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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM INFANTIL POR DANYELLE CRISTINA DIAS FREITAS ORIENTADORA: PROF. FABIANE MUNIZ RIO DE JANEIRO MARÇO/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM INFANTIL

POR

DANYELLE CRISTINA DIAS FREITAS

ORIENTADORA: PROF. FABIANE MUNIZ

RIO DE JANEIRO

MARÇO/2003

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

POR

DANYELLE CRISTINA DIAS FREITAS

Trabalho Monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO

MARÇO/2003

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que esteve ao meu lado em todos

os momentos, pois sem ele este trabalho não seria possível.

Agradeço, especialmente, à minha orientadora Fabiane Muniz que

com toda sua sensibilidade, experiência e muita competência, aliada a seu jeito

simples e carinhoso de ser, me ensinou a buscar caminhos para falar do tema

escolhido. Este trabalho possibilitou a descoberta do novo e a reflexão sobre a

minha prática como professora de Educação Infantil.

Agradeço aos meus queridos pais Hélio Henrique e Helena Cristina,

e minha irmã Evellyne Cristina, que sempre me apoiaram e me ajudaram.

Agradeço também, ao meu noivo Renzzo Gomes que com muita

paciência e otimismo me encorajou à realização das leituras solicitadas, dando

todo suporte possível para a realização desta monografia.

.

RESUMO

Este trabalho constitui uma reflexão a respeito da importância do

lúdico do nascimento aos seis anos. A partir de uma leitura específica sobre o

tema, procurei enfocar o lúdico e sua implicância no desenvolvimento da

aprendizagem e como podemos incluir a brincadeira no currículo de Educação

Infantil. Precisamos entender a forma de pensamento da criança para podermos

proporcionar a ela os momentos lúdicos necessários, as brincadeiras que as

ajudarão a crescer e nos auxiliarão a compreendê-las melhor. Na perspectiva de

que o desenvolvimento da criança deve ser considerado na sua dimensão

cognitiva, mas também na afetiva e social, entendendo que as três são

simultâneas e entrelaçadas, percebi o lúdico como facilitador da construção deste

desenvolvimento e favorecedor do exercício da cidadania. Através da brincadeira

a criança irá crescer, aceitar e conhecer o mundo.

SUMÁRIO

Página

Introdução 5

1. Infância e Lúdico 7

1.1. Da Antiguidade aos Dias de Hoje 7

1.2. O lúdico na infância 10

2. O lúdico na Visão de Vários Autores 13

2.1. Vygotsky 13

2.2. Piaget 15

2.3. Winnicott 18

2.4. Brougère 18

2.5. Kishimoto 21

3 – O lúdico e o Desenvolvimento da Aprendizagem 23

4 – Como Incluir o lúdico na Educação Infantil 30

Conclusão 38

Referências Bibliográficas 41

INTRODUÇÃO

Este trabalho constitui uma reflexão a respeito da importância do lúdico do

nascimento ao seis anos. Este tema foi escolhido para que possamos refletir

sobre algumas questões como: Será que o lúdico é realmente valorizado por

aqueles envolvidos na educação e criação das crianças? Qual a importância do

lúdico na aquisição da aprendizagem? É possível inserir a brincadeira no currículo

da Educação Infantil, como um meio mais eficaz de aprendizagem?

Para realizar essa análise, foi necessário a leitura e o estudo de textos

escritos por diversos autores relevantes para área, dentre eles: Piaget, Vygotsky,

Tizuko, winnicott e Brougére.

O presente trabalho está dividido em quatro capítulos. No primeiro capítulo,

falo sobre a importância do lúdico, e o subdivido em dois momentos, o primeiro é

uma breve concepção histórica e cultural. Como o jogo era visto nas sociedades

antigas e quando foi percebida a sua importância para a aprendizagem. O

segundo momento é sobre infância e lúdico, que mostra como e porque a criança

brinca. A concepção de criança vem mudando ao longo dos anos, não se

apresentando sempre da mesma forma. Uma grande parte das crianças

brasileiras enfrentam um cotidiano adverso, tendo que trabalhar e não tendo

tempo para brincar, enquanto outras são protegidas de todas as maneiras, ficando

em casa em frente ao computador, da televisão ou videogames. Essa dualidade

revela a contradição e conflito de uma sociedade que não resolveu ainda as

grandes desigualdades sociais presentes no cotidiano. E isso muda

completamente a maneira de brincar de cada um.

As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres

que pensam e sentem de um jeito próprio. Nas interações que estabelecem desde

cedo com as pessoas que estão próximas, por meio de brincadeiras, explicitam as

condições de vida a que estão submetidas, seus anseios e desejos. Na

construção do conhecimento, as crianças se utilizam as diferentes linguagens e

exercem a capacidade que possuem de terem idéias criativas sobre aquilo que

buscam desvendar, Assim as crianças constroem o conhecimento a partir de

interações com os outros e com o meio que as circundam.

No segundo capítulo apresento as diferentes concepções de brincar na

visão de diferentes autores. Desde a concepção de Piaget, sobre a importância do

jogo simbólico na formação do EU psicológico e social, até a de Kishimoto, que

considera o jogo fundamental para a importância do desenvolvimento infantil.

No terceiro capítulo, falo sobre o brincar e o desenvolvimento da

aprendizagem. Nas instituições de Educação Infantil, pode-se oferecer às

crianças condições para as aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e

aquelas advindas de situações pedagógicas intencionais ou aprendizagens

orientadas pelos adultos. O faz-de-conta em situações diversas é uma das

estratégias mais importantes da professora para a promoção de aprendizagens

pelas crianças.

Enfim no quarto capítulo, apresento algumas formas de incluir a brincadeira

no currículo da Educação Infantil. Responder como e quando a professora deve

interferir nas brincadeiras é, aparentemente, contraditório com o caráter

imaginativo e de linguagem independentemente que o brincar corresponde.

Porém, há alguns meios a que a professora pode recorrer para promover e

enriquecer as condições oferecidas para as crianças brincarem, que podem ser

observadas.

Ainda com relação ao brincar, a professora poderá organizar situações nas

quais as crianças conversem sobre suas brincadeiras, poderá usar vários

materiais e cenários diferentes, assim o brincar pode ajudar as crianças a se

desenvolverem.

A brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar

progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para

as interiorizações de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos

sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar o transforma em um

espaço singular de constituição infantil.

“As crianças brincam para encontrar a realidade, os adultos para evitá-la.”

(MOYLES, 2002, p.181)

CAPÍTULO 1

INFÂNCIA E LÚDICO

1.1 DA ANTIGUIDADE AOS DIAS DE HOJE

Áries (1981) coloca que

“A aparição da infância se dá a partir do século XVI e XVII na Europa, quando, com o Mercantilismo altera–se o sentimento e as relações frente à infância, modificados conforme a própria estrutura social”.

Antes disso, a infância não era vista como uma fase importante. A

Infância na Idade Média considerava a criança como um adulto em

miniatura, já que a ela cabiam todas as atividades dos mais velhos, não

recebendo por conta disso nenhum tratamento diferenciado.

A duração da infância era deduzida até o momento que ela não mais

precisasse dos cuidados constantes de sua mãe ou ama, era logo misturada aos

adultos e partilhava de seus trabalhos e jogos.

A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo mais geral, a

socialização da criança, não eram, portanto, nem asseguradas, nem controladas

pela família.

A criança logo era afastada de seus pais e pode-se dizer que durante

séculos a educação foi garantida pela aprendizagem, graças à convivência dela

com os adultos. A criança aprendia o que devia saber apenas ajudando os adultos

na realização das atividades e obrigações. O aprendizado era feito através da

prática.

Segundo Áries (1981)

"Era através do serviço doméstico que o mestre transmitia a uma criança que não fosse o seu filho a bagagem de conhecimentos, a experiência prática e os valores humanos que pudesse possuir."

Quanto ao vestuário que a criança usava, as roupas não eram

próprias para a sua idade e sim roupas iguais às dos adultos, em tamanho

menor, diferenciando apenas em função da classe social.

Outro ponto importante era a questão da educação, as aulas não

eram separadas por faixa etária. Muitas vezes acontecia de um adulto

freqüentar as aulas em uma classe infantil. O que importava na verdade era

a matéria que estava sendo ensinada, e não a separação da classe por

idade.

É entre os moralistas e os educadores do século XVII que vemos formar-se

um outro sentimento da infância, que inspirou toda a educação até o século XX,

tanto na cidade como no campo, na burguesia, como no povo. O apego à infância

e a sua particularidade não se exprimiam mais através do interesse psicológico e

da preocupação moral.

Esses moralistas haviam-se tornado sensíveis ao fenômeno outrora

negligenciado da infância, mas recusavam-se a considerar as crianças como

brinquedos encantadores, pois viam nelas frágeis criaturas de Deus que era

preciso ao mesmo tempo preservar e disciplinar. Esse sentimento, por sua vez,

passa a existir no âmago da vida familiar.

Contudo no século XVIII, encontra-se na família esses dois elementos

antigos associados a um elemento novo: a preocupação com a higiene e a saúde

física.

Tudo o que se referia às crianças e a família tornara-se um assunto sério e

digno de atenção. Não apenas o futuro da criança, mas também sua simples

presença e existência eram dignas de preocupação – a criança havia assumido

um lugar central dentro da família.

As crianças e a infância deveriam ocupar muito mais o tempo e o espaço de

nossas preocupações: afinal se existe uma história humana é porque o homem

tem uma infância.

Ser criança é antes de tudo, pensá-la na qualidade de um ser social

produtor de cultura, sempre vinculado às suas condições reais de existência.

Dessa forma a criança deixa de ser encarada de maneira universal e passa a ser

vista de forma particular, ou seja, passa a ser diferenciada de todas as demais

crianças pelos hábitos culturais, raça, gênero, classe social, bem como as

características históricas.

No parecer de Kramer (1994), a visão da criança baseada em uma

concepção de natureza infantil, e não na análise da condição infantil, mascara a

significação social da infância.

As crianças são sujeitos sociais e históricos, marcados pelas contradições

da sociedade em que vivemos. A criança não é filhote do homem, ser em

maturação biológica; ela não se resume em ser alguém que não é, mas que se

tornará (adulto, no dia em que deixar de ser criança). As crianças são cidadãs,

pessoas que produzem cultura e são nela produzidas, que possuem um olhar

crítico que vira pelo avesso a ordem das coisas, subvertendo essa ordem.

O conceito de infância, tal como o entendemos hoje, pressupõe uma fase

da vida em que a criança encontra-se em desenvolvimento e que deve ser

protegida de certos aspectos da realidade da vida dos adultos. Esse período é

caracterizado pela dependência que a criança tem dos adultos, o que lhe

possibilita o aprendizado de conhecimentos, de uma forma gradual e no seu

devido tempo, de modo a que esse indivíduo em formação possa se integrar à

vida adulta.

Esta nova concepção de criança é marcada pela idéia, como bem remarcou

Brougére (2000), de um ser vinculado a uma verdade que lhe revela o mundo de

maneira espontânea. Esta valorização, baseada em uma concepção idealista e

protetora da infância, aparecia em propostas educativas dos sentidos, fazendo uso

de brinquedos e centradas no divertimento.

A brincadeira ganha espaço na educação das crianças pequenas.

Anteriormente, a brincadeira era geralmente considerada como fuga ou recreação

e a imagem social da infância não permitia a aceitação de um comportamento

infantil, espontâneo, que pudesse significar algum valor em si.

Áries (1981), coloca que as brincadeiras e os divertimentos ocupavam um

lugar de destaque nas sociedades antigas.

Porém, nessa época, os jogos eram permitidos sem muita proibição

por uns, enquanto outros não o permitiam, chegando até a rotulá–los como

imorais.

Durante muito tempo não existiu uma vontade de colocar–se para

perceber o quanto esta proibição era absurda, e que este modo de pensar

era proveniente somente de uma elite educadora, que com isso formava

hábitos e valores que durante muito tempo configurou-se como verdade.

Ao longo dos séculos XVII e XVIII foi adotada uma atitude moderna

em relação aos jogos, totalmente diferente do que existia até então. Os

jogos foram implementados na educação, resguardando um cuidado

evidenciado para a preservação da sua moralidade, já que o jogo era visto

anteriormente como imoral.

Passando o ato de brincar a ser reconhecido como um fator

fundamental na educação e no desenvolvimento infantil.

1.2. O LÚDICO NA INFÂNCIA

Brincar é fundamental para as crianças e traz vários benefícios, como a

melhoria da socialização, da criatividade e coordenação motora. À medida que a

criança manipula objetos, produz sons ou fantasia situações, diferentes conexões

celebrais vão sendo formadas. É assim que o cérebro desenvolve as habilidades

que serão usadas ao longo da vida. Para estimular uma criança não é preciso

cobri-la de objetos coloridos, forçar o interesse por jogos ou introduzir conteúdo

pedagógico na brincadeira. O ideal é deixar que se guie pela curiosidade. Para

isso, basta um ambiente afetivo, seguro e rico, em que se possam pegar objetos e

se deslocar livremente.

Até um ano a criança deve brincar com os objetos macios, para que possa

apertá-los ou levá-los na boca. Por volta dos dois anos, ela entra na fase do faz-

de-conta e brinca com caneta como se fosse um avião. Mais tarde faz

associações relacionadas ao que sua imaginação cria. Aos seis anos, ela está

pronta para os jogos com regras.

Os livros também são uma forma de brincadeira onde se desenvolvem,

ampliam os horizontes, abrem novas perspectivas, ajudam a entender o que se

passa dentro de nós e nos preparam para lidar com os grandes e pequenos

problemas da vida. Além de ensinar, divertem e fazem companhia.

O fato de uma criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de

gestos, sons e, mais tarde, poder representar determinado papel na brincadeira

faz com que ela desenvolva sua imaginação. Amadurecem também algumas

capacidades de socialização, por meio da interação, da utilização e

experimentação de regras e papéis sociais.

A diferenciação de papéis se faz sobre tudo no momento do faz-de-conta,

quando as crianças brincam como se fossem os pais, a mãe, o médico, os

heróis..., Imitando e recriando personagens observados ou imaginados nas suas

vivências. A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a

criança aprenda mais sobre a relação entre as pessoas.

No faz-de-conta, as crianças aprendem a agir em função da imagem de

uma pessoa, de uma personagem, de um objeto e de situações que não estão

imediatamente presentes para elas. Brincar funciona como um cenário no qual as

crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida, como também de transformá-

la.

Nas últimas décadas, vimos um crescente cerceamento da liberdade do

brincar, principalmente nas grandes cidades, causado, entre outros fatores, por

problemas de limitação do espaço, aumento da violência urbana, ou ainda por

uma má compreensão por parte das escolas e dos pais do processo de

alfabetização, que infelizmente suprime muitas vezes o lúdico da vida das

crianças.

Brincando, a criança vai adquirindo compreensão e aprendendo a utilizar

sistemas simbólicos como a escrita, assim como a capacidade e habilidade em

perceber, criar, manter e desenvolver laços afetivos e confiança no outro.

Na visão de Vygotsky (1988), brincar é imaginar, ele enfatiza o papel

fundamental da imaginação na constituição do conhecimento. A criança pequena,

quando exerce o jogo e a brincadeira, demonstra o prazer de usar a lógica da

linguagem contra a lógica da realidade. Para o autor, brincar cria uma zona de

desenvolvimento proximal. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do

comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário. No

brinquedo, é como se ela fosse maior do que é na realidade.

Na brincadeira a criança usa recursos disponíveis do ambiente para criar

seu próprio mundo, cheio de fantasia. As situações inventadas, organizadas, as

formações de regras e planos, tudo que emerge da brincadeira, torna a zona de

desenvolvimento privilegiada na idade pré-escolar.

Para ele brinquedo é diferente de dar prazer, existem outras coisas que dão

prazer. Brinquedo preenche as necessidades da criança, ela satisfaz suas

vontades nele, quando começa a experimentar tendências irrealizáveis. A criança

pequena envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não

realizados podem acontecer, e esse mundo é o brinquedo. O brincar da criança é

imaginação e o brinquedo a ação.

O brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma

condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.

CAPÍTULO 2

O LÚDICO NA CONCEPÇÃO DE VÁRIOS AUTORES

Brincar é uma experiência fundamental para qualquer idade, especialmente

para as crianças com idades entre zero e 6 anos, que brincam para vive,

interagem com o real, descobrem o mundo que as cerca, se organizam, se

socializam... Desta forma, o brincar e o brinquedo já não são mais, na escola,

aquelas atividades utilizadas pelo recreador para divertir e passar o tempo.

Quanto mais rica for a experiência vivida pela criança, maior será o material

disponível e acessível a sua imaginação. Daí a necessidade do professor de

ampliar, cada vez mais as vivências da criança no ambiente físico, com

brinquedos, brincadeiras e com outras crianças.

A ludicidade deve permear o espaço a fim de transformá-lo num espaço de

descobertas, de imaginação, de criatividade, enfim, num lugar onde as crianças

sintam prazer pelo ato de conhecer.

2.1 – VYGOTSKY

Vygotsky entende a brincadeira como uma atividade social da criança e

através desta a criança adquire elementos indispensáveis para a construção de

sua personalidade e para entender a realidade da qual faz parte. Ele apresenta a

concepção da brincadeira como sendo um processo e uma atividade social infantil

Segundo Vygotsky (1988), o início do processo imaginativo da criança

começa por volta dos três anos de idade. Ele acredita que a imaginação não está

presente na criança desde o nascimento Para ele a imaginação surge da ação. A

ação na fantasia da criança conduz seu comportamento à medida que percebe os

objetos e/ou situações e o significado destes.

É interessante a contradição que surge entre a situação criada pela

imaginação da criança, no momento em que brinca, e as situações com objetos

reais, presentes no seu dia-a-dia. A criança atribui outros significados aos objetos

com os quais brinca, com o propósito de favorecer suas necessidades e desejos

de forma imediata. Assim vai revivendo suas experiências, construindo e

relembrando conhecimentos acerca do mundo e do outro com quem ela se

relaciona.

Para Vygotsky,

“No brinquedo, o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das idéias e não das coisas: um pedaço de madeira torna-se um boneco e um cabo de vassoura torna-se um cavalo. A ação regida por regras começa a ser determinada pelas idéias e não pelos objetos. Isso representa uma tamanha inversão da relação da criança com a situação concreta, real e imediata, que é difícil subestimar seu pleno significado”. (1988, p. 111).

Vemos a importância que ele atribui ao ato de brincar, pois para ele a

criança se inicia no mundo adulto por meio da brincadeira. Por meio desta

também, a criança aprende a conviver com as atividades culturais; usando a

brincadeira ela estará estimulando o seu desenvolvimento.

A criança satisfaz algumas de suas necessidades através do brinquedo, as

ações que realiza estão diretamente relacionadas com as suas necessidades, com

suas motivações e também de acordo com o seu desenvolvimento.

Vygotsky ressalta ainda que:

“O brincar e o brinquedo criam na criança uma nova forma de desejos. Ensinam-na a desejar, relacionar seus desejos a um fictício, ao seu papel no jogo e suas regras. Desta maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo; aquisições que no futuro, tornar-se-ão seu nível básico de ação e moralidade”.(1988, p.114).

Pelo uso do brinquedo, a criança aprende a agir de forma cognitiva; os

objetos têm um aspecto motivador para as ações da criança. É importante notar

também que, no brinquedo, a criança transforma as regras em desejos seus.

O autor considerava, que brincando a criança é capaz de satisfazer as suas

necessidades e estruturar-se à medida que ocorrem transformações em sua

consciência. Através da imaginação, a criança se liberta de sentimentos que a

oprimem, de limites, e exigências impostas pelo mundo que a rodeia. Não só a

criança lida diretamente com objetos ou situações que a afetam no cotidiano,

como também tais objetos e situações adquirem significados e sentidos próprios,

constituindo-se assim o jogo simbólico, fundamental para a formação do EU

psicológico e social do sujeito.

Para Vygotsky,

“No brinquedo, o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das idéias e não das coisas: um pedaço de madeira torna-se um boneco e um cabo de vassoura torna-se um cavalo. A ação regida por regras começa a ser determinada pelas idéias e não pelos objetos. Isso representa uma tamanha inversão da relação da criança com a situação concreta, real e imediata, que é difícil subestimar seu pleno significado”. (1988, p. 111).

2. 2 – PIAGET

Ao longo do período infantil, Piaget observa três sucessivos sistemas de

jogo: de exercício ou de corpo, simbólico e de regras. São as brincadeiras do bebê

com o seu corpo, quando rola, engatinha, tira e põe, puxa e empurra... Que dão

condições à passagem da vida ainda muito próxima dos instintos ao ingresso no

universo humano propriamente dito, o simbólico. O brincar do bebê tem uma

importância fundamental na construção de sua inteligência e de seu equilíbrio

emocional, contribuindo para sua afirmação pessoal e integração social. Piaget diz

que os bebês adquirem conhecimentos sobre os objetos através de suas

interações com eles. Durante esse período a inteligência se manifesta em ações.

De acordo com Piaget, o desenvolvimento da inteligência está voltado para

o equilíbrio; a inteligência é adaptação. O homem estaria sempre buscando

melhor adaptação ao ambiente. Através da brincadeira, a criança se apropria de

conhecimentos que possibilitarão sua ação sobre o meio em que se encontra.

O seu corpo é o primeiro brinquedo utilizado pela criança; desde os primeiros

meses de vida ela explora o seu corpo e a partir dele começa a conhecer os

estímulos externos, provocando assim, a adaptação do seu corpo no meio. Assim,

podemos entender a importância do brincar para o desenvolvimento da criança.

Quanto mais nova for a criança, mais individual e egocêntrica será sua

brincadeira. A esta centração da criança nela mesma, Piaget chama de

egocêntrica. Não significando com isso uma hipertrofia da consciência do eu, mas

simplesmente uma incapacidade momentânea da criança de descentrar-se, Isto é,

colocar-se em outro ponto de vista que não o próprio.

A medida em que a criança interage com os objetos e com os outros, vai

construindo relações e conhecimentos a respeito do mundo em que vive, porém,

nesta fase, este conhecimento ainda não é suficiente para que a criança

estabeleça relações com o grupo.

Essa autocentração é característica nas crianças quando ingressam nas

classes de Educação Infantil. Aos poucos a escola e família, em conjunto, devem

favorecer uma ação de liberdade para esta criança, desta forma, o processo de

socialização se dará gradativamente, através das relações que ela irá estabelecer

com seus colegas de sala. Para que isto ocorra, a criança não deve sentir-se

bloqueada, nem tão pouco oprimida em seus sentimentos e desejos. Suas

diferenças e experiências individuais devem, principalmente na escola, ter um

espaço relevante sendo respeitadas nas relações com o adulto e com as crianças.

Piaget (1978) também atribui grande importância ao jogo simbólico,

chamamos de jogo simbólico a imitação que dá origem à imagem mental de cenas

já interiorizadas. Segundo este autor, a partir de mais ou menos um ano e meio a

dois anos, a criança começa a realizar representações “in absentra”, isto é, a

criança reelabora através da rememorização de fatos ocorridos, situações que

vivenciou.

Se algo, por exemplo, “marcou” a criança, ela reelaborará esta situação

jogando simbolicamente, expressando assim suas emoções e sentimentos. A

fantasia é fundamental na vida das crianças, especialmente quando estão no

período da Educação Infantil, porque sua relação com a realidade ainda está

sendo construída.

Nesta fase, a brincadeira de faz-de-conta, é extremamente importante, pois

possibilita o entendimento do mundo que o cerca. Ela brinca de casinha,

aviãozinho, mesmo sem estar manipulando os objetos relativos a cada uma. Ela

representa, pois já possui uma imagem mental interiorizada daquilo que está

sendo representado.

Através dos jogos simbólicos, a criança irá adquirir a linguagem

convencional. Por meio das brincadeiras e dos jogos simbólicos, a linguagem vai

se estruturando. A criança começará a trabalhar com suas imagens mentais e

estas, segundo Piaget, são os primeiros elementos de articulação entre ação e

pensamento.

Nesse período, a brincadeira assume uma grande importância para

aquisição do código de linguagem e para a organização do pensamento. É

indispensável oferecer vários estímulos para que a criança possa relacionar os

objetos que a cercam com seus nomes propriamente ditos e criar suas imagens

mentais.

Segundo Piaget, quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira,

sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende

da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui.

Para Piaget, através do jogo de faz-de-conta, a criança tem acesso ao

símbolo, ou seja, a representações mentais de suas ações. Através da

inteligência, na visão de Piaget, a criança encontra recursos para adaptar-se ao

mundo fisicamente e psicologicamente. Para isto, a criança necessita superar

conflitos, problemas, buscando meios para resolvê-los. Brincando toda essa

atitude tende a realizar-se com prazer.

Piaget (1978) seguindo orientação cognitiva, o epistemólogo analisa o jogo

integrado a vida mental e caracterizado por uma particular orientação do

comportamento que denomina assimilação.

Ainda para Piaget, cada ato de inteligência é definido pelo equilíbrio entre

duas tendências: assimilação e acomodação. Na assimilação, o sujeito incorpora

eventos ou situações dentro de formas de pensamento, que constituem as

estruturas mentais organizadas. Na acomodação, as estruturas mentais existentes

reorganizam-se para incorporar novos aspectos do ambiente externo. O brincar

neste contexto, é identificado pela primazia da assimilação sobre a acomodação.

Ou seja, o sujeito assimila eventos e objetos ao seu eu e suas estruturas mentais.

2.3 - WINNICOTT

A capacidade de brincar possibilita as crianças, um espaço para resolução

de problemas que a rodeiam. Winnicott (1975) considera que o ato de brincar é

mais do que simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um fazer

que requer tempo e espaço próprios; um fazer que se constitui de experiências

culturais, que é universal e próprio da saúde, porque facilita o crescimento, conduz

a relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo

mesmo e com os outros.

Em seus jogos as crianças reproduzem muitas situações vividas em seu

cotidiano, que através da imaginação e do “faz-de-conta”, são reelaboradas

criativamente, esta representação do cotidiano se dá através da combinação entre

experiências passadas e novas possibilidades de interpretação e representação

do real, de acordo com as afeições, necessidades, desejos e paixões, estas ações

são fundamentais para a atividade criadora do homem.

Por último, veremos o jogo de regras. Sua função maior é a de preservar a

coesão do grupo, criando condições de estabelecimento de laços positivos,

afetivos e duradouros entre seus membros. Ao brincar, a criança aprende também

que não basta ter uma idéia nova e divertida, mas que é preciso, para por ela em

prática, convencer o grupo de que vale a pena, argumentando. O grupo propõe,

desafia, negocia, estimula... Acolhe e rejeita, num contínuo movimento de

progressivos ajustamentos recíprocos. A força do grupo ao brincar, através de

contatos que arrastam a criança para a socialização, ajudam-na a se liberar da

dependência exagerada da mãe e a construir sua autonomia.

Brincando em grupo as crianças envolvem-se em uma situação imaginária

onde cada um poderá exercer papéis diversos dos de sua realidade, além do que,

estarão necessariamente submetidas a regras de comportamento e atitude.

2.4 - BROUGÉRE

Já na concepção cultural de Brougère (2000), o brinquedo produz uma

certa imagem de criança marcada pela maneira como a própria sociedade a

percebe. A riqueza de significados das imagens e representações produzidas por

este brinquedo, torna-se evidente no momento em que a criança entra em contato

com ele. Nesta perspectiva, a brincadeira aparece como o lugar em que a criança

traduz e recria as imagens e representações que lhe são propostas.

O brinquedo é um objeto de uma sociedade marcada por traços culturais e

está inserido em um sistema social, onde suporta funções sociais que lhe

conferem a razão de ser. Uma delas é a de ser “presente” destinado à criança,

independentemente do que faça com ele.

Nele aparece o domínio do valor simbólico sobre a função. Ele remete os

elementos legíveis do real ou do imaginário das crianças. Enquanto isso a

brincadeira pode ser considerada, como uma forma de interpretação de

significados contidos no brinquedo.

A brincadeira é um processo de relações interindividuais, portanto cultura.

Com um brinquedo na mão, a criança tem um objeto a decodificar e sendo assim

a brincadeira pode ganhar novos sentidos.

A diversidade das dimensões sustentadas pelo brinquedo torna-o um objeto

rico em potencialidades, enquanto fator de socialização.

O brinquedo é um produto de uma sociedade dotada de traços culturais

específicos, ele revela uma cultura. “É precisa aceitar o fato de que ele está

inserido em um sistema social e suporta funções sociais que lhe conferem razão

de ser”.(Brougère, 2000, pg.7)

A brincadeira pode ser considerada como uma forma de interpretação de

significados contidos no brinquedo. A criança os interpreta e confere significados

diferentes durante a brincadeira.

Há diferenças entre o jogo e o brinquedo. O brinquedo é um objeto no qual

a criança manipula, sem estar condicionado a regras como o jogo. Para o adulto

falar do brinquedo é motivo para ligar a infância, o jogo ao contrário, pode ser

determinado a adultos e crianças.

O que caracteriza a brincadeira, é que ela pode fabricar seus objetos, ela é

livre, e não pode ser delimitada. Com seu valor expressivo, o brinquedo estimula a

brincadeira ao abrir possibilidades de ações coerentes com a representação, por

exemplo, pelo fato de representar um bebê, a boneca desperta atos de carinho e é

ligada a maternidade. Porém, não existe no brinquedo uma função de

maternagem, há uma representação dada ao objeto, num meio social de

referência.

Alguns brinquedos têm uma dimensão funcional e trazem uma imagem que

vale por si mesma. É o caso dos jogos de construção, em nível funcional trata-se

de blocos de encaixe, concebidos e inspirados em testes de avaliação de

inteligência. É um brinquedo cuja abertura lúdica, em torno da representação,

permite a criança escapar da função proposta (construção e encaixe), pois pode

fazer um carrinho e brincar com ele.

Se o brinquedo traz para a criança um suporte de ação, de manipulação, de

conduta lúdica, traz-lhe, também, formas e imagens, símbolos para serem

manipulados. É necessário, considerar o brinquedo a partir de duas funções, a

funcional e a simbólica. Função e símbolo são quase sempre ligados e

indissociáveis no brinquedo. A representação desperta um comportamento e a

função se traduz numa representação, como, por exemplo, rodar e ter aspecto de

um veículo.

Na sua brincadeira, a criança não se contenta em desenvolver

comportamentos, mas manipula as imagens, as significações simbólicas que

constituem uma parte da impregnação cultural à qual está submetida. Como

conseqüência, ela tem acesso a um repertório cultural próprio de uma parcela da

civilização. A criança o manipula na brincadeira e, ao fazê-lo, transforma-o e lhe

dá novas significações.

Os brinquedos podem ser definidos de duas maneiras: em relação à

brincadeira e em relação a uma representação social. No primeiro caso, é usado

como suporte na brincadeira, neste tudo pode se tornar um brinquedo e o sentido

são dados por aquele que brinca. No segundo, o brinquedo é um objeto industrial

ou artesanal, e reconhecido pelo consumidor em função do lugar que lhe é

destinado no sistema social de distribuição de objetos.

Para as crianças mais velhas, o brinquedo propõe uma imagem da

sociedade, ou papéis sociais, às vezes parcialmente realistas, mas que se apóiam

numa imagem que exalta o futuro. Os conteúdos imaginários estão cada vez mais

freqüentes no mundo do brinquedo.

A diversidade das dimensões sustentadas pelo brinquedo torna-o um objeto

rico em potencialidades, enquanto fator de socialização. Com o jogo, um sistema

que exige regras, o brinquedo estimula condutas, estrutura comportamentos e

aparece, portanto, como exercendo uma função de socialização que permite a

incorporação de comportamentos socialmente significativos na própria ação da

criança.

O brinquedo é o apoio necessário para uma progressão na construção de

uma relação com o meio social e cultural. Por meio de várias brincadeiras, a

criança manipula e se apropria de códigos sociais de transposição imaginária,

manipula valores (bem e mal), brinca com o medo, com conteúdos sociais e

socializadores, através da comunicação que estes desenvolvem entre as crianças.

2.5 – KISHIMOTO

Na perspectiva de Kishimoto (1993), prevalece à idéia de que o jogo é

fundamental para a educação e o desenvolvimento infantil, quer se trate de um

jogo tradicional, marcado pela transmissão oral ou os jogos educativos, que

introduz conteúdos escolares e habilidades a serem adquiridas por meio da ação

lúdica. O jogo e a criança caminham juntos desde o momento em que se fixa a

imagem de criança como um ser que brinca. Comportamentos lúdicos apresentam

significados diferentes em cada cultura, a boneca é um brinquedo para quem

brinca de “filhinha”, em uma determinada sociedade e símbolo de divindade,

objeto de adoração em certas tribos indígenas.

Entre a variedade de jogos existentes, a autora destaca os tradicionais,

marginalizados pela sociedade em decorrência do acelerado processo de

industrialização e urbanização. A atualização e recuperação desses tipos de jogos

são consideradas, hoje, alternativas adequadas para fortalecer os processos

interativos e enriquecer a cultura infantil. Os jogos de construção, por exemplo,

são considerados de grande importância por enriquecer a experiência sensorial,

estimular a criatividade e desenvolver habilidades da criança.

Do ponto de vista histórico, a análise do jogo é feita a partir da imagem da

criança de uma determinada época. O lugar que a criança ocupa num contexto

social específico, a educação que ela tem e o conjunto de relações sociais que ela

mantém com os outros, são nesse cotidiano que se forma a imagem da criança e

de seu brincar.

A compreensão dos jogos dos tempos passados exige, muitas vezes, o

auxílio de uma visão antropológica. Ela é importante quando se deseja discriminar

o jogo em diferentes culturas. Comportamentos considerados como lúdicos,

apresentam diferentes significados em distintas culturas. Se para uma criança

européia, boneca é um brinquedo, para uma menina indígena é um símbolo

religioso.

O brinquedo produz uma certa imagem de criança marcada pela maneira

como a própria sociedade a percebe; a riqueza de significados das imagens e

representações produzidas por este brinquedo torna-se evidente no momento em

que a criança entra em contato com ele. A brincadeira aparece como o lugar em

que a criança traduz e recria, as imagens e representações que lhe são propostas.

“Admite-se que o brinquedo represente certas realidades. Uma representação. Uma representação é algo presente no lugar de algo. Representar é corresponder a alguma coisa e permitir sua evocação, mesmo em sua ausência. O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los.” [Kishimoto, org. (1993, p.18)]

CAPÍTULO 3

A BRINCADEIRA E O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM

Brinquedos e brincadeiras é uma das maneiras principais para a criança de

descoberta de si mesmo, dos outros e do mundo que o cerca. Através da

brincadeira, a criança aprende, exercita suas novas habilidades, percebe

fascinada coisas novas, digere medos e angústias, repete incessantemente o que

gosta, explora e pesquisa o que há de novo ao seu redor.

Qualquer coisa pode ser realizada de maneira lúdica, seja qual for a

“categoria” ou o nível de atividades envolvidas, é possível que adultos e crianças

mudem dentro de uma mesma situação, de lúdico para “sério” e vice-versa.

Brincar, jogar e se divertir são atividades que têm por objetivos cultivar os

hábitos físicos e psicológicos que serão necessários na vida adulta, e o seu

acompanhamento por pais e professores é de grande importância para o

desenvolvimento infantil.

Segundo Piaget (1978), aprendizagem se dá com a integração com o

outro e com objetos. Nessa visão a brincadeira em grupo favorece esse

aprendizado. Para o autor, a forma mais espontânea de pensamento é o

brinquedo ou imaginação mágico, que faz com que o desejável pareça possível de

ser obtido. Até os sete ou oito anos, o brinquedo predomina de forma tão absoluta

no pensamento infantil, que se torna muito difícil separar a invenção deliberada,

da fantasia que a criança acredita ser verdadeira.

Na visão de Antunes (1998), os bebês aprendem rapidamente e já na

primeira semana identificam a mãe pela voz e pelo seu cheiro. Desde o

nascimento, procuram a interação social e a formação de vínculos afetivos. A

aprendizagem conceitua-se como uma mudança relativamente permanente no

comportamento, portanto, ao observar uma criança se percebe o que seriam

condições prévias, que se revelam por reflexos, e quais se constituem produtos de

aprendizagens. A aprendizagem, portanto, é uma forma de adaptação ao

ambiente, é o poder de tomada de consciência das necessidades postas pelo

social, para que construa os conhecimentos, a partir do repertório que possui.

Os primeiros brinquedos e jogos servem para o treinamento da

coordenação motora e sua integração à sensibilidade e aos movimentos,

permitindo à criança a adquirir a capacidade de manipular com precisão os

objetos.

A seguir vem os objetos que, além de continuarem estimulando a

coordenação motora, deverão promover o desenvolvimento das aptidões

intelectuais da criança. São os brinquedos prontos que sugerem atividades

econômico-sociais (aviões, casas, cavalos, etc.) e os brinquedos para montagem

que estimulam a capacidade de raciocinar, de combinar idéias para descobrir os

meios de resolver os problemas apresentados.

De acordo com Moyles (2002) existem dois tipos diferentes de brincar, o

dirigido e o livre. A aprendizagem pode ser ampliada pelo brincar dirigido com o

conteúdo específico e um objetivo proposto. Não se devem confundir situações

nas quais se objetiva determinadas aprendizagens relativas a conceitos,

procedimentos ou atitudes explícitas, com aquelas nas quais os conhecimentos

são experimentados de uma maneira espontânea e destituídos de objetivos

imediatos pelas crianças. Pode-se, entretanto, utilizar jogos, especialmente

aqueles que possuem regras, como atividades didáticas. É preciso, porém, que o

professor tenha consciência que as crianças não estão brincando livremente

nessas situações, pois há objetivos didáticos em questão.

A oportunidade para avaliar as respostas, compreensões e incompreensões

da criança se apresenta nos momentos mais relaxados do brincar livre. O brincar

dirigido refere-se basicamente ao processo e o livre inclui um processo e uma

forma de atuação na qual os professores devem procurar a aprendizagem real. Tal

aprendizagem está na oportunidade oferecida à criança de aplicar algo da

atividade lúdica a alguma outra situação. Com as crianças pequenas, a incidência

de aprendizagens pode ser muito pequena, mas são elas que fazem a criança

avançar um estágio ou mais na aprendizagem.

Por meio do brincar livre e exploratório, as crianças aprendem alguma coisa

sobre situações, pessoas, atitudes, texturas, estruturas, atributos visuais e

auditivos... Por meio do brincar dirigido, elas têm uma outra dimensão e uma nova

variedade de possibilidades, estendendo-se a um relativo domínio dentro daquela

área ou atividade. Por meio do brincar livre, subseqüente e ampliado, as crianças

provavelmente serão capazes de aumentar, enriquecer e manifestar sua atividade.

Claxton (1984) diz que não existe o mesmo modelo de aprendizagem, em

relação a todos os indivíduos. A aprendizagem só pode ser avaliada em termos do

que se manifesta externamente. A aprendizagem provoca uma mudança de

comportamento, que pode se manifestar por respostas físicas ou mudanças de

atitude. Todos nós aprendemos, o tempo todo. Segundo Hyland (1984), é o nosso

constante estado de “prontidão para brincar”, que determina isso. Cada indivíduo

brinca a sua maneira, aproveitando dessa experiência, toda aprendizagem para

qual estão “prontos” naquele momento. As crianças se baseiam na nova

aprendizagem em algo que já lhe é familiar, então a nova vem naturalmente. Pois

como Claxton (1984) sugere, a aprendizagem é essencialmente um crescimento,

não uma acumulação, e deve sempre se originar de e retornar aquilo que é

conhecido.

Nas atividades lúdicas as crianças repetem os acontecimentos que observa

no ambiente familiar, Os hábitos, as idéias, os costumes, os comentários e tudo

aquilo que acontece em sua casa são, de início, transpostos para suas

brincadeiras. Por isso ela deve ser estimulada a se familiarizar, também, com

outros exemplos, como o dos amiguinhos da escola, dos personagens de histórias

em quadrinhos e livros infantis, com o objetivo de ampliar seu mundo imaginário e

a inteligência, abrindo novas perspectivas para alargar sua compreensão do

mundo.

O brincar “aberto”, é aquele que poderíamos chamar de verdadeira situação

de brincar, apresenta uma esfera de possibilidades para a criança, satisfazendo

suas necessidades de aprendizagem e tornando mais clara sua aprendizagem

explícita.

O professor deve proporcionar situações de brincar livre e dirigido que

tentem atender às necessidades de aprendizagem da criança, neste caso ele é

mediador da aprendizagem, observador e avaliador.

Brincar com a criança é a melhor forma de se aprender com ela as

melhores maneiras para estimulá-la, para que desenvolva os hábitos que serão

necessários à futura vida social. A criança inibida e tímida precisa ser encorajada,

enquanto a criança excitada que vive gritando e correndo, ou que chora por

qualquer motivo, precisa ser estimulada para aprender a se conter.

“O brincar é a principal atividade da criança na vida, através do brincar ela

aprende as habilidades para sobreviver e descobre algum padrão no mundo

confuso em que nasceu”.(Lee, 1977, p. 340)

Uma das características mais importantes da aprendizagem por meio do

brincar, deve ser a oportunidade de aprender, sem ameaça, a partir das coisas

que dão errado. O brincar motiva a aprendizagem, pois cria um clima especial.

Este, fora da escola, motiva as crianças a explorar e a vivenciar a casa, o jardim, a

rua, a loja e assim por diante, tendendo a prosseguir pela vida toda.

O papel do professor é o de garantir que, no contexto escolar, a

aprendizagem seja contínua e inclua fatores além dos puramente intelectuais. O

emocional, social, físico, ético e o moral combinam com o intelectual, para

incorporar um conceito abrangente de aprendizagem.

A criatividade está extremamente ligada às artes, à linguagem e ao

desenvolvimento da representação e do simbolismo. O brincar simbólico também

tem relação com ordem e favorece o desenvolvimento das habilidades de

planejamento. Eventualmente leva ao início dos jogos de regras.

O brincar leva naturalmente à criatividade, porque em todos os níveis de

brincar, as crianças precisam usar habilidades e processos que proporcionam

oportunidade de ser criativo. As crianças que vivem livremente o faz-de-conta de

boa qualidade são consideradas “grandes fantasistas” e passam bastante tempo

imersas em pensamentos imaginativos, tendendo a ser mais criativas com

materiais e situações.

Toda exploração de meios e experiências criativas destacam os processos

pelos quais passam. As atividades dirigidas, por seu lado, focalizam a atenção

infantil na aprendizagem de diferentes procedimentos que, por sua vez, se

libertam para brincar e recriar com maior habilidade e entendimento.

A criatividade faz parte da infância e precisa ser estimulada com mais vigor

no contexto da escola, dando possibilidade da criança criar histórias, fazer teatros,

realizar diferentes tipos de técnicas de artes em trabalhos, dançar e cantar...

O brincar é um processo que proporciona um modo de aprendizagem e

resulta em comportamentos lúdicos. Estes, em si mesmos, não constituem um

currículo, mas sim um meio valioso para iniciar, promover e sustentar a

aprendizagem, dentro de uma estrutura curricular. Encorajar o brincar, como um

meio de aprendizagem, manter a motivação e o interesse por meio dele, são

estratégias equivalentes à instrução direta. Os professores estabelecem objetivos

como escrever, ler, fazer contas... Eles devem estar preparados para ver de igual

forma a brincadeira. Temos que ver o brincar como um meio de ensino-

aprendizagem e não separadamente. Tal prática deve ser impregnada nas

atividades de aprendizagem apresentadas às crianças, em vez de ser considerada

uma atividade para passar o tempo.

“... o papel do professor é o de iniciador e mediador da aprendizagem. E o de provedor da estrutura dentro do qual as crianças podem explorar, brincar, planejar e assumir as responsabilidades por sua aprendizagem... O professor se torna um organizador efetivo da situação de aprendizagem, na qual ele reconhece, afirma e apóia as oportunidades para a criança aprender à sua própria maneira, em seu próprio nível e a partir de suas experiências passadas (conhecimentos prévios).” (Moyles,2002, p.101)

A brincadeira é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento

da atividade e da autonomia. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver

algumas capacidades importantes, como atenção, memória, imitação, imaginação

e amadurecem algumas capacidades de socialização, por meio da

experimentação de regras.

Na brincadeira de faz-de-conta, nas quais crianças desempenham papéis

variados, o professor pode propiciar situações para que as mesmas imitem ações

que representem diferentes pessoas, animais... Reproduzindo vários ambientes.

Estes devem favorecer a interação com uma ou mais crianças compartilhando o

mesmo objeto.

Há alguns meios a que o professor pode recorrer para promover e

enriquecer as condições oferecidas para as crianças brincarem. Para que o faz-

de-conta se torne uma prática cotidiana entre as crianças, é preciso que se

organize a sala num espaço com caixa de fantasias e acessórios, espelho,

sucatas... Neste sentido, brincar deve se constituir em atividade permanente e

sua constância dependerá dos interesses que as crianças apresentem nas

diferentes faixas etárias.

As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e aqueles que

possuem regras, como os jogos de tabuleiro, jogos tradicionais, didáticos,

corporais..., Propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da

atividade lúdica.

Por meio das brincadeiras, os professores podem observar e constituir uma

visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma

em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como

de suas capacidades sociais, dos recursos afetivos e emocionais que dispõe.

Para se desenvolver, as crianças precisam aprender com os outros, por

meio dos vínculos que estabelece, assim se sentindo mais segura para se

expressar, podendo aprender nas trocas sociais com realidades diversas. As

aprendizagens acontecem com a interação com outras pessoas, sejam elas

adultos ou crianças por meio de recursos como imitação, o faz-de-conta,

linguagem...

É preciso que o professor tenha consciência que na brincadeira as crianças

recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do

conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva

não se deve confundir situações nas quais se objetiva determinadas

aprendizagens relativas a conceitos, procedimentos ou atitudes explícitas, com

aquelas nas quais os conhecimentos são experimentados de uma maneira

espontânea e destituídos de objetivos imediatos pelas crianças. Pode-se,

entretanto, utilizar os jogos, especialmente aqueles que possuem regras, como

atividades didáticas. É preciso, porém, que o professor tenha consciência de que

as crianças não estarão brincando livremente nestas situações, pois há objetivos

didáticos em questão.

“Nenhuma criança é uma esponja passiva que absorve o que lhe é apresentado. Ao contrário, modelam ativamente seu próprio ambiente e se tornam agentes de seu processo de crescimento e das forças ambientais que elas mesmas ajudam a formar. Em síntese, o ambiente e a educação fluem do mundo externo para a criança e da própria criança para o seu mundo.”

(ANTUNES, 1998,p.17)

CAPÍTULO 4

COMO INCLUIR A BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

De acordo com Cunha (1995), os brinquedos são convites ao brincar, desde

que provoquem vontade de interagir. Um ursinho nos convida a abraçá-lo, uma

bola nos convida a jogá-la e um quebra-cabeça nos convida a montá-lo. Mas só

perceberemos o convite se tivermos competência para isso, caso contrário nem

entenderemos a mensagem, portanto nem poderemos decidir se vamos aceitar o

convite ou não.

Para que os brinquedos realmente representem desafios para a criança,

devem estar adequados ao interesse, às necessidades e às capacidades da etapa

de desenvolvimento, na qual ela se encontra. A orientação para a escolha de

brinquedos não pode se basear simplesmente no critério de indicação pôr faixa

etária. Isto seria um grande erro, especialmente em países como o Brasil, com

tantas etnias misturadas e com tantas diferenças sócio-culturais. Cada criança tem

seu ritmo próprio de desenvolvimento, características e interesses.

É no período sensório motor (0 a 2 anos) segundo Jean Piaget, que existe

maior número de aquisições pôr parte da criança e se observarmos as pistas que

ela nos dá, poderemos ter uma interação muito gratificante com ela . Inicialmente

o bebê só apresenta comportamento reflexos. No segundo mês de vida, já

começam a apresentar as chamadas “reações circulares”, onde a criança provoca

involuntariamente um fato e, estimulada pelo que aconteceu, tenta repeti-lo,

começando então suas primeiras ações coordenadas. Esta é uma fase propícia

para estimulação visual e sonora, na qual são importantes: móbiles coloridos, que

se movimentam, móbiles sonoros e improvisados (um pano vermelho, um objeto

ou um brinquedinho pendurado em um lugar visível).

Ver objetos de cores vivas e suaves desperta a atenção dos bebês a partir

de dois meses: por isso, os diferentes tipos de móbiles e brinquedos pendurados

acima do berço são tão atraentes. Há brinquedos móveis que passam a ter outra

utilidades pouco depois, a partir de 4 ou 5 meses, para o bebê mexer, quando já

tiver atingido o início da coordenação entre olhos e mãos.

Uma das primeiras grandes brincadeiras é a descoberta do próprio corpo:

em geral, inicia-se em torno de 3 meses, com a descoberta das mãos: o bebê

mexe com as mãozinhas, olhando-as e rindo, coloca-as na boca também como

um meio de conhecê-las melhor. Pouco depois descobre os pés e começa a

brincar com pés e mãos; para o bebê é muito divertido quando as pessoas

brincam com seus pezinhos e mãozinhas; a etapa seguinte é descobrir e brincar

com as mãos dos outros e também com o rosto. Ficam interessadíssimos em

pegar o nariz, enfiar os dedos nos olhos e puxar os cabelos das pessoas que o

pegam no colo. Isso não é uma expressão de raiva, mas sim a exploração e a

descoberta de um novo território.

O importante é enriquecer seu campo visual e auditivo, variando as

oportunidades para que ele fixe o olhar e perceba estímulos diferentes. Mudar a

posição do berço também é uma boa idéia.

Por volta dos quatro meses inicia-se a ação intencional, desenvolve-se a

coordenação óptico-manual e a apreensão palmar; a criança já estende os

braços e tenta pegar os objetos. Nesse período o bebê começa a ter maior

capacidade de movimentar o corpo, isto também passa a ser uma brincadeira.

Com isso ele aumenta as suas possibilidades de exploração ativa do que o

cerca.

Outro tipo de brincadeira que costuma surgir em torno dos 4 meses é o

esconde-esconde. Essa brincadeira que é de grande importância para o

desenvolvimento emocional, se desdobra em vários níveis e permanece atraente

durante a maior parte da infância. É preciso não esquecer que, nesta fase, a

criança adquire informações através dos sentidos e leve tudo à boca.

Uma aquisição importantíssima que acontece por volta dos seis meses é a

“noção de permanência do objeto”, ou seja, a criança começa a perceber que os

objetos existem, apesar de não estarem sendo vistos, e passa então a procurá-

los. São importantes então os móbiles colocados ao alcance da mão da criança,

chocalhos pequenos, brinquedos para morder, bola-bebê, de diferentes

texturas...

Dos oito aos doze meses, acontece um grande desenvolvimento motor.

Amplia-se o campo de ação da criança, pois ela já senta e se locomove mais

facilmente. Em termos de descobertas do próprio corpo, é comum,nessa época

os bebês brincarem com o próprio umbigo e órgãos genitais.

Outro nível de descoberta é a brincadeira do espelho. Pouco a pouco,

conseguem reconhecer a si mesmos e aos outros no espelho e a brincar com as

imagens. Os bebês adoram manipular objetos, pôr, tirar, empilhar, atirar. Imitam

gestos e sons e são capazes de antecipar o resultado de algumas ações. Os

materiais mais importantes são os brinquedos de puxar e empurrar, livros de

pano, argolas de plástico para encaixar, bichos de pelúcia, caixa com vários

objetos para pôr e tirar, bonecas de pano...

Por meio dos brinquedos o bebê aprende como manipular objetos. Ele

aprende a noção de espaço e forma de inter-relacionamento.

No final do primeiro ano, com a evolução da coordenação motora e a

ampliação dos interesses, a criança começa a voltar-se para brinquedos de

encaixe, o que lhe permite tirar e colocar peças fáceis, encher e esvaziar. Nessa

época as crianças começam a brincar com seus excrementos que, para ela, não

provocam nojo, pois a criança sente prazer em evacuar e urinar. Este interesse

pelos excrementos é logo deslocado para brincadeiras com materiais

simbolicamente equivalentes e socialmente aceitáveis como terra, areia,

massinha e argila. As brincadeiras com água merecem uma atenção especial por

sua importância simbólica na evolução da criança, enquanto vai enchendo e

desvaziando baldes, ela desfruta das sensações da água e do aprendizado de

suas propriedades.

Amassar e rasgar papéis também é uma forma simples de permitir à

criança desabafar seus sentimentos de destruição.

Dos doze aos dezoito meses, a criança começa a observar o efeito de sua

conduta no ambiente e sua volta. Aprendendo a andar, explorar o espaço e a

exercitar-se, correndo de um lado para o outro. Aprende a usar as duas mãos.

Pede as coisas apontando com o dedo. Nesta fase são interessantes: os

“brinquedos pedagógicos”, aqueles que oferecem oportunidade de manipulação,

brinquedos nos quais apertem botões que fazem saltar peças ou abrir portas.

Uma grande bola colorida para empurrar, ou brinquedos sobre rodas lhe

dão a sensação reconfortante de que ele é capaz de controlar movimentos. À

medida que se aprende a andar, um brinquedo simples, mas resistente, que

possa a arrastar para onde vai, o ajudará muito a andar e lhe dará enorme

sensação de poder.

Dos dezoito aos vinte e quatro meses, a criança começa a internalizar as

ações realizadas e passa a lembrar-se de pessoas e coisas. Sua memória já

está ativa, desenvolve a capacidade de imitar e inicia, assim, o processo de

representação mental, que irá subsidiar o surgimento da brincadeira simbólica, o

jogo do “faz-de-conta”, que se estabelecerá na próxima fase. A criança começa a

fazer tudo sozinha. Precisa de brinquedos que satisfaçam sua necessidade de

movimentação, como os brinquedos de empurrar, carrinhos ou outros brinquedos

de puxar, blocos de construção, degraus e pequenos escorregadores túneis para

passar por dentro, carro ou bicicleta sem pedal, que a criança movimente com os

pés no chão.

Brincadeiras como o encaixe de peças em orifício ou, de decifrar

joguinhos simples de armar, não são apenas bom exercício de destreza manual

e acuidade visual, como também podem ajudar a criança a obter senso de

disciplina e uma sensação de que é capaz de realizar uma tarefa completa.

Aproximadamente aos dois anos, a criança já é capaz de planejar suas

ações e de usar um objeto representando outro: uma tampinha vira copo, uma

caixa de sapatos vira berço e etc...O período pré-operatório de 2 a 7 anos é

caracterizado, principalmente, pela interiorização de esquemas de ação

construídos no estágio anterior.

O pensamento da criança que está no período pré-operacional apresenta

características bem marcantes: relaciona tudo que acontece ao seu redor com

seus sentimentos e ações. É incapaz de perceber o ponto de vista dos outros.

Considera só um aspecto das situações e tira conclusões baseadas em

um único aspecto perceptivo. Não consegue reverter o raciocínio, liga fatos que

não tem relação entre si e pode atribuir, à sua vontade ou às suas ações, até

mesmo aos eventos da natureza. Considera que os objetos , plantas ou nuvens

também podem ter sentimentos.

No período de 2 a 4 anos, a criança não é capaz de elaborar conceitos

corretos, pois ainda não generaliza para formar classes. A linguagem verbal se

desenvolve bastante, ela quer saber o nome de tudo e define as coisas pela

função. Interessa-se por livros e gosta de reconhecer figuras.

Como já dissemos, partindo da imitação do cotidiano, brinca de “faz-de-

conta” e pode usufruir livros de pano com figuras, telefone, panelinhas e todo tipo

de utensílios de cozinha, mobílias e objetos domésticos, bonecas, máscaras,

chapéus, fantasias, capas, fantoches, massa para modelar e quebra-cabeças

simples.

Nas suas brincadeiras de “faz-de-conta” a criança de dois anos está,

quase todo o tempo, aprendendo a respeito da realidade, das características e

leis do mundo que habita. Nessa brincadeiras a criança aprende fatos

importantes a respeito do mundo em que vive.

Por meio de brincadeiras com blocos, cartões, colheres, fios de lã, ou

carretéis a criança aprende a qualidade desses vários objetos: suas formas,

tamanhos, semelhanças, diferenças, textura e cor. Também adquire habilidades

ao lidar com eles, ao construir torres de bloquinhos, barcos ou casas. Tudo que

lhe vier às mãos será usado para brincar, sejam panelinhas, caixas vazias ou

brinquedos sofisticados.

A criança de quatro anos está muito interessada em aprender o que é real

em seu mundo, e em separá-lo do mundo de faz-de-conta de sua imaginação.

Sua brincadeira reflete o mundo como oscila entre esses dois mundos, e ao

mesmo tempo ajuda a compreender melhor a diferença entre eles.

O educador pode fornece materiais para brincar que permitem à criança

de quatro anos explorar e aprender. Em sua maioria as crianças de quatro anos

brincam paralelamente às outras, e só de tempos em tempos com elas. Isso é o

que é chamado de “jogo paralelo”, que significa que não devemos esperar que

nossas crianças de quatro anos entendam exatamente o que é “particular” e

“revezar”. Entretanto, como precisam de outras crianças para tomar parte no

brinquedo, como, por exemplo, ser o “bebê” de modo a que possam ser a

“mamãe”, começam a intercambiar.

A brincadeira teatral é provavelmente a brincadeira mais importante para a

criança de quatro anos. Mudando de um papel para outro a criança expressa

suas necessidades, desejos e ansiedades. Através desse tipo de brincadeira é

que aprende a ser sociável. Outro modo de fazê-lo é brincar paralelamente a

outras crianças (utilizando, por exemplo, areia e água).

Construções com blocos de armar é outra forma de brinquedo

tremendamente popular entre as crianças de quatro anos; muitas vezes

pequenos grupos trabalharão juntos durante muito tempo se cada criança tem a

sua parte do esquema e pode trabalhar sozinha ou com outra criança.

Não podemos esquecer que as crianças nessa faixa etária, às vezes

necessita estar só, ter tempo para um brinquedo solitário e para sonhar

acordado.

Uma forma de diversão solidária muito apreciada pelas crianças de quatro

anos é pintar. Fazer experiências com a tinta provavelmente é tão importante

como a pintura que ele está realizando.

Entre as crianças de cinco anos podemos observar uma nova tendência

nas brincadeiras espontâneas. Os jogos são mais importantes, e o brincar com

outras crianças é muito mais comum, até que, aos seis anos, os jogos grupais

tenham se tornado o desenvolvimento mais importante da atividade lúdica.

A criança de cinco anos ainda gosta de atividades isoladas, como pintura,

modelagem, etc. As crianças também são muito diferentes; algumas ainda

preferirão mais as atividades solitárias a outras. Todas elas precisam ter a

possibilidade de se afastarem do grupo, caso o desejem.

Dos quatro aos sete anos, a criança começa a argumentar, embora suas

razões ainda não sejam lógicas, no sentido em que os adultos concebem a

lógica. Suas razões são baseadas em seus desejos ou temores. Quer saber de

tudo e faz muitas perguntas. Está mais hábil e gosta de montar e desmontar,

assim como, desenhar. Já é capaz de classificar e dar nomes às classes

considerando mais de um atributo, fazer ordenações por tamanho e estabelecer

seqüências. O desenvolvimento do conceito de quantidade ainda está ligado à

via perceptiva, mas logo estabelece a correspondência um a um. Adquire noção

de dinheiro, a partir de suas necessidades. Gosta que lhe contem histórias e é

capaz de inferir o final de uma história e de prever situações. Seus conceitos

espaciais ainda têm seu próprio corpo como referência. Os conceitos temporais

ainda não são bem compreendidos, mas já sabe que umas coisas acontecem

antes, outras depois.

O grupo de amigos passa a ser importante; estabelece e cobra regras, a

linguagem se amplia, assim como o interesse pela escrita e leitura. Na escola,

considera que o que existe de melhor é a companhia de outras crianças. Os

brinquedos sugeridos são os blocos de construção, material para pintura e

desenho, jogos de dominó, loto, jogos de circuito, carrinho de boneca, livros de

história, jogos de dama...

É muito importante que a sala seja dividida em “cantinhos”, pois favorece

a movimentação das crianças e sua participação em atividades, de seu

interesse. Essa divisão atende, ainda, à própria diversidade de ações das

crianças na sala, em busca de satisfação de suas necessidades de

desenvolvimento e conhecimento. Os professores devem estar atentos, a fim de

oferecer novos materiais, desafios ou situações capazes de enriquecer as

experiências e ampliar seus conhecimentos.

Alguns cuidados especiais devem ser necessários, para se ter uma

dinâmica flexível e que dê conta de atender interesses individuais e a turma

como um coletivo. Não é preciso que as crianças usem todos os materiais, todos

os dias. É preciso ter atenção para evitar que determinadas crianças se fixem em

certas áreas ou materiais e desistam daqueles que sentem dificuldades. As

atividades desenvolvidas nos diferentes “cantinhos”, se relacionam com um tema

gerador, mas devem também favorecer a expansão de outros conhecimentos

não vinculados ao tema.

Segundo Kramer (1999), a divisão dos “cantinhos” com diferentes tipos de

materiais é importante, mas devem ser feitas pelas professoras as devidas

adaptações e modificações, aproveitando ao máximo os recursos disponíveis. A

professora deve estimular o desenvolvimento de uma vida interior rica e a

capacidade de concentrar a atenção, desenvolver a inteligência, a criatividade e

a sociabilidade. A professora deve, ainda dar oportunidade para que a criança

aprenda a jogar e a participar, incentivar a valorização do brinquedo como

atividade geradora do desenvolvimento intelectual, bem como social e

emocional.

De acordo com Kramer (1999), a sala é dividida em três diferentes áreas:

a movimentada, onde as crianças podem atuar diretamente sobre os objetos,

expressando de diversas formas sua maneira de entender o mundo. Estão

incluídas nesta área as casinhas de boneca, as construção com blocos,

experiências com música e movimentos. A semimovimentada, onde as crianças

desenham, vivenciam atividades de artes plásticas, brincam com quebra-

cabeças, dominós entre outros jogos, além de confeccionarem objetos, livros,

álbuns... Por último a área tranqüila, onde as crianças podem manusear livros,

revistas e jornais, e desenvolver seus conhecimentos sobre fenômenos físicos,

naturais e sociais, através da observação de plantas, animais... Os brinquedos

devem estar sempre ao alcance das crianças e terem uma variedade, mas,

sobretudo, servir como suporte real às atividades infantis, facilitando a

organização das ações e movimentações realizadas, permitindo que,

progressivamente, as crianças se enriqueçam e se tornem autônomas,

responsáveis e cooperativas.

CONCLUSÃO

Com a leitura deste trabalho, pudemos verificar a grande importância da

brincadeira no desenvolvimento infantil, e de como ela deve ser vista pelos pais,

educadores e pela escola. Falar em brincar e escola remete-nos diretamente ao

problema de formação dos profissionais que atuam junto às crianças, o que

envolve o entendimento de que os mecanismos de formação devem ser

percebidos como prática social, coerente com a prática que se pretende implantar

na sala de aula, e com salários, planos de carreira e condições de trabalho dignas.

Implica também em que pensemos na formação inicial e continuada dos

profissionais da Educação Infantil, na medida em que seus profissionais

precisam dominar os conhecimentos científicos necessários ao processo de

desenvolvimento e das diferentes teorias que embasam as propostas de

Educação Infantil, além de ter oportunidade de refletir sobre sua prática, para

ampliar seu leque cultural e para ser capaz de questionar o que se tem feito e

escrito sobre a prática pedagógica, atuando como agente transformador.

Os profissionais que trabalham com as crianças, muitas vezes são

professores formados, outras são mulheres simples, de baixa instrução e baixos

salários, o que torna urgente a necessidade de uma proposta de formação em

serviço.

Neste ponto, o mais adequado é que, partindo da necessidade da criança

de assistência e educação, se pense num trabalho integrado dos profissionais que

estão diretamente ligados ao dia-a-dia da escola.

É necessário destacar que a brincadeira deve ser reconhecida como direito

da criança, pode ser representada por brinquedos, materiais e livros. Nesse

sentido, os adultos devem receber formação que os alerte sobre a importância da

brincadeira e da literatura infantil para o desenvolvimento da criança e quanto

respeito às brincadeiras propostas pelas crianças.

Toda criança tem direito a expressar seus sentimentos, como tem direito à

alegria e à felicidade, a expressar tristeza e frustrações, a um bem estar físico e

psicológico. A criança expressa seus sentimentos através de brincadeiras,

desenhos e dramatizações.

Além de ajudar a criança a adquirir conhecimentos e habilidades, o ato de

brincar a auxilia a lidar com seus sentimentos, algumas vezes conflitantes e

esmagadoras. Por meio da brincadeira, a criança pode aprender a lidar com seus

sentimentos intensos de amor e ódio, medo e tristeza, em situações algo

distanciadas do ponto de origem desses sentimentos.

Se pararmos para pensar quantas crianças gostariam de colocar para fora

inclusive as suas experiências e vivências negativas, mas não tem coragem, nem

condição para verbalizá–las e que através do brincar conseguem se expressar e

se fazer entender. As carências não podem muitas vezes serem percebidas, e é

inclusive muito difícil fazer com que uma criança se exponha, assim, o Brincar cria

oportunidades, pois possibilita um mergulho mais fundo buscando o seu eu.

O jogo é sério, servindo de equilíbrio para a criança, já que nele as crianças

podem representar, experimentar vários papéis, e fazer o que é mais importante,

expressar suas emoções e sentimentos através de gestos, no lugar onde tudo é

permitido em um momento só dele.

Este trabalho nos mostrou que o brincar é algo vital na vida da criança

desde o seu nascimento, pois é a partir daí que ela começa a construir sua

inteligência e seu equilíbrio emocional, que será de suma importância para sua

integração e afirmação social.

Vimos que na escola o brincar pode ser livre ou dirigido, mas o essencial é

que ele contribua para a criança na sua aprendizagem, criando condições de

ampliação de seu conhecimento.

A organização da sala em “cantinhos” faz com que o brincar funcione mais

efetivamente, visando intensificar a aprendizagem e o desenvolvimento da

criança.

O brincar faz parte inerente do processo de desenvolvimento infantil,

cognitivo e afetivo – emocional, não podendo ser visto como uma atividade

complementar, supérflua ou até mesmo dispensável.

Percebe–se a cada dia mais a importância do lúdico na Infância, e quanto

mais isto se tornar presente na vida das nossas crianças, menos revolta , menos

violência veremos nos olhos de uma criança no futuro. E o papel do educador

nada mais é do que cada vez mais permitir, criar grandes oportunidades e fazer

com que nossas crianças consigam ser felizes, acompanhando atentamente o

seu desenvolvimento. Pais e educadores que respeitam a necessidade da criança

de brincar estarão ajudando-as a criar condições de expressão e comunicação

dos próprios sentimentos e visão do mundo.

Toda a criança que tem liberdade para brincar e brinca bastante,

desenvolve múltiplas facetas em sua personalidade e, na vida adulta, saberá

estabelecer, de forma conveniente, sua relação com os outros e com o mundo.

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