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Universidade de Aveiro 2021 Ana Isabel Muga Vieira O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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Page 1: Universidade de Aveiro 2021

Universidade de Aveiro

2021

Ana Isabel

Muga Vieira

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

Page 2: Universidade de Aveiro 2021

2

Universidade de Aveiro

2021

Ana Isabel

Muga Vieira

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

Relatório de Estágio apresentado à Universidade de Aveiro para cumprimento

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Finanças, realizada

sob a orientação científica do Professor Especialista Fernando Costa, Professor

Adjunto da Universidade de Aveiro.

Page 3: Universidade de Aveiro 2021

3

Page 4: Universidade de Aveiro 2021

4

o júri

presidente Professor Doutor César Faustino da Silva Bastos

Professor Adjunto, Universidade de Aveiro

vogais

Professora Especialista Cármen Sofia Ribas Fontes Guimarães

Professora Adjunta, Universidade de Aveiro

Professor Especialista Fernando Miguel Moreira dos Santos

Costa

Professor Adjunto, Universidade de Aveiro

Page 5: Universidade de Aveiro 2021

5

Page 6: Universidade de Aveiro 2021

6

agradecimentos

Ao meu orientador Professor Fernando Costa pela

disponibilidade e contributo para a realização deste trabalho.

À equipa da CCAM de Vale do Sousa e Baixo Tâmega pela

oportunidade, integração e acompanhamento durante o período

de estágio.

Aos meus pais e à minha irmã, que sempre estiveram ao meu

lado em todos os momentos da minha vida e tornaram possível

a realização deste relatório.

Ao Miguel pelo carinho, dedicação e motivação.

À minha família e amigos pelo apoio demonstrado.

Page 7: Universidade de Aveiro 2021

7

Page 8: Universidade de Aveiro 2021

8

palavras-chave Risco de Crédito, Incumprimento, Instituições Financeiras, Crédito

Agrícola

resumo

A oportunidade de efetuar um estágio curricular na CCAM de Vale do

Sousa e Baixo Tâmega permitiu a aquisição de competências essenciais

para a conclusão do Mestrado em Finanças.

O presente relatório visa fornecer uma perspetiva acerca do papel das

instituições financeiras em aspetos relacionados com o risco de crédito,

como a identificação, mensuração e gestão do mesmo.

Neste sentido, é efetuada a revisão da literatura relacionada com o risco de

crédito e a descrição das atividades desenvolvidas durante o período de

estágio na entidade de acolhimento.

Conclui-se que a gestão prudente do risco de crédito assegurada pelas

instituições financeiras é uma mais-valia para o desempenho das mesmas

e para a estabilidade económica, principalmente em contexto de incerteza.

Page 9: Universidade de Aveiro 2021

9

keywords

Credit Risk, Default, Financial Institutions, Crédito Agrícola

abstract

The opportunity to partake in a curriculum internship at CCAM de Vale

do Sousa e Baixo Tâmega allowed the aquisition of essencial skills in

order to conclude the Master´s degree in Finance.

This report aims to provide a perspective about the role played by

financial institutions, in aspects related to credit risk, such as

identification, measurement and its management.

This way, the literature related to credit risk and the description of the

activities that were developed during the probation period at the host

entity is rewiwed.

To conclue, the prudent management of the credit risk insured by

financial institutions is an asset for their performance and economic

stability, specially when in an uncertainly context.

Page 10: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

I

Índice

Índice ............................................................................................................................................................ I

Índice de Gráficos ...................................................................................................................................... III

Índice de Esquemas .................................................................................................................................... IV

Índice de Tabelas ......................................................................................................................................... V

Lista de Abreviaturas .................................................................................................................................. VI

Capítulo I: Introdução .................................................................................................................................. 8

1. Enquadramento ............................................................................................................................... 9

2. Metodologia ................................................................................................................................. 11

3. Estrutura do relatório .................................................................................................................... 12

Capítulo II: Revisão da Literatura .............................................................................................................. 14

4. O Sistema financeiro português .................................................................................................... 15

5. Regulação das instituições de crédito ........................................................................................... 22

6. Crédito Bancário .......................................................................................................................... 33

7. O Risco nas instituições financeiras ............................................................................................. 37

8. O Risco de Crédito ....................................................................................................................... 43

8.1. Caracterização ...................................................................................................................... 43

8.2. Avaliação .............................................................................................................................. 46

8.3. Gestão do Risco de Crédito .................................................................................................. 52

8.4. Medidas de prevenção do incumprimento ............................................................................ 53

9. Imparidades .................................................................................................................................. 56

Capítulo III: Estágio Curricular .................................................................................................................. 65

10. Apresentação da entidade de acolhimento .................................................................................... 66

O Grupo Crédito Agrícola .................................................................................................... 66

CCAM Vale do Sousa e Baixo Tâmega ............................................................................... 71

11. Caracterização do estágio e atividades desenvolvidas .................................................................. 82

11.1 Departamento de Contabilidade ........................................................................................... 83

11.2. Departamento de Crédito ...................................................................................................... 86

11.3. Departamento de Risco, Acompanhamento e Recuperação de Crédito ................................ 90

Page 11: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

II

Capítulo IV: Análise Crítica e Conclusão .................................................................................................. 99

12. Análise crítica das tarefas realizadas .......................................................................................... 100

13. Conclusão ................................................................................................................................... 102

Referências Bibliográficas ........................................................................................................................ 104

Page 12: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

III

Índice de Gráficos

Gráfico 1 Total de crédito concedido e depósitos de clientes ........................................ 19

Gráfico 2 Taxa de crescimento real do PIB em Portugal ............................................... 20

Gráfico 3 Crédito interno ao setor privado (% PIB) ...................................................... 20

Gráfico 4 Evolução do montante dos empréstimos em Portugal ................................... 34

Gráfico 5 Tipos de clientes ............................................................................................. 74

Gráfico 6 Produtos comercializados............................................................................... 74

Gráfico 7 Distribuição da carteira creditícia por níveis de scoring…………….………..76

Gráfico 8 Distribuição da carteira creditícia por níveis de rating……………………….76

Gráfico 9 Distribuição da carteira de crédito por estado de contrato……………………77

Gráfico 10 Imparidades por estado de contrato…………………………………………78

Gráfico 11 Composição do Ativo……………………………………………………….79

Gráfico 12 Composição dos Recursos Totais…………………………………………...79

Gráfico 13 Margem Financeira, Produto Bancário e Resultado do Exercício…………..81

Page 13: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

IV

Índice de Esquemas

Esquema 1 Sistema Financeiro Português………………………………………………16

Esquema 2 Evolução da regulação prudencial…………….……………………………22

Esquema 3 Tipos de risco……………………………………………………………….38

Esquema 4 Evolução da legislação……………………………………………………...58

Esquema 5 Evolução histórica do Grupo CA…………………………………………...68

Esquema 6 Empresas Participadas……………………………………………………...69

Esquema 7 Organograma……………………………………………………………….72

Page 14: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

V

Índice de Tabelas

Tabela 1 Níveis de Scoring…………………………………………..…………………49

Tabela 2 Níveis de Rating………………………………………………………………51

Page 15: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

VI

Lista de Abreviaturas

§ Parágrafo

ASF Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões

ATM Automated Teller Machine

BCE Banco Central Europeu

BCBS Basel Comitee on Banking Supervision

BdP Banco de Portugal

BIS Bank of Internacional Settlements

CA Crédito Agrícola

CAIS Crédito Agrícola Intranet Service

CCAM Caixa de Crédito Agrícola Mútuo

CCAM VSBT Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Vale do Sousa e Baixo Tâmega

CCC Conta Corrente Caucionada

CRC Central de Responsabilidades de Crédito

DL Decreto-Lei

DSTI Debt Service-to-Income

EAD Exposure at default

EBA European Banking Authority

FENACAM Federação Nacional das Caixas de Crédito Agrícola Mútuo

FGG Ferramenta de Gestão de Garantias

GCA Grupo Crédito Agrícola

Page 16: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

VII

IAS International Accounting Standards

IFRS International Financial Reporting Standards

LGD Loss Given Default

LTV Loan-to-Value

MUR Mecanismo Único de Resolução

MUS Mecanismo Único de Supervisão

NCA Normas Contabilísticas Ajustadas

NIC Normas Internacionais Contabilísticas

NPL Non-Performing Loans

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

PARI Plano de Ação para o Risco de Incumprimento

PD Probability of default

PERSI Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações de

Incumprimento

PIB Produto Interno Bruto

ROA Return on assets

ROE Return on equity

ROC Revisor Oficial de Contas

SICAM Sistema Integrado de Crédito Agrícola Mútuo

SGPS Sociedade Gestora de Participações Sociais

UE União Europeia

Page 17: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

8

Capítulo I INTRODUÇÃO

1. Enquadramento

2. Metodologia

3. Estrutura do relatório

Page 18: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

9

1. Enquadramento

A realização do estágio curricular na CCAM de Vale do Sousa e Baixo Tâmega foi uma

oportunidade que surgiu no âmbito da conclusão do Mestrado em Finanças no Instituto

Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro.

As expetativas para a realização do mesmo eram elevadas devido ao interesse no sistema

financeiro e ao papel fundamental que o mesmo assume na economia do país.

Neste sentido, foi definido um plano e traçados vários objetivos por forma a adquirir uma

visão geral do funcionamento da entidade acolhedora.

Assim, foram definidas várias metas consoante os departamentos em questão. Então, os

objetivos passaram por adquirir uma perspetiva elucidativa e abrangente da contabilidade

bancária, aprender o processamento de operações de crédito, desde o pedido do cliente

até à fase de liquidação. Mais especificamente, o foco do estágio foi adquirir uma

perceção real da análise e gestão do risco de crédito.

É importante realçar que o estágio decorreu em ambiente de pandemia. A infeção

provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2 provocou medidas e alterações sociais e

económicas a nível mundial. Por este motivo, as condições inerentes à realização do

estágio foram únicas, não só devido ao afastamento social, como também devido à

possibilidade de presenciar os principais desafios que uma instituição de crédito se depara

neste contexto.

Neste sentido, dado que o estágio incidiu no risco de crédito, é natural que o foco do

presente relatório esteja direcionado para o mesmo.

A concessão de crédito é uma das principais atividades das instituições financeiras e trata-

se de um processo complexo que exige a análise de crédito aos clientes e a respetiva

avaliação do risco da operação. O risco de crédito associado representa uma das principais

fontes de risco e de perda das mesmas, pelo que a análise deste se traduz num interesse

acrescido.

Page 19: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

10

Por este motivo, uma avaliação e uma gestão prudente e rigorosa deste tipo de risco é um

fator fundamental para minimizar o risco de incumprimento, preservar a qualidade do

crédito e assegurar o bom desempenho destas instituições.

Page 20: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

11

2. Metodologia

Para a realização deste trabalho foi relacionada a informação teórica com as atividades

práticas desenvolvidas durante o estágio.

Assim, a recolha de informação bibliográfica relevante para o tema foi efetuada

fundamentalmente através de livros, artigos científicos, sites oficiais na internet,

publicações de entidades competentes, dados estatísticos de caracterização da atividade,

dados da instituição de acolhimento, entre outros.

Relativamente ao conteúdo prático do relatório, baseia-se na experiência adquirida

durante o estágio curricular. O mesmo teve a duração de seis meses, atingindo um total

de mil horas, com início em outubro de 2020 e término em abril de 2021. Durante este

período foi efetuado um registo de notas, observações e outros documentos obtidos no

decorrer do estágio.

Page 21: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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3. Estrutura do relatório

O relatório visa descrever o estágio curricular efetuado acompanhado da respetiva

literacia financeira. Para isso, conta com quatro capítulos.

O primeiro e presente capítulo diz respeito à introdução, no qual são mencionados os

objetivos e motivações do estágio bem como o enquadramento do tema, metodologia

utilizada no relatório e a estrutura do mesmo.

O segundo capítulo é a revisão de literatura, correspondendo à parte teórica deste

relatório. Este capítulo está dividido em seis temas. O primeiro visa caracterizar e

salientar a importância do sistema financeiro em Portugal. O ponto seguinte aborda a

regulação das instituições de crédito. Mais concretamente, são analisados os três Acordos

de Basileia, o contributo da Autoridade Bancária Europeia na harmonização das normas

prudenciais, a União Bancária e o Fundo Único de Resolução, os mecanismos de

corporate governance aplicados a essas instituições bem como apontados alguns desafios

futuros em termos de regulação. O tópico subsequente trata do conceito de crédito

bancário e das características fundamentais do mesmo. A subdivisão posterior ocupa-se

com a definição de risco, da distinção e breve explicação dos vários tipos de risco a que

uma instituição financeira está sujeita e da importância da gestão do mesmo. O item

imediato apresenta o risco de crédito. Mais especificamente, é feita uma definição deste

risco específico bem como das suas componentes. São explicadas as componentes que

determinam a perda total esperada associada ao risco de crédito, as variáveis que

assumem uma maior influência no mesmo. Para além disso, o tema em questão analisa os

métodos de avaliação casuística e automática deste risco bem como a gestão do mesmo.

Por fim, é apresentada a temática das imparidades de crédito a clientes, passando desde o

esclarecimento do conceito até à legislação normativa em vigor.

O terceiro capítulo centra-se na parte prática do relatório de estágio realizado. Após é

feita a descrição do Grupo Crédito Agrícola (GCA) bem como da Caixa de Crédito

Agrícola Mútua de Vale do Sousa e Baixo Tâmega (CCAM VSBT). É realizada uma

caracterização do estágio e das atividades desempenhadas nos vários departamentos.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

13

No último capítulo faz-se uma análise crítica das tarefas realizadas bem como as

principais conclusões retiradas do relatório de estágio.

Por fim, são apresentadas as referências bibliográficas utilizadas.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

14

Capítulo II REVISÃO DA LITERATURA

4. O sistema financeiro português

5. Regulação das instituições de crédito

6. O crédito bancário

7. O risco nas instituições financeiras

8. O risco de crédito

9. Imparidades

Page 24: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

15

4. O Sistema financeiro português

O presente tema visa caracterizar o sistema financeiro nacional atual, atribuindo uma

posição de destaque às instituições de crédito. Este realce deve-se não só ao peso que as

mesmas têm no setor financeiro como ao facto do estágio ter sido realizado numa

instituição creditícia.

O crescimento e desenvolvimento económico ao longo das últimas décadas

desencadearam um reforço da solidez do sistema financeiro nacional e a sofisticação das

operações inerentes.

O sistema financeiro assume um papel indispensável no funcionamento económico de

qualquer país, uma vez que possibilita transações entre os vários agentes económicos.

Estes agentes tanto podem assumir uma posição excedentária, atuando no mercado como

investidores, como apresentarem-se com uma posição deficitária, assumindo-se como

aforradores. As instituições financeiras atuam, assim, como intermediários no processo

de negociação entre agentes com posições opostas cujo intuito de ambos é a maximização

do valor.

Para além da função de intermediação, o setor financeiro possibilita outras que

contribuem para o funcionamento eficiente do mesmo. O serviço disponibilizado pelas

instituições financeiras permite assegurar a poupança dos aforradores de forma mais

eficiente, orientando-os para determinados investimentos, o que confere maior

produtividade do capital. Inclusive, as mesmas são dotadas de informação antecipada

acerca de investimentos que facilita e torna a tomada de decisão dos diversos agentes

económicos mais consciente. Adicionalmente, facilita a troca de bens/serviços no tempo

e espaço através de meios de pagamento eficazes. Por último, as instituições financeiras

asseguram uma gestão do risco eficaz (Matysek-Jędrych, 2011).

Em Portugal, este setor é representado pelo Banco de Portugal (BdP), Instituições de

Crédito, Sociedades Financeiras, Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de

Page 25: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

16

Pensões, Empresas de Seguros e Fundos de Pensões e Entidades Gestoras (Caiado &

Caiado, 2018).

Esquema 1 Sistema Financeiro Português

O BdP1 é uma pessoa coletiva de direito público, dotada de autonomia administrativa e

financeira e património próprio, que tem como missão assegurar a estabilidade do sistema

financeiro.

Como Banco Central da República Portuguesa, o BdP integra o Sistema Europeu de

Bancos Centrais, pelo que tem a obrigação de atuar de acordo com as orientações e

instruções emitidas pelo Banco Central Europeu (Banco de Portugal, 2021). Neste sentido

integra o Eurosistema (autoridade monetária da área do euro), o Sistema Europeu de

Bancos Centrais, o Mecanismo Único de Resolução e o Mecanismo Único de Supervisão.

Assim, o BdP desempenha várias funções, como a gestão das disponibilidades externas

do país, a fiscalização dos sistemas de pagamento, a emissão de moedas, a intermediação

nas relações monetárias internacionais do Estado, entre outras. Para além disso, é

fundamental destacar a importância do mesmo em matérias de regulação e supervisão

prudencial e comportamental (Banco de Portugal, 2021a).

Para além do BdP, importa evidenciar as instituições de crédito por dois motivos.

Primeiramente devido à significância que assumem na concessão de crédito e

alavancagem da economia. Depois, pelo facto da realização do estágio que motivou a

1 https://www.bportugal.pt/

Fonte: Elaboração Própria

Page 26: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

17

redação deste relatório ter sido efetuada numa instituição de crédito, mais concretamente

numa Caixa de Crédito Agrícola Mútuo (CCAM).

De acordo com o Decreto-Lei n.o 298 de 31 de Dezembro (1992), “são instituições de

crédito as empresas cuja atividade consiste em receber do público depósitos ou fundos

reembolsáveis, a fim de os aplicarem por conta própria mediante a concessão de crédito.”

Assim, bancos, a Caixa Geral de Depósitos, Caixas económicas, Caixa Central e Caixas

de Crédito Agrícola Mútuo (CCAM), instituições financeiras de crédito e instituições de

crédito hipotecário, são exemplos de instituições de crédito.

Em especial, as CCAM são “instituições de crédito sob a forma de cooperativa, cujo

objeto é o exercício de funções de crédito agrícola em favor dos seus associados, bem

como a prática dos demais atos inerentes à atividade bancária” (Diário da República,

2009). De acordo com o mesmo, a constituição e o funcionamento destas dependem da

autorização prévia do BdP, da Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo e da Federação

Nacional das Caixas de Crédito Agrícola Mútuo.

Segundo a nomenclatura utilizada pelo BdP, um Banco “é uma instituição de crédito cuja

atividade consiste na realização de operações financeiras e na prestação de serviços

financeiros” (Banco de Portugal, 2021b). Os Bancos assumem uma importância

considerável no domínio financeiro e desempenham diversas atividades determinantes

para o funcionamento da economia. De acordo com o Decreto-Lei (DL) n.º 298/92, os

Bancos podem executar várias funções entre as quais se evidencia a receção de depósitos,

operações de crédito, serviços de pagamento e a atuação no mercado interbancário.

De acordo com o mesmo DL, as sociedades financeiras são empresas, que apesar de não

serem consideradas instituições de crédito, realizam diversas atividades nesse contexto.

Estas são autorizadas a realizar operações de crédito, emissão e gestão de meios de

pagamento, gestão e consultoria em gestão de outros patrimónios, atuação nos mercados

interbancários bem como transações sobre instrumentos financeiros. Existem diversos

tipos de sociedades financeiras, entre as quais se realça as sociedades financeiras de

corretagem, as sociedades de capital de risco e as sociedades gestoras de fundos de

investimento.

Page 27: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

18

Por fim, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF)2 visa

assegurar a estabilidade financeira do mercado segurador e fundos de pensões nacional

através da regulação das diversas entidades que atuam neste âmbito (ASF, 2021). Neste

sentido, as empresas de seguros, responsáveis pela atividade seguradora nacional, e o

Fundo de Pensões e Entidades Gestoras ficam sujeitos à supervisão da ASF.

Posto isto, existem diversos trabalhos que analisam a importância do sistema financeiro

e a sua influência no crescimento económico. Por exemplo, Prochniak & Wasiak (2017)

realizaram um estudo entre 1993 e 2013 e com uma amostra de 28 países da União

Europeia (UE) e 34 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

(OCDE), tendo concluído que o tamanho e o desempenho do sistema financeiro têm um

impacto significativo no crescimento económico.

Esses autores realçam que o desenvolvimento financeiro influencia de forma positiva o

crescimento da economia uma vez que, por um lado aumenta a taxa de poupança e a

eficácia de acumulação de capital, por outro lado, melhora os níveis de consumo e taxas

de produção.

Mais concretamente, a nível nacional, nos últimos anos tem-se assistido a um aumento

dos depósitos de clientes, enquanto se verifica uma diminuição do crédito concedido a

clientes por parte das instituições financeiras3. Contudo, até ao final de ano de 2018, o

crédito concedido foi superior ao volume de depósitos, tal como se pode observar no

gráfico 1.

2 https://www.asf.com.pt

3 Fonte: http://www.ine.pt

Page 28: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

19

Neste sentido, o crescimento económico4 de Portugal, medido pelo Produto Interno

Bruto5 (PIB) tem sofrido algumas oscilações. Em 2012, o PIB registou uma taxa mínima

de -3,7%. A partir dessa data, até 2019, verificou-se um aumento do mesmo, tendo em

2017 atingido 3,8%. Em 2019 destaca-se uma diminuição abrupta do PIB nacional,

passando dos 2,5% para -7,8%, atingidos em 2020. Esta diminuição pode ser justificada

pelas medidas adotadas para conter a pandemia COVID-19 aliadas à falta de confiança

dos agentes económicos provocadas pelo ambiente de incerteza.

4 O conceito de crescimento económico está associado apenas ao aumento da riqueza de determinado país,

sendo medido através de variáveis económicas, com destaque para o PIB.

5 O PIB é um indicador que mede o crescimento económico de um país. Por outras palavras, mede a riqueza

que uma economia consegue criar. Trata-se de um indicador versátil, uma vez que mede as políticas

económicas relativas ao desenvolvimento, produtividade, sustentabilidade orçamental e equilíbrio externo.

Pode ser calculado pela ótica da produção, que considera como a riqueza é criada; pela ótica do rendimento,

considerando como é distribuída; pela ótica da despesa, que considera como a riqueza é utilizada. Fonte:

http://www.ine.pt

Gráfico 1 Total de crédito concedido e depósitos de clientes

Fonte: Elaboração Própria com base nos dados INE

0

50000000

100000000

150000000

200000000

250000000

300000000

2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

MIL

HA

RES

DE

EUR

OS

ANOS

Crédito Concedido a Clientes Depósitos de Clientes

Page 29: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

20

Os investimentos efetuados pelo setor privado têm repercussões na sociedade e no

crescimento da economia. A elevada concentração deste setor na economia desencadeia

taxas produtivas consideráveis e aumenta a taxa de empregabilidade nacional, o que

confere maior rendimento social.

Neste sentido, o indicador utilizado para mensurar o desenvolvimento económico6 é o

crédito interno ao setor privado, medido em função do PIB7.

6 O desenvolvimento económico é um conceito mais abrangente quando comparado com o crescimento

económico. Trata-se de um termo que, para além de fatores económicos, engloba todos os componentes

que permitem melhorar a sociedade do país. São exemplos dessas componentes a educação, saúde, faixas

etárias da sociedade e distribuição do rendimento.

7 Fonte https://datos.bancomundial.org

Gráfico 2 Taxa de crescimento real do PIB em Portugal

Fonte: Elaboração Própria com base nos dados INE

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

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20

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15

20

16

20

17

20

18

20

19

%

ANOS

Gráfico 3 Crédito interno ao setor privado (% PIB)

Fonte: Elaboração Própria com base nos dados Banco Mundial

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

20

16

20

17

20

18

20

19

20

20

%

ANOS

Page 30: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

21

Com base no gráfico 3, é possível observar uma diminuição do indicador em questão,

verificada desde 2011, o que significa que a parcela do PIB relacionada com o crédito

bancário, especificamente com o crédito privado, tem vindo a diminuir desde então.

Contudo, atualmente a taxa de crédito interno ao setor privado, em função do PIB, ronda

os 90%. Trata-se de uma percentagem elevada que denota a expressividade dos serviços

financeiros no desenvolvimento económico.

Em suma, tendo em conta a relação entre o volume de depósitos e o crédito concedido a

clientes bem como o volume de crédito interno ao setor privado, é possível aferir acerca

do impacto significativo do sistema financeiro no crescimento e desenvolvimento

económico, em especial, a nível nacional.

Uma vez caracterizadas as instituições de crédito, destaca-se a importância da regulação

prudencial das mesmas, tema que é abordado no ponto seguinte. O objetivo passa por

destacar o contributo das várias medidas adotadas pelas entidades competentes para

reforçar a solidez, transparência, segurança e estabilidade do sistema financeiro.

Page 31: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

22

5. Regulação das instituições de crédito

O assunto abordado neste capítulo tem como objetivo evidenciar os principais desafios

que as instituições de crédito nacionais enfrentaram a nível da regulação prudencial até à

atualidade. Começa por enquadrar e detalhar os Acordos de Basileia devido à importância

dos mesmos nesta matéria. De seguida, é brevemente evidenciado o contributo da

Autoridade Bancária Europeia. Posteriormente, salienta-se a importância da União

Bancária e do Fundo Único de Resolução. Depois é feita uma breve referência aos

mecanismos de Corporate Governance em vigor. Para terminar este ponto, são

apresentados desafios futuros em matéria de regulação.

Face ao impacto que as instituições de crédito têm na economia de um país e,

consequentemente, a nível mundial, estas entidades são alvo de constante regulação e

supervisão, cujo intuito é garantir que as mesmas têm condições de satisfazer

integralmente as suas obrigações e promover um mercado eficiente, regulamentado e

seguro, que esteja assente em princípios de transparência e igualdade.

Compete aos organismos de regulação do sistema financeiro definir normas de

funcionamento e de orientação do mesmo enquanto os organismos de supervisão são

responsáveis por garantir o controlo e o cumprimento das respetivas normas (Banco de

Portugal, 2016). Desta forma, estas entidades proporcionam solidez e segurança a longo

prazo das instituições financeiras, e por consequência do setor financeiro.

Esquema 2 Evolução da Regulação Prudencial

Fonte: Elaboração Própria

Page 32: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

23

Assim, a evolução normativa ao nível da regulação prudencial do setor bancário foi o

reflexo do aumento da globalização e complexidade do mesmo. Neste âmbito, de seguida,

são evidenciados alguns marcos de referência que têm ocorrido ao longo do tempo.

O Banco Internacional de Compensações (BIS)8 foi fundado em 1930, em Basileia, na

Suíça. Trata-se da mais antiga organização financeira internacional que reúne 63 bancos

centrais a nível mundial. É responsável pelas recomendações, aos bancos e outras

instituições de crédito, acerca da boa gestão de fundos próprios, contribuindo para a

estabilidade monetária e financeira global (Bank of International Settlements, 2021a).

O G-109, ou grupo dos dez, fundou, em 1974, o Comité de Supervisão Bancária de

Basileia (BCBS)10, que estabelece linhas de conduta e contribui para a estabilidade do

mercado financeiro. Nas últimas décadas, este Comité publicou os Acordos de Basileia,

que representam vários acordos bancários que visam minimizar o risco das operações de

crédito e aumentar a estabilidade do sistema financeiro, motivo pelo qual, se tornaram

numa referência mundial neste campo (Bank of International Settlements, 2021b).

Assim, foram criados três acordos: Basileia I, em 1988, Basileia II, em 2004 e Basileia

III, em 2010.

Em julho de 1988, o BCBS publicou o primeiro acordo, intitulado de International

Convergence of Capital Measurement and Capital Standards, no qual estabeleceu o rácio

de solvabilidade, conhecido como Índice Basileia, que deveria ser aplicado às instituições

financeiras, com os objetivos de aumentar a solidez e a estabilidade do sistema bancário

internacional e de diminuir as diversas fontes de desequilíbrios competitivos entre os

mesmos (Basel Comittee on Banking Supervision, 1988).

8 Em inglês, Bank of International Settlements (BIS). Através do site https://www.bis.org/, o Banco

publicou os Acordos de Basileia que são mencionados de seguida.

9 Organização fundada em 1962, constituída pelos representantes de dez economias desenvolvidas e

subdesenvolvidas, nomeadamente Alemanha, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Holanda, Itália,

Japão, Reino Unido e Suécia; dois anos mais tarde, a Suíça tornou-se mais um membro do grupo, o qual

manteve a mesma denominação (Carvalho, 2009).

10 Em inglês, Basel Comiteee on Banking Supervision (BCBS)

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

24

O rácio de solvabilidade resulta do quociente entre os fundos próprios corrigidos e a soma

dos ativos e elementos extrapatrimoniais ponderados. No que diz respeito ao numerador,

este engloba o valor do capital regulamentar, isto é, o capital mínimo requerido às

instituições financeiras de crédito pelos organismos de supervisão. Relativamente ao

denominador do rácio, o mesmo é obtido com base na aplicação de um ponderador pré-

estabelecido para diferentes categorias de exposição; estes ponderadores, podem assumir

quatro categorias de exposição de acordo com o risco de crédito associado,

nomeadamente 0%, 20%, 50% ou 100%. Deste modo, o acordo referido estabelece um

valor mínimo para o rácio de solvabilidade de 8%, que representa o capital mínimo que

permite prevenir o risco de crédito e minimizar o risco de insolvência das instituições

financeiras (Basel Comittee on Banking Supervision, 1988).

De acordo com Carvalho (2009), o Acordo de Basileia I foi alvo de várias críticas, entre

as quais, não contemplar o risco de mercado, existindo poucos benefícios para a

diversificação da carteira de crédito sobre a exposição ao risco, o tratamento desajustado

do risco, uma vez que os ponderadores de risco eram melhores para os países da OCDE

comparativamente com países que não estivessem incluídos na organização e a falta de

diferenciação do risco de crédito por mutuário e por características de financiamento.

Mais tarde, em junho de 2004, é publicado o segundo Acordo de Basileia, denominado

Internacional Convergence of Capital Measurement and Capital Standards: Revised

Framework. Este trabalho teve como objetivos fortalecer ainda mais a solidez e

estabilidade do sistema bancário internacional, garantindo que a adequação do capital

regulamentar não aumente a desigualdade competitiva entre as instituições, e fortalecer

as práticas de gestão de risco (Basel Committee on Banking Supervision, 2005). Assim,

o Acordo de Basileia II introduziu o risco operacional e garantiu a gestão do risco

bancário numa perspetiva mais individual, compreensível e sensível ao risco.

O Basileia II está assente em três pilares que são, o requisito mínimo de capital,

melhorando a sensibilidade do mesmo ao risco, o processo de supervisão e disciplina de

mercado, promovendo melhores práticas no sistema financeiro.

Page 34: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

25

O primeiro pilar assegura o nível mínimo de capital regulamentar para assegurar a

cobertura do risco de crédito, de mercado e operacional, estabelecendo a forma e as várias

opções de mensuração dos mesmos. Assim, para cobrir o risco de crédito estava prevista

a utilização do método padrão ou do método das notações internas. Relativamente ao

risco de mercado, as alterações com este acordo residem na definição da carteira de

negociação, introdução de princípios para a sua avaliação e imposição de requisitos de

capital para a sua cobertura; a cobertura deste risco pode ser mensurada através do método

standard ou pelo método dos modelos internos. Por último, para a determinação dos

requisitos mínimos de fundos próprios no campo do risco operacional, podem ser

utilizados o método do indicador básico, método padrão ou métodos de medição avançada

(Basel Committee on Banking Supervision, 2005).

No que diz respeito ao segundo pilar, este acordo prevê um reforço do processo de

supervisão quanto à adequação do capital de cada instituição financeira, melhorando a

gestão de risco (Basel Committee on Banking Supervision, 2005). De acordo com

Carvalho (2009), este pilar confere várias melhorias para o sistema, entre as quais se

destacam as seguintes. Atribui uma maior transparência no método de cálculo do capital

dos fundos próprios das instituições, incentiva a adoção de políticas internas de gestão do

risco e contribui para que o capital regulamentar seja próximo ao capital económico, cuja

função é cobrir perdas inesperadas, estando adequado à magnitude dos riscos incorridos.

Por último, a disciplina de mercado promove uma divulgação periódica e maior

transparência por parte das instituições financeiras, no âmbito da mensuração do capital,

gestão e exposição ao risco, para com os restantes agentes económicos com o intuito de

que os mesmos sejam dotados de mais conhecimento para efetuarem escolhas, o que

aumenta a confiança e a credibilidade do sistema financeiro (Basel Committee on

Banking Supervision, 2005).

Apesar do Acordo de Basileia II proporcionar diversas melhorias nas instituições

financeiras ao nível da mensuração e gestão do risco e ao nível da divulgação de

informação, o que conferiu credibilidade ao sistema financeiro, as mesmas políticas não

foram suficientes para evitar crises, como a que ocorreu entre 2007 e 2009, conhecida

como a crise do subprime.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

26

A crise financeira global de 2007- 2009 teve início nos Estados Unidos, quando os bancos

americanos não conseguiram recuperar os créditos subprime concedidos, isto é,

principalmente créditos bancários hipotecários que estão associados a um elevado nível

de risco, que foram concedidos a clientes sem esse perfil. Esta crise desencadeou a

falência de diversas instituições financeiras americanas, mas rapidamente se refletiu no

sistema europeu. A falta de liquidez bancária provocou uma rutura do sistema financeiro

global e, como consequência nas várias economias, o que originou falta de confiança

global (Caiado & Caiado, 2018).

Com o intuito de valorizar a regulação, supervisão e a gestão do risco bancário, com

enfoque especial no de liquidez, o BCBS publicou em setembro de 2010 o terceiro

Acordo, composto por dois documentos.

“Basel III: A global regulatory framework for more resiliente banks and banking

systems”, constitui um dos documentos do referido Acordo, que tem como objetivo

melhorar a resiliência do setor bancário, através do reforço da qualidade do capital

regulamentar (Basel Committee on Banking Supervision, 2010).

A primeira alteração está relacionada com a qualidade do capital regulatório, que foi

dividido em duas componentes: fundos próprios de nível I e fundos próprios de nível II.

Os primeiros, intitulados por Tier I, tratam-se de capital regulamentar que permite ao

banco, num contexto adverso, absorver as suas perdas e manter-se solvente, assentando

numa perspetiva de continuidade; Este capital resulta do somatório entre o capital

principal, ou common equity, que viabiliza as transações de risco, sem prejudicar a

continuidade, e o capital adicional, que é representado pelos restantes instrumentos

emitidos pelo banco que não estão incluídos no capital principal; O Comité esclarece que

este nível, deve representar 6% dos ativos ponderados pelo risco. Os segundos, Tier II,

apresentam uma perspetiva de liquidação, e são constituídos por fundos próprios

disponíveis para a finalidade de cobrir os riscos. Então, a soma do Tier I com o Tier II,

deve representar os 8% dos ativos ponderados pelo risco, tal como indicado em Acordos

anteriores (Basel Committee on Banking Supervision, 2010).

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

27

No documento referido, o Comité apela à criação de buffers pelas entidades bancárias,

isto é, reservas de capital que têm como intuito responder a dificuldades ao nível da

regulação financeira em períodos de recessão. Portanto, existem dois tipos de reservas:

conservação de fundos próprios, que permite garantir a disponibilidade do capital em

determinadas circunstâncias, sendo que deve ser composto por 2,5% da componente

principal do capital de nível I; e contraciclo de fundos próprios que tem como objetivo

garantir os requisitos do capital regulamentar do setor bancário com base no ambiente

financeiro em que operam (Basel Committee on Banking Supervision, 2010).

Por último, importa realçar que, nesse documento, foi introduzido o rácio de alavancagem

mínimo que se trata de um instrumento regulatório simples, cujo objetivo é determinar a

perda máxima capaz de ser absorvida pelo capital próprio e reduzir o risco de

alavancagem (Basel Committee on Banking Supervision, 2010). Assim, de acordo com

Batista & Karmakar (2017), o rácio é obtido através do quociente entre a medida de

fundos próprios, que corresponde ao capital Tier I e a medida de exposição, que resulta

da soma entre a exposição em balanço, a derivados, a securities financing transactions e

de elementos extrapatrimoniais; este tem um limite mínimo de 3% dos ativos ponderados

pelo risco.

O segundo documento que constitui o Acordo de Basileia III, é denominado por

“International framework for liquidity risk measuremente, standards and monitoring”,

cujo objetivo é fortalecer a estrutura de liquidez através de dois rácios. O primeiro, cujo

foco é aumentar a resiliência bancária no âmbito da liquidez bancária, a curto prazo, é o

índice de cobertura de liquidez, a trinta dias. Este indicador procura assegurar que os

bancos possuem na sua carteira ativos líquidos que possam ser facilmente convertidos em

moeda, no curto prazo, e que sejam suficientes para cobrir o total de saídas líquidas de

caixa; resulta do quociente entre os ativos de alta qualidade, em termos líquidos,

constituído por capital de nível I e até 40% do capital de nível II, e a totalidade do fluxo

de caixa líquido, nos próximos trinta dias. O segundo, Net stable funding ratio,

corresponde a um rácio de liquidez a longo prazo cujo intuito é aumentar a resiliência

bancária neste espaço temporal e promover o financiamento das atividades bancárias

através de fontes mais estáveis; o cálculo deste indicador resulta do quociente entre os

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

28

fundos estáveis disponíveis a longo prazo e os fundos estáveis necessários a longo prazo

(Basel Comittee on Banking Supervision, 2010).

A crise financeira de 2007 evidenciou as fragilidades de forma clara dos sistemas

bancários. Como reação, para além do Acordo Basileia III, foram tomadas outras

providências. A UE tomou medidas no âmbito da regulação e da supervisão de forma a

contribuir para solidificar e estabilizar o sistema financeiro, aumentando a confiança nos

consumidores e usuários do mesmo sistema.

A primeira atitude a realçar foi em 2011 através da fundação da Autoridade Bancária

Europeia (EBA)11. Trata-se de uma instituição independente, mas responsável perante o

Parlamento Europeu, o Conselho da UE e a Comissão Europeia, cuja função é assegurar

um nível eficaz e coerente no âmbito da regulação e supervisão prudenciais do setor

bancário europeu, através da prática de normas técnicas vinculativas e orientações,

garantindo, assim, a integridade, eficiência e o bom funcionamento do mesmo (European

Banking Authority, 2021a).

Entre os vários contributos da EBA, destaca-se o “Single Rulebook”. Com o intuito de

diminuir as lacunas das diretivas nacionais, este livro fornece um conjunto único de regras

prudenciais harmonizadas e uniformes que devem ser aplicadas por todas as entidades da

UE. Deste modo, um livro de regras único torna o setor bancário mais resiliente,

transparente e eficiente (European Banking Authority, 2021b).

Adicionalmente, em resposta à crise do subprime e aos eventos subsequentes, em 2012 a

zona Euro fundou a União Bancária, aumentando a segurança e fiabilidade do setor

bancário, numa altura em que a confiança no mesmo foi abalada. Esta é constituída por

três pilares fundamentais. O primeiro, Mecanismo Único de Supervisão (MUS), assegura

que a política de supervisão prudencial das instituições de crédito da União Europeia é

eficazmente aplicada, garantindo, para além da supervisão coerente, a segurança, solidez

e estabilidade do sistema bancário europeu. A partir dos finais de 2014, em conjunto com

as autoridades nacionais competentes dos países participantes, no caso de Portugal,

11 https://www.eba.europa.eu

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

29

especificamente o BdP, o Banco Central Europeu (BCE) é o responsável pelo

funcionamento eficaz deste mecanismo. O segundo, Mecanismo Único de Resolução

(MUR), é a autoridade de resolução da União Bancária Europeia, que se responsabiliza

pela resolução ordenada dos bancos insolventes, de forma a minimizar esse impacto na

economia. A terceira entidade é o Mecanismo Único de Garantia de Depósitos que tem

como finalidade assegurar o reembolso de depositantes junto das instituições de crédito

da zona Euro (Banco de Portugal, 2016).

Todo este processo de criação da União Bancária Europeia tem sido alvo de diversas

opiniões divergentes a vários níveis, tanto ao nível do MUS como ao nível do MUR.

Em especial, há opiniões que argumentam que a União Bancária devia abranger todos os

bancos e não apenas os que apresentam maiores dimensões (que apresentam ativos com

valor superior a trinta mil milhões de euros), dado que, sendo o BCE a entidade que

supervisiona os bancos de maior dimensão apenas, caso os bancos mais pequenos

apresentem problemas que comprometam a sua estabilidade financeira, como a falta de

liquidez, o BCE não poderá atuar nesse aspeto, representando uma ameaça ao setor

(Wyplosz, 2012).

Neste sentido, em 2014, através do Regulamento nº806/2014, foi aprovado o Fundo

Único de Resolução, da responsabilidade do Conselho Único de Resolução.

Trata-se de um mecanismo de financiamento único para todos os Estados Membros que

participam no MUS e MUR. As entidades abrangidas por este Fundo são as Instituições

de Crédito estabelecidas nos Estados Membros participantes no MUS e MUR e as

empresas de investimento estabelecidas nos Estados Membros participantes no MUS e

MUR sujeitas à supervisão em base consolidada da empresa-mãe realizada pelo BCE. O

Fundo Único de Resolução é essencialmente financiado por contribuições das entidades

abrangidas, sendo que essa contribuição é calculada proporcionalmente entre o valor total

do respetivo passivo em relação ao valor do passivo agregado de todas as entidades

participantes, estando ainda sujeito a um ajustamento em função dos riscos assumidos

pelas mesmas. Posto isto, o processo de capitalização ocorre até 2023, data à qual existe

o objetivo de que o Fundo atinja, pelo menos, um nível de capitalização de 1% do valor

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

30

dos depósitos cobertos de todas as instituições de crédito autorizadas nos respetivos

Estados Membros da União Bancária que se encontram cobertos pela garantia de

depósitos (Parlamento Europeu & Conselho da União Europeia, 2014).

Para além dos tópicos mencionados, os assuntos relacionados com Corporate

Governance12 foram alvo de análise após a crise financeira. Foram emitidas pelas

autoridades competentes orientações de forma a assegurar as boas práticas e a

sustentabilidade das instituições financeiras. Entre essas, destacam-se dois documentos.

O DL nº157/2014 aumenta o controlo do governo interno das instituições de crédito

através de várias medidas. Destas, realça-se o reforço da transparência do governo

societário dos bancos, revisão das políticas de remuneração em vigor e o reforço da

exigência das regras de idoneidade aplicadas aos órgãos de administração, fiscalização e

de colaboradores com influência significativa na gestão das instituições (Banco de

Portugal, 2014).

Em 2015, o BCBS emitiu um documento “Corporate Governance Principles for Banks”

que conta com treze princípios de governança que devem ser aplicados nos bancos com

o intuito de complementar os mecanismos de gestão de risco. Assim, são delineadas

orientações especificas para as competências dos órgãos de administração, de fiscalização

e auditoria externa (Basel Committe on Banking Supervision, 2015).

12 A definição de Corporate Governance não é universal devido à complexidade e abrangência do assunto.

Contudo, a OCDE (2004) avança que “O governo das sociedades é uma componente fulcral na melhoria

da eficiência e do crescimento económicos, bem como no reforço da confiança do investidor. Envolve um

conjunto de relações entre a gestão da empresa, o seu órgão de administração, os seus acionistas e outros

sujeitos com interesses relevantes. O governo das sociedades estabelece também a estrutura através da qual

são fixados os objetivos da empresa e são determinados e controlados os meios para alcançar esses

objetivos. Um bom governo das sociedades deve proporcionar incentivos adequados para que o órgão de

administração e os gestores prossigam objetivos que sejam do interesse da empresa e dos seus acionistas,

devendo facilitar uma fiscalização eficaz.” (p.11)

Assim, de acordo com Gillan (2006), os mecanismos de Corporate Governance podem ser internos

(relacionado com conselho de administração, remuneração dos órgãos de gestão, estrutura de capital, entre

outros) ou externos (inclui a regulação e legislação em vigor).

Page 40: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

31

De um modo geral, as medidas que foram referidas no decorrer deste ponto contribuíram

para melhorar a solidez e estabilidade do setor financeiro, devolvendo-lhe a credibilidade

que foi afetada em momentos de crise. Não obstante, é crucial que as instituições de

crédito continuem a ser alvo de medidas regulatórias para responder favoravelmente em

potenciais situações adversas.

Um dos principais desafios atuais no que diz respeito à regulação do sistema financeiro

prende-se com a constante evolução e inovação tecnológica. A desmaterialização das

transações associadas ao menor custo e ao aumento dos procedimentos financeiros

acarreta várias oportunidades e adversidades.

Existem vários aspetos inovadores a ter em conta neste sentido, tais como a inteligência

artificial, FinTech13, o caso da Blockchain14, as criptomoedas como a Bitcoin15 . Todos

eles representam contratempos a nível regulatório.

Contudo, a fiscalização destas inovações virtuais é um aspeto crucial no que diz respeito

à segurança, transparência, fraude, proteção do consumidor e até ao nível da

responsabilidade civil no caso da ocorrência de falhas tecnológicas. Segundo Zetzsche et

al. (2017), os reguladores financeiros devem desenvolver novas abordagens que incluam

o uso de tecnologia para equilibrar os benefícios da inovação com a necessidade de

estabilidade financeira.

Neste sentido, o BdP tem vindo a emitir avisos e recomendações às instituições

financeiras, investidores e ao público geral nos quais o risco inerente a estes ativos é alvo

de destaque. É da opinião dos diversos Estados-Membros que a UE deve emitir normas

13 O termo resulta da junção da expressão financial technology e refere-se à inovação tecnológica em

entidades que operam no setor financeiro. Essa inovação pode estar refletida nos modelos de negócio e/ou

nas tecnologias (aplicações, processos ou produtos) aplicadas ao serviço (Banco de Portugal, 2021c)

14 Sistema digital descentralizado que regista todas as transações que ocorrem em rede peer-to-peer,

mantendo as mesmas interconectadas e seguras (PwC, 2018).

15 É considerada um modelo de pagamento de moeda virtual que permite aos utilizadores tanto a compra e

venda da moeda como a aquisição de bens/serviços no mundo real e virtual (Banco de Portugal, 2013).

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

32

regulamentares para esta matéria com o intuito de harmonizar a supervisão existente a

nível europeu.

Em suma, apesar dos desafios a enfrentar no futuro, as medidas adotadas previamente

referidas contribuíram para a estabilidade financeira de Portugal. Devido às mesmas, as

instituições de crédito tornaram-se mais resilientes e robustas, aumentando a confiança

no sistema financeiro. Assim, no tópico seguinte é apresentado o crédito bancário, sendo

este a principal atividade e fonte de receita das instituições financeiras.

Page 42: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

33

6. Crédito Bancário

A concessão de crédito é a principal atividade e fonte de receita das instituições de crédito.

Por este motivo, analisa-se a importância da atividade creditícia das instituições de crédito

no sistema financeiro e na economia e enquadra-se essa atividade em Portugal. Adiante,

é esclarecido o conceito inerente ao contrato de crédito bem como as suas características

principais.

A palavra crédito tem como origem o vocábulo latino creditum, proveniente do verbo

credere, que, em português remete para acreditar. De facto, conceder crédito significa

fornecer os recursos no presente, em contrapartida do reembolso futuro do montante

correspondente; este diferimento entre o pagamento e uso efetivo dos recursos, por um

lado, aumenta o poder de compra imediato do devedor e, por outro lado, representa um

ato de confiança por parte do credor (Carvalho, 2009). O crédito assume uma importância

fulcral no desenvolvimento da economia a nível mundial, uma vez que, tanto aumenta o

poder de compra dos consumidores como financia o investimento dos produtores.

A propósito, Antoshin et al. (2017) analisaram a relação entre o aumento de crédito, a

recuperação económica e a lucratividade bancária, no período posterior à crise financeira

de 2008, concluindo que existe uma influencia positiva entre as variáveis. Por outras

palavras, ou autores argumentam que o aumento do crédito potencia o investimento e

consequentemente a atividade económica. A par disso, a dinâmica creditícia tem um

impacto favorável na lucratividade bancária.

Em especial, a nível nacional, a partir de 2013 e até ao final do exercício de 2020 tem-se

assistido a um aumento do montante de empréstimos efetuados entre as instituições de

crédito e particulares, sendo que, se trata de um valor inferior ao verificado até 2007 e

200816. Relativamente aos contratos efetuados entre as mesmas instituições e empresas,

16Fonte: https://www.pordata.pt/Portugal

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

34

verifica-se uma tendência decrescente dos montantes dos mesmos até 2017, data a partir

da qual se verifica um aumento do montante de empréstimos concedidos17.

Gráfico 4 Evolução do montante dos empréstimos em Portugal

De acordo com o BdP, um contrato de crédito é um acordo no qual o mutuante, ou seja,

a instituição de crédito, disponibiliza dinheiro ao mutuário, isto é, o cliente, ficando o

mesmo obrigado ao pagamento do montante no prazo estipulado para o efeito acrescido

de encargos com juros e outros custos (Banco de Portugal, 2021d). O crédito bancário é,

assim, um contrato realizado por entidades bancárias a determinados segmentos de

clientes, como particulares ou empresas.

Antes da realização do contrato, os bancos averiguam toda a informação possível, com

foco nos dados financeiros, acerca do cliente e é elaborada uma análise de crédito.

Existem seis características fundamentais a ter em conta na análise do crédito bancário,

nomeadamente a finalidade do mesmo, o prazo, preço, montante, risco e garantias

associadas.

A finalidade corresponde ao que será comprado pelo devedor com o montante financiado

e a respetiva utilização.

17Fonte: https://www.pordata.pt/Portugal

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Anos

Empréstimos a Empresas Empréstimos a Particulares

Fonte: Elaboração Própria com base nos dados PORDATA

Page 44: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

35

O prazo corresponde ao período de reembolso da dívida, e deve ser negociado no início

do contrato, tendo por base a finalidade do financiamento e a vida útil do bem adquirido

pelo mutuário. O crédito pode ser concedido a curto prazo (até um ano), médio prazo (de

um a cinco anos) e longo prazo (superior a cinco anos).

O preço do crédito está diretamente associado aos juros e comissões, pagos pelo mutuário

ao mutuante; A taxa de juro deve ser negociada no início do contrato, podendo ser fixa

(mantem-se inalterada durante o prazo negociado) ou variável. A taxa de juro variável

resulta da soma entre a taxa de referência, a Euribor, na qual o cliente escolhe o prazo da

mesma, findo o qual a taxa é revista e alterada, e o spread, sendo esta parcela definida

pela instituição de crédito em função do risco do cliente e das garantias associadas ao

financiamento (Banco de Portugal, 2021e).

O montante do empréstimo é definido em função do valor do bem a adquirir, estando

associado à finalidade do crédito e à capacidade financeira do mutuante.

O risco reflete a possibilidade da instituição financeira incorrer em perdas financeiras

resultantes do incumprimento das obrigações contratuais da contraparte.

Por último, as garantias podem ser solicitadas por parte da entidade creditícia de forma a

minimizar o risco associado à operação, e têm como foco salvaguardar a mesma em caso

de incumprimento do cliente. As garantias podem ser reais ou pessoais. A garantia real

confere ao credor o direito de receber o valor ou o rendimento de determinados bens do

devedor ou de terceiros; os exemplos mais comuns deste tipo de garantias são as hipotecas

(direito concedido ao credor de ser pago pelo valor de certos bens imobiliários do devedor

e com preferência a outros credores) e o penhor (trata-se de uma garantia que consiste na

entrega por parte do devedor de bens móveis ao credor). A garantia pessoal representa o

dever de um terceiro em cumprir a obrigação do devedor, caso ele não o faça, com a

entidade credora; os exemplos deste tipo de garantias são a fiança e o aval (Banco de

Portugal, 2021f).

Assim, as instituições financeiras celebram vários tipos de contratos de crédito, que

variam consoante o segmento de clientes em questão e com a necessidade dos mesmos.

Page 45: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

36

As várias operações realizadas expõem as instituições a vários tipos de risco, assunto que

é discutido no subcapítulo seguinte.

Page 46: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

37

7. O Risco nas instituições financeiras

O ambiente competitivo no qual se inserem as instituições financeiras desencadeia vários

tipos de riscos para as mesmas. Este capítulo discute esse risco, de uma forma geral.

Primeiramente é analisado o termo em si. De seguida, são distinguidos e definidos vários

tipos de risco. Por último é salientada a importância da gestão dos mesmos para a

estabilidade das instituições de crédito, e por consequência do sistema bancário.

A palavra risco tem origem no termo italiano risicare, o que significa desafiar. De facto,

risco é utilizado de forma ambígua associado ao perigo apesar de estar mais interligado

às escolhas que são feitas. Existe risco quando há probabilidade do resultado de

determinada situação não ser o mais desejado (Pinho et al., 2011).

Para Amaral (2015), o risco é um elemento que está presente em todos os contextos da

vida. Em especial, em instituições financeiras, assumir o risco está no foco das atividades

que desempenham.

Carvalho (2009, p.37) define risco como “probabilidade de ocorrência de eventos cujas

consequências reduzam as perspetivas de concretização de objetivos delineados para uma

determinada variável, seja esta financeira ou não.”

Existe risco quando algo no decorrer de uma atividade gera incerteza quanto aos

resultados futuros da mesma. Assim, a incerteza decorrente de fatores exógenos não pode

ser eliminada, mas a exposição que a instituição financeira assume perante a mesma, pode

ser alterada (Bessis, 2015).

As instituições financeiras estão expostas a diversos tipos de risco, decorrentes da sua

atividade normal, visto que transacionam diversos produtos financeiros para os mais

diversos tipos de clientes, os quais afetam a sua rendibilidade. Deste modo, os riscos

podem ser financeiros, caso o risco esteja diretamente associado aos ativos e passivos

monetários da instituição, ou não financeiros, caso o risco resulte de circunstâncias

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

38

externas, como fatores políticos e económicos, ou internas, como tecnologias (Amaral,

2015).

O risco financeiro engloba o risco de crédito, de mercado, de taxa de juro, de liquidez e

cambial enquanto os riscos não financeiros englobam o risco operacional, compliance, de

reputação, de estratégia, entre outros.

Esquema 3 Tipos de risco

De uma forma breve, o risco de crédito constitui o principal risco ao qual o setor bancário

está exposto e está associado à possibilidade de perda no caso da contraparte não cumprir

com as obrigações que foram estabelecidas no contrato, mais concretamente, o

pagamento do capital pedido acrescido dos juros, o que tem um impacto negativo nos

resultados da instituição (Amaral, 2015). Devido ao impacto que este tipo de risco pode

ter numa instituição financeira, será abordado com mais detalhe no tópico seguinte.

O risco de mercado está relacionado com a volatilidade dos mercados onde os

instrumentos são transacionados. Corresponde à probabilidade de ocorrerem movimentos

desfavoráveis no preço de mercado dos mesmos, provocados por oscilações da cotação

de ações, taxas de juros ou de câmbio, o que resulta num impacto negativo nos resultados.

Este tipo de risco advém de posições de curto prazo em títulos de dívida, capital, moedas,

mercadorias e derivados. Assim, a gestão do risco de mercado passa pela determinação

Fonte: Elaboração Própria

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

39

da volatilidade associada à carteira de negociação, pela mensuração do risco de

concentração e exposição na mesma bem como a capacidade de alienar ativos de forma

rápida e com a menor perda possível (Banco de Portugal, 2007).

O risco de taxa de juro, está associado à possibilidade do fluxo de caixa futuro oscilar de

forma prejudicial devido à taxa de juro. Neste sentido, existem três fontes de risco,

nomeadamente de refixação da taxa (associada ao desfasamento temporal entre os prazos

de redefinição de taxas), risco de indexante (falta de correspondência entre a taxa recebida

e a taxa paga nos instrumentos negociados) e risco de opção (associado às opções

inerentes dos instrumentos financeiros, como por exemplo a amortização dos mesmos)

(Banco de Portugal, 2007).

De acordo com Banco de Portugal (2007), o risco cambial resulta de flutuações adversas

nas taxas de câmbio. Este tem por base o risco de transação associado ao preço de

instrumentos financeiros em moeda estrangeira, o risco de conversão da moeda

estrangeira para a moeda base e o risco económico da taxa de câmbio.

No que diz respeito ao risco de liquidez, “é o resultado do desajustamento entre os padrões

de maturidade dos ativos e dos passivos dos bancos” (Alcarva, cit. Amaral, 2015).

Segundo Bessis (2015), é o risco de não conseguir levantar o dinheiro quando tal é

necessário e traduz-se, muitas vezes, numa consequência de outros tipos de risco. Por

outras palavras, é associado à degradação das condições da venda de ativos para satisfazer

necessidades correntes. Pinho et al. (2011) alertam que nas instituições financeiras, este

risco pode desencadear uma insolvência dada a dimensão do balanço comparativamente

com o capital, contudo, esta pode ser evitada através da rápida alienação dos ativos.

O Comité de Basileia define o risco operacional como “risco de perda direta ou indireta

resultante de processos, pessoas, sistemas internos ou eventos externos” (Basel

Committee on Banking Supervision, 2005, p.140). Pode ser dividido em duas

componentes: risco de falha operacional, associado a lapsos decorrentes no normal curso

do negócio de operações, e risco operacional estratégico, associado a fatores externos que

estão fora do controlo da empresa. Trata-se de um risco pouco transparente pelo que o

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

40

desafio é utilizar métricas capazes de quantificar o mesmo de forma clara (Pinho et al.,

2011).

O risco de compliance resulta da violação de leis, condutas, regulamentos e princípios em

vigor. Engloba a conformidade com regulamentos, códigos de conduta e práticas

aplicados, responsabilidade perante terceiros, o grau de transparência na atividade

institucional e o envolvimento da mesma em operações de branqueamento de capitais.

Deste, podem surgir sanções com carácter legal ou regulamentar bem como limitações de

oportunidades do negócio (Banco de Portugal, 2007).

O risco de reputação está diretamente relacionado com o impacto negativo nos resultados

derivado da perceção negativa do público em geral, fundamentada ou não, perante a

instituição (Amaral, 2015).

Relativamente ao risco de estratégia, resulta da implementação de decisões inadequadas,

da dificuldade na implementação da estratégia pretendida, da incapacidade, por parte da

instituição, em responder de forma favorável ao ambiente externo ou da alteração do seu

ambiente de negócio, que se podem traduzir numa diminuição dos resultados obtidos.

Trata-se de um risco relacionado com a gestão da instituição, que engloba o impacto da

estratégia global da mesma até à estratégia particular do negócio (Banco de Portugal,

2007).

Posto isto, importa realçar que apenas foram referidos alguns tipos de risco, existindo

outras fontes, especialmente de risco não financeiro, como o risco de país, de solvência,

risco de sistemas de informação, entre outros. Para além disso, as instituições financeiras

podem notar a presença de determinado risco em maior ou menor escala, o que tem

consequências diferentes na estabilidade da mesma.

Para fazer face à incerteza que deriva do risco, as instituições financeiras devem fazer

uma gestão de risco eficaz e robusta, que, não podendo evitar os acontecimentos externos

desfavoráveis, tem como intuito contribuir para garantir o valor e objetivos da

organização, de modo que sejam exploradas as oportunidades que podem ter origem

externa e seja garantida a continuidade do negócio.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

41

Neste sentido, Gestel & Baesens (2009) argumentam que existem cinco etapas que podem

ser desenvolvidas de modo a diminuir a volatilidade dos lucros e evitar potenciais perdas.

Primeiramente, devem ser identificadas todas as fontes ou ameaças potenciais de risco;

seguidamente, esse risco é quantificado; A terceira fase, é a do tratamento do risco, isto

é, prevenir (não investindo em produtos ou clientes demasiado arriscados), reduzir

(através da utilização de garantias) ou aceitar e diversificar o risco. De seguida, a

instituição deve implementar a estratégia de gestão do risco, e, por fim, avaliar

frequentemente a eficácia da mesma.

Assim, nesta perspetiva, a gestão do risco tem sido um tema alvo de vários estudos.

Muthii Wanjohi et al. (2017) mencionam que a gestão de riscos financeiros é uma das

operações bancárias mais importantes, uma vez que, tendo em conta o ambiente dinâmico

no qual se inserem, os bancos estão expostos a diversos riscos que podem representar

uma ameaça para os mesmos. Assim, atividades como a identificação e mensuração do

risco aliados ao estabelecimento de limites de risco para controlo da exposição da

entidade, aumentam o desempenho e capacidade de competição da mesma. O estudo teve

como objetivo apurar a relação entre a gestão de risco financeiro e o desempenho dos

bancos comerciais no Quénia. Os autores concluíram que a gestão dos riscos financeiros

tem um forte impacto positivo no desempenho financeiro dos bancos em análise.

Nesta sequência, Sathyamoorthi et al. (2019) mediram o impacto da gestão do risco

financeiro, avaliado através dos riscos de crédito, de liquidez e de mercado, no

desempenho dos bancos comerciais do setor bancário do Botswana, medido através do

retorno dos ativos (ROA) e do património líquido (ROE). O estudo realizado pelos

mesmos permite obter conclusões promissoras, nomeadamente a relação negativa e

significativa entre os riscos de liquidez e de mercado e o desempenho dos bancos

analisados; relativamente ao risco de crédito, os autores verificaram uma relação positiva

com o retorno do património líquido e negativa com a rentabilidade dos ativos. Todavia,

os autores ressalvam que os bancos devem encontrar um equilíbrio entre as práticas de

gestão de risco seguras e o desempenho financeiro.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

42

Tal como referido anteriormente, de seguida será abordado mais concretamente o risco

de crédito numa instituição financeira.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

43

8. O Risco de Crédito

Uma vez que os empréstimos representam grande parte dos ativos das instituições

bancárias, o risco de crédito é a ameaça dominante no setor, o que pode afetar a

vulnerabilidade e comprometer o bom funcionamento do sistema bancário, razão pela

qual, é alvo de destaque neste capítulo.

Primeiramente é definido e caracterizado o risco de crédito bem como analisado quais as

variáveis que assumem um maior impacto no mesmo. De seguida, são expostos métodos

de avaliação do risco de crédito como a avaliação casuística e os modelos de scoring e de

rating. Posteriormente é destacada a importância da gestão deste risco para o bom

desempenho das instituições bancárias. Por fim, são apresentadas medidas definidas pelas

instituições de crédito com o intuito de enfrentar o incumprimento.

8.1. Caracterização

Tal como referido anteriormente, o risco de crédito está associado à possibilidade da

instituição financeira incorrer em perdas que resultam do incumprimento, por parte dos

mutuários, das suas obrigações contratuais nas respetivas operações de crédito.

Em primeiro lugar surge a necessidade da definição do termo incumprimento neste

contexto. De acordo com a EBA (2017), o crédito em incumprimento engloba o crédito

vencido (prestações vencidas de capital ou juros decorridos trinta dias após o seu

vencimento) há mais de noventa dias, os créditos reestruturados que contemplem mais do

que uma reestruturação bem como a exposição que inclui a possibilidade de

incumprimento.

De acordo com o Acordo de Basileia II, para estimar a perda esperada total associada ao

risco de crédito de um financiamento, a instituição de crédito deve estimar a probabilidade

de incumprimento, a perda dado o incumprimento e a exposição ao incumprimento (Basel

Comittee on Banking Supervision, 2005). Assim, a notação global do risco de crédito

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

44

resulta da agregação dos fatores referidos, sendo que, uma notação superior representa

um risco mais elevado.

A probabilidade de incumprimento, do inglês probability of default (PD) é o termo

financeiro que mede a possibilidade da contraparte não cumprir com as suas obrigações.

A perda dado o incumprimento, em inglês, Loss Given Default (LGD) materializa o

impacto da perda no caso de incumprimento. Por outras palavras, a LGD reflete a

percentagem de exposição que não é recuperada pela instituição de crédito no caso de

incumprimento do mutuário. A mensuração deste parâmetro é essencial não só para o

cálculo do risco de crédito como também para o cálculo das imparidades necessárias para

cobrir o respetivo risco (Spuchľakova & Cug, 2015).

Por sua vez, a exposição ao incumprimento ou Exposure at default (EAD) mede o grau

de exposição esperado no momento do incumprimento da contraparte. A estimativa do

EAD é importante para o cálculo do risco de crédito e para a previsão do capital

económico que o banco necessita para a proteção de depósitos no caso de acontecimentos

severos inesperados (Leow & Crook, 2016).

O risco de crédito é composto por três componentes: incumprimento, concentração e

degradação da garantia (Amaral, 2015).

A primeira, risco de incumprimento ou default reflete o risco do devedor ser incapaz de

efetuar os pagamentos que lhe são exigidos decorrentes das suas obrigações para com o

mutuante, durante um determinado período de tempo. Existem alguns sinais que esta

possibilidade venha a ocorrer como a existência de atrasos no pagamento, renegociações

do contrato, existência de operações vencidas há mais de trinta dias, entre outros (Bessis,

2015).

O risco de concentração está associado a uma gestão da carteira de crédito inadequada e

corresponde à possibilidade de perdas resultantes da concentração de empréstimos

elevados a um pequeno número de mutuários ou a setores de atividade específicos.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

45

Por fim, o risco de degradação da garantia reflete a possibilidade de ocorrerem

desvalorizações do mercado ou o desaparecimento da garantia associada ao

financiamento.

Brito, Giovani Antonio Silva e Assaf Neto (2004) argumentam que o risco de

incumprimento está relacionado com as características intrínsecas do cliente, sendo, por

isso, um risco associado ao cliente, enquanto, as duas restantes componentes dependem

do tipo de incumprimento ocorrido e das características da operação de crédito, estando

associadas ao risco da operação. Deste modo, os mesmos defendem que, no processo de

mensuração do risco de crédito, a variável relativa ao incumprimento assume maior

destaque do que as restantes.

Deste modo, torna-se fundamental perceber quais as variáveis que podem assumir maior

influência no risco de crédito.

O risco de crédito é constituído por dois tipos de risco: sistemático e não sistemático. O

risco sistemático está associado a mudanças macroeconómicas, como a taxa de inflação,

de desemprego, as variações do PIB, e a mudanças políticas ao nível monetário, fiscal e

de legislação. Por outro lado, o risco não sistemático decorre de fatores específicos do

mutuário, sendo que, no caso de particulares está relacionado com fatores como a

personalidade, enquanto que, no caso de empresas, abrange fatores como o tipo de

indústria, gestão, seguros, entre outros (Aver, 2008).

Este aspeto tem sido alvo de diversos estudos, entre os quais se destacam Aver, (2008),

Castro (2012) e Bonfim (2009).

Aver (2008) estudou o impacto de 25 variáveis macroeconómicas no risco de crédito da

carteira bancária eslovena, concluindo que 86,3% das variações do risco sistemático é

explicado por fatores macroeconómicos, entre os quais, se destaca que o aumento do PIB

e da taxa de juro provoca um aumento significativo no risco de crédito.

No mesmo sentido, Castro (2012) averiguou o impacto macroeconómico no risco de

crédito em cinco países europeus, nomeadamente na Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

46

e Itália e concluiu que esse ambiente é o fator mais importante na determinação do risco

de crédito. Adicionalmente constatou que variáveis como o aumento do PIB, taxa de

desemprego, taxa de juro, taxa de câmbio têm um impacto direto no risco de crédito,

sendo este igualmente afetado na presença de uma crise financeira.

Bonfim (2009) focou o seu trabalho no estudo das características específicas de mais de

30.000 empresas que podem influenciar o risco de crédito. Assim, primeiramente

concluiu que períodos em que se verifica um crescimento económico, o crédito aumenta,

o que pode levar as instituições financeiras a assumirem riscos excessivos. Por outro lado,

a autora reuniu algumas variáveis, ao nível do risco não sistemático, como a estrutura

financeira, rentabilidade, atual performance das vendas e a política de investimento, que

têm influência no risco de crédito.

8.2. Avaliação

É crucial que as instituições financeiras utilizem métodos de avaliação do risco de

incumprimento que cada cliente poderá representar após concessão de crédito. Neste

sentido, existem diversos métodos com esse intuito, desde a avaliação casuística à

automática, que inclui os modelos de credit rating e credit scoring. De seguida, é feita

uma breve análise a cada um deles, sendo importante realçar desde já, que,

independentemente do método utilizado pelo analista, a avaliação deve ser realizada de

acordo com as especificidades particulares de cada tipo de financiamento (Carvalho,

2009).

A avaliação casuística consiste na interpretação manual de vários indicadores que

caracterizam o cliente.

Assim, quando se trata da avaliação de empresas, são utilizados fundamentos da análise

financeira das mesmas, através de rácios económico-financeiros que permitam averiguar

a estabilidade da mesma, e consecutivamente possibilitem que o analista efetue um

parecer acerca da probabilidade de incumprimento futuro (Carvalho, 2009).

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

47

No caso de clientes particulares, de acordo com Gestel & Baesens (2009), a avaliação é

feita tendo por base cinco variáveis, conhecidas como os 5 C’s do crédito.

A primeira variável é o carácter do cliente que está ligada à integridade e à intenção do

mesmo em cumprir as suas possíveis futuras obrigações.

A segunda, capital, engloba a análise patrimonial, financeira e económica do cliente, de

forma a perceber as suas fontes de rendimento e possíveis garantias a utilizar no

financiamento; Por outras palavras, “para regularizar as dívidas de curto prazo, o devedor

deverá ter liquidez para tal, mas para o crédito de médio-longo prazo interessa mais que

esteja garantida a sustentabilidade de rendimentos positivos no futuro” (Carvalho, 2009,

p.131).

Neste sentido, o terceiro “C”, denomina-se colateral e tem como objetivo reforçar a

segurança quanto ao recebimento da dívida contraída pelo mutuário, através da utilização

de garantias reais ou pessoais em caso de incumprimento.

A quarta variável diz respeito à capacidade do mutuário em pagar os seus compromissos.

Por fim, o último “C”, designado por condições que o mutuário possui em termos de

adaptação a possíveis alterações do meio envolvente e a respetiva resposta às mesmas.

Este tipo de avaliação é alvo de várias críticas devido à subjetividade que permite uma

vez que, as tomadas de decisões de crédito por diferentes analistas podem não ser

consensuais ou consistentes ao longo do tempo (Carvalho, 2009).

Devido ao aumento tecnológico e da investigação realizada neste âmbito, surgiu a

avaliação automática com o intuito de aumentar o rigor da avaliação do risco do cliente

ao mesmo tempo que se facilitava o processo de tomada de decisão por parte do analista,

através da redução de tempo e custos.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

48

Bekhet & Eletter (2014) declaram que a triagem de clientes aos quais é concedido

financiamento é um fator significativo para o risco de crédito, pelo que os modelos que

classificam este risco devem ser precisos e eficazes.

Carvalho (2009, p.201) define scoring como “processo utilizado para projetar

comportamentos futuros a partir de características atuais ou passadas”. O credit scoring

trata-se de um método utilizado para determinar a probabilidade do individuo entrar em

incumprimento, e, deste modo, determinar se a instituição de crédito concede ou não o

empréstimo (Koh et al., 2006).

Trata-se de um sistema de pontuação atribuído às características do devedor, originando

um valor numérico que o compara com os restantes, o que permite distingui-los em bons

ou maus pagadores. Inicialmente é recolhida informação histórica do cliente, são

definidas as variáveis relevantes e, por fim, é assumido que essas características atuais se

mantêm no futuro e definida uma fórmula que permite, então, determinar o score do

cliente, isto é, a probabilidade de incumprimento. De notar que, se a fórmula incluir o

maior número de características possíveis, a precisão obtida pelo modelo, é igualmente

maior.

Assim, o score resulta da soma dos pontos ponderados de cada característica mencionada

no modelo. O resultado é interpretado de acordo com o modelo em questão, isto é, as

pontuações mais baixas/altas podem indicar riscos menores/maiores, ou vice-versa.

O credit scoring distingue os clientes de duas formas. Caso se verifique uma elevada

probabilidade do cumprimento da obrigação, o cliente é classificado por este sistema

como “bom”, pelo que o crédito é aceite. Caso aconteça o oposto, isto é, exista uma baixa

probabilidade do cumprimento da obrigação, o cliente é classificado como “mau”

pagador, pelo que a proposta de crédito será rejeitada (Bekhet & Eletter, 2014).

Assim, o nível de risco corresponde ao enquadramento do nível de risco da operação em

função da probabilidade de incumprimento esperada. O nível de risco varia entre 1 e 8,

sendo que a cada nível corresponde um parecer indicativo da decisão proposta. Para níveis

de risco compreendidos entre 1 e 3, o risco inerente à proposta é considerado reduzido,

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

49

obtendo um resultado scoring positivo, pelo que é viável aceitar a proposta. Para

propostas que apresentem um nível de scoring compreendido entre 4 e 6, e, portanto,

acima do recomendado, carecem de análise adicional. Por fim, os níveis de risco 7 e 8

representam riscos elevados, pelo que o resultado do modelo scoring é negativo e a

proposta deve ser rejeitada (Crédito Agrícola, 2015).

Tabela 1 Níveis de Scoring

Apesar de se tratar de um método que proporciona diversas vantagens como reduzir a

subjetividade pessoal do analista, permitir às instituições de crédito quantificar o risco

associado ao cliente num espaço temporal mais curto, bem como facilitar a determinação

das taxas de juro associadas ao respetivo financiamento, são apontadas desvantagens

como o custo inerente ao seu desenvolvimento e o facto de poderem não englobar todas

as variáveis que influenciem o risco, o que pode originar conclusões erradas acerca do

cliente (Koh et al., 2006).

No que diz respeito ao modelo de Rating, este classifica o risco de crédito de uma

empresa, com base na avaliação qualitativa, que engloba desde aspetos macroeconómicos

à estratégia e posicionamento da mesma, e quantitativa, através de rácios financeiros,

expresso na notação de rating (Crédito Agrícola, 2019).

A notação de rating é uma opinião sobre a qualidade de crédito de uma entidade expressa

através de uma nota qualitativa e ordinal que traduz a probabilidade de incumprimento

das obrigações financeiras assumidas (Weissova et al., 2015).

Pré-rejeitado

Classificação

1

2

3

4

5

Pré-aprovado

Pendente

Nível de Risco

6

7

8

Fonte: Elaboração Própria com base no Manual de Risco de Crédito, Crédito Agrícola (2015)

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

50

Este modelo de avaliação pode ser efetuado tanto pela instituição de crédito, ou seja, de

forma interna, ou através do recurso a entidades externas como agências de notação de

risco.

O modelo de rating interno tem como objetivo determinar a probabilidade de entrada em

incumprimento do cliente, o que permite à instituição de crédito calcular a perda esperada

em cada uma das suas operações. Este modelo resulta de três dimensões, nomeadamente

estatística (regressão logística baseada em variáveis chave que permitem determinar a

probabilidade de incumprimento), qualitativa (resulta da opinião dos analistas) e

indicadores de risco (detetam condições desfavoráveis que influenciam diretamente o

perfil de risco do cliente).

Assim, a notação varia entre um (corresponde a um perfil de risco extremamente sólido)

e nove (excessivamente vulnerável), sendo que, para situações de incumprimento (crédito

vencido há mais de noventa dias) é aplicada uma notação de zero (Crédito Agrícola,

2019).

Ao intervalo de notação um a 1,5 corresponde um risco excelente, associado a um perfil

de risco muito sólido. À notação compreendida entre dois e três ajusta-se ao perfil de

risco sólido e, portanto, um bom risco. O risco razoável diz respeito às notações entre 3,5

e seis abrangendo um perfil razoável e moderadamente vulnerável. A partir da notação

6,5 até 7,5, o perfil de risco é vulnerável o que diz respeito a um risco alto. Por fim,

notações superiores a oito refletem um risco muito alto de incumprimento.

Page 60: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

51

Tabela 2 Níveis de Rating

No que diz respeito ao rating efetuado por entidades externas, o modelo utilizado varia

consoante a agência de notação de risco. Neste âmbito, existem agências mundialmente

reconhecidas como a Moody’s Investers Services, Standard & Poor’s e Fitch Inc.

Consoante a agência, a notação que expressa a capacidade creditícia do devedor pode ser

apresentada numa escala de AAA, que reconhece que a capacidade do devedor pagar as

suas dívidas é extremamente forte, a C, que indica a forte probabilidade de incumprimento

do devedor; sendo a letra D utilizada quando ocorre o incumprimento. Esta escala pode

ser acompanhada por sinais positivos ou negativos consoante o estado de solvabilidade

do devedor (Trueck & Rachev, 2009). A nível nacional, a entidade reconhecida para este

efeito é a ARC Ratings, S.A18.

Posto isto, pode ser benéfico para a entidade de crédito a utilização de ambos os métodos

de avaliação, isto é, numa primeira fase pode ser utilizado o método automático, tirando

partido da consistência e rapidez do mesmo, e numa fase posterior, pode ser útil

complementar essa informação com outra adicional que seja mencionada na avaliação

casuística, beneficiando do sentido crítico do analista (Carvalho, 2009).

18 www.arcratings.com

Fonte: Elaboração Própria com base no Manual de Rating, Crédito Agrícola (2019)

Notação

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

5,5

6

6,5

7

7,5

8

8,5

9

0

Perfil de Risco

Extremamente Sólido

Muito sólido

Sólido

Razoável

Moderadamente Vulnerável

Vulnerável

Muito Vulnerável

Excessivamente Vulnerável

Incumprimento

Page 61: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

52

De notar ainda que, cabe ao analista de crédito monitorizar e estar alerta para detetar e

interpretar todos os sinais de perigo que o devedor possa dar, de forma a minimizar ou

evitar o risco de incumprimento associado à operação.

8.3. Gestão do Risco de Crédito

Os padrões relacionados com os empréstimos concedidos podem desencadear problemas

graves para as entidades creditícias. Estes podem ser expressos através da má gestão do

risco do portefólio, da diminuição da qualidade de crédito das contrapartes, entre outros.

(Wójcicka-Wójtowicz, 2018). Por este motivo, este processo deve ser feito de uma forma

equilibrada.

Ekinci & Poyraz (2019), argumentam que o risco de crédito é um dos riscos mais

importantes que os bancos enfrentam, devido ao facto da principal fonte de rendimento

serem os financiamentos de crédito. Com uma amostra de 26 bancos turcos analisada

entre 2005 e 2017, concluíram que o aumento do risco de crédito provoca uma diminuição

no desempenho financeiro bancário. Assim, para além de ser aconselhável que os mesmos

diversifiquem a carteira, a gestão eficaz do risco de crédito é fundamental para a

estabilidade económica.

É crucial uma gestão do risco de crédito rigorosa e eficaz, de forma a maximizar os lucros

da instituição financeira por unidade de risco assumida. Essa gestão passa por selecionar

os produtos e as contrapartes eficazmente, diversificar o risco através dos vários tipos de

clientes e pelas garantias exigidas dos financiamentos (Gestel & Baesens, 2009).

Mozib Lalon (2015) afirma que mais de 50% do total dos elementos de risco das

instituições financeiras correspondem apenas a risco de crédito, pelo que boas práticas de

gestão do risco de crédito aumentam a lucratividade e a sustentabilidade bancária a longo

prazo. Essa gestão passa pela identificação, mensuração, mitigação, monitorização e

controlo da exposição ao risco. Através do estudo do caso de um banco específico de

Bangladesh, concluiu que a gestão eficaz do risco de crédito tem impacto positivo no

desempenho financeiro, sendo essa uma prática recomendável.

Page 62: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

53

Assim, cada banco implementa a sua estratégia de gestão de risco de crédito. As técnicas

utilizadas podem incluir, por exemplo, requisitos rigorosos para medir a exposição e

diminuição de crédito concedido a clientes cuja credibilidade é duvidosa. Neste sentido,

existem vários modelos e ferramentas que são eficazes na gestão deste risco como por

exemplo métodos de pontuação, funções de regressão, modelos padrão, entre outros

(Wójcicka-Wójtowicz, 2018).

Stanley Isanzu (2017), estudou durante 7 anos o impacto do risco de crédito no

desempenho financeiro dos bancos chineses, concluindo que o mesmo é significativo. Os

resultados permitiram ainda constatar que a existência crescente de medidas prudenciais

para reduzir o impacto negativo no risco de crédito têm proporcionado uma gestão do

mesmo mais prudente.

8.4. Medidas de prevenção do incumprimento

Em situações económicas adversas e de crises financeiras, a degradação das condições

financeiras dos clientes aumentam, bem como o incumprimento dos contratos de crédito.

A existência do risco de incumprimento dos clientes desencadeou por parte das

instituições de crédito um acompanhamento permanente dos contratos bem como a

regularização de situações de incumprimento.

Nesta perspetiva, o DL nº227/2012 requer que as instituições de crédito elaborem e

implementem um Plano de Ação para o Risco de Incumprimento (PARI). Trata-se de um

plano de acompanhamento de contratos de crédito cujo intuito é a deteção antecipada de

indícios de risco de incumprimento, o acompanhamento de clientes que evidenciem

dificuldades no cumprimento das obrigações contratuais bem como o incentivo da adoção

de medidas preventivas deste tipo de risco. Refere-se a um plano preventivo que pode ser

ativado sempre que se detetem sinais da possibilidade de incumprimento (Direção Geral

do Consumidor, 2012).

O PARI deve especificar todos os procedimentos adotados por parte da instituição de

crédito para o acompanhamento dos contratos e a gestão de situações de incumprimento.

Assim, para além da implementação de sistemas informáticos que emitam alertas aquando

Page 63: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

54

se verifique a degradação da capacidade financeira do cliente, deve definir os vários

procedimentos a adotar pelos trabalhadores.

De acordo com o artigo 11.º do referido DL, este plano deve detalhar os procedimentos

adotados para o acompanhamento dos contratos, quais os factos considerados como

indícios da degradação financeira do cliente, os procedimentos para a recolha de

informação. Esses factos devem ser analisados com vista a contactar o cliente no caso de

risco efetivo de incumprimento, apresentando as soluções propostas. De notar que,

sempre que se verifique que o cliente não dispõe de capacidade financeira para cumprir

as obrigações, as condições devem ser renegociadas ou consolidadas com outros

contratos.

Adicionalmente, devem estar definidas as estruturas responsáveis e os prestadores de

serviço de gestão do incumprimento responsáveis pelo desenvolvimento dos

procedimentos do PARI bem como os planos de formação atribuídos a trabalhadores que

executem funções neste âmbito.

Para além do PARI, o DL engloba o Procedimento Extrajudicial de Regularização de

Situações em Incumprimento (PERSI). Trata-se de um procedimento que permite a

negociação entre o cliente bancário e a instituição de crédito com o objetivo de regularizar

situações de incumprimento (Direção Geral do Consumidor, 2012).

Inicialmente, o cliente pode ser integrado neste modelo sempre que o mesmo o solicite,

entre o 31.º dia e o 60.º após a data de vencimento da operação e/ou nos casos em que o

cliente alertou a instituição para o risco de incumprimento e o mesmo entre em mora no

cumprimento das suas obrigações.

Numa fase posterior, o cliente disponibiliza informação de modo que a instituição de

crédito averigue a capacidade financeira do mesmo bem como a situação de

incumprimento. Caso a instituição conclua que o cliente possui capacidade financeira,

deve propor alternativas para a regularização da situação de incumprimento; caso conclua

o oposto, deve informar o cliente.

Page 64: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

55

O PERSI extingue-se com o pagamento integral do montante em mora, com a obtenção

de um acordo entre as partes que regularize a situação de incumprimento, com a

declaração de insolvência do cliente ou no 91.º dia posterior à data de integração do

cliente neste procedimento, salvo acordo de prorrogação.

Em suma, o PARI e o PERSI são duas medidas adotadas que permitem a prevenção do

risco de crédito através da sua monitorização constante e a gestão eficaz de situações de

incumprimento.

Uma das formas de adotar uma estratégia prudente na gestão deste risco passa pela

constituição de imparidades. O aumento do risco de crédito desencadeia o aumento das

imparidades constituídas pela instituição de crédito como forma de cobrir perdas

esperadas. Por este motivo e pelo impacto das imparidades no desempenho financeiro,

estas são o tópico abordado no ponto seguinte.

Page 65: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

56

9. Imparidades

O tema das imparidades de crédito a clientes tem sido alvo de destaque no setor financeiro

ao longo dos últimos anos devido à relevância que estas assumem nas demonstrações

financeiras das instituições e, como consequência, nos resultados obtidos e performance

das mesmas. Deste modo, este capítulo tem como objetivo o esclarecimento dos termos

associados a esta matéria bem como da evolução dos vários modelos que permitem o

apuramento das imparidades.

O conceito contabilístico de "Imparidade” está relacionado com a discrepância entre dois

valores, nomeadamente a quantia recuperável e a quantia escriturada. Uma vez que, o

intuito da informação contabilística é que a mesma reflita a realidade da organização de

forma exata, promovendo a transparência e a veracidade desta, é esperado que o valor

reportado para determinado ativo corresponda ao seu valor real. Assim, o cálculo e registo

de imparidades aumenta a fiabilidade da informação, uma vez que está isenta de erros

materiais e de preconceitos.

Antes do desenvolvimento aprofundado do tópico, será feita uma breve explicação acerca

de alguns conceitos fundamentais no âmbito das imparidades.

Em primeiro lugar, interessa esclarecer o conceito de instrumento financeiro, o que, de

acordo com a International Accounting Standards (IAS) 32 - Financial Instruments:

Presentations, é “qualquer contrato que dê origem a um ativo financeiro de uma entidade

e a um passivo financeiro ou instrumento de capital próprio noutra entidade” (IFRS,

2000). Neste seguimento, esclarece que um ativo financeiro é qualquer ativo que seja

“dinheiro; um instrumento de capital próprio de uma outra entidade; um direito

contratual: de receber dinheiro ou outro ativo financeiro de outra entidade; ou de trocar

ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade em condições que sejam

potencialmente favoráveis para a entidade; um contrato que será ou poderá ser liquidado

nos instrumentos de capital próprio da própria entidade” (§11). Deste modo, contratos de

crédito a clientes ficam enquadrados como ativos financeiros pelas instituições

Page 66: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

57

financeiras visto que é negociado um direito contratual com o mutuário de receber um

ativo financeiro como contrapartida.

A IAS 36 - Impairment of Assets, é a norma que assegura o tratamento geral das

imparidades dos ativos, de modo que, contém algumas definições interessantes (IFRS,

2013). De acordo com a mesma, o valor contabilístico, ou escriturado, “é o valor pelo

qual um ativo é reconhecido após a dedução de qualquer depreciação acumulada e perdas

por imparidade acumuladas”, enquanto o valor recuperável “é o maior entre o justo valor

menos o custo de alienação e o valor de uso”. Mais concretamente, o justo valor “é o

preço que seria recebido para vender um ativo ou pago para transferir um passivo numa

ordem de transação entre participantes do mercado na data de mensuração”, enquanto o

valor de uso corresponde ao “valor atual dos fluxos de caixa futuros que se espera que

sejam derivados de um ativo ou de dinheiro” (§6). Assim, existe imparidade quando o

valor contabilístico não coincide com a quantia recuperável, correspondendo à diferença

entre ambos. Mais especificamente, verifica-se uma perda por imparidade se o valor

escriturado for superior ao valor recuperável.

Aristei & Gallo (2019) explicam que as provisões para perdas de empréstimos são

definidas com o objetivo de cobrir perdas que advém da atividade creditícia.

Desempenham um papel crucial nas demonstrações financeiras pois transmitem uma

informação fidedigna sobre a qualidade da carteira de crédito, com impacto notório sobre

os resultados reportados. Este comportamento é influenciado pela regulamentação

prudencial bancária e pelas normas contabilísticas definidas. Assim, as provisões para o

risco de crédito bancário possuem uma componente discricionária, relacionada com os

objetivos de gestão, e uma componente não discricionária, associada ao risco de

incumprimento.

Os mesmos autores efetuaram um estudo a 739 bancos italianos no período entre 2006 e

2013 com o intuito de analisar o comportamento das provisões para perdas com

empréstimos. Os autores concluíram que fatores não discricionários, relacionados com o

risco de crédito, são os principais determinantes destas provisões. Mais concretamente, o

nível de provisões para perdas de empréstimos aumenta significativamente com a parcela

de empréstimos em incumprimento. Para além disso, em períodos de recessão económica,

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

58

as entidades bancárias tendem a aumentar o nível de provisionamento com o intuito de

cobrir perdas de crédito motivadas por esses períodos, evitando efeitos de pró-ciclicidade.

Posto isto, a legislação relativa a matéria de imparidades tem sofrido uma evolução

constante no decorrer dos últimos anos, pelo que, será feita uma exposição dos marcos

mais significativos.

Esquema 4 Evolução da legislação

Até 2015 vigorou o Aviso nº3/95 do Banco de Portugal. Este aviso menciona que

instituições de crédito e sociedades financeiras devem adotar políticas de

provisionamento dos seus ativos, com várias finalidades, entre as quais se destaca o risco

específico de crédito e riscos gerais de crédito. Assim, relativamente ao primeiro,

deveriam ser constituídas provisões para crédito vencido (enquadradas em classes de

risco definidas em função do período decorrido após o respetivo vencimento) e outros

créditos de cobrança duvidosa, isto é “prestações vincendas de uma mesma operação de

crédito em que se verifiquem, relativamente às respetivas prestações em mora de capital

e juros, pelo menos uma das seguintes condições: excederem 25% do capital em dívida,

acrescido dos juros vencidos; estarem em incumprimento há mais de: seis meses, nas

operações com prazo inferior a cinco anos, doze meses, nas operações com prazo igual

ou superior a cinco e inferior a dez anos, vinte e quatro meses, nas operações com prazo

igual ou superior a dez anos”. No que diz respeito às de provisões para riscos gerais de

crédito, estas devem corresponder a 1% dos valores que constituem a sua base de

incidência, salvo exceções. Após a publicação deste aviso, o BdP publicou outros que

serviram de complemento ao Aviso nº3/95, entre os quais se destaca o Aviso nº8/2003.

(Banco de Portugal, 1995).

Fonte: Elaboração Própria

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

59

A partir de 2016, entrou em vigor o Aviso nº5/2015, publicado pelo BdP. Este aviso

assume um marco importante, uma vez que marca a adoção de novas regras

contabilísticas para as entidades sujeitas à supervisão do BdP, salvo exceções. Até ao

final do ano 2015, as demonstrações financeiras eram elaboradas com base na aplicação

das Normas Contabilísticas Ajustadas (NCA); a partir dessa data, essas entidades

passaram a elaborá-las de acordo com as Normas Internacionais de Contabilidade (NIC)

(Banco de Portugal, 2015).

Com esta alteração do BdP, o reconhecimento de perdas por imparidade passou a ter por

base o modelo de perdas incorridas, de acordo com a IAS/ NIC 39: Financial Instruments:

Recognition and Measurement, o que, até ao final de 2015, tal como referido, tinha por

base o modelo de provisionamento.

Dito isto, de seguida será feita uma exposição dos principais aspetos da NIC 39 (IFRS,

2008).

A Norma Internacional de Contabilidade 39 tem como objetivo “estabelecer princípios

para reconhecer e mensurar ativos financeiros, passivos financeiros e alguns contratos de

compra ou venda de elementos não financeiros”.

De acordo com esta norma, os créditos a clientes devem ser reconhecidos inicialmente ao

justo valor acrescidos de eventuais custos de transação (§43); Numa fase subsequente,

estes devem ser mensurados ao custo amortizado pelo método de juros efetivos (§46). O

custo amortizado corresponde ao “valor pelo qual o ativo financeiro é mensurado no

reconhecimento inicial menos as amortizações de capital, mais ou menos a amortização

cumulativa usando o método do juro efetivo de qualquer diferença entre esse valor inicial

e o valor de vencimento, e menos qualquer redução para imparidade ou incobrabilidade”

(§9).

Adicionalmente, é referido que à data do balanço, as entidades devem avaliar se os ativos

financeiros estão em situação de imparidade, ou seja, se existe uma evidência objetiva de

que o valor do reconhecimento inicial do ativo diminuiu desde então (§58). A NIC/ IAS

39 especifica ainda que apenas existe uma perda por imparidade se existir uma prova

Page 69: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

60

objetiva de imparidade como resultado de um acontecimento que ocorreu posteriormente

ao reconhecimento inicial, se esse acontecimento impactar os respetivos cash flows

futuros estimados e se o mesmo puder ser mensurado de forma fiável (§59). Nesse caso,

a perda por imparidade deve ser mensurada como a diferença entre o valor contabilístico

do ativo e o valor atual dos cash flows futuros descontados à taxa de juro efetiva (§63).

A IAS 39 especifica que “Perdas esperadas como resultado de eventos futuros não são

reconhecidas”. Contudo, enumera alguns indícios de que determinado ativo financeiro

pode vir a estar em situações de imparidades, nomeadamente a dificuldade financeira do

devedor, o incumprimento dos pagamentos do contrato, entre outros (§59).

Relativamente aos ativos financeiros para os quais não exista uma evidência objetiva de

imparidade, os mesmos devem ser agrupados com ativos com características de risco de

crédito semelhantes, e, posteriormente, serem testados e avaliados coletivamente (§64).

A principal crítica apontada à IAS/ NIC 39 foi o facto de só permitir o reconhecimento

das perdas por imparidade se de facto, existir uma perda incorrida, excluindo, assim, o

apuramento tempestivo das perdas por imparidade a reconhecer.

Neste sentido, com o intuito de substituir a IAS/ NIC 39, a partir de 2018 entrou em vigor

a International Financial Reporting Standards (IFRS) 9: Instrumentos Financeiros. Esta

norma proporcionou mudanças significativas na contabilização de instrumentos

financeiros, introduzindo o modelo de perdas por imparidade esperadas, deixando de ser

necessário a existência de uma prova objetiva para a constituição de imparidades, tal

como acontecia até à data mencionada.

Desta forma, será feita uma evidência dos principais tópicos abordados pela nova norma,

seguida de uma comparação entre a IFRS 9 e a IAS/ NIC 39 bem como o impacto positivo

que a primeira teve nas instituições financeiras.

O objetivo da IFRS 9: Financial Instruments é fornecer orientações sobre os ativos e

passivos financeiros, de modo que, todas as informações financeiras apresentadas pelas

entidades sejam úteis e relevantes para os usuários das mesmas (IFRS, 2014).

Page 70: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

61

Assim, uma entidade deve reconhecer inicialmente um ativo ou passivo financeiro na sua

demonstração da posição financeira somente quando a mesma se torna uma parte nas

cláusulas contratuais do instrumento financeiro (§3.1.1).

Por sua vez, o desreconhecimento dos ativos financeiros só deve acontecer quando os

direitos contratuais sobre os fluxos de caixa dos mesmos terminam, ou quando ocorre

uma transferência do ativo e a mesma cumpre os requisitos para o respetivo

desreconhecimento (§3.2.3).

Após o reconhecimento inicial, o ativo financeiro deve ser mensurado pelo custo

amortizado, justo valor através de outro rendimento integral ou justo valor através dos

resultados (§5.2.1). Mais concretamente, de acordo com Silva (2017), o ativo financeiro

é mensurado ao custo amortizado se o mesmo for angariado no âmbito de um modelo de

negócios cujo intuito é deter os ativos financeiros para receber os respetivos fluxos de

caixa contratuais e se os termos contratuais derem origem, em datas definidas, a fluxos

de caixa que são apenas reembolsos de capital e pagamentos de juros sobre o capital em

dívida. Para o ativo financeiro ser classificado pelo justo valor através do rendimento

integral deve cumprir duas condições: ser detido no âmbito do modelo de negócio com a

finalidade da angariação dos fluxos de caixa contratuais e da venda de ativos financeiros;

e se o contrato do ativo financeiro originar, em datas especificas, fluxos de caixa que

correspondem a reembolso de capital e pagamentos de juro sobre o capital em dívida. Os

restantes ativos financeiros são mensurados através do justo valor através dos resultados.

Posto isto, em matéria de reconhecimento de imparidade, a IFRS 9 propõe um modelo de

perdas esperadas. Contudo, a norma apenas abrange os ativos financeiros mensurados

pelo custo amortizado, pelo justo valor através de resultados, contas a receber de locação,

ativos resultantes de um contrato de empréstimo e contratos de garantias financeiras a que

se apliquem requisitos mínimos em matéria de imparidade (§5.5.1).

Para tal, à data das demonstrações financeiras, as entidades devem reconhecer as

imparidades com base em dois critérios que assentam no risco de crédito. Primeiramente,

as entidades devem concluir se se verificou um aumento significativo do risco de crédito

ou não. Para tal, a mesma deverá realizar uma avaliação entre o risco de crédito à data do

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

62

relato comparativamente com o risco de crédito verificado no momento do

reconhecimento inicial do ativo financeiro (§5.5.9). É significativo se se verificar um

aumento maior para um ativo com um risco superior de incumprimento na mensuração

inicial comparativamente com um ativo que represente um baixo risco de incumprimento

(Silva, 2017).

O BdP emitiu um Anexo à Carta Circular do Banco de Portugal nº CC/2018/00000062,

cujo intuito é auxiliar na aplicação da IFRS 9, onde, no parágrafo seis, são apresentados

alguns indicadores do aumento significativo de crédito, entre os quais se destacam o

crédito com atraso de pagamento superior a trinta dias (seja de capital, juros, comissões

ou outras despesas) e o crédito reestruturado por dificuldades financeiras do devedor,

entre outros (Banco de Portugal, 2018).

Assim, caso se verifique um aumento significativo do risco de crédito desde o momento

do reconhecimento inicial do ativo financeiro, a entidade deve reconhecer a perda total

esperada ao longo da vida útil do ativo (§5.5.3). Por outro lado, caso não se verifique um

aumento significativo do risco de crédito, a entidade deve mensurar a imparidade de um

determinado ativo financeiro com base nas perdas de crédito esperadas que ocorram nos

doze meses subsequentes (§5.5.5).

Não obstante, devido ao elevado grau de variação do valor da imparidade e com o intuito

de se obter estimativas admissíveis, as perdas de crédito esperadas de um instrumento

financeiro devem repercutir “um valor ponderado por probabilidades imparciais, que é

determinado pela avaliação de um conjunto de resultados possíveis; o valor temporal do

dinheiro; informações razoáveis e sustentáveis que estão disponíveis sem custo ou esforço

desproporcional na data de relatos sobre eventos anteriores, condições atuais e previsões

das condições económicas futuras” (§5.5.17).

Neste sentido, o Anexo à Carta Circular do BdP referido, menciona, no parágrafo catorze,

alguns indicadores que traduzem situações de imparidade de um instrumento financeiro

nomeadamente crédito com atraso no pagamento superior a noventa dias (seja de capital,

juros, comissões ou outras despesas), a existência de uma pequena probabilidade do

devedor em fazer face às suas obrigações de crédito, dependendo o reembolso da dívida

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

63

da utilização de eventuais garantias recebidas pelo credor, e operações reestruturadas por

dificuldades financeiras do devedor.

A IFRS 9 determina ainda que as imparidades dos ativos financeiros podem ser avaliadas

numa vertente individual ou coletiva (§5.5.4). Ambas as abordagens são explicadas com

detalhe no Anexo à Carta Circular do BdP referido.

A avaliação individual, deve ser feita para exposições individualmente significativas, de

acordo com as políticas de gestão do risco das entidades creditícias (§19); esta avaliação

deve ter por base aspetos contratuais, financeiros, colateral, entre outros (§22).

No que diz respeito à avaliação coletiva, consiste no agrupamento da carteira de crédito

de acordo com categorias de risco idênticas de forma a permitir uma estimativa credível

das perdas de crédito esperadas para cada segmento (§26); exemplos de parâmetros de

risco são a probabilidade de incumprimento, a perda dado o incumprimento, taxas de

recuperação e reincidência de incumprimento (§28).

No parágrafo 29 do respetivo anexo, é feita ainda uma nota de que as instituições devem

desenvolver sistemas de informação de gestão adequados à monitorização destas

operações.

Para Silva (2017), a IFRS 9 proporciona que a informação financeira disponibilizada seja

credível, tanto sobre perdas passadas como futuras, uma vez que, à data do reporte, a

entidade atualiza e reconhece as perdas esperadas, criando, assim, uma margem de

segurança para eventuais casos de incumprimento.

O mesmo autor realça breves tópicos de comparação entre a atual norma em vigor e a

IAS/ NIC 39, dos quais se realçam os seguintes. Enquanto a IFRS 9 consiste numa norma

baseada em princípios que traduz um modelo baseado em perdas esperadas, a IAS/ NIC

39 está baseada em regras que contemplam vários modelos de perdas por imparidade,

sempre com base em eventos históricos. Ainda no que diz respeito à própria classificação

dos ativos financeiros, a norma passada aplicava uma definição complexa, tanto em

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

64

termos teóricos como práticos, sendo que, a IFRS 9 classifica-os com base nos modelos

de negócio e características dos fluxos de caixa.

A IFRS 9 adota as principais medidas da IAS/ NIC 39, explorando novas possibilidades

de aplicação, que visam adequar a política de gestão de riscos financeiros com as práticas

contabilísticas. Desta forma, a atual norma em vigor tem alcançado um impacto positivo

nas instituições financeiras, uma vez que, as mesmas reconhecem no prazo adequado as

perdas por imparidade na grande maioria dos ativos, o que não era possível até ao início

de 2018, visto que essas instituições tinham de esperar que ocorresse de facto a perda para

a poder reconhecer.

Para terminar, a constituição de imparidades de crédito a clientes é uma forma eficaz de

gestão do risco de crédito. Implica um constante acompanhamento e monitorização da

carteira creditícia por parte dos responsáveis, de forma a reconhecer tempestivamente as

imparidades associadas, isto é, antes que a instituição financeira incorra, de facto, em

perdas. Desta forma, estas instituições efetuam uma gestão prudente dos seus ativos,

contribuindo para a resiliência do sistema financeiro e para o equilíbrio económico.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

65

Capítulo III ESTÁGIO CURRICULAR

10. Apresentação da entidade de acolhimento

11. Caracterização do estágio e atividades desenvolvidas

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

66

10. Apresentação da entidade de acolhimento

O Grupo Crédito Agrícola

O grupo Crédito Agrícola (GCA) é um grupo financeiro a nível nacional que opera sob a

forma de Cooperativa de Responsabilidade Limitada (C.R.L.). Atualmente, este é

composto pela Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, C.R.L., pelas 75 Caixas de

Crédito Agrícola Mútuo suas associadas, por empresas especializadas, e pela Federação

Nacional das Caixas de Crédito Agrícola Mútuo, F.C.R.L. (FENACAM) (Crédito

Agrícola, 2021a).

Com o total de 636 Agências no território nacional, mais de 1.800.000 clientes e 300.000

associados, o GCA representa um dos maiores grupos portugueses do setor financeiro.

O Sistema Integrado de Crédito Agrícola Mútuo (SICAM), é constituído pela Caixa

Central e pelas 75 Caixas de Crédito Agrícola Mútuo.

As CCAM são entidades dinamizadores do Grupo Crédito Agrícola, uma vez que, devido

ao contacto de proximidade que exercem nas diversas regiões onde atuam, adquirem a

perceção acerca das realidades económicas locais.

A Caixa Central assume um papel de destaque no SICAM. Esta é responsável pela

fiscalização da organização e gestão das Caixas de Crédito Agrícola Mútuo associadas a

nível administrativo, técnico e financeiro, pelas ações de Marketing, pela gestão de

Tesouraria e pela representação do Grupo junto do BdP e demais organismos estatais. De

realçar que se trata da única instituição do grupo que tem autorização para recorrer a

outras fontes de crédito para além dos depositantes (Crédito Agrícola, 2021b).

A FENACAM é uma instituição que tem o intuito de defender as Caixas Agrícola. Presta

serviços especializados ao Grupo, com bastante impacto, nomeadamente apoio

Administrativo e Financeiro, Técnico e de Produção Documental e Aprovisionamento

(Crédito Agrícola, 2021c)

Page 76: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

67

10.1.1 Evolução Histórica

A origem histórica das Caixas de Crédito Agrícola remonta ao final do século XV. Desde

então, ao longo dos anos, o Grupo tem alcançado vários marcos importantes bem como

ultrapassado desafios que lhe permitiram alcançar a dimensão e prestígio que representa

nos dias de hoje.

Em seguida, é feita uma apresentação breve dos acontecimentos mais significativos do

GCA até à atualidade (Crédito Agrícola, 2021d).

Page 77: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

68

Esquema 5 Evolução histórica do Grupo CA

10.1.2 Missão, Valores e Objetivos

Tal como referido anteriormente, desde 1911 que o Grupo Crédito Agrícola ajuda a

comunidade local a ultrapassar os desafios económicos da mesma. O Grupo assume que

os seus clientes são a principal razão do seu sucesso (Crédito Agrícola, 2021e).

Recentemente, os desafios ambientais, nomeadamente o combate às alterações climáticas

e consequentemente a necessidade de tornar o mundo mais sustentável, têm sido um dos

principais objetivos dos países europeus.

Neste sentido, a grande missão do Crédito Agrícola (CA) passa por ser reconhecido como

um Grupo Financeiro de referência no que diz respeito à sustentabilidade a nível nacional.

A visão é que o mesmo seja sustentável, ecológico, responsável, inovador, inclusivo,

próximo e de confiança.

Os valores cooperativos do CA são a solidez, proximidade, confiança e simplicidade.

Estas características refletem a valorização da proximidade existente entre o Grupo e os

Fonte: Elaboração Própria

Page 78: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

69

clientes, orientando a instituição para o desenvolvimento socioeconómico do país através

da atuação a nível regional.

Assim, os objetivos do Grupo passam por satisfazer as necessidades e ambições

financeiras dos Clientes, melhorar a relação existente com os mesmos através de

processos ágeis e da excelência no serviço prestado. Paralelamente, o Crédito Agrícola

tem o propósito de reforçar o desenvolvimento das comunidades locais, abordar

oportunidades de negócio com perspetiva de retorno continuado, de rentabilidade e de

reforço dos valores cooperativos, bem como promover o investimento em propostas

sustentáveis.

10.1.3 Empresas Participadas

O Grupo é constituído por várias empresas que visam oferecer uma vasta carteira de

produtos e serviços para todos os segmentos, adaptados aos mercados locais. Estas são a

CA Capital, CA Gest, CA Imóveis, CA Informática, CA Seguros, CA Serviços, CA Vida,

CA SGPS, CA Seguros e Pensões e CCCAM GI (Crédito Agrícola, 2021f)

Esquema 6 Empresas Participadas

Fonte: Elaboração Própria

Page 79: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

70

CA Capital, SCR, SA é uma sociedade de capital de risco detida integralmente pelo Grupo

CA. É a empresa responsável pelo investimento em iniciativas ligadas à atividade

principal do Grupo (como a gestão de ativos e intermediação financeira), de setores que

fazem parte do seu ecossistema alargado através de empresas de base tecnológica no setor

dos serviços financeiros, e em empresas do ramo industrial e agrícola.

A CA Gest é a sociedade Gestora de Ativos do Grupo Crédito Agrícola, tendo como foco

das suas atividades a gestão de Organismos de Investimento Coletivo e a gestão

discricionária e individualizada de carteiras por conta de terceiros.

A CA Imóveis é encarregue da concretização da estratégia imobiliária definida pelo

Grupo CA, da gestão dos imóveis e da coordenação e acompanhamento das Entidades

Gestoras de Fundos Imobiliários com património proveniente de entidades do Grupo.

Compete à CA Informática a otimização da utilização das infraestruturas de apoio às

tecnologias de informação e ao desenvolvimento dos sistemas de informação. Exerce

serviços de gestão de ativos de base tecnológica, de gestão e manutenção de instalações,

centros de dados e telecomunicações, bem como serviços de suporte à atividade das

empresas de serviços financeiros do Grupo e do Centro de Serviços Partilhados.

A CA Seguros é a Seguradora Não Vida do Grupo Crédito Agrícola, incumbida de

garantir a segurança e proteção dos clientes e associados, através da oferta de soluções

adequadas às necessidades dos mesmos.

O CA Serviços é responsável por garantir a máxima eficiência e eficácia na prestação de

serviços partilhados ao Grupo, prestando funções nas áreas dos sistemas de informação e

comunicação, apoio na dinamização do negócio e assessoria fiscal, operações de

compensação, auditoria interna e serviços operacionais de suporte à atividade de Banca

Direta e canais não presenciais.

A CA Vida é a Seguradora Vida do Grupo Crédito Agrícola que tem como intuito

comercializar aos seus clientes serviços completos e integrados de seguros vida e fundos

de pensões.

Page 80: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

71

Pertence à CA Sociedade Gestora de Participações Sociais (SGPS), S.A. a gestão de

participações sociais noutras sociedades comerciais, como forma indireta do exercício de

atividade económica do Grupo.

É da responsabilidade da CA Seguros e Pensões SGPS, S.A. a gestão de participações

sociais noutras sociedades comerciais, focada em empresas de seguros e gestoras de

fundos de pensões, tendo participações na CA Vida e CA Seguros.

Por fim, a CCCAM – Gestão de Investimentos e Consultoria, Unipessoal, Lda dedica-se

à prestação de serviços de detenção ou gestão de valores mobiliários de qualquer natureza,

incluindo unidades de participação em organismos de investimento coletivo e fundos de

qualquer natureza e participações sociais. Estes serviços são efetuados apenas a

instituições participantes no seu capital social e às instituições pertencentes ao Grupo

Crédito Agrícola.

CCAM Vale do Sousa e Baixo Tâmega

A Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Vale do Sousa e Baixo Tâmega, C.R.L. (CCAM

VSBT) é uma instituição de crédito constituída sob a forma de Cooperativa de

responsabilidade limitada, cujo objetivo passa pela concessão de crédito bem como a

prática das demais atividades inerentes à atividade bancária. Trata-se de uma Caixa

associada pertencente ao SICAM.

A CCAM VSBT foi fundada a 06 de abril de 1982. Atualmente, opera através de uma

sede, localizada no Largo da Devesa, em Penafiel, em conjunto com dezanove balcões,

distribuídos por seis concelhos. Mais concretamente, no concelho de Penafiel, estão

localizados seis balcões, nomeadamente em Penafiel, Rio de Moinhos, Paço de Sousa,

Abragão, Rio Mau e Oldrões. O concelho do Marco de Canaveses possui as agências do

Marco de Canaveses e de Penhalonga. Baião conta com dois balcões, um deles localizado

em Baião e o outro em Santa Marinha do Zêzere. Em Cinfães existem as agências de

Nespereira e Cinfães. O balcão de Castelo de Paiva é o único que integra esse concelho.

Page 81: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

72

Por fim, o concelho de Santa Maria da Feira engloba as agências de Rio Meão, Fiães,

Escapães, Lourosa, Sanguedo e Santa Maria da Feira.

10.2.1 Estrutura Organizacional

De forma a assegurar um bom desempenho, a CCAM VSBT conta com cinco

administradores e com 96 colaboradores, sendo que 64 são do sexo masculino e 32 do

sexo feminino, com uma idade média de 43 anos.

Assim, o modelo de governação adotado é constituído pelo Conselho de Administração,

pelo Conselho Fiscal e pelo Revisor Oficial de Contas.

Esquema 7 Organograma

Para além desses, a CCAM VSBT é composta por diversas áreas que asseguram a

atividade e competência dos serviços prestados pela mesma, garantindo que a instituição

alcance os resultados esperados. Entre as quais destacam-se as seguintes.

Em primeiro lugar, a área comercial é responsável pela dinamização, orientação e

acompanhamento das atividades comerciais, bem como pelo contacto direto com o

cliente.

Assembeleia Geral

Conselho de Administração

Conselho Fiscal ROC

Fonte: Elaboração Própria baseado no Relatório e Contas 2020 da CCAM VSBT

Page 82: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

73

A área das atividades de suporte garante a eficiência e eficácia das áreas de negócio; esta

engloba os departamentos do Crédito, Contabilidade e Seguros.

O departamento de Risco e Recuperação de Crédito assegura a minimização do risco de

crédito.

Importa realçar também a importância das funções de controlo como auditoria interna,

compliance, e apoio jurídico/contencioso, uma vez que zelam pelos direitos e obrigações

legais da Caixa.

Por último importa notar que são exercidas mais funções para além das mencionadas que

contribuem também para o bom funcionamento da CCAM como os responsáveis pelos

recursos humanos, serviços e tecnologias de informação, gestão de documentação, entre

outros.

10.2.2 Caracterização da Carteira de Crédito

No final do exercício de 2020, a carteira creditícia da CCAM ascendeu a 557 milhões de

euros, apurando-se um crescimento de 11,7% face ao período homólogo.

Com mais de sete mil clientes e de dez mil contratos de crédito, os clientes particulares e

empresas não financeiras representam a grande maioria da carteira, tal como pode ser

verificado no gráfico 5.

Page 83: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

74

Gráfico 5 Tipos de clientes

Assim, no segmento de clientes particulares, os principais produtos comercializados são

o crédito à habitação e o crédito ao consumo, enquanto a grande maioria dos contratos de

crédito efetuados com empresas são o crédito à atividade e o crédito ao investimento, tal

como se pode constatar no gráfio 6. Importa ainda realçar que, em termos de setor de

atividade, os setores de construção e imobiliárias representam 46% do capital em dívida

das empresas.

Gráfico 6 Produtos comercializados

38%

3%

53%

4% 2%

Particulares ENI

Empresas não financeiras Administração Pública

Instituições sem fins lucrativos Outros

Fonte: Elaboração Própria baseado em documentos internos

Fonte: Elaboração Própria baseado em documentos internos

30%

10%

26%

25%

8%

Crédito à Habitação (Particulares)

Crédito ao Consumo (Particulares)

Crédito à Atividade (Empresas)

Crédito ao Investimento (Empresas)

Outros

Page 84: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

75

No que toca ao prazo dos contratos de crédito, é importante destacar a concentração de

dois períodos. O prazo compreendido entre quinze e vinte anos, apresenta uma

concentração do crédito bruto de aproximadamente 16%, verificando-se um crescimento

de 56% face ao ano anterior. O segundo, entre um e cinco anos regista uma concentração

de 14% e um crescimento de 21% em relação ao mesmo período. Os prazos de vinte a 25

anos e quarenta a 45 anos são os que apresentam a seguinte maior contração creditícia. O

peso que estes períodos assumem é justificável pelas características dos produtos de

créditos comercializados pela CCAM, em especial pelo aumento considerável de

contratos de crédito à atividade empresas no âmbito da linha de apoio à pandemia.

No que concerne às garantias associadas aos contratos, o valor total das mesmas rondou

os 1,7 milhões de euros no final do ano de 2020. Assim, destacam-se as garantias pessoais

que representam 59% e o colateral imobiliário que corresponde a 37%.

Os gráficos 7 e 8 representam a distribuição da carteira creditícia de acordo com a notação

de risco.

O segmento de clientes particulares é analisado através do modelo Scoring

comportamental. Esta carteira de clientes, 41% apresenta um risco reduzido (nível entre

um e três), 43% está classificada como médio risco (entre os níveis quatro e seis) e o

restante como risco elevado (níveis sete e oito).

A análise de clientes empresa e ENI é efetuada de acordo com o modelo de Rating interno.

77% desta carteira está classificada como risco médio (entre o nível cinco e sete); de notar

que a exposição aos níveis de Rating três e nove é residual e aos níveis um e dois é nula.

Page 85: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

76

Gráfico 7 Distribuição da Carteira Creditícia por nível de scoring

Gráfico 8 Distribuição da Carteira Creditícia por nível de rating

A distribuição da carteira por estado de contrato encontra-se representada no gráfico infra.

Nota-se que grande parte da carteira é constituída por contratos sem incumprimento,

seguindo-se dos contratos reestruturados e dos contratos com crédito vencido.

7%

10%

24%

18%

18%

6%

5%

12%

1 2 3 4 5 6 7 8

0%

15%

31%

25%

22%

7%

0%

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Fonte: Elaboração Própria baseado em documentos internos

Fonte: Elaboração Própria baseado em documentos internos

Page 86: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

77

Gráfico 9 Distribuição da Carteira Creditícia por estado de contrato

O crédito bruto caracterizado como reestruturado representa um total de 10,5% do total

da carteira creditícia da CCAM. Registou-se um aumento de 88% deste indicador face ao

período homólogo justificado pela concessão de moratórias no âmbito da pandemia. Mais

especificamente, o crédito reestruturado por motivo de moratória representa 62% do total

referido.

No final de dezembro, os processos aprovados com apoio de moratórias ascenderam a

857, cuja exposição global corresponde a 23% da carteira de crédito.

A rúbrica de crédito vencido em 2020 registou uma diminuição de 1,3% face ao ano de

2019. O crédito vencido assume um peso de 4,2% do total do crédito bruto da carteira da

CCAM. De notar que a totalidade do crédito vencido se encontra coberto por imparidades.

Posto isto, verifica-se uma melhoria significativa na qualidade da carteira de crédito

através da redução de 0,7 pontos percentuais do rácio de NPL (Non-Performing Loans),

alcançando os 4,9%.

No que concerne às imparidades de crédito, em dezembro de 2020 ascendeu a dezanove

milhões de euros. Registou-se um aumento de 12% face a 2019 devido ao aumento da

cobertura por imparidades face ao contexto COVID e à necessidade de assegurar uma

3% 2% 2%0%

3%

9%

82%

Contratos Abatidos

Contratos com CréditoVencido há mais 90 dias

Contratos com CréditoVencido até 90 dias

Contratos de Crédito emRisco

Contratos em Recuperação

Contratos Reestruturados

Contratos semincumprimento

Fonte: Elaboração Própria baseado em documentos internos

Page 87: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

78

gestão adequada do risco de crédito de forma a diminuir eventuais efeitos negativos

futuros.

Assim, em termos segmentais os particulares registaram 5,6 milhões de euros e as

empresas 13,3 milhões de euros. Em termos de estado do contrato, as imparidades

constituídas para créditos reestruturados e sem incumprimento assumem um peso

relevante, tal como evidenciado no gráfico seguinte.

Gráfico 10 Imparidades por estado de contrato

10.2.3 Resultados obtidos no exercício de 2020

Durante o ano de 2020, o ativo líquido da CCAM Vale do Sousa e Baixo Tâmega ronda

os 756,3 milhões de euros, aumentando 10,3% face ao ano anterior. Destes, a rúbrica

relativa a créditos concedidos a clientes assume um grande peso no montante global do

ativo, seguido das rúbricas relativas a aplicações de excessos de liquidez e

disponibilidades, tal como pode ser observado no gráfico seguinte.

Contratos de Crédito em Risco

Contratos com Crédito Vencido até 90dias

Contratos com Crédito Vencido hámais 90 dias

Contratos em Recuperação

Contratos sem incumprimento

Contratos Reestruturados

Fonte: Elaboração Própria baseado em documentos internos

Page 88: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

79

Gráfico 11 Composição do Ativo

Relativamente aos Recursos Totais, a CCAM verifica um acréscimo de 11,7% face a

2019, correspondendo a aproximadamente 638,3 milhões de euros, dos quais, a grande

maioria é captada junto de clientes. A grande maioria é obtida através de depósitos a prazo

e poupanças e depósitos à ordem, tal como indicado no gráfico 12.

Gráfico 12 Composição dos Recursos Totais

Fonte: Elaboração Própria baseado no Relatório e Contas 2020 da CCAM VSBT

Fonte: Elaboração Própria baseado no Relatório e Contas 2020 da CCAM VSBT

71%

23%

3%1% 1%

1%

Crédito Concedido Aplicações de excessos de liquidez

Disponibilidades Imobilizado e participações

Imóveis para venda Outros

Fonte: Elaboração Própria baseado no Relatório e Contas 2020 da CCAM VSBT

38%

57%

0%2%

2% 2%

Depósitos Ordem Depósitos a Prazo e Poupanças

Fundos Investimento Mobiliário Seguros Capitalização

Fundos Investimento Imobiliário Outros

Page 89: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

80

De notar que o total do passivo ascendeu a cerca de 693,1 milhões de euros, ocorrendo

um aumento de 10,47% em comparação com o ano 2019. A principal rúbrica deste são

os recursos a clientes, representando 87,13% do total do passivo.

Na generalidade, os rácios indicam um bom desempenho por parte da Caixa.

O rácio de transformação indica qual a percentagem dos recursos dos clientes que são

aplicados no crédito concedido, tendo atingido 89,2%, valor que se situa próximo do nível

de alerta, tanto da CCAM como do GCA; contudo, a partir de 30/06/2020, é analisado o

rácio de transformação ajustado bruto, fixado nos 81,5%, o que indica um nível de

liquidez mais confortável.

No decorrer dos últimos anos, o rácio de eficiência tem sido o reflexo do bom

desempenho desta CCAM, alcançando, em 2020, o valor de 50,5%.

O rácio de Fundos Próprios representa 13%, evidenciando a existência de uma margem

positiva face aos requisitos dos mesmos. Importa realçar o aumento destes ao longo dos

anos, bem como o facto do valor verificado no exercício deste ano ter sido de

aproximadamente 58,7 milhões de euros.

Neste sentido, o rácio de solvabilidade mostra-se superior aos padrões exigidos, com o

valor de 13,02%, indicando estabilidade financeira a médio e longo prazo.

Os resultados líquidos do exercício rondaram os 4,5 milhões de euros, valor que

representa uma quebra de cerca de 49% do resultado verificado em 2019. Este é

justificado em função da evolução da pandemia COVID-19, uma vez que, foi necessário

assegurar uma gestão adequada da carteira de crédito bem como do risco associado, de

forma a reduzir os efeitos negativos futuros que possam surgir com a eventual

deterioração do perfil de risco dos mutuários. Para tal, a carteira de crédito foi reforçada

com maior cobertura por imparidades, cujas constituições líquidas rondaram os três

milhões de euros, valor que penalizou o resultado antes de imposto.

Page 90: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

81

No contexto pandémico, no qual se verificaram taxas Euribor negativas, o custo associado

à captação dos recursos é menor. Este facto, aliado ao aumento da carteira de crédito

provocaram um aumento da margem financeira de aproximadamente 4,5%.

O produto bancário alcançado em 2020 rondou os 18,3 milhões de euros, aumentando em

6,18% face a 2019, o que corresponde aos ganhos provenientes diretamente da atividade

bancária. Este aumento deve-se maioritariamente a resultados obtidos de operações

financeiras.

Gráfico 13 Margem Financeira, Produto Bancário e Resultado do Exercício

No exercício de 2020 a CCAM alcançou uma rendibilidade dos Capitais Próprios de

7,73% e uma rendibilidade de Ativos de 0,63%. Em ambos verifica-se uma diminuição,

de 10,37% e 0,74% respetivamente, no valor dos rácios quando comparada com 2019,

que é justificada pela quebra do resultado líquido.

0

5000000

10000000

15000000

20000000

2017 2018 2019 2020

Margem Financeira Produto Bancário Resultado do Exercício

Fonte: Elaboração Própria baseado no Relatório e Contas 2020 da CCAM VSBT

Page 91: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

82

11. Caracterização do estágio e atividades desenvolvidas

A oportunidade da realização de um estágio curricular na CCAM Vale do Sousa e Baixo

Tâmega foi importante a vários níveis. Primeiramente, a inserção no contexto real de

trabalho facilitou a articulação dos conhecimentos académicos e teóricos conhecidos até

então com a atividade prática e real da instituição. Além disso, viabilizou um contacto

próximo com o setor bancário e o conhecimento do funcionamento inerente a esta

atividade, o que sempre me despertou interesse. Simultaneamente, motivou o

desenvolvimento de competências pessoais como a capacidade crítica.

A concretização do estágio foi uma experiência enriquecedora que permitiu cumprir todos

os objetivos inerentes ao mesmo, tendo, por isso, superado todas as expectativas.

O estágio decorreu na sede desta instituição e teve a duração de seis meses, com início a

06 de outubro de 2020. O orientador do mesmo foi o administrador Fernando Castro,

responsável pela área de suporte, o qual sempre demonstrou disponibilidade para me

ajudar em todos os desafios.

Assim, o período de estágio foi repartido essencialmente pela Áreas das Atividades de

Suporte e pela Área de Risco, Acompanhamento e Recuperação de Crédito.

A Área de Suporte assegura todas as atividades de suporte transversais à atividade

bancária e é composta pelos departamentos da Contabilidade, Seguros e Crédito. Assim,

foram exercidas atividades nas secções da Contabilidade e do Crédito, que serão descritas

posteriormente.

O Departamento de Risco, Acompanhamento e Recuperação de Crédito é responsável

pela análise do risco associado às diversas operações, pelo acompanhamento e gestão da

carteira de clientes e pela recuperação de operações de crédito que se encontrem em

incumprimento. Esta área assume uma grande importância para a longevidade do sistema

bancário, motivo pelo qual me despertou interesse, desde as variáveis analisadas para a

Page 92: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

83

concessão de crédito até ao risco associado. Esta matéria desencadeou a elaboração deste

relatório.

Posto isto, no início do período de estágio foi atribuído um número de operador que

permitia o acesso aos sistemas informáticos da CCAM.

As plataformas informáticas utilizadas foram o CAIS (CA Intranet Service), o Central

(Profile Integrated Banking System) e o SIBAL. O CAIS consiste numa página interna

do Crédito Agrícola reservada a colaboradores onde constam várias informações, desde

circulares a manuais formativos, bem como diversas aplicações, tais como o Edoc, a

Ferramenta de Gestão de Garantias, e outras. O “Profile IBS” ou Central é a plataforma

informática interna que permite consultar, inserir e modificar dados de diversas

operações. Por fim, o SIBAL é um sistema integrado de todos os balcões onde é possível

efetuar transferências, consultar os diversos documentos relativos às várias operações e

aos colaboradores, entre outros. Assim, o funcionamento integral e pleno de todas estas

plataformas facilita a execução diária de tarefas, contribuindo para a produtividade de

todos os funcionários.

De seguida será feita uma descrição detalhada das atividades desenvolvidas durante o

estágio nos vários departamentos.

11.1 Departamento de Contabilidade

O Departamento de Contabilidade atualmente é composto por dois colaboradores

responsáveis pela execução de todas as atividades desta natureza, desde o lançamento e

pagamento de faturas ao encerramento de contas do exercício em questão.

Uma das primeiras tarefas desempenhadas foi o arquivo geral de documentos

contabilísticos. Esta atividade inclui, para além do arquivo, o carregamento de todas as

faturas num programa de controlo interno, no qual são identificados vários elementos

como o fornecedor, datas da fatura, de contabilização e de pagamento, o valor

correspondente e a conta totalizadora do gasto. Trata-se de uma tarefa de rotina que

Page 93: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

84

permitiu diferenciar os diversos tipos de documentação existente, como faturas,

honorários, consórcios, rendas, como também identificar os elementos principais dos

mesmos.

De seguida foi apresentado o plano de contas bancário. Neste, a maioria dos fornecedores

tem uma conta balcão personalizada de onze dígitos, sendo os dois primeiros 84; as contas

contabilísticas relativas aos diversos tipos de gasto estão categorizadas consoante a

despesa e são compostas por quinze dígitos.

Logo após, foi delegada a identificação e classificação dos documentos a contabilizar,

bem como a respetiva contabilização. Neste sentido, foi feita a contabilização de diversos

documentos, como faturas, despesas, rendas, condomínios, honorários, consórcios e

economato. O lançamento dos documentos é efetuado de acordo com o centro de custo

em questão, isto é, o respetivo balcão, pelo que, por exemplo, quando se trata de faturas

globais, o primeiro passo é dividir o gasto pelos balcões todos. Uma vez concluída essa

etapa, procede-se à contabilização do documento propriamente dita. Este processo é

efetuado no SIBAL através da operação relativa a transferências múltiplas. Neste, por

exemplo, no caso de uma fatura, é identificada a conta contabilística respetiva ao gasto

em questão, bem como o centro de custo e registado a débito o montante referente ao

gasto, por contrapartida do crédito da conta balcão do respetivo fornecedor.

Posteriormente, é efetuado o pagamento do documento em questão através do débito da

conta de fornecedores por contrapartida da conta balcão da Caixa. Por fim, todos estes

documentos digitais são anexados fisicamente ao documento em questão, carregados num

programa de controlo da contabilidade e arquivados.

Outra tarefa que foi assumida neste departamento durante todo o período de estágio foi a

gestão do correio interno. O correio interno é distribuído todos os dias e permite a troca

de documentos entre a sede, os vários balcões e a Caixa Central.

Pouco tempo depois, surgiu a oportunidade de experienciar o período do encerramento

contabilístico do exercício de 2020.

Page 94: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

85

Durante esse período, para além da contabilização dos documentos contabilísticos, foram

exercidas outras funções essencialmente nas atividades de controlo interno do

departamento. Assim, foram efetuadas conciliações de diversos tipos, desde contas de

fornecedores, contas bancárias e Automated Teller Machine (ATM). Para tal, era obtido

no SIBAL um extrato da conta em análise que era posteriormente conciliado num

documento Excel. Através das mesmas, eram identificados os valores em aberto que

exigia a respetiva regularização.

Para além destas atividades, de forma a aumentar a eficiência do departamento e a

responder a desafios decorrentes do contexto pandémico, foram realizadas outras tarefas

que se revelavam importantes como a pesquisa de documentos em arquivo, pesquisa da

informação para posterior tratamento, encerramentos de contas de clientes, estornos de

comissões bancárias, entre outros.

Relacionado com isto, houve ocasião de acompanhar de perto tarefas importantes

exercidas pelos contabilistas como apuramento e pagamento de impostos e a elaboração

do Relatório e Contas de 2020. Traduziu-se numa oportunidade desafiante e

enriquecedora.

Por fim, na sequência do exercício do fecho do ano contabilístico, cooperou-se no

processo de reporting. Após as reuniões da administração com as empresas de auditoria,

era solicitado ao departamento da Contabilidade diversa informação. Dentro dessa, para

além da procura e digitalização de faturas e outros documentos contabilísticos pedidos,

foram atribuídas outras responsabilidades entre as quais realçam-se as seguintes.

Uma das tarefas foi a conferência das folhas de caixa de todos os colaboradores bem como

as folhas de cofre de todos os balcões, cujo intuito é controlar todos os movimentos

inerentes. Para tal, as folhas eram obtidas pelo SIBAL e, para cada balcão, o saldo final

era confrontado com os saldos do balancete.

Outra atividade executada neste âmbito foi a elaboração e envio de cartas de

circularização de saldos dos clientes para os Revisores Oficiais de Contas (ROC). Através

do SIBAL e do Central foi recolhida informação dos clientes como os saldos das contas,

Page 95: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

86

valores de responsabilidades que possuíam, o capital subscrito, entre outros. Desta forma,

com a informação disponível na Carta, os ROC tinham a oportunidade de a confrontar

com a informação que detinham.

Por fim foi feita a conferência contabilística das ATM relativas ao período de 2019 e

2020. A CCAM Vale do Sousa e Baixo Tâmega dispões de várias ATM. O controlo das

mesmas é feito por períodos, que iniciam com o carregamento da ATM, ocorrem

levantamentos e terminam com o fecho do mesmo. O valor total do período tinha de ser

nulo; caso não acontecesse tinha ocorrido uma anomalia, uma vez que o saldo

contabilístico não coincidia com a contagem do montante aquando da recolha do mesmo.

A este respeito, via correio interno chegavam diariamente reportes da empresa da

segurança responsável, indicando as falhas ou sobras, tendo sido feita a regularização das

mesmas no respetivo período.

11.2. Departamento de Crédito

Este departamento é constituído por cinco colaboradores que asseguram, entre outras

funções, todo o processamento do crédito, desde a aprovação da administração até à data

de liquidação.

À semelhança do departamento anterior, a primeira tarefa assumida foi a gestão do

arquivo de todos os processos de crédito. Estes são guardados num arquivo com

condições de temperatura controladas, de forma a conservá-los durante vários anos. Esta

tarefa foi importante porque foi possível perceber quais os documentos que integravam

os processos bem como as várias modalidades de crédito praticadas. Normalmente um

dossiê de crédito contém a proposta do cliente, informações gerais dos intervenientes na

operação, informação contabilística/financeira do mesmo, entre outras.

Sem demora, foi também atribuída a responsabilidade pela validação de dossiês de conta

e de cliente, tanto de empresas como de particulares, no Edoc. O Edoc trata-se de uma

plataforma interna do CAIS que contem todos os processos de abertura de conta dos

clientes dos vários balcões.

Page 96: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

87

No caso de um cliente particular, para o dossiê de cliente ser validado, este deve conter

uma ficha na qual conste uma fotocópia do cartão de cliente, informações relativas a

morada e situação profissional (acompanhadas dos respetivos comprovativos, se

aplicável), bem como a assinatura do cliente; para além deste documento, deve conter

uma ficha de assinaturas, o Regulamento Geral sobre a proteção de dados, bem como as

condições gerais.

O processo de cliente de uma pessoa coletiva é ligeiramente mais complexo. Este deve

possuir uma ficha que identifique a empresa, os sócios e acionistas, os beneficiários

efetivos, pelo que deve ser acompanhada da Certidão Permanente Comercial bem como

do Registo Central dos Beneficiários Efetivos; adicionalmente, o dossiê deve conter a

ficha de auto certificação de estatuto (FACTA), SIOPEIA e as condições gerais.

No que diz respeito aos dossiês de conta, estes são bastante semelhantes em ambas as

situações. Devem possuir uma ficha de assinaturas, a ficha de informação normalizada e

a ficha de informação do depositante; no caso de se tratar de uma pessoa coletiva deve

possuir também a Certidão Permanente. Todos estes documentos devem ser atualizados

e estar assinados pelo cliente.

Posteriormente, foi confiada a tarefa de efetuar a verificação das garantias associadas às

operações de crédito. Esta tarefa consiste em averiguar se as mesmas se encontravam

carregadas na plataforma de Ferramentas de Gestão de Garantias (FGG) e se todos os

aspetos estavam em concordância. Esta verificação ficava registada num documento de

controlo interno anexado no processo.

As hipotecas eram as garantias mais comuns e possuíam vários aspetos a ser analisados.

Primeiramente, é confirmado se o cliente é associado, se o mesmo possui os seguros

necessários ao tipo de contrato de crédito, bem como confirmado se os pedidos diversos

existentes foram processados, se aplicável. De seguida, são verificados aspetos

relacionados com o imóvel, isto é, se a caracterização deste, o Artigo Matricial e a

Conservatória do Registo Predial estão carregados na FGG de acordo com a Certidão

Permanente e com a Caderneta Predial. A seguir, são analisados os pontos específicos

dos contratos, ou seja, é confirmado o valor garantido inicial, a data da escritura e a data

Page 97: Universidade de Aveiro 2021

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

88

do início e fim do financiamento. Finalmente, são confirmados os tópicos relacionados

com a avaliação do imóvel, mais concretamente se o valor, a data e a entidade avaliadora

que constam no relatório de avaliação correspondem ao indicado na plataforma FGG.

No caso das garantias pessoais, eram frequentes a fiança e o aval, acompanhados da

respetiva livrança. Na verificação de uma fiança, é necessário confirmar se o cliente

fiador, e cônjuge se aplicável, é indicado no contrato do financiamento, no termo de

autenticação anexo ao mesmo, se possui todos os documentos devidamente assinados e

atualizados e confrontar esses dados com os indicados na FGG. A verificação de um aval

é semelhante à da fiança, com a exceção de esses processos possuírem um pacto de

preenchimento, que deve ser igualmente confirmado. No que diz respeito à verificação

da livrança, é confirmado o número da mesma, se as assinaturas que constam na mesma

correspondem com os documentos anexos (contrato, termo de autenticação e pacto de

preenchimento) e com o indicado na FGG.

Neste contexto foram exercidas pontualmente atividades como a elaboração de termos de

autenticação e elaboração de documentos relativos a informações de garantias.

Foram também executadas tarefas relativas ao processo de gestão de sócios.

A CCAM, como cooperativa, possibilita aos seus clientes de se tornarem associados,

dentro de alguns parâmetros, através da subscrição mínima de cem títulos de capital,

correspondente ao valor de 500 € (o valor nominal de cada título ascende aos 5 €). Esta

ação possibilita várias vantagens para os mesmos entre as quais se destaca a possibilidade,

no caso da CCAM distribuir dividendos, de receção da percentagem do valor distribuído

que equivale à quota de sócio do cliente, de poder participar na Assembleia Geral de

sócio, vantagens nos financiamentos, entre outras.

Neste encadeamento, após o pedido de sócio ser aprovado pela administração, era feita a

subscrição dos títulos de capital. Este processo é feito no SIBAL, onde se especifica o

número de sócio, o número de cliente, o número de títulos e respetivo valor, bem como o

funcionário angariador do sócio. Logo após, é verificado se os sócios são titulares de

algum financiamento; em caso afirmativo, esse financiamento é alterado no Central para

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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fins agrícolas. Adicionalmente, através do número de associado, são enviados para o

respetivo balcão via correio interno os documentos referentes a esses títulos, de modo que

os colaboradores contactem o cliente para assinatura e receção dos documentos

duplicados.

A CCAM dispõe de um vasto leque de produtos creditícios, tanto a nível particular como

empresarial, desde Crédito à Habitação, Pessoal, ao Investimento, Apoio à Tesouraria,

entre outros. Neste departamento são processados todos os processos de créditos

aprovados.

Assim, surgiu também a oportunidade de acompanhar a verificação dos processos de

Crédito Habitação antes da marcação da escritura. Este tipo de contrato é direcionado

para os clientes que pretendem adquirir, construir ou realizar obras em habitação própria

permanente ou secundária ou cujo intuito seja o arrendamento, pelo que, a garantia deste

tipo de contrato é a própria habitação. Trata-se de um financiamento de longo prazo que

vincula o cliente ao pagamento mensal de uma prestação que inclui capital e juros.

Dependendo da ocorrência de obras ou da construção da habitação, o valor do

financiamento é libertado por várias tranches (através de relatórios/autos de reavaliação

do imóvel) ou de uma única tranche, caso seja diretamente para aquisição.

A verificação destes processos passa pela confirmação dos seguros, da informação do

imóvel, da disponibilização total e atualizada da informação pertinente do cliente, bem

como dos elementos da proposta como a finalidade, as taxas a aplicar e o prazo do

financiamento. Após este procedimento segue-se a fase de contratação, através da

elaboração do contrato do mesmo, o processamento, que consiste na disponibilização do

montante na conta do cliente, consoante condições aprovadas, e o respetivo

acompanhamento.

O Crédito ao Consumo é a outra modalidade com bastante adesão por parte dos clientes.

Este tipo de crédito pode ser concedido sob diversas formas, como o cartão de crédito e

descobertos bancários. Após aprovação, neste departamento é disponibilizado na conta

do cliente o montante aprovado. A dívida é também reembolsada mediante as condições

negociadas, dependendo da modalidade concedida.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

90

O Crédito de Apoio à Tesouraria é um tipo de crédito a que as empresas clientes da

CCAM recorrem com frequência. Trata-se de um financiamento de curto prazo cuja

finalidade é permitir que a empresa ultrapasse dificuldades de tesouraria. Para este tipo

de crédito existem várias modalidades associadas desde o empréstimo propriamente dito,

a Conta Corrente Caucionada, Facilidade de Descoberto, entre outras. Para opções de

médio e longo prazo, as empresas utilizam maioritariamente o Crédito ao Investimento,

que tem como intuito permitir o financiamento de projetos de investimento.

11.3. Departamento de Risco, Acompanhamento e Recuperação de Crédito

Este departamento é constituído por quatro colaboradores, responsáveis por toda a

matéria relativa aos diversos tipos de risco, desde a análise e contratação de crédito,

passando pela gestão e acompanhamento periódico do risco associado até à recuperação

de crédito em situação de incumprimento.

Nesta área inicialmente houve a chance de acompanhar todo o trabalho de um analista de

crédito. O início do processo de crédito ocorre entre o colaborador do balcão e o cliente.

Após esse contacto e a respetiva emissão do parecer do responsável do balcão, o processo

chega ao departamento de risco, onde o analista responsável emite o parecer para

posterior análise da administração.

Neste sentido, foram realizadas várias atividades como a análise de processos de crédito

à habitação, crédito pessoal, revisão de condições contratuais, atribuição de rating,

renovação de contas correntes caucionadas, contratos de descobertos negociados e de

financiamento ao investimento.

A avaliação de um crédito passa por analisar a capacidade do cliente reembolsar o capital

associado aos créditos concedidos, de acordo com o rendimento do mesmo, e tem como

finalidade a emissão de um parecer de risco, que apoia ou rejeita a proposta de crédito.

Caso o parecer seja favorável, aquando da reunião da administração, o processo de crédito

é alvo da sua análise.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

91

As primeiras atividades desenvolvidas decorreram no campo dos clientes particulares.

Um processo de crédito de particulares, quando dá entrada no departamento de análise de

risco deve vir acompanhada de toda a informação necessária, de forma a permitir ao

analista uma correta avaliação do risco da mesma. Entre as quais, é importante o cliente

disponibilizar dados financeiros dos últimos três anos (como por exemplo IRS), dos

últimos três recibos de vencimento e/ou outros comprovativos de rendimentos,

informação da Central de Responsabilidades do Crédito do Banco de Portugal. Deve

constar também a proposta (documento que contempla informação relativa aos

intervenientes e características da operação) e o anexo à mesma (documento relativo ao

risco da proposta, com a indicação da notação de scoring, indicadores financeiros, entre

outros).

No caso concreto do Crédito à Habitação, representa um compromisso de longo prazo

entre o cliente e a CCAM, pelo que a avaliação do risco associado ao mesmo é

fundamental. Como referido anteriormente, apesar de ser oferecida uma garantia real, a

capacidade efetiva de reembolso do cliente deve ser encarada como a única forma de

assegurar o cumprimento das suas obrigações.

De notar, que, para além dos documentos acima mencionados, este tipo de crédito deve

vir acompanhado dos documentos alusivos ao imóvel em questão como caderneta predial

atualizada, certidão da conservatória de registo predial, entre outros.

Posto isto, inicialmente são analisadas a experiência creditícia entre o cliente e a CCAM

ou com outra instituição bancária tendo por base a informação disponibilizada na Central

de Responsabilidades de Crédito (CRC). De seguida, são analisadas as fontes de

rendimento disponíveis do cliente, as despesas fixas e a estabilidade do emprego do

cliente.

A par disso, são analisados a taxa de esforço e a taxa DSTI (Debt Service-to-Income). A

primeira resulta do quociente entre a soma dos encargos mensais do cliente acrescido da

prestação do novo financiamento e a soma dos rendimentos líquidos do mutuário; permite

avaliar a relação entre as despesas fixas e os rendimentos obtidos do proponente, sendo

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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que o limite de risco para a mesma se situa nos 60%. A taxa DSTI resulta do quociente

entre a soma da prestação mensal de todos os empréstimos do cliente e o respetivo

rendimento líquido; permite avaliar a percentagem do rendimento do proponente que está

afeta ao pagamento de obrigações bancárias, a qual não deve ultrapassar os 50%.

Por fim, é analisada a garantia do financiamento. O analista verifica o tipo de imóvel e a

situação do mesmo, ou seja, o valor de mercado (atual e futuro). Para este tipo de crédito,

o BdP impõe limites máximos, apurado através do rácio LTV (Loan-to-Value). Este é

calculado através do quociente entre o montante do financiamento garantido pelo mesmo

imóvel e o valor mínimo entre o valor da avaliação e o preço de aquisição; excluindo

situações de aquisição de imoveis detidos pela CCAM, o valor máximo de LTV é 90%,

caso o financiamento se destine à aquisição/ construção de habitação própria permanente,

ou 80% caso o destino seja outro.

Tendo em consideração os aspetos mencionados, o analista de risco procede à elaboração

do respetivo parecer.

O crédito pessoal é uma operação de curto e médio prazo, destinado a particulares com

diversas finalidades de consumo, ao qual não é exigida uma garantia real associada, sendo

a capacidade de reembolso do proponente o único meio para assegurar o cumprimento

das respetivas obrigações.

A análise deste tipo de crédito é semelhante à análise do Crédito à habitação, com a

diferença de que não é efetuada a análise ao imóvel.

Neste seguimento, os pedidos de renegociação de condições contratuais baseiam-se no

perfil de risco do proponente. Por exemplo, numa análise a um pedido de revisão do

spread é realizada uma análise do cliente idêntica à referida anteriormente, isto é, à

capacidade financeira do cliente, à experiência de relacionamento bancário com o mesmo

e as garantias afetas à operação. No caso do cliente representar um baixo risco, o parecer

de risco é elaborado no sentido de renegociar as condições contratuais em questão.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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Para além da análise de processos de crédito enquadrados no segmento de clientes

particulares, foram desenvolvidas várias tarefas referentes a empresas.

Neste âmbito, a primeira atividade desenvolvida foi a atribuição de rating. Essa notação

de risco interna reflete a probabilidade de incumprimento de um cliente com atividade

económica (empresas e Empresários em Nome Individual). A escala interna do Grupo

oscila entre um (que descreve um perfil de risco extremamente sólido, o que se traduz

num risco excelente) e nove (refletindo um perfil de risco extremamente vulnerável,

representando um risco muito elevado para a entidade); contempla também o nível zero

que é aplicado em situações de incumprimento, isto é, em situações com crédito vencido

há mais de noventa dias.

Posto isto, esta tarefa é desenvolvida através da plataforma interna “Processos

Documentais – eDoc”, disponibilizada no CAIS. A atribuição do rating tem por base um

questionário no qual constam quatro categorias: negócio, gestão, económico-financeira e

solvência e responsabilidades; cada uma delas possui vários pontos nos quais o analista

enquadra o cliente.

A categoria referente ao negócio abrange as oportunidades e ameaças do mercado onde a

empresa atua, sendo analisados aspetos como a dimensão e tendência do mercado, a

evolução prevista da empresa no mesmo, a carteira de clientes e a quota de mercado da

empresa. Para cada parâmetro alvo de avaliação, a empresa deve ser enquadrada nas

classificações de débil, fraco, satisfatório, forte, excelente ou não atribuído.

A avaliação da gestão considera os pontos fortes e fracos da organização interna da

empresa. Para tal considera fatores como a qualidade de gestão, a experiência da empresa

no setor de atividade, o grau de concentração dos fornecedores e a adequação da

capacidade instalada. O enquadramento da classificação dos diversos pontos coincide

com a utilizada na categoria do negócio, descrita anteriormente.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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Relativamente ao campo económico-financeiro, é feita uma análise de indicadores mais

relevantes como a autonomia financeira19, solvabilidade20, o Net Debt to EBITDA21, a

liquidez geral22, a evolução do volume de negócios23, a rendibilidade dos ativos24, a

cobertura de encargos financeiros25, entre outros. O valor correspondente aos diversos

rácios é enquadrado em reduzida, razoável, elevada ou não atribuído.

Por último, a avaliação da solvência e responsabilidades considera a existência de

património livre de ónus, o historial da relação comercial entre o cliente e o Grupo Crédito

Agrícola, o historial de informação externa e eventuais processos jurídicos em curso.

Cada um destes aspetos é enquadrado em reduzida, razoável, elevada ou não atribuído.

Após o preenchimento de todo questionário, o sistema atribui automaticamente a notação

de rating associado ao cliente. Esta notação deve ser conjugada com a avaliação da

operação de crédito associada.

Nesta sequência foram analisadas várias propostas de crédito de empresas.

Estes processos devem estar acompanhados de informação diversa como a certidão

permanente da empresa, respetivas demonstrações financeiras dos últimos três anos,

19 O rácio de autonomia financeira quantifica a relação entre o capital próprio e o ativo de uma empresa,

expressando qual a percentagem do ativo que é financiada pelo capital próprio.

20 O rácio de solvabilidade analisa a capacidade da empresa para garantir a liquidação do passivo com

recurso ao capital próprio.

21 EBITDA corresponde ao resultado antes de juros, depreciações e amortizações. O rácio Net Debt to

EBITDA indica o número de anos que uma empresa precisava para pagar as suas obrigações, pressupondo

que a dívida líquida e o EBITDA se mantêm constantes.

22 O rácio de liquidez geral traduz a capacidade da empresa satisfazer os compromissos de curto prazo,

comparando o ativo de curto prazo com o passivo de igual horizonte temporal.

23 O volume de negócios é medido através das rúbricas vendas e prestações de serviços. A evolução do

mesmo permite aferir acerca do crescimento da empresa.

24 A rendibilidade dos ativos resulta do quociente entre o resultado líquido e o ativo e quantifica a eficácia

das medidas de gestão na utilização dos ativos.

25 O rácio de cobertura dos encargos financeiros avalia a capacidade da empresa suportar as suas obrigações

de natureza financeira através do seu ciclo de exploração.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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certidões de não dívidas às finanças e segurança social, entre outros. Adicionalmente,

deve estar disponível a notação de rating atribuída previamente bem como a proposta

associada à operação.

Primeiramente, uma Conta Corrente Caucionada (CCC) é uma modalidade de

financiamento de curto prazo a que as empresas podem recorrer como forma de apoio a

necessidades pontuais ou curto prazo de tesouraria. A operacionalização da CCC resulta

da movimentação entre essa conta corrente e a conta à ordem associada, de acordo com

as condições definidas. Quando o montante autorizado é utilizado verifica-se um débito

na conta corrente por contrapartida do crédito da conta à ordem, enquanto nas

amortizações de capital se verifica o oposto. A particularidade deste produto bancário é

o facto do mesmo ser utilizado em sistema revolving. Mais especificamente, é atribuído

um limite de crédito por um prazo determinado que satisfaça as necessidades do cliente.

Este prazo deve ser inicialmente definido, podendo variar entre prazo fixo sem

possibilidade de negociação, um prazo fixo com renovação automática ou ainda um prazo

fixo com possibilidade de renovação a pedido do proponente com a aprovação da entidade

mutuante. O reembolso do montante do financiamento é realizado até à data de termo do

contrato.

Uma vez explicado o conceito, as extinções das CCC ocorrem através da renegociação

ou da denúncia atempada dos contratos em vigor, motivo pelo qual o controlo destes

processos deve ser regular, de forma a evitar o risco associado.

O primeiro aspeto alvo de atenção no processo de análise da renegociação das CCC é a

utilização da mesma, isto é, se o cliente utiliza a conta no seu limite (ou próximo) máximo

de forma consistente e sem amortizações de capital; caso tal se verifique trata-se de um

sinal de risco do cliente ou da desadequação do produto às necessidades do mesmo. De

seguida através da CRC verifica-se a experiência creditícia do cliente com a banca, mais

concretamente o nível de endividamento bancário ou se está classificado com

dificuldades financeiras. Seguidamente, é elaborada uma análise financeira tendo por

base a informação contabilista recente da empresa, nomeadamente balanço, balancete e

demonstração de resultados.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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Esses elementos, em conjunto com a notação de rating atribuída previamente ao cliente,

devem dotar o analista de uma opinião conclusiva para emissão do parecer de risco.

Com condições semelhantes à modalidade anteriormente descrita, o descoberto

negociado é um contrato no qual a entidade mutuante permite a existência de um saldo

devedor na conta à ordem do cliente, durante um curto período até ao limite acordado

entre as partes, com o intuito de apoiar necessidades de tesouraria pontuais.

Contudo, importa realçar que esta modalidade resulta de um contrato estabelecido, ao

contrário da simples ultrapassagem de crédito, que não permite uma prévia análise de

risco e como tal, não é aconselhado.

A análise de risco deste tipo de produtos passa igualmente pelas mesmas etapas. Mais

concretamente é feita uma verificação de situações de incumprimento em alguma

instituição financeira, de irregularidades na movimentação de contas, bem como se existe

com frequência um saldo devedor na conta à ordem ou a utilização do limite do

descoberto negociado. O conjunto destas informações possibilitam a elaboração do

parecer de risco para contratos de descobertos autorizados.

Outra tarefa desempenhada foi na análise de processos de crédito ao investimento. Esta

modalidade de financiamento bancário é destinada ao financiamento de projetos de

investimento das empresas, como construção de instalações próprias, aquisição de

edifícios ou de equipamentos utilizados no respetivo ciclo produtivo.

Este tipo de financiamento exige um especial cuidado da parte dos analistas tendo em

conta as características das empresas, a complexidade do investimento e os montantes

envolvidos. Por este motivo, é exigido um plano do projeto detalhado bem como garantias

associadas, normalmente a garantia real e o aval dos responsáveis pela empresa. O prazo

da operação está associado ao horizonte temporal no qual decorre o projeto e à perspetiva

existente sobre a capacidade de reembolso. Relativamente ao montante de financiamento,

deve ser definido o período da respetiva utilização, o período de reembolso e todas as

condições contratuais associadas.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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Posto isto, a análise deste tipo de processos implica, para além do conhecimento do rating

da empresa cliente, o conhecimento profundo da mesma bem como do proponente. É

importante analisar o tipo de atividade económica, as características inerentes ao mercado

onde atua, as dimensões da empresa, a competência dos órgãos de gestão, a situação fiscal

da empresa, entre outros fatores.

Inicialmente é feita uma análise financeira da empresa, que tem em conta vários aspetos.

Neste ponto analisa-se a evolução do volume de negócios e do resultado líquido bem

como alguns rácios. Os que assumem maior destaque são a autonomia financeira da

empresa (deverá ser superior a 30%), a solvabilidade (é aceitável a partir dos 50%), o Net

Debt to EBITDA (idealmente será inferior a cinco anos), a tesouraria líquida (na qual o

fundo de maneio deve ser positivo e superior às respetivas necessidades) e o prazo médio

de pagamentos e de recebimentos (sendo que o primeiro deverá ser superior ao segundo).

De seguida é feita uma análise do ponto de vista comercial da empresa, isto é, o mercado

onde atua e a perspetiva de evolução, os produtos da empresa, os concorrentes bem como

uma análise interna (pontos fortes e fracos) e externa (oportunidades e ameaças). Neste

seguimento, é enquadrada a viabilidade do projeto de investimento em questão. Esta

análise permite que o analista tenha uma perspetiva futura para o setor da atividade da

empresa.

Para terminar, é realizada uma avaliação individual dos intervenientes no processo. Pode-

se tratar de particulares, e nesse caso a avaliação individual ocorre da mesma forma que

a avaliação para créditos particulares, anteriormente descrita, ou de empresas, ocorrendo

a análise da mesma, como já referido também.

Após esta análise, é possível inferir acerca do grau de risco da operação, pelo que é

emitido o parecer, onde são especificados os vários aspetos analisados, que permitiram

ao analista formar uma opinião favorável ou desfavorável acerca da mesma.

Importa ainda realçar que este tipo de créditos pode ser feito via linhas de crédito

protocoladas. Por outras palavras, trata-se de uma modalidade de financiamento regulada

por protocolos estabelecidos entre a Caixa Central e outras entidades que têm a finalidade

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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de apoiar o desenvolvimento e o investimento da atividade da empresa e de pequenos

negócios. À data de realização do estágio, estava em vigor a Linha de Apoio à Economia

COVID-19 – MPE, disponibilizada pela Sociedade de Garantia Mútua Norgarante, S.A.

Esta linha de crédito protocolado em específico destina-se ao apoio da recuperação de

micro e pequenas empresas que tenham sido afetadas pela pandemia, sendo que o acesso

à mesma está condicionado a vários requisitos.

Finalmente, neste departamento foi ainda possível presenciar, de uma forma geral, o

acompanhamento de clientes e de operações de crédito. Esta etapa visa identificar

atempadamente clientes em situação problemática e a degradação da qualidade da carteira

de crédito.

Logo após a contratação, inicia-se uma relação de crédito com o cliente, pelo que, a partir

desse momento, tanto o cliente como a operação em si, são alvo de um acompanhamento

constante. A nível particular, o acompanhamento é genérico, ou seja, os créditos são

avaliados como um todo tendo por base indicadores financeiros e determinados índices

de referência. Pelo contrário, a nível empresarial são, salvo exceções, acompanhadas

carteiras de média dimensão, onde é privilegiado o contacto direto com o cliente de forma

a esclarecer a situação atual e a perspetiva futura da empresa.

Nesta sequência, são elaborados relatórios diversos como o relatório de maiores

exposições creditícias da CCAM e de acompanhamento trimestral interno. O último

contempla a análise do perfil de risco, risco de crédito, de liquidez e de taxa de juro, bem

como da solvabilidade. Trata-se de um documento bastante abrangente que permite a

monitorização constante dos vários riscos, de forma a assegurar uma gestão segura dos

mesmos. Por exemplo, no capítulo referente ao risco de crédito são analisados diversos

pontos cruciais desde a caracterização da carteira de crédito, a notação de risco bem como

as imparidades constituídas por segmento até à recuperação de crédito.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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Capítulo IV ANÁLISE CRÍTICA E CONCLUSÃO

12. Análise crítica das tarefas realizadas

13. Conclusão

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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12. Análise crítica das tarefas realizadas

Estando na reta final para a conclusão do Mestrado em Finanças, a realização do estágio

curricular permitiu articular todos os conhecimentos adquiridos previamente nas restantes

unidades curriculares com a atividade prática num contexto de trabalho real. Neste

sentido, o mesmo foi uma mais-valia, não só para a transição entre a vida académica e

profissional, como também para o desenvolvimento de competências transversais.

A oportunidade de estagiar na CCAM VSBT foi uma experiência gratificante por vários

fatores. Primeiramente, a familiarização com o funcionamento interno do sistema

financeiro é um ponto a destacar. Em segundo lugar, devido à possibilidade de integração

numa equipa de profissionais exemplares que, desde o início depositaram em mim

confiança e me ajudaram a ultrapassar todos os desafios.

Assim, com o apoio de todos os profissionais, e, em especial do coordenador de estágio,

foi possível cumprir todos os objetivos inicialmente definidos bem como os desafios que

foram surgindo.

A passagem pelo departamento de contabilidade permitiu adquirir conhecimento da

realidade prática da contabilidade bancária junto dos responsáveis pelo mesmo. A

responsabilização pelas várias tarefas aliada ao constante acompanhamento, propiciaram

a execução autónoma de todas as atividades. Foi uma experiência na qual o cumprimento

dos prazos definidos para os vários trabalhos bem como a natureza desafiante dos mesmos

aumentou o empenho, o interesse e a produtividade de todos os envolventes.

A área do crédito sempre despertou curiosidade, pelo que, a oportunidade de exercer

funções nesse departamento foi bastante motivadora. Facilitou a perceção clara das etapas

de um processo de crédito e quais as tarefas desenvolvidas desde o momento da aprovação

da administração até à liquidação do mesmo. Trata-se de uma área fundamental à

atividade bancária que exige a máxima concentração e dedicação de todos os

colaboradores envolvidos.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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A possibilidade da realização do estágio na área de Risco, Acompanhamento e

Recuperação de Crédito foi uma chance excelente uma vez que viabilizou o

acompanhamento e a participação nas tarefas do quotidiano destes profissionais. Foi

crucial para adquirir uma noção real da importância e do impacto que a gestão do risco

possui no bom funcionamento da CCAM, o que serviu de suporte à redação e

desenvolvimento do presente relatório de estágio.

O facto de ter acompanhado a realidade destes três departamentos bem como o dia-a-dia

de todos os colaboradores da sede administrativa facilitou a perceção do funcionamento

geral de back office de uma instituição bancária. Para além disso, foi adquirida uma visão

abrangente da gestão do risco de crédito, foco deste trabalho.

Durante o período de estágio foram sentidas várias dificuldades. A primeira prendeu-se

com a familiarização dos sistemas informáticos, devido à abrangência dos mesmos. Além

desta, a aplicação de vários conceitos contabilísticos foi também desafiante tendo em

conta o grau de exigência desta instituição. Todavia, a integração na equipa foi

fundamental, uma vez que foi sempre sentido o apoio de todos os colaboradores, o que

ajudou a superar todos os obstáculos. Nesta perspetiva, o empenho para facilitar o

quotidiano dos mesmos foi grande. A contribuição para a entidade acolhedora passou não

só pela responsabilização como também pela melhoria das tarefas de rotina.

A principal limitação a apontar prende-se com a realização do estágio em ambiente de

pandemia, o que acarretou não só afastamento social como a obrigatoriedade de

teletrabalho rotativo dos vários colaboradores. Mais concretamente, o teletrabalho dos

profissionais envolvidos nas atividades realizadas durante o estágio dificultou a

comunicação e a execução de alguns trabalhos mais complexos. Contudo, para além das

consequências negativas, as estratégias implementadas para gerir as limitações em

tempos de pandemia, foi também uma aprendizagem importante.

Assim, as elevadas expectativas face a este estágio foram totalmente superadas e os

objetivos formativos completamente alcançados.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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13. Conclusão

O crédito é um elemento essencial e dinamizador da economia de um país, uma vez que

facilita o financiamento das empresas e aumenta o poder de compra dos consumidores.

Neste sentido, a atitude das instituições de crédito perante novas propostas é crucial.

As entidades financeiras têm de garantir uma gestão eficaz e prudente da carteira de

crédito devido ao impacto que a mesma alcança não só nos resultados do exercício da

mesma, como também na estabilidade económica. Para além da otimização da

rendibilidade da carteira, os responsáveis devem atender a um conjunto de fatores tendo

em vista a diminuição do incumprimento dos clientes.

De facto, a gestão do risco de crédito envolve uma análise cuidada de várias vertentes.

Engloba aspetos como a análise do risco associado ao cliente e à operação, técnicas

sofisticadas de mensuração e avaliação do risco de crédito específico, o acompanhamento

e monitorização da carteira de clientes, a constituição/reversão de imparidades e a

recuperação de crédito. Num cenário de crise pandémica mundial, as instituições

creditícias devem reforçar as medidas de gestão de risco de crédito, de forma a mitigar os

efeitos adversos que daí resultem.

Pouco tempo após o início da pandemia, o governo português tomou medidas de

confinamento e o Lay-off simplificado que tiverem impacto no rendimento das empresas

e das famílias. Para combater os efeitos negativos, foi possível a adesão de clientes a

moratórias públicas, de acordo com o tipo de contrato de crédito e com o tipo de

modalidade, adiando o pagamento das suas responsabilidades perante as entidades

financeiras.

No futuro, será interessante averiguar os impactos da pandemia no risco de

incumprimento dos clientes da CCAM VSBT. Não houve condições de se efetuar um

estudo do referido impacto devido às medidas adotadas pelo governo português se

encontrarem atualmente em vigor. Por este motivo, a mensuração do incumprimento dos

clientes só será possível aquando da suspensão das mesmas.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

103

Contudo, é possível verificar a presença do COVID-19 à data atual em vários aspetos,

tanto em fatores de crescimento económico como no resultado do exercício da CCAM

VSBT. Seria interessante também efetuar uma análise financeira comparativa entre a

entidade acolhedora e outras CCAM, de forma a perceber se os indicadores apontavam

no mesmo sentido e com o mesmo grau de intensidade.

A par da pandemia, outra sugestão de trabalho futuro seria analisar o impacto e o resultado

alcançado pelo Grupo CA com a implementação da estratégia digital, centrada no cliente

e na sustentabilidade.

Assim, apesar de estamos perante um futuro difícil, repleto de incertezas, é essencial o

reforço das medidas de gestão de risco adotadas pelas instituições de crédito, de forma

que salvaguardem a estabilidade financeira do país.

Em suma, a elaboração deste relatório permitiu conciliar todas as mais-valias adquiridas

durante o período de estágio com a revisão de literatura efetuada. Possibilitou a agregação

de todos os fatores necessários para atuar no mercado de crédito e lidar com o risco

inerente de uma forma ativa e eficaz. Por este motivo, considera-se que o mesmo foi uma

componente essencial para a finalização do Mestrado em Finanças.

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O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

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