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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
DOCÊNCIA EM NUTRIÇÃO: VISÃO ATUAL DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO AÇÃO PREVENTIVA NA SAÚDE
Por: Débora de Santana Cavalcanti
Orientadora
Professora Edla Trocoli
Rio de Janeiro 2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
DOCÊNCIA EM NUTRIÇÃO: VISÃO ATUAL DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO AÇÃO PREVENTIVA NA SAÚDE
Monografia apresentada à
Universidade Cândido Mendes, como
requisito parcial para obtenção do
Título de Especialista em Docência do
Ensino Superior por Débora de
Santana Cavalcanti
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AGRADECIMENTOS
É com a maior satisfação que agradeço a
quem mais me incentivou a iniciar e
concluir este curso, socorrendo-me em
todos os momentos de dúvidas, Dra
Vanda Santana de Abreu, a minha mãe.
Não posso deixar de citar aquele que
teve paciência, carinho e amor, apoiando
sempre, Suedi. A todos os meus
pacientes que contribuíram, sem saber,
com o exercício da educação nutricional
praticada durante toda a minha vida
profissional.
4
DEDICATÓRIA
Ao diamante da minha vida, cujo amor
que sinto é incondicional, aquele que me
orgulha por tudo que é, meu melhor
amigo, meu filho, o Bombeiro Igor
Santana Cavalcanti. Dedico ainda à
memória da minha avó, Antonia de
Freitas Santana, e às mulheres desta
família, que iguais a ela, são grandes
guerreiras.
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EPÍGRAFE
Para aprender
Para aprender, Preciso de liberdade.
Para ser livre, Preciso poder sonhar.
Para sonhar, Preciso crer no impossível.
Para acreditar, Preciso enxergar portas.
Para passar, Preciso sair de mim. Para me transportar,
Preciso ir com firmeza. Para me afirmar,
Preciso de alguém me ouvindo. Para me ouvir,
Preciso poder dizer. Para dizer,
Preciso de autonomia. Para aprender...
Moaci Alves Carneiro
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RESUMO
A grande oferta de alimentos e o estilo de vida sedentário
levaram a humanidade a uma pandemia chamada obesidade, que está
acometendo a população mundial. O presente trabalho enfoca a importância
do ensino superior em Nutrição com relevância para a disciplina de Educação
Nutricional com o propósito de promover a saúde e prevenir a obesidade e as
comorbidades associadas ao excesso de peso corporal. Levando em
consideração o avanço tecnológico e a industrialização no mundo
contemporâneo somados ao novo estilo de vida em que não há tempo para
nada, os hábitos alimentares acabaram acompanhando este ritmo, refeições
que antes eram preparadas em casa foram aos poucos sendo substituídas por
comidas rápidas como os fast food e alimentos industrializados, contribuindo
dessa forma para o aumento do índice de obesidade, doenças coronarianas,
hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC), câncer dentre outras. Dados
da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que a má alimentação
decorrente de falta de informação e o sedentarismo contribuem para um dos
dez principais problemas de saúde pública do mundo. Considerando estas
recentes evidências, este trabalho sugere o emprego da Educação Nutricional
com o objetivo de frear tais estatísticas, lançando mão de uma didática
observacional e utilizando uma metodologia aplicada ao ato de reeducar ou
reaprender hábitos nutricionais corretos e saudáveis com intuito de preservar
ou resgatar a saúde e a melhora da qualidade de vida com a intervenção do
Nutricionista no papel de Educador.
Palavras-chave: Educação Nutricional, hábitos alimentares, reeducar
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METODOLOGIA
Para execução deste trabalho priorizou-se pela pesquisa bibliográfica,
a partir de artigos originais pesquisados na base do PUBMED, Scielo e do
Google acadêmico, sendo escolhidas como palavras chave em português:
Educação Nutricional, hábitos alimentares, reeducar. Não se limitou ao ano
de publicação, visto que periódicos e algumas referências do século passado
são pioneiras no assunto e ainda são muito citadas em estudos recentes. Os
principais autores utilizados na realização desta pesquisa foram Sonia Hirsch
com o livro O mínimo para você se sentir o máximo Pequeno guia dos
alimentos. O autor americano Ray D. Strand, com o livro O que seu médico
não sabe sobre medicina nutricional pode estar matando você. Moaci Alves
Carneiro contribuiu enormemente com a LDB, Leis de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional e por último com Edgar Morin em Os sete saberes
necessários à educação do futuro. O estudo também apresenta como fonte de
pesquisa o Ministério da Saúde, Portaria Nº 648, 30 de março de 1999 e
orientações do Ministério da Educação. Todos os dados coletados
contribuíram para harmonizar os conhecimentos e transformá-los na pesquisa
aqui apresentada.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I – Reeducação 13
CAPÍTULO II – Ações Motivadoras 24
CAPÍTULO III – Reconhecer situações de risco 31
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42
ÍNDICE 44
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INTRODUÇÃO
A educação formal em Nutrição teve seus primeiros passos,
segundo registros históricos, através das Irmãs da Ordem das Ursulinas em
Quebec, Canadá em 1670, desde então a alimentação e o ensino sobre
nutrição vem paulatinamente ocupando uma posição estratégica no sistema
de vida e de valores das diversas sociedades contemporâneas, por tratar de
um tema agregador, atrelando fatores biológicos, econômicos, sociais,
culturais, antropológicos, ecológicos, devido à multidimensionalidade quanto à
questão alimentar, (CASTRO, 1984). Partindo deste pressuposto justifica-se o
tema estudado neste trabalho, Docência em Nutrição: Uma visão atual da
Educação Nutricional como ação preventiva na saúde.
Para Edgar Morin a inabilidade de organizar o saber disperso e
compartimentalizado torna unidimensional o multidimensional, por isso a
necessidade da compreensão e o entendimento da condição humana, o
conhecimento do contexto global, do multidimensional, dessa forma pode-se
compreender como deve ser a Educação em Nutrição. Em Os sete saberes
necessários à educação do futuro, Edgar Morin diz que: “Mas isso nos permite
entender a nossa realidade, nossa diversidade e singularidade”.
É fundamental destacar em 1986 a realização da I Conferência
Internacional sobre Promoção de Saúde, estabelecendo como condições e
requisitos para obtenção da saúde alguns fatores relevantes como: A paz, a
educação, a moradia, a alimentação, a renda, um ecossistema estável, justiça
social e equidade e destaca a importância de se proporcionar informação e
educação para que as pessoas possam tomar decisões e exercer maior
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controle sobre o modo de vida e o meio ambiente, vivendo e criando a saúde
na vida cotidiana. Desde então era notório a importância da convergência de
tais fatores e os saberes da nutrição como agregadores para se obter saúde.
Nesse sentido, a definição mais apropriada para o termo educação,
dentro da temática que envolve a educação nutricional apresentada nesta
pesquisa, refere-se ao artigo 1º da Lei nº 9394/96 da LDB, Leis de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, que diz:
A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
Complementando esta idéia, surgem várias questões sobre a
realidade da educação superior, principalmente no que se referem aos
conceitos de educação e a eficácia do ensino e da aprendizagem. O verbo
ensinar que significa transmitir conhecimento, ou fazer despertar para o
conhecimento, no entanto, no meio universitário muito se ouve entre os
discentes a ineficácia deste conceito, os relatos são sempre os mesmos, que
o professor tem muito conhecimento, mas não sabe ensinar. Cora Coralina foi
sábia nestas palavras, justificando o contexto aqui comentado: “Feliz aquele
que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
A partir deste olhar, a aprendizagem seria o processo pelo qual o
indivíduo assimila conhecimento teórico ou prático de acordo com sua
necessidade. Então surge o questionamento: Como mudar o conhecimento
adquirido, quando este conhecimento foi inapropriado ou incompleto e o
caminho seria a reeducação, como fazer? A palavra reeducar significa voltar
11
a educar, completar a educação ou proporcionar nova educação. Este
questionamento representa o motivo principal e o foco central deste trabalho.
Nesse sentido, as atribuições do docente estarão sempre no foco
das atenções, dentro deste critério que envolve a educação e aqui neste
trabalho envolve a educação nutricional, convém ressaltar que o docente e
seu trabalho constituem questão estratégica de qualquer política de educação.
De acordo com o artigo 13º item III e IV da Lei nº 9394/96 da LDB, “Os
docentes incumbir-se-ão de:”
Zelar pela aprendizagem dos alunos; Estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;
Diante desta perspectiva, esta pesquisa é realizada em três
capítulos, dos quais o primeiro trata da Reeducação alimentar – a guerra entre
o bem e o mal, enfoca a importância da conscientização do aluno de nutrição
sobre reeducação alimentar, como forma de prevenção contra vícios
alimentares, seria o bem, e os prováveis riscos que estes hábitos podem
trazer à saúde, representa o mal.
O segundo capítulo enfoca as ações motivadoras para mudanças
dos hábitos alimentares. Neste capítulo a atenção estará direcionada aos
programas de intervenção nutricional que visam à mudança do
comportamento alimentar, sendo necessárias a utilização e integração dos
modelos da teoria social cognitiva e treinamento profissional para a aquisição
de habilidades técnicas para motivar as pessoas na realização das mudanças
desejáveis.
O terceiro e último capítulo apresenta uma proposta de
empregabilidade da aprendizagem adquirida na reeducação alimentar, dando
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ênfase às atitudes preventivas como antídoto contra o mal, representado
pelos vícios cotidianos, seria a metodologia mais adequada para intervir no
ritmo alarmante que a obesidade vem atingindo.
Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo demonstrar
com apoio da literatura científica, a importância da educação sobre as
recomendações nutricionais para obtenção da saúde nos tempos modernos.
Há de se reconhecer, no entanto, que o professor, o docente é o
mediador da aprendizagem, de forma a promover o desenvolvimento cultural e
intelectual dos seus alunos, proporcionando a ampliação de suas experiências
e conhecimentos, estimulando seu interesse pela transformação dos saberes.
Cora coralina expõe suas idéias com enfoque sempre atual: “O saber a gente
aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e
com os humildes.”.
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CAPÍTULO I
Reeducação
1.1- A guerra entre o bem e o mal
A obesidade atinge milhões de pessoas com percentuais alarmantes
conforme dados pesquisados em todo o mundo. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2005 havia mais de um bilhão de
adultos com sobrepeso e 400 milhões com obesidade. No Brasil, em 2003,
mais de 27% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares,
ocasionados pela obesidade.
Diversos fatores predisponentes podem ter interferido para estas
estatísticas e ainda poderão afetar as gerações futuras, conforme dados
sugeridos pela OMS, a previsão é que em 2015 haverá mais de 700 milhões
de obesos no mundo. Tais fatores podem estar intimamente relacionados com
a reestruturação familiar, cujo chefe de família não é mais a figura do marido,
necessariamente, com a saída da mulher para o mercado de trabalho e
consequentemente, a alimentação sendo feita fora de casa sem critérios
nutricionais, aliada a industrialização dos alimentos e a mudança no estilo de
vida decorrente da falta de tempo, de certa forma podem ter contribuído para o
aumento da obesidade.
As repercussões do avanço tecnológico, a economia a todo vapor,
o fácil acesso às instituições de ensino superior são fundamentais para o
crescimento de um país, é necessário apenas que este desenvolvimento seja
acompanhado por uma qualidade de vida incluindo hábitos alimentares
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saudáveis. Sonia Hirsch diz com muita propriedade: “quanto pior a qualidade
do ar, da água e do ambiente, melhor tem que ser a comida”.
A tarefa de reeducar é mais árdua, uma vez que terá que ser refeito
o caminho no ato de educar. As ações de educação em alimentação e
nutrição devem alcançar de modo eficaz todas as camadas econômicas da
população. Para concretizar tais ações é necessário o trabalho de
profissionais competentes que detenham conhecimentos de didática,
fundamentos biológicos e psicológicos, epidemiologia, nutrição e dietética em
excelência para abordar os problemas alimentares e orientar a mudança de
hábitos.
No entanto, a intervenção na mudança de hábitos do cotidiano de
um indivíduo deve ser criteriosa, considerando os aspectos culturais, sociais e
religiosos. Torna-se necessário empregar métodos que permitam intervir
nestes hábitos, sem, contudo destituir o comer dos seus significados culturais,
tendo em vista que através da alimentação o homem expressa-se
psicologicamente e culturalmente. Considerando os critérios que envolvem
tais mudanças, pode-se afirmar que reeducar é mais difícil que educar. Sendo
necessário o auxílio do profissional cuja bagagem esteja repleta de
conhecimentos sociológicos, psicológicos, nutricionais, de didática e prática de
ensino, este é o educador do futuro.
1.2 - O mal
No sentido figurado o mal é o bicho papão das histórias infantis,
está aqui representado pelos maus hábitos alimentares. Nos últimos anos, o
poder econômico e as influências modernas interferiram nas decisões
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familiares, as crianças também passaram a exercer opiniões sobre as
compras da família, principalmente na escolha dos alimentos, os campeões de
preferência são as guloseimas do tipo achocolatados, biscoitos recheados,
snacks, nuggets, miojo, etc. Geralmente estes produtos ficam dispostos nos
supermercados na altura dos olhos das crianças, cujas embalagens também
têm um apelo visual, este marketing é muito utilizado pelo comércio que visa
somente lucratividade.
A grande maioria destes alimentos possui sabor e aroma agradáveis
devido aos aromatizantes e uma consistência fácil de mastigar por ser rico em
gordura vegetal, esta gordura é considerada o grande mal dos tempos
modernos que é a gordura trans, ela é adicionada em quase todas as
preparações industrializadas, além de dar sabor, textura, são ainda
conservantes. Nos tempos das nossas avós não se falava nela.
O alto consumo de gordura, principalmente a trans, aumenta o risco
de desenvolver câncer, especialmente de cólon, seio e próstata, além das
dislipidemias e o risco de infarto e AVC. A gordura é a fada-madrinha dos
radicais livres, eles produzem lesões irreversíveis nas membranas das células
(HIRSCH, 1993).
A ocorrência de sobrepeso e obesidade em crianças tem sido
associada aos diversos hábitos que as famílias estão adotando na atualidade,
é comum perceber quando um membro da família está com sobrepeso ou
obesidade, outro(s) membro(s) desta família, morando na mesma residência,
pode estar obeso também. Fica evidente que os hábitos, não somente
alimentares, estão interferindo para este prognóstico.
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É importante destacar que muitas ações da vida cotidiana
constituem hábitos, eles podem vir desde a infância, trazidos pelos pais, ou
mesmo adquiridos pelos modismos, ou por tendências da sociedade de
consumo transformando-se em comportamentos. Na verdade, devem ser
chamados de maus hábitos que funcionam como veículos acarretando à
obesidade, estas atitudes comportamentais cotidianas serão aqui
descriminadas:
ü A alimentação fora de casa – Os adultos trabalham com
carga horária cada vez maior, enquanto as crianças ficam em
creches ou escola em horário integral. Nas creches
geralmente tem o suporte do profissional em nutrição, já os
restaurantes vão de vegetarianos aos fast food, fenômeno
originado nos Estados Unidos e difundido mundialmente,
geralmente composto por frituras, sanduiches, tudo
preparado rapidamente e com muito molho a base de
gordura. Outro tipo de restaurante é o self service, onde a
própria pessoa se serve, os alimentos ficam dispostos em
balcões como uma vitrine, com todo tipo de iguaria,
impossível selecionar apenas o que é saudável devido ao
apelo visual, se não houver orientação quanto à escolha pela
qualidade dos alimentos, a opção será pelos mais calóricos.
ü A omissão do desjejum – Esta refeição deveria ser a
principal, uma vez que o organismo esteve em torno de oito
horas em repouso, precisando repor de forma equilibrada as
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calorias necessárias para o dia que está iniciando. No
entanto, na verdade a maioria das famílias não tem tempo de
fazê-la devidamente, pelo estresse do dia a dia, pela falta de
tempo, e quando é feita são preferidos os alimentos
industrializados, de preparo rápido, como o achocolatado que
é extremamente doce, refrigerante ou suco artificial que
contem corantes, sódio e outros aditivos cancerígenos,
bolachas recheadas, o recheio é composto de um creme que
mistura açúcar e gordura.
ü Fazer as refeições assistindo televisão – Este é o hábito mais
comum entre as crianças e adolescentes e está se
propagando entre os adultos, este comportamento estimula o
comer mais por várias razões, pesquisas demonstram que a
maioria dos comerciais é de propaganda de alimentos, as
mais citadas nas pesquisas foram as cadeias de fast food,
bolachas, achocolatados e salgadinhos de pacote. Outra
razão que corrobora para não parar de comer no tempo certo,
seria a falta ou o retardo no estímulo de saciedade pela
leptina, hormônio protéico que age no cérebro inibindo o
apetite e estimulando o gasto de energia.
ü Fuga da balança – Quando o indivíduo percebe que está com
sobrepeso, as primeiras atitudes de defesa para não
enfrentar o problema são colocar roupas mais largas e
compridas com finalidade de esconder o excesso de peso,
passar bem longe da balança, e se esconder dentro de casa,
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de preferência em frente da televisão ou do computador.
Esta atitude retarda o início de um tratamento dietoterápico
no momento em que as respostas do tratamento seriam
menos rigorosas e mais eficazes e em tempo menor,
diminuindo os riscos para a saúde.
ü Sedentarismo – Este quesito é tão importante quanto à
mudança de hábitos alimentares. O sedentarismo pode ser
definido por falta de atividade física total ou insuficiente para
manter a saúde. Trata-se de um comportamento induzido por
hábitos decorrentes dos confortos da vida moderna, como o
uso do automóvel para pequenas distâncias, do controle
remoto, dos eletrodomésticos, etc. Pesquisas sugerem que é
o mal do século e a doença do próximo milênio. Outra forma
de entender a relação entre sedentarismo e obesidade: a
acumulação excessiva de gordura corporal deriva de um
desequilíbrio crônico entre energia ingerida e energia gasta
(CAVALCANTI, 2010).
ü Dormir pouco – Qual seria a relação entre dormir menos que
oito horas diárias e a obesidade? Estudos têm demonstrado
que dormir pouco influi diretamente no aumento de peso,
assim como no desenvolvimento de doenças metabólicas e
cardiovasculares. Isso acontece devido à diminuição do
hormônio leptina, que controla o apetite, e aumento da
grelina, que dá a sensação de fome. Outro fato agravante é
que ao ficar acordado o indivíduo fica estimulado a cometer
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beliscos, chamados popularmente como assalto a geladeira.
Considerado um dos hábitos (maus hábitos) modernos que
mais contribui para o aumento de peso.
1.3 - O bem
Uma alimentação saudável não se limita a encher o estômago, além
de responder às necessidades nutricionais, deve potencializar todas as
funções biológicas vitais, auxiliando na renovação celular e demais processos
metabólicos, promovendo o bem estar físico, mental e espiritual.
Cultivar bons hábitos alimentares desde a infância é a garantia de
obtenção de saúde no decorrer da vida e dá até para prevenir o
envelhecimento. Nunca se investiu tanto em pesquisa nutricional como agora,
alimentação eficiente é medicina preventiva grátis (HIRSCH, 1993). Os
médicos querem saber se você tem colesterol elevado, tornou-se diabético ou
se desenvolveu hipertensão, mas passam pouco tempo tentando ajudar o
paciente a compreender as mudanças de estilo de vida necessárias para
realmente proteger sua saúde (STRAND, 2004).
No princípio do século XX as pessoas morriam principalmente de
doenças infecciosas como pneumonia, tuberculose, no entanto graças à
descoberta dos antibióticos e avanços científicos houve um declínio de mortes
devido às doenças infecciosas. Posteriormente veio a epidemia de AIDS, nos
anos 80, também controlada e o aumento da expectativa de vida com a
descoberta do AZT.
Os desafios do mundo científico no século XXI é agora entender o
perigo do estresse oxidativo para nossa saúde e a importância da nutrição
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celular, embora a expectativa de vida tenha aumentado devido à melhora da
qualidade de vida não foi suficiente para evitar o aparecimento de doenças
degenerativas crônicas dos tempos atuais. Essas incluem a doença arterial
coronariana, o câncer, o AVC, o diabetes, a artrite, o mal de Alzheimer, o mal
de Parkinson e outras, pois a lista não acaba mais. Estas doenças estão
intimamente relacionadas ao estilo de vida, que hábitos alimentares o
indivíduo possui, se pratica alguma atividade física, se tem relacionamento
social, se dorme bem.
Estes hábitos e comportamentos cotidianos ministrados através do
docente de nutrição serão poderosamente capazes, de forma preventiva, de
reduzir a mortalidade, estes estão aqui desempenhando o papel do bem:
ü Fazer cinco refeições diárias – Esta é uma regra básica para
se obter bons hábitos nutricionais. A alimentação fracionada
durante o dia estabelece um equilíbrio metabólico no
organismo, as refeições devem ser feitas, aproximadamente,
de três em três horas, evitando desta forma, a produção
exagerada de determinados hormônios num mesmo horário.
A constituição de uma dieta alimentar para indivíduos
saudáveis deve ser composta de cinco refeições diárias que
compreendem: desjejum, colação, almoço, lanche e jantar.
Por motivos óbvios esta metodologia alimentar inibe os
chamados beliscos, consumo exagerado de guloseimas de
alto teor calórico, assim como, evita sobrecarga na
quantidade de alimentos em alguma das refeições pelo fato
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de espaçamento maior entre elas. Os benefícios serão
notórios quando este hábito está inserido no cotidiano de um
cidadão, evitando diversas patologias e a obesidade.
ü Hábito de consumir frutas e hortaliças – Há benefícios
significativos no consumo diário das frutas e hortaliças, elas
contribuem com os micronutrientes, que são as vitaminas e
minerais, na alimentação do ser humano. São chamados de
micronutrientes porque o organismo requer porções mínimas,
no entanto são eles que possibilitam o aproveitamento dos
macronutrientes, que são as proteínas, glicídios e lipídios.
Eles também promovem a saciedade nos pratos ou após as
refeições, no caso das frutas como sobremesa.
Restabelecem o equilíbrio hormonal, como também a
prevenção de certas doenças, como a vitamina C, o mineral
cálcio e ferro dentre outros. Estimulam o funcionamento
intestinal, ajudando a limpar e desintoxicar o organismo.
ü Reduzir o consumo de refrigerantes e bebidas alcoólicas –
Os refrigerantes e sucos artificiais têm muita caloria e
nenhum nutriente, possuem produtos químicos coloridos e
açúcar, as bebidas alcoólicas são viciantes e dão a falsa
impressão de saciedade substituindo por vezes o alimento.
Todos produzem radicais livres no organismo, os radicais
livres sempre existiram, são mero subproduto de qualquer
oxidação, o organismo precisa de agentes antioxidantes para
neutralizar os efeitos dos radicais livres, para evitar a
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agressão às células que consequentemente gerariam
doenças.
ü Mastigar lentamente os alimentos – Um hábito extremamente
importante para uma qualidade de vida saudável está ligado
ao simples ato de mastigar vagarosamente os alimentos
durante as refeições. Portanto, mastigar bem os alimentos é
um dos principais responsáveis pela boa digestão, pela
sensação de saciedade e manutenção do peso ideal.
ü Uso moderado do sal e do açúcar – Inadmissível pensar no
mundo contemporâneo sem esta dupla. Sem o açúcar seria
impossível a preparação de diversos pratos na culinária, além
do que ele serve como conservante. Porém, o uso
compulsivo leva a obesidade e diversas doenças como
principalmente o diabetes mellitus. Conforme a história o sal
existe há mais de cinco mil anos, além da propriedade de
conservante, dá sabor às preparações gastronômicas,
igualmente ao açúcar ele deve ser consumido com
moderação, o sódio contido no sal eleva a pressão arterial,
desencadeando hipertensão e outras doenças associadas.
ü Utilizar apenas as gorduras boas – As gorduras
monoinsaturadas e poliinsaturadas são capazes de prevenir e
tratar problemas de saúde, melhorando o perfil de gordura no
sangue, pois aumenta o nível de HDL (bom colesterol) e
diminui o de LDL (colesterol ruim). As monoinsaturadas são
encontradas no azeite de oliva, nozes, amêndoas, castanhas
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e abacate. As poliinsaturadas são encontradas no peixe,
milho e na soja.
ü Incluir ômega 3 no cardápio – São ácidos graxos
poliinsaturados muito importantes para o bom funcionamento
do organismo. Controla a pressão arterial, normaliza o ritmo
cardíaco, combate a osteoporose, melhora o funcionamento
das atividades do cérebro, evita doenças auto-imunes,
dificulta o desenvolvimento de processos inflamatórios, ajuda
a diminuir os níveis de triglicerídeos no sangue. As fontes de
ômega 3 são: peixes como atum, sardinha, cavala e salmão,
óleo de canola, azeite, rúcula, espinafre, linhaça.
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CAPÍTULO II
Ações Motivadoras
Quase toda a pesquisa está focada em mudanças de hábitos para
promover a saúde, nos capítulos essa temática é reforçada em diversos
momentos, porém com um olhar diferenciado ou com uma interpretação
singular e apropriada ao contexto.
Mudar comportamentos para que a educação alimentar e nutricional
seja assimilada com naturalidade e incorporada aos hábitos das pessoas é um
desafio.
Estimular uma ação é fazer com que um indivíduo aja, saia da
inércia. E quanto à motivação? Seria despertar uma força interna através de
forças externas que estimulem o comportamento de pessoas ou grupo de
pessoas. Ações motivadoras neste capítulo requerem transformações de
atitudes comportamentais com benefícios para saúde.
Contudo, é necessário que o profissional atue como um educador
com formação em nutrição, que possua a capacidade de desenvolver
atividades motivadoras, usando mecanismos diferenciados para que essa
transformação seja possível. Na promoção da educação nutricional o foco é
conscientizar o indivíduo a consumir alimentos de alto valor nutritivo e
benéficos à saúde, além de proporcionar a capacidade de questionar aquilo
que está comendo.
Como se faz um questionamento sobre o que está comendo? A
proposta seria passar pelos raios-X o alimento que está sendo observando em
um restaurante self service antes de colocá-lo no prato, por exemplo, seria
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pensar o modo em que este alimento foi preparado, se foi frito, cozido,
empanado ou assado e escolher o melhor preparo para a saúde. Se a
escolha for o empanado, visivelmente ele parece estar sequinho e sem
gordura, no entanto, com o olhar de raios-X enxerga-se, de forma figurada, a
gordura retida na farinha de rosca, usada para empanar as carnes, no ato da
fritura, seria a pior escolha de alimento. A sugestão para esta ação
motivadora seria promover palestras em empresas, colégios, faculdades em
uma semana de saúde, e o tema sugerido poderia ser: Noções de técnicas
dietéticas podem salvar sua saúde!
Neste processo o educador é a chave da efetividade na implantação
de projetos fundamentais para despertar o interesse e a participação do
público que se deseja atingir com o objetivo de promover a segurança
alimentar e nutricional.
O Brasil foi assolado pela fome e a miséria durante décadas, hoje o
problema não está solucionado, e ainda está vivendo um contraste trágico que
é a obesidade crescendo de forma alarmante, e na contra mão desta via está
o desperdício de comida e de alimentos in natura, o exemplo deste fato é ver
o final da feira que existe nos bairros, a quantidade de alimentos jogados no
lixo, como também nos restaurantes e nos supermercados.
O assunto tem preocupado os conselhos de nutricionistas, existe o
reconhecimento da necessidade de promover campanhas motivadoras para
frear as estatísticas. A conscientização da população deve ser meta, lançando
mão das ferramentas como a mídia, as redes sociais, ações de cidadania em
comunidade e áreas públicas como parques, praia, shopping.
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Conforme matéria da revista CFN, Conselho Federal de
Nutricionista, no rol de ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde para
prevenção e controle da obesidade estão: ações de promoção da alimentação
saudável e atividade física no âmbito da Atenção Básica (Guias alimentares,
Rede amamenta Brasil...), ações nas escolas, vigilância alimentar e nutricional
e apoio à realização de inquéritos nacionais que retratam a condição e a
tendência de saúde e nutrição da população brasileira.
De acordo com o Ministério da Saúde a promoção da saúde é um
processo de envolvimento da comunidade para atuar na melhoria da sua
qualidade de vida, incluindo uma maior participação no controle deste
processo, os indivíduos devem saber identificar suas aspirações e
necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente com o objetivo de
satisfazê-los e proporcioná-los bem estar para viver com saúde.
Para a Organização Mundial de Saúde a definição de saúde é: “A
saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
consiste somente na ausência de doença ou de enfermidade.” Considerando
tal definição, pelo fato de um indivíduo não apresentar nenhuma enfermidade
aparente, pelo menos alguma sintomatologia, fica sem sentido para a
promoção de saúde com ações motivadoras, é o que ocorre com os
portadores de obesidade, para tal, primeiramente vem o aspecto psicológico
do reconhecimento de que há a necessidade da mudança como forma
reeducativa.
Para tais ações serem efetivas, não se pode separar o que é
psíquico do que é orgânico, pois o ser vivo é indivisível neste sentido, o
sistema nervoso governa e regula todo o corpo, desde o cabelo até as unhas
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dos pés. Daí a necessidade de reconhecer as deficiências de um indivíduo ou
grupo que se pretende trabalhar de forma motivadora, considerando que
aspectos psicológicos podem estar afetando a auto-estima.
É, portanto, indispensável que o profissional da Educação e da
Saúde deva estar presente e com a grande tarefa que a disciplina exige, que é
unir os conhecimentos dos determinantes, sociais, econômicos, psicológicos e
ambientais aos conteúdos teóricos, com o objetivo de tornar as pessoas
autônomas não só para a alteração dos hábitos alimentares e prática de
exercícios no decorrer de suas vidas, mas como também com conhecimento
para discernir sobre a realidade em que vivem.
Em Estruturas da Mente, Howard Gardner propõe em seu livro que:
“De modo consistente com as tendências dos psicólogos, a cultura foi vista
principalmente como um pano de fundo com seus produtos e sistemas como
um meio de promover o desenvolvimento pessoal.” Na atualidade o ser
humano convive com um enorme desenvolvimento científico e tecnológico,
portanto, a forma de pensar e agir requerem utilização destes conhecimentos
para alcançar o objetivo do desenvolvimento pessoal, considerando os fatores
sociais, psicológicos, culturais e econômicos, que fatalmente irão interferir nos
resultados, podendo ser sabotados pelas mentes humanas.
Baseada nesta idéia ressurge a palavra conscientização, e antes
ainda, deve ser considerado o local onde será empregada a ação. Como
exemplo prático de um estudo fictício, segue uma simulação de uma ação
motivadora em uma comunidade do Rio de Janeiro: Um determinado grupo de
discentes de uma universidade, fazendo um trabalho da disciplina de
Educação Nutricional com a incumbência de exercitar os conhecimentos
28
adquiridos em uma comunidade, cujo índice de obesidade está elevado, vão
com uma proposta de promover a mudança no estilo de vida dos moradores.
A princípio em se tratando de Rio de Janeiro e na atualidade, será
necessário levar em consideração os aspectos sociais, antes de adentrar a
comunidade devido ao número de habitantes variando até 60 mil e demais
aspectos, como regra, em qualquer comunidade, deve-se visitar a associação
de moradores para obter a autorização para o trabalho. Neste momento entra
o fator social que deve ser considerado, o ambiente. Se a comunidade for de
difícil acesso, em aclive, outra dificuldade a considerar. Poder econômico dos
indivíduos, mais um fator influenciador, seria possível instituir a mudança de
hábitos alimentares como incluir frutas, hortaliças frescas, leite e derivados no
cardápio diário sem onerar as despesas mensais?
Portanto, é sabido o quanto é desafiador trabalhar com
conscientização, reeducação, motivação e o quanto é desafiador trabalhar
com seres humanos, para Paulo Freire conscientização se entende por: “É o
homem se descobrindo. É a luta para se descobrir a si próprio, interrogando-
se e buscando respostas aos seus desejos e observações.”. E na maioria das
vezes este homem não sabe quais são seus desejos e anseios, e o que
deveria ser fundamental e necessário para si. Neste momento entram os
profissionais com os saberes da reeducação.
Neste trabalho procurou-se, a todo tempo, identificar os programas
de intervenção nutricional que visem a mudança desejável do comportamento
alimentar. O conhecimento sobre o que comer é um primeiro degrau na
influência do comportamento alimentar saudável, provavelmente super
29
valorizado. O conhecimento não induz a mudança, mas funciona como um
instrumento positivo quando as pessoas têm o desejo de mudar.
A grande vantagem do plano de ação motivadora é que não é
fundamental, nem positivo para o processo, que a mudança do estilo de vida
seja feito de um dia para o outro, pesquisas demonstram que mudanças
radicais e rápidas propõem a desistência com a mesma rapidez também. A
introdução de algumas mudanças relativamente pequenas a cada dia ou a
cada semana torna mais provável a incorporação delas, a aderência ao
projeto motivador é questão primordial.
Hábitos demoram uma vida para ser assimilado ao cotidiano de uma
pessoa, isto se deve ao fato de que o cérebro precisa registrar este
conhecimento novo através da repetição, e como o organismo humano grava
histórico pregresso, a proposta de mudar estes hábitos requer também a
repetição de novos hábitos todos os dias para que seja inserido de forma
eficiente ao dia a dia.
A maioria das pessoas que decidiu mudar seu estilo de vida em prol
da saúde passou por algum trauma de doença consigo própria ou com algum
familiar, muitas vezes é na experiência que se aprende, não deveria ser desta
forma, por esta questão é que o entendimento deve ser o de trabalhar com a
prevenção, com atitudes profiláticas e ações motivadoras capazes de
transformar o estilo de vida antes que apareçam as patologias.
No entanto, a educação nutricional depende do uso das teorias e
modelos de motivação apropriados para conduzir a pratica numa dada
situação, por outro lado, só o treinamento de habilidades das técnicas
cognitivas não seria suficiente. Considerando que os programas de
30
intervenção nutricional devem ser adaptados às características locais para
atingirem as necessidades da população, levando em conta esta abordagem,
seria necessário integrar os modelos para aplicá-los no contexto
organizacional, ambiental e pessoal.
Desta forma a mudança do comportamento no estilo de vida seria
mais efetiva e duradoura para o resto da vida de um indivíduo.
Na musicalidade dos Titãs, a letra lindíssima de Epitáfio faz um
alerta à vida, a forma de enxergar os problemas e tomar decisões importantes
antes que seja tarde demais:
“...Devia ter complicado menos Trabalhado menos ter visto o sol se pôr Devia ter me importado menos Com problemas pequenos Ter morrido de amor...”
31
CAPÍTULO III
Reconhecer situações de risco
3.1 - Momentos de utilizar o aprendizado
Como já foi dito neste trabalho a obesidade é um fator de risco
importante para diversas doenças crônicas, como Diabetes Mellitus, doença
coronariana, hipertensão arterial, cálculos biliares, câncer, dislipidemias,
doenças articulares, estas doenças são chamadas comorbidades agravadas
pela obesidade. Isto explica o alto índice de mortalidade entre os obesos em
idade produtiva.
Para compreender este assunto é fundamental o entendimento
conceitual de obesidade, vem a ser o acúmulo do tecido adiposo regionalizado
ou em todo o corpo, a obesidade é caracterizada por um estado crônico de
baixo grau de inflamação (MITCHELL, 1978), ou seja, para admiração de
muitos, a obesidade é considerada uma doença e precisa ser vista como tal,
para ser tratada corretamente.
Constata-se a necessidade de investir na prevenção, controlando os
fatores de risco, entre eles a alimentação, pois estas enfermidades estão
relacionadas não só ao excesso alimentar como também à inadequação
qualitativa da dieta sendo recomendadas ações educativas na alimentação.
Neste capítulo o enfoque é reconhecer a situação de risco e dar o
tratamento apropriado que a situação exige. Todo o aprendizado adquirido
deverá ser utilizado em prol da qualidade de vida. O que a educação
nutricional através do docente pode contribuir como medida preventiva na
saúde? Educar. Próxima resposta: Reeducar.
32
O número de anos que se vive não costuma ser o fator mais
importante quando se trata de avaliar o método de cuidados com a saúde.
Ninguém quer viver até uma determinada idade sem reconhecer seus entes-
querido, por causa de Alzheimer. Assistir um familiar perder lentamente o
funcionamento da mente e ficar aprisionado em seu próprio corpo, é muito
triste e doloroso (STRAND, 2004).
A verdade é que a medicina está preocupada demais em tratar as
doenças, não há preocupação na instrução das pessoas sobre estilos de vida
saudáveis, que propiciem, antes que todo o mal aconteça, a evitar o
desenvolvimento de tais doenças. Isso não se faz com medicina preventiva e
sim com nutrição preventiva e com hábitos saudáveis.
Dar orientação necessária para um indivíduo ou grupo é propor a
verdadeira prevenção. Isso exige do instrutor, educador, orientador, seja qual
forem o termo mais adequado para esse profissional agente de saúde, o
conhecimento e a motivação que serão necessários para este
empreendimento. Edgar Morin complementa: “De qualquer forma, o
conhecimento permanece como uma aventura para a qual a educação deve
fornecer o apoio necessário”.
3.2- Prevenção: Antídoto do mundo atual
Atitudes preventivas são os ingredientes de um estilo de vida
saudável, é inegável que o exercício físico aliado aos hábitos alimentares
saudáveis diariamente proporcionem maiores benefícios à saúde. Constata-
se a necessidade de investimento na prevenção, controlando os fatores de
risco.
33
Os telômeros, estruturas que formam a ponta dos cromossomos
(sequências de DNA), ficando mais curtos desencadeia o envelhecimento do
corpo. Pesquisas recentes mostram que o estresse, o sedentarismo e a
obesidade levam ao encurtamento dos telômeros – Afirma o neurocientista
Stevens Rehen, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ.
Desta forma, é essencial para a receita de uma vida longa e
saudável adotar uma abordagem tríplice: fazer exercícios regularmente, comer
bem e ter uma boa vida social.
Nesta época de pesquisas bioquímicas, os cientistas já são capazes
de determinar o que está acontecendo em qualquer parte de qualquer célula e
a própria essência das doenças degenerativas está vindo à luz. Estas
evidências apontam para a medicina nutricional como um método de bom
senso preventivo e de ponta, já reconhecida pela comunidade científica e
médica (STRAND, 2004).
A reeducação comportamental é considerada neste trabalho como o
antídoto para o mundo atual. As atitudes deveriam ser preventivas, “prevenir
é melhor que remediar” diz o ditado popular, seria a melhor maneira de
proteger a saúde, mas é também a melhor forma de tentar recuperar a saúde
após tê-la perdido.
Sendo assim, seguem as recomendações para uma vida mais
saudável:
ü Manutenção do peso adequado – Utilizando uma alimentação
balanceada. Verificar o peso mensalmente. O IMC, índice
de massa corpórea, calcula o peso ideal através da fórmula:
34
IMC = peso dividido pela altura ao quadrado, o resultado de
normalidade do índice está na faixa de 18,5 e 24,9. A
circunferência da cintura determina o acúmulo de gordura
visceral, extremamente perigosa para a saúde, para homens
a circunferência deve ser menor que 94 cm e para mulheres
deve ser menor que 80 cm. Estes dados antropométricos,
conjunto de técnicas utilizadas para medir o corpo humano,
permitem avaliar o estado nutricional de um individuo.
ü Utilizar alimentos variados e coloridos – Desta forma estará
suprida a necessidade de nutrientes importantes para o
organismo, como as proteínas, carboidratos, lipídios,
vitaminas e minerais.
ü Utilizar fibras e alimentos integrais no cardápio diário –
Ajudam a equilibrar as taxas de açúcar e gordura circulante
no sangue, assim como a redução da absorção pelo
organismo. Outras propriedades são de acelerar a sensação
de saciedade e de estimular o funcionamento gastrointestinal.
ü Controle da pressão arterial – A pressão arterial é a força que
o sangue exerce sobre as paredes das artérias. Quanto
maior a pressão, maior a probabilidade de as paredes das
artérias serem danificadas e nelas se instalarem as placas de
gordura, ocasionando um infarto ou AVC dependendo do
local onde ocorreu. O ideal é que a pressão arterial fique em
torno de 12/80 mm Hg.
35
ü Controle das taxas metabólicas – Todo adulto acima de vinte
anos sem histórico anterior de doenças, deve fazer exames
periódicos uma vez ao ano, incluindo as taxas de glicose,
colesterol, triglicerídeos, ácido úrico, além do hemograma
completo.
ü Manter os níveis elevados de HDL – colesterol benigno –
Também conhecido por colesterol bom, são as lipoproteínas
de alta densidade, são os “caminhões de lixo” da corrente
sanguínea, o nível de normalidade no sangue deve ficar
acima de 50 mg/dl e para ter o caráter protetor o ideal é que
fique acima de 60 mg/dl. Na alimentação a prevenção se faz
com alimentos ricos em ômega 3, peixes como salmão, atum,
sardinha, linhaça e vitamina E como a castanha do Pará,
nozes, amêndoas, azeite extra virgem e abacate. A atividade
física também promove o equilíbrio das taxas de colesterol.
ü Manter os níveis reduzidos de LDL – colesterol maligno –
Também conhecido por colesterol ruim, são as lipoproteínas
de baixa densidade, transportam o colesterol no sangue e
depositam nas células e nas paredes das artérias,
contribuindo para a formação de placas que estreitam as
artérias, reduzindo o fluxo de sangue circulante, diminuindo o
oxigênio que chega ao coração. Este quadro pode levar a
doenças coronarianas. Mudar o estilo de vida com
alimentação pobre em gorduras e praticar exercício físico
diariamente pode prevenir o aumento da taxa de LDL, no
36
entanto deve ser considerado o fator genético do indivíduo. A
taxa de normalidade deve ficar entre 100 e 129 mg/dl.
ü Manter os níveis reduzidos de triglicerídeos – Também
considerado como outro tipo de gordura. Quando é ingerida
mais calorias do que o organismo precisa, o corpo as
converte em uma forma de gordura que recebe o nome de
triglicerídeos, enviada às células de gordura, chamados de
adipócitos, para armazenamento. Portanto, a forma de
prevenção é não exceder na alimentação, evitar os
carboidratos de alto teor glicêmico, evitar a bebida alcoólica
que também aumentam as taxas de triglicerídeos. A taxa de
normalidade no sangue deve estar abaixo de 150 mg/dl.
ü Manter os níveis de glicemia controlados – Este nível
controlado permite a prevenção de diversas doenças, tais
como diabetes mellitus, síndrome metabólica e doenças
coronarianas. A taxa de normalidade não deve ultrapassar
99 mg/dl. A medida preventiva é consumir com moderação
os doces e açúcar, e aumentar a ingestão de carboidratos de
baixo teor glicêmico como os alimentos integrais.
ü Prática de atividade física pelo menos trinta minutos diários –
Este assunto esteve mencionado em todo o trabalho como
uma das principais formas para evitar diversas doenças e
ainda promover a longevidade melhorando a qualidade de
vida de indivíduos.
37
ü Controlar o estresse e sentimentos como a raiva – O estresse
é um termo muito utilizado na vida moderna, trata-se de um
transtorno emocional ocasionado por diversos fatores do
cotidiano das pessoas, como o trânsito, pressões no trabalho,
educação com os filhos e outros tantos do mundo
globalizado. O sentimento de raiva libera uma carga elevada
de adrenalina, hormônio que prepara o organismo para um
esforço, exercício físico ou digamos, para um combate,
causando sentimentos como: impaciência, palpitações,
tremores, irritabilidade que contribuem para o aumento da
frequência cardíaca e elevação da pressão arterial, alteração
do perfil lipídico e da glicose. Atitudes preventivas sugeridas
são de encarar os contratempos de modo mais positivo, é
uma proposta de vida, mas também se pode recorrer à ajuda
psicoterápica e incluir atividades na rotina como a dança e
ioga, trabalhos manuais, trabalhos voluntários.
ü Ter vida social que proporcione o prazer – os hormônios ditos
do bem proporcionam o bem estar e sensação de prazer,
como as endorfinas, liberadas durante e após o exercício
físico e o convívio com os familiares e amigos. Uma
atividade como um passeio ao Jardim Zoológico com filhos
ou netos pode proporcionar este prazer.
ü Melhorar a auto-estima - A serotonina, substância que
melhora o humor e desempenha um papel importante no
controle da ansiedade e da depressão pode ser uma aliada
38
para melhorar a auto-estima, consumir certos alimentos
podem aumentar a disponibilidade dessa substância no
organismo, tais como: feijão, banana e alimentos ricos em
proteína como a carne. Além disso, o fato de estar em plena
forma física é o alimento indispensável para se sentir bem e
valorizar a auto-estima.
Nosso sistema imunológico nos protege de vírus, bactérias, fungos,
proteínas estranhas e células cancerígenas anormais (STRAND, 2004),
seriam considerados agentes capazes de afetar o sistema imunológico o estilo
de vida inadequado do ser humano? Fica esta questão para reflexão.
Foram selecionadas neste capítulo as principais atitudes preventivas
capazes de funcionarem como um antídoto para combater as guerras nossas
de todos os dias, que afetam sim nosso sistema imunológico minando nossas
resistências. Com o aprendizado adquirido tanto o docente como o discente
pode exercer o papel de melhorar a qualidade de vida de pessoas.
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CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho a conscientização da implantação didática
de alimentação e nutrição com o objetivo de gerar saúde foi constante.
Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. Parece muito mais
fácil prover aos docentes uma atuação técnica do que lhes ensinar a
tolerância, paciência e motivação na arte de ensinar ou corrigir
comportamentos vitais ao ser humano. Os padeiros conhecem a verdadeira
arte de fazer o pão, mas tendo à mão uma panificadora automática, qualquer
pessoa poderia tentar. Mas se não tiver os ingredientes necessários para o
preparo do pão, será possível prepará-lo? É exatamente isso que ocorre na
educação em nutrição, o segredo está nos ingredientes e na arte do
profissional.
A mídia noticia que o excesso de peso é atualmente o principal
problema nutricional da população brasileira, já considerado um problema de
saúde pública no Brasil. Os desafios para o desenvolvimento de uma resposta
efetiva para a prevenção e o controle da obesidade configuram-se na
integração de ações, que possam abranger as determinantes sociais da
alimentação e saúde e produzir mudanças estruturais que impactem nas
práticas alimentares e no estilo de vida da população, isso se faz somente
com educação.
Desse modo, conclui-se ensinar exige compreender que a educação
é uma ferramenta poderosa de intervenção no mundo, diante deste conceito
este trabalho procurou reunir as informações concernentes às questões da
adesão e motivação de indivíduos em programas de intervenção alimentar que
40
visam à mudança do comportamento, assumindo o compromisso com a
transformação social, buscando tornar o ensino eficiente para a maior parte da
população.
Assim sendo, a perspectiva da mudança comportamental pode ser
facilitada pela modificação de fatores pessoais internos (cognições) e pela
alteração de fatores ambientais para promover um comportamento mais
saudável, considerando esta afirmativa, a hipótese é a de que um programa
de intervenção nutricional pode ser bem sucedido, se estiver envolvido numa
perspectiva ecológica de promoção à saúde, enfocando-se os fatores
ambientais, organizacionais e pessoais que influenciam a mudança do
comportamento alimentar.
Considerando os desafios citados nesta pesquisa que envolve
nutrição e educação dentro de um caldeirão efervescente de idéias e ideais
com o objetivo de promoção de melhoria da qualidade de vida através da
prevenção, salta-nos à consciência a palavra motivação, processo que
estimula uma pessoa a agir, talvez seja a mola mestra capaz de impulsionar a
mudança de comportamento para tornar-se ou permanecer saudável com
metas em longo prazo.
Partindo destas evidências sugere-se explorar com acuidade critica
a utilização destas ferramentas como forma preventiva.
Para finalizar tais teorias, talvez a arte possa ilustrar com clareza a
promessa deste trabalho, que é o desejo do querer bem, do querer proteger a
saúde, o maior bem que possuímos, nas palavras de Guilherme Arantes que
tão sabiamente usou para expressar em sua arte uma forma de alerta:
41
“Cuide-se bem, Perigos há por toda a
parte, e é bem delicado viver, de uma
forma ou de outra, é uma arte, como
tudo. Cuide-se bem, eu quero te ver com
saúde, e sempre de bom humor e de boa
vontade, e de boa vontade com tudo...”
A proposta deste trabalho foi reconhecer o educador como
nutricionista desenvolvendo sua atividade docente como quem admira uma
arte, a arte de ensinar nutrição, utilizando suas aptidões pedagógicas e se
tornando um formador de opiniões, um cuidador da vida cotidiana, com a
certeza de que essas ações resultarão em investimentos na saúde para os
tempos contemporâneos.
42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ASSIS, Maria Alice Altenburg de, & Markus Vinícius NAHAS. ASPECTOS MOTIVACIONAIS EM PROGRAMAS DE MUDANÇA DE COMPORTAMENTO ALIMENTAR. Revista de Nutrição, Campinas, 12 (1): 33-41, jan/abr.: 1999 CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: Leitura Crítico-Compreensiva, Artigo A Artigo. 18ª edição Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2011 CASTRO, J. Geografia da Fome. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2006.
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43
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44
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
EPÍGRAFE 5
RESUMO 6
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
REEDUCAÇÃO 13
1.1 – A guerra entre o bem e o mal 13
1.2 – O mal 14
1.3 – O bem 19
CAPÍTULO II
AÇÕES MOTIVADORAS 24
CAPÍTULO III
RECONHECER SITUAÇÕES DE RISCO 31
3.1 – Momentos de utilizar o aprendizado 31
3.2 – Prevenção: Antídoto do mundo atual 32
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42
ÍNDICE 44