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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)
MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Carla Adriana Oliveira Silva
AS FESTAS HISTOacuteRICAS E RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO ATUANDO NO
DESENVOLVIMENTO DO POTENCIAL TURIacuteSTICO DA CIDADE
Brasiacutelia
2014
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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)
MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Carla Adriana Oliveira Silva
AS FESTAS HISTOacuteRICAS E RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO ATUANDO NO
DESENVOLVIMENTO DO POTENCIAL TURIacuteSTICO DA CIDADE
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado Profissional em Turismo da Universidade de Brasiacutelia como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de mestre
Orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Pereira Barroso
Brasiacutelia 2014
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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)
MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Dissertaccedilatildeo de autoria de Carla Adriana Oliveira Silva intitulada As festas histoacutericas
e religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidade submetida ao Centro de Excelecircncia em Turismo da Universidade de Brasiacutelia
como parte dos requisitos necessaacuterios para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em
Turismo em 03072014 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo
assinada
____________________________________________________________
Profa Dra Eloiacutesa Pereira Barroso
Orientadora
CETUnB
____________________________________________________________
Profa Dra Cleacuteria Botecirclho da Costa
PPG-HistoacuteriaUnB
____________________________________________________________
Profa Dra Karina Dias
CETUnB
Suplente
____________________________________________________________
Profa Dra Neuza de Farias Arauacutejo
3
Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia
e em especial ao meu filho Ian
Gabriel
4
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os
meus passos em busca do bem maior
Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e
pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada
Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo
acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em
busca de mais conhecimento
Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a
importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus
objetivos
Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo
ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig
Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram
unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando
mutuamente
Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes
por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento
que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta
dissertaccedilatildeo
Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo
Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo
estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo
Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises
nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona
Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha
do mestrado na minha cabeccedila
Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua
experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos
de maior dificuldade
5
Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com
sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas
fotografias
Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e
paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho
Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas
Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires
e Wilter Coelho
Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de
Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo
Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra
estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento
oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente
6
ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim
pode ser o comeccedilordquo
Ivy Baker Priest
7
RESUMO
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local
Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia
8
ABSTRACT
The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism
Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia
9
LISTA DE SIGLAS
CNT - Conselho Nacional de Turismo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional
GO ndash Goiaacutes
OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo
PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
10
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figuras
Capiacutetulo 1
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da
Cultura 36
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa
da Cultura 36
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na
Casa da Cultura 36
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54
Capiacutetulo 2
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante
Antigamente 69
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81
Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
11
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do
Rosaacuterio 83
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83
Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do
Rosaacuterio 84
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94
Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94
Capiacutetulo 3
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em
2013 113
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116
12
Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133
Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133
Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134
Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela
cidade 134
Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135
Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135
Tabelas
Capiacutetulo 1
Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo
Cultural 50
Capiacutetulo 3
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98
13
SUMAacuteRIO
Dedicatoacuteria iii
Agradecimentos iv
Epiacutegrafe vi
Resumo vii
Abstract viii
Lista de Siglas ix
Lista de figuras e tabelas x
INTRODUCcedilAtildeO 15
CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23
11 A Cultura 25
12 O Patrimocircnio 30
121 O Patrimocircnio Imaterial 33
13 O Turismo 40
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43
132 O Turismo Cultural 46
133 O Turismo Religioso 50
CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO
CULTURAL 54
21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59
22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62
23 O Centro Histoacuterico 66
24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71
14
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76
242 Igreja do Rosaacuterio 80
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89
246 Praccedila Evangelino Meireles 91
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92
248 O Cristo Redentor 93
CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106
311 O Pouso 114
312 A Catira 117
313 A Folia de Rua 118
314 As Cavalhadas 122
315 Os Leilotildees 124
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE
LUZIAcircNIAGO 156
15
INTRODUCcedilAtildeO
Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo
teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos
materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de
tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo
dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade
Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como
primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim
surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados
nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos
governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de
reconhecimento da identidade e da cultura local
O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte
espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se
tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de
desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade
Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo
da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais
que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no
desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de
desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois
refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural
relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local
como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade
As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute
uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e
que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a
preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica
social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes
espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a
identidade da comunidade local
16
Diante desse fato surgem as seguintes questotildees
1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e
Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio
3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios
culturais materiais e imateriais da cidade
4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em
campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um
fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que
pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem
percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os
meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que
a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa
Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca
do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia
usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a
pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao
encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar
uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do
conhecimento
O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu
numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o
discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica
fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo
compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais
adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua
cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas
e preservadas
17
Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual
os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente
pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar
dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um
dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees
que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade
Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois
visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o
estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa
identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos
fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e
extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia
especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade
Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave
produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do
saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que
ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio
despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo
retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para
produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)
As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente
organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO
e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos
necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas
envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante
meacutetodo pois ela
Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica
socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que
participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de
mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de
estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias
profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)
18
A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado
(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e
estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas
muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de
conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da
gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)
A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da
pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao
problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os
principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida
da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de
perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo
foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo
desta dissertaccedilatildeo
Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas
bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram
fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos
dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa
qualitativa
[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em
texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande
quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os
dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de
forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados
(GIBBS 2009 p 24)
As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias
Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma
metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas
que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi
fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que
participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees
culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar
essa identidade perdida
19
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas
etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha
utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais
etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a
preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo
a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos
neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das
principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais
atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das
entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que
convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de
laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo
Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a
cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o
contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua
contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia
Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias
perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado
Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como
representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de
moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas
tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem
na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o
desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio
Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser
classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais
podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes
valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos
pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das
entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a
assinatura de termo de consentimento
As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado
antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas
20
em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em
abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos
entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu
Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se
entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a
opiniatildeo de um puacuteblico mais variado
Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e
trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se
declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo
Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas
1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila
2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo
3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes
4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro
5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva
6- Estudante Karina da Silva
7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira
8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires
9- Jornalista Francyelle Rocha
10- Advogado Wilter Campos Coelho
Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir
dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas
essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo
com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas
elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia
da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e
tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as
mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc
O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como
explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e
reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo
foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas
21
agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para
os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos
referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa
Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa
extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa
de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de
tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de
conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de
preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o
perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs
capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram
uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma
discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro
apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio
Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No
segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do
patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o
turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma
discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como
o turismo cultural e o turismo religioso
O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa
pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos
e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro
histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo
local
No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste
estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as
manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas
festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o
patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um
espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio
22
conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto
essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias
alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de
Luziacircnia
Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o
turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento
e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura
como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece
como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como
um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo
23
I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO
A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo
em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo
natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores
puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira
e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles
podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia
Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo
dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se
apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem
falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular
novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta
que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por
parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico
entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local
Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura
deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o
futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a
gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que
cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se
constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e
vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se
tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e
patrimonial
A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das
cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees
populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico
como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)
O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo
1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC
jandez 2005 n19-20 p 126-153
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de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo
Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos
constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes
patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados
a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo
conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo
das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)
[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas
Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis
fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente
estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por
meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a
estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos
deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e
vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que
ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes
motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo
A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa
positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua
conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas
tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira
(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado
da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do
desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de
um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos
setores da sociedade
A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se
apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os
25
turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas
proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um
determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo
Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre
tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser
observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem
o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades
tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova
mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e
contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel
11 A Cultura
A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos
possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se
destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no
campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido
desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou
o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos
crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia
(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que
integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990
p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens
Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo
Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que
esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam
baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as
26
sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem
entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem
Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou
seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa
totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais
Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da
cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma
totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos
culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O
autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar
relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto
que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a
pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um
sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los
separadamenterdquo
Para Clifford Geertz (2008 p 24)
[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade
Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais
vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem
ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um
dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro
Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a
sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo
que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua
compreensatildeo
ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca
2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958
3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940
27
de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)
Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e
recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua
identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura
constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo
Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura
eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e
imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo
Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse
trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia
que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos
importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo
Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas
compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou
esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o
patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra
que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos
simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a
anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da
seguinte forma
Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros
A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de
diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso
das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros
(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais
expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura
determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou
4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997
28
inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade
Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma
que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as
atividades da vidardquo
Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso
para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade
mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura
da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona
medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o
direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)
As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por
geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas
que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua
fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para
filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas
festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos
Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens
adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5
(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila
que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica
Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida
quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o
municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas
formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita
com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como
Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)
Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um
processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre
5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris
PUF 1955
29
(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre
essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma
espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no
imaginaacuterio
A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e
intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os
lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se
fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo
que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees
materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo
As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura
tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para
a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo
dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura
tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo
A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)
Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da
cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja
positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode
estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim
este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio
cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a
atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que
visitam a cidade
6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968
30
12 O Patrimocircnio
A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela
passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma
famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo
termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por
conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o
patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como
ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura
homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto
de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)
O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo
simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse
sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por
sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus
patrimocircnios
Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como
esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista
patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em
que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito
das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem
patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO
para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa
Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos
Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade
Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como
memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica
31
principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo
Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua
histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO
aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo
visual
Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de
patrimocircnio cultural eacute bastante ampla
Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos
Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais
tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos
tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo
artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da
sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento
do turismo
Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma
comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)
observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-
se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor
etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e
peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo
Para Fonseca (2009 p 21)
Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia
Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas
tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo
possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do
Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia
32
que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais
como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se
dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade
Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na
preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e
Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em
razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e
216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da
comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido
como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em
conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira
O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como
um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico
brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade
contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto
com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu
proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se
formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a
relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores
que justificam a preservaccedilatildeordquo
Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao
buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer
confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009
p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos
da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado
corresponde agrave ideia que se faz delerdquo
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute
muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos
ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas
nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de
33
identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que
refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza
Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo
Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do
tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na
consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente
construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel
que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure
preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma
maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a
parte na vida em sociedade
121 O Patrimocircnio Imaterial
O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos
20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade
realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo
de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos
estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um
dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio
cultural ndash IPHAN em 1937
Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN
O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)
34
Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua
classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma
Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []
visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees
mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio
cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e
praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode
ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social
A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa
classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud
ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como
O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais
O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas
praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos
de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas
e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais
coletivas)
Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo
menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela
proacutepria comunidade
Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em
relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa
distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando
que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de
estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo
reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional
7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho
executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo
id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011
35
No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa
Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os
patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial em quatro livros
1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de
fazer enraizados no cotidiano das comunidades
2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam
a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras
praacuteticas da vida social
3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees
literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas
4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios
praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais
coletivas
Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade
se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes
dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza
imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura
oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]
eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares
objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo
9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013
36
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
37
Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e
o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das
Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino
Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa
dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que
acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no
livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da
comunidade
O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora
tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos
responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte
do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela
sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui
que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que
um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade
(FONSECA 2009)
Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais
valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de
forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas
manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a
vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente
em mudanccedila
Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute
justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como
referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante
o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses
patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem
Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados
Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas
muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da
38
cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do
Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as
suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA
2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um
grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos
explicam o conceito de performance como
Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural
Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de
Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial
possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade
pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade
do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no
municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com
valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas
como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o
comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo
Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees
para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e
disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda
interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que
os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos
de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita
tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na
disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial
A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance
como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia
nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda
deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003
39
geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia
dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim
destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo
no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da
UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)
Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras
possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim
a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte
dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas
estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas
de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com
a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos
que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente
daquele que se encontra ameaccedilado
O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees
como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes
patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros
patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas
histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte
intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de
LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do
municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de
Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
40
13 O Turismo
O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que
dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se
faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a
compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004
p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno
Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por
prazer Uso depredaccedilatildeordquo
De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo
discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e
tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo
de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que
etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual
com a intenccedilatildeo de regressar
Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo
era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses
realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres
ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de
educaccedilatildeo e cultura
Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992
Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo
Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um
cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a
negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno
econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas
relaccedilotildees
Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica
institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo
e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute
uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo
11
BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995
41
com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e
negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade
O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno
social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural
O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)
Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial
tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo
somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do
Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo
vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se
consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento
socioeconocircmicordquo
De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e
afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER
1991 p 231
Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova
perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades
oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e
arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse
estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa
(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida
em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade
Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e
desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e
imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo
de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando
12
O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13
Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013
42
entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em
torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico
O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o
desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a
poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais
importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte
geradora de serviccedilos produtos emprego e renda
Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de
natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico
social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o
desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos
tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e
privados quanto ao planejamento territorial das cidades
Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz
respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo
Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a
competitividade do turismo
[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de
sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)
O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um
planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se
virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo
eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade
logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e
economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute
possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o
turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir
diversos setores de desenvolvimento
Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e
modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico
43
cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se
deslocarem
Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo
e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)
[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural
Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais
fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos
70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais
aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI
1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por
parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos
Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo
pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as
regiotildees que abrigam suas atividades
A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos
de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos
empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e
incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como
orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os
gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar
um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou
seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos
projetos e programas da poliacutetica de turismo
14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash
Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013
44
Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de
Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural
O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)
define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa
apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O
autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que
demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente
em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e
econocircmicos numa mesma perspectiva
Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de
Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de
forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo
com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos
turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o
futuro
Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu
patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono
deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o
desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes
patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria
Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute
fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a
sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos
fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a
falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e
autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da
importacircncia deste planejamento
Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)
Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem
um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann
45
(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de
gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do
nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a
economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das
comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas
religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a
economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo
sustentaacutevel para esta regiatildeo
A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus
comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos
em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo
da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas
de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os
visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve
causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor
nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento
de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade
Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)
Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus
residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale
ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da
sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute
que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo
Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave
organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das
festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse
processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo
do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios
46
132 O Turismo Cultural
O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro
natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)
afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados
tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com
maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica
reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo
Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade
de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo
vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)
O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do
Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de
elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008
p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a
ascensatildeo de um turismo cultural na cidade
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de
transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch
(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente
contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo
da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos
povosrdquo
Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia
tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey
(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que
compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui
lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud
CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais
de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos
impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo
No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo
(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser
47
valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de
pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute
traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como
O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)
O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a
preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos
Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado
como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo
para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos
culturais e sua memoacuteria socialrdquo
Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e
tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o
processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades
Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns
aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e
econocircmica para diversos setores
Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as
celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre
outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um
turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa
forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e
desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um
turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do
descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo
que eacute seu
De acordo com Pires (2001)
15
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
48
ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)
Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de
viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas
histoacutericas
Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo
turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de
interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida
moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se
importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o
turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)
[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)
A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas
comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de
pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como
nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado
ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em
museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo
Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um
planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o
desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade
Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar
estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da
identidade local
Homi Bhabha diz que
49
O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)
Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees
no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade
O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio
do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da
cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam
como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior
representaccedilatildeo turiacutestica satildeo
1- Turismo Ciacutevico
2- Turismo Religioso
3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico
4- Turismo Eacutetnico
5- Turismo Cinematograacutefico
6- Turismo Arqueoloacutegico
7- Turismo Gastronocircmico
8- Enoturismo
9- Turismo Ferroviaacuterio
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de
serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo
cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo
de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de
serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos
50
Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010
Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as
viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto
que seraacute discutido a seguir
133 O Turismo Religioso
O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos
vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais
51
cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura
poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16
Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este
tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento
em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De
acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333
com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de
Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo
Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas
atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em
espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo
viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno
ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por
bull Peregrinaccedilotildees e romarias
bull Retiros espirituais
bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso
bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis
bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios
terreiros)
bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros
As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso
procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por
valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para
estimular as viagens como afirma Onfray (2009)
ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)
16
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014
52
Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista
que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista
tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele
busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual
A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o
turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos
em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p
3)
Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e
agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a
santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista
obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de
igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas
torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica
De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e
PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o
prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas
conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo
Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o
candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero
de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho
de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas
religiosos
No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os
destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no
Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em
Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR
1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito
Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo
religioso
17
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18
CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003
53
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro
19
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014
20
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
21
19
Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20
Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
54
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida
Fonte Site Conhecer22
Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de
atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a
receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a
caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)
As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum
segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute
Beni (1997) definiu o turismo religioso como
Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)
O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas
viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os
equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade
varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees
Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas
de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como
nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite
vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade
22
Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014
55
O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves
festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da
cultura luzianiense
Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as
mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a
diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo
A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a
cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana
Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica
nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais
de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por
ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte
delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p
27)
Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de
pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no
planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio
Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui
igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair
turistas para a cidade
56
II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL
Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes
entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto
de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio
histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas
manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial
a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)
O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que
possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas
Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a
torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute
que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo
fortemente influenciados por estas cidades
Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746
quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo
assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando
Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e
fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o
arraial se desenvolveria
Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a
Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia
constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade
Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de
partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa
Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas
do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da
Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante
predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas
de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)
23
Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014
57
No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia
aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo
ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do
seu potencial turiacutestico
Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo
sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda
compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso
o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma
cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do
calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e
menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu
valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como
de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local
Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material
jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e
Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel
Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade
incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo
Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de
abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos
por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar
valores a estes patrimocircnios
Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo
do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo
IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele
se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade
luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios
Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo
que possui significado para a comunidade
As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva
com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)
24
Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014
58
afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a
constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas
brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as
cidades histoacutericas como
Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)
Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade
histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de
Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura
fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo
de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade
A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe
concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do
Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais
diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos
sociais espaciais e culturais de toda ordem
Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por
tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta
pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de
Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense
possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como
o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade
como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta
identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as
culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural
Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado
ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural
Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da
Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash
UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular
59
considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e
que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes
e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)
Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas
tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva
aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e
afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de
cultura
A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial
como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para
alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial
carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se
importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem
para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado
ficando fadadas ao desaparecimento
Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio
histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e
utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio
Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que
possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre
histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a
necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da
interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo
21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO
Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante
Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na
regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro
que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em
homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel
(1994)
60
Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)
Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado
da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil
pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a
histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios
momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas
das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas
restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros
de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25
O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram
para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a
populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora
essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na
deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais
Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente
em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da
cidade
As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro
urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este
processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave
paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as
muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares
do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte
Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de
suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal
Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade
25
Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011
61
Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando
Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a
adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo
Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia
[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)
O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o
surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia
Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que
ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo
com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses
uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora
com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de
Luziacircnia
Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)
Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo
refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura
As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo
desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das
manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na
cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz
necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram
presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita
ser preservado
62
22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor
O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro
no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a
posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos
mais variados lugares do paiacutes
De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes
quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014
28
Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos
80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN
(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta
explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais
quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama
e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental
em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629
26
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27
Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28
Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29
De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993
63
Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de
3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e
proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e
o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o
cargo no inicio de 2013
A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e
desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens
e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o
intercambio com outras cidades30
Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em
muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o
seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo
do meio ambiente e do patrimocircnio cultural
A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto
Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como
Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)
O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de
outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos
baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e
da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o
desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o
desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua
conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras
No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de
interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro
histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30
Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014
64
artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e
cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira
convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo
econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e
histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser
alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a
proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e
econocircmicos agrave cidade
Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14
fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a
gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre
a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial
urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual
infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua
do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico
Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e
privados o qual tambeacutem natildeo existe
O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento
econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a
entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se
mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo
O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne
realidade mas natildeo depende soacute da gente31
Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos
estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as
accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a
ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a
preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo
31
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
65
cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo
sobre a importacircncia das festas
A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia
32
Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16
inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica
urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e
comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se
realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito
Santo
O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo
dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de
interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das
suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do
patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas
admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e
arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia
Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que
deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo
vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal
O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a
tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no
centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto
de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes
nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso
podia ser inviabilizado neacuterdquo33
32
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
66
O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de
transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de
sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo
localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre
outros o que pouco se vecirc
O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem
trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade
Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas
34
O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de
projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem
que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar
as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio
cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver
impedido de fazecirc-lo
Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o
municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um
novo plano
O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de
guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir
do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua
aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio
muito melhor
23 O Centro Histoacuterico
Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves
festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no
desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio
34
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
67
No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o
tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do
turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo
apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma
representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)
Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo
sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que
conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo
Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam
representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a
partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e
explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo
Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo
concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a
partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem
traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria
e compreensatildeo da sua cultura
Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma
como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem
ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo
ainda resistem agraves accedilotildees do tempo
Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante
intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que
A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)
A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma
intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio
Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica
central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo
68
econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas
setorialmenterdquo
Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do
centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse
espaccedilo
Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de
desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o
fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna
referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles
que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a
memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura
Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade
das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles
Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas
rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a
serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus
moradores e como espaccedilo de memoacuteria
Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades
seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria
Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que
a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se
transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a
estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela
partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde
vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo
Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos
da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo
que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que
foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e
culturalrdquo
Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e
preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa
(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos
69
Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)
Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e
valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute
importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras
tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das
suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato
viveram a histoacuteria
Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no
espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila
da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e
estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a
participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as
manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e
consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais
e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
70
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
71
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia
A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente
perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e
intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade
principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da
cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o
Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por
considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica
as manifestaccedilotildees populares etc
Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do
municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de
fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que
tambeacutem herdou dos seus colonizadores
Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de
comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de
sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho
guariroba hortaliccedilas e aguardente
Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce
tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem
portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por
escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de
72
hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de
pai para filho
Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta
que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade
Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende
da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos
Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de
registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute
estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo
eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de
marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a
especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios
produtores do doce
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
36
35
Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014
73
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014
37
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
38
O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute
retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas
de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense
37
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014
74
Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a
Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura
As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo
expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e
momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo
apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais
presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares
Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor
potencial turiacutestico
O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e
o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo
patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas
ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor
O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma
legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico
Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo
39
Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por
sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por
exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar
aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela
forma como foi feito
Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua
potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma
construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no
meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao
presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se
encontram diversos pertences de JK
39
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
75
Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi
completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais
e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda
estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa
judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio
material de Goiaacutes41
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo
42
Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis
fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade
Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave
hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis
sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns
especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo
e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico
O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees
agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos
O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem
encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica
40
Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42
Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014
76
Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
43
Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial
para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no
centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do
turismo na cidade
Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do
Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco
inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas
eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados
com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro
histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve
levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia
A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo
religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e
negros natildeo se misturavam
Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs
Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi
inaugurada em 1767 mesmo inacabada
Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa
ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila
com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta
de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)
43
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44
Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013
77
Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)
As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre
esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida
para mais tarde ser reconstruiacuteda
Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial
incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma
imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e
foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa
que foi modificada
Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida
diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees
comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo
A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a
responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito
Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de
onde partem as procissotildees nos dias de festa
78
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
79
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
80
242 A Igreja do Rosaacuterio
A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos
Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por
Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e
escravos
Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma
memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de
Luziacircniardquo
Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a
manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem
tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como
conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente
pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute
O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no
municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529
pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a
numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem
menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria
o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS
1925)
A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da
regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central
foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um
balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam
para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e
curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada
para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte
Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por
algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei
dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura
como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar
e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos
para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da
81
retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja
Matriz de Santa Luzia
A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que
esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os
cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa
ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou
familiarrdquo
A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo
Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980
Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de
Goiaacutes e a Prefeitura Municipal
De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da
Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes
Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)
A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte
dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela
fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo
das missas
Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
82
Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
83
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013
45
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
45
Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
84
Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro
A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo
histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu
da cidade
Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural
com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande
representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem
da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares
O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi
fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este
nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem
85
ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e
professor de Direito46
A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e
barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal
voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se
destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo
de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem
hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores
Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e
constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura
Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos
47
A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos
depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos
Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por
todos os cocircmodos
A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de
semana e feriados
46
Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
86
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
87
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
88
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles
O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e
Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e
ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a
intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central
Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e
conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes
No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em
oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto
Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles
as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel
O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui
verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados
e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio
O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de
14h30min agraves 17h30min
89
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo
A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs
Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em
que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram
fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para
paacutessaros e outros pequenos animais
Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais
conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em
azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade
de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja
do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos
Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um
deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da
rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes
48
Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014
90
Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os
dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras
da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)
Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos
drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham
destruindo a obra
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
91
Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
246 Praccedila Evangelino Meireles
A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo
modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros
ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo
um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute
tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas
Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado
e inuacutemeras drogarias
Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas
rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio
92
Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa
responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua
com alguns espaccedilos interditados
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014
50
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees
O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute
uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para
Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008
O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas
independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e
externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com
cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet
49
Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50
Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014
93
O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como
encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura
Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
248 O Cristo Redentor
Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo
agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua
estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se
94
encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da
cidade
Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
95
III AS FESTAS RELIGIOSAS
As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a
antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram
algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum
tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo
dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais
Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento
de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a
vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em
homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida
das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas
de muita importacircncia para as comunidades
As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)
Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na
formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que
ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma
identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional
ainda inexistenterdquo
O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa
influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele
Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira
O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como
51
JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005
96
O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar
Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de
registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram
interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a
comunidade daacute agrave sua cidade
O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm
3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo
como
[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)
Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute
foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das
Celebraccedilotildees estatildeo53
1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute
2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso
3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte
4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo
5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA
6- A Festa do Divino em ParatyRJ
7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis
Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas
religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das
52
Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53
Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014
97
comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que
os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo
No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto
a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio
imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele
local
Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar
presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois
enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de
correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada
pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na
fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as
festas retomam
Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas
54
Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas
celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os
anos
Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55
Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos
religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo
portuguesa e da feacute catoacutelica
Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte
influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao
patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento
turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam
milhares de pessoas por todo o mundo 54
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014
98
Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas
podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES
2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais
celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a
experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se
objetos do turismo
Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e
a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os
rituais permanecem iguais
A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que
acontecem no Brasil durante todo o ano
FESTA ESTADO
Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE
Festa dos Santos Reis PE
Festa do Bonfim BA
Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES
Festa de Iemanjaacute BA
Semana Santa -
Procissatildeo do Fogareacuteu GO
Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE
Festa de Nossa Senhora da Penha ES
Festa de Satildeo Benedito MT
Festa de Nossa Senhora da Piedade AP
Festa de Nossa Senhora das Neves PB
Romaria de Bom Jesus da Lapa BA
Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA
Festa do Rosaacuterio MGGO
Ciacuterio de Nazareacute PA
Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP
Festa do Padre Ciacutecero CE
Festa de Santa Baacuterbara BA
56
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
99
Festa de Nossa Senhora do Rocio PR
Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo
57
Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas
com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as
celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de
pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do
Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
58
57
Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
100
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna
59
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado
60
O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento
quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A
proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis
e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os
participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees
59
Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60
Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014
101
ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do
Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade
juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61
As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na
construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor
sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que
A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais
62
Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia
ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens
potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda
haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas
uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem
agraves festas tradicionais
Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e
Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo
formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o
reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e
espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de
reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas
praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa
Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos
A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre
esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute
As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade
61
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
102
religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel
63
A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da
estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando
diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de
geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos
foliotildees64
O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas
religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e
para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de
viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da
histoacuteria da cidade65
Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de
Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas
religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento
importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees
culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo
dos anos
Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como
parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a
economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p
10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais
Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada
Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que
estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances
63
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014
103
humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas
ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos
seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda
estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende
da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de
respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em
Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos
Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo
histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem
preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber
popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo
humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo
Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que
veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos
todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta
que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as
ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos
mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa
orgiardquo
Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por
isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas
tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos
culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando
valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute
natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de
edificaccedilotildees e peccedilas de museus
A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das
expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de
movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as
o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios
aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que
ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em
104
proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica
luacutedicardquo
Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que
atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa
do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do
Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das
datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora
do Rosaacuterio sete de outubro
Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no
desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de
celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a
catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute
catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo
de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino
culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo
Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado
de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo
ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo
sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim
Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do
Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos
conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala
tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por
pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia
O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente
67
66
Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
105
A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da
festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de
Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA
festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra
atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do
entorno que vem para caacuterdquo68
Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico
momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades
vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que
buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees
culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis
possuem na memoacuteria local
Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior
representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem
papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que
se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade
pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose
queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha
fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de
natildeo ser idecircntica a si mesmardquo
As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado
durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas
e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o
passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio
Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade
Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar
69
68
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
106
Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos
com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na
cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a
santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes
seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou
simplesmente para festejar
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia
A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no
Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo
Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao
Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de
cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e
deram origem agrave festa judaica de Pentecostes
O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que
celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os
apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo
surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs
(2000 p 24)
Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular
Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se
por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder
caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros
Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo
107
Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de
Janeiro durante o seacuteculo XIX
Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia
A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como
Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se
restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras
nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio
Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia
Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao
Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela
grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje
Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo
Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e
Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas
atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo
tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo
da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda
metade do seacuteculo XVIII
Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino
que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave
sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das
Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos
Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas
como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a
maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo
menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa
desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela
108
A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares
70
A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia
justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute
momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e
Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o
reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que
essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia
Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o
seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato
quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio
da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino
eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio
de Luziacircniardquo71
O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as
festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas
pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem
parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo
consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72
Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre
foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)
explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande
festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida
e cheiro de roupa novardquo
Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres
percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com
uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino
70
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
109
Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo
caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja
quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo
Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade
contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de
Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa
A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade
73
As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo
Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras
pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na
realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela
pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura
localrdquo74
Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa
festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo
de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais
satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma
relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se
perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do
povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante
o ano
Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as
inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo
73
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014
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portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um
consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute
sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud
SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e
as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino
Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita
muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de
uma festa religiosardquo
A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em
relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade
fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a
comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas
de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um
movimento em torno do turismo cultural e religioso
Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do
Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos
mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida
Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo
uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano
aguardando a festa para comer esta especiaria
Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa
do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura
culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e
etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes
elementos
A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios
elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o
poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia
Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as
75
BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989
111
filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo
76
Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante
e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo
frito
A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa
77
Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito
assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute
preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa
demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio
imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo
construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham
para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-
se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas
Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os
foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua
realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz
ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A
partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados
ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade
Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que
organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa
Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968
apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar
com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia
oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do
76
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
112
festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com
os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78
Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade
Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela
primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo
nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e
organizaccedilatildeo das festividades na cidade
Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas
79
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
78
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
113
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia
80
80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-
o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013
114
Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil
haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes
e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento
cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela
modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi
suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo
O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e
durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de
Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no
municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes
Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos
tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro
fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes
com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas
outras coisas foram retiradasrdquo 81
As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que
constituem a festa do Divino
311 O Pouso
O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo
e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois
tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles
formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para
a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem
entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita
Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a
bandeira do Divino
Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha
81
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
115
todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente
82
Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na
entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo
catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando
elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas
incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se
tornarem demasiadamente mundanas
O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre
com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os
ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na
chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles
continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser
proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com
comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre
isso
Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente
83
A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as
folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais
autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de
descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um
povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a
82
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
116
cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que
acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo
Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe
84
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009
Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves
festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se
mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que
ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute
que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo
84
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
117
Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas
tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada
eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute
tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo
312 A Catira
Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou
Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura
brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute
uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela
batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos
Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos
em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)
descreve a Catira como
A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel
A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo
Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA
2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no
meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua
expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em
dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves
vezes nas novenas ou no final da missardquo86
Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo
descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade
85
Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
118
A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)
87
Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009
O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e
assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as
geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator
constituinte de sua cultura
313 A Folia de Rua
As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e
constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes
em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias
constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico
brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia
87
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88
QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973
119
eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma
de preservaccedilatildeo da culturardquo89
A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro
ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de
visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e
entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com
muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na
cidade
Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda
90
Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como
demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos
excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter
outro significado que transcende o material
Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense
e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas
Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo
XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos
portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e
profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar
homenagens e saudarrdquo
O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros
elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como
aconteciam as folias de rua em Luziacircnia
Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros
89
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
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foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria
Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como
acontecem as folias em Luziacircnia
Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas
91
Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos
seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em
que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute
espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo
divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo
Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de
rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes
que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A
jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das
caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de
pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e
furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92
Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade
E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato
93
O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo
religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma
91
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92
Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees
eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos
de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso
Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar
94
Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo
intriacutenseco a festa
Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode
Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns
participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator
capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado
profano da festa que vem aumentando a cada ano
A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca
95
94
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
122
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das
festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado
religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas
rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]
essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas
comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo
A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais
momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa
tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade
Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do
Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas
a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do
turismo local
314 As Cavalhadas
Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por
volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para
123
Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de
cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo
As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento
cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas
surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que
com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles
que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo
A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais
personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa
azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros
Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas
embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute
personagens mascarados que representam o povo
Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme
nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico
profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades
goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo
Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de
dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona
Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave
dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade
Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando
96
96
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
124
A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do
estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos
anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe
uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas
fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e
mouros em Luziacircnia
315 Os Leilotildees
Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino
em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo
leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por
comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os
leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do
Divino
Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o
leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que
doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja
do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os
leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade
Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa
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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo
destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns
consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no
municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa
festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio
da Silva discorre sobre isso
As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio
98
Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas
caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente
que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e
com a formaccedilatildeo da sua identidade
Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios
histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um
forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o
que pode ser constatado durante a pesquisa
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes
santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados
no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978
descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade
Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)
98
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
126
Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978
Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo
possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber
que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do
tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo
e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na
cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de
maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas
dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura
negra sendo considerados seus santos protetores
127
Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram
em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute
garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de
fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou
sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro
Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro
99
O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora
do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade
assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de
Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a
participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu
patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de
Luziacircnia
O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e
gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e
distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis
contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia
que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica
Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem
como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade
o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na
construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os
padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa
relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar
entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas
Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas
participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos
poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a
99
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
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que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de
haver pouco tempo que a festa vem se realizando
Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da
comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas
de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada
momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor
religioso ou lazer puramente dito
No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela
vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre
querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo
com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do
Rosaacuterio possui para ela
Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo
100
No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa
Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a
comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show
com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a
comemoraccedilatildeo
A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a
preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do
patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso
A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees
101
Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da
igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente
100
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste
local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros
Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e
intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso
da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando
cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso
A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees
musicais 102
O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a
organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o
estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior
essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos
com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103
Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua
fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a
igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa
Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104
Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)
quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos
tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo
essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os
moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo
seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos
Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao
longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de
puacuteblicos
102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
130
Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral
105
A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair
benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada
pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de
dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso
A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento
106
Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a
economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a
movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa
tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na
cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o
numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia
do municiacutepiordquo107
Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute
um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo
eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo
e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial
algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio
Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade
Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para
105
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014
131
que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
108
Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas
tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se
constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria
comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de
contribuir para o turismo na cidade
Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico
109
A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia
tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como
apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para
aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na
comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a
preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem
patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria
comunidade
108
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013
132
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
110
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013
133
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
136
As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas
sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se
concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia
possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as
igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo
fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)
ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116
Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua
identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma
comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer
novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito
do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam
atrativos turiacutesticos das cidades
As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de
hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos
formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar
uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se
consideram turistas
As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial
para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino
Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se
observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do
viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas
assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo
consideradas fortes tradiccedilotildees culturais
A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no
ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves
praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da
accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a
preservaccedilatildeo destes patrimocircnios
A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da
cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se
desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma
positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no
desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos
prestados
Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute
considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a
138
principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova
configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes
motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do
municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN
Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como
uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam
celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente
a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo
puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em
torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e
esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa
um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural
Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo
descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo
aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em
Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de
promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como
parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir
diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila
As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos
moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila
e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas
cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas
de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem
vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes
patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade
Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real
representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da
tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais
atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo
em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e
esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter
139
Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada
diardquo 117
Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se
perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que
compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado
de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de
casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba
desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de
proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos
todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido
Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui
valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo
Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela
importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los
atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses
Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute
importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade
agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados
aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui
O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que
aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel
como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e
assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos
negativos do que positivos para a cidade
A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo
colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute
pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns
participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que
para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se
tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os
envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico
117
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
140
O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que
isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os
recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm
potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e
sustentaacutevel
O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio
atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem
na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se
propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim
de toda a cidade
O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os
envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se
reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos
monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser
uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de
preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e
consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade
e da sociabilidaderdquo
Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos
vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos
sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais
sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e
social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das
populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em
uacuteltima instancia eacute praacutetica social
Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que
permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte
integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino
Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem
permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade
de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local
Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses
eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem
ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia
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VELOSO M Patrimocircnio imaterial memoacuteria coletiva e espaccedilo puacuteblico In TEIXEIRA J G LC GARCIA M V C GUSMAtildeO R (Org) Patrimocircnio Imaterial Performance Cultural e (Re)Tradicionalizaccedilatildeo 1ed Brasiacutelia 2004 v 1 p 31-36
VERGARA S Projetos e relatoacuterios de Pesquisa em Administraccedilatildeo 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2003
VIANNA L CR e TEIXEIRA J G L C Patrimocircnio Imaterial Performance e Identidade In CONCINNITAS Revista do Instituto de Artes da UERJ volume 1 numero 12 Rio de Janeiro julho de 2008
ZANIRATO S H Patrimocircnio para todos promoccedilatildeo e difusatildeo do uso puacuteblico do patrimocircnio cultural na cidade histoacuterica In Patrimocircnio e Memoacuteria Satildeo Paulo Unesp v 2 n 2 2006
PEREIRA B T S SILVA L F O PERINOTTO A R C Festejo de Satildeo Francisco anaacutelise sobre uma alternativa de desenvolvimento do Turismo Religioso em Parnaiacuteba (Piauiacute Brasil) Turismo amp Sociedade Curitiba v 4 n 2 p 363-380 outubro de 2011
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda da Cultura Popular e Tradicional Paris 1989 Disponiacutevel em lt httpportaliphangovbrportalbaixaFcdAnexodoid=261 gt Acesso em 27 de jun 2012
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003 Disponiacutevel em lt httpportaliphangovbrportalbaixaFcdAnexodoid=271 gt Acesso em 27 de jun 2012
153
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao
curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da
Universidade de Brasiacutelia
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua
colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato
voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees
solicitadas pelo pesquisador
Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e
mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os
resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse
trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada
Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo
Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB
carlawiccagmailcom
Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando
voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e
para a publicaccedilatildeo dos resultados
Luziacircnia _____ de _________________ de 2013
Assinatura do participante____________________________________________
Assinatura da pesquisadora___________________________________________
154
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1 Nome
2 Telefone
3 Profissatildeo
4 Idade
5 Estado Civil
6 Religiatildeo
7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos
Quais
9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos
patrimocircnios materiais de Luziacircnia
11 O que estas festas representam para vocecirc
155
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de
Luziacircnia
9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas
156
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o
desenvolvimento do turismo local
10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de
Luziacircnia
11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das
festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia
1
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)
MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Carla Adriana Oliveira Silva
AS FESTAS HISTOacuteRICAS E RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO ATUANDO NO
DESENVOLVIMENTO DO POTENCIAL TURIacuteSTICO DA CIDADE
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado Profissional em Turismo da Universidade de Brasiacutelia como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de mestre
Orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Pereira Barroso
Brasiacutelia 2014
1
2
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)
MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Dissertaccedilatildeo de autoria de Carla Adriana Oliveira Silva intitulada As festas histoacutericas
e religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidade submetida ao Centro de Excelecircncia em Turismo da Universidade de Brasiacutelia
como parte dos requisitos necessaacuterios para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em
Turismo em 03072014 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo
assinada
____________________________________________________________
Profa Dra Eloiacutesa Pereira Barroso
Orientadora
CETUnB
____________________________________________________________
Profa Dra Cleacuteria Botecirclho da Costa
PPG-HistoacuteriaUnB
____________________________________________________________
Profa Dra Karina Dias
CETUnB
Suplente
____________________________________________________________
Profa Dra Neuza de Farias Arauacutejo
3
Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia
e em especial ao meu filho Ian
Gabriel
4
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os
meus passos em busca do bem maior
Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e
pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada
Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo
acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em
busca de mais conhecimento
Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a
importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus
objetivos
Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo
ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig
Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram
unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando
mutuamente
Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes
por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento
que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta
dissertaccedilatildeo
Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo
Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo
estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo
Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises
nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona
Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha
do mestrado na minha cabeccedila
Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua
experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos
de maior dificuldade
5
Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com
sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas
fotografias
Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e
paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho
Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas
Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires
e Wilter Coelho
Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de
Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo
Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra
estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento
oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente
6
ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim
pode ser o comeccedilordquo
Ivy Baker Priest
7
RESUMO
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local
Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia
8
ABSTRACT
The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism
Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia
9
LISTA DE SIGLAS
CNT - Conselho Nacional de Turismo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional
GO ndash Goiaacutes
OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo
PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
10
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figuras
Capiacutetulo 1
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da
Cultura 36
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa
da Cultura 36
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na
Casa da Cultura 36
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54
Capiacutetulo 2
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante
Antigamente 69
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81
Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
11
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do
Rosaacuterio 83
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83
Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do
Rosaacuterio 84
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94
Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94
Capiacutetulo 3
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em
2013 113
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116
12
Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133
Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133
Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134
Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela
cidade 134
Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135
Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135
Tabelas
Capiacutetulo 1
Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo
Cultural 50
Capiacutetulo 3
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98
13
SUMAacuteRIO
Dedicatoacuteria iii
Agradecimentos iv
Epiacutegrafe vi
Resumo vii
Abstract viii
Lista de Siglas ix
Lista de figuras e tabelas x
INTRODUCcedilAtildeO 15
CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23
11 A Cultura 25
12 O Patrimocircnio 30
121 O Patrimocircnio Imaterial 33
13 O Turismo 40
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43
132 O Turismo Cultural 46
133 O Turismo Religioso 50
CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO
CULTURAL 54
21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59
22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62
23 O Centro Histoacuterico 66
24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71
14
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76
242 Igreja do Rosaacuterio 80
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89
246 Praccedila Evangelino Meireles 91
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92
248 O Cristo Redentor 93
CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106
311 O Pouso 114
312 A Catira 117
313 A Folia de Rua 118
314 As Cavalhadas 122
315 Os Leilotildees 124
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE
LUZIAcircNIAGO 156
15
INTRODUCcedilAtildeO
Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo
teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos
materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de
tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo
dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade
Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como
primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim
surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados
nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos
governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de
reconhecimento da identidade e da cultura local
O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte
espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se
tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de
desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade
Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo
da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais
que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no
desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de
desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois
refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural
relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local
como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade
As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute
uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e
que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a
preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica
social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes
espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a
identidade da comunidade local
16
Diante desse fato surgem as seguintes questotildees
1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e
Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio
3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios
culturais materiais e imateriais da cidade
4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em
campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um
fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que
pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem
percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os
meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que
a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa
Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca
do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia
usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a
pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao
encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar
uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do
conhecimento
O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu
numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o
discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica
fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo
compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais
adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua
cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas
e preservadas
17
Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual
os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente
pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar
dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um
dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees
que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade
Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois
visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o
estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa
identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos
fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e
extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia
especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade
Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave
produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do
saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que
ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio
despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo
retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para
produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)
As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente
organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO
e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos
necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas
envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante
meacutetodo pois ela
Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica
socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que
participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de
mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de
estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias
profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)
18
A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado
(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e
estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas
muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de
conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da
gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)
A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da
pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao
problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os
principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida
da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de
perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo
foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo
desta dissertaccedilatildeo
Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas
bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram
fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos
dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa
qualitativa
[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em
texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande
quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os
dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de
forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados
(GIBBS 2009 p 24)
As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias
Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma
metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas
que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi
fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que
participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees
culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar
essa identidade perdida
19
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas
etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha
utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais
etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a
preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo
a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos
neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das
principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais
atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das
entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que
convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de
laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo
Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a
cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o
contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua
contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia
Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias
perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado
Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como
representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de
moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas
tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem
na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o
desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio
Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser
classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais
podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes
valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos
pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das
entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a
assinatura de termo de consentimento
As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado
antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas
20
em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em
abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos
entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu
Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se
entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a
opiniatildeo de um puacuteblico mais variado
Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e
trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se
declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo
Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas
1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila
2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo
3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes
4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro
5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva
6- Estudante Karina da Silva
7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira
8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires
9- Jornalista Francyelle Rocha
10- Advogado Wilter Campos Coelho
Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir
dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas
essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo
com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas
elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia
da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e
tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as
mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc
O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como
explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e
reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo
foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas
21
agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para
os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos
referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa
Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa
extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa
de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de
tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de
conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de
preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o
perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs
capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram
uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma
discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro
apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio
Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No
segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do
patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o
turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma
discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como
o turismo cultural e o turismo religioso
O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa
pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos
e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro
histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo
local
No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste
estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as
manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas
festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o
patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um
espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio
22
conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto
essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias
alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de
Luziacircnia
Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o
turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento
e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura
como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece
como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como
um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo
23
I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO
A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo
em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo
natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores
puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira
e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles
podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia
Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo
dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se
apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem
falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular
novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta
que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por
parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico
entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local
Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura
deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o
futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a
gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que
cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se
constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e
vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se
tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e
patrimonial
A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das
cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees
populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico
como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)
O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo
1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC
jandez 2005 n19-20 p 126-153
24
de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo
Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos
constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes
patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados
a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo
conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo
das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)
[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas
Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis
fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente
estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por
meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a
estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos
deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e
vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que
ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes
motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo
A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa
positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua
conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas
tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira
(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado
da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do
desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de
um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos
setores da sociedade
A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se
apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os
25
turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas
proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um
determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo
Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre
tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser
observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem
o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades
tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova
mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e
contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel
11 A Cultura
A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos
possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se
destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no
campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido
desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou
o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos
crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia
(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que
integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990
p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens
Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo
Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que
esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam
baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as
26
sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem
entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem
Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou
seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa
totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais
Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da
cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma
totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos
culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O
autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar
relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto
que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a
pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um
sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los
separadamenterdquo
Para Clifford Geertz (2008 p 24)
[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade
Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais
vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem
ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um
dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro
Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a
sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo
que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua
compreensatildeo
ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca
2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958
3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940
27
de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)
Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e
recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua
identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura
constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo
Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura
eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e
imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo
Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse
trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia
que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos
importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo
Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas
compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou
esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o
patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra
que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos
simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a
anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da
seguinte forma
Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros
A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de
diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso
das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros
(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais
expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura
determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou
4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997
28
inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade
Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma
que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as
atividades da vidardquo
Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso
para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade
mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura
da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona
medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o
direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)
As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por
geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas
que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua
fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para
filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas
festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos
Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens
adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5
(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila
que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica
Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida
quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o
municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas
formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita
com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como
Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)
Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um
processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre
5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris
PUF 1955
29
(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre
essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma
espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no
imaginaacuterio
A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e
intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os
lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se
fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo
que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees
materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo
As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura
tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para
a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo
dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura
tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo
A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)
Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da
cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja
positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode
estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim
este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio
cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a
atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que
visitam a cidade
6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968
30
12 O Patrimocircnio
A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela
passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma
famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo
termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por
conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o
patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como
ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura
homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto
de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)
O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo
simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse
sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por
sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus
patrimocircnios
Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como
esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista
patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em
que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito
das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem
patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO
para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa
Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos
Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade
Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como
memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica
31
principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo
Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua
histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO
aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo
visual
Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de
patrimocircnio cultural eacute bastante ampla
Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos
Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais
tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos
tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo
artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da
sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento
do turismo
Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma
comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)
observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-
se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor
etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e
peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo
Para Fonseca (2009 p 21)
Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia
Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas
tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo
possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do
Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia
32
que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais
como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se
dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade
Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na
preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e
Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em
razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e
216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da
comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido
como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em
conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira
O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como
um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico
brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade
contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto
com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu
proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se
formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a
relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores
que justificam a preservaccedilatildeordquo
Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao
buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer
confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009
p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos
da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado
corresponde agrave ideia que se faz delerdquo
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute
muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos
ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas
nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de
33
identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que
refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza
Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo
Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do
tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na
consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente
construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel
que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure
preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma
maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a
parte na vida em sociedade
121 O Patrimocircnio Imaterial
O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos
20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade
realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo
de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos
estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um
dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio
cultural ndash IPHAN em 1937
Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN
O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)
34
Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua
classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma
Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []
visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees
mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio
cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e
praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode
ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social
A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa
classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud
ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como
O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais
O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas
praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos
de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas
e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais
coletivas)
Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo
menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela
proacutepria comunidade
Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em
relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa
distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando
que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de
estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo
reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional
7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho
executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo
id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011
35
No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa
Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os
patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial em quatro livros
1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de
fazer enraizados no cotidiano das comunidades
2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam
a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras
praacuteticas da vida social
3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees
literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas
4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios
praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais
coletivas
Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade
se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes
dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza
imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura
oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]
eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares
objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo
9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013
36
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
37
Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e
o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das
Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino
Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa
dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que
acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no
livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da
comunidade
O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora
tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos
responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte
do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela
sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui
que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que
um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade
(FONSECA 2009)
Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais
valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de
forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas
manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a
vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente
em mudanccedila
Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute
justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como
referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante
o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses
patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem
Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados
Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas
muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da
38
cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do
Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as
suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA
2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um
grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos
explicam o conceito de performance como
Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural
Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de
Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial
possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade
pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade
do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no
municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com
valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas
como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o
comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo
Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees
para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e
disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda
interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que
os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos
de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita
tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na
disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial
A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance
como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia
nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda
deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003
39
geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia
dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim
destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo
no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da
UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)
Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras
possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim
a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte
dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas
estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas
de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com
a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos
que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente
daquele que se encontra ameaccedilado
O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees
como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes
patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros
patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas
histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte
intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de
LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do
municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de
Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
40
13 O Turismo
O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que
dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se
faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a
compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004
p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno
Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por
prazer Uso depredaccedilatildeordquo
De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo
discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e
tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo
de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que
etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual
com a intenccedilatildeo de regressar
Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo
era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses
realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres
ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de
educaccedilatildeo e cultura
Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992
Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo
Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um
cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a
negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno
econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas
relaccedilotildees
Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica
institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo
e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute
uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo
11
BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995
41
com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e
negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade
O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno
social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural
O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)
Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial
tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo
somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do
Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo
vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se
consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento
socioeconocircmicordquo
De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e
afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER
1991 p 231
Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova
perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades
oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e
arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse
estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa
(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida
em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade
Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e
desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e
imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo
de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando
12
O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13
Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013
42
entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em
torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico
O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o
desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a
poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais
importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte
geradora de serviccedilos produtos emprego e renda
Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de
natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico
social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o
desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos
tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e
privados quanto ao planejamento territorial das cidades
Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz
respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo
Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a
competitividade do turismo
[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de
sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)
O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um
planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se
virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo
eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade
logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e
economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute
possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o
turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir
diversos setores de desenvolvimento
Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e
modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico
43
cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se
deslocarem
Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo
e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)
[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural
Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais
fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos
70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais
aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI
1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por
parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos
Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo
pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as
regiotildees que abrigam suas atividades
A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos
de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos
empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e
incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como
orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os
gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar
um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou
seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos
projetos e programas da poliacutetica de turismo
14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash
Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013
44
Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de
Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural
O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)
define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa
apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O
autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que
demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente
em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e
econocircmicos numa mesma perspectiva
Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de
Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de
forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo
com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos
turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o
futuro
Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu
patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono
deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o
desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes
patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria
Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute
fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a
sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos
fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a
falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e
autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da
importacircncia deste planejamento
Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)
Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem
um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann
45
(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de
gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do
nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a
economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das
comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas
religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a
economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo
sustentaacutevel para esta regiatildeo
A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus
comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos
em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo
da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas
de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os
visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve
causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor
nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento
de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade
Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)
Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus
residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale
ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da
sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute
que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo
Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave
organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das
festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse
processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo
do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios
46
132 O Turismo Cultural
O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro
natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)
afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados
tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com
maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica
reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo
Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade
de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo
vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)
O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do
Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de
elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008
p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a
ascensatildeo de um turismo cultural na cidade
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de
transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch
(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente
contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo
da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos
povosrdquo
Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia
tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey
(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que
compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui
lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud
CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais
de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos
impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo
No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo
(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser
47
valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de
pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute
traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como
O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)
O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a
preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos
Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado
como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo
para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos
culturais e sua memoacuteria socialrdquo
Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e
tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o
processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades
Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns
aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e
econocircmica para diversos setores
Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as
celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre
outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um
turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa
forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e
desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um
turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do
descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo
que eacute seu
De acordo com Pires (2001)
15
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
48
ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)
Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de
viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas
histoacutericas
Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo
turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de
interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida
moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se
importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o
turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)
[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)
A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas
comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de
pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como
nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado
ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em
museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo
Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um
planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o
desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade
Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar
estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da
identidade local
Homi Bhabha diz que
49
O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)
Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees
no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade
O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio
do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da
cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam
como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior
representaccedilatildeo turiacutestica satildeo
1- Turismo Ciacutevico
2- Turismo Religioso
3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico
4- Turismo Eacutetnico
5- Turismo Cinematograacutefico
6- Turismo Arqueoloacutegico
7- Turismo Gastronocircmico
8- Enoturismo
9- Turismo Ferroviaacuterio
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de
serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo
cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo
de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de
serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos
50
Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010
Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as
viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto
que seraacute discutido a seguir
133 O Turismo Religioso
O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos
vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais
51
cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura
poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16
Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este
tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento
em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De
acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333
com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de
Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo
Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas
atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em
espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo
viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno
ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por
bull Peregrinaccedilotildees e romarias
bull Retiros espirituais
bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso
bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis
bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios
terreiros)
bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros
As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso
procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por
valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para
estimular as viagens como afirma Onfray (2009)
ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)
16
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014
52
Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista
que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista
tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele
busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual
A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o
turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos
em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p
3)
Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e
agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a
santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista
obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de
igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas
torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica
De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e
PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o
prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas
conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo
Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o
candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero
de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho
de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas
religiosos
No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os
destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no
Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em
Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR
1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito
Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo
religioso
17
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18
CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003
53
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro
19
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014
20
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
21
19
Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20
Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
54
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida
Fonte Site Conhecer22
Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de
atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a
receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a
caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)
As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum
segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute
Beni (1997) definiu o turismo religioso como
Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)
O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas
viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os
equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade
varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees
Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas
de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como
nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite
vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade
22
Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014
55
O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves
festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da
cultura luzianiense
Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as
mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a
diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo
A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a
cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana
Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica
nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais
de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por
ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte
delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p
27)
Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de
pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no
planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio
Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui
igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair
turistas para a cidade
56
II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL
Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes
entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto
de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio
histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas
manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial
a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)
O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que
possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas
Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a
torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute
que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo
fortemente influenciados por estas cidades
Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746
quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo
assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando
Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e
fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o
arraial se desenvolveria
Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a
Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia
constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade
Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de
partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa
Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas
do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da
Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante
predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas
de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)
23
Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014
57
No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia
aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo
ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do
seu potencial turiacutestico
Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo
sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda
compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso
o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma
cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do
calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e
menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu
valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como
de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local
Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material
jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e
Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel
Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade
incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo
Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de
abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos
por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar
valores a estes patrimocircnios
Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo
do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo
IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele
se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade
luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios
Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo
que possui significado para a comunidade
As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva
com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)
24
Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014
58
afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a
constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas
brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as
cidades histoacutericas como
Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)
Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade
histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de
Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura
fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo
de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade
A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe
concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do
Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais
diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos
sociais espaciais e culturais de toda ordem
Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por
tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta
pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de
Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense
possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como
o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade
como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta
identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as
culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural
Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado
ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural
Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da
Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash
UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular
59
considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e
que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes
e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)
Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas
tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva
aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e
afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de
cultura
A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial
como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para
alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial
carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se
importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem
para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado
ficando fadadas ao desaparecimento
Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio
histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e
utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio
Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que
possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre
histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a
necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da
interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo
21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO
Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante
Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na
regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro
que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em
homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel
(1994)
60
Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)
Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado
da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil
pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a
histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios
momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas
das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas
restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros
de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25
O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram
para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a
populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora
essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na
deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais
Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente
em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da
cidade
As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro
urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este
processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave
paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as
muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares
do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte
Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de
suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal
Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade
25
Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011
61
Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando
Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a
adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo
Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia
[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)
O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o
surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia
Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que
ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo
com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses
uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora
com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de
Luziacircnia
Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)
Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo
refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura
As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo
desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das
manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na
cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz
necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram
presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita
ser preservado
62
22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor
O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro
no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a
posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos
mais variados lugares do paiacutes
De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes
quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014
28
Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos
80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN
(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta
explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais
quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama
e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental
em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629
26
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27
Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28
Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29
De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993
63
Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de
3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e
proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e
o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o
cargo no inicio de 2013
A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e
desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens
e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o
intercambio com outras cidades30
Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em
muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o
seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo
do meio ambiente e do patrimocircnio cultural
A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto
Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como
Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)
O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de
outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos
baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e
da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o
desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o
desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua
conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras
No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de
interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro
histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30
Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014
64
artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e
cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira
convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo
econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e
histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser
alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a
proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e
econocircmicos agrave cidade
Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14
fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a
gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre
a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial
urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual
infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua
do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico
Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e
privados o qual tambeacutem natildeo existe
O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento
econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a
entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se
mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo
O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne
realidade mas natildeo depende soacute da gente31
Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos
estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as
accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a
ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a
preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo
31
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
65
cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo
sobre a importacircncia das festas
A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia
32
Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16
inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica
urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e
comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se
realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito
Santo
O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo
dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de
interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das
suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do
patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas
admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e
arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia
Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que
deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo
vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal
O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a
tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no
centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto
de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes
nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso
podia ser inviabilizado neacuterdquo33
32
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
66
O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de
transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de
sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo
localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre
outros o que pouco se vecirc
O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem
trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade
Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas
34
O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de
projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem
que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar
as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio
cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver
impedido de fazecirc-lo
Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o
municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um
novo plano
O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de
guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir
do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua
aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio
muito melhor
23 O Centro Histoacuterico
Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves
festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no
desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio
34
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
67
No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o
tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do
turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo
apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma
representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)
Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo
sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que
conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo
Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam
representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a
partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e
explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo
Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo
concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a
partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem
traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria
e compreensatildeo da sua cultura
Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma
como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem
ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo
ainda resistem agraves accedilotildees do tempo
Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante
intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que
A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)
A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma
intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio
Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica
central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo
68
econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas
setorialmenterdquo
Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do
centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse
espaccedilo
Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de
desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o
fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna
referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles
que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a
memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura
Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade
das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles
Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas
rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a
serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus
moradores e como espaccedilo de memoacuteria
Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades
seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria
Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que
a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se
transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a
estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela
partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde
vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo
Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos
da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo
que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que
foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e
culturalrdquo
Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e
preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa
(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos
69
Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)
Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e
valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute
importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras
tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das
suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato
viveram a histoacuteria
Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no
espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila
da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e
estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a
participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as
manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e
consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais
e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
70
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
71
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia
A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente
perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e
intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade
principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da
cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o
Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por
considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica
as manifestaccedilotildees populares etc
Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do
municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de
fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que
tambeacutem herdou dos seus colonizadores
Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de
comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de
sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho
guariroba hortaliccedilas e aguardente
Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce
tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem
portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por
escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de
72
hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de
pai para filho
Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta
que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade
Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende
da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos
Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de
registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute
estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo
eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de
marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a
especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios
produtores do doce
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
36
35
Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014
73
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014
37
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
38
O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute
retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas
de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense
37
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014
74
Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a
Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura
As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo
expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e
momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo
apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais
presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares
Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor
potencial turiacutestico
O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e
o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo
patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas
ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor
O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma
legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico
Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo
39
Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por
sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por
exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar
aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela
forma como foi feito
Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua
potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma
construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no
meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao
presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se
encontram diversos pertences de JK
39
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
75
Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi
completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais
e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda
estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa
judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio
material de Goiaacutes41
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo
42
Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis
fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade
Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave
hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis
sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns
especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo
e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico
O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees
agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos
O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem
encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica
40
Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42
Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014
76
Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
43
Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial
para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no
centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do
turismo na cidade
Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do
Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco
inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas
eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados
com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro
histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve
levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia
A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo
religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e
negros natildeo se misturavam
Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs
Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi
inaugurada em 1767 mesmo inacabada
Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa
ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila
com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta
de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)
43
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44
Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013
77
Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)
As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre
esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida
para mais tarde ser reconstruiacuteda
Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial
incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma
imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e
foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa
que foi modificada
Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida
diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees
comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo
A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a
responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito
Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de
onde partem as procissotildees nos dias de festa
78
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
79
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
80
242 A Igreja do Rosaacuterio
A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos
Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por
Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e
escravos
Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma
memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de
Luziacircniardquo
Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a
manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem
tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como
conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente
pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute
O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no
municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529
pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a
numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem
menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria
o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS
1925)
A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da
regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central
foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um
balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam
para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e
curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada
para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte
Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por
algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei
dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura
como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar
e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos
para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da
81
retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja
Matriz de Santa Luzia
A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que
esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os
cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa
ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou
familiarrdquo
A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo
Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980
Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de
Goiaacutes e a Prefeitura Municipal
De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da
Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes
Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)
A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte
dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela
fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo
das missas
Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
82
Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
83
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013
45
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
45
Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
84
Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro
A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo
histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu
da cidade
Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural
com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande
representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem
da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares
O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi
fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este
nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem
85
ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e
professor de Direito46
A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e
barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal
voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se
destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo
de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem
hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores
Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e
constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura
Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos
47
A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos
depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos
Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por
todos os cocircmodos
A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de
semana e feriados
46
Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
86
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
87
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
88
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles
O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e
Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e
ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a
intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central
Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e
conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes
No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em
oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto
Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles
as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel
O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui
verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados
e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio
O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de
14h30min agraves 17h30min
89
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo
A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs
Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em
que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram
fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para
paacutessaros e outros pequenos animais
Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais
conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em
azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade
de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja
do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos
Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um
deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da
rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes
48
Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014
90
Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os
dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras
da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)
Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos
drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham
destruindo a obra
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
91
Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
246 Praccedila Evangelino Meireles
A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo
modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros
ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo
um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute
tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas
Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado
e inuacutemeras drogarias
Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas
rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio
92
Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa
responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua
com alguns espaccedilos interditados
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014
50
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees
O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute
uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para
Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008
O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas
independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e
externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com
cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet
49
Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50
Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014
93
O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como
encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura
Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
248 O Cristo Redentor
Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo
agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua
estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se
94
encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da
cidade
Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
95
III AS FESTAS RELIGIOSAS
As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a
antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram
algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum
tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo
dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais
Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento
de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a
vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em
homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida
das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas
de muita importacircncia para as comunidades
As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)
Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na
formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que
ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma
identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional
ainda inexistenterdquo
O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa
influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele
Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira
O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como
51
JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005
96
O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar
Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de
registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram
interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a
comunidade daacute agrave sua cidade
O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm
3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo
como
[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)
Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute
foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das
Celebraccedilotildees estatildeo53
1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute
2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso
3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte
4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo
5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA
6- A Festa do Divino em ParatyRJ
7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis
Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas
religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das
52
Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53
Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014
97
comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que
os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo
No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto
a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio
imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele
local
Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar
presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois
enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de
correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada
pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na
fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as
festas retomam
Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas
54
Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas
celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os
anos
Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55
Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos
religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo
portuguesa e da feacute catoacutelica
Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte
influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao
patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento
turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam
milhares de pessoas por todo o mundo 54
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014
98
Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas
podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES
2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais
celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a
experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se
objetos do turismo
Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e
a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os
rituais permanecem iguais
A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que
acontecem no Brasil durante todo o ano
FESTA ESTADO
Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE
Festa dos Santos Reis PE
Festa do Bonfim BA
Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES
Festa de Iemanjaacute BA
Semana Santa -
Procissatildeo do Fogareacuteu GO
Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE
Festa de Nossa Senhora da Penha ES
Festa de Satildeo Benedito MT
Festa de Nossa Senhora da Piedade AP
Festa de Nossa Senhora das Neves PB
Romaria de Bom Jesus da Lapa BA
Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA
Festa do Rosaacuterio MGGO
Ciacuterio de Nazareacute PA
Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP
Festa do Padre Ciacutecero CE
Festa de Santa Baacuterbara BA
56
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
99
Festa de Nossa Senhora do Rocio PR
Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo
57
Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas
com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as
celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de
pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do
Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
58
57
Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
100
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna
59
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado
60
O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento
quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A
proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis
e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os
participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees
59
Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60
Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014
101
ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do
Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade
juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61
As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na
construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor
sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que
A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais
62
Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia
ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens
potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda
haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas
uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem
agraves festas tradicionais
Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e
Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo
formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o
reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e
espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de
reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas
praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa
Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos
A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre
esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute
As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade
61
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
102
religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel
63
A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da
estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando
diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de
geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos
foliotildees64
O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas
religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e
para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de
viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da
histoacuteria da cidade65
Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de
Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas
religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento
importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees
culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo
dos anos
Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como
parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a
economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p
10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais
Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada
Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que
estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances
63
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014
103
humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas
ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos
seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda
estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende
da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de
respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em
Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos
Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo
histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem
preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber
popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo
humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo
Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que
veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos
todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta
que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as
ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos
mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa
orgiardquo
Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por
isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas
tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos
culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando
valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute
natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de
edificaccedilotildees e peccedilas de museus
A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das
expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de
movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as
o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios
aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que
ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em
104
proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica
luacutedicardquo
Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que
atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa
do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do
Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das
datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora
do Rosaacuterio sete de outubro
Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no
desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de
celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a
catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute
catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo
de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino
culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo
Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado
de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo
ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo
sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim
Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do
Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos
conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala
tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por
pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia
O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente
67
66
Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
105
A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da
festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de
Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA
festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra
atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do
entorno que vem para caacuterdquo68
Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico
momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades
vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que
buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees
culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis
possuem na memoacuteria local
Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior
representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem
papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que
se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade
pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose
queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha
fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de
natildeo ser idecircntica a si mesmardquo
As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado
durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas
e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o
passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio
Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade
Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar
69
68
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
106
Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos
com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na
cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a
santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes
seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou
simplesmente para festejar
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia
A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no
Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo
Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao
Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de
cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e
deram origem agrave festa judaica de Pentecostes
O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que
celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os
apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo
surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs
(2000 p 24)
Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular
Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se
por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder
caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros
Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo
107
Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de
Janeiro durante o seacuteculo XIX
Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia
A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como
Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se
restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras
nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio
Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia
Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao
Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela
grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje
Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo
Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e
Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas
atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo
tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo
da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda
metade do seacuteculo XVIII
Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino
que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave
sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das
Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos
Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas
como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a
maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo
menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa
desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela
108
A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares
70
A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia
justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute
momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e
Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o
reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que
essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia
Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o
seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato
quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio
da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino
eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio
de Luziacircniardquo71
O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as
festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas
pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem
parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo
consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72
Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre
foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)
explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande
festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida
e cheiro de roupa novardquo
Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres
percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com
uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino
70
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
109
Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo
caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja
quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo
Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade
contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de
Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa
A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade
73
As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo
Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras
pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na
realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela
pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura
localrdquo74
Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa
festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo
de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais
satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma
relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se
perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do
povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante
o ano
Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as
inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo
73
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014
110
portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um
consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute
sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud
SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e
as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino
Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita
muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de
uma festa religiosardquo
A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em
relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade
fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a
comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas
de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um
movimento em torno do turismo cultural e religioso
Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do
Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos
mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida
Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo
uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano
aguardando a festa para comer esta especiaria
Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa
do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura
culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e
etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes
elementos
A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios
elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o
poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia
Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as
75
BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989
111
filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo
76
Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante
e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo
frito
A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa
77
Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito
assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute
preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa
demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio
imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo
construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham
para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-
se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas
Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os
foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua
realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz
ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A
partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados
ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade
Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que
organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa
Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968
apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar
com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia
oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do
76
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
112
festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com
os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78
Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade
Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela
primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo
nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e
organizaccedilatildeo das festividades na cidade
Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas
79
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
78
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
113
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia
80
80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-
o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013
114
Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil
haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes
e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento
cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela
modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi
suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo
O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e
durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de
Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no
municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes
Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos
tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro
fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes
com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas
outras coisas foram retiradasrdquo 81
As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que
constituem a festa do Divino
311 O Pouso
O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo
e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois
tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles
formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para
a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem
entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita
Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a
bandeira do Divino
Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha
81
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
115
todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente
82
Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na
entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo
catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando
elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas
incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se
tornarem demasiadamente mundanas
O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre
com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os
ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na
chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles
continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser
proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com
comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre
isso
Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente
83
A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as
folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais
autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de
descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um
povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a
82
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
116
cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que
acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo
Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe
84
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009
Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves
festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se
mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que
ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute
que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo
84
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
117
Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas
tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada
eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute
tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo
312 A Catira
Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou
Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura
brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute
uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela
batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos
Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos
em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)
descreve a Catira como
A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel
A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo
Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA
2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no
meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua
expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em
dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves
vezes nas novenas ou no final da missardquo86
Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo
descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade
85
Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
118
A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)
87
Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009
O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e
assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as
geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator
constituinte de sua cultura
313 A Folia de Rua
As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e
constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes
em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias
constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico
brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia
87
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88
QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973
119
eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma
de preservaccedilatildeo da culturardquo89
A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro
ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de
visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e
entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com
muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na
cidade
Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda
90
Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como
demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos
excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter
outro significado que transcende o material
Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense
e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas
Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo
XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos
portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e
profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar
homenagens e saudarrdquo
O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros
elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como
aconteciam as folias de rua em Luziacircnia
Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros
89
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
120
foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria
Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como
acontecem as folias em Luziacircnia
Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas
91
Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos
seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em
que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute
espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo
divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo
Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de
rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes
que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A
jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das
caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de
pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e
furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92
Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade
E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato
93
O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo
religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma
91
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92
Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees
eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos
de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso
Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar
94
Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo
intriacutenseco a festa
Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode
Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns
participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator
capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado
profano da festa que vem aumentando a cada ano
A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca
95
94
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
122
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das
festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado
religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas
rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]
essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas
comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo
A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais
momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa
tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade
Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do
Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas
a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do
turismo local
314 As Cavalhadas
Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por
volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para
123
Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de
cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo
As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento
cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas
surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que
com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles
que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo
A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais
personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa
azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros
Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas
embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute
personagens mascarados que representam o povo
Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme
nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico
profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades
goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo
Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de
dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona
Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave
dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade
Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando
96
96
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
124
A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do
estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos
anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe
uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas
fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e
mouros em Luziacircnia
315 Os Leilotildees
Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino
em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo
leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por
comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os
leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do
Divino
Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o
leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que
doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja
do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os
leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade
Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa
97
97
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
125
Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo
destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns
consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no
municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa
festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio
da Silva discorre sobre isso
As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio
98
Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas
caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente
que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e
com a formaccedilatildeo da sua identidade
Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios
histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um
forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o
que pode ser constatado durante a pesquisa
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes
santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados
no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978
descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade
Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)
98
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
126
Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978
Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo
possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber
que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do
tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo
e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na
cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de
maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas
dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura
negra sendo considerados seus santos protetores
127
Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram
em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute
garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de
fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou
sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro
Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro
99
O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora
do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade
assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de
Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a
participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu
patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de
Luziacircnia
O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e
gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e
distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis
contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia
que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica
Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem
como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade
o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na
construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os
padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa
relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar
entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas
Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas
participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos
poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a
99
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
128
que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de
haver pouco tempo que a festa vem se realizando
Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da
comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas
de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada
momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor
religioso ou lazer puramente dito
No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela
vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre
querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo
com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do
Rosaacuterio possui para ela
Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo
100
No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa
Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a
comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show
com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a
comemoraccedilatildeo
A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a
preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do
patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso
A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees
101
Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da
igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente
100
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
129
na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste
local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros
Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e
intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso
da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando
cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso
A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees
musicais 102
O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a
organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o
estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior
essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos
com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103
Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua
fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a
igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa
Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104
Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)
quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos
tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo
essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os
moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo
seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos
Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao
longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de
puacuteblicos
102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
130
Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral
105
A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair
benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada
pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de
dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso
A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento
106
Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a
economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a
movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa
tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na
cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o
numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia
do municiacutepiordquo107
Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute
um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo
eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo
e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial
algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio
Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade
Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para
105
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014
131
que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
108
Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas
tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se
constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria
comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de
contribuir para o turismo na cidade
Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico
109
A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia
tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como
apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para
aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na
comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a
preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem
patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria
comunidade
108
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013
132
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013
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Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas
sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se
concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia
possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as
igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo
fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)
ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116
Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua
identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma
comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer
novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito
do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam
atrativos turiacutesticos das cidades
As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de
hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos
formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar
uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se
consideram turistas
As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial
para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino
Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se
observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do
viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas
assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo
consideradas fortes tradiccedilotildees culturais
A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no
ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves
praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da
accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a
preservaccedilatildeo destes patrimocircnios
A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da
cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se
desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma
positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no
desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos
prestados
Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute
considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a
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principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova
configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes
motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do
municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN
Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como
uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam
celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente
a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo
puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em
torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e
esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa
um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural
Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo
descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo
aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em
Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de
promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como
parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir
diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila
As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos
moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila
e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas
cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas
de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem
vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes
patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade
Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real
representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da
tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais
atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo
em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e
esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter
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Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada
diardquo 117
Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se
perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que
compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado
de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de
casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba
desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de
proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos
todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido
Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui
valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo
Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela
importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los
atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses
Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute
importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade
agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados
aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui
O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que
aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel
como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e
assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos
negativos do que positivos para a cidade
A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo
colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute
pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns
participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que
para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se
tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os
envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico
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Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
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O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que
isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os
recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm
potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e
sustentaacutevel
O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio
atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem
na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se
propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim
de toda a cidade
O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os
envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se
reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos
monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser
uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de
preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e
consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade
e da sociabilidaderdquo
Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos
vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos
sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais
sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e
social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das
populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em
uacuteltima instancia eacute praacutetica social
Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que
permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte
integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino
Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem
permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade
de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local
Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses
eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem
ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia
141
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153
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao
curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da
Universidade de Brasiacutelia
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua
colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato
voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees
solicitadas pelo pesquisador
Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e
mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os
resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse
trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada
Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo
Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB
carlawiccagmailcom
Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando
voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e
para a publicaccedilatildeo dos resultados
Luziacircnia _____ de _________________ de 2013
Assinatura do participante____________________________________________
Assinatura da pesquisadora___________________________________________
154
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1 Nome
2 Telefone
3 Profissatildeo
4 Idade
5 Estado Civil
6 Religiatildeo
7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos
Quais
9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos
patrimocircnios materiais de Luziacircnia
11 O que estas festas representam para vocecirc
155
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de
Luziacircnia
9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas
156
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o
desenvolvimento do turismo local
10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de
Luziacircnia
11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das
festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia
1
2
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)
MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Dissertaccedilatildeo de autoria de Carla Adriana Oliveira Silva intitulada As festas histoacutericas
e religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidade submetida ao Centro de Excelecircncia em Turismo da Universidade de Brasiacutelia
como parte dos requisitos necessaacuterios para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em
Turismo em 03072014 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo
assinada
____________________________________________________________
Profa Dra Eloiacutesa Pereira Barroso
Orientadora
CETUnB
____________________________________________________________
Profa Dra Cleacuteria Botecirclho da Costa
PPG-HistoacuteriaUnB
____________________________________________________________
Profa Dra Karina Dias
CETUnB
Suplente
____________________________________________________________
Profa Dra Neuza de Farias Arauacutejo
3
Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia
e em especial ao meu filho Ian
Gabriel
4
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os
meus passos em busca do bem maior
Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e
pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada
Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo
acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em
busca de mais conhecimento
Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a
importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus
objetivos
Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo
ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig
Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram
unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando
mutuamente
Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes
por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento
que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta
dissertaccedilatildeo
Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo
Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo
estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo
Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises
nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona
Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha
do mestrado na minha cabeccedila
Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua
experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos
de maior dificuldade
5
Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com
sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas
fotografias
Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e
paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho
Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas
Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires
e Wilter Coelho
Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de
Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo
Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra
estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento
oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente
6
ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim
pode ser o comeccedilordquo
Ivy Baker Priest
7
RESUMO
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local
Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia
8
ABSTRACT
The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism
Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia
9
LISTA DE SIGLAS
CNT - Conselho Nacional de Turismo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional
GO ndash Goiaacutes
OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo
PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
10
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figuras
Capiacutetulo 1
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da
Cultura 36
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa
da Cultura 36
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na
Casa da Cultura 36
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54
Capiacutetulo 2
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante
Antigamente 69
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81
Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
11
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do
Rosaacuterio 83
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83
Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do
Rosaacuterio 84
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94
Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94
Capiacutetulo 3
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em
2013 113
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116
12
Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133
Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133
Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134
Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela
cidade 134
Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135
Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135
Tabelas
Capiacutetulo 1
Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo
Cultural 50
Capiacutetulo 3
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98
13
SUMAacuteRIO
Dedicatoacuteria iii
Agradecimentos iv
Epiacutegrafe vi
Resumo vii
Abstract viii
Lista de Siglas ix
Lista de figuras e tabelas x
INTRODUCcedilAtildeO 15
CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23
11 A Cultura 25
12 O Patrimocircnio 30
121 O Patrimocircnio Imaterial 33
13 O Turismo 40
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43
132 O Turismo Cultural 46
133 O Turismo Religioso 50
CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO
CULTURAL 54
21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59
22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62
23 O Centro Histoacuterico 66
24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71
14
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76
242 Igreja do Rosaacuterio 80
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89
246 Praccedila Evangelino Meireles 91
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92
248 O Cristo Redentor 93
CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106
311 O Pouso 114
312 A Catira 117
313 A Folia de Rua 118
314 As Cavalhadas 122
315 Os Leilotildees 124
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE
LUZIAcircNIAGO 156
15
INTRODUCcedilAtildeO
Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo
teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos
materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de
tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo
dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade
Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como
primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim
surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados
nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos
governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de
reconhecimento da identidade e da cultura local
O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte
espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se
tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de
desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade
Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo
da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais
que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no
desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de
desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois
refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural
relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local
como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade
As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute
uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e
que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a
preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica
social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes
espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a
identidade da comunidade local
16
Diante desse fato surgem as seguintes questotildees
1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e
Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio
3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios
culturais materiais e imateriais da cidade
4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em
campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um
fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que
pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem
percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os
meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que
a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa
Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca
do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia
usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a
pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao
encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar
uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do
conhecimento
O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu
numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o
discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica
fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo
compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais
adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua
cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas
e preservadas
17
Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual
os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente
pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar
dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um
dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees
que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade
Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois
visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o
estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa
identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos
fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e
extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia
especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade
Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave
produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do
saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que
ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio
despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo
retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para
produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)
As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente
organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO
e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos
necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas
envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante
meacutetodo pois ela
Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica
socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que
participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de
mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de
estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias
profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)
18
A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado
(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e
estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas
muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de
conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da
gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)
A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da
pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao
problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os
principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida
da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de
perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo
foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo
desta dissertaccedilatildeo
Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas
bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram
fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos
dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa
qualitativa
[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em
texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande
quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os
dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de
forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados
(GIBBS 2009 p 24)
As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias
Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma
metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas
que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi
fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que
participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees
culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar
essa identidade perdida
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Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas
etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha
utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais
etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a
preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo
a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos
neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das
principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais
atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das
entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que
convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de
laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo
Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a
cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o
contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua
contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia
Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias
perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado
Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como
representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de
moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas
tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem
na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o
desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio
Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser
classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais
podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes
valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos
pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das
entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a
assinatura de termo de consentimento
As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado
antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas
20
em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em
abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos
entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu
Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se
entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a
opiniatildeo de um puacuteblico mais variado
Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e
trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se
declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo
Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas
1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila
2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo
3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes
4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro
5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva
6- Estudante Karina da Silva
7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira
8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires
9- Jornalista Francyelle Rocha
10- Advogado Wilter Campos Coelho
Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir
dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas
essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo
com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas
elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia
da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e
tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as
mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc
O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como
explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e
reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo
foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas
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agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para
os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos
referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa
Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa
extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa
de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de
tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de
conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de
preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o
perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs
capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram
uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma
discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro
apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio
Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No
segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do
patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o
turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma
discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como
o turismo cultural e o turismo religioso
O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa
pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos
e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro
histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo
local
No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste
estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as
manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas
festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o
patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um
espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio
22
conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto
essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias
alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de
Luziacircnia
Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o
turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento
e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura
como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece
como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como
um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo
23
I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO
A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo
em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo
natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores
puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira
e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles
podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia
Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo
dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se
apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem
falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular
novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta
que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por
parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico
entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local
Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura
deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o
futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a
gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que
cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se
constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e
vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se
tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e
patrimonial
A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das
cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees
populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico
como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)
O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo
1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC
jandez 2005 n19-20 p 126-153
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de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo
Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos
constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes
patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados
a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo
conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo
das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)
[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas
Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis
fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente
estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por
meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a
estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos
deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e
vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que
ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes
motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo
A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa
positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua
conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas
tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira
(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado
da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do
desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de
um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos
setores da sociedade
A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se
apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os
25
turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas
proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um
determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo
Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre
tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser
observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem
o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades
tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova
mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e
contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel
11 A Cultura
A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos
possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se
destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no
campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido
desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou
o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos
crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia
(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que
integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990
p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens
Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo
Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que
esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam
baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as
26
sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem
entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem
Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou
seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa
totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais
Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da
cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma
totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos
culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O
autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar
relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto
que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a
pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um
sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los
separadamenterdquo
Para Clifford Geertz (2008 p 24)
[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade
Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais
vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem
ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um
dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro
Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a
sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo
que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua
compreensatildeo
ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca
2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958
3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940
27
de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)
Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e
recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua
identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura
constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo
Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura
eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e
imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo
Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse
trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia
que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos
importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo
Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas
compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou
esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o
patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra
que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos
simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a
anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da
seguinte forma
Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros
A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de
diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso
das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros
(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais
expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura
determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou
4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997
28
inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade
Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma
que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as
atividades da vidardquo
Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso
para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade
mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura
da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona
medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o
direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)
As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por
geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas
que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua
fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para
filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas
festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos
Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens
adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5
(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila
que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica
Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida
quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o
municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas
formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita
com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como
Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)
Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um
processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre
5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris
PUF 1955
29
(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre
essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma
espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no
imaginaacuterio
A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e
intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os
lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se
fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo
que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees
materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo
As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura
tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para
a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo
dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura
tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo
A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)
Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da
cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja
positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode
estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim
este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio
cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a
atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que
visitam a cidade
6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968
30
12 O Patrimocircnio
A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela
passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma
famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo
termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por
conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o
patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como
ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura
homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto
de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)
O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo
simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse
sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por
sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus
patrimocircnios
Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como
esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista
patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em
que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito
das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem
patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO
para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa
Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos
Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade
Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como
memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica
31
principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo
Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua
histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO
aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo
visual
Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de
patrimocircnio cultural eacute bastante ampla
Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos
Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais
tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos
tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo
artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da
sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento
do turismo
Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma
comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)
observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-
se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor
etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e
peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo
Para Fonseca (2009 p 21)
Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia
Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas
tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo
possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do
Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia
32
que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais
como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se
dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade
Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na
preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e
Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em
razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e
216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da
comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido
como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em
conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira
O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como
um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico
brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade
contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto
com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu
proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se
formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a
relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores
que justificam a preservaccedilatildeordquo
Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao
buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer
confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009
p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos
da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado
corresponde agrave ideia que se faz delerdquo
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute
muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos
ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas
nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de
33
identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que
refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza
Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo
Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do
tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na
consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente
construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel
que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure
preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma
maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a
parte na vida em sociedade
121 O Patrimocircnio Imaterial
O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos
20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade
realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo
de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos
estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um
dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio
cultural ndash IPHAN em 1937
Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN
O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)
34
Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua
classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma
Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []
visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees
mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio
cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e
praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode
ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social
A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa
classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud
ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como
O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais
O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas
praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos
de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas
e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais
coletivas)
Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo
menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela
proacutepria comunidade
Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em
relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa
distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando
que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de
estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo
reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional
7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho
executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo
id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011
35
No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa
Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os
patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial em quatro livros
1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de
fazer enraizados no cotidiano das comunidades
2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam
a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras
praacuteticas da vida social
3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees
literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas
4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios
praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais
coletivas
Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade
se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes
dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza
imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura
oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]
eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares
objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo
9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013
36
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
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Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e
o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das
Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino
Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa
dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que
acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no
livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da
comunidade
O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora
tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos
responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte
do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela
sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui
que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que
um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade
(FONSECA 2009)
Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais
valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de
forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas
manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a
vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente
em mudanccedila
Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute
justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como
referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante
o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses
patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem
Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados
Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas
muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da
38
cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do
Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as
suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA
2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um
grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos
explicam o conceito de performance como
Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural
Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de
Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial
possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade
pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade
do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no
municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com
valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas
como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o
comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo
Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees
para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e
disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda
interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que
os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos
de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita
tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na
disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial
A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance
como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia
nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda
deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003
39
geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia
dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim
destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo
no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da
UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)
Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras
possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim
a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte
dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas
estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas
de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com
a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos
que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente
daquele que se encontra ameaccedilado
O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees
como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes
patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros
patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas
histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte
intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de
LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do
municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de
Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
40
13 O Turismo
O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que
dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se
faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a
compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004
p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno
Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por
prazer Uso depredaccedilatildeordquo
De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo
discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e
tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo
de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que
etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual
com a intenccedilatildeo de regressar
Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo
era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses
realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres
ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de
educaccedilatildeo e cultura
Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992
Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo
Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um
cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a
negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno
econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas
relaccedilotildees
Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica
institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo
e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute
uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo
11
BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995
41
com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e
negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade
O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno
social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural
O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)
Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial
tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo
somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do
Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo
vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se
consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento
socioeconocircmicordquo
De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e
afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER
1991 p 231
Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova
perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades
oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e
arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse
estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa
(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida
em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade
Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e
desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e
imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo
de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando
12
O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13
Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013
42
entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em
torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico
O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o
desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a
poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais
importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte
geradora de serviccedilos produtos emprego e renda
Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de
natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico
social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o
desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos
tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e
privados quanto ao planejamento territorial das cidades
Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz
respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo
Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a
competitividade do turismo
[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de
sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)
O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um
planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se
virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo
eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade
logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e
economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute
possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o
turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir
diversos setores de desenvolvimento
Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e
modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico
43
cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se
deslocarem
Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo
e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)
[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural
Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais
fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos
70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais
aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI
1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por
parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos
Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo
pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as
regiotildees que abrigam suas atividades
A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos
de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos
empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e
incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como
orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os
gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar
um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou
seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos
projetos e programas da poliacutetica de turismo
14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash
Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013
44
Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de
Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural
O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)
define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa
apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O
autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que
demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente
em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e
econocircmicos numa mesma perspectiva
Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de
Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de
forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo
com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos
turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o
futuro
Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu
patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono
deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o
desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes
patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria
Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute
fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a
sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos
fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a
falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e
autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da
importacircncia deste planejamento
Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)
Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem
um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann
45
(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de
gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do
nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a
economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das
comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas
religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a
economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo
sustentaacutevel para esta regiatildeo
A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus
comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos
em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo
da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas
de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os
visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve
causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor
nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento
de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade
Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)
Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus
residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale
ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da
sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute
que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo
Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave
organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das
festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse
processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo
do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios
46
132 O Turismo Cultural
O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro
natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)
afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados
tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com
maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica
reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo
Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade
de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo
vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)
O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do
Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de
elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008
p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a
ascensatildeo de um turismo cultural na cidade
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de
transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch
(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente
contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo
da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos
povosrdquo
Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia
tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey
(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que
compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui
lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud
CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais
de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos
impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo
No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo
(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser
47
valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de
pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute
traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como
O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)
O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a
preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos
Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado
como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo
para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos
culturais e sua memoacuteria socialrdquo
Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e
tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o
processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades
Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns
aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e
econocircmica para diversos setores
Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as
celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre
outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um
turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa
forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e
desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um
turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do
descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo
que eacute seu
De acordo com Pires (2001)
15
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
48
ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)
Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de
viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas
histoacutericas
Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo
turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de
interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida
moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se
importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o
turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)
[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)
A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas
comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de
pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como
nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado
ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em
museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo
Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um
planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o
desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade
Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar
estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da
identidade local
Homi Bhabha diz que
49
O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)
Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees
no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade
O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio
do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da
cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam
como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior
representaccedilatildeo turiacutestica satildeo
1- Turismo Ciacutevico
2- Turismo Religioso
3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico
4- Turismo Eacutetnico
5- Turismo Cinematograacutefico
6- Turismo Arqueoloacutegico
7- Turismo Gastronocircmico
8- Enoturismo
9- Turismo Ferroviaacuterio
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de
serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo
cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo
de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de
serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos
50
Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010
Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as
viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto
que seraacute discutido a seguir
133 O Turismo Religioso
O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos
vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais
51
cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura
poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16
Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este
tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento
em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De
acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333
com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de
Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo
Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas
atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em
espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo
viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno
ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por
bull Peregrinaccedilotildees e romarias
bull Retiros espirituais
bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso
bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis
bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios
terreiros)
bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros
As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso
procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por
valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para
estimular as viagens como afirma Onfray (2009)
ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)
16
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014
52
Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista
que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista
tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele
busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual
A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o
turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos
em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p
3)
Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e
agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a
santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista
obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de
igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas
torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica
De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e
PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o
prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas
conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo
Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o
candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero
de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho
de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas
religiosos
No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os
destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no
Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em
Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR
1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito
Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo
religioso
17
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18
CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003
53
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro
19
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014
20
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
21
19
Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20
Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
54
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida
Fonte Site Conhecer22
Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de
atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a
receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a
caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)
As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum
segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute
Beni (1997) definiu o turismo religioso como
Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)
O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas
viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os
equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade
varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees
Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas
de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como
nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite
vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade
22
Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014
55
O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves
festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da
cultura luzianiense
Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as
mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a
diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo
A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a
cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana
Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica
nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais
de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por
ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte
delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p
27)
Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de
pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no
planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio
Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui
igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair
turistas para a cidade
56
II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL
Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes
entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto
de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio
histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas
manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial
a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)
O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que
possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas
Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a
torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute
que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo
fortemente influenciados por estas cidades
Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746
quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo
assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando
Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e
fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o
arraial se desenvolveria
Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a
Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia
constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade
Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de
partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa
Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas
do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da
Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante
predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas
de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)
23
Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014
57
No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia
aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo
ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do
seu potencial turiacutestico
Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo
sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda
compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso
o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma
cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do
calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e
menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu
valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como
de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local
Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material
jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e
Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel
Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade
incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo
Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de
abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos
por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar
valores a estes patrimocircnios
Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo
do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo
IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele
se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade
luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios
Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo
que possui significado para a comunidade
As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva
com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)
24
Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014
58
afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a
constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas
brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as
cidades histoacutericas como
Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)
Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade
histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de
Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura
fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo
de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade
A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe
concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do
Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais
diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos
sociais espaciais e culturais de toda ordem
Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por
tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta
pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de
Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense
possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como
o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade
como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta
identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as
culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural
Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado
ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural
Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da
Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash
UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular
59
considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e
que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes
e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)
Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas
tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva
aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e
afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de
cultura
A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial
como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para
alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial
carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se
importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem
para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado
ficando fadadas ao desaparecimento
Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio
histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e
utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio
Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que
possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre
histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a
necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da
interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo
21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO
Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante
Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na
regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro
que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em
homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel
(1994)
60
Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)
Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado
da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil
pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a
histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios
momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas
das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas
restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros
de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25
O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram
para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a
populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora
essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na
deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais
Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente
em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da
cidade
As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro
urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este
processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave
paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as
muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares
do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte
Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de
suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal
Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade
25
Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011
61
Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando
Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a
adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo
Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia
[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)
O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o
surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia
Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que
ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo
com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses
uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora
com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de
Luziacircnia
Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)
Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo
refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura
As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo
desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das
manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na
cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz
necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram
presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita
ser preservado
62
22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor
O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro
no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a
posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos
mais variados lugares do paiacutes
De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes
quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014
28
Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos
80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN
(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta
explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais
quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama
e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental
em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629
26
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27
Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28
Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29
De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993
63
Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de
3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e
proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e
o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o
cargo no inicio de 2013
A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e
desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens
e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o
intercambio com outras cidades30
Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em
muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o
seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo
do meio ambiente e do patrimocircnio cultural
A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto
Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como
Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)
O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de
outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos
baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e
da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o
desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o
desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua
conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras
No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de
interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro
histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30
Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014
64
artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e
cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira
convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo
econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e
histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser
alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a
proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e
econocircmicos agrave cidade
Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14
fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a
gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre
a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial
urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual
infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua
do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico
Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e
privados o qual tambeacutem natildeo existe
O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento
econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a
entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se
mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo
O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne
realidade mas natildeo depende soacute da gente31
Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos
estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as
accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a
ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a
preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo
31
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
65
cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo
sobre a importacircncia das festas
A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia
32
Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16
inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica
urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e
comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se
realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito
Santo
O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo
dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de
interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das
suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do
patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas
admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e
arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia
Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que
deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo
vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal
O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a
tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no
centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto
de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes
nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso
podia ser inviabilizado neacuterdquo33
32
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
66
O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de
transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de
sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo
localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre
outros o que pouco se vecirc
O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem
trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade
Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas
34
O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de
projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem
que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar
as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio
cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver
impedido de fazecirc-lo
Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o
municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um
novo plano
O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de
guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir
do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua
aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio
muito melhor
23 O Centro Histoacuterico
Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves
festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no
desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio
34
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
67
No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o
tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do
turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo
apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma
representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)
Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo
sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que
conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo
Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam
representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a
partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e
explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo
Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo
concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a
partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem
traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria
e compreensatildeo da sua cultura
Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma
como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem
ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo
ainda resistem agraves accedilotildees do tempo
Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante
intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que
A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)
A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma
intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio
Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica
central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo
68
econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas
setorialmenterdquo
Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do
centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse
espaccedilo
Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de
desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o
fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna
referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles
que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a
memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura
Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade
das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles
Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas
rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a
serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus
moradores e como espaccedilo de memoacuteria
Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades
seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria
Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que
a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se
transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a
estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela
partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde
vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo
Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos
da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo
que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que
foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e
culturalrdquo
Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e
preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa
(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos
69
Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)
Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e
valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute
importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras
tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das
suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato
viveram a histoacuteria
Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no
espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila
da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e
estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a
participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as
manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e
consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais
e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
70
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
71
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia
A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente
perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e
intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade
principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da
cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o
Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por
considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica
as manifestaccedilotildees populares etc
Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do
municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de
fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que
tambeacutem herdou dos seus colonizadores
Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de
comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de
sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho
guariroba hortaliccedilas e aguardente
Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce
tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem
portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por
escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de
72
hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de
pai para filho
Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta
que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade
Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende
da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos
Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de
registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute
estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo
eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de
marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a
especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios
produtores do doce
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
36
35
Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014
73
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014
37
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
38
O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute
retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas
de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense
37
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014
74
Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a
Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura
As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo
expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e
momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo
apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais
presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares
Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor
potencial turiacutestico
O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e
o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo
patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas
ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor
O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma
legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico
Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo
39
Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por
sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por
exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar
aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela
forma como foi feito
Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua
potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma
construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no
meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao
presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se
encontram diversos pertences de JK
39
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
75
Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi
completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais
e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda
estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa
judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio
material de Goiaacutes41
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo
42
Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis
fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade
Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave
hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis
sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns
especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo
e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico
O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees
agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos
O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem
encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica
40
Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42
Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014
76
Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
43
Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial
para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no
centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do
turismo na cidade
Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do
Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco
inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas
eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados
com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro
histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve
levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia
A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo
religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e
negros natildeo se misturavam
Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs
Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi
inaugurada em 1767 mesmo inacabada
Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa
ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila
com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta
de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)
43
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44
Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013
77
Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)
As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre
esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida
para mais tarde ser reconstruiacuteda
Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial
incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma
imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e
foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa
que foi modificada
Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida
diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees
comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo
A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a
responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito
Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de
onde partem as procissotildees nos dias de festa
78
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
79
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
80
242 A Igreja do Rosaacuterio
A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos
Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por
Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e
escravos
Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma
memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de
Luziacircniardquo
Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a
manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem
tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como
conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente
pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute
O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no
municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529
pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a
numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem
menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria
o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS
1925)
A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da
regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central
foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um
balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam
para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e
curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada
para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte
Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por
algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei
dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura
como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar
e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos
para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da
81
retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja
Matriz de Santa Luzia
A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que
esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os
cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa
ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou
familiarrdquo
A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo
Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980
Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de
Goiaacutes e a Prefeitura Municipal
De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da
Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes
Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)
A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte
dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela
fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo
das missas
Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
82
Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
83
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013
45
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
45
Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
84
Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro
A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo
histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu
da cidade
Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural
com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande
representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem
da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares
O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi
fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este
nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem
85
ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e
professor de Direito46
A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e
barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal
voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se
destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo
de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem
hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores
Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e
constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura
Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos
47
A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos
depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos
Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por
todos os cocircmodos
A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de
semana e feriados
46
Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
86
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
87
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
88
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles
O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e
Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e
ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a
intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central
Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e
conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes
No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em
oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto
Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles
as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel
O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui
verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados
e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio
O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de
14h30min agraves 17h30min
89
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo
A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs
Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em
que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram
fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para
paacutessaros e outros pequenos animais
Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais
conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em
azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade
de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja
do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos
Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um
deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da
rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes
48
Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014
90
Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os
dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras
da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)
Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos
drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham
destruindo a obra
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
91
Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
246 Praccedila Evangelino Meireles
A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo
modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros
ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo
um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute
tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas
Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado
e inuacutemeras drogarias
Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas
rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio
92
Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa
responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua
com alguns espaccedilos interditados
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014
50
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees
O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute
uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para
Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008
O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas
independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e
externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com
cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet
49
Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50
Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014
93
O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como
encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura
Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
248 O Cristo Redentor
Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo
agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua
estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se
94
encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da
cidade
Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
95
III AS FESTAS RELIGIOSAS
As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a
antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram
algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum
tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo
dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais
Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento
de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a
vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em
homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida
das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas
de muita importacircncia para as comunidades
As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)
Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na
formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que
ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma
identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional
ainda inexistenterdquo
O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa
influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele
Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira
O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como
51
JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005
96
O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar
Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de
registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram
interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a
comunidade daacute agrave sua cidade
O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm
3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo
como
[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)
Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute
foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das
Celebraccedilotildees estatildeo53
1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute
2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso
3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte
4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo
5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA
6- A Festa do Divino em ParatyRJ
7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis
Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas
religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das
52
Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53
Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014
97
comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que
os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo
No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto
a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio
imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele
local
Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar
presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois
enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de
correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada
pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na
fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as
festas retomam
Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas
54
Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas
celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os
anos
Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55
Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos
religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo
portuguesa e da feacute catoacutelica
Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte
influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao
patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento
turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam
milhares de pessoas por todo o mundo 54
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014
98
Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas
podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES
2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais
celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a
experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se
objetos do turismo
Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e
a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os
rituais permanecem iguais
A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que
acontecem no Brasil durante todo o ano
FESTA ESTADO
Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE
Festa dos Santos Reis PE
Festa do Bonfim BA
Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES
Festa de Iemanjaacute BA
Semana Santa -
Procissatildeo do Fogareacuteu GO
Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE
Festa de Nossa Senhora da Penha ES
Festa de Satildeo Benedito MT
Festa de Nossa Senhora da Piedade AP
Festa de Nossa Senhora das Neves PB
Romaria de Bom Jesus da Lapa BA
Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA
Festa do Rosaacuterio MGGO
Ciacuterio de Nazareacute PA
Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP
Festa do Padre Ciacutecero CE
Festa de Santa Baacuterbara BA
56
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
99
Festa de Nossa Senhora do Rocio PR
Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo
57
Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas
com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as
celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de
pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do
Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
58
57
Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
100
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna
59
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado
60
O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento
quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A
proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis
e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os
participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees
59
Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60
Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014
101
ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do
Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade
juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61
As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na
construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor
sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que
A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais
62
Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia
ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens
potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda
haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas
uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem
agraves festas tradicionais
Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e
Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo
formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o
reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e
espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de
reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas
praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa
Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos
A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre
esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute
As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade
61
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
102
religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel
63
A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da
estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando
diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de
geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos
foliotildees64
O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas
religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e
para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de
viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da
histoacuteria da cidade65
Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de
Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas
religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento
importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees
culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo
dos anos
Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como
parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a
economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p
10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais
Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada
Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que
estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances
63
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014
103
humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas
ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos
seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda
estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende
da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de
respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em
Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos
Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo
histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem
preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber
popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo
humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo
Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que
veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos
todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta
que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as
ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos
mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa
orgiardquo
Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por
isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas
tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos
culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando
valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute
natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de
edificaccedilotildees e peccedilas de museus
A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das
expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de
movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as
o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios
aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que
ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em
104
proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica
luacutedicardquo
Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que
atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa
do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do
Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das
datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora
do Rosaacuterio sete de outubro
Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no
desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de
celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a
catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute
catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo
de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino
culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo
Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado
de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo
ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo
sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim
Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do
Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos
conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala
tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por
pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia
O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente
67
66
Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
105
A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da
festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de
Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA
festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra
atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do
entorno que vem para caacuterdquo68
Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico
momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades
vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que
buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees
culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis
possuem na memoacuteria local
Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior
representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem
papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que
se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade
pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose
queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha
fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de
natildeo ser idecircntica a si mesmardquo
As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado
durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas
e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o
passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio
Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade
Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar
69
68
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
106
Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos
com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na
cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a
santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes
seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou
simplesmente para festejar
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia
A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no
Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo
Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao
Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de
cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e
deram origem agrave festa judaica de Pentecostes
O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que
celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os
apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo
surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs
(2000 p 24)
Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular
Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se
por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder
caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros
Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo
107
Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de
Janeiro durante o seacuteculo XIX
Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia
A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como
Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se
restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras
nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio
Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia
Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao
Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela
grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje
Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo
Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e
Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas
atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo
tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo
da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda
metade do seacuteculo XVIII
Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino
que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave
sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das
Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos
Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas
como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a
maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo
menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa
desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela
108
A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares
70
A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia
justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute
momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e
Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o
reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que
essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia
Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o
seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato
quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio
da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino
eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio
de Luziacircniardquo71
O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as
festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas
pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem
parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo
consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72
Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre
foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)
explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande
festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida
e cheiro de roupa novardquo
Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres
percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com
uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino
70
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
109
Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo
caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja
quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo
Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade
contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de
Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa
A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade
73
As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo
Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras
pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na
realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela
pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura
localrdquo74
Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa
festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo
de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais
satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma
relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se
perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do
povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante
o ano
Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as
inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo
73
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014
110
portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um
consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute
sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud
SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e
as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino
Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita
muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de
uma festa religiosardquo
A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em
relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade
fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a
comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas
de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um
movimento em torno do turismo cultural e religioso
Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do
Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos
mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida
Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo
uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano
aguardando a festa para comer esta especiaria
Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa
do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura
culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e
etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes
elementos
A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios
elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o
poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia
Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as
75
BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989
111
filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo
76
Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante
e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo
frito
A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa
77
Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito
assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute
preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa
demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio
imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo
construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham
para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-
se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas
Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os
foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua
realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz
ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A
partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados
ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade
Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que
organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa
Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968
apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar
com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia
oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do
76
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
112
festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com
os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78
Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade
Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela
primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo
nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e
organizaccedilatildeo das festividades na cidade
Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas
79
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
78
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
113
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia
80
80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-
o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013
114
Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil
haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes
e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento
cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela
modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi
suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo
O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e
durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de
Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no
municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes
Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos
tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro
fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes
com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas
outras coisas foram retiradasrdquo 81
As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que
constituem a festa do Divino
311 O Pouso
O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo
e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois
tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles
formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para
a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem
entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita
Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a
bandeira do Divino
Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha
81
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
115
todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente
82
Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na
entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo
catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando
elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas
incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se
tornarem demasiadamente mundanas
O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre
com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os
ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na
chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles
continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser
proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com
comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre
isso
Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente
83
A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as
folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais
autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de
descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um
povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a
82
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
116
cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que
acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo
Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe
84
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009
Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves
festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se
mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que
ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute
que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo
84
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
117
Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas
tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada
eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute
tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo
312 A Catira
Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou
Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura
brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute
uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela
batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos
Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos
em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)
descreve a Catira como
A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel
A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo
Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA
2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no
meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua
expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em
dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves
vezes nas novenas ou no final da missardquo86
Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo
descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade
85
Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
118
A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)
87
Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009
O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e
assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as
geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator
constituinte de sua cultura
313 A Folia de Rua
As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e
constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes
em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias
constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico
brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia
87
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88
QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973
119
eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma
de preservaccedilatildeo da culturardquo89
A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro
ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de
visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e
entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com
muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na
cidade
Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda
90
Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como
demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos
excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter
outro significado que transcende o material
Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense
e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas
Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo
XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos
portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e
profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar
homenagens e saudarrdquo
O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros
elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como
aconteciam as folias de rua em Luziacircnia
Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros
89
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
120
foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria
Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como
acontecem as folias em Luziacircnia
Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas
91
Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos
seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em
que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute
espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo
divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo
Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de
rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes
que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A
jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das
caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de
pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e
furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92
Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade
E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato
93
O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo
religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma
91
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92
Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
121
que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees
eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos
de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso
Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar
94
Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo
intriacutenseco a festa
Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode
Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns
participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator
capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado
profano da festa que vem aumentando a cada ano
A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca
95
94
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
122
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das
festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado
religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas
rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]
essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas
comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo
A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais
momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa
tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade
Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do
Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas
a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do
turismo local
314 As Cavalhadas
Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por
volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para
123
Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de
cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo
As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento
cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas
surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que
com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles
que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo
A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais
personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa
azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros
Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas
embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute
personagens mascarados que representam o povo
Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme
nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico
profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades
goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo
Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de
dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona
Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave
dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade
Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando
96
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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
124
A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do
estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos
anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe
uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas
fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e
mouros em Luziacircnia
315 Os Leilotildees
Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino
em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo
leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por
comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os
leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do
Divino
Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o
leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que
doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja
do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os
leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade
Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa
97
97
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
125
Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo
destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns
consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no
municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa
festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio
da Silva discorre sobre isso
As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio
98
Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas
caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente
que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e
com a formaccedilatildeo da sua identidade
Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios
histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um
forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o
que pode ser constatado durante a pesquisa
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes
santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados
no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978
descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade
Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)
98
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
126
Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978
Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo
possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber
que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do
tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo
e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na
cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de
maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas
dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura
negra sendo considerados seus santos protetores
127
Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram
em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute
garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de
fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou
sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro
Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro
99
O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora
do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade
assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de
Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a
participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu
patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de
Luziacircnia
O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e
gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e
distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis
contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia
que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica
Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem
como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade
o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na
construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os
padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa
relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar
entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas
Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas
participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos
poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a
99
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
128
que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de
haver pouco tempo que a festa vem se realizando
Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da
comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas
de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada
momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor
religioso ou lazer puramente dito
No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela
vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre
querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo
com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do
Rosaacuterio possui para ela
Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo
100
No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa
Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a
comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show
com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a
comemoraccedilatildeo
A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a
preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do
patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso
A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees
101
Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da
igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente
100
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
129
na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste
local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros
Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e
intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso
da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando
cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso
A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees
musicais 102
O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a
organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o
estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior
essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos
com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103
Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua
fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a
igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa
Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104
Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)
quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos
tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo
essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os
moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo
seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos
Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao
longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de
puacuteblicos
102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
130
Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral
105
A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair
benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada
pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de
dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso
A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento
106
Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a
economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a
movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa
tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na
cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o
numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia
do municiacutepiordquo107
Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute
um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo
eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo
e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial
algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio
Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade
Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para
105
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014
131
que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
108
Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas
tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se
constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria
comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de
contribuir para o turismo na cidade
Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico
109
A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia
tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como
apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para
aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na
comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a
preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem
patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria
comunidade
108
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013
132
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
110
110
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013
133
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
111
Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
134
Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
135
Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
136
As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas
sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se
concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia
possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as
igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo
fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)
ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo
116
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116
Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
137
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua
identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma
comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer
novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito
do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam
atrativos turiacutesticos das cidades
As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de
hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos
formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar
uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se
consideram turistas
As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial
para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino
Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se
observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do
viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas
assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo
consideradas fortes tradiccedilotildees culturais
A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no
ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves
praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da
accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a
preservaccedilatildeo destes patrimocircnios
A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da
cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se
desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma
positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no
desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos
prestados
Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute
considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a
138
principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova
configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes
motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do
municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN
Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como
uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam
celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente
a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo
puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em
torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e
esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa
um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural
Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo
descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo
aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em
Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de
promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como
parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir
diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila
As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos
moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila
e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas
cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas
de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem
vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes
patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade
Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real
representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da
tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais
atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo
em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e
esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter
139
Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada
diardquo 117
Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se
perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que
compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado
de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de
casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba
desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de
proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos
todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido
Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui
valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo
Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela
importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los
atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses
Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute
importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade
agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados
aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui
O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que
aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel
como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e
assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos
negativos do que positivos para a cidade
A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo
colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute
pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns
participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que
para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se
tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os
envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico
117
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
140
O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que
isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os
recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm
potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e
sustentaacutevel
O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio
atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem
na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se
propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim
de toda a cidade
O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os
envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se
reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos
monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser
uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de
preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e
consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade
e da sociabilidaderdquo
Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos
vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos
sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais
sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e
social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das
populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em
uacuteltima instancia eacute praacutetica social
Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que
permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte
integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino
Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem
permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade
de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local
Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses
eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem
ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia
141
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153
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao
curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da
Universidade de Brasiacutelia
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua
colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato
voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees
solicitadas pelo pesquisador
Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e
mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os
resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse
trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada
Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo
Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB
carlawiccagmailcom
Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando
voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e
para a publicaccedilatildeo dos resultados
Luziacircnia _____ de _________________ de 2013
Assinatura do participante____________________________________________
Assinatura da pesquisadora___________________________________________
154
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1 Nome
2 Telefone
3 Profissatildeo
4 Idade
5 Estado Civil
6 Religiatildeo
7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos
Quais
9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos
patrimocircnios materiais de Luziacircnia
11 O que estas festas representam para vocecirc
155
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de
Luziacircnia
9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas
156
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o
desenvolvimento do turismo local
10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de
Luziacircnia
11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das
festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia
2
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)
MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Dissertaccedilatildeo de autoria de Carla Adriana Oliveira Silva intitulada As festas histoacutericas
e religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidade submetida ao Centro de Excelecircncia em Turismo da Universidade de Brasiacutelia
como parte dos requisitos necessaacuterios para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em
Turismo em 03072014 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo
assinada
____________________________________________________________
Profa Dra Eloiacutesa Pereira Barroso
Orientadora
CETUnB
____________________________________________________________
Profa Dra Cleacuteria Botecirclho da Costa
PPG-HistoacuteriaUnB
____________________________________________________________
Profa Dra Karina Dias
CETUnB
Suplente
____________________________________________________________
Profa Dra Neuza de Farias Arauacutejo
3
Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia
e em especial ao meu filho Ian
Gabriel
4
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os
meus passos em busca do bem maior
Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e
pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada
Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo
acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em
busca de mais conhecimento
Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a
importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus
objetivos
Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo
ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig
Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram
unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando
mutuamente
Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes
por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento
que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta
dissertaccedilatildeo
Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo
Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo
estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo
Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises
nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona
Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha
do mestrado na minha cabeccedila
Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua
experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos
de maior dificuldade
5
Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com
sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas
fotografias
Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e
paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho
Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas
Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires
e Wilter Coelho
Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de
Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo
Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra
estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento
oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente
6
ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim
pode ser o comeccedilordquo
Ivy Baker Priest
7
RESUMO
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local
Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia
8
ABSTRACT
The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism
Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia
9
LISTA DE SIGLAS
CNT - Conselho Nacional de Turismo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional
GO ndash Goiaacutes
OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo
PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
10
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figuras
Capiacutetulo 1
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da
Cultura 36
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa
da Cultura 36
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na
Casa da Cultura 36
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54
Capiacutetulo 2
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante
Antigamente 69
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81
Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
11
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do
Rosaacuterio 83
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83
Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do
Rosaacuterio 84
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94
Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94
Capiacutetulo 3
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em
2013 113
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116
12
Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133
Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133
Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134
Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela
cidade 134
Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135
Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135
Tabelas
Capiacutetulo 1
Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo
Cultural 50
Capiacutetulo 3
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98
13
SUMAacuteRIO
Dedicatoacuteria iii
Agradecimentos iv
Epiacutegrafe vi
Resumo vii
Abstract viii
Lista de Siglas ix
Lista de figuras e tabelas x
INTRODUCcedilAtildeO 15
CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23
11 A Cultura 25
12 O Patrimocircnio 30
121 O Patrimocircnio Imaterial 33
13 O Turismo 40
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43
132 O Turismo Cultural 46
133 O Turismo Religioso 50
CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO
CULTURAL 54
21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59
22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62
23 O Centro Histoacuterico 66
24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71
14
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76
242 Igreja do Rosaacuterio 80
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89
246 Praccedila Evangelino Meireles 91
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92
248 O Cristo Redentor 93
CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106
311 O Pouso 114
312 A Catira 117
313 A Folia de Rua 118
314 As Cavalhadas 122
315 Os Leilotildees 124
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE
LUZIAcircNIAGO 156
15
INTRODUCcedilAtildeO
Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo
teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos
materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de
tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo
dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade
Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como
primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim
surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados
nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos
governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de
reconhecimento da identidade e da cultura local
O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte
espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se
tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de
desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade
Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo
da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais
que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no
desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de
desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois
refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural
relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local
como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade
As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute
uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e
que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a
preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica
social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes
espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a
identidade da comunidade local
16
Diante desse fato surgem as seguintes questotildees
1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e
Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio
3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios
culturais materiais e imateriais da cidade
4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em
campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um
fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que
pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem
percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os
meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que
a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa
Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca
do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia
usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a
pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao
encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar
uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do
conhecimento
O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu
numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o
discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica
fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo
compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais
adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua
cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas
e preservadas
17
Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual
os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente
pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar
dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um
dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees
que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade
Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois
visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o
estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa
identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos
fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e
extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia
especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade
Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave
produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do
saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que
ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio
despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo
retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para
produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)
As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente
organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO
e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos
necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas
envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante
meacutetodo pois ela
Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica
socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que
participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de
mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de
estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias
profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)
18
A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado
(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e
estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas
muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de
conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da
gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)
A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da
pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao
problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os
principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida
da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de
perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo
foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo
desta dissertaccedilatildeo
Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas
bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram
fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos
dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa
qualitativa
[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em
texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande
quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os
dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de
forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados
(GIBBS 2009 p 24)
As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias
Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma
metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas
que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi
fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que
participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees
culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar
essa identidade perdida
19
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas
etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha
utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais
etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a
preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo
a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos
neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das
principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais
atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das
entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que
convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de
laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo
Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a
cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o
contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua
contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia
Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias
perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado
Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como
representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de
moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas
tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem
na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o
desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio
Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser
classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais
podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes
valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos
pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das
entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a
assinatura de termo de consentimento
As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado
antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas
20
em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em
abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos
entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu
Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se
entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a
opiniatildeo de um puacuteblico mais variado
Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e
trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se
declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo
Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas
1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila
2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo
3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes
4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro
5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva
6- Estudante Karina da Silva
7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira
8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires
9- Jornalista Francyelle Rocha
10- Advogado Wilter Campos Coelho
Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir
dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas
essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo
com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas
elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia
da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e
tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as
mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc
O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como
explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e
reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo
foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas
21
agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para
os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos
referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa
Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa
extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa
de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de
tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de
conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de
preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o
perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs
capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram
uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma
discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro
apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio
Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No
segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do
patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o
turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma
discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como
o turismo cultural e o turismo religioso
O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa
pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos
e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro
histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo
local
No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste
estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as
manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas
festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o
patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um
espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio
22
conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto
essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias
alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de
Luziacircnia
Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o
turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento
e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura
como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece
como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como
um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo
23
I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO
A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo
em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo
natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores
puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira
e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles
podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia
Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo
dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se
apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem
falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular
novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta
que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por
parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico
entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local
Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura
deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o
futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a
gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que
cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se
constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e
vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se
tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e
patrimonial
A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das
cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees
populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico
como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)
O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo
1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC
jandez 2005 n19-20 p 126-153
24
de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo
Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos
constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes
patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados
a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo
conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo
das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)
[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas
Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis
fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente
estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por
meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a
estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos
deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e
vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que
ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes
motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo
A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa
positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua
conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas
tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira
(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado
da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do
desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de
um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos
setores da sociedade
A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se
apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os
25
turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas
proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um
determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo
Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre
tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser
observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem
o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades
tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova
mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e
contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel
11 A Cultura
A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos
possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se
destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no
campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido
desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou
o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos
crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia
(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que
integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990
p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens
Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo
Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que
esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam
baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as
26
sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem
entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem
Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou
seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa
totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais
Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da
cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma
totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos
culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O
autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar
relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto
que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a
pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um
sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los
separadamenterdquo
Para Clifford Geertz (2008 p 24)
[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade
Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais
vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem
ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um
dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro
Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a
sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo
que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua
compreensatildeo
ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca
2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958
3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940
27
de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)
Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e
recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua
identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura
constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo
Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura
eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e
imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo
Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse
trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia
que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos
importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo
Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas
compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou
esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o
patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra
que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos
simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a
anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da
seguinte forma
Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros
A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de
diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso
das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros
(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais
expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura
determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou
4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997
28
inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade
Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma
que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as
atividades da vidardquo
Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso
para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade
mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura
da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona
medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o
direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)
As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por
geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas
que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua
fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para
filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas
festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos
Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens
adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5
(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila
que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica
Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida
quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o
municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas
formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita
com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como
Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)
Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um
processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre
5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris
PUF 1955
29
(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre
essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma
espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no
imaginaacuterio
A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e
intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os
lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se
fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo
que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees
materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo
As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura
tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para
a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo
dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura
tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo
A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)
Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da
cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja
positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode
estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim
este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio
cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a
atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que
visitam a cidade
6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968
30
12 O Patrimocircnio
A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela
passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma
famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo
termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por
conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o
patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como
ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura
homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto
de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)
O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo
simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse
sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por
sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus
patrimocircnios
Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como
esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista
patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em
que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito
das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem
patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO
para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa
Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos
Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade
Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como
memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica
31
principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo
Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua
histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO
aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo
visual
Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de
patrimocircnio cultural eacute bastante ampla
Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos
Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais
tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos
tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo
artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da
sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento
do turismo
Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma
comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)
observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-
se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor
etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e
peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo
Para Fonseca (2009 p 21)
Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia
Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas
tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo
possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do
Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia
32
que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais
como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se
dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade
Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na
preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e
Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em
razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e
216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da
comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido
como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em
conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira
O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como
um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico
brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade
contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto
com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu
proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se
formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a
relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores
que justificam a preservaccedilatildeordquo
Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao
buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer
confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009
p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos
da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado
corresponde agrave ideia que se faz delerdquo
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute
muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos
ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas
nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de
33
identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que
refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza
Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo
Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do
tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na
consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente
construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel
que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure
preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma
maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a
parte na vida em sociedade
121 O Patrimocircnio Imaterial
O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos
20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade
realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo
de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos
estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um
dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio
cultural ndash IPHAN em 1937
Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN
O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)
34
Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua
classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma
Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []
visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees
mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio
cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e
praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode
ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social
A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa
classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud
ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como
O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais
O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas
praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos
de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas
e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais
coletivas)
Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo
menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela
proacutepria comunidade
Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em
relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa
distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando
que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de
estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo
reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional
7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho
executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo
id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011
35
No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa
Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os
patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial em quatro livros
1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de
fazer enraizados no cotidiano das comunidades
2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam
a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras
praacuteticas da vida social
3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees
literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas
4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios
praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais
coletivas
Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade
se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes
dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza
imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura
oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]
eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares
objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo
9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013
36
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
37
Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e
o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das
Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino
Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa
dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que
acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no
livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da
comunidade
O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora
tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos
responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte
do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela
sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui
que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que
um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade
(FONSECA 2009)
Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais
valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de
forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas
manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a
vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente
em mudanccedila
Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute
justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como
referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante
o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses
patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem
Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados
Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas
muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da
38
cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do
Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as
suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA
2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um
grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos
explicam o conceito de performance como
Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural
Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de
Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial
possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade
pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade
do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no
municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com
valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas
como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o
comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo
Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees
para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e
disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda
interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que
os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos
de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita
tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na
disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial
A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance
como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia
nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda
deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003
39
geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia
dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim
destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo
no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da
UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)
Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras
possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim
a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte
dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas
estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas
de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com
a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos
que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente
daquele que se encontra ameaccedilado
O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees
como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes
patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros
patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas
histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte
intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de
LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do
municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de
Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
40
13 O Turismo
O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que
dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se
faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a
compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004
p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno
Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por
prazer Uso depredaccedilatildeordquo
De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo
discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e
tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo
de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que
etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual
com a intenccedilatildeo de regressar
Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo
era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses
realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres
ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de
educaccedilatildeo e cultura
Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992
Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo
Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um
cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a
negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno
econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas
relaccedilotildees
Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica
institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo
e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute
uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo
11
BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995
41
com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e
negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade
O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno
social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural
O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)
Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial
tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo
somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do
Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo
vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se
consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento
socioeconocircmicordquo
De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e
afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER
1991 p 231
Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova
perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades
oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e
arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse
estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa
(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida
em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade
Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e
desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e
imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo
de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando
12
O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13
Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013
42
entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em
torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico
O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o
desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a
poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais
importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte
geradora de serviccedilos produtos emprego e renda
Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de
natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico
social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o
desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos
tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e
privados quanto ao planejamento territorial das cidades
Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz
respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo
Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a
competitividade do turismo
[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de
sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)
O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um
planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se
virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo
eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade
logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e
economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute
possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o
turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir
diversos setores de desenvolvimento
Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e
modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico
43
cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se
deslocarem
Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo
e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)
[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural
Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais
fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos
70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais
aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI
1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por
parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos
Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo
pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as
regiotildees que abrigam suas atividades
A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos
de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos
empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e
incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como
orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os
gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar
um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou
seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos
projetos e programas da poliacutetica de turismo
14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash
Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013
44
Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de
Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural
O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)
define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa
apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O
autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que
demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente
em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e
econocircmicos numa mesma perspectiva
Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de
Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de
forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo
com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos
turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o
futuro
Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu
patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono
deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o
desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes
patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria
Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute
fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a
sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos
fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a
falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e
autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da
importacircncia deste planejamento
Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)
Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem
um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann
45
(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de
gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do
nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a
economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das
comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas
religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a
economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo
sustentaacutevel para esta regiatildeo
A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus
comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos
em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo
da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas
de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os
visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve
causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor
nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento
de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade
Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)
Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus
residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale
ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da
sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute
que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo
Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave
organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das
festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse
processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo
do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios
46
132 O Turismo Cultural
O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro
natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)
afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados
tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com
maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica
reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo
Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade
de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo
vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)
O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do
Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de
elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008
p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a
ascensatildeo de um turismo cultural na cidade
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de
transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch
(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente
contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo
da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos
povosrdquo
Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia
tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey
(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que
compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui
lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud
CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais
de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos
impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo
No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo
(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser
47
valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de
pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute
traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como
O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)
O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a
preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos
Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado
como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo
para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos
culturais e sua memoacuteria socialrdquo
Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e
tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o
processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades
Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns
aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e
econocircmica para diversos setores
Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as
celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre
outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um
turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa
forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e
desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um
turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do
descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo
que eacute seu
De acordo com Pires (2001)
15
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
48
ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)
Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de
viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas
histoacutericas
Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo
turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de
interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida
moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se
importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o
turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)
[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)
A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas
comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de
pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como
nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado
ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em
museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo
Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um
planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o
desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade
Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar
estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da
identidade local
Homi Bhabha diz que
49
O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)
Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees
no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade
O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio
do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da
cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam
como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior
representaccedilatildeo turiacutestica satildeo
1- Turismo Ciacutevico
2- Turismo Religioso
3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico
4- Turismo Eacutetnico
5- Turismo Cinematograacutefico
6- Turismo Arqueoloacutegico
7- Turismo Gastronocircmico
8- Enoturismo
9- Turismo Ferroviaacuterio
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de
serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo
cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo
de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de
serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos
50
Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010
Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as
viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto
que seraacute discutido a seguir
133 O Turismo Religioso
O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos
vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais
51
cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura
poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16
Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este
tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento
em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De
acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333
com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de
Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo
Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas
atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em
espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo
viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno
ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por
bull Peregrinaccedilotildees e romarias
bull Retiros espirituais
bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso
bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis
bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios
terreiros)
bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros
As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso
procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por
valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para
estimular as viagens como afirma Onfray (2009)
ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)
16
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014
52
Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista
que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista
tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele
busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual
A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o
turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos
em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p
3)
Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e
agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a
santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista
obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de
igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas
torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica
De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e
PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o
prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas
conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo
Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o
candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero
de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho
de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas
religiosos
No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os
destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no
Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em
Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR
1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito
Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo
religioso
17
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18
CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003
53
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro
19
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014
20
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
21
19
Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20
Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
54
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida
Fonte Site Conhecer22
Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de
atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a
receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a
caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)
As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum
segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute
Beni (1997) definiu o turismo religioso como
Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)
O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas
viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os
equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade
varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees
Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas
de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como
nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite
vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade
22
Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014
55
O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves
festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da
cultura luzianiense
Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as
mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a
diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo
A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a
cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana
Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica
nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais
de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por
ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte
delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p
27)
Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de
pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no
planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio
Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui
igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair
turistas para a cidade
56
II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL
Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes
entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto
de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio
histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas
manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial
a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)
O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que
possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas
Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a
torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute
que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo
fortemente influenciados por estas cidades
Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746
quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo
assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando
Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e
fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o
arraial se desenvolveria
Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a
Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia
constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade
Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de
partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa
Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas
do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da
Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante
predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas
de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)
23
Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014
57
No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia
aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo
ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do
seu potencial turiacutestico
Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo
sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda
compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso
o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma
cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do
calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e
menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu
valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como
de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local
Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material
jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e
Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel
Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade
incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo
Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de
abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos
por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar
valores a estes patrimocircnios
Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo
do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo
IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele
se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade
luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios
Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo
que possui significado para a comunidade
As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva
com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)
24
Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014
58
afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a
constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas
brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as
cidades histoacutericas como
Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)
Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade
histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de
Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura
fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo
de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade
A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe
concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do
Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais
diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos
sociais espaciais e culturais de toda ordem
Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por
tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta
pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de
Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense
possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como
o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade
como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta
identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as
culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural
Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado
ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural
Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da
Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash
UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular
59
considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e
que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes
e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)
Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas
tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva
aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e
afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de
cultura
A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial
como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para
alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial
carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se
importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem
para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado
ficando fadadas ao desaparecimento
Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio
histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e
utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio
Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que
possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre
histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a
necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da
interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo
21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO
Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante
Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na
regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro
que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em
homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel
(1994)
60
Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)
Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado
da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil
pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a
histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios
momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas
das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas
restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros
de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25
O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram
para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a
populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora
essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na
deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais
Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente
em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da
cidade
As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro
urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este
processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave
paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as
muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares
do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte
Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de
suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal
Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade
25
Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011
61
Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando
Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a
adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo
Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia
[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)
O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o
surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia
Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que
ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo
com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses
uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora
com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de
Luziacircnia
Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)
Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo
refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura
As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo
desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das
manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na
cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz
necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram
presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita
ser preservado
62
22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor
O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro
no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a
posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos
mais variados lugares do paiacutes
De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes
quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014
28
Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos
80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN
(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta
explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais
quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama
e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental
em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629
26
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27
Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28
Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29
De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993
63
Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de
3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e
proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e
o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o
cargo no inicio de 2013
A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e
desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens
e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o
intercambio com outras cidades30
Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em
muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o
seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo
do meio ambiente e do patrimocircnio cultural
A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto
Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como
Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)
O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de
outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos
baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e
da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o
desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o
desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua
conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras
No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de
interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro
histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30
Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014
64
artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e
cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira
convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo
econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e
histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser
alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a
proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e
econocircmicos agrave cidade
Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14
fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a
gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre
a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial
urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual
infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua
do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico
Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e
privados o qual tambeacutem natildeo existe
O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento
econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a
entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se
mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo
O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne
realidade mas natildeo depende soacute da gente31
Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos
estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as
accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a
ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a
preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo
31
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
65
cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo
sobre a importacircncia das festas
A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia
32
Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16
inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica
urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e
comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se
realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito
Santo
O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo
dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de
interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das
suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do
patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas
admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e
arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia
Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que
deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo
vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal
O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a
tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no
centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto
de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes
nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso
podia ser inviabilizado neacuterdquo33
32
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
66
O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de
transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de
sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo
localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre
outros o que pouco se vecirc
O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem
trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade
Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas
34
O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de
projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem
que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar
as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio
cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver
impedido de fazecirc-lo
Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o
municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um
novo plano
O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de
guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir
do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua
aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio
muito melhor
23 O Centro Histoacuterico
Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves
festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no
desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio
34
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
67
No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o
tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do
turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo
apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma
representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)
Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo
sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que
conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo
Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam
representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a
partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e
explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo
Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo
concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a
partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem
traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria
e compreensatildeo da sua cultura
Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma
como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem
ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo
ainda resistem agraves accedilotildees do tempo
Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante
intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que
A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)
A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma
intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio
Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica
central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo
68
econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas
setorialmenterdquo
Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do
centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse
espaccedilo
Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de
desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o
fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna
referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles
que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a
memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura
Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade
das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles
Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas
rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a
serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus
moradores e como espaccedilo de memoacuteria
Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades
seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria
Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que
a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se
transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a
estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela
partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde
vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo
Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos
da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo
que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que
foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e
culturalrdquo
Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e
preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa
(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos
69
Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)
Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e
valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute
importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras
tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das
suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato
viveram a histoacuteria
Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no
espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila
da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e
estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a
participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as
manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e
consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais
e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
70
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
71
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia
A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente
perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e
intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade
principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da
cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o
Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por
considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica
as manifestaccedilotildees populares etc
Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do
municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de
fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que
tambeacutem herdou dos seus colonizadores
Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de
comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de
sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho
guariroba hortaliccedilas e aguardente
Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce
tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem
portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por
escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de
72
hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de
pai para filho
Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta
que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade
Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende
da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos
Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de
registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute
estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo
eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de
marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a
especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios
produtores do doce
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
36
35
Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014
73
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014
37
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
38
O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute
retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas
de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense
37
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014
74
Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a
Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura
As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo
expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e
momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo
apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais
presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares
Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor
potencial turiacutestico
O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e
o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo
patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas
ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor
O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma
legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico
Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo
39
Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por
sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por
exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar
aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela
forma como foi feito
Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua
potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma
construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no
meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao
presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se
encontram diversos pertences de JK
39
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
75
Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi
completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais
e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda
estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa
judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio
material de Goiaacutes41
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo
42
Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis
fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade
Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave
hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis
sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns
especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo
e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico
O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees
agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos
O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem
encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica
40
Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42
Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014
76
Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
43
Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial
para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no
centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do
turismo na cidade
Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do
Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco
inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas
eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados
com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro
histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve
levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia
A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo
religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e
negros natildeo se misturavam
Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs
Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi
inaugurada em 1767 mesmo inacabada
Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa
ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila
com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta
de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)
43
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44
Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013
77
Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)
As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre
esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida
para mais tarde ser reconstruiacuteda
Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial
incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma
imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e
foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa
que foi modificada
Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida
diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees
comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo
A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a
responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito
Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de
onde partem as procissotildees nos dias de festa
78
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
79
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
80
242 A Igreja do Rosaacuterio
A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos
Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por
Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e
escravos
Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma
memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de
Luziacircniardquo
Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a
manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem
tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como
conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente
pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute
O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no
municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529
pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a
numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem
menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria
o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS
1925)
A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da
regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central
foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um
balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam
para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e
curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada
para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte
Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por
algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei
dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura
como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar
e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos
para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da
81
retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja
Matriz de Santa Luzia
A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que
esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os
cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa
ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou
familiarrdquo
A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo
Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980
Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de
Goiaacutes e a Prefeitura Municipal
De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da
Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes
Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)
A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte
dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela
fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo
das missas
Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
82
Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
83
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013
45
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
45
Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
84
Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro
A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo
histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu
da cidade
Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural
com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande
representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem
da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares
O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi
fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este
nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem
85
ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e
professor de Direito46
A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e
barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal
voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se
destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo
de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem
hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores
Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e
constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura
Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos
47
A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos
depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos
Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por
todos os cocircmodos
A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de
semana e feriados
46
Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
86
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
87
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
88
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles
O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e
Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e
ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a
intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central
Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e
conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes
No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em
oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto
Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles
as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel
O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui
verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados
e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio
O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de
14h30min agraves 17h30min
89
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo
A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs
Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em
que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram
fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para
paacutessaros e outros pequenos animais
Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais
conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em
azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade
de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja
do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos
Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um
deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da
rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes
48
Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014
90
Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os
dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras
da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)
Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos
drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham
destruindo a obra
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
91
Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
246 Praccedila Evangelino Meireles
A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo
modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros
ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo
um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute
tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas
Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado
e inuacutemeras drogarias
Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas
rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio
92
Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa
responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua
com alguns espaccedilos interditados
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014
50
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees
O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute
uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para
Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008
O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas
independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e
externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com
cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet
49
Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50
Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014
93
O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como
encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura
Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
248 O Cristo Redentor
Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo
agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua
estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se
94
encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da
cidade
Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
95
III AS FESTAS RELIGIOSAS
As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a
antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram
algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum
tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo
dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais
Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento
de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a
vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em
homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida
das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas
de muita importacircncia para as comunidades
As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)
Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na
formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que
ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma
identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional
ainda inexistenterdquo
O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa
influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele
Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira
O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como
51
JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005
96
O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar
Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de
registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram
interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a
comunidade daacute agrave sua cidade
O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm
3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo
como
[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)
Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute
foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das
Celebraccedilotildees estatildeo53
1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute
2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso
3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte
4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo
5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA
6- A Festa do Divino em ParatyRJ
7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis
Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas
religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das
52
Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53
Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014
97
comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que
os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo
No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto
a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio
imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele
local
Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar
presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois
enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de
correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada
pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na
fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as
festas retomam
Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas
54
Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas
celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os
anos
Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55
Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos
religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo
portuguesa e da feacute catoacutelica
Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte
influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao
patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento
turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam
milhares de pessoas por todo o mundo 54
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014
98
Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas
podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES
2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais
celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a
experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se
objetos do turismo
Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e
a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os
rituais permanecem iguais
A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que
acontecem no Brasil durante todo o ano
FESTA ESTADO
Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE
Festa dos Santos Reis PE
Festa do Bonfim BA
Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES
Festa de Iemanjaacute BA
Semana Santa -
Procissatildeo do Fogareacuteu GO
Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE
Festa de Nossa Senhora da Penha ES
Festa de Satildeo Benedito MT
Festa de Nossa Senhora da Piedade AP
Festa de Nossa Senhora das Neves PB
Romaria de Bom Jesus da Lapa BA
Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA
Festa do Rosaacuterio MGGO
Ciacuterio de Nazareacute PA
Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP
Festa do Padre Ciacutecero CE
Festa de Santa Baacuterbara BA
56
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
99
Festa de Nossa Senhora do Rocio PR
Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo
57
Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas
com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as
celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de
pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do
Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
58
57
Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
100
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna
59
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado
60
O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento
quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A
proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis
e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os
participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees
59
Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60
Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014
101
ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do
Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade
juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61
As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na
construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor
sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que
A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais
62
Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia
ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens
potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda
haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas
uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem
agraves festas tradicionais
Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e
Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo
formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o
reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e
espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de
reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas
praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa
Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos
A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre
esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute
As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade
61
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
102
religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel
63
A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da
estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando
diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de
geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos
foliotildees64
O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas
religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e
para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de
viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da
histoacuteria da cidade65
Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de
Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas
religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento
importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees
culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo
dos anos
Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como
parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a
economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p
10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais
Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada
Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que
estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances
63
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014
103
humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas
ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos
seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda
estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende
da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de
respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em
Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos
Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo
histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem
preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber
popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo
humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo
Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que
veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos
todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta
que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as
ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos
mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa
orgiardquo
Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por
isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas
tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos
culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando
valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute
natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de
edificaccedilotildees e peccedilas de museus
A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das
expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de
movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as
o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios
aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que
ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em
104
proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica
luacutedicardquo
Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que
atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa
do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do
Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das
datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora
do Rosaacuterio sete de outubro
Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no
desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de
celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a
catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute
catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo
de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino
culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo
Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado
de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo
ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo
sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim
Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do
Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos
conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala
tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por
pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia
O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente
67
66
Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
105
A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da
festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de
Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA
festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra
atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do
entorno que vem para caacuterdquo68
Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico
momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades
vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que
buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees
culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis
possuem na memoacuteria local
Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior
representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem
papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que
se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade
pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose
queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha
fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de
natildeo ser idecircntica a si mesmardquo
As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado
durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas
e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o
passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio
Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade
Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar
69
68
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
106
Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos
com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na
cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a
santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes
seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou
simplesmente para festejar
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia
A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no
Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo
Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao
Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de
cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e
deram origem agrave festa judaica de Pentecostes
O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que
celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os
apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo
surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs
(2000 p 24)
Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular
Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se
por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder
caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros
Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo
107
Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de
Janeiro durante o seacuteculo XIX
Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia
A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como
Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se
restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras
nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio
Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia
Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao
Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela
grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje
Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo
Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e
Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas
atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo
tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo
da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda
metade do seacuteculo XVIII
Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino
que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave
sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das
Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos
Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas
como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a
maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo
menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa
desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela
108
A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares
70
A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia
justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute
momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e
Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o
reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que
essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia
Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o
seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato
quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio
da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino
eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio
de Luziacircniardquo71
O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as
festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas
pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem
parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo
consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72
Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre
foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)
explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande
festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida
e cheiro de roupa novardquo
Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres
percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com
uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino
70
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
109
Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo
caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja
quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo
Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade
contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de
Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa
A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade
73
As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo
Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras
pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na
realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela
pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura
localrdquo74
Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa
festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo
de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais
satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma
relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se
perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do
povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante
o ano
Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as
inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo
73
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014
110
portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um
consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute
sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud
SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e
as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino
Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita
muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de
uma festa religiosardquo
A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em
relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade
fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a
comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas
de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um
movimento em torno do turismo cultural e religioso
Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do
Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos
mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida
Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo
uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano
aguardando a festa para comer esta especiaria
Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa
do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura
culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e
etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes
elementos
A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios
elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o
poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia
Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as
75
BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989
111
filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo
76
Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante
e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo
frito
A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa
77
Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito
assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute
preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa
demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio
imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo
construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham
para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-
se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas
Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os
foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua
realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz
ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A
partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados
ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade
Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que
organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa
Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968
apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar
com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia
oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do
76
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
112
festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com
os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78
Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade
Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela
primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo
nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e
organizaccedilatildeo das festividades na cidade
Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas
79
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
78
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
113
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia
80
80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-
o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013
114
Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil
haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes
e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento
cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela
modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi
suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo
O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e
durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de
Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no
municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes
Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos
tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro
fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes
com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas
outras coisas foram retiradasrdquo 81
As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que
constituem a festa do Divino
311 O Pouso
O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo
e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois
tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles
formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para
a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem
entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita
Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a
bandeira do Divino
Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha
81
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
115
todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente
82
Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na
entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo
catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando
elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas
incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se
tornarem demasiadamente mundanas
O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre
com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os
ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na
chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles
continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser
proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com
comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre
isso
Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente
83
A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as
folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais
autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de
descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um
povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a
82
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
116
cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que
acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo
Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe
84
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009
Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves
festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se
mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que
ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute
que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo
84
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
117
Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas
tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada
eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute
tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo
312 A Catira
Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou
Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura
brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute
uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela
batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos
Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos
em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)
descreve a Catira como
A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel
A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo
Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA
2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no
meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua
expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em
dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves
vezes nas novenas ou no final da missardquo86
Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo
descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade
85
Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
118
A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)
87
Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009
O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e
assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as
geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator
constituinte de sua cultura
313 A Folia de Rua
As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e
constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes
em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias
constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico
brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia
87
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88
QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973
119
eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma
de preservaccedilatildeo da culturardquo89
A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro
ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de
visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e
entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com
muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na
cidade
Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda
90
Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como
demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos
excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter
outro significado que transcende o material
Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense
e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas
Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo
XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos
portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e
profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar
homenagens e saudarrdquo
O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros
elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como
aconteciam as folias de rua em Luziacircnia
Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros
89
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
120
foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria
Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como
acontecem as folias em Luziacircnia
Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas
91
Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos
seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em
que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute
espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo
divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo
Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de
rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes
que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A
jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das
caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de
pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e
furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92
Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade
E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato
93
O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo
religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma
91
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92
Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
121
que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees
eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos
de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso
Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar
94
Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo
intriacutenseco a festa
Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode
Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns
participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator
capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado
profano da festa que vem aumentando a cada ano
A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca
95
94
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
122
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das
festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado
religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas
rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]
essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas
comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo
A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais
momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa
tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade
Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do
Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas
a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do
turismo local
314 As Cavalhadas
Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por
volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para
123
Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de
cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo
As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento
cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas
surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que
com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles
que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo
A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais
personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa
azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros
Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas
embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute
personagens mascarados que representam o povo
Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme
nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico
profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades
goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo
Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de
dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona
Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave
dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade
Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando
96
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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
124
A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do
estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos
anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe
uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas
fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e
mouros em Luziacircnia
315 Os Leilotildees
Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino
em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo
leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por
comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os
leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do
Divino
Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o
leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que
doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja
do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os
leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade
Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa
97
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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
125
Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo
destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns
consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no
municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa
festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio
da Silva discorre sobre isso
As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio
98
Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas
caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente
que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e
com a formaccedilatildeo da sua identidade
Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios
histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um
forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o
que pode ser constatado durante a pesquisa
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes
santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados
no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978
descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade
Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)
98
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
126
Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978
Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo
possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber
que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do
tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo
e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na
cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de
maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas
dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura
negra sendo considerados seus santos protetores
127
Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram
em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute
garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de
fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou
sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro
Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro
99
O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora
do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade
assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de
Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a
participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu
patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de
Luziacircnia
O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e
gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e
distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis
contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia
que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica
Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem
como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade
o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na
construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os
padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa
relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar
entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas
Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas
participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos
poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a
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Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
128
que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de
haver pouco tempo que a festa vem se realizando
Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da
comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas
de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada
momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor
religioso ou lazer puramente dito
No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela
vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre
querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo
com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do
Rosaacuterio possui para ela
Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo
100
No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa
Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a
comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show
com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a
comemoraccedilatildeo
A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a
preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do
patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso
A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees
101
Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da
igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente
100
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste
local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros
Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e
intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso
da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando
cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso
A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees
musicais 102
O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a
organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o
estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior
essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos
com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103
Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua
fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a
igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa
Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104
Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)
quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos
tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo
essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os
moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo
seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos
Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao
longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de
puacuteblicos
102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
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Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral
105
A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair
benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada
pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de
dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso
A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento
106
Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a
economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a
movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa
tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na
cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o
numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia
do municiacutepiordquo107
Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute
um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo
eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo
e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial
algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio
Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade
Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para
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Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014
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que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
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Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas
tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se
constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria
comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de
contribuir para o turismo na cidade
Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico
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A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia
tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como
apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para
aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na
comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a
preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem
patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria
comunidade
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Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013
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Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013
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Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas
sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se
concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia
possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as
igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo
fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)
ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116
Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua
identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma
comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer
novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito
do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam
atrativos turiacutesticos das cidades
As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de
hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos
formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar
uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se
consideram turistas
As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial
para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino
Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se
observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do
viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas
assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo
consideradas fortes tradiccedilotildees culturais
A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no
ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves
praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da
accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a
preservaccedilatildeo destes patrimocircnios
A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da
cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se
desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma
positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no
desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos
prestados
Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute
considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a
138
principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova
configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes
motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do
municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN
Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como
uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam
celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente
a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo
puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em
torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e
esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa
um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural
Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo
descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo
aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em
Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de
promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como
parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir
diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila
As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos
moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila
e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas
cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas
de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem
vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes
patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade
Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real
representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da
tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais
atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo
em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e
esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter
139
Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada
diardquo 117
Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se
perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que
compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado
de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de
casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba
desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de
proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos
todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido
Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui
valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo
Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela
importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los
atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses
Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute
importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade
agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados
aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui
O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que
aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel
como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e
assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos
negativos do que positivos para a cidade
A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo
colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute
pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns
participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que
para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se
tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os
envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico
117
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
140
O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que
isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os
recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm
potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e
sustentaacutevel
O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio
atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem
na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se
propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim
de toda a cidade
O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os
envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se
reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos
monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser
uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de
preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e
consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade
e da sociabilidaderdquo
Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos
vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos
sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais
sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e
social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das
populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em
uacuteltima instancia eacute praacutetica social
Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que
permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte
integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino
Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem
permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade
de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local
Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses
eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem
ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia
141
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APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao
curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da
Universidade de Brasiacutelia
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua
colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato
voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees
solicitadas pelo pesquisador
Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e
mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os
resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse
trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada
Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo
Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB
carlawiccagmailcom
Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando
voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e
para a publicaccedilatildeo dos resultados
Luziacircnia _____ de _________________ de 2013
Assinatura do participante____________________________________________
Assinatura da pesquisadora___________________________________________
154
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1 Nome
2 Telefone
3 Profissatildeo
4 Idade
5 Estado Civil
6 Religiatildeo
7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos
Quais
9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos
patrimocircnios materiais de Luziacircnia
11 O que estas festas representam para vocecirc
155
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de
Luziacircnia
9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas
156
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o
desenvolvimento do turismo local
10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de
Luziacircnia
11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das
festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia
3
Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia
e em especial ao meu filho Ian
Gabriel
4
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os
meus passos em busca do bem maior
Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e
pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada
Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo
acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em
busca de mais conhecimento
Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a
importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus
objetivos
Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo
ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig
Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram
unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando
mutuamente
Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes
por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento
que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta
dissertaccedilatildeo
Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo
Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo
estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo
Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises
nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona
Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha
do mestrado na minha cabeccedila
Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua
experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos
de maior dificuldade
5
Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com
sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas
fotografias
Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e
paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho
Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas
Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires
e Wilter Coelho
Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de
Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo
Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra
estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento
oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente
6
ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim
pode ser o comeccedilordquo
Ivy Baker Priest
7
RESUMO
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local
Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia
8
ABSTRACT
The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism
Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia
9
LISTA DE SIGLAS
CNT - Conselho Nacional de Turismo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional
GO ndash Goiaacutes
OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo
PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
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LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figuras
Capiacutetulo 1
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da
Cultura 36
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa
da Cultura 36
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na
Casa da Cultura 36
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54
Capiacutetulo 2
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante
Antigamente 69
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81
Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
11
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do
Rosaacuterio 83
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83
Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do
Rosaacuterio 84
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94
Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94
Capiacutetulo 3
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em
2013 113
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116
12
Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133
Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133
Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134
Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela
cidade 134
Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135
Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135
Tabelas
Capiacutetulo 1
Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo
Cultural 50
Capiacutetulo 3
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98
13
SUMAacuteRIO
Dedicatoacuteria iii
Agradecimentos iv
Epiacutegrafe vi
Resumo vii
Abstract viii
Lista de Siglas ix
Lista de figuras e tabelas x
INTRODUCcedilAtildeO 15
CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23
11 A Cultura 25
12 O Patrimocircnio 30
121 O Patrimocircnio Imaterial 33
13 O Turismo 40
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43
132 O Turismo Cultural 46
133 O Turismo Religioso 50
CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO
CULTURAL 54
21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59
22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62
23 O Centro Histoacuterico 66
24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71
14
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76
242 Igreja do Rosaacuterio 80
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89
246 Praccedila Evangelino Meireles 91
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92
248 O Cristo Redentor 93
CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106
311 O Pouso 114
312 A Catira 117
313 A Folia de Rua 118
314 As Cavalhadas 122
315 Os Leilotildees 124
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE
LUZIAcircNIAGO 156
15
INTRODUCcedilAtildeO
Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo
teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos
materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de
tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo
dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade
Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como
primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim
surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados
nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos
governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de
reconhecimento da identidade e da cultura local
O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte
espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se
tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de
desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade
Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo
da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais
que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no
desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de
desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois
refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural
relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local
como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade
As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute
uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e
que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a
preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica
social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes
espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a
identidade da comunidade local
16
Diante desse fato surgem as seguintes questotildees
1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e
Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio
3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios
culturais materiais e imateriais da cidade
4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em
campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um
fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que
pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem
percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os
meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que
a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa
Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca
do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia
usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a
pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao
encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar
uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do
conhecimento
O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu
numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o
discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica
fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo
compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais
adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua
cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas
e preservadas
17
Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual
os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente
pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar
dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um
dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees
que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade
Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois
visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o
estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa
identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos
fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e
extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia
especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade
Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave
produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do
saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que
ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio
despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo
retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para
produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)
As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente
organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO
e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos
necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas
envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante
meacutetodo pois ela
Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica
socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que
participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de
mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de
estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias
profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)
18
A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado
(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e
estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas
muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de
conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da
gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)
A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da
pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao
problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os
principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida
da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de
perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo
foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo
desta dissertaccedilatildeo
Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas
bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram
fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos
dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa
qualitativa
[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em
texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande
quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os
dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de
forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados
(GIBBS 2009 p 24)
As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias
Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma
metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas
que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi
fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que
participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees
culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar
essa identidade perdida
19
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas
etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha
utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais
etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a
preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo
a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos
neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das
principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais
atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das
entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que
convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de
laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo
Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a
cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o
contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua
contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia
Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias
perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado
Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como
representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de
moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas
tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem
na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o
desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio
Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser
classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais
podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes
valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos
pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das
entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a
assinatura de termo de consentimento
As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado
antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas
20
em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em
abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos
entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu
Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se
entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a
opiniatildeo de um puacuteblico mais variado
Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e
trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se
declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo
Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas
1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila
2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo
3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes
4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro
5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva
6- Estudante Karina da Silva
7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira
8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires
9- Jornalista Francyelle Rocha
10- Advogado Wilter Campos Coelho
Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir
dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas
essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo
com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas
elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia
da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e
tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as
mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc
O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como
explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e
reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo
foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas
21
agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para
os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos
referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa
Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa
extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa
de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de
tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de
conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de
preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o
perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs
capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram
uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma
discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro
apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio
Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No
segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do
patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o
turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma
discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como
o turismo cultural e o turismo religioso
O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa
pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos
e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro
histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo
local
No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste
estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as
manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas
festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o
patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um
espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio
22
conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto
essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias
alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de
Luziacircnia
Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o
turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento
e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura
como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece
como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como
um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo
23
I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO
A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo
em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo
natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores
puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira
e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles
podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia
Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo
dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se
apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem
falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular
novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta
que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por
parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico
entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local
Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura
deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o
futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a
gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que
cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se
constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e
vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se
tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e
patrimonial
A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das
cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees
populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico
como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)
O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo
1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC
jandez 2005 n19-20 p 126-153
24
de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo
Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos
constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes
patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados
a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo
conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo
das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)
[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas
Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis
fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente
estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por
meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a
estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos
deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e
vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que
ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes
motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo
A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa
positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua
conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas
tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira
(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado
da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do
desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de
um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos
setores da sociedade
A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se
apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os
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turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas
proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um
determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo
Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre
tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser
observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem
o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades
tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova
mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e
contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel
11 A Cultura
A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos
possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se
destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no
campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido
desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou
o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos
crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia
(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que
integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990
p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens
Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo
Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que
esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam
baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as
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sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem
entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem
Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou
seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa
totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais
Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da
cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma
totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos
culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O
autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar
relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto
que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a
pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um
sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los
separadamenterdquo
Para Clifford Geertz (2008 p 24)
[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade
Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais
vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem
ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um
dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro
Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a
sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo
que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua
compreensatildeo
ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca
2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958
3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940
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de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)
Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e
recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua
identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura
constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo
Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura
eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e
imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo
Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse
trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia
que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos
importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo
Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas
compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou
esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o
patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra
que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos
simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a
anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da
seguinte forma
Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros
A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de
diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso
das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros
(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais
expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura
determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou
4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997
28
inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade
Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma
que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as
atividades da vidardquo
Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso
para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade
mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura
da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona
medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o
direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)
As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por
geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas
que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua
fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para
filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas
festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos
Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens
adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5
(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila
que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica
Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida
quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o
municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas
formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita
com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como
Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)
Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um
processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre
5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris
PUF 1955
29
(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre
essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma
espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no
imaginaacuterio
A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e
intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os
lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se
fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo
que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees
materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo
As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura
tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para
a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo
dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura
tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo
A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)
Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da
cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja
positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode
estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim
este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio
cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a
atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que
visitam a cidade
6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968
30
12 O Patrimocircnio
A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela
passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma
famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo
termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por
conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o
patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como
ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura
homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto
de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)
O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo
simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse
sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por
sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus
patrimocircnios
Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como
esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista
patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em
que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito
das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem
patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO
para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa
Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos
Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade
Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como
memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica
31
principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo
Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua
histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO
aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo
visual
Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de
patrimocircnio cultural eacute bastante ampla
Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos
Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais
tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos
tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo
artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da
sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento
do turismo
Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma
comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)
observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-
se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor
etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e
peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo
Para Fonseca (2009 p 21)
Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia
Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas
tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo
possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do
Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia
32
que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais
como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se
dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade
Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na
preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e
Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em
razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e
216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da
comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido
como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em
conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira
O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como
um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico
brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade
contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto
com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu
proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se
formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a
relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores
que justificam a preservaccedilatildeordquo
Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao
buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer
confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009
p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos
da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado
corresponde agrave ideia que se faz delerdquo
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute
muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos
ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas
nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de
33
identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que
refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza
Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo
Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do
tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na
consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente
construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel
que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure
preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma
maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a
parte na vida em sociedade
121 O Patrimocircnio Imaterial
O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos
20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade
realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo
de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos
estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um
dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio
cultural ndash IPHAN em 1937
Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN
O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)
34
Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua
classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma
Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []
visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees
mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio
cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e
praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode
ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social
A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa
classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud
ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como
O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais
O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas
praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos
de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas
e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais
coletivas)
Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo
menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela
proacutepria comunidade
Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em
relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa
distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando
que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de
estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo
reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional
7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho
executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo
id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011
35
No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa
Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os
patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial em quatro livros
1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de
fazer enraizados no cotidiano das comunidades
2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam
a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras
praacuteticas da vida social
3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees
literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas
4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios
praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais
coletivas
Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade
se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes
dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza
imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura
oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]
eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares
objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo
9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013
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Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
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Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e
o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das
Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino
Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa
dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que
acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no
livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da
comunidade
O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora
tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos
responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte
do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela
sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui
que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que
um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade
(FONSECA 2009)
Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais
valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de
forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas
manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a
vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente
em mudanccedila
Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute
justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como
referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante
o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses
patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem
Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados
Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas
muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da
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cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do
Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as
suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA
2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um
grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos
explicam o conceito de performance como
Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural
Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de
Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial
possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade
pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade
do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no
municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com
valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas
como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o
comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo
Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees
para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e
disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda
interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que
os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos
de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita
tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na
disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial
A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance
como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia
nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda
deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003
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geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia
dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim
destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo
no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da
UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)
Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras
possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim
a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte
dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas
estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas
de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com
a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos
que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente
daquele que se encontra ameaccedilado
O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees
como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes
patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros
patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas
histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte
intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de
LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do
municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de
Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
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13 O Turismo
O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que
dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se
faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a
compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004
p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno
Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por
prazer Uso depredaccedilatildeordquo
De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo
discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e
tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo
de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que
etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual
com a intenccedilatildeo de regressar
Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo
era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses
realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres
ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de
educaccedilatildeo e cultura
Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992
Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo
Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um
cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a
negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno
econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas
relaccedilotildees
Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica
institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo
e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute
uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo
11
BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995
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com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e
negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade
O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno
social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural
O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)
Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial
tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo
somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do
Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo
vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se
consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento
socioeconocircmicordquo
De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e
afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER
1991 p 231
Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova
perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades
oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e
arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse
estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa
(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida
em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade
Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e
desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e
imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo
de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando
12
O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13
Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013
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entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em
torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico
O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o
desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a
poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais
importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte
geradora de serviccedilos produtos emprego e renda
Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de
natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico
social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o
desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos
tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e
privados quanto ao planejamento territorial das cidades
Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz
respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo
Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a
competitividade do turismo
[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de
sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)
O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um
planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se
virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo
eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade
logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e
economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute
possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o
turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir
diversos setores de desenvolvimento
Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e
modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico
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cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se
deslocarem
Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo
e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)
[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural
Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais
fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos
70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais
aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI
1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por
parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos
Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo
pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as
regiotildees que abrigam suas atividades
A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos
de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos
empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e
incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como
orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os
gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar
um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou
seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos
projetos e programas da poliacutetica de turismo
14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash
Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013
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Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de
Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural
O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)
define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa
apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O
autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que
demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente
em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e
econocircmicos numa mesma perspectiva
Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de
Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de
forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo
com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos
turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o
futuro
Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu
patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono
deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o
desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes
patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria
Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute
fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a
sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos
fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a
falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e
autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da
importacircncia deste planejamento
Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)
Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem
um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann
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(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de
gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do
nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a
economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das
comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas
religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a
economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo
sustentaacutevel para esta regiatildeo
A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus
comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos
em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo
da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas
de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os
visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve
causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor
nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento
de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade
Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)
Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus
residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale
ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da
sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute
que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo
Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave
organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das
festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse
processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo
do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios
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132 O Turismo Cultural
O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro
natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)
afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados
tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com
maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica
reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo
Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade
de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo
vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)
O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do
Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de
elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008
p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a
ascensatildeo de um turismo cultural na cidade
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de
transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch
(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente
contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo
da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos
povosrdquo
Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia
tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey
(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que
compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui
lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud
CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais
de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos
impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo
No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo
(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser
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valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de
pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute
traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como
O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)
O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a
preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos
Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado
como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo
para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos
culturais e sua memoacuteria socialrdquo
Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e
tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o
processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades
Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns
aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e
econocircmica para diversos setores
Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as
celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre
outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um
turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa
forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e
desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um
turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do
descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo
que eacute seu
De acordo com Pires (2001)
15
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
48
ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)
Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de
viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas
histoacutericas
Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo
turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de
interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida
moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se
importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o
turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)
[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)
A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas
comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de
pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como
nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado
ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em
museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo
Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um
planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o
desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade
Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar
estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da
identidade local
Homi Bhabha diz que
49
O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)
Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees
no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade
O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio
do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da
cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam
como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior
representaccedilatildeo turiacutestica satildeo
1- Turismo Ciacutevico
2- Turismo Religioso
3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico
4- Turismo Eacutetnico
5- Turismo Cinematograacutefico
6- Turismo Arqueoloacutegico
7- Turismo Gastronocircmico
8- Enoturismo
9- Turismo Ferroviaacuterio
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de
serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo
cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo
de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de
serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos
50
Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010
Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as
viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto
que seraacute discutido a seguir
133 O Turismo Religioso
O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos
vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais
51
cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura
poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16
Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este
tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento
em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De
acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333
com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de
Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo
Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas
atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em
espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo
viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno
ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por
bull Peregrinaccedilotildees e romarias
bull Retiros espirituais
bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso
bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis
bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios
terreiros)
bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros
As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso
procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por
valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para
estimular as viagens como afirma Onfray (2009)
ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)
16
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014
52
Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista
que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista
tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele
busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual
A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o
turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos
em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p
3)
Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e
agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a
santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista
obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de
igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas
torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica
De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e
PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o
prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas
conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo
Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o
candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero
de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho
de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas
religiosos
No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os
destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no
Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em
Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR
1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito
Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo
religioso
17
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18
CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003
53
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro
19
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014
20
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
21
19
Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20
Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
54
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida
Fonte Site Conhecer22
Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de
atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a
receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a
caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)
As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum
segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute
Beni (1997) definiu o turismo religioso como
Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)
O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas
viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os
equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade
varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees
Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas
de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como
nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite
vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade
22
Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014
55
O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves
festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da
cultura luzianiense
Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as
mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a
diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo
A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a
cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana
Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica
nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais
de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por
ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte
delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p
27)
Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de
pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no
planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio
Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui
igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair
turistas para a cidade
56
II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL
Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes
entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto
de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio
histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas
manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial
a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)
O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que
possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas
Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a
torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute
que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo
fortemente influenciados por estas cidades
Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746
quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo
assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando
Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e
fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o
arraial se desenvolveria
Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a
Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia
constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade
Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de
partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa
Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas
do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da
Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante
predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas
de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)
23
Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014
57
No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia
aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo
ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do
seu potencial turiacutestico
Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo
sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda
compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso
o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma
cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do
calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e
menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu
valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como
de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local
Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material
jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e
Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel
Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade
incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo
Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de
abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos
por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar
valores a estes patrimocircnios
Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo
do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo
IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele
se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade
luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios
Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo
que possui significado para a comunidade
As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva
com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)
24
Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014
58
afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a
constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas
brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as
cidades histoacutericas como
Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)
Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade
histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de
Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura
fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo
de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade
A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe
concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do
Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais
diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos
sociais espaciais e culturais de toda ordem
Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por
tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta
pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de
Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense
possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como
o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade
como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta
identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as
culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural
Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado
ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural
Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da
Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash
UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular
59
considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e
que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes
e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)
Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas
tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva
aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e
afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de
cultura
A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial
como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para
alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial
carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se
importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem
para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado
ficando fadadas ao desaparecimento
Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio
histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e
utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio
Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que
possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre
histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a
necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da
interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo
21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO
Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante
Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na
regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro
que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em
homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel
(1994)
60
Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)
Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado
da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil
pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a
histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios
momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas
das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas
restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros
de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25
O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram
para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a
populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora
essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na
deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais
Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente
em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da
cidade
As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro
urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este
processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave
paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as
muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares
do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte
Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de
suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal
Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade
25
Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011
61
Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando
Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a
adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo
Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia
[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)
O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o
surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia
Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que
ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo
com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses
uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora
com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de
Luziacircnia
Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)
Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo
refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura
As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo
desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das
manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na
cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz
necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram
presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita
ser preservado
62
22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor
O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro
no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a
posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos
mais variados lugares do paiacutes
De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes
quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014
28
Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos
80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN
(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta
explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais
quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama
e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental
em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629
26
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27
Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28
Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29
De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993
63
Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de
3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e
proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e
o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o
cargo no inicio de 2013
A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e
desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens
e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o
intercambio com outras cidades30
Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em
muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o
seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo
do meio ambiente e do patrimocircnio cultural
A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto
Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como
Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)
O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de
outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos
baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e
da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o
desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o
desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua
conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras
No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de
interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro
histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30
Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014
64
artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e
cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira
convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo
econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e
histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser
alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a
proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e
econocircmicos agrave cidade
Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14
fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a
gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre
a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial
urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual
infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua
do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico
Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e
privados o qual tambeacutem natildeo existe
O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento
econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a
entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se
mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo
O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne
realidade mas natildeo depende soacute da gente31
Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos
estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as
accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a
ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a
preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo
31
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
65
cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo
sobre a importacircncia das festas
A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia
32
Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16
inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica
urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e
comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se
realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito
Santo
O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo
dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de
interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das
suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do
patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas
admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e
arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia
Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que
deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo
vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal
O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a
tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no
centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto
de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes
nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso
podia ser inviabilizado neacuterdquo33
32
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
66
O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de
transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de
sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo
localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre
outros o que pouco se vecirc
O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem
trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade
Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas
34
O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de
projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem
que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar
as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio
cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver
impedido de fazecirc-lo
Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o
municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um
novo plano
O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de
guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir
do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua
aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio
muito melhor
23 O Centro Histoacuterico
Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves
festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no
desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio
34
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
67
No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o
tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do
turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo
apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma
representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)
Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo
sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que
conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo
Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam
representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a
partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e
explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo
Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo
concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a
partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem
traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria
e compreensatildeo da sua cultura
Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma
como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem
ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo
ainda resistem agraves accedilotildees do tempo
Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante
intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que
A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)
A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma
intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio
Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica
central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo
68
econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas
setorialmenterdquo
Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do
centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse
espaccedilo
Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de
desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o
fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna
referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles
que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a
memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura
Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade
das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles
Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas
rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a
serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus
moradores e como espaccedilo de memoacuteria
Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades
seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria
Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que
a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se
transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a
estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela
partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde
vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo
Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos
da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo
que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que
foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e
culturalrdquo
Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e
preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa
(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos
69
Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)
Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e
valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute
importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras
tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das
suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato
viveram a histoacuteria
Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no
espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila
da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e
estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a
participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as
manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e
consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais
e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
70
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
71
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia
A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente
perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e
intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade
principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da
cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o
Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por
considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica
as manifestaccedilotildees populares etc
Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do
municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de
fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que
tambeacutem herdou dos seus colonizadores
Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de
comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de
sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho
guariroba hortaliccedilas e aguardente
Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce
tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem
portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por
escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de
72
hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de
pai para filho
Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta
que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade
Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende
da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos
Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de
registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute
estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo
eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de
marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a
especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios
produtores do doce
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
36
35
Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014
73
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014
37
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
38
O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute
retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas
de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense
37
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014
74
Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a
Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura
As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo
expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e
momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo
apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais
presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares
Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor
potencial turiacutestico
O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e
o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo
patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas
ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor
O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma
legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico
Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo
39
Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por
sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por
exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar
aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela
forma como foi feito
Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua
potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma
construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no
meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao
presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se
encontram diversos pertences de JK
39
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
75
Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi
completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais
e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda
estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa
judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio
material de Goiaacutes41
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo
42
Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis
fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade
Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave
hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis
sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns
especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo
e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico
O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees
agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos
O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem
encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica
40
Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42
Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014
76
Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
43
Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial
para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no
centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do
turismo na cidade
Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do
Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco
inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas
eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados
com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro
histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve
levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia
A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo
religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e
negros natildeo se misturavam
Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs
Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi
inaugurada em 1767 mesmo inacabada
Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa
ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila
com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta
de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)
43
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44
Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013
77
Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)
As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre
esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida
para mais tarde ser reconstruiacuteda
Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial
incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma
imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e
foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa
que foi modificada
Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida
diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees
comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo
A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a
responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito
Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de
onde partem as procissotildees nos dias de festa
78
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
79
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
80
242 A Igreja do Rosaacuterio
A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos
Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por
Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e
escravos
Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma
memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de
Luziacircniardquo
Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a
manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem
tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como
conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente
pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute
O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no
municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529
pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a
numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem
menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria
o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS
1925)
A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da
regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central
foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um
balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam
para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e
curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada
para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte
Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por
algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei
dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura
como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar
e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos
para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da
81
retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja
Matriz de Santa Luzia
A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que
esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os
cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa
ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou
familiarrdquo
A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo
Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980
Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de
Goiaacutes e a Prefeitura Municipal
De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da
Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes
Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)
A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte
dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela
fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo
das missas
Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
82
Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
83
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013
45
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
45
Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
84
Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro
A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo
histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu
da cidade
Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural
com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande
representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem
da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares
O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi
fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este
nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem
85
ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e
professor de Direito46
A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e
barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal
voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se
destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo
de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem
hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores
Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e
constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura
Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos
47
A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos
depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos
Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por
todos os cocircmodos
A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de
semana e feriados
46
Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
86
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
87
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
88
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles
O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e
Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e
ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a
intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central
Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e
conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes
No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em
oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto
Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles
as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel
O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui
verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados
e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio
O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de
14h30min agraves 17h30min
89
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo
A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs
Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em
que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram
fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para
paacutessaros e outros pequenos animais
Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais
conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em
azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade
de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja
do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos
Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um
deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da
rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes
48
Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014
90
Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os
dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras
da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)
Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos
drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham
destruindo a obra
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
91
Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
246 Praccedila Evangelino Meireles
A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo
modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros
ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo
um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute
tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas
Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado
e inuacutemeras drogarias
Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas
rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio
92
Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa
responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua
com alguns espaccedilos interditados
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014
50
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees
O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute
uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para
Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008
O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas
independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e
externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com
cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet
49
Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50
Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014
93
O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como
encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura
Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
248 O Cristo Redentor
Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo
agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua
estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se
94
encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da
cidade
Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
95
III AS FESTAS RELIGIOSAS
As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a
antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram
algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum
tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo
dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais
Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento
de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a
vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em
homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida
das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas
de muita importacircncia para as comunidades
As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)
Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na
formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que
ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma
identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional
ainda inexistenterdquo
O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa
influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele
Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira
O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como
51
JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005
96
O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar
Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de
registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram
interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a
comunidade daacute agrave sua cidade
O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm
3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo
como
[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)
Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute
foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das
Celebraccedilotildees estatildeo53
1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute
2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso
3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte
4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo
5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA
6- A Festa do Divino em ParatyRJ
7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis
Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas
religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das
52
Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53
Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014
97
comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que
os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo
No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto
a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio
imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele
local
Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar
presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois
enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de
correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada
pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na
fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as
festas retomam
Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas
54
Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas
celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os
anos
Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55
Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos
religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo
portuguesa e da feacute catoacutelica
Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte
influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao
patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento
turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam
milhares de pessoas por todo o mundo 54
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014
98
Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas
podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES
2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais
celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a
experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se
objetos do turismo
Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e
a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os
rituais permanecem iguais
A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que
acontecem no Brasil durante todo o ano
FESTA ESTADO
Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE
Festa dos Santos Reis PE
Festa do Bonfim BA
Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES
Festa de Iemanjaacute BA
Semana Santa -
Procissatildeo do Fogareacuteu GO
Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE
Festa de Nossa Senhora da Penha ES
Festa de Satildeo Benedito MT
Festa de Nossa Senhora da Piedade AP
Festa de Nossa Senhora das Neves PB
Romaria de Bom Jesus da Lapa BA
Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA
Festa do Rosaacuterio MGGO
Ciacuterio de Nazareacute PA
Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP
Festa do Padre Ciacutecero CE
Festa de Santa Baacuterbara BA
56
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
99
Festa de Nossa Senhora do Rocio PR
Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo
57
Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas
com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as
celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de
pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do
Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
58
57
Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
100
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna
59
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado
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O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento
quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A
proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis
e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os
participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees
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Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60
Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014
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ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do
Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade
juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61
As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na
construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor
sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que
A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais
62
Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia
ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens
potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda
haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas
uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem
agraves festas tradicionais
Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e
Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo
formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o
reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e
espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de
reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas
praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa
Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos
A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre
esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute
As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade
61
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel
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A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da
estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando
diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de
geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos
foliotildees64
O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas
religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e
para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de
viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da
histoacuteria da cidade65
Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de
Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas
religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento
importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees
culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo
dos anos
Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como
parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a
economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p
10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais
Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada
Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que
estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances
63
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014
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humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas
ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos
seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda
estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende
da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de
respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em
Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos
Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo
histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem
preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber
popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo
humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo
Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que
veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos
todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta
que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as
ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos
mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa
orgiardquo
Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por
isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas
tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos
culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando
valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute
natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de
edificaccedilotildees e peccedilas de museus
A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das
expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de
movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as
o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios
aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que
ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em
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proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica
luacutedicardquo
Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que
atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa
do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do
Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das
datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora
do Rosaacuterio sete de outubro
Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no
desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de
celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a
catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute
catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo
de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino
culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo
Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado
de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo
ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo
sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim
Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do
Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos
conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala
tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por
pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia
O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente
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Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da
festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de
Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA
festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra
atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do
entorno que vem para caacuterdquo68
Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico
momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades
vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que
buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees
culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis
possuem na memoacuteria local
Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior
representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem
papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que
se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade
pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose
queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha
fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de
natildeo ser idecircntica a si mesmardquo
As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado
durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas
e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o
passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio
Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade
Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar
69
68
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
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Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos
com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na
cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a
santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes
seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou
simplesmente para festejar
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia
A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no
Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo
Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao
Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de
cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e
deram origem agrave festa judaica de Pentecostes
O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que
celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os
apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo
surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs
(2000 p 24)
Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular
Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se
por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder
caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros
Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo
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Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de
Janeiro durante o seacuteculo XIX
Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia
A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como
Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se
restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras
nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio
Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia
Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao
Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela
grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje
Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo
Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e
Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas
atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo
tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo
da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda
metade do seacuteculo XVIII
Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino
que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave
sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das
Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos
Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas
como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a
maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo
menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa
desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela
108
A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares
70
A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia
justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute
momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e
Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o
reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que
essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia
Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o
seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato
quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio
da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino
eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio
de Luziacircniardquo71
O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as
festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas
pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem
parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo
consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72
Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre
foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)
explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande
festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida
e cheiro de roupa novardquo
Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres
percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com
uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino
70
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
109
Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo
caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja
quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo
Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade
contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de
Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa
A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade
73
As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo
Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras
pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na
realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela
pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura
localrdquo74
Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa
festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo
de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais
satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma
relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se
perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do
povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante
o ano
Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as
inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo
73
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014
110
portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um
consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute
sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud
SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e
as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino
Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita
muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de
uma festa religiosardquo
A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em
relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade
fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a
comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas
de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um
movimento em torno do turismo cultural e religioso
Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do
Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos
mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida
Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo
uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano
aguardando a festa para comer esta especiaria
Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa
do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura
culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e
etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes
elementos
A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios
elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o
poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia
Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as
75
BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989
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filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo
76
Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante
e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo
frito
A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa
77
Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito
assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute
preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa
demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio
imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo
construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham
para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-
se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas
Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os
foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua
realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz
ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A
partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados
ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade
Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que
organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa
Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968
apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar
com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia
oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do
76
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
112
festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com
os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78
Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade
Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela
primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo
nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e
organizaccedilatildeo das festividades na cidade
Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas
79
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
78
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
113
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia
80
80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-
o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013
114
Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil
haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes
e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento
cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela
modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi
suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo
O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e
durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de
Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no
municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes
Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos
tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro
fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes
com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas
outras coisas foram retiradasrdquo 81
As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que
constituem a festa do Divino
311 O Pouso
O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo
e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois
tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles
formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para
a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem
entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita
Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a
bandeira do Divino
Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha
81
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
115
todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente
82
Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na
entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo
catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando
elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas
incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se
tornarem demasiadamente mundanas
O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre
com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os
ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na
chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles
continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser
proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com
comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre
isso
Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente
83
A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as
folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais
autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de
descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um
povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a
82
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
116
cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que
acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo
Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe
84
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009
Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves
festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se
mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que
ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute
que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo
84
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
117
Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas
tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada
eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute
tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo
312 A Catira
Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou
Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura
brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute
uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela
batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos
Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos
em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)
descreve a Catira como
A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel
A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo
Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA
2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no
meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua
expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em
dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves
vezes nas novenas ou no final da missardquo86
Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo
descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade
85
Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
118
A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)
87
Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009
O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e
assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as
geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator
constituinte de sua cultura
313 A Folia de Rua
As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e
constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes
em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias
constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico
brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia
87
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88
QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973
119
eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma
de preservaccedilatildeo da culturardquo89
A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro
ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de
visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e
entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com
muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na
cidade
Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda
90
Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como
demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos
excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter
outro significado que transcende o material
Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense
e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas
Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo
XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos
portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e
profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar
homenagens e saudarrdquo
O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros
elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como
aconteciam as folias de rua em Luziacircnia
Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros
89
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
120
foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria
Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como
acontecem as folias em Luziacircnia
Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas
91
Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos
seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em
que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute
espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo
divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo
Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de
rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes
que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A
jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das
caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de
pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e
furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92
Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade
E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato
93
O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo
religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma
91
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92
Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
121
que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees
eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos
de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso
Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar
94
Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo
intriacutenseco a festa
Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode
Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns
participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator
capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado
profano da festa que vem aumentando a cada ano
A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca
95
94
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
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Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das
festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado
religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas
rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]
essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas
comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo
A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais
momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa
tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade
Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do
Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas
a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do
turismo local
314 As Cavalhadas
Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por
volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para
123
Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de
cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo
As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento
cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas
surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que
com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles
que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo
A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais
personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa
azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros
Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas
embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute
personagens mascarados que representam o povo
Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme
nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico
profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades
goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo
Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de
dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona
Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave
dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade
Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando
96
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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do
estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos
anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe
uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas
fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e
mouros em Luziacircnia
315 Os Leilotildees
Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino
em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo
leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por
comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os
leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do
Divino
Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o
leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que
doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja
do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os
leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade
Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa
97
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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo
destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns
consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no
municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa
festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio
da Silva discorre sobre isso
As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio
98
Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas
caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente
que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e
com a formaccedilatildeo da sua identidade
Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios
histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um
forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o
que pode ser constatado durante a pesquisa
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes
santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados
no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978
descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade
Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)
98
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
126
Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978
Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo
possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber
que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do
tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo
e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na
cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de
maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas
dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura
negra sendo considerados seus santos protetores
127
Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram
em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute
garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de
fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou
sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro
Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro
99
O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora
do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade
assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de
Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a
participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu
patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de
Luziacircnia
O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e
gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e
distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis
contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia
que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica
Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem
como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade
o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na
construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os
padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa
relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar
entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas
Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas
participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos
poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a
99
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
128
que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de
haver pouco tempo que a festa vem se realizando
Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da
comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas
de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada
momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor
religioso ou lazer puramente dito
No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela
vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre
querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo
com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do
Rosaacuterio possui para ela
Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo
100
No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa
Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a
comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show
com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a
comemoraccedilatildeo
A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a
preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do
patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso
A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees
101
Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da
igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente
100
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
129
na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste
local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros
Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e
intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso
da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando
cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso
A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees
musicais 102
O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a
organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o
estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior
essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos
com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103
Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua
fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a
igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa
Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104
Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)
quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos
tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo
essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os
moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo
seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos
Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao
longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de
puacuteblicos
102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
130
Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral
105
A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair
benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada
pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de
dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso
A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento
106
Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a
economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a
movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa
tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na
cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o
numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia
do municiacutepiordquo107
Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute
um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo
eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo
e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial
algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio
Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade
Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para
105
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014
131
que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
108
Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas
tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se
constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria
comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de
contribuir para o turismo na cidade
Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico
109
A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia
tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como
apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para
aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na
comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a
preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem
patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria
comunidade
108
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013
132
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
110
110
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013
133
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
111
Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
112
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
134
Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
135
Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
136
As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas
sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se
concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia
possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as
igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo
fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)
ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo
116
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116
Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
137
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua
identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma
comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer
novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito
do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam
atrativos turiacutesticos das cidades
As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de
hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos
formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar
uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se
consideram turistas
As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial
para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino
Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se
observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do
viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas
assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo
consideradas fortes tradiccedilotildees culturais
A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no
ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves
praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da
accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a
preservaccedilatildeo destes patrimocircnios
A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da
cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se
desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma
positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no
desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos
prestados
Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute
considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a
138
principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova
configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes
motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do
municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN
Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como
uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam
celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente
a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo
puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em
torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e
esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa
um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural
Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo
descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo
aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em
Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de
promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como
parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir
diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila
As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos
moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila
e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas
cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas
de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem
vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes
patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade
Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real
representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da
tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais
atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo
em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e
esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter
139
Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada
diardquo 117
Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se
perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que
compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado
de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de
casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba
desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de
proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos
todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido
Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui
valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo
Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela
importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los
atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses
Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute
importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade
agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados
aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui
O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que
aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel
como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e
assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos
negativos do que positivos para a cidade
A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo
colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute
pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns
participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que
para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se
tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os
envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico
117
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
140
O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que
isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os
recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm
potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e
sustentaacutevel
O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio
atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem
na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se
propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim
de toda a cidade
O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os
envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se
reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos
monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser
uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de
preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e
consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade
e da sociabilidaderdquo
Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos
vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos
sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais
sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e
social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das
populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em
uacuteltima instancia eacute praacutetica social
Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que
permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte
integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino
Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem
permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade
de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local
Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses
eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem
ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia
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APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao
curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da
Universidade de Brasiacutelia
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua
colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato
voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees
solicitadas pelo pesquisador
Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e
mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os
resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse
trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada
Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo
Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB
carlawiccagmailcom
Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando
voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e
para a publicaccedilatildeo dos resultados
Luziacircnia _____ de _________________ de 2013
Assinatura do participante____________________________________________
Assinatura da pesquisadora___________________________________________
154
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1 Nome
2 Telefone
3 Profissatildeo
4 Idade
5 Estado Civil
6 Religiatildeo
7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos
Quais
9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos
patrimocircnios materiais de Luziacircnia
11 O que estas festas representam para vocecirc
155
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de
Luziacircnia
9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas
156
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o
desenvolvimento do turismo local
10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de
Luziacircnia
11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das
festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia
4
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os
meus passos em busca do bem maior
Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e
pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada
Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo
acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em
busca de mais conhecimento
Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a
importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus
objetivos
Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo
ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig
Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram
unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando
mutuamente
Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes
por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento
que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta
dissertaccedilatildeo
Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo
Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo
estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo
Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises
nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona
Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha
do mestrado na minha cabeccedila
Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua
experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos
de maior dificuldade
5
Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com
sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas
fotografias
Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e
paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho
Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas
Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires
e Wilter Coelho
Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de
Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo
Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra
estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento
oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente
6
ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim
pode ser o comeccedilordquo
Ivy Baker Priest
7
RESUMO
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local
Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia
8
ABSTRACT
The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism
Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia
9
LISTA DE SIGLAS
CNT - Conselho Nacional de Turismo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional
GO ndash Goiaacutes
OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo
PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
10
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figuras
Capiacutetulo 1
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da
Cultura 36
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa
da Cultura 36
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na
Casa da Cultura 36
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54
Capiacutetulo 2
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante
Antigamente 69
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81
Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
11
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do
Rosaacuterio 83
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83
Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do
Rosaacuterio 84
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94
Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94
Capiacutetulo 3
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em
2013 113
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116
12
Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133
Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133
Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134
Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela
cidade 134
Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135
Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135
Tabelas
Capiacutetulo 1
Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo
Cultural 50
Capiacutetulo 3
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98
13
SUMAacuteRIO
Dedicatoacuteria iii
Agradecimentos iv
Epiacutegrafe vi
Resumo vii
Abstract viii
Lista de Siglas ix
Lista de figuras e tabelas x
INTRODUCcedilAtildeO 15
CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23
11 A Cultura 25
12 O Patrimocircnio 30
121 O Patrimocircnio Imaterial 33
13 O Turismo 40
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43
132 O Turismo Cultural 46
133 O Turismo Religioso 50
CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO
CULTURAL 54
21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59
22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62
23 O Centro Histoacuterico 66
24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71
14
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76
242 Igreja do Rosaacuterio 80
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89
246 Praccedila Evangelino Meireles 91
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92
248 O Cristo Redentor 93
CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106
311 O Pouso 114
312 A Catira 117
313 A Folia de Rua 118
314 As Cavalhadas 122
315 Os Leilotildees 124
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE
LUZIAcircNIAGO 156
15
INTRODUCcedilAtildeO
Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo
teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos
materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de
tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo
dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade
Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como
primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim
surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados
nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos
governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de
reconhecimento da identidade e da cultura local
O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte
espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se
tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de
desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade
Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo
da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais
que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no
desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de
desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois
refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural
relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local
como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade
As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute
uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e
que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a
preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica
social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes
espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a
identidade da comunidade local
16
Diante desse fato surgem as seguintes questotildees
1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e
Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio
3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios
culturais materiais e imateriais da cidade
4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em
campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um
fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que
pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem
percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os
meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que
a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa
Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca
do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia
usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a
pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao
encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar
uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do
conhecimento
O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu
numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o
discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica
fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo
compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais
adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua
cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas
e preservadas
17
Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual
os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente
pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar
dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um
dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees
que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade
Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois
visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o
estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa
identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos
fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e
extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia
especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade
Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave
produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do
saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que
ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio
despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo
retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para
produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)
As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente
organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO
e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos
necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas
envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante
meacutetodo pois ela
Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica
socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que
participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de
mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de
estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias
profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)
18
A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado
(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e
estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas
muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de
conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da
gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)
A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da
pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao
problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os
principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida
da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de
perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo
foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo
desta dissertaccedilatildeo
Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas
bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram
fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos
dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa
qualitativa
[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em
texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande
quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os
dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de
forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados
(GIBBS 2009 p 24)
As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias
Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma
metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas
que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi
fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que
participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees
culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar
essa identidade perdida
19
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas
etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha
utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais
etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a
preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo
a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos
neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das
principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais
atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das
entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que
convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de
laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo
Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a
cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o
contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua
contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia
Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias
perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado
Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como
representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de
moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas
tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem
na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o
desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio
Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser
classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais
podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes
valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos
pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das
entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a
assinatura de termo de consentimento
As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado
antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas
20
em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em
abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos
entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu
Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se
entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a
opiniatildeo de um puacuteblico mais variado
Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e
trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se
declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo
Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas
1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila
2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo
3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes
4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro
5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva
6- Estudante Karina da Silva
7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira
8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires
9- Jornalista Francyelle Rocha
10- Advogado Wilter Campos Coelho
Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir
dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas
essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo
com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas
elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia
da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e
tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as
mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc
O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como
explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e
reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo
foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas
21
agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para
os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos
referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa
Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa
extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa
de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de
tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de
conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de
preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o
perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs
capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram
uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma
discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro
apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio
Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No
segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do
patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o
turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma
discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como
o turismo cultural e o turismo religioso
O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa
pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos
e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro
histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo
local
No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste
estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as
manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas
festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o
patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um
espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio
22
conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto
essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias
alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de
Luziacircnia
Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o
turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento
e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura
como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece
como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como
um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo
23
I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO
A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo
em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo
natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores
puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira
e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles
podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia
Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo
dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se
apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem
falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular
novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta
que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por
parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico
entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local
Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura
deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o
futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a
gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que
cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se
constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e
vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se
tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e
patrimonial
A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das
cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees
populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico
como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)
O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo
1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC
jandez 2005 n19-20 p 126-153
24
de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo
Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos
constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes
patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados
a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo
conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo
das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)
[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas
Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis
fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente
estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por
meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a
estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos
deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e
vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que
ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes
motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo
A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa
positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua
conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas
tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira
(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado
da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do
desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de
um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos
setores da sociedade
A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se
apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os
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turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas
proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um
determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo
Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre
tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser
observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem
o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades
tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova
mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e
contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel
11 A Cultura
A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos
possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se
destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no
campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido
desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou
o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos
crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia
(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que
integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990
p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens
Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo
Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que
esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam
baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as
26
sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem
entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem
Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou
seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa
totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais
Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da
cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma
totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos
culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O
autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar
relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto
que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a
pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um
sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los
separadamenterdquo
Para Clifford Geertz (2008 p 24)
[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade
Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais
vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem
ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um
dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro
Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a
sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo
que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua
compreensatildeo
ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca
2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958
3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940
27
de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)
Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e
recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua
identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura
constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo
Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura
eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e
imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo
Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse
trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia
que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos
importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo
Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas
compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou
esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o
patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra
que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos
simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a
anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da
seguinte forma
Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros
A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de
diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso
das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros
(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais
expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura
determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou
4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997
28
inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade
Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma
que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as
atividades da vidardquo
Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso
para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade
mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura
da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona
medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o
direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)
As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por
geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas
que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua
fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para
filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas
festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos
Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens
adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5
(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila
que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica
Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida
quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o
municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas
formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita
com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como
Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)
Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um
processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre
5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris
PUF 1955
29
(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre
essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma
espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no
imaginaacuterio
A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e
intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os
lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se
fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo
que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees
materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo
As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura
tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para
a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo
dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura
tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo
A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)
Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da
cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja
positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode
estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim
este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio
cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a
atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que
visitam a cidade
6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968
30
12 O Patrimocircnio
A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela
passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma
famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo
termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por
conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o
patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como
ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura
homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto
de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)
O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo
simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse
sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por
sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus
patrimocircnios
Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como
esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista
patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em
que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito
das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem
patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO
para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa
Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos
Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade
Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como
memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica
31
principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo
Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua
histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO
aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo
visual
Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de
patrimocircnio cultural eacute bastante ampla
Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos
Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais
tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos
tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo
artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da
sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento
do turismo
Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma
comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)
observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-
se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor
etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e
peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo
Para Fonseca (2009 p 21)
Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia
Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas
tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo
possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do
Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia
32
que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais
como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se
dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade
Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na
preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e
Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em
razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e
216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da
comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido
como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em
conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira
O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como
um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico
brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade
contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto
com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu
proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se
formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a
relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores
que justificam a preservaccedilatildeordquo
Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao
buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer
confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009
p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos
da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado
corresponde agrave ideia que se faz delerdquo
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute
muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos
ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas
nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de
33
identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que
refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza
Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo
Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do
tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na
consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente
construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel
que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure
preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma
maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a
parte na vida em sociedade
121 O Patrimocircnio Imaterial
O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos
20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade
realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo
de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos
estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um
dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio
cultural ndash IPHAN em 1937
Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN
O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)
34
Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua
classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma
Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []
visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees
mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio
cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e
praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode
ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social
A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa
classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud
ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como
O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais
O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas
praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos
de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas
e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais
coletivas)
Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo
menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela
proacutepria comunidade
Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em
relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa
distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando
que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de
estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo
reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional
7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho
executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo
id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011
35
No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa
Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os
patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial em quatro livros
1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de
fazer enraizados no cotidiano das comunidades
2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam
a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras
praacuteticas da vida social
3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees
literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas
4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios
praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais
coletivas
Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade
se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes
dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza
imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura
oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]
eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares
objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo
9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013
36
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
37
Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e
o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das
Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino
Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa
dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que
acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no
livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da
comunidade
O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora
tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos
responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte
do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela
sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui
que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que
um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade
(FONSECA 2009)
Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais
valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de
forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas
manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a
vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente
em mudanccedila
Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute
justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como
referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante
o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses
patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem
Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados
Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas
muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da
38
cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do
Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as
suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA
2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um
grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos
explicam o conceito de performance como
Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural
Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de
Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial
possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade
pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade
do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no
municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com
valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas
como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o
comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo
Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees
para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e
disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda
interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que
os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos
de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita
tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na
disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial
A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance
como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia
nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda
deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003
39
geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia
dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim
destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo
no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da
UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)
Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras
possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim
a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte
dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas
estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas
de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com
a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos
que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente
daquele que se encontra ameaccedilado
O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees
como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes
patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros
patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas
histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte
intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de
LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do
municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de
Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
40
13 O Turismo
O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que
dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se
faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a
compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004
p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno
Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por
prazer Uso depredaccedilatildeordquo
De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo
discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e
tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo
de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que
etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual
com a intenccedilatildeo de regressar
Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo
era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses
realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres
ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de
educaccedilatildeo e cultura
Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992
Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo
Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um
cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a
negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno
econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas
relaccedilotildees
Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica
institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo
e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute
uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo
11
BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995
41
com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e
negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade
O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno
social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural
O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)
Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial
tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo
somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do
Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo
vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se
consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento
socioeconocircmicordquo
De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e
afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER
1991 p 231
Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova
perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades
oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e
arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse
estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa
(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida
em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade
Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e
desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e
imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo
de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando
12
O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13
Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013
42
entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em
torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico
O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o
desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a
poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais
importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte
geradora de serviccedilos produtos emprego e renda
Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de
natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico
social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o
desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos
tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e
privados quanto ao planejamento territorial das cidades
Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz
respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo
Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a
competitividade do turismo
[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de
sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)
O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um
planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se
virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo
eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade
logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e
economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute
possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o
turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir
diversos setores de desenvolvimento
Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e
modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico
43
cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se
deslocarem
Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo
e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)
[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural
Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais
fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos
70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais
aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI
1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por
parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos
Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo
pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as
regiotildees que abrigam suas atividades
A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos
de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos
empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e
incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como
orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os
gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar
um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou
seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos
projetos e programas da poliacutetica de turismo
14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash
Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013
44
Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de
Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural
O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)
define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa
apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O
autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que
demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente
em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e
econocircmicos numa mesma perspectiva
Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de
Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de
forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo
com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos
turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o
futuro
Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu
patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono
deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o
desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes
patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria
Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute
fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a
sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos
fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a
falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e
autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da
importacircncia deste planejamento
Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)
Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem
um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann
45
(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de
gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do
nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a
economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das
comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas
religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a
economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo
sustentaacutevel para esta regiatildeo
A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus
comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos
em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo
da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas
de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os
visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve
causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor
nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento
de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade
Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)
Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus
residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale
ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da
sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute
que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo
Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave
organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das
festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse
processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo
do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios
46
132 O Turismo Cultural
O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro
natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)
afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados
tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com
maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica
reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo
Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade
de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo
vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)
O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do
Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de
elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008
p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a
ascensatildeo de um turismo cultural na cidade
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de
transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch
(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente
contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo
da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos
povosrdquo
Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia
tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey
(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que
compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui
lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud
CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais
de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos
impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo
No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo
(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser
47
valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de
pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute
traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como
O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)
O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a
preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos
Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado
como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo
para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos
culturais e sua memoacuteria socialrdquo
Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e
tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o
processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades
Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns
aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e
econocircmica para diversos setores
Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as
celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre
outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um
turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa
forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e
desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um
turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do
descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo
que eacute seu
De acordo com Pires (2001)
15
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
48
ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)
Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de
viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas
histoacutericas
Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo
turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de
interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida
moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se
importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o
turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)
[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)
A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas
comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de
pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como
nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado
ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em
museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo
Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um
planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o
desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade
Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar
estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da
identidade local
Homi Bhabha diz que
49
O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)
Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees
no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade
O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio
do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da
cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam
como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior
representaccedilatildeo turiacutestica satildeo
1- Turismo Ciacutevico
2- Turismo Religioso
3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico
4- Turismo Eacutetnico
5- Turismo Cinematograacutefico
6- Turismo Arqueoloacutegico
7- Turismo Gastronocircmico
8- Enoturismo
9- Turismo Ferroviaacuterio
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de
serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo
cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo
de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de
serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos
50
Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010
Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as
viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto
que seraacute discutido a seguir
133 O Turismo Religioso
O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos
vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais
51
cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura
poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16
Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este
tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento
em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De
acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333
com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de
Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo
Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas
atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em
espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo
viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno
ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por
bull Peregrinaccedilotildees e romarias
bull Retiros espirituais
bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso
bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis
bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios
terreiros)
bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros
As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso
procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por
valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para
estimular as viagens como afirma Onfray (2009)
ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)
16
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014
52
Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista
que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista
tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele
busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual
A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o
turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos
em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p
3)
Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e
agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a
santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista
obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de
igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas
torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica
De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e
PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o
prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas
conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo
Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o
candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero
de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho
de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas
religiosos
No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os
destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no
Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em
Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR
1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito
Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo
religioso
17
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18
CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003
53
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro
19
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014
20
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
21
19
Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20
Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
54
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida
Fonte Site Conhecer22
Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de
atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a
receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a
caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)
As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum
segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute
Beni (1997) definiu o turismo religioso como
Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)
O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas
viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os
equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade
varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees
Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas
de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como
nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite
vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade
22
Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014
55
O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves
festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da
cultura luzianiense
Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as
mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a
diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo
A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a
cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana
Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica
nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais
de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por
ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte
delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p
27)
Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de
pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no
planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio
Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui
igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair
turistas para a cidade
56
II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL
Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes
entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto
de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio
histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas
manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial
a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)
O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que
possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas
Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a
torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute
que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo
fortemente influenciados por estas cidades
Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746
quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo
assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando
Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e
fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o
arraial se desenvolveria
Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a
Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia
constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade
Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de
partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa
Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas
do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da
Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante
predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas
de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)
23
Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014
57
No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia
aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo
ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do
seu potencial turiacutestico
Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo
sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda
compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso
o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma
cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do
calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e
menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu
valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como
de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local
Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material
jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e
Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel
Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade
incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo
Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de
abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos
por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar
valores a estes patrimocircnios
Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo
do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo
IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele
se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade
luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios
Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo
que possui significado para a comunidade
As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva
com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)
24
Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014
58
afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a
constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas
brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as
cidades histoacutericas como
Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)
Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade
histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de
Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura
fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo
de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade
A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe
concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do
Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais
diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos
sociais espaciais e culturais de toda ordem
Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por
tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta
pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de
Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense
possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como
o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade
como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta
identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as
culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural
Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado
ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural
Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da
Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash
UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular
59
considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e
que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes
e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)
Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas
tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva
aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e
afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de
cultura
A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial
como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para
alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial
carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se
importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem
para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado
ficando fadadas ao desaparecimento
Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio
histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e
utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio
Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que
possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre
histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a
necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da
interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo
21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO
Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante
Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na
regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro
que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em
homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel
(1994)
60
Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)
Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado
da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil
pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a
histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios
momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas
das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas
restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros
de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25
O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram
para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a
populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora
essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na
deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais
Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente
em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da
cidade
As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro
urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este
processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave
paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as
muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares
do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte
Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de
suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal
Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade
25
Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011
61
Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando
Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a
adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo
Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia
[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)
O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o
surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia
Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que
ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo
com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses
uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora
com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de
Luziacircnia
Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)
Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo
refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura
As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo
desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das
manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na
cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz
necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram
presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita
ser preservado
62
22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor
O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro
no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a
posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos
mais variados lugares do paiacutes
De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes
quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014
28
Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos
80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN
(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta
explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais
quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama
e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental
em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629
26
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27
Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28
Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29
De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993
63
Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de
3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e
proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e
o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o
cargo no inicio de 2013
A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e
desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens
e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o
intercambio com outras cidades30
Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em
muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o
seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo
do meio ambiente e do patrimocircnio cultural
A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto
Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como
Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)
O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de
outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos
baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e
da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o
desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o
desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua
conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras
No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de
interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro
histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30
Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014
64
artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e
cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira
convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo
econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e
histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser
alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a
proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e
econocircmicos agrave cidade
Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14
fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a
gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre
a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial
urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual
infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua
do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico
Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e
privados o qual tambeacutem natildeo existe
O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento
econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a
entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se
mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo
O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne
realidade mas natildeo depende soacute da gente31
Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos
estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as
accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a
ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a
preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo
31
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
65
cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo
sobre a importacircncia das festas
A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia
32
Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16
inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica
urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e
comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se
realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito
Santo
O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo
dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de
interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das
suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do
patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas
admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e
arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia
Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que
deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo
vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal
O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a
tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no
centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto
de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes
nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso
podia ser inviabilizado neacuterdquo33
32
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
66
O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de
transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de
sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo
localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre
outros o que pouco se vecirc
O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem
trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade
Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas
34
O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de
projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem
que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar
as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio
cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver
impedido de fazecirc-lo
Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o
municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um
novo plano
O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de
guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir
do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua
aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio
muito melhor
23 O Centro Histoacuterico
Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves
festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no
desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio
34
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
67
No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o
tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do
turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo
apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma
representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)
Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo
sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que
conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo
Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam
representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a
partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e
explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo
Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo
concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a
partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem
traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria
e compreensatildeo da sua cultura
Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma
como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem
ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo
ainda resistem agraves accedilotildees do tempo
Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante
intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que
A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)
A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma
intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio
Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica
central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo
68
econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas
setorialmenterdquo
Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do
centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse
espaccedilo
Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de
desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o
fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna
referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles
que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a
memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura
Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade
das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles
Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas
rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a
serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus
moradores e como espaccedilo de memoacuteria
Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades
seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria
Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que
a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se
transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a
estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela
partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde
vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo
Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos
da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo
que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que
foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e
culturalrdquo
Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e
preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa
(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos
69
Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)
Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e
valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute
importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras
tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das
suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato
viveram a histoacuteria
Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no
espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila
da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e
estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a
participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as
manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e
consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais
e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
70
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
71
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia
A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente
perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e
intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade
principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da
cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o
Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por
considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica
as manifestaccedilotildees populares etc
Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do
municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de
fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que
tambeacutem herdou dos seus colonizadores
Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de
comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de
sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho
guariroba hortaliccedilas e aguardente
Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce
tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem
portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por
escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de
72
hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de
pai para filho
Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta
que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade
Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende
da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos
Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de
registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute
estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo
eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de
marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a
especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios
produtores do doce
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
36
35
Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014
73
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014
37
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
38
O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute
retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas
de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense
37
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014
74
Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a
Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura
As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo
expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e
momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo
apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais
presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares
Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor
potencial turiacutestico
O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e
o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo
patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas
ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor
O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma
legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico
Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo
39
Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por
sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por
exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar
aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela
forma como foi feito
Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua
potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma
construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no
meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao
presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se
encontram diversos pertences de JK
39
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
75
Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi
completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais
e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda
estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa
judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio
material de Goiaacutes41
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo
42
Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis
fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade
Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave
hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis
sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns
especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo
e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico
O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees
agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos
O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem
encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica
40
Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42
Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014
76
Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
43
Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial
para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no
centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do
turismo na cidade
Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do
Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco
inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas
eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados
com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro
histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve
levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia
A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo
religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e
negros natildeo se misturavam
Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs
Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi
inaugurada em 1767 mesmo inacabada
Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa
ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila
com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta
de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)
43
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44
Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013
77
Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)
As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre
esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida
para mais tarde ser reconstruiacuteda
Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial
incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma
imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e
foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa
que foi modificada
Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida
diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees
comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo
A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a
responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito
Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de
onde partem as procissotildees nos dias de festa
78
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
79
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
80
242 A Igreja do Rosaacuterio
A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos
Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por
Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e
escravos
Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma
memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de
Luziacircniardquo
Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a
manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem
tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como
conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente
pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute
O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no
municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529
pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a
numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem
menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria
o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS
1925)
A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da
regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central
foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um
balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam
para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e
curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada
para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte
Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por
algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei
dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura
como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar
e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos
para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da
81
retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja
Matriz de Santa Luzia
A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que
esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os
cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa
ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou
familiarrdquo
A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo
Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980
Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de
Goiaacutes e a Prefeitura Municipal
De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da
Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes
Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)
A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte
dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela
fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo
das missas
Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
82
Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
83
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013
45
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
45
Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
84
Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro
A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo
histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu
da cidade
Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural
com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande
representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem
da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares
O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi
fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este
nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem
85
ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e
professor de Direito46
A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e
barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal
voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se
destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo
de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem
hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores
Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e
constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura
Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos
47
A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos
depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos
Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por
todos os cocircmodos
A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de
semana e feriados
46
Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
86
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
87
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
88
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles
O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e
Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e
ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a
intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central
Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e
conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes
No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em
oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto
Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles
as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel
O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui
verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados
e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio
O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de
14h30min agraves 17h30min
89
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo
A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs
Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em
que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram
fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para
paacutessaros e outros pequenos animais
Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais
conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em
azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade
de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja
do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos
Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um
deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da
rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes
48
Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014
90
Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os
dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras
da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)
Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos
drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham
destruindo a obra
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
91
Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
246 Praccedila Evangelino Meireles
A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo
modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros
ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo
um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute
tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas
Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado
e inuacutemeras drogarias
Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas
rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio
92
Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa
responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua
com alguns espaccedilos interditados
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014
50
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees
O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute
uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para
Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008
O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas
independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e
externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com
cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet
49
Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50
Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014
93
O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como
encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura
Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
248 O Cristo Redentor
Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo
agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua
estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se
94
encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da
cidade
Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
95
III AS FESTAS RELIGIOSAS
As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a
antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram
algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum
tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo
dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais
Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento
de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a
vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em
homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida
das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas
de muita importacircncia para as comunidades
As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)
Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na
formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que
ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma
identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional
ainda inexistenterdquo
O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa
influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele
Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira
O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como
51
JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005
96
O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar
Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de
registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram
interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a
comunidade daacute agrave sua cidade
O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm
3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo
como
[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)
Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute
foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das
Celebraccedilotildees estatildeo53
1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute
2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso
3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte
4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo
5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA
6- A Festa do Divino em ParatyRJ
7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis
Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas
religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das
52
Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53
Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014
97
comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que
os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo
No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto
a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio
imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele
local
Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar
presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois
enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de
correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada
pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na
fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as
festas retomam
Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas
54
Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas
celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os
anos
Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55
Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos
religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo
portuguesa e da feacute catoacutelica
Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte
influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao
patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento
turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam
milhares de pessoas por todo o mundo 54
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014
98
Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas
podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES
2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais
celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a
experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se
objetos do turismo
Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e
a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os
rituais permanecem iguais
A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que
acontecem no Brasil durante todo o ano
FESTA ESTADO
Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE
Festa dos Santos Reis PE
Festa do Bonfim BA
Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES
Festa de Iemanjaacute BA
Semana Santa -
Procissatildeo do Fogareacuteu GO
Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE
Festa de Nossa Senhora da Penha ES
Festa de Satildeo Benedito MT
Festa de Nossa Senhora da Piedade AP
Festa de Nossa Senhora das Neves PB
Romaria de Bom Jesus da Lapa BA
Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA
Festa do Rosaacuterio MGGO
Ciacuterio de Nazareacute PA
Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP
Festa do Padre Ciacutecero CE
Festa de Santa Baacuterbara BA
56
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
99
Festa de Nossa Senhora do Rocio PR
Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo
57
Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas
com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as
celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de
pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do
Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
58
57
Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
100
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna
59
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado
60
O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento
quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A
proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis
e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os
participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees
59
Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60
Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014
101
ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do
Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade
juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61
As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na
construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor
sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que
A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais
62
Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia
ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens
potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda
haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas
uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem
agraves festas tradicionais
Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e
Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo
formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o
reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e
espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de
reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas
praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa
Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos
A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre
esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute
As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade
61
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
102
religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel
63
A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da
estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando
diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de
geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos
foliotildees64
O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas
religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e
para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de
viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da
histoacuteria da cidade65
Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de
Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas
religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento
importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees
culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo
dos anos
Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como
parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a
economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p
10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais
Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada
Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que
estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances
63
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014
103
humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas
ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos
seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda
estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende
da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de
respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em
Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos
Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo
histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem
preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber
popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo
humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo
Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que
veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos
todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta
que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as
ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos
mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa
orgiardquo
Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por
isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas
tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos
culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando
valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute
natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de
edificaccedilotildees e peccedilas de museus
A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das
expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de
movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as
o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios
aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que
ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em
104
proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica
luacutedicardquo
Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que
atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa
do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do
Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das
datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora
do Rosaacuterio sete de outubro
Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no
desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de
celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a
catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute
catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo
de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino
culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo
Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado
de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo
ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo
sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim
Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do
Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos
conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala
tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por
pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia
O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente
67
66
Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
105
A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da
festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de
Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA
festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra
atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do
entorno que vem para caacuterdquo68
Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico
momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades
vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que
buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees
culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis
possuem na memoacuteria local
Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior
representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem
papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que
se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade
pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose
queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha
fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de
natildeo ser idecircntica a si mesmardquo
As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado
durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas
e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o
passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio
Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade
Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar
69
68
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
106
Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos
com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na
cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a
santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes
seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou
simplesmente para festejar
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia
A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no
Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo
Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao
Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de
cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e
deram origem agrave festa judaica de Pentecostes
O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que
celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os
apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo
surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs
(2000 p 24)
Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular
Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se
por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder
caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros
Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo
107
Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de
Janeiro durante o seacuteculo XIX
Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia
A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como
Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se
restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras
nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio
Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia
Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao
Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela
grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje
Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo
Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e
Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas
atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo
tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo
da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda
metade do seacuteculo XVIII
Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino
que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave
sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das
Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos
Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas
como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a
maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo
menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa
desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela
108
A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares
70
A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia
justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute
momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e
Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o
reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que
essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia
Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o
seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato
quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio
da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino
eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio
de Luziacircniardquo71
O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as
festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas
pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem
parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo
consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72
Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre
foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)
explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande
festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida
e cheiro de roupa novardquo
Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres
percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com
uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino
70
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
109
Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo
caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja
quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo
Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade
contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de
Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa
A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade
73
As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo
Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras
pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na
realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela
pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura
localrdquo74
Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa
festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo
de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais
satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma
relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se
perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do
povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante
o ano
Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as
inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo
73
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014
110
portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um
consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute
sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud
SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e
as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino
Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita
muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de
uma festa religiosardquo
A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em
relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade
fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a
comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas
de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um
movimento em torno do turismo cultural e religioso
Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do
Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos
mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida
Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo
uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano
aguardando a festa para comer esta especiaria
Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa
do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura
culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e
etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes
elementos
A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios
elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o
poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia
Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as
75
BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989
111
filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo
76
Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante
e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo
frito
A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa
77
Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito
assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute
preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa
demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio
imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo
construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham
para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-
se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas
Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os
foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua
realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz
ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A
partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados
ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade
Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que
organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa
Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968
apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar
com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia
oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do
76
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
112
festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com
os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78
Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade
Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela
primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo
nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e
organizaccedilatildeo das festividades na cidade
Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas
79
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
78
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
113
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia
80
80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-
o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013
114
Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil
haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes
e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento
cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela
modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi
suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo
O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e
durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de
Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no
municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes
Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos
tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro
fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes
com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas
outras coisas foram retiradasrdquo 81
As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que
constituem a festa do Divino
311 O Pouso
O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo
e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois
tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles
formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para
a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem
entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita
Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a
bandeira do Divino
Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha
81
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
115
todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente
82
Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na
entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo
catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando
elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas
incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se
tornarem demasiadamente mundanas
O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre
com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os
ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na
chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles
continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser
proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com
comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre
isso
Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente
83
A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as
folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais
autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de
descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um
povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a
82
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
116
cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que
acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo
Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe
84
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009
Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves
festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se
mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que
ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute
que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo
84
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
117
Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas
tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada
eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute
tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo
312 A Catira
Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou
Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura
brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute
uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela
batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos
Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos
em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)
descreve a Catira como
A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel
A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo
Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA
2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no
meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua
expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em
dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves
vezes nas novenas ou no final da missardquo86
Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo
descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade
85
Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
118
A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)
87
Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009
O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e
assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as
geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator
constituinte de sua cultura
313 A Folia de Rua
As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e
constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes
em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias
constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico
brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia
87
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88
QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973
119
eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma
de preservaccedilatildeo da culturardquo89
A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro
ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de
visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e
entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com
muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na
cidade
Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda
90
Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como
demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos
excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter
outro significado que transcende o material
Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense
e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas
Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo
XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos
portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e
profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar
homenagens e saudarrdquo
O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros
elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como
aconteciam as folias de rua em Luziacircnia
Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros
89
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
120
foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria
Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como
acontecem as folias em Luziacircnia
Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas
91
Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos
seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em
que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute
espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo
divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo
Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de
rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes
que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A
jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das
caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de
pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e
furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92
Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade
E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato
93
O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo
religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma
91
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92
Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
121
que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees
eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos
de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso
Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar
94
Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo
intriacutenseco a festa
Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode
Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns
participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator
capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado
profano da festa que vem aumentando a cada ano
A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca
95
94
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
122
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das
festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado
religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas
rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]
essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas
comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo
A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais
momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa
tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade
Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do
Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas
a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do
turismo local
314 As Cavalhadas
Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por
volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para
123
Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de
cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo
As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento
cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas
surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que
com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles
que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo
A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais
personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa
azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros
Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas
embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute
personagens mascarados que representam o povo
Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme
nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico
profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades
goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo
Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de
dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona
Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave
dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade
Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando
96
96
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
124
A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do
estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos
anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe
uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas
fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e
mouros em Luziacircnia
315 Os Leilotildees
Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino
em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo
leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por
comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os
leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do
Divino
Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o
leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que
doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja
do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os
leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade
Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa
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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
125
Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo
destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns
consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no
municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa
festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio
da Silva discorre sobre isso
As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio
98
Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas
caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente
que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e
com a formaccedilatildeo da sua identidade
Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios
histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um
forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o
que pode ser constatado durante a pesquisa
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes
santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados
no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978
descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade
Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)
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Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
126
Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978
Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo
possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber
que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do
tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo
e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na
cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de
maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas
dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura
negra sendo considerados seus santos protetores
127
Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram
em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute
garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de
fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou
sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro
Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro
99
O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora
do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade
assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de
Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a
participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu
patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de
Luziacircnia
O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e
gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e
distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis
contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia
que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica
Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem
como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade
o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na
construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os
padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa
relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar
entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas
Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas
participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos
poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a
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Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
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que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de
haver pouco tempo que a festa vem se realizando
Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da
comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas
de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada
momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor
religioso ou lazer puramente dito
No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela
vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre
querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo
com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do
Rosaacuterio possui para ela
Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo
100
No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa
Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a
comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show
com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a
comemoraccedilatildeo
A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a
preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do
patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso
A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees
101
Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da
igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente
100
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste
local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros
Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e
intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso
da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando
cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso
A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees
musicais 102
O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a
organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o
estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior
essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos
com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103
Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua
fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a
igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa
Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104
Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)
quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos
tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo
essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os
moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo
seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos
Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao
longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de
puacuteblicos
102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
130
Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral
105
A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair
benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada
pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de
dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso
A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento
106
Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a
economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a
movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa
tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na
cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o
numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia
do municiacutepiordquo107
Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute
um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo
eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo
e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial
algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio
Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade
Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para
105
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014
131
que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
108
Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas
tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se
constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria
comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de
contribuir para o turismo na cidade
Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico
109
A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia
tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como
apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para
aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na
comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a
preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem
patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria
comunidade
108
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013
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Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013
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Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas
sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se
concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia
possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as
igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo
fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)
ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116
Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua
identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma
comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer
novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito
do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam
atrativos turiacutesticos das cidades
As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de
hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos
formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar
uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se
consideram turistas
As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial
para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino
Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se
observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do
viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas
assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo
consideradas fortes tradiccedilotildees culturais
A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no
ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves
praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da
accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a
preservaccedilatildeo destes patrimocircnios
A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da
cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se
desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma
positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no
desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos
prestados
Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute
considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a
138
principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova
configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes
motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do
municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN
Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como
uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam
celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente
a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo
puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em
torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e
esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa
um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural
Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo
descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo
aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em
Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de
promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como
parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir
diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila
As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos
moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila
e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas
cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas
de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem
vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes
patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade
Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real
representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da
tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais
atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo
em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e
esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter
139
Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada
diardquo 117
Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se
perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que
compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado
de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de
casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba
desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de
proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos
todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido
Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui
valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo
Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela
importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los
atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses
Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute
importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade
agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados
aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui
O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que
aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel
como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e
assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos
negativos do que positivos para a cidade
A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo
colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute
pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns
participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que
para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se
tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os
envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico
117
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
140
O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que
isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os
recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm
potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e
sustentaacutevel
O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio
atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem
na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se
propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim
de toda a cidade
O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os
envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se
reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos
monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser
uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de
preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e
consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade
e da sociabilidaderdquo
Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos
vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos
sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais
sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e
social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das
populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em
uacuteltima instancia eacute praacutetica social
Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que
permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte
integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino
Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem
permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade
de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local
Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses
eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem
ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia
141
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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao
curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da
Universidade de Brasiacutelia
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua
colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato
voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees
solicitadas pelo pesquisador
Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e
mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os
resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse
trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada
Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo
Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB
carlawiccagmailcom
Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando
voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e
para a publicaccedilatildeo dos resultados
Luziacircnia _____ de _________________ de 2013
Assinatura do participante____________________________________________
Assinatura da pesquisadora___________________________________________
154
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1 Nome
2 Telefone
3 Profissatildeo
4 Idade
5 Estado Civil
6 Religiatildeo
7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos
Quais
9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos
patrimocircnios materiais de Luziacircnia
11 O que estas festas representam para vocecirc
155
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de
Luziacircnia
9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas
156
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o
desenvolvimento do turismo local
10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de
Luziacircnia
11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das
festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia
5
Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com
sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas
fotografias
Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e
paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho
Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas
Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires
e Wilter Coelho
Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de
Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo
Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra
estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento
oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente
6
ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim
pode ser o comeccedilordquo
Ivy Baker Priest
7
RESUMO
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local
Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia
8
ABSTRACT
The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism
Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia
9
LISTA DE SIGLAS
CNT - Conselho Nacional de Turismo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional
GO ndash Goiaacutes
OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo
PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
10
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figuras
Capiacutetulo 1
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da
Cultura 36
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa
da Cultura 36
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na
Casa da Cultura 36
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54
Capiacutetulo 2
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante
Antigamente 69
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79
Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81
Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
11
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do
Rosaacuterio 83
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83
Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do
Rosaacuterio 84
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90
Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93
Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94
Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94
Capiacutetulo 3
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em
2013 113
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116
12
Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133
Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133
Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134
Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela
cidade 134
Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135
Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135
Tabelas
Capiacutetulo 1
Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo
Cultural 50
Capiacutetulo 3
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98
13
SUMAacuteRIO
Dedicatoacuteria iii
Agradecimentos iv
Epiacutegrafe vi
Resumo vii
Abstract viii
Lista de Siglas ix
Lista de figuras e tabelas x
INTRODUCcedilAtildeO 15
CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23
11 A Cultura 25
12 O Patrimocircnio 30
121 O Patrimocircnio Imaterial 33
13 O Turismo 40
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43
132 O Turismo Cultural 46
133 O Turismo Religioso 50
CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO
CULTURAL 54
21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59
22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62
23 O Centro Histoacuterico 66
24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71
14
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76
242 Igreja do Rosaacuterio 80
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89
246 Praccedila Evangelino Meireles 91
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92
248 O Cristo Redentor 93
CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106
311 O Pouso 114
312 A Catira 117
313 A Folia de Rua 118
314 As Cavalhadas 122
315 Os Leilotildees 124
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141
APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153
APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154
APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155
APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE
LUZIAcircNIAGO 156
15
INTRODUCcedilAtildeO
Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo
teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos
materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de
tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo
dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade
Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como
primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim
surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados
nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos
governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de
reconhecimento da identidade e da cultura local
O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte
espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se
tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de
desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade
Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo
da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais
que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no
desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de
desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois
refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural
relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local
como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade
As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute
uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e
que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a
preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica
social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes
espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a
identidade da comunidade local
16
Diante desse fato surgem as seguintes questotildees
1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e
Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio
3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios
culturais materiais e imateriais da cidade
4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento
turiacutestico de Luziacircnia
Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em
campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um
fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que
pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem
percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os
meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que
a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa
Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca
do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia
usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a
pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao
encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar
uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do
conhecimento
O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu
numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o
discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica
fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo
compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais
adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua
cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas
e preservadas
17
Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual
os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente
pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar
dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um
dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees
que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade
Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois
visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o
estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa
identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos
fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e
extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia
especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade
Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave
produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do
saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que
ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio
despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo
retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para
produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)
As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente
organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO
e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos
necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas
envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante
meacutetodo pois ela
Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica
socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que
participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de
mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de
estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias
profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)
18
A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado
(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e
estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas
muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de
conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da
gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)
A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da
pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao
problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os
principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida
da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de
perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo
foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo
desta dissertaccedilatildeo
Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas
bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram
fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos
dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa
qualitativa
[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em
texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande
quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os
dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de
forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados
(GIBBS 2009 p 24)
As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias
Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma
metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas
que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi
fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que
participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees
culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar
essa identidade perdida
19
Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas
etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha
utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais
etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a
preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo
a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos
neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das
principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais
atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das
entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que
convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de
laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo
Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a
cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o
contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua
contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia
Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias
perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado
Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como
representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de
moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas
tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem
na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o
desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio
Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser
classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais
podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes
valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos
pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das
entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a
assinatura de termo de consentimento
As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado
antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas
20
em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em
abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos
entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu
Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se
entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a
opiniatildeo de um puacuteblico mais variado
Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e
trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se
declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo
Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas
1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila
2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo
3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes
4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro
5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva
6- Estudante Karina da Silva
7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira
8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires
9- Jornalista Francyelle Rocha
10- Advogado Wilter Campos Coelho
Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir
dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas
essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo
com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas
elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia
da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e
tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as
mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc
O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como
explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e
reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo
foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas
21
agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para
os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos
referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa
Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa
extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa
de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de
tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de
conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de
preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o
perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs
capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram
uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma
discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro
apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio
Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No
segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do
patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o
turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma
discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como
o turismo cultural e o turismo religioso
O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa
pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos
e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro
histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo
local
No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste
estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as
manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas
festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade
Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o
patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um
espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio
22
conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto
essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias
alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de
Luziacircnia
Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o
turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento
e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura
como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece
como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como
um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo
23
I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO
A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo
em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo
natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores
puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira
e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles
podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia
Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo
dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se
apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem
falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular
novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta
que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por
parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico
entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local
Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura
deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o
futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a
gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que
cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se
constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e
vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se
tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e
patrimonial
A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das
cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees
populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico
como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)
O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo
1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC
jandez 2005 n19-20 p 126-153
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de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo
Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos
constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes
patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados
a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo
conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo
das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)
[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas
Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis
fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente
estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por
meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a
estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos
deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e
vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que
ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes
motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo
A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa
positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua
conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas
tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira
(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado
da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do
desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de
um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos
setores da sociedade
A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se
apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os
25
turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas
proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um
determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo
Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre
tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser
observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem
o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades
tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova
mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e
contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel
11 A Cultura
A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos
possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se
destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no
campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido
desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou
o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos
crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia
(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que
integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990
p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens
Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo
Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que
esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam
baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as
26
sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem
entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem
Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou
seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa
totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais
Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da
cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma
totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos
culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O
autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar
relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto
que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a
pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um
sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los
separadamenterdquo
Para Clifford Geertz (2008 p 24)
[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade
Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais
vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem
ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um
dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro
Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a
sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo
que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua
compreensatildeo
ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca
2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958
3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940
27
de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)
Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e
recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua
identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura
constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo
Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura
eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e
imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo
Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse
trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia
que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos
importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo
Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas
compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou
esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o
patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra
que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos
simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a
anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da
seguinte forma
Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros
A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de
diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso
das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros
(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais
expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura
determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou
4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997
28
inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade
Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma
que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as
atividades da vidardquo
Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso
para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade
mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura
da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona
medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o
direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)
As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por
geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas
que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua
fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para
filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas
festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos
Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens
adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5
(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila
que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica
Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida
quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o
municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas
formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita
com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como
Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)
Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um
processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre
5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris
PUF 1955
29
(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre
essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma
espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no
imaginaacuterio
A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e
intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os
lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se
fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo
que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees
materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo
As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura
tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para
a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo
dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura
tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo
A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)
Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da
cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja
positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode
estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim
este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio
cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a
atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que
visitam a cidade
6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968
30
12 O Patrimocircnio
A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela
passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma
famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo
termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por
conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o
patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como
ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura
homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto
de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)
O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo
simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse
sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por
sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos
costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus
patrimocircnios
Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como
esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista
patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em
que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito
das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem
patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO
para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa
Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos
Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade
Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como
memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica
31
principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo
Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua
histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO
aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo
visual
Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de
patrimocircnio cultural eacute bastante ampla
Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos
Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais
tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos
tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo
artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da
sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento
do turismo
Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma
comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)
observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-
se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor
etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e
peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo
Para Fonseca (2009 p 21)
Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia
Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas
tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo
possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do
Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia
32
que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais
como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se
dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade
Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na
preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e
Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em
razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e
216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da
comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido
como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em
conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira
O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como
um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico
brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade
contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto
com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu
proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se
formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a
relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores
que justificam a preservaccedilatildeordquo
Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao
buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer
confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009
p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos
da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado
corresponde agrave ideia que se faz delerdquo
A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute
muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos
ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas
nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de
33
identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que
refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza
Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo
Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do
tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na
consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente
construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel
que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure
preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos
patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma
maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a
parte na vida em sociedade
121 O Patrimocircnio Imaterial
O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos
20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade
realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo
de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos
estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um
dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio
cultural ndash IPHAN em 1937
Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN
O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)
34
Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua
classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma
Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []
visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees
mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio
cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e
praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode
ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social
A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa
classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud
ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como
O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais
O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas
praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos
de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas
e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais
coletivas)
Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo
menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela
proacutepria comunidade
Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em
relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa
distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando
que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de
estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo
reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional
7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho
executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo
id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011
35
No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa
Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os
patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial em quatro livros
1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de
fazer enraizados no cotidiano das comunidades
2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam
a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras
praacuteticas da vida social
3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees
literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas
4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios
praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais
coletivas
Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade
se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes
dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza
imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura
oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]
eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares
objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo
9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em
lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013
36
Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014
37
Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e
o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das
Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino
Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa
dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que
acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no
livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da
comunidade
O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora
tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos
responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte
do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela
sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui
que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que
um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade
(FONSECA 2009)
Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais
valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de
forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas
manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a
vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente
em mudanccedila
Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute
justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como
referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante
o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses
patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem
Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados
Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas
muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da
38
cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do
Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as
suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA
2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um
grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos
explicam o conceito de performance como
Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural
Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de
Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial
possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade
pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade
do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no
municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com
valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas
como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o
comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo
Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees
para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e
disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda
interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que
os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos
de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita
tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na
disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial
A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance
como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia
nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda
deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003
39
geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia
dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim
destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo
no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da
UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)
Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras
possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim
a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte
dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas
estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas
de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com
a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos
que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente
daquele que se encontra ameaccedilado
O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees
como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes
patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros
patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas
histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte
intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de
LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do
municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de
Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
40
13 O Turismo
O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que
dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se
faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a
compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004
p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno
Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por
prazer Uso depredaccedilatildeordquo
De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo
discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e
tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo
de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que
etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual
com a intenccedilatildeo de regressar
Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo
era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses
realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres
ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de
educaccedilatildeo e cultura
Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992
Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo
Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um
cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a
negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno
econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas
relaccedilotildees
Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica
institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo
e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute
uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e
preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo
11
BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995
41
com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e
negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade
O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno
social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural
O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)
Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial
tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo
somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do
Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo
vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se
consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento
socioeconocircmicordquo
De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e
afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER
1991 p 231
Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova
perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades
oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e
arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse
estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa
(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida
em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade
Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e
desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e
imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo
de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando
12
O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13
Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013
42
entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em
torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico
O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o
desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a
poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais
importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte
geradora de serviccedilos produtos emprego e renda
Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de
natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico
social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o
desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos
tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e
privados quanto ao planejamento territorial das cidades
Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz
respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo
Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a
competitividade do turismo
[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de
sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)
O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um
planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se
virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo
eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade
logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e
economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute
possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o
turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir
diversos setores de desenvolvimento
Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e
modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico
43
cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se
deslocarem
Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo
e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)
[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)
131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural
Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais
fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos
70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais
aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI
1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por
parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos
Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo
pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as
regiotildees que abrigam suas atividades
A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos
de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos
empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e
incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como
orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os
gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar
um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou
seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos
projetos e programas da poliacutetica de turismo
14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash
Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013
44
Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de
Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural
O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)
define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa
apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O
autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que
demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente
em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e
econocircmicos numa mesma perspectiva
Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de
Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de
forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo
com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos
turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o
futuro
Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu
patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono
deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o
desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes
patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria
Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute
fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a
sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos
fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a
falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e
autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da
importacircncia deste planejamento
Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)
Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem
um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann
45
(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de
gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do
nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a
economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das
comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas
religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a
economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo
sustentaacutevel para esta regiatildeo
A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus
comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos
em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo
da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas
de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os
visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve
causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor
nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento
de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade
Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)
Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus
residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale
ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da
sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute
que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo
Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave
organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das
festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse
processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo
do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios
46
132 O Turismo Cultural
O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro
natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)
afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados
tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com
maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica
reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo
Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade
de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo
vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)
O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do
Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de
elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008
p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a
ascensatildeo de um turismo cultural na cidade
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de
transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch
(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente
contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo
da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos
povosrdquo
Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia
tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey
(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que
compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui
lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud
CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais
de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos
impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo
No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo
(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser
47
valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de
pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute
traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como
O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)
O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a
preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos
Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado
como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo
para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos
culturais e sua memoacuteria socialrdquo
Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e
tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o
processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades
Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns
aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e
econocircmica para diversos setores
Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as
celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre
outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um
turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa
forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e
desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um
turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do
descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo
que eacute seu
De acordo com Pires (2001)
15
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
48
ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)
Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de
viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas
histoacutericas
Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo
turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de
interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida
moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se
importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o
turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)
[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)
A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas
comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de
pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como
nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado
ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em
museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo
Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um
planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o
desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade
Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na
preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar
estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da
identidade local
Homi Bhabha diz que
49
O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)
Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees
no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade
O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio
do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da
cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam
como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior
representaccedilatildeo turiacutestica satildeo
1- Turismo Ciacutevico
2- Turismo Religioso
3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico
4- Turismo Eacutetnico
5- Turismo Cinematograacutefico
6- Turismo Arqueoloacutegico
7- Turismo Gastronocircmico
8- Enoturismo
9- Turismo Ferroviaacuterio
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de
serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo
cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo
de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de
serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos
50
Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010
Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as
viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto
que seraacute discutido a seguir
133 O Turismo Religioso
O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos
vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais
51
cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura
poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16
Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este
tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento
em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De
acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333
com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de
Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo
Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas
atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em
espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo
viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno
ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por
bull Peregrinaccedilotildees e romarias
bull Retiros espirituais
bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso
bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis
bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios
terreiros)
bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros
As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso
procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por
valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para
estimular as viagens como afirma Onfray (2009)
ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)
16
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014
52
Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista
que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista
tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele
busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual
A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o
turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos
em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p
3)
Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e
agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a
santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista
obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de
igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas
torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica
De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e
PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o
prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas
conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo
Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o
candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero
de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho
de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas
religiosos
No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os
destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no
Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em
Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR
1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito
Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo
religioso
17
Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18
CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003
53
Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro
19
Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014
20
Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
21
19
Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20
Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
54
Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida
Fonte Site Conhecer22
Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de
atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a
receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a
caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)
As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum
segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute
Beni (1997) definiu o turismo religioso como
Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)
O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas
viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os
equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade
varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees
Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas
de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como
nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite
vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade
22
Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014
55
O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves
festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da
cultura luzianiense
Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as
mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a
diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo
A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a
cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana
Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica
nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais
de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por
ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte
delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p
27)
Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de
pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no
planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio
Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui
igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair
turistas para a cidade
56
II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL
Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes
entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto
de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio
histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas
manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial
a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)
O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que
possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas
Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a
torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute
que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo
fortemente influenciados por estas cidades
Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746
quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo
assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando
Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e
fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o
arraial se desenvolveria
Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a
Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia
constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade
Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de
partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa
Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas
do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da
Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante
predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas
de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)
23
Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014
57
No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia
aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo
ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do
seu potencial turiacutestico
Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo
sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda
compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso
o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma
cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do
calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e
menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu
valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como
de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local
Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material
jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e
Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel
Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade
incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo
Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de
abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos
por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar
valores a estes patrimocircnios
Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo
do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo
IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele
se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade
luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios
Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo
que possui significado para a comunidade
As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva
com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)
24
Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014
58
afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a
constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas
brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as
cidades histoacutericas como
Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)
Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade
histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de
Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura
fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo
de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade
A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe
concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do
Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais
diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos
sociais espaciais e culturais de toda ordem
Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por
tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta
pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de
Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense
possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como
o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade
como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta
identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as
culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural
Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado
ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural
Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da
Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash
UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular
59
considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e
que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes
e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)
Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas
tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva
aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e
afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de
cultura
A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial
como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para
alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial
carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se
importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem
para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado
ficando fadadas ao desaparecimento
Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio
histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e
utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio
Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que
possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre
histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a
necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da
interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo
21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO
Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante
Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na
regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro
que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em
homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel
(1994)
60
Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)
Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado
da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil
pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a
histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios
momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas
das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas
restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros
de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25
O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram
para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a
populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora
essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na
deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais
Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente
em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da
cidade
As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro
urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este
processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave
paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as
muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares
do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte
Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de
suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal
Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade
25
Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011
61
Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando
Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a
adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo
Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia
[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)
O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o
surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia
Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que
ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo
com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses
uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora
com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de
Luziacircnia
Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)
Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo
refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura
As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo
desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das
manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na
cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz
necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram
presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita
ser preservado
62
22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor
O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro
no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a
posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos
mais variados lugares do paiacutes
De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes
quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico
Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo
Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014
28
Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos
80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN
(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta
explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais
quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama
e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental
em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629
26
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27
Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28
Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29
De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993
63
Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de
3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e
proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e
o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o
cargo no inicio de 2013
A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e
desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens
e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o
intercambio com outras cidades30
Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em
muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o
seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo
do meio ambiente e do patrimocircnio cultural
A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto
Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como
Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)
O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de
outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos
baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e
da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o
desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o
desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua
conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras
No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de
interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro
histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30
Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014
64
artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e
cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira
convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo
econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e
histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser
alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a
proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e
econocircmicos agrave cidade
Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14
fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a
gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre
a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial
urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual
infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua
do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico
Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e
privados o qual tambeacutem natildeo existe
O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento
econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a
entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se
mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo
O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne
realidade mas natildeo depende soacute da gente31
Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos
estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as
accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a
ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a
preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo
31
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
65
cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo
sobre a importacircncia das festas
A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia
32
Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16
inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica
urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e
comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se
realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito
Santo
O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo
dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de
interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das
suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do
patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas
admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e
arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia
Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que
deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo
vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal
O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a
tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no
centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto
de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes
nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso
podia ser inviabilizado neacuterdquo33
32
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
66
O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de
transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de
sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo
localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre
outros o que pouco se vecirc
O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem
trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade
Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas
34
O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de
projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem
que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar
as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio
cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver
impedido de fazecirc-lo
Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o
municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um
novo plano
O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de
guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir
do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua
aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio
muito melhor
23 O Centro Histoacuterico
Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves
festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no
desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio
34
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
67
No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o
tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do
turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo
apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma
representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)
Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo
sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que
conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo
Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam
representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a
partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e
explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo
Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo
concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a
partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem
traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria
e compreensatildeo da sua cultura
Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma
como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem
ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo
ainda resistem agraves accedilotildees do tempo
Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante
intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que
A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)
A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma
intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio
Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica
central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo
68
econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas
setorialmenterdquo
Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do
centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse
espaccedilo
Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de
desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o
fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna
referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles
que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a
memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura
Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade
das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles
Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas
rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a
serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus
moradores e como espaccedilo de memoacuteria
Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades
seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria
Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que
a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se
transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a
estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela
partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde
vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo
Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos
da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo
que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que
foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e
culturalrdquo
Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e
preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa
(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos
69
Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)
Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e
valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute
importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras
tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das
suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato
viveram a histoacuteria
Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no
espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila
da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e
estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a
participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as
manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e
consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais
e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade
Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
70
Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
71
Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia
A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente
perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e
intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade
principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da
cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o
Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por
considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica
as manifestaccedilotildees populares etc
Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do
municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de
fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que
tambeacutem herdou dos seus colonizadores
Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de
comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de
sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho
guariroba hortaliccedilas e aguardente
Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce
tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem
portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por
escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de
72
hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de
pai para filho
Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta
que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade
Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende
da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos
Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de
registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute
estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo
eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de
marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a
especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios
produtores do doce
Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
36
35
Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014
73
Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014
37
Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014
38
O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute
retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas
de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense
37
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38
Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014
74
Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a
Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura
As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo
expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e
momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo
apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais
presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares
Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor
potencial turiacutestico
O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e
o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo
patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas
ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor
O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma
legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico
Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo
39
Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por
sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por
exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar
aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela
forma como foi feito
Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua
potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma
construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no
meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao
presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se
encontram diversos pertences de JK
39
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
75
Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi
completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais
e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda
estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa
judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio
material de Goiaacutes41
Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo
42
Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis
fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade
Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave
hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis
sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns
especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo
e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico
O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees
agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos
O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem
encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica
40
Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42
Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014
76
Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
43
Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial
para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no
centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do
turismo na cidade
Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do
Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco
inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas
eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados
com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro
histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve
levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade
241 A Igreja Matriz de Santa Luzia
A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo
religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e
negros natildeo se misturavam
Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs
Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi
inaugurada em 1767 mesmo inacabada
Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa
ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila
com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta
de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)
43
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44
Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013
77
Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)
As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre
esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida
para mais tarde ser reconstruiacuteda
Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial
incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma
imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e
foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa
que foi modificada
Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida
diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees
comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo
A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a
responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito
Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de
onde partem as procissotildees nos dias de festa
78
Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
79
Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
80
242 A Igreja do Rosaacuterio
A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos
Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por
Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e
escravos
Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma
memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de
Luziacircniardquo
Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a
manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem
tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como
conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente
pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute
O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no
municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529
pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a
numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem
menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria
o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS
1925)
A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da
regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central
foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um
balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam
para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e
curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada
para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte
Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por
algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei
dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura
como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar
e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos
para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da
81
retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja
Matriz de Santa Luzia
A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que
esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os
cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa
ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou
familiarrdquo
A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo
Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980
Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de
Goiaacutes e a Prefeitura Municipal
De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da
Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes
Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)
A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte
dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela
fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo
das missas
Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
82
Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
83
Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013
45
Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
45
Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
84
Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
243 A Casa da Cultura Rui Carneiro
A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo
histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu
da cidade
Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural
com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande
representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem
da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares
O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi
fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este
nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem
85
ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e
professor de Direito46
A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e
barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal
voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se
destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo
de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem
hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores
Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e
constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura
Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos
47
A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos
depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos
Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por
todos os cocircmodos
A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de
semana e feriados
46
Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
86
Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria
Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
87
Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
88
Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles
O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e
Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e
ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a
intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central
Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e
conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes
No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em
oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto
Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles
as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel
O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui
verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados
e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio
O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de
14h30min agraves 17h30min
89
Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo
A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs
Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em
que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram
fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para
paacutessaros e outros pequenos animais
Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais
conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em
azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade
de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja
do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos
Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um
deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da
rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes
48
Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014
90
Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os
dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras
da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)
Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos
drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham
destruindo a obra
Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
91
Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria
246 Praccedila Evangelino Meireles
A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo
modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros
ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo
um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute
tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas
Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado
e inuacutemeras drogarias
Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas
rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio
92
Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa
responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua
com alguns espaccedilos interditados
Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014
50
247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees
O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute
uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para
Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008
O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas
independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e
externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com
cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet
49
Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50
Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014
93
O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como
encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura
Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00
Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013
248 O Cristo Redentor
Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo
agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua
estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se
94
encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da
cidade
Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria
95
III AS FESTAS RELIGIOSAS
As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a
antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram
algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum
tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo
dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais
Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento
de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a
vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em
homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida
das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas
de muita importacircncia para as comunidades
As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)
Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na
formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que
ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma
identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional
ainda inexistenterdquo
O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa
influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele
Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira
O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como
51
JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005
96
O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar
Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de
registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram
interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a
comunidade daacute agrave sua cidade
O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm
3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo
como
[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)
Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute
foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das
Celebraccedilotildees estatildeo53
1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute
2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso
3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte
4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo
5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA
6- A Festa do Divino em ParatyRJ
7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis
Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas
religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das
52
Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53
Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014
97
comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que
os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo
No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto
a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio
imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele
local
Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar
presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois
enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de
correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada
pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na
fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as
festas retomam
Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas
54
Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas
celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os
anos
Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio
intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55
Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos
religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo
portuguesa e da feacute catoacutelica
Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte
influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao
patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento
turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam
milhares de pessoas por todo o mundo 54
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55
Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014
98
Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas
podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES
2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais
celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a
experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se
objetos do turismo
Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e
a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os
rituais permanecem iguais
A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que
acontecem no Brasil durante todo o ano
FESTA ESTADO
Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE
Festa dos Santos Reis PE
Festa do Bonfim BA
Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES
Festa de Iemanjaacute BA
Semana Santa -
Procissatildeo do Fogareacuteu GO
Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE
Festa de Nossa Senhora da Penha ES
Festa de Satildeo Benedito MT
Festa de Nossa Senhora da Piedade AP
Festa de Nossa Senhora das Neves PB
Romaria de Bom Jesus da Lapa BA
Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA
Festa do Rosaacuterio MGGO
Ciacuterio de Nazareacute PA
Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP
Festa do Padre Ciacutecero CE
Festa de Santa Baacuterbara BA
56
LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003
99
Festa de Nossa Senhora do Rocio PR
Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE
Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo
57
Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas
com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as
celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de
pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do
Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes
Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute
58
57
Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58
Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012
100
Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna
59
Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado
60
O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento
quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A
proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis
e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os
participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees
59
Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60
Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014
101
ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do
Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade
juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61
As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na
construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor
sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que
A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais
62
Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia
ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens
potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda
haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas
uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem
agraves festas tradicionais
Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e
Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo
formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o
reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e
espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de
reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas
praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa
Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos
A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre
esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute
As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade
61
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
102
religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel
63
A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da
estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando
diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de
geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos
foliotildees64
O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas
religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e
para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de
viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da
histoacuteria da cidade65
Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de
Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas
religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento
importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees
culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo
dos anos
Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como
parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a
economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p
10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais
Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada
Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que
estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances
63
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014
103
humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas
ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos
seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo
O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda
estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende
da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de
respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em
Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos
Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo
histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem
preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber
popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo
humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo
Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que
veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos
todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta
que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as
ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos
mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa
orgiardquo
Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por
isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas
tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos
culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando
valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute
natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de
edificaccedilotildees e peccedilas de museus
A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das
expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de
movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as
o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios
aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que
ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em
104
proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica
luacutedicardquo
Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que
atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa
do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do
Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das
datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora
do Rosaacuterio sete de outubro
Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no
desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de
celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a
catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute
catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo
de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino
culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo
Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado
de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo
ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo
sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim
Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do
Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos
conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala
tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por
pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia
O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente
67
66
Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
105
A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da
festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de
Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA
festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra
atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do
entorno que vem para caacuterdquo68
Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico
momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades
vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que
buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees
culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis
possuem na memoacuteria local
Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior
representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem
papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que
se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade
pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose
queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha
fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de
natildeo ser idecircntica a si mesmardquo
As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado
durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas
e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o
passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio
Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade
Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar
69
68
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
106
Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos
com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na
cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a
santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes
seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou
simplesmente para festejar
31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia
A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no
Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo
Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao
Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de
cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e
deram origem agrave festa judaica de Pentecostes
O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que
celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os
apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo
surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs
(2000 p 24)
Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular
Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se
por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder
caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros
Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo
107
Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de
Janeiro durante o seacuteculo XIX
Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia
A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como
Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se
restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras
nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio
Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia
Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao
Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela
grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje
Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo
Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e
Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas
atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo
tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo
da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda
metade do seacuteculo XVIII
Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino
que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave
sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das
Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos
Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas
como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a
maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo
menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa
desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela
108
A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares
70
A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia
justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute
momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e
Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o
reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que
essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia
Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o
seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato
quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio
da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino
eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio
de Luziacircniardquo71
O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as
festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas
pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem
parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo
consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72
Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre
foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)
explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande
festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida
e cheiro de roupa novardquo
Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres
percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com
uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino
70
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014
109
Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo
caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja
quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo
Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade
contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de
Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa
A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade
73
As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo
Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras
pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na
realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela
pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura
localrdquo74
Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa
festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo
de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais
satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma
relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se
perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do
povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante
o ano
Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as
inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo
73
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014
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portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um
consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute
sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud
SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e
as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino
Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita
muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de
uma festa religiosardquo
A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em
relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade
fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a
comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas
de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um
movimento em torno do turismo cultural e religioso
Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do
Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos
mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida
Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo
uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano
aguardando a festa para comer esta especiaria
Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa
do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura
culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e
etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes
elementos
A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios
elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o
poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia
Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as
75
BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989
111
filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo
76
Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante
e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo
frito
A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa
77
Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito
assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute
preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa
demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio
imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo
construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham
para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-
se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas
Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os
foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua
realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz
ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A
partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados
ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade
Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que
organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa
Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968
apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar
com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia
oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do
76
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
112
festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com
os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78
Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade
Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela
primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo
nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e
organizaccedilatildeo das festividades na cidade
Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas
79
Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
78
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
113
Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia
80
80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-
o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013
114
Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil
haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes
e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento
cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela
modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi
suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo
O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e
durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de
Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no
municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes
Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos
tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro
fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes
com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas
outras coisas foram retiradasrdquo 81
As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que
constituem a festa do Divino
311 O Pouso
O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo
e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois
tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles
formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para
a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem
entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita
Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a
bandeira do Divino
Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha
81
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
115
todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente
82
Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na
entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo
catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando
elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas
incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se
tornarem demasiadamente mundanas
O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre
com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os
ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na
chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles
continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser
proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com
comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre
isso
Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente
83
A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as
folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais
autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de
descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um
povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a
82
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
116
cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que
acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo
Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe
84
Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009
Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009
Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves
festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se
mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que
ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute
que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo
84
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
117
Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas
tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada
eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute
tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo
312 A Catira
Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou
Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura
brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute
uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela
batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos
Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos
em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)
descreve a Catira como
A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel
A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo
Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA
2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no
meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua
expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em
dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves
vezes nas novenas ou no final da missardquo86
Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo
descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade
85
Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
118
A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)
87
Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009
O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e
assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as
geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator
constituinte de sua cultura
313 A Folia de Rua
As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e
constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes
em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias
constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico
brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia
87
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88
QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973
119
eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma
de preservaccedilatildeo da culturardquo89
A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro
ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de
visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e
entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com
muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na
cidade
Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda
90
Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como
demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos
excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter
outro significado que transcende o material
Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense
e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas
Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo
XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos
portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e
profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar
homenagens e saudarrdquo
O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros
elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como
aconteciam as folias de rua em Luziacircnia
Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros
89
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
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foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria
Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como
acontecem as folias em Luziacircnia
Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas
91
Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos
seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em
que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute
espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo
divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo
Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de
rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes
que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A
jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das
caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de
pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e
furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92
Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade
E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato
93
O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo
religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma
91
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92
Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees
eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos
de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso
Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar
94
Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo
intriacutenseco a festa
Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode
Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns
participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator
capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado
profano da festa que vem aumentando a cada ano
A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca
95
94
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
122
Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia
Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das
festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado
religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas
rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]
essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas
comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo
A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais
momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa
tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade
Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do
Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas
a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do
turismo local
314 As Cavalhadas
Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por
volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para
123
Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de
cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo
As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento
cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas
surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que
com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles
que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo
A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais
personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa
azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros
Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas
embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute
personagens mascarados que representam o povo
Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme
nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico
profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades
goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo
Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de
dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona
Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave
dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade
Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando
96
96
Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
124
A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do
estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos
anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe
uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas
fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e
mouros em Luziacircnia
315 Os Leilotildees
Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino
em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo
leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por
comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os
leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do
Divino
Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o
leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que
doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja
do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os
leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade
Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa
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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo
destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns
consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no
municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa
festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio
da Silva discorre sobre isso
As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio
98
Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas
caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente
que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e
com a formaccedilatildeo da sua identidade
Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios
histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um
forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o
que pode ser constatado durante a pesquisa
32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito
As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes
santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados
no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978
descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade
Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)
98
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
126
Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)
Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978
Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo
possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber
que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do
tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo
e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na
cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de
maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas
dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura
negra sendo considerados seus santos protetores
127
Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram
em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute
garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de
fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou
sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro
Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro
99
O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora
do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade
assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de
Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a
participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu
patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de
Luziacircnia
O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e
gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e
distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis
contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia
que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica
Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem
como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade
o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na
construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os
padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa
relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar
entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas
Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas
participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos
poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a
99
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
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que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de
haver pouco tempo que a festa vem se realizando
Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da
comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas
de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada
momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor
religioso ou lazer puramente dito
No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela
vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre
querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo
com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do
Rosaacuterio possui para ela
Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo
100
No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa
Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a
comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show
com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a
comemoraccedilatildeo
A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a
preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do
patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso
A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees
101
Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da
igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente
100
Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101
Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014
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na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste
local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros
Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e
intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso
da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando
cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso
A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees
musicais 102
O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a
organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o
estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior
essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos
com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103
Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua
fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a
igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa
Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104
Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)
quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos
tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo
essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os
moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas
Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo
seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos
Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao
longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de
puacuteblicos
102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104
Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014
130
Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral
105
A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair
benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada
pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de
dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso
A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento
106
Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a
economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a
movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa
tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na
cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o
numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia
do municiacutepiordquo107
Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute
um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo
eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo
e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial
algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio
Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade
Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para
105
Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106
Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107
Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014
131
que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea
108
Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas
tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se
constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria
comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de
contribuir para o turismo na cidade
Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico
109
A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia
tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como
apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para
aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na
comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a
preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem
patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria
comunidade
108
Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109
Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013
132
Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013
Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
110
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013
133
Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115
Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
136
As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas
sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se
concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia
possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as
igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo
fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)
ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo
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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116
Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua
identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma
comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer
novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito
do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam
atrativos turiacutesticos das cidades
As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de
hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos
formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar
uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se
consideram turistas
As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial
para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino
Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se
observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do
viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas
assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo
consideradas fortes tradiccedilotildees culturais
A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no
ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves
praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da
accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a
preservaccedilatildeo destes patrimocircnios
A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo
Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da
cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se
desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma
positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no
desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos
prestados
Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute
considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a
138
principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova
configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes
motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do
municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN
Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como
uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam
celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente
a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo
puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em
torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e
esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa
um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural
Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo
descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo
aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em
Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de
promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como
parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir
diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila
As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos
moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila
e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas
cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas
de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem
vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes
patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade
Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real
representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da
tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais
atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo
em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e
esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter
139
Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada
diardquo 117
Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se
perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que
compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado
de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de
casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba
desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de
proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos
todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido
Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui
valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo
Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela
importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los
atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses
Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute
importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade
agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados
aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui
O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que
aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel
como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e
assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos
negativos do que positivos para a cidade
A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo
colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute
pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns
participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que
para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se
tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os
envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico
117
Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014
140
O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que
isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os
recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm
potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e
sustentaacutevel
O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio
atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem
na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se
propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim
de toda a cidade
O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os
envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se
reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos
monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser
uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de
preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e
consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade
e da sociabilidaderdquo
Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos
vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos
sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais
sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e
social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das
populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em
uacuteltima instancia eacute praacutetica social
Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que
permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte
integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino
Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem
permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade
de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local
Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses
eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem
ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia
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VELOSO M Patrimocircnio imaterial memoacuteria coletiva e espaccedilo puacuteblico In TEIXEIRA J G LC GARCIA M V C GUSMAtildeO R (Org) Patrimocircnio Imaterial Performance Cultural e (Re)Tradicionalizaccedilatildeo 1ed Brasiacutelia 2004 v 1 p 31-36
VERGARA S Projetos e relatoacuterios de Pesquisa em Administraccedilatildeo 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2003
VIANNA L CR e TEIXEIRA J G L C Patrimocircnio Imaterial Performance e Identidade In CONCINNITAS Revista do Instituto de Artes da UERJ volume 1 numero 12 Rio de Janeiro julho de 2008
ZANIRATO S H Patrimocircnio para todos promoccedilatildeo e difusatildeo do uso puacuteblico do patrimocircnio cultural na cidade histoacuterica In Patrimocircnio e Memoacuteria Satildeo Paulo Unesp v 2 n 2 2006
PEREIRA B T S SILVA L F O PERINOTTO A R C Festejo de Satildeo Francisco anaacutelise sobre uma alternativa de desenvolvimento do Turismo Religioso em Parnaiacuteba (Piauiacute Brasil) Turismo amp Sociedade Curitiba v 4 n 2 p 363-380 outubro de 2011
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda da Cultura Popular e Tradicional Paris 1989 Disponiacutevel em lt httpportaliphangovbrportalbaixaFcdAnexodoid=261 gt Acesso em 27 de jun 2012
UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003 Disponiacutevel em lt httpportaliphangovbrportalbaixaFcdAnexodoid=271 gt Acesso em 27 de jun 2012
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APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas
relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento
turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao
curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da
Universidade de Brasiacutelia
Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua
colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato
voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees
solicitadas pelo pesquisador
Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e
mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os
resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse
trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada
Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo
Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB
carlawiccagmailcom
Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando
voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e
para a publicaccedilatildeo dos resultados
Luziacircnia _____ de _________________ de 2013
Assinatura do participante____________________________________________
Assinatura da pesquisadora___________________________________________
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APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1 Nome
2 Telefone
3 Profissatildeo
4 Idade
5 Estado Civil
6 Religiatildeo
7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos
Quais
9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos
patrimocircnios materiais de Luziacircnia
11 O que estas festas representam para vocecirc
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APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E
RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia
8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de
Luziacircnia
9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas
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APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO
UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA
CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO
Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e
religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da
cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e
aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades
histoacutericas como Luziacircnia
Perfil
1- Nome
2- Telefone
3- Profissatildeo
4- Idade
5- Estado Civil
6- Religiatildeo
7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade
8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade
9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o
desenvolvimento do turismo local
10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de
Luziacircnia
11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das
festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia