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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUDO A VEZ DO MESTRE A PSICOMOTRICIDADE NO AUXILIO DO DESENVOLVIMENTO PSICONEUROLOGICO, SOCIAL E LINGUISTICO DO AUTISMO. POR: CAROLINA DA SILVA CARDOSO. ORIENTADORA: Professora Maria Esther de Araujo. RIO DE JANEIRO 2014.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUDO A VEZ DO MESTRE

A PSICOMOTRICIDADE NO AUXILIO DO DESENVOLVIMENTO PSICONEUROLOGICO, SOCIAL E LINGUISTICO DO AUTISMO.

POR: CAROLINA DA SILVA CARDOSO.

ORIENTADORA: Professora Maria Esther de Araujo.

RIO DE JANEIRO 2014.

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUDO A VEZ DO MESTRE

A PSICOMOTRICIDADE NO AUXILIO DO DESENVOLVIMENTO PSICONEUROLOGICO, SOCIAL E LINGUISTICO DO AUTISMO.

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção de grau de especialista em

Psicomotricidade. Por: Carolina Da Silva Cardoso.

RIO DE JANEIRO

2014

Agradecimentos:

Agradeço a conclusão deste trabalho, primeiramente Deus pela força e perseverança no momento de cansaço e pela fé, e ao meu marido Cid Pinheiro

Junior e minha filha Giovanna Cardoso Pinheiro, por apoiar meus estudos e compreensão.

Meu muito obrigada.

4

Resumo:

Este estudo é um apanhado bibliográfico sobre como a psicomotricidade pode auxiliar no desenvolvimento psiconeurologico, social e lingüístico do autismo realizado por meio de pesquisa bibliográfica exploratória em livros e artigos científicos. Para isso, buscou-se primeiramente conhecer o autismo, suas características e as dificuldades apresentadas. Em seguida, relacionar a psicomotricidade para ajuda os indivíduos portadores de o autismo apreender conceitos básicos para se torna mais independentes melhorando sua qualidade de vida, ensinando a lidar com a sociedade que o cerca, mostrando que os indivíduos com autismo merecem serem tratados com carinho, amor e respeito.

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Metodologia

Para a realização deste trabalho a metodologia escolhida foi escolhida pesquisa bibliográfica, através do método qualitativo, objetiva-se discutir de forma exploratória, uma linguagem clara e prazerosa, no universo autista e a psicomotricidade como aliada do conjunto multidisciplinar que cerca o mundo dos autistas. Esta pesquisa busca adentrar em um campo que, de acordo com Grandin (2011), Tammet, (2007), Sacks (2006), Schwartzman (2012) e diversos outros autores, têm despertado um interesse crescente no que diz respeito a pesquisas.

6

Sumário

Introdução ...................................................................................................pg 07

Capítulo I – A psicomotricidade no auxilio do desenvolvimento psiconerologico,

social e lingüístico do autismo......................................................................pg 09

Capítulo II – As características e as dificuldades encontradas no

desenvolvimento do Autista.........................................................................pg 23

Capitulo III - Como a psicomotricidade auxilia tratamento de pessoas com

autismo.........................................................................................................pg 27

Conclusão:....................................................................................................pg 30

Referencias Bibliográfica:..............................................................................pg34

07

Introdução:

O presente trabalho visa um apanhado de bibliográfico sobre como a

psicomotricidade pode auxiliar no desenvolvimento psiconeurologico, social e

lingüístico do autismo.

Apresentando dados literários para auxiliar no estudo da síndrome do

Autismo, visando que esta síndrome é uma doença grave, crônica,

incapacitante que compromete o desenvolvimento normal. Se caracterizado por

lesar e diminuir o ritmo do desenvolvimento psiconeurologico, social e

lingüístico, assim na tentativa de organização de conceitos e hipóteses,

propostos por pesquisadores de diversas áreas que estudam o autismo sob

ponto de vista diferente entre si. A intenção é apresentar uma noção do

conjunto de idéias disponíveis, relacionando-as entre si. Para traçar uma

reflexão como melhorar o atendimento clinico as portadores da síndrome do

autismo, assim, melhorando a qualidade de vida.

Que possamos compreender quais os elementos básicos do

desenvolvimento psicomotor de uma criança, de como eles estão

prejudicados na criança autista e como esses elementos são

fundamentais p a r a um a v i d a d e f u n c i o n a l i d a d e e d e

r e l a ç õ e s e com a psicomotricidade ajuda os indivíduos portadores de o

autismo apreender conceitos básicos para que funcione o melhor possível ,

dando melhor qualidade vida ensinando a lidar com a sociedade que o cerca,

mostrando que os indivíduos com autismo merecem ser tratados com carinho,

amor e respeito, sendo assim, a psicomotricidade enquanto ciência, junto com

a ajuda de outros profissionais, que permite, através de atividades corporais e

lúdicas, despertarem o interesse e reconhecimento da existência do mundo

que o cerca.

08

Para isso, o trabalho visou traçar um panorama do que, objetivamente,

significam o autismo, a psicomotricidade, através de histórico, relatos

importantes de diversos autores já publicados e descrevendo os principais

sinais da doença e o desenvolvimento e como a psicomotricidade pode auxiliar.

No primeiro capítulo serão abordadas questões relativas basicamente a

psicomotricidade no auxilio do desenvolvimento psiconerologico, social e

lingüístico do autismo , trazendo informações relevantes sobre as principais

definições desta Síndrome, as manifestações clínicas e os estudos

sobre a sua etiologia.Já no segundo capítulo enfoquei as características e

as dificuldades encontradas no desenvolvimento do Autista . E, finalmente, no

terceiro capítulo faz-se uma visão como a psicomotricidade pode ajudar no

tratamento do autismo no desenvolvimento psiconeurologico, social e

lingüístico do autismo, sob uma perspectiva da dinâmica do trabalho a

ser realizado com autistas, desde o entendimento do conceito de

corpo até a sua relação familiar. Na conclusão traço uma revisão bibliográfica

para buscar uma reflexão de como a psicomotricidade adequada nesse

distúrbio do autismo, pode levar a criança a grande desenvolvimento

psiconeurologico, social e lingüístico do autismo. Assim objetivamos propor

conhecimentos e reflexões que possamos funcionar como ponto de partida na

área da psicomotricidade.

09

Capitulo I – A psicomotricidade no auxilio do desenvolvimento psiconerologico,

social e lingüístico do autismo

“Oração do autista”

"Bem aventurados os que compreendem o meu estranho

passo a caminhar.

Bem aventurados os que compreendem que ainda que

meus olhos brilhem, minha mente é lenta.

Bem aventurados os que olham e não vêem a comida que

eu deixo cair fora do prato.

Bem aventurados os que, com um sorriso nos lábios, me

estimulam a tentar mais uma vez.

Bem aventurados os que nunca me lembram que hoje fiz

a mesma pergunta duas vezes.

Bem aventurados os que compreendem que me é difícil

converter em palavras os meus pensamentos.

Bem aventurados os que me escutam, pois eu também

tenho algo a dizer.

Bem aventurados os que sabem o que sente o meu

coração, embora não o possa expressar.

Bem aventurados os que me amam como sou, tão

somente como sou, e não como eles gostariam que eu

fosse. (BREEDING MALESA, HOOD DANA &

WHITWORTH JERRY, 2012)

10

Começou a ser falar de autismo Com Jean Itard, que em 1801 levou a

cabo uma descrição da criança selvagem, passando Eugen Bleuler, que em

1901 o relacionou com a esquizofrenia, até Leo Kanner, que realizou em 1943

o detalhamento minucioso dos itens característicos, e Hans Asperger, que se

centrou em outro tipo de autismo, às vezes chamado de autismo inteligente; os

traços característicos das crianças com autismo são em sua grande maioria os

mesmos. KANNER (1943).

Continuando com o autor acima, o autismo é um distúrbio do

desenvolvimento humano que vem sendo estudado pela ciência há quase seis

décadas, mas sobre o qual ainda permanecem divergências e grandes

questões ainda indecifráveis. Esta síndrome foi descrita pela primeira vez em

1943 pelo Dr. Leo Kanner (médico austríaco, residente em Baltimore, nos EUA)

em seu histórico artigo escrita originalmente em inglês: “Distúrbios Autísticos

do Contato Afetivo”. Em 1944, Hans Asperger, um médico também austríaco e

formado pela Universidade de Viena, escreve outro artigo com o título

“Psicopatologia Autística da Infância”, descrevendo crianças bastante

semelhantes às descritas por Kanner.

O autismo é uma síndrome que engloba múltiplas etiologias ainda não

comprovadas e em diferentes graus de severidade. Atinge cerca de 8 a cada

10 mil indivíduos e sua maior incidência ocorre no sexo masculino (CRAVEIRO

DE SÁ, 2003).

A mesma autora afirma ainda que na maior parte das vezes, a criança

autista tem uma aparência típica e ao mesmo tempo com um perfil irregular,

como problemas na interação social, na comunicação e no comportamento,

características fundamentais do autismo.

11

O autismo foi descrito quase que simultaneamente por Leo Kanner e

Hans Asperger na década de 1940. De 10 acordos com o autor, o primeiro

parecia vê-lo como um desastre consumado, enquanto o segundo achava que

podia haver certos aspectos positivos e compensatórios – uma “originalidade

particular de pensamento e experiência, que pode muito bem levar a

conquistas excepcionais na vida adulta” (SACKS, 2006:192)

KANNER (1943), que publicou o artigo intitulado Distúrbios Autísticos de

Contato Afetivo na revista Nervous Child. Nesse artigo relata onze casos

clínicos de crianças com idades inferiores a onze anos. Segundo o autor, essas

crianças apresentavam uma característica determinante: “a incapacidade de

estabelecer relações de maneira normal com as pessoas e situações, desde o

princípio de suas vidas”. Além disso, aponta as dificuldades com a linguagem,

a alimentação, o sono, o desenvolvimento psicomotor. Há uma limitação na

variedade da atividade espontânea, ou seja, há uma dificuldade no brincar

criativo.

No entanto, segundo Kanner apresentam potencialidade cognitiva. Para

o psiquiatra, não se tratava de um retraimento em si, mas de um distúrbio

patognômico, de uma incapacidade inata em estabelecer contato afetivo,

principal sintoma do que inicialmente chamou de Distúrbio Autístico de Contato

Afetivo.

Segundo o autor MIRANDA (2009, p. 24) O autismo é uma desordem do

desenvolvimento que dura a vida toda que pode ocorrer em qualquer nível de

Q.I, mas costuma vir associada dificuldades de aprendizado (deficiência

mental), e que trata, finalmente de uma desordem de comunicação,

socialização e imaginação.

12

Remetendo a Ferrari 2007, há quem evoque, sem argumentos decisivos,

uma “epidemia de autismo”, na qual estariam implicados diversos fatores

ambientais (poluição, vacinações, uso de antibióticos). Ainda para ele, a

atividade de pensar em vez de constituir uma fonte de prazer se torna fonte de

sofrimento. Esse sofrimento leva-o ao retraimento, negando a existência do

outro. Primeiramente culpavam-se as mães pela condição autística dos filhos,

essas eram denominadas de “mães geladeira”, pois se acreditava injustamente

que elas não forneciam o substrato afetivo necessário para o desenvolvimento

da personalidade dos filhos (MIRANDA, 2009).

Miranda (2009, p 41) ainda destaca: Delacato descarta,

convincentemente, a teoria inicialmente sugerida por Kanner e, mais tarde, por

Bruno Bettelheim, segundo os quais o autismo resulta do comportamento

indiferente ou frio dos pais, especialmente da mãe, na abordagem severamente

psicanalítica de Bettelheim. Daí a passada expressão “mãe-geladeira”, que

atormentou injustamente toda uma geração de mães.

Com a continuação dos estudos esse rótulo foi se desmistificando e o

autismo passou a ser compreendido como uma doença biológica com causa

provavelmente genética (MIRANDA, 2009).

13

O autismo é uma disfunção global do desenvolvimento. É uma alteração

que afeta a capacidade de comunicação do indivíduo, de socialização

(estabelecer relacionamentos) e de comportamento. Origem: Wikipédia, a

enciclopédia livre.

Na década de 1970 começaram a diferenciação entre autismo e psicose.

RUTTER (1979) relata que o autismo como síndrome comportamental é

decorrente de um quadro orgânico, assim começou a mudar a abordagem do

autismo, visto até então, como psicose infantil. A prevalência começou a ser

dada aos déficits cognitivos, em relação aos déficits sociais, considerados

como primários, ainda que se destacassem os comprometimentos da

linguagem e comportamento social.

O conceito de autismo foi se modificando com base em estudos, os

quais identificaram diferentes etiologias, graus de severidade e características

específicas ou não usuais, deixando então de ser considerado um quadro único

e para ser visto como uma síndrome. A tendência nas definições atuais de

autismo é a de conceituá-lo como uma síndrome comportamental, de etiologias

múltiplas, que compromete o processo do desenvolvimento infantil (Facion,

Marinho & Rabelo, 2002; Gillberg, 1990; Rutter, Taylor & Hersov, 1996).

WING, L., & GOULD, J. (1979), o conceito de espectro autístico no qual

entendemos que existem diferentes graus de severidade para as pessoas com

sintomas do tripé descrito , estando em um extremo do espectro os quadros

severos (autismo não verbal) e no outro extremo os quadros leves (como a

desordem de Asperger ou de transtorno Invasivo não especificado que

explicaremos a seguir). Entre esses dois extremos são encontrados os graus

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intermediários de autismo. É de suma importância, entendermos que o autismo

hoje é considerado uma síndrome comportamental na qual encontramos um

leque de gravidade para o conjunto dos sintomas.

FERNANDES, FERNANDA DREUX Miranda (2012), A Associação

Americana Psiquiatria publicou a terceira edição revista de seu Manual

Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais em 1989, em que o autista

aparece como distúrbio global de desenvolvimento (DGD), o autismo infantil

passou a ser considerado um distúrbio de desenvolvimento que atinge as áreas

de interação social, linguagem e cognição. Seguindo essa mesma linha os

critérios para diagnostico do autismo são reajustados sistematicamente, e o

DSM-IV-TR sugere que o diagnóstico de autismo infantil seja feito quanto for

observado, antes dos 3 anos de idade, um desenvolvimento acentuado

anormal ou prejudicado nas áreas de interação social e comunicação, além de

repertório muito restrito de atividades e interesses.

Segundo a autora acima, na ultima versão do manual, ele apresenta

uma lista de 12 sintomas, divididos em três grupos, e indica que o diagnostico

seja feito quando observados, pelo menos, 6 deles, sendo pelo menos 2 no

grupo 1- prejuízo qualitativo na interação social-, pelo menos 1 no grupo 2 –

prejuízos qualitativos na comunicação – e 1 no grupo 3 – padrões restritos e

repetitivos de interesses e atividades.

15

A organização Mundial da Saúde, na classificação internacional de

Doença, propõe critérios semelhantes para diagnostico de autismo.

Ainda seguindo FERNANDES, os DGD incluem ainda outros quadros

com estrutura semelhante à do autismo, mas com variações na quantidade e

na gravidade dos sintomas observados. Os principais deles são o autismo de

alto funcionamento e a síndrome de ASPERGER.

GAUDERER (1993) relata é comum no período de zero a seis meses, o

bebê autista não solicitar muito de seu meio social, não notando, por exemplo,

a saída ou chegada da mãe, custando a responder a sorrisos, ou simplesmente

ignorando-os. Os balbucios podem não aparecer, ou estar sensivelmente

atrasados Com quatro a cinco meses, a criança não apresenta os movimentos

antecipatórios quando alguém faz a menção de pegá-lo e quando levantado

apresenta uma rigidez ou flacidez muscular. Após o sexto mês de vida, é

comum o bebê mostrar certa resistência à introdução de alimentos sólidos,

tendo dificuldades em aceitá-los. Esse bebê autista, quando recolocado no

berço, dá a impressão de não se importar, parecendo que não é afetuoso.

Freqüentemente não revela ansiedade ou medo de estranhos, fenômeno

normal e saudável numa criança de oito meses.

16

FOSTER (1960), Além da falta de comunicação verbal, a criança tem

também deficiência de comunicação não verbal, não olhando nem apontando

para os objetos, podendo ocorrer de maneira inesperada está criança pode

ficar agita e aflita, com os mesmos ruídos e sons que já conhecia e permanecia

alheia.

O estudioso GAUDERER (1993) chama atenção para os membros,

principalmente a mão, pois estes apresentam estereotipias e maneirismos

variados (flapping). Uma característica muito repetitiva na criança autista dessa

idade é o observar atento das mãos e os seus movimento de dedos (fenômeno

natural numa criança de seis meses). O bebê autista acrescenta a isto

movimentos de sacudir vigorosamente as mãos, ou rapidamente movimentar

os dedos como se estivesse batendo à máquina, observando este fenômeno

sem olhar diretamente para elas.

A criança autista pode transformar em permanente o comportamento de

caminhar nas pontas do pé, fenômeno normal quando a criança está

aprendendo a caminhar. Não mostra interesse por brinquedos e quando brinca

não considera a finalidade do brinquedo. Segundo GAUDERER (1993).

De acordo com as escalas de Shirley Apud Barros (1991), Erickson

(1976) e Piaget (1971), o desenvolvimento da criança ocorre de forma

evolutiva, dentro de um determinado tempo, respeitando a individualidade de

cada um, independente da raça, sexo ou grupo social ao qual pertença.

Contudo, não é assim que se sucede com a criança com autismo. Seu

desenvolvimento se dá de uma forma diferente e não padronizada.

17

KLINGER & DAWSON (1992) definem para a identificação precoce de

crianças autistas os seguintes comportamentos: a criança autista apresenta

dificuldades na área da comunicação social, desenvolvimento atrasado na

atenção ao estímulo social e apresenta distúrbios no contato ocular, imitação

motora, atenção compartilhada e comunicação afetiva. Todavia, crianças

autistas apresentam reação auditiva, ainda que aparentem não estar reagindo

a alguns estímulos sonoros.

O autista isola-se no seu mundo, não desenvolve adequadamente o

mecanismo da comunicação verbal, foge ao contato físico com as pessoas que

o cercam e até o contato visual. Mesmo quando o olhar do autista se dirige

acidentalmente em nossa direção ele parece ver através da gente, como se

fossemos transparentes, invisível. (MIRANDA, 2009, p. 26)

Conjuntamente a criança autista apresenta constante temor e recusa ao

contato corporal, podendo levar ao surgimento de angústia e agressividade.

Necessidade de imutabilidade: manter o ambiente habitual instável e

sem alterações é uma necessidade da criança autista. Mudanças podem

causar manifestações de angústia e raiva. Eles estabelecem rituais que não

podem ser mudados sem causar forte agitação, perturbação extrema ou

manifestações de medo diante do barulho de objetos em movimento (KANNER,

1943, apud FERNANDES, 1996).

Como relata o autor acima essas crianças exploram o ambiente mais

com o paladar e olfato, cheirando e lambendo objetos. Se ouvirem algum

estímulo sensorial podem ter a reação de cobrir os ouvidos ao ouvir um ruído

ou tampar os olhos com estímulos luminosos.

18

Resistência ao não entendimento: Ao ter dificuldade cognitiva em

entender o que se espera das crianças com autismo, apresentam

comportamento de resistência. É raro um autista desafiar ou provocar. Ele não

entende expressões faciais, palavras usadas, ou linguagem corporal.

Geralmente agem por fortes impulsos, e agem independente de regras e

consequências. Os estímulos sensoriais podem deixá-lo sobrecarregado.

(FERNANDES, 1996).

Na opinião de BAPTISTA E BOSA (2002), a forma como os autistas

comunicam suas necessidades e desejos não é imediatamente compreendida,

se adotarmos um sistema de comunicação convencional. Um olhar mais

cuidadoso e uma escuta atenta permitem-nos descobrir o grande esforço que

essas crianças parecem desprender para lançar mão de ferramentas que as

ajudem a ser compreendidas.

Ainda de acordo com BAPTISTA e BOSA (2002), os estudos de

observação minuciosas de crianças autistas (utilizando filmagens) mostram que

os olhares são mais freqüentes do que se imagina. O que ocorre é que são

breves e, por isso, muitas vezes imperceptíveis. Na verdade, a freqüência do

olhar muda com o contexto, e esse é mais comum, e tende a ser mais longo

naquelas situações em que a criança necessita da assistência do adulto do que

naquelas em que está, por exemplo, brincando com o adulto. Nesse caso, as

teorias sociocognitivas ajudam a compreender a pouca freqüência do olhar:

não olham porque não sabem a função comunicativa do olhar para

compartilhar experiências com as pessoas - uma habilidade que se desenvolve

ao longo do primeiro ano de vida do bebê. Essa suposição parece trivial, mas

faz uma diferença quando aplicada em um contexto de intervenção com os

pais: não olhar porque não compreende a extensão das propriedades

comunicativas do afeto e do olhar é diferente de não querer olhar.

19

Para esses autores, existem várias teorias, desde a psicanálise,

ocupando-se do mundo interno da criança, passando pelas teorias da

linguagem, sociocognitivas (explicando a dificuldade em colocar-se no ponto de

vista do outro, em refletir sobre estados mentais) até as teorias

neuropsicológicas (dando conta das dificuldades de dividir a atenção entre os

eventos sociais e não sociais, habilidade de extrair significado de um contexto

perceptivo, capacidade de organização, flexibilidade e planejamento, enquanto

função dos lobos frontais). Nenhum modelo teórico, sozinho, explica de forma

abrangente e satisfatória a complexidade dessa síndrome - eis, a razão pela

qual há a necessidade do trabalho em equipe e o respaldo da pesquisa. A

experiência clínica, segregada da pesquisa, corre o risco de gerar mitos, pois

tende a cristalizar preconceitos. Da mesma forma, a pesquisa, desvinculada da

clínica, aprisiona o conhecimento cuja produção pode e deve trazer benefício à

comunidade.

Segundo Ferreira (2000), as experiências motoras da criança são

decisivas na elaboração progressiva das estruturas que aos poucos dão origem

às formas superiores de raciocínio, isto é, em cada fase do desenvolvimento,

ela consegue uma determinada organização mental que lhe permite lidar com o

ambiente. Pode-se assim dizer que, em termos de evolução, a motricidade é

uma condição de adaptação vital. Sua essência reside no fato de nela o

pensamento poder manifestar-se. A pobreza de seu campo de exploração irá

retardar e limitar a capacidade perceptiva do indivíduo.

20

O autor explica que o equilíbrio ou desequilíbrio do tônus muscular, suas

variações ou seus bloqueios irão traduzir a maneira de ser da criança, suas

emoções, suas vivências psíquicas, além de participar também como elemento

na comunicação não-verbal. A atitude da mãe pesa muito no desenvolvimento

da criança, desde o período gestacional, quando há um aumento considerável

de medos, muitas vezes sem motivo aparente, de ansiedades, depressões,

enfim, uma gama de sentimentos que irão repercutir, mais tarde, no

desenvolvimento psicológico, intelectual, afetivo e psicomotor da criança.

Existe, portanto, uma comunicação constante, um diá-logo corporal entre mãe

e filho, na esfera do qual as modificações tônicas: acompanham não apenas

cada afeto, mas também cada fato da consciência

Seguindo na abordagem de Ferreira (2000), ele visualiza, então, que as

capacidades motoras, intelectuais e afetivas que facultam à criança estabelecer

relação com o mundo, estão sujeitas à sua carga tônica pessoal, a qual é, por

sua vez, construída a partir das estimulações que o meio e as pessoas lhes

impõem. Será pela percepção das diferentes experiências que a criança terá

possibilidade de criar a base para o desenvolvimento de sua independência e

autonomia corporal e sua maturidade socioemocional.

Esse autor mostra ainda que a criança desenvolve-se e matura-se no

contato com o mundo vivenciando e experimentando as relações, isso, a

princípio, via corpo, que é no início o seu único meio de comunicação. Todas

as suas inaugurações são corporais e estão intimamente ligadas à emoção e

ao prazer. A corporeidade é a linguagem mais primitiva desse indivíduo desde

a sua fase uterina. Assim, o movimento está em ligação direta com a criança,

pois é parte dela que se comunica com o mundo, e também é a partir dele que

irá organizar-se enquanto sujeito pensante e atuante para dar conta da sua

participação na sociedade.

21

Quando se fala em corpo, segundo Ferreira (2000), tem-se que pensar

que ele é um organismo vivo, um ser desejante, atuante, emocional, inteligente,

enfim, não se pode esconder ou apenas renegar a história que ele carrega. É

preciso entender que o corpo muda com o passar do tempo dependendo dos

valores e das necessidades do local, da situação e, é necessário aceitar as

suas diferenças.

GAUDERER (1993), os sintomas do autismo podem ser divididos em

cinco grupos gerais: Distúrbios do Relacionamento: tanto o relacionamento

com pessoas quanto com objetos inanimados estão alterados no autismo. Esta

deficiência precoce inclui a falta do desenvolvimento de uma relação

interpessoal e de contato visual.

O mesmo autor acima relata os Distúrbios da Fala e da Linguagem: o

desenvolvimento da fala é caracterizado por um enorme atraso, com fixações e

paradas ou total mutismo. É comum a ecolalia (ou seja, a repetição automática

de sons ou palavras ouvidas) associada ao uso inadequado ou reversão do

pronome pessoal. Quando a fala comunicativa se desenvolve é atonal,

arrítmica, sem inflexão e incapaz de comunicar apropriadamente as emoções.

Distúrbios do Ritmo de Desenvolvimento: as crianças autistas mostram grande

irregularidade na idade em que desenvolvem as seqüências motoras ou de

linguagem. O ritmo mais comum é uma descontinuidade na seqüência normal

do desenvolvimento, por exemplo, a criança pode sentar-se precocemente sem

ajuda e depois mostrar um atraso significativo para se colocar em pé.

Distúrbios da Motilidade: o maneirismo e os padrões peculiares de motilidade

nessas crianças são os traços que lhes conferem em grande parte sua

aparência estranha e bizarra.

22

Moraes (2002) cita que os movimentos corporais estereotipados são

comuns e apresentam-se sob a forma de balanceio da cabeça, movimentos

com os dedos, saltos e rodopios. Esses movimentos costumam ocorrer,

principalmente, entre os mais jovens e os que têm um funcionamento global

mais baixo. Distúrbios da Percepção: há uma incapacidade na criança de fixar

ou dedicar sua atenção a certos estímulos visuais, voltando-se quase que

exclusivamente a outros. A criança é incapaz de usar estímulos sensoriais para

discriminar o que é importante ou não. Em outras palavras, ocorre um erro de

seletividade. A criança autista pode ignorar estímulos visuais, até mesmo

pessoas e paredes, a ponto de chocar-se com estas como se o obstáculo não

existisse.

23

Capitulo II - As características e as dificuldades encontradas no

desenvolvimento do Autista

Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem

através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e

externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem

das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três

conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade,

portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento

organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja

ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.”

(Sociedade Brasileira de Psicomotricidade).

Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma

concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências

vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua

linguagem e sua socialização (ABP, 2007).

Segundo NEGRINE (1998), a concepção de Wallon (1925) descrita na

sua tese de doutorado “El niño turbulento”, influenciou e contribuiu

significativamente para os psicomotricistas que estudavam o desenvolvimento

motor e mental da criança, tanto no aspecto intelectual quanto no motor e no

afetivo. Dentre as inúmeras implicações psicopedagógicas que Wallon (1925)

estudou, destaca-se o estudo da gestualidade. Para ele, o importante não é a

materialidade do gesto, mas o contexto em que se manifesta. Refere que o

gesto se inscreve na personalidade e serve para revelar sensibilidades

desconhecidas, evidenciando, assim, que o movimento é um grande

instrumento de manifestação do psiquismo.

24

O Francês Le Camus (1986) é um autor fundamentalmente teórico. Em

suas obras analisa os autores teóricos e práticos e suas concepções. Sempre

coloca em destaque que o centro de tudo está no pensamento de Wallon. Para

Le Camus (1986), a psicomotricidade é em sua DORNELES & BENETTI, v(8),

nº 8, p. 1775 – 1786, AGO, 2012. (e-ISSN: 2236-1308) evolução, dividida por

três grandes impulsos: O primeiro nos anos 30 do século passado, quando se

trabalhava a reeducação psicomotora (os testes serviam como instrumento de

avaliação do perfil psicomotor, observados em um plano funcional). Sua

aplicação ficava restrita a clínicas, executada por professores de Educação

Física; O segundo grande impulso ocorreu por volta de 1960, quando se

trabalhava a reeducação psicomotora e a terapia psicomotora. Nessa época,

as concepções de Wallon entram em evidência; O terceiro, em torno de 1970,

quando, além da reeducação e terapia psicomotora, ocorre a inclusão da

educação psicomotora, pela qual há um deslocamento do corpo instrumental

(regido por aspectos funcionais), para o corpo relacional, que busca uma

abordagem mais global, contemplando o aspecto simbólico do movimento e

lúdico do comportamento. Para Le Camus, essa mudança de enfoque da

psicomotricidade se dá à luz dos trabalhos de Wallon.

“A Psicomotricidade baseia-se em uma concepção unificada da pessoa,

que inclui as interações cognitivas, sensório motoras e psíquicas na

compreensão das capacidades de ser e de expressar-se, a partir do

movimento, em um contexto psicossocial. Ela se constitui por um conjunto de

conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que

permitem, utilizando o corpo como mediador, abordar o ato motor humano com

o intento de favorecer a integração deste sujeito consigo e com o mundo dos

objetos e outros sujeitos.” (COSTA, 2002)

25

Para COSTA, (2002), O autismo consiste em déficits em diversas áreas

da convivência humana como nas interações sociais, na comunicação, no

desenvolvimento cognitivo, nas percepções sensoriais entre outras. O

prognostico e tratamento precoce permite que no futuro a pessoa autista tenha

uma autonomia quase total em diversos aspectos da vida, bem como o

desenvolvimento psicomotor condizente com o padrão das pessoas não

portadoras do transtorno.

Segundo o autor citado acima, O desenvolvimento psicomotor é afetado

pelo autismo na medida em que a criança portadora do transtorno não possui

um discernimento amplo sobre sua linguagem, sobretudo a corporal. A

fragmentação do significado das partes do seu corpo torna difícil para o autista

criar uma associação do seu corpo com a sua personalidade. A adoção de

atividades sensório-motoras com diferentes abordagens pode influenciar a

criança no descobrimento do seu corpo como um todo, isto é, fazê-la acreditar

que cada ponto do seu corpo se interliga assim como a mente e o corpo. Rolar

no chão, por exemplo, é uma atividade que dimensiona bem para a criança

essa interligação sensorial.

LEVIN (1995), a linguagem verbal à corporal, não se pode opor, pois

estão interligadas no universo simbólico humano. “tanto gesto quanto a mímica

ou ação em seu caráter, são tomados com signos de uma idéia, como

movimentos comunicacionais e internacionais procurando que o significado

tente uma correspondência exata com o significante. No espectro do âmbito

psicomotor e corporal, o movimento e a postura também são formados

geralmente deste modo.

26

O corpo é utilizado como principal instrumento psicomotor, principalmente

o “corpo em movimento”, procurando abranger ainda mais fatores. Dentro de

uma globalidade que será traduzida pelas expressões sendo o elo da pessoa

com o mundo externo. “Corpo e linguagem tornam-se os intermediários

existenciais do mundo e do indivíduo, ligação essencial no sentimento da

vivência e convivência”. (FONSECA,1996).

27

Capitulo III: Como a psicomotricidade auxilia tratamento de pessoas com

autismo.

Objetivo da Psicomotricidade deve ser a estruturação da Motricidade da

criança, através de um programa educacional que verdadeiramente atenda

aos seus interesses, buscando o equilíbrio entre as necessidades individuais e

coletivas, por meio de atividades lúdicas, desenvolvendo a consciência corporal

e espaço-temporal, para que a criança possa perceber-se a si mesma e

perceber as relações com os outros e com o mundo. (POSITIVO, 2001, p.5)

“O desenvolvimento de uma criança autista é sempre um

desenvolvimento neuropsicomotor em atraso” (CAMARGO JR, 1996), fato que

nos faz unânimes em concordar com Belo (2003) que ao selecionar as

atividades a serem propostas, levas em “consideração a maturidade motora de

cada indivíduo, bem como as áreas específicas da psicomotricidade”. Ao longo

desse texto serão abordadas algumas características do autismo já vistas, mas

lembramos que nem todas as pessoas apresentam todas estas características

simultaneamente.

Para o autor acima a reeducação psicomotora é uma atividade

terapêutica através dos movimentos, tendo como objetivo o óbvio, a correção e

a adaptação das alterações do desenvolvimento psicomotor (debilidade

motora, atraso e instabilidade motora, dispraxias, distúrbios do tônus, postura,

equilíbrio e coordenação, deficiências percepto-motoras) facilitando o controle

mental sobre a atividade motora, desenvolvendo capacidades psíquicas.

BELO (2003) observou reduções de agressividade e dos movimentos

estereotipados quando são corretamente estimulados em sessões de

psicomotricidade dentro de um contexto interdisciplinar. Dentro da

exemplificação de movimentos que traduzem a agressividade temos: a

automutilação (arrancar cabelos, morder-se, e bater-se). Alguns distúrbios de

percepção são notados por Camargo Jr. (1996), tais como, dificuldades de

28

olhar de forma fixa e com atenção a determinados estímulos visuais. Certa

dificuldade em “sintonizar” estímulos sensoriais também aparece com certa

freqüência, podendo causar reações exageradas ou uma falta de resposta, a

estímulos sensoriais.

O autor acima aponta melhoras proporcionadas pelo trabalho

psicomotor, como por exemplo, desenvolvimento da coordenação motora

global, diminuição da agressividade, estereotipias, espontaneidade da

comunicação, diminuição dos sintomas de isolamento, aumento da auto-

estima, e pontecializa a coordenação motora fina. E, também, propõe um maior

aprofundamento de estudos sobre os benefícios da psicomotricidade para

pessoas com autismo. A psicomotricidade vem atuar de forma efetiva com o

individuo e na relação do ambiente que vive, através de atividades que

envolvam a estimulação de sua percepção, da afetividade, interação social e

de sua comunicação.

Para SCHEUER (2002), nos primeiros anos de vida, a criança deve

estabelecer muitas e múltiplas relações entre pessoas e objetos, com ações

que as pessoas produzem com o seu corpo e com objetos, devendo atribuir

significado. Todos os estímulos são interessantes, pois para um bom

desenvolvimento da linguagem, a curiosidade pelo novo e a experiência são

informações que posteriormente resultam em comunicação e linguagem.

Para RENNÓ (2002), pela sua própria existência, as alterações

psicomotoras desencadeiam distúrbios secundários (relacionais e afetivos),

perturbando a adaptação da criança sem delimitar a etiologia mais ou menos

neurológica ou psicológica. A reeducação psicomotora pretende desenvolver o

aspecto comunicativo do corpo, isto é, permitir à criança a possibilidade de

expressão através de seu corpo: sentir-se no seu próprio corpo, viver

realmente nele, encontrar o que há nele e expressar-se através de sua

linguagem. O sintoma é abordado pela criança, ela inicia seu processo

29

reeducativo colocando-o à tona. Nas sessões ela busca situações onde ele

aparece.

Continuando com o autor acima a terapia psicomotora a criança vive

situações afetivas e emocionais que dizem respeito ao seu contexto, não

aborda os sintomas diretamente, mas revive situações passadas, exprime

emoções, coloca através dos jogos regressivos, no corpo a corpo com o

terapeuta (psicomotricista), através de atividades lúdicas diversas, através de

jogos simbólicos, todo o seu contexto relacional e afetivo.

A originalidade das terapêuticas psicomotoras, segundo RENNÓ (2002),

reside no fato de que elas se engajam essencialmente a partir da comunicação

corporal entre o sujeito (criança, adolescente ou adulto) e o terapeuta. Esta

comunicação se instaura num espaço dado e em um tempo dado, na presença

de objetos.

A terapia psicomotora com crianças, habitualmente é usado na clínica à

atividade espontânea em presença de objetos, num espaço de uma sala

ampla, não entulhada, semelhante a um espaço recreativo, que efetivamente

vai chamar a criança para o jogo, seu modo de expressão e de interação ao

mundo exterior mais espontâneo. RENNÓ (2002).

Segundo VALETIM (2005), apesar da necessidade dos exames serem

realizados é preciso deixar claro, que o diagnóstico de autismo, é um

diagnóstico clínico que se baseia no achado dos distúrbios, mais ou menos

característicos, nas áreas da relação interpessoal, comunicação e

comportamento. A anamnese é de suma importância, na medida em que

podem trazer dados que não apenas levantam a suspeita do autismo, mas

também informações que permitam fazer a suspeita da presença de alguma

outra condição associada ou pré-existente.

30

Conclusão:

O presente trabalho teve como objetivo apresentar para os leitores uma

visão que é o autismo, como é o seu desenvolvimento e como a

psicomotricidade pode auxiliar no tratamento destes indivíduos portadores da

síndrome do Autismo.

É de suma importante ver o mundo através de seus olhos e usar esta

perspectiva para ajudá-los a funcionar inseridos em nossa cultura, da forma

mais independente possível. Embora não possamos curar os déficits cognitivos

subjacentes ao autismo, é através do seu entendimento das coisas que

poderemos planejar programas educacionais eficientes, com o objetivo de

vencer o desafio de um distúrbio do desenvolvimento tão singular, como é o

autismo.

As características diagnósticas do autismo, tais como déficits na área

social e problemas de comunicação, são úteis para distinguir o autismo de

outras deficiências, mas são relativamente imprecisos para a conceituação de

como um indivíduo com autismo entende o mundo, age com base nesta

compreensão, e aprende e de que modo como pais e profissionais da

educação lidam com o autista.

31

A Psicomotricidade visa a modificabilidade das áreas que comprometem

a organização cerebral e, conseqüentemente, a aprendizagem, proporcionando

uma organização psicomotora adequada, nas suas dimensões motora,

perceptiva, cognitiva e comportamental. As sessões de Psicomotricidade

consideram um espaço de relação por excelência, apresentando-se também

como uma área de jogo que permite explorações psicomotoras e um novo

comprometimento corporal, onde se adquire uma progressiva autonomia

corporal e psíquica. É neste sentido que a intervenção junto de crianças com

Perturbação do Espectro do Autismo foi realizada.

O autismo é uma doença que mobiliza muito o ser humano. Certamente,

é muito doloroso para família do individuo autista lidar com essa patologia.

O tratamento para os portadores da síndrome do autismo geralmente é

um programa intenso e abrangente que envolve a família do individuo e um

grupo de profissionais. Visando isso, optei em mostrar como a psicomotridade

pode ajuda o individuo com autismo a se conhecer e achar o seu lugar no

mundo.

A psicomotricidade é um quesito para que se observe a relação do

individuo com o ambiente que o cerca e suas relações com o outro.

32

A principal missão da psicomotricidade com os portadores de autismo é

dar uma maneira de ajudar, e inserir este individuo no mundo que cerca, e o

espaço que ocupa, conhecendo o seu corpo, sentindo, descobrindo seus

movimentos. É um instrumento capaz de facilitar a criança com autismo o

conhecimento do próprio corpo. Sendo assim, o autismo é uma síndrome com

um conjunto de características que afetam as áreas da comunicação, interação

social e comportamento. O individuo com essa patologia demonstra a ausência

de reconhecimento do outro enquanto ser, uma ausência de reconhecimento

dos limites do eu.

A interação multidisciplinar tentando trazer o autista para mais perto do

mundo exterior, fazendo com que ele atinja um pouco do contato social está

ocorrendo, assim como novas estratégias, novos caminhos e descobertas a

cada dia desmistificando conceitos de que o autista não é capaz de interagir

com o meio.

Verificou-se com base na pesquisa bibliográfica, que a intervenção

psicomotora, como a integração sensorial, pode ser positivamente no bem

estar do autista. Como a psicomotricidade é um instrumento capaz de facilitar

a criança com autismo o conhecimento do próprio corpo.

A partir da pesquisa literária realizada, concluiu-se que a síndrome do

autismo caracteriza-se pela dificuldade de relacionamento entre o autista e

outras pessoas, pela demonstração de atrasos no seu desenvolvimento no que

se refere à linguagem e a necessidade de manter o ambiente sem mudança, e

que para estas crianças é de extrema importância o trabalho psicomotor com

ênfase na constituição do esquema corporal, responsável pelo reconhecimento

que fazemos do nosso próprio corpo, do espaço e dos objetos que nos

rodeiam.

33

A interação multidisciplinar tentando trazer o autista para mais perto do

mundo exterior, fazendo com que ele atinja um pouco do contato social está

ocorrendo, assim como novas estratégias, novos caminhos e descobertas a

cada dia desmistificando conceitos de que o autista não é capaz de interagir

com o meio.

Foi possível perceber que a criança autista não possui um corpo

vivenciado. A sensação que se tem é que o corpo é um objeto a parte, sem

significação, sem importância. Existe uma grande dificuldade por parte da

criança em compreender seu corpo como um todo. Ela não desenvolve de

maneira adequada as noções de Esquema Corporal, o que tem diversas

implicações, como foi possível observar ao longo desse artigo. Para uma

criança autista, o corpo pode ser um objeto de angústia e de pânico, sobretudo

se ele não é bem estimulado e compreendido. Por isso, é necessário que ele

se torne um pólo de segurança e estabilidade.

Concluindo-se que umas das maneiras de auxiliar no tratamento do

autismo são por meio do corpo, tentando estabelecer uma relação entre o

psíquico e o orgânico. A partir de experiências sensório-motoras, ele poderá

aumentar sua relação com o mundo, inicialmente impossível pela dificuldade

de entrar em contato com os outros, seja por meio do toque ou por meio do

olhar.

34

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