universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo lato … · 2009. 7. 30. · paul ekmam constatou que...
TRANSCRIPT
-
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA EMOÇÃO NO PROCESSO
ENSINO-APRENDIZAGEM
Por: Regina Lucia de Assis Oliveira
Orientador
Prof. Flavia CavalcantI
Rio de Janeiro
2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
-
2
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA EMOÇÃO NO PROCESSO
ENSINO-APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Psicopedagogia
Por: . Regina Lucia de Assis Oliveira
-
3
AGRADECIMETOS
À professora Dayse Serra por me
ensinar na teoria e na prática a
importância da afetividade no processo
ensino-aprendizagem.
-
4
DEDICATÓRIA
Ao meu marido Wilmar pela participação
ativa, aos meus filhos Daniel, Fernando e
Carolina pelo apoio e incentivo.
-
5
RESUMO
Escolhi o tema afetividade na escola por julgar a relação professor/aluno
um embate em que ambos saem perdendo, com visões distorcidas do
processo. Os alunos veem os professores como adversários e os professores,
por sua vez, veem os alunos como desinteressados, agressivos, etc. Nesse
clima o processo ensino-aprendizagem padece. Não há prazer em ensinar e
nem prazer em aprender.
Diante disso busquei identificar as possíveis relações entre inteligência e
afetividade. E mostrar, como o professor, através de sua formação continuada,
pode conhecer melhor seu campo de trabalho. E conhencendo mais sobre
inteligência e afetividade possa provocar em seus alunos, mais emoções
favoráveis ao aprendizado.
Com o objetivo de otimizar o processo ensino-aprendizagem o
psicopedagogo busca trabalhar de maneira preventiva evitando dificuldades
futuras.
-
6
METODOLOGIA
Busquei, através de pesquisa bibliográfica, embasamento teórico nos
estudos de Henri Wallon, e demostrar a importância do relacionamento
professor-aluno na formação do aluno em sua totalidade.
Não se pode valorizar apenas a construção do conhecimento, é
imprescindível construir também a afetividade do sujeito.
Quanto às formas de intervenção no processo ensino-aprendizagem
dentro da instituição escola, é indiscutível a contribuição dos estudos de Bossa
(2000); Porto (2007) e Almeida (2007).
SUMÁRIO
-
7
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Inteligência e afetividade: possíveis relações 12
CAPÍTULO II - Inteligência e Afetividade na ótica de Wallon 17
CAPÍTULO III – Contribuições da Psicopedagogia 27
CONCLUSÃO 33
ANEXOS 35
BIBLIOGRAFIA 37
ÍNDICE 38
-
8
INTRODUÇÃO
O tema do presente trabalho é afetividade na escola.
Este tema foi escolhido porque a relação professor/aluno me parece em
embate, uma luta sem fim. Percebo nesta relação um desajuste que prejudica
bastante a ensinagem e a aprendizagem.
Como diz Porto(2007) “A questão da indisciplina como fator ético é queixa bastante comum dos educadores, sendo que o aluno, carece de parâmetros
em maior ou menor grau para situar-se. O aluno é acometido por
agressividade, rebeldia, apatia, indiferença ou ainda desrespeito, falta de
limites, sendo estes eventos quase sempre representados como supostos
índices de insalubridade moral, além de obstáculos centrais do trabalho
pedagógico”.
E “O que se tem pensado e dito a respeito de nós, profissionais da
educação?
Não é preciso reiterar que um nível significativo de descrédito ronda a
imagem que se cultiva de nós, tanto quanto uma considerável desesperança
que nós próprios acalentamos sobre trabalho.”
“O processo, como já ninguém desconhece, desenrola-se mais ou
menos assim: diante das dificuldades que se apresentam no dia-a-dia,
professores culpam os alunos, que culpam os professores, que culpam o
governo, que culpam os professores, que culpam a sociedade e assim por
diante, estabelecendo-se um círculo vicioso e improdutivo de imputação de
responsabilidade sempre a algum outro segmento envolvido.”
É visto que, a aprendizagem é relacional e que o papel do
psicopedagogo é também o de otimizar o processo ensinagem/aprendizagem,
decidi buscar através dos estudos de diferentes autores o embasamento para
o presente trabalho.
-
9
Buscarei demonstrar que as relações de afetividade na escola podem
contribuir positivamente para a otimização do processo
ensinagem/aprendizagem.
Nessa direção, delineei objetivos específicos, a saber:
• Conceituar afetividade e sua relação com a inteligência.
• Apresentar a concepção de inteligência defendida por Henri Wallon.
• Demonstrar as possíveis contribuições da intervenção psicopedagógica
no processo ensinagem/aprendizagem.
Através do conhecimento, valorização e delimitação de sua área de
trabalho, o professor deve buscar na formação continuada os subsídios para
tornar a relação professor/aluno e ensinagem/aprendizagem uma relação
positiva e produtiva para ambos.
Tomando por base os estudos do psicólogo francês Henri Wallon
demonstrar a importância do relacionamento professor/aluno na formação do
aluno em sua totalidade.(criança contextualizada).
Não se pode valorizar apenas a construção do conhecimento, é
imprescindível construir também a afetividade do sujeito.
“É uma teoria que facilita compreender o indivíduo em sua totalidade, que
indica as relações que dão origem a essa totalidade, mostrando uma visão
integrada da pessoa do aluno.
Ver o aluno dessa perspectiva pôe o processo ensino-aprendizagem
em outro patamar porque dá ao conteúdo desse processo – que é a
ferramenta do professor – outro significado, expondo sua relevância para o
desenvolvimento concomitante do cognitivo, do motor e do afetivo.“(Almeida
2007)
-
10
Buscando formas de intervir no processo ensino-aprendizagem dentro
da instituição escola, é indiscutível a contribuição dos estudos de Bossa(2000);
Porto(2007, Almeida(2007).
Segundo Bossa(2000), “no exercício preventivo, pode-se falar em três níveis de prevenção. No primeiro nível, o psicopedagogo atua com vistas a
diminuir a frequencia dos problemas de aprendizagem. Seu trabalho recai
nas questões didático-metodológicas, bem como na formação e na
orientação de professores, além de fazer aconselhamento aos pais.
No segundo nível, o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de
aprendizagem já instalados, pelos quais procura-se avaliar os currículos
com os professores para que não se repitam tais transtornos.
No terceiro nível, o objetivo é eliminar os transtornos já instalados, em um
procedimento clínico com todas as suas implicações.”
Em nossa pesquisa nos deteremos apenas no primeiro nível de
prevenção, ou seja, com vistas a diminuir a frequência dos problemas de
aprendizagem, o trabalho psicopedagógico recai sobre as questões didático-
metadológicas, bem como a formação e orientação dos professores. Para isso
também nos utilizaremos dos estudos de outros autores.
Segundo Porto(2007) – “Como se preocupa com os problemas de
aprendizagem, o psicopedagogo deve ocupar-se inicialmente com o
processo de aprendizagem, como se aprende, como essa aprendizagem
varia e como se produzem as alterações na aprendizagem, como
reconhecê-las, tratá-las e prevení-las.”
Na concepção de Almeida(2007) – “A presença da emoção implica a
redução das capacidades cognitivas do indivíduo. Ora, no caso específico
em que a platéia da emoção é uma sala de aula, participar do circuito
perverso traz duplo prejuizo. De um lado, desgasta físicamento o professor,
e, de outro, compromete sua atuação em sala de aula, prejudicando os
alunos. Assim, a ocorrencia do estado emocional no professor tem
implicações nas atividades pedagógicas.”
“As expressões da emoção ocorrem através do sistema postural que
compreende reações tônicas musculares e viscerais, vegetativas e
grandulares. Isso quer dizer que um indivíduo, no caso, uma criança, em
-
11
estado emocional apresenta sintomas corporais perceptíveis aos olhos. A
falta de proximidade do professor com o mecanismo da emoção deixa-o
completamente cego diante das expressões posturais de medo, alegria e
cólera na sala de aula.”
Utilizaremos também os recentes estudos de Chabot(2005) que nos
falam sobre a Pedagogia emocional – sentir para aprender – como incorporar a
inteligência emocional às suas estratégias de ensino.
“Um dos papéis do educador emocionalmente inteligente consiste em estimular as competências emocionais de seus alunos.(...) O professor
deve, pois, utilizar meios que permitam ao aluno sentir as coisas que
aprende. Deverá, então, encontrar o modo de estimular seu lóbulo pré-
frontal esquerdo, a fim de otimizar seu bem-estar emocional.
(...) Tanto nossas emoções podem afetar nossas faculdades intelectuais e
nossas funções cognitivas, quanto elas podem melhorar nossa capacidade
de aprendizado e torná-lo mais eficaz e mais agradável.”(Chabot,2005)
-
12
CAPÍTULO I
INTELIGÊNCIA E AFETIVIDADE: POSSÍVEIS RELAÇÕES
O termo afetividade é utilizado para designar a suscebilidade que o ser
humano experimenta perante determinadas alterações que acontecem no
mundo exterior ou em si próprio.
Os estados emocionais e sentimentais compõem a afetividade que é um
aspecto do comportamento humano. Portanto, afetividade é diferente de
emoção e de sentimento.
A Afetividade, enquanto aspecto do comportamento humano, evolui,
uma vez que incorpora as conquistas realizadas no plano da inteligência.
Por sentimento entendemos o estado afetivo de prazer ou desprazer em
relação a um objeto, pessoa ou idéia. Mas que se destinguem da emoção por
serem mais calmos e com mais elementos intelectuais.
As emoções são complexos estados de excitação de que participa o
organismo todo. Sua manifestação revela um estado fisiológico e efêmero.
A emoção(cólera, medo, tristeza, alegria) é a expressão da afetividade.
Até o início dos anos de 1980 a inteligência era definida sob aspectos
puramente cognitivos. Acreditava-se numa capacidade potencial geral. Porém
em 1983, Howard Gardner, ao concluir seus estudos sobre as Estruturas da
mente, distingue oito formas de inteligência: a inteligência musical, a
inteligência sinestésica, a inteligência lógico-matemática, a inteligencia
linguística, a inteligência espacial, a inteligência naturalista, a inteligência inter-
pessoal e a inteligência intra-pessoal.
-
13
Em 1988, Robert Sternberg, propõe que os processos cognitivos e
intelectuais que nos permitem resolver problemas são mais importantes que
boas respostas a um teste de inteligência. Ele elaborou o que chamou de
teoria triárquica da inteligência. Seus três aspectos integrados e
interdependentes são: os elementos internos da inteligência, que
representam todos os processos mentais que utilizamos para adquirir
conhecimento e resolver problemas; a capacidade de adaptação da
inteligência, que utilizamos para adaptar ou modificar o ambiente que nos
cerca ou para escolher novos ambientes que correspondam melhor aos
nossos objetivos; a inteligência resultante da experiência adquirida, que
consiste em tirar proveito de nossas experiências para realizar a contento
certas tarefas ou tirar lições de nossas experiências para resolver problemas.
Em 1990, Peter Salovey e John Mayer, baseados nos estudos de
Gardner e Sternberg , foram além. Concluiram que as emoções deveriam ser
levadas em consideração quando tratamos da inteligência. Elaboraram pois, o
conceito de inteligência emocional, que descreveram como “a habilidade de
perceber seus próprios sentimentos e emoções, bem como os sentimentos e
emoções alheias, de distinguí-los e de utilizar essas informações como guia
para suas ações e seus raciocínios.”
Em 1995, Daniel Goleman, apoiado na definição elaborada por Salovey
e Mayer, definiu a inteligência emocional como “a capacidade de reconhecer
nosso próprios sentimentos e os de outrem, de nos motivar e de bem
administrar nossas emoções, seja internamente, seja em nossas relações com
outras pessoas.”
Para Goleman, a Inteligência Emocional pode ser expressa através de
cinco pontos essenciais:
1) Autoconhecimento – capacidade para identificar suas emoções e
as emoções alheias e usar isso para tomar decisões e resolver
problemas.
-
14
2) Administração de emoções – habilidade de controlar impulsos, de
aliviar-se da ansiedade e direcionar a raiva à condição correta.
Muitas vezes o ato de odiar uma atitude cometida por uma pessoa
sendo confundido com o ódio por essa pessoa.
3) Empatia – habilidade de se colocar no lugar do outro, entendendo-o
e percebendo seus sentimentos e intenções não verbalizadas.
4) Automotivação – a capacidade de preservar e conservar o otimismo
sereno, mesmo em condições relativamente adversas.
5) Capacidade de relacionamento pleno – habilidade em lidar com as
reações emocionais de outras pessoas e interagir com as mesmas.
A palavra “emoção’ tem sua origem no verbo latino “emovere”, que
significa “por em movimento”, “movimentar-se”. Assim, podemos dizer que
nossas emoções “mexem”conosco, tanto interiormente quanto exteriormente .
As emoções primárias, como identificou Paul Ekmam(1952), são seis: o
medo, a raiva, a tristeza, a aversão, a surpresa e a alegria. E Daniel Chabot
acrescenta uma sétima, o menosprezo. Paul Ekmam constatou que cada uma
delas possui particularidades e podem ser encontradas em todas as culturas.
Outros pesquisadores puderam estabelecer a relação que existe entre
as emoções, seus disparadores e os comportamentos que provocam, como
podemos ver na tabela em anexo:
As seis emoções primárias servem para garantir nossa sobrevivência,
mas também experimentamos alguma dessas emoções mesmo que nossa
sobrevivência não esteja em risco. E é pelo aprendizado que podemos adquirir
emoções relacionadas a diferentes situações de vida. Estas são as emoções
segundárias ou sociais.
Tal como as emoções primárias, as emoções secundárias provocam
uma série de comportamentos. Estes comportamentos gerados pelas emoções
podem comprometer e alterar a aprendizagem.
-
15
Mais ainda as emoções de segundo plano, por apresentar caráter
ondulatório e durarem muito mais tempo podem comprometer ainda mais a
aprendizagem.
Por exemplo, um aluno que é maltratado em casa experimenta um
sentimento de raiva(emoção primária com alta intensidade e declínio rápido).
Uma vez passado esse pico emocional pode persistir um sentimento
duradouro de irritabilidade. O aluno em questão será capaz de cumprir todas
as suas atividades cotidianas, porém, em segundo plano o sentimento de raiva
difusa persiste o dia todo pertubando até mesmo o seu sono.
As emoções de segundo plano comportam também as expressões não
verbais, mais sutis que as das emoções primárias e secundárias, porém, não
menos importantes. Aparecem na postura corporal, no grau de mobilidade dos
membros em relação ao tronco, na oscilação dos movimentos, na animação do
rosto, na luz do olhar, na inflexão da voz.
Tanto as emoções primárias e secundárias quanto as emoções de
segundo plano tem um impacto sobre a aprendizagem. Sendo que, as
emoções de segundo plano negativas tem um impacto ainda maior sobre as
funções cognitivas e intelectuais, como a atenção, a percepção e a memória.
A atenção é o primeiro elo da cadeia do aprendizado, e também o mais
sensível. As pesquisas mostram que somos biologicamente programados para
detectar fácil e rapidamente os fatos negativos do que os positivos. E que
nosso organismo reage imediatamente ao ver, por exemplo, uma fisionomia
agressiva. Isso acontece de maneira reflexa e espontânea. Mais ainda, se o
sujeito não se sente integrado a uma sociedade ou grupo, sua percepção do
rosto negativo em meio aos outros torna-se ainda mais rápido e as reações
orgânicas mais intensas. Imagine um aluno que chega a uma escola nova ,
que não conhece ninguém.
-
16
Cada vez que a atenção é monopolizada por uma carga emocional
negativa, a aprendizagem e o desempenho são comprometidos.
As emoções agem de forma diferente sobre a percepção. A percepção
fica limitada face as emoções negativas, podendo escamotear informações
que se apresentam no campo da percepção do sujeito quanto fazer surgir
informações que simplesmente não estavam ali.
Emoções negativas influenciam o julgamento e a capacidade de bem
avaliar uma determinada situação.
O pesquisador LeDoux(2001) expilca que é mais fácil uma emoção
assumir o controle do pensamento do que o pensamento assumir o controle
das emoções. Isto, porque a amígdala, estrutura nervosa central do “cérebro
emocional”, emite projeções neuronais para a maioria das partes do cérebro,
incluindo as regiões responsáveis pelas altas funções cognitivas. Mas as
projeções provenientes dessas regiões em direção à amígdala são em muito
menor número.
Estudos recentes comprovam que pessoas que sofriam de stress pós
traumático (e também crianças que sofreram stress intenso por período
relativamente longo) tinham seu hipocampo atrofiado se comparado ao de
sujeitos normais. Assim percebemos que as emoções negativas intensas não
só possuem capacidade de comprometer as faculdades de aprendizagem
como também levam a destruição das estruturas cerebrais implicadas.
Pensemos então nos alunos que convivem diariamente com situações
estressantes em suas famílias, nas comunidades onde vivem e até mesmo nas
escolas que frequentam.
CAPÍTULO II
-
17
A INTELIGÊNCIA E AFETIVIDADE NA ÓTICA DE
H.WALLON
Henri Wallon nasceu e viveu na França entre 1879 e 1962.
Durante esse período sucederam as duas grandes guerras, sendo que
na primeira, participou como médico do Exército Francês, cuidando de feridos
de guerra. Pode então observar lesões orgânicas e seus reflexos sobre os
processos psíquicos.
Na segunda guerra, participou da Resistência contra os invasores
nazistas, reforçando sua crença de que a escola deve assumir valores de
solidariedade, justiça social, anti-racismo para a reconstrução de uma
sociedade justa e democrática.
De acordo com Almeida(2007).”Quando Wallon inicia sua carreira acadêmica, com a publicação, em 1925, de sua obra L’enfant turbulent, a
Europa passava por um período de dicotomia na psicologia da criança.
Nessa mesma década, quando Piaget publicava suas primeiras obras( O
nascimento da inteligência na criança; O julgamento moral na criança; A
formação do símbolo na criança; A construção do real), Freud já havia
publicado os três ensaios sobre a teoria da sexualidade em que afirmava a
existência da sexualidade infantil. Vale, dizer, o estudo da criança já se
devidia em dois aspectos: O cognitivo e o afetivo social, dicotomia ainda
hoje não superada totalmente.”
O trabalho de Wallon supera e ultrapassa tal contradição, pois abre
novas perspectivas, ao analisar a criança por meio de um método que permite
compreendê-la na sua totalidade. Wallon propõe o estudo da pessoa completa,
tanto em relação a seu caráter cognitivo quanto ao caráter afetivo e motor, pois
para ele a cognição é importante, mas não mais importante que a afetividade
ou a motricidade.
Wallon buscou compreender o desenvolvimento infantil por meio das
relações estabelecidas entre a criança e seu ambiente, privilegiando a pessoa
-
18
em sua totalidade, nas suas expressões singulares e na relação com os
outros.
Seu profundo interesse pela educação permitiu-lhe compreender a
Psicologia e a Pedagogia como ciências complementares, sem que houvesse
superioridade de uma sobre a outra, ou seja, via a prática educativa como
campo para a pesquisa psicológica e esta como base para a renovação da
prática educativa.
Estudando a passagem do orgânico ao psíquico, Wallon verificou que,
durante esse processo ocorre o desenvolvimento de duas grandes funções
mentais: a afetividade e a inteligência.
Para Wallon o nascimento da afetividade é anterior à inteligência, pois
enquanto não aparece a palavra é o movimento que traduz a vida psíquica.
São as descargas motoras e depois os gestos do bebê que tem um grande
significado afetivo. A afetividade manifesta as necessidades do bebê.
Mais tarde, a comunicação se diversifica com a linguagem. É comum
perceber o quanto o ouvir e ser ouvido torna-se imperativo para a criança. O
elogio passa a ser substituto do carinho.
Na obra de Wallon, a afetividade e a inteligência constituiem um par
inseparável na evolução psíquica. Enquanto afetividade está ligada às
sensibilidades internas, e orientada para o mundo social, para a construção da
pessoa, a inteligência está ligada às sensibilidades externas, e está orientada
ao mundo físico, para a construção do objeto.
Afetividade e inteligência estão integradas e convivem
concomitantemente mesmo quando o período é mais propício à
preponderância de apenas uma delas. Afetividade e inteligência evoluem ao
longo do desenvolvimento e são construídas e modificadas à medida que o
indivíduo se desenvolve.
-
19
A afetividade constitui um domínio tão importante quanto a inteligência
para o desenvolvimento humano. Ela não é sentimento que se caracteriza por
reações mais pensadas. Também não é paixão, que conta com o raciocínio.
Nem tampouco emoção, que são ocasionais, instantâneas e diretas.
Afetividade é um termo mais amplo que inclui sentimento, paixão e emoção.
A afetividade inclui, portanto, os sentimentos que são estados subjetivos
mais duradouros e menos orgânicos que as emoções. Estas são verdadeiras
síndromes: de cólera, medo, tristeza e alegria. A afetividade evolui porque
incorpora as conquistas realizadas no plano da inteligência. Segundo H.Dantas
“a emoção estabelece, pois, as bases da inteligência; se identificada com o
seu desenvolvimento próximo, a afetividade, surge como condição para toda e
qualquer intervenção sobre aquela.”
A emoção é simultaneamente biológica e social em sua natureza.
Portanto, as emoções desempenham o papel de suprir, pela ação do outro, a
imperícia dos primeiros anos e são modificadas e transformadas nas relações
sociais.
A emoção dispõe de certos mecanismos para agir sobre o mundo social:
Segundo Wallon eles são quatro: a contagiosidade, capacidade de contaminar
o outro, de transmitir-lhe o seu prazer ou desprazer; a plasticidade,
capacidade de refletir no corpo os sinais da emoção(rubor, contração, etc...); a
regressividade , que é a capacidade de fazer regredir as atividades de
raciocínio; a labilidade, capacidade de uma emoção se transformar em outra.
( pode ocorrer entre emoções opostas como alegria e cólera).
Para Wallon a emoção necessita de espectadores. Platéias são como
oxigênio que alimenta a chama emocional. Se deixada a sós a manifestação
tende a extinguir-se.
As emoções também podem corresponder a uma flutuação tônica.
Existem emoções de natureza hipotônica, que reduzem o tônus, tais como o
-
20
susto e a depressão ( medo), tornam a musculatura periférica mole. E existem
emoções hipertônicas, geradoras de tônus, tais como a cólera, a
ansiedade(tornam a musculatura periférica pétrea).
O corpo é o intrumento de trabalho das emoções. É o seu veículo .
Sendo assim a emoção tem sinais que anunciam sua chegada. É uma
linguagem corporal que se revela aos nossos olhos e que é necessário saber
ler e interpretá-la para podermos agir corticalmente sobre ela.
Wallon demostrou que a alegria tanto pode ser fruto do movimento
quanto pode revelar o movimento como um de seus efeitos. Ela, a alegria,
caracteriza-se pelo escoamento do tono (hipotonia) ao passo que a tristeza
caracteriza-se por um retesamento (acúmulo) do tono (hipertonia).
A cólera apresenta-se no indivíduo através de espasmos de origem
visceral e motora. Às vezes a cólera é de tamanha intensidade que impede a
atividade do sujeito. Mas também apresenta um caráter resolutivo, ou seja,
seus efeitos por si sós são capazes de regredir até acabar.
Segundo Wallon(1992), o medo é a primeira emoção experimentada
pela criança. O labirinto é o orgão do equilíbrio e ele orienta as atividades do
bebê. Portanto qualquer ruído pode modificar a posição de sua cabeça.
Há uma estreita relação entre o medo e as reações de equilíbrio. O
medo aparece toda vez que o equilíbrio é ameaçado. O medo nasce da
incapacidade de reagir e da ausência de controle das atitudes. A ocorrência do
medo é inconciliável com qualquer atividade porque obscurece a consciência e
impede o controle dos movimentos corporais.
Na criança, não é o incomum ou o desconhecido que amedronta, mas
sim a mescla entre situações, pessoas ou coisas novas com algum pormenor
que lhe é habitual.
-
21
Para H. Dantas(1992), “a história da construção da pessoa será constituída por uma sucessão pendular de momentos dominantemente
afetivos ou dominantemente cognitivos, não paralelos, mas integrados.
Cada novo momento terá incorporado as aquisições feitas no nível anterior,
ou seja, na outra dimensão. Isto significa que a afetividade depende, para
evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência, e vice-versa.”
A emoção e a inteligência são inseparáveis no desenvolvimento
humano. Mesmo quando numa atividade há a prevalência de uma a outra está
também presente.
A relação de complementariedade entre emoção a inteligência
permanece mesmo em situações de explosão emocional, pois mesmo sendo a
emoção predominante nesse momento, não é única.
E para manter o equilíbrio, ou seja, reduzir o estado emocional, é
necessário desencadear a ação da inteligência. Esse é o grande desafio que
resultará na serenidade do sujeito. As consequências são o maior
amadurecimento tanto da afetividade quanto da inteligência.
A representação é um mecanismo eficiente para manter as
manifestações da emoção num nível produtivo para o indivíduo.
Para Wallon, nos livramos da emoção pelo fato de nos esforçarmos em
representá-la. E não importa tanto o motivo da emoção mas sim a
representação da emoção em si. A atividade da inteligência impede que a
emoção domine e provoque um desequilibrio.
A representação é um mecanismo acessível e de fácil utilização para
interromper as manifestaçães da emoção. Isto ocorre pela transformação da
emoção num objeto da atividade mental.
Nesse sentido, a emoção cria desafios para que a inteligência progrida.
-
22
É muito comum não considerar a integração entre os aspectos afetivo,
motor e cognitivo nas atividades escolares. Como também a relação de
reciprocidade entre inteligência e afetividade.
Quanto ao aspecto motor, o movimento é sinônimo de desatenção e por
isso procura-se eliminar ao máximo os movimentos. O movimento é muito
interpretado como indisciplina sendo motivo de irritação nos professores.
Ao tentar extinguir o que pode ameaçar a aprendizagem ignora-se o
movimento e sua capacidade de representar as emoções, pois eles podem
gerar e ser resultado das emoções. Tanto o excesso quanto a ausência do
movimento pode revelar a presença de uma determinada emoção. Como o
excesso de movimento pode ser manifestação de alegria e a rigidez muscular
com falta de movimento, pode revelar o medo. Nesses casos pode haver, por
parte do professor, um engano ao interpretar o excesso de movimento
(hipertonia) com indisciplina e a falta de movimento (hipotonia) como
desatenção ou indiferença. Isto se deve ao fato de os professores não
conhecerem os possíveis indicadores de uma emoção. Desse modo os
professores se entregam ao contágio e, consequentemente passam a fazer
parte do “circuito perverso”.(Almeida,2007)
Para H.Dantas(1992), o circuito perverso instala-se quando o indivíduo
não consegue reagir de forma corticalizada diante de reações emocionais
alheias.
Sobre isso Almeida (2007) nos diz:
“A presença de emoção implica a redução das capacidades cognitivas
do indivíduo. Ora, no caso específico em que a platéia da emoção é uma
sala de aula, participar do circuito perverso traz duplo prejuizo.
-
23
De uma lado, desgasta fisicamente o professor, e, de outro,
compromete sua atuação em sala de aula, prejudicando os alunos. Assim, a
ocorrência do estado emocional no professor tem implicações nas
atividades pedagógicas”.
Ainda segundo Almeida (2007)
“Muitas vezes, o jogo entre professor e aluno conserva-se no que se
pode chamar de “bate-rebate”. Um estado de total contágio e de
incapacidade do professor para tomar uma atitude racional diante da
emoção.”
O professor por não saber lidar cognitivamente com as manifestações
emocionais de seus alunos acaba sendo alvo fácil e suas tentativas de
dominar a situação acabam por reforçar a manifestação da emoção
comprometendo seu desempenho e o dos alunos.
Como vimos, a representação é uma forma importante de que o
professor dispõe para reduzir ou até mesmo eliminar uma crise emocional em
sala de aula. Para isso ele pode utilizar-se de diferentes técnicas – como a
dramatização, o desenho, o relato oral, a redação espontânea – já que tais
técnicas ativam a ação do córtex, que é um eficiente mecanismo de
interrupção das manifestações das emoções.
Entretanto, as atitudes dos professores diante da alegria, do medo e da
cólera são bastante variadas e frequentemente ineficazes. Uma delas seria
demostrar ao aluno que seu comportamento não o agradou.
A teoria walloniana sobre emoções aponta que uma forma de ficar
imune ao contágio da emoção é não se tornar seu espectador, pois a emoção,
para sobreviver, necessita de espectadores, de platéia. Portanto, se o
professor apenas ignora o espetáculo da emoção, esta se desfaz.
As expressões da emoção aparecem através do sistema postural do
aluno. O aluno mostra com sua postura as emoções que está experimentando
e , o professor, que conhece este funcionamento fisiológico e social da
-
24
emoção, pode intervir de forma a administrar as emoções a favor de sua ação
pedagógica.
“Sem entrar no pormenor, diremos apenas que a alegria se manifesta
quando as excitações provocam uma atividade própria para esgotar
gradualmente o tônus que se consome na forma de gesticulação fácil, quer
dizer, quando há um exato equilibrio entre o tônus e os movimentos que se
sustentam reciprocamente; as reações de cólera, pelo contrário, aparecem
quando os estimulos excedem as possibilidades de liquidação, e a
acumulação do tônus, não encontrando exutório ou escoadouro, provoca por
assim dizer in loco contrações e espamos. Quanto ao medo, está
primitivamente ligado às excitações labirínticas, que se repercutem na
sensibilidade proprioceptiva; tem portanto como causa original as rupturas
de equilíbrio, provocadas pelo desaparecimento dos pontos de apoio, e
reproduz-se depois, em modalidades diversas, sempre que circunstâncias
insólitas provocam incerteza na atitude a tomar.”( Martinet 1981, p.62)
Como vimos, a emoção vem sempre acompanhada de expressões, mas
jamais pode ser reduzida a estas. Normalmente os professores identificam o
choro como uma emoção e não como uma reação plástica de uma emoção, no
caso, a tristeza. Assim, o professor deve manter-se aberto a observar e
interpretar os sinais presentes na linguagem corporal de seus alunos para
planejar sua ação pedagógica.
A teoria psicogenética de Henri Wallon compreende o indivíduo como
uma pessoa concreta, completa e contextualizada. Portanto, os dominios
afetivo, cognitivo e motor, abrangem todas as suas atividades. Seu
desenvolvimento se dá por meio das relações estabelecidas com o seu
ambiente. E segundo o autor, são as relações afetivas que medeiam a
interação dos componentes orgânico e social no desenvolvimento humano.
“Desde o início da vida, a criança depende do meio, não apenas para
sobreviver, mas também para realizar seu desenvolvimento afetivo, social e
intelectual. A escola é a instituição encarregada de prover a criança dos
meios ( conhecimento, técnicas, instrumentos) necessários para realizar
suas ações. Por conseguinte, o professor, como provedor do
desenvolvimento infantil, tem por função utilizar métodos pedagógicos que
-
25
conduzam as crianças a tirar o máximo proveito tanto dos meios que lhes
são oferecidos quanto dos seus próprios recursos”. ( Almeida, 2007)
Wallon ressaltou a importância de a educação não separar a inteligência
da afetividade, visto que tanto os apectos intelectuais quantos os aspectos
afetivos estão presentes e se interpenetram em todas as manifestações do
conhecimento.
É a emoção que estabelece o vínculo entre o eu e o mundo humano.
Entre emoção e cognição há uma relação antagônica: para que a
inteligência funcione é necessário diminuir a intensidade das emoções.
A escola, como em qualquer outro ambiente social, é lugar onde existem
diferenças e conflitos que geram as mais diferentes manifestações emocionais.
Portanto, cabe à escola e mais específicamente ao professor, administar as
emoções de seus alunos a fim de articular os aspectos afetivos e intelectuais
para facilitar a aprendizagem.
A função da escola, na educação do sujeito, inicia quando termina a da
família. Portanto, a escola tem seu lugar no desenvolvimento do sujeito e não
deve absorver o modelo de relação que a família tem com o mesmo.
Na escola as relações são diferentes das relações familiares. São
relações de natureza antagônica e por isso oferecem ricas possibilidades de
crescimento para o indivíduo.
A relação professor-aluno é também uma relação de pessoa-pessoa,
logo o afeto está presente. Mas mesmo quando o professor mantém com seus
alunos uma relação “afetuosa”, as manifestações de carinho são reduzidas às
formas de expressão como beijo e abraço. Na maioria das vezes o professor
desconhece que a afetividade evolui, ou seja, à medida que se desenvolvem
os alunos querem outro tipo de manifestação de afeto. Além de beijos e
-
26
abraços, ele também querem ser conhecidos, ouvidos, admirados,
respeitados.
O desenvolvimento da inteligência implica necessariamente uma
evolução da afetividade. A medida que cresce e se desenvolve, a criança
necessita de uma relação afetiva mais racionalizada. Um afeto mais cognitivo
pode ser traduzido por um elogio, um reconhecimento de sua capacidade, uma
demostração de interesse por suas idéias, e consequentemente, por sua vida.
CAPÍTULO III
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA
-
27
A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana. E tendo como
objeto central de seu estudo o processo de aprendizagem, preocupa-se
também com os problemas de aprendizagem. O papel do psicopedagogo
então seria o de buscar entender como se aprende e como acontecem as
alterações na aprendizagem a fim de reconhecê-las, tratá-las e prevení-las.
Dentro da instituição escolar o psicopedagogo trabalha direcionado para
dois aspectos: os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem e
assessorando aos pedagogos, orientadores e professores.
“No exercício preventivo, pode-se falar em três níveis de prevenção. No
primeiro nível, o psicopedagogo atua com vistas a diminuir a frequencia dos
problemas de aprendizagem. Seu trabalho recai nas questões didático-
metodológicas, bem como na formação e na orientação de professores,
além de fazer aconselhamento aos pais.
"No segundo nível, o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de
aprendizagem já instalados, pelos quais procura-se avaliar os currículos
com os professores para que não se repitam tais transtornos.
No terceiro nível, o objetivo é eliminar os trantornos já instalados, em
um procedimento clínico com todas as suas implicações.” (Bossa(2000)
No trabalho junto aos alunos busca reintegrar e readaptar o aluno à
situação de sala de aula, bem como desenvolver as funções cognitivas
integradas ao afetivo, desbloqueando e canalizando o aluno para a
aprendizagem.
E junto aos pedagogos e professores busca redefinir os procedimentos
pedagógicos, integrando o afetivo e o cognitivo. Porque é preciso que o
processo ensino-aprendizagem se dê de forma a que o professor ensine com
prazer e o aluno aprenda com prazer. E essa relação se dá no vínculo entre
ensinante a aprendente ou seja entre subjetividades.
O psicopedagogo busca o siginificado do aprender para o aluno, para
sua família, para a escola e também busca descobrir a função do não
aprender.
-
28
O psicopedagogo procura fazer uma escuta particular do sujeito que o
leve a encontrar as causas do não aprender e também organizar metodologias
para facilitar a aprendizagem.
Desse modo, o psicopedagogo leva em consideração o aspecto afetivo
da aprendizagem, pois a escola é um espaço de relações, é um lugar de
gente.
Gente que trabalha, gente que estuda, gente que se emociona, gente que vive.
“ A valorização das relações interpessoais e de um clima emocional positivo,
em termos de respeito e liberdade, são tão fundamentais quanto os
conteúdos trabalhados em sala de aula, para o desenvolvimento do
educando.(porto2007)”.
Um aspecto importante a ser considerado é o como enfrentar o conflito
entre as normas e regras da instituição escolar e os valores que cada um traz
consigo. Esse conflito na maioria das vezes se traduz em problemas como a
indisciplina.
“ Trazer a ética para o espaço escolar significa enfrentar o desafio de
instalar, no processo de ensino e aprendizagem que se realiza em cada uma
das áreas de conhecimento, uma constante atitude crítica, de
reconhecimento dos limites e das possibilidade dos sujeitos e das
circunstâncias, de problematização das ações e dos valores e das regras
que o norteam.(Porto 2007)”.
Pensando a aprendizagem podemos dizer que aprender é construir seu
próprio siginificado e o afeto influencia a maneira e a velocidade com que se
constrói o conhecimento. A emoção é a energia que impulsiona o pensamento.
Na busca da otimização da relação ensino-aprendizagem o
psicopedagogo faz também uma escuta empática do professor e orienta-o a
refletir sobre alguns pontos. Como seu impacto e sua influência sobre os
alunos. Influência essa que vai além dos conhecimentos e habilidades que
ensinam. São valores, atitudes, hábitos, motivação ou como eles veêm a si
-
29
mesmos. O modo como se dá e a qualidade do seu relacionamento com seus
alunos, que irá depender de como o professor se vê, de suas atitudes, de
como o professor lida com suas emoções e sentimentos e com as emoções e
sentimentos de seu alunos.
Essas relações abragem todas as dimensões do processo ensino-
aprendizagem, pois nos comunicamos também com o que fazemos ou
deixamos de fazer.
O professor deve buscar desde o início um bom relacionamento com os
seus alunos, pois as primeiras impressões são realmente importantes. E a
atitude do professor com relação aos alunos condiciona sua atitude diante do
professor. E por mais difícil que seja o professor precisa prescindir de suas
emoções e sentimentos dentro da sala de aula pelo bem do seu
ralacionamento com seus alunos e do ensino-apredizagem. Para isso o
psicopedagogo lhe assessora exercendo a escuta empática desse professor.
Outro ponto importante a ser considerado são as avaliações. Fazê-las
mais frequentes, breves e mais informais trará mais benefícios ao processo e
maior incentivo aos alunos.
Alem disso buscar outras situações que permitam ao professor
perguntar outras coisas e conhecer melhor seu aluno para melhor orientá-lo.
“ Tais ocasiões se apresentam se, de maneira grupal e anônima, e com
procedimentos simples, nos voltamos ocasionalmente para a avaliação do
clima da classe, dos valores e das atitudes dos alunos. Esse tipo de
avaliação os ajuda a encontrar-se com eles mesmos.”(Morales,1998).
Sabemos que são vários os fatores que influenciam a ação do professor
dificultando o processo ensino-aprendizagem tais como: o uso de metodologia
inadequada, a falta de recursos didáticos, as condições insatisfatórias de
-
30
trabalho, etc. E também existem os problemas emocionais tanto do professor
quanto do aluno, que influenciam bastante a aprendizagem.
No que diz respeito a emoção, sentimento e afetividade, que, para a
psicologia são conceitos distintos, para o professor muitas vezes se
confundem. E por não haver clareza sobre o que é e como funciona a emoção,
o professor não consegue administrá-la em si e no outro.
As emoções são desordens fisiológicas cuja finalidade é amotinar as
capacidades e disposições do indivíduo. Assim verifica-se que a emoção tem
sinais que anunciam sua chegada. Os efeitos da emoção sobre o corpo vão
dos menos perceptíveis aos mais transparentes. É uma linguagem corporal
que se revela a quem sabe ler e traduzir a emoção. Assim podemos agir
corticalmente sobre ela.
E cabe ao professor conhecer a emoção e seus mecanismos afim de
identificá-la e administrá-la para o bem da aprendizagem.
Quanto as formas de administrar as emoções, a representação tem se
mostrado um mecanismo bastante eficiente para reduzí-la. O esforço para
exprimir um estado emocional através do pensamento não só reduz a atuação
da emoção sobre o sujeito como afasta os sintomas orgânicos. O simples fato
de exprimir ao outro por gestos ou palavras o que sentimos elimina um estado
emocional. E o professor pode lançar mão desse instrumento para revogar
uma emoção percebida em sala de aula.
O professor pode ainda lançar mão das pesquisas mais recentes e
estimular as competências emocionais de seus alunos. O professor pode
ajudar seu aluno a identificar, expressar, compreender e gerir adequadamente
suas emoções suscetíveis de alterar o processo ensino-aprendizagem. Pois
nossas emoções podem afetar nossos faculdades intelectuais e nossas
funções cognitivas, quanto elas podem melhorar nossa capacidade de
aprendizagem e torná-lo mais eficaz e mais agradável.
-
31
Sabendo que os professores sempre buscam fazer o melhor para seus
alunos como também os pais também buscam fazer o melhor por seus filhos.
Mas , apesar disso, às vezes pais e professores adotam condutas que podem
provocar efeitos opostos àqueles desejados.
As emoções de segundo plano correspondem àquilo que sentimos
conforme estamos tensos ou relaxados, bem dispostos ou preguiçosos,
ansiosos ou serenos. E apresentam um carater ondulatório e duram mais
tempo. É aquela situação em que, apesar de a emoção primária mais intensa
já ter passado, ainda persiste um sentimento duradouro de irritabilidade ou
desânimo que perpassa o dia todo.
Essa emoção de segundo plano aparece na expressão não verbal.
Entre outros sinais reveladores das emoções de segundo plano estão a
postura corporal, a oscilação dos movimentos, a animação do rosto, a luz nos
olhos, a inflexão da voz.
Para o professor essas informações a respeito de seus alunos está ali
na sua frente, basta que aprenda a “ler” no corpo de seus alunos, e a partir daí,
favorecer emoções de segundo plano positivas, tanto relacionadas à disciplina
que leciona quanto ao simples fato de aprender.
Para isso o educador que aprende a administrar as emoções de seus
alunos deverá buscar estimular as sensações de prazer aliadas ao ato de
aprender. Uma sala de aula agradável visualmente, um som agradável ao
entrar, até mesmo um cheiro bom. Bem, isso tudo é extremamente agradável e
deveria fazer parte da rotina escolar, mas sabemos que em nossas escolas
muitas vezes é o oposto que ocorre.
Pensemos um pouco. Como estes alunos vão associar o aprendizado
às sensações de prazer em salas de aula feias, desinteressantes,
desconfortáveis e , que às vezes, cheiram mal?
-
32
Ás vezes uma mudança no tom de voz, um projeto envolvendo os
alunos para melhorar o ambiente escolar e promover sensações de prazer
associadas ao ato de aprender, pode valer muito e obter resultados muito
satisfatórios.
-
33
CONCLUSÃO
Quando uma criança vai para a escola ela leva consigo tanto o
conhecimento já construído, quanto a base de sua vida afetiva. E sabemos que
as experiências e os conhecimentos vivenciados na escola possuem um
significado muito importante para o desenvolvimento social e afetivo dessa
criança.
A teoria psicogenética de H.Wallon compreende o indivíduo como uma
pessoa concreta, completa e contextualizada. Portanto, os domínios afetivo,
cognitivo e motor, abragem todas as suas atividades. Seu conhecimento se dá
por meio das relações estabelecidas com o seu ambiente. E segundo Wallon,
são as relações afetivas que medeiam a interação dos comportamentos
orgânico e social no desenvolvimento humano.
Na relação professor-aluno, os dois lados precisam estar bem para que
o relacionamento entre eles seja proveitoso para o ensino e a aprendizagem.
Como diz Morales (2007, pág. 10)
“O modo como se dá a nossa relação com os alunos pode e deve incidir
positivamente tanto no aprendizado deles, e não só nas matérias que
damos, como em nossa própria satisfação pessoal e profissional, porque
nossa relação como os alunos deve ser considerada uma relação
profissional. Precisamente, por se tratar de uma tarefa profissional não
podemos deixar de lado um aspecto que diz respeito diretamente à eficácia
do que fazemos. “
O professor precisa ensinar com prazer e o aluno precisa aprender com
prazer. Para isso é necessário que o professor busque na sua formação
continuada o conhecimento a respeito de como se dá a aprendizagem, sobre a
importância da afetividade e sua relação com a aprendizagem, sobre como
despertar o prazer de aprender no seu aluno.
Mas é preciso também cuidar do professor, para que ele tenha prazer em
ensinar, prazer em buscar sua formação continuada, prazer em planejar sua
-
34
ação pedagógica para levar seu aluno a se desenvolver de forma concreta,
completa e contextualizada, levando em consideração os aspectos cognitivo,
afetivo e motor.
É neste contexto que o psicopedagogo trabalha de forma preventiva os
problemas de aprendizagem. É o psicopedagogo que faz a escuta empática
desse professor e o incentiva e assessora no planejamento de sua ação
pedagógica.
“Pode-se concluir que o campo da atuação da psicopedagogia é a
aprendizagem, e sua intervenção é preventiva e curativa, pois se dispõe a
detectar problemas de aprendizagem e “resolvê-los”, além de prevení-los,
evitando que surjam outros. No enfoque preventivo, o papel do
psicopedagogo é detectar possíveis problemas no processo ensino-
aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade
educativa, objetivando fornecer processos de integração e trocas; realizar
orientações metodológicas para o processo ensino-aprendizagem,
considerando as características do indivíduo ou grupo; colocar em prática
alguns processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional em
grupo ou individual. Estando claro o que é a psicopedagogia e qual sua área
de atuação, cabe-nos refletir sobre os recursos que o psicopedagogo utiliza
para detectar problemas de aprendizagem e neles intervir.”(Porto, 2007)
Assim a psicopedagogia busca resgatar uma visão mais globalizada do
processo de aprendizagem e dos problemas dele decorrentes.
-
35
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> As emoções, seus disparadores e comportamentos
-
36
ANEXO 1
As emoções, seus disparadores e comportamentos
DISPARADORES EMOÇÕES COMPORTAMENTOS Ameaça Medo Fuga
Obstáculos Raiva Ataque Perda Tristeza Retraimento
Substância ou situação aversiva
Aversão Rejeição
Repulsão Menosprezo Condescendência Situação Inesperada Surpresa Orientação Situação desejada Alegria Aproximação
-
37
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Ana Rita Silva – A emoção na sala de aula. São Paulo . Papírus.1999 BOSSA, Nádia Aparecida – A psicopedagogia no Brasil. Contribuicões a partir da prática. Porto Alegre, Artmed, 2000 CHABOT, Daniel e Michel – Pedagogia Emocional – sentir para aprender. São Paulo, Sá Editora. 2005 LA TAILLE, Yves de – Piaget, Vygotsky, Wallon- Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo, Summus. 1992 MAHONEY, A.A. Henri Wallon – psicologia e educação. São Paulo. Ed. Loyola. 2000 MASINI, & Col – O ato de aprender . I ciclo de estudos psicopedagógicos. Mackenzie. São Paulo. Mennon.1999. MORALES, Pedro – A relação professor-aluno – o que é, como se faz. São Paulo. Ed Loyola. 1999 PORTO, Olivia – Psicopedagogia institucional: teoria, prática e assessoramento psicopedagógico. Rio de Janeiro – Wak ed. – 2007 RIBAS, Marta Pires – Fundamentos biológicos da Educação. Rio de Janeiro – Wak ed. – 2008 SALTINI, Claudio J.P. – Afetividade e inteligência. Rio de Janeiro – Wak ed. – 2008 WEISS, M.L. – Psicopedagogia Clínica, uma visão diagnóstica. Porto Alegre, Artmed, 1994
-
38
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - Inteligência e afetividade: possíveis relações 12
CAPÍTULO II - Inteligência e Afetividade na ótica de Wallon 17
CAPÍTULO III – Contribuições da Psicopedagogia 27
CONCLUSÃO 33
ANEXOS 35
BIBLIOGRAFIA 37
ÍNDICE 38
SUMÁRIOCAPÍTULO I- Inteligência e afetividade: possíveis relações 12CAPÍTULO II - Inteligência e Afetividade na ótica de Wallon 17CAPÍTULO III – Contribuições da Psicopedagogia 27
CONCLUSÃO33ANEXOS35BIBLIOGRAFIA 37ÍNDICE38Anexo 1 >> As emoções, seus disparadores e comportamentosFOLHA DE ROSTO2AGRADECIMENTO3CAPÍTULO I- Inteligência e afetividade: possíveis relações 12CAPÍTULO II - Inteligência e Afetividade na ótica de Wallon 17CAPÍTULO III – Contribuições da Psicopedagogia 27
CONCLUSÃO33ANEXOS35BIBLIOGRAFIA 37ÍNDICE38