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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA LUIZ FELIPE DANTAS GUIMARÃES Nível de Informação e a Reação dos Agentes a Notícias: Uma Análise sob a Perspectiva de Ações Brasília 2015

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

LUIZ FELIPE DANTAS GUIMARÃES

Nível de Informação e a Reação dos Agentes a Notícias: Uma Análise sob a Perspectiva de Ações

Brasília 2015

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LUIZ FELIPE DANTAS GUIMARÃES

Nível de Informação e a Reação dos Agentes a Notícias: Uma Análise sob a Perspectiva de Ações

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Ciências Econômicas, Departamento de Economia, Universidade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas Orientador: Professor José Guilherme de Lara Resende

Brasília 2015

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RESUMO

A busca por modelos preditivos guia os estudos em finanças com o objetivo

de alcançar maiores retornos. Em finanças comportamentais, essas análises são

feitas dando atenção especial aos pensamentos dos agentes. Nas finanças

comportamentais, Kahneman e Tversky (1972) contribuíram com o conceito de

heurística de representatividade. Em nosso estudo, mostramos a ligação entre

heurística de representatividade e análise técnica, e utilizamos análise técnica

como proxy para determinar o nível de informação de um agente. Com isso,

podemos analisar a influência do nível de informação na reação a notícias. Ao

final, concluímos que menores níveis de informação estão ligados a variações

mais intensas de preços, após notícias.

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ABSTRACT

The search for predictive models has motivated financial studies aiming to

reach greater returns. In behavioral finance, special attention is given to the ways

the agents think. Contributing to the behavioral finance literature, Kahneman and

Tversky (1972) introduced the concept of representativeness heuristic. In the

present study, we show the connection between representativeness and

technical analysis in order to use technical analysis as a proxy for level of

information. We were then able to determine the influence of the level of

information in an agent’s reaction to news. Finally, we are able to conclude that

lower levels of information lead to greater price variations following news.

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Sumário

1 - INTRODUÇÃO..................................................................................................................................5

2-FINANÇASCOMPORTAMENTAISEAPRECIFICAÇÃODEATIVOS.....................................7

2.1. PSICOLOGIA E FINANÇAS..........................................................................................................................7

2.1.1. HEURÍSTICA DA REPRESENTATIVIDADE E O PARALELO COM ANÁLISE TÉCNICA.............9

2.2. PREVISÃO DE RETORNO.........................................................................................................................11

3 – MÉTODOS E PROCEDIMENTOS...........................................................................................15

4 – ANÁLISE EMPÍRICA...................................................................................................................20

5 – CONCLUSÃO................................................................................................................................22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................24

Lista de Tabelas TABELA 1 - CORRELAÇÃO DE PEARSON 1..........................................................................................................................22

TABELA 2 - CORRELAÇÃO DE SPEARMAN 1.......................................................................................................................22

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1 - Introdução

Em economia, a busca por maior bem-estar guia as decisões dos agentes.

Em finanças, essa premissa se mantém e pode ser vista na busca incansável

por fórmulas que possam aumentar o ganho em mercados de capitais, tais como

a bolsa de valores, por meio de modelos preditivos.

Dentro dessa perspectiva de busca por ganhos, é desenvolvida a teoria

moderna de portfólios em Markowitz (1952) que trata da importância da

diversificação de um portfólio para retornos maiores. É introduzida uma análise

sobre os preços relativos de uma carteira, considerando risco e retornos

esperados. Resumidamente, a carteira ideal é definida a partir da melhor relação

risco-retorno, considerando que o agente é avesso ao risco.

Com modelos como o CAPM e o de três fatores de Fama e French como

base, os conceitos de precificação de ativos evoluem na vertente

fundamentalista, que busca, nos fundamentos das empresas, formas de traçar

as expectativas para o futuro. As análises técnicas, que buscam padrões nos

preços que possam gerar expectativas futuras, também evoluem

matematicamente, determinando padrões de atuação dos agentes por meio de

padrões numéricos e gráficos. Paralelamente, torna-se cada vez mais

importante determinar os padrões psicológicos dos agentes como critério de

previsão de retorno esperado.

Nessa vertente, Zhang (2006) conclui que maior incerteza das informações

leva a retornos futuros mais baixos após notícias ruins e retornos futuros mais

altos após notícias boas, contrastando ativos com menor incerteza de

informações. Para isso, Zhang (2006) utiliza cinco variáveis proxy para incerteza

de informação: idade da firma, cobertura de analistas, dispersão nas análises

dos especialistas, volatilidade da ação e volatilidade do fluxo de caixa. Com

isso, tem-se uma contribuição para estudar o papel da notícia e da informação

na precificação.

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Por outro lado, Li e Yu (2012) propõem a utilização do Dow 52-Week High e

no Historical High como ferramentas de predição analisando seus efeitos de

sub-reação e reação exagerada, que possibilitam grande poder de previsão dos

retornos excedentes do mercado no curto prazo (1 ano) superando, inclusive,

indicadores macroeconômicos mais usados. Além disso, Li e Yu (2012)

produzem um incremento para o estudo de como o viés de comportamento pode

afetar os retornos do mercado ao incorporar essas duas variáveis de viés de

comportamento, o Dow 52-Week High e o Historical High.

Embora a complexidade de mercado impeça que todas as variáveis que

influenciam o preço de um ativo financeiro sejam consideradas em um mesmo

modelo, existem formas de abordar as informações sobre o mercado que

avançam cada vez mais na direção de melhor prever as movimentações do

mercado. Com o aprofundamento dos estudos, fatores mais abstratos e mais

difíceis de serem mensurados passam a ser analisados.

Isso nos leva ao ponto focal de nosso trabalho. A capacidade de estimar

como o mercado reagirá, por exemplo, a notícias pode oferecer uma vantagem

importante na hora de decidir sobre a compra ou a venda de um ativo. Um

modelo simples o bastante para ser implementado rapidamente pode fornecer

importante fonte de previsão para o investidor formar sua posição.

Com isso e dadas as evidências em finanças comportamentais, decidimos

analisar como o nível de informação afeta a reação a notícias. Desenvolvemos o

estudo nessa linha para investigar se menos informação leva a reações mais

fortes após notícias. Ao final, o resultado e a conclusão nos darão também uma

noção de como essa informação pode ser usada para aumentar retornos.

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2 - Finanças comportamentais e a precificação de ativos

Para abordarmos a percepção dos agentes a eventos e suas reações, é

necessário explicar, primeiramente, a base e o conceito de finanças

comportamentais. O conceito de finanças comportamentais surge da crítica a

uma simplificação da economia que considera os agentes racionais. Dessa

simplificação, os modelos tiram suas conclusões, estabelecendo padrões de

tomada de decisão uniformes e genéricos. As finanças comportamentais

buscam, essencialmente, uma forma mais fiel de representar a tomada de

decisão dos agentes e, para isso, incorporam ao estudo das finanças conceitos

de psicologia.

Um marco na história das finanças comportamentais é Simon (1955), em

que são discutidos os parâmetros sob os quais um agente pode ser considerado

racional, trazendo assim uma nova concepção sobre o curso da tomada de

decisão dos agentes, estática e dinamicamente. Muth (1961), por outro lado,

discute o conceito de expectativas racionais e a teoria do movimento dos preços.

Eventualmente, chega-se a Tversky e Kahneman (1974), que discutem

heurísticas, ou seja, simplificações que viesam a tomada de decisão. Essas

heurísticas incorporam conceitos importantes que serão abordados na subseção

2.1, de onde um conceito específico será extraído, heurística de

representatividade, e utilizado em 2.1.1.

2.1. Psicologia e Finanças

O conceito de heurística é chave para o desenvolvimento das finanças

comportamentais. A heurística é definida como uma forma de encontrar

respostas da maneira mais fácil. Representa a simplificação de um problema

para que a resposta possa ser encontrada ou, como Shefrin (2008) define de

forma mais simples, uma “rule of thumb” ou regra de bolso: “A grande

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importância do conceito de heurística advém da percepção da psicologia de que

pessoas tomam decisões com base em heurísticas, que viesam a decisão e

levam a erros sistemáticos” Shefrin (2008), página 17.

Dentro do conceito de heurística há uma extensa e diversificada gama de

ramificações que compreendem diversos padrões psicológicos de tomada de

decisão. Não cabe a esse trabalho tratar de todas eles. Dessa forma, nos

restringiremos a algumas com maior destaque, em especial a de

representatividade. Kahneman e Tversky (1974) definem três tipos de heurística:

de disponibilidade; de representatividade; e de ancoragem e ajustamento.

Kahneman e Tversky (1974) argumentam que as pessoas utilizam o

número de exemplos que conseguem lembrar para inferir as frequências de um

dado evento. A esse fenômeno, os autores dão o nome de heurística de

disponibilidade. De maneira simples, quer dizer que as pessoas confiam nas

informações que têm disponíveis em suas memórias e lhes atribuem maior peso,

acreditando subconscientemente que exemplos que são lembrados devem

possuir maior importância que os exemplos não lembrados. Sendo assim, esse

fenômeno em geral privilegia ideias mais recentes por serem mais facilmente

relembradas. Como o acontecimento é mais recente, a memória perdura na

mente do indivíduo que, por sua vez, atribui grande ou maior importância a ele.

O conceito de heurística de ancoragem e ajustamento, por sua vez,

acontece quando uma pessoas ajusta suas decisões a partir de uma “âncora”.

Quando muita atenção e importância é creditada a uma informação inicial, diz-se

que esta é uma “âncora”, definindo a ancoragem. No ajustamento, o indivíduo

guia suas ações posteriores baseadas na âncora estabelecida. Em

microeconomia, a prática de ancoragem é utilizada em negociações, quando

uma das partes inicia o processo propondo um preço muito alto (caso esteja

vendendo) ou muito baixo (caso esteja comprando). Subconscientemente, a

outra parte tende a tomar este preço estabelecido como âncora e ajusta suas

propostas posteriores a partir da âncora.

Por fim, o conceito de heurística de representatividade é definido por

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Kahneman e Tversky (1972) como “a probabilidade subjetiva de um evento é

determinada pelo grau em que: (i) é similar à população em suas características

essenciais; e (ii) reflete as características salientes do processo pelo qual foi

gerado.” Representatividade é então uma comparação de uma situação com

outras de que se tem conhecimento. Dessa comparação o agente pode tirar

suas conclusões o que, no entanto, pode incorrer numa má interpretação das

probabilidades dos eventos.

Por gerar um viés na tomada de decisão, a heurística, em qualquer uma de

suas formas, pode gerar conclusões erradas. Diferentes conceitos de heurística

podem e são utilizados em finanças comportamentais, mas focaremos aqui a

heurística de representatividade. Com isso será possível concluir sobre nível de

informação dos agentes utilizando um conceito amplo, o de análise técnica. Será

dada atenção especial a esse assunto na subseção 2.1.1. a seguir.

2.1.1. Heurística da representatividade e o paralelo com análise técnica

No conceito de heurística de representatividade, busca-se uma similaridade

entre um evento em que se deseja tomar uma decisão e outros eventos que já

ocorreram. O paralelo é traçado e a decisão parte dessa análise. Em outras

palavras, busca-se um padrão no que já ocorreu semelhante ao que vem

ocorrendo, para entender o que pode ser esperado.

Por outros lado, análises técnicas se baseiam em acontecimentos

passados para detectar padrões que podem guiar as decisões futuras

acreditando na repetição desses padrões. Sendo assim, como destacado por

Sewell (2007), análise técnica é representatividade. Imagine, por exemplo, a

ferramenta de análise conhecida como suporte e resistência, amplamente

conhecida e discutida, como em Thomsett (1999) . A recorrência do evento em

que a variação do preço do ativo muda de direção em um determinado patamar

determina um suporte ou uma resistência. Dessa forma, a análise indica que

esses eventos são representativos e que, portanto, quando um suporte

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(resistência) for alcançado, deve-se esperar que o preço suba (caia). Ou seja, a

análise técnica incorpora as características de representatividade estabelecidas

por Kahneman e Tversky (1972) ao buscar em eventos significativos um padrão

para a interpretação de eventos futuros.

Kahneman e Tversky (1972) expõem que a heurística de representatividade

na tomada de decisão distorce a visão dos fatos e, em geral, é contrastada pelo

Teorema de Bayes:

𝑃 𝐴 𝐵 = ! ! ! ! !! !

,

onde P(A|B) é a probabilidade de acontecimento do evento A dado que o evento

B aconteceu.

Nesse caso, um agente cuja decisão é tomada tendo como base

essencialmente o conceito psicológico supracitado, incorrerá, na maioria dos

casos, numa análise equivocada das probabilidades dos acontecimentos

considerando iguais as probabilidades:

𝑃 𝐴 𝐵 = 𝑃(𝐵|𝐴)

Ou seja, a probabilidade de acontecer A dado que B aconteceu é igual à

probabilidade de acontecer B dado que A aconteceu. Isso ocorre porque o

indivíduo passa a considerar que a ordem dos acontecimentos não altera a

probabilidade final, o que só ocorre de fato quando 𝑃(𝐴) = 𝑃(𝐵).

Por outro lado, considerando que os indivíduos que compram ou vendem

ações buscam maximizar seus ganhos, podemos considerar que eles usam as

informações que possuem sobre o ativo da melhor forma possível. Portanto, ele

busca melhor conhecimento sobre as probabilidades de eventos para melhor

estimar o retorno esperado. Isso significa que o investidor não é

deliberadamente influenciado pela representatividade, sabendo que esta

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distorce as probabilidades e portanto comprometem a possibilidade de ganho ao

atrapalharem as previsões de retorno. Ou seja, aqueles que são mais

influenciados pela representatividade, são os que possuem menos informação.

Dessa forma, a influência de análises técnicas mais simples, que são proxy para

representatividade, pode ser uma proxy para nível de informação.

É coerente esperar então que notícias tenham maior peso na decisão de

agentes com menor nível de informação. Isto é intuitivo na medida em que as

pessoas distribuem pesos para as informações que possuem. Se alguma

informação é retirada, o peso que ela ocupava é redistribuído entre as que

permaneceram.

Consequentemente, espera-se uma relação entre a heurística de

representatividade, traduzida nas análises técnicas utilizadas, e o impacto das

notícias na tomada de decisão, traduzida na variação do preço do ativo. Então,

pelo que retratamos, é esperado que menor nível de informação, medido pela

influência das análises técnicas, leve a variações maiores do preço.

2.2. Previsão de Retorno

Em geral, um agente racional busca sempre a alternativa que maximiza sua

utilidade. No mercado de capitais, o agente racional procura a opção que

maximiza seu retorno dado certo nível de risco. Essa visão pode ser

generalizada mesmo para o caso em que há assimetria de informação, onde o

agente busca o que lhe parece melhor dado o conjunto de informações que

possui. Em finanças essa ideia guia a busca por modelos e análises capazes de

prever o preço futuro. Com isso, pode-se então aumentar o retorno esperado

operando com base nos modelos e análises.

No contexto histórico de precificação de ativos, um marco inicial se dá com

o modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model) desenvolvido por Treynor (1961),

Sharpe (1964), Litner (1965) e Mossin (1966), de modo independente. O CAPM

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relaciona o retorno esperado com o risco do ativo, utilizando o ativo livre de risco

do mercado, do seguinte modo:

𝐸 𝑅! = 𝑅! + 𝛽!(𝐸(𝑅!)− 𝑅!),

onde 𝐸 𝑅! é o retorno esperado do ativo; 𝑅! é o retorno do ativo livre de risco;

𝑅! é o retorno do mercado; e 𝛽!, dado por,

𝛽! =𝐶𝑜𝑣(𝑅! ,𝑅!)𝑉𝑎𝑟(𝑅!)

mede o risco do ativo 𝑖.

Por meio do CAPM, a análise sobre a previsão de retorno ganha suporte

técnico, servindo de base para modelos subsequentes. De importância teórica

inquestionável, o CAPM fornece uma análise de relativamente simples aplicação

mas capaz de guiar os investimentos dos agentes que o utilizam. Partindo da

moldura deixada por esse modelo, Fama e French (1993) elaboram o modelo

três fatores.

Fama e French (1993) preservam a estrutura do modelo CAPM original

incorporando ao cálculo do retorno esperado as variáveis de capitalização de

mercado (SMB - small minus big) e de razão entre preço de mercado e preço

contábil (HML - high minus low). Fama e French (1996) analisam e explicam que

muitas das anomalias existentes no modelo CAPM tradicional são relacionadas

e podem ser capturadas pelo seu modelo de três fatores.

A equação do modelo de três fatores de Fama e French é:

𝐸 𝑅! − 𝑅! = 𝑏! 𝐸 𝑅! − 𝑅! + 𝑠!𝐸 𝑆𝑀𝐵 + ℎ!𝐸(𝐻𝑀𝐿),

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onde 𝑏! , 𝑠! e ℎ! são medidas de risco obtidas pela regressão de séries

temporais.

O modelo de três fatores trouxe um ganho expressivo no poder de predição

com relação ao modelo CAPM. O modelo fornece uma alternativa melhor para a

tomada de decisão da compra ou venda do ativo, dado um período de tempo

determinado pelo agente.

Os avanços nos estudos sobre retorno levaram à incorporação de

conceitos de psicologia para explicar a forma como os agentes reagem no

mercado. Dado que o preço é resultado de interações entre os compradores e

os vendedores, é natural depreender que o preço reflete as intenções e escolhas

dos indivíduos. Daí, entender como os indivíduos tomam suas decisões torna-se

ferramenta especial para prever preços e retornos.

Nesse contexto, conceitos como overreaction e underreaction são

desenvolvidos em Barberis, Shleifer, e Vishny (1998), Daniel, Hirshleifer, e

Subrahmanyam (1998), e Fama (1998). Overreaction se refere a uma reação

desproporcionalmente grande após um evento. O próprio nome sugere que uma

reação exagerada ocorreu como resposta a um acontecimento anterior. De

forma análoga, underreaction indica uma reação de intensidade muito menor do

que o esperado após um dado evento.

Estas ideias foram extensivamente incorporadas aos estudos de reação de

agentes a fatores externos, como notícias. Estes, por sua vez, criaram a

fundação para estudos sobre os impactos de notícias nas decisões dos agentes.

Em especial, Zhang (2006) avalia a ambiguidade de informação como proxy

para a incerteza do investidor e mostra evidências de que essa incerteza

acentua o efeito das notícias, com retornos menores após notícias ruins e

maiores após notícias boas.

Em termos de notícias, uma importante contribuição é feita por Nikkinen et.

al. (2006) ao estudarem o impacto da divulgação de indicadores

macroeconômicos americanos nas bolsas mundiais. Levando em conta a

classificação do Bureau of Labor Statistics, os autores concluem a respeito da

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importância de: consumer confidence (CC), consumer price index (CPI),

employment cost index (ECI), employment situation (ES), gross domestic

product (GDP), import and export price indices (IEPI), NAPM: manufacturing

(NAPM) e non-manufacturing (NONNAPM), producer price index (PPI) e retail

sales (RS). Por esse motivo, restringimos a busca por notícias para apenas

esses indicadores, que além da importância estudada, facilitam a utilização de

notícias por serem eventos cujo histórico é mais facilmente encontrado. Além

disso, evitamos excesso de notícias, podendo ser seletivos quanto ao conteúdo,

assim como possível sensacionalismo midiático, que não está presente na

divulgação desses indicadores.

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3 – Métodos e Procedimentos

Primeiramente, por ser o cerne do presente estudo, precisamos definir o

nível de informação. Para definir o nível de informação de um grupo de pessoas

usamos uma proxy que partirá dos conceitos de análise técnica e da heurística

da representatividade, como abordado anteriormente. Esta proxy foi formada

calculando o nível de influência de ferramentas de análise técnica em uma

determinada ação. Assim, aqueles que possuem menos informação, são mais

influenciados pelos indicadores técnicos.

Dado que o preço é resultado de constante transações entre pessoas

vendendo e pessoas comprando, uma variação no preço reflete a dominância,

naquele instante, de algum dos grupos. Sendo assim, uma ação cujo preço

variar mais, seguindo o previsto pelas ferramentas de análise técnica, será uma

ação em que as pessoas que utilizaram as análises técnicas possuem mais

força naquele momento. Em outras palavras, há uma predominância dessas

pessoas operando a ação naquele momento e, portanto, predominância de

pessoas com pouca informação. Como aqueles que possuem menos informação

são mais influenciados pelos indicadores técnicos, a interpretação depende da

relação entre diferentes ações em diferentes dias, de forma que haja uma escala

de comparação entre nível de informação e reação à notícia.

Para essa análise, foram obtidos dados do Yahoo Finance para o mercado

americano, por meio de software desenvolvido em linguagem C#, sobre as

empresas que constituíam o índice S&P 500 em setembro de 2015. Foram

utilizados dados históricos com valores diários a partir de 1985. O uso de dados

diários é devido ao fato de análises técnicas e análises fundamentalistas terem

impacto predominante em espaços de tempo diferentes. Portanto, valores

diários têm o objetivo de aumentar a influência de análise técnica. Deve ser

ressaltado que a lista de ações não necessariamente constituía o índice S&P

500 durante todo o período considerado, uma vez que a lista teve seus

componentes fixados no momento em que foram baixados os dados. Além

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disso, em alguns casos o número de observações de duas ações pode ser

diferente. Isso ocorreu porque algumas ações não possuem dados desde o

início do período citado.

A análise das bases de dados foi feita no R Studio utilizando o pacote

Technical Trading Rules (TTR), que possui o código para algumas análises

técnicas e outras ferramentas de análise. Com isso, a análise foi dividida em:

análise técnica, interpretação e comparação.

Foram utilizadas 9 análises técnicas: RSI (Relative Strength Index), STOCH

(Stochastics), STOCHRSI (combinação entre STOCH e RSI), MACD (Moving

Average Convergence Divergence), ADX (Average Directional Index), Williams

%R, CCI (Commodity Chanel Index), Ultimate Oscillator e ROC (Rate of

Change). Estas foram baseadas no site Investing.com e são bastante comuns e

utilizadas abertamente, garantindo que é conhecimento acessível para

praticamente qualquer nível de informação e portanto básico o bastante. É

importante que as ferramentas sejam simples e amplamente difundidas pois

análises mais complexas ou até algoritmos de análise técnica são utilizados por

instituições financeiras de grande porte, que para todos os efeitos possuem um

alto nível informacional. O cálculo dessas análises pode ser encontrada no site

stockcharts.com.

Com os dados de preço, as 9 análises foram rodadas no software para

indicar a conclusão quanto à compra ou à venda do ativo para cada dia, levando

em consideração as interpretações decorrentes de cada análise. Para as

interpretações, utilizamos as também as informações encontradas no site

stockcharts.com, que apresenta as interpretações mais triviais e comumente

utilizadas. Focamos os sinais de overbought/oversold e os estudos das

divergências. De forma resumida, as divergências acontecem quando os valores

da análise técnica se movem em direção oposta a dos preços, indicando uma

perspectiva de aumento (diminuição) nos preços quando ocorre um lower low

(higher high) no preço da ação mas um higher low (lower high) no valor do

indicador técnico. Brevemente, higher high considera os pontos máximos locais

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e indica uma alta com valor acima das altas locais. Os outros conceitos são

análogos a este.

As informações de compra ou venda referentes a cada ferramenta e para

os diferentes ativos, permitiram comparar as variações de preços para o mesmo

período. Isso, por sua vez, nos permite analisar o sentido e a dimensão da

variação percentual do preço, evidenciando a reação e influência das análises

técnicas.

Com essa informação, estudamos alguns pontos em que tenham ocorrido

notícias. Para o nosso estudo, utilizamos dados do Yahoo! que apresentam

datas de divulgação de dados macroeconômicos. Nikkinen et. al. (2006)

apontam as divulgações macroeconômicas que têm o papel mais importante nos

mercados mundiais e utilizamos então as datas de divulgações desses

componentes macroeconômicos como pontos que a variação de preço será

analisada

Após rodar as análises técnicas especificadas, obtivemos uma tabela para

cada ativo, contendo informações sobre o preço do ativo e os valores obtidos

após terem sido realizadas as análises técnicas. Em seguida, utilizando as

formas de interpretação descritas no site http://stockcharts.com, cada

interpretação retorna um valor +1 (para compra) ou -1 (para venda). Esses

valores foram então somados para constituírem a coluna chamada “sinal”. Esta

coluna nos fornece o valor agregado que serve de sinalizador de convergência

das análises técnicas, ou seja, quando maior, em módulo, o valor do sinal, maior

o número de análises técnicas que estão apresentando a mesma previsão. Além

disso, somas negativas indicam venda e positivas indicam compra. Este

conceito será necessário e utilizado posteriormente.

Em seguida, geramos valores que correspondem à variação dos preços

antes de depois da notícia. A variação do preço antes da notícia é fundamental

para englobar o impacto das análises técnicas. Como estamos usando um valor

de n igual a 1, buscamos os preços um dia antes da data de divulgação das

notícias. Nesse ponto, pegamos a variação percentual do preço nesse intervalo

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de tempo para que as ações sejam mais facilmente comparáveis entre elas

mesmas. Como diferentes ativos possuem diferentes valores de cotação por

ação, o uso da variação percentual evita problemas de dimensionamento entre

os ativos, tornando a comparação entre elas possível.

A variação dos preços após as notícias expressa o ponto focal de nossa

análise. É este valor que demonstra a reação dos agentes às notícias e também

foi calculado como a variação percentual do preço, pelos mesmos motivos

citados acima. As duas variações, ou dimensões, como foram denominadas nas

tabelas do estudo, são estudadas em módulo. Como não é feito nenhum estudo

sobre direcionamento das notícias, que não é o foco desse estudo, o sentido da

variação do preço não importa, mas sim a sua amplitude.

A última coluna incorporada a cada uma das tabelas foi denominada

“sentido”. Esta coluna é resultado da multiplicação da dimensão1 (variação do

preço antes da notícia) pelo sinal (resultado da soma das previsões das análises

técnicas). Esta coluna é essencialmente um marcador que mostra se a ação

teve variação de preço no mesmo sentido do previsto pelas análises técnicas.

Ou seja, números positivos demonstram preços e análises técnicas que variam

no mesmo sentido e, consequentemente, números negativos demonstram

variação em sentidos opostos. Em outras palavras, um valor positivo na coluna

“sentido” indica que o agregado das análises técnicas acertou no período

estudado. Por isso, o valor em “sentido” não tem uso no nosso estudo, apenas o

seu sinal.

Com esses valores estabelecidos, agregamos essas três colunas de cada

ativo em uma única tabela e retiramos o valores nestas iguais a 0, que

representam pontos em que não houve divulgação de notícias. Em seguida,

separamos em duas tabelas, uma contendo as linhas com valores positivos e a

outra com os valores negativos para a coluna “sentido”.

Finalmente, podemos calcular a correlação entre dimensão1 e dimensão2

para cada uma das tabelas. Neste ponto, podemos obter valores diferentes para

o nível de tolerância que adotamos para o “sinal” da tabela. Sendo assim,

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podemos analisar o “sinal” em módulo para estudar a sua dimensão ao invés do

sentido. Vale então destacar que para valores mais distantes de 0 há uma maior

convergência das previsões das análises técnicas, o que é interessante para o

nosso estudo. O estudo das correlações obtidas nos mostrará o grau com que

as análises técnicas, que indicam pessoas com menos informação, influenciam

a variação dos preços no momento em que a notícia é liberada.

Por exemplo, no dia 16/01/2014, foram divulgados resultados do CPI

(consumer price index). Para Yahoo! ( de símbolo YHOO), o sinal um dia antes,

que mostra a previsão das análises técnicas no momento em que a primeira

variação de preço será considerada, foi igual a -1. Isso indica que a

interpretação das análises retornou uma indicação de venda a mais do que o

número de indicações de compra, resultando numa soma -1. A dimensao1, que

mostra a variação percentual do preço 1 dia antes da notícia, foi igual a 0.00100.

A dimensao2, que mostra a variação percentual do preço 1 dia após a notícia, foi

igual a -0.00133. Sendo assim, o sentido, que consiste na multiplicação do sinal

pela dimensao1 foi igual a -0.00100, significando que o sentido de variação do

preço foi contrário (sentido < 0) ao previsto pelas análises técnicas.

Realizando esse mesmo processo para todas as ações e em todos os dias

que houveram notícias é o que nos levará à matriz que usaremos para calcular

as correlações cujos resultados foram expostos a seguir.

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4 – Análise Empírica

Em nossa análise empírica, estudamos, como mencionado acima, o

comportamento das ações que compõem o índice S&P 500 com relação à

divulgação de notícias macroeconômicas americanas como destacadas em

Nikkinen et. al. (2006).

Nos resultados das tabelas 1 e 2, vemos os valores que são obtidos

quando se considera “sinal” > 3, “sinal” > 4 e “sinal” > 5, respectivamente. A

Tabela 1 apresenta os resultados obtidos com a correlação de Pearson, que é

paramétrica. A Tabela 2 apresenta os resultados encontrados para a correlação

de Spearman, que é não-paramétrica.

Para o caso de “sinal” > 3, o primeiro resultado foi obtido para os valores

positivos em “sentido”, ou seja, os pontos que as análises técnicas acertaram

suas previsões. O segundo, por outro lado, foi obtido para os valores negativos

em “sentido”, ou seja, os pontos em que as análises técnicas erraram suas

previsões. Observamos que os dois apresentaram correlação positiva, mas que

a correlação é maior para o “sentido” positivo. Além disso, ambos são

significativos a 5%.

Os valores seguintes foram obtidos para “sinal” > 4 e seguem a mesma

ordem do anterior, com “sentido” > 0 seguido de “sentido” < 0. Novamente, os

dois valores obtidos ainda são significativos a 5%, no entanto, a diferença entre

as duas correlações aumentou, ainda que as duas tenham permanecido

positivas. Por fim, para “sinal” > 5 os dois valores continuam positivos, mas

agora apresentam uma distância muito menor do que as observadas nos outros

dois casos. Mais uma vez, os resultados são significativos a 5%.

Para enriquecer a nossa análise, utilizamos em seguida o método de

Spearman para calcular a correlação entre as variáveis dimensao1 e dimensao1.

Por se tratar de um teste não-paramétrico baseado em ranks, o teste de

Spearman é robusto, aumentando a confiabilidade dos resultados. Ainda assim,

o rho, que indica correlação, permanece mais alto para “sentido” > 0, em todos

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os casos. Além disso, o fato de todos serem significativos a 5% demonstra sua

forte significância e serve para reforçar os resultados obtidos usando a

correlação de Pearson.

A interpretação desses valores é intuitiva. Na nossa hipótese central,

menor nível de informação leva a uma reação mais forte a uma dada notícia.

Como nossa proxy de nível de informação é o nível de influência de análises

técnicas, temos que quando uma análise técnica prevê corretamente a variação

de preços antes da notícia (“sentido” > 0), uma maior variação de preços antes

da notícia deveria implicar uma maior variação depois da notícia. Para o caso de

“sentido” < 0, o raciocínio é análogo.

De forma pura, essa consideração implicaria esperar uma alta correlação

positiva para o primeiro caso e uma correlação negativa para o segundo caso e

que também fosse grande em módulo. No entanto, como existem outros fatores

envolvidos na variação de preços e que tornam a análise mais complexa, além

do escopo desse estudo, as correlações apresentam valores relativamente

próximos e com valores positivos para ambos os casos.

Podemos concluir com base nesses resultados e considerando a

complexidade de mercado que de fato diferentes níveis de informação levam a

diferentes níveis de reação dos agentes à notícia. Esse resultado é evidenciado

pelo valor mais alto de correlação para “sentido” > 0 nos três casos

considerados e para os dois testes aplicados.

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Tabela 1 - Correlação de Pearson 1

Correlação de Pearson correlação t p-valor

sinal>3sentido>0 0.158588 38.79 < 2.2e-16

sentido<0 0.1119537 28.592 < 2.2e-16

sinal>4sentido>0 0.25766 58.575 < 2.2e-16

sentido<0 0.1054813 24.075 < 2.2e-16

sinal>5sentido>0 0.2857281 53.645 < 2.2e-16

sentido<0 0.2424022 44.185 < 2.2e-16

*hipótesenuladecorrelaçãoiguala0

Tabela 2 - Correlação de Spearman 1

Correlação de Spearman rho p-valor

sinal>3 sentido>0 0.2112927 < 2.2e-16 sentido<0 0.1900036 < 2.2e-16

sinal>4 sentido>0 0.2148217 < 2.2e-16 sentido<0 0.1887267 < 2.2e-16

sinal>5sentido>0 0.2222268 < 2.2e-16 sentido<0 0.2019105 < 2.2e-16 *hipótesenuladerhoiguala0

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5 – Conclusão

Nessa monografia analisamos a forma como pessoas com diferentes níveis

de informação reagem a notícias, utilizando o conceito de heurística de

representatividade introduzido por Kahneman e Tversky (1972). Utilizamos tal

conceito para conectar o nível de informação com análises técnicas, sendo estas

uma forma de heurística de representatividade.

Baseando-nos na conexão desses dois conceitos, seguimos com a

suposição de que maior influência de análises técnicas significaria menor nível

de informação. A partir daí pudemos rodar correlações que nos levaram a

conclusão de que essa hipótese se verifica, onde ações com grande influência

de pessoas com menos informação mostraram uma maior variação de preços

após a divulgação de notícias macroeconômicas.

Ressaltamos que outros fatores como permanência de preços, por

exemplo, e outras complexidades do mercado podem ter minimizado as

distâncias entre as correlações, que ainda assim corroboram o esperado pela

nossa análise teórica. Dessa forma, percebemos que o nível de informação pode

ser entendido como um fator impactante nos preços mas que, no entanto, tem

seu impacto diminuído por outros fatores não estudados.

Ainda, o fato de a análise empírica demonstrar a relação esperada abre

portas para outros estudos que podem ser feitos nessa linha. Estudos que

incluam a análise do conteúdo das notícias e incorporem outros fatores de

mercado podem se beneficiar dos resultados e da metodologia desse estudo

para avançar nessa análise de finanças comportamentais.

Por fim, uma variável de nível de informação do ativo pode ser agregada a

modelos de precificação no curto prazo ou a estratégias de curto prazo para

determinar o nível de variação esperada de preço. Com isso, avançamos a

literatura sobre retorno de ações e deixamos espaço para melhorias nas

limitações desse estudo.

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