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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR PELO VÍCIO E FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO Por: Crystiane Muniz Farrapo dos Santos Orientador Prof. Dr. Fernando Arduini Prof. Ms. Marco A. Larosa. Rio de Janeiro 2005 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR PELO VÍCIO E

FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

Por: Crystiane Muniz Farrapo dos Santos

Orientador

Prof. Dr. Fernando Arduini

Prof. Ms. Marco A. Larosa.

Rio de Janeiro

2005

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR PELO VÍCIO E

FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Direito do Consumidor. São os objetivos da

monografia perante o curso e não os objetivos do

aluno.

Por Crystiane Muniz Farrapo dos Santos.

AGRADECIMENTOS

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3

Na realização desta obra, devo

meu voto de gratidão: Ao meu filho,

de quatro anos de idade, obra divina,

enviado por Deus para guiar-me no

rumo do amor por toda a minha vida,

bem como, a meu marido, que me

apoiou e colaborou para que pudesse

galgar os passos da Pós-Graduação

com segurança e presteza, pois com sua

ajuda material e força espiritual, não

permitiu que eu me afastasse do

objetivo de concluir o curso

universitário.

DEDICATÓRIA

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``... Dedico este trabalho à todas as

mulheres; mãe, esposa, mulher, aluna,

estagiária e dona de casa, que se

desdobrando no seu dia a dia, estão

conquistando seu lugar nessa

sociedade, lutando com garra e muito

sacrifício, pelos seus ideais”.

RESUMO

O trabalho que se segue abordará a responsabilidade civil do fornecedor

pelo vício e fato do produto e do serviço. Em função da grande disparidade que

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existe entre os dois pólos da relação jurídica consumerista, há uns cem

números de instrumentos processuais e materiais posto à disposição do

consumidor na proteção de seus direitos. O primeiro deles consubstancia – se

no princípio da hipossuficiência e vulnerabilidade do consumidor, notadamente

a parte mais fraca dessa relação. Destacam – se ainda a possibilidade de

inversão do ônus da prova, a possibilidade de proteção contra as práticas e

cláusulas abusivas e a ainda, a forma como foi tratada a responsabilidade civil

do fornecedor. Se antes o consumidor tinha a seu favor as normas genéricas

de responsabilidade civil e as garantias contra os vícios redibitórios, hoje há

todo um sistema que lhe protege, valendo ressaltar, nesse sentido, a

responsabilidade objetiva, isto é independente de culpa. Basta assim que o

consumidor prove o dano e o nexo de causalidade para que seja indenizado.

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METODOLOGIA

METODOLOGIA DA PESQUISA.

1 - Tipo de pesquisa.

Tipo de pesquisa adotado para a confecção deste projeto de pesquisa

foi o documental e o bibliográfico.

a) Documental pois estou pesquisando a lei em si. É a própria lei

8.078/90 que está em pauta. E ainda a CRFB/88. Ambas são as fontes

primárias.

b) Bibliográfica, pois faz-se necessário buscar a Doutrina, a

jurisprudência e os impressos que trazem a interpretação, bem como a opinião

de área de direito e também a aplicabilidade desta lei em nosso sistema

jurídico-social.

2- As fontes de pesquisa.

2.1-Legislação pertinente.

a)- A legislação pertinente ao assunto é a própria Lei em questão. Lei

8.078/90.

b)- A Constituição Federal Brasileira .

2.2- Doutrina Nacional.

a) Obras específicas .

FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade civil. São

Paulo: 2000, Malheiros.

GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código Brasileiro de Defesa do

Consumidor. Comentado pelos autores do anteprojeto. 6 ed. Rio de Janeiro:

Forense, 1999.

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LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade civil nas relações de

consumo. São Paulo: RT, 2001.

b) Artigos científicos .

Periódicos Jurídicos ;

Revista de Direito Bancário , do Mercado de Capitais e da Arbitragem, nº

12 – 11 – 07 .

c) Artigos jurídicos publicados na Internet .

2.3- Jurisprudência Nacional.

a) Material impresso.

1- Turma Recursal Cível – Autos de nº 2001.700.013431-0, julgado em

15/05/2002, CRISTINA TEREZA GAULIA.

2- APELAÇÃO CIVEL 2001.001.19015, PRIMEIRA CAMARA CIVEL,

DES. MAURICIO CALDAS LOPES, julgado em 13/11/2001.

3- APELAÇÃO CIVEL Nº 70003310042, DECIMA CAMARA CIVEL,

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL, RELATOR: DES. PAULO

ANTONIO KRETZMANN, julgado em 22/08/2002.

3- Proposta de seleção de leitura.

Foi feito uma leitura primeiramente exploratória na biblioteca, buscando

doutrinas, periódicos jurídicos, publicação em revistas e jornais que se

referissem ao tema escolhido.

Em seguida, numa leitura bem rápida, foi selecionado o material que

encaixava com o tema e assim fotocopiado para a efetivação da leitura

analítica.

A leitura que sucedeu foi uma leitura menos crítica e mais reflexiva, bem

porque o tema é de grande relevância para a economia nacional.

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Encerrando este projeto faz-se uma leitura interpretativa de forma a

sintetizar a essência do tema, da idéia que este projeto pretende passar para o

leitor.

4- Bibliotecas pesquisadas.

Para a aquisição do material, foi pesquisado na biblioteca da Cândido

Mendes, Biblioteca do Tribunal de Justiça, bem como colegas da área jurídica

na possibilidade de ter uma doutrina relacionada ao tema e também via

internet, o site, do STF, STJ, TJ e as respectivas jurisprudências.

5- CRONOGRAMA.

a) Levantamento de dados_________________________ 20 ago. à 30

ago. 2004

b) Coleta de dados _______________________________ 01 set. à

15 set. 2004

c) Análise dos dados______________________________ 16 set. à 26

out. 2004

d) Redação Provisória_____________________________ 28 out. à 28

nov. 2004

e) Redação definitiva______________________________ 29 nov. à 15

dez. 2004

f) Revisão______________________________________ 16 dez. à 20

dez. 2004

g) Entrega do trabalho pronto______________________________ 24

fevereiro 2005

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I - DISCIPLINA JURÍDICAANTERIOR AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 17 1.1 Dos Vícios Redibitórios 17 1.2 Da Responsabilidade Civil 24 CAPÍTULO II - O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 33 2.1 Princípios 33 2.2 Conceitos 36 CAPÍTULO III – FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO 37 3.1 Fato do Produto 37 3.2 Fato do Serviço 38 CAPÍTULO IV – VÍCIO DO PRODUTO DO SERVIÇO 48 CONCLUSÃO 56 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59 ÍNDICE 61 FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

INTRODUÇÃO

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O Código de Defesa do Consumidor, promulgado em 11 de setembro

de 1990, sob o nº 8.078, é oriundo da própria necessidade social.

O comércio, tal qual conhecemos através dos livros de História passou

profundas evoluções, que tiveram reflexos em toda a Sociedade.

Inicialmente, a atividade comercial resumia – se ao escambo (troca de

bens); passou pela Revolução industrial, fase na qual foram descobertas novas

tecnologias, tais como a máquina a vapor, os teares mecânicos de fiação, a

locomotiva e a estreada de ferro, entre outras, substituindo a produção

artesanal pela produção em massa, com manufaturas e usinas. (LAROUSSE

CULTURAL, 1987), até chegar à Sociedade de Consumo que rege o mercado

atualmente, na qual hás uma imensa oferta de produtos e serviços.

O capitalista da Revolução industrial era o empresário. Ao fim do

século XIX, o indivíduo foi substituído pelo grupo, formando – se monopólios ou

oligopólios.

Foi sendo observado que, paulatinamente, cresciam as diferenças

entre o comercio e o consumidor. Aquele, cada vez organizado, detentor de

incontestável maior riqueza e poder, vivendo o ápice do capitalismo, no qual o

lucro é o primordial objetivo. Este, cada vez menor em comparação com

primeiro, sem condições de lutar contra o seu algoz de forma igualitária,

vulnerável, sem meios legais eficientes para combater os abusos sofridos.

Incontinenti, abriu – se nas relações de consumo um desequilíbrio abissal.

A idéia de Direito está atrelada ao conceito de justiça e, portanto, não

poderia o ordenamento jurídico deixar de se manifestar contra o referido

desequilíbrio que se instalara:

“A idéia de justiça faz parte da

essência do Direito. Para que a ordem jurídica seja

legítima, é indispensável que seja a expressão da justiça.

O Direito Positivo deve ser entendido como um

instrumento apto a proporcionar o devido equilíbrio nas

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relações sociais. A justiça se torna viva no Direito quando

deixa de ser apenas idéia e se incorpora às leis, dando -

lhes sentido, e passa a ser efetivamente exercitada na

vida social e praticada pelas Tribunas. (NADER, 1998,

p.60.)”.

Desta forma, na esteirada Constituição de 1988 em 1990 surge o

Código de Defesa do Consumidor. A partir dele, há um rompimento com antigo

conceito que permitiam o abuso contra os consumidores, introduzindo –se

novos entendimentos e princípios, que reconhecem a hipossuficiência e

vulnerabilidade do consumidor em fase de fornecedor. Conforme quer a

doutrina, é a Lei 8.078 de 1990 um microssistema jurídico, dotado de

equidade, porque, trata os desiguais na medida de suas desigualdades.

A lei tem caráter multidisciplinar. Nela, é possível encontrar normas de

Direitos civil, Direito penal, Direito administrativo. É – lhe peculiar, também, o

fato de oferecer uma série de conceituações, como a definição do que seja

consumidor, fornecedor, etc., o que geralmente não ocorre com as outras leis.

Então, é possível determinar com exatidão quem está sob a égide da lei,

evitando distorções e entendimentos jurisprudenciais controversos que venham

a prejudicar o objetivo principal da lei.

Já no início do diploma legal, o legislador prenuncia uma nova política,

na qual são priorizados os direitos do consumidor, com incentivos à informação

dos consumidores e criação de órgãos de defesa do consumidor e

desmembramento de órgão público, dirigido exclusivamente para a sua

proteção, além de enunciar quais são os direitos básicos do consumidor.

Notoriamente, a despeito da clara eficiência da lei, ainda ocorrem

abusos contra o consumidor. A defesa do consumidor revelou -se, então, um

novo braço de Direito, um novo filão para advogados, uma nova Ciência

jurídica do vasto campo do Direito ao qual recorre o consumidor, antes

desamparado diante de verdadeiros gigantes do capitalismo.

Assim, declaram os artigos 12 e 14 da Lei 8.078 de 11 de setembro de

1990, relativamente à responsabilidade dos fornecedores, abaixo transcritos:

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Artigo 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional

ou estrangeiro, e o importador, respondem,

independentemente da existência de culpa, pela

reparação dos danos causados aos consumidores por

defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,

montagem, fórmulas, manipulação ou acondicionamento

de seus produtos, bem como por informações

insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e

riscos.

Artigo 14. O fornecedor responde, independentemente de

culpa reparação dos danos causados aos consumidores

por defeitos relativos à prestação de serviços, bem como

por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

fruição e riscos.

Da mesma forma, dizem os artigos 18 e 20 do Código de Defesa do

Consumidor, que respondem os fornecedores de consumo de bens duráveis ou

não duráveis, e os fornecedores de serviços de forma solidária, pelos vícios de

qualidade ou quantidade que o tornem impróprios ou inadequados para o

consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles

decorrentes da disparidade, com as indicações constantes dos recipientes ou

embalagens, rotulagem ou mensagem publicitária, podendo o consumidor

exigir a substituição das partes viciadas.

A pesquisa pretende as seguintes questões norteadoras: qual a

responsabilidade do fornecedor pelo vício do produto e do serviço? Como

responde o fornecedor pelo fato do produto e do serviço? Qual o entendimento

da doutrina acerca desta responsabilidade? O que diz o ordenamento jurídico

sobre o tema? Como a jurisprudência tem entendido a questão?

Para responder tais questões, esclareça, é necessário também

discorrer sobre outros tópicos afins, tais como os conceitos de relação de

consumo, princípios de Direitos Consumerista e a responsabilidade civil

propriamente dita.

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O objetivo da pesquisa é abordar, doutrinária e jurisprudencialmente a

responsabilidade civil decorrente do vício e fato do produto ou serviço, de

forma a oferecer à doutrina uma nova obra, de fundo científico, que analise tal

questão a fundo.

Por outro lado, tenciona – se propor abertamente o debate sobre o

tema proposto. Levantar para o leigo, de forma clara, quais são os seus

direitos, em que casos ele pode exerce – lo, e perante quais autoridades.

Indicar ainda, través da jurisprudência, quais as chances de êxito em eventual

demanda.

Justifica – se a presente investigação na medida em os mais variados

abusos vêm sendo cometidos em detrimento do consumidor. Por muitos anos,

em detrimento do consumidor. Por muitos anos, em face de ausência de

legislação específica e eficiente, o consumidor foi obrigado a suportar tudo

aquilo que lhe era imposto pelos grandes fornecedores e comerciantes, sem

que a lei lhe garantisse qualquer meio de defesa.Porém, os abusos atingiram

um nível tal que o ordenamento jurídico não poderia mais ignorar, pois que a

questão já vinha sendo debatida internacionalmente. A disparidade e diferença,

entre o consumidor e o fornecedor era tanta, que o Direito tinha que manifestar,

a fim trazer mais igualdade para o marcado de consumo. Assim, por

determinação constitucional nasceu o Código de Proteção e Defesa do

Consumidor.

Desde então todo o ordenamento jurídico tem se voltado,

contundentemente, para a questão do consumidor, seus direitos e sua defesa

jurídica.

Nesse sentido, a arma mais poderosa do consumidor no combate aos

abusos sofridos ainda é a informação. Tão acessível nos dias atuais, ela se

revela à maneira mais eficaz de combater os abusos dos gigantes da economia

e também do pequeno fornecedor.

A lei de defesa do consumidor institui políticas sérias, que vêm sendo

cumpridas, para que o abuso seja prevenido.

Outrossim, a lei aponta mecanismos que reprimem os abusos quando

estes já ocorreram, apenando o fornecedor não só com a responsabilidade civil

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integral e objetiva, como também com multas e dispositivos penais postos à

disposição da sociedade.

O objetivo primordial da pesquisa foi abordar a responsabilidade civil do

fornecedor de produtos e serviços dentro da relação de consumo, discorrendo

sobre seus pormenores.

Por muito tempo cultivou–se no Brasil o conformismo do consumidor

diante da força do fornecedor. Não havia amparo legal suficiente e hábil a

conter os abusos que notoriamente eram dirigidos ao consumidor. Diante da

morosidade da Justiça, falta de disciplina jurídica capaz de conter os referidos

abusos, ele acabava por sucumbir, sem sequer discutir a legitimidade dos atos

do fornecedor.

A sociedade brasileira dispõe de um grande instrumento jurídico capaz

de tutelar os direitos do consumidor e dar – lhe guarida, forte o suficiente para

equiparar os dois pólos dessa relação desigual.

O Código de Defesa do Consumidor é, assim uma grande jurídica e

social. Jurídica porque estabeleceu a autonomia com uma cultura arraigada de

sobreposição do mais fraco pelo mais forte. Social, porque ofereceu

consumidores rechaçados pelas atitudes dos fornecedores a possibilidade ir à

Justiça com dignidade, para reclamar das condutas abusivas dirigidas contra

ele. Aliada à instituição dos Juizados Especiais Cíveis, que atendem, em sua

maioria, causas de cunho consumerista, é uma lei que tornou efetiva e eficiente

à defesa do consumidor.

Porém, diante de tantas décadas de abusos, de falta de amparo legal e

de descrédito da Justiça, ainda não se conferiu ao consumidor, de forma

massiva, o pleno conhecimento de seus direitos, embora a sociedade esteja

caminhando nessa direção a passos largos.

Essencial, assim, o debate do tema, mas de forma simplificada, ao

alcance da maioria, de maneira que o leigo, a pessoa humilde, aqueles que

não têm acesso livre ao conhecimento técnico transmitido por um advogado,

possa saber o que fazer diante de um defeito no produto ou no serviço, ou

ainda, quando esse defeito trouxer outros danos ao consumidor.

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A ampla discussão doutrinária do assunto levará ao pleno

conhecimento e à exploração máxima do que o diploma legal tem a oferecer

em termos jurídicos.

Esse trabalho objetivou alcançar este desiderato: apontar para o

homem comum os seus direitos enquanto consumidor, para que ele possa

exerce – los plenamente, o que lhe confere, também, a qualidade de cidadão

exercente das garantias que a lei coloca a seu favor.

Nunca é demais falar em defesa do consumidor em um país com

dimensões continentais, onde a informação é ao mesmo tempo banal

(televisão, Internet, rádio, celular, telefone, fax, jornais, revistas acessíveis a

todos) e difícil (nos grandes sertões e locais longínquos).

É dever da comunidade jurídica avançar em direção a todos esses

indivíduos, tornando acessível à informação ao exercício de seus direitos.

Somente através da ampla informação será formada uma nova

mentalidade, não só entre os consumidores, mas também entre os

fornecedores, que elevem o país ao patamar de nação que respeito e defende

a sua população consumidora.

Assim, quando mais a defesa do consumidor for debatida, mais o

consumidor poderá se armar contra os abusos cometidos, e mais dificilmente o

fornecedor tentará ludibria – lo.

Desta forma, os estudos sobre a defesa do consumidor são

importantíssimo, pois ajudam na popularização do Código, que somente assim

será usado plenamente.

Essa pesquisa está incursa na linha de pesquisa “acesso à justiça e

efetividade do processo” da Universidade Estácio de Sá.

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CAPÍTULO I

DISCIPLINA JURÍDICA ANTERIOR AO CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR

Antes da entrada em vigor da lei 8.078/90, qualquer dano oriundo da

relação de consumo deveria ser solucionado pelos institutos do direito civil –

vício redibitório para os defeitos ocultos na coisa, denominado, na relação de

consumo de vício do produto ou do serviço, e responsabilidade civil para o que

hoje é conhecido como fato do produto ou do serviço. Vale ressaltar que ambas

as disciplinas legais permanecem em vigor: a teoria dos vícios redibitórios para

as relações não consumerista, assim como a responsabilidade civil, que

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coexiste com o direito do consumidor e cujas disposições servem de base para

a fixação da responsabilidade do fornecedor.

Para ratificar a enorme relevância do Código de Defesa do Consumidor

para a proteção dos juridicamente mais francos, é mister a análise prévia dos

institutos jurídicos retro mencionados.

1.1 - Dos Vícios Redibitórios

Nas definições De Plácido e Silva, “o vício redibitório resulta da

existência de defeitos, ou vícios ocultos na coisa, cuja venda se procede,

existentes ao tempo da aquisição, e que a tornam imprestável ou imprópria ao

seu uso, ou destino, diminuindo, por isso, o seu valor” (SILVA, De Plácido e.

Dicionário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 490).

Vícios redibitórios são, pois, os defeitos ocultos na coisa, que lhe

diminuem o valor, ou a tornam imprópria para o uso, de forma que se fosse do

conhecimento do contratante a existência de tais vícios, o contrato não teria sido

firmado.

Denominam–se redibitórios porque uma vez descobertos, tornam o

contrato sem efeito, o que conduz à sua resolução, restituindo – se a coisa

antigo dono. O termo, contudo, sofre críticas na doutrina, porquanto não seja

essa a única opção posta à disposição do adquirente para solucionar o

problema. A outra opção, conforme o artigo 442 do novo Código Civil é reclamar

o abatimento do preço.

É válido transcrever o escólio de Silvio Venosa acerca da garantia contra

os vícios:

“As obrigações do vendedor ou transmitente da coisa em outros

contratos diversos da compra e venda não terminam com a entrega da

res. O alienante deve garantir ao adquirente que ele possa usufruir a

coisa conforme sua natureza e destinação. Essa obrigação resulta do

princípio da boa fé, quer deve nortear a conduta dos contratantes. Essa

modalidade de garantia, que sucede a entrega da coisa, assume três

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diferentes facetas. De plano, deve o transmitente da coisa abster – se de

praticar qualquer ato que implique turbação do direito transmitido. Como

conseqüência dessa obrigação, deve também evitar que o adquirente

seja turbado no exercício do direito por atos espoliativos emanados de

terceiros, decorrentes de causas anteriores à transmissão. Se esse

terceiro triunfa, e obtém a coisa para si, o alienante tem a obrigação de

indenizar o adquirente pela perda. Finalmente, o alienante deve

assegurar a materialidade idônea da coisa, garantido o adquirente de

vícios ocultos”. (VENOSA, Sílvio, Direito civil: teoria geral das obrigações

e teoria geral dos contratos. São Paulo: Atlas, 2003, p. 543).

O vício redibitório decorre dos princípios da boa fé, que significa que as

partes têm o dever de lealdade uma para com a outra, e também da exceptio

non adimplente contratos, isto é, a ninguém é dado exigir o cumprimento da

obrigação alheia antes do cumprimento da sua própria.

Contudo, em se tratando de relação contratual e, portanto influencia pelo

princípio da autonomia da vontade, é possível afastar a garantia contra o vício,

através de previsão contratual expressa, embora o novo Código Civil tenha

suprimido o dispositivo que assim regulava. Por outro lado, não é necessário que

o instrumento preveja a garantia. Em todo o caso, deve ser verificado no plano

concreto se houver abuso de direito.

Dispõe o artigo 441 do novo Código Civil que “a coisa recebida em

virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos,

que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”,

repetindo teor do artigo 1.101 do Código Civil de 1916.

Do conceito de vício redibitório oferecido pelo código é extrair os

elementos caracterizadores dos vícios: contrato comutativo ou doação onerosa;

que haja na coisa defeitos ocultos e que sejam graves e que existem no

momento da celebração contratual.

O contrato comutativo é, ao lado do contrato aleatório, uma

subespécie dos contratos dos contratos onerosos, que contrapõe – se ao

gratuito.

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É gratuito o contrato em somente uma das partes tem benefícios,

enquanto a outra só tem encargos. Trata – se de ato de liberalidade de um dos

contraentes, que sofre diminuição patrimonial em prol do outro.

Nos contratos onerosos, ao contrário, ambas as partes têm vantagens

e direitos. Em outras palavras, contratante e contraente auferem vantagem, mas

devem arcar com seu custo. Aqui há uma prestação e uma contraprestação.

Não se requer, para a caracterização do contrato oneroso, o equilíbrio entre as

prestações, mas tão somente que elas existam.

O contrato comutativo é aquele em as partes conhecem desde logo

as prestações que devem cumprir. Contrapondo – se à idéia de contrato

comutativo está o contrato, quando o conteúdo da prestação não é do

conhecimento da parte quando do momento da contratação.

Os vícios redibitórios aplicam–se aos contratos comutativos, e também

às doações onerosas, consoante o parágrafo único do artigo 411 do novo

Código Civil. O antigo Código Civil ressalte – se, mencionava as doações com

encargo.

É plenamente justificada a aplicação exclusiva da teoria dos vícios

redibitórios aos contratos comutativos onerosos, já que nos negócios gratuitos

o declaratório somente aufere vantagem por da liberalidade do declarante, que

empobrece em favor da outra parte. Assim, seria injusto obrigar aquele que

atua com liberalidade a garantir a existência do vício, porque o vício aí não

implica em perda, mas em deixar de ganhar.

Só é vício redibitório aquele que torna a coisa imprópria para o fim a

que se destina ou que lhe diminui o valor. Fora dessas hipóteses, não há

defeito capaz de justificar a garantia. Assim,

“Aquele que compra um cavalo de corridas portador de

moléstia respiratória, que o impede de correr, recebe o

semovente com vício oculto que o torna impróprio para o

uso pretendido. Quem compra um animal para abate, por

outro lado, não pode ver nessa moléstia um vício

redibitório. (VENOSA, Silvio. Op. Cit. P. 545)”.

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É oculto o vício não aparente, e só esse é passível de reparação por

meio do instituto dos vícios redibitórios. O juiz deve aferir, in concreto, o que é

oculto ou não, tomando por base o comportamento do homem médico. Dessa

forma, não se pode esperar que um defeito no motor de um carro seja oculto

para um mecânico de automóvel que o adquire, ou a infiltração em uma casa,

para o engenheiro civil que a aluga. Em ambos os casos, presume – se haver

um conhecimento técnico que torna o vício de fácil constatação.

Cumpre trazer a lume, sobre esse assunto, a lição precisa de Silvio

Venosa:

“Como primeiro enfoque do problema, podemos afirmar

que, os vícios ou defeitos ocultos, são os que poderiam

ser descobertos mediante exame atento e cuidadoso da

coisa, praticado pela forma usual no caso concreto. Não

deve ser entendido que o homem comum tenha o dever

de se assessorar de um bom técnico em qualquer negócio

jurídico. O alienante é quem tem o dever de boa fé no

contrato, alertando sobre eventual vícios. (VENOSA,

Silvio. Op. Cit. P. 547)”.

Por razões óbvias, não pode alegar o vício aquele adquire objeto usado

ou avariado, contanto que o transmitente ressalve que a coisa é entregue no

estado em se encontra.

Há que se tratar ainda de vício grave, capaz de indicar que se o

adquirente soubesse do defeito, não teria firmado o ajuste. Defeitos sem

relevo, que não alterem a destinação da coisa ou eu preço não podem ser

objeto de vício redibitório. Tais defeitos devem existir à época da contratação.

Se o alienante tinha conhecimento da existência do vício, deverá

ressarcir o adquirente com perdas e danos, além de restituir aquilo que

recebeu em pagamento. Se, no entanto, não tinha conhecimento do defeito, ele

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21

deverá restituir somente o valor recebido, sem perdas e danos, além das

despesas contratuais.

Verificar-se nesse estágio a influência do princípio da boa fé nos

contratos. Se o alienante atua com boa fé, nada mais justo do que não lhe ser

imputada qualquer punição. É, também, forma de aplicação da teoria do dolo

civil.

O adquirente tem duas opções ao constatar a existência do vício

redibitório: ou redibe o contrato, reavendo o preço pago mais perdas e danos,

se for o caso, através de ação redibitória, ou reclama o abatimento do preço,

conservando o coisa, através de ação estimatória ou quanti minoris, conforme

o artigo 442 e 441 do novo Código Civil, respectivamente, cuja teor é idêntico

ao artigo 1.105 do Código Civil de 1916. A escolha cabe exclusivamente ao

beneficiário.

Contudo, uma vez deduzida a pretensão em juízo, não será mais

possível mudar o pedido. A prova, nesse caso, incumbe ao adquirente, isto é

ônus probandi atua em desfavor do autor.

Mesma que a coisa não exista mais, ainda assim subsiste a garantia

contra o vício, conforme dispõe o artigo 444 do Código Civil, correlato ao artigo

1.104 do antigo código. Se porém, a coisa foi transformada, não é o alienante

obrigado a recebê–la em tal estado, cabendo somente a ação estimatória.

Se figurarem nos pólos da relação jurídica mais de um sujeito, a ação

redibitória torna–se indivisível. A ação estimatória, por sua vez, é divisível. Se

os objetos forem múltiplos, o vício de um não autoriza a redibição de todas,

desde.

O artigo 445 do novo Código Civil define os prazos dentro dos quais

ser exercido o direito a redibição do contrato, sob pena de decadência:

a) Trinta dias, tratando – se de coisa móvel;

b) Um ano, tratando – se de bem imóvel.

O termo inicial é a entrega efetiva do bem.

Se a coisa já estava na posse do alienatário, conta – se o prazo da

alienação, reduzido á metade.

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Se o vício só puder ser conhecido mais tarde, por sua natureza, o

prazo será contado do momento da ciência, respeita o prazo máximo de cento

e oitenta dias para bens móveis e um ano para bens imóveis.

No caso da venda de animais, os prazos de garantia serão

estabelecidos em lei especial, ou, caso não haja lei especial, de acordo com os

usos locais. Se não existirem usos sobre o assunto, os prazos serão os

mesmos dos vícios não aparentes.

Se houver cláusula de garantia, os prazos nesse ínterim, mas caberá

ao adquirente denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes à

descoberta do vício, sob pena de decadência.

A proteção do consumidor quanto aos vícios redibitórios era

extremamente limitada. Não abrangia, por exemplo, o vício de quantidade,

conforme aduz Washington de Barros Monteiro:

“Desfalque na quantidade de coisas certas e adquiridas por unidade,

bem como a diferença encontrada nessa mesma quantidade, em relação ao

número mencionado pelo alienante, não constitui vício redibitório”.(MONTEIRO,

Washington de Barros. Curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 1982, p. 56) E

acrescenta a jurisprudência da época: Revista Forense, 138/137-137/491;

Revista dos Tribunais, 226/162-190/692-188/126-117/214-114/308-103/672.

Essencial para a aplicação dos vícios redibitórios era a de que o vício

fosse oculto. Se o vício fosse aparente, o entendimento era de que o

adquirente o conhecia e mesmo assim não se sentiu inibido a contratar, mas ao

contrário, anuiu com a existência do defeito.

Mais uma vez, vale trazer a lume o escólio de Washington de Barros Monteiro,

reproduzindo o entendimento da doutrina e da jurisprudência da época:

“(a) o vício deve ser considerado aparente toda vez que

puder ser desvendado por atento exame que o homem

sério costume empregar em seus negócios. Um defeito

não é oculto pelo só fato de não haver sido percebido pelo

comprador, por ter este examinado superficialmente a

coisa; a negligência não é protegida; b) improcede ação

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redibitória se o vício, dado como oculto, era conhecido do

comprador; c) se o não funcionamento resulta do mau uso

da coisa por parte do comprador, não pode este alegar

vício redibitório”. (MONTEIRO, Washington de Barros. Op.

Cit. P. 57). ”

Percebe–se, assim, que não se considerava, em sede de vício

redibitórios, o desequilíbrio das relações consumerista, demandando–se do

adquirente uma diligência fora de parâmetros simples. Dessa forma, a entrada

em vigor do Código de Defesa do Consumidor foi importante porque ampliou a

possibilidade de ressarcimento do negócio sempre que o produto ou serviço for

defeituoso ou dele decorrer um evento capaz de ensejar prejuízo para o

Consumidor.

1.2 – Da responsabilidade civil.

Antes do advento do Código de Defesa do Consumidor, alguns dos

problemas relativos ao fato e vício do produto e do serviço deveriam ser

solucionados à luz da responsabilidade civil. Por essa razão, é necessário

discorrer sobre tal instituto, mas isso não será feito à exaustão, pois que

constitui –se em tema riquíssimo, com muitíssimos pormenores. O texto que se

segue é uma análise sucinta da responsabilidade, que não esgota o assunto,

mas serve tão somente para fins de melhor entendimento e situação do

problema relativa à responsabilidade civil do fornecedor.

Para que a ordem jurídica seja mantida, são estabelecidos deveres que

subordinam a todos. Trata – se de prestações, positivas (dar ou fazer), ou

negativas (deixar de fazer ou tolerar algo). Há também um dever jurídico

genérico, segundo o qual a ninguém é dado causar prejuízo à terceiro

(neminem Laedwre).

Da violação desses deveres jurídicos primários, denominados

originários, surge um dever jurídico secundário, chamado sucessivo, cujo

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objetivo é reparar o dano ocasionado, retornando – se ao estado anterior ao

evento danoso.

A responsabilidade civil pode ser contratual ou extracontratual. Será

contratual quando a violação for do dever jurídico assumido por força do

contato; será extracontratual quando o dano advier de uma situação específica,

sem vínculo anterior que uma o causador do dano e sua vítima.

O substrato jurídico para a responsabilização civil é o teor do artigo 186

do Código Civil, que trata especificamente das relações extracontratuais

“aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar

direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato

ilícito” O ato ilícito (violação do dever jurídico originário) leva a obrigação de

reparar o dano.

Da letra da lei pode – se extrair os elementos que calcam a

responsabilidade civil: conduta culposa, dano e nexo de causalidade.

A conduta do agente compreende a ação ou omissão, isto é, um fazer

(conduta positiva) ou um deixar de fazer (conduta negativa) que vem a

ocasionar o dano. A omissão, diga – se, só é juridicamente relevante quando o

agente tem o dever de agir, oriundo da lei, de negócio jurídico ou do

comportamento anterior o do agente, e a despeito do seu dever de agir,

mantém – se inerte.

É preciso que a conduta do agente seja consciente, o que não significa

que ele tenha obrado com intenção de propiciar o resultado. É que sem a

consciência, não há vontade, e não se pode conceber ato praticado sem

vontade como ensejador da reparação civil. Assim, se o agente pratica o ato

em momento de sonambulismo, sob hipnose, entre outros estados alterados de

consciência, não haverá sequer conduta.

Geralmente, cada indivíduo responde por sua própria conduta, mas há

casos em que a lei permite a reparação de um sujeito pela conduta de outro. É

o que acontece com a responsabilidade pelo fato de terceiro, quando o agente

está ligado ao responsável por um dever e guarda ou vigilância (artigo 932 do

Código Civil) ou pelo fato da coisa, quando o animal ou coisa sob guarda causa

dano a terceiro (artigo 936, 937 do Código Civil).

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Quando à culpa, necessário esclarecer que ela abrange o denominado

dolo do direito penal, e também a noção de culpa criminal. O dolo é a vontade

livre e consciente dirigida a um fim específico, é à vontade de ocasionar o

dano. Na culpa não há intenção direta de causar o resultado. Ao contrário,

geralmente, o fim do agente é lícito, mas os meios por ele empregados não o

são, o que gera o dano. Diz – se que o agente atuou com inobservância do

dever de cuidado, o que todos devem ter para que seja possível a vida em

sociedade. Tal inobservância, do dever de cuidado, deve ser aferido sob a ótica

do homem médio, isto é, do homem comum, e não do homem extremamente

cauteloso ou extremamente descuidado.

A culpa pode se exteriorizar sobre três formas: negligência, imprudência

ou imperícia. A negligência se refere ao comportamento omisso do agente, ele

deixa de proceder com a cautela devida. A imprudência relaciona –se com a

conduta positiva, o agente atua positivamente com falta de cuidado, gerando o

dano. A imperícia condiz com a inobservância de cuidados técnicos,

relacionados ao desempenho de uma profissão.

Costuma–se dividir a culpa, também, em leve, levíssima ou grave,

havendo uma graduação entre elas. É grave a falta de cuidado grosseira; leve,

a falta de cuidados ordinários, comum ao bom pai de família, e a levíssima, a

falta de cuidado extraordinário, ditado pela falta de conhecimento específico

sobre determinado assunto. Essa distinção é meramente doutrinária, e se

presta a servir de parâmetro para a fixação do quantum indenizatório.

Quanto ao fato de terceiro, a culpa pode ser ainda:

a) In eligendo, quando decorre da má eleição do preposto, devendo o

mandante responder pelos atos de seu mandatário;

b) in vigilando, decorrente da falta de atenção ou cuidado com os atos de

terceiros, que está sob a guarda ou vigilância do responsável, a exemplo

dos pais em relação a seus filhos;

c) in custodiando, quando o animal ou coisa sob a guarda do responsável

causa dano a terceiro.

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26

O dano é o prejuízo experimentado da vítima. É pressuposto da

responsabilidade civil por excelência, pois que sem prejuízo não há o que

reclamar. O dano pode ser material ou imaterial.

Será material sempre que possa ser aferido concretamente, de forma

objetiva. Por exemplo, o sujeito que gasta a quantia de r$ 500,00 com

despesas médicas decorrentes de atropelamento. O dano material tem duas

facetas: o que a vítima efetivamente gastou em decorrência do dano causado

(dano emergente) e o que razoavelmente deixou de auferir por conta da

conduta de outrem (lucro cessante).

Será imaterial, moral ou extrapatrimonial quando atingir um dos direito

da personalidade do indivíduo, tais como a honra, a dignidade, o bom nome, a

imagem, etc., trazendo para a vítima intenso sofrimento, vexame, humilhação,

etc. Os bens atingidos no prejuízo imaterial não são passíveis de apreciação

pecuniária imediata, daí dizer – se que há caberá ao juízo arbitrar o quantum

indenizatório. Outrossim, falta – se em compensação e não em indenização,

pois os bens imateriais não podem ser reduzidos a simples valores monetários.

O nexo de causalidade é o vínculo que liga a conduta do agente ao

dano causado. Sem ele, não subsiste o dever de indenizar. A teoria adotada no

Brasil para se aferir se a conduta foi à causa do resultado é a da causalidade

adequada, isto é não basta que o fato concreto seja condições para a produção

do evento danoso, é essencial que seja também. Em abstrato, uma causa

idônea a produzir o resultado.

Alguns fatores são capazes de afastar o nexo de causalidade: o fato

exclusivo da vítima, o fato de terceiro e o caso fortuito ou força maior.

O fato será exclusivamente da vítima quando a sua própria conduta vier

a causar o dano, a exemplo do que ocorre com o suicida que se atira na frente

do trânsito intenso, e os carros, trafegando dentro da velocidade permitida, e

com observância do dever de cuidado, vêm a atropelar o indivíduo. Não h’as

dever de indenizar.

O fato de terceiro ocorrerá quando uma terceira pessoa, alheia à

situação fática, vier a causar o dano. Também não haverá dever de indenizar.

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27

O caso fortuito e as força maior também são elementos que rompem o

nexo causal, não subsistindo o dever de indenizar. A doutrina diverge quanto à

definição desses dois elementos, havendo várias correntes que tentam

diferencia – los, mas a discussão não tem efeito prático. Assim, uma das

definições mais simples é aquela que afirma que ambos são os fatos

imprevisíveis, alheios à vontade do agente, que sobre eles não têm qualquer

ingerência, e que por si só vem a causar o dano. O caso fortuito, porém, seria

oriundo de elementos humanos, enquanto que força maior seria decorrente da

força da natureza.

Vale ressaltar que a culpa concorrente da vítima não faz desaparecer o

nexo de causalidade. O que é ocorre é simplesmente a “divisão” da

responsabilidade, com a conseqüente redução proporcional do valor a ser pago

à vítima.

Uma outra distinção que se costuma fazer na teoria da responsabilidade

civil é a aquela referente à responsabilidade civil subjetiva e objetiva.

Na responsabilidade civil subjetiva, a vítima deve provar que o causador

do dano agiu com culpa. Sem a culpa (imprudência, negligência ou imperícia),

não há dever de indenizar. A regra é que o sujeito seja responsabilidade

subjetivamente.

Por outro lado, na responsabilidade civil objetiva, exceção à regra geral,

a vítima não deverá produzir prova quanto à culpa do agente. Basta que

comprove o dano e nexo de causalidade para que surja o dever de indenizar. A

responsabilidade civil objetiva decorre necessariamente da lei, e tem por

fundamento jurídico a teoria do risco. Pela teoria do risco, todo aquele que

explora determinadas atividades, corre o risco de produzir um dano, e por isso,

deverá repara–lo.

A responsabilidade civil contratual, por seu turno, tem pressupostos

específicos. O primeiro é a existência de relação jurídica anterior, firmada

através de um contrato. Tal instrumento deverá ser válido. Além disso, são

necessários o inadimplemento contratual – relativo ou absoluto, o nexo de

causalidade e dano, na forma acima exposta.

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28

Uma das grandes diferenças entre a responsabilidade civil contratual e

extracontratual é que naquele há presunção de culpa, invertendo – se o ônus

da prova. Ao cabe provar o inadimplemento. Ao devedor cabe provar a

inexistência de culpa ou a exclusão do nexo de causalidade.

Pela teoria acima exposta, é possível perceber a limitação que sofria o

consumidor sempre que fosse valer –se da responsabilização civil para arcar

com seu prejuízo. Tratar – se ia. Sempre, de relação contratual, sendo

aplicável às disposições relativas à responsabilidade civil contratual.

Sem tem como pressuposto o contrato anterior válido, não havia

qualquer diploma legal que considerasse nula certas cláusulas, hoje vistas

como abusivas dentro do Código de Defesa do Consumidor. Assim, bastava o

agente capaz, o abjeto jurídico possível e a forma prescrita ou não defesa em

lei. As cláusulas abusivas poderiam ser incluídas no contrato sem que isso o

invalidasse, ante a inexistência de vedação legal.

Por outro lado, o consumidor deveria provar o inadimplemento

contratual, o dano, a culpa, o nexo de causalidade. Não havia legalmente a

previsão de responsabilização objetiva do fornecedor, e por isso, o consumidor

deveria enfrentar a difícil tarefa de comprovar a inobservância do dever de

cuidado. Dispensável dizer que tratava –se de proteção muito fraca, precária, e

que conduzia quase sempre à sucumbência do consumidor.

Por isso, em muito boa hora adveio o Código de Defesa do

Consumidor, com suas disposições específicas de proteção à parte mais fraca

dessa obrigacional, estabelecendo inúmeras vantagens processuais, capazes

de equiparar consumidor e fornecedor, equilibrando uma relação marcada pela

marcada pela desigualdade e pela sobreposição do mais franco. A ordem

jurídica pátria não poderia, como não o fez, desviar seus olhos dessa realidade.

a) In elegendo, quando decorre da má eleição do preposto, devendo o

mandante responder pelos atos de seu mandatário;

b) in vigilando, decorrente da falta de atenção ou cuidado com os atos de

terceiros, que está sob a guarda ou vigilância do responsável, a exemplo

dos pais em relação a seus filhos;

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c) in cusditodiando, quando o animal ou coisa sob a guarda do responsável

causa dano a terceiro.

O dano é o prejuízo experimentado da vítima. É pressuposto da

responsabilidade civil por excelência, pois que sem prejuízo não há o que

reclamar. O dano pode ser material ou imaterial.

Será material sempre que possa ser aferido concretamente, de forma

objetiva. Por exemplo, o sujeito que gasta a quantia de r$ 500,00 com

despesas médicas decorrentes de atropelamento. O dano material tem duas

facetas: o que a vítima efetivamente gastou em decorrência do dano causado

(dano emergente) e o que razoavelmente deixou de auferir por conta da

conduta de outrem (lucro cessante).

Será imaterial, moral ou extrapatrimonial quando atingir um dos direito

da personalidade do indivíduo, tais como a honra, a dignidade, o bom nome, a

imagem, etc., trazendo para a vítima intenso sofrimento, vexame, humilhação,

etc. Os bens atingidos no prejuízo imaterial não são passíveis de apreciação

pecuniária imediata, daí dizer – se que há caberá ao juízo arbitrar o quantum

indenizatório. Outrossim, falta – se em compensação e não em indenização,

pois os bens imateriais não podem ser reduzidos a simples valores monetários.

O nexo de causalidade é o vínculo que liga a conduta do agente ao

dano causado. Sem ele, não subsiste o dever de indenizar. A teoria adotada no

Brasil para se aferir se a conduta foi à causa do resultado é a da causalidade

adequada, isto é não basta que o fato concreto seja condições para a produção

do evento danoso, é essencial que seja também. Em abstrato, uma causa

idônea a produzir o resultado.

Alguns fatores são capazes de afastar o nexo de causalidade: o fato

exclusivo da vítima, o fato de terceiro e o caso fortuito ou força maior.

O fato será exclusivamente da vítima quando a sua própria conduta vier

a causar o dano, a exemplo do que ocorre com o suicida que se atira na frente

do trânsito intenso, e os carros, trafegando dentro da velocidade permitida, e

com observância do dever de cuidado, vêm a atropelar o indivíduo. Não h’as

dever de indenizar.

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O fato de terceiro ocorrerá quando uma terceira pessoa, alheia à

situação fática, vier a causar o dano. Também não haverá dever de indenizar.

O caso fortuito e as força maior também são elementos que rompem o

nexo causal, não subsistindo o dever de indenizar. A doutrina diverge quanto à

definição desses dois elementos, havendo várias correntes que tentam

diferencia – los, mas a discussão não tem efeito prático. Assim, uma das

definições mais simples é aquela que afirma que ambos são os fatos

imprevisíveis, alheios à vontade do agente, que sobre eles não têm qualquer

ingerência, e que por si só vem a causar o dano. O caso fortuito, porém, seria

oriundo de elementos humanos, enquanto que força maior seria decorrente da

força da natureza.

Vale ressaltar que a culpa concorrente da vítima não faz desaparecer o

nexo de causalidade. O que é ocorre é simplesmente a “divisão” da

responsabilidade, com a conseqüente redução proporcional do valor a ser pago

à vítima.

Uma outra distinção que se costuma fazer na teoria da

responsabilidade civil é a aquela referente à responsabilidade civil subjetiva e

objetiva.

Na responsabilidade civil subjetiva, a vítima deve provar que o

causador do dano agiu com culpa. Sem a culpa (imprudência, negligência ou

imperícia), não há dever de indenizar. A regra é que o sujeito seja

responsabilidade subjetivamente.

Por outro lado, na responsabilidade civil objetiva, exceção à regra

geral, a vítima não deverá produzir prova quanto à culpa do agente. Basta que

comprove o dano e nexo de causalidade para que surja o dever de indenizar. A

responsabilidade civil objetiva decorre necessariamente da lei, e tem por

fundamento jurídico a teoria do risco. Pela teoria do risco, todo aquele que

explora determinadas atividades, corre o risco de produzir um dano, e por isso,

deverá repara –lo.

A responsabilidade civil contratual, por seu turno, tem pressupostos

específicos. O primeiro é a existência de relação jurídica anterior, firmada

através de um contrato. Tal instrumento deverá ser válido. Além disso, são

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necessários os inadimplementos contratuais – relativos ou absolutos, o nexo de

causalidade e dano, na forma acima exposta.

Uma das grandes diferenças entre a responsabilidade civil contratual

e extracontratual é que naquele há presunção de culpa, invertendo-se o ônus

da prova. Ao cabe provar o inadimplemento. Ao devedor cabe provar a

inexistência de culpa ou a exclusão do nexo de causalidade.

Pela teoria acima exposta, é possível perceber a limitação que sofria

o consumidor sempre que fosse valer –se da responsabilização civil para arcar

com seu prejuízo. Tratar – se ia. Sempre, de relação contratual, sendo

aplicável às disposições relativas à responsabilidade civil contratual.

Sem tem como pressuposto o contrato anterior válido, não havia

qualquer diploma legal que considerasse nula certas cláusulas, hoje vistas

como abusivas dentro do Código de Defesa do Consumidor. Assim, bastava o

agente capaz, o abjeto jurídico possível e a forma prescrita ou não defesa em

lei. As cláusulas abusivas poderiam ser incluídas no contrato sem que isso o

invalidasse, ante a inexistência de vedação legal.

Por outro lado, o consumidor deveria provar o inadimplemento

contratual, o dano, a culpa, o nexo de causalidade. Não havia legalmente a

previsão de responsabilização objetiva do fornecedor, e por isso, o consumidor

deveria enfrentar a difícil tarefa de comprovar a inobservância do dever de

cuidado. Dispensável dizer que tratava –se de proteção muito fraca, precária, e

que conduzia quase sempre à sucumbência do consumidor.

Por isso, em muito boa hora adveio o Código de Defesa do

Consumidor, com suas disposições específicas de proteção à parte mais fraca

dessa obrigacional, estabelecendo inúmeras vantagens processuais, capazes

de equiparar consumidor e fornecedor, equilibrando uma relação marcada pela

marcada pela desigualdade e pela sobreposição do mais franco. A ordem

jurídica pátria não poderia, como não o fez, desviar seus olhos dessa realidade.

CAPÍTULO I I

O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

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O Código de Defesa do Consumidor conforma dito anteriormente, é um

microssistema jurídico. Isso porque a sua introdução na ordem jurídica atual fez

cair alguns conceitos antes arraigados, criando normas próprias, sempre tendo

em vista a vulnerabilidade do consumidor em face do fornecedor.

A primeira mudança que salta aos olhos é a adoção de princípios

especiais, aplicáveis à relação de consumo, em detrimento da teoria geral dos

contratos, até então abraçada pelo Direito brasileiro. Antes, regiam a matéria

os princípios da autonomia da vontade das partes das partes; da

obrigatoriedade e da supremacia da ordem pública.

2.1- Princípios

O princípio da autonomia da vontade assegurava a liberdade de

contratar. Era à vontade das partes que ditava o contrato, bastando que

seu conteúdo não ferisse a lei, por conta da supremacia da ordem

pública.

O princípio da obrigatoriedade dos contratos, a sua imperatividade

e sua imutabilidade deixavam o consumidor à mercê do fornecedor de

produtos e serviços. Por essa regar básica, o que fosse acordado pelas

partes deveria ser absolutamente respeitado, até mesmo pela questão

da autonomia da vontade, formando o instrumento e seu conteúdo

verdadeira lei entre os contraentes.

Além disso, a imutabilidade garantia ao contratante a ao

contraente o direito o direito de não ser o contrato alterado pelas partes:

pacta sunt servanda, em outra palavras, faça conforme o acordado, sob

pena de inadimplemento e conseqüente execução forçada. Este

princípio poderia trazer inúmeros problemas para o consumidor, já que

ele não poderia discutir as cláusulas firmadas, mesmo que elas fossem

abusivas ou lhes suprimisse algum direito.

Somente a ordem pública, portanto, consagrada como princípio

geral do contrato, poderia assegurar o direito do consumidor. Contudo,

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não havia lei específica que o respaldasse, oferecendo proteção

eqüitativa dos fornecedores.

Com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor,

tais princípios foram mitigados. Ainda se admite a autonomia da vontade

e a supremacia da ordem pública, esta muito mais fortalecida na

atualidade pela existência de um diploma legal que lhe dê um grande

subsídio na defesa do consumidor, não restrito somente aos contratos,

mas a todo e qualquer negócio firmado entre consumidor e fornecedor.

A obrigatoriedade dos contratos, no entanto, foi alterada

substancialmente. Dependendo do conteúdo da cláusula firmado, ela

pode ser considerada abusiva, e, portanto, inválida.

Consagrou – se como princípio a vulnerabilidade consumidora, a

sua hipossuficiência, isto é, admitiu – se doutrinariamente que o

consumidor está em posição de desvantagem em relação ao fornecedor,

cabendo – lhe um tratamento diferencial, mais benéfico, em relação e

este último. A desvantagem cumpre esclarecer, não é somente

econômica ou material, mas jurídica, ou seja, é paralelamente, a

carência de informação técnica.

Outro princípio que nasce junto com o Código de Defesa do

Consumidor é o princípio da boa fé objetiva, que agora é avaliada em

concreto, e não mais de acordo com critérios subjetivos.

Outra grande inovação do Código de Defesa do Consumidor é a

que se refere à inversão do ônus da prova: pelo Código de Processo

Civil, a obrigação de provar incumbe a quem faz a alegação. No entanto,

aqueles que contam com a proteção da Lei 8.078 de 11 de setembro de

1990 não precisam produzir prova de que afirmam, cabendo à parte ré

defender – se, aduzindo provas que o excluam do fato.

Outra importante revolução da doutrina, com o advento do Código

de Defesa do Consumidor é a que estabelece a responsabilidade

objetiva do fornecedor nos casos que aponta. Antes, para a proteção do

consumidor, assim como de todo comprador em linhas gerais, era a

oferecida pelos artigos 1101 a 1106 do Código Civil, que trata do vício

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redibitório, ainda em vigor para as outras relações jurídicas, que não as

consumeristas.

A lei define o que é o vício redibitório: o vício ou defeito oculta,

que torne a coisa tomada em virtude de contrato comutativo ou doação

com encargo, impróprio para o uso a que é destinada ou lhe diminua o

valor.

A responsabilidade daquele que vendia ou doava a coisa com

vício oculto resumia – se à restituição dos valores recebidos, acrescidos

de perdas e danos, se conhecedor do vício ou defeitos; se ignorasse o

vício ou defeito, o vendedor ou doador apenas restituía aquilo que

recebeu. Poderia o adquirente, em vez de receber o valor de volta,

requerer o abatimento do preço.

A ignorância do vício, como se vê, não eximia o alienante da

obrigação de indenizar, porém, se houvesse cláusula contratual

estipulando o contrário, não haveria o dever de ressarcimento.

O presente trabalho se propõe a avaliar a responsabilidade civil

do fornecedor pelo fato ou vício do produto ou serviço, mas antes, é

essencial estabelecer as pessoas que estão regidas pelo Código de

Defesa do Consumidor.

2.2 Conceitos

A lei 8.078 de 11 de setembro de 2002 é atípica, também pelo fato de

oferecer definições, embora esta seja usualmente tarefa da doutrina. É ela que

estabelece o que seja consumidor, fornecedor, produto e serviço.

Inicia com o conceito do consumidor, já no artigo 2º: “consumidor

é todo pessoa física ou jurídica que adquire o produto ou serviço como

destinatário final”.

A definição deixa claro que as pessoas que intermendiam a

circulação de riquezas não estão abrangidas pelo Código de Defesa do

Consumidor, isto é as suas relações comerciais não podem ser tidas como

relações consumeris. Somente aquele que recebe o produto ou serviço como

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destinatário final é que conta com a proteção da lei de defesa do consumidor,

pouco importando se tratar de pessoa jurídica ou física.

Pessoa física, também chamada de pessoa natural, é o ser humano,

nascido com vida, e, portanto, dotado de personalidade jurídica, que é a

aptidão para contrair direitos e obrigações. A pessoa jurídica, ou coletiva, ou

moral são as associações estabelecidas para determinado fim, a que a lei

confere personalidade jurídica distinta das pessoas que as formam, tornado –

as, assim como as pessoas naturais, sujeitos de direitos e obrigações.

Equipara –se a consumidor, pela letra da lei, “a coletividade de pessoas,

ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações do consumo”.

O Código de Defesa do Consumidor conforma dito anteriormente, é um

microssistema jurídico. Isso porque a sua introdução na ordem jurídica atual

fez cair alguns conceitos antes arraigados, criando normas próprias, sempre

tendo em vista a vulnerabilidade do consumidor em face do fornecedor.

A primeira mudança que salta aos olhos é a adoção de princípios

especiais, aplicáveis à relação de consumo, em detrimento da teoria geral dos

contratos, até então abraçada pelo Direito brasileiro. Antes, regiam a matéria

os princípios da autonomia da vontade das partes das partes; da

obrigatoriedade e da supremacia da ordem pública.

CAPÍTULO I I I

FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

3.1 Fato do produto

Dentro da relação consumerista, a responsabilidade civil do fornecedor

é regulada pelos artigos 12 e 14 do Código de Defesa do Consumidor.

.

“Art. 12 – O fabricante, o produtor, o construtor, nacional

ou estrangeiro, e o importador respondem,

independentemente da existência de culpa, pela

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reparação dos danos causados aos consumidores por

defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,

montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou

acondicionamento de seus produtos, bem como por

informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

utilização e riscos.

§ 1º - O produto é defeituoso quando não oferece a

segurança que dele legitimamente se espera, levando –

se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as

quais:

I – sua apresentação;

II – o uso e os ricos que razoavelmente dele se esperam;

III – a época em que foi colocado em circulação.

§ 2 º - O produto não é considerado defeituoso pelo fato

de outro de melhor qualidade ter sido colocado no

mercado.

§ 3º - O fabricante, o construtor, o produtor ou importador

só não será responsabilizado quando provar:

8I – que não colocou o produto no mercado;

II – que embora haja colocado o produto no mercado, o

defeito inexiste;

III – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. ”

Diz o artigo 13 que o comerciante é igualmente responsável se o

fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser

identificados; se o produto for fornecido sem identificação clara do seu

fabricante, produtor, construtor ou importador ou se o comerciante não

conservar adequadamente os produtos perecíveis. Aquele que efetivou o

pagamento tem direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo

sua participação no evento danoso.

3.2 Fato do Serviço

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Sobre o fato do serviço, diz o artigo 14:

Art. 14 – O fornecedor de serviço responde,

independentemente da existência de culpa, pela

reparação dos danos causados aos consumidores por

defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por

informações insuficientes ou inadequados sobre sua

fruição e ricos.

§ 1º- O serviço é defeituoso quando não fornece a

segurança que o consumidor dele pode esperar, levando

– se em consideração as circunstâncias relevantes, entre

as quais:

I – o modo de seu fornecimento;

II – o resultado e os riscos que razoavelmente deles se

esperam;

III - a época em que foi fornecido.

§ 2º - O serviço não é considerado defeituoso pela adoção

de novas técnicas.

§3º- O fornecedor de serviço só não será

responsabilizado quando provar:

I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§4º - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais

será apurada mediante a verificação de culpa.

Para fins de fato do produto ou serviço, equiparam – se aos

consumidores todos aqueles que forem atingidos pelo evento danoso.

Tanto na prestação de serviço, como no fornecimento de produtos, a

responsabilidade do fornecedor é objetiva, isto é independe da prova de culpa.

Significa dizer que o fornecedor, em face do defeito do produto ou do serviço,

deverá indenizar a vítima do evento de forma integral, sem que para isso, ela

tenha que comprovar a participação do fornecedor no dano, bastando a prova

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do prejuízo e do nexo de causalidade. De qualquer maneira, o consumidor será

beneficiado, eis que o Código de Defesa do Consumidor determina a inversão

do ônus da prova, cabendo ao fornecedor constituir prova em contrário,

consoante o artigo 6º inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor.

O legislador optou por distinguir fato e vício do produto ou do serviço.

Por fato do produto, nas palavras de Sérgio Cavalieri Filho, entende – se :

Os acontecimentos externos, que causa dano moral ou

material ao consumidor, decorrente de um defeito do

produto. Esse defeito pode ser de concepção (criação,

projeto, fórmula), de produção (fabricação, construção e

montagem) ou de comercialização (informações,

publicidade, apresentação, etc.). São os chamados

acidentes de consumo, que se materializam através da

repercussão externa do defeito do produto, atingindo a

incolumidade física – psíquica do consumidor e o seu

patrimônio.(Cavalieri Filho, Programa de

Responsabilidade civil, 2000, p 367).

Denomina –se acidentes de consumo, porque o dano que a vítima

experimenta é oriundo do defeito do produto. Como exemplo, temos o botijão

de gás que explode em função de vazamento destruindo a casa, o remédio que

por erro na formulação não se presta ao que devia (como no famoso caso das

pílulas de farinha), trazendo conseqüências nefastas ao paciente, o defeito no

sistema de freios que vem a causar acidente grave envolvendo terceiro, entre

outros. Em todos esses casos, o dano oriundo do defeito no produto será

indenizável pelo fornecedor. Desta forma, nos exemplos acima declinados, o

fabricante deverá pagar pela casa, pelas custas médicas com a doença

superveniente e decorrente do produto defeituoso, ou prejuízos causados ao

dono do carro e ao terceiro envolvido.

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Cavalieri cita como exemplo a senhora que adquiriu um copo de geléia

de mocotó, deu aos filhos e estes vieram a falecer em conseqüência da

ingestão do produto. Coube ao fornecedor responder, com base no Código de

Defesa do Consumidor e não no artigo 159 dos Códigos Civis, tendo sido

nesse sentido condenado pela 2º Grupo de Câmaras Cíveis do Tribunal de

Justiça do Rio de Janeiro. (Cavalieri Filho, Op. Cit. P. 367).

A doutrina tem se referido à distinção de três responsáveis: o real

(fabricante, construtor e produtor): o presumido (importador) e o aparente

(comerciante). No caso do fato do produto, a responsabilidade do comerciante

é subsidiária, tendo em vista que no mercado do consumo moderno, há

produção em massa, sobre a qual o comerciante não tem qualquer poderio.

Assim, o comerciante responde somente se o fabricante, o construtor ou

importador não puder ser identificado, se o produto não contiver informações

sobre o fornecedor, ou se ele deu causa ao dano, não conservando

adequadamente o produto. A inclusão do comerciante no rol dos responsáveis

aumenta a possibilidade de ressarcimento do consumidor, e não exclui a

responsabilidade do fornecedor.

São pressupostos da responsabilidade por fato do produto e defeito do

produto, e evento danoso e o nexo causal entre esses dois últimos elementos.

Afastado o nexo causal, não há dever de indenizar. Assim, nos casos

do artigo 12, §3º, incisos I, II e III, o fornecedor se exonerará do dever de

reparar o dano.

No que tange ao fato do serviço, é grande a sua aplicação no mundo

dos fatos, sendo certo que abrange as relações bancárias, os estabelecimentos

de ensino e de saúde, os hotéis, estacionamentos, etc.

Como exemplo, pode – se citar o período anterior ao racionamento de

energia no país, que ocorreu no ano de 2001. Em função das constantes

quedas de luz, algumas pessoas tiveram vários aparelhos eletrodomésticos

danificados, cabendo à fornecedora de energia elétrica arcar com tais

prejuízos.

Afastam o dever de indenizar, no caso do fato do serviço, a inexistência

do defeito do serviço e a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

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O direito de reclamar a reparação por danos causados pelo fato do

produto ou do serviço prescreve em cinco anos, contados a partir do

conhecimento do dano e sua autoria.

Cumpre agora transcrever algumas decisões jurisprudenciais que

demonstram como o Poder Judiciário vem decidindo as questões envolvendo o

fato do produto e do serviço.

Na primeira decisão, o Tribunal reconhece a responsabilidade civil

objetiva do fornecedor pelo defeito na prestação de serviço:

Apelação cível. Indenização. Danos morais. Retardo na

entrega de móveis. Relação de consumo.

Responsabilidade objetiva do fornecedor. A

responsabilidade do fornecedor de produtos tem natureza

objetiva, logo independe até mesmo da ocorrência de

culpa, a que restou comprovado que o consumidor

efetivou a compra e que a entrega dos bens se sentido de

responder pelos danos causados, inclusive pela indevida

negativação do nome do comprador nos cadastros

restritivos de crédito. O fato de o consumidor ter sustado o

pagamento dos cheques relativos às duas últimas das

seis parcelas acordadas, não apresenta qualquer ilicitude,

pois fato ocorrido antes do adimplemento, da obrigação

por parte do vendedor. Verba compensatória fixada

moderadamente, e em patamar inferior ao postula na

inicial, deve ser mantida à falta de insurgência do

ofendido.Recurso improviso. APELAÇÃO CIVEL

2002.001.09249. Órgão Julgador: DECIMA PRIMEIRA

CAMARA CIVEL, DES. JOSE C. FIGUEIREDO. Julgado

em 31/07/2002.

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Na ementa a seguir, o Tribunal concedeu a prerrogativa de inversão do

ônus da prova ao autor da ação, haja a existência de relação do consumo e

verossimilhança das alegações autorais:

Agravo de instrumento. Ação ordinária. Contaminação de

moradores de bairro próximo a Refinaria, pela emanação

de produtos tóxicos. Existência de relação de consumo.

Art. 17 do Código de Defesa do Consumidor. Inversão do

ônus da prova. O art. 17 Código de Defesa do

Consumidor equipara ao consumidor qualquer pessoa,

natural ou jurídica, que venha a sofrer um dano, em

decorrência do fato do serviço. Assim sendo, e em

principio, cabe a espécie das regras do Código de Defesa

do Consumidor, e, entre elas, a da inversão do ônus da

prova, cujos pressupostos se acham presentes, já que

verossímil a versão do autor, confirma pelas noticias

jornalística, sendo ele hipossuficiente. Correta, assim, a

decisão recorrida, que objetiva proteger a vitima do fato

do serviço, equiparada a consumidor, Desprovimento do

recurso. (IRP). AGRAVO DE INSTRUMENTO

2002.002.05587: DECIMA CAMARA CIVEL, DES.

SYLVIO CAPANEMA, Julgado em 25/06/ 2002.

Responsabilidade Civil. Dano Moral. Relação de

consumo. Fato do produto.

Responsabilidade objetiva.Falha do serviço. Acidente de

consumo. Consumo de produto contaminado. Provado o

dano e o anexo de causalidade, impõe – se ao fornecedor

demonstrar a inexistência de excludentes de sua

responsabilidade. Se não prova a ocorrência de qualquer

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circunstância exigente responde pelos danos causados. A

aflição, a dor e os sentimentos negativos produzidos em

razão de enfermidade contraída pela ingestão do produto

contaminado caracterizam os danos morais, passíveis de

reparação pela via financeira. A indenização fixada em

valor equivalente a 50 salários mínimos é razoável e

proporcional à lesão sofrida. Recursos aos quais se nega

provimento. APELAÇÃO CIVEL 2201.001.11800,

SEGUNDA CAMARA CIVEL. DE. FERNANDO CABRAL,

Julgado em 20/02/2002.

A ementa a seguir trata do produto, entendendo – se assim o defeito na

coisa que vem a ocasionar um dano ao seu adquirente. O veículo gerador da

contenda foi mais tarde objeto de recall, valendo como prova da existência do

defeito, assim reconhecido pela própria ré:

Ordinária de indenização. Incêndio de veículo adquirido à

ré, objeto de “recall”, dias depois. Para troca de

mangueira de combustível ensejador de vazamentos.

Agravo retido. Aplicação à hipótese da legislação

consome que se ostenta a relação entre fabricante e

adquirente, ainda quando destinado o veiculo a aluguel –

táxi. Fundando – se a ação no fato do defeito do produto,

a regra aplicável e a do artigo 27, da respectiva lei de

regência, não a de seu artigo 26, que fixa prazo para a

ação com vistas ao abatimento do preço ou troca do

produto, por vicio oculto. Mérito. Incidindo, no caso, a

regra do par. 3., do artigo 122,do CDC, a sentença de

procedência ser ostentava inevitável quando, colocando

pela ré no mercado o produto, reconheceu ela,

publicamente, seu defeito, ao proceder ao “recall”, sem se

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desincumbir, como lhe cumpria, da prova a respeito do

rompimento do nexo causal, por culpa exclusiva do

consumidor. Dano moral configurado. “Quantum” razoável

e proporcional. Salário mínimo. Desvinculação. Apelo

parcialmente provido. (IRP) Obs: Embargos de

Declaração providos para suprir omissão apontada.

APELAÇÃO CIVEL 2001.001.19015, PRIMEIRA CAMARA

CIVEL, DES. MAURICICIO CALDAS LOPES, Julgado em

13/11/2001.

Na hipótese seguinte, a empresa aérea que faz overbooking é

condenado a ressarcir os prejuízos dos passageiros prejudicados por sua

conduta abusiva, tendo em vista a não observância dos princípios da boa fé

objetiva e da transparência. Trata –se de fato do serviço, ao qual se aplicam as

regras do Código de Defesa do Consumidor:

Overbooking – Prática abusiva da transportadora aérea –

Relação de consumo Situação que desrespeita o

consumidor quebrando os princípios da transparência e

boa – fé objetiva que devem nortear os contratos em sede

consumerista Aplicação à espécie do Código de Defesa

do Consumidor – Convenção de Varsóvia e Código

Brasileiro da Aeronáutica que não cuidam do controle das

práticas e cláusulas abusivas, inexistindo antinomia entre

essas leis e o CoDeCon – Fato do serviço que se

configura quando os passageiros não conseguem

embarcar no avião no dia e hora marcados na passagem

por estar o mesmo lotado – Art. 14 da Lei 8079/90 –

Indenização por dano moral cabível na hipótese diante da

abusividade da prática norteadora dos negócios da cia.

Aérea - Valor da condenação fixada dentro da lógica em

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20 (vinte) salários mínimos para cada um dos autores –

Passageiros que, outrossim, são instados em hotel pela

cia. Aérea ré que provê transporte e alimentação e os

embarca no primeiro vôo disponível – Recursos de ambas

as partes desprovidas – Honorárias compensados

Sentença confirmada.

Processo nº 2001.700.013445-5, julgado em 15/05/2002;

CRISTINA TEREZA GAULIA.

Na decisão abaixo transcrita, o Tribunal determinou a aplicação do

Código de Defesa do Consumidor à hipótese de emanação de gases tóxicos

por refinaria que veio a afetar a saúde dos moradores arredores. É hipótese de

fato do serviço:

Agravo de instrumento. Ação ordinária. Contaminação de

moradores de bairro próximo à Refinaria, pela emanação

de produtos tóxicos. Existência de relação de consumo.

Art. 17 do Código de Defesa do Consumidor. Inversão do

ônus da prova. O art. 17 do Código de Defesa do

Consumidor equipara ao consumidor qualquer pessoa,

natural ou jurídica, que venha a sofre um dano, em

decorrência do fato do serviço. Assim sendo, e em

princípio, cabe à aplicação das regras do Código de

Defesa do Consumidor, e entre elas, a da inversão do

ônus da prova, cujos pressupostos se acham presentes,

já que verossímil a versão do autor, confirmada pelas

notícias jornalística, sendo ele hipossuficiente. Correta,

assim, a decisão recorrida, que objetiva proteger a vitima

do fato do serviço, equiparada a consumidor.

Desprovimento do recurso. ((IRP)).

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Tipo da Ação: AGRAVO DE INSTRUMENTO

2002.002.05587 Data de Registro: 12/08/2002 Folhas:

53676/53679 Des. SYLVIO CAPANEMA, Julgado em

25/06/2002.

CAPÍTULO IV

VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

O vício do produto se refere às idéias de qualidade e quantidade, e

guardam alguma semelhança com os vícios redibitórios.

Sempre que a qualidade do produto comprometer o seu uso, tornando–

o impróprio ou inadequado ao fim a que se destina, ou lhe diminua o valor, o

fornecedor estará obrigado a sanar o vício. Da mesma forma, em havendo

disparidade entre a quantidade real do produto e aquela indicada na

embalagem, rotulagem ou mensagem ou mensagem publicitária, o fornecedor

também deverá responder. É o que preceitua o caput do artigo 18 do Código

de Defesa do Consumidor, abaixo transcrito:

Art. 18 – Os fornecedores de produtos de consumo

duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos

vícios de qualidade ou quantidade que os tornem

impróprios ou inadequados ao consumo a que se

destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por

aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações

constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou

mensagem publicitária, respeitadas as variações

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decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor

exigir a substituição das partes viciadas.

A própria lei cuidou de definir o que seja o produto impróprio, definindo

no §6º do artigo 18 as hipóteses:

§ 6º - São impróprios ao uso e consumo:

I – os produtos cujos prazos de validade estejam

vencidos;

II – os produtos deteriorados, alterados, adulterados,

avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à

vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em

desacordo com as normas regulamentares de fabricação,

distribuição ou apresentação;

III – os produtos que, por qualquer motivo, se revelem

inadequados ao fim a que se destinam.

O fornecedor tem o prazo de trinta dias para sanar o vício, e o

consumidor tem à sua disposição três alternativas nesse sentido: pode

requerer a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas

condições de uso; pedir a restituição imediata da quantia paga,

monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; ou

requer o abatimento proporcional do preço.

No que tange à substituição, se ela comprometer a qualidade ou

características do produto, se lhe diminuir o valor, ou se tratar de produto

essencial, o consumidor poderá fazer uso das alternativas imediatamente.

Além disso, se o consumidor optar pela substituição e esta for impossível, é

admissível a reposição do produto por outro de espécie, marca ou modelo

diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de

preço. No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável

perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado

claramente seu produtor.

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O prazo acima referido poderá ser ajustado entre as partes, porém não

poderá ser inferior sete, nem superior a trinta dias. Nos contratos de adesão, tal

prazo deverá ser fixado em peça apartada, com a expressa anuência do

contratante.

Quanto ao vício de qualidade, diz o artigo 19 que os fornecedores

respondem solidariamente pelas divergências entre a rotulagem e a sua

quantidade real, respeitadas as variações normais inerentes à natureza do

produto.

O consumidor pode exigir, alternativamente: o abatimento proporcional

do preço; complementação do peso ou medida; substituição do produto por

outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; a

restituição imediata da quantidade paga, monetariamente atualizada, sem

prejuízo de eventuais perdas e danos.

O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a

medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões

oficiais.

No que toca aos serviços, o fornecedor responde pelos vícios de

qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor,

assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações

constantes da oferta ou mensagem publicitária. Se houver mais de um

fornecedor responsável, todos respondem solidariamente. Além disso, em

sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao produto ou

serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou importador e

o que realizou a incorporação.

Diz o § 2 º do artigo 20, que são impróprios os serviço que se mostrem

inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como

aqueles não atendam às normas regulamentares de prestabilidade.

Para sanar o vício, o consumidor pode escolher, alternativamente: a

reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível, que poderá

ser confiada a terceiro qualificado, por conta e risco do fornecedor; a restituição

imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo dos

eventuais perdas e danos ou o abatimento proporcional do preço.

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No caso de fornecimento de serviço que tenham por objetivo a

reparação de qualquer produto é presumida a obrigação do fornecedor de

empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que

mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo quanto a este

último, autorização em contrário do consumidor.

O código não deixou de contemplar os serviços oferecidos pelos

órgãos públicos, submetendo – os às regras de responsabilidade. O Artigo 22

afirma que os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,

permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são

obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos

essenciais, contínuos.

Não exime o fornecedor de responsabilidade a ignorância do

fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e

serviço, nem a cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de

indenizar prevista no Código de Defesa do Consumidor, expressamente

vedada pela lei.

A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de

termo expresso.

Avaliadas as disposições sobre o vício do produto de serviço, vale

transcrever as decisões abaixo, cuja ementa enunciam como o Judiciário vem

aplicando a referida doutrina:

Direito do consumidor. Ação redibitória. Decadência. Se o

vício é oculto, isto é só se manifesta com o uso, o termo

inicial da garantia fica em aberto, de tal sorte que somente

depois de constatado o vício inicia a contagem do prazo

decadencial do art-26, inciso II, par – 3, do CDC. Vício

oculta. O dever de proceder à restituição do valor pago

pelo bem se mostra inarredável na hipótese dos autos,

em que, remetido o mesmo para conserto, não se

mostrou adequado ao uso. Responsabilidade civil.

Indenização por prejuízo da lavoura. Ausência da prova

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dos prejuízos sofridos. Incumbe ao autor fazer prova de

que os danos sofridos se devem a fato do produto

vendido pela outra parte. Prova insuficiente. Danos

materiais. O dever de reparar cinge –se aos danos

efetivamente demonstrados, sobre o que não puder ao

menos existir uma presunção concreta de existência,

deve ser afastado. Apelo provido em parte. Sucumbência

redimensionada. (13 fls.) (Apelação cível n��

597067750, nono câmara cível, tribunal de justiça do RS,

relator: dês. Rejane Maria Dias de Castro Bins, julgado

em 11/09/02).

Uma das questões discutidas dentro da responsabilidade civil do

fornecedor nas relações de consumo é referente ao ônus da prova. O Código

de Defesa do Consumidor a estabelece como direito do consumidor, mas não

diz quando ela deve ser deferida.

A falta de determinação legal específica conduziu a uma discussão

doutrinária acerca da inversão do ônus da prova, entendendo alguns

doutrinadores e aplicando alguns magistrados a regra do processo civil no que

toca a prova: incumbe a quem alega; o réu deve provar os fatos impeditivos,

modificativos ou extintivos do direito, conforme a ementa abaixo transcrita.

Outros doutrinadores e magistrados entendem que a inversão do ônus

de provar é sempre em benefício do consumidor.

Dentro desse debate, também se deve ser deferida a inversão ou se

ela é automática. Ainda, discute – se momento em que deve ser deferida, se no

momento em que se recebe a inicial, ou na sentença. A importância dessa

discussão reside no fato de que ambas as partes podem ser prejudicadas caso

não saibam se há ou não a inversão ônus, pois que podem deixar de levar aos

autos provas importantes que eximem ou implicam a responsabilidade.

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Mais interessante para o consumidor, atendendo com mais afinco as

orientações e paradigmas de sua defesa, como o reconhecimento de sua

hipossuficiência e sua vulnerabilidade é a inversão automática.

Prova. Ônus. Código de defesa do consumidor. O

consumidor deve provar o vício do produto, o dano e o

respectivo nexo causal, tocando ao fornecedor o ônus de

provar a exclusão de sua responsabilidade (artigo 18 e 19

do CDC). Responsabilidade objetiva dos fornecedores.

Desnecessidade de declaração judicial de inversão do

ônus probatório, in casu. Agravo desprovido. (agravo de

instrumento n º 70004291688, sexta câmara cível, tribunal

de justiça do RS, relator: dês. Antônio Guilherme Tanger

Jardim, julgado em 18/09/02).

Na ementa abaixo transcrita, o fornecedor tenta a exclusão do nexo de

causalidade alegando caso fortuito e força maior. O Tribunal entendeu que o

incêndio na fábrica não pode ser considerado como tal, pelo que o fornecedor

fica a obrigado a reparar o dano do consumidor:

Cobrança. Microcomputador. Defeito. HD. Substituição.

Incêndio na fábrica. Força maior e caso fortuito. Hipótese

não configurada. Vício do produto. Devolução da quantia

paga na aquisição de microcomputador que veio a

apresentar defeito, ocasionando a troca do HD por menor

capacidade. Promessa da substituição por peça original

que não restou cumprida. Incêndio ocorrido na fábrica em

data posterior às reclamações do consumidor, e antes da

entrega do aparelho na assistência técnica. Hipótese de

caso fortuito e forca maior não configurada. Ação julgada

procedente em primeiro grau. Apelo da ré provido

parcialmente para reduzir a verba honorária. (Apelação

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cível nº 70003310042, décima câmara cível, tribunal de

justiça do RS, relator: de. Paulo Antônio Kretzmann,

julgado em 22/08/02).

Na decisão a seguir, o Tribunal determina a responsabilização civil do

fornecedor pelo vício do serviço, não cumprido adequadamente pelo prestador:

Relação de consumo – Réu que é fornecedor de serviços

diverso entre os quais o de assistência automotiva, pelo

que se afirmou há anos no mercado de consumo –

Contrato firmado entre as partes cujo Pagamento da

Primeira parcela do título de sócio dá direito ao

proponente aos serviços do réu Consumidores que ao

transitar pela Linha Vermelha por volta da meia – noite

são surpreendidos por falha no funcionamento do veículo

que o paralisa totalmente – Veículo rebocado por

funcionário da concessionária que administra a Linha

Vermelha e estacionado em pátio de uso daquela, de cujo

local poderia ser retirado por reboques particularmente

contratados – Autores que telefonam para a empresa – ré

solicitando o devido socorro sem lograr êxito, ficando ao

desamparo, entregues própria sorte em local sabidamente

perigoso e ermo, especialmente de madruga – Autor que,

por ser motorista de táxi, contacta o serviço de remoção

dos taxistas que lhe presta o socorro necessário com

rapidez e eficácia – Desídia. do fornecedor – réu e

desrespeito total aos direitos dos consumidores – autores,

que coloca em risca a vida e a segurança destes – Art. 6º

, I da Lei 8078/90 falha grave na prestação de serviço –

art, 20, caput I e § 2 º CoDeCon – Autores que diante do

vício do serviço, falta de cumprimento pelo fornecedor de

sua obrigação, enviam Correspondência ao réu

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pretendendo a rescisão do contrato – Possibilidade

prevista no CDC Fornecedora que se nega à rescisão e

cobra através do lançamento no cartão de crédito dos

autores os valores referentes ao contrato – Cartas de

cobrança enviadas aos consumidores Constrangimento –

Dano moral ocorrente – Sentença que determina ao réu o

estorno das cobranças junto ao cartão e condena a ré ao

pagamento de 40 (quarenta) salários mínimos a título de

danos morais que se confirma integralmente.

Turma Recursal Cível, Número do Processo:

2001.700.013431-0, julgado em 15/05/2002, CRISTINA

TEREZA GAULIA.

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CONCLUSÃO

Antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor, todo e

qualquer defeito o produto ou serviço apresentasse era resolvido pelas

disposições da lei civil. Os vícios redibitórios e a responsabilidade civil eram,

então, os instrumentos de que dispunha o consumidor para fazer valer os seus

direitos.

O vício redibitório é o vício oculto na coisa, que a torna imprópria o fim

a que se destina ou lhe diminui o valor. O primeiro elemento para a

caracterização do instituto era, assim, que o vício fosse oculto. Se aparente,

entendia – se que o consumidor havia consentido em adquirir o bem daquela

forma.

A responsabilidade civil também poderia servir para a satisfação dos

direitos do consumidor. Tratando – se de responsabilidade contratual,

essencial, além dos demais elementos da responsabilidade civil (dano, nexo e

conduta culposa), o contrato prévio válido. Contudo, não havendo lei a obstar

os procedimentos abusivos do fornecedor, não existia lei em face da qual se

podia contestar a legitimidade de certas cláusulas, de forma que quase sempre

o instrumento era válido. Além disso, como não havia qualquer lei a respaldar

os interesses específicos do consumidor, muitas disposições contratuais eram

acolhidas, em face dos princípios contratuais que regiam a matéria.

Mais tarde, reconhecendo que há uma grande disparidade entre o

consumidor e fornecedor e que havia nessa relação uma notória desigualdade,

surgiu o Código de Defesa do Consumidor, que libertou o assunto das amarras

do Direito civil, criando – se um ramo autônomo do direito, com suas

peculiaridade e institutos próprios.

Aliás, esse diploma legal prima por alcançar seu objetivo imediato, qual

seja, o de trazer isonomia à relação de consumo. Concede várias vantagens

materiais e processuais em favor do consumidor, o que facilita o exercício de

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seus direitos. Dessa forma, o consumidor conta com a inversão do ônus da

prova em seu favor, que embora as controvérsias que cercam a matéria,

constitui–se em direito básico do consumidor; a solidariedade na cadeia de

fornecimento; a responsabilização objetiva do fornecedor.

Vale dizer a responsabilização objetiva do fornecedor é uma das

grandes inovações do Código de Defesa do Consumidor. Enquanto na

responsabilidade civil subjetiva, a vítima deve provar a culpa, além do dano e

do nexo de causalidade, na responsabilidade objetiva basta que se prove o

dano e nexo causal, pois o agente responde independentemente de sua culpa.

Novos princípios foram consagrados à luz nova defesa do consumidor,

e a teoria dos contratos restou mitigada. O consumidor é reconhecidamente

hipossuficiente, sendo tal conceito não restrito a critérios eminentemente

econômicos, mas também em termos de conhecimento técnico – jurídico.

Outrossim, ele é vulnerável, isto é, constitui – se na parte mais fraca da relação

de consumo, devendo as disposições contratuais serem interpretadas em seu

favor. Pelo princípio da onerosidade excessiva é possível revisar o contrato,

preservando – o, se possível, ou desfazendo – o, se necessário.

A boa fé torna –se objetiva, aferida segundo critérios práticos e

concretos, e não mais de formas subjetivas, avaliando – se a intenção do

fornecedor.

O fato do produto e do serviço encontra sua disciplina legal, assim

como o vício do produto e do serviço no Código de Defesa do Consumidor. Em

ambos os casos, o fornecedor responde independentemente de culpa.

O consumidor dispõe de várias opções para ter seu prejuízo

ressarcido, ressaltando – se, sempre que faz jus à reparação integral de seu

dano.

Pode – se dizer que a Lei 8.078/90 inovou o ordenamento jurídico de

forma positiva, pois trouxe uma proteção completa para o consumidor, com

alternativas para solução de problemas. O consumidor não está mais adstrito

às vontades do fornecedor.

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O Judiciário, por sua vez, vem cumprimento bem o papel de guardião

dos direito do consumidor, deferindo – lhe todos os direitos que lhe são

assistidos.

Embora o Brasil tenha adotado uma política de defesa do consumidor

de forma tardia, pois só em 1990 é que surgiu o estatuto de defesa do

consumidor, não se pode mais dizer que o consumidor está desamparado. Ao

contrário, ele tem instrumentos jurídicos eficazes a seu favor. O pleno exercício

desses direitos depende agora da ampla divulgação das disposições do

Código, o que pode ser feito com o auxílio da comunidade jurídica, da mídia e

da sociedade em geral.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Oficial (da).

República Federativa do Brasil, Brasília, nº 191 – A, 05 de out de 1988.

DECRETO LEI 2.848, DE 07 DE DEZEMBRO DE 1940. Dispõe sobre o

Código Penal Brasileiro.

Diário Oficial (da) República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 31 de

Dezembro de 1940.

Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário

Oficial (da) República Federativa do Brasil, Brasília, 11 de janeiro de 2002.

Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil. Diário Oficial(da)

República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro.

Lei nº 8.078, 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do

consumidor e dá outras providências. Diário Oficial (da) República Federativa

do Brasil, Brasília, 12 de setembro de 1990.

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FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade civil. São

Paulo: 2000, Malheiros.

GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código Brasileiro de Defesa do

Consumidor. Comentado pelos autores do anteprojeto. 6 ed. Rio de Janeiro:

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LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade civil nas relações de

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MONTEIRO Washington de Barros. Curso de direito civil. Contratos.

São Paulo: Saraiva, 1995.

MONTEIRO Washington de Barros. Curso de direito civil. Direito das

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NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria Andrade. Código de

Processo Civil Comentado. 4ed. Rio de Janeiro: RT, 1999.

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PEREIRA Caia Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9ed. Rio de

Janeiro: 1999, Forense.

QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Da responsabilidade por vício do

produto e do serviço. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998.

QUEIROZ, Ricardo Canguçu Barroso de. Responsabilidade pelo fato

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paralelo. Disponível em http://www.jus.com.br. Acesso em: 16 jan. 2003.

Revista dos Tribunais. Índice Geral. V. 771-782,2000.

Revista dos Tribunais. Índice Geral. V. 783-794,2001.

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Defesa do Consumidor é objetiva ou subjetiva? In Revista dos Tribunais. V. 744. Abr.

2000, p. 134-139.

ÍNDICE

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FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 09

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I

DISCIPLINA JURIDICA ANTERIOR AO CODIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR 17

1.1 – Dos Viicios Redibitórios 17

1.2 – Da Responsabilidade Civil 24

CAPITULO II

O CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 34

2.1 – Princípios 34

2.2 – Conceitos 36

CAPITULO III

FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO 38

3.1 – Fato do Produto 38

3.2 – Fato do Serviço 39

CAPITULO IV

VICIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO 48

CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59

ÍNDICE 61

FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: