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I NATAÇÃO E ESTIMULAÇÃO EM BEBÊS – UM FACILITADOR NO SEU DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR ÉRICA DE LARA IVANOWICZ ORIENTADOR: PROF. Ms. MARCO ANTONIO CHAVES RIO DE JANEIRO FEVEREIRO/2002 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

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I

NATAÇÃO E ESTIMULAÇÃO EM BEBÊS – UM FACILITADOR NO

SEU DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR

ÉRICA DE LARA IVANOWICZ

ORIENTADOR:

PROF. Ms. MARCO ANTONIO CHAVES

RIO DE JANEIROFEVEREIRO/2002

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

II

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

Trabalho monográfico apresentado comocondição prévia para a conclusão do Cursode Pós-Graduação “Lato Sensu” emPsicomotricidade.

RIO DE JANEIROFEVEREIRO/2002

NATAÇÃO E ESTIMULAÇÃO EM BEBÊS – UM FACILITADOR NO

SEU DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR

ÉRICA DE LARA IVANOWICZ

III

A Deus por ter me dado a vida.

Ao meu amigo Marcio por todacolaboração.

A todos os bebês e seus responsáveisque contribuíram muito na elaboraçãodesse trabalho.

IV

Aos meus pais Angela e Luiz, com todo amor,carinho e gratidão.

V

RESUMO

A proposta do presente trabalho, foi de constatar os benefícios

psicomotores da natação para bebês, as perspectivas de uma psicomotricidade

aquática capaz de dinamizar o potencial da criança, sem dúvida se constitui em

um instrumento importante para o desenvolvimento mais equilibrado destes

indivíduos.

O desenvolvimento psicomotor são mudanças que ocorrem com o

indivíduo ao longo do tempo, e para que as crianças atinjam este

desenvolvimento de forma coerente e eficaz, se faz necessário um bom

trabalho psicomotor e a Educação Física traz propostas que contribuem para

um melhor desenvolvimento do mesmo.

No âmbito da natação infantil, especialmente na natação para

bebês, venho na tentativa de oferecer uma contribuição para um maior

entendimento da área psicomotora, no sentido de explorar ao máximo alguns

dos vários temas tratados.

Procura-se resgatar a sincronia entre a natação e a psicomotricidade

com vistas ao desenvolvimento, bem como apresentar um programa que

busque sua totalidade, isto é, utilizar as máximas possibilidades do meio dando

respostas às múltiplas necessidades que o indivíduo apresenta.

Porém, resta a dúvida, porque tão cedo a natação na vida dessas

crianças? A vista dos conhecimentos atuais, esta pergunta pode parecer

supérflua.

“ Para nós, não há começo... Avida começou na água, o óvulo foifecundado e se desenvolveu no líquido.”

(Damasceno, 1984)

VI

Em suma, o plano que tenho para o estudo, não é de realizar um

estudo exaustivo da natação para bebês, e sim uma forma de confirmar a

validade do esforço em mostrar a contribuição que a natação trás ao

desenvolvimento psicomotor do bebê.

VII

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I

Psicomotricidade 121.1. Motricidade e psicomotricidade - diferenças 121.2. Estimulação e educação psicomotora 13

CAPÍTULO II

Natação e seus aspectos 152.1. Princípios importantes aplicados ao meio líquido 162.2. Etapas importantes para o aprendizado da natação 162.2.1. Adaptação 172.2.2. Flutuação 172.2.3. Imersão e respiração 182.2.4. Deslocamento (propulsão) 182.2.5. Saltos (mergulho) 192.2.6. Giros 19

CAPÍTULO III

Natação, psicomotricidade e desenvolvimento 203.1. Respiração aquática e fatores psicomotores 223.2. Equilíbrio, propulsão aquática e fatores

psicomotores 233.3. Características do desenvolvimento (de 3 meses

a 3 anos) 263.4. Motricidade ampla e fina 273.4.1. Base reflexa e natação 283.5. Desenvolvimento psicomotor – contribuições

de Wallon e Ajuriaguerra 30

VIII

CAPÍTULO IV

Alguns subsídios metodológicos para a aprendizagem danatação em bebês 324.1. Estimulação psicomotora aquática em bebês 334.1.1. Proposta de trabalho 334.1.2. Estrutura 344.1.3. Aulas 354.2. Programa de aprendizagem de natação em bebês 354.2.1. Método I (Franco, 1985) 364.2.2. Método II (Navarro e Tarrago, 1980) 374.3. Tópico especial: objetivos terapêuticos da natação

para bebês 38

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA 41

ANEXOS 42

9

INTRODUÇÃO

Porque ter escolhido a natação como meio de expressão da

necessidade incessante de movimento que caracteriza a criança?

A criança, subjugada pela gravidade em terra, pode expandir-se sem

entraves na água.

Em 1939, na Austrália, Mnyrtha Mac Graw, mostrou que recém-

nascidos podiam realizar movimentos na água, surgindo assim o trabalho com

bebês da natação, no mundo.

Vários autores e estudos sugerem ser a natação a atividade física

mais completa que existe: é a harmonia, a flexibilidade, a potência, o ritmo, a

coordenação, em resumo, o mais perfeito complexo de movimentos em série, é

a mais bela demonstração das capacidades móveis do homem.

Se faz necessário e urgente sugerir um conceito mais amplo sobre

as atividades aquáticas a partir, por exemplo, das relações de reciprocidade e

pertinência entre a natação e a psicomotricidade.

Se praticada regularmente, solicita todos os mecanismos fisiológicos

importantes: desenvolve a capacidade pulmonar e melhora o sistema

cardiovascular, além dessas vantagens importantes, o meio aquático oferece

novas e enriquecedoras possibilidades de coordenação.

Sabendo que um desenvolvimento harmonioso da criança

pequenina depende das qualidades do meio ambiente, pensamos

sinceramente que a educação aquática é uma das atividades mais rentáveis e

um método de progresso inegável no plano psicomotor, como assinala

Cirigliano (1981).

10

A natação constitui também um excelente método pedagógico que

permite conhecer muito cedo a criança , e portanto, ajudá-la, se necessário, a

resolver problemas que possam ocorrer no seu desenvolvimento harmônico.

Geralmente a atividades psicomotoras do bebê não são bastante

conhecidas nem exploradas ao máximo; pois a natação dita “moderna”, o

importante é a formação de atletas e/ou mini-campeões, e não garante o

desenvolvimento equilibrado da personalidade do indivíduo, oferecendo-lhes os

meios para que ele próprio atinja seus fins.

Portanto, verifica-se ainda uma grande precariedade na

compreensão da abrangência dessas mesmas atividades, ou seja, as

aquáticas (que são psicomotoras), como também na disponibilidade e

utilização de seus meios, especialmente quando se considera o fato de que os

mesmos são empregados por profissionais não especializados, resultando em

um atendimento inadequado, isto é, atendem ora o corpo, ora o psiquismo.

Um programa mais adequado com uma boa orientação, buscando

trabalhar simultaneamente a motricidade e o psiquismo poderá constituir-se

como mais uma esperança na prevenção do aumento do número de sujeitos

incapazes de satisfazerem as necessidades de sobrevivência, assegurando

seu ajustamento do ambiente sócio-cultural, e talvez, até na terapêutica de

dificuldades psicomotoras, já que o meio líquido oferece as vantagens da

estimulação global e equilibrado de cada indivíduo.

Constata-se através de citações expressas por pais de alunos:

“Ele está mais forte... maislivre... mais desembaraçado... maisseguro de si... mais equilibrado.”

“Ele está a vontade em todaparte, com todos... mas não se deixaamolar.”

“Nada o perturba, ele se adapta logo e bem...”“Ele é vivo, curioso, observador... Interessa-se por tudo...”

11

“Ele respeita a natureza e osanimais.”

“Ele compreende depressa,julga com discernimento e encontrasempre uma solução rápida...”

“Em uma palavra? Estápositivamente diferente...”

(Velasco, 1994)

Essa aptidão precoce de reação inteligente na água permite

progredir rapidamente, avaliar suas capacidades, tanto físicas quanto

psíquicas, e afirmar sua personalidade antecipadamente.

“A escola da água dá àcriança, no início de sua vida, uma técnicade trabalho, uma atitude realista positivaperante qualquer problema, apossibilidade de encontrar sozinha umasolução adequada em qualquer situaçãoimprevista.

Permite analisar ainfluência do meio ambiente: líquido outerrestre, comunicar-se com os outros,compreender as relações humanas, criarlaços de amizade e de auxílio mútuo,respeitar o eu, o tu, e os outros... numapalavra, acelerar a sociabilidade.”

(Levy, 1992)

Neste sentido, encontramos na natação, um caracter coletivo,

estimula a criança à experiências com o seu próprio corpo (motoras) e o

psíquico, ou seja, a psicomotricidade.

“Apesar de poucoincentivo e credibilidade, a natação paraBebês, vem desenvolvendo um trabalhode amadurecimento do sistema nervosocentral, e que os primeiros 30 meses dacriança exercem grande influência na suavida, favorecendo suas habilidadespsicomotoras futuras.”

(Velasco, 1994)

12

CAPÍTULO I

PSICOMOTRICIDADE

1.1. MOTRICIDADE E PSICOMOTRICIDADE –

DIFERENÇAS

Antes de iniciar falando em psicomotricidade torna-se necessário

fundamentar a diferença entendida por nós entre uma abordagem motora e

uma abordagem psicomotora. Contudo, antes de tudo falaremos sobre o início

de tudo, o movimento.

“ O movimento é o principal elemento no crescimento e nodesenvolvimento da criança, toda ação está pertinente a ummovimento e todo ato motor tem uma ação e um significado.” (Bueno, 1998)

Motricidade - o mesmo que motilidade, domínio do corpo, agilidade,

destreza, locomoção, faculdade de mover-se voluntariamente.

“Possibilidade eurofisiológicade realizar movimentos. Qualidade do queé móvel ou que obedece as leis domovimento“

(Hurtado, 1983)

Psicomotricidade - é uma ciência relativamente nova que , por ter o

homem como objetivo de seu estudo, engloba várias outras áreas:

educacionais, pedagógicas e de saúde. Envolve-se com o desenvolvimento

global e harmônico do indivíduo desde o nascimento, portanto, é a ligação

entre o psiquismo e a motricidade.

“ Uma ciência que tem porobjetivo o estudo do homem por meio doseu corpo em movimento, nas relaçõescom o seu mundo interno e externo. “

(S.B.P., 1982)

13

1.2. ESTIMULAÇÃO E EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

Velasco fala sobre a importância do papel preventivo da

psicomotricidade, referindo-se a psicomotricidade relacional. Com isso, fica um

convite para os profissionais inseridos nesse processo de relação de ajuda,

adequar uma proposta não de tentar trabalhar forçando a criança a fazer algo

que não conhece, mas sim o de tentarmos substituir o desprazer pelo prazer, o

mal-estar pelo bem estar, o medo pelo interesse,... Através desse ato,

reativamos o desenvolvimento das habilidades de negociação, de comunicação

e de relação.

A Estimulação Psicomotora promove um desenvolvimento

harmonioso para a criança no começo de sua vida, respeitando a capacidade

de maturação, procurando despertar o corpo e a afetividade por meio de

movimentos harmônicos constantes.

“ A estimulação quer dizer despertar, desabrochar o movimento.Porém, alguns autores referem-se a estimulação psicomotora comoestimulação precoce, mas consideramos o termo errôneo, sendomais sensato utilizarmos estimulação essencial. “

(Bueno, 1998)

Já a Educação Psicomotora abrange todas as aprendizagens da

criança, passando por etapas progressivas e específicas de cada indivíduo. Ela

acontece em todos momentos da vida da criança, através das percepções

vivenciadas a nível cognitivo, motor e emocional, estruturando o indivíduo

pouco a pouco.

A educação pode ser realizado dentro da família, na escola, no meio social,

com participações constantes de pais, educadores e professores em geral (de

natação, balé, judô, magistério etc.). Ela é dirigida as crianças em condições de

freqüentar escolas e sem comprometimentos mais sérios.

“...coloca que a educação psicomotora é uma açãopsicopedagógica que utiliza os meios da educação física, com afinalidade de normalizar ou melhorar o comportamento do indivíduo.”

(Lapierre, 1989)

14

Porém, há opiniões de outros autores que informam da possibilidade

da educação física, buscar na psicomotricidade condições de aplicar suas

atividades de forma coerente e eficaz.

15

CAPÍTULO II

NATAÇÃO E SEUS ASPECTOS

A natação é uma atividade bastante procurada dentro da área de

educação física, já que uma das poucas que engloba várias finalidades:

estimulação, competição, terapia, lazer, qualquer movimento que traga prazer.

Porém, a nossa abordagem se estende apenas a estimulação

através das experiências e descobertas que o bebê realiza na água. Essa

estimulação aos poucos vai dando ênfase a sociabilização, no prazer em estar

na água, e dando ao indivíduo a capacidade de descobrir-se e aperfeiçoar sua

personalidade.

Para Velasco (1994): “A água é o maior brinquedo existente na terra,

é uma visão da natação como forma de prazer para qualquer idade.”

“ A utilização do movimento como meio para estimular odesenvolvimento do homem de forma que lhe permita conhecer eaceitar-se , ajustando sua conduta às exigências do meio social, deforma lúdica e prazeirosa.”

(Escobar & Buekhardt, 1985 )

A relação bonita que o ser humano tem com a água, vem desde da

concepção e o tempo em que evoluiu no útero, está foi sua primeira

experiência com a água . Ao nascer, ela entra em um mundo desconhecido,

com diferentes sensações já sentidas. Por isso ao retornar a água, esta com o

auxílio do professor deverá oferecer estímulos positivos para que a idéia de

estar na água seja prazerosa e agradável.

Dentro da natação é importante citarmos alguns princípios que

regem a água e tem tudo haver com a inter-relação com o indivíduo.

16

2.1 PRINCÍPIOS IMPORTANTES APLICADOS AO MEIO

LÍQUIDO

Os princípios abaixo foram pesquisados por Bueno (1998):

ò Princípio de Arquimedes: diz que todo corpo imerso em um meio líquido

recebe uma força de baixo para cima, chamada empuxo, que é igual ao

peso do volume de massa líquida deslocada. A Flutuação utiliza-se muito

desse princípio e ainda considera o peso específico de cada indivíduo, o

qual é variável e corresponde à relação entre o peso rela e o volume.

ò Lei da Inércia: é a capacidade que os corpos tem de permanecer em

repouso se estiverem em repouso e de permanecerem em movimento

retilíneo uniforme se estiverem em movimento, desde que não atue

nenhuma força sobre eles.

ò Princípio da Ação e Reação: a toda ação corresponde a uma reação da

mesma intensidade, em sentido contrário.

ò Princípio de Bernoulli: A maior eficiência da propulsão aquática é

conseguida deslocando grande quantidade de água em um pequeno

espaço ao invés de uma pequena quantidade de água em um grande

espaço.

2.2. ETAPAS IMPORTANTES PARA O APRENDIZADO

DA NATAÇÃO

O vivenciar, experimentar, descobrir o prazer na água não é inato no

ser humano como em algumas outras espécies. Em função do medo e das

reações de insegurança no meio líquido, ele necessita de um tempo para se

adaptar e adquirir maturação neurológica e emocional para dominar o meio

líquido, sendo então a psicomotricidade aquática, um meio indicado para tal.

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2.2.1. Adaptação

O processo de adaptação do bebê na piscina acontece em duas

etapas, sendo a primeira etapa o contato com todo espaço físico (menos a

água) e contato com o professor e a segunda etapa o contato direto com a

água.

Esse processo é, sem dúvida, o mais importante, pois nas duas

etapas, o comportamento de cada bebê poderá ser diferente, bem como dito

anteriormente, cada bebê é único e seu comportamento também será único.

Devida a essas diferenças, é preciso que o professor tenha calma e

paciência, pois não existe uma técnica para adaptar-se um bebê ao ambiente,

mas é preciso ter uma boa percepção para conhecê-lo melhor e conquistá-lo

criando um elo entre professor/bebê/ambiente.

2.2.2. Flutuação

Para um bebê aprender a flutuar com autonomia é preciso equilibrar

todo o corpo, sendo assim, o meio liquido é propício para isso, já que a água é

mais densa que o ar e pela posição horizontal em que se encontra o corpo

associado a baixa ação da gravidade.

A flutuação também está diretamente ligada ao tônus muscular, ou

seja, é preciso que o corpo esteja relaxado e tranqüilo dentro da água, e esta

questão está intimamente relacionada com fatores de afetividade e segurança

entre pais e/ou professor.

A aplicação de uma progressão pedagógica para a flutuação deve

ser iniciada com auxílio, promovendo assim uma segurança emocional ao bebê

até que seja possível a flutuação autônoma, sendo necessário que seja iniciado

paralelamente o aprendizado da imersão e respiração.

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2.2.3. Imersão e respiração

Já familiarizado com todo ambiente, e iniciado o processo de ensino

aprendizagem da flutuação, é preciso adaptar o bebê com o contato direto da

água no rosto, e observar seu comportamento. Caso apresente satisfação com

o contato com a água no rosto estará pronto para iniciar a imersão.

Segundo Damasceno (1994), o bebê dotado de um mecanismo

reflexo do bloqueio do glote e necessita de treinos para que se condicione este

automatismo (ação de bloquear a glote).

Esta ação deve ser realizada com muita segurança proporcionando

que o bebê se sinta confortável, pois caso se assuste com uma ação violenta e

impulsiva com a imersão, algum tipo de trauma poderá se instalar tornando

mais difícil a próxima imersão.

2.2.4. Deslocamento (propulsão)

O processo de aprendizagem de deslocamento do bebê no meio

líquido está intimamente ligado ao controle do tônus muscular.

Os primeiros deslocamentos devem ser estimulados em função de

motivar o bebê a alcançar algum objeto, ou seja realizar um jogo de motivação,

explorando suas primeiras habilidades de coordenação de deslocamento. Uma

outra maneira de realizar o deslocamento é através de estímulos passivos

(manipulação de movimentos propulsivos de braços e pernas).

Com o decorrer do processo de aprendizagem devemos lembrar que

o mais importante é que o bebê, através de movimentos coordenados de

braços e pernas, desloque sem dificuldade dentro da piscina não havendo

nenhuma preocupação de ordem técnica.

19

2.2.5. Saltos (mergulho)

Esta etapa do processo de aprendizagem também deve seguir uma

progressão pedagógica, os saltos da borda deverão iniciar da posição sentada

com ajuda até chegar a posição em pé autônomo.

O aprendizado do salto não deve ser inserido no programa de

aprendizagem antes que o bebê domine completamente a posição de sentar e

posteriormente a posição de pé.

2.2.6. Giros

Os giros realizados em torno do eixo longitudinal requerem um

equilíbrio perfeito durante a ação de flutuar.

Assim como os demais processos do programa de aprendizagem, os

giros também devem ser iniciado com auxílio, tanto os de troca de decúbito

(posição horizontal), assim como os giros realizados na posição vertical.

Durante o processo dos giros, existem duas formas de execução, na

qual a primeira, quando o bebê realiza um meio giro (180º) em torno do corpo,

deverá servir de base para a segunda, quando o bebê realiza um ou mais giros

completos (360º) em torno do corpo.

20

CAPÍTULO III

NATAÇÃO, PSICOMOTRICIDADE

E DESENVOLVIMENTO

Analisaremos a incidência específica da natação sobre o

desdobramento psicomotor, quando orientada pelo processo ensino-

aprendizagem baseado no princípios globais.

Na natação são solicitados os canais exteroceptivos, proprioceptivos

e intereceptivos em diversos graus de importância, A sensibilidade

exteroceptiva permite ao indivíduo captar os sinais do mundo que circunda

através do tato, audição, visão, gosto e olfato (estes dois últimos sem grande

significado para a natação).

Através do tato se percebem: a resistência ao avanço, a pressão dos

apoios motores e o escoamento da água, A visão entrega as limitações ao

campo visual do nadador, ou seja, uma parte da ação dos braços e raramente

da pernas ainda pode detectar as raias, marcas nas bordas, corpos e objetos

que se deslocam na piscina ou no lugar em que ocorre a natação. O ouvido

tem sua função limitada pela interferência do líquido que só permite a captação

de alguns sinais como o barulho dos movimentos dos braços e pernas.

O conceito propriocepção é empregado quando as percepções

labirínticas e vestibulares se unem a percepção cinestésica. O labirinto é um

dos elementos responsáveis pelos reflexos de correção ou de reendireitamento

e também responde pelas sensações de aceleração, desaceleração, ascensão,

descensão e vertigem.

A sensibilidade interoceptiva tem relevância na natação na medida

em que as informações sobre certas necessidades do corpo influenciam na

conduta afetiva.

21

Damasceno, citando Le Bouch (1972) que define o esquema

corporal como: “ intuição global ou conhecimento imediato do nosso corpo, seja

em estado de repouso ou em movimento, em função da inter-relação das suas

partes e, sobretudo, da sua relação com espaço e os objetos que nos rodeiam”.

Acreditamos que durante o trabalho de estruturação do esquema

corporal e de estimulação dos outros fatores psicomotores, a adaptação das

situações far-se-á em função global da criança, e não em função do seu déficit

particular.

O estudo centra-se na natação elementar, porque implica o processo

de ambientação, base de toda natação.

Ambientar significa habituar, acostumar às condições e

circunstâncias apresentadas pelo ambiente ou meio. Não sendo a água o

ambiente próprio de vida do ser humano, qualquer atividade dentro dela exige

uma série de condutas adaptativas à sua especificidade, representadas pelos

problemas de equilíbrio, respiração e propulsão.

A estimulação do desenvolvimento motor é intensa durante a

vivência dos níveis de ambientação: entradas e saídas da piscina, tanque,

açude, rio, mar etc. em que se desenvolve o processo ensino-aprendizagem.

Esta natação elementar permite, amplamente, atingir objetivos de prazer da

vivência lúdica, de terapia e reeducação, de segurança própria, de habilitação

para certos trabalhos ou de desenvolvimento da condição física, da mesma

forma que possibilita o acesso a natação esportiva formal (movimentos formais

que caracterizam os nados esportivos: crawl, costas, peito e golfinho, as

correspondentes saídas e viradas e algumas técnicas de esportes aquáticas).

A natação depende da base comum representada pelo nível de:

estruturação do esquema corporal, coordenação, orientação espacial,

percepção temporal e expressão corporal.

22

Segundo Reis:

“O esquema corporalcompreende:

• a consciência e controlepostural, que implica o relaxamento,respiração e o equilíbrio corporal;

• a consciência e controle dasdiversas posições (sentado, em pé,decúbitos, etc.)

• a consciência e uso dosbraços e pernas, que implica a liberaçãodos membros e controle das cinturas comrelação ao eixo longitudinal”.

(Reis, 1987)

3.1. RESPIRAÇÃO AQUÁTICA E FATORES

PSICOMOTORES

“A respiração tem caráterexcepcional porque além de assegurar astrocas gasosas indispensáveis à vida e aprodução de trabalho, influencia aflutuação por suas implicações com apostura e o equilíbrio. Numerososfisiólogos assinalam que modificações doritmo respiratório e da ventilaçãopulmonar podem ser provocados pelaexcitação psíquica como a emoção dacólera, do temor, etc. e pelas sensaçõesdolorosas”.

(Ganong, 1965)

A aprendizagem da natação exige a passagem da respiração

passiva terrestre para a automática invertida do nadador, que deve executar

uma expiração ativa e uma inspiração breve e oral, com possibilidade de uma

parada voluntária ( “prender a respiração ou bloqueio respiratório”).

Na natação se impõe a aprendizagem do comando voluntário da

respiração: até que ela se adapte às novas necessidades, esta aprendizagem

se organiza em estreita dependência com o desenvolvimento dos aspectos

psicomotores. Para desenvolver esta orientação do processo ensino-

23

aprendizagem aquático face ao desenvolvimento psicomotor, usa-se a

fundamentação, segundo Lapierre citado por Damasceno:

“As exercitações de soprar pelaboca e/ou nariz e prender a respiraçãosão o caminho para vivência de diversasnoções como: Noções de grandeza (ogrande do pequeno), Noções espaço-temporais (sopro largo e curto), Noçõesde velocidade (soprar rápido ou lento).Estas exercitações também promovem aaquisição de noções de intensidade comopeso e leveza e a noção de cheio e vazio,na referência corporal de encher eesvaziar o peito.”

(Lapierre, 1981)

A variedade e o sucesso das exercitações dependem da atitude do

professor, que deve permitir à criança “agir” dentro d’água para descobrir as

soluções respiratórias, motrizes e equilibradoras. Com isso a criança constrói

“sua natação”, fortalece sua personalidade total e se prepara para a natação

esportiva.

3.2. EQUILÍBRIO, PROPULSÃO AQUÁTICA E FATORES

PSICOMOTORES

O meio aquático, propõe um singular desafio à capacidade de

equilíbrio: a posição horizontal exige novas referências espaciais para as

informações labirínticas, as informações plantares e cinestésicas são

falseadas, e ainda se revela a necessidade de se organizar esquemas

equilibradores com as pernas e propulsões com os braços.

O equilíbrio dos corpos na água exige considerações sobre a

natureza do fluido e da sua densidade: A flutuação do indivíduo, seja em

posição horizontal (ventral e dorsal) ou vertical, sofre também a influência da

seguintes variáveis como pulmões, ossos, músculos etc.

24

O equilíbrio e propulsão são indesejáveis: portanto, ao referirmo-nos

aso equilíbrio dinâmico, fazemos paralelamente o estudo das ações

propulsoras. O nadador desloca-se em função da massa d’água que projeta

atrás de si.

A superfície motriz influencia a propulsão, a extensão do trajeto das

superfícies motrizes: isto supõe a maior amplitude do movimento que possa

tornar eficaz o mais longo trajeto. Por último, sucesso da propulsão está sujeito

a velocidade e à cadência e continuidade das ações motoras.

A partir de 1920, quando o bebê e a criança passaram a ser alvo

sistemático de inúmeras pesquisas, os resultados procedentes das

investigações acerca do desenvolvimento infantil apontam para o fato de se

acreditarem às “mudanças”, como sendo a principal característica da infância.

Pontes afirma que:

“Quando se analisa odesenvolvimento infantil referindo-se amotricidade, Freire (1989) comenta o fatode que psicólogos e psicomotricistasdedicaram parte de seus trabalhos àdescrição dos movimentos que ascrianças realizam ao longo do seudesenvolvimento, como o cultural e osocial”.

(Pontes, 1988)

Ainda citando, Velasco:

“Mesmo manifestandopreocupação em relação a qualidade domovimento, Freire (1989) afirma que “umamá qualidade motora não podedesencadear automaticamente açõesterapêuticas ou educativas quedesconsiderem a história da criança emseu ambiente”.

(Velasco, 1994)

25

Na proporcionalidade dessas afirmações, pode-se inferir o

importante papel adquirido pela natação, na medida em que se pode estruturar

um ambiente adequado para a criança, oferecendo experiências, que resultem

numa grande auxiliar e promotora do desenvolvimento

Neste sentido, o caráter coletivo encontrado na aprendizagem da

natação, estimula a criança a generalizar as experiências vividas com seu

próprio corpo (motoras) em distintas situações.

Desta forma, embora tenha se dado maior desta que ao domínio

motor, quando enfocado o desenvolvimento, isto não quer dizer que o

desenvolvimento afetivo-social e o cognitivo estejam esquecidos.

A questão é essencialmente de conveniência do trabalho, visto que

o domínio motor é mencionado em muitos estudos como domínio psicomotor e,

deve assim ser entendido em função do grande envolvimento do aspecto

mental e ainda o afetivo-emocional na maioria dos movimentos. Logo, não

existe a predominância de um destes domínios sobre outros, sem que sejam

mutuamente exclusivos.

Neste contexto, os objetivos da psicomotricidade deverão conduzir a

criança do descobrimento do próprio corpo, de suas capacidades na ordenação

de movimentos, do descobrimento dos outros e do mundo que a rodeia.

Segundo Reis:

“Através de um programana área de educação física, como aprática da natação, é possível supor queas estimulações do corpo, transformadasem gestos psicomotores, levarão osindivíduos a conseguirem processo emsuas habilidades física, psíquicas esociais, requeridas para a adequação daestruturação da personalidade.”

(Reis, 1987)

26

Desta forma, motricidade e psiquismo estão interrelacionados e

confundidos como aspectos indissociáveis de uma mesma organização, ou

seja, corpo e mente devem ser entendidos como componentes que integram

um mesmo indivíduo.

3.3. CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO (DE

3 MESES A 3 ANOS)

Para que possamos promover uma boa adequação do bebê, em

determinado nível, não devemos nos fixar em faixas etárias, pois cada criança

tem o seu ritmo próprio e obedece um desenvolvimento global diferenciado de

outra. Por esta razão, citarei um quadro de desenvolvimento psicomotor,

abaixo, o que podemos esperar de cada um, em diferentes etapas de seu

desenvolvimento, discriminando-o a nível físico-motor, mental-cognitivo e

sócio-emocional. Caberá ao profissional saber “encaixar” o seu aluno em cada

nível e ter critérios em relação às cobranças que lhe realizar. O quadro a

seguir, segundo Velasco:

Idade Físico-motor Mental-cognitivo Sócio-emocional

3 a 4 meses Apoiado nos antebraços,

sustenta a cabeça e os

ombros.

Olha as pessoas que movimentam-

se a uma distância de 3 a 4 metros.

Necessita que conversem

com ele e toquem o seu

corpo.

4 a 5 meses Sustenta a cabeça e os

ombros.

Nota a mudança e ambiente. Presta atenção quando

falamos e responde

balbuciando.

5 a 6 meses Agita os membros superiores. Estimulado por um som, volta-se

sem erro para este.

Entende a expressão que

realizamos de amável ou

zangada.

6 a 7 meses Sentado com auxílio, mantém

o corpo ereto.

Se um objeto cai de sua mão, tenta

recuperá-lo.

Imitar o bater com as mãos na

mesa.

7 a 8 meses Arrasta-se, segura um

brinquedo e alcança outro.

Consegue movimentar dois

brinquedos.

Gosta de brincar de esconde-

esconde.

8 a 9 meses Senta-se sem auxílio e

engatinha.

Bate um brinquedo de encontro a

outro.

Brinca de dar adeus às

pessoas.

9 a 10 meses Anda com auxílio dos adultos. Investiga o badalo de um sino. Obedece às ordens simples.

10 a 11 meses Anda apoiado em uma das

mãos.

Obedece várias ordens de dar

alguma coisa.

Brinca de jogar a bola para o

amiguinho.

11 a 12 meses Anda livremente. Consegue cantar ao menos as

sílabas.

Compreende uma proibição

realizada por uma mímica.

27

12 a 18 meses Sobe a escada com auxílio do

adulto.

Associa 2 palavras. Gosta de músicas que

envolvam as partes do corpo.

18 a 24 meses Anda em várias direções. Demonstra interesse por tudo que

lhe é estimulado.

Compreende uma proibição

pela palavra não.

2 a 3 anos Sobe e desce a escada

sozinho e corre livremente.

Conhece seu próprio nome,

compreende ordens negativas e

proibições.

Gosta de brincar com

amiguinhos.

3 anos Gosta de exercícios de pular. Gosta de realizar exercícios através

de estórias.

Demonstra com mais clareza

suas inseguranças e seus

receios.

(Velasco, 1994)

3.4. MOTRICIDADE AMPLA E FINA

Damasceno, citando Lira que afirma que:

“A motricidade ampla e suaexercitação pela criança ao favorecer todoo processo inerente ao desenvolvimentomotor e a obtenção de um ajustadoequilíbrio corporal, permite à criançaconhecer-se a si própria, assegurando emcontrapartida, a perfeita estruturação doseu esquema corporal.”

(Lira, 1978)

Pela possibilidade de exercer seu controle motor, a criança vê

facilitada sua integração social, o que favorece sua aprendizagem e o seu

melhor desempenho nas tarefas cotidianas que o meio lhe impõe.

Uma descrição de forma sinóptica das atividades motoras amplas

praticadas pela criança no transcorrer de sua primeira infância, parece uma

forma pertinente de exemplificar esta evolução: desde os primeiros dias, a

criança insiste em levantar e sustentar a cabeça. Esta “atividade” lhe fortalece

os músculos do pescoço, das costas e dos membros superiores. A conquista

em conseguir manter por seus próprios meios, a cabeça em posição ereta, é o

passo fundamental para todas as destrezas posteriores.

As atividades que se relacionam à motricidade fina se estruturam

nos primeiros meses da vida com base nos reflexos simples e/ou arcaicos que

28

existem no recém-nascido; considerando que este último não tenha sido, ainda,

submetido a outras experiências ambientais. Por exemplo, o simples reflexo de

sucção que aparece frente ao estímulo do mamilo, e transformado

posteriormente por uma busca tátil ativa que substitui uma atitude passiva.

Segundo Pontes:

“Os comportamentos referentesà conduta social, isto é, a forma como acriança se relaciona com terceiros e comoatua nas atividades diárias, são deextrema importância ao processo ensino-aprendizagem considerando que seuprévio conhecimento pode anteciparações e/ou atitudes técnico-pedagógicosdo professor sobre a ação motora dacriança no “cotidiano aquático”.

(Pontes, 1988)

A aprendizagem de flutuação, por exemplo, é via de regra

caracterizada como sendo uma atividade que envolve, principalmente, a

motricidade ampla.

Contudo, sem a participação da motricidade fina que canaliza as

sensações para que a criança incorpore as atitudes posturais de permanecer

na “posição de flutuação”, seria impossível a conquista desse objetivo na

aprendizagem da natação pela criança.

3.4.1. Base reflexa e natação

Ao nascer, o bebê começa a organizar seus comportamentos com

uma precisão cada vez mais acentuada. Sua variada equipe reflexa lhe permite

responder às diversas formas de estimulação com condutas motoras

progressivamente ajustadas. Depelseneer, define que:

29

“Os reflexos coordenados entresi, proverão o bebê de oportunidades deadaptação ao meio, como também deoutras aquisições psicomotoresvoluntárias já que, é sobre este substratoneuromotor que se assentarão através daexperiência o desenvolvimento damotricidade.”

(Depelseneer, 1989)

O conjunto de reflexos com que nasce o bebê, alguns elementos

facilitam a aprendizagem da natação e seguramente também, de outras

habilidades.

Partindo das pesquisas realizadas por Depelseneer (1989),

Burkharot (1985) e Cirigliano (1981), conhecer o que provoca as respostas

reflexas, continua a supracitada especialista, nos permitirá recorrer às

estimulações que facilitam o processo de aprendizagem pela criança, evitando,

por outro lado, as respostas reflexas que vão de encontro ao mesmo processo,

ou seja, as negativas.

Em geral, são negativas as respostas reflexas que:

X modificam as posições do corpo impedindo que este assuma uma posição

de equilíbrio considerada ideal para flutuar;

X alteram de forma imprópria a mecânica respiratória útil na água;

X provocam sensações incômodas ou desconcertantes para a criança;

X levam deslocamentos cinéticos que vão de encontro às leis e princípios

hidrodinâmicos da natação.

30

3.5. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR -

CONTRIBUIÇÕES DE WALLON E

AJURIAGUERRA

Quando o desenvolvimento psicomotor da criança e suas

perspectivas futuras é citado, é servido, de forma partidária de dois grandes

autores que em suas pesquisas nos parecem de maior relevância para

conceder qualquer tipo de aprendizagem humana, e neste caso concreto, o da

aprendizagem da natação.

Wallon (1994), concebeu o desenvolvimento psicomotor segundo

uma organização hierarquizada desde os deslocamentos exógenos, passando

pelos deslocamentos autógenos e finalmente deslocamentos corporais

coordenativos e construtivos.

Nos deslocamentos exógenos, realça o papel das práticas e, das

experiências interativas intencionalmente produzidas e mediatizadas pelos

outros (ex.: pai, mãe, e outros mediatizadores), reforçando a importância das

vinculações afetivas precoces na sua maturação neuropsicomotora inicial.

Nos deslocamentos autógenos há uma dualidade com os objetos e

com o mundo exterior, onde a criança necessita de uma segurança para iniciar

algum movimento gravitacional, ocorrendo assim uma dependência

psicomotora, com a postura bípede e a praxia fina.

Finalmente, os deslocamentos corporais coordenativos e

construtivos, onde a parceria com os objetos e os brinquedos dá lugar ao

movimento consigo mesmo, a criança inicia o movimento por si próprio através

da sua própria consciência subjetiva.

Assim, de acordo com o pensamento Walloniano, o desenvolvimento

psicomotor da criança, cujos ensinamentos para a aprendizagem da natação

são bastante decisivos. A metodologia do ensino da natação para as crianças,

31

deve pois ter em conta estes pressupostos, se efetivamente os seus objetivos

se centrarem no desenvolvimento das suas necessidades evolutivas.

Ajuriaguerra (1994), concebeu o desenvolvimento psicomotor,

segundo uma outra ótica, situando a evolução da criança como sinônimo de

conscientização e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo.

Segundo Ajuriaguerra (1974) em termos de aprendizagem três

níveis de somatognósia (noção do corpo):

Ü Corpo Agido - a criança experimenta e apropria-se do meio em

que ela se envolve, através de uma interação recíproca com o

“outro”, período de dependência.

Ü Corpo atuante - a criança aperfeiçoa os vários graus de

liberdade face ao “outro” e ao meio exterior, aqui ela adquiri um

autodomínio mais diversificado e adaptável.

Ü Corpo transformador - a criança se integra ao meio induzindo a

sua própria transformação, opera um diálogo consigo próprio que

dá lugar ao domínio do meio e dos objetos, atingindo autonomia

da aprendizagem.

32

CAPÍTULO IV

ALGUNS SUBSÍDIOS METODOLÓGICOS PARA A

APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO EM BEBÊS

Tendo em conta estas duas perspectivas do desenvolvimento

psicomotor da criança, ambos os autores equacionam três fases fundamentais

na aprendizagem da natação. Velasco afirma que:

“De imediato, na primeira faseda aprendizagem da natação. E à luzdestes dois autores, parece ressaltar aquestão da segurança e da autoadaptação a um novo meio, reforçando opapel crucial da mediatização nasprimeiras experiências de aprendizagemna água.”

(Velasco, 1994)

Não basta que as crianças estejam em segurança, é necessário que

se sintam seguras, para que elas possam iniciar os primeiros passos da

aprendizagem num meio estranho, como é o aquático. De acordo com Velasco:

“A segunda fase daaprendizagem da natação, seguindo osmesmos autores, deve promover oenriquecimento adaptativo proveniente domeio aquático.”

(Velasco, 1994)

A criança só poderá adaptar-se à água se o seu cérebro conhecer

que problemas e situações se colocam quando está nela mergulhada ou

submersa. Se o cérebro não responder, ou se for produzida de forma muito

lenta, a criança experimentará desconforto, insegurança, bloqueios

respiratórios, engolirá água, engasgar-se-á, e até pode afogar-se. Velasco cita

que:

33

“A terceira fase deaprendizagem da natação, há umenriquecimento crescente, evolutivo etotal da criança, onde a atividade aquáticaé entendida como uma iniciaçãodesportiva e opcional de competição.”

(Velasco, 1994)

Em síntese, a aprendizagem da natação é uma função do sistema

nervoso, com isso a natação desde que aborda os pressupostos acima

promove e concretiza a capacidade do seu cérebro para aprender a aprender,

isso é a primeira finalidade de qualquer aprendizagem.

4.1. ESTIMULAÇÃO PSICOMOTORA AQUÁTICA EM

BEBÊS

Reis afirma que:

“Podemos afirmar que omediatizador é um elemento fundamental,principalmente no trabalho com crianças.“Podemos afirmar que o mediatizador éum elemento fundamental, principalmenteno trabalho com crianças. Através dasexperiências com bebês acrescenta-seque é primordial a presença damãe/pai/alguém que lhe é familiar, juntodele na água, durante todo o processo deestimulação aquática, isto é, a “aula”.

(Reis, 1987)4.1.1. Proposta de trabalho

ò Bebê I (3 meses à aproximadamente 1 ano)

A natação para lactente deverá ter início aproximadamente 03

meses de idade. Neste período o bebê já possui um bom número de anticorpos

e sustenta melhor sua cabeça. Essa maturidade cervical faz com que o bebê

resista bem ao transporte na piscina e mãe saiba manusear melhor seu corpo.

Nesta fase o bebê realizará “aula com a mãe e a primeira meta será

sua socialização.

34

Trabalha-se os movimentos dos seguimentos corporais para

aumentar amplitude articular e o fortalecimento muscular.

ò Bebê II (1 ano a aproximadamente 2 anos):

O bebê realizará “aula” com a mãe até que seja feita sua

socialização com o grupo e o professor. Assim que puder, afastar

gradativamente a mãe, sem causar nenhum tipo de frustração.

As aulas são mais dinâmicas, pois as movimentações são realizadas

de acordo com o desenvolvimento psicomotor do bebê.

ò Bebê III (2 anos a aproximadamente 3 anos)

Nesta fase a criança já realizará “aula” com o professor e o grupo,

não sendo mais necessário a presença da mãe na água, devido a sua

socialização e adaptação ao meio líquido terem sido vencidas.

Trabalha-se a estimulação motora geral, num intuito de uma total

sobrevivência ao meio líquido.

4.1.2. Estrutura

Para a realização deste trabalho até 3 anos necessita-se de uma

piscina com:

X água bem tratada (nível de cloro 1.5 e Ph 7.4);

X temperatura da água em: 32ºc no inverno e verão para crianças

de até seis anos, 32ºc no inverno e podendo ser 31ºc no verão

para crianças acima de 7 meses;

X banheiro especial (o mais próximo possível da piscina);

X trocadores (para que o bebê seja trocado no ambiente aquecido

da piscina e não sofrer mudanças drásticas de temperatura;

35

X material pedagógico adequado ao nível de desenvolvimento de

cada um.

4.1.3. Aulas

♦ Duração: todas as fases acima a duração da “aula” será de no máximo 30

minutos. Sendo que para um bebê de até 3 meses, iniciou-se com 10 a 15

minutos de “aula” aumentando, gradativamente, para 30 minutos.

♦ Freqüência e número de alunos: a freqüência será, no mínimo duas vezes

por semana. No bebê I e II trabalha-se com um máximo de 6 bebês (por

professor). Já no bebê III, trabalha-se com, o máximo de 4 bebês (por

professor), obtendo assim melhor desenvolvimento e segurança no

trabalho.

♦ Seqüência da “aula”: inicia-se o trabalho com a integração do bebê ao

meio líquido e ao grupo. Depois dá-se maior ênfase as movimentações

específicas, sendo que as de segmentos corporais e as de rodas

geralmente se realizam com músicas. Finalizaremos a “aula” com um

relaxamento para a volta à calma e depois as recreações.

4.2. PROGRAMA DE APRENDIZAGEM DE NATAÇÃO

EM BEBÊS

Damasceno afirma que:

“Parece ponto pacífico, que anatação não só é considerada como aatividade mais completa, como também aúnica que pode ser praticada, semrestrições, desde do nascimento. Nestecaso, a natação para bebês.”

(Damasceno, 1994)Sem via de dúvida, a natação para bebês é um eficaz instrumento

de aplicação de Educação Física no ser humano, assim como excelente para

iniciar a criança na aprendizagem organizada psicomotora.

36

Damasceno, citando Franco (1985):

“Similarmente, é possívelafirmar, no que diz respeito, por exemplo,ao desenvolvimento psicomotor suadecisiva participação na construção doesquema corporal e seu papel integradorno processo de maturação.”

(Damasceno, 1992)

Sendo assim, a aprendizagem de natação para bebês não se detém

somente no fato de que a criança aprenda a nadar, como afirmam Navarro e

Tarrago (1980) mas sim, que contribua para ativar ou auxiliar no

desenvolvimento de sua psicomotricidade e reforçar o início de sua

personalidade.

De um modo geral, os programas tem a intenção de ajustar os

conteúdos, meios e métodos a cada uma das etapas que o bebê passa, tendo

em consideração o respeito às diferenças etárias, as diferenças individuais

quanto ao desenvolvimento e crescimento e à capacidade individual de

aprendizagem dos vários conteúdos.

Assim, toma-se os objetivos do Método I (Franco, 1985) e o método

II (Navarro e Tarrago, 1980), que procedem com uma abordagem metodológica

e generalizada da natação para bebês.

4.2.1. Método I (Franco, 1985)

Este método está diretamente relacionado às leis da maturação e do

desenvolvimento infantil, com pretensões em utilizar com êxito na

aprendizagem precoce da natação. Nota-se também que o método invés de

utilizar a denominação “natação para bebês”, o método refere-se a

“aprendizagem motora precoce na água”.

⇒ Objetivos do Método

• De 0 à 12 meses: adaptação ao meio líquido, apnéias condicionados a

liberar o resto da água (até 15 segundos), flutuação em decubito dorsal,

giros.

37

• De 12 meses a 24 meses: mergulho na água, partindo da borda sentado;

mergulho em pequenas profundidades, coordenação de braços e pernas

para deslocamentos para flutuação; saída autônoma a partir da posição de

pé na borda com segurança;

• De 24 à 35 meses: deslocamentos em decúbito dorsal, para um objeto pré-

determinado; trocas autônomas de decúbito (dorsal-ventral); giros sem

alterar o trajeto estabelecido; domínio do corpo na água, controle da

respiração; mergulho a partir da borda, passando por dentro de um aro que

é seguro sobre a superfície da água.

4.2.2. Método II (Navarro e Tarrago, 1980)

Este método caracteriza a natação para bebês como natação

precoce.

⇒ Objetivos do Método

• 1a Etapa - Adaptação: 2 semanas à 2 meses → habituação ao meio (olhos,

ouvidos, nariz e boca), 2 meses à 4 meses → habituação ao meio, flutuação

(com ajuda), propulsão e respiração.

• 2a Etapa - Sobrevivência: 6 meses à 12 meses → cair na água em qualquer

posição e recuperar a posição de flutuação em decubito dorsal; 12 meses à

24 meses →percorre certa distância (10 a 12 metros) em decubito dorsal

com propulsão de braços e pernas.

Segundo Damasceno:

“Na verdade, ambos autoresconvergem para o mesmo fim, que éhabituar o bebê, desde do nascimento aestar em contato com água, adiantandoconsideravelmente suas habilidadesmotoras ao descobrir sozinho, todas aspossibilidades de movimento de seu corponeste elemento, reforçando suapersonalidade e sua independência”.

(Damasceno, 1944)

38

Baseando na larga experiência desses autores, a análise de

qualquer programa de aprendizagem de natação para bebês, pressupõe a

consideração dos objetivos e das finalidades para que foi idealizado. Portanto,

há de se perceber que não cabe afirmar que este ou aquele programa é

melhor, como também, que existe um programa ideal.

4.3. TÓPICO ESPECIAL: OBJETIVOS TERAPÊUTICOS

DA NATAÇÃO PARA BEBÊS

A diversidade das reações à água coloca em evidência alguns

pontos obscuros, precauções a tomar principalmente na duração das sessões

de trabalho das instruções de segurança e das fronteiras a não serem

passadas.

A natação para bebês colabora e muito na compreensão das

reações fisiológicas dos bebês e assim podem controlar sua evolução pessoal

com total segurança. De acordo com, Depelseneer:

“Não se constata hojenenhuma influência negativa da nataçãoprecoce, mesmo nas condiçõesdesconfortáveis (temperatura da piscina)e concluo que os bebês nadadores nãosão acometidos que os outros deinfecções otorrinolaringológicas”.

(Depelseneer, 1989).

Ainda citando, Pontes diz:

“Muito pelo contrário, asobservações anotadas pelo corpo médicosobre a evolução fisiológica dos “bebêsnadadores”, revelam repercussõespositivas sobre a sua saúde e umamelhora de certos distúrbios patológicos,tais como: obesidade, magreza anormal,convulsões, distúrbios respiratórios,deficiência ou malformações musculares,falta de apetite, linfatismo-apatia, entreoutros.”

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Segundo, Pontes:

“A natação para bebês é umaforma de prevenção ou redução emdiversos níveis: Coluna vertebral(lordoses, escolioses, cifoses), emembros, reeducação após as fraturas,pés chatos, joelhos tortos, ...”

(Pontes, 1988)

Através de algumas comparações objetivos entre os bebês “nadadores” e os

“não-nadadores” levam muitos médicos a recomendar a aprendizagem precoce da

natação, entretanto nas condições materiais e pedagógicas as melhores possíveis.

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CONCLUSÃO

Após termos iniciado os estudos que abordam a questão do

desenvolvimento psicomotor da natação e suas características de evolução em

bebês de 3 meses à 3 anos com a prática da natação; estudos estes

elaborados à partir de bibliografias especializadas e intensa pesquisa,

concluímos em consonância aos diversos autores e autoridades no assunto,

que o bebê (criança) que pratica a natação demonstra após um tempo de

trabalho um rendimento físico, psíquico, fatores que envolvem a sociabilização

e, desenvolvimento psicomotor sensivelmente superiores ás demais crianças.

Além disso desenvolve uma boa percepção e controle do próprio

corpo, equilíbrio postural econômico; lateralidade bem definida, uma

independência dos segmentos em relação ao tronco e uns em relação aos

outros; e no controle e equilíbrio das contrações ou inibições estreitamente

associados ao esquema corporal e ao controle da respiração.

Estas características de desenvolvimento psicomotor, juntamente

com outras citadas nos dão um índice que pode ser traduzido em 2 anos de

diferença entre uma criança para outra (com suas exceções). Mais uma das

múltiplas facetas que a natação nos revela com sua prática, que deixa de ser

somente sinônimo de prazer na água, para assumir seu aspecto educativo.

41

BIBLIOGRAFIA

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Brasil, 1977.

BOULCHI, I. L. O Desenvolvimento Psicomotor do Nascimento até 06

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Fundamentais à Prática Sistematizada. Rio de Janeiro: Sprint, 1994.

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Metodologia Definida no Ensino da Natação. 3. ed., São Paulo: Desportos,

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Porto Alegre: D.C. Luzzado, 1987.

VELASCO, Cacilda Gr. Natação, segundo a Psicomotricidade. Rio de

Janeiro: Sprint, 1994.

42

ANEXOS