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5 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA EVANIDA PAULA CASTRO O ACESSO À JUSTIÇA DE VITIMAS DE CRIMES VIOLENTOS Brasília 2009

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

EVANIDA PAULA CASTRO

O ACESSO À JUSTIÇA DE VITIMAS DE CRIMES VIOLENTOS

Brasília 2009

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

FACULDADE DE DIREITO

EVANIDA PAULA CASTRO

O ACESSO À JUSTIÇA DE VITIMAS DE CRIMES VIOLENTOS

Brasília 2009

7

FOLHA EM BRANCO

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................05

2 ACESSO À JUSTIÇA......................................................................................13

2.1 Evolução do conceito de acesso a justiça.......................................................14

2.2 Conceito de acesso a justiça...........................................................................15

2.3 Fundamentos e garantias do acesso a justiça................................................16

3 VITIMOLOGIA.................................................................................................18

3.1 Aspectos conceituais.......................................................................................18

3.2 Vitimologia e Direitos Humanos.......................................................................19

3.3 Formas de proteção às vitimas........................................................................20

3.4 Vitimologia e crimes violentos..........................................................................22

4 O ACESSO À JUSTIÇA DE CRIMES VIOLENTOS.......................................24

4.1 Acesso à justiça e vitimologia..........................................................................25

4.2 Obstáculos do acesso à justiça das vitimas de crimes violentos....................26

4.3 As vitimas de crimes violentos.........................................................................28

4.4 O papel do Estado na proteção às vitimas de crimes violentos......................29

5 ESTUDO DE CASO: MARIA DA PENHA, O DIFÍCIL ACESSO À JUSTIÇA DE UMA VITIMA DE CRIME VIOLENTO..................................................................31

5.1 Considerações Gerais.....................................................................................31

5.1.1 O caso Maria da Penha...................................................................................32

5.2 Relatório da Organização dos Estados Americanos.......................................35

9

5.3 A força jurídica dos tratados internacionais de direitos humanos...................37

5.3.1 A Lei Maria da Penha......................................................................................39

5.3.2 A reparação.....................................................................................................40

6 CONCLUSÃO..................................................................................................42

REFERÊNCIAS..........................................................................................................46

10

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema “o acesso à justiça de vítimas de crimes

violentos” e tenciona fazer uma explanação crítica a respeito do assunto com foco

na realidade brasileira, na defesa e promoção dos direitos humanos e no resgate da

cidadania desses atores que sempre estiveram tão distantes de seus direitos.

Tema dos mais discutidos nos últimos tempos, o acesso à justiça é um

importante princípio constitucional e está descrito na Constituição Federal no seu

artigo 5º, XXXV: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou

ameaça a direito”.

Note-se que, embora legítima, a busca pelo Poder Judiciário não significa

esgotar a questão do acesso à justiça igual para todos, pois, na maioria dos casos,

encontram-se situações em que os litigantes ocupam pólos antagônicos, de um lado,

o simplório e miserável, e de outro, o homem letrado e afortunado. Não se pode

negar que ricos e pobres poderão estar em patamares iguais no que concerne à

ignorância das leis, porém os ricos podem superar esse óbice ao contratar

advogados e assessores jurídicos, enquanto os pobres terão de contentar-se com as

filas quilométricas nas Defensorias Públicas.

Um mergulho na história nos mostra que a vítima, no início da civilização, era

totalmente ignorada pelo direito, cabendo a ela o exercício da vingança como forma

de compensação pelos danos sofridos.

A evolução social e política da sociedade fez desaparecer a vingança privada e

atribuiu ao Estado a titularidade do Persecutio Criminus, cabendo a partir daí,

somente a este o monopólio da jurisdição, o que significa dizer que somente o

Estado pode fazer a justiça.

Contudo, esse fazer justiça pelo Estado, priorizou, durante séculos, o crime e o

criminoso, e a vítima sempre foi a grande esquecida.

Somente com os horrores da Segunda Guerra Mundial, quando o mundo

assistiu estarrecido, ao massacre de milhões de seres humanos, é que a

11

humanidade passou a sentir a necessidade de pensar em políticas públicas capazes

de dar atendimento aos anseios sociais e assistência às vítimas da barbárie.

Com o processo de Internacionalização dos Direitos Humanos, começam a

surgir os documentos que visam a garantir às vítimas de crimes, o acesso à justiça,

a inclusão social, reconhecendo-as não como objeto, mas como um verdadeiro

sujeito de direitos, reafirmando a tendência mundial de valorização da vítima, pelo

reconhecimento dos direitos da pessoa mais prejudicada. No Brasil, a Constituição

Federal de 1988, que consagrou o Estado Democrático de Direito, dotou os

cidadãos brasileiros de vasto rol de Direitos e Garantias Fundamentais, que dentre

outros, visa a resguardar o homem tanto do seu semelhante quanto dos possíveis

abusos do próprio Estado, sendo o acesso à justiça como já afirmamos no início,

parte integrante daqueles.

Embora a Internacionalização dos Direitos Humanos, bem como a Vitimologia,

tenham dado um novo contexto às vítimas de violência de crimes violentos, grande

parte da população continua a não acreditar que nesse país as leis sejam

implementadas de forma igualitária e imparcial a todos os cidadãos. Essa

desconfiança no aparelho estatal, detentor do monopólio da jurisdição e o

responsável pela aplicação do direito, constitui uma das enormes barreiras que

impedem o acesso àquela.

Como se não bastasse, a grande maioria dos aplicadores do direito, continuam

a embrenhar-se pelo caminho do formalismo excessivo e pela retórica legalista,

formando verdadeiras castas, o que torna evidente a compreensão popular de que

as leis são instrumentos de opressão que trazem vantagens somente aos ricos e

poderosos, enquanto a mão opressora do Estado recai apenas sobre os menos

favorecidos e marginalizados.

Intensificando ainda mais a problemática do acesso à justiça pelas vítimas de

crimes violentos, está o fato de que as vítimas sentem-se impotentes diante da

morosidade e ineficiência do Poder Judiciário e da freqüente impunidade dos réus.

Verdadeiramente desumana é a via crucis a que é submetida a vítima, que sofre

com o crime. Ela quase sempre é destratada nas delegacias, e ainda tem de

suportar o constrangimento de comparecer ao Tribunal, desacompanhada de

12

advogado e ter de encarar de frente o agressor. Desrespeitada e humilhada, a vítima

ao ver que o acusado, se preso, tem a garantia de auxílio-reclusão e ainda tem a

seu favor uma lista de direitos e garantias, as quais manipuladas por brilhantes

advogados, chegam a constituir verdadeiros privilégios, aumentando ainda mais p

abismo que separa os ricos dos pobres da almejada justiça.

Tais fatos, fazem que as famílias das vítimas dos crimes fatais passem a não

se reconhecerem nem como vítimas, nem como titulares de direito, e, em sua

defesa, ou optam por esquecer o sofrimento ou fazer justiça com as próprias mãos,

que, aliás, é discurso comum no meio das vítimas de crimes violentos, sendo

traduzida como a maior prova da descrença nas instituições encarregadas da função

de fazer justiça.

A medida que tornam-se mais complexas as relações sociais, aumenta a

pobreza, o desemprego e banaliza-se a violência, cresce a “falta da lei” faz-se surgir

como tábua de salvação, o “poder paralelo” que procura dar respostas às questões

em que o Estado de Direito foi omisso, trazendo como conseqüência outro grave

problema para a sociedade, notadamente para as comunidades mais carentes que

ficam sujeitas à arrogância e aos desmandos em uma “terra de ninguém”, onde

impera a lei do mais forte cultivada pelo medo.

No Brasil, a falta de acesso à justiça é um problema histórico e, diante dos

grandes avanços propostos pela Constituição Federal de 1988, ainda permanecem

entre nós resquícios de uma cultura subserviente em que falta a consciência crítica

que leve nossos cidadãos a rejeitar as tendências autoritárias e massificadoras, os

privilégios e os preconceitos, em que os pobres continuam a ser vítimas de

violência, criminalidade e demais violações dos Direitos Humanos.

Diante do exposto o presente trabalho tem como objetivos gerais, demonstrar a

importância do acesso à justiça para as vítimas de crimes violentos no que concerne

aos direitos humanos e ao resgate da cidadania; enfatizar o importante papel do

Estado e da sociedade na elaboração e implementação de políticas que visem ao

empoderamento e ao resgate da auto-estima das vítimas de crimes violentos. Como

objetivos específicos procuraremos estudar o conceito de vítima, de vítimas de

crimes e de vítimas de crimes violentos; analisar i impacto causado pelo movimento

13

vitimológico no ordenamento jurídico penal brasileiro; identificar as causas

determinantes para que as vítimas renunciem aos processos no Poder Judiciário ou

desistam da proteção e do apoio da polícia e da justiça; verificar os meios de

assistência às vítimas de crimes violentos, a seus herdeiros e dependentes que o

Estado brasileiro disponibiliza; comparar o perfil ocupado pela vítima, no que diz

respeito ao acesso à justiça nas diversas constituições brasileiras. Trata-se de uma

pesquisa explorativa que tem por base a pesquisa bibliográfica sobre o assunto,

decorrente da vivência diária com mulheres vitimas de violência doméstica e familiar.

Diante desse quadro e sem a pretensão de esgotar o tema, tentaremos

apresentar algumas respostas aos seguintes questionamentos:

1 – Que características podem ser apresentadas como marcantes para o papel

das vítimas de crimes violentos no Brasil?

2 – Que rumos deve seguir uma Política Pública para garantir o acesso à

justiça às vítimas de crimes violentos?

3 – Que fatores contribuem para a desconfiança das vítimas de crimes

violentos?

4 – De que maneira o devido respeito e a dignidade da pessoa humana

influenciam na efetivação do acesso à justiça?

5 – Até que ponto as dificuldades enfrentadas pelas vítimas para ter acesso à

justiça, contribuem para o aumento da impunidade e a perpetuação da violência?

A experiência acumulada ao longo dos anos de militância, bem como a análise

e o estudo da doutrina a respeito do tema, nos remete a seleção de possíveis

respostas e constatações nos legitimando a afirmar que a população brasileira

encontram-se desamparada no que concerne a realização da justiça no caso

concreto. Destaca-se entre as causas, a exclusão social, a desinformação e a

condição de extrema pobreza, e que, na maioria dos casos, faz com que o indivíduo

não busque a promoção dos seus direitos e nem tão pouco a defesa destes quando

violados.

14

Também não resta dúvida de que um dos principais obstáculos do acesso á

justiça na esfera criminal repousa na morosidade e na inaplicabilidade do direito de

acesso ao Poder Judiciário.

Nesse sentido, a Emenda Constitucional 45/2004 acrescentou à Constituição

Federal:

Art. 5°, LXXVIII – “a todos , no âmbito judicial e administrativo, são

assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade

de sua tramitação”.

Convém ressaltar que as causas jurídicas agregam-se também as causas

econômicas e sociais que juntas causam grande impacto no processo de

vitimização, também como agravante, note-se o fato de que a grande maioria das

Cortes brasileiras, continuam ligadas a prática hierárquicas e discriminatórias, o que

tem causado verdadeira frustração, que por sua vez é reforçada pela falta de

investigação dos crimes, principalmente se as vítimas são membros das classes

populares, pois, no Brasil, punem-se primeiramente os pobres e os marginalizados.

É preciso ter como norte a efetivação do acesso à justiça da população mais

fraca e vulnerável.

No Brasil, a violência tem crescido de forma assustadora, sobretudo nos

grandes centros urbanos, e o perfil das vítimas de mortes violentas mostra que a

maior incidência está na população jovem do sexo masculino, embora não passe

despercebido a crescente taxa de homicídios de mulheres ligados às questões de

gênero. Oriundas das áreas pobres e periféricas das grandes cidades, as vítimas de

crimes violentos são, na sua maioria, negras ou afro descendentes de baixa

escolaridade e nenhuma qualificação profissional.

Presente está o fato de que são vítimas também da exclusão moral que recai

sobre a população pobre condenada por muitas pessoas da sociedade e também

pela polícia como criminógena em potencial.

O debate em torno do tema tem esteio na polaridade repressão x prevenção

em que estão representados os que defendem o endurecimento das penas e maior

15

rigor no cumprimento delas e os que lutam pela promoção da justiça social e

implementação de políticas públicas para a redução das desigualdades.

Modernamente, tem-se trabalhado a tendência do respeito à vítima de

criminalidade e abuso de poder, sendo defeso ao Estado permanecer omisso e

devendo este ter como base o principio da dignidade da pessoa humana, quando

pautar qualquer ação em relação à vítima, tendo a nítida compreensão de temas

como desigualdade, injustiça, impunidade, inobservância de direitos, intolerância ao

próximo, ausência de diálogo, desvalorização da vida e violação dos direitos

humanos.

Nesse sentido os programas de prevenção e enfrentamento à violência no

Brasil deverão estar atentos a questão macro-estruturais, como a erradicação da

miséria e as questões de âmbito cultural e pessoal presente nos espaços públicos e

privados, de maneira tal que ao proteger e prestar assistência às vítimas, prime pelo

desenvolvimento da cidadania.

Os números mostram que a quase totalidade das vítimas que chegam aos

grandes Centros de Referência e Apoio às Vítimas de Crimes Violentos, trazem

primordialmente uma demanda jurídica, e a sua busca por justiça é traduzida apenas

pela condenação e aplicação da pena ao autor do crime, mas a esmagadora maioria

delas mostram-se impotente diante da freqüente impunidade dos réus, e é

justamente essa sucessão de insegurança e impunidade que faz que o ciclo da

violência se perpetue e a vítima seja quase sempre um agressor em potencial.

Nesse sentido a Declaração sobre os Princípios Fundamentais de Justiça para as

Vítimas de Delitos e Abuso de Poder conceitua essas vítimas e recomenda que

sejam tratadas com respeito por sua dignidade e determina imediata reparação do

dano sofrido, de acordo com o que dispõe a Legislação Nacional. Assim é que a

Constituição Federal de 1988, reza em seu artigo 245 “A lei disporá sobre as

hipóteses e condições em que o Poder Público dará assistência aos herdeiros e

dependentes carentes de pessoas vitimadas por crime doloso, sem prejuízo da

responsabilidade civil do autor do ilícito”.

Nota-se, diante do Texto Constitucional e dos documentos internacionais

citados, que as vítimas passaram a ser vistas como sujeitos de direito, devendo ,

16

portanto, fazer jus a toda a assistência necessária a suprir-lhes a fragilidade e a

reparar-lhes pos danos, de forma a lhes possibilitar uma reinserção saudável na

sociedade.

Por fim, esperamos contribuir para uma maior conscientização daqueles que

debruçam-se sobre o tema de forma a tornar possível o efetivo exercício do acesso

à justiça que tem como escopo a promoção da dignidade da pessoa humana e não

deve ser entendido apenas como acesso aos tribunais, mas, antes de tudo, como

acesso ao direito, o que torna possível quando se dota as vítimas dos pressupostos

mínimos que as possibilitem ver-se como autênticos sujeitos de direito, e os

responsáveis pela construção e reconstrução de suas próprias vidas.

Partindo-se do princípio que na sociedade brasileira, algumas pessoas

culturalmente legitimadas a sofrer violências, ocupa destaque neste estudo o papel

do Estado enquanto primeiro promotor legítimo defensor dos direitos humanos, e

ainda do papel deste no enfrentamento de obstáculos para o acesso à justiça dessa

parcela da população, daí porque é de fundamental importância o estudo de tão

relevante tema, pois a medida em que analisamos o acesso à justiça em toda a sua

abrangência, procuraremos desfazer a falácia de que é possível ao homem excluído

e alienado de seus direitos ter acesso a ela.

Sabemos que o acesso à justiça pelas vitimas de crimes violentos é um

problema de Estado, mas não exime a comunidade de participar assistindo e

ajudando as vitimas a superar os traumas e as conseqüências das perdas que os

impactos do crime violentos, estarão, estarão sem dúvida restabelecendo a ordem

social e familiar, resgatando a cidadania e disseminando valores que incidirão

também no controle da violência.

Trata-se de pesquisa exploratória que terá como base a análise bibliográfica,

no entanto apresentaremos um caso concreto “Caso Maria da Penha” para

aprofundarmos a discussão a respeito dos crimes violentos no Brasil.

Aliado a isso, nossa experiência na luta contra a violência também é um fator

estimulante para discutirmos as indagações surgidas na sociedade e buscarmos

soluções aos problemas emergidos no dia-a-dia.

17

Trata-se de tema palpitante, que terá como fonte de pesquisa não apenas a

ciência do direito, mas também a sociologia, a filosofia, o saber popular, e os demais

temas universais que versarem sobre direitos humanos.

18

2 ACESSO À JUSTIÇA

A garantia de acesso à justiça é uma das características peculiares do Estado

Democrático de Direito, consolidando-se com a previsão de instrumentos capazes

de assegurar que o cidadão, em situação de afronta a direito seu, ou que, de alguma

forma figure este como legitimado a provocar a jurisdição, possa fazê-la sem

obstáculos físicos e legais.

Ademais, é necessário ressaltar que a legislação processual detém uma maior

importância quando o assunto é acesso à justiça, tendo em vista que a lei

processual é que trata de diretrizes para o andamento do processo até que este seja

finalizado.

Ainda mesmo no Estado de Direito, já se vislumbrava algumas leis que

garantiam o acesso do cidadão ao Tribunal para que pudesse formular suas

pretensões e defender seus direitos. A Carta Magna do Rei João Sem Terra de 1215

na Inglaterra é um bom exemplo disso, uma vez que fez previsão expressa da ação

de hábeas corpus, instrumento impar na luta pela liberdade individual do cidadão.

De acordo com (MORAIS 2005, p. 108), o hábeas corpus é o instituto, pelo qual todo

cidadão podia reclamar a exibição do homem livre detido ilegalmente por meio de

uma ação privilegiada que se chamava interdictum de libero homine exhibendo.

Dessa forma, se formos fazer uma análise mais aprofundada, veremos que a

proteção dos direitos se dá, quando o Estado cria legislativamente, institutos

capazes de assegurar o uso e gozo efetivos de tais prerrogativas no caso concreto.

Ademais, é certo que a simples criação de mecanismos enunciadores de

direitos não são suficientes para a proteção e preservação destes, necessário se faz

a previsão de garantias, que tem por fim a efetivação das declarações de direitos

previstos legalmente. Ou seja, a previsão de normas que garantam o acesso das

pessoas aos órgãos jurisdicionais para que assim possam requerer as medidas

capazes de concretizar suas pretensões, desde que amparadas por lei.

A expressão acesso à justiça, se for analisada sob o sentido gramatical, pode

ser que induza em erro o interprete, uma vez que a expressão dá idéia de que a

19

garantia é apenas da existência de leis que assegurem o acesso do cidadão ao

Poder Judiciário. Partindo para uma análise mais apurada, percebe-se que há um

sentido indicando o acesso aos órgãos jurisdicionais para a proteção dos direitos

individuais e coletivos. Já por outro ângulo, pode ser visto como o meio para que o

indivíduo tenha acesso a decisão estatal sobre o seu direito, realizando dessa forma

justiça no caso concreto.

2.1 Evolução do Conceito de Acesso a Justiça

Diante da duplicidade de sentidos apontados no tópico anterior, não é surpresa

que desde a sua origem, o conceito de acesso a justiça tenha sofrido significativas

transformações.

Muitos institutos, ao passarem por certas transformações acabam por ampliar o

seu rol de abrangência, otimizando a sua aplicação nas relações sociais, com o

acesso a justiça isso não acontece de forma diferente.

Num primeiro momento, configurava-se no direito subjetivo individual à

proteção judicial para formular pedidos ou contestar aqueles que por ventura lhe

sejam dirigidos. Dessa forma, cabia ao Estado pelos meios existentes, garantir que a

ação que vise reconhecer direitos individuais, sejam analisadas pelo Poder

Judiciário.

A esse respeito, escreve (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 09), “nos Estados

Liberais „burgueses‟ dos séculos dezoito e dezenove, os procedimentos adotados

para a solução dos litígios civis refletiam a filosofia essencialmente individualista dos

direitos, então vigorante.”

De origem dessa mesma época, é a idéia de que os direitos naturais, por

serem detentores de certas peculiaridades, não necessitavam de proteção estatal, a

sua própria existência já era o bastante, dependendo apenas que o Estado não

permitisse o seu descumprimento.

20

A ideologia de proteção do direito formal do indivíduo, fazia transparecer que o

Estado continuava inerte e por isso não estava garantindo efetivamente o

reconhecimento e defesa dos direitos das pessoas.

Pouco tempo depois, foram surgindo as Declarações de Direitos defendendo a

idéia de direito coletivo e social, tornando cada vez mais necessária a positivação

nos ordenamentos internos para torná-los efetivos. A esse respeito afirma

(TAVARES, 2003, p. 383), “Pretende-se uma resposta ao nacional-socialismo e

todas as atrocidades cometidas antes e durante a Segunda Guerra Mundial”.

Em suma, o acesso a justiça figura-se como um direito individual do ser

humano, que inclusive está previsto em nossa Carta Magna de 1988, no artigo 5°,

inciso XXXV, no capitulo denominado “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”.

Notadamente, alcançou status merecido de norma constitucional.

2.2 Conceito de Acesso à Justiça

Como dissemos em tópicos anteriores, pode-se definir o acesso à justiça como

um direito individual do cidadão de se dirigir ao órgão jurisdicional e formular suas

pretensões. Dessa forma percebemos que o Estado iria garantir apenas o acesso do

indivíduo as instituições estatais. Para Cichocki (CICHOCKI NETO, 1998, p. 61):

O primeiro sentido, emergido nos primórdios da ciência processual moderna, refere-se “tout court” ao acesso a justiça como um direito de ingresso em juízo. Sustenta-se nas considerações relacionadas ao direito ou poder de exercício de ação, desprovido de qualquer conteúdo sócio-político. Essa compreensão representou uma fase do estudo e da história do direito processual em que seus institutos, princípios, enfim, todo o fenômeno e toda a atividade processual eram considerados sob o prisma eminentemente introspectivo Acesso à Justiça significava o mero exercício do direito de ação.

21

Contudo, percebe-se que o acesso à justiça, por sua relevância na ordem

jurídica de um país, não pode por conseqüência lógica se resumir a enunciação do

direito de ação. O seu aspecto material é evidente e, talvez por esse aspecto, a sua

maior importância.

Através desse aspecto, o acesso à justiça ocorre quando o processo é capaz

de realizar o direito no caso concreto.

O conceito aqui analisado é por demais amplo, no entanto, é possível fazer

delimitações para a sua perfeita compreensão.

Em suma, o termo nos remete a duas características lógicas, uma que diz

respeito as garantias processuais para o amplo acesso do cidadão aos órgãos

jurisdicionais. A outra característica garante não só a provocação do Poder

Judiciário pelo cidadão, mas a eficácia da decisão por este proferida.

Nota-se nessa última a prevalência do aspecto garantista, uma vez que a

preocupação com a eficácia da decisão judicial é um de seus postulados.

2.3 Fundamentos e Garantias do Acesso a Justiça

A prevalência dos direitos e garantias fundamentais é estabelecido pela Carta

Magna respectiva, tendo em vista a sua relevância na ordem jurídica interna. No

nosso ordenamento, o acesso à justiça é previsto no artigo 5º, inciso XXXV da

Constituição Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

22

Notadamente, quis o legislador constituinte que nenhuma afronta, ou até

mesmo, uma pseudo afronta, ficasse de fora da apreciação do Estado-Juiz, cabendo

este a decisão acerca do mérito da questão.

Assegurar a eficácia das decisões judiciais é uma função do Estado

Democrático de Direito, trata-se de um direito fundamental, que como sabemos tem

aplicação imediata, cabendo aos aplicadores dar o entendimento compatível com a

finalidade perquirida pelo legislador constituinte.

Em suma, o fundamento maior do acesso à justiça, é a garantia de aplicação

imediata do dispositivo constitucional que o prevê, devendo qualquer norma que

com ele for incompatível, ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade.

23

3 VITIMOLOGIA

De uns tempos para cá, verificou-se a necessidade de se estudar as ações e

reações das vítimas, uma novidade, haja vista, que a criminologia até então só

estudava os aspectos que envolvia crime e a pessoa do criminoso. Como se

percebe a vítima ficava fora da abrangência de tal estudo. Ocorre que muitas vezes

para que conheçamos todos os aspectos do fato criminoso, devemos analisar, o

crime propriamente dito, o criminoso e as causas que o levaram a agir de tal forma,

bem como a vítima do delito, sendo esta uma peça chave para a questão.

A vitimologia se mostra como o estudo cientifico da vítima e as causas do fato

criminoso, buscando respostas para tal acontecimento, bem como a criação de

forma de prevenção e repressão para os crimes ocorridos.

3.1 Aspectos Conceituais

A relevância do papel da vítima no Direito Penal Moderno tem sido cada vez

mais enunciada em debates e simpósios sobre o tema. Isso ocorre tendo em vista

os anos de esquecimentos nos anos anteriores. Na modernidade a vítima ganhou o

merecido espaço, tendo em vista que as atenções passaram a ser também

estendidas as pessoas que sofriam com a ação do delinqüente.

Entende-se por vítima, os indivíduos que tenham sofrido qualquer forma de

prejuízos patrimoniais, agressão física ou psicológica.

De acordo com a Resolução 40/34 da Assembléia Geral das Nações Unidas, a

vítima pode ser conceituada da seguinte forma: Entendem-se por "vítimas" as

pessoas que, individual ou colectivamente, tenham sofrido um prejuízo,

nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de

ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos

24

fundamentais, como consequência de actos ou de omissões violadores das leis

penais em vigor num Estado membro, incluindo as que proíbem o abuso de poder.

Para PIEDADE (PIEDADE JR., MAYR, KOSOVSKI, 1997, p. 4):

Entende-se por “vítimas” as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido danos, inclusive lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional, perda financeira ou diminuição substancial de seus direitos fundamentais, como conseqüência de ações ou omissões que violem a legislação penal vigente nos Estados-Membros, incluída a que prescreve o abuso criminal de poder.

Portanto, são consideradas vítimas, não só aquelas pessoas que sofrem

violência física, mas sim todas aquelas que sofram algum prejuízo, seja financeiro

ou não, decorrente da ação criminosa de outrem.

3.2 Vitimologia e Direitos Humanos

Vitimologia pode ser definida como o estudo cientifico da vitima e as

conseqüências do evento criminoso. Para Maia (MAIA, 2003, p. 01):

Vitimologia pode ser definida como o estudo científico da extensão, natureza e causas da vitimização criminal, suas conseqüências para as pessoas envolvidas e as reações àquela pela sociedade, em particular pela polícia e pelo sistema de justiça criminal, assim como pelos trabalhadores voluntários e colaboradores profissionais

A vitimologia, como estudo cientifico tem por objetivo a minimização das

conseqüências para as vitimas de crimes, cobrando das autoridades punição para

as infrações.

25

A vítima, quando prejudicada pela ação do individuo delinqüente, tem seus

direitos humanos violados. O Estado como ente supremo, não pode tolerar que em

seu âmbito, ocorra violações aos direitos do cidadão. Diante disso é necessário as

previsões normativas capazes de garantir a integridade físicas das pessoas.

De acordo com Gomes (GOMES, 2001, p. 185):

Justiça penal reparatória(ou restitutória – restitution ou ainda Restaurative Justice) significa uma nova forma de se conceber a reação ao delito, é dizer, de se resolver o conflito penal. O modelo clássico de Justiça penal é o retributivo, fundamentado basicamente na pena de prisão ou na medida de segurança e na crença dissuasória da pena (teoria da prevenção geral negativa ou intimidação, que tem como fonte a doutrina de FEURBACH). O Direito Penal clássico é, portanto, um Direito “binário”, ou seja, só conhecida duas formas de reação ao delito: pena (de prisão ou multa em favor do Estado) e medida de segurança (que se aplica, no Brasil, ao inimputável, desde que apresente concreta periculosidade – e necessite de especial tratamento curativo – CP, art. 98).

Reveste-se de importância impar o estudo e das conseqüências resultantes do

evento criminoso para as vítimas. E não deixa de ser uma forma de repressão e

prevenção ao cometimento de crimes, uma vez que as vítimas passarão a se

associar para combater a criminalidade, lutando para que os criminosos sejam

condenados, havendo assim a verdadeira retribuição pelo crime cometido. Outro fato

que também desperta interesse é que não se vislumbra só a retribuição, mas

também a reparação pelo dano causado.

3.3 Formas de Proteção às Vitimas

As vítimas da violência devem ter uma atenção especial do Estado, seja

criando formas de repressão, prevenção ou até na punição rigorosa dos criminosos

para que aquela infração não fique impune. A repressão estatal aos crimes, serve de

lição para que outras pessoas não venha a delinqüir.

26

Dentre as formas de proteção as vítimas de crimes violentos, apresentamos

algumas que julgamos de maior relevância para a minimização das conseqüências

do fato criminoso que foi cometido contra a sua integridade.

Voltamos a dizer que é dever do Estado previsto constitucionalmente de

manter a segurança pública de qualidade, protegendo assim todos os cidadãos, para

que estes possam conviver harmonicamente em sociedade.

A primeira forma de proteção que poderia ser privilegiada pelo Estado é a

criação de Delegacias Especializadas na repressão e prevenção de crimes contra a

pessoa. Que atuasse de forma eficaz na repressão aos criminosos, possibilitando

uma investigação que chegasse a autoria e a materialidade do delito, para que

sejam levados a julgamento evitando assim a impunidade.

As autoridades judiciárias deverão atuar com seriedade na confecção do

inquérito policial, para que o Promotor de Justiça tenha informações suficientes para

realizar a denúncia. Mas para que aconteça, é necessários que os Estados realizem

o aparelhamento das Delegacias, desde a parte de equipamentos, até a contratação

de pessoa através de concurso público, bem como a capacitação permanente dos

servidores públicos, Delegados, Inspetores e etc.

Os Tribunais de Justiça, também poderão contribuir para o aprimoramento do

sistema de proteção às vítimas da violência, criando mecanismos que tornem o

processo mais célere, chegando mais rápido a uma decisão sobre a questão,

fazendo justiça no caso concreto. É certo, que quanto mais tempo passa, mais difícil

se torna a busca pela verdade real, aspecto que o processo penal busca

incessantemente. Isso acontece por que com o decorrer do tempo, provas

importantes para a resolução do processo.

A construção de presídios também é uma medida a ser iniciada para que os

culpados possam cumprir as suas penas com o rigor que o caso requer e a lei prevê.

A ressocialização é o que se busca com a retirada do individuo delinqüente da

sociedade, esta finalidade só é possível se os presídios forem equipados com todo o

aparelhamento que proporcione ao individuo a chance de se profissionalizar, para

que quando cumprir a sua pena e voltar ao convívio social, tenha uma profissão e

possa trabalhar dignamente.

27

De acordo com Lopes (LOPES, 1989, p. 141):

A função política do Judiciário deriva de sua própria inserção no Estado. Seus desafios são hoje em boa parte os mesmos desafios com que se defrontam outros poderes. Sua reforma e reorganização pode ser vista sobretudo como problema político, mais do que problema de reaparelhamento. Organizar a justiça exige condições materiais: ao permitir que ela viva meio desequilibrada o Estado manifesta o seu descaso típico para com todos os serviços devidos aos cidadãos, em especial as classes populares.

Dito isto, reafirmamos a necessidade social de reaparelhamento do poder

Judiciário e das instituições que lhe servem de suporte, como Defensorias,

Delegacias, Promotorias e de todos os órgãos de segurança pública. É necessário

ainda o investimento na educação profissional de jovens e adultos, sendo certo que

alguns deles se vêem obrigados a delinqüir por falta de oportunidades.

3.4 Vitimologia e Crimes Violentos

Os crimes violentos deverão ter tratamento diferenciado, ou seja, de acordo

com a gravidade do delito e suas conseqüências.

A vitimologia tem papel relevante na Justiça Criminal no que concerne a

reparação do dano decorrente do fato criminoso. Para Gomes (GOMES, 2001, p.

186):

Toda determinação legal que enaltece a “reparação dos danos”, aliás é expressão do movimento internacional de redescoberta da vítima. Há anos vem a vitimologia, que nada mais é do que uma parte da criminologia, estudando a vítima e suas relações, seja com o infrator, seja com o sistema.

28

Na realidade as conseqüências decorrentes da prática de crimes violentos são

bem maiores do que aquelas provenientes de crimes de menor potencial ofensivo. A

extensão dessas conseqüências são marcantes na vida da vitima em virtude da

violência usada na execução do crime.

A vitimologia como ciência, busca não só a retribuição estatal pelo crime, mas

também a reparação dos danos, bem como a assistência às vítimas.

Para Gomes (GOMES, 2001, p. 187):

Foi a vitimologia, destarte, que, durante toda segunda metade do século XX, chamou a atenção sobre a necessidade de se formular e experimentar não somente a terceira via da reparação, senão também outros programas de assistência imediata à vítima (em geral, de natureza privada) ou programas de compensação (fundos do poder público destinados às vítimas de delitos – já previstos na nossa Constituição, artigo 245, mas até agora inexistentes), sem prejuízo de especiais medidas de proteção (ver Lei 9.807/1999).

No caso dos crimes violentos, a vitimologia atua para que as conseqüências

legais sejam empregados na proporção da gravidade do crime.

29

4 O ACESSO À JUSTIÇA DAS VÍTIMAS DE CRIMES VIOLENTOS

As vítimas de crimes violentos e seus parentes, após o acontecimento

criminoso, buscam a todo o custo que o delinqüente seja exemplarmente punido, ou

seja, a retribuição estatal ao delito atribuindo a pena correspondente à infração

penal.

O acesso à justiça é um direito fundamental do homem, uma vez que o Estado

como ente maior, deverá garantir aos cidadãos que as decisão judiciais assegurem

seus direitos no caso concreto.

Uma das funções do Estado Democrático de Direito é a garantia e efetivação

dos direitos fundamentais, a esse respeito escreve Leite (LEITE, 2008, p. 44):

Podemos dizer, portanto, que o Estado Democrático de Direito tem por objetivos fundamentais a construção de uma sociedade mais livre, justa e solidária, a correção das desigualdades sociais e regionais, promoção do bem-estar e justiça sociais para todas as pessoas, o desenvolvimento sócioambiental, a paz e a democracia. O problema não é apenas justificar os direitos sociais como direitos humanos, mas sim garanti-los. Daí a importância do Poder Judiciário (e do processo) na promoção da defesa dos direitos fundamentais e da inclusão social, especialmente por meio do controle de políticas públicas.

Sobre a necessidade de efetivação dos direitos humanos, afirma Leite (LEITE,

2008, p. 47):

É preciso que as inteligências tenham como norte a efetivação do acesso - individual e metaindividual – dos fracos e vulneráveis, como consumidores, trabalhadores, crianças, adolescentes, idosos, os excluídos em geral, não apenas ao aparelho judiciário e À democratização das suas decisões, mas, sobretudo, a ordem jurídica justa. Para tanto, é condição necessária a formação de uma nova mentalidade, que culmine com uma autêntica transformação cultural, não apenas dos juristas, juízes e membros do Ministério Público e demais operadores jurídicos, mas, também, dos governantes, dos empresários, dos ambientalistas e sindicalistas.

30

Ainda afirma o referido autor (LEITE, 2008, p 47) que:

O acesso à justiça é também um direito fundamental em nosso país, porquanto catalogado no rol dos direitos e deveres individuais e coletivos constantes do Título II da Constituição da República de 1988, cujo art. 5°, inciso XXXV, prescreve: a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça a direito.

Em se tratando de direito fundamental, deverá ser implementado e garantido

de forma imediata, de maneira que as decisões judiciais realizem concretamente o

acesso à justiça em virtude de expressa previsão constitucional.

4.1 Acesso à Justiça e Vitimologia

A vitimologia atua de forma a ampliar o acesso à justiça das vitimas de crimes,

uma vez que prima pela retribuição e reparação aos infratores da lei.

Portanto, é como se fossem institutos que se completassem, pois a grosso

modo , a finalidade da vitimologia é a garantia do acesso das vitimas à decisões

judiciais que reprima atos de infração aos direitos humanos. A preservação dos

direitos humanos é uma das nuances da vitimologia. Como vimos em tópicos

anteriores, hodiernamente busca-se não só a punição dos infratores, mas também a

celeridade no julgamento dos mesmos.

Nas lições de Annoni (ANNONI, 2008, p. 175):

Embora referências à necessidades da celeridade processual tenham sido encontradas em diversos instrumentos jurídicos desde o século XIII, o direito de acesso à justiça em um prazo razoável apenas recentemente foi reconhecido como desdobramento natural e imprescindível do direito de acesso à justiça.

31

Diante disso, o Estado deverá aparelhar os órgãos para que o direito

fundamental de acesso à justiça seja respeitado. Trata-se de mandamento

constitucional que prevê a duração razoável do processo, para que este seja

realizado num espaço de tempo mínimo para que a sociedade tenha a resposta

daquela infração que foi cometida.

4.2 Obstáculos do Acesso à Justiça das Vitimas de Crimes Violentos

A efetividade dos direitos fundamentais é um aspecto implícito nessas

declarações devido a importância e o caráter de inerência a personalidade humana.

Embora venha sendo transpostas algumas barreiras, o direito de acesso à justiça

muitas vezes é considerado um direito humano. É certo que o Estado Democrático

de Direito, deverá garantir a integridade física, psicológica e patrimonial dos

indivíduos, fazendo com que qualquer lesão ao patrimônio, ou até mesmo uma lesão

corporal seja objeto de análise pelo Poder Judiciário para que este exerça a sua

função constitucional, que é a resolução de conflitos, aplicando assim o direito

objetivo ao caso concreto.

Sobre a efetividade do acesso à justiça, escrevem Cappelletti e Garth

(CAPPELLETTI, GARTH, 1988, 15):

Embora o acesso à justiça venha sendo crescentemente aceito como um direito social básico nas modernas sociedades, o conceito de “efetividade” é, por si só, algo vago. A efetividade perfeita, no contexto de um lado direito substantivo, poderia ser expressa como a completa “igualdade de armas” – a garantia de que a conclusão final depende apenas de méritos jurídicos relativos das partes antagônicas, sem relação com diferenças que sejam estranhas ao Direito e que, no entanto, afetam a afirmação e reivindicação dos direitos.

Mesmo o Estado tendo o dever de garantir o acesso á justiça, ainda existem

obstáculos a serem superados.

32

Um dos problemas a serem resolvidos é a falta de Defensores Públicos, uma

vez que as pessoas pobres, na maioria das vezes não dispõe de recursos

financeiros para a contratação de advogados para postularem em suas causas.

Outro obstáculo apontado por CAPPELLETTI, 1988, é o valor das custas

judiciais, que muitas vezes se tornam impossíveis de serem pagas por pessoas

pobres, cessando de certa forma o direito de acesso à justiça dos menos

favorecidos.

Ainda se refere Cappelletti (CAPPELLETTI, 1988, p. 16):

O alto custo para as partes é particularmente óbvio sob o “Sistema Americano”, que não obriga o vencido a reembolsar ao vencedor os honorários despendidos com seu advogado. Mas os altos custos também agem como uma barreira poderosa sob o sistema, mais amplamente difundido, que impõe ao vencido os ônus da sucumbência.

Outro aspecto que merece ser aqui explicitado e que torna-se um obstáculo ao

acesso à justiça é a situação de penúria em que se encontram as Delegacias, sendo

que muitas vezes as vítimas procuram as unidades policiais para registrarem as

ocorrências e muitas vezes sequer existe papel. O aparelhamento das unidades

policiais é uma solução que merece a atenção dos governantes para que as

pessoas tenham seu direito assegurado.

A falta de celeridade processual reflete de sobremaneira na questão do acesso

à justiça, pois a demora na resolução dos litígios acaba por prejudicar as partes

envolvidas, em virtude do perecimento das provas que ocorre com o decorrer do

tempo. A respeito da demora na prestação jurisdicional, leciona (FRANCIO, 2003, p.

36) “Justiça tardia não é justiça” constitui chavão amplamente repetido na

sociedade.

Apesar de já terem sido introduzidos, no sistema processual, mecanismos que

busquem maior celeridade quanto aos procedimentos, a demora de algumas ações

ainda constitui um drama para as partes e para o próprio judiciário. Para as partes,

porque a demora passa a constituir uma evidente desmotivação na defesa do direito

33

violado. Para o Judiciário, porque seus operadores, não obstante, procurem com

energia superar os entraves da demora, vêem-se atrelados a formalidades e

recursos infindáveis dos quais não podem fugir, sob pena de violação de

disposições expressas contidas na lei”.

Muitas vezes o desconhecimento das formalidades legais também contribuem

para o emperramento da justiça, bem como a complexidade dos direitos difusos e

coletivos, por isso é necessário a conscientização da população para que possam

procurar a defesa de seus direitos. Esses obstáculos apontados só serão

verdadeiramente solucionados quando o Estado tiver vontade e quiser resolver o

problema da segurança pública.

4.3 As Vítimas de Crimes Violentos

O tempo é o maior inimigo das vítimas da violência. A demora na resolução e

penalidade dos delinqüentes chega a ser torturante. A sensação que se tem é que

as vítimas é que estão presas e os criminosos em liberdade, pois o temor, faz com

que as pessoas que sofreram algum tipo de violência, fiquem enclausurada em suas

casas, enquanto os autores do crime ficam livremente enquanto o processo se

desenrola. A questão que se coloca no momento é que estas pessoas, ao

responderem em liberdade os processos contra elas impetrados, poderão a qualquer

momento voltarem a delinqüir, uma vez que não há um acompanhamento por parte

das autoridades policiais.

O aspecto de proteção á vítima de crimes violentos é uma preocupação

presente na sociedade desde o século XIX, decorrente da evolução social e política

dos governantes. A esse respeito, escreve (CALHAU, 2004, p.59) “A proteção à

vítima da infração penal constitui preocupação dos estudiosos desde a segunda

metade do século XIX”.

Com isso, a Assembléia Geral das Nações Unidas, aprovou através da

Resolução n° 40/34, de 29 de novembro de 1985, a Declaração dos Princípios

34

Básicos de Justiça Relativos à Vítimas da Criminalidade e Abuso de Poder. Vale

lembrar, que através dessa resolução os Estados se comprometerão a facilitar o

acesso à justiça às vítimas de violência.

Na realidade muitas vítimas não buscam seus direitos por descrença nas

instituições incumbidas por lei do processo dos autores de crimes. (CALHAU, 2004,

p.61) “Dessa realidade muitas vezes as vítimas deixam de buscar seus direitos junto

à justiça por não acreditarem que terão uma solução rápida e digna”.

É dever do Estado prevê meios de proteção que previnam e reprimam os

crimes, é função institucional, sobre esse aspecto (CALHAU, 2004, p.59) “Uma

sociedade que não protege e não presta assistência às vítimas de seus crimes não

obtém níveis de cidadania dignos para o momento histórico em que a humanidade

se encontra”.

Em suma, o Estado deverá garantir a integridade física dos indivíduos

prevendo meios que combatam a criminalidade e atuem de forma eficaz n

prevenção e repressão as ações criminosas.

4.4 O Papel do Estado na Proteção às Vitimas de Crimes Violentos

O Estado tem função relevante na proteção das vítimas da violência, seja na

repressão aos criminosos, seja na elaboração de políticas públicas que tenham

como alvo aquelas pessoas vitimizadas por ações criminosas. Diante disso, o ente

público deverá solucionar o problema do acesso à justiça no Brasil, ampliando a

assistência judiciária gratuita com a criação de Defensorias Públicas em todas as

cidades. A esse respeito (FRANCIO, 2003, p. 38) “Como instrumento para solucionar

as dificuldades de acesso à justiça, em decorrência das limitações econômicas,

surgiu a assistência judiciária aos necessitados, levada a efeito por advogados

custeados pelo Estado”.

A especialização das instituições e a simplificação dos procedimentos é outra

questão a ser melhor estudada, tudo isso deverá ser feito em respeito as normas

35

constitucionais processuais para que outras garantias não venham a ser abolidas.

Sobre esse assunto, escreve Francio (FRANCIO, 2003, p. 42):

A nova visão das instituições, mais voltadas aos direitos sociais e coletivos, mais centradas na dignidade da pessoa humana, tem concentrado esforços no sentido de criar sociedades mais justas e igualitárias. Daí a preocupação do Judiciário com as pessoas comuns, com aquelas que se encontravam tradicionalmente isoladas e impotentes”. E ainda continua “ Daí a necessidade de se criar tribunais e procedimentos especializados para certos tipos de causas socialmente importantes, que é outro fator de melhoria dos mecanismos judiciários. Isso porque a vivência profissional mostra que julgadores especializados em determinadas áreas, ou em determinados aspectos do direito, podem encontrar solução mais rápida e eficiente para os litígios.

A criação dos Juizados Especiais Criminais no Brasil mostra-se como um fator

que veio para contribuir para um melhor acesso à justiça às vítimas da violência,

uma vez que assegura o andamento do processo com celeridade.

A Lei Maria da Penha foi uma medida legislativa com cunho assistencial que

surgiu para tornar mais rígida a punição dos que cometerem violência doméstica

contra as mulheres. Configura-se com uma medida que propicia o acesso à justiça

das mulheres vitimizadas.

Em suma, verifica-se a tendência em nosso país de concretização do direito

fundamental de acesso à justiça tendo em vista a criação de mecanismos que

tendem a essa realidade.

36

5 ESTUDO DE CASO: MARIA DA PENHA, O DIFÍCIL ACESSO À JUSTIÇA DE UMA VITIMA DE CRIME VIOLENTO

Nesse capitulo, relataremos a trajetória de uma cearense vitima de violência

doméstica. Trata-se de Maria da Penha Maia Fernandes, covardemente atingida

com três tiros deflagrados por seu ex-marido, o que a deixou presa em uma cadeira

de rodas. A sua luta por justiça resultou em recomendações ao Estado Brasileiro

proferidas pela Comissão Interamericana de Direitos humanos da OEA, e mais tarde

na promulgação da lei que leva seu nome.

5.1 Considerações Gerais

A Lei n° 11.340, de 07 de agosto de 2006, resultou de longa e árdua luta por

justiça das mulheres brasileiras, mais especificamente as vítimas de violência

doméstica como a homenageada com a promulgação desta lei. Essa disposição

legal cria mecanismos para coibir a violência no âmbito doméstico e familiar contra a

mulher. Pela análise detalhada desse dispositivo legal, verifica-se que o intuito do

legislador é a proibição não só da violência física contra a mulher, mas de toda e

qualquer forma de discriminação contra as pessoas do sexo feminino.

A Lei Maria da Penha regulamenta o § 8° do artigo 226 da Carta Magna,

dispondo ainda sobre os instrumentos internacionais de direitos humanos das

mulheres, a exemplo da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir,

Punir e Erradicar a Violência contra as Mulheres.

Uma inovação trazida foi a previsão de criação dos Juizados de Violência

Doméstica e Familiar contra a Mulher e o estabelecimento de medidas de

assistência e proteção às mulheres em situação de violência.

37

Quando a lei se refere à violência doméstica e familiar contra a mulher, surgem

interpretações, que de certa forma ampliam o conceito dessa violência, isso ocorre

em virtude da complexidade do tema e da forma em que foi inserido no texto legal.

5.1.1 O caso Maria da Penha

A cearense Maria da Penha Maia Fernandes, biofarmacêutica, professora

universitária, tornou-se símbolo da luta contra a violência doméstica e familiar contra

a mulher depois de sofrer duas tentativas de homicídio por parte do seu então

esposo, Marco Antonio H. Viveros.

Na primeira vez, simulando um assalto, ele a atingiu nas costas com três tiros,

deixando-a paraplégica. Inconformado por não conseguir seu intento, tentou

novamente contra a sua vida, desta vez por meio de uma descarga elétrica

enquanto ela se banhava.

Diante da demora do Poder Judiciário para a punição do agressor, Maria da

Penha recorreu a mecanismos internacionais, para que essa situação fosse

revertida, uma vez que o país foi incapaz de exercer o seu ius puniendi. Juntamente

com o CEJIL(Centro pela justiça e o Direito Internacional) e o CLADEM(Comitê

Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher), Maria da

Penha apresentou denuncia a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos

humanos), ligada a OEA (Organização dos Estados Americanos), contra a

impunidade por conta da ausência de eficácia na prestação jurisdicional brasileira,

apontando que o Brasil estava tolerando uma das mais cruéis condutas: a tentativa

de homicídio.

No ano de 2001, dezoito anos após os fatos descritos dentro do Relatório 54/01

do Caso n° 12.051, o Brasil foi objeto de recomendação por parte da Comissão

Interamericana de Direitos humanos da OEA(Organização dos Estados Americanos)

sendo responsabilizado neste documento, por negligência e omissão em relação à

violência doméstica. A Comissão Interamericana de Direitos humanos chegou a

38

conclusão de que, com a inércia estatal, do Estado brasileiro violou os seguintes

artigos da Convenção Americana de Direitos humanos( Pacto de San José da Costa

Rica, 1969):

Art. 1º - Obrigação de respeitar os direitos 1. Os Estados-partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma, por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. [...] Art. 8º - Garantias judiciais 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. [...] Art. 24 - Igualdade perante a lei Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem discriminação alguma, à igual proteção da lei. Art. 25 - Proteção judicial 1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juizes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais”.

Foi também violada a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e

Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará), nos seguintes

dispositivos:

CAPÍTULO III - DEVERES DOS ESTADOS Artigo 7: Os Estados Partes condenam todas as formas de violência contra a mulher e convêm em adotar, por todos os meios apropriados e sem demora, políticas destinadas a prevenir, punir e erradicar tal violência e a empenhar-se em: a. abster-se de qualquer ato ou prática de violência contra a mulher e velar por que as autoridades, seus funcionários e pessoal, bem como agentes e instituições públicos ajam de conformidade com essa obrigação; b. agir com o devido zelo para prevenir, investigar e punir a violência contra a mulher;

39

c. incorporar na sua legislação interna normas penais, civis, administrativas e de outra natureza, que sejam necessárias para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, bem como adotar as medidas administrativas adequadas que forem aplicáveis; d. adotar medidas jurídicas que exijam do agressor que se abstenha de perseguir, intimidar e ameaçar a mulher ou de fazer uso de qualquer método que danifique ou ponha em perigo sua vida ou integridade ou danifique sua propriedade; e. tomar todas as medidas adequadas, inclusive legislativas, para modificar ou abolir leis e regulamentos vigentes ou modificar práticas jurídicas ou consuetudinárias que respaldem a persistência e a tolerância da violência contra a mulher; f. estabelecer procedimentos jurídicos justos e eficazes para a mulher sujeitada a violência, inclusive, entre outros, medidas de proteção, juízo oportuno e efetivo acesso a tais processos; g. estabelecer mecanismos judiciais e administrativos necessários para assegurar que a mulher sujeitada a violência tenha efetivo acesso a restituição, reparação do dano e outros meios de compensação justos e eficazes; h. adotar as medidas legislativas ou de outra natureza necessárias à vigência desta Convenção.

Por fim, a conduta brasileira malferiu a Declaração Americana dos Direitos e

Deveres do Homem, nas seguintes normas:

Artigo II - Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm os direitos e deveres consagrados nesta Declaração, sem distinção de raça, língua, crença ou qualquer outra. [...] Artigo XVIII - Toda pessoa pode recorrer aos tribunais para fazer respeitar os seus direitos. Deve poder contar, outrossim, com processo simples e breve, mediante o qual a justiça a proteja contra atos de autoridade que violem, em seu prejuízo, quaisquer dos direitos fundamentais consagrados constitucionalmente.

Após anos de impunidade, o Brasil, pressionado pelas entidades

internacionais, foi obrigado a reparar os danos causados à vítima, bem como a

executar a pena imposta ao agressor. A luta de Maria da Penha por justiça chegou a

seu auge no ano de 2006, quando o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou

a Lei n° 11.340 de 07 de agosto de 2006, que prevê punição mais rigorosa aos

casos de violência doméstica e familiar contra a mulher. A lei levou o nome de Maria

da Penha, militante dos direitos humanos das mulheres no Brasil e no mundo.

40

A lei prevê a criação de um Juizado Especial de Violência contra a Mulher,

como forma de otimizar a resolução dos conflitos, e promover a punição dos

possíveis agressores e, sobretudo, dar mais agilidade aos processos, com o fim

ultimo de promover a efetividade dos direitos humanos e a conseqüente erradicação

da violência contra a mulher

5.2 Relatório da Organização dos Estados Americanos

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados

Americanos – OEA, analisou o caso da Sra. Fernandes e elaborou um relatório

sintetizando a denuncia e cominando as recomendações ao Estado brasileiro.

Não tomando as medidas necessárias para processar e aplicar a punição ao

agressor, o Estado brasileiro violou os artigos 1°, 8, 24 e 25 da Convenção

Americana dos Direitos humanos (Pacto de San José da Costa Rica), e ainda o

artigo 7° da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência

contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará.)

Diante da análise apurada do caso, a Comissão Interamericana de Direitos

Humanos chegou à conclusão de que era realmente competente para o

conhecimento dessa violação, verificando-se todos os requisitos formais e materiais

que foram satisfatoriamente provados pelos documentos anexos à denuncia, bem

como o seguinte:

A Comissão Interamericana de Direitos humanos reitera ao Estado Brasileiro as seguintes conclusões: 1.Que tem competência para conhecer deste caso e que a petição é admissível em conformidade com os artigos 46.2,c e 47 da Convenção Americana e com o artigo 12 da Convenção de Belém do Pará, com respeito a violações dos direitos e deveres estabelecidos nos artigos 1(1) (Obrigação de respeitar os direitos, 8 (Garantias judiciais), 24 (Igualdade perante a lei) e 25 (Proteção judicial) da Convenção Americana em relação aos artigos II e XVIII da Declaração Americana, bem como no artigo 7 da Convenção de Belém do Pará.

41

2.Que, com fundamento nos fatos não controvertidos e na análise acima exposta, a República Federativa do Brasil é responsável da violação dos direitos às garantias judiciais e à proteção judicial, assegurados pelos artigos 8 e 25 da Convenção Americana em concordância com a obrigação geral de respeitar e garantir os direitos, prevista no artigo 1(1) do referido instrumento pela dilação injustificada e tramitação negligente deste caso de violência doméstica no Brasil. 3.Que o Estado tomou algumas medidas destinadas a reduzir o alcance da violência doméstica e a tolerância estatal da mesma, embora essas medidas ainda não tenham conseguido reduzir consideravelmente o padrão de tolerância estatal, particularmente em virtude da falta de efetividade da ação policial e judicial no Brasil, com respeito à violência contra a mulher. 4. Que o Estado violou os direitos e o cumprimento de seus deveres segundo o artigo 7 da Convenção de Belém do Pará em prejuízo da Senhora Fernandes, bem como em conexão com os artigos 8 e 25 da Convenção Americana e sua relação com o artigo 1(1) da Convenção, por seus próprios atos omissivos e tolerantes da violação infligida.

Após o reconhecimento de que a República Federativa do Brasil foi

responsável pela violação dos tratados mencionados, ou seja, não foi capaz de

assegurar a efetividade desses acordos internacionais que prevêem a garantia da

proteção judicial as todas as pessoas, a Comissão Interamericana de Direitos

humanos da OEA recomendou ao Brasil, dentre outras coisas:

1.Completar rápida e efetivamente o processamento penal do responsável da agressão e tentativa de homicídio em prejuízo da Senhora Maria da Penha Fernandes Maia. 2.Proceder a uma investigação séria, imparcial e exaustiva a fim de determinar a responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados que impediram o processamento rápido e efetivo do responsável, bem como tomar as medidas administrativas, legislativas e judiciárias correspondentes. 3.Adotar, sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o responsável civil da agressão, as medidas necessárias para que o Estado assegure à vítima adequada reparação simbólica e material pelas violações aqui estabelecidas, particularmente por sua falha em oferecer um recurso rápido e efetivo; por manter o caso na impunidade por mais de quinze anos; e por impedir com esse atraso a possibilidade oportuna de ação de reparação e indenização civil. 4.Prosseguir e intensificar o processo de reforma que evite a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra mulheres no Brasil. A Comissão recomenda particularmente o seguinte: a) Medidas de capacitação e sensibilização dos funcionários judiciais e policiais especializados para que compreendam a importância de não tolerar a violência doméstica; b) Simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa ser reduzido o tempo processual, sem afetar os direitos e garantias de devido processo;

42

c) Estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e efetivas de solução de conflitos intrafamiliares, bem como de sensibilização com respeito à sua gravidade e às conseqüências penais que gera; d) Multiplicar o número de delegacias policiais especiais para a defesa dos direitos da mulher e dotá-las dos recursos especiais necessários à efetiva tramitação e investigação de todas as denúncias de violência doméstica, bem como prestar apoio ao Ministério Público na preparação de seus informes judiciais. e) Incluir em seus planos pedagógicos unidades curriculares destinadas à compreensão da importância do respeito à mulher e a seus direitos reconhecidos na Convenção de Belém do Pará, bem como ao manejo dos conflitos intrafamiliares. 5. Apresentar à Comissão Interamericana de Direitos humanos, dentro do prazo de 60 dias a partir da transmissão deste relatório ao Estado, um relatório sobre o cumprimento destas recomendações para os efeitos previstos no artigo 51(1) da Convenção Americana.

Diante do exposto, observa-se que a Comissão Interamericana de Direitos

humanos da OEA, após o recebimento da denúncia que alegava a tolerância do

Estado brasileiro para com a violência cometida por Marco Antonio Heredia Viveiros

contra a Senhora Maria da Penha Maia Fernandes, constatou a veracidade dos

fatos, afirmando que o Brasil violou direitos e garantias judiciais, negando a proteção

judicial a vítima. Concluiu também ser essa violação discriminatória e tolerante no

que diz respeito à violência doméstica contra as mulheres no Brasil, dada a

ineficácia da ação judicial.

5.3 A força jurídica dos Tratados Internacionais

Logo após a assinatura, o tratado internacional passa a atuar como norma no

ordenamento jurídico interno, com status, definido pelo próprio sistema jurídico do

Estado. O acordo internacional, expressão utilizada por alguns autores para se

referirem aos tratados, são frutos do consensualismo, da formalidade, de tal sorte

que se caracterizam como norma e, ao mesmo tempo, como ato jurídico.

Como afirmamos no capitulo 03 em tópico especifico a respeito, nenhum país é

obrigado a ser signatário de determinado tratado. Entretanto, a partir do momento

em que exterioriza e formaliza a sua vontade, afirmando a sua adesão a

determinado instrumento, esse ato o vincula juridicamente.

43

Os tratados internacionais são disposições normativas reguladas pelo Direito

Internacional Público. Portanto, é inadmissível o seu descumprimento, e pode

ensejar sanção. Destarte, tendo o tratado característica de norma, o seu

cumprimento torna-se obrigatório.

Sabe-se que sendo ato jurídico, os tratados irradiam efeitos jurídicos. Sobre

esse aspecto escreve Rezek (REZEK, 2002, p. 18):

Reconhecendo que o acordo à luz do léxico, pode significar mera sintonia entre pontos de vista, perceberemos que acordos existem, e se renovam, e se perfazem as centenas, a cada dia, entre os membros da comunidade internacional. Não convém negligenciar a possibilidade de se exprimirem formalmente, acordos dessa natureza. Aí não haveria Tratados, em razão da falta do animus contrahendi, ou seja, da vontade de criar autênticos vínculos obrigacionais entre as partes pactuantes. A produção de efeitos de direito é essencial ao Tratado, que não pode ser visto senão na sua dupla qualidade de ato jurídico e de norma. O acordo formal entre estados, é o ato jurídico que produz a norma, e que justamente por produzi-la, desencadeia efeitos de direito, gera obrigações e prerrogativas, caracteriza em fim na plenitude de seus dois elementos, o Tratado internacional.

Os efeitos oriundos dos tratados devem ser aqueles esperados quando da sua

adesão, tendo em vista o objeto regulado pelo acordo internacional. Para que o

tratado produza seus efeitos, é necessário que todos os requisitos sejam cumpridos,

sob pena de não alcançar seu intento na ordem jurídica internacional.

É mister dizer que seu cumprimento não se da de forma automática por todos

os entes, mas apenas, por aqueles que firmaram a sua adesão e quando verificado

o numero mínimo de Estados que o ratificaram para que a partir de então entre em

vigor.

Sobre a força jurídica dos tratados internacionais, podemos afirmar que, a partir

da EC 45/2004, que acrescentou o §3º, ao artigo 5° da Constituição Federal os

tratados internacionais sobre direitos humanos entrarão no ordenamento jurídico

interno como norma constitucional, portanto, dotados de aplicabilidade imediata,

desde que aprovados pelo Congresso Nacional. Diante disso, o tratado após a

entrada no sistema jurídico interno, já passa a produzir os seus efeitos, verificando-

se a partir daí a sua força. Vale ressaltar que a força jurídica é verificada também

44

quando do seu não cumprimento, uma vez que daí emergirá uma sanção ao ente

responsável.

Uma repercussão verificada recentemente entre nós foi o caso Maria da

Penha, quando se constatou que o Estado Brasileiro violou as convenções

internacionais que tratam de direitos humanos das mulheres que assinou e ratificou.

5.3.1 A Lei Maria da Penha

Fruto de uma concepção inovadora de que as mulheres não devem se

submeter a nenhuma forma de violência, bem como dos movimentos feministas, a

Lei Maria da Penha é, na realidade, uma conquista de todas as mulheres brasileiras.

É um marco jurídico que traz inovações, como a criação dos Juizados de Violência

Doméstica e Familiar contra a Mulher, a exclusão da violência domestica da esfera

dos crimes de menor potencial ofensivo, e a implantação de medidas protetivas em

favor da ofendida.

Resultado de um longo processo de discussão, iniciando-se com a proposta de

um consorcio de ONG‟s no ano de 2002, com a colaboração de juristas

conceituados como Alexandre de Freitas Câmara e sob a coordenação da

Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, a proposta de trabalho foi

discutida e reformulada e, em novembro de 2004, o Poder Executivo, apresentou ao

Congresso Nacional o Projeto de Lei de n° 4559/2004.

Iniciou-se a partir daí, um amplo debate com a sociedade civil, tendo a relatora

Jandira Feghali visitado várias Assembléias Legislativas do país, realizando

audiências públicas. Deste trabalho resultou um substitutivo, que depois de

acordado com a Relatoria, o Consórcio de ONG‟s e o Poder Executivo Federal, foi

aprovado por unanimidade na Câmara Federal em novembro de 2005 e no Senado

Federal em julho de 2006. No dia 07 de agosto de 2006, o presidente Lula

sancionou a nova lei.

45

Não resta dúvida que esta lei decorreu da pressão exercida pelo movimento

feminista para o cumprimento dos acordos internacionais de direitos humanos no

que concerne as mulheres, bem como da recomendação da OEA. Tanto é que as

recomendações do Relatório 54/01 do Caso 12.051 estão sendo gradativamente

cumpridas.

Dentre tais recomendações, podemos citar a própria promulgação da Lei n°

11.340 de 07 de agosto de 2006, que leva o nome da Senhora Maria da Penha Maia

Fernandes. A mencionada lei cria mecanismos para coibir a violência doméstica e

familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as

Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a

Violência contra a Mulher.

Podemos afirmar que tal lei decorre da força jurídica dos Tratados

Internacionais de Direitos Humanos, dos quais o Brasil é signatário.

5.3.2 A reparação

Em atendimento à recomendação da Comissão Interamericana de Direitos

humanos que prescreve a necessidade de compensar a Senhora Maria da Penha

Maia Fernandes, pela demora na prestação jurisdicional no que concerne a

aplicação da pena a seu agressor, bem como pelo sofrimento físico e emocional

decorrente de tal demora, o Estado do Ceará enviou, em 07 de março de 2008, a

Assembléia Legislativa a mensagem de número 6.966/2008, tal Mensagem

propondo o pagamento de uma compensação pecuniária, estipulada em R$

60.000,00 (sessenta mil reais), valor este acordado entre a Secretaria Especial de

Direitos humanos e a beneficiária. Após aprovada a mensagem pela Assembléia

Legislativa, foi autorizada a Concessão de Compensação Pecuniária a Senhora

Maria da Penha Maia Fernandes, através da Lei n° 14.100 de 09 de abril de 2008,

publicada no Diário Oficial do Estado em 10 de abril de 2008.

46

Quanto à recomendação para a imediata responsabilização dos agentes pela

demora no processo, até o momento, no que pese os esforços do CEJIL (Centro

pela justiça e o Direito Internacional), do CLADEM Comitê Latino-Americano e do

Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher) e a própria Senhora Maria da Penha,

nada de concreto foi feito neste sentido. A Justiça brasileira deve essa resposta, não

apenas a comunidade internacional, mas precisamente a Sra. Maria da Penha, a

maior vitima dessa história.

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6 CONCLUSÃO

O acesso à justiça é um direito fundamental amparado pela Constituição da

República Federativa do Brasil em seu artigo 5°, XXXV, onde diz que: “a lei não

excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça à direito”. Traduz-se,

portanto num dever a garantia de que todos os cidadãos possam usufruir dessa

disposição constitucional.

Diante disso, o cidadão tem o direito de obter do Poder Judiciário, decisões que

concretizem o direito fundamental de acesso à justiça. Qualquer tentativa de burlar

esse direito humano fundamental é uma afronta à própria Constituição Federal.

Sabe-se que os direitos fundamentais não precisam de regulamentação para a

sua aplicação.

Hodiernamente, é preciso que se diga que, a ordem jurídica protege não

apenas o acesso à justiça, mas também que esse seja prestado num prazo

razoável, isto é, no menor espaço de tempo possível. Ademais, muitas vezes o

desrespeito se dá mais pela demora do que pelo não reconhecimento do direito

postulado, fato que preocupa uma vez que demonstra a incapacidade do Estado em

prestar a função jurisdicional da forma prevista constitucionalmente.

A vitimologia tem colaborado de forma que o acesso à justiça fosse assegurado

as vítimas de crimes a decisões judiciais que realmente tivessem o caráter de punir

o agressor para que aquelas pessoas não ficassem sujeitas ao convívio diário com

quem ) atentou contra a sua vida.

A função do Estado na hipótese do cometimento de crime é individualizar e

punir os culpados pela infração, assegurando o direito à vida, liberdade e integridade

física e moral dos cidadãos. Esse mesmo Estado deverá prever formar de minimizar

o sofrimento das vitimas de crimes violentos, uma vez que o ato criminoso é capaz

de trazer seqüelas que ficaram por toda a vida do individuo, tanto no aspecto físico,

como psicológico.

48

Nesse particular, tem grande relevância a Lei N° 11.340/2006(Lei Maria da

Penha) que pune a violência física, moral, patrimonial praticada contra a mulher no

âmbito doméstico e familiar, de tal forma que o legislador quis alargar a abrangência

do conceito de violência. Essa lei decorreu de grandes lutas travadas pelo

movimento feminista que sempre esteve a frente de grandes questões, e agora,

vislumbra a concreção de alguns de seus anseios.

Uma verdade deve ser mencionada, as pessoas não suportam mais a

convivência com a violência, tanto é que se coloca em questão a função estatal de

proteção ao individuo, pois ao Estado cabe a proteção ao cidadão, e uma vez isso

não ocorrendo, essa finalidade resta por não alcançada.

Em suma, o acesso justiça deve ser garantido ao cidadão que teve seus

direitos lesados, para que o Estado venha a realizar a punição adequada à infração

cometida. As vitimas de crimes violentos devem ter tratamento diferenciado, e a

previsão de políticas publicas capazes de erradicar os efeitos decorrentes da

violência pela qual foi vitimizada, tais como:

a) Proteção dos direitos fundamentais;

b) Criação de Delegacias Especializadas em crimes violentos;

c) Criação de Centros de Estudos sobre as causas e conseqüências dos

Crimes Violentos;

d) Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher vinculadas ao Sistema

de Segurança Pública do Estado, as DEAMS são a porta de entrada das mulheres

na Rede de Serviços;

e) Defensorias Públicas da Mulher, tendo por objetivo ampliar o acesso à

justiça e orientar juridicamente as vitimas de violência;

f) Centros de Referencia da Mulher, que visa prestar serviços de fortalecimento

e empoderamento às mulheres vitimas de violência, oferecendo atendimento

psicológico e jurídico bem como acompanhamento por Assistentes Social e

educadores.

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g) Casas Abrigo, local de refugio para mulheres em risco de vida devidamente

acompanhadas de seus filhos menores de 18 anos, onde terão acompanhamento

médic0o e psicológico para que possam superar a situação de humilhação em

virtude da agressão sofrida;

h) Serviços de Saúde, sendo estes locais especializados para atendimento as

vitimas de violência sexual e estupro. Distribuem a Contracepção de emergência:

pílula do dia seguinte;

As características marcantes para o papel das vítimas de crimes violentos no

Brasil, se mostram pela coragem das pessoas que sofrem violência de um modo

geral passam por um sofrimento físico, porém o que realmente marca essas pessoas

é o sofrimento psicológico. Somado a isso, vem a impunidade, pois a pessoa muitas

vezes é obrigada a compartilhar os mesmos lugares da sociedade com o agressor.

A eficiência na punição dos agressores faz parte da pauta das reivindicações das

vitimas de crimes violentos.

Dessa maneira, os rumos a serem seguidos para garantir o acesso à justiça às

vítimas de crimes violentos, é a garantia de acesso a justiça como direito

fundamental que é, merece a atenção das autoridades brasileiras para a sua

implementação. Para que isso ocorra é necessária a reestruturação do sistema de

atendimento às vitimas, possibilitando que estas pessoas denunciem os abusos de

que foram vítimas, bem como a assistência jurídica, social e psicológica. O acesso a

justiça, ou seja, a punição do agressor é uma resposta esperada pelas vitimas da

violência, uma vez que estas pessoas se acham impotentes diante da situação de

impunidade. O Estado deve exercer o seu mister de punir com rigor, evitando o

exercício arbitrário das próprias razões.

De tal sorte, que fatores contribuem para a desconfiança das vítimas de crimes

violentos, dentre eles estão: impunidade, morosidade do Poder Judiciário, falta de

estrutura nas Delegacias, inexistência de pessoal qualificado (equipes

multidisciplinares).

Ocorre a influência do acesso a justiça, o principio da dignidade da pessoa

humana, uma vez que o Estado deve garantir a integridade física e moral dos

cidadãos, assim agindo estará realizando o principio da dignidade da pessoa

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humana. O respeito aos direitos fundamentais é uma obrigação do Estado e da

sociedade, de tal forma, que é obrigação do Estado garantir o acesso à justiça das

vitimas de crimes violentos, para que aquela situação não volte a se repetir.

Não raro, é que as dificuldades enfrentadas pelas vítimas para ter acesso à

justiça, contribuem para o aumento da impunidade e a perpetuação da violência.

Tais dificuldades enfrentadas pelas vitimas são fatores que aumentam a impunidade

no nosso país, é por isso que o Estado deve implementar políticas públicas de

combate a violência, para que as denuncias tornem-se praticas rotineiras, mas para

que isso ocorra é necessária a atuação do Estado na reestruturação do sistema de

segurança pública e do próprio Poder Judiciário.

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REFERÊNCIAS

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