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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A INCLUSÃO DE PORTADORES DE NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO AMBIENTE ESCOLAR Daniela Valverde Mota dos Santos Orientadora Carly Machado Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INCLUSÃO DE PORTADORES DE NECESSIDADES

EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO AMBIENTE ESCOLAR

Daniela Valverde Mota dos Santos

Orientadora

Carly Machado

Rio de Janeiro

2010

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INCLUSÃO DE PORTADORES DE NECESSIDADES

EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO AMBIENTE ESCOLAR

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Cândido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicopedagogia.

Por: . Daniela Valverde Mota dos Santos

3

AGRADECIMENTOS

A minha família e demais familiares

que sempre me incentivaram e

estiveram ao meu lado me ajudando no

que fosse possível para que este sonho

pudesse se tornar uma realidade.

4

DEDICATÓRIA

Ao meu Deus, que por amor e misericórdia me ajudou a chegar até aqui.

A minha família, amigos, enfim, todos que colaboraram para a realização deste trabalho.

5

RESUMO

Esta pesquisa objetivou coletar dados que nos leve a refletir sobre as

condições necessárias para que haja escolas verdadeiramente inclusivas,

apontando caminhos pedagógicos para a inclusão, tais como a necessidade

de adaptações curriculares e a capacitação de professores para trabalhar com

portadores de necessidades educacionais especiais. Para tanto, tornou-se

indispensável estudar sobre a legislação que garante a inclusão destes alunos

em turmas regulares, além das deficiências mais comuns de encontrarmos nas

escola e suas características. E especialmente, visando identificar na prática de

uma escola inclusiva, quais os benefícios e as dificuldades referentes à

implementação desta proposta educacional para a comunidade escolar.

Através das observações e dos dados obtidos por meio de entrevistas,

constatamos também a falta materiais pedagógicas, de professores

capacitados e de estrutura física adaptada para tornar a proposta de inclusão

eficaz.

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I

ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS E A LEGISLAÇÃO 9

CAPÍTULO II

CAMINHOS PARA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES

EDUCACIONAIS ESPECIAIS 20

CAPÍTULO III

A PRÁTICA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA 29

CONCLUSÃO 43

ANEXO 45

BIBLIOGRAFIA 46

WEBGRAFIA 49

ÍNDICE 51

7

INTRODUÇÃO

Atualmente fala-se muito na inclusão escolar de alunos com

necessidades educacionais especiais. Embora existam leis que já há algum

tempo asseguram os direitos, no âmbito educativo, de portadores de

deficiências, recentemente é que as instituições de ensino vêm tentando

cumpri-las mesmo estando despreparados para atender em suas instalações

os portadores de necessidades especiais. A realidade mostra que estas

crianças estão sendo inseridas no contexto escolar sem que saiba exatamente

o que e como fazer a inclusão destes alunos. Encontramos professores sem

preparo, currículo incompatível, ambientes físicos inadequados, entre outros

fatores.

A educação inclusiva é um processo complexo que envolve várias

ações e adaptações a fim de manter o aluno num processo educativo

construtivo (SILVA et al, 2004).

Desta forma, o tema de estudo aqui proposto pretende inicialmente

conhecer quem são os alunos portadores de necessidades especiais, bem

como as leis que amparam a inclusão escolar. Além de refletir e avaliar as reais

necessidades para tornar acessível à inclusão destes alunos no ambiente

escolar. Pois a aprendizagem e o desenvolvimento do indivíduo é que formam

uma verdadeira escola inclusiva e esta por sua vez, é que tenta se adaptar a

realidade de cada aluno proporcionando-lhe um ambiente acolhedor e

favorável a sua aprendizagem, onde o ensino seja para todos respeitando as

diferenças e aprendendo com elas.

8 Para que isso ocorra é necessário um empenho coletivo, professores,

alunos, pais, governo, entre outros. Pois haverá necessidade de adaptações

curriculares, físicas e materiais, mudanças na metodologia de ensino, nas

avaliações, nas ações do professor, na participação efetiva da família, além de

nos despirmos dos preconceitos voltando nosso olhar para todos os alunos e

agindo para que a escola seja boa para todos.

Logo, o desenvolvimento do estudo proposto será feito em três

capítulos:

O primeiro capítulo mostra algumas deficiências normalmente

encontradas nas escolas, bem como suas características. Além de um

apanhado das leis que regulamentam e amparam a inclusão escolar.

O segundo capítulo aponta alguns caminhos pedagógicos necessários

para a efetivação de escolas verdadeiramente inclusivas. Mais

especificamente, sobre as adaptações curriculares e o papel do professor.

Já no terceiro capítulo, cujo título é “A prática de uma escola inclusiva”,

tem por objetivo sair da teoria e analisar a realidade na prática de uma escola

inclusiva, através de entrevistas realizadas com professoras de uma escola

municipal do Rio de Janeiro que possui dois alunos com necessidades

educacionais especiais incluídos.

9

CAPÍTULO I

ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS E A

LEGISLAÇÃO

O fato de que todos os alunos portadores de necessidades especiais sejam

inseridos no sistema regular de ensino, tem seu amparo em leis e documentos

internacionais que se tornaram marcos importantes para a construção de

escolas inclusivas, nos leva a necessidade de conhecer a legislação que dá

suporte ao processo de inclusão, além das deficiências que são mais

encontradas no sistema educacional de ensino.

1.1- Os tipos de necessidades especiais e suas características

Em nosso país já é possível encontrar o acesso de alunos com

diferentes tipos de deficiências e sua participação e aprendizagem, confronta-

se com as formas tradicionais de organização do sistema de ensino.

Mas para que haja verdadeiras escolas inclusivas é preciso deslocar o

foco da “deficiência”, para eliminar as barreiras que se opõem nos processos

educacionais, a fim de garantir o desenvolvimento e aprendizagem de todos os

alunos. Para tanto, precisamos conhecer as deficiências dos alunos com os

quais iremos trabalhar, com suas respectivas características.

101.1.1- Deficiência física

Deficiência física é o nome dado à característica dos problemas que

ocorrem no cérebro ou no sistema locomotor, e levam a um mal funcionamento

ou paralisia dos membros inferiores e/ou superiores. (Fonte: http://

pt.wikipedia.org/wiki/Defici%C3%AAncia_f%C3%ADsica).

Onde a mobilidade de coordenação motora ou da fala é atingida devido

a diversos fatores como: más-formações genéticas ou adquiridas, lesões,

traumatismos cranianos ou medulares, além, das paralisias cerebrais que

podem ocorrer na hora do parto da criança ou após o nascimento, como a

meningite, parada cardiorrespiratória e outras. A poliomielite( paralisia infantil )

já foi uma das maiores doenças causadoras de deficiência física no Brasil,

sendo hoje em dia, erradicada através de campanhas de vacinação.

O deficiente físico foi definido pela Declaração dos Direitos das Pessoas

Deficientes (1975), como uma pessoa incapaz de garantir, por si mesma, as

necessidades exigidas para ter uma vida normal, em decorrência congênita ou

não, de suas capacidades físicas.

A pessoa com essa deficiência possui limitações físicas que lhe impede

de locomover-se, necessitando ou não do auxílio de cadeiras de rodas, muletas

ou outro tipo de equipamento que os auxiliem nos movimentos, além do

tratamento com profissionais especializados que os ajude a lidar com os limites

e as dificuldades que encontrará devido à deficiência. Porém, isso não deve ser

um empecilho para o deficiente levar uma vida normal, na medida do possível

e das adaptações feitas. Há casos onde além de afetar a parte motora, atinge

as funções cognitivas.

11

Geralmente, as maiores mudanças para facilitar o acesso e a locomoção

do deficiente físico nos espaços públicos, está na questão das estruturas

físicas. Em prédios mais antigos, por exemplo, não há rampas ou elevadores,

banheiros adaptados, pisos regulares, portas ou corredores mais largos e

outros.

Por tanto, o deficiente físico, conforme Wilson(1971) diz, não é

necessariamente um deficiente mental e pode aprender sem a necessidade de

grandes mudanças curriculares.

1.1.2- Deficiência intelectual

A deficiência intelectual ou mental(como é mais conhecida) é identificada

por problemas com origem no cérebro e que causam baixa produção de

conhecimento, dificuldade de aprendizagem e um baixo nível intelectual (Fonte:

http://www.indianapolis.com.br/si/site/1112).

Conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), defini-se

deficiência mental, como uma falha no funcionamento, sendo este abaixo da

média, caracterizado por uma implicação das funções cognitivas, de

linguagem, de comportamento e de motricidade. Podendo ser subdividido em

atraso mental leve, médio, grave e profundo.

Os portadores dessa deficiência, além de precisarem do cuidado de sua

família, necessitam de atendimento com vários profissionais especializados

12como: médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, entre

outros a fim de minimizar problemas decorrentes da doença. E quanto mais

cedo for diagnosticado a deficiência, mais precocemente pode ser feita às

intervenções necessárias e os resultados alcançados no tratamento poderão

levar o indivíduo, a ter uma vida social mais participativa.

A deficiência mental é quase sempre provocada por fatores genéticos,

ainda no útero, ao nascer ou após o nascimento. Sendo um desafio para

estudiosos no assunto, pois geralmente não apresentam características físicas

que possam diferenciá-las das demais, como no caso dos portadores de

Síndrome de Down que trazem características específicas.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

(DSM IV), a deficiência mental deve ocorrer antes dos 18 anos de idade e os

sintomas mais visíveis são os prejuízos no funcionamento adaptativo,

referindo-se ao comportamento esperado na sociedade pelo indivíduo em

determinada faixa etária. Devendo ser levado em consideração vários sinais,

para que se suspeite de deficiência mental.

1.1.3- Deficiência auditiva

Conforme consulta realizada ao site da wikipédia, a deficiência auditiva é

a perda parcial ou total da audição. Podendo ser congênita ou adquirida devido

a algumas doenças, ingestão de remédios, exposição a barulhos intensos e

acima do suportável aos nossos ouvidos, entre outros.

A audição é muito importante para o desenvolvimento do ser humano e

13altera significativamente nosso modo de vida, pois se aprendemos a falar é

porque um dia ouvimos outros falando conosco. Através da fala é que nos

comunicamos na sociedade. Assim, o indivíduo que não ouve terá maiores

dificuldades na aprendizagem e no desenvolvimento da linguagem oral.

Dependendo da gravidade da deficiência, a pessoa precisará usar outros

tipos de linguagem, como a linguagem de sinais. Pode ocorrer ainda um

comprometimento no sistema motor.

Portanto, assim como em outros tipos de deficiências, a deficiência

auditiva se detectada e tratada precocemente, serão maiores e melhores as

chances da criança receber os estímulos necessários para seu

desenvolvimento cognitivo. Logo, é preciso estar atento a situações do dia-a-

dia como: distração em excesso, freqüentes dores de ouvido, inflamações e

infecções, dificuldades para compreender o que os outros falam, tom da voz e

outros.

Hoje em dia , é recomendado pelos médico que se faça nos bebês

recém nascidos o teste da “orelhinha”, que dará um diagnóstico prévio sobre as

reis condições auditivas da criança.

1.1.4- Deficiência visual

A deficiência visual refere-se à incapacidade de ver, seja ela parcial,

total ou residual, trazendo ao indivíduo limitações no desenvolvimento de

determinadas atividades.

O grau de comprometimento visual irá variar, segundo CID 10, onde o

14indivíduo será enquadrado numa tabela, levando-se em consideração sua

acuidade visual. Encontramos aí os seguintes termos como distúrbios de visão:

visão subnormal, cegueira e perda da visão não qualificada.

A pessoa com visão subnormal ou baixa visão, conserva alguns

resíduos de visão que podem variar dependendo da iluminação do ambiente ou

de seu estado emocional. Já a cegueira, é a perda , tornando impossível o

indivíduo ver as coisas a sua volta.

A deficiência visual pode ser oriunda de causas congênitas ou adquiridas

devido a infecções, tumores, acidentes etc.

Para ampliar os conhecimentos da criança cega será necessário dispor

de recursos diversos como o uso do braile, cartazes ampliados, descrever e

explorar através dos demais sentidos o ambiente, os objetos, as pessoas,

estabelecendo relações de tamanhos, distâncias, etc. entre as situações

expostas.

O deficientes visuais têm os sentidos tátil, olfativo e paladar muito bem

desenvolvidos, pois os utilizam com freqüência para suprir a falta da visão e

assim , memorizarem as informações apreendidas.

Assim como o teste da “orelhinha” realizado em recém nascidos, já

existe também o teste do “olhinho” que fará uma avaliação da visão da criança

logo no início.

1.1.5- Deficiência múltipla

È caracterizada pela associação de duas ou mais deficiências de ordem

mental, visual, física e ou auditiva.

15 Em consulta ao site http://www.tele-centros.org/ telecentros/secao=102

&idioma=br&parametro=9546.html, vem nos confirmar o fato que já havíamos

considerado importante neste estudo que é ter voltado para as potencialidades

do indivíduo, assim como suas necessidades. Logo, a preocupação não deve

ser com o que ele não pode realizar e sim, estimulá-lo através dos sentidos

que não foram afetados.

Embora, indivíduos com deficiências múltiplas, tenham seu

desenvolvimento global afetados e estejam numa situação considerada grave,

se tais comprometimentos forem detectados ainda bem pequenos, poderão

aprender a utilizar recursos adaptados às suas necessidades.

Este grupo, apesar de não ser encontrados com freqüência nas escolas,

podem e devem ser educados em turmas comum, mediante as adaptações

curriculares necessárias e outras, com exceção de casos mais graves.

1.1.6- Condutas típicas

Conforme, DSM IV, o portador de conduta típica apresenta um

comportamento não apropriado à determinada idade, onde os direitos alheiros

geralmente são violados. Tais comportamentos podem ser agressivos

causando lesões físicas aos outros; não agressivos, onde há destruição de

patrimônios; roubos ou furtos; descumprimento a regras.

Par diagnosticar uma pessoa com conduta típica é necessário observar

a freqüência com que esses comportamentos ocorrem, num determinado

espaço de tempo. Precisamos estar atentos a comportamentos que não

condizem com os padrões pré-estabelecidos para termos um bom convívio na

sociedade.

16 O indivíduo pode começar a dar indícios comportamentos inadequados

antes mesmo dos 13 anos de idade, realizando fugas sem motivo aparente,

mentiras, colocar a culpa de seus atos noutras pessoas e outros.

As dificuldades na aprendizagem são comuns nos portadores de

condutas típicas, podendo estar associado ao TDAH e a outros transtornos

mentais.

È possível ainda, a conduta típica estar associado a fatores biológicos,

onde pais com condutas típicas ou outro transtorno pode gerar filhos com o

mesmo problema.

1.1.7- Altas habilidades

As altas habilidades ou os superdotados caracterizam-se pelo QI acima

da média, onde geralmente as habilidades do indivíduo está voltada para

determinada área de conhecimento.

Mas isso não deve ser considerado como algo muito bom, pois o

portador de altas habilidades pode ser muito bom numa área e péssimo em

outras. Além do fato que precisam estar sempre sendo motivados e desafiados

a realizar diferentes atividades para que seu interesse e atenção não se

percam.

Ser um superdotado ou lhe dar com um, não é tarefa fácil devido sua

vasta inteligência mesmo sendo esta em área específica, pois as coisas

acabam tornando-se cansativas rapidamente surgindo desinteresse pelas aulas

e pela escola. Daí o professor deve estar muito atento a alunos que concluem

algumas atividades de forma muito rápida, ou até mesmo aqueles que são

muito bagunceiros e ótimos em suas tarefas.

17

Embora não necessitem de modificações na estrutura física da escola, a

maior mudança a ser realizada são as adaptações pedagógicas e curriculares

que precisarão valorizar os conhecimentos/habilidades do superdotado e

construir novas habilidades.

Para Gardner (1995), a inteligência do portador de altas habilidades é

organizada em oito blocos: inteligência lógico-matemática, que é a capacidade

lógica em matemática e a capacidade científica; inteligência lingüística, um tipo

de inteligência apresentada pelos poetas; inteligência musical; inteligência

sinestésica, que é a capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos

utilizando o corpo inteiro ou partes; inteligência interpessoal, que é a

capacidade de compreender outras pessoas; inteligência intrapessoal, que é a

capacidade de compreender a si mesmo; inteligência espacial, que é a

capacidade de formar um modelo mental de um mundo espacial e ser capaz de

manobrar e operar utilizando este modelo; a inteligência naturalista diz respeito

à habilidade de ver padrões complexos no ambiente natural; inteligência

existencial que se refere a coisas espirituais e existenciais, como a vida, a

morte e as realidades supremas.

1.2- O que diz a legislação em seu histórico?

Ao consultar a Revista de Educação Especial: Inclusão (janeiro/junho,

2008) extraímos alguns marcos históricos do artigo “Política Nacional da

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva no Brasil”, como: a

criação do Imperial Instituto do Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto

Benjamim Constant e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, hoje Instituto

Nacional da Educação dos Surdos, dando início assim, ao atendimento às

pessoas portadoras de necessidades especiais.

18 Porém, é em 1961, que o atendimento educacional às pessoas

portadoras de deficiências passa a ser fundamentado na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei n° 4.024/61, fazendo menção aos

direito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema

geral de ensino.

“A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus objetivos

fundamentais “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça,

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3°, inciso IV).

Define no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno

desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o

trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de

acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e

garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional

especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208)”.

(Inclusão: Revista da Educação Especial, 2008, p.10)

Documentos como a Declaração Mundial de Educação para

Todos(1990), proclama no item 5 do Artigo 3 que: “As necessidades básicas

de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências requerem atenção

especial. É preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à

educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte

integrante do sistema educativo.”

E a declaração de Salamanca(1994) falando pela primeira vez em

necessidades educativas especiais, não apenas como referência para pessoas

portadoras de deficiências mas para todos os excluídos, conforme exposto no

item 3 da Introdução da Linha de Ação deste documento ao relatar que:

“O princípio desta Linha de Ação é de que as escolas devem acolher todas as crianças, independente de suas condições físicas, sociais, intelectuais, emocionais, lingüísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência ou crianças bem dotadas (...) No contexto desta Linha de Ação, a expressão

19“necessidades educativas especiais” refere-se a todas as crianças cujas necessidades decorrem de sua capacidade ou de suas dificuldades de aprendizagem e têm, portanto, necessidades educativas especiais em algum momento de sua escolarização. As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, todas as crianças inclusive as com deficiências graves(...) (Brasil, 1997a, p.17, grifos do autor)"

Passando a influenciar, assim, as políticas públicas da educação

inclusiva.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n° 9.394/96, no

artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos

currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às

necessidades; assegurar a terminalidade específica àqueles que não atingiram

o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas

deficiências; e assegura a aceleração de estudos aos superdotados para

conclusão do programa escolar. Também define a “possibilidade de avanços

nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V)

e “(...) oportunidades educacionais apropriadas às características do alunado,

seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames”

(art. 37).

“O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da

Rede Regular”, foi um documento publicado no ano de 2004, pelo Ministério

Público Federal, para reafirmar os direitos e os benefícios da escolarização de

alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular.

A publicação do Decreto n° 6.094/2007, em 2007, implementa o Plano de

Desenvolvimento da Educação – PDE, que fora lançado neste ano,

estabelecendo nas Diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a

garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às

necessidades educacionais especiais dos alunos, assim como seu ingresso

nas escolas públicas.

20

Diante de tanta iniciativas e leis que definem a inclusão escolar como um

processo prioritário, o próximo capítulo procura mostrar alguns caminhos a

serem percorridos e trabalhados para que a inclusão ocorra de fato.

CAPÍTILO II

CAMINHOS PARA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM

NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

A escola inclusiva tem uma dimensão que vai além da inserção dos

portadores de necessidades educacionais especiais, pois nosso sistema

regular de ensino tem se mostrado incapaz de lidar com o número cada vez

maior de alunos que devido a vários problemas como, dificuldades na

aprendizagem, problemas emocionais e/ou psicológicos, sociais, entre outros,

fracassam na escola. Assim, ao adotar uma proposta de Escola Inclusiva,

enfatizando práticas pedagógicas diversificadas e adaptadas às necessidades

educacionais de todos os alunos, a escola estará contribuindo para a igualdade

de oportunidades educacionais, sem a qual não poderemos construir uma

sociedade verdadeiramente democrática.

Uma verdadeira escola inclusiva tem como princípio da igualdade de

oportunidades para todos os alunos, sem exceção. Logo, um de seus maiores

desafios seja transformar uma escola tradicional numa escola inclusiva, que

venha acolher num mesmo ambiente todos os alunos, sejam portadores de

alguma deficiência ou não. Para isso, é necessário algumas reformulações no

sistema educacional, seja no contexto político, social, familiar e/ou pedagógico.

21Como nos diz Gotti:

Incluir não significa simplesmente colocar o estudante junto com outros ditos normais, mas reestruturar o sistema educacional para que as crianças especiais sejam atendidas nas suas especificidades e peculiaridades. (Gotti, 2002, p. 9)

Ao falarmos em reestruturação escolar, pensamos também na remoção

de barreiras que podem ser um grande empecilho quando de trata de receber

um aluno com dificuldades especiais em suas instalações. Barreiras estas

referentes ao acesso a locais privados ou públicos, especialmente. Os

recursos materiais, humanos, a qualificação profissional, e as adaptações no

currículo também são objetos preciosos na construção de escolas inclusivas.

Os recursos materiais auxiliam muito no desenvolvimento das atividades

a serem realizadas com essa diversidade de alunos que hoje em dia

encontramos nas unidades escolar. Recursos estes, que ajudarão o

professores em seu trabalho com os alunos portadores de necessidades

especiais ou não. O uso de computadores com as devidas adaptações e com

programas especiais, é um exemplo muito útil aos portadores de paralisia

cerebral, cegueira ou para aqueles que não possuem deficiências.

Há necessidade ainda, de desenvolver programas de qualificação

profissional para professores e outros profissionais para trabalharem com a

educação inclusiva. O professor precisa ser preparado para lidar com as

diferenças e a diversidade de todas as crianças. Conforme a Declaração de

Salamanca (1994), Artigo 40, falando que a preparação adequada de todos os

profissionais da Educação é um dos fatores chave para propiciar a mudança.

Mas, o exercício da escola inclusiva não depende unicamente do esforço do

professor e de uma atitude isolada da escola.

22A escola também precisa contar com outros apoios técnicos, como

fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicomotricistas, psicólogos, entre outros, para

atender a diversidade de competências e necessidades. Diferentemente dos

atendimentos feitos em consultórios, precisamos de psicólogos educacionais

que estejam em sala de aula contribuindo para resolver os problemas de

aprendizagem ou de comportamento; precisamos de fonoaudiólogos que

usem, como material de trabalho a comunicação na sala de aula e funcionem

em coordenação com o professor.

Finalmente, o currículo. Precisamos que o currículo escolar seja aberto e

flexível. Os professores devem trabalhar no sentido de buscar objetivos e

estratégias que melhor sirvam a cada grupo de alunos. Sem as “adaptações

curriculares” será quase impossível, sobretudo a inclusão de alunos com

deficiências cognitivas, sensoriais e/ou motoras graves.

A realização de adaptações curriculares pode ser um dos caminhos para

o atendimento às necessidades específicas de aprendizagem dos alunos. É

através desse tipo de procedimento que a Educação Inclusiva pode deixar de

ser apenas uma filosofia, ideologia ou política e se transforme em ações

concretas, conforme ressaltam Oliveira e Glat (2003).

Trataremos neste capítulo, sobre algumas estratégias necessárias para a

implementação da inclusão no ambiente escolar de alunos portadores de

necessidades educacionais especiais, mais especificamente, no contexto

pedagógico.

23

1.1- Adaptações curriculares

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), o currículo deve

ser formulado levando-se em conta o meio em que será inserido. Pois, ele

servirá de orientação aos professores e estará diretamente ligado ao

ensino/aprendizagem dos alunos.

O currículo e o projeto político pedagógica da escola devem estar

ligados e devem ser abertos às mudanças necessárias e a quem desejar

conhecê-los.

Na construção do currículo deve conter aspectos teóricos, estratégias

operacionais e processos avaliativos, servindo como guia para o professor

saber o que deve ser ensinado, como ensinar, para quem ensinar . Fazendo os

ajustes precisos para atingir às necessidades de cada aluno.

Para Stainback & Stainback (1999), “ o currículo apresentado a todos os

alunos deve desafiá-los a aprimorar ao máximo suas habilidades e superar as

realizações anteriores, com os apoios e as adaptações necessários” (Stainback

& Stainback, 1999, p. 250).

As adaptações para tornar o currículo acessível, referem-se às ações a

serem colocadas em prática pela escola objetivando garantir a freqüência e o

desenvolvimento educacional dos alunos portadores de necessidades

educacionais especiais. Ações estas, que dizem respeito a recursos materiais,

humanos e pedagógicos, além da construção de rampas, alargamento de

portas e corredores entre outros. Objetivando sempre atender às necessidades

específicas de cada aluno.

24

Em se tratando de adaptações pedagógicas, nos referimos às mudanças

feitas nos objetivos propostos, nos conteúdos, nas estratégias de ensino e nas

avaliações do processo.

Para Rodrigues (2001), currículo:

(...) é todo o conjunto de experiências planejadas proporcionadas a um indivíduo ou grupo, tanto em atividades acadêmicas como em outros contextos habilitativos, com vista a melhorar a sua inclusão social e a sua qualidade de vida. (Rodrigues, 2001,p.29).

Rodrigues (2001) diz ainda, que ao elaborarmos um currículo pensando

na inclusão de portadores de necessidades educacionais especiais precisamos

pensar em aspectos funcionais e diferenciais que levarão a um modelo de

currículo específico a cada realidade. Além, de definir o currículo situacional

como o recomendado para se trabalhar no contexto inclusivo, pois este,

considera as diferenças de cada aluno e o estágio em que se encontram, a fim

de torná-los menos dependentes em suas atividades diárias.

Logo, o currículo funcional tem o objetivo de preparar o aluno deficiente,

para uma vida mais autônoma, mais dinâmica, com melhor qualidade de vida.

Para que aprendam a realizar suas atividades pessoais e sociais diárias com

mais independência. (CLARK, 1994, apud CORREIA, 1999)

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), as adaptações

curriculares devem ser realizadas em relação ao projeto pedagógico

focalizando, principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio,

propiciando condições estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula

e no nível individual; ao currículo da classe, que se referem à programação

25das atividades elaboradas para sala de aula; e em relação ao currículo

individualizado, focalizando a atuação do professor na avaliação e no

atendimento a cada aluno.

Portanto, as adaptações curriculares são desenvolvidas para determinar

aquilo que o aluno precisa aprender, como aprender e quando aprender, além,

das estratégias que serão utilizadas para atingir tais objetivos e ainda, como e

quando serão avaliados.

1.2- A ação do professor

A inclusão escolar é com certeza o caminho para formar uma sociedade

mais justa e mais humana. Caminho este, que requer mudanças e reflexões

sobre o processo ensino/aprendizagem no sistema educacional.

O professor, por sua vez, é que será o mediador de todo esse processo,

sendo a pessoa responsável para fazer cumprir o currículo e fazer com que a

inclusão aconteça. Mas, como trabalhar em meio a tantas diferenças e

dificuldades sem capacitação?

Logo, o professor é desafiado todos os dias a buscar recursos e

informações para desenvolver seu trabalho junto aos alunos com e sem

necessidades especiais. Antes de ensinar, ele precisa aprender a ensinar pois,

não recebeu capacitação ou formação especializada para tal.

Porém, aprender nunca é demais e aprender quer dizer adquirir

conhecimentos, construir saberes que jamais serão esquecidos. Estamos

aprendendo a cada dia, desde o primeiro segundo de nossas vidas. Para

26alguns o processo é rápido, mas para outros é mais demorado. Todos os dias

nos deparamos com situações com as quais precisamos aprender a lhe dar.

O processo de inclusão nos leva a pensar nisso, que precisamos nos

preparar pois, não estamos prontos para enfrentá-los. Mas, que podemos

aprender, seja através da busca de informações, de capacitação ou de nossas

experiências.

O professor precisa ter a humildade para assumir que ainda precisa

aprender, para conseguir trabalhar com pessoas tão diferentes umas das

outras, que vivem realidades diferentes, foram criados de maneiras diferentes e

pensam diferente. Mas, que irão conviver e aprender num mesmo espaço

físico.

A prática de sala de aula, a experiência construída a cada dia e a

vontade de fazer dar certo é que farão a diferença na inclusão de portadores de

necessidades educacionais especiais.

Para Tarde (2002) os professores valorizam muito a experiência em sala

de aula, e consideram que os saberes experiências são o fundamento de seu

saber ensinar. Por isso:

(...) a experiência provoca, assim, um efeito de retomada crítica (retroalimentação) dos saberes adquiridos antes ou fora da prática profissional. Ela filtra e seleciona os outros saberes, permitindo assim aos professores reverem seus saberes, julgá-los e avaliá-los e, portanto, objetivar um saber formado de todos os saberes retraduzidos e submetidos ao processo de validação constituído pela prática cotidiana (TARDIF, 2002, p. 53).

Nossos conhecimentos são constituídos, principalmente, pela nossa

história de vida, por nossas ações e experiências profissionais adquirida

através da prática diária.

27

Montam (2005), em entrevista a uma revista quando fora perguntada se o

professor sem capacitação poderia ensinar alunos com deficiência, diz que o

papel do professor é ser regente de classe e trabalhar o conteúdo, logo,

poderia perfeitamente lecionar para alunos deficientes. O professor não é um

especialista, esta função cabe a equipe de atendimento especializado e se

houver parceria entre estes profissionais será muito produtivo. (Artigo “Fala

Mestre!” , Revista Nova Escola, 2005, p. 26)

Em consulta ao artigo denominado “Inclusão Escolar” (Rosana Glat, Kátia

Machado, Patrícia Braun) extraído do site www.eduinclusivapesq-

uerj.pro.br/livros.../anais_pestalozzi.pdf , abordou-se que:

“O docente de apoio é aquele que possui formação especializada, nomeadamente no domínio da educação especial, devendo prestar apoio educativo à escola no seu conjunto, ao professor, ao aluno e à família, na identificação de necessidades educativas especiais e no planeamento e implementação dos apoios educativos adequados, na organização e gestão dos recursos e medidas diferenciadas a introduzir no processo de ensino-aprendizagem, na diversificação de estratégias pedagógicas e na flexibilização curricular”. (Glat, Machado, Braun, 2004, p.11)

Portugal, por exemplo, aposta na promoção das atividades de apoio

educativo colocados na escola inclusiva, em regime de destacamento,

docentes com formação especializada, pois pretende-se centrar nas escolas as

intervenções diversificadas necessárias para o sucesso educativo. Onde “a

equipe de coordenação dos apoios educativos, em colaboração com o órgão

de gestão da escola, propõe a colocação de professores de apoio educativo

devendo atuar em articulação com as autarquias e com a comunidade

envolvente, na perspectiva de descentralização do sistema educativo e de

28participação de toda a comunidade no processo educativo e implementar a

formação contínua de docentes, nos domínios do desenvolvimento curricular,

da diferenciação pedagógica, das respostas a crianças e jovens com

necessidades educativas especiais, da gestão de pequenos grupos

(homogêneos e heterogêneos) e da preparação de reuniões com pais” (artigo

“Práticas e Saberes para a construção de uma escola inclusiva”, retirado do

site www.pedagobrasil.com.br/educacaoespecial/praticaseducativas.htm). Porém, é o

professor do ensino regular que dá o apoio aos alunos.

São várias as propostas de trabalho, o que precisamos é buscar aquela

em mais nos adaptamos e que melhor será colocada em prática por todos.

Mas, não cabe apenas ao professor esta escolha.

Para Stainback & Stainback (1999),é importante que o professor, em sua

ação na sala de aula, analise questões do tipo: de que maneira todos os alunos

poderão participar da aula proposta; se há necessidade de apoio, adaptações e

como fazê-las para sua plena participação; que expectativas devem ser

esperadas e/ou modificadas para a efetivação da atividade (como os alunos

demonstram o que sabem, a quantidade e qualidade das atividades propostas)

e quais são os objetivos prioritários para a aprendizagem.

Nesse contexto, a inclusão de alunos com necessidades educativas

especiais ou não, enfatizamos que o papel do professor e o papel por ele

desenvolvido, serão fatores que determinarão a construção de escolas

verdadeiramente inclusivas.

29

CAPÍTULO III

A PRÁTICA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA

O foco desse capítulo é o processo de inclusão de alunos portadores

de necessidades educacionais especiais em classe regular, tomando como

exemplo experiências vividas por duas professoras e uma coordenadora

pedagógica de uma escola da rede pública do município do Rio de Janeiro.

Partimos do princípio que a Educação Inclusiva tem como objetivo

propiciar a ampliação do acesso de alunos portadores de necessidades

educativas especiais às classes regulares.

Para tal, tomou-se como base as seguintes questões: Como professores

e pedagogos entendem a inclusão educacional desses alunos? Quais as

adaptações realizadas no projeto político pedagógico e no currículo das turmas

para a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais em classes

regulares? E como se dá a interação entre alunos “normais” e alunos

“especiais”?

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com as professoras e a

coordenadora pedagógica da escola onde foi realizada a pesquisa. Vale

ressaltar que os nomes citados no estudo são fictícios, tanto de pessoas, como

da própria escola escolhida, a fim de resguardá-los. Essa prática segue as

normas preconizadas em pesquisas que envolvem sujeitos humanos (Glat e

Duque, 2003).

A Escola Maria Clara Machado abrangia da Educação Infantil ao Período

Final do 1° Ciclo de Formação (equivalente à Classe de alfabetização, 1ª e 2ª

30séries do ensino fundamental). No ano de 2009, haviam aproximadamente 700

alunos distribuídos em dois turnos (manhã e tarde). Desse total, dois eram

portadores de necessidades educativas especiais: uma menina com paralisia

cerebral (“cadeirante”) e um menino com síndrome de down. Os dois estavam

incluídos em classes regulares, mas em turmas e turnos diferentes.

A escola não possuía classe especial, nem sala de recursos. Os alunos

portadores de necessidades educativas especiais contavam com o apoio de

uma professora itinerante especializada, que dava apoio educacional dentro

da própria sala de aula, durante o horário escolar, tentando suprir as

necessidades dos alunos especiais em questão, observar seu desenvolvimento

em sala de aula e orientar o professor em suas práticas diárias. As turmas

onde estes alunos estudavam não foram contempladas com o auxílio de

professores de educação física, pois haviam somente dois profissionais sendo

um em cada turno e a prioridade era atender as turmas de período final do

ciclo.

As entrevistas foram realizadas com as professoras dos dois alunos

incluídos. Ambos estavam no período inicial do 1° ciclo com um total de 25

alunos em cada turma, apenas uma professora para atender a todos e

recebiam esporadicamente o atendimento da professora itinerante.

Cinco pessoas fazem parte deste estudo: a aluna com paralisia cerebral,

que chamaremos de Julia; a professora regente da turma de Julia,

chamaremos de Ana; a coordenadora pedagógica, Vera; o aluno com síndrome

de down, Paulo e sua professora Célia. Nesse contexto, daremos destaque aos

alunos e suas respectivas professoras.

Julia, portadora de paralisia cerebral, não conseguia falar, dependia de

ajuda para locomover-se, alimentar-se, segurar objetos, bebia pouco líquido e

tinha que ser de canudinho, mas compreendia tudo muito bem. Era alegre,

31relacionava-se bem com seus colegas de turma e todos da escola, apesar de

ser seu primeiro ano na escola (estava na faixa etária correta de escolaridade,

6 anos de idade).

Ana, a professora regente da turma de Julia, tinha 51 anos de idade e 30

anos de profissão como professora do Ensino Fundamental, sendo aposentada

em uma matrícula por tempo de serviço, e trabalhava há 17 anos nesta escola.

Fez o antigo curso normal e havia concluído a faculdade de pedagogia há 26

anos. Nunca tinha lecionado para alunos portadores de necessidades

educacionais especiais, mas teve um filho com hidrocefalia que viveu por

alguns anos.

Vera, a coordenadora pedagógica, tinha 45 anos de idade, formou-se

em pedagogia há 20 anos . Há 10 anos trabalhava como pedagoga na escola

Maria Clara Machado e durante 12 anos como professora regente.

Paulo, portador de síndrome de down, era mais independente,

alimentava-se sozinho, ia ao banheiro, mas também quase não falava, só

emitia sons grossos. Também tinha bons relacionamentos na escola.

A professora de Paulo, Célia, tinha 35 anos de idade, 16 anos de

profissão e há 7 anos trabalhava nesta escola. Fez o antigo curso normal,

algumas capacitações para trabalhar com alunos portadores de necessidades

especiais, além de já ter experiências de trabalho com alunos especiais.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas,

observação e análise de documentos. A entrevista semi-estruturada caracteriza-

se por perguntas que são formuladas previamente, seguindo um roteiro de

questões a partir dos objetivos do estudo, podendo o pesquisador fazer perguntas

adicionais.

32Foram realizadas três entrevistas durante o período de pesquisa de

campo, conforme roteiro que está disponível em anexo: um com a professora

regente da turma de Julia, outra com a professora regente da turma de Paulo e

a terceira com a coordenadora pedagógica da escola.

As entrevistas foram realizadas na própria escola e todas foram

gravadas com a permissão dos sujeitos, e posteriormente transcritas na

íntegra.

Partimos agora para a prática, buscando analisar o que as professoras e

a coordenadora pedagógica da escola entendem por Educação Inclusiva, quais

as dificuldades por elas encontradas diante do desafio de incluir em classe

regular alunos com necessidades especiais, quais as adaptações foram feitas

para o atendimento a esses alunos e como se deu a relação da(o) aluna(o)

com as professoras e com o restante da turma.

Fica evidente quando são analisados os dados, que nem sempre a

teoria, por mais coerente que seja, consegue ser aplicada. São várias as

dificuldades observadas quando nos deparamos com a realidade escolar.

Ressaltam Oliveira e Glat (2003):

A implementação da Educação Inclusiva não é tarefa fácil, pois o professor terá que garantir o aprendizado de alunos com necessidades educacionais diversas dos demais, no contexto de suas atividades rotineiras e do planejamento para a turma como um todo. E de fato, uma das principais dificuldades apontadas pelos próprios professores é seu despreparo para receber em suas salas de aula, geralmente repletas de alunos com problemas de disciplina e aprendizagem, esses alunos com dificuldades e ritmos de aprendizagem ainda mais diversos que os demais. (Oliveira e Glat, 2003, p. 3)

33 Apesar das dificuldades para lidar com crianças portadoras de

necessidades especiais, como a falta de recursos didáticos, humanos,

pedagógicos e financeiros e de capacitação profissional, as professoras

mostraram-se adeptas à proposta de Educação Inclusiva. Muitos dos

preconceitos ainda vigentes, como por exemplo, de que alunos com

deficiências só deveriam ser educados em classes especiais, não foram

evidenciados nesse trabalho. Os depoimentos das professoras das turmas,

ilustram a observação feita:

Eu acho possível e importante a inclusão, desde que sejam oferecidas condições para que isso ocorra. Não é simplesmente matricular um aluno e fazer uma observação na ficha de matrícula dizendo que é portador de alguma deficiência. Precisamos de materiais para trabalhar com eles, de pessoas que nos auxiliem na locomoção do aluno cadeirante e no atendimento às suas necessidades. Não estudei outras metodologias para trabalhar com a inclusão, faço meu trabalho com a ajuda de pessoas que têm experiências com alunos especiais e pela intuição como mãe de um deficiente, em meio a acertos e erros. (Professora Ana)

Acredito que a inclusão é o caminho para mostrar que todos nós temos direitos iguais e ensinarmos aos outros alunos a conviver com e aceitar as diferenças sejam elas quais forem. Acredito que nos tornamos mais humanos em contato com pessoas portadoras de necessidades especiais. Mas é claro que precisamos de recursos para recebê-los, pois incluir não é só colocar em salas regulares alunos com deficiência. (Professora Célia)

Conforme Montoan (1997), incluir exige de todos nós, educadores,

novos posicionamentos, modernizando a escola e fazendo com que os

professores transformem suas práticas, para que de fato todos os alunos

aprendam. Trata-se de reconhecer as dificuldades que os alunos deficientes ou

34não apresentam, não são apenas deles, mas resultam em grande parte do

modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada.

Montoan comprovou experimentalmente, que a solicitação do meio

escolar resulta em benefícios para o desenvolvimento das estruturas lógicas

concretas nas pessoas com deficiência intelectual, em sua dissertação de

mestrado em 1987 e em seu doutorado, em 1991.

Para as professoras da escola, as necessidades especiais primordiais

de Julia e Paulo eram assim definidas: Julia, aluna portadora de paralisia

cerebral, que se locomove em cadeira de roda, apresenta dificuldades motoras

para escrever, pegar objetos e alimentar-se. Paulo, portador de síndrome de

down, não tinha tais dificuldades motoras, mas não gostava de realizar

atividades escritas especialmente com o uso de lápis, pois os traços ficavam

muito leves e quase não podia percebê-los, preferia usar a canetinha. Mas

gostava mesmo de organizar objetos por cores tamanhos etc.

Ao questionar a professora Ana sobre quais as

necessidades/dificuldades da aluna Julia, a professora respondeu:

Fiquei assustada quando recebi uma aluna que dependeria de mim para tudo, além de ter outros 24 alunos. No começo do ano letivo precisei da ajuda da mãe de Julia para levá-la ao banheiro e me ensinar sobre como seria alimentada, por exemplo. Mas aos poucos fui me adaptando e conseguindo conciliar as coisas. Em relação as atividades desenvolvidas, fazia atividades mais voltadas para a coordenação motora com a aluna e com aqueles que julgava preciso. As atividades eram diferenciadas de acordo com as necessidades percebidas, já que a aluna não apresentava coordenação motora, não falava, não reconhecia seu nome, as cores e o alfabeto. ( Professora Ana)

35Já a professora de Paulo, disse:

Pra mim foi mais fácil lhe dar com Paulo, por já ter algumas experiências com alunos especiais e ter feito alguns cursos que me ajudaram muito nesse processo de inclusão. As dificuldades que tive com o aluno foi o fato de no começo do ano ter que ficar com a porta da sala trancada, pois ele fugia e depois eu tinha que largar os outros alunos sozinhos para procurá-lo ou então pedir alguém pra fazer isso por mim. Além de desenvolver atividades rápidas, de acordo seus gostos, pois Paulo não tinha muita concentração. ( Professora Célia)

É interessante observar que quando lançamos o olhar para a turma

como um todo, percebemos imediatamente outros alunos que também

apresentavam necessidades educativas especiais, embora não sejam

constatados. Na turma de Julia, por exemplo, a professora constatou que

haviam outros alunos, além de Júlia, que também precisavam de atividades de

coordenação motora, de reconhecer o nome etc.

Percebemos que as necessidades educativas especiais, nessa escola,

não são aquelas apenas inerentes às deficiências visíveis, mas a todos os

alunos que apresentam alguma dificuldade de aprendizagem e/ou que tenha

características singulares.

Analisando pelo aspecto de acesso ao currículo, através das

adaptações na estrutura física das escolas, receber alunos com necessidades

educativas especiais, como Paulo e Julia na escola, não foi tarefa simples.

Para a coordenadora Vera, essas adaptações constituem uma das grandes

dificuldades para a Rede Pública de Ensino do Rio de Janeiro. Resumiu ela as

condições da escola na ocasião:

36Nosso prédio é antigo, têm um anexo só com

escada, vários degraus e não tem as adaptações necessárias para receber adequadamente portadores de necessidades especiais, isso é realmente uma das questões que dificulta o livre acesso do aluno deficiente. Não temos um banheiro adaptado, não temos rampas de acesso. No caso da Julia, que é cadeirante, isso é uma dificuldade. Precisamos colocar a turma dela no prédio principal, que é térreo e próximo ao banheiro, bebedouros e secretaria. Hoje, se você perceber, os novos prédios construídos já têm uma estrutura funcional para os portadores de deficiência, facilitando muito seu livre acesso às dependências da escola. (Coordenadora Vera)

No que diz respeito às adaptações pedagógicas, foram considerados na

análise feita na escola as adaptações realizadas no projeto político pedagógico

da escola, no currículo da turma e no atendimento individualizado ao aluno.

Quanto às adaptações na escola, incluindo as mudanças feitas na

organização escolar e os serviços de apoio, pouco tínhamos a falar. Na Escola

Maria Clara Machado, os serviços de apoio resumiam-se, na época da

pesquisa, na prática, aos cursos não-obrigatórios oferecidos pela Secretaria

Municipal de Educação e a conversas informais entre professores. Além disso,

a escola tinha um projeto político-pedagógico elaborado, porém, não fora

devidamente planejado e produzido voltando o olhar para a inclusão do aluno

PNEE no espaço escolar. A fala da coordenadora pedagógica ilustra a

observação feita:

Nós ainda temos um pouco de dificuldade para pensar nas adaptações necessárias para um aluno com deficiência. Não recebemos da SME cursos específicos, para trabalhar com alunos especiais, pois nunca tivemos classes especiais. Os poucos cursos que surgem tem vagas limitadas e não são divulgados a todos, quando ficamos sabendo já foi preenchido o n° de vagas. Nossa ajuda ao professor e aos alunos é aberta para o que for preciso fazer, dentro das nossas possibilidades. (Coordenadora Vera)

37

As adaptações referentes ao currículo das turmas estão diretamente

associadas às adaptações individuais. As professoras das turmas tinham

objetivos gerais para a turma como um todo, e objetivos específicos

direcionados para as características de cada um de seus alunos. Estabeleceu,

como diria Rodrigues (2001), um modelo de currículo “situacional”,

considerando a situação ou estágio de cada um de seus alunos e,

conseqüentemente, de suas diferenças.

Tendo como base o projeto político-pedagógico, orientado pelos

Parâmetros Curriculares Nacionais, Ana e Célia tinham como objetivo geral

para a turma do período inicial do 1° ciclo a aquisição de conhecimentos iniciais

de leitura, escrita e cálculo de adição e subtração. Assim, consideravam que,

ao final do ano letivo, os alunos deveriam estar fazendo uso da linguagem oral

de forma adequada às diferentes situações de comunicação; lendo e

interpretando diferentes tipos de textos com uso de fonemas simples;

produzindo textos orais e pequenos textos escritos; compreendendo e

operacionalizando conceitos matemáticos básicos; percebendo nas situações

cotidianas a presença das noções de medida, tempo, espaço e quantidade.

Considerando, as necessidades educativas individuais de Julia e Paulo,

como também do grupo de alunos ainda não alfabetizados, Ana e Célia

estabeleceram objetivos mais específicos:

Minha intenção com esses alunos é torná-los mais independentes, para que eles possam copiar do quadro as atividades que os outros já fazem. No caso de Julia, acredito que ela desenvolveria bem a habilidade da escrita e da leitura através do uso do computador, pois muitas das limitações dela dizem respeito à sua falta de coordenação motora. Porém, temos um pequeno laboratório de informática com apenas cinco computadores, e não é possível levar a turma inteira até lá. O ideal seria termos em sala de aula um computador, mas isso também não é possível. (Professora Ana)

38

A falta de recursos materiais também é, muitas vezes um dos fatores que nos impede de desenvolver um trabalho melhor os alunos que dependem de um atendimento mais individualizado. Recebemos poucos materiais da SME e, na medida do possível, a direção da escola faz uso da verba que pode ser destinada à aquisição de materiais de apoio pedagógico que estamos precisando. Precisamos ir nos adaptando às nossas realidades. (Professora Célia)

Uma das maneiras encontradas pelas professoras para desenvolver as

atividades pedagógicas foi organizar a turma em grupos de quatro a cinco

alunos, sentados uns de frente para o outro. Um dos grupos era formado pelos

os alunos ainda não alfabetizados e pelos alunos “especiais” Julia e Paulo em

suas respectivas salas de aula.

Para as professora das turmas, a adaptação realizada foi a maneira

encontrada para que ela pudesse dar atenção individualizada ao grupo com

necessidades especiais, facilitando assim, sua prática e movimentação em

uma turma tão diversificada. As professoras procuravam trabalhar em equipe,

trocando experiências entre si para melhor desenvolvimento de seus alunos, já

que suas realidades eram parecidas. Isso era possível também pois ambas

trabalhavam com dupla regência num dos turnos. A professora Célia lembra

que uma das primeiras adaptações sugeridas a professora Ana, foi prender o

lápis de cera ou a canetinha à mão da aluna Julia com o auxílio de uma

“xuxinha" de cabelo, conforme havia aprendido num curso.

O uso de materiais como alfabeto móvel, massinha, rasgar e amassar

papéis, selecionar objetos por forma, tamanho ou cor, jogos educativos, usar

tinta guache para fazer pinturas, eram constantemente usados pelas

professoras em suas práticas de aula.

39Enquanto um grupo que já desenvolviam suas atividades de forma mais

independente faziam as atividades propostas, as professoras davam o

atendimento mais individualizado aos alunos com dificuldades na

aprendizagem e aos alunos “especiais” incluídos. Os alunos mais adiantados

da turma, serviam também como monitores daqueles que tinham mais

dificuldades, logo terminavam suas tarefas.

Quanto as avaliações, as professoras disseram que avaliam diariamente

toda e qualquer atividade desenvolvida com os alunos, observando a maneira

com que foram realizadas, se fizeram de forma mais independente ou se

precisaram de apoio. A avaliação não será igual para todas, pois cada grupo

desenvolve as atividades propostas de acordo com suas necessidades. Com

exceção daquelas avaliações enviadas pela SME.

Mesmo diante das dificuldades encontradas pelas professoras aqui

entrevistas, sabemos que não é a realidade somente nesta escola. Mas um dos

aspectos que mais nos chamou atenção é de que todas as professoras

envolvidas nessa pesquisa afirmaram que o modelo proposto veio trazer muitas

vantagens. Favoreceu as inter-relações entre todos os alunos, o respeito às

diferenças e criou neles o sentimento de cuidado e solidariedade. Veio

igualmente favorecer, em particular, aos alunos portadores de necessidades

educativas especiais, fazendo-os sentirem-se queridos e parte do contexto

escolar.

Confirmando assim, os estudos realizados por Montoan (1987, 1991)

sobre a atividade cognitiva de alunos com deficiência, apontando a inclusão

escolar dessas pessoas no ensino regular, como uma condição que poderá

contribuir significativamente para estimulá-las a se comportarem ativamente

diante dos desafios do meio, abandonando, na medida do possível, os

estereótipos, os condicionamentos, a dependência que lhe são típicas.

40A inclusão é ainda objeto de preconceito ou desconhecimento por parte

de muitos profissionais envolvidos com a educação em geral, mas a aceitação

das educadoras da escola Maria Clara Machado em relação a inclusão de

alunos com necessidades educativas especiais, como a de Paulo e Julia, fica

evidente na fala das três professoras envolvidas na pesquisa:

Julia é muito querida pelas crianças que estão sempre prontas a ajudá-la tanto para fazer os trabalhos quanto para brincar com ela. Eles estão sempre atentos a ela e todos se propõem a empurrar a cadeira de Julia. Às vezes até sai briga por conta disso. (Professora Ana)

O mesmo acontece com Paulo, os alunos da turma tem o maior cuidado com ele, dividem seus lanches, sentem falta quando ele não vem à escola. Além de ajudá-lo nas atividades propostas em sala de aula. Até a festinha de aniversário dele a mãe preferiu fazer aqui para estar mais perto de seus amigos e todos poderem participar. (Professora Célia)

Eu percebo que Paulo e Julia gostam muito da escola. (...) se sentem felizes aqui, não querem faltar. A inclusão aqui ainda não é perfeita. Temos ainda muito a aprender e vários desafios a enfrentar. Mas o primeiro passo já foi dado, nossos alunos portadores de necessidades educativas especiais se sentem elemento efetivo de um grupo. (Coordenadora pedagógica Vera).

Os relatos acima são significativos e foram confirmados após as

observações coletadas durante o tempo desse trabalho de pesquisa.

Nesse sentido, a presente pesquisa confirma as afirmações feitas por

autores como Stainback & Stainback (1999):

A educação afasta as crianças e os adultos das rotinas confortáveis levando-os em direção aos desafios e aos prazeres de extrair as lições da experiência humana no enfrentamento da

41realidade da vida. A educação acontece no contato com os outros, e as potencialidades e as falibilidades das pessoas moldam a extensão e a textura do crescimento de cada um de nós.(...) Para isso, é necessário coragem para renegociar limites, relacionamentos e estruturas familiares, compromisso de buscar o caminho enfrentando as dificuldades que surgem e força para renovar o sentido de comunidade, quando se estiver sendo ameaçado. (Stainback & Stainback, 1999, p. 64-65)

Ficou evidente nesse trabalho que apesar de todas as dificuldades,

como a falta de recursos financeiros e didáticos, apoio político e despreparo

profissional, as professoras mostraram-se favoráveis à inclusão, vendo nesse

modelo uma forma de enriquecer seus trabalhos e as relações entre os alunos.

O esforço e a vontade das professoras, que buscaram ora se capacitar,

ora recorrer a técnicas especiais como o uso do alfabeto móvel, veio auxiliar o

desenvolvimento da maioria dos alunos que apresentaram necessidades

educativas especiais.

Além do esforço dos próprios alunos incluídos, Paulo e Julia, que ao final

do ano já reconheciam seus nomes, as letras iniciais, algumas cores e

numerais. Julia já conseguia segurar o lápis e outros objetos e alimentar-se

com mais independência. Além de Paulo ter aprendido a falar várias palavras

novas e mudado o timbre de voz que era grosso no início do ano.

Não ver desvantagem na inclusão pode ser, por um lado bom, pois

mostra a ausência de resistência ou preconceito em relação à inclusão. Por

outro lado, no entanto, pode nos acomodar em determinadas situações e assim

não refletirmos acerca de erros e acertos do processo inclusivo. Mas

acreditamos, pela observação feita, que as educadoras estão o tempo todo

procurando incluir Julia e Paulo às suas respectivas turmas e ao contexto

escolar como um todo. Procuram se informar a respeito de meios e formas de

fazer a inclusão com maior qualidade. E, o primeiro passo para a inclusão, seja

42talvez uma visão positiva de educadores e profissionais envolvidos no processo

educacional.

Apoiados no pensamento de grandes estudiosos e pensadores neste

estudo citados, a educação inclusiva na escola Maria Clara Machado está

sendo feita consciente de que quando não somos desafiados nunca

aprendemos nada e principalmente não mudamos nossas ações e atitudes

dentro e fora da escola.

43

CONCLUSÃO

A intenção de estudo foi investigar e avaliar os meios necessários para

que seja feita a inclusão de portadores de necessidades especiais no ambiente

escolar.

Processo este, que requer uma série de atitudes e mudanças, pois não

basta apenas inserir em salas de aulas regulares um aluno portador de

necessidades educacionais especiais. Assim escrito pelo MEC, “Inclusão não

significa apenas matricular os educandos com necessidades especiais em

classes comuns, ignorando suas necessidades específicas, mas significa dar

ao professor e a escola o suporte necessário à sua ação pedagógica.”

(MEC/SEESP,2001)

Observamos as leis que dão suporte e amparo ao processo inclusivo,

algumas adaptações e ações sugeridas. Porém, muitas dessas idéias ou

desses ideais propostos ainda estão no papel ou num processo inicial, seguido

de desinformação, preconceitos e dificuldades.

Apesar de hoje em dia, os cursos para formação de professores já terem

o tema “Inclusão” em seus currículos, profissionais formados há mais tempo

estão sem capacitação para trabalhar com a diversidade de alunos num

mesmo espaço, sem muitos recursos e com grande quantitativo de alunos.

Mesmo diante dos fatos constatados após a pesquisa de campo

realizada, portadores de necessidades especiais estão sendo inseridos ou

integrados, talvez seja esta a palavra mais adequada, em cumprimento às leis.

A realidade é algo bem diferente do que foi dito na declaração de Salamanca

(1994), propondo que “as crianças e jovens com necessidades educativas

44especiais devem ter acesso às escolas regulares que a elas deve se

adequar...” (UNESCO, 1994, p. 8).

Mas se estes alunos tiverem a sorte de encontrar professoras como Ana e

Célia, que mesmo sem recursos ou capacitação adequada, buscam através de

esforços próprios o desenvolvimento de todos os seus alunos e não apenas

sua socialização. São profissionais como estas, que por amor à sua opção

profissional, fazem com que algumas inclusões aconteçam de verdade.

Nos resta acreditar e torcer para que a inclusão aconteça na prática,

sabendo que pode dar certo desde que cada um faça sua parte. Resultados

positivos acontecem, mas poderiam ser melhores e menos cansativos para

quem busca alcançá-los se governo, comunidade escolar, família e

profissionais especializados se unissem buscando a igualdades e o

crescimento de todos. Talvez assim, nos tornaríamos pessoas melhores e mais

humanas.

45

ANEXO

Perguntas da Entrevista:

1) Nome:

2) Idade:

3) Tempo de formação e atuação na escola:

4) Qual o número de alunos na turma?

5) Quantos alunos portadores de necessidades educacionais especiais a

escola possui?

6) Qual o tipo de deficiência desses alunos?

7) Quais são suas limitações?

8) Pra você, o que é incluir portadores de necessidades educacionais

especiais no ambiente escolar?

9) Você se sente preparada para fazer parte do processo de inclusão?

10) Qual é a sua experiência e capacitação profissional para trabalhar com

PNEE ?

11) Quais adaptações foram realizadas pela escola para receber esses

alunos?

12) Como é desenvolvido o trabalho pedagógico com os alunos incluídos?

13) Como é feita a avaliação dos mesmos?

14) Que tipo de dificuldades encontra na realização de seu trabalho?

15) Como é o relacionamento dos alunos deficientes e os demais alunos?

16) Quais as vantagens e desvantagens que você vê no processo de

inclusão?

17) Como acontece o trabalho do professor itinerante?

46

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51

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I

ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS E A LEGISLAÇÃO 9

1.1 - Os tipos de necessidades especiais e suas características 9

1.1.1- Deficiência física 10

1.1.2- Deficiência intelectual 11

1.1.3- Deficiência auditiva 12

1.1.4- Deficiência visual 13

1.1.5- Deficiência múltipla 14

1.1.6- Condutas típicas 15

1.1.7- Altas habilidades 16

1.2- O que diz a legislação em seu histórico 17

CAPÍTULO II

CAMINHOS PARA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES

EDUCACIONAIS ESPECIAIS 20

1.1- Adaptações curriculares 23

1.2- A ação do professor 25

CAPÍTULO III

A PRÁTICA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA 29

CONCLUSÃO 43

ANEXO 45

52BIBLIOGRAFIA 46

WEBGRAFIA 49

ÍNDICE 51