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Universidade de Brasília FABIO ALVES DOS SANTOS PEREIRA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: Um estudo crítico sobre o esporte São Paulo 2007

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Universidade de Brasília

FABIO ALVES DOS SANTOS PEREIRA

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: Um estudo crítico sobre o esporte

São Paulo

2007

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FABIO ALVES DOS SANTOS PEREIRA

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: Um estudo crítico sobre o esporte

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar.

Orientador: Profº. Ms. Antônio Carlos Vaz

São Paulo

2007

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PEREIRA, Fabio Alves dos Santos.

Educação Física Escolar: Um estudo crítico sobre o esporte. São Paulo, 2007.

61 p.

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007.

1. Escola 2. Educação Física 3. Esporte.

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FÁBIO ALVES DOS SANTOS PEREIRA

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: Um estudo crítico sobre o esporte

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente: Professor Mestre ANTONIO CARLOS VAZ

Faculdade Brasília de São Paulo

Membro: Professor Doutor Fábio Cardias Universidade de São Paulo

São Paulo, 18 de Agosto de 2007.

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A Deus, fonte de vida e amor. A meus familiares, pelo incentivo e carinho constantes. A minha noiva e amigos pelo apoio. Aos milhões de miseráveis desse país que apesar de todas as dificuldades ainda conseguem sorrir.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, que me deu vida, saúde, inteligência, e

persistência para que eu pudesse realizar este trabalho.

Agradeço aos meus familiares, por todo apoio dado e também a minha noiva

Vanessa, pela compreensão nos vários momentos que necessitei ficar ausente,

devido ao desenvolvimento do trabalho.

Também agradeço aos alunos, a direção e a professora de Educação Física

da escola onde realizei a pesquisa, pela sinceridade e empenho ao me ajudar na

realização deste projeto. Ao Ministério do Esporte pela oportunidade de participar de

um curso de especialização.

E por fim, não poderia deixar de agradecer a Faculdade Brasília de São Paulo

e modo especial, ao meu amigo e orientador Antônio Carlos Vaz (Cacau), pelo

incentivo constante e pela orientação.

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As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá, mas o amor jamais acabará.

São Paulo.

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo discutir a aplicação dos esportes nas aulas de Educação Física, verificando em especial como está sua aplicação nas aulas de Educação Física de uma escola pública e qual a visão que esses alunos tem da área e da sua aula de Educação Física. Na fundamentação teórica, verificou-se obras em especial relacionadas à Educação Física Escolar e ao esporte, que apresentassem uma visão crítica sobre o fenômeno esportivo, frisando como o esporte se apresenta em nossa sociedade e nas aulas de Educação Física. Apontou-se que o esporte surgiu no âmbito da cultura européia no século XVII, a partir de um processo de modificação dos jogos e atividades corporais, sendo que o mesmo possui fortes vínculos com a lógica capitalista e por isso, assumiu muitas de suas características, como a competição, o rendimento, a busca de recordes, a razão técnica, entre outros. Esse tipo de esporte denominado esporte de rendimento, foi o que serviu de modelo para o esporte praticado nas aulas de Educação Física. Ainda na fundamentação teórica, foi verificado como o esporte pode ser aplicado nas aulas de Educação Física, em uma concepção diferente do esporte de rendimento. Enquanto procedimento metodológico, a pesquisa realizada foi do tipo exploratória e a técnica de amostragem utilizada foi a por acessibilidade ou conveniência. O instrumento de avaliação utilizado foi à entrevista focalizada e as respostas foram colhidas através de um gravador e posteriormente transcritas. Assim foram entrevistos 10 alunos da sétima série do ensino fundamental de uma escola estadual do município de Osasco, no mês de dezembro de 2006, juntamente com a professora atuante nesse grupo. Como resultados da pesquisa, foi possível constatar, mediante em especial a análise das respostas obtidas que as aulas são totalmente dedicadas às práticas esportivas, no caso o futebol e voleibol, sendo excluídos da participação das mesmas, os alunos que não gostam ou que não apresentam as condições necessárias para prática dessas modalidades esportivas. Nesse sentido, não há por parte da professora, nenhum tipo de adaptação ou estratégia que vise integrar esses alunos as atividades da aula. Não há também, nenhum tipo de diálogo, entre a professora entrevistada e seus alunos, quanto às características negativas do esporte. Neste âmbito, ficou demarcado, que os alunos sentem a necessidade de uma diversificação das atividades nas aulas de Educação Física. Defende-se assim que os pontos abordados nesse estudo possibilitem um repensar quanto à forma de abordar os esportes nas aulas de Educação Física, na superação do modelo do esporte de rendimento, exaltando o papel relevante que o esporte pode ter, quando ao invés de buscar o rendimento, a hipercompetitividade, a seletividade e a exclusão, busca, a participação, a cooperação, a autonomia e a inclusão. Palavras-chaves: Escola. Educação Física. Esporte.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................... 13

2.1 Escola, Educação Física e Esporte: uma análise histórica......................13

2.1.1 Década de 80, movimentos renovadores ................................. 18

2.2. O esporte nas aulas de Educação Física na Escola.............................. 24

2.2.1 O esporte como conteúdo da Educação Física...........................32

3 METODOLOGIA ............................................................................................... 37

3.1 Tipo de pesquisa...................................................................................... 37

3.2 Universo e amostra................................................................................... 37

4 DISCUSSÃO DOS DADOS .............................................................................. 39

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 55

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 57

APÊNDICES ...................................................................................................... 60

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1 INTRODUÇÃO

A Educação Física como disciplina curricular na escola brasileira, tem sua

origem na década de 20. Tendo a sua prática totalmente, balizada em concepções

militares e higienistas, tendo o método Francês de ginástica, como método oficial.

Contudo, gradativamente o esporte começou a ganhar espaço nas aulas de

Educação Física e por uma série de motivos, começou a instrumentaliza-lá,

tornando-se dentre as várias manifestações da cultura corporal, o principal conteúdo

das aulas.

O esporte é sem dúvida, um dos mais importantes e fantástico produto

sócio-cultural humano. Esporte esse, que se desenvolveu a partir de uma

modificação dos jogos e de atividades corporais, o qual a partir do século XVIII, com

o crescimento do capitalismo pelo mundo, se racionalizou e se hegemonizou,

tornando-se um dos principais fenômenos humanos. O esporte atrelado à lógica

capitalista desenvolveu-se pautado nas suas características, com forte orientação à

competição, à otimização do rendimento, à especialização, à hiper-competitividade,

a racionalização técnica e instrumental, à busca do record, à comparação objetiva, à

sobrepujança, à seletividade, entre outros. Além do capitalismo, o esporte por suas

características, também foi utilizado pelos vários governantes em prol dos seus

interesses. Fato esse bem observado, na época ditorial brasileira.

Essa esportivização das aulas de Educação Física, não foi acompanhada

por uma reflexão crítica da área, que aceitou de forma reflexa os códigos da

instituição esportiva, os quais passaram a instrumentaliza-la, o que por fim veio a

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11 denunciar uma certa falta de especificidade pedagógica da área. Diante desse e de

outros fatores, a partir da década de 80, a Educação Física viu se desenvolver os

chamados movimentos renovadores, que tinham entre outros objetivos o de romper

com o paradigma da aptidão física e da esportivização; e o de mostrar a importância

e especificidade da Educação Física no currículo escolar. Algumas dessas

abordagens possuíam um cunho mais radical de crítica, as quais estavam

associadas à sociologia crítica e buscavam revelar todo o caráter reprodutor das

características capitalistas, que estavam sendo veiculadas pelo esporte nas aulas de

Educação Física e, além disso, tentavam mostrar as possibilidades de contribuição

da área, para a transformação social.

Pois bem, nesse sentido a produção literária da área sobre o esporte,

sobre as características negativas do esporte de rendimento e sobre possibilidades

de se trabalhar de uma outra forma com os esportes, que não seja balizado nos

valores capitalistas, mas sim nos valores humanos, são bem grandes. Entretanto, o

assunto ainda merece ser estudado e debatido, pois segundo a nossa vivência, a

área ainda não se libertou de fato, das características negativas do esporte. A

teorização vasta sobre o assunto, ainda não se tornou prática nas aulas de muitos

professores. Passado quase três dezenas de décadas, muito pouco mudou, sobre a

forma como os professores de Educação Física, vêem, utilizam e concebem o

esporte.

Por isso, enquanto a teoria não se tornar prática, o debate sobre o

assunto precisa ser constantemente reavivado e inflamado nas discussões da área.

É necessário que se estude e problematize o tema, até que as idéias se

materializem.

E é justamente com esse intuito, sobre esse assunto, que nos propomos a

pesquisar. Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo geral, discutir a

aplicação dos esportes nas aulas de Educação Física. E por objetivo específico,

como essa aplicação está ocorrendo nas aulas de Educação Física de uma escola

pública; e qual a visão que os alunos tem da área e da sua aula de Educação Física.

É nessa relação entre a Educação Física e o esporte sobre as

características que o esporte apresenta nas aulas de Educação Física e sobre quais

características mais humanas o esporte poderia se apresentar, que o presente

trabalho irá se constituir. Na fundamentação teórica, no primeiro item intitulado de

“Escola, Educação Física e Esporte: uma análise histórica” iremos discutir como a

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12 Educação Física, se constitui como uma disciplina escolar, sobre quais interesses;

como a Educação Física de forma acrítica, aceitou os códigos do esporte, a ponto

dele, instrumentá-la; como os governantes utilizaram a Educação Física e os

esportes para veiculação ideológica; qual a contribuição dos movimentos

renovadores para a Educação Física; e como são as características das

abordagens: construtivista, desenvolvimentista e crítico-superadora.

Já no segundo item, que se apresenta com o título de “O esporte nas

aulas de Educação Física na escola” iremos estudar, quais são as características do

esporte de rendimento; quais são os valores difundidos por ele; como esse esporte

ganhou legitimidade para dominar as aulas de Educação Física; como o esporte

pode ser aplicado de uma forma diferente, ao do rendimento, para poder contribuir

para a formação cidadã dos alunos;

Portanto, esse trabalho irá tentar fornecer alguns indícios e subsídios para

os professores de Educação Física, tentarem entender um pouco mais sobre os

esportes e sobre como trabalhar com os mesmos, em uma lógica diferente do

esporte de rendimento, em uma lógica, que vise a inclusão, a cooperação, a

ludicidade, a participação, a autonomia, que vise colaborar para a formação cidadã

em prol de uma sociedade mais humana.

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13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. ESCOLA, EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE: UMA ANÁLISE HISTÓRICA

Ao analisarmos essa tríade (Escola, Educação Física e Esporte),

podemos constatar que essas relações são tensas, cheias de antagonismos,

contradições, paradoxos, entre outros.

Segundo Bracht (1992), a escola é fruto de um processo de

complexificação da sociedade, que fundamentalmente foi produzida pelo

desenvolvimento das forças produtivas, cabendo à escola o papel de transmitir um

saber socialmente acumulado. “A Educação Física nasce praticamente junto com a

escola, com os sistemas nacionais de ensino, típicos da sociedade burguesa

emergente dos séculos XVIII e XIX” (BRACHT, 1992, p. 10).

No Brasil, as primeiras intenções por parte do poder público, para a

inserção da Educação Física, na grade curricular dos centros educacionais, se dão

na segunda metade do século XIX. Nesse sentido, é de suma importância, o Parecer

de Rui Barbosa que no projeto 224 de 1882, (chamado de Reforma do Ensino

Primário e Várias Instituições Complementares de Instrução Pública), concede à Educação Física uma atenção especial, sendo que se observam medidas como:

uma sessão especial de ginástica na escola normal; a equiparação em categoria e

autoridade dos professores de ginástica, ao de todos os outros professores; inclusão

da ginástica nos programas escolares como área de estudo em horas distintas ao

recreio e depois das aulas (CASTELLANI FILHO, 1988).

Entretanto, somente nas chamadas Reformas Educativas que ocorreram

na década de 20, mais especificamente entre os anos de 1920 e 1928, em vários

estados brasileiros, a Educação Física foi contemplada como componente curricular

do ensino Primário e Secundário (BETTI, 1991).

Em 1929, um anteprojeto de lei do Ministério da Guerra, determinou a

prática da Educação Física para todos os residentes do Brasil. Sendo sua prática,

obrigatória nos estabelecimentos educacionais, a partir dos 6 anos de idade. Esse

mesmo anteprojeto de lei também adotou o Método Francês como o método de

Ginástica oficial do Brasil (CASTELLANI FILHO, 1988).

A concepção de Educação Física que chegou a nossas escolas estava

totalmente imbricada pela perspectiva, higienista. Nessa concepção, a Educação

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14 Física tinha o papel de formação de um corpo saudável, forte, bonito, límpidos,

arejados, elegante, que no ponto de vista dos higienistas, constituía uma das leis

morais essenciais, para a família brasileira, o qual seria alcançado por meio dos

exercícios físicos (CASTELLANI FILHO, 1988).

Além das influências higienistas, a Educação Física sofreu a influência do

militarismo, inclusive a primeira turma de professores de Educação Física do Brasil,

foi formada pelo Centro Provisório de Educação Física no Rio de Janeiro, em 1928.

Um ano mais tarde, o mesmo anteprojeto de lei do Ministério da Guerra, que adotou

o método Francês, criou o Conselho Superior de Educação Física, que tinha sua

sede no Ministério da Guerra, o qual deveria centralizar, coordenar e fiscalizar todas

as atividades referentes aos desportos e Educação Física no Brasil (CASTELLANI

FILHO, 1988).

Com essa influência militarista na Educação Física, o professor ou

instrutor deveria apresentar os exercícios, manter a ordem e disciplina. O aluno

deveria repetir e cumprir o que o instrutor mandava (BRACHT, 1992).

A partir da Lei de Diretrizes e bases da Educação de 1961, o esporte, que

já havia se fortalecido muito na Europa, passou a ganhar cada vez mais espaço nas

aulas de Educação Física e ocorreu um processo de esportivização na Educação

Física, com a introdução do Método Desportivo Generalizado (CASTELLANI FILHO,

1988). Colaborou também para essa esportivização das aulas de Educação Física, o

desenvolvimento industrial com a conseqüente urbanização da população e dos

meios de comunicação de massa (BRACHT, 1992). A esse respeito, Castellani Filho

(1988) relata que o esporte servia às empresas, pois constituía oportunidades

favoráveis, para que o trabalhador tivesse uma íntima comunhão com seus

companheiros e com a direção da empresa, levando a uma unidade na fábrica; para

compensarem o esforço realizado no desempenho da profissão, proporcionando

forças, alegria e saúde; para manterem os trabalhadores ocupados nas suas horas

de lazer, entre outros.

Após esse período, com a tomada do poder pelos militares e as

influências tecnicistas, os esportes agora representavam o principal conteúdo, se

não único, das aulas de Educação Física (BETTI, 1991).

Os esportes eram utilizados como cortina de “fumaça”, para o regime

opressor, alienando o povo; para formar atletas e conseguir através de hipotéticos

bons resultados nos esportes, fazer uma espécie de marketing do regime e também

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15 para minimizar os riscos de possíveis articulações políticas que oferecessem riscos

ao poder das elites, conforme relata Castellani Filho (1988, p. 121, grifos do autor):

[...] por conta do decreto lei nº 705/69, (coube à educação física) colaborar, através de seu caráter lúdico-esportivo, com o esvaziamento de qualquer tentativa de rearticulação política de movimento estudantil. Evidenciava-se, dessa forma, os traços alienados e alienantes absorvidos pelo ‘personagem’ vivida pela Educação Física.

Contudo, Caparroz (1997) faz uma observação que merece ser

mencionada por nós. Segundo o autor, tais análises possuem uma certa visão

mecanicista sobre a introdução e presença do esporte. Por essa visão, o esporte é

analisado, como reflexo da estrutura econômica e sócio-política, a qual leva a uma

ótica simplista do fenômeno esportivo, pois entende que tudo aquilo que está

expresso em leis e decretos oficiais, irremediavelmente ocorre, as intenções da

ideologia dominante, tiveram êxito total, tudo ocorreu de forma linear. Tal visão, é

anti-dialética, não leva em conta as resistências, as contestações, as negações, que

ocorreram nesse percurso.

Darido (2004, p. 108) relata as características que permeiam a Educação

Física nessa fase histórica, conforme segue:

É nessa fase da história que o rendimento, a seleção dos mais habilidosos, o fim justificando os meios estão mais presentes no contexto da Educação Física na escola. Os procedimentos empregados são extremamente diretivos, o papel do professor é bastante centralizador e a prática uma repetição mecânica dos movimentos esportivos.

Antes de continuarmos tratando das influências da instituição esporte na

Educação Física, é interessante ponderarmos sobre Bracht (1992), que faz uma

discussão interessante, que nos ajudará a entender melhor a relação Educação

Física e esporte. O autor citado acima relata que cada manifestação humana possui

um certo código, um determinado significado/sentido, que lhe confere especificidade

e que tal significado/sentido, é conferido pelo contexto histórico-cultural. Nesse

sentido, por exemplo, para a maior parte dos movimentos “renovadores” (como

veremos com mais detalhes a seguir) é o movimento corporal que confere

especificidade à Educação Física no contexto escolar, contudo, não é qualquer

movimento, nem todo movimento, e sim, aquele que se apresenta na forma de

jogos, de lutas, ginásticas, danças e etc.

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Estas atividades, como disse, possuem um determinado código que denuncia seu condicionamento histórico, expressam/comunicam um sentido, incorporam-se a um contexto que lhes confere sentido.

Por exemplo, os movimento na forma de exercícios ginásticos, de corridas, etc., que incorporam os programas de preparação militar no interior desta instituição, expressam e possuem um sentido, um determinado código que só pode ser apreendido, se considerados o sentido e os códigos que vigoram na própria instituição militar como um todo [...] (BRACHT, 1992, p. 17).

Pensando dessa forma, podemos afirmar que a Educação Física, não

conseguiu formar para si, uma identidade própria, com códigos, símbolos e etc. A

sua identidade e o seu desenvolvimento se dão de fora para dentro. Tanto em

relação às influências higienistas, militares e esportivas, ou seja, utiliza-se dos

códigos dessas instituições, para se estabelecer (BRACHT, 1992). No caso da

instituição esportiva, isso se dá com:

Tal magnitude que temos, então, não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Isso indica a subordinação da Educação Física aos códigos/sentidos da instituição esportiva, caracterizando-se o esporte na escola como um prolongamento da instituição esportiva: esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional. Esses códigos podem ser resumidos em: princípios de rendimento atlético/desportivo, competição, comparação de rendimento e recordes, regulamentação rígida, sucesso no esporte como sinônimo de vitória, racionalização de meios e técnicas etc (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 54).

Conforme relata Bracht (1992), tais códigos não deveriam ser

transplantados de forma reflexa do esporte para a Educação Física, a influência do

meio ambiente não foi selecionada ou filtrada por um código próprio da Educação

Física, o que por fim, vem demonstrar que falta para a área, uma autonomia na

determinação de sentido das ações em seu interior. A esse respeito Caparroz (1997,

p. 136), alerta que é importante:

Operar questionamento, no intuito de verificar se o esporte conformou a Educação Física escolar, ou na medida em que ela não se constituiu como componente curricular com base nas exigências da educação escolar, não soube se apropriar dele.

Aos poucos o esporte se impõe à Educação Física, instrumentalizando-a,

para que a mesma, atinja os objetivos definidos pelo próprio sistema esportivo. Tal

processo, não é acompanhado por uma reação crítica por conta da Educação Física,

contraditoriamente, a Educação Física utilizou-se dos elementos esportivos para

justificar a sua permanência na escola, como forma de auto-valorização (BRACHT,

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17 2000). Neste contexto, a escola tomou para si, a tarefa de servir, de fornecer a base

para o esporte de rendimento. As aulas de Educação Física na escola tornaram-se

um local para a descoberta do talento esportivo. A instituição esportiva por sua vez,

também sempre argumentou que esporte é cultura e educação, para legitimar-se no

contexto social (BRACHT, 1992). O professor de Educação Física neste contexto

esportivista passou a ser professor-treinador e o aluno, aluno-atleta (COLETIVO DE

AUTORES, 1992).

Além do esporte, a Educação Física lançou mão para buscar sua

legitimidade na escola, de uma série de objetivos, que fugiam da sua especificidade

como:

o desenvolvimento do sentimento de grupo, de cooperação, da sociabilidade, da auto-confiança, do conhecimento de si, etc, etc, (ou bla, bla, bla?), objetivos que, no entanto, exercem função ideológica porque a ação pedagógica não está centrada na sua consecução relegando-os, de fato, a ‘efeitos paralelos desejáveis’ (BRACHT, 1992, p. 25, grifos do autor).

Essa indefinição do papel do professor de Educação Física na escola e

até da disciplina, também foi observado por Daolio (1995), conforme segue:

É significativo que, quando perguntados a respeito do seu papel na escola, os professores tendem a falar de suas atividades extracurriculares, tais como ensaios de formatura, preparação de desfiles, ensaios de fanfarra, organização de festas, ou então se referem às solicitações da direção ou da coordenação pedagógica para falarem sobre sexo com os alunos ou para resolverem alguma questão disciplinar com alguma criança que está apresentando problemas. Alguns professores do sexo masculinos referem – se também ao fato de existirem poucos homens na sua escola e de terem que dar uma ajuda em serviços gerais. Autodenominado–se ‘polivalentes’ ou ‘pau para toda obra, eles citam com suas atividades a troca de lâmpadas, instalações elétricas, pequenos consertos e até a remoção de um barranco [...] (DAOLIO, 1995, p. 71, grifos do autor).

Todavia, tais argumentos se dão de fora para dentro, não há uma

investigação, um problematização, que mostre de forma clara e objetiva a

legitimidade da Educação Física na escola.

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Por não conseguir legitimar-se propriamente e com o transplante acrítico

dos códigos e valores da instituição esportiva, e/ou da utilização errada da mesma

pela Educação Física, uma série de equívocos e erros do ponto de vista pedagógico

e até humanos, começaram a fazer parte da rotina das aulas de Educação Física1

na escola. Dentre esses podemos destacar o domínio dos esportes como conteúdo

das aulas de Educação Física (COLETIVO DE AUTORES, 1992), a busca do

rendimento, da competição, dos recordes (BRACHT, 1992), a exclusão dos menos

aptos para a prática esportiva (TONELLO, GOUVÊA E ISAYMA, 1997), uma

preocupação excessiva com os gestos técnicos, estereotipados, com a

padronização, num processo de coisificação da consciência (SADI, 2004).

Com tais características, a Educação Física Escolar, sem uma definição

clara dos seus objetivos na escola, sem estar diretamente ligada ao projeto

pedagógica da escola, sofreu por parte dos professores e da comunidade escolar

com um todo uma certa discriminação e “um papel secundário em relação às outras

disciplinas” (DAOLIO, 1995, p. 65).

2.1.1. DÉCADA DE 80, MOVIMENTOS RENOVADORES

Na década de 80, segundo Bracht (1999), surge o chamado movimento

renovador da Educação Física. Tal movimento num primeiro momento buscava dar

mais cientificismo à Educação Física. Segundo esse viés, era preciso orientar a

prática pedagógica com base no conhecimento científico. Nesse período, entra em

cena, a perspectiva que se baseia nos estudos do desenvolvimento humano

(desenvolvimento motor e aprendizagem motora).

Num segundo momento, à crítica a Educação Física fica mais radical. Tal

fato se deve, entre outros motivos, pela inclusão da Educação Física no sistema

universitário brasileiro, o que leva os professores da graduação a buscarem

qualificação nos programas de pós-graduação, primeiramente no exterior e depois

no Brasil. Um grupo de professores optou por freqüentar, cursos de pós-graduação

em Educação no Brasil. Esse grupo influenciado pelas discussões pedagógicas,

principalmente pela sociologia e filosofia da educação de orientação marxista,

1 Tais fatos serão discutidos em detalhes no capítulo seguinte.

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19 começou a criticar veementemente o paradigma da aptidão física e esportiva que

dominavam as análises da área.

O eixo central da crítica que se fez ao paradigma da aptidão física e esportiva foi dado pela análise da função social da educação, e da EF em particular, como elementos constituintes de uma sociedade capitalista marcada pela dominação e pelas diferenças (injustas) de classe.

Toda a discussão realizada no campo da pedagogia sobre o caráter reprodutor da escola e sobre as possibilidades de sua contribuição para uma transformação radical da sociedade capitalista foi absorvida pela EF (BRACHT, 1999, p. 6, grifo do autor).

Essa década foi muito fecunda para a Educação Física em termos

literários, muitas das obras datadas desse período, se tornaram marcos da história

recente da Educação Física, dando origem a algumas das chamadas abordagens da

Educação Física. Dentre elas, iremos nos ater a três: a abordagem construtivista, a

abordagem desenvolvimentista e a abordagem crítico-superadora.

Tais abordagens, segundo CAPARROZ (1997), além de romperem com

os modelos anteriores, tinham também o intuito de mostrar a importância e justificar

a presença da Educação Física no currículo, tentando retirá-la da marginalidade.

O professor João Batista Freire, com o livro Educação de corpo inteiro,

que teve sua primeira edição em 1989, teve papel determinante na divulgação do

construtivismo na Educação Física no Brasil (DARIDO, 2004). O autor, liga a

Educação Física à questão da cognição, relata que quando estamos trabalhando

com o corpo, com os movimentos corporais, estamos trabalhando também o

intelectual, o cognitivo, noções como seriação e classificação, noções sem as quais

não se raciocina, vêm das relações corporais que o indivíduo mantém com o mundo

(FREIRE, 1997). Para Freire, as condutas motoras são um dos recursos utilizados

pelas crianças para se adaptarem ao mundo, pois: [...] para dar conta das adaptações e transformações do mundo, são esses os recursos de que a criança dispõe: as condutas motoras. Aliás, quase não se atenta para o fato de que a inteligência não é elemento exclusivamente racional, pois antes de surjam no indivíduo as primeiras representações mentais, já se manifesta nele um nível elevado de inteligência corporal, que prossegue mesmo após estruturar-se o pensamento (FREIRE, 1997, p. 31).

Segundo Caparroz (1997) nesta tendência é forte a idéia de valorizar a

ação corporal, de atribuir o mesmo status das outras disciplinas tidas como

“teóricas”, “cognitivas”.

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Freire (1997) também relata, que o aluno constrói seu conhecimento a

partir da interação com o seu meio-ambiente, resolvendo problemas. Um outro

avanço, que esta abordagem traz para o centro da discussão, é quando afirma que

na escola deve predominar o jogo, como recurso pedagógico, vinculado a um projeto

pedagógico. Afirma que a importância do jogo na escola é inegável, uma vez que

através dele é possível perceber como a criança está se socializando, como está se

inserindo no mundo social.

O jogo é um recurso importantíssimo, pois educa de forma lúdica,

apresentando altos fatores motivacionais, em contraposição ao esporte, que busca a

performance, excluindo a muitos e que domina as aulas de Educação Física. “O jogo

não representa apenas o vivido, também prepara o devir. É no espaço livre de

pressões que as habilidades (no caso, para se viver em sociedade) são exercitadas,

podendo assim servir de suporte a outras de nível mais alto, quando necessárias”

(FREIRE, 1997, p. 117).

Caparroz (1997) analisa que Freire (1997), ao justificar a importância

desta área no currículo escolar, acaba por supervalorizá-la, a ponto de poder se

observar em seu discurso, que a Educação Física é a mais fundamental das

disciplinas do currículo, por poder trabalhar a mente e o corpo.

Neste sentido a Educação Física passaria a conquistar um espaço no interior da instituição escolar, que não o restrito a meras atividades práticas realizadas em quadras, mas aberto a atividades para além das linhas da quadra que se voltassem para o desenvolvimento cognitivo, o que imprimiria à disciplina um caráter mais significativo e uma ordem de importância semelhante às demais disciplinas (CAPARROZ, 1997, p. 150).

A abordagem denominada Desenvolvimentista tem como principal

precursor o professor Go Tani e como obra mais representativa, o livro “Educação

Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista”, escrito pelos

autores: Edison de Jesus Manuel, José Elias de Proença, Eduardo Kokubun e o

próprio Go Tani. Essa abordagem, “é dirigida especificamente para crianças de

quatro a quatorze anos e busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento

a fundamentação para a Educação Física Escolar” (DARIDO, 2004, p. 113). No livro

citado, fica muito claro que o objeto de estudo e aplicação da Educação Física é o

movimento (TANI et alii, 1988). Para eles, o movimento deve ser o foco central da

Educação Física. Assim, os autores defendem que a Educação Física tem por

obrigação, propiciar a aquisição de habilidades motoras básicas, para um posterior

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21 aprendizado de habilidades motoras mais complexas, de acordo com o nível de

desenvolvimento e maturidade biológica, conforme relato dos mesmos:

[...] existe uma seqüência normal nos processos de crescimento, de desenvolvimento e de aprendizagem motora, isto significa que as crianças necessitam ser orientadas de acordo com estas características, visto que, só assim, as suas reais necessidades e expectativas serão alcançadas (TANI et alii, 1988, p. 2).

Sendo assim, a Educação Física deve oferecer experiências de

movimentos adequados às crianças, de acordo com seu nível de crescimento e

desenvolvimento, propiciando “[...] através da interação entre o aumento da

diversificação e complexidade, possibilitar a formação de estruturas cada vez mais

organizadas” (TANI et alii, 1988, p. 37). “A criança deve aprender a se movimentar

para adaptar-se às demandas e exigências do cotidiano em termos de desafios

motores” (DARIDO, 1998, p. 59).

A abordagem crítico-superadora tem como obra principal o livro

Metodologia do Ensino da Educação Física (1992), do coletivo de autores. Tal fato

pode, até certo ponto, soar como um equívoco cronológico, pois nós nos

propusemos a apontar alguns movimentos renovadores da Educação Física da

década de 80. Contudo, os seus autores já haviam publicado outros textos na

década de 80, que serviram de base para a confecção do referido livro.

Essa abordagem utiliza como ponto de apoio um discurso social

(DARIDO, 2004). Segundo tal abordagem, a Educação Física deve estar atrelada às

transformações sociais, políticas e econômicas, tendo em vista a superação das

desigualdades sociais.

Segundo tais autores, a Educação Física é entendida como sendo uma

disciplina que trata, pedagogicamente na escola, os temas da cultura corporal, ou

seja, os jogos, a ginástica, as lutas, as acrobacias, a mímica, o esporte (COLETIVO

DE AUTORES, 1992). Que busca entender com profundidade, o ensinar, o que não

significa apenas transferir ou repetir conhecimento já elaborado por outras pessoas,

mas refletir sobre ele e criar as possibilidades de sua produção crítica, valorizando a

questão da contextualização dos fatos, o resgate histórico e a transformação da

realidade como um todo.

A Educação Física deve compreender as relações de interdependência que jogo, esporte, ginástica e dança, ou outros temas que venham a compor um programa de Educação Física, têm como grandes problemas sócio-políticos

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atuais como: ecologia, papéis sexuais, saúde pública, relações sociais do trabalho, preconceitos sociais, raciais, da deficiência, da velhice, distribuição do solo urbano, distribuição da renda, dívida externa e outros. A reflexão sobre esses problemas é necessária se existe a pretensão de possibilitarão ao aluno da escola pública entender a realidade social interpretando-a e explicando-a a partir dos seus interesses de classe social. Isso quer dizer que cabe à escola promover a apreensão da prática social. Portanto, os conteúdos devem ser buscados dentro dela (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 62-63).

O coletivo de autores aponta que a valorização da hipercompetitividade,

da performance, da alienação, do uso político e social do esporte, entre outras

coisas, são o que deturpa as aulas de Educação Física na escola. Os autores

propõem um trabalho visando a transformação social, assim afirmam que a

Educação Física deve contribuir para a afirmação dos interesses de classe das

camadas populares, na medida em que desenvolve uma reflexão sobre valores

como solidariedade em detrimento ao individualismo, cooperação confrontando a

disputa, distribuição, ao invés, da apropriação, enfatizando a liberdade de expressão

do movimento, negando toda e qualquer forma de dominação ou submissão do

homem pelo homem (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Com relação aos conteúdos

devem ser escolhidos levando em consideração a relevância social, sua

contemporaneidade e adequação aos alunos de acordo com as características

sociocognitivas dos mesmos (DARIDO, 2004).

Portanto, segundo essa abordagem é possível afirmar, que na Educação

Física, o importante é trabalhar o movimento corporal como uma linguagem, como

conhecimento criado pelo homem, que busca através de uma prática reflexiva,

compreender a realidade social, como algo dinâmico, que carece de mudanças, a

fim de que, as desigualdades sociais sejam corrigidas. Neste contexto, o esporte

visto como uma manifestação cultural e social humana pode e deve estar presente

nas aulas de Educação Física Escolar. A cultura corporal como especificidade da Educação Física, se constitui

com um primeiro passo, para que a Educação Física tenha seus próprios códigos,

significados/sentidos. Todavia, para que a Educação Física, justifique sua presença

no seio escolar, ela necessita autonomizar-se pedagogicamente e também refletir

criticamente sobre o papel da escola em nossa sociedade de classes (BRACHT,

1992).

Apesar das várias críticas que esses autores sofreram e sofrem, as suas

reflexões, se constituíram de grande valia e importância histórica para a Educação

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23 Física. A partir dos seus esforços pioneiros, um ponto substancial foi alcançado, qual

seja, o estabelecimento da especificidade da Educação Física no interior da Escola,

ou seja, a Educação Física tem como especificidade o trato com a cultura corporal,

dentro das suas várias manifestações. Dentre elas, o esporte, que veremos com

mais detalhes no capítulo seguinte.

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24 2.2. O ESPORTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA

O esporte como já foi citado no capítulo anterior, a partir dos anos 60,

assumiu papel central nas aulas de Educação Física. Mesmo com uma grande

quantidade de trabalhos publicados, nas décadas seguintes, mostrando a

importância de se trabalhar com um variado número de atividades relacionadas à

cultura corporal, o fato é que o esporte continua se apresentando como conteúdo

hegemônico das aulas de Educação Física. E é justamente sobre o esporte que

iremos discorrer nas páginas seguintes, com o intuito de verificarmos, segundo a

literatura consultada, como ele se apresenta, quais são os valores transmitidos com

sua prática.

Segundo Bracht (1997) o esporte é uma atividade corporal com caráter

competitivo, que surgiu no âmbito da cultura européia no século XVIII, que se

expandiu rapidamente por todo o mundo, transformando-se na atualidade, em um

dos principais fenômenos humanos. O esporte foi resultado de um processo de

modificação de jogos e de atividades corporais que inicialmente estavam

relacionadas às colheitas, à religião e às festas populares.

Para Escobar (2005), o esporte pode ser entendido, numa visão histórica,

como sendo uma atividade corporal, que foi historicamente criada e socialmente

desenvolvida em torno de uma das expressões da subjetividade humana, o jogo

lúdico, o qual não busca resultados materiais.

A partir do século XVIII, houve um processo de hegemonização e

racionalização do esporte em detrimento das outras atividades da cultura corporal,

levando-o a assumir características de competição, rendimento, treinamento e busca

de recordes.

Essa rápida expansão do esporte nos últimos duzentos anos é

coincidente com o crescimento do capitalismo pelo mundo, expressando

características da nova sociedade industrial, como as rotinas de treinamento, busca

da perfeição técnica e competição exacerbada (SADI, 2004). Stigger (2001), também

concebe o esporte moderno a partir dos vínculos com as sociedades industriais,

conforme segue:

[...] o esporte como um fenômeno cultural que tem fortes vínculos com a lógica da sociedade industrial, e, por esta razão, desenvolver-se-ia em relação direta com estas características, as quais são identificadas no

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processo social global desta mesma sociedade. Neste sentido, falar em rendimento, performance ou produtividade, significa relacionar o debate em torno do esporte com o contexto das discussões vinculadas ao mundo do trabalho, especificamente ao trabalho industrial (STIGGER, 2001, p. 73).

Vários autores adeptos da sociologia crítica, empenharam seus esforços,

a fim de mostrarem a íntima relação entre os valores difundidos pelo esporte e os da

sociedade capitalista. Nessa relação, o capitalismo, utilizou o esporte para

disseminar suas ideologias e características.

Um desses autores é Brohm2 (1976), citado por Azevedo; Suassuna;

Daolio (2004), que à luz da sociologia crítica, relata que o esporte tem algumas

funções, dentre as quais podemos citar: A) a função integradora e de estabilização do sistema capitalista, ou seja, o esporte cria um consenso social

implícito, conseguindo a adesão popular à hegemonia dominante. Sem pôr em

questão a ordem estabelecida, cabendo ao esporte inculcar o espírito de disciplina,

de obediência, contribuindo para criar e manter o conformismo social. B) Apolitismo e despolitização: “ópio do povo” - Essa função diz respeito à utilização de forma

consciente, do espetáculo esportivo para fins políticos, buscando um

obscurecimento ideológico para camuflar a realidade social existente. C) Manutenção da ordem pública - Refere-se a utilização das formas de repressão

policial, nas manifestações esportivas, com caráter ideológico, a fim de evitar

confrontos maiores e de proporções gerais. D) Colaboração de Classes – Refere-

se a ação unificadora do esporte para minimizar as barreiras sociais, pelo menos

temporariamente.

A prática de esportes, por colaboradores e superiores hierárquicos cria um sentimento de pertencer a um mesmo grupo, enquanto oculta a contradição fundamental entre os interesses do capital e os interesses dos trabalhadores, podendo reduzir ou minimizar em benefício do capital as tensões resultantes dessa contradição.

O esporte funciona como um meio neutro de diálogo entre as classes e, por outro lado, assegura a compensação pelas perdas de ordem física, emocional e mental, impostas pela organização do trabalho, permitindo, dessa forma, a integração do trabalhador à empresa (BROHM, 1976 apud AZEVEDO; SUASSUNA; DAOLIO, 2004, p. 62).

2 Gostaríamos de apontar os dados bibliográficos da obra de Brohm (1976), entretanto, não o poderemos fazer, pois, Azevedo; Suassuna; Daolio (2004) que citaram o autor acima, não apresentaram os dados bibliográficos desta obra, nas referências bibliográficas, nem em nota de rodapé.

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Bracht (1997, 2000) é outro autor, que reconhece no esporte essas

características citadas acima, denominando-o como “esporte de rendimento ou

espetáculo”. O autor relata que o esporte de rendimento traz na sua estrutura

interna, os mesmos elementos que estruturam as relações sociais da nossa

sociedade: grande orientação ao rendimento e na competição, seletividade pela

concorrência e etc. (BRACHT, 2000).

Sobre a questão do rendimento, o mesmo autor relata, que o rendimento

almejado no esporte, é o máximo, conforme segue: “O rendimento almejado é o

máximo, não o possível ou o ótimo. [...] no sistema esportivo o próprio rendimento

máximo tornou-se o objetivo a atingir” (BRACHT, 2000, p. XVI).

Kunz (2000) corroborando com a visão de Bracht, explica que o esporte

tem seus princípios de desenvolvimento estruturados sobre valores físicos e na

efetivação prática do esporte, qualquer que seja a modalidade ou disciplina, estes

valores devem ser avaliados, medidos e calculados a fim de serem expressos em

números que permitem a comparação. O esporte tem por regras básicas a

sobrepujança e a comparação objetiva. Derivando daí medidas que servem para

atender a otimização do rendimento e a maximização do mesmo.

Uma outra característica que o esporte de rendimento apresenta, que

possui forte ligação com os valores da sociedade capitalista, diz respeito à questão

da técnica. Para Bracht (2000), a técnica deve ser sempre empregada como um

meio para atingir um fim. E esta deve sempre estar subordinada às finalidades

humanas, e no esporte de rendimento não ocorre isso. Há uma grande preocupação

com o desenvolvimento técnico, da razão técnico-instrumental, que por sua vez, está

sendo empregada, de acordo com o objetivo final, que se resume na sobrepujança

ao adversário. Está lógica está presente desde a iniciação esportiva, muitas vezes

de forma inconsciente. O que levaria uma coisificação das relações humanas.

Apoiado nas idéias da fenomenologia, Kunz (2000), também critica a

técnica, tão presente e central no esporte de rendimento. Relatando que o intelecto,

a racionalidade não são as únicas formas de compreender o mundo. Para ele, o

esporte deve ir além da técnica, da razão. Deve possibilitar o autoconhecimento e o

desenvolvimento da sensibilidade, da percepção e da intuição. Algo que não irá

acontecer se a razão técnico-instrumental continuar tendo o papel centralizador.

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Pois bem, como foi explicitado acima, o esporte assume na sociedade

capitalista, algumas de suas características e ideologias, inclusive, servindo como

“aparelho ideológico3” (AZEVEDO; SUASSUNA; DAOLIO, 2004, p. 61). Contudo,

tais características do esporte, não ficam reservadas apenas as competições

esportivas oficiais. É esse tipo de esporte, com tais características, que servem de

exemplo, em nossas escolas, é esse tipo de esporte que é praticado nas escolas. O

esporte de rendimento ou espetáculo é a tendência mais notável e fornece o modelo

para o esporte escolar (BRACHT, 1997).

A prática esportiva tem assumido principalmente os valores do esporte de rendimento ou espetáculo, mesmo quando ocorre em escolas. O fato de haver um esporte na escola não garante uma atitude crítica em relação a aspectos considerados negativos do esporte de rendimento (AZEVEDO; SUASSUNA; DAOLIO, 2004, p. 82).

Nesse transplante acrítico dos valores do esporte de rendimento para o

esporte escolar, a mídia tem papel importante, pois ela altera o modo como

praticamos e vemos o esporte, distorcendo o esporte ao selecionar imagens e ao

interpretá-las para nós, criando um certo modelo de esporte, o qual se tornou a única

forma possível de conceber o esporte (BETTI, 2004). De forma semelhante

Azevedo; Suassuna; Daolio (2004) relatam que a mídia tende a reproduzir os valores

do esporte de rendimento, transformando em espetáculo para o seu consumo. De

fato, qualquer pessoa, motivada pelas mensagens esportivas veiculadas pela mídia,

considera-se conhecedora do esporte e busca praticá-lo a partir dos princípios

apreendidos por ela. Influenciados pela mídia, os alunos, não raramente, freqüentam

as aulas de Educação Física ou as escolinhas de esporte ou clubes sonhando em

tornarem-se campeões esportivos como aqueles vistos na televisão. Chegam

imbuídos daqueles valores, muitas vezes sem apresentarem posicionamento crítico

em relação às mensagens da mídia.

Para isso, a mídia tende através de montagens espetaculares, repetidas

várias vezes, exaltar a imagem da perfeição do gesto técnico dos atletas,

finalizações, dribles, façanhas esportivas e etc. O que assistimos são espetáculos de

3 Para que se tenha um entendimento mais detalhado sobre os aparelhos ideológicos, sugerimos a leitura da obra de: ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado: nota sobre os aparelhos ideológicos de Estado. 3. ed. Trad. José Evangelista e Maria Viveiros de Castro. Rio de Janeiro, Graal, 1987.

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esporte de alto nível, que se pautam pelo individualismo e hipercompetitividade não

o esporte como jogo, como lazer, como educação, etc. (SADI, 2004).

Além da mídia, outra forma de propagar ideologicamente o esporte de

rendimento, na Educação Física, se dá através dos discursos de ex-atletas, os quais

por desconhecerem os objetivos da Educação Física ou mesmo por uma questão

mercantil, defendem o esporte na escola, relatando que:

• o esporte é uma competição que se resolve de acordo com as regras;

• os esportes representam formas democráticas ideais de condução da convivência humana, vez que todos os participantes, independentemente de classe social, submetem-se às mesmas regras;

• o esporte contribui para o desenvolvimento da auto-estima, do autocontrole, de princípios de respeito às normas sociais e de hábitos para a saúde, ou,

• o esporte é um antídoto das drogas (ESCOBAR, 2005, p. 27).

Bracht (1992) comenta sobre a visão do senso-comum, que muitas

pessoas têm do esporte, relatando que o esporte ajuda na educação, que ensina a

criança a conviver com a vitória e a derrota, a respeitar os outros e as regras, a

competir e etc, o que na verdade não passa de uma perspectiva funcionalista da

sociedade atrelada a ideologia burguesa.

Como é possível perceber, com o auxílio da mídia e de outras

manifestações ideológicas, o esporte de rendimento, tornou-se a base para o

esporte escolar e dessa forma todas essas características negativas do esporte de

rendimento foram transplantados para dentro da escola. Nesse sentido Sadi (2004),

citando Souza (1994, p.81)4 destaca algumas características do esporte escolar,

conforme segue:

• O esporte escolar reforça os valores da competição em detrimento dos valores da cooperação; • O esporte escolar reforça o individualismo em detrimento da solidariedade;

• O esporte escolar privilegia atividades repetitivas e mecânicas em detrimento da liberdade de movimento, da criatividade e da ludicidade;

• O esporte escolar privilegia a ação exclusivamente diretiva do professor em detrimento do diálogo e da liberdade de expressão;

• O esporte escolar desenvolve as modalidades esportivas mais conhecidas e que desfrutam de prestígio social, como o voleibol e o basquete;

4 SOUZA, Solimar S. de. Esporte escolar: novos caminhos. Vitória: CEFD/UFES, 1994.

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• O esporte escolar privilegia como conhecimento de determinadas modalidades esportivas, exclusivamente a execução técnica e tática dos seus fundamentos como o passe, o drible, a cortada, etc;

• O esporte escolar reforça a idéia de ascensão social através do esporte (SOUZA, 1994, p. 81 apud SADI, 2004, p. 26).

No esporte praticado nas aulas de Educação Física, é dada muita ênfase

à competição, “assim, no contexto da educação física escolar, o esporte tem se

apresentado como formador de atletas, onde vale tudo para ser vencedor, até

mesmo, as exclusões dos menos aptos” (TONELLO; GOUVÊA; ISAYAMA, 1997, p.

326).

A nosso ver, de forma semelhante, Paes (1997) nos relata essa

supervalorização da competição, dentro e fora do ambiente escolar, onde o

praticante é visto como uma máquina, que visa à perfeição:

Tem-se sentido uma sobrevalorização do esporte em detrimento do jogo, dentro e fora das escolas. A Educação Física deveria ter como prioridade a atividade lúdica; contudo, em função de um pragmatismo que valorizou o produto, foi buscar nele (o esporte competição) uma metodologia cujo objetivo é a perfeição de exercícios e o rendimento, causando assim sérios problemas na formação dos seres humanos, tornando-os uma máquina às leis do rendimento (PAES, 1997, p. 67, grifo do autor).

Freire (1997) nos revela as características que as competições têm dentro

da maioria das escolas:

Esse é o ângulo através do qual são vistas as competições pelas pessoas que as promovem nas escolas hoje em dia. São formadoras de campeões, selecionadoras de raça, disseminadoras de sentimentos preconceituosos, reprodutoras da forma mais abominável de competição que orienta as relações entre as pessoas de nossa sociedade, e que encontra sua expressão ritual mais importante nos jogos olímpicos modernos. Vencer a qualquer custo é o lema que orienta a competição, nas relações sociais e nos jogos desportivos (FREIRE, 1997, p.152).

De Rose Júnior (2002), afirma que a competição possui um aspecto

social, ou seja, dependendo do nível de êxito alcançado pelo aluno nas

competições, esse poderá ter uma ascensão ou um regresso na hierarquia do seu

grupo social. E, se esse nível de realização social não é atingido, o aluno poderá

ficar fora do processo social, podendo ocorrer com isso, sérios desequilíbrios em seu

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30 comportamento. O medo é também um fator presente e desencorajador, conforme

segue:

Muitos jovens acabam se desinteressando pela competição por não fazerem parte da equipe, participar pouco dos jogos ou não jogar e também pelo medo de serem avaliados negativamente e ridicularizados em função de seu desempenho (DE ROSE JÚNIOR, 2002, p. 72).

Quando as aulas de Educação Física são voltadas para as competições

esportivas, geralmente tornam-se treinamento. O professor se transforma em

treinador, e os alunos em atletas, e pela idade dos alunos, esse treinamento se faz

de forma precoce. Isso pode ocasionar alguns alunos prejuízos a formação do aluno.

Um desses prejuízos são de ordem educacional, conforme relata Paes

(1997), que mesmo apresentando até certo ponto, uma visão idealista e única de

educação, é interessante refletirmos sobre suas palavras, quando revela que o

esporte deixa de ter valor educacional à medida que a competição é colocada em

primeiro plano e apenas o campeão é exaltado, conforme segue:

[...] Para nós, a competição, deixa de ter valor educacional a partir do momento em que deixa de ser simplesmente jogo e passa a ser competição. Disputar um campeonato é tentar ser campeã, portanto prevalece a disputa e não a participação, evidenciando assim um objetivo maior, que não é o educacional. Existe uma cobrança prematura inserida no objetivo proposto pela prática da modalidade [...]. Ainda, não pode ser educativa uma prática onde somente os vitoriosos serão exaltados, pois na competição é dado somente aos vitoriosos, portanto à minoria (PAES, 1997, p. 85).

Korsakas (2002), analisando o modo como é praticado o esporte nas

aulas de Educação Física, concorda com Paes (1997), no tocante ao distanciamento

do esporte do ato educativo. Como os atos de violência e as “ações obscuras” de

alguns clubes, conforme segue:

Basta ler o caderno de esporte de um jornal ou assistir a competições esportivas para encontrarmos várias incoerências com qualquer proposta educativa: partidas ganhas no “tapetão”, doping, violência entre jogadores, insultos e agressões a árbitros... e o grande paradoxo evidencia – se quando o valor educativo do esporte é atribuído à sua capacidade em promover o respeito às regras e aos adversários, a disciplina e a saúde (KORSAKAS, 2002, p. 40, grifos do autor).

Também aponta a hipercompetitividade, a seletividade e a especialização

como mazelas desse tipo de aplicação dos esportes nas aulas de Educação Física:

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[...] a prática do esporte na escola, a visão não será muito diferente, apesar de ser um ambiente teoricamente comprometido com o esporte–educação que, segundo o decreto n º 2.574, de abril de 1998, é aquele “praticado nos sistemas de ensino e em outras formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer”. Além disso, não são raras as vezes em que a grande preocupação em ter equipes competitivas nas escolas sobrepõe-se a intenção de ensinar o esporte para seus alunos, portanto, qualquer proposta pedagógica é facilmente substituída por um determinado número de bolsas de estudo oferecidas a alguns alunos. [...] Será que esse esporte é realmente capaz de contribuir para a educação dos indivíduos? Como pode uma prática com fins educativos pautar-se na seleção e na especialização de poucos, ser excludente por essência, dando-se o direito de escolher aqueles que terão acesso aos seus benefícios? (KORSAKAS, 2002, p. 40).

Em relação à seletividade, Stigger (2001) relata que muitos indivíduos

seriam incapazes de responder as exigências que se apresentam e assim são

excluídos e ou se auto excluem da pratica esportiva.

Como é possível perceber nos escritos acima, o esporte nas aulas de

Educação Física, assumiu as características do esporte de rendimento e continua

disseminando os valores da sociedade capitalista como: o rendimento máximo, a

performance, o record, a hiper-racionalidade-técnica, a alienação entre outros.

Valores, esses, que não coadunam com uma sociedade mais fraterna e justa que

almejamos. Por tais motivos, observamos professores que são contra os esportes

nas suas aulas, que não querem e não aceitam que os alunos pratiquem esportes,

nas suas aulas. Mas, será realmente que isso está correto? Será que tornaremos as

nossas aulas melhores, se deixarmos o esporte de fora? Acreditamos que não.

2.2.1 O ESPORTE COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA. Em primeiro lugar, a fim de tentarmos balizar nossa resposta, devemos

considerar o esporte como um fenômeno sociocultural (STIGGER, 2001), como

“uma construção histórico-social humana em constante transformação e fruto de

múltiplas determinações” (BRACHT, 2000, p. XVI). E se considerarmos a escola,

como aquela que tem o papel de transmitir às futuras gerações as práticas sociais

relevantes, não poderíamos deixar de contemplar o esporte, como conteúdo da

Educação Física. Corroborando com essa idéia, Vaz (2001), esclarece que a escola

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32 não pode ignorar o esporte, mas sim, deve tê-lo como conteúdo de ensino. Mesmo

porque, o esporte representa uma das várias manifestações da cultura corporal, que

representa o conteúdo a ser tratado pela Educação Física na escola.

Além disso, o esporte é sem dúvida um fenômeno social com força

extraordinária, e como nos alerta Bracht (1992) não devemos simplesmente negar a

cultura da classe dominante à classe dominada, mas sim devemos deixar que a

classe dominada se apodere de tal cultura e a transforme de acordo com seus

interesses e necessidades. Como acredito que tenha ficado claro, devemos trabalhar

com o esporte nas aulas de Educação Física, mas como fazê-lo? Como aborda-lo?

Como trata-lo pedagogicamente para não continuarmos reproduzindo os valores do

esporte de rendimento? Para não continuarmos transmitindo os valores capitalistas?

Pois bem, como afirma Lovisolo (2001), devemos dar ao esporte da

escola um sentido diferente daquele do esporte de rendimento, diferente daquele

esporte que exclui, que seleciona, que exalta a poucos e humilha a muitos. É

necessário que o esporte aplicado na escola não reproduza os valores do esporte de

rendimento, nesse sentido Sadi (2004, p. 27) mostra como pode e deve ser o

esporte no contexto escolar:

• O esporte escolar pode reforçar a cooperação através da educação da sensibilidade, da ética, da estética e dos conhecimentos pertinentes à bagagem dos alunos, bem como à criatividade crítica do professor;

• O esporte escolar pode reforçar o coletivismo ensinando que dependemos dos outros para poder atuar com mais inteligência, mais estratégia na atividade desenvolvida;

• O esporte escolar pode encaminhar crianças e jovens para práticas prazerosas, sem se furtar às competições pedagógicas. O prazer pode se aliar à técnica, à disciplina e ao estudo rigoroso sobre determinada atividade;

• O esporte escolar pode desmistificar a ascensão social de alguns atletas e disseminar um discurso democrático de que sua existência deve ser baseada na possibilidade de ensino para todos.

Em relação à competição seria uma incoerência esperar ou acreditar que

ela iria desaparecer, pois como afirma Freire (1997, p. 151) “ser competitivo é um

recurso humano para se estar no mundo”. Contudo, ela deve ser entendida e

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33 aplicada de uma outra forma. Nesse sentido, Bracht (2000), entende que a

competição deve ter um significado menos central, no esporte na Educação Física.

Nas aulas de Educação Física, o professor deve permitir que os educandos

vivenciem formas de práticas esportivas mais cooperativas. Sadi (2004, p.21) afirma

que:

O individualismo e a hipercompetitividade precisam ser constantemente combatidos. São expressões máximas e esdrúxulas que se deseja negar numa sociedade efetivamente fraterna e democrática.

As manifestações da individuação (indivíduo em ação) e da competição a favor e não contra o humano devem ser incentivadas e promovidas de forma didática e educacional, garantindo-se a permanência de valores éticos no decorrer da vida.

De forma semelhante, Freire (1997) acredita que seja necessário uma

conscientização dos alunos, quanto ao seu papel e da pessoa que está competindo

com ele, a fim de que ele não o veja como um inimigo, mas sim como um amigo, o

qual, deve ser respeitado na sua integridade física e moral. Pois, como diz Freire

(1997, p. 153) “Bastaria que todos os competidores, menos um, se retirassem da

pista, para que não houvesse vencedor, nem vencidos, nem competição”. Ou seja,

sem o amigo que está competindo ele, ele também não competiria. O coletivo de

autores (1992), afirma que é necessário privilegiar o coletivo em detrimento ao

individual, compreender que o jogo se faz a dois e que jogamos com o companheiro

e não contra o adversário.

Sobre o caráter altamente seletista e excludente do esporte, Sadi (2004)

entende que o desenvolvimento do esporte escolar deveria se dar pela contra-mão

do processo de exclusão da maioria, na verdade, o esporte deveria ser ensinado e

praticado por todos sem exceções, seja por qual motivo for. Seria necessário que se

promovessem meios e formas, que adaptassem o esporte aos interesses e

possibilidades dos alunos, em conformidade com a realidade da escola, para que

todos tivessem condições de participar. Para Azevedo, Suassuna e Daolio (2004), o

esporte deveria ser ensinado nas escolas a partir de princípios de respeito às

diferenças individuais e co-participação, gerando prazer na prática, solidariedade

nas atitudes e reflexão sobre esses princípios pelos participantes. Como é possível

perceber, tais autores defendem que o esporte na escola seja o possível, com uma

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34 ampla participação de todos os alunos, respeitando as diferenças e proporcionando

equidade de oportunidades a todos.

Para Escobar (2005), o esporte será educativo se preservar a ludicidade,

a espontaneidade e a auto-organização dos alunos. Levando os alunos a resistirem

aos processos de massificação, de alienação e de expropriação, sempre mantendo

como norte as necessidades vitais do ser humano, ou seja, o esporte deve servir aos

alunos e não os alunos ao esporte. O coletivo de autores (1992) afirma que é

necessário desmistificá-lo e dar condições para que os alunos tenham

conhecimentos que permitam que os mesmos possam criticar o esporte dentro de

um determinado contexto sócio-econômico-político-cultural. É importante que o

professor favoreça o entendimento crítico dos alunos, frente às tentativas de utilizar

ideologicamente o esporte para perpetuar os valores da sociedade capitalista.

Segundo Taffarel (2000), para que o esporte na escola seja aplicado de

uma forma diferente do esporte de rendimento, é necessário que haja uma

articulação com o âmbito das políticas públicas da Educação e de bem estar geral

da população sempre atrelado ao projeto de escolarização e o projeto político

pedagógico da escola. Contudo, a autora admite que é um trabalho árduo, no qual o

professor deve buscar incessantemente o conhecimento e reivindicar que o poder

público cumpra a sua parte. A autora afirma que o aluno só terá realmente acesso

ao esporte educacional, através da luta política e da reflexão.

Alguns autores, como é o caso de Kunz, que juntamente com

colaboradores, nos livros: Didática da Educação Física 1 (2003a); Didática da

Educação Física 2 (2004) e Didática da Educação Física 3 (2003b), apresentam

propostas concretas, para se trabalhar o esporte nas aulas de Educação Física, em

um sentido diferente ao do rendimento. No qual o rendimento, a performance, a

hipercompetitividade, a hiper valorização da racionalidade técnica, entre outros,

ficam em segundo plano.

Dentre as várias propostas apresentadas nos três livros, iremos citar (de

forma sucinta) a que trabalha com o atletismo (KUNZ, 2003a). A proposta do autor

procura lançar um outro olhar sobre o esporte atletismo, o qual, até por uma questão

mitológica e histórica, sempre esteve muito ligado à questão da superação dos

limites humanos, a sobrepujança dos adversários, a busca do Record, a obtenção

de medalhas, a metrificação e comparação objetiva de resultados.

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35

Para iniciar o trabalho, o autor relata que o atletismo como conhecemos

midiaticamente, deve passar por um processo de transformação didático-

pedagógica, no qual, o aluno passe a ser o centro do desenvolvimento das ações de

aprendizagem e não o esporte, em si. Os alunos devem passar a ser construtores,

descobridores e inventores das atividades nos diferentes contextos e instâncias do

esporte. Contudo, antes de começarmos esse processo de transformação didático-

pedagógica, é necessário desconstruirmos as imagens negativas que os alunos

interiorizaram das práticas autoritárias e negativas do atletismo, em que só se

podem obter êxito os mais fortes, mais velozes, mais ágeis e etc. Para que haja essa

desconstrução e sucesso nas ações de transformação do esporte, é necessário que

ocorram incentivos à capacidade comunicativa dos alunos, favorecendo a

argumentação questionadora da realidade, pretendendo levar o aluno a conhecer as

diferentes formas em que o esporte se apresenta. Para se entender as

possibilidades pedagógicas do esporte, é necessário analisar seu estado atual e

relaciona-lo a realidade da sociedade local.

Pois bem, na operacionalização dessa proposta de trabalho com o

atletismo, o professor deve analisar juntamente com os alunos, como o atletismo se

apresenta na realidade, na forma de espetáculo esportivo e os alunos devem

vivenciar essa realidade. Após terem vivenciado, o atletismo como esporte

espetáculo, com regras e provas oficiais, os alunos devem vivenciar formas

particulares de correr, saltar, arremessar e etc. Ao fim dessa fase, o professor

propõe situações problemas, que para serem resolvidas requerem ações coletivas,

favorecendo a integração e a ajuda mútua.

Com essa transformação didático-pedagógica, a competição é vista, como

um meio para estimular os alunos a participarem, na confirmação de suas

aprendizagens e nas possibilidades de trabalho cooperativo. A competição não deve

ter a função de comparar resultados, de colocar um contra o outro individualmente

ou em grupos, mas sim, de avaliar as capacidades individuais e grupais na

aprendizagem, que transcendam a capacidade do talento esportivo.

Como acredito que foi possível perceber, o esporte pode e deve fazer

parte das nossas aulas de Educação Física, contudo de uma forma diferente, que

busque a alegria, a sensibilidade, o prazer, a ludicidade, a cooperação, a

participação, a autonomia, a espontaneidade, a livre expressão, o amor, entre

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36 outros. Todavia como foi exposto, é necessário que o professor seja consciente e

crítico da realidade e que busque o conhecimento, enxergando seus alunos como

seres humanos, que devem ter acesso a todas as formas possíveis da cultura

corporal, de forma reflexiva e participativa, os quais devem ser respeitadas e

trabalhados nas suas várias dimensões (biopsicosociocultural) e que desta forma

possam colaborar de forma ativa para uma sociedade mais humana e fraterna.

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3 METODOLOGIA

3.1. TIPO DE PESQUISA

Esse trabalho utilizou uma pesquisa do tipo exploratória, que segundo Gil

(1999, p. 43) “[...] tem o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo,

acerca de determinado fato”.

3.2. UNIVERSO E AMOSTRA

Em relação à amostragem, usamos a técnica de amostragem por

acessibilidade ou por conveniência. Esta técnica de pesquisa, segundo Gil (1999,

p.104):

É aquela onde o pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos [...].

Assim, as entrevistas foram realizadas em uma escola estadual de Ensino

Fundamental do município de Osasco, em dezembro de 2006. A escola foi

selecionada, utilizando o critério da proximidade do meu local de trabalho e também

por eu conhecer a diretora. Ao chegar na escola, conversei com a diretora, informei

que estava fazendo uma Especialização em Esporte Escolar, que estava na fase de

confecção da monografia e que gostaria de realizar uma entrevista com alguns

alunos e com a professora de Educação Física. Após ler o roteiro de perguntas, a

diretora não criou empecilhos maiores, apenas pediu que eu não divulgasse o nome

da escola. Após essa conversa inicial, ela chamou a professora de Educação Física,

explicou para ela do que se tratava, mostrou o roteiro de perguntas e a exemplo da

diretora, ela concordou em nos ajudar.

Assim, ela nos levou á quadra, onde havia uma sala de sétima série, que

esperava a professora para começar a aula. A professora reuniu os alunos, explicou

que queríamos fazer uma pesquisa com eles sobre as aulas de Educação Física e

em seguida nos apresentou. Então explicamos para os alunos do que se tratava,

que iríamos fazer algumas perguntas sobre as aulas de Educação Física e sobre a

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38 professora. Após essa rápida apresentação, perguntamos quais alunos gostariam de

nos ajudar, em um primeiro momento oito alunos se prontificaram, mas como

gostaríamos de entrevistar dez alunos, afirmamos que necessitávamos de mais dois

alunos, e então, outros dois alunos concordaram em responder.

Como instrumento de investigação, utilizamos a entrevista focalizada, que

segundo Gil (1999, p. 121) “[...] desenvolve-se a partir de uma relação fixa de

perguntas, cuja ordem e redação permanece invariável para todos os entrevistados”.

Esse roteiro de questões se encontra em apêndice. Para colhermos as respostas

dos entrevistados, utilizamos um gravador portátil da marca Panasonic, as quais

posteriormente foram escritas e serão apresentados e analisadas no capítulo

seguinte.

Desta forma, foram entrevistados 10 alunos da sétima série do ensino

fundamental, juntamente com a professora de Educação Física desses alunos. É

importante ressaltar que as entrevistas foram individuais. Os alunos não escutaram

as respostas dos seus colegas e nem os que já haviam sido entrevistados,

conversaram com os que ainda aguardavam para nos responder. O mesmo ocorreu

com a professora, que antes de ser entrevistada, não conversou, nem ouviu a

resposta dos alunos entrevistados.

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39 4 DISCUSSÃO DOS DADOS

Enquanto escolhíamos um local mais apropriado para começarmos as

entrevistas individuais, pudemos constatar que os alunos estavam muito

interessados em nos ajudar, ou seja, em responder as nossas perguntas. Mostravam

até certa ansiedade e expectativa em nos conceder as entrevistas, sendo que um

deles, comentou:

Nunca ninguém veio aqui nos perguntar sobre isso, sobre o que a gente pensa dos professores e da porcaria de aulas que eles dão (Aluno 07).

Em função dessa resposta, não poderíamos deixar de perguntar o que ele

gostaria que fizéssemos? No que, suas respostas, poderiam colaborar para mudar o

procedimento das aulas? E a resposta do aluno foi a seguinte:

Eu acho que vocês não podem fazer nada. Estão apenas querendo que a gente responda, para ajudar vocês a fazerem um trabalho. Mas estou respondendo, apenas para falar o que penso, para me expressar, mostrar para quem for ler, (se vocês colocarem mesmo, o que estou falando), como são as aulas de Educação Física (Aluno 07).

Em relação às perguntas que havíamos programado, quando

indagados sobre se gostavam ou não das aulas de Educação Física, alguns

responderam que sim. E para justificarem as suas escolhas, recorreram à ênfase

esportiva que as aulas possuem, conforme segue:

Gosto de tudo, porque gosto de praticar esportes (Aluno 01).

Sim, porque nelas a gente além de praticar esportes, também cuidamos do corpo (Aluno 02). Sim, porque são nessas aulas que me divirto jogando vôlei (Aluno 03).

Essas respostas, como podemos constatar, mostram que os alunos

baseiam suas respostas na característica esportiva que as aulas possuem, ou seja,

gostam das aulas, porque gostam de praticar esportes. O esporte para esses alunos

é a motivação para a aula.

Por sua vez, outros gostam de tais aulas, pois a vêem como um momento

de lazer, um momento para distrair e relaxar.

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Sim, porque acho que sempre temos o direito de ter uma aula livre e com isso podemos fazer várias coisas (Aluno 10).

Sim, porque é uma aula de descontração e atividades físicas, que fazem muito bem (Aluno 04).

Sim, porque é o momento em que você se distrai e não tem que ficar na sala com aquelas professoras chatas (Aluno 06).

Mas, por outro lado, alguns alunos que não gostam de praticar as

modalidades esportivas oferecidas ou não têm habilidade para a prática desses

esportes, sentem-se frustrados e desmotivados à praticarem tais aulas com essa

característica esportiva. Conforme relatos abaixo:

Não, elas poderiam ser mais criativas (Aluno 05).

Não, a aula é muito ruim (Aluno 07). Não, pois as aulas não oferecem nenhum entretenimento aos alunos (Aluno 08). Não, porque não tem muitas opções de esportes (Aluno 09).

Para esses alunos, as aulas são desmotivantes e sem sentido de existir.

Eles ficam à margem da turma, ficam excluídos das aulas. As aulas que contêm

essas características podem acarretar futuramente problemas aos alunos, pois os

mesmos por serem discriminados, podem se sentir inferiores aos seus amigos de

classe, como já foi mencionado na literatura consultada. Além disso, os alunos estão

sendo privados do contato físico, com uma das expressões da cultura corporal e

também de um grande fenômeno cultural moderno.

Na segunda questão, quando questionados se gostam ou não do

professor de Educação Física, alguns dos alunos pontuaram:

Sim, porque ela é muito legal (Aluno 01, grifo nosso).

Sim, porque ela bem legal (Aluno 02, grifo nosso).

Sim, porque ela é bastante atenciosa (Aluno 03, grifo nosso).

Sim, pois estou com ela há mais de 03 anos (Aluno 04, grifo nosso).

Gosto, pois ela é super legal (Aluno 05, grifo nosso). Sim, porque ela é uma pessoa muito legal e deixa a gente à vontade (Aluno 06, grifo nosso). Sim, ela é simpática porque deixa a gente fazer o que quiser (Aluno 07, grifo nosso). Sim, ela deixa a gente a vontade (Aluno 10, grifo nosso).

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Quando analisamos essas respostas, pudemos constatar que os

alunos se apóiam, na relação interpessoal para basearem suas respostas. Não que

isso seja ruim, pelo contrário, é necessário que o professor tenha uma excelente

relação com seus alunos, mas é de se estranhar que nenhum aluno se referisse à

competência do professor ou de sua aula, para dar suas respostas.

Mesmo não conhecendo a fundo o trabalho da professora entrevistada,

podemos inferir, que as respostas dos alunos, vão ao encontro das que alguns dos

autores citados anteriormente, puderam constatar ao perguntarem a professores de

Educação Física, qual era a sua importância na escola, em que os mesmos

baseavam-se nas atividades extracurriculares, como ensaiar a formatura, a

quadrilha, faltando uma especificidade para justificarem a sua permanência na

instituição escolar. E completando, os mesmos entrevistados, afirmaram ser mais

apreciados pelos alunos do que outros professores, devido ao fato de sua disciplina

não reprovar por nota e ao fato de trabalharem com o esporte. Desta forma, não é

difícil que os alunos se refiram ao professor, usando tais termos como: “legal e

atenciosa”.

Entretanto, outros alunos não gostam da professora, sendo que um deles,

fornece uma resposta desagradável quando diz, que o professor não faz nada.

Possivelmente, esse aluno irá carregar consigo uma imagem distorcida e negativa

dos professores de Educação Física, conforme segue:

Não, porque ela não faz nada (Aluno 08).

Não, sei lá (Aluno 09).

A terceira pergunta, diz respeito ao que os alunos fazem nas aulas de

Educação Física, e pede aos mesmos para citarem suas atividades prediletas.

Constatamos que as aulas são 100% voltadas para as práticas esportivas, na qual

os esportes são os únicos conteúdos das aulas de Educação Física. Sendo que,

apenas, duas modalidades esportivas são contempladas nessas aulas: o futebol e o

voleibol. Os alunos devem escolher entre essas duas modalidades, conforme

relatos:

Jogo vôlei e futsal. Eu prefiro futsal, porque adoro jogar futebol (Aluno 01, grifos nossos).

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Jogamos vôlei e futebol. Mas, prefiro vôlei porque é legal (Aluno 02 grifos nossos). Nessas aulas a classe sempre se divide em dois grupos, metade joga vôlei e a outra futebol, eu prefiro vôlei (Aluno 03, grifos nossos).

Jogamos vôlei. Eu prefiro vôlei, porque todos jogam e porque nos descontraímos (Aluno 04, grifo nosso).

Jogamos vôlei e futebol. Bom, na verdade gosto de basquete, mas com não tem, jogo vôlei mesmo (Aluno 06, grifos nossos).

Jogamos futebol e vôlei. Eu jogo vôlei, pois já treinei (Aluno 08, grifos nossos).

Jogamos vôlei e futebol. Gosto de futebol, porque é mais legal (Aluno 09, grifos nossos).

Praticamos esportes que gostamos, como vôlei no meu caso (Aluno 10).

Diante de tal característica das aulas de Educação Física, uma pergunta

se evidencia: os alunos que não gostam ou que não apresentam condições para

praticar voleibol, ou futebol, fazem o que em tais aulas? Para responder esse

questionamento, vamos recorrer às respostas de alguns alunos, conforme segue:

Eu fico sentada, sem fazer nada, pois o professor só passa vôlei e futebol (Aluno 05).

Nada, só fico sentada ouvindo música ou conversando. Porque como já falei, não gosto das aulas (Aluno 07).

Como é possível constatarmos, esses alunos por não gostarem de

praticar futebol ou voleibol, são obrigados a ficar sentados, conforme relata o aluno

05. Eles são excluídos das aulas por não gostarem de esportes, ou por não reunirem

condições para praticar o esporte, da forma como é praticado na aula. É

inadmissível que um professor, não procure formas e meios para incluir tais alunos

nas aulas. Na pergunta quatro, que questiona aos alunos se os mesmos

gostam de praticar esportes nas aulas e fora delas, pudemos constatar que a

maioria gosta de praticar esportes, tanto dentro quanto fora das aulas de Educação

Física, conforme segue:

Sim, sim, porque me mantenho afastado das coisas ruins (Aluno 01).

Sim, também, porque é muito bom e faz bem (Aluno 02).

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Eu gosto de brincar de vôlei, mas só de brincadeira, fora daqui, não pratico nada (Aluno 03). Sim, gosto também, porque eu gosto de me distrair (Aluno 04). Sim, porque melhora minha resistência física (Aluno 06). Gosto dentro e fora das aulas, mas não tenho tempo (Aluno 08). Gosto aqui e lá fora (Aluno 09). Sim, na escola e fora das aulas, porque me sinto bem e esqueço dos problemas (Aluno 10).

Esses dados obtidos reforçam a nossa convicção, sobre o poder de

mobilização e sedução que o esporte apresenta. Tais dados, no caso em particular

podem ser justificáveis por dois motivos: O primeiro deles, é pela idade dos alunos

que varia entre 13 e 14 anos, em que a maioria ainda não trabalha, tendo assim,

mais tempo para se dedicar às atividades esportivas. E o outro fator, é que a maioria

dos entrevistados é do sexo masculino, na qual, a prática do futebol culturalmente é

muito bem aceita e incentivada. Entretanto, dois alunos afirmam que não gostam de esportes,

conforme segue:

Não gosto de praticar esportes nem dentro, nem fora da escola, porque acho uma coisa chata, babaca (Aluno 05).

Não pratico nem dentro, nem fora das aulas. Sabe, eu até gostava de esportes, mas o que acontece aqui me fez pegar raiva (Aluno 07, grifos nossos).

Essa resposta do aluno 07 vem nos alerta, que devemos tomar cuidado

com as ações que nós professores tomamos ou pelas nossas omissões, junto a

nossos alunos, pois a aula acima, até gostava de esportes, mas, fatos que

ocorreram na aula a fizeram pegar raiva, fatos esses que como veremos a seguir,

estão relacionadas a falta de autoridade da professora e do domínio da quadra, por

um grupo de alunos.

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Em relação à quinta pergunta, que indagava aos alunos se a professora

conversava com eles sobre esportes, se combinavam as regras e se havia

adaptações durante o jogo, os alunos responderam:

Sim, às vezes, quando o São Paulo perde, tiro um sarro dela. Não. Sim, uns ficam com camisa e outros sem, para jogar futebol (Aluno 01). Sim. Pra que? Todos já sabem as regras! Não (Aluno 02). De vez em quando. Sim, a professora ensina para quem ainda não aprendeu direito. Não. (Aluno 03). Tem vez que sim, sobre os jogos de vôlei. Não. Acho que não (Aluno 04). Não. Não. Não (Aluno 05). Sim, quando tem jogo a gente conversa. Sim, pra gente aprender as regras direito. Não (Aluno 06). Às vezes ela conversa, lá com os meninos sobre futebol. Combinar o quê? Eles sabem jogar. Não (Aluno 07). Ah, ela conversa. As regras já tão feitas, todo mundo sabe jogar. Às vezes, quando o Rogério não traz a rede, nós jogamos com uma corda, no lugar da rede (Aluno 08). Sim, sobre futebol. Não, já tá combinado, são que nem nós vemos na televisão, tem falta, lateral, pênalti... Não. (Aluno 09). Conversa sim. Ela é muito legal, ensina as regras para a gente. Não (Aluno 10).

Como podemos constatar a professora procura conversar com os alunos

sobre os esportes, entretanto, essa conversa está muito relacionada ao senso

comum. Pelo que é possível percebermos, ela comenta com os alunos dos

resultados esportivos dos jogos de futebol dos grandes clubes. Tudo muito distante

da forma que a literatura propõe, que o professor trate o fenômeno esportivo.

Segundo a literatura estuda nos capítulos anteriores, o professor dever ter uma visão

crítica e reflexiva sobre o esporte, devendo mostrar toda a mercantilização que o

esporte na sociedade capitalista sofre; mostrando as tentativas de alienação por

meio do esporte, entre outros. Em relação às regras, podemos observar que ocorre um certo impasse,

se as regras são combinadas ou não. Contudo, é possível perceber que os que

falaram que as regras eram combinadas, referiam-se às regras institucionalizadas,

ou como relatou o aluno 09, “são que nem nós vemos na televisão [...]”. Ou seja, a

professora ensinava as regras oficiais, por isso o aluno 08, respondeu que “as regras

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já tão feitas, todo mundo sabe jogar”. Não havia uma adequação das regras oficiais,

á realidade dos alunos, levando em consideração as suas possibilidades, mas sim,

uma transposição das regras oficiais para a prática na escola.

Ainda sobre a questão das regras, a resposta do aluno 07 me chamou a

atenção, mais especificamente pelo pronome que ele emprega: “Combinar o quê?

Eles5 sabem jogar”. Ao utilizar esse pronome podemos constatar que esse aluno

não participa das aulas, pois se o fizesse, utilizaria o pronome “nós” por exemplo,

integrando-se a turma. Assim, ele está à margem do processo de ensino

aprendizagem da Educação Física, o que talvez poderia ser resolvido se a

professora conversasse pedagogicamente sobre os esportes e adaptasse as

atividades, às possibilidades e interesses dos alunos. Sobre a questão das adaptações durante o jogo, podemos verificar que a

maioria dos alunos diz que a professora não faz adaptações no jogo. Apenas dois

alunos afirmam, que havia adaptações nos jogos e que se referiam à falta de

materiais para a prática da Educação Física. As adaptações se faziam necessárias

para contornar a precariedade e descaso do poder público com a Escola e a

Educação Física. Ou seja, a professora adaptava a falta de coletes ou camisas,

fazendo com que um grupo tirasse a camisa e nesse caso, as meninas seriam

obrigadas a sempre jogarem no time dos com camisa. A outra adaptação se dava,

pela falta de rede para a prática do voleibol. Na verdade, a professora deveria

adaptar os jogos para que atende-se as necessidades e particularidades dos alunos,

a fim de que todos participassem. Na sexta questão, que trata em saber se os alunos mudariam algo ou

não nas aulas de Educação Física, tivemos um empate de opiniões, ou seja, metade

dos entrevistados, disseram que não, que não mudariam nada nas aulas. Mas em

contrapartida, a outra parte dos alunos, é a favor de mudanças e fazem críticas

severas às aulas, conforme podemos constatar:

Não (Aluno 01). Não (Aluno 02). Não (Aluno 03). Não (Aluno 04).

5 É importante ressaltar, que essa afirmação sobre a exclusão do aluno 07 da aula, não se justifica exclusivamente, pelo emprego do pronome “eles”. Outras respostas da aluna também reafirmam que ela está sendo excluída da aula.

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Mudaria tudo. Acho que as aulas de Educação física deveriam ser mais criativas, mais interessantes, pois assim talvez, chamaria mais a atenção dos alunos (Aluno 05, grifo nosso). Sim, porque ultimamente as aulas têm sido muito repetitivas e acho que temos que aprender mais (Aluno 06). Sim, claro, os alunos da panelinha da sala, são quem mandam na aula, o professor não tem autoridade (Aluno 07, grifos nossos). Sim, o professor deveria oferecer outros tipos de modalidades, de jogos, de recreação (Aluno 08). Sim, mais opções de esportes, porque não tem quase nenhuma (Aluno 09). Não, não mudaria nada (Aluno 10).

Podemos resumir as críticas apresentadas pelos alunos em duas: A

primeira se refere à falta de diversificação de conteúdos, pois como pudemos

constatar nas respostas da terceira pergunta, a aula é totalmente esportivizada e

contempla apenas duas modalidades esportivas, o futebol e o voleibol. Dessa forma,

os alunos sentem a necessidade de aprender outras coisas, de poder ter acesso a

outros conteúdos, que infelizmente não são oferecidos. Conteúdos esses fazem

parte da cultura corporal e poderiam contribuir e muito para a formação dos alunos,

para aumentar o seu conhecimento e o repertório motor, e como diz o aluno 05,

serem mais criativas e interessantes, chamando a atenção dos alunos6. A segunda crítica faz referência, a falta de autoridade da professora de

Educação Física, de acordo com resposta do aluno 07 que destacamos acima.

Apesar da resposta do aluno, não deixar claro de que forma os alunos mandam na

aula, podemos inferir se compararmos com a resposta do mesmo aluno, à questão

087, que ele estava se referindo a quadra e ao esporte praticado na aula. Diante

dessa resposta podemos supor, que a professora tem uma atitude errada, mas que

infelizmente, pela nossa experiência como professor, é ainda comum em algumas

escolas: o professor escolhe alguns alunos para formarem os times, fornece a bola e

deixa que tais alunos comandem as aulas. Diante desse fato, fica muito difícil falar

6 Acredito que seja necessário afirmar, que não estamos querendo que a professora apresente um conteúdo diferente toda a aula, que apresente uma atividade nova constantemente. Contudo, é de estranhar que os alunos só tenham aulas de futebol e voleibol durante todo o ano e pior, aplicados como peladas, conforme irá relatar o aluno 08. 7 Sim, a me tornar uma pessoa mais estúpida e sem paciência, por agüentar o resto da sala mandando na quadra e no esporte a ser praticado (Aluno 07).

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47 em educação e ação docente, pois se são alguns alunos que comandam as aulas, o

professor fica sem papel, não havendo ação profissional.

A sétima pergunta, questiona os alunos sobre a importância das aulas de

Educação Física. Analisando suas respostas, podemos notar que os alunos têm uma

visão muito diferente da real importância da Educação Física, talvez até por

desconhecerem sua real importância ou até mesmo por nunca terem tido realmente

uma aula de Educação Física. Quando digo isso, estou me referindo a uma aula

diversificada nos conteúdos, que seja estimulante e desafiadora, que haja discussão

de conceitos e relação com a vida cotidiana dos alunos e não somente aulas de

esportes de rendimento, que discrimina, exclui, isola e etc. Deste modo, alguns

vêem as aulas de Educação Física como uma válvula de escape para as outras

matérias, conforme segue:

É muito importante, porque é o tempo que você tem para relaxar (Aluno 06). Tem muita importância, pois é a única aula que tenho livre para fazer o que quiser (Aluno 07). É uma aula legal (Aluno 09). Uma aula que distrai, e que é legal (Aluno 10).

Já para outros, as aulas de Educação Física são um local para melhorar a

saúde e se divertir: Não basta ter só a mente saudável, o corpo necessita de cuidados, por isso a Educação Física é boa (Aluno 01). Além de ajudar na saúde, ajuda no corpo e na descontração (Aluno 02). Elas são importantes para podermos gastar nossas energias e é claro para nos divertir (Aluno 03).

Outros alunos ainda acham que a importância das aulas de Educação

Física está focalizada no treinamento esportivo, para esses alunos, as aulas de

Educação Física são apenas um local para treinamento esportivo.

Acho que é a prática de esportes (Aluno 04).

Mostrar aos alunos como jogar (Aluno 05).

Nada, apenas para jogar bola (Aluno 08).

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Na oitava pergunta, os alunos responderam no que achavam que as

aulas de Educação Física poderiam lhes ajudar fora do ambiente escolar, conforme

segue:

Me mantendo afastado de coisas erradas, porque a vida fora da escola é muito difícil, pois existem muitos perigos e um passo errado você entra na criminalidade (Aluno 01).

Pode me dar consciência de que a atividade física é bom sempre praticar (Aluno 02, grifo nosso).

Pode estar me ajudando a ter um melhor condicionamento físico, o que nos leva a ter uma vida mais saudável, pois é isso que nosso corpo precisa (Aluno 06).

Melhora o físico e o mental também (Aluno 10).

Analisando as respostas acima, podemos notar que finalmente um aluno

mesmo com as deficiências que as aulas apresentam, consegue notar como as

aulas de Educação Física podem estar lhe ajudando fora da escola, conforme a

resposta que aluno 02, grifada acima. Realmente, as aulas de Educação Física

podem estar proporcionando aos alunos, essa conscientização da importância da

prática das atividades física.

Entretanto, para outros alunos, as aulas de Educação Física não podem

ajudá-los fora da escola. Eles não conseguem enxergar em que essas aulas podem

auxiliar em suas vidas como um todo. Esse fato pode ser resultado justamente das

características que as aulas possuem, pois como já foi citado anteriormente, as

aulas são voltadas para a prática do futebol e voleibol, e dessa forma segundo esses

alunos tais práticas não poderão ser úteis para a vida fora da escola. Ou como o

aluno 07 respondeu, onde podemos perceber uma certa revolta e indignação por

conta da pouca autoridade do professor de Educação Física:

Em nada (Aluno 03). Não sei (Aluno 04). Para mim em nada, porque só tem esportes e como não gosto, não serve para nada (Aluno 05). Sim, a me tornar uma pessoa mais estúpida e sem paciência, por agüentar o resto da sala mandando na quadra e no esporte a ser praticado (Aluno 07). Em nada, pois a mesma não ocorre como se fosse aula, e sim como uma pelada (Aluno 08).

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Em nada (Aluno 09).

Diante de todas essas respostas, podemos notar que os alunos não

entendem claramente qual é a função da Educação Física na Escola. Muitas

respostas estão ligadas ao que eles ouvem falar pelos meios de comunicação.

Acredito que esteja faltando mais diálogo e prática, sobre o que é realmente e

criticamente a Educação Física na escola, sua necessidade e importância para a

vida dos alunos, tanto dentro como fora dos muros da escola.

Ao acabarmos de entrevistar os alunos, procuramos a professora de

Educação Física e a entrevistamos também. Na primeira pergunta, questionamos

como ela achava que os alunos viam a ela e as suas aulas. Diante disso ela

respondeu:

Acham as aulas importantes, pois apenas com duas aulas por semana, os alunos acham super importante. Eles acham importante o professor, pois com a ausência do professor nos dias das aulas os alunos são obrigados a ficar fora da aula.

Analisando a resposta acima, podemos verificar que a professora ao

responder, diz que seus alunos acham importantes as aulas. Mas tal resposta vai

totalmente contra o que pensam alguns alunos entrevistados por nós, conforme já

mencionado. A professora também coloca que os alunos a acham importante e justifica

essa opinião, dizendo que quando ela não está presente, os alunos não têm aula.

Dessa forma, podemos dizer que o professor coloca a sua importância na aula que

ministra, ou seja, ela é importante, pois sem ela os alunos não teriam aula de

Educação Física. Diante disso, para aqueles alunos que não gostam de praticar

esportes e que por isso ficam sentados, a professora não tem importância alguma,

pois tais alunos, não estão inseridos nas aulas, não estão tendo aula. Podemos

também notar, como já mencionado anteriormente, uma falta de clareza em relação

ao seu papel e importância para a vida dos alunos e para a escola.

Na segunda pergunta, questionamos a professora sobre qual seria o

conteúdo de suas aulas. A mesma respondeu:

Seriam aulas práticas com fundamentos das modalidades esportivas (futsal, vôlei, basquete e handebol).

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De acordo com o que podemos apurar dos alunos, a professora está certa

ao dizer que as aulas são pautadas no ensino dos esportes. Mas, segundo os

mesmos alunos, só o futebol e o voleibol têm espaço nas aulas, diferentemente do

que a professora nos informa, quando diz que ensina o basquete e o handebol

também. Outro dado que não coincide com o que os alunos relataram é a questão

do ensino dos fundamentos das modalidades esportivas, pois de acordo com os

alunos, as aulas são somente para jogar, ou como falou um dos alunos, são

“peladas”.

Mas acreditamos que o mais importante em relação aos conteúdos das

aulas, não seja se as mesmas envolvem as 04 modalidades esportivas em questão

ou somente duas. O real problema a nosso ver, é a falta de diversificação das

atividades e o transplante do esporte de rendimento para dentro da escola, sem

passar por um filtro pedagógico. A falta de diálogo, de reflexão sobre os esportes, é

um grave problema, pois como relatado pelo professor a aula serve para a prática

dos fundamentos esportivos, é prática pela prática.

Em relação à terceira pergunta, queríamos saber qual é a estratégia

principal utilizada pela professora em suas aulas, a resposta foi a seguinte:

Depende da faixa etária se o grupo for do ensino fundamental (5º a 8º) trabalho as diversas habilidades motoras; se for do ensino médio aprimoro e aperfeiçôo as habilidades motoras.

Ao começarmos a discorrer sobre essa questão, podemos perceber

que a professora está confusa, sobre a diferença ou o significado, do que é objetivo

e estratégia, visto que, ela respondeu o objetivo ao invés da estratégia, como foi

perguntado. Mesmo ocorrendo esse erro por parte da professora, vamos continuar a

analisar a resposta. De acordo com ela, podemos dizer que a professora é

incoerente, pois se ela tem por objetivo trabalhar as diversas habilidades motoras, as

atividades deveriam ser diversificadas e não somente esportes (futebol e voleibol).

Perguntamos à professora na questão quatro, se conversa sobre os

esportes com os alunos e se há algum tipo de adaptação de materiais ou regras nas

aulas. Ela respondeu o seguinte:

Lógico, sempre estou explicando para eles como jogar, ensino os fundamentos e se der tempo falo um pouco de tática. Sempre tenho que adaptar alguma coisa, uso a criatividade, falta muita coisa na escola.

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Analisando essa resposta, podemos notar que não há um diálogo e

reflexão sobre os malefícios do esporte, sobre toda a ideologia veiculada na sua

prática. O diálogo que ocorre, é em relação à parte procedimental do esporte (como

se joga). Desta forma, fica difícil que os alunos tenham uma visão crítica e autônoma

sobre o esporte.

Em relação às adaptações, a resposta da professora mais uma vez, se

refere a utilizar a criatividade para driblar alguma dificuldade material que atrapalhe a

realização dos jogos. Ela não adapta regras ou materiais para que todos possam ter

equidade para participar dos jogos. Na quinta pergunta, indagamos a professora sobre qual é a importância

dos alunos estarem praticando esportes, e qual era o objetivo dela com tais práticas.

Diante disso, a professora respondeu:

É importante para a parte do trabalho físico, ou seja, o corpo em movimento, tendo como objetivo a sociabilização e integração dos alunos.

A professora tem toda a razão quando diz que o esporte é importante,

pois trabalha o físico, o corpo em movimento. Mas se trabalhado de forma

adequada, como foi proposto na literatura consultada, pode favorecer muito mais do

que o físico. Acredito que falte à professora entrevistada, uma visão mais social e

histórica da Educação Física, pois o esporte é muito mais que um meio para

trabalhar o físico, é um produto sócio-cultural riquíssimo, que tem um poder de

mobilização enorme e que faz parte da cultura corporal, o qual o aluno deve ter

direito ao acesso.

Agora, quando ouvimos a professora dizer que a prática dos esportes em

suas aulas tem como objetivo a sociabilização e a integração dos alunos,

percebemos que a mesma deve estar se referindo apenas àqueles que gostam de

praticar esportes ou que saem vitoriosos das competições nas aulas. Pois se

falarmos em relação a toda a sala, esses objetivos estão longe de serem

alcançados. Como podemos constatar em algumas das respostas dos alunos

entrevistados, que ficam isolados do restante do grupo, o que dificulta e muito o

alcance desses objetivos.

Em relação à sexta questão, gostaríamos de saber da professora se seus

alunos gostam de praticar esportes. A professora, mais uma vez, se refere apenas a

uma parte da sala, e não ao todo como deveria fazer, conforme segue:

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Sim, eles gostam bastante, e às vezes reclamam que só tem duas aulas de educação física por semana.

A professora com tal resposta, novamente não vê ou não quer ver a sala

como um todo, baseia-se apenas naqueles alunos que tem habilidades para

praticarem as duas modalidades oferecidas. Ela não está levando em consideração

todos os alunos. Pois como constatamos nas respostas de alguns alunos, os

mesmos ficam sentados, conversando ou ouvindo música, ficam sem fazer nada,

porque não gostam de esportes, não gostam do modo como o professora comanda

as aulas ou não apresentam condições para praticarem o esporte como ele é

aplicado, chegando um aluno a dizer que antes gostava de esportes, mas que com

tais aulas, ficou com raiva das práticas esportivas.

Na sétima pergunta, gostaríamos justamente de saber, o que a professora

fazia, quais eram os estímulos que dava para aqueles alunos que não aderiam às

atividades esportivas que são oferecidas nas aulas. E a professora pontuou assim:

Pode se trabalhar a parte psicológica e intelectual onde eles possam trabalhar o raciocínio, com o jogo de dama, xadrez, etc.

Na resposta da professora, podemos notar que a mesma não faz o que

deveria, para poder incluir os alunos que não gostam ou não conseguem praticar as

modalidades esportivas que são praticadas nas aulas. A professora ao invés de dar

outros estímulos, de fazer algo para que todos possam participar, de adaptar regras

e espaços, de conversar e refletir o que pode ser feito para incluir, não. Apenas diz

que pode se trabalhar o psicológico, o raciocínio, jogando dama ou xadrez.

Não que seja errado, nas aulas de Educação Física, trabalhar tais jogos,

pelo contrário, são importantes e necessários tais estímulos, não só para os que não

gostam de futebol e voleibol, mas para todos. Agora, pelo que podemos constatar

nas entrevistas que fizemos, não é isso que acontece nas aulas, os alunos não têm

acesso a tal material, e mesmo que tivessem, acredito que isso não resolveria o

problema, eles continuariam sendo excluídos. Estariam fazendo uma atividade à

parte do grupo, não estariam inclusos no grupo.

Em relação à oitava pergunta, gostaríamos de saber no que as aulas de

Educação Física poderiam ajudar os alunos fora do ambiente escolar. E a resposta

da professora foi a seguinte:

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Favorece uma integração social entre os mesmos e preparando os alunos para o mercado de trabalho, fazendo com que os mesmos enxerguem a realidade do mundo atual fora do ambiente escolar.

Ao fazermos uma análise da resposta acima, confrontando com os relatos

de alguns alunos, podemos notar que as aulas para esses alunos, não favorecem

essa integração que a professora afirma, e algumas vezes até a diminui. Quanto à

questão de mostrar a realidade do mundo, acreditamos que isso seja muito

importante, mas de modo que nas aulas a professora intervenha de forma a diminuir

as mazelas que temos em nossa sociedade atual e não mantê-las, ou até mesmo

aumentá-las, como foi possível perceber em alguns relatos dos alunos.

Diante de tudo que pudemos constatar nas entrevistas que fizemos

junto aos alunos e a professora, notamos que a Educação Física para esta classe,

ainda carrega consigo as mazelas, que eram observadas há muito tempo atrás. A professora, ao responder nossas perguntas, diz que busca a

sociabilização e a integração dos alunos, que busca trabalhar com as habilidades

motoras. Mas não foi isso que conseguimos observar analisando as respostas dos

alunos, e sim, que as aulas privilegiam aqueles que gostam e que têm habilidades

para jogar futebol e voleibol, e com isso deixam de fora, todos aqueles que não

gostam ou que supostamente, não têm habilidades para tais esportes. A professora

não oferece outras opções de atividades aos alunos, não procura despertar nos

alunos o senso crítico, não problematiza as ações do esporte nas aulas, não

promove estratégias e adaptações para que todos participem com equidade e etc.

Como foi possível verificar, os dados obtidos por nós nessa escola

pública, corroboram com o que foi apontado pela literatura consultada. As aulas

sendo totalmente voltadas para as práticas esportivas e excludentes. Dessa forma, a

Educação Física não está cumprindo o seu papel com os alunos, não está os

ajudando a terem acesso às diversas manifestações da cultura corporal; a terem um

repertório motor mais desenvolvido; a se tornarem cidadãos autônomos e críticos,

mas, sim, está contribuindo para manter e perpetuar as características negativas da

sociedade capitalista.

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54 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisarmos as respostas obtidas na nossa pesquisa, podemos

constatar que elas indicam uma realidade, semelhante a que foi apontada pelos

autores consultados na fundamentação teórica. Nas aulas da professora que

realizamos a pesquisa, foi possível constatarmos que as mesmas, são totalmente

esportivizadas, nas quais, apenas o futebol e o voleibol, são contemplados como

conteúdos. Assim, a professora desprezou todas as outras manifestações da cultura

corporal de movimento, privilegiando apenas as duas modalidades esportivas

citadas acima.

Em tais aulas esportivizadas, muitos alunos são excluídos, por não

gostarem ou por supostamente não possuírem habilidades para praticarem tais

modalidades esportivas contempladas nas aulas. Diante desse fato necrófilo, como

foi apontado na análise da resposta da professora e dos alunos, a mesma não

propõe nada de concreto, não propõe nenhum tipo de mudança, adaptação ou

transformação nos esportes praticados nas aulas para incluir esses alunos.

Os alunos entrevistados por várias vezes relatam que gostariam de ter

acesso a outras atividades físicas, além das esportivas. Assim, os alunos sentem a

necessidade de uma diversificação, em termos de conteúdo nas aulas. A professora,

além de prestigiar apenas o voleibol e futebol, deveria oferecer a seus alunos, outras

atividades relacionadas à cultura corporal.

O professor demonstra certo despreparo, para manter o controle da sala,

pois alguns alunos mandam nas aulas, o que causa certa irritação em outros alunos.

Como foi possível constatar nos achados da nossa pesquisa, apesar de

todo o esforço de muitos autores da área da Educação Física, em especial, a partir

da década de 80, que a luz da sociologia crítica, empenharam seus esforços, a fim

de mostrarem a íntima ligação do esporte, aos valores capitalistas, denunciando o

condicionamento que a Educação Física sofreu por parte do esporte, o qual passou

a instrumentaliza-la. Tal esforço parece não ter surgido efeitos práticos no contexto

que investigamos. Pelo contrário, as aulas continuam perpetuando os valores

capitalistas, como a seletividade, a exclusão e etc.

Para mudar tal quadro, acredito que seja necessário que os professores,

se conscientizem do seu papel na escola, e do papel e das possibilidades que a

Educação Física – inclusive tendo o esporte como um dos conteúdos – apresenta

Page 55: Universidade de Brasília - UFRGS · surgiu no âmbito da cultura européia no século XVII, a partir de um processo de ... Educação Física, se constitui como uma disciplina escolar,

55 na consolidação da formação dos alunos. Mas para isso, o professor deve buscar

incessantemente o conhecimento já produzido pelo assunto, deve pesquisar,

estudar e refletir sobre suas ações e atitudes, a fim de proporcionar ao aluno um

ensino emancipatório, que o leve a perceber, todas as tentativas de alienação e

manipulação a que são submetidos.

Nesse sentido, é necessário que o esporte como um dos fenômenos

culturais da humanidade e como um das manifestações da cultura corporal, seja

trabalhado, seja contemplado como conteúdo, mas que seja aplicado numa lógica

diferente, do esporte de rendimento.

Assim, considero que esse trabalho vem se somar as demais que

abordam o tema, contribuindo para aumentar a produção literária sobre o assunto, a

fim de problematizar o tema. Os resultados obtidos por este trabalho, espero e

acredito que irão ajudar os professores que o lerem, a refletirem sobre sua atuação

profissional, mais especificamente na aplicação dos esportes nas aulas. E dessa

forma, atuarem de modo crítico e reflexivo junto a seus alunos, problematizando a

questão do esporte, levando os mesmos a perceberem as características necrófilas,

que a aplicação acrítica do esporte podem acarretar aos alunos. E a partir disso,

conceberem e aplicarem o esporte, de forma que não continue a perpetuar os

valores capitalistas, mas sim, que se fundamente nos valores humanos, que

busquem criar uma sociedade mais justa, fraterna e democrática.

Faz-se importante salientar que devido à importância e abrangência do

assunto, são necessários outros estudos sobre o mesmo, esperando que o tema

tenha sido tratado com a devida seriedade acadêmica e profissional neste trabalho.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

Apêndice A – Entrevista realizada junto aos alunos.

1- Você gosta das aulas de Educação Física? Por que?

R:

2- Você gosta do seu professor de Educação Física? Por que?

R:

3- O que vocês fazem nas aulas de Educação Física? Dessas atividades, qual é a

que você prefere? Por que?

R:

4- Você gosta de praticar esportes nas aulas de Educação Física? E fora das aulas

de Educação Física? Por que?

R:

5- A professora conversa sobre os esportes com vocês? Combinam as regras?

Adaptam algo durante o jogo?

6- Você mudaria as aulas de Educação Física? Se sim, o que você sugere? Por

que?

R:

7- Na sua opinião, qual é a importância das aulas de Educação Física?

R:

8- Na sua opinião, no que as aulas de Educação Física podem estar te ajudando

fora do ambiente escolar? Por que?

R:

APÊNDICE B – Entrevista realizada junto ao professor.

1- Como você acha que os alunos vêem a você e as suas aulas?

R.:

2- Qual o conteúdo principal das suas aulas?

R.:

3- Qual a estratégia principal?

R.:

4- Vocês conversam sobre os esportes? Há algum tipo de adaptação de materiais

ou regras nas práticas esportivas?

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60 R.:

5- Qual a importância deles estarem praticando os esportes? Qual o seu objetivo

com essas praticas?

R.:

6- Os alunos gostam de estar praticando os esportes?

R.:

7- Na sua opinião, como se pode estimular aqueles alunos que não aderem as

atividades esportivas?

R.:

8- No que as suas aulas podem estar ajudando os alunos, fora do ambiente

escolar?

R.: