universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo “lato … · presidência da república,...

50
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E OS SISTEMAS DE ENSINO: O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Silvia do Socorro Celusso Orientador Prof. William Rocha Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: others

Post on 29-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E OS SISTEMAS DE ENSINO: O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A UNIVERSALIZAÇÃO DA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Silvia do Socorro Celusso

Orientador

Prof. William Rocha

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CONSTITUÇÃO FEDERAL E OS SISTEMAS DE ENSINO: O PLANO

NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A UNIVERSALIZAÇÃO DA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à AVM

Faculdade Integrada como requisito

parcial para obtenção do grau de

especialista em Direito e Legislação

Educacional

Por. Silvia do Socorro Celusso.

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Maria da Penha

Salgueiro, pela indicação e apoio do

Curso de Direito e Legislação

Educacional que me permitiu aprimorar

meus conhecimentos no campo da

Educação e suas legislações.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu filho

Marcos Tadeu Celusso Junior, que

sempre acreditou que era possível.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

5

RESUMO

As reformas ocorridas nas políticas de educação no Brasil nas últimas

décadas deram incontestável ênfase ao exercício docente, às práticas e no

currículo, na perspectiva de uma educação infantil de qualidade. Este estudo

objetivou buscar discutir a implementação do Plano Nacional de Educação-

PNE, meta-1, apontando alguns caminhos diante dos desafios para a garantia

e efetivação das estratégias estabelecidas pelo plano. Para este trabalho

optou-se pela pesquisa qualitativa, pois nos permite verificar os fenômenos

através da experiência dos sentidos e da observação. Foram feitos

levantamento de dados de variadas fontes tais como, leitura de livros,

documentos legais, pareceres, revistas, textos científicos, e visita aos principais

sites oficiais que divulgam as legislações atualizadas do objeto de estudo.

Procuramos abordar os principais desafios, estabelecendo vínculos com

situações concretas do contexto escolar da educação infantil (creches e pré-

escolas) e suas práticas. Buscamos apontar como modelo de projeto para a

universalização da Educação Infantil, a experiência do Município do Rio de

Janeiro denominado Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI’s).

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

6

METODOLOGIA

Neste trabalho optou-se pela pesquisa qualitativa, na qual Patton

(1986; apud: ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNADJER, 2004, p. 131) afirma

ter por pressuposto: “[...] que as pessoas agem em função de suas crenças,

percepções, sentimentos e valores e que seu comportamento tem sempre um

sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato,

precisando ser desvelado”.

Segundo Goldenberg, 2009, p.11, “A Metodologia é muito mais do

que algumas regras de como fazer uma pesquisa. Ela auxilia a refletir e

propicia um “novo” olhar sobre o mundo: um olhar científico, curioso, indagador

e criativo.”.

Para tanto, a investigação ocorreu a partir da análise de

documentos oficiais divulgados pelo MEC da Educação Infantil, foram feitas

leitura de livros, revistas e textos científicos, e visita aos principais sites oficiais

que divulgam as legislações atualizadas do objeto de estudo.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8

CAPÍTULO I CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL .............................. 13

1.1. Conceito de Infância ........................................................................... 13

1.2. Objetivos Gerais da Educação Infantil ................................................ 17

1.3. A criança de 0 a 6 anos e as legislações ............................................ 18

CAPÍTULO II A IDEIA DE UM PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO: UMA

AMPLIAÇÃO UNIVERSAL DA ESCOLARIDADE ............................................ 24

2.1 O PNE é lei: não pode ser promessa .................................................. 24

2.2 O PNE e o desafio da pactuação ........................................................ 29

CAPÍTULO III OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO PLANO NACIONAL DE

EDUCAÇÃO PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL ........ 32

3.1 O debate sobre infância no PNE ......................................................... 32

3.2 O EDI – Espaço de Desenvolvimento Infantil: um modelo no município

do RJ .............................................................................................................39

CONCLUSÃO .................................................................................................. 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ....................................................................... 45

BIBLIOGRAFIA CITADA .................................................................................. 46

ÍNDICE ............................................................................................................. 50

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

8

INTRODUÇÃO

As mudanças ocorridas no atual cenário mundial têm contribuído em

grande parte para a produção de trabalhos e discussões no campo da

educação, cujo foco está ligado às questões relacionadas com a profissão,

formação, trabalho, políticas públicas e às práticas curriculares no cotidiano

escolar contemporâneo.

Neste contexto Canen (2008), argumenta e aponta dimensões que

merecem ser avaliadas, levando-se em conta que no espaço escolar se

realizam fenômenos multiculturais, que merecem ser apreendidos e

compreendidos e dialogar sobre suas próprias ações de forma a contribuir para

a melhoria destas relações como: promover e incentivar discussões sobre

questões educacionais, no intuito de provocar atitudes que possam suscitar

preconceitos e identidades silenciadas nos discursos; conhecer e analisar o

contexto das diferentes identidades institucionais onde se processa a

formação, bem como buscar a articulação com a pesquisa, possibilitando

reconhecer este espaço como um lugar multicultural.

As dificuldades e lutas que se fazem presentes no contexto escolar

contemporâneo têm levado autoridades, persistirem na busca de uma

linguagem de propostas de uma educação que vá além da matricula, do

acesso e permanência escolar, que perpasse a prática e a vivencia, que

minimize as angústias e anseios dos verdadeiros atores da educação: o

professor e o aluno (Barretta & Canan,2012,p.2).

Os temas sobre prática, formação docente e qualidade da educação

ganharam uma enorme projeção entre as diferentes mídias, (televisiva e a

escrita), gerando discussões cuja abordagem perpassa pela formação ética

dos envolvidos no contexto escolar.

Para Azzi (2005, p. 40) “o trabalho docente constrói-se e transforma-

se no cotidiano da vida social; como prática, visa à transformação de uma

realidade, a partir das necessidades práticas do homem social. Nesse sentido,

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

9

a compreensão do trabalho docente demanda que este seja analisado

enquanto categoria geral – o trabalho – e em sua especificidade – a docência”.

Os estudos de Tardif (2005); Alves-Mazzotti (2009); Perrenoud

(2004); Nóvoa (2007) têm se voltado à análise das questões relacionadas às

práticas docentes, e em especial na compreensão do papel da profissão

professor diante dos desafios do século XXI.

A Educação Infantil, após a Lei 9394/96 e outros documentos

complementares, foi reconhecida por sua importância na vida da criança e para

a sociedade, revelando e reafirmando as suas funções pedagógica e social,

revelando também a preocupação com a qualidade dos profissionais

envolvidos com a criança (Meyer, 2004, p.20).

Importante, então, é discutir e entender os desafios para

desenvolver uma educação de qualidade no campo da Educação Infantil,

“qualidade” esta que passa, pela questão financeira, em investimento não só

no espaço físico e no mobiliário, mas em especial nos profissionais.

Para, Moysés Kuhlmann Jr. (2000):

“Quando se indica a necessidade de tornar a criança como ponto de partida, quer-se enfatizar a importância da formação profissional de quem irá educar essa criança nas instituições de educação infantil. Não é a criança que precisaria dominar conteúdos disciplinares, mas as pessoas que a educam”. (p.65)

O ambiente da escola deve ser um espaço de troca de experiências,

conhecimentos e, sobretudo, ser gerador de vínculos de confiança na relação

ensino-aprendizagem entre docentes e alunos.

Apoiada neste campo fértil de discussões e argumentos que visam

justificar as dificuldades que os docentes encontram no contexto escolar

contemporâneo, em que a discussão sobre a “qualidade” no campo

educacional, surgiu a idéia de pesquisar, o Plano Nacional de Educação –

(PNE) – Meta 1. Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para

as crianças de 4(quatro) a 5(cinco) anos de idade e ampliar a oferta de

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

10

educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo,50% (cinquenta

por cento) das crianças até o final da vigência deste plano (PNE-Meta 1).

O Plano Nacional de Educação (PNE) é uma lei ordinária que terá

vigência de dez anos a partir de 26/06/2014, data em que foi sancionado pela

Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de

concretização no campo da Educação, o plano é o grande norteador das

políticas educacionais do Brasil para a próxima década.

Determinado pelo artigo 214 da Constituição Federal de 1988, o

plano tem como função principal a articulação e ao desenvolvimento do ensino

em seus diversos níveis e a integração do Poder Público que conduza à:

I - erradicação do analfabetismo;

II - universalização do atendimento escolar;

III - melhoria da qualidade do ensino;

IV - formação para o trabalho;

V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.

VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em

educação como proporção do produto interno bruto. (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 59, de 2009).

Meu interesse por este tema começou quando convidada a trabalhar

como gestora em educação de uma Instituição de Educação Infantil ligada ao

Ministério da Saúde, para crianças filhos de funcionários públicos federal,

localizada no município do Rio de Janeiro que atende crianças de 4

meses(Berçário I) até 4 anos de idade (Pré-escola), me deparei com questões

ligadas a qualidade de educação, formação de profissionais, práticas

pedagógicas; espaço inicial de contato com ensino-aprendizagem e em

especial contato com as recentes legislações pertinentes ao campo da

Educação Infantil, interesse do poder público em estabelecer estratégias que

permitam ampliar a oferta e a melhoria da qualidade para creches e pré-escola.

Segundo Souza (2000):

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

11

“[...] das questões relativas à escola, ao professor, ao aluno, como também, à sala de aula, aos métodos de ensino, aos procedimentos didáticos, aos livros, etc., exige que encare a pluralidade de relações e vínculos envolvidos. Tomar estas questões delimitando-as como pontos discretos, isolados em si próprios, aprisionados em dicotomias que os dilaceram e desfiguram, pois os tornam estáticos, seria reduzir a compreensão ou a explicação que se busca, ao aparente ou ao visível-possível àquele que faz incidir sobre as mesmas o seu olhar “(SOUZA, 2000; apud: MADEIRA, 2001, p. 126).

Na revisão de literatura sobre este tema, no campo da educação,

foram encontradas poucas pesquisas, que abordam o tema após a aprovação

da Lei Nº. 13.005 de 25 de junho de 2014 que dá outras providencias ao Plano

Nacional de Educação. As realizadas referem-se a alguns aspectos da oferta

de educação infantil no país nos últimos 10 anos, tendo em vistas metas do

PNE de 2001.

Outras pesquisas indicaram, ainda, que o discurso do Plano

Nacional de Educação é permeado pelo ideal de que somente sua implantação

fica na Retórica e inviabilizando sua realização, em função das dificuldades do

encontro com outros Sistemas Educacionais.

Considerando a natureza dos trabalhos acima descritos e diante da

temporalidade e atualização do tema, buscou-se, neste estudo, quais são os

outros e novos sentidos atribuídos a este tipo de discurso.

Optou-se pela pesquisa qualitativa, na qual Patton (1986; apud:

ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNADJER, 2004, p. 131) afirma ter por

pressuposto: “[...] que as pessoas agem em função de suas crenças,

percepções, sentimentos e valores e que seu comportamento tem sempre um

sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato,

precisando ser desvelado”.

Para tanto, utilizou-se a pesquisa bibliográfica como instrumento

metodológico para apreender o processo discursivo utilizado pelos autores que

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

12

tratam do tema legislação e educação infantil expondo pensamentos,

discussões, expressões históricas e a legislação orientadora articulada com os

elementos relevantes das representações de ‘vida social’ do tema sustentada

pelos autores.

Para auxiliar nesta investigação, foram formuladas as seguintes

questões de estudo:

1. Quais os principais desafios para a implementação do PNE?

2. O que diz a legislação?

3. Quais as principais etapas da educação infantil?

4.Como está o Plano e sua implementação no Município do Rio de

Janeiro?

No primeiro capítulo, apresento uma análise das concepções de

Educação Infantil, pensada a partir das questões do brincar, valorizando a

brincadeira como forma de expressão, que traduza a construção dos

conhecimentos pela criança.

No capítulo 2, falaremos sobre o Plano Nacional de Educação

(PNE), tendo em vista que estabelece diretrizes, metas e estratégias de

concretização no campo da Educação. Neste capitulo será apresentada a Meta

1, referente a universalização da Educação Infantil, as dificuldades da

implantação desta meta, bem como analises sobre a formação dos

profissionais.

No capítulo 3, descreveremos quais os principais desafios na

implementação do Plano Nacional de Educação para que possa garantir que,

no final da vigência do plano um padrão de qualidade, no Município do Rio de

Janeiro bem como uma análise sobre a formação dos profissionais.

Para finalizar, teceremos nossas conclusões sobre a relevância da

Educação Infantil, como primeira etapa mais importante do processo

educacional da criança.

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

13

CAPÍTULO I

CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL "Filhos da sensatez, justiça e muito amor Netos de

boa herança, frutos da sã loucura Fortes, sadios, lindos, pretos brancos ou índios Os meninos do Brasil pedem para desfilar Os meninos do Brasil, têm a cara do Brasil, o jeitinho do Brasil" (Gonzaguinha)

1.1. Conceito de Infância

A palavra infância no dicionário da Língua portuguesa Aurélio

significa, “etapa” da vida humana que vai do nascimento à puberdade.

“Contudo o conceito de “infância, passou e ainda passa por várias concepções

em função e de acordo com a realidade sócio-histórica de cada grupo e de

cada época (Meyer,2003)”.

Para Kramer, (1999, p.2), “as crianças são seres sociais, têm uma

história, pertencem a uma classe social, estabelecem relações segundo seu

contexto de origem, têm uma linguagem, ocupam um espaço geográfico e são

valorizadas de acordo com os padrões do seu contexto familiar e com a sua

própria inserção nesse contexto. Elas são pessoas, enraizadas num todo social

que as envolve e que nelas imprime padrões de autoridade, linguagem,

costumes. Essa visão de quem são as crianças - cidadãos de pouca idade,

sujeitos sociais e históricos, criadores de cultura - é condição para que se atue

no sentido de favorecer seu crescimento e constituição, buscando alternativas

para a educação infantil que reconhecem o saber das crianças (adquirido no

seu meio sócio-cultural de origem) e oferecem atividades significativas, onde

adultos e crianças têm experiências culturais diversas, em diferentes espaços

de socialização.”.

Cabe ressaltar, que o problema, é essencialmente complexo e ,

quando falamos de criança, devemos ter em mente que ela está inserida em

um contexto que começa na unidade familiar, a qual também esta inserida, por

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

14

sua vez, na comunidade onde vive, e que se amplia nessa organização de

Cidade, Estado e País. (AUGUSTO, 1979).

Assim pensar na concepção de infância torna-se o primeiro passo

para um entendimento deste momento em que o brincar compromissado com a

qualidade de vida da criança está confiada à escola.

Ainda para Kramer, 1988, p.32, a criança não é apenas um ser

psicológico, mas muito mais, do que isso, um ser inserido socialmente, visto

que pertence a uma classe social, possui uma cultura e vive um determinado

momento da história.

A educação infantil requer um olhar atento e individualizado,

historicamente sofreu transformações quanto a sua valorização enquanto

responsável pelo processo ensino-aprendizagem desta faixa etária.

Afirmam Madalena Freire, 1983 apud Barros, 2009, p. 26, que

assim, como Freinet mostra a relevância da criança no processo de ensino e

aprendizagem, dando destaque ao fato de atender seus interesses como fator

fundamental para a aquisição de conhecimentos.

O processo histórico da Educação Infantil ao longo do tempo

recebeu funções, e concepções diferentes em função do tempo, descreve

Miriam Abramovich e Sonia Kramer (1994, p.23-27), discutem as funções

assumidas pela pré-escola historicamente apud Meyer, 2004, p.23):

a) Assistencialista: (a pré-escola guardiã) – a função era de “guarda” das

crianças órfãs e filhas de trabalhadores (a partir do século XVIII),

b) Compensatória (a pré-escola preparatória) – a função era compensar as

carências infantis (as deficiências, a miséria, a negligencia das famílias, etc.).

Após a 2ª Guerra Mundial, nos Estados Unidos e Europa, as teorias do

desenvolvimento infantil e da psicanálise, os estudos linguísticos e

antropológicos acabaram por determinar a elaboração da abordagem da

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

15

“privação cultural”. A pré-escola seria capaz de suprir as “deficiências”

culturais, linguísticas e afetivas das crianças provenientes das classes

populares através do “adestramente” nos conhecimentos que não possuíam.

No Brasil, quando essa concepção passa a ser adotada, na década de 70, ela

passou a ser a “chave de todos os males educacionais”,

c) De promover o desenvolvimento global e harmônico da criança (a pré-escola

com objetivos em si mesma) - A pré-escola como “reparadora” dos males

sociais (que compensarão, por tabela, os educacionais) através de atividades

de escolarização, que acabam recaindo na função compensatória,

d) De instrumentalizar as crianças (a pré-escola com função pedagógica) – um

trabalho que torna a realidade e os conhecimentos infantis como ponto de

partida, e os amplia, através de atividades que têm um significado concreto

para a vida das crianças e que, simultaneamente, asseguram a aquisição de

novos conhecimentos(...) confiança e valorização redundam num trabalho pré-

escolar sistemático e intencional, direcionado à garantia de novas

aprendizagens (p.30).

Contudo somente nas últimas décadas ampliaram-se os estudos

e pesquisas no campo da Educação que privilegiaram a Educação Infantil

apoiada nas práticas e nas funções social e pedagógica.

Analisando o breve processo histórico sobre as concepções de

infância entendo que nos tornamos humanos no momento de troca com o

outro, sendo a criança um indivíduo social, que cresce e se modifica.

Para Kramer, 1988, p.33, “entender que a criança é alguém

situado histórica e politicamente, é a meu ver, entende-la em sua continuidade.

No entanto, ao se analisar as propostas e as políticas educacionais no Brasil

pode-se perceber, do ponto de vista histórico, que só recentemente se discute

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

16

a questão da democratização da escola e, mais recentemente ainda, tem sido

colocada, em pauta, a questão da educação da criança menor de sete anos”.

Assim apenas na década de 70, em razão do substancial

aumento do movimento social, é que o trabalho com a criança de 0 a 6 anos

veio a ser concebido em seu caráter histórico. (Kramer,1988).

Em síntese, para propor parâmetros de qualidade para a

Educação infantil, é imprescindível levar em conta que as crianças desde que

nascem são:

• cidadãos de direitos;

• indivíduos únicos, singulares;

• seres sociais e históricos;

• seres competentes, produtores de cultura;

•indivíduos humanos, parte da natureza animal, vegetal e mineral. (BRASIL,

PCNEI)

Assim para Kramer,1995, p.20, “ a pedagogia elabora uma

representação básica de infância a partir das noções pedagógicas de natureza

e de cultura que, ao serem aplicadas à infância , assumem um caráter

temporal. Como a infância precede a idade adulta,o fator “tempo” é introduzido

na conceituação de infância, gerando uma interpretação dúbia. Por um lado,o

desenvolvimento fisiológico da criança provoca uma certa confusão entre

“natureza humana” e “natureza” no sentido biológico do termo. Por outro lado, o

aspecto temporal confunde a infância,origem individual do homem, com a

origem da humanidade;a infância corresponderia ao estágio originário da

humanidade e como tal expressaria os traços essenciais da natureza humana.”

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

17

1.2. Objetivos Gerais da Educação Infantil

Para Meyer, 2004, p.46 existem objetivos pré–existentes que dizem

respeito à criança que abrangem os aspectos sócio-afetivos, cognitivos e

físicos. As práticas dos professores em Educação Infantil visam:

Auto-estima e Autonomia: desenvolver uma imagem positiva de si,

atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas

capacidades e percepção de suas limitações, pois para Machado (1991, p.43)

autonomia não é algo que se dá ou não a alguém, mas uma conquista

alcançada a partir de uma reivindicação que demonstra um grau de

amadurecimento global:

Brincar: com seus pares, com a turma, e mesmo sozinha,

expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades.

Socialização: estabelecer e ampliar cada vez mais as relações

sociais, aprendendo a articular seus interesses e pontos de vista com os

demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de colaboração e

cooperação;

Responsabilidade: compartilhar decisões, participar de elaboração

das regras de convivência, cumprindo os “combinados” da turma.

Curiosidade e observação: observar e explorar o ambiente com

atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante,

dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes

que contribuam para sua conservação;

Compreensão: desenvolver a percepção de si e do outro, aprender a

se colocar no lugar do outro e perceber diferentes pontos de vista;

Expressão e comunicação: utilizar as diferentes linguagens

(corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e

situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido,

expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

18

processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua

capacidade expressiva. (MEYER, 2004, p.46-47).

Contudo para autores como BARROS, 2009, p.34, “as políticas

educacionais atuais, impulsionadas pelos princípios do sistema vigente, têm-se

pautado por preparar a criança para o mercado consumidor. Dessa maneira, o

comprometimento com a formação social e integral do individuo está sendo

cada vez mais relegado em segundo plano, o que afeta o curso do seu

desenvolvimento. Considerando o contexto escolar, em face dessa política, as

atividades escolares estão mais dirigidas à escolarização precoce, trazendo

danos ao processo de formação da criança. O brincar atividade principal do

período da infância, esta perdendo para “atividades” dirigidas ao processo de

alfabetização, sendo este, hoje, o objetivo mais relevante das escolas.”

A fim de atender os objetivos para a prática da Educação Infantil

foram e ainda são objeto de estudos os referenciais teóricos e das orientações

dos documentos que permitam tornar a criança capaz de participar do processo

de criação cultural.

1.3. A criança de 0 a 6 anos e as legislações

Embora a Educação Infantil tenha mais de um século de história,

somente nas últimas décadas, foi reconhecida como direito da criança, dever

do Estado e como primeiro estágio da educação básica.

A demanda de inclusão de crianças de 0 a 6 anos na vida escolar,

tem crescido enormemente nos últimos anos, levando profissionais,

pesquisadores e teóricos da educação pensarem uma proposta de trabalho

que contemplem um projeto político pedagógico que reúna princípios e quais

competências devam ser desenvolvidas na Educação Infantil.

A criança de 0 a 6 anos, tem uma curiosidade nata, é investigativa,

exploradora, aventureira e questionadora, querendo saber o porquê de tudo

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

19

que a rodeia e possui conhecimentos acumulados através de diferentes

experiências de vivencias do seu cotidiano.

Várias são as contribuições dos diversos campos das ciências que

possibilitam o estudo da infância e nos permite delinear os principais

referenciais que norteiam e orientam a prática cotidiana no contexto escolar do

currículo da educação infantil: No campo da filosofia a infância é percebida

pelas diversas concepções filosóficas, para o campo da história a criança é

percebida e concebida pelas sociedades no tempo e no espaço, para o campo

da psicologia a criança acontece no seu desenvolvimento e em sua

aprendizagem, para a sociologia a sua significação social e ideológica da

infância, para o campo da antropologia a infância em diferentes contextos

culturais recebe influencias e influencia ara outros campos como a lingüística, a

psicomotricidade, as artes, a matemática, a biologia, a neurologia, a geografia,

entre outras, trazem abordagens mais especificas no campo da Educação

Infantil.

Assim para Meyer, (2004, p.32), “todas essas discussões

influenciam e modificam nossa maneira de pensar as relações entre adultos e

crianças, e consequentemente, as relações entre professores e alunos”.

Cabe ressaltar, que pesquisas cientificam em relação à infância,

mais e mais buscam sustentação teórica para justificar a permanência da

criança na escola e ampará-la por lei.

Historicamente a Educação Infantil passou por funções

diferenciadas, num primeiro momento sua função era de “guarda”, das crianças

de mulheres trabalhadoras, que necessitavam de um espaço acolhedor para

seus filhos enquanto assumiam seu papel de operárias. Com o tempo e novos

estudos a pré-escola poderia suprir deficiências culturais, linguísticas e afetivas

de crianças.

Augusto (1979, p.1) ressalta que “em 1971, o Presidente Emilio

Garrastazu Médici fixou as diretrizes da ação governamental no campo da

proteção à infância e à maternidade. Ao justificar o programa, o Ministro da

Saúde Rocha Lagoa, afirmou que o bem-estar da criança deveria ser

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

20

preocupação direta da família, da comunidade e do Estado em todos os níveis

governamentais.”.

Embora no Brasil, a Constituição Federal, promulgada em 5 de

outubro de 1988, em seu Capitulo II- Dos Direitos Sociais, Art. 6º, assegura que

“são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,

o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”,

somente em 1996 com a LDBEN. Lei nº. 9394, a prática da Educação Infantil

ganha função pedagógica.

A legislação nacional passa a reconhecer que as creches e pré-

escolas, para crianças de 0 a 6 anos,são parte do sistema educacional,

primeira etapa da educação básica (Kuhlmann Jr, 2000, p.6).

A LDB em seu artigo 29 ressalta que “a Educação Infantil etapa da

educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança

até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e

social, complementando a ação da família e da comunidade”.

Assim para Carneiro, 2013, p. 219, “a importância da Educação

Infantil cresce na medida do respeito à cidadania da criança, à sua dignidade e

seus direitos. Não é por acaso que os movimentos sociais têm ampliado o

circuito de pressão sobre o Estado no sentido do desenvolvimento, implantação

e implementação de políticas básicas no âmbito da administração pública,

envolvendo União, estados e municípios de um lado e de outro, família,

sociedade e instituições/organizações sociais. Este nível de preocupação tem a

ver igualmente com as transformações que a sociedade atual esta produzindo

no processo de socialização das crianças.”

Enquanto o artigo 29 da LDB oferece os conceitos e as funções, o

artigo 30 complementa definindo a forma de oferta, buscando respeitar a faixa

etária da criança, assim a educação infantil será oferecida em creches, ou

entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade e pré-escolas,

para crianças de quatro a seis anos.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

21

Em comentários CARNEIRO, 2013, p.227, afirma que as faixas

etárias da Educação Infantil foram alteradas, passando a pré-escola para o

segmento de quatro a cinco anos. À prática escolar criou uma segmentação da

Educação Infantil com a seguinte estruturação;

Berçário (bebê)

Minimaternal (um ano)

Maternal I (dois ou três anos)

Maternal II (três ou quatro anos)

Jardim I (quatro ou cinco anos)

Jardim II (cinco ou seis anos)

Pré-escola (etapa que antecede o ingresso na escola)

Para Kramer, 1999, p.2, “creches e pré-escolas são modalidades de

educação infantil. O trabalho realizado no seu interior tem caráter educativo e

visa garantir assistência, alimentação, saúde e segurança com condições

materiais e humanas que tragam benefícios sociais e culturais para as

crianças. Hoje, apesar da ambigüidade dos nomes, entendemos como creche o

espaço para crianças de 0 a 3 anos e pré-escola para crianças de 4 a 6

anos,de meio período ou horário integral cuja responsabilidade é ou deveria ser

assumida pela instancia educacional pública.Creches e pré-escolas são

instituições de educação infantil a que todas as crianças de 0 a 6 anos têm

direito.

Nunca é demais acentuar que, na Educação Infantil, há necessidade

de toda uma ambientação psicopedagógica própria, capaz de estimular o

desenvolvimento sensório-motor da criança e as dobras culturais do seu

processo de socialização. (CARNEIRO, 2013, p.226).

Outra legislação importante que constituiu e contribuiu para o

fortalecimento dos direitos da infância e juventude no Brasil foi a aprovação da

Lei Federal n.8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, que tem como

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

22

base a “proteção integral “ e a universalização dos direitos infantis e juvenis,

objetivando incluir crianças e adolescentes na órbita da cidadania.

A Educação Infantil no art.54 do Estatuto da Criança e do

Adolescente - ECA em seu art. 54-IV garante que é dever do Estado assegurar

o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de

idade.

Ressalta em comentários, Ishida, 2014, p.161 que “atualmente

existe uma ampliação da educação consoante o art.208, I da CF:

obrigatoriedade e gratuidade da educação infantil”.

Outras legislações foram criadas como, os Referencias Curriculares

Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI), as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), com os novos documentos a

criança é vista como sujeito histórico, inserido espaço/tempo e capaz de

participar do processo de criação cultural. Assim a criança constrói sua

identidade, sua autonomia, valores e é capaz absorver os conhecimentos

ensinados.

Neste contexto, pode-se afirmar que a Educação Infantil concebida

como processo pedagógico, contempla os quatro pilares da Educação Mundial,

documento elaborado pela Unesco, em 1985, elaborado pelo autor Jacques

Delors – Educação um tesouro a descobrir que são: saber conhecer, saber

viver, saber fazer e saber ser.

Para Delors (1985, p.12), “por todas estas razões, parece-nos que é

imperativo impor o conceito de educação ao longo da vida com suas vantagens

de flexibilidade, diversidade e acessibilidade no tempo e no espaço”.

A Educação Infantil, marco inicial do processo de ensino-

aprendizagem requer atenção especial por parte de acadêmicos, órgãos

públicos e professores regentes reconhecendo este espaço como local em que

a criança se desenvolve, interage com a realidade social, cultural e é possível

pensar numa proposta educacional.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

23

Parafraseando Delors; p.16

“Em outras palavras, a educação é também uma experiência social, mediante a qual a criança descobre-se a si mesma, desenvolve as relações com os outros, adquire as bases do conhecimento e do savoirfaire. Essa experiência deve iniciar-se antes da idade da escolaridade obrigatória, sob formas diferentes, conforme as circunstancias, além de implicar a família e a comunidade de base”.

Prevista na Constituição Federal de 1988, no Art.205 a educação, é

direito de todos e dever do estado e da Família, e deverá ser promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade.

Diante do exposto, quando pensamos em educação infantil no seu

lugar na Educação Básica, deve ser encarado como espaço de realização de

contribuições construtivistas do conhecimento, buscar atualizações de novas

competências para seus profissionais a fim de garantir a realização de práxis

adequadas a este segmento.

Assim a meta de universalizar o acendimento pré-escolar (crianças

de 4 a 5 anos até 2016 se insere na luta pelo reconhecimento da importância

da Educação Infantil para além do contexto escolar.

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

24

CAPÍTULO II

A IDEIA DE UM PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO:

UMA AMPLIAÇÃO UNIVERSAL DA ESCOLARIDADE

“Tudo, em suma, é sempre uma questão de educação”. (Cecília Meireles)

2.1 O PNE é lei: não pode ser promessa

Situar as interações entre as crianças de 0 a 6 anos de idade no

cenário da política educacional da educação infantil significa adentrar as

disputas inerentes ao processo de configuração da área na

contemporaneidade, que passam pela orientação dos Indicadores da

Qualidade na Educação Infantil, pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil(DCNEI) até as discussões do PNE(2011-2020). (FARIA,

AQUINO,2012, p.38).

O Plano Nacional de Educação (PNE) instituído por uma lei ordinária

que terá vigência de dez anos a partir de 26/06/2014, data em que foi

sancionado pela presidência da república, estabelece diretrizes, metas e

estratégias de concretização no campo da Educação.

A Lei nº. 13.005 de 25 de junho de 2014 estabeleceu o novo Plano

Nacional de Educação – PNE e em seu artigo 1º aprova o Plano com vigência

de 10(dez) anos a contar de sua publicação, com vistas ao cumprimento do

disposto no artigo 214 da Constituição Federal.

O novo PNE-2014-2024 “foi organizado em 20 metas, que se

fizeram acompanhar de estratégias indispensáveis à sua concretização

sistêmica da educação. As metas são estruturantes e passíveis de serem

acompanhadas pela sociedade brasileira, e as estratégias são procedimentos

para que União, estados e municípios, em colaboração, se organizem para

atingir as metas”. (BRASIL, MEC, 2014).

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

25

Para Carneiro, 2013, p.124, “a idéia de um Pano Nacional de

Educação tem sido um desejo sempre inconcluso da sociedade brasileira. A

ausência de uma política nacional de educação, sustentada por uma filosofia

educacional consistente, é responsável por este vazio. Para ser consistente, a

filosofia educacional deve conter uma dimensão especulativa (buscar teorias

da natureza do homem, da sociedade e do mundo e, mediante estas teorias,

ordenar e interpretar os dados da pesquisa educacional e das ciências do

comportamento); indicativa (identificar os fins que a educação busca meios

para chegar a eles); analítica (buscar esclarecer os enunciados especulativos

e prescritivos, sobretudo, mediante o entendimento da lógica dos conceitos

educacionais e de sua conformidade/desconformidade, garantindo uma visão

de totalidade); e, por fim prescritiva (balizar todo o processo de execução dos

elementos de funcionalidade)”.

O Plano Nacional de Educação deve indicar, decenalmente,

fundamentos, diagnósticos e diretrizes que darão suporte a metas

nacionalmente pactuadas, que visam avançar cada vez mais na garantia do

acesso e na qualidade da oferta. As metas nacionais refletem os valores

prioritários para a nação avançar em universalização da etapa obrigatória com

qualidade, com responsabilidade de todos os entes federativos. (MARQUES,

NOGUEIRA, LAMBERTUCCI, GROSSI, 2013, p.8)

A educação infantil foi contemplada especialmente na meta 1:

Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para crianças de 4

(quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em

creches de forma a atender, no mínimo,50% (cinquenta por cento) das crianças

de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE.

Para a meta 1, foram definidas dezessete estratégias de ação:

1.1) definir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios, metas de expansão das respectivas redes

públicas de educação infantil segundo padrão nacional de qualidade,

considerando as peculiaridades locais;

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

26

1.2) garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja inferior a 10% (dez

por cento) a diferença entre as taxas de frequência à educação infantil das

crianças de até 3 (três) anos oriundas do quinto de renda familiar per

capita mais elevado e as do quinto de renda familiar per capita mais baixo;

1.3) realizar, periodicamente, em regime de colaboração, levantamento da

demanda por creche para a população de até 3 (três) anos, como forma de

planejar a oferta e verificar o atendimento da demanda manifesta;

1.4) estabelecer, no primeiro ano de vigência do PNE, normas,

procedimentos e prazos para definição de mecanismos de consulta pública da

demanda das famílias por creches;

1.5) manter e ampliar, em regime de colaboração e respeitadas as

normas de acessibilidade, programa nacional de construção e reestruturação

de escolas, bem como de aquisição de equipamentos, visando à expansão e à

melhoria da rede física de escolas públicas de educação infantil;

1.6) implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE, avaliação da

educação infantil, a ser realizada a cada 2 (dois) anos, com base em

parâmetros nacionais de qualidade, a fim de aferir a infraestrutura física, o

quadro de pessoal, as condições de gestão, os recursos pedagógicos, a

situação de acessibilidade, entre outros indicadores relevantes;

1.7) articular a oferta de matrículas gratuitas em creches certificadas

como entidades beneficentes de assistência social na área de educação com a

expansão da oferta na rede escolar pública;

1.8) promover a formação inicial e continuada dos (as) profissionais da

educação infantil, garantindo, progressivamente, o atendimento por

profissionais com formação superior;

1.9) estimular a articulação entre pós-graduação, núcleos de pesquisa e

cursos de formação para profissionais da educação, de modo a garantir a

elaboração de currículos e propostas pedagógicas que incorporem os avanços

de pesquisas ligadas ao processo de ensino-aprendizagem e às teorias

educacionais no atendimento da população de 0 (zero) a 5 (cinco) anos;

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

27

1.10) fomentar o atendimento das populações do campo e das

comunidades indígenas e quilombolas na educação infantil nas respectivas

comunidades, por meio do redimensionamento da distribuição territorial da

oferta, limitando a nucleação de escolas e o deslocamento de crianças, de

forma a atender às especificidades dessas comunidades, garantido consulta

prévia e informada;

1.11) priorizar o acesso à educação infantil e fomentar a oferta do

atendimento educacional especializado complementar e suplementar aos (às)

alunos (as) com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades ou superdotação, assegurando a educação bilíngue para crianças

surdas e a transversalidade da educação especial nessa etapa da educação

básica;

1.12) implementar, em caráter complementar, programas de orientação e

apoio às famílias, por meio da articulação das áreas de educação, saúde e

assistência social, com foco no desenvolvimento integral das crianças de até 3

(três) anos de idade;

1.13) preservar as especificidades da educação infantil na organização

das redes escolares, garantindo o atendimento da criança de 0 (zero) a 5

(cinco) anos em estabelecimentos que atendam a parâmetros nacionais de

qualidade, e a articulação com a etapa escolar seguinte, visando ao ingresso

do (a) aluno(a) de 6 (seis) anos de idade no ensino fundamental;

1.14) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do acesso e da

permanência das crianças na educação infantil, em especial dos beneficiários

de programas de transferência de renda, em colaboração com as famílias e

com os órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à infância;

1.15) promover a busca ativa de crianças em idade correspondente à

educação infantil, em parceria com órgãos públicos de assistência social,

saúde e proteção à infância, preservando o direito de opção da família em

relação às crianças de até 3 (três) anos;

1.16) o Distrito Federal e os Municípios, com a colaboração da União e

dos Estados, realizarão e publicarão, a cada ano, levantamento da demanda

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

28

manifesta por educação infantil em creches e pré-escolas, como forma de

planejar e verificar o atendimento;

1.17) estimular o acesso à educação infantil em tempo integral, para

todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, conforme estabelecido nas

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

As estatísticas recentes, em 2012 (vide figura 1) confirmam a

expansão do atendimento das crianças de 0 a 3 anos, em creches, e de 4 a 5

anos, em pré-escolas. Segundo o Pnad 2013, 82,2% das crianças de 4 a 5

anos encontram-se matriculadas no sistema escolar na faixa etária de 0 a 3

anos, não contempladas nesta Pnad, os números disponíveis mostram que o

atendimento quase dobrou entre 2001 e 2012, chegando a 23,5% da

população. Mas é preciso ressaltar que a garantia do direito à educação

infantil, uma grande conquista da sociedade brasileira, não pode ser

compreendida apenas na dimensão do acesso à escola. Devemos como

sociedade, pensar na democratização do acesso a partir de parâmetros de

qualidade. Afinal, que escola é essa que queremos para as crianças do Brasil?

(CASTRO, 2014)

Figura 1-Freqüência e expectativa da Educação Infantil

Cabe ressaltar que merece destaque a Emenda Constitucional nº.

59/2009, que além das alterações relativas aos planos decenais, tem

possibilitado grandes conquistas para a educação nacional: a) ao incluir no

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

29

texto constitucional a expressão “Sistema Nacional de Educação” em formas

de colaboração de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório;

b) ao prever a obrigatoriedade do ensino de 4 a 17 anos; c) ao ampliar a

abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação

básica; e d) ao estabelecer meta de aplicação de recursos públicos em

educação como proporção do Produto Interno bruto (PIB). Sendo assim,

marcos jurídicos indispensáveis à criação das condições objetivas para a

efetivação de políticas de Estado. (MEC, 2014, p.9).

Por essa razão, é fundamental que cada uma das metas

nacionais traçadas seja conhecida, analisada e incorporada por todos,

mantidas as proporções e destacadas as peculiaridades nos planos de cada

território.

2.2 O PNE e o desafio da pactuação

O maior desafio para os gestores envolvidos na execução do plano

será, sem dúvidas, o fortalecimento das articulações institucionais que lhes

permitam a conservação das metas estabelecidas, respaldados por uma efetiva

cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Segundo SILVA e DRUMOND, 1999 apud FARIA, AQUINO, 2012,

p.62, “na estratégia 1, vale lembrar que as redes de educação infantil são de

responsabilidade dos municípios e que muitos não contam com um orçamento

para expandir suas redes. O governo federal define políticas nacionais, mas

deixa a cargo dos municípios programarem os recursos e a utilização deles,

para a implementação de políticas educacionais na esfera micro que levam a

priorizar determinadas áreas no campo da educação, principalmente o ensino

fundamental de nove anos e/ou a pré-escola. O que vale ressaltar nessa

estratégia é o viés privatizador que se encontra presente na expansão das

creches e pré-escolas, já que recursos são priorizados para a educação

obrigatória, diríamos principalmente na educação das crianças pequenininhas

nas creches.”

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

30

Sem dúvida não basta somente à elaboração de um plano nacional

que contemple a universalização da educação infantil, torna-se necessário uma

interlocução constante, e um acompanhamento entre as instituições

responsáveis pela aplicação dos recursos, especialmente os arrecadados pelo

estado, Distrito Federal e municípios.

Assim para o MEC, 2014, p.14 “cabe aos gestores dos sistemas e

das redes de ensino, sobretudo às secretarias de educação ou órgãos

específicos, em colaboração com os conselhos e fóruns de educação, a

adoção de mecanismos, processos e ações para estruturar uma metodologia e

uma agenda de trabalho que favoreçam os processos de participação e de

decisões.”.

Uma proposta de trabalho foi elaborada pelo MEC, através do

documento-base descrito no Caderno de Orientações no site Planejando a

Próxima Década, onde ela deve ser escrita de modo a indicar: orientações que

viabilizem a implantação do plano:

a) procedimentos, roteiros, atividades e sugestões para efetivação

do trabalho nas instituições educativas (escolas, instituições de ensino superior

e demais instituições);

b) mobilização da comunidade, incluindo o envio de documento base

para a elaboração ou adequação do plano;

c) realização de reuniões com as equipes e comissões encarregadas

do processo de mobilização e elaboração ou adequação;

d) indicação de realização de seminários, simpósios, dentre outros;

e) organização de equipe de sistematização;

f) previsão de mecanismos de acompanhamento e avaliação;

g) previsão de encaminhamento de projeto de lei para o legislativo.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

31

Nesse contexto, consideramos importante destacar a relação entre

os planos de Educação, o Sistema Nacional de Educação e o Regime de

Colaboração. Regime de Colaboração refere-se, à forma republicana,

democrática e não competitiva de organização da gestão, que deve ser

estabelecida entre os sistemas de ensino de modo a assegurar a

universalização do ensino obrigatório (art.211 da Constituição Federal, de

1988), enfrentando os desafios da educação básica pública e regulando o

ensino privado. O Regime de Colaboração, porém, é mais do que um conjunto

de formas de colaboração. Deve ser entendido como um conjunto coeso de

diferentes iniciativas e formas de colaboração, construído como método de

organização dos sistemas de ensino para a garantia do direito à educação

básica de qualidade. (MEC-2014-Planejando a Próxima Década).

Cabe ressaltar que, segundo o MEC, “o plano de educação deve ser

decenal, em conformidade com o que prevê o art.214 da CF, o que ultrapassa

o período de um mandato executivo e legislativo. Isso é fundamental porque,

como parte de uma política de Estado, este projeto não se vincula apenas a

programas de governo que, normalmente, tem duração de quatro anos. Nesse

sentido, a avaliação do plano de educação e o trabalho permanente de

acompanhamento serão fundamentais para que em cada mandato, prefeitos e

governadores, vereadores, deputados e senadores incorporem em seus

programas de trabalho as diretrizes, metas e estratégias do plano aprovado.

Assim, a discussão sobre o plano passa a ser fundamental inclusive nos

processos eleitores” [idem, ibidem].

A fim de garantir a efetiva implantação e adequação do plano torna-

se necessário manter a interlocução entre as instancias colegiadas com um

único discurso que seja a garantia da execução das estratégias estabelecidas,

de forma a garantir o estabelecido nas metas. As questões políticas partidárias

não deverão ser entraves na garantia ao cumprimento dos princípios,

prioridades e condições apresentadas pelo plano.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

32

CAPÍTULO III

OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO PLANO NACIONAL DE

EDUCAÇÃO PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DA

EDUCAÇÃO INFANTIL

“Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor pra formação do homem.” (Carlos Drummond de Andrade)

3.1 O debate sobre infância no PNE

Desde sua formulação e implantação do novo PNE-meta de número

1 tem merecido a atenção entre os principais operadores da educação infantil

bem como alvo de discussões e trabalhos acadêmicos.

Assim para Kramer, 2014, p.36, “não temos, evidentemente, a

ingenuidade de pensar que é possível universalizar a educação de 0 a 6 anos

nos municípios como um todo, mas, deve-se ressaltar, é necessário que seja

prevista, na legislação, a possibilidade do município deliberar quanto a seus

critérios: por exemplo, atendendo crianças de seis anos, depois de cinco,

quatro, etc. Para tanto, deve haver recursos próprios – e isto é extremamente

importante – que efetivem a manutenção de creches e pré-escolas.”

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 54,

reproduz “direito constitucional à creche e à pré-escola, tratando-se de

verdadeiro direito subjetivo da criança, e em razão de sua transindividualidade,

cabível de ser discutido em sede de ação civil pública. A decisão judicial nesse

campo é permitida porque inexiste discricionariedade do administrador e não

se trata apenas de norma programática, mas de verdadeira norma definidora

de direito. O Estado, nesse sentido, possui obrigação de inserir criança em

creche, não podendo simplesmente colocar a mesma em uma ‘fila de espera”

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

33

ou sugerindo a inserção em creche particular (STJ-RESP 575280/SP-

09/09/2004-DJU DE 25-10-2004 (ISHIDA, 2014, p.165).

Desta forma a decisão acima confirma o princípio do ECA, que tem

por base a “proteção integral” e a universalização dos direitos infantis e juvenis,

objetivando incluir crianças e adolescentes na órbita da cidadania fundada na

concepção de que as pessoas são diferentes como indivíduos, mas são iguais

em relação às leis fundamentais da sociedade.

Apesar de recentes dados estatísticos – educacionais realizados

pelo Censo escolar todos os anos e coordenado pelo INEP, Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas ( www.inep.gov.br ), o panorama nacional quanto à

criação de novos estabelecimentos (creches e pré-escolas) ainda não atingiu

um número capaz de atender a demanda desta faixa etária.

Assim para o site de Olho nos Planos, 2014, uma das etapas

fundamentais para a elaboração de um Plano de Educação que responda aos

desafios de um município ou estado é a construção de um bom diagnóstico da

situação educacional, que aborde os problemas, os desafios, os acúmulos e as

possibilidades presentes no território. Um diagnóstico que capte também as

dificuldades, experiências e ideias das pessoas que fazem diariamente o

atendimento educacional acontecer em milhares de unidades educacionais do

país e que vivem, no cotidiano, os impactos das decisões tomadas pela gestão

pública.”

Segundo os últimos dados estatísticos do INEP, registrou-se um

aumento da ordem de 10,5% entre 2011 e 2012, o que corresponde a 242 mil

novas matriculas. Isso se deve ao reconhecimento da creche como primeira

etapa da educação básica – sobretudo com o advento do Fundeb, com a

garantia de repasse de recursos a Estados, Distrito Federal e Municípios - e à

ação supletiva do MEC, com programas como o Programa Nacional de

Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar pública de Educação Infantil

(Proinfancia).

Os dados mostram que a maior parte das matriculas da creche está

sob a responsabilidade das redes municipais de ensino, que abrangem 63,1%

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

34

do total, atendendo 1.603.376 alunos, seguida pela rede privada, com 929.737

matriculas (36,6%). Esses dados reforçam as ações sinalizadas pelas atuais

políticas do MEC sobre a necessidade de ampliação da oferta da educação

infantil, inclusive com a edificação de novos estabelecimentos de ensino para

atendimento da população com até 3 anos.

Conforme MEC-INEP (vide tabela 2 abaixo), com relação à pré-

escola a matricula aumentou de 4.681.345 para 4.754.721(1,6%), o que

representa mais de 80% da faixa etária de 4 a 5 anos. Da mesma forma que a

creche, o maior atendimento da pré-escola segue a mesma tendência, os

municípios detêm 74,2% que em termos absolutos, corresponde a 3.526.373

matriculas, sendo a rede privada participa com 24,7% seguida das redes

estaduais, com 1,1%, e da rede federal, que não tem uma participação

significativa sobre o total de matriculas dessa etapa.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

35

Com relação aos planos estaduais de educação, a situação não é

muito diferente, sendo que mais de 60% dos estados ainda não possuem

planos de educação. Para que os Planos de Educação estejam com os

desafios locais, regionais e nacionais, é fundamental que em seu processo de

elaboração seja contemplada a pluralidade de vozes e olhares sobre a

educação. Afora a participação dos gestores, dirigentes de ensino e

especialistas em educação, é essencial considerar a opinião de toda a

comunidade escolar, ou seja, professores, coordenadores, merendeiras,

secretários, agentes de apoio da escola, estudantes, pais, mães e

responsáveis.

Outro aspecto, ainda a ser visto pela legislação, que permeia a

discussão sobre a implementação e realização efetiva do plano, é que o

currículo para a educação de 0 a 6 anos deva ser pautada, fundamentalmente

no próprio desenvolvimento da criança, no reconhecimento cultural da

comunidade onde ela está inserida e no conhecimento acumulado, produzido

socialmente, a ser trabalhado na escola, o qual representa um enorme campo

de pesquisa para essa produção curricular. (KRAMER,1988).

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

36

Para Camilo, 2014, p.31, “o debate sobre um currículo nacional é

antigo. De um lado, estão os defensores de referências que garantam ao

alunado de qualquer cidade ser apresentado aos conteúdos essenciais ao

desenvolvimento educacional do país – fundamental à equidade no ensino. Do

outro lado, quem crê na impossibilidade da proposta, dadas as dimensões

cultural. O argumento é facilmente derrubado, pois a ideia é que cada rede

acrescente a ela pontos relacionados à realidade local.

Para fortalecer os princípios básicos para a implementação de um

currículo adequado, se cumprirá a meta 7 do PNE – fomentar a qualidade da

Educação Básica, do fluxo escolar e da aprendizagem. A lei determina que até

junho de 2016 ela seja encaminhada ao Conselho Nacional de Educação

(CNE). Os professores, segundo o MEC, poderão opinar por meio de uma

plataforma digital, ainda não disponível. O documento será apenas o primeiro

nível de concretização do currículo, que se completa após o trabalho das redes

estaduais ou municipais e, posteriormente, de cada escol, com o projeto

político-pedagógico (PPP). (CAMILO, 2014).

Assim para Carneiro, 2013, p.227, “não cabe à Educação Infantil

desenvolver programas de disciplinas, mas trabalhar com atividades que

enfoquem, através de um planejamento lúdico-pedagógico, dimensões

cognitivas, afetivas, perceptivo-motoras, sociais, valorativas e dialógicas. Este

conjunto multifacetário vai conduzindo a criança a compreender e a gerir o

espaço, o tempo e a sua teia de ambiência. Mais do que isto, faz com que ela

absorva e reconstrua parâmetros para a cooperação, a tolerância, o respeito

aos outros, a autonomia e, ainda, ultrapasse o egocentrismo tão característicos

nesta idade”.

Outro campo desafiador no campo da educação infantil, concerne

sobre a formação e a valorização dos docentes, tendo em vista a

especificidade do tema.

Assim para, SILVA, DRUMOND, 2012, p.64, a qualidade de

atendimento ofertado às crianças de 0 a 6 anos, na educação infantil, passa

pela formação e valorização dos/as docentes de educação infantil. A formação

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

37

de docentes de crianças pequenas está contemplada nas estratégias 4 e 5 da

meta 1,no entanto, a estratégia 5 prioriza a formação docente voltada para a

faixa etária de 4 a 5 anos, ao enfatizar os conhecimentos curriculares para

crianças dessas idades na formação docente, de modo que estabelece

hierarquia e cisão entre creche e pré-escola, mais uma vez contrariando o que

foi definido no relatório da Conferência Nacional de Educação – Conae -

(idem,p.68:”a educação infantil não pode ser cindida”).

O CONAE é um espaço democrático aberto pelo poder Público e a

articulado com a sociedade para que todos possam participar do

desenvolvimento da Educação Nacional, convocada pela Portaria nº. 1.410, de

03 de dezembro de 2012, a CONAE/2014 possui caráter deliberativo e

apresentará um conjunto de propostas que subsidiará a implementação do

PNE, indicando responsabilidades, corresponsabilidades, atribuições

concorrentes, complementares e colaboradores entre os entes federados e os

sistemas de ensino. (CONAE. 2014. mec.gov.br).

Previsto no artigo 62 da LDB, “a formação de docentes para atuar na

educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de

graduação plena, em universidades e institutos, em universidades e institutos

superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do

magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino

fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.”.

Assim afirma CARNEIRO, 2013, p.462-463 que “a Coordenação

Geral de Educação Infantil da Secretaria de Educação Fundamental do MEC,

vem desenvolvendo um grande esforço junto a especialistas de renome,

profissionais dos sistemas de ensino, agencias de formação e representantes

dos Conselhos de Educação, no sentido de uma definição clara da formação

profissional para a Educação Infantil. Esta formação deve ter dois focos de

clientes principais: docentes que se encontram em atividade, mas sem a devida

qualificação; no país, são em torno de 19%, sendo que, em algumas regiões,

este percentual se eleva para um terço; e, ainda, docentes que vão trabalhar

na rede de Educação Infantil. Recentemente, foi assinado Protocolo,

envolvendo os Ministérios da Educação, do Trabalho e da Previdência, para

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

38

implementação de uma ação convergente destas instâncias voltadas para

acelerar alternativas de solução para a questão do professor da pré-escola.”

Alvo de debate entre os especialistas da educação infantil, alguns

reconhecem que a legislação brasileira é frágil, incompleta e contraditória. A

educação infantil tem especificidades que requer dos seus profissionais além

de conteúdo específicos, atividades ligadas à saúde, alimentação e artes.

Particularmente grave é a desvalorização e a falta de formação

especifica dos profissionais que atuam na área, especialmente na creche As

agencias formadoras devem observar as questões-desafio da Educação Infantil

nas Redes Públicas Municipais, como forma de prepararem mais

adequadamente os professores e equipes técnicas.

Estas questões são:

1-Estudos tematizados de diferentes aspectos de operacionalidade da Educação Infantil, que envolvam enfoques múltiplos;

2-Definição de uma gama de insumos estruturantes desta escola, a começar da funcionalidade de suas instalações físicas;

3-Definição de um projeto sócio-pedagógico-comunitário adequado, incluindo a participação das famílias;

4-Capacitação inicial e continuada dos professores;

5-Articulação das áreas de Educação/Saúde, visando assegurar o desenvolvimento biopsiquico e cognitivo adequado das crianças;

6-Desenvolvimento de mecanismos de avaliação da rede de creches e pré-escolas e dos processos de ensino-aprendizagem capazes de assegurar um alto padrão de qualidade no seu funcionamento.

Assim para Carneiro, 2013, p.219, a importância da Educação

Infantil cresce na medida do respeito à cidadania da criança, à sua dignidade e

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

39

seus direitos. Não é por acaso que os movimentos sociais têm ampliado o

circuito de pressão sobre o Estado no inserido do desenvolvimento,

implantação e implementação de políticas básicas no âmbito da administração

pública, envolvendo União, estados e municípios de um lado e, de outro,

família, sociedade e instituições/organizações sociais. Este nível de

preocupação tem a ver igualmente com as transformações que a sociedade

atual está produzindo no processo de socialização das crianças.

A fim de que a educação infantil de qualidade seja de fato direito

de todos, torna-se um desafio urgente, à formação profissional de todos os

profissionais envolvidos deste segmento.

3.2 O EDI – Espaço de Desenvolvimento Infantil: um modelo no município do RJ

Cabe destacar que a Educação Infantil é responsabilidade exclusiva

dos municípios, conforme previsto na Constituição federal, assim estabelecido

nos artigos:

Art. 212, § 2º; Os municípios atuarão prioritariamente no Ensino

Fundamental e na educação Infantil.

Art. 211, § 1º A União exerce função supletiva e redistributiva, em

todos os níveis, mediante assistência técnica e financeira.

Art. 211: A União, Estados, Distrito Federal e Municípios devem

organizar seus sistemas de ensino em regime de colaboração.

Art. 30: Compete aos Municípios: {...} manter, com a cooperação

técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar

e de Ensino Fundamental. (CARNEIRO, 2013, p.224).

Apesar do exposto acima concluir que todos os entes estatais são

legalmente responsáveis pela educação infantil, fica ao encargo do Município o

oferecimento das vagas públicas para este segmento da educação.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

40

Dentro de um novo conceito de Educação para a primeira infância a

Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, criou em 2009, através de projeto, o

Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI), como um lugar ideal para os

primeiros passos.

Os EDI’s são espaços que junta creche e pré-escola, e atende

crianças de seis meses a 5 anos e 11 meses, onde são estimuladas a se

desenvolver desde pequenas, uma aprendizagem através da convivência, com

livros e materiais apropriados e contando com educadores dedicados em um

espaço especialmente criados para elas.

Com a criação dos EDI’s, em 2009, o atendimento à Educação

Infantil no município do Rio de Janeiro foi ampliado em 15 mil vagas em

creches.

Desde 2009, foram construídos 129 EDI’s, e atualmente, mais e

67.700 crianças são atendidas pela prefeitura em um total de 247 creches, nos

202 EDI’s e em 166 unidades conveniadas da rede municipal, só nas áreas

pacificadas, 9 mil alunos são beneficiados pelos EDI’s. A meta da prefeitura do

Rio é a criação de 60 mil novas vagas de creche e pré-escola no período de

2009 a 2016. (SME-2014).

Com relação à qualidade, o avanço se deu com a criação do cargo

de Professor de Educação Infantil (PEI), qualificação dos agentes auxiliares de

creche, desenho e implementação de orientações curriculares para creche e

pré-escola, definição e implementação de indicadores de avaliação e

monitoramento do desenvolvimento infantil, e em conjunto a implementação do

Programa Primeira Infância Completa – PIC e a Escola da Família, modelo

alternativo e intersetorial de atendimento às crianças e formação dos

responsáveis sobre cuidados na Primeira Infância. O salto de Qualidade

consiste na garantia de professores de educação infantil em todas as turmas

desde berçários orientados a partir de uma clara proposta pedagógica.

Cabe ressaltar que a proposta de integração com as famílias é um

ponto fundamental dentro do novo conceito dos EDI’s, pois além do diálogo

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

41

constante entre família e escola, os EDI’s receberão a visita periódica de

agentes de saúde da primeira infância para orientar responsáveis.

Estes espaços devem ser também utilizados para proporcionar um

atendimento cultural e social à família, à comunidade e, desafiadoramente,

constituírem-se em locais onde as políticas sociais, lideradas pela educação,

sejam articuladas no atendimento para as crianças de 0 a 3 anos. Para as de 4

a 6 anos, tais espaços articulam “atividades de comunicação e ludicidade, com

o ambiente escolarizado, no qual desenvolvimento, socialização e constituição

de identidades singulares, afirmativas, protagonistas das próprias ações,

possam relacionar-se, gradualmente, com ambientes distintos dos das família,

na transição para a Educação Fundamental”.(Parecer CNE/CEB 22/1998 apud

PME-2008,p.35).

Os EDI’s também foram projetados para que sejam acolhidas em

uma perspectiva de educação inclusiva, independente das características de

desenvolvimento físico/mental, para que na heterogeneidade do convívio, seja

constituída a ética de respeito à diversidade e da justiça social. Desenvolver

políticas de inclusão pressupõe conceber e executar projetos, num novo

cenário de relações sociais, que acolha as diferenças e a multiplicidade de

atores, identificando na população infantil, aquelas crianças que apresentam

necessidades educacionais especiais, organizando e ampliando conjuntos de

ações que respondam às demandas de cada criança e suas famílias. (PME-

2008, p.35).

Segundo o Plano Estratégico da Prefeitura do rio de Janeiro-Pós-

2016, p.33 “a iniciativa Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) é composta

de ter frentes: (i) Expansão do Atendimento, (ii) Salto de Qualidade e (iii)

Integração intersetorial. A Expansão do atendimento consiste no crescimento

da rede de atendimento à Educação Infantil em 30 mil novas vagas,

prioritariamente na Zona Oeste e em áreas de alta concentração de

beneficiários do Cartão Família Carioca. Essa frente prevê também o

refinamento na Política de Acesso à Creche (a partir da inclusão de critérios de

priorização mais customizados em relação às necessidades das famílias) e a

adequação da oferta de vagas à demanda local (através do

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

42

georreferenciamento dos equipamentos e otimização de vagas intrapolos de

matrícula); (ii) O Salto de Qualidade consiste na garantia de professores de

educação infantil em todas as turmas desde berçários orientados a partir de

uma clara proposta pedagógica. Também prevê a elaboração e implementação

de Sistema de Avaliação e Monitoramento (visando à garantia do

desenvolvimento infantil e da qualidade do serviço oferecido); (iii) A integração

Intersetorial prevê a garantia de atendimento a 100% dos beneficiários do

Cartão Família Carioca através da modalidade creche ou do PIC, e o

refinamento e a implementação do Programa intersetorial de atendimento

alternativo.”

O projeto também investe na formação de gestores e vem

estimulando que a escolha dos mesmos se dê por processos democráticos

envolvendo toda a comunidade.

Assim com estas metas a SME-RJ pretende ampliar o acesso à

Educação Infantil para atender à demanda da população mais vulnerável; uma

melhoria no desenvolvimento infantil das crianças, assegurando condições

básicas de saúde e o desenvolvimento pedagógico voltadas para a primeira

infância, a fim de garantir que, pelo menos 95% das crianças com 7 anos de

idade ao final de 2016 estejam alfabetizadas.

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

43

CONCLUSÃO

No Brasil a Educação é um direito de todos ao longo da vida,

independentemente da origem social, idade, de gênero, raça, local de

nascimento ou moradia.

Este estudo objetivou conhecer os principais desafios para a

implementação do PNE – em sua meta 1, que é universalizar até 2016 a

educação infantil, sabendo que a educação brasileira passa por um período

transitório importante com inúmeras políticas educacionais e uma legislação

extremamente densa.

Alguns aspectos foram abordados, foi possível compreender a

especificidade da Educação Infantil, primeira etapa do processo educacional,

que requer de muitos educadores uma formação qualificada para o exercício

do trabalho para a faixa etária de 0 a 6 anos. Assim conforme previsto nos

Parâmetros Curriculares para a Educação Infantil, os profissionais que atuam

nessas instituições devem, valorizar igualmente atividades de alimentação,

leitura de histórias, troca de fraldas, desenho, música, artes, jogos coletivos,

brincadeiras, sono, descanso, entre outras tantas ações pedagógicas que

deverão ser realizadas cotidianamente com as crianças, reconhecendo que é

durante a primeira infância que ocorrem o crescimento físico, o

amadurecimento do cérebro, a oralidade, a aquisição dos movimentos, o

desenvolvimento da capacidade de aprendizado, a iniciação social e afetiva

entre outras.

Contudo apesar de previsto nas legislações alguns aspectos citados

acima, ainda não estão contemplados nas instituições infantis.

Quanto a implementação do PNE no município do Rio de Janeiro,

apurou-se que a prefeitura elaborou em 2009, um projeto denominado Espaços

de Desenvolvimento Infantil, que tem por finalidade atender crianças de 0 a 6

anos, priorizando a qualidade necessária que estes espaços exigem. São

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

44

espaços estrategicamente instalados, voltados para a população carente,

possuem estruturas que contemplam espaço amplo, lactário, berçário,

biblioteca, refeitório, brinquedoteca, alguns possuem salas climatizadas,

parque de recreação, serviço de saúde e tem como proposta de contratação de

pessoal, garantir um quadro de profissionais qualificados para atuarem neste

segmento. A contratação deste quadro é feita através de concurso público para

agente de apoio a creche e professor de educação infantil (PEI).

O Município do Rio de Janeiro desenvolve junto a, Secretaria

Municipal de Educação, seu planejamento e a elaboração de políticas, que

estabelecem metas para que a garantia do direito à Educação Infantil de

qualidade e a universalização deste ensino avance perante o Plano Nacional

de Educação (2014) e atinja a meta 1 estabelecida no referido documento.

Reconheço que ainda são poucas as políticas implementadas por

outros municípios no país, que ainda estão longe de alcançar os patamares

desejáveis pelo PNE em 2016 para a Educação Infantil.

Gostaria de apontar, que no Brasil, segundo o site de olho nos

planos, cerca de 30% dos municípios ainda não têm planos e muitos dos que

possuem não o utilizam para planejar suas políticas, mantendo-os

desconhecidos da população.

Por fim, afirma Carneiro, 2013, p.231,” estas metas encorpadas em

lei (PNE) sinalizam concretamente que a Educação Infantil saiu do casulo da

pura assistência social da criança e passou a ser tratada como um fator

educacional posto no rol dos deveres do estado e dos direitos das crianças e

das famílias. Daí o seu caráter legal de serviço educacional institucionalizado

sob forma de creches e pré-escolas”.

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

45

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL, Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil — Volume 1

Constituição da República Federativa do Brasil. Serie Legislação Brasileira, Editora Saraiva 2013.

Congresso Nacional. Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Brasília-DF, 1990.

Congresso Nacional. Lei nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. LDB. Brasília-DF. 2013

Congresso Nacional. Lei nº. 13.005 de 25 de junho de 2014 – PNE -Brasília-DF. 2014

MEC – PORTARIA CONAE – Nº. 1.410 de 03 de dezembro de 2012-Brasília – DF – 2012.

PLANO ESTRATÉGICO DA PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO – PÓS-2016

O Rio mais integrado e competitivo. Disponível: www.conselhodacidade.com

Acesso em 20/01/2015

Projeto Rio Sempre Presente – SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO-SME–RJ– Disponível http://www.riosemprepresente.com.br/projetos/edi/ - Acesso em 12/01/15

SECRETARIA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO – Disponível www.rio.rj.gov.br/web/sme/exibeconteudo?article=id=125528 Acesso em 12/01/2015.

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

46

BIBLIOGRAFIA CITADA

BARRETTA, E.M. CANAN, S.R.; Políticas Públicas de Educação Inclusiva: Avanços e recuos a partir dos documentos legais. IX ANPED SUL. Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul. Rio Grande do Sul. 2012.

BRASIL, Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil —

Volume 1

ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F.; O método nas ciências

naturais e sociais: Pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Ed.Thomson,

1999.

AZZI, S; Trabalho docente: autonomia didática e construção do saber

pedagógico, fls.35/60. In: Pimenta, S. G, Saberes pedagógicos e atividade

docente. São Paulo. Cortez Editora. 2005.

BARROS, C.O.M.Flavia Cristina; Cadê o Brincar? Da Educação Infantil para o

Ensino Fundamental. Editora Cultura Acadêmica. São Paulo. 2009. Disponível

em http://books.scielo.org .Acesso em 19/12/2014.

CAMILO, C. Base nacional comum curricular: o que é isso? Revista Nova

Escola. Ano 2, nº. 275, setembro. São Paulo.SP.p.31.2014.

CANEN, A.; A pesquisa multicultural como eixo na formação docente:

potenciais para a discussão da diversidade e das diferenças. Ensino: avaliação.

Políticas. Públicas. Educ., Rio de janeiro. V.16, n.59, p.297-308, abr./jun. 2008

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

47

CASTRO P. A avaliação da educação infantil e a garantia de direitos.

Disponível em: www.dm.com.br/texto/195349-a-avaliacao-da-educacao-infantil-

e-a-garantia-de-direitos. Acesso em 12/12/2014.

CARNEIRO, M. A. LDB FÁCIL-Leitura crítico-compreensiva artigo a artigo.

Editora Vozes, Petrópolis, RJ. 2013.

DELORS, J., Educação um Tesouro a Descobrir. Relatório para a UNESCO da

Comissão Internacional sobre Educação para o Séc. XXI, impresso no Brasil,

ED, 96/WS/9, 2010.

FARIA. A.L.G. L.M.L.AQUINO. Educação Infantil e PNE: questões e tensões

para o século XXI. Coleção Formação de professores. Editora Autores

Associados. Campinas, SP. p.38.2012

FREIRE. M. A paixão de conhecer o mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

In. BARROS, C.O.M. Flavia Cristina; Cadê o Brincar? Da Educação Infantil

para o Ensino Fundamental. Editora Cultura Acadêmica. São Paulo. 2009.

GOLDENBERG, M.; A arte de pesquisar. Editora Record. 11ª Edição. Rio de

Janeiro. P.11. 2009.

ISHIDA, V.K. Estatuto da Criança e do Adolescente. Doutrina e Jurisprudência.

Editora Atlas S.A.15ª Edição. São Paulo. 2014.

KUHLMANN JR, M., Historias da Educação Infantil Brasileira, Fundação Carlos

Chagas; Revista Brasileira de Educação; São Paulo, Mai./Jun./Jul./

Ago.n.14.2000.

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

48

MARQUES, B. NOGUEIRA. F. LAMBERTUCCI. A.R., GROSSI, G JR. O

Sistema Nacional de Educação: em busca de consensos. Editora MEC.

2013.p.8.

MAZZOTTI, T.; ALVES-MAZZOTTI, A.; Análise retórica como instrumento para

a pesquisa em Psicologia Social. Mestrado em Educação da Universidade

Estácio de Sá. RJ, 2009.

MEC – Ministério da Educação – Planejando a Próxima Década - Alinhando os

Planos de Educação. 2014 - Disponível em

http://www.pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf -

Acesso em 03/01/2015.

MEYER, I.C. R, Brincar & Viver-Projetos em Educação Infantil, Rio de Janeiro,

Editora WAK, 2004.

NÓVOA, A.; O regresso dos professores. In: Conferência Desenvolvimento

profissional de professores para a qualidade e para a equidade da

Aprendizagem ao longo da Vida. Lisboa: Parque das Nações, 2007.

PNE – PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – Disponível em www.mec.gov.br

Acesso em 20/10/2014.

SILVA, P.R.; DRUMOND.V.; A educação infantil no contexto do PNE: a

unidade na educação das crianças de 0 a 6 anos. In: FARIA, A. L. G.; AQUINO.

L.M.L.; Educação Infantil e PNE: questões e tensões para o século XXI.

Coleção formação de professores. Campinas. Autores associados. 2012, p.64.

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

49

TARDIF, M., Saberes profissionais dos professores e conhecimentos

universitários. Elementos para uma epistemologia da prática profissional dos

professores e suas consequências em relação à formação para o magistério;

Faculte dês Sciences de l’Éducacion.Université Laval. Revista Brasileira de

Educação. Nº. 13. Jan/Fev/Jan/Mar/Abr. 2000.

KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas Políticas Educacionais no Brasil:

Educação Infantil e/é Fundamental. Revista Educação e Sociedade. Campinas,

vol.27, n.96 Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial p. 797-818, out. 2006.

Disponível em www.cedes.unicamp.br. Acesso em 22/12/2014.

_____________Criança e Legislação - a Educação de 0 a 6 anos. Em Aberto,

Brasília, ano 7,v.38;abr./jun.1988.

_____________ O Papel Social da Educação Infantil, Enviado a convite para a

Revista Textos do Brasil, Brasília, Ministério das Relações Exteriores, 1999.

Disponível em www.dominiopublico.gov.br/dowload/texto/mre000082.pdf

Acesso em 17/12/2014.

INEP. CENSO ESCOLAR DA EDUCAÇÃO BÁSICA 2012 – RESUMO

TÉCNICO.

http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/resumos_tecnicos/

resumo_tecnico_censo_educacao_basica_2012.pdf Acesso em 10/12/2014.

PLANOS DE EDUCAÇÃO - Disponível em

www.deolhonosplanos.org.br/processos-participativos - Acesso em 22/12/2014.

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Presidência da República, estabelecendo, metas e estratégias de concretização no campo da Educação, o plano é o

50

ÍNDICE

FOLHA ROSTO ------- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- --- --- ---- - -- -- ---- --- 2

AGRADECIMENTOS ------ --- ---- --- --- - ---- ---- --- --- ---- - -- -- ---- --- 3

DEDICATÓRIA -------- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- --- --- ---- - -- -- ---- --- 4

RESUMO ----- ---- -- ---- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- --- --- ---- - -- -- ---- --- 5

METODOLOGIA ------- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- --- --- ---- --- -- ---- --- 6

SUMÁRIO ------ --- - ---- ---- --- --- ---- --- - - ---- ---- --- --- ---- - -- -- ---- --- 7

INTRODUÇÃO -------- - --- --- --- --- - --- -- ---- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- 8

CAPÍTULO I - CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL

- --- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- --- --- ---- --- -- - --- ---- --- --- ---- --- -- --- - --- 13

1.1. Conceito de Infância ------ --- --- ---- --- - ---- -- -- --- --- -- 13

1.2. Objet ivos Gerais da Educação Infant i l - --- - --- --- --- 17

1.3. A cr iança de 0 a 6 anos e as legis lações -------- --- 18

CAPÍTULO II - A IDEIA DE UM PLANO NACIONAL DE

EDUCAÇÃO: UMA AMPLIAÇÃO UNIVERSAL DA

ESCOLARIDADE ----- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- --- --- ---- - -- -- ---- --- 24

2.1. O PNE é le i : não pode ser promessa ---- -- -- --- --- -- 24

2.2. O PNE e o desaf io da pactuação ----- ---- -- -- --- --- -- 29

CAPÍTULO II I - OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO PLANO

NACIONAL DE EDUCAÇÃO PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DA

EDUCAÇÃO INFANTIL --------- ---- --- ---- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- 32

3.1. O debate sobre infância no PNE ----- ---- --- - --- --- -- 32

3.2. O EDI – Espaço de Desenvolvimento Infant i l : um

modelo no municíp io do RJ --------- --- --- - ---- --- --- ---- --- -- ---- --- 39

CONCLUSÃO ------ ---- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- --- --- ---- --- -- ---- --- 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ------- - ---- ---- --- --- ---- --- -- ---- --- 45

BIBLIOGRAFIA CITADA --------- ---- -- -- -- ---- --- --- ---- - -- -- ---- ---- 46

INDICE ----- ---- --- - ---- ---- --- --- ---- --- -- ---- ---- --- --- ---- - -- -- ---- --- 50