etária compreendida entre 10 e 19 anos de idade, praticantes de modalidades que

exigem o uso do membro superior (voleibol, handebol, basquete, natação e judô) da

cidade de Petrolina – PE. O procedimento de amostragem foi baseado

primeiramente no cálculo amostral realizado por meio do programa WinPepi

utilizando os seguintes critérios: população estimada de 521 atletas amadores;

intervalo de confiança de 95%; erro amostral de cinco pontos percentuais;

prevalência estimada de lesões de ombro em 21,4% (MOHSENI-BANDPEI et al.,

2012); perda amostral de 10% e efeito de delineamento amostral estabelecido em

1,5 vezes o tamanho da amostra.

O procedimento de seleção de amostra foi do tipo probabilístico, obedecendo

uma sequência de etapas visando manter uma amostra representativa dos atletas

amadores conforme o tipo de modalidade esportiva. Dessa forma, foi exigida uma

43

amostra mínima de 290 atletas adolescentes, distribuídos proporcionalmente nas

cinco modalidades esportivas.

Considerações éticas

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de

Pernambuco sob o protocolo CAAE 38321114.0.0.0000.5207. Todos os sujeitos

menores de 18 anos receberam o Termo de Assentimento e seus respectivos

representantes legais receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram incluídos no estudo adolescentes atletas amadores entre 10 a 19 anos,

de ambos os sexos, que praticassem por pelo menos um ano uma das seguintes

modalidades: voleibol, handebol, basquete, natação ou judô. Além disso, foram

incluídos aqueles que trouxeram o TCLE e o Termo de Assentimento devidamente

datado e assinado. Os critérios de exclusão recaíram no preenchimento inadequado

dos questionários e na recusa em realizar quaisquer avaliações propostas pelo

estudo.

Instrumentos e procedimentos de avaliação

Um questionário estruturado foi elaborado contendo informações sobre os

dados pessoais, esportivos e informações sobre a queixa de dor no ombro do sujeito

(idade, sexo, modalidade esportiva, tempo total de prática esportiva, frequência de

treinamento em dias por semana, duração da sessão do treinamento em horas por

dia, presença de dor no ombro, lateralidade da dor no ombro, mecanismo da dor,

momento que ocorreu a dor, severidade da dor, retorno às atividades esportivas e

recorrência da dor, uso de medicamentos para controlar a dor/desconforto no ombro,

tratamento fisioterapêutico e acompanhamento por profissional de saúde).

Além disso, foi aplicado o questionário Quick Disability Arm Shoulder Hand

(Quick-DASH) e seu respectivo módulo opcional para praticantes de esporte (Quick-

DASH opcional) para avaliação do membro superior como unidade funcional. Este

instrumento foi traduzido e validado para a população adolescente por Quatman-

Yates et al., (2013). O escore total varia de zero a 100 pontos, no qual zero indica

ausência de disfunção e a pontuação máxima, disfunção severa.

44

As medidas antropométricas (massa corporal e estatura) foram realizadas de

acordo com a padronização da International Society for the Advancement of

Kinanthropometry (ISAK) e o índice de massa corporal (IMC) foi calculado por meio

da equação IMC = Massa Corporal/ (Estatura)2. A amplitude de rotação do ombro

por meio da movimentação passiva de rotação interna e externa, também foi

registrada. O posicionamento do sujeito para realização deste medida foi de acordo

com as orientações de Myklebust et al. (2011). Um único avaliador foi responsável

por conduzir o movimento completo de rotação interna e externa do sujeito e realizar

as mensurações da angulação com o goniômetro. Cada mensuração foi realizada

três vezes em ambos os membros e o valor final foi obtido por meio da média dos

valores. Para cálculo do déficit de rotação interna glenoumeral foi realizada a

subtração entre os valores de rotação interna dos membros.

Por fim, foi solicitado ao sujeito a realização do Closed Kinetic Chain Upper

Extremity Stability Test (CKCUES-Test) o qual a avalia a estabilidade do ombro

frente a um exercício em cadeia cinética fechada. Nesse teste, os meninos tiveram

que assumir a posição do push-up e as meninas do push-up modificado (apoio dos

joelhos no solo), porém ambos com as mãos apoiadas sobre duas fitas fixadas no

solo a uma distância de 91,4cm. Foi solicitado para que o sujeito se mantivesse

nesta posição enquanto realizava, de modo alternado, o movimento de tocar na mão

oposta, durante 15 segundos. Um avaliador foi responsável por contar o número de

toques e o outro por cronometrar o tempo e informar verbalmente ao primeiro

avaliador o início e o fim do teste.

Foram realizadas três repetições máximas com intervalo de 45 segundos

entre os testes. Antes da realização dos três testes máximos, foi solicitado ao sujeito

a realização submáxima do teste para familiarização da tarefa. O valor de potência

do teste foi obtido pelo produto da média de toques por 68% do peso corporal em

quilogramas dividido por 15 (TUCCI et al., 2014).

Estudo Piloto

Previamente ao estudo piloto, foi realizada a calibração dos avaliadores com

15 adolescentes. Neste momento, foi elegível apenas um avaliador (V.M.A.O.) para

mensuração da amplitude de movimento do ombro, sendo este devidamente

calibrado por um profissional experiente em avaliação do ombro (R.C.A.). Em

45

seguida, foi dado início ao estudo piloto com 25 adolescentes, a fim de avaliar o

nível de concordância inter-dias (com um intervalo de 7 dias) entre os avaliadores

por meio do Coeficiente de Correlação Intraclasse (CCI), nas mensurações de

massa corporal (CCI=0.99), estatura (CCI=0.99), Quick-DASH (CCI=0.81), Quick-

DASH opcional (CCI=0.73) e estabilidade do ombro por meio do escore de potência

do CKCUES-teste (CCI=0.87) e o nível de concordância intra-avaliador na

mensuração de amplitude de movimento do ombro (CCI=0.82-0.91).

Análise estatística

O procedimento de tabulação dos dados foi efetuado no programa Microsoft

Excel e a análise dos mesmos foi realizada por meio do pacote estatístico Statistical

Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20. A análise descritiva incluiu a

distribuição de frequências (absolutas e relativas) para as variáveis categóricas e

valores de média e desvio-padrão para as variáveis numéricas.

Na análise inferencial, as variáveis foram avaliadas quanto à sua distribuição

pelo teste de Kolmogorov-Sminorv. Em seguida, foram realizados os testes de qui-

quadrado, teste t para amostras independentes e Mann-Whitney a fim de observar

as diferenças entre as variáveis analisadas e sexo.

Para verificar a associação entre dor no ombro e as características pessoais e

esportivas dos sujeitos, foi inicialmente construído um modelo bivariado de

associação da variável dor e cada variável independente, dessa forma, foi possível

observar quais variáveis entrariam no modelo (p < 0,20). Nesta análise, foi utilizada

a estimativa da razão de chances (Odds Ratio = OR) e intervalos de confiança de

95%, para expressar o grau de associação entre a variável dependente e

independentes. Em seguida, realizou-se a regressão logística binária a fim de

explorar possíveis fatores de confusão e interação e identificar a necessidade de

ajustamento estatístico das análises.

Para modelo final da regressão logística optou-se pela modelagem multinível.

Este método permite a inclusão das variáveis em diferentes níveis, com

hierarquização da cadeia que conduz ao desfecho e as possíveis inter-relações. Tal

modelo foi agregado em dois blocos: no primeiro foram inseridas as características

pessoais dos sujeitos (sexo, idade e IMC) e no segundo bloco foram inseridas as

características esportivas (modalidade, tempo de prática, frequência semanal de

treinamento e duração da sessão de treinamento) (Figura 1).

46

A forma de análise foi por meio do método condicional retroceder em ambos

os blocos, sendo critério de inclusão no modelo apenas as variáveis que

apresentassem um p < 0,10. Para avaliar a validade do modelo foi verificado o valor

do teste de Omnibus e para descrever o seu poder explicativo foi aplicado o teste de

Hosmer-Lemeshow.

Figura 1. Modelo teórico para investigação da presença de dor no ombro em

adolescentes atletas. Características pessoais e esportivas.

Por fim, para comparação das medidas de função do ombro em adolescentes

com e sem dor foram utilizados o teste t independente para variáveis com

distribuição simétrica e o teste de Mann-Whitney para variáveis assimétricas. Em

todos os testes aplicados foi considerada significância estatística o valor de p < 0,05.

5.5 RESULTADOS

Inicialmente, foram incluídos no presente estudo 317 adolescentes. Porém,

sete sujeitos foram excluídos por recusa em realizar as avaliações ou por

apresentarem questionários incompletos. Dessa forma, a amostra total do estudo foi

composta por 310 adolescentes (58,1% do sexo masculino). As características

pessoais, esportivas e suas respectivas frequências de acordo com o sexo, estão

representados na tabela 1.

Características

pessoais

Sexo

Idade

Índice de massa

corporal

Características

esportivas

Modalidade

Tempo de prática

Frequência do treino

Duração da sessão

Presença de dor no ombro

BLOCO 1 BLOCO 2

47

Tabela 1 - Características pessoais e esportivas da amostra total e estratificada por sexo representadas em média, desvio padrão, frequência absoluta e relativa (n=310).

Características pessoais

Total Masculino

Feminino

p

Idade (anos) 14,16 (2,12) 14,59 (2,15) 13,58 (1,95) 0,001* Massa corporal(kg) 58,92(14,88) 63,35(15,55) 52,79(11,37) 0,001* Estatura (m) 1,65 (0,12) 1,70 (0,12) 1,59 (0,08) 0,001* Índice de Massa Corporal (kg/m2)

21,29(3,77) 21,62 (3,93) 20,82 (3,49) 0,060

Características esportivas

Total

Masculino

Feminino

p

Modalidade Basquete Handebol Judô Natação Voleibol

58 (18,7%) 78 (25,2%) 34 (11,0%) 42 (13,5%) 98 (31,6%)

44 (24,4%) 49 (27,2%) 18 (10,0%) 32 (17,8%) 37 (20,6%)

14 (10,8%) 29 (22,3%) 16 (12,3%) 10 (7,7%) 61 (46,9%)

0,001*

Tempo de prática Há 1 ano Mais de 1 ano

69 (22,3%)

241 (77,7%)

42 (23,3%) 138 (76,7%)

27 (20,8%) 103 (79,2%)

0,691

Anos de prática

3,45 (2,71) 3,76 (3,04) 3,04 (2,16)

0,225

Frequência de treinamento (vezes/semana) Até 3 Mais de 3

234 (75,5%) 76 (24,5%)

136 (75,6%) 44 (24,4%)

98 (75,4%) 32 (24,6%)

1,000

Duração da sessão de treinamento (horas/dia) Até 1 hora Mais de 1 hora

49 (15,8%)

261 (84,2%)

30 (16,7%) 150 (83,3%)

19 (14,6%)

111 (85,4%)

0,741

Acompanhamento de profissional de saúde na equipe Não Sim

307 (99,4%)

2 (0,06%)

177 (98,9%) 2 (1,1%)

130 (100%) -

0,624

* Diferença estatística – p < 0,05.

48

Na tabela 2 é possível observar a prevalência total e por modalidade da

presença de dor no ombro no período de um ano e atual.

Tabela 2 - Valores absolutos (relativos) das taxas de prevalência de dor no ombro no último ano e atual entre adolescentes atletas por modalidade esportiva.

Período Basquete Handebol Judô Natação Voleibol Total

Atual 24(41,4) 38(48,7) 21(61,8) 13(31,0) 39(39,8) 135(43,5)

No último ano 27(46,6) 49(62,8) 24(70,6) 17(40,5) 51(52,0) 168(54,2)

A análise descritiva das características relacionadas com a dor no ombro

entre os adolescentes atletas do sexo masculino e feminino está representada na

tabela 3.

Tabela 3 - Frequência absoluta e relativa das variáveis relacionadas com a queixa de dor e desempenho do ombro entre adolescentes atletas (n=168).

Características Total Masculino Feminino p

Lateralidade da dor Direito Esquerdo Ambos

93 (62%) 24 (16%) 33 (22%)

54 (60,0%) 14 (15,6%) 22 (24,4%)

39 (65,0%) 10 (16,7%) 11 (18,3%)

0,420

Momento da dor Treinamento/Competição Outra situação

99 (68,8%)

45 (31,3%)

62 (72,1%) 24 (27,9%)

37 (63,8%) 21 (16,0%)

0,384

Mecanismo da dor Direto Indireto Outra situação

23 (15,4%) 95 (63,8%) 31 (20,8%)

13 (14,4%) 64 (71,1%) 13 (14,4%)

10 (16,9%) 31 (52,5%) 18(30,5%)

0,178

Uso de medicamento para dor no ombro Com prescrição Sem prescrição Nunca usou

11 (7,4%) 37 (24,8%) 101(67,8%)

6 (6,7%) 19 (21,1%) 65 (72,2%)

5 (8,5%) 18 (30,5%) 36 (61,0%)

0,213

Severidade da dor* Nunca se afastou Leve Moderada Severa

121(82,3%) 21 (14,3%) 5 (3,4%)

-

72 (81,8%) 13 (14,8%)

3 (3,4%) -

49 (83,1%) 8 (13,6%) 2 (3,4%)

-

0,878

49

(Continuação) Tratamento fisioterapêutico para dor Não Sim

143(96,0%) 6 (4%)

87 (96,7%) 3 (3,3%)

56 (94,9%) 3 (5,1%)

0,916 Retorno às atividades esportivas Nunca se afastou Sem dor Com dor

123(82,6%) 18 (12,1%) 8 (5,4%)

75 (83,3%) 10 (11,1%)

5 (5,6%)

48 (81,4%) 8 (13,6%) 3 (5,1%)

0,866

Recorrência da dor Não Sim

75 (50,3%) 74 (49,7%)

48 (53,3%) 42 (46,7%)

27 (45,8%) 32 (54,2%)

0,461

Desempenho do ombro (EROE) Excelente Bom Regular Fraco

69 (41,6%) 78 (47,0%) 16 (9,6%) 3 (1,8%)

42 (42,4%) 46 (46,5%)

9 (9,1%) 2 (2,0%)

27 (40,3%) 32 (47,8%) 7 (10,4%) 1 (1,5%)

0,829

* Severidade leve: afastamento esportivo de 1 a 7 dias; moderada: afastamento de 8 a 21 dias; severa: afastamento maior que 21 dias.

A análise de regressão logística múltipla por multinível revelou que as

variáveis idade e modalidade permaneceram no modelo final (tabela 4). Pôde-se

confirmar que o modelo final é válido com o teste de Omnibus (p=0,003) e o poder

explicativo do modelo foi de 99% de acordo com o teste de Hosmer-Lemeshow.

Tabela 4. Associação das variáveis independentes com a presença de dor no ombro em adolescentes atletas (n=310).

Variáveis Independentes

Presença de dor

Ausência de dor

OR [IC 95%]

OR Ajustado [IC95%]

Sexo Feminino Masculino

67 (39,9%)

101 (60,1%)

63 (44,4%) 79 (55,6%)

0,83

1

[0,53 -1,31]

Idade 10 a 14 anos 15 a 19 anos

77 (45,8%) 91 (54,2%)

86 (60,6%) 56 (39,4%)

1 1,82

[1,15 - 2,86]

1,86[1,16–2,97]

50

(Continuação) Índice de Massa Corporal Eutrófico Acima do peso

122 (72,6%) 46 (27,4%)

105(73,9%) 37 (26,1%)

1 0,94

[0,56 -1,55]

Modalidade Basquete Handebol Judô Natação Voleibol

27 (16,1%) 49 (29,2%) 24 (14,3%) 17 (10,1%) 51 (30,4%)

31 (21,8%) 29 (20,4%) 10 (7,0%) 25 (17,6%) 47 (33,1%)

0,83 1,56 2,21 0,63

1

[0,42 -1,54] [0,85 - 2,86] [0,96 - 5,11] [0,30 - 1,30]

2,14[1,06-4,32] 3,07[1,23–7,65]

Tempo de prática Há 1 ano Mais de 1 ano

40 (23,8%)

128 (76,2%)

29 (20,4%) 113(79,6%)

0,82 1

[0,48 - 1,41]

Frequência de treinamento (vezes/semana) Até 3 Mais de 3

133 (79,2%) 35 (20,8%)

101(71,1%) 41 (28,9%)

0,65

1

[0,39 - 1,09]

Duração da sessão Até 1 hora Acima de 1 hora

27 (16,1%)

141 (83,9%)

22 (15,5%) 120(84,5%)

0,96

1

[0,66 - 1,39]

A comparação entre os sujeitos com dor e sem dor e as características de

função do ombro pode ser observada na tabela 5. Nesta tabela, é possível observar

que os sujeitos com dor apresentam diferenças estatísticas quanto aos valores de

rotação externa do ombro direito, déficit de rotação interna e Quick-DASH. Para as

demais variáveis de função do ombro, não foram observadas diferenças estatísticas.

51

Tabela 5. Comparação das medidas de função do ombro: Quick-DASH, Quick-DASH opcional esportivo, déficit de rotação interna e escore de potência do CKCUES-teste (mediana e amplitude interquartil) e amplitude de movimento de rotação externa (média e desvio padrão) entre os grupos sem e com dor (n=135).

Medidas de função do ombro

Sem dor Com dor P Teste

Estatístico Escore Quick-DASH 4,50 (6,80) 11,40(11,40) 0,001* U

Escore Quick-DASH esportivo

0,00 (6,30) 6,25(18,80) 0,001* U

Déficit de rotação interna

7 (8) 10 (7) 0,036* U

Rotação externa do ombro direito

124,50(14,61) 120,11(16,85) 0,015* t

Rotação externa do ombro esquerdo

114,64(14,01) 112,97(14,63) 0,308 t

Escore potência CKCUES-teste

67,90(30,10) 69,10(39,50) 0,482 U

* Diferença estatística p < 0,05. t – Teste t para amostras independentes U – Teste de Mann-Whitney

5.6 DISCUSSÃO

A escassez de estudos que envolvem dor e função do ombro em

adolescentes praticantes de modalidades específicas do membro superior motivou a

realização desta pesquisa. Foi possível observar uma expressiva prevalência de dor

no ombro entre os adolescentes e que esta além de estar associada à idade e

modalidade, implica nos níveis de função e amplitude articular do ombro dos atletas.

O presente estudo baseia-se em uma amostra de atletas amadores que

predominantemente treina há mais de um ano (em média três anos), com frequência

de até três vezes por semana e uma duração de sessão de treinamento superior a

uma hora. Os resultados em um corte transversal demonstram que a dor no ombro é

uma condição comum entre os adolescentes atletas independente da modalidade

esportiva. A prevalência de dor no ombro no último ano e atual equivale a 54,2% e

43,5% da amostra, respectivamente. As comparações destes resultados tornam-se

limitadas pois até o presente momento, não se tem conhecimento de estudos que

avaliaram a dor no ombro em adolescentes nas modalidades esportivas que exigem

52

o uso do membro superior. No entanto, os altos valores observados servem de

alerta para inserção de medidas avaliativas e preventivas para estes atletas.

De maneira isolada, as modalidades judô (61,8%) seguida do handebol

(48,7%) e basquete (41,4%) apresentaram as maiores frequências de queixas de

dor no ombro. No entanto, os estudos que avaliam a população adolescente e dor

no ombro retratam valores específicos para as modalidades natação e voleibol

(TATE et al., 2012; VANDERLEI et al., 2013; VENÂNCIO; TACANI; DELIBERATO,

2012; WALKER et al., 2012).

Tate et al. (2012) observaram uma prevalência que variou de 18,6% a 22,6%

entre os adolescentes que praticam natação. Para Walker et al. (2012) a prevalência

foi estimada em 38%. No Brasil, a dor no ombro foi relatada em 39,6% dos

adolescentes (VENÂNCIO; TACANI; DELIBERATO, 2012). O presente estudo

identificou que 31,0% dos atletas de natação queixavam-se de dor no ombro. Já na

modalidade voleibol, foi possível observar uma prevalência de 39,8% enquanto que

para Vanderlei et al. (2013) este valor não ultrapassou dos 12,5%. Apesar da faixa

etária semelhante, a ampla divergência entre as prevalências pode ser justificada

pelas diferenças metodológicas entre os estudos tais como critérios de inclusão, tipo

de delineamento, tamanho e nível esportivo da amostra, definição de dor e até

mesmo a ferramenta utilizada para avaliação da dor.

Dentre os atletas que referiram dor no ombro (54,2%), o treinamento e a

competição foram os momentos mais relacionados com o surgimento da dor (68,8%)

e o mecanismo indireto prevaleceu em 63,8% dos casos. Tal achado corrobora os

achados de Vanderlei et al. (2014) que indicam que a maioria das lesões esportivas

em crianças e adolescentes ocorrem a partir de mecanismos indiretos. Heinke et al.

(2014) apresentam as lesões indiretas do ombro como um problema frequente nos

adolescentes que praticam modalidades específicas do membro superior

(arremesso, voleibol, natação), e acreditam que a carga de treinamento e os eventos

esportivos durante todo o ano associado à falta de descanso entre as competições

possam contribuir para o alto índice deste mecanismo.

A maioria dos atletas (82,6%) referiram não se afastar do esporte mesmo

com dor, e 49,7% daqueles que se afastaram relatam que a dor no ombro é

recorrente. Merkel et al. (2013) afirma que o rápido retorno ao esporte com

53

inadequada reabilitação pode resultar em quadros crônicos de dor, disfunção, maior

tempo de afastamento esportivo e casos de reincidência da lesão. Walker et

al.(2012) sugerem que o histórico de recorrência da dor pode ser utilizado como um

marcador para identificar os riscos de lesão e que para estes casos, os esforços de

prevenção devem ser particularmente enfatizados. Vale apontar ainda que 99,4%

dos adolescentes referiram não ter acompanhamento por profissional de saúde em

suas equipes, o que permite inferir falhas na assistência desses adolescentes, assim

a importância de maiores orientações, intervenções preventivas e de reabilitação

torna-se evidente.

Na atual amostra, atletas entre 15 e 19 anos, praticantes da modalidade judô

ou handebol, apresentam maiores chances de relatarem dor no ombro.

Especificamente, os adolescentes da modalidade handebol e judô têm,

respectivamente, 114% e 207% mais chances de relatar tal queixa. Em uma revisão

sistemática elaborada por Pocecco et al. (2013) foi indicado que crianças e

adolescentes judocas referem o ombro e braço como locais mais comuns de lesões.

A partir deste levantamento, os autores retratam que a maioria das lesões decorrem

durante o processo de aprendizagem dos golpes de arremesso e pelas falhas nas

técnicas de combate. Adicionalmente, os autores mostram que ainda não há um

consenso a respeito da faixa etária de maior risco em adolescentes judocas, mas

indicam que aqueles entre 16 e 20 anos são mais susceptíveis às lesões por

apresentarem técnicas e habilidades táticas ainda imaturas.

Tal evidência, corrobora os achados do presente estudo e de estudos

anteriores. A faixa etária de 15 a 19 anos mostrou-se 86% mais propensa a relatar

dor no ombro neste estudo. Tate et al. (2012) revelaram que os atletas de natação

com idade superior a 12 anos, apresentam além de maiores queixas de dor, altos

níveis de disfunção e insatisfação do ombro quando comparado aos mais jovens.

Spinks et al. (2007) revelam em uma revisão sistemática que no geral, a maior taxa

de lesão esportiva em crianças e adolescentes está associada com o aumento da

idade.

Do ponto de vista da modalidade handebol, os estudos mais atuais revelam

uma grande ocorrência de dor e lesões no ombro dos atletas adultos de elite

(MOHSENI-BANDPEI et al., 2012; MYKLEBUST et al., 2011), no entanto até o

presente momento a queixa de dor no ombro em adolescentes atletas amadores

54

ainda não foi abordada. Tendo em vista que a dor foi encontrada em grande parte

dos atletas da amostra (48,7%) e que esta teve associação com a modalidade

handebol, torna-se evidente a importância de ampliação desse tema.

Uma vez que atletas adultos apresentam adaptações articulares no complexo

do ombro tais como déficit na amplitude de rotação interna, redução dos níveis de

força e potência muscular e menores escores de função do ombro (CLARSEN et al.,

2014; COOLS et al., 2015; MOHSENI-BANDPEI et al., 2012), o presente estudo

observou que para a população adolescente, os níveis de função do ombro, valores

de rotação externa e interna foram menores entre os atletas com dor no ombro.

Recentemente estudos têm abordado as modificações articulares em jovens atletas

e afirmado que adaptações ósseas e dos tecidos moles repercutem negativamente

na amplitude de movimento do ombro, principalmente na rotação interna que por sua

vez aumentam as chances do indivíduo apresentar patologias no ombro (ASTOLFI

et al., 2015; GUNEY et al., 2015; LEONARD; HUTCHINSON, 2010).

Guney et al. (2015) e Astolfi et al. (2015) avaliaram a amplitude de rotação

interna e externa de adolescentes atletas de beisebol, basquete e voleibol e

observaram redução na rotação interna e aumento nos valores de rotação externa.

O presente estudo observou uma redução significativa na rotação externa dos

atletas com dor no ombro. Embora os resultados sejam controversos, a comparação

do presente estudo com os anteriores não pode ser inferida uma vez que os autores

excluíram de sua amostra adolescentes com dor/lesão no ombro. Este achado induz

a especulação que adaptações articulares também são apresentadas no ombro dos

adolescentes com histórico de dor.

Adicionalmente, os atletas com dor no ombro do presente estudo

apresentaram maiores déficits de rotação interna. Esta condição, comumente

denominada GIRD (glenoumeral internal rotation deficit) tem sido bem documentada

na literatura como adaptação da articulação ao gesto esportivo, uma vez que os

esportes que enfatizam o uso do membro superior podem levar à rigidez da região

posterior da cápsula e consequentemente limitação na amplitude de rotação interna,

o que segundo os autores, podem aumentar o risco de dor ou lesões crônicas no

ombro (ASTOLFI et al., 2015; CLARSEN et al., 2014; COOLS et al., 2015; GUNEY

et al., 2015; WILK et al., 2010). De igual forma, Guney et al. (2015) e Astolfi et al.

(2015) verificaram em atletas adolescentes, principalmente aqueles com idade

55

avançada, que o déficit na rotação interna está associado à menores níveis de força

muscular e relacionado a torção umeral, fatores que podem condicionar o

surgimento de dor articular.

Por fim, os adolescentes com dor no ombro apresentaram menores níveis de

função do membro superior, refletindo negativamente nas habilidades diárias e

esportivas. Alegar que a dor no ombro tem repercussão na execução de tarefas

rotineiras e acima disso reportar prevalências expressivas de dor no ombro entre os

atletas adolescentes, levanta o questionamento sobre a assistência que estes

atletas recebem. Koh et al. (2014) assumem a importância de estratégias educativas

para redução da ocorrência de dor no ombro e pescoço em adolescentes. Embora a

população avaliada não tenha sido composta por atletas, os autores afirmam que a

proposta educativa reduziu a prevalência e severidade da dor no pescoço e ombro

dos adolescentes. Esta atitude permite refletir sobre a necessidade de implantar

ações educativas, preventivas, métodos de identificação e assistência dos casos nas

escolas e centros esportivos.

Os atletas que participaram do estudo são considerados representativos para

a cidade onde foi realizada a coleta e para as modalidades que foram avaliadas,

limitando a extrapolação dos resultados para demais modalidades e características

amostrais. Além disso, por tratar-se de um delineamento transversal, é impossível

estabelecer qualquer relação causal, mas apenas inferir as chances de ocorrência.

O questionário auto-aplicado é uma ferramenta que pode apresentar falhas pois

suas conclusões são dependentes da compreensão do voluntário. O presente

estudo buscou minimizar este efeito aplicando questionários validados

principalmente para população adolescente e disponibilizando pesquisadores

treinados para explanar as possíveis dúvidas. As limitações descritas podem servir

de sugestão para futuros estudos que possam ser realizados de forma longitudinal,

ou que possam avaliar o efeito de intervenções preventivas nesta população.

Apesar das limitações, o presente estudo extrai resultados alarmantes sobre a

frequente ocorrência de dor no ombro em adolescentes amadores, principalmente

aqueles com maior idade e que a queixa álgica altera as medidas de função do

ombro. A escassez de profissionais de saúde nas equipes documentada pelos

atletas talvez possa justificar o grande número de adolescentes com dor no ombro.

56

É sugestivo, portanto, a implantação de profissionais habilitados para elaborar

medidas educativas, preventivas e de reabilitação.

5.7 CONCLUSÃO

Dor no ombro apresenta uma alta prevalência entre adolescentes atletas

amadores de modalidades que exigem o uso do membro superior, especialmente

para os atletas com idade mais avançada praticantes das modalidades judô e

handebol. Além disso, a presença de dor altera os níveis de função e amplitude do

ombro. Maiores investimentos devem ser elaborados nas estratégias de

identificação, prevenção e reabilitação destes adolescentes.

5.8 REFERÊNCIAS

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59

6 ARTIGO 2 - Discinese escapular não está relacionada com dor e não altera a

função do ombro em adolescentes atletas amadores.

Artigo submetido na Revista Brasileira de Medicina do Esporte

6.1 RESUMO

Introdução: A discinese escapular tem sido associada à lesões e dor no ombro, no

entanto esta relação em adolescentes atletas ainda não é bem definida. Objetivo:

Avaliar a prevalência de discinese escapular em adolescentes atletas amadores e

verificar se a presença desta condição está associada a dor e se altera medidas de

função no ombro. Métodos: Foram avaliados atletas amadores entre 10 e 19 anos,

do sexo masculino. Os sujeitos preencheram questionário com perguntas pessoais,

esportivas e sobre a função do membro superior (Quick-DASH). Foram mensuradas

a massa corporal, estatura, goniometria de rotação interna dos ombros e aplicado

teste de potência (CKCUES-teste). Para avaliação da discinese escapular, utilizou-

se o método visual dinâmico. Os dados foram avaliados quanto às frequências e a

distribuição destes foi verificada pelo teste Kolmogorov-Sminorv. Aplicou-se a

regressão logística com modelagem multinível para observar a associação entre

discinese e demais variáveis. A comparação entre os grupos com e sem discinese

foi feita pelo teste t e Mann-Whitney, sendo aceito significância estatística quando p

< 0,005. Resultados: Foram avaliados 178 adolescentes com média de idade de

14,58 anos. A prevalência de discinese foi de 56,7% e esta condição não esteve

associada com a presença de dor no ombro. Sujeitos eutróficos e abaixo do peso de

todas as modalidades apresentaram altas chances de indicarem discinese

escapular. Atletas que treinam menos de três vezes por semana com duração

inferior a uma hora, tem 64% menos chances de apresentarem discinese. Não foi

observada diferença entre as medidas de função do ombro entre os grupos com e

sem discinese. Conclusão: Discinese escapular não está associada a dor e não

altera medidas de função no ombro em adolescentes atletas de nível amador. As

modalidades específicas de membro superior e o volume do treinamento aumentam

as chances de alterações no movimento da escápula.

Palavras-chave: adolescente; dor; ombro; escápula;

60

6.2 ASBTRACT

Background: The scapular dyskinesis has been linked to injuries and shoulder pain,

however this relationship in adolescents athletes is not well established yet.

Objective: Evaluate the prevalence of discinese shoulder in young amateur athletes

and verify that the presence of this condition is associated with pain and changes

function measures the shoulder. Methods: We evaluated male amateur athletes

between 10 and 19 years old. The subjects completed a questionnaire about

personal questions, sports and the upper limb function (Quick-DASH). Body mass

were measured, height, goniometer internal rotation of the shoulders and applied

stability test of upper limb (CKCUES-test). To evaluate the scapular dyskinesis, we

used the dynamic visual method. The data were evaluated for the frequency and

distribution of these was verified by the Kolmogorov-Sminorv test. Logistic regression

was applied to multilevel modeling to observe the association between dyskinesis

and other variables. The comparison between the groups with and without dyskinesis

was taken by Mann-Whitney test, it was accepted statistical significance at p <0.005.

Results: A total of 178 adolescents with an average age of 14.58 years. The

prevalence of discinese was 56.7% and this condition was not associated with the

presence of shoulder pain. Athletes training less than three times a week lasting less

than an hour has 64% less likely to have dyskinesis. No difference was observed

between the shoulder function measures and the groups with and without dyskinesis.

Conclusion: Scapular dyskinesis is not associated with pain and does not alter

function measures the shoulder in amateur athletes adolescents. The upper limb

modalities and the training volume increase the chances of changes in the movement

of the scapula.

Keys-word: adolescents; shoulder pain; athletes; performance sports.

61

6.3 INTRODUÇÃO

Modalidades que exigem o uso constante do membro superior aumentam as

sobrecargas articulares deste segmento, principalmente no complexo do ombro

(BECKETT et al., 2014). Tem sido bem documentado na literatura, que os

movimentos em alta velocidade, repetição e carga desencadeiam adaptações

articulares como desproporção entre as amplitudes de rotação interna e externa do

ombro e alterações no posicionamento umeral e escapular (ASTOLFI et al., 2015;

BECKETT et al., 2014; COOLS et al., 2015; GUNEY et al., 2015; KIBLER;

SCIASCIA; WILKES, 2012). Especificamente a modificação no posicionamento da

escápula, denominada discinese escapular, tem sido estudada por apresentar

possíveis relações com a presença de dor e lesões no ombro em atletas (KIBLER;

MCMULLEN, 2003; KIBLER et al., 2013; KIBLER; SCIASCIA; WILKES, 2012;

STRUYF et al., 2011b).

Grande parte dos estudos afirmam a relação entre dor/lesão no ombro e

discinese escapular (CLARSEN et al., 2014; KIBLER et al., 2013; KIBLER;

SCIASCIA; WILKES, 2012; LUDEWIG; REYNOLDS, 2009; TIMMONS et al., 2012).

Tais pesquisas asseguram que alterações na cinemática escapular podem resultar

em alterações estruturais e funcionais nas articulações glenoumeral e

acromioclavicular, diminuição do espaço subacromial, mudanças na ativação dos

músculos escapulares e por consequência levar às disfunções como síndrome do

impacto no ombro, tendinopatias no manguito rotador, instabilidade glenoumeral

entre outras condições.

Por outro lado, existe um corpo de evidências que indica que assimetrias

escapulares também são observadas em indivíduos assintomáticos e por esta razão,

não se pode inferir de forma clara e precisa uma relação de causa-efeito entre dor e

discinese, impossibilitando afirmar qual destes fatores precede o outro (MADSEN et

al., 2011; MYERS; OYAMA; HIBBERD, 2013; OYAMA et al., 2008; STRUYF et al.,

2014; UHL et al., 2009). Vale ressaltar que boa parte destes estudos que afirma

existir uma relação entre dor e discinese refere-se à população adulta ou atletas de

altos níveis de competição, o que possivelmente, pelo gesto motor de repetição e

sobrecarga de treinamento podem deixar esta associação mais evidente. Assim,

cabe especular se atletas mais jovens e com menores exigências esportivas teriam

62

comportamento semelhante aos estudos prévios, porém evidências que suportam

esta indagação ainda são insuficientes (DAYANIDHI et al., 2005; STRUYF et al.,

2011a).

Nesse sentido, investigar a relação entre dor e discinese em uma população

atleta e imatura do ponto de visto musculoesquelético pode adicionar novos dados a

respeito desta possível associação. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi

observar a prevalência de discinese escapular em adolescentes atletas amadores,

verificar a possível associação entre dor no ombro e discinese e comparar se a

alteração no posicionamento escapular apresenta influência sobre a função do

ombro.

6.4 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo apresenta um delineamento observacional, descritivo e

correlacional de corte transversal. A amostra foi composta por adolescentes atletas

do sexo masculino, praticantes das seguintes modalidades esportivas: voleibol,

natação, handebol, basquete e judô da cidade de Petrolina-PE. Para inclusão no

estudo, os voluntários deveriam ter idade entre 10 e 19 anos e ter prática esportiva

por no mínimo um ano. Os critérios de exclusão recaíram para aqueles que não

entregaram o termo de consentimento livre esclarecido, assinado pelos

representantes legais junto à assinatura do termo de assentimento, que se

recusaram a realizar os testes e/ou preencheram inadequadamente o questionário.

Inicialmente, um questionário contendo dados pessoais e esportivos (idade,

modalidade esportiva, tempo total de prática esportiva, frequência do treinamento

em dias por semana, duração da sessão de treinamento em horas por dia, presença

de dor no ombro) foi aplicado. Foram aplicados dois questionários a respeito da

função do membro superior e ombro: o Quick Disability Arm Shoulder Hand (Quick-

DASH) com seu respectivo módulo opcional para praticantes de esporte (Quick-

DASH opcional), instrumento traduzido e validado para a população adolescente

por Quatman-Yates et al., (2013) o qual avalia o membro superior como unidade

funcional; e a Escala de Avaliação dos Resultados do Ombro do Esportista, que

63

mensura o desempenho do ombro do atleta em cinco domínios: dor,

força/resistência, estabilidade, intensidade e desempenho.

Em seguida, foram mensuradas as variáveis antropométricas (massa corporal

e estatura) de acordo com a padronização da International Society for the

Advancement of Kinanthropometry (ISAK) e o índice de massa corporal (IMC) foi

calculado por meio da equação IMC = Massa Corporal/ (Estatura)2. Para

categorização do IMC do voluntário foram seguidas as recomendações de Cole et al.

(2000).

A amplitude de movimento de rotação interna do ombro foi mensurada por

meio da técnica de movimentação passiva com goniômetro. O voluntário foi

posicionado de acordo com as orientações de Wilk et al. (2009) e Myklebust et al.

(2011). A mensuração foi realizada por um único avaliador. Foram realizadas três

medidas em ambos os membros e retirado um valor final a partir da média das

angulações. Para cálculo do déficit de rotação interna glenoumeral foi realizada a

subtração entre os valores de rotação interna do membro dominante com não-

dominante. Para categorização dos voluntários com déficit de rotação interna, foi

estipulado uma diferença maior que 18° de acordo com Wilk et al. (2010).

A movimentação escapular foi avaliada pelo método observacional dinâmico.

Neste método, o voluntário foi solicitado a permanecer em posição ortostática e

realizar três repetições do movimento bilateral de elevação do braço no plano

escapular até 90° graus. A velocidade do movimento foi padronizada em três

segundos para fase concêntrica e três segundos para excêntrica por meio do

comando verbal dos examinadores. A execução do movimento foi registrada, em

vista posterior, por uma filmadora digital com frequência de amostragem de 60 Hz

(SONY modelo DCR-SX21), posicionada sobre um tripé com altura de 1,00 metro

em relação ao solo e em uma distância de 2,85 metros do sujeito. Marcações no

solo foram utilizadas para padronizar o posicionamento da filmadora e dos

voluntários (KIBLER; SCIASCIA, 2010).

A categorização do tipo de discinese escapular foi realizada de acordo com as

orientações de Kibler et al. (2002). A visualização da proeminência do angulo inferior

da escápula foi interpretada como tipo I; o tipo II representa o aumento na

proeminência da borda medial; o tipo III caracterizada pela elevação excessiva do

64

ângulo superior; e o tipo IV que indica a ausência de discinese escapular. Uma vez

identificada assimetria em vários planos, um avaliador devidamente calibrado

classificou a discinese em um desses quatro tipos, com base no padrão

predominante (UHL et al., 2009). Em um segundo momento, todos os voluntários

classificados com discinese escapular (tipo I ao III) foram agrupados em uma única

categoria: ―com discinese escapular‖ e aqueles classificados como tipo IV foram

incluídos na categoria ―sem discinese escapular‖ (UHL et al., 2009).

Por fim, para avaliação da estabilidade do membro superior, foi solicitado ao

voluntário a execução do Closed Kinetic Chain Upper Extremity Stability Test

(CKCUES-Test). Nesse teste, os voluntários assumiram a posição do push-up com

as mãos apoiadas sobre duas fitas fixadas no solo a uma distância de 36 polegadas

(91,4cm). O voluntário deveria se manter nesta posição enquanto realizava

alternadamente o movimento de tocar na mão oposta, durante um período de 15

segundos. Três repetições máximas com intervalo de 45 segundos entre as

tentativas foram realizadas.

Antes da execução do teste, os voluntários realizaram três testes submáximos

a fim de familiarizá-lo com a tarefa. Um avaliador foi responsável por contar o

número de toques e o outro por cronometrar o tempo e informar verbalmente ao

primeiro avaliador o início e o fim do teste. A média de toques obtidas foi

multiplicado por 68% do peso corporal em quilogramas e dividido por 15 para

obtenção do escore de potência do teste (TUCCI et al., 2014).

Previamente à coleta de dados, foi realizado um teste piloto com 25

adolescentes para verificar o nível de concordância interdias das medidas (com

intervalo de uma semana entre as avaliações). Para as variáveis numéricas foi

utilizado o teste de Coeficiente de Correlação Intraclasse (CCI) e para a

categorização da discinese foi utilizado o índice de Kappa. As variáveis numéricas

apresentaram coeficiente para massa corporal e estatura de 0.99, Quick-DASH de

0.81, Quick-DASH opcional 0.73, CKCUES-teste de 0.87 e rotação interna de 0.82

para o ombro direito e 0.91 para o ombro esquerdo. O índice de Kappa para

presença ou ausência de discinese escapular foi de 0.99. Todas as medidas indicam

excelente confiabilidade inter-dias.

65

Análise estatística

A análise estatística dos dados foi computada por meio do software Statistical

Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20. A descrição dos dados

categóricos foi representada pela frequência absoluta e relativa e valores de

média/mediana e desvio-padrão/amplitude interquartil foram utilizados para

descrição dos dados numéricos a depender da normalidade de distribuição dos

dados. Para isso, foi realizada a análise inferencial da distribuição dos dados pelo

teste de Kolmogorov-Sminorv.

Além disso, foram realizados os testes de qui-quadrado, teste t para amostras

independentes e Mann-Whitney a fim de observar as diferenças entre as variáveis

analisadas e os indivíduos com e sem discinese escapular.

Para verificar a associação entre presença de discinese e as características

pessoais, esportivas e presença de dor, foi construído um modelo bivariado de

associação entre presença de discinese e cada variável independente, a fim de

observar quais variáveis entrariam no modelo (p < 0,20). Nesta análise, foi utilizada

a estimativa da razão de chances (Odds Ratio = OR) e intervalos de confiança de

95%, para expressar o grau de associação entre as variáveis. Em seguida, realizou-

se a regressão logística binária a fim de explorar possíveis fatores de confusão e

interação e identificar a necessidade de ajustamento estatístico das análises.

Optou-se pelo modelo final de regressão logística por modelagem multinível.

Este tipo de modelagem permite alocar as variáveis em diferentes blocos, com

hierarquização da cadeia que conduz ao desfecho e as possíveis inter-relações. O

presente modelo foi agregado em dois níveis: no primeiro foram inseridas as

variáveis ―dor no ombro‖ e ―déficit de rotação interna‖ e no segundo bloco foram

inseridas as características pessoais e esportivas (idade, IMC, modalidade, tempo

de prática, frequência semanal de treinamento e duração da sessão de treinamento)

(Figura 1).

A forma de análise foi por meio do método condicional retroceder em ambos

os blocos e apenas as variáveis que apresentassem um p < 0,10 foram inseridas no

modelo final. Para avaliar a validade do modelo foi verificado o valor do teste de

Omnibus e para descrever seu poder explicativo foi aplicado o teste de Hosmer-

Lemeshow.

66

Figura 1. Modelo teórico para investigação da presença de discinese no ombro em

adolescentes atletas.

Por último, para comparação das medidas de função do ombro em

adolescentes com e sem discinese escapular foi utilizado o teste de Mann-Whitney.

Todos aceitando um nível de significância estatística menor que 5%.

6.5 RESULTADOS

Foram incluídos no estudo 180 adolescentes atletas do sexo masculino, no

entanto, dois voluntários recaíram nos critérios de exclusão por recusa em realizar a

avaliação da discinese escapular, totalizando em uma amostra de 178 indivíduos. A

descrição das características pessoais, esportivas bem como suas respectivas

frequências de acordo com a presença ou não de discinese escapular, estão

representadas na tabela 1.

Dor no ombro

Déficit de rotação

interna

Idade

IMC

Modalidade

Tempo de prática

Frequência do treino

Duração da sessão

Presença de discinese escapular

BLOCO 1 BLOCO 2

67

Tabela 1. Características pessoais e esportivas da amostra total e estratificada por ausência e presença de discinese escapular. Valores numéricos representados em média e desvio padrão e categóricos em frequência absoluta e relativa (n=178).

Características pessoais

Total Sem discinese

Com discinese

p

Idade (anos) 14,58 (2,16) 14,78 (2,26) 14,44 (2,07) 0,206 Massa corporal (kg) 63,27(15,52) 65,10(15,03) 61,88 (15,82) 0,167 Estatura (m) 1,70 (0,12) 1,70 (0,12) 1,70 (0,12) 0,639 IMC (kg/m2) 21,62 (3,92) 22,39 (3,94) 21,03 (3,81) 0,011*

Características esportivas

Total

Sem discinese

Com discinese

p

Modalidade Basquete Handebol Judô Natação Voleibol

44 (24,7%) 48 (27,0%) 18 (10,1%) 32 (18,0%) 36 (20,2%)

13 (16,9%) 21 (27,3%) 7 (9,1%)

14 (18,2%) 22 (28,6%)

31 (30,7%) 27 (26,7%) 11 (10,9%) 18 (17,8%) 14 (13,9%)

0,012*

Tempo de prática Há 1 ano Mais de 1 ano

43 (24,2%) 135 (75,8%)

25 (32,5%) 52 (67,5%)

18 (17,8%) 83 (82,2%)

0,037*

Anos de prática

4,76 (2,99) 4,77 (3,04) 4,75 (2,98) 0,980

Frequência de treinamento (vezes/semana) Até 3 Mais de 3

135 (75,8%) 43 (24,2%)

58 (75,3%) 19 (24,7%)

77 (76,2%) 24 (23,8%)

1,000

Duração da sessão de treinamento (horas/dia) Até 1 hora Mais de 1 hora

30 (16,9%) 148 (83,1%)

16 (20,8%) 61 (79,2%)

14 (13,9%) 87 (86,1%)

0,308

*Diferença estatística

A prevalência de discinese escapular nesta amostra foi de 56,7%.

Destes, 46,5% foram classificados com discinese do tipo I, 43,6% com tipo II e 9,9%

com tipo III. A tabela 2 revela a associação entre presença de discinese e as

variáveis independentes. Apenas as variáveis IMC, modalidade, tempo de prática e

duração da sessão permaneceram no modelo final. A validade do modelo é

confirmada com o teste de Omnibus (p=0,005) e o poder explicativo do modelo é

comprovado com Hosmer-Lemeshow de 92%.

68

Tabela 2. Associação das variáveis independentes com a presença de discinese escapular em adolescentes atletas (n=178).

Variáveis Independentes

Presença de

discinese

Ausência de

discinese OR [IC 95%]

OR Ajustado [IC95%]

Idade 10 a 14 anos 15 a 19 anos

51(50,5%) 50(49,5%)

29(37,7%) 48(62,3%)

1,69

1

[0,92-3,09]

Índice de Massa Corporal Abaixo do peso Eutrófico Acima do peso

7 (6,9%) 70(69,3%) 24(23,8%)

1 (1,3%) 47(61,0%) 29(37,7%)

8,46 1,8 1

[0,97-73,64] [0,94-3,47]

9,51[1,00-90,73] 2,16[1,07-4,37]

Modalidade Basquete Handebol Judô Natação Voleibol

31(30,7%) 27(26,7%) 11(10,9%) 18(17,8%) 14(13,9%)

13(16,9%) 21(27,3%) 7 (9,1%)

14(18,2%) 22(28,6%)

3,75 2,02 2,47 2,02

1

[1,48 – 9,52] [0,84 – 4,87] [0,77 – 7,88] [0,77 – 5,32]

3,91[1,49-10,26] 3,05[1,18 - 7,88] 4,50[1,27-15,97] 3,26 [1,11- 9,62]

Tempo de prática Há 1 ano Mais de 1 ano

18(17,8%) 83(82,2%)

25(32,5%) 52(67,5%)

0,45

1

[0,22 – 0,91]

Frequência de treinamento Até 3 vezes Mais de 3

77(76,2%) 24(23,8%)

58(75,3%) 19(24,7%)

1,05

1

[0,53 – 2,10]

0,36[0,13–0,95]*

Duração da sessão Até 1 hora Acima de 1 hora

14(13,9%) 87(86,1%)

16(20,8%) 61(79,2%)

0,61

1

[0,28 – 1,35]

Dor no ano Não Sim

46(45,5%) 55(54,5%)

33(42,9%) 44(57,1%)

1,12 1

[0,61 – 2,03]

DRIG Ausência Presença

92(91,1%) 9 (8,9%)

67(87,0%) 10(13,0%)

1,70

1

[0,67 – 4,34]

* Valor gerado a partir da interação ―Duração por Frequência‖. DRIG – Déficit de Rotação Interna Glenoumeral

69

A comparação entre as variáveis de função do membro superior e a discinese

escapular pode ser observada na tabela 3. Não foram encontradas diferenças

estatísticas entre os grupos.

Tabela 3. Mediana (amplitude interquartil) das medidas de função do ombro entre adolescentes com e sem discinese escapular (n=178).

Medida de função Sem discinese Com discinese p

Quick – DASH 9,10 (11,30) 6,80 (9,10) 0,288

Quick - DASH Opcional 0,00 (12,50) 0,00 (12,50) 0,979

EROE 74,00 (88,00) 78,00 (92,00) 0,434

CKCUES-teste 60,40 (25,40) 69,20 (35,60) 0,079

Déficit rotação interna 9,00 (10,00) 8 (8) 0,563

6.6 DISCUSSÃO

As divergências a respeito da relação entre discinese e dor no ombro

motivaram a realização deste estudo. Os resultados indicam que para uma

população de atletas adolescentes com nível esportivo amador, a prevalência de

discinese é alta, no entanto não está associada à dor e parece não afetar as

medidas de função do membro superior.

Embora alguns estudos defendam a relação ente dor/lesão e discinese

escapular (CLARSEN et al., 2014; KIBLER; MCMULLEN, 2003; KIBLER et al., 2013;

KIBLER; SCIASCIA; WILKES, 2012; LUDEWIG; REYNOLDS, 2009; TIMMONS et

al., 2012), mais da metade da atual amostra (56,7%) apresentou alterações na

movimentação escapular sem, no entanto, apresentar associação com dor no

ombro. Os resultados do presente estudo corroboram Uhl et al. (2009) que

analisaram a presença de discinese escapular por meio do método observacional e

cinemático 3D entre grupos com e sem dor no ombro. Os autores revelam que as

prevalências de discinese entre os dois grupos foram semelhantes e concluem que a

presença desta condição não deve ser considerada um sinal patológico, mas sim um

mecanismo compensatório para os indivíduos que utilizam intensamente o membro

superior.

Além disso, é sugerido que a presença de assimetria não deve ser o único

fator que determina a significância clínica da discinese escapular e que assimetrias

70

bilaterais são frequentes. Dessa forma, especula-se que a discinese escapular em

atletas amadores possa estar mais atribuída às atitudes de adaptação do gesto

esportivo do que a presença de dor propriamente dita.

De fato, a carência de estudos longitudinais dificulta o discernimento se as

alterações observadas no movimento escapular são atitudes compensatórias de

uma lesão já instalada ou se o movimento descoordenado resulta em mecanismos

lesivos. Nesta perspectiva, Myers et al.(2013) propuseram avaliar prospectivamente

se a discinese escapular identificada na pré-temporada de atletas adolescentes de

beisebol poderia ser um fator que predispõe ao risco de lesões no ombro em atletas,

e puderam concluir que a presença de discinese não aumenta o risco de ocorrência

de lesões no membro superior.

Fatores esportivos estão associados com a presença de alterações

escapulares. No presente estudo foi possível observar que atletas adolescentes têm

maiores chances de serem classificados com discinese conforme o maior volume de

treinamento, e de uma forma geral, as modalidades esportivas também aumentam a

probabilidade dos indivíduos apresentarem discinese. Adolescentes que treinam em

menor magnitude (até três vezes na semana com duração inferior a uma hora diária)

apresentam 64% menos chance de apresentar discinese escapular.

No mesmo sentido, Madsen et al. (2011) propuseram avaliar a evolução da

prevalência de discinese escapular durante uma única sessão de treinamento em

jovens atletas de elite (14 a 22 anos) assintomáticos. Os autores utilizaram do

método observacional, para avaliar a ocorrência da discinese antes, 25, 50, 75 e 100

minutos de treinamento. Seus resultados mostraram uma prevalência acumulada de

discinese de 82% no último intervalo da sessão (100 minutos de treino), e sugerem

que a discinese escapular pode ser resultado de fadiga muscular como

consequência do alto volume de treinamento (MADSEN et al., 2011).

Também foi constatado no presente estudo que as medidas de função do

ombro são semelhantes entre os atletas com e sem discinese escapular. A presença

desta condição não foi suficiente para refletir em comprometimento funcional do

membro superior de acordo com os questionários aplicados. Além disso, os valores

de potência do CKCUES-teste e o déficit de rotação interna, condições que estão

relacionadas com a presença de dor no ombro em estudos anteriores (ASTOLFI et

71

al., 2015; TUCCI et al., 2014; WILK et al., 2010) não foram diferentes entre os

grupos com e sem discinese escapular.

Sendo assim, especula-se que alterações funcionais podem estar ligadas à

queixa álgica e não a modificação no posicionamento escapular. No entanto, a

ausência de estudos a respeito da influência da discinese escapular sobre

indicadores de função do membro superior em adolescentes atletas limita a

discussão aprofundada destes resultados.

Uma vez que as habilidades motoras podem ser influenciadas por fatores

como força, flexibilidade e resistência muscular, e estas são aperfeiçoadas com o

decorrer da idade, diferenças cinemáticas na escápula e na ação muscular são

encontradas em crianças e adolescentes atletas comparado aos adultos

(DAYANIDHI et al., 2005; ENDO; YUKATA; YASUI, 2004; STRUYF et al., 2011a).

Isto reforça a hipótese que a discinese escapular em adolescentes pode estar mais

uma vez atribuída a ações compensatórias pelo gesto motor no esporte aliado à

imaturidade nas habilidades motoras. No entanto, o desencadeamento de um

quadro doloroso a médio ou longo prazo decorrente dessa disritmia escapular é um

questionamento ainda limitado e inconclusivo.

Na atual amostra, os adolescentes abaixo do peso e eutróficos, apresentaram

maiores chances de serem classificados com discinese escapular. Estes resultados

podem não estar atrelados às características antropométricas propriamente ditas,

mas sim as limitações da ferramenta proposta para análise da discinese escapular.

Por tratar-se de um método visual, Uhl et al. (2009) confirma a dificuldade em

observar com precisão os movimentos escapulares sob o músculo subjacente e

tecidos moles. Implica-se, portanto, que indivíduos que apresentam menos tecido

adjacente à escapula, seja subcutâneo ou muscular, permitem melhor visualização

das proeminências ósseas, o que tenha justificado as altas chances de identificação

de discinese nestes indivíduos no atual estudo. Embora o método observacional

apresente algumas limitações, este é considerado o mais aplicável para prática

clínica e esportiva e apresenta boa confiabilidade e validade comparado com o

método de análise cinemática 3D (MYERS; OYAMA; HIBBERD, 2013; UHL et al.,

2009).

72

O presente estudo preocupou-se em reduzir possíveis vieses diante das

limitações encontradas. O delineamento transversal é um fator que restringe maiores

conclusões a respeito da causa-efeito, no entanto as informações obtidas por meio

de uma amostra com representatividade podem servir de subsídio para futuros

estudos com desenhos longitudinais em adolescentes.

Outra limitação refere-se à extrapolação dos resultados encontrados, a qual é

direcionada a atletas adolescentes de nível amador do sexo masculino das

modalidades avaliadas. Esta segunda limitação oferece campo para estudo com

ambos os sexos e/ou com diferentes níveis esportivos. Quanto aos instrumentos

utilizados para avaliação, embora não tenha sido utilizada as ferramentas padrão-

ouro, o presente estudo teve a preocupação em selecionar questionários validados,

principalmente para população adolescente e testes que apresentassem

aplicabilidade e validade ecológica. Dessa forma, os resultados aqui apresentados

trazem informações que acrescem aos questionamentos a respeito da relação entre

dor e discinese escapular.

6.7 CONCLUSÃO

Discinese escapular não está associada a dor e não altera medidas de função

no ombro em adolescentes atletas de nível amador. As modalidades específicas de

membro superior e o volume do treinamento podem aumentar as chances de

alterações no movimento da escápula, sendo assim, a presença de discinese pode

estar atribuída à mecanismos compensatórios do gesto motor e não

necessariamente à dor no ombro.

6.8 REFERÊNCIAS

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75

7 ARTIGO 3 - Avaliação da confiabilidade do Closed Kinetic Chain Upper

Extremity Stability Test (CKCUES-teste) para adolescentes

Artigo submetido na Brazilian Journal of Physcial Therapy

7.1 RESUMO

Introdução: O Closed Kinetic Chain Upper Extremity Stability-test (CKCUES-teste)

tem sido proposto como uma opção para avaliação da estabilidade e função do

membro superior em adultos, porém existe uma carência de dados que suportem

sua aplicação para população adolescente. Objetivos: Investigar os níveis de

confiabilidade e concordância do CKCUES-teste em adolescentes. Método: Foram

avaliados 25 adolescentes entre 15 e 19 anos, saudáveis de ambos os sexos. Os

sujeitos foram solicitados a executar o CKCUES-teste por duas vezes com intervalo

de uma semana. A análise de confiabilidade relativa foi realizada por meio do

coeficiente de correlação intraclasse (CCI) com intervalo de confiança de 95%. A

plotagem de Bland-Altman foi utilizada para verificar a concordância entre as

avaliações. A presença de erro sistemático foi verificada por meio do teste t para

amostras únicas. A diferença entre a avaliação e reavaliação foi vista por meio do

teste t pareado. Todos os testes exigiram o nível de significância de 5%. Além disso

foi observado o erro padrão da medida e a mínima mudança detectável.

Resultados: A confiabilidade inter-dias dos escores da média de toques,

normalizado e potência foram 0.68, 0.68 e 0.87, respectivamente. A presença de

erro sistemático, a diferença significativa entre as medidas e a análise do Bland-

Altman inferem que o CKCUES é um teste com questionável confiabilidade.

Conclusão: A confiabilidade interdias do CKCUES-teste para adolescentes é uma

medida questionável quando realizada em apenas uma única sessão de

familiarização.

Palavras-chave: Reprodutibilidade dos testes; adolescentes; extremidade superior.

76

7.2 ABSTRACT

Background: The Closed Kinetic Chain Upper Extremity Stability-test (CKCUES-

test) has been proposed as an option to assessment the upper limb function and

stability; however, there are few studies that support this in adolescents. Objective:

Investigate the reliability intersession and agreement of CKUES-test for adolescents.

Methods: It was evaluate 25 adolescents healthy, with both of sexes. It was asked to

subject the execution of two CKCUES-tests with interval of one week between them.

The reliability analysis it was performed by the intraclass correlation coefficient (ICC)

with 95% of interval of confidence. The Bland-Altman graphic was performed to

analyze the agreement between assessments. The presence of systematic error was

evaluated by one sample t test. The difference between evaluation and revaluation

was observed by paired-sample t test. All of the tests accepted the level of

significance of 5%. Besides, it was observed the standard error of measurements

and minimum detectable change. Results: The reliability intersession of number of

touches, normalized and power score were 0.68, 0.68 and 0.87, respectively. The

presence of systematic error, the significant difference between the measurements

and the analysis of Bland-Altman infer CKCUES is a discordance test and with

questionable reliability. Conclusion: The CKCUES-test for adolescents is a

questionable measurement when performed in just one familiarization session.

Key-words: Reproducibility of results; adolescent; upper extremity.

77

Pontos-chaves:

O CKCUES-teste é uma opção para avaliar a estabilidade do membro superior;

A confiabilidade deste teste é vista apenas em adultos e com análise relativa;

A análise clinimétrica do teste em adolescentes não é definida na literatura;

O uso do CKCUES-teste é questionável quando avaliado em apenas uma sessão

de familiarização.

78

7.3 INTRODUÇÃO

Medidas e testes de avaliação do membro superior são amplamente utilizados

na prática clínica e esportiva por conferirem informações importantes sobre variáveis

de desempenho funcional (GOLDBECK; DAVIES, 2000; NEGRETE et al., 2010;

TUCCI et al., 2014). Especificamente testes dinâmicos, sejam eles em cadeia

cinética aberta (pull-up, testes de arremessos e tiros de arremesso) ou em cadeia

cinética fechada (one-arm hop test, upper quarter Y balance test e o closed kinetic

chain upper extremity stability test) possibilitam a identificação de possíveis déficits

de força e potência muscular (FALSONE et al., 2002; GORMAN et al., 2012;

NEGRETE; KOLBER, 2011; TUCCI et al., 2014). Nesse sentido, os testes de

avaliação do desempenho do membro superior são considerados apropriados por

complementarem a análise do segmento e ainda fornecerem dados quantitativos a

respeito do progresso do treinamento e efetividade de programas de reabilitação

(GOLDBECK; DAVIES, 2000; NEGRETE et al., 2010; ROUSH; KITAMURA; WAITS,

2007; TUCCI et al., 2014).

O Closed Kinetic Chain Upper Extremity Stability Test (CKCUES-teste) tem

sido uma opção para examinar a estabilidade do membro superior. Pois, não exige

alto nível de técnica ou preparação clínica, apresenta baixo custo de execução, é de

fácil compreensão por parte do sujeito avaliado e permite avaliar, por meio de dados

quantitativos, o desempenho do complexo articular do ombro (LEE; KIM, 2015;

ROUSH; KITAMURA; WAITS, 2007). Este teste consiste em contar quantas vezes o

indivíduo realiza toques de forma alternada na mão oposta em uma posição de

cadeia cinética fechada (push-up) durante 15 segundos e permite estabelecer três

formas de escore: escore da média dos toques, escore normalizado e escore de

potência.

O uso do CKCUES-teste como forma de avaliação da função do membro

superior é crescente na literatura, desse modo, alguns estudos propuseram

determinar valores normativos para os escores do teste (ROUSH; KITAMURA;

WAITS, 2007; TAYLOR et al., 2015) e pontos de corte para predição de lesão no

ombro (PONTILLO; SPINELLI; SENNETT, 2014), bem como utilizá-lo como medida

comparativa para outros testes que pretendem avaliar a função do membro superior

(WESTRICK et al., 2012). Além disso, o CKCUES-teste também vem sendo

79

empregado para identificar os fatores de risco para dor no ombro (TATE et al.,

2012), determinar a efetividade de diferentes tipos de intervenção (LUST et al.,

2009; SCHULTE-EDELMANN et al., 2005) e predizer a evolução nas distâncias de

arremesso(NEGRETE; KOLBER, 2011).

Adicionalmente, reforçando a relevância prática da implementação de testes

dinâmicos para avaliação do membro superior, estudos destinam-se a avaliar as

propriedades clinimétricas do CKCUES-teste, a fim de permitir o uso confiável dos

dados coletados tanto no ambiente clínico e esportivo, quanto para pesquisa. Alguns

estudos (GOLDBECK; DAVIES, 2000; LEE; KIM, 2015; TUCCI et al., 2014) têm

verificado níveis considerados excelentes de confiabilidade interdias, avaliados pelo

coeficiente de correlação intraclasse (CCI), para atletas (CCI = 0.92) (GOLDBECK;

DAVIES, 2000; TUCCI et al., 2014), atletas recreacionais, sujeitos com síndrome do

impacto do ombro (CCI ≥ 0.82) (TUCCI et al., 2014) e para adultos saudáveis (CCI =

0.97) (LEE; KIM, 2015).

Embora os estudos supracitados determinem excelentes níveis de

confiabilidade para o CKCUES-teste, estes não podem servir de parâmetro para

população adolescente, tendo em vista que as análises foram feitas apenas em

amostras de adultos. Além disso, a utilização de uma medida de confiabilidade

relativa (CCI) é insuficiente para concluir se tal ferramenta é realmente confiável.

Baseado nisto, o presente estudo tem como objetivo analisar as propriedades

clinimétricas do CKCUES teste em uma amostra de adolescentes.

7.4 MÉTODOS

Amostra

Para o cálculo amostral, seguindo equações descritas por Shoukri, Asyali e

Donner (2004), foi utilizado o programa Gpower 3.1.7, considerando um α = 0,05; β =

0,10 (poder de 90%); proporção de correlação para hipótese nula (ρ Η0) = 0,40,

proporção de correlação para hipótese alternativa (ρ Η1) = 0,80 e uma perda de

20%, chegou-se a uma amostra mínima necessária de 31 sujeitos.

Estavam incluídos na pesquisa aqueles sujeitos com idade compreendida

entre 15 e 19 anos. Os critérios de exclusão recaíram para aqueles que recusaram

80

realizar o teste e as medidas antropométricas ou não compareceram à 2ª avaliação.

Em decorrência do abandono de seis participantes, a amostra total foi composta por

25 adolescentes (14 meninas e 11 meninos), refletindo em um poder estatístico final

de 89,64 %. Diante disso, obteve-se dos sujeitos avaliados uma mediana de 18 anos

com amplitude interquartil de 4 anos, uma média de massa corporal de 59,3(10,2) kg

e estatura de 1,67(0,08) m. Todos os participantes assinaram o Termo de

Assentimento e seus respectivos representantes legais assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e

Pesquisa da Universidade de Pernambuco (UPE), sob o protocolo: CAAE

38321114.0.0.0000.5207.

Procedimentos

Após a entrega dos termos assinados, a informação referente à idade e foi

recolhida dos sujeitos e em seguida foram realizadas as medidas de massa corporal

(kg) por meio de uma balança digital e estatura (m) por meio de um estadiômetro

portátil. Logo após, deu-se início a realização do CKCUES-teste. Previamente ao

estudo, os avaliadores responsáveis pela mensuração das medidas foram

devidamente treinados. A fim de verificar a confiabilidade interdias e evitar possíveis

efeitos de memorização e adaptação ao teste, a primeira e segunda avaliação foram

realizadas com um intervalo de sete dias. Além disso, os sujeitos não foram

informados quanto aos escores obtidos na avaliação no momento da reavaliação,

com o intuito de minimizar os efeitos motivacionais.

Para realização do CKCUES-teste foram seguidas as orientações de acordo

com Tucci et al.(2014). Nesse teste, os meninos assumiram a posição do push-up e

as meninas do push-up modificado (apoio dos joelhos), ambos com as mãos

apoiadas sobre duas fitas fixadas no solo a uma distância de 36 polegadas

(91,4cm). O sujeito manteve-se nesta posição enquanto realizava alternadamente o

movimento de tocar na mão oposta, por um período de 15 segundos. Um avaliador

foi responsável por contar o número de toques e o outro por cronometrar o tempo e

informar verbalmente ao primeiro avaliador o início e o fim do teste. Foram

realizadas três repetições máximas com intervalo de 45 segundos entre os testes.

Antes da realização dos três testes máximos, foi permitido a cada voluntário a

realização submáxima do teste para familiarização da tarefa. O escore média de

81

toques foi calculado a partir da média aritmética do número de toques das três

repetições. Para o escore normalizado, o escore final foi calculado pela média de

número de toques dividido pela estatura do sujeito em metros e por fim, o valor do

escore de potência do teste foi obtido pelo produto da média de toques por 68% do

peso corporal em quilogramas dividido por 15 (Figura 1).

Figura 1.Posicionamento para realização do CKCUES-teste. Posição inicial (A) e execução do toque (B).

Análise estatística

Os procedimentos estatísticos foram conduzidos por meio dos programas

Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 20.0 e GraphPad Prism

versão 5.03. Os dados numéricos referentes à idade, massa corporal, estatura,

escore da média de toques, escore normalizado e escore de potência foram

avaliados quanto à sua distribuição por meio do teste de Shapiro-Wilk com nível de

significância de 5%. Em casos nos quais a distribuição foi simétrica, as medidas de

tendência central e dispersão foram apresentadas em média e desvio padrão, e para

os casos em que a distribuição se apresentou assimétrica, os dados foram avaliados

na forma de mediana e amplitude interquartil.

A comparação entre os escores (avaliação x reavaliação) foi realizada por

meio do teste t pareado. Para realização da análise de confiabilidade relativa, foi

realizado o cálculo do coeficiente de correlação intraclasse (CCI2,3) pelo modelo

aleatório de duas vias, com método de consentimento absoluto e apresentação do

seu respectivo intervalo de confiança estabelecido em 95% (IC 95%). Os valores de

CCI acima de 0.75 foram considerados de excelente confiabilidade; valores

82

compreendidos entre 0.40 e 0.74 representam moderada confiabilidade e valores

inferiores a 0.40 indicam baixa confiabilidade (Fleiss, 1986).

Além disso, para cada escore do CKCUES-teste foi plotado um gráfico de

Bland-Altman a fim de verificar a concordância absoluta entre a primeira e segunda

avaliação, a partir do gráfico de dispersão entre a diferença das duas avaliações e a

média das duas avaliações. Dessa forma, é possível visualizar o viés, o erro, limites

de concordância, outliers e tendências (BLAND; ALTMAN, 1999; HOPKINS, 2000).

O erro do tipo sistemático foi verificado pelo teste t para amostras únicas, com base

na média da diferença entre o teste e reteste e aceitando o nível de significância

menor que 0,05. O Erro Padrão da Medida (EPM) foi calculado para estimar a

variação de cada escore e a Mínima Mudança Detectável (MMD) também foi

avaliada para determinar a menor mudança que pode ser considerada clinicamente

significante. Ambas foram calculadas por meio das respectivas equações:

√ , no qual DP é o desvio-padrão da média da

primeira avaliação (teste).

√ , no qual a constante 1,96 representa o escore z

associado a 95% de nível de confiança.

7.5 RESULTADOS

A descrição e comparação dos dados da média de toques, escore

normalizado e escore de potência do CKCUES-teste na primeira e segunda

avaliação, assim como a apresentação dos resultados do CCI com seus respectivos

intervalos de confiança a 95%, EPM e MMD para cada escore do CKCUES-teste

estão representados na tabela 1.

83

Tabela 1. Média e desvio padrão do teste (avaliação) e reteste (reavaliação) dos escores do CKCUES-teste. Valores do coeficiente de correlação intraclasse (CCI), intervalo de confiança de 95% (IC95%), erro padrão da medida (EPM) e mínima mudança detectável (MMD) dos escores de média de toques, normalizado e potência do CKCUES-teste.

Escore CKCUES-teste (n=25)

Média de toques Escore normalizado Escore de potência

Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste

25,6 (3,8) 28,0 (5,4)* 14,8 (2,4) 16,2 (3,4)* 69,1 (17,99) 75,9 (20,7)*

Escores CCI (IC95%) EPM MMD

Média de toques 0.68 (0.26 – 0.86) 2,17 6,01

Normalizado 0.68 (0.27 – 0.86) 1,35 3,74

Potência 0.87 (0.64 – 0.95) 6,49 17,98

* p<0,05

A análise de concordância entre as medidas dos três escores pode ser

observada por meio das Figuras 2, 3 e 4 para os escores de média dos toques,

normalizado e potência, respectivamente. A observação do gráfico indica que o viés

para os três escores esteve nos limites de confiança e próximos ao zero e que

houve a presença de outliers. A presença de diferença estatística no teste t para

amostras únicas nos escores de média de toque (p=0,012), escore normalizado

(p=0,014) e escore de potência (p=0,009) indica a presença de erro do tipo

sistemático no qual a maioria dos indivíduos encontraram-se abaixo do zero.

84

Figura 2.Gráfico de Bland-Altman para a média de toques do CKCUES-teste.

Figura 3.Gráfico de Bland-Altman para o escore normalizado do CKCUES-teste.

0 5 10 15 20 25

-10

-5

0

5+ 1,96 DP

Viés (-1,44)

- 1,96 DP

Média de toques normalizados do CKCUES-teste

[número de toques/estatura(cm)]

Dif

ere

nça d

os t

oq

ue

s n

orm

ali

zad

os

en

tre

e 2

ª av

ali

ação

15 20 25 30 35 40

-15

-10

-5

0

5

10

+ 1,96 DP

Viés (-2,36)

- 1,96 DP

Média de toques do CKCUES-teste

(número de toques)

Dif

ere

nça d

os t

oq

ue

s

en

tre

e 2

ª av

ali

ação

85

0 50 100 150-40

-20

0

20

40

+ 1,96 DP

- 1,96 DP

Viés (-6,81)

Média do escore de potência do CKCUES teste

Dif

ere

nça

do

s e

sco

res

de

po

tên

cia

en

tre

e 2

ª a

va

lia

ção

Figura 4.Gráfico de Bland-Altman para o escore de potência do CKCUES-teste.

7.6 DISCUSSÃO

A ausência de estudos que determinem a confiabilidade, concordância e

relevância clínica do CKCUES para avaliação da função do membro superior em

uma população adolescente motivou a realização deste estudo. Apesar dos

coeficientes relativos resultarem em valores de moderada a excelente confiabilidade,

a concordância ainda apresenta flutuações, estando possivelmente sujeita à forma

de mensuração e a adaptação do indivíduo ao teste. Em suma, os resultados do

presente estudo declaram o CKCUES-teste como ferramenta questionável para

avaliação da função do ombro de adolescentes quando realizada apenas uma

sessão de familiarização.

Os estudos que avaliam a confiabilidade interdias do CKCUES-teste

apresentam excelentes valores de confiabilidade, para intervalos de três a sete dias

entre as sessões (GOLDBECK; DAVIES, 2000; LEE; KIM, 2015; TUCCI et al., 2014).

Inicialmente, Goldbeck e Davies (2000) desenvolveram este teste como uma

alternativa para avaliar a função do membro superior em cadeia cinética fechada e

propuseram avaliar sua confiabilidade em uma amostra composta por 24 atletas do

sexo masculino e saudáveis, observando um CCI equivalente a 0.92 para o escore

referente à média de toques.

86

Tucci et al. (2014) avaliaram a confiabilidade em três grupos: fisicamente

ativos; sedentários e saudáveis e sedentários com diagnóstico de síndrome do

impacto no ombro (SIO). Os autores revelam CCI’s que variam de 0.85 a 0.96 no

escore de média de toques, 0.87 a 0.96 nos escores normalizados e 0.82 a 0.96 no

escore de potência. Recentemente, Lee e Kim (2015) avaliaram a confiabilidade do

CKCUES-teste em 40 adultos, divididos igualmente entre homens e mulheres, e

também encontraram excelentes valores de confiabilidade para o escore referente à

média de toques (CCI = 0.97). Além disso, os autores avaliaram a validade

concorrente do CKCUES-teste e verificaram forte correlação positiva com os valores

de máxima preensão manual e pico de torque de rotação interna e externa do

ombro.

Entretanto, é necessário ressaltar, que os estudos supracitados utilizaram

uma análise de confiabilidade relativa (CCI), a qual está sujeita a apresentar valores

superestimados de confiabilidade. Enganosos valores de confiabilidade podem

ocorrer, pois quando se mede uma variável em um grupo de diferentes sujeitos,

espera-se que as medidas apesar de diferentes fiquem muito próximas da média,

produzindo assim, altos valores de CCI (LIMA et al., 2013). Dessa forma, o uso de

métodos que avaliam a variância e concordância dos dados surgem como uma

opção mais confiável e têm sido amplamente utilizados em estudos que avaliam a

confiabilidade de medidas de força muscular ou cálculo de resistência máxima (DIAS

et al., 2009; GURJÃO et al., 2005; LIMA et al., 2013; PLOUTZ-SNYDER; GIAMIS,

2001; RITTI-DIAS et al., 2011; SOARES-CALDEIRA et al., 2009). A fim de evitar

conclusões equivocadas sobre os níveis de confiabilidade, o presente estudo

empregou além do CCI, a análise da plotagem de Bland-Altman, a qual permite

examinar melhor os modelos de variância e concordância entre as medições,

visando assim, tornar a conclusão sobre os resultados mais fidedigna.

Apesar dos valores de confiabilidade do atual estudo diferirem dos demais,

sendo estes menores que os encontrados, torna-se importante também destacar a

diferença entre as populações. Por não haver outros estudos que avaliem o

CKCUES-teste em uma amostra de adolescentes, a comparação e justificativa dos

valores encontrados torna-se limitada. Nesse sentido, torna-se cabível explorar as

possíveis justificativas para os menores valores de confiabilidade em adolescentes

comparados à população adulta. Tucci et al. (2014) especulam que as

87

características antropométricas dos indivíduos podem influenciar nos resultados dos

testes, sobretudo por que a equação dos escores depende das variáveis massa

corporal e estatura. Além disso, os autores sugerem que a padronização da

distância entre as mãos durante a execução do teste (91,4 cm) pode ser um fator

que contribua com o resultado de forma positiva ou negativa, a depender da

envergadura do indivíduo.

Já que a padronização da distância das mãos foi baseada para população

adulta, o antropometria do adolescente poderia comprometer a execução do teste e

implicar erroneamente em menores valores de estabilidade. Julgando que a

padronização da mão poderia alterar a execução do teste, Tucci et al. (2015) propôs

comparar três variações de posicionamento das mãos no CKCUES-teste

(posicionamento padrão, distância entre acrômios e 150% da distância acrômio-

mão) e verificaram que a biomecânica do teste independe do posicionamento, no

entanto sua amostra avaliou apenas adultos. Esses achados podem não se aplicar

aos adolescentes que se encontram em fase de maturação e desenvolvimento tanto

no aspecto antropométrico, quanto neuromuscular.

O gráfico de Bland-Altman tem sido uma boa opção para avaliar a

concordância de um teste e o presente estudo baseia-se no gráfico para sugerir que

o CKCUES-teste em adolescentes é uma medida correlacionada e não-concordante

devido à presença do viés sistemático. A confirmação deste viés pode indicar que o

voluntário realizou o teste melhor ou pior na reavaliação devido à fatores como efeito

de aprendizado ou mudança no comportamento motor durante a execução do teste

(BLAND; ALTMAN, 1999; HOPKINS, 2000). Isto pode ser reafirmado com a

presença de outliers¸ principalmente nos escores de média e normalizado e também

ao observar o aumento significativo da média dos três escores na segunda

avaliação.

As diferenças encontradas entre a primeira e segunda avaliação, permitem

especular que a familiarização do indivíduo pode alterar os resultados do CKCUES.

Esta hipótese também é suportada nos estudos que avaliam o teste de uma

repetição máxima em exercícios de força (1-RM), no qual foi visto que é preciso

haver mais de uma sessão, em diferentes dias, para estabilização da carga (LIMA et

al., 2013). Considerando que Lee e Kim (2015) verificaram forte correlação entre o

CKCUES e medidas de força muscular, especula-se que o comportamento de

88

variação desse teste seja similar aos testes de 1-RM. Outro fator que poderia

influenciar nos resultados da reavaliação é questão motivacional já que os sujeitos

eram estimulados a fazer o maior número de toques possível. No entanto, o

presente estudo acredita que este fator pôde ser minimizado, uma vez que os

sujeitos não tinham acesso a quantidade de toques da primeira avaliação.

De fato, o CKCUES-teste consiste na execução de um exercício multiarticular,

que induz instabilidade ao sujeito e que pode depender dos níveis de força

muscular, equilíbrio, coordenação e consequentemente da atividade física do

indivíduo. Estes fatores levantam a necessidade de se investigar se apenas uma

única sessão seria suficiente para indicar o real valor do desempenho do sujeito,

tendo em vista que nenhum estudo prévio investigou a quantidade de tentativas

necessárias para estabilização dos valores de CKCUES-teste. A própria

característica biomecânica do teste parece exigir um considerável desafio ao sujeito,

sendo necessário um tempo maior para processo de aprendizagem e controle motor,

e possivelmente requerendo mais sessões, em dias diferentes, para sua

familiarização.

Em relação à variabilidade do CKCUES-teste, é possível observar um

pequeno erro padrão, dessa forma é aceitável que os escores de média de toque,

normalizado e potência apresentem para o mesmo indivíduo, porém em momentos

distintos, um valor de erro esperado de 2.17, 1.35 e 6.49, respectivamente. Apenas

o estudo de Tucci et al. (2014) propôs avaliar o EPM do CKUES-teste. Para o escore

de média de toques, o EPM variou entre os grupos de 1.45 a 2.76; para o escore

normalizado de 0.02 a 0.04 e para o escore de potência de 8.52 a 28.32. Embora a

população entre os estudos tenha sido diferente, Weir (2005) expõe que o valor de

EPM é independente da população submetida ao teste, sendo este valor uma

característica fixa da medida.

Por fim, a indicação de um valor que permita inferir se uma real mudança

ocorreu nos escores do CKCUES-teste é clinicamente significativa torna-se

essencialmente útil para a prática clínica e esportiva. Neste sentido, Tucci et al.

(2014) indicou os valores de relevância clínica em populações adultas, sendo esta

variando entre 2 a 4 pontos no escore de média de toques, 0.03 a 0.06 no

normalizado e 9 a 29 no escore de potência. O presente estudo mostra, que em

adolescentes a verdadeira mudança que indica melhoria na função do membro

89

superior é dada com valores superiores a 6 no escore de média, 4 no normalizado e

18 de potência.

A análise inédita das propriedades clinimétricas do CKCUES-teste em

adolescentes traz consigo limitações inerentes ao estudo. A não estratificação da

amostra por sexo e a realização com adolescentes fisicamente saudáveis, torna o

estudo restrito quanto à extrapolação para as demais populações sejam estas

saudáveis ou com alguma condição patológica. Dessa forma, sugere-se que novos

estudos, abordem populações de diferentes faixas etárias e sujeitos que apresentem

variados tipos de disfunção na cadeia cinética do membro superior e que sejam

desenvolvidos valores normativos para a população adolescente.

O CKCUES-teste diante das análises de confiabilidade e concordância,

mostra-se um teste impreciso, principalmente para a população adolescente quando

realizada somente uma sessão de familiarização. Perante tais especulações,

sugere-se também a realização de testes múltiplos, em dias diferentes, a fim de

avaliar de forma acurada a quantidade de sessões necessárias para estabilização

dos escores do teste. Dessa forma, o presente estudo consegue concluir que a

utilidade do CKCUES-teste na população adolescente ainda é questionável,

principalmente para os escores de média e normalizado. Possivelmente a busca por

uma melhor padronização da distância entre as mãos de acordo com a

antropometria dos adolescentes e a determinação do número de tentativas que

estabilizam os valores, possa contribuir para melhor aplicação e conclusão do teste.

7.7 CONCLUSÃO

O CKCUES-teste é uma ferramenta que apresenta níveis de confiabilidade

questionáveis para avaliação da estabilidade e desempenho funcional do membro

superior dos adolescentes quando utilizada somente uma sessão de familiarização.

Os resultados mostram confiabilidade moderada a excelente, e relativa concordância

entre as avaliações. Dentre os escores mensurados pelo CKCUES-teste, o de

potência apresenta melhor nível de confiabilidade.

90

7.8 REFERÊNCIAS

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93

CONSIDERAÇÕES FINAIS

94

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os principais achados dos estudos realizados foram que: a) a dor no ombro

em adolescentes atletas apresenta uma frequência alta, a qual está associada à

idade e modalidade esportiva e afeta a função do membro superior em atividades

diárias e esportivas além da amplitude de movimento do ombro; b) a presença de

discinese escapular em adolescentes atletas embora não esteja associada com dor

no ombro, apresenta alta prevalência e associação com modalidade e volume de

treinamento; e c) o Closed Kinetic Chain Extremity Stability Test (CKUES-teste) é

uma ferramenta questionável para avaliação função do membro superior em

adolescentes.

Como conclusão, queixas de dor e alterações na cinemática escapular são

condições frequentes em adolescentes atletas de nível amador. Além disso, tais

fatores podem afetar os níveis de função do membro superior e consequentemente

o rendimento esportivo. Ferramentas que avaliam a função do ombro são

imprescindíveis, no entanto, para a população adolescente, o CKUES-teste parece

ser questionável. A inserção de profissionais envolvidos na medicina do esporte em

escolas e centros esportivos pode contribuir com a orientação, prevenção,

identificação e reabilitação de queixas dolorosas e lesões em atletas adolescentes

de nível amador.

95

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101

APÊNDICE 1 - CARTA DE ANUÊNCIA

102

APÊNDICE 2- TERMO DE ASSENTIMENTO

Elaborado com base na resolução 466/2012 – CNS/CONEP

Você está sendo convidado a participar da pesquisa intitulada Prevalência de

dor no ombro em adolescentes atletas e fatores associados sob

responsabilidade das pesquisadoras Valéria Mayaly Alves de Oliveira, Mayra

Ruana de Alencar Gomes e Alaine Souza Lima e do orientador Professor Rodrigo

Cappato de Araújo cujo objetivo é determinar a prevalência sintomas de dor no

ombro entre atletas adolescentes e verificar quais possíveis fatores estão

associados a esta dor.

Para realização deste trabalho usaremos os seguintes métodos: questionários

que avaliam as suas características individuais, esportivas, de dor e funcionalidade

do ombro, além de questionários sobre ansiedade, depressão e qualidade do sono

bem como a realização de testes que verificam as variáveis de desempenho

funcional do ombro.

Seu nome assim como todos os dados que lhe identifiquem serão mantidos

sob sigilo absoluto, antes, durante e após o término do estudo.

Quanto aos riscos e desconfortos, você poderá sentir dor no ombro e/ou

cansaço físico durante a realização de alguns testes.

Caso você venha a sentir algo dentro desses padrões, comunique ao

pesquisador para que sejam tomadas as devidas providenciais: em casos de dor, o

teste será interrompido e você receberá informações sobre como aliviar sua dor; em

casos de cansaço físico, será determinado um prazo de descanso entre os testes

para evitar tais desconfortos.

Os benefícios esperados com o resultado desta pesquisa são: determinar

com o resultado dos questionários e testes se você tem lesão no ombro e como está

a função do mesmo, dessa forma pretende-se verificar como a saúde do seu ombro

pode afetar o seu rendimento esportivo.

No curso da pesquisa você tem os seguintes direitos: a) garantia de

esclarecimento e resposta a qualquer pergunta; b) liberdade de abandonar a

pesquisa a qualquer momento, mesmo que seu pai ou responsável tenha consentido

sua participação, sem prejuízo para si; c) garantia de que caso haja algum dano a

103

sua pessoa, os prejuízos serão assumidos pelos pesquisadores ou pela instituição

responsável inclusive acompanhamento médico e hospitalar (se for o caso). Caso

haja gastos adicionais, os mesmos serão absorvidos pelo pesquisador.

Nos casos de dúvidas você deverá falar com o responsável, para que procure

os pesquisadores, a fim de resolver seu problema: Rodrigo Cappato de Araújo - Br

203 Km02 S/N, Cidade Universitária – Petrolina-PE ou pelo telefone (87) 9633-4858;

Valéria Mayaly Alves de Oliveira – Br 203 Km02 S/N, Cidade Universitária –

Petrolina-PE ou pelo telefone (87) 9952-4987.

Assentimento Livre e Esclarecido

Eu, _________________________________________________________,

após ter recebido todos os esclarecimentos e assinado o TCLE, confirmo que o(a)

menor ___________________________________________________________,

recebeu todos os esclarecimentos necessários, e concorda em participar desta

pesquisa. Desta forma, assino este termo, juntamente com o pesquisador, em duas

vias de igual teor, ficando uma via sob meu poder e outra em poder do pesquisador.

Petrolina, _____ de _________________ de 20___

Assinatura do responsável

______________________________________________________________

Assinatura do pesquisador

______________________________________________________________

104

APÊNDICE 3 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Elaborado com base na resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do

Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial em 12 de dezembro de 2012.

Convidamos V.Sa. a participar da pesquisa Prevalência de dor no ombro

em adolescentes atletas e fatores associados sob responsabilidade dos

pesquisadores Rodrigo Cappato de Araújo e Valéria Mayaly Alves de Oliveira

que tem por objetivo verificar a presença de dor no ombro entre atletas adolescentes

e se os possíveis fatores individuais, esportivas e funcionais do ombro podem

contribuir para o risco de dor nas diferentes modalidades esportivas.

Para realização deste trabalho, será utilizado o seguinte método: após a

assinatura do termo de consentimento, você responderá seis questionários, com

questões sobre a prática esportiva, a presença de queixas de dor no ombro, suas

habilidades para fazer certas atividades e questionamentos sobre ansiedade,

depressão e qualidade do sono. Sendo então submetido a exame para medição do

peso e da altura. Além disso, você será submetido à realização de testes que irão

verificar a saúde do seu ombro. Todos os procedimentos serão realizados por

avaliadores devidamente treinados para a realização destas tarefas. Esclarecemos

ainda que após a conclusão da pesquisa todo material a ela relacionado será

destruído, não restando nada que venha a comprometer o anonimato de sua

participação agora ou futuramente.

Quanto aos riscos e desconfortos, a presente pesquisa oferece não prejuízos

à saúde do participante. Considera-se nesta pesquisa o risco de alguns participantes

sentirem dor ou desconforto no ombro e cansaço físico durante a coleta de dados,

portanto pretendemos reduzir estes riscos realizando intervalos de descanso entre

os testes e orientações de alívio da dor no ombro. Além de assegurar sobre a

confidencialidade dos dados e das informações coletadas, e garantidos de que os

resultados serão obtidos apenas para alcançar os objetivos da pesquisa, incluindo a

sua publicação na literatura científica especializada. Como possíveis benefícios, esta

pesquisa contribui para verificar a prevalência de dor no ombro e os possíveis

fatores associados à esta dor bem como avaliar à saúde do ombro dos adolescentes

atletas. Dessa forma, os possíveis fatores de risco informarão o comprometimento

no desempenho esportivo e as implicações sociais e econômicas para os mesmos e

105

o Estado. De tal maneira a gerar dados que sirvam de subsídio para minimizar os

possíveis riscos de dor e lesão no ombro.

O (A) senhor (a) terá os seguintes direitos: a garantia de esclarecimento e

resposta a qualquer pergunta; a liberdade de abandonar a pesquisa a qualquer

momento sem prejuízo para si ou para seu tratamento (se for o caso); a garantia de

privacidade à sua identidade e do sigilo de suas informações; a garantia de que caso

haja algum dano a sua pessoa (ou o dependente), os prejuízos serão assumidos

pelos pesquisadores ou pela instituição responsável inclusive acompanhamento

médico e hospitalar. Caso haja gastos adicionais, os mesmos serão absorvidos pelo

pesquisador.

Nos casos de dúvidas e esclarecimentos o (a) senhor (a) deve procurar os

pesquisadores: Rodrigo Cappato de Araújo - Br 203 Km02 S/N, Cidade Universitária

– Petrolina-PE ou pelo telefone (87) 9633-4858; Valéria Mayaly Alves de Oliveira –

Br 203 Km02 S/N, Cidade Universitária – Petrolina-PE ou pelo telefone (87) 9952-

4987. Caso suas dúvidas não sejam resolvidas pelos pesquisadores ou seus direitos

sejam negados, favor recorrer ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de

Pernambuco, localizado à Av. Agamenon Magalhães, S/N, Santo Amaro, Recife-PE

ou pelo telefone 81-3183.3775 ou através do e-mail comitê[email protected]

Eu ______________________________________, após ter recebido todos os

esclarecimentos e ciente dos meus direitos, concordo em participar desta pesquisa,

bem como autorizo a divulgação e a publicação de toda informação por mim

transmitida em publicações e eventos de caráter científico. Desta forma, assino este

termo, juntamente com o pesquisador, em duas vias de igual teor, ficando uma via

sob meu poder e outra em poder dos pesquisadores.

Local: __________________________ Data: ____/____/____

Assinatura do aluno:___________________________________________________

Assinatura do Responsável:_______________________________________

Assinatura do Pesquisador:________________________________________

106

APÊNDICE 4- QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO

107

108

ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO QUICK-DASH

109

110

111

ANEXO 1 - INTENSIDADE E LOCALIZAÇÃO DA DOR

Assinale no mapa corporal a região do membro superior que você sente dor.

Em seguida, assinale a intensidade da dor da região em questão.

INTENSIDADE DA DOR

1 2 3 4 5

Nenhuma dor ou desconforto

Alguma dor ou

desconforto

Moderada dor ou

desconforto

Bastante dor ou

desconforto

Intolerável dor ou

desconforto

112

ANEXO 2 - ESCALA DE AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DO OMBRO DO

ESPORTISTA (EROE)

113

114