universidade de brasÍlia -...

35
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA AVALIAÇÃO DE DIFERENTES CUSTOS DE ALIMENTAÇÃO PARA BOVINOS NELORE TERMINADOS EM SISTEMA DE CONFINAMENTO E SEMI-CONFINAMENTO JEAN FELIPE BRANDT GUEDES Brasília, DF 2011

Upload: truongdien

Post on 01-Jan-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES CUSTOS DE ALIMENTAÇÃO PARA

BOVINOS NELORE TERMINADOS EM SISTEMA DE

CONFINAMENTO E SEMI-CONFINAMENTO

JEAN FELIPE BRANDT GUEDES

Brasília, DF

2011

Page 2: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

ii

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES CUSTOS DE ALIMENTAÇÃO PARA

BOVINOS NELORE TERMINADOS EM SISTEMA DE

CONFINAMENTO E SEMI-CONFINAMENTO

JEAN FELIPE BRANDT GUEDES

Trabalho de conclusão de curso de graduação

apresentado à Faculdade de Agronomia e Medicina

Veterinária da Universidade de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do grau de

Engenheiro Agrônomo.

Orientador: Professor Dr. RODRIGO VIDAL OLIVEIRA

Brasília, DF

Julho/2011

Page 3: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

iii

FICHA CATALOGRÁFICA

Guedes, Jean Felipe Brandt.

“AVALIAÇÃO DE DIFERENTES CUSTOS DE ALIMENTAÇÃO PARA

BOVINOS NELORE TERMINADOS EM SISTEMA DE CONFINAMENTO E SEMI-

CONFINAMENTO.”/ Jean Felipe Brandt Guedes; Rodrigo Vidal Oliveira. – Brasília 2011 –

33p: il.

Monografia de Graduação (G) – Universidade de Brasília / Faculdade de Agronomia e

Medicina Veterinária, 2011.

Cessão de direitos

Nome do Autor: JEAN FELIPE BRANDT GUEDES

Título da Monografia de Conclusão de Curso: AVALIAÇÃO DE DIFERENTES CUSTOS

DE ALIMENTAÇÃO PARA BOVINOS NELORE TERMINADOS EM SISTEMA DE

CONFINAMENTO E SEMI-CONFINAMENTO.

Grau: 3o Ano: 2011

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta monografia de

graduação e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e

científicos. O autor reserva-se a outros direitos de publicação e nenhuma parte desta

monografia de graduação pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.

JEAN FELIPE BRANDT GUEDES.

CPF: 012.677.591-517

QI 10, Conjunto D, Casa 64.

CEP: 71010-047 Guará-DF, Brasil.

Telefones (61) 8102.5027 / (61) 3964.4803.

Page 4: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

iv

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE REGIMES

ALIMENTARES DE BOVINOS NELORES EM

CONFINAMENTO E SEMI-CONFINAMENTO

JEAN FELIPE BRANDT GUEDES

Matrícula – 10/0031714

Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

Veterinária da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para

obtenção de grau de Engenheiro Agrônomo.

APROVADA EM BRASÍLIA, ____ DE _____________ DE 2011 POR:

______________________________________

RODRIGO VIDAL OLIVEIRA (ORIENTADOR)

Dr. em Zootecnia (UNESP, Jaboticabal) e Professor da Faculdade de Agronomia e Medicina

Veterinária da UnB

______________________________________

SERGIO LÚCIO SALOMON CABRAL FILHO (EXAMINADOR INTERNO)

Dr. em Ciências (USP) e Professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da

UnB

_______________________________________

ITIBERÊ SALDANHA SILVA (EXAMINADOR INTERNO)

Dr. em Ciência Animal e Pastagens (USP) e Professor da Faculdade de Agronomia e

Medicina Veterinária da UnB

Page 5: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

v

Dedico a todos que fizeram parte da minha vida, em especial

desse trabalho, minha família, meus amigos, meus colegas de

curso e a minha namorada.

OBRIGADO!

Page 6: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Professor Doutor Rodrigo Vidal Oliveira, pelos ensinamentos,

pela amizade e dedicação, ajuda e compreensão no momento de finalização de mais um

projeto em minha vida.

Aos Professores Dr. Sergio Lúcio Salomon Cabral Filho e Dr. Itiberê Saldanha, pela

participação na banca de monografia, pela amizade construída e por toda a ajuda prestada.

Ao Professor Doutor Fabiano Alvim Barbosa pela amizade, dedicação,

companheirismo, exemplo de pessoa e profissionalismo.

A todos os professores da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, muitos já

se foram, outros continuam, novos vieram, mas todos contribuíram para nosso crescimento,

obrigado pelo conhecimento transmitido e por estarem sempre dispostos a nos atender.

A todos os funcionários da Fazenda Água Limpa, pela amizade e companheirismo ao

longo dos dias e pelo auxílio na condução do experimento.

Aos alunos: Guilherme Firmino, Raphael Mandarino, Daniel Barcelos, Gustavo

Carneiro, Juliano Vilela, Diego Melara e Camila Eufrásio pela amizade e ensinamentos ao

longo dessa jornada, por estarem juntos em todos os momentos da realização desse projeto.

Aos amigos da faculdade, alguns mais próximos, outros nem tanto, mas que, de

alguma forma contribuíram para que eu chegasse até aqui.

A Deus pela oportunidade oferecida na minha vida, por mais uma vez poder fazer

parte deste mundo, interagindo com ele e pela luz nos momentos de desafio. Meu refúgio e

força, onde sempre encontrei respostas para os problemas e por sempre me fortalecer durante

os difíceis caminhos.

Aos meus pais, Joel Antônio e Cleudes Maria, pela dedicação constante em me

mostrar o caminho do bem, os bons valores e virtudes que me deram condições de estar aqui

hoje e por me apoiarem em todas as escolhas.

As minhas irmãs, Juliana Guedes e Katiana Guedes, pelo carinho recebido em casa

durante todos esses anos, pela ajuda nas tarefas mais simples do cotidiano e pelo apoio dado

na vida pessoal.

À minha namorada Mara Rúbia, pela ajuda nos momentos difíceis e entediantes, por

acreditar nas minhas convicções, pelo companheirismo e afeto em todos os momentos, por

fazer parte da minha vida. Você é e sempre será mais que especial. Eu te amo!

Page 7: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

vii

Aos meus sogros Rubens Silva e Magna Barbosa por me receberem na família de

braços abertos e por me tratarem como filho.

A minha família, que apesar da distância torcem por mim, e acredita no sucesso e nas

conquistas da minha vida.

A todas as pessoas que direta ou indiretamente possam ter contribuído para realização

deste projeto. A todos meu carinho e muito obrigado.

Page 8: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

viii

“Bom mesmo é ir à luta com determinação,

abraçar a vida com paixão,

perder com classe e vencer com ousadia,

pois o triunfo pertence a quem se atreve...

A vida é muita para ser insignificante.”

Charles Chaplin

Page 9: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

ix

SUMÁRIO

Página

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES CUSTOS DE ALIMENTAÇÃO PARA BOVINOS

NELORE TERMINADOS EM SISTEMA DE CONFINAMENTO E SEMI-

CONFINAMENTO ............................................................................................................ xi

RESUMO ............................................................................................................................. xi

ECONOMIC EVALUATION OF DIET NELORE CATTLE IN FEEDLOT AND

FREE-RANGE SYSTEM ................................................................................................. xii

ABSTRACT ....................................................................................................................... xii

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13

2. REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 15

2.1 A Terminação de Bovinos de Corte no Brasil ..................................................... 15

2.2 Características dos sistemas de terminação de bovinos ....................................... 16

2.3 Adoção de tecnologias de produção x viabilidade econômica ............................. 17

2.4 Análise econômica e financeira da terminação .................................................... 18

3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 20

3.1. Sistema confinado ................................................................................................. 20

3.2. Sistema semi-confinado ......................................................................................... 22

3.3. Índices de consumo alimentar ................................................................................ 24

3.4. Índices econômicos da ração.................................................................................. 24

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................................... 26

5. CONCLUSÕES .............................................................................................................. 32

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 33

Page 10: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Composição percentual (%) das rações do confinamento de acordo com os

tratamentos TRAT 85 e TRAT 70, em base matéria seca......................................21

Tabela 2. Composição bromatológica das rações na base da matéria seca...............................21

Tabela 3. Composição percentual do concentrado usado nos tratamentos SCONF 1 e SCONF

2, em base na matéria seca.......................................................................................22

Tabela 4. Composição bromatológicas do concentrado experimental (SCONF 1 e SCONF2),

em base na matéria seca...........................................................................................23

Tabela 5. Composição bromatológica da forragem experimental............................................23

Tabela 6. Valores médios de peso vivo inicial (PVI), peso final (PF), ganho médio diário

(GMD), rendimento de carcaça quente (RCQ) e ganho em arroba (@) de

carcaça......................................................................................................................26

Tabela 7. Consumo total da silagem e do concentrado ofertado, ração total ofertada, ração

total ofertada após adaptação (para sistema confinado), sobra total da ração

ofertada, ração total consumida, consumo em matéria seca natural por

animal/dia...............................................................................................................27

Tabela 8. Preço da silagem e concentrado ofertada/animal/dia, preço da silagem, preço do

concentrado, custo da silagem e custo do concentrado oferto/animal/dia, custo da

silagem e do concentrado total ofertado/animal, custo da silagem e do concentrado

total ofertado/@ produzida, custo da silagem e do concentrado total ofertado/kg

carcaça produzido.....................................................................................................28

Tabela 9. Preço do concentrado, concentrado ofertado/animal/dia, custo do concentrado

ofertado/animal/dia, custo do concentrado total ofertado/animal, custo da

pastagem/animal/mês, custo total da pastagem/animal, custo ração/animal, custo

ração/@ produzida, custo ração/kg carcaça produzida..........................................29

Tabela 10. Custo da @ produzida (R$), custo alimentar/kg carcaça produzido (R$)..............30

Page 11: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

xi

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES CUSTOS DE ALIMENTAÇÃO PARA

BOVINOS NELORE TERMINADOS EM SISTEMA DE

CONFINAMENTO E SEMI-CONFINAMENTO

RESUMO

Objetivou-se com o presente estudo avaliar o custo de diferentes regimes alimentares

para terminação de bovinos Nelore inteiros em sistema de confinamento e semi-confinamento

na época seca do ano. Foram utilizados 60 novilhos Nelore inteiro, com peso vivo inicial

médio (PVI) de 339,00 kg divididos em dois experimentos, sendo 30 animais submetidos ao

confinamento em currais coletivos e 30 em semi-confinamento de pastagem de Brachiaria

brizantha cv. Marandu na região do cerrado. No confinamento, os tratamentos foram: TRAT

85 na proporção de 85:15 concentrado e volumoso na ração total e TRAT 70 na proporção de

70:30. Os tratamentos do sistema semi-confinamento foram: SCONF 1 – suplementação com

ração concentrada com ingestão média diária de 1,8% do peso vivo (PV) na matéria seca

(MS) e SCONF 2 – com ingestão ad libitum. O delineamento utilizado para avaliação do

ganho de peso foi de blocos ao acaso. O custo do concentrado total ofertado por animal

apresentou uma diferença de R$ 15,33 entre os tratamentos do confinamento e o custo

referente à ração total para produzir 1 kg de carcaça foi 3,83% inferior para TRAT 70 em

relação ao TRAT 85. O custo da arroba produzida para os animais semi-confinados foi de R$

87,48 e R$ 65,82 para SCONF 2 e SCONF 1 respectivamente, sendo que a diferença nos

valores da arroba produzida pode ter sido ocasionada pela variação observada no consumo de

concentrado dos tratamentos. A utilização de sistemas de confinamento e/ou semi-

confinamento visando à terminação de bovinos de corte na época seca do ano representam

uma tecnologia viável para aumentar a viabilidade econômica da atividade agropecuária.

Palavras-chave: bovinos de corte, custo, pasto, sistemas de produção, suplementação.

Page 12: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

xii

ECONOMIC EVALUATION OF DIET NELLORE CATTLE IN

FEEDLOT AND FREE-RANGE SYSTEM

ABSTRACT

The objective of this study to evaluate the cost of different diets for finishing Nellore

whole in free-range and feedlot system the dry season. A total of 60 Nellore round, with

initial weight (PVI) of 339.00 kilograms divided into two experiments, 30 animals subjected

to feedlot in collective corrals and 30 in free-range of Brachiaria brizantha cv. Marandu in

savanna region. In feedlot, the treatments were: TRAT 85 in the proportion of 85:15

concentrate to forage in the total ration and TRAT 70 in the proportion of 70:30. The

treatments of free-range were SCONF 1 - concentrate diet supplementation with average daily

intake of 1.8% body weight (BW) in dry matter (DM) and SCONF 2 – with ad libitum intake.

The experimental design for evaluation of weight gain was a randomized block design. The

total cost of concentrate offered per animal showed a difference of R$ 15.33 between the

treatments and the cost of feedlot on the total feed to produce 1 kg of carcass was 3.83%

lower to 70 TRAT 85 of the treaty. The cost of the at sign for the animals produced free-range

to R$ 87.48 and R$ 65.82 SCONF SCONF 1 and 2 respectively, and the difference in values

arroba produced at sign may have been caused by the observed variation in consumption

concentrate treatments. The use of feedlot and/or free-range system order to the termination of

beef cattle in the dry season represent a viable technology to increase the economic viability

of farming.

Keywords: beef cattle, cost, pasture, production systems, supplementation.

Page 13: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

13

1. INTRODUÇÃO

A cada ano que passa, o agronegócio brasileiro consolida sua importante posição na

economia, como resultado do avanço tecnológico, do incremento na produtividade e da

ocupação de novas áreas. Com o processo de globalização da economia e a abertura dos

novos mercados grandes mudanças ocorreram em diversos setores do agronegócio. A

produção de carne no Brasil tem crescido significativamente, a partir de 1990, em decorrência

do aumento da competitividade, desafiando os produtores a estabelecer sistemas de produção

que sejam capazes de produzir, de forma eficiente, carne de boa qualidade a baixo preço

(Euclides, 2001; Fernandes et al., 2007).

No atual contexto econômico, verifica-se interesse crescente em estratégias que

proporcionem melhores resultados de eficiência produtiva e qualidade dos produtos, pois a

atividade pecuária tende a ser mais uma atividade empresarial, afastando-se do modelo

extrativista e aproximando-se da intensificação total (Euclides Filho, 2004). Estes sistemas

têm de ser competitivos, sustentáveis e capazes de produzir animais para abate com menos de

42 meses de idade que é a média nacional (Euclides, 2001).

Nas situações de baixa produtividade, a busca por aumento da eficiência produtiva e

econômica é necessária. O aumento da produtividade, normalmente, provoca redução do

custo operacional total unitário. O custo de produção deve ser entendido de maneira global

dentro do sistema de produção e não isoladamente em segmentos do sistema de produção

(adubação e irrigação de pastagens, confinamento, etc.), procurando sempre maximizar o

lucro da atividade (Barbosa & Vilela, 2009).

Nos últimos trinta anos, a pesquisa agropecuária no Brasil tem gerado expressivo

número de alternativas tecnológicas aplicáveis aos vários segmentos do setor produtivo, com

efetivo incremento na produtividade (Anualpec, 2000).

Diferentes aspectos da terminação de bovinos de corte têm sido estudados, tais como a

nutrição, os cruzamentos, idade inicial dos animais utilizados e a escala de produção (Resende

Filho, 2008).

Por outro lado, não tem sido dada a devida importância aos aspectos econômicos

desses novos processos, o que, a priori, parece ter reflexo direto na adoção de novas

tecnologias. Isto sugere que tal fato decorre do princípio de que nem sempre uma tecnologia

de produção que gera melhor desempenho, sob o ponto de vista produtivo, resulta em

aumento de lucratividade, devido aos custos oriundos de sua implementação (Rodrigues Filho

et al., 2002).

Page 14: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

14

Santos et al. (2002) ressaltaram que, em razão da nova ordem econômica, os negócios

agropecuários atingiram um grau de complexidade semelhante aos demais setores da

economia. Exigindo do produtor uma nova visão da administração dos seus negócios, e o

controle dos custos é uma ferramenta que vem a auxiliar a análise econômica do

confinamento e seqüencialmente da vida do empreendimento.

Desta maneira, como qualquer atividade do setor pecuário, para se manter competitiva,

deve ser constantemente avaliada, principalmente no que tange aos aspectos econômicos.

Neste contexto, os custos de produção da atividade, a receita obtida e a rentabilidade do

capital investido são fatores importantes para o sucesso de qualquer sistema de produção

(Silva et al., 2009). Entretanto, poucos estudos têm focado sobre a viabilidade econômica

dessa atividade e os fatores que influenciam sua rentabilidade. Dentre tais fatores está o ganho

ótimo de peso diário para animais em confinamento (Resende Filho, 2008).

Diante desse contexto, objetivou-se com o presente estudo avaliar o custo de

diferentes regimes alimentares de bovinos Nelore terminados em sistema de confinamento e

semi-confinamento na época da seca.

Page 15: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

15

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A Terminação de Bovinos de Corte no Brasil

Michels et al. (2001) relataram que a terminação, também chamada de engorda, se

estende do fim da recria até o momento em que o animal atinge idade e peso ideal para o

abate. Segundo Marques et al. (2003), a terminação pode ser feita através de três sistemas de

produção:

a) Sistema extensivo: os animais são engordados a campo recebendo como alimento

somente o pasto, com suplementação de sal mineral;

b) Sistema semi-intensivo ou semi-confinado: neste sistema, há uma associação entre os

sistemas extensivos e intensivos, de modo sucessivo ou simultâneo;

c) Sistema intensivo ou em confinamento: os animais são reunidos em pequenos lotes e

recebem alimentação controlada de volumosos e concentrados.

No Brasil foram abatidos em 2007 mais de 53 milhões de bovinos, destes 5,4 milhões

foram terminados em sistema de confinamento, semi-confinamento ou pastagens de inverno,

enquanto mais de 47,1 milhões de cabeças foram terminadas em pastagens tropicais, no

sistema extensivo (Anualpec, 2007).

Nos trópicos existe elevada flutuação qualitativa e quantitativa dos pastos, decorrente

da duas estações bem definidas no Brasil central, o que resulta em ganhos de peso no período

das águas e perda de peso no período seco (Silva et al., 2009). Segundo Euclides et al. (1998),

a sazonalidade na produção dos pastos, faz com que ocorram baixos índices de produção

bovina nos trópicos, devido a inadequação no atendimento das exigências nutricionais dos

animais.

Paulino & Ruas (1988) mencionaram que o aumento da eficiência na produção de

bovinos no Brasil está incondicionalmente relacionado à melhoria das condições de

alimentação, sendo a suplementação uma das alternativas mais práticas para adequar o

suprimento de nutrientes aos requerimentos dos animais, especialmente durante a seca.

No período em que os pastos apresentam baixa produtividade, a suplementação é uma

recomendação favorável à ampliação produtiva. A ração concentrada, fornecida no cocho,

sistema semi-confinado, constitui-se em uma estratégia que visa suprir as exigências

nutricionais de animais criados em sistemas de produção a pasto (Peres et al., 2005). A

correção das deficiências nutricionais do pasto via suplementação permite melhores

Page 16: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

16

desempenhos e propicia a redução do ciclo de produção e da idade de abate dos animais

(Moraes et al., 2010).

De 70 a 80% da produção forrageira se dá no período chuvoso e somente 20 a 30%

ocorre no outono e inverno. Devido a essa baixa disponibilidade das forrageiras no período

seco, outras estratégias são adotadas, como o confinamento. O objetivo do confinamento é

alcançar elevados ganhos de peso, afim de que o animal seja terminado e abatido o mais

rápido possível ainda na entressafra, quando as cotações da arroba do boi tendem a ser um

pouco melhores (Peixoto et al., 1989).

2.2 Características dos sistemas de terminação de bovinos

O aumento da eficiência produtiva é primordial para a lucratividade da pecuária de

corte, sendo que, as atividades produtivas devem ser entendidas e manejadas dentro de um

enfoque sistêmico, em busca da maximização dos lucros. Os sistemas de produção de gado de

corte são complexos e diversificados, não havendo fórmulas e recomendações únicas.

Portanto, cada produtor deve desenvolver seu sistema de produção, combinando suas metas às

condições ambientais e mercadológicas (Hembry, 1991; citado por Abreu et al., 2003).

O sistema tradicional de produção agropecuária tem se mostrado economicamente

pouco eficiente, obrigando os produtores à busca por alternativas que aumentem a

lucratividade da propriedade. Nesse sentido, a utilização de tecnologias como o semi-

confinamento e confinamento, promovem a redução da idade de abate, proporcionando maior

giro do capital investido, liberando áreas na propriedade para novas explorações (Missio et

al., 2009).

De acordo com Paulino (1999), nos sistemas de semi-confinamento os animais são

engordados à pasto recebendo suplementação especialmente quando terminados durante à

seca. Os suplementos são fornecidos em quantidades equivalentes de 0,8 a 1,0% do PV, e a

conseqüência é a produção de carne da melhor qualidade, proveniente de novilhos jovens.

O sistema de confinamento de bovinos tem como principal característica a formação

de lotes de animais em currais de engorda com área restrita. O fornecimento de alimentos

ocorre via cocho, tanto a parcela concentrada (farelos e grãos) quanto a volumosa (silagens,

cana-de-açúcar, capineiras ou feno), tendo assim um controle total sobre o fornecimento da

alimentação dos animais (Peixoto et al., 1989).

Page 17: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

17

Neves et al (1993) ressaltaram que o confinamento de bovinos implica no uso

intensivo de capital, conseqüência da necessidade de se ter disponível uma infra-estrutura

adequada em termos de instalações e equipamentos, da necessidade de compra do boi magro e

dos gastos advindos do fornecimento de toda a alimentação dos animais em forma de ração.

No Brasil, predomina-se o confinamento de terminação com a formação de lotes de

entrada com animais entre 2,5 e 3,5 anos de idade com peso entre 12 e 13 arrobas (@) ou 350

Kg e 390 Kg respectivamente, permanecendo confinados em currais de engorda por um

período entre 60 e 120 dias, dependendo da eficiência de conversão alimentar de cada animal,

e indo para o abate pesando entre 16 e 17 arrobas ou 480 Kg e 510 kg respectivamente

(Agroanalysis, 2004).

O importante a se ressaltar nos sistemas de terminação, principalmente no

confinamento, é que após o planejamento e a implantação da intensificação não é possível

retornar ao sistema convencional sem perdas financeiras. O surgimento de imprevistos de

ordem econômica, climática, sanitária ou quaisquer outros que interfiram no desempenho

animal programado, podem acarretar, no aumento do período de alimentação e onerar os

investimentos (Missio et al., 2009).

2.3 Adoção de tecnologias de produção x viabilidade econômica

Tão importante quanto avaliar a eficiência produtiva do tipo de terminação adotado, é

o impacto econômico desta prática no sistema de produção. A utilização de tecnologias que

possibilitem a intensificação da produção e o avanço dos índices de produtividade geralmente

aumentam os custos de produção (Santos et al., 2004).

É necessário avaliar economicamente o impacto do uso das tecnologias disponíveis

para aumentar os índices zootécnicos nas fases de produção de bovinos para que possa ser

indicada, técnica e economicamente, as tecnologias. O uso das tecnologias tem que ser

gradativo e coerente com os objetivos de produção, com coletas precisas dos dados para gerar

as informações necessárias (Barbosa et al., 2006).

Novas tecnologias encontram restrições à sua adoção, quando aumentam os custos

diretos da empresa rural. Muitas vezes, os resultados produtivos não cobrem estes custos,

devido à má escolha da alternativa a ser usada ou por sua utilização ineficiente. Trabalhos de

pesquisa, muitas vezes, buscam melhorar o potencial biológico do sistema de produção

empregado, não sendo a sua viabilidade econômica o fator determinante para avaliar o

Page 18: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

18

sucesso dos resultados obtidos (Pilau et al., 2003). Portanto, uma vez definidos os aspectos

técnicos e estratégicos da suplementação, torna-se necessária também a avaliação dos custos

com alimentação.

A terminação de bovinos em confinamento já foi uma tecnologia usada para

aproveitamento das características sazonais do mercado, permitindo altas rentabilidades pelas

diferenças de preço da arroba entre a safra e a entressafra que chegavam a mais de 40%.

Atualmente, essa diferença não é superiore a 20%, sendo assim, o confinamento deve ser

encarado como uma estratégia para aumentar a escala de produção com a retirada da categoria

de engorda das pastagens para entrar a recria, e produzir novilhos precoces (Mandarino et al.,

2010).

Os programas de terminação de bovinos podem ser definidos em função de

oportunidades comerciais, da classe animal, do ambiente e do sistema de produção (Paulino,

1999).

2.4 Análise econômica e financeira da terminação

Existem duas formas básicas de interferir no ganho financeiro real de uma atividade:

aumentando seu preço de venda, mas com algumas consequências em relação à demanda, ou

implementando uma política de redução de custos e aumento de produtividade, que também

favoreceria o aumento da margem sem, contudo, depender diretamente do fator demanda

(Figueiredo et al., 2007).

A análise de custos de produção de empresas rurais tem assumido importância

crescente, pois é através da análise que o produtor passa a conhecer os resultados financeiros

de sua empresa. Ter esse controle não é tarefa simples, mas vai ajudar o produtor a tomar

decisões corretas e a encarar o seu sistema de produção como uma empresa. No entanto é

preciso ter conhecimento do tipo de empresa e do ambiente em que ela está inserida (Lopes &

Carvalho, 2002).

O controle dos custos e despesas nos sistemas de produção permite fazer uma análise

econômica acerca dos fatores mais dispendiosos da propriedade, localizando dessa forma os

pontos de estrangulamento da atividade. A análise econômica da terminação de gado de corte,

dentro da dinâmica de uma propriedade agrícola, facilita a gestão gerencial e tecnológica para

a maximização dos lucros ou minimização dos custos (Lopes & Magalhães, 2005).

Page 19: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

19

A determinação do custo de produção é uma prática indispensável a qualquer

administrador, e com a correta apuração destes custos pode-se: planejar e controlar as

operações do sistema; analisar a rentabilidade da atividade; determinar o preço de venda;

diminuir os custos controláveis; e identificar o ponto de equilíbrio do sistema de produção

(Figueiredo et al., 2007).

O resultado da análise de custos verifica “se” e “como” os recursos estão sendo

empregados, possibilitando analisar a rentabilidade da atividade. Para tanto, deve-se fazer a

contabilização da empresa, e esta exige o conhecimento de vários termos que em muitos casos

são utilizados de forma inadequada (Fontoura Jr. et al., 2007).

A viabilidade da pecuária de corte depende diretamente da economia em escala, pois

opera com margens de lucro mais reduzidas. Desta forma, a busca pela redução dos custos de

produção deve depender não apenas do menor custo de alimentação, mas também de

estruturas mais simples, como no transporte e ns distribuição dos suplementos (Moraes et al.,

2010).

O resultado econômico dos sistemas de terminação dependente de variáveis como o

preço de venda dos animais terminados (preço do boi gordo), preço de aquisição do boi magro

para animais confinados e da taxa de juros. Isso porque a terminação de bovinos em

confinamento é uma atividade de curta duração que compete assim com outras formas de

investimento em ativos reais e financeiros (Neves et al., 1993).

Page 20: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

20

3. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado na Fazenda Água Limpa que pertence à Fundação

Universidade de Brasília, localizada no Núcleo Rural da Vargem Bonita, no Distrito Federal

cujas coordenadas geográficas são: 15º55’12.55’’ latitude sul e 47º55’12.55’’ latitude oeste. A

altitude é de aproximadamente 1.000 metros e o clima é tipo tropical, caracterizado por

apresentar chuvas de verão e o inverno relativamente frio e seco.

O presente trabalho foi dividido em duas partes, sendo a primeira baseada no sistema

de produção de animais confinados e a segunda no sistema semi-confinado.

3.1. Sistema confinado

O experimento foi realizado entre 30 de julho e 30 de novembro de 2010, tendo

duração de 100 dias, sendo que 14 dias compreenderam ao período de adaptação dos animais

às rações experimentais, assim como as instalações e ao manejo.

As instalações experimentais eram formadas por currais coletivos com área total de

200 m2, com 24 m

2 de cobertura de telhas galvanizadas sobre os comedouros de concreto,

além de bebedouros de aço galvanizado.

Foram utilizados nesse experimento 30 animais machos não-castrados da raça Nelore,

aos 22 meses de idade média inicial, com peso vivo médio inicial de 348,23 kg, divididos em

dois grupos, com 15 animais cada. Cada grupo correspondia a um tratamento, sendo divididos

em função da proporção de concentrado e volumoso na matéria seca. O grupo TRAT 85

recebia concentrado (grão de milho, casca de soja, farelo de girassol, uréia e suplemento

mineral) e silagem de milho na proporção de 85:15 na matéria seca. O grupo experimental

TRAT 70 recebia concentrado (grão de milho, casca de soja, farelo de girassol, uréia e

suplemento mineral) e silagem de milho na proporção de 70:30 na matéria seca (MS). As

proporções dos ingredientes em cada ração podem ser observadas na Tabela 1.

Page 21: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

21

Tabela 1. Composição percentual (%) das rações do confinamento de acordo com os

tratamentos TRAT 85 e TRAT 70, em base matéria seca.

TRAT 85 TRAT 70

Silagem de milho 15,00 30,00

Milho moído 40,00 43,27

Casca de soja 35,75 13,18

Farelo de girassol 6,37 10,80

Uréia 1,18 1,05

Núcleo confinamento 1,00 1,00

Calcário 0,70 0,70

Total 100 100

A ração total fornecida aos animais, concentrado mais volumoso, foi analisada em

laboratório de acordo com as metodologias descreveram por Silva & Queiroz (2002), podendo

ser observado na Tabela 2 os valores quanto à sua composição bromatológica.

Tabela 2. Composição bromatológica das rações na base da matéria seca

TRAT 85 TRAT 70

Matéria seca total (%)

67,05

49,88

Proteína bruta (%)

13,54

13,63

Fósforo (%)

13,54

13,63

Fibra detergente neutro (%) 38,14

28,41

Fibra detergente ácido (%) 33,63

30,02

Nutrientes Digestíveis Totais (%)

78,00

76,00

Cinzas (%) 5,87 5,48

Os animais eram submetidos ao jejum de sólidos e líquidos por 16 horas, para que

fosse obtido o peso dos animais em jejum. A pesagem dos animais foi realizada a cada 28 dias

para acompanhamento do desempenho, e no final do experimento para obtenção do peso final

em jejum.

Durante a fase experimental, o alimento foi fornecido no cocho três vezes ao dia,

procurando manter sobras em torno de 5 a 10% do peso total do alimento fornecido

Page 22: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

22

diariamente. Para determinar o consumo alimentar durante o período experimental, foi

registrada diariamente a quantidade de ração completa ofertada e rejeitada.

Ao término do experimento de desempenho, os animais foram abatidos em frigorífico

comercial, seguindo a legislação brasileira, obtendo o peso e o rendimento da carcaça quente.

3.2. Sistema semi-confinado

O experimento foi realizado entre 30 de julho de 2010 a 31 de janeiro de 2011, tendo

duração de 170 dias, sendo que 14 dias compreendem ao período de adaptação dos animais às

rações experimentais e ao manejo.

A área experimental foi formada por 6 piquetes de 2 hectares (ha) cada, estabelecidos

com Brachiaria brizantha cv. Marandu, compostos de bebedouros e cochos de suplementação

concentrada.

Foram utilizados 30 animais machos inteiros da raça Nelore, com idade média inicial

de 22 meses, divididos em dois grupos de 15 animais, correspondendo a dois tratamentos e

três repetições. O peso vivo médio inicial dos animais foi de 285 kg.

Foi utilizado o sistema de pastejo contínuo, sendo que cada piquete continha 5 animais

com taxa média de lotação de 2,22 unidade animal/hectare (UA/ha). Utilizando o

delineamento de blocos ao acaso, os animais de um mesmo bloco de tratamento a cada 28 dias

eram rotacionados nos piquetes, para que fosse eliminado qualquer possível efeito do pasto.

Os tratamentos adotados foram: SCONF1 – suplementado com concentrado composto

de milho inteiro, casca de soja, farelo de girassol, uréia e suplemento mineral, com ingestão

média diária de 1,8% do peso vivo (PV) médio na matéria seca (MS); e SCONF2 –

suplementado com concentrado composto de milho inteiro, casca de soja, farelo de girassol,

casca de soja, uréia e suplemento mineral, com ingestão média diária ad libitum. As

proporções de cada ingrediente podem ser observadas na Tabela 3.

Tabela 3. Composição percentual do concentrado usado nos tratamentos SCONF 1 e SCONF

2, em base na matéria seca.

SCONF 1 SCONF 2

Milho moído 43,50 43,50

Casca de soja 10,50 10,50

Núcleo protéico 46,00 46,00

Total - % 100 100

Page 23: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

23

A composição bromatológicas do concentrado experimental, como matéria seca total

(MS) e proteína bruta (PB), em cada ração, pode ser observada na Tabela 4. As análises do

concentrado usado nas rações foram realizadas em laboratório de acordo com as metodologias

descritas por Silva & Queiroz (2002).

Tabela 4. Composição bromatológicas do concentrado experimental (SCONF 1 e SCONF2),

em base na matéria seca.

SCONF 1 SCONF 2

Matéria seca (%) 88,20 88,20

Proteína bruta (%) 18,50 18,50

Nutrientes digestíveis totais (%) 55,52 57,13

Na primeira semana do período experimental e a cada rotação dos animais foram

realizadas coletas de forragem para cálculo da disponibilidade total de matéria seca/ha, por

meio da utilização de um quadrado de 1m² e cortes rentes ao solo. Simultaneamente foi realizado

o pastejo simulado para realização das análises bromatológicas do pasto. Os valores nutricionais

médios da forrageira podem sem observados na Tabela 5.

Tabela 5. Composição bromatológica da forragem experimental.

Média

Proteína bruta (%) 5,65

Fibra detergente neutro (%) 74,13

Fibra detergente ácido (%) 42,27

O consumo foi registrado diariamente por meio da pesagem dos alimentos fornecidos

e das sobras, para posteriores análises de consumo médio diário e levantamento de dados para

as análises econômicas.

As pesagens dos animais, para obtenção do peso inicial, acompanhamento do

desempenho e peso final foram realizadas em jejum de sólidos e líquidos por 16 horas. As

pesagens de acompanhamento foram realizadas a cada ciclo de pastejo de 28 dias.

Ao término do experimento de desempenho, os animais foram abatidos em frigorífico

comercial. Após o mesmo, foram obtidos o peso e o rendimento da carcaça quente.

Page 24: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

24

3.3. Índices de consumo alimentar

Os cálculos de consumo alimentar foram realizados através do levantamento das

anotações diárias durante os períodos experimentais dos dois experimentos, que eram

realizadas no momento do fornecimento das rações. As anotações constaram da ração que era

fornecida aos animais durante cada trato realizado durante o dia e das sobras que eram

encontradas na manhã seguinte ao último trato.

Ao final das atividades experimentais no campo, os dados levantados durante todo o

período experimental foram tabulados e computados.

No confinamento, o consumo total de silagem e de concentrado ofertados aos animais

foi levantado somando as ofertas diárias de silagem e concentrado, respectivamente, mesmo

durante o período de adaptação. Não houve oferta de silagem para animais semi-confinados,

pois estes se encontravam em regime de pastejo.

A ração total ofertada foi resultado do somatório do consumo total de silagem com o

consumo total de concentrado, isso para animais confinados. No semi-confinamento essa

variável é composta apenas pelo consumo total do concentrado.

A ração total ofertada menos a quantidade total fornecida durante a adaptação resultou

na ração total ofertada após adaptação. O cálculo só foi necessário para animais confinados,

pois no semi-confinamento não foi preciso fazer período de adaptação.

O consumo em matéria natural/animal/dia foi calculado dividindo a ração total

ofertada após adaptação pelo número de animais presente no tratamento, e posteriormente

pela duração em dias do período experimental.

3.4. Índices econômicos da ração

O preço da silagem (R$ 0,085/kg) foi calculado através dos gastos referentes ao

plantio, tratos culturais e colheita do milho, e preparo da silagem, realizado na Fazenda Água

Limpa (FAL). O preço do concentrado (R$ 0,32/kg) foi calculado através do levantamento

dos custos de compra dos insumos. Os levantamentos desses custos foram realizados pela

diretoria da FAL e fornecidos para as análises de custo alimentar.

O custo da silagem ofertada/animal/dia (R$) e do concentrado ofertado/animal/dia

(R$) foi calculado pela multiplicação da quantidade de silagem ou de concentrado

ofertado/animal/dia com os respectivos preços, ambos fornecidos pela Direção da FAL.

Page 25: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

25

O custo da silagem total ofertada/animal (R$) e do concentrado total ofertado/animal

(R$) foi calculado multiplicando o custo da silagem ou do concentrado ofertado/animal/dia

com o total de dias que teve o experimento.

O custo da silagem total ofertada/arroba (@) produzida (R$) e do concentrado total

ofertado/@ produzida (R$) foi obtido pela divisão do custo total da silagem ou do

concentrado total ofertada/animal pela quantidade de arrobas (@) produzidas durante o

experimento.

O custo da silagem total ofertada/kg de carcaça produzida (R$) e do concentrado total

ofertado/kg de carcaça produzida (R$) foi obtido dividindo o custo da silagem ou do

concentrado total ofertado/@ produzido pelo valor da arroba (@) em quilogramas, que é igual

a 30 kg.

No semi-confinamento a quantidade de concentrado ofertado/animal/dia (kg), o custo

do concentrado ofertado/animal/dia e o custo do concentrado total ofertado/animal seguiram

os mesmo princípios quando calculados para silagem e concentrado.

O custo da pastagem por mês (R$) foi obtido através de levantamento feito na região

para arrendamento, nesse caso foi encontrado o valor de R$ 15,00 animal/mês. Esse preço

multiplicado pelo número de dias do experimento resultou no custo total da pastagem por

animal (R$).

O custo alimentar/animal (R$) resultou do somatório do custo do suplemento total

ofertado/animal com o custo total do pasto/animal.

O custo alimentar/@ produzida (R$) e o custo alimentar/kg de carcaça produzido (R$)

foi calculado pelos mesmos métodos usados para calcular o custo da silagem ou do

concentrado total ofertado/@ produzida ou por kg de carcaça produzido.

Page 26: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

26

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As médias do peso vivo inicial para animais confinados foram 351,61 e 344,86 kg para

o tratamento TRAT 85 e TRAT 70, respectivamente. O peso final foi de 441,77 e 444,66 kg, e

o ganho de peso médio diário de 1,04 e 1,16 kg/cabeça/dia para tratamento TRAT 85 e TRAT

70, respectivamente. Os resultados encontrados indicam que não houve diferença estatística

quanto ao ganho de peso, em animais de um mesmo sistema, independente da ração (P>0,05).

As médias do peso vivo inicial para animais semi-confinados foram 328,92 e 331,92

kg para tratamento SCONF 1 e SCONF 2, respectivamente. O peso final foi de 476,46 e

479,43 kg para tratamento SCONF 1 e SCONF 2, respectivamente. O ganho médio diário de

0,868 kg/cabeça/dia foi observado nos dois tratamentos.

Quando os resultados referentes ao desempenho são comparados entre sistemas de

terminação são observadas diferenças significativas quanto ao ganho de peso médio diário. Os

animais terminados confinados apresentaram um ganho de peso superior quando comparado

aos animais semi-confinados. A resposta ao fornecimento da ração total no cocho foi 232 gramas

em média a mais em ganho de peso médio por animal em comparação ao semi-confinamento.

Tabela 6. Valores médios de peso vivo inicial (PVI), peso final (PF), ganho médio diário

(GMD), rendimento de carcaça quente (RCQ) e ganho em arroba (@) de carcaça.

TRAT 85 TRAT 70 SCONF 1 SCONF 2

PVI (kg) 351,61 344,86 328,92 331,92

PF (kg) 441,77 444,66 476,46 479,43

GMD (kg/cabeça/dia)* 1,04 1,16 0,868 0,868

RCQ (%) 57,04 57,26 56,00 56,03

Ganho em @ de carcaça 3,43 3,81 5,51 5,51

O maior ganho em arrobas observado para os animais semi-confinados não é

decorrente do ganho médio diário (GMD), e sim do tempo que os animais permaneceram no

experimento. Os animais semi-confinados no final do período estipulado para o término do

experimento, mês de novembro, não apresentavam peso ideal para abate, necessitando

estender o experimento até final de janeiro.

Os dados referentes ao consumo alimentar dos dois sistemas de terminação podem ser

observados na Tabela 7. Observa-se que os dados são influenciados pela concentração de cada

componente previamente determinado para cada ração.

Page 27: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

27

Quando comparada a sobra total da ração ofertada no confinamento, entre os

tratamentos TRAT 85 e TRAT 70, 1.965,22 e 2.694,05 kg respectivamente, foi observado

maior quantidade de sobra da ração que apresentava maior composição de volumoso (TRAT

70). Já no sistema de semi-confinamento, foi observado maior quantidade de sobra no

tratamento onde a oferta de concentrado (%PV) por animal foi ad libitum.

Tabela 7. Consumo total da silagem e do concentrado ofertado, ração total ofertada, ração

total ofertada após adaptação (para sistema confinado), sobra total da ração

ofertada, ração total consumida, consumo em matéria natural/animal/dia.

TRAT 85 TRAT 70 SCONF 1 SCONF 2

Consumo total silagem ofertada (kg) 8.255,91 16.969,15 - -

Consumo total concentrado ofertado (kg) 16.822,80 14.184,06 10.297,10 15.990,64

Ração total ofertada (kg) 25.078,71 31.1153,21 10.297,10 15.990,64

Ração total ofertada após adaptação (kg) 19.289,12 26.737,10 - -

Sobra total ração ofertada (kg) 1.965,22 2.694,05 10,3 464,51

Ração total consumida (kg) 17.323,90 24.043,05 10.286,80 15.526,13

Consumo matéria natural/animal/dia (kg) 14,38 17,42 4,015 5,65

O custo das rações usadas no sistema confinado pode ser analisado na Tabela 8. O

preço da silagem foi igual para os dois tratamentos, pois foram produzidas no mesmo local e

nas mesmas condições. No entanto, o custo do concentrado variou de acordo com a

quantidade (%) de cada ingrediente na sua formulação, proporcionando assim maior preço

para o concentrado do tratamento TRAT 70.

O custo do concentrado total ofertado por animal apresentou uma diferença de R$

15,33 entre os tratamentos (Tabela 8), sendo que o tratamento contendo menor quantidade de

concentrado (TRAT 70) foi o que apresentou o menor custo total, mesmo apresentando preço

superior por kg de concentrado produzido (R$ 0,37) quando comparado ao TRAT 85 (R$

0,32). Pode-se aferir que a utilização de forrageiras conservadas é importante para diminuir os

custos com a alimentação de ruminantes em sistema de confinamento.

Observa-se na Tabela 8 que o custo referente à ração total para produzir 1 kg de

carcaça foi 3,83% inferior para TRAT 70 em relação ao TRAT 85. Essa informação pode ser

considerada de suma importância para que o produtor possa escolher a relação

volumoso:concentrado que proporcionará menor custo de produção e consequentemente

maior rentabilidade da atividade.

Page 28: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

28

Tabela 8. Preço da silagem e concentrado ofertada/animal/dia, preço da silagem, preço do

concentrado, custo da silagem e custo do concentrado oferto/animal/dia, custo da

silagem e do concentrado total ofertado/animal, custo da silagem e do concentrado

total ofertado/@ produzida, custo da silagem e do concentrado total ofertado/kg

carcaça produzido.

TRAT 85 TRAT 70

Silagem ofertada/animal/dia (kg) 5,27 10,56

Concentrado ofertado/animal/dia (kg) 10,75 8,82

Preço silagem (R$/kg) 0,085 0,085

Preço concentrado (R$/kg) 0,32 0,37

Custo silagem ofertada/animal/dia (R$) 0,45 0,90

Custo concentrado ofertado/animal/dia (R$) 3,44 3,26

Custo silagem total ofertada/animal (R$) 38,53 77,19

Custo concentrado total ofertado/animal (R$) 295,84 280,51

Custo silagem total ofertada/@ produzida (R$) 11,24 20,26

Custo concentrado total ofertado/@ produzida (R$) 86,29 73,63

Custo silagem total ofertada/kg carcaça produzido (R$) 0,37 0,68

Custo concentrado total ofertado/kg carcaça produzido (RS) 2,88 2,45

Custo da ração fornecida/kg carcaça produzido (R$) 3,25 3,13

Na tabela 9 são apresentados os custos com a alimentação no sistema semi-

confinamento.

O preço do concentrado fornecido para SCONF 1 e SCONF 2 (R$ 0,36/kg) foi igual

para os dois tratamentos, pois a porcentagem dos ingredientes na formulação é a mesma,

sendo que o que diferiu os tratamentos foi a quantidade de concentrado fornecido (% peso

vivo) na matéria seca, sendo para SCONF 1 1,8% e SCONF 2 ad libitum. Esses valores são

responsáveis pela grande diferença no custo do concentrado total ofertado por animal,

SCONF 1 R$ 264,51 e SCONF R$ 372,62. Outro fator a ser considerado foi a grande

quantidade de sobras que ocorreram no tratamento SCONF 2, e conseqüentemente, o custo

alimentar por quilograma de carcaça produzido foi maior para SCONF 2 (R$ 2,85), enquanto

SCONF 1 apresentou custo de R$ 2,19 por quilograma de carcaça produzido.

Page 29: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

29

Tabela 9. Preço do concentrado, concentrado ofertado/animal/dia, custo do concentrado

ofertado/animal/dia, custo do concentrado total ofertado/animal, custo da

pastagem/animal/mês, custo total da pastagem/animal, custo ração/animal, custo

ração/@ produzida, custo ração/kg carcaça produzida.

SCONF1 SCONF2

Preço concentrado (R$/kg) 0,36 0,36

Concentrado ofertado/animal/dia (kg) 4,015 5,65

Custo concentrado ofertado/animal/dia (R$) 2,03 1,45

Custo concentrado total ofertado/animal (R$) 264,51 372,62

Custo pastagem/anima/mês (R$) 15,00 15,00

Custo total pastagem/animal (R$) 97,50 97,50

Custo ração/animal(R$) 362,01 470,12

Custo ração/@ produzida (R$) 65,82 85,48

Custo ração/kg carcaça produzida (R$) 2,19 2,85

A tabela 10 demonstra o custo da @ produzida e custo alimentar/kg carcaça produzido

(R$). Observa-se que o custo da arroba produzida para os animais confinados foi R$ 97,53 e

R$ 93,89, para TRAT 85 e TRAT 70, respectivamente. Esses valores representam importante

diferença no custo alimentar por animal e conseqüentemente no custo total com alimentação

do sistema produtivo.

O custo da arroba produzida para os animais semi-confinados foi R$ 87,48 e R$ 65,82

para SCONF 2 e SCONF 1 respectivamente (Tabela 10). A diferença nos valores da arroba

produzida pode ter sido ocasionada pela variação no consumo do concentrado dos

tratamentos, sendo que o tratamento 1,8% apresentou um consumo de MS de 0,91% PV e o

tratamento ad libitum foi de 1,42% PV. Essa diferença encontrada no consumo pré-

estabelecido em relação ao consumo dos animais após o período experimental resultou em

maior quantidade de sobra de ração, conferindo assim um desperdício de alimento e,

consequentemente, um maior custo da arroba produzida. Nas condições do presente estudo,

esses resultados demonstram que a quantidade máxima de concentrado a ser utilizado para a

suplementação de animais em sistema a pasto sem proporcionar desperdício é na ordem de

0,9% do PV, corroborando informações citadas por Paulino (1999) sobre o fornecimento de

concentrados nas quantidades equivalentes de 0,8 a 1,0% do PV para animais em sistema de

semi-confinamento.

Page 30: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

30

Ao comparar os dois sistemas de terminação do presente estudo, confinamento e semi-

confinamento, observou-se que o custo da arroba produzida em confinamento foi superior que

a produzida em semi-confinamento. A maior diferença ocorre quando se compara as rações

TRAT 85 e SCONF 1, sendo a segunda R$ 31,71 mais barata que a primeira. Essa mesma

diferença pode ser observada quando comparado o custo alimentar por quilograma de carcaça

produzido.

Tabela 10. Custo da @ produzida (R$), custo alimentar/kg carcaça produzido (R$).

TRAT 85 TRAT 70 SCONF 1 SCONF 2

Custo da ração total fornecida (R$) 334,37 357,70 362,01 470,12

Custo da arroba produzida (R$) 97,53 93,89 65,82 87,48

Custo alimentar/kg carcaça produzido (R$) 3,25 3,13 2,19 2,85

Os ganhos médios diários em kg de PV observado no presente trabalho dos animais

em confinamento apresentaram valores (Tabela 6) abaixo dos encontrados na literatura. Além

disso, o elevado custo da ração total fornecida faz com que o custo da arroba produzida em

relação ao custo alimentar em confinamento seja mais elevado que o observado em outros

trabalhos, por exemplo, Lopes & Magalhães (2003) ao trabalharem com animais da raça

Nelore e cruzados (½ Holandês e ½ zebu) com peso vivo inicial de 357 kg, em confinamento

de 100 dias, recebendo ração constituída de 56% de concentrado e 44% de volumoso,

encontraram um ganho médio 3,57 arrobas por animal, com consumo médio diário de 19,60

kg de volumoso e 6,89 kg de concentrado por animal na matéria natural. O custo total da

ração fornecida para esses animais foi de R$ 256,82 e o custo da arroba produzida levando em

conta apenas o custo alimentar foi de R$ 71,93, valores inferiores que os encontrados no

presente trabalho. Vale ressaltar que os baixos valores de ganho de peso dos animais

experimentais do presente estudo, tanto os do sistema confinado quanto os do semi-

confinamento, pode ter ocorrido por estarem com adequada condição corporal no início do

experimento e, consequentemente, não havendo assim o efeito do ganho compensatório que é

corriqueiramente obtido quando os animais entram na fase de terminação.

Segundo Carvalho et al. (2003), os ganhos em peso adicionais convertidos em R$

(reais) da suplementação para bovinos a pasto, em relação ao tratamento sem suplementação,

variam de R$ 3,44 a 44,39/animal/ período, durante a época da seca. A variação ocorre devido

às diferenças de raças de animais, tempo de suplementação, forrageiras, quantidade e valor

nutricional do suplemento.

Page 31: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

31

A escolha do sistema de terminação a ser adotado, além de levar em conta os custos

operacionais tais como: alimentação, mão-de-obra, insumos, dentre outros, deve considerar

que o animal suplementado sairá mais rápido da propriedade, reduzindo o custo de

permanência (diárias) e disponibilizando espaço para a entrada de nova categoria, com

aumento de giro de capital.

Page 32: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

32

5. CONCLUSÕES

Nas condições em que o experimento foi conduzido, o sistema de terminação em

confinamento com relação volumoso:concentrado de 30:70 foi economicamente mais viável

do que a utilização de ração contendo 85% de concentrado.

A utilização de concentrado permitindo um consumo em torno de 1% de PV é o mais

indicado para a terminação de bovinos em sistema de semi-confinamento.

A utilização de sistemas de confinamento e/ou semi-confinamento visando à

terminação de bovinos de corte na época seca do ano representam uma tecnologia viável para

aumentar a viabilidade econômica da atividade agropecuária.

Page 33: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

33

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, U.G.P; CEZAR, I.M.; TORRES, R.A. Análise bioeconômica da introdução de

período de monta em sistemas de produção de rebanhos de cria na região do Brasil Central.

Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.5, p.1198-1206, 2003.

AGROANALYSIS. São Paulo. Pecuária: Confinamento X Semi-confinamento. p. 36-39.

Outubro, 2004.

ANUALPEC. Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio,

2000.

ANUALPEC. Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio,

2007.

BARBOSA, F., A. & VILELA. H. Uso intensivo de tecnologias em engorda de bovinos –

aspectos técnicos e econômicos. Porta da ciência e tecnologia. Artigos. 2009

BARBOSA, F.A.; SOUZA, R.C.; GRAÇA, D.S. Planejamento e gestão na bovinocultura de

corte. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE PRODUÇÃO E GERENCIAMENTO DA

PECUÁRIA DE CORTE, 4, Belo Horizonte, Anais... Belo Horizonte: Escola de Veterinária,

2006. CD-ROM

CARVALHO, F.A.N.; BARBOSA, F.A.; McDOWELL, L.R. Nutrição de bovinos a pasto.

Belo Horizonte: Papelform, 2003. 438p.

EUCLIDES, V.P.B. Produção intensiva de carne bovina a pasto. In: SIMPÓSIO DE

PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE, 2, Viçosa, MG. Anais... Viçosa, MG: Universidade

Federal de Viçosa, p.55-82, 2001.

EUCLIDES, V.P.B.; EUCLIDES FILHO, K.; ARRUDA, Z.J. et al. Desempenho de novilhos

em pastagens de Brachiaria decumbens submetidos a diferentes regimes alimentares. Revista

Brasileira de Zootecnia, v.27, p.246-254, 1998.

FERNANDES, A.R.M.; SAMPAIO, A.A.M.; HENRIQUE, W. et al. Avaliação econômica e

desempenho de machos e fêmeas Canchim em confinamento alimentados com rações à base

de silagem de milho e concentrado ou cana-de-açúcar e concentrado contendo grãos de

girassol. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.4, p.855-864, 2007.

FIGUEIREDO, D.M.; OLIVEIRA, A.S.; SALES, M.F.L. et al. Análise econômica de quatro

estratégias de suplementação para recria e engorda de bovinos em sistema pasto-suplemento.

Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.5, p.1443-1453, 2007.

FONTOURA JR., J.A.S.; MENEZES, L.M.; CORRÊA, M.N. et al. Utilização de modelos de

simulação em sistemas de produção de bovinos de corte. Revista Veterinária e Zootecnia.

v.14, n.1, junho, p.19-30, 2007.

LOPES, M. A.; CARVALHO, F. M. Custo de produção de gado de corte. Lavras: UFLA.

2002. 47p.

Page 34: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

34

LOPES, M.A.; MAGALHÁES, G.P. Análise da rentabilidade da terminação de bovinos de

corte em condições de confinamento: um estudo de caso. Arquivo Brasileiro Medicina

Veterinária e Zootecnia, v.57, n.3, p.374-379, 2005.

MANDARINO, R.A.; CHAVES, L.A.; BARBOSA, F.A. et al. Análise econômica do

confinamento de bovinos Nelore e Nelore x Brahman, em três regimes alimentares. In: XX

CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA. Anais ... Palmas: UFT, 2010. CD-ROM

MARQUES, D. C. Criação de Bovinos. 7. Editora. Veredas, atual e ampliado. Belo Horizonte

– CVP (Consultoria Veterinária e Publicações), 586p. 2003.

MICHELS, I. L.; SPROESSER, R. L.; MENDONÇA, C. G. Cadeia produtiva da carne bovina

de mato grosso do sul. Campo Grande: Oeste, 2001.

MISSIO, R.L.; BRONDANI, I.L.; FREITAS, L.S. et al. Desempenho e avaliação econômica

da terminação de tourinhos em confinamento alimentados com diferentes níveis de

concentrado na ração. Revisa Brasileira de Zootecnia, v.38, n.7, p.1309-1316, 2009.

MORAES, E.H.B.K.; PAULINO, M.F.; VALADARES, S.C.F. et al. Avaliação nutricional de

estratégias de suplementação para bovinos de corte durante a estação da seca. Revista

Brasileira de Zootecnia, v.39, n.3, p.608-616, 2010.

NEVES, E.M.; ANDIA, L.H.; LAZZARINI, S.; WEDEKIN, V.S.P.; et al. Confinamento na

bovinocultura de corte em condições ex-ante. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE

ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 31, 1993, Ilhéus. Anais.... p. 322-330, 1993.

PAULINO, M.F. Misturas múltiplas na nutrição de bovinos de corte a pasto. In: SIMPÓSIO

GOIANO SOBRE PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE, 1999, Goiânia. Anais...

Goiânia: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, p.95-105, 1999.

PAULINO, M.F.; RUAS, J.R.M. Considerações sobre a recria de bovinos de corte. Informe

Agropecuário, v.13, n.153/154, p.68-80, 1988.

PEIXOTO, A. M.; HADDAD, C. M.; BOIN, C. et al. O confinamento de bois 4. Editora São

Paulo: Globo, 1989.

PERES, A.A.C.; VASQUEZ, H.M.; SILVA, J.F.C. et al. Avaliação produtiva e econômica de

sistemas de produção bovina em pastagens de capim-elefante. Arquivo Brasileiro de

Medicina Veterinária e Zootecnia, v.57, n.3, p.367-373, 2005.

PILAU, A.; ROCHA, M.G.; SANTOS, D.T. Análise econômica de sistemas de produção para

recria de bezerras de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.4, p.966-976, 2003.

RESENDE FILHO, M. de A. Avaliação econômica de diferentes estratégias de ganho de peso

diário na terminação de bovinos em confinamento. In: XLVI Congresso da Sociedade

Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2008, Anais... Rio Branco:

FAAO, 2008.

RESENDE FILHO, M. de A.. Sistemas de Apoio à Tomada de Decisão Aplicados ao

Confinamentos de Bovinos de Corte. In: Barbosa, P.F.; Assis, A.G. de; Costa, M. A. B. da.

(Org.). Modelagem e simulação de sistemas de produção animal. São Carlos: Embrapa

Pecuária Sudeste, p. 140-170, 2002.

Page 35: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - bdm.unb.brbdm.unb.br/bitstream/10483/1806/1/2011_JeanFelipeBrandtGuedes.pdf · Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina

35

RODRIGUEZ FILHO, R.; MANCIO, A.B.; GOMES, S.T. et al. Avaliação econômica do

confinameno de novilhos de origem leiteira, alimentados com diferentes níveis de

concentrado e de cama de frango. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.5, p.2055-2069,

2002.

SANTOS, D.T.; ROCHA, M.G.; GENRO, T.C.M. et al. Suplementos energéticos para recria

de novilhas de corte em pastagens anuais análise econômica. Revista Brasileira de

Zootecnia, v.33, n.6, p.2359-2368, 2004.

SANTOS, J. G.; MARION, J. C.; SEGATTI, S. Necessidade de planejamento e controle

econômico-financeiro. Administração de Custos na Pecuária. São Paulo. Editora Lavras,

p.15-22, 2002.

SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos. Métodos químicos e biológicos. 3 ed.,

Viçosa : UFV, 2002, 235p.

SILVA, F.F.; SÁ, J.F.; SCHIO, A.R. et al. Suplementação a pasto: disponibilidade e

qualidade x níveis de suplementação x desempenho. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38,

p.371-389, 2009.

SIMÕES, A.R.P.; MOURA, S.A. ROCHA, D.T. Avaliação econômica comparativa de

sistemas de produção de gado de corte sob condições de risco no Mato Grosso do Sul.

Revista de Economia e Agronegócio, v. 5, n 1, 2010.