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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PAULA RENATA PANTOJA DE OLIVEIRA ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR E CAPTAÇÃO DE RECURSOS: UM ESTUDO EM ONGs DE DEFESA DE DIREITOS DIANTE DOS NOVOS MODELOS DE COOPERÇÃO BELÉM-PA 2012

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

PAULA RENATA PANTOJA DE OLIVEIRA

ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR E CAPTAÇÃO DE RECURSOS:

UM ESTUDO EM ONGs DE DEFESA DE DIREITOS DIANTE

DOS NOVOS MODELOS DE COOPERÇÃO

BELÉM-PA

2012

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR E CAPTAÇÃO DE RECURSOS: UM

ESTUDO EM ONGs DE DEFESA DE DIREITOS DIANTE

DOS NOVOS MODELOS DE COOPERÇÃO

Dissertação apresentada como ao Programa de

Mestrado em Administração da Universidade da

Amazônia, como requisito parcial para à

obtenção do Título de Mestre.

Orientador P.DSc. Fabricio Quadros Borges

BELÉM-PA

2012

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PAULA RENATA PANTOJA DE OLIVEIRA

ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR E CAPTAÇÃO DE RECURSOS: UM

ESTUDO EM ONGs DE DEFESA DE DIREITOS DIANTE

DOS NOVOS MODELOS DE COOPERÇÃO

Dissertação apresentada como ao Programa de

Mestrado em Administração da Universidade da

Amazônia, como requisito parcial para à

obtenção do Título de Mestre.

Orientador P.DSc. Fabricio Quadros Borges

Banca Examinadora

_______________________________

Prof. Pós-DSc. Fabrício Quadros Borges

Orientador / UNAMA

________________________________

Prof. DSc. Hélio Raymundo Ferreira Filho

Examinador Interno / UNAMA

____________________________________

Prof. DSc. Marco Antonio Lima

Examinador Interno / UNAMA

____________________________________

Prof. DSc. Norma Ely Beltrão

Examinadora Externa / UEPA

BELÉM-PA

2012

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AGRADECIMENTOS

Honra, glória e louvor sejam dados a Deus por essa vitória! Certamente esse

momento não aconteceria sem permissão Divina. Hoje eu sei que as vitórias são grandes

e o agir de Deus é esplêndido sobre a minha vida! Obrigada Pai!

À igreja Assembleia de Deus pelo grande incentivo e fortalecimento de fé que

recebi ao longo desses dois anos através de orações e pregações.

À minha família, em especial Dedê, mamãe, Smith e Armando, preciso agradecer

pelo lindo laço de união e respeito que existe entre nós.

À minha MÃE, por toda luta em favor de nós, por todas as vezes em que segurou

a minha mão quando imaginei estar perdendo a vida, por não ter desistido de mim, por

me fazer forte diante dos obstáculos da vida, pelos ensinamentos, pelos valores e

princípios, pelo caráter, por me fazer crer nas promessas de Deus e principalmente por

plantar amor entre nossa família.

À minha IRMÃE (Dedê) pelo grande cuidado, cumplicidade, amor, exemplo

inigualável e apoio. Ao meu cunhado Smith por ter criado, juntamente à minha irmã, um

casal cheio da presença de Deus, digno de respeito e admiração. Por isso, meu

agradecimento a você meu cunhado, por ter adentrado à vida de minha família de um

jeito maravilhoso, cuidando não somente de minha irmã e de meu sobrinho, mas de mim

e de minha mãe também. Obrigada pelo apoio moral, espiritual e financeiro que

demandaram a esse sonho, um sonho meu....Mas que se tornou nosso!

Ao Armando, meu sobrinho lindo e amado, agradeço por ter vindo ao mundo

para preencher nossas vidas com alegria e amor divino.

À família Pantoja, eu agradeço pelos exemplos de fé, lutas e esperança. Essa

vitória também é de vocês, uma família que veio do muito pouco e hoje é muito graças ao

nosso Pai e à nossa persistência.

À família Oliveira, agradeço pelo carinho, admiração e por acreditarem em mim e

em minha irmã de uma forma única. Vó Catarina, obrigada por todas as orações!

Aos meus tios Murilo e Regina... Pela inigualável ajuda, porque achei em vocês

muito mais do que apoio financeiro, achei cumplicidade, achei respeito, atenção e a

certeza de que isso era possível. Obrigada imensamente por tudo, essa vitória é também

de vocês!

À Tia Do Carmo pelo irrestrito apoio financeiro e fortalecimento de fé ao longo

desses anos.

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À minha madrinha, Silvana, pelo grande cuidado, atenção e por todas as bonecas

que ganho até hoje de você. Tenho muito orgulho em dividir isso com você.

Aos inigualáveis amigos Simone Breeman, Juliana Cardoso, Daniel Martins,

André Guedes, Cléia Carmo, Danielle Lima e Rita Teixeira... Preciso dizer que vocês

foram imprescindíveis nesse momento e que sou muito feliz por tê-los em minha vida.

Ao Sávio Negrão, por toda atenção, carinho e cuidado.

À turma do mestrado da Unama, é necessário dizer que aprendi demais com

vocês e que os levarei eternamente em meu coração. Obrigada pelas risadas, pela alegria,

pelo aprendizado e pelo companheirismo da turma.

Aos professores do mestrado agradeço grandemente pela dedicação,

ensinamentos e constante confiança em nosso trabalho. Esse é um momento de alegria

pra mim e devo muito a vocês também.

Ao meu orientador FABRÍCIO BORGES é necessário reafirmar minha imensa

gratidão e alegria por ter tido a oportunidade de aprender tanto. Sua força e apoio me

foram de grande importância nos momentos difíceis, quando já não havia entusiasmo e

no pensamento apenas a desistência, foi o senhor quem acreditou em mim e me conduziu

em direção a esse final. Obrigada pelo respeito, pela forma de trabalho e pelo exemplo

de profissional. Serei eternamente grata!

À Sodireitos agradeço por me receber de braços abertos e me permitir crescer

enquanto profissional e ser humano. Em especial aos queridos Álvaro e Mileny Mattos,

agradeço por abrirem as portas para mim, por acreditarem em meu potencial e por me

mostrarem que é possível realizar sonhos!

Muito obrigada às Organizações que dedicaram tempo à minha pesquisa e que

abriram as portas de suas instituições para mim. Com certeza esse trabalho não seria

concluído sem o apoio de vocês. Parabéns pelos lindos trabalhos que desenvolvem na

sociedade e por fortalecerem ainda mais meu amor ao meu trabalho.

Por fim, peço desculpa pelas minhas ausências e agradeço a todos pelas

oportunidades de aprendizado e evolução!

Graça e Paz!

Paula

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Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governam a

minha vida: o desejo imenso de amar, a procura pelo

conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da

humanidade (Bertrand Russel).

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RESUMO

Este estudo objetiva analisar as estratégias de captação de recursos que estão sendo

adotadas por organizações não governamentais de defesa de direitos humanos

considerando os desafios apresentados pelos novos modelos de cooperação nacional e

internacional. A metodologia de pesquisa adquiriu caráter qualitativo através de pesquisa

de campo junto a oito ONGs localizadas nas cidades de Belém, Salvador e Recife.

Baseada em análises documentais e entrevistas com gestores e captadores de recursos

destas organizações, a investigação buscou a identificação e a avaliação das estratégias de

captação de recursos utilizadas, observando suas dificuldades e desafios, assim como, a

identificação de fatores determinantes que interferem na seleção e captação desses

recursos. Os conceitos teóricos que embasam a pesquisa são: terceiro setor, ONGs, novos

modelos de cooperação nacional e internacional e captação de recursos nas ONGs de

direitos humanos. O estudo demonstrou que a captação de recursos nas ONGs analisadas

revela-se altamente dependente dos recursos provenientes de doações internacionais, o

que sugere instabilidade e fragilidade na sustentabilidade destas entidades, pelo fato de

não haver maior diversificação de suas fontes de recursos. Verificou-se ainda que estas

organizações precisam se desenvolver de forma mais efetiva quanto às questões de

reestruturação, downsizing e profissionalização, uma vez que captar recursos no novo

cenário de cooperação nacional e internacional exige mais profissionalização das áreas de

gestão dessas organizações.

Palavras-chave: Terceiro setor. ONG. Captação de recursos. Modelos de cooperação.

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ABSTRACT

The current study aims to analyze the strategies regarding to fund-raising which are being

adopted by non-governamental organizations of human rights issues considering the

challenges presented by the new model of both national and international cooperation.

The scientific methodology has acquired qualitative semblance through field research

among eight NGOs located in the following cities Belém, Salvador and Recife. Based on

documental analysis and interviews with managers and fundraisers from those

organizations, the investigation sought the identification and the evaluation of the used

fund-raising strategies, observing its difficulties and challenges as well the identification

of determinant factors which interfer into selection and captation these resources. The

theoretical concepts underlying the research are: third sector, NGOs, new models of

national and international cooperation and fundraising in human rights NGOs. The study

showed that the fundraising in the analyzed NGOs reveal itself highly dependent on

funding from international donations, what suggests instability and fragility in the

sustainability of their bodies, because there is no greater diversification in its funding

sources. It was also found that these organizations need to develop themselves more

effectively on issues about restructuring, downsizing and professionalization, once

fundraise, in the new scenario of both national and international cooperation, requires

further professionalization of management areas from these organizations.

Keywords: Third sector. NGO. Fundraising. Models of cooperation.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: ONGs que atuam na defesa de direitos em Belém, Salvador e Recife... 19

Tabela 2: Quadro descritivo dos novos modelos de cooperação............................ 34

Tabela 3: Descrição de projetos aprovados em 2011............................................. 60

Tabela 4: Fontes de recursos recebidos no ano de 2011........................................ 66

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LISTA DE SIGLAS

ONG: Organizações não governamentais

OSCs: Organizações da Sociedade Civil

ABONG: Associação Brasileira de ONGs

ONU: Organização das Nações Unidas

CLT: Consolidação das Leis Trabalhistas

BIRD: Banco Internacional de reconstrução e Desenvolvimento

HIV/Aids: Vírus da Imunodeficiência humana/Síndrome da Imunodeficiência

adquirida

FNDE: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

MMA: Ministério do Meio Ambiente

PNDH: Plano Nacional de Direitos Humanos

BNES: Banco Nacional de Desenvolvimento

MOC: Movimento de Organização Comunitária

CEDENPA: Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará

ICNPO: Classificação Internacional de Organizações não lucrativas

SICONV: Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse

CEP: Código de Endereçamento Postal

SODIREITOS: Sociedade de Defesa dos Direitos Sexuais na Amazônia

ICCO: Organização Intereclesiástica De Cooperação Para o Desenvolvimento

UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância

SPE: Saúde e Prevenção nas Escolas

SPM: Secretaria de Políticas para as Mulheres

MJ: Ministério da Justiça

SESPA: Secretaria Estadual de Saúde

SEJUDH: Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Pará

MOPROM: Movimento de Promoção à Mulher

FIA: Fundo da Infância e Adolescência

PETROBRAS: Petróleo Brasileiro S/A

SEMEC: Secretaria Municipal de Educação

GMB: Grupo de Mulheres Brasileiras

GAJOP: Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares

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PROVITA: Programa de Apoio e Proteção a Testemunhas, vítimas e Familiares de

Vítimas de Violência

GMM: Grupo Mulher Maravilha

CTPS: Carteira de Trabalho e Previdência Social

OSCIPs: Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

CRIA: Centro de Referencia Integral de Adolescentes

PMAS: Sistema de Planejamento, Monitoramento, Avaliação e Sistematização

ICMS: Imposto sobre circulação de mercadorias e prestação de serviços

CHAME: Centro Humanitário de Apoio a Mulher

NEIM: Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher

FAPEX: Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Ciclo das quatro ferramentas gerenciais.................................................... 32

Figura 2: Eixos de atuação do CEDENPA............................................................... 48

Figura 3: Eixos de atuação da Sodireitos.................................................................. 56

Figura 4: Montante de Recursos Financeiros recebidos em 2010 e 2011................. 59

Figura 5: Eixos de atuação do MOPROM................................................................ 62

Figura 6: Atividades principais da organização........................................................ 63

Figura7:Porcentagem de Recursos Financeiros recebidos em 2011......................... 66

Figura 8: Comparativo de Recursos Financeiros recebidos nos exercícios de 2010

e 2011........................................................................................................................

67

Figura 9: Eixos de atuação do GMB......................................................................... 70

Figura 10: Apresentação dos Recursos recebidos em 2010-2011 e a diferença

entre os exercícios.....................................................................................................

72

Figura 11: Eixos de atuação do Gajop...................................................................... 76

Figura 12: Apresentação dos Recursos recebidos em 2011 através da cooperação

nacional e internacional............................................................................................

78

Figura 13: Eixos de atuação do GMM...................................................................... 80

Figura 14: Organograma do GMM........................................................................... 81

Figura 15: Fluxo de planejamento desenvolvido dentro do GMM........................... 82

Figura 16: Apresentação do Montante de Recursos recebidos em 2010 e 2011

pelo GMM.................................................................................................................

84

Figura 17: Eixos de atuação do CRIA...................................................................... 86

Figura 18: Organograma do CRIA........................................................................... 86

Figura 19: Apresentação do Montante de Recursos recebidos em 2010 e 2011

pelo CRIA.................................................................................................................

89

Figura 20: Eixos de atuação do Chame.................................................................... 91

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 13

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................... 18

2.1. Local da pesquisa ............................................................................................. 18

2.2. Técnicas de pesquisa ........................................................................................ 20

3. FUNDAMENTAÇÃO DE BASE TEÓRICA ..................................................... 23

3.1. Origem e abordagem conceitual do Terceiro Setor ........................................... 23

3.2. Contexto e importância do papel das ONGs .................................................... 25

3.3. Novos modelos de cooperação nacional e internacional .................................. 28

3.4. Captação de recursos nas ONGs de direitos humanos ..................................... 38

4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS ..................................... 47

4.1. Centro de Estudo e Defesa do Negro do Pará ....................................................... 47

4.2. Sociedade de Defesa dos Direitos Sexuais na Amazônia ..................................... 55

4.3. Movimento de Promoção à Mulher ....................................................................... 62

4.4. Grupo de Mulheres Brasileiras .............................................................................. 69

4.5. Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares ................................ 75

4.6. Grupo Mulher Maravilha ...................................................................................... 79

4.7. Centro de Referência Integral de Adolescentes .................................................... 85

4.8. Centro Humanitário de Apoio à Mulher ............................................................... 90

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 96

Referências ............................................................................................................... 102

Anexos ...................................................................................................................... 108

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1. INTRODUÇÃO

As Organizações não governamentais - ONGs têm atuado de forma crescente

na sociedade brasileira desde a década de 60, quando começaram a surgir os

movimentos sociais com o objetivo de resolver as lacunas deixadas pelo primeiro

(Estado) e segundo setor (privado), trazendo à tona um espaço em que há participação

e experimentação de outras formas de pensar e agir acerca da realidade social. E, a

partir da década de 80, essas organizações ganham notoriedade como espaços de

participação cidadã devido às suas articulações envolvendo recursos e experiências

acerca da sociedade (IOSCHPE, 1997).

O Brasil tem vivenciado, nos últimos anos, a expansão e o fortalecimento do

Terceiro Setor devido às organizações que o compõe, na medida em que estas buscam

dar continuidade as atividades tradicionais de filantropia e de caridade e conseguiram

expandir essa lógica para diversos segmentos como a área da saúde, educação, bem

estar social e defesa de direitos, uma vez que buscaram incorporar em suas

organizações os conceitos de cidadania para que concretizassem sua responsabilidade

e compromisso com a melhoria da vida da comunidade brasileira.

Estudo realizado pela Associação Brasileira de ONGs - ABONG (2010)

demonstra que atualmente existem no país cerca de 540 mil organizações, às quais se

somam as organizações não governamentais (ONGs), fundações, associações civis e

unidades assistenciais. Todavia, acredita-se que o número de organizações seja ainda

maior, pois não foram consideradas as instituições religiosas, as organizações que não

são constituídas formalmente e nem os voluntários que promovem ações sociais.

O referido estudo apresenta, ainda, que o Terceiro Setor é responsável por

2,5% dos postos de trabalho nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país e

aproximadamente 59% das organizações que foram avaliadas desenvolvem ações

voltadas às comunidades carentes; o que representa uma média de R$ 5 bilhões

destinados à saúde, educação, alimentação, esportes e cidadania. Porém, nos últimos

anos, essas organizações, especialmente as ONGs, têm vivenciado os desafios da

sustentabilidade, já que se encontravam dependentes das fontes de recursos

internacionais, assim como das fontes nacionais. Estas organizações estão inseridas em

um contexto em que precisam desenvolver estratégias adequadas, capazes de captar

recursos para continuidade de seus projetos e ações sociais.

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Diante da discussão, esta investigação trata de organizações do terceiro setor,

particularmente ONGs de defesas de direitos e possui o objetivo de analisar as

estratégias de captação de recursos em ONGs localizadas nas cidades de Belém,

Salvador e Recife, diante dos novos modelos de cooperação nacional e internacional.

Para isso, a investigação fez um percurso visando identificar e avaliar as principais

dificuldades para captação de recursos nestas organizações e avaliar as estratégias

utilizadas para tal fim, de modo a verificar fatores determinantes que interferem na

seleção e captação destes recursos.

Nesse contexto, a construção deste estudo justifica-se pela possibilidade de

melhor compreender a realidade das ONGs criando condições de interpretar seus

avanços e desafios; oportunidade de levantar subsídios para a análise do diálogo

acerca dos critérios e estratégias que são utilizadas para captação de recursos nestas

ONGs, de modo a promover uma avaliação das ações pertinentes à manutenção da

sustentabilidade financeira destas organizações; e pela possibilidade em desenvolver

condições para que estas ONGs possam se inserir nos novos desafios apresentados

pelos modelos de cooperação nacional e internacional; além de se justificar pela

oportunidade de relacionar conhecimentos empíricos à ciência através do olhar da

Administração, com a expectativa de contribuir com as discussões que norteiam o

terceiro setor.

A motivação em direção a este universo de pesquisa nasceu no Fórum

consultivo sobre o marco regulatório das Organizações da Sociedade Civil - OSCs do

Brasil, ocorrido na cidade de Belém, em 04 e 05 de maio de 2011, que reuniu

representantes e gestores de ONGs da Amazônia, onde se discutiu sobre a

sustentabilidade institucional e marco regulatório dessas instituições; bem como na

vivência na coordenação administrativa da Sociedade de Defesa dos Direitos Sexuais

na Amazônia – Sodireitos no período de 2010 a 2012.

As experiências acima oportunizaram conhecer que a sustentabilidade

financeira se tornou um desafio para as diversas organizações não governamentais que

atuam no Brasil, devido às mudanças ocorridas nos focos de cooperação internacional

e nacional, o que demonstra a importância dessas organizações em se

profissionalizarem e assumirem uma postura voltada às questões gerenciais que, no

passado, não eram tão exigidas dessas instituições.

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O contexto caracterizado pelo aumento de parcerias entre ONGs, iniciativa

privada e Governo colaborou para que o conceito de sustentabilidade deixasse de ser

visto apenas no âmbito ambiental, econômico e social, passando a ser implantando na

perspectiva organizacional, com o objetivo de fazer com que as ações dessas

organizações tivessem mais capacidade técnica, desenvolvessem melhor suas

metodologias de trabalho e, principalmente, promovessem o fortalecimento

institucional; para que estivessem habilitadas a receber doações, acessar recursos

públicos e pudessem dar continuidade às suas ações sociais.

Essa exigência pela sustentabilidade, relacionada à maior capacitação política,

técnica e financeira (PERÔNICO, 2003), que é entendida por Barbieri e Simantob

(2007) como a capacidade de manter sua sobrevivência, assim como conseguir os

recursos necessários para que consigam continuar existindo e crescendo; traz crises

institucionais ao cenário das ONGs brasileiras, pelo fato de que essas organizações se

depararam com a necessidade de serem mais qualificadas, ao mesmo tempo em que se

encontram num momento muito delicado em que lutam pela sua sobrevivência

financeira (ARAÚJO; MELO; SCHOMMER, 2005).

E nesta perspectiva de mudanças, em que já não há mais a presença efetiva de

agências internacionais de doação e se dispõe de poucos recursos de outras fontes para

serem acessado, apresenta-se o desafio da qualificação e da evolução em termos de

conhecimento e prática de suas ações, para que consigam competir e continuar

existindo, tornando-se sustentáveis (BARBIERI; SIMANTOB, 2007).

Na atualidade, a cooperação voltada ao desenvolvimento, assim como os

impactos que ocorrem nas ações relacionadas à defesa dos direitos e à sustentabilidade

das ONGs, tem ganhado foco nas diversas discussões sobre as mudanças acerca das

possibilidades de sobrevivência dessas instituições, considerando que a retirada de

recursos internacionais no país provocou uma redução de recursos para essas

organizações.

Porém, a ABONG (2010) informa que há a diminuição dos recursos

internacionais no Brasil, ao mesmo nível em que começam a aumentar a

disponibilização de recursos nacionais e editais europeus, agora com novas exigências,

demonstrando que a política internacional de cooperação para as ONGs que atuam na

defesa dos direitos não pode ser vista pelo modo de retirada, mas como mudança nos

modelos de cooperação estabelecidos, que demandam uma nova política institucional

para a sustentabilidade, levando em consideração ações mais administrativas e

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gerenciais, assim como relação mais direta com as políticas externas dos países do

Norte e com as agências do sistema das Nações Unidas.

A conjuntura atual da cooperação internacional, que envolve os impactos

causados sobre a defesa dos direitos e a sustentabilidade das organizações da

sociedade civil do Brasil (como fundações, cooperativas, organizações não

governamentais), tem sido pautada em diversas discussões acerca da sustentabilidade

das organizações do terceiro setor, principalmente no que se refere à sua sobrevivência

institucional e monetária.

É possível perceber a crescente notoriedade que essas organizações obtiveram

a partir da década de 90, com o aumento de parcerias com o Estado, com o segundo

setor e até mesmo o trabalho em rede com as demais organizações que compõem o

terceiro setor. Esse fato se deve, ainda, à escassez que é vislumbrada na realidade da

população brasileira, que não tem acesso aos serviços básicos e assistenciais que

deveriam ser proporcionados pelo Estado.

Nesse sentido, as ONGs surgem com o objetivo de atuar em favor da

população, visando à redução dos problemas sociais e buscando atuar politicamente,

de forma a reduzir as ações provocadas pelo Estado e aumentando a defesa dos

direitos humanos dessas pessoas que não conseguem suprir suas necessidades básicas.

Porém, desde 2000 as ações dessas organizações têm sido diretamente atingidas pela

redução de recursos recebidos por meio de programas de organismos financiadores

internacionais, uma vez que decidem não mais apoiar os projetos no Brasil. Com isso,

deparam-se com uma nova realidade trazida pela falta de financiamentos: a escassez

de recursos financeiros para sustentarem suas instituições, a perda de profissionais por

não haver mais possibilidade de garantirem salários e, principalmente, a mortalidade

de muitas organizações presentes e importantes para a sociedade.

No entanto, verifica-se que muitas organizações ainda estão na luta para

assegurar a sua sustentabilidade, verificando novas possibilidades e buscando outras

formas de sobreviverem diante desse contexto de crise financeira através de estratégias

para captação de recursos. Considerando o cenário atual de cooperação internacional e

os novos modelos de doação disponibilizados pelo Governo federal brasileiro e pelas

empresas privadas, esta investigação pretende questionar: Quais estratégias de

captação de recursos estão sendo adotadas por organizações não governamentais de

defesa de direitos humanos em Belém, Salvador e Recife, considerando os desafios

apresentados pelos novos modelos de cooperação nacional e internacional?

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Para a realização da análise proposta, além desta introdução, o trabalho foi

elaborado em mais quatro capítulos. No primeiro capítulo, nominado “Procedimentos

Metodológicos”, apresenta-se o local da pesquisa, as técnicas utilizadas para coleta e

tratamento de dados, bem como a análise e interpretação de resultados.

No segundo capítulo, intitulado “Fundamentação de Base Teórica”, expõe-se a

origem e abordagem conceitual do terceiro setor, o contexto e a importância do papel

das ONGs, os novos modelos de cooperação nacional e internacional e a captação de

recursos nas ONGs de Direitos Humanos.

No terceiro capítulo, denominado “Análise e Interpretação de Resultados” são

analisadas as informações acerca das estratégias de captação de recursos diante dos

novos modelos de cooperação, concedidas por oito ONGs que atuam na defesa de

direitos humanos no Brasil, sendo quatro localizadas em Belém, duas em Recife e

duas em Salvador.

Na última parte, expõem-se, sem o intuito de exaurimento, as considerações

finais às quais se chegou com a efetivação da pesquisa até o presente momento.

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2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Utilizando a taxonomia de Vergara (2005), classifica-se a investigação, quanto

aos seus fins, como descritiva e exploratória. Descritiva, na medida em que se utiliza

de um levantamento bibliográfico e documental. O método descritivo foi escolhido

devido à sua abrangência, o qual permite uma análise do problema de pesquisa

relacionado a diferentes aspectos como: sociais, econômicos e políticos (OLIVEIRA,

2010). Exploratória, no momento em que se baseia em métodos de observação,

questionários e entrevistas, buscando maior aprofundamento acerca do tema

trabalhado, uma vez que o mesmo ainda é pouco explorado e seus conceitos muito

distintos, o que acaba por dificultar o desenvolvimento do referencial teórico.

Quanto aos meios, a investigação se caracteriza como uma pesquisa de campo.

Este tipo de pesquisa possibilita a obtenção de informações e/ou conhecimentos sobre

um determinado problema para o qual se busca obter resposta, assim como a

possibilidade de descobrir novos fenômenos ou relações que possam existir entre eles.

Consiste na observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem (LAKATOS;

MARCONI, 2002).

2.1. Local da Pesquisa

A pesquisa objetivou estudar organizações não governamentais que atuam na

defesa de direitos humanos em razão da importância que elas representam para a

organização democrática da sociedade brasileira nas últimas décadas, notadamente em

relação à conquista de direitos, de estipulação de políticas públicas que prestem os

serviços básicos aos diferentes sujeitos que compõem a população e de controle social

da gestão pública.

A seleção das ONGs analisadas neste estudo iniciou a partir de um

levantamento junto às 110 organizações de defesa de direitos que são componentes da

Associação Brasileira de ONGs - ABONG e registradas na plataforma de discussão

para um novo marco regulatório. A plataforma constitui uma articulação entre diversas

organizações da sociedade civil que pretendem reivindicar uma política pública de

fomento à participação cidadã por meio de organizações sociais autônomas1.

1 Conferir em www.plataformaosc.org.br

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19

Em cômputo específico, as oito ONGs foram selecionadas pelo trabalho

consolidado na defesa de direitos nas cidades de Belém, Salvador e Recife, bem como

pela notável atuação que estas organizações desenvolvem nas cidades onde atuam.

Focou-se nessas regiões em face dos poucos estudos encontrados sobre organizações

nelas atuantes e as ONGs selecionadas para compor a amostra neste estudo foram

escolhidas em face da articulação existente entre a pesquisadora e as entidades.

Assim, a amostra selecionada para pesquisa foi não probabilística, do tipo

intencional, caracterizada por Gil (1999) como a seleção de um subgrupo da

população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerado

representativo de toda a população. Abaixo as ONGs selecionadas:

Tabela 1: ONGs analisadas que atuam na defesa de direitos em Belém, Salvador e

Recife.

Organização Informações Fundação

BE

M (

PA

)

CEDENPA

Centro de Estudos e

Defesa do Negro do

Pará

Rua dos Timbiras, nº 255 - Cremação.

www.cedenpa.org.br / [email protected]

Contato: Maria Luiza C. Nunes

Coordenadora de Projetos Quilombolas

10/08/1980

GMB

Grupo de Mulheres

Brasileiras

Rua Benfica, nº 18 – Benguí.

[email protected]

Contato: Solange Aparecida

Coordenadora de Mobilização de Recursos

13/12/1998

MOPROM

Movimento de

Promoção da Mulher

Rua Ezeriel Mônico de Matos, nº 158 - Guamá.

[email protected]

Contato: Maria Luiza B. Magno

Coordenadora Geral

28/10/1967

SODIREITOS

Sociedade de Defesa

dos Direitos Sexuais

na Amazônia

Rua Bernal do Couto, nº 1329 - Umarizal

[email protected]

Contato Andreza Smith

Diretora Geral

20/12/2005

SA

LV

AD

OR

(B

A)

CHAME

Centro Humanitário de

Apoio à Mulher

Rua Gustavo dos Santos, nº 10 sl 107 - São Pedro.

www.chame.org.br / [email protected]

Contato: Jaqueline Leite

Coordenadora Geral

2001

CRIA

Centro de Referência

Integral de

Adolescentes

Rua Gregório de Mattos, nº 21 - Pelourinho.

www.criando.org.br / [email protected]

Contato: Camila Veiga

Mobilizadora de Recursos e Membro do Conselho de

Gestão

20/02/1994

RE

CIF

E (

PE

)

GAJOP

Gabinete de Assessoria

Jurídica às

Organizações

Populares

Rua do Sossego, nº 432 - Boa Vista.

www.gajop.org.br / [email protected]

Contato: Ana Célia Lima

Coordenadora Executiva

15/11/1981

GMM

Grupo Mulher

Maravilha

Rua Nova Descoberta, nº 700 - Nova Descoberta

www.gmulhermaravilha.blogspot.com

[email protected]

Contato: Maria de Lourdes A. Luna

Coordenadora Geral

21/04/1975

Fonte: Elaborado pela autora

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20

2.2. Técnicas de Pesquisa

O método do estudo se realizou por meio de três tarefas: coleta de dados;

tratamento de dados e análise e interpretação de resultados. A seguir, discorre-se

brevemente a respeito de cada uma delas.

a) Coleta de dados

O processo de coleta de dados foi realizado através das seguintes atividades:

pesquisa documental; pesquisa bibliográfica; levantamento de dados in loco e

entrevistas com os gestores das organizações selecionadas no período de agosto a

novembro de 2012.

A pesquisa documental, que conforme Oliveira (2010, p.69) se caracteriza pela

busca de informações em documentos que não receberam qualquer tratamento

científico, foi realizada com o levantamento de documentos, relatórios, revistas, cartas,

gravações, fotografias, dentre outros.

A pesquisa bibliográfica visou identificar e aprofundar estudos acerca das

discussões e teorias que embasam o tema deste trabalho, como: terceiro setor, ONGs,

novos modelos de cooperação nacional e internacional e estratégias de captação de

recursos, para o que se realizou pesquisas em websites especializados, em bibliotecas

de universidades e faculdades localizadas em Belém, bem como em bibliotecas de

ONGs.

O levantamento de dados in loco, definido por Vergara (2005) como o local

onde ocorre o fenômeno a ser estudado, foi realizado a partir de visitas realizadas nas

instituições de Belém para observação de documentos como: plano de mobilização de

recursos de cada instituição, editais acessados para captação de recursos,

documentação exigida por financiadores nacionais e internacionais, relatórios

financeiros e demais documentos que possam contribuir para a construção da pesquisa.

E, por fim, foram realizadas entrevistas com os gestores responsáveis pelas

organizações estudadas, o que facilitou a interação entre pesquisador e entrevistado,

possibilitando a aquisição de informações mais detalhadas acerca do que está sendo

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pesquisado, oportunizando ainda “a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou

no tratamento de um problema social” (LAKATOS; MARCONI, 2002, p.195).

A interação com os entrevistados seguiu as seguintes técnicas: Entrevista

estruturada, para a qual foi utilizado um roteiro aplicado via skype a uma ONG de

Salvador (Chame) e pessoalmente realizada junto às ONGs de Belém (CEDENPA,

GMB, MOPROM e Sodireitos); Questionário, enviado por e-mail para uma ONG de

Salvador (CRIA) e as duas de Recife (GMM e Gajop).

O questionário entregue às organizações não governamentais era composto por

perguntas direcionadas a duas categorias de dados: informações da organização e

estratégias de captação de recursos. Na primeira, buscaram-se informações acerca das

ONGs no que se refere à constituição formal, missão, atividades desempenhadas, suas

fontes de financiamento e estrutura organizacional (setores e organograma). Na

segunda, procurou-se conhecer os desafios encontrados para captação de recursos

diante dos modelos de cooperação atuais e plano de mobilização de recursos que

demonstre as atividades que realizam em busca de captação de diversos recursos para

a entidade. Com isso, buscou-se identificar e descrever os seguintes aspectos

relacionados às organizações não governamentais: ações vinculadas à captação de

recursos, mortalidade, profissionalização, número de empregos disponibilizados por

essas instituições e estratégias para captação de recursos, cujas definições serão

apresentadas no capítulo seguinte.

b) Tratamento de dados

Os dados foram tratados, a partir de uma organização dos documentos

levantados e das entrevistas realizadas com os gestores das ONGs selecionadas,

tomando como base três meandros de análise: o histórico das ONGs, a estrutura

organizacional e as estratégias de captação de recursos.

No histórico da organização foram abordados dados gerais como a data de

fundação, constituição jurídica e missão, com o propósito de compreender a natureza

organizacional.

No ambiente de análise da estrutura organizacional, adotou-se o entendimento

de Tachizawa (2002), que considera a estrutura organizacional em ONGs, basicamente

os processos organizacionais como reestruturação, downsizing e profissionalização.

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Por fim, na análise das estratégias de captação de recursos, adotou-se a

abordagem de Armani (2010), que aborda o ambiente das estratégias de captação de

recursos como aquele vinculado à redefinição de ações, planejamento de gastos,

parcerias e mobilização de recursos.

c) Análise e interpretação de resultados

Nesta etapa, efetuou-se a análise dos dados coletados objetivando uma leitura

reflexiva das informações obtidas a partir do cruzamento de dados, na intenção de

identificação das estratégias utilizadas pelas ONGs em direção à captação de recursos

e dos hiatos identificados diante dos novos desafios apresentados pelos modelos de

cooperação nacional e internacional.

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3. FUNDAMENTAÇÃO DE BASE TEÓRICA

No capítulo, apresentam-se os conceitos teóricos que embasam a discussão

realizada no trabalho, a fim de esclarecer o quadro em que se faz a análise dos dados

coletados.

3.1. Origem e abordagem conceitual do Terceiro Setor

De um modo geral, parte-se do entendimento de que a atividade humana se

classifica em três setores. O primeiro setor é o Estado, caracterizado pela realização

em ambiente público. O segundo setor é o mercado, constituídos pelas empresas

privadas que buscam fins lucrativos. E, por fim, o terceiro setor, formado pelas

organizações que não são vinculadas à administração publica, nem possuem caráter

mercantil, tão pouco possuem fins lucrativos (PACÍFICO, 2011). Este último setor

compreende o foco de investigação neste estudo.

A origem das instituições do terceiro setor de hoje é produto da cultura e da

religião católica, pois a igreja medieval era a responsável pela legitimação de

entidades beneficentes. Assim, as organizações do terceiro setor teriam surgido na

Inglaterra de 1601, quando a monarquia impôs uma legislação à população de combate

à miséria utilizando recursos oriundos dos impostos arrecadados pelo Estado (ALVES

JÚNIOR, 2010; VOLTOLINI, 2004).

A expressão terceiro setor compreende uma tradução da expressão third sector,

utilizada nos Estados Unidos para denominar as organizações sem fins lucrativos

(ALBUQUERQUE, 2006).

O terceiro setor, para Cavalcanti (2008), dentre as diversas denominações,

também chamado de setor independente ou voluntariado, tem sua nomenclatura

utilizada para fazer referência às organizações da sociedade civil, que surgem com o

objetivo comum de atender as expectativas da sociedade e nela gerar transformações.

Fernandes (2002) apresenta este setor como não lucrativo e não governamental, uma

vez que faz referência ao fato de que não existe aporte do governo, por isso são

chamadas de não governamentais.

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Além disso, sua negação quanto a serem com fins lucrativos faz referência ao

fato de que, mesmo havendo a necessidade de captação de recursos que garantam a

sustentabilidade de suas organizações, não são condizentes à lógica do mercado que

visa o lucro financeiro. Corroborando com esse entendimento, Coelho (2002) ressalta

que as características anteriormente expostas devem estar casadas com outras duas:

privadas, diferenciando-se das organizações governamentais; e sem fins lucrativos, o

que as diferencia das empresas do mercado.

Para Hudson (1999), o terceiro setor é composto por organizações que são

orientadas por valores, pois são criadas e mantidas por pessoas que percebem as

mudanças como necessárias e que, por isso, assumem responsabilidades e lutam com o

objetivo de tornar realidade aquilo que desejam para a sociedade; o mesmo autor

afirma também que esse setor é formado por um conjunto diversificado e grande de

entidades da sociedade civil, com finalidades públicas e sem fins lucrativos, abrigando

organizações não governamentais (ONGs) e outros segmentos com identidades

diversas, como entidades filantrópicas, hospitais, sindicatos, etc.

Dentre os diversos conceitos que corroboram para o entendimento acerca do

terceiro setor, torna-se necessário ressaltar a presença dos movimentos sociais que

aparecem nesse cenário de discussões e que causam confusões, em determinados

momentos, acerca do terceiro setor e ONGs. Contudo, Coelho (2002) ressalta que

mesmo havendo afinidades relacionadas ao fato de não serem governamentais, são

organizações sem fins lucrativos, autônomas, autogovernadas e também contam com

pessoas que atuam de forma voluntária.

Para Coelho (2002) as ONGs se diferenciam do terceiro setor simplesmente

por não terem uma estrutura formal feita para perdurar por um longo tempo, sendo

episódicas e contextuais, e possuírem um caráter mais reivindicatório, no intuito de

pressionarem o Estado para que forneça os serviços ou bens à sociedade,

diferentemente do terceiro setor que tem o objetivo de ser permanente.

No Brasil, é possível observar diariamente a ineficiência e a impotência do

Estado diante do não atendimento às demandas relacionadas a questões que envolvem

a população do país. Porém, percebe-se que este não é um fato recente no cenário

socioeconômico do Brasil, pois através do processo de globalização, que permitiu o

intercâmbio político, social, econômico e tecnológico entre países, surgiram também

consequências diversas à sociedade, que pôde sentir o desequilíbrio acarretado pelo

crescimento desordenado da economia e da população. Conforme Gohn (2001, p.11-12):

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Com a globalização ocorre uma metamorfose do sistema de

desigualdade social no capitalismo para um sistema de exclusão social.

Neste novo cenário, as lutas sociais relevantes serão pela inclusão social

de setores sociais que antes eram excluídos por estarem em

desigualdade socioeconômica e que agora estão excluídos também por

suas desigualdades socioculturais (dados pelo sistema educacional, pela

raça, pela etnia, sexo, etc.). As políticas sociais tendem a ser formuladas

para o entendimento de clientelas específicas, agrupadas e categorizadas

como: índio, negro, mulher, terceira idade, menino de rua, etc. ou

habitação.

Esses fatores contribuíram diretamente para o surgimento do chamado terceiro

setor, que nasce visando minimizar as diversas lacunas deixadas pelo Estado através

da geração de bem-estar à sociedade, visto que identificam a grande necessidade da

população em acessar programas de assistência, combater a pobreza, as desigualdades

e promover o desenvolvimento estimulador da justiça e da democracia (OLIVEIRA,

2003, p.7).

O terceiro setor é formado por organizações de várias naturezas. Alves Jr.

(2010) classifica didaticamente as entidades que compõem o terceiro setor. São elas:

associações, fundações privadas, sindicatos, cooperativas, igrejas, organizações

filantrópicas e organizações não governamentais, sendo estas últimas o foco específico

de atenção nesta investigação.

Assim, entende-se que o terceiro setor é formado por organizações que surgem

visando suprir a ausência do Estado por meio de ações que provoquem transformações

na sociedade.

3.2. Contexto e importância do papel das ONGs

As ONGs começam a surgir no cenário político do período pós-segunda guerra

e essa denominação passa a ser utilizada a partir da segunda metade da década de

1940, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) a utilizou para se referir às

organizações internacionais que se destacaram frente aos seus trabalhos sociais de

ajuda aos países que haviam sido destruídos pela guerra mundial (KAROL, 2000).

Então, essa ajuda denominada de cooperação internacional passou a

proporcionar diversas experiências de participações e apoio ao exercício da cidadania

em diversos países da Europa, culminando no surgimento de diversas associações que

divergiam da lógica e da característica governamental (KAROL, 2000). De acordo

com Fernandes (s/d, apud KAROL, 2000, p.20):

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26

Da Europa Continental vem o domínio da expressão “Organizações Não

Governamentais” (ONGs), cuja origem está na nomenclatura do sistema

de representações das Nações Unidas. Chamou-se assim às

organizações internacionais que embora não representassem governos,

pareciam significativas o bastante para justificar uma presença formal

na ONU. O Conselho Mundial de Igrejas e a Organização Internacional

do Trabalho eram exemplos em pauta. Por extensão, com a formulação

de programas de cooperação internacional para o desenvolvimento

estimulado pela ONU, nos anos sessenta e setenta, cresceram na Europa

Ocidental “ONGs” destinadas a promover projetos de desenvolvimento

no Terceiro Mundo. Formulando ou buscando projetos em âmbito não

governamental, as ONGs europeias procuram parceiros mundo a fora e

acabaram por fomentar o surgimento de ONGs nos continentes do

hemisfério Sul.

No Brasil, as ONGs começam a surgir no período do regime militar, em que a

sociedade vivenciava um momento autoritário e era expectadora do convívio entre a

modernização do país e o surgimento de uma nova sociedade organizada, que era

fundamentada em ideologias que faziam referencia à autonomia em relação ao Estado.

Assim, as ONGs se constroem e se consolidam no cenário brasileiro na medida em

que o campo de associações da sociedade civil é criado e fortalecido, especialmente a

partir da década de 70, progredindo nos anos 80 e 90 (TACHIZAWA, 2002).

Matos (2005, p.24) rememora que as décadas de 1950 e 1960 foram marcadas

por uma série de manifestações (luta dos negros, campanhas pacifistas, movimentos

feministas e homossexuais, dentre outros) que contribuíram para o surgimento de um

novo tipo de ONGs, com atuação em outros campos, que acabavam por distanciar-se

cada vez mais do perfil filantrópico e caritativo. De acordo com Gohn (1999, apud

MATOS, 2005, p.24):

Umas redescobriram ideais utópicos, outras propuseram novos projetos,

investindo em grandes campanhas educativas, em diferentes áreas,

envolvendo-se em novas lutas, ecológicas ou de defesa dos direitos

humanos, contra as diferentes formas de violência e a favor da anistia.

Diante da necessidade de fazer oposição política e fomentar ideais de

autonomia, as ONGs ganham mais adeptos e conceitos que descrevem sua atuação e

fortalecem seu papel de desenvolvimento.

Contribuindo com essa percepção, Souza (2005, apud TIBÃES, 2012, p. 3),

descreve que:

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27

Uma ONG se define por sua vocação política, por sua positividade

política: uma entidade sem fins de lucro cujo objetivo fundamental é

desenvolver uma sociedade democrática, isto é, uma sociedade fundada

nos valores da democracia - liberdade, igualdade, diversidade,

participação e solidariedade. (...) As ONGs são comitês da cidadania e

surgiram para ajudar a construir a sociedade democrática com que todos

sonham.

Existem atualmente no Brasil mais de 540 mil organizações sem fins

lucrativos, constando nesse universo as fundações, associações, unidades assistenciais

e as organizações não governamentais (ONGs). Essas por sua vez, se diferenciam das

organizações dos outros setores por terem um foco social e possuírem independência

para determinarem seu futuro visando, ainda, refazer a integração social,

desenvolvimento sustentável e socioeconômico das comunidades, para atender as

expectativas das pessoas a quem destinam seus esforços (ABONG, 2010).

As ONGs são entidades de natureza privada sem fins lucrativos, que

juridicamente são associações ou fundações. O público diretamente beneficiado por

essas organizações é diversificado, incluindo grupos que são definidos por religiões,

sindicatos, crianças, mulheres, dentre outros. Isso demonstra a pluralidade de

organizações presentes no contexto brasileiro e traz a marca dos valores universais da

cidadania (TACHIZAWA, 2002).

Para melhor explicitar essa diversificação de ONGs, Tachizawa (2002, p.23)

apresenta as principais áreas de atuação: educação (52,40%), organização popular e

participação popular (38,27%), justiça e promoção de direitos (36,76%),

fortalecimento de outras ONGs sem movimentos populares (26,02%), relação de

gênero e discriminação sexual (25%). Assim, os dados evidenciados pelo autor têm o

objetivo de demonstrar que há um crescimento e afirmação da atuação dessas

organizações, sobretudo na segunda metade dos anos 80, onde ocorreu o surgimento

de novos movimentos sociais e sujeitos coletivos.

Em concordância a este pensamento, Gohn (1997, p.303) afirma que os

movimentos sociais e as ONGs se revelaram como estruturas apropriadas e com

capacidade para desempenhar papéis que estruturas formais não têm conseguido em

seu papel de estruturas estatais, oficiais, criadas com intuito e com finalidade de

atender o campo social.

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Assim, o trabalho das ONGs ganha grande importância, uma vez que o Estado

começa a apoiar essas entidades e inicia atividades em parceria com a sociedade civil,

deixando de ser o único agente responsável pela implantação de políticas sociais e

fortalecendo, de forma efetiva, a sua participação no desenvolvimento da sociedade

brasileira.

Corroborando com o entendimento acima, Giddens (1999, p.83) observa a

importância de ações de reação do Estado frente ao processo de globalização, mas de

forma estruturada, afirmando que a democratização acontecerá quando houver a

descentralização, mas não como um processo unilateral. Além disso, reforça a ideia de

que o Estado deve efetuar a expansão da esfera pública, ou seja, pratique uma reforma

constitucional com vistas à maior transparência e abertura, bem como introdução de

novas salvaguardas contra a corrupção.

Nesse contexto, depreende-se a importância das ONGs, uma vez que elas são

instituições formadas por pessoas que agem em prol de transformações sociais que

atendam às necessidades de grupos vulneráveis.

3.3. Novos modelos de cooperação nacional e internacional

Atualmente, as ONGs têm demonstrado grande competência em áreas sociais

diversificadas, por meio da elaboração e concretização de projetos que possibilitam

ações sociais transformadoras. No entanto, esses resultados são possíveis devido às

parcerias e pactos feitos com segmentos sociais diversos como a cooperação

internacional que, durante a resistência à ditadura militar no Brasil, estabeleceu

alianças estratégicas com ONGs brasileiras, no intuito de focalizar na redução ou

erradicação da pobreza, o que perdurou por muito tempo (ABONG, 2010, p.11).

Na esfera nacional, verifica-se a presença de parcerias com o Governo Federal,

buscando dar continuidade aos projetos institucionais, uma vez que os recursos

internacionais já não são tão atuantes no país. A relação existente entre e sociedade

civil organizada e o Estado toma agora um novo formato, diferente da natureza dos

anos 90, distinta dos confrontos relacionados ao regime militar. Atualmente os

ambientes de negociação estão normatizados e a institucionalidade da relação entre

sociedade organizada e poder público é um fato (GOHN, 1997, p.318).

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A ABONG (2010) informa que em 2003 os dados relativos à cooperação e

solidariedade internacional estavam concentrados nas maiores faixas percentuais de

financiamentos, onde 35,2% das associadas à ABONG detinham entre 81% a 100%

dos seus orçamentos advindos do exterior. Porém, a partir de 2007, há mudança

significativa no quadro de distribuição de recursos internacionais, que começam a ser

acessados por mais instituições, culminando na diminuição de recursos para outras que

dependiam desses valores para sua sustentabilidade acarretando prejuízos às suas

ações sociais.

De acordo com essa conjuntura, Armani (2010, p. 50) relata que dentre as

organizações associadas à ABONG, houve a redução proporcional de seus orçamentos

que antes eram cobertos por recursos internacionais e que giravam, aproximadamente, em

torno de 82% em 1993, 53% em 2000 e 42% em 2003. Assim, já não conseguem mais

manter estável sua capacidade de sobrevivência e nem garantir a continuidade de sua

existência (BARBIERI; SIMANTOB, 2007).

No ambiente desta discussão, um estudo realizado pela Associação Brasileira das

ONGs (ABONG, 2010) identificou que as atividades e processos dessas organizações

começaram a ficar comprometidos devido às fortes mudanças de atuação dessas agências

de cooperação, fazendo com que essas organizações começassem a buscar localmente

novas fontes para financiamento de sua sustentabilidade, já que os agentes do exterior

tomaram a decisão por não mais atuar no Brasil (CRUZ; ESTRAVIZ, 2000, p.77).

Dentre os motivos para essa saída, encontra-se a modificação nas políticas

internas e externas de nosso país, que através do governo Lula remetia à capacidade de

um governo em implantar políticas públicas capazes de promover o crescimento

econômico e enfrentar a pobreza do país, mesmo que a realidade interna demonstrasse o

inverso2.

Matos (2005, p.27) manifesta que o contexto da década de 90 apresenta o

movimento das atenções das agencias de cooperação em direção às tensões do Leste

Europeu, promovendo uma alteração no cenário das ONGs da América Latina. Com

isso, essas organizações passam a vivenciar uma crise econômico-financeira, gerando

a necessidade de mudanças internas, alterações de procedimentos, necessidade de

diversificação de canais de apoio financeiros, crescimento da necessidade de

qualificação de seus profissionais e da gestão dessas entidades.

2 Informações debatidas no Fórum Consultivo sobre o Marco Regulatório das organizações da sociedade

civil do Brasil – OSCs do Brasil, 2011.

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30

Outros motivos que devem ser considerados, e que estão sendo acompanhados

pelas ONGs, referem-se ao fato de que essas agências têm vivido um processo de

fusão, descentralização, redefinição de áreas de atuação, diminuição de recursos

governamentais e/ou de campanhas junto à sociedade, além de prioridade geográfica

(ARAÚJO, 2010, p. 27).

Então, em discordância com os objetivos da cooperação internacional, entende-

se de antemão que o Brasil não mais se encontra nesse estágio e sim como país em

constante desenvolvimento capaz de superar e promover melhorias à sua população

justificando, assim, a diminuição de doações para o Brasil que, mesmo em processo de

desenvolvimento, ainda enfrenta sérios problemas sociais (CRUZ; ESTAVIZ, 2000,

p.82).

Além disso, Armani (2001) reforça a idéia de transformações na cooperação ao

apresentar a situação da Europa na década de 90, onde o governo reduziu sua

cooperação ao desenvolvimento de países subdesenvolvidos, redução nas doações da

população para as questões sociais, aumento do desemprego, questionamento acerca

de sua real participação no processo de desenvolvimento, entre outros motivos,

passando então a priorizar um maior rigor na seleção de parceiros que deverão receber

suas doações, ênfase no lobbying3 e advocacy

4 e realinhamento de recursos, reduzindo

então o apoio à América Latina e aumentando exigências para esse fim.

Dessa forma, é possível notar a mudança no modelo de cooperação que era

utilizado anteriormente para a doação de recursos ao país, considerando agora novos

aspectos quantitativos e qualitativos relacionados tanto à missão quanto aspectos

relacionados às questões estruturais da organização. Em publicação acerca da

sustentabilidade de ONGs no Brasil, a ABONG (2010, p.58) explicita que as

organizações que atuam na defesa de direitos consideram que a captação de recursos

que visem à sustentação de suas ações deve ser prioridade, ao invés de mergulharem

de forma ativa apenas na preocupação com a gestão institucional que é proposta pela

cooperação internacional.

Com isso, a captação de recursos se tornou preocupação central, tanto das

ONGs quanto da cooperação, que iniciou uma fase de qualificação dessas

organizações através de cursos e demais processos, a fim de torná-las mais capacitadas

3 Lobbying: Forma Específica de advocacy com o intuito de influenciar políticas públicas (AVNER, 2001;

BERRY, 1997; BORIS; KREHELY, 2002 apud BRELAZ, 2007, p.6). 4 Advocacy:Identificar, adotar e promover uma causa, um esforço para moldar a percepção pública ou

conseguir alguma mudança através de lei ou não (AVENER, 2002 apud BRELAZ, 2007, p.6).

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31

em busca de sua autossustentação. Verifica-se então, que esse novo modelo, dentre as

diversas proposições apresentadas, faz referência à importância de deter uma boa

equipe administrativa, capaz de captar recursos e se preocupar com a eficiente gestão

financeira da organização (ABONG, 2010, p. 77).

Para reafirmar esse novo modelo que foi desenhado pela cooperação

internacional, Tachizawa (2002) explica que essas agências de cooperação apresentam

características pertinentes quanto à exigência de processos de reorganização, ou seja,

reestruturação, downsizing e profissionalização.

Nessa conjuntura, Tenório (2006, p.21) afirma que a utilização das ferramentas

gerenciais, admite às organizações resultados mais bem sucedidos de suas atividades,

considerando que permitem a melhor utilização e direcionamento dos recursos

disponíveis para o atingimento de seus objetivos.

Assim, as ferramentas de planejamento, organização, direção e controle,

mesmo tendo sido criadas para a utilização de organizações do primeiro e do segundo

setor, podem ser trazidos ao contexto das organizações não governamentais para que

haja melhor estruturação e profissionalização que possibilite subsídios diante dos

desafios e exigências apresentadas no contexto dos novos modelos de cooperação

nacional e internacional, que têm seu foco em ações mais estruturadas e

profissionalizadas.

Para tanto, é necessário que as organizações percebam essas quatro funções

como um ciclo que se repete e que está diretamente relacionado à previsão, divisão,

execução e acompanhamento do trabalho (TENÓRIO, 2006, p.21), conforme

ilustração abaixo:

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Figura1: Ciclo das quatro ferramentas gerenciais.

Fonte: Adaptado pela autora a partir de Tenório (2006).

O Planejamento possibilitará que as organizações tracem seus objetivos,

definindo os recursos e meios necessários para que possam atingi-los (TENÓRIO,

2006). Nesse momento, caberá às ONGs considerarem as intempéries que venham a

afetar suas atividades, visualizar sua atuação no contexto presente e reavaliar o cenário

apresentado a fim de quem possam se estruturar para melhor funcionamento e

sobrevivência.

Posteriormente à fase de planejamento, a Organização irá definir as ações a

serem executadas e as responsabilidades de cada profissional que a compõe. Dentre

seus objetivos, Tenório (2006, p. 56) apresenta que essa ferramenta também é utilizada

para conhecer quem irá tomar algumas decisões e sobre quais assuntos, irá estabelecer

o responsável por determinada atividade, indicar o profissional com a incumbência de

acompanhar e controlar cada atividade e indicar as relações existentes entre todos os

membros. Se bem organizada e dividida, essa ferramenta permitirá maior eficiência

quanto às atividades e recursos disponibilizados.

A seguir, a Direção tem o objetivo de estimular todos os colaboradores a

realizarem suas tarefas, admitindo responsabilidade que vise o atingimento dos

objetivos traçados no planejamento. Além disso, cabe à organização acompanhar a

execução das atividades, visando identificar se estão sendo cumpridas no tempo

• Conduz e Motiva

• Compara os objetivos

• Quem faz • O que fazer

Planejamento Organização

Direção Controle

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previsto, com os recursos que foram alocados e tomando medidas corretivas quando

necessário.

Por ser uma ferramenta dinâmica, requer que a organização, assim como o

profissional responsável pelo acompanhamento das atividades, possua capacidade de

coordenar, liderar, motivar e tomar decisões, visto que as ONGs contam com um

universo grande de profissionais de diversas áreas que na maioria das vezes atuam de

forma efetiva dentro da organização como prestadores de serviços, estagiários e até

voluntários (TENÓRIO, 2006, p.79).

Por fim, a organização deverá efetuar a avaliação dos resultados alcançados.

Essa análise é característica essencial da função Controle, que visa comparar o

desempenho real com o desempenho esperado, buscando identificar possíveis

descompassos e suas causas, a fim de que possam ser adotadas medidas corretivas

sempre que necessário.

Tachizawa (2002) se refere de forma prudente às cobranças em termos de

profissionalização do quadro de colaboradores das ONGs, com foco na atuação para

que os recursos disponibilizados tenham maior impacto social, acompanhamento e

influência nas políticas públicas, preocupação com a sustentabilidade das organizações

que apóiam e buscam priorizar projetos que envolvam o público-alvo.

Assim, Tenório (2006) reafirma que através do uso dessas ferramentas

gerenciais, as organizações não governamentais aumentarão sua capacidade

profissional, visando o cumprimento de sua missão e a obtenção de resultados

concretos em suas ações sociais diante desse cenário de desafios e exigências

apresentadas pelos agentes financiadores.

Em relação ao modelo apresentado pelo governo brasileiro, nota-se que este é

um recurso que tende a ser a principal fonte de sustentação para as organizações de

defesa de direitos. Porém, esse processo de captação vulnerabiliza tais organizações,

uma vez que são exigidas mudanças nas modalidades de acesso.

Os exemplos que melhor corroboram com essa visualização de vulnerabilidade

são referente às exigências relacionadas à duração dos projetos, restrições com gastos

de pessoal (uma vez que a maioria dos editais não permite contratação formalizada

com a assinatura da carteira de trabalho e previdência social - CTPS); não pagamento

de custos fixos da organização, como aluguel, telefone, energia elétrica; dentre outros

(ABONG, 2010, p.78); fatos que contribuem diretamente para a crise de

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sustentabilidade encontrada nesse setor e que compromete a existência dessas

organizações.

Diante das exigências e normas estabelecidas pelo novo cenário de

transferência, é possível perceber que essas organizações se encontram diante da

necessidade de reorganização de suas instituições, a fim de tornarem-se aptas e

alinhadas ao modelo atual desenhado pelas cooperações. Para reforçar essas questões,

Tolber e Zucker (1999) se referem à dependência de recursos, afirmando que está

vinculada à conformidade das organizações com as demandas impostas pelos atores

externos, visando angariar recursos para assegurar sua sustentabilidade.

Buscando maior compreensão, apresenta-se um quadro descritivo dos novos

modelos de cooperação:

Modelos de

Cooperação Aspectos Desafios

Internacional

Alteração de procedimentos;

Necessidade de diversificação de

canais de apoio financeiro;

Profissionalização;

Ênfase no lobbying e advocacy;

Resultados qualitativos e

quantitativos;

Foco na captação de recursos;

Equipe administrativa capacitada

para captação de recursos e gestão

administrativa;

Projetos que envolvam o público-

alvo.

Crise econômico-financeira;

Baixa capacidade profissional

para captação de recursos e

gestão administrativa;

Número reduzido de profissionais

qualificados para esse fim;

Diversificação de fontes em nível

nacional, estadual e municipal.

Nacional

Mudança na modalidade de acesso;

Obrigatoriedade quanto ao acesso

através do Sistema de Convênios

(SICONV);

Exigência quanto à duração dos

projetos;

Restrições com gastos: Folha de

pagamento e custos fixos das

entidades.

Vulnerabilidade das

organizações;

Impossibilidade de contratação de

profissionais;

Resistência à ferramenta de

gestão de recursos do governo

federal (SICONV);

Baixa capacidade profissional

utilização da ferramenta.

Tabela 2: Quadro descritivo dos novos modelos de cooperação

Fonte: elaborado pela autora

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Dessa forma, a substancial mudança na transferência de recursos, em prazo

muito curto, deu-se sem que as organizações pudessem se adaptar às dinâmicas de

gestão institucional, a fim de garantirem a estabilidade das ações estruturais (ABONG,

2010, p.69). A cooperação demonstra sua ênfase agora em apoio a projetos e redução

de apoio às questões institucionais.

Diante do contexto, Armani (2001) apresenta três conceitos importantes ao

cenário de sustentabilidade das ONGs. O primeiro se refere à importância de

reconhecer que essas organizações, em especial as ONGs, não conseguirão se

sustentar financeiramente sem que haja doação relevante de recursos a fundo perdido.

Além disso, evidencia que o peso da autossustentação não é apenas das ONGs e que

há a necessidade de prepararem suas instituições para que possam acessar recursos de

diversas fontes, sejam públicas, privadas ou não governamentais, nacionais e

internacionais. Armani (2004, p.9) afirma, então, que:

A sustentabilidade desse tipo de organização vai sempre combinar, na

melhor das hipóteses, uma capacidade para obter receitas “próprias” de

forma regular (contribuição de sócios e de “rede de amigos”, prestação

de serviços de forma remunerada, venda de produtos etc.).

No segundo conceito apresentado, o autor demonstra que a sustentabilidade das

ONGs está também relacionada à qualidade das organizações e de seu projeto

institucional. Assim, o autor evidencia que é imprescindível que uma ONG inicie um

processo contínuo de atualização e profissionalização, considerando aspectos como

sua missão, visão política, sua capacidade estratégica, habilidades para influenciar as

políticas públicas e de administrar pessoas e recursos.

Nesse entendimento Armani (2004, p.10) cita que:

A sustentabilidade não diz respeito apenas à dimensão da sustentação

financeira de uma organização, mas sim a um conjunto mais amplo de

fatores de desenvolvimento institucional cruciais para as chances de

“êxito duradouro” de uma ONG.

Em continuidade, o autor faz referência ao terceiro conceito, decorrente do

segundo, em que apresenta a importância das organizações se reinventarem ao buscar

a sustentabilidade. Reporta-se, ainda, à importância de promoverem mudanças

contínuas nos aspectos relacionados à cultura e ao fazer institucional, a exemplo da

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mudança quanto ao planejamento estratégico, estratégias de comunicação, perfil de

seus colaboradores e até sua capacidade de gestão. O autor em questão ressalta que

(ARMANI, 2010, p.58):

É necessário reconhecer que a busca da sustentabilidade institucional

deste tipo de organização envolve disputas em torno das estratégias de

combate à pobreza e à desigualdade, e também sobre o sentido da

participação delas na promoção do desenvolvimento.

Dessa forma, Armani (2001) observa que a energia institucional não deve mais

ser voltada apenas às atividades fins da organização, mas também é necessário atentar

para as questões do desenvolvimento institucional e para a sustentabilidade como fator

estratégico. Ressalta ainda que, na luta pela sustentabilidade, é de grande importância

que as ONGs façam um julgamento criterioso das possíveis implicações que são

apresentadas por cada oportunidade de financiamento e que estejam engajadas em

diversos processos coletivos de diálogo e ação política que visem influenciar os

marcos legais, políticos e operacionais.

Para Cruz e Estraviz (2000, p.21) a sustentabilidade ou autossustentabilidade

das organizações sem fins lucrativos está presente nas discussões acerca do terceiro

setor, com a visão de que a autossustentabilidade é abordada por financiadores como a

não dependência de terceiros, ou seja, criação de receitas próprias através de

atividades que sejam capazes de garantir o orçamento da entidade.

Para Savitz (2007, p.29), sustentabilidade está relacionada à forma como uma

organização conduz o seu negócio, ou seja, de que modo os benefícios gerados são

atribuídos a todos os stakholders; incluindo seus profissionais, clientes, parceiros,

comunidade em que opera e para a própria organização de forma natural.

Assim, afirma que as organizações que têm o foco na sua sustentabilidade, são

capazes de desenvolver atividades em prol do bem, da melhor forma possível. Porém,

Cruz e Estraviz (2000, p.20) reforçam que a soma dos resultados obtidos com uma

gestão eficiente, são passos essenciais para a captação de recursos. A ABONG (2010,

p.58) refere-se à sustentabilidade relacionada às organizações de defesa dos direitos

humanos como o:

[...] conjunto de subsídios dinâmicos, processuais e históricos, que são

relacionados ao fortalecimento de uma organização, com capacidade de

assegurar tanto a existência física sem prevaricações nas relações

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profissionais internas, quanto à visibilidade política das organizações no

curto e médio prazo.

Nesse entendimento, a ABONG (2010, p.58) declara que a sustentabilidade

deve incorporar aspectos estratégicos para captação de recursos, como diversificadas

fontes de financiamento que considerem as questões institucionais, fortalecimento da

visibilidade e legitimidade dessas organizações, alianças consolidadas que sejam

capazes de contribuir para a visibilidade de suas lutas, assim como o desenvolvimento

da capacidade interna de gestão e de uma cultura institucional que considere as

relações de trabalho de forma coerente e transparência na utilização dos recursos

recebidos, pois a transparência é de fundamental importância, visto que uma

organização que não apresenta suas contas gera desconfiança (CRUZ; ESTRAVIZ,

2000, p.24).

Por fim, Armani (2010, p.59) descreve que a sustentabilidade dessas

organizações pode ser analisada em dois níveis:

No nível micro de uma organização em particular, a sustentabilidade

pode ser definida como a capacidade de sustentar de forma duradoura o

valor social do projeto institucional, no nível macro, a sustentabilidade

pode ser tomada como o grau de correspondência (legitimação social-

pública) entre a ação coletiva das organizações sociais e as concepções,

políticas e mecanismos (públicos e privados) de enfrentamento da

pobreza e das desigualdades e de promoção do desenvolvimento.

Nessa perspectiva, avalia-se que a sustentabilidade dessas organizações

demanda que as mesmas criem estratégias de captação de recursos que sejam capazes

de propiciar maior visibilidade, credibilidade e interlocução com a sociedade visto que

o cenário de sustentabilidade das ONGs apresentado pelo país envolve não somente o

levantamento e adequada utilização dos recursos financeiros, mas um investimento do

desenvolvimento das pessoas que fazem parte da instituição, melhoria da qualidade

dos serviços oferecidos, de forma a adequá-los necessidades das comunidades;

buscando também a adesão da sociedade à causa da organização através da

transparência (CRUZ; ESTRAVIZ, 2000, p.13).

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3.4. Captação de recursos nas ONGs de direitos humanos

A situação financeira e política em que as ONGs se encontram na atualidade

sofreram grandes transformações ao passar dos anos, pelo fato de não deterem mais a

mesma condição antes disponibilizada pela cooperação internacional no período de

1980 a meados de 1990 quando se vivenciava o auge de doações para o Brasil, o que

criou certa dependência desses recursos.

Armani (2010, p.57) informa que as organizações da área social, que trabalham

na defesa de direitos, foram as mais afetadas e apresentam fragilidades quanto à sua

sustentabilidade, uma vez que apresentam dificuldades relacionadas às questões de

ordem: i) Política: em virtude de limitada percepção pública a respeito do valor social

das organizações; ii) Jurídica: pela inexistência de marco legal regulatório adequado e

iii) Financeira: em face de déficits orçamentários e maior instabilidade.

O mesmo autor relata que, devido ao novo cenário apresentado, essas

organizações compreenderam a importância da construção de estratégias inovadoras

de captação de recursos através de parcerias locais, partindo então para o nível

nacional, estadual e municipal, visando o fortalecimento e sustentabilidade.

O termo estratégia, mesmo sendo tradicionalmente definido de uma única

forma, requer definições distintas (MINTZBERG; LAMPEL e AHSLTRAND, 2000,

p.17). No presente estudo, entende-se estratégia como um padrão ou plano capaz de

integrar as metas, políticas, bem como uma sequencia de ações da organização

(MINTZBERG; QUINN, 2001).

Quanto à captação de recursos, também chamada de mobilização de recursos, é

compreendida como a otimização dos recursos existentes, a conquista de novas

parcerias e a obtenção de fontes alternativas de recursos financeiros (GETS, 2002,

p.14).

A partir do entendimento acima, as estratégias de captação de recursos são

compreendidas como um conjunto de ações diferenciadas, que são desenvolvidas pela

organização de forma planejada, visando a diversificação de fontes de recursos

financeiros, bem como os recursos humanos e materiais.

Corroborando com esse entendimento Cruz e Estraviz (2000, p.24) ressaltam a

importância das ONGs de buscarem sua sustentabilidade através de outras fontes

financiadoras como: o governo, as empresas, as fundações, os sócios e também através

da geração de receitas próprias. Assim, apresentam a ação de captação de recursos

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como uma atividade fundamental devendo, portanto, ser compreendida, assimilada e

realizada por todas as áreas presentes na organização.

Contudo, Tachizawa (2002) se refere às parcerias como uma arte, uma vez que

construí-las envolve habilidades e talento. Portanto, é necessário respeitar todos os

componentes envolvidos e que sejam evidenciados todos os aspectos que ainda não

foram expostos nos contatos inicias, devendo-se considerar, ainda, aspectos

relacionados à parceria que se desenha, cabendo identificar se envolverá apenas um

projeto social específico ou uma ação mais continuada, pois as ações empenhadas em

desenvolver um projeto específico diferem das ações que são desenhadas visando ação

conjunta em longo prazo.

Diante disso, nota-se que os conceitos de parceria e aliança estratégica fazem

referencia a duas coisas distintas, pois a parceria agrega a ideia de ações mais

pontuais, um projeto ou uma ação conjunta; e quanto às ações de longo prazo, buscam

um laço mais permanente, uma aliança estratégica (TACHIZAWA, 2002).

Nesse contexto, Armani (2010) apresenta estratégias que foram adotadas como

medidas para captação de recursos em ONGs que atuam na defesa de direitos, no

intuito de enfrentarem a saída dos agentes internacionais e buscarem garantir a

continuidade de suas atividades. Como exemplo, o autor informa que essas

organizações optaram por uma redefinição de suas ações e, mesmo percebendo que

haveria um impacto considerável em seu público alvo, optaram pela implantação de

uma rigorosa política de diminuição de gastos e fizeram a opção por dar maior atenção

à sua política de gestão institucional.

Começaram também a estreitar laços com os recursos federais que são

disponibilizados através de ministérios ou órgão da administração direta. Além disso,

como forma de diversificação de fontes e planos de mobilização de recursos, buscaram

o aprimoramento da comunicação e visibilidade junto à sociedade civil brasileira, com

o objetivo de aperfeiçoar seus sistemas de avaliação para demonstrar maiores

resultados e impactos provenientes de seus trabalhos sociais.

Ao considerar as diversas fontes de financiamento que são acessadas pelas

ONGs num contexto de mudanças, verifica-se a existência de recursos

disponibilizados no âmbito nacional pelo Governo Federal Brasileiro para

financiamento de projetos, que podem ser considerados como alternativas disponíveis

em prol da captação de recursos.

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Cruz e Estraviz (2002, p.83) ressaltam que as organizações sem fins lucrativos,

que são de utilidade pública, já recebem uma espécie de financiamento do Estado, por

terem diversas isenções. Informam que esses recursos podem ser acessados de duas

maneiras: convênios, onde a instância governamental (municipal, estadual ou federal)

efetua parceria com a entidade; e concursos públicos.

Os autores analisam que os convênios firmados entre organizações sem fins

lucrativos e instâncias governamentais, devem ser encarados como uma prestação de

serviços, uma vez que o governo terceiriza uma obrigação sua e remunera uma

organização sem fins lucrativos para que oferte serviço à comunidade. Dessa forma, a

vantagem percebida nessa parceria está relacionada ao fortalecimento desses trabalhos

de assessoria técnica, legitimação e garantia de verbas através de convênios. Mas,

destacam os autores, o desafio de vencer a burocracia e a necessidade de se adequarem

a ela, o remanejo de verbas destinadas ao terceiro setor, dentre outras dificuldades.

Contudo, faz-se necessário ressaltar a essas organizações a importância de se

ajustarem aos novos modelos e exigências que são impostas pelos agentes que

transferem recursos na atualidade, a fim de que possam criar estratégias para utilizar

essas possibilidades como mais uma oportunidade de recursos financeiros para a

instituição.

Savitz (2007, p.147) exibe a importância das organizações trabalharem seus

pontos fortes e fracos, podendo ser relacionados à conjuntura das ONGs. Apresenta os

pontos fortes como sendo um conjunto de habilidades, recursos materiais, vantagens

culturais e ligações com os stakeholders, que trazem possibilidades de tornar suas

operações ainda maiores, mais fortes, mais lucrativas e mais sustentáveis no futuro. E

quanto aos pontos fracos, apresenta-os como perigos a serem identificados e

eliminados, ou seja, carência de habilidades, destruição de recursos, pontos cegos

culturais e relacionamentos com stakeholders que foram se deteriorando ou deixaram

de existir, os quais precisam ser reavaliados e enfrentados na perspectiva de que não

causem danos maiores.

Tachizawa (2002) reforça que a estratégia de criar parcerias e alianças

estratégicas entre os setores como medida para captação de recursos no terceiro setor,

levam em consideração os objetivos relacionados à transformação da realidade, onde

se busca justiça social.

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Desse modo, demonstra que três forças corroboram para a criação de um

espaço propício para o surgimento das parcerias e das alianças estratégicas, que são: i)

a procura de capacidade à medida que os limites entre as organizações tornam-se

indefinidos; ii) recursos escassos e a intensificação da competição por espaço, além da

crescente necessidade de intervenção na problemática social e iii) a lacuna entre o que

uma organização gostaria de realizar e o que, levando em conta a realidade e seus

recursos próprios, pode realizar.

Assim, essas forças evidenciam possibilidades para o desenvolvimento e

continuidade de atividades das ONGs, uma vez que os recursos recebidos por essas

parcerias ou alianças irão impactar diretamente na sustentabilidade da organização,

contribuindo também para o início de novos projetos, mais oportunidades para

captação de recursos e espaço de atuação mais fortalecido quanto à ética, capacidade

de investimento, imagem, credibilidade, gestão de pessoas, saúde financeira e projetos

sociais.

Apontando algumas possibilidades nesse sentido, a publicação da Associação

Brasileira de ONGs intitulada Manual de Fundos Públicos (2004) divulga diversos

recursos públicos em formato de parcerias e alianças estratégicas, que estão

disponíveis para as organizações que desenvolvem atividades relacionadas ao

desenvolvimento social e humano no Brasil, como as ONGs.

Nesse manual são apresentados diversos programas relacionados à educação,

saúde, meio ambiente, cultura, trabalho, emprego e renda, agricultura, direitos difusos

e direitos humanos, proporcionando às ONGs conhecimentos acerca de alguns tipos de

financiamentos que podem ser acessados e que devem levar em consideração a

existência de um novo modelo de cooperação, no qual existem regras e critérios que

carecem de minuciosa análise pelas organizações, objetivando identificar suas aptidões

à concorrência.

Dentre os recursos disponíveis, é necessário atentar para aqueles que financiam

os projetos institucionais, pois muitos destes apoiam apenas atividades fins e não a

estrutura da organização, o que será primordial para a gestão organizacional, assim

como a gestão do projeto.

Diante disso, há a possibilidade de: i) acesso aos recursos a fundo perdido, que

são aqueles em que não há a incidência de custos financeiros e não há a exigência de

reembolso, mas se tem a obrigação de prestação de contas; ii) recursos disponíveis na

forma de linha de crédito com juros subsidiados, que são oferecidos por agentes

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financeiros, com a incidência de juros bem mais reduzidos que os do mercado e iii)

recursos disponíveis na forma de incentivos fiscais a financiadores privados, sendo

recursos disponibilizados através da dedução de impostos devidos pelo financiador de

projetos ou pelo contribuinte que financie projetos (ABONG, 2003, p.29).

Na mesma publicação, a ABONG (2003, p.30) apresenta os recursos

disponíveis para a apresentação espontânea de projetos e os recursos disponíveis para

a apresentação induzida de projetos. O primeiro se refere aos recursos que ficam

disponíveis por períodos contínuos, que são relacionados às políticas ou programas de

governos e que podem ser acessados a partir da apresentação de projetos, seguindo os

critérios e regras estabelecidos. E o segundo faz referência à necessidade de

contratação de projetos específicos, para atendimento às situações mais específicas,

através da utilização de editais ou licitação e são previstos por tempo limitado.

No que tange aos programas relacionados à área da saúde, o manual apresenta

diversas possibilidades de acesso aos recursos públicos, a exemplo do Programa de

Prevenção, Controle e Assistência aos Portadores de Doenças Sexualmente

Transmissíveis e de Aids. Esse programa é financiado por meio de um acordo de

empréstimo entre o Brasil e o Banco Internacional de Reconstrução e

Desenvolvimento (BIRD), tendo como principais objetos de apoio projetos que visem

o suporte aos portadores de HIV/Aids, intervenção comportamental, informação,

educação e comunicação e desenvolvimento institucional.

Em relação à área de educação, o manual traz o Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE), em que o Ministério da Educação apoia

através de assistência financeira projetos educacionais que visem a melhoria da

qualidade do ensino brasileiro. Os recursos para esse apoio eram provenientes do

salário educação, destinados ao antigo ensino fundamental, incluída a educação pré-

escolar, educação de jovens, educação especial, dentre outras (ABONG, 2003, p.83).

Para acesso a esse recurso pelas entidades sem fins lucrativos, o FNDE

estabelece que essas organizações apresentem diversos documentos como atestado de

regularidade, declaração atualizada de funcionamento regular, certidões negativas de

débitos emitidas pela Receita Federal, dentre outras, a fim de que estejam habilitadas a

estabelecer convênios com o Governo.

Quanto à área do meio ambiente, o manual apresenta o Fundo Nacional do

Meio Ambiente, criado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), através da lei

7.797/89, visando apoiar financeiramente os projetos que apontem para o uso racional

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e sustentável dos recursos naturais e a manutenção, melhoria ou recuperação da

qualidade ambiental. Nesse caso, o Ministério estabelece exigências relacionadas às

questões formais (projeto elaborado), aspectos ambientais, aspectos sociais,

econômicos e institucionais, a organização deve apresentar um quadro técnico que seja

qualificado na área de atuação do projeto e ser capaz de demonstrar sua capacidade

técnica relacionada às questões administrativas e de infraestrutura para a execução do

projeto proposto.

Por fim, quanto às organizações que atuam na defesa de direitos, é apresentado

o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), coordenado pela Secretaria

Especial de Direitos Humanos, que objetiva como objetivo apoiar projetos que visem à

obtenção e promoção dos direitos humanos em âmbito nacional (ABONG, 2003).

Vale ressaltar que o manual ora citado atenta para uma das condições impostas

para acesso ao recurso disponibilizado por essa Secretaria, ou seja, exprime que há

condições relacionadas ao fato de terem financiamento simultâneo de outros órgão da

administração federal, o que as impossibilitará de obter mais esse recurso para suas

atividades.

Dessa forma, buscar a concorrência desses recursos é, também, parte da

estratégia de captação de recursos em ONGs que atuam em defesa dos direitos.

Entretanto, as precondições para acesso a esses financiamentos acabam por

comprometer sua participação no processo em busca de recursos que visem a sua

sustentabilidade.

Posteriormente, em 2004, a ABONG lança novo manual de fundos públicos

com o mesmo objetivo do manual de 2003, buscando atualizar as informações e dando

ênfase à qualificação das organizações e com maior capacidade de comprovar sua

elegibilidade. Assim, as estratégias de qualificação e profissionalização; que

considerem as ferramentas de planejamento, avaliação, sistematização, comunicação e

mobilização de recursos; possibilitam sua movimentação e articulação em busca de

novas fontes de financiamento e captação de recursos.

Como estratégia de mobilização de recursos, as organizações também

iniciaram atividades para geração de renda a partir da elaboração de projetos de

prestação de serviços através de palestras em órgãos públicos, parcerias com escolas,

faculdades e demais organizações que tenham interesse em trabalhar a temática e que

possam contribuir financeiramente para a sustentabilidade dessas atividades e de seus

profissionais (TACHIZAWA, 2002).

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Importante ressaltar que essas fontes de recursos possibilitam vantagens para a

organização, pois o dinheiro arrecadado pode ser gerido pela entidade conforme

necessidade. Sobre a questão, Cruz e Estraviz (2000, p.85) alertam que as ONGs

devem atentar ao risco de não tornarem seus objetivos com fins de lucro, já que essa

não é a missão e nem a finalidade da instituição. No entanto, deve-se observar que

essa prática somente se daria se os recursos arrecadados fossem divididos entre os

membros da ONG, o que poderia caracterizar divisão de lucros; mas o que se observa

é que tais recursos, em muitos casos, são destinados à manutenção das atividades da

instituição.

Corroboram ainda para estratégias de captação de recursos a mobilização junto

às pessoas físicas que sintam afinidade com as temáticas trabalhadas pelas

organizações. Contudo, Tachizawa (2002) se reporta à importância da credibilidade da

organização junto à sociedade para que consigam despertar o interesse e o desejo

dessas pessoas em efetuarem doações financeiras às suas organizações.

Cruz e Estraviz (2000, p.27) ratificam que a credibilidade é criada com tempos

de trabalho, resultados obtidos ou, no caso das organizações mais novas, com um

conselho forte e formado por pessoas que tenham boa credibilidade na comunidade,

sendo importante ressaltar que esse campo requer maior investimento financeiro em

campanhas que mobilizem as pessoas a esse tipo de doação (TACHIZAWA, 2002),

pois os indivíduos que aderem às suas causas e que se identificam com os projetos

desenvolvidos reconhecem a importância dessas entidades através de doações, mesmo

que de forma irrisória (CRUZ; ESTRAVIZ, 2000, p.78).

Outra estratégia apresentada por Armani (2010) está relacionada ao aumento de

parcerias entre iniciativa privada e organizações da sociedade civil que tem

demonstrado qualificação progressiva e iniciativas de caráter mais estratégico. Essa

parceria tem sido percebida mais fortemente nos últimos anos, através da criação de

fundações e institutos que são vinculados a elas e que contam com seu aporte técnico-

financeiro. Com isso, visualiza-se uma tendência moderna em que as práticas

filantrópicas estão sendo substituídas por doações pontuais e assistenciais aos seus

funcionários, familiares e às comunidades que estão presentes nos arredores da

empresa (BNDES, 2001, p.20).

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Contudo, Cruz e Estraviz (2006, p.81) atentam ao fato de que essas parcerias

precisam estar baseadas na clareza das propostas e no detalhamento da divulgação do

projeto para a entidade, pois é comum que as empresas privadas forneçam apoio em

troca de divulgação.

Para captação junto às empresas privadas, é necessário que se arrisquem em

ações de responsabilidade social das empresas privadas brasileiras e criem planos para

mobilização desses recursos. Como exemplo, identifica-se o Movimento de

Organização Comunitária (MOC) do Nordeste brasileiro, que optou em diversificar

suas fontes de financiamento e elaborou um plano contendo três modalidades: i)

participação nos editais de seleção de projetos lançados periodicamente pelas

fundações e institutos ligados às grandes empresas nacionais, ii) negociação de

projetos diretamente com empresas e iii) constituição de uma rede de doadores pessoas

físicas (BAPTISTA; MINIHUBER, 2009).

Tachizawa (2002) apresenta, ainda, como estratégia de captação de recursos, a

parceria com a iniciativa privada que se dá a partir de grupos de atividades que

envolvam os funcionários das empresas no desenvolvimento e implantação dos

projetos sociais, ou seja, as empresas privadas financiam as ONGs para que capacitem

seus profissionais acerca das temáticas que serão trabalhadas e estes, por sua vez,

serão responsáveis por implantar o projeto junto ao público a ser beneficiado.

Vale ressaltar que a parceria existente entre as empresas privadas e as

organizações da sociedade civil apresentam vantagens às ONGs, por se tratar de uma

ação capaz de gerar credibilidade e visibilidade, além de possibilitar maior retorno

financeiro, disponibilidade de trabalho voluntário especializado, dentre outras. Porém,

essas parcerias também enfrentam desafios, uma vez que seus interesses nem sempre

são comuns, como a exigência quanto à divulgação da imagem da empresa, a

instabilidade econômica, etc. (CRUZ; ESTRAVIZ, 2006, p.87).

Corroborando com tal entendimento, Armani (2010, p.49) destaca a

importância das ONGs considerarem três fatores relevantes ao futuro dessa aliança:

i) Grau e o ritmo de avanço das práticas de responsabilidade social das

empresas; ii) Superação do desconhecimento e do preconceito

ideológico mútuo entre ambos setores e iii) Identificação por parte dos

dois setores de que a maior efetividade das ações sociais e a maior

sustentabilidade das organizações não governamentais tem muito a

ganhar com a aproximação estratégica entre eles.

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Assim, o autor adverte que, superando essas dificuldades e assumindo esses

fatores como estratégicos, as chances de sustentação poderão ser maiores. Porém, sem

desconsiderar a capacidade de adaptação e inovação de todas as organizações diante

dos desafios apresentados pelo cenário, para que o contexto não apresente mais

dificuldades e tornarem-se intransponíveis para as ONGs.

Reforça-se a importância das ONGs em atentarem para o gerenciamento das

atividades que estão relacionadas à gestão de pessoas, no que diz respeito a

recrutamento/seleção, administração de cargos e salários, planejamento de carreira,

treinamento e desenvolvimento e atividades correlatas, uma vez que as empresas

privadas estão atentas à produtividade das pessoas que estão envolvidas nessas ações,

pois quanto maior a produtividade, maiores serão os resultados da empresa

(TACHIZAWA, 2002).

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4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS

Neste capítulo é apresentada uma análise e interpretação dos resultados

coletados junto às ONGs selecionadas para este estudo. A análise está dividida

basicamente em três seções: histórico da organização, que aborda dados gerais como a

natureza, constituição jurídica e missão; estrutura organizacional, que, conforme

Tachizawa (2002) considera basicamente processos organizacionais como

reestruturação, downsizing e profissionalização; e estratégias de captação de recursos,

que de acordo com a Araújo (2010) trata do ambiente de redefinição de ações, gastos,

parcerias e mobilização de recursos.

A seguir, descrevem-se as seções a pouco citadas em relação a cada uma das

ONGs pesquisadas, iniciando-se pelas ONGs de Belém, em seguida Recife e

posteriormente as de Salvador.

4.1. Centro de Estudo e Defesa do Negro do Pará - CEDENPA

a) Histórico da Organização

O Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará - CEDENPA é uma

organização não governamental, que foi constituída juridicamente enquanto

associação. Funciona com sede própria em Belém (PA), localizada na Rua dos

Timbiras, nº 255, no bairro da cremação e Cep 66.045-520.

Sua fundação ocorreu em 10 de agosto de 1980, após diversas discussões

realizadas entre pessoas que buscavam a redemocratização do país, principalmente

acerca das mazelas causadas pela ditadura militar. Foi então que um grupo de negros e

negras se reuniu para dar início a um novo grupo que buscava discutir e lutar contra o

preconceito racial.

Em 16 de agosto de 1981, o grupo reuniu para debater e aprovar a Carta de

Princípios, o estatuto e eleger a primeira coordenação da nova instituição. Somente em

27 de abril de 1982 o CEDENPA foi legalmente registrado.

A organização afirma ser composta por:

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Um bocado de negras e negros, de diferentes faixas etárias, níveis de

escolaridade, níveis de informação, profissões/ocupações, orientações

sexuais, níveis de renda, religiões, estaturas, volume corporal, vícios, e

outros aspectos da individualidade. Junto com esse punhado de negras e

negros, estão, também, um punhado de pessoas não negras, as quais, de

diferentes maneiras, apoiam esse difícil trabalho de protagonizar ações

voltadas a remover obstáculos antigos e novos, impostos pelo segmento

racial-racista hegemônico ( http://www.cedenpa.org.br).

Diante disso, sua missão é contribuir no processo de superação do racismo,

preconceito e discriminação que produzem as desigualdades sociorraciais, de gênero e

outras; prejudicando, sobretudo, a população negra e indígena, em todos os aspectos

da sociedade brasileira. Com isso, visando cumprir sua missão, a organização atua

socialmente através de 6 (seis) áreas interligadas, que são: cultura e recreação,

educação e pesquisa, saúde, religião, defesa de direitos e emprego e renda; melhor

visualizadas através na Figura 2.

Figura 2: Eixos de Atuação do CEDENPA, conforme Mapa 3º Setor - Classificação Internacional de

Organizações Não lucrativas – ICNPO.

Fonte: Elaborado pela autora

CEDENPA

Cultura e Recreaçã

o

Educação e

Pesquisa

Saúde

Religião

Defesa de Direitos

Emprego e Renda

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b) Estrutura organizacional

Desde sua formação, em 1980, foi acordado pelos fundadores que a estrutura

organizacional teria o formato de coordenação como principal instancia que responde

legalmente pela organização. Essa coordenação é formada por três colaboradores

voluntários dispostos em: coordenação administrativa, coordenação financeira e

coordenação de projetos.

As coordenações, administrativa e financeira, são responsáveis pelas demandas

legais como assinaturas de documentos, assinaturas de cheques, liberação de recursos

financeiros, assinaturas de contratos para projetos e demais questões relacionadas à

gestão da organização.

Quanto à coordenação de projetos, tem a responsabilidade de gerenciar os

projetos que foram aprovados e os que estão sendo executados pela organização,

buscando garantir o atingimento das metas, acompanhando atividades, os profissionais

e respondendo pelas demais questões relacionadas aos projetos que estão em prática.

Conforme a hierarquia tem-se os técnicos, que são os profissionais com a

responsabilidade de executar as atividades previstas nos projetos e atender às

demandas existentes no decorrer das atividades da organização.

Devido ao número reduzido de recursos financeiros que possam financiar a

área meio da organização, atualmente esta conta com uma equipe reduzida de técnicos,

dispondo apenas de 01 (um) funcionário com salário fixo garantido por um projeto

financiado pela cooperação internacional e 8 (oito) voluntários que atuam diretamente

em atividades do projeto e atividades da organização.

Para contratação dos profissionais, a organização utiliza o chamamento público

em formato de edital, divulgado em redes sociais e redes de contatos, no qual são

informados os pré-requisitos às vagas. Comumente a organização prioriza a

contratação de pessoas negras e exige que tenham forte atuação e experiência com o

movimento social e que detenham experiência profissional na área exigida pelo cargo

a ser ocupado.

A organização também busca identificar e reforçar a importância de ter

profissionais que possuam afinidade com as discussões de gênero e que contribuam

com o fortalecimento do papel da mulher, identidade racial, tenha compreensão acerca

do gênero feminino, que seja negra e que tenha atuação no movimento social

(sindicatos, movimentos sociais etc.).

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Buscando ainda tornar esses profissionais, novos e antigos, mais capacitados e

fortalecidos às temáticas e atividades relacionadas à instituição, foi informado que “[..]

com certa frequência temos as formações da militância”5. O que demonstra que a

instituição tem prática de efetuar formação trimestral aos seus colaboradores, através

de formações apoiadas por projetos, assim como por demais profissionais externos à

organização, que tenham afinidade com os temas expostos.

As formações são geralmente organizadas e ministradas por um grupo interno

da organização, chamado de grupo da educação, que têm a responsabilidade de

elaborar, formatar e ministrar seminários, palestras e rodas de conversas relacionadas

às questões da negritude, políticas, leis e demais temáticas que considerem

importantes à atuação da organização.

Perseguindo melhor estruturação e organização da entidade, o CEDENPA

também efetua seu planejamento de forma anual. No início de cada ano a organização

reúne todos os colaboradores que trabalham diretamente na organização e os demais

participantes que tenham atuação na militância e, juntos, elaborarem o planejamento

do ano que se inicia.

Posteriormente, no meio do ano planejado, a organização se reúne novamente

para efetuar avaliação do que foi planejado e executado no primeiro semestre. Ao final

do ano, efetuam uma avaliação final de tudo que foi planejado e executado durante

todo o ano. Com isso, todos os colaboradores e demais pessoas que tenham relação

com a instituição e queiram participar desse momento, terão oportunidade de conhecer

e avaliar todas as atividades que foram executadas nos projetos, eventos externos e

internos.

No momento da entrevista foi informado que a organização adotou

metodologias atuais que sejam capazes de monitorar e avaliar suas ações e

desenvolveu uma ferramenta chamada de “agenda política”, que tem o objetivo de

apresentar e acompanhar as atividades que foram previstas no planejamento anual e

monitorar sua execução.

Além disso, desenvolvem relatórios que são emitidos por todos os

colaboradores que participam de alguma atividade em nome da entidade. Nesse

documento, deverá constar tudo o que ocorreu no evento e todos os encaminhamentos

5 NUNES, Maria Luiza de Carvalho. Informação verbal prestada à autora em entrevista realizada no dia

29.10.2012.

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que surgiram dessa atividade. Posteriormente, esses relatórios são encaminhados à

secretária para organização das informações e em seguida divulgação para as demais

pessoas da instituição.

Diante do contexto organizacional apresentado a ONG acredita que, através de

constantes processos de formação, capacitação e troca de experiências entre os

profissionais que tenham relação com as suas temáticas e práticas, consiga estar mais

capacitada e profissionalizada para o novo cenário em que se encontra, onde

identificam cada vez mais exigências relacionadas à necessidade de maior

profissionalização para atender às solicitações dos financiadores, precisando

comprovar capacidade técnica e estrutural, a fim de que possam lutar por uma

oportunidade de recursos para continuidade de suas ações e cumprimento da missão.

Quanto às atividades de planejamento, avaliação e monitoramento, o

CEDENPA percebe que consegue obter subsídios para avaliar o cenário atual à partir

de todos os resultados extraídos de ações desenvolvidas, incluindo o planejado e o não

planejado; assim como informações que podem subsidiar o planejamento do ano que

se inicia.

Diante disso, o CEDENPA acredita que tenha conseguido se reorganizar e se

estruturar para um cenário de mudanças constantes, sem perder a missão de foco e sem

deixar de acreditar na capacidade de superar os desafios encontrados para a

sustentabilidade nos dias atuais.

c) Estratégias de captação de recursos

O CEDENPA, assim como as demais organizações não governamentais que

atuam em defesa de direitos no Brasil, tem sofrido diversos impactos relacionados à

sustentabilidade devido à escassez de recursos financeiros que eram disponibilizados

pelas agencias de cooperação internacional.

Mesmo diante desse cenário, ainda no ano de 2011, a organização conseguiu

contar com apoio financeiro de um financiador internacional, após ser procurada e

apresentada a um programa relacionado à sua temática. A organização não informou

os montantes recebidos nos anos de 2010 e 2011 para avaliação e comparação dos

orçamentos. Porém, foi informado que o CEDENPA finalizou o exercício de 2011

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contando com uma única fonte de financiamento, a cooperação internacional,

totalizando 100% de seu orçamento.

Diante desse cenário, a organização deu continuidade às suas estratégias e ações

de mobilização de recursos e trabalhou efetivamente na elaboração de projetos sociais

para captação de recursos junto às agencias de cooperação internacional. E em um dos

casos, a entidade elaborou um projeto especifico para uma agencia internacional, que

procurou a organização com recursos em mãos para financiá-la, mas não informou o

montante aprovado para a execução desse projeto.

Os projetos foram elaborados por um núcleo composto por quatro

colaboradores, sendo uma pedagoga, uma assistente social e duas engenheiras

agrônomas, que trabalham na instituição e que são responsáveis pela elaboração de

projetos sociais para captação de recursos. Esses profissionais detêm grande

experiência e acúmulo de conhecimento em captação através de projetos que estão

relacionados à suas áreas de atuação. Porém, não são especializados em captação

desses recursos.

Dessa forma, verifica-se que a organização possui capacidade técnica para a

elaboração de propostas para editais, mas não são profissionais capacitados

especificamente para a captação de recursos financeiros e isso torna a organização

frágil diante da possibilidade de diversificação de outras fontes e pelo fato de não

dispor de recursos financeiros para a contratação de profissional específico para esse

fim; o que reduz as possibilidades de acesso a outros recursos.

Acerca da existência de um plano de mobilização de recursos, foi informado

que a organização não o tem. Porém, tem a prática de efetuar um evento semestral em

que faz uma “feijoada” para captar recursos junto à comunidade da Cremação. Mas,

atualmente, foi feita uma avaliação acerca desse evento e foi percebido que essa forma

de captação não tem sido eficiente para a organização, pois a comunidade é de baixa

renda e não detém poder aquisitivo para maior investimento.

Além disso, em 2011 tiveram a experiência de realizar 1 (um) evento de venda

de roupas e acessórios usados, que foram doadas à organização e que trouxe retorno

financeiro considerável para a entidade. Mas, esse foi o único evento que a

organização efetuou por não dispor de tempo e pessoas suficientes para planejamento

e organização de momentos como esse.

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Identificou-se ainda, que a organização possui uma grife que produz roupas a

partir de modelos e tecidos africanos, assim como acessórios com conceitos

relacionados às questões da negritude e que também são produzidos como forma de

captação de recursos. Esses materiais são criados para comercialização em uma banca

de vendas, que a organização criou com o intuito de geração de renda. Porém, devido

assaltos sofridos de forma recorrente, a organização se viu obrigada a fechar as portas,

ficando então, sem os recursos das vendas dos produtos.

Quanto às parcerias com empresas privadas, averiguou-se que a ONG tem

sérias restrições quanto a captar recursos com organizações privadas e não acreditam

que essas empresas sejam sensíveis à sua atuação social. Além disso, suas restrições

estão relacionadas ao fato de que muitos de seus militantes quilombolas estão sendo

processados judicialmente por uma empresa mineradora brasileira.

Diante destes fatos, verifica-se que a organização estabelece poucas parcerias

com outras fontes de financiamento, buscando recursos para sua sustentabilidade.

Porém, mesmo diante desse cenário, continua a desenvolver suas atividades, sem

permitir que eventos contrários aos seus objetivos possam distorcer sua mentalidade e

missão apenas para receber recursos financeiros.

Com isso, buscando lidar com a escassez de recursos e objetivando garantir a

continuidade de suas principais atividades, o CEDENPA iniciou um processo de

redefinição de suas ações e redução de gastos.

Então, assumiu a estratégia de reduzir drasticamente a participação em

atividades, pelo fato de não possuir recursos financeiros disponíveis e suficientes para

o comparecimento em diversas ações para as quais é demandada. E, em poucos casos

em que a entidade comparece, recorre a voluntários que atuam na organização e que

utilizam recursos próprios para representação.

Por se tratar de uma organização com atuação estadual, o CEDENPA, é muito

demandado por instituições de diversos municípios do Pará, que solicitam a

participação de colaboradores do CEDENPA em audiências públicas, em reuniões não

planejadas e não previstas em projetos, em movimentos nacionais e demais atividades

que exigem recursos financeiros para atuação.

Diante desses fatos, foi identificado que o CEDENPA percebe uma grande

perda de atuação diante dos acontecimentos relacionados aos seus beneficiários, a

sociedade em geral e a própria instituição, pois não consegue estar presente nas

representações necessárias. Ainda como estratégia para redução de gastos, a

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organização reduziu seu quadro de profissionais que atuam nas questões

administrativas e atualmente conta apenas com 1 (um) profissional na secretaria, que é

responsável por todas as atividades internas.

Com isso, verifica-se que a organização se reestruturou para lidar com a falta

de recursos financeiros, tendo sua sustentabilidade e estrutura diretamente afetadas;

uma vez que não dispõem de recursos capazes de garantir salários a profissionais da

instituição e nem à possibilidade de atenderem às demandas sociais a que se destinam.

Outro fator que contribui diretamente para a atual situação de falta de recursos

está relacionado a alguns desafios encontrados para captação de recursos junto à

cooperação internacional, pelo que se avalia as grandes dificuldades em acessar

recursos que financiem a mão de obra que irá trabalhar nos projetos e, principalmente,

recursos disponíveis para pagamento de profissionais que trabalham na área meio

(administrativo-financeira e comunicação).

Percebe-se, ainda, que há muita exigência quanto ao grande número de

atividades a serem desenvolvidas pelo projeto e que tragam resultados quantitativos ao

que foi investido. Porém, na maioria das vezes, o recurso disponibiliza pagamento

para apenas 1 (um) profissional para desenvolver as atividades e os demais

profissionais tendo que atuar de forma voluntária.

Outra dificuldade identificada se refere à exigência relacionada aos

profissionais para que falem língua estrangeira, em especial o inglês. As agencias

internacionais tem exigido pelo menos um profissional que domine o inglês e, não

havendo esse profissional dentro da organização, a possível parceria para recebimento

de recursos fica comprometida.

Quanto aos desafios encontrados para captação junto aos editais públicos

disponibilizados pelo Governo Brasileiro, observa-se que o maior desafio está

relacionado às questões burocráticas, uma vez que há a necessidade de comprovação

de sua capacidade técnica para execução do projeto, construção de orçamentos muito

detalhados e trabalhosos, efetuação licitações obrigatórias para qualquer atividade que

envolva os recursos do projeto, sem contar que a organização nunca recebe um

feedback caso seu projeto não seja aprovado.

Além disso, para que possam captar recursos junto ao Governo, precisam

dominar o sistema de convênios e contratos de repasse, o Siconv6, que foi instituído no

6 Conferir em www.brasil.gov.br

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ano de 2008 com o objetivo de dar maior transparência e publicidade aos convênios,

contratos de repasse e termos de parcerias feitas pela União com estados, municípios,

Distrito Federal e entidades privadas sem fins lucrativos.

Tal ferramenta é percebida como algo incompreensível e que dificulta ainda

mais o acesso aos recursos, devido sua complexidade e falta de capacitação para as

organizações não governamentais.

Diante de todas as questões respondidas na entrevista, avalia-se que a

organização tem sentido seriamente os impactos da saída das agencias de cooperação

do Brasil e percebem a falta de recursos para atividades anteriormente apoiadas por

esses atores. E mesmo diante disso, a organização continua com a prática de participar

apenas da elaboração de projetos sociais para os poucos editais que ainda estão

disponíveis para o Brasil. Isso demonstra que, mesmo buscando outras fontes para

angariar recursos, a organização ainda está muito limitada quanto às fontes de

financiamento e suas estratégias para captação não tem sido suficientemente

sustentáveis.

Dessa forma, vislumbra-se na adoção de um novo processo de capacitação e

reestruturação a possibilidade de habilitação à organização para concorrer a outras

parcerias em níveis municipal, estadual e federal.

4.2. Sociedade de Defesa dos Direitos Sexuais na Amazônia - SODIREITOS

a) Histórico da Organização

A Sociedade de Defesa dos Direitos Sexuais na Amazônia é uma organização

não governamental, constituída enquanto associação, localizada à Rua Bernal do

Couto nº 1329, no bairro do Umarizal, Cep 66055-080. Foi fundada em 20 de

dezembro de 2005, a partir da necessidade identificada por alguns agentes de direitos

em ONGs de Belém em atuar especificamente no combate à violência sexual e ao

tráfico de pessoas, em prol de mulheres e jovens.

Sua missão é lutar pela defesa e garantia dos direitos sexuais enquanto direitos

humanos na Amazônia, na perspectiva de participação ativa e solidária. Para melhor

atuação, a organização atua em 5 (cinco) eixos que se complementam e interagem, são

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eles: atendimento, incidência política, pesquisa, prevenção e fortalecimento

institucional, conforme Figura 3 a seguir:

Figura 3: Eixos de Atuação da Sodireitos, conforme Mapa 3º Setor - Classificação Internacional de

Organizações Não lucrativas – ICNPO.

Fonte: Elaborado pela autora

b) Estrutura Organizacional

Desde sua fundação, a organização estruturou-se em Assembleia Geral, como

instância máxima de deliberação e composta por todos os sócios da organização;

Conselho Diretor, o órgão responsável pela orientação, assessoria e recomendação

para implantação de diretrizes e planejamento que são deliberados pela assembleia

geral, assim como para fazer cumprir os objetivos e finalidade do estatuto da entidade.

Composto por três sócios que são eleitos na assembleia geral e ocupam os cargos de

direção geral, pedagógica e administrativa.

Compõe esse quadro, também, a coordenação executiva, formada por dois

profissionais, que podem ser eleitos ou contratados diretamente para esse fim. Essa

coordenação é responsável por acompanhar, supervisionar e monitorar as atividades

internas e externas, coordenar financeira e administrativamente a organização,

contratar e demitir empregados e prestadores de serviços, apreciar e deliberar sobre o

orçamento da organização.

Sodireitos

Pesquisa

Atendimento

Fotalecimento

Institucional

Incidência Política

Prevenção

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Além dos colaboradores/técnicos, que são todos os profissionais contratados,

voluntários e estagiários que trabalham na execução das atividades dos projetos e da

entidade. Esses profissionais são selecionados por meio de editais públicos que são

divulgados entre os sócios e demais redes de contatos da entidade.

A organização dá preferência a profissionais, contratados e voluntários, que

tenham experiência e atuação em projetos sociais, com habilidades relacionadas às

demandas sociais que a organização recebe e que tenham competência técnica ao

cargo pretendido. Com isso, a organização visa formar um grupo de profissionais que

sejam sensíveis às questões sociais e que busquem somar suas experiências ao

crescimento da ONG.

Observa-se que todos os profissionais, incluindo estagiários e voluntários,

passaram por processos constantes de capacitação. Porém, no momento, a organização

se encontra completamente sem recursos financeiros e as demandas existentes são

deliberadas apenas por profissionais que atuam de forma voluntária, somando 9 (nove)

pessoas. Sendo assim, participam de capacitações quando convidados por outras

instituições e quando há eventos sem custo financeiro. Também participam de

atividades proporcionadas pelas redes de discussões e articulações, que estão

vinculadas às temáticas da organização.

O ano de 2012 foi de grandes desafios para a Sodireitos e a organização teve

que se organizar internamente para que não ocorresse o fechamento total da entidade.

Isso fez com que a organização não conseguisse dar continuidade a algumas atividades

internas como o planejamento, que até o ano de 2011 foi feito anualmente, em um

encontro de dois dias que unia o grupo de profissionais e seus sócios para análise e

avaliação dos resultados do ano anterior e elaboração do planejamento para o próximo

ano.

E para os processos de avaliação e monitoramento, a organização utilizava-se

de oficinas realizadas semestralmente, em que eram recuperados os planejamentos

institucionais por cada eixo de atuação, contando sempre com a participação de

facilitador externo e ampla participação de sócios, funcionários, voluntários e

beneficiários. Além disso, todos que participam de qualquer atividade em nome da

organização encaminham um relatório contendo o máximo de informações que

deverão ser socializadas aos demais.

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De acordo com as informações prestadas, a organização não avançou muito nas

questões relacionadas à reestruturação organizacional em 2012, devido ao grande

impacto sofrido pela falta de recursos e projetos. Porém, para o ano de 2013 os sócios

pretendem se reunir em assembleia geral para planejamento e deliberações referentes

ao futuro da organização.

Dessa forma, acreditam que essa será uma chance de repensar estratégias de

sobrevivência e continuidade de ações, considerando o cenário em que se encontram e

as oportunidades previstas para a organização.

c) Estratégias de captação de recursos

A Sodireitos sentiu bruscamente em 2012 os impactos causados pela falta de

recursos financeiros das agencias de cooperação internacional, que antes eram

destinados às organizações não governamentais que atuam em defesa dos direitos no

Brasil. Porém, mesmo com a saída dessas agencias do país, em 2011 a ONG ainda

contou com 100% de seus recursos recebidos do exterior.

O recurso recebido no exercício de 2011 correspondia à finalização de um

projeto com a Organização Intereclesiástica de Cooperação Para o Desenvolvimento

(ICCO), localizada na Holanda. Trata-se de um projeto iniciado em 2010, com

finalização em dezembro de 2011, que tinha como objetivo o atendimento a mulheres

vítimas e vulneráveis ao tráfico de pessoas. Além disso, teve um projeto aprovado

junto ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o qual visava atuar na

prevenção da violência sexual e fortalecer o programa nacional de saúde e prevenção

nas escolas (SPE).

Mesmo com a totalidade de recursos recebidos do exterior, no período entre

2010 e 2011, a organização já havia começado a perceber as dificuldades em aprovar

novos projetos junto à cooperação internacional e suas receitas sofreram declínio já no

ano de 2011. Em 2010 o montante registrou R$ 660.849,95 e em 2011, anotou R$

353.090,67 (Ver Figura 4). Diante desse cenário, ainda em 2011 a organização tomou

a estratégia de dar continuidade à elaboração de projetos para participar de editais

públicos, não só para financiadores internacionais, mas também buscaram parcerias

federais e estaduais.

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Figura 4: Montante de Recursos financeiros recebidos em 2010 e 2011.

Fonte: Elaborado pela autora

A organização, mesmo sem plano de mobilização de recursos, assumiu essa

estratégia porque contava ainda em 2011 com equipe capacitada e numerosa, apta a

elaborar propostas e acessar diversas fontes de recursos. Além disso, a entidade

dispunha de dois profissionais de administração, que dedicavam maior tempo à

captação de recursos e se especializaram em ferramentas de captação, como o sistema

de convênios do governo federal.

Assim, a equipe conseguiu elaborar 12 (doze) projetos, sendo que 7 (sete)

foram enviados às instituições internacionais de diversos países que disponibilizaram

editais; 1 (um) à empresa privada OI; 2 (dois) enviados ao Governo Federal Brasileiro

e 2 (dois) ao Governo do Estado do Pará.

Mas, avaliou-se que o momento vivenciado apresenta muitos desafios para a

captação de recursos, pois “[...] A temática principal de atuação da Sodireitos deixou e

ser prioridade para a comunidade internacional, que saiu do Brasil em grande parte7”.

E quanto à captação junto ao Governo Brasileiro, foi informado que:

7 SMITH, Andreza do S.P. de O. Informação verbal prestada à autora em entrevista realizada no dia

24.10.2012.

0,00

100.000,00

200.000,00

300.000,00

400.000,00

500.000,00

600.000,00

700.000,00

2010 2011

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60

[...] as muitas exigências requerem conhecimento profundo de técnicas

de gestão pública e as ONGs não possuem, e às vezes percebemos que

nem os servidores públicos de referencia possuíam (SMITH, 2012).

Além disso, as informações prestadas enfatizam que esses recursos

disponibilizados pelo Governo, que são públicos, vêm acompanhados de exigências

relacionadas às atividades e quase sempre não financiam o pagamento de profissionais

para a execução de projetos, não garante os direitos trabalhistas e nem mesmo

pagamentos fixos da entidade como água luz e telefone. “[...] a cada dia aumentam

mais as exigências quanto à execução dos recursos” (SMITH, 2012).

Diante de todos esses desafios e exigências, a organização conseguiu aprovar 4

(quatro) projetos no Brasil (ver Tabela 3):

FONTE CONTRATANTE TOTAL

Governo Federal Brasileiro Secretaria de Políticas

para as Mulheres (SPM) R$ 190.493,08

Governo Federal Brasileiro Ministério da Justiça

(MJ) R$ 328.876,04

Governo do Estado do Pará Secretaria Estadual de

Saúde (SESPA) R$ 20.000,00

Governo do Estado do Pará

Secretaria de Justiça e

Direitos Humanos

(SEJUDH)

R$ 72.000,00

Fonte: Elaborado pela autora.

Com essas perspectivas otimistas, a organização acreditava ter conseguido

garantir ações e, por pelo menos mais dois anos, ter possibilidades de sustentabilidade

da organização. Porém, em seguida a essas aprovações, a organização foi surpreendida

pela aprovação do Decreto Nº. 7.592, de 28 outubro de 2011, assinado pela Presidente

da República, após denúncias mostradas nas mídias nacionais relacionadas aos desvios

financeiros envolvendo ONGs e funcionários públicos.

Assim, observa-se que o Governo reagiu às denúncias determinando que

fossem feitas avaliações de regularidade na execução dos convênios, contratos de

repasse e termos de parceria que estavam firmados entre governo e organizações sem

fins lucrativos8. Então, todos os recursos para as organizações do terceiro setor foram

8

Decreto 7.592, de 28 de outubro de 2011. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-

2014/2011/Decreto/D7592.htm. Acessado em 15/11/2012.

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61

suspensos e, assim, como as ONGs que já tinham parcerias, as novas organizações que

iriam iniciar projetos em parceria com o Estado ficaram sem esses recursos.

Por esse motivo, os recursos dos projetos, que eram previstos para recebimento

ainda em 2011, tiveram seus repasses suspensos pelo governo federal e estadual,

retomando essas discussões e repasses apenas em 2012, quando o Governo volta, de

forma gradativa, a rever as parcerias e a Sodireitos então, só recebe o recurso em 2012.

Sobre o fato, identificou-se que:

[...] a organização decidiu pela devolução desses recursos, uma vez que,

cm a demora do envio desses recursos, a organização já não tinha mais

estrutura para colocar em prática o projeto que tinha inicio previsto para

2011 (SMITH, 2012).

E de tal modo, foi ressaltado que a Sodireitos se viu obrigada a redefinir sua

estrutura de acordo com recursos, e iniciou ações emergenciais para 2012, uma vez

que não havia mais possibilidades de garantir a continuidade das ações e nenhum

recurso que desse aporte à estrutura atual da organização.

Sendo assim, sem outra opção, a Sodireitos iniciou a demissão de todos os

colaboradores que antes eram contratados com carteira assinada, conferindo-lhes todos

os direitos trabalhistas, encerrou totalmente o atendimento às vitimas de violências

sexuais e tráfico de pessoas, uma vez que essas atividades demandam muita atenção e

investimento financeiro em despesas como telefone, estrutura física para acolhimento

e equipe de profissionais; e tomou a decisão de mudar de sede, pois funcionava em

prédio alugado e atualmente ocupa uma pequena sala cedida por outra ONG.

Diante do contexto apresentado, é possível perceber que a organização buscou

diversificar suas fontes de financiamento através de novas parcerias junto às agencias

internacionais, governo brasileiro, estadual e empresas privadas. Porém, a estratégia

adotada para captação demonstra que essas atividades não conseguiram ser suficientes,

pois situações como o Decreto de 2011 e a saída das agencias de cooperação do Brasil,

fogem à sua governabilidade e a impossibilitam de diversificar fontes que tragam

possibilidades de sustentabilidade de suas ações e da estrutura da organização.

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62

4.3. Movimento de Promoção à Mulher - MOPROM

a) Histórico da Organização

O Movimento de Promoção à Mulher é uma organização não governamental,

localizado na cidade de Belém, à Rua Ezeriel Mônaco de Matos, nº 150, no bairro do

Guamá, CEP: 66.075-220. O MOPROM deu inicio às suas atividades como entidade

sem fins lucrativos e atuava de forma articulada com outras organizações vinculadas à

igreja católica, no Serviço Pastoral de apoio à mulher marginalizada. Posteriormente,

conforme sua atuação no bairro do Guamá, seu público começou a aumentar e,

buscando atender essas demandas, em 1973 o MOPROM é oficialmente constituído

como ONG.

Sua missão é promover, planejar instrumentar, executar, controlar e avaliar os

programas voltados aos interesses das comunidades no Estado do Pará, em suas

necessidades sócio econômicas. Sua trajetória apresenta amplo trabalho social no

atendimento a crianças e jovens de bairros de periferia de Belém. Contudo, a

organização procurou priorizar o apoio às mulheres chefes de família; e para isso,

estruturou suas ações em três áreas de atuação, conforme Figura 5, a seguir:

Figura 5: Eixos de Atuação do MOPROM, conforme Mapa 3º Setor - Classificação Internacional de

Organizações Não lucrativas – ICNPO.

Fonte: Elaborado pela autora.

MOPROM

Saúde

Assistência e

Promoção Social

Defesa de Direitos

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E para melhor atendimento às demandas que recebiam, o MOPROM iniciou

ações de apoio às mulheres chefes de família, mulheres em situação de vulnerabilidade

e com direitos violados. Para melhor visualização, a organização apresenta suas quatro

ações de apoio (Ver Figura 6):

Figura 6: Atividades principais da organização.

Fonte: Elaborado pela autora

Assim, com a prática dessas ações, a organização acredita estar contribuindo de

forma efetiva para apoiar as mulheres chefes de família, que necessitam de cuidados

pessoais e para com seus familiares. Dessa forma, a organização procurou assisti-las

para que tivessem segurança para buscar novas oportunidades profissionais que

visassem torná-las protagonistas de sua própria história de vida.

b) Estrutura organizacional

O MOPROM, desde sua fundação em 1967, estruturou sua organização

hierarquicamente em: assembleia geral, órgão soberano da entidade responsável pelo

equilíbrio e harmonia dos demais, constituída por todos os sócios em pleno gozo de

seus direitos; diretoria executiva: é a instancia responsável por administrar a

organização, formada por quatro sócios fundadores e/ou contribuintes que ocupam os

Atendimento em creches, para mães trabalhadoras da periferia;

Ações associativas de iniciação profissional e geração de renda

com adolescentes e mulheres;

Ações preventivas sobre direitos sociais, reprodutivos e prevenção ao HIV/Aids;

Ações de prevenção e denuncia às situações em que as mulheres

(adolescentes e adultas) são vitimas de violencia intra e extra

familiar.

AÇÕES DE APOIO À MULHER CHEFE DE

FAMÍLIA

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cargos de presidente, vice-presidente, diretor (a) de finanças e secretário; conselho

fiscal: formado por três sócios eleitos em assembleia geral, que tem a responsabilidade

de examinar as receitas e despesas da organização, promover sindicâncias e inquéritos

sobre assuntos financeiros, manifestar obrigatoriamente acerca de assuntos de caráter

patrimonial e convocar assembleia para discutir assuntos relacionados aos recursos

financeiros e patrimoniais da entidade e técnicos: compõem esse quadro todos os

profissionais (sócios, voluntários, prestadores de serviços e estagiários), ou não, que

desenvolvem atividades dentro das organizações.

Atualmente, a entidade conta com apenas 5 (cinco) funcionários contratados e

pagos através de projetos aprovados, 3 (três) estagiários voluntários e mais 9 (nove)

voluntários. E para contratação desses profissionais e estagiários, a organização

buscou priorizar sua escolha a partir de moradores da própria comunidade, com o

objetivo de promover e oportunizar empregabilidade a essas pessoas. Outro fator

preponderante a ser considerado é a redução dos custos com transporte para

locomoção até a sede da organização, pois os recursos que detém para as atividades

não cobrem essa necessidade.

Além disso, para contratação dos profissionais que desenvolvem as atividades

fins, a organização prioriza a escolha por profissionais que já tenham experiência e

vivência no desenvolvimento de atividades relacionadas às questões sociais, com foco

na educação popular, saúde, defesa de direitos, atendimento e atuação com grupos

vulneráveis, ressaltando-se que:

[...] Atualmente o MOPROM tem em seu quadro três mulheres

prostitutas que já foram atendidas enquanto beneficiarias da

organização e que agora desenvolvem atividades como voluntárias, com

outros grupos vulneráveis em nome da organização9.

E quanto aos profissionais da área administrativa, e aos demais, a organização

busca contratar profissionais com experiência, envolvimento na área social e que tenha

curso superior na área relacionada, uma vez que, devido à falta de recursos, a

organização não tem conseguido possibilitar momentos de formação e capacitação aos

seus colaboradores.

9 MAGNO, Maria Luiza Barroso. Informação verbal prestada à autora em entrevista realizada no dia

22.10.2012.

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65

A organização se reestruturou diante do cenário e optou por desenvolver

atividades de planejamento de forma trienal, mas avaliou que a dificuldade em reunir a

diretoria para esses momentos e a falta de ferramentas que monitorem e avaliem as

ações desenvolvidas, acabavam por inviabilizar o planejamento institucional; e então

foi feita a opção por efetuar somente um plano de ação, em um único momento do

ano, envolvendo todos os profissionais da instituição.

Diante do exposto, identifica-se que, a falta de recursos e maior número de

profissionais para atender às demandas da organização, o MOPROM não tem

conseguido se organizar para o novo cenário que se desenhou nos últimos anos.

Assim, é possível perceber que apresenta uma estrutura fragilizada, com profissionais

sobrecarregados e com pouca estrutura para desenvolver atividades necessárias à

atuação da organização.

c) Estratégias de captação de recursos

No ano de 2011, mesmo com dificuldades em acessar recursos, o MOPROM

conseguiu diversificar suas fontes, após aprovação de 1 (um) projeto com o Governo

Federal Brasileiro para realização de evento nacional sobre HIV/Aids, outro através

Fundo da Infância e Adolescência - FIA, que é um fundo vinculado e gerido pelo

Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescentes, o qual recebe recursos de

empresas privadas, instituições públicas e/ou pessoas físicas para financiamento de

projetos apresentados ao editais lançados.

No caso do MOPROM, os recursos repassados pelo FIA, eram de procedência

da empresa nacional de telefonia Oi e Petrobrás. Quanto ao recurso municipal, este é

recebido desde a década de 90 em virtude do MOPROM possuir o título de utilidade

publica municipal e, desde então, recebe anualmente o valor de R$ 40 mil reais para

atividades com a sua creche. Por fim, a menor fonte de recursos recebida refere-se a

uma receita muito pontual, relacionada às inscrições realizadas para participação no

evento do Ministério da Saúde, o que melhor se demonstra através da Tabela 4:

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66

Fonte Recurso Recebido

Governo Federal – Ministério da Saúde R$ 146.325,00

Secretaria Municipal de Educação – SEMEC R$ 40.300,00

FIA (80 mil – Petrobras / 150 mil Oi) R$ 230.000,00

Outros: Inscrições para evento do ministério da saúde R$ 24.460,40

Fonte: Elaborado pela autora

A fim de se visualizar os recursos tabelados acima em relação ao percentual

que representam no montante recebido pela organização no ano de 2011, apresenta-se

a figura 7, a seguir:

Figura 7: Porcentagem dos Recursos Financeiros recebidos em 2011.

Fonte: Elaborado pela autora

O gráfico apresentado demonstra que, mesmo sem possuir um plano de

mobilização de recursos, a organização conseguiu diversificar suas fontes pela atuação

de uma equipe composta por três profissionais, uma coordenadora e duas voluntárias,

que detém ampla experiência na elaboração de projetos sociais para concorrência em

editais públicos, principalmente internacionais.

Assim, a organização conseguiu pulverizar sua captação em 2011, uma vez que

em 2010 a organização atravessou dificuldades pela falta de projetos que trouxessem

mais recursos para a organização. Com isso, o único recurso executado em todo o ano

de 2010, referiu-se à finalização de projetos que haviam iniciado em 2008 e 2009.

33,17%

9,94%

52,14%

5,55%

Governo Federal Municipal (SEMEC) Empresa Privada Outros

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Importante se faz analisar comparativamente a diferença de recursos recebidos

pela organização nos anos de 2010 e 2011, o que se ilustra na figura 8 a seguir:

Figura 8: Comparativo de Recursos Financeiros recebidos nos exercícios de 2010 e 2011.

Fonte: Elaborado pela autora

A diferença do recurso executado em 2011 é 44,22% superior ao que foi

executado no ano de 2010. Porém, deve-se ressaltar que esse recurso só foi superior

devido a organização ter sido escolhida para planejamento, organização e execução de

evento nacional do Ministério da Saúde, o que implica em dizer que nem a

organização e nem as pessoas que atende foram beneficiados por esse recurso, pois o

MOPROM recebeu efetivamente apenas os recursos provenientes das inscrições que

foram realizadas por diversas pessoas com interesse em participar do evento, o que

não demonstra impacto positivo quanto à sustentabilidade da instituição, em virtude do

pequeno valor diante das necessidades e de ter gerado custos para sua gestão.

Diante disso, e das dificuldades que vem atravessando, a organização decidiu

no ano de 2012 pelo fechamento da sede própria que está presente no município de

Barcarena/PA, onde toda a estrutura será repassada para outra organização da

localidade, fechamento da creche que atende às crianças da comunidade, finalizando

suas atividades em dezembro (2012); e redução da estrutura física da sede de Belém

para contenção de custos de manutenção. Para isso, pretendem vender ainda em 2012

o prédio próprio e comprar uma estrutura menor.

2010 2011

246.000,00

441.085,40

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68

O contexto apresentado exibe sérias complicações relacionadas à sua

sustentabilidade, pois a organização apresenta número reduzido de profissionais que

possam demandar tempo às atividades diversas de captação de recursos. Assim, a

organização sente a falta de profissionais capacitados às novas ferramentas para

captação de recursos que atendam os desafios e exigências apresentados pelos novos

modelos de cooperação nacional e internacional.

Quanto às agencias de cooperação internacional, vislumbrou-se que a

organização precisa:

[...] de um profissional (técnico) que saiba identificar as exigências do

patrocinador, para que tenha a capacidade de fazer o cruzamento entre o

que desejam investir com as necessidades da organização. Mas, não

estamos encontrando profissionais que atendam essas exigências.

(MAGNO, 2012)

Apresentou-se, ainda, que além da redução de recursos direcionados às

organizações de defesa de direitos, a organização tem se deparado com exigências que

fazem referência a um número maior de atividades, porém, com menos investimento

de recursos financeiros. Demonstrando a redução de recursos financeiros para doação

a essas organizações e maior exigência quanto ao número de pessoas que estão sendo

beneficiadas com as atividades propostas, ou seja, buscam resultados quantitativos.

Assim como questionamentos das agencias de cooperação quanto à relação da

organização com a comunidade e transparência dos recursos que estão sendo

utilizados.

Quanto aos desafios encontrados para captação junto ao Governo Brasileiro, a

organização não tem domínio sobre o sistema de convênios e contratos de repasse

(SICONV) e não consegue concorrer aos editais disponibilizados pelo Governo. Uma

vez que não dispõe de profissionais que possam dedicar tempo para aprender a

manuseá-lo.

E quanto à captação junto às empresas privadas, expõe-se que após a

finalização de um projeto que foi desenvolvido em Barcarena/PA, a organização

adotou a estratégia de visitar as empresas privadas da localidade para apresentar novas

propostas e até a continuidade do projeto realizado. Porém, a organização esbarrou na

limitação de profissionais que tivessem disponibilidade para articulação, reuniões e

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contatos com as empresas da localidade, a fim de estreitar relações e estabelecer

parcerias para recebimento de recursos. Assim, a organização abandonou essa

possibilidade não efetuando nenhuma parceria local.

Por fim, outro fator que a organização considera como desafio se refere à

fragilidade na comunicação com a comunidade local e com sociedade brasileira, pois

tem dificuldade em dar publicidade às ações da organização, aos resultados, balanços e

demais informações; pois não tem recursos para pagamentos de site e nem profissional

qualificado para gerenciamento de redes sociais que não demandam pagamento.

Com isso, o contexto vivenciado pelo MOPROM e pelas demais organizações

não governamentais atuantes no Brasil, demonstra que as ONGs têm encontrado

diversas dificuldades relacionadas à sua sobrevivência, atendimento às necessidades

das comunidades e à execução de sua missão. Porém, há a consciência de que a

organização precisa buscar de forma emergencial estratégias efetivas para captação de

recursos.

4.4. Grupo de Mulheres Brasileiras - GMB

a) Histórico da Organização

O Grupo de Mulheres Brasileiras foi fundado em 1986 em Belém (PA),

localizado à Rua Benfica, nº 18, no bairro do Benguí, Cep: 66.630-175. Mas apenas

em 13 de dezembro de 1998 o GMB é constituído como uma associação, de direito

privado, sem fins econômicos, com finalidade pública, não partidária, democrática

sem exclusão social, racial, econômica, de gênero, religião ou qualquer outro tipo de

discriminação aos direitos humanos.

Tem como missão contribuir na construção de uma sociedade solidária,

humana, democrática, sem exclusão social, racial, sexual, política, econômica e

cultural com a perspectiva da equidade e igualdade nas relações de gênero, garantindo

assim os direitos humanos a partir do protagonismo social.

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Dessa forma, busca planejar, executar, monitorar e avaliar programas, projetos

e serviços que sejam voltados aos interesses dos direitos humanos, especialmente os

das mulheres, em suas necessidades socioeconômicas tais como se demonstra na

figura 9 a seguir:

Figura 9: Eixos de Atuação do GMB, conforme Mapa 3º Setor - Classificação Internacional de

Organizações Não lucrativas – ICNPO.

Fonte: Elaborado pela autora

Quando de sua constituição jurídica, a assembleia de abertura decidiu que a

organização seria estruturada da seguinte forma: assembleia geral: órgão soberano da

organização, formado por sócios fundadores efetivos e colaboradores em pleno gozo

de suas funções; conselho deliberativo: órgão de direção política e de representações,

com a finalidade de decidir sobre as diretrizes políticas e técnicas da entidade,

deliberar acerca de projetos novos e áreas de atuação, além de acompanhar os projetos

que estão sendo executados; coordenação executiva: órgão de execução, composto

pela coordenação administrativo-financeira, coordenação de formação e coordenação

de mobilização de recursos; conselho fiscal: responsável em fiscalizar as questões

contábeis e financeiras, composto por três membros eleitos pela assembleia geral e os

técnicos: colaboradores, estagiários e voluntários que executam diversas atividades

dentro no GMB.

GMB

Combate à violencia contra a mulher

Trabalho e renda

Saúde da mulher

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b) Estrutura Organizacional

Atualmente o GMB conta com cerca de 20 (vinte) mulheres, que atuam de

forma voluntária devido a falta de recursos para pagamento de profissionais. Os

voluntários, assim como os profissionais que são contratados para execução de

projetos quando aprovados, são recrutados a partir da percepção da organização

quanto à sua sensibilidade, à atuação e luta pelos direitos das mulheres, vinculada à

competência profissional comprovada através de experiência em atividades afins às

temáticas trabalhadas pela entidade, assim como experiência na elaboração de projetos

sociais, relatórios, prestação de contas e demais atividades que venham a ser exigidas

pela organização.

Importa ressaltar que, mesmo diante das experiências desejadas para ocupação

dos cargos, o GMB tem a política de fornecer momentos de capacitação para os novos

e antigos profissionais, através de processos de formação que envolve diversos

públicos e estão sempre relacionados aos seus eixos de atuação, uma vez que a

organização entende a necessidade de atualização e formação de seus colaboradores

para que estejam aptos às demandas da entidade.

Os processos de formação, assim como as demais atividades a serem

desenvolvidas pela organização, são previstas através do planejamento desenvolvido

pela organização anualmente, quando todas as instâncias se reúnem para planejar o

ano que está por vir. E, para melhor embasamento, a organização adotou a utilização

de relatórios de atividades, que são apresentados logo em seguida à finalização de uma

atividade e, com essa ferramenta, o GMB faz uma avaliação semestral, visando

analisar tudo o que foi desenvolvido. Por fim, os membros da organização se reúnem

novamente ao final do ano planejado para avaliação final.

Com isso, a organização acredita que consegue adquirir subsídios para a

correção de falhas, assim como possibilidade de fortalecer o que foi construído de

forma positiva.

c) Estratégias de captação de recursos

Os anos de 2010 e 2011foram de grandes desafios para o grupo de Mulheres

Brasileiras, devido ao número muito reduzido de recursos que conseguiram aprovar

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para a organização. Mesmo havendo dificuldade em captar recursos que pudessem

garantir maior número de atividades, pagamento de profissionais e de custos fixos da

entidade, o GMB ainda conseguiu executar, nesses dois anos, pequenos valores que

foram recebidos através de captação junto a uma agencia de cooperação internacional,

o que somou 100% de suas receitas nos anos informados. Conforme apresentando na

Figura 10:

Figura 10: Apresentação dos Recursos recebidos em 2010-2011 e a diferença entre os exercícios.

Fonte: Elaborado pela autora

O gráfico apresentado demonstra que a entidade não tem conseguido acessar

significativos recursos que financiem suas atividades. Apresenta ainda, que a variação

de recursos recebidos no ano de 2011 é superior em apenas R$ 2 mil reais em relação

ao ano de 2010, o que corresponde a um pequeno aumento de 13,33% no orçamento, e

que não é suficientemente capaz de gerar impacto acerca da situação apresentada, uma

vez que o recurso recebido não apresenta possibilidades de maiores atividades junto ao

seu publico beneficiário e nem capacidade de sustentação, por se tratar de uma quantia

muito pequena diante das demandas da organização relacionadas às atividades,

atendimento do público e custos fixos.

A conjuntura apresentada demonstra os desafios que o GMB tem encontrado

para captação de recursos. Inicialmente verifica-se que o plano de mobilização de

recursos é elaborado a partir de diversas propostas que surgem através da reunião

envolvendo a coordenação de captação de recursos. Dentre as propostas, encontram-se

R$ 15.000,00

R$ 2.000,00

R$ 17.000,00

2010 Diferença entre 2010-2011 2011

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sugestões como elaboração de projetos, festivais de sorvete e captação junto às

pessoas físicas.

Porém, observa que o plano elaborado não está sendo colocado em prática pelo

fato de não disporem atualmente de um numero considerável de pessoas que possam

assumir esse plano e praticá-lo de maneira eficiente à captação de recursos. Dessa

maneira, a organização tomou como estratégia a captação junto às agencias

internacionais, através de sua coordenação de captação de recursos, composta por três

profissionais militantes e sócias da organização, que detém experiência nas temáticas

da instituição e na elaboração de projetos sociais.

No entanto, a entrevistada ressalta que a ONG conseguiu aprovar 1 (um)

projeto em 2011 junto a uma agencia da Alemanha, devido articulação política

existente com esse organismo. E um dos fatores que contribui para a dificuldade em

obter recursos internacionais está relacionado à imagem de que o Brasil é um país

desenvolvido e que já não demanda tanto recurso para investimentos nas questões

sociais.

Com isso, as ações das organizações do terceiro setor, em especial as ONGs,

têm sido diretamente comprometidas, uma vez que a organização sente que há muito

mais cobranças quanto à sua capacidade e necessidade de provar que o país ainda

precisa de investimentos e trabalhos junto à sociedade brasileira.

Outro fator determinante para a falta de recursos, está relacionado ao fato de

que os cooperantes que ainda estão presentes no Brasil mudaram seu foco de atuação e

estão trabalhando mais as temáticas relacionadas às questões ambientais como

economia verde e mudanças climáticas que envolvem a Amazônia, reforçando que:

[...] As organizações que atuam na defesa de direitos, com foco no

gênero feminino, estão cada vez mais com dificuldade de acesso à esses

recursos e, quando conseguem acessá-los, são recursos muito baixos e

pontuais, que não são capazes de cobrir as demandas da organização.10

Quanto aos desafios relacionados à busca por novas fontes de recursos no

Brasil, identificou-se que a organização compreende as parcerias Governo x ONGs

como algo que não tem contribuído para o desenvolvimento de suas organizações e de

10

APARECIDA, Solange Maria. Informação verbal prestada à autora em entrevista realizada no dia

07.10.2012.

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seu público beneficiário, visto que a legislação aplicada atualmente a essas entidades

são as mesmas aplicadas às empresas privadas e às instituições públicas. A exemplo:

[...] As ONGs pagam os mesmos impostos que as demais empresas

privadas atuantes no Brasil. Mas, as ONGs não têm recursos para

pagamentos desses impostos e os projetos aprovados pelo Governo não

permitem o pagamento desses custos; o que acaba dificultando o acesso e

o recebimento desses recursos pela entidade. Além disso, os editais

públicos apresentam grandes exigências relacionadas a documentações e

estrutura interna e a ONG não se sente preparada para atender

(APARECIDA, 2012).

O GMB, assim como as demais organizações não governamentais, sente as

dificuldades relacionadas ao pagamento dos recursos humanos da organização, porque

os editais do Governo coíbem o pagamento de funcionários através de recursos do

projeto, devendo o pagamento ser efetuado através de prestação de serviços e horas

trabalhadas. Assim, a instituição se percebe incapaz de concorrer aos editais propostos,

por não ter estrutura necessária à execução de um projeto em parceria com o Governo

Federal Brasileiro.

Atesta-se ainda, que o SICONV é uma ferramenta muito útil para a

transparência dos recursos públicos, mas que tecnicamente talvez não esteja preparado

para receber todas as demandas de acesso, já que a entidade não recebe nenhum

feedback acerca das informações que repassam ao sistema. Essa situação impacta, na

maioria das vezes, no repasse de parcelas do projeto, pois a organização não obtém

informações em tempo hábil para atualização de dados importantes para recebimento

de recursos. Assim, torna-se mais um entrave nos processos de captação e repasse de

recursos.

Quanto à captação junto às empresas privadas, a organização faz uma avaliação

política acerca das empresas que tenham possibilidade de efetuar doação financeira, no

intuito de avaliar o perfil delas perante a sociedade.

E diante de todos os desafios e exigências apresentados no cenário de

sustentabilidade do GMB, a organização passou a adotar ações emergenciais para lidar

com a falta de recursos. Iniciou, então, pela sede própria, adotando a prática de coleta

entre os voluntários para que seja capaz de cumprir com os pagamentos de custos

como água, luz e telefone.

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A organização optou também por reduzir totalmente as atividades com os

jovens e mulheres. Porém, iniciou um processo de articulação com demais

organizações públicas como SENAI, SENAC e SEBRAE para parceria e oferta de

cursos profissionalizantes ao seu público beneficiário, visando à continuidade de

capacitações que possam contribuir com a geração de renda.

Por fim, foi informado que, mesmo diante do cenário apresentado, a entidade

continuará existindo e buscando lutar fortemente em favor das mulheres brasileiras.

4.5. Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares - Gajop

a) Histórico da Organização:

O Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares é uma

organização não governamental, com fundação em 15 de novembro de 1981,

localizada à Rua do Sossego nº 432, bairro Boa Vista em Recife (PE), CEP: 500.50-

080. Foi criado por um grupo de advogados que tinha o objetivo de trabalhar a

educação jurídica popular através da realização de educação que fosse capaz de elevar

o nível de informação, consciência e autonomia das organizações do movimento

popular, assim como oferecer assessoria sobre as questões da posse da terra nas

favelas da Região Metropolitana do Recife.

Sua missão é contribui para a democratização e o fortalecimento da Sociedade

e do Estado, na perspectiva da vivência da cidadania plena e da indivisibilidade dos

Direitos Humanos. É uma entidade da sociedade civil de promoção e defesa dos

direitos humanos, com atuação especializada na área de justiça e segurança cidadã.

Além da comunidade em geral, as ações do Gajop também beneficiam

testemunhas e seus familiares que se encontram sob algum tipo de ameaça em virtude

da sua colaboração com investigações ou processos criminais; população em geral que

estejam em situação de conflito coletivo; pessoas que sofrem graves violações de

direitos humanos, atores sociais/representantes de organizações da sociedade civil e

estudantes. Desenvolve sua atividade através de 4 (quatro) eixos de atuação, o que se

ilustra a Figura 11, a seguir:

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76

Figura 11: Eixos de Atuação do Gajop, conforme Mapa 3º Setor - Classificação Internacional de

Organizações Não lucrativas – ICNPO.

Fonte: Elaborado pela autora.

O GAJOP é estruturado hierarquicamente em: Conselho Político, formado por

representantes que têm destaque em suas atuações e que estão presentes em diversos

setores sociais; Coordenação executiva, Coordenação Colegiada de Gestão,

Coordenação de Programas e Coordenação de Projetos. Para melhor desenvolvimento

de suas atividades, a organização é divida internamente em Gestão Administrativa e

Financeira, Programa Educação para Direitos Humanos, Programa Direitos Humanos

Internacionais, Programa Justiça Cidadã e Assessoria de Imprensa.

b) Estrutura Organizacional

O Gajop conta atualmente com uma equipe multidisciplinar, composta por 21

(vinte e um) colaboradores distribuídos entre coordenação executiva, coordenação de

programas, técnicos de projetos, advogados, psicólogos e assistentes sociais; além de 7

(sete) estagiários e 1 (um) voluntário.

GAJOP

Educação e

Pesquisa

Outros

Defesa de Direitos

Internacional

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Para a contratação de seus profissionais, o Gajop efetua seleção pública (edital)

e posteriormente os selecionados passam por etapas de análise curricular, entrevistas e

prova escrita. Além disso, todos os profissionais da organização passam por processos

contínuos de formações, geralmente de forma mensal, realizados através de debates

internos, leituras, rodas de diálogos, palestras e reuniões internas.

E buscando melhor estruturar seu desempenho, a organização desenvolve

atividades de planejamento através de: Planejamento Estratégico, Planejamento anual

e Planejamentos específicos para os projetos; a partir dos projetos que estão sendo

desenvolvidos é que a organização efetua seus processos de avaliação e

monitoramento, que ocorrem durante o período em que estão sendo executados.

c) Estratégias de captação de recursos

O Gajop, assim como as demais organizações do terceiro setor, tem buscado

desenvolver diferentes maneiras de captação de recursos, visando dar continuidade às

suas ações. Contudo, mesmo não dispondo de plano de mobilização de recursos, a

organização adotou como estratégia para captação de recursos a pesquisa sobre

abertura de editais nacionais e internacionais, elaboração e envio de projetos.

Reforçando essa estratégia “[...] o Gajop vem desenvolvendo e buscando novas

formas de financiamento e refletindo sobre novas estratégias de captação de recursos

nesse período de crise das ONGs”11

.

Entretanto, quanto aos cooperantes internacionais, a organização adverte que

os maiores desafios encontrados para captação junto a essas agencias está ligado ao

não pagamento de gastos com pessoal e as informações de que muitas dessas agencias

não irão mais financiar projetos no Brasil. E quanto ao Governo Brasileiro como

parceiro, percebeu-se os desafios para lidar com o sistema de gestão de convênios e

contratos de repasse do Governo Federal (SICONV). Assim, “[...] O SICONV é um

sistema complexo e muito engessado” (LIMA, 2012).

Além disso, o GAJOP nota que a legislação aplicada para contratação de

serviços de ONGs é similar à que é praticada para as empresas privadas, tornando-se

um fator de grandes exigências para a realidade das organizações não governamentais.

11

LIMA, Ana Célia. Informação prestada em 29.10.2012.

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Mesmo diante desses desafios e exigências, a organização ainda conseguiu

captar recursos junto aos agentes internacionais e nacionais, aprovando 3 (três)

projetos nacionais e 2 (dois) estaduais, no período de 2010 e 2011. Importa ressaltar

que o Gajop tem conseguido acessar recursos nacionais e internacionais por se tratar

de uma organização que é pioneira em atividades que buscam lutar contra a

impunidade, através do Programa de Apoio e Proteção a Testemunhas, Vítimas e

Familiares de Vítimas de Violência (PROVITA), no Estado de Pernambuco, o que lhe

garante um recurso fixo.

Assim, em 1998 o Governo Federal Brasileiro, através da Secretaria de

Direitos Humanos, firmou convênio de cooperação técnico-financeiro com o Gajop,

visando apoiar o PROVITA; e com esse convênio, somado à captação de recursos

através da elaboração de projetos, a entidade tem conseguido garantir recursos

financeiros para desenvolvimento de suas ações até hoje.

Mas cumpre reconhecer os desafios encontrados para a captação de recursos,

uma vez que “[...] Até o presente momento, não foi necessário tomar nenhuma medida

drástica como diminuição no número de atendimentos ou redução no quadro

profissional” (LIMA, 2012). A seguir, na Figura 12, ilustram-se os recursos recebidos

em 2011, possibilitando melhor visualização de um cenário favorável quanto à

sustentabilidade do Gajop:

Figura 12: Apresentação dos Recursos recebidos em 2011 através da cooperação nacional e

internacional.

Fonte: Elaborado pela autora.

1.918.026,70

375.350,00

180.000,00

Nacional (R$) Internacional (€) Internacional ($)

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4.6. Grupo Mulher Maravilha - GMM

a) Histórico da organização:

O Grupo Mulher Maravilha é uma organização da sociedade civil, fundada em

21 de abril de 1975, localizada à Rua Nova Descoberta, nº 700, na cidade de Recife

(PE), CEP: 52.090-000 e com outra sede no município de Afogados da Ingazeira, no

sertão nordestino. Em 1986 a organização foi constituída como organização não

governamental, de utilidade pública em todos os níveis municipal, estadual e federal.

E através de suas ações, busca beneficiar mulheres, adolescentes e jovens vítimas da

exclusão social e em situação de vulnerabilidade, bem como comunidades negras

rurais quilombolas.

O Grupo Mulher Maravilha, assim como outras organizações desse

país, contribuiu decisivamente no processo de redemocratização do

Brasil, ressurgindo das cinzas dos porões da ditadura. Sobreviveram

tempos árduos e agora precisam continuar sua luta sem fim por

cidadania12

.

Sua missão é lutar pela promoção dos Direitos Humanos numa perspectiva de

gênero, raça e etnia; pelo acesso à cidadania da população vítima de exclusão social e

pelo aumento de poder das mulheres para a construção de uma nova sociedade. Para

isso, a organização atua através de 7 (sete) eixos, conforme a Figura 13, a seguir:

12

LUNA, Maria de Lourdes. Informação prestada em 29.10.2012.

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Figura 13: Eixos de Atuação do GMM, conforme Mapa 3º Setor - Classificação Internacional de

Organizações não lucrativas – ICNPO.

Fonte: Elaborado pela autora.

b) Estrutura Organizacional

Visando melhor desenvolvimento de suas atividades, o GMM trabalha na

lógica de Coordenação geral, secretaria executiva, equipes pedagógicas,

administrativa, financeira e de comunicação, assessoria contábil e jurídica, articulação

e mobilização – gênero, etnia, prevenção em saúde e economia solidária. Dessa forma,

apresenta também seu organograma para apreciação acerca de sua estrutura

hierárquica (Ver Figura 14):

GMM

Cultura e Recreação

Educação e

Pesquisa

Saúde

Meio Ambient

e

Defesa de

Direitos

Desenvolvimento e Moradia

Assistência e

Promoção Social

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Figura 14: Organograma do GMM.

Fonte: Pesquisa de campo.

Atualmente o GMM não apresenta profissionais contratados com carteira de

trabalho e previdência social assinada, dispondo apenas de profissionais contratados

como prestadores de serviços, bolsistas e estagiários que somam ao todo 15 (quinze)

pessoas. Como requisitos para contratação dos diversos profissionais que atuam na

organização, são levados em consideração os aspectos relacionados à formação

política e técnica, que são avaliados através de uma análise curricular, instrumentos de

recomendação e avaliação das experiências após alguns meses de atividade na

instituição, além do compromisso com a missão institucional.

Como oportunidade de aprimoramento, a organização efetua avaliação em

conjunto com a equipe de educadores e participantes, após cada atividade que foi

planejada e realizada. Executam ainda, avaliações trimestrais mais aprofundadas que

envolvem os membros da secretaria executiva. A secretária executiva pedagógica,

juntamente a coordenadora geral, fazem o monitoramento de todas as ações de forma

sistemática.

Para desenvolver seu planejamento, o GMM utiliza um fluxo de atividade que

inicia com a reunião de colaboradores de diversos níveis e diferentes atuações dentro

da entidade. Posteriormente, reúnem com as equipes de Recife e do Sertão para

socialização e, finalmente, levam os resultados à assembleia geral para socialização e

aprovação dos associados, assessoria, demais colaboradores e, eventualmente, os

beneficiários (ver Figura 15).

ASSEMBLEIA GERAL CONSELHO FISCAL

COORDENAÇÃO GERAL

SECRETARIA EXECUTIVA

REUNIÃO AMPLIADA (equipes de trabalho, assessoria, coordenação e

Secretaria Executiva)

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Figura 15: Fluxo de planejamento desenvolvido dentro do GMM.

Fonte: Elaborado pela autora.

Quanto aos processos de capacitação, identificou-se que os profissionais da

organização são fortemente capacitados na elaboração de projetos e passam

frequentemente por processos de formação quanto à elaboração de projetos para

captação de recursos, buscando estarem aptos a analisar a pertinência de cada edital

para que possam elaborar e encaminhar propostas.

c) Estratégias de captação de recursos

O GMM tem buscado arduamente sua sobrevivência através da elaboração de

projetos, o que é feito por uma equipe técnica frequentemente capacitada para atender

às demandas dos editais públicos. Porém, essa equipe, mesmo capacitada e fortalecida

para esses fins, tem encontrado diversos desafios para acessar os recursos

internacionais e nacionais.

Ao se referir aos desafios e exigências encontradas para captação junto às

agencias internacionais, foi informado que o principal fator refere-se aos:

[...] índices favoráveis apresentados pela economia brasileira nos

governos ditos de esquerda com a atração de capitais externos e criação

de milhões de vagas de trabalho, fizeram desviar o foco de agencias

financiadoras internacionais para outros países da América do Sul e

África. Porém, as desigualdades socioeconômicas persistem muito

fortes no Brasil13

(LUNA, 2012).

13

LUNA, Maria de Lourdes. Informação prestada em 29.10.2012.

1º Reunião: Pessoas de

diversos níveis e atuação

diferenciada

Reunião com as equipes de Recife e do Sertão para

socialização

Assembléia para aprovação

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Quanto à captação de recursos presentes no Brasil, observou-se que a ONG

encontra vários desafios. Primeiramente, porque as agências e órgãos financiadores,

principalmente governamentais, estão extremamente exigentes e burocráticos, no que

tange à documentação, estrutura e contrapartida financeira, dificultando não apenas o

trabalho, mas até a sobrevivência de muitas ONGs que, como o GMM, realiza um

trabalho sério e eficiente no campo, mas não dispõem de uma equipe e estrutura para

atender requisitos técnicos.

Constata-se, ainda, o endurecimento na relação entre o Governo e a Sociedade

civil, dificultando enormemente o desenvolvimento das atividades das organizações,

principalmente daquelas que continuam fiéis à sua missão institucional e aos seus

princípios, não se deixando cooptar.

Organizações como o Grupo Mulher Maravilha, que atendem à população

vítima da exclusão social na proposição de políticas públicas e no legítimo exercício

do controle social são as mais afetadas. Percebe-se que há uma aproximação do

governo federal, que busca parcerias com organizações que não lhe fazem críticas.

Depreende-se dos dados coletados, que o governo federal não faz tantas

exigências a uma empresa com fins lucrativos, como faz com as ONGs. É cobrado

apenas o produto final, quantitativamente, não interessando os métodos nem como

foram efetuados os gastos. Outra questão é que há uma orquestração de ações de

deterioração da imagem e criminalização das entidades, principalmente aquelas que

são do campo de luta específica pela promoção e afirmação dos Direitos Humanos

(LUNA, 2012).

Com a chegada de partidos ditos de esquerda ao governo, a relação

Movimento Social x Estado ficou cada vez mais confusa. Este contexto propiciou o

surgimento de diversas OSCIPS (organização da sociedade civil de interesse público)

criadas sob o molde das novas exigências legais e burocráticas, mas que não têm o

mesmo compromisso e engajamento de ONGs históricas, e que de forma muitas vezes

oportunistas que ganham vultosos financiamentos para a execução de projetos e que

pouco contribuem para a mudança real de atitude e consciência (LUNA, 2012).

E quanto à captação junto às empresas privadas, a organização informa que

recusa propostas por questão de princípios éticos, pois não aceita efetuar parcerias

com empresas que pratiquem o trabalho escravo, infantil e com outras práticas que

violem qualquer direito do ser humanos.

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O cenário apresentado pelo GMM demonstra que a organização passa por um

processo dificultoso para conseguir alcançar mais recursos que possam propiciar sua

sustentabilidade, uma vez que se depara com tantas exigências e desafios para

captação de recursos. Mesmo com dificuldades em acessar recursos no ano de 2011,

do total do orçamento executado nesse ano, conseguiu contar com recursos recebidos

do Governo Federal Brasileiro (70,11%), receitas próprias (10%) e pequena doação de

empresa privada (19,89%).

Nesse contexto é possível observar através da Figura 16, os recursos

executados nos exercícios de 2010 e 2011:

Figura 16: Apresentação do Montante de Recursos recebidos em 2010 e 2011 pelo GMM.

Fonte: Elaborado pela autora.

A Figura 16 mostra que houve uma queda no orçamento de 2011 de 68,27%

em relação ao ano de 2010. Essa conjuntura de escassez de recursos começou a

demandar que o GMM tomasse decisões visando sua sobrevivência. Assim, as

informações prestadas evidenciam que, emergencialmente, houve redução no quadro

de profissionais e várias dessas pessoas tiveram que partir em busca de outros

empregos, deixando a área técnica com menos colaboradores. Também foi reduzido o

horário de prestação de serviços à comunidade e o horário de atividades desenvolvidas

pelos colaboradores.

244.738,16

77.659,70

Montantes Recebidos (R$)

2010

2011

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Além disso, a organização começou a intensificar internamente os debates

acerca da sustentabilidade, o futuro da ONG e necessidade de refletir sobre as forças

da organização, sua história, valores e princípios. Nesse momento, foi cogitada ainda,

a possibilidade de fechamento total da organização, mas em consenso com as

associadas, decidiu-se pela venda de quatro prédios que a entidade possui, buscando

unir esforços e lutar para que a ONG sobreviva.

4.7. Centro de Referência Integral de Adolescentes – CRIA

a) Histórico da Organização:

O Centro de Referencia Integral de Adolescentes, localizado à Rua Gregório de

Mattos, nº 21, Pelourinho, Cep: 40026-240, Salvador (BA). É uma organização não

governamental, fundada em 10 de fevereiro de 1994, a partir de um trabalho que foi

desenvolvido com adolescentes e que foi baseado em uma proposta de arte-educação,

pensada por uma militante, atualmente supervisora geral da organização.

Sua missão é provocar nas pessoas, por meio da arte-educação e do despertar

de sensibilidades, atitudes transformadoras de si mesmas e da sociedade em que

vivem, de forma coletiva e comunitária. Assim, tornou-se referência em trabalhos

relacionados à criação de teatro e poesia em conjunto com os adolescentes e crianças

que são beneficiados pelas atividades desenvolvidas através de suas 4 (quatro) áreas

abaixo listadas (Ver Figura 17):

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Figura 17: Eixos de Atuação do CRIA, conforme Mapa 3º Setor - Classificação Internacional de

Organizações Não lucrativas – ICNPO.

Fonte: Elaborado pela autora

b) Estrutura Organizacional

A estrutura organizacional do CRIA segue a composição indicada na Figura 18:

Figura 18: Organograma do CRIA.

Fonte: Pesquisa de campo.

CRIA

Cultura e Recreaçã

o

Educação e Pesquisa

Saúde

Defesa de Direitos

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A estrutura apresentada é gerenciada através de 4 (quatro) níveis hierárquicos:

Direção de Arte: responsável pela visão e expressão político estético da organização,

assim como pela formação e acompanhamento do desenvolvimento profissional dos

diretores; conselho gestor: formado por 3 (três) coordenadores (as) de área e tem a

finalidade de coordenar, facilitar e dinamizar os processos de debate estratégico e de

tomada de decisão, com função central de promover diálogo e sinergia entre os

diversos setores; conselho estratégico: principal instância incumbida de definir a

política institucional e de tomada de decisão. Tem ainda a responsabilidade de garantir

a qualidade e eficácia na implantação do projeto institucional e de políticas centrais

para a organização, como sustentabilidade e fortalecimento institucional e conselho de

acompanhamento: É a instância com função consultiva e não deliberativa, de

planejamento, acompanhamento e avaliação do projeto e das policitas institucionais.

A estrutura apresentada conta atualmente com 16 (dezesseis) funcionários e 5

(cinco) estagiários que são contratados pela organização, levando em consideração os

jovens que tem atuação e que foram formados dentro da instituição. Todos esses

profissionais passam por processos anuais de formação promovidos pela organização

em formato de seminário de avaliação, planejamento e formação de educadores.

Visando melhor eficiência, o CRIA está organizado por áreas de conhecimento,

onde cada uma das áreas é gerenciada por um ou dois coordenadores (as), que são

demandados conforme a natureza e abrangência da área, visando garantir a

viabilização das ações planejadas.

Buscando ação mais qualificada, o CRIA adotou o PMAS – Sistema de

Planejamento, Monitoramento, Avaliação e Sistematização; formado por um conjunto

de indicadores que são definidos a partir dos objetivos e resultados esperados pela

organização, com instrumentos de avaliação que são elaborados pela equipe de

educadores e coordenadores. Tem-se uma sistemática composta por encontros em que

o foco é o planejamento e em outros momentos o acompanhamento e avaliação;

contando com uma agenda pré-estabelecida em que são envolvidos diretamente os

educadores responsáveis pela formação dos jovens. Assim:

[...] Numa escala, é possível descrever que desde as reflexões

metodológicas e pedagógicas (registros das falas dos jovens e familiares

em momentos de avaliações das ações por, por exemplo), até as

decisões macro institucionais, foram observadas e direcionadas, diante

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do aprimoramento da prática junto ao sistema de planejamento,

monitoramento e avaliação institucional14

.

c) Estratégias de captação de recursos

O CRIA tem vivenciado um contexto de desafios relacionados à captação de

recursos para suas atividades. No que tange a captação junto às agencias de

cooperação internacional, foi informado o Brasil deixou de ser prioridade e esse fator é

evidenciado através da diminuição de recursos financeiros que têm sido repassados às

organizações nos últimos anos. Com isso, como medida para a seleção de

organizações a serem apoiadas, as agencias internacionais começaram a fazer maiores

exigências quanto à transparência, registros, publicações e sistematização dos

impactos e resultados obtidos.

Em relação à captação no Brasil, foi ressaltado que a diminuição do apoio

internacional e a falta de investimentos do setor privado contribuíram para que os

recursos públicos fossem cada vez mais cobiçados pelas ONGs brasileiras. Porém, os

processos burocráticos enfrentados para acesso a esses recursos são lentos e na maioria

das vezes não consegue acompanhar o fluxo dos projetos que são propostos. Além de

não apresentarem clareza em seus editais quanto aos critérios para apoio.

Assim, visando sua sustentabilidade, em 2010 a organização desenvolveu,

através da área de Sustentabilidade e validação do Conselho Estratégico, o Plano de

Mobilização de Recursos como estratégia para captação. Esse plano foi estruturado em

6 (seis) categorias, cada uma contando com objetivos, estratégias e ações-chave. Cada

ação-chave é dividida em atividades, responsáveis e prazo de execução. As categorias

do PMR são: I - Mobilização de agências financiadoras; II - Mobilização de recursos

públicos; III - Mobilização de recursos empresariais; IV - Mobilização de

colaboradores individuais; V - Geração de Recursos Próprios e VI - Intercâmbio de

experiências de mobilização15

.

14

VEIGA, Camila. Informação prestada em 23.10.2012. 15

Conferir PMR em anexo.

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A aplicabilidade desse plano contou, até 2010, com 3 (três) profissionais que

atuavam na captação de recursos. Porém, devido a redução dos recursos, a organização

tem sentido sérias dificuldade em dar continuidade às atividades do PMR, uma vez

que conta apenas com 1 (uma) profissional que é membro do conselho de gestão e que

também desenvolve a função de mobilizadora de recursos para a entidade. Com isso, o

CRIA priorizou o que considerava as melhores oportunidades que pudessem

possibilitar acesso a financiamentos, como a renovação de parcerias já estabelecidas,

inscrições de projetos em editas ou chamadas públicas de instituições privadas e

governamentais.

Dessa forma através das “Ações Prioritárias” presentes no plano de

mobilização de recursos, o CRIA teve a possibilidade de garantir a continuidade de

ações, uma vez que conseguiu captar um montante, para 2011, igual ao que foi

executado em 2010, o que correspondeu a R$ 1.200.000,00 (Um milhão e duzentos

mil reais).

Assim, depreende-se das informações levantadas que a captação de recursos

que buscou diversificar fontes obteve retorno positivo com a aprovação de projetos em

diferentes fontes, assim representadas no orçamento de 2011: Cooperação

Internacional (58%), Parceria Estadual (38%), Parceria Municipal (1%) e Recursos de

Receitas Próprias (3%) do total executado no ano, conforme a Figura 19:

Figura 19: Apresentação do Montante de Recursos recebidos em 2010 e 2011 pelo CRIA.

Fonte: Elaborado pela autora.

474.699,00

10.348,00

39.596,00

718.234,00

Estadual

Municipal

Próprias

Internacional

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Quanto à captação de recursos junto às empresas privadas, foi informado que

ocorreu doação de uma empresa nacional de telefonia, que repassou recursos através

de descontos do imposto sobre circulação de mercadorias e prestação de serviços

(ICMS), o que está previsto na Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Porém, ressalta

que o CRIA passou por muitas dificuldades para a execução do recurso recebido desta

empresa, visto que havia muita interferência e a organização se viu obrigada a acatar

exigências quanto à eliminação ou inclusão de atividades que estivessem de acordo

com os interesses da empresa financiadora.

Assim, o CRIA se viu num contexto de indisposição para captação de recursos

com a mesma empresa e com outras que fazem parte do segundo setor, reforçando

também, que a entidade não efetua parceria com empresas de bebidas e fumo.

A conjuntura apresentada demonstra que mesmo tendo conseguido manter o

montante de recursos recebidos nos dois anos, foi necessário tomar medidas para que

pudesse lidar com o momento de escassez de recursos. Foi então, que começou pela

redução de 46,66% de seu quadro profissional, passando de 30 para 16 funcionários e

reduziu em 45,94% o número de jovens que participavam de atividades na entidade

passando de 27, em 2010, para apenas 40 em 2011.

Assim, nota-se que mesmo diante de atividades diversificadas que busquem

captar mais recursos, a organização ainda encontra desafios para sua sobrevivência,

afetando diretamente os profissionais que se dedicam à organização e seu público

diretamente beneficiado.

4.8. Centro Humanitário de Apoio à Mulher - CHAME

a) Histórico da Organização:

O Centro Humanitário de Apoio à Mulher, localizado à Rua Gustavo dos

Santos nº 10, sala 107, São Pedro, Cep: 60060-230. Foi implantado em Salvador/Bahia

em agosto de 1994. E no ano de 1997, foi constituído como projeto permanente de

extensão do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM), órgão

suplementar da Universidade Federal da Bahia, tendo como entidade administrativa a

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Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão (FAPEX), que é também uma entidade

vinculada à Universidade Federal da Bahia. Apenas em agosto de 2001 o CHAME foi

constituído como uma associação civil sem fins lucrativos ou comerciais, visando a

ampliação de suas atividades, assim como a expansão de suas ações para outros

estados brasileiros.

Sua missão é alertar e prevenir a sociedade para os riscos da exploração da

mulher jovem e adulta nas diferentes formas de migração e recrutamento para o

trabalho forçado (sexual, doméstico e demais modalidades de escravidão, usualmente

relacionadas à violência física e/ou psicológica), respeitando a sua liberdade de

escolha. Para melhor cumprir sua missão, o Chame se divide em 2 (duas) áreas de

atuação (ver Figura 20):

Figura 20: Eixos de Atuação do CHAME, conforme Mapa 3º Setor - Classificação Internacional de

Organizações Não lucrativas – ICNPO.

Fonte: Elaborado pela autora.

Dessa forma, sua visão é ampliar no país a discussão sobre a exploração da

mulher jovem e adulta e as diferentes formas de migração, influenciando a sociedade

na definição de políticas públicas, no aumento de poder da mulher como cidadã, na

luta pelos direitos humanos, para que os direitos das mulheres vítimas do tráfico sejam

respeitados em cada momento e em cada lugar.

CHAME Educação e

Pesquisa Defesa de Direitos

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b) Estrutura Organizacional

O CHAME é composto por um conselho deliberativo e a equipe que executa as

atividades dos projetos. Porém, desde sua formação enquanto associação tem um

quadro funcional muito enxuto e desenvolve uma estrutura horizontal, onde cada

profissional é responsável por suas atividades e a cada quinze dias devem apresentar

seus resultados em reuniões de equipe. Com isso, a organização acredita que

descentraliza as informações, ações e atividades, uma vez que todos os profissionais

têm acesso a todas as informações da organização.

Atualmente, a entidade tem uma estrutura profissional bem reduzida e conta

apenas com 2 (duas) profissionais contratadas, coordenadora geral e coordenadora

administrativa; e 2 (duas) estagiárias da área de pedagogia. Como requisitos

principais, a organização buscar contratar profissionais que tenham formação na área

em que aprovou o projeto, a fim de que esses profissionais possam somar

conhecimentos acadêmicos e profissionais.

Além disso, prioriza a contratação de mulheres que tenham atuação em

trabalhos sociais, assim como trabalhos relacionados às questões das mulheres. No

caso de estagiários, fazem entrevistas com estudantes tentando visualizar perfis que

tenham facilidade para trabalhar em grupo, sejam participativas, que tenham atuação

em ONGs ou queiram trabalhar em ONGs. A organização ressalta que dá a

oportunidade para homens, mas que tenham participação e engajamento em atividades

sobre a mulher ou relações de gênero. Todos esses profissionais passam por processos

contínuos de formação disponibilizados pelas redes de articulação e momentos

organizados pela própria entidade.

Suas atividades são desenvolvidas após planejamento anual, que ocorre nos

primeiros dias do ano e, ao final do ano, faz uma avaliação de tudo que foi planejado.

Como ponto de partida para o planejamento, considera sempre os projetos em

andamento para que todas as ações estejam inclusas no plano anual que está sendo

construído. Quando necessário, os membros da organização se reúnem em caráter

extraordinário para rever o planejamento e planejar novamente caso haja algum

entrave ou problemas relacionados ao planejamento inicial. Quanto às atividades de

monitoramento, avaliação e auditoria, a entidade às desenvolve apenas quando tem

projetos em andamento.

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c) Estratégias de captação de recursos

O CHAME tem enfrentado dificuldades quanto à sua sustentabilidade no

cenário de carência de recursos para as organizações que atuam em defesa de direitos

no Brasil. Porém, assim como as demais organizações sem fins lucrativos, tem

buscado captar recursos através de seus profissionais que atuam nas atividades da

entidade e na elaboração de projetos sociais para essas agencias internacionais, pois a

coordenadora geral tem forte articulação com agencias da Suíça e da Alemanha.

Com isso, mesmo não tendo informado os montantes recebidos nos anos de

2010 e 2011, no ano de 2011, 100% dos recursos executados foram originados de

doações internacionais, pois nesse ano a entidade recebeu a visita de uma agencia de

cooperação internacional que ofereceu apoio financeiro às ações do CHAME, através

de um projeto. Mas essa é uma atividade incomum, que não é capaz de garantir a

sustentabilidade da instituição, pelo que esta:

[...] continua buscando recursos em agencias internacionais, porque

acredita que seja uma possibilidade de responsabilizar os países para os

quais as mulheres se deslocam em situação de migração ou tráfico de

pessoas.16

Contudo, a organização tem encontrado muitos desafios e exigências que

inviabilizam o acesso a esses recursos internacionais, nacionais e de empresas

privadas.

Dentre as dificuldades apontadas, o CHAME identificou principalmente a

redução de recursos financeiros das próprias agencias de cooperação internacional e

muitas exigências relacionadas a documentações, comprovação de capacidade técnica

e de gestão e demandam que a organização tenha uma grande estrutura que atenda às

demandas que serão estabelecidas pelos financiadores, o que acaba por impedir que a

organização possa acessar os recursos disponíveis.

[...] As agências internacionais estão cada vez mais exigentes com as

ONGs, exigindo que sejamos uma super ONG, mas para você ser uma

super ONG e ter todos os registros e documentações requer recurso. E

para uma ONG que é pequena, isso tudo é complexo (LEITE, 2012).

16

LEITE, Jaqueline Maria. Informação verbal concedida em 11/11/2012.

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94

Outro fator identificado pela organização se refere ao fato de que o CHAME

tem como foco a atuação com mulheres, tráfico de mulheres e combate ao turismo

sexual, encontrando assim dificuldades em acessar recursos devido à mudança de foco

das agencias de cooperação e possível preconceito quanto ao público que atendem,

pois “[...] As agências acham que todas as mulheres que são traficadas, são prostituas e

não querem financiar” (LEITE, 2012).

Quanto à captação no ambiente nacional, a organização encontra dificuldades

junto ao governo federal brasileiro, pois detém apenas o certificado de utilidade

pública municipal, ou seja, não detém toda a documentação que é exigida nos editais

públicos.

Além disso, os projetos aprovados pelo governo federal, não disponibilizam

pagamento de pessoal, o que dificulta ainda mais, pois as ONGs não têm recursos para

pagar os profissionais que executam seus projetos, assim “[...] Não tem como fazer

nenhum trabalho sem uma equipe que possa executar” (LEITE, 2012).

Os recursos federais também não subsidiam os custos fixos da organização,

relacionados ao aluguel, água, luz e telefone; o que acaba por impedir uma possível

captação junto ao Governo. Por fim, a organização encontra grande dificuldade em

acessar o sistema de convênios e contratos de repasse (SICONV), devido sua

complexidade.

A organização ainda identifica grande dificuldade em acessar recursos de

empresas privadas, devido à temática de atuação, visto que algumas empresas não

querem vincular seus nomes às questões relacionadas à sexualidade, tráfico de pessoas

e prostituição.

Assim, buscando lidar com essa conjuntura de escassez de recursos, a entidade

tomou a iniciativa de limitar o volume de compras de materiais e até equipamentos

necessários para atividades. Posteriormente, cancelou as participações em eventos que

acontecem fora de sua região e que demandam custos com viagens, visto que não têm

recursos para esses fins. E, por fim sem mais possibilidades, optou em reduzir custos

com pessoal, deixando de ter o número anterior de técnicos contratados, passando a

contar com mais estagiários voluntários que vêm das universidades da região.

A situação provocou uma atitude drástica por parte dos gestores, que diante da

ausência de recursos para pagamento de pessoal passou a incentivar os profissionais

que ainda estão na instituição a buscarem novos empregos.

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95

Dessa forma, observa-se que o contexto apresentado pela entidade demonstra

grande fragilidade acerca de sua existência, pois não conseguiu diversificar suas fontes

de recursos e tem atuado cada vez mais reduzida para o enfrentamento das moléstias

sociais identificadas.

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96

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do objetivo de analisar as estratégias de captação de recursos em ONGs

localizadas nas cidades de Belém, Salvador e Recife, à luz dos novos modelos de

cooperação nacional e internacional, o presente estudo constatou que todas as

organizações estudadas possuem estrutura e perfil específicos e que, diante da

necessidade de sustentarem suas ações, adotam determinadas estratégias de captação

de recursos. Todavia, ao avaliar aspectos históricos, a estrutura organizacional e a

conduta na captação de recursos, foi possível realizar uma leitura de aspectos

importantes na compreensão da dinâmica das estratégias de captação de recursos em

ONGs de defesa de direitos no Brasil.

Quanto à estrutura organizacional, contatou-se que as organizações estudadas

atuam de forma expressiva na sociedade, sendo sete delas com mais de dez anos de

atividades envolvendo comunidades brasileiras e com interferência substantiva nas

questões relacionadas à defesa de direitos no Brasil. Interessante notar que todas as

organizações que compõem o estudo realizado estabelecem suas ações a partir da

definição de eixos temáticos, relacionados com a sua missão, assim como refletindo as

necessidades de intervenção junto ao público beneficiário delimitado, o que torna mais

eficientes as ações que desenvolvem.

Verificou-se, ainda, que as ONGs estudadas são formalmente constituídas

como associações, pelo que todas possuem documentação registrada através de

estatuto, atas, registros das esferas municipal, estadual e federal, bem como relatórios

gerenciais e financeiros. Percebeu-se que todas essas ONGs apresentam, em sua

gestão, níveis hierárquicos relacionados à sua estrutura de funcionamento, geralmente

contando com uma instância superior responsável pela maioria das decisões da

organização, no formato de Assembleia Geral, composta pelos sócios fundadores e/ou

outros posteriormente integrados a esse quadro.

Quanto aos recursos humanos, estas organizações são compostas por funções

fixas de coordenação, responsáveis por coordenar as diversas atividades realizadas; e

pessoal responsável pela execução direta das mesmas. Conforme os projetos

aprovados, os colaboradores são contratados em modalidades diferentes, inclusive

como voluntários.

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Devido à escassez de recursos financeiros, identificou-se que todas as

entidades apresentam número reduzido de profissionais compondo o quadro de

recursos humanos, o que provoca o acúmulo de funções e de atividades, uma vez que

nem todos os projetos aprovados possibilitam contratação de novos profissionais,

passando a contar com um maior número de voluntários e estagiários de universidades

que chegam à organização para contribuir também de forma voluntária.

Para a contratação de profissionais, constatou-se que as entidades analisadas

optam geralmente por processos seletivos que envolvem chamamento público e os

principais requisitos definidos são: conhecimento e/ou aproximação com as temáticas

desenvolvidas pelas organizações; experiência e engajamento com movimentos

sociais; sensibilidade às discussões de gênero; experiência profissional e perfil

adequado à vaga.

Os profissionais, novos e antigos, passam por processos contínuos de

formação, interna ou externamente, meio utilizado para manter a identidade política do

grupo que faz parte da organização. Uma das ONGs, o CEDENPA, ressalta a

participação ativa do grupo de educação, responsável pelas demandas de capacitação

dos militantes, que chegam a se reunir uma vez ao mês. Em outros casos, participam

de momentos de formação externa, quando disponibilizado por entidades parceiras de

forma gratuita, pois não possuem recursos financeiros para pagamento desses eventos.

No que tange à utilização das ferramentas gerenciais, foi possível notar que as

organizações desenvolvem majoritariamente as atividades de planejamento, a curto e

médio prazo, pois consideram na maioria das vezes os projetos que estão sendo

executados, ou que irão executar, como ponto de partida para a elaboração e execução

do planejamento, demonstrando assim que essas ferramentas ainda são utilizadas de

forma pontual.

Quanto à avaliação e monitoramento, são elaborados, em sua maioria, de

acordo com as demandas previstas no planejamento e de acordo com as atividades

relacionadas aos projetos. Dessa forma, conseguem mensurar seus dados e resultados

através de relatórios de atividades contendo todas as informações necessárias e

também através de reuniões de equipe, quando são apresentadas tais informações aos

demais.

Apenas uma das ONGs estudadas, o CRIA, adota uma metodologia

diferenciada denominada PMAS (Planejamento, Monitoramento, Avaliação e

Sistematização), formada por um conjunto de indicadores que são definidos a partir do

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delineamento dos objetivos e resultados esperados, proporcionando maior

aprimoramento das práticas institucionais.

A auditoria sobre as demonstrações financeiras são efetuadas apenas quando

exigidas pelos projetos, pois as organizações não possuem recursos próprios para que

possam arcar com esses custos.

Quanto à captação de recursos nas ONGs estudadas, infere-se que as ações

para tal fim ocorrem de forma a demonstrar maior dependência dos recursos de

doações internacionais, sugerindo instabilidade e fragilidade na sua sustentabilidade,

uma vez que não há maior diversificação de suas fontes de recursos.

Constatou-se que as ONGs ainda têm como principal fonte de financiamentos

as agencias internacionais. Com isso, essa evidente dependência e a crescente

diminuição de doações ao Brasil têm acometido essas entidades de uma nítida queda

de recursos financeiros para suas ações, o que se vislumbra a partir da análise dos

montantes recebidos nos exercícios de 2010 e 2011.

Verificou-se, ainda, que apenas duas organizações, o CRIA e o GMB,

apresentam planos de mobilização de recursos com diversas atividades que preveem

diferentes formas de captação. Porém, foi possível conferir que o CRIA se encontra

impossibilitado de colocar em prática todas as tarefas planejadas, devido ao número

reduzido de profissionais que possam demandar maior tempo para esses fins. E, no

GMB, constata-se que a organização não desenvolve as atividades previstas no plano

por contar apenas com profissionais voluntários, que não possuem tempo disponível e

de forma necessária à captação de recursos para a entidade.

Apenas uma das organizações estudadas, o CRIA, possui profissional

específico para as ações de captação de recursos, pois todas as entidades não detêm

orçamentos para pagamento desses profissionais. No entanto, mesmo contando com

esta colaboradora, e diante da informação de que antes dela havia ainda outros dois

profissionais voltados especificamente para essas ações, seu plano de mobilização de

recursos se tornou frágil diante das diversas ações que foram planejadas, fazendo com

que a ONG CRIA optasse por praticar ações emergenciais, reduzindo assim o universo

de possibilidades de captação, uma vez que a profissional também é membro do

conselho de gestão e necessita demandar atenção a outras atividades da entidade.

No tocante às dificuldades para a captação de recursos, identificaram-se a

burocracia estatal, a redução dos recursos disponibilizados pelas agências de

cooperação internacional, a não aderências das empresas privadas à temática da defesa

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dos direitos de grupos vulneráveis e as ingerências que estas praticam na execução dos

recursos doados. Diante do quadro acima, as ONGs se encontram fragilizadas, o que

impõe decisões de reestruturação de suas ações e quadro de pessoal frente à escassez

de recursos.

Assim, deduz-se que 87,5% das ONGs iniciaram um processo de redução do

quadro profissional por falta de recursos para pagamento de remuneração; reduziram o

número de participação em atividades políticas e de interesse do público beneficiário,

por não haver recurso para viagens, transportes e demais custos; diminuíram o número

de beneficiários participantes em atividades da entidade; minimizaram a carga horária

trabalhada pelos profissionais que ainda estão na organização; começaram a efetuar

venda de prédios próprios para angariar fundos que permitam a sustentabilidade em

curto prazo; mudaram de suas sedes para espaços menores e até, em um dos casos

(Sodireitos), averiguou-se o encerramento completo do atendimento às vitimas de

violências sexuais e tráfico de pessoas, visto que tais atividades requerem atenção e

investimento financeiro em despesas fixas, assim como estrutura física para

acolhimento e equipe qualificada de profissionais.

Quanto às estratégias de captação de recursos, que conceitualmente

constituem-se em ações diferenciadas diante do cenário encontrado pelas ONGs para

garantirem sua sustentabilidade financeira, é possível afirmar que das oito

organizações estudadas, apenas em duas foram identificadas atitudes que transpareçam

conhecimento científico e prático sobre esse tipo de ação, o CRIA e o GMB. Quanto

às demais organizações, constatou-se a dificuldade em compreender esse conceito, o

que reflete um posicionamento defasado para a diversificação de fontes de

financiamento, tendo como principal ponto de partida a pesquisa de editais abertos e

elaboração de projetos sociais para a concorrência em editais públicos.

Em 100% das ONGs foi verificada a elaboração de projetos para as agências de

cooperação internacional. Somente em três entidades foi possível identificar a

diversificação da captação de recursos, o que se deu por meio de projetos enviados não

somente a organismos internacionais, mas também ao governo federal brasileiro e

governo estadual, que foi o caso das ONGs Sodireitos, Gajop e CRIA, talvez pela

impressão generalizada de que é inviável a utilização do SICONV.

Apenas duas organizações, o CRIA e o GMM, receberam doações de empresas

privadas nos exercícios analisados. Contudo, todas elas apresentam resistência quanto

à forma de doação pelas empresas privadas, uma vez que a maioria das empresas não

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100

possibilita que as ONGs tenham autonomia sobre a aplicação dos recursos, além de

buscarem promoção junto à sociedade e ao mercado, incentivos relacionados à

responsabilidade social e, em sua maioria, não apoiarem ações vinculadas à defesa de

direitos da mulher, como nos casos de ONGs que atuam com prostitutas, vítimas de

violência sexual, tráficos de pessoas e violência doméstica.

Ainda quanto às estratégias de captação de recursos, é importante ressaltar que,

apesar das diversas discussões existentes acerca da importância da diversificação de

fontes de recursos, o assunto “estratégias de captação” ainda não é tratado de forma

prioritária pelas ONGs estudadas, o que reflete um contexto maior, uma vez que esse

tema envolve outros aspectos inerentes e que tendem a dificultar informações e ações

acerca das estratégias de captação de recursos que são desenvolvidas. Sem contar com

a impressão marcante de que essas organizações demonstram certa “resistência” na

adoção de práticas institucionais profissionalizadas, em face do contexto de

surgimento no âmbito da militância social.

A pesquisa encontrou limites relacionados ao tema “estratégia de captação de

recursos”, pelo fato de que as ONGs não percebem muitas de suas atividades como

estratégias em si e nem sempre detém conhecimento acerca de novas possibilidades de

captação, o que dificultou a obtenção de respostas mais qualitativas.

Em suma, em resposta ao problema central desta investigação, inferiu-se que as

estratégias de captação de recursos que estão sendo adotadas por organizações não

governamentais de defesa de direitos humanos em Belém, Salvador e Recife,

considerando os desafios apresentados pelos novos modelos de cooperação nacional e

internacional são estratégias: i) dominantemente ausentes de práticas de gestão

institucionalizadas; ii) altamente dependentes de recursos de doações internacionais;

iii) dotadas de baixa diversificação na captação de recursos; e iv) sustentavelmente

frágeis no processo de manutenção de suas atividades, quadro este que está na

contramão dos novos modelos de cooperação nacional e internacional, demandantes

de estratégias eficientes e construídas a partir de estruturas organizacionais

profissionalizadas e com modelos de gestão capazes de diversificar fontes de recursos.

Assim, constata-se que essas estratégias apresentam características enraizadas

de ações relacionadas à captação de recursos, sugerindo ligação com a Escola Cultural

proposta por Mintzberg, Ahsltrand e Lampel (2000), da qual é possível compreender a

influencia da cultura no pensamento de uma organização e, consequentemente, o

processo de concepção estratégica, a partir de aspectos apresentados por esses autores

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101

quanto: i) ao estilo de tomada de decisões, pelo que a cultura influencia o modo de

pensar e o uso de análise da organização, influenciando, portanto, no processo de

formação de estratégias; ii) à resistência a mudanças estratégicas, pois a lógica antiga é

dominante e desencoraja mudanças importantes; iii) à superação da resistência às

mudanças estratégicas, que chama atenção para a necessidade de superar a inércia

cultural, considerando a importância da flexibilidade e da inovação; iv) aos valores

dominantes, que são valores-chave, tais como atendimento, qualidade e inovação, os

quais preveem vantagem competitiva; e v) ao choque de culturas, pois a cultura de

cada organização demonstra que as estratégias propostas serão sempre problemáticas.

Por fim, dentre as suas possibilidades e limitações, o estudo buscou relacionar

conhecimentos empíricos à ciência através do olhar da Administração, com a

expectativa de contribuir com as discussões que norteiam o terceiro setor abordando,

especificamente, as estratégias de captação de recursos em ONGs que atuam em

defesa de direitos nas cidades de Belém, Salvador e Recife.

Todavia, torna-se imprescindível a realização de novos estudos que atentem às

especificidades do terceiro setor e a importância das ONGs de defesa de direitos no

Brasil, dentre eles sugerem-se pesquisas sobre: i) a estrutura organizacional

relacionada às estratégias de captação de recursos de outras ONGs que atuam em

defesa de direitos em outras cidades; ii) os limites e oportunidades de doações de

empresas privadas às ONGs de defesa de direitos no Brasil; e iii) pesquisas

quantitativas sobre o desenvolvimento de comunidades brasileiras que foram

beneficiadas pelas atividades das organizações que atuam em defesa de direitos no

país.

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108

ANEXOS

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109

Tabela 6: Plano de Mobilização de Recursos do CRIA

Categorias: agências financiadoras, recursos públicos, recursos empresariais, colaboradores individuais, geração de recursos própios e intercâmbios de

experiência.

Ações-Chave Atividades Responsáveis Prazo de execução

Categoria Observações/ Encaminhamentos Início Fim

GESTÃO

Qualificação dos sistemas gerenciais

(administrativo, financeiro e contábil) da

organização.

1- Pesquisa de modelos de sistemas

de gerenciamento administrativo e

financeiro;

2- Captação de recursos para a sua

implantação;

Adm/ Conselho

Gestor

nov/09 ago/10

Todas

Pesquisar possibilidades de captação

de recursos. Ex: Novos Brasis/

Fapesb

3- Implantação do sistema fev/11

Criação e publicação de documentos

relacionados à gestão dos projetos

(atividades realizadas e gestão dos

recursos), assumindo o compromisso

prático com a transparência e a prestação

pública de contas.

Publicação do relatório anual no site

do CRIA e impressão de cópias para

distribuição para parceiros

(apoiadores e possíveis apoiadores,

ongs e outras instituições)

Equipe CRIA/

Comunicação jun/10 contínuo Todas

P/ 2011:Impressão do relatório para

distribuição e publicação no site até

março de cada ano. Inserir no

orçamento para captar/alocar

recursos para publicação impressa

Elaboração da auditoria anual e

publicação da auditoria (resumo) do

projeto anual no site do CRIA

Adm/

Comunicação ago/10 contínuo Todas

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110

Regularização e atualização sistemática da

documentação institucional e, caso se faça

necessário, revisão e alteração de seu

estatuto e constituição jurídica.

1- Listagem de todos os documentos

institucionais (certificados, registros,

atestados etc) do CRIA;

2- Verificação e devidos

encaminhamentos para os que

necessitam de atualização.

Adm/

Sustentabilidade

(apoio)

jul/10 contínuo Todas

1- Estudo das diferentes

possibilidades de titulação que o

CRIA pode obter;

2- Análise e encaminhamento dos

documentos.

GT de Titulação/

Adm já iniciado Todas

Ver prazo de entrega do relatório de

utilidade pública federal para avaliar

se é possível enviar ainda esse

ano(Paula). Retomar estudo sobre

OSCIP (Paulo) - Até ago/10.

COMUNICAÇÃO E CAMPANHAS INSTITUCIONAIS

Disseminação de conteúdo

Publicação de matérias e artigos

sobre temáticas relevantes da atuação

e missão institucionais no site do

CRIA

Equipe

CRIA/Comunicação mai/10 contínuo Todas

Aprofundar essa atividade com a

área de comunicação/ Definir prazo

Realização de campanhas com o

empresariado.

Definir necessidades e estruturar

campanhas do tipo "Adote um

jovem" ; "Faça parte dessa arte";

"Empresa amiga do CRIA"; "Doação

de equipamentos"; "Reforma de

sala..." etc.

Comunicação /

Representações

inter áreas

jul/10 contínuo Recursos

Empresariais

Aprofundar essa atividade com a

área de comunicação/ Definir prazo

Definir estratégia de contato e visita

a empresas para captação de

recursos para o CRIA

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111

COMUNICAÇÃO E CAMPANHAS INSTITUCIONAIS

Criação e veiculação de mensagens

incentivando a doação e a filiação nos

materiais de comunicação institucional

(impressos e eletrônicos).

Criar/rever texto para divulgar doação

nos materiais de comunicação

institucional (site, folders, convites,

cartazes etc)

Comunicação ago/09 contínuo Todas Agendar reunião com comunicação

Criação e distribuição de materiais de

comunicação específicos para as campanhas

de doação e filiação de colaboradores

individuais.

Definição dos tipos de materiais de

comunicação que serão elaborados e

os veículos de comunicação utilizados

(dar especial atenção ao mailing e

outras formas eletrônicas - twiter,

torpedo etc). GT de Divulgação e

Mobilização de

Recursos /

Comunicação

abr/10 jun/10

Colaboradores

Individuais

Elaboração de texto e layout para os

materiais.

Buscar parceria com uma empresa de

publicidade para elaboração da

campanha.

nov/09 mai/10

Elaboração de orçamento e captação

de recursos/apoios para a sua

confecção.

abr/10 jun/10

Utilização do site da instituição como

ferramenta para a conquista de novos

doadores e/ou sócios mantenedores.

Criar um espaço atraente e de fácil

acesso no site com informações sobre

doação.

Comunicação mai/10 contínuo Colaboradores

Individuais

Promoção de campanhas de doação e/ou

filiação em eventos internos e externos.

Disponibilização de materiais sobre

possibilidades de doação nas ações

desenvolvidas pelo CRIA (quando

couber).

Comunicação/

Produção 2011? contínuo Agências

financiadoras,

recursos

empresariais e

colaboradores

individuais

Pesquisa sistemática e construção de

um calendário de eventos e encontros

externos (responsabilidade social,

educação e cidadania, cultura etc).

Equipe CRIA /

Produção 2011? contínuo

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112

COMUNICAÇÃO E CAMPANHAS INSTITUCIONAIS

Promoção de campanhas de doação e/ou

filiação em eventos internos e externos.

1- Definição dos eventos estratégicos

para a participação do CRIA, a partir

da análise da temática, viabilidade e

retornos possíveis;

2- Distribuição dos materiais

institucionais e divulgação das formas

de doação nos eventos.

Sustentabilidade/

Produção /

Comunicação

2011? contínuo

Agências

financiadoras,

recursos

empresariais e

colaboradores

individuais

Deixar para 2011????

Realização de campanhas entre a rede de

contato da diretoria/ conselheiros do CRIA

para obter a indicação de possíveis

colaboradores.

Sensibilização da diretoria/

conselheiros para a participação como

divulgadores ou através da concessão

de sua lista de contatos para a equipe

de mobilização

Coordenação mai/10 jun/10 Colaboradores

Individuais

Urgente!! Começar com o Programa

Sempre Presente

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PLANO DE NEGÓCIO

Identificação das potencialidades produtivas e

de serviços; avaliação do alinhamento das

potencialidades produtivas em relação aos

objetivos sociais e políticos institucionais.

1. Reunião toró de idéias sobre produtos

CRIA; 2. Encontro de

alinhamento com princípios

institucionais; 3. Listagem dos serviços

e produtos a serem comercializados.

Equipe CRIA out/10

Geração de

recursos próprios

Sugestões: serviço de consultoria e

residência artística de estrageiros e

outros interessados no CRIA; Parceria

com restaurantes para doaçao de

recursos de clientes para o CRIA; Ver

viabilidade de doações/associados

individuais.

Estudo de viabilidade financeira das

atividades produtivas desenvolvidas

(buscar apoio para o seu

desenvolvimento);

Sustentabilidade/

Coordenação nov/10 ago/10

Capacitação para o desenvolvimento e/ou

aprimoramento de atividades produtivas.

1. Listagem de todas as necessidades de

capacitação; 2. Identificação de

profissionais e/ou empresas que possam

dar as capacitações; 3.

Identificação de apoio financeiro para

custeio dos cursos;

4. Montagem de agenda e equipe para os

cursos.

Representações

interáreas

Avaliação e adequação do status legal da

organização para a comercialização de

produtos e/ou serviços

1. Revisitar o estatuto e checar

impedimentos.

Sustentabilidade/

Conselho Gestor/

Sugestão de parceria com advogado

conselheiro ou então pedir apoio de

parceiros como Avina, Winrock, Elo p/

ceder seus advogados ou dar apoio para

prestação de serviços

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ARTICULAÇÃO

Articulação com organizações que atuam

no Pelourinho (Axé, Eletrocooperativa,

Cipó...) para propor ações conjuntas de

responsabilidade social junto a empresas

Ação piloto: organização de

seminário voltado para empresas,

com foco na questão da

responsabilidade social na causa da

infância, adolescência e juventude.

Coordenação e

'Coletivo

Pelourinho'

Recursos

Empresariais

Proposta para ser discutida no

Conselho Estratégico + Equipe de

Mobilizaçao de Recursos. Identificar

os pontos fracos da experiencia

anterior (Campanha Faça Parte desta

Arte) e traçar estratégias para superá-

los.

1- Entrar em contato com as

instituições para propor articulação

em torno desta proposta;

2- Reuniões para desenhar a ação e

elaborar orçamento; 3- Definir

equipes de trabalho e captação de

recursos para a viabilização do

evento.

Coordenação/

Representações

interáreas

segundo

semestre

(definir

período)

segundo

semestre

(definir

período)

APOIO TÉCNICO

Mobilização de especialistas voluntários

em áreas e temáticas de interesse e/ou

necessidade do CRIA;

1- Definição de produtos/ações ou

funções necessárias para a atuação de

especialistas voluntários;

Coord/ Áreas do

CRIA jul/10 contínuo

Colaboradores

individuais Ex.: Ufba com ICI.

Fonte: Fornecido pelo CRIA (2012).