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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE POLUIÇÃO DOS EFLUENTES NO BENEFICIAMENTO DO TECIDO JEANS Por: Maria Elisa de Sousa e Silva Orientadora Profa. DSc. . Ana Paula Pereira da Gama Alves Ribeiro Rio de Janeiro - 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

POLUIÇÃO DOS EFLUENTES NO BENEFICIAMENTO DO TECIDO

JEANS

Por: Maria Elisa de Sousa e Silva

Orientadora

Profa. DSc. . Ana Paula Pereira da Gama Alves Ribeiro

Rio de Janeiro - 2009

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

POLUIÇÃO DOS EFLUENTES NO BENEFICIAMENTO DO TECIDO

JEANS

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre - Universidade Candido Mendes como requisito

parcial para obtenção do grau de especialista em

Gestão Ambiental.

Por: Maria Elisa de Sousa e Silva

Rio de Janeiro - 2009

3

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu marido Cleiton e

ao grupo “Unidos Venceremos” meus amigos

Daniela, Daniel, Luiz Cláudio e Renato.

4

RESUMO

Este estudo buscou captar conhecimentos e informações em relação a uma

avaliação critica sobre como a indústria têxtil brasileira vem fazendo no caso do

processamento e beneficiamento do tecido conhecido como brim índigo, que é o

insumo principal usado na fabricação de peças de roupas popularmente

chamadas de jeans, grifo da autora. Esta avaliação passa pela reprodução

histórica do tecido e como se introduziu no país, a expansão da industria têxtil e a

forma como vem sendo feito o tratamento dos efluentes têxteis que vem sendo

jogados nos rios e ou áreas de preservação ambiental. Visa também avaliar a

legislação existente; a identificação dos processos que são utilizados nos

tratamentos de efluentes têxteis, mais notadamente e especificamente voltados

para o beneficiamento do brim índigo, pretendendo apontar opções de soluções

de processos operacionais industriais que utilizem praticas de produção mais

limpa.

Palavras Chave: 1. Industria Têxtil, 2. Efluente, 3. Brim Índigo, 4. Jeans

5

METODOLOGIA

Para a elaboração deste trabalho a autora priorizou a procura de

conhecimento e dados através de uma pesquisa bibliográfica, em literatura

especializada, tais como: leitura de livros, jornais, revistas e tambem de dados em

pesquisas publicadas em mídias e universidades. A internet tambem foi um

instrumento de busca de informações. Esta pesquisa caracteriza-se como teórica

com base essencialmente bibliográfica.

6

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Classificação dos Corantes Têxteis e suas Propriedades principais 31

TABELA 2 - Evolução Química das Lavanderias Industriais no Brasil 35

TABELA 3 - Tipos de Tecidos usados para confeccionar roupas que são lavadas e tingidas nas Lavanderias industriais. 41

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

CAPITULO 1 A INDÚSTRIA TEXTIL E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 15 1.1 A indústria têxtil 15

1.2 O crescimento da indústria têxtil no mundo e

seus reflexos no Brasil 16

1.3 Breve histórico do surgimento do Denim Os tecidos de algodão 18

1.4 A Origem da palavra jeans 20

1.5 O Jeans como instrumento de referencia cultural no mundo e Brasil 20 CAPITULO 2 A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA DO JEANS 22

2.1. Breve histórico – A indústria do jeans 22

2.2. A indústria têxtil e o jeans no Brasil 26

2.3. As modelagens do jeans 28

2.4. Os corantes industriais 19

8

CAPITULO 3 A INDÚSTRIA DO JEANS E O PROBLEMA AMBIENTAL COM SEUS EFLUENTES 34 3.1. O que são efluentes industriais e têxteis no processo de tingimento 34

3.2 – A cor índigo e o processo de tingimento e lavagem do tecido brim 39

3.3. Principais tipos de tingimento do jeans 41

3.4. Os efluentes industriais e os tipos de tratamentos 43

3.5. As questões ambientais dentro do processo de beneficiamento do jeans 45

CONSIDERAÇÕES FINAIS 47

REFERÊNCIAS BLIOGRÁFICAS 50

ÍNDICE 52

9

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 12

CAPÍTULO 1 A INDÚSTRIA TÊXTIL E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 15

1.1. A Indústria Têxtil e a Revolução Industrial 15

1.2. O Crescimento da Indústria Têxtil no Mundo e

seus Reflexos no Brasil 16

1.3. Os tecidos de algodão. Breve histórico do surgimento do Denim 18

1.4 A Origem da palavra Jeans 20

1.5. O Jeans como instrumento de referencia Cultural no Mundo e Brasil 20 CAPITULO 2 A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA DO JEANS 22

2.1. Breve Histórico – A Indústria do Jeans 22

2.2. A Industria Têxtil e o Jeans no Brasil 26

2.3. As modelagens do Jeans 28

2.4. Os Corantes Industriais 29

CAPITULO 3 A INDÚSTRIA DO JEANS E O PROBLEMA AMBIENTAL COM SEUS EFLUENTES 34 3.1. O que são efluentes industriais e têxteis no processo de tingimento 34

3.2 – A cor Índigo e o processo de Tingimento e Lavagem do Tecido Brim 39

3.3. Principais Tipos de Tingimento do Jeans 41

10

3.4. Os efluentes Industriais e os Tipos de Tratamentos 43

3.5. As questões ambientais dentro do Processo de Beneficiamento do Jeans 45

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50

11

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes Pós-Graduação Lato Sensu,

Projeto: A Vez do Mestre. Curso de Gestão Ambiental.

Título da Monografia: POLUIÇÃO DOS EFLUENTES NO BENEFICIAMENTO

DO TECIDO JEANS

Autor: Maria Elisa de Sousa e Silva

Data da entrega: ____/ 07 / 2009

Avaliado por: Profa. Ana Paula P da G A Ribeiro Conceito:

12

INTRODUÇÃO

Atualmente passamos por um período de transformações em nossa

sociedade no que diz respeito ao tratamento das questões relacionadas ao meio

ambiente que nos cerca. De certa forma parece que, embora muito lentamente,

as pessoas estão se conscientizando de que precisamos preservar o meio

ambiente e a biodiversidade que ainda nos restam, porque a nossa sobrevivência

e a de gerações que nos sucederão está diretamente condicionada a isto. Isto faz

com que conceitos como qualidade de vida e desenvolvimento sustentável

estejam cada vez mais em voga, sendo intensamente discutidos pela sociedade.

Estas transformações passaram a ser mais pronunciadas a partir do início

da última década do século XX (anos 90) principalmente após a conferência das

Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento realizada em 1992, na

cidade do Rio de Janeiro (ECO 92). Uma nova postura foi criada baseando-se na

idéia de que o meio ambiente e o desenvolvimento precisam ser tratados em

conjunto, ao contrário das propostas tradicionais que pregavam um

desenvolvimento predador do meio ambiente sendo gerador de profundos

desequilíbrios sociais e regionais.

O setor industrial parece também estar se conscientizando com relação a

este aspecto, tanto que empresas consideradas mais poluidoras como as de

Papel e Celulose, Têxtil e Alimentícias tendo observado que a preocupação com

relação ao meio ambiente é, sobretudo, uma questão de sobrevivência num

mercado cada vez mais competitivo.

Esta preocupação está muito visível no que se refere, por exemplo, ao

interesse de muitas empresas na implantação de sistemas de gestão ambiental e

de interação e implementação através de normas mais rígidas de controle,

verificação e monitoramento ambiental.

Dentro deste contexto o setor industrial tem se preocupado em investir em

novas tecnologias para reduzir custos e a poluição do meio ambiente. Atualmente

grandes investimentos são realizados na pesquisa e aplicação de tecnologias

limpas as quais através de um único investimento, visam a economia energética,

de água e a redução da poluição.

13

A economia de água nos processos produtivos e sobretudo nos processo

de beneficiamento da indústria de brim vem merecendo uma especial atenção

devido ao seu alto custo, bem como a algumas previsões de escassez já para o

início deste século. Pode-se citar como exemplo, a previsão feita pela Companhia

de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) que estimou que já

em 2010 a demanda de água deverá ser superior à disponibilidade hídrica do

Estado1

Aliadas as novas tecnologias aplicadas no processo produtivo, estudos

para reutilização e ou remediação de efluentes vêm sendo realizados e já

aplicados, visando diminuir o desperdício de água e a emissão de poluentes no

meio ambiente.

Quanto ao tratamento de efluentes, os desafios são cada vez maiores e a

busca por novas tecnologias, e a combinação das já existentes, para levar a cabo

estes objetivos tem se tornado importante como resposta a legislação cada vez

mais rígida que obriga às indústrias a aumentarem a eficiência de seus sistemas

de tratamento de efluentes para se adequarem aos padrões exigidos, além da

inserção da variável ecológica na mentalidade do setor produtivo.

De outro lado, em função de crescentes demandas geradas pela

sofisticação cada vez maior das exigências do público consumidor que ao longo

das últimas décadas vem requerendo produtos tais como o jeans, cuja indústria

vem utilizando sistemas de beneficiamento cada vez mais complexos, a exemplo

do desbotamento de tecidos contribuindo para beneficiar consequentemente o

mercado da indústria têxtil, mas sem, no entanto, avançar no mesmo nível de

preocupação e respectivos investimentos que procurassem adotar tecnologias

ambientais que evitassem a contaminação do meio ambiente pelos efluentes

cheios de corantes advindos desses processos industriais.

Em função do acima proposto, na primeira parte de deste trabalho,

pretende-se explorar e estudar a historia da Revolução Industrial e mais

especificamente, a importância da contribuição que a indústria têxtil deu ao

crescimento das cidades e países, inclusive o Brasil, já que as primeiras

indústrias foram os grandes tecelões, que foram crescendo e se expandindo para

1 Folha de São Paulo, p. 32. dez.2005

14

depois se tornarem os grandes conglomerados transnacionais que hoje

conhecemos.

Na segunda parte, serão analisados os processos da confecção e

beneficiamento dos tecidos na indústria têxtil, os tipos de corantes e como é feito

o processo de desbotamento dos tecidos, incluindo o jeans e como é feito o

tingimento e a lavagem do brim índigo.

Na terceira e última parte deste trabalho procura-se aprofundar nas

questões ambientais das lavanderias e indústrias de processamento de brim

índigo para jeans, avaliando-se não somente o conceito, mas também, como

funcionam os efluentes industriais e têxteis no processo de tingimento. Também

se avalia os processos e os tipos de tratamentos de efluentes, finalizando-se nas

questões ambientais dentro do processo de beneficiamento do jeans e como

estes processos afetam o meio ambiente através da deposição dos seus

efluentes.

15

1. A INDÚSTRIA TÊXTIL A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 1.1. A indústria têxtil

Segundo relata Lupatini (2004) o desenvolvimento da máquina a vapor

deu um grande impulso na indústria têxtil que tem sido considerada um exemplo

clássico de desenvolvimento fabril na Revolução Industrial.

Por milhares de anos, os povos usaram de um mesmo método para fiar a

lã em estado natural. Realizada a tosquia do carneiro, as fibras de lã eram

lavadas e enroladas em cordões, secadas eram amarradas a fusos pesados. A

fiação era feita uma a uma, manualmente.

Em 1755, John Kay, inventou a lançadeira volante, que trabalhando com

mais fios, possibilitou aumentar a largura dos tecidos e a velocidade da

fabricação.

Em 1764, James Hargreaves, inventou a maquina de fiar que consistia em

uma quantidade de fusos dispostos verticalmente e movidos por uma roda, além

de um gancho que segurava diversos novelos.

Em 1769, Richard Arkwright, desenvolveu uma máquina que se

associava a máquina a vapor. Essas máquinas passaram a ter uma importância

crescente com a substituição da lã pelo algodão. Este era fiado com mais

facilidade, e por sua abundância nas plantações do Sul dos EUA permitiu grande

desenvolvimento da indústria têxtil.

As indústrias têxteis e do vestuário representam a quarta maior atividade

econômica no mundo. Estão entre as precursoras do processo de mecanização

da produção durante a Revolução Industrial ocorrida no período de 1780 a 1840.

Porém, após a revolução industrial, e até mais ou menos 1950, não ocorreram

inovações tecnológicas significativas. Depois dos anos 50, a indústria têxtil passa

por transformações importantes, incorporando inovações tecnológicas de outros

setores industriais, como o setor químico (LUPATINI, 2004).

O aumento da população mundial demandou uma maior produção de

artigos têxteis, exigindo também incremento nas indústrias químicas e

petroquímicas, uma vez que alguns de seus principais insumos, as fibras artificiais

e sintéticas, são originadas dessas indústrias (LUPATINI, 2004).

16

1.2. O crescimento da indústria têxtil no mundo e seus reflexos

no Brasil

Segundo informa desde o início do descobrimento, a partir da ocupação

do Brasil pelos portugueses, em linhas gerais, existiram três etapas importantes

na evolução da indústria têxtil: a fase colonial (de 1844 a 959), a fase de

implantação (de 1844 a 1913) e a fase da consolidação (de 1919 a 1959)

(TEXTILIANET apud SANTOS, 2006, p.25).

Santos (2006, p. 27) também relata que o processo de industrialização no

Brasil teve início exatamente com a indústria têxtil, pois essa atividade tem suas

raízes no período que antecede a sua ocupação pelos portugueses, quando os

índios já exerciam atividades artesanais, técnicas primitivas de natureza têxtil,

entrelaçando fibras vegetais, produzindo telas para várias finalidades, inclusive

para proteger o corpo.

As primeiras fábricas têxteis foram implantadas nos anos de 1816 em

Minas Gerais, 1826 em Pernambuco, e em 1830 parques têxteis rudimentares

foram implantados na Bahia e Rio de Janeiro (IEMI 2002).

A conjunção de vários fatores foi importante para o surgimento da

indústria têxtil no Brasil, tais como: cultura algodoeira em expansão, matéria-

prima básica em grande quantidade, mão-de-obra abundante e um mercado

consumidor em crescimento (IEMI, 2002).

Assim, em 1864 funcionavam vinte fábricas no Brasil com cerca de 15.000

fusos e 386 teares. Dezessete anos depois, isto é, em 1881, já eram 44 fabricas

com 60.000 fusos, gerando cerca de 5.000 empregos. Nas décadas seguintes,

houve um crescimento acelerado no processo de industrialização. As vésperas da

I Guerra Mundial, o Brasil possuía um parque fabril razoável, com 200 fabricas

que empregavam 78.000 pessoas (IEMI, 2002). A I Guerra Mundial pode ser

considerada um fator importante na consolidação da indústria têxtil brasileira pela

redução das importações, possibilitando um estímulo à produção interna de

artigos têxteis. Em 1919 a indústria têxtil possuía 105.116 trabalhadores,

17

representando 38,1% do contingente empregado nas indústrias de transformação.

(IEMI, 2002).

Na década de 20 houve uma queda da atividade têxtil devido à retomada

das importações de tecidos, que eram vendidos a preços inferiores aos dos

países de origem. Com a crise Internacional de 1929, a capacidade de importação

foi drasticamente reduzida e praticamente todos os países adotaram a

substituição dos importados, pela produção interna necessárias para o

abastecimento. Este processo foi aprofundado pelo surgimento da II Guerra

Mundial em 1939/45, período em que ocorreram alterações na estrutura industrial

brasileira. (IEMI, 2002).

Uma análise do setor têxtil no Brasil constata que a indústria teve uma

participação histórica decisiva no processo de desenvolvimento industrial do País.

(Vieira, 1995). A indústria têxtil no Brasil é vista como uma das atividades

tradicionais na sua formação e no seu papel histórico desde, a época da

manufatura até a industrialização. Foi um dos primeiros setores industriais a ser

implantado como empresas em todas as cidades do país.

Tendo um valor sócio-econômico importante, gerando milhões de

empregos diretos na produção fabril, ou indiretos, na produção de matérias–

primas e outros insumos (Vieira, 1995), o que representa o mercado consumidor,

com consumo per capita de 8,6 kg/hab/ano, superando a média mundial que é de

7,6 kg/hab/ano. (VIEIRA, 1995),

Desempenhando um papel de grande relevância no processo de

desenvolvimento do país. Com um faturamento total equivalente a 4,4 % do PIB

brasileiro, e empregando cerca de 1,9 % da população ativa, este setor é de

grande relevância para a economia do país e com forte impacto social

(TEXTILIANET, 2002).

Um dos grandes desafios hoje é a sustentabilidade do desenvolvimento

sócio-econômico da região, minimizando a quantidade de água captada do rio

através do reuso, além de diminuir o impacto ambiental, sendo que o impacto

ambiental ocasionado pelos processos têxtil e das lavanderias, decorrente da

geração de grandes quantidades de efluentes líquidos com altas cargas

poluidoras - forte coloração e presença de inúmeros compostos químicos - pode

causar riscos, quando os efluentes são descartados diretamente nos cursos da

18

água; principalmente pela inibição nos processos naturais da fotossíntese,

diminuindo a quantidade de oxigênio dissolvido e modificando as propriedades

físicas dos cursos d'água causando prejuízos a médio e longo prazos a toda biota

aquática (BALAN, 2000).

1.3. Breve histórico do surgimento do Denim: Os tecidos de

algodão.

Segundo informa Heise (2006), a história da fantástica aventura do jeans

começou em Nimes, na França, onde ele foi fabricado pela primeira vez. No

entanto, foi a indústria têxtil de Maryland, na Nova Inglaterra, que popularizou, em

1792, o uso desse tecido de algodão sarjado, nomeado denim, por ser fabricado

com as mesmas características do pano que se fazia em Nimes.

Por ser um tecido que não merecia grandes cuidados e era durável,

inicialmente ele foi destinado a roupas para o trabalho no campo e também para

os mineiros de ouro na Califórnia. No entanto o jeans só se tornaria mais macio

muito tempo depois, quando começou a ser lavado com pedras antes de ser

posto à venda. Utilizava-se o tecido, vindo de Maryland, e geralmente na cor

marrom, para cobrir carroças. Entretanto, o mercado para este tipo de produto

estava extremamente saturado, pela oferta de lonas por praticamente todos os

mercadores.

Com um grande estoque de lonas e sem conseguir mercado para as

mesmas, Strauss passou a procurar outra aplicação para o produto. Ele observou

que devido à grande exigência física do trabalho nas minas, os mineradores

tinham que substituir freqüentemente as roupas utilizadas, o que lhes provocava

um grande gasto.

A fim de realizar uma experiência, Levi Strauss confeccionou duas ou três

peças reforçadas com a lona que possuía, disponibilizou-as aos mineradores e o

sucesso foi imediato. Devido à alta resistência das peças, elas não se estragavam

com facilidade e proporcionavam uma durabilidade muito maior.(HEISE, 2006, p. 6)

19

Depois, ao ser vendido em larga escala, o jeans (já tingido de azul - na

verdade um tom verde, que com o tempo e a luz, ainda na tecelagem, vai se

transformando no índigo blue) se tornaria o elemento principal de uma verdadeira

revolução no modo de vestir, fazendo com que os trabalhadores utilizassem o

jeans para exercer suas tarefas mais árduas. Entretanto, o jeans só passou a ser

utilizado no dia-a-dia a partir do século XX.

A partir da década de 70, os tecidos tingidos com índigo passaram a

ganhar tratamentos feitos com pedras e alvejantes, visando conferir maciez e

efeitos diferenciados, propiciando a personalização das peças e gerando um

grande apelo mercadológico pelos profissionais da moda. (HEISE 2006, p. 7).

Antes dos anos 80 o jeans ainda era muito desconfortável, pois chegavam ao

consumidos sem nenhuma lavagem e engomado. Esse desconforto só

desaparecia após algumas lavagens domésticas. (HEISE, 2006, p. 8).

O mercado consumidor passou, então, a solicitar roupas mais macias e

com detalhes e texturas diferenciados, o que propiciou o surgimento de uma série

de técnicas para confeccionar as mais diversas peças de calças e camisetas.

Neste meio tempo, vários tipos de brim e os respectivos jeans foram

desenvolvidos, criados e industrializados aumentando a exigência e sofisticação

do publico consumidor.

No entanto, conforme HEISE (2006) informa, os processos têxteis

passaram a ser grandes consumidores de água e de corantes sintéticos, que são

os responsáveis pela coloração do brim e de outros tecidos, mas também, em

função da metodologia e tecnologia que pouco evoluiu, acabaram sendo:

.(..) Grandes geradores de efluentes, cada vez mais volumosos e complexos, carregados com uma elevada carga de resíduos químicos e orgânicos, aliadas a uma elevado teor de sais inorgânicos, componentes que atirados nos rios e mananciais hídricos, acabaram se revelando grandes veículos de poluição e comprometimento com saúde humana (HEISE, 2006, p. 12)

Constata-sede que poucas indústrias tem tratado seus esgotos

adequadamente devido à falta de instalações inadequadas, de processos

industriais ultrapassados ou até espaço insuficiente. Há também problemas com a

falta de um gerenciamento ambiental das mesmas. A consequencia direta é o

descarte contínuo no sistema público ou no curso d’água mais próximo,

20

ocasionando grandes impactos negativos de ordem sanitária ao homem e ao

meio ambiente.

1.4. A origem da palavra jeans

O termo jeans está ligado às roupas feitas com o tecido rústico de

algodão, que eram usadas pelos marinheiros genoveses no século XVII. A raiz da

palavra jeans foi notada pela primeira vez em 1567 como Genovese ou Genes,

um termo usado na descrição das calças dos marinheiros da cidade de

Gênova/Itália. Os rebites de reforço foram patenteados em 1873 por Levi Strauss

e Jacob Davis. Tachinhas de cobre foram utilizadas para dar uma maior

resistência aos bolsos que não estavam resistindo ao peso colocados neles. Os

pontos críticos das calças foram reforçados, tornando-as mais duráveis.

Na metade do século XIX, o tradicional jeans de cinco bolsos surgia nos

Estados Unidos pelas mãos de Levi Strauss como uma roupa de trabalho.

Somente em meados do século XX o jeans tornou-se um artigo da moda, devido

à popularidade dos artistas que passaram a usá-los. Depois o movimento hippie

consagrou o “blue jeans”, como a moda internacional da juventude (TECJEANS,

2001).

A partir de então, cada vez mais os trabalhadores utilizavam o jeans para

exercer suas tarefas mais árduas e de exigência física. Entretanto, o jeans só

passou a ser utilizado no dia-a-dia, já no século XX.

1.5. O jeans como instrumento de referência cultural no mundo e Brasil

Segundo relata Veríssimo (1998), o Brasil já foi considerado literalmente o

país da calça marca Lee 2, que já foi sinônimo de jeans no Brasil, pois, como

informa.

2 Segundo http://mundodasmarcas.blogspot.com/2006/07/lee-brand-that-fits.html. LEE é umas das marcas ícones da cultura americana. No passado ajudou a construir a América com suas roupas resistentes feitas especificamente para trabalhadores. Atualmente uma marca que evoca toda a tradição do mais puro estilo

21

“Perfaz 68% de todo o vestuário fabricado no país. Cerca de 100 milhões de peças são vendidas por ano, o que torna o Brasil o segundo maior mercado de jeans do mundo os Estados Unidos são o primeiro. Em 1987, a indústria brasileira faturou 1 bilhão de dólares, dos quais 200 mil com exportações. De trinta a quarenta modelos chegam às lojas todo ano, cinco dos quais emplacam. E tem mais: o Brasil é o único país onde se pode comprar o tecido denim índigo a metro, para ser transformado em calças, camisas, saias ou vestidos. “(VERISSIMO, 1998)

Veríssimo (1998) segue informando que a trajetória cultural do jeans no

Brasil foi lançada em 1948, a primeira calça de brim azul, a Rancheiro. Houveram

consumidores que não apreciaram a textura do novo produto

“A novidade não agradou muito: o brim era duro demais. Numa época em que as festas ainda eram embaladas ao som açucarado de Ray Conniff e as moças de boa família usavam banlons, vestidos leves de saia rodada ou calças justas de helanca, o tecido das rancheiras era no mínimo grosseiro. Aquele Brasil de 55 milhões de habitantes era mesmo muito diferente do atual: mais gente morava no campo que nas cidades. E nem no Rio ou em São Paulo, com seus pouco mais de 2 milhões de pessoas, os jovens tinham a importância de hoje como consumidores e fazedores de modas. O jeans teria que esperar”. (VERÍSSIMO, 1998),

Em 1956, a posse de Juscelino Kubitschek na presidência e sua

promessa de fazer cinqüenta anos em cinco põem no ar um clima de mudanças.

A construção de Brasília e a implantação da indústria automobilística mudam a

face do país. Naquele ano, a Alpargatas lança a Far West, a calça que resiste a

tudo, como já diziam os anúncios. O forte do jeans ainda era o trabalho, mas a

calça já começava a acompanhar o lazer dos jovens de classe média. No começo

da década de 60, quem tinha meios, trazia do exterior ou comprava de

contrabandistas as famosas calças Lee, made in USA, que desbotavam.

VERÍSSIMO (1998).

Lee virou sinônimo de jeans. Tanto que durante muito tempo se dizia

calça Lee no lugar de jeans. A indústria de confecções não tardou a perceber de

que lado soprava o vento e começaram a brotar marcas de jeans com forte apelo

de vendas aos jovens. As etiquetas Calhambeque, Tremendão e Ternurinha, por

exemplo, identificavam o jeans com os ídolos da juventude da época, Roberto

Carlos, Erasmo Carlos e Vanderléa. (VERÍSSIMO, 1998).

western. Calças e jaquetas que representam muito mais que simples peças de roupas, mas sim um estilo de vida que mistura o fashion com o western.

22

2. A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA DO JEANS

2.1. Breve histórico – A indústria do jeans

Heise (2006, p. 34) informa que o jeans teve varias mudanças de

modelagem em função de acasos contingenciais, tais como o caso do uso das

tachinhas de cobriam os bolsos também foi resultado de um acaso. Em 1870, o

alfaiate Jacob Davis, judeu nascido na Letônia, trabalhava perto de São

Francisco, fabricando mantas para cavalos e tendas para barracas.

Freqüentemente, ouvia os fregueses reclamarem de que os bolsos de seus

macacões não resistiam ao peso das coisas que carregavam. Isso lhe deu a idéia

de prender os bolsos com a mesma tacha de cobre que usava para prender as

correias dos cavalos às mantas. O sucesso foi enorme. Com medo de ser

passado para trás por algum imitador, ele procurou Levi Strauss e, juntos,

patentearam a invenção.

A união de Levi Strauss e Jacob Davis não poderia ser mais bem-

sucedida. No final de 1873, eles haviam produzido 1800 dúzias de peças. No ano

seguinte, 5 875 dúzias. Nessa época, o jeans Levi Strauss já tinha as costuras

duplas e os dois arcos pespontados nos bolsos de trás que representavam as

Montanhas Rochosas norte-americanas em fio cor de laranja para combinar com

a cor de cobre das tachas. Depois de dezoito anos de bons e leais serviços, em

1890 expirou a patente para a fabricação da calça modelo 501 o número do

primeiro lote de tecido importado por Levi Strauss e os concorrentes tomaram de

assalto o mercado. Mas, a essa altura, a parte do leão dos lucros da companhia já

nem vinha do jeans, embora ele continuasse a ser fabricado. (HEISE, 2006)

Foi a crise econômica de 1929, nos Estados Unidos que transformou a

501 em imitação de calça de trabalho: com a crise, que derrubou os preços do

boi, os grandes fazendeiros do Oeste abriram suas propriedades ao turismo e os

ricos americanos do Leste embarcaram nessa nova onda de lazer. As butiques

chiques de Nova York passaram a encomendar a 501. E suplementos de moda

ensinavam os turistas a levar roupas velhas ou comprar um par de macacões

Levi's. (HEISE, 2006)

Mas o jeans ainda não estava na moda, era usado para temporadas no

campo, portanto numa situação especial. Foi em maio de 1935 que um lance do

23

departamento de publicidade da Levi Strauss fez do jeans a roupa típica de um

folclore, o símbolo de uma moda. Num anúncio publicado na revista Vogue uma

das mais elegantes dos Estados Unidos já naquela época, duas damas do Leste

passeiam num rancho vestidas com calça Levi's. Sobre o desenho, lê-se: O

chique do Oeste foi inventado pelos cowboys, e se você esquecer este princípio

estará perdida. (HEISE, 2006)

O anúncio conquistou fregueses e despertou ainda mais a concorrência.

No ano seguinte, pela primeira vez em toda a história do vestuário, a marca da

confecção aparece no lado externo da roupa em vez de ser costurada,

discretamente, no interior. Para diferenciar-se dos competidores, a Levi's resolveu

costurar no bolso traseiro sua célebre etiqueta vermelha. Às vésperas da II

Guerra Mundial, outro lance da publicidade elevou o antigo macacão de trabalho

a símbolo de ascensão social. Não se sabe por que os alunos do segundo ano de

uma universidade do longínquo Estado de Oregon resolveram adotar o jeans

como emblema de sua condição, proibindo o uso aos calouros.

Com isso, o direito à roupa passou a representar ali uma espécie de rito

de passagem não só um privilégio, mas uma distinção. Se a crise de 29 foi um

presente para o jeans, a Segunda Guerra Mundial foi seu passaporte para a fama.

A produção da calça 501 tornou-se nos Estados Unidos indústria essencial: só os

operários que trabalhavam para a indústria da defesa tinham direito a ela. Para

equipar nossos combatentes, a Marinha precisa de grandes quantidades

suplementares dessas roupas. “Vossos esforços para produzirem-nas são tão

vitais para nós quanto os dos operários que fabricam munições de guerra”,

escreveu numa carta dirigida a Levi Strauss, o contra-almirante W.B. Young,

chefe da Intendência da Armada. (HEISE, 2006).

O jeans invadiu a Europa no dia seguinte, por assim dizer, ao da vitória dos

Aliados, na primavera de 1945. As primeiras lojas que vendiam excedentes

americanos de guerra foram abertas, mas a oferta de calças não era suficiente

para atender à demanda. Assim, junto com as recém-inventadas meias de náilon

para mulheres e os cigarros Lucky Strike, Camel e Chesterfield, o jeans passou a

ser um dos artigos mais procurados no florescente mercado negro que se

estabeleceu na devastada Europa do pós-guerra. Enquanto isso, nos Estados

Unidos, a Levi's acaba com os botões da frente, imitando a Lee, que substituíra

24

pelo zíper. As tachas de cobre maciço são trocadas por outras, apenas folheadas

de cobre.

A desmobilização dos soldados aumenta a clientela do jeans. Ela irá

crescer vertiginosamente na década seguinte, acompanhando o salto no aumento

da população norte-americana, em conseqüência do período de prosperidade que

se seguiu ao fim da guerra. Mas ninguém conseguiu se identificar mais com o

jeans do que o ator James Dean. No célebre filme Juventude Transviada, ele

vestia Levi's e representava um personagem símbolo dos jovens da periferia das

grandes cidades, que levavam uma vida desesperadamente monótona em meio

ao conforto material e ao vazio social e afetivo. A morte de James Dean, em

1955, num desastre de carro, transformou-o numa trágica figura romântica.

A partir de então, e durante quase vinte anos, as palavras jeans, jovem e

contestação não mais se separariam. O começo da década de 80, no entanto,

deu a impressão de anunciar a morte do jeans. Em 1979, o surgimento do stone

washed tecido envelhecido e desbotado artificialmente por meio de pedras fez

com que o velho jeans se apresentasse como algo obsoleto. Por volta de 1982, os

sinais de decadência pareciam definitivos. As lojas foram tomadas por calças

confeccionadas com tecidos semelhantes ao do jeans, mas muito mais leves.

O azul cedeu lugar a cores tão diversas como o ocre e o branco.

Apareceu de tudo: calça baggy, com botão, sem botão, com bolso, sem bolso,

com passadores nas pernas, elásticos na cintura. O culto do corpo jogou nas ruas

os agasalhos para jogging. Nos Estados Unidos e na Europa as vendas de jeans

caíram e os anúncios desapareceram das revistas e emissoras de TV. Mas, num

par de anos, o blue-jeans começou a renascer, ostentando desta vez as mais

prestigiadas griffes e com uma variedade de modelos e padrões capaz de

satisfazer o gosto de todo tipo de consumidor. Não será tão cedo, ao que tudo

indica que o jeans deixará de ser a roupa universal.

O sociólogo francês Daniel Friedmann também se manifestou sobre o

jeans, afirmando: “Jeans também é considerado cultura”. Ele informa que teve

seu primeiro encontro com uma calça jeans aos 13 anos de idade. “Eu era

escoteiro e resolvi ir às reuniões usando jeans, em vez de botar o uniforme",

lembra ele. Isso de certa maneira me valorizava me tornava diferente dos outros.

De lá para cá, Friedmann não largou mais suas calças velhas, azuis e

25

desbotadas. É com elas que, aos 42 anos, passeia por Paris em companhia da

mulher e dos dois filhos ou atravessa os compridos corredores que o levam até a

sala de trabalho, no Instituto de Pesquisas e Estudos das Sociedades

Contemporâneas, órgão ligado ao Centro Nacional de Pesquisas Científicas -

CNRS do governo francês.

Ali, em meio a dezenas de outros cientistas sociais, ele se dedica a estudar

o comportamento na sociedade atual. Em fins de 1981, teve a idéia de escrever

um livro sobre o blue-jeans. Na época, ele se encontrava na Califórnia fazendo

uma pesquisa sobre a moda das novas técnicas de psicoterapia, como a

bioenergia e a gestalterapia, que pipocavam por toda a costa Oeste dos Estados

Unidos. Friedmann se interessou, também, pela história do judaísmo no Oeste

norte-americano e foi aí que topou com a figura de Levi Strauss, o inventor do

jeans. Daí para o jeans propriamente dito foi um passo. Descobri que ninguém

havia pesquisado a fundo seu significado na cultura contemporânea, diz o

sociólogo. Achei que esse era um aspecto cultural de nossa história que merecia

ser estudado.

Ao mesmo tempo, ele interessou a Editora Ramsay em publicar um livro a

respeito do assunto. Lançado recentemente o produto do seu trabalho Uma

história do blue-jeans já vendeu 6 mil exemplares na França. Embora tenha

escrito 380 páginas, Friedmann acha que ficou faltando falar das virtudes mágicas

e terapêuticas atribuídas ao índigo a tinta usada para tingir o jeans pelas antigas

civilizações que o utilizaram. Ele acredita que a cor azul das calças jeans foi um

fator decisivo para seu sucesso: Séculos antes do jeans, já havia tendência ao

azul no vestuário, suplantando o vermelho, mais usado anteriormente.

26

2.2. A indústria têxtil e o jeans no Brasil

Segundo Santos (2006), o Brasil vem cada vez mais exercendo um papel

importante no cenário mundial e está entre os principais produtores da indústria

têxtil-vestuário, destacadamente, em tecidos de malha. É o segundo maior

produtor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos.

“Nos outros segmentos sua posição também não fica muito abaixo, sendo o sexto maior produtor de fios e filamentos, sétimo de tecidos e o quinto de produtos de confecção, de acordo com informações fornecidas pelos países membros da ITMF. O consumo de fibra têxtil per capita no Brasil é estimado em 7,0 kg por ano por habitante, sendo ligeiramente maior do que a média mundial. Cerca de 75% das indústrias têxteis estão localizadas na região sul (Santa Catarina), sudeste (São Paulo e Minas Gerais e nordeste (Pernambuco, Bahia e Ceará).” (GUARATINI E ZANONI, 2000).

O site da Fabrica Santista de Produtos têxteis informa que atualmente, a

indústria têxtil leva 3 jeans no Brasil bastante à sério, ou seja, o jeans é nada mais

nada menos que 68% de todo o vestuário fabricado no país. Cerca de 100

milhões de peças são vendidas por ano, o que torna o Brasil o segundo maior

mercado de jeans do mundo, atrás apenas dos EUA. Em 2003 a indústria

brasileira têxtil faturou 1,5 bilhões de dólares, dos quais 500 milhões com

exportações. De trinta à quarenta modelos chegam às lojas todo ano, cinco dos

quais emplacam. E tem mais: o Brasil é o único país onde se pode comprar o

tecido denim índigo a metro, para ser transformado em calças, camisas, saias ou

vestidos.

O site da Santista informa ainda que a Indústria brasileira do jeans traçou

uma longa trajetória desde 1948 quando foram introduzidas as primeiras linhas de

produção primária deste tecido, quando a Roupas AB lançou a primeira calça de

brim azul, a Rancheiro. A novidade não agradou muito: o brim era duro demais.

Numa época em que as festas ainda eram embaladas ao som açucarado de Ray

Conniff e as moças de boa família usavam banlons, vestidos leves de saia rodada

ou calças justas de helanca, o tecido das rancheiras era no mínimo grosseiro.

Aquele Brasil de 55 milhões de habitantes era mesmo muito diferente do atual:

mais gente morava no campo que nas cidades. E nem no Rio ou em São Paulo,

3 www.santistatextil.com.br

27

com seus pouco mais de 2 milhões de pessoas, os jovens tinham a importância

de hoje como consumidores e fazedores de modas. O jeans teria que esperar.

IEMI (2006) relata que, em 1956, a posse de Juscelino Kubitschek na

presidência e sua promessa de fazer cinqüenta anos em cinco põem no ar um

clima de mudanças. A construção de Brasília e a implantação da indústria

automobilística mudam a face do país. Naquele ano, a Alpargatas lança a Far

West, a calça que resiste a tudo, como diziam os anúncios. O forte do jeans ainda

era o trabalho, mas a calça já começava a acompanhar o lazer dos jovens de

classe média. No começo da década de 60, quem tinha meios trazia do exterior

ou comprava de contrabandistas as famosas calças Lee, made in USA, que

desbotavam.

Lee virou sinônimo de jeans. Tanto que durante muito tempo se dizia calça

Lee no lugar de jeans. A indústria de confecções não tardou a perceber de que

lado soprava o vento e começaram a brotar marcas de jeans com forte apelo de

vendas aos jovens.

No começo dos anos 70, o Brasil é o país do milagre econômico e da

ditadura política e também da acelerada transformação no comportamento dos

jovens. Fala-se a toda hora em conflito de gerações e revolução sexual. Em 1972,

é lançada a US Top, com verdadeiro índigo blue, a primeira calça brasileira que

desbota como a Lee americana. Dois anos depois, a Levi's adapta o corte do

jeans aos gostos nacionais calças justas na frente para os homens e atrás para

as mulheres. E a Ellus introduz a moda dos stone washed.

Depois virão as griffes. Em nenhum país do mundo há tantos nomes

famosos assinando jeans como no Brasil. E, enfim, uma publicidade cada vez

mais provocativa, que por suas alusões ao erotismo volta e meia é objeto de

discussões. Uma campanha de TV do tipo do Louco por Lee, que entrou no ar em

novembro último, em que uma garota recebe e parece apreciar telefonemas

eróticos, recebeu fortes críticas. Defende-se Eva Lazar, da McCann Erickson,

agência responsável pela campanha:

A publicidade do jeans tem de ser vanguardista. Um jovem de 18 anos não

vai usar o que não for moderno e descontraído.

28

2.3. As modelagens do jeans

Veríssimo (1998) informa que surgiram diversas modelagens tradicionais do

jeans, mas estão sempre seguindo novos formato inovadores. As mais

conhecidas são:

• Tradicional – com a cintura no lugar e pernas de corte afunilado. Já foi

chamada de five pochets (cinco bolsos), três na frente e dois atrás, uma referência à pioneira 501 americana da Levi's. Por seu corte acompanhar as linhas do corpo, costuma vestir bem a maioria das pessoas.

• Antifit - Modelagem da 501, o primeiro modelo da Levi's.Tem botões ou zíper, adaptada a silhueta do consumidor brasileiro, com cintura baixa, quadril desestruturado e corte reto nas pernas. Como o nome diz, não é um jeans de caimento perfeito; fica com pequenas sobras no quadril e cavalo.Tem pontos a favor: o conforto e o estilo.

• Cut Boot (Corte para botas) - Uma variação do antifit, tem a perna um pouco mais larga do joelho para baixo, para facilitar o uso de botas para dentro da calça.

• Semibaggy - Por ter cintura no lugar, quadril largo e corte da perna ligeiramente afunilado, é o modelo mais adequado ao tipo físico da brasileira, de cintura fina e quadril largo.

• Tigh Fit ou Slim Fit (caimento justo, apertado) - Com cintura baixa, tipo

Saint-Tropez, marca bem os quadris e tem as pernas justas, com corte afunilado ou reto.

• Cigarrete - Modelagem ajustada ao contorno do corpo, pernas justas e

cintura baixa. Algumas versões usam a mistura de jeans com lycra. O resultado é uma calça ainda mais agarrada.

• Oversized (tamanho exagerado) - É o jeans bem folgado e suas formas

amplas não favorecem as mais baixas (achatam a silhueta) nem as gordinhas (parecem ainda mais gordas). Base extra dimensionada de cintura larga, quadril desestruturado e pernas amplas.

• Délavé: lavagem estonada com aplicação de clareamento e alvejante

químico, deixando o tecido com um visual mais macio que o simples estonado;

• Desgaste localizado: são acabamentos feitos peça a peça, com difícil

reprodutibilidade entre as peças e efeitos diversos. Podem-se obter vários efeitos:

� Used: feita com uso de pistola para clarear uma parte determinada;

29

� Lixado: implanta-se um processo manual de abrasão com lixa na

peça bruta para desgastar o tecido em local específico

� Detonado: efeito com uso de esmeril dando picotes na peça antes

de lavar, revelando, depois de lavado, marcas localizadas

� Bigode: efeito imitando as marcações de tanque, feitas

manualmente com uso de gabaritos e lixadas com retífica manual.

Qualquer que seja o modelo, o jeans é associado a trajes informais e é a

vestimenta com poder de unificação social, pois independente da raça ou classe

social, todos usam jeans. (VERISSIMO, 2009)

2.4. Os corantes industriais

Segundo Santos (2006), não somente as diferentes composições de

tecidos, também as cores sempre exerceram fascínio sobre a humanidade e por

toda a história, corantes e pigmentos foram objetos de atividades comerciais.

Hoje, são vendidos mais de oito mil compostos diferentes: substâncias que

podem ser tanto orgânicas como inorgânicas.

Eles eram, inicialmente, obtidos de fontes naturais: o uso de corantes

artificiais teve seu início apenas em 1856. Entretanto, muitos corantes naturais,

utilizados na Antigüidade, ainda são empregados em larga escala. Alguns

exemplos são o índigo (um pigmento azul, extraído de planta homônima -

indigofera tinctoria), a alizarina, corante extraído da raiz de uma planta européia

(madder) e a henna, utilizada até mesmo na indústria de cosméticos. (SANTOS,

2006).

“O Brasil também teve a oportunidade de contribuir para a humanidade com um corante bem nacional, já que os portugueses exploraram a madeira do Pau Brasil, cujo corante originário do de onde era extraído um pigmento capaz de tingir tecidos com cores fortes, como vermelho, rosa ou marrom. (Bittencourt, 1992) e em 1856, William Henry Perkin, um químico inglês, sintetizou a mauveina, que foi o primeiro corante sintético já produzido. Perkin fundou uma fábrica, e logo estava produzindo outros corantes artificiais.” (SANTOS, 2006),

30

Atualmente, mais de 90% dos corantes empregados são sintéticos. Mesmo

o índigo, um dos mais utilizados, foi obtido sinteticamente, em 1880, e as

plantações deste corante logo deixaram de ser um bom negócio, pois o custo

para a sua fabricação era menor do que para seu cultivo e extração.

(BITTENCOURT, 1992).

Santos (2006) informa que quanto um tecido tem sua cor alterada, este

processo é possível graças à utilização de diversos tipos de corantes industriais

que são caracterizados pela sua habilidade em absorver a luz visível. Segundo

BITTENCOURT, (1992), existem aproximadamente 400 tipos de Corantes

orgânicos e inorgânicos que vem sendo utilizados desde a pré-história.

Bittencourt, (1992), informa que atualmente existem mais de 10.000 corantes

produzidos em escala industrial e os mesmos são classificados como: ácidos,

diretos, básicos, dispersos, sulfurosos, a cuba, a cuba solubilizados, azos,

reativos e pigmentados. (BITTENCOURT, 1992).

Devido à crescente demanda da indústria, uma grande diversidade de

corantes que foram sintetizados nos últimos anos, estima-se que são produzidos

cerca de 10.000 em escala industrial, representando um consumo anual no Brasil

de 26.500 toneladas. Esta diversidade de corante é justificada pelos vários tipos de

fibras, que para serem tingidas (Tabela 1) requerem corantes específicos. (KUNZ &

ZAMORA, 2001).

31

Tabela 1 - Classificação dos Corantes Têxteis e suas propriedades

principais

TIPOS DE CORANTES PROPRIEDADES Corantes à Tina Insolúveis em água transformam-se em

compostos solúveis, (>C-OH), LEUCO quando são reduzidos com hidrosulfito de sódio em meio alcalino. Tingem materiais celulósicos.

Corantes Dispersos Insolúveis em água são aplicados na forma de dispersão aquosa ou suspensão coloidal. Tinge principalmente fibras sintéticas tais como as de acetato, celulose, náilon, poliéster, poliacrinonitrila e todas hidrofóbicas através de suspensão.

Corantes Diretos ou Substantivos Solúveis em água, sendo mais solúveis em meio levemente alcalino, são formados por compostos aniônicos sulfonados. Aumenta a afinidade pela fibra quando é usado polieletrólito tornando a molécula plana na configuração da molécula ou na dupla-ligação. A sua formulação contém mais de um grupo azo (N=N). O primeiro corante sintetizado foi o Vermelho Congo em 1884.

Corantes Ácidos Solúveis em água possuem grupos de corantes aniônicos com três grupos sulfônicos, tingem fibras protéicas (lã e seda) e sintéticas (poliamidas, náilon). No tingimento é neutralizado com soluções de cloreto, acetato e hidrogenosulfato etc., se ligando a fibra por troca iônica envolvendo um par de elétrons livres dos grupos aminos e carboxílicos das fibras protéicas.

Corantes Básicos Solúveis em soluções aquosas aciduladas a cor é produzida pela presença do grupo amino (>NH

2) .

Tinge lã, acrílico, seda, algodão, juta, cânhamo, rance, sisal, linho e viscose previamente mordentados com tanino. Apenas o corante Barbeina (C.I. natural yellon 18) é conhecido como corante básico natural, porem os primeiros corantes sintetizados tais como a maloveina eram básicos.

32

Corantes ao Enxofre Insolúveis em água derivam do ácido tiossulfônico usados para obter cores escuras, tais como preto, verde oliva, azul marinho e marrom. Tinge fibras celulósicas, sua característica marcante é a presença de enxofre sob a forma dissulfídica. Para ser usado é necessário fazer uma redução alcalina, com sulfeto de sódio e soda cáustica para que se torne solúvel. No tingimento é preciso fazer uma oxidação através do K2Cr2O7 em meio

ácido gerando (Cr 6+

), solúvel em água e muito tóxico. Este tipo de corante produz odor desagradável ao efluente e dificulta a remoção da cor após o tratamento e freqüentemente apresentam resíduos tóxicos.

Corantes Mordentes Retirados de substâncias vegetais ou animais, com pouco processo químico ou nenhum. São principalmente do tipo mordente, apesar de existir alguns a tina, pigmentos, diretos, e ácidos. Dentre estes não existem corantes dispersos, azóicos ou ao enxofre. Assim como os sintéticos, os naturais possuem composição definida e uniforme e são submetidas a testes de toxicidade antes de serem lançados no mercado.

Corantes Azóicos -pré-metalizados Usados principalmente para fibras protéicas e poliamidas. São caracterizados pela presença de uma hidroxila ou carbonila na posição orto em relação ao cromóforo azo, tornando possível à formação de complexos íons metálicos. No tingimento é explorada a capacidade de interação entre o metal e os grupamentos funcionais que possuem pares de elétrons livres, como os queestão presentes nas fibras protéicas.Os tipos mais comuns deste grupo são os complexos estáveis de Cromo: Corante (1:1) ou (1:2). A desvantagem no uso deste corante é a quantidade de cromo nos resíduos líquidos gerados no processo de tingimento.

33

Corantes Branqueadores As fibras no estado bruto apresentam coloração amarelada, por serem compostas principalmente por matérias orgânicos e absorvem a luz em um baixo comprimento de onda.Esta tonalidade amarelada tem sido diminuída nas indústrias e nas lavanderias pela oxidação da fibra com alvejamento químico ou com a utilização dos corantes brancos, também chamados de branqueadores ópticos ou fluorescentes.

Fonte: CETESB, 2007 Existem também os corantes solúveis que podem ser classificados tais

como: diretos, básicos, muitos ácidos e pré-metalizados e seus resíduos que são

chamados pelos especialistas indústrias de lodo ativado, são absorvidos pelas

águas residuais que são utilizadas para fazer a lavagem e retirada do excesso de

corantes nos tecidos, incluindo-se o brim índigo que é o tecido principal da

fabricação do jeans. (SANTOS, 2006)

As metodologias e tecnologias que vem sendo utilizadas para criar e

desenvolver estes corantes tem evoluído bastante e foram criadas diversas

colorações bastante atraentes para o mundo da moda, cada vez mais exigente por

novas cores do jeans tradicional. Mas, esta revolução dos corantes, não teve a

mesma atenção em relação à preocupação com os processos industriais das

lavagens de tecidos tais como o de índigo para o jeans. Estes processos

continuam, ainda hoje, causando diversos problemas ambientais no momento em

que é feita sua deposição em rios e mananciais hídricos por parte das indústrias de

beneficiamento destes tecidos (SANIN, 1996).

34

3. A INDÚSTRIA DO JEANS E O PROBLEMA

AMBIENTAL COM SEUS EFLUENTES 3.1. O que são efluentes industriais e têxteis no processo de tingimento

Segundo Santos (2006) as indústrias têxteis estão entre as indústrias que

mais 3consomem água, utilizando cerca de 100 m de água e emitindo cerca de

100 Kg de lodos ativos com base em corantes químicos por tonelada de tecido

produzido. A remoção de cor é uma das tarefas mais difíceis no processo de

tratamento de efluentes têxteis. O residual de cor tem limitado os processos de

reciclagem de água. Quando as descargas de efluente são lançadas no sistema

de esgoto ou no meio ambiente, a remoção de cor é também essencial para

minimizar os danos ecológicos e cumprir a legislação.

Os efluentes gerados nesta indústria tem uma composição química

extremamente variada, dependendo de cada etapa de processamento, sendo que

sua composição é um dos maiores responsáveis pela grande dificuldade em tratá-

los já que as águas residuais têxteis, além do grave problema no tocante ao

aspecto da coloração, também apresentam vários outros tipos de produtos em

sua composição, tornando muito complexa a respectiva análise e a determinação

de cada um individualmente, dificultando também a melhor forma de fazer o

tratamento adequado. (SANTOS, 2006).

Santos (2006), também informa que as águas residuais, se não tratadas,

podem ser contaminadas com cianeto, que é um veneno químico extremamente

perigoso para a vida humana, mas também com cromo (que vem do processo de

galvanoplastia residual onde o tecido recebe mais um tipo de tratamento químico).

Esses agentes poluentes contribuem para reduzir e até eliminar o oxigênio

encontrado na água, destruindo a fauna aquática tornado ainda a água

inadequada para o consumo industrial, agrícola, residencial e recreativo. O cloro,

por exemplo, é prejudicial à saúde do ser humano, interferindo no correto

funcionamento dos sistemas reprodutivo e respiratório, tendo sido inclusive

utilizado como arma química durante a II Guerra Mundial. Toda essa poluição é

lançada pelas lavanderias e tinturarias na rede pluvial - ou diretamente em

35

córregos e rios - água com corantes de alta nocividade, sem tratamento.

(SANTOS, 2006).

Santos (2006), também relata que a escolha do processo ou da seqüência

do processo de tratamento nas lavanderias industriais veio seguindo evoluindo

com o tempo. Estes tratamentos dependem de uma série de fatores como

características do efluente, qualidade do efluente após o tratamento, custos,

disponibilidade de área e disponibilidade tecnológica.

“As lavanderias de jeans vêm se aprimorando em uma grande quantidade de processos, mas se tratando de uma atividade relativamente nova, ainda se tem muito a descobrir. O mercado dita as normas de atuação e acabamento, onde as diversidades de processos e a técnica se tornam decisivas, quanto a uma boa execução do trabalho solicitado. Cada vez mais, as lavanderias deixam de ser meras prestadoras de serviço, sendo hoje indústrias de modas e tendências, na criação de confecções” (TECJEANS, 2001).

TABELA 2 - Evolução química das lavanderias industriais no Brasil

Ano Evolução das Lavanderias de Jeans no Brasil

1976 Jeans amaciado do avesso com amaciante e ácido acético em caixas de molho.

1978 A primeira lavagem em máquina Industrial é Délavé feito com cloro acidulado com ácido acético, enxaguado e amaciado.

1980 Surgem as primeiras lavagens com pedras pomes, trazidas da Itália pela Staroup, Gledson, e Ellus. Ano que existe uma corrida de empresários montando um grande numero de lavanderias em São Paulo e Rio de Janeiro, voltadas exclusivamente para beneficiamento de jeans. O metabissulfito de sódio é adotado para neutralização de cloro. As lavagens são as seguintes: Stone Washed, Stone Clear, Délavé e Amaciado.

1981 É adotado a desengomagem, visando evitar riscos nas peças e obter um aspecto mais limpo e envelhecido.

36

Junto com as pedras que eram vendidas em bloco onde as lavanderias quebravam em pequenos pedaços, usa-se metassilicato ou soda (NaOH) para aumentar o envelhecimento. A pedra de argila expandida (Cinasita) é adotada, esta pedra é vendida em sacos de 25 kg e possuem tamanhos variados. O envelhecimento exigido pelo mercado é cada vez mais acentuado.

1982 Surge o stone Color, que domina o mercado, mas logo em seguida passa a ser evitado pelas confecções, pois por não ser fixado, gera má qualidade na solidez do tingimento e um grande número de devoluções. A pedra Cinasita é fornecida granulada.

1984 Iniciam-se as primeiras aplicações de alvejamento finais, feitos com detergentes alcalinos e branqueador ótico.

1985 O alvejamento final passa a ter peróxido, metassilicato, soda, detergente, e branco ótico em sua formulação. Passa a ser adotado; acidulações com metabissulfito antes do amaciamento. Os umectantes e os deslizantes de fibra começam a ser usado. A desengomagem oxidativa mostra seu valor. Surgem os primeiros processos especiais feitos por lavanderias, tais como Amassadinho Tied Dyed, Batik, Amarrados, etc. è o ano da calça OP feita de forro de bolso e tingida.

1986 Ano revolucionário com o nascimento do Star washed ou Snow Washed, ou marmoreado ou ainda o Stone Americano, que nada mais é do que uma oxidação feita com pedras umedecidas, inicialmente é feto com cloro, mas logo passa a se feito também com permanganato, sendo o Brasil o primeiro país no mundo a utilizá-lo. Neste ano as lavanderias aprendem a trabalhar com mais técnica, pois a neutralização do permanganato é uma acidulação

37

muito forte, onde os efeitos de queda na solidez posterior são muito acentuados. Ácido cítrico, Peracético, Oxálico, Hidroxilamina e Metabissulfito são usados para neutralizar o permanganato.

1987 Surge o Used Washed que inicialmente é feito por jato de areia, mas logo em seguida é processado por pincelamento ou pulverização com cloro e em seguida com permanganato. Ano em que as empresas químicas “descobriram” as lavanderias de jeans.Substituição das pedras pelas enzimas. As lavanderias se tornaram tinturarias, e surgem os primeiros tecidos PT. O tinturado se torna tendência e como não é produzido pano suficiente pelas tecelagens, nasce o branqueamento total do índigo, para ser tinturado depois. Os processos artesanais passam a ser adotados e regem a diferenciação entre as lavanderias.

1989 Chegam as primeiras enzimas celulases ácidas, e inicialmente substituem realmente as pedras.

1990 O Stone Americano evolui, são adotados aditivos como secantes e homogenizadores, são adotados os primeiros antimigrantes, os tampões e os produtos persulfatados.

1991 O Used é valorizado e surgem equipamentos próprios. Surgem os tingimentos com pigmentos, através de cationização.

1993 As enzimas neutras dominam o mercado. O Destroyed exige técnica de Stonagem e alvejamento bem apuradas. O used é evidência

1994 Os apelos ecológicos forçam o aparecimento das gluconases para substituir o cloro.

1995 A qualidade é exaltada com envelhecimento agressivo e acabamento muito bem elaborado.

1999 O artesanal volta a evidenciado exigindo maior treinamento dos operadores.

38

2000 O artesanal se sofistica com metalização e efeitos especiais de aplicações de resinas e outros produtos de estamparia, o Used se evidencia com padrões lixados e novos visuais.

2001 Os efeitos artesanais continuam, projetando comercialmente as lavanderias que conseguem elaborar um jeans diferenciado, com maior padrão de qualidade. Os diferenciados não se limitam a efeitos artesanais, estendem-se para efeitos especiais de sobretintos, com cationização e coloração localizada através de tingimento. Os lixados devores, rasgados e corrosões são fatores fundamentais para volume de venda. É um momento de perigo para a lavanderia, pois se o trabalho não for executado com critério de qualidade, corremos o risco de “queimar” as possibilidades de ganho num futuro próximo.

Fonte: Tecjeans, 2001

Conforme descrito, a Tabela 2, mostra a evolução histórica das lavanderias

de brim que atualmente existem melhores condições técnicas e econômicas para

a exploração de fontes alternativas de água. Além disso, processos para o

tratamento de efluentes industriais também estão sendo desenvolvidos no Brasil,

permitindo a reutilização da água pelas próprias empresas. (SANTOS, 2006)

39

3.2 – A cor índigo e o processo de tingimento e lavagem do

tecido brim

Na antiguidade o índigo era um dos corantes mais importantes. Talvez o

único que ainda possua aplicações atualmente. O índigo teve sua origem na

Índia, nas antigas civilizações do Egito, Grécia e Roma - era um corante nobre

pela sua qualidade de tingir. A sua forma natural, a Indigotina, era extraído

diretamente da plantas; nos países tropicais das espécies Índigosfera tictória, em

países temperados, satis tinctoria e Polygoniun tintoctorun. O corante era extraído

com água resultando uma solução aquosa de glicósido de indoxilo, em seguida

era oxidado ao ar dando origem ao índigo (GORINi, 1999).

Heise, (2006, p. 34) também relata que: no princípio, o jeans não era azul,

mas de uma cor entre o bege e o marrom-claro, pois essa era a cor da fazenda

original, fabricada na cidade italiana de Gênova. O próprio nome jeans, por sinal,

vem de Gênova, com as devidas adaptações e erros de pronúncia. Era uma

espécie de estopa bem trançada, de algodão, fabricada na cidade francesa de

Nîmes daí foi chamado de denim. Essa fazenda era tingida com índigo, uma tinta

vegetal azul conhecida séculos antes de Cristo.

O auge da indústria do índigo se deu no inicio do século XII, com a

expansão das colonizações promovida pelas nações européias. No entanto, no

fim do século XIV esta indústria tornou-se obsoleta com o surgimento do índigo

sintético. E em 1897, a BASF iniciou a comercialização do corante sintético a um

preço menor do que o produto extraído naturalmente. Atualmente são produzidas

cerca de 20.000 toneladas/ano de índigo sintético, que é utilizado principalmente

como agente corante dos “blue jeans” (Melo & Barroso, 2001).

O processo na indústria têxtil, principalmente nas etapas de tingimento e

acabamento, requer um grande volume de água. Corantes são largamente

utilizados e os efluentes gerados tornam-se altamente contaminados por esses

corantes e devido aos atuais processos de industrialização e o crescimento da

demanda da indústria têxtil no Brasil, principalmente a do jeans, muitas cidades

foram crescendo ao redor destas indústrias e, como conseqüência, estas estão

atualmente localizadas em zonas urbanas densamente ocupadas, agravando os

40

problemas de poluição de um modo geral, principalmente aqueles ligados aos

tratamentos de água e esgoto (WOLFF, 1997).

O problema gerado pelos efluentes têxteis é a intenção de conseguir uma

cor intensa nos tecidos brim índigo, gerando como conseqüência uma grande

quantidade de corantes não-fixados, ionizados, principalmente os corantes

reativos que, segundo possuem pequena degradabilidade, tornando sua

eliminação difícil tanto pelos processos físico-químicos quanto pelo biológico.

(SANTOS, 2006)

Ao ser vendido em larga escala, o jeans (já tingido de azul - na verdade um

tom verde, que com o tempo e a luz, ainda na tecelagem, vai se transformando no

índigo blue) se tornaria o elemento principal de uma verdadeira revolução no

modo de vestir, fazendo com que os trabalhadores utilizassem o jeans para

exercer suas tarefas mais árduas. Entretanto, o jeans só passou a ser utilizado no

dia-a-dia a partir do século XX. (Heise , 2006)

Segundo Gorini, (1999), no Brasil, o jeans teve a sua comercialização no

inicio da década de 60, através da Santista Têxtil, sendo destinado,

principalmente, aos trabalhadores do campo, a chamada “calça rancheira”, que

era confeccionada com o denim de 18 onças. O tecido denim tradicional é uma

mistura de tecido (de construção diagonal) de algodão produzido a partir de uma

trama (fios transversais do tecido) em fio cru e urdume (conjunto de fios

longitudinais), em fio tinto. Recentemente, a produção foi ampliada a partir do

denim azul padrão incorporando a diferentes técnicas de tingimento, corantes

químicos, misturas com outras fibras, conforme mostra a Tabela 3 abaixo, tais

como a variedade dos tecidos fabricados, elevando a qualidade do elastano e

lyocell, com máquinas mais velozes para fiação e tecelagem, aumentando a

produção. Atualmente as indústrias têxteis, maiores produtoras de tecido Denim

são a Alpargatas, Santista Têxtil e Vicunha, localizadas na região sudeste e a

Santana Têxtil na região nordeste. (GORINI, 1999),

41

Tabela 3 – Tipos de tecidos usados para confeccionar roupas que são lavadas e tingidas nas lavanderias industriais. Tecidos Conceitos Jeans É o nome dado a um estilo de

confecção, caracterizado por estrutura reforçada que evidencia rebites e costuras duplas. Antigo nome inglês do fustão em Sarja, também conhecido como Brim ou Denim.

Índigo Blue Nome do tecido utilizado universalmente para calças jeans. Índigo se define como corante para calças jeans em tom de azul. O nome índigo faz referência a uma planta indiana chamada "indigus", que continha em sua raiz um corante azul usado, na época, como base para tingimentos nas tribos.

Sarja Tipo de construção do tecido, com destaque diagonal. Tecido básico e versátil que apresenta excelente caimento, ótimo aspecto após lavagem e combina com qualquer tipo de clima.

Brim Tecido grosso, em sarja, geralmente de algodão, usado para confecção de calças, blusões, jaquetas, macacões, etc.

Denim Tecido pesado de algodão cru ou com fios de urdume, tintos em índigo e fios de trama, brancos, muito usada para calças jeans. O nome Denim deriva da cidade francesa de Nimes; em inglês significa Brim.

Fonte: Fonte:Moda Brasil, 2005 3.3. Principais tipos de tingimento do jeans

Segundo Heise, (2006), à partir da década de 70, os tecidos tingidos com

índigo passaram a ganhar tratamentos feitos com pedras e alvejantes, visando

conferir maciez e efeitos diferenciados, propiciando a personalização das peças e

gerando um grande apelo mercadológico pelos profissionais da moda.

42

O mercado consumidor passou, então, a solicitar roupas mais macias e

com detalhes e texturas diferenciados, o que propiciou o surgimento de uma série

de técnicas para confeccionar as mais diversas peças de calças e camisetas.

Heise F, (2006) cita abaixo algumas das principais técnicas usadas nos

diversos tipos de tingimento feitos durante as lavagens solicitadas pelas

confecções às lavanderias industriais de tecidos:

• Estonagem: processo de lavagem do artigo em tambores com pedras de

argila, chamadas de sinasitas. Durante a lavagem, as pedras entram em

atrito com o artigo deixando-o com um aspecto "batido", mais "usado".

Oferece-se também o aspecto um pouco desbotado e amaciado;

• Stone Washed: com acabamento obtido em peças (artigos) já costuradas,

tingidas ou estampadas, através da lavagem industrial das peças com

pedras ou enzimas. Desse procedimento resultam artigos com aspecto

"usado". Este processo é muito utilizado no acabamento de calças jeans,

consideradas produtos mais pesados. Para camisetas, utiliza-se o

processo com enzimas, que proporciona o mesmo acabamento, sem

prejudicar a peça;

• Destroyed: é usada uma lavagem parecida com a estonagem e que utiliza

mais enzimas que corroem levemente a fibra, deixando o tecido com

aspecto de “destruído”;

• Délavé: a lavagem estonada é feita com aplicação de clareamento e

alvejante químico, deixando o tecido com um visual mais macio que o

simples estonado;

• Desgaste localizado: são feitos diversos acabamentos feitos peça a peça,

com difícil reprodutibilidade entre as peças e efeitos diversos. Podem-se

obter vários efeitos, tais como o

� Used: uso de pistola para clarear uma parte determinada

43

� Lixado: processo manual de abrasão com lixa na peça bruta

para desgastar o tecido em local específico.

� Detonado: efeito com uso de esmeril dando picotes na peça

antes de lavar, revelando, depois de lavado, marcas localizadas.

� Bigode: efeito imitando as marcações de tanque, feitas

manualmente com uso de gabaritos e lixadas com retífica manual.

Os processos de lavagem citados acima são os que produzem grandes

quantidades de efluente, sendo que a substituição das pedras e enzimas pela

água ozonizada é o foco do projeto em questão. (HEISE , 2006)

3.4. Os efluentes industriais e os tipos de tratamentos

São considerados efluentes industriais, as águas residuais industriais que

lançadas diretamente nas águas receptoras ou via esgotos urbanos. As águas

residuais variam de indústria para indústria. (HASSEMER, 2001)

Na indústria têxtil, a água é a matéria prima mais utilizada na manufatura

dos produtos, portanto, em quase todos os processos têxteis (tingimento,

engomagem, desengomagem, alvejamento, mercerização, lavação, estampagem

e acabamento) utilizam vários produtos químicos e geram efluentes líquidos à

base de água. Devido ao grau de variedade de fibras, corantes e produtos de

acabamento em uso, esses processos geram efluentes de grande complexidade e

diversidade química. O efluente final têxtil é caracterizado pela concentração de

substâncias químicas e altas concentrações de corantes e pigmentos

(HASSEMER, 2001)

Hassemer, (2001), relata ainda que as atividades industriais cresceram

muito nos últimos anos e atraíram consigo novos problemas devido à eliminação

de rejeitos tóxicos, provenientes de subprodutos gerados pela indústria. A

eliminação desses produtos tóxicos é atualmente um dos mais importantes

assuntos em controle de poluição, o que tem levado os pesquisadores a buscar

novas técnicas e ferramentas mais poderosas para diminuir ou eliminar a

toxicidade dos efluentes gasosos e líquidos formados em seus distintos

44

processos, sempre levando em conta as regulamentações e legislações voltadas

à proteção ambiental.

Hassemer, (2001), informa que os efluentes coloridos da indústria têxtil são

uma importante fonte de contaminação ambiental. É estimado que de 1% a 15%

dos corantes utilizados pelas indústrias têxteis são perdidos durante o processo

de tingimento e liberado no efluente. A liberação desses efluentes coloridos no

ecossistema é uma fonte dramática de poluição estética e interferência na vida

aquática.

Há diversas formas de tratamento para os efluentes têxteis: físicos,

químicos e biológicos, sendo que os microrganismos têm sido intensamente

estudados com a finalidade de remover compostos tóxicos do ambiente. As

pesquisas de degradação de compostos químicos têm mostrado vários

microrganismos extremamente versáteis em degradar substâncias recalcitrantes.

(KUNZ, A.; PERALTA-ZAMORA, 2002)

Segundo Santos (2006) atualmente a tecnologias de tratamentos de

efluente com base em corantes da indústria do jeans tem utilizado cada vez mais

os sistemas biológicos de tratamento de resíduos devem atender alguns

importantes aspectos: remoção da matéria orgânica, portanto, redução da

demanda química e bioquímica de oxigênio do resíduo a ser tratado; se possível,

à degradação de compostos químicos orgânicos de difícil degradação

(recalcitrantes); fornecimento de um efluente dentro dos padrões de lançamento

estabelecido pela legislação vigente que não altere o equilíbrio do corpo receptor

causando danos ao meio ambiente.

Os métodos convencionais empregados para tratamento de efluentes

líquidos podem ser classificados genericamente como primários ou mecânicos,

secundários ou biológicos e terciários ou físico-químicos e constituem aqueles

empregados nas indústrias têxteis. Inclusive, os caminhos atuais da biotecnologia

indicam fungos com base em bactérias como eficientes tratadores de efluentes,

contribuindo para a degradação de grande variedade de compostos e de

corantes, com alto potencial de ação na recuperação de ambientes contaminados.

O problema da remoção da cor em efluentes coloridos tem encorajado a busca de

tratamentos biológicos para esta exata finalidade. (SANTOS, 2006)

45

3.5. As questões ambientais dentro do processo de beneficiamento do jeans

Efluentes derivados das industriais têxteis oferecem sérios riscos de

impacto ambiental. Principalmente aqueles provenientes das etapas de

processamento, que utilizam grande quantidade de água e a aplicação de

substâncias químicas, que conseqüentemente, geram grandes volumes de

efluentes contendo altas cargas de compostos orgânicos fortemente coloridos,

que podem interferir nos processos fotossintéticos naturais, ocasionando

prejuízos incalculáveis, a médio e longo prazo, para a biota aquática (Wang et al.,

2002).

Os corantes são facilmente detectáveis a olho nu, e o tratamento do

efluente têxtil tem sido considerado uma das mais importantes categorias de

controle da poluição da água, devido à grande intensidade das cores oriundas do

índigo e seus derivados e também a grande concentração de contaminantes

orgânicos. Ambos são caracterizados pelo grande volume e extrema variação nas

respectivas composições, as quais podem incluir corantes não biodegradáveis e

substâncias tóxicas. As variabilidade destas substancias surge devido à

diversidade no tipo dos processos industriais empregados e na imensa faixa de

produtos químicos e materiais envolvidos em cada categoria industrial. (SANTOS,

2006)

Segundo Brayner, (2001), o setor industrial parece também estar se

conscientizando com relação a este aspecto, tanto que empresas consideradas

mais poluidoras como as de Papel e Celulose, Têxtil e Alimentícias tendo

observado que a preocupação com relação ao meio ambiente é, sobretudo, uma

questão de sobrevivência num mercado cada vez mais competitivo. Esta

preocupação está muito visível no que se refere, por exemplo, ao interesse de

muitas empresas na implantação de sistemas de gestão ambiental e de interação

e implementação de programas de qualidade que tenham fortes indicadores de

exigências das questões ambientais. Dentro deste contexto o setor industrial tem

se preocupado em investir em novas tecnologias para reduzir custos e a poluição

do meio ambiente. Atualmente grandes investimentos são realizados na pesquisa

46

e aplicação de tecnologias limpas as quais através de um único investimento,

visam a economia energética, de água e a redução da poluição, (BRAYNER,

2001).

A economia de água nos processos produtivos vem merecendo cada vez

mais atenção devido ao seu alto custo, bem como a algumas previsões de

escassez já para o início deste século e claro pela crescente contribuição da

poluição dos efluentes que as indústrias fabricantes de brim índigo e jeans tem

feito no meio ambiente das cidades brasileiras. (IEMI, 2006). Pode-se citar como

exemplo, a previsão feita pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de

São Paulo (SABESP) que estimou que já em 2010 a demanda de água deverá

ser superior à disponibilidade hídrica do Estado. (Folha de São Paulo, dezembro

2005).

47

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades industriais cresceram muito nos últimos anos e atraíram

consigo novos problemas devido à eliminação de rejeitos tóxicos, provenientes de

subprodutos gerados pela indústria.

A eliminação desses produtos tóxicos é atualmente um dos mais importantes assuntos em controle de poluição, o que tem levado os pesquisadores a buscar novas técnicas e ferramentas mais poderosas para diminuir ou eliminar a toxicidade dos efluentes gasosos e líquidos formados em seus distintos processos, sempre levando em conta as regulamentações e legislações voltadas à proteção ambiental. SANTOS, (2006).

SANTOS, (2006), informa que nos dias atuais há uma preocupação

constante com a preservação do meio ambiente, pois os problemas ambientais

têm se tornado cada vez mais críticos e freqüentes, devido ao crescimento

populacional e o consequente aumento da poluição, decorrente do aumento da

atividade industrial.

Os efluentes industriais, quando não corretamente tratados, podem causar

sérios problemas de contaminação ambiental, devido à presença de diversas

substâncias utilizadas nos processos industriais que não são facilmente

eliminadas. Dentre essas substâncias, encontram-se os corantes, que são

utilizados em diferentes aplicações industriais e são comercializados sob a forma

sintética e natural. “Há atualmente uma maior e diversificada demanda por

corantes sintéticos, o que é motivo de preocupação, pois muitos estudos indicam

que essas substâncias são potencialmente tóxicas e carcinogênicas” (SANTOS,

2006)

Do ponto de vista ambiental, a remoção do corante no processo de

lavagem é um dos grandes problemas do setor têxtil. Estima-se que cerca de 15%

da produção mundial de corantes é descartada para o meio-ambiente durante a

síntese, processamento ou aplicação. (GUARATINI e ZANONI, 2000).

Isso é alarmante, se for considerado que este valor representa o

lançamento de cerca de 1,20 ton por dia desta classe de compostos para o meio-

ambiente. A principal fonte desta perda corresponde à incompleta fixação dos

48

corantes (10-50%), durante a etapa de tingimento das fibras têxteis. A associação

internacional ETAD (Ecological and Toxicological Association of the Dyestuff

Manufacturing Industry), criada em 1974, tem realizado um grande esforço para

fiscalizar a fabricação mundial de corantes sintéticos, com o intuito de minimizar

os possíveis danos ao homem e ao meio-ambiente. Esta entidade trabalha com a

divulgação de artigos, identificando os riscos potenciais dos corantes (Guaratini e

Zanoni, 2000).

Além do impacto ambiental direto do efluente, o grande consumo de água

está ficando intolerável em países sujeitos à escassez de água (como os do sul

da Europa). Uma política racional de administração de água alocaria as mais

puras fontes de água fresca para uso potável e incentivaria alternativas, como o

reuso de efluentes para reduzir o consumo de água industrial. Apesar do valor

dessas substâncias químicas e da água, a recuperação de água, por reuso, na

indústria de acabamento têxtil ainda é uma prática pouco comum (SANTOS,

2006).

Por exemplo, unidade de lavagem de brim índigo da RHODIA está

investindo na construção de uma galeria e de uma bacia de contenção de

efluentes pluviais. Este é um dos exemplos das mudanças nas culturas

ambientais das empresas que beneficiam os brim índigo, insumo principal do

jeans, reforçando o sistema de proteção ambiental e evitando qualquer risco de

contaminação do rio que recebe as águas pluviais provenientes da fábrica.

Kunz, A.& Peralta-Zamora, (2002), informam que, em estações de

tratamento dos eflunetes, toda a água passa a ser tratada e devolvida ao meio

ambiente. Outra mudança de cultura tem sido o crescimento de tingimento dos

tecidos índigo com base em corantes orgânicos, ou seja, produtos que absorvem

estes compostos, naturalmente degradáveis pelas águas e pela natureza.

Nesse contexto, os efluentes têxteis, quando não tratados corretamente,

podem gerar sérios problemas de contaminação ambiental. Novas tecnologias

têm sido buscadas para a degradação ou imobilização de compostos em

efluentes têxteis. Em geral, as técnicas de tratamento utilizadas pela indústria

têxtil estão fundamentadas nos processos de decantação dos sedimentos e

posterior tratamento das águas. E aliadas às novas tecnologias aplicadas no

processo produtivo, estudos para reutilização e ou remediação de efluentes vêm

49

sendo realizados e já aplicados, visando diminuir o desperdício de água e a

emissão de poluentes no meio ambiente. (CETESB, 2007).

Por pressão do Ministério Publico Regional também da sociedade civil,

muitos industriais e empresários donos de indústrias têxteis começaram, somente

a partir do anos 90 a concentrar esforços em torno da proteção e do uso racional

dos recursos naturais, dentre eles, aqueles que mais geram preocupação são: a

energia e a água através do desenvolvimento de processos menos poluentes e a

instalação de estações de tratamento de efluentes (ETE), com base em corantes.

50

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