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UNIMAR - UNIVERSIDADE DE MARÍLIA ALLAN CÉSAR DE ARRUDA A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NA CONTRAMÃO DO CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL MARÍLIA 2017

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UNIMAR - UNIVERSIDADE DE MARÍLIA

ALLAN CÉSAR DE ARRUDA

A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NA CONTRAMÃO DO CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL

MARÍLIA

2017

ALLAN CÉSAR DE ARRUDA

A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NA CONTRAMÃO DO CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Universidade de Marília como requisito para a obtenção do título de Mestre em Direito, sob orientação da Profa. Dra. Mariana Ribeiro Santiago.

MARÍLIA 2017

Arruda, Allan César de A Obsolescência programada na contramão do consumo

sustentável no Brasil/ Allan César de Arruda. - Marília: UNIMAR, 2017.

125f.

Dissertação (Mestrado em Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e Mudança Social) – Universidade de Marília, Marília, 2017. Orientação: Profª. Drª. Mariana Ribeiro Santiago

1. Consumo Sustentável 2. Globalização 3.Obsolescência

Programada 4. Relações de Consumo I. Arruda, Allan César de CDD – 342.231

ALLAN CÉSAR DE ARRUDA

A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NA CONTRAMÃO DO CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Universidade de Marília como requisito parcial para a obtenção de título de Mestre em Direito, sob orientação do Profa. (a) Dr. (a) Mariana Ribeiro Santiago Aprovado em: __/__/____

_________________________________________________ Coordenação do Programa de Mestrado em Direito

_______________________________________________ Profa. Dra. Mariana Ribeiro Santiago

_______________________________________________ Prof.

_______________________________________________ Prof.

Dedico esse trabalho primeiramente a Deus e a minha família.

Agradeço a Deus por me dar a oportunidade de concluir mais esse trabalho. A minha família pela paciência nos vários momentos de ausência. A minha namorada pelo apoio e compreensão nos momentos de ausência. A minha orientadora Dra. Mariana Ribeiro Santiago pela cordial atenção dispensada e pelos grandes ensinamentos. E a todos os que de uma forma ou de outra me ajudaram, ‘sendo com a torcida, orações e apoio moral’.

“Para bem ou para mal, estamos sendo impelidos rumo a uma ordem global que ninguém compreende plenamente mas cujos efeitos se fazem sentir sobre todos nós.”

(Anthony Giddens – Mundo em descontrole: o que a

globalização está fazendo de nós, p. 17)

A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NA CONTRAMÃO DO CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL

RESUMO: O estudo apresentado visa demostrar as principais mudanças trazidas após o pós guerras, revoluções e a massificação da produção juntamente com as novas práticas utilizadas pelos fornecedores como a obsolescência programada, alterações que geram um desconforto e preocupação, pois vão na contramão do consumo sustentável. A pesquisa analisa ainda o conhecimento do termo obsolescência programada, os produtos que mais afetados por essa prática e quais os tipos de respostas que são dadas a cada caso quando empresa são acionadas. Dessa maneira, a prática da obsolescência programada segue do lado oposto, dos princípios sustentabilidade, função social da empresa, solidariedade e boa-fé. A pesquisa teve como foco demonstrar essa evolução, mostrar como era a prática da obsolescência programada utilizada por alguns fornecedores com a finalidade obterem maiores lucros, dentro de uma análise do consumo sustentável, nas esferas do meio ambiente, social e econômico, através de uma pesquisa documental com o levantamento de dados através de revisão de literatura de cada área estudada, mediante a aplicação do método hipotético-dedutivo e ainda o método indutivo onde é feito uma pesquisa de campo realizada através da plataforma de formulários da Google que buscou dimensionar o conhecimento acerca da prática da obsolescência programada. PALAVRAS-CHAVE: globalização. obsolescência programada. relações de consumo. consumo sustentável.

THE PLANNED OBSOLESCENCE AGAINST THE SUSTAINABLE CONSUMPTION IN BRAZIL

ABSTRACT: The study aims to show the main changes brought about after the post wars, revolutions and the massification of production along with the new practices used by vendors such as planned obsolescence, changes that cause a discomfort and concern, because they go against the sustainable consumption. The research analyzes the term knowledge still planned obsolescence, the products most affected by this practice and what kinds of answers that are given to each case when enterprise are triggered. In this way, the practice of planned obsolescence follows from the opposite side, of the sustainability principles, social function, solidarity and good faith. Focused research demonstrate that evolution, show the practice of planned obsolescence used by some suppliers in order to obtain higher profits, in an analysis of sustainable consumption, in the spheres of environment, social and economic through a documentary research with data collection through literature review of each study area, through the application of the hypothetico-deductive and inductive method where it is still made a field research conducted through the platform of forms of Google sought to scale the knowledge about the practice of planned obsolescence. KEYWORDS: globalization. planned obsolescence. consumer relations. sustainable consumption.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Sexo dos participantes...............................................................................96

Figura 2. Idade dos participantes..............................................................................97

Figura 3. Escolaridade dos participantes..................................................................97

Figura 4. Conhecimento do termo obsolescência programada.................................98

Figura 5. Produtos adquiridos pelos participantes e que apresentaram defeitos......99

Figura 6. Prazos em que os defeitos surgiram........................................................100

Figura 7. Grau de satisfação na solução do problema............................................100

LISTA DE ABREVIATURAS CDC – Código de Defesa do Consumidor.

Art. – Artigo.

P – Página.

STJ – Superior Tribunal de Justiça.

V - Volume.

Nº - Número.

REsp – Recurso Especial.

RJ – Rio de Janeiro.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11 1 AS ALTERAÇÕES GERADAS NO MUNDO PELA GLOBALIZAÇÃO .................. 14 1.1 A INTERNET E SEU IMPACTO NA GLOBALIZAÇÃO ............................................. 14 1.2 A SOCIEDADE DE CONSUMO E O CRESCIMENTO DO CONSUMISMO .............. 24 2. A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO BRASIL ...................................................... 34 2.1 A CONSTRUÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ........................... 34 2.2 SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO ................................................................... 40 2.3 OS OBJETOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO .............................................................. 49 2.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO .................................... 51 2.5 O CONSUMIDOR E SEUS DIREITOS ........................................................................... 68 3 A PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA ............................................... 82 3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA .......................... 82 3.2 UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO .................................................................................................. 96 3.3 OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA E O TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE ......... 102 CONCLUSÃO................................................................................................ ...................... 114 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 117

11

INTRODUÇÃO

O período pós Segunda Guerra, atrelado aos efeitos da Revolução Industrial acabaram

por redefinir as relações de consumo no mundo, tendo como pano de fundo todo o processo

definido como globalização, cujas primeiras manifestações estão no século XVI, com

expansão marítima europeia, e sua recente explosão a partir da Revolução Técnico-Científica-

Informacional, no limiar do século XX.

Algumas empresas, pela massificação da produção, desenvolveram estratégias de

persuasão do consumidor, dentre elas as práticas da obsolescência programada, correndo o

risco de verem a qualidade de seus produtos sendo questionada, dada a baixa durabilidade,

desde que os lucros fossem satisfatórios. Tal prática acabou por gerar problemas de

dimensões universais, uma vez que colocou em risco os recursos do planeta e a qualidade de

vida da população, pois o consumo descontrolado ligado aos recursos finitos do mundo

poderá gerar no futuro um grande perigo a sobrevivência do planeta.

Diante disso, o presente trabalho tem como tema a análise da prática da obsolescência

programada, na relação de consumo no viés das tentativas isoladas e regulamentação do

desenvolvimento sustentável, ou seja, o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da

geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras

gerações, sejam por meio de leis específicas, estudos sobre a educação ou até mesmo por um

trabalho em conjunto envolvendo o próprio Estado, empresa e consumidores, todos com uma

mesma finalidade.

Assim sendo, definiu-se como objetivo geral analisar a prática da obsolescência

programada utilizada pelos fornecedores como conduta incompatível com o consumo

sustentável para a sociedade na área ambiental, social e econômica. Seguido de objetivos

específicos, quais sejam: resgatar nuances do processo de globalização em oposição aos

princípios que resguardam os direitos do consumidor; demonstrar, através de pesquisa de

campo, o conhecimento do consumidor acerca da prática da obsolescência programada.

O trabalho estrutura-se em três capítulos. O primeiro aborda as principais mudanças

decorridas pós Segunda Guerra, Revolução Industrial, resvalando na Revolução

informacional, todas elas atreladas à globalização. Tais fatos explicam a mudanças de postura

dos fornecedores e as consequências na vida do consumidor, bem com a apresentação do

produto, modos de circulação e descarte. Em um pequeno espaço de tempo, a humanidade

saiu de um modo de produção artesanal, visando a subsistência, sendo bombardeada por

12

novas tecnologias - TVs, rádios, internet, e outros aparatos – que redefiniram concepções de

produção e consumo.

Com todas essas mudanças e com a globalização, criação da internet, aumentou a

produção e o próprio consumo no mundo, pois com as novas tecnologias a publicidade

tornou-se uma arma eficaz para as empresas que aproveitaram para expandir os seus negócios

e gerar mais lucro.

No segundo capítulo aponta-se as preocupações dos governantes, e magistrado, com o

crescimento exacerbado do consumo, e o empenho em conter as práticas desreguladas de

fornecedores, práticas estas já presentes na Antiguidade, e que foram moldados e aprimorados

com legislação própria, a exemplo do Código de Defesa do Consumidor. Pelo exame dos

meios de proteção dos direitos dos consumidores, serão discutidos artigos que definem os

sujeitos das relações de consumo, consumidor e fornecedor, bem como os objetos, produtos e

serviços.

A nova legislação foi traçada com uma visão principiológica onde em seu texto traz

vários princípios aplicados nas relações de consumo. Juntamente com os princípios foi criado

um artigo específico para determinar todos os direitos dos consumidores, assim, fazendo com

que o mesmo ficasse em pé de igualdade com os fornecedores.

O foco do terceiro capítulo é a obsolescência programada propriamente dita, de forma

que procurou-se conceituá-la, determinar os tipos mais comuns existentes, bem como

apresentar os resultados de pesquisa de campo realizada por meio eletrônico, pelo sistema de

formulários da Google.

Tal pesquisa, ao lado de revisão de literatura ampla e sintética, segue os parâmetros do

método hipotético-dedutivo e o indutivo onde buscou dimensionar o conhecimento dos

participantes acerca da prática da obsolescência programada, produtos mais comuns que

apresentam defeitos, a reação dos fornecedores quando são acionados, e o grau de satisfação

dos consumidores quando querem ter seus direitos resguardados.

Apresenta-se ainda uma breve explanação acerca da prática da obsolescência

programada que, consideradas as evidências, está na contramão do desenvolvimento

sustentável, colocando em risco o futuro do planeta, quer pela dizimação da geração atual e

futura.

Finalizando foi feito uma breve explanação dos possíveis fatos que poderiam ajudar

nessa preocupação de melhorar a qualidade de vida por meio de um consumo sustentável, seja

por meio de políticas públicas, incentivos fiscais, uma maior fiscalização e aplicação rigorosa

do judiciário, uma vasta melhoria na educação financeira dos consumidores tirando do Estado

13

o papel que o mesmo tem imposto nos últimos anos por meio do chamado biopoder e um

estudo e cuidados com a colaboração entre Estado, empresas e consumidores.

Tudo isso com a finalidade de garantir uma melhor qualidade de vida da população

mundial atual e as gerações futuras.

14

1. AS ALTERAÇÕES GERADAS NO MUNDO PELA GLOBALIZAÇÃO

Nesse primeiro capítulo, busca-se elucidar alguns aspectos descritivos da globalização,

e o importante surgimento de novas tecnologias, fenômeno este que tem alterado a economia,

cultura e sociedade, antevendo-se efeitos positivos e negativos para as gerações.

Esse fenômeno alterou as formas de produção-consumo-mundial no mundo dando

força ao sistema capitalista e à sociedade de consumo, dois aspectos relevantes – novas

formas de produção e consumo – são decorrentes da nova vertente assumida pelo sistema

capitalista que ganharam forças com as novas tecnologias como, TVs, rádio e internet,

aumentando e facilitando a propagação de suas publicidades aos consumidores.

A análise da sociedade de consumo é fator importante para esclarecer o que os

governos buscam para tentar manter as economias capitalistas ativas e com poder decisório,

criando na mente da população que é necessário que se consuma os produtos expostos nos

mercados para que a economia continue crescendo e ela, população, seja mais feliz e realizada

com o hiperconsumo.

1.1 A INTERNET E O SEU IMPACTO NA GLOBALIZAÇÃO

O mundo está em constante mudanças, passando por várias fases, pois saiu da idade da

pedra para chegar ao momento atual, alterando-se os meios de existência ou como se

relaciona com o meio natural.1 A caça e pesca com as próprias mãos e a plantação familiar

deram lugar para a produção em massa e a compra de produtos industrializados afetou os

antigos hábitos. Os meios de transportes e a comunicação acelerou os meios de trocas dos

povos que já existiam há muito tempo, porém ganham forças.2

Por outro lado, a produção de riqueza passa a ser feita de forma desigual; ocorre uma

padronização no sistema nas condições de vida das pessoas; muda-se o sistema de trabalho,

exigindo-se mão de obra especializada, há uma mudança no convívio familiar, a ciência ganha

uma grande modernização e há a dissolução das fronteiras políticas.3

1 MORAES, Kamila Guimarães. Obsolescência planejada e direito: (in) sustentabilidade do consumo à produção de resíduos. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2015. p. 17. 2 PAULA, Victor Augusto Lima de. Globalização, direito e internet: constatações e pespectivas. Revista Jurídica. v. 2. n. 43. 2016. Disponível em: < http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/index >. Acesso em: 31 jan. 2017. p. 3. 3 BECK Ulrinch. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução Sebastião Nascimento. São Paulo. Ed. 34. 2011. p. 5.

15

A globalização é marcada pelo o aumento dos meios tecnológicos, a baixa no custo de

produção de áreas como o transporte, comunicação e informação, aumentando o mercado

internacional derrubando barreiras mundiais criando um padrão mundial de consumo onde

todos querem os mesmos tipos de produtos.4

O sistema de troca de um produto por outro extinguiu-se dando lugar à moeda como

era feito. Todas essas mudanças tornaram o do mundo um lugar incerto, pelas constantes

alterações seja na economia, política e formas de sociedades em uma velocidade intensa.

Assim, como Giddens bem descreve, estamos rumando à era global, cujo caminhos

são desconhecidos e não se sabe quais serão os efeitos que essa nova ordem global irá causar

sobre toda a população mundial.5

Nessa nova ordem global, tempo e espaço serão compreendidos de forma diferenciada

e serão fatores diferenciadores do novo momento na sociedade, onde as novas tecnologias

trazem uma mudança mundial.6

Esse novo momento é a globalização, evento que surge em meio às grandes revoluções

e pós guerras, e que para muitos como Beck, Bauman e Chiavenato trará uma nova forma de

sociedade, ou seja, uma padronização na forma de se viver7, uma lavagem cerebral8 e será o

destino da humanidade, tornando-se algo irreversível, afetando a todos na mesma medida9.

Assim, nota-se que a globalização explica as mudanças ocorridas no mundo, dentro

dos períodos do crescimento do capitalismo, a Revolução Industrial, guerras, aumento das

produção para a chamada “produção em massa”, por exemplo10. Trata-se de um fenômeno

antigo, que se expandiu a partir das viagens marítimas de Portugal e Espanha, países que

buscavam desvendar novas terras, novos povos, no bojo do século XVI.

4 BECK Ulrinch. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução Sebastião Nascimento. São Paulo. Ed. 34. 2011. p. 4. 5 GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. 6ª. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro. Record. 2007. p. 17. 6 BAUMAN, Zygmunt. Globalização as consequências humanas. Tradução Marcus Prenchel. Rio de Janeiro. Zahar. 1999. p. 8. 7 BECK Ulrinch. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução Sebastião Nascimento. São Paulo. Ed. 34. 2011. 8 CHIAVENATO, Júlio José. Ética globalizada & Sociedade de consumo. 2ª ed. São Paulo. Moderna. 2004. p. 13. 9 BAUMAN, Zygmunt. Globalização as consequências humanas. Tradução Marcus Prenchel. Rio de Janeiro. Zahar. 1999. p.7. 10 BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado. 5ª ed. São Paulo. Contexto. 2015. p. 21-22.

16

O processo da globalização por si só não é nem bom nem ruim; a situação a ser

analisada é o modo como é percebido, pois, dependendo do caminho empreendido, pode-se

chegar à miséria ou a abundância.11

Com a globalização pode-se dizer que vieram paralelamente, resultados positivos e

negativos nas áreas da sociedade como cultura e economia, onde o ponto principal é o

capitalismo e o crescimento da sociedade de consumo.12

Nesse sentido é importante rever o que Bauman ensina:

A “globalização” está na ordem do dia; uma palavra da moda que se transforma rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas de todos os mistérios presentes e futuros. Para alguns, “globalização” é o que devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da nossa infelicidade.13

Dessa maneira, pode-se conceituar o fenômeno da globalização como a expansão do

número de informação que afetou vários países e empresas, acelerando os processos de

transações econômica, interligando mercados no mundo todo, saindo das vendas e compras

nacionais, expandindo-se para todo o globo, ultrapassando as fronteiras nacionais.14

Santos também expõe sobre o tema, afirmando que a globalização é o topo da

chamada internacionalização dos mercados, dando maior força ao mundo capitalista.15

Complementando os conceitos acima, para Giddens: “A globalização é política,

tecnológica e cultural, tanto quanto econômica. Foi influenciada acima de tudo por

desenvolvimentos nos sistemas de comunicação que remontam apenas ao final da década de

1960.”16

Com o processo da globalização, pessoas que viviam nas áreas rurais e cultivavam

produtos para o sustento familiar vieram para a cidade atraídos pela Revolução Industrial,

passam a trabalhar em fábricas executando serviços repetitivos, diferentes dos realizados nos

campos, caracterizando uma nova forma de produção.17

11 CHIAVENATO, Júlio José. Ética globalizada & Sociedade de consumo. 2ª ed. São Paulo. Moderna. 2004. p. 9. 12 SANTANA, Héctor Valverde. Globalização econômica e proteção do consumidor: o mundo entre crises e transformações. Revista de Direito do Consumidor. V. 98/2005. p. 135 – 151. Mar – Abr. 2015. p. 1. 13 BAUMAN, Zygmunt. Globalização as consequências humanas. Tradução Marcus Prenchel. Rio de Janeiro. Zahar. 1999. p. 7. 14 BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado. 5ª ed. São Paulo. Contexto. 2015. p. 12-13. 15 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 12. 16 GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. 6ª. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro. Record. 2007. p. 21. 17 SOLA, Diogo Diniz Lopes. Globalização e a crise do estado moderno: perspectivas e desafios do desenvolvimento sustentável. Curitiba. Juruá. 2015. p. 30.

17

Para Santana a globalização decorre da chamada Revolução Industrial, pois houve

grandes mudanças econômicas e sociais, tendo como ponto a crescimento da atividade

produtiva estabelecida nas grandes cidades, ou centros urbanos.18

O êxodo rural, acentua-se e grande número de pessoas a migra para os grandes centros

em busca da felicidade, ou sucesso financeiro pela a chegada das grandes multinacionais que

abriram seu campo de atuação em todo mundo.

Moraes descreve que: “Foi apenas uma questão de tempo e oportunidades para que

esses povoados pré-modernos em crescimento se desenvolvessem em algo maior e mais

complexo, transformando-se no que conhecemos atualmente por cidades.19

O crescimento da população, guerras, mudanças na forma de vida, a mulher

garantindo seus direitos, a tecnologia crescendo, mídia e medicina em grande

desenvolvimento e a internet.20, foram fatores decisivos no processo de mudanças trazidas

pela globalização.

Várias foram as fases dessa mudança, sendo a primeira no período de 1760 e 1840,

com o advento das ferrovias, a invenção da máquina a vapor e a realização da produção

mecânica. Logo após, nos séculos XIX e XX, outra grande revolução, qual seja, a utilização

da eletricidade, trazendo celeridade e aumento nas montagens, com a chamada produção em

massa. Já a partir de 1960, começa a chamada revolução digital, com a criação de

computadores e da internet.21

Diante de tal contexto Souza e Oliveira tratam globalização como:

(...) um fenômeno político, econômico, tecnológico e cultural que desencadeou a ruptura das barreiras territoriais, a internacionalização e a difusão do conhecimento e da informação em nível global, pelo avanço e desenvolvimento dos meios de comunicação.22

18 SANTANA, Héctor Valverde. Globalização econômica e proteção do consumidor: o mundo entre crises e transformações. Revista de Direito do Consumidor. V. 98/2005. p. 135 – 151. Mar – Abr. 2015. p. 1. 19 MORAES, Kamila Guimarães. Obsolescência planejada e direito: (in) sustentabilidade do consumo à produção de resíduos. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2015. p. 27. 20 SANTIAGO, Mariana Ribeiro; CAMPELLO, Lívia Gaigher Bósio. Função solidária: a terceira dimensão dos contratos. Disponível em: < http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=7283518d47a05a09 > Acesso em 20 maio. 16.. p. 2. 21 SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Tradução. Daniel Moreira Miranda. São Paulo. Edipro. 2016. p. 15-16. 22 SOUZA, Oreonnilda de. OLIVEIRA, Lourival José de. Globalização e relações de consumo: servidão moderna e degradação ambiental. In. Revista Direito Ambiental. v. 6. n. 2. 2016. p. 157.

18

A Segunda Guerra Mundial, é um marco na evolução dos meios de comunicações e

tecnológicos, acessíveis em quase todo o mundo, através de satélites que transmitem

informação a nível mundial, com precisão e rapidez23.

No final do século XX, adentrando o século XXI, momentos históricos como o

encontro dos presidentes da Coréia do Sul e do Norte, baixas e altas das bolsas de valores,

temperaturas em todo o mundo, o novo lançamento do salão de carros em Paris, demarcam,

definitivamente, a era do rompimento das fronteiras geográficas e do tempo, nos idos de

196024.

A chamada internacionalização da economia, ocorreu pela criação de novas

tecnologias, aplicadas na indústria.25

Saraiva e Veras Neto define que:

A globalização, como mecanismo integrador econômico-social em escala planetária, possibilitou a redução das fronteiras e a extensão mundial das relações sociais entre os indivíduos. Em contrapartida, no que tange à ociedentalização da humanidade, e a globalização representa a intensificação e a aceleração daquilo que se entender por dominação econômico-cultural ocidental.26

Claro está que tais alterações fizeram com que diminuíssem as barreiras e fronteiras,

mudando-se o sentido de espaço geográfico no mundo, onde os mercados e culturas passaram

a ter acesso a outros tipos de outros países.27

Paralelamente o sistema de mercados e economia mundial foram afetados e afetaram

economias inteiras pela utilização da internet, com a vasta quantidade de informação

transferidas rapidamente – dados bancários – por exemplo.28

Assim sendo, o processo de globalização é um sistema complexo, pois envolve não

apenas a economia, mas outros pontos importantes dentro da sociedade, como comunicação,

política interna e internacional.29

23 GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. 6ª. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro. Record. 2007. p. 21. 24 BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado. 5ª ed. São Paulo. Contexto. 2015. p. 9. 25 BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado. 5ª ed. São Paulo. Contexto. 2015. p. 25. 26 SARAIVA, Bruno Cozza. VERAS NETO, Francisco Quintanilha. Estado, Constituição e Globalização: a retomada do social e a construção do ambiental. In. Revista Veredas do Direito, v. 12. N. 23. p. 337-366 – Janeiro/Junho. Belo Horizonte. 2015. p. 342. 27 BAUMAN, Zygmunt. Globalização as consequências humanas. Tradução Marcus Prenchel. Rio de Janeiro. Zahar. 1999. p. 19. 28 GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. 6ª. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro. Record. 2007. p. 20. 29 ZOLO, Danilo. Globalização: um mapa dos problemas. Florianópolis: Conceito Editorial, 2010. p. 9.

19

A globalização afeta o mundo, pois se trata da palavra da moda como Bauman traz,

em vários locais se ouve tal palavra, parece a revolução do mundo, mas tal processo não é

igual para todos.30

No entanto fato, a globalização não é uma forma padronizada, homogeneização de

condições econômicas, pois nem todos os países do mundo se adaptaram-se ao novo processo

econômico, causando prejuízos e vantagens em outros lugares.31

Houve um aumento nas relações internacionais em áreas como social, cultural, política

e com maior intensidade na parte econômica. O comércio internacional cresceu sendo criados

setores regionais de Estados que visam o comércio e mercados comuns.32

O processo de globalização elimina barreiras e rompe fronteiras territoriais fazendo

com que haja uma economia internacionalizada por meio da tecnologia, tornando sociedades e

culturas mais desenvolvidas, mas também pode causar uma mudança no meio da sociedade

aumentando o consumismo e criando muita desigualdade social.33

Pode-se constatar que a globalização trouxe grandes mudanças para o mundo, porém

juntamente com essas mudanças e melhorias, também vieram os pontos negativos, como

aumento de lixo, gerado pelos descartes desregulados de produtos tecnológicos; a exclusão

social reflexo abertura de mercado, que na verdade não é globalizada, afetando muitos países

que convivem com a miséria.34

É necessário salientar que a globalização trouxe a chamada exclusão digital, sendo que

com a enorme distribuição de informação, grandes cidades possuem mais telefones que um

único país, dessa maneira, a mesma globalização que traz vantagens integra grandes centros

econômicos, em outros locais desintegra mercados com a falta de infraestrutura,

telecomunicação e serviços de informática, resultando na falta de competitividade

internacional desses países excluídos.35

Tais mudanças deram origem a criação de uma “torre de babel” onde passou-se a

imaginar que tudo é possível, acreditando-se em um mundo de fabulações em que se cria um

30 MACEDO JUNIOR, Ronaldo Porto. Globalização e direito do consumidor. Doutrinas Essenciais de Direito do Consumidor. v. 2. p. 1377 - 1389. Abr. 2011. 31 BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado. 5ª ed. São Paulo. Contexto. 2015. p. 14. 32 SANTANA, Héctor Valverde. Globalização econômica e proteção do consumidor: o mundo entre crises e transformações. Revista de Direito do Consumidor. V. 98/2005. p. 135 – 151. Mar – Abr. 2015. p. 3-4. 33 SOUZA, Oreonnilda de. OLIVEIRA, Lourival José de. Globalização e relações de consumo: servidão moderna e degradação ambiental. In. Revista Direito Ambiental. v. 6. n. 2. 2016. p. 160. 34 SOLA, Diogo Diniz Lopes. Globalização e a crise do estado moderno: perspectivas e desafios do desenvolvimento sustentável. Curitiba. Juruá. 2015. p. 62. 35 BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado. 5ª ed. São Paulo. Contexto. 2015. p. 78-79.

20

único discurso para todo o mundo, sendo o foco maior o dinheiro, a monetarização da vida

social e pessoal do ser humano.36

Dessa maneira, nota-se que o mundo globalizado assentado nas novas tecnologias,

visa lucros e aumento de sua produção, esquecendo que isso afeta outros fatores da vida, e o

nosso próprio planeta. Contudo, não se pode deixar de citar que as novas tecnologias foram,

ao mesmo tempo, uma grande conquista. Os meios de comunicação evoluíram muito com a

globalização, as TVs, os computadores e celulares, trazendo muitas melhorias para o mundo.

Como pode-se ver, para que nasça uma nova produção social de riqueza, o mundo

acaba entrando de uma produção de risco, pois toda ação gera uma reação, no caso da

globalização os efeitos começam aparecer, porém aparenta ser apenas um início, pois tem

muito por vir, mas que só será apreciado com o tempo.37

A internet, criada com fins de uso militar, posteriormente foi propagada para todo o

mundo, trazendo um conhecimento globalizado, ampliando as informações disponíveis aos

indivíduos e tornando o mercado econômico muito mais competitivo.38

Mattos demonstra que:

A rede, que foi chamada de Internet (entre Redes), foi um sucesso e começou a se expandir. Novas aplicações eram descobertas. A primeira foi o e-mail (eletronic mail), transformando-a também em um correio eletrônico. Em 1989, a Internet sai do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e passa a ser usada pelas empresas e organizações. Em 1995, metade da Internet já se localizava fora dos Estados Unidos; foi quando ela começou a funcionar também no Brasil, por meio da Embratel, então uma empresa estatal (depois adquirida pela MCI). A Internet não tinha mais dono: acabara de ser de domínio público.39

Internet, termo inglês que significa International Network of Computers, formada por

uma rede de computadores ligados por linhas telefônicas, satélites. Uma rede que vincula,

universidades, governos, empresas e milhões de pessoas no planeta.40

Um sistema que saiu do poderio militar para as Universidades, Governos, empresas e

chegou até a população, tornando-se uma das tecnologias mais utilizadas no mundo, dando

36 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 9. 37 BECK Ulrinch. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução Sebastião Nascimento. São Paulo. Ed. 34. 2011. p. 23. 38 SCHERKERKEWITZ, Ivo Chaitz. Direito e Internet. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2014.p. 15-16. 39 MATTOS, Antonio Carlos M. Sistemas de informação: uma visão executiva. São Paulo. Saraiva. 2005. p. 62-63. 40 SCHERKERKEWITZ, Ivo Chaitz. Direito e Internet. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2014.p.14.

21

maior praticidade à chamada comunicação, aumentando a utilização dos computadores e

popularizando a comunicação de dados.41

No Brasil a Lei 12.965/2014 assim dispõe em seu artigo 5º, inciso I, que entende por

um sistema que é formado a internet como um conjuntos de protocolos lógicos a nível

mundial para que o seu uso seja irrestrito ao público, facilitando a comunicação de dados por

diferentes continentes através da rede.

Com essa nova tecnologia, países como o Brasil passaram da condição de

desconhecidos, de mercados inacessíveis ou de possibilidades inexistentes e entraram no

processo de competividade. Com a explosão da utilização da internet muitos doutrinadores e

sociólogos passaram nominar este de um novo ciclo, Barreto Junior relata que:

(...) esse novo ciclo histórico de Sociedade da Informação, cuja principal marca é o surgimento de complexas redes profissionais e tecnológicas voltadas à produção e ao uso da informação que alcançam ainda sua distribuição através do mercado, bem como as formas de utilização desse bem para gerar conhecimento e riqueza.42

A internet se tornou tão conhecida mundialmente que em muitos casos se confunde

com o termo “rede de computadores”; sendo que a internet, na verdade, é constituída por

várias redes de computadores que estão interligados, por roteadores e provedores. 43

Assim, Bargalo assevera: “(...) os computadores possma comunicar-se pela Internet, a

linguagem comum utilizada é o protocolo TCP/IP. O protocolo TCP/IP é formado por dois

componentes: o TCP, Transmission Control Protocol, protocolo de controle de transmissão, e

o IP, Internet Protocol, (...)”44

Como se vê, a humanidade passa por uma transformação, ligada às alterações

tecnológicas e com a utilização do computador e dos meios de energia, sistemas, transporte e

comunicações e principalmente com a mudança do suporte financeiro e comercial, e coloca

relevada importância na empresa que integra vida social e econômica da sociedade atual.45

Nesse novo ritmo criado pela globalização e pelo avanço da internet, Bauman ainda

descreve que o espaço deixa de existir com os novos meios de comunicações, onde ações e 41 BARBAGALO, Erica Brandini. Contrato eletrônicos: contratos formados por meio de redes de computadores: peculiaridades jurídicas da formação do vínculo. São Paulo. Saraiva. 2001. p. 32. 42 BARRETO JUNIOR, Irineu Francisco. Atualidades do Conceito de sociedade da informação para a pesquisa jurídica. In. O direito na sociedade da informação. Liliana Minardi Paesani. São Paulo. Atlas. 2007. 61 – 69. p. 62. 43 BARBAGALO, Erica Brandini. Contrato eletrônicos: contratos formados por meio de redes de computadores: peculiaridades jurídicas da formação do vínculo. São Paulo. Saraiva. 2001. p. 32. 44 BARBAGALO, Erica Brandini. Contrato eletrônicos: contratos formados por meio de redes de computadores: peculiaridades jurídicas da formação do vínculo. São Paulo. Saraiva. 2001. p. 33. 45 WALD, Arnoldo. Novas perspectivas da empresa - (vistas por um advogado). Revista Tributária e de Finanças Públicas. vol. 1 p. 39 – 50. Dez. 2010. p. 39.

22

informações passam a movimentar-se na velocidade de um clique, ou seja, por meio de

mensagens eletrônicas, cujo tempo de acesso é instantâneo, sendo que um fato que acontece

na China em coisa de minutos o mundo todo já tem acesso, encolhendo a insignificância do

instante.46

Dessa forma, com essa redução de espaço no tempo as pessoas passam a integrar um

espaço cibernético que elas nem sequer conhecem seus vizinhos. Assim, seguindo essa linha,

Giddens afirma que: “(...) Nelson Mandela é mais conhecido para nós do que o nosso próprio

vizinho de porta (...).47

Com a internet, as pessoas passam a ter um conhecimento universal, ou globalizado,

não sendo importante o local que as mesmas estejam fisicamente, pois as novas tecnologias

dão o acesso a informação do mundo todo.48

No Brasil o uso comercial da internet só foi liberado pelo governo em 1995, onde

começaram a surgir os primeiros provedores comerciais, fornecendo o serviço à população.49

A mecanização utilizada na primeira grande revolução levou aproximadamente 120

anos para que pudesse se propagar na Europa, já a internet obteve um resultado diferente, pois

em menos de uma década se espalhou pelo globo todo, um grande avanço ocorrido através do

fenômeno da globalização.50

Nas palavras de Scherkerkewitz: “O mundo ficou menor com o avanço da tecnologia.

As distâncias físicas foram rapidamente superadas, como nunca antes havia sido sequer

sonhado. (...) os avanços da medicina puderam ser compartilhados.”51

Portanto, a globalização foi de suma importância para as grandes alterações na

comunicação e na chamada sociedade de informação em que se vive com a criação da rede

mundial de computadores, como o aumento e o uso da informação traz ao mundo uma nova

roupagem, onde todos conseguem obterem informações que acontecem no mundo todo em

questão de segundos.52

46 BAUMAN, Zygmunt. Globalização as consequências humanas. Tradução Marcus Prenchel. Rio de Janeiro. Zahar. 1999. p. 20. 47 GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. 6ª. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro. Record. 2007. p. 22. 48 SCHERKERKEWITZ, Ivo Chaitz. Direito e Internet. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2014. p. 16. 49 SANTOS, Aldemar de Araújo. Informática na empresa. 4. Ed. São Paulo. Atlas. 2006. p. 57. 50 SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Tradução. Daniel Moreira Miranda. São Paulo. Edipro. 2016. p. 17. 51 SCHERKERKEWITZ, Ivo Chaitz. Direito e Internet. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2014. p. 20. 52 BARRETO JUNIOR, Irineu Francisco. Atualidades do Conceito de sociedade da informação para a pesquisa jurídica. In. O direito na sociedade da informação. Liliana Minardi Paesani. São Paulo. Atlas. 2007. 61 – 69. p. 62.

23

A mudança foi tão rápida com a chegada da internet que e as novas tecnologias, que as

máquinas se tornaram obsoletas, e a língua portuguesa não conseguiu nem dar um nome a

nova onda, utilizando-se de expressões estrangeiras normalmente do inglês para dar nome a

objetos e a forma de comunicar ideias.53

Segundo Bauman:

Afinal, o aparecimento da rede mundial de computadores pôs fim – no que diz respeito à informação – à própria noção de “viagem” (e de “distância” a ser percorrida), tornando a informação instantaneamente disponível em todo o planeta, tanto na teoria como na prática.54

Dessa forma, com o grande impacto gerado pela internet e as novas tecnologias

trazidas pela globalização, o mundo muda de forma significativa, nas tecnologias, nas ciências

biológicas, gerando grandes mudanças para as pessoas, com tantas inovações.55 Para Schwab:

“Somos testemunhas de mudanças profundas em todos os setores, marcadas pelo surgimento

de novos modelos de negócios, pela descontinuidade dos operadores e pela reformulação da

produção, do consumo, dos transportes e dos sistemas logísticos”.56

Com a internet, ou a chamada comunicação eletrônica, o conceito de informação foi

alterado, em razão de que a forma com que é levado ao seu público alvo muda completamente

o mundo. Por certo as pessoas conhecem tão bem os seus astros, Elvis Presley, Papa João

Paulo II e Pelé, porém não sabem nem dizer qual a cor de seu vizinho ao lado, mudando a

nova forma de se interagir em um mundo globalmente interligados ao passo de um simples

clique.57

O que não se sabe com exatidão é como todas essas inovações atingiram o mundo, e se

as proporções trazidas com a globalização serão boas ou más para o globo terrestre nos

aspectos ambientais, sociais, ambientais etc.

53 CHIAVENATO, Júlio José. Ética globalizada & Sociedade de consumo. 2ª ed. São Paulo. Moderna. 2004. p. 12. 54 BAUMAN, Zygmunt. Globalização as consequências humanas. Tradução Marcus Prenchel. Rio de Janeiro. Zahar. 1999. p. 22. 55 SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Tradução. Daniel Moreira Miranda. São Paulo. Edipro. 2016. p. 11. 56 SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Tradução. Daniel Moreira Miranda. São Paulo. Edipro. 2016. p. 11-12. 57 GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. 6ª. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro. Record. 2007. p. 22.

24

Chiavenato expõe que: “Em contrapartida, cresceu o desemprego. A violência

aumentou. As drogas conquistaram os jovens. A miséria e a fome são maiores que há vinte

anos. Nunca houve tantas guerras simultâneas.”58

Os avanços são grandes, porém com eles também surgem problemas causados pelo

rápido avanço dos meios tecnológicos, onde as pessoas não estão preparadas para as situações

que a rede pode trazer.

Diante disso, nos próximos tópicos serão abordados fatores trazidos com a

globalização e que poderão afetar sistematicamente o modo de atual, especificamente nas

relações de consumo.

1.2 A SOCIEDADE DE CONSUMO E O CRESCIMENTO DO CONSUMISMO A sociedade passou por mudanças, saindo da antiga sociedade de produtores, passando

para a sociedade de consumidores. A primeira visava a segurança; a segunda, o desejo, o

anseio do novo.

Segundo Norat: “(...) já na antiguidade se têm relatos de exploração comercial;

colônias como a de Kanes, na Ásia Menor, os egípcios, hebreus e principalmente os fenícios

praticaram o comércio em larga escala de produtos como perfume, cereais, marfim, metais,

joias, (...)”59

Dessa maneira o consumo já é introduzido na sociedade, onde os seres humanos se

inserem. Para fazer parte de um grupo, de uma sociedade, é preciso que se pratique as crenças

e também se insira dentro do seu sistema, situação que acontece na em todas as sociedades.

Não é diferente na sociedade consumo.60

Nesse novo modelo de sociedade levou-se em conta o fortalecimento da produção

incitando o consumo, colocando os consumidores como um sujeito que necessita comprar

para manter um estilo um identidade, dentro de sua vida coletiva, podendo integrar um grupo

se distinguindo do demais.61

58 CHIAVENATO, Júlio José. Ética globalizada & Sociedade de consumo. 2ª ed. São Paulo. Moderna. 2004. p. 12. 59 NORAT, Markus Samuel Leite. Evolução histórica do direito do consumidor. Revista Jurídica Cognitio

Juris, João Pessoa, a. I, n. 2, ago. 2011. Disponível em: <http://www.cognitiojuris.com/artigos/02/12.html>. 60 AUGUSTO, Maria Helena Oliva. Tempo e indivíduo no mundo contemporâneo: o sentido da morte. Psicologia USP. São Paulo, 1994, v. 5, n. 1-2. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771994000100012>. Acesso em: 01 maio de 2017. 61 CORTEZ, ATC., and ORTIGOZA, SAG., orgs. Da produção ao consumo: impactos socioambientais no espaço urbano [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 146 p. ISBN 978-85-7983-007-5. Available from SciELO Books < http://books.scielo.org >. p. 3

25

Como se sabe, todos são consumidores. As pessoas consomem na hora de comer, no

banho, no passeio, na educação, no lazer e no próprio trabalho, estando em constante

consumo, 62

Atualmente pode se falar em uma sociedade de consumo com nuances peculiares,

onde todos estão inseridos, no sistema, onde se pode ter um carro, um cartão de crédito e

outros benefícios que o próprio modelo de sociedade fornece, mas com um significado

diferenciado.63

Com a Revolução Industrial, pela utilização do aço e carvão, a população que morava

nos campos, ou áreas rurais, começou a migrar para os centro urbanos; assim, com esse

aumento, as pessoas começaram a mudar os hábitos e se interessar mais pelo consumo para

realizarem as suas necessidades do dia a dia.64

Dessa forma o capitalismo continua sendo o ponto principal no sistema econômico

mundial, estabelecendo a necessidade do aumento de capitais e fomentando a grande

produção em massa para manter o consumo e os mercados numa escala mundial. 65

Com as grandes alterações trazidas com a globalização, o mundo passou por uma

mudança muito rápida, pois com as novas tecnologias criadas e com os novos meios de

comunicações, transportes e a medicina atual não se pode pensar em barreiras geográficas ou

espaço, pois a nova realidade está para todos como se pode ver através de um clique.66

Segundo Lipovetsky a expressão “sociedade de consumo”:

(...) aparece pela primeira vez nos anos 1920, populariza-se nos anos 1950-60, e seu êxito permanece absoluto em nossos dias, como demonstra seu amplo uso na linguagem corrente, assim como nos discursos mais especializados.67

Dessa forma Silva expressa sobre a nova realidade que mudou no século XVIII em

diante, que passou a adotar um sistema econômico que visava a produção de lucro não

havendo nenhuma importância com a ética; onde se cria a preocupação os com o chamado ter,

62 LIMA, Gabriela Eulalio de. A sociedade de consumo e o desenvolvimento sustentável contruído a partir do consumo colaborativo. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 25. 63 Sociedade de consumo. Produção. Programa Consertos de Ideias 2015. (26min). Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=NtG6c4EKZk8 > Acesso em 20 out. 2016. 64BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 27. 65 NORAT, Markus Samuel Leite. Evolução histórica do direito do consumidor. Revista Jurídica Cognitio

Juris, João Pessoa, a. I, n. 2, ago. 2011. Disponível em: <http://www.cognitiojuris.com/artigos/02/12.html>. 66 BAUMAN, Zygmunt. Globalização as consequências humanas. Tradução Marcus Prenchel. Rio de Janeiro. Zahar. 1999. p. 19-20. 67 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo. Tradução Maria Lucia Machado. São Paulo. Companhia das Letras. 2007. p. 23.

26

que enraizado na cabeça da coletividade torna-se uma maneira de alimentar o próprio

sistema.68

Muitas das pessoas vivem em torno da diversão, educação, compras e contas a pagar.

Nessa nova realidade, a chamada sociedade de produtores passa a ser também a sociedade de

consumidores, onde o homem muda a sua forma de se relacionar com o meio ambiente.69

No século XIX, a sociedade de consumo já estava estabelecida em alguns países,

como Inglaterra, França e Estados Unidos. Neles já eram incluídas novas formas de

comercialização e técnicas de marketing, como as vitrines que eram voltadas para a rua para

atrair o olhar de quem por ali passasse, garantindo uma melhor divulgação do que era a moda

na época.70

Essa nova sociedade teve seu início na década de 1980, quando foi constatado por

historiadores que estava ocorrendo uma mudança visível na sociedade

contemporânea.71Assim, o consumo era o ponto estruturante do modelo econômico dos

países, visando garantir a satisfação do consumidor, sendo elas essenciais, ou não.72

Bauman define a nova sociedade como a sociedade líquido-moderna que tem como

ponto principal o consumo, o qual é a mais nova forma de satisfação das pessoas, ou pelo

menos traz como slogan tal premissa, mantendo um poder sedutor para garantir que o ato de

comprar vire rotina na vida de todos, pois para que uma sociedade de consumo possa durar

por longas décadas é necessário implantar na cabeça das pessoas que o consumo lhe trará a

felicidades ou satisfação.73

Sociedade de consumo é um rótulo que jornalistas, profissionais do marketing,

acadêmicos e intelectuais utilizam para descreve a sociedade contemporânea, onde se vive no

momento da informação, capitalizado desenfreado em um espetáculo onde o consumo está no

topo. 74

Bauman diz que:

(...) o consumo (...). É uma atividade que fazemos todos os dias, por vez de maneira festiva, ao organizar um encontro com os amigos, comemorar um evento importante

68 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes consumistas: do consumismo à compulsão por compras. São Paulo. Globo. 2014. p. 20. 69 MORAES, Kamila Guimarães. Obsolescência planejada e direito: (in) sustentabilidade do consumo à produção de resíduos. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2015. p. 31. 70 BARBOSA, Livia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 2004. p. 27. 71 BARBOSA, Livia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 2004. p. 15. 72 SANTANA, Héctor Valverde. Globalização econômica e proteção do consumidor: o mundo entre crises e transformações. Revista de Direito do Consumidor. V. 98/2005. p. 135 – 151. Mar – Abr. 2015. p. 4. 73 BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Tradução Carlos Alberto Medeiro, Rio de Janeiro. Zahar. 2005. p. 105. 74 BARBOSA, Livia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 2004. p. 7.

27

ou para nos recompensar por uma realização particularmente importante – mas a maioria das vezes é de modo prosaico, rotineiro, sem muito planejamento antecipado nem reconsiderações.75

Nesse novo modelo de sociedade é preciso criar algo novo a todo instante, para que os

consumidores possam se sentir insatisfeitos com o que têm, e assim, adquirir algo novo que

não dura por muito tempo, e que logo será substituído por um novo modelo, ou uma nova

ideia.76

Na sociedade de consumo o foco principal é a insatisfação dos desejos do ser humano,

centro importante onde cresce a busca pelos bens de consumo, pois estes perdem rapidamente

seu valor, atualizados por novos desejos de compra, saindo do ponto de necessário para uma

compulsão.77

A necessidade de consumir passa ser algo importante para as pessoas, motivo que leva

tantas pessoas aos shopping centers e lojas, em busca de um consolo, tentando resolver seus

problemas diários com a satisfação da compra, mesmo que momentaneamente. 78

No mesmo sentido dessa modificação nos meios de produção, fala-se em uma

despersonalização, desmaterialização do comércio jurídico que passou adotar um método de

contratação em massa, e contratos de adesões, padronizados para favorecer a agilidade na

contratação.79

Assim, as empresas, aproveitando-se da insatisfação dos desejos dos consumidores,

produzem objetos/mercadorias em abundância, conseguindo a multiplicação do consumo com

os novos produtos que colocam no mercado, que muitas das vezes são maiores que se pode

consumir, preocupando-se apenas com o consumo.80

Na sociedade de consumo as pessoas acreditam que o tempo é tudo e o consumo muito

necessário, mas de uma forma rápida, ou seja, de imediato; fator esse que empresas utilizam

em seus anúncios, ou seja, a técnica que leva o consumidor a pensar que, se não comprar “só

75 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 37. 76 BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Tradução Carlos Alberto Medeiro, Rio de Janeiro. Zahar. 2005. p. 105. 77 LIMA, Gabriela Eulalio de. A sociedade de consumo e o desenvolvimento sustentável construído a partir do consumo colaborativo. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 15. 78 LIMA, Gabriela Eulalio de. A sociedade de consumo e o desenvolvimento sustentável construído a partir do consumo colaborativo. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 15. 79 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2006. p. 65. 80 BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Tradução. Artur Morão. Edições 70. Lisboa. 2010. p. 15.

28

nessa sexta” ele acabará pagando mais caro ou será chamado de “ingênuo” por perder essa

excelente oferta.81

A sociedade de consumo apresenta-se com a finalidade de melhorar o sistema

capitalista, trazendo consigo um aumento expressivo na produção de produtos e com isso

colocando no mercado muito mais produtos para a venda. Dessa maneira, necessita de que

haja uma maior procura para que estes sejam todos vendidos, criando na mente dos

consumidores uma insatisfação, cujo foco, nas palavras de Bauman: “(...) é depreciar e

desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem sido alçados ao universo dos

desejos do consumidor.”82

O novo modelo cria formas de atrair as pessoas para o consumo, por meio da mídia,

que muitas vezes transmite informações que são inverídicas sobre a realidade.83

Como forma de conquistar o consumidor, e para seduzir, criam-se os grandes

“Shopping” que nas palavras de Baudrillard podem ser:

(...) agradável no mesmo local climatizado, comprar de uma só vez as provisões alimentares, os objetos destinados ao apartamento e à casa de campo, os vestidos, as flores, o último romance ou a última quinquilharia, enquanto maridos e filhos veem um filme ou almoçam todos ali mesmo, etc. Café, cinema, livraria, auditório, bagatelas, vestidos e muitas outras coisas ainda nos centros comerciais (...)84

Trata-se de um lugar onde as pessoas encontram tudo o que precisam; assim sendo, a

nova sociedade visa estimular o consumo que movimento o capitalismo e a chamada

sociedade de consumo, sem se preocupar com os resultados deletérios aos consumidores.

A sociedade do consumo é uma revolução do capitalismo que, na busca incansável

pela instigação da demanda e da proliferação de necessidades, o coloca o consumo no lugar

da produção.85

Assim, os cidadãos dessa nova sociedade passaram a se preocupar com um ponto

incomum, o desejo, que precisa ser saciado de forma rápida, sem se preocupar com o

amanhã.86

81 KUHN, Martin. Império do imediato. 2011. (17min.33s.). Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=lULDr1ev4s0 > Acesso em 20 out. 2016. 82 BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Tradução Carlos Alberto Medeiro, Rio de Janeiro. Zahar. 2005. p. 105. 83 BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Tradução. Artur Morão. Edições 70. Lisboa. 2010. p. 24. 84 BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Tradução. Artur Morão. Edições 70. Lisboa. 2010. p. 18. 85 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo. Tradução Maria Lucia Machado. São Paulo. Companhia das Letras. 2007. p. 11. 86 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo. Tradução Maria Lucia Machado. São Paulo. Companhia das Letras. 2007. p. 11.

29

Como se pode constatar, através dos meios de comunicações as pessoas estão

passando por vertigem da realidade; e o mercado focado no propósito de manter a sociedade

de consumo em vigor, com força total, utiliza-se dos meios de comunicação para passar uma

realidade que não existe, exibindo uma necessidade que ninguém é obrigado a seguir, mas,

por causa da vertigem dessa realidade, muitas pessoas estão consumindo sem necessitar.87

Dessa maneira pode se dizer que o ser humano sente que precisa consumir, pois dessa

forma estaria investindo em si mesmo para se inserir na sociedade de consumo, enquadrando-

se no padrão e no grupo social.88

Pode se dizer que o estilo de vida na social na cultura do consumo aponta que as

pessoas consumiam de acordo com o que a sua colocação social apresentava, dessa maneira,

alguém da monarquia sempre usaria roupas de seda, diferente das demais classes. 89

Assim, devido às informações aplicadas na sociedade de consumo, é provável que

homens e mulheres seguindo o estilo de vida que se diz da moda abracem a cultura do

consumo, vivendo a realidade apresentada pelas ideias da sociedade de consumo.90

De uma forma mais clara pode-se dizer que o consumo passou dos padrões familiares,

para uma forma individualista, um busca o seu padrão, saindo do consumo de pátina para o

chamado modismo, onde as pessoas não se preocupam mais com o a qualidade e duração, mas

com o que está ou não na moda.91

Diante da análise feita, verifica-se que, com mudança da sociedade de produtores para

a chamada sociedade de consumo, o cidadão passou a se preocupar muito mais com o seu

status, colocando na sua mente que para ser alguém é preciso comprar, aumentando o

consumismo na sociedade, uma doença que tem crescido na atualidade e que precisa de

cuidados.

Os padrões mudaram a relação de consumo, pois foram implantados novos sistemas

que trouxeram um novo jeito de consumir, uma necessidade que nunca foi vista antes,

causando mudanças e gerando a vontade do ter.

87 BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Tradução. Artur Morão. Edições 70. Lisboa. 2010. p. 24. 88 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 75. 89 LIMA, Gabriela Eulalio de. A sociedade de consumo e o desenvolvimento sustentável construído a partir do consumo colaborativo. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 30. 90 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p.70. 91 LIMA, Gabriela Eulalio de. A sociedade de consumo e o desenvolvimento sustentável construído a partir do consumo colaborativo. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 32.

30

O crescimento da sociedade de consumo, organizado em um sistema capitalista, diante

da instabilidade financeira tenta dar continuidade da sociedade de consumo de massa.92

E para essa manutenção do sistema de consumo em massa, o fornecedor diante das

grandes inovações que surgem, como televisão, rádio e internet, o fornecedor intensifica suas

forças na divulgação, publicidade de novos produtos e serviços para manter a relação de

consumo em alta em muitas das vezes além do comum.

Nas palavras de Klausner:

O desenvolvimento tecnológico e a utilização de máquinas para o fabrico de bens deram ensejo à produção em massa, e essa produção em massa levou a uma nova visão capitalista e expansionista, fomentadora de um mercado de consumo para mercadorias produzidas industrialmente transformando as relações sociais, econômicas e jurídicas, inclusive entre fornecedores e consumidores privados.93

Com o aumento do consumo, a sociedade virou uma sociedade consumo, e os

fornecedores passam a utilizar-se de novas fontes para divulgar seus produtos criando no

consciente dos consumidores a necessidade adquirir aquele produto ou serviços. Tais práticas

de publicidades são seguidas por grandes estudos utilizando-se da ciência com aplicação do

neouromarkting.

Cavaco explica que: “Usando o conhecimento sobre as influências das emoções, o

inconciente, o funcionamento da consciência e o mapeamento cerebral, surge um novo

segmento conhecimento como NEUROMARKETING, tento como subsídio a

neurociência.”94

Com tais práticas, os consumidores passam alimentar uma vontade incontrolável por

comprar produtos que nem necessitam, ou seja, produtos supérfluos, acentuando o

crescimento do chamado consumismo.

Nessa linha, para conceituar o que seja consumismo Cavaco assim o faz: “O

consumismo é o ato de adquirir produtos e serviços de maneira compulsiva,

inconscientemente ou sem necessidade.”95

92 NETO VERTORE, Hilário. Obsolescência planejada: o lançamento de tecnologias obsoletas e a lesão ao consumidor. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 85. 93 KLAUSNER, Eduardo Antônio. A globalização e a proteção do consumidor brasileiro. Revista de Direito do Consumidor. v. 97/2015. p. 67 – 84. Jan. – Fev. 2015. p. 3. 94 CAVACO, Nanci Azevedo. Consumismo é coisa da sua cabeça: o poder do neuromarketing. Rio de Janeiro. Ferreira. 2010. p. 19. 95 CAVACO, Nanci Azevedo. Consumismo é coisa da sua cabeça: o poder do neuromarketing. Rio de Janeiro. Ferreira. 2010. p. 25.

31

Desse modo, pode-se dizer que o consumismo surge quando há a compra de produtos

e serviços de forma desordenada por parte do consumidor, quando, por exemplo, compra um

celular, sendo que já tem um celular e não precisaria de outro produto.

Ortigoza e Cortez explicam que:

O consumismo emergiu na Europa Ocidental no século XVIII, e vem se espalhando rapidamente para distintas regiões do planeta, assumindo formas diversas. O início do século XXI está sendo marcado por profundas inovações que afetam nossas experiências de consumo, como o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação, a biotecnologia, o comércio por meio da internet, o debate ambientalista, a globalização etc. Ao mesmo tempo, novos tipos de protestos e reações ao consumismo emergem, exigindo uma nova postura do consumidor.96

O consumismo, como já exposto, é a compra inconsciente de produtos ou serviços que

em várias oportunidades não se tem o completo discernimento, pois não irá acrescentar em

nada na vida do consumidor, sendo apenas um êxtase do momento que sana

momentaneamente uma vontade, porém causa em muitas vezes descontrole econômico, como

dívidas.97

Bauman explica que:

(...) “consumismo” é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, permanentes e, por assim dizer, “neutros quanto ao regime” transformando-os na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos, desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de autoidentificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas de vida individuais. O “consumismo” chega quando o consumo assume o papel-chave que na sociedade de produtores era exercido pelo trabalho.98

Diante disso, nota-se que o consumidor cercado por grandes mudanças, como a

globalização, a informação chegando em questão de segundos, sente uma insatisfação e,

muitas vezes, busca uma área de escape que acaba sendo as compras, o consumo.99

Na sociedade de consumo, para que o sistema funcione o consumidor passa a ser

bombardeado, sendo-lhe oferecido produtos em praticamente todos os meios de comunicação,

96 CORTEZ, ATC., and ORTIGOZA, SAG., orgs. Da produção ao consumo: impactos socioambientais no espaço urbano [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 146 p. ISBN 978-85-7983-007-5. Available from SciELO Books < http://books.scielo.org >. p. 4. 97 NETO VERTORE, Hilário. Obsolescência planejada: o lançamento de tecnologias obsoletas e a lesão ao consumidor. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 8. 98 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 41. 99 MENDONÇA, Claudia Maria Moreira Kloper. A pós-modernidade e o consumismo no mundo globalizado. 1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Encontros. 2. Sustentabilidade. I. Encontro Nacional do CONPEDI (25. : 2016 : Brasília, DF). p. 147.

32

forçando-o a acreditar que para manter seu status social é preciso adquirir aquele ou esse

produto, caso não seja feito, seria taxado de estar fora dos padrões da moda.100

Consumir é algo que as pessoas estão fazendo todos os dias, seja para o consumo

próprio, seja uma compra de rotina ou para um encontro com pessoas de seu convívio, ou

seja, uma prática que se realiza todos os dias sem muito planejamento.101

O simples consumo não é uma preocupação, mas o cidadão deve preocupar-se com o

consumo excessivo, ou seja, a compra de bens desnecessários resultados da falta de cuidados

com as tempestades de publicidades que geram nos consumidores uma necessidade que não

existe na realidade da vida.

Esse sistema tem causado o aumento compulsivo pelas compras, pois as pessoas

abandonaram a lógica e agindo por impulso, comprando descontroladamente, ou seja, faz-se a

opção pelo “ter” em detrimento do “ser”.

Assim, a forma mais rápida que existe para a satisfação do desejo de se adquirir algo, é

através do consumo, porém, em uma sociedade em que os bens são abundantes, as pessoas se

preocupam mais com o ter do que o próprio ser, focando em bens supérfluos que não vão

acrescentar em nada na sua vida.102

No entanto o consumismo aposta na “venda” da crença de que felicidade atrela-se ao

volume do que pode ser adquirido, ou seja, na intensidade dos desejos que estão sempre

crescentes; situação está totalmente diferente da antiga sociedade que prezava a solidez, a

segurança, ao mesmo tempo em que vislumbra-se um ambiente duradouro e confiável.103

Com o crescimento do consumismo os consumidores passaram de consumidores

conscientes que adquirem um produto de forma responsável, para a prática do consumismo

inconsciente e inconstante adquirindo produtos de forma impulsiva, irracional e

inconsequente, gerando igualmente um excesso de problemas em suas vidas.104

Nos tempos atuais, milhares de pessoas com esse perfil tornaram-se depressivas.

Acrescente-se a isso o altíssimo índice de resíduos por elas acumulados, cujos depósitos são

100 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 74. 101 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 37. 102 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes consumistas: do consumismo à compulsão por compras. São Paulo. Globo. 2014. p. 12. 103 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 42 – 44. 104 CAVACO, Nanci Azevedo. Consumismo é coisa da sua cabeça: o poder do neuromarketing. Rio de Janeiro. Ferreira. 2010. p. 25.

33

em número além do que o planeta pode suportar, causando danos que no futuro tirarão o

sossego da população.105

Enquanto a sociedade alicerçada no “ser” prioriza as pessoas, a embasada no “ter” tem

como prioridade coisas que podem ser compradas por valores determinados pelo mercado e

igualmente descartadas.106

Dessa forma, o mercado visando auferir lucros desmedidos, sem se preocupar

aproveitando-se das novas ferramentas trazidas com a globalização e as novas tecnologias,

usa de artifícios cada vez mais fortes para seduzir o seu público alvo, para que consiga

aumentar ainda mais o consumo.107

Pode-se dizer que o mercado antes anunciava por meio do jornal que era o grande

divulgador dos anos atrás, mas, com o advento das novas tecnologia, televisão e internet, o

consumismo teve uma onda crescente, pois a forma de anunciar ficou muito mais eficaz. Com

essas novas ferramentas ficou mais fácil infiltrar nos comerciais, conceitos e novos hábitos,

novo visual para que o consumidor veja na necessidade de se inserir-se na nova moda,

tornando-se um consumista em potencial, pelo simples fato de, na maioria das vezes, não

necessitar daquele tipo de produto ou serviço oferecido, mas que o faz para se sentir feliz.108

O aumento do consumismo pode ser explicado com uma frase de Bauman: “Numa

sociedade de consumidores, todo mundo precisa ser, deve ser e tem que ser um consumidor

por vocação (ou seja, ver e tratar o consumo como vocação).”109

Destarte que com o crescimento da produção em massa, uma nova sociedade em

curso, reflexo da globalização e das mudanças tecnológicas que têm surgido de um dia para o

outro, necessário se faz a criação de uma legislação que venha proteger o consumidor, pois o

mesmo se encontra em uma situação de puro domínio pelo fornecedor, detentor do poder

econômico e das técnicas de informação de seus produtos e serviços.

Diante de tal premissa, surge uma preocupação com essa proteção do vulnerável, do

consumidor, sujeito essencial, para o correto desenvolvimento econômico, proteção essa que

nasce com legislação específica que será tratada no tópico seguinte.

105 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes consumistas: do consumismo à compulsão por compras. São Paulo. Globo. 2014. p. 18. 106 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes consumistas: do consumismo à compulsão por compras. São Paulo. Globo. 2014. p. 18. 107 CAVACO, Nanci Azevedo. Consumismo é coisa da sua cabeça: o poder do neuromarketing. Rio de Janeiro. Ferreira. 2010. p. 24. 108 CAVACO, Nanci Azevedo. Consumismo é coisa da sua cabeça: o poder do neuromarketing. Rio de Janeiro. Ferreira. 2010. p. 25 – 25. 109 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 73.

34

2. PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

Como pode-se ver o capítulo anterior abordou a evolução da sociedade de consumo,

embalada pela globalização e expansão da internet chegando até a atual sociedade que tem

sofrido com o consumismo.

No segundo capítulo busca analisar a evolução da proteção do consumidor no mundo,

e no Brasil, demonstrando com as legislações e doutrinas, os grandes marcos dessa proteção.

Após analisar essa evolução, passará a desenvolver um estudo sobre o Código de

Defesa brasileiro, conceituando os sujeitos da relação de consumo, consumidor e fornecedor,

os princípios aplicados na proteção do consumidor como boa-fé, vulnerabilidade, informação,

segurança e outros.

Serão retomados os direitos básicos previstos na legislação vigente como educação,

saúde, vida, reparação de danos, inversão do ônus da prova, informação adequada entre

outros.

2.1. A CONSTRUÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Com a Revolução Industrial, e posteriormente o fenômeno da globalização mudou-se

também a forma de produção que trouxe alterações significativas na sociedade atual.

Passando status de produção familiar certos produtos no fundo de suas casas para um campo

infinito de produção em larga escala; deixa a parte artesanal e nasce a fabricação industrial -

em série - alterando totalmente a nova sociedade que passa de liberal para social. Dessa

maneira, Cavalieri Filho expressa o seguinte:

Sabemos todos que a revolução industrial aumentou quase ao infinito a capacidade produtiva do ser humano. Se antes a produção era manual, artesanal, mecânica, circunscrita ao núcleo familiar ou a um pequeno número de pessoas, a partir dessa revolução a produção passou a ser em massa, em grande quantidade, até para fazer frente ao aumento da demanda decorrente da explosão demográfica.110

Diante dessa grande transformação na forma de produção em massa, Bejamin disserta

acerca:

O Direito do Consumidor é, pois, a disciplina jurídica da "vida quotidiana" do habitante da sociedade de consumo. Seu surgimento, com alterações profundas no Direito tradicional, decorre diretamente da revolução industrial (com produção, comercialização, consumo, crédito e comunicação em massa), já que esta mudou,

110 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 02.

35

por inteiro, o dia-a-dia dos homens - agora chamados consumidores. A afirmação da atualidade do Direito do Consumidor não implica dizer que antes de sua formulação não existissem consumidores ou que estavam eles absolutamente desamparados.111

Novos meios de contratos surgem para se adequarem à nova realidade, à nova

expansão da tecnologia. Assim os contratos começam a ter que ser algo prático para maior

agilidade e manuseio para não perder nenhum tempo.112 Com o novo tipo de produção surge

também uma nova forma de contratação, exigindo-se ferramentas jurídicas para regularizar os

novos meios de contratos como coletivos, adesão e outros onde há cláusulas que são

colocadas de forma unilateral por uma das partes, ou melhor o fornecedor.113

Com a sociedade tornando-se cada vez mais capitalista e consumerista, onde a vontade

do consumidor passou a ser de forma imediata, onde se compra um produto ou serviço e

mesmo deve ser feito de forma de fácil consumo, situação trazida pelas grandes mudanças que

tiveram como ponto de partida a mídia e os meios de comunicação, podendo dizer que o

produto ou o serviço que tem valor hoje amanhã pode ser que não vale nada.114

Com aumento do consumo no mundo, gerado pela produção em massa quem sofreu

com tal situação foi o consumidor, com descuidos da qualidade, cláusulas abusivas e outros

fatores deixaram-no mais vulneráveis na relação.115

Com as grandes mudanças no sistema econômico pós-guerra mundial, com o aumento

de produção, o qual elevou os padrões de vida, surge também o direito do consumidor que

diante destas alterações precisa de amparo legal, para regrar comportamentos como uma tutela

específica no sistema consumerista. 116

O mundo passou por mudanças na economia, onde foi estabelecida as produções e

consumo em massa, criando um mercado onde quem dominava era o fornecedor, nascendo a

figura do consumidor vulnerável diante dos abusos na relação de consumo.117

Ortigoza e Cortez explicam que:

111 BEJAMIN, Antônio Herman. O direito do consumidor. Revistas dos Tribunais. v, 670/1991. p. 49 – 61. Ago. 1991. p. 1. 112 CHIAVENATO, Júlio José. Ética globalizada & Sociedade de consumo. 2ª ed. São Paulo. Moderna. 2004. p. 7. 113 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p.03. 114 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. v. 2. p. 380. 115 ADDARIO, Marilsen Andrade. Conceituação de consumidor: destinatário final ou uso não profissional? Revista de Direito do Consumidor. v. 75/2010. P. 166 – 213. Jul – Set. 2010. p. 10. 116 BEJAMIN, Antônio Herman. O direito do consumidor. Revistas dos Tribunais. v, 670/1991. p. 49 – 61. Ago. 1991. p. 7. 117 SANTANA, Héctor Valverde. Globalização econômica e proteção do consumidor: o mundo entre crises e transformações. Revista de Direito do Consumidor. V. 98/2005. p. 135 – 151. Mar – Abr. 2015. p. 3.

36

O consumerismo é um movimento social organizado, próprio da sociedade de consumo, que surge como reação à situação de desigualdade entre produtores e consumidores. Esse movimento deu origem ao Direito do Consumidor, uma disciplina jurídica que visa estudar as relações de consumo, corrigindo as desigualdades existentes entre fornecedores e consumidores, tais como imperfeições do mercado e sua incapacidade de solucionar, de maneira adequada, uma série de situações como práticas abusivas, acidentes de consumo, injustiças nos contratos de adesão, publicidade e informação enganosa, degradação ambiental, exploração de mão de obra e outros.118

Nessa esteira, começou a ser discutido em âmbito mundial, a questão de proteger os

consumidores. No mundo, a proteção do consumidor é fato antigo, já era prevista no Código

de Hamurabi, onde era feito o controle de mercado, evitando lucros fora do comum ou em

excesso; os chamados vícios redibitórios e as disparidades contratuais.119

No direito romano foi incluída a responsabilidade ao vendedor de coisas com vício,

mesmo que não soubesse do vício. Na França em 1481, o vendedor que colocasse à

disposição dos compradores manteiga com pedra dentro para dar mais peso ou que

acrescentasse água ao leite para aumentar a quantidade, era punido com banho escaldante.120

A doutrina descreve um grande marco para o surgimento da proteção dos direitos dos

consumidores, que tem seu nascedouro com um brilhante discurso realizado pelo presidente

dos Estados Unidos da América John Fitzgerald Kennedy em 1962, onde o mesmo citou

quatro direitos essenciais na proteção dos consumidores: segurança, informação, escolha e o

direito de ser ouvido. 121

Outros movimentos similares, surgiram no fim do século XIX para o XX, tendo como

principais países França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, onde o crescimento

industrial encontrava-se em desenvolvimento.122

Nos Estados Unidos, em 1972, criava-se a Lei Sherman Anti Trust a qual tinha como

finalidade proibir as práticas desleais, como o conhecido monopólio, e também evitar fraudes

no comércio.123

118 CORTEZ, ATC., and ORTIGOZA, SAG., orgs. Da produção ao consumo: impactos socioambientais no espaço urbano [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 146 p. ISBN 978-85-7983-007-5. Available from SciELO Books < http://books.scielo.org >. p. 7. 119 MARIMPIETRI, Flavia O histórico da Defesa do Consumidor no Brasil e na Argentina. In. Revista de Direito UNIFACS. N. 171. set. 2014. p. 4. 120 MARIMPIETRI, Flávia. O histórico da Defesa do Consumidor no Brasil e na Argentina. In. Revista de Direito UNIFACS. N. 171. set. 2014. p. 4. 121 ADDARIO, Marilsen Andrade. Conceituação de consumidor: destinatário final ou uso não profissional? Revista de Direito do Consumidor. v. 75/2010. P. 166 – 213. Jul – Set. 2010. p. 4. 122 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 04. 123 GUGLINSKI, Vitor. Síntese Histórica do Direito do Consumidor nos EUA, Europa e Brasil. Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 09 de ago. de 2007. Disponivel em: < http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/4093/sintese_historica_do_direito_do_consumidor_nos_eua_europa_e_brasil >. Acesso em: 22 de mar. de 2017.

37

Lucca comenta que surgiram: “Numerosos textos legais, a partir da década de 60, nos

EUA, Consumer Credit Protection Act, Uniform Consumer Credit Code, Uniform Consumer

Sales Act, Federal Trade Commission Act, Fair Credit, Reporting Act e Fair Debt Collection

Act.”124

Foi nos Estados Unidos que ocorreu uma das primeiras grandes disputas processuais

na relação consumo, sendo o caso onde atuou o advogado Ralph Nader que ganhou uma ação

milionária contra a poderosa Ford e ainda instituiu o que é hoje conhecido Recall.125

Foi criado nos Estados Unidos: “Associações privadas atuantes garantem, no âmbito

particular, a eficiência do sistema defensivo dos consumidores, em cada Estado”126

Em 1916 nos Estados Unidos foi estabelecida uma grande vitória para os

consumidores através da jurisprudência que fixou o (duty of care) do vendedor, ou seja a

inversão do ônus da prova do produtor nos processos de responsabilização civil.127

A proteção do consumidor ganhou força também em países como a França na criação

das Leis 22/12/1972 onde se tratava sobre o direito de arrependimento que é utilizado até

hoje. Lei 27/12/1973, a conhecida Loi Royer dispunha sobre a publicidade enganosa. 128

Na América, o México criou em 1976 a Lei de Proteção do Consumidor. Na Argentina

uma legislação consumerista foi criada em 1993 com a Lei de Defesa do Consumidor nº

24.240. O Paraguai criou uma Lei em 1998 que a de nº 1.334/98 De Defensa del Consumidor

y del Usuário e o Uruguai com a Lei nº 17.250/1.999, Defensa Del Consumidor.129

Mas foi em 1985, em reunião na Assembléia Geral da Organização das Nações

Unidas, que surgiu o marco principal para o tema. A discussão gerou a Resolução 39/248 de

16 de abril de 1985.130

124 LUCCA, Newton de. Direito do Consumidor: aspectos práticos perguntas e respostas. São Paulo. Revistas dos Tribunais. 1995. p. 19. 125 GUGLINSKI, Vitor. Síntese Histórica do Direito do Consumidor nos EUA, Europa e Brasil. Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 09 de ago. de 2007. Disponivel em: < http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/4093/sintese_historica_do_direito_do_consumidor_nos_eua_europa_e_brasil >. Acesso em: 22 de mar. de 2017. 126 BITTAR, Carlos Alberto. Direito do consumidor: código de defesa do consumidor. Rio de Janeiro. Forense Universitária. 1990. p. 12. 127 BITTAR, Carlos Alberto. Direito do consumidor: código de defesa do consumidor. Rio de Janeiro. Forense Universitária. 1990. p. 12. 128 ALCARÁ. Marcos. A evolução do direito do consumidor. Disponível em: < http://www.fmd.pucminas.br/Publicacoes/Publicacoes_Discente/DA%20EVOLU%C7%C3O%20HIST%D3RICA%20DO%20DIREITO%20DO%20CONSUMIDOR.htm > Acesso em: 22 mar. 2017. 129 ALCARÁ. Marcos. A evolução do direito do consumidor. Disponível em: < http://www.fmd.pucminas.br/Publicacoes/Publicacoes_Discente/DA%20EVOLU%C7%C3O%20HIST%D3RICA%20DO%20DIREITO%20DO%20CONSUMIDOR.htm > Acesso em: 22 mar. 2017. 130 SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Cláusulas abusivas no código de defesa do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 25.

38

Essa resolução foi um marco para a instituição da proteção dos consumidores no

mundo, e principalmente do Brasil. Tratava da proteção dos consumidores em caso de abusos

nas cláusulas contratuais nas relações de consumo, trazendo assim, expresso em seu art. 19,

que os consumidores seriam protegidos dos abusos contratuais, como nos contratos padrões

feitos de formas unilaterais onde acabam se esquecendo dos direitos essenciais e colocado

condições negligentes de créditos pelos fornecedores.131

No mesmo sentido a ONU - Organização das Nações Unidas - estabeleceu que a

proteção do consumidor é um direito humano que visa a proteção do direito do mais fraco

frente aos profissionais, empresários e empresas que possuem as técnicas e o poder dentro do

mercado econômico.132

Grande ponto importante no surgimento da proteção do consumidor foi a chamada

quebra com o paradigma do direito civil clássico baseado em princípios clássico romanos,

visando a proteção do individualismo.

Com essa mudança o legislador criou uma lei que estabeleceu alterações nesse aspecto

individualista, passando a se ter como norte a socialidade, ou a aplicação de princípios que

tinham como foco a proteção da sociedade. Assim, incluiu nas legislações como Constituição

Federal, Código de Defesa do Consumidor e mais adiante Código Civil, os cuidados com os

princípios da função social e solidariedade.133

Marques, Bessa e Bejamin discorrem que: “(...) o princípio da proteção do consumidor

é uma forma de relativização dos antigos dogmas do direito civil e comercial.”134

Bittar destaca algumas legislações que acabaram por proteger o consumidor no Brasil

antes mesmo do Código de Defesa do Consumidor:

(...) limitação de juros em contratos (Decreto nº 22.626, de 7.4.1933); definição de crimes contra a economia popular, sua guarda e emprego (Dec.-Lei nº 869, de 18.11.1938); (...) área que se criou órgão próprio para o julgamento de questões, a nível administrativo, o CADE); intervenção no domínio econômico para assesgurar a livre distribuição de produtos necessários ao consumo do povo (Lei Delegada nº 4, 26.9.1962) (...) vendas a prestação com a obrigatoriedade de declaração do preço total (Lei nC 6.463, de 9.11.1977).135

131 SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Cláusulas abusivas no código de defesa do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 25. 132 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 38. 133 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 28. 134 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 50. 135 BITTAR, Carlos Alberto. Direito do consumidor: código de defesa do consumidor. Rio de Janeiro. Forense Universitária. 1990. p. 15-16.

39

Dessa maneira o legislador viu que era preciso criar um novo meio para proteger o

consumidor, e trazer uma maior regularidade no âmbito dessas relações em massa. Diante

disso surgiu o Código de Defesa do Consumidor, que buscou atender o disposto na

Constituição Federal de 1988.136

Conforme o entendimento de Marques, a crise que surgiu com a massificação dos

contratos só teve uma solução com a criação da nova Constituição Federal de 1988 e com o

Código de Defesa do Consumidor em 1990.137

Foi na Constituição Federal de 1988 que se iniciou a proteção do consumidor, com

previsão em seu art, 5º, inc. XXXII, que dispõe da seguinte maneira: “o Estado promoverá, na

forma da lei, a defesa do consumidor”. Já veio inserido na nova Constituição essa proteção,

mas foi no art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias que veio a maior

conquista, o referido artigo previa que o Congresso Nacional deveria elaborar no prazo de

cento e vinte dias um Código de Defesa do Consumidor, com regramentos, direitos e

proteções para o consumidor138.

Diante desses fatos, nasceu, com a Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990 o Código

de Defesa do Consumidor, elaborado pela comissão composta por Ada Pellegrini Grinover

(coordenadora), Daniel Roberto Fink, José Geraldo Brito Filomeno, Kazuo Watanabe e

Zelmo Denari. Também houve uma intensa colaboração de Antonio Herman de Vasconcellos

Benjamin, Eliana Cáceres, Marcelo Gomes Sodré, Mariângela Sarrubo, Nelson Nery Jr. e

Régis Rodrigues Bonvicino139 uma norma na qual visa a proteção do consumidor,

proporcionando um controle nas relações em massa, evitando os abusos que estavam

acontecendo desreguladamente.

Um Código baseado nas legislações da Itália, Bélgica, Estados Unidos, Alemanha e

México, no Código Francês que influenciou os autores do Código de Defesa do Consumidor,

para a construção de uma lei que pudesse atender as prerrogativas dos consumidores e a

sociedade brasileira.140

Considera-se então a defesa do consumidor como um direito fundamental protegido

pela Carta Magna de 1988.

136 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil 1: esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. p.688. 137 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2006. p. 166. 138 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui% C3%A7ao.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016. 139 TARTUCE, Flávio. NEVES, Daniel Amorin Assumpção. Manual de direito do consumidor. 3. Ed. Rio de Janeiro. Forense. São Paulo. Método. 2014. p. 23. 140 GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 2.

40

Bejamin discorre que:

No Brasil, a codificação deu contornos mais nítidos ao Direito do Consumidor fortalecendo sua autonomia. Se em outros países o Direito do Consumidor é considerado um espírito a procura de uma casa, no caso brasileiro tem ele morada principal estabelecida: o Código de Defesa do Consumidor.141

A criação do Código de Defesa do Consumidor, pode-se ver a busca da aplicação do

princípio da isonomia previsto na Constituição Federal que tem como premissa tratar os

iguais como igualdade e os desiguais com desigualdade. Visto que o consumidor não estava

na mesma altura na balança da relação de consumo, cria-se um Código para igualar essa

relação.142

Com o novo ordenamento o consumidor passa a estar protegido de qualquer tipo de

abuso de direito, evitando que o monopólio exercido pelo fornecedor a legislação busca

reequilibrar a relação de consumo, garantindo direitos ao consumidor e impondo deveres,

obrigações aos fornecedores, que deverão segui-lo à risca sob pena de serem penalizados.

2.2 DOS SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO

O fornecedor é um dos sujeitos da relação de consumo definido no artigo 3º do Código

de Defesa do Consumidor, como sendo toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,

nacional ou estrangeira e ainda entes despersonalizados que atuem na atividade produção,

montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou

comercialização de produtos e serviço.143

No mesmo diapasão, do conceito doutrinário, Filomeno conceitua fornecedor como

aquele que, com a finalidade de atividade mercantil ou civil, coloca no mercado de forma

habitual produtos ou serviços, podendo ser pessoa física ou jurídica.144

Nem sempre a pessoa jurídica será fornecedora. Marques, Bessa e Benjamin trazem

um caso onde demonstra tal fato:

141 BEJAMIN, Antônio Herman. O direito do consumidor. Revistas dos Tribunais. v, 670/1991. p. 49 – 61. Ago. 1991. p. 9. 142 REIS, Iuri Ribeiro Novais de. O princípio da vulnerabilidade como núcleo central do código de defesa do consumidor. Revista dos Tribunais. v. 956/2015. p. 89 – 114. Jun. 2015. p. 2. 143 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016. 144 FILOMENO, José Geraldo Brito. Capítulo I: disposições gerais. In: GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 21-51. p. 39.

41

(...) por exemplo, um carro que usou por anos, para um particular. A primeira resposta da jurisprudência do STJ, em caso de pequena agência de viagem que vendeu seu carro para um “consumidor”, foi negativa: “As normas do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam às relações de compra e venda de objetos totalmente diferente daquele que não se reveste de natureza do comércio exercido pelo vendedor.145

Como pode-se ver o conceito de fornecedor é bem amplo, para evitar dar margem para

alguma brecha aos que pretendam escapar da aplicação do Código de Defesa do Consumidor.

O legislador buscou enquadrar como fornecedor até mesmo aquele que não possui

personalidade jurídica, os chamados entes despersonalizados.146

Então, para caracterizar-se como fornecedor é necessário que seja desenvolvida

atividade de forma habitual, devendo o produto ou serviço ser fornecido de maneira

profissional ou comercial.147

Almeida pondera:

(...) a definição de fornecedor se distancia da definição de consumidor, pois enquanto este há de ser o destinatário final, tal exigência já não se verifica quanto ao fornecedor, que pode ser o fabricante originário, o intermediário ou o comerciante, bastando que faça disso sua profissão ou atividade principal.148

Nessa linha, o fornecedor é tanto aquele que vende os bens ao consumidor como

aquele que vende para intermediário ou o comerciante, devendo ser responsabilizado o que

produz o produto e o coloca no mercado de consumo.149

Pode-se considerar ainda o Poder público como fornecedor, quando o mesmo presta

serviços de fornecimento de água, ou seja, quando existe a cobrança de um valor pelos

serviços disponibilizado, também será considerado fornecedor.150

De acordo com o artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor, os órgãos públicos,

suas empresas permissionárias e concessionárias, deverão fornecer serviços adequados,

145 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 124. 146 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 73. 147 PEIXOTO, Ulissess Vieira Moreira. Código de defesa do consumidor comentado. Campo Grande. Contemplar. 2012. p. 32. 148 ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2006.p. 41. 149 ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2006.p. 41. 150 PEIXOTO, Ulissess Vieira Moreira. Código de defesa do consumidor comentado. Campo Grande. Contemplar. 2012. p. 32.

42

eficientes, seguros; e quanto aos essências, contínuo, sob pena de serem compelidas a fazer,

devendo ainda serem responsabilizadas por danos que causarem aos consumidores.151

Na conceituação feita pelo Código de Defesa do Consumidor fala-se ainda em entes

despersonalizados, que são aqueles não dotados de personalidade jurídica, sociedade civil; e

um exemplo clássico seria a massa falida que, mesmo que a pessoa jurídica tenha falido ainda

existirão no mercado de consumo seus produtos os quais estarão protegidos pelo Código de

Defesa do Consumidor.152

Um exemplo seria uma empresa de refrigeradores que não poderá retirar as garantias

de seus aparelhos por ter “quebrado a empresa”, tais garantias deverão serem mantidas.

Esse é o entendimento da jurisprudência nos casos de entes despersonalizados no caso

de sociedade civil. No Resp 519.310/SP, por exemplo, ficou decidido que a Sociedade civil

sem fins lucrativos e que presta serviços médicos sofre a aplicação das normas do Código de

Defesa do Consumidor, sendo irrelevantes sua natureza jurídica ou mesmo que não tenha fins

lucrativos.153

O artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor, trata, também, como fornecedor a

pessoa física que é, segundo Nery e Nery Junior, “Pessoa natural é sinônimo de pessoa física,

ser humano, ou “pessoa singular”. É termo utilizado para distinguir o homem de outros

titulares de direito que o são por processo artificial de ficção jurídica.”154

É comum falar em pessoa física como fornecedor quando se trata do profissional

liberal como prestador de serviço que pode ser (médico, advogados etc). Nesse caso a

responsabilidade do profissional liberal não será a objetiva, mas por culpa, devendo ser

provado os fatos para qualquer responsabilização.155

Outro caso comum de a pessoa física ser enquadrada como fornecedora é: “(...) uma

estudante que, para pagar seus estudos, compra e depois revende lingerie entre seus colegas

exerce atividade que a põe como fornecedora para o CDC.”156

151 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016. 152 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 111. 153 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 74. 154 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 10. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2013. p. 243. 155 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 112. 156 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 109.

43

O Código de Defesa do Consumidor também se aplica às instituições financeiras,

elevando as mesmas ao patamar de fornecedoras, de acordo com o que prevê a Súmula 297 do

STJ.157

Importante citar o entendimento do STJ - Superior Tribunal de Justiça - sobre a não

incidência do Código de Defesa do Consumidor nas relações entre estudante e programa de

financiamento estudantil, pois tal serviço não se configura como bancário e sim política de

fomento à educação.158

Leonardo Roscoe Bessa em seu artigo “Fornecedores Equiparado” trata de uma

hipótese do fornecedor equiparado, enquadrando os bancos de dados de proteção ao crédito

(SPC, SERASA e CCF), pois tais atividades não eram reguladas surgindo com o Código de

Defesa do Consumidor. Outro exemplo trazido são as atividades publicitárias.159

Essa visão não é aplicada ainda, porém Claudia de Lima Marques já se expressa de

forma que tal seguimento poderá ser apreciado no futuro160.

Nessa linha, conceituou-se o fornecedor um dos sujeitos da relação de consumo,

necessitando agora conceituar o consumidor, o qual o Código de Defesa do Consumidor foi

criada para proteger.

Como já descrito, com o crescimento da tecnologia surgiu uma nova sociedade, a

chamada “sociedade de consumo”, onde houve um desenvolvimento no processo de venda,

massificando as relações de consumo, sendo criado os contratos padronizados. Diante dessa

situação o consumidor, principal sujeito da relação necessitou de proteção diante de sua

vulnerabilidade.161

Com essa nova realidade o Código de Defesa do Consumidor foi criado com a

finalidade de proteção do principal sujeito da relação de consumo, ou seja, o consumidor que

foi definido no artigo 2º como sendo toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza um

produto ou serviço como destinatário final.162

157 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 297 STJ. Disponível em: < https://www.legjur.com/sumula/busca?tri=stj&num=297 > Acesso em: 01 maio. 2017. 158 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de direito do consumidor: à luz da jurisprudência do STJ. 7. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 101. 159 BESSA, Leonardo Roscoe. Fornecedor equiparado. Revista de Direito do Consumidor. v. 1. p. 126 – 141. Jan – Mar. 2007. p. 9-10. 160 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 124. 161 ADDARIO, Marilsen Andrade. Conceituação de consumidor: destinatário final ou uso não profissional? Revista de Direito do Consumidor. v. 75/2010. P. 166 – 213. Jul – Set. 2010. p. 3. 162 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016.

44

Nas palavras de Bessa: “O consumidor está, sob diversos enfoques, em visível

situação de fragilidade – vulnerabilidade – no mercado de consumo, não apenas em relação a

interesses patrimoniais, mas também em seus interesses existenciais (projeção da dignidade

humana (...)”. 163

Analisando o Código, pode-se retirar 4 tipos conceitos de consumidores, sendo o

conceito padrão elencado no artigo 2º; a coletividade de pessoas previsto no parágrafo único

do artigo 2º; as vítimas de acidente de consumo, no artigo 17 do Código; e todos aqueles

expostos às práticas comerciais, artigo 29.164

Marques, Bessa e Bejamin ampliam essa conceituação do artigo 2º do Código de

Defesa do Consumidor, ao definir:

O consumidor é uma definição também ampla em seu alcance material. No CDC, o consumidor não é uma definição meramente contratual (o adquirente), mas visa também proteger as vítima dos atos ilícitos, pré-contratuais, como a publicidade enganosa, e das práticas comerciais abusivas, sejam ou não compradoras, sejam ou não destinatárias finais. 165

Addario pronuncia-se: “Eis a tarefa da nova ordem jurídica: proceder à harmonização

desses interesses econômicos a fim de amparar situações de flagrante desequilíbrio, marcadas

pela moderna visão de produção e consumo de massa.”166

Com o início da vigência do Código de Defesa do Consumidor surgiram algumas

divergências sobre o consumidor como destinatário final, sendo criada duas correntes teóricas

a quais sejam finalista e a maximalista.

A corrente finalista adota a visão de que é necessário a destinação fático e econômico

do bem ou serviço.167 Para Marques, Bessa e Bejamin: (...) a definição de consumidor é o

pilar que sustenta a tutela especial, agora concedida aos consumidores. Esta tutela só existe

163 BESSA, Leonardo Roscoe. Fornecedor equiparado. Revista de Direito do Consumidor. v. 1. p. 126 – 141. Jan – Mar. 2007. p. 3. 164 ZAPATER, Tiago Cardoso. A interpretação constitucional do código de defesa do consumidor e a pessoa jurídica como consumidor – monografia com menção honrosa. Revista de Direito do Consumidor. v. 40/2001. p. 170 – 198. Out – Dez. 2001. p. 2. 165 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 102. 166 ADDARIO, Marilsen Andrade. Conceituação de consumidor: destinatário final ou uso não profissional? Revista de Direito do Consumidor. v. 75/2010. p. 166 – 213. Jul – Set. 2010. p. 3. 167 TARTUCE, Flávio. NEVES, Daniel Amorin Assumpção. Manual de direito do consumidor. 3. Ed. Rio de Janeiro. Forense. São Paulo. Método. 2014. p. 74.

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porque o consumidor é a parte vulnerável nas relações contratuais no mercado, como afirma o

próprio CDC no art. 4º, inciso I.”168

Para os finalistas não basta ser o destinatário final, o consumidor precisa ter feito o seu

consumo final, não podendo o consumidor adquirir tal produto para criar outro ou revender.169

Esse é o entendimento de Marques que assim descreve:

Destinatário final é aquele destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa jurídica ou física. Logo, segundo esta interpretação teleológica, não basta ser destinatário fático do produto, retirá-lo da cadeia de produção, leva-lo para o escritório ou residência: é necessário ser destinatário final econômico do bem, não adquiri-lo para revenda, não adquiri-lo para uso profissional, pois o bem seria novamente um instrumento de produção cujo preço será incluído no preço final do profissional que o adquiriu.170

A teoria finalista foca no destinatário final, ou seja, a pessoa que coloca fim no

processo de comercialização do produto ou serviço; porém é necessário a ligação com a

vulnerabilidade para que se possa ser considerado consumidor, dessa forma, o tratamento para

diferenciar o consumidor foca-se no caso da sua vulnerabilidade, pois, se compra um software

e o mesmo é um expert em TI o mesmo não seria vulnerável. 171

Já a teoria maximalista, ou objetiva, entende que o Código de Defesa do Consumidor

veio para proteger o ato de consumo, tendo como foco todos, não elevando o consumidor

vulnerável, para eles basta que seja configurado o consumo onde o consumidor retira do

mercado o produto extinguindo a cadeia produtiva.172

Nas palavras de Peixoto destinatário final: “É o consumidor final, ou seja, é a pessoa

física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço com a finalidade não econômica,

como, por exemplo, a satisfação de uma necessidade própria.”173

Bejamin discorre quem: “O Direito do Consumidor regra o mercado porque protege o

consumidor. É na perspectiva deste que ele se impõe, como sistema de ordem pública, aos

168 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 103. 169 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 103. 170 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2006. p. 304. 171 ADDARIO, Marilsen Andrade. Conceituação de consumidor: destinatário final ou uso não profissional? Revista de Direito do Consumidor. v. 75/2010. P. 166 – 213. Jul – Set. 2010. p. 20. 172 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 60. 173 PEIXOTO, Ulissess Vieira Moreira. Código de defesa do consumidor comentado. Campo Grande. Contemplar. 2012. p. 24.

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fornecedores. E não vice-versa, já que a proteção pura e simples do mercado nem sempre

significa tutela efetiva do consumidor.”174

Existe ainda, a teoria do finalismo aprofundado que foi recentemente criada pelo

ordenamento jurídico com a finalidade de definir o uso do Código de Defesa do Consumidor

de acordo com os casos concretos.175

Nas palavras de Marques, Bessa e Bejamin: “É um interpretação finalista mais

aprofundada e madura, que deve ser saudada. Em casos difíceis envolvendo pequenas

empresas que utilizam insumos para a sua produção, mas não em sua área de expertise ou com

uma utilização mista (...) provada a vulnerabilidade (...).”176

No REsp 1195642 RJ 2010/0094391-6 julgado pela Terceira Turma do Superior

Tribunal de Justiça, tendo como Relatora a Ministra Nancy Andrighi, decidiu que em alguns

casos tem acolhido a teoria do finalismo aprofundado, situação que fica demonstrado que a

pessoa jurídica em algum momento apresenta uma vulnerabilidade frente ao fornecedor.177

Nessa nova adoção da teoria do finalismo aprofundado uma vulnerabilidade que vem

sendo acolhida é a informacional, que coloca a pessoa jurídica consumidora em desigualdade

com a pessoa jurídica fornecedora. Dessa forma a empresa de telefonia no recurso acima foi

condenada a pagar indenização por danos morais a concessionária, por apresentar falhas nas

linhas telefônicas prejudicando a publicidade da concessionária.178

Nessa linha, tem-se como exemplo o hotel que compra gás, não é sua especialidade os

sistemas de gás, assim, não está dentro de sua expertise, sendo assim, parte vulnerável diante

de tal situação.

Dessa maneira, a teoria adotada pela legislação consumerista brasileira foi a finalista, a

qual se aplica no artigo 2º, do Código de Defesa do Consumidor, focando na pessoa do

consumidor como a parte vulnerável da relação de consumo.

A conceituação do artigo 2º, do Código de Defesa do Consumidor, dispõe que o

consumidor poderá ser pessoa física, que é, segundo Farias e Rosenvald “(...) gente, é o ser

174 BEJAMIN, Antônio Herman V. O direito do consumidor. Revistas dos Tribunais. v, 670/1991. p. 49 – 61. Ago. 1991. p. 3. 175 REIS, Iuri Ribeiro Novais de. O princípio da vulnerabilidade como núcleo central do código de defesa do consumidor. Revista dos Tribunais. v. 956/2015. p. 89 – 114. Jun. 2015. p. 15. 176 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 107-108. 177 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão. Recurso Especial nº 1195642/RJ. 3ª Turma. Relatora Min. Nancy Andrighi. 13 nov. 2012. Disponível em: < https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22829799/recurso-especial-resp-1195642-rj-2010-0094391-6-stj> Acesso em: 01 abr. 2017. 178 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão. Recurso Especial nº 1195642/RJ. 3ª Turma. Relatora Min. Nancy Andrighi. 13 nov. 2012. Disponível em: < https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22829799/recurso-especial-resp-1195642-rj-2010-0094391-6-stj> Acesso em: 01 abr. 2017.

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humano com vida, aquele ente dotado de estrutura psicológica, pertencente à natureza

humana. Daí a denominação abraçada pelo texto positivado: pessoa natural, isto é, aquele que

pode assumir obrigações e titularizar direitos.”179

O mesmo artigo cita as pessoas jurídicas, que, nas palavras de Farias e Rosenvald, são:

(...) um organismo, formado pelos ideais de pessoas naturais (ou destinação de um patrimônio afetado para um fim específico), tendente a realizar funções específicas. Não se deixe de advertir, contudo, que não é qualquer reunião de pessoas ou qualquer destinação de patrimônio que caracterizará a pessoa jurídica. É mister que a unidade de pessoas ou a afetação de bens almeje emprestar uma unidade orgânica a uma entidade a que a ordem jurídica reconhece personalidade própria.180

Dessa feita, as pessoas físicas serão todas consideradas consumidoras, já as jurídicas

deverão ser verificadas conforme a atividade que praticam, para ver qual o fim das suas

relações como consumidoras.181

A situação da pessoa jurídica poderia ser explicada com seguinte caso: uma oficina

mecânica adquire várias peças, componentes para os consertos dos veículos dos seus clientes

que por ali passam. Neste caso, a oficina mecânica não é considerada pelo Código de Defesa

do Consumidor como pessoa jurídica consumidora, pois as peças que compra são para a

realização de consertos em veículos de seus clientes, assim sendo, os produtos que compram

servem para uma revenda, não utilizando-os como destinatária final, requisito para a

caracterização da relação de consumo.

Já no mesmo caso, a mesma oficina mecânica pessoa jurídica compra produtos de

informática da empresa Brasil S/A informática, para realizar os cadastros das peças, dos

clientes. Caso um desses produtos venha apresentar algum tipo de defeito, nesse caso a pessoa

jurídica se enquadrará no que estabelece o Código de Defesa do Consumidor como

destinatária final, pois os produtos adquiridos foram para o seu próprio uso. próprio.

O artigo 2º, do Código de Defesa do Consumidor, trata sobre adquirir ou utilizar

algum produto ou serviço.

Quando se fala em adquirir deve-se ir além, ou seja, forma de se ter algo de forma

gratuita ou onerosa, mas no Código de Defesa do Consumidor adquirir está intimamente

179 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: parte geral e LINDB. v. 1. 12. Ed. Salvador. Juspodvim. 2014. p. 289. 180 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: parte geral e LINDB. v. 1. 12. Ed. Salvador. Juspodvim. 2014. p. 371. 181 NETO VERTORE, Hilário. Obsolescência planejada: o lançamento de tecnologias obsoletas e a lesão ao consumidor. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 17.

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ligado à utilização, mesmo que aquele que adquiri não tenha utilizado, pois se enquadraram

como consumidor os dois, quem adquiri ou utiliza.182

Nessa visão, aquele que recebe um presente ou as chamadas amostras grátis, sem

sequer ter dado qualquer contraprestação ao produto ou serviço, recebe a mesma proteção do

Código de Defesa do Consumidor.183

A lei estabelece que o adquirir pode se diferenciar entre o consumidor final e o

intermediário, ou seja, somente a aquisição de produtos ou serviços para uso próprio, familiar

ou de terceiros serão considerados para a conceituação do artigo 2º como consumo, pois

aquele que faz aquisição para ser utilizado para a atividade-fim da empresa não será

considerado consumidor.184

O legislador com a finalidade de não dar margem ao erro, foi inteligente ao incluir no

parágrafo único do artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor a figura do consumidor

equiparado.

A lei consumerista é aplicada para consumidores e também a terceiros que não são

consumidores, mas de acordo com os artigos 2º, parágrafo único, 17º e 29, do Código de

Defesa do Consumidor reconhece os consumidores equiparados.185

Como pode-se ver, o Código ampliou o campo de aplicação do consumidor, colocando

a coletividade na sua proteção, mesmo que em muitos casos não tenham sido destinatárias

finais, mas que devido ao dano sofrido por um produto ou serviço de alguma forma foi

afetada, tornando-se equiparada na relação de consumo.

Essa forma de equiparação visa estender a proteção do Código de Defesa do

Consumidor para as vítimas do acidente de consumo, não necessitando o requisito de ter sido

o consumidor destinatário final. .186

A doutrina chama essas terceiras pessoas de bystander187 que seria no caso de um

desastre aéreo, um avião contendo duzentos passageiros cai em uma área residencial. Todos

os consumidores que estavam no avião fazem parte do caput do artigo 2º do Código enquanto

182 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 96. 183 ZAPATER, Tiago Cardoso. A interpretação constitucional do código de defesa do consumidor e a pessoa jurídica como consumidor – monografia com menção honrosa. Revista de Direito do Consumidor. v. 40/2001. p. 170 – 198. Out – Dez. 2001. p. 2. 184 ZANELLATO, Marco Antonio. Consideração sobre o conceito jurídico de consumidor. Revista de Direito do Consumidor. v. 45/2003. p. 172 – 191. Jan – Mar. 2003. p. 1. 185 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 69. 186 CUNHA, Belinda Pereira da. Direito do Consumidor. São Paulo. Saraiva. 2007. p. 14. 187 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 120.

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os proprietários de residências que também sofreram com os danos são os chamados

bystander, ou seja, são terceiros que foram prejudicados por um acidente de consumo.

Como pode ser visto, o legislador teve o cuidado de garantir a segurança mesmo das

pessoas que não são os consumidores stricto senso, ou seja, o mercado está a cada dia mais

forte e com um leque muito maior, situação que acaba atingindo pessoas que não têm relação

direta com o mercado de consumo. Nessa linha é importante tal equiparação como forma de

proteger esses terceiros que poderão ser prejudicados por uma relação de consumo.188

Verifica-se que o consumidor equiparado não teve contato com o fornecedor, não

manteve relação alguma, não adquiriu produtos ou serviços, não fe nem uso dos mesmos, mas

mesmo assim, terão o direito a indenização pelo dano sofrido, responsabilização que será de

forma objetiva de acordo com o Código de Defesa do Consumidor.189

Assim, o artigo 17, do Código de Defesa do Consumidor, refere-se à responsabilidade

pelo fato do produto, ou melhor aquele produto ou serviço, que tenha causado o acidente de

consumo.190 Já o artigo 29 do Código trata daquele consumidor determinável ou não que é

exposto a práticas comerciais que, segundo Marques, Bessa e Bejamin: “(...) oferta, de

contratos de adesão, de publicidade, de cobrança de dívidas, de banco de dados, sempre que

vulneráveis in concreto.”191

Como pode-se ver o Código visa proteger todos os consumidores que são expostos à

oferta, contrato de adesão, publicidade, banco de dados e cobrança de dívidas, buscando

cuidar sua vulnerabilidade.

2.3 DOS OBJETOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO

Para que exista uma relação de consumo é necessário que os sujeitos dessa relação,

consumidor e fornecedor. No entanto, além dos sujeitos necessário que se tenha o objeto que

gera essa relação. Assim sendo de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, estabelece

como objeto, o produto e o serviço.

188 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 119. 189 NETO VERTORE, Hilário. Obsolescência planejada: o lançamento de tecnologias obsoletas e a lesão ao consumidor. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 26. 190 CUNHA, Belinda Pereira da. Direito do Consumidor. São Paulo. Saraiva. 2007. p. 14. 191 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 119.

50

Cavallieri Filho expõe que: “O objeto de uma relação jurídica, como cediço, é o

elemento em razão do qual a relação se constitui e sobre o qual recai tanto a exigência do

credor, como a obrigação do devedor.”192

O primeiro são os produtos que serão materiais ou imateriais, móveis ou imóveis e

duráveis e não duráveis. Em se tratando de um produto móvel poderia se dizer um veículo e

em caso de imóvel uma casa.193

Nunes explica que:

Na definição de produto, o legislador coloca então “qualquer bem”, e designa este como “móvel ou imóvel”, e ainda “material ou imaterial”. Da necessidade de interpretação sistemática do CDC nascerá também a hipótese de fixação do produto como durável e não durável, por previsão do art. 26 (acontecerá o mesmo no que tange aos serviços).194

Em se tratando de produtos materiais e imateriais pode-se dizer que é tudo aquilo que

pode ou não ser tocado; um exemplo seria uma mesa, considerada um produto material, no

caso de imaterial tem o software um produto existente em todo o mundo, mas que não pode

ser tocado pelo consumidor.

Ainda na classificação feita acima, fala-se em produtos duráveis e não duráveis.

Entende-se como duráveis aqueles que demoram para se desgastar, como um veículo; já os

produtos não duráveis seria os alimentos, que são comprados para o consumo e sua

destruição, ou deteriorização, em um curto período.

Em uma análise mais aprofundada Cavallieri Filho descreve como: “(...) não duráveis

aqueles bens tangíveis que desaparecem, se destroem, acabam com o seu uso regular. A

extinção pode ser imediata (alimentos, remédios, bebidas) ou paulatina (caneta, sabonete).”195

O outro objeto da relação de consumo é o serviço, que é todo o tipo de atividade

oferecida no mercado de consumo, que seja feita por meio de remuneração, não sendo relação

trabalhista, podendo ser de natureza bancária, financeira, crédito e securitária.

Em se tratando do termo remuneração o entendimento doutrinário e jurisprudencial

têm entendido que não existe a necessidade em todos os casos, pois em se tratando de brindes,

192 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 74. 193 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 113. 194 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 113. 195 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 76.

51

amostras grátis, serviços gratuitos que são falhos ou apresentam vício ou defeito, o fornecedor

poderá ser responsabilizado.196

Marques, Bessa e Bejamin resumem um julgamento do STJ sobre o tema:

No julgamento do REsp 1.316.921/RJ, destaca o STJ que “O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de internet ser gratuito não desvirtua a relação de consumo, pois o termo “mediante remuneração “, incluir o ganho indireto do fornecedor” (Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26.06.2012. DJe 29.06.2012).197

Dentre os serviços que se enquadram na aplicação do Código de Defesa do

Consumidor, estão os serviços bancários, securitários, de crédito e financeira. Desses a que

mais causou polêmica foi a bancária, pois precisou de um julgamento junto ao STF da Ação

Direta de Inconstitucionalidade nº 2591 em dezembro de 2001, que decidiu que o Código de

Defesa do Consumidor seria aplicado às cardenetas de poupança, contratos mútuos, depósitos

bancários, cartões de crédito, seguros e operações bancárias.198

Além dos serviços previstos no artigo 3º, § 2º do Código de Defesa do Consumidor, é

aplicado a mesma legislação aos serviços públicos que pela doutrina, e uma corrente mais

reconhecida que tem Sérgio Cavallieri Filho, Cláudio Banolo e Paulo Valério Del Moraes

que, são aplicados aos serviços remunerados por tarifas.199

Diante disso, nota-se que para que exista a relação de consumo é necessário um

consumidor e um fornecedor, mas é necessário o objeto, produto ou serviço, devendo estes

seguirem as características previstas no Código de Defesa do Consumidor.

2.4. DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

Como já foi visto, com a criação do Código de Defesa do Consumidor foram criadas

proteções aos consumidores, como forma de igualar a relação entre consumidor e fornecedor.

Assim, necessário se faz um breve estudo sobre os princípios adotados pela lei consumerista.

Antes de começar a discorrer sobre os princípios especificamente adotados pelo

Código de Defesa do Consumidor é importante trazer o conceito de princípios.

Para Nader, os princípios gerais do direito têm duas funções, sendo “na elaboração das

196 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 126. 197 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 126. 198 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 85. 199 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 75.

52

leis e na aplicação do Direito, pelo preenchimento das lacunas da lei”.200

Destaca-se o entendimento de Reale que assim disserta:

Restringindo-nos ao aspecto lógico da questão, podemos dizer que os princípios são “verdades fundantes” de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressuposto exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis.201 (grifo original).

Nessa linha de pensamento Ferraz Jr., vem corroborar com o presente tema:

[...] constituem reminiscência do direito natural como fonte. Há autores que os identificam com este, outros que os fazem repousar na equidade, enquanto sentimento do justo no caso concreto. Sua formulação é indefinida. Há quem os reduza, em última análise, aos famosos preceitos romanos: honeste vivere, alterum

non laedere, suum cuique tribuere. De qualquer modo, ainda que se entenda que possam ser aplicados diretamente na solução de conflitos, trata-se não de normas, mas fazem parte de suas regras estruturais (ver item 4.3.1.1), dizem respeito à relação entre normas no sistema, ao qual conferem coesão.202 (grifo original).

Então, os princípios gerais do direito juntamente com os usos e costumes são

considerados fontes imediatas. Essa aplicação dos princípios gerais do direito está previsto no

art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro que dispõe a seguinte redação:

“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os

princípios gerais de direito.”.203

Princípio é um consenso que se retira da cultura jurídica de onde pode se dizer que

seja justo, ou seja, tem como ponto principal trazer um embasamento ao ordenamento

jurídico.204

Por outro enfoque, Nader traz que: “A expressão princípios gerais do Direito, por ser

demasiadamente ampla, não oferece ao aplicador do Direito uma orientação segura quanto aos

critérios a serem admitidos na sua aplicação”205. Mesmo assim os juízes não podem deixar de

aplicar uma decisão.

Por derradeiro cumpre dizer que os juízes não podem deixar de decidir sobre uma lide,

alegando não ter norma a ser aplicada, pois os princípios também são fontes de garantia para

200 NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 200. 201 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 303. 202 FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 247. 203 BRASIL. Decreto Lei nº 4.657 de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 10 nov. 2016. 204 SOUZA NETO, Mello João Baptista de. Direito civil: parte geral. 6. ed. São Paulo. Atlas, 2007. p. 13. 205 NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 200.

53

uma resolução do caso trazido ao jurisdicionado.

Após uma breve conceituação do que é princípio, pode-se adentrar aos princípios

específicos às relações de consumo, analisando cada um conceituando-os e explicando como

são aplicados.

O Código de Defesa do Consumidor adotou vários princípios para embasar a proteção

do consumidor em todas as relações consumeristas, como o da transparência, confiança,

vulnerabilidade, equidade ou equilíbrio contratual, segurança, inversão do ônus da prova e

boa-fé, sendo este a base do Código de Defesa do Consumidor. Dessa maneira como forma de

explicar melhor a função de cada princípio adotado passa-se a expor sobre eles.

Vulnerabilidade significa que pode ser magoado, prejudicado; o que é frágil, que pode

ser ferido de acordo com Cavallieri Filho.206

Assegura-se que a vulnerabilidade pode ser permanente ou provisória, individual ou

coletiva, situação que desestabiliza a relação de consumo, sendo uma característica do

consumidor sujeito mais fraco na relação de consumo.207

Toda pessoa física (consumidora) presume-se que seja vulnerável, já a pessoa jurídica

(consumidora) necessitará que seja feita uma análise mais acurada de sua presunção de

vulnerabilidade, e que, em caso no negativo estará diante de uma relação empresarial ou

civil.208

A vulnerabilidade é reconhecida como a espinha dorsal no campo da proteção do

consumidor, ou seja, não existem dúvidas de que o consumidor seja conhecido como a parte

mais fraca nas relações de consumo e tal direito é reconhecido pela ONU, e no Brasil pela

própria Constituição Federal, onde nasce a necessidade de processo do sujeito consumidor no

âmbito consumerista.209

Portanto, pode-se dizer que o consumidor se encontra em uma posição de

vulnerabilidade diante do poderio econômico do fornecedor e tal reconhecimento é

incontestável dentro do ordenamento jurídico, não podendo colocar apenas aqueles

consumidores humildes ou ignorantes, pois a vulnerabilidade é um traço do consumidor sendo

rico ou pobre.210

206 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 75. 207 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 108. 208 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de direito do consumidor: à luz da jurisprudência do STJ. 7. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 53. 209 ALMEIDA, João Batista de. Manual de direito do consumidor. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 15. 210 ADDARIO, Marilsen Andrade. Conceituação de consumidor: destinatário final ou uso não profissional? Revista de Direito do Consumidor. v. 75/2010. P. 166 – 213. Jul – Set. 2010. p. 10.

54

Por não deter o conhecimento igual ao do fornecedor, o consumidor se torna

vulnerável, e o legislador, vendo isto, automaticamente fez com que essa vulnerabilidade

fosse protegida no Código de Defesa do Consumidor.

Braga Netto discorre que: “A vulnerabilidade do consumidor fundamenta o sistema de

consumo. É em razão dela que foi editado o CDC, que busca fazer retornar o equilíbrio a essa

relação frequentemente desigual entre consumidor e fornecedor.”211

É notória a vulnerabilidade do consumidor que está sempre diante de um tiroteio de

publicidades, informações e promoções de novos produtos. Por não ter muito conhecimento, e

por ser vulnerável, muitos consumidores acabam caindo nas armadilhas dos fornecedores, por

isso a necessidade do reconhecimento dessa vulnerabilidade para ajudar o Estado na proteção

do consumidor dentro das relações de consumo, muitas vezes abusivas uma vez que os

fornecedores tiram proveito dessa fraqueza do consumidor.

Assim, é visível o reconhecimento pela doutrina em ser o consumidor a parte mais

fraca dentro de uma relação de consumo,212 sendo o fornecedor detentor do poder econômico

tem a maior facilidade e conhecimento nas relações, diante desses fatos acaba se aproveitando

da ignorância do consumidor para induzi-lo e convencê-lo de situações que, às vezes, são até

mesmo lesivas a esses.

A vulnerabilidade não pode apenas ser reconhecida considerando a posição de

fragilidade econômica do consumidor mas reconhecer que todo consumidor deve ser

destinatário final e a parte vulnerável na relação de consumo, pois a pessoa jurídica, que não

detém o conhecimento técnico ou científico do produto ou serviço que adquiri, mesmo em sua

força econômica será reconhecida como consumidora e aplicada sua vulnerabilidade diante do

caso.213

O Código de Defesa do Consumidor, pautado na vulnerabilidade do consumidor

dentro da parte da política nacional de relações de consumo, e sendo um ponto de grande

análise na jurisprudência e doutrina, que entende existirem três tipos de espécies de

vulnerabilidades, sendo a técnica, a jurídica e a fática.

Fala-se ainda em uma quarta em que o Superior Tribunal de Justiça tem reconhecido

em seus recentes julgados que é a vulnerabilidade informacional, considerada intrínseca do

211 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de direito do consumidor: à luz da jurisprudência do STJ. 7. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 51. 212 ALMEIDA, João Batista de. Manual de direito do consumidor. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 19. 213 ADDARIO, Marilsen Andrade. Conceituação de consumidor: destinatário final ou uso não profissional? Revista de Direito do Consumidor. v. 75/2010. P. 166 – 213. Jul – Set. 2010. p. 12.

55

consumidor.214

A vulnerabilidade técnica é aquela que caracteriza-se pela falta de conhecimentos

técnico de cada produto ou serviço que o consumidor adquiri. Marques esclarece que: “(...) o

comprador não possui conhecimento específicos sobre o objeto que está adquirindo e,

portanto, é mais facilmente enganado quanto às características do bem ou quanto à sua

utilidade, o mesmo ocorrendo em matéria de serviços.”215

Alguns fornecedores se aproveitam da vulnerabilidade técnica utilizando um maçante

ataque publicitário com informações que mudam a cabeça do consumidor, como é o caso do

leite em pó, que visando o melhor bem estar da mulher, a sua vaidade as empresas se utilizam

de tal situação para venderem seu produtos ou serviços.216

Em se tratando de vulnerabilidade jurídica ou científica, pode se dizer que é a falta de

entendimento jurídicos específicos sobre os seus direitos ou sobre como pode se defender no

âmbito judicial ou fora dele.217

Nas palavras de Cavallieri:

(...) resulta da falta de informação do consumidor a respeito dos seus direitos, inclusive no que respeita a quem recorrer ou reclamar; a falta de assistência jurídica, em juízo ou fora dele; a dificuldade de acesso à Justiça; a impossibilidade de aguardar a demorada e longa tramitação de um processo judicial que, por deturpação de princípios processuais legítimos, culmina por conferir privilegiada situação aos réus, mormente os chamados litigantes habituais.218

Como pode-se ver a vulnerabilidade jurídica diz a respeito à falta de conhecimento

jurídico, situação contrária ao fornecedor que tem o amparo de um grande sistema jurídico em

suas empresas, ou através de grandes escritórios de advocacia que dão todo o suporte legal

para os seus produtos e serviços.

Essa vulnerabilidade é presumida para o consumidor que não é profissional e para a

pessoa física; mas não é presumida para a pessoa jurídica consumidora que deverá ser

analisado cada caso concreto, como já exposto.219

214 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 109. 215 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 109-110. 216 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 49. 217 PEIXOTO, Ulissess Vieira Moreira. Código de defesa do consumidor comentado. Campo Grande. Contemplar. 2012. p. 40. 218 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 50. 219 REIS, Iuri Ribeiro Novais de. O princípio da vulnerabilidade como núcleo central do código de defesa do consumidor. Revista dos Tribunais. v. 956/2015. p. 89 – 114. Jun. 2015. p. 5.

56

Dessa maneira, o fornecedor deve informar o consumidor das possíveis relações

jurídicas que possam derivar da relação de consumo, pois presume-se que o consumidor seja

leigo em tais informações.220

Outra espécie de vulnerabilidade é a fática, ou socioeconômica, que legitima a

superioridade do fornecedor, sujeito que possui um grande aparato funcional, seja no campo

da técnica, seja na informação ou jurídica, tornando-se superior ao consumidor, dizendo o que

deve ser consumido e quando não se pode consumir mais.

Marques, Bessa e Bejamin descrevem que: “(...) onde o ponto de concentração é o

outro parceiro contratual, o fornecedor que, por sua posição de monopólio, fático ou jurídico,

por seu grande poder econômico ou em razão da essencialidade do serviço, impõe sua

superioridade a todos que com ele contratam (...)”221

Com tal característica essa vulnerabilidade é considerada a desigualdade econômica,

ou seja, a ponte que separa consumidor e fornecedor que é majorado pela liberdade

econômica que autoriza a deficiência na concorrência, a criação de monopólios e oligopólios,

afastando ainda mais as condições financeiras do consumidor que é obrigado a comprar

produtos e serviços com preços fixos por não haver concorrência.222

Nunes pronuncia-se a respeito da vulnerabilidade fática, ou socioeconômica afirmando

que esta liga-se a escolha : “O consumidor só pode optar por aquilo que existe e foi oferecido

no mercado. E essa oferta foi decidida unilateralmente pelo fornecedor, visando seus

interesses empresariais, que são, por evidente, a obtenção de lucro.”223

E por último a vulnerabilidade informacional que é intrínseca do consumidor, pois o

Código de Defesa do Consumidor se baseia também no princípio da informação, mas uma

informação que seja, clara, objetiva baseada na boa-fé.

A informação é considerado a chave dentro da relação de consumo, pois, aquele que

possui informação será sempre considerado o mais forte, ou seja, dentro da relação de

consumo o sujeito que detém um grande número informacional é o fornecedor e isso cria um

abismo que pode gerar até mesmo uma hipervulnerabilidade.224

Marques, Bessa e Bejamin discursam sobre o tema:

220 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 113. 221 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 113. 222 REIS, Iuri Ribeiro Novais de. O princípio da vulnerabilidade como núcleo central do código de defesa do consumidor. Revista dos Tribunais. v. 956/2015. p. 89 – 114. Jun. 2015. p. 6. 223 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 128. 224 REIS, Iuri Ribeiro Novais de. O princípio da vulnerabilidade como núcleo central do código de defesa do consumidor. Revista dos Tribunais. v. 956/2015. p. 89 – 114. Jun. 2015. p. 7.

57

(...) a vulnerabilidade informacional, que é a vulnerabilidade básica do consumidor, intrínseca e característica deste papel na sociedade. Hoje merece ela uma menção especial, pois na sociedade atual são de grande importância a aparência, a confiança, a comunicação e a informação. Nosso mundo de consumo é cada vez mais visual, rápido e de risco, daí a importância da informação. (...) o consumidor é justamente seu déficit informacional, pelo que não seria necessário aqui frisar este minus como uma espécie nova de vulnerabilidade, uma vez que já estaria englobada como espécie de vulnerabilidade técnica. Hoje, porém, a informação não falta, ela é abundante, manipulada, controlada e, quando fornecida, nos mais das vezes, desnecessária. (grifo do autor).

Na era da informação, quem possui informação é rei, porém o Código de Defesa do

Consumidor visa proteger o consumidor nessa instabilidade informacional, deixando em

equilíbrio a relação de consumo.

É notória a vulnerabilidade do consumidor que está sempre diante de um tiroteio de

publicidades, informações e promoções de novos produtos. Por não ter muito conhecimento, e

por ser essencialmente, vulnerável muitos consumidores acabam caindo nas armadilhas dos

fornecedores, por isso a necessidade do reconhecimento dessa vulnerabilidade para ajudar o

Estado na proteção do consumidor dentro das relações de consumo, muitas vezes abusivas por

se aproveitarem os fornecedores dessa fraqueza do consumidor.

Assim, é visível o reconhecimento pela doutrina em ser o consumidor a parte mais

fraca dentro de uma relação de consumo,225 sendo o fornecedor detentor do poder econômico

tem a maior facilidade e conhecimento nas relações, diante desses fatos acaba se aproveitando

da ignorância do consumidor para induzi-lo e convencê-lo de situações que às vezes são até

mesmo lesiva a esses.

O artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor e seus incisos tratam da Política

Nacional das Relações de Consumo, garantindo uma maior segurança e proteção dos direitos

do consumidor com melhorias de qualidade, transparência e harmonia nas relações de

consumo.

Almeida reflete que:

O princípio da presença do Estado na relações de consumo é, de certa forma, corolário do princípio da vulnerabilidade do consumidor, pois, se há reconhecimento da situação de hipossuficiência, de fragilidade e desigualdade de uma parte em relação a outra, está claro que o Estado deve ser chamado para proteger a parte mais fraca, por meios legislativos e administrativos, de sorte a garantir o respeito aos seus interesses.226

225 ALMEIDA, João Batista de. Manual de direito do consumidor. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p.19. 226 ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2006. p. 15-16.

58

No seu inciso II estabelece o princípio da intervenção estatal que visa por meio de

ações governamentais proteger o consumidor. Dessa maneira elenca os tipos de intervenções

que busca atender, descritos a seguir.

A primeira é a por meio de iniciativa direta que é feita pelos conhecidos PROCONs

que ganhou força na defesa do consumidor, fundação que realiza fiscalizações, faz o

atendimento administrativo na proteção dos direitos consumidor com o intuito de reequilibrar

a relação.227

Existe também ações de incentivos ao desenvolvimento de associações representativas

que buscam a defesa do consumidor, incentivando estudos, fazendo defesas em demandas que

envolvem a relação de consumo.

As associações que têm maior repercussão na luta contra as barbaridades que existem

contra os direitos do consumidor são: ADECON (Associação de Defesa do Consumidor);

IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e o BRASILCON (Instituto Brasileiro

de Política e Direito do Consumidor.228

O Estado ainda faz a intervenção pela presença no mercado de consumo de forma

fiscalizadora, atribuído as suas Agências Reguladoras como ANATEL (Agência Nacional de

Telecomunicação); ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e com a ANS (Agência

Nacional de Saúde). 229

Todas com o mesmo objetivo, qual seja, garantir o acesso a serviços e produtos com

qualidade e segurança, protegendo a parte mais fraca da relação de consumo, ou seja, o

consumidor vulnerável.230

E por último o inciso II do artigo 4º prevê a garantia dos produtos e serviços com

padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho que deverão seguir as

normas e padrões estabelecidas pelo SINMETRO (Sistema Nacional de Metrologia,

Normatização e Qualidade Industrial); CONMETRO (Conselho Nacional de Metrologia,

Normatização e Qualidade Industrial e o mais conhecido INMETRO (Instituto Nacional de

Metrologia, Qualidade e Tecnologia).231

O princípio da transparência busca uma justa e harmoniosa relação de consumo. Para

que os contratos sejam cumpridos é necessário que haja transparência, ou seja, nitidez,

227 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 211. 228 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 211. 229 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 212. 230 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 128. 231 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 213.

59

sinceridade, princípio que vem disposto no art. 4º, caput. do Código de Defesa do

Consumidor e que é filiado ao princípio da boa-fé, pois demanda uma necessidade na relação

de consumo, sendo uma palavra de ordem, onde prioriza clareza, nitidez, precisão e

sinceridade dentro da sociedade.232

Assim, o princípio da transparência, aplicado como forma de garantir com que o

fornecedor passe todas as informações corretas sobre os produtos e serviços ofertados no

mercado, dando a oportunidade de um prévio conhecimento sobre o produto ou serviço

fornecido.233

A transparência deve ocorrer em todas as fases do contrato, tanto no pré-contrato

como no decorrer da relação.234 Nesse sentido, Marques traduz a ideia central desse princípio

que é:

[...] é possibilitar uma aproximação e uma relação contratual mais sincera e menos danosa entre consumidor e fornecedor. Transparência significa informação clara e correta sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser firmado, significa lealdade e respeito nas relações entre fornecedor e consumidor, mesmo na fase pré-contratual, isto é, na fase negocial dos contratos de consumo.235

E assim concluído sobre o princípio da transparência esse não relaciona-se apenas com

o que o consumidor não pode fazer, mas com o que ele necessita fazer e passar para o

consumidor; são deveres procedimentais que fazem parte da relação consumidor e fornecedor

com seus produtos e serviços inseridos no mercado.236

O fornecedor deve apresentar corretamente todos os dados de seu produto ou serviço

disponibilizados ao consumidor visando sempre essa transparência mencionada.

É obrigação do fornecedor dar segurança ao consumidor, informando corretamente

todas as qualidades e perigos do produto. O art. 8º, caput, do Código de Defesa do

Consumidor dispõe sobre a proteção da segurança, discorrendo que não serão colocados no

mercado produtos que possam acarretar riscos à saúde e segurança do consumidor e que, em

caso de algum produto conter produtos nocivos à saúde e segurança, deverão constar

informações claras em seus rótulos237

232 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 34. 233 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 127. 234 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2006. 235 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2006. p. 714-715. 236 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 35. 237 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016.

60

Sendo assim, é necessário que o fornecedor informe o consumidor de qualquer

possível situação que prejudique sua segurança. Portanto, é comum que um consumidor que

compra um produto ou serviço que está sendo oferecido no mercado tenha a certeza que

aquele produto ou serviço apresenta as suas garantias legais, resguardando a saúde ou a vida

do consumidor.238

No que se refere à segurança, pode-se dizer que é uma segurança absoluta, que tem

como objetivo evitar a comercialização de qualquer tipo de produto que apresente perigo a

vida do consumidor, levando-se em conta a ideia de defeito ou falha na segurança239.

Por conseguinte, refere-se a um defeito, quando o consumidor compra um carro,

porém este vem com os faróis queimados, porém esta situação não é a mesma quando o

consumidor pega o produto para usufruir. Nessa situação teria a segurança descumprida, pois,

quem compra tem adquire um objeto espera que o produto esteja nos conformes e regular,

sem risco de causar algum problema a segurança do consumidor.

A saúde e a segurança são direitos previstos, e prescritos, na Constituição Federal, ou

seja, proteger a dignidade da pessoa humana, tendo como base para todos os outros direitos.240

Diante disso, a proteção de segurança está dentro dos fundamentos que integram o princípio

da dignidade da pessoa humana.

Em relação ao referido princípio, Cavalieri Filho disserta:

O Código do Consumidor deu uma guinada de 180 graus na disciplina jurídica então existente, na medida em que transferiu os riscos do consumo do consumidor para o fornecedor. Estabeleceu responsabilidade objetiva para todos os casos de acidente de consumo, quer decorrentes do fato do produto (art. 12), que diz: ‘o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos de seus produtos’; quer do fato do serviço (art. 14): ‘o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços’.241 (grifo do autor).

Conclui-se que o fornecedor deve agir com cuidado sempre apresentando todas as

informações necessárias do produto e serviços que está colocando à disposição do

consumidor, para que este por falta de informação, e não tendo a segurança necessária, não

venha sofrer possíveis danos materiais e às vezes prejudiciais a sua própria vida ou de seus

238 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2006. p. 1199. 239 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2006. p. 1199. 240 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 126. 241 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 43.

61

familiares.

Ora, nota-se que o princípio da segurança e o da informação andam juntos na relação

de consumo, dessa forma, um complementa o outro.

Diferentemente do que se aplica no Código de Processo Civil, o Código de Defesa do

Consumidor traz a inversão do ônus da prova, que no processo civil é do autor, porém, no

direito do consumidor essa situação se inverte.

Com previsão legal no art. 6º, inc. VIII do Código de Defesa do Consumidor expõe

que o consumidor terá sua defesa facilitada com a inversão do ônus da prova, desde que suas

alegações sejam verossímeis, ou quando o consumidor for hipossuficiente, indo de forma

contrária à regra do Código de Processo Civil, mas com a finalidade de favorecer o

consumidor.242

Relatando sobre esse princípio Arenhart explica que o juiz, pode exigir que o

fornecedor produza provas que seriam de obrigação do consumidor, mas como forma de

facilitar a ação do consumidor e por possuir o fornecedor maior facilidade técnica.243

Esse princípio tem como ponto principal a facilitação da defesa do consumidor nos

conflitos existentes na seara jurídica.244 Diante disso, o consumidor parte hipossuficiente, tem

em seu favor uma maior proteção tornando fácil a cobrança de seus direitos uma vez que não

detém as técnicas e conhecimentos específicos, ao contrário de seus fornecedores.

Alguns autores trazem como princípio da equidade e outros equilíbrio contratual. Esse

princípio tem como característica proporcionar uma paridade entre as partes contratantes,

manifestando assim uma efetiva igualdade na relação de consumo, tentando nivelar a balança

do direito.

Silva narra informar sobre o equilíbrio contratual absoluto, que está explícito no CDC

assim se pronuncia:

O Código de defesa do Consumidor traz uma série de regras das quais se deduz o princípio do equilíbrio contratual absoluto; segundo esse princípio, o contrato não pode estabelecer desmensuradamente prerrogativas ao fornecedor sem fixar iguais vantagens ao consumidor. Não pode uma das partes na relação jurídica de consumo obter vantagem manifestamente excessiva em detrimento da outra. Por essa Razão foi atribuída a nulidade de pleno direito à cláusula que, em desfavor do consumidor, vem

242 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016. 243 ARENHART, Sérgio Cruz. Ônus da prova e relações de consumo. In: CAPAVERDE, Adairdo Carmo (Org.); CONRADO, Marcelo (Org.). Repensando o direito do consumidor: 15 anos do CDC (1990-2005), Curitiba: OAB/PR, 2005. p. 100. 244 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008.

62

estabelecer obrigações iníquas, abusivas, que coloquem em desvantagem exagerada (art. 51, IV, do CDC).245

O presente princípio proporciona direitos e deveres às partes nos contratos de

consumo, proibindo o abuso, ou melhor, as cláusulas abusivas que venham a lesar o

consumidor, ou seja, dando vantagens ao fornecedor, prática não compatível com a boa-fé

equidade.246

Segundo Diniz, ele será aplicado quando: “em razão de desequilíbrio sofrido em

consequência de fatos imprevisíveis nas relações contratuais, que possam até acarretar a

exploração de um sobre o outro sob o véu do contrato”247

Como o nome já diz, o princípio do equilíbrio contratual visa a busca de uma relação

contratual equilibrada não podendo assim haver uma onerosidade excessiva para uma das

partes.

Nessa linha, o Código de Defesa do Consumidor preza regular por meio de normas

imperativas esta relação, antes movida pela autonomia da vontade; buscou-se proteger o

contrato, evitando um desiquilíbrio, garantindo a realização da justiça, dentro das novas

realidades econômicas, políticas e sociais.248

Diante destas modificações o direito passa a buscar o equilíbrio nas relações,

colocando em igualdade as partes contratantes.

Os princípios acima citados no segundo capítulo têm o princípio da boa-fé, objetiva

considerado por muitos doutrinadores, o princípio base do Código de Defesa do Consumidor,

tendo todos os outros princípios interligados a ele.

E está disposto no art. 4º, inc. III do Código de Defesa do Consumidor que assim trata

que será necessário pacificar os interesses do indivíduos que integram as relações de

consumo, sempre na busca de proteger o consumidor, garantindo o desenvolvimento

econômico e tecnológico, com bases na Constituição Federal, art. 170 e de acordo com a boa-

fé e equilíbrio entre os sujeitos consumidor e fornecedor.249

O Código de Defesa do Consumidor dispõe que a boa-fé objetiva deve sempre estar

nas relações entre os consumidores, dando um equilíbrio nas relações, na verdade são amplos

245 SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Cláusulas abusivas no código de defesa do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 73. 246 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2006. 247 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2006. v. 1. p. 84. 249 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016.

63

os benefícios trazidos com a aplicação do princípio da boa-fé, benefícios esses que serão

melhores expostos abaixo.

Diniz discorre sobre o que seria a palavra boa-fé, assim, o seu significado:

BOA-FÉ. 1. Direito civil. a) Estado de espírito em que uma pessoa, ao praticar ato comissivo ou omissivo, está convicta de que age de conformidade com a lei; b) convicção errônea da existência de um direito ou da validade de um ato ou negócio jurídico. Trata-se da ignorância desculpável de um vício do negócio ou da nulidade de um ato, o que vem a atenuar o rigor da lei, acomodando-a à situação e fazendo com que se deem soluções diferentes conforme a pessoa ou aja de boa ou má-fé, considerando a boa-fé do sujeito, acrescida de outros elementos, como produtora de efeitos jurídicos na seara das obrigações, das coisas, no direito de família e até mesmo no direito das sucessões; c) lealdade ou honestidade no comportamento, considerando-se os interesses alheios, e na celebração e execução dos negócios jurídico; [...].250 (grifo do autor).

O princípio da boa-fé objetiva está disposto no art. 422 do Código Civil251, e no art. 4º,

inciso III, do Código de Defesa do Consumidor, além de outros artigos que tratam sobre o

presente princípio. Mas foi no Código de Defesa do Consumidor de 1990 que este princípio

atingiu o seu auge.252

É necessário distinguir a boa-fé objetiva da subjetiva e, Martins-Costa, assim a define:

A expressão boa-fé subjetiva denota estado de consciência ou convencimento individual de obrar em conformidade ao direito aplicável, em regra, ao campo dos direitos reais, especialmente em matéria possessória. Diz-se subjetiva justamente porque para a sua aplicação, deve o intérprete considerar a intenção do sujeito da relação jurídica, o seu estado psicológico ou íntima convicção. Antitética à boa-fé subjetiva está a má-fé, também vista subjetivamente como a intenção de lesar a outrem.253

Nessa linha de pensamento Farias e Rosenvald, trazem que “A boa-fé subjetiva não é

um princípio, e sim um estado psicológico em que a pessoa possui a crença de ser titular de

um direito que em verdade só existe na aparência.”254

Já a boa-fé objetiva é relativo à conduta das partes, ou seja, elas devem sempre buscar

agir com respeito a outra parte, ou como Martins-Costa melhor traduz:

250 BOA-FÉ. In: DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico: A-C. 2. ed. rev. atual. e aum. São Paulo. Saraiva. 2005. v. 1. p. 506-507. 251 BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o código civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 14 nov. 2016. 252 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de direito do consumidor: à luz da jurisprudência do STJ. 7. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm. 2012. 253 COSTA-MARTINS, Judith. A boa-fé no direito privado. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2000. p. 411. 254 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: contratos teoria geral e contratos em espécies. 2. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2012. v. 4. p. 164.

64

Já por boa-fé objetiva se quer significar – segundo a conotação que adveio da interpretação conferida ao § 242 do Código Civil alemão, de larga força expansionista em outros ordenamentos, e bem assim, daquela que lhe é atribuída nos países do common law – modelo de conduta social, arquétipo ou standard jurídico, segundo o qual ‘cada pessoa deve ajustar a própria conduta a esse arquétipo, obrando como obraria um homem reto: com honestidade, lealdade, probidade’. Por este modelo objetivo de conduta levam-se em consideração os fatores concretos do caso, tais como o status pessoal e cultural dos envolvidos, não se admitindo uma aplicação mecânica do standard, de tipo meramente subjuntivo.255

Diante da visão de boa-fé subjetiva e boa-fé objetiva, pode-se traduzir que a boa-fé,

como sendo, lealdade, confiança e colaboração entre as partes, decidas a operar com

honradez, e a todo tempo com rigorosa observância de seus deveres e boa conduta, no início,

no meio e no fim de uma relação contratual.

Com a criação do Código de Defesa do Consumidor, conforme Cavalieri Filho, “o

termo boa-fé passou a ser utilizado com uma nova e moderna significação, para indicar

valores éticos que estão à base da sociedade organizada e desempenham função de

sistematização da ordem jurídica.”256 Dessa forma traz a ética para dentro das relações

consumeristas protegidas, pelo Código de Defesa do Consumidor.

Nas palavras de Braga Netto, o princípio da boa-fé objetiva “(...) é o dever, imposto a

quem quer que tome parte em relação negocial, de agir com lealdade e cooperação, abstendo-

se de condutas que possuam esvaziar as legítimas expectativas da outra parte.”257

Na visão de Farias e Rosenvald, o princípio da boa-fé:

[....] encontra a sua justificação no interesse coletivo de que as pessoas pautem seu agir na cooperação e na retidão, garantam a promoção do valor constitucional do solidarismo, incentivando o sentimento de justiça social, com repressão a todas as condutas que importem em desvio aos parâmetros sedimentados de honestidade e lisura. Seria, em uma última instância, a tradução no campo jurídico do indispensável cuidado e da estima que devemos conceder aos nosso semelhante.258

Cada parte numa relação contratual consumerista deve guardar a confiança. Buscar

através do princípio da boa-fé objetiva, uma tranquilidade entre as partes, agindo com

lealdade, em harmonia; não há que se falar em desentendimento, processos para reaver

direitos que foram descumpridos.259

255 COSTA-MARTINS, Judith. A boa-fé no direito privado. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2000. p. 411. 256 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 31. 257 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de direito do consumidor: à luz da jurisprudência do STJ. 7. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 63. 258 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: contratos teoria geral e contratos em espécies. 2. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2012. v. 4. p. 166. 259 FILOMENO, José Geraldo Brito. Curso fundamental de direito do consumidor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

65

Dentre as funções da boa-fé, existem três que se destacam segundo Braga Netto, no

princípio da boa-fé objetiva, sendo a: interpretativa, corretiva e criadora ou integrativa, onde a

primeira trata sobre a intenção daqueles que realizam o contrato; a segunda tem a finalidade

de proteger ou corrigir qualquer tipo de desequilíbrio na relação; e a terceira cria aqueles

deveres que todo o contratante espera da outra parte, como lealdade e cooperação fazendo

valer a confiança depositada no contrato.260

Como exposto o princípio da boa-fé se divide em três funções, mas para presente

pesquisa será considerada a função interpretativa, por que nas palavras de Gomes a “[...]

intenção ou sentido comum atribuído pelas partes á declaração contratual”261, é aquela

inserida no art. 113 do Código Civil que assim dispõe: “Os negócios jurídicos devem ser

interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”.262

O melhor exemplo dessa aplicação vem disposta no artigo 187 do Código Civil que

assim traz: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede

manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos

bons costumes”.263

E, por último, a função supletiva que tem como base a criação de deveres na relação

contratual ou consumerista, ou seja, prevê o dever de informar, a confiança, buscando sempre

uma boa relação.264

Dessa maneira, em toda relação consumidor e fornecedor o princípio da boa-fé precisa

ser adotado, pois para viver dentro de uma sociedade livre o homem deve sempre agir com

ética e boa-fé, visando sempre o bem estar social.

Depois de analisados os princípios previstos no Código de Defesa do Consumidor,

necessário trazer uma breve exposição de princípios que também são aplicados na relação

consumerista e que visam a garantia da ordem social: função social e solidariedade.

Taís princípios se aplicam, pois a legislação consumerista visa uma proteção social

como apontado no caput do artigo primeiro, salientando, que é uma lei de interesse social, ou

melhor, tem como fundamento a proteção do consumidor individuo autônomo ou a

coletividade, prevendo institutos de defesa de mais de um consumidor, como as ações

coletivas, ação civil pública, tudo com a visão de garantir uma proteção da sociedade. 260 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de direito do consumidor: à luz da jurisprudência do STJ. 7. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 307. 261 GOMES, Orlando. Contratos. 26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 44. 262 BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o código civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 14 nov. 2016. 263 BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o código civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 14 nov. 2016. 264 GOMES, Orlando. Contratos. 26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 44.

66

Essa legislação foi criada em uma época em que a visão liberal dava lugar para a visão

social, momento em que surgiram várias legislações com o intuito social, visando garantir

uma proteção da sociedade contra as mazelas das grandes empresas.265

Movidos por um direito individualista, com princípios como pacta sund servanda,

autonomia da vontade, o legislador passa a perceber que para que se efetivasse a proteção dos

interesses de uma coletividade seria necessário mudar, o enfoque passando a considerar o

interesse social no meio da relação.

E na nova visão da Constituição Federal, Código de Defesa do Consumidor e depois

no Código Civil de 2002 o princípio da função social que está previsto no artigo 421 do

Código Civil.

Nery Junior e Nery vem exemplificar o conceito do princípio como:

O contrato tem de ser entendido não apenas como as pretensões individuais dos contratantes, mas como verdadeiro instrumento de convívio social e de preservação dos interesses da coletividade. Interessa a toda a sociedade, na medida em que os standards contratuais são paragmáticos para outras situações assemelhadas. Tudo o que ocorre relativamente a um contrato terá, forçosamente, repercussão em outros casos que digam respeito aos mesmo tipo de contrato. Essa é apenas uma das consequências da nova socialidade do contrato. Além de útil o contrato tem de ser justo.266

Com a criação de lei que previa a função social, as relações jurídicas sofrem

mudanças, pois a legislação visa garantir uma proteção a sociedade, alterando o que era o

conhecido direito privado para um direito social, onde o bem da coletividade está em primeiro

plano em todos as relações contratuais e de consumo.267

Assim, o princípio da função social se tornou regra geral na legislação, visando

proteger tanto as partes envolvidas no contrato como aquelas que podem ser atingidas com tal

ato.

Farias e Rosenvald dissertam que:

Como reação a este estado de coisas, tal e qual qualquer direito subjetivo, atualmente as obrigações revelam uma função social, uma finalidade perante o corpo social. Para além da intrínseca função da circulação de riqueza, o papel das relações negociais consiste em instrumentalizar o contrato em prol de exigências maiores do

265 ALCARÁ. Marcos. A evolução do direito do consumidor. Disponível em: < http://www.fmd.pucminas.br/Publicacoes/Publicacoes_Discente/DA%20EVOLU%C7%C3O%20HIST%D3RICA%20DO%20DIREITO%20DO%20CONSUMIDOR.htm > Acesso em: 22 mar. 2017. 266 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 10. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2013. p. 634. 267 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 74.

67

ordenamento jurídico, tais como a justiça, a segurança, o valor social da livre iniciativa, o bem comum e o princípio da dignidade da pessoa humana.268

Nessa linha, prioriza-se a função social do contrato por estar ligada à função social da

propriedade; dessa, por estar ligada à função social da propriedade; dessa maneira tem como o

“escopo promover a realização de uma justiça comutativa, aplainando as desigualdades

substanciais entre os contraente”269.

O princípio da função social do contrato tem como objetivo a interpretação dos

contratos num contexto social e não individual como era no Código Civil de 1916.

Tartuce afirma que a “função social do contrato – princípio contratual de ordem

pública pelo qual o contrato deve ser necessariamente, interpretado e visualizado de acordo

com o contexto da sociedade”.270

Nesse sentido, pode-se salientar que a função social e os novos princípios vieram para

assegurar aos contratantes uma igualdade, não podendo, assim, haver uma onerosidade

excessiva a uma das partes no negócio jurídico pactuado; no entanto o novo princípio não está

disposto somente no art. 421, do Código Civil. A função social aparece também no art.

2.035271. Corroborando com tal artigo Gomes avalia:

Trata-se, como é evidente, de norma de ordem pública, como esclarece o art. 2035, parágrafo único, do mesmo Código. A locução “função social” traz a ideia de que o contrato visa a atingir objetivos que, além de individuais, são também sociais. O poder negocial é, assim, funcionalizado, submetido a interesse coletivo ou sociais.272

Diante do exposto, Gomes compreende que, a função social, vem para adaptar a

relação contratual à ordem econômica na busca de uma justiça social, prevista no art. 170,

caput da Constituição Federal. Assim busca uma existência digna, dentro de uma órbita de

justiça social.

Além do princípio da função social, outro princípio foi adotado nas mudanças do

direito individual para o social, que é a inserção do princípio da solidariedade.273

268 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: contratos teoria geral e contratos em espécies. 2. ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2012. v. 4. p. 200. 269 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil 1: esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. p. 686. 270 TARTUCE, Flávio. Função social dos contratos: do código de defesa do consumidor ao código civil de 2002. São Paulo: Método, 2007. p. 415. 271 BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o código civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 25 fev. 2017. 272 GOMES, Orlando. Contratos. 26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 48. 273 CARDOSO, Alenilton da Silva. Princípio da solidariedade: a confirmação de um novo paradigma. Revista DIREITO MACKENZIE. v. 6, n. 1, p. 10-29. p. 14.

68

Dessa forma, visto a função social, necessário se faz entrar na sua função solidária

que, segundo Cardoso:

O princípio da solidariedade, pois, antes de ser princípio, orienta o direito em um sentido de valor, revela que o reconhecimento da dignidade é uma forma de preservação da vida e da liberdade com igualdade, e, se assim é, preceitos como justiça, ética e valor da pessoa humana constituem a base fundamental para que o direito opere, de fato, como fator de transformação social.274

A mudança com a Constituição de 1988 e o Código Civil de 2002, trouxeram

contribuições para o mundo jurídico, com a mudança de paradigma, colocando os direitos da

sociedade, ou chamados coletivos, em primeiro lugar, sempre acima do interesse do

indivíduo; dessa forma, necessário se faz analisar as ação de modo a não prejudicar o outro,

assumindo um papel de cooperação, visando uma responsabilidade social, primando sempre,

pela igualdade substancial entre todos.275

A função solidária é orientadora do direito, pois busca o reconhecimento da dignidade

e a ética da pessoa humana, fornecendo condições para que o direito opere. Nesse enfoque

realiza uma transformação social, junto à sociedade, garantindo uma maior igualdade entre as

pessoas.276

No pilar social, a chamada inclusão social, garante uma melhor qualidade de vida a

todos, não fazendo distinções, fornecendo trabalho digno com o cumprimento das normas

vigentes. Nessa linha Cardoso assim se expressa: “Somente com base no reconhecimento dos

direitos do próximo que o ser humano poderá fazer da sociedade um ambiente propício à

justiça e à segurança, e, para tanto, o comportamento de solidariedade é o caminho mais

adequado.”277

O papel dos princípios acima é garantir uma maior proteção da coletividade e

sociedade, tentando evitar abusos de direitos que possam atingir outras pessoas que não estão

envolvidas na relação contratual ou de consumo.

2.5 DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

274 CARDOSO, Alenilton da Silva. Princípio da solidariedade: a confirmação de um novo paradigma. Revista DIREITO MACKENZIE. v. 6, n. 1, p. 10-29. p. 14. 275 CARDOSO, Alenilton da Silva. Princípio da solidariedade: a confirmação de um novo paradigma. Revista DIREITO MACKENZIE. v. 6, n. 1, p. 10-29. p. 12. 276 CARDOSO, Alenilton da Silva. Princípio da solidariedade: a confirmação de um novo paradigma. Revista DIREITO MACKENZIE. v. 6, n. 1, p. 10-29. p. 14. 277 CARDOSO, Alenilton da Silva. Princípio da solidariedade: a confirmação de um novo paradigma. Revista DIREITO MACKENZIE. v. 6, n. 1, p. 10-29. p. 16.

69

Com a criação do Código de Defesa do Consumidor o legislador buscou dar ampla

proteção ao consumidor, parte mais fraca na relação de consumo, considerado vulnerável

diante do fornecedor, detentor de maior poder econômico, informacional, jurídico e técnico.

Diante do processo de produção em massa, na período pós-revolução industrial do aço

e do carvão, o consumidor ficou desprovido de proteção, assim necessitando que o Estado

interviesse para garantir o equilíbrio na relação de consumo; dessa maneira, conferiu direitos

ao consumidor sujeito vulnerável, da relação de consumo e instituiu deveres aos

fornecedores.278

Sendo assim, nas palavras de Cabral e Rodrigues, “a vulnerabilidade é um traço

objetivo, universal, comum a todo consumidor”279. Então, considera-se o consumidor

vulnerável nas relações de consumo, e diante disso, em sequência ao aludido artigo e seus

incisos nota-se a intervenção estatal para a proteção do consumidor e o bom andamento do

desenvolvimento da economia nacional, contemplando o princípio da boa-fé, equilibrando as

relações consumeristas.

Dessa maneira, consagrou-se a proteção dos direitos do consumidor no artigo 6º do

capítulo III do Código de Defesa do Consumidor com o título “Dos Direitos Básico do

Consumidor”, onde foram colocados vários direitos que serão melhor analisados a seguir um

por um, para melhor compreensão.

Necessário se faz conceituar o que são considerados como direitos básicos para o

consumidor, e que nas palavras de Cavallieri Filho é; “(...) são aqueles mínimos, materiais ou

instrumentais, relacionados a direitos fundamentais universalmente consagrados que, diante

de sua relevância social e econômica, pretendeu o legislador ver expressamente tutelados.”280

No inciso I do artigo 6º o legislador buscou dar proteção ao bens preciosos do

consumidor que é a vida, saúde e segurança, bens que deverão protegidos contra os riscos de

produtos e serviços perigos e nocivos.

O direito à vida, saúde e segurança são considerados inalienáveis e fazem parte do

bem maior previsto na Constituição Federal que é o da dignidade da pessoa humana.281

Estando em uma sociedade de risco, onde produtos e serviços que são colocados no

mercado são perigosos e danosos ao consumidor, sendo necessário os cuidados com a

prevenção ou segurança, pois em toda a cadeia de fornecedores deverá sempre ser aplicado o

278 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 232. 279 CABRAL, Hildeliza Lacerda Tinoco Boechat; RODRIGUES, Maria Madalena de Oliveira. A obsolescência programada na perspectiva da prática abusiva e a tutela do consumidor. Revista de Direito Empresarial, Concorrencial e do Consumidor, Porto Alegre, n. 42, Magister, p. 35-58, dez./jan. 2012. p. 43. 280 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 90. 281 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 93.

70

dever de segurança com os produtos colocados no mercado de consumo.282

Assim, o inciso I do artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor tem como ponto

principal a proteção da segurança nos produtos e serviços colocados no mercado, visando o

bem estar e saúde dos consumidores.

No inciso II do artigo 6º, o legislador buscou proteger o direito a educação para uma

adequada compra, garantido um consumo consciente de produtos e serviços inseridos no

mercado de consumo e assegurando a liberdade de escolha com paridade nas contratações.

O direito à educação está previsto também no artigo 205 da Constituição Federal de

1988, e é dever do Estado fornecer educação adequada para um pleno desenvolvimento da

pessoa.

A educação que se busca é para que o direito de escolha do consumidor seja protegido,

garantindo uma liberdade na hora de comprar um produto ou serviço, buscando sempre uma

qualidade satisfatória com preços competitivos.283

Cavallieri Filho expõe que:

(...) aumentado os níveis de conhecimento e de informação do consumidor, também se aumente o seu poder de reflexão e de formação de um juízo crítico sobre a oportunidade e a conveniência da contratação, a fim de que possa o mesmo, dentre os diversos produtos e/ou serviços colocados no mercado a sua disposição, escolher, em manifestação de vontade formal e materialmente livre, esclarecida e portanto, consciente, aquele que melhor se ajuste às suas necessidades.284

No mesmo inciso busca-se garantir o que o Código de Defesa do Consumidor prega

uma disparidade com os consumidores, pois todos deverão sertratados da mesma maneira, não

podendo o fornecedor fazer qualquer discriminação, admitido apenas tratamento diferenciado

aqueles que necessitam como idosos, gestantes e crianças, dentro do que preceitua o princípio

da isonomia.285

Em se tratando de igualdade, não se pode deixar de lado a questão que dentro da

relação de consumo existem os consumidores que são considerados mais frágeis do que

outros, podendo ser denominados de hipervulneráveis, ou seja, criança, idoso entre outros.286

O artigo 6º, inciso III vem dispor acerca do direito à informação, direito este que rege

o atual ordenamento, pois quem possui a informação nessa nova era digital é que sempre será

considerado mais forte, sendo que informação é poder. 282 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 77. 283 ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2006. p. 43. 284 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 94. 285 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 142. 286 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 237.

71

O fornecedor deve se preocupar em transmitir a correta informação de seus produtos e

serviços especificando adequadamente e com clareza, quantidade, característica, composição,

qualidade, tributo incidente e preço, não podendo deixar de lado os possíveis risco que o

produto e serviço podem causar aos consumidores.

A informação protegida pelo Código de Defesa do Consumidor é referente ao

consumidor, pois este necessita ser informado de forma adequada e clara sobre os produtos e

serviços que está adquirindo, visto que o fornecedor não é vulnerável na parte informacional,

sendo na verdade expert devendo agir de com a boa-fé na ora de informar seus

consumidores.287

O direito da informação deriva da vulnerabilidade do consumidor, pois o consumidor

não possui as informações necessárias sobre o produto e serviço ficando tal encargo ao

fornecedor que deve informar tudo sobre o produto e serviço como forma de garantir com que

o consumidor possa fazer uma escolha consciente na hora da compra.288

A informação está prevista em todo o Código de Defesa do Consumidor desde a fase

pré-contratual, contratual e pós-contratual, de forma a garantir que o consumidor não seja

lesado por falta de informação, assim, quando um fornecedor oferece seu produto mediante

uma oferta ele deve fornecer toda as informações existentes para que não venha ludibriar o

consumidor, fazendo com que o mesmo adquira seus produtos, ou serviços de forma

equivocada, por falta de uma correta informação.289

Almeida descreve que: “(...) o consumidor deve conhecer os dados indispensáveis

sobre produtos ou serviços para atuar no mercado de consumo e decidir com consciência.”290

O inciso IV do artigo 6º, dispões sobre a da publicidade enganosa e abusiva, a qual é

vedada a sua utilização, não podendo conter informações desleais ou coercitivas, e as

cláusulas ou práticas abusivas.

Para melhor explicar o inciso IV é importante fazer algumas conceituações como a de

publicidade que é toda: “(...) a informação veiculada ao público consumidor com o objetivo

de promover comercialmente e, ainda que indiretamente, produto ou serviço disponibilizado

ao mercado de consumo.”291

Diante de tal fato, publicidade enganosa é toda modalidade informativa ou de

287 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 79. 288 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 96. 289 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 80. 290 ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2006. p. 43. 291 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 457.

72

comunicação, com fins de publicidade inteira ou parcial que, omitir informações que levem o

consumidor ao erro sobre as principais características do produto ou serviço que está sendo

divulgado.292

Cavallieri Filho manifesta o entendimento de que esse direito básico está ligado à boa-

fé para ele:

(...) a boa-fé esparge seus efeitos às práticas que antecedem ao início de qualquer relação jurídica de consumo. A ética, a honestidade, a lealdade, a transparência, o respeito ao consumidor devem imperar mesmo na fase pré-contratual – ou extracontratual, como preferem alguns. É nessa fase preliminar do processo de formação da relação de consumo que atuam os fornecedores na tentativa de captar a manifestação de vontade do consumidor. Nela produtos e serviços são apresentados e oferecidos, orçamentos são elaborados. Estratégias de marketing das mais variadas são empregadas com vista à condução do consumidor à concretização do negócio jurídico e à prática do ato de consumo.293

Por isso o Código de Defesa do Consumidor trouxe a proteção contra a publicidade

enganosa, por se tratar de direito que assegura outro direito, como o da segurança, devendo o

fornecedor manter a segurança de seus produtos e serviços, de forma a não ocultar

informações que poderão ser prejudiciais à vida, saúde e segurança do consumidor. Se a

publicidade não fornecer dados corretos da qualidade e funcionamento o consumidor poderá

ser lesado por ser vulnerável e não conhecer as informações técnicas essenciais para a correta

utilização do produto.294

Dentro do mesmo inciso é tratada a publicidade abusiva que pode ser do tipo

discriminatória, que incite à violência, explore o medo, superstição ou ainda aquela que, de

forma encoberta se aproveita das crianças, ou descuidam do valores ambientais e cause danos

à saúde e segurança do consumidor.

É de se observar que todas as situações acima apresentadas estão ligadas às ofensas de

valores constitucionais, sendo eles ambientais, éticos e sociais protegidos também pela

Constituição Federal.295

Como pode-se analisar a publicidade abusiva pode ser por meio discriminatório que se

relaciona à etnia, sexo, profissão, situação econômico-social, orientação religiosa, política e

outras. Um exemplo é o caso do Habib`s que teve que indenizar a comunidade portuguesa por

veicular uma publicidade discriminatória. 292 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016. 293 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 99. 294 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 143. 295 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 139.

73

Outra situação elencada é a publicidade que incite à violência. Nas palavras de Bolzan:

“(...) não apenas a violência entre seres humanos, mas também as agressões destes contra

animais darão ensejo à caracterização de uma mensagem ilícita. A depredação de bens poderá

ainda gerar este exemplo de publicidade abusiva.”296

Acrescente-se ainda a exploração do medo e superstição, que seria aquele tipo de

publicidade onde o fornecedor tenta demonstrar o medo que a situação pode causar ao

consumidor, como em um furto de veículo, onde bandidos agem sem piedade para com seus

familiares e crianças. Essa publicidade teria um único fim, qual seja, a tentativa de venda de

um produto contra furto ou que de o posicionamento do bem furtado ou roubado.297

Esse tipo de publicidade é considerada abusiva, pois baseia-se no medo incutido na

cabeça do consumidor, deixando sem uma correta escolha do produto, comprando de forma

pressionada pelo fornecedor.

Outra hipótese aplicada pelo Código de Defesa do Consumidor é a publicidade

dirigida às crianças, cujo discernimento é deficiente, não tendo um correto julgamento.

Porém, tal situação está protegida pela decisão recente do Superior Tribunal de Justiça que

proibiu as publicidades dirigidas às crianças, decisão que foi tratada no processo de Ação

Civil Pública movida pelo Ministério Público em face da Campanha da Bauducco.298

No julgamento a 2º Turma do STJ assim concluiu:

A turma concluiu pela abusividade de propaganda que condicionava a compra de um relógio de um personagem infantil à aquisição de cinco biscoitos. E não ficou por aí a decisão. Com efeito, os ministros assentaram que a publicidade dirigida às crianças ofende a Constituição e o CDC.299

Já as publicidades abusivas que desrespeitam os valores ambientais e que podem

causar danos à saúde e a vida do consumidor podem ser consideradas aquelas que divulgam

produtos como tabaco, bebida alcoólica, agrotóxico e medicamentos, produtos estes que são

regulados pela Constituição Federal desta forma será sempre necessário que em suas

publicidades constem a conhecida advertência “sobre a nocividades decorrentes de seu

296 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 478. 297 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 478. 298 Julgamento histórico: STJ proíbe publicidade dirigida às crianças. Disponível em: < http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI235576,101048-Julgamento+historico+STJ+proibe+publicidade+dirigida+as+criancas >. Acesso em: 30 jan. 2017. 299 Julgamento histórico: STJ proíbe publicidade dirigida às crianças. Disponível em: < http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI235576,101048-Julgamento+historico+STJ+proibe+publicidade+dirigida+as+criancas >. Acesso em: 30 jan. 2017.

74

uso”.300

Analisados as situações de publicidades enganosa e abusivas previstas no artigo 6º,

inciso IV do Código de Defesa do Consumidor, passa-se a analisar a proteção contra as

práticas e cláusulas abusivas.

Como pode-se ver o fornecedor deve se privar na utilização de práticas e cláusulas

abusivas na relação de consumo, pois tais atos são considerados uma afronta ao direito do

consumidor.

Cavallieri Filho conceitua as práticas abusivas como:

(...) ações ou condutas do fornecedor em desconformidade com os padrões de boa conduta nas relações de consumo. São práticas que, no exercício da atividade empresaria, excedem os limites dos bons costumes comerciais e, principalmente, da boa-fé, pelo que caracterizam o abuso do direito, considerado ilícito pelo art. 187 do Código Civil.301

Nessa linha, o fornecedor que se utiliza de práticas abusivas, lesa o consumidor,

situação que dá ensejo até mesmo para uma possível reparação civil.

Em se tratando das práticas abusivas o Código de Defesa do Consumidor dispõe dos

tipos, considerados na lei, que estão dispostas no artigo 39 e seus incisos, contendo treze

situações consideradas práticas abusivas.

Assim, pode-se afirmar que qualquer comportamento do fornecedor que não estiver de

acordo com a boa conduta, que não preserve a boa-fé objetiva, estará cometendo prática

abusiva; isso porque as práticas comerciais devem seguir a aplicação da transparência e boa-fé

orientando todas as relações comerciais.302

O Código de Defesa do Consumidor estabeleceu ainda a proteção contra as cláusulas

abusivas, ou seja, dentro da relação contratual ficam vedadas cláusulas, cuja a finalidade seja

prejudicar, retirar ou privar direitos dos consumidores.

Com o aumento da produção em massa o fornecedor percebeu que elaborar um

contrato para cada consumidor ficou fora de cogitação, pois vendas em massa, necessitavam

de contratos em massa, assim, foi necessário padronizar os contratos, criando os chamados

contratos de adesão, que segundo o Código de Defesa do Consumidor são aqueles que as

cláusulas são aprovadas por autoridades competentes ou de forma unilateral pelo fornecedor,

300 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 140. 301 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 149. 302 NETO VERTORE, Hilário. Obsolescência planejada: o lançamento de tecnologias obsoletas e a lesão ao consumidor. Dissertação de Mestrado. Marília. UNIMAR. 2016. p. 57.

75

não cabendo ao consumidor discutir ou modificar o seu conteúdo.303

Nessa nova forma de contrato, nascem também as cláusulas abusivas que, por não ter

condições de modificação pelo consumidor, são inseridas no contrato ferindo seus direitos

protegidos pelo Código.

Segundo Bonzan: “(...) o consumidor tentar prevalecer-se da fragilidade do

consumidor, praticará conduta ilícita que, estando expressa num contrato de consumo,

receberá a denominação cláusula abusiva.”304

O Código de Defesa do Consumidor trouxe um rol extensivo de cláusulas

consideradas abusivas, cuja relação está prevista no artigo 51, que dispõe que todas as

cláusulas abusivas serão nulas de pleno direito. Esse rol não é fechado, pois quando o

legislador estabeleceu cláusulas abusivas o mesmo deixou em aberto com a expressão “entre

outras”, podendo ser consideradas outros tipos que não estejam previstas no Código.305

Destarte que o que existe é uma intervenção estatal de forma a proteger o consumidor,

parte vulnerável na relação de consumo, de abusos pela elaboração dos chamados contratos de

adesão, evitando que exista algum tipo de lesão de direitos, proibindo certas condutas e

restabelecendo a paridade entre os sujeitos da relação de consumo.306

Outro direito básico do consumidor estabelecido no artigo 6º, inciso V, foi a

possibilidade de modificação de cláusulas que apresentem desproporcionalidade, ou ainda a

possibilidade de revisão quando existam fatos supervenientes, causando uma onerosidade

excessiva ao consumidor.

Para melhor expor sobre este inciso, é preciso considerar que essas possibilidades de

modificar e revisar buscam efetivar a aplicação do princípio da conservação do contrato

previsto no artigo 52, § 2º do Código.307

Marques, Bessa e Bejamin, escrevem que:

(...) a possibilidade da revisão judicial da cláusula de preço, que era equitativa quando do fechamento do contrato, mas que em razão de fatos supervenientes tornou-se excessivamente onerosa para o consumidor. A onerosidade excessiva e superveniente que permite o recurso a esta revisão judicial é unilateral, pois o art. 6º do CDC institui direitos básicos apenas para o consumidor.308

303 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016. 304 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 631. 305 ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2006. p. 110. 306 ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2006. p. 110. 307 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 244. 308 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 84.

76

Enquanto que no Código Civil é necessário que haja algum tipo de disparidade na

celebração do contrato através de defeito do negócio jurídico que poderá ser por meio de

lesão, estado de perigo ou por dolo. No Código de Defesa do Consumidor basta apenas, e tão

somente, a mera desproporção que já será autorizada a modificação da cláusula.309

Outra hipótese prevista no inciso em comento é a possibilidade da revisão de cláusulas

contratuais. Tal direito está em completa harmonia com os princípios da boa-fé objetiva,

equilíbrio contratual e vulnerabilidade, pois busca criar uma sintonia com o princípio da

isonomia, restabelecendo a harmonia na relação de consumo.310

Já o inciso VI do artigo 6º, buscou garantir ao consumidor a possibilidade de reparação

por danos que tenha sofrido, seja patrimonial, moral, individual ou coletivo e difuso.

Como pode-se ver o Código de Defesa do Consumidor garantiu um rol de direitos

básicos para o consumidor, porém de nada adiantaria se não fosse autorizada a reparação

contra qualquer descumprimento por parte do fornecedor; desse modo, foi estabelecido que o

consumidor poderá ver seu direito reparado em caso de sofrer algum dano, podendo ser de

forma individual ou coletiva.

A reparação do dano causado deverá a total reparação do bem lesado, ou seja, deve

reparar integralmente o consumidor, podendo ser colocado danos emergentes e lucros

cessantes, dessa maneira será cumprido a efetiva proteção à reparação.311

O Superior Tribunal de Justiça entende através de sua Súmula 387 a possibilidade de

cumulação de danos estéticos e morais, como forma de garantir uma maior proteção nas ações

reparatórias.

Bolzan expressa que é:

(...) imprescindível a utilização de todas as regras de boa conduta para que os danos no mercado de consumo sejam evitados. (...) O dever de prevenir danos recai sobre o fornecedor e também sobre o Estado. O primeiro deve se abster de colocar no mercado produtos e serviços com alto grau de nocividade ou periculosidade, nos termos do art. 10, caput, do CDC. (...) Ao Poder Público, na condição de responsável pela defesa do vulnerável da relação jurídica de consumo, caberá implementar por meio de seus órgãos competentes a efetiva fiscalização pelo seu poder de polícia daquilo que for fornecido ao consumidor.312

309 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 245. 310 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 146. 311 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 148. 312 BOLZAN, Fabrício. Direito do consumidor esquematizado. 2. Ed. São Paulo. Saraiva. 2014. p. 250.

77

O juiz ao reparar um consumidor deve cuidar-se, pois quando se trata de danos

materiais é fácil sua restituição, pois basta a comprovação do dano e o valor o qual deverá ser

pago pelo fornecedor. Mas quando se trata de danos morais é necessário que o valor arbitrado

não insignificante que possa gerar como consequência o usual “dá nada não”; também não

poderá ser um valor exorbitante que gere locupletamento ilícito, assim sendo necessária a

moderação na hora de aplicar a reparação.313

A Lei ainda estabeleceu a reparação de danos da coletividade, pois um exemplo seria

quando o fornecedor coloca um produto no mercado e por análise do IMETRO verifica-se que

o mesmo possui um defeito que gerou prejuízo a uma coletividade de consumidores; essa

situação poderá ser reparada de forma coletiva pela empresa.

Para que exista a reparação coletiva no âmbito do direito do consumidor será

necessário que seja impetrada a ação civil pública coletiva que poderá ser proposta por todos

os sujeitos previstos no artigo 82 e seus incisos do Código de Defesa do Consumidor.

Foi estabelecido no artigo 6º, inciso VII do Código de Defesa do Consumidor o direito

ao acesso à justiça, direito constitucionalmente reconhecido segundo o qual o Estado não

poderá deixar de apreciar lesão ou ameaça ao direito.

Na Lei consumerista fala-se em acesso aos órgãos do judiciário e administrativos, esse

último, conhecido como PROCONS, previstos no Código.

O acesso à justiça previsto no Código de Defesa do Consumidor é amplo, garantindo

ao consumidor a assistência de defensor público, isenção de taxas e custas para fins de evitar

onerar a reparação dos danos sofridos.314

Para garantir o completo acesso à justiça o Código de Defesa do Consumidor

estabeleceu em seu artigo 5º e inciso como forma de Política Nacional das Relações de

Consumo que fossem garantidos instrumentos como, assistência jurídica, integral e gratuita,

criação de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, delegacias de defesa do

consumidor, criação dos Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas especializadas e

estímulos à criação de associações de proteção do consumidor.

Todas medidas estão sendo utilizadas como forma de garantir um amplo acesso ao

consumidor à proteção e reparação de seus direitos estabelecidos na legislação consumerista.

Está previsto no artigo 6º, inciso VIII a garantia do consumidor da facilitação na

defesa de seus direitos, sendo garantida a inversão do ônus da prova em seu favor quando o

juiz analisar a alegação verossímil, ou quando o consumidor for hipossuficiente.

313 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 104. 314 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 149.

78

A inversão do ônus da prova como direito básico do consumidor tem como papel a

aplicação do princípio da vulnerabilidade do consumidor, pois visa reequilibrar a relação de

consumo na área técnica e informacional, pois em muitos casos o fornecedor é detentor de

informações privilegiadas a que o consumidor não tem acesso; assim necessita requerer a

inversão do ônus para que possa ser juntado como prova documentos de suma importância

para o deslinde da ação.315

O direito da facilitação do consumidor é em decorrência da sua hipossuficiência e

vulnerabilidade técnica e fática, pois visa garantir a efetivação do processo.316

Diga-se que o direito de inversão do ônus da prova é considerado um dos principais

direitos do consumidor dentro do Código de Defesa do Consumidor, pois visa evitar que o

consumidor tenha que fazer a apresentação de prova custosa que seria de maior facilidade ao

fornecedor.317

Em regra processual quem deve provar seu direito é quem alega, ou seja, o com artigo

373 do Código de Processo Civil dispõe que o ônus da prova é do autor quando quiser

garantir fato constitutivo de seu direito, e do réu, quando na busca de sua defesa alegar fato

impeditivo.

Com o dispositivo do Código de Defesa do Consumidor o juiz poderá inverter esse

ônus quando as alegações forem verossímeis. Para a legislação leia-se a possibilidade de ser

verdadeiro, ou melhor, é uma persuasão de forma convincente do direito alegado, algo que

deixa nítido para o juiz o direito prejudicado.

Uma situação que pode demonstrar a verossimilhança seria no caso de ação proposta

por um consumidor contra uma marca de veículo alegando que seu veículo apresenta

problemas na direção, causando um acidente e prejudicando sua segurança e de sua família.

Junto com o seu pedido o consumidor junta página da empresa informando uma chamada para

o Recall de veículos do mesmo modelo que apresentam problemas na direção.

O outro requisito para inversão do ônus da prova é a hipossuficiência que nas palavras

de Cavallieri Filho é: “(...) o agravamento da situação de vulnerabilidade, um plus, uma

vulnerabilidade qualificada. Além de vulnerável, o consumidor vê-se agravado nessa situação

por sua individual condição de carência cultural, material ou ambos.”318

Nessa linha, a hipossuficiência seria a falta de conhecimento técnico do produto ou do

315 ALVIM, Arruda et al. Código do consumidor comentado. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 68-69. 316 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 106. 317 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 93. 318 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 47.

79

serviço que o consumidor está adquirindo, dessa forma se torna frágil dentro da relação, tendo

portanto, a garantia da inversão do ônus da prova.319

Apresentado os requisitos o juiz concederá a inversão do ônus da prova, garantindo o

direito básico do consumidor, facilitando a sua defesa de acordo com o que estabelece a

legislação.

Por último o artigo 6º, inciso X vem dispor da adequada e eficaz prestação dos

serviços públicos, que de acordo com o Código deverá ser seguida à risca sob pena de

reparação.

O Poder Público também deve seguir alguns requisitos para que não seja aplicado o

Código de Defesa do Consumidor contra ele, e os pontos importantes a serem seguidos são

adequação e eficiência em todos os serviços prestados.

Quando se fala em eficiência deve se ater a uma atividade administrativa que busca o

melhor desempenho em tudo que faz, visando sempre melhores resultados nas atividades

estatais, pois está tratando de direitos da coletividade.320

Mas para o Código de Defesa do Consumidor a prestação de serviço público não basta

ser adequada, ou estar à disposição dos consumidores, existe a necessidade de que o serviço

prestado seja eficiente.321

No caso, considera-se que uma concessionária de serviço de distribuição de água

presta um serviço público possuindo serviço em toda uma cidade, não deixando nenhuma casa

sem a ligação do sistema de água, ou seja, existe a adequação do serviço, porém falta água

toda a semana na cidade por problemas da bomba que faz o bombeamento da água para o

sistema de distribuição, dessa maneira, o serviço é adequado, porém não é eficiente, podendo

ocasionar ações de reparação pelos danos causados ao consumidor pela falta do recebimento

de água em sua residência.

Ainda sobre o tema, o Código de Defesa do Consumidor prevê em seu artigo 22 que as

concessionárias, permissionárias empresas e órgãos públicos deverão prestar serviço

adequado, eficiente, seguro e quanto os essenciais contínuos.322

Diante disso, quando se conceituou fornecedor previa-se que o Poder Público nessa

qualidade, com a produção de produtos e serviços que estão sujeitos às normas do Código de

Defesa do Consumidor, desde que sejam atividades que não é remunerada por imposto, taxa e

319 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 152. 320 CARVALHO, Mateus. Manual do direito administrativo. 3. Ed. Salvador. Juspodivm. 2016. p. 70. 321 NUNES, Rizatto. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 156. 322 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm >. Acesso em: 15 nov. 2016.

80

contribuições de melhorias.323

Assim, o art. 6º, inc. X, trata que o Poder Público também deve adaptar os seus

fornecimentos de serviços públicos, podendo ser responsabilizado por tal descumprimento.

Nessa forma pode-se ver os direitos trazidos pelo Código de Defesa do Consumidor em seu

artigo 6º e seus incisos, acima citados.

Ainda sobre a proteção do consumidor o art. 47 do Código de Defesa do Consumidor,

em que traduz as cláusulas contratuais, leciona que serão interpretadas de forma em que seja

mais favorável ao consumidor, pois este é a parte vulnerável nas relações de consumo e

porque não há possibilidade de manipular essas cláusulas que às vezes já estão estipuladas

não podendo ser modificadas. 324

Diante disso, Cabral e Rodrigues traduzem a nova lei de proteção ao consumidor

apontando o objetivo maior do Código de Defesa do Consumidor, qual seja:

(...) equilibrar o consumidor e o fornecedor, devido à desigualdade entre as partes na relação de consumo, em que uma parte é detentora dos mecanismos de induzimento ao consumo, representado pelo fornecedor, enquanto a outra é a todo instante convidada ao consumo, sendo necessário dotá-lo de certos instrumentos para que possa melhor defende-se.325

O Código de Defesa do Consumidor tem como função de regrar as relações de

consumo, protegendo o consumidor, parte vulnerável nas relações consumeristas, e inibir o

poder coercitivo dos fornecedores sobre os consumidores, assim normatizando os modos de

como esses devem agir para que possa-se cumprir os regramentos adotados pela lei

consumerista.

Nessa esteira, fica ainda explicitado no artigo 7º do Código de Defesa do Consumidor

que os direitos já referidos não excluem outros que forem instituídos por Tratados,

Convenções Internacionais, cujo o Brasil faça parte ou seja signatário.

Destarte que em caso do Brasil aderir algum tipo de Tratado ou Convenção que

estabeleça novo tipo de proteção do consumidor, esse, mesmo que não esteja previsto no

323 FILOMENO, José Geraldo Brito. Capítulo III: dos direitos básicos do consumidor. In: GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Código de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 116-142. p.135. 324 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016. 325 CABRAL, Hildeliza Lacerda Tinoco Boechat; RODRIGUES, Maria Madalena de Oliveira. A obsolescência programada na perspectiva da prática abusiva e a tutela do consumidor. Revista de Direito Empresarial, Concorrencial e do Consumidor, Porto Alegre, n. 42, Magister, p. 35-58, dez./jan. 2012. p. 43.

81

artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, será seguido como se estivesse, pois todo o

tipo de garantia e proteção ao consumidor se mostra útil, pois a sua vulnerabilidade é fato que

segue junto por toda as suas aquisições de produtos e serviços, estando sempre em

desigualdade com o fornecedor.

Com as grandes alterações ocorridas no mundo, por causa do fenômeno da

globalização, onde a ordem econômica teve uma drástica alteração movida pelo capitalismo,

os Estados passaram a ter uma ligação maior com os novos meios de tecnologia, TV, rádio e

internet, favorecendo essa abertura de mercado.

Dessa nova realidade nasce a chamada sociedade de consumo movida pelo consumo

em massa em grande escala com a finalidade de manter ativamente o capitalismo, inserindo

nos consumidores uma infelicidades de forma que os mesmo busquem adquirir mais e mais

em busca de suprir mais insatisfações.

Essa nova alteração, porém, é vista como prejudicial ao sistema de consumo, pois o

consumidor passa a ser uma mera marionete do fornecedor, comprando aquilo que lhe é

colocado como sendo o que necessita.

Diante de tal mudança o legislador passa a criar mecanismos para a equilibrar a

relação de consumo existente, garantindo proteção ao consumidor, proteções essas que

surgem com o Código de Defesa do Consumidor que prevê grandes garantias ao consumidor,

tentando gerar uma segurança na esfera consumerista.

Após tecer breves informações das proteções dos consumidores, passa-se a análise da

prática da obsolescência programada focando o que ela afeta no consumo sustentável de modo

que o futuro do planeta pode estar em perigo iminente.

82

3. A PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA

No capítulo anterior verificou a evolução histórica das proteções do direito do

consumidor, abordando a parte histórica até a criação do Código de Defesa do Consumidor no

Brasil, verificou os sujeitos e objeto do Código, além dos princípios e direito previstos que

são utilizados para a proteção do consumidor.

No terceiro capítulo será analisada a prática da obsolescência programada na

sociedade de consumo, primeiramente conceituando tal estratégia, passando por sua evolução

histórica e seus tipos.

Em um segundo ponto, será apresentada uma pesquisa feita pelo sistema de

Formulário Google, onde buscou-se analisar o conhecimento dos consumidores sobre a

prática em comento, se já foram afetados por ela, qual tipo de produto sofreu a redução de

vida útil e se foram resolvidos os seus problemas.

Depois se verificará sobre a sustentabilidade, estudo que será feito dentro de seu tripé

ambiental, econômico e social, analisando os principais impactos da obsolescência

programada, no intuito de esclarecer o quanto a prática da obsolescência programada está na

contramão do consumo sustentável.

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA

Antes de entrar na evolução histórica da obsolescência programada é necessário que

tal prática seja conceituada e seus impactos nos o aspectos econômico, social e ambiental.

A prática da obsolescência programada é a “(...) redução artificial da durabilidade dos

bens de consumo, para que induza os consumidores a adquirirem produtos substitutos antes

do necessário e por consequência, com mais frequência do que normalmente o fariam.”326

Dessa forma, a obsolescência programada é uma forma que o produtor utiliza, uma

estratégia para “encurtar” a vida útil de um produto para que este possa ser substituído em um

período menor, garantindo assim, uma maior lucratividade no mercado de consumo,

sustentando a sociedade de consumo.327

Nessa linha Bellandi e Augustin, ensinam que:

326 MORAES, Kamila Guimarães. Obsolescência planejada e direito: (in) sustentabilidade do consumo à produção de resíduos. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2015. p. 51. 327 SILVA, Maria Beatriz de Oliveira. Obsolescência programada e teoria do descrecimento versus direito ao desenvolvimento e ao consumo (sustentáveis). In. Revista Veredas do Direito. Belo Horizonte. v. 9, nº 17. P. 181 – 196. Janeiro/Junho de 2012. p. 182.

83

Obsolescência é a ação ou coisa que se encontra fora de uso, ultrapassado, antiquado. Programação é ação humana de planejamento e execução do que fora planejado. Assim, obsolescência programada seria a ação humana de planejar e determinar o que se tornará obsoleto e ultrapassado sem que a coisa tenha em essência deixado de ser (ou existir).328 (grifo do autor).

Com tal característica a estratégia da obsolescência programada foi uma prática

adotada pelos fornecedores para garantir a sustentação do poder econômico, pois programa o

tempo de vida útil de um produto para que este venha a danificar-se. Tornar-se obsoleto, sair

da moda, criando na cabeça do consumidor a necessidade pelo novo, incitando-o a adquirir

outro.

Um plano que retira do mercado a chamada durabilidade, colocando no plano de

consumo uma nova forma de produção, não mais visando uma criação segura e sim uma que

logo estrague, ou seja, tomado como ultrapassados para que seja necessário comprar um novo

produto.

Em uma sociedade onde o desejo do imediato se torna cada vez mais forte, onde o

consumismo toma grandes precedentes nas vidas das pessoas, associado à felicidades e

satisfação, onde se coloca como necessidade o consumo para que se possa sentir-se bem

consigo mesmo, garantindo assim uma rápida substituição de produtos, esta prática tem se

instalado e ganhado novos contornos.329

E foi com essa visão que a prática da obsolescência programada adquiriu forças no

mundo e está sendo praticada pelas empresas na mera alegação que busca o crescimento

econômico, e na necessidade de garantir a felicidade do consumidor.

De acordo com a doutrina e história a prática da obsolescência programada surgiu nos

anos de 1920, nos Estados Unidos e Inglaterra, através de um cartel chamado “Phorbeus”,

onde se reuniram os maiores produtores de lâmpadas na cidade de Genebra para discutir o

tempo de vida útil do produto, pois de acordo com a doutrina as lâmpadas da época tinha

duração de 2500 horas.330

328 BELLANDI, Daniel. AUGUSTIN, Sérgio. Obsolescência programada, consumismo e sociedade de consumo: uma crítica ao pensamento econômico. In: XXIV Encontro Nacional do CONPEDI/UFS, 2015, Aracaju/SE. Anais do XXIV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2015. Disponível em: < http://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/i9jl1a02/WQM34KU694IWz9h9.pdf>. Acesso em 24 jun. 2017. p. 8. 329 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 30 – 31. 330 SILVA, Maria Beatriz de Oliveira. Obsolescência programada e teoria do descrecimento versus direito ao desenvolvimento e ao consumo (sustentáveis). In. Revista Veredas do Direito. Belo Horizonte. v. 9, nº 17. P. 181 – 196. Janeiro/Junho de 2012. p. 182-183.

84

Assim, por conta da durabilidade da lâmpada ser tão longa o lucro também demoraria

a voltar aos produtores; criou-se criar uma lâmpada, cuja duração seria de 1000 horas, sendo

que os produtores possuíam tecnologia que poderia tornar a furabilidade maior, mas visavam

apenas garantir que em menor período surgiria uma necessidade do consumidor, gerando

lucro e movimentando a economia.

Mas foi com a crise de 1929 que a estratégia da obsolescência programada ganhou

força. O primeiro nome a se manifestar sobre o assunto foi Bernard London em uma

publicação em 1933 com o livro “The New Prosperity”, onde em seu primeiro capítulo

descrevia que a depressão de 1929 teria solução, através da obsolescência programada, onde

ele expõe que se a população comprasse a indústria cresceria e com isso todos teriam

empregos.331

Já em 1950 o conhecido desenhista industrial Brooks Stevens, americano, declarou

que a economia norte americana era baseada na prática da obsolescência programada, onde a

produção era realizada de forma que rapidamente o produto se tornasse obsoleto, velho,

forçando as pessoas a adquirir novos produtos em um curto espaço de tempo.332

Tal prática foi inserida no mercado como forma de solução para os fabricantes

capitalistas e para a movimentação da economia. Dessa maneira, os fabricantes reduziram a

vida útil dos produtos de forma proposital para que durassem menos e logo fossem

descartados e substituído por outro fomentando o consumo.333

Diante do crescimento e sucesso da prática os consumidores passaram a consumir

mais, e era essa mensagem que era passada para eles segundo Leonard:

À medida que a produção de Coisas crescia, uma das primeiras mensagens que passaram a ser transmitidas aos consumidores era a de que seria melhor possuir mais de uma unidade de cada produto. Por exemplo, ter um segundo (e depois terceiro, quarto e quinto) maiô, quando a regra anterior era passar muito bem com apenas um. Um segundo carro. E, finalmente, uma segunda casa, com todo um conjunto de objetos novos para preenchê-la.334

331 SILVA, Maria Beatriz de Oliveira. Obsolescência programada e teoria do descrecimento versus direito ao desenvolvimento e ao consumo (sustentáveis). In. Revista Veredas do Direito. Belo Horizonte. v. 9, nº 17. P. 181 – 196. Janeiro/Junho de 2012. p. 183. 332 DANNORITZER, Cosima. Comprar, tirar, comprar: la historia secreta de la obsolescencia programada. Produção de Cosima Dannoritzer. [S.l.] , Arte France, Televisión Española, Televisió de Catalunya, 2011. (52min18s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=o0k7UhDpOAo>. Acesso em: 15 jun. 2017. 333 DANNORITZER, Cosima. Comprar, tirar, comprar: la historia secreta de la obsolescencia programada. Produção de Cosima Dannoritzer. [S.l.] , Arte France, Televisión Española, Televisió de Catalunya, 2011. (52min18s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=o0k7UhDpOAo>. Acesso em: 15 jun. 2017. 334 LEONARD. Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos, Tradução Heloisa Mourão. - Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 131.

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Nessa esteira, o sistema de produção capitalista vendo a necessidade de aumentar os

lucros do mercado empresarial, na ânsia de ganhar mais passa a utilizar práticas para

convencer o consumidor de que para ele ajudar a economia, garantir os empregos era preciso

comprar; assim passam práticas de estímulos de consumo, onde a melhor difundida é prática

da obsolescência programada, com grande força e produzindo um retorno excelente.335

Leonard complementa que:

De modo intencional e manipulador, a obsolescência planejada foi concebida para manter o motor da economia em funcionamento. Já em 1960, o crítico social Vance Packard registrava, em seu livro The Waste Makers, os primeiros debates sobre o tema. Embora alguns indivíduos se opusessem à estratégia, preocupados com ética e credibilidade profissional, outros a reconheciam como forma legítima de garantir mercados intermináveis para todos os produto.336

Com essa estratégia o capitalismo que passa pelos seus três estágios; comercial,

industrial e financeiro consegue se sustentar mesmo depois de inúmeras crises, utilizando-se

de novas tecnologias e técnicas comerciais para impulsionar o consumo.337

Dessa forma, a sociedade passa para uma lógica da “descartabilidade”, pois com a

obsolescência programada os produtos nascem para durarem pouco, rapidamente ser

descartado como lixo.338

O consumo em massa cresceu após as grandes revoluções e os fabricantes precisavam

vender o que produziam e para isso era necessário se utilizar a obsolescência programada para

conseguir se desfazer da produção.339

Sobre essa afirmação Baudrillard discorre que:

Vivemos o tempo dos objetos: quero dizer que existimos segundo o seu ritmo e em desconformidade com a sua sucessão permanente. Atualmente, somos nós que os vemos nascer, produzir-se e morrer, ao passo que em todas as civilizações anteriores

335 GONÇALVES JUNIOR, Antonio Otávio Alves. FERREIRA, Marcelo Andrade. Estratégia de obsolescência programada: uma análise das consequências ambientais e sócio-econômicas. In. Revista Administração de Empresa. n. 9. 9-25. Curitiba. 2009. p. 5. 336 LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos, Tradução Heloisa Mourão. - Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 131. 337 SANTIAGO, Mariana Ribeiro. ANDRADE, Sinara Lacerda. A obsolescência programada e psicológica como forma de biopoder: perspectiva jurídicas do consumismo. In. Revista Quaestio Iuris. v. 09. Nº 04. Rio de Janeiro. 1771-1786. 2016. p. 1775. 338 SILVA, Maria Beatriz de Oliveira. Obsolescência programada e teoria do descrecimento versus direito ao desenvolvimento e ao consumo (sustentáveis). In. Revista Veredas do Direito. Belo Horizonte. v. 9, nº 17. P. 181 – 196. Janeiro/Junho de 2012. p. 182. 339 SANTIAGO, Mariana Ribeiro. ANDRADE, Sinara Lacerda. A obsolescência programada e psicológica como forma de biopoder: perspectiva jurídicas do consumismo. In. Revista Quaestio Iuris. v. 09. Nº 04. Rio de Janeiro. 1771-1786. 2016. p. 1776.

86

eram os objetos, instrumentos ou monumentos perenes, que sobreviviam às gerações humanas.340

.

Antes uma geladeira que durava cerca de 30 anos, hoje não passa de 5 ou 6 anos; o

televisor, a mesma coisa, e tudo isso em razão da obsolescência planejada; uma realidade que

muitos conheciam. Os produtos não são mais feitos para durarem tanto tempo, pois isso não

geraria lucro contínuo para as empresas, além de diminuir o capital de giro na economia.

Isto posto, tendo sido analisado, ainda que brevemente, a evolução da prática da

obsolescência programada é necessário conceituar os tipos de obsolescência existente no

mercado atualmente.

Em se tratando de obsolescência programada, a doutrina (Moraes, Leonard) estabelece

que essa prática é utilizada de três maneiras, pela qualidade, pela função e pela desejabilidade

ou psicológica.

Com o capitalismo em crise alguns fabricantes precisavam estabelecer uma nova

forma para lucrar e fazer a economia voltar nos eixos, desta maneira passaram a se utilizar de

técnicas pouco convencionais para estabelecer um aumento no consumo.

O primeiro ponto foi a utilização da obsolescência programada de qualidade que: “(...)

ocorre quando o produtor deliberadamente projeta o tempo de vida útil de vida do produto,

desenvolvendo técnicas ou materiais de qualidade inferior, antevendo sua quebra ou desgaste

para redução de sua durabilidade e aumento dos lucros e das vendas.”341

A modalidade de obsolescência programada de qualidade teve início com o

lançamento dos veículos de partida elétrica, deixando todos os que eram de tecnologia inferior

obsoletos, aumentando a substituição pelos novos modelos, causando um crescimento no

mercado de consumo.342

Esse tipo de prática pode ser chamada de obsolescência adiada que segundo Santiago e

Sinara:

(...) é fato que a obsolescência adiada pode ser enquadrada como um tipo de obsolescência planejada de qualidade, visto que, a fabricante deliberadamente lança no mercado um produto com qualidade tecnológica inferior ao patamar já alcançado

340BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Tradução. Artur Morão. Edições 70. Lisboa. 2010. p. 15-16. 341 MORAES, Kamila Guimarães. Obsolescência planejada e direito: (in) sustentabilidade do consumo à produção de resíduos. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2015. p. 52. 342 MORAES, Kamila Guimarães. Obsolescência planejada e direito: (in) sustentabilidade do consumo à produção de resíduos. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2015. p. 52.

87

nas pesquisas, tornando-o indubitavelmente obsoleto pela introdução das melhorias tecnológicas já desenvolvidas antes mesmo do seu lançamento no mercado.343

De fato, a obsolescência de qualidade ainda é utilizada, mas além dela existe a

obsolescência de função que tem como estratégia a troca de um produto por outro com

melhoramentos.

Leonard traz que A obsolescência planejada é diferente da obsolescência tecnológica,

que ocorre quando alguns avanços da tecnologia tornam a versão anterior de fato ultrapassada

– caso do telefone, que substituiu o telégrafo.344

Esse tipo de obsolescência se dá quando o fornecedor já possui uma técnica mais

avançada daquele produto, porém lança uma versão anterior para lucrar e logo em seguida

coloca a nova tecnologia para tornar a anterior obsoleta gerando um novo consumo, mais

lucratividade.

Bellandin e Augustin discorrem que caracteriza-se “obsolescência de função, quando

um novo produto, que executa melhor determinada função, torna ultrapassado um produto

existente”.345

O uso dessa prática não é aceito pela jurisprudência brasileira, mesmo que exista

poucos julgados. No julgado de um Recurso de Apelação nº 70046931457 a Décima Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul entendeu que um notebook é um produto

em que é inadmissível que apresente problemas em um curto espaço de tempo.).346

Nessa linha pode-se dizer que tal prática é contrária ao Código de Defesa do

Consumidor, violando a durabilidade do produto prevista no artigo 18, onde visa a garantia de

qualidade do produto.

343 SANTIAGO, Mariana Ribeiro. ANDRADE, Sinara Lacerda. A obsolescência programada e psicológica como forma de biopoder: perspectiva jurídicas do consumismo. In. Revista Quaestio Iuris. v. 09. Nº 04. Rio de Janeiro. 1771-1786. 2016. p. 1778. 344 LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos, Tradução Heloisa Mourão. - Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 131. 345 BELLANDI, Daniel. AUGUSTIN, Sérgio. Obsolescência programada, consumismo e sociedade de consumo: uma crítica ao pensamento econômico. In: XXIV Encontro Nacional do CONPEDI/UFS, 2015, Aracaju/SE. Anais do XXIV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2015. Disponível em: < http://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/i9jl1a02/WQM34KU694IWz9h9.pdf>. Acesso em 24 jun. 2017. p. 17. 346 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão. Recurso de Apelação nº AC 70046931457 RS. 10ª Câmara Cível. Relator Des. Paulo Roberto Lessa Franz. 12 fev. 2012. Disponível em: < https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21348484/apelacao-civel-ac-70046931457-rs-tjrs> Acesso em: 01 abr. 2017.

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Assim, pode-se dizer que o fornecedor é responsável por todos os vícios de qualidade

de seu produto, devendo atentar por informar qualquer dado importante ao consumidor,

podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.347

Essa prática fere ainda o princípio da boa-fé objetiva, pois o consumidor quando

adquire um produto tem em mente que esse produto tenha uma garantia de durabilidade, não

podendo o mesmo estragar logo no término do prazo de garantia, situação que estaria ferindo

o estabelecido no Código de Defesa do Consumidor.

Além das estratégias de obsolescência pela qualidade e função existe a chamada

obsolescência programada de desejabilidade ou psicológica que é a mais utilizada na

atualidade. Ocorre quando: “(...)o item não apresenta defeito nem é realmente obsoleto;

apenas o percebemos assim. Alguns chamam a isso “obsolescência de desejabilidade” ou

“obsolescência psicológica”. É quando o gosto e a moda entram em cena.348

Bellandi e Augustin assim conceituam:

(...) obsolescência psicológica, ou percebida, e que se dá quando o consumidor passa a se sentir desconfortável ao utilizar um produto que se tornou ultrapassado por causa do novo estilo dos novos modelos. Ideia similar encontra-se na obsolescência perceptiva que, mudando as coisas de formato, gera a impressão ao consumidor de que seu produto é obsoleto, seja pelo seu design ou pelo formato do produto mais novo, o qual chama ao consumo.349

Essa estratégia busca não tornar o produto obsoleto por problemas técnico de

qualidade ou função, mas sim pelo desuso, ou seja, antiquado. Uma das maneiras é a alteração

do designer do produto que gera na cabeça do consumidor a necessidade de mudança para

estar na moda.350

Nessa linha Almeida expõe que: “O termo “novo” assumiu lugar de destaque no

imaginário coletivo, tornando-se ele mesmo uma espécie de transcendência encarnada,

347 RENNER, Rafael Henrique. Obsolescência programada e consumo sustentável: algumas notas sobre um importante debate. Disponível em < http://www.faa.edu.br/revistas/docs/RID/2012/RID_2012_27.pdf > Acesso em 25. Jun. 2017. p. 4. 348 LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos, Tradução Heloisa Mourão. - Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 132. 349 BELLANDI, Daniel. AUGUSTIN, Sérgio. Obsolescência programada, consumismo e sociedade de consumo: uma crítica ao pensamento econômico. In: XXIV Encontro Nacional do CONPEDI/UFS, 2015, Aracaju/SE. Anais do XXIV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2015. Disponível em: < http://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/i9jl1a02/WQM34KU694IWz9h9.pdf>. Acesso em 24 jun. 2017. p. 11. 350 SANTIAGO, Mariana Ribeiro. ANDRADE, Sinara Lacerda. A obsolescência programada e psicológica como forma de biopoder: perspectiva jurídicas do consumismo. In. Revista Quaestio Iuris. v. 09. Nº 04. Rio de Janeiro. 1771-1786. 2016. p. 1778.

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objetivada e materializada no mundo. No entanto, o tempo de vida e uma novidade faz-se tão

efêmero que quase não se pode captá-la.”351

Os fornecedores, com a finalidade de aumentar as vendas, utilizam da desejabilidade

do consumidor mudando a barra da saia do vestido, o tamanho do salto, os eletroeletrônicos

como designer novos, tudo aplicando a obsolescência de desejabilidade ou percebida.352

Tal prática é tão comum que um bom exemplo são as roupas femininas, em especial as

calças, em que atualmente voltou a moda dos anos oitenta, noventa onde a cintura era alta;

assim as mulheres consumidoras, que utilizam as calças de cintura baixa, passam a se sentir

fora de moda e assim adquirem os novos modelos devido à desejabilidade e não pelo fato de

que não tinha uma calça ou precisava trocar a sua por uma nova.

O fornecedor utiliza-se de tal prática com a finalidade de fomentar o consumo, o que é

feito com a utilização do marketing e do designer, criando consumidores insatisfeitos e que

sempre estarão desejando um novo produto, ou o modelo mais novo, ou seja, incutindo na

cabeça do consumidor que a sua felicidade depende de uma aquisição de um produto mais

recente, o novo Iphone, o novo carro ou o novo tênis.353

Com essa utilização desenfreada da obsolescência programada de desejabilidade a

sociedade passou a sofrer com a chamada “neofilia”, ou melhor dizendo, passou a ser viciada

em novos produtos.354

O consumidor passa a se sentir desconfortável quando utiliza um produto que já não

está mais de acordo com os padrões impostos pelo mercado de consumo, pois seu designer

está defasado.355

Bauman assim complementa sobre o assunto:

(...) nos mercados de consumidores-mercadorias, a necessidade de substituir objetos de consumo “defasado”, menos que plenamente satisfatórios e/ou não mais desejados está inscrita no design dos produtos e nas campanhas publicitárias calculadas para o crescimento constante das vendas. A curta expectativa de vida de uma produto na prática e na utilidade proclamada está incluída na estratégia de

351 ALMEIDA, João Flávio de. O discurso da obsolescência: o velho, o novo e o consumo. São Carlos: UFSCar, 2014. p. 10. 352 LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos, Tradução Heloisa Mourão. - Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 132. 353 COMPRAR, tirar comprar: La história secreta de la obsolescência planejada. Produção de Cosima Dannoritzer, 2011. (52m18s). Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=XW5pOx2ZI9c>. Acesso em: 22 fev. 2017. 354 SANTIAGO, Mariana Ribeiro. ANDRADE, Sinara Lacerda. A obsolescência programada e psicológica como forma de biopoder: perspectiva jurídicas do consumismo. In. Revista Quaestio Iuris. v. 09. Nº 04. Rio de Janeiro. 1771-1786. 2016. p. 1777. 355 SANTIAGO, Mariana Ribeiro. ANDRADE, Sinara Lacerda. A obsolescência programada e psicológica como forma de biopoder: perspectiva jurídicas do consumismo. In. Revista Quaestio Iuris. v. 09. Nº 04. Rio de Janeiro. 1771-1786. 2016. p. 1778-1779.

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marketing e no cálculo de lucros: tende a ser preconcebida, prescrita e instilada nas práticas dos consumidores mediante a apoteose das novas ofertas (de hoje) e a da difamação das antigas (de ontem).356

Os fornecedores se aproveitam dessa perspectiva do consumidor para colocar no

mercado produtos com menor tempo de vida útil, mas não de qualidade e sim de desejo,

podendo dizer que os produtos hoje são descartáveis, por mais que não sejam assim

anunciados, mas os fornecedores assim os tratam.357

Como pode-se verificar o mercado planeja-se de forma a dar pouco tempo de vida aos

seus produtos, para que quando pararem de funcionar, ficarem obsoletos pelo seu designer

exigira do consumidor a reposição indiretamente.358

Um caso explícito de obsolescência de desejabilidade são os nos celulares, que no

passado eram enormes e passaram a ser criados novos designers para caber na palma de sua

mão. No entanto, estão voltando a crescer, pois os consumidores são convencidos que estão

na moda e assim, os fornecedores se aproveitam disso, para ditar o uso de modelo mais

atraente em determinada época.

O sistema adotado visa o apelo ao estilo à estética para que a obsolescência

programada será mantida, sempre buscando expandir os desejos do consumidor, para que

assim, insatisfeitos possa comprar e manter o capitalismo como sistema financeiro.

Moraes explica que:

Desta feita, em 1932, a obsolescência planejada pela desejabilidade era a regra para os produtores de carros americanos, e essa estratégia foi tão bem-sucedida neste ramo que se espalhou rapidamente para várias outras indústrias, tais como de relógios e rádios. A mudança de modelo anual adotada pelos fabricantes de automóveis é um exemplo, então, da obsolescência psicológica, progressiva, dinâmica ou de desejabilidade.359

A obsolescência programada de desejabilidade já foi alvo de processo judicial no

Brasil, onde a empresa Ford foi condenada no REsp 871.172 julgado pelo Superior Tribunal

de Justiça, pois no ano de 1999 a empresa teria colocado no mercado o veículo Ford Fiesta 1.0

356 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 31. 357 LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos, Tradução Heloisa Mourão. - Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 132. 358 ALMEIDA, João Flávio de. O discurso da obsolescência: o velho, o novo e o consumo. São Carlos: UFSCar, 2014. p. 14. 359 MORAES, Kamila Guimarães. Obsolescência planejada e direito: (in) sustentabilidade do consumo à produção de resíduos. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2015. p. 54.

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2000 que fora lançado em junho do referido ano e depois de quatro meses a empresa lançou o

mesmo veículo reestilizado com mudanças no seu designer.360

Assim, o Ministério Público propôs uma Ação Civil Pública para discutir a estratégia

da empresa e que foi condenada por tal prática, pois a empresa não poderia lançar o mesmo

veículo dentro do mesmo ano, mas como pode-se ver foi utilizada a desejabilidade, pois o

consumidor vendo um novo modelo com um designer novo, fica insatisfeito com o seu

produto, nascendo a vontade de comprar o novo modelo.

No processo em comento a Relatora Ministra Isabel Galloti alegou que o lançamento

do novo veículo com um designer diferente dentro do mesmo ano, e em um curto espaço de

tempo, é contrário ao princípio da boa-fé objetiva e constitui publicidade enganosa.361

A obsolescência programada evoluiu com o passar do tempo, desde a lâmpada, depois

o Nylon que era utilizado para a produção de meias com uma excelente durabilidade e,

atualmente não existe mais. Outro produto que sofreu com a estratégia da obsolescência foi o

iPod que teve sua bateria com defeito em apenas oito meses de uso, o fato se tornou uma ação

judicial onde a Apple teve que trocar todas as baterias; mais interessante é que a mesma

alegou ser melhor adquirir um novo aparelho a ter que trocar a bateria.362

Diante dessa linha de informação, nota-se que os produtos são elaborados para possuir

o seu tempo de uso ou a sua durabilidade por um período, mas com a necessidade de

alavancar o mercado de consumo passa a projetar produtos com a sua durabilidade bem

inferior para garantir que a sua reposição seja rápida.363

Além da diminuição da vida útil do produto o mercado se utiliza de estratégias para

intensificar a desejabilidade as quais são veiculadas pela publicidade, crédito fácil, novas

tecnologias, aumento do custo de peças de reposição, assistência técnica que não consegue

resolver os defeitos e um tempo longo de espera para um possível conserto, criando assim, a

ideia de que é melhor comprar um novo.

Lipovetsky faz importante colocação sobre obsolescência programada:

360 Ford é condenada por lançar dois modelos Fiesta no mesmo ano. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2016-jun-20/ford-condenada-lancar-dois-modelos-fiesta-mesmo-ano> . Acesso em: 27 fev. 2017. 361 Ford é condenada por lançar dois modelos Fiesta no mesmo ano. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2016-jun-20/ford-condenada-lancar-dois-modelos-fiesta-mesmo-ano> . Acesso em: 27 fev. 2017. 362 DANNORITZER, Cosima. Comprar, tirar, comprar: la historia secreta de la obsolescencia programada. Produção de Cosima Dannoritzer. [S.l.] , Arte France, Televisión Española, Televisió de Catalunya, 2011. (52min18s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=o0k7UhDpOAo>. Acesso em: 15 jun. 2017. 363 RENNER, Rafael Henrique. Obsolescência programada e consumo sustentável: algumas notas sobre um importante debate. Disponível em < http://www.faa.edu.br/revistas/docs/RID/2012/RID_2012_27.pdf > Acesso em 25. Jun. 2017. p. 2.

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Um enorme número de produtos tem uma duração de vida que não excede a dois anos; estima-se que a dos produtos high-tech foi diminuída pela metade desde 1990; 70% dos produtos vendidos em grande escala não vivem mais de dois ou três anos; mais da metade dos novos perfumes desaparece ao fim do primeiro ano.[...] Para estimular o consumo, os atores da oferta não procuram mais produzir artigos de má qualidade: renovam mais depressa os modelos, fazem-nos sair de moda oferecendo versões mais eficientes ou ligeiramente diferentes.364

Na sociedade de consumo a obsolescência programada tem feito seu papel com

maestria intensificando a cultura do desperdício, fazendo com que os produtos adquiridos

sejam descartados, mesmo que não apresente nenhum defeito, apenas pelo fato de não estar

mais na moda, causando o aumento da circulação de dinheiro.365

Baudrillard escreve que:

O que hoje se produz não se fabrica em função do respectivo valor de uso ou da possível duração, mas antes em função da sua morte, cuja aceleração só é igualada pela inflação dos preços. Sabe-se ainda que a ordem da produção não sobrevive a não ser ao preço de semelhante extermínio, de perpétuo “suicídio” calculado do parque dos objetos, e que tal operação se baseia na “sabotagem” tecnológica ou no desuso organizado sob o signo da moda. A publicidade realiza o prodígio de um orçamento considerável gasto com um único fim, não de acrescentar, mas de tirar o valor de uso dos objetos, de diminuir o seu valor/tempo, sujeitando-se ao valor/moda e à renovação acelerada. Este tipo de prodigalidade constitui a solução desesperada, mas vital, de um sistema econômico-político em perigo de naufrágio.366

Dessa maneira, o consumo passa a demonstrar uma qualidade de vida, porém muitos

confundem o consumo para garantir uma vida melhor com a quantidade de coisas que podem

consumir.367

Com a prática da obsolescência programada o principal ponto que os fornecedores

atacam é a insatisfação, palavra que gera também o descarte de produtos que estão em

perfeitas condições de uso, mas que são considerados “velhos” e “defasados”, pois existe um

fetichismo ou uma adoração aos objetos.368

Padilha complementa esse entendimento de forma clara:

364 LIPOVESTSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: Ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo. Trad. Maria Lucia Machado. São Paulo. Companhias das Letras. 2007. p. 89-90. 365 SANTIAGO, Mariana Ribeiro. ANDRADE, Sinara Lacerda. A obsolescência programada e psicológica como forma de biopoder: perspectiva jurídicas do consumismo. In. Revista Quaestio Iuris. v. 09. Nº 04. Rio de Janeiro. 1771-1786. 2016. p. 1777. 366 BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Tradução. Artur Morão. Edições 70. Lisboa. 2010. p. 42. 367 SILVA, Maria Beatriz de Oliveira. Obsolescência programada e teoria do descrecimento versus direito ao desenvolvimento e ao consumo (sustentáveis). In. Revista Veredas do Direito. Belo Horizonte. v. 9, nº 17. P. 181 – 196. Janeiro/Junho de 2012. p. 191. 368 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução Carlos Alberto Medeiro. Rio de Janeiro. Zahar. 2008. p. 31.

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A obsolescência planejada é uma tecnologia a serviço do capital. Para aumentar a acumulação de riquezas privadas, o capital devasta, destrói, esgota a natureza. O aumento da riqueza do capital é proporcional ao aumento da destruição da natureza. Na sociedade da obsolescência induzida, tudo acaba em lixo. Quanto mais rápida e passageira for a vida dos produtos, maior será o descarte. A publicidade é o motor que faz toda essa dinâmica funcionar. Esse modelo de sociedade baseada na estratégia da obsolescência planejada está sendo determinante no esgotamento dos recursos naturais (que ocorre na etapa da produção) e no excesso de resíduos (que ocorre na etapa do consumo e do descarte).369

O fato é que o fornecedor precisava movimentar o mercado que estava em declínio,

então se criou uma técnica para motivar o consumo, situação que deveria ser transitória, até

aumentar a economia; essa estratégia passou a ser aprimorada, ganhou mais força na

sociedade consumo, diminuindo o prazo de vida útil dos produtos para que assim,

consumidores necessitassem fazer nova aquisição, movimentando o mercado e a economia

mundial, sem se preocupar com os riscos decorridos dessa prática.

Importante diferenciar vício, defeito e obsolescência planeja, pois um não se mistura

com o outro. Num primeiro momento pode-se falar que:

“O vício é configurado objetivamente pela desconformidade entre os dados do rótulo,

da embalagem, ou da mensagem publicitária, e os efetivamente existentes. Não há

necessidade de demostrar a impropriedade ou a inadequação do produto ou do serviço ao uso

a que se destinam ou mesmo a diminuição de valor.”370

Os vícios podem ser considerados em três espécies, o vício que torne o produto impróprio ao consumo; o vício que diminua o valor e o vício que trata da decorrente disparidade das características dos produtos com as informadas na oferta e publicidade que é repassada ao consumidor.371

Os vícios tratado no Código de Defesa do Consumidor tem origem dos vícios

redibitório previstos no art. 441 do Código Civil.

O produto é defeituoso quando mesmo se encaixa nos requisitos do art. 12 do Código

de Defesa do Consumidor, ou melhor quando não oferece segurança que se espera. Em outra

linha o defeito compromete a segurança do produto ou serviço.

Nas palavras Marques, Bessa e Bejamin, discorre que: “O defeito estaria relacionado

ao fato do produto ou do serviço (acidente de consumo), enquanto os vícios com a

369 PADILHA, Valquíria. Obsolescência planejada: armadilha silenciosa na sociedade deconsumo. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em: <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1489>. Acesso em 20/01/2017. 370 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 212. 371 PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito civil sistematizado. 4ª ed. Rio de Janeiro. Gen/Forense. 2012. p. 523.

94

impropriedade, inadequação às finalidades, enfim, à disciplinas constantes no art. 18 e

seguintes.”372

O defeito, por sua vez, necessita de um vício para que ocorra e está relacionado ao fato

do produto ou ao conceito de acidente de consumo O defeito é, assim, um vício que gera

repercussões noutras esferas do patrimônio do consumidor. É, em outros termos, um vício

com algo a mais, com uma consequência posterior (...).373

Assim para diferenciar o vício do defeito deve se fazer dois exemplos com o mesmo

caso, senão veja-se; uma senhora vai até uma loja de eletrodoméstico e adquire um ferro de

passar roupa para seu uso próprio, chegando em casa ao ligar o ferro o mesmo não funciona,

dessa forma, apresentando um vício de qualidade, ou seja, a sua falta de funcionamento.

Nas mesma situação uma senhora vai até uma loja de eletrodoméstico e adquire um

ferro de passar roupa para seu uso próprio, ao chegar em casa e ligá-lo na tomada o mesmo

não funciona e acaba explodindo, nesse caso temos o defeito, ou seja, um vício agravado que

atinge a esfera da segurança do consumidor.

Cavallieri Filho faz uma diferenciação clara de vício e defeito como:

Ao fazermos a distinção entre defeito e vício – item 142.1, dissermos que o primeiro (defeito) é vício grave que compromete a segurança do produto ou do serviço e causa dano ao consumidor, como o automóvel que colide com outro por falta de freio e fere os ocupantes de ambos os veículos; o segundo (vício) é defeito menos grave, circunscrito ao produto ou serviço, que apenas causa o seus mau funcionamento, como a televisão que não funciona ou que não produz boa imagem, a geladeira que não gela.374

Importantes distinguir vício e defeito de obsolescência planejada, pois os mesmo não

são a mesma coisa, pois no vício ou defeito nem sempre o fornecedor tem a culpa, pois o

mesmo pode colocar um produto no mercado e o mesmo apresentar falhas, não quer dizer que

o mesmo não será responsabilizado, pois a responsabilidade é objetiva.

Já a obsolescência planejada é a preparação feita pelo fornecedor para que o produto

venha a se tornar obsoleto, pare de funcionar, que saia da moda, assim é algo preparado com

antecedência, seja com uma peça de má qualidade, seja com uma nova tecnologia ou com o

372 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 212. 373 BEJAMIN, Antônio Herman V. MARQUES. Claudia Lima, BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2016. p. 10. 374 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2008. p. 319.

95

novo modelo, a nova moda, assim causando o desejo no consumidor em adquirir o novo

produto.375

Vasconselo e Luna assim explicam:

Isso significa, que um produto pode ser fabricado com perfeição, sem falhas, servindo ao fim ao qual se propõe, com possibilidade de uso continuado ao longo do tempo, e ainda assim ter sido fabricado para durar por um período delimitado tempo, muitas vezes por pouco superior ao somatório das garantias legal e contratual.376

No mesmo sentido Vasconselo e Luna complementa:

Como a detecção da obsolescência programada em regra não é clara, o período de garantia no mais das vezes é o referencial adotado para fazer a detecção de falhas sistemáticas e evidenciar sua prática nos casos mais óbvios. Usar um metal que oxida facilmente na fabricação de um produto pode representar um vício, mas somente se a oxidação ocorrer dentro do período de garantia. Fora desse período, o bem perece e simplesmente taxado como sendo um bem de baixa durabilidade. Se o problema, porém, acontece sempre numa mesma peça, num mesmo modelo e num período de tempo relativamente semelhante na maioria dos casos, há indícios de que a obsolescência programada esteja sendo levada a efeito.377

Portanto, vício, defeito e obsolescência planejada, pois na obsolescência planejada o

produto é perfeito e utilizável, cumprindo com o oferecido, porém com um prazo de validade,

já no vício ou defeito o problema aparece dentro dos prazos de garantia, após a compra, não

tendo nenhuma data específica, apenas surgem.

3.2 UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NAS

RELAÇÕES DE CONSUMO

375 VASCONSELOS, Fernando Antônio de. LUNA, Arthur Augusto Barbosa. A atual proteção do cdc contra vícios de qualidade e a sua eficácia contra a obsolescência programada. In: XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU, 2017, Curitiba/PR. Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2017. Disponível em: < http://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/k7v7r78l/ilKb1rDaGWvH61s0.pdf >. Acesso em 24 jun. 2017. 376 VASCONSELOS, Fernando Antônio de. LUNA, Arthur Augusto Barbosa. A atual proteção do cdc contra vícios de qualidade e a sua eficácia contra a obsolescência programada. In: XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU, 2017, Curitiba/PR. Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2017. Disponível em: < http://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/k7v7r78l/ilKb1rDaGWvH61s0.pdf >. Acesso em 24 jun. 2017. 377 VASCONSELOS, Fernando Antônio de. LUNA, Arthur Augusto Barbosa. A atual proteção do cdc contra vícios de qualidade e a sua eficácia contra a obsolescência programada. In: XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU, 2017, Curitiba/PR. Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2017. Disponível em: < http://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/k7v7r78l/ilKb1rDaGWvH61s0.pdf >. Acesso em 24 jun. 2017.

96

Com a finalidade de verificar até que ponto o termo “obsolescência programada” é

conhecido e como ela é utilizada, realizou-se uma pesquisa pela plataforma Formulários

Google, entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove)

participantes. Disponível em:

<https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79

U/viewform?c=0&w=1>. A maioria dos entrevistados são alunos da Universidade Norte do

Paraná – UNOPAR de Bandeirantes (PR) e alunos do Mestrado da UNIMAR.

No início do formulário constava a seguinte redação:

As questões abaixo referem-se a uma pesquisa de campo para a composição de Dissertação, no curso de MESTRADO EM DIREITO, cujo objetivo é acerca a prática da obsolescência programada pelas empresas, ou seja, quando o fornecedor coloca no mercado um produto com prazo de vida útil, ou com prazo para apresentar problemas, defeitos. Assim você compra um produto após um ano de uso ele apresenta defeito.378

Em um primeiro momento a pesquisa preocupou-se em traçar o perfil dos participantes

pedindo que apontassem sexo, a idade, e escolaridade. Os resultados foram compilados e

serão demonstrado a seguir:

Figura 1. Sexo dos participantes.379

378 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1. 379 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1.

97

A idade dos participantes, entre 18 e acima de 66 anos denota uma significativa

variação, que o que enriquece a abordagem do presente estudo.

Figura 2. Idade dos participantes.380

Figura 3. Escolaridade dos participantes.381

380 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1. 381 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1.

98

Em um segundo momento, buscou-se verificar o conhecimento do termo

obsolescência programada. O resultado apontou, sendo que a maioria 70% (setenta por

centos) das pessoas desconhece o termo. Veja-se o gráfico a seguir:

Figura 4. Conhecimento do termo obsolescência programada.382

O percentual que refere-se ao desconhecimento do termo, obriga-se a buscar solidez

de análise através de trabalhos futuros. Mas para o presente, ressalta-se de que seja do senso

comum afirmar que os produtos de hoje são mais frágeis e, mesmo os que apresentam uma

melhor qualidade saem da moda; no entanto, com o conhecimento do termo, tal revelação dos

dados, pode ainda revelar que, os fornecedores preferem que assim, seja, e se depender deles,

o termo e as ações que o termos remetem, também.

Afinal, a conscientização da população afetaria os lucros. Ao associar os dados 70%

desconhecem e 30% conhecem, o grau de escolaridade dos participantes a dimensão do

problema revela-se ainda maior e merece, certamente, um estudo mais apurado, pois é

constrangedor perceber que pessoas com alta escolaridade demonstrem desconhecimento do

termo e artimanhas a eles ligados.

Constatado o desconhecimento acerca do termo obsolescência programada, a pesquisa

entrou em um ponto crucial; a verificação da utilização da prática pelos fornecedores. Dessa

forma, foi perguntado aos participantes se já tiveram produtos que apresentram defeito? Qual

382 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1.

99

tipo de produto? E, na sequência, qual foi o tempo em que esse defeito pareceu? Tais

informações podem ser constatadas a seguir:

Figura 5. Produtos adquiridos pelos participantes e que apresentaram defeitos.383 Os três produtos de maior incidência configuram-se como evidências da obsolescência

programada, acrescentando-se a impressora e máquina fotográfica. Os outros itens,

configuram-se como eletrodomésticos e, em um passado não muito distante, primavam pela

durabilidade, e a durabilidade estava atrelada à qualidade.

Em se tratando do tempo, após aquisição do produto, para que os defeitos surgissem,

revelou-se que nem sempre se dá após a expiração da garantia, muitos surgem tão logo o

objeto é colocado em uso.

383 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1.

100

Figura 6. Prazo em que os defeitos surgiram.384

Depois de verificado quais os produtos que mais apresentaram defeitos, perguntou-se

como definiam atendimento pela classificação dados: insatisfeito, satisfeito, muito satisfeito.

Figura 7. Grau de satisfação na solução do problema.385

384 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1. 385 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1.

101

Os resultados não surpreenderam, mas o número de satisfeito revelam que,

paralelamente à obsolescência programada, buscar solucionar alguns problemas é uma

estratégia de manutenção da dinâmica capitalista, onde o consumidor precisa continuar preso

àquela marca, por exemplo. No entanto, sob pena de mau uso, muitos consumidores sente-se

despreparados e impotentes para travar uma luta com o fornecedor.

A pesquisa deixou dois campos abertos para que os participantes pudessem colocar

outro tipo de produto que apresentava defeito, além dos elencados no gráfico, e quais

justificativas, motivos dados quando a empresa não resolvia o problema.

Sem nenhuma classificação prévia, as respostas apresentadas forma transcritas:

Carro; Relógio; Aparelho de som; Cabo USB; Tablet; Eletrodomésticos, utensílios de cozinha; sapatos; Rádio relógio; Camisetas; Pen Drive; Fones de ouvido; Acessórios para computador; rádio com entrada USB; Panela elétrica; Secador de cabelo; Tênis; Fogão; Máquina de passar roupa a vapor; Micro-ondas; Multi-processador; MP4; iPod, grill, torradeira; Roupa, bolsa; Filtro de água; Ferro de passar roupa; Peças de carro. liquidificador; Freezer; Aspirador de pó; Scanner; Bicicleta; Chuveiro, liquidificador, máquina de pão e processador de frutas; aquecedor; Portão Eletrônico; Mix, centrifuga, secador de cabelo; Camiseta de time; DVD; Lâmpadas, chuveiro elétrico, filtro de água; Máquina de café e Veículo; Home theater; Forno elétrico; Sanduicheira; Vídeo game; Lavadora de alta pressão; Sofá; purificador de água, carregadores de celular; chapinha para cabelo.386

Sobre a alegação dos fornecedores quando não resolviam o problemas, as três mais

comuns foram “mau uso”, “fora do prazo de garantia” e que “era culpa do fabricante”.

Em síntese, a pesquisa demonstrou que 69,9% dos entrevistados desconhecem a

obsolescência programada, sendo que 34,5% são pessoas com ensino superior incompleto e

31,3% com ensino superior completo, pós graduação, ou seja, pessoas cujo conhecimento

supõe-se que seja mais avançado.

Ficou demonstrado que o produto que mais apresenta vício ou defeito é o aparelho

celular com 62,2% das respostas; em segundo lugar, o notebook com 28,1%, sendo hoje os

dois aparelhos com o maior número de compras do mercado e os que mais são utilizado as

técnicas de obsolescência programada.

A pesquisa demonstrou, ainda, que 26,9% dos problemas surgiram após um mês de

uso e 25,3 % após o prazo de garantia, forçando muitas vezes o consumidor a adquirir um

novo produto.

386 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1.

102

Nas tentativas de ver os vícios e defeitos solucionados pelas empresas, pela

classificação apresentada insatisfeito é o primeiro, com 56,6%, pois o pós venda é um

problema sério que as empresas passam; apenas 5,6% ficaram muitos satisfeitos com a

solução do problema.

Dessa maneira, a pesquisa comprova que a prática da obsolescência programada é

desconhecida pela maioria dos consumidores e que é utilizada nos principais aparelhos da

cadeia de consumo e que os casos de solução pelos problemas apresentados por esse tipo de

prática muitas vezes não podem serem resolvidos levando os consumidores a ter que adquirir

um novo produto, o que permite-se antecipar que tal situação assume padrões insustentáveis,

se considerado os princípios que norteiam o consumo sustentável.

3.3 OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA E O TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE

Neste ponto do trabalho, é importante falar em desenvolvimento, pois é o ponto inicial

do estudo da sustentabilidade. Essa análise é necessária frente à prática da obsolescência

programada, utilizada por muitos fornecedores, e que vem na contramão do desenvolvimento

sustentável.

Sachs explica que:

No contexto histórico em que surgiu, a ideia de desenvolvimento implica a expiação e a reparação de desigualdades passadas, criando uma conexão capaz de preencher o abismo civilizatório entre as antigas nações metropolitanas e a sua antiga periferia colonial, entre a as minorias ricas modernizadas e a maioria ainda atrasada e exausta dos trabalhadores pobres. O desenvolvimento traz consigo a promessa de tudo – a modernidade inclusiva propiciada pela mudança estrutural.387

A ideia de um desenvolvimento sustentável é considerado como um novo paradigma

da população atual, onde visa-se proteger o um mundo para as gerações atuais e futuras, onde

todos devem se conscientizar de suas responsabilidades.

Tais preocupações surgiram em 1950, quando a apercebeu-se os riscos ambientais e a

poluição nuclear global, podendo afetar a todos; devido a essa nova perspectiva os governos

passaram a se preocupar e determinar soluções discutir alternativas possibilidades de reverter

tal ordem, ou desordem.

E foi em 1972 que começaram a surgem estudos, pois foi nesse período que nasceram

os embates sobre um desenvolvimento alinhado à proteção ambiental e com uma dimensão

social. Essa ideia surgiu na reunião de Estocolmo no ano de 1972, onde estabeleceu-se que o

387 SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro. Garamond. 2009. p. 13.

103

desenvolvimento deve se ater às agressões ambientais e comtemplar a equidade social, tendo

em vista a qualidade de vida da geração atual e das próximas gerações.388

Nessa visão surge um novo conceito de desenvolvimento, o chamado desenvolvimento

sustentável que segundo Dias refere-se:

O Desenvolvimento Sustentável (DS), portanto, se refere à integração de questões econômicas, sociais e ambientais, de tal modo que as atividades de produção de bens e serviços deve preservar a diversidade, respeitar a integridade dos ecossistemas, diminuindo sua vulnerabilidade, e procurar compatibilizar os ritmos de renovação dos recursos naturais com os de extração necessários para o funcionamento do sistema econômico.389

Para Elkington, “Sustentabilidade é o princípio que assegura que nossas ações de hoje

não limitarão a gama de opções econômicas, sociais e ambientais disponíveis para as futuras

gerações.”390

Freitas conceitua que:

(1) a sustentabilidade é princípio constitucional direta e imediatamente aplicável, (2) reclama eficácia (resultado justos, não mera aptidão para produzir efeitos jurídicos), (3) demanda eficiência, sempre subordinada à eficácia, (4) intenta tornar o ambiente limpo, (5) pressupõe a probidade, nas relações públicas e intergeracional, com o reconhecimento pleno dos direitos das gerações presentes e futuras e (9) da responsabilidade solidária do Estado e da sociedade, (10) tudo no sentido de propiciar o bem-estar duradouro e multidimensional.391

Nessa visão, sustentabilidade é a nova premissa para o mundo, palavra que figure na

pauta de discussões em todos os setores, político, econômico e empresarial, todos tentando

regrar-se de forma sustentável.

Boff explica um conceito de sustentabilidade, como sendo:

O sentido ativo enfatiza a ação feita de fora para conservar, manter, proteger, nutrir, alimentar, fazer, prosperar, subsistir, viver. No dialeto ecológico isto significa: sustentabilidade representa os procedimentos que tomamos para permitir que a Terra e seus biomas se mantenham vivos, protegidos, alimentados de nutrientes, a ponto de estarem sempre bem conservados e à altura dos riscos que possam advir.392

388 SACHS, Ignacy. Desenvolvimento, includente, sustentável e sustentado. Rio de Janeiro. Garamond. 2008. p. 51 389 DIAS, Reinaldo. Sustentabilidade: origem e fundamentos, educação e governança global, modelo de desenvolvimento. São Paulo. Atlas. 2015. p. 21. 390 ELKINGTON, John. Canibais com garfo e faca. São Paulo. M.Books do Brasil. 2012. p. 52. 391 FREITAS, Juarez. Sustentabilidade direito ao futuro. 3º ed. Belo Horizonte. Fórum. 2016. p. 52 392 BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é – o que não é. 4º ed. Petrópolis. Vozes. 2015. p. 32.

104

Mas a doutrina (Freitas, Elkington, Dias e Sachs) quando trata de sustentabilidade, ou

desenvolvimento sustentável, segue a linha do (Triple Bottom Line), ou o tripé da

sustentabilidade. Tal entendimento ganhou força com o relatório da Comissão da ONU

“Nosso Futuro Comum” onde o desenvolvimento sustentável ficou ligado a três objetivos, ou

como a doutrina entende, em três pilares, sendo eles crescimento econômico, equidade social

e conservação ambiental.393

Os pilares da sustentabilidade, como ficaram conhecidos como, ou seja, (econômico,

social e ambiental) o são condicionantes do desenvolvimento sustentável desta forma é

preciso que os três, sejam considerados em concomitância representados por três círculos

entrelaçados, onde em seu interior se forma a sustentabilidade, assim, pode-se se dizer que,

caso não exista um deles, o desenvolvimento não será considerado sustentável.394

Dessa forma, é importante retomar cada pilar, iniciando-se pelo pilar econômico que é

aquele que se busca através do desenvolvimento para manter a economia funcionando. Mas

para que esse pilar seja cuidadosamente garantido é necessário que o desenvolvimento

econômico siga os critérios elencados por Freitas:

A economicidade, assim, não pode ser separada da medição de consequências, de longo prazo. Nessa perspectiva, o consumo e a produção precisam ser reestruturados completamente, numa alteração inescapável do estilo de vida. A natureza não pode ser vista como simples capital e a regulação estatal sustentável. Com pertinentes transições, se faz impositiva para coibir o desvio comum dos adeptos do fundamentalismo voraz de mercado, que ignoram a complexidade do mundo natural.395

No pilar econômico o desenvolvimento deve prever um equilíbrio, que exista uma

segurança alimentar, onde pesquisas de mercado e criação de tecnologias razoáveis

vislumbrando a inserção na economia internacional.396

Então, o pilar econômico deve garantir uma produção e distribuição de bens e de

consumo de forma que atenda a necessidade da população, deixando claro que os recursos são

escassos e que precisam de ser utilizados de forma consciente.397

Outro pilar é o social, onde verifica-se que o mundo possui vários lugares diferentes e

deve ter tratamentos diferentes para que se possa sustentar o pilar social, pois o pilar social

393 DIAS, Reinaldo. Sustentabilidade: origem e fundamentos, educação e governança global, modelo de desenvolvimento. São Paulo. Atlas. 2015. p. 34. 394 DIAS, Reinaldo. Sustentabilidade: origem e fundamentos, educação e governança global, modelo de desenvolvimento. São Paulo. Atlas. 2015. p. 35. 395 FREITAS, Juarez. Sustentabilidade direito ao futuro. 3º ed. Belo Horizonte. Fórum. 2016. p. 70-71. 396 SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro. Garamond. 2009. p. 86-87 397 DIAS, Reinaldo. Sustentabilidade: origem e fundamentos, educação e governança global, modelo de desenvolvimento. São Paulo. Atlas. 2015. p. 35.

105

segundo Sachs é “(...) fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais, por

causa da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares

problemáticos do nosso planeta.”398

Dias descreve que:

Para atingir a sustentabilidade social, é necessário fundamentalmente: que erradique a pobreza; que se acabe com a fome, assegurando segurança alimentar e melhoramento da nutrição; que pessoas de todas as idades (de crianças a idosos) sejam beneficiadas com uma vida saudável e com acesso aos serviços básicos que devem ser prestados pelos Estados; que as mulheres e as meninas alcancem a igualdade entre os sexos, no acesso ao trabalho e em todas oportunidades que surjam, e autonomia na tomada de decisões sobre qualquer aspecto de suas vidas; que seja reduzida a desigualdade dentro e entre os países; que aqueles atingidos pela extrema pobreza recebem auxílio do Estado até que estejam em condições de seu autossustentarem.399

É preciso muito para atingir todos os pontos acima elencados sendo necessário um

trabalho árduo de todos os governantes do mundo e a população, para que se possa cumprir

com o tripé da sustentabilidade corretamente.

Para que seja cumprido o pilar social Sachs resume que é necessário que: “alcance de

um patamar razoável de homogeneidade social; distribuição de renda justa; emprego pleno e/

ou autônomo com qualidade de vida decente; igualdade no acesso aos recursos e serviços

sociais.”400

Diante dessas premissas, nota-se que são grandes os objetivos a serem atingidos pela

humanidade para conseguir interligar os três pilares e, em especial, o pilar social que é de

grande valia para o mundo.

E o terceiro é o pilar ambiental, e mais preocupante, devido às grandes mudanças

atuais nos sistema global, que tem afetado todo o planeta com o aquecimento global, o clima

mudando, chuvas demais, secas avassaladoras e a degradação ambiental.

No pilar ambiental Freitas explica que:

Não se admite, no prisma sustentável, qualquer evasão da responsabilidade humana, vedado o retrocesso no atinente à biodiversidade, sob pena de empobrecimento da qualidade geral de vida. Em sentido figurado, não se pode queimar a árvore para colher os frutos. Não faz sentido contaminar águas vitais e se queixar e a matar. O saneamento é cogente. O ciclo de vida dos produtos e serviços é reponsabilidade a ser compartilhada, tempestivamente.401

398 SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro. Garamond. 2009. p. 15. 399 DIAS, Reinaldo. Sustentabilidade: origem e fundamentos, educação e governança global, modelo de desenvolvimento. São Paulo. Atlas. 2015. p. 38. 400 SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro. Garamond. 2009. p. 85 401 FREITAS, Juarez. Sustentabilidade direito ao futuro. 3º ed. Belo Horizonte. Fórum. 2016. p. 69

106

O pilar ambiental tem como modelo uma produção onde o consumo seja compatível

com os meios naturais, assim a produção e consumo devem ser de tal forma que garanta aos

ecossistemas a capacidade de resiliência.402

Nessa linha, várias são as frentes que buscam fortalecer o pilar ambiental, iniciando na

Convenção de Estocolmo, Rio 92, Rio+20, sempre em busca de melhorias para o meio

ambiente, visando uma proteção de toda a população global.

Esse pilar está em alta nas proteções atuais, pois sempre se aplicam alguns princípios

para o cumprimento do pilar ambiental, como princípio do desenvolvimento, precaução,

prevenção, poluidor pagador e responsabilidade.403

É necessário um cuidado especial com o desenvolvimento sustentável e o pilar

ambiental para que segundo Fiorillo:

(...) a manutenção das bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, garantindo igualmente uma relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente, para que as futuras gerações também tenham oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos hoje à nossa disposição.404

Mas o ponto fundamental no recorte do trabalho é a prática da obsolescência

programada, que se mostra na contramão do consumo sustentável, e no caso, os seus três

pilares, pois essa prática os pilares da sustentabilidade.

Em um primeiro momento, no pilar econômico, pode-se atentar que a prática da

obsolescência programada utilizada por alguns fornecedores juntamente com as matérias

publicitárias incute na cabeça do consumidor que o mesmo precisa adquirir o produto novo,

muitas vezes sem nem sequer possuir condições para pagar, mas mesmo assim, o consumidor

compra.

Essa situação na esfera do pilar econômico pode gerar o chamado fenômeno do

superendividamento e inadimplência no país. Esse fenômeno é, segundo Beroncello, “(...)

denominado em Portugal de ‘sobreendividamento’, na França de ‘surendettement’ e na

common law de ‘over-indebtedeness’, constitui um dos principais problemas do mercado de

402 SACHS, Ignacy. Desenvolvimento, includente, sustentável e sustentado. Rio de Janeiro. Garamond. 2008. p. 55. 403 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 10º ed. Rio de Janeiro. Lumen Juris. 2007. 404 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 14º ed. São Paulo. Saraiva. 2013. p. 72.

107

consumo contemporâneo, em face do estímulo e da extrema facilidade de acesso ao crédito

(...)”405

Esse problema que afeta o pilar econômico e vai na contramão do consumo

sustentável é a impossibilidade que o consumidor/devedor, seja pessoa física, que de boa-fé

passa por não conseguir adimplir com suas dívidas sejam elas momentâneas ou futuras.406

Nota-se que essa linha do pilar econômico vai na contramão ao princípio da boa-fé

objetiva prevista no Código de Defesa do Consumidor, pois fere a prerrogativa de confiança

que aquele produto é o melhor no mercado, afetando ainda os princípios da função social e

solidariedade, por não está de acordo com a visão social que afeta não só os sujeitos

envolvidos mas toda a sociedade

Já no pilar social, o que a obsolescência programada desregulada gera em muitas

situações à exclusão social, pois as pessoas consumidoras quando se deparam com um novo

produto, mesmo que o seu seja apenas um ano anterior ela já se sente fora de moda, excluída;

isso é causado em muitos casos pela obsolescência de desejabilidade.

Conforme Santiago e Campello, o consumidor sente-se necessitado:

(...) consumir para definir o seu papel na sociedade, para alcançar o padrão pregado pela cultura de consumo, os indivíduos se lançam em aquisições impensadas, consequências de uma avaliação deturpada da suas possibilidades e má administração das suas finanças, o que já produz efeitos na economia do país e na questão da sustentabilidade.407

É necessário uma luta para diminuir a pobreza no mundo para tentar resolver essa

situação de exclusão social. Atualmente 8 milhões pessoas morrem no mundo por serem

pobres.408 Esse número cresceu muito chegando atualmente a cerca de 800 milhões de pessoas

atingidas pela pobreza segundo relatório da ONU.

No entanto, o que se percebe com a prática da obsolescência programada é que muitos

produtos são colocados no mercados sem nem ter a necessidade, assim extrapolando o

consumo por bens supérfluos enquanto faltam o mínimo necessário para bilhões de pessoas

no mundo.

405 BERTONCELLO, Káren Rick Danilevicz. Superendividamento do consumidor: mínimo existência – casos concretos. São Paulo. Revistas dos Tribunais. 2015. p. 13. 406 LIMA, Clarissa Costa de. O tratamento do superendividamento e o direito de recomeçar dos consumidores. São Paulo. Revistas dos Tribunais. 2014. p. 9. 407 CAMPELLO, Lívia Gaigher Bósio. SANTIAGO, Mariana Ribeiro. O consumo colaborativo e sustentável na sociedade da informação. Disponível em: < http://portaltutor.com/index.php/conpedireview/article/viewFile/43/40 > Acesso em 05 jan. 2017. p. 144. 408 SACHS, Jeffrey. O fim da pobreza: como acabar com a miséria mundial nos próximos 20 anos. São Paulo. Companhia das Letras. 2005. p. 27.

108

É preciso um maior cuidado, tanto das empresas na sua produção, como no consumo

descontrolado, onde uns compram até mesmo o que nem precisam enquanto outros passam

fome no mundo. Isso contraria totalmente o princípio da solidariedade.

Já o último, e mais debatido atualmente, é o pilar ambiental, pois atualmente o mundo

está em uma luta constante com os problemas ambientais decorrentes do excesso de lixo e

consumo desmedido de recursos naturais.

Freitas relata que, “de fato, certo com é que a degradação ambiental pode, no limite,

inviabilizar a vida humana (e inviabilizou civilizações), incontornável se mostra o seu

enfrentamento hábil e tempestivo, com ciência, prudência e tecnologia criticamente

introduzida.”409

Diante dessa visão a obsolescência programada caminha na contramão do pilar

ambiental, pois a alta taxa de produção de produtos em pouco tempo de uso dos antigos acaba

gerando uma pilha de lixo, pois o consumidor, acaba descartando os antigos para comprar o

novo.

Esse descarte é feito de forma desmedida, prejudicando o meio ambiente e gerando

graves situações para as gerações futuras, pois o mundo está cada vez mais escasso de

recursos naturais e cheio de lixo que não tem onde ser colocado.

Em síntese, a obsolescência programada está ferindo o pilar ambiental e a Lei

12.305/10, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos, pois as empresas que praticam

a obsolescência programada muitas vezes não possuem um setor para o recolhimento dos

produtos descartados no meio ambiente, aumentando ainda mais a degradação ambiental.

Dias discorre que:

Não há dúvidas de que o desenvolvimento humano, principalmente após a Revolução Industrial, está tendo um efeito negativo no funcionamento adequado do meio ambiente natural. Muitos desses efeitos negativos afetam de tal modo o nosso mundo, que indicam claramente que as formas atuais de desenvolvimento são insustentáveis. (...) Cada indicador mostra um aspecto preocupante das consequências do modelo de desenvolvimento atual e os perigos de não incorporação da sustentabilidade na utilização dos recursos naturais.410

A não observância pelas empresas que praticam a obsolescência programada e os

efeitos dela no meio ambiente está em desacordo com os princípios da função social da

409 FREITAS, Juarez. Sustentabilidade direito ao futuro. 3º ed. Belo Horizonte. Fórum. 2016. p. 68. 410 DIAS, Reinaldo. Sustentabilidade: origem e fundamentos, educação e governança global, modelo de desenvolvimento. São Paulo. Atlas. 2015. p. 39.

109

empresas e solidariedade ferindo toda a coletividade por esse desrespeito e descumprem uma

regra de conduta, ainda afetando a boa-fé objetiva.

Com essa visão, pode-se afirmar que a prática da obsolescência programada está indo

na contramão do consumo sustentável em todos os seus pilares, econômico, social e

ambiental, sendo necessário uma reavaliação das empresas que a utilizam, pois se no passado,

quando houve a crise em 1929 essa prática foi de grande valia para economia, na atual

situação ela está afetando a economia com inadimplência, superendividamento, o meio social

com o aumento da pobreza, a exclusão social e no ambiental com a poluição devido ao grande

acumulo de lixo e a escassez dos recursos naturais.

Na encíclica Laudato Si o Papa Francisco traz um trecho interessante em que liga os

pilares da sustentabilidade:

«eliminar as causas estruturais das disfunções da economia mundial e corrigir os modelos de crescimento que parecem incapazes de garantir o respeito do meio ambiente». [10] Lembrou que o mundo não pode ser analisado concentrando-se apenas sobre um dos seus aspectos, porque «o livro da natureza é uno e indivisível», incluindo, entre outras coisas, o ambiente, a vida, a sexualidade, a família, as relações sociais. É que «a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana».411

Diante do exposto, é importante e necessário que os poderes políticos, econômicos e

judiciários criem regras para moldar a prática da obsolescência programada praticada por

algumas empresas, enquanto não se criar algo específico, a legislação vigente fornece

mecanismos para essa atuação, como princípios da função social, solidariedade e boa-fé

objetiva, o Código de Defesa do Consumidor e a Lei de Política Nacional de Resíduos

Sólidos.

Para que essas mudanças ocorram será necessário que os consumidores mudem e

saiam das garras do chamado biopoder que o Estado utiliza-se sobre eles, pois, como verifica-

se nas palavras de Santiago e Andrade o Estado impõem um certo padrão para que os cidadão

possam seguir, isso foi feito no início da obsolescência programada onde os jornais, livros

foram publicados com a tentativa de fomentar a prática do consumo para que a economia

crescesse.412

O problema é que a economia teve seu crescimento, mas o biopoder ainda existe, pois

não foi repassado para pessoas que não precisa consumir de forma descontrolada por não ser

411 IGREJA CATÓLICA. Papa (2013 -:Francisco). Carta Encíclica Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulinas, 2015. p. 2. 412 SANTIAGO, Mariana Ribeiro. ANDRADE, Sinara Lacerda. A obsolescência programada e psicológica como forma de biopoder: perspectiva jurídica do consumismo. In: Revista Quaestio Iuris. v. 09. p. 1771-1786. Rio de Janeiro. 2016.

110

essa a vontade do Estado. Essa situação precisa mudar, por que o mundo está mudando e o

meio ambiente clama por ajuda e é papel do Estado começar a utilizar o biopoder para

proteger o meio ambiente.

Como forma de melhorar e tentar amenizar os prejuízos e a prática da obsolescência

planejada, assim aplicando e seguindo o tripé da sustentabilidade é por meio de uma educação

a todos, pois todos são consumidores em potencial, assim, se na educação já fosse passado

informações, sobre proteção ao meio ambiente, consumismo desenfreado.

Pode-se falar em mudanças até mesmo na legislação consumerista, como está inclusa

no Projeto de Lei do Senado nº 283/2012413, onde fala em educação financeira e ambiental,

razão que poderia ser feito por meio de um projeto de lei, onde o Estado intervenha na

sociedade, protegendo não são os consumidores, as gerações atuais e futuras.

Como pode se ver a obsolescência planejada foi uma ideia para o crescimento da crise

de 1929, porém os anos passaram, a realidade não é mais a mesma, naquela época não havia a

preocupação com os recursos ambientais, que atualmente existe, pois fumaça era sinal de

progresso, hoje é sinal de irresponsabilidade.

Flores assim explica sobre o tema:

Essa prática foi desencadeada a partir de 1929, nos Estados Unidos, como medida de potencialização à economia que se encontrava estagnada por conta da crise econômica que assolou aquele país. A redução da vida útil dos produtos foi a saída encontrada pelos empresários para movimentar a economia, estimulando o consumo e, por conseguinte, impulsionando a produção. Aliado a isso, as técnicas de publicidade se tornaram mais sofisticadas e aptas a seduzir e criar novas necessidades nos consumidores.414

A obsolescência planejada foi utilizada como forma de alavancar a economia, porém,

a economia cresceu e a prática continua; ainda é comumente utilizada por algumas empresas,

na ânsia de angariar maiores lucros.

É preciso que o Estado se preocupe em demonstra por meio de um projeto de lei, onde

se volta a uma educação financeira e ambiental para todos, desde criança, introduzindo a base

dessa educação no próprio ensino básico, pois conforme a pesquisa realizada, 70% (setenta

413 BRASIL. Projeto de lei do senado nº 283 de 2012. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/senado/codconsumidor/pdf/Anteprojetos_finais_14_mar.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2015. 414 FLORES, Marcia Lunardi. Consumo e produção responsáveis: reflexões sobre obsolescência programada e política nacional de resíduos sólidos. In: XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU, 2017, Curitiba/PR. Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2017. Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/4rvv15s2/H4A3h3T0y8Ny34P2.pdf>. Acesso em 24 jun. 2017.

111

por cento) dos participantes não sabiam o que era obsolescência planejada. Muito menos o

mal que essa prática pode causar ao planeta, as gerações atuais e principalmente as futuras.415

Os recursos naturais são finitos, e a prática desenfreada de consumo gera a

necessidade da manutenção da larga produção, aumentando a poluição e o crescimento do

lixo, gerando um verdadeiro prejuízo ao meio ambiente e feriando o princípio da

solidariedade.

A educação é a base para se criar tudo, principalmente para a criação de um mundo

que se preocupe com o tripé da sustentabilidade, garantindo um lugar melhor para todos.

Além de uma mudança na legislação para incluir um cuidado com a educação, seria

necessário uma alteração na legislação para incluir obsolescência planejada como, existe no

Código de Defesa do Consumidor sobre vício e defeito.

Necessário se faz um maior cuidado pelo judiciário, pois existe uma tentativa de criar

uma fama de máquina do dano moral, fato que precisa ter cautela, principalmente na sua

necessidade em que o valor da indenização deve ser proporcional, não causando

enriquecimento ilícito a parte que entra com ação, mas também não deixando de lado a falha

na prestação de serviço por parte dos fornecedores, situação que deve ser reprimida através do

arbitramento de um valor significativo para que não vire hábito a prática de outros danos ao

consumidor.

O Judiciário precisa conter a prática da obsolescência planejada, pois como se sabe a

economia precisa ficar em constante crescimento, mas isso já é possível sem a utilização da

prática da obsolescência planejada.

É necessário que o judiciário passe a entender que essa prática fere o Código de

Defesa do Consumidor e os princípios da função social, solidariedade e boa-fé objetiva, além

de causar graves danos ao tripé da sustentabilidade.

Outra forma que pode ajudar a redução da obsolescência planejada seria um projeto de

Incentivos fiscais as empresas que não se utilizar da prática da obsolescência planejada, como

já existe vários projetos de empresa verde, selos verdes. Todas essas formas seria uma boa

saída para incentivar as empresas.

415 Pesquisa sobre obsolescência programada realizada pelo sistema Formulário Google realizada entre os dias 20/06/16 à 20/07/16, tendo 249 (duzentos e quarenta e nove) participantes. Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/1PdZlCGOf2VGGMPccWm8zPFsVtyjE8ehpI5pKlqUV79U/viewform?c=0&w=1.

112

Os incentivos precisam ser generosos, para que as empresas não sigam pelo caminho

que lhe são mais vantajosos, pois com a prática da obsolescência planejada o aumento do

lucro é significativo, pois aumenta a produção e a procura.

O Estado precisa se ater a políticas públicas e ações afirmativas educacional,

incentivando a população, consumidores em potenciais para praticarem um consumo

consciente, evitando o consumismo. Muitos pensam que a economia precisa se manter, mas as

políticas públicas e ações afirmativas são apenas como forma de conscientizar e não dizer que

não é para comprar, mas sim para comprar o que se precisa de forma controlada, sem

exageros.

Deve se explicar que o planeta está em risco e precisa de um cuidado conjunto de

empresas, Estado e a população para garantir a proteção do meio ambiente para as atuais e

futuras gerações.

Uma outra saída é a uma ação conjunta de cooperação entre Estado, empresa e

consumidores para garantir um futuro para as próximas gerações, pois se houver uma

preocupação com a prática da obsolescência planejada o meio ambiente será o maior

prejudicado, sem contar a população que também sofrera com as consequências.416

Rossoni e Sanches explica que:

(...) não é apenas o lixo gerado que causa impactos ambientais, os resíduos sólidos são apenas a parte visível. A prática da obsolescência programada pelas indústrias, que criam produtos com vida útil reduzida para acelerar a cadeia produtiva, traz como consequências, como já apontado, a maior exploração de recursos naturais, mais emissão de gás carbônico na produção, maior consumo de água e energia, culminando no aumento da degradação do meio ambiente, afastando a humanidade do ideal e necessário conceito de sustentabilidade.417

No mesmo sentindo Vasconcelos e Luna expõe que: “O legislador precisa inovar e

passar a enfrentar a questão da obsolescência programada de forma clara, criando mecanismos

416 ROSSINI, Valeria. SANCHES, Samyra Haydê Dal Farra Naspolini. Obsolescência programada na sociedade de consumo e a solidariedade ambiental. In: XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU, 2017, Curitiba/PR. Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2017. Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/0hgb728i/18f6ybWXJ1237P26.pdf>. Acesso em 24 jun. 2017. 417 ROSSINI, Valeria. SANCHES, Samyra Haydê Dal Farra Naspolini. Obsolescência programada na sociedade de consumo e a solidariedade ambiental. In: XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU, 2017, Curitiba/PR. Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2017. Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/0hgb728i/18f6ybWXJ1237P26.pdf>. Acesso em 24 jun. 2017.

113

de eficácia comprovada na prevenção e reparação da prática, sem, contudo, cometer excessos

– por serem prejudiciais por definição.”418

Essa visão é necessária para que seja cumprido o 12º objetivo da Agenda 2030 para o

desenvolvimento sustentável419, mas para isso será necessário que todos estejam agindo de

forma conjunta, Estado, por meio de políticas públicas conscientizando sobre um consumo

sustentável.

As empresas precisam agir de acordo com o princípio da boa-fé objetiva e função

social e aplicando o tripé da sustentabilidade evitando a prática da obsolescência planejada e

aos consumidores que deverão aprender que a necessidade de consumo existe e é precisa para

movimentar a economia420, porém deverá ser feita de forma consciente evitando a prática do

consumismo alimentando a ânsia da obsolescência planejada pelos fornecedores.

418 VASCONSELOS, Fernando Antônio de. LUNA, Arthur Augusto Barbosa. A atual proteção do cdc contra vícios de qualidade e a sua eficácia contra a obsolescência programada. In: XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU, 2017, Curitiba/PR. Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2017. Disponível em: < http://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/k7v7r78l/ilKb1rDaGWvH61s0.pdf >. Acesso em 24 jun. 2017. 419 FLORES, Marcia Lunardi. Consumo e produção responsáveis: reflexões sobre obsolescência programada e política nacional de resíduos sólidos. In: XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU, 2017, Curitiba/PR. Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2017. Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/4rvv15s2/H4A3h3T0y8Ny34P2.pdf>. Acesso em 24 jun. 2017. 420 FLORES, Marcia Lunardi. Consumo e produção responsáveis: reflexões sobre obsolescência programada e política nacional de resíduos sólidos. In: XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU, 2017, Curitiba/PR. Anais do XXV Encontro Nacional do CONPEDI/UFU. Florianópolis/SC: Fundação Boiteux, 2017. Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/4rvv15s2/H4A3h3T0y8Ny34P2.pdf>. Acesso em 24 jun. 2017.

114

CONCLUSÃO

O presente estudo apontou nuances históricas que explicam o panorama atual da

sociedade consumista que se encontra numa avançada etapa de desenvolvimento industrial

capitalista, impondo a si o consumo massivo de bens e serviços disponíveis, graças aos

artifícios que garantem elevada produção; em contraponto mostra também os problemas

decorrentes, quer no âmbito individual – empobrecimento, endividamento e inadimplência -

quer em âmbito mais amplo, coletivo – pobreza, escassez de recurso naturais,

descompromisso com o descarte de produtos obsoletos, ou seja, o lixo.

Mostrou ainda o desconhecimento desta prática, a começar pelo significado da

palavra. A pesquisa mostrou que 70% dos participantes, cujo grau de instrução da maioria era

elevado, desconhece, o termo. Um tanto quanto estarrecedor este dado.

As iniciativas de regulamentação da ação dos fornecedores no sentido de assegurar a

integridade dos direitos do consumidor, pressupondo que nesta relação desigual o sempre será

a parte hipossuficiente, pois mesmo que se esforce não está em igualdades de condições para

se relacionar com as empresas, sendo necessário então, ser representado por órgão

competentes com legislação específica, ainda não são suficientes. O Código de Defesa do

Consumidor – CDC – tem sido a base nestas transações, e a Lei de Política Nacional de

Resíduos Sólidos - Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 - uma alternativa para os casos

comprovados de danos ao meio ambiente com comprometimento da vida humana.

Com essa finalidade é que as mudanças precisam acontecer, pois a prática da

obsolescência programada é algo que afeta não apenas aquele que está dentro da cadeia de

consumo, mas a todos, pois o consumo gera lixo que acaba afetando o meio ambiente e todas

as pessoas que dele dependa.

Por outro lado, pode-se afirmar que os objetivos traçados no relatório da ONU “Nosso

futuro comum” estão longe de serem atingidos, comprovando que a obsolescência

programada caminha na contramão do desenvolvimento sustentável. No âmbito social,

percebe-se a manutenção da pobreza, a exclusão social e precariedade na qualidade de vida.

No âmbito econômico cresce vertiginosamente a inadimplência e superendividamento, com

taxas de juros cada vez mais altas, afetando grande parte da sociedade. No âmbito ambiental,

o uso de recursos naturais de forma irresponsável na produção, e a falta de planejamento no

descarte dos produtos obsoletos tem gerado um volume imensurável de resíduos.

O não cumprimento destas metas, além de afetar o tripé da sustentabilidade, fere os

princípios da função social da sociedade, que deveriam primar pelas condutas éticas do bem

115

comum. No entanto algumas empresas adotam como política o pagamento de indenizações,

ao invés do esforço de reinventar as relações de produção solidárias.

Por esta ótica, o princípio da solidariedade – e não menos importante o da boa-fé

objetiva –, pode estar nas pautas de discussões de governantes ao redor do mundo, mas as

práticas efetivas ainda não são capazes de abrandar o colapso instalado e que precisa ser

atacado com veemência pelas esferas jurídicas, políticas, ambiental e social. O consumo não

será extinto, mas práticas abusivas precisam ser controladas e penalizadas no rigor da lei.

Para essas melhorias, será necessário que o Estado, através de seus poderes

Executivos, Legislativo e Judiciário, juntamente com as Empresas e consumidores, atuem de

forma a criar uma colaboração para reduzir a prática da obsolescência programada.

Uma das primeiras possibilidades é um estudo na área da educação financeira, onde o

Estado precisa criar legislações que inclua o ensino de educação financeira aos consumidores,

educação essa que poderá ser por meio de alteração no Código de Defesa do Consumidor, por

meio de políticas públicas ou ações afirmativas que terão o intuito de explicar aos

consumidores a importância do consumo consciente para garantir uma melhor qualidade de

vida. Esses atos poderão ser feitos por meio de palestras, propaganda na televisão, rádio e

internet com a finalidade de trazer maior conhecimento a todos os consumidores.

Para alterar a visão atual do consumismo, será necessário que as pessoas passem a se

preocupar com a responsabilidade de seus atos, que poderá ser favorável ou não para as

gerações futuras.

É necessário também que o próprio Estado veja os riscos de manter políticas de

incentivo ao consumo desenfreado, pois os prejuízos para as gerações futuras estão

aumentando a cada dia que o Estado deixa de mudar ou fazer algo para mudar essa

perspectiva, assim podendo ser um dos responsáveis no futuro pelos danos causados as novas

e futuras gerações.

Uma outra possibilidade de melhora é posição ativa do poder judiciário com a

aplicação das leis de forma mais dura a esses tipos de práticas, pois tal ato necessita de

sanções que não causando enriquecimento ilícito a parte que entra com ação, mas também não

deixando de lado a falha na prestação de serviço por parte dos fornecedores, situação que

deve ser reprimida através do arbitramento de um valor significativo para que não vire hábito

a prática de outros danos ao consumidor.

Essa mudança já vem acontecendo em alguns julgados citados no trabalho, mas ainda

está longe de interferir a nível nacional. É preciso um fortalecimento dessas decisões, para

116

que a jurisprudência possa, juntamente com a doutrina, dar amparo legal aos magistrados na

hora de suas decisões.

Além disso, uma outra vertente é o fortalecimento de incentivos fiscais às empresas,

por meio de redução de impostos ou outros benefícios para que evite a prática da

obsolescência programada, tornando-se empresas responsáveis com os princípios da boa-fé,

função social e solidariedade, garantindo assim uma melhor qualidade de vida a toda a

população mundial e as futuras gerações. Esses incentivos poderão ser feitos por meio de

redução de alguns impostos, como ISS, ICMS, II.

Nessa mesma ótica, poderão ser realizados eventos, com premiações e divulgação das

empresas que estão na busca por um consumo sustentável, com práticas limpas na criação de

seus produtos, dando reconhecimento nacional por essas práticas e automaticamente

favorecendo essas empresas que buscam atuar de acordo com sua função social.

117

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