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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) CENTRO DE EXCELÊNCIA EM TURISMO (CET) MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO Carla Adriana Oliveira Silva AS FESTAS HISTÓRICAS E RELIGIOSAS DE LUZIÂNIA/GO ATUANDO NO DESENVOLVIMENTO DO POTENCIAL TURÍSTICO DA CIDADE. Brasília 2014

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Page 1: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) CENTRO DE EXCELÊNCIA EM ...repositorio.unb.br/...CarlaAdrianaOliveiraSilva.pdf · Figura 49 – Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa.....113

1

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)

MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Carla Adriana Oliveira Silva

AS FESTAS HISTOacuteRICAS E RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO ATUANDO NO

DESENVOLVIMENTO DO POTENCIAL TURIacuteSTICO DA CIDADE

Brasiacutelia

2014

1

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)

MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Carla Adriana Oliveira Silva

AS FESTAS HISTOacuteRICAS E RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO ATUANDO NO

DESENVOLVIMENTO DO POTENCIAL TURIacuteSTICO DA CIDADE

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado Profissional em Turismo da Universidade de Brasiacutelia como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de mestre

Orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Pereira Barroso

Brasiacutelia 2014

1

2

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)

MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Dissertaccedilatildeo de autoria de Carla Adriana Oliveira Silva intitulada As festas histoacutericas

e religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidade submetida ao Centro de Excelecircncia em Turismo da Universidade de Brasiacutelia

como parte dos requisitos necessaacuterios para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em

Turismo em 03072014 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo

assinada

____________________________________________________________

Profa Dra Eloiacutesa Pereira Barroso

Orientadora

CETUnB

____________________________________________________________

Profa Dra Cleacuteria Botecirclho da Costa

PPG-HistoacuteriaUnB

____________________________________________________________

Profa Dra Karina Dias

CETUnB

Suplente

____________________________________________________________

Profa Dra Neuza de Farias Arauacutejo

3

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia

e em especial ao meu filho Ian

Gabriel

4

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os

meus passos em busca do bem maior

Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e

pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada

Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo

acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em

busca de mais conhecimento

Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a

importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus

objetivos

Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo

ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig

Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram

unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando

mutuamente

Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes

por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento

que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta

dissertaccedilatildeo

Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo

estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo

Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises

nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona

Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha

do mestrado na minha cabeccedila

Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua

experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos

de maior dificuldade

5

Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com

sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas

fotografias

Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e

paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho

Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas

Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires

e Wilter Coelho

Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de

Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo

Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra

estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento

oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente

6

ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim

pode ser o comeccedilordquo

Ivy Baker Priest

7

RESUMO

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local

Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia

8

ABSTRACT

The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism

Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia

9

LISTA DE SIGLAS

CNT - Conselho Nacional de Turismo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

GO ndash Goiaacutes

OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo

PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

10

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figuras

Capiacutetulo 1

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da

Cultura 36

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa

da Cultura 36

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na

Casa da Cultura 36

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54

Capiacutetulo 2

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante

Antigamente 69

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81

Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

11

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do

Rosaacuterio 83

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83

Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do

Rosaacuterio 84

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94

Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94

Capiacutetulo 3

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em

2013 113

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116

12

Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133

Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133

Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134

Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela

cidade 134

Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135

Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135

Tabelas

Capiacutetulo 1

Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo

Cultural 50

Capiacutetulo 3

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98

13

SUMAacuteRIO

Dedicatoacuteria iii

Agradecimentos iv

Epiacutegrafe vi

Resumo vii

Abstract viii

Lista de Siglas ix

Lista de figuras e tabelas x

INTRODUCcedilAtildeO 15

CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23

11 A Cultura 25

12 O Patrimocircnio 30

121 O Patrimocircnio Imaterial 33

13 O Turismo 40

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43

132 O Turismo Cultural 46

133 O Turismo Religioso 50

CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO

CULTURAL 54

21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59

22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62

23 O Centro Histoacuterico 66

24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71

14

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76

242 Igreja do Rosaacuterio 80

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89

246 Praccedila Evangelino Meireles 91

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92

248 O Cristo Redentor 93

CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106

311 O Pouso 114

312 A Catira 117

313 A Folia de Rua 118

314 As Cavalhadas 122

315 Os Leilotildees 124

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE

LUZIAcircNIAGO 156

15

INTRODUCcedilAtildeO

Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo

teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos

materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de

tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo

dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade

Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como

primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim

surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados

nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos

governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de

reconhecimento da identidade e da cultura local

O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte

espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se

tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de

desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade

Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo

da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais

que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no

desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de

desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois

refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural

relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local

como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade

As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute

uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e

que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a

preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica

social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes

espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a

identidade da comunidade local

16

Diante desse fato surgem as seguintes questotildees

1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e

Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio

3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios

culturais materiais e imateriais da cidade

4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em

campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um

fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que

pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem

percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os

meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que

a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa

Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca

do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia

usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a

pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao

encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar

uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do

conhecimento

O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu

numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o

discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica

fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo

compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais

adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua

cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas

e preservadas

17

Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual

os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente

pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar

dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um

dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees

que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade

Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois

visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o

estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa

identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos

fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e

extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia

especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade

Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave

produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do

saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que

ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio

despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo

retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para

produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)

As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente

organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO

e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos

necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas

envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante

meacutetodo pois ela

Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica

socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que

participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de

mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de

estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias

profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)

18

A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado

(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e

estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas

muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de

conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da

gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)

A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da

pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao

problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os

principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida

da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de

perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo

foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo

desta dissertaccedilatildeo

Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas

bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram

fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos

dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa

qualitativa

[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em

texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande

quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os

dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de

forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados

(GIBBS 2009 p 24)

As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias

Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma

metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas

que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi

fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que

participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees

culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar

essa identidade perdida

19

Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas

etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha

utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais

etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a

preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo

a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos

neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das

principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais

atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das

entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que

convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de

laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo

Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a

cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o

contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua

contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia

Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias

perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado

Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como

representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de

moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas

tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem

na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o

desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio

Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser

classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais

podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes

valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos

pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das

entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a

assinatura de termo de consentimento

As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado

antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas

20

em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em

abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos

entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu

Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se

entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a

opiniatildeo de um puacuteblico mais variado

Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e

trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se

declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo

Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas

1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila

2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo

3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes

4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro

5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva

6- Estudante Karina da Silva

7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira

8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires

9- Jornalista Francyelle Rocha

10- Advogado Wilter Campos Coelho

Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir

dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas

essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo

com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas

elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia

da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e

tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as

mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc

O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como

explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e

reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo

foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas

21

agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para

os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos

referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa

Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa

extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa

de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de

tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de

conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de

preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o

perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs

capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram

uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma

discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro

apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio

Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No

segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do

patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o

turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma

discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como

o turismo cultural e o turismo religioso

O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa

pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos

e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro

histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo

local

No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste

estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as

manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas

festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o

patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um

espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio

22

conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto

essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias

alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de

Luziacircnia

Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o

turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento

e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura

como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece

como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como

um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo

23

I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO

A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo

em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo

natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores

puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira

e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles

podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia

Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo

dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se

apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem

falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular

novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta

que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por

parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico

entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local

Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura

deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o

futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a

gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que

cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se

constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e

vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se

tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e

patrimonial

A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das

cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees

populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico

como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)

O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo

1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC

jandez 2005 n19-20 p 126-153

24

de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo

Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos

constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes

patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados

a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo

conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo

das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)

[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas

Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis

fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente

estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por

meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a

estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos

deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e

vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que

ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes

motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo

A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa

positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua

conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas

tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira

(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado

da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do

desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de

um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos

setores da sociedade

A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se

apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os

25

turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas

proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um

determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo

Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre

tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser

observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem

o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades

tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova

mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e

contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel

11 A Cultura

A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos

possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se

destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no

campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido

desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou

o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos

crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia

(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que

integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990

p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens

Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo

Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que

esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam

baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as

26

sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem

entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem

Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou

seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa

totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais

Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da

cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma

totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos

culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O

autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar

relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto

que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a

pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um

sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los

separadamenterdquo

Para Clifford Geertz (2008 p 24)

[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade

Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais

vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem

ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um

dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro

Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a

sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo

que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua

compreensatildeo

ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca

2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958

3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940

27

de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)

Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e

recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua

identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura

constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo

Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura

eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e

imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo

Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse

trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia

que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos

importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo

Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas

compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou

esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o

patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra

que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos

simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a

anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da

seguinte forma

Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros

A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de

diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso

das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros

(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais

expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura

determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou

4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997

28

inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade

Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma

que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as

atividades da vidardquo

Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso

para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade

mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura

da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona

medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o

direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)

As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por

geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas

que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua

fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para

filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas

festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos

Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens

adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5

(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila

que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica

Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida

quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o

municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas

formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita

com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como

Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)

Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um

processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre

5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris

PUF 1955

29

(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre

essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma

espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no

imaginaacuterio

A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e

intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os

lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se

fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo

que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees

materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo

As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura

tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para

a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo

dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura

tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo

A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)

Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da

cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja

positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode

estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim

este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio

cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a

atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que

visitam a cidade

6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968

30

12 O Patrimocircnio

A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela

passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma

famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo

termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por

conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o

patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como

ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura

homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto

de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)

O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo

simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse

sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por

sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos

costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus

patrimocircnios

Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como

esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista

patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em

que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito

das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem

patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO

para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa

Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos

Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade

Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como

memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica

31

principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo

Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua

histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO

aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo

visual

Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de

patrimocircnio cultural eacute bastante ampla

Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos

Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais

tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos

tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo

artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da

sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento

do turismo

Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma

comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)

observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-

se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor

etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e

peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo

Para Fonseca (2009 p 21)

Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia

Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas

tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo

possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do

Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia

32

que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais

como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se

dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade

Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na

preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e

Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em

razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e

216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da

comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido

como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em

conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira

O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como

um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade

contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto

com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu

proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se

formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a

relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores

que justificam a preservaccedilatildeordquo

Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao

buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer

confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009

p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos

da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado

corresponde agrave ideia que se faz delerdquo

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute

muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos

ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas

nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de

33

identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que

refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza

Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo

Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do

tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na

consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente

construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel

que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure

preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma

maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a

parte na vida em sociedade

121 O Patrimocircnio Imaterial

O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos

20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade

realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo

de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos

estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um

dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio

cultural ndash IPHAN em 1937

Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN

O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)

34

Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua

classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma

Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []

visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees

mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio

cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e

praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode

ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social

A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa

classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud

ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como

O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais

O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas

praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos

de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas

e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais

coletivas)

Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo

menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela

proacutepria comunidade

Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em

relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa

distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando

que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de

estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo

reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional

7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho

executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo

id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011

35

No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa

Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os

patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial em quatro livros

1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de

fazer enraizados no cotidiano das comunidades

2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam

a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras

praacuteticas da vida social

3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees

literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas

4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios

praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais

coletivas

Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade

se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes

dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza

imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura

oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]

eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares

objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo

9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em

lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013

36

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

37

Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e

o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das

Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino

Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa

dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que

acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no

livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da

comunidade

O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora

tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos

responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte

do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela

sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui

que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que

um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade

(FONSECA 2009)

Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais

valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de

forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas

manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a

vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente

em mudanccedila

Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute

justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como

referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante

o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses

patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem

Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados

Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas

muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da

38

cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do

Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as

suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA

2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um

grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos

explicam o conceito de performance como

Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural

Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de

Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial

possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade

pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade

do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no

municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com

valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas

como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o

comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo

Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees

para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e

disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda

interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que

os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos

de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita

tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na

disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial

A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance

como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia

nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda

deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10

UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003

39

geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia

dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim

destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo

no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da

UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)

Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras

possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim

a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte

dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas

estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas

de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com

a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos

que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente

daquele que se encontra ameaccedilado

O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees

como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes

patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros

patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas

histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte

intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de

LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do

municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de

Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

40

13 O Turismo

O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que

dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se

faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a

compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004

p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno

Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por

prazer Uso depredaccedilatildeordquo

De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo

discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e

tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo

de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que

etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual

com a intenccedilatildeo de regressar

Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo

era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses

realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres

ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de

educaccedilatildeo e cultura

Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992

Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um

cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a

negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno

econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas

relaccedilotildees

Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica

institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo

e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute

uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo

11

BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995

41

com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e

negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade

O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno

social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural

O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)

Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial

tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo

somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do

Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo

vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se

consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento

socioeconocircmicordquo

De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e

afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER

1991 p 231

Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova

perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades

oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e

arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse

estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa

(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida

em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade

Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e

desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e

imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo

de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando

12

O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13

Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013

42

entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em

torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico

O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o

desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a

poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais

importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte

geradora de serviccedilos produtos emprego e renda

Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de

natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico

social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o

desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos

tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e

privados quanto ao planejamento territorial das cidades

Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz

respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo

Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a

competitividade do turismo

[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de

sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)

O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um

planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se

virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo

eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade

logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e

economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute

possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o

turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir

diversos setores de desenvolvimento

Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e

modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico

43

cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se

deslocarem

Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo

e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)

[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural

Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais

fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos

70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais

aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI

1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por

parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos

Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo

pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as

regiotildees que abrigam suas atividades

A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos

de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos

empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e

incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como

orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os

gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar

um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou

seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos

projetos e programas da poliacutetica de turismo

14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash

Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013

44

Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de

Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural

O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)

define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa

apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O

autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que

demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente

em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e

econocircmicos numa mesma perspectiva

Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de

Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de

forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo

com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos

turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o

futuro

Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu

patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono

deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o

desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes

patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria

Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute

fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a

sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos

fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a

falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e

autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da

importacircncia deste planejamento

Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)

Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem

um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann

45

(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de

gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do

nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a

economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das

comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas

religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a

economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo

sustentaacutevel para esta regiatildeo

A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus

comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos

em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo

da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas

de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os

visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve

causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor

nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento

de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade

Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)

Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus

residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale

ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da

sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute

que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo

Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave

organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das

festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse

processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo

do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios

46

132 O Turismo Cultural

O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro

natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)

afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados

tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com

maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica

reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo

Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade

de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo

vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)

O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do

Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de

elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais

valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008

p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a

ascensatildeo de um turismo cultural na cidade

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de

transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch

(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente

contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo

da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos

povosrdquo

Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia

tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey

(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que

compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui

lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud

CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais

de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos

impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo

No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo

(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser

47

valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de

pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute

traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como

O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)

O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a

preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos

Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado

como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo

para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos

culturais e sua memoacuteria socialrdquo

Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e

tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o

processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades

Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns

aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e

econocircmica para diversos setores

Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as

celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre

outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um

turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa

forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e

desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um

turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do

descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo

que eacute seu

De acordo com Pires (2001)

15

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

48

ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)

Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de

viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas

histoacutericas

Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo

turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de

interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida

moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se

importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o

turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)

[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)

A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas

comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de

pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como

nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado

ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em

museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo

Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um

planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o

desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade

Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar

estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da

identidade local

Homi Bhabha diz que

49

O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)

Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees

no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade

O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio

do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da

cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam

como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior

representaccedilatildeo turiacutestica satildeo

1- Turismo Ciacutevico

2- Turismo Religioso

3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico

4- Turismo Eacutetnico

5- Turismo Cinematograacutefico

6- Turismo Arqueoloacutegico

7- Turismo Gastronocircmico

8- Enoturismo

9- Turismo Ferroviaacuterio

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de

serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo

cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo

de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de

serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos

50

Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010

Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as

viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto

que seraacute discutido a seguir

133 O Turismo Religioso

O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos

vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais

51

cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura

poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16

Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este

tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento

em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De

acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333

com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de

Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo

Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas

atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em

espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo

viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno

ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por

bull Peregrinaccedilotildees e romarias

bull Retiros espirituais

bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso

bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis

bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios

terreiros)

bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros

As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso

procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por

valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para

estimular as viagens como afirma Onfray (2009)

ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)

16

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014

52

Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista

que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista

tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele

busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual

A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o

turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos

em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p

3)

Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e

agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a

santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista

obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de

igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas

torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica

De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e

PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o

prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas

conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo

Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o

candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero

de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho

de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas

religiosos

No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os

destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no

Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em

Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR

1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito

Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo

religioso

17

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18

CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003

53

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro

19

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014

20

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

21

19

Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20

Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

54

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida

Fonte Site Conhecer22

Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de

atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a

receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a

caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)

As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum

segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute

Beni (1997) definiu o turismo religioso como

Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)

O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas

viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os

equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade

varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees

Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas

de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como

nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite

vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade

22

Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014

55

O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves

festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da

cultura luzianiense

Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as

mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a

diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo

A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a

cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana

Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica

nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais

de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por

ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte

delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p

27)

Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de

pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no

planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio

Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui

igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair

turistas para a cidade

56

II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL

Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes

entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto

de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio

histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas

manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial

a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)

O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que

possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas

Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a

torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute

que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo

fortemente influenciados por estas cidades

Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746

quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo

assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando

Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e

fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o

arraial se desenvolveria

Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a

Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia

constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade

Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de

partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa

Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas

do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da

Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante

predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas

de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)

23

Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014

57

No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia

aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo

ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do

seu potencial turiacutestico

Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo

sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda

compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso

o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma

cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do

calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e

menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu

valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como

de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local

Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material

jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e

Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel

Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade

incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo

Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de

abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos

por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar

valores a estes patrimocircnios

Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo

do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo

IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele

se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade

luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios

Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo

que possui significado para a comunidade

As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva

com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)

24

Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014

58

afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a

constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas

brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as

cidades histoacutericas como

Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)

Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade

histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de

Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura

fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo

de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade

A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe

concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do

Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais

diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos

sociais espaciais e culturais de toda ordem

Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por

tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta

pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de

Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense

possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como

o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade

como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta

identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as

culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural

Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado

ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural

Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash

UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular

59

considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e

que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes

e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)

Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas

tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva

aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e

afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de

cultura

A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial

como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para

alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial

carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se

importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem

para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado

ficando fadadas ao desaparecimento

Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio

histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio

Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que

possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre

histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a

necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da

interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo

21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO

Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante

Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na

regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro

que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em

homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel

(1994)

60

Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)

Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado

da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil

pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a

histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios

momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas

das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas

restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros

de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25

O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram

para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a

populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora

essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na

deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais

Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente

em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da

cidade

As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro

urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este

processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave

paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as

muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares

do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte

Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de

suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal

Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade

25

Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011

61

Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando

Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a

adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo

Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia

[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)

O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o

surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia

Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que

ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo

com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses

uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora

com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de

Luziacircnia

Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)

Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo

refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura

As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo

desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das

manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na

cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz

necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram

presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita

ser preservado

62

22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor

O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro

no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a

posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos

mais variados lugares do paiacutes

De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes

quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014

28

Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos

80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN

(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta

explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais

quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama

e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental

em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629

26

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27

Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28

Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29

De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993

63

Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de

3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e

proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e

o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o

cargo no inicio de 2013

A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e

desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens

e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o

intercambio com outras cidades30

Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em

muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o

seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo

do meio ambiente e do patrimocircnio cultural

A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto

Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como

Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)

O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de

outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos

baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e

da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o

desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o

desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua

conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras

No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de

interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro

histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30

Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014

64

artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e

cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira

convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo

econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e

histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser

alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a

proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e

econocircmicos agrave cidade

Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14

fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a

gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre

a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial

urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual

infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua

do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico

Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e

privados o qual tambeacutem natildeo existe

O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento

econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a

entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se

mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo

O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne

realidade mas natildeo depende soacute da gente31

Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos

estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as

accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a

ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a

preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo

31

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

65

cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo

sobre a importacircncia das festas

A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia

32

Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16

inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica

urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e

comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se

realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito

Santo

O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo

dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de

interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das

suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do

patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas

admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e

arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia

Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que

deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo

vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal

O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a

tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no

centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto

de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes

nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso

podia ser inviabilizado neacuterdquo33

32

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

66

O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de

transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de

sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo

localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre

outros o que pouco se vecirc

O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem

trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade

Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas

34

O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de

projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem

que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar

as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio

cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver

impedido de fazecirc-lo

Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o

municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um

novo plano

O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de

guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir

do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua

aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio

muito melhor

23 O Centro Histoacuterico

Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves

festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no

desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio

34

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

67

No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o

tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do

turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo

apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma

representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)

Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo

sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que

conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo

Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam

representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a

partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e

explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo

Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo

concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a

partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem

traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria

e compreensatildeo da sua cultura

Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma

como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem

ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo

ainda resistem agraves accedilotildees do tempo

Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante

intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que

A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)

A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma

intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio

Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica

central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo

68

econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas

setorialmenterdquo

Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do

centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse

espaccedilo

Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de

desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o

fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna

referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles

que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a

memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura

Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade

das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles

Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas

rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a

serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus

moradores e como espaccedilo de memoacuteria

Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades

seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria

Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que

a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se

transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a

estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela

partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde

vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo

Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos

da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo

que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que

foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e

culturalrdquo

Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e

preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa

(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos

69

Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)

Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e

valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute

importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras

tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das

suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato

viveram a histoacuteria

Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no

espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila

da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e

estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a

participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as

manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e

consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais

e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

70

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

71

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia

A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente

perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e

intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade

principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da

cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o

Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por

considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica

as manifestaccedilotildees populares etc

Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do

municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de

fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que

tambeacutem herdou dos seus colonizadores

Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de

comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de

sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho

guariroba hortaliccedilas e aguardente

Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce

tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem

portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por

escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de

72

hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de

pai para filho

Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta

que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade

Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende

da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos

Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de

registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute

estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo

eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de

marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a

especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios

produtores do doce

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

36

35

Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014

73

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014

37

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

38

O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute

retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas

de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense

37

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014

74

Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a

Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura

As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo

expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e

momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo

apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais

presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares

Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor

potencial turiacutestico

O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e

o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo

patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas

ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor

O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma

legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico

Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo

39

Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por

sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por

exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar

aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela

forma como foi feito

Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua

potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma

construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no

meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao

presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se

encontram diversos pertences de JK

39

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

75

Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi

completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais

e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda

estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa

judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio

material de Goiaacutes41

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo

42

Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis

fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade

Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave

hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis

sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns

especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo

e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico

O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees

agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos

O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem

encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica

40

Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42

Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014

76

Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

43

Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial

para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no

centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do

turismo na cidade

Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do

Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco

inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas

eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados

com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro

histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve

levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia

A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo

religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e

negros natildeo se misturavam

Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs

Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi

inaugurada em 1767 mesmo inacabada

Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa

ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila

com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta

de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)

43

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44

Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013

77

Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)

As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre

esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida

para mais tarde ser reconstruiacuteda

Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial

incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma

imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e

foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa

que foi modificada

Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida

diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees

comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo

A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a

responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito

Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de

onde partem as procissotildees nos dias de festa

78

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

79

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

80

242 A Igreja do Rosaacuterio

A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos

Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por

Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e

escravos

Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma

memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de

Luziacircniardquo

Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a

manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem

tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como

conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente

pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute

O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no

municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529

pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a

numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem

menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria

o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS

1925)

A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da

regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central

foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um

balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam

para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e

curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada

para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte

Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por

algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei

dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura

como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar

e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos

para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da

81

retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja

Matriz de Santa Luzia

A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que

esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os

cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa

ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou

familiarrdquo

A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo

Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980

Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de

Goiaacutes e a Prefeitura Municipal

De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da

Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes

Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)

A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte

dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela

fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo

das missas

Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

82

Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

83

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013

45

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

45

Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

84

Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro

A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo

histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu

da cidade

Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural

com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande

representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem

da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares

O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi

fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este

nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem

85

ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e

professor de Direito46

A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e

barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal

voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se

destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo

de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem

hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores

Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e

constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura

Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos

47

A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos

depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos

Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por

todos os cocircmodos

A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de

semana e feriados

46

Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

86

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

87

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

88

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles

O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e

Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e

ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a

intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central

Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e

conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes

No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em

oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto

Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles

as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel

O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui

verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados

e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio

O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de

14h30min agraves 17h30min

89

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo

A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs

Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em

que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram

fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para

paacutessaros e outros pequenos animais

Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais

conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em

azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade

de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja

do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos

Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um

deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da

rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes

48

Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014

90

Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os

dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras

da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)

Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos

drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham

destruindo a obra

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

91

Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

246 Praccedila Evangelino Meireles

A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo

modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros

ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo

um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute

tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas

Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado

e inuacutemeras drogarias

Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas

rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio

92

Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa

responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua

com alguns espaccedilos interditados

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014

50

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees

O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute

uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para

Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008

O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas

independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e

externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com

cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet

49

Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50

Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014

93

O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como

encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura

Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

248 O Cristo Redentor

Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo

agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua

estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se

94

encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da

cidade

Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

95

III AS FESTAS RELIGIOSAS

As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a

antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram

algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum

tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo

dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais

Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento

de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a

vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em

homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida

das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas

de muita importacircncia para as comunidades

As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)

Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na

formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que

ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma

identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional

ainda inexistenterdquo

O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa

influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele

Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira

O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como

51

JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005

96

O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar

Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de

registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram

interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a

comunidade daacute agrave sua cidade

O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm

3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo

como

[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)

Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute

foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das

Celebraccedilotildees estatildeo53

1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute

2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso

3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte

4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo

5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA

6- A Festa do Divino em ParatyRJ

7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis

Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas

religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das

52

Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53

Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014

97

comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que

os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo

No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto

a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio

imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele

local

Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar

presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois

enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de

correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada

pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na

fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as

festas retomam

Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas

54

Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas

celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os

anos

Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55

Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos

religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo

portuguesa e da feacute catoacutelica

Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte

influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao

patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento

turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam

milhares de pessoas por todo o mundo 54

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014

98

Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas

podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES

2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais

celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a

experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se

objetos do turismo

Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e

a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os

rituais permanecem iguais

A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que

acontecem no Brasil durante todo o ano

FESTA ESTADO

Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE

Festa dos Santos Reis PE

Festa do Bonfim BA

Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES

Festa de Iemanjaacute BA

Semana Santa -

Procissatildeo do Fogareacuteu GO

Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE

Festa de Nossa Senhora da Penha ES

Festa de Satildeo Benedito MT

Festa de Nossa Senhora da Piedade AP

Festa de Nossa Senhora das Neves PB

Romaria de Bom Jesus da Lapa BA

Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA

Festa do Rosaacuterio MGGO

Ciacuterio de Nazareacute PA

Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP

Festa do Padre Ciacutecero CE

Festa de Santa Baacuterbara BA

56

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

99

Festa de Nossa Senhora do Rocio PR

Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo

57

Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas

com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as

celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de

pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do

Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

58

57

Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

100

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna

59

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado

60

O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento

quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A

proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis

e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os

participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees

59

Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60

Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014

101

ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do

Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade

juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61

As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na

construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor

sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que

A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais

62

Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia

ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens

potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda

haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas

uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem

agraves festas tradicionais

Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e

Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo

formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o

reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e

espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de

reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas

praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa

Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos

A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre

esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute

As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade

61

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

102

religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel

63

A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da

estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando

diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de

geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos

foliotildees64

O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas

religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e

para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de

viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da

histoacuteria da cidade65

Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de

Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas

religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento

importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees

culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo

dos anos

Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como

parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a

economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p

10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais

Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada

Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que

estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances

63

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014

103

humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas

ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos

seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda

estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende

da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de

respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em

Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos

Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo

histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem

preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber

popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo

humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo

Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que

veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos

todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta

que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as

ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos

mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa

orgiardquo

Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por

isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas

tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos

culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando

valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute

natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de

edificaccedilotildees e peccedilas de museus

A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das

expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de

movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as

o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios

aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que

ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em

104

proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica

luacutedicardquo

Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que

atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa

do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do

Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das

datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora

do Rosaacuterio sete de outubro

Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no

desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de

celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a

catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute

catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo

de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino

culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo

Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado

de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo

ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo

sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim

Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do

Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos

conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala

tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por

pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia

O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente

67

66

Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

105

A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da

festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de

Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA

festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra

atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do

entorno que vem para caacuterdquo68

Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico

momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades

vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que

buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees

culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis

possuem na memoacuteria local

Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior

representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem

papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que

se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade

pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose

queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha

fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de

natildeo ser idecircntica a si mesmardquo

As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado

durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas

e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o

passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio

Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade

Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar

69

68

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

106

Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos

com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na

cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a

santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes

seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou

simplesmente para festejar

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia

A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no

Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao

Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de

cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e

deram origem agrave festa judaica de Pentecostes

O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que

celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os

apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo

surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs

(2000 p 24)

Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular

Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se

por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder

caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros

Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo

107

Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de

Janeiro durante o seacuteculo XIX

Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia

A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como

Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se

restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras

nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio

Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia

Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao

Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela

grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje

Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo

Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e

Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas

atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo

tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo

da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda

metade do seacuteculo XVIII

Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino

que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave

sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das

Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos

Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas

como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a

maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo

menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa

desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela

108

A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares

70

A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia

justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute

momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e

Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o

reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que

essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia

Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o

seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato

quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio

da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino

eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio

de Luziacircniardquo71

O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as

festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas

pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem

parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo

consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72

Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre

foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)

explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande

festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida

e cheiro de roupa novardquo

Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres

percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com

uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino

70

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

109

Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo

caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja

quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo

Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade

contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de

Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa

A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade

73

As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo

Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras

pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na

realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela

pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura

localrdquo74

Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa

festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo

de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais

satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma

relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se

perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do

povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante

o ano

Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as

inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo

73

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014

110

portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um

consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute

sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud

SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e

as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino

Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita

muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de

uma festa religiosardquo

A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em

relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade

fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a

comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas

de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um

movimento em torno do turismo cultural e religioso

Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do

Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos

mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida

Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo

uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano

aguardando a festa para comer esta especiaria

Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa

do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura

culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e

etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes

elementos

A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios

elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o

poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia

Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as

75

BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989

111

filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo

76

Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante

e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo

frito

A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa

77

Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito

assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute

preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa

demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio

imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo

construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham

para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-

se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas

Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os

foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua

realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz

ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A

partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados

ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade

Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que

organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa

Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968

apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar

com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia

oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do

76

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

112

festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com

os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78

Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade

Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela

primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo

nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo das festividades na cidade

Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas

79

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

78

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

113

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia

80

80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-

o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013

114

Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil

haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes

e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento

cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela

modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi

suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo

O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e

durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de

Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no

municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes

Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos

tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro

fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes

com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas

outras coisas foram retiradasrdquo 81

As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que

constituem a festa do Divino

311 O Pouso

O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo

e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois

tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles

formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para

a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem

entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita

Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a

bandeira do Divino

Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha

81

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

115

todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente

82

Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na

entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo

catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando

elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas

incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se

tornarem demasiadamente mundanas

O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre

com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os

ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na

chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles

continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser

proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com

comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre

isso

Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente

83

A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as

folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais

autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de

descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um

povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a

82

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

116

cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que

acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo

Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe

84

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009

Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves

festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se

mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que

ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute

que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo

84

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

117

Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas

tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada

eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute

tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo

312 A Catira

Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou

Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura

brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute

uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela

batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos

Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos

em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)

descreve a Catira como

A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel

A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo

Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA

2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no

meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua

expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em

dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves

vezes nas novenas ou no final da missardquo86

Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo

descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade

85

Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

118

A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)

87

Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009

O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e

assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as

geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator

constituinte de sua cultura

313 A Folia de Rua

As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e

constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes

em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias

constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico

brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia

87

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88

QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973

119

eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma

de preservaccedilatildeo da culturardquo89

A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro

ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de

visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e

entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com

muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na

cidade

Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda

90

Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como

demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos

excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter

outro significado que transcende o material

Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense

e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas

Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo

XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos

portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e

profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar

homenagens e saudarrdquo

O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros

elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como

aconteciam as folias de rua em Luziacircnia

Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros

89

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

120

foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria

Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como

acontecem as folias em Luziacircnia

Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas

91

Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos

seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em

que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute

espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo

divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo

Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de

rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes

que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A

jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das

caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de

pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e

furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92

Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade

E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato

93

O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo

religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma

91

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92

Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

121

que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees

eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos

de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso

Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar

94

Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo

intriacutenseco a festa

Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode

Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns

participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator

capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado

profano da festa que vem aumentando a cada ano

A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca

95

94

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

122

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das

festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado

religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas

rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]

essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas

comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo

A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais

momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa

tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade

Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do

Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas

a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do

turismo local

314 As Cavalhadas

Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por

volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para

123

Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de

cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo

As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento

cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas

surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que

com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles

que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo

A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e

Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais

personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa

azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros

Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas

embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute

personagens mascarados que representam o povo

Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme

nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico

profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades

goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo

Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de

dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona

Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave

dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade

Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando

96

96

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

124

A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do

estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos

anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe

uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas

fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e

mouros em Luziacircnia

315 Os Leilotildees

Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino

em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo

leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por

comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os

leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do

Divino

Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o

leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que

doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja

do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os

leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade

Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa

97

97

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

125

Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo

destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns

consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no

municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa

festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio

da Silva discorre sobre isso

As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio

98

Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas

caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente

que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e

com a formaccedilatildeo da sua identidade

Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios

histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um

forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o

que pode ser constatado durante a pesquisa

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes

santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados

no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978

descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade

Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)

98

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

126

Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978

Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo

possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber

que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do

tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo

e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na

cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de

maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas

dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura

negra sendo considerados seus santos protetores

127

Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram

em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute

garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de

fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou

sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro

Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro

99

O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora

do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade

assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de

Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a

participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu

patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de

Luziacircnia

O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e

gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e

distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis

contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia

que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica

Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem

como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade

o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na

construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os

padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa

relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar

entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas

Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas

participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos

poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a

99

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

128

que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de

haver pouco tempo que a festa vem se realizando

Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da

comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas

de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada

momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor

religioso ou lazer puramente dito

No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela

vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre

querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo

com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do

Rosaacuterio possui para ela

Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo

100

No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa

Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a

comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show

com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a

comemoraccedilatildeo

A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a

preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do

patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso

A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees

101

Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da

igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente

100

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

129

na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste

local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros

Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e

intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso

da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando

cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso

A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees

musicais 102

O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a

organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o

estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior

essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos

com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103

Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua

fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a

igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa

Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104

Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)

quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos

tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo

essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os

moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo

seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos

Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao

longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de

puacuteblicos

102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

130

Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral

105

A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair

benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada

pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de

dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso

A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento

106

Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a

economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a

movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa

tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na

cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o

numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia

do municiacutepiordquo107

Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute

um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo

eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo

e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial

algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio

Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade

Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para

105

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014

131

que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

108

Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas

tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se

constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria

comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de

contribuir para o turismo na cidade

Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico

109

A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia

tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como

apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para

aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na

comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a

preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem

patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria

comunidade

108

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013

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Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013

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Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas

sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se

concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia

possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as

igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo

fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)

ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo

116

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116

Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua

identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma

comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer

novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito

do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam

atrativos turiacutesticos das cidades

As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de

hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos

formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar

uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se

consideram turistas

As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial

para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino

Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se

observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do

viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas

assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo

consideradas fortes tradiccedilotildees culturais

A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no

ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves

praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da

accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a

preservaccedilatildeo destes patrimocircnios

A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da

cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se

desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma

positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no

desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos

prestados

Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute

considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a

138

principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova

configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes

motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do

municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN

Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como

uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam

celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente

a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo

puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em

torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e

esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa

um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural

Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo

descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo

aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em

Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de

promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como

parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir

diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila

As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos

moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila

e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas

cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas

de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem

vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes

patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade

Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real

representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da

tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais

atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo

em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e

esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter

139

Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada

diardquo 117

Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se

perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que

compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado

de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de

casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba

desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de

proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos

todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido

Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui

valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo

Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela

importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los

atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses

Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute

importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade

agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados

aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui

O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que

aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel

como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e

assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos

negativos do que positivos para a cidade

A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo

colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute

pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns

participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que

para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se

tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os

envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico

117

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

140

O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que

isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os

recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm

potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e

sustentaacutevel

O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio

atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem

na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se

propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim

de toda a cidade

O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os

envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se

reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos

monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser

uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de

preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e

consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade

e da sociabilidaderdquo

Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos

vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos

sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais

sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e

social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das

populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em

uacuteltima instancia eacute praacutetica social

Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que

permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte

integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino

Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem

permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade

de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local

Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses

eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem

ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia

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152

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153

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao

curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da

Universidade de Brasiacutelia

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua

colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato

voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees

solicitadas pelo pesquisador

Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e

mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os

resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse

trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada

Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo

Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB

carlawiccagmailcom

Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando

voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e

para a publicaccedilatildeo dos resultados

Luziacircnia _____ de _________________ de 2013

Assinatura do participante____________________________________________

Assinatura da pesquisadora___________________________________________

154

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1 Nome

2 Telefone

3 Profissatildeo

4 Idade

5 Estado Civil

6 Religiatildeo

7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos

Quais

9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos

patrimocircnios materiais de Luziacircnia

11 O que estas festas representam para vocecirc

155

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de

Luziacircnia

9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas

156

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o

desenvolvimento do turismo local

10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de

Luziacircnia

11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das

festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia

Page 2: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) CENTRO DE EXCELÊNCIA EM ...repositorio.unb.br/...CarlaAdrianaOliveiraSilva.pdf · Figura 49 – Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa.....113

1

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)

MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Carla Adriana Oliveira Silva

AS FESTAS HISTOacuteRICAS E RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO ATUANDO NO

DESENVOLVIMENTO DO POTENCIAL TURIacuteSTICO DA CIDADE

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado Profissional em Turismo da Universidade de Brasiacutelia como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de mestre

Orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Pereira Barroso

Brasiacutelia 2014

1

2

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)

MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Dissertaccedilatildeo de autoria de Carla Adriana Oliveira Silva intitulada As festas histoacutericas

e religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidade submetida ao Centro de Excelecircncia em Turismo da Universidade de Brasiacutelia

como parte dos requisitos necessaacuterios para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em

Turismo em 03072014 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo

assinada

____________________________________________________________

Profa Dra Eloiacutesa Pereira Barroso

Orientadora

CETUnB

____________________________________________________________

Profa Dra Cleacuteria Botecirclho da Costa

PPG-HistoacuteriaUnB

____________________________________________________________

Profa Dra Karina Dias

CETUnB

Suplente

____________________________________________________________

Profa Dra Neuza de Farias Arauacutejo

3

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia

e em especial ao meu filho Ian

Gabriel

4

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os

meus passos em busca do bem maior

Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e

pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada

Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo

acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em

busca de mais conhecimento

Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a

importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus

objetivos

Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo

ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig

Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram

unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando

mutuamente

Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes

por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento

que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta

dissertaccedilatildeo

Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo

estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo

Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises

nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona

Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha

do mestrado na minha cabeccedila

Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua

experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos

de maior dificuldade

5

Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com

sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas

fotografias

Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e

paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho

Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas

Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires

e Wilter Coelho

Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de

Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo

Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra

estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento

oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente

6

ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim

pode ser o comeccedilordquo

Ivy Baker Priest

7

RESUMO

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local

Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia

8

ABSTRACT

The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism

Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia

9

LISTA DE SIGLAS

CNT - Conselho Nacional de Turismo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

GO ndash Goiaacutes

OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo

PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

10

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figuras

Capiacutetulo 1

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da

Cultura 36

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa

da Cultura 36

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na

Casa da Cultura 36

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54

Capiacutetulo 2

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante

Antigamente 69

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81

Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

11

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do

Rosaacuterio 83

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83

Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do

Rosaacuterio 84

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94

Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94

Capiacutetulo 3

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em

2013 113

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116

12

Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133

Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133

Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134

Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela

cidade 134

Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135

Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135

Tabelas

Capiacutetulo 1

Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo

Cultural 50

Capiacutetulo 3

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98

13

SUMAacuteRIO

Dedicatoacuteria iii

Agradecimentos iv

Epiacutegrafe vi

Resumo vii

Abstract viii

Lista de Siglas ix

Lista de figuras e tabelas x

INTRODUCcedilAtildeO 15

CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23

11 A Cultura 25

12 O Patrimocircnio 30

121 O Patrimocircnio Imaterial 33

13 O Turismo 40

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43

132 O Turismo Cultural 46

133 O Turismo Religioso 50

CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO

CULTURAL 54

21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59

22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62

23 O Centro Histoacuterico 66

24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71

14

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76

242 Igreja do Rosaacuterio 80

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89

246 Praccedila Evangelino Meireles 91

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92

248 O Cristo Redentor 93

CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106

311 O Pouso 114

312 A Catira 117

313 A Folia de Rua 118

314 As Cavalhadas 122

315 Os Leilotildees 124

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE

LUZIAcircNIAGO 156

15

INTRODUCcedilAtildeO

Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo

teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos

materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de

tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo

dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade

Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como

primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim

surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados

nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos

governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de

reconhecimento da identidade e da cultura local

O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte

espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se

tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de

desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade

Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo

da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais

que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no

desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de

desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois

refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural

relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local

como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade

As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute

uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e

que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a

preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica

social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes

espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a

identidade da comunidade local

16

Diante desse fato surgem as seguintes questotildees

1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e

Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio

3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios

culturais materiais e imateriais da cidade

4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em

campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um

fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que

pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem

percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os

meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que

a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa

Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca

do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia

usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a

pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao

encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar

uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do

conhecimento

O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu

numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o

discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica

fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo

compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais

adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua

cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas

e preservadas

17

Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual

os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente

pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar

dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um

dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees

que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade

Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois

visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o

estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa

identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos

fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e

extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia

especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade

Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave

produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do

saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que

ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio

despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo

retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para

produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)

As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente

organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO

e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos

necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas

envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante

meacutetodo pois ela

Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica

socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que

participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de

mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de

estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias

profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)

18

A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado

(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e

estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas

muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de

conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da

gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)

A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da

pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao

problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os

principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida

da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de

perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo

foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo

desta dissertaccedilatildeo

Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas

bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram

fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos

dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa

qualitativa

[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em

texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande

quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os

dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de

forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados

(GIBBS 2009 p 24)

As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias

Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma

metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas

que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi

fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que

participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees

culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar

essa identidade perdida

19

Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas

etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha

utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais

etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a

preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo

a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos

neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das

principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais

atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das

entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que

convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de

laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo

Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a

cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o

contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua

contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia

Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias

perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado

Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como

representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de

moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas

tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem

na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o

desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio

Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser

classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais

podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes

valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos

pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das

entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a

assinatura de termo de consentimento

As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado

antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas

20

em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em

abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos

entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu

Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se

entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a

opiniatildeo de um puacuteblico mais variado

Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e

trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se

declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo

Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas

1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila

2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo

3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes

4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro

5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva

6- Estudante Karina da Silva

7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira

8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires

9- Jornalista Francyelle Rocha

10- Advogado Wilter Campos Coelho

Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir

dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas

essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo

com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas

elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia

da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e

tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as

mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc

O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como

explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e

reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo

foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas

21

agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para

os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos

referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa

Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa

extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa

de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de

tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de

conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de

preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o

perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs

capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram

uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma

discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro

apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio

Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No

segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do

patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o

turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma

discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como

o turismo cultural e o turismo religioso

O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa

pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos

e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro

histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo

local

No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste

estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as

manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas

festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o

patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um

espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio

22

conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto

essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias

alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de

Luziacircnia

Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o

turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento

e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura

como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece

como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como

um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo

23

I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO

A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo

em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo

natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores

puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira

e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles

podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia

Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo

dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se

apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem

falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular

novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta

que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por

parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico

entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local

Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura

deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o

futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a

gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que

cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se

constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e

vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se

tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e

patrimonial

A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das

cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees

populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico

como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)

O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo

1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC

jandez 2005 n19-20 p 126-153

24

de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo

Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos

constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes

patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados

a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo

conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo

das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)

[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas

Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis

fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente

estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por

meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a

estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos

deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e

vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que

ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes

motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo

A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa

positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua

conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas

tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira

(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado

da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do

desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de

um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos

setores da sociedade

A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se

apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os

25

turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas

proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um

determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo

Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre

tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser

observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem

o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades

tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova

mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e

contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel

11 A Cultura

A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos

possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se

destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no

campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido

desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou

o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos

crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia

(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que

integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990

p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens

Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo

Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que

esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam

baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as

26

sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem

entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem

Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou

seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa

totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais

Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da

cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma

totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos

culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O

autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar

relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto

que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a

pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um

sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los

separadamenterdquo

Para Clifford Geertz (2008 p 24)

[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade

Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais

vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem

ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um

dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro

Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a

sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo

que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua

compreensatildeo

ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca

2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958

3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940

27

de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)

Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e

recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua

identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura

constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo

Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura

eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e

imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo

Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse

trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia

que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos

importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo

Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas

compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou

esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o

patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra

que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos

simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a

anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da

seguinte forma

Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros

A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de

diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso

das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros

(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais

expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura

determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou

4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997

28

inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade

Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma

que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as

atividades da vidardquo

Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso

para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade

mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura

da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona

medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o

direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)

As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por

geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas

que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua

fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para

filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas

festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos

Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens

adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5

(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila

que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica

Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida

quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o

municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas

formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita

com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como

Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)

Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um

processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre

5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris

PUF 1955

29

(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre

essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma

espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no

imaginaacuterio

A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e

intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os

lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se

fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo

que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees

materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo

As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura

tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para

a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo

dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura

tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo

A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)

Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da

cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja

positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode

estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim

este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio

cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a

atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que

visitam a cidade

6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968

30

12 O Patrimocircnio

A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela

passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma

famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo

termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por

conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o

patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como

ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura

homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto

de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)

O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo

simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse

sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por

sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos

costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus

patrimocircnios

Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como

esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista

patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em

que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito

das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem

patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO

para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa

Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos

Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade

Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como

memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica

31

principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo

Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua

histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO

aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo

visual

Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de

patrimocircnio cultural eacute bastante ampla

Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos

Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais

tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos

tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo

artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da

sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento

do turismo

Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma

comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)

observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-

se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor

etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e

peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo

Para Fonseca (2009 p 21)

Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia

Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas

tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo

possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do

Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia

32

que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais

como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se

dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade

Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na

preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e

Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em

razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e

216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da

comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido

como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em

conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira

O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como

um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade

contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto

com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu

proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se

formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a

relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores

que justificam a preservaccedilatildeordquo

Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao

buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer

confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009

p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos

da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado

corresponde agrave ideia que se faz delerdquo

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute

muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos

ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas

nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de

33

identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que

refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza

Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo

Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do

tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na

consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente

construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel

que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure

preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma

maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a

parte na vida em sociedade

121 O Patrimocircnio Imaterial

O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos

20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade

realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo

de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos

estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um

dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio

cultural ndash IPHAN em 1937

Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN

O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)

34

Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua

classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma

Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []

visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees

mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio

cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e

praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode

ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social

A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa

classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud

ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como

O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais

O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas

praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos

de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas

e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais

coletivas)

Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo

menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela

proacutepria comunidade

Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em

relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa

distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando

que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de

estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo

reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional

7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho

executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo

id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011

35

No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa

Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os

patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial em quatro livros

1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de

fazer enraizados no cotidiano das comunidades

2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam

a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras

praacuteticas da vida social

3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees

literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas

4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios

praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais

coletivas

Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade

se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes

dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza

imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura

oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]

eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares

objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo

9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em

lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013

36

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

37

Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e

o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das

Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino

Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa

dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que

acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no

livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da

comunidade

O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora

tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos

responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte

do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela

sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui

que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que

um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade

(FONSECA 2009)

Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais

valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de

forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas

manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a

vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente

em mudanccedila

Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute

justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como

referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante

o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses

patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem

Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados

Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas

muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da

38

cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do

Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as

suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA

2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um

grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos

explicam o conceito de performance como

Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural

Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de

Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial

possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade

pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade

do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no

municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com

valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas

como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o

comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo

Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees

para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e

disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda

interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que

os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos

de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita

tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na

disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial

A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance

como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia

nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda

deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10

UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003

39

geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia

dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim

destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo

no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da

UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)

Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras

possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim

a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte

dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas

estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas

de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com

a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos

que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente

daquele que se encontra ameaccedilado

O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees

como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes

patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros

patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas

histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte

intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de

LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do

municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de

Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

40

13 O Turismo

O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que

dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se

faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a

compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004

p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno

Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por

prazer Uso depredaccedilatildeordquo

De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo

discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e

tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo

de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que

etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual

com a intenccedilatildeo de regressar

Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo

era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses

realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres

ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de

educaccedilatildeo e cultura

Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992

Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um

cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a

negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno

econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas

relaccedilotildees

Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica

institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo

e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute

uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo

11

BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995

41

com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e

negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade

O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno

social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural

O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)

Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial

tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo

somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do

Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo

vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se

consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento

socioeconocircmicordquo

De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e

afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER

1991 p 231

Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova

perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades

oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e

arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse

estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa

(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida

em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade

Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e

desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e

imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo

de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando

12

O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13

Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013

42

entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em

torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico

O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o

desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a

poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais

importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte

geradora de serviccedilos produtos emprego e renda

Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de

natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico

social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o

desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos

tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e

privados quanto ao planejamento territorial das cidades

Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz

respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo

Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a

competitividade do turismo

[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de

sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)

O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um

planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se

virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo

eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade

logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e

economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute

possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o

turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir

diversos setores de desenvolvimento

Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e

modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico

43

cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se

deslocarem

Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo

e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)

[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural

Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais

fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos

70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais

aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI

1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por

parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos

Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo

pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as

regiotildees que abrigam suas atividades

A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos

de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos

empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e

incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como

orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os

gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar

um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou

seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos

projetos e programas da poliacutetica de turismo

14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash

Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013

44

Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de

Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural

O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)

define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa

apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O

autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que

demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente

em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e

econocircmicos numa mesma perspectiva

Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de

Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de

forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo

com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos

turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o

futuro

Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu

patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono

deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o

desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes

patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria

Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute

fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a

sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos

fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a

falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e

autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da

importacircncia deste planejamento

Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)

Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem

um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann

45

(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de

gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do

nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a

economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das

comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas

religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a

economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo

sustentaacutevel para esta regiatildeo

A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus

comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos

em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo

da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas

de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os

visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve

causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor

nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento

de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade

Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)

Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus

residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale

ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da

sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute

que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo

Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave

organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das

festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse

processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo

do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios

46

132 O Turismo Cultural

O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro

natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)

afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados

tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com

maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica

reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo

Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade

de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo

vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)

O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do

Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de

elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais

valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008

p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a

ascensatildeo de um turismo cultural na cidade

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de

transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch

(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente

contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo

da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos

povosrdquo

Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia

tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey

(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que

compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui

lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud

CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais

de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos

impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo

No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo

(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser

47

valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de

pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute

traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como

O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)

O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a

preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos

Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado

como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo

para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos

culturais e sua memoacuteria socialrdquo

Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e

tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o

processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades

Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns

aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e

econocircmica para diversos setores

Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as

celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre

outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um

turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa

forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e

desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um

turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do

descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo

que eacute seu

De acordo com Pires (2001)

15

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

48

ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)

Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de

viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas

histoacutericas

Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo

turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de

interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida

moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se

importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o

turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)

[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)

A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas

comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de

pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como

nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado

ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em

museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo

Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um

planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o

desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade

Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar

estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da

identidade local

Homi Bhabha diz que

49

O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)

Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees

no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade

O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio

do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da

cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam

como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior

representaccedilatildeo turiacutestica satildeo

1- Turismo Ciacutevico

2- Turismo Religioso

3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico

4- Turismo Eacutetnico

5- Turismo Cinematograacutefico

6- Turismo Arqueoloacutegico

7- Turismo Gastronocircmico

8- Enoturismo

9- Turismo Ferroviaacuterio

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de

serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo

cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo

de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de

serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos

50

Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010

Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as

viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto

que seraacute discutido a seguir

133 O Turismo Religioso

O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos

vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais

51

cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura

poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16

Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este

tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento

em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De

acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333

com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de

Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo

Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas

atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em

espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo

viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno

ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por

bull Peregrinaccedilotildees e romarias

bull Retiros espirituais

bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso

bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis

bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios

terreiros)

bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros

As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso

procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por

valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para

estimular as viagens como afirma Onfray (2009)

ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)

16

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014

52

Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista

que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista

tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele

busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual

A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o

turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos

em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p

3)

Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e

agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a

santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista

obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de

igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas

torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica

De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e

PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o

prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas

conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo

Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o

candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero

de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho

de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas

religiosos

No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os

destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no

Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em

Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR

1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito

Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo

religioso

17

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18

CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003

53

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro

19

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014

20

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

21

19

Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20

Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

54

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida

Fonte Site Conhecer22

Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de

atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a

receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a

caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)

As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum

segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute

Beni (1997) definiu o turismo religioso como

Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)

O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas

viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os

equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade

varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees

Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas

de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como

nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite

vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade

22

Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014

55

O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves

festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da

cultura luzianiense

Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as

mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a

diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo

A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a

cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana

Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica

nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais

de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por

ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte

delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p

27)

Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de

pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no

planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio

Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui

igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair

turistas para a cidade

56

II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL

Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes

entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto

de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio

histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas

manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial

a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)

O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que

possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas

Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a

torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute

que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo

fortemente influenciados por estas cidades

Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746

quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo

assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando

Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e

fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o

arraial se desenvolveria

Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a

Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia

constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade

Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de

partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa

Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas

do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da

Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante

predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas

de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)

23

Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014

57

No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia

aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo

ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do

seu potencial turiacutestico

Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo

sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda

compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso

o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma

cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do

calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e

menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu

valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como

de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local

Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material

jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e

Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel

Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade

incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo

Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de

abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos

por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar

valores a estes patrimocircnios

Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo

do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo

IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele

se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade

luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios

Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo

que possui significado para a comunidade

As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva

com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)

24

Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014

58

afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a

constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas

brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as

cidades histoacutericas como

Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)

Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade

histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de

Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura

fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo

de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade

A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe

concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do

Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais

diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos

sociais espaciais e culturais de toda ordem

Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por

tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta

pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de

Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense

possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como

o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade

como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta

identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as

culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural

Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado

ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural

Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash

UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular

59

considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e

que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes

e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)

Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas

tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva

aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e

afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de

cultura

A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial

como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para

alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial

carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se

importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem

para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado

ficando fadadas ao desaparecimento

Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio

histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio

Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que

possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre

histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a

necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da

interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo

21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO

Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante

Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na

regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro

que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em

homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel

(1994)

60

Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)

Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado

da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil

pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a

histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios

momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas

das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas

restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros

de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25

O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram

para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a

populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora

essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na

deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais

Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente

em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da

cidade

As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro

urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este

processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave

paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as

muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares

do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte

Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de

suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal

Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade

25

Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011

61

Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando

Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a

adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo

Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia

[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)

O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o

surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia

Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que

ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo

com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses

uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora

com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de

Luziacircnia

Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)

Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo

refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura

As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo

desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das

manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na

cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz

necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram

presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita

ser preservado

62

22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor

O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro

no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a

posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos

mais variados lugares do paiacutes

De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes

quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014

28

Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos

80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN

(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta

explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais

quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama

e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental

em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629

26

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27

Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28

Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29

De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993

63

Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de

3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e

proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e

o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o

cargo no inicio de 2013

A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e

desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens

e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o

intercambio com outras cidades30

Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em

muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o

seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo

do meio ambiente e do patrimocircnio cultural

A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto

Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como

Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)

O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de

outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos

baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e

da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o

desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o

desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua

conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras

No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de

interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro

histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30

Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014

64

artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e

cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira

convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo

econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e

histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser

alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a

proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e

econocircmicos agrave cidade

Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14

fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a

gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre

a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial

urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual

infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua

do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico

Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e

privados o qual tambeacutem natildeo existe

O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento

econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a

entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se

mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo

O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne

realidade mas natildeo depende soacute da gente31

Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos

estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as

accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a

ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a

preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo

31

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

65

cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo

sobre a importacircncia das festas

A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia

32

Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16

inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica

urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e

comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se

realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito

Santo

O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo

dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de

interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das

suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do

patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas

admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e

arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia

Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que

deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo

vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal

O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a

tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no

centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto

de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes

nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso

podia ser inviabilizado neacuterdquo33

32

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

66

O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de

transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de

sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo

localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre

outros o que pouco se vecirc

O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem

trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade

Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas

34

O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de

projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem

que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar

as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio

cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver

impedido de fazecirc-lo

Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o

municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um

novo plano

O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de

guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir

do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua

aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio

muito melhor

23 O Centro Histoacuterico

Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves

festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no

desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio

34

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

67

No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o

tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do

turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo

apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma

representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)

Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo

sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que

conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo

Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam

representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a

partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e

explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo

Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo

concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a

partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem

traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria

e compreensatildeo da sua cultura

Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma

como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem

ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo

ainda resistem agraves accedilotildees do tempo

Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante

intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que

A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)

A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma

intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio

Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica

central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo

68

econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas

setorialmenterdquo

Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do

centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse

espaccedilo

Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de

desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o

fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna

referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles

que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a

memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura

Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade

das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles

Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas

rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a

serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus

moradores e como espaccedilo de memoacuteria

Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades

seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria

Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que

a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se

transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a

estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela

partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde

vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo

Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos

da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo

que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que

foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e

culturalrdquo

Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e

preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa

(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos

69

Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)

Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e

valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute

importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras

tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das

suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato

viveram a histoacuteria

Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no

espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila

da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e

estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a

participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as

manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e

consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais

e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

70

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

71

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia

A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente

perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e

intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade

principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da

cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o

Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por

considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica

as manifestaccedilotildees populares etc

Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do

municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de

fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que

tambeacutem herdou dos seus colonizadores

Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de

comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de

sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho

guariroba hortaliccedilas e aguardente

Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce

tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem

portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por

escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de

72

hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de

pai para filho

Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta

que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade

Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende

da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos

Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de

registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute

estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo

eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de

marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a

especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios

produtores do doce

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

36

35

Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014

73

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014

37

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

38

O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute

retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas

de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense

37

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014

74

Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a

Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura

As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo

expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e

momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo

apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais

presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares

Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor

potencial turiacutestico

O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e

o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo

patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas

ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor

O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma

legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico

Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo

39

Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por

sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por

exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar

aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela

forma como foi feito

Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua

potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma

construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no

meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao

presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se

encontram diversos pertences de JK

39

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

75

Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi

completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais

e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda

estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa

judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio

material de Goiaacutes41

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo

42

Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis

fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade

Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave

hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis

sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns

especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo

e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico

O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees

agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos

O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem

encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica

40

Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42

Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014

76

Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

43

Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial

para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no

centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do

turismo na cidade

Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do

Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco

inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas

eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados

com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro

histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve

levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia

A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo

religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e

negros natildeo se misturavam

Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs

Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi

inaugurada em 1767 mesmo inacabada

Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa

ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila

com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta

de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)

43

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44

Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013

77

Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)

As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre

esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida

para mais tarde ser reconstruiacuteda

Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial

incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma

imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e

foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa

que foi modificada

Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida

diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees

comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo

A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a

responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito

Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de

onde partem as procissotildees nos dias de festa

78

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

79

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

80

242 A Igreja do Rosaacuterio

A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos

Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por

Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e

escravos

Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma

memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de

Luziacircniardquo

Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a

manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem

tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como

conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente

pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute

O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no

municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529

pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a

numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem

menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria

o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS

1925)

A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da

regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central

foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um

balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam

para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e

curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada

para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte

Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por

algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei

dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura

como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar

e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos

para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da

81

retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja

Matriz de Santa Luzia

A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que

esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os

cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa

ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou

familiarrdquo

A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo

Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980

Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de

Goiaacutes e a Prefeitura Municipal

De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da

Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes

Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)

A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte

dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela

fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo

das missas

Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

82

Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

83

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013

45

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

45

Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

84

Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro

A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo

histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu

da cidade

Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural

com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande

representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem

da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares

O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi

fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este

nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem

85

ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e

professor de Direito46

A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e

barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal

voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se

destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo

de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem

hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores

Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e

constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura

Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos

47

A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos

depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos

Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por

todos os cocircmodos

A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de

semana e feriados

46

Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

86

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

87

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

88

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles

O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e

Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e

ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a

intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central

Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e

conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes

No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em

oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto

Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles

as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel

O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui

verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados

e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio

O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de

14h30min agraves 17h30min

89

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo

A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs

Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em

que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram

fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para

paacutessaros e outros pequenos animais

Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais

conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em

azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade

de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja

do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos

Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um

deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da

rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes

48

Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014

90

Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os

dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras

da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)

Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos

drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham

destruindo a obra

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

91

Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

246 Praccedila Evangelino Meireles

A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo

modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros

ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo

um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute

tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas

Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado

e inuacutemeras drogarias

Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas

rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio

92

Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa

responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua

com alguns espaccedilos interditados

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014

50

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees

O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute

uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para

Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008

O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas

independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e

externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com

cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet

49

Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50

Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014

93

O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como

encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura

Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

248 O Cristo Redentor

Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo

agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua

estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se

94

encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da

cidade

Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

95

III AS FESTAS RELIGIOSAS

As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a

antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram

algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum

tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo

dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais

Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento

de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a

vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em

homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida

das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas

de muita importacircncia para as comunidades

As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)

Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na

formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que

ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma

identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional

ainda inexistenterdquo

O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa

influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele

Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira

O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como

51

JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005

96

O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar

Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de

registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram

interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a

comunidade daacute agrave sua cidade

O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm

3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo

como

[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)

Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute

foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das

Celebraccedilotildees estatildeo53

1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute

2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso

3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte

4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo

5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA

6- A Festa do Divino em ParatyRJ

7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis

Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas

religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das

52

Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53

Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014

97

comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que

os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo

No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto

a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio

imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele

local

Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar

presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois

enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de

correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada

pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na

fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as

festas retomam

Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas

54

Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas

celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os

anos

Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55

Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos

religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo

portuguesa e da feacute catoacutelica

Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte

influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao

patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento

turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam

milhares de pessoas por todo o mundo 54

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014

98

Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas

podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES

2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais

celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a

experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se

objetos do turismo

Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e

a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os

rituais permanecem iguais

A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que

acontecem no Brasil durante todo o ano

FESTA ESTADO

Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE

Festa dos Santos Reis PE

Festa do Bonfim BA

Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES

Festa de Iemanjaacute BA

Semana Santa -

Procissatildeo do Fogareacuteu GO

Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE

Festa de Nossa Senhora da Penha ES

Festa de Satildeo Benedito MT

Festa de Nossa Senhora da Piedade AP

Festa de Nossa Senhora das Neves PB

Romaria de Bom Jesus da Lapa BA

Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA

Festa do Rosaacuterio MGGO

Ciacuterio de Nazareacute PA

Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP

Festa do Padre Ciacutecero CE

Festa de Santa Baacuterbara BA

56

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

99

Festa de Nossa Senhora do Rocio PR

Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo

57

Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas

com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as

celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de

pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do

Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

58

57

Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

100

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna

59

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado

60

O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento

quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A

proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis

e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os

participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees

59

Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60

Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014

101

ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do

Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade

juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61

As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na

construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor

sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que

A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais

62

Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia

ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens

potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda

haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas

uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem

agraves festas tradicionais

Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e

Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo

formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o

reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e

espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de

reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas

praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa

Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos

A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre

esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute

As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade

61

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

102

religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel

63

A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da

estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando

diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de

geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos

foliotildees64

O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas

religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e

para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de

viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da

histoacuteria da cidade65

Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de

Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas

religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento

importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees

culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo

dos anos

Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como

parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a

economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p

10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais

Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada

Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que

estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances

63

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014

103

humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas

ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos

seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda

estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende

da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de

respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em

Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos

Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo

histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem

preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber

popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo

humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo

Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que

veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos

todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta

que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as

ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos

mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa

orgiardquo

Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por

isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas

tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos

culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando

valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute

natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de

edificaccedilotildees e peccedilas de museus

A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das

expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de

movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as

o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios

aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que

ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em

104

proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica

luacutedicardquo

Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que

atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa

do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do

Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das

datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora

do Rosaacuterio sete de outubro

Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no

desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de

celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a

catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute

catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo

de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino

culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo

Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado

de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo

ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo

sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim

Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do

Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos

conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala

tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por

pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia

O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente

67

66

Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

105

A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da

festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de

Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA

festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra

atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do

entorno que vem para caacuterdquo68

Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico

momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades

vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que

buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees

culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis

possuem na memoacuteria local

Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior

representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem

papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que

se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade

pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose

queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha

fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de

natildeo ser idecircntica a si mesmardquo

As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado

durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas

e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o

passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio

Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade

Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar

69

68

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

106

Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos

com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na

cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a

santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes

seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou

simplesmente para festejar

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia

A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no

Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao

Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de

cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e

deram origem agrave festa judaica de Pentecostes

O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que

celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os

apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo

surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs

(2000 p 24)

Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular

Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se

por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder

caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros

Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo

107

Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de

Janeiro durante o seacuteculo XIX

Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia

A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como

Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se

restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras

nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio

Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia

Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao

Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela

grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje

Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo

Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e

Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas

atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo

tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo

da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda

metade do seacuteculo XVIII

Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino

que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave

sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das

Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos

Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas

como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a

maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo

menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa

desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela

108

A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares

70

A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia

justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute

momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e

Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o

reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que

essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia

Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o

seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato

quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio

da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino

eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio

de Luziacircniardquo71

O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as

festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas

pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem

parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo

consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72

Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre

foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)

explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande

festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida

e cheiro de roupa novardquo

Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres

percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com

uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino

70

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

109

Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo

caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja

quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo

Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade

contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de

Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa

A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade

73

As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo

Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras

pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na

realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela

pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura

localrdquo74

Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa

festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo

de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais

satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma

relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se

perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do

povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante

o ano

Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as

inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo

73

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014

110

portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um

consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute

sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud

SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e

as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino

Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita

muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de

uma festa religiosardquo

A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em

relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade

fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a

comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas

de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um

movimento em torno do turismo cultural e religioso

Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do

Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos

mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida

Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo

uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano

aguardando a festa para comer esta especiaria

Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa

do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura

culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e

etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes

elementos

A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios

elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o

poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia

Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as

75

BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989

111

filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo

76

Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante

e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo

frito

A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa

77

Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito

assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute

preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa

demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio

imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo

construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham

para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-

se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas

Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os

foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua

realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz

ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A

partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados

ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade

Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que

organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa

Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968

apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar

com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia

oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do

76

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

112

festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com

os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78

Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade

Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela

primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo

nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo das festividades na cidade

Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas

79

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

78

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

113

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia

80

80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-

o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013

114

Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil

haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes

e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento

cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela

modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi

suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo

O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e

durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de

Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no

municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes

Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos

tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro

fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes

com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas

outras coisas foram retiradasrdquo 81

As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que

constituem a festa do Divino

311 O Pouso

O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo

e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois

tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles

formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para

a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem

entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita

Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a

bandeira do Divino

Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha

81

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

115

todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente

82

Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na

entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo

catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando

elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas

incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se

tornarem demasiadamente mundanas

O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre

com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os

ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na

chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles

continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser

proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com

comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre

isso

Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente

83

A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as

folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais

autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de

descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um

povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a

82

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

116

cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que

acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo

Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe

84

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009

Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves

festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se

mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que

ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute

que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo

84

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

117

Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas

tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada

eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute

tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo

312 A Catira

Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou

Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura

brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute

uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela

batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos

Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos

em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)

descreve a Catira como

A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel

A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo

Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA

2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no

meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua

expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em

dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves

vezes nas novenas ou no final da missardquo86

Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo

descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade

85

Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

118

A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)

87

Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009

O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e

assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as

geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator

constituinte de sua cultura

313 A Folia de Rua

As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e

constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes

em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias

constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico

brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia

87

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88

QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973

119

eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma

de preservaccedilatildeo da culturardquo89

A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro

ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de

visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e

entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com

muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na

cidade

Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda

90

Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como

demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos

excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter

outro significado que transcende o material

Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense

e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas

Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo

XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos

portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e

profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar

homenagens e saudarrdquo

O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros

elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como

aconteciam as folias de rua em Luziacircnia

Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros

89

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

120

foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria

Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como

acontecem as folias em Luziacircnia

Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas

91

Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos

seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em

que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute

espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo

divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo

Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de

rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes

que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A

jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das

caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de

pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e

furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92

Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade

E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato

93

O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo

religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma

91

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92

Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

121

que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees

eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos

de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso

Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar

94

Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo

intriacutenseco a festa

Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode

Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns

participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator

capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado

profano da festa que vem aumentando a cada ano

A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca

95

94

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

122

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das

festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado

religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas

rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]

essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas

comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo

A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais

momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa

tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade

Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do

Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas

a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do

turismo local

314 As Cavalhadas

Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por

volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para

123

Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de

cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo

As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento

cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas

surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que

com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles

que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo

A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e

Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais

personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa

azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros

Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas

embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute

personagens mascarados que representam o povo

Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme

nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico

profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades

goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo

Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de

dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona

Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave

dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade

Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando

96

96

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

124

A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do

estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos

anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe

uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas

fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e

mouros em Luziacircnia

315 Os Leilotildees

Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino

em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo

leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por

comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os

leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do

Divino

Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o

leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que

doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja

do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os

leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade

Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa

97

97

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

125

Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo

destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns

consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no

municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa

festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio

da Silva discorre sobre isso

As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio

98

Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas

caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente

que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e

com a formaccedilatildeo da sua identidade

Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios

histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um

forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o

que pode ser constatado durante a pesquisa

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes

santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados

no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978

descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade

Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)

98

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

126

Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978

Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo

possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber

que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do

tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo

e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na

cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de

maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas

dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura

negra sendo considerados seus santos protetores

127

Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram

em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute

garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de

fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou

sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro

Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro

99

O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora

do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade

assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de

Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a

participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu

patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de

Luziacircnia

O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e

gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e

distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis

contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia

que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica

Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem

como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade

o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na

construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os

padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa

relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar

entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas

Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas

participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos

poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a

99

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

128

que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de

haver pouco tempo que a festa vem se realizando

Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da

comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas

de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada

momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor

religioso ou lazer puramente dito

No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela

vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre

querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo

com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do

Rosaacuterio possui para ela

Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo

100

No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa

Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a

comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show

com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a

comemoraccedilatildeo

A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a

preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do

patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso

A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees

101

Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da

igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente

100

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

129

na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste

local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros

Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e

intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso

da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando

cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso

A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees

musicais 102

O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a

organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o

estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior

essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos

com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103

Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua

fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a

igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa

Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104

Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)

quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos

tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo

essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os

moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo

seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos

Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao

longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de

puacuteblicos

102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

130

Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral

105

A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair

benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada

pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de

dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso

A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento

106

Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a

economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a

movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa

tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na

cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o

numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia

do municiacutepiordquo107

Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute

um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo

eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo

e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial

algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio

Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade

Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para

105

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014

131

que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

108

Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas

tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se

constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria

comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de

contribuir para o turismo na cidade

Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico

109

A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia

tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como

apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para

aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na

comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a

preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem

patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria

comunidade

108

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013

132

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013

133

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

136

As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas

sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se

concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia

possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as

igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo

fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)

ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116

Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

137

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua

identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma

comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer

novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito

do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam

atrativos turiacutesticos das cidades

As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de

hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos

formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar

uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se

consideram turistas

As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial

para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino

Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se

observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do

viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas

assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo

consideradas fortes tradiccedilotildees culturais

A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no

ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves

praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da

accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a

preservaccedilatildeo destes patrimocircnios

A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da

cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se

desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma

positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no

desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos

prestados

Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute

considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a

138

principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova

configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes

motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do

municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN

Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como

uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam

celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente

a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo

puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em

torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e

esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa

um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural

Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo

descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo

aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em

Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de

promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como

parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir

diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila

As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos

moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila

e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas

cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas

de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem

vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes

patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade

Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real

representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da

tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais

atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo

em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e

esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter

139

Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada

diardquo 117

Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se

perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que

compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado

de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de

casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba

desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de

proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos

todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido

Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui

valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo

Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela

importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los

atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses

Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute

importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade

agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados

aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui

O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que

aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel

como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e

assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos

negativos do que positivos para a cidade

A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo

colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute

pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns

participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que

para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se

tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os

envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico

117

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

140

O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que

isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os

recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm

potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e

sustentaacutevel

O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio

atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem

na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se

propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim

de toda a cidade

O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os

envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se

reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos

monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser

uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de

preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e

consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade

e da sociabilidaderdquo

Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos

vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos

sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais

sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e

social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das

populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em

uacuteltima instancia eacute praacutetica social

Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que

permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte

integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino

Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem

permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade

de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local

Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses

eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem

ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia

141

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153

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao

curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da

Universidade de Brasiacutelia

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua

colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato

voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees

solicitadas pelo pesquisador

Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e

mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os

resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse

trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada

Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo

Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB

carlawiccagmailcom

Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando

voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e

para a publicaccedilatildeo dos resultados

Luziacircnia _____ de _________________ de 2013

Assinatura do participante____________________________________________

Assinatura da pesquisadora___________________________________________

154

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1 Nome

2 Telefone

3 Profissatildeo

4 Idade

5 Estado Civil

6 Religiatildeo

7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos

Quais

9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos

patrimocircnios materiais de Luziacircnia

11 O que estas festas representam para vocecirc

155

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de

Luziacircnia

9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas

156

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o

desenvolvimento do turismo local

10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de

Luziacircnia

11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das

festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia

Page 3: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) CENTRO DE EXCELÊNCIA EM ...repositorio.unb.br/...CarlaAdrianaOliveiraSilva.pdf · Figura 49 – Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa.....113

1

2

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)

MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Dissertaccedilatildeo de autoria de Carla Adriana Oliveira Silva intitulada As festas histoacutericas

e religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidade submetida ao Centro de Excelecircncia em Turismo da Universidade de Brasiacutelia

como parte dos requisitos necessaacuterios para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em

Turismo em 03072014 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo

assinada

____________________________________________________________

Profa Dra Eloiacutesa Pereira Barroso

Orientadora

CETUnB

____________________________________________________________

Profa Dra Cleacuteria Botecirclho da Costa

PPG-HistoacuteriaUnB

____________________________________________________________

Profa Dra Karina Dias

CETUnB

Suplente

____________________________________________________________

Profa Dra Neuza de Farias Arauacutejo

3

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia

e em especial ao meu filho Ian

Gabriel

4

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os

meus passos em busca do bem maior

Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e

pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada

Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo

acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em

busca de mais conhecimento

Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a

importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus

objetivos

Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo

ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig

Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram

unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando

mutuamente

Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes

por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento

que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta

dissertaccedilatildeo

Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo

estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo

Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises

nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona

Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha

do mestrado na minha cabeccedila

Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua

experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos

de maior dificuldade

5

Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com

sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas

fotografias

Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e

paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho

Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas

Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires

e Wilter Coelho

Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de

Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo

Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra

estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento

oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente

6

ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim

pode ser o comeccedilordquo

Ivy Baker Priest

7

RESUMO

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local

Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia

8

ABSTRACT

The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism

Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia

9

LISTA DE SIGLAS

CNT - Conselho Nacional de Turismo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

GO ndash Goiaacutes

OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo

PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

10

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figuras

Capiacutetulo 1

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da

Cultura 36

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa

da Cultura 36

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na

Casa da Cultura 36

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54

Capiacutetulo 2

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante

Antigamente 69

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81

Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

11

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do

Rosaacuterio 83

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83

Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do

Rosaacuterio 84

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94

Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94

Capiacutetulo 3

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em

2013 113

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116

12

Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133

Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133

Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134

Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela

cidade 134

Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135

Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135

Tabelas

Capiacutetulo 1

Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo

Cultural 50

Capiacutetulo 3

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98

13

SUMAacuteRIO

Dedicatoacuteria iii

Agradecimentos iv

Epiacutegrafe vi

Resumo vii

Abstract viii

Lista de Siglas ix

Lista de figuras e tabelas x

INTRODUCcedilAtildeO 15

CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23

11 A Cultura 25

12 O Patrimocircnio 30

121 O Patrimocircnio Imaterial 33

13 O Turismo 40

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43

132 O Turismo Cultural 46

133 O Turismo Religioso 50

CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO

CULTURAL 54

21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59

22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62

23 O Centro Histoacuterico 66

24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71

14

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76

242 Igreja do Rosaacuterio 80

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89

246 Praccedila Evangelino Meireles 91

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92

248 O Cristo Redentor 93

CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106

311 O Pouso 114

312 A Catira 117

313 A Folia de Rua 118

314 As Cavalhadas 122

315 Os Leilotildees 124

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE

LUZIAcircNIAGO 156

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INTRODUCcedilAtildeO

Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo

teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos

materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de

tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo

dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade

Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como

primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim

surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados

nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos

governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de

reconhecimento da identidade e da cultura local

O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte

espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se

tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de

desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade

Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo

da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais

que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no

desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de

desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois

refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural

relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local

como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade

As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute

uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e

que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a

preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica

social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes

espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a

identidade da comunidade local

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Diante desse fato surgem as seguintes questotildees

1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e

Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio

3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios

culturais materiais e imateriais da cidade

4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em

campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um

fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que

pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem

percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os

meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que

a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa

Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca

do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia

usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a

pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao

encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar

uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do

conhecimento

O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu

numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o

discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica

fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo

compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais

adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua

cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas

e preservadas

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Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual

os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente

pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar

dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um

dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees

que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade

Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois

visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o

estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa

identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos

fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e

extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia

especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade

Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave

produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do

saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que

ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio

despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo

retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para

produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)

As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente

organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO

e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos

necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas

envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante

meacutetodo pois ela

Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica

socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que

participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de

mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de

estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias

profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)

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A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado

(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e

estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas

muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de

conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da

gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)

A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da

pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao

problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os

principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida

da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de

perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo

foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo

desta dissertaccedilatildeo

Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas

bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram

fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos

dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa

qualitativa

[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em

texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande

quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os

dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de

forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados

(GIBBS 2009 p 24)

As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias

Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma

metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas

que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi

fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que

participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees

culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar

essa identidade perdida

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Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas

etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha

utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais

etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a

preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo

a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos

neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das

principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais

atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das

entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que

convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de

laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo

Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a

cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o

contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua

contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia

Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias

perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado

Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como

representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de

moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas

tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem

na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o

desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio

Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser

classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais

podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes

valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos

pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das

entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a

assinatura de termo de consentimento

As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado

antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas

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em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em

abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos

entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu

Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se

entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a

opiniatildeo de um puacuteblico mais variado

Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e

trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se

declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo

Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas

1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila

2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo

3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes

4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro

5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva

6- Estudante Karina da Silva

7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira

8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires

9- Jornalista Francyelle Rocha

10- Advogado Wilter Campos Coelho

Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir

dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas

essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo

com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas

elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia

da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e

tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as

mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc

O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como

explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e

reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo

foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas

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agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para

os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos

referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa

Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa

extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa

de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de

tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de

conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de

preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o

perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs

capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram

uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma

discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro

apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio

Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No

segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do

patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o

turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma

discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como

o turismo cultural e o turismo religioso

O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa

pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos

e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro

histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo

local

No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste

estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as

manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas

festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o

patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um

espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio

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conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto

essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias

alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de

Luziacircnia

Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o

turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento

e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura

como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece

como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como

um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo

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I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO

A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo

em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo

natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores

puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira

e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles

podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia

Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo

dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se

apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem

falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular

novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta

que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por

parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico

entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local

Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura

deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o

futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a

gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que

cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se

constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e

vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se

tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e

patrimonial

A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das

cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees

populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico

como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)

O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo

1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC

jandez 2005 n19-20 p 126-153

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de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo

Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos

constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes

patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados

a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo

conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo

das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)

[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas

Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis

fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente

estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por

meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a

estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos

deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e

vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que

ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes

motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo

A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa

positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua

conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas

tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira

(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado

da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do

desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de

um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos

setores da sociedade

A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se

apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os

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turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas

proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um

determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo

Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre

tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser

observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem

o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades

tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova

mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e

contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel

11 A Cultura

A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos

possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se

destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no

campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido

desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou

o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos

crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia

(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que

integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990

p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens

Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo

Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que

esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam

baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as

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sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem

entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem

Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou

seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa

totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais

Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da

cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma

totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos

culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O

autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar

relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto

que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a

pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um

sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los

separadamenterdquo

Para Clifford Geertz (2008 p 24)

[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade

Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais

vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem

ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um

dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro

Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a

sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo

que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua

compreensatildeo

ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca

2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958

3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940

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de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)

Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e

recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua

identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura

constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo

Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura

eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e

imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo

Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse

trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia

que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos

importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo

Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas

compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou

esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o

patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra

que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos

simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a

anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da

seguinte forma

Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros

A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de

diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso

das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros

(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais

expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura

determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou

4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997

28

inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade

Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma

que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as

atividades da vidardquo

Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso

para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade

mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura

da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona

medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o

direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)

As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por

geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas

que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua

fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para

filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas

festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos

Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens

adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5

(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila

que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica

Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida

quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o

municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas

formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita

com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como

Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)

Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um

processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre

5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris

PUF 1955

29

(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre

essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma

espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no

imaginaacuterio

A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e

intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os

lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se

fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo

que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees

materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo

As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura

tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para

a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo

dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura

tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo

A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)

Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da

cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja

positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode

estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim

este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio

cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a

atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que

visitam a cidade

6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968

30

12 O Patrimocircnio

A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela

passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma

famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo

termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por

conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o

patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como

ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura

homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto

de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)

O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo

simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse

sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por

sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos

costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus

patrimocircnios

Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como

esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista

patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em

que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito

das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem

patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO

para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa

Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos

Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade

Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como

memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica

31

principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo

Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua

histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO

aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo

visual

Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de

patrimocircnio cultural eacute bastante ampla

Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos

Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais

tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos

tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo

artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da

sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento

do turismo

Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma

comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)

observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-

se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor

etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e

peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo

Para Fonseca (2009 p 21)

Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia

Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas

tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo

possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do

Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia

32

que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais

como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se

dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade

Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na

preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e

Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em

razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e

216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da

comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido

como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em

conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira

O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como

um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade

contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto

com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu

proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se

formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a

relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores

que justificam a preservaccedilatildeordquo

Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao

buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer

confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009

p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos

da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado

corresponde agrave ideia que se faz delerdquo

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute

muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos

ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas

nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de

33

identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que

refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza

Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo

Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do

tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na

consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente

construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel

que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure

preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma

maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a

parte na vida em sociedade

121 O Patrimocircnio Imaterial

O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos

20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade

realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo

de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos

estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um

dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio

cultural ndash IPHAN em 1937

Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN

O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)

34

Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua

classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma

Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []

visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees

mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio

cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e

praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode

ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social

A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa

classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud

ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como

O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais

O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas

praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos

de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas

e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais

coletivas)

Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo

menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela

proacutepria comunidade

Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em

relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa

distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando

que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de

estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo

reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional

7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho

executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo

id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011

35

No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa

Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os

patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial em quatro livros

1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de

fazer enraizados no cotidiano das comunidades

2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam

a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras

praacuteticas da vida social

3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees

literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas

4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios

praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais

coletivas

Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade

se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes

dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza

imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura

oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]

eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares

objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo

9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em

lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013

36

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

37

Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e

o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das

Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino

Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa

dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que

acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no

livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da

comunidade

O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora

tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos

responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte

do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela

sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui

que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que

um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade

(FONSECA 2009)

Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais

valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de

forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas

manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a

vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente

em mudanccedila

Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute

justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como

referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante

o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses

patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem

Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados

Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas

muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da

38

cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do

Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as

suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA

2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um

grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos

explicam o conceito de performance como

Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural

Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de

Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial

possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade

pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade

do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no

municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com

valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas

como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o

comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo

Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees

para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e

disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda

interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que

os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos

de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita

tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na

disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial

A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance

como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia

nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda

deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10

UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003

39

geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia

dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim

destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo

no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da

UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)

Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras

possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim

a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte

dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas

estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas

de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com

a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos

que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente

daquele que se encontra ameaccedilado

O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees

como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes

patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros

patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas

histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte

intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de

LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do

municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de

Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

40

13 O Turismo

O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que

dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se

faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a

compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004

p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno

Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por

prazer Uso depredaccedilatildeordquo

De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo

discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e

tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo

de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que

etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual

com a intenccedilatildeo de regressar

Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo

era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses

realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres

ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de

educaccedilatildeo e cultura

Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992

Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um

cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a

negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno

econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas

relaccedilotildees

Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica

institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo

e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute

uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo

11

BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995

41

com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e

negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade

O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno

social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural

O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)

Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial

tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo

somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do

Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo

vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se

consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento

socioeconocircmicordquo

De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e

afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER

1991 p 231

Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova

perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades

oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e

arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse

estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa

(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida

em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade

Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e

desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e

imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo

de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando

12

O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13

Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013

42

entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em

torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico

O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o

desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a

poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais

importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte

geradora de serviccedilos produtos emprego e renda

Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de

natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico

social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o

desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos

tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e

privados quanto ao planejamento territorial das cidades

Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz

respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo

Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a

competitividade do turismo

[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de

sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)

O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um

planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se

virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo

eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade

logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e

economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute

possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o

turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir

diversos setores de desenvolvimento

Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e

modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico

43

cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se

deslocarem

Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo

e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)

[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural

Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais

fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos

70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais

aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI

1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por

parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos

Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo

pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as

regiotildees que abrigam suas atividades

A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos

de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos

empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e

incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como

orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os

gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar

um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou

seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos

projetos e programas da poliacutetica de turismo

14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash

Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013

44

Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de

Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural

O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)

define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa

apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O

autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que

demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente

em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e

econocircmicos numa mesma perspectiva

Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de

Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de

forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo

com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos

turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o

futuro

Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu

patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono

deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o

desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes

patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria

Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute

fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a

sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos

fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a

falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e

autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da

importacircncia deste planejamento

Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)

Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem

um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann

45

(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de

gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do

nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a

economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das

comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas

religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a

economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo

sustentaacutevel para esta regiatildeo

A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus

comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos

em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo

da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas

de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os

visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve

causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor

nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento

de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade

Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)

Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus

residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale

ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da

sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute

que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo

Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave

organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das

festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse

processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo

do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios

46

132 O Turismo Cultural

O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro

natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)

afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados

tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com

maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica

reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo

Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade

de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo

vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)

O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do

Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de

elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais

valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008

p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a

ascensatildeo de um turismo cultural na cidade

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de

transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch

(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente

contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo

da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos

povosrdquo

Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia

tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey

(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que

compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui

lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud

CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais

de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos

impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo

No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo

(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser

47

valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de

pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute

traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como

O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)

O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a

preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos

Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado

como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo

para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos

culturais e sua memoacuteria socialrdquo

Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e

tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o

processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades

Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns

aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e

econocircmica para diversos setores

Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as

celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre

outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um

turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa

forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e

desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um

turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do

descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo

que eacute seu

De acordo com Pires (2001)

15

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

48

ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)

Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de

viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas

histoacutericas

Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo

turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de

interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida

moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se

importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o

turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)

[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)

A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas

comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de

pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como

nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado

ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em

museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo

Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um

planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o

desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade

Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar

estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da

identidade local

Homi Bhabha diz que

49

O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)

Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees

no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade

O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio

do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da

cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam

como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior

representaccedilatildeo turiacutestica satildeo

1- Turismo Ciacutevico

2- Turismo Religioso

3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico

4- Turismo Eacutetnico

5- Turismo Cinematograacutefico

6- Turismo Arqueoloacutegico

7- Turismo Gastronocircmico

8- Enoturismo

9- Turismo Ferroviaacuterio

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de

serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo

cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo

de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de

serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos

50

Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010

Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as

viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto

que seraacute discutido a seguir

133 O Turismo Religioso

O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos

vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais

51

cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura

poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16

Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este

tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento

em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De

acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333

com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de

Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo

Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas

atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em

espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo

viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno

ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por

bull Peregrinaccedilotildees e romarias

bull Retiros espirituais

bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso

bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis

bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios

terreiros)

bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros

As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso

procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por

valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para

estimular as viagens como afirma Onfray (2009)

ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)

16

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014

52

Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista

que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista

tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele

busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual

A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o

turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos

em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p

3)

Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e

agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a

santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista

obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de

igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas

torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica

De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e

PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o

prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas

conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo

Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o

candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero

de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho

de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas

religiosos

No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os

destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no

Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em

Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR

1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito

Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo

religioso

17

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18

CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003

53

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro

19

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014

20

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

21

19

Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20

Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

54

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida

Fonte Site Conhecer22

Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de

atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a

receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a

caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)

As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum

segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute

Beni (1997) definiu o turismo religioso como

Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)

O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas

viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os

equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade

varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees

Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas

de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como

nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite

vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade

22

Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014

55

O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves

festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da

cultura luzianiense

Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as

mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a

diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo

A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a

cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana

Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica

nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais

de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por

ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte

delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p

27)

Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de

pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no

planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio

Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui

igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair

turistas para a cidade

56

II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL

Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes

entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto

de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio

histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas

manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial

a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)

O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que

possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas

Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a

torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute

que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo

fortemente influenciados por estas cidades

Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746

quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo

assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando

Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e

fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o

arraial se desenvolveria

Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a

Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia

constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade

Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de

partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa

Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas

do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da

Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante

predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas

de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)

23

Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014

57

No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia

aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo

ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do

seu potencial turiacutestico

Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo

sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda

compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso

o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma

cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do

calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e

menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu

valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como

de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local

Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material

jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e

Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel

Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade

incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo

Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de

abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos

por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar

valores a estes patrimocircnios

Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo

do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo

IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele

se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade

luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios

Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo

que possui significado para a comunidade

As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva

com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)

24

Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014

58

afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a

constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas

brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as

cidades histoacutericas como

Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)

Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade

histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de

Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura

fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo

de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade

A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe

concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do

Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais

diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos

sociais espaciais e culturais de toda ordem

Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por

tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta

pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de

Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense

possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como

o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade

como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta

identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as

culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural

Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado

ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural

Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash

UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular

59

considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e

que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes

e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)

Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas

tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva

aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e

afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de

cultura

A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial

como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para

alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial

carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se

importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem

para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado

ficando fadadas ao desaparecimento

Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio

histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio

Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que

possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre

histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a

necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da

interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo

21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO

Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante

Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na

regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro

que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em

homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel

(1994)

60

Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)

Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado

da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil

pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a

histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios

momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas

das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas

restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros

de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25

O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram

para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a

populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora

essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na

deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais

Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente

em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da

cidade

As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro

urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este

processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave

paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as

muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares

do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte

Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de

suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal

Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade

25

Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011

61

Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando

Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a

adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo

Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia

[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)

O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o

surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia

Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que

ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo

com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses

uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora

com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de

Luziacircnia

Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)

Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo

refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura

As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo

desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das

manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na

cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz

necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram

presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita

ser preservado

62

22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor

O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro

no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a

posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos

mais variados lugares do paiacutes

De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes

quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014

28

Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos

80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN

(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta

explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais

quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama

e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental

em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629

26

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27

Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28

Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29

De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993

63

Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de

3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e

proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e

o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o

cargo no inicio de 2013

A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e

desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens

e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o

intercambio com outras cidades30

Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em

muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o

seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo

do meio ambiente e do patrimocircnio cultural

A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto

Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como

Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)

O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de

outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos

baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e

da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o

desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o

desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua

conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras

No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de

interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro

histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30

Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014

64

artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e

cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira

convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo

econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e

histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser

alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a

proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e

econocircmicos agrave cidade

Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14

fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a

gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre

a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial

urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual

infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua

do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico

Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e

privados o qual tambeacutem natildeo existe

O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento

econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a

entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se

mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo

O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne

realidade mas natildeo depende soacute da gente31

Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos

estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as

accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a

ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a

preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo

31

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

65

cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo

sobre a importacircncia das festas

A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia

32

Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16

inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica

urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e

comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se

realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito

Santo

O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo

dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de

interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das

suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do

patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas

admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e

arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia

Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que

deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo

vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal

O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a

tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no

centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto

de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes

nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso

podia ser inviabilizado neacuterdquo33

32

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

66

O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de

transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de

sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo

localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre

outros o que pouco se vecirc

O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem

trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade

Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas

34

O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de

projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem

que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar

as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio

cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver

impedido de fazecirc-lo

Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o

municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um

novo plano

O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de

guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir

do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua

aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio

muito melhor

23 O Centro Histoacuterico

Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves

festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no

desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio

34

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

67

No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o

tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do

turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo

apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma

representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)

Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo

sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que

conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo

Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam

representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a

partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e

explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo

Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo

concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a

partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem

traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria

e compreensatildeo da sua cultura

Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma

como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem

ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo

ainda resistem agraves accedilotildees do tempo

Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante

intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que

A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)

A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma

intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio

Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica

central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo

68

econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas

setorialmenterdquo

Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do

centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse

espaccedilo

Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de

desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o

fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna

referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles

que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a

memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura

Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade

das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles

Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas

rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a

serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus

moradores e como espaccedilo de memoacuteria

Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades

seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria

Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que

a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se

transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a

estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela

partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde

vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo

Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos

da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo

que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que

foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e

culturalrdquo

Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e

preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa

(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos

69

Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)

Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e

valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute

importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras

tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das

suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato

viveram a histoacuteria

Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no

espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila

da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e

estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a

participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as

manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e

consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais

e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

70

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

71

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia

A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente

perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e

intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade

principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da

cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o

Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por

considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica

as manifestaccedilotildees populares etc

Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do

municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de

fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que

tambeacutem herdou dos seus colonizadores

Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de

comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de

sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho

guariroba hortaliccedilas e aguardente

Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce

tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem

portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por

escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de

72

hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de

pai para filho

Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta

que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade

Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende

da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos

Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de

registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute

estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo

eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de

marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a

especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios

produtores do doce

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

36

35

Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014

73

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014

37

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

38

O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute

retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas

de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense

37

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014

74

Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a

Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura

As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo

expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e

momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo

apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais

presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares

Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor

potencial turiacutestico

O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e

o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo

patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas

ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor

O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma

legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico

Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo

39

Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por

sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por

exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar

aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela

forma como foi feito

Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua

potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma

construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no

meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao

presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se

encontram diversos pertences de JK

39

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

75

Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi

completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais

e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda

estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa

judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio

material de Goiaacutes41

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo

42

Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis

fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade

Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave

hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis

sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns

especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo

e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico

O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees

agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos

O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem

encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica

40

Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42

Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014

76

Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

43

Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial

para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no

centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do

turismo na cidade

Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do

Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco

inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas

eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados

com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro

histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve

levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia

A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo

religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e

negros natildeo se misturavam

Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs

Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi

inaugurada em 1767 mesmo inacabada

Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa

ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila

com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta

de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)

43

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44

Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013

77

Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)

As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre

esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida

para mais tarde ser reconstruiacuteda

Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial

incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma

imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e

foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa

que foi modificada

Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida

diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees

comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo

A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a

responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito

Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de

onde partem as procissotildees nos dias de festa

78

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

79

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

80

242 A Igreja do Rosaacuterio

A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos

Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por

Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e

escravos

Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma

memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de

Luziacircniardquo

Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a

manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem

tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como

conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente

pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute

O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no

municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529

pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a

numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem

menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria

o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS

1925)

A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da

regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central

foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um

balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam

para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e

curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada

para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte

Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por

algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei

dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura

como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar

e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos

para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da

81

retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja

Matriz de Santa Luzia

A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que

esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os

cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa

ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou

familiarrdquo

A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo

Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980

Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de

Goiaacutes e a Prefeitura Municipal

De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da

Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes

Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)

A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte

dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela

fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo

das missas

Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

82

Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

83

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013

45

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

45

Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

84

Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro

A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo

histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu

da cidade

Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural

com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande

representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem

da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares

O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi

fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este

nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem

85

ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e

professor de Direito46

A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e

barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal

voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se

destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo

de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem

hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores

Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e

constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura

Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos

47

A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos

depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos

Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por

todos os cocircmodos

A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de

semana e feriados

46

Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

86

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

87

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

88

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles

O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e

Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e

ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a

intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central

Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e

conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes

No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em

oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto

Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles

as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel

O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui

verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados

e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio

O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de

14h30min agraves 17h30min

89

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo

A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs

Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em

que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram

fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para

paacutessaros e outros pequenos animais

Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais

conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em

azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade

de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja

do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos

Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um

deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da

rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes

48

Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014

90

Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os

dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras

da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)

Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos

drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham

destruindo a obra

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

91

Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

246 Praccedila Evangelino Meireles

A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo

modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros

ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo

um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute

tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas

Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado

e inuacutemeras drogarias

Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas

rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio

92

Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa

responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua

com alguns espaccedilos interditados

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014

50

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees

O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute

uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para

Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008

O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas

independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e

externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com

cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet

49

Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50

Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014

93

O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como

encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura

Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

248 O Cristo Redentor

Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo

agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua

estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se

94

encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da

cidade

Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

95

III AS FESTAS RELIGIOSAS

As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a

antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram

algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum

tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo

dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais

Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento

de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a

vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em

homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida

das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas

de muita importacircncia para as comunidades

As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)

Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na

formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que

ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma

identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional

ainda inexistenterdquo

O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa

influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele

Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira

O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como

51

JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005

96

O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar

Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de

registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram

interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a

comunidade daacute agrave sua cidade

O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm

3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo

como

[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)

Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute

foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das

Celebraccedilotildees estatildeo53

1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute

2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso

3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte

4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo

5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA

6- A Festa do Divino em ParatyRJ

7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis

Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas

religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das

52

Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53

Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014

97

comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que

os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo

No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto

a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio

imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele

local

Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar

presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois

enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de

correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada

pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na

fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as

festas retomam

Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas

54

Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas

celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os

anos

Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55

Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos

religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo

portuguesa e da feacute catoacutelica

Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte

influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao

patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento

turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam

milhares de pessoas por todo o mundo 54

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014

98

Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas

podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES

2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais

celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a

experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se

objetos do turismo

Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e

a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os

rituais permanecem iguais

A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que

acontecem no Brasil durante todo o ano

FESTA ESTADO

Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE

Festa dos Santos Reis PE

Festa do Bonfim BA

Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES

Festa de Iemanjaacute BA

Semana Santa -

Procissatildeo do Fogareacuteu GO

Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE

Festa de Nossa Senhora da Penha ES

Festa de Satildeo Benedito MT

Festa de Nossa Senhora da Piedade AP

Festa de Nossa Senhora das Neves PB

Romaria de Bom Jesus da Lapa BA

Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA

Festa do Rosaacuterio MGGO

Ciacuterio de Nazareacute PA

Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP

Festa do Padre Ciacutecero CE

Festa de Santa Baacuterbara BA

56

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

99

Festa de Nossa Senhora do Rocio PR

Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo

57

Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas

com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as

celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de

pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do

Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

58

57

Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

100

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna

59

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado

60

O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento

quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A

proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis

e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os

participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees

59

Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60

Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014

101

ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do

Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade

juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61

As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na

construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor

sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que

A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais

62

Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia

ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens

potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda

haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas

uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem

agraves festas tradicionais

Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e

Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo

formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o

reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e

espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de

reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas

praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa

Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos

A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre

esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute

As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade

61

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

102

religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel

63

A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da

estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando

diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de

geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos

foliotildees64

O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas

religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e

para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de

viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da

histoacuteria da cidade65

Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de

Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas

religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento

importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees

culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo

dos anos

Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como

parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a

economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p

10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais

Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada

Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que

estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances

63

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014

103

humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas

ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos

seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda

estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende

da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de

respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em

Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos

Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo

histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem

preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber

popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo

humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo

Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que

veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos

todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta

que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as

ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos

mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa

orgiardquo

Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por

isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas

tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos

culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando

valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute

natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de

edificaccedilotildees e peccedilas de museus

A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das

expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de

movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as

o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios

aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que

ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em

104

proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica

luacutedicardquo

Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que

atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa

do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do

Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das

datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora

do Rosaacuterio sete de outubro

Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no

desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de

celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a

catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute

catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo

de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino

culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo

Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado

de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo

ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo

sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim

Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do

Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos

conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala

tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por

pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia

O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente

67

66

Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

105

A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da

festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de

Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA

festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra

atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do

entorno que vem para caacuterdquo68

Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico

momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades

vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que

buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees

culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis

possuem na memoacuteria local

Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior

representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem

papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que

se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade

pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose

queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha

fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de

natildeo ser idecircntica a si mesmardquo

As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado

durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas

e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o

passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio

Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade

Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar

69

68

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

106

Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos

com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na

cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a

santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes

seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou

simplesmente para festejar

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia

A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no

Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao

Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de

cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e

deram origem agrave festa judaica de Pentecostes

O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que

celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os

apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo

surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs

(2000 p 24)

Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular

Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se

por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder

caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros

Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo

107

Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de

Janeiro durante o seacuteculo XIX

Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia

A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como

Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se

restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras

nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio

Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia

Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao

Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela

grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje

Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo

Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e

Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas

atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo

tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo

da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda

metade do seacuteculo XVIII

Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino

que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave

sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das

Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos

Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas

como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a

maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo

menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa

desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela

108

A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares

70

A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia

justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute

momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e

Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o

reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que

essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia

Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o

seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato

quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio

da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino

eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio

de Luziacircniardquo71

O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as

festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas

pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem

parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo

consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72

Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre

foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)

explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande

festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida

e cheiro de roupa novardquo

Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres

percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com

uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino

70

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

109

Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo

caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja

quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo

Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade

contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de

Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa

A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade

73

As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo

Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras

pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na

realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela

pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura

localrdquo74

Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa

festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo

de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais

satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma

relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se

perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do

povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante

o ano

Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as

inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo

73

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014

110

portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um

consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute

sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud

SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e

as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino

Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita

muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de

uma festa religiosardquo

A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em

relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade

fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a

comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas

de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um

movimento em torno do turismo cultural e religioso

Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do

Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos

mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida

Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo

uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano

aguardando a festa para comer esta especiaria

Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa

do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura

culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e

etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes

elementos

A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios

elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o

poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia

Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as

75

BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989

111

filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo

76

Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante

e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo

frito

A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa

77

Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito

assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute

preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa

demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio

imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo

construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham

para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-

se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas

Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os

foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua

realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz

ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A

partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados

ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade

Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que

organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa

Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968

apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar

com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia

oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do

76

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

112

festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com

os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78

Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade

Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela

primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo

nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo das festividades na cidade

Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas

79

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

78

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

113

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia

80

80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-

o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013

114

Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil

haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes

e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento

cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela

modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi

suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo

O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e

durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de

Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no

municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes

Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos

tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro

fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes

com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas

outras coisas foram retiradasrdquo 81

As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que

constituem a festa do Divino

311 O Pouso

O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo

e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois

tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles

formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para

a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem

entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita

Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a

bandeira do Divino

Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha

81

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

115

todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente

82

Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na

entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo

catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando

elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas

incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se

tornarem demasiadamente mundanas

O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre

com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os

ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na

chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles

continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser

proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com

comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre

isso

Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente

83

A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as

folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais

autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de

descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um

povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a

82

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

116

cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que

acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo

Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe

84

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009

Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves

festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se

mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que

ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute

que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo

84

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

117

Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas

tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada

eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute

tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo

312 A Catira

Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou

Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura

brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute

uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela

batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos

Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos

em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)

descreve a Catira como

A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel

A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo

Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA

2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no

meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua

expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em

dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves

vezes nas novenas ou no final da missardquo86

Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo

descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade

85

Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

118

A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)

87

Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009

O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e

assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as

geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator

constituinte de sua cultura

313 A Folia de Rua

As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e

constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes

em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias

constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico

brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia

87

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88

QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973

119

eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma

de preservaccedilatildeo da culturardquo89

A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro

ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de

visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e

entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com

muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na

cidade

Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda

90

Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como

demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos

excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter

outro significado que transcende o material

Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense

e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas

Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo

XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos

portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e

profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar

homenagens e saudarrdquo

O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros

elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como

aconteciam as folias de rua em Luziacircnia

Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros

89

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

120

foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria

Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como

acontecem as folias em Luziacircnia

Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas

91

Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos

seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em

que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute

espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo

divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo

Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de

rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes

que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A

jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das

caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de

pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e

furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92

Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade

E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato

93

O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo

religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma

91

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92

Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

121

que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees

eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos

de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso

Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar

94

Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo

intriacutenseco a festa

Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode

Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns

participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator

capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado

profano da festa que vem aumentando a cada ano

A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca

95

94

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

122

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das

festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado

religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas

rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]

essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas

comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo

A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais

momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa

tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade

Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do

Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas

a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do

turismo local

314 As Cavalhadas

Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por

volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para

123

Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de

cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo

As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento

cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas

surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que

com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles

que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo

A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e

Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais

personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa

azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros

Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas

embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute

personagens mascarados que representam o povo

Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme

nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico

profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades

goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo

Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de

dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona

Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave

dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade

Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando

96

96

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

124

A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do

estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos

anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe

uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas

fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e

mouros em Luziacircnia

315 Os Leilotildees

Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino

em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo

leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por

comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os

leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do

Divino

Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o

leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que

doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja

do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os

leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade

Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa

97

97

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

125

Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo

destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns

consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no

municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa

festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio

da Silva discorre sobre isso

As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio

98

Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas

caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente

que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e

com a formaccedilatildeo da sua identidade

Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios

histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um

forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o

que pode ser constatado durante a pesquisa

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes

santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados

no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978

descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade

Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)

98

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

126

Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978

Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo

possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber

que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do

tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo

e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na

cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de

maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas

dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura

negra sendo considerados seus santos protetores

127

Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram

em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute

garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de

fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou

sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro

Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro

99

O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora

do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade

assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de

Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a

participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu

patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de

Luziacircnia

O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e

gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e

distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis

contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia

que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica

Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem

como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade

o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na

construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os

padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa

relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar

entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas

Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas

participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos

poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a

99

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

128

que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de

haver pouco tempo que a festa vem se realizando

Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da

comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas

de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada

momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor

religioso ou lazer puramente dito

No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela

vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre

querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo

com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do

Rosaacuterio possui para ela

Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo

100

No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa

Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a

comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show

com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a

comemoraccedilatildeo

A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a

preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do

patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso

A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees

101

Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da

igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente

100

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

129

na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste

local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros

Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e

intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso

da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando

cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso

A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees

musicais 102

O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a

organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o

estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior

essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos

com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103

Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua

fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a

igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa

Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104

Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)

quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos

tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo

essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os

moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo

seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos

Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao

longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de

puacuteblicos

102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

130

Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral

105

A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair

benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada

pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de

dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso

A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento

106

Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a

economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a

movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa

tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na

cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o

numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia

do municiacutepiordquo107

Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute

um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo

eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo

e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial

algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio

Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade

Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para

105

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014

131

que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

108

Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas

tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se

constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria

comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de

contribuir para o turismo na cidade

Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico

109

A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia

tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como

apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para

aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na

comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a

preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem

patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria

comunidade

108

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013

132

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

110

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013

133

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

134

Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

136

As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas

sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se

concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia

possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as

igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo

fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)

ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo

116

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116

Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

137

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua

identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma

comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer

novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito

do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam

atrativos turiacutesticos das cidades

As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de

hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos

formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar

uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se

consideram turistas

As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial

para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino

Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se

observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do

viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas

assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo

consideradas fortes tradiccedilotildees culturais

A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no

ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves

praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da

accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a

preservaccedilatildeo destes patrimocircnios

A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da

cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se

desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma

positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no

desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos

prestados

Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute

considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a

138

principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova

configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes

motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do

municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN

Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como

uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam

celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente

a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo

puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em

torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e

esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa

um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural

Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo

descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo

aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em

Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de

promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como

parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir

diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila

As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos

moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila

e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas

cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas

de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem

vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes

patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade

Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real

representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da

tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais

atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo

em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e

esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter

139

Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada

diardquo 117

Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se

perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que

compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado

de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de

casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba

desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de

proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos

todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido

Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui

valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo

Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela

importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los

atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses

Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute

importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade

agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados

aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui

O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que

aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel

como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e

assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos

negativos do que positivos para a cidade

A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo

colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute

pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns

participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que

para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se

tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os

envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico

117

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

140

O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que

isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os

recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm

potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e

sustentaacutevel

O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio

atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem

na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se

propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim

de toda a cidade

O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os

envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se

reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos

monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser

uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de

preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e

consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade

e da sociabilidaderdquo

Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos

vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos

sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais

sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e

social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das

populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em

uacuteltima instancia eacute praacutetica social

Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que

permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte

integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino

Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem

permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade

de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local

Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses

eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem

ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia

141

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153

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao

curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da

Universidade de Brasiacutelia

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua

colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato

voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees

solicitadas pelo pesquisador

Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e

mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os

resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse

trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada

Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo

Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB

carlawiccagmailcom

Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando

voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e

para a publicaccedilatildeo dos resultados

Luziacircnia _____ de _________________ de 2013

Assinatura do participante____________________________________________

Assinatura da pesquisadora___________________________________________

154

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1 Nome

2 Telefone

3 Profissatildeo

4 Idade

5 Estado Civil

6 Religiatildeo

7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos

Quais

9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos

patrimocircnios materiais de Luziacircnia

11 O que estas festas representam para vocecirc

155

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de

Luziacircnia

9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas

156

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o

desenvolvimento do turismo local

10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de

Luziacircnia

11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das

festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia

Page 4: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) CENTRO DE EXCELÊNCIA EM ...repositorio.unb.br/...CarlaAdrianaOliveiraSilva.pdf · Figura 49 – Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa.....113

2

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB)

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO (CET)

MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Dissertaccedilatildeo de autoria de Carla Adriana Oliveira Silva intitulada As festas histoacutericas

e religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidade submetida ao Centro de Excelecircncia em Turismo da Universidade de Brasiacutelia

como parte dos requisitos necessaacuterios para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em

Turismo em 03072014 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo

assinada

____________________________________________________________

Profa Dra Eloiacutesa Pereira Barroso

Orientadora

CETUnB

____________________________________________________________

Profa Dra Cleacuteria Botecirclho da Costa

PPG-HistoacuteriaUnB

____________________________________________________________

Profa Dra Karina Dias

CETUnB

Suplente

____________________________________________________________

Profa Dra Neuza de Farias Arauacutejo

3

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia

e em especial ao meu filho Ian

Gabriel

4

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os

meus passos em busca do bem maior

Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e

pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada

Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo

acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em

busca de mais conhecimento

Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a

importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus

objetivos

Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo

ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig

Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram

unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando

mutuamente

Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes

por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento

que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta

dissertaccedilatildeo

Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo

estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo

Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises

nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona

Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha

do mestrado na minha cabeccedila

Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua

experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos

de maior dificuldade

5

Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com

sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas

fotografias

Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e

paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho

Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas

Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires

e Wilter Coelho

Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de

Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo

Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra

estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento

oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente

6

ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim

pode ser o comeccedilordquo

Ivy Baker Priest

7

RESUMO

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local

Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia

8

ABSTRACT

The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism

Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia

9

LISTA DE SIGLAS

CNT - Conselho Nacional de Turismo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

GO ndash Goiaacutes

OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo

PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

10

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figuras

Capiacutetulo 1

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da

Cultura 36

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa

da Cultura 36

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na

Casa da Cultura 36

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54

Capiacutetulo 2

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante

Antigamente 69

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81

Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

11

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do

Rosaacuterio 83

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83

Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do

Rosaacuterio 84

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94

Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94

Capiacutetulo 3

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em

2013 113

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116

12

Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133

Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133

Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134

Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela

cidade 134

Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135

Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135

Tabelas

Capiacutetulo 1

Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo

Cultural 50

Capiacutetulo 3

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98

13

SUMAacuteRIO

Dedicatoacuteria iii

Agradecimentos iv

Epiacutegrafe vi

Resumo vii

Abstract viii

Lista de Siglas ix

Lista de figuras e tabelas x

INTRODUCcedilAtildeO 15

CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23

11 A Cultura 25

12 O Patrimocircnio 30

121 O Patrimocircnio Imaterial 33

13 O Turismo 40

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43

132 O Turismo Cultural 46

133 O Turismo Religioso 50

CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO

CULTURAL 54

21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59

22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62

23 O Centro Histoacuterico 66

24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71

14

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76

242 Igreja do Rosaacuterio 80

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89

246 Praccedila Evangelino Meireles 91

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92

248 O Cristo Redentor 93

CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106

311 O Pouso 114

312 A Catira 117

313 A Folia de Rua 118

314 As Cavalhadas 122

315 Os Leilotildees 124

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE

LUZIAcircNIAGO 156

15

INTRODUCcedilAtildeO

Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo

teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos

materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de

tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo

dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade

Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como

primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim

surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados

nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos

governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de

reconhecimento da identidade e da cultura local

O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte

espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se

tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de

desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade

Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo

da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais

que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no

desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de

desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois

refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural

relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local

como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade

As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute

uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e

que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a

preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica

social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes

espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a

identidade da comunidade local

16

Diante desse fato surgem as seguintes questotildees

1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e

Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio

3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios

culturais materiais e imateriais da cidade

4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em

campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um

fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que

pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem

percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os

meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que

a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa

Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca

do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia

usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a

pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao

encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar

uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do

conhecimento

O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu

numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o

discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica

fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo

compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais

adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua

cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas

e preservadas

17

Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual

os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente

pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar

dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um

dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees

que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade

Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois

visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o

estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa

identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos

fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e

extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia

especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade

Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave

produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do

saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que

ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio

despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo

retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para

produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)

As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente

organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO

e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos

necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas

envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante

meacutetodo pois ela

Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica

socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que

participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de

mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de

estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias

profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)

18

A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado

(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e

estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas

muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de

conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da

gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)

A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da

pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao

problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os

principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida

da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de

perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo

foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo

desta dissertaccedilatildeo

Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas

bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram

fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos

dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa

qualitativa

[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em

texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande

quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os

dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de

forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados

(GIBBS 2009 p 24)

As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias

Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma

metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas

que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi

fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que

participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees

culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar

essa identidade perdida

19

Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas

etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha

utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais

etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a

preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo

a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos

neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das

principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais

atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das

entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que

convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de

laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo

Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a

cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o

contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua

contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia

Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias

perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado

Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como

representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de

moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas

tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem

na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o

desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio

Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser

classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais

podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes

valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos

pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das

entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a

assinatura de termo de consentimento

As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado

antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas

20

em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em

abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos

entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu

Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se

entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a

opiniatildeo de um puacuteblico mais variado

Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e

trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se

declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo

Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas

1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila

2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo

3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes

4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro

5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva

6- Estudante Karina da Silva

7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira

8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires

9- Jornalista Francyelle Rocha

10- Advogado Wilter Campos Coelho

Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir

dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas

essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo

com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas

elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia

da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e

tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as

mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc

O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como

explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e

reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo

foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas

21

agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para

os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos

referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa

Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa

extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa

de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de

tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de

conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de

preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o

perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs

capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram

uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma

discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro

apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio

Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No

segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do

patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o

turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma

discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como

o turismo cultural e o turismo religioso

O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa

pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos

e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro

histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo

local

No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste

estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as

manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas

festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o

patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um

espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio

22

conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto

essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias

alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de

Luziacircnia

Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o

turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento

e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura

como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece

como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como

um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo

23

I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO

A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo

em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo

natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores

puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira

e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles

podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia

Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo

dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se

apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem

falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular

novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta

que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por

parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico

entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local

Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura

deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o

futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a

gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que

cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se

constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e

vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se

tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e

patrimonial

A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das

cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees

populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico

como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)

O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo

1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC

jandez 2005 n19-20 p 126-153

24

de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo

Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos

constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes

patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados

a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo

conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo

das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)

[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas

Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis

fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente

estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por

meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a

estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos

deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e

vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que

ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes

motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo

A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa

positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua

conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas

tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira

(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado

da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do

desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de

um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos

setores da sociedade

A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se

apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os

25

turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas

proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um

determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo

Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre

tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser

observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem

o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades

tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova

mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e

contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel

11 A Cultura

A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos

possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se

destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no

campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido

desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou

o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos

crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia

(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que

integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990

p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens

Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo

Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que

esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam

baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as

26

sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem

entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem

Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou

seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa

totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais

Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da

cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma

totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos

culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O

autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar

relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto

que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a

pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um

sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los

separadamenterdquo

Para Clifford Geertz (2008 p 24)

[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade

Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais

vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem

ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um

dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro

Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a

sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo

que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua

compreensatildeo

ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca

2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958

3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940

27

de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)

Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e

recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua

identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura

constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo

Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura

eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e

imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo

Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse

trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia

que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos

importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo

Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas

compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou

esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o

patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra

que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos

simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a

anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da

seguinte forma

Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros

A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de

diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso

das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros

(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais

expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura

determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou

4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997

28

inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade

Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma

que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as

atividades da vidardquo

Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso

para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade

mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura

da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona

medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o

direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)

As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por

geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas

que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua

fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para

filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas

festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos

Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens

adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5

(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila

que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica

Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida

quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o

municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas

formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita

com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como

Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)

Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um

processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre

5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris

PUF 1955

29

(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre

essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma

espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no

imaginaacuterio

A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e

intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os

lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se

fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo

que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees

materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo

As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura

tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para

a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo

dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura

tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo

A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)

Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da

cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja

positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode

estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim

este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio

cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a

atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que

visitam a cidade

6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968

30

12 O Patrimocircnio

A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela

passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma

famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo

termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por

conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o

patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como

ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura

homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto

de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)

O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo

simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse

sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por

sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos

costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus

patrimocircnios

Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como

esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista

patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em

que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito

das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem

patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO

para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa

Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos

Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade

Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como

memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica

31

principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo

Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua

histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO

aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo

visual

Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de

patrimocircnio cultural eacute bastante ampla

Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos

Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais

tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos

tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo

artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da

sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento

do turismo

Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma

comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)

observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-

se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor

etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e

peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo

Para Fonseca (2009 p 21)

Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia

Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas

tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo

possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do

Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia

32

que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais

como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se

dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade

Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na

preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e

Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em

razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e

216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da

comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido

como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em

conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira

O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como

um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade

contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto

com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu

proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se

formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a

relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores

que justificam a preservaccedilatildeordquo

Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao

buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer

confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009

p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos

da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado

corresponde agrave ideia que se faz delerdquo

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute

muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos

ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas

nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de

33

identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que

refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza

Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo

Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do

tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na

consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente

construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel

que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure

preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma

maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a

parte na vida em sociedade

121 O Patrimocircnio Imaterial

O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos

20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade

realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo

de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos

estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um

dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio

cultural ndash IPHAN em 1937

Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN

O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)

34

Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua

classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma

Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []

visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees

mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio

cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e

praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode

ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social

A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa

classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud

ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como

O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais

O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas

praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos

de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas

e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais

coletivas)

Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo

menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela

proacutepria comunidade

Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em

relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa

distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando

que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de

estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo

reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional

7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho

executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo

id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011

35

No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa

Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os

patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial em quatro livros

1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de

fazer enraizados no cotidiano das comunidades

2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam

a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras

praacuteticas da vida social

3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees

literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas

4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios

praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais

coletivas

Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade

se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes

dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza

imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura

oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]

eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares

objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo

9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em

lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013

36

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

37

Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e

o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das

Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino

Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa

dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que

acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no

livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da

comunidade

O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora

tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos

responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte

do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela

sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui

que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que

um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade

(FONSECA 2009)

Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais

valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de

forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas

manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a

vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente

em mudanccedila

Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute

justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como

referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante

o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses

patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem

Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados

Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas

muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da

38

cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do

Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as

suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA

2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um

grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos

explicam o conceito de performance como

Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural

Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de

Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial

possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade

pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade

do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no

municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com

valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas

como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o

comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo

Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees

para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e

disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda

interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que

os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos

de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita

tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na

disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial

A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance

como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia

nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda

deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10

UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003

39

geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia

dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim

destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo

no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da

UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)

Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras

possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim

a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte

dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas

estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas

de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com

a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos

que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente

daquele que se encontra ameaccedilado

O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees

como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes

patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros

patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas

histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte

intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de

LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do

municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de

Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

40

13 O Turismo

O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que

dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se

faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a

compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004

p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno

Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por

prazer Uso depredaccedilatildeordquo

De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo

discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e

tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo

de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que

etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual

com a intenccedilatildeo de regressar

Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo

era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses

realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres

ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de

educaccedilatildeo e cultura

Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992

Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um

cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a

negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno

econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas

relaccedilotildees

Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica

institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo

e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute

uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo

11

BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995

41

com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e

negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade

O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno

social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural

O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)

Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial

tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo

somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do

Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo

vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se

consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento

socioeconocircmicordquo

De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e

afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER

1991 p 231

Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova

perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades

oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e

arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse

estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa

(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida

em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade

Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e

desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e

imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo

de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando

12

O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13

Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013

42

entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em

torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico

O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o

desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a

poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais

importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte

geradora de serviccedilos produtos emprego e renda

Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de

natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico

social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o

desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos

tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e

privados quanto ao planejamento territorial das cidades

Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz

respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo

Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a

competitividade do turismo

[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de

sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)

O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um

planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se

virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo

eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade

logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e

economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute

possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o

turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir

diversos setores de desenvolvimento

Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e

modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico

43

cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se

deslocarem

Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo

e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)

[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural

Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais

fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos

70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais

aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI

1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por

parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos

Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo

pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as

regiotildees que abrigam suas atividades

A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos

de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos

empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e

incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como

orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os

gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar

um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou

seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos

projetos e programas da poliacutetica de turismo

14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash

Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013

44

Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de

Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural

O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)

define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa

apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O

autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que

demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente

em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e

econocircmicos numa mesma perspectiva

Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de

Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de

forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo

com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos

turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o

futuro

Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu

patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono

deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o

desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes

patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria

Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute

fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a

sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos

fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a

falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e

autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da

importacircncia deste planejamento

Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)

Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem

um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann

45

(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de

gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do

nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a

economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das

comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas

religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a

economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo

sustentaacutevel para esta regiatildeo

A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus

comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos

em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo

da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas

de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os

visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve

causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor

nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento

de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade

Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)

Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus

residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale

ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da

sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute

que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo

Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave

organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das

festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse

processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo

do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios

46

132 O Turismo Cultural

O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro

natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)

afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados

tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com

maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica

reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo

Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade

de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo

vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)

O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do

Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de

elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais

valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008

p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a

ascensatildeo de um turismo cultural na cidade

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de

transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch

(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente

contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo

da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos

povosrdquo

Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia

tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey

(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que

compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui

lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud

CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais

de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos

impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo

No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo

(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser

47

valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de

pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute

traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como

O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)

O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a

preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos

Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado

como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo

para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos

culturais e sua memoacuteria socialrdquo

Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e

tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o

processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades

Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns

aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e

econocircmica para diversos setores

Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as

celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre

outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um

turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa

forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e

desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um

turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do

descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo

que eacute seu

De acordo com Pires (2001)

15

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

48

ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)

Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de

viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas

histoacutericas

Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo

turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de

interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida

moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se

importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o

turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)

[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)

A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas

comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de

pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como

nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado

ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em

museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo

Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um

planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o

desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade

Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar

estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da

identidade local

Homi Bhabha diz que

49

O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)

Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees

no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade

O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio

do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da

cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam

como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior

representaccedilatildeo turiacutestica satildeo

1- Turismo Ciacutevico

2- Turismo Religioso

3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico

4- Turismo Eacutetnico

5- Turismo Cinematograacutefico

6- Turismo Arqueoloacutegico

7- Turismo Gastronocircmico

8- Enoturismo

9- Turismo Ferroviaacuterio

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de

serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo

cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo

de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de

serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos

50

Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010

Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as

viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto

que seraacute discutido a seguir

133 O Turismo Religioso

O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos

vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais

51

cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura

poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16

Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este

tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento

em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De

acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333

com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de

Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo

Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas

atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em

espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo

viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno

ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por

bull Peregrinaccedilotildees e romarias

bull Retiros espirituais

bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso

bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis

bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios

terreiros)

bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros

As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso

procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por

valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para

estimular as viagens como afirma Onfray (2009)

ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)

16

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014

52

Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista

que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista

tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele

busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual

A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o

turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos

em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p

3)

Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e

agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a

santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista

obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de

igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas

torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica

De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e

PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o

prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas

conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo

Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o

candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero

de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho

de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas

religiosos

No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os

destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no

Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em

Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR

1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito

Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo

religioso

17

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18

CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003

53

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro

19

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014

20

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

21

19

Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20

Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

54

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida

Fonte Site Conhecer22

Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de

atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a

receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a

caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)

As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum

segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute

Beni (1997) definiu o turismo religioso como

Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)

O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas

viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os

equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade

varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees

Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas

de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como

nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite

vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade

22

Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014

55

O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves

festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da

cultura luzianiense

Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as

mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a

diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo

A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a

cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana

Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica

nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais

de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por

ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte

delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p

27)

Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de

pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no

planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio

Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui

igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair

turistas para a cidade

56

II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL

Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes

entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto

de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio

histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas

manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial

a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)

O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que

possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas

Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a

torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute

que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo

fortemente influenciados por estas cidades

Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746

quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo

assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando

Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e

fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o

arraial se desenvolveria

Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a

Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia

constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade

Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de

partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa

Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas

do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da

Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante

predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas

de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)

23

Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014

57

No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia

aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo

ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do

seu potencial turiacutestico

Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo

sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda

compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso

o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma

cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do

calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e

menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu

valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como

de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local

Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material

jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e

Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel

Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade

incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo

Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de

abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos

por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar

valores a estes patrimocircnios

Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo

do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo

IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele

se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade

luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios

Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo

que possui significado para a comunidade

As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva

com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)

24

Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014

58

afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a

constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas

brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as

cidades histoacutericas como

Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)

Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade

histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de

Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura

fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo

de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade

A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe

concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do

Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais

diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos

sociais espaciais e culturais de toda ordem

Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por

tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta

pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de

Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense

possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como

o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade

como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta

identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as

culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural

Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado

ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural

Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash

UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular

59

considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e

que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes

e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)

Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas

tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva

aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e

afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de

cultura

A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial

como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para

alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial

carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se

importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem

para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado

ficando fadadas ao desaparecimento

Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio

histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio

Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que

possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre

histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a

necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da

interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo

21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO

Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante

Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na

regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro

que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em

homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel

(1994)

60

Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)

Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado

da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil

pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a

histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios

momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas

das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas

restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros

de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25

O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram

para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a

populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora

essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na

deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais

Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente

em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da

cidade

As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro

urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este

processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave

paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as

muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares

do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte

Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de

suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal

Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade

25

Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011

61

Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando

Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a

adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo

Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia

[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)

O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o

surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia

Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que

ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo

com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses

uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora

com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de

Luziacircnia

Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)

Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo

refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura

As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo

desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das

manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na

cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz

necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram

presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita

ser preservado

62

22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor

O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro

no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a

posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos

mais variados lugares do paiacutes

De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes

quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014

28

Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos

80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN

(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta

explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais

quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama

e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental

em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629

26

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27

Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28

Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29

De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993

63

Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de

3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e

proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e

o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o

cargo no inicio de 2013

A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e

desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens

e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o

intercambio com outras cidades30

Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em

muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o

seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo

do meio ambiente e do patrimocircnio cultural

A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto

Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como

Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)

O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de

outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos

baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e

da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o

desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o

desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua

conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras

No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de

interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro

histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30

Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014

64

artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e

cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira

convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo

econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e

histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser

alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a

proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e

econocircmicos agrave cidade

Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14

fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a

gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre

a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial

urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual

infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua

do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico

Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e

privados o qual tambeacutem natildeo existe

O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento

econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a

entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se

mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo

O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne

realidade mas natildeo depende soacute da gente31

Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos

estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as

accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a

ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a

preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo

31

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

65

cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo

sobre a importacircncia das festas

A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia

32

Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16

inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica

urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e

comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se

realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito

Santo

O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo

dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de

interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das

suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do

patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas

admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e

arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia

Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que

deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo

vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal

O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a

tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no

centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto

de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes

nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso

podia ser inviabilizado neacuterdquo33

32

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

66

O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de

transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de

sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo

localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre

outros o que pouco se vecirc

O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem

trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade

Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas

34

O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de

projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem

que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar

as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio

cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver

impedido de fazecirc-lo

Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o

municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um

novo plano

O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de

guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir

do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua

aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio

muito melhor

23 O Centro Histoacuterico

Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves

festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no

desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio

34

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

67

No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o

tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do

turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo

apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma

representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)

Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo

sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que

conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo

Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam

representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a

partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e

explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo

Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo

concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a

partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem

traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria

e compreensatildeo da sua cultura

Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma

como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem

ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo

ainda resistem agraves accedilotildees do tempo

Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante

intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que

A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)

A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma

intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio

Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica

central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo

68

econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas

setorialmenterdquo

Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do

centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse

espaccedilo

Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de

desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o

fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna

referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles

que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a

memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura

Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade

das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles

Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas

rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a

serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus

moradores e como espaccedilo de memoacuteria

Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades

seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria

Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que

a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se

transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a

estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela

partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde

vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo

Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos

da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo

que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que

foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e

culturalrdquo

Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e

preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa

(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos

69

Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)

Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e

valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute

importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras

tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das

suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato

viveram a histoacuteria

Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no

espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila

da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e

estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a

participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as

manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e

consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais

e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

70

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

71

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia

A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente

perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e

intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade

principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da

cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o

Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por

considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica

as manifestaccedilotildees populares etc

Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do

municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de

fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que

tambeacutem herdou dos seus colonizadores

Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de

comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de

sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho

guariroba hortaliccedilas e aguardente

Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce

tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem

portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por

escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de

72

hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de

pai para filho

Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta

que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade

Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende

da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos

Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de

registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute

estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo

eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de

marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a

especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios

produtores do doce

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

36

35

Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014

73

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014

37

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

38

O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute

retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas

de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense

37

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014

74

Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a

Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura

As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo

expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e

momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo

apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais

presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares

Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor

potencial turiacutestico

O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e

o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo

patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas

ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor

O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma

legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico

Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo

39

Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por

sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por

exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar

aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela

forma como foi feito

Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua

potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma

construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no

meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao

presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se

encontram diversos pertences de JK

39

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

75

Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi

completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais

e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda

estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa

judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio

material de Goiaacutes41

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo

42

Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis

fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade

Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave

hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis

sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns

especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo

e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico

O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees

agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos

O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem

encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica

40

Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42

Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014

76

Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

43

Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial

para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no

centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do

turismo na cidade

Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do

Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco

inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas

eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados

com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro

histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve

levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia

A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo

religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e

negros natildeo se misturavam

Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs

Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi

inaugurada em 1767 mesmo inacabada

Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa

ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila

com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta

de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)

43

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44

Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013

77

Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)

As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre

esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida

para mais tarde ser reconstruiacuteda

Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial

incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma

imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e

foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa

que foi modificada

Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida

diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees

comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo

A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a

responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito

Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de

onde partem as procissotildees nos dias de festa

78

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

79

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

80

242 A Igreja do Rosaacuterio

A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos

Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por

Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e

escravos

Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma

memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de

Luziacircniardquo

Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a

manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem

tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como

conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente

pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute

O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no

municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529

pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a

numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem

menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria

o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS

1925)

A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da

regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central

foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um

balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam

para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e

curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada

para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte

Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por

algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei

dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura

como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar

e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos

para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da

81

retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja

Matriz de Santa Luzia

A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que

esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os

cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa

ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou

familiarrdquo

A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo

Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980

Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de

Goiaacutes e a Prefeitura Municipal

De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da

Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes

Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)

A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte

dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela

fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo

das missas

Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

82

Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

83

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013

45

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

45

Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

84

Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro

A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo

histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu

da cidade

Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural

com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande

representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem

da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares

O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi

fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este

nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem

85

ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e

professor de Direito46

A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e

barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal

voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se

destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo

de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem

hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores

Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e

constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura

Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos

47

A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos

depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos

Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por

todos os cocircmodos

A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de

semana e feriados

46

Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

86

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

87

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

88

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles

O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e

Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e

ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a

intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central

Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e

conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes

No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em

oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto

Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles

as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel

O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui

verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados

e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio

O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de

14h30min agraves 17h30min

89

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo

A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs

Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em

que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram

fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para

paacutessaros e outros pequenos animais

Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais

conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em

azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade

de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja

do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos

Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um

deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da

rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes

48

Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014

90

Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os

dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras

da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)

Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos

drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham

destruindo a obra

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

91

Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

246 Praccedila Evangelino Meireles

A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo

modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros

ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo

um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute

tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas

Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado

e inuacutemeras drogarias

Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas

rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio

92

Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa

responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua

com alguns espaccedilos interditados

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014

50

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees

O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute

uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para

Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008

O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas

independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e

externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com

cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet

49

Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50

Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014

93

O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como

encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura

Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

248 O Cristo Redentor

Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo

agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua

estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se

94

encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da

cidade

Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

95

III AS FESTAS RELIGIOSAS

As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a

antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram

algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum

tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo

dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais

Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento

de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a

vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em

homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida

das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas

de muita importacircncia para as comunidades

As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)

Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na

formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que

ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma

identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional

ainda inexistenterdquo

O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa

influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele

Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira

O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como

51

JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005

96

O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar

Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de

registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram

interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a

comunidade daacute agrave sua cidade

O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm

3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo

como

[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)

Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute

foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das

Celebraccedilotildees estatildeo53

1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute

2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso

3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte

4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo

5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA

6- A Festa do Divino em ParatyRJ

7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis

Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas

religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das

52

Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53

Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014

97

comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que

os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo

No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto

a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio

imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele

local

Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar

presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois

enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de

correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada

pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na

fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as

festas retomam

Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas

54

Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas

celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os

anos

Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55

Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos

religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo

portuguesa e da feacute catoacutelica

Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte

influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao

patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento

turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam

milhares de pessoas por todo o mundo 54

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014

98

Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas

podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES

2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais

celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a

experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se

objetos do turismo

Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e

a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os

rituais permanecem iguais

A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que

acontecem no Brasil durante todo o ano

FESTA ESTADO

Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE

Festa dos Santos Reis PE

Festa do Bonfim BA

Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES

Festa de Iemanjaacute BA

Semana Santa -

Procissatildeo do Fogareacuteu GO

Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE

Festa de Nossa Senhora da Penha ES

Festa de Satildeo Benedito MT

Festa de Nossa Senhora da Piedade AP

Festa de Nossa Senhora das Neves PB

Romaria de Bom Jesus da Lapa BA

Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA

Festa do Rosaacuterio MGGO

Ciacuterio de Nazareacute PA

Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP

Festa do Padre Ciacutecero CE

Festa de Santa Baacuterbara BA

56

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

99

Festa de Nossa Senhora do Rocio PR

Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo

57

Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas

com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as

celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de

pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do

Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

58

57

Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

100

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna

59

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado

60

O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento

quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A

proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis

e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os

participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees

59

Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60

Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014

101

ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do

Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade

juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61

As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na

construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor

sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que

A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais

62

Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia

ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens

potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda

haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas

uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem

agraves festas tradicionais

Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e

Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo

formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o

reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e

espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de

reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas

praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa

Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos

A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre

esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute

As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade

61

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

102

religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel

63

A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da

estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando

diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de

geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos

foliotildees64

O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas

religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e

para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de

viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da

histoacuteria da cidade65

Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de

Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas

religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento

importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees

culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo

dos anos

Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como

parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a

economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p

10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais

Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada

Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que

estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances

63

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014

103

humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas

ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos

seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda

estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende

da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de

respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em

Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos

Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo

histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem

preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber

popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo

humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo

Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que

veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos

todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta

que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as

ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos

mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa

orgiardquo

Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por

isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas

tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos

culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando

valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute

natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de

edificaccedilotildees e peccedilas de museus

A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das

expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de

movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as

o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios

aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que

ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em

104

proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica

luacutedicardquo

Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que

atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa

do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do

Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das

datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora

do Rosaacuterio sete de outubro

Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no

desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de

celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a

catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute

catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo

de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino

culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo

Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado

de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo

ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo

sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim

Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do

Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos

conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala

tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por

pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia

O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente

67

66

Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

105

A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da

festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de

Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA

festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra

atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do

entorno que vem para caacuterdquo68

Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico

momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades

vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que

buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees

culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis

possuem na memoacuteria local

Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior

representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem

papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que

se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade

pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose

queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha

fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de

natildeo ser idecircntica a si mesmardquo

As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado

durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas

e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o

passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio

Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade

Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar

69

68

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

106

Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos

com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na

cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a

santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes

seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou

simplesmente para festejar

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia

A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no

Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao

Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de

cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e

deram origem agrave festa judaica de Pentecostes

O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que

celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os

apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo

surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs

(2000 p 24)

Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular

Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se

por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder

caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros

Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo

107

Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de

Janeiro durante o seacuteculo XIX

Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia

A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como

Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se

restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras

nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio

Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia

Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao

Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela

grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje

Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo

Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e

Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas

atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo

tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo

da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda

metade do seacuteculo XVIII

Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino

que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave

sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das

Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos

Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas

como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a

maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo

menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa

desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela

108

A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares

70

A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia

justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute

momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e

Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o

reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que

essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia

Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o

seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato

quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio

da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino

eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio

de Luziacircniardquo71

O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as

festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas

pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem

parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo

consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72

Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre

foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)

explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande

festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida

e cheiro de roupa novardquo

Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres

percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com

uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino

70

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

109

Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo

caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja

quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo

Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade

contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de

Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa

A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade

73

As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo

Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras

pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na

realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela

pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura

localrdquo74

Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa

festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo

de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais

satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma

relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se

perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do

povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante

o ano

Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as

inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo

73

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014

110

portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um

consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute

sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud

SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e

as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino

Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita

muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de

uma festa religiosardquo

A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em

relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade

fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a

comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas

de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um

movimento em torno do turismo cultural e religioso

Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do

Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos

mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida

Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo

uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano

aguardando a festa para comer esta especiaria

Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa

do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura

culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e

etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes

elementos

A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios

elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o

poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia

Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as

75

BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989

111

filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo

76

Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante

e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo

frito

A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa

77

Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito

assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute

preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa

demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio

imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo

construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham

para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-

se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas

Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os

foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua

realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz

ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A

partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados

ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade

Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que

organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa

Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968

apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar

com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia

oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do

76

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

112

festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com

os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78

Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade

Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela

primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo

nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo das festividades na cidade

Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas

79

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

78

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

113

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia

80

80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-

o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013

114

Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil

haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes

e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento

cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela

modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi

suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo

O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e

durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de

Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no

municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes

Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos

tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro

fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes

com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas

outras coisas foram retiradasrdquo 81

As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que

constituem a festa do Divino

311 O Pouso

O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo

e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois

tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles

formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para

a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem

entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita

Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a

bandeira do Divino

Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha

81

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

115

todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente

82

Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na

entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo

catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando

elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas

incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se

tornarem demasiadamente mundanas

O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre

com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os

ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na

chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles

continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser

proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com

comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre

isso

Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente

83

A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as

folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais

autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de

descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um

povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a

82

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

116

cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que

acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo

Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe

84

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009

Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves

festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se

mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que

ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute

que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo

84

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

117

Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas

tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada

eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute

tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo

312 A Catira

Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou

Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura

brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute

uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela

batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos

Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos

em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)

descreve a Catira como

A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel

A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo

Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA

2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no

meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua

expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em

dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves

vezes nas novenas ou no final da missardquo86

Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo

descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade

85

Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

118

A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)

87

Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009

O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e

assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as

geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator

constituinte de sua cultura

313 A Folia de Rua

As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e

constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes

em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias

constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico

brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia

87

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88

QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973

119

eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma

de preservaccedilatildeo da culturardquo89

A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro

ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de

visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e

entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com

muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na

cidade

Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda

90

Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como

demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos

excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter

outro significado que transcende o material

Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense

e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas

Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo

XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos

portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e

profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar

homenagens e saudarrdquo

O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros

elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como

aconteciam as folias de rua em Luziacircnia

Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros

89

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

120

foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria

Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como

acontecem as folias em Luziacircnia

Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas

91

Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos

seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em

que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute

espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo

divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo

Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de

rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes

que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A

jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das

caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de

pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e

furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92

Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade

E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato

93

O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo

religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma

91

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92

Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

121

que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees

eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos

de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso

Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar

94

Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo

intriacutenseco a festa

Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode

Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns

participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator

capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado

profano da festa que vem aumentando a cada ano

A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca

95

94

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

122

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das

festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado

religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas

rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]

essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas

comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo

A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais

momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa

tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade

Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do

Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas

a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do

turismo local

314 As Cavalhadas

Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por

volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para

123

Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de

cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo

As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento

cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas

surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que

com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles

que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo

A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e

Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais

personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa

azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros

Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas

embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute

personagens mascarados que representam o povo

Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme

nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico

profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades

goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo

Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de

dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona

Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave

dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade

Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando

96

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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

124

A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do

estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos

anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe

uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas

fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e

mouros em Luziacircnia

315 Os Leilotildees

Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino

em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo

leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por

comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os

leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do

Divino

Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o

leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que

doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja

do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os

leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade

Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa

97

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Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

125

Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo

destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns

consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no

municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa

festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio

da Silva discorre sobre isso

As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio

98

Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas

caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente

que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e

com a formaccedilatildeo da sua identidade

Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios

histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um

forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o

que pode ser constatado durante a pesquisa

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes

santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados

no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978

descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade

Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)

98

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

126

Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978

Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo

possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber

que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do

tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo

e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na

cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de

maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas

dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura

negra sendo considerados seus santos protetores

127

Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram

em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute

garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de

fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou

sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro

Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro

99

O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora

do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade

assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de

Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a

participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu

patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de

Luziacircnia

O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e

gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e

distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis

contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia

que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica

Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem

como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade

o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na

construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os

padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa

relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar

entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas

Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas

participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos

poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a

99

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

128

que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de

haver pouco tempo que a festa vem se realizando

Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da

comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas

de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada

momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor

religioso ou lazer puramente dito

No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela

vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre

querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo

com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do

Rosaacuterio possui para ela

Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo

100

No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa

Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a

comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show

com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a

comemoraccedilatildeo

A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a

preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do

patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso

A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees

101

Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da

igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente

100

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

129

na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste

local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros

Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e

intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso

da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando

cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso

A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees

musicais 102

O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a

organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o

estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior

essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos

com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103

Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua

fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a

igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa

Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104

Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)

quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos

tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo

essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os

moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo

seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos

Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao

longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de

puacuteblicos

102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

130

Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral

105

A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair

benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada

pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de

dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso

A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento

106

Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a

economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a

movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa

tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na

cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o

numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia

do municiacutepiordquo107

Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute

um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo

eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo

e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial

algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio

Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade

Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para

105

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014

131

que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

108

Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas

tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se

constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria

comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de

contribuir para o turismo na cidade

Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico

109

A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia

tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como

apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para

aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na

comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a

preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem

patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria

comunidade

108

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013

132

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

110

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013

133

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

136

As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas

sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se

concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia

possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as

igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo

fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)

ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo

116

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116

Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

137

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua

identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma

comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer

novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito

do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam

atrativos turiacutesticos das cidades

As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de

hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos

formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar

uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se

consideram turistas

As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial

para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino

Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se

observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do

viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas

assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo

consideradas fortes tradiccedilotildees culturais

A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no

ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves

praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da

accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a

preservaccedilatildeo destes patrimocircnios

A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da

cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se

desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma

positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no

desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos

prestados

Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute

considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a

138

principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova

configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes

motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do

municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN

Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como

uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam

celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente

a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo

puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em

torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e

esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa

um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural

Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo

descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo

aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em

Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de

promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como

parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir

diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila

As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos

moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila

e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas

cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas

de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem

vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes

patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade

Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real

representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da

tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais

atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo

em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e

esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter

139

Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada

diardquo 117

Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se

perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que

compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado

de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de

casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba

desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de

proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos

todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido

Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui

valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo

Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela

importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los

atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses

Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute

importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade

agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados

aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui

O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que

aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel

como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e

assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos

negativos do que positivos para a cidade

A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo

colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute

pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns

participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que

para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se

tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os

envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico

117

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

140

O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que

isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os

recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm

potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e

sustentaacutevel

O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio

atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem

na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se

propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim

de toda a cidade

O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os

envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se

reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos

monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser

uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de

preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e

consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade

e da sociabilidaderdquo

Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos

vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos

sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais

sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e

social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das

populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em

uacuteltima instancia eacute praacutetica social

Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que

permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte

integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino

Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem

permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade

de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local

Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses

eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem

ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia

141

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153

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao

curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da

Universidade de Brasiacutelia

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua

colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato

voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees

solicitadas pelo pesquisador

Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e

mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os

resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse

trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada

Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo

Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB

carlawiccagmailcom

Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando

voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e

para a publicaccedilatildeo dos resultados

Luziacircnia _____ de _________________ de 2013

Assinatura do participante____________________________________________

Assinatura da pesquisadora___________________________________________

154

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1 Nome

2 Telefone

3 Profissatildeo

4 Idade

5 Estado Civil

6 Religiatildeo

7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos

Quais

9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos

patrimocircnios materiais de Luziacircnia

11 O que estas festas representam para vocecirc

155

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de

Luziacircnia

9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas

156

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o

desenvolvimento do turismo local

10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de

Luziacircnia

11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das

festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia

Page 5: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) CENTRO DE EXCELÊNCIA EM ...repositorio.unb.br/...CarlaAdrianaOliveiraSilva.pdf · Figura 49 – Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa.....113

3

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia

e em especial ao meu filho Ian

Gabriel

4

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os

meus passos em busca do bem maior

Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e

pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada

Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo

acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em

busca de mais conhecimento

Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a

importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus

objetivos

Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo

ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig

Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram

unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando

mutuamente

Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes

por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento

que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta

dissertaccedilatildeo

Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo

estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo

Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises

nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona

Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha

do mestrado na minha cabeccedila

Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua

experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos

de maior dificuldade

5

Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com

sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas

fotografias

Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e

paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho

Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas

Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires

e Wilter Coelho

Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de

Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo

Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra

estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento

oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente

6

ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim

pode ser o comeccedilordquo

Ivy Baker Priest

7

RESUMO

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local

Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia

8

ABSTRACT

The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism

Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia

9

LISTA DE SIGLAS

CNT - Conselho Nacional de Turismo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

GO ndash Goiaacutes

OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo

PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

10

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figuras

Capiacutetulo 1

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da

Cultura 36

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa

da Cultura 36

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na

Casa da Cultura 36

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54

Capiacutetulo 2

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante

Antigamente 69

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81

Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

11

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do

Rosaacuterio 83

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83

Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do

Rosaacuterio 84

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94

Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94

Capiacutetulo 3

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em

2013 113

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116

12

Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133

Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133

Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134

Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela

cidade 134

Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135

Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135

Tabelas

Capiacutetulo 1

Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo

Cultural 50

Capiacutetulo 3

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98

13

SUMAacuteRIO

Dedicatoacuteria iii

Agradecimentos iv

Epiacutegrafe vi

Resumo vii

Abstract viii

Lista de Siglas ix

Lista de figuras e tabelas x

INTRODUCcedilAtildeO 15

CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23

11 A Cultura 25

12 O Patrimocircnio 30

121 O Patrimocircnio Imaterial 33

13 O Turismo 40

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43

132 O Turismo Cultural 46

133 O Turismo Religioso 50

CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO

CULTURAL 54

21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59

22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62

23 O Centro Histoacuterico 66

24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71

14

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76

242 Igreja do Rosaacuterio 80

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89

246 Praccedila Evangelino Meireles 91

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92

248 O Cristo Redentor 93

CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106

311 O Pouso 114

312 A Catira 117

313 A Folia de Rua 118

314 As Cavalhadas 122

315 Os Leilotildees 124

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE

LUZIAcircNIAGO 156

15

INTRODUCcedilAtildeO

Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo

teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos

materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de

tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo

dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade

Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como

primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim

surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados

nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos

governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de

reconhecimento da identidade e da cultura local

O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte

espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se

tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de

desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade

Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo

da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais

que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no

desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de

desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois

refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural

relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local

como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade

As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute

uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e

que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a

preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica

social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes

espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a

identidade da comunidade local

16

Diante desse fato surgem as seguintes questotildees

1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e

Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio

3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios

culturais materiais e imateriais da cidade

4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em

campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um

fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que

pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem

percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os

meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que

a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa

Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca

do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia

usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a

pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao

encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar

uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do

conhecimento

O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu

numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o

discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica

fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo

compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais

adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua

cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas

e preservadas

17

Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual

os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente

pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar

dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um

dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees

que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade

Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois

visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o

estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa

identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos

fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e

extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia

especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade

Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave

produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do

saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que

ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio

despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo

retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para

produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)

As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente

organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO

e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos

necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas

envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante

meacutetodo pois ela

Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica

socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que

participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de

mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de

estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias

profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)

18

A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado

(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e

estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas

muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de

conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da

gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)

A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da

pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao

problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os

principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida

da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de

perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo

foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo

desta dissertaccedilatildeo

Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas

bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram

fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos

dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa

qualitativa

[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em

texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande

quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os

dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de

forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados

(GIBBS 2009 p 24)

As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias

Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma

metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas

que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi

fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que

participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees

culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar

essa identidade perdida

19

Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas

etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha

utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais

etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a

preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo

a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos

neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das

principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais

atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das

entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que

convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de

laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo

Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a

cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o

contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua

contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia

Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias

perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado

Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como

representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de

moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas

tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem

na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o

desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio

Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser

classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais

podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes

valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos

pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das

entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a

assinatura de termo de consentimento

As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado

antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas

20

em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em

abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos

entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu

Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se

entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a

opiniatildeo de um puacuteblico mais variado

Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e

trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se

declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo

Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas

1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila

2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo

3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes

4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro

5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva

6- Estudante Karina da Silva

7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira

8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires

9- Jornalista Francyelle Rocha

10- Advogado Wilter Campos Coelho

Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir

dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas

essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo

com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas

elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia

da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e

tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as

mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc

O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como

explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e

reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo

foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas

21

agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para

os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos

referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa

Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa

extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa

de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de

tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de

conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de

preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o

perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs

capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram

uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma

discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro

apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio

Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No

segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do

patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o

turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma

discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como

o turismo cultural e o turismo religioso

O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa

pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos

e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro

histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo

local

No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste

estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as

manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas

festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o

patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um

espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio

22

conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto

essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias

alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de

Luziacircnia

Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o

turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento

e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura

como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece

como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como

um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo

23

I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO

A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo

em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo

natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores

puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira

e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles

podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia

Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo

dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se

apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem

falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular

novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta

que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por

parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico

entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local

Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura

deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o

futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a

gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que

cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se

constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e

vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se

tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e

patrimonial

A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das

cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees

populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico

como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)

O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo

1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC

jandez 2005 n19-20 p 126-153

24

de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo

Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos

constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes

patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados

a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo

conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo

das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)

[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas

Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis

fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente

estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por

meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a

estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos

deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e

vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que

ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes

motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo

A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa

positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua

conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas

tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira

(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado

da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do

desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de

um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos

setores da sociedade

A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se

apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os

25

turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas

proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um

determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo

Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre

tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser

observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem

o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades

tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova

mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e

contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel

11 A Cultura

A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos

possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se

destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no

campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido

desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou

o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos

crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia

(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que

integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990

p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens

Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo

Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que

esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam

baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as

26

sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem

entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem

Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou

seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa

totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais

Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da

cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma

totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos

culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O

autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar

relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto

que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a

pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um

sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los

separadamenterdquo

Para Clifford Geertz (2008 p 24)

[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade

Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais

vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem

ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um

dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro

Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a

sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo

que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua

compreensatildeo

ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca

2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958

3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940

27

de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)

Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e

recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua

identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura

constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo

Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura

eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e

imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo

Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse

trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia

que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos

importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo

Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas

compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou

esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o

patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra

que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos

simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a

anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da

seguinte forma

Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros

A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de

diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso

das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros

(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais

expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura

determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou

4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997

28

inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade

Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma

que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as

atividades da vidardquo

Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso

para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade

mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura

da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona

medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o

direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)

As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por

geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas

que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua

fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para

filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas

festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos

Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens

adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5

(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila

que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica

Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida

quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o

municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas

formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita

com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como

Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)

Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um

processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre

5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris

PUF 1955

29

(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre

essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma

espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no

imaginaacuterio

A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e

intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os

lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se

fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo

que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees

materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo

As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura

tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para

a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo

dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura

tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo

A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)

Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da

cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja

positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode

estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim

este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio

cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a

atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que

visitam a cidade

6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968

30

12 O Patrimocircnio

A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela

passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma

famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo

termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por

conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o

patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como

ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura

homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto

de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)

O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo

simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse

sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por

sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos

costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus

patrimocircnios

Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como

esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista

patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em

que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito

das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem

patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO

para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa

Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos

Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade

Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como

memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica

31

principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo

Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua

histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO

aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo

visual

Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de

patrimocircnio cultural eacute bastante ampla

Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos

Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais

tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos

tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo

artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da

sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento

do turismo

Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma

comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)

observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-

se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor

etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e

peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo

Para Fonseca (2009 p 21)

Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia

Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas

tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo

possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do

Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia

32

que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais

como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se

dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade

Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na

preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e

Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em

razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e

216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da

comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido

como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em

conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira

O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como

um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade

contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto

com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu

proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se

formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a

relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores

que justificam a preservaccedilatildeordquo

Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao

buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer

confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009

p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos

da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado

corresponde agrave ideia que se faz delerdquo

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute

muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos

ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas

nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de

33

identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que

refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza

Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo

Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do

tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na

consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente

construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel

que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure

preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma

maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a

parte na vida em sociedade

121 O Patrimocircnio Imaterial

O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos

20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade

realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo

de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos

estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um

dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio

cultural ndash IPHAN em 1937

Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN

O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)

34

Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua

classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma

Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []

visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees

mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio

cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e

praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode

ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social

A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa

classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud

ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como

O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais

O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas

praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos

de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas

e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais

coletivas)

Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo

menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela

proacutepria comunidade

Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em

relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa

distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando

que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de

estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo

reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional

7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho

executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo

id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011

35

No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa

Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os

patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial em quatro livros

1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de

fazer enraizados no cotidiano das comunidades

2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam

a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras

praacuteticas da vida social

3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees

literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas

4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios

praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais

coletivas

Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade

se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes

dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza

imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura

oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]

eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares

objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo

9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em

lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013

36

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

37

Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e

o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das

Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino

Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa

dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que

acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no

livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da

comunidade

O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora

tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos

responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte

do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela

sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui

que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que

um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade

(FONSECA 2009)

Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais

valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de

forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas

manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a

vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente

em mudanccedila

Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute

justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como

referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante

o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses

patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem

Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados

Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas

muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da

38

cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do

Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as

suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA

2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um

grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos

explicam o conceito de performance como

Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural

Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de

Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial

possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade

pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade

do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no

municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com

valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas

como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o

comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo

Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees

para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e

disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda

interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que

os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos

de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita

tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na

disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial

A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance

como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia

nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda

deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10

UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003

39

geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia

dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim

destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo

no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da

UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)

Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras

possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim

a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte

dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas

estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas

de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com

a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos

que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente

daquele que se encontra ameaccedilado

O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees

como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes

patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros

patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas

histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte

intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de

LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do

municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de

Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

40

13 O Turismo

O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que

dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se

faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a

compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004

p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno

Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por

prazer Uso depredaccedilatildeordquo

De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo

discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e

tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo

de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que

etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual

com a intenccedilatildeo de regressar

Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo

era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses

realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres

ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de

educaccedilatildeo e cultura

Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992

Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um

cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a

negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno

econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas

relaccedilotildees

Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica

institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo

e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute

uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo

11

BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995

41

com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e

negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade

O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno

social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural

O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)

Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial

tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo

somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do

Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo

vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se

consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento

socioeconocircmicordquo

De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e

afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER

1991 p 231

Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova

perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades

oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e

arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse

estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa

(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida

em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade

Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e

desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e

imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo

de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando

12

O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13

Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013

42

entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em

torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico

O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o

desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a

poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais

importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte

geradora de serviccedilos produtos emprego e renda

Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de

natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico

social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o

desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos

tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e

privados quanto ao planejamento territorial das cidades

Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz

respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo

Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a

competitividade do turismo

[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de

sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)

O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um

planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se

virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo

eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade

logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e

economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute

possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o

turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir

diversos setores de desenvolvimento

Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e

modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico

43

cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se

deslocarem

Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo

e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)

[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural

Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais

fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos

70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais

aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI

1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por

parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos

Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo

pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as

regiotildees que abrigam suas atividades

A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos

de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos

empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e

incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como

orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os

gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar

um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou

seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos

projetos e programas da poliacutetica de turismo

14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash

Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013

44

Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de

Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural

O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)

define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa

apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O

autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que

demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente

em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e

econocircmicos numa mesma perspectiva

Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de

Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de

forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo

com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos

turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o

futuro

Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu

patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono

deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o

desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes

patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria

Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute

fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a

sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos

fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a

falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e

autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da

importacircncia deste planejamento

Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)

Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem

um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann

45

(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de

gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do

nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a

economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das

comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas

religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a

economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo

sustentaacutevel para esta regiatildeo

A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus

comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos

em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo

da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas

de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os

visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve

causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor

nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento

de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade

Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)

Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus

residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale

ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da

sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute

que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo

Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave

organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das

festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse

processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo

do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios

46

132 O Turismo Cultural

O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro

natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)

afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados

tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com

maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica

reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo

Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade

de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo

vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)

O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do

Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de

elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais

valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008

p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a

ascensatildeo de um turismo cultural na cidade

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de

transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch

(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente

contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo

da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos

povosrdquo

Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia

tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey

(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que

compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui

lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud

CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais

de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos

impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo

No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo

(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser

47

valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de

pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute

traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como

O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)

O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a

preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos

Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado

como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo

para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos

culturais e sua memoacuteria socialrdquo

Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e

tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o

processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades

Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns

aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e

econocircmica para diversos setores

Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as

celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre

outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um

turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa

forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e

desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um

turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do

descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo

que eacute seu

De acordo com Pires (2001)

15

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

48

ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)

Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de

viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas

histoacutericas

Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo

turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de

interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida

moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se

importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o

turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)

[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)

A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas

comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de

pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como

nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado

ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em

museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo

Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um

planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o

desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade

Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar

estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da

identidade local

Homi Bhabha diz que

49

O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)

Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees

no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade

O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio

do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da

cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam

como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior

representaccedilatildeo turiacutestica satildeo

1- Turismo Ciacutevico

2- Turismo Religioso

3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico

4- Turismo Eacutetnico

5- Turismo Cinematograacutefico

6- Turismo Arqueoloacutegico

7- Turismo Gastronocircmico

8- Enoturismo

9- Turismo Ferroviaacuterio

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de

serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo

cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo

de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de

serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos

50

Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010

Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as

viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto

que seraacute discutido a seguir

133 O Turismo Religioso

O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos

vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais

51

cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura

poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16

Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este

tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento

em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De

acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333

com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de

Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo

Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas

atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em

espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo

viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno

ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por

bull Peregrinaccedilotildees e romarias

bull Retiros espirituais

bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso

bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis

bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios

terreiros)

bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros

As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso

procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por

valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para

estimular as viagens como afirma Onfray (2009)

ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)

16

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014

52

Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista

que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista

tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele

busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual

A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o

turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos

em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p

3)

Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e

agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a

santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista

obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de

igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas

torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica

De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e

PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o

prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas

conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo

Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o

candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero

de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho

de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas

religiosos

No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os

destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no

Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em

Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR

1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito

Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo

religioso

17

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18

CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003

53

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro

19

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014

20

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

21

19

Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20

Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

54

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida

Fonte Site Conhecer22

Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de

atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a

receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a

caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)

As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum

segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute

Beni (1997) definiu o turismo religioso como

Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)

O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas

viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os

equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade

varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees

Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas

de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como

nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite

vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade

22

Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014

55

O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves

festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da

cultura luzianiense

Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as

mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a

diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo

A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a

cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana

Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica

nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais

de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por

ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte

delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p

27)

Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de

pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no

planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio

Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui

igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair

turistas para a cidade

56

II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL

Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes

entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto

de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio

histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas

manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial

a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)

O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que

possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas

Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a

torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute

que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo

fortemente influenciados por estas cidades

Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746

quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo

assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando

Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e

fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o

arraial se desenvolveria

Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a

Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia

constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade

Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de

partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa

Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas

do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da

Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante

predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas

de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)

23

Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014

57

No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia

aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo

ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do

seu potencial turiacutestico

Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo

sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda

compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso

o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma

cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do

calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e

menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu

valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como

de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local

Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material

jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e

Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel

Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade

incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo

Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de

abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos

por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar

valores a estes patrimocircnios

Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo

do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo

IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele

se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade

luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios

Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo

que possui significado para a comunidade

As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva

com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)

24

Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014

58

afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a

constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas

brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as

cidades histoacutericas como

Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)

Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade

histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de

Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura

fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo

de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade

A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe

concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do

Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais

diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos

sociais espaciais e culturais de toda ordem

Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por

tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta

pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de

Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense

possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como

o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade

como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta

identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as

culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural

Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado

ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural

Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash

UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular

59

considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e

que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes

e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)

Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas

tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva

aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e

afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de

cultura

A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial

como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para

alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial

carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se

importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem

para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado

ficando fadadas ao desaparecimento

Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio

histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio

Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que

possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre

histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a

necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da

interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo

21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO

Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante

Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na

regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro

que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em

homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel

(1994)

60

Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)

Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado

da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil

pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a

histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios

momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas

das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas

restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros

de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25

O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram

para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a

populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora

essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na

deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais

Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente

em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da

cidade

As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro

urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este

processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave

paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as

muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares

do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte

Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de

suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal

Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade

25

Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011

61

Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando

Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a

adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo

Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia

[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)

O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o

surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia

Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que

ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo

com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses

uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora

com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de

Luziacircnia

Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)

Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo

refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura

As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo

desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das

manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na

cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz

necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram

presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita

ser preservado

62

22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor

O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro

no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a

posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos

mais variados lugares do paiacutes

De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes

quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014

28

Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos

80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN

(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta

explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais

quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama

e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental

em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629

26

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27

Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28

Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29

De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993

63

Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de

3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e

proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e

o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o

cargo no inicio de 2013

A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e

desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens

e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o

intercambio com outras cidades30

Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em

muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o

seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo

do meio ambiente e do patrimocircnio cultural

A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto

Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como

Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)

O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de

outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos

baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e

da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o

desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o

desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua

conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras

No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de

interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro

histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30

Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014

64

artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e

cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira

convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo

econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e

histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser

alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a

proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e

econocircmicos agrave cidade

Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14

fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a

gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre

a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial

urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual

infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua

do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico

Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e

privados o qual tambeacutem natildeo existe

O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento

econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a

entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se

mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo

O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne

realidade mas natildeo depende soacute da gente31

Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos

estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as

accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a

ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a

preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo

31

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

65

cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo

sobre a importacircncia das festas

A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia

32

Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16

inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica

urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e

comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se

realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito

Santo

O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo

dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de

interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das

suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do

patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas

admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e

arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia

Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que

deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo

vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal

O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a

tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no

centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto

de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes

nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso

podia ser inviabilizado neacuterdquo33

32

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

66

O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de

transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de

sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo

localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre

outros o que pouco se vecirc

O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem

trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade

Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas

34

O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de

projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem

que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar

as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio

cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver

impedido de fazecirc-lo

Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o

municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um

novo plano

O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de

guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir

do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua

aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio

muito melhor

23 O Centro Histoacuterico

Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves

festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no

desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio

34

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

67

No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o

tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do

turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo

apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma

representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)

Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo

sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que

conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo

Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam

representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a

partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e

explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo

Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo

concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a

partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem

traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria

e compreensatildeo da sua cultura

Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma

como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem

ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo

ainda resistem agraves accedilotildees do tempo

Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante

intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que

A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)

A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma

intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio

Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica

central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo

68

econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas

setorialmenterdquo

Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do

centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse

espaccedilo

Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de

desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o

fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna

referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles

que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a

memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura

Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade

das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles

Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas

rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a

serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus

moradores e como espaccedilo de memoacuteria

Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades

seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria

Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que

a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se

transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a

estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela

partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde

vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo

Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos

da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo

que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que

foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e

culturalrdquo

Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e

preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa

(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos

69

Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)

Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e

valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute

importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras

tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das

suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato

viveram a histoacuteria

Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no

espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila

da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e

estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a

participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as

manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e

consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais

e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

70

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

71

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia

A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente

perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e

intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade

principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da

cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o

Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por

considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica

as manifestaccedilotildees populares etc

Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do

municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de

fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que

tambeacutem herdou dos seus colonizadores

Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de

comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de

sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho

guariroba hortaliccedilas e aguardente

Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce

tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem

portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por

escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de

72

hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de

pai para filho

Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta

que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade

Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende

da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos

Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de

registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute

estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo

eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de

marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a

especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios

produtores do doce

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

36

35

Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014

73

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014

37

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

38

O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute

retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas

de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense

37

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014

74

Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a

Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura

As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo

expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e

momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo

apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais

presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares

Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor

potencial turiacutestico

O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e

o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo

patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas

ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor

O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma

legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico

Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo

39

Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por

sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por

exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar

aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela

forma como foi feito

Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua

potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma

construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no

meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao

presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se

encontram diversos pertences de JK

39

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

75

Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi

completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais

e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda

estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa

judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio

material de Goiaacutes41

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo

42

Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis

fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade

Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave

hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis

sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns

especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo

e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico

O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees

agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos

O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem

encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica

40

Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42

Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014

76

Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

43

Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial

para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no

centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do

turismo na cidade

Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do

Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco

inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas

eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados

com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro

histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve

levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia

A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo

religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e

negros natildeo se misturavam

Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs

Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi

inaugurada em 1767 mesmo inacabada

Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa

ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila

com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta

de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)

43

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44

Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013

77

Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)

As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre

esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida

para mais tarde ser reconstruiacuteda

Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial

incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma

imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e

foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa

que foi modificada

Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida

diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees

comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo

A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a

responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito

Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de

onde partem as procissotildees nos dias de festa

78

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

79

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

80

242 A Igreja do Rosaacuterio

A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos

Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por

Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e

escravos

Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma

memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de

Luziacircniardquo

Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a

manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem

tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como

conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente

pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute

O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no

municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529

pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a

numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem

menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria

o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS

1925)

A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da

regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central

foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um

balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam

para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e

curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada

para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte

Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por

algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei

dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura

como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar

e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos

para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da

81

retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja

Matriz de Santa Luzia

A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que

esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os

cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa

ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou

familiarrdquo

A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo

Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980

Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de

Goiaacutes e a Prefeitura Municipal

De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da

Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes

Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)

A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte

dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela

fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo

das missas

Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

82

Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

83

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013

45

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

45

Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

84

Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro

A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo

histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu

da cidade

Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural

com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande

representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem

da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares

O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi

fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este

nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem

85

ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e

professor de Direito46

A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e

barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal

voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se

destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo

de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem

hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores

Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e

constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura

Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos

47

A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos

depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos

Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por

todos os cocircmodos

A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de

semana e feriados

46

Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

86

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

87

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

88

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles

O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e

Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e

ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a

intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central

Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e

conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes

No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em

oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto

Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles

as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel

O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui

verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados

e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio

O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de

14h30min agraves 17h30min

89

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo

A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs

Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em

que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram

fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para

paacutessaros e outros pequenos animais

Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais

conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em

azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade

de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja

do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos

Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um

deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da

rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes

48

Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014

90

Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os

dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras

da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)

Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos

drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham

destruindo a obra

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

91

Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

246 Praccedila Evangelino Meireles

A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo

modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros

ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo

um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute

tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas

Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado

e inuacutemeras drogarias

Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas

rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio

92

Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa

responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua

com alguns espaccedilos interditados

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014

50

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees

O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute

uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para

Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008

O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas

independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e

externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com

cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet

49

Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50

Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014

93

O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como

encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura

Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

248 O Cristo Redentor

Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo

agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua

estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se

94

encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da

cidade

Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

95

III AS FESTAS RELIGIOSAS

As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a

antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram

algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum

tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo

dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais

Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento

de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a

vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em

homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida

das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas

de muita importacircncia para as comunidades

As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)

Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na

formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que

ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma

identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional

ainda inexistenterdquo

O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa

influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele

Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira

O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como

51

JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005

96

O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar

Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de

registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram

interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a

comunidade daacute agrave sua cidade

O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm

3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo

como

[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)

Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute

foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das

Celebraccedilotildees estatildeo53

1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute

2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso

3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte

4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo

5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA

6- A Festa do Divino em ParatyRJ

7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis

Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas

religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das

52

Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53

Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014

97

comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que

os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo

No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto

a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio

imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele

local

Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar

presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois

enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de

correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada

pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na

fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as

festas retomam

Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas

54

Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas

celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os

anos

Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55

Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos

religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo

portuguesa e da feacute catoacutelica

Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte

influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao

patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento

turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam

milhares de pessoas por todo o mundo 54

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014

98

Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas

podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES

2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais

celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a

experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se

objetos do turismo

Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e

a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os

rituais permanecem iguais

A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que

acontecem no Brasil durante todo o ano

FESTA ESTADO

Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE

Festa dos Santos Reis PE

Festa do Bonfim BA

Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES

Festa de Iemanjaacute BA

Semana Santa -

Procissatildeo do Fogareacuteu GO

Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE

Festa de Nossa Senhora da Penha ES

Festa de Satildeo Benedito MT

Festa de Nossa Senhora da Piedade AP

Festa de Nossa Senhora das Neves PB

Romaria de Bom Jesus da Lapa BA

Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA

Festa do Rosaacuterio MGGO

Ciacuterio de Nazareacute PA

Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP

Festa do Padre Ciacutecero CE

Festa de Santa Baacuterbara BA

56

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

99

Festa de Nossa Senhora do Rocio PR

Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo

57

Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas

com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as

celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de

pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do

Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

58

57

Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

100

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna

59

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado

60

O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento

quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A

proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis

e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os

participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees

59

Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60

Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014

101

ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do

Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade

juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61

As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na

construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor

sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que

A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais

62

Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia

ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens

potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda

haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas

uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem

agraves festas tradicionais

Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e

Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo

formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o

reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e

espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de

reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas

praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa

Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos

A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre

esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute

As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade

61

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

102

religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel

63

A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da

estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando

diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de

geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos

foliotildees64

O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas

religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e

para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de

viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da

histoacuteria da cidade65

Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de

Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas

religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento

importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees

culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo

dos anos

Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como

parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a

economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p

10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais

Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada

Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que

estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances

63

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014

103

humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas

ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos

seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda

estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende

da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de

respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em

Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos

Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo

histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem

preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber

popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo

humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo

Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que

veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos

todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta

que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as

ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos

mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa

orgiardquo

Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por

isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas

tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos

culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando

valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute

natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de

edificaccedilotildees e peccedilas de museus

A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das

expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de

movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as

o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios

aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que

ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em

104

proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica

luacutedicardquo

Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que

atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa

do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do

Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das

datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora

do Rosaacuterio sete de outubro

Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no

desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de

celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a

catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute

catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo

de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino

culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo

Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado

de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo

ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo

sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim

Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do

Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos

conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala

tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por

pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia

O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente

67

66

Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

105

A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da

festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de

Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA

festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra

atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do

entorno que vem para caacuterdquo68

Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico

momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades

vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que

buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees

culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis

possuem na memoacuteria local

Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior

representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem

papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que

se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade

pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose

queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha

fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de

natildeo ser idecircntica a si mesmardquo

As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado

durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas

e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o

passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio

Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade

Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar

69

68

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

106

Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos

com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na

cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a

santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes

seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou

simplesmente para festejar

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia

A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no

Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao

Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de

cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e

deram origem agrave festa judaica de Pentecostes

O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que

celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os

apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo

surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs

(2000 p 24)

Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular

Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se

por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder

caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros

Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo

107

Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de

Janeiro durante o seacuteculo XIX

Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia

A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como

Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se

restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras

nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio

Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia

Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao

Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela

grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje

Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo

Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e

Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas

atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo

tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo

da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda

metade do seacuteculo XVIII

Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino

que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave

sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das

Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos

Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas

como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a

maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo

menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa

desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela

108

A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares

70

A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia

justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute

momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e

Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o

reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que

essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia

Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o

seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato

quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio

da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino

eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio

de Luziacircniardquo71

O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as

festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas

pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem

parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo

consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72

Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre

foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)

explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande

festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida

e cheiro de roupa novardquo

Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres

percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com

uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino

70

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

109

Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo

caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja

quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo

Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade

contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de

Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa

A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade

73

As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo

Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras

pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na

realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela

pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura

localrdquo74

Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa

festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo

de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais

satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma

relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se

perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do

povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante

o ano

Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as

inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo

73

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014

110

portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um

consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute

sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud

SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e

as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino

Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita

muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de

uma festa religiosardquo

A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em

relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade

fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a

comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas

de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um

movimento em torno do turismo cultural e religioso

Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do

Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos

mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida

Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo

uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano

aguardando a festa para comer esta especiaria

Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa

do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura

culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e

etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes

elementos

A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios

elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o

poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia

Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as

75

BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989

111

filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo

76

Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante

e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo

frito

A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa

77

Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito

assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute

preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa

demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio

imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo

construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham

para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-

se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas

Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os

foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua

realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz

ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A

partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados

ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade

Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que

organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa

Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968

apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar

com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia

oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do

76

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

112

festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com

os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78

Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade

Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela

primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo

nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo das festividades na cidade

Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas

79

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

78

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

113

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia

80

80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-

o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013

114

Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil

haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes

e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento

cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela

modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi

suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo

O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e

durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de

Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no

municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes

Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos

tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro

fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes

com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas

outras coisas foram retiradasrdquo 81

As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que

constituem a festa do Divino

311 O Pouso

O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo

e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois

tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles

formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para

a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem

entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita

Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a

bandeira do Divino

Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha

81

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

115

todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente

82

Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na

entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo

catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando

elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas

incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se

tornarem demasiadamente mundanas

O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre

com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os

ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na

chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles

continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser

proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com

comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre

isso

Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente

83

A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as

folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais

autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de

descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um

povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a

82

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

116

cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que

acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo

Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe

84

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009

Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves

festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se

mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que

ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute

que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo

84

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

117

Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas

tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada

eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute

tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo

312 A Catira

Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou

Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura

brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute

uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela

batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos

Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos

em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)

descreve a Catira como

A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel

A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo

Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA

2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no

meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua

expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em

dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves

vezes nas novenas ou no final da missardquo86

Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo

descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade

85

Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

118

A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)

87

Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009

O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e

assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as

geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator

constituinte de sua cultura

313 A Folia de Rua

As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e

constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes

em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias

constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico

brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia

87

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88

QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973

119

eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma

de preservaccedilatildeo da culturardquo89

A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro

ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de

visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e

entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com

muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na

cidade

Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda

90

Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como

demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos

excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter

outro significado que transcende o material

Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense

e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas

Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo

XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos

portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e

profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar

homenagens e saudarrdquo

O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros

elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como

aconteciam as folias de rua em Luziacircnia

Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros

89

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

120

foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria

Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como

acontecem as folias em Luziacircnia

Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas

91

Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos

seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em

que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute

espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo

divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo

Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de

rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes

que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A

jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das

caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de

pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e

furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92

Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade

E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato

93

O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo

religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma

91

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92

Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

121

que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees

eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos

de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso

Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar

94

Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo

intriacutenseco a festa

Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode

Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns

participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator

capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado

profano da festa que vem aumentando a cada ano

A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca

95

94

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

122

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das

festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado

religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas

rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]

essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas

comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo

A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais

momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa

tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade

Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do

Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas

a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do

turismo local

314 As Cavalhadas

Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por

volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para

123

Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de

cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo

As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento

cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas

surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que

com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles

que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo

A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e

Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais

personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa

azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros

Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas

embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute

personagens mascarados que representam o povo

Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme

nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico

profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades

goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo

Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de

dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona

Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave

dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade

Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando

96

96

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

124

A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do

estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos

anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe

uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas

fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e

mouros em Luziacircnia

315 Os Leilotildees

Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino

em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo

leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por

comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os

leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do

Divino

Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o

leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que

doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja

do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os

leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade

Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa

97

97

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

125

Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo

destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns

consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no

municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa

festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio

da Silva discorre sobre isso

As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio

98

Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas

caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente

que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e

com a formaccedilatildeo da sua identidade

Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios

histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um

forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o

que pode ser constatado durante a pesquisa

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes

santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados

no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978

descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade

Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)

98

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

126

Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978

Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo

possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber

que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do

tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo

e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na

cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de

maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas

dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura

negra sendo considerados seus santos protetores

127

Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram

em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute

garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de

fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou

sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro

Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro

99

O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora

do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade

assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de

Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a

participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu

patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de

Luziacircnia

O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e

gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e

distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis

contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia

que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica

Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem

como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade

o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na

construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os

padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa

relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar

entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas

Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas

participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos

poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a

99

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

128

que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de

haver pouco tempo que a festa vem se realizando

Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da

comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas

de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada

momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor

religioso ou lazer puramente dito

No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela

vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre

querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo

com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do

Rosaacuterio possui para ela

Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo

100

No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa

Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a

comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show

com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a

comemoraccedilatildeo

A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a

preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do

patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso

A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees

101

Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da

igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente

100

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

129

na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste

local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros

Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e

intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso

da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando

cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso

A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees

musicais 102

O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a

organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o

estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior

essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos

com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103

Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua

fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a

igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa

Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104

Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)

quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos

tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo

essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os

moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo

seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos

Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao

longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de

puacuteblicos

102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

130

Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral

105

A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair

benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada

pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de

dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso

A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento

106

Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a

economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a

movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa

tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na

cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o

numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia

do municiacutepiordquo107

Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute

um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo

eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo

e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial

algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio

Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade

Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para

105

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014

131

que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

108

Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas

tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se

constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria

comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de

contribuir para o turismo na cidade

Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico

109

A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia

tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como

apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para

aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na

comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a

preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem

patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria

comunidade

108

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013

132

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013

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Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

136

As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas

sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se

concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia

possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as

igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo

fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)

ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116

Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

137

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua

identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma

comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer

novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito

do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam

atrativos turiacutesticos das cidades

As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de

hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos

formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar

uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se

consideram turistas

As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial

para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino

Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se

observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do

viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas

assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo

consideradas fortes tradiccedilotildees culturais

A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no

ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves

praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da

accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a

preservaccedilatildeo destes patrimocircnios

A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da

cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se

desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma

positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no

desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos

prestados

Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute

considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a

138

principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova

configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes

motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do

municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN

Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como

uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam

celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente

a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo

puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em

torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e

esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa

um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural

Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo

descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo

aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em

Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de

promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como

parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir

diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila

As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos

moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila

e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas

cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas

de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem

vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes

patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade

Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real

representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da

tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais

atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo

em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e

esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter

139

Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada

diardquo 117

Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se

perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que

compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado

de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de

casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba

desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de

proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos

todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido

Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui

valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo

Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela

importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los

atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses

Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute

importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade

agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados

aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui

O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que

aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel

como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e

assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos

negativos do que positivos para a cidade

A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo

colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute

pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns

participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que

para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se

tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os

envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico

117

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

140

O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que

isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os

recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm

potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e

sustentaacutevel

O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio

atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem

na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se

propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim

de toda a cidade

O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os

envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se

reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos

monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser

uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de

preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e

consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade

e da sociabilidaderdquo

Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos

vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos

sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais

sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e

social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das

populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em

uacuteltima instancia eacute praacutetica social

Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que

permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte

integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino

Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem

permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade

de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local

Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses

eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem

ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia

141

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153

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao

curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da

Universidade de Brasiacutelia

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua

colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato

voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees

solicitadas pelo pesquisador

Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e

mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os

resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse

trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada

Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo

Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB

carlawiccagmailcom

Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando

voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e

para a publicaccedilatildeo dos resultados

Luziacircnia _____ de _________________ de 2013

Assinatura do participante____________________________________________

Assinatura da pesquisadora___________________________________________

154

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1 Nome

2 Telefone

3 Profissatildeo

4 Idade

5 Estado Civil

6 Religiatildeo

7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos

Quais

9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos

patrimocircnios materiais de Luziacircnia

11 O que estas festas representam para vocecirc

155

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de

Luziacircnia

9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas

156

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o

desenvolvimento do turismo local

10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de

Luziacircnia

11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das

festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia

Page 6: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) CENTRO DE EXCELÊNCIA EM ...repositorio.unb.br/...CarlaAdrianaOliveiraSilva.pdf · Figura 49 – Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa.....113

4

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente ao ser superior no qual eu confio e que guia os

meus passos em busca do bem maior

Agradeccedilo agrave minha orientadora Profordf Drordf Eloiacutesa Barroso pelas atenciosas e

pacientes orientaccedilotildees que me ajudaram e me guiaram nesta difiacutecil caminhada

Agradeccedilo ao municiacutepio de Luziacircnia que me recebeu de forma tatildeo

acolhedora lugar onde fiz amigos eternos e cidade que despertou meu interesse em

busca de mais conhecimento

Agradeccedilo agrave minha matildee Ivonildes Oliveira que sempre me ensinou a

importacircncia de ser uma mulher independente e a caminhar em busca dos meus

objetivos

Agradeccedilo a todos da turma do mestrado em especial agraves amigas do grupo

ldquoAsneiras do CETrdquo Acircngela Gomes Carolina Faacutevero Elisseacutelia Ramos Geruza Erig

Juzacircnia Brandatildeo e Thamyris Andrade que durante esse aprendizado estiveram

unidas e foram companheiras nos momentos de dificuldades sempre se ajudando

mutuamente

Agradeccedilo ao Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes

por incentivar a qualificaccedilatildeo de seus servidores e por me conceder o afastamento

que garantiu que eu me dedicasse com mais tranquumlilidade agrave conclusatildeo desta

dissertaccedilatildeo

Agradeccedilo a todos os servidores e amigos do Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia de Goiaacutes especialmente aos do campus Luziacircnia pelo

estiacutemulo e apoio que me deram em todo o processo

Agradeccedilo agrave amiga Wacircnia Sanches por me aguentar durante as crises

nervosas e momentos de desespero tatildeo frequentes nessa maratona

Agradeccedilo agrave amiga e psicoacuteloga Liacutegia Cavalcante por plantar a sementinha

do mestrado na minha cabeccedila

Agradeccedilo agrave amiga e professora Letiacutecia Eacuterica Ribeiro por compartilhar sua

experiecircncia acadecircmica comigo sempre oferecendo apoio e ajudando nos momentos

de maior dificuldade

5

Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com

sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas

fotografias

Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e

paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho

Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas

Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires

e Wilter Coelho

Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de

Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo

Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra

estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento

oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente

6

ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim

pode ser o comeccedilordquo

Ivy Baker Priest

7

RESUMO

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local

Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia

8

ABSTRACT

The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism

Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia

9

LISTA DE SIGLAS

CNT - Conselho Nacional de Turismo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

GO ndash Goiaacutes

OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo

PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

10

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figuras

Capiacutetulo 1

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da

Cultura 36

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa

da Cultura 36

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na

Casa da Cultura 36

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54

Capiacutetulo 2

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante

Antigamente 69

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81

Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

11

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do

Rosaacuterio 83

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83

Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do

Rosaacuterio 84

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94

Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94

Capiacutetulo 3

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em

2013 113

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116

12

Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133

Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133

Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134

Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela

cidade 134

Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135

Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135

Tabelas

Capiacutetulo 1

Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo

Cultural 50

Capiacutetulo 3

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98

13

SUMAacuteRIO

Dedicatoacuteria iii

Agradecimentos iv

Epiacutegrafe vi

Resumo vii

Abstract viii

Lista de Siglas ix

Lista de figuras e tabelas x

INTRODUCcedilAtildeO 15

CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23

11 A Cultura 25

12 O Patrimocircnio 30

121 O Patrimocircnio Imaterial 33

13 O Turismo 40

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43

132 O Turismo Cultural 46

133 O Turismo Religioso 50

CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO

CULTURAL 54

21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59

22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62

23 O Centro Histoacuterico 66

24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71

14

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76

242 Igreja do Rosaacuterio 80

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89

246 Praccedila Evangelino Meireles 91

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92

248 O Cristo Redentor 93

CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106

311 O Pouso 114

312 A Catira 117

313 A Folia de Rua 118

314 As Cavalhadas 122

315 Os Leilotildees 124

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE

LUZIAcircNIAGO 156

15

INTRODUCcedilAtildeO

Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo

teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos

materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de

tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo

dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade

Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como

primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim

surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados

nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos

governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de

reconhecimento da identidade e da cultura local

O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte

espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se

tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de

desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade

Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo

da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais

que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no

desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de

desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois

refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural

relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local

como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade

As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute

uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e

que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a

preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica

social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes

espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a

identidade da comunidade local

16

Diante desse fato surgem as seguintes questotildees

1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e

Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio

3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios

culturais materiais e imateriais da cidade

4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em

campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um

fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que

pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem

percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os

meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que

a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa

Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca

do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia

usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a

pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao

encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar

uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do

conhecimento

O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu

numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o

discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica

fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo

compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais

adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua

cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas

e preservadas

17

Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual

os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente

pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar

dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um

dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees

que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade

Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois

visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o

estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa

identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos

fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e

extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia

especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade

Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave

produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do

saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que

ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio

despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo

retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para

produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)

As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente

organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO

e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos

necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas

envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante

meacutetodo pois ela

Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica

socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que

participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de

mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de

estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias

profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)

18

A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado

(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e

estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas

muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de

conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da

gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)

A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da

pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao

problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os

principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida

da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de

perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo

foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo

desta dissertaccedilatildeo

Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas

bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram

fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos

dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa

qualitativa

[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em

texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande

quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os

dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de

forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados

(GIBBS 2009 p 24)

As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias

Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma

metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas

que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi

fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que

participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees

culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar

essa identidade perdida

19

Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas

etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha

utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais

etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a

preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo

a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos

neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das

principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais

atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das

entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que

convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de

laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo

Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a

cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o

contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua

contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia

Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias

perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado

Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como

representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de

moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas

tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem

na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o

desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio

Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser

classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais

podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes

valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos

pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das

entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a

assinatura de termo de consentimento

As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado

antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas

20

em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em

abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos

entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu

Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se

entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a

opiniatildeo de um puacuteblico mais variado

Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e

trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se

declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo

Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas

1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila

2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo

3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes

4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro

5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva

6- Estudante Karina da Silva

7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira

8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires

9- Jornalista Francyelle Rocha

10- Advogado Wilter Campos Coelho

Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir

dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas

essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo

com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas

elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia

da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e

tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as

mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc

O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como

explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e

reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo

foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas

21

agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para

os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos

referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa

Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa

extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa

de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de

tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de

conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de

preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o

perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs

capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram

uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma

discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro

apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio

Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No

segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do

patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o

turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma

discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como

o turismo cultural e o turismo religioso

O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa

pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos

e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro

histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo

local

No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste

estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as

manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas

festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o

patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um

espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio

22

conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto

essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias

alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de

Luziacircnia

Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o

turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento

e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura

como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece

como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como

um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo

23

I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO

A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo

em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo

natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores

puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira

e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles

podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia

Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo

dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se

apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem

falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular

novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta

que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por

parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico

entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local

Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura

deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o

futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a

gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que

cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se

constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e

vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se

tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e

patrimonial

A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das

cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees

populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico

como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)

O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo

1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC

jandez 2005 n19-20 p 126-153

24

de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo

Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos

constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes

patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados

a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo

conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo

das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)

[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas

Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis

fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente

estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por

meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a

estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos

deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e

vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que

ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes

motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo

A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa

positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua

conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas

tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira

(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado

da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do

desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de

um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos

setores da sociedade

A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se

apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os

25

turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas

proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um

determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo

Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre

tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser

observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem

o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades

tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova

mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e

contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel

11 A Cultura

A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos

possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se

destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no

campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido

desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou

o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos

crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia

(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que

integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990

p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens

Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo

Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que

esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam

baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as

26

sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem

entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem

Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou

seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa

totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais

Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da

cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma

totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos

culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O

autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar

relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto

que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a

pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um

sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los

separadamenterdquo

Para Clifford Geertz (2008 p 24)

[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade

Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais

vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem

ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um

dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro

Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a

sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo

que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua

compreensatildeo

ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca

2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958

3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940

27

de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)

Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e

recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua

identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura

constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo

Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura

eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e

imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo

Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse

trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia

que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos

importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo

Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas

compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou

esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o

patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra

que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos

simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a

anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da

seguinte forma

Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros

A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de

diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso

das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros

(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais

expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura

determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou

4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997

28

inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade

Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma

que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as

atividades da vidardquo

Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso

para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade

mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura

da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona

medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o

direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)

As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por

geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas

que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua

fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para

filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas

festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos

Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens

adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5

(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila

que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica

Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida

quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o

municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas

formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita

com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como

Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)

Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um

processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre

5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris

PUF 1955

29

(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre

essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma

espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no

imaginaacuterio

A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e

intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os

lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se

fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo

que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees

materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo

As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura

tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para

a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo

dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura

tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo

A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)

Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da

cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja

positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode

estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim

este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio

cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a

atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que

visitam a cidade

6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968

30

12 O Patrimocircnio

A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela

passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma

famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo

termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por

conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o

patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como

ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura

homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto

de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)

O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo

simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse

sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por

sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos

costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus

patrimocircnios

Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como

esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista

patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em

que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito

das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem

patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO

para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa

Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos

Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade

Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como

memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica

31

principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo

Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua

histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO

aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo

visual

Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de

patrimocircnio cultural eacute bastante ampla

Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos

Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais

tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos

tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo

artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da

sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento

do turismo

Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma

comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)

observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-

se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor

etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e

peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo

Para Fonseca (2009 p 21)

Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia

Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas

tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo

possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do

Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia

32

que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais

como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se

dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade

Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na

preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e

Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em

razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e

216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da

comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido

como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em

conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira

O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como

um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade

contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto

com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu

proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se

formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a

relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores

que justificam a preservaccedilatildeordquo

Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao

buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer

confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009

p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos

da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado

corresponde agrave ideia que se faz delerdquo

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute

muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos

ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas

nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de

33

identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que

refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza

Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo

Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do

tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na

consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente

construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel

que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure

preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma

maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a

parte na vida em sociedade

121 O Patrimocircnio Imaterial

O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos

20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade

realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo

de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos

estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um

dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio

cultural ndash IPHAN em 1937

Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN

O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)

34

Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua

classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma

Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []

visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees

mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio

cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e

praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode

ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social

A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa

classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud

ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como

O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais

O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas

praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos

de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas

e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais

coletivas)

Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo

menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela

proacutepria comunidade

Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em

relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa

distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando

que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de

estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo

reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional

7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho

executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo

id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011

35

No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa

Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os

patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial em quatro livros

1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de

fazer enraizados no cotidiano das comunidades

2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam

a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras

praacuteticas da vida social

3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees

literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas

4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios

praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais

coletivas

Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade

se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes

dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza

imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura

oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]

eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares

objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo

9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em

lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013

36

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

37

Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e

o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das

Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino

Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa

dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que

acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no

livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da

comunidade

O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora

tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos

responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte

do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela

sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui

que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que

um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade

(FONSECA 2009)

Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais

valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de

forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas

manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a

vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente

em mudanccedila

Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute

justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como

referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante

o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses

patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem

Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados

Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas

muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da

38

cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do

Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as

suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA

2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um

grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos

explicam o conceito de performance como

Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural

Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de

Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial

possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade

pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade

do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no

municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com

valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas

como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o

comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo

Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees

para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e

disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda

interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que

os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos

de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita

tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na

disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial

A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance

como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia

nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda

deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10

UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003

39

geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia

dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim

destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo

no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da

UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)

Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras

possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim

a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte

dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas

estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas

de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com

a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos

que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente

daquele que se encontra ameaccedilado

O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees

como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes

patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros

patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas

histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte

intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de

LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do

municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de

Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

40

13 O Turismo

O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que

dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se

faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a

compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004

p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno

Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por

prazer Uso depredaccedilatildeordquo

De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo

discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e

tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo

de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que

etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual

com a intenccedilatildeo de regressar

Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo

era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses

realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres

ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de

educaccedilatildeo e cultura

Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992

Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um

cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a

negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno

econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas

relaccedilotildees

Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica

institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo

e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute

uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo

11

BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995

41

com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e

negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade

O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno

social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural

O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)

Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial

tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo

somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do

Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo

vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se

consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento

socioeconocircmicordquo

De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e

afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER

1991 p 231

Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova

perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades

oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e

arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse

estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa

(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida

em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade

Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e

desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e

imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo

de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando

12

O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13

Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013

42

entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em

torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico

O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o

desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a

poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais

importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte

geradora de serviccedilos produtos emprego e renda

Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de

natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico

social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o

desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos

tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e

privados quanto ao planejamento territorial das cidades

Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz

respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo

Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a

competitividade do turismo

[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de

sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)

O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um

planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se

virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo

eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade

logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e

economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute

possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o

turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir

diversos setores de desenvolvimento

Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e

modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico

43

cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se

deslocarem

Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo

e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)

[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural

Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais

fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos

70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais

aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI

1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por

parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos

Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo

pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as

regiotildees que abrigam suas atividades

A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos

de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos

empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e

incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como

orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os

gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar

um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou

seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos

projetos e programas da poliacutetica de turismo

14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash

Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013

44

Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de

Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural

O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)

define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa

apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O

autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que

demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente

em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e

econocircmicos numa mesma perspectiva

Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de

Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de

forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo

com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos

turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o

futuro

Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu

patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono

deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o

desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes

patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria

Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute

fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a

sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos

fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a

falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e

autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da

importacircncia deste planejamento

Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)

Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem

um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann

45

(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de

gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do

nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a

economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das

comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas

religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a

economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo

sustentaacutevel para esta regiatildeo

A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus

comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos

em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo

da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas

de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os

visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve

causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor

nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento

de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade

Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)

Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus

residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale

ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da

sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute

que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo

Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave

organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das

festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse

processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo

do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios

46

132 O Turismo Cultural

O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro

natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)

afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados

tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com

maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica

reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo

Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade

de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo

vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)

O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do

Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de

elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais

valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008

p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a

ascensatildeo de um turismo cultural na cidade

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de

transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch

(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente

contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo

da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos

povosrdquo

Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia

tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey

(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que

compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui

lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud

CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais

de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos

impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo

No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo

(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser

47

valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de

pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute

traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como

O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)

O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a

preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos

Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado

como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo

para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos

culturais e sua memoacuteria socialrdquo

Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e

tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o

processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades

Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns

aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e

econocircmica para diversos setores

Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as

celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre

outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um

turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa

forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e

desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um

turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do

descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo

que eacute seu

De acordo com Pires (2001)

15

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

48

ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)

Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de

viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas

histoacutericas

Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo

turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de

interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida

moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se

importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o

turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)

[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)

A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas

comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de

pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como

nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado

ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em

museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo

Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um

planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o

desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade

Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar

estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da

identidade local

Homi Bhabha diz que

49

O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)

Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees

no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade

O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio

do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da

cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam

como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior

representaccedilatildeo turiacutestica satildeo

1- Turismo Ciacutevico

2- Turismo Religioso

3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico

4- Turismo Eacutetnico

5- Turismo Cinematograacutefico

6- Turismo Arqueoloacutegico

7- Turismo Gastronocircmico

8- Enoturismo

9- Turismo Ferroviaacuterio

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de

serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo

cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo

de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de

serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos

50

Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010

Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as

viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto

que seraacute discutido a seguir

133 O Turismo Religioso

O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos

vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais

51

cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura

poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16

Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este

tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento

em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De

acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333

com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de

Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo

Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas

atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em

espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo

viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno

ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por

bull Peregrinaccedilotildees e romarias

bull Retiros espirituais

bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso

bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis

bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios

terreiros)

bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros

As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso

procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por

valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para

estimular as viagens como afirma Onfray (2009)

ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)

16

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014

52

Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista

que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista

tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele

busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual

A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o

turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos

em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p

3)

Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e

agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a

santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista

obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de

igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas

torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica

De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e

PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o

prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas

conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo

Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o

candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero

de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho

de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas

religiosos

No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os

destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no

Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em

Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR

1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito

Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo

religioso

17

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18

CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003

53

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro

19

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014

20

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

21

19

Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20

Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

54

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida

Fonte Site Conhecer22

Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de

atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a

receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a

caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)

As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum

segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute

Beni (1997) definiu o turismo religioso como

Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)

O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas

viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os

equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade

varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees

Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas

de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como

nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite

vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade

22

Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014

55

O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves

festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da

cultura luzianiense

Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as

mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a

diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo

A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a

cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana

Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica

nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais

de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por

ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte

delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p

27)

Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de

pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no

planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio

Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui

igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair

turistas para a cidade

56

II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL

Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes

entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto

de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio

histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas

manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial

a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)

O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que

possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas

Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a

torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute

que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo

fortemente influenciados por estas cidades

Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746

quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo

assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando

Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e

fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o

arraial se desenvolveria

Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a

Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia

constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade

Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de

partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa

Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas

do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da

Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante

predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas

de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)

23

Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014

57

No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia

aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo

ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do

seu potencial turiacutestico

Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo

sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda

compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso

o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma

cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do

calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e

menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu

valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como

de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local

Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material

jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e

Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel

Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade

incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo

Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de

abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos

por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar

valores a estes patrimocircnios

Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo

do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo

IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele

se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade

luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios

Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo

que possui significado para a comunidade

As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva

com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)

24

Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014

58

afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a

constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas

brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as

cidades histoacutericas como

Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)

Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade

histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de

Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura

fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo

de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade

A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe

concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do

Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais

diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos

sociais espaciais e culturais de toda ordem

Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por

tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta

pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de

Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense

possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como

o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade

como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta

identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as

culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural

Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado

ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural

Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash

UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular

59

considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e

que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes

e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)

Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas

tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva

aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e

afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de

cultura

A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial

como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para

alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial

carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se

importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem

para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado

ficando fadadas ao desaparecimento

Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio

histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio

Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que

possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre

histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a

necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da

interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo

21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO

Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante

Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na

regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro

que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em

homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel

(1994)

60

Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)

Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado

da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil

pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a

histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios

momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas

das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas

restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros

de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25

O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram

para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a

populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora

essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na

deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais

Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente

em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da

cidade

As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro

urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este

processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave

paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as

muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares

do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte

Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de

suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal

Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade

25

Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011

61

Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando

Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a

adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo

Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia

[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)

O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o

surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia

Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que

ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo

com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses

uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora

com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de

Luziacircnia

Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)

Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo

refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura

As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo

desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das

manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na

cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz

necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram

presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita

ser preservado

62

22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor

O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro

no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a

posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos

mais variados lugares do paiacutes

De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes

quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014

28

Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos

80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN

(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta

explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais

quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama

e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental

em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629

26

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27

Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28

Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29

De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993

63

Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de

3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e

proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e

o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o

cargo no inicio de 2013

A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e

desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens

e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o

intercambio com outras cidades30

Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em

muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o

seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo

do meio ambiente e do patrimocircnio cultural

A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto

Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como

Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)

O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de

outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos

baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e

da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o

desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o

desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua

conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras

No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de

interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro

histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30

Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014

64

artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e

cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira

convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo

econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e

histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser

alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a

proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e

econocircmicos agrave cidade

Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14

fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a

gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre

a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial

urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual

infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua

do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico

Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e

privados o qual tambeacutem natildeo existe

O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento

econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a

entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se

mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo

O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne

realidade mas natildeo depende soacute da gente31

Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos

estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as

accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a

ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a

preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo

31

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

65

cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo

sobre a importacircncia das festas

A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia

32

Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16

inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica

urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e

comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se

realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito

Santo

O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo

dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de

interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das

suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do

patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas

admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e

arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia

Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que

deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo

vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal

O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a

tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no

centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto

de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes

nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso

podia ser inviabilizado neacuterdquo33

32

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

66

O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de

transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de

sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo

localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre

outros o que pouco se vecirc

O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem

trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade

Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas

34

O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de

projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem

que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar

as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio

cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver

impedido de fazecirc-lo

Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o

municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um

novo plano

O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de

guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir

do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua

aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio

muito melhor

23 O Centro Histoacuterico

Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves

festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no

desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio

34

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

67

No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o

tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do

turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo

apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma

representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)

Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo

sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que

conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo

Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam

representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a

partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e

explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo

Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo

concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a

partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem

traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria

e compreensatildeo da sua cultura

Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma

como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem

ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo

ainda resistem agraves accedilotildees do tempo

Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante

intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que

A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)

A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma

intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio

Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica

central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo

68

econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas

setorialmenterdquo

Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do

centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse

espaccedilo

Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de

desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o

fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna

referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles

que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a

memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura

Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade

das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles

Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas

rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a

serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus

moradores e como espaccedilo de memoacuteria

Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades

seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria

Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que

a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se

transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a

estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela

partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde

vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo

Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos

da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo

que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que

foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e

culturalrdquo

Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e

preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa

(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos

69

Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)

Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e

valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute

importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras

tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das

suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato

viveram a histoacuteria

Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no

espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila

da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e

estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a

participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as

manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e

consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais

e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

70

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

71

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia

A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente

perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e

intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade

principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da

cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o

Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por

considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica

as manifestaccedilotildees populares etc

Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do

municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de

fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que

tambeacutem herdou dos seus colonizadores

Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de

comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de

sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho

guariroba hortaliccedilas e aguardente

Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce

tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem

portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por

escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de

72

hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de

pai para filho

Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta

que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade

Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende

da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos

Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de

registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute

estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo

eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de

marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a

especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios

produtores do doce

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

36

35

Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014

73

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014

37

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

38

O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute

retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas

de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense

37

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014

74

Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a

Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura

As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo

expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e

momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo

apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais

presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares

Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor

potencial turiacutestico

O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e

o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo

patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas

ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor

O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma

legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico

Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo

39

Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por

sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por

exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar

aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela

forma como foi feito

Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua

potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma

construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no

meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao

presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se

encontram diversos pertences de JK

39

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

75

Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi

completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais

e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda

estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa

judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio

material de Goiaacutes41

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo

42

Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis

fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade

Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave

hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis

sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns

especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo

e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico

O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees

agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos

O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem

encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica

40

Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42

Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014

76

Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

43

Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial

para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no

centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do

turismo na cidade

Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do

Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco

inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas

eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados

com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro

histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve

levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia

A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo

religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e

negros natildeo se misturavam

Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs

Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi

inaugurada em 1767 mesmo inacabada

Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa

ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila

com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta

de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)

43

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44

Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013

77

Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)

As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre

esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida

para mais tarde ser reconstruiacuteda

Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial

incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma

imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e

foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa

que foi modificada

Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida

diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees

comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo

A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a

responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito

Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de

onde partem as procissotildees nos dias de festa

78

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

79

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

80

242 A Igreja do Rosaacuterio

A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos

Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por

Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e

escravos

Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma

memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de

Luziacircniardquo

Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a

manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem

tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como

conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente

pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute

O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no

municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529

pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a

numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem

menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria

o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS

1925)

A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da

regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central

foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um

balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam

para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e

curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada

para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte

Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por

algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei

dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura

como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar

e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos

para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da

81

retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja

Matriz de Santa Luzia

A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que

esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os

cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa

ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou

familiarrdquo

A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo

Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980

Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de

Goiaacutes e a Prefeitura Municipal

De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da

Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes

Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)

A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte

dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela

fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo

das missas

Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

82

Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

83

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013

45

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

45

Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

84

Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro

A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo

histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu

da cidade

Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural

com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande

representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem

da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares

O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi

fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este

nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem

85

ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e

professor de Direito46

A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e

barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal

voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se

destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo

de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem

hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores

Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e

constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura

Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos

47

A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos

depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos

Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por

todos os cocircmodos

A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de

semana e feriados

46

Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

86

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

87

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

88

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles

O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e

Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e

ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a

intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central

Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e

conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes

No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em

oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto

Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles

as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel

O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui

verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados

e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio

O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de

14h30min agraves 17h30min

89

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo

A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs

Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em

que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram

fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para

paacutessaros e outros pequenos animais

Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais

conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em

azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade

de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja

do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos

Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um

deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da

rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes

48

Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014

90

Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os

dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras

da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)

Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos

drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham

destruindo a obra

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

91

Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

246 Praccedila Evangelino Meireles

A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo

modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros

ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo

um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute

tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas

Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado

e inuacutemeras drogarias

Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas

rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio

92

Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa

responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua

com alguns espaccedilos interditados

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014

50

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees

O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute

uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para

Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008

O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas

independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e

externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com

cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet

49

Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50

Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014

93

O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como

encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura

Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

248 O Cristo Redentor

Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo

agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua

estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se

94

encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da

cidade

Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

95

III AS FESTAS RELIGIOSAS

As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a

antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram

algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum

tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo

dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais

Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento

de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a

vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em

homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida

das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas

de muita importacircncia para as comunidades

As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)

Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na

formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que

ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma

identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional

ainda inexistenterdquo

O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa

influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele

Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira

O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como

51

JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005

96

O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar

Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de

registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram

interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a

comunidade daacute agrave sua cidade

O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm

3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo

como

[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)

Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute

foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das

Celebraccedilotildees estatildeo53

1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute

2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso

3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte

4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo

5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA

6- A Festa do Divino em ParatyRJ

7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis

Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas

religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das

52

Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53

Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014

97

comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que

os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo

No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto

a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio

imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele

local

Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar

presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois

enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de

correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada

pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na

fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as

festas retomam

Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas

54

Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas

celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os

anos

Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55

Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos

religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo

portuguesa e da feacute catoacutelica

Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte

influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao

patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento

turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam

milhares de pessoas por todo o mundo 54

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014

98

Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas

podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES

2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais

celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a

experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se

objetos do turismo

Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e

a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os

rituais permanecem iguais

A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que

acontecem no Brasil durante todo o ano

FESTA ESTADO

Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE

Festa dos Santos Reis PE

Festa do Bonfim BA

Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES

Festa de Iemanjaacute BA

Semana Santa -

Procissatildeo do Fogareacuteu GO

Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE

Festa de Nossa Senhora da Penha ES

Festa de Satildeo Benedito MT

Festa de Nossa Senhora da Piedade AP

Festa de Nossa Senhora das Neves PB

Romaria de Bom Jesus da Lapa BA

Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA

Festa do Rosaacuterio MGGO

Ciacuterio de Nazareacute PA

Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP

Festa do Padre Ciacutecero CE

Festa de Santa Baacuterbara BA

56

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

99

Festa de Nossa Senhora do Rocio PR

Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo

57

Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas

com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as

celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de

pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do

Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

58

57

Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

100

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna

59

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado

60

O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento

quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A

proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis

e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os

participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees

59

Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60

Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014

101

ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do

Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade

juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61

As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na

construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor

sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que

A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais

62

Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia

ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens

potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda

haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas

uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem

agraves festas tradicionais

Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e

Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo

formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o

reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e

espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de

reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas

praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa

Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos

A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre

esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute

As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade

61

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

102

religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel

63

A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da

estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando

diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de

geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos

foliotildees64

O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas

religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e

para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de

viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da

histoacuteria da cidade65

Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de

Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas

religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento

importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees

culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo

dos anos

Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como

parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a

economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p

10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais

Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada

Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que

estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances

63

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014

103

humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas

ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos

seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda

estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende

da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de

respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em

Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos

Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo

histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem

preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber

popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo

humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo

Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que

veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos

todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta

que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as

ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos

mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa

orgiardquo

Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por

isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas

tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos

culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando

valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute

natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de

edificaccedilotildees e peccedilas de museus

A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das

expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de

movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as

o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios

aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que

ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em

104

proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica

luacutedicardquo

Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que

atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa

do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do

Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das

datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora

do Rosaacuterio sete de outubro

Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no

desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de

celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a

catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute

catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo

de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino

culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo

Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado

de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo

ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo

sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim

Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do

Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos

conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala

tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por

pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia

O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente

67

66

Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

105

A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da

festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de

Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA

festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra

atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do

entorno que vem para caacuterdquo68

Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico

momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades

vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que

buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees

culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis

possuem na memoacuteria local

Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior

representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem

papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que

se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade

pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose

queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha

fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de

natildeo ser idecircntica a si mesmardquo

As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado

durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas

e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o

passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio

Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade

Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar

69

68

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

106

Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos

com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na

cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a

santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes

seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou

simplesmente para festejar

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia

A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no

Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao

Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de

cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e

deram origem agrave festa judaica de Pentecostes

O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que

celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os

apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo

surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs

(2000 p 24)

Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular

Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se

por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder

caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros

Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo

107

Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de

Janeiro durante o seacuteculo XIX

Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia

A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como

Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se

restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras

nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio

Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia

Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao

Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela

grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje

Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo

Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e

Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas

atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo

tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo

da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda

metade do seacuteculo XVIII

Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino

que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave

sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das

Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos

Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas

como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a

maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo

menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa

desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela

108

A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares

70

A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia

justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute

momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e

Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o

reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que

essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia

Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o

seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato

quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio

da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino

eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio

de Luziacircniardquo71

O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as

festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas

pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem

parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo

consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72

Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre

foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)

explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande

festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida

e cheiro de roupa novardquo

Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres

percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com

uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino

70

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

109

Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo

caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja

quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo

Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade

contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de

Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa

A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade

73

As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo

Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras

pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na

realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela

pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura

localrdquo74

Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa

festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo

de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais

satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma

relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se

perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do

povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante

o ano

Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as

inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo

73

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014

110

portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um

consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute

sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud

SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e

as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino

Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita

muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de

uma festa religiosardquo

A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em

relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade

fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a

comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas

de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um

movimento em torno do turismo cultural e religioso

Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do

Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos

mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida

Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo

uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano

aguardando a festa para comer esta especiaria

Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa

do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura

culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e

etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes

elementos

A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios

elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o

poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia

Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as

75

BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989

111

filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo

76

Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante

e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo

frito

A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa

77

Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito

assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute

preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa

demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio

imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo

construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham

para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-

se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas

Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os

foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua

realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz

ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A

partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados

ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade

Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que

organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa

Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968

apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar

com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia

oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do

76

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

112

festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com

os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78

Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade

Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela

primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo

nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo das festividades na cidade

Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas

79

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

78

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

113

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia

80

80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-

o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013

114

Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil

haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes

e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento

cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela

modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi

suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo

O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e

durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de

Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no

municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes

Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos

tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro

fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes

com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas

outras coisas foram retiradasrdquo 81

As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que

constituem a festa do Divino

311 O Pouso

O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo

e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois

tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles

formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para

a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem

entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita

Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a

bandeira do Divino

Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha

81

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

115

todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente

82

Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na

entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo

catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando

elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas

incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se

tornarem demasiadamente mundanas

O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre

com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os

ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na

chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles

continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser

proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com

comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre

isso

Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente

83

A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as

folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais

autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de

descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um

povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a

82

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

116

cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que

acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo

Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe

84

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009

Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves

festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se

mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que

ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute

que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo

84

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

117

Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas

tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada

eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute

tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo

312 A Catira

Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou

Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura

brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute

uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela

batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos

Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos

em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)

descreve a Catira como

A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel

A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo

Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA

2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no

meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua

expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em

dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves

vezes nas novenas ou no final da missardquo86

Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo

descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade

85

Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

118

A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)

87

Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009

O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e

assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as

geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator

constituinte de sua cultura

313 A Folia de Rua

As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e

constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes

em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias

constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico

brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia

87

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88

QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973

119

eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma

de preservaccedilatildeo da culturardquo89

A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro

ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de

visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e

entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com

muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na

cidade

Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda

90

Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como

demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos

excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter

outro significado que transcende o material

Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense

e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas

Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo

XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos

portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e

profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar

homenagens e saudarrdquo

O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros

elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como

aconteciam as folias de rua em Luziacircnia

Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros

89

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

120

foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria

Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como

acontecem as folias em Luziacircnia

Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas

91

Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos

seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em

que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute

espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo

divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo

Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de

rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes

que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A

jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das

caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de

pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e

furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92

Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade

E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato

93

O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo

religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma

91

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92

Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

121

que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees

eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos

de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso

Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar

94

Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo

intriacutenseco a festa

Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode

Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns

participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator

capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado

profano da festa que vem aumentando a cada ano

A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca

95

94

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

122

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das

festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado

religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas

rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]

essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas

comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo

A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais

momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa

tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade

Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do

Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas

a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do

turismo local

314 As Cavalhadas

Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por

volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para

123

Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de

cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo

As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento

cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas

surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que

com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles

que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo

A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e

Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais

personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa

azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros

Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas

embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute

personagens mascarados que representam o povo

Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme

nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico

profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades

goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo

Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de

dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona

Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave

dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade

Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando

96

96

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

124

A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do

estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos

anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe

uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas

fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e

mouros em Luziacircnia

315 Os Leilotildees

Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino

em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo

leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por

comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os

leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do

Divino

Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o

leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que

doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja

do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os

leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade

Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa

97

97

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

125

Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo

destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns

consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no

municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa

festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio

da Silva discorre sobre isso

As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio

98

Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas

caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente

que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e

com a formaccedilatildeo da sua identidade

Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios

histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um

forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o

que pode ser constatado durante a pesquisa

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes

santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados

no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978

descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade

Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)

98

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

126

Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978

Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo

possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber

que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do

tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo

e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na

cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de

maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas

dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura

negra sendo considerados seus santos protetores

127

Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram

em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute

garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de

fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou

sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro

Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro

99

O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora

do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade

assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de

Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a

participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu

patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de

Luziacircnia

O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e

gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e

distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis

contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia

que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica

Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem

como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade

o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na

construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os

padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa

relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar

entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas

Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas

participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos

poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a

99

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

128

que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de

haver pouco tempo que a festa vem se realizando

Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da

comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas

de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada

momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor

religioso ou lazer puramente dito

No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela

vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre

querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo

com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do

Rosaacuterio possui para ela

Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo

100

No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa

Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a

comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show

com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a

comemoraccedilatildeo

A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a

preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do

patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso

A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees

101

Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da

igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente

100

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

129

na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste

local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros

Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e

intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso

da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando

cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso

A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees

musicais 102

O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a

organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o

estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior

essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos

com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103

Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua

fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a

igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa

Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104

Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)

quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos

tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo

essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os

moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo

seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos

Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao

longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de

puacuteblicos

102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

130

Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral

105

A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair

benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada

pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de

dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso

A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento

106

Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a

economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a

movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa

tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na

cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o

numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia

do municiacutepiordquo107

Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute

um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo

eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo

e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial

algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio

Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade

Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para

105

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014

131

que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

108

Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas

tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se

constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria

comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de

contribuir para o turismo na cidade

Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico

109

A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia

tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como

apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para

aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na

comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a

preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem

patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria

comunidade

108

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013

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Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013

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Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas

sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se

concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia

possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as

igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo

fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)

ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116

Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua

identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma

comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer

novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito

do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam

atrativos turiacutesticos das cidades

As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de

hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos

formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar

uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se

consideram turistas

As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial

para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino

Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se

observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do

viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas

assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo

consideradas fortes tradiccedilotildees culturais

A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no

ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves

praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da

accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a

preservaccedilatildeo destes patrimocircnios

A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da

cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se

desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma

positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no

desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos

prestados

Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute

considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a

138

principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova

configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes

motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do

municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN

Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como

uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam

celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente

a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo

puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em

torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e

esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa

um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural

Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo

descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo

aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em

Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de

promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como

parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir

diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila

As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos

moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila

e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas

cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas

de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem

vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes

patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade

Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real

representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da

tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais

atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo

em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e

esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter

139

Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada

diardquo 117

Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se

perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que

compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado

de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de

casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba

desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de

proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos

todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido

Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui

valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo

Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela

importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los

atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses

Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute

importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade

agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados

aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui

O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que

aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel

como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e

assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos

negativos do que positivos para a cidade

A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo

colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute

pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns

participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que

para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se

tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os

envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico

117

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

140

O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que

isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os

recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm

potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e

sustentaacutevel

O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio

atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem

na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se

propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim

de toda a cidade

O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os

envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se

reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos

monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser

uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de

preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e

consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade

e da sociabilidaderdquo

Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos

vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos

sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais

sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e

social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das

populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em

uacuteltima instancia eacute praacutetica social

Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que

permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte

integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino

Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem

permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade

de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local

Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses

eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem

ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia

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VELOSO M Patrimocircnio imaterial memoacuteria coletiva e espaccedilo puacuteblico In TEIXEIRA J G LC GARCIA M V C GUSMAtildeO R (Org) Patrimocircnio Imaterial Performance Cultural e (Re)Tradicionalizaccedilatildeo 1ed Brasiacutelia 2004 v 1 p 31-36

VERGARA S Projetos e relatoacuterios de Pesquisa em Administraccedilatildeo 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

VIANNA L CR e TEIXEIRA J G L C Patrimocircnio Imaterial Performance e Identidade In CONCINNITAS Revista do Instituto de Artes da UERJ volume 1 numero 12 Rio de Janeiro julho de 2008

ZANIRATO S H Patrimocircnio para todos promoccedilatildeo e difusatildeo do uso puacuteblico do patrimocircnio cultural na cidade histoacuterica In Patrimocircnio e Memoacuteria Satildeo Paulo Unesp v 2 n 2 2006

PEREIRA B T S SILVA L F O PERINOTTO A R C Festejo de Satildeo Francisco anaacutelise sobre uma alternativa de desenvolvimento do Turismo Religioso em Parnaiacuteba (Piauiacute Brasil) Turismo amp Sociedade Curitiba v 4 n 2 p 363-380 outubro de 2011

UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda da Cultura Popular e Tradicional Paris 1989 Disponiacutevel em lt httpportaliphangovbrportalbaixaFcdAnexodoid=261 gt Acesso em 27 de jun 2012

UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003 Disponiacutevel em lt httpportaliphangovbrportalbaixaFcdAnexodoid=271 gt Acesso em 27 de jun 2012

153

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao

curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da

Universidade de Brasiacutelia

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua

colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato

voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees

solicitadas pelo pesquisador

Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e

mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os

resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse

trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada

Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo

Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB

carlawiccagmailcom

Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando

voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e

para a publicaccedilatildeo dos resultados

Luziacircnia _____ de _________________ de 2013

Assinatura do participante____________________________________________

Assinatura da pesquisadora___________________________________________

154

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1 Nome

2 Telefone

3 Profissatildeo

4 Idade

5 Estado Civil

6 Religiatildeo

7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos

Quais

9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos

patrimocircnios materiais de Luziacircnia

11 O que estas festas representam para vocecirc

155

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de

Luziacircnia

9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas

156

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o

desenvolvimento do turismo local

10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de

Luziacircnia

11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das

festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia

Page 7: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) CENTRO DE EXCELÊNCIA EM ...repositorio.unb.br/...CarlaAdrianaOliveiraSilva.pdf · Figura 49 – Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa.....113

5

Agradeccedilo ao amigo jornalista e fotoacutegrafo Sidney Rocha por contribuir com

sua experiecircncia profissional na elaboraccedilatildeo das entrevistas e por ceder suas

fotografias

Agradeccedilo agrave amiga Luiane de Arauacutejo por sua amizade disposiccedilatildeo e

paciecircncia em me ajudar com a revisatildeo e formataccedilatildeo deste trabalho

Agradeccedilo aos amigos que gentilmente contribuiacuteram com as entrevistas

Angeacutelica Moreira Francyelle Rocha Joseacute Aacutelfio da Silva Karina da Silva Lucas Pires

e Wilter Coelho

Agradeccedilo aos amigos Fabiana Feacutelix Liacutevia Nunes Luiz Felipe Maria de

Jesus Oller Mariana Batista Melissa Mongeacute Priscila Teixeira da Silva Rodrigo

Sampaio Wagner Sanches e todos aqueles que de uma forma ou de outra

estiveram ao meu lado durante esse processo de construccedilatildeo do conhecimento

oferecendo a amizade e a forccedila que eu precisava para seguir em frente

6

ldquoO mundo eacute redondo e o lugar que parece o fim

pode ser o comeccedilordquo

Ivy Baker Priest

7

RESUMO

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis eacute fundamental para que se possa conhecer a histoacuteria cultural social e poliacutetica de um determinado local A atividade turiacutestica vem se destacando ao longo dos anos natildeo apenas como fator de desenvolvimento econocircmico mas tambeacutem como agente no ato de rememorar e na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais de diferentes lugares Luziacircnia por ser uma das cidades mais antigas do planalto central com 266 anos carece de estudos acerca do modo como o seu patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel atua eou pode atuar no desenvolvimento do potencial turiacutestico do Municiacutepio Portanto o objetivo do estudo em tela eacute avaliar como a cultura e as festas religiosas de Luziacircnia podem ser importantes na preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacuterico-culturais da cidade aleacutem da influecircncia que estas festas possuem no desenvolvimento do turismo local

Palavras-chave Cultura Patrimocircnio Turismo Festas Religiosas Luziacircnia

8

ABSTRACT

The preservation of tangible and intangible is crucial to understand the cultural social and political history of a specific location Tourist activity has been highlighted over the years not only as a factor of economic development but also as a way of remembering and preserving the historical and cultural heritage of different places Luziacircnia as one of the oldest cities in the central plateau at 266 years would benefit from studies about how their historical-cultural tangible and intangible act and or could act in the development of the potential tourism of the city Therefore the purpose of the study is to evaluate the culture and religious traditions of Luziacircnia and it may be important in the process of preservation and dissemination of historical and cultural heritage of the city besides the influence that these traditions have in the development of local tourism

Keywords Culture Heritage Tourism Religious Festivals Luziacircnia

9

LISTA DE SIGLAS

CNT - Conselho Nacional de Turismo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPHAN - Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

GO ndash Goiaacutes

OMT - Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo

PNPI - Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

10

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figuras

Capiacutetulo 1

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da

Cultura 36

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa

da Cultura 36

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na

Casa da Cultura 36

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero 53

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina 53

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute 53

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida 54

Capiacutetulo 2

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia 62

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o restaurante

Antigamente 69

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo 70

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 70

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico 71

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 72

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada 73

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK 75

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia 78

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia 79

Figura 22 - Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 81

Figura 23 - Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

11

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 82

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do

Rosaacuterio 83

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio 83

Figura 27 - Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do

Rosaacuterio 84

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro 86

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia 86

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 87

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia 88

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 89

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 90

Figura 36 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 37 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 38 ndash Praccedila Raimundo Arauacutejo Melo 91

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 91

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles 92

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira 93

Figura 43 ndash Cristo de Luziacircnia 94

Figura 44 - Cristo de Luziacircnia 94

Capiacutetulo 3

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute 99

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia 100

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes 100

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia 112

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa 113

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em

2013 113

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente a casa onde acontece o pouso 116

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo 116

12

Figura 53 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros 118

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia 122

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio 126

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio 132

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa 132

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica 133

Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa 133

Figura 61 ndash Carreata convidando a comunidade a participar da festa 134

Figura 62 ndash O Padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora durante passeata pela

cidade 134

Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa 135

Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo 135

Tabelas

Capiacutetulo 1

Tabela 1 - Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo

Cultural 50

Capiacutetulo 3

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil 98

13

SUMAacuteRIO

Dedicatoacuteria iii

Agradecimentos iv

Epiacutegrafe vi

Resumo vii

Abstract viii

Lista de Siglas ix

Lista de figuras e tabelas x

INTRODUCcedilAtildeO 15

CAPIacuteTULO I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO 23

11 A Cultura 25

12 O Patrimocircnio 30

121 O Patrimocircnio Imaterial 33

13 O Turismo 40

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural 43

132 O Turismo Cultural 46

133 O Turismo Religioso 50

CAPIacuteTULO II LUZIAcircNIAGO UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMOcircNIO

CULTURAL 54

21 Contextualizando a Histoacuteria de Luziacircnia 59

22 Dados Estatiacutesticos e o Plano Diretor 62

23 O Centro Histoacuterico 66

24 Os Patrimocircnios Histoacutericos e o Turismo de Luziacircnia 71

14

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia 76

242 Igreja do Rosaacuterio 80

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro 84

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles 88

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo 89

246 Praccedila Evangelino Meireles 91

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees 92

248 O Cristo Redentor 93

CAPIacuteTULO III AS FESTAS RELIGIOSAS 95

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia 106

311 O Pouso 114

312 A Catira 117

313 A Folia de Rua 118

314 As Cavalhadas 122

315 Os Leilotildees 124

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito 125

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 137

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 141

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO 153

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 154

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO 155

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE

LUZIAcircNIAGO 156

15

INTRODUCcedilAtildeO

Neste trabalho nos propomos a investigar por meio de uma discussatildeo

teoacuterica a relaccedilatildeo das festas religiosas com a cultura os patrimocircnios histoacutericos

materiais e imateriais e o turismo cultural e religioso em Luziacircnia com o intuito de

tentar compreender de que forma estas festas podem contribuir para a preservaccedilatildeo

dos patrimocircnios histoacutericos e para o desenvolvimento do turismo na cidade

Considera-se aqui a manutenccedilatildeo dos bens materiais e imateriais como

primordial para a preservaccedilatildeo da histoacuteria e da memoacuteria de qualquer cidade Assim

surge entatildeo a necessidade de se investigar como estes patrimocircnios satildeo encarados

nos dias de hoje tanto pela comunidade que os detecircm quanto pelos oacutergatildeos

governamentais e pelos visitantes que buscam por estes patrimocircnios como forma de

reconhecimento da identidade e da cultura local

O municiacutepio de Luziacircnia localizado no Estado de GoiaacutesGO eacute o recorte

espacial desta pesquisa e foi escolhido como base para esta investigaccedilatildeo por se

tratar de uma cidade histoacuterica no Planalto Central que teve um processo de

desenvolvimento urbano intimamente ligado agrave cultura e a religiosidade

Parte-se da hipoacutetese de que estas festas satildeo determinantes na preservaccedilatildeo

da cultura e dos patrimocircnios materiais e imateriais sendo importantes fatos sociais

que podem agir diretamente na manutenccedilatildeo da memoacuteria coletiva e no

desenvolvimento da cidade especialmente quando relacionadas a um plano de

desenvolvimento turiacutestico sustentaacutevel com foco no cultural e no religioso Pois

refletir sobre a cidade de Luziacircnia sob a perspectiva do seu patrimocircnio cultural

relacionada ao turismo pode possibilitar a valorizaccedilatildeo tanto do patrimocircnio local

como tambeacutem visualizar alternativas de cunhos econocircmico e cultural para a cidade

As cidades foram crescendo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios histoacutericos cresceu junto Deve-se levar em consideraccedilatildeo que a cidade eacute

uma construccedilatildeo social que se desenvolve a partir dos seus patrimocircnios instituiacutedos e

que a relaccedilatildeo existente entre material e imaterial se torna importante para a

preservaccedilatildeo de ambos na medida em que o patrimocircnio cultural tambeacutem eacute praacutetica

social Com o passar dos anos um se apropria do outro ressignificando estes

espaccedilos e estas tradiccedilotildees que satildeo fundamentais para a cultura das cidades e para a

identidade da comunidade local

16

Diante desse fato surgem as seguintes questotildees

1 A festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e

Satildeo Benedito possuem potencial para contribuir com o desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

2 Seriam estas festas patrimocircnios histoacutericos culturais do municiacutepio

3 Como o turismo pode influenciar na preservaccedilatildeo dos patrimocircnios

culturais materiais e imateriais da cidade

4 Quais satildeo as accedilotildees governamentais relacionadas ao desenvolvimento

turiacutestico de Luziacircnia

Logo a partir da contextualizaccedilatildeo do arcabouccedilo teoacuterico e da observaccedilatildeo em

campo esta pesquisa teve como intento compreender como estas festas religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia entendendo o turismo como um

fenocircmeno social econocircmico e cultural aleacutem de uma atividade multissetorial que

pode contribuir para a conservaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Nessa perspectiva a pesquisa traccedilou os caminhos metodoloacutegicos a serem

percorridos para alcanccedilar os objetivos propostos Com isso procuramos explicar os

meacutetodos e procedimentos usados para guiar o estudo em questatildeo por entender que

a metodologia eacute o caminho condutor para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa

Ada Dencker (1998) acredita que esta eacute a maneira para se realizar a busca

do conhecimento desejado de forma racional e eficiente Explicitar a metodologia

usada eacute parte fundamental do trabalho pois como cita Antocircnio Chizzotti (2006) a

pesquisa deve seguir uma metodologia de trabalho ou seja a loacutegica subjacente ao

encadeamento de diligecircncias que o pesquisador segue para descobrir ou comprovar

uma verdade coerente com sua concepccedilatildeo da realidade e sua teoria do

conhecimento

O procedimento metodoloacutegico para a realizaccedilatildeo desta pesquisa consistiu

numa investigaccedilatildeo do tipo qualitativa jaacute que esse tipo de abordagem valoriza o

discurso e as especificidades Conforme Delgado (2010) uma caracteriacutestica

fundamental da metodologia qualitativa eacute a sua singularidade e a natildeo

compatibilidade com generalizaccedilotildees Por isso este meacutetodo se tornou o mais

adequado para o estudo em questatildeo jaacute que o municiacutepio de Luziacircnia com a sua

cultura e suas festas religiosas possui particularidades que merecem ser estudadas

e preservadas

17

Para Faacutebio Appolinaacuterio (2004) a pesquisa qualitativa eacute a modalidade na qual

os dados satildeo coletados atraveacutes de interaccedilotildees sociais e analisados subjetivamente

pelo pesquisador Dencker (1998) acredita que pesquisar natildeo eacute apenas coletar

dados e informaccedilotildees Eacute pensar refletir interpretar entendendo o turismo como um

dos elementos que compotildeem a sociedade e considerando as interaccedilotildees das accedilotildees

que venham a ser postas dentro do panorama da sociedade

Quanto aos objetivos o estudo foi descritivo e explicativo Descritivo pois

visa descrever as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o

estabelecimento de relaccedilotildees entre variaacuteveis (GIL 1991) E explicativo pois visa

identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrecircncia dos

fenocircmenos (GIL 1991) Desta forma a pesquisa procura descrever explicar e

extrair as diversas narrativas que compotildeem o patrimocircnio da cidade de Luziacircnia

especialmente por meio das festas religiosas e tradicionais da cidade

Foi entatildeo utilizada a histoacuteria oral como meacutetodo por ser esta voltada agrave

produccedilatildeo de narrativas natildeo soacute como fonte de conhecimento mas principalmente do

saber (DELGADO 2010) Yonne Grossi e Amauri Ferreira (2001 p 30) afirmam que

ldquoa razatildeo narrativa desemboca no saber contar um fato real ou imaginaacuterio

despertando no ouvinte o desejo de significar experiecircncias vividas que natildeo

retornam maisrdquo A histoacuteria oral eacute um procedimento um meio e um caminho para

produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico (DELGADO 2010)

As narrativas orais referem-se tanto ao passado quanto ao presente

organizando-os e unificando-os e ao mesmo tempo apontam para o futuro (AMADO

e FERREIRA 1996) Para se obter as histoacuterias experiecircncias pessoais e relatos

necessaacuterios a esta pesquisa foi necessaacuterio um contato direto com as pessoas

envolvidas nestes processos Por isso a histoacuteria oral se tornou um importante

meacutetodo pois ela

Consiste entatildeo de um meacutetodo de pesquisa (histoacuterica antropoloacutegica

socioloacutegica []) que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas com pessoas que

participaram de ou testemunharam acontecimentos conjunturas visotildees de

mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo Trata-se de

estudar acontecimentos histoacutericos instituiccedilotildees grupos sociais categorias

profissionais movimentos etc [] (ALBERTI p 52 1989)

18

A histoacuteria oral eacute um tipo de meacutetodo que como explica Luciacutelia Delgado

(2010) cria fontes e documentos para registrar por meio de narrativas induzidas e

estimuladas testemunhos versotildees e interpretaccedilotildees sobre a histoacuteria em suas

muacuteltiplas dimensotildees ldquoEacute um procedimento premeditado de produccedilatildeo de

conhecimento que envolve o entrevistador o entrevistado e a aparelhagem da

gravaccedilatildeordquo (MEIHY 2007 p13)

A coleta de dados eacute outro passo fundamental no desenvolvimento da

pesquisa Eacute a forma como se obtecircm os dados necessaacuterios para responder ao

problema (VERGARA 2003) Na pesquisa em campo foi possiacutevel conhecer os

principais pontos histoacutericos culturais e turiacutesticos da cidade vivenciar o estilo de vida

da comunidade acompanhar as festas que foram o foco deste trabalho e viver de

perto a cultura que se faz presente no municiacutepio Durante as pesquisas em campo

foram realizadas as entrevistas e coletadas fotografias que estatildeo presentes ao longo

desta dissertaccedilatildeo

Assim as teacutecnicas utilizadas no decorrer da pesquisa foram as pesquisas

bibliograacuteficas as pesquisas em campo e as entrevistas Todas as etapas foram

fundamentais para o reconhecimento da cidade de Luziacircnia e a interpretaccedilatildeo dos

dados se tornou necessaacuteria para compreensatildeo do objeto jaacute que na pesquisa

qualitativa

[] por razotildees de conveniecircncia a maior parte dos dados eacute convertida em

texto escrito (ou digitado) A anaacutelise daquilo que muitas vezes eacute uma grande

quantidade de material reflete duas caracteriacutesticas Em primeiro lugar os

dados satildeo volumosos e eacute necessaacuterio adotar meacutetodos para lidar com isso de

forma praacutetica e coerente Em segundo os dados devem ser interpretados

(GIBBS 2009 p 24)

As entrevistas funcionaram como um suporte para a captaccedilatildeo das histoacuterias

Delgado (2010) explica que a histoacuteria oral eacute um procedimento integrado a uma

metodologia que privilegia a realizaccedilatildeo de entrevistas e depoimentos com pessoas

que participaram de processos histoacutericos Logo ouvir esses depoimentos foi

fundamental para recuperar a memoacuteria de Luziacircnia jaacute que escutar aqueles que

participaram desse processo de transformaccedilatildeo do espaccedilo e das manifestaccedilotildees

culturais durante o tempo pode nos ajudar a compreender a histoacuteria e a ressignificar

essa identidade perdida

19

Para a realizaccedilatildeo das entrevistas Delgado (2010) estabelece algumas

etapas como de suma importacircncia para que a elaboraccedilatildeo do documento final tenha

utilidade entre a comunidade acadecircmica e outros grupos sociais Entre as principais

etapas estatildeo a definiccedilatildeo do objeto de estudo a preparaccedilatildeo da entrevista a

preparaccedilatildeo de roteiros e a realizaccedilatildeo da entrevista em si que envolve a transcriccedilatildeo

a conferecircncia de fidelidade e a anaacutelise da entrevista

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas com os diversos atores envolvidos

neste processo de turismo e cultura em Luziacircnia foi possiacutevel entender algumas das

principais manifestaccedilotildees culturais da cidade aleacutem de conhecer melhor os principais

atrativos turiacutesticos do municiacutepio Para Alberti (2005 p 78) ldquoeacute na realizaccedilatildeo das

entrevistas que se situa efetivamente o fazer da histoacuteria oral eacute para laacute que

convergem os investimentos iniciais de implantaccedilatildeo do projeto de pesquisa e eacute de

laacute que partem os esforccedilos de tratamento do acervordquo

Por meio das entrevistas buscamos aprofundar o conhecimento sobre a

cultura e o patrimocircnio da cidade analisando as festas e identificando a realidade e o

contexto no qual estatildeo inseridas para entatildeo compreender melhor a sua

contribuiccedilatildeo para o desenvolvimento do turismo de Luziacircnia

Logo entende-se que para cada ator entrevistado fazem-se necessaacuterias

perguntas especiacuteficas de acordo com o seu contexto social e objeto investigado

Assim buscamos entrevistar diferentes atores da sociedade luzianiense como

representantes de grupos culturais religiosos e governamentais aleacutem de

moradores que contribuiacuteram para a reconstruccedilatildeo da importacircncia histoacuterica das festas

tradicionais e religiosas da cidade aleacutem de reafirmarem o valor que elas possuem

na atualidade para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da identidade e para o

desenvolvimento turiacutestico do municiacutepio

Para Ceciacutelia Minayo (1996) os dados obtidos pelas entrevistas podem ser

classificados entre os de natureza ldquoobjetivardquo que seriam os fatos concretos os quais

podem ser obtidos por outros meios e os de natureza ldquosubjetivardquo tais como atitudes

valores opiniotildees que somente poderatildeo ser obtidos mediante subsiacutedios fornecidos

pelos atores sociais envolvidos Para uma melhor reproduccedilatildeo e anaacutelise das

entrevistas elas foram acompanhadas de gravaccedilatildeo de aacuteudio e realizadas apoacutes a

assinatura de termo de consentimento

As entrevistas foram realizadas a partir de um pequeno roteiro preparado

antecipadamente como forma de motivar o testemunho oral Elas foram realizadas

20

em momentos e locais variados sendo a primeira em junho de 2013 e as uacuteltimas em

abril de 2014 Antes das entrevistas a pesquisadora fez um breve relato aos

entrevistados sobre o tema a ser discutido e a partir daiacute o diaacutelogo se desenvolveu

Para se ter uma visatildeo mais abrangente do objeto de estudo buscou-se

entrevistar pessoas de todas as faixas etaacuterias Assim tornou-se possiacutevel ter a

opiniatildeo de um puacuteblico mais variado

Entre as pessoas que participaram estatildeo jovens que tem entre dezessete e

trinta anos ateacute pessoas mais idosas Sobre a religiatildeo dos participantes a maioria se

declarou catoacutelica um espiacuterita e os outros afirmaram natildeo seguir nenhuma religiatildeo

Foram feitas entrevistas com as seguintes pessoas

1- Secretaacuterio de Turismo de Luziacircnia Eacutecio Carlos de Mendonccedila

2- Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Padre Simatildeo

3- Coordenadora da festa do Divino Corina Maria de Lourdes

4- Zelador da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro

5- Artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva

6- Estudante Karina da Silva

7- Auxiliar Administrativo Angeacutelica Moreira

8- Auxiliar Administrativo Lucas Pires

9- Jornalista Francyelle Rocha

10- Advogado Wilter Campos Coelho

Buscou-se anteriormente agraves entrevistas criar categorias de anaacutelise a partir

dos referenciais teoacutericos que embasam a pesquisa para entatildeo tratar de temas

essenciais ao trabalho como cultura patrimocircnios histoacutericos e turismo De acordo

com as etapas definidas por Delgado (2010) logo apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas

elas devem ser tratadas e analisadas Assim foi feita a transcriccedilatildeo e a conferecircncia

da fidedignidade como nos ensina Rosaacutelia Duarte (2004) ouvindo a transcriccedilatildeo e

tendo o texto escrito em matildeos de maneira a acompanhar e conferir cada frase as

mudanccedilas de entonaccedilatildeo as interjeiccedilotildees utilizadas interrupccedilotildees etc

O proacuteximo passo foi organizar as falas a partir das categorias criadas Como

explica Duarte (2004 p 221) ldquouma maneira de analisar eacute fragmentar o todo e

reorganizar os fragmentos a partir de novos pressupostosrdquo Desta forma a intenccedilatildeo

foi agrupar os depoimentos em categorias que se referiam agrave participaccedilatildeo nas festas

21

agraves mudanccedilas ocorridas com o tempo agrave importacircncia das festas para a cidade e para

os proacuteprios participantes entre outras questotildees para entatildeo interpretaacute-los agrave luz dos

referenciais teoacutericos de forma a responder agraves questotildees de pesquisa

Diante do quadro metodoloacutegico exposto busca-se entatildeo com esta pesquisa

extrair as diversas narrativas que compotildee a festa do Divino Espiacuterito Santo e a festa

de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito de forma a identificar o conjunto de

tradiccedilotildees e manifestaccedilotildees presentes nestas festas Foi examinado o estado de

conservaccedilatildeo do patrimocircnio material verificado a existecircncia de projetos de

preservaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos patrimocircnios materiais e imateriais e identificado o

perfil do puacuteblico participante Para tanto a proposta seraacute desenvolvida em trecircs

capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos os referenciais teoacutericos que proporcionaram

uma melhor compreensatildeo do objeto de estudo Neste capiacutetulo foi feita uma

discussatildeo sobre cultura patrimocircnio e turismo divido em trecircs momentos O primeiro

apresenta a conceituaccedilatildeo de cultura sob o olhar de pensadores como Antocircnio

Arantes (1990) Clifford Gerts (2008) Denys Cuche (2002) entre outros No

segundo momento o estudo em tela aborda o patrimocircnio histoacuterico e a concepccedilatildeo do

patrimocircnio material e do patrimocircnio imaterial Jaacute o terceiro momento trata sobre o

turismo e suas relaccedilotildees com a cultura e com os patrimocircnios Eacute estabelecida uma

discussatildeo sobre a sustentabilidade turiacutestica e cultural aleacutem de abordar temas como

o turismo cultural e o turismo religioso

O segundo capiacutetulo apresenta a cidade de Luziacircnia recorte espacial dessa

pesquisa Nele procuramos tecer a histoacuteria da cidade apresentar dados estatiacutesticos

e o plano diretor do municiacutepio Tambeacutem eacute feita uma discussatildeo sobre o centro

histoacuterico da cidade e a relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais imateriais e o turismo

local

No terceiro e uacuteltimo capiacutetulo haacute um aprofundamento sobre o objeto deste

estudo as festas religiosas de Luziacircnia Laacute estatildeo descritas detalhadamente as

manifestaccedilotildees presentes na festa do Divino e na Festa do Rosaacuterio e como estas

festas podem influenciar diretamente no desenvolvimento do turismo e na

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios da cidade

Assim nesse trabalho procuramos abordar o turismo e a sua relaccedilatildeo com o

patrimocircnio cultural e como este patrimocircnio pode atuar na configuraccedilatildeo de um

espaccedilo enquanto destino turiacutestico Mas haacute que se ressaltar que eacute um patrimocircnio

22

conservado e integrado ao ambiente social Portanto procuramos enfatizar o quanto

essa relaccedilatildeo entre turismo e patrimocircnio pode permitir o surgimento de estrateacutegias

alternativas e possibilidades de desenvolvimento local em especiacutefico da cidade de

Luziacircnia

Haacute que se considerar que o processo de incorporaccedilatildeo dos espaccedilos para o

turismo ocorre em decorrecircncia de processos de ressignificaccedilatildeo e do reconhecimento

e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Dessa forma o patrimocircnio cultural se configura

como um elemento que agrega valor agrave paisagem cultural quando esta se estabelece

como um destino turiacutestico O patrimocircnio cultural nesse sentido se constitui como

um elemento importante que natildeo se desvincula do turismo

23

I CULTURA PATRIMOcircNIO E TURISMO UMA DISCUSSAtildeO

A proposta aqui eacute discutir conceitos como cultura patrimocircnio e turismo tendo

em vista que quando tratados de forma conjunta podem ter um valor significativo

natildeo soacute para os moradores de uma comunidade como tambeacutem para gestores

puacuteblicos e privados buscando entender a relaccedilatildeo entre estes conceitos de maneira

e descobrir como um pode influenciar diretamente na atuaccedilatildeo do outro e como eles

podem ser determinantes no desenvolvimento do municiacutepio de Luziacircnia

Cultura patrimocircnio e turismo vecircm sendo discutidos e teorizados ao longo

dos anos pelo fato de estarem intimamente relacionados Em muitos casos um se

apropria do outro mutualmente de modo que se torna difiacutecil discutir um assunto sem

falar de ambos Por isso muitos pesquisadores buscam a todo o momento formular

novos conceitos e teorias que consigam retratar da forma mais real possiacutevel esta

que nem sempre eacute uma harmoniosa relaccedilatildeo aleacutem do aumento da preocupaccedilatildeo por

parte das organizaccedilotildees governamentais com o desenvolvimento turiacutestico

entrelaccedilado aos patrimocircnios histoacutericos e agrave cultura local

Para Paul Claval1 (2005 apud COSTA SCARLATO 2012 p 106) ldquoa cultura

deve ser lida como uma noccedilatildeo dinacircmica que interliga o passado o presente e o

futurordquo Ela pode se manifestar de diversas formas desde a religiatildeo a arte a

gastronomia ateacute os bens arquitetocircnicos Enfim diversos fatores que fazem com que

cada lugar seja valorizado exatamente por ser uacutenico Assim a cultura tambeacutem se

constroacutei por meio dos patrimocircnios materiais e imateriais que podem ser vistos e

vividos em LuziacircniaGO a cidade que foi escolhida como objeto deste estudo por se

tratar de uma localidade que vem sendo negligenciada em seu conjunto cultural e

patrimonial

A cultura se constitui como um patrimocircnio presente no ambiente urbano das

cidades natildeo somente nos centros histoacutericos mas tambeacutem nas manifestaccedilotildees

populares e tradicionais de cada municiacutepio o que estimula o interesse turiacutestico

como nos explica Silvia Helena Zanirato (2006 p4)

O ambiente urbano enquanto loacutecus de concentraccedilatildeo populacional eacute um dos lugares privilegiados de expressatildeo dos suportes materiais e simboacutelicos produzidos pelos grupos humanos ldquoA cidade distingue-se como um espaccedilo

1 CLAVAL P Lieux de memoire In Revista Espaccedilo e Cultura Rio de Janeiro UERJ NEPEC

jandez 2005 n19-20 p 126-153

24

de vivecircncias de experiecircncias que conformam as culturas e as praacuteticas de sociabilidade manifestas nas permanecircncias e nas transformaccedilotildees ali vivenciadasrdquo

Ou seja cultura e patrimocircnios histoacutericos fazem parte dos ambientes urbanos

constituiacutedos em cada cidade e o turismo vem se apropriando desta cultura e destes

patrimocircnios no seu desenvolvimento Logo cultura e patrimocircnio satildeo ressignificados

a todo o momento e agrave medida em que estes patrimocircnios se somam lhes satildeo

conferidos valores simboacutelicos criando-se entatildeo um processo de patrimonializaccedilatildeo

das cidades como explica Joseacute Madureira Pinto (1995 p 192)

[] a verdadeira importacircncia dos processos de patrimonializaccedilatildeo que reside natildeo tanto na estrateacutegia de conservaccedilatildeo das marcas arquitetocircnicas do passado como sobretudo no estiacutemulo dado por seu intermeacutedio agrave criaccedilatildeo cultural autocircnoma e a recuperaccedilatildeo mais genuiacutena da festa a saber a da celebraccedilatildeo coletiva em que todos satildeo tendencialmente protagonistas

Assim tanto os patrimocircnios arquitetocircnicos como os patrimocircnios intangiacuteveis

fazem parte deste processo de patrimonializaccedilatildeo do turismo Por isso o presente

estudo investigou a relevacircncia do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia expresso por

meio das festas religiosas e tradicionais da cidade tendo em vista que eacute notaacutevel a

estreita relaccedilatildeo entre cultura patrimocircnio e turismo jaacute que grande parte dos

deslocamentos estaacute relacionada ao desejo de conhecer patrimocircnios histoacutericos e

vivenciar outras culturas Doris Van de Meene Ruschmann (1997 p 50) conclui que

ldquoeacute impossiacutevel desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes

motivaccedilotildees das viagens turiacutesticasrdquo

A atividade turiacutestica em LuziacircniaGO nunca foi tratada como uma alternativa

positiva para a preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e culturais poreacutem sua

conservaccedilatildeo eacute fundamental natildeo somente para a perpetuaccedilatildeo da histoacuteria local mas

tambeacutem como referecircncia de identidade Assim Maria Letiacutecia Mazzuchi Ferreira

(2006 p 79) acredita que o sentido do patrimocircnio ldquoeacute o da permanecircncia do passado

da necessidade de resguardar algo significativo no campo das identidades do

desaparecimentordquo de modo que relacionar estes patrimocircnios ao desenvolvimento de

um turismo planejado tende a trazer benefiacutecios em larga escala para diversos

setores da sociedade

A cultura se apropriou dos patrimocircnios histoacutericos e o turismo tem se

apropriado de ambos por isso estes se tornam uma atraccedilatildeo significativa para os

25

turistas principalmente agravequeles que procuram algo de diferente comparado agraves suas

proacuteprias experiecircncias Eacute como se o turista pudesse viver a vida do outro por um

determinado periacuteodo se afastando do seu cotidiano e se permitindo viver o novo

Em LuziacircniaGO a cultura e os patrimocircnios materiais e imateriais sempre

tiveram uma forte relaccedilatildeo com a igreja em especial a catoacutelica como poderaacute ser

observado no decorrer deste estudo As principais festas tradicionais que compotildeem

o patrimocircnio intangiacutevel da cidade estatildeo ligadas agrave esta religiatildeo e estas festividades

tecircm o poder de atuar na manutenccedilatildeo da memoacuteria local trazendo assim uma nova

mobilidade social e turiacutestica para o municiacutepio ampliando suas relaccedilotildees e

contribuindo para o desenvolvimento de um turismo cultural sustentaacutevel

11 A Cultura

A palavra cultura passou por um processo de evoluccedilatildeo ao longo dos anos

possuindo vaacuterios significados e se transformando (a depender dos fins a que se

destina) Nesta pesquisa buscamos a sua compreensatildeo mais especificamente no

campo das ciecircncias sociais O conceito da palavra ldquoCulturardquo vem sendo discutido

desde o seacuteculo XVIII quando o antropoacutelogo britacircnico Edward Tylor (1958 p29) criou

o termo ldquoCulturerdquo para se referir a ldquoum todo complexo que inclui conhecimentos

crenccedilas arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo De acordo com Laraia

(1997) ele buscou sintetizar em uma uacutenica palavra todas as expressotildees que

integram os homens em uma comunidade Para Antocircnio Augusto Arantes (1990

p34) a cultura estaacute em toda parte e eacute algo que faz parte da vida dos homens

Em se tratando de vida social a cultura estaacute em toda parte Todas as nossas accedilotildees seja na esfera do trabalho das relaccedilotildees conjugais da produccedilatildeo econocircmica ou artiacutestica do sexo da religiatildeo das formas de dominaccedilatildeo e de solidariedade tudo nas sociedades humanas eacute constituiacutedo segundo os coacutedigos e as convenccedilotildees simboacutelicas a que denominamos ldquoculturardquo

Estaacute intriacutenseco na natureza do ser humano viver em sociedade e para que

esta sociedade se organize faz-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de regras que se formam

baseadas em uma cultura cultura esta que faz parte da vida de todas as

26

sociedades desde os primoacuterdios Tylor2 (1958 apud LARAIA 1997) tambeacutem

entende a cultura como uma expressatildeo da totalidade da vida social do homem

Denys Cuche (2002) afirma que o homem eacute essencialmente um ser de cultura ou

seja a cultura eacute proacutepria do Homem Em Luziacircnia eacute possiacutevel observarmos essa

totalidade da cultura presente em vaacuterios bens culturais

Cuche (2002) cita Franz Boas (1940) ao tratar de uma visatildeo particularista da

cultura Para Boas3 (1940 apud CUCHE 2002) ldquocada cultura representa uma

totalidade singularrdquo por isso ele se preocupa em natildeo somente descrever os fatos

culturais mas compreendecirc-los juntamente ao conjunto em que estatildeo ligados O

autor conclui que cada costume particular para ser explicado deve estar

relacionado ao seu contexto Assim torna-se importante estudarmos todo o contexto

que envolve os patrimocircnios de Luziacircnia objetos desta pesquisa relacionando-os a

pensamentos como o de Cuche (2002 p 71) ao afirmar que ldquocada cultura forma um

sistema cujos elementos satildeo interdependentes e natildeo se pode estudaacute-los

separadamenterdquo

Para Clifford Geertz (2008 p 24)

[] a cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade

Ou ainda como diz Cuche (2002) numa compreensatildeo de seu sentido mais

vasto a cultura nos remete aos modos de vida e pensamentos apesar de existirem

ambiguidades Assim ao tentar reviver a cultura de uma determinada cidade um

dos desejos eacute tentar conhecer os modos de vida do outro

Geertz (2008 p 10) diz que ldquocompreender a cultura de um povo expotildee a

sua normalidade sem reduzir sua particularidaderdquo Ele entende a cultura como algo

que deve ser vivenciado em sua essecircncia definindo o seguinte conceito para sua

compreensatildeo

ldquoO conceito de cultura que eu defendo [] eacute essencialmente semioacutetico Acreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e sua anaacutelise portanto natildeo como uma ciecircncia experimental em busca

2 TYLOR E Primitive Culture Londres John Mursay amp Co1958

3 BOAS F Race Language and Culture New York Macmillan 1940

27

de leis mas como uma ciecircncia interpretativa agrave procura do significadordquo (GEERTZ 2008 p4)

Nesse sentido podemos afirmar que a cultura eacute uma ciecircncia criada e

recriada pelo homem a todo o momento necessitando dela para afirmaccedilatildeo de sua

identidade e preservaccedilatildeo de sua histoacuteria Geertz (2008) acredita que a cultura

constroacutei a histoacuteria e reuacutene fatores indispensaacuteveis para a identidade de um povo

Laraia4 (1997 apud CARNEIRO OLIVEIRA CARVALHO 2010) afirma que ldquocultura

eacute um conjunto de valores crenccedilas costumes haacutebitos e fatores histoacutericos materiais e

imateriais que permeiam de forma dinacircmica a vida socialrdquo

Assim partiu-se destes conceitos para a escolha do objeto de anaacutelise desse

trabalho acreditando que as festas religiosas histoacutericas e tradicionais de Luziacircnia

que foram construiacutedas e reconstruiacutedas ao longo dos anos possuem aspectos

importantes e significativos para a cultura e para o turismo da regiatildeo

Deve-se partir do princiacutepio de que estudar a cultura natildeo eacute apenas

compreender os seus siacutembolos mas todo o contexto que os envolve como buscou

esta pesquisa ao tentar entender todo o contexto histoacuterico e social que envolve o

patrimocircnio imaterial de Luziacircnia Geertz (2008 p 18) no estudo da cultura mostra

que ldquoos significantes natildeo satildeo sintomas ou conjuntos de sintomas mas atos

simboacutelicos ou conjuntos de atos simboacutelicos e o objetivo natildeo eacute a terapia mas a

anaacutelise do discurso socialrdquo Jaacute Leacutevi-Strauss (1950 p 19) definiu a cultura da

seguinte forma

Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simboacutelicos No primeiro plano deste sistema colocam-se a linguagem as regras matrimoniais as relaccedilotildees econocircmicas a arte a ciecircncia a religiatildeo Todos estes sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade fiacutesica e da realidade social e mais ainda as relaccedilotildees esses dois tipos de realidades estabelecem entre si e que os proacuteprios sistemas simboacutelicos estabelecem uns com os outros

A cultura estaacute presente em todos os lugares e pode se manifestar de

diferentes formas como nas criaccedilotildees plaacutesticas nas construccedilotildees na ciecircncia no uso

das tecnologias nas crenccedilas costumes gastronomia ritos entre outros

(PRYSTHON 2006) Nesse contexto Luziacircnia possui diversos bens culturais

expressos em diferentes manifestaccedilotildees materiais e imateriais frutos de uma cultura

determinada que contornam a sua identidade e que consciente ou

4 LARAIA RB Cultura ndash um conceito antropoloacutegico 11ed Rio de Janeiro Zahar Editores 1997

28

inconscientemente fazem parte da vida de todas as pessoas da comunidade

Contribuindo com o pensamento de Angela Prysthon Cuche (2002 p 78) afirma

que ldquocada cultura oferece aos indiviacuteduos um lsquoesquemarsquo inconsciente para todas as

atividades da vidardquo

Por isso este estudo se propotildee a chamar a atenccedilatildeo para algo tatildeo valioso

para a identidade do povo de Luziacircnia trazendo agrave tona natildeo soacute para a comunidade

mas tambeacutem para os oacutergatildeos puacuteblicos a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura

da cidade especialmente quando relacionada os bens intangiacuteveis jaacute que ldquona

medida em que cada cultura exprime um modo uacutenico de ser homem ela tem o

direito agrave estima e agrave proteccedilatildeo se estiver ameaccediladardquo (CUCHE 2002 p 46)

As manifestaccedilotildees culturais satildeo mantidas por muitos anos e repassadas por

geraccedilotildees Para Peter Burns (2002) cultura diz respeito agrave integraccedilatildeo entre pessoas

que aprendem umas com as outras como aconteceu em Luziacircnia desde a sua

fundaccedilatildeo A cidade manteacutem vivas tradiccedilotildees que foram repassadas de pais para

filhos permitindo que ainda hoje possam ser vivenciadas e comemoradas

festividades que satildeo celebradas haacute mais de duzentos anos

Conclui-se que ldquoa cultura se constitui como tudo aquilo que os homens

adquirem no transcurso de sua vidardquo (CLAVAL 2005 p 90) Poreacutem Balandier5

(1955 apud CUCHE 2002) atenta para o fato de que a cultura natildeo eacute uma heranccedila

que se transmite imutaacutevel de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo ela eacute uma produccedilatildeo histoacuterica

Em Luziacircnia a cultura foi construiacuteda ao longo dos seus 266 anos de vida

quando a partir do local onde foi fincada a cruz que deu origem agrave cidade o

municiacutepio se desenvolveu e agregando influecircncias de muitas outras culturas

formou a sua proacutepria identidade Seus patrimocircnios possuem relaccedilatildeo muito estreita

com a cultura Joseacute Luiz dos Santos (2006) nos fala sobre a cultura nacional como

Ela eacute assim resultado e aspecto de um processo histoacuterico particular o modo como se daacute o processo histoacuterico garante que a cultura nacional assim descrita natildeo seja uma invenccedilatildeo Eacute uma realidade histoacuterica resultado de processos seculares de trabalho e produccedilatildeo de lutas sociais consequecircncia das formas como a naccedilatildeo se produziu (SANTOS 2006 p 72)

Sob esta perspectiva a cultura pode ser entendida como resultado de um

processo histoacuterico e com o passar dos anos um produto social Henri Lefebvre

5 BALANDIER G La nocion de ldquosituationrdquo cloniale In Sociologie actuelle de IrsquoAfrique noire Paris

PUF 1955

29

(1991) diz que eacute um artigo de consumo um pouco excepcional passando por livre

essa atividade consumidora () assume ares de festa o que lhe confere uma

espeacutecie de unidade fictiacutecia e no entanto socialmente real embora situada no

imaginaacuterio

A cultura entatildeo pode ser tratada como uma atividade consumidora e

intangiacutevel capaz de consumir espaccedilos e trazer nova mobilidade social para os

lugares assim como o turismo contornando a sua identidade e seu patrimocircnio e se

fazendo presente na vida das pessoas Marilena Chauiacute (2008 p 65) conclui dizendo

que a cultura eacute uma ldquoinstituiccedilatildeo social portanto determinada pelas condiccedilotildees

materiais e histoacutericas de sua realizaccedilatildeordquo

As festas tradicionais e religiosas de Luziacircnia satildeo parte integrante da cultura

tradicional e popular da cidade A UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para

a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura reconhecendo a importacircncia da preservaccedilatildeo

dessa cultura emitiu um documento com diretrizes para a salvaguarda da cultura

tradicional e popular criando a seguinte definiccedilatildeo

A cultura tradicional e popular eacute o conjunto de criaccedilotildees que emanam de uma comunidade cultural fundada na tradiccedilatildeo expressas por um grupo ou por indiviacuteduos e que reconhecidamente respondem agrave expectativa da comunidade enquanto expressatildeo de sua identidade cultural e social as normas e os valores se transmitem oralmente por imitaccedilatildeo ou de outras maneiras Suas formas compreendem entre outras a liacutengua a literatura a muacutesica a danccedila os jogos a mitologia os rituais os costumes o artesanato a arquitetura e outras artes (UNESCO 1989 p 02)

Assim compreender o significado destas festas que satildeo integrantes da

cultura popular eacute fator primordial para que sua utilizaccedilatildeo pela atividade turiacutestica seja

positiva Malinowski6 (1968 apud CUCHE 2002 p 73) afirma que ldquonatildeo se pode

estudar uma cultura analisando-a do exterior e ainda menos agrave distacircnciardquo Assim

este trabalho fez uma anaacutelise de como as festas partes integrantes do patrimocircnio

cultural imaterial possuem o poder de ressignificar a cultura bem como a

atratividade destes patrimocircnios para a comunidade local e para os turistas que

visitam a cidade

6 MALINOWSKI B K Une theacuteorie scientifique de la culture Paris Maspero 1968

30

12 O Patrimocircnio

A palavra patrimocircnio tem sua origem no latim pater que significa pai Ela

passou a ser usada para se referir aos bens ou riquezas de uma pessoa de uma

famiacutelia de uma empresa De acordo com Ruben George Oliven (2009 p 77) ldquoo

termo patrimocircnio em inglecircs ndash heritage ndash refere-se a algo que herdamos e que por

conseguinte deve ser protegidordquo A UNESCO estabeleceu em 1972 que o

patrimocircnio cultural ateacute entatildeo patrimocircnio histoacuterico passaria a ser considerado como

ldquoo conjunto de edificaccedilotildees separadas ou conectadas os quais por sua arquitetura

homogeneidade ou localizaccedilatildeo na paisagem sejam de relevacircncia universal do ponto

de vista da histoacuteria da arte ou das ciecircnciasrdquo (BARBOSA 2001 p 70)

O patrimocircnio cultural pode ser entendido como ldquoaquela representaccedilatildeo

simboacutelica das identidades dos grupos humanosrdquo (CRUCES 1998 p 85) Nesse

sentido a identidade dos indiviacuteduos eacute construiacuteda a partir de sua memoacuteria e esta por

sua vez se constroacutei ao longo da histoacuteria agrave medida que o homem preserva haacutebitos

costumes tradiccedilotildees e construccedilotildees que com o passar dos anos se tornam seus

patrimocircnios

Ferreira (2006 p 79) afirma que ldquoo patrimocircnio pode ser compreendido como

esse esforccedilo constante de resguardar o passado no futuro e para que exista

patrimocircnio eacute necessaacuterio que ele seja reconhecidordquo pois a partir do momento em

que a sociedade passa a reconhecer algo como seu lhe eacute conferido valor no acircmbito

das relaccedilotildees sociais e simboacutelicas O fato eacute que todas as cidades possuem

patrimocircnios que refletem a sua identidade assim como acontece em LuziacircniaGO

para Franccediloise Choay (2006 p 11) a expressatildeo patrimocircnio cultural significa

Um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensotildees planetaacuterias constituiacutedos pela acumulaccedilatildeo contiacutenua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos

Enfim tudo aquilo que possui valor simboacutelico para uma comunidade

Ferreira (2006 p 79) tambeacutem afirma que ldquoa palavra patrimocircnio bem como

memoacuteria compotildee um leacutexico contemporacircneo de expressotildees cuja caracteriacutestica

31

principal eacute a multiplicidade de sentidos e definiccedilotildees que a elas podem se atribuiacutedosrdquo

Aquilo que se torna patrimocircnio para um povo manteacutem uma ligaccedilatildeo direta com a sua

histoacuteria e a sua cultura como acontece em relaccedilatildeo aos patrimocircnios de LuziacircniaGO

aleacutem de estes patrimocircnios participarem tambeacutem como um bem para o consumo

visual

Pode-se afirmar de acordo com Barretto (2000 p 11) que a noccedilatildeo de

patrimocircnio cultural eacute bastante ampla

Atualmente haacute consenso de que a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural eacute muito mais ampla que inclui natildeo apenas os bens tangiacuteveis como tambeacutem os intangiacuteveis natildeo soacute as manifestaccedilotildees artiacutesticas mas todo o fazer humano e natildeo soacute aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas mas tambeacutem o que representa a cultura dos menos favorecidos

Neste sentido Luziacircnia engloba um conjunto de patrimocircnios culturais

tangiacuteveis e intangiacuteveis que representam essa luta de classes sociais expressos

tanto por meio das suas manifestaccedilotildees populares como pela culinaacuteria pelo

artesanato e pelos seus patrimocircnios materiais que traduzem a miscigenaccedilatildeo da

sua construccedilatildeo histoacuterica e que servem como instrumentos para o desenvolvimento

do turismo

Tudo aquilo que possui um significado especial e histoacuterico para uma

comunidade pode ser tornar seu patrimocircnio Ameacuterico Pellegrini Filho (1993 p 92)

observa que o significado de patrimocircnio cultural eacute algo muito mais amplo incluindo-

se nele ldquooutros produtos do sentir do pensar e do agir humano como peccedilas de valor

etnoloacutegico arquivos coleccedilotildees bibliograacuteficas desenhos artiacutestico ou cientiacutefico e

peccedilas arqueoloacutegicas de um povo ou de uma eacutepocardquo

Para Fonseca (2009 p 21)

Patrimocircnio eacute tudo que criamos valorizamos e queremos preservar satildeo os monumentos e obras de arte e tambeacutem as festas muacutesicas e danccedilas os folguedos e as comidas os saberes fazeres e falares enfim tudo que produzimos com as matildeos as ideias e a fantasia

Natildeo se pode limitar a ideia de patrimocircnio ao conjunto de bens materiais mas

tudo aquilo que eacute considerado valioso para um determinado grupo mesmo que natildeo

possua valor de mercado Assim as festas de Nossa Senhora do Rosaacuterio e do

Divino Espiacuterito Santo satildeo consideradas festas tradicionais e histoacutericas de Luziacircnia

32

que possuem o poder de reunir em um uacutenico momento outras tradiccedilotildees culturais

como a danccedila as comidas as muacutesicas e os folguedos ocupando e apropriando-se

dos patrimocircnios materiais e resgatando a memoacuteria e a identidade da cidade

Por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras se concentraram apenas na

preservaccedilatildeo do patrimocircnio edificado especialmente nas regiotildees Nordeste e

Sudeste Somente apoacutes os anos 80 as outras regiotildees passaram a ser vistas Em

razatildeo da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seus artigos 215 e

216 refere-se agraves responsabilidades do Poder Puacuteblico com a colaboraccedilatildeo da

comunidade na promoccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro compreendido

como os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em

conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira

O Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN surgiu como

um dos primeiros oacutergatildeos a promover accedilotildees de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

brasileiro Para o IPHAN (2007) um dos objetivos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural eacute corroborar a ideia de que os indiviacuteduos pertencem a uma sociedade

contribuindo assim para o exerciacutecio da cidadania algo que necessita ser revisto

com a comunidade de Luziacircnia que natildeo consegue reconhecer o valor do seu

proacuteprio patrimocircnio Fonseca (2009 p 77) confirma que ldquoeacute fundamental que se

formulem e se implementem poliacuteticas que tenham como finalidade enriquecer a

relaccedilatildeo da sociedade com seus bens culturais sem que se perca de vista os valores

que justificam a preservaccedilatildeordquo

Cada local tem seus proacuteprios patrimocircnios e isso eacute o que os torna uacutenicos Ao

buscar por novos destinos o viajante faz uma busca em sim mesmo ele quer

confirmar a ideia jaacute construiacuteda que se tem dos lugares Assim Michel Onfray (2009

p 55) afirma que a viagem tem uma relaccedilatildeo muito iacutentima com o eu ldquoum dos riscos

da viagem consiste em partir para verificar por si mesmo o quanto o paiacutes visitado

corresponde agrave ideia que se faz delerdquo

A preservaccedilatildeo dos patrimocircnios dos costumes e das tradiccedilotildees de cada povo eacute

muito importante para uma melhor compreensatildeo da sua identidade assim como nos

ensina Stuart Hall (2006 p 47) ao dizer que ldquono mundo moderno as culturas

nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de

33

identidade culturalrdquo logo os bens e objetos de uma famiacutelia satildeo instrumentos que

refletem a sua identidade como Joseacute Reginaldo Gonccedilalves (1989 p 267) enfatiza

Assim como a identidade de um indiviacuteduo ou de uma famiacutelia pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados e que permanecem na famiacutelia por vaacuterias geraccedilotildees tambeacutem a identidade de uma naccedilatildeo pode ser definida pelos seus monumentos ndash aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional Esses bens constituem um tipo especial de propriedade a eles se atribui a capacidade de evocar o passado presente e futuro Em outras palavras eles garantem a continuidade da naccedilatildeo no tempo

Para Hall (2006 p 38) ldquoa identidade eacute realmente algo formado ao longo do

tempo atraveacutes de processos inconscientes e natildeo algo inato existente na

consciecircncia no momento do nascimentordquo Ou seja a identidade eacute constantemente

construiacuteda dependendo do meio ambiente em que vivemos o que torna possiacutevel

que a sociedade se identifique com a cultura e a histoacuteria herdada e procure

preservaacute-la para as geraccedilotildees futuras Eacute muito importante a preservaccedilatildeo dos

patrimocircnios culturais natildeo soacute como forma de conservar o passado mas como uma

maneira de integraccedilatildeo comunitaacuteria e preservaccedilatildeo da cultura que estaacute em toda a

parte na vida em sociedade

121 O Patrimocircnio Imaterial

O interesse pelos bens culturais brasileiros intangiacuteveis vem desde os anos

20 quando o escritor e ilustre representante da cultura brasileira Maacuterio de Andrade

realizou viagens pelo paiacutes em busca de manifestaccedilotildees que representassem o modo

de ser agir e de se comportar do povo brasileiro Ele seria entatildeo o pioneiro nos

estudos do que viria a ser considerado o ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo aleacutem de um

dos criadores do oacutergatildeo governamental responsaacutevel pela proteccedilatildeo do patrimocircnio

cultural ndash IPHAN em 1937

Tal influecircncia pode ser demonstrada em relatoacuterio do IPHAN

O objetivo da iniciativa foi ampliar o raio de proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo dos bens simboacutelicos de nosso povo ndash uma ideia que na verdade jaacute havia sido sugerida por Maacuterio de Andrade [] no contexto do nascimento do Iphan quando a consciecircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria nacional comeccedilou a se enraizar na sociedade brasileira (MINISTEacuteRIO DA CULTURA 2006 p 7)

34

Haacute muitos anos jaacute vem sendo discutidos os conceitos de patrimocircnio e a sua

classificaccedilatildeo em tangiacutevel e intangiacutevel ou material e imaterial Como afirma

Gonccedilalves (2009 p 28) ldquoopondo-se ao chamado lsquopatrimocircnio de pedra e calrsquo []

visa a aspectos da vida social e cultural dificilmente abrangidos pelas concepccedilotildees

mais tradicionaisrdquo Veloso (2004 p31) diz que ldquoa discussatildeo sobre o patrimocircnio

cultural imaterial remete agrave temaacutetica dos valores enraizados em praacuteticas sociais e

praacuteticas discursivas especiacuteficasrdquo ela conclui dizendo que o patrimocircnio imaterial pode

ser compreendido como as representaccedilotildees culturais de um grupo social

A Constituiccedilatildeo Federal da Repuacuteblica de 1988 no art 216 jaacute tratava dessa

classificaccedilatildeo e alguns anos depois na recomendaccedilatildeo da UNESCO7 (1993 apud

ABREU 2009 p 83) o patrimocircnio cultural imaterial ou intangiacutevel foi definido como

O conjunto das manifestaccedilotildees culturais tradicionais e populares ou seja as criaccedilotildees coletivas emanadas de uma comunidade fundadas sobre a tradiccedilatildeo Elas satildeo transmitidas oral e gestualmente e modificadas atraveacutes de tempo por um processo de recriaccedilatildeo coletiva Integram esta modalidade de patrimocircnio as liacutenguas as tradiccedilotildees orais os costumes a muacutesica a danccedila os ritos os festivais a medicina tradicional as artes da mesa e o ldquosaber-fazerrdquo dos artesanatos e das arquiteturas tradicionais

O IPHAN8 definiu os bens culturais de natureza imaterial como agravequelas

praacuteticas e domiacutenios da vida social que se manifestam em saberes ofiacutecios e modos

de fazer celebraccedilotildees formas de expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas

e nos lugares (como mercados feiras e santuaacuterios que abrigam praacuteticas culturais

coletivas)

Consideramos que Luziacircnia possui ricos patrimocircnios imateriais que satildeo

menosprezados natildeo somente pelos gestores puacuteblicos e privados mas tambeacutem pela

proacutepria comunidade

Devem-se reconhecer as especificidades que o patrimocircnio intangiacutevel tem em

relaccedilatildeo ao tangiacutevel O IPHAN e o Ministeacuterio da Cultura jaacute afirmaram que essa

distinccedilatildeo se faz necessaacuteria ao tratarmos da preservaccedilatildeo patrimonial ressaltando

que natildeo haacute duacutevidas de que as expressotildees do patrimocircnio imaterial apesar de

estarem intrinsecamente vinculadas a uma cultura material natildeo vem sendo

reconhecidas oficialmente como patrimocircnio nacional

7 UNESCO Material de divulgaccedilatildeo do sistema de tesouros humanos vivos 142ordf reuniatildeo do conselho

executivo Paris 1993 Mimeo 8 Fonte Patrimocircnio Imaterial Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontarPaginaSecaodo

id=10852ampretorno=paginaIphangt Acesso em 19 set 2011

35

No ano 2000 por meio do Decreto-Lei nordm 35519 foi instituiacutedo o Programa

Nacional do Patrimocircnio Imaterial (PNPI) e a partir daiacute foram registrados os

patrimocircnios imateriais no paiacutes criando-se o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial em quatro livros

1ordm ndash Livro de Registro dos Saberes com os conhecimentos e modos de

fazer enraizados no cotidiano das comunidades

2ordm ndash Livro de Registro das Celebraccedilotildees com os rituais e festas que marcam

a vivecircncia coletiva do trabalho da religiosidade do entretenimento e de outras

praacuteticas da vida social

3ordm ndash Livro de Registro das Formas de Expressatildeo com as manifestaccedilotildees

literaacuterias musicais plaacutesticas cecircnicas e luacutedicas

4ordm ndash Livro de Registro dos Lugares com os mercados feiras santuaacuterios

praccedilas e demais espaccedilos onde se concentram e reproduzem praacuteticas culturais

coletivas

Em Luziacircnia os livros com os registros dos patrimocircnios imateriais da cidade

se encontram na Casa da Cultura Rui Carneiro Poreacutem dos quatro livros existentes

dois deles ainda estatildeo em branco aguardando que seus patrimocircnios de natureza

imaterial sejam reconhecidos e registrados pelo Conselho Municipal de Cultura

oacutergatildeo responsaacutevel pelo registro no municiacutepio Gonccedilalves (2004 p 4) afirma que ldquo[]

eacute possiacutevel sim preservar por meio do registro e acompanhamento lugares

objetos festas conhecimentos culinaacuterios etcrdquo

9 Fonte Decreto-Lei nordm 3551 de 4 de agosto de 2000 Disponiacutevel em

lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD3551 htmgt Acesso em 27 jun 2013

36

Figura 1 ndash Capa do Livro de Registro dos Saberes de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 2 ndash Capa do Livro de Registro das Formas de Expressatildeo de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

Figura 3 ndash Capa do Livro de Registro das Atividades e Celebraccedilotildees de Luziacircnia na Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria 2014

37

Atualmente no Livro dos Saberes estatildeo registrados todos os ingredientes e

o processo de fabricaccedilatildeo da tradicional marmelada de Santa Luzia Jaacute no Livro das

Atividades e Celebraccedilotildees estaacute registrada a festa cultural e religiosa do Divino

Espiacuterito Santo com um resumo da sua histoacuteria ritos siacutembolos e tradiccedilotildees A festa

dedicada exclusivamente a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito que

acontece em outubro ateacute o momento natildeo foi registrada como patrimocircnio imaterial no

livro do tombo da cidade mesmo contando com a proteccedilatildeo espontacircnea da

comunidade

O poder puacuteblico ainda ignora o seu registro assim como tambeacutem ignora

tantos outros bens intangiacuteveis da cidade que continuam esquecidos pelos oacutergatildeos

responsaacuteveis Fonseca (2009 p 67) explica que ldquomesmo quando a iniciativa parte

do Estado esses valores precisam ser aceitos e constantemente reiterados pela

sociedade a partir de criteacuterios que variam no tempo e no espaccedilordquo A autora conclui

que instrumentos legais como o tombamento natildeo satildeo suficientes para garantir que

um bem cumpra efetivamente o seu papel de patrimocircnio cultural em uma sociedade

(FONSECA 2009)

Aos registrar estes bens a intenccedilatildeo foi de que eles passassem a ser mais

valorizados por todos (organizaccedilotildees puacuteblicas privadas e a proacutepria comunidade) de

forma a viabilizar a realizaccedilatildeo de projetos parcerias contribuir com pesquisas

manter vivas tradiccedilotildees importantes para a histoacuteria das comunidades e reconhecer a

vulnerabilidade que estas tradiccedilotildees possuem pelo fato de estarem frequentemente

em mudanccedila

Roque de Barros Laraia (2004) afirma que o lado positivo do registro eacute

justamente o reconhecimento por parte do Estado e a sua valorizaccedilatildeo como

referencia de identidade Poreacutem deve-se ter em mente que embora seja importante

o registro governamental existem outras formas de proteccedilatildeo e manutenccedilatildeo desses

patrimocircnios Fonseca (2009 p 67) afirma que a proteccedilatildeo deve ir aleacutem

Eacute necessaacuterio que a accedilatildeo de ldquoprotegerrdquo seja precedida pelas accedilotildees de ldquoidentificarrdquo e ldquodocumentarrdquo ndash bases para a seleccedilatildeo do que deve ser protegido - seguidas pelas accedilotildees de ldquopromoverrdquo e ldquodifundirrdquo que viabilizam a reapropriaccedilatildeo simboacutelica e em alguns casos econocircmica e fundacional dos bens preservados

Desta forma todo o conjunto de festas tradicionais e populares com suas

muacutesicas danccedilas tradiccedilotildees culinaacuteria e performances especiacuteficas fazem parte da

38

cultura e do patrimocircnio imaterial das localidades do mesmo modo que as festas do

Divino e do Rosaacuterio que acontecem anualmente em LuziacircniaGO com todas as

suas muacutesicas encenaccedilotildees performances e ritos para Schechner (apud TEIXEIRA

2011) as performances tem entre suas funccedilotildees reforccedilar a identidade social de um

grupo social ou de uma sociedade especiacuteficos Vianna e Teixeira (2008 p 2) nos

explicam o conceito de performance como

Em sendo um conceito elaacutestico ele se refere a um sentido relativo ao acontecimento ao ato deliberado de vivenciar e comunicar ao aqui e agora das accedilotildees humanas com toda a sua carga expressiva e singular de identidades o que eacute em uacuteltima instacircncia o loacutecus por excelecircncia dessas poliacuteticas o acontecimento do fato cultural

Por isso neste trabalho foram escolhidas as celebraccedilotildees religiosas de

Luziacircnia que aleacutem de serem partes integrantes do patrimocircnio cultural imaterial

possuem uma histoacuteria e uma tradiccedilatildeo de grande expressividade para a comunidade

pois aleacutem de serem referecircncias culturais importantes de reafirmaccedilatildeo da identidade

do povo luzianiense satildeo tambeacutem potenciais para o desenvolvimento do turismo no

municiacutepio Assim como afirma Fonseca (2009 p 72) essas manifestaccedilotildees com

valor de patrimocircnio cultural contribuem ldquopara que a inserccedilatildeo em novos sistemas

como o mercado de bens culturais e do turismo [] possa ocorrer sem o

comprometimento de sua continuidade histoacutericardquo

Em 2003 foi redigido pela UNESCO um documento10 com recomendaccedilotildees

para a salvaguarda do patrimocircnio imaterial indicando como identificar preservar e

disseminar esse tipo de patrimocircnio O documento reconhece a profunda

interdependecircncia que existe entre o imaterial e o material fala sobre a influecircncia que

os processos de globalizaccedilatildeo e transformaccedilatildeo social criam aumentando os riscos

de deterioraccedilatildeo desaparecimento e destruiccedilatildeo do patrimocircnio imaterial e cita

tambeacutem a importacircncia das comunidades (especialmente as indiacutegenas) na

disseminaccedilatildeo do patrimocircnio cultural imaterial

A UNESCO ao elaborar este documento observou seu poder de alcance

como oacutergatildeo de proteccedilatildeo patrimonial Verificou que ateacute o momento natildeo havia

nenhum instrumento multilateral de caraacuteter vinculante que garantisse a salvaguarda

deste patrimocircnio Considerou a necessidade de conscientizaccedilatildeo das futuras 10

UNESCO Recomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial Paris 2003

39

geraccedilotildees sobre a importacircncia do patrimocircnio imaterial e citou tambeacutem a relevacircncia

dos organismos internacionais em colaborarem neste processo de proteccedilatildeo Por fim

destacou a vital funccedilatildeo que cumpre o patrimocircnio cultural imaterial na aproximaccedilatildeo

no intercacircmbio e no entendimento entre os seres humanos A Convenccedilatildeo da

UNESCO (2003) formulou a seguinte definiccedilatildeo de patrimocircnio cultural imaterial

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhe satildeo associados ndash que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural Este patrimocircnio imaterial que se transmite de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo eacute constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funccedilatildeo de seu ambiente de sua interaccedilatildeo com a natureza e de sua histoacuteria gerando um sentimento de identidade e continuidade contribuindo assim para promover o respeito agrave diversidade cultural e agrave criatividade humana (UNESCO 2003 p 2-3)

Algumas medidas satildeo fundamentais para garantir que as geraccedilotildees futuras

possam vivenciar a experiecircncia que vem contida nos patrimocircnios imateriais Assim

a UNESCO (2003) estabeleceu alguns fatores que devem ser observados por parte

dos gestores puacutebicos para salvaguardar o patrimocircnio imaterial Entre as medidas

estaacute a designaccedilatildeo ou criaccedilatildeo de oacutergatildeos para desenvolverem poliacuteticas e programas

de planejamento que visem agrave promoccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo do patrimocircnio imaterial com

a sociedade aleacutem de fomentar pesquisas e projetos cientiacuteficos teacutecnicos e artiacutesticos

que contribuam para uma salvaguarda eficaz do patrimocircnio imaterial principalmente

daquele que se encontra ameaccedilado

O patrimocircnio imaterial de Luziacircnia estaacute presente em vaacuterias manifestaccedilotildees

como na culinaacuteria na muacutesica nas artes em suas festas entre outros Estes

patrimocircnios podem ser encarados como algo capaz de agregar valores a outros

patrimocircnios como o centro histoacuterico a Casa da Cultura Rui Carneiro e as igrejas

histoacutericas aleacutem de oferecerem uma possibilidade de preservaccedilatildeo desta parte

intangiacutevel Assim se constituem como objeto de anaacutelise desta pesquisa a cidade de

LuziacircniaGO e as principais festas histoacutericas tradicionais culturais e religiosas do

municiacutepio sendo a primeira a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a segunda a Festa de

Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

40

13 O Turismo

O turismo sempre foi visto como uma atividade multidisciplinar o que

dificulta uma definiccedilatildeo mais clara do seu conceito Assim uma reflexatildeo histoacuterica se

faz importante para a compreensatildeo da evoluccedilatildeo da atividade turiacutestica e a

compreensatildeo do turismo como uma aacuterea de estudo De acordo com Moesch (2004

p 17) ldquoo primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800 e estaacute no Pequeno

Dicionaacuterio de Inglecircs Oxford Turismo A teoria e a praacutetica de viajar deslocar-se por

prazer Uso depredaccedilatildeordquo

De acordo com Moesch (2004) a etimologia da palavra turismo vem sendo

discutida por Fuster desde os anos 70 Ela deriva do latim tornus = o que daacute volta e

tornare = dar voltas ou girar o sufixo - ismo se refere agrave accedilatildeo realizada por um grupo

de pessoas Sendo assim considerando Tour + Ismo pode-se dizer que

etimologicamente o turismo consiste no ato da pessoa deixar seu domiciacutelio atual

com a intenccedilatildeo de regressar

Ainda segundo Moesch (2004) o termo Torn presente na raiz de Turismo

era utilizado jaacute no seacuteculo XII para designar as viagens que os camponeses

realizavam com o objetivo de descansar e em meados do seacuteculo XVIII os nobres

ingleses o utilizavam para denominar as viagens que realizavam em busca de

educaccedilatildeo e cultura

Segundo Barretto11 (1995 apud VASCONCELOS 2005 p 159) ldquoem 1992

Oscar de La Torre elaborou uma definiccedilatildeo que foi adotada pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Turismo ndash OMT lsquoSoma das relaccedilotildees e de serviccedilos resultantes de um

cacircmbio de residecircncia temporaacuterio e voluntaacuterio motivado por razotildees alheias a

negoacutecios ou profissionaisrsquordquo Atualmente o turismo eacute visto como um fenocircmeno

econocircmico social humano e cultural que aproxima pessoas lugares e cria novas

relaccedilotildees

Lucrecia D`Alessio Ferrara (1996 p 20) explica que ldquo[] enquanto praacutetica

institucional e organizada o turismo se inicia no seacutec XIX opondo a cidade ao campo

e apontando-o como local que favorecia a permanecircncia para fins recreativos []rdquo Eacute

uma atividade que possui grande influecircncia na conservaccedilatildeo desenvolvimento e

preservaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos das cidades e possui uma iacutentima relaccedilatildeo

11

BARRETTO M Manual de Iniciaccedilatildeo ao estudo do turismo Campinas SP Papirus 1995

41

com a cultura Assim se buscou nesta pesquisa evidenciar os aspectos positivos e

negativos das festas tradicionais de Luziacircnia na ascensatildeo do turismo da cidade

O mexicano Oscar de La Torre12 definiu turismo como sendo um fenocircmeno

social que gera muacuteltiplas interrelaccedilotildees dentre elas a econocircmica e a cultural

O turismo eacute um fenocircmeno social que consiste no deslocamento voluntaacuterio e temporaacuterio de indiviacuteduos ou grupos de pessoas que fundamentalmente por motivo de recreaccedilatildeo descanso cultura ou sauacutede saem do seu local de residecircncia habitual para outro no qual natildeo exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando muacuteltiplas interrelaccedilotildees de importacircncia social econocircmica e cultural (DE LA TORRE 1992 apud MOESCH 2004 p 28)

Para Adyr Rodrigues (1996) o turismo tem destaque na economia mundial

tendo em vista ser terceiro lugar entre os produtos geradores de riqueza perdendo

somente para a induacutestria de armamentos e petroacuteleo Para o Ministro e Presidente do

Conselho Nacional de Turismo - CNT Luiz Eduardo P Barretto Filho13 ldquoo turismo

vem apresentando resultados positivos nos uacuteltimos anos e a atividade se

consolidando no Paiacutes como um importante vetor de desenvolvimento

socioeconocircmicordquo

De acordo com Martin-Fugier (1991) o turismo supotildee atividade organizada e

afirma ainda que ldquoo turista viaja por curiosidade ou ociosidaderdquo (MARTIN-FUGIER

1991 p 231

Na realidade o turismo eacute uma atividade capaz de promover uma nova

perspectiva de desenvolvimento social e econocircmico em vaacuterias localidades

oferecendo possibilidades de revitalizaccedilatildeo dos patrimocircnios histoacutericos e

arquitetocircnicos justamente como necessita o municiacutepio de Luziacircnia objeto desse

estudo que natildeo trata os seus patrimocircnios com o devido valor Everaldo Costa

(2011) afirma que o puacuteblico hoje interessa-se pelas paisagens histoacutericas na medida

em que elas satildeo consideradas um dos fundamentos da construccedilatildeo da identidade

Assim o turismo pode contribuir tanto para a preservaccedilatildeo e

desenvolvimento de um municiacutepio no que diz respeito ao patrimocircnio material e

imaterial quanto para a destruiccedilatildeo deles Logo esse trabalho teve a preocupaccedilatildeo

de avaliar os patrimocircnios imateriais mais especificamente as festas procurando

12

O de la Torre Padilla El turismo fenoacutemeno social Meacutexico Fondo de Cultura Econoacutemica 1992 13

Fonte Turismo no Brasil 2011-2014 Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbrexportsitesde faultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesTurismo_no_Brasil_2011_-_2014_se m_margem_cortepdf gt Acesso em 27 jun 2013

42

entender a relaccedilatildeo existente entre o conjunto de patrimocircnios materiais que giram em

torno delas aleacutem da relaccedilatildeo destes com o desenvolvimento turiacutestico

O turismo eacute uma atividade que possui a capacidade de exaltar o

desenvolvimento das sociedades em vaacuterias aacutereas como a econocircmica a social a

poliacutetica e a cultural Nas uacuteltimas deacutecadas tem se destacado como uma das mais

importantes atividades econocircmicas em todo o mundo afirmando-se como fonte

geradora de serviccedilos produtos emprego e renda

Assim pode-se dizer que o turismo eacute um fenocircmeno contemporacircneo e de

natureza complexa cuja importacircncia atualmente compreende os setores econocircmico

social e poliacutetico e deste modo pode ser planejado na cidade de Luziacircnia para o

desenvolvimento de todos esses aspectos jaacute que o que se percebe nos uacuteltimos

tempos eacute um total descuido e despreparo por parte dos gestores puacuteblicos e

privados quanto ao planejamento territorial das cidades

Cruz (2000 p 17) comenta que ldquo[] uma dessas especificidades diz

respeito ao fato de o principal objeto de consumo do turismo ser o espaccedilo []rdquo

Desta forma constata-se a necessidade de um planejamento perante a

competitividade do turismo

[] a intervenccedilatildeo do planejamento territorial na configuraccedilatildeo dos lugares turiacutesticos resulta da necessaacuteria racionalidade imposta pelo mercado bem como da competitividade espacial entre lugares caracteriacutestica da atualidade [] A racionalidade e competitividade que afetam a organizaccedilatildeo de todos os setores produtivos como forma de adequaccedilatildeo e sobrevivecircncia a um mercado globalizado fazem do planejamento territorial uma condiccedilatildeo de

sucesso de planos e poliacuteticas setoriais (CRUZ 2000 p 22)

O municiacutepio de Luziacircnia apresenta-se como um local carente de um

planejamento turiacutestico embora possua potencialidades turiacutesticas principalmente se

virmos o turismo como um setor complexo Tacircnia Loacutepes (2001) explica que o turismo

eacute um setor muacuteltiplo capaz de integrar vaacuterias aacutereas de interesse de uma localidade

logo natildeo deve ser pensado apenas como uma atividade de lazer educaccedilatildeo e

economia mas como um fato social que engloba todas as esferas da vida social Eacute

possiacutevel perceber esta fala de Loacutepes nas festas tradicionais de Luziacircnia jaacute que o

turismo integra-se ao campo social por excelecircncia e tem capacidade para reunir

diversos setores de desenvolvimento

Com o passar dos anos o turismo vem se segmentando em vaacuterios tipos e

modalidades como ecoloacutegico social de eventos para a terceira idade cientiacutefico

43

cultural entre outros Satildeo inuacutemeros os motivos que levam as pessoas a se

deslocarem

Para Ferrara (1996 p 19) ldquoo turismo eacute o campo do deslocamento no tempo

e se faz visiacutevel por meio dos signos que o representamrdquo e segundo Andrade (2004)

[] embora todas as viagens importem em deslocamento fiacutesico e espacial e revertam em gastos e lucros o fenocircmeno turismo em sua concepccedilatildeo ideal e pura eacute um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo (ANDRADE 2004 p 18)

131 A Sustentabilidade Turiacutestica e Cultural

Todos os fatores que integram as relaccedilotildees sociais culturais e ambientais

fazem parte do objeto de estudo da sustentabilidade turiacutestica Foi a partir dos anos

70 que houve uma maior preocupaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos processos sociais e culturais

aleacutem dos impactos ambientais resultantes do desenvolvimento do turismo (JAFARI

1994) Em Luziacircnia o que se observa eacute que natildeo haacute uma maior preocupaccedilatildeo por

parte dos governadores que integre fatores culturais ambientais e econocircmicos

Marutschka Martini Moesch (2004) afirma que a adequada compreensatildeo do turismo

pressupotildee que o mesmo eacute capaz de gerar efeitos positivos e negativos para as

regiotildees que abrigam suas atividades

A partir deste entendimento devemos encarar o turismo sob todos os pontos

de vista que envolvem essa atividade Logo turistas moradores oacutergatildeos puacuteblicos

empresas planejadores e gestores turiacutesticos devem trabalhar juntos contribuindo e

incentivando o desenvolvimento de um turismo sustentaacutevel do mesmo modo como

orienta a OMT14 ao dizer que planejadores empreendedores e principalmente os

gestores puacuteblicos envolvidos no desenvolvimento turiacutestico devem incentivar e apoiar

um envolvimento maior da sociedade por meio da construccedilatildeo de consensos Ou

seja no planejamento no monitoramento na implementaccedilatildeo e na avaliaccedilatildeo dos

projetos e programas da poliacutetica de turismo

14 Fonte Programa de Regionalizaccedilatildeo do Turismo ndash Roteiro do Brasil Conteuacutedo Fundamental ndash

Turismo e Sustentabilidade Disponiacutevel em lt httpwwwturismogovbr exportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_publicacoesconteudo_fundamental_turismo_e_sustentabilidadepdf gt Acesso em 27 de junho de 2013

44

Assim ao tratar das festas religiosas no desenvolvimento turiacutestico de

Luziacircnia busca-se exatamente por esse tipo de sustentabilidade turiacutestica e cultural

O turismo sustentaacutevel pode ser encarado de diversas maneiras Maacuterio Beni (1998)

define os enfoques econocircmico e ecoloacutegico como principais de maneira que um visa

apenas o financeiro e o outro estaacute focado na preservaccedilatildeo das aacutereas naturais O

autor ainda cita que o desenvolvimento econocircmico ecologicamente sustentaacutevel que

demonstra uma sustentabilidade capaz de unir o ser humano com o meio ambiente

em sua totalidade e deste modo consegue englobar os sistemas culturais sociais e

econocircmicos numa mesma perspectiva

Este tipo de desenvolvimento eacute exatamente uma das necessidades de

Luziacircnia que tem dificuldades em agregar o seu potencial natural e cultural de

forma positiva para o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio De acordo

com a OMT (1999) o turismo sustentaacutevel eacute o que relaciona as necessidades dos

turistas e das regiotildees receptoras protegendo e fortalecendo oportunidades para o

futuro

Neste sentido Luziacircnia surge como uma cidade em que grande parte do seu

patrimocircnio histoacuterico-cultural tangiacutevel e intangiacutevel estaacute em estado de abandono

deixando que se perca no tempo algo que pode significar um potencial para o

desenvolvimento turiacutestico da cidade aleacutem da importacircncia histoacuterica que estes

patrimocircnios possuem para que as geraccedilotildees futuras conheccedilam a sua histoacuteria

Para que o desenvolvimento da atividade turiacutestica seja satisfatoacuterio eacute

fundamental um planejamento aprofundado de todos os aspectos que envolvem a

sua ascensatildeo de forma a minimizar os impactos negativos e priorizar os positivos

fazendo com que a comunidade possa se sentir favorecida pelo turismo jaacute que a

falta deste planejamento tende a criar uma relaccedilatildeo de atrito entre turistas e

autoacutectones assim como nos explica Collin Michael Hall (2004) ao tratar da

importacircncia deste planejamento

Embora o planejamento natildeo seja uma panaceia para todos os males quando totalmente voltado para processos ele pode minimizar impactos potencialmente negativos maximizar retornos econocircmicos nos destinos e dessa forma estimular uma resposta mais positiva por parte da comunidade hospedeira em relaccedilatildeo ao turismo no longo prazo (HALL 2004 p 29)

Alguns autores veem o turismo sustentaacutevel como um tipo de turismo que tem

um olhar diferenciado em relaccedilatildeo ao envolvimento da comunidade Ruschmann

45

(1997) afirma que este tipo de turismo que pode ser definido como um modelo de

gerenciamento da atividade que realccedila a defesa dos aspectos naturais e culturais do

nuacutecleo receptor de maneira que se evite a deterioraccedilatildeo dos atrativos e se estimule a

economia local de maneira consensual e atendendo agraves demandas das

comunidades Dessa forma uma das preocupaccedilotildees em tela eacute mostrar que as festas

religiosas tradicionais e culturais de Luziacircnia possuem potencial para estimular a

economia local e envolver a comunidade com o intuito de alavancar um turismo

sustentaacutevel para esta regiatildeo

A sustentabilidade turiacutestica deve atentar-se para que a relaccedilatildeo turista versus

comunidade seja a mais harmoniosa possiacutevel As festas religiosas satildeo momentos

em que a participaccedilatildeo da comunidade se faz muito importante tanto na organizaccedilatildeo

da festa quanto na celebraccedilatildeo pois satildeo manifestaccedilotildees de experiecircncias religiosas

de alegria e tambeacutem eacute um momento em que se eacute possiacutevel compartilhar com os

visitantes um pouco de sua histoacuteria Essa relaccedilatildeo entre autoacutectones e visitantes deve

causar o miacutenimo de impacto negativo sob esta comunidade reconhecendo seu valor

nos processos participativos visto que isso eacute fundamental para o desenvolvimento

de um turismo com foco na preservaccedilatildeo da cultura e da identidade

Ao longo de toda histoacuteria registrada de certa forma o Turismo teve um impacto sobre tudo e todos os que tiveram em contato com ele Num plano ideal esses impactos deveriam ter sido positivos no tocante aos benefiacutecios obtidos tanto pelas aacutereas de destino quanto por seus residentes Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhoria nas condiccedilotildees econocircmicas uma promoccedilatildeo social e cultural e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais Teoricamente os benefiacutecios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos (THEOBALD 2002 p 81)

Logo se planejado o turismo traz benefiacutecios para as cidades e para os seus

residentes como vantagens econocircmicas sociais ambientais e culturais Vale

ressaltar que o estudo em Luziacircnia levou em consideraccedilatildeo a importacircncia da

sustentabilidade na produccedilatildeo social e espacial onde se insere a atividade turiacutestica jaacute

que isso eacute fundamental a sua compreensatildeo

Pressupotildee-se que a sustentabilidade eacute um elemento intriacutenseco agrave

organizaccedilatildeo da atividade turiacutestica e indispensaacutevel para o planejamento das

festividades que integram o patrimocircnio imaterial de Luziacircnia acreditando que esse

processo sustentaacutevel de desenvolvimento eacute a base para a ascensatildeo e manutenccedilatildeo

do turismo local e valorizaccedilatildeo dos patrimocircnios

46

132 O Turismo Cultural

O turismo cultural pode ser entendido como a atividade turiacutestica cujo centro

natildeo eacute a natureza mas alguma manifestaccedilatildeo da cultura Margarita Barretto (2000)

afirma que esse tipo de turismo vinculado agrave procura por lugares histoacutericos ligados

tanto agrave histoacuteria local quanto a histoacuteria poliacutetica e social mais ampla eacute verificado com

maior frequecircncia nos uacuteltimos tempos Assim Luziacircnia que eacute uma cidade histoacuterica

reuacutene diversos fatores com potencial para alavancar esse tipo de turismo

Para Funari e Pinsky (2003 p 7) ldquotodo turismo eacute culturalrdquo Essa modalidade

de turismo vem sendo debatida na literatura a partir da deacutecada de oitenta surgindo

vaacuterios conceitos na tentativa de defini-lo (KOumlHLER E DURAND 2007)

O documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo do

Ministeacuterio do Turismo conceituou o turismo cultural como ldquoa vivecircncia do conjunto de

elementos significativos do patrimocircnio histoacuterico e cultural e dos eventos culturais

valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da culturardquo (BRASIL 2008

p 8) Desta forma a Festa do Divino Espiacuterito Santo e a Festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito fazem parte do patrimocircnio imaterial de Luziacircnia com potencial para a

ascensatildeo de um turismo cultural na cidade

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento dos meios de

transporte difundiu-se o chamado turismo de massa que de acordo com Moesch

(2002 p 133) pode ser entendido como ldquoum turismo que destroacutei o meio-ambiente

contribui para o desaparecimento dos usos e costumes locais e favorece a difusatildeo

da drogadiccedilatildeo e prostituiccedilatildeo impedindo o desenvolvimento e o progresso dos

povosrdquo

Jaacute o turista cultural eacute percebido como um visitante que aleacutem da experiecircncia

tem a preocupaccedilatildeo com as consequecircncias da sua viagem para Brian Goodey

(2002 p 135) o turismo cultural ldquopressupotildee um puacuteblico educado e informado que

compartilha com os oacutergatildeos de patrimocircnio uma definiccedilatildeo sobre o que constitui

lugares eventos e coleccedilotildees corretasrdquo ou como coloca Beni (2004 apud

CARVALHO 2011 p 157) o turismo cultural ldquodiferencia-se das formas tradicionais

de turismo por ser caracterizado por um puacuteblico consumidor mais sensiacutevel aos

impactos resultantes de sua visita aos destinosrdquo

No documento ldquoDiretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Culturalrdquo

(BRASIL 2008) haacute a afirmaccedilatildeo de que a vivecircncia histoacuterica das comunidades ao ser

47

valorizada pelo turismo enriquece a experiecircncia do turista e reforccedila o sentimento de

pertenccedila local Assim o perfil do visitante predisposto a este tipo de viagem eacute

traccedilado pelo Ministeacuterio do Turismo como

O turista cultural valoriza a cultura em toda a sua complexidade e particularidade movimentando-se em busca de iacutecones que representem a identidade local e a memoacuteria coletiva Ambos os conceitos remetem a um conjunto de experiecircncias fatos histoacutericos e elementos culturais comuns a um grupo ou comunidade e que podem ser representados pelos bens culturais materiais e imateriais que compotildeem o patrimocircnio (BRASIL 2008 p 17)

O turismo cultural contribui para o desenvolvimento das regiotildees e para a

preservaccedilatildeo da memoacuteria e da identidade Na visatildeo de Sonia Maria de Mattos

Lucas15 (2003 apud MENEZES 2008 p 1) este tipo de turismo ldquotem sido encarado

como elemento importante para o desenvolvimento de uma regiatildeo e tecircm contribuiacutedo

para promover o envolvimento das comunidades com sua histoacuteria seus atrativos

culturais e sua memoacuteria socialrdquo

Em Luziacircnia durante a realizaccedilatildeo dessas festas religiosas culturais e

tradicionais da cidade vaacuterios integrantes da comunidade participam de todo o

processo de preparaccedilatildeo como o planejamento e a organizaccedilatildeo das festividades

Nesses momentos haacute uma ressignificaccedilatildeo da cidade em que se retomam alguns

aspectos importantes de sua histoacuteria e trazem uma nova mobilidade social e

econocircmica para diversos setores

Existem inuacutemeros motivos que levam as pessoas a praticar o turismo as

celebraccedilotildees religiosas e populares a culinaacuteria os artesanatos as paisagens entre

outros patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis que auxiliam na formulaccedilatildeo de um

turismo baseado nos valores culturais e no resgate histoacuterico E eacute exatamente dessa

forma que necessita ser trabalhado em Luziacircnia para o seu crescimento e

desenvolvimento turiacutestico jaacute que o municiacutepio tem potencial para alavancar um

turismo cultural poreacutem natildeo vem sendo tratado de forma correta por conta do

descaso governamental e desinteresse da proacutepria comunidade em dar valor agravequilo

que eacute seu

De acordo com Pires (2001)

15

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

48

ldquo[] pode o forasteiro natildeo ter visitado o museu nem ruiacutenas ou casarotildees histoacutericos mas ter provado a culinaacuteria local ter se informado dos costumes e das crenccedilas dos habitantes Nesse sentido praticou tambeacutem turismo cultural ao lado de outros tipos de deslocamentos turiacutesticosrdquo (PIRES 2001 p 67)

Logo vivenciar nos espaccedilos histoacutericos das cidades remete agrave sensaccedilatildeo de

viver aquilo que os antepassados viveram assim como participar das festas

histoacutericas

Anderson Pereira Portuguez (2004 p3) afirma que ldquopensar o espaccedilo

turiacutestico a partir das formas arquitetocircnicas antigas significa um esforccedilo de

interpretaccedilatildeo do mundo vivido pelos grupos sociais que antecederam a vida

moderna o que desperta o interesse e a curiosidade dos turistasrdquo Assim torna-se

importante essa interaccedilatildeo do visitante com a cultura local o que fundamenta o

turismo cultural como explica Marina Aguiar e Reinaldo Dias (2002)

[] uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciecircncia do visitante e sua apreciaccedilatildeo da cultura local em todos os seus aspectos ndash histoacutericos artiacutesticos etc Aleacutem disso eacute uma forma de Turismo que entre outros objetivos envolve a apreciaccedilatildeo de monumentos e siacutetios histoacutericos contribuindo dessa forma para a manutenccedilatildeo e proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural e natural da humanidade (AGUIAR E DIAS 2002 p133)

A atividade turiacutestica deve ter a preocupaccedilatildeo de se implantar nas

comunidades sem influenciar a cultura local mas agindo como forma de resgate e

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais natildeo se permitindo que o movimento de

pessoas e os interesses econocircmicos descaracterizem os patrimocircnios pois como

nos coloca Murta (2002 p 140) essa visatildeo apenas das questotildees de mercado

ldquopodem transformar os locais turiacutesticos em meros cenaacuterios e as comunidades em

museus performaacuteticos de praacuteticas patrimoniaisrdquo

Logo o municiacutepio de Luziacircnia deve ter a preocupaccedilatildeo em realizar um

planejamento que vise agrave cidade como um todo para assim ser possiacutevel o

desenvolvimento de um turismo cultural e sustentaacutevel na cidade

Entende-se que esta sustentabilidade pode atuar diretamente na

preservaccedilatildeo das manifestaccedilotildees culturais e isso pode ser percebido ao se analisar

estas manifestaccedilotildees em Luziacircnia pois satildeo reflexos para o reconhecimento da

identidade local

Homi Bhabha diz que

49

O reconhecimento que a tradiccedilatildeo outorga eacute uma forma parcial de identificaccedilatildeo Ao reencenar o passado este introduz outras temporalidades culturais incomensuraacuteveis na invenccedilatildeo da tradiccedilatildeo Esse processo afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma tradiccedilatildeo ldquorecebidardquo (BHABHA 1998 p 21)

Por isso o turismo cultural de Luziacircnia deve se apropriar dessas tradiccedilotildees

no seu desenvolvimento turiacutestico e na preservaccedilatildeo da sua identidade

O turismo cultural pode ser dividido em diversas segmentaccedilotildees O Ministeacuterio

do Turismo (BRASIL 2010) explica que existem inuacutemeras formas de expressatildeo da

cultura com interesses e motivaccedilatildeo especiacuteficos mas que ainda assim se encaixam

como turismo cultural Algumas expressotildees da cultura brasileira que possuem maior

representaccedilatildeo turiacutestica satildeo

1- Turismo Ciacutevico

2- Turismo Religioso

3- Turismo Miacutestico e Esoteacuterico

4- Turismo Eacutetnico

5- Turismo Cinematograacutefico

6- Turismo Arqueoloacutegico

7- Turismo Gastronocircmico

8- Enoturismo

9- Turismo Ferroviaacuterio

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) criou uma tabela com exemplos de

serviccedilos e atividades que podem ser realizadas dentro destes segmentos do turismo

cultural para auxiliar tanto na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como na formataccedilatildeo

de produtos turiacutesticos mapeando oportunidades de negoacutecios e diversificaccedilatildeo de

serviccedilos de forma a tornar os destinos mais competitivos

50

Tabela 1 ndash Exemplos de atividades que podem ser realizadas no acircmbito do Turismo Cultural Fonte Ministeacuterio do Turismo 2010

Nesta pesquisa o aprofundamento foi no turismo religioso que engloba as

viagens que satildeo realizadas tendo como principal motivaccedilatildeo a feacute religiosa Assunto

que seraacute discutido a seguir

133 O Turismo Religioso

O turismo religioso estaacute inserido no turismo cultural e ao longo dos anos

vem se tornando cada vez mais representativo Eacute um dos segmentos que mais

51

cresce no mundo principalmente no Brasil envolvendo toda sua economia cultura

poliacuteticas sociais e ambientais de um destino turiacutestico16

Ele existe desde o iniacutecio dos seacuteculos Cacircmara Neto (2003) afirma que este

tipo de turismo comeccedilou a ser praticado nos seacuteculos III e IV da Era Cristatilde momento

em que os fieacuteis comeccedilaram a cultivar o costume de viagens de caraacuteter religioso De

acordo com Andrade (2004 p 79) ldquohaacute registro de um roteiro datado do ano 333

com itineraacuterio bem detalhado para as viagens de devotos e fieacuteis que partiam de

Bordeacuteus na Franccedila rumo a Jerusaleacutemrdquo A partir daiacute a atividade soacute foi evoluindo

Ele foi definido pelo Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010 p 19) como ldquoas

atividades turiacutesticas decorrentes da busca espiritual e da praacutetica religiosa em

espaccedilos e eventos relacionados agraves religiotildees independentemente do credordquo Satildeo

viagens motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciaccedilatildeo esteacutetica do fenocircmeno

ou do espaccedilo religioso caracterizadas pelo movimento de pessoas que buscam por

bull Peregrinaccedilotildees e romarias

bull Retiros espirituais

bull Festas comemoraccedilotildees e apresentaccedilotildees artiacutesticas de caraacuteter religioso

bull Encontros e celebraccedilotildees relacionados agrave evangelizaccedilatildeo de fieacuteis

bull Visitaccedilatildeo a espaccedilos e edificaccedilotildees religiosas (igrejas templos santuaacuterios

terreiros)

bull Realizaccedilatildeo de itineraacuterios e percurso de cunho religioso e outros

As pessoas que buscam por esse turismo com foco no cultural e religioso

procuram natildeo somente pelo prazer do deslocamento haacute tambeacutem uma busca por

valores e o desejo de conhecer a si proacuteprio que eacute um dos fatores essenciais para

estimular as viagens como afirma Onfray (2009)

ldquoNoacutes mesmos eis a grande questatildeo da viagem Noacutes mesmos e nada mais Ou pouco mais Certamente haacute muitos pretextos ocasiotildees e justificativas mas em realidade soacute pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa proacutepria busca com o propoacutesito muito hipoteacutetico de nos reencontrarmos ou quem sabe de nos encontrarmos A volta ao planeta nem sempre eacute suficiente para obter esse encontro Tampouco uma existecircncia inteira agraves vezes Quantos desvios e por quantos lugares antes de nos sabermos em presenccedila do que levanta um pouco o veacuteu do serrdquo (ONFRAY 2009 p 75)

16

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014

52

Muitos autores referem-se ao turista religioso como aquele tipo de turista

que no geral possui caracteriacutesticas semelhantes aos demais poreacutem esse turista

tem um objetivo especiacutefico a feacute religiosa Aleacutem de conhecer as localidades ele

busca por um conhecimento pessoal haacute tambeacutem uma busca espiritual

A Conferecircncia Mundial de Roma que aconteceu em 1960 apresentou o

turismo religioso como ldquo[] uma organizaccedilatildeo que movimenta inuacutemeros peregrinos

em viagens pelos misteacuterios da feacute ou da devoccedilatildeo a algum santordquo (RIBEIRO 2003 p

3)

Em Luziacircnia este tipo de turismo estaacute ligado agrave histoacuteria da sua construccedilatildeo e

agraves suas tradiccedilotildees que sempre estiveram ligadas agrave igreja catoacutelica e agrave devoccedilatildeo a

santos como Santa Luzia Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

O turismo religioso pode ser entendido como aquela viagem onde o turista

obteacutem novos conhecimentos atraveacutes de manifestaccedilotildees religiosas arquitetura de

igrejas e museus sacros17 Participar de eventos religiosos e visitar igrejas histoacutericas

torna-se entatildeo uma atraccedilatildeo turiacutestica

De acordo com Cacircmara Neto18 (2003 apud PEREIRA SILVA e

PERINOTTO 2011 p 371) ldquona Roma antiga as viagens eram voltadas para o

prazer e cultura e na Idade Meacutedia cidades feudais celebravam festas religiosas

conseguindo atrair peregrinos de vaacuterias localidadesrdquo

Mesmo tendo a participaccedilatildeo de todas as religiotildees como o espiritismo o

candombleacute os adventistas e outros o catolicismo ainda movimenta o maior nuacutemero

de pessoas As visitas ao Vaticano ao Santuaacuterio de Faacutetima Jerusaleacutem e o Caminho

de Santiago de Compostela estatildeo entre os destinos mais procurados pelos turistas

religiosos

No Brasil de acordo com o documento ldquoRoteiros da Feacute Catoacutelicardquo entre os

destinos mais visitados estatildeo o monumento em homenagem a Padre Ciacutecero no

Cearaacute o Santuaacuterio de Madre Paulina em Santa Catarina o Ciacuterio de Nazareacute em

Beleacutem e o Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida em Satildeo Paulo (EMBRATUR

1999) Poreacutem em outros estados brasileiros como Bahia Minas Gerais Distrito

Federal Goiaacutes entre outros tambeacutem haacute grandes movimentos em torno do turismo

religioso

17

Fonte Turismo Religioso a riqueza do Brasil Disponiacutevel lthttpwwwturismoreligiosoorgbr system=newsampaction=readampid=219gt Acesso em 20 mar 2014 18

CAcircMARA NETO I A Religiosidade popular e o catolicismo oficial o eterno contraponto In Revista Ciecircncias Humanas Universidade de TaubateacuteSP v 9 n 1 jan-jun 2003

53

Figura 4 ndash Estaacutetua de Padre Ciacutecero Fonte Blog do Juazeiro

19

Figura 5 ndash Santuaacuterio de Santa Paulina Fonte Site Litoral de Santa Catarina 2014

20

Figura 6 ndash Ciacuterio de Nazareacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

21

19

Fonte Parabeacutens Padre Ciacutecero o Cearense do Seacuteculo Disponiacutevel em lthttpblogdojuazeiro blogspotcombr201103parabens-padre-cicero-o-cearense-dohtmlgt Acesso em 13 mai 2014 20

Fonte Litoral de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpwwwlitoraldesantacatarinacomgalerias-de-fotosfotos-de-nova-trentogt Acesso em 13 mai 2014 21

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

54

Figura 7 ndash Santuaacuterio de Nossa Senhora Aparecida

Fonte Site Conhecer22

Este segmento turiacutestico pode ser compreendido como ldquo[] o conjunto de

atividades com utilizaccedilatildeo parcial ou total de equipamentos e a realizaccedilatildeo de visitas a

receptivos que expressam sentimentos miacutesticos ou suscitam a feacute a esperanccedila e a

caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiotildeesrdquo (ANDRADE 2004 p 77)

As pessoas que realizam esse tipo de viagem estatildeo ligadas a algum

segmento religioso e essa eacute uma das suas maiores motivaccedilotildees o exerciacutecio da feacute

Beni (1997) definiu o turismo religioso como

Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos portanto turistas potenciais que se destinam a centros religiosos motivados pela feacute em distintas crenccedilas Este tipo de demanda tem caracteriacutesticas uacutenicas levando por isso alguns autores a natildeo consideraacute-los nos estudos de turismo Mas em nosso entendimento conforme jaacute referido esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turiacutestico pois utilizam equipamentos e serviccedilos com uma estrutura de gastos semelhantes a dos turistas reais A variaacutevel de permanecircncia no caso estaraacute intimamente ligada no tempo da duraccedilatildeo das cerimocircnias ritos e celebraccedilotildees religiosas (BENI p431 1997)

O autor esclarece ainda que os peregrinos mesmo realizando as suas

viagens motivados pela feacute satildeo turistas essencialmente pois utilizam todos os

equipamentos e serviccedilos necessaacuterios aos turistas O prazo que ficam na cidade

varia de acordo com a duraccedilatildeo das celebraccedilotildees

Sobre a hospedagem em Luziacircnia a grande maioria se acomoda em casas

de parentes e familiares fator este que favorece a experiecircncia cultural pois como

nos explica o Ministeacuterio do Turismo (2010) a hospedagem domiciliar permite

vivenciar o modo de vida e cotidiano da comunidade

22

Fonte Aparecida ndash SP Disponiacutevel em lt httpwwwconnhecerturbrcidadescidadephpid=4733gt Acesso em 13 mai 2014

55

O turismo religioso em Luziacircnia possui uma forte expressividade graccedilas agraves

festas com caraacuteter religioso e em homenagem aos santos da cidade siacutembolos da

cultura luzianiense

Para Abreu e Coriolano (2003 p 79) ldquoas festas religiosas estatildeo entre as

mais fortes expressotildees da cultura brasileira sendo significativa a quantidade e a

diversidade de celebraccedilotildees que acontecem tornando-se loacutecus do turismo religiosordquo

A questatildeo religiosa ainda eacute muito presente na cultura de Luziacircnia jaacute que a

cidade ainda conserva tradiccedilotildees da colonizaccedilatildeo portuguesa e catoacutelica Cassiana

Vaz Tormin (2004) comenta que sobre essa forte influecircncia da comunidade catoacutelica

nos costumes valores morais e nas atividades culturais como as festas tradicionais

de Luziacircnia Ela cita Heliane Nunes (2001) para afirmar isso ldquoSanta Luzia por

ocasiatildeo da viagem de Saint-Hilarie (possuiacutea) umas 300 casas mas grande parte

delas soacute eram ocupadas durante as festas religiosasrdquo (2001 apud TORMIN 2004 p

27)

Esta fala afirma que a cidade sempre esteve ligada a este movimento de

pessoas por conta de religiosidade e este fator deve ser levado em consideraccedilatildeo no

planejamento e desenvolvimento de um turismo religioso no municiacutepio

Deve-se considerar que aleacutem das festas religiosas Luziacircnia tambeacutem possui

igrejas histoacutericas e outros monumentos ligados a esse fator religioso capaz de atrair

turistas para a cidade

56

II LUZIAcircNIA UMA CIDADE HISTOacuteRICA E UM PATRIMONIO CULTURAL

Luziacircnia estaacute localizada no centro-oeste brasileiro no estado de Goiaacutes

entorno do Distrito Federal Com mais de 200 anos conta com um passado repleto

de fatos significativos para a histoacuteria do Planalto Central Possui um rico patrimocircnio

histoacuterico que inclui natildeo soacute seus monumentos arquitetocircnicos mas tambeacutem suas

manifestaccedilotildees artiacutesticas culturais e gastronocircmicas Suas raiacutezes no periacuteodo colonial

a mantiveram por muitos anos como um retrato de cidade barroca (TORMIN 2004)

O documento ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo23 do Ministeacuterio do Turismo destaca quatro cidades de Goiaacutes que

possuem um maior potencial para o turismo na regiatildeo Alto Paraiacuteso Caldas Novas

Goiacircnia e Pirenoacutepolis Luziacircnia estaacute localizada muito proacutexima a todas elas o que a

torna tatildeo significativa para o desenvolvimento turiacutestico da regiatildeo quanto as outras jaacute

que ao longo dos anos Luziacircnia teve sua histoacuteria sua cultura e o seu turismo

fortemente influenciados por estas cidades

Luziacircnia foi fundada pelo bandeirante Antocircnio Bueno de Azevedo em 1746

quando este encontrou jazidas de ouro as margens do Rio Satildeo Bartolomeu atraindo

assim inuacutemeras pessoas para laacute como cita o escritor luzianiense Joseacute Dilermando

Meireles (1996) Logo foi erguida uma casa de oraccedilatildeo agraves margens do garimpo e

fincada uma cruz que seria entatildeo o marco inicial da cidade e a partir de onde o

arraial se desenvolveria

Anos depois a casa de oraccedilatildeo foi destruiacuteda e erguida no mesmo local a

Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio que interligada agrave Igreja Matriz de Santa Luzia

constituem parte do nuacutecleo histoacuterico da cidade

Estas duas igrejas patrimocircnios do municiacutepio surgem entatildeo como pontos de

partida para o entendimento das festas selecionadas nesta pesquisa

Eacute uma cidade que tem suas origens no seacuteculo XVIII uma das mais antigas

do entorno Estaacute localizada ao lado da maior concentraccedilatildeo demograacutefica da

Microrregiatildeo do Entorno de Brasiacutelia Possui uma populaccedilatildeo imigrante

predominantemente de baixa renda o que contribui para intensificar os problemas

de violecircncia prostituiccedilatildeo drogas e subempregodesemprego (BRASIL 2010 p58)

23

Fonte ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico Regionalrdquo do Ministeacuterio do Turismo Disponiacutevel em lthttpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownl oads_publicacoes65_destinos_indutorespdfgt Acesso em 20 mar 2014

57

No ldquoMapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasilrdquo24 Luziacircnia

aparece como a 21ordf localidade mais violenta do Brasil Por isso ela acaba sendo

ignorada na sua importacircncia histoacuterico-cultural e prejudicada no desenvolvimento do

seu potencial turiacutestico

Embora possua uma rica histoacuteria cultural os moradores da cidade natildeo

sabem lidar com a atual situaccedilatildeo de seus patrimocircnios imateriais e menos ainda

compreender o significado e a importacircncia em ter esses bens preservados Por isso

o municiacutepio de Luziacircnia foi escolhido como objeto deste estudo por se tratar de uma

cidade histoacuterica com um rico patrimocircnio intangiacutevel com festas que fazem parte do

calendaacuterio cultural da cidade e que ao longo dos anos foram descaracterizadas e

menosprezadas por parte de moradores e gestores que natildeo apenas ignoram seu

valor como patrimocircnios histoacutericos mas tambeacutem natildeo reconhecem estes bens como

de grande importacircncia para a perpetuaccedilatildeo da cultura local

Natildeo se pode deixar de relacionar esse patrimocircnio imaterial com o material

jaacute que um tem o poder de ressignificar o outro pois segundo Pereira Silva e

Perinotto (2011 p 370) ldquo[] o patrimocircnio natildeo se limita apenas ao tangiacutevel e tocaacutevel

Poreacutem se estende para a natureza imaterial gerando um sentimento de identidade

incentivando a promover o respeito agrave diversidade culturalrdquo

Pode-se afirmar que os patrimocircnios de Luziacircnia estatildeo em estado de

abandono e vem sendo desprezados pelos planejadores e representantes puacuteblicos

por muitos anos e ateacute os dias de hoje pouco tem sido feito no sentido de agregar

valores a estes patrimocircnios

Atualmente o patrimocircnio material do municiacutepio conta apenas com a proteccedilatildeo

do tombamento estadual e continua sendo negligenciado no seu conjunto pelo

IPHAN Embora o imaterial natildeo conte com esse tipo de proteccedilatildeo governamental ele

se manteacutem vivo por contar com a proteccedilatildeo do povo jaacute que parte da comunidade

luzianiense ainda tem a preocupaccedilatildeo de preservar estes patrimocircnios

Natildeo se pode delimitar patrimocircnio apenas aquilo que eacute tombado mas aquilo

que possui significado para a comunidade

As cidades histoacutericas brasileiras se tornam obras de arte concreta e coletiva

com o passar dos anos Everaldo Batista da Costa e Valdir A Steinke (2013 p 165)

24

Fonte Mapa da Violecircncia 2013 ndash Homiciacutedios e Juventude no Brasil Disponiacutevel em httpwww cebelaorgbrsitecommonpdfMapa_2013_Jovenspdf Acesso em 20 de marccedilo de 2014

58

afirmam que ldquotoda cidade faz-se produto da histoacuteria do vir a ser universal que a

constitui enquanto obra de arte coletiva ou particularmente As cidades antigas

brasileiras satildeo tratadas desta forma ndash como cidades histoacutericas []rdquo entendendo as

cidades histoacutericas como

Cidade histoacuterica eacute aqui apresentada como objeto concreto e simboacutelico do vir a ser de um territoacuterio que eacute material e eacute imaginado mescla e siacutentese de lugares e paisagens em movimento histoacuterico concreto e ideativo ndash pois tambeacutem miacutetico eacute embriatildeo sede e centro de um processo civilizatoacuterio que guarda em germe a instituiccedilatildeo urbana em si por meio de tracircnsitos com o rural (COSTA E STEINKE 2013 p 166)

Dentro dessa concepccedilatildeo pode-se afirmar que Luziacircnia eacute uma cidade

histoacuterica concreta e simboacutelica que desde a sua fundaccedilatildeo ateacute a inauguraccedilatildeo de

Brasiacutelia em 1960 passou por grandes transformaccedilotildees Ela teve sua cultura

fortemente influenciada pela construccedilatildeo de Brasiacutelia principalmente apoacutes a doaccedilatildeo

de parte de suas terras para a construccedilatildeo da cidade

A transferecircncia da capital para o interior de Goiaacutes trouxe

concomitantemente desenvolvimento e dificuldades para as cidades do entorno do

Distrito Federal Tormin (2004) diz que Luziacircnia foi um dos municiacutepios mais

diretamente atingidos por essas mudanccedilas na regiatildeo suportando impactos fiacutesicos

sociais espaciais e culturais de toda ordem

Atualmente com 266 anos o municiacutepio possui uma histoacuteria marcada por

tradiccedilotildees e festividades que compotildeem o seu patrimocircnio cultural Assim esta

pesquisa partiu da hipoacutetese de que a cultura e o patrimocircnio histoacuterico-cultural de

Luziacircnia podem servir dentre outros aspectos para que a sociedade luzianiense

possa repensar seus significados suas atitudes e anseios no presente assim como

o que almeja para o seu futuro Isso acaba gerando um reforccedilo na sua identidade

como fator de grande importacircncia para o sentimento de pertencimento jaacute que esta

identidade se localiza no espaccedilo e no tempo simboacutelico Hall (2006) acredita que as

culturas nacionais podem ser fontes de identidade cultural

Em 2003 foi elaborado um documento pela UNESCO denominado

ldquoRecomendaccedilatildeo de Paris ndash Convenccedilatildeo para a Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural

Imaterialrdquo Para sua elaboraccedilatildeo foi levada em consideraccedilatildeo a Convenccedilatildeo da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash

UNESCO de 1989 que recomendou a salvaguarda da cultura tradicional e popular

59

considerando que esta cultura forma parte do patrimocircnio universal da humanidade e

que eacute um poderoso meio de aproximaccedilatildeo entre os povos e grupos sociais existentes

e de afirmaccedilatildeo da sua identidade cultural (UNESCO 2003)

Este documento cita questotildees importantes como o valor das culturas

tradicionais e populares na cultura contemporacircnea e o seu valor como cultura viva

aleacutem de reconhecer os perigos que existem de que as tradiccedilotildees orais se percam e

afirmar que os governos deveriam se antecipar na salvaguarda desse tipo de

cultura

A UNESCO (2003) considera a importacircncia do patrimocircnio cultural imaterial

como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentaacutevel Para

alguns grupos sociais (especialmente as minorias eacutetnicas) o patrimocircnio imaterial

carrega a sua identidade e conta parte de sua histoacuteria Dessa forma torna-se

importante assegurar a manutenccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo destas tradiccedilotildees que contribuem

para a diversidade cultural e que estatildeo inseridas num mundo totalmente globalizado

ficando fadadas ao desaparecimento

Diante dessa constataccedilatildeo torna-se essencial conhecer o patrimocircnio

histoacuterico-cultural de Luziacircnia e com isso contribuir para a sua divulgaccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo como agente no desenvolvimento do potencial turiacutestico do municiacutepio

Eacute fundamental o reconhecimento dos valores e caracteriacutesticas culturais que

possam ser trabalhadas pela atividade turiacutestica como meio de integraccedilatildeo entre

histoacuteria memoacuteria cultura e turismo pois como Burns (2002 p 92) afirma haacute a

necessidade de ldquoum conhecimento mais profundo sobre as consequecircncias da

interaccedilatildeo entre as sociedades que geram e as que recebem turistasrdquo

21 Contextualizando a histoacuteria de LuziacircniaGO

Luziacircnia foi uma cidade que surgiu no seacuteculo XVIII quando o bandeirante

Antocircnio Bueno de Azevedo partiu de Paracatu-MG em busca de minas de ouro na

regiatildeo de Goiaacutes Ele e sua comitiva surpreenderam-se com a quantidade de ouro

que encontraram agraves margens do rio e o denominaram de Satildeo Bartolomeu em

homenagem ao santo do dia Assim fixaram o arraial como cita Antocircnio Pimentel

(1994)

60

Antocircnio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta agrave tradiccedilatildeo que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros natildeo conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a operaccedilatildeo de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando-se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoaccedilatildeo que iria se formar sob os auspiacutecios de seu nome (PIMENTEL 1994 p 20)

Em 25 de marccedilo de 1747 foi celebrada a primeira missa do arraial ao lado

da cruz erguida por Antocircnio Bueno Tal missa foi assistida por mais de seis mil

pessoas que vinham de todas as partes do Brasil em busca do ouro Desde entatildeo a

histoacuteria de Luziacircnia foi influenciada pela igreja catoacutelica e marcada por vaacuterios

momentos de exploraccedilatildeo deste ouro Assim grande parte das riquezas extraiacutedas

das minas de Santa Luzia foi transferida para Portugal ou para cidades litoracircneas

restando pouco para atestar a riqueza da regiatildeo que jaacute foi um dos principais centros

de produccedilatildeo de ouro do Goiaacutes25

O IBGE (2011) afirma que com o grande movimento de pessoas que vieram

para o arraial em busca do lucro da mineraccedilatildeo na metade do seacuteculo XVIII a

populaccedilatildeo chegou a 10000 pessoas Poreacutem com o fim da atividade mineradora

essas pessoas abandonaram o municiacutepio ou migraram para as atividades rurais Na

deacutecada de 50 com a expansatildeo da BR 040 que faria a ligaccedilatildeo entre Minas Gerais

Rio de Janeiro e Satildeo Paulo com a nova capital do Brasil Luziacircnia viu-se novamente

em meio a um grande fluxo de pessoas o que contribuiu para o desenvolvimento da

cidade

As consequecircncias deste aumento populacional afetaram todo o periacutemetro

urbano e como natildeo poderia deixar de ser o centro histoacuterico natildeo ficou imune a este

processo Ele foi descaracterizado e perdeu traccedilos histoacutericos para dar lugar agrave

paisagem imposta pelos avanccedilos da modernidade Teixeira (2011) nos fala sobre as

muacuteltiplas influecircncias que Brasiacutelia teve sobre as manifestaccedilotildees das artes populares

do Planalto Central regiatildeo da qual Luziacircnia faz parte

Como jaacute dito anteriormente Luziacircnia foi uma das cidades que doou parte de

suas terras para a construccedilatildeo de Brasiacutelia se tornando ldquoentornordquo do Distrito Federal

Este periacuteodo eacute marcado por um desordenado aumento populacional na cidade

25

Fonte Histoacuteria de Luziacircnia Disponiacutevel em httpwwwachetudoeregiaocombrgoluziania historiahtm Acesso em 17 set 2011

61

Tormin (2004 p 25) cita uma fala do prefeito do municiacutepio em 1977 Orlando

Roriz que diz ao Jornal de Luziacircnia ldquodeserdada por Goiaacutes Luziacircnia natildeo teve a

adoccedilatildeo do Distrito Federalrdquo

Meireles (1973) fala sobre a vinda de Brasiacutelia para as terras de Luziacircnia

[] Luziacircnia do presente hospedeira da nova civilizaccedilatildeo trazida para o interior brasileiro com a transferecircncia da Capital Federal [] Daiacute porque bem merece integrar-se a nova comunidade de Brasiacutelia com ela fundir-se emprestar-lhe as raiacutezes bicentenaacuterias do seu passado heroico e dela receber o impulso e a dinamizaccedilatildeo necessaacuteria total renovaccedilatildeo de sua sociedade de sua cultura e de sua economia (MEIRELES 1973 p 6)

O raacutepido crescimento populacional que se operou na cidade com o

surgimento de Brasiacutelia trouxe consequecircncias para o desenvolvimento de Luziacircnia

Isso pode ser confirmado nas palavras de Coelho (1989 p 37) quando ele diz que

ldquo[] de repente jogaram Luziacircnia Brasiacutelia eixo Rio ndash Satildeo Paulo Brasil e o mundo

com sua alucinada modernizaccedilatildeo desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico desses

uacuteltimos trinta anos num mesmo caldeiratildeo de influecircnciasrdquo Meireles (1996) corrobora

com a percepccedilatildeo de Coelho ao enfatizar os reflexos dessas mudanccedilas na cultura de

Luziacircnia

Houve entatildeo a partir daiacute vaacuterias determinantes histoacutericas a impor novos rumos agrave nossa estrutura social e econocircmica com reflexos diretos em nossa vida cultural jaacute que Luziacircnia cidade tradicional de mais de duzentos anos natildeo tinha apenas um novo e promissor futuro mas um passado de ricas e impereciacuteveis tradiccedilotildees agraves suas costas (MEIRELES 1996 p 37)

Neste trecho o autor ressalta as influecircncias portuguesas da colonizaccedilatildeo

refletidas nas construccedilotildees coloniais do centro histoacuterico de Luziacircnia e na sua cultura

As histoacuterias de construccedilatildeo das duas principais igrejas da cidade trazem o reflexo

desta colonizaccedilatildeo aleacutem do patrimocircnio intangiacutevel que se traduz por meio das

manifestaccedilotildees tradicionais de origens portuguesas como as festas realizadas na

cidade Portanto diante do exposto um estudo especifico desta regiatildeo se faz

necessaacuterio para compreender os processos histoacutericos e culturais que se fizeram

presente em Luziacircnia uma cidade com relevante patrimocircnio cultural que necessita

ser preservado

62

22 Dados estatiacutesticos e o Plano Diretor

O municiacutepio de Luziacircnia eacute uma cidade localizada no centro-oeste brasileiro

no lado leste do Estado de Goiaacutes O Plano de Cultura do Estado de 201326 diz que a

posiccedilatildeo geograacutefica do Estado propiciou uma grande mistura de povos vindos dos

mais variados lugares do paiacutes

De acordo com o IBGE (2011) Goiaacutes possui 246 municiacutepios entre estes

quatro estatildeo na lista dos ldquo65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turiacutestico

Regionalrdquo27 do Ministeacuterio do Turismo

Figura 8 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Luziacircnia Fonte Site do IBGE 2014

28

Apoacutes o inicio da construccedilatildeo de Brasiacutelia nos anos 50 ateacute meados dos anos

80 a populaccedilatildeo de Luziacircnia cresceu consideravelmente De acordo com TORMIN

(2005) em 1960 a cidade tinha 23247 habitantes jaacute em 1980 tinha 94219 Esta

explosatildeo demograacutefica ocasionou numa divisatildeo do territoacuterio de Luziacircnia em mais

quatro municiacutepios sendo eles Cidade Ocidental Valparaiso de Goiaacutes Novo Gama

e Santo Antocircnio Descoberto Este uacuteltimo foi emancipado em 1985 Cidade Ocidental

em 1991 e Valparaiacuteso de Goiaacutes e Novo Gama em 199629

26

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014 27

Fonte httpwwwturismogovbrexportsitesdefaultturismoo_ministeriopublicacoesdownloads_ publicacoes65_destinos_indutorespdf 28

Fonte IBGE Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=521250 ampsearch=goias|luziania|infograficos-dados-gerais-do-municipiogt Acesso out2013 29

De acordo com dados do IBGE (2013) a Cidade Ocidental possui 61552 habitantes Valparaiacuteso de Goiaacutes 146694 Novo Gama 103085 e Santo Antocircnio Descoberto 67993

63

Luziacircnia possui hoje cerca de 175 mil habitantes aacuterea territorial de

3961122 km2 ou seja em torno de 44 habitantes por km2 O clima eacute tropical e

proacuteprio do cerrado (IBGE 2011) O atual prefeito se chama Cristoacutevatildeo Vaz Tormin e

o Secretaacuterio de Turismo eacute o senhor Eacutecio Carlos de Mendonccedila Eles assumiram o

cargo no inicio de 2013

A Secretaria de Turismo da cidade tem entre seus objetivos incentivar e

desenvolver o turismo local zelar pelos patrimocircnios controlar a qualidade dos bens

e serviccedilos turiacutesticos realizar pesquisas de oferta e demanda e estimular o

intercambio com outras cidades30

Luziacircnia dispotildee de um Plano Diretor que aborda o turismo e a cultura em

muitos artigos Antes da inauguraccedilatildeo de Brasiacutelia a cidade jaacute havia desenvolvido o

seu primeiro Plano Diretor em 1956 no qual citou entre seus objetivos a proteccedilatildeo

do meio ambiente e do patrimocircnio cultural

A cartilha ldquoPlano Diretor Participar eacute um direitordquo elaborada pelo Instituto

Poacutelis em 2005 define Plano Diretor como

Plano Diretor eacute uma lei municipal que deve ser elaborada com a participaccedilatildeo de toda a sociedade Ele organiza o crescimento e o funcionamento do municiacutepio No Plano estaacute o projeto de cidade que queremos Ele planeja o futuro da cidade decidido por todos O Plano vale para todo o municiacutepio ou seja para as aacutereas urbanas e tambeacutem para as rurais Deve dizer qual eacute o destino de cada parte do municiacutepio sem esquecer eacute claro que essas partes formam um todo Eacute o Plano Diretor que diz como o Estatuto da Cidade seraacute aplicado em cada municiacutepio (INSTITUTO POacuteLIS 2005 p 2)

O atual Plano Diretor em vigor em Luziacircnia eacute a Lei nordm 2987 datada de 3 de

outubro de 2006 que inclui como direito de todos os cidadatildeos luzianienses quesitos

baacutesicos como moradia transporte sauacutede educaccedilatildeo entre outros aleacutem da cultura e

da proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural que aparece como uma das diretrizes para o

desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio de forma a contabilizar o

desenvolvimento urbano com a proteccedilatildeo do meio ambiente promovendo sua

conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo em beneficio das geraccedilotildees atuais e futuras

No I capiacutetulo o Plano jaacute faz referecircncia agrave criaccedilatildeo de zonas especiais de

interesse de proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural assim como o centro

histoacuterico que abriga patrimocircnios materiais e imateriais do municiacutepio Na seccedilatildeo I 30

Fonte Secretaria de Turismo ndash Prefeitura de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwluzianiagogovbrindexphpgovernoturismohtmlgt Acesso em 4 fev 2014

64

artigo 13 inciso III diz que se deve proteger e valorizar o patrimocircnio histoacuterico e

cultural como modo de promoccedilatildeo da vida social e comunitaacuteria de maneira

convergente com os processos de melhora das condiccedilotildees de vida da dinamizaccedilatildeo

econocircmica e da modernizaccedilatildeo urbana Desta maneira as festas religiosas e

histoacutericas de Luziacircnia podem colaborar para que os objetivos do plano possam ser

alcanccedilados jaacute que elas satildeo momentos de interaccedilatildeo comunitaacuteria que favorecem a

proteccedilatildeo do patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel aleacutem de agregar valores humanos e

econocircmicos agrave cidade

Entre as accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento sociocultural o artigo 14

fala sobre ampliar e fortalecer o Conselho Municipal de Cultura incorporando a

gestatildeo do patrimocircnio cultural entre as suas competecircncias Refere-se tambeacutem sobre

a realizaccedilatildeo de um inventaacuterio que englobe o patrimocircnio cultural material e imaterial

urbano e rural para o estabelecimento de diretrizes poliacuteticas de proteccedilatildeo o qual

infelizmente nunca foi feito Cita ainda a implantaccedilatildeo de um corredor cultural na Rua

do Rosaacuterio o que nunca saiu do papel e tambeacutem a criaccedilatildeo do Arquivo Histoacuterico

Municipal para abrigar os acervos documentais de interesse histoacuterico puacuteblico e

privados o qual tambeacutem natildeo existe

O artigo 16 que trata das accedilotildees prioritaacuterias para o desenvolvimento

econocircmico fala sobre a elaboraccedilatildeo de um Plano Municipal de Turismo Durante a

entrevista realizada com o Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila este se

mostrou interessado em elaborar o plano ainda na sua gestatildeo

O plano ainda natildeo existe porque isso precisa ser muito detalhado Por que natildeo eacute soacute pegar um plano desses e por em accedilatildeo de qualquer jeito Tem que ter uma estrutura toda considerada Eu quero muito que isso se torne

realidade mas natildeo depende soacute da gente31

Este Plano de Turismo deve considerar os empreendimentos hidroeleacutetricos

estabelecidos no municiacutepio implantando uma zona de turismo ecoloacutegico Entre as

accedilotildees prioritaacuterias previstas para o plano natildeo haacute nenhuma observaccedilatildeo sobre a

ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios imateriais como as festas religiosas para a

preservaccedilatildeo do patrimocircnio material e para o desenvolvimento de um turismo

31

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

65

cultural Poreacutem o padre Simatildeo paacuteroco da Igreja do Rosaacuterio faz uma consideraccedilatildeo

sobre a importacircncia das festas

A festa pode contribuir com esse movimento de preservaccedilatildeo dos patrimocircnios esse eacute o valor maior do conhecimento deste local de patrimocircnio da cidade A festa eacute um atrativo que chama a presenccedila das pessoas natildeo apenas pra sentar a mesa e fazer parte do festejo mas principalmente para conhecer o local conhecer a histoacuteria conhecer a tradiccedilatildeo Aquilo que para a cidade eacute um ponto de referencia

32

Entre as diretrizes de poliacutetica urbana municipal que estatildeo no artigo 16

inciso XI estaacute a priorizaccedilatildeo da preservaccedilatildeo e da valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

natural e ambiental no acircmbito da poliacutetica de desenvolvimento municipal e da poliacutetica

urbana Jaacute o inciso XII prevecirc a disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos para o uso cultural e

comunitaacuterio Atualmente a cidade conta com o Centro Comunitaacuterio local onde se

realizam diversos encontros culturais inclusive durante a Festa do Divino Espiacuterito

Santo

O artigo 27 que trata sobre a lei de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo

dividiu as aacutereas urbanas do municiacutepio em zonas criando entatildeo uma zona de

interesse de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural Seriam aacutereas que em decorrecircncia das

suas caracteriacutesticas histoacutericas e socioculturais configurariam elementos do

patrimocircnio cultural local devendo ser devidamente conservadas natildeo sendo nelas

admitida nenhuma interferecircncia ou alteraccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais e

arquitetocircnicas incluindo o centro histoacuterico de Luziacircnia

Poreacutem o que se observa satildeo diversas intervenccedilotildees feitas em locais que

deveriam ser preservados paisagens que se somam ao patrimocircnio e que natildeo satildeo

vistas pelas autoridades e por empresaacuterios como tal

O artista plaacutestico Joseacute Aacutelfio da Silva em entrevista comentou sobre a

tentativa de construccedilatildeo de um posto de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio no

centro histoacuterico aacuterea esta que deveria ser preservada ldquoEles queriam fazer um posto

de gasolina em frente agrave Igreja do Rosaacuterio ou seja se fosse pra soltar os foguetes

nas festas por que tecircm as fogueiras que eacute tradiccedilatildeo o levantamento do mastro isso

podia ser inviabilizado neacuterdquo33

32

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013 33

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

66

O turismo tambeacutem eacute citado no artigo 51 que trata do sistema viaacuterio e de

transportes do municiacutepio e dispotildee entre suas diretrizes a implantaccedilatildeo de

sinalizaccedilatildeo nas estradas e logradouros da cidade facilitando a identificaccedilatildeo

localizaccedilatildeo deslocamento e acesso em locais de interesse turiacutestico serviccedilos entre

outros o que pouco se vecirc

O Secretaacuterio de Turismo Carlos de Mendonccedila afirmou que a secretaria vem

trabalhando para garantir um Centro de Atendimento ao Turista na cidade

Existe a intenccedilatildeo de criaccedilatildeo de um Centro de Atendimento ao Turista Eu acredito que ainda nessa administraccedilatildeo a gente consiga colocar isso em praacutetica E jaacute tem ateacute um local para isso ali proacuteximo da Igreja do Rosaacuterio Pensamos em montar ali perto um quiosque com informaccedilotildees turiacutesticas

34

O documento fala ainda sobre apoiar eventos culturais sobre a execuccedilatildeo de

projetos urbaniacutesticos nas zonas de preservaccedilatildeo histoacuterica e cultural e diz tambeacutem

que o Conselho Municipal de Desenvolvimento de Poliacutetica Urbana deveraacute apreciar

as propostas de preservaccedilatildeo e tombamento de bens representativos do patrimocircnio

cultural quando o Conselho Municipal de Cultura natildeo se manifestar ou estiver

impedido de fazecirc-lo

Em regra o Plano Diretor tem validade de dez anos e apoacutes este periacuteodo o

municiacutepio deve revecirc-lo e com a participaccedilatildeo de toda a comunidade elaborar um

novo plano

O Plano deve ser visto como um importante documento orientador capaz de

guiar gestores e moradores rumo a um futuro equilibrado em vaacuterios setores A partir

do momento em que todos lerem se informarem divulgarem e exigirem a sua

aplicaccedilatildeo os moradores da cidade de Luziacircnia poderatildeo imaginar um municiacutepio

muito melhor

23 O Centro Histoacuterico

Aqui se buscou apresentar o centro histoacuterico de Luziacircnia e relacionaacute-lo agraves

festas religiosas da cidade jaacute que estes agem como fatores fundamentais no

desenvolvimento de um turismo cultural no municiacutepio

34

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

67

No centro histoacuterico a presenccedila dessa associaccedilatildeo do intangiacutevel com o

tangiacutevel valoriza a cultura e a memoacuteria local aleacutem de colaborar para a ascensatildeo do

turismo neste espaccedilo compreendendo-se que a expressatildeo ldquocentro histoacutericordquo natildeo

apenas remete-se para um objeto ou um espaccedilo mas tambeacutem converte-se em uma

representaccedilatildeo de alguma coisa (PEIXOTO 2003)

Para Dominique Santos (2011 p 32) ldquoas representaccedilotildees sociais satildeo

sintetizadores das referecircncias que os diversos grupos fazem acerca do que

conseguem apreender de suas vivecircncias sociais inseridos no tempo e espaccedilordquo

Assim as festas religiosas relacionadas ao centro histoacuterico se tornam

representaccedilotildees sociais da cultura de Luziacircnia Pois como afirma Santos (2011) a

partir da perspectiva coletiva ldquoos fenocircmenos humanos podem ser conhecidos e

explicadosrdquo sem ignorar o indiviacuteduo

Os centros histoacutericos satildeo cada vez mais apresentados como a expressatildeo

concreta de uma ideia de espaccedilo puacuteblico que permite que a cidade seja imaginada a

partir do seu passado Partindo-se desta loacutegica Luziacircnia eacute uma cidade que manteacutem

traccedilos do passado no seu centro histoacuterico que permitem uma leitura da sua histoacuteria

e compreensatildeo da sua cultura

Eacute uma cidade com forte influecircncia de outros estados brasileiros na forma

como se tornou municiacutepio e todas essas influecircncias no seu desenvolvimento podem

ser percebidas nas construccedilotildees do centro histoacuterico que mesmo sem preservaccedilatildeo

ainda resistem agraves accedilotildees do tempo

Desta forma uma revitalizaccedilatildeo desses centros se torna uma importante

intervenccedilatildeo para o desenvolvimento turiacutestico destes locais jaacute que

A revitalizaccedilatildeo de modo geral estaacute mais ligada agrave dinamizaccedilatildeo cultural turiacutestica e de consumo com investimentos em projetos de reforma e embelezamento de fachadas dos preacutedios e dos espaccedilos puacuteblicos com seguranccedila puacuteblica e lazer a fim de retomar o efeito simboacutelico da memoacuteria histoacuterica do lugar no cotidiano das pessoas que usam e ocupam o territoacuterio (COLVERO 2010 p 39)

A requalificaccedilatildeo tambeacutem eacute um processo fundamental jaacute que esta eacute uma

intervenccedilatildeo que tende a trazer benefiacutecios em larga escala para todo o municiacutepio

Costa (2013) afirma que a requalificaccedilatildeo pode levar ldquoagrave valorizaccedilatildeo tanto turiacutestica

central como comercial residencial e de serviccedilos em resumo agrave valorizaccedilatildeo

68

econocircmica e simboacutelica do territoacuterio urbano em seu conjunto e natildeo apenas

setorialmenterdquo

Entende-se que uma intervenccedilatildeo focada na revitalizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo do

centro histoacuterico de Luziacircnia traria significativa importacircncia e atratividade para esse

espaccedilo

Observa-se que a maioria das cidades possui uma histoacuteria e um modo de

desenvolvimento diferente Poreacutem haacute algo em comum entre os centros urbanos o

fato de a maioria se expandir a partir de um ponto central Ponto este que se torna

referecircncia para toda a populaccedilatildeo que habita esta cidade e tambeacutem para aqueles

que a visitam Este ponto normalmente preserva caracteriacutesticas histoacutericas e reflete a

memoacuteria e a identidade locais tornando-se um ponto de referecircncia para a cultura

Por isso a preservaccedilatildeo destes locais se torna tatildeo importante para a continuidade

das manifestaccedilotildees populares que acontecem neles

Para Elizabeth Travassos (2004 p 112) a ldquoocupaccedilatildeo de praccedilas e ruas

rememora a tradiccedilatildeo da festa popularrdquo A cidade e estes centros passam assim a

serem vistos como construccedilatildeo histoacuterico-cultural como patrimocircnio de seus

moradores e como espaccedilo de memoacuteria

Suzana Gastal (2006 p 66) diz que ldquoa cidade onde houver antiguidades

seraacute depositaacuteria do acervo do passadordquo sinocircnimo de histoacuteria

Os centros das cidades tornam-se entatildeo culturais Lucas (2003) afirma que

a partir dos anos 80 as aacutereas centrais histoacutericas degradadas brasileiras foram se

transformando em espaccedilos de entretenimento e cultura A cultura passa entatildeo a

estar inserida nos espaccedilos urbanos Gastal (2006) diz que ldquoa cultura popular aquela

partilhada pelo povo ainda permaneceraacute no espaccedilo puacuteblico tradicional [] onde

vigorem a liberdade de acesso e a informalidade de usordquo

Os espaccedilos urbanos satildeo ressignificados a todo o momento com os avanccedilos

da modernidade Costa (2013 p 88) nos fala que ldquoas cidades representam aquilo

que foram e natildeo poderatildeo jamais reproduzir autenticamente de modo que aquilo que

foram esboccedila um elemento insubstituiacutevel do processo histoacuterico econocircmico e

culturalrdquo

Assim verifica-se em Luziacircnia uma urgente necessidade em resgatar e

preservar o seu centro histoacuterico como aquilo que natildeo pode ser substituiacutedo Costa

(2013) nos fala ainda sobre essa tendecircncia de revalorizaccedilatildeo dos centros histoacutericos

69

Emergem apoacutes a deacutecada de 1950 em todo o mundo accedilotildees que visam agrave renovaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo requalificaccedilatildeo revitalizaccedilatildeo e refuncionalizaccedilatildeo dos centros degradados de cidades como alternativas para tratar problemas fiacutesicos sociais e econocircmicos que se perpetuam nas aacutereas urbanas mais antigas os chamados centros histoacutericos (COSTA 2013 p 143)

Percebe-se que o turismo nos centros histoacutericos tem o papel de promover e

valorizar o patrimocircnio e concomitante a sua utilizaccedilatildeo (BRASIL 2008) Eacute

importante manter as caracteriacutesticas desses espaccedilos para que as geraccedilotildees futuras

tambeacutem possam conhecer e reviver a histoacuteria que se passou ali tanto por meio das

suas construccedilotildees histoacutericas como pela memoacuteria coletiva daqueles que de fato

viveram a histoacuteria

Como diz Gastal (2006 p 101) ldquoo lugar seria o loacutecus no tempo e no

espaccedilo do acuacutemulo de experiecircncia em forma de histoacuteria e de tradiccedilatildeo a seguranccedila

da identidaderdquo Logo todas as intervenccedilotildees nesses espaccedilos devem ser planejadas e

estudadas de forma conjunta entre esferas puacuteblicas e privadas natildeo esquecendo a

participaccedilatildeo da comunidade Deve-se atentar ao fato de que o espaccedilo puacuteblico e as

manifestaccedilotildees populares realizadas nesse espaccedilo estimulam o interesse turiacutestico e

consequentemente a divulgaccedilatildeo e a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo destes locais

e destas festas patrimocircnios tangiacuteveis e intangiacuteveis da cidade

Figura 9 ndash Vista da Rua do Rosaacuterio no Centro Histoacuterico Agrave esquerda o Restaurante Antigamente Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

70

Figura 10 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 11 ndash Casaratildeo antigo do Centro Histoacuterico em deterioraccedilatildeo Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 12 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

71

Figura 13 ndash Casaratildeo restaurado no Centro Histoacuterico Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

24 Os Patrimocircnios e o Turismo de Luziacircnia

A relaccedilatildeo entre os patrimocircnios materiais e imateriais eacute nitidamente

perceptiacutevel nos bens culturais de Luziacircnia A cidade possui patrimocircnios tangiacuteveis e

intangiacuteveis que se fundem e que podem ser vistos ao andarmos pela cidade

principalmente no centro histoacuterico Estes patrimocircnios agregam valor agrave cultura da

cidade e possuem forte poder de atratividade para o turismo cultural Como explica o

Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) a transversalidade deste segmento se daacute por

considerar elementos e expressotildees da cultura local como a gastronomia a muacutesica

as manifestaccedilotildees populares etc

Na culinaacuteria Luziacircnia tem suas especificidades Ao provar a comida do

municiacutepio eacute niacutetida a presenccedila da culinaacuteria goiana e portuguesa natildeo soacute no modo de

fazer os alimentos mas tambeacutem no modo de servir Caracteriacutesticas estas que

tambeacutem herdou dos seus colonizadores

Na realizaccedilatildeo de festas tradicionais sempre se encontra muita fartura de

comida e o uso da agropecuaacuteria local Soma-se a tudo isso mais uma variaccedilatildeo de

sabores com galinha caipira carne de porco pequi quiabo leite mandioca milho

guariroba hortaliccedilas e aguardente

Haacute o uso de um fruto tradicional da regiatildeo para a fabricaccedilatildeo de um doce

tiacutepico e famoso na cidade a marmelada Eacute um doce tradicional com origem

portuguesa de destaque na cultura luzianiense e que comeccedilou a ser produzido por

escravos em comunidades quilombolas haacute mais de dois seacuteculos Ateacute os dias de

72

hoje vem sendo feito de modo artesanal seguindo uma receita que eacute repassada de

pai para filho

Em artigo no jornal Correio Braziliense o jornalista Renato Alves35 nos conta

que atualmente somente quatro fazendas em Luziacircnia e na sua vizinha Cidade

Ocidental ainda fabricam a marmelada Para que a tradiccedilatildeo sobreviva ela depende

da matildeo de obra e dos conhecimentos dos descendentes de escravos

Este patrimocircnio imaterial de Luziacircnia foi registrado em seu livro do tombo de

registro dos saberes que atualmente encontra-se na Casa da Cultura da cidade Laacute

estaacute descrito o passo a passo para a fabricaccedilatildeo do doce Primeiramente o marmelo

eacute lavado e tem as sementes retiradas em seguida eacute feita uma espeacutecie de purecirc de

marmelo cozido com accediluacutecar em tachos de cobre no fogo a lenha depois a

especiaria eacute embalada em caixas de madeira tiacutepicas feitas pelos proacuteprios

produtores do doce

Figura 14 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

36

35

Fonte Heranccedila da Escravidatildeo Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflip fliphtm6gt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 36

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipfliphtm 6gt Acesso em 12 fev 2014

73

Figura 15 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada FonteCorreio Braziliense 2014

37

Figura 16 ndash Produccedilatildeo artesanal de marmelada Fonte Correio Braziliense 2014

38

O artesanato em Luziacircnia tem forte influecircncia goiana e religiosa e estaacute

retratado nas esculturas de santos em madeira na fabricaccedilatildeo de violinos nas peccedilas

de barro nas pinturas e tantos outros trabalhos feitos por artesatildeos luzianiense

37

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwww2correiobraziliensecombrcolonialflipflip htm6gt Acesso em 12 fev 2014 38

Fonte Heranccedila Colonial Disponiacutevel em lthttpwwwcorreiobraziliensecombrappnoticiacidades 20120125interna_cidadesdf287464descendentes-de-escravos-preservam-a-memoria-e-costumes-dos-ancestraisshtmlgt Acesso em 12 fev 2014

74

Na Loja do Artesatildeo haacute uma exposiccedilatildeo do artesanato regional Haacute tambeacutem a

Oficina de Artes que atua com cursos permanentes de desenho e pintura

As festas religiosas foco desse estudo tambeacutem fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel da cidade e atraem todos os anos muitos visitantes para laacute Satildeo

expressotildees culturais importantes para a preservaccedilatildeo da memoacuteria do municiacutepio e

momentos em que o patrimocircnio material e imaterial se encontram permitindo

apreciar os patrimocircnios materiais presentes no centro e os patrimocircnios imateriais

presentes nas mais diversas manifestaccedilotildees populares

Em relaccedilatildeo aos patrimocircnios naturais a cidade possui ainda um promissor

potencial turiacutestico

O Lago do Corumbaacute a Cachoeira das Trecircs Vendas o Morro da Canastra e

o Rego das Cabaccedilas (que possui uma histoacuteria riquiacutessima para a cultura local) satildeo

patrimocircnios naturais de Luziacircnia que mesmo tendo potencial para atrair turistas

ainda natildeo satildeo aproveitados pelos gestores com o seu devido valor

O advogado Wilter Coelho comenta sobre esta falta de incentivos e de uma

legislaccedilatildeo que se preocupe com o desenvolvimento turiacutestico

Comeccedilaram a aparecer outras possibilidades de turismo na cidade como essa questatildeo do Corumbaacute dos lagos mas nada vai Por que natildeo eacute seacuterio natildeo organiza natildeo tem uma legislaccedilatildeo

39

Estes locais poderiam se tornar referecircncias no turismo da cidade natildeo soacute por

sua beleza natural como tambeacutem por sua histoacuteria O rego das cabaccedilas por

exemplo foi um canal aberto por escravos no seacuteculo XVIII com o intuito de levar

aacutegua ateacute o arraial na eacutepoca da mineraccedilatildeo Ateacute os dias de hoje surpreende pela

forma como foi feito

Outro importante patrimocircnio que deveria ser preservado e utilizado na sua

potencialidade turiacutestica em Luziacircnia eacute a ldquoFazendinha JKrdquo A casa da fazenda eacute uma

construccedilatildeo que foi projetada por Oscar Niemeyer Ela eacute a sua uacutenica construccedilatildeo no

meio rural e a uacutenica sem traccedilos modernistas Esta casa serviu de abrigo ao

presidente Juscelino Kubitschek nos seus uacuteltimos anos de vida e laacute ainda se

encontram diversos pertences de JK

39

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

75

Na garagem da casa estaacute estacionada uma Mercedes Benz40 que foi

completamente restaurada em 2010 Aleacutem disso haacute vaacuterios moacuteveis objetos pessoais

e ateacute uma biblioteca com mais de 1500 tiacutetulos do presidente Atualmente a fazenda

estaacute fechada e em estado de abandono Ela passa por um processo de disputa

judicial entre os herdeiros e por um processo de tombamento como patrimocircnio

material de Goiaacutes41

Figura 17 ndash Entrada da Fazendinha JK Fonte Blog Cabrest ndash O que acontece no mundo

42

Aliado a esses bens naturais existem inuacutemeros pesque-pagues e hoteacuteis

fazenda que podem proporcionar uma interessante experiecircncia na cidade

Luziacircnia conta ainda com uma boa infra-estrutura turiacutestica em relaccedilatildeo agrave

hospedagem e agrave alimentaccedilatildeo Possui hoteacuteis e pousadas para todos os niacuteveis

sociais tem inuacutemeros restaurantes pizzarias bares e lanchonetes alguns

especializados na culinaacuteria goiana e outros bem tradicionais como o ldquoAntigamenterdquo

e o ldquoCasaratildeordquo que ficam no centro histoacuterico

O municiacutepio tem ainda um aeroclube e um parque de exposiccedilotildees

agropecuaacuterias onde satildeo realizados diversos eventos

O Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Mendonccedila relata as dificuldades que vem

encontrando para tornar Luziacircnia uma cidade com poder de atratividade turiacutestica

40

Fonte Mercedes Benz de Juscelino Kubitschek ganha restauraccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwcor reiobraziliensecombrappnoticiacidades20100501interna_cidadesdf189904indexshtmlgtAcesso em 20 mar 2014 41

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel emlthttpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdfgt Acesso em 20 mar 2014 42

Fonte Fazenda que pertencia a JK teraacute que ter caracteriacutesticas preservadas Disponiacutevel em lthttpcabrestoblogspotcombr201205fazenda-que-pertencia-jk-tera-que-terhtmlgt Acesso 20 mar 2014

76

Quando comeccedilamos nem existia a secretaria tudo que estamos fazendo agora natildeo estaacute aparecendo por que natildeo tinha nada Se cada um viesse fazendo um pouquinho de cada coisa jaacute teriacuteamos um pouco feito mas estamos passando por essas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado na cidade Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

43

Grande parte dos bens ligados ao patrimocircnio histoacuterico cultural com potencial

para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em Luziacircnia estatildeo localizados no

centro histoacuterico Isso pode servir de ponto de partida para o desenvolvimento do

turismo na cidade

Laacute se encontram alguns dos patrimocircnios materiais como a Igreja do

Rosaacuterio a Casa da Cultura Rui Carneiro a Cruz do Desbravador que eacute o marco

inicial do povoado e inuacutemeros casarotildees em estilo colonial Ao andar por estas ruas

eacute possiacutevel ter a sensaccedilatildeo de se estar caminhando em ruas de seacuteculos passados

com todo o estilo colonial e ruas de bloquetes Aleacutem das igrejas e do centro

histoacuterico outros locais tambeacutem merecem ser visitados em Luziacircnia Segue um breve

levantamento dos principais pontos culturais e turiacutesticos da cidade

241 A Igreja Matriz de Santa Luzia

A Igreja Matriz de Santa Luzia surgiu da necessidade de se ter um templo

religioso para os brancos jaacute que naquela eacutepoca (fim do seacutec XVIII) brancos e

negros natildeo se misturavam

Ela comeccedilou a ser construiacuteda em 1765 projetada pelo arquiteto portuguecircs

Joseacute Lopes da Silva com apoio do engenheiro Manoel de Bastos Nerva e foi

inaugurada em 1767 mesmo inacabada

Haacute relatos que a obra foi concluiacuteda apenas em 1772 e a primeira missa

ainda nas minas de Santa Luzia foi celebrada pelo Padre Luiz da Gama Mendonccedila

com a participaccedilatildeo de 600 pessoas44 A histoacuteria da Igreja de Santa Luzia eacute repleta

de transformaccedilotildees como se retrata neste trecho de Meireles e Pimentel (1996)

43

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 44

Fonte Uma paroacutequia com histoacuteria Disponiacutevel em lthttpwwwparoquiastaluziaorgindexphpopti on=com_contentampview=articleampid=395ampItemid=563gt Acesso em 20 mar 2013

77

Em 1772 deu-se comeccedilo agrave construccedilatildeo das duas torres da matriz segundo planta do arquiteto Joatildeo Duarte observando-se as seguintes medidas do chatildeo do telhado 18 metros do telhado ateacute a peanha 6 frac12 metros e da peanha ao cimo da cruz 4 metros e 30 centiacutemetros tudo em um total de 28 metros e 80 centiacutemetros A torre da esquerda desabou em data de 02021914 e a da direita foi demolida ateacute ao meio em agosto de 1919 Na atualidade ela pouco traz de sua pujanccedila inicial Em seu interior encontram-se dois altares laterais um do meado do seacuteculo XVII e o outro do seacuteculo XVIII restaurados recentemente (MEIRELES E PIMENTEL 1996 p 24)

As duas torres laterais soacute ficaram prontas em 1778 Em 1914 a torre

esquerda desabou e por questatildeo de seguranccedila a da direita tambeacutem foi demolida

para mais tarde ser reconstruiacuteda

Em 1928 a Igreja passou por uma reforma que retirou sua estrutura colonial

incluindo caracteriacutesticas mais modernas Foi colocado um lustre em seu interior uma

imagem do Divino Espiacuterito Santo sobre o altar o altar de Cristo foi modificado e

foram inclusas imagens dos evangelistas ao fundo aleacutem da cor interna e externa

que foi modificada

Tormin (2004 p 15) comenta sobre como a igreja se faz presente na vida

diaacuteria da comunidade ldquoA torre da igreja matriz levava aos moradores informaccedilotildees

comunitaacuterias como a hora da missa quem havia morrido etcrdquo

A Igreja de Santa Luzia tambeacutem conhecida como Igreja Matriz eacute a

responsaacutevel junto agrave comunidade pela organizaccedilatildeo da Festa do Divino Espiacuterito

Santo Eacute nela que se realizam as reuniotildees de preparaccedilatildeo as missas solenes e de

onde partem as procissotildees nos dias de festa

78

Figura 18 ndash Detalhe do altar da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 19 ndash Imagem externa da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

79

Figura 20 ndash Imagem interna da Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 21 ndash Imagem de Santa Luzia na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

80

242 A Igreja do Rosaacuterio

A Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou como foi conhecida a Igreja dos

Homens Pretos de Luziacircnia foi erguida no seacuteculo XVIII entre 1761 e 1763 por

Manoel Bastos Nerva e mais de quatrocentas pessoas da raccedila negra livres e

escravos

Como nos conta Joseph de Mello Aacutelvares (1996 p 30) ldquoa igreja possui uma

memoacuteria repleta de lendas e acontecimentos importantes para a histoacuteria de

Luziacircniardquo

Haacute relatos de que o principal objetivo de sua construccedilatildeo foi incentivar a

manifestaccedilatildeo religiosa entre os negros e evitar possiacuteveis revoltas entre eles Dizem

tambeacutem que haveria ouro enterrado embaixo dela aleacutem de restos mortais como

conta o famoso historiador da cidade Gelmires Reis (1979) Ele afirma que somente

pessoas nobres e de famiacutelias ricas podiam ser enterradas laacute

O historiador fala tambeacutem sobre a grande quantidade de escravos no

municiacutepio nesta eacutepoca ldquoEm 1763 Santa Luzia numerava uma populaccedilatildeo de 16529

pessoas sendo 12984 escravosrdquo (REIS 1925 p 21) Ele comenta sobre a

numeraccedilatildeo que se vecirc gravada no piso da igreja Haacute indiacutecios de que estes fazem

menccedilatildeo ao nuacutemero de tuacutemulos de pessoas enterradas e entre estes corpos estaria

o de Joseacute Pereira de Souza o uacutenico homem executado em Luziacircnia em 1861 (REIS

1925)

A igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio eacute uma das poucas construccedilotildees da

regiatildeo que conserva os traccedilos tiacutepicos das igrejas coloniais O seu assoalho central

foi erguido com uma elevaccedilatildeo de uns dez centiacutemetros e eacute separado por um

balauacutestre de jacarandaacute negro Foram ainda criados espaccedilos laterais que serviam

para acomodar os homens de maior projeccedilatildeo social Outro ponto interessante e

curioso sobre a construccedilatildeo do templo eacute que a sua porta de entrada foi feita voltada

para o sul jaacute que a fachada da Igreja Matriz de Santa Luzia era voltada para o norte

Sua histoacuteria conta com inuacutemeras reformas sendo inclusive interditada por

algum tempo por risco de desabamento Em uma dessas reformas em 1934 o frei

dominicano Gabriel Maria de Menezes realizou algumas alteraccedilotildees na sua estrutura

como a diminuiccedilatildeo da altura das torres retirada de parte do cocircmodo por traacutes do altar

e metade das salas laterais foi demolido um puacutelpito e construiacutedos mais cinco nichos

para imagens (como jaacute havia um ficaram trecircs de cada lado da capela) aleacutem da

81

retirada de altares um com imagem de Santa Luzia que foi transferido para a Igreja

Matriz de Santa Luzia

A importacircncia da igreja para a cidade vai aleacutem do cunho religioso jaacute que

esta igreja representa um siacutembolo de cultura memoacuteria e identidade para os

cidadatildeos luzianiense assim como afirma Choay (2006 p 18) o monumento visa

ldquopreservar a identidade de uma comunidade eacutetnica religiosa nacional tribal ou

familiarrdquo

A igreja do Rosaacuterio eacute o uacutenico monumento tombado no municiacutepio pelo

Patrimocircnio Histoacuterico Estadual de acordo com a Lei 8915 de dezembro de 1980

Sua uacuteltima restauraccedilatildeo foi em 2011 em uma parceria do IPHAN com o Governo de

Goiaacutes e a Prefeitura Municipal

De acordo com o artigo 8ordm da lei de tombamento da igreja eacute dever da

Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes

Art 8ordm - [] cabe agrave Fundaccedilatildeo Cultural de Goiaacutes a escrituraccedilatildeo e guarda dos Livros do Tombo Estadual bem como as providecircncias e medidas que visem agrave conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos bens culturais do Estado e da memoacuteria goiana (GOIAacuteS 1980)

A Igreja do Rosaacuterio estaacute localizada no centro histoacuterico da cidade e faz parte

dos espaccedilos utilizados durante a realizaccedilatildeo das festas tradicionais da cidade Ela

fica aberta diariamente para visitaccedilatildeo e possui horaacuterios especiacuteficos para a realizaccedilatildeo

das missas

Figura 22 ndash Imagem externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

82

Figura 23 ndash Imagem interna da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 24 ndash Detalhe do Altar da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

83

Figura 25 ndash Imagens de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito na Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook da Igreja Nossa Senhora do Rosaacuterio 2013

45

Figura 26 ndash Imagem de Satildeo Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

45

Fonte Paacutegina do Facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403880469841578ampset=a14038786998417551073741833100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

84

Figura 27 ndash Imagem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus na Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

243 A Casa da Cultura Rui Carneiro

A Casa da Cultura eacute uma instituiccedilatildeo de grande importacircncia na preservaccedilatildeo

histoacuterica do municiacutepio de Luziacircnia-GO e pode ser considerada como o uacutenico museu

da cidade

Laacute se encontra preservado grande parte do seu acervo histoacuterico e cultural

com objetos fotos antigas e coacutepia de documentos Este espaccedilo tem grande

representatividade para a cultura local recebendo muitas pessoas por semana aleacutem

da frequente visita de alunos das escolas puacutebicas e particulares

O imoacutevel onde hoje estaacute localizado a Casa da Cultura Rui Carneiro foi

fundado em 29 de setembro de 1979 no centro histoacuterico de Luziacircnia e recebeu este

nome durante a administraccedilatildeo do prefeito Walter Joseacute Rodrigues em homenagem

85

ao cidadatildeo luzianiense Rui Carneiro que foi microempresaacuterio advogado militante e

professor de Direito46

A casa foi erguida em madeira principalmente a aroeira adobe pedra e

barro A planta segue o padratildeo da arquitetura bandeirista com a porta principal

voltada para a rua e acesso agrave sala por um amplo corredor e vaacuterios cocircmodos que se

destinavam aos quartos e agrave varanda A aacuterea do quintal jaacute foi utilizada para o cultivo

de hortas domeacutesticas aacutervores frutiacuteferas flores e criaccedilatildeo de pequenas aves Poreacutem

hoje o que se vecirc eacute uma aacuterea abandonada e com mato alto aos arredores

Em depoimento Wilter Coelho contou como foi o processo de busca e

constituiccedilatildeo do acervo da Casa da Cultura

Fui diretor da Casa da Cultura na verdade nos montamos a Casa da Cultura na deacutecada de 90 Que era uma outra histoacuteria () Na deacutecada de 90 foi uma questatildeo de fragmentos tinha material e imaterial tinha coisas ligadas agrave danccedila a essa cultura imaterial tambeacutem mas naquele momento natildeo interessava Interessava o regate de patrimocircnio histoacuterico Comeccedilou pela visita Comeccedilamos a visitar moradores antigos de Luziacircnia gente com 80 90 anos quanto mais velho melhor Tinha uma senhora que eu visitava Dona Nenecirc que naquela eacutepoca tinha 100 anos uma riqueza Ela tinha cada tirada impressionante Eu passei a visitar essas pessoas por que eu queria entrar pela imagem Como o patrimocircnio material imobiliaacuterio da regiatildeo natildeo tinha sido preservado jaacute tinha passado tinha pouca coisa ali na rua do rosaacuterio mas a maioria jaacute tinha ido ai eu pensei vamos preservar a histoacuteria visual entatildeo eu comecei a visitar essas pessoas antigas pedindo fotos

47

A partir destas primeiras fotografias se formou o acervo da casa e anos

depois foi dividida em salas temaacuteticas como a Sala das Cavalhadas a Sala dos

Foliotildees e o Memorial Gelmires Reis aleacutem de objetos e fotografias espalhadas por

todos os cocircmodos

A casa da cultura funciona diariamente de 8h agraves 17h inclusive nos fins de

semana e feriados

46

Fonte Casa da Cultura ndash Histoacuteria Tradiccedilatildeo Cupins e Traccedilas Disponiacutevel em httpong-protegerlza blogspotcombr201106casa-da-cultura-historia-tradicao_8217html Acesso em 19 jul 2012 47

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

86

Figura 28 ndash Casa da Cultura Rui Carneiro Fonte Autoria proacutepria

Figura 29 ndash Sala Gelmires Reis na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

87

Figura 30 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 31 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

88

Figura 32 ndash Sala das Cavalhadas na Casa da Cultura de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

244 Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles

O Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles abriga a Academia de Letras e

Artes do Planalto Eacute um casaratildeo colonial que pertenceu ao advogado escritor e

ilustre morador da cidade Joseacute Dilermando Meireles fundado em 1976 com a

intenccedilatildeo de apoiar e preservar a cultura do Planalto Central

Seu objetivo eacute incentivar as produccedilotildees artiacutesticas na literatura e nas artes e

conservar as tradiccedilotildees do municiacutepio e de toda a regiatildeo de Goiaacutes

No Centro Cultural estatildeo abrigadas pinturas do artista Aluiacutesio Santana em

oacuteleo sobre tela com a imagem de diversos escritores de destaque do Planalto

Central Haacute ainda uma biblioteca com inuacutemeros livros de autores locais entre eles

as obras de Gelmires Reis Joseph de Mello Aacutelvares e Antocircnio Pimentel

O centro deveria funcionar como um espaccedilo cultural poreacutem natildeo possui

verba para desenvolver nenhum projeto Na biblioteca os livros natildeo satildeo catalogados

e ela natildeo possui bibliotecaacuterio apenas um estagiaacuterio que faz um serviccedilo voluntaacuterio

O Centro fica aberto de segunda a sexta das 08h30min agraves 11h30min e de

14h30min agraves 17h30min

89

Figura 33 ndash Centro Cultural Joseacute Dilermando Meireles Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

245 A Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo

A Praccedila Raimundo de Araujo Melo mais conhecida como a Praccedila das Trecircs

Bicas eacute outro ponto turiacutestico da cidade que existe desde 1752 mesma eacutepoca em

que foi instituiacuteda a festa do Divino Espiacuterito Santo na cidade48 Laacute se encontram

fontes de aacuteguas naturais diversos peixes num mini lago e um grande viveiro para

paacutessaros e outros pequenos animais

Os paineacuteis do pintor Dirso Joseacute de Oliveira morador da cidade mais

conhecido como D J Oliveira eacute uma das atraccedilotildees da praccedila Eacute uma obra feita em

azulejos vitrificados que retratam um pouco da histoacuteria e da cultura da antiga cidade

de Santa Luzia Nos paineacuteis estatildeo retratados bandeirantes iacutendios escravos a Igreja

do Rosaacuterio a Igreja de Santa Luzia a Festa do Divino dentre outros elementos

Existem ainda outros paineacuteis de D J Oliveira espalhados por Luziacircnia Um

deles fica na base do Cristo Redentor da cidade proacuteximo agrave Feira do Produtor e da

rodoviaacuteria outro mural pode ser visto no Ginaacutesio de Esportes

48

Fonte Siacutembolo de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrsimbolos-de-luzianiagt Acesso em 10 fev 2014

90

Na praccedila haacute tambeacutem uma obra de concreto com base triangular entre os

dois paineacuteis representando figuras humanas que remetem agraves trecircs raccedilas formadoras

da civilizaccedilatildeo local como nos conta Joseacute Silva (2007)

Recentemente a praccedila foi totalmente revitalizada e foram criados espelhos

drsquoaacutegua ao redor dos paineacuteis para evitar assim a accedilatildeo de vacircndalos que vinham

destruindo a obra

Figura 34 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 35 ndash Paineacuteis de D J Oliveira na Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

91

Figuras 36 37 e 38 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

Figura 39 ndash Praccedila Raimundo de Arauacutejo Melo Fonte Autoria proacutepria

246 Praccedila Evangelino Meireles

A Praccedila Evangelino Meireles foi totalmente reconstruiacuteda em 2011 No novo

modelo de praccedila suspensa foram feitos um viaduto estacionamentos banheiros

ponto de taacutexi e um posto policial na parte inferior Na parte superior foi construiacutedo

um espaccedilo de lazer com concha acuacutestica banquinhos jardins e postes de luz Haacute

tambeacutem bancas para o funcionamento de uma feirinha poreacutem estatildeo interditadas

Ao redor da praccedila estatildeo localizadas diversas agecircncias bancaacuterias comeacutercio variado

e inuacutemeras drogarias

Mesmo tendo sido reformada recentemente eacute possiacutevel ver diversas

rachaduras na estrutura da praccedila De acordo com laudo da Defesa Civil o Ministeacuterio

92

Puacuteblico chegou a pedir a sua interdiccedilatildeo por risco de desabamento49 A empresa

responsaacutevel pela obra prometeu realizar a reforma mas ainda hoje a praccedila continua

com alguns espaccedilos interditados

Figura 40 ndash Praccedila Evangelino Meireles Fonte Victor Lourenccedilo 2014

50

247 Centro de Cultura e Convenccedilotildees

O Centro de Cultura e Convenccedilotildees Professora Abigail Brasil da Silveira eacute

uma obra que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer especialmente para

Luziacircnia e foi inaugurado em junho de 2008

O preacutedio eacute um grande centro cultural e conta com diversas salas

independentes Haacute espaccedilos para apresentaccedilotildees artiacutesticas nas aacutereas internas e

externas espaccedilos para exposiccedilotildees aleacutem de auditoacuterio teatro uma biblioteca com

cerca de 30 mil livros e computadores com acesso agrave internet

49

Fonte Praccedila suspensa eacute interditada por causa de rachaduras Disponiacutevel em lthttpg1globocom goiasnoticia201208praca-suspensa-e-interditada-por-causa-de-rachaduras-em-goiashtmlgt Acesso em 10 fev 2014 50

Fonte Panoramio Disponiacutevel em lthttpwwwpanoramiocomphoto_explorerview=photoamppositio n=789ampwith_photo_id=55931396amporder=date_descampuser=3544905gt Acesso 10 fev 2014

93

O centro possui um enorme potencial para a realizaccedilatildeo de eventos como

encontros feiras seminaacuterios entre outros Ele estaacute localizado em frente agrave Prefeitura

Municipal e funciona diariamente de 8h00 agraves 22h00

Figura 41 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

Figura 42 ndash Centro de Cultura e Convenccedilotildees Profordf Abigail Brasil Silveira Fonte Jornalista Joseacute Sidney Rocha acervo pessoal 2013

248 O Cristo Redentor

Em um dos pontos mais altos do municiacutepio ao lado da rodoviaacuteria e proacuteximo

agrave Feira do Produtor estaacute situada a reacuteplica do monumento Cristo Redentor A estaacutetua

estaacute edificada sobre um pedestal com obras do artista D J Oliveira que se

94

encontram totalmente danificadas De laacute eacute possiacutevel ter uma visatildeo panoracircmica da

cidade

Figura 43 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

Figura 44 ndash Cristo Redentor de Luziacircnia Fonte Autoria proacutepria

95

III AS FESTAS RELIGIOSAS

As celebraccedilotildees sempre estiveram presentes na vida do homem Desde a

antiguidade se tem registros desses encontros de grupos diversos que celebram

algo por algum motivo e muitas vezes relacionando estas comemoraccedilotildees a algum

tipo de santidade Desta forma as festas religiosas foram se perpetuando ao longo

dos seacuteculos e tornaram-se tradicionais

Para Lorene Ferreira (2009 p 17) a comemoraccedilatildeo religiosa ldquoeacute um momento

de celebraccedilatildeo da vida que rompe o ritmo monoacutetono do cotidiano e permite a

vivencia de afetos e emoccedilotildeesrdquo Martha Abreu (2002) afirma que as festas em

homenagem aos santos padroeiros sempre foram momentos significativos na vida

das cidades Ao longo da histoacuteria da humanidade elas sempre foram consideradas

de muita importacircncia para as comunidades

As festas constituem um dos principais momentos do catolicismo popular Eacute difiacutecil imaginar o cotidiano de uma pequena cidade brasileira sem as agitaccedilotildees das novenas santas missotildees acompanhamentos e procissotildees Essas satildeo algumas expressotildees de religiosidade que acabam por se tornar um grande instrumento para se compreender a sociedade na qual estatildeo inseridas (SANTOS E NUNES 2005 p 98)

Estas expressotildees religiosas sempre tiveram forte poder de influenciar na

formaccedilatildeo da identidade dos povos Ricardo Luiz de Souza (2013 p 16) conta que

ldquoas festas catoacutelicas foram fundamentais ainda no sentido de construir uma

identidade compartilhada pelos fieacuteis em substituiccedilatildeo a uma identidade nacional

ainda inexistenterdquo

O autor cita Jurkevics51 (2005 apud SOUZA 2013) para explicar essa

influencia catoacutelica na formaccedilatildeo da identidade Para ele

Algumas das festas religiosas que atualmente movimentam milhotildees de devotos por todo paiacutes satildeo heranccedilas do que foi chamado de religiosidade colonial ou catolicismo popular enquanto outras foram sendo incorporadas no calendaacuterio religioso ao longo da histoacuteria brasileira

O catolicismo popular foi compreendido por Souza (2013 p 6) como

51

JURKEVICS Vera Irene Festas religiosas a materialidade da feacute Histoacuteria questotildees amp Debates n 43 Curitiba Editora UFPR 2005

96

O catolicismo popular eacute uma expressatildeo cultural aleacutem de religiosa e muda de forma e de posiccedilatildeo a partir das transformaccedilotildees ocorridas no contexto cultural mais amplo do qual faz parte Eacute dinacircmico e eacute historicamente constituiacutedo natildeo sendo necessariamente avesso agrave modernidade como alguns de seus estudiosos mais conservadores querem fazer acreditar

Haacute muito tempo se busca definir o que satildeo estas celebraccedilotildees e as formas de

registraacute-las como uma maneira de garantir a sua continuidade Elas jaacute foram

interpretadas de diferentes formas e interferem diretamente no sentido que a

comunidade daacute agrave sua cidade

O Programa Nacional do Patrimocircnio Imaterial52 instituiacutedo pelo Decreto nordm

3551 de 4 de agosto de 2000 definiu as celebraccedilotildees e as formas de expressatildeo

como

[] ritos e festividades associados agrave religiosidade agrave civilidade e aos ciclos do calendaacuterio que participam fortemente da produccedilatildeo de sentidos especiacuteficos de lugar e de territoacuterio As formas de expressatildeo satildeo formas natildeo-linguumliacutesticas de comunicaccedilatildeo associadas a determinado grupo social ou regiatildeo traduzidas em manifestaccedilotildees musicais cecircnicas plaacutesticas luacutedicas ou literaacuterias (BRASIL 2000)

Entre os bens que integram os patrimocircnios imateriais brasileiros que jaacute

foram reconhecidos por seu valor excepcional e registrados no Livro das

Celebraccedilotildees estatildeo53

1- O Ciacuterio de Nazareacute no Paraacute

2- O Ritual Yaokwa do povo indiacutegena Enawene Nawe no Mato Grosso

3- A Festa de SantrsquoAna de Caicoacute no Rio Grande do Norte

4- O Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhatildeo

5- A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim em SalvadorBA

6- A Festa do Divino em ParatyRJ

7- A Festa do Divino Espiacuterito Santo de Pirenoacutepolis

Como afirma Ivan Aragatildeo e Janete Macedo (2011 p 401) estas festas

religiosas ldquoaleacutem de celebrar momentos especiais [] mantecircm viva a tradiccedilatildeo das

52

Fonte Programa Nacional do Patrimocircnio imaterial Disponiacutevel em httpwwwpontaojongouffbrsitesdefaultfilesuploaddocumento_programa_nacional_do_patrimonio_imaterialpdf Acesso em 12 de dezembro de 2012 53

Fonte IPHAN - Bens Culturais Registrados Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrbcrEpagesindexEjsfgt Acesso em 29 jan 2014

97

comemoraccedilotildees dentro dos espaccedilos das cidades coloniais possibilitando assim que

os acontecimentos festivos tornem-se um verdadeiro patrimocircnio culturalrdquo

No momento em que estas festas satildeo realizadas a intenccedilatildeo eacute de que tanto

a comunidade quanto os turistas possam reconhecer o valor deste patrimocircnio

imaterial e a partir dessas representaccedilotildees passem a conhecer a cultura daquele

local

Leenhardt e Pesavento (1998) afirmam que as representaccedilotildees podem tornar

presente aquilo que eacute ausente E concluem dizendo que ldquoa representaccedilatildeo pois

enuncia um lsquooutrorsquo distante no espaccedilo e no tempo estabelecendo uma relaccedilatildeo de

correspondecircncia entre ser ausente e ser presente []rdquo Esta sensaccedilatildeo eacute vivenciada

pelos participantes das festas religiosas de Luziacircnia como pode ser confirmado na

fala de Joseacute Aacutelfio da Silva quando este comenta sobre as representaccedilotildees que as

festas retomam

Eu comecei a participar dessas festas aqui na Matriz e ai tinha a banda de muacutesica que tocava tinha o leilatildeo e eles anunciavam a festa na torre da Matriz Ai sempre passava uma muacutesica o dobrado sabe que todo mundo entrava no clima da festa Aacutes vezes vocecirc ateacute esquecia o mecircs a data da festa mas a muacutesica te trazia remetia a essa questatildeo das festas

54

Natildeo soacute no Brasil como em todo o mundo se tecircm registro destas

celebraccedilotildees e manifestaccedilotildees culturais que reuacutenem milhares de pessoas todos os

anos

Em Goiaacutes haacute inuacutemeras festas religiosas que fazem parte do patrimocircnio

intangiacutevel das cidades como expliacutecito no Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes55

Este documento afirma que praticamente por todo o Estado haacute festas e cultos

religiosos que misturam feacute e folclore quase sempre heranccedila da colonizaccedilatildeo

portuguesa e da feacute catoacutelica

Pode-se observar em vaacuterias cidades do Brasil e em Luziacircnia a forte

influecircncia que estas celebraccedilotildees de cunho religioso quando vinculadas ao

patrimocircnio histoacuterico podem possuir nas relaccedilotildees sociais e no desenvolvimento

turiacutestico das cidades jaacute que haacute muitos anos estas festas religiosas movimentam

milhares de pessoas por todo o mundo 54

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 55

Fonte Versatildeo preliminar para consulta puacuteblica do Plano de Cultura do Estado de Goiaacutes Disponiacutevel em httpwwwsgcgoiasgovbruploadarquivos2013-04plano-estadual-de-cultura-goias---versao-preliminar-para-consulta-publicapdf Acesso em 20 mar 2014

98

Assim eacute possiacutevel perceber a intensa relaccedilatildeo que estas festas religiosas

podem ter com a ascensatildeo de um turismo local Lucas56 (2003 apud MENEZES

2008 p 6) confirma que dramatizaccedilotildees realizaccedilotildees de bailes e musicais

celebraccedilatildeo de festas populares e religiosas satildeo algumas atividades que valorizam a

experiecircncia do visitante no lugar Logo todas estas manifestaccedilotildees tornam-se

objetos do turismo

Algumas destas festas religiosas se repetem em vaacuterios estados brasileiros e

a data varia de acordo com a regiatildeo onde elas acontecem Em alguns casos ateacute os

rituais permanecem iguais

A seguir um breve levantamento com as principais festas religiosas que

acontecem no Brasil durante todo o ano

FESTA ESTADO

Festa de Bom Jesus dos Navegantes BA SE

Festa dos Santos Reis PE

Festa do Bonfim BA

Festa de Satildeo Sebastiatildeo ES

Festa de Iemanjaacute BA

Semana Santa -

Procissatildeo do Fogareacuteu GO

Festa de Nossa Senhora dos Prazeres PE

Festa de Nossa Senhora da Penha ES

Festa de Satildeo Benedito MT

Festa de Nossa Senhora da Piedade AP

Festa de Nossa Senhora das Neves PB

Romaria de Bom Jesus da Lapa BA

Festa de Satildeo Joseacute de Ribamar MA

Festa do Rosaacuterio MGGO

Ciacuterio de Nazareacute PA

Festa de Nossa Senhora de Aparecida SP

Festa do Padre Ciacutecero CE

Festa de Santa Baacuterbara BA

56

LUCAS S M M Vale a Pena Preservar Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentaacutevel 2003

99

Festa de Nossa Senhora do Rocio PR

Festa do Santo Cristo de Ipojuca PE

Tabela 2 ndash Festas religiosas catoacutelicas que acontecem no Brasil Fonte Site Rede Globo

57

Como pode se observar estas festas satildeo expressotildees artiacutesticas e simboacutelicas

com caraacuteter religioso que estatildeo presentes em todas as regiotildees do Brasil Entre as

celebraccedilotildees que possuem mais destaque e que movimentam o maior nuacutemero de

pessoas estatildeo o Ciacuterio de Nazareacute que acontece em Beleacutem a Festa do Senhor do

Bonfim na Bahia e a Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes

Figura 45 ndash Ciacuterio de Nazareacute em Beleacutem no Paraacute Fonte Site do Ciacuterio de Nazareacute

58

57

Fonte De Norte a Sul do paiacutes comemoraccedilotildees atraem todo ano milhotildees de fieis Disponiacutevel em lthttpredegloboglobocomacaonoticia201301confira-algumas-das-festas-religiosas-que-acontecem -no-brasilhtmlgt Acesso em 17 dez 2013 58

Fonte Ciacuterio de Nazareacute ndash Galeria Disponiacutevel em lthttpwwwciriodenazarecombrgaleriagt Acesso em 17 dez 2012

100

Figura 46 ndash Festa do Senhor do Bonfim na Bahia Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna

59

Figura 47 ndash Procissatildeo do Fogareacuteu em Goiaacutes Fonte Encantos do Cerrado

60

O municiacutepio de Luziacircnia ainda vive um processo de desenvolvimento

quando se refere agrave relaccedilatildeo entre as festas religiosas a cultura e o turismo local A

proacutepria comunidade natildeo consegue reconhecer o valor de seus patrimocircnios tangiacuteveis

e intangiacuteveis com potenciais para a ascensatildeo de um turismo cultural local Os

participantes das festas de Luziacircnia comentam que na cidade estas celebraccedilotildees

59

Fonte Raacutedio Jornal de Itabuna Disponiacutevel em lthttpradiojornaldeitabunacombrdefaultphppagi na=blogphpampsite_id=657amppagina_id=14960amptipo=postamppost_id=354gt Acesso em 10 mai 2014 60

Fonte Encantos do Cerrado Disponiacutevel em lthttpencantosdocerradocombrn9414gt Acesso em 10 mai 2014

101

ainda possuem um caraacuteter mais comunitaacuterio como nos conta o zelador da igreja do

Rosaacuterio Joatildeo Victor Ribeiro ldquoGeralmente satildeo as famiacutelias tradicionais da cidade

juntamente com a comunidade que organizam e participam das festasrdquo61

As famiacutelias tradicionais mais antigas na cidade satildeo figuras influentes na

construccedilatildeo das festas de Luziacircnia Joseacute Aacutelfio da Silva reafirma a fala de Joatildeo Victor

sobre a participaccedilatildeo comunitaacuteria nas festas ao dizer que

A festa do Divino e a festa do Rosaacuterio mantecircm viva a tradiccedilatildeo por que os filhos dos festeiros continuam alimentando essas festas mas elas natildeo tecircm uma forccedila nacional igual o Ciacuterio de Nazareacute por exemplo que aleacutem de ser religiosa eacute cultural eacute turiacutestica Por que a cidade tem o Ciacuterio mas tem outras opccedilotildees culturais

62

Observa-se nesta fala de Joseacute Aacutelfio da Silva que os moradores de Luziacircnia

ainda natildeo conseguem enxergar os patrimocircnios culturais da cidade como bens

potenciais para o desenvolvimento da atividade turiacutestica no municiacutepio Embora ainda

haja um sentimento de pertencimento comunitaacuterio destes bens percebe-se nas falas

uma descrenccedila quanto ao seu valor turiacutestico principalmente quando elas se referem

agraves festas tradicionais

Estas celebraccedilotildees com caraacuteter religioso nos termos de Leenhardt e

Pesavento (1998) possuem o poder de introduzir este reencontro espiritual satildeo

formas de expressatildeo cultural e espiritual satildeo representaccedilotildees pois permitem o

reencontro com o ausente Teixeira (2008 p 9) diz que moralidade e

espiritualidade exercidas de forma rudimentar e fluida ldquogeram sentimentos de

reciprocidade e de gratidatildeo que atuam na perpetuaccedilatildeo das crenccedilas e respectivas

praacuteticasrdquo o que justifica a realizaccedilatildeo da Festa do Divino e a Festa de Nossa

Senhora do Rosaacuterio que acontecem em Luziacircnia haacute mais de dois seacuteculos

A estudante Karina da Silva participante assiacutedua das festas comenta sobre

esta relaccedilatildeo de tradiccedilatildeo e feacute

As festas satildeo tradiccedilotildees e ajudam a manter vivo o costume de podermos vivenciar momentos de feacute e confraternizaccedilatildeo entre nossa comunidade

61

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014 62

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

102

religiosa e os moradores do nosso bairro e de toda a cidade Eacute realmente um momento agradaacutevel

63

A auxiliar administrativa Angeacutelica Moreira corrobora com o pensamento da

estudante em relaccedilatildeo ao sentido de tradiccedilatildeo que as festas carregam em si quando

diz que ldquoConsidero as festas patrimocircnio porque eacute uma tradiccedilatildeo que vem de

geraccedilatildeo para geraccedilatildeo desde meus antepassados jaacute iam agrave festa e faziam parte dos

foliotildees64

O estudante Lucas Pires tambeacutem compartilha da ideacuteia de que as festas

religiosas de Luziacircnia satildeo tradicionais e importantes para a memoacuteria da cidade e

para o exerciacutecio da feacute ldquoHaacute muito tempo jaacute existem essas festas eacute um momento de

viver e compartilhar a nossa feacute Elas passaram a ser como tradiccedilatildeo e fazem parte da

histoacuteria da cidade65

Pode-se entatildeo relacionar as falas dos participantes ao pensamento de

Curado e Lobo (2005 p 12) quando este afirma que ldquoas celebraccedilotildees e festas

religiosas locais sempre fizeram parte do imaginaacuterio popular e constitui elemento

importante da tradiccedilatildeo da cidaderdquo Assim as festas de Luziacircnia satildeo tradiccedilotildees

culturais que se mantecircm vivas graccedilas ao apoio popular que vecircm recebendo ao longo

dos anos

Estas celebraccedilotildees satildeo entatildeo construiacutedas pelo povo e constituem-se como

parte da cultura local aleacutem de influenciarem diretamente em outros aspectos como a

economia e a poliacutetica da cidade Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (2001 p

10) explica que estas celebraccedilotildees satildeo consideradas importantes fatos culturais

Os fatos da cultura satildeo sempre processos sociais totais isto eacute Abarcam e imbricam diferentes aspectos da realidade em sua realizaccedilatildeo (aspectos econocircmicos sociais poliacuteticos juriacutedicos morais artiacutesticos religiosos entre outros) e satildeo capazes de articular em seu interior valores preacutevios e a consideraccedilatildeo dos processos culturais populares a partir de seus proacuteprios termos Isto nos daacute a chance de compreendecirc-lo fazendo jus a sua contemporaneidade e agrave riqueza artiacutestica e humana por eles veiculada

Entende-se entatildeo que haacute um envolvimento de toda a sociedade para que

estes fatos culturais e sociais possam se concretizar tornando estas performances

63

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 64

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 65

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014

103

humanamente e artisticamente mais ricas Teixeira (2008 p 10) acredita que elas

ldquoconstituem um repertorio que somente pode ser transmitido atraveacutes dos corpos dos

seus praticantes se encaradas sob o ponto de vista do comportamento expressivordquo

O Ministeacuterio do Turismo (BRASIL 2010) afirma que nas cidades que ainda

estatildeo em processo de desenvolvimento turiacutestico a preservaccedilatildeo das festas depende

da compreensatildeo e da valorizaccedilatildeo dos empreendimentos locais no sentido de

respeitar e promover essas formas de expressatildeo da religiosidade popular Em

Luziacircnia essa valorizaccedilatildeo ainda parece caminhar a passos lentos

Natildeo eacute tarefa simples entender estes fatos culturais e sociais que satildeo

histoacutericos e complexos Cavalcanti (2001 p 5) diz que eacute preciso vecirc-los sem

preconceitos e em sua integralidade a autora acredita que ldquoa cultura e o saber

popular satildeo poderosos diluidores de fronteiras [] eficazes canais de comunicaccedilatildeo

humana a romper barreiras entre diferentes grupos camadas e classes sociaisrdquo

Assim as festas religiosas sempre cumpriram um papel mesmo que

veladamente de unificaccedilatildeo entre as classes sociais jaacute que durante os festejos

todos tinham espaccedilo brancos negros livres e escravos Abreu (2002 p 71) conta

que nos festejos do Divino no Rio de Janeiro em 1851 apoacutes as 23 horas as

ldquofamiacutelias honestasrdquo se retiravam e a festa continuava com ldquonegros negras mulatos

mulatas mulatas livres e cortesatildes de baixa categoria () transformando-se numa

orgiardquo

Cada grupo social possui traccedilos culturais especiacuteficos agrave sua realidade por

isso se deve pensar em todo o conjunto cultural natildeo apenas os arquitetocircnicos mas

tambeacutem a religiatildeo as festas a linguagem os modos de ser entre outros aspectos

culturais intangiacuteveis de forma a integrar cultura patrimocircnios e turismo agregando

valor agravequilo que a cidade possui de mais valioso Assim como diz Fonseca (2009) eacute

natildeo haacute sombra de duacutevidas de que o patrimocircnio natildeo eacute constituiacutedo somente de

edificaccedilotildees e peccedilas de museus

A UNESCO (2003) afirma que os costumes e crendices satildeo umas das

expressotildees mais antigas e ricas relacionadas agrave natureza e ao universo capazes de

movimentar milhares de pessoas que buscam por essas manifestaccedilotildees tornando-as

o principal atrativo de algumas localidades Viajar em busca desses patrimocircnios

aleacutem de ser um prazer eacute um estimulo a imaginaccedilatildeo Onfray (2009 p 14) expotildee que

ldquoviajar supotildee portanto recusar o emprego do tempo laborioso da civilizaccedilatildeo em

104

proveito do lazer inventivo e alegrerdquo para ele ldquoa arte da viagem induz uma eacutetica

luacutedicardquo

Dentre os patrimocircnios intangiacuteveis de Luziacircnia estatildeo as festas religiosas que

atraem muitos visitantes para laacute Normalmente no mecircs de maio acontece a Festa

do Divino Espiacuterito Santo e entre setembro e outubro a Festa de Nossa Senhora do

Rosaacuterio e Satildeo Benedito que satildeo comemoradas juntas devido agrave proximidade das

datas dos dois santos O dia de Satildeo Benedito eacute cinco de outubro e Nossa Senhora

do Rosaacuterio sete de outubro

Estas festas populares e tradicionais sempre tiveram um papel no

desenvolvimento da cultura em Luziacircnia que tem uma histoacuteria repleta de

celebraccedilotildees e tradiccedilotildees marcadas por forte influecircncia da igreja especialmente a

catoacutelica Conforme pesquisa do IBGE66 a maior parte da populaccedilatildeo do municiacutepio eacute

catoacutelica Como cita Marina Mello e Souza (1994 p 7) ldquoo vetor cultural do processo

de acomodaccedilatildeo entatildeo iniciado foram as festas tradicionais em especial a do Divino

culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popularrdquo

Essas celebraccedilotildees satildeo muito significativas para a cultura popular do Estado

de Goiaacutes especialmente em pequenas cidades como Luziacircnia por isso elas satildeo

ansiosamente aguardadas durante todo o ano Brandatildeo (2004) faz uma afirmaccedilatildeo

sobre estas festas populares que acontecem neste estado como uma festa sem fim

Dona Corina Maria de Lourdes participante e organizadora da Festa do

Divino de Luziacircnia fala sobre as tradiccedilotildees que compotildee as festas na cidade Ela nos

conta que haacute uma expectativa em reencontrar amigos durante as festividades e fala

tambeacutem sobre o puacutebico que participa das festas no municiacutepio composto por

pessoas vindas da zona rural e de cidades vizinhas como Brasiacutelia e Goiacircnia

O que tem de mais tradicional nas festas aqui de Luziacircnia satildeo as novena a missa solene e os leilotildees que eacute quando o povo junta pra confraternizaccedilatildeo eacute onde as famiacutelias se reuacutenem Gente que se encontra de ano em ano na festa do Divino Vecircm pessoas daqui que moram em Goiacircnia vecircm os que moram em Brasiacutelia vem tudo e outras pessoas que por exemplo vocecirc vem ai jaacute traacutes uma amiga sua e tem o pessoal das fazendas mas tambeacutem a cidade cresceu demais com essas cidades dos arredores vem muita gente

67

66

Fonte IBGE ndash Censo Demograacutefico 2010 resultados da amostra 0 religiatildeo Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521250ampidtema=91ampsearch=goias|luziania|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-religiao-gt Acesso em 15 mai 2014 67

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

105

A presenccedila de pessoas de cidades do entorno na constituiccedilatildeo do puacuteblico da

festa tambeacutem foi citada por Lucas Pires Ele comenta que aleacutem dos moradores de

Luziacircnia os residentes da regiatildeo do entorno tambeacutem satildeo presenccedilas marcantes ldquoA

festa eacute um atrativo turiacutestico sim sem duacutevidas A festa de uma forma ou de outra

atrai o turismo para a cidade Satildeo muitas pessoas vindas de todas as cidades do

entorno que vem para caacuterdquo68

Os festejos possuem o poder de reunir vaacuterios grupos da cidade em um uacutenico

momento como moradores do centro e das redondezas moradores das cidades

vizinhas religiosos poliacuteticos gestores puacuteblicos empresaacuterios e comerciantes que

buscam de forma conjunta participar ativamente da manutenccedilatildeo das tradiccedilotildees

culturais da cidade por reconhecer a importacircncia que estes patrimocircnios intangiacuteveis

possuem na memoacuteria local

Como dito anteriormente Luziacircnia conta com duas festas de maior

representatividade na cidade a Festa do Divino e a Festa do Rosaacuterio Ambas tem

papel de destaque na histoacuteria luzianiense Estas satildeo exemplos de celebraccedilotildees que

se mantiveram ao longo do tempo mesmo com as transformaccedilotildees da modernidade

pois assim como afirma Durval Muniz de Albuquerque Juacutenior (2007 p 18) ldquose

queremos preservar alguma manifestaccedilatildeo cultural no sentido de que se mantenha

fazendo sentido coletivamente temos que preservar sua capacidade de diferir de

natildeo ser idecircntica a si mesmardquo

As festas cresceram muito com o passar dos anos e isso foi confirmado

durante as entrevistas Os participantes afirmaram que elas estatildeo mais estruturadas

e mais organizadas O que se observa eacute que as celebraccedilotildees vatildeo se recriando com o

passar dos anos poreacutem sem deixarem de ser tradicionais e atrativas O secretaacuterio

Eacutecio Mendonccedila comenta sobre essa ascensatildeo das festas da cidade

Acredito que as festas em Luziacircnia vecircm sofrendo muitas mudanccedilas principalmente na parte cultural na parte de infraestrutura Eu acho isso muito importante por que aumentou o puacuteblico circulando na cidade Muitas festas natildeo eram divulgadas natildeo eram difundidas e parece que agora aumentou mais a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo em vaacuterios segmentos tanto na parte religiosa cultural e artiacutestica tambeacutem e a criaccedilatildeo de outros locais que vieram para complementar

69

68

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 69

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

106

Essas duas festas foram escolhidas entatildeo por serem importantes eventos

com um grande potencial para a ascensatildeo de um turismo cultural e religioso na

cidade jaacute que estas festas brasileiras ligadas agrave religiosidade ou em homenagem a

santos sempre atraiacuteram e movimentaram um grande nuacutemero de pessoas pelo paiacutes

seja para pagar promessas para pedir graccedilas participar de procissotildees ou

simplesmente para festejar

31 O poder da Festa do Divino Espiacuterito Santo para Luziacircnia

A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute uma tradiccedilatildeo secular que se instaurou no

Brasil por volta do seacuteculo XVII trazida pelos Portugueses na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Para o professor etnoacutelogo e socioacutelogo Moiseacutes Espiacuterito Santo (1998) o culto ao

Divino estaacute relacionado com o fim do ciclo agriacutecola eacutepoca festiva da colheita de

cereais cujas celebraccedilotildees satildeo recorrentes em muitas culturas agraacuterias do mundo e

deram origem agrave festa judaica de Pentecostes

O dicionaacuterio Larousse (2005) define Pentecostes como ldquoFesta cristatilde que

celebra cinquenta dias apoacutes a Paacutescoa a descida do Espiacuterito Santo sobre os

apoacutestolos reunidos no cenaacuteculordquo Outros autores afirmam ainda que a tradiccedilatildeo

surgiu a partir de um milagre vivido pela rainha Isabel como conta Gustavo Cortecircs

(2000 p 24)

Foi instituiacuteda pela rainha Isabel casada com o rei Dom Dinis o lavrador na cidade de Alenquer onde foi construiacuteda uma igreja em homenagem ao Divino Espiacuterito Santo no iniacutecio do seacuteculo XIV Conta agrave lenda que a rainha gostava de distribuir esmolas para os pobres especialmente comida O rei sovina passou a proibir a esposa dessa praacutetica Certa vez quando levava patildeo aos famintos na rua ela foi surpreendida de repente pelo rei que lhe perguntou o que trazia Temendo a reaccedilatildeo do marido ela respondeu que trazia rosas Ao verificar espantado o rei viu lindas flores Desse milagre parece ter nascido a tradiccedilatildeo de se distribuir comida para todos os participantes nas comemoraccedilotildees do Divino A devoccedilatildeo se espalhou rapidamente em Portugal e se tornou festa coletiva de grande interesse popular

Apoacutes a chegada dos portugueses no Brasil a Festa do Divino disseminou-se

por todo o paiacutes e em cada local incorporou novos aspectos poreacutem sem perder

caracteriacutesticas originais como as folias as bandeiras as missas entre outros

Gonccedilalves (2009 p 25) afirma que ldquoessas festas constituem um fato de civilizaccedilatildeordquo

107

Abreu (2002 p 249) relata como aconteciam estas festas do Divino no Rio de

Janeiro durante o seacuteculo XIX

Dos primeiros tempos a Festa do Divino na entatildeo capital de uma verdadeira corte imperial guardava os principais siacutembolos rituais da festa portuguesa as folias a coroaccedilatildeo de um imperador (uma figura escolhida para presidir os festejos) e o impeacuterio (local onde ficava o imperador e a muacutesica) as comemoraccedilotildees profanas junto com os atos religiosos a fatura dos alimentos vendidos ou leiloados na festa e uma preocupaccedilatildeo geneacuterica com os pobres da cidade (natildeo soacute os filiados agrave irmandade) No dia da festa distribuiacuteam-se patildees e roscas do espiacuterito santo aos devotos que levassem esmolas e remetiam-se patildeo e carne aos presos da cadeia

A festa do Divino acontece natildeo soacute no Brasil mas em outros paiacuteses como

Canadaacute e Estados Unidos Gonccedilalves (2009 p 25) diz que esta festa natildeo se

restringe ldquoa uma determinada aacuterea social e cultural transcendendo fronteiras

nacionais e geograacuteficasrdquo No Brasil haacute registros em Minas Gerais Satildeo Paulo Rio

Grande do Sul e Goiaacutes onde estaacute localizada Luziacircnia

Jorge Veloso (2009 p 20) conta que o Espiacuterito Santo ldquoAdentrando ao

Centro-Oeste encontrou pouso na distante Santa Luzia tambeacutem chamada pela

grande produccedilatildeo do fruto do marmelo de Santa Luzia das Marmeladas hoje

Luziacircnia no estado de Goiaacutesrdquo

Em Goiaacutes cidades como Corumbaacute de Goiaacutes Jaraguaacute Formosa e

Pirenoacutepolis ainda preservam as raiacutezes da festa Veloso (2009) afirma que essas

atividades sagrado-profanas vinculadas agraves manifestaccedilotildees religiosas da regiatildeo

tiveram iniacutecio ao menos duzentos anos antes conforme se comprova pela criaccedilatildeo

da festa do Divino Espiacuterito Santo em Luziacircnia Formosa e Planaltina na segunda

metade do seacuteculo XVIII

Na cidade de Pirenoacutepolis desde 1819 acontece uma das festas do Divino

que possui o maior reconhecimento popular e maior atratividade turiacutestica Devido agrave

sua significacircncia para o paiacutes foi o segundo bem inscrito no Livro de Registro das

Celebraccedilotildees do IPHAN e recebe milhares de turistas todos os anos

Em Luziacircnia a festa tambeacutem movimenta um grande nuacutemero de pessoas

como pode ser constatado durante a pesquisa Entre aqueles que contribuiacuteram a

maioria afirmou que participa todos os anos e que faz o possiacutevel para estar em pelo

menos um dos vaacuterios momentos da festa Angeacutelica Moreira que frequumlenta a festa

desde crianccedila fala sobre o que esta celebraccedilatildeo representa para ela

108

A festa do Divino Espiacuterito Santo representa natildeo soacute para mim mas pra toda a minha famiacutelia uma tradiccedilatildeo da cidade um momento que temos para expressar nossa devoccedilatildeo e tambeacutem para confraternizar com amigos e familiares

70

A festa do Divino eacute uma das maiores representaccedilotildees culturais em Luziacircnia

justamente por reunir vaacuterios tipos de manifestaccedilotildees da cultura local em um soacute

momento com o artesanato a culinaacuteria a muacutesica e a religiosidade Leenhardt e

Pesavento (1998) explicam que as representaccedilotildees do mundo social natildeo satildeo o

reflexo do real nem a ele se opotildee de forma antieacutetica Desta forma entende-se que

essa festa eacute uma representaccedilatildeo da cultura de Luziacircnia

Acredita-se que a folia do Divino Espiacuterito Santo acontece na cidade desde o

seacuteculo XVIII entretanto haacute pouca bibliografia sobre o assunto para verificar de fato

quando tudo comeccedilou no municiacutepio Dona Corina de Lourdes conta sobre o principio

da festa em Luziacircnia e afirma que ela eacute um patrimocircnio da cidade ldquoA festa do Divino

eacute um patrimocircnio histoacuterico por que ela acontece aqui desde 1761 eacute um patrimocircnio

de Luziacircniardquo71

O secretaacuterio Eacutecio Mendonccedila confirma a fala de Dona Corina e diz que as

festas satildeo patrimocircnios histoacutericos na cidade mesmo que natildeo sejam consideradas

pelos oacutergatildeos de proteccedilatildeo patrimonial ldquoEstas festas religiosas em Luziacircnia jaacute fazem

parte do calendaacuterio festivo da cidade Consequumlentemente acho que jaacute satildeo

consideradas patrimocircnio histoacuterico da cidade mesmo que natildeo oficialmenterdquo72

Tormin (2004) fala que um dos pontos maacuteximos da cultura na cidade sempre

foram os festejos anuais em louvor ao Divino Espiacuterito Santo E Coelho (1989 p 13)

explica como estas festas aconteciam em Luziacircnia ao afirmar que era ldquouma grande

festa popular no largo da igreja matriz com banda de muacutesica leilatildeo comida bebida

e cheiro de roupa novardquo

Durante a festa centenas de fieacuteis moradores das redondezas ricos e pobres

percorrem vaacuterias casas fazendas e siacutetios carregando bandeiras vermelhas com

uma pomba branca cantando rezando e pedindo doaccedilotildees em nome do Divino

70

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 71

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 72

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014

109

Espiacuterito Santo Souza (2013 p 13) comenta que ldquoas festas catoacutelicas contudo

caracterizaram-se por seu caraacuteter hiacutebrido poderiam ser promovidas tanto pela igreja

quanto pelos fieacuteis com a participaccedilatildeo do clero no caso variando de intensidaderdquo

Em Luziacircnia a festa eacute preparada com a colaboraccedilatildeo da comunidade

contando tambeacutem com o apoio da prefeitura e de empresas locais Dona Corina de

Lourdes explica como funciona a organizaccedilatildeo da festa

A prefeitura ajuda na montagem das barracas com guardas laacute com os programas na missa ela daacute os programas da festa e tambeacutem os livrinhos da missa e das novenas Toda vida a prefeitura doou E o resto eacute tudo a populaccedilatildeo tudo feito por doaccedilotildees Tem o jantar no dia de saacutebado do Espiacuterito Santo que eacute o aacutepice da festa Na sexta feira tem a folia de rua e no saacutebado o jantar de confraternizaccedilatildeo Esse jantar os pratos a gente pede para todas as senhoras da cidade entatildeo o jantar eacute montado todo de graccedila cada um doa um prato desde 1959 que tem esse jantar e a gente vende os ingressos A gente vai de rua em rua nas pessoas que a gente conhece e mesmo as vindas de fora muita gente fala vocecirc natildeo me pediu eu quero doar Eacute assim tem as pessoas que vatildeo a cada setor pedir de duas em duas ruas de rua em rua e o povo daacute na maior boa vontade

73

As ajudas foram crescendo agrave medida em que a festa foi se desenvolvendo

Karina da Silva comenta sobre os novos patrociacutenios e a colaboraccedilatildeo de outras

pessoas aleacutem do puacuteblico da igreja ldquoAntigamente apenas a comunidade auxiliava na

realizaccedilatildeo do festejo hoje a festa adquiriu maior visibilidade e dessa forma hoje ela

pode contar com o patrociacutenio de grandes empresas e ateacute mesmo da prefeitura

localrdquo74

Essas relaccedilotildees entre a comunidade e o sentimento de caridade tornam essa

festa especial para aqueles que participam Nisso todos se misturam numa relaccedilatildeo

de uniatildeo e feacute Para a autora Marina Mello e Souza (1994) estas festas tradicionais

satildeo uma culminacircncia coletiva da ativa religiosidade popular Criou-se entatildeo uma

relaccedilatildeo entre religiosidade e manifestaccedilatildeo popular fazendo com que a festa se

perpetuasse ao longo dos anos sempre com o intuito de reafirmar a devoccedilatildeo do

povo e agradecer ao Divino Espiacuterito Santo por todas as benccedilotildees alcanccediladas durante

o ano

Outro ponto caracteriacutestico das festas satildeo os excessos cometidos e as

inuacutemeras refeiccedilotildees servidas Souza (2013 p 11) afirma que ldquofestas catoacutelicas satildeo

73

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 74

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014

110

portanto um momento de consumo ostensivo ligado a crenccedilas religiosas um

consumo excessivo ligado a celebraccedilotildees cristatildesrdquo Para o autor ldquoeacute o excesso que daacute

sentido agrave festa e sem este ela natildeo faz sentidordquo Ele cita Brandatildeo75 (1989 apud

SOUZA 2013 p 11) para exemplificar isso ldquoa mesma farta orgia de comer e beber e

as mesmas buscas do outrordquo Abreu (2002 p 194) conta que a festa do Divino

Espiacuterito Santo possuiacutea os ingredientes da festa mais concorrida da cidade ldquomuita

muacutesica danccedila sensualidade comida e jogos completavam o ambiente profano de

uma festa religiosardquo

A relaccedilatildeo sagrado-profana percebida na festa com todos os excessos em

relaccedilatildeo a bebidas comidas muacutesica poreacutem com muita feacute devoccedilatildeo e religiosidade

fazem com que a festa do Divino tenha grande significacircncia natildeo soacute para a

comunidade que vive neste espaccedilo onde ela se realiza como tambeacutem para pessoas

de outras localidades que se interessam por esse tipo de atrativo criando assim um

movimento em torno do turismo cultural e religioso

Veloso (2009) afirma que uma das principais caracteriacutesticas da festa do

Divino sempre foi a comilanccedila Todos os dias haacute barraquinhas com a venda dos

mais diversos tipos de alimentos e nos pousos sempre haacute muita fartura de comida

Um dos destaques em Luziacircnia eacute o famoso patildeo de queijo frito que eacute feito seguindo

uma receita tradicional de uma foliatilde Muitos moradores disseram que passam o ano

aguardando a festa para comer esta especiaria

Assim pode-se afirma a fala de Gonccedilalves (2009 p 23) ao dizer que a festa

do Divino constitui-se num ldquofato social totalrdquo agrave medida em que envolve arquitetura

culinaacuteria muacutesica religiatildeo rituais teacutecnicas esteacutetica regras juriacutedicas moralidade e

etc exatamente como acontece na festa de Luziacircnia ao relacionar todos estes

elementos

A festa torna-se entatildeo um patrimocircnio que suscita outros patrimocircnios

elementos constitutivos da identidade luzianiense Joseacute Aacutelfio da Silva fala sobre o

poder do patildeo de queijo frito na festa do Divino de Luziacircnia

Pra mim o que restou da festa eacute o patildeo de queijo que eacute o carro chefe da festa do Divino Por que ele tem um processo artesanal de fabricaccedilatildeo e a pessoa que fabrica o patildeo de queijo ainda eacute viva e ela passa a receita A receita eles tentaram fazer o tombamento dela mas natildeo foi adiante mas as

75

BRANDAtildeO Carlos Rodrigues A cultura na rua Satildeo Paulo Papirus 1989

111

filhas ainda querem continuar com a tradiccedilatildeo da fabricaccedilatildeo do patildeo de queijo

76

Dona Corina de Lourdes relata que mesmo sendo um elemento importante

e tradicional da festa ainda existem dificuldades para a preparaccedilatildeo do patildeo queijo

frito

A dificuldade eacute assim pessoas que enfrentem Que assumam as responsabilidades Por exemplo eacute pesada a noitada na cozinha Muitas pessoas colaboram mas a cozinha eacute muito pesada Vocecirc vecirc satildeo muitas noites ali seis horas da manhatilde jaacute tem gente laacute trabalhando e gente comprando o patildeo de queijo que eacute o famosiacutessimo daqui pra levar pra casa pra comer em casa

77

Observa-se entatildeo que durante a festa do Divino este patildeo de queijo frito

assume uma nova funccedilatildeo que vai aleacutem do papel de alimentar A forma como eacute

preparado com o apoio da comunidade e somente durante o periacuteodo da festa

demonstra a sua importacircncia e o torna ainda mais especial A partir deste patrimocircnio

imaterial pode-se entender que a festa e as tradiccedilotildees que ela carrega satildeo

construiacutedas e mantidas graccedilas ao apoio dos fieacuteis que voluntariamente trabalham

para que estes patrimocircnios aconteccedilam e natildeo desapareccedilam no tempo embora note-

se a ausecircncia do poder puacuteblico na maioria das falas

Tradicionalmente a festa se inicia cinquenta dias apoacutes a paacutescoa poreacutem os

foliotildees se envolvem com a preparaccedilatildeo da festa muitos meses antes da sua

realizaccedilatildeo Tudo comeccedila com uma primeira reuniatildeo normalmente na Igreja Matriz

ou numa casa predeterminada para distribuiccedilatildeo das tarefas e responsabilidades A

partir daiacutei as bandeiras saem percorrendo todo o municiacutepio fazendo os chamados

ldquopousosrdquo que acontecem no meio rural e para as visitas ou folia de rua na cidade

Todos os anos satildeo feitos sorteios para a escolha dos festeiros que

organizaram a festa do ano seguinte O sorteio eacute realizado na Igreja Matriz de Santa

Luzia e qualquer pessoa da comunidade pode participar Segundo Queiroz (1968

apud SOUZA 2013 p 12) explica o papel do festeiro eacute ldquoorganizar a festa e arcar

com parte das despesas no que era ajudado pelos vizinhos de quem recolhia

oferendas para ajudar o custeiordquo Dona Corina de Lourdes conta sobre o papel do

76

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 77

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

112

festeiro em Luziacircnia ldquoO festeiro tem que ajudar na festa assumir juntamente com

os coordenadores organizar os leilotildees as prendas organizar a missardquo78

Atualmente trabalhando como coordenadora da festa do Divino da cidade

Dona Corina de Lourdes relata que desde 1959 quando foi sorteada festeira pela

primeira vez que ela participa da folia em Luziacircnia Ela conta que desde entatildeo

nunca mais abandonou a festa e que trabalha em todas as fases de preparaccedilatildeo e

organizaccedilatildeo das festividades na cidade

Em 1959 eu fui festeira ai jaacute comecei a ajudar e natildeo parei mais ai eu continuei Desde fevereiro estamos fazendo reuniotildees Fazemos reuniotildees com os festeiros pra organizar tudo o andamento da festa confecccedilatildeo de programas de camisetas Vou sair agora pedindo patrociacutenio pra confeccionar as camisetas que satildeo doadas para o povo no dia da folia de rua Entatildeo todo mundo naquele dia sai vestindo essas camisetas

79

Figura 48 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo na Igreja Matriz de Santa Luzia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

78

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 79

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

113

Figura 49 ndash Igreja Matriz de Santa Luzia em dia de festa Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Figura 50 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da novena da Festa do Divino Espiacuterito Santo em 2013 Fonte Site da Cacircmara Municipal de Luziacircnia

80

80 Fonte Cacircmara Municipal de Luziacircnia Disponiacutevel em lthttpwwwcmlgogovbrcml-festeja-

o-divino-espirito-santogt Acesso em 12 mar 2013

114

Observa-se que mesmo sendo uma celebraccedilatildeo que foi instituiacuteda no Brasil

haacute mais de seacuteculos a festa do Divino se manteacutem viva em vaacuterias localidades do paiacutes

e em Luziacircnia por ser fator constituinte da identidade do povo e um forte elemento

cultural Ainda que o surgimento de outras religiotildees e as mudanccedilas causadas pela

modernidade tenham causado transformaccedilotildees nesta celebraccedilatildeo nada disso foi

suficiente para acabar com essa tradiccedilatildeo

O pouso e as folias de rua tecircm um forte poder cultural em Luziacircnia e

durante essas folias satildeo arrecadados fundos que satildeo entregues na Igreja Matriz de

Santa Luzia A Festa do Divino Espiacuterito Santo eacute um evento de grande visibilidade no

municiacutepio e eacute aguardada com ansiedade pelos moradores e visitantes

Haacute uma tentativa ateacute os dias de hoje em manter todos os rituais inclusos

tradicionalmente agrave festa com a missa as novenas e os leilotildees Joatildeo Victor Ribeiro

fala sobre este movimento ldquoA festa tenta ateacute hoje recuperar as tradiccedilotildees de antes

com o levantamento de mastros com as fogueiras isso ainda tem mas algumas

outras coisas foram retiradasrdquo 81

As proacuteximas seccedilotildees trataram sobre algumas das principais tradiccedilotildees que

constituem a festa do Divino

311 O Pouso

O ldquopousordquo ocorre no meio rural quando os foliotildees saem montados a cavalo

e chegam agraves fazendas anunciados por fogos de artifiacutecio e com o bater de dois

tambores conhecidos como ldquocaixardquo Veloso (2009) explica que neste momento eles

formam duas filas indianas fazem danccedilas e em seguida param todos de frente para

a casa dos donos que satildeo conhecidos como ldquobarraqueirosrdquo para entatildeo serem

entregues as bandeiras Esta chegada representa o pedido e a aceitaccedilatildeo da visita

Dona Corina de Lourdes faz um relato sobre o valor do pouso para quem recebe a

bandeira do Divino

Quando aproxima a festa do Divino me vem em mente quando eu era crianccedila na fazenda Havia os pousos de folia e laacute na fazenda nossa tinha

81

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

115

todos os anos o pouso Chegavam muitos cavaleiros e meu pai convidava todos os fazendeiros das redondezas era uma festa mesmo Quando no outro dia na hora da despedida depois do almoccedilo o alferes da bandeira me entregou a bandeira e falou que estava me convidando para dar uma volta em toda a fazenda Por que eacute assim a gente entrava nas casas de quarto em quarto e eu fui nas hortas da minha matildee Minha matildee tinha duas hortas muito grandes e entatildeo o alferes da bandeira falou que eu podia levar laacute na horta no quintal tudo e eu sai correndo naquela alegria imensa de ter recebido a bandeira pra abenccediloar a fazenda Entatildeo minha devoccedilatildeo pelo Divino Espiacuterito Santo comeccedilou assim eu sentia assim uma coisa diferente

82

Acontecem entatildeo mais alguns rituais como a colocaccedilatildeo de uma cruz na

entrada da casa a montagem de um altar na sala e tambeacutem eacute rezado o terccedilo

catoacutelico embalados pelos cantos de louvor Assim a festa segue misturando

elementos do sagrado e do profano Veloso (2009) diz que quando as festas

incorporaram as folias com os cacircnticos e muacutesicas vieram restriccedilotildees por se

tornarem demasiadamente mundanas

O autor conta que a fartura eacute uma caracteriacutestica marcante na festa Sempre

com muita comida bebidas (inclusive alcooacutelicas) muacutesicas jogos e catira os

ldquobarraqueirosrdquo oferecem tradicionalmente trecircs refeiccedilotildees aos foliotildees Um jantar na

chegada o cafeacute da manhatilde e um almoccedilo no dia seguinte para logo depois eles

continuarem a peregrinaccedilatildeo Ele explica que a festa do Divino jaacute chegou a ser

proibida por conta dos excessos Muitos festeiros gastavam excessivamente com

comida e luxos que acabavam indo agrave ruiacutena Wilter Coelho faz uma observaccedilatildeo sobre

isso

Um monte de famiacutelia aqui que o pai era da fazenda que vendeu a fazenda e veio pra caacute Muitos deles se arrebentaram por que natildeo sabiam o que fazer alguns conseguiram dar estudos pra filhos outros os filhos natildeo quiseram torraram tudo na festa do Divino arrematando tudo nos leilotildees pra fazer bonito o goiano valente

83

A questatildeo da cultura imaterial eacute citada por Wilter Coelho ao falar sobre as

folias que satildeo realizadas nas fazendas Para ele estas festas tecircm muito mais

autenticidade e legitimidade apesar de tambeacutem virem sofrendo processo de

descaracterizaccedilatildeo Poreacutem como Geertz (2008) afirma entender a cultura de um

povo significa compreender suas particularidades Neste sentido entende-se que a

82

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 83

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

116

cultura tem esse poder de ressignificaccedilatildeo dos patrimocircnios da mesma forma que

acontece com a festa Wilter Coelho fala sobre essa ressignificaccedilatildeo

Eu simpatizava muito mais com essa que satildeo as folias originais das fazendas Tambeacutem jaacute distorceram um pouco por que as pessoas comeccedilaram a descobrir que elas eram interessantes comeccedilaram a visitar demais mas vocecirc ainda vecirc muita essa questatildeo da cultura imaterial nessas folias de fazendas tem muito mais autenticidade tem mais feacute tem mais autenticidade tem mais legitimidade E essas natildeo satildeo da igreja Fulano eacute foliatildeo e todo ano ele faz a folia dele isso ainda existe

84

Figura 51 ndash Cruzeiro montado em frente ao pouso Fonte VELOSO 2009

Figura 52 ndash Altar para o Divino Espiacuterito Santo Fonte VELOSO 2009

Compreende-se que a repeticcedilatildeo de rituais e caracteriacutesticas intriacutensecas agraves

festa satildeo bases para a constituiccedilatildeo de sua autenticidade Poreacutem para que se

mantenham vivas as transformaccedilotildees satildeo inevitaacuteveis Eacute impossiacutevel assegurar que

ao longo dos anos essas celebraccedilotildees permaneccedilam intactas e natildeo se modifiquem jaacute

que satildeo construiacutedas por sujeitos vivos que estatildeo em constante evoluccedilatildeo

84

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

117

Assim afirma-se a fala de Albuquerque Juacutenior (2007 p 16) ao dizer que ldquoas

tradiccedilotildees satildeo sempre invenccedilotildees feitas por grupos humanos numa determinada

eacutepocardquo O autor conclui que ldquonatildeo haacute algo tradicional desde sempre e nada do que eacute

tradicional estaacute isento de modificaccedilatildeo de transformaccedilatildeordquo

312 A Catira

Durante os pousos na roccedila a Catira ainda se faz presente A Catira ou

Cateretecirc como era chamado tradicionalmente eacute uma danccedila incorporada agrave cultura

brasileira por meio dos jesuiacutetas e propagada durante os seacuteculos XVII e XVIII85 Eacute

uma tradiccedilatildeo que faz parte do folclore brasileiro em que o ritmo eacute marcado pela

batida dos peacutes e das matildeos acompanhados de violeiros que recitam versos

Antigamente somente homens danccedilavam poreacutem hoje em dia haacute diversos grupos

em que as mulheres tambeacutem danccedilam catira Cacircmara Cascudo (2001 p 205)

descreve a Catira como

A danccedila tem alguns elementos fixos apresentando variaccedilotildees na muacutesica e na coreografia Duas filas uma de homens e outra de mulheres uma diante da outra evolucionam ao som de palmas e bate-peacutes guiados pelos violeiros que dirigem o bailado As figuras satildeo diversas e haacute tradiccedilatildeo de bons danccediladores especialmente nos tempos do sapateado indispensaacutevel

A Catira eacute tradiccedilatildeo em diversos estados no Brasil como Minas Gerais Satildeo

Paulo Mato Grosso do Sul Tocantins e principalmente em Goiaacutes (TEIXEIRA

2010) Em Luziacircnia ela ainda estaacute presente durante os pousos que acontecem no

meio rural poreacutem a cada ano que passa esta manifestaccedilatildeo vem perdendo sua

expressividade Dona Corina de Lourdes confirma essa afirmaccedilatildeo ldquoA catira hoje em

dia eacute soacute na zona rural na cidade natildeo tem poucas vezes tem apresentaccedilotildees agraves

vezes nas novenas ou no final da missardquo86

Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem relata que a Catira em Luziacircnia vem sendo

descaracterizada e que essa danccedila jaacute natildeo eacute mais uma tradiccedilatildeo na cidade

85

Fonte Os Favoritos da Catira amp Os Mensageiros dos Santos Reis Disponiacutevel em lthttpwwwosfavoritosdacatiracombrquem_nois_ephpgt Acesso em 2 fev 2014 86

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

118

A Catira soacute aparece se algueacutem convidar mas ela natildeo tem mais aquele sentido natildeo eacute uma tradiccedilatildeo mais A catira nossa virou espetaacuteculo tem umas meninas que moram mais na fazenda que eacute um grupinho de catira que tem Elas se vestem como ldquocowgirlsrdquo potildee sapato chapeacuteu mas natildeo danccedilam catira como as tradiccedilotildees de antigamente com devoccedilatildeo (Aacutelfio 2014)

87

Figuras 53 e 54 ndash Apresentaccedilatildeo de catireiros Fonte VELOSO 2009

O esforccedilo que se deve ter eacute para que esta tradiccedilatildeo possa ser resgatada e

assim natildeo desapareccedila por total das comemoraccedilotildees de Luziacircnia Soacute assim as

geraccedilotildees futuras teratildeo a oportunidade de viver de perto aquilo que um dia foi fator

constituinte de sua cultura

313 A Folia de Rua

As folias de rua fazem parte deste tipo de festa religiosa haacute muitos anos e

constituem um dos momentos mais aguardados por grande parte dos participantes

em Luziacircnia Queiroz88 (1976 apud TEIXEIRA 2011 p 105) afirma que ldquoas folias

constituem-se revivecircncia de uma festa religiosa inscrita no catolicismo ruacutestico

brasileirordquo Dona Corina de Lourdes reafirma esse pensamento ao dizer que ldquoA folia

87

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 88

QUEIROZ M I P de O catolicismo ruacutestico no Brasil In O campesinato brasileiro ndash Ensaios sobre civilizaccedilatildeo e grupos ruacutesticos no Brasil 2 ed Petroacutepolis Vozes 1973

119

eacute um ponto de aproximaccedilatildeo com Deus e com as famiacutelias de muita feacute eacute uma forma

de preservaccedilatildeo da culturardquo89

A folia de rua normalmente acontece durante o dia entre um pouso e outro

ou na manhatilde seguinte enquanto os foliotildees aguardam o almoccedilo Satildeo chamadas de

visitas giro ou folia de rua Nestas folias satildeo montados altares improvisados e

entoadas cantigas e oraccedilotildees aos santos satildeo tambeacutem servidos fartas refeiccedilotildees com

muitas comidas e bebidas Wilter Coelho explica como acontecem as folias na

cidade

Saem da igreja de manha vaacuterios grupos pra vaacuterios lugares com a bandeira do Divino simbolizando a paz Eles passam um dia entrando e saindo das casas abenccediloando as casas () passando a bandeira do Divino nas casas e ao final do dia todas essas folias se encontram na porta na igreja e quando estas folias se encontram eacute uma grande explosatildeo de feacute de alegria de foguetes inclusive virou a induacutestria do foguete eacute aquela coisa dez minutos de foguete eacute bonito Eacute Quem consegue ter a paz no coraccedilatildeo e natildeo ter a revolta e quem consegue enxergar isso e acreditar nisso a festa eacute linda

90

Entende-se que as folias carregam em si vaacuterios significados como

demonstra esse depoimento Para aqueles que conseguem enxergar aleacutem dos

excessos cometidos com as comidas as bebidas os foguetes etc a festa pode ter

outro significado que transcende o material

Estas folias sempre foram momentos importantes para o cidadatildeo luzianiense

e os foguetes ou fogos de artifiacutecio se tornaram elementos essenciais nas festas

Denise Moura (2005 p 116) explica que eles estatildeo incorporados desde o seacuteculo

XVII A autora faz uma descriccedilatildeo da origem dos fogos ldquoIntroduzidos pelos

portugueses vieram da China onde compunham as solenidades sagradas e

profanas Sua funccedilatildeo sempre foi propagar o juacutebilo atrair as pessoas consagrar

homenagens e saudarrdquo

O historiador Gelmires Reis (1978 p 11) cita os foguetes aleacutem de outros

elementos como os violeiros os doces biscoitos e os caixeiros para explicar como

aconteciam as folias de rua em Luziacircnia

Segue a folia entatildeo o seu roteiro cuidadosamente traccedilado visitando as habitaccedilotildees das redondezas onde todos satildeo recebidos com salvas de tiros

89

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 90

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

120

foguetes e bombas sendo servidos doces biscoitos e frutas Os violeiros pedem as esmolas e as agradecem seguindo-se o cortejo ateacute a hora da chegada em outro pouso marcado Fazem parte do bando tambeacutem os caixeiros que rufam os seus instrumentos com verdadeiro entusiasmo e mestria

Dona Corina de Lourdes tambeacutem faz um breve relato de como

acontecem as folias em Luziacircnia

Tem o dia de folia de rua que tem um almoccedilo que daacute entrada franca que eacute a saiacuteda da folia A folia consta na visita da bandeira do Divino Espiacuterito Santo em todos os lares da cidade Ai tem o foliatildeo que comanda o grupatildeo e tem os grupinhos que vatildeo de casa em casa Abenccediloando as casas

91

Normalmente estes giros satildeo feitos a cavalo ou a peacute e os mais idosos

seguem de carro Em Luziacircnia a folia de rua acontece durante uma sexta feira em

que foi decretado feriado municipal Cascudo (2001 p 321) explicar que a folia ldquoeacute

espeacutecie de confraria meio sagrada meio profana instituiacuteda para implorar proteccedilatildeo

divina contra pragas e malinas que agraves vezes infestavam os camposrdquo

Mesmo sendo uma tradiccedilatildeo com forte expressividade em Luziacircnia a folia de

rua vem sendo descaracterizada tanto pelo aumento no nuacutemero de participantes

que vem para a festa como por conta da violecircncia na qual a cidade se encontra A

jornalista Francyelle Rocha faz uma consideraccedilatildeo sobre essa perda das

caracteriacutesticas familiares da festa ldquoO que antes era uma festa ldquode famiacuteliardquo de

pessoas religiosas virou uma festa qualquer praticamente Violecircncia roubos e

furtos pessoas estranhas satildeo comuns hoje em dia na Festa do Divinordquo92

Joseacute Aacutelfio da Silva (2014) confirma essa triste realidade

E assim as visitas jaacute estatildeo se tornando um tanto preocupante A vizinha aqui mesmo recebe a bandeira mas ela jaacute ta preocupando por que tem que por seguranccedila no portatildeo por que se natildeo invadem a casa dela Antigamente era um numero reduzido as pessoas entravam era feito tudo a matildeo agora as coisas jaacute satildeo encomendadas terceirizadas daqui a pouco vai ter ateacute ldquosubwayrdquo atendendo o pessoal caminha pra esse formato

93

O consumo de bebidas alcooacutelicas junto agraves muacutesicas e danccedilas sem viacutenculo

religioso sempre foram caracteriacutesticas da festa do Divino Abreu (2002 p 34) afirma

91

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 92

Entrevista concedia por Francyelle Rocha moradora de Luziacircnia em 07 de abril de 2014 93

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

121

que ldquoaleacutem das missas com muacutesicas mundanas sermotildees [] novenas e procissotildees

eram partes importantes as danccedilas coretos fogos de artifiacutecio e barracas de jogos

de atraccedilotildees de comidas e bebidasrdquo Joseacute Aacutelfio da Silva tambeacutem fala sobre isso

Aquelas visitas com a bandeira andando na rua ainda tem isso eacute um caraacuteter forte da festa mas atraacutes da festa vem em grande nuacutemero uma juventude que natildeo acompanha eles vatildeo pro ginaacutesio de esportes se embriagar

94

Veloso (2009 p 86) tambeacutem discorre sobre esta caracteriacutestica como algo

intriacutenseco a festa

Sabe-se que existem ldquoexcessosrdquo no consumo de bebidas alcooacutelicas mas diz-se que o permitido eacute somente a pequena quantidade de ldquopingardquo reconhecida como parte integrante do ritual ldquodeixado por Cristordquo Apesar de se dizer que a ldquodanccedila com mulherrdquo natildeo deveria ser permitida durante o giro constata-se que para um grande nuacutemero de participantes a motivaccedilatildeo maior eacute a festa a bebida o pagode

Esse excesso no consumo de bebidas alcooacutelicas surge para alguns

participantes como um problema Essa caracteriacutestica eacute encarada como um fator

capaz de atrapalhar a sua realizaccedilatildeo Wilter Coelho comenta sobre este lado

profano da festa que vem aumentando a cada ano

A folia principal eacute uma tradiccedilatildeo Ai eacute a parte profana da festa sai a banda de muacutesica tem as folias tem o almoccedilo onde esse foliatildeo que foi sorteado daacute o almoccedilo ai todo mundo almoccedila Ai depois sai gente pra todo lado e sai uma principal Essa principal eacute que sai com o padre a banda de musica ai saem visitando as ruas escolhidas por eles as casas principais Soacute que a tradiccedilatildeo da folia original mandava que essas pessoas fossem bem recebidas quando entrasse nas casas Receber o Divino Ai jaacute estamos falando da Luziacircnia antiga quando a igreja natildeo tinha industrializado esse processo todo que o cara abria a porta de casa chega chorava de emoccedilatildeo botava comida botava salgadinhos como tinha sempre uma pinguinha ai botava Mas hoje na folia eacute um monte de becircbados tem um grupinho que vai com as bandeiras e os outros grupos () A igreja natildeo coiacutebe isso por que conveacutem para ela mas ai vai dar sermatildeo fala que natildeo pode isso natildeo pode aquilo natildeo sei o que Quando eu identifico pessoas que acreditam nessa folia antiga isso eu acho bonito isso me toca

95

94

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014 95

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

122

Figura 55 ndash Folia de Rua em Luziacircnia Fonte Acervo da Igreja Matriz de Santa Luzia

Essa relaccedilatildeo do sagrado com o profano sempre foi uma caracteriacutestica das

festas do Divino no Brasil Desde o surgimento destas comemoraccedilotildees que o lado

religioso se mistura com o lado mundano Ao mesmo tempo em que as pessoas

rezam e pedem graccedilas elas bebem e danccedilam Abreu (2002 p 247) conta que ldquo[]

essas festas costumavam confundir as praacuteticas sagradas com as profanas nas

comemoraccedilotildees externas e nas que eram realizadas dentro das igrejasrdquo

A folia em Luziacircnia pode ser compreendida como um dos principais

momentos da festa do Divino da cidade Todos os entrevistados citaram essa

tradiccedilatildeo como um dos momentos mais efusivos da festividade

Sejam para aqueles que participam por acreditar no poder espiritual do

Divino Espiacuterito Santo ou aqueles que soacute participam por conta das atraccedilotildees profanas

a folia eacute um importante fator para o fortalecimento da cultura e para a ascensatildeo do

turismo local

314 As Cavalhadas

Esta eacute uma celebraccedilatildeo tradicionalmente europeacuteia que veio para o Brasil por

volta do seacuteculo XVII recriando os torneios medievais entre cristatildeos e mouros Para

123

Cascudo (2001 p 206) Cavalhada eacute o nome dado a um ldquodesfile a cavalo corrida de

cavaleiros jogo de canas jogo de argolinhas () ou de manilhardquo

As cavalhadas foram incorporadas agraves festas do Divino como elemento

cocircmico e profano Johan Emanuel Pohl (1976 p 287) explica como as cavalhadas

surgiram ldquoO jogo foi iniciado com o aparecimento de ridiacuteculos mascarados que

com as suas caretas e caccediloadas provocavam gargalhadas especialmente um deles

que representava um mestre de danccedilas francesasrdquo

A celebraccedilatildeo das cavalhadas tem registros nas regiotildees Sul Sudeste e

Centro-Oeste do Brasil Originalmente durante a encenaccedilatildeo os principais

personagens satildeo os cavaleiros armados de lanccedilas e espadas alguns trajam roupa

azul representando os cristatildeos e outros de vermelho representando os mouros

Tem ainda os personagens da corte como o rei o general priacutencipes princesas

embaixadores e lacaios todos usando luxuosas fantasias Aleacutem disso haacute

personagens mascarados que representam o povo

Em Goiaacutes as cavalhadas acontecem desde o inicio do seacuteculo XIX conforme

nos conta Pereira (2002 p 42) ao afirmar que ldquoas Cavalhadas ritual dramaacutetico

profano e popular faziam (e fazem) parte dos festejos do Divino nas cidades

goianas do ciclo do ouro desde o iniacutecio do seacuteculo XIXrdquo

Em Luziacircnia elas estiveram presentes por muito tempoPoreacutem haacute cerca de

dois anos elas natildeo se realizam mais durante a festa do Divino na cidade Dona

Corina de Lourdes explica que a encenaccedilatildeo das cavalhadas foi acabando devido agrave

dificuldade em encontrar pessoas que assumissem essa responsabilidade

Agraves vezes a pessoa que assumia que era a testa de ferro deixou Ai esfria tudo ai acabou Tem dois anos que natildeo tem mas esse ano ateacute os festeiros falaram vamos organizar mas eacute difiacutecil por que por exemplo a vestimenta deles fica cara e natildeo tem fundos natildeo tem condiccedilatildeo de cada um assumir a sua entrou muitos jovens gente de famiacutelia pobre eles fizeram uma com umas coisas muito simples bonitinho funcionou mas ai dos dois responsaacuteveis um adoeceu teve um enfarto ele deixou depois teve um sobrinho meu mas tambeacutem esfriou saiu ai ficou assim Por que depende de muita coisa mais de 15 dias de ensaio no parque de exposiccedilotildees tem que trazer os animais ver quem fica cuidando desses animais tem que tratar todos os dias entatildeo devido a essas dificuldades se a pessoa natildeo tiver muito amor muito entusiasmo vai esfriando

96

96

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

124

A festa das Cavalhadas tem importante destaque na cultura popular do

estado de Goiaacutes Poreacutem em Luziacircnia esta tradiccedilatildeo foi desaparecendo ao longo dos

anos por falta de apoio institucional Na Casa da Cultura Rui Carneiro ainda existe

uma sala dedicada especialmente a esta festividade laacute estatildeo reunidas diversas

fotos bandeiras fantasias e adereccedilos que representam essa luta entre cristatildeos e

mouros em Luziacircnia

315 Os Leilotildees

Os leilotildees se constituem como mais um dos destaques na festa do Divino

em Luziacircnia Eles acontecem normalmente no Centro Comunitaacuterio onde satildeo

leiloados todos os tipos de objetos Alguns produtos leiloados satildeo doados por

comerciantes locais e outros pela proacutepria comunidade Abreu (2002) conta que os

leilotildees das prendas eram uma das principais atraccedilotildees para os devotos nas festas do

Divino

Em Luziacircnia no uacuteltimo domingo de festa na parte da tarde acontece o

leilatildeo de gado no parque de exposiccedilotildees Este eacute feito por fazendeiros da regiatildeo que

doam os animais Neste domingo tambeacutem acontece outro leilatildeo na Praccedila da Igreja

do Rosaacuterio Dona Corina de Lourdes explica a programaccedilatildeo da festa e afirma que os

leilotildees satildeo momentos aguardados por todos da comunidade

Todas as noites tecircm novena e missa solene Apoacutes a missa vai laacute para a parte social no centro comunitaacuterio tem leilatildeo laacute barraquinhas comes e bebes tudo laacute No saacutebado levanta o mastro laacute na Igreja do Rosaacuterio e as duas bandeiras de Nossa Senhora e Satildeo Benedito de noite depois que termina o leilatildeo no cento comunitaacuterio a gente vai pra laacute em procissatildeo Saacutebado tem o jantar de confraternizaccedilatildeo Domingo eacute o dia da festa tem a missa solene tem a procissatildeo tem o sorteio pros novos festeiros que faz todo ano Eacute por sorteio Haacute uma hora tem o leilatildeo de gado com doaccedilotildees dos fazendeiros entatildeo faz laacute no parque de exposiccedilotildees Domingo de manhatilde sai o reinado daqui da Igreja Matriz e vamos ateacute a Igreja do Rosaacuterio laacute pelas nove horas comeccedila a missa solene e depois tem um animado leilatildeo laacute Muito engraccedilado o leilatildeo uma festa e a noite tem o bingatildeo que encerra os festejos no centro comunitaacuterio Os festeiros doam os precircmios e alguns devotos tambeacutem doam e a gente faz um bingatildeo que encerra a festa

97

97

Entrevista concedida por Dona Corina de Lourdes participante e organizadora da festa do Divino em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

125

Haacute atualmente uma forte presenccedila de empresas locais na participaccedilatildeo

destes leilotildees e isso eacute percebido sob dois pontos de vista De um lado alguns

consideram beneacuteficos pois contribui para o aumento da circulaccedilatildeo de dinheiro no

municiacutepio poreacutem por outro lado tiram caracteriacutesticas que eram intriacutensecas a essa

festa como as prendas preparadas de forma artesanal pela comunidade Joseacute Aacutelfio

da Silva discorre sobre isso

As pessoas da cidade fabricavam as prendas para serem leiloadas e esse dinheiro era revertido pras obras da igreja Entatildeo me lembro da minha matildee fazendo esses salgadinhos essas coisas ela enfeitava a prenda com papel colorido entatildeo isso pra gente tem uma visualidade forte Depois com o passar do tempo dos anos a festa foi perdendo assim o caraacuteter comunitaacuterio

98

Percebe-se na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva um sentimento de saudade pelas

caracteriacutesticas artesanais e comunitaacuterias com que a festa era preparada Eacute evidente

que todo esse contexto que permeia a festa tem uma relaccedilatildeo forte com a cultura e

com a formaccedilatildeo da sua identidade

Eacute importante estabelecer uma relaccedilatildeo saudaacutevel entre a cultura os patrimocircnios

histoacutericos das cidades e a atividade turiacutestica Em Luziacircnia a festa do Divino tem um

forte poder na construccedilatildeo dessa identidade e no desenvolvimento do turismo local o

que pode ser constatado durante a pesquisa

32 A Festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito

As comemoraccedilotildees em homenagem a Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito satildeo tradicionais em Luziacircnia e acontecem haacute mais de 250 anos Estes

santos fazem parte da histoacuteria de colonizaccedilatildeo da cidade e sempre foram celebrados

no municiacutepio Gelmires Reis em seu livro ldquoFolclore de Luziacircniardquo publicado em 1978

descreve como acontecia cada uma destas festas na cidade

Festa de Satildeo Benedito (tempos antigos) ndash procissatildeo segunda feira com fogueira e levantamento de mastro Foguetes e muacutesica Na terccedila feira procissatildeo com os festeiros Missa Cantada Sorteio de novos festeiros para o ano seguinte Banquetes com doces e bebidas Na atualidade somente existe a parte religiosa A parte profana desapareceu (REIS 1978 p13)

98

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

126

Festa de N S do Rosaacuterio (tempo antigo) ndash procissatildeo fogueira e levantamento do mastro de N S do Rosaacuterio e de Satildeo Benedito no saacutebado a noite Foguetes e banda de muacutesica Festeiros sorteados Segunda feira procissatildeo com os festeiros no quadro Missa cantada sorteio de festeiros para o ano seguinte Banquetes regados agrave bebidas Danccedila do Boi Danccedila da Ema e danccedila de Tapuacuteios foram dadas por alguns ldquoreisrdquo Na atualidade natildeo haacute mais as festas profanas (REIS 1978 p13)

Figura 56 ndash Procissatildeo na Rua do Rosaacuterio Fonte AacuteLVARES 1978

Observa-se na citaccedilatildeo de Reis (1978) que naquele tempo cada santo

possuiacutea a sua proacutepria festa O historiador natildeo cita datas mas eacute possiacutevel perceber

que as festas aconteciam em momentos diferentes Sabe-se que com o passar do

tempo estas festas foram incorporadas agraves comemoraccedilotildees do Divino Espiacuterito Santo

e haacute cerca de treze anos estes santos passaram a ter duas comemoraccedilotildees na

cidade A primeira acontece tradicionalmente junto agrave festa do Divino por volta de

maiojunho e a segunda entre setembrooutubro Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito passaram a ser comemorados juntos natildeo soacute pela proximidade de datas

dos santos mas tambeacutem pela ligaccedilatildeo direta que os dois possuem com a cultura

negra sendo considerados seus santos protetores

127

Em 2013 as celebraccedilotildees comeccedilaram no final de setembro e se encerraram

em outubro Fonseca (2009) explica que o importante para os grupos sociais eacute

garantir a continuidade de um processo de reproduccedilatildeo conservando os modos de

fazer e o respeito a valores como o do ritual religioso Joatildeo Victor Ribeiro comentou

sobre a realizaccedilatildeo da festa em outubro

Essa festa do Rosaacuterio a gente ta comeccedilando a resgatar ela Por que jaacute teve anos que natildeo teve essa festa em outubro acho tem uns treze anos que esta tendo consecutivamente todos os anos Desde a restauraccedilatildeo de 1999 que voltou a fazer de novo a festa em outubro

99

O local para a festa eacute a praccedila que fica em frente agrave paroacutequia Nossa Senhora

do Rosaacuterio Tanto a praccedila como a igreja satildeo considerados patrimocircnios da cidade

assim como a festa Desta forma podemos relacionar esta festa ao pensamento de

Fonseca (2009 p 191) quando ela afirma ser necessaacuterio ldquoabrir espaccedilos para a

participaccedilatildeo da sociedade no processo de construccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo de seu

patrimocircnio culturalrdquo exatamente como acontece durante a festa do Rosaacuterio de

Luziacircnia

O evento se inicia de fato com o encontro de fieacuteis grupos religiosos e

gestores ligados agrave prefeitura que se unem para a organizaccedilatildeo da festa e

distribuiccedilatildeo de responsabilidades Este ano aleacutem do apoio da Prefeitura os fieacuteis

contaram com a ajuda da Comunidade Mel de Deus um grupo religioso de Luziacircnia

que realiza accedilotildees em prol da feacute para a igreja catoacutelica

Estes encontros servem natildeo somente para o preparo da festa mas tambeacutem

como forma de aproximaccedilatildeo entre a comunidade e outros segmentos da sociedade

o que permite o estabelecimento de viacutenculos no exerciacutecio das praacuteticas sociais e na

construccedilatildeo da identidade local Como afirma Tormin (2004) os eventos a Igreja os

padres tornam-se extensatildeo das famiacutelias Assim a investigaccedilatildeo considerou essa

relaccedilatildeo e a importacircncia que esta festa tem para os participantes para buscar

entender por que as pessoas participam e o que esta festa representa para elas

Foi investigada durante o estudo a frequecircncia com que as pessoas

participam da festa onde constatou-se que a maioria costuma ir todos os anos

poreacutem alguns afirmaram que soacute foram nesta ldquonova versatildeordquo da Festa do Rosaacuterio (a

99

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

128

que acontece em setembrooutubro) algumas vezes o que se justifica pelo fato de

haver pouco tempo que a festa vem se realizando

Durante esse periacuteodo festivo satildeo realizadas novenas na casa dos fieacuteis da

comunidade missas queimas de fogos levantamento de bandeiras barraquinhas

de comidas tiacutepicas aleacutem de muacutesica mecacircnica e apresentaccedilatildeo de artistas Cada

momento das comemoraccedilotildees tem as suas especificidades que vatildeo desde o valor

religioso ou lazer puramente dito

No decorrer da pesquisa foi constatado que quase todos vatildeo movidos pela

vontade de compartilhar momentos de espiritualidade e feacute alguns falaram sobre

querer reviver as tradiccedilotildees e outros em aproveitar os momentos de descontraccedilatildeo

com parentes e amigos Karina da Silva comentou sobre o significado que a festa do

Rosaacuterio possui para ela

Participar das comemoraccedilotildees da Igreja do Rosaacuterio significa para mim cultivar algo que jaacute faz parte da minha histoacuteria afinal ser dessa comunidade religiosa eacute um haacutebito que eu pretendo manter vivo afinal natildeo eacute apenas um costume mas uma tradiccedilatildeo que foi construiacuteda em mim por minha famiacutelia e que com o tempo ganhou minha admiraccedilatildeo

100

No ano de 2013 foram comemorados os 250 anos da Igreja de Nossa

Senhora do Rosaacuterio o que tornou a celebraccedilatildeo ainda mais importante para toda a

comunidade catoacutelica luzianiense No encerramento da festa houve um grande show

com o famoso Padre Faacutebio de Mello atraindo assim o dobro de pessoas para a

comemoraccedilatildeo

A preservaccedilatildeo da Igreja do Rosaacuterio tem uma forte ligaccedilatildeo com a

preservaccedilatildeo dessa festa e nesses momentos eacute possiacutevel visualizar a uniatildeo do

patrimocircnio tangiacutevel e intangiacutevel Joseacute Aacutelfio da Silva comentou sobre isso

A festa do Rosaacuterio ela eacute forte por conta da forccedila arquitetocircnica da igreja A igreja do Rosaacuterio tem aquele caraacuteter de arquitetura colonial mas ela sofreu muito por que ela perdeu caracteriacutestica do entorno dela Muita coisa do entorno foi destruiacuteda vaacuterios casarotildees

101

Podemos observar na fala de Joseacute Aacutelfio da Silva o quanto a preservaccedilatildeo da

igreja e dos casarotildees do centro histoacuterico de Luziacircnia podem influenciar diretamente

100

Entrevista concedida por Karina da Silva participante da festa do Divino em Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 101

Entrevista concedida por Joseacute Aacutelfio da Silva morador e participante das festas religiosas de Luziacircnia em Luziacircnia em 27 de marccedilo de 2014

129

na preservaccedilatildeo da festa jaacute que se torna importante que este evento se realize neste

local Eacute perceptiacutevel que estes patrimocircnios estatildeo totalmente ligados uns aos outros

Com o passar dos anos e inevitaacutevel que os patrimocircnios sofram alteraccedilotildees e

intervenccedilotildees de todos os tipos o que acaba influenciando todo o conjunto No caso

da festa do Rosaacuterio de Luziacircnia os participantes afirmaram que ela vem ficando

cada vez mais estruturada Angeacutelica Moreira comenta sobre isso

A festa do Rosaacuterio acontece sempre aqui na praccedila e com o tempo ela tem ficado maior e mais bem organizada Antes eram soacute as novenas as missas mas hoje em dia tem os leilotildees vaacuterias barracas de comida e apresentaccedilotildees

musicais 102

O entrevistado Lucas Pires compartilha da ideacuteia de Angeacutelica Moreira sobre a

organizaccedilatildeo da festa ambos concordam que ela estaacute mais organizada Para o

estudante as mudanccedilas satildeo vistas como positivas ldquoEm relaccedilatildeo agrave festa anterior

essa estaacute bem mais organizada e melhor pois tambeacutem no final desta contamos

com a presenccedila do show do Padre Faacutebio de Melordquo 103

Joatildeo Victor Ribeiro faz outra afirmaccedilatildeo sobre as mudanccedilas poreacutem a sua

fala eacute com foco na preservaccedilatildeo das tradiccedilotildees religiosas ldquoA festa vai crescendo e a

igreja ainda tenta recuperar as tradiccedilotildees passadas com os reinados de Nossa

Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Beneditordquo104

Observa-se na fala de Joatildeo Victor Ribeiro o pensamento de Teixeira (2011)

quando este afirma que essas celebraccedilotildees tecircm capacidade de adaptaccedilatildeo aos

tempos e de manutenccedilatildeo da hierarquia e da dinacircmica de seus cultos e ritos Logo

essa flexibilidade favorece a permanecircncia da festa como tradiccedilatildeo para os

moradores mesmo diante de todas as mudanccedilas

Durante a realizaccedilatildeo das entrevistas foram detectadas pessoas que natildeo

seguem a religiatildeo catoacutelica mas que ainda assim participam da festa todos os anos

Karina da Silva acredita que as mudanccedilas pelas quais a festa vem passando ao

longo dos anos satildeo beneacuteficas e favorecem a participaccedilatildeo de outros tipos de

puacuteblicos

102 Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014 103

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 104

Entrevista concedida por Joatildeo Victor Ribeiro zelador da igreja e organizador da festa do Rosaacuterio Luziacircnia em 28 de janeiro de 2014

130

Antigamente a festa possuiacutea apenas atraccedilotildees religiosas poreacutem isso fazia com que poucos participassem sendo assim a festa com o passar dos anos foi adquirindo um novo formato com leiloes muacutesicas ao vivo e outras atraccedilotildees atendendo natildeo apenas os devotos da igreja catoacutelica mas a comunidade em geral

105

A maioria dos participantes acredita que a festa tem potencial para atrair

benefiacutecios econocircmicos para a cidade A questatildeo financeira foi amplamente citada

pelos entrevistados e a maior parte deles fez referecircncia ao aumento na circulaccedilatildeo de

dinheiro no municiacutepio durante a festa Lucas Pires falou sobre isso

A festa traz muitos benefiacutecios para a cidade aleacutem de preservar as tradiccedilotildees aumenta a circulaccedilatildeo de dinheiro pois a cidade tem como caracteriacutestica base a sua historia e suas crenccedilas ou seja de certo modo essa eacute uma alternativa que pode trazer maiores incentivos financeiros para a cidade o que resultaria em melhorias e em desenvolvimento

106

Como explica Ruschmann (1997) o turismo tem este poder de estimular a

economia local A participante Angeacutelica Moreira tambeacutem falou sobre a

movimentaccedilatildeo financeira e o aumento no fluxo de pessoas Ela acredita que a festa

tem poder de atrair visitantes para a cidade ldquoA festa aumenta o fluxo de pessoas na

cidade e a circulaccedilatildeo de dinheiro tambeacutem eacute bem maior Na eacutepoca da festa cresce o

numero de visitantes na cidade e isso mexe tambeacutem com o aumento da economia

do municiacutepiordquo107

Como pode ser observado a questatildeo da potencialidade turiacutestica da festa eacute

um assunto que ainda diverge muito as opiniotildees Alguns acreditam que a celebraccedilatildeo

eacute um atrativo turiacutestico outros jaacute acham que ela possui potencial para ser um atrativo

e ainda haacute aqueles que afirmaram incisivamente que a festa natildeo possui potencial

algum para se tornar um atrativo turiacutestico em Luziacircnia O secretaacuterio de turismo Eacutecio

Mendonccedila falou sobre as dificuldades em alavancar o turismo na cidade

Estamos passando por muitas dificuldades tendo que comeccedilar do zero Natildeo tinha nem um conselho de turismo e agora jaacute tem Soacute tem um ano e dois meses que assumi a secretaria Noacutes estamos fazendo de tudo para

105

Entrevista concedida por Karina da Silva participante das festas de Luziacircnia em 11 de fevereiro de 2014 106

Entrevista concedida por Lucas Pires participante das festas de Luziacircnia em 12 de fevereiro de 2014 107

Entrevista concedida por Angeacutelica Moreira participante das festas de Luziacircnia em 05 de fevereiro de 2014

131

que o turismo seja divulgado para ser mostrado para ser considerado Para mostrar que Luziacircnia existe nessa aacuterea

108

Alguns participantes comentaram que vatildeo apenas para apreciar as comidas

tiacutepicas das barraquinhas ou por causa das apresentaccedilotildees musicais mas o que se

constatou eacute que puacuteblico principal eacute composto por pessoas catoacutelicas e da proacutepria

comunidade O paacuteroco da igreja do Rosaacuterio acredita que a festa tem condiccedilotildees de

contribuir para o turismo na cidade

Sem duacutevidas a festa do Rosaacuterio eacute um atrativo turiacutestico como ela eacute ligada a Igreja do Rosaacuterio a gente faz um trabalho pra divulgar no maacuteximo o valor patrimonial histoacuterico da Igreja do Rosaacuterio tudo que acontece laacute eacute ligado agrave igreja entatildeo ao patrimocircnio tambeacutem eu pelo menos faccedilo tudo para a Igreja do Rosaacuterio se tornar com o tempo um lugar turiacutestico mesmo a gente estaacute pensando em montar na Igreja do Rosaacuterio um tipo de sala que conte a historia da igreja estamos tentando montar algum tipo de infra-estrutura turiacutestica um lugarzinho para os turistas natildeo apenas irem agrave igreja mas sentar tomar um cafezinho uma aacutegua comprar alguma lembrancinha entatildeo isto eacute um processo essa festa que foi agora ela intensificou um pouquinho essa ideacuteia Entatildeo em torno da Igreja do Rosaacuterio comeccedila um tipo de movimento interessante do ponto de vista turiacutestico

109

A partir da fala do padre Simatildeo pode-se afirmar que esta festa de Luziacircnia

tem potencial para alavancar o desenvolvimento do turismo local Assim como

apresentado no discurso do padre a igreja vem buscando alternativas para

aproveitar melhor esse potencial Logo o patrimocircnio vai entatildeo se incorporando na

comunidade e criando elos de identificaccedilatildeo de tal maneira que a igreja traz pra si a

preocupaccedilatildeo em salvaguardar esses patrimocircnios de modo que eles natildeo se tornem

patrimocircnios estaacuteticos mas que possam ser utilizados por turistas e pela proacutepria

comunidade

108

Entrevista concedida pelo Secretaacuterio de Turismo Eacutecio Carlos de Mendonccedila em 28 de marccedilo de 2014 109

Entrevista concedida por Padre Simatildeo organizador da festa do Rosaacuterio em Luziacircnia em 14 de outubro de 2013

132

Figura 57 ndash Panfleto de divulgaccedilatildeo da Festa do Rosaacuterio Fonte Material de divulgaccedilatildeo da festa de 2013

Figura 58 ndash Missa no primeiro dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcom photophpfbid=1403156806580611ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013

133

Figura 59 ndash Apresentaccedilatildeo de muacutesica Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 60 ndash Igreja ornamentada para a festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em httpswwwfacebookcomphotophpfbid=1403157359913889ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheater Acesso em 30 nov 2013 112

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1403158156580476ampset=a14031567065806211073741832100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 61 ndash Carreata em homenagem aos 250 anos da Igreja do Rosaacuterio Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 62 ndash O padre Simatildeo e a imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio durante carreata pela cidade Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408070459422579ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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Figura 63 ndash Uacuteltimo dia de festa Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Figura 64 ndash Show do Padre Faacutebio de Melo Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408069972755961ampset=a14080699494226301073741841100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013 115

Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomphotophpfbid=1408063546089937ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

136

As festas podem ser entendidas entatildeo como representaccedilotildees de praacuteticas

sociais Por isso elas satildeo tatildeo importantes e movimentam tanto a cidade Pode-se

concluir que tanto a festa como a igreja enquanto patrimocircnios culturais de Luziacircnia

possuem poder de ressignificar um ao outro dando um novo sentido natildeo soacute para as

igrejas mas tambeacutem para os outros patrimocircnios da cidade que por sua vez satildeo

fatores constituintes da identidade local assim como afirma Gonccedilalves (2009 p 31)

ldquoo patrimocircnio de certo modo constroacutei forma pessoasrdquo

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Fonte Paacutegina do facebook Nossa Senhora do Rosaacuterio116

Disponiacutevel em lthttpswwwfacebook comphotophpfbid=1408064216089870ampset=a14080635094232741073741840100006589146513amptype=3amptheatergt Acesso em 30 nov 2013

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todas as cidades possuem uma histoacuteria e uma cultura que definem a sua

identidade e as suas tradiccedilotildees Essa cultura tem o poder de unir as pessoas de uma

comunidade e atrair povos de outros lugares interessados em apreciar e conhecer

novas culturas Relacionado a isso estatildeo os patrimocircnios histoacutericos tanto no acircmbito

do material quanto do imaterial e estes possuem caracteriacutesticas que os tornam

atrativos turiacutesticos das cidades

As festas religiosas no municiacutepio de Luziacircnia satildeo encaradas nos dias de

hoje como importantes tradiccedilotildees culturais ainda que tenham adquirido novos

formatos O puacuteblico turiacutestico vem crescendo cada vez mais e eacute possiacutevel visualizar

uma grande quantidade de visitantes vindos de cidades vizinhas poreacutem que natildeo se

consideram turistas

As duas festas analisadas possuem um valor e uma importacircncia especial

para os moradores ainda que estes natildeo sejam catoacutelicos ou devotos do Divino

Espiacuterito Santo de Nossa Senhora do Rosaacuterio ou de Satildeo Benedito O que se

observou eacute que a relaccedilatildeo que os moradores tecircm com essas festividades vai aleacutem do

viacutenculo religioso jaacute que quando relacionadas agrave cultura local as festas religiosas

assumem um papel reforccedilador da identidade e da preservaccedilatildeo da memoacuteria sendo

consideradas fortes tradiccedilotildees culturais

A modernidade e o avanccedilo das tecnologias implicam em transformaccedilotildees no

ambiente urbano Fazem com que os significados atribuiacutedos aos bens culturais e agraves

praacuteticas a eles associadas criem novos significados com o passar do tempo aleacutem da

accedilatildeo e influecircncia de grupos que natildeo se importam com o valor histoacuterico e a

preservaccedilatildeo destes patrimocircnios

A escolha pela festa do Divino Espiacuterito Santo e pela festa do Rosaacuterio e Satildeo

Benedito se deu por acreditar que estas fazem parte da cultura e da tradiccedilatildeo da

cidade e possuem um potencial para que o turismo cultural e religioso se

desenvolva pois acredita-se aqui que estes patrimocircnios podem contribuir de forma

positiva para a melhoria de vaacuterios outros aspectos da cidade como no

desenvolvimento do comeacutercio local e na melhoria da qualidade dos serviccedilos

prestados

Pode ser constatado que a festa do Divino Espiacuterito Santo de Luziacircnia eacute

considerada pelos moradores o principal evento cultural e religioso aleacutem de ser a

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principal festa tradicional da cidade Durante sua realizaccedilatildeo a cidade cria uma nova

configuraccedilatildeo e o sentimento de identidade eacute reafirmado pelos moradores Por estes

motivos ela foi inscrita no livro do tombo de bens patrimoniais intangiacuteveis do

municiacutepio ainda que natildeo esteja reconhecida por seu valor patrimonial pelo IPHAN

Jaacute a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Bendito foi percebida como

uma manifestaccedilatildeo ainda em fase de crescimento Mesmo que estes santos sejam

celebrados haacute mais de 250 anos na cidade A festa em homenagem especialmente

a estas santidades ainda eacute nova Os participantes em sua maioria satildeo formados pelo

puacuteblico catoacutelico e por devotos a estes santos sendo ainda fraco o movimento em

torno do turismo Poreacutem a festa tem uma iacutentima relaccedilatildeo com a igreja do Rosaacuterio e

esta tem um forte poder cultural e patrimonial para a cidade o que torna esta festa

um importante fator de desenvolvimento para o turismo religioso e cultural

Com o passar dos anos estas festas religiosas foram sendo

descaracterizadas e esquecidas por parte da populaccedilatildeo e por consequecircncia natildeo

aproveitadas pelo poder puacuteblico para o desenvolvimento da atividade turiacutestica em

Luziacircnia Desta forma o turismo religioso surge como uma alternativa positiva de

promoccedilatildeo jaacute que a grande maioria dos moradores do municiacutepio vecirc a religiatildeo como

parte de sua identidade e fator constituinte de sua cultura aleacutem de a cidade possuir

diversos aspectos histoacutericos que contribuem para que este tipo de turismo cresccedila

As festividades de Luziacircnia ainda possuem um puacuteblico mais restrito aos

moradores da cidade e dos municiacutepios vizinhos o que natildeo impede que este cresccedila

e atraia pessoas de outras regiotildees como jaacute acontece com as festas de algumas

cidades goianas como Pirenoacutepolis e Cidade de Goiaacutes que atraem pessoas vindas

de todo o Brasil A partir do momento em que as celebraccedilotildees de Luziacircnia forem

vistas com maior importacircncia tanto pela comunidade como pelo poder puacuteblico estes

patrimocircnios poderatildeo contribuir para a ascensatildeo do turismo na cidade

Logo o estudo se fez importante para a compreensatildeo da real

representatividade que estas festas possuem para a preservaccedilatildeo da histoacuteria da

tradiccedilatildeo e da cultura local Observou-se a necessidade de olharmos com mais

atenccedilatildeo para os bens culturais ligados agrave histoacuteria e agrave tradiccedilatildeo da cidade que estatildeo

em completo estado de abandono sendo descaracterizados deteriorados e

esquecidos pelos governadores puacuteblicos Como citou um dos entrevistados Wilter

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Coelho ldquoFicam procurando a Luziacircnia antiga e a Luziacircnia de agora morre a cada

diardquo 117

Eacute inegaacutevel que o patrimocircnio material e imaterial de Luziacircnia vem se

perdendo ao longo dos anos Na Rua do Rosaacuterio e na Rua Satildeo Benedito que

compotildeem o centro histoacuterico da cidade pode ser visivelmente constatado o estado

de descaso e abandono que se encontram os casarotildees ali erguidos A presenccedila de

casas com arquitetura moderna vem aumentando cada vez mais o que acaba

desconfigurando o estilo colonial deste centro Natildeo existe nenhum projeto de

proteccedilatildeo ou revitalizaccedilatildeo desta aacuterea e o que se teme eacute que daqui a alguns anos

todo esse estilo colonial do centro tenha desaparecido

Eacute incontestaacutevel que a inserccedilatildeo da atividade turiacutestica em Luziacircnia atribui

valorizaccedilatildeo aos patrimocircnios e oferece possibilidades de revitalizaccedilatildeo do seu acervo

Nota-se uma urgente necessidade de tratamento destes patrimocircnios natildeo soacute pela

importacircncia em se preservar a histoacuteria local mas tambeacutem como forma de tornaacute-los

atrativos tanto para os turistas quanto aos proacuteprios cidadatildeos luzianienses

Os patrimocircnios histoacutericos natildeo satildeo atrativos turiacutesticos por si soacute e por isso eacute

importante agrave atuaccedilatildeo dos planejadores turiacutesticos para darem destaque e visibilidade

agrave sua atratividade de forma que estes se tornem um potencial para a cidade aliados

aos recursos naturais que o municiacutepio jaacute possui

O cuidado que se deve ter eacute para que natildeo aconteccedila em Luziacircnia o que

aconteceu em outras cidades goianas que utilizaram do seu patrimocircnio intangiacutevel

como as festas para o desenvolvimento turiacutestico sem o devido planejamento e

assim estes foram deteriorados e descaracterizados Resultando em mais retornos

negativos do que positivos para a cidade

A atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos governamentais no que tange agrave preservaccedilatildeo

colaboraccedilatildeo e continuidade destas manifestaccedilotildees religiosas em Luziacircnia ainda eacute

pequena O apoio dado pela prefeitura na realizaccedilatildeo das festas foi citado por alguns

participantes mas ainda de forma pouco atuante O governo ignora o fato de que

para que estas manifestaccedilotildees de Luziacircnia tenham relevacircncia cultural e artiacutestica e se

tornem atrativos para o turismo elas necessitam ser mais valorizadas por todos os

envolvidos a comeccedilar pelo poder puacuteblico

117

Entrevista concedida por Wilter Coelho morador de Luziacircnia em 29 de marccedilo de 2014

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O turismo em Luziacircnia ainda estaacute em fase de desenvolvimento e para que

isso ocorra de forma equilibrada a cidade como um todo deve reconhecer os

recursos culturais e naturais que o municiacutepio possui e acreditar que estes tecircm

potencial para o desenvolvimento da atividade na cidade de forma planejada e

sustentaacutevel

O descaso por parte do governo e a violecircncia presenciada no municiacutepio

atrapalham na divulgaccedilatildeo da imagem de Luziacircnia e consequentemente interferem

na ascensatildeo do turismo jaacute que antes mesmo de conhecerem o lado bom o que se

propagam satildeo os casos de violecircncia causando assim uma primeira impressatildeo ruim

de toda a cidade

O turismo eacute bem visto quando proporciona benefiacutecios para todos os

envolvidos e ajuda a criar um novo olhar sobre os patrimocircnios da cidade Deve se

reconhecer que a atividade turiacutestica tem esse poder de agregar valor aos

monumentos das localidades e por isso sua valorizaccedilatildeo em Luziacircnia tende a ser

uma alternativa para solucionar diversos problemas aleacutem de uma forma de

preservaccedilatildeo dos bens do municiacutepio Como diz Fonseca (2009 p 74) ldquoproduzir e

consumir cultura satildeo fatores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade

e da sociabilidaderdquo

Nessa perspectiva o patrimocircnio cultural natildeo se dissocia de seus conteuacutedos

vivos conteuacutedos estes materializados nos indiviacuteduos e vivificados nos grupos

sociais Portanto quando se fala em conservaccedilatildeo e destinaccedilatildeo dos bens culturais

sejam eles tangiacuteveis ou intangiacuteveis natildeo se pode esquecer o contexto histoacuterico e

social nos quais estes bens estatildeo inseridos Haacute que se lembrar que o patrimocircnio das

populaccedilotildees locais natildeo eacute desprovido de sentidos e sentimentos ao contraacuterio em

uacuteltima instancia eacute praacutetica social

Isso constitui sentimentos na comunidade local de pertencimento o que

permite aos depositaacuterios desse patrimocircnio uma possibilidade de sentirem-se parte

integrante de seus bens culturais Assim pode se deduzir que as festas do Divino

Espiacuterito Santo e a festa de Nossa Senhora do Rosaacuterio e Satildeo Benedito podem

permitir que surja uma consciecircncia no luzianiense em que se verifica a necessidade

de conservaccedilatildeo de praacuteticas culturais que conferem significados agrave identidade local

Nesse sentido a conservaccedilatildeo a proteccedilatildeo a ressignificaccedilatildeo e a divulgaccedilatildeo desses

eventos satildeo accedilotildees que merecem atenccedilatildeo pois estes patrimocircnios culturais podem

ser determinantes no desenvolvimento do turismo em Luziacircnia

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VERGARA S Projetos e relatoacuterios de Pesquisa em Administraccedilatildeo 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

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153

APEcircNDICE A ndash TERMO DE CONSENTIMENTO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta pesquisa busca compreender como as festas histoacutericas e religiosas

relacionadas agrave cultura e aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento

turiacutestico de cidades histoacutericas como Luziacircnia Trata-se de atividade referente ao

curso de Mestrado Profissional em Turismo do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da

Universidade de Brasiacutelia

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa gostariacuteamos de contar com a sua

colaboraccedilatildeo por meio de participaccedilatildeo em entrevista Contudo trata-se de um ato

voluntaacuterio Vocecirc tem total liberdade para abster-se de fornecer as informaccedilotildees

solicitadas pelo pesquisador

Nesse sentido pedimos que responda as perguntas de maneira coerente e

mais clara possiacutevel Dessa forma solicitamos sua autorizaccedilatildeo para apresentar os

resultados no estudo acima referido Caso deseje conhecer os resultados desse

trabalho por favor contatar a responsaacutevel abaixo identificada

Desde jaacute agradeccedilo sua colaboraccedilatildeo

Carla Adriana Oliveira Silva- Mestranda do Centro de Excelecircncia em Turismo ndash UnB

carlawiccagmailcom

Certifico haver lido o conteuacutedo acima descrito e compreender que estou participando

voluntariamente Pela presente dou meu consentimento para participar do estudo e

para a publicaccedilatildeo dos resultados

Luziacircnia _____ de _________________ de 2013

Assinatura do participante____________________________________________

Assinatura da pesquisadora___________________________________________

154

APEcircNCIDE B ndash ENTREVISTA PARTICIPANTES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1 Nome

2 Telefone

3 Profissatildeo

4 Idade

5 Estado Civil

6 Religiatildeo

7 Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8 Vocecirc percebe se houve muitas mudanccedilas nas festas com o passar dos anos

Quais

9 Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

10 Em sua opiniatildeo em que medida as festas contribuem para a manutenccedilatildeo dos

patrimocircnios materiais de Luziacircnia

11 O que estas festas representam para vocecirc

155

APEcircNCIDE C ndash ENTREVISTA GESTORES DAS FESTAS HISTOacuteRICAS E

RELIGIOSAS DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Com que frequecircncia vocecirc participa das festas religiosas de Luziacircnia

8- Haacute quanto tempo vocecirc participa da organizaccedilatildeo das festas religiosas de

Luziacircnia

9- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

10- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

11- Como e quando se inicia o processo de organizaccedilatildeo destas festas

156

APEcircNCIDE D ndash ENTREVISTA SECRETAacuteRIO DE TURISMO DE LUZIAcircNIAGO

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

CENTRO DE EXCELEcircNCIA EM TURISMO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

Esta entrevista eacute parte integrante da pesquisa intitulada ldquoAs festas histoacutericas e

religiosas de LuziacircniaGO atuando no desenvolvimento do potencial turiacutestico da

cidaderdquo que busca compreender como as festas religiosas relacionadas agrave cultura e

aos patrimocircnios locais podem atuar no desenvolvimento turiacutestico de cidades

histoacutericas como Luziacircnia

Perfil

1- Nome

2- Telefone

3- Profissatildeo

4- Idade

5- Estado Civil

6- Religiatildeo

7- Para vocecirc o que as festas de Luziacircnia proporcionam para a cidade

8- Vocecirc acredita que estas festas satildeo atrativos turiacutesticos da cidade

9- Em sua opiniatildeo em que medida as festas podem contribuir para o

desenvolvimento do turismo local

10- Vocecirc considera estas festas como parte do patrimocircnio histoacuterico e cultural de

Luziacircnia

11- Existe alguma participaccedilatildeo da Secretaria de Turismo na organizaccedilatildeo das

festas histoacutericas e religiosas de Luziacircnia

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