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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A SEPARAÇÃO DOS PODERES NA CONSTITUIÇÃO ATUAL - UMA VISÃO CRÍTICA - Por: Déa Aparecida de Oliveira Orientador Prof. Roberto Lellis Rio de Janeiro 2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A SEPARAÇÃO DOS PODERES NA CONSTITUIÇÃO ATUAL

- UMA VISÃO CRÍTICA -

Por: Déa Aparecida de Oliveira

Orientador

Prof. Roberto Lellis

Rio de Janeiro

2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A SEPARAÇÃO DOS PODERES NA CONSTITUIÇÃO ATUAL

- UMA VISÃO CRÍTICA -

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito Público

e Tributário.

Por: Déa Aparecida de Oliveira

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AGRADECIMENTOS

A Deus e à família pelo suporte

emocional.

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DEDICATÓRIA

A meu Professor Orientador,

Roberto Lellis

e a todos os Mestres do Instituto A Vez do Mestre ,

pela consolidação de todo um pensamento jurídico.

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RESUMO

O princípio da separação de poderes pressupõe basicamente que os

Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário serão independentes e harmônicos

entre si.

Foi adotado de forma expressa, como princípio fundamental, no artigo

2º da CRFB/88 e foi alçado como cláusula pétrea no artigo 60, §4º, III, do

Texto Constitucional.

Atualmente, a melhor terminologia é a que fala em funções

predominantes de cada poder. Essa teoria sofreu uma evolução e, em função

disso, não se deve mais dizer que cada órgão exerce uma função

características, mas sim funções predominantes.

O conceito moderno dessa doutrina é o de que, na verdade, o poder

soberano estatal é uno e indivisível e essa estruturação entre funções só se dá

em termos acadêmicos.

A criação do sistema de freios e contrapesos e das imunidades e

garantias preservam a independência dos agentes políticos que integram cada

um desses órgãos.

Na verdade, há um entrelaçamento de funções entre os diversos

órgãos e que a esfera de atuação de cada um desses órgãos incidirá, em

parte, na área das funções predominantes de outros órgãos. Cada um desses

órgãos irá fiscalizar a atuação dos outros.

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METODOLOGIA

A pesquisa deu-se pelo método hipotético-dedutivo, combinado com o

bibliográfico- descritivo.

O procedimento utilizado para desenvolver o tema seguiu os seguintes

passos:

a) Coleta documental;

b) Leitura do material;

c) Elaboração de resumos;

d) Redação provisória;

e) Redação final;

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................. 08

CAPÍTULO I- A Organização do Estado....................... 10

CAPÍTULO II - A Organização do Poder Executivo

na Constituição Federal................................................16

CAPÍTULO III - Poder Legislativo.................................25

CAPÍTULO IV - Processo legislativo e Espécies Normativas .................................................35 CONCLUSÃO................................................................52

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA....................................55

ÍNDICE..........................................................................56

FOLHA DE AVALIAÇÃO...............................................58

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INTRODUÇÃO

A concepção originária das constituições acontece com a própria

estruturação da sociedade, isto é, com o surgimento dos órgãos responsáveis

pela gerência da sociedade, por sua organização.

Nesse aspecto, as normas organizacionais têm, desde o primeiro

momento, a sua inserção no plano constitucional. A princípio, a própria razão

de ser das constituições era a estruturação da sociedade. Nesse caso, passou-

se a inserir nos textos constitucionais as declarações de direitos e diversas

outras normas constitucionais.

Intrinsecamente relacionada às normas organizacionais está a

separação de poderes, a qual pressupõe basicamente que os poderes

legislativo, executivo e judiciário serão independentes e harmônicos entre si.

Foi adotado de forma expressa, como princípio fundamental, no artigo

2º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) e foi

alçado como cláusula pétrea no artigo 60, §4º, inciso III, do Texto

Constitucional.

A origem histórica dessa teoria é atribuída por alguns autores a

Aristóteles, que teria tratado em linhas bem gerais dessa teoria, definindo seu

embrião. Sua concepção melhor acabada é atribuída a Montesquieu e John

Locke.

Atualmente, a melhor terminologia é a que fala em funções

predominantes de cada poder. Essa teoria sofreu uma evolução e, em função

disso, não se deve mais dizer que cada órgão exerce uma função

característica, mas sim, funções predominantes.

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Em que pese cada poder exercer uma função típica, todos os poderes

desempenham as três funções básicas concebidas por Montesquieu.

Têm-se, hoje em dia, alguns institutos criando uma verdadeira

miscelânea entre essas funções, como as agências reguladoras, que são

órgãos inseridos no plano do Poder Executivo e que detém essas três esferas

de função.

Assim, impõe-se questionar o que motivou essa separação dos

poderes? Foram basicamente duas premissas:

1) Proteção da liberdade individual contra o arbítrio estatal -

Consiste justamente na idéia de evitar a concentração de poderes

em um só órgão estatal. Existe uma técnica de entrelaçamento de

fiscalização entre esses órgãos;

2) Garantia da perpetuidade do Estado Democrático de Direito - Se

existisse só um órgão responsável por todas as atribuições

estatais, ele, por si só, iria determinar o que está, ou não, em

observância às leis em vigor.

O conceito moderno dessa doutrina orienta-se no sentido de que, na

verdade, o poder soberano estatal é uno e indivisível. Essa estruturação entre

funções só se dá em termos acadêmicos.

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CAPÍTULO 1

A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

1.1 – Teorias dos Freios e Contrapesos

Segundo essa teoria, não há só a distribuição de poderes, pura e

simplesmente tomando por base suas funções predominantes entre os órgãos

estatais. Há, com efeito, um entrelaçamento de funções entre os diversos

órgãos.

A esfera de atuação de cada um desses órgãos incidirá, em parte, na

área das funções predominantes de outros órgãos. Cada um desses órgãos irá

fiscalizar a atuação dos outros.

Ao longo da evolução histórica da doutrina dos freios e contrapesos,

dá-se o nascimento das imunidades e garantias.

Não bastava criar a fiscalização recíproca entre os órgãos, pois, para

que ela fosse colocada em prática, seria necessário prever alguns mecanismos

que preservassem os agentes políticos quando em confronto com outros

órgãos, evitando que, por força de coação, fosse evitada a fiscalização de um

órgão pelo outro.

Um exemplo corriqueiro é o das garantias previstas para a magistratura

(vitaliciedade, inamovibilidade, irredutibilidade, entre outras), as quais visam

assegurar sua imparcialidade. Essas garantias têm dois aspectos:

a) aspecto interno – dentro do processo em si; visa garantir a

imparcialidade do juiz durante o julgamento do processo.

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b) aspecto externo – é da própria relação entre os órgãos que integram

o Estado brasileiro, em que se provê uma completa imparcialidade ao juiz em

uma demanda que verse sobre um caso de arbítrio de um membro do poder

executivo.

Caso típico de imunidade é a imunidade parlamentar, ainda que

mitigada pela Emenda Constitucional nº 31 do ano de 2002.

Nesse sistema de freios e contrapesos, quem exerce, na maior parte

dos casos, o controle é o próprio Judiciário por ser de sua natureza.

Em vista disso, como conciliar o princípio da inércia (vedação à

iniciativa por parte da magistratura) com essa atribuição (fiscalizar com

imparcialidade)?

A Constituição brasileira criou um novo status constitucional para o

Ministério Público, possibilitando que, nesse sistema, a iniciativa seja dele.

Deu-se, a princípio, a criação do sistema de freios e contrapesos. Em

um segundo momento, ocorreu a criação das imunidades e garantias,

preservando a independência dos agentes políticos que integram cada um

desses órgãos.

Por fim, a previsão de uma nova estruturação do Ministério Público

para que ele tenha iniciativa em uma série de ações que vão promover esse

sistema de freios e contrapesos.

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1.2 - Funções Predominantes dos Poderes

1.2.1 – Poder Legislativo

Tem como função precípua legislar e fiscalizar. Na prática, o Poder

Legislativo, com a previsão na CF/88 das medidas provisórias, perdeu muito de

sua função legislativa propriamente dita. Cada vez mais, o Legislativo, para

reforçar seu papel na sociedade, vem desempenhando o papel de fiscalizador.

Que funções fiscalizatórias são essas?

a) financeira-orçamentária – Prevista no artigo 70 e desempenhada

com auxílio do Tribunal de Contas. No plano federal, há o Congresso atuando

em conjunto com o Tribunal de Contas da União (TCU); no plano estadual, há

as Assembléias Legislativas com auxílio dos Tribunais de Contas Estaduais

(TCEs); e, no plano municipal, apenas nos Municípios do Rio de Janeiro e de

São Paulo existem Tribunais de Contas Municipais (TCMs).

b) político-administrativo - A fiscalização do Poder Legislativo com

relação às Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI). Todas as casas

legislativas têm uma série de comissões que as integram. Há comissões

permanentes, com o exemplo típico das Comissões de Constituição e Justiça

que aferem a constitucionalidade ou não de um determinado projeto, e as

Comissões Provisórias, com o conhecido exemplo das Comissões

Parlamentares de Inquérito - CPIs, tão comuns hoje, as quais são instituídas

para apurar fato certo e determinado, o que não vem sendo observado em

muitos casos.

Há um exemplo que vale lembrar. Uma ação cível originária foi

apresentada junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra um ato do Banco

Central do Brasil (Bacen) que negou a quebra de sigilo bancário de um

investigado em uma CPI estadual.

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O Bacen, com base na Lei Complementar 105/01, pontuou que o sigilo

só poderia ser quebrado por CPIs federais e não estaduais. Em decisão

apertada, o STF entendeu que as CPIs estaduais também poderiam romper o

sigilo fiscal1.

As duas funções típicas do Legislativo são: função legislativa e função

fiscalizatória (financeiro-orçamentária e político-administrativo).

1.2.2 – Poder Executivo

Assume três funções típicas: chefia do Estado (representação do

Estado brasileiro no âmbito do direito público internacional), chefia do governo

(representação da União no âmbito interno) e administração da coisa pública.

Entre as funções atípicas do Executivo, encontra-se a edição de

medidas provisórias que, na verdade, já se tornou uma função típica. Desde

que houve a previsão das medidas provisórias na CRFB/88, nunca foi utilizada

uma lei delegada no Brasil pela facilidade de edição de medidas provisórias.

As medidas provisórias sofreram uma mitigação, pois foram previstas

de forma bem genérica no Texto Constitucional de 1988, tendo a Emenda

Constitucional nº 32/01 criado uma série de restrições a sua edição.

Ainda assim, a edição de medidas provisórias pelo Executivo é muito

vasta. Isso ocorre até porque o STF, como regra geral, não se insere na

questão da sua relevância e da sua urgência, salvo situações excepcionais,

como no caso da medida provisória que dilatou o prazo para propositura da

ação rescisória2.

1 ACO 730/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 22.9.2004. (ACO-730) 2 ADInMC 1.753-DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 16.4.98.

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Outra função atípica assumida pelo Executivo é a judicante, realizada

no contencioso administrativo. Tem relevância basicamente no aspecto

disciplinar (contencioso administrativo versando sobre servidores públicos) e

contencioso tributário.

1.2.3 – Poder Judiciário

Tem como função típica a judicante, que consiste na aplicação da lei

ao caso concreto.

Entre as funções atípicas podemos elencar, a princípio, a normativa.

Cada vez mais, há edições de atos normativos de indiscutível caráter abstrato

e genérico pelo poder judiciário.

São diversas resoluções e instruções normativas que, ao serem

analisadas em essência, percebe-se que tratam de atos materialmente

normativos.

O Supremo Tribunal Federal - STF- vem aceitando reiteradamente

ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) contra resoluções de Tribunais de

Justiça (TJ), desde que tenham indiscutível caráter normativo.

Assume, igualmente, como função atípica, a administrativa quando, por

exemplo, o TJ realiza concurso para provimento de cargo de magistrado.

Sempre que se fala em fiscalização da atuação do Judiciário, nota-se,

por parte da doutrina e dos próprios magistrados, uma veemente contestação

no sentido de entender que se trata de controle externo do judiciário, assunto

muito em voga.

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Convém lembrar que, dentro do sistema de freios e contrapesos, já

existem vários mecanismos de controle do Judiciário pelo Legislativo e pelo

Executivo. Vejamos:

a) fiscalização financeiro-orçamentária – o orçamento do

Judiciário será aprovado pelo Legislativo, através do Tribunal de Contas;

b) Os Ministros do STF (órgão de cúpula do Judiciário) são

nomeados pelo Presidente da República (Executivo), mediante prévia

sabatina do Senado Federal (Legislativo);

c) Os Ministros do STF, caso pratiquem crimes de

responsabilidade, serão julgados pelo Senado Federal;

d) Investidura nos tribunais superiores – são submetidas as

listas ao chefe do executivo;

e) Quinto constitucional.

A discussão que se coloca atualmente é de que esse controle é muito

tênue, não havendo um mecanismo para monitorar, de forma efetiva, a

atuação do Judiciário.

Alinhada a essas premissas constitucionais, a CRFB/88 fez a previsão

da existência de um Conselho de Justiça, hoje atuando no âmbito do próprio

Judiciário.

Aqueles que rejeitam o controle externo alegam que a separação dos

poderes é cláusula pétrea e qualquer Emenda Constitucional que viole esse

princípio é inconstitucional, ou seja, está eivada de inconstitucionalidade a

norma constitucional superveniente.

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CAPÍTULO 2

A ORGANIZAÇÃO DO PODER EXECUTIVO NA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

No Brasil, o Presidente da República é eleito para exercer um mandato

com prazo certo de 04 (quatro) anos, admitida 01 (uma) reeleição.

O Presidente da República exerce o Poder Executivo, sendo auxiliado

por seus ministros. Isso significa que não há uma legitimidade entre o povo e o

ministro.

O ministro ocupa somente um cargo comissionado de livre nomeação

e livre exoneração pelo Presidente da República.

A natureza do cargo de Ministro de Estado é de cargo comissionado.

Os ministros sequer são submetidos à sabatina do Senado. São efetivamente

escolhidos de forma livre pelo Presidente da República.

O Presidente da República acumula as atribuições de chefia de Estado

e de chefia de Governo. Isso é facilmente verificado tão somente pela leitura

dos incisos do art. 84 da CRFB/88.

O mencionado dispositivo constitucional, que cuida das atribuições do

Presidente da República, confere algumas atribuições de chefia de governo,

como, por exemplo, o inciso primeiro, que cuida da nomeação e exoneração

de ministros, e outras atribuições de chefia de Estado – por exemplo, declarar

guerra, fazer a paz.

O Presidente da República é eleito por votação direta pelo povo. Se

nenhum candidato obtiver o número mínimo, que é o voto da maioria absoluta

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dos votos válidos (excluídos os votos nulos e os votos em branco), haverá

segundo turno, a ser realizado no ultimo domingo do mês de outubro do ano

do término do mandato.

Configura-se um conflito entre duas normas constitucionais a previsão

do caput do art. 77 que prevê que o segundo turno é realizado no ultimo

domingo do mês de outubro, e o §3º desse mesmo artigo, que prevê que o

segundo turno é realizado vinte (20) dias depois da proclamação do resultado

do primeiro turno.

Tendo em vista não haver agressão à clausula pétrea, a norma do

caput é norma dada por Emenda Constitucional, então não se aplica o

princípio da supremacia da Constituição – não há porque declarar a

inconstitucionalidade dessa previsão do caput – aplica-se, então, o princípio da

unidade da Constituição.

Há, na realidade, um conflito que vai ser solucionado pelo critério

temporal: a norma mais nova é a norma do caput, que prevê o ultimo domingo

do mês de outubro, e houve revogação tácita da norma do §3º, que prevê que

o segundo turno será realizado vinte dias depois da proclamação do resultado.

Soluciona-se então, hoje, aplicando-se a previsão do caput que tem a

redação dada por Emenda Constitucional.

O Presidente da República tem sua atribuição prevista no art. 81, da

CRFB/88, bem como assume participação larga no processo legislativo com a

possibilidade de edição de medidas provisórias.

Entre essas demonstrações de poder no processo legislativo, algumas

podem ser elencadas, por exemplo: o Presidente da República é o único órgão

que tem iniciativa legislativa geral e reservada ao mesmo tempo.

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Participa do processo legislativo na terceira fase, que é a fase de

sanção ou veto, caracterizando forma de controlar as atribuições do processo

legislativo.

O Presidente da República, na segunda fase – de discussão e votação

- pode apresentar pedido de urgência, fazendo com que também seja dada

prioridade a projeto de sua iniciativa.

Nesse sentido, o Presidente da República realmente tem várias

prerrogativas, não só administrativas quanto legislativas

Na escala de substituição do Presidente da República, encontram-se o

Vice-Presidente, os presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado

Federal e do Supremo Tribunal Federal.

Observa-se um fato curioso nessa escala, porque o Presidente do

Congresso é o Presidente do Senado Federal. Apesar disso, tem prioridade na

substituição o Presidente da Câmara dos Deputados.

Isso se justifica em razão de a Câmara dos Deputados ser entendida

como a Casa de maior legitimidade, já que ela é composta por representantes

do povo, enquanto o Senado é composto de representantes institucionais dos

Estados da Federação e do Distrito Federal.

Isso faz com que haja uma relevância de legitimidade popular maior da

Câmara, acarretando com que seu presidente tenha precedência em relação

ao Presidente do Senado, nas causas de substituição do Presidente da

República.

Nas causas de sucessão do Presidente da República somente o Vice-

Presidente pode suceder. A sucessão é definitiva.

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Restando vagos os dois cargos, e o segundo cargo vagar, ainda nos

dois primeiros anos do mandato, haverá uma nova eleição direta pelo povo, no

prazo de 90 (noventa) dias.

Tendo em vista que a votação somente ocorre para terminar aquele

mandato – chamado mandato tampão - ou seja, aquele que for eleito não terá

direito a novos 04 (quatro) anos, apenas ficará no cargo até o final daquele

mandato.

Se o segundo cargo vagar nos dois últimos anos do mandato haverá

eleição indireta pelo Congresso Nacional, o qual formará automaticamente um

colégio eleitoral e escolherá um parlamentar para exercer o cargo de

Presidente da República até o final daquele mandato.

Assim, a CRFB/88 ainda preserva uma forma de eleição indireta, caso

o segundo cargo vagar nos dois últimos anos do mandato.

2.1 – Prerrogativas do Presidente da República

O Presidente da República possui várias prerrogativas. Tem

prerrogativa de foro, no julgamento por crime comum, no STF, e é julgado por

crime de responsabilidade no Senado.

E, como ele é julgado por crime comum e por crime de

responsabilidade, há a necessidade de uma instância anterior, que é a

instância de admissibilidade ou formação da culpa.

Essa instância de admissibilidade ou formação da culpa é prévia tanto

ao julgamento por crime comum, no STF, quanto por julgamento de crimes de

responsabilidade, no Senado Federal.

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Essa instância anterior é decidida na Câmara dos Deputados, que vai

exigir o voto da maioria de 2/3 dos deputados. Admitida a culpa, o presidente

vai poder ser processado no STF, por crime comum, ou no Senado Federal,

por crime de responsabilidade.

O julgamento do Presidente da República por crime de

responsabilidade realiza-se no Senado Federal, presidido pelo presidente do

STF, o qual não vota, apenas presidindo a sessão.

Os crimes de responsabilidade estão previstos no art. 86 da CRFB/88,

regulamentado pela Lei 1.079/50.

A Lei 1079/50 vai elencar quais são os tipos de crime de

responsabilidade e o procedimento de impeachment do Presidente da

República. Na maior parte, essa lei está recepcionada pela CRFB/88.

É uma medida para proteção do Presidente da República. Quando se

fala em formação da culpa ou admissão da culpa, não é a culpa consolidada

realmente para a comprovação do crime, mas uma culpa indiciária – há uma

probabilidade de que ele seja culpado.

O Presidente da República possui ainda outras prerrogativas.

Possui imunidade processual temporária quanto à prisão cautelar e

quanto ao processo penal.

O Presidente da República somente pode ser preso por decisão

transitada em julgado. Então, não se aplica ao presidente qualquer

possibilidade de prisão cautelar (prisão em flagrante, prisão preventiva,

temporária, etc).

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Isso é muito mais abrangente do que a imunidade formal quanto à

prisão de parlamentares. Parlamentares não têm imunidades quanto à prisão

preventiva. E, ainda, o Presidente não pode sofrer persecução criminal em

ação penal durante o mandato por fato estranho ao exercício do mandato.

Então, se o Presidente da República cometer um homicídio doloso

simples, ele não pode ser denunciado no STF durante o mandato. Fica

suspensa a prescrição da pretensão punitiva até o termino do mandato.

Diferentemente, ocorre se ele cometer um crime que tenha relação

com o exercício do mandato, em que primeiro há a necessidade da formação

provável da culpa, se a Câmara rejeitar, não for atingido o numero mínimo de

votos (2/3), o procedimento é arquivado. Ele não vai ser perseguido depois do

término do mandato.

O STF declarou a inconstitucionalidade das previsões da Constituição

do Estado do Rio de Janeiro que estendiam ao governador a imunidade

processual quanto à prisão e a imunidade processual quanto ao processo

penal.

As 02 (duas) previsões de imunidade dos §§ 3º e 4º do art. 86, da

CRFB/88, foram objeto de cópia na Constituição do estado do Rio de Janeiro,

e o STF declarou a inconstitucionalidade dessas previsões da Constituição do

Estado do Rio de Janeiro, em relação ao governador.

Entendeu-se que, numa república, as prerrogativas contrariam o

principio republicano de que todos os cidadãos devem ser tratados com iguais

e que as mesmas somente são constitucionais quando são justificadas pela

relevância do cargo.

Portanto, as prerrogativas são sempre funcionais e devem ser

justificadas.

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Como o STF entende que as prerrogativas dos §§ 3º e 4º do art. 86

são prerrogativas do Presidente da República como Chefe de Estado, elas não

podem ser objeto de repetição pelas Constituições dos Estados em relação ao

governador, que exerce apenas Chefia de Governo.

Não se tratam de normas de simetria, não podendo se repetidas pelas

Constituição do Estado do Rio de Janeiro, porque agridem o principio

republicano e são inconstitucionais.

2.2 – Poder Executivo Estadual

O Poder Executivo Estadual é exercido pelo Governador do Estado,

que apenas exerce chefia de governo, num mandato de 04 (quatro) anos, com

possibilidade de 01 (uma) reeleição.

O Governador do Estado exerce como atividade precípua a

administração da entidade federativa.

Tem a mesma iniciativa legislativa do Presidente da República,

entendendo-se que as normas do art. 61, § 1º da CRFB são normas de

simetria a serem obrigatoriamente observadas pelo Poder Executivo Estadual

e pelo processo legislativo do Estado.

O Governador pode cometer crime comum e de responsabilidade. Se

cometer crime comum é julgado em foro com prerrogativa de função, que é o

Superior Tribunal de Justiça (STJ). O STF3 entende que a instância de

admissão de culpa é regra de simetria para o julgamento do Governador.

Então, no caso de um governador ser julgado por crime comum no

STJ, há a necessidade da admissão de culpa pela Assembléia Legislativa.

3 HC 80.511-MG, rel. Min. Celso de Mello, 23.10.2000.

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Ele também poderá ser julgado por crime de responsabilidade. A

Constituição não diz quem julga o governador em crime de responsabilidade.

Em geral, as Constituições dos Estados fixam a atribuição da Assembléia

Legislativa.

No Estado de São Paulo, há a formação de um tribunal híbrido,

formado por deputados estaduais e desembargadores. Então, não

necessariamente será a Assembléia Legislativa o órgão julgador do

Governador do Estado nos crimes de responsabilidade.

2.3 - Poder Executivo Municipal

A chefia de governo, no Município, é exercida pelo Prefeito.

Aqui. há uma variante interessante. O Presidente da República e os

Governadores de Estado podem cometer crime comum e crimes de

responsabilidade.

Os crimes de responsabilidade estão previstos na Lei 1.079/50, o

julgamento é político e a sanção também é política.

Contudo, em relação ao prefeito, não é assim que ocorre. O Prefeito

pode cometer crime comum, e esse crime comum está previsto na codificação

penal.

Quanto ao crime de responsabilidade, ele está previsto no art. 1º do DL

201/67, que comina sanção penal.

Então o que é chamado de crime de responsabilidade do Prefeito na

realidade tem natureza de crime comum. Isso é diferente para o Prefeito. O

que tem natureza política, que é o crime de responsabilidade do presidente da

república, para o prefeito é chamado de infração política administrativa.

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Essa sim, prevista no art. 4º do DL 201/67, que vai cominar a sanção

política de perda de cargo, etc.

Assim, há que se tomar cuidado quando se falar em crime de

responsabilidade do prefeito, uma vez que, na verdade, trata-se de crime

comum.

E quem tem atribuição legislativa para legislar sobre crime de

responsabilidade de Prefeito é a União.

Cabe a União legislar sobre matéria penal, e o crime de

responsabilidade do Prefeito é matéria penal.

O prefeito tem foro de prerrogativa de função no Tribunal de Justiça.

Não necessariamente no plenário, já que a CRFB/88 assim não prevê.

Portanto, nada impede que ou a Constituição do Estado ou o Código

de Organização Judiciária diga que o prefeito será julgado por uma sessão, ou

uma turma.

A jurisprudência do STF, por analogia, inclina-se no sentido de que se

o prefeito cometeu um crime da alçada da justiça federal, ele deve ser julgado

pelo TRF, e se comete crime eleitoral, pelo TRE.

Então, não há uma exclusividade de o órgão julgador ser o Tribunal de

Justiça. É entendido como órgão de segunda instância.

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CAPÍTULO 3

PODER LEGISLATIVO

A função legislativa do Estado significa o poder de editar normas

abstratas e gerais.

Entende-se por norma abstrata aquela que não se exaure com a sua

aplicação ao caso em concreto. A norma tem que ser obrigatória e inovar o

ordenamento jurídico.

A função legislativa não é exclusiva do Poder Legislativo. Tanto o

Poder Executivo (edição de medidas provisórias), quanto o Poder Judiciário

(regimentos internos dos tribunais) também editam normas abstratas que

inovam o ordenamento jurídico.

Uma das funções mais importantes do Poder Legislativo é a função

fiscalizadora, qual seja, o exercício do controle externo sobre a atividade dos

outros Poderes Constitucionais, os quais se realizam mediante a CPI (Art. 58,

§3º), pelo Tribunal de Contas da União e pelos Tribunais de Contas dos

Estados. (art. 71 a 75), dentre outras.

A função fiscalizadora do Poder Legislativo ocupa um papel tão

importante quanto a função legislativa.

Para poder haver fiscalização dos outros poderes, é preciso haver

imunidade dos membros do legislativo.

A imunidade não é privilégio do parlamentar. É uma prerrogativa do

Parlamento e não do parlamentar, individualmente considerado.

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Trata-se de uma garantia para que a composição do Parlamento não

seja alterada pela atuação unilateral dos demais Poderes constituídos.

A imunidade busca manter a unidade do Parlamento imune às forças

políticas externas ao Poder Legislativo. A imunidade parlamentar pode ser

material (ou inviolabilidade – art. 53, caput), ou imunidade formal, ou

processual (art. 53 – parágrafos).

Nos Estados Unidos, desenvolveu-se o controle difuso. Nos países

europeus, há controle concentrado. Há divergência entre o STF e os países

europeus. Os tribunais europeus não fazem parte do Judiciário; são instituídos

somente para o controle da constitucionalidade.

O controle preventivo dá-se, oficialmente, no Legislativo, por meio das

comissões, por meio da Comissão Parlamentar de Justiça e Redação, que

efetuará a analise do projeto de lei para ver se poderá ou não ser

transformado em lei.

O Executivo controlará através do veto presidencial, nos termos do

art.66, §1º, da CRFB/88. Então, o controle preventivo é um controle político

que se dará pelo Executivo ou pelas comissões.

Em algumas determinações, é possível o controle judicial enquanto

ocorre o controle preventivo.

3.1 - Inviolabilidade

O parlamentar não comete ilícito penal ou civil por opinião, palavra ou

voto, desde que guardem um nexo temático com a atividade ou com o

mandato parlamentar, sendo irrelevante o lugar em que o parlamentar

encontre-se ao proferi-los. O parlamentar não pode ser processado porque não

houve qualquer ilícito cometido.

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Na área penal, em razão da imunidade, o ilícito não é praticado. Trata-

se de uma causa excludente de culpabilidade, não persistindo qualquer efeito

penal.

Não é permitida nem mesmo a instauração do inquérito policial, pois já

se constituiria um constrangimento ilegal. O inquérito policial, caso seja

instaurado, enseja a impetração de Habeas Corpus.

No entanto, não impera o princípio da inviolabilidade em face da

própria Casa Legislativa do parlamentar, que pode aplicar uma sanção de

cunho político ou administrativo ao seu membro, em razão de palavras ou

opiniões proferidas, tais como cassação do mandato, advertência, entre outros.

Com a edição da Emenda Constitucional nº 35, que alterou a redação

do artigo 53, da CRFB/88, a imunidade parlamentar estendeu-se à esfera

penal e civil.

Nada obstante, mesmo antes dessa Emenda Constitucional, o STF já

entendia que a imunidade se estendia tanto à esfera civil quanto à penal.

A Emenda Constitucional nº 35 somente veio positivar o

posicionamento jurisprudencial do STF, que era o entendimento firmado por

Pontes de Miranda.

O deputado estadual possui imunidade material e processual nos

mesmos moldes dos deputados federais, em razão do art. 27, §1º, da

CRFB/88.

Os vereadores também gozam de imunidade material (não a

processual), mas só na circunscrição do Município onde exerce seu mandato

(art. 29, VIII, CRFB/88), não se estendendo à região metropolitana, se for o

caso, sendo bem restrita, se comparada com a do deputado estadual.

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3. 2 - Imunidade Formal ou Processual

Refere-se exclusivamente ao processo penal. A imunidade formal tem

seu início com a diplomação do parlamentar e não com a sua posse.

A diplomação é a declaração de conteúdo administrativo da Justiça

Eleitoral, anunciando o resultado final da eleição, com a entrega do respectivo

diploma.

Não há data prevista constitucionalmente, e, em regra, ocorre 01 (um)

mês antes da posse. Da mesma forma, o foro por prerrogativa de função

também se dá desde a diplomação.

3.3 - Da Prisão do Parlamentar

Desde a diplomação, o parlamentar somente pode ser preso em razão

de flagrante por crime inafiançável (art. 53, §2o, CRFB/88).

Tal regra visa impedir a alteração da composição do Parlamento pela

ação de outro poder. Neste caso, os autos são enviados diretamente para a

Casa Legislativa correspondente, em 24 (vinte e quatro) horas.

Pela imunidade processual, ocorre um diferimento da atuação

jurisdicional. A imunidade formal não afasta a atuação do Judiciário. Há uma

suspensão do processo e da prescrição, por determinação expressa da

CRFB/88.

A condenação penal transitada em julgado importa na suspensão dos

direitos políticos. No entanto, só haverá perda do mandato (art. 55 § 2o) se

assim decidir a Casa Legislativa, por maioria absoluta, pela cassação do seu

parlamentar. A perda dos direitos políticos impediria, contudo, a reeleição do

parlamentar.

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As normas relativas a prisão dos deputados federais são extensíveis

aos estaduais (art. 27, §1º, CRFB/88) , mas não aos vereadores, mesmo que a

Constituição Estadual a preveja.

A referida previsão na norma constitucional estadual seria

inconstitucional, porque o princípio republicano da responsabilidade dos

governantes somente pode ser excepcionado pela norma constitucional

federal.

Além disso, a competência para legislar sobre processo penal é

privativa da União, não podendo a Constituição Estadual fazê-lo.

Pela mesma razão, a imunidade integral do Presidente da República

não pode ser estendida aos governadores de Estado nem aos prefeitos, por

simetria, pois violaria o princípio republicano da responsabilidade dos

governantes.

A imunidade formal só poderia ser estendida aos vereadores por

emenda à Constituição Federal, desde que tal emenda não seja tendente a

abolir cláusula pétrea, no caso, a que versa sobre a independência dos

poderes (retirada de competência do poder judiciário).

As imunidades visam manter a integridade do Parlamento contra o

atuar político dos demais poderes constituídos. Por isso, essa imunidade não

acompanha os parlamentares que se afastam do cargo para ocuparem outros

cargos no governo, tais como ministro, secretários de estado, entre outros.

3.4 – Sessões Conjuntas do Congresso Nacional

Nas sessões conjuntas do Congresso Nacional, são reunidos, em um

mesmo lugar e, ao mesmo tempo, os membros do Senado Federal e da

Câmara dos Deputados.

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Entretanto, os votos dos parlamentares são computados,

separadamente, para cada Casa Legislativa, à exceção da Revisão

Constitucional prevista no art. 3º do ADCT, ocasião em que os votos foram

computados em conjunto, em sessão unicameral.

Mesmo nas comissões mistas do Congresso Nacional, temporárias ou

permanentes, os votos são computados separadamente.

3.5 - Comissões Parlamentares

São formadas por grupos de parlamentares. Pode ser na Câmara dos

Deputados, na Câmara dos Vereadores, nas Assembléias Legislativas. Há

divisão no âmbito no Direito Constitucional.

Podem ser formadas por membros da Câmara dos Deputados, do

Senado Federal, além de existirem as comissões mistas.

Podem ser permanentes ou temporárias.

As permanentes têm como atribuição projetos de leis e outras

atribuições que lhes cabem. São desenvolvidas de acordo com temas que o

Legislativo reputa importante.

No Regulamento Interno da Câmara dos Deputados, no art.32, dispõe

que terão efeitos as Câmaras de Informática. Não pode haver comissão com

menos de 5% (cinco por cento) ou mais de 12% (doze por cento) dos

deputados.

Entre as comissões permanentes, a Comissão de Constituição e

Justiça e Redação (CCJ) é a mais importante, porque os projetos de lei

sempre lhes serão submetidos para que seja apreciada a sua

constitucionalidade, de maneira preventiva.

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Com efeito, a atribuição se dá por conta de interesse de grupos.

Começam a trabalhar no início da legislatura. O art.58 da CRFB/88 delimita

como funcionam as comissões.

A composição vai tentar, o máximo possível, trazer uma participação

de todos os partidos presentes componentes na Câmara dos Deputados e no

Senado Federal.

As comissões podem ser temporárias, visto serem atribuídas por

período de tempo determinado. O dispositivo aurorizador é o art. 58 da

CRFB/88. São determinadas no regulamento interno de três tipos:

− Especiais: criadas no Regimento Interno da Câmara dos

Deputados. Quando houver projetos sobre emenda

constitucional, haverá comissão parlamentar que analisará e será

responsável pelo direcionamento do processo legislativo, assim

como nos projetos de Código.

Quando houver mais de três comissões envolvidas em um projeto de

um tema que exclui qualquer outra dessas comissões, por exemplo, Direitos

Humanos, a comissão de Direitos Humanos terá que opinar.

As comissões emitirão pareceres e instituirão uma comissão especial

que será a diretora, a qual norteará o estudo. A comissão especial terá um

grau de hierarquia superior.

− Externas: vão relacionar-se a temas relevantes para comissões,

de um modo geral, e atuarão fora do ambiente do Legislativo, ou

seja, estabelecerão missões fora do Congresso Nacional.

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Por exemplo, envia-se um grupo de Brasília ao Piauí para analisar

alguma situação. Quando há comitivas de presidentes, cria-se uma comissão

externa para acompanhar o Presidente, para analisar algum tema importante.

− Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI: serão instituídas

quando houver um fato determinado e relevante que seja de

interesse público e que deva ser objeto de profunda análise. A

função primordial da CPI é a investigação. A CPI, muitas vezes,

exorbita de seus poderes, pois esses poderes não estão

devidamente determinados na CRFB/88 e nos regimentos

internos e aqueles que a dirigem, em regra, não possuem

formação técnica, ocupando posição de temor reverencial.

O art.58 da CRFB/88 refere-se, no caput, a comissões permanentes e

temporárias. Seus parágrafos determinam seus aspectos, mas as divisões

estão indicadas no regulamento interno.

No parágrafo 4° do art. 58 da CRFB/88, é tratada a comissão

representativa do Congresso Nacional, a qual é constituída nos intervalos fora

da legislatura.

Enquanto não estiver atuando o Congresso, deve haver uma comissão

representativa. Como não tem caráter de substituir temporariamente um grupo,

não é colocada como comissão temporária.

Na comissão prevista no parágrafo 2°, inciso I, do art. 58 da CRFB/88,

é cabível a discussão de projeto de lei.

Dependendo dos temas a serem abordados, os projetos de lei podem

ser discutidos somente nas comissões. O restante dos incisos pode ser

aplicado às CPIs.

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No parágrafo 3º do art. 58 da CRFB/88, encontra-se o poder de

investigação cabíveis às CPIs, os quais são das autoridades policiais.

Sejam as comissões permanentes, temporárias ou representativas,

busca-se a proporcionalidade partidária.

A CRFB/88 não fala do limite da CPI. Esta pode requerer a quebra de

sigilo fiscal, bancário e de dados, o que é previsto nos regimentos internos e

pelo STF.

A CPI pode quebrar o sigilo telefônico, mas não pode interceptar as

ligações, já que, nesse caso, violaria o art.5°, inciso XII, da CRFB/88.

No caso da testemunha, esta pode ser ouvida, inclusive, com a

condição coercitiva. Nesse caso, a CPI estará atuando como longa manus do

Judiciário.

Considerando-se, então, que está podendo atuar como Judiciário,

também è assegurado à testemunha preservar-se no direito ao silêncio, não

desejando se levar à auto-incriminação, respaldando-se na garantia

constitucional de não ser obrigado a fazer prova contra si mesmo, ou porque

encontre-se na condição de ocupante de determinado cargo ou profissão que

o impeça de falar .

Na hipótese de diligência de busca e apreensão, há aqueles que

acreditam ser possível sua realização, em uma CPI, desde que atendidos

alguns pressupostos.

Na ótica daqueles que entendem ser viável a busca e apreensão,

exige-se que haja, concomitantemente, decisões fundamentadas no âmbito da

CPI; deve haver determinação específica, sob pena de exorbitância do direito;

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não pode haver busca e apreensão de medidas assecuratórias como o arresto,

por exemplo.

A necessidade de fundamentação das decisões não significa que essa

exigência tenha que se formalizar nos documentos escritos, ou seja, todas as

decisões devem estar fundamentadas, mas basta que haja real evidência que

indique essa atividade sem que haja, necessariamente, formalidade.

Quanto à investigação das decisões judiciais, estas são atividades

específicas do Judiciário. Há atividades do Judiciário que não são judiciárias,

podem ser administrativas.

O que é permitido para as CPIs é ir até onde haja ato tão somente

administrativo, pois se houver imposição de determinação da CPI em relação a

atos judiciais, como decisão judicial, evidencia-se uma interferência dos

poderes.

No caso, ficaria configurada a atuação do Legislativo no Judiciário,

ainda que a função da CPI seja uma função tão exposta do Judiciário para o

Legislativo.

Nesse sentido, não pode haver indisponibilidade de bens por ser

violação ao direito de propriedade.

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CAPÍTULO 4

PROCESSO LEGISLATIVO E ESPÉCIES

NORMATIVAS

4.1 – Processo Legislativo

O Congresso Nacional é formado por duas câmaras: Senado

(representantes dos Estados) e Câmara dos Deputados (representantes do

povo).

Há grupos distintos representados na Assembléia Legislativa. Nesse

caso, caberia a eleição dos senadores à Assembléia Legislativa pelo voto

indireto, para que haja representação do povo na forma mais básica. Assim

nasceu o federalismo bicameral nos Estados Unidos.

O Senado (Câmara Alta) é mais conservadora e nosso sistema

federativo bicameral atende a isso. Por exemplo, mandato de 8 (oito) anos,

enquanto deputado tem 4 (quatro) anos. A idade mínima para exercício do

cargo de senador é de 35 (trinta e cinco) anos e para deputado, 21 (vinte e

um) anos.

A Câmara desempenha a função iniciadora e o Senado, a função

revisora, uma vez que é conservadora. Assim, o nosso bicameralismo assume

a forma de bicameralismo conservador.

Há projetos, de própria iniciativa do Senado Federal, portanto, lá se

iniciando, assim como lei complementar e lei ordinária.

Na Câmara dos Deputados (Câmara Baixa), iniciam-se os projetos de

lei da própria Câmara, aqueles do Presidente da República (art.64, CRFB/88),

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do Procurador da República, dos Tribunais Superiores, do STF e do povo

(art.61, §2°, CRFB/88). Trata-se de uma casa iniciadora.

A fase constitutiva inicia-se com a deliberação legislativa, que começa

na casa iniciadora.

Tem-se a análise por parte das comissões temáticas se for um tema

de determinada comissão e também pela comissão de constituição e justiça e,

depois dos pareceres de cada uma delas, se chegará ao plenário.

Aqui ocorre controle de constitucionalidade preventivo.

O quorum é diferenciado. Maioria absoluta é a metade mais um (em

uma câmara de cem, por exemplo, a maioria é de cinqüenta e um). Maioria

simples é a maioria dos presentes. Para que se dê o quorum de instalação da

sessão é necessária a maioria absoluta.

A lei complementar demanda quorum de maioria absoluta, enquanto a

lei ordinária pede quorum de maioria simples.

Vai para a casa revisora pedindo o mesmo procedimento. Pode

ocorrer a rejeição, a emenda ao projeto, ou a aprovação.

Ao ser rejeitado, será arquivado. Sendo arquivado, só pode ser objeto

de apreciação em nova legislatura.

Com a emenda na casa revisora, volta o projeto para a casa iniciadora.

A casa iniciadora analisará somente a emenda, nos termos do art. 58, §2°,

inciso I, da CRFB/88

Há ocasiões em que pode haver votações fechadas nas comissões.

Deve-se lembrar que, se não houver quorum, não haverá votação. Se a

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comissão se pronunciar pela inconstitucionalidade, o projeto de lei não irá

seguir.

Na aprovação, podem ocorrer duas situações: sanção ou veto.

Quando aprovado pelo Legislativo vai para o Executivo na figura de seu chefe,

ou seja, o Presidente da República.

Ocorrendo a sanção, inicia-se a fase complementar.

São três fases: fase de iniciativa (o projeto será apresentado a uma

das câmaras alta ou baixa); fase constitutiva (há deliberação legislativa) e; fase

complementar (sanção e com o veto).

O veto tem prazo de 15 (quinze) dias para ser efetivado. Caso haja

veto, há o prazo de 48 (quarenta e oito) horas para se comunicar ao presidente

do Senado Federal seu motivo.

Pode ser total ou parcial, sendo contrário a uma inconstitucionalidade

ou ao interesse público.

Se não ocorrer a motivação, é como se o Presidente não tivesse

vetado nada, assim como se respondesse em 15 (quinze) dias é como se não

tivesse votado.

Desta forma, o Presidente do Senado Federal, nos termos do §7° do

art.66 da CRFB/88, deverá promulgar a lei.

Sancionado o texto, há a fase complementar. A promulgação confere a

executoriedade (atestado de validade da lei) e a publicação estabelece a

notoriedade da lei.

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Uma vez vetado, o veto deve ocorrer em 15 dias, total ou parcial,

devendo ser motivado. Não havendo o veto em nenhuma dessas duas

condições (temporal e motivação), opera-se a chamada sanção tácita (art.66,

§3º, CRFB/88).

Tendo sido vetado corretamente, portanto, no prazo de 15 (quinze)

dias e motivado, levando em consideração as questões abordadas, haverá

sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal no prazo de

30 (trinta) dias nos termos do art.66, §4°, da CRFB/88, em que ocorrerá

escrutínio secreto e só poderá rejeitado pela maioria absoluta, ou seja, quorum

especial.

Pode haver aprovação, mantendo-se o veto e pode haver a rejeição do

veto. Se aprovado, o veto não tem problema. Se rejeitado o veto, o Presidente

não desejará promulgar, então, o presidente do Senado Federal promulga nos

termos da Constituição, devendo-se atentar, ainda, para a possibilidade de

votação pelas comissões, nos termos do art.58, §2°, inciso I, da CRFB/88.

A questão é se pode haver o controle judicial posterior (repressivo) no

processo legislativo. No caso do Brasil, é misto.

A CRFB/88, nos arts. 59 a 69, refere-se ao processo legislativo. Deve-se

observar que o estudo do processo legislativo é cada vez mais relevante,

porque uma série de argüições vem sendo acolhidas no STF ou nos demais

tribunais pátrios relacionadas basicamente a algum vício na elaboração do ato

normativo.

Então, o estudo do processo legislativo é importante tanto em termos

práticos, como em termos acadêmicos.

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4.2 - Espécies Normativas

O art. 59 da CRFB/88 elenca todas as espécies normativas previstas no

Texto Constitucional, mais não é um rol taxativo. É uma classificação formal dos

atos normativos previstos na CRFB/88, mas, muitas vezes, existem

determinados atos que têm cunho normativo, mas não se inserem nesse rol

normativo.

Podemos observar que, em sede de controle abstrato de

constitucionalidade, as ADI’s propostas no STF têm como relevância atentar

somente para o caráter formal do ato normativo.

Devemos atentar, em sede de controle abstrato, o caráter normativo do

ato. Pode existir uma lei ordinária que não veicula uma norma que seja de

caráter abstrato e genérico.

Ela seria lei somente em sentido formal. E sendo uma lei somente em

sentido formal, não será passível de controle de constitucionalidade em sede de

controle abstrato.

De outro lado, pode existir um decreto que tenha uma norma primária

de caráter genérico e abstrato e, apesar de a doutrina preconizar que não existe

o decreto autônomo, uma vez editado tal decreto que traga inovação ao

ordenamento jurídico, será ele passível de controle abstrato.

Então, para o controle de constitucionalidade deve-se sempre atentar

para o conteúdo daquele determinado ato, e não somente por serem elencados

no art. 59 da CRFB/88 que será passível de controle de constitucionalidade.

Deve-se observar se o ato é materialmente normativo.

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Todos os atos atualmente devem ser interpretados a partir da Carta

Magna. Havendo a compatibilidade, serão os atos reputados como

constitucionais, caso contrário, serão inconstitucionais e não terão aplicação.

4.3 - Emenda Constitucional

Na pirâmide normativa de Kelsen, as normas constitucionais ocupam

seu vértice. Esse princípio da supremacia da CF seria esvaziado, se não

conjugássemos o princípio com outras regras previstas no texto constitucional,

que são a rigidez constitucional de um lado e a existência de instrumentos

processuais para controle da violação das normas constitucionais de outro lado.

Não basta proclamar que há uma supremacia da CF, devem-se criar

mecanismos práticos para que essa hegemonia seja observada efetivamente.

Ocorrendo o descumprimento das normas constitucionais, teremos os meios

para assegurar o cumprimento das normas constitucionais.

A rigidez constitucional preconiza que, para podermos mudar o texto da

CRFB/88, será necessário um procedimento mais solene. Se fosse permitido

que qualquer norma alterasse a CRFB/88, vigeria o princípio de que norma

posterior revoga norma anterior naquilo que for com ela incompatível.

Daí serem criadas as Emendas Constitucionais, que devem ter iniciativa

do Presidente da República, de pelo menos 1/3 de cada Casa Legislativa ou de

mais da ½ das assembléias legislativas.

Contudo, a própria iniciativa da Emenda é mais solene e enfoca bem a

rigidez constitucional. A aprovação da emenda só se dará com 3/5 de cada

Casa legislativa, outro fator a inibir a alteração das normas constitucionais.

A Emenda Constitucional somente existe em função do princípio da

supremacia da CRFB/88, que preconiza que todos os atos editados num

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determinado ordenamento jurídico devem ter seu fundamento de validade nas

normas constitucionais.

Ao lado da rigidez existem instrumentos para assegurar a supremacia

da CF. Que instrumentos são esses? É tanto a previsão das ADIs como do

Mandado de Injunção, assim como as ações judiciais em que, por via incidental,

pode-se abordar a questão da inconstitucionalidade.

Tem-se todo um sistema judiciário visando à proteção da supremacia da

CRFB/88.

Existe ainda o denominado núcleo imodificável da CRFB/88. Esse tema

é objeto de diversas controvérsias atuais, após a discussão que a Emenda

Constitucional nº 41/03 travou ao instituir a Reforma da Previdência e o teto

remuneratório no âmbito dos servidores públicos.

Houve a propositura de ADIs4 questionando a taxação dos inativos e o

teto remuneratório. Nessa ADI, travaram-se diversos questionamentos da atual

inserção desse núcleo modificável da CRFB/88 no atual ordenamento jurídico.

A primeira das argüições era basicamente a existência de direito

adquirido. E o direito adquirido insere-se nesse núcleo imodificável da CRFB/88.

Em contrapartida, os entes federados começaram a questionar o

seguinte: o direito adquirido não pode ser alegado irrestritamente, não se podem

criar direitos eternos e o constituinte originário não poderia criar situações

eternas e sobrepor sua vontade a todos os ordenamentos jurídicos.

4 ADI 3105/DF e ADI 3128/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, rel. p/acórdão Min. Cezar Peluso, 18.8.2004. (ADI-3105) (ADI-3128)

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Entendeu-se que se poderiam modificar as regras tangenciais sem

modificar o núcleo da CRFB/88. Poder-se-ia aparar somente as arestas no que

se denomina direito adquirido.

Essa questão é muito controversa, pois envolve, inclusive, uma técnica

de julgamento que é a ponderação de valores e interesses.

O voto condutor da ADI, proferida pelo Min. Cezar Peluso, tangenciou

essa questão de ponderação de interesses, a questão de modificação de

direitos adquiridos e deu uma fundamentação nitidamente tributária.

Mas, outros Ministros, a exemplo do Min. Sepúlveda Pertence, entraram

diretamente na questão de ponderação de interesses e flexibilização de direitos

adquiridos, para invalidar eventual alegação de direito adquirido.

Existem as limitações materiais do Poder de Reforma denominadas pela

doutrina como cláusulas pétreas, em que existem diversos princípios e preceitos

da CRFB/88, no qual são exemplos os direitos e garantias fundamentais que

não podem sofrer qualquer tipo de alteração pelo constituinte derivado.

Então existem diversas matérias na CRFB/88, elencadas no §4º do art.

60 . O STF já decidiu que existem ainda diversas outras matérias espalhadas no

texto constitucional que também não podem ser objeto de modificação.

Isso veio à tona no julgamento de ADI proposta em face da Emenda nº

3 que instituiu o imposto provisório sobre movimentações financeiras (IPMF),

pois a referida espécie normativa não respeitava o princípio da anterioridade

tributária.5

5 ADI 939/DF, rel. Min. Sydney Sanches, 18.3.94 (ADI 939)

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O STF, assim, chancelou que o rol do §4º do art. 60 da CRFB/88 não é

numerus clausus, tendo em vista que o princípio da anterioridade tributária não

está descrito naquele rol.

O STF decidiu que qualquer norma que tenha natureza de garantia

fundamental ou garantia individual fundamental, independente da posição

topográfica, também será abarcado pelo núcleo imodificável da CRFB/88.

Além das limitações materiais para alteração da CRFB/88 existem as

limitações formais.

Essas alterações consistem no próprio processo legislativo, na

elaboração das Emendas Constitucionais.

Por fim, existem as limitações implícitas, as quais não decorrem do texto

expresso da CRFB/88, mas que o STF já reconheceu como sendo limitações da

alteração da CRFB/88.

Nesse sentido, se uma emenda altera o processo legislativo de

elaboração da emendas, haverá uma inconstitucionalidade, porque se altera

uma matéria que é uma limitação implícita da CRFB/88. Todas as regras do art.

60 do Texto Constitucional são limitações implícitas.

As emendas são passíveis de controle abstrato de constitucionalidade,

ao contrário das normas constitucionais originárias. Sempre que houver uma

emenda constitucional que atente contra as limitações acima, será ela passível

de controle em dois momentos.

Nas emendas, não há a fase da sanção, não é um ato complexo,

porque há uma edição somente pelo Poder Legislativo.

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Outra forma de controle de constitucionalidade dar-se-ia pela

impetração de Mandado de Segurança (MS) por parlamentar que integre a Casa

Legislativa, onde está sendo votada a emenda. O STF entende que o

parlamentar tem direito ao devido processo legislativo.

Ocorre um dado peculiar nos casos de MS impetrado por parlamentar

contra Projeto de Emenda Constitucional (PEC). Se o projeto de lei se

converter na própria emenda, deve o MS ser extinto, pois da emenda já

publicada só caberá ADI.

O STF entende que, se o MS não for extinto, haverá a usurpação da

competência do Tribunal, que deve julgar a constitucionalidade da emenda

através de ADI.

Observe-se, ainda, que a ADI não poderá ser proposta contra projeto

de lei.

4.4 - Lei Ordinária e Lei Complementar

A iniciativa prevista na CF pode ser geral, que é dada ao integrante das

Casas Legislativas, ao Presidente da República, ao STF, aos Tribunais

Superiores, ao Procurador Geral da República e aos cidadãos, na forma da lei

(art.61, CRFB/88).

A iniciativa popular quase foi inviabilizada pela CRFB/88, pois ficou mais

fácil a um grupo da sociedade, que tenha determinado interesse, pressionar um

parlamentar para propor a iniciativa da lei, do que ver cumprida a exigência de

se arrecadarem milhares de assinaturas no âmbito de diversos Estados.

Ao lado dessa iniciativa geral, temos a iniciativa reservada, em que as

matérias, em função de seu conteúdo normativo, são de iniciativa específica do

Chefe do Executivo.

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É o que preceitua o §1º do art. 61 da CRFB/88. É uma norma de

repetição obrigatória tanto pelas Constituições Estaduais como pelas Leis

Orgânicas, pelo princípio da simetria constitucional.

A iniciativa de lei pelo Legislativo que trate de uma das matérias

elencadas no §1º do art. 61 da CRFB/88, mesmo que percorra todo o processo

legislativo e seja submetida à sanção pelo Chefe do Executivo, não será

convalidada, permanecendo o vício de inconstitucionalidade. A vontade do

Chefe do Executivo não pode se sobrepor à vontade da CRFB/88.

O que é importante é a distinção entre as inconstitucionalidades formais

e materiais. A segunda é fácil de ser visualizada porque se dá sempre que uma

norma atentar contra preceitos materiais da CRFB/88, como, por exemplo, no

caso de violação do direito à propriedade.

Já nos casos de inconstitucionalidade formal, o vício decorre de uma

inobservância de uma regra sobre o processo legislativo.

Os doutrinadores fazem uma distinção de duas espécies de

inconstitucionalidade formal: a primeira é a orgânica – quando se tem a

inobservância de uma regra de competência..

A inconstitucionalidade formal propriamente dita é a inobservância do

processo legislativo próprio. Está estritamente relacionada com as regras de

elaboração dos atos normativos previstos nos art. 59 a 69 da CRFB/88.

Uma vez aprovada pelas Casas Legislativas, a espécie normativa é

submetida à sanção ou veto do Chefe do poder Executivo. Sendo que as

emendas constitucionais não observam essa fase, em que basicamente

ocorrerá a sanção sem a necessidade de fundamentação, mas se o Chefe do

Executivo vetar um projeto de lei, terá que fundamentar.

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Poderá ele invocar dois motivos: a inconstitucionalidade do projeto e o

interesse público. É o momento em que se exerce o controle prévio dos atos

normativos.

É a aferição pelo Chefe do Executivo da constitucionalidade daquele

projeto normativo; ou o Chefe do Executivo pode entender que o determinado

ato normativo não é oportuno naquele momento político e inconveniente para o

contexto social.

Ele tem discricionariedade para vetar o projeto de lei, sendo que, em

ambas as hipóteses, o veto deve ser fundamentado.

Uma vez ultrapassada essa fase da sanção ou veto, se houver sanção,

o projeto é submetido à promulgação e publicação. Se houver o veto do projeto

de lei, retorna à Casa Legislativa que pode ou não derrubar o veto. Quem dá a

palavra final sobre os atos normativos é o Poder Legislativo.

Com a publicação, temos a inserção desse ato normativo no

ordenamento jurídico.

Lançando-se agora outra questão, há hierarquia entre lei complementar

e lei ordinária?

Não há essa hierarquia. Se analisarmos toda a doutrina clássica sobre

direito constitucional, veremos que está preconizada a hierarquia entre as leis.

Na pirâmide normativa de Kelsen, o ápice da pirâmide é a CRFB/88, logo abaixo

está a Lei Complementar, seguida pelas Leis Ordinárias.

Então, de acordo com esse entendimento doutrinário, as leis ordinárias

devem ser lidas não só a partir da CRFB/88, mas também das leis

complementares.

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O fundamento de validade das leis ordinárias também vai estar nas leis

complementares que se encontram hierarquicamente acima delas.

Esse ensinamento era ministrado até pouco tempo e alguns

doutrinadores ainda preconizam essa hierarquia, a exemplo de Alexandre de

Moraes e José Afonso da Silva.

Qual é o entendimento diverso? É o de que não há hierarquia entre leis

complementares e leis ordinárias, porque as leis têm campos próprios de

atuação.

A CRFB/88 estabeleceu que determinadas matérias devem ser

disciplinadas por leis complementares e, sempre que tivermos uma lei ordinária

que invada esse campo das leis complementares, haverá a

inconstitucionalidade, não por hierarquia entre os atos normativos, mas sim

porque a CRFB/88 estabeleceu que aquela matéria deveria ter sido tratada por

lei complementar.

Quais são as conseqüências práticas disso? E onde isso foi aventado

pela primeira vez? Essa questão chegou ao STF em diversos questionamentos

sobre a lei complementar nº 70/91, que instituiu a Cofins6.

Não há nenhuma norma constitucional que preveja que a Cofins deveria

ser tratada por lei complementar, só que, por excesso de zelo, ou descuido, ou

por qualquer outro motivo, foi editada a lei complementar, e não precisava ser

assim, bastando uma simples lei ordinária para veicular a instituição desse

tributo e sua disciplina.

Posteriormente foi editada uma lei ordinária, alterando alguns

dispositivos dessa lei complementar anterior. Então, uma lei ordinária posterior

alterava e revogava uma lei complementar anterior.

6 RE 381964/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 14.3.2007. (RE-381964)

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Se for adotado o entendimento de que há hierarquia entre as normas,

jamais uma lei ordinária poderia revogar uma lei complementar.

O STF, apreciando essa matéria, pronunciou-se no seguinte sentido: é

perfeitamente legítimo que uma lei ordinária altere essa lei complementar,

porque ela é lei complementar só formalmente, mas tem status de lei ordinária,

tendo em vista que a CF preceituou que a matéria não precisava ser veiculada

por lei complementar.

Adotou, dessa forma, o entendimento de que não há hierarquia, mas

tão-só campos diversos.

É lógico que, se a CRFB/88 entendeu que determinada matéria tem que

ser veiculada por lei complementar e o legislativo trata da matéria em lei

ordinária, haverá sim um vício de inconstitucionalidade, mas não por hierarquia.

A implicância dessa questão é que o STJ não entende dessa forma.

Para esse tribunal, há hierarquia entre as normas. Existem diversas questões

tributárias que acabam nessa discussão e a maioria dessas questões são

decididas pelo STJ.

4.5 - Lei Delegada

Ultrapassados essas discussões, vamos analisar a lei delegada. A

referida lei está prevista no art. 59. Ela foi praticamente esvaziada pela previsão

das medidas provisórias no campo constitucional.

Essa lei pressupõe uma prévia autorização do Poder Legislativo para

legislar sobre determinada matéria. Quando o Chefe do Executivo não quer

adotar as medidas provisórias, ele prefere encaminhar um projeto de lei pelo rito

normal a ter que solicitar uma prévia autorização para editar uma resolução com

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a lei delegada. Observe-se que após a CRFB/88, não foi editada nenhuma lei

delegada.

4.6 - Medida Provisória

Para a edição de medidas provisórias, o Chefe do Executivo não precisa

de prévia autorização do Poder Legislativo para disciplinar determinada matéria,

então as mesmas se tornam mais rápidas, lembrando-se, ainda, que as

medidas provisórias foram uma inovação do texto constitucional de 1988.

Posteriormente, houve a edição da Emenda Constitucional nº 6, que

impôs uma limitação à edição das medidas provisórias. Não se podia ter medida

provisória regulamentando texto constitucional alterado por emenda

constitucional.

Mais tarde, foi editada a Emenda Constitucional nº 32, que estabeleceu

efetivamente uma série de limitações para edição da medida provisória, não

constituindo em inovações, pois algumas delas condensavam a jurisprudência

que já havia no STF, como, por exemplo, a impossibilidade de edição de

medida provisória sobre matéria penal, questão que sempre foi firme no STF.

A Emenda Constitucional nº 32 instituiu uma série de limitações

materiais e a mais relevante foi a de que não se poderá editar MP sobre matéria

restrita à lei complementar.

Além dessas restrições, o constituinte derivado castrou, de certa forma,

a própria utilização das medidas provisórias.

Na previsão original da CRFB/88, a medida provisória só era submetida

a determinados pressupostos: relevância e urgência, e nada falava da não-

conversão da MP em lei.

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Ocorria que o Chefe do Executivo, no 30º (trigésimo) dia da edição da

MP, reeditava uma nova MP, alterando somente o número, perpetuando a MP,

pois não havia qualquer sanção para essas infinitas reedições.

Hoje vigora que as medidas provisórias têm vigência por 60 (sessenta)

dias podendo ser reeditadas uma única vez e, se ultrapassados 45 dias sem

que a medida provisória tenha sido incluída na pauta de julgamento do

Congresso, ocorre o trancamento da pauta do Congresso, em que nenhuma

outra matéria poderá ser votada sem antes ser analisada a medida provisória.

Esses mecanismos práticos foram criados para conter a edição de

medidas provisórias. No entanto, ainda se utiliza tal espécie normativa.

O STF sempre deu uma interpretação muito restritiva no que se refere

sobre os pressupostos da relevância e da urgência. O Supremo entende que,

como regra geral, ele não pode aferir se houve ou não o preenchimento desses

pressupostos.

O STF detém-se a analisar o que está sendo veiculado na medida

provisória e não seus pressupostos, entendendo que os pressupostos são de

aferição discricionária do Chefe do Executivo, salvo em alguns poucos julgados,

o Tribunal avançou no julgamento dos pressupostos.

A natureza jurídica da medida provisória é de um ato jurídico sob a

condição resolutiva, porque, se não houver a conversão em lei pelo Poder

Legislativo, ocorrerá a suspensão da mesma e todo o tempo que ela vigorou

deve ser tratado por decreto legislativo.

Uma vez que não haja a conversão da medida provisória em lei,

ocorrerá o efeito da repristinação. Toda a normatização existente anteriormente

à medida provisória voltará a ter plena eficácia.

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As limitações quanto à matéria estão previstas no art. 62, §1º, da

CRFB/88, que são limitações numerus clausus.

4.7 – Decreto Legislativo e Resolução

Os decretos legislativos e as resoluções são utilizadas para normatizar

matérias afetadas às Casas Legislativas, sendo que os decretos legislativos são

as normas previstas no arts. 49 e 62, §11, da CRFB/88, e a resolução são todas

as demais matérias de competência exclusiva do Congresso, não submetidas à

reserva legal.

Só que, na prática, uma determinada resolução pode tratar de matéria

do decreto legislativo e o decreto pode tratar de matéria de resolução, porque

em determinados casos a apreciação do que seja a matéria do art.62, §11, da

CRFB/88 pode ser confundida com as matérias das resoluções, apesar de

doutrinariamente ambas terem como objeto matérias específicas.

A definição, por essência, do que seja um ato normativo é: aquele ato

que é capaz de inovar de forma geral e abstrata determinada situação nele

prevista. Por exemplo: os decretos têm caráter estritamente regulamentar. Ele

visa dar concretude a determinado ato primário.

Só que, muito embora diversos administrativistas neguem a existência

do decreto autônomo, podem ser observados diversos decretos que, a pretexto

de regulamentarem determinadas matérias, acabam trazendo diversas

inovações de forma genérica e abstrata.

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CONCLUSÃO

A eletividade foi uma das características criadas pelos americanos ao

se separarem da Inglaterra e formarem suas colônias livres, uma vez que não

pretendiam criar uma monarquia nos moldes ingleses.

O governante teria que ser eleito por período determinado e, não, para

permanecer para sempre e gerar dinastia.

Na época de sua revolução, já incorporavam o espírito da doutrina da

Revolução Francesa, em que o Estado deveria ser temente às leis, isto é, a

República respeitaria o Estado de Direito.

Não se pode falar em República sem associá-la a Estado de Direito.

Os americanos incorporaram mais de uma das doutrinas de Rousseau,

além do o Estado de Direito, ou seja, a democracia representativa, muito

embora ele pensava numa democracia direta, isto é, o poder nas mãos do

povo.

Das idéias de Rousseau, os norte-americanos captaram o Estado de

Direito e a soberania popular, isto é, todo o poder emana do povo e em seu

nome será exercido (democracia representativa).

Para eles, democracia significava o poder sendo exercido diretamente

pelo povo e, República, a democracia exercida em seu nome (representativa).

Os fundamentos da soberania popular informam que o povo é quem

deve decidir quem será o seu governante.

No Estado de Direito, está presente a idéia de responsabilidade de

seus governantes.

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Além desses dois fundamentos a ética republicana ainda estabelece

mais um: a república (res publica = coisa de todos e de ninguém

individualmente).

O Estado de Direito, na sua concepção liberal originária, é baseado em

dois elementos: proteção a direitos fundamentais (elemento material) e

separação dos poderes (elemento formal).

Os doutrinadores atuais acabam confundindo o Estado de Direito com

o Estado Constitucional, isto porque a proteção aos direitos fundamentais é um

componente ideológico.

O Estado de Direito autêntico, além de ser pautado na lei, deve ser

baseado na lei para que ela seja o instrumento da garantia dos direitos

fundamentais.

Quando os dois elementos são estudados em conjunto, extraem-se os

subprincípios do Estado de Direito.

Para que o Estado de Direito viva no império da lei é preciso um poder

que faça as leis, outro que garanta que essas leis vão ser respeitadas e um

terceiro que vai dar execução a essas leis.

A lei é o escudo do cidadão contra o abuso de poder. A lei é

verdadeiro escudo da liberdade.

A lei tem que ser igual para todos, na concepção revolucionária

francesa, visto que pretendiam acabar com os privilégios da nobreza. Deveria

ser igual, inclusive, para o Estado que a gerou, isto é, igualdade perante a lei

(igualdade formal) que evolui, mais tarde, para a igualdade material.

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Por outro lado, a lei, ou a ação administrativa, não pode exercer meios

exagerados ao fim público que almeja. Sem acesso à Justiça, de nada

adiantaria ao cidadão possuir direitos.

A democracia brasileira não é apenas plural e participativa, ela é

também social. A parte social, caracterizada pela igualdade material, visa, ao

final, à dignidade da pessoa humana, traduzida em igualdade de garantias e

oportunidades para que o individuo tenha condições mínimas de dignidade.

A democracia social é transformadora da sociedade. Não se contenta

apenas em preceituar que será o povo a decidir, ela estabelece um programa

de ação governamental.

Espera-se que os governantes e a população realizem um programa

de ação governamental com vistas à realização da dignidade da pessoa

humana.

Esses preceitos encontram previsão em vários artigos da CRFB (art 3°,

art. 170). Ela é social, pluralista e participativa, tendo por base os fundamentos

da ética republicana.

Assim, permanecem os questionamentos acerca da separação dos

poderes, sua pertinência atual e validade de seus fundamentos, como a teoria

de freio e contrapeso.

Em que pese a sua relevância para fins de organização estatal, o

entendimento se volta hoje para o conceito evolutivo de que não há o exercício

de funções características, mas sim de funções predominantes, ocorrendo um

fenômeno de entrelaçamento de funções entre os diversos órgãos, cabendo a

cada um desses órgãos a fiscalização da atuação dos outros, em uma

sociedade que se repute efetivamente pautada pelos princípios democráticos.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARCHET, Gustavo e MOTTA, Sylvio. Curso de Direito Constitucional. Rio de

Janeiro. Campus, 2007;

CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. Belo Horizonte. Del

Rey, 2007;

Constituição da República Federativa do Brasil. Série Legislação Brasileira,

Editora Saraiva, 2007.

MORAES, Alexandre de. Presidencialismo. São Paulo. Atlas, 2007.

________________. Direito Constitucional. São Paulo. Atlas, 2006;

REBELLO PINHO, Rodrigo César. Da Organização do Estado, dos Poderes e

Histórico das Constituições. São Paulo, 2006;

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. São Paulo. Martins Claret,

2000.

TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo. Saraiva,

2006;

ZIMMERMANN, Augusto. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro.

Lumen Juris, 2006;

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Organização do Estado 10

1.1 – A Teoria dos Freios e Contrapesos 10

1.2 – Funções Predominantes dos Poderes 12

1.2.1 – Poder Legislativo 12

1.2.2 – Poder Executivo 13

1.2.3 – Poder Judiciário 14

CAPÍTULO II - A Organização do Poder Executivo

na Constituição Federal 16

2.1 – Prerrogativas do Presidente da República 19

2.2 – Poder Executivo Estadual 22

2.3 – Poder Executivo Municipal 23

CAPÍTULO III - Poder Legislativo 25

3.1 – Inviolabilidade 26

3.2 – Imunidade Formal e Processual 28

3.3 – Da prisão do Parlamentar 28

3.4 – Sessões conjuntas do Congresso Nacional 29

3.5 – Comissões Parlamentares 30

CAPÍTULO IV – Processo Legislativo

e Espécies Normativas 35

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4.1 – Processo Legislativo 35

4.2 – Espécies Normativas 39

4.3 – Emenda Constitucional 40

4.4 – Lei Ordinária e Lei Complementar 44

4.5 – Lei Delegada 48

4.6 – Medida Provisória 48

4.7 – Decreto Legislativo e Resolução 49

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 55

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Instituto A vez do Mestre

Título da Monografia: A Separação do Poderes na Constituição Atual –

Uma Visão Crítica

Autor: Déa Aparecida de Oliveira

Data da entrega: 21/02/2008

Avaliado por: Professor Roberto Lellis Conceito: