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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS O PARADIGMA DA ARQUITETURA EM PORTUGAL NA IDADE MODERNA. ENTRE O TARDO-GÓTICO E O RENASCIMENTO: JOÃO DE CASTILHO “O MESTRE QUE AMANHECE E ANOITECE NA OBRA” Volume 1 Ricardo Jorge Nunes da Silva Orientador: Prof. Doutor Fernando Jorge Grilo Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de História, na especialidade de História da Arte 2018

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  • UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE LETRAS

    O PARADIGMA DA ARQUITETURA EM PORTUGAL NA IDADE MODERNA.

    ENTRE O TARDO-GÓTICO E O RENASCIMENTO: JOÃO DE CASTILHO “O

    MESTRE QUE AMANHECE E ANOITECE NA OBRA”

    Volume 1

    Ricardo Jorge Nunes da Silva

    Orientador: Prof. Doutor Fernando Jorge Grilo

    Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de História, na especialidade de História da Arte

    2018

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    UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE LETRAS

    O PARADIGMA DA ARQUITETURA EM PORTUGAL NA IDADE MODERNA.

    ENTRE O TARDO-GÓTICO E O RENASCIMENTO: JOÃO DE CASTILHO “O

    MESTRE QUE AMANHECE E ANOITECE NA OBRA”

    Ricardo Jorge Nunes da Silva

    Volume 1

    Orientador: Prof. Doutor Fernando Jorge Grilo

    Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de

    História, na especialidade de História da Arte

    Júri: Presidente: Doutor António Adriano de Ascenção Pires Ventura, Professor Catedrático e Diretor da Área de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Vogais:

    - Doutor Juan Clemente Rodriguez Estévez, Profesor Titular de la Facultad de Geografia e Historia de la Universidad de Sevilla

    - Doutora Begõna Alonso Ruiz, Profesora Titular de la Facultad de Filosofia y Letras de la Universidad de Cantábria

    - Doutora Margarida Helena de La Féria Valla, como especialista de Reconhecido Mérito

    - Doutor Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão, Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

    - Doutora Maria João Quintas Lopes Batista Neto, Professora Associada com Agregação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

    - Doutor Fernando Jorge Artur Grilo, Professor Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

    2018

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  • 5

    AGRADECIMENTOS

    No momento de pôr termo a esta dissertação impõem-se não esquecer

    as diversas pessoas que, ao longo destes anos, apoiaram e acompanharam a

    este caminho que agora chega ao fim.

    Inevitavelmente, as minhas primeiras palavras de agradecimento são

    dirigidas ao meu orientador, professor Fernando Grilo. Não só pelo inesgotável

    apoio que sempre demonstrou durante os momentos mais críticos deste

    trabalho, mas também pela enorme disponibilidade, dedicação, entusiasmo e

    pela árdua tarefa de revisão e de olhar crítico desta dissertação. Para além

    deste reconhecimento científico, quero agradecer, sentidamente, a sua

    sistemática e amiga presença, e voz conselheira que ultrapassou, largamente,

    os muros da academia.

    Dirijo também o meu agradecimento aos docentes do ARTIS - Instituto

    de História de Arte da Faculdade de Letras, pelo encorajamento e as suas

    contínuas palavras de incentivo, nomeadamente, ao Professor Doutor Vítor

    Serrão, à Professora Doutora Maria João Neto (responsável, conjuntamente

    com o Professor Fernando Grilo, pelo desafio que me foi dirigido para estudar

    este tema), ao Professor Doutor Luís Afonso e à Professora Doutora Clara

    Moura Soares. A todos agradeço os seus estímulos e amizade.

    Também aos colegas e direção da Escola Superior de Artes Aplicadas

    do Instituto Politécnico de Castelo Branco agradecemos o apoio demonstrado

    durante a realização desta dissertação.

    Cumpre-se também agradecer às instituições e aos seus respetivos

    colaboradores onde realizámos a nossa investigação: ao Arquivo Nacional da

    Torre do Tombo, Biblioteca Nacional, Biblioteca da Ajuda, Arquivo Distrital e

    Arquivo Municipal de Braga, Arquivo Municipal de Vila do Conde, Arquivo da

    Catedral de Sevilha, Arquivo Histórico Diocesano de Santiago de Compostela,

    e Arquivo da Real Cancillería de Valladolid. De modo particular, deixamos

    expressa a nossa gratidão à Dr.ª Isabel Cruz Almeida (Diretora do Mosteiro

    dos Jerónimos e da Torre de Belém), ao Dr.º Joaquim José Pereira Ruivo

    (Diretor do Mosteiro da Batalha) e à direção do Convento de Cristo, pela

    prontidão e disponibilidade demonstrada às minhas diversas solicitudes.

  • 6

    O meu agradecimento aos inúmeros colegas e amigos que foram

    assistindo a esta viagem e, de algum modo, contribuíram com o seu

    conhecimento para a conclusão desta dissertação. Em primeiro lugar quero

    deixar, a Begoña Alonso Ruiz e a Juan Clemente Rodríguez Estévez, um

    agradecimento bastante especial, não só pelos inesgotáveis contributos

    científicos, ajuda arquivistica, pelos debates científicos, mas também pela

    grandeza da generosidade, apoio e amizade que sempre demonstraram.

    Também um agradecimento a Alfonso Jiménez Martín, Alfredo J. Morales

    Martínez, Amadeo Serra Desfilis, Ana Castro Santamaría, Ana Isabel

    Fernandez Salmador, Arturo Zaragoza, Daniel Raposo, Emma Luisa Cahill

    Marrón, Fernando Villaseñor Sebastián, Felipe Pereda Espesso, Francisco

    Merino Rodríguez, Francisco Pinto Puerto, Javier Ibáñez Fernández, Javier

    Gómez Martinez, João Vasco Neves, José Gago da Silva, Jean-Marie

    Guillouët, Jean Passini, Julio Polo Sánchez, Juan Carlos Ruiz Sousa, Luis

    Vasallo Toranzo, Miguel Silveira, Marco Rosario Nobile, Patrícia Alho, Pedro

    Flor, Pedro Redol, Susana Gonçalves e Teresa Desterro.

    Aos amigos e companheiros do curso de doutoramento, Alice Nogueira

    Alves, Isabel Costa Lopes, Joana Balsa Pinho, Joaquim Caetano, Madalena

    Costa Lima, Patrícia Monteiro e Vanessa Antunes, um obrigado muito

    especial.

    Por fim, as últimas palavras de agradecimento, mas de forma bastante

    especial, são para a minha família e sobretudo para minha esposa Patrícia

    Pereira, obrigado, por tudo. Especialmente pela presença constante nos

    momentos mais difíceis deste trabalho, compreendendo sempre o empenho e

    dedicação que empregámos na elaboração desta dissertação. Por último,

    quero dedicar este trabalho ao meu filho, Lourenço Duarte, que entretanto

    nasceu durante a elaboração desta dissertação de doutoramento.

  • 7

    RESUMO

    A presente dissertação tem como objeto de estudo a vida e a obra de

    João de Castilho. Apesar de ser considerando um dos pilares fundamentais da

    arquitetura tardo-gótica e do Renascimento no nosso território, a verdade é

    que historiograficamente, o universo artístico de João de Castilho necessitava

    de uma releitura global à luz dos novos valores historiográficos, da nova

    documentação e de uma renovada análise da sua obra.

    Examinaremos o seu percurso artístico: desde o momento da sua

    formação em terras de Castela até ao momento da sua morte, em Tomar, no

    início da década de cinquenta do século XVI. Analisaremos os vários edifícios

    onde Castilho marcou presença, procurando reconhecer a sua identidade,

    soluções estruturais, tecnologia construtiva, modelos e formas arquitetónicas.

    Por outro lado, procuramos entender como Castilho, homem formado numa

    realidade de estaleiro bastante concreta, depara-se em determinado momento

    com duas realidades distintas, o tardo-gótico e o Renascimento. O nosso

    trabalho procura, assim, encontrar uma resposta que permita entender a

    conciliação destas realidades e o respetivo desenvolvimento do Renascimento

    na sua obra.

    Para além do estudo dos diversos elementos ligados às suas obras,

    esta dissertação debruça-se também sobre a vida do artista. Desse modo,

    procuramos dar respostas a questões como: que relação tem com os seus

    mecenas – quer régios quer eclesiásticos, que posição alcança dentro do

    estaleiro, quais funções profissionais que desempenhou (mestre, avaliador,

    tracista, etc), que estatuto social alcança ao longo das várias etapas da sua

    vida, qual a sua condição patrimonial/económica e quais os laços familiares.

    Estes são alguns dos pontos em discussão ao longo do trabalho e que

    procuramos responder de forma a darmos a conhecer melhor a figura de João

    de Castilho e a sua obra à luz dos novos contextos historiográficos.

    Palavras chave

    João de Castilho; Arquitetura; Portugal; Tardo-gótico; Renascimento.

  • 8

    ABSTRACT

    The purpose of this dissertation is to study the life and work of João de

    Castilho. Despite being considered one of the fundamental pillars of late gothic

    architecture and renaissance in our territory, in fact, João de Castilho needed a

    global re-reading according to the new historiographic values, new

    documentation and a renewed analysis of his work.

    We will examine his artistic journey from the time of his formation in

    Castilho to the Convent of Christ, in Tomar, where he died in the early fifties of

    the 16th century. We will analyze the various buildings where Castilho

    participated, looking for his identity, structural solutions, constructive

    technology, models and forms. On the other hand, we try to understand how

    João de Castilho, who was trained in a very concrete shipyard reality, is facing

    a certain moment with two very different realities, the late gothic and the

    renaissance. Our work look for an answer that allows us to understand the

    reconciliation of these realities and the development of Renaissance in his

    work.

    In addition to the study of the various elements related to his works, this

    dissertation also focuses on the life of the artist. In this way we try to answer

    questions such as: what relationship does it maintain with its various patrons

    — whether royal or ecclesiastical—, what position it reaches within the yard,

    what social status it achieves throughout the various stages of its life, what its

    patrimonial and economic condition. And what are the family ties. These are

    some of the points in discussion throughout this work and that we try to answer

    in order to better know the figure of João de Castilho.

    Key words

    João de Castilho, Architecture, Portugal, Late Gothic, Renaissance

  • 9

    ÍNDICE

    I VOLUME

    Agradecimentos ............................................................................................................ 5

    Resumo/Abstract……...…………………………………………………………………........7

    Introdução………………………………………………………………………....................19

    PARTE I

    A VIDA E O ESTATUTO PROFISSIONAL DE JOÃO DE CASTILHO ...................... 63

    I - A GEOGRAFIA DA ARQUITETURA TARDO-GÓTICA EM PORTUGAL ............. 63

    I.I) OS ARQUITETOS E A ARQUITETURA TARDO-GÓTICA EM PORTUGAL:

    UMA VISÃO DE CONJUNTO. .................................................................................... 65

    I.II) A RENOVAÇÃO DA ARQUITECTURA TARDO-GÓTICA A PARTIR DO

    MOSTEIRO DA BATALHA E A SUA APROXIMAÇÃO AO MUNDO LEVANTINO. .... 66

    I.III) A OBRA DO MESTRE MATEUS FERNANDES NOS FINAIS DO SÉCULO

    XV E OS PRIMEIROS ANOS DO SÉCULO XVI ......................................................... 76

    I.IV) O TARDO-GÓTICO ALENTEJANO AS RELAÇÕES E AS SUAS

    CONEXÕES. ............................................................................................................... 83

    I.V) A OBRA DO MESTRE BOYTAC E AS CORRESPONDÊNCIAS COM O

    FOCO TOLEDANO. .................................................................................................... 87

    I.VI) DIOGO E FRANCISCO DE ARRUDA E A ARQUITECTURA NATURALISTA

    DO CONVENTO DE CRISTO EM TOMAR. ................................................................ 95

    II - JOÃO DE CASTILHO : A ORIGEM DO MESTRE E A SUA CONDIÇÃO

    SOCIAL. ..................................................................................................................... 99

    II.I) A ORIGEM DE JOÃO DE CASTILHO: ENTRE A CONDIÇÃO DE HIDALGO

    OU PECHERO. ......................................................................................................... 101

    III - JOÃO DE CASTILHO: A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE UM MESTRE

    PENINSULAR. .......................................................................................................... 115

    III.I) OS GRANDES FOCOS ESPANHÓIS DE ARQUITECTURA TARDO-

    GÓTICA E A MULTIPLICIDADE DE FORMAÇÃO. .................................................. 117

  • 10

    III.II) JOÃO DE CASTILHO E A SUA DESCONHECIDA FORMAÇÃO. .................... 122

    III.II.I) SEVILHA E A DOCUMENTAÇÃO REFERENTE A “CASTILLO”. ................... 126

    III.II.II) ORGANIZAÇÃO DE ESTALEIRO – LEITURA DA EVOLUÇÃO

    ESTATUTÁRIA DE UM DE ESTALEIRO. ................................................................ 135

    III. III) AS OBRAS DO HOSPITAL REAL DE SANTIAGO DE COMPOSTELA E O

    ESTALEIRO DOS IRMÃOS EGAS. .......................................................................... 143

    III. III. I) O HOSPITAL REAL DE SANTIAGO DE COMPOSTELA E PORTUGAL:

    MATERIAIS E OFICIAIS, UMA RELAÇÃO ENTRE OS DOIS LADOS DA

    FRONTEIRA. ............................................................................................................ 148

    III. III.II) 17 DE SETEMBRO DE 1513: OFICIAL PEDREIRO JUAN DEL

    CASTILLO NO ESTALEIRO DE ENRIQUE EGAS DO HOSPITAL REAL DE

    SANTIAGO DE COMPOSTELA. ............................................................................... 155

    III. III.III) OS CAMINHOS CRUZADOS. AS TRANSFERÊNCIAS ARTÍSTICAS

    ENTRE JOÃO DE CASTILHO E ENRIQUE EGAS. .................................................. 161

    IV - JOÃO DE CASTILHO EM TERRAS DE ENTRE DOURO E MINHO. A

    ATUALIZAÇÃO DA ARQUITETURA DO ÚLTIMO PERÍODO TARDO-GÓTICO

    (1509-1515)............................................................................................................... 173

    IV.I) ARQUITETURA E MESTRES ESTRANGEIROS POR TERRAS DE ENTRE-

    DOURO-E-MINHO NO FINAL DO SÉCULO XV E INÍCIO DO SÉCULO XVI. .......... 175

    IV.II) “(...) POR EU FAZER DE UMA ALDEIA CIDADE.” A POLÍTICA DE

    RENOVAÇÃO DA CIDADE DE BRAGA SOB O MECENATO DE DOM DIOGO

    DE SOUSA................................................................................................................ 180

    IV.II.I) O ARCEBISPO DOM DIOGO DE SOUSA E AS OBRAS DA SÉ

    CATEDRAL PRIMAZ. ............................................................................................... 183

    IV.II. II) A PRESENÇA DE JOÃO DE CASTILHO NAS OBRAS DA CATEDRAL

    DE BRAGA................................................................................................................ 186

    IV.II.III) JOÃO DE CASTILHO E A CRONOLOGIA DA CAPELA-MOR DA

    CATEDRAL BRACARENSE. .................................................................................... 193

    IV.II.IV) OUTROS MESTRES AO SERVIÇO DE DOM DIOGO DE SOUSA:

    MESTRE MACHIM E JAQUES MAGYNARIO E POSSÍVEIS INTERVENÇÕES

    NA CATEDRAL DE BRACARENSE. ........................................................................ 198

    IV.III) IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE VILA DO CONDE: AS

    VICISSITUDES DE UMA CONSTRUÇÃO. ............................................................... 201

  • 11

    IV.III.I) A PRESENÇA JOHAM DEL CASTILHO, MESTRE DA CAPELA DA SE

    DE BRAGA NA MATRIZ DE VILA DO CONDE: A PRIMEIRA OBRA COM

    DOCUMENTAÇÃO DIRETA. .................................................................................... 210

    IV.V) A HIPOTÉTICA ESTADA DO MESTRE CASTILHO NA CIDADE DE VISEU. . 219

    IV.VI) A PONTE SOBRE O RIO ESTE. A AÇÃO DE CASTILHO EM OBRA DE

    CARÁTER MUNICIPAL. ........................................................................................... 221

    V - MECENATISMO RÉGIO DE D. MANUEL I E A OBRA DE ARQUITETURA. O

    CICLO DAS GRANDES EMPREITADAS DE JOÃO DE CASTILHO (1515-1523) .. 225

    V.I) O PRIMEIRO CICLO DE OBRAS DE JOÃO DE CASTILHO NO CONVENTO

    DE CRISTO. .............................................................................................................. 227

    V.I.I) JOÃO DE CASTILHO E D. MANUEL I: UM OLHAR ATRAVÉS DO LITÍGIO

    COM PERO CARNEIRO (TOMAR, 1519)................................................................. 239

    V.II) O REI D. MANUEL I E O COMPLEXO DE SANTA MARIA DE BELÉM: UM

    POSSÍVEL MODELO DE ARQUITETURA DE ESTADO A PARTIR DA

    ARQUITETURA DOS REIS CATÓLICOS. ................................................................ 241

    V.II.I) A PRESENÇA DE JOÃO DE CASTILHO NO COMPLEXO MONÁSTICO

    DE SANTA MARIA DE BELÉM E NA CIDADE DE LISBOA (1516-1517). ................ 257

    V.II.II) AS EMENTAS DO ESTALEIRO MONÁSTICO DE SANTA MARIA DE

    BELÉM. ..................................................................................................................... 264

    V.II.III) DIOGO BOYTAC E A TRADICIONAL GESTÃO DE ESTALEIRO. ............... 266

    V.II.IV) AS EMENTAS DE BELÉM, JOÃO DE CASTILHO E A DIREÇÃO DO

    ESTALEIRO JERÓNIMO. ......................................................................................... 270

    V.II.V) O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE BELÉM E O NOVO SISTEMA DE

    TRABALHO. .............................................................................................................. 279

    V.II.VI) JOÃO DE CASTILHO O MESTRE PRINCIPAL DA OBRA E O

    EMPREITEIRO A CRASTA PREMEYRA E SACRYSTYA E CAPYTOLLO E

    PORTAL DA TRAVESSA. ......................................................................................... 283

    V.II.VII) OS APARELHADORES DE JOÃO DE CASTILHO ENTRE 1517 E 1519. .. 289

    V.II.VIII) OS MESTRES EMPREITEIROS DE SANTA MARIA DE BELÉM E AS

    SUAS SUBEMPREITADAS. ..................................................................................... 295

    V.II.IX) A MOBILIDADE ARTÍSTICA E A IMPORTÂNCIA DAS

    TRANSFERÊNCIAS CULTURAIS E TÉCNICAS. ..................................................... 305

  • 12

    V.II.X) O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE BELÉM E A MÃO-DE-OBRA

    ESTRANGEIRA SOB O COMANDO DO MESTRE PRINCIPAL JOÃO DE

    CASTILHO. ............................................................................................................... 309

    VI - CONSEQUÊNCIAS DA EMPREITADA NO CONVENTO DE CRISTO E DE

    BELÉM:PATRIMÓNIO E ESTATUTO DE JOÃO DE CASTILHO ............................ 317

    VI.I) A SITUAÇÃO ECONÓMICA DE CASTILHO: PATRIMÓNIO IMOBILIÁRIO

    EM TERRAS NABANTINAS (1518). ......................................................................... 319

    VI.II.) PATRIMÓNIO DE JOÃO DE CASTILHO EM LISBOA. ................................... 324

    VI.III) AS CONSEQUÊNCIAS DA PRIMEIRA EMPREITADA NO CONVENTO DE

    CRISTO E DE BELÉM: A NOVA CONDIÇÃO DE JOÃO DE CASTILHO. ................ 326

    VII - A LENTA MUDANÇA DE RUMO DO REINADO DE D. JOÃO III. O NOVO

    CENÁRIO FORMAL. ................................................................................................ 329

    VII.I) D. MANUEL I, VASCO DE PINA E O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE

    ALCOBAÇA: 1519, O INÍCIO DA REFORMA ALCOBACENSE. .............................. 331

    VII.I.I) A PRESENÇA DE JOÃO DE CASTILHO NO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA

    E NOS SEUS COUTOS (1519). A DUALIDADE LABORAL DO MESTRE

    TRASMIERO – MESTRE PEDREIRO E AVALIADOR. ............................................ 334

    VII.I.II) A SEGUNDA CAMPANHA DE OBRAS DE JOÃO DE CASTILHO NO

    MOSTEIRO ALCOBACENSE. .................................................................................. 340

    VII.II.I) DADOS INÉDITOS DE JOÃO DE CASTILHO E DIOGO DE CASTILHO

    NO MOSTEIRO DE S. JORGE DE COIMBRA. ........................................................ 343

    VII.III.I) O MOSTEIRO DA BATALHA: UMA ARQUITETURA DE MEMÓRIA E AS

    CAPELAS IMPERFEITAS COMO UM PANTEÃO DINÁSTICO................................ 352

    VII.III.II) CAMPANHA DE OBRAS DE D. MANUEL I NAS CAPELAS

    IMPERFEITAS: MATEUS FERNANDES I E MATEUS FERNANDES II. .................. 356

    VII.III.III) A EMPREITADA DE JOÃO DE CASTILHO EM TEMPO DE D. JOÃO III:

    CRONOLOGIA, CIRCUNSTÂNCIAS E PROBLEMÁTICA DA EMPREITADA.......... 360

    VII.III.IV) JOÃO DE CASTILHO E MIGUEL DE ARRUDA: A COMPLEXIDADE

    DO ESTUDO DA VARANDA RENASCENTISTA. ..................................................... 366

  • 13

    VIII - CONVENTO DE CRISTO: UMA EMPREITADA DE JOÃO DE CASTILHO AO

    LARGO DE DUAS DÉCADAS (C. 1530- 1551/1552). ............................................. 373

    VIII.I) O HOMEM ATRÁS DO ARTISTA: DUAS DÉCADAS DA PRESENÇA DE

    JOÃO DE CASTILHO NA LOCALIDADE DE TOMAR (C.1530-1551/52). ................ 375

    VIII.II) JOÃO DE CASTILHO E O CONVENTO DE CRISTO: GESTÃO,

    RENDIMENTOS E CRONOLOGIA (1530-1552). ...................................................... 380

    VIII.III) OUTRAS ATIVIDADES DE JOÃO DE CASTILHO NO CONVENTO DE

    CRISTO. ................................................................................................................... 391

    VIII.IV) O CONVENTO DE CRISTO E A OBRA AO ROMANO. A

    PROBLEMÁTICA DA RECEÇÃO DO CLASSICISMO NA ARQUITETURA DE

    JOÃO DE CASTILHO. .............................................................................................. 396

    VIII.V) JOÃO DE CASTILHO E AS OBRAS DO CONVENTO DE CRISTO QUE

    DEVEM SER FEITAS (...) PELO THEOR E ORDENANÇA DO DEBUXO QUE

    PREA ISSO HE FEITO E ASINADO PELO DITO AMO [BARTOLOMEU DE

    PAIVA, VEDOR DAS OBRAS REAIS] - 1533. .......................................................... 402

    VIII.VI) A VIAGEM DE JOÃO DE CASTILHO A ÉVORA: A “NOVA ROMA” DE D.

    JOÃO III (1º SEMESTRE DE 1533). ......................................................................... 406

    VIII.VII) QUANDO O REI ORDENA QUE JOÃO DE CASTILHO PRATICASE

    COM ELE [MIGUEL DE ARRUDA] AS COUSAS DESTAS OBRAS DO

    CONVENTO DE CRISTO (1547/1548) ..................................................................... 409

    VIII.IX) A ACÇÃO DE JOÃO DE CASTILHO NO ARO DE INFLUÊNCIA DO

    CONVENTO DE CRISTO ......................................................................................... 417

    IX - ARQUITETURA MILITAR. DE ARZILA A MAZAGÃO (1529 E 1541): AS DUAS

    VIAGENS DE JOÃO DE CASTILHO ÀS PRAÇAS-FORTES DO NORTE DE ÁFRICA

    .................................................................................................................................. 425

    IX.I) EM TORNO DA POLÍTICA CONSTRUTIVA DE D. JOÃO III NO NORTE DE

    ÁFRICA: UM ENQUADRAMENTO PARA A PRESENÇA DE JOÃO DE

    CASTILHO NAS COSTAS DO MAGREBE. .............................................................. 427

    IX.I.I) A PRIMEIRA PRESENÇA DE JOÃO DE CASTILHO DO NORTE DE

    ÁFRICA: INSPEÇÃO E LEVANTAMENTO DAS NECESSIDADES DAS

    PRAÇAS-FORTES .................................................................................................... 432

    IX.I.II) A FIGURA DE DUARTE COELHO: (...) PESOA QUE AMDOU MUYTO

    TEMPO EM ITÁLIA E EM OUTRAS PARTES (...). ................................................... 438

  • 14

    IX.II) MAZAGÃO (...) EDEFIÇIO QUE HE O MILHOR QUE SE FEZ NO MUNDO,

    NEM SE ACHARA EM ITALYA (...) .......................................................................... 445

    IX.II.I) MIGUEL DE ARRUDA, DIOGO DE TORRALVA E BENEDETTO DA

    RAVENNA: UMA JUNTA PARA REFUNDAÇÃO DE MAZAGÃO, EM 1541............. 447

    IX.II.II) JOÃO DE CASTILHO: MESTRE QUE CONSTRÓI MAZAGÃO MAS (…)

    QUE HE PERA EDEFICAR O MUMDO .................................................................... 453

    IX.II.III) (...) SENHOR SEJA LOUVADO QUE NOS DEIXOU CHEGAR A ESTE

    TEMPO POR QUE NESTE DIA FIZEMOS NOS A FESTA (…): A PRAXIS DE

    JOÃO DE CASTILHO NA OBRA DA FORTALEZA DE MAZAGÃO. ......................... 456

    IX.II.IV) OFICIAIS E OUTRA GENTE DA ARTE DA PEDRARIA QUE (...) FARÃO

    TUDO O QUE LHES EU [CASTILHO] MÃDAR NESTA OBRA ASY DE NOUTE

    COMO DE DIA .......................................................................................................... 462

    PARTE II

    AS OBRAS DE JOÃO DE CASTILHO ..................................................................... 469

    I - AS FORMAS ARQUITETÓNICAS DE JOÃO DE CASTILHO NA CATEDRAL DE

    BRAGA ..................................................................................................................... 471

    I.I) O MODELO E MODO DA CABECEIRA DA CATEDRAL DE BRAGA. ................ 473

    I.I.I) A OBTENÇÃO DO DESENHO DA ABÓBADA E NOVIDADE CONCEPTUAL

    DO ENCURVAMENTO DOS TERCELETES ............................................................ 475

    I.I.II) A MULTIPLICAÇÃO DOS COMBADOS NA ESTRUTURA DA ABÓBADA. ..... 477

    I.I.III) O MODELO DE COMBADOS. A DISCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA

    ENTRE A CATEDRAL DE BRAGA E A IGREJA DE JESUS DE SETÚBAL ............. 479

    I.I.IV) O EXTRADORSO DA ABÓBADA DA BRACARENSE .................................... 481

    I.I.V) MÍSULAS E JARJAMENTOS: O ARRANQUE DAS NERVURAS. ................... 483

    I.I.VI) O EFEITO ESTRUTURAL DA TROMPA. ........................................................ 484

    I.I.VII) UMA CONSTRUÇÃO AUTOCONTROLADA: SISTEMA DE EQUILÍBRIO. ... 486

    I.I.VIII) “USO DOS MANUAIS” DE ARQUITETURA NA CATEDRAL DE BRAGA .... 490

    I.I.IX) A OBRA DE SÉ DE BRAGA E MODELOS COMPARATISTA: A ABÓBADA

    BRACARENSE E OS MODELOS DA ESCOLA BURGOS. ...................................... 494

    I.I.X) CONSEQUÊNCIAS DO CICLO DE BURGOS NO NORTE DE PORTUGAL.

    ALGUNS CASOS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVI ................................. 495

  • 15

    I.I.XI) A GRAMÁTICA DECORATIVA E UMA POSSÍVEL APROXIMAÇÃO

    ENTRE O ESTALEIRO CATEDRALÍCIO DE BRAGA E O HOSPITAL REAL DE

    SANTIAGO DE COMPOSTELA. ............................................................................... 498

    II - A IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE VILA DO CONDE (1511-1514)........ 503

    II.I) A IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE VILA DO CONDE: UMA DÉCADA

    DE INDEFINIÇÕES CONSTRUTIVAS ...................................................................... 505

    II.I.II) O MESTRE DA CAPELA DA SE DE BRAGA E A OBRA DA IGREJA DE

    SÃO JOÃO BAPTISTA ............................................................................................. 507

    II.I.III) PROCURAÇÃO VILACONDENSE PARA CASTILHO PÔR MÃO NOS

    ARCOS E NAVES DA DITA EGREJA (15 DE JUNHO DE 1511) ............................. 508

    II.I.IV) ADENDAS AO PROJETO: CARACOL TAMTO QUANTO VJR QUE HE

    NECECARJO PARA TORE ...................................................................................... 510

    II.II) O CONTRATO DA PORTADA E OUTRA PEDRARIA DE 2 DE JULHO DE

    1513. ......................................................................................................................... 511

    II.III) O PORTAL DA MATRIZ VILACONDENSE E A CORRELAÇÃO COM

    BECERRIL DE CAMPOS (PALENCIA) E AZUAGA (BADAJOZ) .............................. 512

    II.IV) CAPELA-MOR DA IGREJA DE VILA DO CONDE: A CONSTRUÇÃO À LUZ

    DA PROBLEMATIZAÇÃO DA AUTORIA. ................................................................. 518

    II.V) A OBRA MUNICIPAL SOBRE O RIO ESTE. UMA INTERVENÇÃO

    MUNICIPAL. .............................................................................................................. 525

    III - O CONVENTO DE CRISTO E JOÃO DE CASTILHO: AS FORMAS

    ARQUITETÓNICAS E A PRIMEIRA PRESENÇA EM TOMAR. .............................. 529

    III) A RENOVAÇÃO ARQUITETÓNICA DO CONVENTO DE CRISTO NO

    TEMPO DE D. MANUEL I ......................................................................................... 531

    III.I) A EMPREITADA DE DIOGO DE ARRUDA NO ESTALEIRO DE

    TOMARENSE ........................................................................................................... 534

    III.II) A CONSTRUÇÃO DA ABÓBADA DA IGREJA DO CONVENTO DE

    TOMAR: UM PROBLEMA EM ABERTO. .................................................................. 551

    III.III) ARCO DA IGREJA DO CONVENTO DE CRISTO. .......................................... 557

    III.IV) O PORTAL CASTILHIANO DO CONVENTO DE CRISTO: FORMA,

    BILINGUISMO E AS SUAS CONEXÕES. ................................................................ 559

    III.V) A CASA DO CAPÍTULO: UMA ESTRUTURA INACABADA (1521-1523). ....... 569

  • 16

    IV - AS OBRAS DO ESTALEIRO DE SANTA MARIA DE BELÉM. ........................ 577

    IV.I) COMPLEXO MONÁSTICO DE SANTA MARIA DE BELÉM ............................. 579

    IV.I.II) AS PRIMEIRAS INFORMAÇÕES SOBRE O ESTALEIRO DOS

    JERÓNIMOS. ............................................................................................................ 580

    IV.I.III) O PRIMEIRO LIVRO DE DESPESAS DE SANTA MARIA DE BELÉM

    (1505). ....................................................................................................................... 584

    IV.II.I) DIOGO DE BOYTAC NO CONTEXTO DO TARDO GÓTICO

    PORTUGUÊS ........................................................................................................... 591

    IV.I.IV) A PRESENÇA DE DIOGO DE BOYTAC NA DIREÇÃO DO ESTALEIRO

    DE SANTA MARIA DE BELÉM ................................................................................. 594

    IV.I.V) LEITURA DO ESTALEIRO DE SANTA MARIA DE BELÉM À LUZ DAS

    EMENTAS DE 1516 .................................................................................................. 603

    IV.I.V) JOÃO DE CASTILHO E A OBRA DA IGREJA DE SANTA MARIA DE

    BELÉM ...................................................................................................................... 620

    IV.I.VI) A IGREJA DE SANTA MARIA DE BELÉM SOB O MODELO

    HALLENKIRCHE ....................................................................................................... 624

    IV.I.VII) A UTILIDADE DO SISTEMA ARQUITETÓNICO HALLENKIRCHE. ............ 625

    IV.I.VIII) A CONSTRUÇÃO DA ABÓBADA DA NAVE DE SANTA MARIA DE

    BELÉM ...................................................................................................................... 627

    IV.I.IX) A SACRISTIA: A INOVAÇÃO ESPACIAL. .................................................... 629

    IV.I.X) O REFEITÓRIO DE SANTA MARIA DE BELÉM: UMA OBRA DE

    CONTINUIDADE. ...................................................................................................... 633

    IV.I.XI) BOYTAC E CASTILHO: DUAS FACES DA SINGULARIDADE ESPACIAL

    DO CLAUSTRO DE SANTA MARIA DE BELÉM: FORMA, MODELO E

    VÍNCULOS. ............................................................................................................... 635

    IV.I.XII) A CONSTRUÇÃO DA ABÓBADA DO TRANSEPTO DE SANTA MARIA

    DE BELÉM: UMA OBRA JÁ EM TEMPO DE D. JOÃO III. ....................................... 643

    IV.I.XIII) POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS DO ESTALEIRO DE SANTA MARIA

    DE BELÉM ALÉM-FRONTEIRAS. ............................................................................ 645

    V - A EXTENSÃO DO DOMÍNIO DE JOÃO DE CASTILHO EM PORTUGAL:

    MOSTEIROS DE ALCOBAÇA E DE SANTA MARIA DA VITÓRIA (BATALHA) .... 667

    V.I) A INTERVENÇÃO DE JOÃO DE CASTILHO NA REAL ABADIA DE

    ALCOBAÇA - ABÓBADA DA ANTESSALA DA SACRISTIA. ................................... 669

  • 17

    V.II) RELATOS DA ANTIGA SACRISTIA ERGUIDA POR JOÃO DE CASTILHO:

    RECONSTITUIÇÃO POSSÍVEL. .............................................................................. 670

    V.III) O POSSÍVEL RISCO DE JOÃO DE CASTILHO NA OBRA DO CLAUSTRO

    DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA .............................................................................. 672

    V.IV) MOSTEIRO DA BATALHA: A CONSTRUÇÃO DA ABÓBADA DO VESTÍBULO:

    PROJETO INACABADO DE JOÃO DE CASTILHO. ................................................. 674

    V.V) MOSTEIRO DA BATALHA: LEITURA ARQUITETÓNICA DO VESTÍBULO À

    LUZ DA PROBLEMÁTICA DOS RESTAUROS. ....................................................... 678

    VI - DUAS DÉCADAS DE ATIVIDADE CONSTRUTIVA DE JOÃO DE CASTILHO NO

    CONVENTO DE CRISTO: 1530-1551 ...................................................................... 683

    VI.I) AS ALTERAÇÕES EFETUADAS POR JOÃO DE CASTILHO AO PRIMEIRO

    CLAUSTRO PRINCIPAL (1532). .............................................................................. 685

    VI.II) A MAGNA EMPREITADA CONTRATUALIZADA COM JOÃO DE

    CASTILHO EM 1533: ORDENANÇA, TRÂMITES, VALORES E

    RESPONSABILIDADES. .......................................................................................... 689

    VI.III) O CLAUSTRO PRINCIPAL OU CRASTA PRINCIPAL .................................... 691

    VI.III.I) CLAUSTRO DE SANTA BÁRBARA - CRASTA PEQUENA .......................... 695

    VI.III.II) CLAUSTRO DA HOSPEDARIA .................................................................... 698

    VI.III.III) CLAUSTRO DA MICHA ............................................................................... 700

    VI.III.IV) CLAUSTRO DO CORVOS .......................................................................... 702

    VI.IV) O CRUZEIRO E CORREDOR DOS DORMITÓRIOS DOS FRADES ............. 702

    VI.V) OUTROS DADOS REFERENTES A JOÃO DE CASTILHO NO

    CONVENTO DE CRISTO (1533-1551) ..................................................................... 708

    VI.VI) OUTRAS OBRAS E OUTROS INTERVENIENTES NAS OBRAS DO

    CONVENTO DE CRISTO (1533-1551) ..................................................................... 711

    VI.VII) OS MOMENTOS DA RENOVAÇÃO DO EDIFÍCIO CAPITULAR (1533-

    1547). ........................................................................................................................ 718

    VI.VIII) SALAS DO NOVICIADO E A SUA CONSTRUÇÃO À LUZ DA

    TRATADÍSTICA ........................................................................................................ 722

    VI.IX) A IGREJA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA (MATRIZ DE AREIAS),

    1548. ......................................................................................................................... 727

    VI.X) A ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO: O PROBLEMA DA

    AUTORIA DO PROJETO. ......................................................................................... 730

  • 18

    VII - TRABALHO OFICINAL DE JOÃO DE CASTILHO. QUATRO NOTAS:

    SETÚBAL, PEDROGÃO GRANDE, COIMBRA E SARDOAL. ................................ 741

    VII.I (...) A MOSTRA QUE AVIA DE DAR CASTILHO DA JENELA (...) PARA O

    CORO A IGREJA DE SÃO JULIÃO DE SETÚBAL. .................................................. 743

    VII.II) AVALIAÇÃO FEITA POR JOÃO DE CASTILHO NA IGREJA MATRIZ DE

    PEDRÓGÃO GRANDE (1539) .................................................................................. 746

    VII.III (...) MIGUEL DARUDA E JOÃ DE CASTILHO ANDÃ PARA

    DESMANCHAR TODO O DEBUXO (...) DO REAL COLÉGIO DAS ARTES DE

    COIMBRA (1548). ..................................................................................................... 751

    VII.IV IGREJA DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO SARDOAL E O

    DEBUXO FEYTO POR MÃO DE CASTILHO (...) ..................................................... 756

    VIII - OBRA ATRIBUÍDA A JOÃO DE CASTILHO .................................................. 761

    VIII.I) AS SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS DA SÉ DE VISEU (1513-1516). ............... 763

    VIII.II) A IGREJA MATRIZ DE FREIXO DE ESPADA À CINTA E A

    PROBLEMÁTICA DE UMA OBRA ATRIBUÍDA A JOÃO DE CASTILHO. ................ 772

    CONCLUSÃO ........................................................................................................... 781

    FONTES ................................................................................................................... 799

    BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 809

    II VOLUME

    ANEXO DOCUMENTAL

    ANEXO DE IMAGENS

  • 19

    INTRODUÇÃO

  • 20

  • 21

    TEMÁTICA E ESTRUTURA DE TESE

    Nesta dissertação de doutoramento propomo-nos a estudar João de

    Castilho e a sua atividade artística. Desde cedo, a História da Arte reconheceu

    os méritos deste extraordinário mestre no contexto arquitetónico português da

    primeira metade do século XVI. Toda abordagem já efetuada ao mestre e

    respetiva obra, desde nobiliárquicos, cronistas e a historiografia, sobretudo a

    bibliografia que foi concretizada ao longo do século passado, fez do mestre

    trasmiero uma figura central e incontornável da História, quer pela dimensão

    da sua obra tardo-gótica quer, posteriormente, pela sua expressão

    renascentista. Contudo, o tema elegido não se revelava fácil, não só pelos

    importantes contributos que os diversos autores realizaram antes de nós – ao

    mesmo tempo também pelas inúmeras atribuições desacertadas que, pouco a

    pouco, a documentação viria a revelar -, pelo elevado número de elementos

    documentais, mas sobretudo pela dimensão e ecletismo da obra executada

    pelo mestre trasmiero.

    Apesar da inegável importância revelada através da historiografia, a

    verdade é que a figura de João de Castilho e toda a sua obra careciam, desde

    há muito, de um estudo global, integrado e transversal, onde fosse possível,

    por um lado, enquadrar o homem e o artista no seu tempo, e por outro lado,

    demonstrar e comprovar a importância das inovações, soluções e modelos

    construtivos aplicados à arquitetura ao longo de meio século, que se

    enquadram dentro de uma lógica pan-europeia.

    Este trabalho parte assim da necessidade de rever antigas ideias e

    conceitos preestabelecidos à luz dos novos valores historiográficos nacionais

    e internacionais (como são exemplo os conceitos de mobilidade artística e

    transferências de conhecimento), de uma nova investigação arquivística e da

    (re)leitura de toda a obra arquitetónica executada por João de Castilho, assim

    como as suas ramificações.

    Como refere Jacques Le Goff, no trabalho realizado sobre São Luís, rei

    de França, um estudo biográfico não corresponde somente a uma coleção de

    tudo que se pode e de tudo que se deve saber sobre um personagem, o

  • 22

    historiador deve ser capaz de destrinçar os documentos, para fazer com que

    neles apareça o que introduz uma convicção razoável de verdade histórica1.

    Como tal, o trabalho realizado não pretendeu ser uma historia magistra

    vitae ou uma mera biografia artística aos moldes do século XIX, onde se

    juntariam meros episódios acontecidos e cronologicamente ordenados.

    Procuramos sim, realizar um estudo monográfico onde se procura estabelecer

    relações factuais entre os dados biográficos, a ação profissional e o universo

    da construção arquitetónica que o mestre levou a cabo durante os reinados de

    D. Manuel I e D. João III.

    Pelas opções tomadas e pelo caminho metodológico e analítico

    traçado, o tema que nos propusemos reveste-se de ampla complexidade,

    sobretudo pela multiplicidade de fatores que se encontram envolvidos na

    equação e pelas diversas questões que a historiografia foi deixando em aberto

    ou que não tinha encontrado uma resposta satisfatória.

    Entre os diversos objetivos traçados, procuramos estudar João de

    Castilho a partir de uma revisão historiográfica e uma reavaliação documental,

    aliando a isso o estudo dos edifícios e de cada uma das fases da produção

    artística.

    No campo analítico procurou-se conhecer o local, ou locais, de

    aprendizagem e que modelos transitam para Portugal ao tempo da sua

    chegada; que categoria tinha e que adquiriu dentro do(s) estaleiro(s); quais os

    seus mecenas. Também foi nossa intenção compreender a importância do

    vasto estaleiro dirigido por Castilho e que vai marcando sistematicamente

    presença nas principais obras do reino, assim como procuramos compreender

    o impacto do conceito de mobilidade artística e transmissão de conhecimentos

    (expressões que ganham cada vez mais peso na historiografia europeia) na

    obra de João de Castilho.

    Ressalve-se desde já, o estudo que levamos a cabo não procura

    analisar e estudar o contexto escultórico ou decorativo, o que se promove

    nesta dissertação é analisar as componentes estruturais da arquitetura

    desenvolvida por João de Castilho. Nesse contexto, foi nosso objetivo

    compreender a obra de Castilho do ponto de vista técnico, do domínio da

    1 LE GOFF, Jacques, São Luís: biografia, Rio de Janeiro, Record, 2002, pp.21-22.

  • 23

    construção, da engenharia e da relação estrutural entre as diversas partes.

    Também foi objetivo confrontar e compreender as técnicas tardo-góticas e as

    formas do Renascimento através da tratadística e das diversas fontes gráficas.

    Assim, e sob este ângulo dicotómico entre artista e obra, procura-se

    conhecer efetivamente a importância de João de Castilho na arquitetura

    portuguesa.

    A partir das diversas perguntas impostas por nós, traçámos uma análise

    que se ramificava em dois grandes campos, Vida e Obra. Esta divisão

    permitiu-nos não só olhar de modo integrado para a personagem em estudo,

    como também ter uma clara posição sobre o contexto espaço/tempo das cinco

    décadas onde Castilho se encontrou inserido e onde se moveu tão

    habilmente. No entanto, não podemos deixar de ressalvar que o trabalho,

    agora apresentado ultrapassa a mera biografia artística, é também uma visão

    sobre a arquitetura tardo-gótica em Portugal e as inovações introduzidas no

    território, principalmente as realizadas pelo mestre, assim como também não

    deixa de ser um olhar sobre a “receção” e desenvolvimento do Renascimento

    e a forma como Castilho se relaciona com esta tipologia estilística e se

    posiciona perante este o novo gosto que se desenvolve, sobretudo durante o

    reinado de D. João III.

    Em termos práticos a dissertação que desenvolvemos organiza-se em dois

    volumes. O primeiro volume é composto por duas partes: uma parte dedicada

    à Vida do artista e a outra dedicada às Obras. O segundo volume reúne o

    elenco documental e o anexo gráfico.

    Na primeira parte do primeiro volume, A vida e o estatuto profissional de

    João de Castilho, reparte-se por nove capítulos, onde delineámos uma visão

    biográfica e sociológica de João de Castilho.

    No primeiro capítulo desta dissertação e de modo a enquadrar a atividade

    artística desenvolvida por João de Castilho, quer no contexto temporal quer

    numa visão inter pares, construímos uma imagem geográfica do tardo-gótico

    português. Esta abordagem global permitirá ao leitor adquirir uma visão

    integrada da arquitetura tardo-gótica desenvolvida no nosso território durante

    o século XV e as primeiras décadas da centúria seguinte. Para além de

    destacarmos os mais importantes estaleiros que se ergueram no reino durante

    esse período, e que funcionam como verdadeiros centros de aprendizagem e

  • 24

    polos difusores de formas, foi também importante, neste contexto, fazer uma

    chamada de atenção para o caráter transnacional desta arquitetura. As

    correlações construtivas que são possíveis efetuar entre a arquitetura

    portuguesa e o restante espaço europeu mostram que a nossa arquitetura,

    especialmente a tardo-gótica, não pode ser lida nem interpretada como uma

    mera realidade ecoada de esteios nacionais ou autóctones.

    Hoje, a paisagem arquitetónica tardo-gótica é encarada e estudada de

    forma mais ampla e integrada, pois esse momento de revolução arquitetónica/

    artística, que varreu toda a Europa durante o século XV e as primeiras

    décadas do século XVI, é passível de ser referido como um fenómeno que não

    pode deixar de ser visualizado num contexto transeuropeu, onde encontramos

    muitas vezes expressões tecnicamente diferentes, mas onde semanticamente

    apresentam semelhanças mais ou menos profundas ao nível da forma.

    Do Mosteiro da Batalha ao tardo-gótico alentejano (Beja e

    fundamentalmente Évora), de Tomar ao espaço Entre Douro e Minho, de

    Huguet a Diogo de Arruda, passando inevitavelmente por Boytac, tornou-se

    importante destacar, nesta simbiose entre estaleiros e mestres, como as

    formas, os modelos, as reciprocidades, as influências e as difusões de

    soluções são elementos fundamentais para o entendimento, numa escala

    europeia, da transversalidade do tardo-gótico e onde Portugal não foi imune,

    devido, sobretudo, à intensa mobilidade artística europeia e à subjacente

    transferência de conhecimentos.

    O segundo capítulo deste trabalho debruça-se sobre as origens de João de

    Castilho. Neste ponto pretendemos averiguar a real condição do seu

    nascimento, tendo em linha de conta que a historiografia salientou a sua

    ascendência de nobre - natural da meriidad de Trasmiera del concejo de

    Liérganes e descendente da Casa e Solar de Castillo. Na realidade, este facto

    revestia-se de contornos pouco claros. Contudo, o processo movido, em 1556,

    por António de Castilho (filho do mestre) para a obtenção do reconhecimento

    de fidalguia, ad perpetuam rey memoriam, permitiu-nos trazer alguma luz

    sobre o assunto e perceber os reais contornos deste processo que beneficiam

    somente os descendentes do mestre.

    O terceiro capítulo é dedicado à problemática da aprendizagem e

    respetiva formação de João de Castilho em terras de Castela. Desse modo,

  • 25

    colocámos em relevo os principais focos arquitetónicos de Castela e,

    subsequentemente, como se proporciona a evolução estatutária dentro de um

    estaleiro de arquitetura. A partir destes dois pontos e da releitura documental,

    interrogamos qual terá sido o caminho efetuado por Castilho para chegar a

    Braga, local onde se encontra documentado pela primeira vez.

    Neste contexto, analisaremos qual o grau efetivo da participação de

    João de Castilho nas obras da catedral hispalense. Na sequência das nossas

    conclusões, mostramos que o tradicional caminho que levou Castilho de

    Sevilha até Braga não é uma realidade tão líquida assim. Facto que ganha

    maior relevo à luz da nova documentação referente a Santiago de

    Compostela, onde identificámos a presença de João de Castilho, em 1513,

    nas obras do Hospital Real, onde o mestre principal das obras era Enrique

    Egas. A presença de João de Castilho nas obras do Hospital Real, dado até

    agora inédito, ocorre no mesmo período em que o mestre dirige em território

    português a obra da igreja matriz de Vila do Conde. Este e outros factos que

    são apontados ao longo do capítulo permitem, no nosso ponto de vista, referir

    que a chegada de Castilho ao norte de Portugal é realizada por via da cidade

    de Santiago de Compostela (neste capítulo ainda mostramos como as

    relações entre a Galiza e o reino português são uma constate e o caso de

    Castilho não se trata de um caso isolado).

    Ainda podemos visualizar como as relações interpessoais e formais

    entre João de Castilho e o estaleiro de Enrique Egas, permitem colocar o

    mestre trasmiero na órbita formativa toledana.

    No quarto capítulo abordamos a presença de João de Castilho na

    região Entre Douro e Minho e a sua relação com o poder episcopal e

    municipal. O Norte marca assim a chegada de Castilho ao nosso território e a

    primeira referência que encontramos do mestre trasmiero é nas obras

    Catedral de Braga, sob o patrocínio do arcebispo D. Diogo de Sousa.

    Procuramos ainda neste ponto debater a cronologia de Castilho na obra

    catedralícia e qual terá sido efetivamente e a sua intervenção no edifício

    primaz.

    Debruçar-nos-emos ainda sobre a presença de Castilho na obra da

    igreja matriz de Vila do Conde, atendendo às suas problemáticas – mestres e

    cronologias –, mas sobretudo analisaremos os seus contratos, remunerações,

  • 26

    trâmites e mobilidade artística. A este propósito reservamos uma palavra

    sobre a efetiva viagem de Castilho a Santiago de Compostela e a hipotética

    estadia do mestre trasmiero em Viseu.

    O último ponto do capítulo é reservado às obras efetuadas por Castilho

    na ponte de Braga (ponte sobre o rio Este). Esta intervenção de caráter

    municipal demonstra a versatilidade e o ecletismo construtivo de João de

    Castilho, deixando transparecer que o raio de ação de um mestre de

    arquitetura é bastante abrangente.

    O capítulo quinto encontra-se reservado à análise da presença de João

    de Castilho nas obras que se encontram na esfera régia, primeiro no Convento

    de Cristo (1515) e, posteriormente, no magno estaleiro de Santa Maria de

    Belém (1517). Ambos os edifícios já se encontravam em fase de construção

    quando o mestre trasmiero passa a incorporar os respetivos estaleiros. Esta

    realidade permite confrontar a posição de Castilho face aos seus antecessores

    – Diogo de Arruda em Tomar, e Boytac em Santa Maria de Belém –,

    nomeadamente, no que diz respeito ao modelo de estaleiro, valores salariais,

    gestão de empreitadas e subempreitadas. Nesse sentido, será efetuada uma

    releitura das ementas de Santa Maria de Belém procurando destacar os

    valores salariais, a tipologia de gestão e identificar os intervenientes,

    sobretudo da mão-de-obra estrangeira.

    O número avultado de estrangeiros na obra do Restelo revela bem a

    importância da mobilidade artística a numa escala europeia, embora com claro

    ênfase para gente oriunda do reino de Castela, donde se destaca um forte

    contingente proveniente de Santiago de Compostela, facto que reforça a

    nossa posição da ligação existente entre Castilho e os estaleiros de Enrique

    Egas. Por outro lado, veremos como o elevado número de estrangeiros na

    obra de Belém nos permite referir que o edifício que se ergue na praia do

    Restelo é um verdadeiro laboratório de formas arquitetónicas que ultrapassa a

    escala nacional.

    Ainda neste capítulo veremos como a integração de João de Castilho

    nos estaleiros régios de Tomar, mas sobretudo, de Santa Maria de Belém,

    permitiu dar um impulso definitivo a estes edifícios e ao mesmo tempo criar

    uma verdadeira arquitetura de estado para D. Manuel I, nomeadamente ao

    vermos o rei a transformar o edifício hieronimita em seu mausoléu. A este

  • 27

    propósito comparamos a posição tomada por D. Manuel I face a Isabel, a

    Católica, quando esta estabelece na igreja San Juan dos Reyes (Toledo) a

    sua sepultura e depois se faz enterrar na Catedral de Granada.

    No sexto capítulo apontamos quais foram as consequências

    económicas/patrimoniais, sociais/estatutária e familiar para Castilho quando

    este passa a estar vinculado às obras que se encontram na esfera régias

    (Tomar e Belém) e passar a ser designado como mestre das obras do dito

    senhor e rei e apresentar-se como o mais destacado mestre/empreiteiro

    (detendo uma verdadeira máquina empresarial) face aos seus congéneres.

    No capítulo seguinte, continuamos a análise da presença de Castilho

    em construções de caráter ou de intervenção régia: Mosteiro de Alcobaça,

    Mosteiro de São Jorge, em Coimbra, e Mosteiro da Batalha – para além dos

    edifícios apontados, Castilho e a sua oficina ainda continuam com as obras do

    Convento de Cristo e Santa Maria de Belém. Neste contexto, damos atenção

    às ramificações geográficas do estaleiro de João de Castilho (existência de

    um sentido empresarial), facto que ganha maior relevo com a presença do

    mestre, até agora desconhecida, no mosteiro de São Jorge (Coimbra), embora

    esta obra acabe por ficar a cargo do seu irmão, Diogo de Castilho, na época

    está envolvido nas obras do Mosteiro de Santa Cruz.

    A par da atividade de construção que vai realizando na esfera régia,

    Castilho também assume, em determinados momentos, como em Alcobaça e

    em Coimbra, as funções de avaliador de obras, facto que revela bem a sua

    importância junto das esferas do poder, nomeadamente com Vasco Pina e

    sobretudo Bartolomeu de Paiva.

    A encerrar este capítulo começamos a análise da problemática (a

    continuar em capítulos seguintes) da relação de João de Castilho com o

    Renascimento. O ponto de partida da problematização é a construção da

    varanda das Capelas Imperfeitas (até aqui o caráter renascentista que se fazia

    sentir nas suas obras, como no Convento de Cristo e em Santa Maria de

    Belém, era um discurso somente epidérmico) e qual o papel desempenhado

    por Castilho e Miguel de Arruda nesta mesma obra. Estas duas figuras são

    neste tempo sinónimo da tradição face ao gosto all’ antiquo, sendo ao mesmo

    tempo o início de um choque geracional.

  • 28

    O capítulo oitavo é inteiramente dedicado à presença de João de

    Castilho nas obras do Convento de Cristo (de 1530 a 1551/2). Estas duas

    décadas de atividade construtiva em Tomar serão analisadas à luz da

    problemática da receção e desenvolvimento do Renascimento de Castilho

    neste edifício. Partimos da interrogação se um mestre educado na tradição

    tardo-gótica, com é João Castilho, tem a capacidade de conceber a nível

    projetual um discurso completamente novo, como é o ao romano. Se

    materialmente não temos dúvidas que Castilho (entenda-se oficina)

    concretizou a obra, o mesmo não se pode dizer a respeito do projeto. Na

    tentativa de responder a esta e a outras questões, visualizaremos como

    existem duas figuras essenciais para a materialidade renascentista de Castilho

    no Convento de Cristo. Por um lado, encontramos, em 1533, Bartolomeu de

    Paiva que, a partir da cidade Évora (nesta data na cidade encontra-se

    Chanterene e Miguel de Arruda) impõe contratualmente os valores do

    Renascimento e envia daquela cidade o projeto, feito e asinado pelo dito amo,

    para que Castilho o materialize. Posteriormente, já em meados da década de

    40, vamos observar como Miguel de Arruda intervém no espaço conventual de

    Tomar, marcando assim uma clara ascendência sobre Castilho.

    No último capítulo desta primeira parte, analisamos as duas presenças

    de João de Castilho no norte de África. Em primeiro lugar, visualizaremos as

    especificidades da viagem de 1529, onde Castilho, conjuntamente com Duarte

    Coelho, teve como missão realizar o levantamento e respetivas necessidades

    das praças-fortes marroquinas. A este propósito debruçamo-nos sobre a

    curiosa figura de Duarte Coelho, (...) pesoa que amdou muyto tempo em itália

    e em outras partes (...).

    A segunda parte desta análise recai sobre a presença de João de

    Castilho em Mazagão. Veremos como neste espaço marroquino Castilho

    surge como construtor/empreiteiro, assumindo verdadeiramente um estatuto

    empresarial, em que gere um vasto contingente de homens e coordena um

    gigantesco estaleiro. Contudo, a nossa análise permite demonstrar que

    Castilho não tem qualquer intervenção na conceção do projeto da praça-forte.

    Todo o processo projetual fica a cargo, por determinação régia, de uma junta

    de mestres formada por Miguel de Arruda, Diogo de Torralva e Benedetto de

    Ravena. Esta situação permite repensar o alcance formativo e de

  • 29

    conhecimento detido pelos mestres-de-obras, especialmente os que

    representam a tradição face ao Renascimento. No caso de Castilho, ficará

    claro que não detém os conhecimentos suficientes para conceber um espaço

    militar como o de Mazagão, no entanto, a sua vasta experiencia de estaleiro

    permite-lhe construir o reduto (guiando-se através do projeto) e ultrapassar as

    diversas dificuldades inerentes a um projeto desta envergadura, como aliás

    demonstra a documentação.

    A segunda parte deste primeiro volume remete-nos para o estudo dos

    edifícios onde se verifica a presença de João de Castilho. De forma

    monográfica, analisaremos a arquitetura nas suas componentes construtivas,

    tecnológicas e suas respetivas soluções formais (como, por exemplo, a

    conceção geométrica, dinâmicas de espacialidade, modos e modelos de

    coberturas, etc).

    Cronologicamente, o discurso arquitetónico desenvolvido por Castilho

    baliza-se entre o tardo-gótico e o mundo do Renascimento, ou seja, desde a

    cabeceira da Sé de Braga (1502) até à Ermida de Nossa Senhora da

    Conceição, em Tomar (1551). Reconhecemos que João de Castilho durante o

    período tardo-gótico introduz no nosso território um conjunto significativo de

    inovações formais, mostrando-se inovador e conhecedor dos valores

    arquitetónicos tardo-góticos que ocorrem coetaneamente na Europa. Contudo,

    discutiremos o modo como Castilho, a partir de dado momento, concilia os

    valores formativos tardo-góticos com o gosto renascentista de base

    tratadística (Sagredo e Vitruvio, segundo Cesar Cesariano).

    Esta dicotomia formal – tardo-gótico versus Renascimento – faz com

    que o mestre tenha vivido, a partir de um determinado momento, na

    encruzilhada estilística. Deste ponto de vista, pensamos que o estudo formal

    dos edifícios, à luz da documentação, permitem trazer respostas a esta e a

    outras problemáticas em torno do mestre trasmiero.

    O primeiro capítulo desta segunda parte é dedicado ao estudo da

    cabeceira da Sé de Braga. Grosso modo, podemos referir que o modelo e as

    formas da cabeceira do edifício bracarense abrem caminho para a última

    renovação do tardo-gótico português.

  • 30

    A partir de uma abordagem monográfica, procuramos colocar em

    destaque as novidades formais introduzidas por João de Castilho no nosso

    país por intermédio desta obra. Analisaremos a cabeceira/abóbada do ponto

    de vista técnico: conceção geométrica, mísulas, arranques da abóbada,

    sistema de equilíbrio, controlo de forças e sobretudo a tipologia de nervuras,

    como os circulares e os terceletes curvos (estes últimos são um novidade

    introduzida no nosso território por João de Castilho).

    Além do estudo formal, também destacamos as diversas influências

    que se encontram nesta cabeceira. Se por um lado encontramos uma

    evidência com os modelos de abóbadas do foco de Burgos (para além da

    abóbada de Braga existem na região outros edifícios que denotam uma

    aproximação formal ao foco de Burgos), por outro encontramos diversas

    conexões com as formas existentes no Hospital Real de Compostela.

    O segundo capítulo aborda às etapas construtivas da igreja matriz de

    Vila do Conde. O estudo do edifício, conjugando a leitura das formas à

    releitura documental (onde apresentamos novidades), permite refazer algumas

    atribuições, nomeadamente ao nível da capela-mor. Para além do estudo das

    diversas problemáticas inerentes aos mestres e às suas formas, o edifício de

    Vila do Conde é um exemplo bastante elucidativo da importância do conceito

    de transferência de conhecimentos entre regiões: o modelo utilizado em Vila

    do Conde é também utilizado em Becerril de Campos (Palencia) e Azuaga

    (Badajoz). Este é um dos muitos exemplos que abordamos ao longo do nosso

    trabalho e que reflete bem o sentido das viagem das formas.

    O terceiro, quarto capítulos remetem-nos para a presença do mestre

    trasmiero no convento de Cristo (primeira presença) e Santa Maria de Belém.

    Para além de serem obras que se encontram na esfera régia, também são

    edifícios que já se encontram em plena edificação no momento da chegada de

    Castilho a estes estaleiros (precedido, em Tomar, por Diogo de Arruda e por

    Boytac, no estaleiro dos Jerónimos). Em ambos os casos visualizaremos e

    analisaremos as invocações formais e estruturais introduzidas por Castilho

    nos respetivos edifícios e simultaneamente existiu uma preocupação em

    determinarmos construtivamente o início da atividade do mestre em ambas as

    estruturas arquitetónicas. Este aspeto nem sempre se revelou uma tarefa fácil,

    mas, por intermédio da leitura dos elementos formais, das soluções

  • 31

    construtivas e da releitura documental, construímos uma imagem dessa

    realidade.

    O estudo destes edifícios permitem-nos percecionar, embora em

    escalas diferenciadas, como marcaram a arquitetura das primeiras décadas do

    século XVI. Contudo, visualizaremos também como o estaleiro de Santa Maria

    de Belém, não foi só um modelo para o contexto português, foi também uma

    referência que ultrapassou as fronteiras nacionais.

    O quinto ponto deste estudo remete-nos para a presença de João de

    Castilho nos mosteiros de Alcobaça e da Batalha. Analisaremos as suas

    intervenções, as suas formas e elementos estruturais.

    No capítulo sexto analisaremos a segunda presença de João de

    Castilho no convento de Cristo. Entre 1530 e 1551, de forma ininterrupta, o

    mestre amplia o espaço conventual, ergue os diferentes claustros e todas as

    dependências para a vivência monástica. Dentro do espaço da Ordem,

    Castilho monta uma verdadeira máquina empresarial, assume o papel de

    empreiteiro geral da obra, gestor do estaleiro (homens e materiais) e avaliador

    dos trabalhos executados. Contudo, todo este magno empreendimento é

    marcado pela linguagem do Renascimento. O início dos anos trinta, em nosso

    ponto de vista, é o primeiro momento em que Castilho concretiza uma obra

    totalmente dedicada aos valores clássicos, no entanto, veremos como estes

    valores clássicos são-lhe impostos, quer por Bartolomeu de Paiva quer por D.

    João III. Tendo estas questões como pano de fundo, este capítulo analisa o

    discurso arquitetónico nas suas componentes estruturais e superficiais

    (elementos clássicos plasmados sobre a estrutura), discorre sobre as fontes e

    os modelos utilizados. Assim, através do caráter analítico da arquitetura e da

    documentação, procuramos responder se Castilho tem capacidade de projetar

    esta linguagem ou se interpreta e executa materialmente, com a sua oficina,

    os projetos que lhe são remetidos.

    Terminamos este capítulo com a análise da Obra Nova e da Ermida da

    Conceição. Duas obras do mais puro Renascimento e no momento em que se

    encontram em construção (pela oficina de Castilho) vamos também encontrar

    a presença de Miguel de Arruda no convento de Cristo.

    O sétimo capítulo analisaremos outras atividades exercidas por João de

    Castilho no âmbito da arquitetura, mas que dão uma clara noção do

  • 32

    funcionamento da sua oficina/atelier. Como figura central da arquitetura do

    momento, Castilho, executa projetos, desenho e traças para outros oficiais de

    pedraria e para outros estaleiros, exemplo disso é a elaboração dos projetos

    para a igreja de São Julião, em Setúbal e para a igreja da Misericórdia do

    Sardoal (obra já no final da sua vida). A par desta atividade encontramos

    ainda o exercício de avaliação de obras e projetos, como acontece, em 1539,

    na Igreja Matriz de Pedrógão Grande e, em 1548, na avaliação do projeto,

    conjuntamente com Miguel de Arruda, para o Real Colégio das Artes

    (Coimbra). Demonstraremos, por intermédio destas e de outras atividades

    desenvolvidas por Castilho no âmbito da arquitetura, como o mestre trasmiero

    é uma referência oficinal e não conceptual (por diversas razões durante o

    período do Renascimento exista um declínio da sua importância).

    O último capítulo desta dissertação encontra-se reservado para duas

    obras que se encontram historiograficamente atribuídas a João de Castilho:

    Sé de Viseu e Igreja de Freixo de Espada à Cinta. Ambos os edifícios entram

    na esfera de Castilho, não por intermédio da documentação, mas sim, pela

    mão dos cronistas e nobiliárquicos. De modo a verificar a veracidade das

    atribuições, uma vezes se verificar a inexistência documental, efetuaremos o

    estudo dos edifícios à luz da componente técnica/construtiva.

    ESTADO DA QUESTÃO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: VIDA DE JOÃO DE

    CASTILHO

    A historiografia produzida acerca de João de Castilho revela-se

    volumosa e relativamente dispersa. A nossa proposta é precisamente reunir e

    analisar os contributos realizados pelos vários historiadores, pois só deste

    modo é possível formular hipóteses e retirar conclusões que permitam

    conhecer melhor esta figura central da arquitetura portuguesa da primeira

    metade do século XVI. Assim, a releitura da historiografia é o ponto de partida

    para o nosso trabalho e parte fundamental para traçar os caminhos vividos por

    João de Castilho, assim como permite compreender o contexto arquitetónico

    desenvolve junto da Coroa portuguesa.

  • 33

    Entre a vida e a morte de João de Castilho encontramos inúmeras

    considerações historiográficas que por vezes, se tornam antagónicas entre si

    e que levam a alguns histórias fantasiosas e a equívocos.

    É possível referir que Castilho, mesmo após a sua morte, nunca deixou

    de ser uma figura presente ao longo da história. O manancial literário não é

    mais que uma marca indelével do tempo, onde o nome do mestre nunca se

    perdeu no tempo histórico e amiúde deparamo-nos com o seu nome em fontes

    diversas, como as genealogias ou em obras de teor diverso, como Biblioteca

    Lusitana: histórica, crítica e cronológica de Diogo Barbosa Machado2.

    No entanto, os estudos historiográficos que se realizaram sobre João

    de Castilho não deixaram de fora o local de nascimento, a respetiva data, o

    percurso que realizou em terras espanholas antes de rumar para Portugal, tal

    como o percurso realizado no nosso país.

    Em 1847, Conde Raczynski traz a lume o Dictionnaire historico-

    artistique du Portugal. Neste trabalho, Raczynski remete os leitores para um

    conjunto de nomes que intervieram nas diversas artes em Portugal e entre as

    inúmeras entradas onomásticas encontramos duas para a figura de João de

    Castilho: uma com a denominação Jean Castilho3 e outra com a designação

    de Jerôme de Castilho (…) architecte: ils est nommé dans un ordre du roi,

    relatif à la forme du bastion de Mazagão. Apesar da leitura equivocada da

    documentação, relativo à entrada de Jerôme de Castilho, Raczynski procura

    apoiar-se no fundo documental conhecido até então para, assim, explanar a

    figura de Castilho. Contudo, as primeiras palavras da entrada referente a João

    de Castilho, salientam, taxativamente, que o mestre tem como data de

    nascimento o ano de 1490 4 – esta mesma data também é apontada por

    Albrecht Haupt5. Podemos referir que este apontamento não tem qualquer

    2 MACHADO, Diogo Barbosa, Biblioteca Lusitana: histórica, crítica e cronológica, Vol. I,

    Lisboa, Of. Gráf. de Bertrand 1930-1935. (Publicada originalmente em: Lisboa Occidental na

    Officina de António Isidoro da Fonseca, 1741-1759).

    3 RACZYNSKI, Atanazy, Dictionnaire historico-artistique du Portugal pour faire suite à

    l'ouvrage ayant pour titre Les arts en Portugal, Paris, Jules Renouard, 1847, p.43.

    4 ibidem.

    5 HAUPT, Albrecht, A arquitectura da Renascença em Portugal, Lisboa, J. Rodrigues & C.

    Livreiros-Editores, 1910. Posteriormente esta obra volta a ser reeditada com a introdução

  • 34

    base de sustentação documental, mas serviu de baliza cronológica para os

    historiadores, assim como também foi importante para o conhecimento desta

    personagem saber o seu local de origem. Para esse efeito, temos de evocar o

    Dicionário histórico e documental dos arquitectos, engenheiros e construtores

    portugueses de Sousa Viterbo6.

    Dentro do vasto catálogo onomástico granjeado por Viterbo, surge um

    leque de páginas dedicadas à figura de João de Castilho. Primeiramente há

    que referir que o trabalho desenvolvido por Viterbo possibilitou conhecer

    melhor a vida e a obra do mestre em estudo, desta forma, contraria o carácter

    especulativo que se fazia sentir até então. Entre as novidades evocadas por

    intermédio da leitura e transcrição da documentação, surge-nos uma Carta de

    Armas passada no tempo de D. Sebastião7 – 17 de Janeiro de 1561 – e da

    sua análise, Viterbo descortina qual a origem de João de Castilho, e remete o

    leitor para o Norte de Espanha (os nobiliários referiam-se que era asturiano –

    Santander), mais precisamente as montanhas da Biscaia. Acrescenta, de

    modo indireto, que o mestre de pedraria detém uma linhagem direta da família

    dos Castillo, casa assente precisamente na zona cantábrica.

    Desta forma, ficamos a saber que Castilho não era de nacionalidade

    portuguesa, mas sim, castelhana. O reforço desta e de outras ideias irão

    crítica de M. C. Mendes Atanázio. HAUPT, Albrecht, A Arquitectura do Renascimento em

    Portugal, Introd. Crítica de M. C. Mendes Atanázio, Lisboa, Editorial Presença, 1986.

    6 VITERBO, Sousa, Dicionário histórico e documental dos arquitectos, engenheiros e

    construtores portugueses, 3 vols, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988 [3 vols.

    Edição fac-similada de Lisboa, Imprensa Nacional, 1899-1920]. Para além desta obra

    monumental e fundamental para a historiografia nacional, Sousa Viterbo outros trabalhos

    importantes para a investigação histórica como: “O mosteiro de Sancta Cruz de Coimbra:

    annotações e documentos”, Instituto, vol. 37 Coimbra: Imprensa da Universidade, 1890; idem,

    Artes e artistas em portugal: contribuições para a história das artes e industrias portuguezas,

    Lisboa, Liv. Ferreira, 1892; idem, “Architectos das Praças d' Africa: Lourenço Argueiros”,

    Revista Militar, nº.20, Lisboa, 1901; idem, Notícia de alguns pintores portugueses e de outros

    que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal Lisboa, Typographia da Academia

    Real das Sciencias de Lisboa, 1903.

    7 VITERBO, Sousa, Dicionário histórico e documental dos arquitectos, engenheiros e

    construtores portugueses, 3 vols, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988

  • 35

    surgir, posteriormente, sob a pena de María Ealo de Sá 8 e Rafael Moreira9. O

    trabalho redigido por María Ealo de Sá apresenta-se como um dos raros

    trabalhos de conjunto dedicado à figura de João de Castilho. Nas primeiras

    páginas do livro, María Ealo de Sá começa por contrariar a data apontada

    para o nascimento de Castilho e afirma, de forma bastante concreta, que o

    mestre trasmiero nasceu em 147010 e era natural de Castillo Siete Villas, local

    onde residia uma forte estirpe de linhagem que dá pelo nome de Castillos de

    S. Pedro (Los Negretes) de Transmiera. Salienta que Castilho descende

    diretamente dessa mesma linhagem11, onde destaca a figura do Señor Pedro

    Fernandez Solórzano y Castillo, senhor maior da Casa dos Castillos, que

    autorizou os filhos do mestre a utilizar as suas armas de linhagem12 – nome

    retirado do documento de 1561, redigido por D. Sebastião, onde autoriza o

    uso das armas pelos descendentes de João de Castilho em território

    português. Sob este contorno, Mª. Ealo de Sá procura comprovar a linhagem

    legítima de João de Castilho, para tal cria uma genealogia e refere que João

    de Castilho era “bisnieto del constructor de la torre de S. Pedro en Castillo, y

    nieto de Juan Alonso de Castillo e hijo de Pedro Sánchez de Castillo”13. Da

    leitura podemos referir que Eola de Sá remete o leitor para certezas taxativas,

    mas não menciona fontes nem documentos que comprovem tais afirmações,

    no entanto, fica claro e notória onde recorre para afirmar tais premissas: os

    documentos publicados por Viterbo; ao dicionário onomástico escrito por

    Fermin Sojo y Lomba 14 ; e aos estudos realizados por Salvador Garcia

    8 EALO DE SÁ, María, El arquitecto Juan de Castillo-Documentos Históricos, 2 vols.,

    Santander, Merindad de Trasmiera, (1991) 1992.

    9 MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda

    Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade

    de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991.

    10 EALO DE SÁ, María, op. cit.,p. 24.

    11 EALO DE SÁ, María, op. cit.,p. 25.

    12 Remete para os escritos de Sojo y Lomba. Cf. SOJO Y LOMBA, Fermin, Los maestros

    canteros de trasmiera, Madrid, tip. Huelves y Compañía, 1935, p.49.

    13 EALO DE SÁ, María, op. cit.,p. 24.

    14 SOJO Y LOMBA, Fermin, Los maestros canteros de trasmiera, Madrid, tip. Huelves y

    Compañía, 1935, p. 47-51.

  • 36

    Pruneda publicados, em 1916, no Boletin de la Sociedade Castellana de

    Excursiones, num artigo intitulado Turismo Por Portugal15.

    Na mesma linha de atuação, encontramos as palavras de Rafael

    Moreira, embora procure apoiar-se na genealogia para comprovar os seus

    dados e conclusões. O autor observa que João de Castilho advém de uma

    linhagem da Trasmiera – segue a mesma linha de Ealo de Sá –, no entanto

    cria um rede de relações onde afirma que o pai de João de Castilho (Pedro

    Sánchez de Castillo), após a morte da sua mulher, Dona Felicia de Neiva

    (mãe de João de Castilho), se transforma em abade de Liérganes e delega o

    pequeno João à sua tia (irmã de Pedro Sánchez de Castillo) Dona Isabel de

    Castilho16 – estes elementos referidos por Rafael Moreira surgem, nos escritos

    genealógicos de Tristão Vieira de Castro17 e de Manuel Severim de Faria18.

    Em relação à formação de João de Castilho em arquitetura, Ealo de

    Sá, salienta que João de Castilho terá começado muito jovem nas obras de S.

    Pedro de Castillo19 e alude a questões estilísticas para tal efeito. Por sua vez,

    Rafael Moreira propõem outra via, refere que a condição clerical do pai de

    João de Castilho lhe proporcionou uma colocação na fábrica da catedral de

    Burgos, onde laborava o magistral mestre Simão de Colónia20. A partir deste

    ponto de formação base, visualizamos os autores a proporem vários caminhos

    para o período que medeia a formação e a entrada de Castilho no nosso

    território. Primeiramente, Sousa Viterbo, reserva-se e salienta que não existem

    dados concretos sobre os primeiros anos, da mesma forma atribui aos

    genealogistas o discurso da estada de Castilho em terras italianas, com

    ênfase para Nápoles21. Esta possível estada de João de Castilho em Itália e

    15 GARCÍA DE PRUNEDA, Salvador “Turismo, por Portugal” Boletín de la Sociedad Castellana

    de Excursiones, Valladolid, 1903-1916.

    16 MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda

    Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade

    de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991, p. 420-421.

    17 BNA, CASTRO, Tristão Vieira de, Famílias de vários autores, ms. 49 – XIII

    18 BN, Faria, Manuel Severim de Faria, Fidalguia portuguesa, cod. 1021

    19 EALO DE SÁ, María, op. cit.,p. 24.

    20 MOREIRA, Rafael, op. cit.,p. 423.

    21 VITERBO, Sousa, Dicionário histórico e documental dos arquitectos, engenheiros e

    construtores portugueses, 3 vols, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988 [3 vols.

  • 37

    noutros pontos desta península, onde terá ficado maravilhado com o fulgor da

    orgânica construtiva do Renascimento, é assinalada por João Barreira 22 ,

    assim como uma possível estada na Galiza. Ideia, também, partilhada por

    Ealo de Sá, onde sugere que terá trabalhado no Hospital dos Reis Católicos23.

    Da mesma opinião é Vieira Guimarães24, que procura criar um percurso onde

    salienta que Castilho terá passado por Burgos, Leon, Valhadolid onde Enrique

    Egas erguia a igreja de Santa Cruz e, por fim, Santiago de Compostela.

    Refere ainda que todos estes locais foram um forte contributo para a

    solidificação formativa artística de Castilho, o que lhe possibilitou ser, segundo

    o autor, o melhor “arquiteto” do seu tempo, tal como um talentoso escultor de

    primorosas decorações.

    A existência de um universo espanhol na primeira fase da vida de

    Castilho era cada vez mais real e será com Vergílio Correia25 que esta linha é

    acentuada, ao ler algumas fontes publicadas em Espanha. Transporta-nos,

    então, para ano de 1507 onde um Castilho terá trabalhado com Juan

    Edição fac-similada de Lisboa, Imprensa Nacional, 1899-1920], p.183. Sousa Viterbo na sua

    obra menciona as propostas dos genealogistas em relação à suposta passagem de Castilho

    por terras italianas, um desses escritos a que recorre Viterbo e que dá como certa a estada de

    Castilho em Itália é o manuscrito genealógico redigido por Tristão Vieira de Castro e que se

    encontra na Biblioteca Nacional da Ajuda. BNA, CASTRO, Tristão Vieira de, Famílias de

    vários autores, ms. 49 – XIII.

    22 BARREIRA, João, “O goticismo de João de Castilho”, Revista da Faculdade de Letras,

    Lisboa, Imprensa da Universidade, 1933; BARREIRA, João, “O classicismo de João Castilho”,

    Revista da Faculdade de Letras, Lisboa, Imprensa da Universidade, 1936.

    23 EALO DE SÁ, Maria, Maria, op. cit.,p. 26.

    24 GUIMARÃES, José Vieira da Silva, O poema de pedra de João de Castilho em Thomar,

    Lisboa, Oficinas Fernandes, 1934. Este autor vai criando nos seus textos pequenos

    complementos para a figura de João de Castilho como: GUIMARÃES, José Vieira da Silva, A

    ordem de Christo, Lisboa, Empreza da Historia de Portugal, 1901 (2º ed. Lisboa. Imprensa

    Nacional. 1936). Idem, 1319-1919. O sexcentenário da Ordem de Christo, Lisboa, Pap.

    Figueirinhas, 1919. Idem, A Igreja Manuelina do Convento de Thomar, Lisboa, 1928. Idem,

    Tomar. Noticia histórico-arqueologica do Monumento de Christo, e das Igrejas de Santa Maria

    dos Olivares, de Santa Iria e de S. João, Porto, Litografía Nacional, 1929. Idem, O Claustro de

    D. João III em Thomar, Gaia, Colecção Estudos Nacionais nº VII, 1931.

    25 CORREIA, Vergílio, As Obras de Santa Maria de Belém de 1514 a 1519, Lisboa, Typografia

    do Anuário Comercial, 1922.

  • 38

    Guarnizo, Pedro Millan e Pero de Trillo nas obras da Catedral sevilhana. Isto

    leva V. Correia a questionar, se Pero de Trillo vem para Portugal, por que não

    virá também João de Castilho 26 . Esta hipótese é uma das favoritas da

    historiografia nacional para atestar a formação de Castilho e é partilhada por

    Pedro Dias27 e Rafael Moreira28.

    Estes são os caminhos de Castilho, traçados pelos historiadores, antes

    de chegar ao nosso território. No entanto, o surgimento de Castilho em

    Portugal revela-se nebuloso. De modo genérico, todos aqueles que

    escreveram sobre o mestre até Eugénio da Cunha Freitas29, são unânimes em

    afirmar que a primeira obra realizada por Castilho foi na Sé de Viseu, onde

    laborou conjuntamente com o seu irmão, Diogo de Castilho, na campanha

    arquitetónica da abóbada da igreja (abóbada de nós) e na abóbada do baixo

    coro30, por volta de 1513, sob o auspício de Diogo Ortiz de Vilhegas.

    26 CORREIA, Vergílio, As Obras (…), p.16.

    27 DIAS, Pedro, “O Manuelino”, História da Arte em Portugal, vol. V, Lisboa, Publicações Alfa,

    1986. DIAS, Pedro, A arquitectura Manuelina, Porto, Livraria Civilização, 1988, pp.131-ss.

    DIAS, Pedro, Os Portais Manuelinos do Mosteiro dos Jerónimos, Coimbra, Universidade,

    Instituto de História Arte da Faculdade de Letras, 1993, p.32.

    28 MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda

    Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade

    de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991, pp. 425-428

    29 CUNHA E FREITAS, Eugénio Andrea da, “Os mestres biscaínhos na Matriz de Vila do

    Conde, João Rianho, Sancho Garcia, Rui Garcia e João de Castilho”, Anais da Academia

    Portuguesa da História, II série, vol. 11, Lisboa, 1961;Idem, “João de Castilho e a sua obra

    além Douro”, Colóquio, nº. 15, Lisboa, 1961. Idem, “Os Mestres Biscaínhos na Matriz de Vila

    do Conde”, Anais da Academia Portuguesa de História, Série II, Vol. 11,1996.

    30 VITERBO, Sousa, op. cit., p. 183: “esta sé mandou abobadar o muito magnífico Senhor D.

    Diogo Ortiz bispo desta cidade do conselho dos Reis e se acabou em a era do Senhor 1513.”

    Para além das dúvidas de Sousa Viterbo neste dado, também outros posteriormente

    questionam tal premissa, como é o caso de Vergílio Correia: CORREIA, Vergílio, As Obras de

    Santa Maria de Belém de 1514 a 1519, Lisboa, Typografia do Anuário Comercial, 1922, p.16.

    Por outro lado, vamos observar na dissertação de Rafael Moreira o relançar da presença de

    Castilho em Viseu, mas como diz o autor, as suas informações advêm de via indireta.

    MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda

    Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade

    de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991.

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    Para além da suposta intervenção arquitetónica de Castilho em Viseu, a

    cidade reveste-se de outro interesse para o estudo da vida pessoal da

    personagem em estudo. Segundo salienta Rafael Moreira, seguindo os

    genealogistas D. António de Lima e Tristão Vieira de Castro, no decurso dos

    anos 1512-1513 João de Castilho vê nascer o seu primeiro filho a que lhe dá

    também o nome de João de Castilho. No futuro, este assume cargos

    importantes na Corte31. O nascimento deste filho, segundo Rafael Moreira,

    seria um bastardo e é fruto de um relacionamento que o mestre teve com uma

    cristã nova que vendia loiça junto à Torre do Relógio32: “João de Castilho

    quando esteve em Vizeo teve conversasão com huma xpã nova que vendia

    loisa ao pee da Torre do Rellogio de que ouve João de Castilho [D. António de

    Lima]”. Contudo, e face as leituras realizadas, outras informações de carácter

    pessoal são trazidas a lume e referem que João de Castilho teria tido um outro

    filho, também bastardo, de seu nome Diogo de Castilho. A par destas

    bastardias, João de Castilho irá contrair matrimónio, segundo os

    genealogistas, em Freixo-de-Espada-à-Cinta, com Maria Fernandes, filha de

    Garcia Fernandes de Quintanilha33. Deste enlace pouco ao nada se sabe,

    todavia Eola de Sá, partindo do documento de 1561, menciona que Castilho

    teve cinco filhos de nome António de Castilho, Pedro de Castilho, Diogo de

    Castilho (Rafael Moreira refere-se a este como o segundo bastardo), Manuel

    de Castilho e João de Castilho. Porém, Vieira de Guimarães no seu livro, A

    Ordem de Christo, relata um outro dado interessante, refere que o mestre foi

    casado, efetivamente, com Maria Fernandes Quintanilha, e d’ ella teve D.

    31 Filho mais velho do mestre foi escrivão da Câmara de D. João III. Já durante o reinado de

    D. Sebastião, João de Castilho (filho) passa a desempenhar o cargo de Escrivão da Fazenda

    e através da compra da alcaidaria de Alenquer que efetua ao conde da Sortelha, Castilho

    (filho) torna-se alcaide-mor da respetiva localidade. A par destas questões, temos ainda de

    salientar a sua posição de Conselheiro da casa do cardeal D. Henrique