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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A MÚSICA COMO INSTRUMENTO NA REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA EM PACIENTES DE 17 A 22 ANOS, PORTADORES DE ENCEFALOPATIA CRÔNICA DA INFÂNCIA Por: Sílvia Santana Costa Orientador Prof. Fabianie Muniz Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A MÚSICA COMO INSTRUMENTO NA REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA EM PACIENTES DE 17 A 22 ANOS, PORTADORES

DE ENCEFALOPATIA CRÔNICA DA INFÂNCIA

Por: Sílvia Santana Costa

Orientador

Prof. Fabianie Muniz

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A MÚSICA COMO INSTRUMENTO NA REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA EM PACIENTES DE 17 A 22 ANOS, PORTADORES

DE ENCEFALOPATIA CRÔNICA DA INFÂNCIA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicomotricidade.

Por: Sílvia Santana Costa

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AGRADECIMENTOS

Aos mestres Vinícius Costa Pereira

(meu amado filho) e Bárbara Felismino

dos Santos, que realmente me

orientaram, mostrando que caminhos

difíceis, são aqueles jamais

percorridos.

À minha querida nora e colega

(fisioterapeuta), Fernanda Soares que,

juntamente com Vinícius, me levou a

enxergar um horizonte diante da

proposta do projeto da pesquisa por

mim escolhida.

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À coordenação do SAREM que me deu

liberdade, através da confiança em

meu trabalho.

À minha família, pela preocupação de

todas as noites de terça-feira.

À cantora e compositora Bia Bedran

que através de suas músicas estará

sempre presente onde houver uma

criança, ou quem ainda conserva o

espírito inocente de uma delas.

Ao meu Deus pelo amparo e luz, que

muito me auxiliam nos momentos que

busco na ciência, condições que me

ajudam no tratamento de meus

pacientes, porém sem nunca perder a

confiança de que com Ele, nada é

impossível.

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DEDICATÓRIA

Aos jovens pacientes do SAREM que

me fizeram crer que vale à pena buscar

base científica, mesmo que seja em

forma de sonhos, que se tornaram

reais, permitindo a construção desse

trabalho.

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RESUMO

A presente pesquisa tem o objetivo de realizar um estudo sobre os benefícios da música na terapêutica nos quadros clínicos de pacientes com encefalopatia crônica da infância (ECI). O objeto empírico é constituído por pacientes com ECI que atendemos no Serviço de Atendimento e Reabilitação Especial de Maricá (SAREM), município da região do Leste Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Trabalhamos com duas hipóteses: a) a música contribui na evolução do tratamento do paciente com ECI, influenciando na propriocepção corporal; b) como um meio terapêutico, a música contribui no tratamento do paciente com ECI, levando a melhoras em suas condutas relacionais e comportamentais. Os resultados, significativamente positivos, foram obtidos após alguns meses de atuação na aplicação de variadas técnicas tradicionais, no período de fevereiro a dezembro de 2009, somadas à utilização da música. Em virtude desse fato, buscamos sistematizar cientificamente ao utilizar uma metodologia que considera a linguagem corporal não apenas como resultante de um reflexo automático, ou um ato anônimo, mas como um gesto revestido de significado, produtor de subjetividade, portanto, como um aspecto psicomotor. A princípio, a música foi utilizada com o objetivo de levar a um relaxamento físico e de favorecer o relacionamento com o terapeuta, criando um vínculo entre ambos. Entretanto, durante as condutas terapêuticas, após a inclusão da música, verificamos que os pacientes apresentaram melhoras relacionais e comportamentais (descontração e interação com o meio), indicando um considerável desenvolvimento proprioceptivo.

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METODOLOGIA

• Revisão bibliográfica (livros de psicomotricidade, neuroanatomia e

neurofisiologia funcional; periódicos da CAPES; artigos relacionados);

• Observação de quadros clínicos dos pacientes, através de seus

prontuários;

• Utilização de músicas com diferentes ritmos e estilos, instrumentais e/ou

com letras durante a terapêutica;

• Utilização de instrumentos musicais (pandeiro, tambor, chocalho, latas,

dentre outros).

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SUMÁRIO

Introdução..........................................................................................................................

CAPÍTULO 1: PSICOMOTRICIDADE: O QUE É?........................................................................

1.1. Uma visão histórica da psicomotricidade...............................................

1.2. Reabilitação, reeducação, socialização..................................................

1.3. A questão da subjetividade humana.......................................................

Capítulo 2: ENCEFALOPATIA CRÔNICA DA INFÂNCIA (ECI), OU PARALISIA CEREBRAL......

2.1. Definição.................................................................................................

2.2. Causas......................................................................................................

2.3. Diagnóstico..............................................................................................

2.4. Tipos de Encefalopatias Crônicas da Infância........................................

2.5. Padrões Motores......................................................................................

2.6. Classificação da ECI...............................................................................

2.7. Prevenção................................................................................................

2.8. Deficiências Associadas..........................................................................

2.9. Avaliação Fisioterápica...........................................................................

2.9.1 Anamnese...........................................................................................

2.10. Tratamento.............................................................................................

2.11. Objetivos fisioterápicos gerais..............................................................

Capítulo 3: FISIOTERAPIA X PSICOMOTRICIDADE – A MÚSICA COMO COADJUVANTE NO TRATAMENTO DE PACIENTES COM ECI............................................................

3.1. Efeitos biológicos e fisiológicos da música...........................................

3.2. Apresentação de casos............................................................................

3.3. Avaliação dos resultados........................................................................

Considerações finais..........................................................................................................

Bibliografia.........................................................................................................................

Anexo..................................................................................................................................

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é identificar como a música influencia no

tratamento de pacientes portadores de Encefalopatia Crônica da Infância. A

principal motivação para a realização do mesmo surgiu a partir da experiência

profissional como fisioterapeuta, atuando junto aos pacientes portadores de

deficiências neurológicas com sérios comprometimentos motores,

especificamente crianças com encefalopatia crônica da infância (ECI),

considerando não apenas os aspectos orgânicos afetados pela doença, mas

também os aspectos subjetivos envolvidos no processo de intervenção clínica.1

Constatamos a dificuldade que estes pacientes têm de conviver em

um mundo onde as diferenças podem levar a problemas sociais e emocionais.

Diante desse fato, questionamos as técnicas específicas aplicadas na

terapêutica do ECI e identificamos significativas melhoras no relacionamento

terapeuta-paciente, o que tornou o tratamento fisioterapêutico mais dinâmico –

não deixando de ser eficaz e significativo –, tanto para o paciente como para o

fisioterapeuta.

Compreendemos que o desenvolvimento neuropsicomotor é um

processo contínuo. Para o alcance de toda a sua potencialidade é preciso que

a criança interaja com o meio-ambiente (sujeitos e objetos).

No conjunto das recentes intervenções terapêuticas, incluímos a

música como um dos instrumentos experimentais. Com isso, identificamos

alguns resultados positivos, que nos revelaram a necessidade de estudos mais

aprofundados sobre o tema. A partir desse contexto, passamos a buscar as

mediações que provam que a música, nesses casos, influencia de forma

positiva no padrão psicomotor desses pacientes.

Pesquisadores afirmam que a música trabalha os hemisférios

cerebrais, auxiliando na promoção do equilíbrio entre o pensar e o sentir,

1 A autora deste trabalho atua no Serviço de Atendimento e Reabilitação Especial de Maricá (SAREM), município da região do Leste Fluminense do Estado do Rio de Janeiro.

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visando a “afinação” do indivíduo, de maneira coerente com seu “diapasão

interno”. Tais autores compreendem que a melodia desenvolve o emocional, a

harmonia trabalha o racional e o ritmo é a força organizadora que provoca

respostas motoras. Através da pulsação, o ritmo dá suporte para a

improvisação de movimentos, ou seja, para a expressão corporal.2

Portanto, acreditamos que a música pode ser também coadjuvante

das técnicas terapêuticas, abrindo novos canais de comunicação para que

possam atuar de maneira mais eficaz.

Sabendo que a psicomotricidade se baseia em princípios que partem

da vivência do corpo no espaço e no tempo, pensamos que, nesse meio, a

música se torna uma linguagem que possibilita a relação explícita e necessária,

pois proporciona aos pacientes experiências e vivências que facilitam – ou

mediam – o feedback entre a percepção auditiva e a ação motora. Dessa

maneira, qualquer indivíduo pode desenvolver melhor a consciência de si

mesmo e/ou do seu corpo, se tornando um ser capaz de sentir e expressar

sentimentos e, o mais importante, de partilhar e se comunicar com os demais,

pois terá em si facilitada a harmonização mente/corpo/meio-ambiente.

Essa situação reflete o desenvolvimento das capacidades

psicomotoras (coordenação, equilíbrio, esquema e imagem corporal, tônus,

lateralidade, estruturação espaço-temporal, percepções sensoriais e as práxis

globais e finas).

Desenvolvemos este trabalho em três capítulos, através dos quais,

procuramos responder a seguinte questão: O que ocorre no organismo humano

durante a interação com o profissional que utiliza em seu cotidiano de trabalho

a música enquanto instrumento terapêutico?

2 Essas idéias estão presentes em Leboulch (1982), Langer (1989), Masson (1988/1989), Rodrigues (1990), Fonseca (1988), Lapierre (2002).

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CAPÍTULO I

PSICOMOTRICIDADE: O QUE É?

Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP), a

psicomotricidade é a:

Ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização (SBP, 2009).

De acordo com a definição acima, compreendemos que, no decorrer

da história, a Psicomotricidade adquiriu grandes possibilidades de atuação e

intervenção, tendo como objeto fundante “o corpo em movimento” em relação

seu próprio meio. Conforme Negrine (2002), a psicomotricidade se originou a

partir do termo grego “psyché”, que significa alma e também no verbo latino

“moto”, que significa se mover frequentemente, agitar-se.

Para definir melhor a origem do termo psicomotricidade, nos

baseamos em estudos nos quais procuramos analisar a psicomotricidade e

suas características, apresentando as faces das diferentes abordagens a partir

de três grandes grupos: Reeducação Psicomotora, Terapia Psicomotora e

Educação Psicomotora, além de nos ampararmos nos conceitos da

psicomotricidade, segundo diversos autores.

1.1. Uma visão histórica da Psicomotricidade

Psicomotricidade enquanto termo e ciência apareceu no séc. XIX, a

partir da necessidade de dar nome às zonas do córtex cerebral que se

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localizavam além das regiões motoras e entender as diferentes disfunções

cerebrais que já não podiam ser explicadas por parte dos neurologistas. Com

os estudos da neurofisiologia, identificou-se que há disfunções motoras que

ocorrem sem que o cérebro esteja lesionado. Portanto, o “esquema anátomo-

clínico", que apresentava um sintoma correspondente a uma lesão, já não

respondia satisfatoriamente às investigações a respeito de certos fenômenos

patológicos. Dessa forma, foi preciso encontrar um ramo da ciência para

entender e explicar tais disfunções psicomotoras. Segundo nossas pesquisas,

isso se deu aproximadamente no ano de 1870, junto com as primeiras

pesquisas de enfoque neurológico.

As pesquisas a respeito das disfunções patológicas ganham fôlego

em 1909 com as argumentações de Ernest Dupré, um neuropsiquiatra. Suas

contribuições são fundamentais para o entendimento do esquema psicomotor.

Dupré demonstra a independência de debilidade motora perante um

correspondente neurológico.

As áreas da psicologia infantil, psiquiatria e pedagogia também

deram suas contribuições para a psicomotricidade, pois se buscava

entendimento a respeito das dificuldades de aprendizagem das crianças.

Somam-se também as contribuições de Thomas e Dargassie sobre o tônus

axial. Os reflexos tônicos do nascimento e dos primeiros anos de vida são

conhecidos por serem os produtores das primeiras palavras que se referem a

Psicomotricidade.

Preocupado com o movimento humano, o médico e psicólogo

Wallon acredita ser o movimento um elemento fundamental para a construção

do psiquismo. O autor relaciona o movimento ao afeto, ao meio ambiente e aos

hábitos infantis. Dessa forma, afirma que não haverá desenvolvimento da

personalidade dissociada da emoção, ou seja, o tônus é o elemento principal

do ato motor e não pode ser pensado sem as emoções.

Torna-se importante comentar também as contribuições de Edouard

Guilamain, neurologista que em 1935 desenvolve exames psicomotores para

diagnosticar e indicar tratamento. Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, médico

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psiquiatra reelabora o que se sabe sobre debilidade motora, lhe dando o título

de síndrome e respeitando suas particularidades.

Lussac (2009) comenta que Ajuriaguerra considerava a

Psicomotricidade como “uma técnica que por meio do corpo e do movimento

dirige-se ao ser em sua totalidade. Ela não visa a readaptação funcional por

setores e muito menos, a supervalorização dos músculos, mas a fluidez do

corpo no seu meio”.

Aproveitando os subsídios de Wallon sobre o diálogo tônico,

Ajuriaguerra foi responsável por delimitar, de forma mais precisa, os

transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico.

Aprimorando as noções sobre a Psicomotricidade, Giselle Soubiran, realiza

estudos sobre a relaxação psicotônica, podendo ser considerada como uma

base psico corporal e, ainda, como elemento fundamental da atividade

psíquica.

Ao chegar ao Brasil, aproximadamente em 1970, a Psicomotricidade

leva os profissionais da saúde e educação a buscar mais informações sobre

essa ciência e encontram nos pesquisadores franceses um norte. Vale ainda

considerar a contribuição da Educação Física no período 1978, para a

solidificação da Psicomotricidade. Alguns professores de Educação Física

passaram a utilizar as práticas corporais da Psicomotricidade para tornarem

suas aulas mais interessantes e produtivas. Dessa forma, as similitudes de

ambas as ciências foram bem aceitas entre educadores e psicólogos.

Através dos avanços nos estudos sobre a Psicomotricidade, foi

possível criar uma escala de avaliação neuropsicomotora, sendo seu principal

responsável o médico neurologista brasileiro, Antonio Branco, influenciado

pelos estudos de Ajuriaguerra. Ainda torna-se importante mencionar as

contribuições da Dra. Helena Antipoff, experiente no tratamento da deficiência

mental. A partir de sua experiência, pode ampliar o diálogo para promover o

conhecimento a respeito do tratamento da deficiência mental. Desde então,

encontros nacionais e latino-americanos foram realizados. O 1° Encontro

Nacional de Psicomotricidade foi realizado em 1979, iniciando a parceria entre

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o GAE (Grupo de Atividades Especializadas) e o ISPE, (Instituto Superior de

Psicomotricidade e Educação). Esta parceria consegue para o Brasil o vínculo

exclusivo da Delegação Brasileira da OIPR (Organisation Internationale de

Psychomotricité et de Relaxation).

Nos anos de 1980, foi fundada a SBP (Sociedade Brasileira de

Psicomotricidade), uma organização responsável por regular os profissionais

da Psicomotricidade, buscando formas de manter o progresso desta ciência.

Podemos dizer que a Psicomotricidade evoluiu, sendo a ciência que promove o

tratamento do sujeito em sua totalidade, haja vista que considera e busca a

relação entre a emoção e o movimento.

1.2. Reabilitação, reeducação, socialização...

Pensar a Psicomotricidade é pensar em ações e intervenções que

possam promover a reabilitação, reeducação e socialização do ser humano. As

intervenções terapêuticas do psicomotricista são diversas e possuem

similitudes e distinções, pois estão baseadas em diferentes vertentes.

Negrine (2002) considera que a educação psicomotora é uma forma

lúdica para permitir que a criança se expresse por meio de jogos, exercícios e

suas expressões motoras. Le Boulch (1983) considera que a educação

psicomotora é capaz de formar a base indispensável para a criança,

assegurando seu desenvolvimento funcional. Com isso, entendemos que, para

ambos os autores, a educação psicomotora se diferencia entre a

Psicomotricidade Relacional e a Psicomotricidade Funcional e que a atividade

lúdica é uma excelente ferramenta educativa necessária à Psicomotricidade.

As intervenções que tem como base o aspecto relacional são

preventivas e busca, por meio das brincadeiras, perceber as capacidades

motoras, sociais, cognitivas e afetivas das crianças. Dessa forma, o

psicomotricista que atua sob essa perspectiva interage com a criança no jogo

simbólico.

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Negrine (ibidem) nos mostra que as intervenções da

Psicomotricidade Funcional são de caráter pontual e envolvem o diagnóstico do

perfil psicomotriz, assim como a prescrição de exercícios específicos que

pretendem dissolver possíveis problemas do desenvolvimento motor. A

intervenção do psicomotricista esta pautada no comando de exercícios

funcionais, que respeitam as características dos exercícios de equilíbrios

estáticos e dinâmicos, exercícios de flexibilidade, e exercícios de agilidade e

destreza.

Para Netto (2002), o campo de atuação do psicomotricista se

ampliou na medida em que escolas, academias e clínicas de reabilitação

passaram a perceber os benefícios da Psicomotricidade, assim como a procura

por especialização em Psicomotricidade por parte de diversos profissionais da

educação, psicologia e fisioterapia. Portanto, a Psicomotricidade, enquanto

ciência que estuda o homem por meio de seu corpo em movimento, se

especifica quanto à suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro,

com os objetos e consigo mesmo.

Com isso, conforme a concepção da SBP, a Psicomotricidade está

relacionada ao processo de maturação onde o corpo é origem das aquisições

cognitivas, afetivas e orgânicas. Para a instituição, as práticas reeducativas,

seguidas da terapia psicomotora e da clínica psicomotora, representam três

cortes diferentes que norteiam a sua prática, tornando-a cada vez mais peculiar

e específica.

As práticas reeducativas foram influenciadas pela neuropsiquiatria,

para a qual o aspecto motor era o foco, tendo o corpo como instrumento, com o

intuito de superar o dualismo “mente e corpo”. Segundo Levin (2007), o corpo

já fora considerado como uma ferramenta de trabalho para ser consertado pelo

reeducador. Para o sentido exposto, o homem é dono de um corpo tido como

uma máquina de músculos imperfeita, portanto, carente de reparação.

Conforme a psicologia genética, o foco da psicomotricidade passou

do ato simplesmente motor para o corpo em movimento, permitindo assim

voltar-se para a educação psicomotora.

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Para Levin (ibidem),

Já não se trata de uma reeducação, mas de uma terapia psicomotora que se ocupa, observa e opera num corpo em movimento que se desloca, que constrói a realidade, que conhece à medida que começa a movimentar-se, que sente que se emociona e cuja emoção manifesta-se tonicamente (p. 31) [...]. A clínica psicomotora está norteada na transferência e no corpo real, imaginário e simbólico. O sujeito diz com seu corpo, com sua motricidade, com seus gestos, e, portanto, espera ser olhado e escutado na transferência desde um lugar simbólico (p. 42).

Nesse sentido, a terapia psicomotora constitui-se enquanto emoção,

expressão e afetividade, observando o corpo, a motricidade e a emoção

integrados em si mesmos. O homem não é mais visto de maneira fragmentada,

mas sim, como um ser bio-psico-social.

A psicanálise influencia também a Psicomotricidade. Para esta, o

foco deve estar no sujeito com seu corpo em movimento. Com isso, a clínica

psicomotora deve estar centrada não mais na globalidade do ser, mas no corpo

de um sujeito que possui desejos, na sua espontaneidade durante a atividade e

o brincar, para que o sujeito exteriorize suas intenções e possibilidades. É

nessa transferência que, ao olhar do psicomotricista, deve ocorrer a análise

dos movimentos, do posicionamento corporal, na medida em que se aflora a

espontaneidade do sujeito.

De acordo com Levin (idem), na clínica psicomotora, o paciente deve

confiar na capacidade do terapeuta de produzir, criar, brincar e dizer, para que

haja essa transferência, que é quando esta se instala, quando há um “outro”

nesse lugar simbólico.

Levin, ainda afirma que, dentro da generalidade, existe a importante

especificidade da clínica psicomotora, pois há seu enfoque particular que,

quando articulado à transferência, passa a se ocupar do corpo, dos gestos, do

movimento, das posturas, do tônus, do espaço, do tempo, isto é, como parte do

dizer corporal do paciente.

Assim, tanto as práticas reeducativas, como a terapia psicomotora e

a clínica psicomotora podem ser consideradas enquanto cortes

epistemológicos que, de acordo com Levin, são passagens cronológicas, não

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presas ao aspecto lógico, o que traz diferentes contornos teóricos, clínicos e

éticos. Portanto, termina por responder a uma lógica que se sustenta em várias

concepções acerca do sujeito e da prática psicomotora.

1.3. A questão da subjetividade humana

O surgimento de transtornos psicomotores tem forte ligação com a estruturação da imagem corporal, assim como devemos levá-la em conta na hora de tratá-los (Ramos, 2006).

Não é uma tarefa fácil falar ou constituir uma história de corpo e,

além disso, se trata de algo tão vasto quanto arriscado. Para Silva (2001, p.

25), o corpo, além de ser um território biológico e simbólico, é “processador de

virtualidades infindáveis, verdadeiro arquivo vivo, inesgotável, fonte de

desassossego e de prazeres”. Complementando essa idéia, a autora afirma

que “o corpo pode revelar diversos traços de sua subjetividade e de sua

fisiologia. Mas, no mesmo tempo, escondê-los”.

Conforme Freire (1991), somos seres que se locomovem. Para o

sentido expresso pelo autor, a motricidade não se trata de um movimento

qualquer, mas é a pura expressão humana. Motricidade humana deve nos

levar a olhar o corpo como sendo, essencialmente, algo de um ser total,

polissêmico, e não como uma entidade metafísica, ou como um ser físico.

O corpo é o nosso universo particular. Através do corpo nos

movemos, produzimos sentimentos, realizamos ações, percebemos e

descobrimos outros universos. No corpo tudo fica devidamente marcado. Na

infância principalmente, é quando se é determinado o que será gravado e o

que não será. Nosso universo, sempre em formação, pode ser descoberto por

inteiro, através de estimulação e exploração concreta do mundo e a

psicomotricidade pode auxiliar nesse processo. Por isso, é importante

movimentar, sentir, partilhar e aprender, situações determinantes para a

estruturação do sujeito que se forma.

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Viver a Psicomotricidade na adolescência pode significar a

possibilidade de construção de um novo esquema e imagem corporal, sendo

ambos comum e específico ao conjunto de seres humanos. O adolescente

pode interagir de maneira diferente com os adultos, explorando novos espaços,

na medida em que também expõem suas opiniões, quando estão

amadurecendo no seu meio cultural e quando tomam conhecimento de seu

corpo, se apropriando dele, enquanto o domina.

Em Freud, nosso ego é corporal. Assim, as respostas elaboradas

aos estímulos recebidos são correspondidas pelos nossos atos motores.

Quando estamos conscientes, somos capazes de responder com mais eficácia

aos inúmeros estímulos recebidos.

Para Ramos (2006), liberar o movimento espontâneo é descobrir a

nossa essência através do movimento, não esquecendo que o fundamental na

execução do gesto não é conhecimento anatômico mecanicista, mas o sentido

global e livre do comportamento humano. Assim, conforme a autora, a relação

do indivíduo com o próprio corpo tem vital importância em seu

desenvolvimento, abrangendo os âmbitos físico e psíquico, e é determinante no

estabelecimento e manutenção das doenças.

Vayer e Toulouse (1985) afirmam que não existe ação sem não seja

corporal. Para os autores, a corporeidade é entendida como sendo a vivência

do corpo na relação com o outro e com o mundo, condição básica para a

qualidade de vida do indivíduo. É um dos canais mais importantes para facilitar

a relação. Na prática da Psicomotricidade relacional é chamada de unidade

corporal. Para se construir a noção de corporeidade, o melhor canal para

desenvolvê-lo é por meio dos movimentos. E essa construção se dá pela

estruturação da imagem corporal.

Conforme Ramos (ibidem), estudada desde o início do século

passado na Psicologia, a imagem corporal é uma representação mental do

corpo, constituída por elementos que formam uma gestalt. Ultrapassa o

conceito de esquema corporal, uma vez que a este são acrescidos

sentimentos, emoções e valores, correspondendo a um conjunto funcional que

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favorece o desenvolvimento, e que se organiza como um núcleo central da

personalidade. Assim, afirma que

A imagem corporal inclui representações psíquicas conscientes e inconscientes, e a forma como estruturamos esta imagem é de vital significação na localização e manutenção dos sintomas corpóreos. Portanto, é de suma importância na formação das doenças e o fator principal na satisfação que temos com nosso próprio corpo. A imagem corporal implica uma abordagem psicossomática, uma vez que corpo e psique, movimentos e percepções, relações afetivas e sociais são aspectos inseparáveis e indispensáveis na organização das imagens corporais. A formação da imagem corporal e a significação do corpo pela presença afetiva do outro, que é representada pela relação simbólica da mãe com a criança, têm importância fundamental na formação do processo simbólico. Podemos dizer que a imagem corporal se organiza como um núcleo central da personalidade, uma vez que somada à auto-percepção e auto-estima, compõe o substrato corporal do ego, que constitui a base da noção da própria identidade. É na história corporal que são registrados os conflitos em relação à estruturação da identidade, e dela decorrerá a uma maior ou menor adequação às situações de vida, podendo haver a formação de sintomas corpóreos (idem).

Explorando um pouco mais esse importante tema e seguindo o

pensamento dessa autora, compreendemos que a imagem corporal é

influenciada pela formação da motricidade e vice-versa. Com isso, “todo toque

provoca uma imagem mental do ponto tocado, e tais imagens mentais são de

grande importância para a localização tátil” (idem). A imagem corporal, além do

tônus é, portanto, é imprescindível no processo de constituição do esquema

corporal. Nesse contexto, a expressão através dos movimentos podem se valer

também de atividades como a ginástica e a dança, na medida em que

estruturam a imagem corporal, podem atuar para a construção de um modelo

postural.

Em síntese, compreendemos que a constituição da subjetividade só

se dá na aprendizagem da relação com o outro e na observação de si mesmo,

tomando consciência de quem somos nós e o que queremos da nossa vida. As

relações do homem com o corpo e suas percepções do mundo externo e

interno colaboram para a definição e interação dos movimentos corporais. Vale

ressaltar ainda que a psicomotricidade não visa atingir a destreza motora, mas

sim, transformar o corpo em instrumento de ação e expressão do indivíduo com

o mundo, principalmente quando se trata de indivíduos portadores de

deficiências neurológicas e motoras.

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CAPÍTULO II

ENCEFALOPATIA CRÔNICA DA INFÂNCIA (ECI), OU PARALISIA CEREBRAL

2.1. Definição

A Encefalopatia Crônica da Infância (ECI), também denominada de

paralisia cerebral, é uma condição bastante heterogênea, com apresentação

clínica e funcional diversificada. Para Bobath (1989), Encefalopatia Crônica da

Infância ou Paralisia cerebral é o resultado de uma lesão ou mau

desenvolvimento do cérebro, de caráter não progressivo, e existindo desde a

infância. A deficiência motora se expressa em padrões anormais de postura e

movimentos. Associados com um tônus postural anormal. A lesão que atinge o

cérebro quando ainda é imaturo interfere com o desenvolvimento motor normal

da criança.

Então, a ECI pode ser definida como um distúrbio do movimento ou

da postura decorrente de uma lesão cerebral não progressiva ocorrida durante

o período do desenvolvimento cerebral (ou seja, durante a gestação e até

cerca de 3-4 anos após o nascimento). Segundo Andrade (1982), podemos

considerar a paralisia cerebral como “uma perturbação do controle

neuromuscular da postura e do equilíbrio resultante de uma lesão estática, que

afeta o cérebro em período de desenvolvimento pré-natal, perinatal e pós-

natal”.

Umphred (1994) relembra que Littler Club definiu a condição de

paralisia cerebral, a descreveu como um “distúrbio persistente do movimento,

uma postura que surge cedo na vida devido ao distúrbio de desenvolvimento

não progressivo do cérebro” e a definiu como patologia ligada a diferentes

causas e caracterizada, principalmente, por rigidez muscular, e, em 1862,

estabeleceu a relação entre esse quadro e o parto normal.

Nesse contexto histórico, conforme a autora, Freud, em 1897,

sugeriu a expressão paralisia cerebral (PC), que mais tarde, foi consagrada por

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Phels, ao se referir a um grupo de crianças que apresentavam transtornos

motores mais ou menos severos devido à lesão do sistema nervoso central,

(SNC). Desde o Simpósio de Oxford, em 1959, a expressão PC foi definida

como “sequela de uma agressão encefálica, que se caracteriza,

primordialmente, por um transtorno persistente, mas não invariável, do tono, da

postura e do movimento, que aparece na primeira infância e que não só é

diretamente secundário a esta lesão não evolutiva do encéfalo, senão devido,

também, à influência que tal lesão exerce na maturação neurológica” (idem).

A Encefalopatia Crônica da Infância se tornou desde então o novo

conceito de PC. Trata-se, entretanto, de um grupo etiologicamente

heterogêneo, sendo assim também em relação ao quadro clínico. Como fator

predominante, a ECI apresenta sintomatologia motora. Associadas a esta, se

encontram outros sinais e sintomas, em diferentes combinações, induzindo a

pensar que a região cerebral acometida é fator determinante em como a ECI

afeta o paciente.

2.2. Causas

Conforme Mascarenhas (2008), a lesão que irá comprometer o

Sistema Nervoso Central nos casos de Paralisia Cerebral é decorrente de

fatores endógenos e exógenos, que, em diferentes proporções, estão

presentes em todos os casos. Para a autora, deve-se considerar, dentre os

fatores endógenos, o potencial genético herdado, ou seja, a suscetibilidade

maior ou menor do cérebro para lesar. No momento da fecundação, leva-se em

consideração que o novo indivíduo formado carrega um contingente somático e

psíquico que corresponde à sua espécie, à sua raça e aos seus antepassados

(Conceito de continuum de lesão de Knoblock e Passamanick). Portanto, o há

a herança de um ritmo de evolução do sistema nervoso.

Para Rotta (2002), “Junto com as potencialidades de sua atividade

motora, institivo-afetiva e intelectual, o indivíduo herda também a capacidade

de adaptação, ou seja, a plasticidade cerebral, que é a base da aprendizagem”.

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Segundo Costa (2003), infecções do sistema nervoso, hipóxia (falta

de oxigênio) e traumas de crânio, concorrem entre si enquanto os fatores

potencialmente determinantes de lesão cerebral irreversível. Assim, o

desenvolvimento anormal do cérebro pode também estar relacionado com uma

desordem genética, e nestas circunstâncias, geralmente, se observa outras

alterações primárias além da cerebral. O autor conclui que, em muitas crianças,

a lesão ocorre nos primeiros meses de gestação e a causa é desconhecida.

Os fatores que podem levar a um diagnóstico de ECI podem ocorrer

antes (pré-natal), durante (perinatal) ou depois (pós natal) do nascimento da

criança e devido à etiologia dessas lesões (anóxia, infecção, traumatismos,

malformações), uma variabilidade dos tipos clínicos da ECI também ocorre,

bem como diferentes prognósticos.

A maior causa, comprovadamente, é a anóxia perinatal, decorrente

de um trabalho de parto anormal ou prolongado. O grau de asfixia aguda pode

ser conhecido pelo índice de Apgar, sendo, portanto, significativa, quando

mantida em observações sucessivas (1’, 5’,10’, 15’, 20’)3. Contudo, é a asfixia

crônica a mais determinante, ocorrendo durante a gestação e está ligada a

insuficiência placentária, resultando em fetos pequenos e dismaturos.

Rotta (ibidem), afirma que a associação da asfixia pré e perinatal é

responsável pelo maior contingente de comprometimento cerebral do recém

nascido e é a primeira causa de morbidade neurológica, levando à

encefalopatia, sendo também uma das principais causas de morte nesse

período. Para a mesma, a prematuridade entra como segunda maior causa.

Com menor freqüência, estão aquelas que ocorrem no período pré-natal.44

No período perinatal, as causas mais encontradas são: anóxia fetal,

contrações uterinas anormais, posições fetais anormais, alterações do cordão

3 Para melhor compreensão, pesquisar “índice de Apgar” 4 Correspondem as condições hereditárias e genéticas, infecções e parasitoses (rubéola, lues, HIV, toxoplasmose, citomegalovírus), alterações metabólicas, irradiações, traumatismos, incompatibilidade de Rh, dietas inadequadas, anemias, tóxicos e intoxicações (drogas, álcool, tabaco), radiações (diagnósticas e terapêuticas), medicamentos, alterações placentária, traumatismos relacionados à gestante (direto no abdome ou queda sentada) anomalias do cordão umbilical e ainda, mãe com idade avançada.

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umbilical, drogas sedativas ou analgésicas ministradas à mãe, infecções

neonatais, prematuridade. Já no período pós-natal, os achados mais comuns

são as infecções (meningoencefalites bacterianas), encefalites

desmielinizantes pós infecciosas, tocotraumatismo e traumatismo crânio

encefálico, condições anóxicas, tóxicas e metabólicas (acidose metabólica ou

respiratória), hipoxemia, vasculares, convulsões neonatais, condições

respiratórias e cardíacas.

O cérebro comanda as funções do corpo. Cada área do cérebro é

responsável por uma determinada função, como os movimentos dos braços e

das pernas, a visão, a audição e a inteligência. Uma criança com ECI pode

apresentar alterações que variam desde leve incoordenação dos movimentos

ou uma maneira diferente para andar até inabilidade para segurar um objeto,

falar ou deglutir. Cabe, nesse momento, refletir sobre o diagnóstico.

2.3. Diagnóstico

O diagnóstico da encefalopatia crônica não-progressiva é

basicamente clínico, embora exames de laboratório (sangue e urina) ou

neuroimagem (tomografia computadorizada craniana ou ressonância nuclear

magnética) sejam necessários para confirmar o exame clínico ou excluir outras

causas de problemas motores, ou até confirmar, em muitas situações, o

diagnóstico de outras doenças, de acordo com a história e as alterações

encontradas ao exame neurológico.

Para Medina e Andrade (2004), em geral, não existe correlação

clínica entre os achados tomográficos e o quadro clínico do paciente, isto é,

existem crianças com tomografias cranianas normais e com quadro clínico

grave de encefalopatia crônica não-progressiva, e existem crianças com

tomografias claramente anormais e sem evidência clínica de PC ou um quadro

clínico leve. O diagnóstico da PC pode ser feito no primeiro ano de vida por um

especialista habituado ao diagnóstico precoce da encefalopatia crônica não-

progressiva.

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Segundo Bobath (1989), o diagnóstico da ECI é muito difícil em

crianças com menos de 4 meses de idade ou mesmo com 6 meses, se

estiverem somente um pouco afetadas, portanto não se poderá ter um

diagnóstico preciso antes dos 18 meses, quando a criança já deveria estar

andando.

Alguns sinais são considerados precoces e alertam para a

necessidade de avaliações mais detalhadas e acompanhamento neurológico.

São estes: tônus muscular diminuído, dificuldade de sucção, alterações da

postura e atraso para firmar a cabeça, para sorrir e rolar.

Segundo Costa (ibidem), a história clínica deve ser completa e o

exame neurológico deve incluir a pesquisa dos reflexos primitivos (próprios do

recém-nascido), porque a persistência de certos reflexos além dos seis meses

de idade pode indicar presença de lesão cerebral.

Nesse contexto, devemos considerar que os reflexos são

movimentos automáticos manifestados pelo corpo a partir de um estímulo

específico. O reflexo de Moro é o mais conhecido5. Este reflexo é normalmente

observado no recém-nascido. Com a maturação cerebral, respostas

automáticas como esta são inibidas. O reflexo de Moro é apenas um dentre os

vários pesquisados pelo pediatra ou fisioterapeuta.

Sob posse do histórico clínico e do exame neurológico, é importante

afastar a possibilidade de outras condições clínicas que evoluem com atraso

neurológico ou com as alterações do movimento, como as já citadas.

2.4. Tipos de Paralisia Cerebral

O tipo de alteração do movimento observado está relacionado com a

localização da lesão no cérebro e a gravidade das alterações depende da

5 Quando a criança é deitada de costas em uma mesa sobre a palma da mão de quem a examina, a retirada brusca da mão causa um movimento súbito da região cervical, o qual inicia a resposta que consiste inicialmente em abdução (abertura) e extensão dos braços com as mãos abertas seguida de adução (fechamento) dos braços como em um abraço.

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extensão da lesão. A ECI é classificada de acordo com a alteração de

movimento que predomina. Formas mistas são também observadas. O quadro

abaixo ilustra mais didaticamente os tipos de PC.

Tipos de Paralisia Cerebral (adaptado de Campos, 2003)

Piramidais: Espasticidade (tipo de hipertonia)

Atua sobre os movimentos finos e distais, aumento do tônus muscular, aumento da atividade reflexa e clônus, presença de reações associadas. Ocorre uma maior propensão à deformidade devido à manutenção de algumas posturas anormais.

Extrapiramidais: Atetose

Flutuações de tônus distal (com espasticidade variando de normal para hipertonia e na forma pura de hipotonia para normal), déficit nos movimentos seletivos, deformidades menos freqüentes, com presença de movimentos involuntários. Coreoatetose - flutuações de tônus de hipo para hipertonia proximal, movimentos súbitos e em grande amplitude mais proximais do que distais. Balismo - hipercinesia, movimentos de grande amplitude, abruptos, contínuos, rápidos e ritmados, esteriotipados e violentos, localizando-se mais em nível proximal. Costuma afetar um hemicorpo (hemibalismo). Distonia - (atetose com espasmos tônicos) hipercinesia com contrações musculares lentas e intensas podendo produzir porções no tronco, pescoço e cabeça.

Cerebelares: Ataxia Flutuações entre hipotônico e normal, presença de espasticidade e atetose, não há fixação e manutenção do controle postural, coordenação é regularmente normal mas com dismetria e distúrbios do equilíbrio. Flacidez - quadro transitório (espasticidade ou atetose), tônus muito baixo, permanecem em supino não se esforçando para fazer qualquer coisa, exceto sorrir.

Mistas: Pirâmedo-extrapiramidal ou cérebro-cerebelar

Apresenta características das formas espásticas atetóide e atáxicas.

2.5. Padrões motores

As crianças com ECI atingem seus marcos de desenvolvimento mais

tarde que as crianças que não apresentam comprometimentos neuromotores e

isso independe da inteligência ou do comportamento delas. Nesses casos, o

desenvolvimento não é somente atrasado, mas desordenado e limitado, como

consequência da lesão (BOBATH, 1989). Portanto, entende-se que, na ECI, na

maioria dos casos, é o desenvolvimento motor que está comprometido,

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podendo o desenvolvimento cognitivo, emocional e social estar adequado aos

parâmetros de crianças na mesma fase de desenvolvimento.

A síndrome neurológica será evidenciada principalmente por

transtornos motores, no entanto, o caráter permanente e invariável da lesão

não significa que a sintomatologia do paciente com ECI seja permanente e

imutável, pois sua funcionalidade irá se estruturar com o tempo e a evolução

será determinada pelo momento em que o fator nocivo atuou no sistema

nervoso durante a maturação estrutural e funcional (DIAMENT, 2007).

Para Mancini (2002), uma característica desse distúrbio é a falta de

controle sobre os movimentos por modificações adaptativas do comprimento

muscular e, em alguns casos, resulta em deformidades ósseas. Além disso,

como a patologia acontece em período acelerado do desenvolvimento da

criança, o processo de aquisição de habilidades pode ser comprometido.

Segundo Bobath (ibidem), o desenvolvimento motor normal se dá

numa sequência ordenada de fatos. Para compreender a natureza das

dificuldades motoras de uma criança com lesão cerebral, é importante estudar

o desenvolvimento motor normal quanto à evolução das reações posturais

automáticas sobre as quais repousam as atividades funcionais da criança. As

alterações dos padrões motores são bastante típicas e foram observadas pelos

autores em muitas crianças com paralisia cerebral, durante mais de trinta anos

de trabalho, embora desvios desses padrões possam e certamente irão ocorrer

em casos individuais.

Essencialmente, o desenvolvimento motor normal é caracterizado

por dois conjuntos de processos que são intimamente relacionados entre si e

dependem um do outro. São eles: o desenvolvimento de um mecanismo reflexo

postural normal, que não está presente ao nascimento e que, com o tempo, se

torna altamente complexo e variado, as reações de retificação, de equilíbrio e

outras adaptativas e de proteção, além da inibição de algumas das respostas

do recém nascido, processo que pode estar associado com a maturação do

cérebro.

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Na ECI, a lesão interfere no desenvolvimento ordenado, o que

resultará, essencialmente, num retardo ou numa parada do desenvolvimento

com um mecanismo reflexo postural insuficientemente desenvolvido e numa

falta de inibição que se mostra numa retenção indevidamente prolongada dos

primitivos padrões de massa da primeira infância (idem).

2.6. Classificação da ECI

O quadro abaixo demonstra como Bobath (idem) define a

classificação de ECI. Vale lembrar que, em relação ao grau de incapacidade do

portador de ECI, este pode ser avaliado como: leve, moderado ou grave.

Classificação da ECI (adaptado de Bobath, 1989)

Diplegia Todo corpo é afetado, mas os membros inferiores são mais acometidos que os membros superiores. As crianças geralmente têm um bom controle de cabeça e um comprometimento moderado a leve dos membros superiores. A fala geralmente não é afetada. Todas as crianças diplégicas pertencem ao grupo espástico. O estrabismo está presente em um certo número de crianças.

Quadriplegia Todo corpo é afetado. Existe uma considerável diferença no comprimento dos dois lados do corpo da criança, resultando numa pronunciada assimetria da postura e movimento. O controle da cabeça é deficiente e existe comprometimento da fala e coordenação ocular.

Hemiplegia Somente um dos lados do corpo é comprometido. O membro superior é mais comprometido que o inferior. Estes casos em geral são devidos a alterações vasculares. As crianças são em geral do tipo espástico, contudo, algumas poucas podem desenvolver certa atetose distal posteriormente.

Dupla Hemiplegia Os quatro membros são comprometidos, mas os membros superiores são mais acometidos que os membros inferiores.

Paraplegia Na paralisia cerebral, verdadeiras paraplegias são muito raras. Muito poucas crianças não mostram comprometimento “acima da cintura” como é visto em casos de lesões da coluna. Elas geralmente tornam-se diplégicas com comprometimento ameno de braços e mãos, algumas vezes somente em um dos braços.

Monoplegia Acomete somente um braço, ou, menos freqüente, somente uma perna. Muito raras e geralmente tornam-se hemiplégicas.

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2.7. Prevenção

A prevenção, conforme Umphred (ibidem), depende de muito

cuidado a fim de evitar uma possível lesão na mãe ou na próprio feto, durante a

gestação. É de extrema importância um diagnóstico rápido e preciso, no intuito

de evitar os padrões anormais de postura e movimento. Em outro nível, mais

complexo, torna-se muito complicado normalizar o tônus. Nesse caso, se

devem trabalhar as deformidades, as AVD's (Atividades da Vida Diária),

visando opor as deficiências e incapacidades.

2.8. Deficiências Associadas

Segundo Campos (2003), algumas deficiências estão associadas à

ECI:

• Contraturas no tecido conjuntivo e da musculatura (geralmente ísquios-

tibiais ílio-psoas)

• Deficiências em relação à cognição e à percepção

• Anomalias da visão e da motricidade dos olhos

• Surdez

• Problemas da linguagem e do aprendizado

• Convulsões

• Retardo mental

• Distúrbios somato-sensitivos

2.9. Avaliação Fisioterápica

2.9.1. Anamnese

• Antecedentes familiares

• Gravidez

• Pormenores relativos ao parto

• Condições do bebê após o nascimento (Apgar)

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• Resultado da tomografia computadorizada ou de um outro exame

visualizante do cérebro

• Dados importantes da anamnese desde o nascimento

o Observação do comportamento e desempenho motor

o Avaliação das respostas à movimentação passiva

o Exame das funções orais

o Alimentação

o Contribuição dos pais

o Exame do desempenho motor

o Exame dos órgãos sensoriais

o Exame das funções de percepção e cognição

2.10. Tratamento

O indivíduo portador de ECI tem incapacidade de utilizar alguns

músculos do seu corpo de forma normal. Em consequência tem dificuldade

para andar, falar, comer e realizar tarefas motoras em geral. Portanto, é de

grande importância o tratamento terapêutico que objetive aperfeiçoar os

movimentos, desenvolvendo-os enquanto precisos e funcionais. Moura e Silva

(2005) afirmam que:

[...] apesar de ECI ser decorrente de uma lesão não progressiva, o paciente cresce, envelhece, e o desempenho motor funcional tende a piorar com isso. Músculos inicialmente apenas espásticos desenvolvem contraturas, movimentos coreoatetóides vão se tornando distônicos, a independência em locomover um corpo de 1 metro de altura pode se perder quando esse corpo passa a medir 1,60m. Essas perdas devem ser levadas em consideração quando se planeja inicialmente o tratamento de reabilitação a ser proposto, para que se evitem falsas expectativas e frustrações no decorrer do processo.

Franco (et al., 2000), afirma que é importante a intervenção se iniciar

o quanto antes, justamente para aperfeiçoar o potencial evolutivo da criança,

atentando para o seu desenvolvimento global. Nesse caso, se deve considerar

que os padrões iniciais de aprendizagem e comportamento, se estabelecem

nos primeiros anos de vida, por se tratarem de determinantes do processo de

desenvolvimento. É possível evitar os fatores de risco, bem como suas

influências, e também diminuir os efeitos secundários de doenças crônicas

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(como exemplo, a paralisia cerebral). Assim, se pode evitar o agravamento de

desvios, na perspectiva de uma reabilitação mais adequada.

Algumas fases identificam o processo da intervenção precoce. Estas

devem ser tratadas com dinamismo, assim como devem manter relações entre

si. No quadro abaixo, procuramos destacar tais fases.

Fases do processo da intervenção precoce, adaptado Franco (et al., 2000)

Identificação É a observação dos primeiros sinais ou sintomas que sugerem que o desenvolvimento de uma criança pode estar em risco ou a progredir de uma forma atípica.

Detecção Compreende uma procura de sinais e sintomas em toda a população. Inclui programas de rastreio e encaminha as crianças para posteriores avaliações diagnósticas.

Diagnóstico Fase em que se faz a confirmação da perturbação do desenvolvimento, tal como das suas causas. Surge na sequência da identificação previamente feita dos sinais ou sintomas considerados afastados do padrão normal, ou de risco do desenvolvimento

Intervenção Inclui todas as atividades dirigidas à criança e ao seu ambiente com o objetivo de criar condições favoráveis ao seu desenvolvimento.

Apoio Consiste em todas as formas específicas de treino e aconselhamento dadas aos pais, à família e à família alargada.

Para Campos (ibidem), o tratamento iniciado precocemente

[...] visa anatomicamente à manutenção da elasticidade das partes moles e melhora até o máximo do crescimento e desenvolvimento do sistema de locomoção da criança, além de atuar positivamente nas suas relações comportamentais, aumentando as oportunidades dessa criança de treinar movimentos ativos e relacionar-se com o ambiente, servindo também para prevenir a intervenção de comportamentos motores indesejáveis a autolimitação de adaptação, além de atuar fisiologicamente, aumentando a utilização dos estímulos importantes através de órgãos sensoriais, favorecendo os processos de maturação e recuperação do sistema nervoso.

Seguindo esse pensamento, compreendemos que a criança não

deve ser vista de maneira isolada do meio em que vive. Assim, deve estar

integrada na sociedade e na família. Toda intervenção que vise o seu

desenvolvimento pleno deve envolver os pais de maneira ativa, para facilitar a

tomada de consciência de seus deveres perante a deficiência ou limitação do

filho.

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Nesse sentido, a família deve buscar prevenir as situações que

certamente serão desvantajosas para os irmãos. Estes são frequentemente

penalizados pelo dispêndio de tempo e energia para o cuidado da criança

deficiente. Esse é um dos motivos que torna necessária uma equipe

multidisciplinar que, por sua vez, deve estar comprometida com a terapêutica e

o desenvolvimento dessa criança. Vale notar que tal equipe é determinada pela

abrangência de várias áreas: Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia

Ocupacional, Educação, Psicologia e Serviço Social.

O terapeuta em uma situação direta de tratamento precisa estar

seguro em uma visualização concisa e personalizada daquilo que deve ser

atingido em uma sessão particular com o paciente individual (UMPHRED,

ibidem: 250). Para este autor, o tratamento engloba um acompanhamento

domiciliar ativo na forma tanto de manuseio físico como o psicológico da

criança. Os pais precisam ser ajudados a compreender a importância de sua

participação (idem).

2.11. Objetivos Fisioterápicos Gerais

Para fechar este capítulo, consideramos importante citar os objetivos

gerais que o tratamento exige. É importante atentar que a utilização de

métodos específicos para lidar com os pacientes portadores de ECI, diante dos

objetivos dispostos a seguir, nem sempre produzem a motivação necessária ao

paciente, o que pode trazer, até mesmo aos terapeutas mais otimistas, um

sentimento de incapacidade, pois não há tantos fatores que permitem um

ambiente mais agradável e, portanto, motivador.

Acreditamos que uma correspondência incompleta, no que diz

respeito aos pedidos feitos aos pacientes pelo profissional envolvido na

terapêutica de cada caso, dificulta o desenvolvimento e alcance de tais

objetivos. Após várias reuniões e proposições que visavam soluções diversas,

muitas vezes ineficazes, encontramos no lúdico, uma possível solução.

Encontrar o feedback na utilização da música. Se não se trata da solução para

o problema específico da motivação, ao menos nos trouxe um auxílio

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imprescindível para que o ambiente terapêutico se tornasse um fator facilitador

para o alcance dos seguintes objetivos:

• Alongamento de estruturas musculares retraídas

• Estimular a dissociação de cinturas pélvica e escapular

• Facilitar as posições que a criança não consegue executar

ativamente

• Inibir reações associada

• Ganhar e/ou manter as amplitudes articulares

• Melhorar padrões respiratórios

• Estimular o desenvolvimento dos movimentos e padrões

normais próprios da idade

• Prevenir deformidades e evitar a evolução das já existentes, o

que irá impedir os movimentos ativos da criança

• Treino de equilíbrio, transferência de peso

• Facilitação de suas AVD's adquirindo maior independência no

seu dia a dia

No capítulo seguinte, buscamos ilustrar as vantagens observadas,

através das nossas observações e análises dos quadros gerais dos pacientes

selecionados, tanto antes, como durante e após o tratamento, sem e com a

utilização da música.

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CAPÍTULO III

FISIOTERAPIA X PSICOMOTRICIDADE: A MÚSICA COMO COADJUVANTE NO TRATAMENTO DE

PACIENTES COM ECI

Durante toda a história da humanidade, os portadores de deficiência

física têm sido discriminados pela sociedade e na maior parte do tempo são

encarados como incômodos por suas diferenças e incapacidades para

desempenhar as funções normais de sua vida cotidiana. Somente na

atualidade encontramos uma quantidade maior de políticas afirmativas que

enfatizam essa causa, o que não significa ainda uma inclusão efetiva.

Quando o deficiente é uma criança, a complicação é maior ainda, já

que, além de todas as adversidades que surgem com uma criança “normal”,

estão presentes também a incapacidade de ser, agir e reagir de modo “normal”.

Nesse quadro, a fisioterapia atua com procedimentos que podem vir

a favorecer grandemente o desenvolvimento global dessas crianças,

permitindo-lhes melhor preparo para a vida adulta em uma sociedade

diversificada, fazendo com que elas entendam que podem ser diferentes, mas

que devem ser respeitadas em suas limitações e, principalmente serem

incentivadas a se adaptarem a situações que poderão melhorar em muito sua

qualidade de vida.

Todavia, durante a convivência com crianças portadoras de

deficiência física, o que nos chamou atenção em especial não foi unicamente a

deficiência física apresentada por elas, mas principalmente a deficiência

psicomotora, físico-cognitiva e psicossocial que, infelizmente, sob nosso ponto

de vista, passam despercebidas pela maioria dos fisioterapeutas que se

predispõem a tratar tão somente a deformidade física, dando importância

significativa e particular ao aspecto mecânico.

Por esse motivo, nosso objeto de estudo está voltado para a busca e

esclarecimento de métodos terapêuticos, capazes de atuar satisfatoriamente

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junto à criança “diferente”, mantendo suas habilidades voltadas para a

aceitação. Para isso é necessário que haja um trabalho social e educativo

destinado a reintegrar o indivíduo e com o objetivo de fazê-lo alcançar o maior

nível possível de sua capacidade ou potencialidade. É nesse processo que

funciona o trabalho psicomotor.

Morfologicamente, psico quer dizer “elemento de composição que

denota a mente” e motor refere-se aos “movimentos físicos resultantes da

atividade cerebral ou psíquica”. O essencial do campo psicomotor é a questão

do olhar, do “toque”, do corpo e do movimento. Conforme Levin (1995:480),

A psicomotricidade é uma articulação que parte de uma ordem simbólica (a linguagem) que possibilita conceber o corpo, os gestos, o movimento, o tônus, o espaço, as posturas, os objetos e o tempo como dizer corporal de um sujeito, dizer que é olhado e é dito.

Respaldados na resolução de número 80 do Conselho Federal de

Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO, 1987), concordamos que

A Fisioterapia é uma ciência aplicada, cujo objetivo de estudo é o movimento humano em todas as suas formas de expressão e potencialidades, quer nas suas alterações patológicas, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, com objetivos de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de um órgão ou sistema.

Para Levin (idem:316), “O terapeuta, com seu toque, tenta fazer

letra e gerar o olhar, o que implica uma leitura, uma gramática

representacional, na qual a postura escreve o que diz”.

A psicomotricidade dispõe como estratégia, para fins análogos, um

jogo para brincar, que possibilita conceber gestos, movimento, melhorando o

tônus, a postura e, principalmente agindo para a articulação de um “sujeito

corporal” que pode demonstrar um reinado, diante do qual a expressão e a

emoção são súditas de sua majestade, “o corpo”.

A princípio, nossa proposta era utilizar a psicomotricidade no

atendimento da fisioterapia. Porém, faltava ainda um complemento para que

esse atendimento nos apresentasse resultados mais eficientes. Foi quando

surgiu a idéia de usarmos a música durante os atendimentos.

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De início, a música servia somente para “alegrar o ambiente”,

promover um relaxamento, possibilitar a interação e comunicação entre o

fisioterapeuta e o paciente, muitas vezes substituindo a linguagem verbal.

Porém, observamos que isso ocorria com todos os pacientes. Após

a introdução da música, estes passaram a demonstrar atitudes antes não

observadas. Identificamos uma significativa melhora no tônus, devido a um

relaxamento mais descontraído. Na busca pela descontração oportunizada pela

música, os pacientes chegavam à sala de atendimento procurando pelo som,

para escolher a melhor música para eles.

Notava-se que todos os pacientes mudaram seu comportamento,

até mesmos os mais novos, como os bebês, mas, principalmente, os pacientes

com mais idade, nossos alvos para a constituição de uma investigação mais

precisa. Estes iniciaram um processo de evolução própria com fatores

positivos, para o qual se evidenciava que o novo contexto era favorável. Assim,

colaboravam bastante no trabalho com esquema corporal, equilibração,

coordenação motora fina e global e lateralidade.

Despertados nosso interesse e curiosidade, nos ocupamos de

explorar os motivos e efeitos que fazem da música um instrumento tão positivo

para o ambiente de trabalho – bem como para outros ambientes –, para o

corpo humano, e para, enfim, o tratamento de portadores de necessidades

especiais. Fazemos isso no item a seguir.

3.1. Efeitos biológicos e fisiológicos da música

Conforme Benenzon (1988:11), a música é arte e ciência, dois

elementos que correspondem a um processo evolutivo do homem. Tais

características já nos fazem compreender a importância deste fenômeno criado

pelos próprios homens.

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Para Leboulch (1983), a associação entre a terapia e o canto

estimula uma atividade mais intensa das crianças, proporcionando mais

segurança e enriquecendo sua expressão motora.

A música desencadeia diversos efeitos emocionais, fisiológicos e

fisiomotores no ser humano. Em relação aos efeitos fisiológicos destaca-se a

mudança no metabolismo, na regulação da freqüência respiratória e da

pressão sanguínea. Dentre as alterações fisiomotoras pode-se destacar a

redução da fadiga muscular (RODRIGUES, 1990).

Explorando também o lado emocional, Arruda (1962, p. 134)

considera que a música produz efeito no metabolismo, na respiração, na

pressão sanguínea, no pulso, nas glândulas endócrinas e na energia muscular.

Com isso, dirige a atenção e aumenta sua tensão, modifica o humor, produz

diversão, distrai o indivíduo de suas ideias mórbidas, substituindo-as por

sentimentos saudáveis.

Masson (1989), afirma que a sensação de movimento – sua

velocidade e amplitude – é efetuada pela repetição do exercício rítmico, o que

vem a facilitar a percepção inconsciente dos elementos corporais, ou seja, a

substituir o trabalho mecânico. Nesse ínterim, ao perceber e assimilar os

movimentos de forma mais precisa e coordenada, o ser humano pode atingir o

equilíbrio corporal, pois seus ritmos vão se organizando lentamente.

Concordamos com este autor, quando diz que é notória a

importância da associação do ritmo, da música e do movimento no tratamento

fisioterapêutico. Com isso, o sujeito se torna mais capaz de perceber a relação

entre os ritmos corporais e os ritmos musicais. Isso significa que através da

música há, portanto, o oferecimento de uma série de facilitações neurológicas

que ajudarão na sua educação sensório-motora.

Diante dessa apresentação, cabe esclarecer que a prática utilizada

na terapêutica fisioterápica, busca alternativas que venham auxiliar nos

atendimentos dos pacientes da fisioterapia e nada tem em comum com o

atendimento da musicoterapia que utiliza seus métodos e técnicas, tendo como

base a compreensão das dinâmicas desse complexo e de todo o

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funcionamento dos diferentes processos que o alimentam e sustentam as

bases da musicoterapia. Benzenzon (1988:11-12) nos ajuda a compreender

inicialmente essa diferença:

A musicoterapia é o campo da medicina que estuda o complexo som-ser humano-som, para utilizar o movimento, o som e a música, com objetivo de abrir canais de comunicação no ser humano, para produzir efeitos terapêuticos, psicoprofiláticos e de reabilitação no mesmo e na sociedade. Muito antes da criação do som musical, ontogênica e filogenicamente, encontram-se infinitos fenômenos acústicos de fundamental valor para a musicoterapia. Esses fenômenos acústicos são os que permitem ao ser humano a possibilidade de redescobrir os fenômenos sonoros externos e recriá-los, para transformar em linguagem musical. Esta seria a minha concepção para compreender a aproximação do homem ao fenômeno musical.

Relembrando, em nosso caso, a música é utilizada no ambiente de

trabalho, no espaço de atendimento aos pacientes. Pré-selecionamos músicas

que a princípio estão ligadas ao próprio corpo, através de suas letras e ritmos.

Algumas vezes os pacientes intervieram, pedindo uma música que mais lhe

agradavam. Nos casos estudados, identificamos que a interação se tornou

notória, que houve sensíveis ganhos psicomotores e, por isso, é inconfundível

a validade da música enquanto valioso instrumento terapêutico.

No próximo item, apresentamos os casos que estudamos.

Procuramos analisar a particularidade de cada um, antes, durante e após a

utilização da música. Reconhecemos que alguns pontos importantes foram

bastante comuns enquanto resultados, podendo, portanto serem generalizados

ou mais abrangentes.

3.2. Apresentação de casos

Analisando em quais situações, para quais problemáticas e de que

forma a utilização da música poderia ser empregada pela fisioterapia, no

sentido de auxiliar no tratamento dos pacientes portadores de ECI, essas eram

apresentadas de acordo com a faixa etária, ou relaxamento no caso de

trabalho para conscientização respiratória, ou, especificamente, para tornar o

ambiente mais tranqüilo e acolhedor, nos casos de pacientes mais espásticos,

ou que apresentassem um quadro de agitação psicomotora.

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Os participantes da pesquisa foram selecionados através de um

limite de idade pré-selecionado e pelo grau de acometimento psicocognitivo e

físico. Nesse ínterim, montamos um grupo que foi denominado “Corpo em

Movimento”. Apesar de utilizar a música como rotina no atendimento de outros

pacientes, esse grupo foi o objeto alvo de nosso estudo. Optamos por

selecionar 4 (quatro) pacientes com idades entre 17 e 22 anos, portadores de

ECI.

A escolha da faixa etária surgiu, dentre outros, do fato de sabermos

que muitos profissionais que atuam na terapêutica de pacientes neurológicos,

os liberam da terapia sistemática quando esses chegam numa fase

denominada platô e a evolução dos mesmos se mostra supostamente

estacionária. Tais profissionais teorizam que a idade elevada dos pacientes,

somada a determinados tipos de acometimentos instaurados, reduzem a valia

do tratamento fisioterápico. Porém, ocorre que, com o desligamento desses

pacientes da terapia, se amplia a tendência a retrações musculares, a

diminuição de mobilidade e mesmo das atividades funcionais já adquiridas.

Para composição do trabalho de pesquisa, realizamos a observação

e análise do quadro geral desses pacientes antes, durante e depois do

conjunto de atendimentos, utilizando a música como um instrumento importante

para o processo terapêutico.

Para o grupo em questão, a principal música foi “Desengonçada” de

Bia Bedran (em anexo), pois a letra relata as partes do corpo, trabalhando a

lateralidade. Essa música contribuiu bastante para o sucesso da experiência,

pois grande parte de nossos pacientes apresentam dificuldade no trabalho de

dinâmica corporal. Por isso, pensamos em trabalhar com o esquema corporal6,

realizado através de exercícios que envolviam atividades motoras, viso-

motoras ou emocionais.

Os aspectos que mais procuramos trabalhar foram a coordenação

motora, equilíbrio, noções de espaço, tempo, lateralidade e tono postural, sem

6 Conhecimento intuitivo que temos do próprio corpo, capaz de gerar as possibilidades de atuação sobre as partes desse corpo, sobre o mundo exterior e sobre os objetos que nos cercam.

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nos esquecermos da observação e respeito às características psicocognitivas

de cada um, pois, nesse momento da terapêutica, tínhamos o intuito de buscar

restaurar a identidade pessoal e social desses jovens pacientes.

O ambiente

O ambiente terapêutico teve que ser modificado e, dentro da

realidade apresentada pela instituição, procuramos aperfeiçoar a sala

destinada ao atendimento, diminuindo o mobiliário (mesas e cadeiras), para

que mais espaço fosse destinado ao trabalho corporal.

O trabalho também foi desenvolvido com a música quando

utilizávamos jogos como “coelhinho na toca”, “amarelinha”, “batatinha frita”,

“macaco mandou” e outros7.

Paciente A

Sexo feminino, 17 anos de idade. Durante sua gestação não houve

intercorrências (SIC), tendo duração de 42 semanas. O parto foi normal a

termo, chorou ao nascer, sugou bem, peso de 4,25 kg, teve alta junto com a

mãe.

Nos relatos, bastante confusos, pai e mãe demonstram dificuldades em falar do

caso de como iniciou a queixa: “Notamos que ela tinha as perninhas moles”

(sic). A criança foi encaminhada para o hospital com 9 meses, para fisioterapia

e fonoaudiologia, onde permaneceu até os 2 anos.

Evolução motora: Engatinhou com 2 anos e andou com 7 anos. A paciente

ficou sem atendimento até os 15 anos, quando iniciou o atendimento

fisioterápico no Sarem, em 2008 (com outra fisioterapeuta). Não consta registro

de atendimentos anteriores e não era atendida por fonoaudióloga. Hoje se

encontra em atendimento fisioterápico e fonoaudiólogo.

7 Esses jogos têm por finalidade o trabalho do esquema corporal, noção temporal e espacial, socialização, entre outros.

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Histórico familiar: pais separados (mãe alcoólatra); duas irmãs mais velhas,

(frutos de outros dois relacionamentos maternos); reside com o pai e uma irmã.

Diagnóstico médico: ECI (hipóxia esquêmica), retardo mental moderado, ataxia

apendicular associada à ataxia de termo. Faz uso de Rivotril 0,5 mg à noite.

Paciente apresenta déficit psicomotor, transtornos na coordenação motora e na

fala. O quadro é dominado pela incoordenação estática e cinética

apresentando tremores de ação, dismetria, a marcha é atáxica e a fala

disártrica. O tônus muscular variável, mas dominado pela hipotonia, não se

notando sinais de espasticidade, tendo dificuldade para controlar a amplitude, a

direção, a força e a velocidade dos movimentos.

É independente na higiene corporal, vestuário e alimentação, porém consegue

entender o que lhe é solicitado. Não lê, nem escreve, mas reconhece seu

nome. Há problema de relacionamento na escola.

Nos atendimentos se apresentava rígida, pouco à vontade. Muitas vezes,

realizava as atividades forçadamente, sem entusiasmo. Estava sempre vestida

humildemente, o que denunciava sua condição sócio-econômica. Porém não a

impediria de demonstrar cuidado com seu corpo (axilas, pés, unhas). No

entanto, o que ressaltava a todos, era a baixo alto-estima da paciente.

Paciente B

Sexo feminino, 19 anos. Nos relatos, a mãe fala de uma gravidez tranqüila, não

programada. A paciente tem uma irmã mais velha, parto a termo de cesariana,

com 3,45 kg. Ficou internada na UTI por 5 dias (hipóxia).

Evolução motora: Engatinhou com 1 ano e 2 meses, andou com 4 anos. Iniciou

tratamento fisioterápico e fonoaudiólogo aos 2 anos e permanece até hoje.

Dificuldade no esquema corporal e marcha.

Histórico familiar: paciente reside com a mãe e irmã (pai falecido).

Diagnóstico médico: ECI (hipóxia isquêmica)

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Apresentando retardo no desenvolvimento psicomotor, retardo mental

moderado, dificuldade no esquema corporal e na marcha, além da dificuldade

também na comunicação oral.

Nunca demonstrou barreiras no atendimento, principalmente no que diz

respeito à utilização da música. Apesar de ter um comportamento do tipo

apático, nunca partindo dela o interesse por alguma atividade.

Com o início da utilização da música na terapia, a paciente já iniciou um

processo de interesse e predileção por um ritmo ou música. Algumas vezes,

por acaso, e outras por fazer parte do processo de estudo investigativo,

deixamos o aparelho de som desligado. Ela imediatamente solicitava que fosse

ligado.

Paciente C

Sexo masculino, 22 anos. Com PC do tipo mista (atetose e espasticidade).

Histórico familiar: Mãe relata gravidez não desejada, conflitos familiares (pai

alcoólatra), 2º filho (irmã mais velha) nasceu aos 7 meses de gestação, de

parto cesariana. Teve contrações desde o 4º mês de gestação. Houve

complicações pós-parto, permanecendo 10 dias na incubadora.

Diagnóstico médico: ECI Hipóxica.

Evolução motora: A postura de pé foi alcançada com 2 anos de idade, iniciando

a marcha aos 4 anos. Aos 3 anos iniciou a fisioterapia, mas a deambulação

independente somente foi alcançada aos 5 anos de idade, com dificuldade,

precisando de apoio, em superfícies irregulares e degraus.

Apresentado quadriplegia espástica, cialorréia importante, dificuldade na

comunicação oral e na cognição.

A marcha apresenta um padrão típico, com semiflexão de quadril, joelhos

valgos e pés plantifletidos e valgos, oscilação de tronco, que permanece

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inclinado para frente, Tem certa dificuldade em apoiar o pé direito no chão. Não

realizou nenhum tipo de cirurgia corretiva.

Paciente iniciou o atendimento individual, mas logo que foi incluído no grupo da

pesquisa, apresentou um comportamento de extrema cooperação e integração.

Sempre se apresentou alegre, extrovertido, nunca se negando a realizar

qualquer atividade proposta e o que verificamos após a inclusão, foi uma

melhora significativa ainda. Era ele o paciente que mais se destacava:

cantando, dançando, vibrando. Ou seja, demonstrando um bem-estar

emocional no ambiente terapêutico.

Paciente D

Sexo masculino 19 anos. Mãe relata gravidez desejada (tem um irmão mais

velho), parto cesário após sofrimento fetal (39 semanas), não chorou ao

nascer. Ficou 3 dias na incubadora.

Histórico familiar: Mãe relata conflito familiar (pais separados), irmão mais

velho (fruto de outra união da mãe), irmãs mais novas (frutos de outra união do

pai).

Diagnóstico médico: ECI Hipóxica.

No desenvolvimento motor, mãe relata que ele teve muita dificuldade em

sentar, engatinhar e ficar em pé, pois estava sempre muito “molinho” (sic).

Paciente apresenta um grau de hipotonia importante.

Transtornos apresentados: retardo mental moderado, transtorno bipolar, déficit

psicomotor, dificuldade na aprendizagem, porém lê e escreve com alguma

dificuldade.

No início dos atendimentos, paciente apresentava certa resistência para

algumas atividades solicitadas. Só queria “fazer bicicleta” e logo se cansava,

desistindo e pedindo para que se encerrasse o atendimento.

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Quando foi incluído no grupo, ainda apresentava certa resistência, porém, logo

depois ele já sentia falta da música e dos objetos utilizados durante o

atendimento, solicitando ou buscando os mesmos e até colocando o CD da

música favorita.

Objetivos do tratamento fisioterapêutico:

- Melhorar equilíbrio dinâmico e estático.

- Aumentar arco de movimento.

- Facilitar a deambulação.

- Prevenir ou minimizar contraturas já adquiridas.

Programa de tratamento:

- Alongamento e fortalecimento de MMSSs e MMIIs, equilibração dinâmica e

estática (treino da marcha, propriocepção), esquema corporal (lateralidade

expressiva, adaptação espaço-temporal, coordenação global e fina).

- Cinesioterapia ativa.

3.3. Avaliação dos resultados

Paciente A

Já no final do ano, a paciente demonstrava um grande prazer em vir para os

atendimentos, sua auto-estima bem valorizada, vaidosa e higiene dentro dos

padrões normais.

Quanto ao seu aspecto psicomotor, obteve um avanço bastante positivo

(consegue cantarolar a música predileta, lateralidade bem definida, melhora na

marcha e nas posturas estática e dinâmica). Participou de uma apresentação

dançando e cantando no grupo “Corpo e Movimento” no final do ano.

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Paciente B

Paciente passou a fazer parte do grupo “Corpo em Movimento”, e, apesar de

não ter se destacado como uma das mais participativas, demonstrou uma

melhora significativa no que diz respeito na dinâmica psicomotora.

Paciente C

O paciente continuou se destacando durante o decorrer do ano. Verificamos

uma grande alegria e força de vontade durante os atendimentos. Na

participação do grupo “Corpo em Movimento” foi um sucesso dançando,

cantando e vibrando.

Apresentou melhora significativa no padrão psicomotor, lateralidade, esquema

corporal e marcha.

Paciente D

Paciente se destacava por sua atuação durante o atendimento: sempre ativo,

cooperativo, dinâmico e muitas vezes se queixando do término do atendimento.

Apresentou melhora bastante significativa no esquema corporal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudando e vivenciando problemas psicossociais e cognitivos que

os diversos distúrbios mecânicos e psicomotores nos impuseram ao longo de

nossa experiência com pacientes portadores de deficiência física,

principalmente aqueles relacionados a ECI, pudemos constatar que podíamos

abordar os diversos casos partindo de um trabalho psicomotor aliado à

constante presença da música, como uma terapêutica capaz de prestar grande

colaboração no tratamento desses pacientes, visando não somente a

deformidade física apresentada, mas enfatizando, principalmente, os

problemas relacionados ao comportamento emocional que certamente

contribuem bastante para fracassos não só no tratamento, mas principalmente

no desenvolvimento psicossocial e afetivo de nossos pacientes.

Porém, é essencial compreender que há necessidade de uma

interação completa entre terapeuta e paciente, pois conhecer o ser humano,

em especial uma pessoa portadora de deficiência física aliada a outros

distúrbios advindos de complicações e seqüelas, é o primeiro e primordial

passo para ajudá-la a superar as barreiras que possam surpreendê-las durante

toda a sua vida.

Considerando que o movimento associado à música permite meios

de expressão, onde alegria e descontração podem superar dificuldades que o

“corpo mecânico” possa vir a apresentar, nos propusemos a introduzir a música

no tratamento fisioterápico, buscando verificar o estabelecimento de ligações

entre o ritmo musical e a vida fisiológica, entre a melodia e a afetividade, a

harmonia e o aprendizado.

Os resultados foram surpreendentes. Observamos a associação do

ritmo, da música, do movimento, com um trabalho constante de

conscientização corporal na terapia psicomotora associada ao tratamento

fisioterápico e baseada na psicomotricidade e no processo de tomada de

consciência. Esse processo foi capaz de alterar estruturas cognitivas sendo,

por isso, bastante importante para que nossos pacientes percebessem a

relação entre os ritmos corporais e musicais e apresentassem uma série de

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facilitações neurológicas que contribuíram na reeducação sensório motora dos

mesmos.

Consideramos esse trabalho como uma pesquisa inacabada. Não

obstante, acreditamos que estamos ainda no começo. Pretendemos que nosso

tema seja mais bem explorado a termo, no sentido de aprimorar mais a

utilização da música juntamente com a terapia psicomotora no tratamento de

pacientes portadores de ECI, a fim de que mais pacientes possam entrar em

contato com as vivências consigo e com seu próprio corpo, descobrindo a

harmonia do ritmo, procurando o equilíbrio entre o que pode e o que deve ser

realizado por si próprio, buscando, desenvolvendo e utilizando melhor as suas

potencialidades, de acordo com os pensamentos da fisioterapia aliada a

técnicas psicomotoras e a utilização de um ambiente sonoro e harmônico.

Ao término do estudo, apesar de termos objetos importantes que nos

confirmam a eficácia e importância da música no atendimento fisioterapêutico –

no que diz respeito ao rendimento motor de nossos pacientes –, o que nos deu

bastante motivação para continuar com o projeto, foi verificar o sensível

aumento da auto-estima dos mesmos. Para qualquer ser humano, esse dado já

é de muita valia. Quando se trata de jovens portadores de deficiência física, a

música, certamente, em muito colabora para que eles venham a ter meios de

conquistar objetivos que lhes proporcionarão uma melhor integração social e,

com isso, uma vida mais saudável, dinâmica e produtiva. Assim, fechamos a

principal síntese do nosso trabalho.

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ANEXO

DESENGONÇADA

Bia Bedran

(refrão) Vem dançar, vem requebrar Vem fazer o corpo se mexer Acordar É a mão direita, mão direita, mão Direita agora, A mão direita, que eu acordar. É a mão esquerda, a mão esquerda, A mão esquerda agora As duas juntas que eu vou acordar (refrão) É o ombro direito, é o ombro direito, É o ombro que eu vou acordar. É o ombro esquerdo, é o ombro Esquerdo Os dois juntos que eu vou acordar (refrão) É o cotovelo direito, é o cotovelo Direito É o cotovelo que eu vou acordar É o cotovelo esquerdo, é o cotovelo Esquerdo Os dois juntos que eu vou acordar (refrão) É o braço direito, é o braço direito

É o braço que eu vou acordar É o braço esquerdo, é o braço Esquerdo Os dois juntos que eu vou acordar (refrão) É o joelho direito, é o joelho direito É o joelho que eu vou acordar É o joelho esquerdo, é o joelho Esquerdo, Os dois juntos que eu vou acordar (refrão) É o pé direito, é o pé direito, é o Pé direito agora É o pé direito, que eu vou acordar É o pé esquerdo, é o pé esquerdo É o pé esquerdo agora Os dois juntos que eu vou Acordar (refrão) É a cabeça, os ombros, as mãos, Cotovelos e braços Que eu vou acordar A cintura, a barriga, o bumbum, Os joelhos Tudo junto que eu vou acordar

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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