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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” O Desenvolvimento da Terapia Psicomotora em uma Abordagem Fisio-Pediátrica Por: Alexandre Silva de Souza Orientador: Professora Fabiane Muniz Rio de janeiro Julho/2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O Desenvolvimento da Terapia Psicomotora em uma Abordagem

Fisio-Pediátrica

Por:

Alexandre Silva de Souza

Orientador:

Professora Fabiane Muniz

Rio de janeiro

Julho/2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O Desenvolvimento da Terapia Psicomotora em uma Abordagem

Fisio-Pediátrica

Por:

Alexandre Silva de Souza

Rio de janeiro

Julho/2003

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicomotricidade.

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A deus, por estar sempre presente em

minha vida. A minha esposa pela

paciência e dedicação nos momentos

mais difíceis. E a todos que de alguma

forma contribuíram para a conclusão deste

trabalho. Obrigado

ii

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“Só existem três tipos de pessoas: as

que fazem com que as coisas

aconteçam, as que assistem as coisas

acontecerem; e as que perguntam o

que foi que aconteceu”

Ann Laudors

iii

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Resumo Através de estudo teórico-prático em fisio pediatria compreendi que as técnicas destinadas as patologias vistas rotineiramente não eram suficientes para uma abordagem global. Conhecendo a psicomotricidade compreendi que esta é uma atividade que propõe, partindo do corpo e da motricidade corporal, agir sobre o psiquismo, tanto no plano mental quanto afetivo, esses dois planos estando, estreitamente ligados ao nível do inconsciente, propondo também uma atividade prazerosa, não mecanicista, mais abrangente e capaz de realizar verdadeiras transformações. Na criança particularmente, o brincar se torna indispensável, facilitando a quebra da “receita de bolo” utilizada por muitos. A terapia psicomotora traz o jogo, o lúdico, a música, a expressão corporal, a respiração, relaxamento corporal, agindo no tônus, no movimento, na socialização, nas emoções, na aceitação pessoal e de limitações, favorecendo a educação e a reeducação psicomotora. Os elementos básicos da psicomotricidade são fundamentais para o seu entendimento e aplicação prática. O esquema corporal, que oferece noção do corpo global, segmentado, a compreenção da função segmentar,..., a coordenação motora ampla e fina relacionada a motricidade de amplitudes grandes e dos artelhos, o equilíbrio estático e dinâmico nas posturas baixas, intermédias e altas, a lateralidade e suas possibilidades de hemilateral, cruzada, ambidestria e contrariedade, o ritmo, a orientação espaço-temporal, etc. Foram propostas atividades que agissem nas pertubações psicomotoras de crianças portadoras de atraso no desenvolvimento, por patologia de base ou não, através do lúdico, do jogo, com materiais diversos como arcos, bastões, bambolês, e outros, visando o aprimoramento dos déficits psicomotores apresentados por elas. Por fim, podemos concluir a importância de uma compreensão mais ampla das necessidades do ser. E sendo a criança a razão deste estudo concluímos que estando a abordagem psicomotora associada às técnicas fisioterapeuticas, se torna mais fácil o contato terapeuta X paciente, estabelecendo um ritmo mais apropriado para a criança, estimulante, em transformação contínua, respeitando as individualidades de cada ser e a globalidade de cada corpo carente de cura.

iv

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SUMÁRIO

Resumo___________________________________________________________________iv

Introdução ________ 01

Capitulo I

Psicomotricidade____ _______ 03

1.1. A Psicomotricidade e o desenvolvimento da criança______ ______ ________04

1.1.1. Quanto a locomoção_____________________________________ ________ 05

1.1.2. Habilidade manual ________06

1.1.3. Socialização linguagem _______________ ________07

1.2. Desenvolvimento motor _________________________ 09

1.3. Evolução da Psicomotricidade________________ ________ 11

Capítulo II

Aspectos referentes a reabilitação psicomotora _______12

Capítulo III

Elementos básicos da Psicomotricidade________________________________ _______14 3.1. Noção de esquema corporal_______________________________________ ______ 14 3.1.1. A Importância Prática de uma Educação do Esquema

Corporal______________15

3.1.2. Imagem do

Corpo_____________________________________________________17

3.1.3._A experiência do espelho_____________________________________________ 18 3.1.4. Etapas do Esquema Corporal

19

3.1.4.1 A Contribuição do Esquema Corporal para o Desenvolvimento

Motor_Global _22

3.1.5. Disfunções do Esquema Corporal

24

3.2. Orientação Espaço Temporal 26 3.2.1. Orientação Espacial 27

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3.2.2. Disfunções da Estrutura Espacial 30 3.3. Estruturação Temporal

30

3.3.1. Ritmo

31

3.3.2 Simultaneidade

31

3.3.3. Disfunções da Orientação Temporal 32

3.4. Lateralidade 33

3.4.1. Disfunções de Lateralidade 35

3.5. Equilíbrio Estático e Dinâmico 35

3.5.1. Equilíbrio Estático

35

3.5.2. Exercícios para Obtenção do Equilíbrio Estático

36

3.5.3. Equilíbrio Dinâmico

36

3.6. Ritmo e Desenvolvimento Psicomotor

37

3.7. Coordenação Motora

38

3.7.1. A Importância de Exercícios de Coordenação Motora Ampla

39

Capítulo IV

Definição clínica das patologias pediátricas mais freqüentes

40

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4.1. Distúrbios Neurológicos

40

4.2. Alterações Congênitas

40

4.3. Afecções dos ossos, articulações e músculos

41

4.4. Doenças Genéticas

41

Capítulo V

Material e meios de intervenção psicomotora

43

5.1. Material Psicomotor

43

5.2. Meios de Intervenção Psicomotora

43

5.2.1. Música

43

5.2.2. Cores

44

5.2.3. Dança

44

5.2.4. Dramatização

44

5.2.5. Relaxação

44

5.2.6. Jogo/Dinâmica

45

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Capítulo VI

Atividades e Objetivos de Tratamento para (re) educação psicomotorora

direcionada ao aprimoramento do esquema corporal

46

6.1.1. Exercício de Grande Motricidade

46

6.1.2. Exercícios de Motricidade Refinada

47

6.2.1. Perceber as partes do corpo

47

6.5. Atividades na Área de Orientação Espacial

50

6.6. Atividades para Orientação Temporal

50

6.7. Exercícios de fortalecimento da lateralidade

51

6.8. Exercícios para obtenção de Equilíbrio Dinâmica

51

6.9. Ritmo

52

6.10. Exercícios para obtenção de coordenação motora ampla

52

6.10.1. A importância dos exercícios de coordenação motora fina

52

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6.10.2. Exercícios para obtenção de coordenação motora fina

52

Capítulo VII

Perturbações Psicomotora e Condutas de Tratamento

7.1. Perturbações Motoras

53

7.2. Perturbações de Equilíbrio

54

7.3. Perturbações de Coordenação

54

Capítulo VIII

Dados Importantes para Avaliação de Exercícios de Psicomotricidade

55

Capítulo IX

Conclusão

56

Referências Bibliográficas

58

Anexos

59

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INTRODUÇÃO

Em 1999, ainda acadêmico de fisioterapia, iniciei estágio em pediatria. Por 12

meses vivenciei a fisioterapia aplicada a neuropediatria intensamente e tive neste

período o meu primeiro contato com a terapia psicomotora. Compreendi que as

técnicas destinadas a cada alteração físico-motora não eram suficientes para uma

abordagem global. Comecei a me aprofundar no conceito de corpo e mente, sem

dualidade, um agindo sobre o outro. Estreitando a relação da motricidade, mente e

afeto, foi possível compreender melhor a criança, entender melhor seu

desenvolvimento neuropsicomotor, possibilitando que a minha abordagem

terapêutica fosse mais abrangente, alegre, e antes de tudo, mais eficaz. Hoje,

trabalho com crianças portadoras de necessidades especiais e aplico diariamente a

psicomotricidade na intervenção fisioterapeutica indicada.

A relação da psicomotricidade e da fisiopediatria pode ser entendida em 03

aspectos ao mesmo tempo distintos e únicos. A necessidade de um

amadurecimento psicomotor para o entendimento da terapia proposta e para a

possibilidade de execução; a atuação direta da psicomotricidade como técnica

fisioterapeutica; e a prática fisioterapeutica com respostas psicomotoras na criança.

Na criança particularmente, o brincar se torna indispensável, facilitando a

quebra da “receita de bolo” utilizada por muitos. A terapia psicomotora traz o jogo, o

lúdico, a música, a expressão corporal, a respiração, relaxamento corporal, agindo

no tônus, no movimento, na socialização, nas emoções, na aceitação pessoal e de

limitações, favorecendo a educação e a reeducação psicomotora.

O corpo não é uma máquina que se movimenta comandada por um psiquismo

que reside no cérebro, nem o ser humano pode ser definido por seus ossos,

articulações e músculos.

Um aspecto deve sempre ser ressaltado: o exercício e/ ou atividade proposta

não deve parecer uma exigência para a criança, sendo vivido em uma situação de

julgamento, acompanhada pela ansiedade do fracasso ou do sucesso, mas como

elemento para se explorar as descobertas feitas espontaneamente pela criança com

relação às suas capacidades, respeitando suas motivações.

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A questão que norteia a presente pesquisa: Partindo do princípio que a

eficiência do tratamento se dá pelo próprio interesse da criança, como promover

uma recuperação eficaz, se o tratamento for mecanicista, repetitivo, desestimulante,

além de inapropriado, sendo as crianças, diferentes, em constantes transformações

e carentes de cura ?

Os objetivos são:

• Conceituar a Psicomotricidade de modo a esclarecer seus principais

aspectos gerais;

• Identificar distúrbios psicomotores presentes nas crianças portadoras

de atraso;

• Ditar exercícios psicomotores como terapia intervencionista;

A metodologia escolhida foi revisão literária através de teóricos que

enfatizam a o uso da terapia psicomotora. Esses autores desenvolveram

pesquisas na área do desenvolvimento do ser humano, estreitando relações

entre corpo (cinesia, tônus, equilibro, força, destreza,...), mente (afetividade,

cognição, emoção, motivação,...) e ambiente (espaço externo,

somatognósico, comparativo analítico, subjetivo e o psíquico-relacional),

permitindo assim uma abordagem mais ampla e eficaz.

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CAPÍTULO I

Psicomotricidade

Quando citamos a psicomotricidade, falamos da união da alma e da

motricidade, dos próprios sentimentos e sua ação, objetivando seja, a educação ou

a reeducação dos movimentos de forma agradável, globalizada e eficaz.

O ser humano, em toda fase de sua vida, está sempre descobrindo e

aprendendo coisas novas, por meio de contato com seus semelhantes e do domínio

sobre o meio que vive.

A esse ato de busca, de troca, de interação, de apropriação damos o nome de

EDUCAÇÃO, que é uma ação conjunta entre as pessoas que cooperam,

comunicam-se e comunga do mesmo saber. Por isso educar não é um ato ingênuo,

indefinido, imprevisível, mas um ato histórico, cultural, social, psicológico, afetivo,

existencial e político.

Segundo LE BOULCH (1987), o desenvolvimento psicomotor adequado é

importante para o fisioterapeuta pela necessidade de um amadurecimento neural,

ósseo e muscular, um crescimento físico junto com o aprendizado, isto é, a

reeducação psicomotora lida com a pessoa como um todo, apenas o enfoque maior

é a motricidade. O desenvolvimento perceptual-motor se completa ao redor dos 7

anos, havendo daí por diante, um refinamento de integração perceptivo-motor com o

desenvolvimento do processo intelectual propriamente dito.

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1.1. A Psicomotricidade e o desenvolvimento da criança

Desde a vida intra-uterina recebemos estimulações sensoriais, que ao

nascer multiplicam-se em odores, gostos, sons, visões de um novo mundo que

acabara de chegar. A liberdade de movimentos aumenta dia após dia, da barriga

apertada da mãe para o mundo, do movimento em bloco, assimétrico, para um

movimento solto, dissociável e mais simétrico. As estimulações sensório-motoras

serão portanto, fundamentais para o aprimoramento global da criança.

A atividade corporal da criança em desenvolvimento é fundamental para a

estruturação do seu físico, mas também para a otimização do seu cognitivo e

emocional. Estimula-se através de brincadeiras como um simples jogo de bola não

só a respiração, tonicidade, crescimento ósseo,..., como noções de espaço, tempo,

ritmo, coordenação motora, entre tantas outras que estão se solidificando,

transformando, e até extinguindo a cada passo que damos ao longo de nossa vida.

A exploração do espaço externo se dá pelo movimento que possibilita

experiências, vivências que serão indispensáveis para a nossa construção

intelectual.

A harmonização do desenvolvimento com todos os seus componentes não é

menos importante que aquisições isoladas em determinada idade. O conjunto de

itens a serem conquistados, quando equilibrados serão fundamentais no processo

de maturação psicomotora.

Devemos compreender que cada criança é um indivíduo com características

diferentes, da hereditariedade, raça, cultura, até o ambiente que a cerca estarão

agindo juntos como fatores que contribuirão na formação desse ser . Portanto,

crianças com mesma idade cronológica podem apresentar pequenas discrepâncias

no que se refere aos marcos do desenvolvimento, não sendo este fator que

caracterize atraso.

De uma maneira geral existe um consenso quanto aos marcos do

desenvolvimento motor, e de acordo com FLEHMIG 1987, SHEPHERD 1996 e

ARAÚJO 1999, ocorre o seguinte:

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1.1.1. Quanto a locomoção:

IDADE ATIVIDADE EXERCIDA

Recém nascido Membros fletidos ao encontro do corpo, cabeça

lateralizada.

01 mês Sustenta a cabeça momentaneamente quando em prono

ou sentada.

02 meses Sustenta a cabeça por peírodos maiores, já iniciando o

alinhamento com o corpo.

03 meses Realiza a posição de puppy, mantendo constantemente a

cabeça elevada, não predominando mais o padrão flexor.

04 meses Senta com apoio, inicia a transferência de prono para

supino e vice-versa.

05 meses Possui controle total da cabeça.

06 meses Senta sem apoio, arrasta em padrão cruzado e rola

completamente.

07 meses Já se apóia em uma das mão, quando em prono,

apresentando controle total de tronco na posição sentada.

08 meses Na posição sentada, já move-se para pegar brinquedos,

inicia o engatinhar.

09 meses Já sustenta o peso corporal quando colocado de pé.

10 meses Fica de pé, com apoio, já transfere-se de deitado para

sentado.

11 meses Inicia marcha lateral, com apoio, e na posição sentada já

apresenta amplitude total de movimento de tronco.

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12 meses Engatinha de forma atípica, anda de urso, fica de pé

sozinho e inicia a marcha livre.

01 ano e 03 meses Transfere-se em todas as posturas, deambula com passos

altos, incertos e sem direção apresentando controle total de

tronco na posição ortostática.

01 ano e 06 meses Sobe escadas sem padrão cruzado, corre sem direção com

dificuldade de controle e anda para trás.

02 anos Apresenta noção de ritmo, gosta de dançar.

02 anos e 06 meses Salta com os dois pés, anda em ante-pé.

03 anos Sobe escadas em padrão cruzado, sem apoio, fica apoiado

em 01 pé só.

04 anos Corre, pula, escala, leva copo com líquido sem derramar.

05 anos Coordenação motora ampla altamente desenvolvida.

1.1.2. Habilidade manual:

IDADE ATIVIDADE EXERCIDA

Recém nascido Apresenta reflexo de preensão palmar.

02 meses O reflexo de preensão palmar começa a desaparecer.

04 meses Já segura objetos quando colocado em suas mãos, porém

não consegue larga-los.

06 meses Manipula objetos com ambas as mãos.

08 meses Já consegue rasgar papel.

10 meses Inicia movimento de pinça.

12 meses Pega objetos e os joga no chão com freqüência.

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01 ano e 02meses Constrói torre de 02 blocos, já segura o copo e os leva a

boca, apoiando sobre uma superfície em seguida.

01 ano e 06 meses Vira 02 ou mais página de livro, gosta de ziperes, fechos,

velcros e botões de pressão.

02 anos Constrói torre de 04 cubos, rosqueia potes e veste meias,

luvas e sapatos, já vira 01 página de cada vez.

02 anos e 06 meses Enfia contas, abotoa em casas grandes, tira peças de

roupa e já constrói torre de 08 cubos.

03 anos Já se veste sozinho, constrói torre de 09 cubos e utiliza a

tesoura.

04 anos Copia círculos e linhas retas e ajuda nas tarefas simples de

casa.

1.1.3. Socialização / Linguagem :

IDADE ATIVIDADE EXERCIDA

Recém nascido Já começa a “entender” e reagir aos sons, fazendo

movimentos com a boca e o corpo.

03 meses Dá breves sorrisos, bate as pernas e os braços quando

ouve uma vez familiar, começa a realizar ruídos com a

garganta.

06 meses Já se comunica com choro, sons, expressões faciais e

gestos com melhor compreensão, responde com carícias,

arranhões e tapinhas, revela medo e fica tímido com

estranhos.

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09 meses Entende o significado de palavras simples como o “Não”, se

reconhecendo pelo nome e “procura o papai” quando

solicitado, dá tchau e joga beijos.

12 meses Diz 02 ou mais palavras com significado e entende

perguntas simples.

01 ano e 06 meses Mostra-se prestativo no vestir e despir-se, gosta de

reuniões sociais, brincando ao lado de outros bebês, mas

não com eles.

02 anos Faz “pirraças” para chamar a atenção, apresenta

dificuldade em partilhar, já impões a sua vontade e

obedece ordens mais complexas.

02 anos e 06 meses Sabe o próprio nome, começa a perguntar “porque” e diz

“não”, adiciona detalhes e conceitos simples ao falar.

03 anos Possui boa memória, gosta de jogos “de vontade”, sabe o

próprio sexo, procura o convívio com outras crianças e

demonstra compaixão quando vê alguém com dificuldade.

De acordo com estes quadros resumo, percebemos que a criança não é um

adulto em miniatura. Ela apresenta características peculiares a sua idade

cronológica. Piaget (1896-1980) em seus livros explica as formas de perceber,

compreender e se comportar diante do mundo, próprias de cada faixa etária, ou seja,

o meio ambiente é assimilado progressivamente, e a cada nova informação advinda

do exterior ocorre uma nova acomodação das estruturas mentais.

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1.2. Desenvolvimento Motor

Desenvolver: Crescer, aumentar, progredir. Fazer crescer, medrar, prosperar.

Desenvolvimento: Ato de desenvolver-se. Crescimento, progresso,

incremento.

Motor: Tudo que se dá movimento a um maquinismo. Pessoa ou coisa que

faz mover ou dá impulso. ( D. Aurélio; ROCHA, Ruth).

Desenvolvimento Motor: Área sub-disciplinar de estudo que se trata da

mudança e estabilidade no comportamento motor com o avançar da idéia,

desde a concepção até a morte ( D. E. F. E.).

O desenvolvimento motor é o resultado da maturação do sistema nervoso,

Aumento em tamanho e complexidade do SNC, crescimento dos ossos e músculos.

São, portanto, comportamentos não aprendidos que surgem espontaneamente

desde que a criança tenha condições adequadas para exercita-se. Um processo

contínuo na vida da pessoa, envolvendo vários aspectos: físico, mental e social. De

acordo com a maioria dos teóricos, o desenvolvimento motor ocorre de forma

contínua e seqüencial segundo a direção:

Maturação – modificações físicas e comportamentais;

Desenvolvimento céfalo-caudal – da cabeça aos pés;

Desenvolvimento caudo-cefálico – dos reflexos primitivos, medulares, a

maturação do córtex;

Desenvolvimento próximo-distal – eixo central – periferia;

Desenvolvimento individual.

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O processo do desenvolvimento motor revela-se primeiramente, através das

mudanças no comportamento motor. As partes do corpo crescem em proporções

diversas em diferentes épocas, desde a primeira infância até maturidade. A

primeira infância vai do nascimento até os três anos de vida da criança,

justamente com ela desenvolve a fase sensorial, fase motora e fase glóssica, dos

três anos aos seis anos forma-se a segunda infância, e dos seis aos dez surge a

terceira infância, temos também a fase pubertária e adolescência.

Segundo GALLAHURE(1982) define-se:

“Desenvolvimento motor como conhecimento das capacidades físicas da

criança e sua aplicação da performa-se de variadas habilidades motoras, de

acordo com idade, sexo e classe social”.

A atividade motora é um dos fatores de suma importância para o

desenvolvimento da criança em seus primeiros anos de vida, onde a criança explora

o mundo que a rodeia com os olhos e as mãos. A criança nos seus primeiros anos

de vida adquire um sistema mental maravilhoso que fornece aos meios para

realizações de coisas inesperadas bem como calcular perigo, defender-se e superá-

los.

Podemos notar que o desenvolvimento motor é um processo desde o

nascimento até a fase adulta, nunca terminando e sempre se renovando. Sendo que

não podemos acelerar o andamento desse processo, pois cada instante depende de

outro instante para que ele tenha uma vida mais harmoniosa juntamente com o

desenvolvimento, isto é, lembrando que vivemos em constante movimento.

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1.3. Evolução da Psicomotricidade

O estudo da psicomotricidade em uma primeira fase, fixou-se sobretudo no

desenvolvimento motor da criança. Depois estudou a relação entre o atraso no

desenvolvimento motor e o atraso intelectual da criança. Seguiram-se estudos sobre

o desenvolvimento da habilidade normal e aptidões motoras em função da idade.

Atualmente o estudo ultrapassa os problemas motores: pesquisa também as

ligações com a lateralidade, à estruturação espacial e a orientação temporal por um

lado, por outro as dificuldades escolares de crianças de inteligência normal. Faz

também com que se torne consciência das relações existentes entre o gesto e a

afetividade, como no seguinte caso: uma criança segura de si caminha de forma

muito diferente de uma criança tímida. Que influencia a afetividade estaria causando

na gestual, no comportamento, na postura dessa criança.

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CAPÍTULO II

Aspectos referentes a reabilitação psicomotora :

Fonseca (1984), afirma que qualquer processo de aprendizagem, psicomotor

ou cognitivo, é mediado pelo cérebro e concomitantes unidades funcionais. A

aprendizagem dita”normal” requer, naturalmente, que o cérebro e as suas unidades

funcionais estejam intactas e funcionem harmoniosamente. Portanto, entendemos

que quando nos vemos diante de uma criança portadora de desarmonia em algum

aspecto físico-motor e/ou psíquico, se torna mais difícil a conquista de passos

importantes no seu desenvolvimento. É através da interação dos dados físico-

motores que a criança apresenta e do aspecto psicológico que será feita a

observação para o planejamento do processo de reabilitação psicomotora.

De uma maneira geral, terapeutas mais se interessam com a aplicação prática

da terapia, sem antes analisar e planejar o que realmente a criança necessita. O

empirismo deve ocorrer como uma forma de criar possibilidades diversas de

abordagem, mas não devemos esquecer a importância do conhecimento

psiconeurológico das causas das dificuldades apresentadas.

Segundo Fonseca (1995), os termos reabilitação, reeducação e terapia

(terapia educacional ou pedagógica terapêutica) tenham significações etimológicas

diferentes, todas elas estão centradas numa metologia de intervenção, que visa

recuperar, restaurar, remediar, compensar, melhorar, otimizar,... o potencial de

aprendizagem e de adaptabilidade psicossocial da criança, assim como suas

aquisições psicomotoras de uma maneira geral.

A maioria dos terapeutas e educadores que atuam através da reabilitação

psicomotora tiveram como referência pesquisadores como Orton, Critchley, Wallon,

Ajuriaguerra, Bobath, H,Jackson, Binet,..., e nos modelos psicopedagógicos e

psiconeurológicos Werner, Piaget, Ayres, Ross, Osgood, e outros.

O fisioterapeuta que utiliza a psicomotricidade na intervenção em crianças

portadoras de deficiências física-motoras e/ou psíquicas realiza uma Reeducação

Psicomotora em razão de uma patologia de base geradora de debilidades, que usa o

movimento para tratar o corpo fragmentado e restabelecer a função, atuando no

cognitivo, emocional, atitudinal e comportamental, em atendimentos individuais ou

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em grupo, agindo na reestruturação do corpo e seus aspectos psicomotores numa

abordagem direcionada para o lúdico, sendo este meio facilitador da aplicação

prática da terapia. De uma maneira geral, devemos compreender que a patologia de

base, seja ela qual for, não será esquecida, e não ocorre uma divisão na

abordagem, onde técnicas fisioterapeutica e terapia psicomotora estariam

separadas, não é isso. Ocorre na verdade, uma união destas, estando uma

sobreposta a outra, nunca perdendo o objetivo principal da terapia, ou seja, se

alongar um grupo muscular é importante, também o será dar informação sobre o

esquema corporal da criança, tendo em vista um corpo mal estruturado por

encurtamentos musculares.

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CAPITULO III

Elementos básicos da psicomotricidade

3.1. Noção Esquema Corporal

Segundo LE BOULCH (1982), o esquema corporal ou imagem do corpo

pode ser considerado como uma intuição de conjunto, ou um conhecimento imediato

que temos de nosso corpo em posição estática ou em movimento, na relação de

suas diferentes partes entre si e sobretudo nas relações com o espaço e os objetos

que nos circundam. Está noção está na base do sentimento de disponibilidade que

temos em relação a nosso corpo e da relação vivida universo-sujeito.

Segundo Mucchielli apud LE BOULCH (1982), esse “conjunto que forma o

esquema corporal se desenvolve muito lentamente na criança e só está pronto

normalmente por volta dos 11 – 12 anos”. Baseado nisto LE BOULCH , conclui que

uma educação corporal bem concebida e sensivelmente diferente daquela

preconizada nos textos oficiais é insubstituível, sobretudo durante os primeiros anos

da escolaridade primária, e a carência que constatamos atualmente nesta área

acarreta prejuízos consideráveis na evolução normal do aluno.

“O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da

personalidade da criança. É a representação relativamente global, científica e

diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo” (Wallon H. Evolution

psychologique de Infant, Colin , Paris, 1968).

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Segundo De Meur (1991), a personalidade da criança se desenvolverá graças

a uma progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas

possibilidades de agir e transformar o mundo a sua volta.

3.1.1. A Importância Prática de uma Educação do Esquema Corporal

A estruturação espaço-temporal fundamenta-se nas bases do esquema

corporal sem o qual a criança, não se reconhecendo em si mesma, só muito

dificilmente poderia aprender o espaço que a rodeia. Assim nos parece lógico

abordar a psicomotricidade através da constituição do esquema corporal antes da

estruturação espacial ou temporal.

Neste estudo LE BOULCH( 1982), descreve que um esquema corporal vago

ou mal estruturado, produz déficit na relação sujeito-mundo exterior traduzindo-se

no plano:

Da percepção : déficit da estrutura espaço-temporal;

Da motricidade : desajustamento e descoordenação, más atitudes;

Da relação com outrem : insegurança nesse universo móvel, originando

perturbações afetivas que prejudicam relações com outrem.

a) No Plano Perceptivo:

“Observo os objetos exteriores, manuseio-os, inspeciono-os, dou-lhe à volta”.

com meu corpo “(Merleau-Ponty apud Le Boulch, 1982)”.

Baseado nesta afirmação, Le Boulch conclui que o “corpo próprio” é o

referencial da percepção. É a partir de sua estabilidade que se estabelece à relação

com o mundo.

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Baseado nesta afirmação, Lê Boulch conclui que o “corpo próprio” é o

referencial da percepção. É a partir de sua estabilidade a relação com o mundo.

As possibilidades de orientação da criança no inicio da escolaridade primária,

importante para a leitura, dependem de uma boa evolução do esquema corporal. As

dificuldades de leitura na criança de inteligência normal podem se traduzir:

Na confusão das letras simétricas por inversão do sentido dir./esquerda.

Por inversão do sentido cima/baixo.

Na inversão na ordem das letras: quer uma inversão completa produzindo a

escrita em espelho da direita para a esquerda, quer uma inversão no corpo da

palavra: OAR – ORA - ARO.

Na inversão das palavras, letras acrescentadas ou ausentes.

Na maioria das vezes esses distúrbios passam desapercebidos quando são

leves, e são detectados somente 3 ou 4 anos após terem surgido; Contudo, a

evolução intelectual da criança já está então bem comprometida, apesar da

reeducação.

b) No Plano Motor:

A partir de 8 a 10 anos, a criança apresentará defeito de estruturação

perceptiva e motora ao mesmo tempo.

A criança que tem um distúrbio do esquema corporal, na medida em que não

controla uma ou outra região do seu corpo que lhe é quase estranha, apresentará

defeitos de coordenação ou de dissociação de gestos e será particularmente lenta

ao organizar sua ação, sinal de falta de “disponibilidade” motora.

Torna-se assim evidente que as dificuldades de aprendizagem da leitura se

fazem acompanhar de dificuldades na escrita: As letras são mal formadas, trêmulas,

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ultrapassam as linhas. A criança suja os cadernos, faz manchas e rasuras, rasga o

papel ao escrever. Alias, muitas vezes este sinal é mais surpreendente do que a

dificuldade de leitura.

c) No Plano Relacional e Caracterial:

A criança enfrenta semelhantes dificuldades de ajustamento e de relação com

seu meio está sujeita a viver na classe um verdadeiro drama quotidiano, completado

pelas reprimidas em casa. Resulta que muitas vezes os pais consultam o médico,

não pelo distúrbio original, mas pelo caráter difícil da criança, suas variações de

humor, sua aparente má-vontade.

Pode-se conceber facilmente que uma criança vítima de problemas como os

que analisamos, alvo de reações violentas por parte da família e de seus mestres,

reaja a essa situação através da oposição, agressividade. Sua permanente

ansiedade se manifesta nos tiques, pesadelos ou pavores noturnos.

3.1.2. Imagem do Corpo

Le Boulch afirma que a imagem do corpo não representa só uma função

unitária, mas que se constrói junto com as etapas do desenvolvimento para alcançar

a cada nível de organização da personalidade de uma unidade provisória e que se

deve reconstruir em cada nova etapa.

Campos (1987), cita que ao nascer a criança tem como principal fonte de

conhecimento a boca, e através dela recebe sensações de calor, de frio, de

umidade.

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“(...) Sente a pressão executada em seu corpo pelo

cobertor, pelo berço, pelo afago das pessoas ao seu

redor e vai incorporando este conhecimento.

Descobre suas mãos, leva-as à boca, brinca com elas,

descobre seus pés, seu sexo. Sente o poder que tem

sobre seu corpo quando, depois de cair e levantar

diversas vezes, aprende a encontrar seu ponto de

equilíbrio e anda. (...) Pouco a pouco, então vai se

conhecendo e integrando as diversas sensações que

experimenta”. (Pág.34)

Neste conhecimento de sue corpo, a criança passa por uma experiência, que

muitos autores têm preconizado como fundamental para o desenvolvimento do

esquema corporal, que é o estágio do espelho.

3.1.3 A Experiência do Espelho

“Na frente de um espelho, a criança começa por

explorar seu corpo estranho colocado na frente dele,

utilizando a geometria topológica que é a sua.

Progressivamente, a criança poderá comparar seu

corpo cinestésico com as reações posturas e gestuais

que ela vê no espelho e que ainda lhe são estranhas.

Pouco a pouco, a criança chegará à convicção de que

seu corpo que Lea sente é o mesmo daquele que Lea

observa no espelho”. (Le Boulch,1984, pág.27).

Isto significa que ela percebe que o corpo que ela sente é o mesmo que ela

observa no espelho. “Ela deve compreender que está onde se sente e não onde se

vê”. (Wallon, 1968, apud Le Boulch, 1984).

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Para Zazzo (1979), a criança consegue superar a dicotomia entre o que vê e o

que sente quando for capaz de compreender que tipo de espaço pode estar

representado no espelho e isto só se resolve mais ou menos aos vinte meses. Com

dois anos e meio, três anos, ela tem condições de entender que “o espaço que Lea

sente é o mesmo que ela vê no espelho”.

Segundo Campos (1987), a experiência do espelho, portanto, constitui uma

fase muito importante na confrontação da criança consigo mesma e como parte do

processo de identificação. (...) “O corpo é um meio de que a criança dispõe para se

expressar, para se comunicar com o mundo que a rodeia e é natural que ela assuma

um caráter tão fundamental”.

Para muitas pessoas, a experiência do espelho não termina nesse período. É

sempre um fator de conhecimento de si, não somente na infância, quando possibilita

uma maior integração das imagens proprioceptivas, como também na puberdade,

como uma auxiliar na formação da auto-imagem e da visão de si mesmo da qual a

imagem corporal é parte integrante.

3.1.4. Etapas do Esquema Corporal

Abordaremos a seguir as etapas do esquema corporal (Campos 1987 apud Le

Boulch).

Corpo vivido;

Conhecimento das partes do corpo;

Orientação e organização espaço-corporal.

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1ª Etapa : Corpo Vivido (até 3 anos de idade)

Esta etapa corresponde à fase da inteligência sensório-motora de Jean Piaget.

A criança nesta fase, não tem consci6encia do “EU” e se confunde com o espaço

em que vive. Com o amadurecimento do sistema nervoso, e assim à medida que a

criança vai crescendo, vai ocorrendo a ampliação de suas experiências e a se

diferenciar de seu meio ambiente. Nesse período, a criança tem uma necessidade

muito grande de movimentação e através desta vai enriquecendo a experiência

subjetiva de seu corpo e ampliando a sua experiência motora. Suas atividades

iniciais são espontâneas.

Esta etapa, portanto, é denominada pela experiência vivida pela criança, pela

exploração do meio, por sua atividade investigadora e incessante. É pela sua prática

pessoal, pela sua exploração que se ajusta, domina, descobre e compreende o meio.

Este ajuste significa que a criança, mesmo sem a interferência da reflexão,

desenvolve uma das funções mais importantes que é a “função de ajustamento”. No

final desta fase pode-se falar em imagem do corpo pois o “eu” se torna unificado e

individualizado.

2ª Etapa: Corpo Percebido ou “Descoberto”

Esta etapa corresponde à organização do esquema corporal devido à

maturação da “função de interiorização“, aquisição de suam importância porque

auxilia a criança a desenvolver uma percepção centrada em seu próprio corpo.

A função de interiorização permite também a passagem do ajustamento

controlado que, por sua vez, propicia um maior domínio do corpo, culminando em

uma maior dissociação dos movimentos voluntários. A criança com isto passa a

aperfeiçoar e refinar seus movimentos adquirindo uma maior coordenação dentro de

um espaço e tempo determinado.

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(...) A criança descobre sua dominância e com

ela seu eixo corporal. Passa a ver seu corpo como um

ponto de referência para se situar os objetos em seu

espaço e tempo. Este é o primeiro passo para que ela

possa, mais tarde, chegar à estruturação espaço-

temporal (Campos 1987 apud Le Boulch).

Enfim, a criança tem acesso a um espaço e tempo orientado a partir de seu

próprio corpo. Chega, pois, à representação dos elementos do espaço, descobrindo

formas e dimensões. Neste momento assimila conceitos como embaixo, acima,

direita, esquerda. Adquire também noções temporais como a duração dos intervalos

de tempo, de ordem e sucessão, isto é, o que vem antes, depois, primeiro, último.

3ª Etapa: Corpo Representado (7 a 12 anos)

Nesta etapa observa-se a estruturação do esquema corporal. Até este

momento, a criança já adquiriu as noções do todo e das partes do seu corpo, já

conhece as posições e consegue movimentar-se corretamente no meio ambiente

com um controle e domínio corporal maior. A partir daí, ela amplia e organiza seu

esquema corporal.

Le Boulch apresenta, como correspondente ao estágio das operações

concretas, a passagem da centralização do corpo, isto é, da percepção de um

espaço orientado em torno do corpo próprio à descentralização, à representação

mental de um espaço orientado “no qual corpo está situado como objeto”.

Isto quer dizer que os pontos de referência não estão mais centrados no corpo

próprio, mas são exteriores ao sujeito, podendo ele mesmo criar os pontos de

referência que irão orientá-lo.

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3.1.4.1. A Contribuição do Esquema Corporal para o Desenvolvimento Motor

Global.

Segundo AJURIAGUERRA (1972): “A evolução da

criança é sinônimo de conscientização e

conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo,

a criança é o seu corpo, pois é através dele que a

criança elabora todas as suas experiências vitais e

organiza toda a sua personalidade”.

Como já mencionado anteriormente, a imagem corporal é de extrema

importância para a compreensão da unidade do desenvolvimento psicomotor através

das diversidades de suas diferentes etapas.

Segundo menciona G. Campos, crianças que não tem consciência de seu

próprio corpo, podem experimentar algumas dificuldades como por exemplo:

insuficiência de percepção ou do controle de seu corpo, incapacidade de controle

respiratório, dificuldade de equilíbrio, de coordenação.

O conhecimento adequado do corpo significa portanto, a representação e

nominação das diferentes partes do corpo e a localização destas partes, isto é, a

percepção da posição de seus membros e conseqüentemente o desenho da figura

humana.

O esquema corporal está intimamente ligado à orientação espaço-temporal, e

com isso,o adequado estabelecimento desta orientação, é facilitado à locomoção em

um determinado espaço e em situar-se em um tempo.

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Citaremos a seguir alguns exemplos de alterações encontradas em crianças

com o mau estabelecimento do esquema corporal segundo citado por Gislene

Campos:

“Uma criança com grandes problemas de

esquema corporal manifesta normalmente dificuldade

de coordenação motora, apresentando uma certa

lentidão que dificulta a realização de gestos

harmoniosos simples – abotoar uma roupa, andar de

bicicleta, jogar bola – por falta de domínio de seu

corpo em ação.

Outro sintoma de esquema corporal mal

estabelecido pode ser visto quando a criança

confunde em relação às diversas coordenadas de

espaço, como em cima, embaixo, ao lado, linhas

horizontais, verticais; e também não adquire o sentido

de direção devido a confusões entre direita e

esquerda ““.

Por todos estes aspectos apresentados, percebemos que há grande

responsabilidade, para nós terapeutas e estimular estas etapas que são

indispensáveis para um bom desenvolvimento motor da criança, além de um bom

relacionamento com as pessoas e com seu meio ambiente, sabendo-se ainda que

uma séria falta de esquema corporal leva também a um mau desenvolvimento de

linguagem. A respeito disto, AJURIAGUERRA( 1988, pág. 65) afirma:

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“(...) Sem um verdadeiro conhecimento do corpo e do investimento sobre o

mundo dos objetos e das pessoas, não se atinge, conseqüentemente, a linguagem”.

3.1.5. Disfunções do Esquema Corporal

Citaremos a seguir dois tipos de perturbações do esquema corporal:

Causas Gerais: Excetuando-se os casos referentes a problemas motores ou

intelectuais, todas as perturbações na definição do esquema corporal são de origem

afetiva.

Sintoma Nº 1 – A criança não conhece as partes de seu corpo

Descrição – Se acriança desenha figura humana:

- Seu desenho é bem pobre para sua idade;

- As partes estão mal dispostas;

- A criança executa seu desenho por meio de uma justaposição de detalhes, por

exemplo: começa desenhando as orelhas, depois os braços, etc.

Reeducação:

Exercícios de grande motricidade;

Exercícios de reconhecimento das partes do corpo, partindo dos

conhecimento da criança, acrescenta-se progressivamente um elemento após o

outro com que perceba o novo elemento corporal de maneira concreta, ex: brincar de

bonecos, etc.

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Sintoma Nº 2 – A criança não situa bem seus membros ao gesticular

Descrição: A criança não percebe bem a posição de seus membros, ou por falta de

concentração, ou porque ainda não descobriu todas as possibilidades espaciais do

seu corpo.

- Não imita bem um exercício apresentado.

- Seus gestos do dia a dia não são harmônicos.

Reeducação:

Exercícios de sensibilidade proprioceptiva. Solicita-se à criança que execute

de olhos fechados, levando-a a “sentir” o que faz;

Exercícios de orientação espaço-corporal.

OBS: Para todas as perturbações do esquema corporal, os exercícios de reeducação

devem vir acompanhados de um relacionamento criança – terapeuta, que permita

assumir os problemas afetivos.

Quando são obtidos resultados ao nível do esquema corporal, é preciso

verificar se as noções de lateralidade e de estruturação espacial e temporal estão

bem adquiridas, e em caso de necessidade, empreender uma reeducação dessas

noções.

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3.2. Orientação Espaço Temporal

A orientação ou estruturação espacial/temporal é importante no processo de

adaptação do indivíduo ao ambiente, já que todo corpo animado ou inanimado,

ocupa necessariamente um espaço em dado momento. Corresponde a organização

intelectual do meio e está ligada à consciência, à memória,a experiência vivenciada

pelo indivíduo.

A orientação espacial/temporal está diretamente ligada à recepção, análise,

processamento e armazenamento da informação, que se dá nas regiões posteriores

e laterais no neocórtex.

Segundo o modelo de organização funcional do cérebro humano de Lúria

(apud Fonseca 1985), a estruturação Espaço Temporal envolve basicamente a

integração cortical de dados espaciais, mais referenciados com o sistema visual (L.

occipital), e de dados temporais, rítmicos, mais referenciados com o sistema auditivo

(L. temporal). Somada a noção do esquema corporal, este possui propriedades

funcionais adaptadas à captação, análise, síntese e armazenamento de estímulos

recebidos pelos analisadores sensoriais, visuais e auditivos.

A estruturação Espaço Temporal emerge da motricidade, da relação com os

objetos localizados no espaço, da posição relativa que ocupa o corpo, enfim das

múltiplas relações integradas das tonicidades, do equilíbrio, da lateralização e da

noção de esquema corporal.

A criança localiza-se a si própria antes de se localizar no espaço ou de

localizar objetos no espaço. Localiza os objetos em relação a si própria e

posteriormente localiza cada objeto sem precisar referi-los corporalmente. A partir

daí, projeta sua lateralidade e desenvolve sua noção corporal no espaço, ou seja, a

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lateralidade desenvolvida no interior do organismo dimensiona-se no exterior e

transforma-se em direcionalidade.

A estruturação espaço-temporal depende, portanto, do grau de interpretação e

de organização dos anteriores fatores psicomotores. Sem uma adequada

lateralização e sem uma adequada noção do corpo, as elaborações ou extensões

das suas capacidades não podem estabelecer uma adequada estruturação espaço-

temporal, e como conseqüência à organização e estruturação resultam limitadas ou

imprecisas, com reflexos evidente em vários aspectos da aprendizagem

(Kephart,1971).

Podemos afirmar que, a partir de uma adequada lateralização e de uma

adequada noção de esquema corporal, as elaborações das capacidades de uma

criança estabelecerão adequada estruturação espaço temporal, evitando que

futuramente essa criança venha a ter reflexos evidentes em vários aspectos da sua

aprendizagem motora global.

3.2.1. Orientação Espacial

É a tomada da consciência da situação de seu próprio corpo em um meio

ambiente, de lugar e da orientação que pode ter em relação às pessoas ou coisas.

A estruturação espacial é essencial para que vivamos em sociedade. É

através do espaço e das relações espaciais que nos situamos no meio em que

vivemos, em que estabelecemos relações entre coisas, em que fazemos

observações, comparando-as, combinando-as, vendo as semelhanças e diferenças

entre elas. Para que possamos desenvolver tal capacidade através de um

agrupamento de informações, é necessário que tenha sido desenvolvida a noção

espacial.

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A estruturação é um conceito desenvolvido no próprio cérebro, através de

atividades neuro, tônico, sensório, perceptivo e psicomotor. O espaço é um dado

sensorial de segunda ordem, visto que tem que ser monitorizado pelos dados

tatilquinestésicos. A criança constrói a noção do espaço através da interpretação de

uma constelação de dados sensoriais que não tem relação direta com o espaço.

A interpretação das informações sensoriais em termos de espaço pela criança

leva a construção dos conceitos espaciais em termos sensoriais e motores. Somente

após aprender a interpretar as informações vestibulares, proprioceptivas e

exteroceptivas em termos de espaço estável, partindo da inter-relação dois dados

espaciais com os corporais, sem a qual nenhuma função mental mais elaborada

poderia ser atingida.

Apesar do acesso ao espaço ser proporcionado pela motricidade, a visão é o

sistema sensorial mais preparado para o estruturar. A visão está filogenética e

ontogeneticamente preparada para estruturar , organizar e interpretar o espaço e as

suas dimensões. Dentro das dimensões espaciais que são fundamentais para a

estruturação espacial, temos em destaque a perspectiva, acomodação,

convergência, tamanho da imagem, profundidade, movimento aparente, gradiente da

textura e invariantes multimodais. ( Fonseca, 1995).

Ainda no que se refere à estruturação espacial pela visão, Kephart (1986)

explica que podemos olhar para um certo número de objetos e localizá-los todos no

espaço ao mesmo tempo, enquanto que se dependêssemos da cinestesia, teríamos

que tê-los realizados um por um, e teríamos perdido tempo e precisão na localização

dos objetos. A visão, dentre todos os sentidos, é a única que tem condições e

realizar esta estrutura do espaço.

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Segundo Piaget , o desenvolvimento da percepção do espaço, se dá durante

o período das primeiras aquisições, no transcurso do estágio sensório-motor ( 0-18

meses), que se elabora o essencial das noções espaciais.

Percepção fragmentada – Até os 4 meses, a criança só tem acesso a uma

percepção fragmentada, sem relacionamento entre os espaços auditivos, táteis e

visuais;

Coordenação óculo-manual – A etapa de preensão no desenvolvimento

psicomotor, é correlativa do relacionamento entre as diferentes situações espaciais

dos objetos circundantes (18 meses);

Rumo à percepção projetiva do espaço – A passagem de um espaço

topológico a um espaço “euclidiano” é a característica da integração das estruturas

espaciais. Isto é, atestado pelo vocabulário da criança: alto, baixo, perto , longe,

antes, depois, etc. São igualmente empregados a propósitos do próprio corpo e, em

primeiro lugar, em referência a ele.

A partir dos 9 – 10 anos, a criança é finalmente capaz de dar ao espaço uma

dimensão homogênea, e de projetar no espaço as formas que o organizam.

Recapitulação – Antes dos 3 anos: espaço topológico vivido, cujos pontos de

referências são os do corpo próprio. Entre os 3 e 7 anos : espaço representativo

euclidiano, reconhecimento das formas geométricas. Entre 7 e 12 anos : espaço

projetivo, intelectualizado. Os pontos de referência são exteriorizados ao sujeito, sem

referência exclusiva ao seu corpo.

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3.2.2. Disfunções da Estrutura Espacial

Causas principais:

Má integração do esquema corporal;

Perturbação da lateralidade;

Falta de manipulaçao.

Seus sintomas:

A criança ignora os termos espaciais;

A criança conhece os termos espaciais, mas mal percebe as posições;

A criança não assimila a reversibilidade e a transposição;

A criança tem dificuldade para aprender relações espaciais.

3.3. Estruturação Temporal

É a capacidade que a criança vai adquirindo em situar-se em função:

Da duração de intervalos;

Da sucessão de acontecimentos;

Da renovação cíclica dos períodos;

Do caráter irreversível do tempo.

Não se pode falar em espaço sem a noção de tempo e vice-versa, são idéias

indissociáveis.

Segundo Fonseca 1995, através da estruturação temporal a criança tem

consciência da sua ação, o seu passado conhecido e atualizado, o presente

experimentado e o futuro desconhecido é antecipado. Essa estrutura de organização

é fundamental para todos os processos de aprendizagem. A noção do tempo é uma

noção de controle e de organização, quer ao nível da atividade, quer ao nível da

cognitividade.

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Como dito anteriormente, a estruturação temporal não pode ser separada da

espacial, visto que as duas trabalham a noção das partes do corpo, e sua posição

no espaço coordena os movimentos e organizam a vida cotidiana.

Veremos aqui alguns aspectos da (re) educação psicomotora:

3.3.1. Ritmo:

O ritmo é o fator de estruturação temporal que sustenta a adaptação ao

tempo. Ele integra espaço-tempo para estruturar a ação. Por isso se diz que o ritmo

deve ser vivido corporalmente. Todos temos um ritmo próprio. Há diferentes

espécies de ritmo: os internos (relativos aos ritmos próprios da fisiologia do corpo,

por exemplo: batimentos cardíacos, freqüência respiratória) , os externos (relativos

ao mundo que nos cerca, por exemplo: das estações do ano, dia-noite....), o visual

(que nos dá suporte para leitura rítmica) , o auditivo (que nos auxilia na palavra

falada e também no trato associado ao componente motor – tocar instrumentos

musicais ajuda muito a desenvolver este componente rítmico) e o motor (que diz

respeito aos nossos movimentos corporais).

3.3.2 Simultaneidade:

Este conceito aparece com os movimentos para posteriormente estruturar-se

de forma abstrata. A simultaneidade, requer boa coordenação, exceto no caso dos

bebês (exatamente esta falta de coordenação por parte dos pequenos que os faz

construir este conceito).

Ordem e Seqüência:

Para haver noção destes dois conceitos por parte das crianças, é preciso que

elas vivenciem a rotina. Para começarem a notar o que vem antes ou depois e, só

aos 5 anos adquirem a noção de seqüência lógica.

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Duração dos Intervalos:

Há dois tipos de “tempos”: o subjetivo (que está diretamente ligado ao prazer

que lê e proporciona, ou seja, como o utilizamos. Se estivermos realizando tarefa

prazerosa, ele passa depressa, a ao contrario, se estamos diante de algo que nos

entedia, ele parece voar) e o objetivo (que é o tempo matemático). Quando adultos,

sabemos como controlar um e outro, mas as crianças só conseguirão esta

consciência se ajudadas.

Vimos, portanto a importância do componente temporal na constituição do ser.

Nos aspectos acima abordados, pudemos perceber a importância da relação

temporal na construção motora (na harmonia dos movimentos), auditiva (no

momento as alfabetização e leitura), na visual (passamos também pela leitura) entre

outros...

Trabalhar a organização temporal (e espacial) no individuo que está em

formação (e também nos indivíduos que necessitam reconstruir-se) é de infinita

relevância, visto que todos estes componentes auxiliarão os ser em questão a

expressar melhor seus sentimentos, controlar melhor seus componentes motores,

dar-lhe-ão maior concentração e atenção, além de prepará-lo para reagir em

situações inesperadas (tanto física quanto psicologicamente), enfim, formará um ser

mais completo e capaz.

3.3.3. Disfunções da Orientação Temporal

Principais causas:

Motora;

Psicomotora;

Psicológica;

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Sintomas:

A criança é incapaz de descobrir a ordem e a sucessão dos acontecimentos;

A criança não percebe os intervalos;

A criança não tem ritmo regular;

A criança não tem noção de hora, não consegue organizar seu tempo.

3.4. Lateralidade

É a capacidade motora de percepção integrada dos dois lados do corpo,

direito e esquerdo. É o elemento fundamental de relação e orientação com o mundo

exterior.

A lateralização traduz uma “predominância” motora r5eportando-se aos

segmentos direitos ou esquerdos.

A lateralidade é importante porque influi na idéia que a criança tem de si

mesma, na formação de seu esquema corporal, na percepção da simetria de seu

corpo. A predominância de um dos lados do corpo se faz em função do hemisfério

cerebral e os movimentos preferenciais de um dos lados de seu corpo, determinam

ao indivíduo se ele é destro ou canhoto.

A lateralização manual surge por vota dos 4 – 5 anos, independente de

muitas crianças apresentarem a ambilateralidade e vários episódios de flutuação

antes de obter a lateralização direita ou esquerda.

A tendência para realizar tarefas de modo mais eficaz com a extremidade de

um dos membros nos seres humanos se desloca com mais freqüência para a direita.

Muitas crianças com tendência para a ambidestria ou para a mão esquerda

na idade pré-escolar acabam por ser moldadas pelas aprendizagens escolares para

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a preferência manual direita, muitas vezes as custas de um perfil psicomotor

desviante.

A integração bilateral é indispensável ao controle postural e ao controle

proprioceptivo-visual, sem esses dois lados, a lateralização como sistema funcional

complexo não se diferencia e não produz seus efeitos na psicomotricidade e na

aprendizagem.

Recentemente, a posição de orientação cefálica durante o nascimento e o

período neonatal do bebê, foi observado que crianças com 19 semanas de idade que

nasceram com a cabeça voltada para a direita exibiram uma orientação cefálica

supina para a direita e uma preferência pela mão direita em tarefas de busca

visualmente dirigidas, porém, bebês que nasceram com a cabeça voltada para a

esquerda não desenvolveram predominância para o mesmo lado.

A integração bilateral dos dois lados é uma condição básica na motricidade

humana, a desintegração esta associada a pobre evolução de reflexos posturais, a

um equilíbrio estático e dinâmico pouco disponível, a um fraco controle visual e

permanentes confusões espaciais que prejudicam as relações com o envolvimento.

O controle do equilíbrio e das praxias tende a ser alterado e paralelamente a

organização preceptiva espacial de onde surgem vários problemas de orientação

discriminação e exploração.

A descoordenação irá se instalar, os movimentos globais perdem a precisão e

a eficácia, a orientação espacial torna-se confusa principalmente na manipulação de

instrumentos.

Da integração vestibular e proprioceptiva a noção do corpo decorre a

integração bilateral sensório-motora cuja preferência vai produzindo efeitos de

especialização funcional.

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3.4.1. Disfunções de Lateralidade

Possuem causas:

Motoras ou neurológicas;

Sociais;

Psicológicas.

Seus sintomas mais comuns são:

A criança não sabe qual mão escolher, é desajeitada;

Os exercícios de precisão são executados com uma mão, e os exercícios de

força com outra;

A lateralidade não é homógena.

3.5. Equilíbrio Estático e Dinâmico

3.5.1. Equilíbrio Estático

A posição mais estável é a deitada. Ela permite a redução das tensões,

harmonização do tônus, o controle dos apoios e a interiorização das sensações de

contato com o sol.

OBS: os instáveis, os ansiosos, as pessoas idosas suportam mal essa posição, ao

contrário das crianças. As posições baixas são preferíveis: de joelhos, ou sentados

sendo um pouco mais difíceis de serem realizados sob o ponto de vista do equilíbrio,

mas menos traumatizantes fisiologicamente e por isso em outros casos tem a

preferência. A posição sentada em uma cadeira é muito repousante para uma

pessoa idosa e permite numerosos exercícios.

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Podemos usar a posição em pé com alargamento do polígono de

sustentação,pernas separadas, o corpo ereto sem extensão exagerada nem rigidez e

a cabeça erguida para o alto.

3.5.2. Exercícios para Obtenção do Equilíbrio Estático

Equilíbrio estático quer sobre o pé direito, quer sobre o pé esquerdo;

Criança sentada de olhos fechados, pés juntos, pedir que ela lateralize o

tronco, tanto para direita quanto para a esquerda;

Criança em DD sobre a prancha de equilíbrio, com o terapeuta

movimentando-a para os lados.

3.5.3. Equilíbrio Dinâmico

É aparentemente mais simples de se realizar, porque no calor da ação, o

paciente opera inconscientemente as “regulagens” necessárias. No entanto, as

condutas motoras de base têm necessidade de ser melhorada: marcha, corrida, salto

podem ser trabalhados para que não aconteça nenhum desequilíbrio.

Na verdade, trata-se de coordenações inatas que não é necessário ensinar,

mas que é importante repetir com muita regularidade e melhorar graças a pontos de

referencias visuais que regulariza o passo ou a passada, graças também ao apoio

musical ou a situações de descontração que as atividades lúdicas proporciona.

Os meios para realizar essas intervenções são múltiplos. Para criança

exercícios simples nos métodos já conhecidos de reeducação psicomotora podem

inspirar o psicomotricista. O jogo, às vezes mais rico, é capaz de permitir a

elaboração de situações pertinentes, assim como sos esportes, as técnicas que

utiliza o ritmo da música, a dança.

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3.6. Ritmo e Desenvolvimento Psicomotor

Ao longo do desenvolvimento psicomotor, os ritmos já organizados das

estruturas cerebrais arcaicos vão logo ser influenciados por estruturas superiores

que amadurecem pouco a pouco.

O córtex torna-se funcional, os órgãos sensórios e sensitivos enviam

mensagens cada vez mais numerosas e precisas, que colocam a pessoa em relação

com o exterior.

Ao nascer, o RN é capaz de atividades ritmadas, em particular, ritmos

bastante monótonos de andar – andar de quatro – e natação. Os movimentos são

nitidamente ritmados até o fim do segundo mês. Neste período eles são substituídos

por uma atividade desorganizada que dura um certo tempo.

Por volta do primeiro ano, a marcha e os movimentos de nado tornam-se de

novo possíveis, mas são mais deliberados, voluntários, menos automáticos, porém

continuam ainda assim, relativamente rítmicos.

Existem outros ritmos como os de balanceamento cefálico, do tronco e da

cabeça em posição deitada, sentada, de joelho, de quatro. Eles aparecem

freqüentemente até os 30 meses, neta época não ocorrem mais, a não ser em 8 %

das crianças, aos 5 , 6 ou 7 anos eles não são mais encontrados, salvo nas crianças

anormais.

Existem tipos de ritmicidade que caracterizam diferentes grupos de crianças,

que permitem isolar uma ritmicidade preferencial que tende espontaneamente a

reproduzir-se. As intervenções da mãe, os jogos vêm modificar esse tempo

espontâneo e colocar em jogo as possibilidades de adaptação da criança. Pouco a

pouco essas atividades são integradas em um comportamento mais global.

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Quando o controle da motricidade se instala, esses ritmos originais podem ser

inibidos e assim a relação que se estabelece entre o espaço e o tempo com os

diversos objetos pode encontrar-se modificada.

É portanto interessante ver como esses ritmos originais são influenciados pelo

meio, em particular pela mãe que responde, mais ou menos rapidamente, aos

desejos da criança.

A voz da mãe, suas frases, suas canções, o banho sonoro constituído de

todos os ruídos que vem do meio ambiente integram-se pouco a pouco, a criança

torna-se sensível ao ritmo, a linguagem e tenta imitá-la.

- Terapia, a base de ritmo

Fazer movimentos corporais ao som de músicas com ritmos diferentes;

Bater 3 palmas lentamente e 2 palmas aceleradas;

Bater palmas livremente sem música;

Marcha ao som de música, ora mais lenta, ora mais acelerada;

3.7. Coordenação Motora

Incluímos a coordenação motora dentro de psicomotricidade, e esta poderá

ser ampla ou fina.

Coordenação motora ampla – é aquela necessária para as grandes

motricidades, ou seja, para a realização de movimentos que não exigem

grande precisão (movimentos das grandes articulações). Ex:jogar bola.

Coordenação motora fina – é aquela necessária para a motricidade delicada,

com muita precisão. Ex: a escrita.

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3.7.1. A Importância de Exercícios de Coordenação Motora Ampla

Os exercícios de coordenação global consistem em colocar a criança em

situação de busca diante de uma tarefa global, e através disso, permitir a descoberta

de uma nova praxia. Uma praxia pode ser definida como um sistema de movimentos

coordenados em função de um objetivo a ser definido.

Nos jogos livres e atividades de expressão, a criança tem uma experiência

vivida do corpo em confronto com o objeto, o que lhe proporciona um primeiro

esboço de esquema corporal, permitindo uma destreza global do corpo em relação

com seu meio de comportamento. Nesta fase inicial o terapeuta deve procurar antes

de mais nada a plasticidade de ajustamento, ou seja, importa mais o tatear efetuado

pela criança do que o resultado do trabalho.

No estágio de “corpo vivido” é o meio quem dá a criança matéria para sua

exploração, porem no decorrer do seu desenvolvimento será a imaginação que lê

permitirá criar sozinha suas experiências durante os jogos de expressão. O terapeuta

e os responsáveis por essa criança terão um papel importante no sentido de lhe

proporcionar novas situações de modo que a criança tenha que descobrir

ajustamentos diversos confrontando-se globalmente a essas situações.

Durante o tratamento a principal ajuda que se pode oferecer a criança é no

sentido de colocá-la nas melhores condições para fazer seus ensaios e seus erros. O

trabalho deve ter objetivos bem definidos e que seja oferecido a criança

possibilidades de autocontrole. A escolha das situações deve levar em conta

aquisições anteriores e motivação do individuo, devendo comportar uma dificuldade

real, sendo indispensável manter um clima de segurança e confiança no decorrer do

trabalho.

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CAPÍTULO IV

Definição clínica das patologias pediátricas mais freqüentes

Muitas são as patologias que encontramos no dia a dia da clínica

fisiopediátrica (traumatológicas – fraturas, contusões,..., ortopédicas – pé

torto, torcicolo congênito, luxação de quadril, ..., respiratórias – asma,

respiração bucal, ..., dentre outras que poderíamos ditar neste trabalho), mas

falaremos apenas das mais vistas por nós no Ambulatório de Fisioterapia da

ASCE – Associação de Solidariedade a Criança Excepcional. São elas :

4.1. Distúrbios Neurológicos

• Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor : Ocorre em

conseqüência de alguma outra patologia de base, como por exemplo a

Síndrome de Down, ou pode ter como causas a pré-maturidade, o

baixo tônus muscular e até mesmo as privações dos estímulos senso-

perceptivos.

• Disfunção Cerebral Mínima: Caracteriza-se por dificuldades para o

aprendizado, distúrbios da atenção e movimentos desajeitados

(dispraxia).

• Encefalopatia Crônica da Infância: é um grupo de distúrbios cerebrais

não progressivos, ocorridos durante a gestação ou nos primeiros anos

de vida, caracterizados por alterações de tônus e desordem da postura

e do movimento.

• Lesão de plexo braquial ocorre a partir de um parto distócico. A tração

exercida sobre o plexo pode provocar lesão das raízes superiores

(C5/C6), das raízes inferiores (C6/ C7/T1) ou de todas as raízes. O

bebê adota uma postura assimétrica em relação aos seus membros

superiores.

4.2. Alterações Congênitas

• Pé Torto Congênito: existem 02 (dois) tipos. O eqüino-varo que se

apresenta em flexão plantar com inversão e adução na articulação

talo-calcânea e nas articulações do metastarso, e o calcâneo-valgo

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que se apresenta em flexão dorsal e em eversão ao nível da

articulção subtalar.

• Luxação Congênita de Quadril: é originada pela formação anormal de

um ou mais elementos que formam a articulação do quadril, ou pelo

excesso de mobilidade das articulações.

• Torcicolo Congênito: Ocorre devido a fibrose (tumefação de forma

ovóide) do músculo ECOM, e a criança permanece com a cabeça

inclinada para o lado lesado e rodada para o oposto.

• Espinha Bífida: é uma me formação congênita que consiste no

fechamento incompleto do tubo neural por falta de fusão dos arcos

costais. Pode apresentar-se na forma oculta ou cística (meningocele

e mielomeningocele).

4.3. Afecções dos ossos, articulações e músculos:

• Doença de Still: também conhecida como artrite crônica juvenil. É

uma doença que pode comprometer numerosas articulações,

apresentando distribuição geralmente sométrica. É comum a falta

de dor, rigidez na presença de comprometimento funcional

(contraturas das partes moles), e acometimento da visão.

• Distrofia Muscular Progressiva: Caracteriza-se pela diminuição

progressiva da força muscular, relativamente simétrica, iniciando de

forma próximo-distal.

4.4. Doenças Genéticas:

• Síndrome de Down: anormalidade provocada pelas mutações que

ocorrem no material genético – Trissomia do cromossomo 21,

levando a características físicas específicas, deficiência mental e

outras alterações associadas.

• Síndromes: outras como a Síndrome de West, Optiz-Frias, Sotor,

..., são menos comuns e optamos por não defini-las.

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Podemos então correlacionar as patologias com os distúrbios psicomotores

com os exemplos que seguem abaixo:

- Ex1 : Criança portadora de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor

conseqüente a Encéfalopatia Crônica da Infância do tipo Hemiplegia à direita.

Prováveis distúrbios psicomotores : Déficits no esquema corporal, imagem do corpo,

na lateralidade, na coordenação motora ampla e fina do lado acometido, ....

Abordagem: Reeducação do esquema e imagem corporal, facilitar a mobilidade ativa

do lado lesado, ajustar a postura e reestruturar o equilíbrio.

- Ex2 : Criança portadora de atraso no desenvolvimento global por lesão de

plexo braquial do tipo Erb à direita. Prováveis distúrbios psicomotores: Déficits no

esquema corporal, na orientação espacial global do corpo, da motricidade grosseira

e fina no lado acometido, no ritmo por assimetria e incoordenação motora,...

Abordagem: Dar melhor noção do esquema corporal, aprimorar sua motricidade

global, aperfeiçoar seu ritmo corporal e segmentar e minimizar compensações

posturais através da conscientização corporal global.

- Desta forma, podemos observar que as patolgias causaram distúrbios

psicomotores, mas que outras causas podem estar relacionadas em uma criança

sem patologia de base, vejamos:

- Ex: Criança não consegue andar para trás ou subir escada. Causa: atraso

no desenvolvimento NPM e problema psicológico. Abordagem estabelecer contato a

fim de promover confiança, estimular a exploração e o reconhecimento do ambiente,

estimular a percepção do esquema corporal e da orientação espacial.

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CAPÍTULO V

Material e meios de intervenção psicomotora

5.1. Material Psicomotor

As sugestões de materiais, que se seguem, entre outros, devem ser

utilizados após uma criteriosa avaliação, para serem prescritos, de forma a

cooperarem com os objetivos de tratamento traçados, sem danos motores ou

psíquicos, sendo observado a idade, sexo, predisposição e capacidades.

Alguns materiais utilizados em nossa experiência estão descritos abaixo:

- Bambolês, aros, semi-círculos e suportes;

- Bolas de vários tamanhos, cores e pesos;

- Bastões de madeiras encapados;

- Papel, barbante, cola, material de pintura,...;

- Tatames, colchonetes,...

- Espelho.

5.2. Meios de Intervenção Psicomotora

É através deles que exploramos as capacidades psicomotoras da criança,

motivamos a entrega, o movimento, o aprendizado, o raciocínio, a expressão do

corpo,..., que influenciaram decisivamente na reeducação global da criança.São

eles:

5.2.1. Música : Conjunto de sons estruturados de uma determinada forma, que

podem ser produzidos com seu corpo, com voz e com objetos. A música é parte da

vida humana e surge espontaneamente no decorrer desta, onde se torna um valioso

instrumento terapêutico devido a naturalidade com que se processa o contato com o

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indivíduo permitindo a expressão livre de emoções e interferência no

comportamento.

5.2.2. Cores: entramos em contato com a cor através dos nossos sentidos e a

interpretamos dependendo da forma como reagimos à ela. As cores influenciam as

nossas atitudes e sentimentos.

5.2.3. Dança: através do movimento corporal proposto pela dança estamos

explorando a linguagem através da qual o ser humano expressa sensações,

emoções, pensamentos e sentimentos com o seu corpo.

5.2.4. Dramatização: incentivamos a imaginação e criatividade, através da troca de

papéis proporcionada pelo drama podemos viver e reviver experiências marcantes

de grande conteúdo emocional, assim como, facilitamos o jogo motor global durante

a imitação e representação de uma personagem.

5.2.5. Relaxação : O relaxamento global é proposto através de diversas técnicas,

tendo como objetivo a harmonização do corpo e da mente com cuidado nas

condições do ambiente (cor, temperatura, luminosidade, e ruídos), tipo de música,

ritmo e voz do mediador. Dentre as diversas técnicas, podemos contar com o

controle respiratório, a vizualização, a mente, a atividade muscular regulada, a

contração/descontração, a mobilização passiva, a massagem e o alongamento

global.

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5.2.6. Jogo/Dinâmica: é o conjunto de operações coexistentes e interativas,

integrado por estímulos da realidade e da fantasia. É provedor da sensação contínua

de exploração e descoberta. Através do jogo existe o encontro do ritual de gestos e

atitudes, prazer, divertimento, liberdade, e totalidade.

Enfim, as dinâmicas são um meio utilizado para que sejam ampliados o

conhecimento pessoal, facilitem o relacionamento, expressem sentimentos,

confrontem idéias, estimulem o pensamento analógico e solucionem conflitos.

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CAPÍTULO VI

Atividades e Objetivos de Tratamento para (re) educação psicomotorora

direcionada ao aprimoramento do esquema corporal.

Citaremos a seguir algumas atividades que poderão ser feitos em casos de

alteração na formação do esquema corporal:

6.1. Atividades para desenvolver movimentos globais e movimentos precisos, para

que além de estimular a criança conhecer as diferentes partes do corpo, também

fazer com que ela se movimente livremente e se sinta bem à vontade.

6.1.1. Exercício de Grande Motricidade:

Arrastar-se no chão...(passar por baixo das cadeiras);

Rolar de lado( como se a criança descesse uma ladeira);

Andar (andar normal, andar por cima de objetos colocados no chão, andar de

quatro, andar de joelhos, andar de joelhos dobrados (posição de cócoras);

Corridas;

- Livres, como um vencedor, de revezamento, corrida de obstáculos;

Brincar de trem:

- Dando as mãos, em fila, segurando pelos ombros;

Jogos de equilíbrio:

- andar sobre um banco, passar de aceira a outra, andar de quatro por baixo de

bancos, pular com um pé, ficar equilibrado em um pé;

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Jogos de inibição:

- parar de corre ao toque do apito, parar diante de um obstáculo, jogo de

estátuas.

6.1.2. Exercícios de Motricidade Refinada

Trabalho livre das crianças sem exigência de rapidez:

- vestir ela própria, uma boneca, fazer rolar bolas de gude, corte em linha reta;

Jogo de pião:

- Brincar de embrulhar objetos miúdos ... preparar assim surpresas.

6.2. Atividades para que a criança conheça as diferentes partes de seu corpo(...)

será levada a apontar determinado membro, a dizer o nome, a localizar oralmente

uma percepção.

. Sob o ponto de vista motor e sensoriomotor

6.2.1. Perceber as partes do corpo:

O terapeuta faz com que as crianças toquem as diferentes partes do corpo e

simultaneamente vai dizendo o nome dessas partes;

Estimular a percepção dos membros do corpo, através de exterocepção, com

o prévio estudo de cada caso, avaliando se está conduta é indicada ou não;

Brigas de galo, pedalar, andar com uma bola entre as pernas, aplaudir, andar

de joelhos.

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Conhecer o nome das partes do corpo:

Com o auxílio de figuras, trabalhar com colagens e identificação das diversas

partes do corpo( da figura e posteriormente da própria criança).

Exemplo: cabelo, mãos, pés, boca, orelhas, olhos, nariz....

Outros exercícios:

Atividades por meio de canções estimulando noção do esquema corporal;

Brincar com uma bola, recebê-la na mão, no pé, na cabeça.

6.3. Atividades que visarão: apuração dos sentidos; perceber as orientações e

posições que cada parte do corpo pode tomar; associar as diversas partes do corpo

aos objetos da vida cotidiana.

Reconhecimento olfativo:

Exemplo: as crianças de olhos vendados, o terapeuta pode solicitar que identifique

diversas substâncias, como sabão, sopa,laranja, café.

Reconhecimento gustativo:

Exemplo: as crianças estão de olhos vendados, fazer com que provem diversos tipos

de produtos, como açúcar, sal, biscoito.

Reconhecimento auditivo:

Exemplo: através de objetos sonoros a criança tentará identificar os sons emitidos.

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Reconhecimento tátil:

Exemplo: de olhos vendados a criança deverá reconhecer objetos com sua mão

(chave, caneta esferográfica, bolinha, garfo, algodão); fazer perceber o que é macio,

áspero, duro, mole, quente, frio.

6.4. Atividades para a criança aprender a desenvolver suas possibilidades corporais:

executar movimento complexo; exercitar movimentos que tenham um objetivo

determinado; perceber o significado dos gestos executados por outrem; expressar

sentimentos e emoções com seu corpo ou poder compreender os sentimentos e as

emoções expressar pelos outros.

Perceber, corrigir, reproduzir diferentes movimentos;

Exemplo: um exercício é demonstrado por meio de exemplo vivo ou figura. Pede-se

a criança que guarde bem as diversas fases do exercício, e em seguida solicitar que

ela refaça todos os movimentos do exercício. Através de canções para serem

acompanhadas por gestos.

Aprimorar seus movimentos:

Ex: exercícios de coordenação dinâmica: Movimentos simultâneos: levantar os

braços e simultaneamente levantar um dos joelhos; Dobrar os joelhos levantando os

braços simultaneamente.

Exercícios de coordenação dos movimentos realizados na vida cotidiana:

- executar diversas dobraduras de papel, pular corda, recortar, vestir uma boneca,

brincar de iôiô, jogar uma bola contra a parede e saltar por cima da bola, quando

voltar, após ter batido na parede, ...

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6.5. Atividades na Área de Orientação Espacial

As atividades que estimule aprender a relação espacial, como, esconder algo

que coloque em cima de, em baixo de, dentro, fora, ao lado, atrás, formação de fila,

através de músicas, etc...

Exercícios de Orientação Espacial:

Andar pela sala explorando o ambiente e os objetos, inicialmente de olhos

abertos e depois de olhos fechados;

Montar quebra-cabeças;

Jogar amarelinha;

Responder onde está o céu, o teto, o chão, a lâmpada, com palavras como:

em cima, atrás, etc.

Andar pela sala seguindo a direção indicada por setas pintadas no chão.

6.6. Atividades para Orientação Temporal

Atividades que estimulem a sucessão dos acontecimentos, intervalos, ritmo,

noção de tempo e hora. Logo pode ser feitos a associação à luz com dia ou noite,

claro ou escuro; contar fatos acontecidos ontem, que está acontecendo hoje e o que

vai acontecer amanhã. Se estiver chovendo ou fazendo sol, entre outros.

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6.7. Exercícios de fortalecimento da lateralidade

Atividades que estimulem os seus movimentos de destreza e força como

abotoar uma camisa, construir uma torre com cubinhos, passar objetos de uma mão

para a outra, chutar com um pé da cada vez.

Não dão margem a exercícios de uma categoria especial mas podem ser utilizados:

Exercícios de manipulação, malabarismo (coordenação óculo-manual);

Os exercícios de coordenação dinâmica geral;

Lançamentos de objetos para membros superiores e os deslocamentos com

obstáculos para membros inferiores.

Exercícios de conscientização dos deslocamentos segmentários;

Jogos e atividades de livre expressão.

6.8. Exercícios para obtenção de Equilíbrio Dinâmica

Andar em frente com relativa estabilidade por cima de uma linha direta (reta)

feita com fita ou com giz;

Sobre a trave de equilíbrio de 10 cm de altura, andar até o meio para apanhar

um objeto;

Elaborar um circuito com obstáculos, fazendo com que a criança cruze os

pinos ( zigue-zague).

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6.9. Ritmo

Não é fácil delimitar o tempo. É um elemento sutil. Se o ritmo está em tudo, é

muito difícil defini-lo. Cada um sente-o através de sua experiência pessoal e

orientação de sua atividade. Para quase todos, é preciso diferenciar o ritmo do tempo

ou pulsação que divide o tempo em durações regularmente iguais em que poderão

ser integradas as estruturas rítmicas, que elas reproduzem-se em intervalos iguais,

mas não são necessariamente idênticas.

6.10. Exercícios para obtenção de coordenação motora ampla

Colocar uma criança de cada lado da sala estando uma de frente para outra,

pedir que elas joguem a bola de modos diferentes (por cima dos ombros, por baixo

dos ombros, com uma das mãos, com as duas mãos);

Pular amarelinha;

Realizar de jogos de inibição, ou seja, parar de correr ao toque do apito, parar

diante de obstáculos;

6.10.1. A importância dos exercícios de coordenação motora fina

Os exercícios de coordenação óculo-manual são importantes, pois tomam

como orientação dissociações cada vez mais delicadas, elevando o nível de

dificuldade dos movimentos, favorecendo assim o ganho de novas habilidades para

essa criança.

6.10.2. Exercícios para obtenção de coordenação motora fina

Modelagem – estimula flexibilidade e firmeza da mão, assim como

sensibilidade tátil. Ex: amassar massinha.

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Recorte - o uso da tesoura desenvolve boa dissociação dos dedos e uma boa

mobilidade de punho. Ex: recortar objetos – pessoas/animais;

Colagem – funciona como continuação lógica do recorte. Exige leveza e

precisão dos gestos;

Fazer tudo – implica no uso de ferramentas (martelo/alicate/serrote);

Traçados – permite a criança dominar seu espaço gráfico. Ex: cobrir o próprio

nome.

Conclusão

Todas essas maneiras de proceder visam ajudar a criança a desabrochar sua

afetividade, a realizar suas potencialidades e eventualmente melhorar os distúrbios

mentais, neurológicos, motores ou comportamentais que possam apresentar.

CAPÍTULO VII

Perturbações Psicomotora e Condutas de Tratamento

Anotaremos a seguir possíveis causas das alterações e condutas de

tratamento a serem utilizadas:

7.1. Perturbações Motoras: Pode ser de origem psicológica. Certas crianças , em

dado momento não têm mais vontade de crescer (por ocasião do nascimento de um

irmãozinho, uma leve regressão é normal, mas se ultrapassa um certo grau, revela

um problema afetivo considerável que exige reeducação): Pode ser também por

origem do fator superproteção, a criança não tem vontade de aprender, a família faz

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tudo em lugar da criança que se acomoda, então na preguiça motora e intelectual,

entre outras.

Condutas de Tratamento

Inicialmente, o terapeuta fará com que execute exercícios motores e sensórios

motores sem outras exigências, a não ser o movimento, a ação. É importante o

reeducador estabelecer um bom contato com a criança, brincando junto (jogos de

bola, de destreza, etc). Quando o contato estiver bem estabelecido, mostrar-se-á

mais exigente quanto à qualidade dos gestos e à percepção do esquema corporal.

7.2. Perturbações de Equilíbrio

A falta de equilíbrio pode ser de causas motoras ou psicológicas. No primeiro

caso, pode encontrar sua origem no vestíbulo da orelha interna ou do cerebelo,

apresentando nos dois casos de perturbações de coordenação. No segundo caso, a

origem pode ser devido à falta de confiança que a criança apresenta em si mesma,

apresentando também impossibilidade de se concentrarem naquilo que fazem.

Condutas de Tratamento

Exercícios de reconhecimento proprioceptivo, exercícios de impulsos aos

quais a criança deve reagir para não cair (em posição “sentada cruzada”, em posição

ajoelhada), exercícios de equilíbrio.

7.3. Perturbações de Coordenação

As causas podem ser de origem: Vestibulares ou cerebelares. Perturbações

de sensibilidade superficial ou profunda; perturbações psicológicas ou afetivas: A

criança não se concentra em seu trabalho, fica ansiosa, insegura.

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Condutas de Tratamento

Exercícios de grande motricidade, sem grande exig6encia quanto à precisão dos

Gestos; Trata-se de liberar as grandes articulações, por meio de exercícios de pré-

escrita, exercícios de destreza insistindo na amplitude dos movimentos e não em sua

destreza. Em seguida: exercícios de coordenação dinâmica, por fim exercícios de

motricidade delicada e exercícios motores de pré-escrita.

CAPÍTULO VIII

Dados Importantes para Avaliação de Exercícios de Psicomotricidade

Para aplicação desses mediadores através de exercícios psicocinéticos é

necessário que o profissional lembre-se que as crianças não conseguem trabalhar

não inicio com excesso de informações e explicações, deixe a criança buscar seus

próprios recursos buscando soluções a seu nível, permitindo que a criança descubra

e sinta-se satisfeita com suas próprias descobertas. Dê a criança apenas o modelo

de como se executa a atividade. Conversar sempre com a criança sobre o que foi

sentido, sobre as suas impressões a respeito dos movimentos executados, sempre

que o exercício permitir orientar a criança a fazê-lo de olhos fechados, favorecendo

assim a interiorização do que foi vivido, exigindo maior atenção e concentração.

Quando realizado um exercício, elogiar a todas as crianças igualmente, pois

aquelas que não atingiram o objetivo do exercício e que não foi elogiada podem levá-

la a um estado de ansiedade e frustração.

Nós futuros fisioterapeutas, atuaremos na parte da terapia psicomotora e da

reeducação psicomotora, como ação terapêutica e educativa. Reeducamos através

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do movimento e função, e eliminamos mecanismos e hábitos, cuja aquisição deu

lugar à perturbação psicomotoras.

CAPÍTULO IX

Conclusão

A psicomotricidade é o conhecimento intuitivo que a criança tem do

próprio copo, conhecimento capaz de gerar as possibilidades de atuação da criança

sobre as partes de seu corpo, sobre o mundo exterior e sobre os objetos que o

cercam. Tem como objetivo desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, o que

equivale dar ao individuo a possibilidade de dominar seu corpo aperfeiçoamento o

seu equilíbrio.

A noção do corpo corresponde a um dos pilares fundamentais do equilíbrio

harmonioso e garantia da personalidade do individuo. O corpo e a sua projeção no

espaço, substanciando a motricidade, é uma esfera de importância inexcedível para

todas as organizações sensório-motoras e que se esboçam todos os processos

afetivos e todas as relações de socialização.

A partir de uma experiência simples de origem motora a criança recebe

informações que classificará em um conjunto de indicações similares percebidas em

outras circunstâncias.

Concluímos então que, todo o desenvolvimento da criança, independente de

ser ela portadora de patologia de base ou não, estará sujeito a influência de diversos

fatores, intrínsecos e extrínsecos, com o meio agindo sobre ela, e ela interagindo a

sua forma com o meio. O fisioterapeuta então, será o mediador, o terapeuta e o

agente de transformação, que irá contribuir para um desenvolvimento mais amplo da

criança. Tratando a criança como um todo, Sendo ainda, capaz de aplicar a terapia

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psicomotora através de suas experiência/vivências ulteriores, pois não se entende

psicomotricidade como um mero jogo de palavras, tem que ser vivenciado.

Por fim, estando a abordagem psicomotora associada as técnicas

fisioterapeuticas, se tornará mais fácil o contato terapeuta X paciente, estabelecendo

um ritmo mais apropriado para a criança, estimulante, em transformação contínua,

respeitando as individualidades de cada ser e a globalidade de cada corpo carente

de cura.

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Bibliografia

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ARAÚJO, Leandro. Apostila do Curso de Psicomotricidade do Centro de Estudos

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ANEXOS