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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE GESTÃO DEMOCRÁTICA: Uma prática justa e participativa como exigência da escola na atualidade. Por: Ana Paula Vicente da Silva Orientador Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2009

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Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

GESTÃO DEMOCRÁTICA:

Uma prática justa e participativa como exigência da escola na

atualidade.

Por: Ana Paula Vicente da Silva

Orientador

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

GESTÃO DEMOCRÁTICA:

Uma prática justa e participativa como exigência da escola na

atualidade.

Objetivos:

A apresentação desta monografia ao Instituto A Vez

do Mestre compreende o requisito parcial para a

conclusão do curso de pós-graduação lato sensu e para

obtenção do grau de especialista em Administração e

Supervisão Escolar.

Por: Ana Paula Vicente da Silva.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por me propiciar este momento importante em

minha carreira.

À amiga Regina, pelo incentivo e crédito, demonstrando

em sua prática aquilo que aprendi na teoria.

Aos colegas do curso de Administração e Supervisão

Escolar, por tornarem mais branda esta caminhada.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu marido Fábio, pela

valorização das minhas conquistas e às minhas lindas

filhas Ana Beatriz e Ana Luíza pela sua existência, me

dando forças para vencer. Também aos meus pais José

e Alda e ao meu irmão José Paulo, por me

impulsionarem a crescer como pessoa e como

profissional.

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RESUMO

O objetivo desta monografia é analisar a importância da Gestão

Democrática, para garantia da educação de qualidade, cujo objetivo maior deve

ser a formação de cidadãos críticos e transformadores da realidade. Para que

fossem observados estes fatores, tornou-se necessário rever o percurso da

gestão educacional no Brasil, desde a colônia, no sentido de revelar a

resistência a esta nova prática de administração. Mediante a reação negativa

aos novos moldes, o presente trabalho aborda as principais atribuições,

qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a

preservação de ideais inerentes e este modelo de gestão. Porém, torna-se de

suma importância evidenciar a necessidade da construção de uma

administração baseada no movimento de consultas à comunidade escolar,

considerando a relevância da representatividade nas deliberações, bem como,

na formulação do Projeto Político-Pedagógico.

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METODOLOGIA

O desenvolvimento do trabalho contou com a busca na Internet de

fontes que apontassem para a evolução histórica da administração escolar no

Brasil, bem como, com pesquisa bibliográfica referente ao tema Gestão

Democrática, para levantamento dados. A partir daí, apontaram-se o lento

processo de democratização nas escolas e as principais características e

competências do gestor democrático, demonstrando-se a necessidade de

atendimento à demanda da comunidade escolar, considerando a

representatividade de seus diferentes segmentos. Outro aspecto abordado diz

respeito ao caráter consultivo inerente à gestão democrática, compartilhando

com os demais membros o ônus das decisões e os êxitos no processo

educativo. A gestão de projetos e do Projeto Político-Pedagógico aparece nas

fontes como mecanismo de circulação de anseios da comunidade, buscando a

formação integral do indivíduo, por isso, encontra-se elencado nesta

construção.

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SUMÁRIO

Sumário 07

Introdução 08

Capitulo I

REVENDO OS PERCURSOS DA GESTÃO EDUCACIONAL

NO BRASIL. 11

1.1 A resistência em romper laços com o antigo regime:

o longo processo de democratização da gestão

escolar (LDBEN 9394/96). 20

Capítulo II

GESTÃO DEMOCRÁTICA, UMA PRÁTICA

AINDA EM CONSTRUÇÃO. 21

2.1 – A relevância do caráter consultivo no processo de democratização da administração escolar, e a representatividade dos diferentes segmentos presentes na escola. 22 2.2 – Projeto Político Pedagógico – uma urgência da contemporaneidade, desde que corresponda aos anseios da comunidade escolar. 23 2.3 – Gestão de Projetos: a importância dos projetos de trabalho face ao currículo da escola na atualidade. 25

Capítulo III

ATRIBUIÇÕES E CARACTERÍSTICAS DO

GESTOR DEMOCRÁTICO. 28

3.1– Atribuições do gestor democrático. 29

3.2 – Qualidades e habilidades do gestor democrático. 35

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 40

WEBGRAFIA 41

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INTRODUÇÃO.

Considerando o histórico da educação no Brasil, desde a chegada dos

Jesuítas, passando por todos os momentos que influenciaram o processo

positiva ou negativamente e pelas leis que a conduziram até a atualidade,

pode-se dizer que a LDB 9394/96 propôs, ainda que vagamente, uma nova

visão acerca do ato de administrar a escola brasileira. Ao promover a

participação dos diferentes segmentos que compõem a comunidade escolar,

demonstra-se uma tentativa de descentralizar o poder das decisões, em um

movimento de consulta nas deliberações que antes competiam somente aos

seus dirigentes.

Entretanto, esta lei contém em seu arcabouço aspectos distintos que

merecem destaque, pois revela estratégias de atendimento ao mercado de

trabalho, levantando termos da área empresarial no campo educativo, como

exigência do capitalismo. Dentre eles, a gestão visando qualidade na formação

de mão-de-obra para o trabalho. Embora a LDB 9394/96 tenha trazido para o

âmbito escolar a necessidade de inserir no processo educacional o

conhecimento das construções da humanidade, contemplando as

peculiaridades de sua comunidade e, com isso, dê significado ao processo

ensino-aprendizagem, o que se pode perceber é que a instituição escola

embute, sob a carapaça da “nova lei”, seus objetivos de ontem, hoje e sempre:

a manutenção do funcionamento da sociedade capitalista, tal e qual ela se

apresenta para nós, carregada de injustiças e diferenças.

Neste contexto contraditório, surge o debate sobre o papel do sujeito

que deverá exercer uma função agora transformadora, privilegiando a

transformação e a cidadania. Um termo mais abrangente passa a ser

referência para denominar a figura que deverá propor a elevação da função

social da escola – de reprodutora para produtora de saberes: o gestor. O

presente trabalho contextualiza a gestão democrática, para maiores

esclarecimentos do que ela representa na atualidade. Portanto, torna-se

necessário recorrer à essência desta expressão, utilizando como recurso

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9inicial, antes de qualquer outra fonte bibliográfica, o dicionário, buscando

sentido para este conceito.

§ Gestão – sf. Ato ou efeito de gerir; gerência.

§ Gerir – vtd. Ter a gerência sobre; administrar, dirigir, gerenciar.

§ Democrático – adj. 1. Relativo ou pertencente à democracia;

democrata. 2. Que emana do povo, ou que a ele pertence.

§ Democracia – sf. 1. Governo do povo; soberania popular. 2 .

Doutrina ou regime político baseado nos princípios da

soberania popular e da distribuição equitativa do poder.

Entretanto, ao observarmos as definições para cada termo acima,

percebemos com clareza a distância que ainda nos encontramos dos objetivos

de democratização da escola, uma vez que esta é regida por políticas

neoliberais que interessam sobremaneira ao setor privado e que intencionam a

destruição da máquina pública.

Portanto, torna-se necessário elucidar as verdadeiras qualidades e

tarefas da gestão democrática, em defesa da educação que vise a formação de

cidadãos críticos e transformadores de sua realidade.

Para que se favoreça a compreensão efetiva do papel do gestor

democrático, o presente estudo tem por objetivo esclarecer as relações entre

momento histórico social e administração escolar, bem como, evidenciar o

lento e precário processo de democratização na gestão da escola brasileira,

desenvolvendo-se nos seguintes capítulos:

• Capítulo I: trata da evolução da gestão escolar nos diferentes

momentos históricos no Brasil, segundo os pressupostos de Bello

(1998).

• Capítulo II: aponta para a importância da representatividade dos

diferentes segmentos que compõem a comunidade escolar, bem

como os mecanismos de consulta e a implementação do Projeto

Político-Pedagógico, que garantem a democracia no âmbito

escolar.

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• Capítulo III: delineia as atribuições, características, qualidades e

habilidades inerentes à função do gestor democrático.

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CAPÍTULO I

REVENDO OS PERCURSOS DA GESTÃO

EDUCACIONAL NO BRASIL.

A evolução da gestão educacional no Brasil é um assunto que merece

destaque, uma vez que a figura do gestor encontra-se sempre relacionada a

fatos e momentos históricos que, ainda que externos à educação, interferem

sobremaneira nesta área. Até mesmo a nomenclatura da figura que conduz os

trabalhos escolares vem passando por mudanças, num movimento de

atendimento às novas exigências do mercado: de diretor a administrador e

gestor. Ainda que no campo semântico, o significado não contenha maiores

discrepâncias, é no âmbito político que estes conceitos apresentam suas

diferenças, já que, por exemplo, o termo gestor, anteriormente era mais

utilizado para designar o administrador de empresas. Entretanto, o mesmo

termo surge na esfera educacional, como forma de inserir na escola estratégias

de administração, copiando os moldes de funcionamento empresarial, embora

muitas vezes esteja também relacionado à democracia e participação da

comunidade.

A história da educação no Brasil também não foge à regra do

desenvolvimento da educação mundial, no que se refere às suas finalidades

mais paralisantes, de imposição de uma cultura hegemônica aos dominados,

bem como, revela seus propósitos de manutenção das classes sociais bem

distintas. Portanto, o aprofundamento no estudo deste movimento histórico,

possibilita a compreensão de alguns aspectos que correspondem ao quadro de

injustiças que ele contém. Esta realidade perturbou sobremaneira FREIRE

(2003), cuja inquietação manifesta-se a seguir:

“(...) Desde logo, qualquer busca de resposta a

estes desafios implicaria, necessariamente, numa opção.

Opção por esse ontem, que significava uma sociedade

sem povo, comandada por uma “elite” superposta a seu

mundo, alienada, em que o homem simples, minimizado

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12e sem consciência desta minimização, era mais “coisa”

que homem mesmo, ou opção pelo Amanhã. Por uma

nova sociedade, que, sendo sujeito de si mesma, tivesse

no homem e no povo sujeitos de sua história. Opção por

uma sociedade parcialmente independente ou opção por

uma sociedade que se “descolonizasse” cada vez mais.

Que cada vez mais cortasse as correntes que a faziam e

a fazem permanecer objeto de outras, que lhe são

sujeitos. Este é o dilema básico, que se apresenta hoje

de forma iniludível, aos países subdesenvolvidos – ao

Terceiro Mundo. A educação das massas se faz assim,

algo de absolutamente fundamental entre nós. Educação

que desvestida da roupagem alienada e alienante, seja

uma força de mudança e de libertação.” (p. 43-44)

Dentro deste cenário, torna-se pertinente investir na busca do papel do

administrador, como agente que dá suporte à ideologia que permeia os

processos educacionais, cujas atribuições encontram-se sempre em

consonância com os fenômenos que atingem diretamente a dinâmica de

funcionamento da escola, atendendo a leis, reformas educacionais e

tendências pedagógicas que condigam com os respectivos momentos

históricos, sociais e econômicos, no âmbito escolar.

Traçando um breve panorama da evolução lenta e tortuosa da educação

no Brasil, precisamos nos remeter a toda história registrada, do modelo de

pedagogia imposto pelos jesuítas a serviço da coroa portuguesa até os dias de

hoje.

PERÍODO JESUÍTICO (1549 · 1759).

Segundo BELLO (1998), quando os portugueses aqui chegaram

trouxeram com os religiosos um modelo de educação com métodos

pedagógicos para catequização dos índios, impondo-lhes a cultura, a moral e

os costumes europeus. A administração dos trabalhos era feita pelos jesuítas,

cujos princípios da repressão e evangelização pregados pela igreja católica,

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13permitiam castigos físicos para os índios, até então, habituados a outro tipo de

condução da educação na tribo. Aos poucos, os discípulos da Companhia de

Jesus, perceberam a inviabilidade de conversão dos índios à fé católica sem

que soubessem ler e escrever. Todas as escolas jesuítas seguiam um

documento que regulamentava e organizava os trabalhos, escrito por Inácio de

Loiola, o Ratio Studiorum, sendo visto aqui como instrumento de administração

das ações educativas dos jesuítas.

Com a intenção de afastar os índios dos interesses dos colonizadores,

os jesuítas criaram as reduções ou missões, no interior do território.

Após duzentos e dez anos, eles foram expulsos das colônias

portuguesas por decisão de Sebastião José de Carvalho, o marquês de

Pombal, primeiro ministro de Portugal de 1750 a 1777. Enquanto as escolas da

Companhia de Jesus eram administradas segundo os interesses da fé, Pombal

começou a organizá-las para servir aos interesses do Estado, ou seja, elevar a

posição decadente de Portugal diante das demais potências européias.

A educação brasileira, com isso, vivenciou uma ruptura drástica no

processo já implantado e consolidado como modelo educacional.

PERÍODO POMBALINO (1760 - 1808)

De acordo com BELLO (1998), com o alvará de 28 de junho de 1759,

Pombal suprimiu as escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias e

criou as aulas régias de Latim, Grego e Retórica. Embora Pombal tenha criado

a Diretoria de Estudos, ela só passou a funcionar após seu afastamento. A aula

régia possuía caráter autônomo, com professor único sem articulação com as

outras, atendendo às exigências do novo modelo de administração.

A insatisfação de Portugal com a estagnação da educação na colônia

leva à instituição do "subsídio literário" em 1772, para manutenção dos

ensinos primário e médio.

Poucas foram as conquistas na administração de Pombal. O que se viu

foi o desmantelamento da organização educacional dos jesuítas, sem que, no

entanto, fosse realizada uma transformação efetiva na educação no Brasil.

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14PERÍODO JOANINO (a partir de 1808).

Apenas com a chegada da família real ao Brasil em 1808 é que foram

ocorrer mudanças significativas na educação, através da implementação de

políticas educacionais, cuja finalidade era atender aos filhos dos nobres

portugueses que vinham se instalar aqui. Seguem algumas políticas realizadas

visando os interesses da corte, conforme BELLO (1998):

• 1808: fundação da primeira escola para o ensino das Línguas

Portuguesa e Francesa, Retórica, Aritmética, Desenho e Pintura e da

Academia de Marinha, no Rio de Janeiro. São criados: cursos de cirurgia

no Rio de Janeiro e na Bahia; na Bahia a cadeira de Ciência Econômica.

• 1810: D. João funda a Academia Militar.

• 1812: surgem os cursos de Agricultura na Bahia e o laboratório de

química no Rio de Janeiro. Com objetivos distintos, cria-se a escola de

serralheiros, oficiais de lima e espingardeiros, em Minas Gerais.

• 1814: criação de cursos de agricultura no Rio de Janeiro.

• 1816: surge a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios.

• 1817: é criado o curso de química na Bahia.

• 1818: surge um curso de desenho com o objetivo de beneficiar a

indústria.

• 1820: a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios passa a se chamar

Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil e,

posteriormente, Academia de Artes.

A vinda da Família Real para o Brasil representou grandes avanços, no

que diz respeito à administração da educação no Brasil, ainda que beneficiasse

uma pequena parcela da sociedade. Além disso, a abertura dos portos,

possibilitou aos brasileiros (madeireiros) o contato com outras culturas e o

conhecimento de outras civilizações.

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15PERÍODO IMPERIAL (1822 - 1888)

Em 1822, D. Pedro I torna o Brasil independente de Portugal. Inspirada

no cunho liberal da Constituição Francesa, em 1824 é outorgada a primeira

Constituição Brasileira. Em BELLO (1998), observamos que o texto de um

artigo desta Lei Magna merece destaque, no que se refere às políticas

públicas em educação, uma vez que previa a "instrução primária e gratuita para

todos os cidadãos" (Art. 179).

Como tentativa de administração do problema da falta de professores,

em 1823, o Método Lancaster, ou "ensino mútuo", começa a ser colocado em

prática. O método consistia no ensino formal por parte do decurião (aluno

treinado; uma espécie de monitor) à sua decúria (grupo de dez alunos). Como

forma de controle, a orientação dos trabalhos contava com a rigidez e a

vigilância de um inspetor.

Quatro graus de instrução são instituídos em 1826: Pedagogias

(escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. Em 1882, obedecendo às

normas da Maçonaria Internacional, Ruy Barbosa propõe o ensino livre e

laico, bem como, a obrigatoriedade de instrução. Em 1837, é criado o Colégio

Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso

secundário.

Até a Proclamação da República, poucas foram as políticas que

representaram transformações no cenário lamentável da educação brasileira.

Ainda que o Imperador D. Pedro II demonstrasse seu carinho pela tarefa

educativa, em sua gestão, não conseguiu consolidar um sistema educacional

no Brasil.

PERÍODO DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889 - 1929)

O presidencialismo americano é o modelo político adotado pela

República. A influência da filosofia positivista na organização escolar passa a

ser percebida.

Em consonância com a Constituição brasileira, A Reforma de Benjamin

Constant previa como princípios orientadores a liberdade e a laicidade do

ensino, além da gratuidade da escola primária, com o objetivo de formar alunos

para os cursos superiores, bem como substituir a predominância literária pela

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16científica. Porém, esta reforma gerou críticas dos positivistas e dos que

defendiam a predominância literária em detrimento do enciclopedismo.

Segundo BELLO (1998), em 1900, segundo o Anuário Estatístico do

Brasil, do Instituto Nacional de Estatística, o percentual de analfabetos era

de 75%.

Foi em 1911 que a Reforma Rivadávia Correa propôs o curso

secundário para formação do cidadão e não apenas como promoção a um

nível seguinte. Mesmo retomando a orientação positivista de liberdade de

ensino, os resultados desta Reforma foram desastrosos para o ensino

brasileiro.

Em 1915, a Reforma de Carlos Maximiliano substitui a Reforma de

Rivadávia Correa, reoficializando o ensino no Brasil.

Já a Reforma João Luiz Alves lança a cadeira de Moral e Cívica para

enfraquecer os protestos estudantis contra o governo do presidente Arthur

Bernardes.

Importantes movimentos políticos ocorreram na década de vinte, “foi

uma década de grande tensão, de grande agitação, de crise de hegemonia das

oligarquias até então dominantes”. (SAVIANI, 2008, p. 51). Quanto à educação,

ocorreram relevantes reformas de âmbito estadual: de Lourenço Filho (Ceará –

1923); de Anísio Teixeira (Bahia – 1925); de Francisco Campos e Mario

Casassanta (Minas – 1927); de Fernando de Azevedo (Distrito Federal, atual

Rio de Janeiro – 1928) e a de Carneiro Leão (Pernambuco – 1928).

Getúlio Vargas tomou o poder de Julio Prestes candidato eleito em 1930.

A característica agrária do país e o quadro político vão gerar

repercussões na organização escolar brasileira.

PERÍODO DA SEGUNDA REPÚBLICA (1930 - 1936)

Com a entrada do Brasil no mundo capitalista, após a Revolução de 30,

o mercado passa a exigir mão-de-obra especializada. Tornou-se de suma

importância investir na educação. Em 1930, criou-se o Ministério da Educação

e Saúde Pública e, em 1931, foram sancionados decretos para o ensino

secundário e as universidades brasileiras. Estes Decretos ficaram conhecidos

como "Reforma Francisco Campos":

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17 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova é lançado em 1932 por

um grupo de educadores “marco da ascendência escolanovista no Brasil”

(IDEM, p. 50). Entretanto, o movimento da Escola Nova é questionado por

SAVIANI (2008):

“... E surgiu a Escola Nova que tornou possível, ao

mesmo tempo, o aprimoramento do ensino destinado às

elites e o rebaixamento do nível e ensino destinado às

camadas populares. É nesse sentido que a hegemonia

pôde ser recomposta.” (p.52)

A nova Constituição de 1934 (a segunda da República) declara pela

primeira vez, que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela

família e pelos Poderes Públicos. No mesmo ano, foi criada a Universidade de

São Paulo, a primeira dentro das normas do Estatuto das Universidades

Brasileiras de 1931.

Em 1935, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal,

incluindo uma Faculdade de Educação.

Porém, Getúlio Vargas, aplica um golpe de estado, instalando o Estado

Novo e proclamando uma nova Constituição, conhecida como "Polaca".

PERÍODO DO ESTADO NOVO (1937 - 1945)

BELLO (1998) revela as tendências fascistas de uma nova Constituição

que é outorgada em 10 de novembro de 1937, enfatizando o ensino pré-

vocacional e profissional. A orientação político-educacional para o mundo

capitalista, promove a preparação de maior contingente de mão-de-obra para

as novas atividades abertas pelo mercado.

Entretanto, ao sugerir que a arte, a ciência e o ensino sejam de livre

iniciativa individual, associação ou pessoas coletivas públicas e particulares,

tira do Estado o dever da educação.

O Estado Novo, nesta nova Constituição de 1937, promove um

retrocesso. Delimita o trabalho intelectual, para as classes privilegiadas e

propõe o ensino profissional para as classes menos favorecidas. Contudo,

surge a União Nacional dos Estudantes - UNE e o Instituto Nacional de

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18Estudos Pedagógicos - INEP.

Alguns ramos do ensino sofrem reformas em 1942, por obra do Ministro

Gustavo Capanema. Tais Reformas receberam o nome de Leis Orgânicas do

Ensino e criaram órgãos de ensino para o trabalho, bem como,

regulamentaram os diferentes segmentos de ensino, com enfoque para a

formação profissional.

PERÍODO DA NOVA REPÚBLICA (1946 - 1963)

Conforme BELLO (1998), com o fim do Estado Novo neste período é

adotada uma nova Constituição com características liberais e democráticas. No

âmbito da Educação, ela determina a obrigatoriedade do cumprimento do

ensino primário e dá à União a atribuição de legislar sobre diretrizes e bases da

educação nacional. Volta o ideal de “escola para todos” (SAVIANI, 2008 – p.

51), baseado no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.

Em 1946, são regulamentados o Ensino Primário e o Ensino Normal.

Também é criado o SENAC, atendendo às exigências sociais após a

Revolução de 1930.

De acordo com a Carta Magna de 1946, o educador Lourenço Filho

preside uma comissão com a incumbência de elaborar uma reforma geral na

educação. Era organizada em três subcomissões: uma para o Ensino Primário,

uma para o Ensino Médio e outra para o Ensino Superior. Discussões

relevantes foram levantadas quanto à questão da responsabilidade do Estado

em relação à educação, nos moldes da velha geração de 30, e quanto a

participação das instituições privadas de ensino.

Foram 13 anos de embates até que foi promulgada a Lei de Diretrizes e

Bases para a Educação 4 024, em 20 de dezembro de 1961, correspondendo

às demandas da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares

de ensino.

Porém, muitas iniciativas tornaram este momento o mais fértil da

História da Educação no Brasil, como a de Anísio Teixeira, com a

inauguração do Centro Popular de Educação (escola-classe e escola-

parque); a de Lauro de Oliveira Lima, que iniciou uma didática baseada nos

pressupostos de Jean Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a educação

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19passa a ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da Educação

e Cultura; além da didática de Paulo Freire de alfabetização de adultos

analfabetos, no Estado do Rio Grande do Norte, e depois, em Pernambuco;

criação do Conselho Federal de Educação, em 1962 cumprindo o artigo 9o da

Lei de Diretrizes e Bases e dos Conselhos Estaduais de Educação; além

do Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização,

pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire,

também em 1962.

No entanto, o duro golpe militar de 1964 sufoca todas essas iniciativas

de revolução da educação brasileira, com a justificativa de que as mesmas

eram subversivas e comunistas.

PERÍODO DO REGIME MILITAR (1964 - 1985)

Depois do golpe militar de 1964, com a perseguição de alguns

importantes educadores, devido a seus posicionamentos ideológicos, o Regime

Militar fez refletir na educação suas características antidemocráticas de

governo: o Decreto-Lei 477 silenciou estudantes e professores nas diversas

instâncias da educação.

Neste período, as universidades se expandiram no Brasil. Foi criado o

vestibular classificatório.

Surge o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL, que

propunha erradicar o analfabetismo no Brasil, meta não atingida. Após

denúncias de corrupção, foi extinto.

Durante a ditadura militar foi instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, em 1971, visando a formação

profissionalizante, com o objetivo de a Educação corresponder às demandas

da produção brasileira.

Mas, a pressão de vários setores da sociedade, possibilitou a abertura

política.

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1.1 – A resistência em romper laços com o antigo regime: o

longo processo de democratização da gestão escolar

(LDBEN 9394/96).

O regime militar transformou o sentido da discussão sobre as questões

educacionais de pedagógico para político. Profissionais e pensadores de outras

áreas passaram a discutir a educação com uma visão além do chão da sala de

aula e da dinâmica escolar. Estes profissionais dispararam discursos em nome

da educação.

Em 1988, um Projeto de Lei da nova LDB foi encaminhado à Câmara

Federal. O Deputado Jorge Hage envia um substitutivo ao Projeto no ano

seguinte. Finalmente, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo

Projeto que só é aprovado em dezembro de 1996.

No Governo Collor, em 1990, surge o projeto de construção de Centros

Integrados de Apoio à Criança - CIACs, em todo o Brasil, baseados no modelo

dos Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs, do Rio de Janeiro, que

já existiam desde 1982.

Embora o período pós Regime Militar tenha sido de grandes mudanças

na Educação, inclusive com a criação da nova LDB, poucos têm sido os

avanços em relação à extinção do analfabetismo. Entretanto, muitas têm sido

as políticas públicas em educação (PCN’s, FUNDEB), com investimentos de

valores altos financiados por entidades internacionais, que apenas pretendem

formar mão-de-obra barata, não analfabeta, mas com mais potencial mais

técnico do que político.

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21

CAPÍTULO II

GESTÃO DEMOCRÁTICA, UMA PRÁTICA AINDA EM

CONSTRUÇÃO.

Considerando a lenta evolução do processo de democratização da

gestão escolar, bem como, os aspectos que impedem a efetiva participação

dos diferentes grupos que pertencem à escola, torna-se necessário buscar os

caminhos que permitam a conquista de uma escola voltada para os interesses

daqueles que nela atuam: alunos, professores, responsáveis e funcionários.

Para o alcance destes objetivos, a equipe gestora deve estar preparada para

acolher a legitimidade dos anseios de todos estes agentes. Esse movimento de

reciprocidade somente será realizado se houver oportunidade para que todos

se manifestem.

Entretanto, a busca do caminho para a democracia no âmbito escolar

não ocorrerá de outra forma, a não ser pela atualização e formação continuada

da equipe responsável pela gestão, a fim de possibilitar a identificação das

demandas da comunidade escolar, através do processo consultivo.

De acordo com LIBÂNEO (2008), a participação dos grupos na

organização escolar possui o seguinte significado:

“Participação significa a atuação dos profissionais

da educação e dos usuários (alunos e pais) na gestão da

escola. Há dois sentidos de participação articulados entre

si. Há a participação como meio de conquista da

autonomia da escola, dos professores, dos alunos,

constituindo-se como prática formativa, como elemento

pedagógico, metodológico e curricular. Há a participação

como processo organizacional em que os profissionais e

usuários da escola compartilham institucionalmente,

certos processos de tomada de decisão.” (p. 139)

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2.1 – A relevância do caráter consultivo no processo de

democratização da administração escolar, e a

representatividade dos diferentes segmentos presentes na

escola.

Para VASCONCELLOS (2005), o engajamento da escola em elaborar

um planejamento participativo permite a circulação de anseios, a soma de

forças para a tarefa árdua da construção de uma nova visão de educação, bem

como, divide a responsabilidade sobre deliberações e aplicação de recursos.

Para que este processo seja efetivamente realizado, mecanismos que

permitam a veiculação de ideias devem ser propostos. Cabe ao gestor

democrático, utilizar-se das diferentes formas de consulta à comunidade, para

promover a descentralização das decisões. LÜCK (2008) destaca a relevância

da corresponsabilidade de todos no desenvolvimento do processo de

democratização da escola, a partir do reconhecimento por parte dos diferentes

segmentos (alunos, professores, funcionários, responsáveis, comunidade local)

de seus direitos e deveres, como prerrogativa para o exercício da cidadania.

Entretanto, para que todos estes aspectos se conjuguem, é necessário

estar em sintonia com os desejos dos grupos da escola, criando “condições

para que os membros de uma coletividade não apenas tomem parte, de forma

regular e contínua de suas decisões mais importantes, mas assumam

responsabilidade por sua implementação” (Id, p. 57). Tais condições, significam

a organização de estratégias que ofereçam recursos para uma constante ação-

reflexão dos participantes sobre a realidade, suscitando as dimensões política,

pedagógica e técnica de participação, tais como: enquetes, entrevistas,

assembléias, avaliações sistemáticas, questionários e outras fontes de registro

que dêem suporte ao gestor para a modificação ou permanência das práticas

instauradas.

Porém, todas estas ações se esvaziarão, caso a sensibilidade e a

capacidade de escuta da equipe gestora não se abram para as solicitações da

coletividade.

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23

2.2 – Projeto Político Pedagógico – uma urgência da

contemporaneidade, desde que corresponda aos anseios da

comunidade escolar.

Ainda é bastante comum a constatação da existência de uma

administração que conduz à burocracia e à formatação, de acordo com os

moldes que não condizem com as necessidades de sua clientela.

No sentido de valorizar a articulação dos diferentes segmentos que

compõem a escola, VASCONCELLOS (2005) entende a importância do Projeto

Político-Pedagógico, a partir da participação da comunidade escolar em sua

construção, tornando-se “uma tentativa, no âmbito da educação, de resgatar o

sentido humano, científico e libertador do planejamento” (p. 169)

Para LIBÂNEO (2008) a escola teria a função social e pedagógica de

garantir “o desenvolvimento das capacidades cognitivas, operativas, sociais e

morais pelo seu empenho na dinamização do currículo, no desenvolvimento

dos processos de pensar, na formação da cidadania participativa e na

formação ética” (p. 137). Mas, é necessário anular toda e qualquer

manifestação conservadora de organização e gestão, buscando alternativas

eficazes e formas criativas para a conquista dos objetivos sociais e políticos da

escola, através de estratégias planejadas de organização e gestão.

De acordo com VASCONCELLOS (2005), para que seja possível o

alcance dos resultados esperados com o PPP, é primordial a análise da

realidade, o levantamento das dificuldades e dados da realidade existente, para

que se identifiquem as necessidades institucionais.

Para LIBÂNEO (2008), o projeto conjuga simultaneamente “desejo,

utopia e uma concretização” (p. 161). É importante ressaltar que para a

formulação do documento, que deverá corresponder aos interesses da

comunidade escolar, torna-se necessário encontrar junto a ela respostas às

seguintes questões:

1. Qual a realidade existente?

2. Qual a realidade desejada?

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243. Que ações possibilitam a conquista da realidade desejada?

4. Como saber se ações correspondem à realidade desejada?

Diante desta realidade e sob a égide da lei, a equipe gestora deverá

buscar como fonte para o exercício de sua função os anseios da sociedade e,

em particular, da comunidade onde a escola está inserida. Desta forma, o

papel do gestor toma vulto se considerarmos sua atuação em favor da

participação da comunidade escolar, integrando e harmonizando as aspirações

e demandas de seus diferentes segmentos, em busca de uma escola de

qualidade.

LIBÂNEO (2008) destaca ainda como qualidade inerente do projeto

pedagógico-curricular a autonomia, uma vez que a capacidade de decisão

sobre seus objetivos daria à instituição relativa independência na administração

dos recursos e na organização da escola. Sendo assim, a união de esforços

dos diferentes segmentos provocaria um sentimento de corresponsabilidade

em busca do êxito da entidade.

A construção de Projeto Político-Pedagógico enraizado nestes fatores

favorece o alcance dos objetivos estabelecidos pela comunidade escolar.

Registrar a identidade, as necessidades, metas a serem alcançadas e as

estratégias para tal, requer um movimento de consulta e conhecimento prévio,

para que o PPP efetivamente reflita as diversas faces que a escola possui. Daí,

a relevância da formação e constante atualização de gestores, supervisores e

regentes, para que ele se institua e se manifeste com propriedade diante das

condições que se apresentem eventualmente no processo educativo, já que,

conforme LIBÂNEO (2008), a educação deve ter como princípio básico o

incentivo à “apropriação de saberes, procedimentos, atitudes, valores por parte

dos alunos, pela ação mediadora dos professores e pela organização e gestão

da escola”. (p. 141)

Porém, a equipe gestora divide sua função entre cumprir as obrigações

burocráticas e o cumprimento de determinações do governo. Na grande

maioria não se percebe, por parte dos especialistas, uma ação pedagógica

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25efetiva que possibilite a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Portanto,

se faz necessária a gestão pedagógica como prática coletiva e compartilhada,

visando romper com a fragmentação de conteúdos, através de uma ação

técnica, politicamente comprometida com a busca da conscientização,

articulando a prática escolar com o contexto social.

LIBÂNEO (2008) sintetiza com clareza o papel do Projeto Pedagógico–

Curricular (ou Projeto Educativo, Projeto Político-Pedagógico, Projeto

Curricular, Plano de Escola) como sendo uma orientação para a ação,

prevendo e direcionando o aspecto político e pedagógico das atividades

escolares, estabelecendo metas, procedimentos e instrumentos de ação, de

forma que ele torna-se o principal instrumento da gestão.

2.3 – Gestão de Projetos: a importância dos projetos de

trabalho face ao currículo da escola na atualidade.

Em um tempo em que as transformações ocorrem no mundo com

tamanha velocidade, a equipe gestora deve estar sempre atenta, para que a

escola não se torne uma instituição à parte na contemporaneidade,

comprometendo-se em posicioná-la na vanguarda, acompanhando os

fenômenos e acontecimentos sociais. Portanto, cabe a estes profissionais zelar

pela qualidade do ensino e da educação, observando alguns aspectos em

particular: organização curricular, adequação do espaço físico, construção de

uma proposta pedagógica coerente com as especificidades da faixa etária e

planejamento de um trabalho que assegure o estudo das diversas expressões

e áreas do conhecimento. Neste sentido, a gestão de projetos que respondam

às demandas particulares de sua instituição, somados aos conteúdos próprios

de cada segmento, tornarão a experiência escolar muito mais significativa e

prazerosa.

O gestor, para garantia do sucesso do processo ensino / aprendizagem

na escola atual, deve traçar seu plano de ação com objetivos bem

determinados. O planejamento discutido e bem elaborado deve favorecer a

conquista destes objetivos. Portanto, atender a alguns princípios básicos

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

26parece ser uma medida inteligente por parte da equipe gestora. São eles: o

diagnóstico e a análise da realidade da escola (identificação das dificuldades),

definição de objetivos e metas (intencionalidade), determinação de atividades e

tarefas a serem desenvolvidas (ações, recursos materiais e humanos). (IDEM –

p. 150)

A equipe responsável pela gestão escolar deve buscar oferecer aos

alunos situações que garantam acesso ao sistema de escrita como forma de

linguagem, ao mesmo tempo, que possibilitem inúmeras interações com a

língua escrita. Alfabetizar é muito mais do que apenas ensinar a traçar as letras

ou a decodificar palavras. Portanto, o princípio de tudo deve ser o

reconhecimento da função social da leitura e da escrita.

O ingresso à escola deve ser marcado por diversas mudanças e

constitui um rito de passagem bastante significativo para os alunos. Nesse

momento, orientações e esclarecimentos são fundamentais, principalmente

quanto às novas regras de convivência e acolhimento afetivo.

Do ponto de vista cognitivo prevalecem estratégias instigadoras da

curiosidade e da investigação do mundo vivido. O professor é o facilitador da

aprendizagem. Com o aprimoramento do olhar, pode iniciar Projetos que

contemplem assuntos de maior interesse de sua classe, realizando atividades

integradas por diferentes disciplinas, para sistematização de conteúdos. Neste

caso, é função do gestor estar sempre investindo em sua formação para que

possa dar suporte ao corpo docente, promovendo a formação continuada do

grupo.

Com relação à diversidade cultural, esta também deve fazer parte do

currículo, pois devido à sua complexidade, seu caráter transformador e de

inclusão, favorece o trabalho com as relações interpessoais dos alunos.

Já adaptado à escola, com maior segurança, o aluno é estimulado a ver

o outro como parte importante do seu espaço de convivência, a colocar-se no

lugar do outro e com ele conviver. O trabalho em grupo e os jogos coletivos

permitem reflexões e aprendizados importantes no desenvolvimento de valores

como solidariedade, cooperação, responsabilidade e respeito.

Avançando na formação do aluno, em qualquer fase escolar ele deve ser

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

27incentivado e orientado a perceber-se, perceber o outro e interagir no meio em

que vive. Em todas as etapas do desenvolvimento, o aluno deve ter

oportunidades diversas para aprimorar seu olhar, analisar e tirar conclusões.

Assim, as questões relacionadas à cidadania podem ser focadas e trabalhadas

visando ao desenvolvimento do cidadão "solidário, ético e transformador".

Outro tema que deve nortear a proposta pedagógica de uma instituição

sintonizada com a realidade é "a preservação do meio ambiente". Entretanto, o

gestor não pode perder de vista que o aluno precisa operar sobre a realidade

mais próxima, no caso, a sala de aula, a escola, a casa. Portanto, é necessário

conscientizá-lo da importância de suas ações sobre o próprio ambiente em que

vive – suas responsabilidades, obrigações e tarefas que tornarão melhor sua

qualidade de vida – para posteriormente transferir estes conhecimentos para a

preservação do planeta.

Enfim, a relevância o papel do gestor frente às demandas da escola, que

está obrigatoriamente inserida em um contexto, encontra-se no movimento de

alinhamento entre a instituição e a sociedade.

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28

CAPÍTULO III

ATRIBUIÇÕES E CARACTERÍSTICAS DO GESTOR

DEMOCRÁTICO.

O ambiente escolar exige organização, planejamento e formação

continuada por parte dos profissionais que ali atuam. A orientação deste

trabalho pressupõe que seu líder tenha suporte teórico e experiência para a

conquista de bons resultados no processo educacional.

Como se observa em LIBÂNEO (2008), o diretor da escola, por ser

quem a dirige, é o maior responsável por ela, devendo ter visão de conjunto,

articular e integrar os seus diferentes setores “setor administrativo, setor

pedagógico, secretaria, serviços gerais, relacionamento com a comunidade

etc.” (p. 217).

Lück (2008) conceitua a função do gestor a partir de sua busca pelo

êxito de uma determinada organização social, através da mobilização e da

ação conjunta de seus componentes, envolvendo-os numa relação de

reciprocidade, cuja vontade coletiva gera uma nova realidade. E complementa

acerca da relevância da tarefa do gestor:

“Entende-se que o trabalho educacional, por sua

natureza, demanda um esforço compartilhado, realizado

a partir da participação coletiva e integrada dos membros

de todos sos segmentos das unidades de trabalho

envolvidos. Portanto, a sua gestão pressupõe a atuação

participativa, cuja adjetivação consiste em pleonasmo de

esforço a essa importante dimensão da gestão escolar.”

( p. 22 )

Portanto, a gestão propõe o envolvimento do grupo na tomada de

decisões, na solução de problemas, no planejamento, na implementação, no

acompanhamento e na avaliação das ações delineadas coletivamente,

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

29objetivando melhores resultados no processo educativo. Aí, destaca-se o plano

de ação, o projeto curricular ou projeto político-pedagógico da escola. Este

movimento oportuniza às pessoas a conquista da autonomia, ao assumirem a

autoria e o controle sobre o próprio trabalho.

Por isso, LÜCK (2008) considera a expressão “gestão participativa”

redundante, devido ao caráter participativo que a gestão contém, julgando esta

redundância útil para reforçar as características mais importantes da gestão

educacional democrática.

Assim, mais que modernizar e atualizar operacionalmente a figura do

administrador, este deve afastar qualquer pensamento ou prática autoritária

sobre o trabalho, bem como, a manipulação da participação dos agentes. Um

debate consistente, e não uma mera discussão, pode oferecer à instituição

alternativas para reverter quadros difíceis de contornar, uma vez que a

articulação de ideias por parte do gestor pode anular a presença da omissão

nas deliberações.

3.1– Atribuições do gestor democrático.

Gerir significa muito mais que administrar. Para que esta ação se

cumpra por completo, é necessário exercitar a escuta, tornando audível a

polifonia própria do ambiente escolar, composto por diferentes segmentos, com

papéis distintos, porém, com um objetivo comum: a qualidade do ensino. LÜCK

(2008) traz uma reflexão relevante em torno desta abordagem:

“ideias constituem concepções que norteiam o

comportamento e as ações das pessoas. São elas que

promovem a mobilização das pessoas para as ações e

dão unidade e continuidade ao seu trabalho. Portanto,

estabelecem uma orientação conjunta, integram as

pessoas e motivam a construção do espírito coletivo, de

modo a constituir uma equipe empreendedora. É

fundamental, porém, que em sua expressão sejam

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30valorizadas e evidenciadas como resultado de um

processo de grupo e não como prerrogativa ou mérito de

indivíduos.” (p. 95 )

Portanto, cabe ao gestor valorizar a integração dos diferentes

profissionais da instituição, pois cada função só terá significado se estiver

atrelada às demais. No processo pedagógico, deve-se primar pela unificação

dos esforços dos diversos segmentos, para construção de uma base comum,

onde se encontram embutidos princípios sólidos de integração.

Como a gestão em sua essência pressupõe uma ação coletiva, a

abertura para a participação destes segmentos favorece a instauração da

democracia, como alternativa inerente à construção da cidadania. Busca-se a

formação integral do indivíduo em contraposição à formatação pretendida por

outros modelos de administração. Sendo assim, de acordo com LIBÂNEO

(2008 – p. 137), a escola cuja gestão é democrática deve conceber os

seguintes propósitos da educação escolar: “promover a apropriação de

saberes, procedimentos, atitudes e valores por parte dos alunos, pela ação

mediadora dos professores e pela organização e gestão da escola”. Portanto,

ela teria como função social e pedagógica: “assegurar o desenvolvimento das

capacidades cognitivas, operativas, sociais e morais pelo seu empenho na

dinamização do currículo, no desenvolvimento dos processos de pensar, na

formação da cidadania participativa e na formação ética. Entretanto, somente

rompendo com o conservadorismo, seria possível adotar “formas alternativas,

criativas, de modo que aos objetivos sociais e políticos da escola

correspondam estratégias adequadas e eficazes de organização e gestão”.

O gestor democrático encontra-se em sintonia com o mundo. Preocupa-

se com o que está para além dos muros da escola, levando para o âmbito

institucional os acontecimentos do cotidiano e os fatos que inquietam a

humanidade. Entretanto, para que haja harmonia entre conteúdos escolares e

a realidade, bem como, a formação integral do indivíduo, devem existir

estratégias para que os professores e equipe gestora se encontrem, estudem

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

31juntos, debatam e planejem, com o objetivo de encontrar formas interessantes

de trazer o mundo para dentro da sala de aula. Portanto, o espaço de formação

continuada deve ser garantido para que se obtenha um ensino de qualidade.

Para que haja credibilidade na gestão, é de suma importância que exista

transparência e clareza quanto a informações, aplicação de recursos e

organização de documentação. As informações devem ser reais e seguras,

sendo sempre divulgadas. Os investimentos devem ser acordados com a

comunidade e as prioridades devem ser atendidas.

Para que se saiba se os resultados conquistados estão de acordo com o

planejado, uma avaliação constante do trabalho é uma ação de peso para o

enfrentamento das questões que impedem o alcance dos objetivos

pretendidos.

Evidentemente que toda tentativa de fortalecimento do grupo é plausível

e necessária. Entretanto, existem exigências que muitas vezes sobrecarregam

a gestão e requerem soluções rápidas e eficazes, que nem sempre competem

à totalidade, ainda que deva existir ampla clareza de informações. É o caso da

burocracia da administração de toda a documentação relativa a pessoal

(docentes, discentes e funcionários), bem como da prestação de contas de

recursos adquiridos.

Outro aspecto que merece atenção por parte do gestor diz respeito à

realidade atendida pela unidade escolar. É necessário tomar conhecimento da

cultura local, do tipo de atividade que predomina na região, considerando as

diferenças, contemplando os desejos peculiares deste grupo. Numa tentativa

de corresponder a estes anseios, o gestor pode realizar algumas ações de

sondagem e pesquisa sobre questões relativas às particularidades da

comunidade. Também o corpo docente deve ser contemplado. Conhecer a

formação do grupo pode favorecer o crescimento da comunidade escolar,

fornecendo subsídios para aproveitar de cada um o que se tem de melhor para

oferecer, demonstrando que existe uma preocupação com as individualidades,

reconhecendo-as como peças fundamentais na coletividade.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

32PARO (2007) obtém dados interessantes em sua pesquisa sobre a

relação que os professores fazem entre democracia na escola e condições

favoráveis de trabalho. Estes dados fornecem algumas pistas importantes para

gestores.

“Daí esses professores acreditarem que só é possível de

fato estabelecer relações autenticamente democráticas

quando há recursos adequados, número limitado de

alunos por turma, material escolar apropriado e

suficiente, bons salários, boa formação dos professores,

tempos e espaços dedicados ao estudo e ao

planejamento, tempos e espaços disponíveis aos

estudantes, boa assessoria e coordenadores

pedagógicos etc... essas exigências para a democracia

estão a revelar uma associação que os docentes fazem

entre democratização das relações e ensino de

qualidade. Assim suposto que o bom ensino exige boas

condições de desenvolvimento, o mesmo acontece com a

prática democrática da escola, uma vez que esta está

contida no bom ensino”. (p. 89)

Gerir não é tarefa fácil e simples. Demanda esforço coletivo,

compartilhamento de responsabilidades, cumplicidade e troca. Uma liderança

despreparada ou desvinculada da gestão democrática pode se deixar levar

pela via mais rápida: decidir sozinha, sem consultar sua comunidade,

comandar de forma verticalizada as ações do grupo, fechando-se para o

debate e para a discussão, sonegando informações relevantes para uma boa

integração da equipe. Com isso, perde-se muito com relação ao fortalecimento

do grupo e da equipe gestora em si, pois as falsas evidências apontam para o

cumprimento de ordens sem questionamentos, próprio de uma administração

autoritária, como uma atitude distante do profissionalismo comprometido com o

bom trabalho. Normalmente esta postura é cômoda, mas seus resultados

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

33podem ser desconfortáveis, devido à omissão de um grupo que não expressa

seus desejos.

Todo esforço pode ser pouco para a conquista daquilo que a gestão

democrática embute em sua essência. A luta por uma escola que ofereça as

mesmas oportunidades para todos, a igualdade de condições para a

coletividade, a formação integral de indivíduos para uma vida mais digna, enfim

a transformação da realidade existente. Ainda que essa escola atenda uma

comunidade favorecida economicamente, deve fazê-la compreender a

importância da diminuição das diferenças sociais, uma vez que elas são

responsáveis pela violência a que estamos submetidos. De acordo com

LIBÂNEO (2008), todos os alunos, independente da classe social a que

pertencem, necessitam de uma base sólida para a o fortalecimento da

sociedade civil. Sendo assim, a escola deve criar “condições para a educação

da responsabilidade, participação, iniciativa, capacidade de liderança e tomada

de decisões”. (p. 67).

Ratificando esta citação, LIBÂNEO (2008) disserta acerca da função

abrangente da escola na formação do indivíduo frente às demandas da

sociedade contemporânea, aspecto que o gestor deve considerar:

“A escola é lugar de compartilhamento de valores e de

aprender conhecimentos, desenvolver capacidades

intelectuais, sociais, afetivas, éticas, estéticas. Mas é

também lugar de formação de competências para a

participação na vida social, econômica e cultural”. (p. 139

– 140)

Diante de todas estas responsabilidades, LIBÂNEO (2008, p. 218 – 219)

descreve uma lista de atribuições bem definidas para o diretor de escola que

está voltado para a qualidade da educação. Portanto, ele deve ser o agente de:

1. Supervisão e responsabilidade das tarefas administrativas e

pedagógicas da escola, assim como, dos momentos com os

responsáveis, comunidade e outros segmentos da sociedade.

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

342. Garantia de condições e estratégias de criação de um ambiente

de trabalho propício, bem como, de recursos materiais

necessários para que os objetivos da escola sejam atingidos,

incluindo, o zelo e uso adequado do patrimônio.

3. Promoção da integração e entre escola e comunidade local,

através do apoio do Conselho Escola, desenvolvendo atividades

de cunho pedagógico, científico, social, esportivo, cultural.

4. Coordenação e organização do projeto pedagógico-curricular e do

planejamento, realizando o acompanhamento, a avaliação e o

controle da execução do processo, em conjunto com a

coordenação pedagógica.

5. Observância da legislação acerca da educação e do ensino, bem

como, de normas prescritas pelos órgãos competentes,

assegurando, inclusive, o cumprimento do regimento escolar.

6. Aplicação das normas de funcionamento e disciplina, apurando

ocorrência de irregularidades, utilizando a transparência e a

clareza na veiculação sistemática de informações.

7. Responsabilidade na assinatura e conferência de documentação

escolar, expedientes e processos.

8. Supervisão e avaliação do funcionamento da instituição em

conjunto, atentando para a organização escolar, o currículo, o

projeto pedagógico e os professores.

9. Busca de condições e meios favoráveis à função dos pedagogos,

professores e funcionários, com vistas à qualidade do ensino.

10. Responsabilidade e supervisão pela movimentação financeira

controlando gastos, priorizando as aspirações da comunidade

escolar.

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35

3.2– Qualidades e habilidades do gestor democrático.

LIBÂNEO (2008) considera a direção da escola não apenas na

dimensão social e pedagógica, mas também no campo semântico. Ela implica

a deliberação por um rumo, a determinação de uma postura diante dos

objetivos sociais e políticos da escola, em uma sociedade real.

Ainda de acordo com o mesmo autor, o exercício da direção depende de

algumas qualidades fundamentais para a execução do trabalho do gestor, que

requerem formação específica:

1. Autoridade – é o ato de exercer o poder que lhe foi delegado,

para a direção e coordenação das medidas a serem tomadas

coletivamente. Para que esta autoridade se distancie do

autoritarismo, é necessário que ela seja descentralizada,

distribuindo tarefas para os diferentes membros da equipe

escolar.

2. Responsabilidade – é inerente à autoridade. Ainda que a tomada

de decisões e as tarefas sejam descentralizadas, “a

responsabilidade final é de quem dirige / coordena”. (p.216)

3. Decisão – é a capacidade de escolher a melhor alternativa,

dentre outras, para a resolução de situações. Ainda que haja um

plano de trabalho estabelecido, com objetivos definidos e tarefas

a serem delegadas, a função do gestor requer a tomada das

decisões necessárias.

4. Disciplina – a conduta do gestor deve ser compatível com “as

normas, regulamentos, interesses da vida social e escolar,

assumidos coletivamente”. (p. 216)

5. Iniciativa – é a capacidade de critica e criativamente buscar

soluções para enfrentar os imprevistos e situações difíceis que

venham a ocorrer no processo de direção.

Comparando-se a função de um diretor de escola com um maestro,

percebemos algumas características em comum: a liderança e a regência de

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

36uma equipe. Ambos atendem ao público, embora nem sempre a plateia

aplauda suas ações.

Passando para o âmbito escolar efetivamente, o regente (diretor) não

cuida apenas de orçamentos, datas, vagas, materiais. Ele precisa estar atento

à dinâmica pedagógica e à química das relações interpessoais, para tornar-se

um líder e não somente um burocrata.

Dentre suas características mais importantes está a capacidade de

administrar o funcionamento escolar, o aspecto pedagógico, bem como, o

sócio-comunitário.

Com relação à escola ele a mantém dentro das normas e instruções,

tornando-se exigente quanto ao cumprimento de prazos. Quanto ao campo

pedagógico, prioriza a qualidade do ensino, o projeto político-pedagógico, os

outros membros da equipe gestora e oportuniza a capacitação dos docentes.

Em relação ao aspecto sócio-comunitário, o gestor democrático favorece a

participação da comunidade. Além disso, incentiva inovações; planeja suas

ações; gerencia recursos financeiros, consultando à comunidade quanto à sua

aplicação; possui escuta sensível para identificar as necessidades da

instituição, compartilhando a busca de soluções.

Para assumir a gestão democrática tanto o diretor como o coordenador

pedagógico (ou supervisor) necessitam de alguns requisitos básicos para a

realização de suas tarefas. Lembrando que estas não consistem em atitudes

solitárias, por compartilharem as responsabilidades com a coletividade.

Portanto, ao gestor cabe o papel de líder inspirador. Segundo CORTELLA

(2008), liderança seria a capacidade de inspiração de pessoas, idéias, projetos,

situações. O verdadeiro líder seria aquele que traz vitalidade para o processo

educacional. Motivar é a palavra chave para o trabalho do gestor: sua equipe

deve estar contagiada pela sua garra e vontade de trabalhar. Ele também deve

ser pró-ativo, prevendo situações que possam influenciar negativamente o

processo educacional, antecipando-se a elas. Decidir com a sabedoria e

conhecimento advindos de sua formação continuada e experiência.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · qualidades e habilidades características do gestor democrático, para a preservação de ideais inerentes e este modelo de

37Em EDNIR (2006) encontram-se alguns subsídios para reflexão acerca

das qualidades e habilidades do gestor que está envolvido com a coletividade.

Segundo a autora:

“Exercer liderança em escolas exige mais do que

habilidades e conhecimentos. Uma série de qualidades

precisam ser mobilizadas: perspicácia, auto-

conhecimento, empatia, competências sociais... Vale a

pena repetir: assim como acontece com a construção de

habilidades, não é possível desenvolver qualidades

pessoais de um líder simplesmente frequentando um

curso ou lendo um livro.” (p. 31)

Nesta obra, encontramos ainda outras habilidades que o gestor deve

desenvolver para formar um grupo coeso, pronto para questionar e ser

questionado. É o caso da sensibilização e das dinâmicas sugeridas no livro que

em muito podem contribuir para as atividades do gestor e para a qualidade do

trabalho na escola. O mais importante é que se crie um ambiente favorável à

expressão e à colocação de idéias.

A organização do gestor deve permitir sua incursão nas aulas, para que

realize consultorias. Além de acompanhar o trabalho feito, dependendo do

enfoque, pode haver um tom de parceria.

A criatividade da equipe gestora deve voltar-se para as reuniões

pedagógicas e centros de estudos, quando normalmente são revelados

problemas de diferentes naturezas. Portanto, tornar este momento mais

prazeroso e construtivo parece a melhor solução, com a realização de oficinas

ou exibição de filmes e vídeos que abordem alguma temática interessante.

Porém, o gestor não pode perder de vista as reuniões que envolvem

diferentes segmentos da comunidade escola. Estas precisam ser agradáveis,

igualmente a do grupo docente.

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38 Outra habilidade importante para o gestor refere-se ao elogio. Elogiar as

pessoas que se esforçam para dar o melhor de si, motiva os companheiros,

ameniza o ambiente e cria um “senso de direção” (IDEM– p. 50).

A mediação da equipe gestora deve ocorrer no sentido de reforçar em

cada indivíduo a importância de seu papel para a finalidade maior da escola, ou

seja, transformar a realidade, através da ética entre as pessoas. O importante é

que todos saibam o que desejam em comum e para onde vão. Sendo assim,

EDNIR (2006) complementa:

“(...) uma equipe escolar precisa saber para onde vai(...)

quando ela tem um sonho, uma aspiração, é bem mais

fácil superar os obstáculos do dia-a-dia. Escolas que não

têm um sonho, um ideal de excelência a atingir, acabam

estagnadas ou, definitivamente, afundam. E a equipe

gestor tem um papel essencial na definição do sonho

coletivo da escola ao possibilitar que todos os envolvidos

cheguem, de forma colaborativa, a uma visão e missão

comuns(...)” (p. 50).

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CONCLUSÃO.

O presente trabalho desenvolveu-se primeiramente por meio da

evolução histórica da educação, cujo funcionamento mantém-se até hoje

atrelado ao momento político. O tortuoso processo de democracia ao qual a

sociedade brasileira esteve sujeita reflete a lenta conquista deste direito no

interior da escola.

Através deste estudo, pretendeu-se considerar a relevância do papel do

gestor frente ao urgente processo de democratização das escolas brasileiras,

integrando os diversos segmentos da comunidade escolar, no sentido de

oferecer-lhes educação de qualidade e a construção de conhecimentos

significativos para a consolidação da função social da instituição.

A partir desta construção, foi possível reconhecer que o fortalecimento

da representatividade no ambiente escolar promove a partilha da

responsabilidade das deliberações com a coletividade, reorganiza tarefas,

agregando um novo sentido para o funcionamento da escola.

Através de consultas constantes à comunidade, de seu apoio e de sua

participação efetiva na instituição, a equipe gestora poderá impedir que se

instaurem propósitos alheios aos interesses da escola. Porém, estes propósitos

somente serão enfraquecidos por meio da atuação do gestor, cuja formação

lhe esclareça quais serão suas competências, habilidades, qualidades e

características.

Se o caminho para a conquista da qualidade em educação, far-se-á

através do esclarecimento das questões adversas às demandas da

comunidade escolar, simultaneamente, encontrar-se-ão subsídios para

fortalecer a instituição com a construção em conjunto com a comunidade de um

Projeto Político-Pedagógico, que condiga com os anseios da mesma e que

corresponda às suas necessidades. Sendo assim, o PPP torna-se instrumento

de trabalho para o gestor democrático, comprometido com a qualidade da

educação.

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BIBLIOGRAFIA

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EDNIR, Madza. Mestres da mudança: liderar escolas com a cabeça e o

coração: um guia para gestores escolares. PA: Artmed, 2006.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio: o dicionário da língua

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FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. RJ: Paz e Terra,

2003.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática.

GO: MF Livros, 2008.

LÜCK, Heloísa. A gestão participativa na escola. RJ: Vozes, 2008. Série:

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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de Ensino-

Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico. SP: Libertad Editora, 2005

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WEBGRAFIA

BELLO, José Luiz de Paiva. História da Educação no Brasil. Rio de

Janeiro, 1998. Disponível em: www.pedagogiaemfoco.pro.br. Acesso em 20

de abril de 2009.