universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo “lato … · opostas e de que as manifestações de...

34
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA BULLYING E APRENDIZAGEM Por: Zuleica da Silva Fonseca Oliveira Orientador Prof. Magaly Vasques Rio de Janeiro 2012

Upload: others

Post on 18-Jul-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

BULLYING E APRENDIZAGEM

Por: Zuleica da Silva Fonseca Oliveira

Orientador

Prof. Magaly Vasques

Rio de Janeiro

2012

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

BULLYING E APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicopedagogia Institucional

Por: Zuleica da Silva Fonseca Oliveira

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

3

AGRADECIMENTOS

Ao Deus que me deu o dom de amar o

conhecimento, ao meu querido esposo

Eric, por ser meu grande incentivador.

Aos meus professores pelo amor ao

ato de ensinar. E a todos que direta,

ou indiretamente, contribuíram para

que eu chegasse até aqui, agradeço

imensamente.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

4

DEDICATÓRIA

Ao meu esposo, meus familiares queridos

e as muitas vítimas de bullying, dedico

esta pesquisa.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

5

RESUMO

Bullying é um termo que está sendo muito utilizado, porém nem todos

sabem exatamente o que o mesmo significa, banalizando o seu uso.

O seguinte trabalho acadêmico teve como objetivo compreender o que é

o fenômeno bullying, identificar as especificidades de tal comportamento e

suas formas de manifestação. Também foi feito um estudo de como a emoção

e o meio são importantes na aquisição de conhecimento, para entendermos as

possibilidades existentes de as vítimas de bullying serem afetadas no processo

de aprendizagem.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

6

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em caráter descritivo, ou seja, foram analisadas

e descritas as características do tema proposto. A pesquisa foi bibliográfica,

com enfoque dentro da abordagem da análise qualitativa.

Para um maior entendimento do tema e das discussões propostas foram

consultados autores como Cléo Fante (2005), Aramis Lopes Neto (2005) Sônia

Maria de Souza Pereira (2009) Ana Beatriz Barbosa Silva (2010) e Gustavo

Teixeira (2011), Marta Pires Relvas (2009) entre outros. Alguns outros autores

também foram citados para o enriquecimento da pesquisa, além de pesquisas

na internet.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Considerações Iniciais: Conceito de Violência e Suas Diferentes

Formas de Manifestação 10

CAPÍTULO II - Conceito de Bullying e Suas Formas de Manifestação 16

CAPÍTULO III - Possíveis Efeitos do Bullying na Aprendizagem 23

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA 32

ÍNDICE 34

FOLHA DE AVALIAÇÃO 35

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

8

INTRODUÇÃO

A violência, embora sempre tenha existido, vem crescendo de forma

alarmante em todo o mundo. E a escola não está livre disso. Várias são as

formas de violência observadas no ambiente escolar: do vandalismo ao

assassinato. Existem também os tipos de violência que não são tão

“perceptíveis” e que, ainda assim, podem causar estragos emocionais sem

precedentes. A falta de respeito, os apelidos pejorativos, as agressões verbais

e físicas entre os alunos etc estão entre as muitas manifestações de violência

que hoje são conhecidas como bullying.

Cada vez mais temos ouvido falar de bullying no ambiente escolar. Mas,

sabemos de fato o que é isso? Esta pesquisa teve por objetivo geral nos levar

a uma reflexão sobre o bullying escolar e a conhecer as possibilidades de as

vítimas de tal comportamento terem a aprendizagem prejudicada.

A violência, muitas vezes sutil e velada, advinda do Bullying pode trazer

trágicas consequências para a vida das vítimas desta prática. Daí a

importância de um estudo sobre esse fenômeno e de o levarmos ao

conhecimento de todos os que estão, ou que estarão, envolvidos com essa

prática. Neste trabalho conceituamos violência, o bullying escolar e a emoção e

o meio como fatores importantes para a aprendizagem e, mediante estas

informações, buscamos respostas para as seguintes questões: o que é

bullying? Quais são as possíveis consequências deste comportamento na

aprendizagem das vítimas?

A justificativa para esta pesquisa se baseia no fato de que muitos

educadores e pais ainda desconhecem o fenômeno bullying, mesmo porque no

Brasil ainda não são tantos os estudos sobre o tema, embora esteja crescendo

o interesse devido ao fato de muitos casos estarem ocorrendo em diferentes

estados e ganhando espaço na Mídia. Ouvimos falar em violência na escola,

mas há pouco tempo que se passou a falar sobre a violência intencional e

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

9

repetitiva, sempre contra a mesma vítima, seja por questões religiosas, de

etnia, opção sexual etc. Através dessa pesquisa, pretendemos contribuir para o

entendimento do bullying, sendo este um sério problema que assola as escolas

e que ainda é confundido com as agressões casuais e corriqueiras. O que

motivou a realização desta pesquisa foi a intenção de contribuir para

esclarecer as dúvidas de muitos educadores e pais de alunos no que tange ao

bullying e, assim, ajudar as vítimas de tal comportamento.

Os objetivos específicos de nossa pesquisa foram conceituar violência e

sua relação com o bullying, conceituar o bullying propriamente dito; com suas

particularidades e formas de manifestação e mostrar as possíveis

consequências de tal comportamento no processo de aprendizagem das

vítimas.

No primeiro capítulo, intitulado “Considerações iniciais: Conceito de

violência e suas diferentes formas de manifestação” falamos do conceito geral

de violência e analisamos a abrangência desse termo, mostrando alguns de

seus enfoques. Falamos, também, de suas diferentes formas de manifestação

na sociedade.

No segundo capítulo, intitulado “Conceito de bullying e suas formas de

manifestação” conceituamos o bullying no espaço escolar, mostrando suas

especificidades e foi feito um histórico do fenômeno, a fim de contextualizar

nossa pesquisa.

No terceiro capítulo, intitulado “Possíveis efeitos do bullying na

aprendizagem” abordamos a importância da emoção e do meio no processo de

aprendizagem e os sintomas mais comuns identificados nas vítimas de

bullying.

Tendo conhecimento do que é o bullying escolar e quais as suas

possíveis consequências na aprendizagem, os profissionais da Educação e os

pais de nossos alunos terão os subsídios necessários para lidar com essa

realidade que está inserida no ambiente escolar. Dessa forma, poderão

contribuir para a formação de um cidadão, uma escola e uma sociedade mais

humana, justa e pacífica.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

10

CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES INICIAIS: CONCEITO DE VIOLÊNCIA E SUAS DIFERENTES FORMAS DE MANIFESTAÇÃO

Ao abrir um jornal, ao folhear uma revista, ao assistir a um noticiário ou

ao acessar um site de notícias na internet, uma coisa é certa: vamos nos

defrontar com a violência por todos os lados, ao redor do mundo. Ela encontra-

se mais presente em nosso cotidiano do que já paramos para pensar. As

notícias vão de infrações e incivilidades, tais como depredação de bens

públicos e brigas a guerras e massacres. Em todos os espaços podemos ver

algum tipo de violência sendo praticado: no lar, na escola, no trabalho, no

trânsito etc. Não estamos livres dela em nenhum lugar. Nos filmes, nas

novelas, nos jogos eletrônicos, a violência acaba sendo uma representação do

“mundo real” (grifo meu).

Devido ao avanço tecnológico e a rapidez na troca e veiculação de

informação, a cada dia somos assolados com notícias chocantes de violência.

São exemplos recentes, só no Brasil: uma mãe abandona um bebê numa

caçamba de lixo no litoral de São Paulo; doze crianças foram brutalmente

assassinadas por Wellington Menezes de Oliveira em uma escola municipal na

Cidade do Rio de Janeiro; dois homens foram encontrados mortos e degolados

em um canavial num município de Maceió. Estes são apenas alguns dos

muitos exemplos que poderiam ser listados. Muitos atos violentos são tão

corriqueiros, que já foram banalizados. O Psiquiatra da Infância e da

Adolescência Levinsky (2003, p. 1-2) nos alerta a respeito da banalização da

violência, quando diz

Em uma sociedade onde a violência está banalizada, ou não é identificada como sintoma de uma patologia social, corre-se o risco de que ela se transforme num valor cultural válido que vem sendo incorporado. Torna-se um modelo identificatório, um modo de ser. São geradas na sociedade, ainda que inconscientemente, condições para que a violência física e moral se transforme em um elemento de afirmação do jovem dentro desta cultura.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

11

Fala-se tanto em violência, mas, afinal, o que significa esse termo?

Como ela se manifesta? O que pode caracterizar um ato ou atitude como

violência?

A seguir, serão trazidos elementos para auxiliar na compreensão de tais

questões.

1.1 CONCEITUANDO VIOLÊNCIA

O termo violência é muito abrangente. Ele pode ter diferentes

conotações, dependendo da cultura, do contexto econômico e social e da

história. Recorrendo a etimologia, Michaud (2001, p.18), a define da seguinte

forma:

Violência vem do latim violentia, que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O verbo violare significa tratar com violência, profanar, transgredir. Tais termos devem ser referidos a vis, que quer dizer força, vigor potência, violência, emprego da força física, mas também quantidade, abundância, essência ou caráter essencial de uma coisa.

Geralmente, associamos a violência aos atos que envolvem a força

física ou o poder, porém, em seu clássico texto Sobre a Violência (2010, p.18),

onde trata sobre a relação entre guerra e política, violência e poder, Hannah

Arendt nos mostra que esses termos são distintos quando diz “Posto que a

violência – distintamente do poder, da força ou do vigor – sempre necessita de

implementos (...)”. Isso dá ainda mais complexidade ao termo.

No site dicionarioweb.com temos a seguinte definição: “Qualidade ou

caráter de violento. Ação violenta: cometer violências. Ato ou efeito de

violentar. Opressão, tirania: regime de violência. Direito: Constrangimento

físico ou moral exercido sobre alguém” (disponível em

http://www.dicionarioweb.com.br/violência.html. Acesso em 22/04/2012). Pela

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

12

definição do dicionário, já conseguimos ter uma visão mais ampla sobre a

violência, pois percebemos que ela vai além do que diz respeito ao físico e

alcança o psicológico.

Fante (2005, p.157), uma educadora que tem pesquisado sobre a

questão da violência na escola, trabalha a violência com base em diversas

definições de renomados autores, como sendo “todo ato, praticado de forma

consciente ou inconsciente, que fere, magoa, constrange ou causa dano a

qualquer membro da espécie humana.” Mais uma vez, podemos notar que a

violência acontece também na esfera psicológica, o que é perceptível quando

Fante fala sobre mágoa e constrangimento.

A filósofa Chauí (1999) nos leva a refletir sobre a violência em

contraposição a ética quando diz

(...) violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e pelo terror. A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos, inertes ou passivos.

A autora nos dá uma definição clara de que a violência e a ética são

opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou

psicológicas.

A partir dessas definições, podemos perceber de forma mais clara que

a violência não é algo ligado somente ao uso de força física. Ela ultrapassa o

limite da agressão física, existindo também a violência de cunho psicológico e

moral. A seguir, trataremos das formas de manifestação da violência.

1.2 AS DIFERENTES FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA

VIOLÊNCIA

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

13

Como vimos anteriormente, a violência tem um significado amplo e

diversificado. Segundo Schilling (2004, p.33-34) a violência é multidimensional,

no sentido de que ela abrange várias esferas diferentes dentro da sociedade

Uma pergunta que sempre faço quando me pedem para falar de violência é: “De que violência vocês querem que eu fale? Da violência das paixões? Da violência que acontece na família (...)? Da violência do desemprego, da fome, da falta de acesso e de oportunidades, da falta de justiça? Da violência das instituições? Da violência das escolas,das prisões, da polícia? Da violência da corrupção? Da violência do preconceito, do racismo, da discriminação, dos crimes do ódio (...)? Da violência da criminalidade?

Analisando as reflexões de Schilling, podemos concluir que se existe

multidimensionalidade na violência, logo suas manifestações também serão

variadas. Isso nos leva a uma compreensão das questões anteriormente

discutidas, e nos evidencia que ela pode ir de violência brutal a violência sutil.

Segundo Pereira (2009, p.18), podemos utilizar a seguinte definição:

Por violência brutal podemos caracterizar as agressões físicas (matar, roubar, bater, chutar, dar pontapés etc.) ou ao patrimônio das pessoas (depredar, pichar, roubar objetos etc.) São chamadas as violências explícitas ou diretas. Por violência sutil, podemos entender as manifestações de agressões indiretas (xingar, insultar, desrespeitar, falar mal de outro etc.), incluindo nesse último caso as formas de violência simbólicas e institucionais.

Podemos, então, considerar que a violência brutal está relacionada aos

aspectos físicos do ser humano e que a violência sutil está relacionada aos

aspectos psicológicos.

Baseando-se nos estudos de Abramovay e Rua (2003), Abramovay

(2003) e Bordieu e Passeron (1975), Pereira (2009, p.19) nos trás uma

compreensão de mais dois tipos de violência: a simbólica e a institucional.

Pereira define violência simbólica como sendo

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

14

o abuso do poder baseado no consentimento que se estabelece e se impõe mediante o uso de símbolos de autoridade. A violência, nesse caso, seria exercida pelo uso de símbolos de poder que não necessitam do recurso da força física, nem de armas, nem do grito, mas que silenciam protestos.

A violência simbólica é aquela onde existe a imposição do poder de

uns sobre os outros. Esse tipo de violência pode ser visto nas relações de

trabalho e no ambiente escolar, onde aqueles que detêm a autoridade (patrão,

diretor, professor) muitas vezes a utilizam de modo déspota, a fim de alcançar

um objetivo.

Ainda baseando-se nos estudos dos autores supracitados, Pereira

(ibid) classifica como violência institucional

a marginalização, discriminação e práticas de assujeitamento utilizadas por instituições diversas que instrumentalizam estratégias de poder, ou seja, o abuso de poder por parte das instituições que impõem suas regras sem margens de defesa e contra-argumentação por parte dos que são submetidos a ela.

A violência institucional também pode ser observada no ambiente de

trabalho e na escola e acontece quando o detentor da autoridade a utiliza para

humilhar e constranger no momento em que não tem a capacidade de dialogar

e de buscar entender a necessidade do outro.

Seja qual for o tipo de violência que a pessoa seja submetida,

pesquisas apontam que elas geralmente deixam marcas profundas na psique

da vítima: medo, apreensão, depressão, síndrome do pânico ou do estresse

pós-traumático. Além disso, pode levar a vítima a desenvolver problemas

cardíacos, de pressão arterial, diabetes e até mesmo pode levá-la a

desenvolver vícios. Mesmo que a violência não seja um problema específico

da área da saúde, ela pode afetar (e geralmente afeta) a saúde das vítimas,

seja na parte física ou mental. Em muitos casos, a vida da vítima nunca mais

será a mesma, trazendo consequências também para o âmbito social, fazendo

com que ela passe a levar uma vida de reclusão.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

15

Agora que temos, em linhas gerais, as informações necessárias sobre

a violência e suas manifestações, a pesquisa será direcionada para a violência

entre estudantes no espaço escolar, que é conhecida como bullying escolar,

buscando trazer uma explicação sobre o que é este fenômeno e identificar se

ele pode ter efeitos negativos na aprendizagem da vítima.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

16

CAPÍTULO II

CONCEITO DE BULLYING E SUAS FORMAS DE

MANIFESTAÇÃO

Como vimos no capítulo anterior, a violência está em todos os

espaços. Suas consequências para os indivíduos e para a sociedade são

muito sérias. No Brasil, os jovens são suas maiores vítimas e também seus

maiores causadores, como mostra uma pesquisa realizada pelo Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no ano de 2008

(http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/05/20/jovens_sao_as_maiores_vitimas

_da_violencia_diz_ipea-427473113.asp. Acesso em 15/05/2012). Sendo a

escola o lugar onde podemos encontrar a maioria desses jovens, a violência

nesse espaço é real e vem ganhando a atenção de muitos estudiosos. Hoje, a

violência entre estudantes é vista como um fenômeno e já tem um nome

específico: bullying escolar. Esse é o assunto deste capítulo, juntamente com

um histórico do fenômeno.

2.1 – BULLYING ESCOLAR: COMPORTAMENTO AGRESSIVO ENTRE

ESTUDANTES

Teixeira (2011, p.19), um médico psiquiatra especializado em questões

comportamentais, que vem estudando o fenômeno bullying, o define da

seguinte maneira:

O bullying pode ser definido como o comportamento agressivo entre estudantes. São atos de agressão física, verbal, moral ou psicológica que ocorrem de modo repetitivo, sem motivação evidente, praticados por um ou vários estudantes contra outro indivíduo, em uma relação desigual de poder, normalmente dentro da escola. Ocorre principalmente em sala de aula e no horário do recreio.

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

17

O termo bullying é uma palavra de origem inglesa, que deriva do verbo

to bully, cujo significado é ameaçar, intimidar, e dominar. O verbo dá origem

ainda ao termo bully, que significa “valentão” e que serve para denominar os

agressores e praticantes do bullying. Falando da origem do termo bullying e de

seu significado, Fante (2005, p.27) nos explica:

Bullying: palavra de origem inglesa, adotada em muitos países para definir o desejo inconsciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo que conceitua os comportamentos agressivos e antissociais, utilizado pela literatura psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre o problema da violência escolar.

Não existe uma tradução exata para esse termo, mas ele se tornou

uma expressão que cabe perfeitamente ao comportamento violento entre

estudantes e já faz parte do vocabulário de todos os que estão preocupados

com a segurança e o desenvolvimento dos alunos, sejam pais ou professores.

Essa preocupação se dá pelo bullying ser uma forma de violência velada, por

ser, como afirma Fante (2005), cruel, intimidadora e repetitiva e por ter o poder

de ferir a alma do ser humano, que é o seu bem mais precioso.

O pediatra Aramis Lopes Neto (2005) frisa, além do caráter repetitivo e

cruel, o caráter intencional e sem motivação evidente do bullying, assim como

a desigualdade de poder entre os envolvidos. Para Lopes Neto (2005, p.165),

o bullying

Compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder . Essa assimetria de poder associada ao bullying pode ser consequente da diferença de idade, tamanho, desenvolvimento físico ou emocional, ou do maior apoio dos demais estudantes.

Teixeira (2011, p.21) também nos esclarece que a principal

característica do bullying é a desigualdade de poder

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

18

Então, o comportamento bullying sempre segue um padrão: uma relação desigual de poder em que um ou mais alunos tentam subjugar e dominar outros jovens. O estudante alvo de bullying pode ser exposto a diferentes formas de agressão, entretanto não é capaz de se defender. Esse desequilíbrio de poder determina a repetição e a manutenção do comportamento agressivo de estudantes que tentam a todo custo dominar e humilhar o outro aluno.

Concluímos então, através das definições apresentadas pelos autores,

que existe muita similaridade no que se refere ao termo bullying e que ele é

bem específico: agressividade entre estudantes, de forma repetitiva, numa

relação de desigualdade de poder. O mesmo não aconteceu quando falamos

sobre violência, que é muito mais abrangente. A seguir, traremos um breve

histórico do bullying, a fim de contextualizar a nossa discussão sobre as

consequências desse fenômeno.

2.1.1 FORMAS DE BULLYING

Conforme citado pela médica psiquiatra Silva (2010, p.23-34) as formas

de bullying são:

Verbal: insultar, ofender, xingar, fazer gozações, colocar apelidos

pejorativos, fazer piadas ofensivas, “zoar”.

Físico o Material: bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar,

roubar; furtar ou destruir pertences da vítima, atirar objetos contra as vítimas.

Psicológico e Moral: irritar, humilhar e ridicularizar, excluir, isolar, ignorar;

desprezar ou fazer pouco caso, discriminar, aterrorizar e ameaçar, chantagear

e intimidar, tiranizar, dominar, perseguir, difamar, passar bilhetes e desenhos

entre os colegas de caráter ofensivo, fazer intrigas, fofocas ou mexericos (mais

comum entre as meninas)

Sexual: abusar, violentar, assediar, insinuar.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

19

Virtual: difusão de calúnias e maledicências através da utilização de

aparelhos e equipamentos de comunicação (celular e internet). Essa forma de

bullying é conhecida como cyberbullying.

Esses tipos de comportamentos agressivos podem estar presentes em

vários espaços e nos relacionamentos interpessoais, porém, quando isso

acontece na escola, que é, segundo Silva (2010, p.22) “o templo do

conhecimento e do futuro de nossos jovens”, contribuem para a exclusão

social e para a evasão escolar, o que faz com que mais jovens deixem de

concluir as etapas educacionais que são tão importantes para as suas

descobertas e para o desenvolvimento de seus talentos.

2.2 – HISTÓRICO DO BULLYING

Segundo Fante (2005, p.44) “o bullying é um fenômeno tão antigo

quanto a própria escola”. Porém, estudos sistemáticos a respeito do assunto

surgiram apenas na década de 1970, na Suécia. Nessa época, houve uma

grande preocupação de toda a sociedade a respeito dos problemas advindos

da violência na escola, tanto para o agressor, quanto para a vítima. Logo essa

preocupação se estendeu por outros países escandinavos. Na Noruega, o

fenômeno despertou o interesse de pais, professores e da mídia por muito

tempo, mas não havia um comprometimento oficial por parte das autoridades

educacionais. Entretanto, em 1982, foi noticiado pelos jornais noruegueses o

suicídio de três jovens entre 10 e 14 anos, que haviam sido vítimas de bullying

e esse teria sido o motivo do atentado contra a própria vida. Conforme cita

Teixeira (2011, p.20) “uma grande comoção tomou conta do país e culminou

com uma campanha nacional de prevenção ao comportamento bullying,

coordenada pelo Ministério da Educação norueguês nas escolas de ensino

fundamental”.

Foi Dan Olweus, pesquisador da Universidade de Bergen, Noruega, o

primeiro a associar o termo bullying ao comportamento agressivo entre

estudantes. Olweus desenvolveu uma pesquisa onde delineou critérios

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

20

específicos para detectar o problema, sendo possível diferenciá-lo de

comportamentos e a atitudes entre iguais, que são característicos do processo

de amadurecimento do ser humano. Falando da pesquisa de Olweus e dos

resultados, Fante (2005, p.45) explica

Olweus pesquisou inicialmente cerca de oitenta e quatro mil estudantes, trezentos a quatrocentos professores e em torno de mil pais, incluindo vários períodos de ensino. Um fator fundamental foi avaliar a sua natureza e ocorrência. Esse estudo constatou que a cada sete alunos, um estava envolvido em casos de bullying. Essa situação gerou uma campanha nacional, com o apoio do governo norueguês, que reduziu em quase 50% os casos de bullying nas escolas e; tal fato incentivou outros países, como Reino Unido, Canadá e Portugal, a promoverem campanhas de intervenção.

Pesquisas realizadas em vários países indicam que o problema do

bullying vem crescendo. As estimativas são de que de 5% a 35% das crianças

em idade escolar estejam envolvidas em casos de violência, sejam como

agressores ou como vítimas. Se pensarmos que ainda existem os

espectadores do bullying, que também podem ser afetados pelo problema,

essas pesquisas teriam um aumento significativo em seus resultados. Nos

Estados Unidos, o interesse e a preocupação com o bullying é muito grande,

devido ao crescimento absurdo do fenômeno e aos casos graves já ocorridos,

como o da escola de Columbine, em 1999,onde dois jovens entre 17 e 18 anos

mataram doze alunos e um professor. Pesquisas locais apontam que o futuro

para a maioria dos jovens agressores será de delinquência e/ou violação de

regras básicas da boa convivência e isso vem preocupando a população e as

autoridades.

A partir dos anos 1990, devido aos casos e números supracitados, os

estudos a respeito do bullying passam a ser mais intensos e a contar com a

participação de instituições privadas e governamentais. No Brasil, as pesquisas

sobre o fenômeno caminham lentamente, mas já podemos contar com

algumas informações e estudos esparsos. Uma pesquisa da Associação

Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e ao Adolescente (Abrapia)

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

21

realizada no Rio de Janeiro, com 5.482 alunos do segundo segmento do

Ensino Fundamental, de onze escolas (nove públicas e duas particulares) entre

novembro de 2002 e março de 2003, trouxe os seguintes dados: 28,3%

admitiram ter sido alvo de bullying, 15% sofreram bullying várias vezes por

semana, os tipos mais frequentes de bullying foram: apelidar 54,2%, agredir

16,1%, difamar 11,8%, ameaçar 8,5%, pegar pertences: 4,7%, admitiram ter

sofrido bullying na sala de aula 60%. (Disponível em

http://www.observatoriodainfancia.com.br/article.php3?id_article=232. Acesso

em 15/05/2012).

Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) apontou Brasília como a capital do bullying. Segundo o estudo, 35,6% dos

estudantes entrevistados disseram ser vítimas constantes da agressão. Belo

Horizonte, em segundo lugar com 35,3%, e Curitiba, em terceiro lugar com 35,2 %,

foram, junto com Brasília, as capitais com maior frequência de estudantes que

declararam ter sofrido bullying alguma vez.

A população-alvo da pesquisa foi formada por estudantes do 9º ano do

ensino fundamental (antiga 8ª série) de escolas públicas ou privadas das capitais

dos estados e do Distrito Federal. O cadastro de seleção da amostra foi

constituído por 6.780 escolas.

Durante a pesquisa, foi feita a seguinte pergunta aos estudantes: "Nos

últimos 30 dias, com que frequência algum dos seus colegas de escola te

esculacharam, zoaram, mangaram, intimidaram ou caçoaram tanto que você ficou

magoado, incomodado ou aborrecido?”

Os resultados mostraram que 69,2% dos estudantes disseram não ter

sofrido bullying. O percentual dos que foram vítimas deste tipo de violência,

raramente ou às vezes, foi de 25,4% e a proporção dos que disseram ter sofrido

bullying na maior parte das vezes ou sempre foi de 5,4%. No ranking das capitais

com mais vítimas de bullying, aparecem ainda Vitória, Porto Alegre, João Pessoa,

São Paulo, Campo Grande e Goiânia. Teresina e Rio Branco estão empatadas na

10ª posição. São Paulo ocupa a 7ª posição. Palmas apresenta o melhor resultado

da pesquisa. Na capital do Tocantins, 26,2 % dos estudantes afirmaram ter sofrido

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

22

bullying. Em seguida, estão Natal e Belém, ambas com 26,7%, e Salvador, com

27,2%. (Disponível em /0http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/06/pesquisa-do-

ibge-aponta-brasilia-como-campea-de-bullying.html. Acesso em 16/05/2012).

Muitos estudos deverão acontecer daqui para frente, pois os casos de

bullying estão aumentando assustadoramente, como já foi citado nessa

pesquisa. Em alguns Estados e municípios do Brasil já estão sendo criadas leis

que amparam as vítimas do comportamento. A necessidade de estudos é real,

para que tenhamos maior compreensão do que o bullying pode causar na vida

da vítima e quais são as possibilidades de enfrentamento. Adiante,

discutiremos sobre as possíveis consequências do bullying na aprendizagem

da vítima.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

23

CAPÍTULO III

POSSÍVEIS EFEITOS DO BULLYING NA

APRENDIZAGEM

Abordaremos os possíveis efeitos do bullying no processo de

aprendizagem das vítimas de tal comportamento. Porém, precisamos entender

algumas questões importantes referentes ao papel da emoção e do meio na

aprendizagem. A partir daí, teremos uma maior compreensão de como as

vítimas de bullying podem vir a ter dificuldades em sua vida escolar,

principalmente no que se refere a aprendizagem.

3.1. EMOÇÃO E APRENDIZAGEM

Conforme explicado por Relvas (2009, p. 95) “as emoções são conjuntos

de reações químicas e neurais que ocorrem no cérebro emocional (...). As

emoções são fontes valiosas de informações e ajudam-nos a tomar decisões.”

Sabemos que é no sistema límbico, personagem importante para o cérebro,

que se situa o elemento responsável pelo prazer e pelo aprendizado. Ainda

segundo Relvas (2009, p.59) “a emoção está para o prazer assim como o

prazer está para o aprendizado, e a autoestima é a ferramenta que movimenta

os estímulos para gerar bons resultados.” Sem prazer e autoestima não existe

aprendizado efetivo, pelo menos segundo os estudos da Neurociência. Para

Relvas (2009, p.127)

As experiências vividas pelo educando em seu desenvolvimento são

referidas e imprimem significação determinante em seu processo de

construção pessoal. A aprendizagem coloca em foco as diferentes

dimensões do educando sob uma ótica integradora do aspecto

cognitivo, afetivo, orgânico e social. O “olhar” sob esses aspectos, ao

mesmo tempo em que revitaliza a importância da escola na

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

24

aprendizagem, coloca em foco a importância de toda a reunião de

fatores “extraclasses” que interferem no processo de construção do

conhecimento e do papel do aprendente.

Através dessas informações, podemos perceber que o aprendizado

depende de um ambiente propício a este processo, onde o prazer e a

autoestima sejam incentivados e cultivados.

3.2. IMPORTANTES CONSIDERAÇÕES SOBRE A APRENDIZAGEM E

SUA RELAÇÃO COM O MEIO, SEGUNDO PIAGET, VYGOTSKY E WALLON

Relvas (2009, p. 115-124) nos traz algumas considerações importantes

sobre a aprendizagem e sua relação com o meio, segundo os teóricos da

educação abaixo:

Jean Piaget: de acordos com suas teorias, o conhecimento é gerado

pela interação do sujeito com o seu meio, a partir de estruturas previamente

existentes no sujeito. Dessa forma, a aquisição do conhecimento depende

tanto de certas estruturas cognitivas inerentes ao próprio sujeito como de sua

relação com o objeto.

Lev S. Vygotsky: ele chama a atenção para a ação recíproca existente

entre o organismo e o meio. Em sua abordagem sociointeracionista, ele

defende que não é somente o esforço individual que define o aprendizado,

mas primordialmente o contexto no qual o indivíduo se insere.

Henri Wallon: considera a pessoa como um todo. Afetividade, emoção,

movimento e espaço físico se encontram em um mesmo plano. Para ele, o

meio exerce influência fundamental sobre o desenvolvimento da pessoa

humana.

Apesar dos contrapontos existentes nos estudos dos teóricos

supracitados, um ponto de convergência pode ser facilmente identificado: os

três comungam da ideia de que as trocas sociais constituem o fator essencial

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

25

para a viabilização do pensamento. Esse pensamento é importante para a

construção do conhecimento e da aprendizagem.

Conforme veremos a seguir, através dos problemas mais comuns

encontrados entre as vítimas de bullying, esses indivíduos podem ter suas

emoções abaladas por tal comportamento, que cada vez mais é observado no

meio escolar.

3.3. PROBLEMAS MAIS COMUNS ENTRE AS VÍTIMAS DE BULLYING

Como já vimos, para que um comportamento seja considerado bullying,

a vítima se encontra em desigualdade de poder, segundo Silva (2010, p. 25)

“geralmente este também já apresenta uma baixa autoestima”. Ainda segundo

Silva, “a prática de bullying agrava o problema preexistente, assim como pode

abrir quadros graves de transtornos psíquicos e/ou comportamentais que,

muitas vezes, trazem prejuízos irreversíveis”. E alguns desses prejuízos podem

estar ligados à aprendizagem ao afetá-la diretamente. Numa escola onde o

indivíduo é vítima de bullying, numa sala de aula onde os educandos sentem

medo, rejeição, sofrem violência física e/ou verbal etc. a aprendizagem pode

ser prejudicada, devido às consequências que esses sentimentos podem

gerar.

Conforme encontrado em Silva (2010, p. 25-32), os problemas mais

comuns entre as vítimas são:

a - Sintomas psicossomáticos: Cefaleia, cansaço crônico, insônia,

dificuldades de concentração, náuseas, diarreia, boca seca, palpitações,

alergias, crises de asma, sudorese, tremores, sensação de “nó” na garganta,

tonturas ou desmaios, calafrios, tensão muscular, formigamentos. Esses

sintomas podem se apresentar individual ou coletivamente, o que pode causar

níveis elevados de desconforto e prejudicar as atividades cotidianas do

indivíduo.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

26

b - Transtorno do Pânico: Caracteriza-se pelo medo intenso e infundado.

O indivíduo é tomado por uma sensação enorme de medo e ansiedade que

vem acompanhada de uma série de sintomas físicos (taquicardia, calafrios,

boca seca etc.), sem razão aparente. O transtorno do pânico já pode ser

observado em crianças bem jovens (6 a 7 anos), muito em função de situações

de estresse prolongado e o bullying pode ser uma dessas condições.

c - Fobia escolar: Caracteriza-se pelo medo intenso de frequentar a

escola, ocasionando repetências por faltas, problemas de aprendizagem e/ou

evasão escolar. Quem sofre de fobia escolar passa a apresentar diversos

sintomas psicossomáticos e todas as reações do transtorno do pânico, dentro

da própria escola; ou seja, a pessoa na consegue permanecer no ambiente

onde as lembranças são traumatizantes.

d - Fobia Social (Transtorno de Ansiedade Social – TAS): Quem

apresenta fobia social, também conhecida por timidez patológica, sofre de

ansiedade excessiva e persistente, com tremor exacerbado de se sentir o

centro das atenções ou de estar sendo julgado e avaliado negativamente.

Assim, com o decorrer do tempo, tal indivíduo passa a evitar qualquer evento

social, ou procura esquivar-se deles, o que traz sérios prejuízos em suas vidas

acadêmica, profissional, social e afetiva. O fóbico social de hoje pode ter o

transtorno deflagrado em função das inúmeras humilhações no seu passado

escolar; danos e sofrimentos que são capazes de refletir por toda vida.

e - Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): A ansiedade

generalizada é uma sensação de medo e insegurança persistente. A pessoa

que sofre de TAG preocupa-se com todas as situações ao seu redor, desde as

mais corriqueiras até as mais importantes. Está sempre com a sensação de

que se esqueceu de fazer algo importante ou de que não dará conta de suas

responsabilidades. Geralmente são pessoas apressadas, negativistas e que

costumam sofrer de insônia e irritabilidade. Se a pessoas não passar por um

tratamento adequado, pode haver uma exacerbação dos sintomas e se

transformar num transtorno muito mais grave.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

27

f - Depressão: A depressão não é apenas uma sensação de tristeza.

Trata-se de uma doença que afeta o humor, os pensamento, a saúde e o

comportamento. Seus sintomas mais característicos são: tristeza persistente,

ansiedade ou sensação de vazio; sentimento de culpa; inutilidade e

desamparo; insônia ou excesso de sono; perda ou aumento de apetite; fadiga

e sensação de desânimo; irritabilidade e inquietação; dificuldades de

concentração e de tomar decisões; sentimento de desesperança e

pessimismo; perda de interesse por atividades que antes despertavam prazer;

ideias ou tentativas de suicídio. Estudos sugerem um alto nível de incidência

de sintomas depressivos na população escolar. Sabemos que adolescentes

apresentam oscilações de humor e mudanças relevantes de seus hábitos e

costumes. Isso faz parte da natureza humana, mas é necessário observar se

esses jovens deixam de levar uma vida normal, com rebaixamento da

autoestima, irritabilidade, isolamento, baixo desempenho escolar, dificuldades

em suas relações sociais e familiares. Uma situação de bullying pode estar por

trás disso.

g - Anorexia e bulimia: Esses transtornos alimentares acometem

especialmente mulheres (em 90% dos casos), sobretudo as adolescentes e

adultas jovens. A anorexia nervosa se caracteriza pelo pavor descabido e

inexplicável que a pessoa tem de engordar, com grave distorção da sua

imagem corporal. A pessoa anoréxica de submete a regimes alimentares

bastante rigorosos e agressivos. É uma doença muito grave, de difícil controle,

e que pode levar à morte por desnutrição, desidratação e outras complicações

clínicas. Já a bulimia nervosa se caracteriza pela ingestão compulsiva e

exagerada de alimentos, geralmente muito calóricos, seguida por um enorme

sentimento de culpa, que leva a pessoa bulímica a lançar mão de diversas

ações compensatórias (rituais purgativos), tais como: vômitos autoinduzidos,

abuso de diuréticos e laxantes, exercícios físicos em excesso e longos

períodos de jejum. A formação da autoimagem corporal de cada pessoa é

fortemente influenciada pela maneira coma a sociedade impõe o que é ter um

corpo esteticamente apreciável, e essa pressão pode vir da família e dos

amigos e colegas da escola.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

28

h - Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): Popularmente conhecido

como “manias”, o transtorno obsessivo-compulsivo se caracteriza por

pensamento sempre de natureza ruim, intrusivos e recorrentes (obsessões),

causando muita ansiedade e sofrimento. Na tentativa de ser ver livre de tais

pensamentos e de aliviar a ansiedade, o portador de TOC passa a adotar

comportamentos repetitivos (compulsões), de forma sistemática e ritualizada.

Essas manias trazem prejuízos incalculáveis para a vida do indivíduo, pois

além de torná-lo prisioneiro da própria mente, ele perde muito tempo do dia

cumprindo seus rituais. Portadores de TOC geralmente são tachados de

loucos e esquisitos, trazendo grande constrangimento. Momentos de forte

estresse, como pressões psicológicas, como o bullying, podem abrir um quadro

de TOC em pessoas com predisposição genética ou até mesmo intensificar o

problema preexistente.

i - Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT): Esse transtorno se

caracteriza por ideias intrusivas e recorrentes de um evento traumático, com

flashbacks e lembranças de todo o horror que abateu o indivíduo. Pode

acontecer com pessoas que passaram por experiências que lhes trouxeram

medo intenso. O TEPT pode levar a um quadro de depressão, ao

embotamento emocional (frieza com as pessoas queridas), à sensação de vida

abreviada, à perda de seus prazeres, afetando diretamente todos os seus

setores vitais. Observa-se um número crescente de TEPT em adolescentes

que estiveram envolvidos com bullying, especialmente quando sofreram

agressões ou presenciaram cenas de extrema violência e abusos sexuais.

Quadros menos frequentes:

a- Esquizofrenia: Popularmente conhecida como psicose ou loucura, é

uma doença mental que faz com que o indivíduo rompa com a barreira da

realidade e passe a vivenciar um mundo imaginário, paralelo. Caracteriza-se

pela presença de delírios e/ou por alucinações. Pessoas suscetíveis à

esquizofrenia ou psicoses podem iniciar o quadro quando submetidas a uma

forte pressão ambiental ou psicológica.

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

29

b- Suicídio e homicídio: ocorrem quando os jovens-alvo não conseguem

suportar a coação de seus algozes. Em total desespero, essas vítimas lançam

mão de atitudes extremas como forma de aliviar o sofrimento.

Referindo-se aos quadros citados, Silva (2010, p.32) nos conscientiza

que

os problemas relatados, em sua maioria, apresentam uma marcação genética considerável, ou seja, podem ser herdados dos pais ou parentes próximos, No entanto, a vulnerabilidade de cada indivíduo, aliada ao ambiente externo, às pressões psicológicas e às situações de estresse prolongado, pode deflagrar transtornos graves que se encontrava, até então, adormecidos.

Todos estes transtornos e comportamentos podem afetar a

aprendizagem, na medida em que os mesmos afastam os educandos da

escola, dificultam suas relações sociais, mexem com a concentração; atenção

e com as emoções, contribuem para a baixa autoestima e abalam a

autoconfiança.

Através dessas informações podemos compreender a face cruel e

destruidora do bullying no desenvolvimento e aprendizagem das vítimas. Sem

dúvidas, suas marcas são profundas.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

30

CONCLUSÃO

Diante de tudo o que foi exposto, percebemos que a violência, de modo

geral, e consequentemente o bullying, vêm crescendo de forma assustadora

no mundo. O bullying, que antes era “brincadeira de criança” ou “coisa da

idade”, vem ganhando proporções enormes e causando danos, muitas vezes,

irreparáveis. Porém, junto com o crescimento dos casos de bullying, estão

crescendo os estudos que podem nos ajudar na prevenção e enfrentamento ao

mesmo. Além disso, concluímos que ele é altamente prejudicial ao

desenvolvimento socioeducacional de nossas crianças e jovens. Os

problemas psíquicos e comportamentais advindos do bullying podem retardar,

ou até mesmo acabar, com o progresso de nossos alunos.

Outra conclusão a qual chegamos é a de que são poucos os

profissionais da educação e familiares que sabem com o que estão lidando.

Bullying é algo muito sério e delicado de se tratar, principalmente no que diz

respeito as suas consequências na vida da vítima. A necessidade de fazer com

que a escola e a família tenham uma verdadeira compreensão do bullying é

fundamental para que possamos enfrentá-lo. Enquanto ainda tivermos pessoas

que não compreendam do que se trata esse comportamento, infelizmente

veremos muitos casos tristes acontecerem, como os que temos acompanhado

pela Mídia (o de Columbine em 1999, na cidade de Colorado, nos Estados

Unidos é um terrível exemplo, além do ocorrido bem próximo de nós, em

Realengo, bairro do da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil).

Seria muito importante que mais políticas públicas fossem adotadas em

relação ao bullying e que fossem respeitadas. O artigo 5º do Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA) diz que “nenhuma criança ou adolescente

será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por

ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em 20/06/2012). O

mais importante é que esse fenômeno já vem sendo reconhecido como algo

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

31

específico e grave. No Estado do Rio de Janeiro foi sancionada, em 24 de

setembro de 2010, uma lei que torna obrigatória a notificação de casos de

bullying a Conselhos Tutelares e a Polícia (Disponível em

http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/escola-tera-de-avisar-policia-em-caso-

de-bullying-no-rio. Acesso em 21/06/2012). A Assembleia Legislativa do Estado

do Rio de Janeiro (Alerj) também aprovou, em 22 de março de 2011, um

projeto de lei que pretende criar um programa antibullying nas escolas públicas

e privadas do Estado (Disponível em

http://www.alerj.rj.gov.br/common/noticia_corpo2.asp?num=38108. Acesso em

21/06/2012).

Apesar de estarem surgindo várias ações para o combate ao bullying,

tudo isso ainda não é o suficiente. Precisamos de mais conhecimento sobre o

assunto, a fim de estarmos preparados para ensinar, prevenir, enfrentar,

intervir e principalmente, para podermos trabalhar na construção de uma

escola eficiente, de famílias mais estruturadas e de cidadãos mais conscientes

da liberdade e dos direitos alheios.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

32

BIBLIOGRAFIA

ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Tradução André de Macedo Duarte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. CHAUÍ, Marilena. Uma ideologia perversa. Folha de São Paulo, 14 de mar.1999, Caderno Mais, p. 3. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_1_4.htm. Acesso em 14/05/2011 FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e

educar para a paz. Campinas: Verus, 2005

LOPES NETO, Aramis. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes.

Jornal de Pediatria, vol. 81, nº. 5. Porto Alegre, nov. 2005, p. S164-S172.

Disponível em: www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa06.pdf . Acesso em:

27/09/2010

MICHAUD, Yves. A violência. Tradução L. Garcia São Paulo: Ática, 2001.

PEREIRA, Sônia Maria de Souza Pereira. Bullying e suas implicações no

ambiente escolar. São Paulo: Paulus, 2009.

SCHILLING, Flávia. A sociedade da insegurança e a violência na escola. São

Paulo: Moderna, 2004.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2010.

TEIXEIRA, Gustavo. Manual Antibullying: para alunos, pais e professores. Rio

de Janeiro: Best Seller, 2011.

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

33

RELVAS, Marta Pires. Fundamentos biológicos da educação: despertando

inteligências e afetividade no processo de aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak,

2009.

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · opostas e de que as manifestações de violência podem ser físicas e/ou psicológicas. A partir dessas definições,

34

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES INICIAIS: CONCEITUANDO VIOLÊNCIA E SUAS

DIFERENTES FORMAS DE MANIFESTAÇÃO 10

1.1 – Conceituando a violência 11

1.2 – As diferentes formas de manifestação da violência 12

CAPÍTULO II

CONCEITO DE BULLYING E SUAS DIFERENTES FORMAS DE

MANIFESTAÇÃO 16

2.1 – Bullying escolar: comportamento agressivo entre estudantes 16

2.1.1 – Formas de bullying 18

2.2 – Histórico do bullying 19

CAPÍTULO III

POSSÍVEIS EFEITOS DO BULLYING NA APRENDIZAGEM 23

3.1 – Emoção e aprendizagem 23

3.2 – Importantes Considerações sobre a aprendizagem e sua relação com o

meio, segundo Piaget, Vygotsky e Wallon 24

3.3 – Problemas mais comuns entre as vítimas de bullying 25

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA 32

ÍNDICE 34