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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL ONANDA LEORATTO O PAPEL DO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS NA VALORIZAÇÃO DOS CONCEITOS COMUNICACIONAIS DO MERCADO DE MODA Caxias do Sul 2015

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ONANDA LEORATTO

O PAPEL DO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS NA VALORIZAÇÃO DOS CONCEITOS COMUNICACIONAIS DO MERCADO DE MODA

Caxias do Sul 2015

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS

ONANDA LEORATTO

O PAPEL DO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS NA VALORIZAÇÃO DOS CONCEITOS COMUNICACIONAIS DO MERCADO DE MODA

Monografia do Curso de Comunicação Social habilitação em Relações Públicas da Universidade de Caxias do Sul, apresentada como requisito para a obtenção do título de Bacharel. Orientadora: Prof.ª Dra. Jane Rech

Caxias do Sul 2015

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ONANDA LEORATTO

O PAPEL DO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS NA VALORIZAÇÃO DOS CONCEITOS COMUNICACIONAIS DO MERCADO DE MODA

Monografia do Curso de Comunicação Social habilitação em Relações Públicas da Universidade de Caxias do Sul, apresentada como requisito para a obtenção do título de Bacharel. Orientadora: Prof.ª Dra. Jane Rech

Aprovada em__/__/__.

Banca Examinadora ________________________________ Prof. Dra. Jane Rech Universidade de Caxias do Sul – UCS

________________________________ Prof. Me. Jussania de Fátima Albé Universidade de Caxias do Sul – UCS

________________________________ Prof. Me. Silvana Padilha Flores Universidade de Caxias do Sul - UCS

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por me conceder a oportunidade de concretizar mais

um sonho.

Aos meus pais Olivino e Irene, que, com muita dedicação e empenho em

oportunizar uma educação de qualidade, não mediram esforços para que eu

chegasse até aqui.

A meu irmão Odenir, pela parceria fortalecida a cada dia.

Ao meu amor Edemar, pela motivação e companheirismo, imprescindíveis

para esta conquista.

As minhas amigas e colegas, que vivenciaram comigo esta caminhada, pela

parceria e apoio incondicional.

À professora Jane Rech, que me auxiliou no desenvolvimento do presente

estudo, sempre com muita dedicação e carinho.

Ao professor Zildomar Oliveira de Souza, pela ajuda fundamental na

elaboração do projeto de pesquisa.

Aos professores da Universidade de Caxias do Sul, que diretamente ou

indiretamente contribuíram no meu desenvolvimento como profissional.

À empresa FARM, por ter possibilitado a elaboração do caso que fez parte

deste estudo.

À UCS, pelo serviço prestado e sua relevante contribuição na formação de

profissionais.

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É exatamente disso que a vida é feita: de momentos! Momentos os quais temos que passar, sendo bons ou não, para o nosso próprio aprendizado, por algum motivo. Nunca esquecendo do mais importante: nada na vida é por acaso. Chico Xavier

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RESUMO

A moda, na sociedade atual, é um forte fenômeno social. Através do vestir, o

indivíduo expressa sua identidade, seus valores e suas crenças à sociedade. Assim,

a escolha de uma roupa, um item da moda, além de suas qualidades funcionais, é o

meio pelo qual a pessoa pretende comunicar uma mensagem às outras. Para tanto,

é necessário que as organizações do setor de vestuário, através da pesquisa de

tendências de moda, criem produtos que representem o estilo do público-alvo.

Durante todo o processo de elaboração e divulgação de uma coleção, é

imprescindível uma comunicação clara, objetiva e eficaz. Neste sentido, a atividade

de relações públicas torna-se essencial, pois além de gerar e sustentar o fluxo de

informações na organização e manter relacionamentos de compreensão mútua entre

a empresa e os públicos com a qual interage, o profissional utiliza estratégias e

instrumentos adequados para agregar valor aos conceitos das coleções. Este

profissional identifica estrategicamente o canal mais apropriado, a linguagem

adequada, resultando em uma comunicação eficiente para com os públicos da

organização onde atua. Desta forma, a questão que norteia esse trabalho consiste

em: “Qual o papel do profissional de Relações Públicas na valorização dos conceitos

comunicacionais do mercado de moda?”. Na busca por responder à questão,

propusemos três hipóteses, que foram confirmadas parcialmente por meio de

indícios da bibliografia pesquisada ao longo deste estudo. São elas: no mercado da

moda, o trabalho do profissional de relações públicas assume papel fundamental

para agregar valor aos conceitos das coleções junto ao público-alvo; o profissional

de RP cria e mantem relações entre os públicos e as coleções, agregando valor à

marca; o profissional de relações públicas pode atuar gerando e sustentando o fluxo

de comunicação que favorece o processo de criação e desenvolvimento de uma

coleção e o entendimento do seu conceito por parte do público interno. Este estudo,

por meio de pesquisas bibliográficas e da apresentação de um caso, tem por

objetivo estudar o papel do profissional de relações públicas na valorização dos

conceitos comunicacionais do mercado de moda, quando da criação e lançamento

de uma coleção do vestuário.

Palavras-Chave: Moda, Conceitos Comunicacionais, Comunicação Organizacional

e Relações Públicas.

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ABSTRACT

The fashion, in the current society, is a strong social phenomenon. Through the

wear, the individual expresses its identity, its values and its beliefs on society. So, the

clothing choice, a fashion item, beyond its functional qualities, is the way which the

person intends to communicate to the other. Therefore, is necessary that the clothing

sector organizations through fashion trends research create products that represent

the style of public target. Throughout the development process and collection

disclosure, is necessary a clear communication, objective and effective. In this

sense, the public relations activity becomes essential as well as generate and sustain

the information flow across the organization and maintain mutual understanding of

relationships between the company and the public with which it interacts, the

professional uses appropriate strategies and instruments for add value to the

collections concept. This professional strategically identifies the appropriate channel,

the appropriate language, resulting in an effective communication to the public of

organization in which it operates. So, the question which guides this work is: "Which

is the role of public relations professional in the valuation of communication concepts

of the fashion market?". Looking for to answer the question, we proposed three

hypotheses, which were partial confirmed by evidences of bibliography research

throughout this study. Are these: in the fashion market, the work of public relations

professionals assume a key role in adding value to the collection’s concepts with the

target audience; the PR professional creates and maintains relations between public

and collections, adding value to the brand; the public relations professional can act

generating and sustaining the communication flow favoring the creation process,

collection development and understanding its concept by the internal public. This

study, through literature searches and case presentation, aims to study of the public

relations professional role in the valuation of communication concepts of the fashion

market, when a clothing collection is created and launched.

Keywords: Fashion, Communication Concepts, Organizational Communication and

Public Relations.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Esquema dos elementos da comunicação ......................................... 48

FIGURA 2 - Esquema das funções de linguagem .................................................. 49

FIGURA 3 - Diagrama de comunicação organizacional integrada ......................... 54

FIGURA 4 - Logotipo da FARM .............................................................................. 72

FIGURA 5 - Flagship em Ipanema ......................................................................... 74

FIGURA 6 - Ambiente externo da pop up store FARM de Trancoso-BA ................ 75

FIGURA 7 - Ambiente interno da pop up store FARM de Trancoso-BA ................. 76

FIGURA 8 - Itens da Linha Quero. ......................................................................... 77

FIGURA 9 - Estilo de vida carioca .......................................................................... 78

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11 2 A MODA .............................................................................................................. 16

2.1 UMA BREVE HISTÓRIA DA MODA ................................................................ 17

2.2 O QUE É MODA .............................................................................................. 21

2.3 PESQUISA DE TENDÊNCIAS DE MODA: INSPIRAÇÕES PARA A CRIAÇÃO 23

2.4 O NOVO PELO DESIGN DE MODA ............................................................... 27

2.5 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS PARA COLEÇÃO ............................ 29

2.6 MERCADO DE MODA: CONSUMO E MARCAS ............................................. 30

2.7 OS PÚBLICOS CONSUMIDORES DE MODA ................................................ 36

2.8 CONCEITOS COMUNICACIONAIS DO MERCADO DE MODA ...................... 38

3 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS ................... 46

3.1 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO ............................................................... 47

3.2 AS RELAÇÕES PÚBLICAS NA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ......... 51

3.3 RELACIONAMENTOS ESTRATÉGICOS COM OS PÚBLICOS ...................... 57

3.4 INSTRUMENTOS DE RELAÇÕES PÚBLICAS ................................................ 61

3.5 ESTRATÉGIA: BASE DA ATIVIDADE DE RELAÇÕES PÚBLICAS ............... 64

4 O PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS NO MERCADO DE MODA .... 67 5. O CASO FARM .................................................................................................. 71

5.1 FARM: O ESTILO DE VIDA CARIOCA ........................................................... 72

5.1.1 Público-alvo .................................................................................................. 79

5.2 A COMUNICAÇÃO NA FARM ......................................................................... 80

5.2.1 Estratégias de comunicação externa da FARM ............................................ 82

5.2.2 Estratégias de comunicação interna da FARM ............................................. 87

5.3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES EM RELAÇÃO À COMUNICAÇÃO DA FARM

PELA PERSPECTIVA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS ............................................. 89

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 91

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 97 APÊNDICE A – Projeto de trabalho de conclusão de curso ................................. 107

ANEXO A – Declaração de responsabilidade do uso das informações obtidas sobre

a FARM ................................................................................................................. 108

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1 INTRODUÇÃO

Há muito tempo a moda deixou de ser apenas um sinônimo de glamour para

tornar-se um forte fenômeno social e de grande relevância, em especial econômica,

para todos os setores que compõem a cadeia têxtil. Moda é muito mais do que uma

peça de roupa, é um conjunto de informações que variam com o tempo na

sociedade.

A necessidade de se diferenciar do outro faz da roupa uma fonte potente de

comunicação e de informação de sua identidade. Sendo a moda uma forma de

expressão de um indivíduo numa sociedade em constante transformação, a

pesquisa de tendências de moda é elemento fundamental, onde a partir dela todo o

processo da moda se desencadeia.

Conforme Castilho e Martins (2005, p. 35),

Uma das principais características da comunicação humana é a de dotar nosso corpo de significação e, consequentemente, de linguagens que são potencializadas por meio de interferências, assim como pela sobreposição de materiais, que permitem a construção de novas formas e volumes que alteram seu significado, ressemantizando-o ou, em outras palavras, dando novos valores a ele.

Conforme observações dos autores, podemos dizer que mais do que texturas,

cores e tecidos, a moda é uma linguagem que pode traduzir valores profundos e

escolhas de vida. A moda compreende informações de variadas áreas como

economia, sociologia, ciência, política e tecnologia, compactadas na forma de

tendências.

Com a necessidade de incorporar informação e significação às peças de

roupa, a comunicação é elemento fundamental no desenvolvimento da moda.

A comunicação relaciona-se com a própria natureza humana. Todo ser

humano se comunica através de muitos tipos de sinais, seja através da escrita, da

fala, de gestos e até mesmo pela roupa que veste. Por meio da comunicação

construímos informações e enviamos mensagens. Para Poyares (1974), na

comunicação humana, em seus dois polos extremos – emissor e receptor – se

encontram pessoas humanas, seres dotados de interioridade, de criatividade,

iluminadas pela sua espiritualidade.

Da mesma forma, a moda pode ser uma forma significativa onde as relações

sociais entre os indivíduos podem ser construídas, experimentadas e

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compreendidas. A escolha de uma roupa, um item da moda, além de suas

características funcionais, é o meio pelo qual uma pessoa pretende comunicar suas

mensagens a outra. Segundo Barnard (2003, p. 41), “Se é a sina da comunicação

humana ter de usar uma coisa (uma palavra, um sinal, um quadro, ou um som, por

exemplo) pela outra, então vestir algo como sendo outra coisa parece ser uma

definição de comunicação”. Sendo assim, a moda é uma forma de comunicação não

verbal, visto que não usa palavras escritas ou faladas.

Como linguagem, a moda é o resultado de uma convenção onde todos se

submetem com a finalidade de comunicar. De acordo com Castilho e Martins (2005,

p. 40), “[...] um pressuposto fundamental para que a comunicação aconteça é que o

código utilizado não seja ignorado entre os sujeitos da relação comunicacional

interativa”. Para haver a transmissão de mensagens, os códigos precisam ser

compartilhados e ter uma significação comum entre o emissor e o receptor. “[...] a

mensagem é um complexo objetivo dos significantes, enquanto elaborada com base

em um ou mais códigos para transmitir certos significados, e enquanto interpretada e

interpretável com base nos mesmos códigos ou em outros”. (ECO, 1990, p. 371).

Partindo desse princípio, pode-se afirmar que é através de certos códigos que uma

mensagem é codificada e, com base nos mesmos ou em outros, pode ser

decodificada.

A indústria da moda é um negócio que faz bilhões de reais no Brasil. Segundo

o site do IBOPE1 – conforme as estimativas (dados de 2014), o consumo total de

vestuário no Brasil deve encerrar o ano com um volume de R$ 138 bilhões. Por esta

razão é necessário investir parte de seus lucros numa espécie de “seguro contra o

insucesso”: a pesquisa de tendências de moda. É através deste tipo de pesquisa

que se estabelecem as diretrizes para uma nova coleção, definindo os quatro pilares

que determinaram a moda para todo mundo: silhueta, tecido, cores e textura. Estar

em sintonia com as tendências da moda reduz a margem de erro de uma coleção.

Caldas (2006, p. 108), em relação à pesquisa, afirma que:

É por meio dessa “imersão” que se pode, com o devido treino e a metodologia adequada, farejar o “espírito do tempo”, isto é, as tendências e as sensibilidades emergentes que vão configurar novos comportamentos e influenciar toda a roda da sociedade, da cultura e do consumo.

1 http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Brasileiro-deve-gastar-Rs-810-com-vestuario-em-

2014.aspx

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Com os temas e inspirações definidos, na fase da criação, é importante

elaborar peças de acordo com o público-alvo que vai representar o estilo da coleção.

Hoje os consumidores são classificados por seu estilo de vida, seu modo de pensar,

suas vivências sociais e culturais. “A busca de identidade para os produtos, além do

foco no mercado, é imprescindível para que as empresas possam ter um

posicionamento comercial mais respeitado nesse cenário de moda, a partir de

criações que façam a diferença”. (RELA et al, 2010, p. 92). Ainda na criação,

verifica-se quais os tecidos combinam melhor com as ideias e, após, inicia-se o

processo de confecção da peça. Conforme Feghali e Dwyer (2001, p. 23), “Uma

coleção de roupas, em geral, não tem menos de oitenta peças. Um grande criador

poder chegar a ter até trezentas unidades.” Sendo assim, é essencial um trabalho de

comunicação sincronizado, que abranja desde a pesquisa de tendências até o

lançamento da coleção.

Neste contexto, ganha cada vez mais relevância, o profissional de relações

públicas, definido como administrador dos relacionamentos, com vistas a

estabelecer e manter uma compreensão mútua entre a organização e seus públicos,

sendo este muito mais que apenas um profissional gerenciador de crises

comunicacionais. Para Kunsch (2003, p. 89), “as relações públicas, como disciplina

acadêmica e atividade profissional, têm como objeto as organizações e seus

públicos, instâncias distintas que, no entanto, se relacionam dialeticamente.” O

profissional de relações públicas tem a tarefa de entender as necessidades dos

públicos da organização e escolher os instrumentos apropriados para cada um. É

este profissional que identifica estrategicamente o canal mais adequado, a

linguagem correta, resultando em uma comunicação dirigida eficiente para com os

públicos da organização onde atua.

As oportunidades para profissionais de diversas áreas crescem cada dia mais

no universo da moda, num processo diversificado e contínuo, inclusive para o

profissional de Relações Públicas, gestor da comunicação.

O presente estudo surgiu da vontade de conhecer mais sobre o papel do

profissional de relações públicas na valorização dos conceitos comunicacionais do

mercado de moda, bem como a relação com os diferentes públicos envolvidos com

ele.

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Esse trabalho busca responder à seguinte questão: qual o papel do

profissional de relações públicas na valorização dos conceitos comunicacionais do

mercado de moda? Para tanto foram desenvolvidas três hipóteses:

H1 – No mercado da moda, o trabalho do profissional de relações públicas assume

papel fundamental para agregar valor aos conceitos das coleções junto ao público-

alvo;

H2 – O profissional de RP cria e mantem relações entre os públicos e as coleções,

agregando valor à marca.

H3 – O profissional de relações públicas pode atuar gerando e sustentando o fluxo

de comunicação que favorece o processo de criação e desenvolvimento de uma

coleção e o entendimento do seu conceito por parte do público interno.

O presente trabalho tem como objetivo geral: estudar o papel do profissional

de relações públicas na valorização dos conceitos comunicacionais do mercado de

moda, quando do lançamento de uma coleção. Para alcançar esse objetivo,

propõem-se três objetivos específicos: estudar o conceito e a história da moda;

estudar os conceitos de mercado e consumo de moda; explanar sobre os conceitos

comunicacionais do mercado de moda; conceituar Relações Públicas, públicos e

comunicação organizacional.

Portanto, a metodologia aplicada para a realização deste estudo foi a

pesquisa bibliográfica, com o método hipotético-dedutivo, fazendo uso de consultas

a fontes relacionadas ao tema e, por fim, a apresentação de um case de uma

empresa do setor de vestuário de moda.

Para responder à questão norteadora desta pesquisa, buscou-se, no segundo

capítulo, abordar uma breve história da moda e as suas definições. Apresenta

também a pesquisa de tendências de moda e a criação, o design de moda, e o

desenvolvimento de peças para uma coleção de roupas. Além do mais, aborda o

consumo de marcas, públicos consumidores, e os conceitos comunicacionais do

mercado de moda.

O terceiro capítulo, por sua vez, apresenta o embasamento teórico de

comunicação organizacional e relações públicas, bem como os processos de

comunicação, o relacionamento com os públicos, e instrumentos e estratégias de

relações públicas.

O quarto capítulo refere-se ao tema que justifica este estudo: a atuação do

profissional de relações públicas no mercado de moda. Este capítulo esclarece

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sobre as contribuições que o profissional de relações públicas tem a oferecer no

setor de vestuário de moda.

O quinto capítulo apresenta o caso de uma empresa do vestuário de moda. A

apresentação desse caso visa ilustrar, na prática, que as atividades desenvolvidas

pelo setor de comunicação da empresa FARM podem ser pertinentes ao profissional

de relações públicas, gestor da comunicação.

O último capítulo contém as considerações finais, apresentando a resposta da

questão norteadora, bem como a confirmação ou não das hipóteses desenvolvidas.

Com este estudo, espera-se contribuir para o reconhecimento das relações

públicas no mercado de moda e destacar a importância deste profissional no

ambiente organizacional. Pretende-se, também, esclarecer que, por meio de

estratégias planejadas, as relações públicas conseguem criar e sustentar

relacionamentos duradouros entre os públicos e as coleções, agregando valor aos

produtos e, consequentemente, à marca.

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2 A MODA

“Moda é o conjunto atualizável dos modos de visibilidade que os seres

humanos assumem em seu vestir com o intuito de gerenciar a aparência, mantendo-

a ou alterando-a por meio de seus próprios corpos, dos adornos adicionados a eles

e da atitude que integra ambos pela gestualidade, de forma a produzir sentido e

assim interagir com o outro.”

(MIRANDA E GARCIA, 2007, p. 22)

A escolha de uma roupa, embora seja uma ação individual de cada pessoa,

está sujeita a influências, seja dos meios de comunicação, da convivência com

certos grupos ou da própria sociedade. Para De Carli (2009, p. 72 apud Ferreira,

2012, p. 251),

[...] a moda é definida como uso, hábito, ou estilo geralmente aceito, variável no tempo e resultante de determinado gosto, ideia, capricho, ou influência no meio. Esse uso, hábito ou estilo passageiro, que regula a aparência, tem um consenso coletivo sem impedir, no entanto,

combinatórias ou gostos pessoais.

Moda e comunicação estão diretamente relacionadas. Cada indivíduo, ao

usar determinada roupa, transmite certa mensagem aos outros. Através das roupas,

demonstra-se o que se pensa, os valores pessoais e o estilo de vida. Conforme

Parode, Remus e Visoná (2010, p. 70), “[...] através daquilo que usamos ou

vestimos, se situa em determinado momento como uma busca por diferenciação,

ainda que acabe sendo uma busca por inclusão em algum padrão existente.” Se

uma roupa pode ser utilizada para comunicar, é porque ela pode representar algo.

Com isto, muito mais que peças do vestuário, as roupas são signos.

A aquisição de produtos ditos da moda traduz as necessidades e desejos de

uma sociedade de consumo, na qual estes são relacionados à possiblidade de

adquirir e/ou demonstrar maior alegria, felicidade, bem estar e status. Ainda neste

sentido, Lipovetsky (1989, p. 174) afirma que:

[...] consumismo, através dos objetos e das marcas, dinamismo, elegância, poder, renovação de hábitos, virilidade, feminilidade, idade, refinamento, segurança, naturalidade, umas tantas imagens que influem em nossas escolhas e que seria simplista reduzir só aos fenômenos de vinculação social quando precisamente os gostos não cessam de individualizar-se.

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Este capítulo propõe uma reflexão sobre o universo da moda, no âmbito do

vestuário, seu surgimento e sua essência. Além disso, aborda o seu mercado, seus

públicos consumidores e seus conceitos comunicacionais, bem como o processo de

pesquisa de tendências, criação, design e desenvolvimento de moda.

2.1 UMA BREVE HISTÓRIA DA MODA A história da moda está incorporada na própria evolução da humanidade.

Feghali e Dwyer (2001, p. 37) afirmam que “pelos estudos feitos na área do

vestuário, a indústria têxtil pode ter tido início durante a pré-história, mais

precisamente no período Neolítico (10.000 a 5.000 a.C.).” As primeiras roupas

consistiam em peles dos animais. Porém, certos povos não cobriam seus corpos,

apenas os adornavam para serem diferenciadores de posições sociais, usando

enfeites como dentes e garras de animais ferozes. As peles dos animais

sobrepostas ao corpo dificultavam os movimentos, sendo necessárias adaptações

para permiti-los. Assim, surgiram as cavas e os decotes nas roupas. Desta forma,

Feghali e Dwyer (2001, p. 38) explicam que “[...] foi a partir das necessidades físicas

humanas que as diferentes formas do vestuário evoluíram.” Além das formas, os

materiais também evoluíram com o tempo.

No Egito Antigo, os indivíduos usavam artigos feitos com a utilização do linho.

De forma mais retangulares, as peças eram enroladas sobre o corpo, fixadas com

espinhos. Os espinhos podem ter sido a origem dos alfinetes. No Novo Império do

Egito, os sacerdotes e sacerdotisas usavam em suas vestimentas representações

de animais, por serem considerados seres divinos. Diferentemente, os sumérios e

arcadianos, da Mesopotânea, selecionaram a lã como material para elaborar suas

vestimentas. Conforme Feghali e Dwyer (2001), os sumérios e arcadianos, a partir

da utilização da lã, desenvolveram tanto sua indústria têxtil que possuíam até

estamparias feitas com ouro em pó fixado ao tecido com goma de acácia. As roupas

divididas, como calças e jaquetas tiveram sua origem no povo persa.

Os gregos (6000 a.C.) davam maior importância as suas vestimentas pelos

valores estéticos que produziam. A peça mais caraterística é o “quitão”, uma longa

túnica pregueada, presa aos dois braços. Segundo Feghali e Dwyer (2001, p. 40), “o

quitão, de modo geral, recebia decorações nas barras – tiras de formas geométricas

eram bordadas ou costuradas no tecido.” As peças elaboradas pelos gregos

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possuíam muita riqueza de detalhes. Já a civilização romana foi responsável por

elaborar vários tipos de túnicas. A peça principal era a toga, grandes retângulos de

lã enroladas ao corpo de acordo com a ocasião e a classe social. Quanto mais

volumosa e drapeada, maior a condição social do indivíduo. (FEGHALI; DWYER,

2001).

No final da Idade Média surge o estilo gótico, que visava à valorização do

corpo, de forma ajustada e alinhada. É com este estilo que se inicia a diferenciação

entre as vestimentas masculinas e femininas. Mas foi nos séculos XV e XVI que

nasceu a moda, no período do Renascimento. Nesta fase, além de usufruir de

qualidade superior dos materiais utilizados na vestimenta, as roupas continham

aplicações, bordados e peles, que refletiam o poder econômico da pessoa. O padrão

de beleza renascentista era o de mulheres gordas e com a cintura marcada logo

abaixo do busto. A corte usava o “rufo”, espécie de gola redonda que se

assemelhava a uma roda. Quanto maior o “rufo”, maior o prestígio.

A partir do século XVII, a França se destaca como grande produtora de

moda, publicando as informações deste segmento. Segundo Feghali e Dwyer (2001,

p. 45), “nesse período, 20% da produção francesa era de materiais para o vestuário.

A elite usava roupas muito elaboradas e cheias de camadas, enquanto as classes

mais populares se vestiam copiando, de forma grosseira, as roupas dos nobres.” O

estilo Barroco teve seu apogeu entre os séculos XVII e XVIII, baseado nas artes

plásticas, contrastava entre o claro e o escuro. Os tecidos eram luxuosos e os

prediletos eram a seda e os brocados grossos. Esse estilo exagerado pedia cabelos

longos para os homens, fazendo com que muitos usassem perucas. O luxo e o

exagero do Barroco se torna ainda mais evidente com o surgimento do Rococó.

Feghali e Dwyer (2001) explicam que esse período apresentou a realidade de

maneira fantasiosa, lúdica. O vestuário feminino sofreu grandes mudanças,

enquanto o vestuário masculino modificou alguns detalhes. Segundo as autoras,

esse período foi marcado por três estilos: Regência, Luís XV e Luís XVI. O estilo da

Regência apresentou peças mais confortáveis e leves, se comparadas aos outros

períodos. O de Luís XV, com mudanças nos penteados. O estilo de Luís XVI, a

roupa perde o volume e decoração.

A partir da Revolução Francesa e da Revolução Industrial o sistema de

produção e a organização social foram alterados. Segundo Faccioni (2012, p. 79),

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O estilo da corte francesa, interpretado por Maria Antonieta, ainda ditava as regras da moda para a burguesia ascendente. Aos poucos, as silhuetas elaboradas os brocados luxuosos, as anquinhas volumosas e as perucas foram cedendo lugar aos estilos pastoris e tecidos lisos, sem enfeites, em cores patrióticas, para homens e mulheres.

O uso de terno e gravata e cores discretas passaram a caracterizar a

vestimenta dos homens somente a partir de 1850. Os homens, que trabalhavam,

precisavam de roupas confortáveis. Já as mulheres, que não trabalhavam, exibiam

através dos adornos, o poder econômico do marido. No século XX, as roupas se

adaptaram ao ritmo acelerado das cidades. Muitas mulheres ingressaram no

mercado de trabalho, e a moda começou a apresentar cortes mais masculinos e

confortáveis. Conforme Feghali e Dwyer (2001, p. 49), “a silhueta ‘S’, moldada pelos

espartilhos, começou a sofrer uma leve modificação. A postura não era mais tão

empinada para frente e as roupas, agora, visavam ao estreitamento do quadril.” No

final da década de 1920, após a Primeira Guerra – período em que os detalhes

maiores das roupas se limitavam a bolsos, debruns e barras –, a moda consistia em

mudar os conceitos estabelecidos antes da Guerra, onde todas as curvas do corpo

foram menosprezadas. Contudo, logo as mulheres voltaram a usar saias compridas

com cintura ajustada.

Na década de 1930, a moda apresenta cintura mais baixa, vestidos mais

curtos combinados a cabelos curtos para as mulheres. Conforme Faccioni (2012, p.

79), neste período “a roupa esportiva se consolida com modelos mais práticos e

novos estilos de corte reto.” Na década de 1940, as calças femininas apresentam

grande influência militar. E o uso do cinto completa o visual. Despois de um período

dificuldade causada pela Segunda Guerra Mundial, a moda retoma a feminilidade.

Já na década de 1950, Feghali e Dwyer (2001) afirmam que através de cortes

inteligentes, os quadris foram transformados em foco erótico. Também houve uma

revolução no uso da meia-calça de nylon. Neste período, ainda, a alta costura

começou a perder espaço, devido à grande consolidação do prêt-à-porter – pronto

para usar, bem como, a aceitação definitiva do jeans na moda. Na década de 1960,

é a juventude quem dita a moda. Para Faccioni (2012, p. 82), “a minissaia, criada

por Mary Quant, o biquíni e o topless dão as bases para uma nova moda

revolucionária.” As roupas são confeccionadas pensando na forma do corpo, mais

justas e geométricas. Os anos 70 foram marcados pelo movimento hippie, com o

uso de cabelos longos, longos vestidos e estampas florais. Também há um resgate

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nas práticas artesanais e elementos visuais de outras etnias. Segundo Faccioni

(2012), neste período a marca do produto passou a ter mais importância e o sistema

de franquias de roupas cresceu em velocidade acelerada. O final da década de 1970

é caracterizado pelo estilo cintilante, desfilados pelos jovens nas discotecas. Na

década de 80, a moda é consolidada pelo caráter urbano da cultura jovem,

influenciada pelos punks. Na metade dos anos de 1980, conforme Feghali e Dwyer

(2001, p. 54 ), “[...] há uma maior preocupação com a qualidade dos tecidos, do

corte e do acabamento. As revistas com editoriais de moda brasileiros começam a

aparecer orientando os leitores a ter bom senso na hora de se vestir.” Ainda, entra

no mercado o “stretch”, tecido com elasticidade que proporcionou os estilistas a

elaborarem peças mais confortáveis. Na década de 1990, o fascínio dos

consumidores pelas marcas continuou crescendo. O avanço tecnológico possibilitou

novos efeitos nos tecidos, produzidos a partir de experimentos em laboratórios.

Assim, foram criados tecidos que são idênticos às peles de animais, textura de seda

sem precisar do fio do bicho-da-seda, entre muitos outros. Também nos anos 90,

Faccioni (2012, p. 85) comenta que “o comércio globalizado toma forma e

velocidade com a caída de barreiras de importação. A produção de confecções,

têxteis, calçados e bens de consumo em geral, toma a direção da China.” O

aumento de estilos e a produção em grande escala são componentes deste período.

No século XXI, através da internet, a moda se tornou global. Com o comportamento

cada vez mais individualista, as compras pela internet ganham adeptos em forte

escala. As técnicas artesanais e produtos em estilo vintage ganham mais

valorização, assim como a preocupação com o meio ambiente e sustentabilidade.

Num futuro próximo, Faccioni (2012, p. 87) afirma que:

A entrada no mercado de consumo da geração internet modificará completamente a relação entre fabricante, distribuidor e consumidor. A moda terá ciclos cada vez menores, e a tecnologia proporcionará que cada consumidor desenvolva uma moda específica para seu gosto. [...] A internet terá dimensões estratosféricas. A moda não terá limites e tudo o que você imaginou será pouco para avaliar as enormes mudanças que se aproximam.

Pelo histórico aqui apresentado, podemos considerar que o uso de roupas

pelas pessoas está intimamente ligado aos motivos de proteção, pudor e adorno. As

roupas protegem o indivíduo das agressões da natureza, das superfícies perigosas,

do frio. Também, à medida que certos valores religiosos ganharam espaço na

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sociedade, o ser humano dotou-se do uso de roupas ao sentir-se constrangido em

andar nu diante de seus semelhantes. E, como adorno, o uso de roupas é um meio

pelo qual a pessoa produz significação. A seguir, será abordada a moda na

contemporaneidade.

2.2 O QUE É MODA

A moda afeta a atitude da maioria da sociedade, pois mesmo os que dizem

não se importar com ela, de certa forma, estão submetidos às suas variações.

Segundo Braga (2006, p. 22),

[...] a moda é o reflexo de uma época, da cultura de um povo, uma denunciadora de períodos e locais, verdadeiramente, uma sinalizadora dos tempos. Por ela, podemos contextualizar estudos históricos, observar hábitos e costumes, distinguir o gosto, entender o processo criativo, estudar a economia, verificar o desenvolvimento tecnológico e, mais do que tudo isso, compreender também, mediante seu estudo e observação e de seu significado cultural, a mente humana.

O termo “moda” vem do latim modus e significa modo, maneira,

comportamento. Quando se fala em moda, imediatamente nos vêm à mente as

questões de vestir, porém moda não significa somente isto. Para Braga (2006, p.

15), “O ‘falar de moda’ é muito mais abrangente, visto que pode estar associado à

arquitetura, à decoração, a uma atitude de vida, a um hábito, a lugares, etc.” Enfim,

moda pode ser tudo o que pode mudar com o tempo e que é ditado por uma

tendência em determinado momento.

Segundo Castilho e Martins (2005), na história da humanidade, nem sempre

houve o conceito de moda. O termo moda surgiu no final da Idade Média, início da

Idade Moderna, com algumas características específicas: ser um diferenciador

social, um diferenciador de sexo (homens e mulheres vestiam-se igualmente), busca

da individualidade, e como período de duração das ideias vigentes. É desta mesma

época que o termo surgiu com a significação de maneira coletiva de se vestir, ou

seja, estar na moda. O estar na moda é a busca constante por formas e meios

diferentes de se expressar, criando e mostrando certos vínculos sociais.

Conforme Barnard (2003), a moda é uma das mais significativas formas pelas

quais são construídas, experimentadas e compreendidas as relações sociais entre

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os indivíduos. As roupas possuem inúmeros códigos, que decodificadas transmitem

informações a respeito de nossas crenças, ideologias e valores. Uma frase aplicada

em uma camiseta pode denunciar nossa opinião em relação a algo; o uso de cores

escuras pode denunciar nossos sentimentos; roupas transparentes podem denotar a

sensualidade de uma mulher; um terno de grife revela a condição social.

Ainda, a moda pode ser um verdadeiro simulacro, podendo dizer a verdade

ou enganar. Para Braga (2006, p. 17), “A moda é muito dissimulada; chega a ser

mágica ao denunciar uma condição social, seja escondendo o que não se quer

mostrar ou mostrando o que se quer esconder.” Neste sentido, podemos perceber

que a moda serve, por exemplo, a um menos favorecido economicamente aparentar

um padrão de vida mais elevado, e um afortunado esconder sua condição financeira.

A moda também é um dos grandes negócios da sociedade atual. Segundo

Feghali e Dwyer (2001), o setor da moda contempla mercados de diversas áreas:

- editorial: busca de alternativas para atingir o seu público-alvo;

- metalúrgico: produz os maquinários têxteis, de costura, de aviamentos, etc.;

- arte: desenhistas que utilizam papéis e lápis específicos para desenho, etc.

Segundo a consultoria do setor têxtil Iemi (Instituto de Estudos e Marketing

Industrial)2, até novembro de 2014 o setor acumulou 709.970 empregos formais no

Brasil. Conforme Boriello (2014), o setor têxtil e de confecção em 2013 produziu US$

58,2 bilhões, que correspondem a 5,7% do valor total da produção industrial

brasileira de transformação. À medida que o país enriquece e as pessoas passam a

ter uma renda maior, a moda tende a ser um dos setores mais beneficiados, devido

a constante busca do estar na moda. Com mais dinheiro no bolso, mais disposição

para gastar.

A indústria da moda é o lugar das grandes novidades, onde os produtos

precisam ser renovados a cada estação para movimentar todo o mercado e, além

disso, satisfazer o gosto individual das pessoas numa sociedade em constante

transformação. Por isso, faz-se necessária a pesquisa de tendências de moda, que

apresentará informações atuais do mundo da moda, as quais servirão de inspirações

para a criação de novas peças de vestuário.

2 http://www.iemi.com.br/setor-de-vestuario-acumulou-709-970-postos-de-trabalho-ate-setembro/

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2.3 PESQUISA DE TENDÊNCIAS DE MODA: INSPIRAÇÕES PARA A CRIAÇÃO

Com o mercado em contínua mudança, a roupa necessita de constante

renovação. E são justamente as tendências lançadas a cada estação que permitem

a sobrevivência da moda. Conforme Caldas (2006), o termo tendência deriva do

latim tendentia, particípio presente e nome plural substantivado do verbo tendere, e

significa tender para, inclinar-se para, ou ainda ser atraído por. O conceito de

tendência que se generalizou na sociedade atual foi construído com base nas ideias

de mudança, movimento, evolução, representação do futuro. E essa concepção de

movimento está fortemente ligada a um sentimento de estar evoluindo, em busca de

algo melhor. Para Caldas (2006, p. 50),

Frequentemente, os significados das palavras tendência e moda fundem-se, podendo, no limite, ser empregadas uma pela outra, uma vez que o que é apresentado como tendência pelos vários componentes da cadeia têxtil, via de regra, é algo que já se transformou ou que se pretende transformar em moda.

Algumas tendências entram no mercado fortemente e são usadas num

período muito curto, sendo que imediatamente desaparecem. Essa vida útil das

tendências é chamada de ciclo de moda, que Caldas (2006) classifica como:

tendências de fundo, aquelas que influenciam o social por longos períodos de

tempo, ou seja, podem permanecer por várias coleções, e as tendências de ciclo

curto apontam para fenômenos passageiros de moda. Para algo entrar na moda é

preciso que ele seja aceito pelo consumidor. Então, se não é comprado e nem

usado, não há tendência.

O ciclo de vida dos produtos está cada vez menor. Segundo Gobe et al.

(2004, p. 115,) ocorre que os “produtos existentes passam a ter menor procura até

desaparecer, e os novos produtos passam a substituí-los, provocando a cada

momento um novo ciclo.” Por isso, o adiantamento das tendências tornou-se

operação obrigatória para as empresas preocupadas com o futuro. Segundo

Lanzeloti (2014, p. 88), “Especialmente para os confeccionistas, o entendimento das

tendências é de vital importância, não para a cópia, [...] mas para o alinhamento com

o desejo dos consumidores.” As atividades de monitoramento da moda funcionam

como um investimento, diminuindo a margem de erro de uma coleção. Lanzeloti

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(2014, p. 88) afirma que: “Fundamental para o segmento hoje é o entendimento do

trinômio tendência-identidade da empresa-público-alvo.” Neste sentido, podemos

dizer que a busca por novas informações e seu subsídio para a criação da coleção é

essencial para a conservação do capital maior da empresa: o cliente consumidor.

A criação em moda está ligada a um cenário complexo de informações.

Engana-se quem pensa que as tendências são ditadas por um estilista sentado em

seu atelier. Hoje estes profissionais trabalham mapeando tendências vindas da

própria sociedade. Uma das maneiras mais utilizadas para pesquisar é através de

viagens. Conforme Caldas (2006, p. 108),

É por meio dessa ‘imersão’ que se pode, com o devido treino e a metodologia adequada, farejar o ‘espírito do tempo’, isto é, as tendências e as sensibilidades emergentes que vão configurar novos comportamentos e influenciar toda a roda da sociedade, da cultura e do consumo.

Muitas vezes os estilistas compram algumas peças fora de seu país e trazem-

nas com o objetivo de retirar ou até mesmo inspirar novas ideias. Outras vezes

anotam detalhes diferenciados em uma agenda. Fotografar as roupas também é um

meio de se ter arquivado os modelos que gostou. E há também os que gravam

áudios, fazendo a descrição das peças que estão vendo.

Tudo isso é de grande relevância, pois as novas tendências podem estar

tanto nas vitrines de uma loja quanto nas próprias ruas. Caldas (2006) explica que

conforme a pesquisa de moda avança, é necessário organizar e fazer uma

interpretação prévia das informações, para não voltar com referências sem sentido.

Portanto, durante a viagem é essencial organizar e trabalhar no próprio local o

material coletado.

Mas há ainda outras formas de desenvolver a pesquisa de tendências, e os

meios de comunicação são um grande aliado neste processo. Um dos meios são as

revistas estrangeiras, como Collezionni, Marie Claire, Vogue, Elle, etc. A revista de

tendências italiana Collezionni, por exemplo, é uma das principais que serve de base

para as pesquisas, pois é lançada com muita antecedência, acompanhando as

estações primavera/verão e outono/inverno. Segundo Feghali e Dwyer (2001), essas

revistas de tendências trazem fotos dos maiores desfiles realizados nas grandes

capitais da moda, e que elas são o meio de comunicação do que realmente foi

mostrado nas passarelas. As revistas periódicas vendidas nas bancas como Marie

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Claire, por exemplo, são lançadas com pouca antecedência, servem mais para

informar o público e atualizar os profissionais ligados à área sobre o que vai

acontecer na moda num curto espaço de tempo, além de também trazer matérias

em geral. Cada uma a seu modo fornece informações atuais e relevantes para os

profissionais da moda.

Conforme Feghali e Dwyer (2001), outra fonte de pesquisa é a internet. Com

os avanços da mídia digital e com o acesso rápido às informações, à pesquisa de

tendências na internet evoluiu muito nos últimos tempos. A comunicação em rede

divulga os principais comportamentos e as novidades, tanto das passarelas quanto

das ruas, praticamente em tempo real. Portanto, a internet é um campo vasto de

conhecimento à disposição dos pesquisadores, criadores e até dos próprios

consumidores. Por meio da internet os estilistas ficam sintonizados com as cores, os

tecidos e as padronagens que serão adotados na próxima estação. Segundo

Faccioni (2012, p. 127), “existem milhões de sites indexados no Google, Yahoo, etc.,

que o colocarão em contato com o maravilhoso mundo da informação digital. Se

digitar ‘fashion’ no Google aparecerão perto de meio bilhão de links.” Com um

espaço de informações amplo, é essencial que a pesquisa seja feita em fontes

seguras, como, por exemplo, em sites específicos de moda, blogs de profissionais

conceituados, páginas de notícias confiáveis, etc. Como as informações fluem com

rapidez na internet, a pesquisa de tendências se torna mais ágil.

A união de todo esse material pesquisado aponta para o que vai ser

tendência e no que vai valer a pena ser investido pela empresa.

Após a pesquisa das tendências, o passo seguinte é a criação das peças que

irão compor a coleção. A coleção na moda é uma série de produtos criados e

fabricados para venda aos lojistas ou diretamente a consumidores. E essa coleção

geralmente é elaborada com base nas tendências pesquisadas, ou por um tema,

revelando influências culturais e sociais, e, muitas vezes, ela é desenvolvida apenas

para uma temporada.

Na fase da criação, a partir do estudo das tendências, inicia-se o processo de

desenhar os modelos que se pretendem produzir. O croqui ou desenho de moda é

uma ferramenta essencial para iniciar o desenvolvimento da peça. Este desenho de

moda pode ser feito de diversas formas: a mão livre, com lápis grafite ou colorido;

com outros materiais de pintura ou ainda feito em computador. Neste estágio,

segundo Araújo (1996), o desenho deve ser uma reprodução fiel da ideia original,

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abrangendo detalhes como costuras, pregas, aberturas, acessórios decorativos, etc.,

e ainda conter o apontamento de particularidades como largura de fitas, o número

de carreira de pontos, a altura da bainha, o tamanho do decote, etc. É o conjunto

destes elementos que constitui a mensagem na qual se pretende transmitir através

da roupa.

A proposta de criação de uma peça de roupa, enquanto um discurso, para

Castilho e Vicentini (2008, p. 134) “[...] é construído pela percepção do meio

circundante que consegue imprimir nessa criação as qualidades ou problemáticas de

seu tempo, a forma de integrar tal sujeito no universo de valores até então

estabelecidos.” Diante da criação, o designer irá usar um conjunto de referências

que abordam a questão da roupa, da imagem, do corpo, do mercado consumidor e

produtor, dos processos de produção, dos meios de comunicação e de

comercialização. Nesta etapa também são definidas as cores, tecidos e aviamentos

com os quais se irá trabalhar. Conforme Feghali e Dwyer (2001, p. 22), “Na fase da

criação, é importante verificar se há tecidos que casem com as ideias.” Caso

contrário, é necessário adaptar o projeto inicial da peça com o tecido disponível.

Muitas empresas, ainda, optam por importar certos tecidos devido à falta no

mercado nacional, ou mesmo para reduzir o custo da peça elaborada.

Nas esferas da criação, existe um diálogo bem próximo entre moda e arte.

Segundo Braga (2005), um dos primeiros criadores a relacionar seu trabalho às

artes foi Paul Poiret, que além de ter se inspirado na pintura neoclássica de David,

elaborou estampas com o fovista Raoul Dufy ̶ Conforme Denvir (1977), fovismo foi

um movimento artístico que ocorreu na França e que culminou em um estilo de curta

duração, tendo como característica a libertação da cor e da forma, onde os artistas

usavam as cores puras, sem misturá-las ou matizá-las ̶ para criar vestidos de

cintura abaixo do busto e sem o uso de espartilhos, antes da primeira grande

Guerra, de 1914. A partir de então, diversos criadores de moda começaram a buscar

inspirações na arte para elaborar suas peças, aplicando-as em estampas, em

formas, em volumes.

Neste sentido, Lipovetsky (1989, p. 272) afirma que:

O fosso entre a criação de moda e a da arte não cessa de reduzir-se: enquanto os artistas não conseguem mais provocar escândalo, os desfiles de moda se pretendem cada vez mais criativos, há doravante tanto de inovações e surpresas na fashion quanto nas belas-artes, a era democrática

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conseguiu dissolver a divisão hierárquica das artes sujeitando-as igualmente à ordem da moda.

Pelo que se deduz, a criação de peças de moda e a arte estão cada vez mais

próximas, pois abrangem a pesquisa de novos materiais, tecnologias inéditas, no

intuito de criar produtos diferenciados procurando proporcionar novas emoções nas

pessoas.

A partir das diversas inspirações obtidas através da pesquisa de tendências

de moda, o profissional de design de moda, como será apresentado abaixo, propõe

criações de acordo com cada estação e que seguem o estilo da organização em que

atua.

2.4 O NOVO PELO DESIGN DE MODA

O design está fortemente presente em nosso cotidiano. Segundo Lanzeloti

(2013, p. 103), o design é a “Disciplina que visa à criação de objetos, ambientes,

obras gráficas etc. que sejam ao mesmo tempo funcionais, estéticos e conformes

com os imperativos da produção industrial”. Já o Illinois Institute of Technology (1998

apud FEGHALI E DWYER 2001, p. 111) define design como a “[...] arte e a ciência

de aumentar a beleza e o valor dos artigos produzidos em massa”. No universo da

moda, o design é muito mais que a forma estética, ele atende também as

necessidades funcionais, ergonômicas e financeiras. No sentido de fazer design é

indispensável, segundo Bardin (1977 apud CASTILHO E VICENTINI 2008, p. 126),

[...] provar que os objetos da nossa vida cotidiana funcionam como linguagem; que o vestuário é um conjunto de textos projetados e articulados, relacionando elementos característicos do contemporâneo e interesse do mercado, o que pressupões uma das análises de conteúdo possíveis.

Por outro lado, o designer é o profissional que executa o design, e no âmbito

da moda pode ser chamado também de estilista. O principal objetivo do designer é

agregar valor a determinado produto. São muitas as fases do processo de trabalho

criativo onde o designer está envolvido, desde o nascimento da ideia até a

finalização do produto. Neste sentido Castilho e Vicentini (2008) afirmam que são

vários os processos e pesquisas nos quais o designer se envolve com diferentes

propostas, e diversos caminhos que se estabelecem nesse processo criativo,

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dialogando entre a necessidade e as configurações do mercado para qual a roupa

será atribuída.

Numa sociedade onde um artigo tem tempo de vida pré-estabelecido pelo

consumo, o designer precisa conhecer a cadeia produtiva, as matérias-primas e os

tecidos, entender a modelagem e os tipos de costura, compreender a linguagem e

simbologia visual, saber a montagem da roupa e acabamentos. Segundo Feghali e

Dwyer (2001, p. 112), “Esse profissional funciona como um dinamizador, interliga

vários setores da empresa, fazendo com que esta busque melhores opções e

soluções”. Araújo (1996) afirma neste mesmo sentido, que o designer deve buscar a

otimização dos custos da produção e estimular a criatividade de sua equipe,

buscando desenvolver o crescimento das vendas e dos lucros a partir das peças

elaboradas. Num ciclo que se renova constantemente, é necessário que o

profissional de design seja sensível o suficiente para entender a relevância de sua

atividade dentro do conjunto de produção, buscando sempre estar atualizado no que

diz respeito ao campo da arte e da indústria.

O design de moda, pelo que estamos vendo, consiste numa segunda pele,

recobrindo a primeira e formando a aparência final do indivíduo. Conforme Oliveira

(1995 apud CASTILHO E MARTINS 2005, p. 31),

As roupas compõem uma arquitetura têxtil em que cada linha tem um sentido: aquele de um conjunto de objetos fabricados, servindo, de um lado, para cobrir o corpo humano, para lhe proteger, e, de outro, para embelezá-lo, ornamentá-lo ou dar-lhe uma característica determinada com o propósito de marcar o seu papel na cena.

Percebe-se que num guarda-roupas, por exemplo, o conjunto de roupas é

composto tanto de objetivos básicos, para cobrir e proteger o corpo; e também é

composto de subjetividade, com artigos para embelezamento e identificação da

personalidade. Podemos observar que no design de moda, a história da moda e da

arte está intimamente ligada ao moderno ou atual, pois estas servem como fonte de

inspiração e de referência para estimular novas propostas. Para Oliveira e Castilho

(2008, p. 128), “Tais referências e citações do passado permitem a elaboração e o

desenvolvimento das coleções que dialogam com o presente e rearticulam

propostas nas releituras ou citações do passado, readequando-os e, portanto,

contemporizando-os”. Sendo assim, o passado, o presente e o futuro movimentam-

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se simultaneamente na criação de uma peça de roupa. Trata-se de olhar o passado

e ver nele o novo.

Segundo Lanzeloti (2013, p. 102), “É importante entender que um design só

será um ótimo produto quando os consumidores entenderem seu significado, se

envolverem emocionalmente com ele [...]”, e ainda atender as necessidades

funcionais, ergonômicas e financeiras. Visto que a roupa é um elemento de

construção da identidade, as pessoas buscam mais a satisfação dos seus desejos

do que suas reais necessidades básicas. Para Feghali e Dwyer (2001), não é

somente pelo preço, pela tecnologia, pela qualidade ou embalagem que o

consumidor é atraído, mas sim em primeiro lugar pelo design, e depois pelos outros

fatores. Neste sentido, o design de moda promove cada vez mais a diferenciação do

produto e a busca pelo novo, com objetivo de atender as exigências do mercado. E

com o mercado cada vez mais globalizado, o designer de moda que atua na

indústria de confecção de roupas contribui de forma significativa para o controle e

melhora do processo de desenvolvimento de produtos.

2.5 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS PARA COLEÇÃO

A partir dos desenhos prontos, o modelista começa a trabalhar juntamente

com o designer de moda. Conforme Feghali e Dwyer (2001, p. 104), o modelista

“Corta novos moldes baseados nos croquis e pode modificar moldes anteriores para

que passem a corresponder às novas tendências e estilos. Trabalhando lado a lado

com o estilista, o modelista é responsável pela interpretação apurada dos croquis

em corte e linha”. Com papel, lápis e réguas, ele amplia e coloca na dimensão

correta o desenho feito pelo estilista. Assim que o molde estiver pronto, muitas

vezes ele é transferido para um programa de computador para fazer os últimos

ajustes. O passo seguinte é imprimir o molde e cortá-lo no tecido definido, que após

será entregue à pilotista – costureira que fará as primeiras roupas da coleção – para

montar as peças que compõem a roupa. Depois de montada, o próximo

procedimento a ser executado é a prova, onde são conferidos todos os detalhes.

Para Araújo (1996, p. 88), “[...] os protótipos inicialmente desenvolvidos no

‘sector de amostras’ devem ser analisados, ensaiados e modificados de forma a

melhorar tanto os tempos e métodos de fabricação como a utilização da matéria-

prima e acessórios.” Ainda neste sentido, Feghali e Dwyer (2001) afirmam que para

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a peça ficar como idealizada pode acontecer de ter que refazer o processo até três

vezes. Com a aprovação da roupa, ela entra para o processo de produção. A etapa

da produção abrange todos os colaboradores da empresa, desde os cortadores até

os embaladores. Ainda conforme Feghali e Dwyer (2001, p. 23), “O trabalho deve

ser absolutamente sincronizado para que a produção não atrase, nenhum

funcionário fique sem ter o que fazer e não falte produto nas lojas”.

Sendo assim, parece fundamental e essencial organizar a produção para

atender as demandas do cliente. O desenvolvimento de uma coleção depende de

várias etapas. Além das vistas acima, outros aspectos devem ser levados em conta,

como: o preço final do produto, a base de clientes, o tempo de produção até a

mercadoria chegar aos lojistas, previsão da quantidade de matéria-prima que será

necessária para a produção dos pedidos, elaboração de catálogo, etc. Os

fabricantes devem conhecer profundamente as necessidades de seus clientes.

Hoje a moda é, acima de tudo, consumo, seja de objetos, roupas ou estilo. As

pessoas consomem produtos não apenas por sua funcionalidade ou finalidade.

Conforme Sant’Anna (2008, p. 66) “[...] certos aspectos do consumo atual, entre

outros da produção de subjetividade, tendem a ser mais afeitos a proporcionar um

contentamento momentâneo do que a garantia de uma felicidade a longo prazo”.

Ainda neste sentido, Baudrillard (1991 apud DE CARLI 2002) afirma que o foco da

compra não é mais o utilitarismo, a necessidade, e nem o objeto em si que

determina a compra, mas sim seu estilo, suas novas e eternas diferenças

agregadas. O mercado do consumo seduz os consumidores a desejar sempre algo

novo. E esse movimento dos consumidores de estar sempre em busca das

novidades é fundamental para o mercado, como veremos a seguir.

2.6 MERCADO DE MODA: CONSUMO E MARCAS

Todos nós, de uma maneira ou outra, somos consumidores. Conforme De

Carli (2002, p. 34), “O consumo é caracterizado pela relação de compra e venda de

objetos de toda ordem entre a sociedade produtora de bens e serviços e a

sociedade compradora desses mesmos bens e serviços.” Neste mesmo sentido,

Canclini (2006, p. 61) afirma que “[...] o consumo é o conjunto de processos

socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos.” Os atos

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pelos quais consumimos é um meio de satisfazer nossos gostos, caprichos e

necessidades.

Segundo Vieira (2004), foi a partir da Revolução Industrial, durante o século

XIX, que se iniciou a transformação do sistema político e econômico vigente no

mundo, ocasionando o despertar tecnológico, um novo conceito de consumidor e

uma reviravolta nas formas de relacionamento das organizações com a sociedade.

Desde então, passou a existir a hegemonia da preocupação, não mais com a

produção e sim com o consumo. Após a segunda grande guerra, a produção passou

a ser em grande escala, quando o consumo de bens e serviços transformou-se em

uma espécie de nova ordem social. No que confere à indústria do vestuário, a

revolução industrial, que teve sua origem na Inglaterra, foi responsável por

mudanças significativas. Conforme Galbraith (1998, p. 2),

A fiação e tecelagem manuais eram processos infinitamente entediantes e caros; a simples compra de um casaco pelo cidadão comum era algo comparável hoje em dia à aquisição de um automóvel ou até mesmo de uma casa. As novas máquinas tiraram a confecção de tecidos de dentro das residências e a levaram definitivamente para as tecelagens, tornando o produto muito mais barato – um artigo de consumo de massa.

Conforme Sant’Anna (2008), foi a partir de meados do século XX que o

consumo de bens industrializados passou a ser associado com a possibilidade de

adquirir porções de energia, felicidade e alegria, onde cada consumidor começou a

experimentar a sensação de que tinha chance de construir a si mesmo, escapando

das dificuldades do descarte social e das incertezas subjetivas. O indivíduo que

consome acreditando que adquiriu a felicidade pode não encontrá-la e somente um

novo consumo pode resolver esse vazio. Para Caldas (2006, p. 202), “A sociedade

de consumo, quem diria, criou um paradoxo todo seu: quanto mais satisfeito o

consumidor (e quantas vezes se repete a fórmula marqueteira da ‘satisfação das

necessidades e desejos’), mais insatisfeito ele fica!” Através de anúncios

publicitários, a publicidade procura estabelecer uma relação entre o consumo, a

felicidade e o bem-estar. Para Pereira e Horn (2010, p. 108),

Para haver consumismo, cria-se o desejo e a necessidade de adquirir produtos e serviços, mesmo sem precisar, tudo para buscar a felicidade. Passa-se ao consumidor a ideia – que ele aceita e introjeta como norma absoluta e inviolável de conduta, individual e social – de que não é o consumo, mas o consumismo de produtos e serviços que é fator de felicidade da pessoa.

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A publicidade é essencial para quem quer vender e para quem quer comprar

produtos. Neste sentido, Pereira e Horn (2010, p. 110) afirmam que, “por meio da

publicidade, o fornecedor dá a conhecer seus produtos e serviços, enquanto o

consumidor toma conhecimento para poder comprar o que quer.” Ao mesmo tempo

em que a publicidade é útil, ela pode ser danosa ao consumidor, levando-o a

consumir o que não precisa.

A condição de sociedade do consumo é uma dentre tantas características da

sociedade atual. Conforme Pereira e Horn (2010, p. 159), “a humanidade, portanto,

carece do ato de consumir. Como tudo, o problema reside no exagero, e nós, cada

vez mais, estamos testando os limites da sustentabilidade em nome de um consumo

exacerbado, de um hiperconsumo, de um consumismo.” Os autores apontam, ainda,

seis malefícios do consumismo:

1º - A condição de massificação no trato das pessoas: a massificação é um

fenômeno social que visa à instigação das pessoas num sentimento de desejo de

aquisição de bens de forma contínua.

2º - A publicidade desvirtuada: a publicidade tem um papel fundamental na

veiculação de discursos ideológicos que evidencia a busca de satisfação, por meio

de estímulos voltados ao consumo.

3º - O civismo ausente: outro malefício é a ausência do civismo, pelo fato da

decomposição e fragmentação dos vínculos sociais, ou seja, do pensamento

individualista-consumista pela maior parte dos indivíduos.

4º - A crescente esgotabilidade dos recursos naturais: o mundo enfrente

problemas sérios de desenvolvimento e meio ambiente, decorrente da produção em

larga escala e o consumo sempre crescente, o que esgota e contamina os recursos

naturais.

5º - A descartabilidade como conduta padrão: devido à sociedade atual ter

como característica principal um apego às novidades, os produtos tem um curto

prazo de durabilidade devido à desvalorização e, como consequência, ocorre o

descarte.

6º - Os excluídos do processo produtivo de consumo: trata-se de uma

categoria da população previamente ausentes dos mapas mentais de divisões

sociais, que é vista como vítima do consumismo. Os excluídos são caracterizados

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como não consumidores, pois possuem renda insuficiente para tornarem-se

compradores ativos e efetivos.

Porém, o consumo tem um lado bom. Ele traz conforto, eventual segurança e

qualidade de vida. É difícil imaginar o mundo sem o consumo, pois o mercado

depende muito dele. Para Kotler (2003, p. 142), mercado pode se definido de

diferentes maneiras:

Os economistas definem mercado como um conjunto de compradores e vendedores que transacionam (pessoalmente, por telefone, por correspondência ou por qualquer outro meio) com determinado produto ou classe de produto. [...] Mas os profissionais de marketing veem os vendedores como “setor” e os compradores como “mercado”.

Já para Samara e Morsch (2005, p. 13), “o processo de troca entre o grupo de

produtores/vendedores e os consumidores acontece no ambiente que denominamos

mercado.” É o consumo que faz a roda da economia girar e por causa dele grande

parte da população possui um emprego, onde recebe dinheiro para adquirir os bens

que modificam a vida. Segundo Kotler (2003, p. 143), “os compradores evoluem em

quantidade, necessidade e poder de compra, em resposta às transformações na

economia, na tecnologia e na cultura.” Hoje, muitas pessoas vivem mais e com mais

conforto, comem melhor, tem acesso aos avanços tecnológicos, etc. Ainda, é do

próprio mercado que vem os dados para o desenvolvimento de novos produtos e

serviços a serem oferecidos aos consumidores. Conforme Samara e Morsch (2005,

p. 13),

Para satisfazer as necessidades e os desejos dos consumidores, os produtores/vendedores buscam informações no mercado sobre o contexto (macroambiente, demanda, situação do setor específico da indústria, concorrência e perfil dos compradores potenciais) para desenvolver bens e serviços apropriados e oferecê-los ao mercado.

Pela fala dos autores, o consumo está associado às necessidades humana. E

novas demandas, tomando por base as necessidades, são criadas todos os dias. O

mercado apresenta diariamente infinitos produtos de consumo de modo a convencer

que são realmente necessários e imprescindíveis ao seu bem viver. Além de

proteção do corpo, alimentação e abrigo, o consumo traz a satisfação do desejo e

felicidade, e, sobretudo, é um modo de estar inserido, de pertencer a um grupo, ser

um membro da sociedade.

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Esta satisfação dos desejos, muitas vezes, está relacionada ao consumo de

produtos de uma marca específica. Consumir determinado produto de uma marca ou

outra tem a ver com o estilo de vida do indivíduo, suas crenças e valores. Essa

relação de consumo é construída, especialmente, quando o consumidor identifica

certas caraterísticas simbólicas determinantes da marca, as quais vão ao encontro

de suas expectativas. Atributos estes que posicionam a marca, tornando-a

conhecida e reconhecida pelos seus clientes. Segundo Kotler (2000, p. 426, grifo do

autor), a American Marketing Association define marca como: “Uma marca é um

nome, termo, símbolo, desenho – ou uma combinação desses elementos – que deve

identificar os bens ou serviços de uma empresa ou grupo de empresas e diferenciá-

los dos da concorrência.” A marca está associada a algumas particularidades da

organização, onde esta procura entregar ao cliente, por meio dos produtos ou

serviços, um valor de uso superior ao oferecido pela concorrência. Kotler (2000),

adotando como exemplo a empresa fabricante de carros Mercedes, afirma que a

marca pode ter até seis níveis de significado:

- Atributos: a marca traz à mente alguns atributos, como por exemplo: o

produto ser bem construído, durável, de alto prestígio;

- Benefícios: os atributos são traduzidos em benefícios funcionais e

emocionais, como por exemplo: o atributo “durável” pode ser traduzido em benefício

funcional, de modo a não ser necessário comprar outro produto por um longo

período de tempo; e o atributo de “alto prestígio” traduz em benefício emocional,

onde faz a pessoa se sentir importante;

- Valores: a marca também exprime algo sobre os valores da organização,

como por exemplo: segurança, prestígio;

- Cultura: a marca representa certa cultura, como por exemplo: cultura

germânica – organizada, eficiente;

- Personalidade: a marca projeta certa personalidade, como por exemplo:

pode sugerir um chefe decidido (pessoa), um leão poderoso (animal);

- Usuário: a marca sugere um tipo de consumidor que adquire e usa produto,

como por exemplo: um alto executivo com mais de 55 anos.

De acordo com o autor, a associação destes significados à marca possibilita

uma maior aceitação da mesma, bem como um posicionamento relevante e

duradouro. A marca é considerada muito mais que um nome ou símbolo, pois ela

traz consigo profundas associações. Nesta perspectiva, um dos desafios da

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organização é justamente desenvolver vínculos positivos em relação à marca.

Segundo Tavares (1998, p. 17), “o significado de uma marca resulta dos esforços de

pesquisa, inovação, comunicação e outros que, ao longo do tempo, vão sendo

agregados ao processo de sua construção.” A criação e a manutenção da marca

devem ser permanentes. Ainda neste sentido Pinho (1996, p. 51), acrescenta que:

A imagem de marca é construída por meio das mais diversas fontes: informações veiculadas pelos meios de comunicação, experiências no uso do produto, embalagem, identidade da empresa, promoção de vendas, propaganda, publicidade, relações públicas.

Ao consolidar a marca, a organização conquista novos consumidores e

mercados, resultando assim no aumento de vendas. Para Gobe et al. (2004, p. 82),

“alguma marcas obtêm um nível de diferenciação tão forte, que se transformam em

sinônimo de uma classe de produtos.” A partir da observação dos autores, podemos

citar como exemplo: o nome Bombril, para designar a esponja de lã de aço; Band-

Aid, para significar curativos adesivos; Cotonetes, para denominar as hastes

flexíveis envolvidas em algodão; Xerox, para denominar fotocópias; Comfort para

indicar amaciante de roupas, entre muitas outras marcas que viraram sinônimo de

produto. Uma marca conhecida, além de identificar a origem do produto, serve

muitas vezes como elemento de decisão no momento da compra. Conforme Gobe et

al. (2004, p. 84),

É comum que consumidores se disponham a adquirir um produto um pouco mais caro e de marca já conhecida, em vez de um produto mais barato e desconhecido. A segurança, e não a economia, é, muitas vezes, fator decisivo na compra. Além disso, há consumidores que valorizam muito o status sinalizado pela marca, mais do que os benefícios racionais do

produto.

As marcas se tornaram tão importantes para as organizações que passaram a

ser considerados ativos do patrimônio. De acordo com Aaker (1998, p. 14), “Um

ativo igualmente intangível é o valor representado pelo nome de uma marca. Para

muitos negócios, o nome da marca e o que ele representa são o seu mais

importante ativo, a base da vantagem competitiva e de ganhos futuros.” Para muitas

organizações, estes ativos intangíveis representam valor financeiro de mercado

maior do que o próprio patrimônio da empresa. O conhecimento de uma marca pelo

consumidor reside na habilidade de reconhecê-la e associa-la a vários atributos e

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benefícios que favorece sua escolha no ato da compra. O valor de marca, segundo

Aaker (1991,1995 apud TAVARES, 1998, p. 194),

É um conjunto de ativos e confiabilidades ligado a uma marca, nome e símbolo, que se adiciona a ou se subtrai de um produto ou serviço para uma empresa ou para os consumidores. Seu valor positivo ou negativo decorre de como o consumidor reage mais ou menos favoravelmente ao produto, ao preço, à promoção ou à distribuição correspondente à marca.

Sendo assim, as marcas necessitam de constante evolução, adaptando-se às

mudanças da sociedade, para serem vistas de forma positiva pelos grupos de

interesse e se perpetuarem no mercado. Uma marca precisa apresentar atributos

suficientes para agradar o consumidor a fim de promover a compra, fazendo com

que, após, este cliente crie uma relação afetiva com os produtos ou serviços,

tornando-a mais desejável. Essa relação de consumo entre o consumidor e as

marcas pode também ser observada na moda, como veremos a seguir.

2.7 OS PÚBLICOS CONSUMIDORES DE MODA

O mercado consumidor de vestuário da moda é composto por diversos grupos

sociais, econômicos e culturais. Certos públicos compram para suprir suas

necessidades básicas, enquanto outros adquirem por desejo de ter o que há de

novo e moderno no mercado do vestuário. Neste sentido, Nielander e Miller (1951

apud ANDRADE, 2003, p. 15), explicam que “o público em geral é toda pessoa

dentro da esfera de um negócio. Algumas vezes essa esfera está confinada aos

limites de uma cidade ou e uma área local de mercado. Algumas vezes, é o vasto

mundo.” Muitos consumidores de vestuário de moda pertencem a certos nichos de

mercado. Existem os nichos por necessidade, que apresentam relação com o biótipo

do indivíduo, como por exemplo, a moda “plus size”, roupas para pessoas altas,

gestantes, etc.; e os nichos que atendem as preferências, como por exemplo, a

moda ecológica e/ou sustentável, roupas para aventureiros, moda evangélica ou

gospel, a moda vintage, etc.

Com tanta inovação, o consumidor, muitas vezes, não se satisfaz mais

somente com produtos básicos e tradicionais. Os públicos de moda estão em busca

de produtos de consumo que lhes tragam a sensação de felicidade. Conforme Gobe

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et al. (2004, p. 67) “produtos de consumo são aqueles adquiridos pelos indivíduos,

na busca de satisfazerem necessidades ou os desejos próprios, com interesses

particulares.” A personalidade de cada indivíduo interfere nas escolhas relativas ao

vestuário. O público com personalidade conservadora resiste mais à compra, diante

de novidades, enquanto os de personalidade contemporânea são mais receptivos à

inovação. O público mais aberto às novidades, na busca por novas roupas,

caminham entre as mais diversas tendências, estilos e preços. Por exemplo, um

consumidor pode sair de casa com a intenção de comprar uma blusa verde e,

durante o percurso, pode decidir comprar uma de cor azul. Essa mudança de ideia

pode ter sido influenciada por algum indivíduo, certa propaganda ou na observação

de vitrines. Essa atitude é definida por Faccioni (2012, p. 40), como “‘aceleração da

modificação do comportamento’ que acontece em tempo real decorrente das

possibilidades e das opções geradas pela tecnologia e pela globalização. [...] O

consumidor muda de ideia a todo instante e para todas as direções possíveis e

imagináveis.” Com a multiplicação de ofertas e novidades, a cada dia mais os

indivíduos mudam suas decisões.

A constante mudança nas tendências do vestuário, de certa maneira, força os

usuários a estarem sempre em busca de uma renovação de identidade. Assim, o

aumento do consumo destes produtos é a resultante deste processo. Segundo

Martins (2012, p. 122),

Essas rápidas mudanças nas tendências sazonais aceleram a demanda por novos produtos e acabam forçando as pessoas ao hábito constante de comprar roupas novas, mesmo que as que já possuem atendam suas necessidades materiais e não materiais, sejam ainda utilizáveis, se encontrem em bom estado e cumprem requisitos estéticos, ergonômicos e funcionais.

Essa maneira de consumo está propensa a proporcionar apenas uma

satisfação momentânea, ao invés de possibilitar felicidade e satisfação à longo

prazo. O perfil do novo consumidor de moda para os próximos anos, segundo

Faccioni (2012), consiste em:

- ser mais exigente;

- mais insatisfeito a cada dia;

- fica mais bem informado a cada hora que passa;

- sabe melhor o valor das coisas a cada minuto;

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- quer novas experiências emocionais a cada segundo;

- não tem mais fidelidade às marcas;

- preza a auto sustentabilidade e a ecologia;

- valoriza mais o seu dinheiro;

- com mais frequência muda de comportamento.

A partir das observações do autor, pode-se dizer que é essencial para as

marcas, através de seus produtos ou serviços, criar uma relação emocional com o

público consumidor de moda. Neste mesmo sentido, ainda Faccioni (2012, p. 234),

afirma que “a maior força que seu produto pode ter é a ligação com a emoção.

Entender o que ele pensa e o que ele quer, surpreendendo-o através de

experiências agradáveis e valiosas.” Assim o consumidor sempre está à espera de

algum conceito ou vínculo com o produto, que tenha capacidade de emocionar.

Essa relação emocional entre o consumidor e o produto é estabelecida pelas

características presentes na peça de roupa, seja pela marca, modelo, cores ou

textura, que expressam algum tipo de comunicação, na qual vai ao encontro aos

valores e crenças pessoais do indivíduo, como veremos a seguir.

2.8 CONCEITOS COMUNICACIONAIS DO MERCADO DE MODA

Comunicar é manifestar a presença na esfera social. A comunicação é

processada através de dois níveis: o verbal e o não verbal. A comunicação verbal é

o exercício da linguagem através da expressão linguística, e a comunicação não

verbal pela movimentação do corpo. Conforme Knapp e Hall (1999), o termo não

verbal é geralmente usado para descrever todos os eventos da comunicação

humana que transcendem as palavras escritas ou faladas. Pease e Pease (2005, p.

16) afirmam que “a leitura das atitudes e pensamentos expressos no comportamento

das pessoas foi o primeiro sistema de comunicação usado pelo ser humano, muito

antes do desenvolvimento da linguagem oral.” Pode-se dizer que nosso corpo é um

instrumento eficiente, que na presença de alguém partilha ideias, transmite emoções

e anuncia o que somos e o que pensamos. Segundo Rector e Trinta (1999, p. 7),

O corpo, pois, comunica, e esta comunicação confunde-se com a própria vida. É ela uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social. Tão importante quanto andar e respirar é comunicar-se; senão nos isolamos do mundo e terminamos marginalizados.

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Knapp e Hall (1999) afirmam que em 1892, Charles Darwin publicou A

expressão das emoções em homens e animais, uma das mais influentes obras que

gerou o estudo das expressões faciais, na qual, muitas de suas observações e

ideias foram testadas por outros pesquisadores. A partir dos anos 60 houve uma

explosão no número de estudos sobre a comunicação não verbal. Conforme

estimativas de Birdwhistell (1970 apud KNAPP E HALL 1999), uma pessoa comum

emite apenas de 10 a 11 minutos de palavras por dia em sentenças com duração

média de somente 2,5 segundos. Além disso, o estudo explica que em uma

conversa normal entre duas pessoas, os componentes verbais carregam menos de

35% do significado social da situação; mais de 65% é transmitido por canais não

verbais. O resultado dos estudos de Mehrabian (2009) apurou que o impacto total de

uma mensagem é de 7% verbal (somente palavras), 38% vocal (incluindo tom de

voz, ritmo, entonação, etc.) e 55% não verbal (informações expressas sem

palavras). O corpo humano “fala” o tempo todo, nos gestos, nas posturas, nas

expressões do rosto, nos olhares, tom e ritmo da voz, etc. Neste sentido, Marcondes

Filho (2004, p. 16) afirma que,

Comunicação tampouco é instrumento, mas, acima de tudo, uma relação entre mim e o outro ou os demais. Por isso, ela não se reduz à linguagem, menos ainda à linguagem estruturada e codificada numa língua. Ela ultrapassa e é mais eficiente que esse formato, realizando-se no silêncio, no contato dos corpos, nos olhares, nos ambientes.

Argyle (1988 apud KNAPP E HALL 1999) identificou as funções básicas do

comportamento não verbal na comunicação humana:

- expressar emoção;

- transmitir atitudes interpessoais (afeto/desafeto, dominação/submissão,

etc.);

- apresentar a sua personalidade a outra pessoa;

- acompanhar a fala com o propósito de controlar o tema da conversa, a

alternância entre os locutores, a atenção, etc.

Segundo observações do autor, podemos dizer que estas funções podem ser

complementares da comunicação verbal, que se refere a qualquer tipo de sinal que

sustente o que foi dito, ou o que se está querendo transmitir através de palavras.

Também é uma forma de manifestar os sentimentos, os pensamentos e a

personalidade de uma pessoa.

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Em relação aos sistemas de que os seres humanos se utilizam para se

comunicar, Ruesch e Kees (1956 apud KNAPP E HALL 1999) apontam pelo menos

sete:

1. Aparência pessoal e vestimenta: são influentes sinais não verbais e que não

são administrados pelo movimento. Ex: a forma do corpo, beleza, peso,

cabelo, cor de pele, etc.; além disso, os objetos que podem alterar a

aparência física como roupas, maquiagem, óculos, joias, etc.;

2. Gestos ou movimentos deliberados: o comportamento cinestésico inclui

gestos (independentes ou relacionados à fala), movimentos do corpo

(membros, mãos, pés e pernas), expressões faciais (sorrisos), e a postura

(inclinação do corpo);

3. Ação aleatória: a fim de melhor atingir os objetivos comunicativos, as pessoas

mudam de ambiente, e, deste modo, os ambientes podem afetar o humor,

escolha de palavras e ações. Esses fatores podem ser as variações de

disposição, materiais, cores, formas ou superfícies dos objetos que compõem

o ambiente.

4. Vestígios de ações: por meio de alguns vestígios é formada uma impressão a

respeito da pessoa com a qual vai interagir, e que mais tarde poderá

influenciar a relação. Ex: a observação de pontas de cigarro ou papel

amassado pela pessoa com a qual vai se relacionar.

5. Sons vocais: variações sonoras produzidas pelas cordas vocais durante a

conversa. Aqui envolve questões como nível de intensidade e variabilidade,

ritmo, velocidade, e, ainda, os sons como riso, bocejo, gemido, etc.

6. Palavras faladas: comunicação feita através da fala com o uso de palavras.

7. Palavras escritas: comunicação feita através da escrita com a utilização de

palavras.

Somente dois desses sistemas envolvem o uso de palavras, o restante são

mensagens não verbais.

Examinaremos mais detalhadamente a aparência pessoal e vestimenta,

significativa variável do presente estudo. A aparência das pessoas comunica,

indicando aos que nos veem, quem somos e o que queremos transmitir. Conforme

Rector e Trinta (1999, p. 30), “Nosso corpo tem um prolongamento: são as roupas e

os acessórios de vestir”. A roupa funciona para informar atributos pessoais aos

outros, como por exemplo, identificação de um grupo específico, personalidade,

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interesses, atitudes, valores, etc. A vestimenta ainda pode encorajar ou desencorajar

certas atitudes em relação à comunicação. Além disto, a roupa pode promover

sentimentos de alegria e felicidade à própria pessoa que está vestindo.

Knapp e Hall (1999, p. 135) afirmam que “[...] as roupas ajudam a satisfazer

uma imagem pessoal do eu ideal de uma pessoa”. Ou ainda, as roupas podem servir

como ataque leve a certas regras impostas pela sociedade. Para exemplificar,

segundo Davis (1979), um estudo sobre o modo de vestir, feito por seis alunos de

psicologia na costa oeste dos Estados Unidos, verificou que ao cometer pequenos

roubos em lojas, quanto mais bem vestidos (terno e gravata) estivessem as pessoas

que cometiam o delito, menos as pessoas ao redor notavam o roubo ou fingiam não

ver; já para os vestidos de hippies, eram vigiados como suspeitos onde quer que

fossem. Através do modo de vestir, os hippies demonstravam sua recusa em relação

ao status e serviam simultaneamente como reconhecimento mútuo e refletiam o que

eram.

Nesse sentido, sendo que a roupa é um fator importante no modo de como os

outros julgarão a personalidade de uma pessoa, conforme Knapp e Hall (1999, p.

139), “[...] a aparência e a roupa são parte dos estímulos não verbais totais que

influem nas reações interpessoais, e sob algumas condições são os principais

determinantes dessas reações”. Pelas observações dos autores, pode-se concluir

que a aparência e a roupa de uma pessoa contribuem com a sua relação com o

outro, com a comunicação do sujeito com o mundo exterior.

Assim, é possível deduzir que a comunicação não verbal faz parte do

processo de comunicação. Knapp e Hall (1999, p. 49) afirmam que “a comunicação

não verbal é importante por seu papel no sistema total de comunicação, pela

enorme quantidade de sinais informacionais que fornece em dada situação e por seu

uso em áreas fundamentais de nosso cotidiano”. Sendo assim, ela está relacionada

ao convívio das pessoas na sociedade, onde podemos nos comunicar e ainda

perceber o comportamento do outro.

Mesmo que seja de maneira inconsciente, a escolha de uma roupa forma uma

composição de signos, de modo a transmitir valores e concepções. O termo “signo”

vem do grego semeîon e significa alguma coisa que está no lugar de outra,

representando-a. Conforme Rabaça e Barbosa (1998, p. 535), uma das primeiras

teorias do signo foi apresentada por Santo Agostinho no qual afirmou que “um signo

é uma coisa que, além da espécie ingerida pelos sentidos, faz, por ela própria, vir ao

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pensamento qualquer outra coisa”. Signo, portanto, é algo que é usado ou referido

no lugar de outro.

Segundo Nöth (2005, p. 18),

A doutrina do signo, que pode ser considerada como semiótica avant la lettre, compreende todas as investigações sobre a natureza dos signos, da significação e da comunicação na história das ciências. E a origem dessas investigações coincide com a origem da filosofia: Platão e Aristóteles eram teóricos do signo e, portanto, semioticistas avant la lettre.

Para designar a ciência geral dos signos, foram adotados os seguintes

termos: semiologia e semiótica. Conforme Nöth (2005, p. 19), alguns pesquisadores

começaram a elaborar as distinções entre os dois termos: “[...] semiótica,

designando uma ciência mais geral dos signos, incluindo os signos animais e da

natureza, enquanto semiologia passou a referir-se unicamente à teoria dos signos

humanos, culturais e, especialmente, textuais”. O termo Semiologia foi criado por

Saussure, em 1916, para indicar a ciência geral dos signos e sua influência na vida

individual e social. Para Saussure, o modelo sígnico é diático, ou seja, o signo

possui duas faces – significante e significado. O significante é uma imagem acústica,

isto é, não é o som da palavra, mas sim a marca psíquica desse som. Netto (2001,

p. 20) exemplifica o significante como “[...] a parte material do signo (o som que o

conforma, ou os traços pretos sobre o papel branco formando uma palavra, ou os

traços do desenho que representa, por exemplo, um cão)”. O significado é uma

referência, um conceito que reside no plano do conteúdo. Segundo Barthes (2006),

o significado não é uma coisa, mas sim uma representação psíquica da coisa. Ou

seja, o conceito veiculado por essa parte material.

No modelo Saussuriano, os signos são criados arbitrariamente pelo homem, e

sua utilidade depende de um acordo ou convenção. Conforme Rabaça e Barbosa

(1998, p. 535), Saussure afirma “[...] que o significante é imotivado, isto é, arbitrário

em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural de realidade”.

Por exemplo, gato não tem relação nenhuma à sequência de sons g-a-t-o que lhe

serve de significante, então poderia ser representada por outra sequência de sons

qualquer. Agora, a palavra dezenove é motivada por combinações, sendo (10+9 =

dezenove), então Saussure fala de arbitrariedade relativa, uma combinação de

elementos motivados pelas regras do sistema da língua.

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Em 1690, Locke usou o nome Semeiotiké para designar uma doutrina dos

signos, porém, o termo semiótica já existia há muito tempo para definir uma teoria

geral dos signos. Conforme Santaella (2004), a semiótica é uma das disciplinas que

faz parte da vasta estrutura filosófica de Peirce, a qual está alicerçada na

fenomenologia, que investiga os modos como apreendemos qualquer coisa que

surge à mente, qualquer coisa de qualquer tipo, como um cheiro, uma imagem em

uma revista, o barulho da chuva, ou algo mais complexo, como um tempo vivido, etc.

Charles Peirce, um dos grandes estudiosos dedicados à semiótica, explica que um

signo “[...] é tudo aquilo que, sob certo aspecto ou medida, está para alguém em

lugar de algo”. (PEIRCE, CP, 2.228 apud NÖTH, 2005, p. 65). Para Peirce, a relação

entre o signo e o objeto é dividida em três partes: ícone, índice e símbolo. Segundo

Netto (2001), temos as seguintes definições: ícone é caracterizado pela semelhança

com o objeto representado como, por exemplo, a fotografia de uma flor; índice é um

indício, algo insinuado como, por exemplo, a fumaça indiciando fogo e símbolo é

caracterizado pela convenção, quando é combinado, como exemplo, uma pomba

branca simbolizando a paz. De maneira resumida, Santaella (2004, p. 20) apresenta

estas três partes da seguinte maneira:

O objeto imediato do ícone é o modo como sua qualidade pode sugerir ou evocar outras qualidades. O objeto imediato do índice é o modo particular pelo qual esse signo indica seu objeto. O objeto imediato do símbolo é o modo como o símbolo representa o objeto dinâmico. Enquanto o ícone sugere através de associações por semelhança e o índice indica através de

uma conexão de fato, existencial, o símbolo representa através de uma lei.

Os signos ainda, com o decorrer do tempo, podem mudar de significado. A

palavra mala, por exemplo, pode designar o objeto, mas pode fazer referência a uma

pessoa chata. Os significantes também variam, pois muitas vezes o regionalismo

pode alterar o som da palavra. Bordenave (2002, p. 49) afirma que “os signos

partilham, pois, do caráter dinâmico da própria sociedade, para quem eles não são

entidades sagradas e definitivas, mas simples instrumentos para a comunicação”.

Para que seja possível a comunicação entre as pessoas é necessário que ambas

partilharem das mesmas experiências com os objetos. Para Bordenave (2002, p.

41), “as pessoas devem ligar os mesmos objetos aos mesmos signos”, pois do

contrário não seria possível estabelecer uma comunicação clara e objetiva.

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Visto que as roupas transmitem mensagens e que a comunicação humana

envolve o uso de signos, o qual é composto por significante e significado, podemos

dizer então que os tecidos, aviamentos ou mesmo a própria roupa são considerados

signos. Um casaco, por exemplo, o som da palavra casaco, a escrita, a imagem

psíquica é o significante. E o item de roupa é o significado. Em relação ao tecido

para confeccionar um casaco, Barnard (2003, p. 123) observa que: “Um tweed de lã

grosso e felpudo pode significar rusticidade e campo, enquanto uma lã penteada,

bonita e macia pode significar sofisticação urbana. Nem o tweed nem a lã penteada

são qualquer dessas coisas, mas são usados para significá-las”.

É através do conhecimento do código – conjunto organizado de signos – que

se sabe o sentido desses tecidos e onde são habitualmente usados. Segundo

Bordenave (2002), todo código tem seus elementos e também suas regras de

combinação. A elaboração de mensagens só é possível através dessas regras que

possibilita as combinações de signos entre si formando os códigos. Podemos ter as

combinações:

Camiseta + shorts + tênis = traje esportivo

Vestido longo + joias + sapato = traje de gala

Neste sentido, Bordenave (2002, p. 55) afirma que “atuam como códigos de

comunicação o corpo e o comportamento da pessoa, os objetos que utiliza, a

maneira com que emprega o espaço e o tempo, além dos signos que se transmitem

pelos meios”. Podemos dizer, então, que a roupa que uma pessoa veste significa e

comunica determinada mensagem. Conforme Castilhos e Martins (2005, p. 35),

Uma das principais características da comunicação humana é a de dotar nosso corpo de significação e, consequentemente, de linguagens que são potencializadas por meio de interferências, assim como pela sobreposição de materiais, que permitem a construção de novas formas e volumes que alteram seu significado, ressemantizando-o ou, em outras palavras, dando novos valores a ele.

Por meio do vestuário cheio de significações, as pessoas comunicam como

veem, ou se veem, e fazem parte da sociedade. Desta maneira, Mesquita (2008, p.

225), afirma que “na moda, as fórmulas identitárias misturam ingredientes que,

supostamente, constituem o modo de ser: arrojo, dinamismo, modernidade,

sofisticação, simplicidade, jovialidade, sensualidade, irreverência, estranheza e

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exotismo.” É, geralmente, através da roupa que se tem a primeira impressão da

pessoa a respeito da personalidade.

No próximo capítulo, será abordada a comunicação organizacional, uma área

fundamental para as organizações, inclusive às ligadas ao setor da moda, com

ênfase para um maior conhecimento sobre o papel das relações públicas nas

organizações.

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3 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS

“‘Comunicação organizacional’, ‘comunicação empresarial’ e ‘comunicação

corporativa’ são terminologias usadas indistintamente no Brasil para designar todo o

trabalho de comunicação levado a efeito pelas organizações em geral.”

KUNSCH (2003, p. 149)

“A expressão Relações Públicas designa os esforços empreendidos por um

indivíduo ou uma empresa para criar um clima de confiança e de boas relações com

seus públicos, e a técnica que procura compreender e sistematizar esta realidade.”

LEGRAIN E MAGAIN (1992, p. 9)

Para que as organizações alcancem a eficácia em seus processos é

essencial que haja uma cultura de comunicação, onde esta deve contar com a

participação efetiva de todos os membros que as compõem. Segundo Kunsch (2003,

p. 69), “o sistema organizacional se viabiliza graças ao sistema de comunicação nele

existente, que permitirá sua contínua realimentação e sua sobrevivência. Caso

contrário, entrará num processo de entropia e morte.” A comunicação baseia-se

numa constante troca de informações entre a empresa e seus públicos e vice e

versa.

As relações públicas possuem um papel fundamental nas organizações, visto

que dispõem de instrumentos para administrar estrategicamente a comunicação.

Segundo Fortes (2003, p. 19), “As Relações Públicas orientam as resoluções do dia-

a-dia da organização e introduzem sua tecnologia, isto é, um conjunto de

conhecimentos que se aplicam e adaptam a determinado setor empresarial.” Têm-se

nas relações públicas estratégias eficazes tanto para a criação e fortalecimento das

relações com seus públicos, quanto na consolidação da imagem corporativa.

Um dos propósitos deste capítulo é situar as relações públicas no ambiente

organizacional, ressaltar seu papel, seus instrumentos e suas estratégias na gestão

da comunicação com os públicos existentes no contexto das organizações.

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3.1 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO

Comunicação é a forma como os indivíduos se relacionam entre si. A palavra

comunicação deriva do latim communicare e significa “por em comum”. Segundo o

Dicionário de Comunicação, “comunicar implica participação (communicatio tem o

sentido de participação), em interação, em troca de mensagens, em emissão ou

recebimento de informações novas”. (RABAÇA E BARBOSA, 1998, p. 151).

Comunicar envolve a ideia de compartilhar e de transferir mensagens,

conceitos e informações entre dois ou mais sistemas. Segundo Berelson e Steiner

(1964 apud LITTLEJOHN 1982, p. 37), "Comunicação: a transmissão de informação,

ideia, emoção, habilidades etc. pelo uso de símbolos - palavras, imagens, números,

gráficos etc. É o ato ou processo de transmissão que usualmente se designa como

comunicação." Sendo assim, a comunicação é o resultado de um processo

complexo de interação simbólica.

Conforme Anderson (1959 apud LITTLEJOHN 1982, p. 37), a comunicação “é

um processo dinâmico, mudando e variando constantemente em resposta à situação

total". Assim, para que se possa por em comum as experiências é preciso haver

consenso espontâneo entre os envolvidos.

Para Dorfles (1984 apud BORDENAVE 2002, p.13),

A comunicação – entendida em sua acepção mais vasta, como utilização dos mass media, como comunicação escrita, falada, cantada, receitada, visual, auditiva e figurativa – está, sem dúvida, na base de todas as nossas relações intersubjetivas e constitui o verdadeiro ponto de apoio de toda a nossa atividade pensante.

Numa visão mais simplificada do processo da comunicação humana são

necessários três elementos nucleares: o emissor (remetente), o receptor

(destinatário) e a mensagem. Conforme explica Penteado (1997), é impossível

completar o processo da comunicação humana faltando qualquer um desses

elementos, pois não se configura comunicação de emissor para receptor sem

mensagem, de emissor e mensagem sem receptor, ou de mensagem sem emissor e

receptor. O quarto elemento fundamental para a comunicação humana é o meio

(contato) pelo qual será transmitida a mensagem e que capacita emissor e receptor

entrar e permanecer em comunicação. Compete ao emissor escolher o meio mais

eficiente para facilitar a interpretação da mensagem pelo receptor. O quinto

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elemento, o código, é o sistema de referência com base no qual se produz a

mensagem. O emissor e o receptor devem empregar o mesmo código, caso

contrário não haverá comunicação. O sexto elemento é o contexto, ao qual se faz

referência durante a comunicação. O contexto representa um referencial situacional,

que deve ser comum para emissor e receptor. Conforme Jakobson (1999, p. 123),

todos esses elementos envolvidos na comunicação podem ser esquematizados da

seguinte maneira:

Figura 1 – Esquema dos elementos da comunicação

CONTEXTO

MENSAGEM

CONTACTO

CÓDIGO

DESTINATÁRIOREMETENTE

Fonte: Jakobson (1999)

A comunicação humana pode ser um ato de mão única, onde um emissor

transmite uma informação a um receptor, ou ainda de mão dupla, onde emissor e

receptor constroem uma informação e a transmitem. O pensador russo Roman

Jakobson (1896-1982), um dos maiores linguistas do século XX, diz que cada um

dos seis elementos acima citados determina uma diferente função de linguagem. Na

obra Linguística e Comunicação, Jakobson (1999) detalha essas funções:

- Função emotiva ou expressiva: está centrada no emissor e visa na

expressão direta de suas emoções e atitudes, de modo subjetivo;

- Função conativa: orientada para o destinatário, é a função que busca

motivar a atenção do destinatário, produzindo um apelo;

- Função fática: quando o ênfase está no canal, para conferir a recepção ou

manter a conexão entre os envolvidos, cujo propósito é prolongar a comunicação.

- Função metalinguística: é a função de verificar se remetente e/ou

destinatário estão usando o mesmo código;

- Função poética: é quando a mensagem se volta para seus próprios

constituintes, tendo em vista produzir efeito estético, através da suspensão da

norma linguística;

- Função referencial: privilegia o contexto e evidencia o assunto, os fatos ou

objeto.

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Cada uma dessas seis funções determina a estrutura verbal de uma

mensagem. Deste modo, conforme Jakobson (1999, p. 129), temos:

Figura 2 – Esquema das funções de linguagem

REFERENCIAL

POÉTICA

FÁTICA

METALINGUÍSTICA

CONATIVAEMOTIVA

Fonte: Jakobson (1999)

Já na perspectiva de Bordenave (2002), a intenção básica da comunicação

pode ser como fonte codificadora, onde o emissor espera que o receptor selecione

sua mensagem, a compreenda, a aceita e, após, a aplique; e como receptor

decodificador, onde deseja selecionar o que é importante para ele, entender, avaliar

para decidir se aceita, e aplicar o que achar válido na mensagem. O objetivo da

codificação é tornar o conhecimento acessível para que possa ser utilizado.

Conforme Bitti e Zani (1997, p. 29), “O processo de codificação envolve uma

complexa série de operações nos níveis cognitivo, emotivo-afetivo e interpessoal:

estes aspectos, na realidade, apresentam-se estreitamente relacionados entre si e

interdependentes [...].” Por outro lado, a decodificação é um processo que envolve

atenção e esforço para recolher todos os dados necessários à compreensão da

mensagem transmitida. Ainda segundo Bitti e Zani (1997, p. 39), “Decodificar

significa, portanto, atribuir um sentido aos dados uniformes da experiência, operar o

conhecimento de um comportamento alheio.” Sendo assim, a tarefa da

decodificação é compreender a significação numa avaliação particular.

Além destas intenções básicas, os indivíduos possuem intenções específicas,

como com o conteúdo da mensagem e com respeito a seu relacionamento pessoal.

Bordenave (2002, p. 22) listou algumas destas possíveis intenções, por exemplo, em

relação ao conteúdo da mensagem: “expressar-se – perguntar – responder –

informar – pedir informação – ensinar – revelar – ocultar – preparar – acusar –

mostrar – divertir – fazer rir – fazer chorar – preocupar – despreocupar – [...] – dar

ordens – aceitar ordens.” E as intenções a respeito do seu relacionamento pessoal,

os indivíduos podem querer, segundo Bordenave (2002, p. 23): “expressar simpatia

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– expressar antagonismo – expressar amor – expressar ódio – oferecer amizade –

solicitar amizade – procurar compreensão – dar apoio – mostrar indiferença – indicar

superioridade – indicar submissão [...].”

Tomando como referência esses conceitos, podemos deduzir que não existe

comunicação sem sociedade. O papel fundamental da comunicação na vida social,

conforme Bessa (2006, p. 35), “[...] é o de conservar e transformar as relações

sociais pela interação crítica das pessoas com valores e saberes transmitidos e

compartilhados na própria relação comunicativa.” Nesse sentido, a comunicação

possibilita a transmissão de valores e crenças; a expressão das individualidades; o

diálogo entre diferentes gerações, grupos sociais, classes, etc.; a expressão da

personalidade. Para Mead (1934 apud BORDENAVE 2002), a sociedade existe na

comunicação e por meio da comunicação, pois é através do uso de símbolos

significativos que nos apropriamos das atitudes dos outros, e os outros se apropriam

das nossas. Segundo o autor, isto significa que a personalidade é um produto social,

criada em virtude da interação com as demais pessoas.

De modo geral, Bordenave (2002, p.119) afirma que:

A comunicação é, pois, um processo natural, uma arte, uma tecnologia, um sistema e uma ciência social. Ela pode ser um instrumento de legitimação de estruturas sociais e de governos como também a força que os contesta e os transforma. Ela pode ser veículo de auto expressão e de relacionamento entre as pessoas, mas também pode ser sutil recurso de opressão psicológica e moral. Através da comunicação a humanidade luta, sonha, cria beleza, chora e ama.

A comunicação, então, não é um ato isolado ou uma série deles, mas sim

uma corrente contínua de informações e conceitos em constante transformação,

vindas de muitas origens e direções.

Num conceito mais contemporâneo, podemos dizer que a comunicação como

processo, contribui para o entendimento de questões mais profundas da

organização, não se limitando somente às questões estruturais. Processo, segundo

Oliveira (2007, p. 9 apud MARCHIORI, 2010, p. 3), “é um conjunto estruturado de

atividades sequenciais que apresentam relação lógica entre si, com a finalidade de

atender e, preferencialmente, suplantar as necessidades e as expectativas dos

clientes externos e internos da empresa.” Podemos considerar, então, que, no

sentido de processo, a comunicação acontece nos ambientes das empresas em

movimentos contínuos, dando sentido à vida organizacional. Conforme Marchiori

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(2010, p. 4), a comunicação em movimento é “[...] aquela que não tem início, meio e

fim, e que possibilita a construção e a reconstrução dos ambientes com sentido para

as pessoas que deles participam.” Sendo assim, a comunicação não é tão somente

transmitir significados ou informações aos outros, mas também, “[...] um processo

social por meio do qual os significados emergem na relação com os outros e com o

mundo.” (DEETZ, 2010, p. 86 apud MARCHIORI, 2010, p. 6). A comunicação como

processo proporciona maior desenvolvimento às organizações, possibilitando às

pessoas que nela atuam explorarem suas potencialidades, despertarem para novos

conhecimentos e buscarem novos desafios. Para Marchiori (2010, p. 9), “assim, os

ambientes organizacionais se tornam mais verdadeiros, mais relacionais e não

estruturados em modelos informacionais que seguem uma trajetória de comunicação

orientada e, portanto, não relacionada ao contexto que se faz no cotidiano dos

relacionamentos entre as pessoas.” Na comunicação concebida como processo, as

pessoas estão em movimento contínuo de interação, mudando constantemente a

realidade social da organização.

Marchiori (2008, p. 158) afirma que:

Para comunicar, é preciso analisar cada contexto, qual o momento a empresa está vivendo, como os grupos reagem, pensam, desenvolvem ações, de que forma o indivíduo entende, percebe e sente. Somente com o detalhamento do contexto – ambiente interno e externo formando processos comunicativos – é que se pode alcançar a eficácia na comunicação, pois esta ação fornece a segurança para a sua realização.

Cada vez mais as organizações precisam de pessoas capazes de se

comunicar entre si, e a comunicação deve estar em equilíbrio com os fatos

ocorridos, gerando, assim, credibilidade e confiança. A seguir, será apresentado

como as relações públicas podem contribuir no processo da comunicação nas

organizações.

3.2 AS RELAÇÕES PÚBLICAS NA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

A comunicação é parte inerente da natureza das organizações, pois estas são

formadas por pessoas que se comunicam entre si através de processos interativos.

Marchiori (2008) afirma que são as pessoas que tornam processos viáveis através

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da comunicação com outros indivíduos e de diferentes níveis, por via do diálogo, da

informação, do compartilhamento de expectativas e da expressão. A comunicação

organizacional, segundo Kunsch (2003, p. 149), pode ser entendida como:

“Fenômeno inerente aos agrupamentos de pessoas que integram uma organização

ou a ela se ligam, a comunicação organizacional configura diferentes modalidades

comunicacionais que permeiam sua atividade.” Em todas as atividades de uma

organização, a comunicação está presente, pois é por meio dela que a organização

constrói e consolida sua imagem perante todos os seus públicos. Para Andrade

(1993, p. 104), “O certo é que as comunicações, em todas as organizações

humanas, representam a chave do sucesso ou insucesso.” A comunicação é

fundamental para as organizações, pois tem por propósito transmitir informações

claras e objetivas, favorecer tomadas de decisões assertivas e desenvolver

relacionamentos que integrem todos os membros envolvidos. Conforme Marchiori

(2008, p. 27),

A comunicação adquiriu notoriedade no campo da gestão organizacional graças ao seu caráter estratégico, que vem sendo reconhecido especialmente pelas empresas que se propõem a acompanhar as transformações e abrir suas portas para os diferentes públicos com os quais se relaciona.

Sendo assim, a comunicação organizacional é um processo que abrange

todas as formas de comunicação utilizadas pela empresa para relacionar-se e

interagir estrategicamente com seus públicos. Segundo Kunsch (2003, p. 149), a

comunicação organizacional é um “fenômeno inerente aos agrupamentos de

pessoas que integram uma organização ou a ela se ligam, a comunicação

organizacional configura as diferentes modalidades comunicacionais que permeiam

sua atividade.” Podemos dizer, então, que a comunicação organizacional é o

processo de produção, transmissão, recepção e realimentação de informações que

acontece nos ambientes organizacionais. Para Rego (1986, p. 105),

A comunicação organizacional deve ser conduzida por um centro de coordenação responsável pelas pesquisas, as estratégias, as táticas, as políticas, as normas, os métodos, os processos, os canais, os fluxos, os níveis, os programas, os planos, os projetos, tudo isso apoiado por técnicas que denotem uma cultura e uma identidade organizacional.

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A comunicação organizacional abrange, conforme Kunsch (2003, p. 150) a

comunicação institucional, a comunicação mercadológica, a comunicação interna e a

comunicação administrativa, que formam o chamado composto da comunicação

organizacional. É essa junção que constitui a comunicação integrada na visão da

autora. A comunicação integrada deve formar um conjunto harmonioso, pois a soma

de todas as atividades é o que garantirá a eficácia da comunicação na organização.

Nesta perspectiva, Kunsch (2003) apresenta cada tipo de comunicação do seguinte

modo:

- comunicação administrativa: é aquela que se processa dentro da

organização, no ambiente das funções administrativas; relaciona-se com o fluxo de

informações que percorrem a empresa e que permitem o funcionamento do sistema

organizacional;

- comunicação interna: é um setor planejado, com objetivos bem definidos e

programas de ação voltados aos colaboradores da organização, com a finalidade de

possibilitar toda a interação possível entre a empresa e seus funcionários; a

comunicação interna reside nas possibilidades que ela oferece de estímulo ao

diálogo e troca de informações, alcançando todos os níveis hierárquicos;

- comunicação mercadológica: é responsável por toda produção comunicativa

das divulgações publicitárias dos produtos ou serviços da organização. É a área de

marketing responsável por fornecer todos os recursos necessários para a criação e

organização da comunicação mercadológica;

- comunicação institucional: é a responsável pela construção e formatação de

uma imagem e identidade fortes e positivas da organização, sendo que estas devem

estar de acordo com filosofia da empresa.

Por meio da união da comunicação administrativa, interna, institucional e

mercadológica, possibilita que se estabeleça uma política global, transmitindo

valores profundos e contribuindo para a construção de uma imagem e identidade

fortes, sintonizadas com as novas necessidades dos seus públicos.

Em relação à relevância da comunicação integrada nas organizações, Kunsch

(1997, p. 116) explica:

Para as organizações em geral, é muito importante a integração de suas atividades de comunicação, em função do fortalecimento do conceito institucional, mercadológico e corporativo junto a toda a sociedade. É preciso incorporar a ideia de uma comunicação globalizante, que nos ajude

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a compreender e acompanhar o ritmo acelerado das mudanças no Brasil e no mundo. Uma combinação parcial e fragmentada nunca conseguirá isso.

Com as constantes mudanças, as organizações precisam cada vez mais de

uma comunicação organizacional baseada numa política global, que possibilite a

criação e o desenvolvimento de ações estratégicas e táticas comunicacionais com

vistas na eficácia.

O diagrama abaixo, apresentado por Kunsch (2003, p. 151) ajuda a

compreender melhor o conceito.

Figura 3 – Diagrama de comunicação organizacional integrada

Fonte: Kunsch (2003)

Desta forma, podemos perceber que a comunicação organizacional agrega

diferentes tipos de comunicação, possibilitando a unificação de processos

comunicacionais. A comunicação integrada, segundo Kunsch (2003, p. 179),

“precisa ser entendida como uma filosofia capaz de nortear e orientar toda a

comunicação que é gerada na organização, como um fator estratégico para o

desenvolvimento organizacional na sociedade globalizada.” Podemos dizer que,

uma organização com um sistema de comunicação integrado, os vários setores de

comunicação trabalham em parceria possibilitando uma linguagem comum entre

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todos os envolvidos, bem como uma coerência maior entre os programas

comunicacionais.

Manter a compreensão mútua entre empresa e seus públicos é o principal

objetivo da atividade de relações públicas. Andrade (1993, p. 29) afirma que “Na

realidade, há tantas definições e conceitos sobre Relações Públicas quanto há

estudiosos, professores, profissionais e admiradores dessa atividade.” A seguir,

podemos observar algumas definições com o emprego de diferentes palavras,

seguindo a escolha de cada autor.

Para a Associação Brasileira de Relações Públicas (apud Andrade 1993, p.

41):

Entende-se por Relações Públicas o esforço deliberado, planificado, coeso e contínuo da alta administração, para estabelecer e manter uma compreensão mútua entre uma organização, pública ou privada, e seu pessoal, assim como entre essa organização e todos os grupos aos quais

está ligada, direta e indiretamente.

A partir desta definição, fica caracterizada a função administrativa atribuída às

relações públicas, bem como, aponta para uma relação de entendimento mútuo

entre a organização e os seus diversos públicos.

A Associação Internacional de Relações Públicas (apud Andrade 1993, p. 41-42) define assim:

Relações Públicas constituem uma função de direção de caráter permanente e organizado, mediante a qual uma empresa pública ou privada procura obter e conservar a compreensão, a simpatia e o concurso de todas as pessoas a que se aplica. Com esse propósito, a empresa deverá fazer uma pesquisa, na área de opinião que lhe convém, adaptando-lhe, tanto quanto possível, sua linha de conduta e comportamento, e, pela prática sistemática de uma ampla política de informação, obter uma eficaz cooperação em vista da maior satisfação possível dos interesses comuns.

As relações públicas são de grande importância nas organizações, pois

dispõem da função de gerenciamento de relacionamentos que proporciona, através

de estratégias, um equilíbrio entre os interesses da organização e dos seus públicos.

Lattimore et al. (2012, p. 23, grifo dos autores) apresentam a seguinte

definição:

As relações públicas são uma função de liderança e gestão que ajuda a atingir os objetivos, definir a filosofia e facilitar a transformação da organização. Os profissionais das relações públicas se comunicam com todos os públicos internos e externos relevantes para desenvolver relações positivas e criar coerência entre as metas da organização e as expectativas

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da sociedade. Esses profissionais desenvolvem, executam e avaliam os programas da organização que promovem o intercâmbio de influências e o entendimento entre as partes e os públicos de uma organização.

O trabalho do profissional de relações públicas está associado ao

desenvolvimento de relações eficazes, com objetivo tanto de atingir as metas da

empresa, quanto de satisfazer as expectativas dos diversos públicos com os quais a

organização se relaciona.

Com intuito de obter uma definição mais objetiva, Cesca (2012, p. 14)

apresenta relações públicas como “[...] uma profissão que trabalha com

comunicação, utilizando todos os veículos/instrumentos para administrar a relação

da empresa com os seus públicos”. Podemos dizer, então, que as relações públicas

reúnem um conjunto de instrumentos que fortalecem a imagem da empresa, as

relações com seus públicos e ajudam a lidar com eventuais crises. Para Lesly

(1995), o objetivo de relações públicas é ajudar organizações e instituições a se

adaptar a seus públicos.

Uma das funções de relações públicas, o gerenciamento de comunicação,

deve contribuir para um relacionamento de entendimento mútuo entre a organização

e os públicos pertencentes a ela. Conforme Kunsch (2003, p. 14):

Mais do que nunca, as organizações precisam planejar estrategicamente sua comunicação, para realizar efetivos relacionamentos. Atender a essas novas demandas dependerá da capacitação e da agressividade dos seus agentes, ou seja, dos profissionais de relações públicas. São eles que devem demonstrar aos dirigentes das organizações como esta área pode agregar valor às suas atividades e contribuir para uma maior responsabilidade social corporativa.

A atividade de relações públicas possui a habilidade de comparar a situação

atual de relacionamentos da organização com a que se deseja chegar, e a partir de

uma análise intensa é definido os planos e meios para alcançar o que se almeja.

Conforme Marchiori (2008, p. 158), “para comunicar, é preciso analisar cada

contexto, qual momento a empresa está vivendo, como os grupos reagem, pensam,

desenvolvem ações, de que forma o indivíduo entende, percebe e sente.” Têm-se

nas relações públicas os instrumentos necessários para elevar o nível de

entendimento e de colaboração, promovendo assim relações de reciprocidade entre

a organização e seus diversos públicos. Ainda, as atividades de relações públicas,

conforme Fortes (2003, p. 40), não acontecem de maneira isolada, mas sim “[...]

como decorrência de esforços deliberados, contínuos e estrategicamente insertos

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em contextos amplos e relevantemente decisivos para os resultados conceituais,

para as políticas de responsabilidade social e de lucratividade do empreendimento.”

Assim, cabe às relações públicas permanecer atenta as mudanças, alterando uma

situação presente que pode ser desfavorável, para um posicionamento futuro mais

favorável e harmonioso.

As relações públicas têm por caraterística ser multifuncional, o que implica

trabalhar com a comunicação integrada e estratégica, colaborando para os negócios

da organização. Para Wey (1983, p. 24 apud CESCA, 2006, p. 34), “é preciso dar a

Relações Públicas a imagem de uma atividade realmente importante no contexto da

administração de empresas, no sentido de aumentar, concentrar e harmonizar

esforços para se conseguir melhores resultados.” Com o intuito de harmonizar os

interesses recíprocos da empresa com seus diversos públicos, as relações públicas

atuam estrategicamente levando em consideração as características próprias de

cada público envolvido com a organização. Públicos estes, que serão conceituados

a seguir.

3.3 RELACIONAMENTOS ESTRATÉGICOS COM OS PÚBLICOS

Público é um grupo de pessoas envolvidas em determinado assunto. Andrade

(1980, p.41 apud FRANÇA 2004, p. 27) define público como:

[...] o agrupamento espontâneo de pessoas adultas e/ou de grupos sociais organizados, com ou sem contiguidade física, com abundância de informações, analisando uma controvérsia, com atitudes e opiniões múltiplas quanto à solução ou medidas a ser tomadas perante ela; com ampla oportunidade de discussão, e acompanhando ou participando do debate geral por meio da integração pessoal ou dos veículos de comunicação, à procura de uma atitude comum, expressa em uma decisão ou opinião coletiva, que permitirá a ação conjugada.

Assim públicos das organizações, são todos aqueles que, direta ou

indiretamente impactam no dia a dia da vida organizacional. Rabaça (2001, p.604

apud FRANÇA 2004, p. 64-65) define público como o “conjunto de indivíduos cujos

interesses comuns são atingidos pelas ações de uma organização, instituição ou

empresa, e cujos atos afetam direta ou indiretamente os interesses da organização.”

Os públicos são a razão da existência da empresa, pois vive para atender e

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satisfazer as necessidades e os desejos dos mesmos. Segundo França (2004, p.

27), “a base da existência dos públicos é a relação, a necessidade de troca de

experiências entre as pessoas, de bens e serviços entre os grupos dos quais ela

depende para sua constituição, seu desenvolvimento e sua sobrevivência”. Pelas

afirmações do autor, sem a existência dos públicos, a organização não teria a quem

vender seus produtos ou serviços, e muito menos quem os produziria. Ainda,

através da troca monetária, beneficia-se tanto quem fornece o produto ou serviço –

empresa, funcionários, fornecedores, etc. – quanto o consumidor, que é favorecido

com a compra.

Uma organização possui mais de um tipo de público e a importância de cada

um deles varia de acordo com o interesse dos próprios públicos para com a

empresa. Para Penteado (1969 apud CESCA, 2006), os públicos dividem-se em:

- público interno: donos de empresa; acionistas; empregados; comunidade;

revendedores.

- público externo: fornecedores; consumidores; concorrentes; entidades

patronais representativas; sindicatos profissionais; órgãos de informação; governo;

público em geral.

Wey (1983 apud CESCA, 2006) faz uma classificação por setores de

convivência:

- público interno: empregados; familiares de empregados.

- público externo: comerciais; financeiros; governamentais; comunitários;

educacionais; comunicacionais; trabalhistas.

Visto que apenas dois tipos eram insuficientes para unir todos os grupos com

os quais as empresas mantem relação, Andrade (1989) acrescentou público misto à

classificação:

- público interno: funcionários; familiares.

- público externo: escolas; imprensa; comunidade; poderes públicos; concorrentes;

- público misto: revendedores; distribuidores; fornecedores; acionistas.

Para França (2004), numa concepção mais atualizada, a conceituação de

públicos consiste em:

- públicos essenciais: constitutivos da organização; não constitutivos ou de

sustentação.

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- públicos não-essenciais: empresas de consultoria, divulgação e promoção da

organização; setores associativos organizados; setores sindicais; setores da

comunidade.

- públicos de redes de interferência: rede da concorrência; redes de comunicação de

massa (mass media).

É importante a empresa conhecer com precisão seus vários públicos.

Conforme França (2004, p. 121), “os públicos existem independentemente da

vontade da empresa. Queira ou não, pela sua própria atuação na sociedade, a

organização interfere no contexto social e nas comunidades onde opera, nos

mercados onde está presente e depende deles nas suas operações.” Cada tipo de

público que interage com a empresa possui características próprias que precisam

ser observadas. Contudo, a divisão entre público externo e público interno não

esclarece de forma completa e precisa os públicos. França (2004) descreve a

importância da nova visão dos públicos estratégicos como “stakeholders”. Os

stakeholders são as partes interessadas na organização. Neste sentido, Hunt (1994,

p. 14 apud FRANÇA, 2004, p. 60), explica que:

É importante ressaltar ainda que o termo não se subdivide em designações de públicos internos e externos; denota as pessoas ou grupos que “estão ‘conectados’ a uma organização porque eles e a organização mantêm um encadeamento lógico de um em relação ao outro.”

Sendo assim, o mesmo indivíduo pode pertencer a mais de um tipo de

público. Segundo França (1997, p. 13) “[...] as mudanças estruturais das

organizações e a globalização do mercado não admitem as definições tradicionais

de públicos, porque todos os relacionamentos foram alterados e surgiram novas

formas de ligação dos diferentes públicos com a empresa.” Compete ao profissional

de relações públicas, identificar os públicos da organização em que atua, para desta

maneira, definir os instrumentos e as estratégias adequadas a fim de manter

relacionamentos duradouros com eles.

A comunicação interna, que faz parte da comunicação organizacional, é

essencial para qualquer organização, pois dirige-se aos colaboradores, um público

estratégico da empresa. Segundo Lemos (2011, p. 155), os colaboradores são

aqueles “ligados à empresa por vínculos de trabalho, afetam ou são afetados por ela

enquanto perseguem sua missão e objetivos.” A comunicação interna nas

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organizações tornou-se fundamental para o sucesso dos programas de

produtividade e qualidade. Além de manter os colaboradores mais informados sobre

a filosofia, as ações e metas da organização, a comunicação interna promove maior

engajamento e motivação. Para Andrade (2003, p. 96), “os funcionários sempre

querem cooperar com a empresa, basta que lhes seja dada meia oportunidade.

Procura-se satisfazer, assim, a necessidade do homem social: a de participar.”

Dispor de colaboradores aliados e parceiros da organização significa contar com um

elemento importante para o cumprimento dos objetivos. Porém, conforme Kunsch

(2003), é importante um projeto de comunicação interna que consiga harmonizar os

interesses dos colaboradores com os da organização. Assim, através de ações

planejadas de comunicação, é possível promover relacionamentos de confiança.

Para Lemos (2011, p. 157),

Numa era em que as informações circulam em velocidade extraordinária, e na qual a exposição de indivíduos e organizações está ao alcance de qualquer um, é ingenuidade pensar numa comunicação interna que suponha que os indivíduos nas organizações estejam isolados do mundo exterior.

Por isto, é necessário construir um mesmo discurso, interno e externo. Os

públicos da organização recebem as informações mais consistentes e transparentes,

ocasionando uma imagem positiva da organização. A comunicação externa é um

meio de estabelecer e consolidar relacionamentos entre a organização e seus

públicos deste meio. Segundo Fortes (2003, p. 77) o público externo é “proveniente

dos grupos que tem expectativas em uma instituição, com o qual é estabelecida uma

rede de relacionamentos [...].” Por meio da comunicação externa, são oferecidas

informações baseadas na realidade organizacional, que colaboram para a

construção de uma imagem favorável. Agregar os objetivos da organização com as

expectativas de seus públicos estratégicos contribui para a eficácia organizacional.

Através de estratégias de comunicação e utilizando os meios adequados, é possível

levar ao conhecimento do público externo, os objetivos, as realizações e

necessidades da organização. Assim como, divulgar seus produtos ou serviços de

forma a conscientizá-los e influenciá-los para a compra.

Em um cenário de constantes mudanças, as organizações precisam

comunicar com competência, fazendo uso de estratégias planejadas e instrumentos

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adequados, a fim de manter bons relacionamentos com os seus públicos e garantir a

sobrevivência da mesma.

3.4 INSTRUMENTOS DE RELAÇÕES PÚBLICAS

As ações desenvolvidas pelas relações públicas requerem ser pensadas e

elaboradas de forma estratégica, de acordo com o público e o objetivo que se quer

atingir. Nesta perspectiva, Cesca (2006, p. 28) afirma ser preciso:

[...] definições dos objetivos com base na política da empresa; determinação do público com o qual se vai trabalhar; aplicação de estratégias adequadas; determinação de recursos técnicos e humanos necessários; fatores condicionantes para a execução; orçamento previsto para aprovação da diretoria; implantação, que é a colocação do projeto em execução; acompanhamento e controle de todas as atividades; e avaliação dos resultados obtidos.

São diversos os fatores que contribuem para o desenvolvimento efetivo da

atividade das relações públicas. Por isso, é importante dispor de instrumentos de

comunicação e linguagem adequados para cada tipo de público com o qual a

organização se relaciona, desta forma evitando percepções e interpretações

inadequadas. De acordo com Simões (1995, p. 159),

Compreendem-se como instrumentos ou técnicas de Relações Públicas todos os recursos utilizados administrativamente como pertencentes à função de Relações Públicas e, como tal, variáveis intervenientes no processo do sistema social organização-público que servem para controlá-lo. Deve-se ressaltar que tal controle é para o benefício do sistema, segundo princípios éticos.

Sendo assim, os instrumentos de comunicação podem ser concebidos como

qualquer agente que se empregue para executar um trabalho, ou seja, tudo aquilo

que serve de meio para alcançar um determinado objetivo comunicacional. As

relações públicas utilizam-se deste conjunto de instrumentos de comunicação para

desenvolver efetivas relações entre a organização e seus diferentes públicos.

Conforme Fortes (2003, p. 239), os instrumentos de relações públicas “propiciam as

maiores chances de obter um resultado positivo, contribuindo com o relacionamento

que se pretende fixar.” É através destes canais de comunicação, adequados

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conforme a situação, que é possível comunicar de forma excelente com todos os

públicos com os quais a organização interage, interna e externamente.

Segundo Simões (1995), tendo como base o significado dos termos

comunicação e fluxo das mensagens, os instrumentos de comunicação podem ser

classificados como:

- instrumentos mistos: bidirecionais, permitem o intercâmbio de informações

através de um mesmo canal, ou seja, que trazem e levam mensagens. Alguns

exemplos: entrevista de demissão, público interno, planejamento participativo,

cerimonial e protocolo, evento;

- instrumentos de saída: única via, podem servir de veículos de informação da

organização aos públicos, ou seja, que levam mensagens. Alguns exemplos: marca,

identidade organizacional, propaganda institucional e comercial, correspondência,

patrocínio, informativos (boletim, jornal da empresa, memorandos, etc.);

- instrumentos de entrada: são os instrumentos que trazem, para à análise, a

informação para junto do setor de Relações Públicas, ou seja, trazem as

mensagens. Alguns exemplos: pesquisas e levantamentos de expectativas, atitudes

e opiniões, relatórios, caixa de sugestões, reclamações, ombudsman.

De maneira simplificada, o autor consegue abranger os mais diversos tipos de

instrumentos de comunicação. Já para Kunsch (2009), dentro das esferas que

compõem a comunicação integrada (institucional, administrativa, interna e

mercadológica), temos a seguinte classificação dos instrumentos:

- comunicação institucional: voltados à comunicação global que a organização

deseja estabelecer, geralmente a todos os públicos organizacionais, com objetivo de

informar sobre produtos e serviços, novos projetos, prestação de contas, notícias

dos setores, entre outros. Alguns exemplos: balanço social, blog e microblog, livro

memória, revista corporativa, site da empresa, TV corporativa;

- comunicação interna e administrativa: no aspecto interno, abertura de canais

de comunicação com os colaboradores para tratar de temas como projetos

organizacionais, notícias, benefícios, discussão de temas relevantes no ambiente

interno; no aspecto administrativo, fazem parte os fluxos operacionais,

comunicações oficiais, procedimentos, informações sobre os negócios e atividades,

entre outros. Alguns exemplos: blog corporativo, boletim interno, intranet, jornal,

newsletter interno, rádio corporativa, revista, TV corporativa;

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- comunicação mercadológica: os meios utilizados procuram destacar

produtos e serviços oferecidos, a atuação da empresa, as demandas do mercado, e

possíveis inovações da organização através de matérias jornalísticas e também

participação dos consumidores. Alguns exemplos: blog e microblog, newsletter,

revista.

Cada vez mais, os instrumentos utilizados pelas relações públicas são

diversificados e, até mesmo, de certo modo, mais tecnológicos. Segundo França e

Leite (2007, p. 32), “o direcionamento da mídia – formas de comunicação por via

oral, escrita, eletrônica, impressa – é um dos fatores condicionantes do êxito na

comunicação.” Em uma organização, a comunicação dirigida aos diversos públicos,

pode ser feita a partir de muitos instrumentos: publicação de jornais, revistas,

boletins, folhetos, relatórios, manuais; quadro de avisos, caixa de sugestões;

utilização de vídeos, filmes, murais, displays; mensagens do presidente,

memorandos e comunicados; comunicação virtual via intranet, internet (mídias

sociais, e-mail, site), rádio e TV; reuniões de treinamento e de debates, bate-papos,

café com o presidente; eventos, festas de confraternização, visitas dirigidas à

empresa; homenagens por tempo de casa, entre outros. Porém, dependendo da

situação e dos objetivos que se pretende atingir, alguns instrumentos de

comunicação podem ser mais efetivos do que outros.

Em relação à aplicabilidade dos instrumentos utilizados pelo profissional de

relações públicas, para Simões (1995), o principal compromisso deste profissional é

perceber qual o tipo de troca a ser estabelecida entre a organização e seus públicos.

A partir disto, na sequencia, definir qual ou quais meios mais aptos a promover e

sustentar a relação pretendida entre os envolvidos na situação. Sendo assim, para

obter êxito no uso de qualquer instrumento de comunicação, o profissional de

relações públicas deve conhecer a natureza de cada veículo, identificar o público a

qual se destina a mensagem e empregar a linguagem adequada para cada ocasião.

E, não basta apenas dispor destes instrumentos, é importante alimentar os públicos

com informações na medida de suas expectativas, a fim de satisfazê-los e

sensibilizá-los por meio das mensagens.

As informações precisam ser permanentes e bem programadas. Por essa

razão, o profissional de relações públicas precisa utilizar estes instrumentos de

forma estratégica, com objetivo de manter uma relação de reciprocidade entre a

organização e seus diversos públicos.

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3.5 ESTRATÉGIA: BASE DA ATIVIDADE DE RELAÇÕES PÚBLICAS

As relações públicas, por meio de estratégias planejadas, ajudam a construir

relacionamentos efetivos com os públicos que afetam a organização ou que podem

ser afetados por ela, proporcionando maior diálogo, visibilidade e interação entre os

envolvidos. De maneira simplificada, Lattimore et al. (2012, p. 128) definem

estratégia assim: “[...] é uma forma ou formas como você vai atingir seus objetivos.”

Neste mesmo sentido, Oliveira (2002, p. 196 apud FARIAS, 2011, p. 57) define

estratégia como “caminho, ou maneira, ou ação formulada e adequada para

alcançar, preferencialmente, de maneira diferenciada, os desafios e objetivos.” Para

os autores, as estratégias são usadas para determinar alternativas diferenciadas a

fim de alcançar certos objetivos. Na comunicação organizacional, as estratégias de

relações públicas contribuem para modificar, reforçar ou preservar a identidade

organizacional ou ainda, para estimular as transformações desejadas.

O estabelecimento de estratégias de relações públicas junto à organização

promovem novas oportunidades no relacionamento entre a empresa e os seus

públicos. A partir disto, é essencial destacar as funções executadas por este

profissional. Segundo Kunsch (2003, p. 126), o Conselho Federal de Profissionais de

Relações Públicas (CONFERP) definiu as quatro funções específicas da atividade,

sendo elas:

1. Diagnosticar o relacionamento das entidades com seus públicos; 2. Prognosticar a evolução da reação dos públicos diante das ações das entidades; 3. Propor políticas e estratégias que atendam às necessidades de relacionamento das entidades com seus públicos; 4. Implementar programas e instrumentos que assegurem a interação das entidades com seus públicos.

A partir disto, percebe-se que as relações públicas possuem o papel de

administrador de relacionamentos, necessários para o êxito dos objetivos

organizacionais. Ainda para Kunsch (2003, p. 126), estas funções são “inerentes ao

processo de relacionamento das organizações com seus públicos e ao campo da

comunicação organizacional.” Em relação à aplicabilidade destas funções, a autora

relacionou as atividades de relações públicas:

I. Realizar: a) pesquisas e auditorias de opinião e imagem; b) diagnósticos de pesquisas e auditorias de opinião e imagem; c) planejamento estratégico de comunicação institucional; d) pesquisa de cenário institucional; II.

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Estabelecer programas que caracterizem a comunicação estratégica para a criação e manutenção do relacionamento das instituições com seus públicos de interesse; III. Planejar, coordenar e executar programas de: a) interesse comunitário; b) informação para a opinião pública; c) comunicação dirigida; d) utilização de tecnologia de informação aplicada à opinião pública; e) esclarecimento de grupos, autoridades e opinião pública sobre os interesses da organização; IV. Dedicar-se ao ensino de disciplinas de teoria e técnicas de Relações Públicas; V. Avaliar os resultados dos programas obtidos na administração do processo de relacionamento das entidades com seus públicos. (KUNSCH, 2003, p. 126-127)

Para obter a eficácia nas ações de relações públicas, conforme Fortes (2003),

é necessário desenvolver as seguintes funções básicas: pesquisa, assessoramento,

coordenação, planejamento, execução, controle e avaliação. Cada função básica de

relações públicas desencadeia outras funções específicas, dependendo da situação

em que a organização está inserida. Ainda para Fortes (2003, p. 48), “as funções

básicas têm caráter estratégico, pois suportam os relacionamentos estabelecidos e

necessários para bem situar a organização perante seus públicos e ambientes.”

Sendo assim, as relações públicas são mais eficazes quando o profissional identifica

os públicos estratégicos e desenvolve uma rede de relacionamentos que permite

que ambas as partes possam ser beneficiadas. Além de garantir a qualidade nos

relacionamentos entre a organização e os diversos públicos com a qual interagem,

as estratégias de relações públicas também favorecem a criação e veiculação de

valores a serem incorporados pelos colaboradores, fornecedores, acionistas,

consumidores, entre outros, que resultem, entre outras vantagens, na melhoria de

seus negócios. Segundo Vieira (2004, p. 40),

O Relações Públicas – gerenciador da Comunicação Organizacional – além de procurar criar e manter o conceito positivo da organização, pode funcionar através de sua gestão como um poderoso formador de estratégia, pois o ideal deste gerenciador é a construção da imagem competitiva, até porque o elemento que sustenta a estrutura da instituição chama-se credibilidade, legitimando assim seus interesses públicos e privados.

Definir uma estratégia de comunicação acarreta em estabelecer limites, ou

seja, encontrar ou criar uma proposta diferente e única, ao invés de experimentar de

tudo um pouco, apontando para várias direções ao mesmo tempo. No ambiente

organizacional, é preciso ajustar as atividades e intensificar as energias de todas as

áreas relacionadas, colocando-as em sinergia para que os objetivos possam ser

alcançados com maior rapidez e eficácia/eficiência. Segundo Lattimore et al. (2012,

p. 123), “os esforços de relações públicas muitas vezes fracassam em função de

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problemas de comunicação entre profissionais da área e outros gestores na

organização.” A sintonia entre as áreas contribui para que as estratégias sejam

implementadas de forma eficaz, estando em sintonia com os objetivos da

organização.

As relações públicas empregam estratégias que procuram, por um lado,

conhecer os públicos, seus desejos, valores, padrões e, por outro, disseminar a

filosofia e políticas da organização para, estrategicamente, aproximar empresa e

públicos objetivando ganhos mútuos. A sustentação da organização está baseada

na capacidade de gerar relacionamentos harmoniosos e produtivos e as relações

públicas desempenham papel essencial neste processo.

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4 O PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS NO MERCADO DE MODA

A necessidade de se relacionar com seus públicos é característica comum a

todas as organizações. Neste sentido, Simões (1995, p. 58) afirma que as relações

públicas,

Surgem com a própria estrutura, com e no funcionar organizacional. Fazem parte, intrinsicamente, da organização, qualquer que seja sua classificação, tamanho ou finalidade. São operacionalizadas pela própria organização, por tudo o que a mesma fizer ou deixar de fazer. Sempre que existir uma organização, existirá um conjunto de ações implicando relações públicas, bem ou mal realizadas.

Porém, é evidente que, para obter uma comunicação eficaz, ela deve ser

planejada e executada pelo profissional de relações públicas, gestor da

comunicação. Vieira (2004, p. 40) destaca que:

O Relações Públicas – gerenciador da Comunicação Organizacional – além de procurar criar e manter o conceito positivo da organização, pode funcionar através de sua gestão como um poderoso formador de estratégia, pois o ideal deste gerenciador é a construção da imagem competitiva, até porque o elemento que sustenta a estrutura da instituição chama-se credibilidade, legitimando assim seus interesses públicos e privados.

O profissional de relações públicas constrói e mantem, por meio de

estratégias comunicacionais, relações eficazes com os mais diversos públicos que

interagem com a organização. E uma comunicação estratégica é elemento

fundamental para obter o sucesso de uma coleção de vestuário de moda e/ou para o

fortalecimento da marca. Durante o processo de criação e desenvolvimento das

peças que irá compor uma coleção de roupas de uma empresa, uma comunicação

objetiva e eficaz é imprescindível no ambiente interno da organização, contribuindo

desta maneira para o bom andamento dos processos. Conforme Marchiori (2008, p.

235), “os funcionários só se comprometem a partir do momento em que estejam

informados e integrados em um determinado contexto, o que exige contínua troca de

informações e alteração de comportamentos da empresa e dos próprios

funcionários.” Assim, para que a comunicação possa desempenhar seu papel nas

organizações, é preciso que todos os envolvidos, desde a direção até os

funcionários que desempenham funções mais simples, entendam seu valor, e

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contribuam para o desenvolvimento da mesma. Desta maneira, Vieira (2004, p. 27),

afirma que:

[...] o gestor da comunicação, sobretudo o Relações Públicas, numa responsabilidade gerencial, deverá ser capaz de inserir a organização no processo produtivo, o que exigirá a implementação de eficazes programas de comunicação, acompanhados de programas de qualidade e informações de relato veraz, promovendo o entendimento sob a ótica da comunicação excelente, uma via de mão dupla.

Além de sustentar o fluxo de informações no ambiente organizacional, através

de uma comunicação estratégica elaborada pelo profissional de relações públicas,

os colaboradores ficam informados do conceito de cada coleção, sendo estes,

potenciais divulgadores dos produtos e da marca. Neste sentido, Kunsch (2003, p.

159) afirma que:

O público interno é um público multiplicador. Na sua família e no seu convívio profissional e social, o empregado será um porta-voz da organização, de forma positiva ou negativa. Tudo dependerá do seu engajamento na empresa, da credibilidade que esta desperta nele e da confiança que ele tem em seus produtos ou serviços.

Desta maneira, torna-se imprescindível uma comunicação clara, objetiva e

eficaz para que todos entendam os temas das coleções, os direcionamentos e o

processo na qual estão envolvidos.

A partir do momento em que a coleção fica pronta, as empresas do setor do

vestuário recorrem a produtores de moda e à profissionais de comunicação para

divulgar seus produtos. Para Feghali e Dwyer (2001, p. 23), “Os produtores ficam

responsáveis por colocar peças em jornais, revistas e catálogos, e os relações

públicas por encaixar matérias e notas em mídias variadas”. Diante de um mercado

cada vez competitivo, a comunicação é essencial para a divulgação da coleção.

Segundo França (1997, p. 10), Relações Públicas:

É também uma atividade mercadológica na medida em que se estabelece as melhores formas de relacionamento com o mercado e, ao mesmo tempo, cria melhores oportunidades de vendas, gerando um “clima de negócios”, de compreensão, de aceitação da empresa e de seus produtos pela projeção que relações públicas faz de um conceito positivo da empresa, de seus produtos e de seus negócios.

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O profissional de relações públicas pode atuar como assessor de imprensa,

produtor de conteúdo e produtor de eventos. Deste modo, este profissional

apresenta estrategicamente os conceitos de cada coleção, mostrando as novidades

mais relevantes para o consumidor, agregando valor às peças criadas. Na

comunicação de um produto de moda, conforme Mesquita (2008, p. 224), “campos

subjetivos são trabalhados para transmitir ao consumidor valores conceituais e

emocionais [...]. O que se mostra é um jeito de viver e não calças em jeans; um

grupo de amigos e não camisetas; um modo de ser e não vestidos.” São essas

características conceituais e emocionais que tornam uma peça de roupa desejada e

valorizada pelo público-alvo. Para esta divulgação, o profissional de relações

públicas pode utilizar-se de diversos instrumentos como as mídias sociais, revistas,

jornais, publicidade, desfiles de moda, catálogos, etc. Segundo Caldas (2006, p. 64),

“[...] o papel da mídia é fundamental, seja para estabelecer o elo entre a indústria e o

consumidor, seja pelas estratégias de comunicação das marcas”. Parece ficar

evidente que, em razão dos aspectos econômicos em jogo, as empresas utilizam os

meios de comunicação para divulgar a moda e transformá-la em algo essencial para

viver em sociedade. Conforme Hennigen e Guareschi (2002, p. 128 apud PEREIRA

E HORN 2010, p. 121), “[...] os discursos sobre os modos de ser e estar no mundo

se produzem e reproduzem nos diferentes campos de saber e práticas sociais, mas

passam a existir ‘realmente’ desde o momento em que acontecem no espaço dos

meios de comunicação.” Pelas observações dos autores, podemos dizer que por

meio do uso dos meios de comunicação, além de se difundir a moda, a comunicação

também influencia a maneira de vestir da sociedade.

Uma marca de moda possui uma identidade conceitual e esta passa a ser

mais valorizada a partir do momento em que desperta o desejo, a admiração e o

reconhecimento de quem a veste. Conforme Faccioni (2012, p. 72), “O segredo do

valor de uma marca está no conceito gravado na mente do consumidor. Antes de ser

real, é psicológico, já que referencia um poder imaginário e que vale muito dinheiro.

É o poder psicológico da moda.” São esses aspectos intangíveis que colaboram

para a construção de uma marca. Tavares (1998, p. 211) destaca que:

Para se criar um valor de marca, a empresa deve propiciar condições para que o consumidor melhore sua habilidade em lembrar e reconhecer a marca. Deve criar, manter e fortalecer as várias associações positivas, voltadas para sua unicidade e favorabilidade.

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Para isto, ações estratégicas aliadas ao uso de instrumentos adequados de

relações públicas são indispensáveis, a fim de divulgar as necessidades e desejos

que a marca satisfaz a quem adquire certa peça de roupa. Ainda, por meio destas

ações, a marca exterioriza aos seus stakeholders ativos simbólicos que remetem à

identidade da organização. Desta maneira, o trabalho do profissional de relações

públicas colabora para agregar valor à marca, assim ajudando na conquista dos

objetivos mercadológicos da organização.

Com base no que foi apresentado, podemos dizer que o profissional de

relações públicas tem função estratégica dentro das organizações, com o objetivo de

manter e sustentar relacionamentos de entendimento mútuo e para a consolidação e

valorização da marca e dos conceitos das coleções de moda junto aos seus

stakeholders, com vistas a melhorar o desempenho da empresa e seu rendimento

financeiro.

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5 O CASO FARM

"A Farm é uma grife de comportamento. Todas as ações giram em torno da vida

dessa menina para quem fazemos vestidos, saias, batas."

Marcello Bastos, Sócio Fundador da FARM (PIMENTA, 2014)

A gestão da comunicação no segmento de vestuário de moda se tornou um

tema pertinente para estudo, merecedor de uma análise a respeito do assunto nas

bibliografias existentes.

O público consumidor de moda busca uma relação emocional com o produto,

e esta é estabelecida pelas características presentes em determinada peça de

roupa, seja pela marca, modelo, cores ou textura, que expressam algum tipo de

comunicação, e que vão ao encontro aos valores e crenças pessoais de quem

pretende adquirir o produto.

Desta forma, a comunicação organizacional deve estar atenta às

necessidades de seus públicos estratégicos, visto que a sociedade vive em

constante transformação. Tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo da

organização, uma comunicação clara, objetiva e eficaz é elemento fundamental para

se obter sucesso nas coleções de moda e sustentar relacionamentos duradouros

com os públicos que interagem com a empresa.

A partir disto, a contextualização do assunto por meio da pesquisa

bibliográfica, juntamente com a apresentação de um case, é uma das formas

metodológicas, a qual assumimos neste estudo, para refletir sobre as possíveis

contribuições que o profissional de relações públicas – gestor da comunicação –

pode oferecer a uma organização do segmento de vestuário de moda. Visto que a

empresa elegida para elaboração do case não possui profissional de relações

públicas na equipe de comunicação, em alguns momentos, será apontada a

possibilidade de atuação deste profissional no contexto da organização.

Assim sendo, a organização escolhida para realização do estudo foi a FARM,

empresa brasileira que atua no segmento de vestuário de moda. De acordo com o

material disponibilizado pela empresa para o presente estudo, a FARM possui

dezoito anos de história e conta com lojas espalhadas por todas as regiões do país.

Ela é reconhecida pelo estilo de vida carioca desejado mundialmente, sendo assim,

vista como sinônimo de moda carioca. Além disto, a FARM diferencia-se pela

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qualidade nas suas ações de comunicação, mantendo relações próximas entre os

conceitos das coleções e/ou a empresa com os consumidores da marca.

As informações apresentadas neste caso foram concedidas por Raphaela

Menezes, que possui formação em publicidade e propaganda e integra a equipe de

marketing, através de material institucional da FARM e por pesquisas nas mídias da

empresa.

5.1 FARM: O ESTILO DE VIDA CARIOCA

A FARM iniciou suas atividades no ano de 1997, no Rio de Janeiro. Tudo

começou num pequeno estande na Babilônia Feira Hype – evento que agrupava

marcas alternativas e que foi a base para o lançamento da FARM. Com estampas,

cores e descontração, o lugar em pouco tempo ficou pequeno. Os idealizadores e

sócios da marca, Marcello Bastos e Kátia Barros, logo conseguiram identificar quem

era a garota “carioca da zona sul” e transformar a FARM em sinônimo de moda

carioca.

Conforme Betti (2010), a sócia fundadora, em entrevista à revista Veja,

explica que o significado do nome FARM, o contrário do que se imagina, não tem

relação com fazenda – tradução do inglês – e sim, faz referência à famosa Rua

Farme de Amoedo, localizada em Ipanema.

Figura 4 – Logotipo da FARM

Fonte: Adaptado da Internet

Em 1999, a empresa abre sua primeira loja em Copacabana, zona sul do Rio

de Janeiro. Com forte crescimento, em 2001, abre a segunda loja em Ipanema e a

terceira, na Barra da Tijuca. Foi no fim deste mesmo ano que, a partir da

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constatação da venda de quarenta e duas mil peças, superando as expectativas

iniciais de quinze mil peças, os sócios começaram a se preocupar com o

posicionamento da marca, com os critérios para escolha de novos pontos de venda

e com a diversificação do mix de produtos.

O centro do Rio de Janeiro recebeu a FARM em outubro de 2002, gerando

um crescimento nas vendas da marca em 20%. No mesmo ano, a empresa abre

uma loja em Búzios, e a quantidade de fãs aumenta na mesma medida das vendas.

A sexta loja é inaugurada em 2003, no Shopping da Gávea, escolhida

estrategicamente para atingir um público novo e formador de opinião.

As lojas do Icaraí Fashion, em Niterói, e do Rio Design Barra, no Rio de

Janeiro, foram inauguradas no fim de 2004.

O ano seguinte foi marcado pela expansão da marca em outros estados. Belo

Horizonte recebeu duas lojas, uma no pátio Savassi, e devido à ótima aceitação da

marca, abre outra no Diamond Mall. No mesmo ano são inauguradas, ainda, uma

loja em Brasília e outra, no Shopping Rio Design Leblon, no Rio de Janeiro.

A FARM lança seu primeiro voo internacional em 2006, participando de uma

temporada de verão na Galeries Lafayette de Paris. Além disso, inaugura uma

unidade no Market Place em São Paulo e, a primeira loja sazonal de inverno em

Campos do Jordão. Neste mesmo ano, a FARM é convidada a inaugurar uma loja

no Shopping Iguatemi, em São Paulo, onde em apenas um mês de atendimento, o

espaço obteve a maior venda por m² de moda jovem feminina da história do

shopping. Ainda, a FARM se torna pioneira ao lançar a Linha Home, com a criação

de produtos para casa, lazer e vestuário.

Em 2007, a empresa abre em Ipanema a sua primeira flagship com um novo

conceito – grande espaço comercial voltado para um determinado estilo de vida.

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Figura 5 – Flagship em Ipanema

Fonte: Adaptado da Internet

Conta com trezentos e vinte metros quadrados, sem vitrine convencional e

muito verde, formas orgânicas, luz natural, som nas cabines e jardim interno.

Neste mesmo ano, a FARM inaugura sua primeira loja em Salvador, e uma

pop up store – loja aberta repentinamente e que funciona por certo tempo, apenas

aproveitando uma concentração momentânea de público – na Praia do Rosa. Em

São Paulo, a FARM conta com uma loja em Maresias, numa casa de frente para o

mar, e em Ilha Bela, no DPNY, considerado um dos melhores hotéis do mundo.

Já as lojas de Recife, Fortaleza, Florianópolis e Campinas foram inauguradas

em 2008. Este ano ficou marcado por importantes conquistas. Uma delas foi a Casa

FARM, um novo espaço planejado para proporcionar exclusividade aos clientes, em

Ipanema. Outro marco foi a fábrica da FARM, onde todo o processo é feito, desde a

criação, costura, corte até a estamparia, no qual os trezentos funcionários diretos

trabalham em uma área de sete mil metros quadrados no bairro de São Cristóvão,

no Rio de Janeiro. Ainda, a empresa lança a Fábula, grife infantil criada para

meninas de um a dez anos, e que consiste em uma marca colorida, cheia de

estampas, descolada e inovadora, mantendo o mesmo conceito FARM. Ainda em

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2008, a marca inaugura outra loja-conceito no Shopping Fashion Mall no Rio de

Janeiro. Esta que, atualmente, é a maior de todas as lojas.

Em 2009, a primeira loja flagship é inaugurada em São Paulo e a FARM

conquista Curitiba, Porto Alegre. Neste ano é criado o blog Adoro!, sucesso total,

com cinquenta mil visualizações por dia e vinte e cinco mil seguidores no Twitter, e

ainda, em 2009, a moda da FARM espalhou-se na decoração, a partir da parceria

com a JRJ. Também, é inaugurada a pop up store em Trancoso, na Bahia.

Figura 6 – Ambiente externo da pop up store FARM de Trancoso-BA

Fonte: Blog Adoro!

A casa no estilo pescador à beira mar busca aproveitar o turismo do

local, proporcionando aos clientes o clima de “estar em casa”.

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Figura 7 – Ambiente interno da pop up store FARM de Trancoso-BA

Fonte: Blog Adoro!

No ano de 2010, com o crescimento constante, a empresa inaugurou a

primeira loja em Belém, a terceira em Brasília, a segunda em Porto Alegre e em

Curitiba. E mais, duas lojas em São Paulo, e uma loja inaugurada em Goiânia, Natal

e Vitória. É neste mesmo ano que, em Nova York, a FARM foi ganhadora do troféu

Global Fashion Awards, na categoria Experiência de Compra. A premiação é

promovida pelo portal WGSN, maior site do mundo de pesquisas, tendências e

notícias do setor de moda. Assim como, ocorre a união da ANIMALE (importante

marca de roupas e acessórios femininos) com a FARM.

Já em 2011, a marca teve grande expansão em São Paulo. É também

lançada a fan page oficial da marca no Facebook, contando com mais de 600 mil fãs

e simpatizantes. Ainda, foi lançada a página oficial da marca (www.farmrio.com.br –

adoro! + loja virtual + lookbook + galeria + rádio + mídias sociais).

No ano de 2012, a FARM fez uma parceria com a Pantone – empresa

conhecida mundialmente pelo seu sistema de cores usado pelas indústrias gráfica e

têxtil –, desenvolvendo uma coleção exclusiva com cinco cores e uma estampa

criada pela marca. Em 2012 a empresa comemorou seus 15 anos da FARM e

também ocorreu o lançamento da Linha Quero.

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Figura 8 – Itens da Linha Quero.

Fonte: Adaptado da Internet

A Linha Quero consiste numa série de produtos-desejo com itens para a casa,

livros, skates, pranchas, stand-up paddles, bicicletas, fones, bustos e muitos outros

artigos que estão nos pontos de vendas e também no e-commerce da FARM.

No ano de 2013, a casa FARM de verão, em Ipanema, ganhou o Prêmio

Colunistas como case de marketing. Também a marca fez parceria com a loja Oppa,

criando uma linha de móveis para casa, o que reforça o desejo da marca em vender

o estilo de vida FARM.

Em 2014, em parceria mundial com a Adidas Originals, as estampas da

FARM foram usadas nas famosas jaquetas firebird e que se estendeu também a

outras peças, sendo sucesso de vendas. Além disso, a empresa chegou aos mais

de duzentos mil seguidores no Instagram @adorofarm e um milhão e setecentos mil

fãs no Facebook, tornando a marca uma das maiores comunidades de moda

feminina do Brasil.

Com a união das grifes FARM e Animale, efetuou-se a criação do Grupo

Soma, que passou a abrigar, além destas duas, as marcas Fábula, A.Brand e FYI. O

grupo possui cento e cinquenta e oito lojas próprias e pretende em 2015 abrir mais

vinte e duas. Somente a FARM dispõe de sessenta lojas espalhadas pelo Brasil e,

atualmente, conta com quatrocentos e cinquenta colaboradores na fábrica de São

Cristóvão. Porém, a marca ainda possui dois centros de distribuição que são

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divididos com o Grupo Soma. Contando todas as marcas, o grupo possui com um

mil e quinhentos colaboradores.

Durante a trajetória da FARM foram feitas diversas parcerias: Havaianas,

Pantone Universe, Converse/All Star, Bicicletas Lev, Câmeras Lomography, móveis

Oppa, Sorvete Itália, Disney, JRJ tecidos para decoração, site RIOetc, bloco de

carnaval Spanta!, Adidas, esmaltes Colorama, Papel Craft e com o projeto “Rio, eu

amo, eu cuido”. Todas as parcerias feitas pela marca são com empresas que de

alguma forma, são ligadas à essência da Farm.

A FARM se posiciona como uma empresa de vestuário de moda que através

de suas criações cheias de cores e estampas, definem o estilo de vida da jovem

carioca.

Figura 9 – Estilo de vida carioca

Fonte: Material interno FARM

A grife FARM é uma marca profundamente conceitual e consolidada

especialmente entre o público jovem, considerada relevante no mercado da moda do

Rio de Janeiro e do Brasil. Esse conceito da FARM pode ser percebido através de

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seu discurso institucional, onde a empresa reúne imagens, modelos e pensamentos

que objetivam construir valores e crenças a respeito do “jeito de ser carioca”. A

essência de “ser carioca”, neste contexto, caracteriza-se pela jovem ser alegre e de

bem com a vida, gostar de sol, praia e carnaval, ser despojada, jovial, simpática e

informal. Assim, a FARM é a marca da garota carioca “descolada” e moderna, que

aprecia a natureza e a arte, e que está sempre conectada às mídias sociais. Desta

forma, os produtos da FARM são criados com muita riqueza de detalhes, em

combinações suaves, utilizando diferentes cores e estampas de flores e bichos,

onde as peças transmitem as características da jovem carioca praiana.

Conforme observado, a FARM vai para além das praias da zona sul do Rio de

Janeiro, está presente em diversas regiões do país, oferecendo o estilo de vida da

jovem carioca para todas as mulheres que compartilhe desses mesmos valores.

5.1.1 Público-Alvo

O foco estratégico adotado pela FARM é que o estilo de vida da carioca

jovem da zona sul, seja objeto de desejo das mulheres do Brasil e do mundo.

Isto posto, o público-alvo da FARM é formado, basicamente, por jovens

universitárias entre 18 e 25 anos de idade, das classes A e B, conectadas à internet,

modernas, “alto-astral”, formadoras de opinião e que acompanham as tendências de

moda. Dessa forma, a consumidora não busca apenas uma roupa para vestir, e sim,

procura também roupas e objetos que a envolvem nesse estilo de vida. São os

valores simbólicos agregados às peças de roupa que fazem da FARM ser tão

desejada e consumida.

A FARM buscando estar em sintonia com os desejos das consumidoras,

segundo Betti (2010), organiza encontros semanais com garotas na faixa de vinte

anos de idade para captar interesses e gostos do momento. Logo, é possível

detectar as tendências e os elementos atuais que identificam o jeito de ser da garota

carioca. Assim, a consumidora identifica e admira os atributos da FARM, e passa a

querer essa característica para si mesma.

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5.2 A COMUNICAÇÃO NA FARM

A FARM criou um conceito de marca fortemente projetado em princípios e

valores baseados, sobretudo, no estilo de vida da jovem carioca da zona sul:

despojada e moderna numa vida praiana com muitas cores. Segundo Othon, Rosa e

Bittencourt (2013, p. 09),

O sucesso da marca está não somente nas roupas que ela produz em si, mas no comportamento e estilo de vida traduzidos pela riqueza de detalhes, combinações suaves e estampas marcantes das suas roupas, que aguçam a delicadeza, o imaginário e a feminilidade da mulher, sentimentos repassados para o público consumidor através de diversas estratégias de comunicação que só reforçam o posicionamento da marca no mercado e a fazem ter um grande poder de referência.

Atualmente a equipe de comunicação da FARM, tendo como base o material

enviado pelo setor de marketing, conta com três redatoras e uma analista digital com

o trabalho voltado para as mídias digitais. Ainda possui um departamento de

branding que colabora com pautas, posicionamento de marca e um departamento de

design que atende aos pedidos de imagens e identidade. Porém, não conta com a

atuação de um profissional de relações públicas formado. Desta forma, a proposta

aqui é apresentar a comunicação da FARM e relacioná-las com o trabalho do

profissional das relações públicas, expondo, desta maneira, que este profissional

pode estar inserido neste segmento de mercado.

O diretor de marketing da FARM André Carvalhal, em entrevista ao blog

Bethânia Lima declara que,

Toda comunicação é focada no cliente, com foco no relacionamento e no ponto de venda, ferramentas que servem para reforçar o estilo de vida da marca e aproximar a marca das clientes. Não é feito nenhuma ação com foco na prospecção de novas clientes, nem ações de comunicação de massa (como anúncios, desfiles, mídia exterior), o desejo é que o conhecimento sobre a marca seja propagado pelo “boca-a-boca”, uma coisa intimista, entre amigas.

Desta forma, a marca não participa de desfiles das semanas de moda do

Brasil e nem anuncia seus produtos nos veículos de comunicação. Suas principais

ações de comunicação com os consumidores estão relacionadas ao uso das redes

sociais, como o blog, site, Twitter, Facebook. Ao invés de, por exemplo, contratar

uma modelo ou artista para estrelar o lançamento de uma nova coleção, na qual

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atrairia novos consumidores, a FARM prefere valorizar as clientes já conquistadas,

através das mídias sociais, comunicando, a cada nova coleção o estilo, de vida da

marca.

Conforme Oliveira (2013), André Carvalhal em entrevista ao Blog Just Found,

afirma que para ser um comunicador de moda, este profissional precisa entender de

pessoas, ou seja, é preciso entender do público da marca. A partir desta

perspectiva, podemos dizer que o profissional de relações públicas possui

conhecimento e habilidades para atuar neste segmento, visto que, segundo Kunsch

(2002, p. 167) o trabalho de relações públicas “[...] busca conhecer os públicos numa

perspectiva da dinâmica do ambiente, levando em conta as contingências, as

ameaças e as oportunidades advindas desse universo social e organizacional.” Este

profissional, além de conhecer com precisão os públicos da organização em que

atua, dispõe de instrumentos adequados e estratégias eficazes para divulgar a

identidade da marca.

Ainda, na mesma entrevista, André Carvalhal afirma que, juntamente com sua

equipe, cuida de toda parte estratégica de marketing da marca, ou seja, as redes

sociais, o relacionamento com o cliente, os eventos, as ações promocionais e de

comunicação da marca, bem como parte das histórias que são geradas pela FARM.

Sendo assim, a equipe de marketing da FARM poderia contar com o suporte de um

profissional de relações públicas, pois, conforme Yanaze (1997, p. 59),

Devemos entender que marketing é a filosofia empresarial que norteia a ação da empresa no mercado e que relações públicas, como propaganda e promoção de vendas, são atividades de comunicação que aproximam a empresa de seu público, informando, persuadindo e convencendo-o a adotar uma postura positiva em relação a ela.

O departamento de branding da FARM, segundo Betti (2010), é responsável

por criar uma identidade forte e inconfundível. Deste modo, a FARM apresenta lojas

com arquitetura diferenciada e inovadora, trilha sonora com músicas para combinar

com a coleção, e um fornecimento incessante de novidades com preço competitivo e

grades baixas para geração de desejo. São detalhes que tornam a identidade FARM

única, diferenciando-se da concorrência. A seguir, veremos as estratégias de

comunicação da FARM que apresentam esse estilo de vida carioca de ser.

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5.2.1 Estratégias de comunicação externa da FARM

A internet, atualmente, é um forte meio para construir e consolidar uma marca

o mercado. Ela possui papel essencial na consolidação da marca FARM, visto que a

empresa não utiliza os veículos tradicionais de comunicação. Sendo assim, o

profissional de relações públicas poderia integrar a equipe de comunicação da

marca, uma vez que a internet é um instrumento que este profissional utiliza para

criar e manter relacionamentos duradouros entre a organização e seus públicos,

proporcionando maior notoriedade da empresa diante de seus consumidores. Pinho

(2003, p. 07) destaca que:

Tecnologia emergente e promissora ferramenta de comunicação, a internet representa o mais novo instrumento que o profissional de relações públicas pode contar para o seu trabalho de influenciar positivamente os públicos de interesse de empresas e instituições. Os recursos tecnológicos e as principais aplicações de internet precisam ser bem mais conhecidos em suas características para oferecer o adequado suporte e estratégias de relações públicas, especialmente por permitir a prática e uma comunicação aberta e dialógica e o estabelecimento de relacionamentos mais próximos, permanentes e duradouros entra a organização e os diversos públicos que a constituem e com ela interagem.

A proximidade entre a marca e os consumidores é reforçada com diferentes

ações nas redes sociais. A presença da FARM nas mídias sociais tornou-se uma

estratégia eficaz, pois além de facilitar a compra de produtos e apresentar conteúdos

que evidenciam a identidade da marca, transformou-se em um modo eficiente de

fidelizar clientes. Segundo o material institucional fornecido pela FARM, a redes

sociais revolucionaram a maneira de comunicar das empresas e, desta forma, as

marcas de moda criaram suas próprias ferramentas de comunicação com as

consumidoras, colocando interação, informação e o estilo de vida como principais

elementos da construção da identidade. A partir dessa mudança no ambiente de

negócios e nas estratégias de marketing, a aproximação da FARM com o público-

alvo só aumentou, pois as clientes passaram a ver a marca como uma “amiga”, que

fala de assuntos interessantes, dá dicas e responde às dúvidas. Além disso, o uso

das redes sociais nos negócios possui muitas vantagens, pois são um veículo

barato, direto e eficaz. Apenas com a geração de conteúdos atraentes é possível

atingir um expressivo número de pessoas. A própria natureza das redes sociais

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possibilitam características que contribuem com o trabalho de relações públicas.

Neste sentido, Pinho (2003, p. 17) afirma que:

As características de velocidade e de instantaneidade da Internet também são positivas, pois o profissional de Relações Públicas tem a possibilidade de responder de imediato a situações de crise, de reagir logo às notícias e

de capitalizar rapidamente certas situações favoráveis. Os instrumentos de comunicação utilizados pela FARM possibilitam agregar

valor às peças criadas e à marca. A abordagem do blog Adoro!, um dos canais de

comunicação mais consolidados e criado em dezembro de 2008, é a de uma jovem

que seria o público-alvo da marca. A maneira de comunicar, a escolha das palavras

e temas é mesmo que uma garota qualquer usaria em seu blog, e não de uma

empresa. O emprego desse estilo faz com que as clientes enxerguem a FARM como

uma “amiga”, e não meramente uma marca de roupa. O Adoro! é referência de

informação de moda, aborda assuntos diversos do setor, notícias sobre cultura,

música e arte, dicas de viagens, oportunidades de contratação, ações desenvolvidas

pela empresa e conteúdos a respeito da cidade do Rio de Janeiro, indo além do

lançamento de coleções.

O Twitter, criado em junho de 2009, é utilizado pela FARM como forma de

comunicação do blog, para comunicar promoções e divulgar o estilo de vida da

marca. Visto que o Twitter é uma das ferramentas mais instantânea de comunicação

online, exige da empresa uma alimentação constante, pois o que é dito, em poucas

horas já perde o alcance. As principais estratégias adotadas no Twitter pela marca

são a de responder às dúvidas e, caso seja necessário, encaminhar para o

atendimento ao cliente. Além de fortalecer as promoções executadas no blog Adoro!,

a marca divulga ações de outras empresas se consideradas pertinentes ao público-

alvo da FARM. Desta maneira, a marca, através do Twitter, procura informar e

construir uma ferramenta que seja interessante em todos os aspectos.

A marca também possui um canal de vídeos no YouTube, onde apresenta

apenas vídeos-editoriais, lookbook e making-of de coleções, ações realizadas. Neste

canal, a interação com os consumidores ocorre através dos comentários.

O Adoro FARM, perfil do Facebook, criado em dezembro de 2011, é outro

meio de relacionamento adotado pela empresa. A página apresenta produtos do e-

commerce, liquidações, informações sobre moda, cultura, arte, música, e, assim

como as demais mídias da empresa, divulga o lifestyle da marca. Neste canal de

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comunicação, o público-alvo se relaciona com a marca a partir de curtidas ou

compartilhamentos, assim como através de comentários sobre o post. Ainda, a

empresa possui um aplicativo para celular, criado em fevereiro de 2015, onde os

usuários podem ficar conectados a tudo o que acontece no blog Adoro! em qualquer

lugar e a qualquer hora.

No site da FARM, os consumidores encontram essas mídias – Twitter,

Facebook, YouTube, Blog – e ainda o Tumblr, um tipo de blog criado em junho de

2011, onde os funcionários compartilham somente imagens que acharem relevantes

para a marca. Além da apresentação institucional e das coleções, através da

website as consumidoras podem adquirir os produtos no e-farm, comércio online de

produtos com entrega para todo Brasil. Ainda, o usuário pode selecionar a música

que deseja ouvir enquanto navega pelo site, através da rádio inteiramente

personalizada. Ainda conforme os dados fornecidos pela FARM, a empresa segue

no Twitter, um grupo de clientes que tem o perfil da marca e formadores de opinião.

Essa observação das atualizações dos usuários é uma das fontes de pesquisa de

conteúdo. Já no Facebook, a equipe de marketing da marca analisa o engajamento

dos usuários e o público que mais se identificou com os posts. Esta também é uma

maneira de pesquisar os assuntos que mais interessam e emocionam os usuários.

Assim, as redes sociais se tornaram um meio prático de influenciar e dialogar

com os clientes, possibilitando a identificação de expectativas e gostos. Conforme

Terra (2012, p. 99),

As mídias digitais permitem agilidade nos processos organizacionais e criam oportunidades que podem ser potencializadas e estimuladas no ambiente virtual como alternativa de comunicação e experiência. Todas as ferramentas fazem com que o universo de trocas simbólicas entre indivíduos aumente consideravelmente, aumentando também as possibilidades de interação entre os usuários, dando uma nova lógica às relações na rede.

A partir disto, podemos dizer que a FARM poderia contar com a atuação de

um profissional de relações públicas. Por este profissional conhecer com precisão os

públicos que interagem com a organização, elabora estratégias de comunicação,

neste caso, voltadas para as mídias digitais, que contribuem para divulgar o conceito

de cada coleção, para modificar, reforçar ou preservar a identidade organizacional, e

ainda, para estimular o diálogo entre empresa e consumidores. Sherwin e Avila

(1999:6, apud PINHO, 2003, p. 17) afirmam que, tendo como base as estatísticas

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que mostram que 81% das pessoas usam a rede para pesquisar novos produtos e

que 84% dos usuários sentem que a internet os ajuda a tomar melhores decisões,

as relações públicas precisam estar na rede mundial deixando disponíveis

informações que vão auxiliar uma infinidade de pessoas na tomada de decisão. O

profissional de relações por estabelecer as melhores formas de relacionamento com

os clientes e de enfatizar um conceito positivo da empresa e de seus produtos, cria

as melhores oportunidades de vendas, gerando uma aceitação dos produtos

oferecidos.

As redes sociais se tornaram ambientes de admiradores da marca e não

somente de clientes. Em qualquer canal, os usuários estão interessados e tem

desejo de se relacionar com a marca. Por isto, faz-se necessário a constante

elaboração de conteúdo para essas mídias. Independentes de serem clientes ou

não, o público das mídias sociais deve ser valorizado, pois eles divulgam o lifestyle e

o nome da marca. Através delas é possível mensurar e analisar as ações

desenvolvidas pela marca, por meio da participação do público, em comentários,

opiniões e compartilhamentos. Logo, com a publicação de informações

espontâneas, esses instrumentos de comunicação podem beneficiar ou

comprometer uma organização. Neste sentido, Terra (2012, p. 36) afirma que “para

lidar com a situação, grandes corporações estão contratando profissionais

especializados no assunto ou empresas de relações públicas. Abre-se aí um

mercado para profissionais de RP e de gestão de imagem de rede.” Assim o

profissional de relações públicas, atuando no âmbito das mídias sociais, traça

estratégias de relacionamento com o público-alvo e monitora a marca.

Além das mídias sociais, a empresa adota estratégias inovadoras que visam

agregar valor à marca. Conforme o blog da marca, a FARM abre as portas para a

realização de cursos na qual são abordados assuntos como: conceito de coleção, e-

commerce, o cenário atual da moda, pesquisa de tendências e movimentos

culturais. Durante estes cursos, ministrados por profissionais da FARM, os

participantes podem conhecer toda empresa e todos os processos. Ainda, a marca

promove o “Troca Amor”, que consiste em um trailer transformado em loja solidária,

que possibilita a troca de mercadorias por trabalho voluntário. As pessoas vão até a

loja móvel e escolhem um produto e uma ação solidária, e, depois de realizada, em

até dois meses, o cliente retira a peça escolhida. Deste modo, através das diversas

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estratégias de comunicação, a FARM busca reforçar a sua identidade, objetivando

desta forma, agregar maior valor à marca e as coleções criadas.

Os consumidores da FARM, não buscam somente uma roupa ou objeto

diferenciado, mas também buscam um envolvimento com o estilo de vida da marca.

Desta maneira, o profissional de relações pode contribuir significativamente no

processo de relacionamento entre a FARM e seu público-alvo. Neste sentido, Ferrari

(2009, p. 84) afirma que:

Uma das funções mais importantes de Relações Públicas é a de ordenar e administrar a inter-relação organização/públicos e públicos/organização, tanto para sua classificação, quanto para a criação e elaboração de diretrizes e mensagens adequadas a cada um deles, de acordo com seus interesses e suas expectativas.

A FARM se caracteriza por uma comunicação com interação, com

informações sobre diversos assuntos e divulgação do lifestyle da marca. Desta

maneira, o profissional de relações públicas poderia contribuir eficazmente no setor

de comunicação da marca, já que, conforme Sousa (2004, p. 14) “[...] a atividade de

RP é deliberada e formatada para influenciar com intenção, aumentar a

compreensão, difundir informação e obter feedback dos públicos-alvo.” Assim, o

trabalho do profissional de relações públicas, além de buscar a consolidação e

valorização da marca e dos conceitos das coleções de moda junto aos seus

consumidores, busca melhorar o desempenho da empresa e seu rendimento

financeiro.

Como o público-alvo da FARM é caracterizado por garotas jovens,

conectadas às mídias sociais e formadoras de opinião, a empresa precisa estar

atenta quanto à forma de comunicar. Segundo Kunsch (2003, p. 109), “as relações

públicas, por meio da comunicação, viabilizam o diálogo entre a organização e seu

universo de públicos, senda essa mediação uma de suas funções essenciais.” Logo,

as relações públicas reúnem um conjunto de instrumentos que fortalecem a imagem

da empresa, as relações com o público-alvo e ajudam a lidar com eventuais crises.

O profissional de relações públicas, gestor da comunicação, desempenharia

na FARM papel estratégico para o desenvolvimento de relações eficazes,

objetivando tanto atingir as metas da empresa, quanto satisfazer as expectativas dos

consumidores da marca.

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5.2.2 Estratégias de comunicação interna da FARM

Já no ambiente interno, a FARM utiliza estratégias de comunicação pensadas

também a partir do estilo de vida carioca. Conforme pesquisas ao conteúdo do blog

Adoro! , a marca, que tem por característica ser inovadora, realiza conferências e

ações de modo a integrar e gerar o sentimento desse lifestyle, e não somente a

apresentar informações de determinado produto ou coleção. Num clima totalmente

descontraído e alegre, as ações buscam despertar em seus colaboradores um bom

sentimento pela marca e fazer com que eles se sintam integrados nos processos de

trabalho. Desta maneira, podemos dizer que o profissional de relações públicas

possui habilidades suficientes para ajudar a organização a atingir esse objetivo.

Segundo Freitas (1997, p. 42),

O relacionamento da organização em âmbito externo será reflexo do tratamento da comunicação em âmbito interno, facilitando seus negócios. Assim, a comunicação adquire papel estratégico e relações públicas pode ajudar as organizações no seu processo de comunicação estratégica, fazendo com que as organizações conheçam primeiras a si próprias, para, a seguir, melhor se comunicarem com seus públicos externos.

Conforme o material institucional fornecido pela equipe de marketing, os

colaboradores da FARM, tanto as vendedoras das lojas quanto a equipe de trabalho

da fábrica, são pessoas jovens dentro do conceito da marca e do perfil do público-

alvo. Muitas funcionárias já eram clientes da marca e essa identificação facilita o

relacionamento. Desta maneira, com a contratação de profissionais que tenham a

ver com o conceito da FARM, torna a equipe mais próxima e unida.

A fábrica apresenta uma estrutura moderna e confortável, com ambientes

coloridos e decorados pensados de acordo com o estilo da FARM. Ainda na fábrica,

durante o processo de elaboração de uma coleção, as peças já prontas ficam em

araras à disposição dos funcionários, para que eles possam conhecer e entender o

conceito da coleção. A empresa, formada por equipes jovens e criativas, promove

ações que buscam integrar e valorizar os colaboradores. Exemplo disso é o

“Mercadinho Vintage”, um tipo de feira montada no jardim da empresa, toda

decorada no estilo carioca e com peças de diversas coleções, exclusiva para os

colaboradores adquirirem. Outra ação é o “Café na fábrica”, onde o jardim da

empresa é todo decorado e transformado para o café da manhã, tendo bebidas e

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comidas bem cariocas, com o objetivo de comemorar os aniversários do mês. Logo,

conforme Vieira (2004, p. 45),

Valorizar o indivíduo na organização é fator primordial, sob a ótica da Comunicação Organizacional, sobretudo nas ações específicas de Relações Públicas. Isto não só porque estando os colaboradores satisfeitos o nível de produtividade se eleva, como principalmente porque, assim procedendo, a empresa assume sua função como unidade social.

Como toda a comunicação é elaborada por colaboradores dentro do estilo da

empresa, fica evidente a padronização na comunicação, pois tanto no ambiente

interno quanto no externo, as ações de comunicação são coordenadas de acordo

com o lifestyle da FARM.

Pelo exposto acima, podemos dizer que o profissional de relações públicas

poderia assumir um papel importante dentro da FARM. Na comunicação interna, as

estratégias elaboradas por este profissional, além de manter os colaboradores mais

informados sobre a filosofia, as ações e metas da organização, busca promover

maior engajamento e motivação. Assim, a comunicação interna, segundo

Scroferneker (2007, p. 91), “[...] pretende desenvolver o sentimento de

pertencimento, estimular a interação, o diálogo e satisfação no ambiente de

trabalho”. O profissional de relações públicas dispõe de instrumentos adequados e

utiliza a linguagem correta para sustentar o fluxo de informações no ambiente

organizacional e ainda, manter os colaboradores informados sobre o conceito de

cada coleção.

Podemos dizer que, o profissional de relações públicas ocuparia uma função

estratégica dentro da empresa, com o objetivo de manter e sustentar

relacionamentos de entendimento mútuo. Como as principais ações de comunicação

da FARM estão relacionadas ao uso das redes sociais e os colaboradores estão

dentro do perfil do público-alvo da marca é preciso mantê-los informados e

integrados na organização, visto que estes são potenciais divulgadores da marca.

Neste sentido, Terra (2012, p. 77) afirma que:

São eles que emergem como potenciais embaixadores da organização, da marca, dos produtos e serviços, ilustrando novas facetas para a mídia e para as táticas e estratégias de relações públicas pensarem e incluírem nos planejamentos de comunicação.

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Visto que a sustentação de uma organização está baseada na capacidade de

gerar relacionamentos harmoniosos e produtivos, e na FARM, o profissional de

relações públicas poderia desempenhar papel essencial neste processo.

5.3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES EM RELAÇÃO À COMUNICAÇÃO DA FARM

PELA PERSPECTIVA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS

A FARM, por ter uma trajetória de sucesso, é vista como uma empresa

modelo no que diz respeito à comunicação de sua identidade. Devido ao seu grande

crescimento e por ter uma comunicação quase totalmente focada na web, faz da

marca um objeto de pesquisa escolhido muitos acadêmicos. Durante o processo de

contato com a empresa para possível elaboração do caso que faz parte deste

estudo, foi possível perceber que a empresa não está preparada para atender essa

demanda. Além da demora em responder os e-mails, foi necessário fazer vários

contatos para chegar à área de comunicação e obter a informação que a empresa

não contava com um profissional de relações públicas formado atuando. Desta

forma, iniciaram-se os contatos com diversas empresas do segmento de vestuário

de moda. Após contatar com muitas empresas da região e do Brasil, não foi

identificado nenhum profissional de relações públicas atuando na área da

comunicação. As empresas deste setor contam com a presença, em sua grande

maioria, de jornalistas e publicitários, e as demais dispõem de assessoria de

empresas especializadas em comunicação de moda.

A partir desta constatação, decidiu-se então fazer o caso com a FARM e,

relacionar a comunicação desta marca com a atuação do profissional de relações

públicas. O departamento de marketing enviou informações em relação à quantidade

de colaboradores e de lojas, e forneceu o material institucional, na qual apresentava

de maneira sucinta, a trajetória da FARM e os instrumentos utilizados para

comunicação da marca com os consumidores. Infelizmente, mesmo após o envio da

declaração de compromisso quanto ao uso das informações obtidas da marca, não

foi possível obter maiores informações a respeito da comunicação da empresa.

Percebem-se, desta maneira, a falta de normas internas para proceder em

casos de solicitação de estudo da empresa e a ausência de um profissional

responsável para atender esta demanda. Em busca de informações que

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complementassem o case, foi possível identificar, a partir de outros estudos

realizados em torno da marca, um padrão de informações obtidas sobre a FARM. Os

dados apresentados nesses estudos, além do material institucional, são de fonte de

terceiros (revistas e blogs) e da observação dos próprios acadêmicos.

Em relação à possível atuação do profissional de relações públicas na

comunicação da FARM, pesquisando no blog Adoro!, foram identificadas três

oportunidades em que este profissional poderia estar se inserindo na empresa. Com

o título “FARM Seleciona”, a empresa divulga no blog as oportunidades de trabalho.

As vagas são para diversas áreas, porém, a seguir, serão apresentadas às voltadas

para a área de comunicação:

- oportunidade em 15 de junho de 2015: Estagiário de redação para redes sociais –

é preciso estar cursando Comunicação Social – desejável experiência com moda e

em redação publicitária. Vai participar da criação de textos para as redes sociais,

assim como textos institucionais da marca e comunicação com as clientes;

- oportunidade em 05 de junho de 2014: Redatora de Marketing – é preciso ter

formação em Comunicação Social, experiência como redatora publicitária, e

desejável experiência com moda, para criação dos textos institucionais da marca,

releases, e-mail marketing e comunicação com as clientes;

- oportunidade em 07 de agosto de 2013: Analista Sênior de Marketing Digital –

precisa ser formada em Comunicação ou Marketing para cuidar de toda parte digital

e de conteúdo da FARM, pensando sites, aplicativos, vídeos, além de campanhas

de mídia.

Analisando a descrição das vagas, é possível perceber que, para o

profissional de relações públicas poder integrar a equipe da FARM, precisaria ter

conhecimentos de outras áreas, como moda, marketing e publicidade. Esta talvez

seja a maior razão da empresa não contar com a atuação deste profissional, pois

este profissional precisa se especializar em diversos segmentos. Além do mais, ter o

perfil do público-alvo da marca.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo preocupou-se em analisar o papel do profissional de

relações públicas na valorização dos conceitos comunicacionais do mercado de

moda, enquanto função estratégica na comunicação para a construção de

relacionamentos eficazes entre as coleções de vestuário de moda e a marca com o

público-alvo.

Na moda, os elementos se misturam, formando significados que compõem o

modo de ser da pessoa que veste determinada peça de roupa: modernidade,

simplicidade, sofisticação, sensualidade, entre tantas outras formas. Com um

vestuário cheio de significações, as pessoas comunicam como veem, ou se veem, e

fazem parte da sociedade. À vista disso, a roupa torna-se um fator determinante no

modo de como as pessoas julgarão a personalidade de um indivíduo.

Sendo que o indivíduo comunica seu modo de ser, suas crenças e valores

através do vestuário, as estratégias de comunicação elaboradas pelo profissional de

relações públicas auxiliam na implantação de ações comunicacionais. Estas ações

promovem a disseminação dos conceitos elaborados nas coleções de vestuário de

moda, desenvolvendo desta forma, a valorização dos produtos e,

consequentemente, da marca por parte do público-alvo.

O profissional de relações possui papel fundamental nas organizações de

moda, pois dispõem de habilidades que facilitam o gerenciamento de comunicação

organizacional. Muito mais que sustentar o fluxo de informações na empresa e criar

e manter relacionamentos de compreensão mútua entre a organização e os seus

públicos, o profissional de relações públicas, por meio de estratégias e instrumentos

adequados, busca desenvolver ações de legitimação dos produtos criados, da

marca e da identidade corporativa, garantindo maior notoriedade perante os diversos

públicos com que se relaciona.

A partir disso, este estudo se propôs a buscar fundamentos teóricos e

apresentar o caso de uma organização de vestuário de moda, que bastassem para

responder à questão norteadora do presente estudo: qual o papel do profissional de

relações públicas na valorização dos conceitos comunicacionais do mercado de

moda? O questionamento norteador possuía três hipóteses, as quais foram

confirmadas parcialmente após o estudo realizado.

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A primeira hipótese destaca que no mercado da moda, o trabalho do

profissional de relações públicas assume papel fundamental para agregar valor aos

conceitos das coleções junto ao público-alvo. Ela foi confirmada parcialmente,

considerando que a bibliografia pesquisada apontam indícios que este profissional

elabora estratégias e dispõe de instrumentos adequados para comunicar com

excelência em um setor de constante renovação. Rego (1986) afirma que as

Relações Públicas trabalham com a persuasão pela identificação de valores entre

empresa e seus públicos, tornando simpático e favorável um conceito e uma

identidade empresarial.

O profissional de relações públicas colabora na divulgação dos conceitos das

coleções criadas por meio de projetos de comunicação estratégicos. Este

profissional pode atuar na organização de eventos (desfiles, feiras, salões de moda,

etc.), na assessoria de imprensa, na elaboração de comunicação virtual e produção

de editoriais de moda voltadas ao público-alvo.

Com planos estratégicos de comunicação elaborados por profissionais de

relações públicas, é possível agregar valor aos conceitos das coleções, onde as

roupas criadas conseguem obter maior prestígio perante o público consumidor.

A segunda hipótese, confirmada parcialmente após estudo da bibliografia

disponível consiste que o profissional de relações públicas cria e mantém relações

entre os públicos e as coleções, agregando valor à marca. Wey (1986) afirma que as

atividades de relações públicas dão suporte ao esforço da propaganda e de

merchandising e estas se revelam por influências discretas não vendedoras, mas

cujas consequências são poderosas sobre o desejo de compra do consumidor.

Ainda, as Relações públicas desenvolvem certas atividades que, associando nomes

e marcas de produtos, conferem o prestígio da empresa ao produto. Desta maneira,

as ações de relações públicas divulgam as necessidades e desejos que a marca

satisfaz a quem adquirir certa peça de roupa. Logo, as relações públicas conseguem

estreitar os relacionamentos entre a organização e seus diversos públicos,

construindo vínculos emocionais do produto e, por conseguinte, da marca com seu

consumidor.

Através dos programas de relações públicas, as organizações procuram

atender as expectativas dos públicos, buscando combinar elementos simbólicos e

funcionais da marca com as estratégias mercadológicas e institucionais, visando o

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cumprimento dos objetivos da organização. Quanto mais fortes forem os valores

ligados à marca, mais atraídos os consumidores ficarão.

A terceira e última hipótese foi confirmada parcialmente após estudo

bibliográfico, que mostra indícios de que o profissional de relações públicas pode

atuar gerando e sustentando o fluxo de comunicação que favorece o processo de

criação e desenvolvimento de uma coleção e o entendimento do seu conceito por

parte do público interno. Considerando que o profissional de relações públicas

favorece uma comunicação clara, objetiva e eficaz, onde todos possam entender os

temas das coleções, os direcionamentos e o processo na qual estão envolvidos.

Ianhez (1997) afirma que as relações públicas apoiam, orientam e assessoram todas

as áreas dentro da organização, no que se refere à maneira mais pertinente de

conduzir as relações. Assim, além de sustentar o fluxo de informações no ambiente

organizacional, os colaboradores ficam informados do conceito de cada coleção,

sendo estes, potenciais divulgadores dos produtos e da marca.

A apresentação de um caso é uma das formas metodológicas para refletir

sobre as possíveis contribuições que o profissional de relações públicas pode

oferecer a uma organização do segmento de vestuário de moda. Para a elaboração

do caso que faz parte deste estudo, foram contatadas diversas empresas, tanto da

região quanto do Brasil, a fim de localizar uma empresa na qual tivesse o

profissional de relações públicas formado atuando na comunicação da empresa. A

partir destes contatos, não foi possível localizar nenhum profissional de relações

públicas atuando no segmento de vestuário de moda. Empresas contatadas como

Iódice, Alexandre Herchcovitch, Ellus, Marisol, Maria Filó, Sacada e Giuliana

Romanno dispõem de assessoria especializada em moda da MKTMix. Outras

empresas como Morena Rosa, Lança Perfume, Anselmi, Cativa e Pettenati contam

com profissionais de jornalismo atuando na comunicação na organização. A busca

estendeu-se também em empresas como Patrícia Bonaldi, Biamar, Miss Blue,

Malise, Lez a Lez, Lolitta, Cavalera, Mondabelle, Mariana Martinez, Di Corpo,

Personalitá, Rola Moça, Hering, Dudalina, Kohmar, Youcom, entre outras. Além do

mais, foram feitas postagens em grupos de relações públicas no facebook em busca

desse profissional, e contatado com a coordenadora de moda da Universidade de

Caxias do Sul, professora Adriana Job Ferreira Conte, para possível conhecimento

da atuação de algum profissional de relações públicas na área da moda.

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Em contato com o Grupo Malwee, foi possível constatar que apesar da

organização possuir três departamentos de comunicação - Endomarketing,

Comunicação de Moda e Comunicação Corporativa – não possui nenhum

profissional de relações públicas atuando. Stephani Luana Loppnow, integrante da

equipe de comunicação da Malwee esclarece que a empresa poderia tranquilamente

ter um profissional de relações públicas na equipe, apenas não foi o caso ainda. A

partir das constatações acima, alguns questionamentos se fazem pertinentes. O

profissional de relações públicas não está identificando as oportunidades neste

segmento de mercado? Este profissional não está suficientemente preparado para

atuar neste ramo? As empresas voltadas ao vestuário de moda ainda não

perceberam a importância deste profissional?

O segmento de vestuário de moda, segundo Prado (2015), tem uma

estimativa de crescimento em 2015 de 0,7% para a produção nacional de vestuário

em volumes de peças, ou seja, a população brasileira irá adquirir 7,1 bilhões de

peças de vestuário. Com o crescimento neste segmento, as empresas precisam

investir em estratégias de comunicação mercadológicas e institucionais a fim de

estabelecer um relacionamento efetivo com seus consumidores. Para atuar como

comunicador no segmento de vestuário de moda, além de saber identificar com

precisão os públicos da organização, este profissional precisa ter conhecimentos da

área de moda, do mercado, do marketing e outras, para elaborar estratégias

eficazes, com vistas a melhorar o desempenho da empresa e seu rendimento

financeiro. Outro ponto a ser analisado sobre uma possível atuação do profissional

de relações públicas no mercado de moda, é que as organizações não conhecem

muito bem a profissão e tende a transferir suas funções para outros profissionais. O

segmento de vestuário de moda é um amplo mercado para ser explorado pelo

profissional de relações públicas – gestor da comunicação. Porém, o levantamento

destas questões é apenas o ponto de partida de um extenso tema. Para dar

continuidade a esta pesquisa, poderia ser feito um estudo aprofundado sobre o real

motivo do profissional de relações públicas não estar atuando em organizações do

segmento de vestuário de moda. Por se tratar de um tema pouco estudado do ponto

de vista acadêmico, são inúmeras as abordagens que poderiam ser feitas.

A partir da constatação de que nenhuma das organizações contatadas

contava com a atuação do profissional de relações públicas, decidiu-se então fazer o

caso com a FARM e, relacionar a comunicação desta marca com a atuação deste

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profissional.

A empresa brasileira do segmento de vestuário de moda, FARM, não conta

atualmente com a atuação de um profissional de relações públicas. Todavia, o

profissional de relações públicas na FARM teria um papel importante, pois este

elabora estratégias que, segundo Ferrari (2009), são os caminhos que este

profissional escolhe para desenvolver programas e ações de comunicação, levando

em consideração os cenários internos e externos, bem como os elementos que

compõem a organização: a missão, a visão, as normas e a filosofia que norteiam a

organização. A autora ainda complementa que as estratégias estão relacionadas

com a visão de mundo da organização, ou seja, de acordo com sua cultura, com sua

maneira de ser (internamente) e de enxergar o mundo (externamente). Assim, por

meio de estratégias planejadas, o profissional de relações públicas ajuda a construir

relacionamentos efetivos com os públicos que interagem com a organização,

proporcionando maior diálogo, visibilidade e interação entre os envolvidos.

A FARM, por ter um público-alvo segmentado e exigente precisa estar atenta

às necessidades desse público formador de opinião, pois tanto pode falar muito bem

da marca como criticar e, eventualmente, pode gerar uma crise de imagem. Desta

forma, as relações públicas, conforme Terra (2011), proporcionam as organizações

entendimento e relacionamento com todos os públicos, sendo assim, atribuições

dessa atividade entender as necessidades desses públicos e escolher os

instrumentos certos para cada tipo específico, nas mais diversas situações. Deste

modo, é importante alimentar os públicos com informações na medida de suas

expectativas, a fim de satisfazê-los e sensibilizá-los por meio de mensagens.

A presença da FARM nas redes sociais é uma estratégia eficaz para a

divulgação do lifestyle da marca. Neste sentido, Terra (2011) afirma que a web,

como ferramenta de relações públicas, maximiza os relacionamentos construídos

por meio de uma comunicação aproximativa, podendo alcançar desta forma novos

públicos em relacionamentos não presenciais. Ainda a autora afirma que a web pode

ser utilizada por relações públicas como mídia de apoio, suporte e divulgação para

outros canais de comunicação da empresa. Assim, as mídias digitais contribuem

para divulgar o conceito de cada coleção, preservar a identidade da marca, e ainda,

para estimular o diálogo entre empresa e consumidores. Deste modo, o profissional

de relações públicas, através das redes sociais, pode mensurar e analisar as ações

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desenvolvidas pela marca, por meio da participação do público, em comentários,

opiniões e compartilhamentos.

O profissional de relações públicas por ser multifuncional, o que implica

trabalhar com a comunicação estratégica e integrada, colabora para os negócios da

organização e para a divulgação dos ativos simbólicos que remetem à identidade da

marca e das coleções criadas, com vistas na consolidação e valorização da marca e

dos conceitos das coleções de moda junto aos seus stakeholders.

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APÊNDICE A

PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

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ANEXO A

DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DO USO DAS INFORMAÇÕES

OBTIDAS SOBRE A FARM