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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO
TRANSPORTADOR AÉREO
Por: Bianca Szlana F Finkielsztejn
Orientador
Prof. Willian Rocha
Rio de Janeiro
2007
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO
TRANSPORTADOR AÉREO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Direito do Consumidor.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
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AGRADECIMENTOS
A minha mãe por todo o incentivo que
me deu nessa etapa da minha vida..
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
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RESUMO
Aborda o conflito de normas existentes na regulamentação da
responsabilidade civil do transportador aéreo por danos causados aos
passageiros e aplica-o a ação de responsabilidade civil em face do
transportador aéreo. Para tanto, traça inicialmente os contornos da
responsabilidade civil contratual do transportador em relação aos passageiros
e da responsabilidade civil. Em seguida, aponta o que dispõe os institutos que
disciplinam o transporte aéreo internacional e nacional, bem como aquele que
define as regras de proteção ao consumidor. Posteriormente, apresenta os
pontos centrais nos conflitos das normas citadas e trabalha os argumentos
produzidos doutrinaria e jurisprudencialmente sobre o tema, mostrando qual
entendimento deve prevalecer.
Palavra-chave: Transporte aéreo. Ação de responsabilidade civil.
Conflito de leis.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
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ABSTRACT
It broaches the conflict of rules that exists on the regulation of civel
responsibility of air transporter by injury caused on passengers and applies it on
civil responsibility action in view of air trasporter.For this,set out at first the
outline of contractual civil responsibility of transporter in respect to pássengers
and to the responsibiulity action. Next,points out what asserts intitutes that
discipline internacional and nacional air transport , as well as that one that
defines consumer protection rules. Subsequently, presents central points of the
summoned conflict of rules and wors on the arguments produced by doctrine
and jurisprudence about the subject, showing what should prevail.
Keywords: Air transport. Civil responsability action. Conflict of rules.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 08
2 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRASPORTADOR AEREO 12
2.1 O tríplice aspecto da responsabilidade do transportador 12
2.2 O contrato de transporte aéreo 13
2.3 A clausula de incolumidade 13
2.4 A ação de responsabilidade civil 14
3 O TRANSPORTE AEREO 17
3.1 Transporte aéreo internacional 17
3.2 Transporte aéreo nacional 19
4 CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 23 4.1 Conceitos 25 4.1.1 Consumidor 25 4.1.2 Fornecedor de serviços 26 4.1.3 Fato do serviço 27 4.2 A ação de reparação de danos 28 5 CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E A CONVENÇÃO DE
VARSOVIA 29
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6 CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E O CODIGO BRASILEIRO DE
AERONAUTICA 38
7 CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E O CODIGO CIVIL 43
8 CONCLUSÃO 46
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
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1 INTRODUÇÃO
Talvez o homem nunca tenha imaginado que a concretização de
alguns de seus sonhos pudesse de tal forma ampliar suas relações sócio
econômicas que estas ganhariam o mundo, rompendo limites físicos,
geográficos e ideológicos. Ao menos ele certamente tinha a consciência de
que esses sonhos mudariam definitivamente o seu modo de vida. E mudaram.
Quis o destino que somente muitos séculos depois de idealizado pelo
grande artista renascentista Leonardo de Vinci., um dos sonhos mais primitivos
do homem viesse a se tornar realidade pelas mãos de um brasileiro. Coube ao
mineiro Alberto Santos Dumont a proeza de se tornar o primeiro homem a
fazer com que uma maquina mais pesada que o ar conseguisse reproduzir o
que os pássaros sempre fizeram, e que , desde os tempos da lenda de Dédalo
e Ícaro, o homem almeja, que é voar.
Analisando estes quase cem anos de pioneirismo de Santos Dumont,
podemos notar o quão grande foi o salto tecnológico dado pela industria
aeronáutica mundial, sobretudo no séc XX , no campo da aviação civil.
Entretanto, este espantoso avanço da industria aeronáutica, que reduziu a
horas as fronteiras que antes se separavam por dias ou meses, foi, em grande
parte, uma conseqüência natural da intensificação das relações comerciais
entre os paises e mesmo daquelas realizadas internamente.
Isto porque, gradativamente, o avião foi se consolidando como um
transporte seguro e eficiente, sendo assim, utilizado como um dos principais
meios de transporte de pessoas, bagagens e cargas, o que sempre demandou
uma resposta imediata das industrias aeronáuticas as crescentes
necessidades das companhias aéreas.
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Contudo, tamanha evolução tecnológica não foi capaz de impedir a
ocorrência de acidentes aeronáuticos. No inicio do desenvolvimento da aviação
civil, muitos acidentes ocorriam devido a incipiente tecnologia de construção de
aeronaves e equipamentos, da pequena de infra-estrutura aeroportuária e da
falta de regras para a navegação aérea. Embora hoje aconteçam
proporcionalmente menos acidentes, e em sua grande maioria causados por
falha humana, a dimensão que um único acidente é capaz de alcançar, pode
torna-lo em uma verdadeira catástrofe.
Sabemos que onde há um fato social marcado por um grande valor,
como é o caso do transporte aéreo, há a necessidade de regula-lo por meio de
normas legais. Tais normas vieram ainda no inicio do séc XX para disciplinar o
funcionamento do transporte aéreo, regulando, entre outras coisas, a
reparação dos eventuais danos causados aos funcionários das empresas
transportadoras, a terceiros e aos passageiros.
A característica especial da Aviação civil de ultrapassar com maior
facilidade as fronteiras entre os paises, levou a comunidade internacional a
reunir-se, ainda no inicio do século passado, para unificar certas regras do
transporte aéreo internacional, o que teve como resultado a chamada
“Convenção de Varsóvia”. Esta convenção, assinada e ratificada pelo Brasil, foi
concebida com intuito claro de “proteger” as jovens companhias aéreas, que
alem de possuírem um alto custo de operação, ainda se encontravam em
processo de afirmação de sua viabilidade econômica e tecnológica.
Também foi esta a política adotada pelo legislador brasileiro para
disciplinar o transporte aéreo nacional, ou domestico, quando editou o código
brasileiro do Ar (Decreto lei nº 32 de 18 de novembro de 1966), já revogado e o
atual código Brasileiro de Aeronáutica ( Lei nº 7565, de 18 de dezembro de
1986)
Com o advento do código de defesa do consumidor( lei 8078, de 11 de
setembro de 1990), que teve por principal objetivo a proteção ao consumidor -
parte mais fraca da relação consumerista - houve conseqüentemente um
choque de dois sistemas “protetivos” :um destinado ao consumidor e outro
destinado as empresas de transporte aéreo. Deste choque, surgiu a grande
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questão: o que deve prevalecer , a histórica proteção as companhias aéreas ou
a hodierna proteção ao consumidor, ou seja, o sistema da convenção de
Varsóvia, o Código Brasileiro de Aeronáutica ou o Código de defesa do
consumidor?
Importante ressaltar que o único ponto de contato existente entre tais
diplomas legais é aquele que diz respeito a responsabilidade civil do
transportador. Mas não obstante ser a limitação da responsabilidade a principal
discussão travada na doutrina e, sobretudo, na jurisprudência , reflexos desta
antinomia foram sentidos, conseqüentemente, na respectiva ação de
responsabilidade civil em face do transportador aéreo.
Uma ação de responsabilidade civil ajuizada por um passageiro em
face do transportador aéreo, decorrente de um acidente aeronáutico ocorrido
ate 1990 em um vôo internacional, será claramente regida pela convenção de
Varsóvia, que estipula um prazo decadencial ou prescricional para o melhor
entendimento – de 2(dois) anos para o ajuizamento desta ação.
Caso o acidente tivesse ocorrido em um vôo nacional[, o panorama
seria praticamente o mesmo, com exceção da adoção , expressa , pelo atual
Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA) de um prazo prescricional de 2 anos
para o ajuizamento da ação de responsabilidade civil.
Contudo, a grande discussão começa a partir de década de 90, com o
código de defesa do consumidor (CDC). Esta lei trouxe consigo um prazo
prescricional de 5(cinco) anos para o ajuizamento da ação de responsabilidade
civil por dano causado ao consumidor pelo fato do produto ou do serviço. A
partir daí, a ação de responsabilidade civil proposta com o fim de reparar os
danos causados aos passageiros - dentro de uma relação de consumo, poderá
ser regulada pelo sistema Varsóvia, CBA ou pelo CDC, a depender do
entendimento adotado pelo órgão julgador desta ação.
Agrava-se a situação se atentarmos para a inovação do código civil.
Adotando uma política de redução geral dos prazos, o legislador reduziu o
prazo ate então aplicável de 20 anos das ações pessoais, para meros 3 anos,
agora dentro de um inciso especifico para as ações de reparação civil.
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Desta forma, em virtude da ausência de uma norma que unifique a
disciplina dos referidos diplomas legais ou que revise as suas disposições, seja
excepcionado ou revogando expressamente esta matéria-solução ideal, mas
de lege ferenda - analisaremos como a jurisprudência (verdadeiro laboratório
do jurista) e a doutrina vem se posicionando sobre estas e outros questões que
surgirem em torno da responsabilidade civil do transportador aéreo, para que
possamos extrair o melhor entendimento sobre a respectiva ação de
responsabilidade civil em face do transportador aéreo, tema ainda pouco
explorado pelos doutrinadores.
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2. A RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR AEREO
Como havíamos dito anteriormente, a principal discussão relacionada ao
conflito do sistema Varsóvia, CBA com o CDC gira em torno da limitação da
responsabilidade civil do transportador aéreo. Contudo, utilizaremos esta
divergência, e o que se produziu sobre ela, como base para o estudo da ação
de responsabilidade civil, tema muito menos presente na doutrina e na
jurisprudência, pois, necessariamente, a natureza, prazo e limites da ação
seguirão o entendimento adotado naquele campo.
2.1 O tríplice aspecto da responsabilidade do transportador
Em primeiro lugar, devemos nos situar acerca de qual responsabilização
iremos tratar, visto que, segundo Sergio Cavalieri Filho, a responsabilidade
civil do transportador pode ser decomposta em três espécies 1: em relação aos
danos causados aos seus empregados( responsabilidade fundada em contrato
de trabalho), em relação a terceiros (responsabilidade extracontratual) e aos
passageiros(responsabilidade fundada no contrato de transporte aéreo)
Desta forma, restringiremos o presente estudo aquela que gera maior
discussão doutrinaria e jurisprudencial, que é responsabilidade pelos danos
causados aos passageiros (muito embora , como veremos mais adiante , o
código do consumidor unificou o conceito de vitimas de acidentes de consumo,
incluindo passageiros e terceiros).
2.2 O contrato de transporte aéreo
1 CAVALIERI FILHO, Sergio.Programa de Responsabilidade civil. 4ªed.SP :Malheros 2003.p.286
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A responsabilidade derivada dos danos causados aos passageiros é
fundada no contrato de transporte aéreo, pelo qual, segundo o art 222 do
Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), “obriga-se o empresário a transportar
passageiro, bagagem, carga, encomenda ou mala postal, por meio de
aeronave, mediante pagamento”. Apesar da impropriedade do termo
“empresário”( no entanto escusável, visto que o CBA é anterior a adoção da
teoria da empresa pelo código civil de 2002)utiliza no lugar de “transportador “,
este tanto pode set pessoa física ou jurídica, proprietário ou explorador da
aeronave, nos termos do parágrafo único do art 222.
Para Sergio Cavalieri Filho, o contrato de transporte de passageiros
reúne as características de um contrato de adesão, onde as clausulas são
previamente estipuladas pelo transportador, e ainda as características de um
contrato.
Consensual, bilateral, oneroso e comutativo, posto que para que sua celebração basta o simples encontro de vontades; cria direito e obrigações para ambas partes e há um equilíbrio econômico entre as respectivas prestações. O preço da passagem, voa de regra, corresponde ao beneficio recebido pelo passageiro. 2
No contrato de transporte aéreo de passageiro,”bilhete de passagem”
nos moldes do art 227 do CBA, deve constar ”lugar e data de emissão, os
pontos de partida e destino, assim como o nome dos transportadores”.
2.3 A Clausula de incolumidade
No entanto, a característica mais importante deste contrato, fundamental
para a reparação de danos, é a sua cláusula de incolumidade. Embora esteja
implícita no contrato, através dela o transportador é obrigado a conduzir o
2 Op. Cit.p. 292
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passageiro são e salvo ao lugar de destino, sob pena de responsabilização
pelos danos causados (art.734 Código Civil).
O transportador assume desta forma a obrigação de meio – pela qual
obriga-se a utilizar sua “ habilidade, técnica, prudência e diligência no sentido
de atingir um resultado, sem, contudo se vincular a obtê-lo “ 3 - de resultado,
certo e determinado,e , sobretudo, de garantia ( pois ele é o garante do
transporte) que se descumprida, gera o inadimplemento contratual e o dever
de indenizar do transportador.
2.4 A ação de responsabilidade civil
Sabemos que a responsabilidade civil pode nascer tanto de um ato
ilícito absoluto (art. 186 c/c art. 927, ambos do Código Civil) como de um
descumprimento de prestação contratual (art. 3889 do Código Civil). Neste
ponto, destaca-se a lição de José Aguiar Dias:
Se o contrato é uma fonte de obrigações, a sua inexecução também o é. Quando ocorre a inexecução, não é a obrigação contratual que movimenta o mundo da responsabilidade. O que se estabelece é uma obrigação nova, que se substitui a obrigação preexistente no todo ou em parte: a obrigação de reparar o prejuízo conseqüente a inexecução da obrigação assumida. 4
3 CAVALIERI FILHO, Sergio.Programa de responsabilidade civil.4ªed.SP:Malheiros,2003.p.292 4 DIAS,Jose Aguiar apud CAVALIERI, Sergio Cavalieri. P. 281
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Dessa forma, o descumprimento da clausula de incolumidade por parte
do transportador gerara ao passageiro a pretensão a indenização e o dever
jurídico do transportador de quita-la, conforme o art 389 do código civil:”Não
cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos...”
Sendo assim, a ação de responsabilidade civil - direito de exigir a tutela
jurídica do estado- nascera quando houver a recusa do adimplemento desta
obrigação por parte do transportador. Esta ação será de natureza
condenatória, pois é aquela “que busca não apenas a declaração do direito
subjetivo material do autor, mas também a formulação de um comando que
imponha uma prestação a ser cumprida pelo réu (sanção)5 – no nosso caso a
indenização.
Portanto, conforme a clássica doutrina de Agnelo Amorim Filho, a ação
de responsabilidade civil, por ter como pressuposto uma pretensão não
atendida e ser conseqüentemente de natureza condenatória, será
necessariamente submetida ao instituto da prescrição. Na verdade, a
prescrição nascera da pretensão, pois
[...] o estado de intranqüilidade social que o instituto da prescrição procura limitar no tempo, não resulta somente da possibilidade de propositura da ação, mas também de um fato que sempre lhe é anterior, e que pode ate ocorrer sem que haja nascido a ação: a possibilidade de exercício da pretensão. Pouco, ou nada, adiantaria paralisar a ação, com o objetivo de alcançar aquela paz social, se a pretensão permanecesse com toda a sua eficácia”6
A doutrina acolhida pelo código civil de 2002 foi exatamente esta,
quando em seu art 180 dispõe que “violado o direito, nasce para o titular a
5 THEODORO JUNIOR,Humberto.Curso de direito Processual Civil. VolI Rio deJaneiro:Forense,2003.p.56 6 AMORIM FILHO,Agnelo.Critério cientifico para distinguir a prescrição da decadência e para identificar as ações imprescritíveis.Revista de dir Proc civil.ano II vol 3. SP,Saraiva,1961.p.111
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pretensão, a qual se extingue, pela prescrição...”.Com relação ao inicio do
prazo prescricional, entende o Conselho da justiça Federal que:
1) O inicio do prazo prescricional ocorre com o surgimento da pretensão, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo. 2) o art 189 diz respeito a casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do direito absoluto ou da obrigação de não fazer. 7
3. O TRANSPORTE AÉREO
7 Enunciado nº14.I Jornada de Direito Civil.Conselho de Justiça Federal. <www.justicafederal.gov.br>
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Para os fins deste trabalho, trataremos separadamente o transporte
aéreo internacional e o transporte aéreo nacional, visto que são regidos por
diferentes diplomas legais, os quais ensejarão diferentes colocações e
ponderações - muito embora a legislação interna tenha procurado seguir o
disposto nos tratados internacionais.Portanto, trataremos inicialmente do
transporte aéreo internacional.
3.1 Transporte aéreo internacional
O transporte aéreo internacional é disciplinado pela convenção de
Varsóvia(Convention for the Unification of Certais Rules Relating to
International Transportation by Air), promulgada em 12 de outubro de 1929 e
ratificada por mais de cem paises. Foi recebido em nosso ordenamento juridico
pelo Decreto nº 20.704, de 24 de novembro de 1931. Posteriormente, sofreu
alterações de outros tratados, como do Protocolo de Haia , de 28 de setembro
de 1955.
Segundo o art 1º dessa convenção, “transporte internacional” é aquele
onde os pontos de partida e destino, havendo ou não interrupção do
transporte, ou baldeação, estejam situados no território de paises diferentes
(contratantes ou não) ou quando situados no mesmo território e houver escala
no território de outro pais( contratante ou não).
A responsabilidade do transportador prevista na convenção é subjetiva
e com culpa presumida, atenuada ou ate excluída, por fato do passageiro
(respectivamente, arts 17,20 nº1 e 21). È ainda, regra geral, tarifada (art 22
nº1,) salvo se o passageiro provar que o transportador agiu com dolo ou culpa
grave, quando a responsabilidade sera ilimitada(art 25,nº 1)
No entanto, o que nos interessa aqui são as discussões que envolvem o
art 29,nº1, que dispõe que a ação de responsabilidade civil deve ser intentada.
Sob pena de caducidade, dentro do prazo de dois anos, a contar da data de chegada, ou do dia em que a aeronave
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devia ter chegado a sue destino, ou da interrupção do transporte.
Em primeiro lugar, a questão que envolve o prazo, ponto central do
presente trabalho, será tratada mais a frente, quando analisarmos o conflito
com o CDC.
Uma outra importante discussão, em grande parte jurisprudencial, fixou-
se no termo “caducidade” para saber se este correspondia a um prazo
prescricional ou decadencial. Entendemos que esta discussão foi valida
quando ainda em vigor o código civil de 1916, que disciplinava indistintamente
os institutos da prescrição e da decadência, desorientando o interprete.Mas ,
mesmo se tal código ainda estivesse em vigor, entenderíamos como sendo
um prazo prescricional, porque negar a natureza condenatória da ação de
responsabilidade, é negar um fato jurídico.
Pela doutrina de Agnelo Amorim Filho 8, as ações condenatórias
submetem-se, necessariamente, a prescrição. Portanto, não deve o operador
jurídico limitar-se a interpretação literal de um texto legal sob pena de conferir
um sentido não pretendido pelo legislador ou contrario a ordem jurídica a qual
se insere. Deve, pois, utilizar todos os instrumentos da hermenêutica para
extrair o melhor sentido do texto legal, para assim, conferir-lhe normatividade.
De acordo com o que se ira debater mais à frente , esta discussão
perdeu totalmente o seu sentido, seja em vista da promulgação do novo código
civil, que tratou melhor e especificamente deste assunto 9, ou seja porá causa
do advento do Código de Defesa do Consumidor.
Analisando a segunda parte do artigo 29, nº 1, merece destaque o dies
a quo da ação de responsabilidade, que será “a data de chegada, ou do dia em
que a aeronave devia ter chegado a seu destino, ou do da interrupção do
transporte”
8 Op.cit.p.131. 9 Cf, arts 189 e ss; e art 205,§3º,V CC/2002
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Devemos, ainda, ressaltar que a convenção faculta ao autor da ação de
responsabilidade a possibilidade de escolha de onde ajuíza-la.De acordo com
o art 28, nº 1, ele poderá optar entre o território de qualquer das partes
contratantes, o domicilio do transportador ou a sede principal do seu negocio, o
lugar por cujo intermédio se tenha realizado o contrato ou o território do lugar
de destino. Determina ainda, em seu art 28, n º 2, que o processo será aquele
da “lei do tribunal que conhecer a questão”.
3.2 O transporte aéreo nacional
O transporte aéreo realizado exclusivamente dentro do território
nacional, ou seja, aquele “em que os pontos de partida, intermediários e de
destino estejam situados em território nacional”(art 215) é disciplinado pelo
Código Brasileiro da Aeronáutica, Lei nº 7565, de 19 de dezembro de 1986.
Este código não diverge dos princípios consagrados na convenção de Varsóvia
e chega inclusive, a ser utilizado como norma complementar nos pontos
omissos da convenção(art 1,§3º)
Contudo, o Código Brasileiro de Aeronáutica, diferentemente da
Convenção de Varsóvia, aponta para uma responsabilidade fundada na teoria
do risco - leia-se responsabilidade objetiva-onde o transportador responde(art
256) pela “morte ou lesão de passageiro, causada por acidente ocorrido
durante a execução do contrato de transporte aéreo, a bordo de aeronave ou
no curso das operações de embarque e desembarque.”
Nos termos do §1, alínea a, deste artigo, esta responsabilidade só será
elidida “se a morte ou lesão resultar exclusivamente, do estado de saúde do
passageiro, ou se o acidente decorrer de sua culpa exclusiva” Esta
responsabilidade também é estendida(§2, alíneas a e b) aos passageiros
gratuitos e aos tripulantes, diretores e empregados ( não excluindo a derivada
do contrato de trabalho).
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Contudo, o que mais importa para o presente trabalho é o que dispõe o
art 317 sobre a ação de responsabilidade civil:
Art 317.Prescreve em 2 (dois)anos a ação:
I – Por danos causados a passageiros, bagagem ou carga transportada a contar da data em que se verificou o dano, da data da chegada ou no dia em que devia chegar a aeronave ao ponto de destino, ou da interrupção do transporte;
Acertadamente, o legislador menciona expressamente que este prazo é
prescricional, silenciando a controvérsia existente quando ainda em vigor o
Código Brasileiro do Ar, onde era descrito como decadencial, erroneamente,
como vimos anteriormente em relação a Convenção de Varsóvia.
Com relação ao dies a quo desta ação, o Código Brasileiro Aeronáutico
manteve todos os termos estabelecidos pela convenção e somente incluiu a
data do dano, como também geradora da fluência do prazo.
Ainda quanto à responsabilidade do transportador, uma importante
divergência ocorrida nos tribunais tratou de saber se a ocorrência de dolo ou
culpa grave do transportador afasta exclusivamente os limites indenizatórios
estipulados pelo legislador, reparando-se integralmente o dano, nos termos do
art 248( como o art 25 da convenção) ou se esta exclusão afasta também as
regras para o ajuizamento e prazo, para a ação de responsabilidade10
Entendemos que o legislador quis somente que a limitação da
responsabilidade do transportador, quando esta resultar de dolo ou culpa
grave. Fosse afastada, sendo regulada pela legislação comum, pois, se assim
10 “Ação proposta por acidentado em desastre de avião.Alegação de dano resultante de dolo ou culpa grave do transportador. Os limites da indenização, previstos no CBA , lei 7565, de 19/12/83, não se aplica se for provado que o dano resultou de dolo e culpa grave do transportador ou de seus prepostos(art 248).Nesses casos, não se aplica o prazo de 2 anos para a propositura da ação, mas o art 177CC, por se tratar de ação pessoal.Na ação de indenização de dir comum, o pedido não sofre restrições do dir aeronáutico”TA/RJ.Apelação cível nº 862 Rel Des Mauro Fonseca Pinto Nogueira.Julgamento:27/08/92
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não fosse, estaríamos criando uma situação de tratamento diferenciado em lei
sem qualquer finalidade.
Não necessariamente um dano causado por um agente imbuído de
dolo ou por culpa grave será mais gravoso do que um causado por mera culpa.
Alias, no campo da aviação civil comercial, danos causados por agentes com
aquele estado psicológico são certamente raros.
Assim, caso entendêssemos que toda a matéria deveria ser regulada
pela legislação comum, teríamos ações de responsabilidade ilimitada que
prescreveriam em vinte anos e ações de responsabilidade limitada que
prescrevem em dois anos, sem necessariamente seremos danos na primeira
mais gravosos que o da segunda. Teríamos fatos, que na maioria dos casos
geram os mesmos efeitos para as vitimas, causados pelos mesmos agentes
(em diferentes estados psicológicos), mas regulados de formas diversas, o que
deve ser repelido por todo ordenamento jurídico, em vista do tratamento
isonômico constitucional.
Portanto entendemos que, conseqüentemente, o prazo aplicável seria o
do Código Brasileiro da aeronáutica, porque lei evidentemente especial e
posterior ao código civil de 1916.Ora, uma lei 70 (setenta) anos mais nova e
que trata especificamente da relação jurídica em questão, deve certamente
estar em maior consonância com a sociedade do que uma lei feita no começo
do século passado , quando ainda não se falava em transporte aéreo com a
desenvoltura de hoje(registre-se que o código civil de 2002 reduziu o prazo das
ações de reparação civil para 3 (três) anos).
Mesmo que o argumento contrario a este seja o de não poderia haver
duas normas aplicáveis a um mesmo fato (a reparação integral regulada para o
direito comum e o prazo da ação pela lei especial ), entendemos que a vontade
do legislador foi exatamente esta que, ainda , o código civil de 1916 era omisso
quanto as contratos de transporte aéreo , assim tendo necessariamente de se
valer das definições e da aplicação das regras especiais.
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4. CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Fruto te expressa determinação constitucional (art 28 ADCT), o Código
de defesa do Consumidor, lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990, veio a lume
para dar efetividade a defesa do consumidor, direito fundamental (art 5,
XXXII,CRFB) e um doa princípios gerais da ordem econômica brasileira(art
170,V,CRFB) trazendo normas de ordem publica e de interesse social(art 1º
CDC) destinadas a restabelecer o equilíbrio nas relações de consumo.
Não obstante haver essa expressa previsão constitucional, o código de
defesa do Consumidor também se fundamenta no principio da solidariedade,
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
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previsto no art 3, I CRFB, como um dos objetivos fundamentais da republica
federativa do Brasil : “I- construir uma sociedade livre, justa e solidária”
Como todos sabemos, a constituição de 1988 foi nitidamente
influenciada pelo processo de redemocratização, quando o Brasil tentava
estabelecer uma nova ordem jurídica, baseada em princípios mais ligados a
Justiça Social, igualdade material etc. O principio da solidariedade surge
exatamente desta preocupação, pois é aquele que vincula os interesses do
individuo aos interesses do grupo social no qual este se insere.
Ainda dentro deste principio, podemos encontrar as bases de outro,
essencial para o Código de Defesa do Consumidor, que é o principio da
vulnerabilidade do consumidor (art 4, I, CDC), onde a inconteste
vulnerabilidade do consumidor nas relações de consumo, enseja que a ordem
jurídica minimize a disparidade evidenciada, protegendo e defendendo aqueles
que se encontrarem nesta situação.
Diante de tamanha previsão e fundamentação constitucional,
podemos dizer que a defesa do consumidor foi escolhida com um dos “nortes”
da ordem jurídica inaugurada pela constituição de 1988.è o que defende
Thereza Arruda Alvim, Eduardo Arruda Alvim e James Marins, frisando a
importância das relações de consumo e do Código de defesa do consumidor:
Esta destacada posição da defesa do consumidor, situada, agora, no ápice de nosso ordenamento, mostra-nos a importância do tema na esfera da economia nacional, que tem grande parte de sua atividade econômica pautada pelas chamadas relações de consumo, ou seja, relações das mais variadas entre fornecedor e consumidor que a partir de agora devem estar necessariamente, subordinadas aos comandos, em sua maioria cogentes, deste Código, avultando a necessidade da correta interpretação de seu conjunto normativo. 11
Assim para alguns doutrinadores, como Claudia Lima marques, o
Código de Defesa do Consumidor trouxe uma nova visão para o mundo
11 ALVIM, Arruda.Código do consumidor Comentado . 2ª ed. São Paulo:RT,1995.p.14-15
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
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negocial e acabou por influenciar todo sistema do Direito privado, ainda sob a
égide do vestuto e desatualizado Código civil de 1916.Já Cavalieri Filho,
defendendo a grande importância e influencia do Código de Defesa do
Consumidor, entende que este criou:
...uma sobreestrutura jurídica multidisciplinar, normas de sobredireito aplicáveis em toda e qualquer área do direito onde ocorrer relação de consumo.Usando de uma figura, costumo dizer que o código fez um corte horizontal em toda extensão da ordem jurídica existente, levantou o seu tampão e espargiu a sua disciplina por todas as áreas do direito – publico e privado, contratual e extracontratual, material ou processual. E assim entendo porque, tendo o código de defesa do consumidor, como vimos, estabelecido uma disciplina única e uniforme para todas as relações de consumo, necessariamente terá que ser aplicado em toda e qualquer área do direito onde elas ocorrem 12
Conseqüentemente, a influencia dessa sobreestrutura jurídica
multidisciplinar também foi sentida no campo do transporte aéreo, ate então
regulado inteiramente por leis próprias. Atualmente, o controle das cláusulas
contratuais e praticas abusivas (como o overbooking), da publicidade, dos
bancos de dados e da cobrança de dividas são matérias indiscutivelmente
reguladas pelo CDC. Contudo a grande discussão é aquela que deriva da
única matéria que o CDC e o sistema de Varsóvia / CBA regulam em comum,
que é a responsabilidade civil do transportador.
4.1 Conceitos
12 Op. Cit.p.463
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
25
Antes de nos aprofundarmos naquela que pe a grande discussão
envolvendo o transporte aéreo e a proteção ao consumidor , devemos
esclarecer alguns conceitos caracterizadores de uma relação de consumo e
que permitem a analise do transporte sob a perspectiva do Código de Defesa
do Consumidor.
4.1.1 Consumidor
O primeiro conceito que devemos analisar é o de consumidor.
Seguramente, este é um dos temas mais tortuosos dentro do direito do
consumidor, mas, genericamente, podemos conceitua-lo como “toda pessoa
física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final “ (art 2ºCDC). Nota-se a preocupação do legislador em definir
objetivamente o consumidor como destinatário final dos produtos e serviços,
ou seja aquele que retira do mercado determinado bem ou serviço para o seu
próprio consumo , o que nos permite excluir do conceito aqueles q utilizam o
transporte aéreo p fins comerciais.
Contudo, para os fins desse trabalho, baseado em acidentes e danos
causados aos passageiros, utilizaremos o conceito do art 17 do CDC, onde
“equiparam-se aos consumidores todas as vitimas do evento” .Portanto, aqui
não há que se perquirir se a vitima era destinatária final ou não do serviço ou
produto, bastando que ela seja vitima de um evento danoso ao qual esse artigo
se refere, que é o fato do produto e do serviço. Vale ressaltar que com este
conceito, o código equipara, para fins de responsabilidade, o terceiro ao
passageiro (superando a distinção entre responsabilidade contratual e
extracontratual). Conclui, nesse mesmo sentido, Silvio Venosa:
Cuida-se da proteção ao denominado bystander, ou seja, as pessoas, naturais ou jurídicas, que mesmo sem serem participantes diretas da relação de consumo, foram atingidas em sua saúde ou segurança em virtude do fato do produto ou do serviço.A extensão justifica-se pela
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
26
potencial gravidade que pode assumir a difusão de um produto ou serviço no mercado.Protege-se assim, o consumidor direto e indireto ou por equiparação.13
4.1.2 Fornecedor de serviços
Quanto aos conceitos de fornecedor e de serviço, podemos conceitua-
los conjuntamente.Segundo o art 3º do CDC, ”fornecedor é toda pessoa física
ou jurídica , publica ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados,que desenvolvam atividades de...prestação de serviços “ e
segundo o § 2 deste mesmo artigo, “serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração...”
Importante ressaltar que o transporte aéreo é serviço publico (art.
174CBA), operando sob o regime de concessão (quando se tratar de
transporte regular) ou autorização (quando não regular), nos moldes do art 21,
XII,c, da Constituição, e destinados somente as pessoas jurídicas(art 216CBA).
No entanto, estas características não excluem aquela de serviços oferecido no
mercado de consumo, visto que a proteção ao consumidor se aplica a qualquer
serviço oferecido no mercado de consumo, seja ele público ou privado.
4.1.3 Fato do serviço
Embora o código trate do fato do produto e do fato do serviço,
restringiremos nosso estudo ao fato do serviço, tendo em vista o interesse do
presente trabalho. Fato do serviço, também denominado de “acidente de
consumo” , é o dano moral ou material causado ao consumidor por um serviço
defeituoso, que é aquele que não oferece a segurança que dele se espera,
levando-se em conta o modo do seu fornecimento, o resultado e o risco que
dele se esperam e a época em que foi fornecido (art.14 CDC), ou seja, é o
dano à saúde ou a segurança física do consumidor.
13 VENOSA, Silvio de Salvo.Responsabilidade civil.3 ª ed .São Paulo:Atlas,2003.p.167
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
27
Portanto, cabe ao fornecedor agir pautado no dever de segurança,
fornecendo seu serviço dentro dos padrões da normalidade e previsibilidade
pois, do contrário, responderá, independentemente da culpa (visto que o
código adotou a teoria do risco do empreendimento), pelo simples fato de ter
posto no mercado de consumo, um serviço defeituoso.
Contudo, é importante ressaltar que, necessariamente, o dano deve
consistir em um real prejuízo ao consumidor, bem como deve derivar
exclusivamente (nexo de causalidade) de um defeito constatado do serviço e
não de sua desvalorização ou inservibilidade .Dessa forma, um mero defeito
constatado, sem qualquer dano, não configura o fato de serviço, mas sim vício
do serviço. Da mesma forma, um dano sem a comprovação do nexo causal
que o conecte a um defeito do serviço, também não configurará o fato. Assim,
a diferença entre o fato do serviço e o vício do serviço é quanto à gravidade do
dano. No fato do serviço há risco à saúde e à segurança física do consumidor,
enquanto que no vício do serviço há a lesão pela qualidade ou identificação
incorreta do serviço.
4.2 A ação de reparação de danos
Diferentemente do Código Civil de 1916, e agora encontrado guarida
no Código Civil de 2002, o Código de Defesa do Consumidor previu
separadamente na Seção IV os prazos de decadência e de prescrição
respectivamente, do direito de reclamar dos vícios do produto ou do serviço e
da pretensão de reparação de danos causados pelo fato do produto ou serviço.
Contudo, o que nos interessa é o que o Código dispõe sobre a
pretensão de reparação de danos por fato do serviço:
Art.27.Prescreve em 5 (cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
28
Como podemos observar, estabeleceu-se um prazo de 5 (cinco) anos
pelo fato do serviço para o ajuizamento da ação de reparação de danos, o que
destoa do estabelecido no Código Brasileiro de Aeronáutica e na Convenção
de Varsóvia, 2(dois) ano, admitindo que o Código do Consumidor é aplicável
ao transporte aéreo nacional e internacional. Vale lembrar que tal prazo
também destoa daquele que foi posteriormente no Código Civil para as ações
de reparação de civil: 3 (anos).
Destarte, é este o ponto que iremos enfrentar de agora em diante,
sobre a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor no campo do
transporte aéreo internacional e nacional, bem como o resultado desta
aplicação sobre a ação de responsabilidade civil e o aparente conflito com o
Código Civil.
5. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E A CONVENÇÃO DE
VARSDÓVIA
Até o final da década de 80, era pacífico o entendimento de que a
Convenção de Varsóvia era a lei especial a ser aplicada para o transporte
aéreo internacional, apenas podendo ser afastada (para alguns, como vimos
anteriormente) quando o dano causado ao passageiro resultasse de dolo ou
culpa grave do transportador.
Todavia, com o advento de Defesa do Consumidor, paulatinamente, os
tribunais passaram a afastá-la em detrimento à lei do consumidor, quando
danos eram causados aos passageiros (entendidos como consumidores) pelos
transportadores (agora tratados como fornecedores de serviços)
Ainda hoje a aplicação de Código do Consumidor não é uma matéria
pacífica na jurisprudência, muito menos entre os doutrinadores que
nitidamente se dividem em dois grupos: aqueles que defendem irrestritamente
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
29
a aplicação da lei do consumidor, por entende-la uma lei de natureza especial,
cogente e que influencia todo sistema de Direito Privado; e aqueles que se
apegam ao entendimento de que a convenção deve ser cumprida por ter um
status de norma internacional – o que gera uma posição hierárquica prevalente
em nosso ordenamento jurídico – pela sua especialidade e pelo que dispõe o
art. 178 da Constituição, que, para estes doutrinadores, obriga a observância
dos tratados internacionais quando da ordenação do transporte aéreo.
Desta forma, a grande questão a ser enfrentada neste momento -
certamente, o que mais se debate nos tribunais e na doutrina – é aquela que
trata da hierarquia das normas em questão. Deixaremos a análise da questão
da especialidade para o momento em que tratarmos do conflito entre o Código
de Defesa do Consumidor e o Código Brasileiro de Aeronáutica, quando esta
é mais evidente.
Em suma, “discute-se as normas oriundas de tratado internacional,
recebidas no ordenamento jurídico interno devem prevalecer sobre as normas
internas mesmo que posteriores, em virtude de sua origem internacional [sob o
argumento da universalidade destas normas] e da obrigação internacional do
Estado Brasileiro de cumprir estas normas até a denúncia do tratado”14 ou se
deve prevalecer a norma interna e posterior, atinente aos comandos
constitucionais e criadora da tutela específica das relações de consumo.
Formaram-se duas correntes em torno desta questão (que se
basearam em duas correntes já existentes dentro do Direito Internacional
Público). A primeira denominada monista, que defende a primazia de direito
internacional sobre as normas de direito interno, e a segunda denominada
dualista, que pugna pela paridade entre os tratados e o direito interno (infra-
constitucional).
Jurisprudencialmente, o que vem prevalecendo é o entendimento da
doutrina dualista, quando de setembro de 1975 a junho de 1977 estendeu-se
no plenário do Supremo Tribunal Federal o julgamento de Recurso
Extraordinário nº 80.004/77, firmando o entendimento de que
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
30
Ante a realidade do conflito entre tratado e lei posterior, esta, porque expressão última da vontade do legislador republicano, deve ter sua prevalência garantida pela justiça - sem embargo das consequências do descumprimento do tratado no plano internacional .15
Desta forma, tal corrente, que se entende dualista ( veremos que há
uma impropriedade conceitual nesta doutrina ), entende que na falta da
garantia de privilégio hierárquico dos tratados sobre as leis do Congresso, deve
ser aplicada a lei mais recente, posto que de “ mesmo nível” que o tratado.
Contudo, entendemos que o sistema brasileiro é ligado a doutrina
monista, numa espécie moderada. Se o Brasil adotasse realmente o dualismo,
o Congresso teria de ir além de uma mera aprovação do tratado ( trataremos
mais a frente do procedimento de incorporação dos tratados) por Decreto-
Legislativo. Precisaria enviar à sanção presidencial projeto de lei que emulasse
os tratados, pois, no dualismo, o tratado só é fonte de Direito Internacional, não
podendo se admitido como fonte de Direito Interno. Para esta corrente, os
Decretos-legislativos não possuem atividade legislativa strictu sensu, que
demonstra, assim como o art.102,III,b, da Constituição, que é o próprio tratado,
uma vez ratificado e publicado internamente, que produzirá os efeitos
normativos, estando na mesma posição que a lei federal.
Na jurisprudência, o verdadeiro leading case para o Direito Aeronáutico,
foi o Recurs Extraordinário nº 172.720-9/RJ, quando o STF posicionou-se pela
aplicação do Código de Defesa do Consumidor e permitiu o ressarcimento de
danos morais, não previstos pela Convenção de Varsóvia, mas previstos na
Constituição de 1988, em caso de extravio de bagagens:
Indenização – Dano Moral – Extravio de mala em viagem aérea – Convenção de Varsóvia – Observação mitigada – Constituição Federal – Supremacia. O fato de a Convenção de Varsóvia revelar, como regra, a indenização tarifada por danos matérias não exclui a relativa aos danos morais. Configurados esses pelo sentimento de desconforto, de constrangimento,
14 MARQUES,Claudia Lima.Contratos no Codigo de Defesa do consumidor.4ªed.SP:RT,2002.p.524 15 REZEK,Francisco.Direito dostratados.1ªed.Rio de janeiro: Forense, 1984.p. 471.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
31
aborrecimento e humilhação decorrentes do extravio de mala, cumpre observar a Carta Política da República, incisos V e X do art.5º, no que se sobrepõe a tratados e convenções, ratificados pelo Brasil
Com relação à jurisprudência do egrégio Superior Tribunal de Justiça,
esta inicialmente inclinou-se pela prevalência da Convenção de Varsóvia, por
entendê-la como lei especial frente às disposições gerais contidas no Código
de Defesa do Consumidor, como no bastante citado Recurso Especial nº
58.736/MG:
Lei – Tratado. O tratado não se revoga com a edição de lei que contrarie norma nele contida. Perderá, entretanto, eficácia, quanto ao ponto em que existia antinomia, prevalecendo a norma legal. Aplicação dos princípios pertinentes a sucessão temporal das normas, previstos na Lei de Introdução ao Código Civil. A lei superveniente, de caráter geral, não afeta as disposições especiais contida em trabalho. Subsistência das normas constantes da Convenção de Varsóvia, sobre transporte aéreo, ainda que disponham diversamente do contido no Código de Defesa do Consumidor .
Contudo, progressivamente, o entendimento do STJ foi sendo
modificado, no sentido de entender como prevalente a lei do consumidor. O
acórdão que marca essa alteração na jurisprudência é aquele extraído do
Recurso Especial nº 169.000/RJ, quando por unanimidade, a 3º turma do STJ
entendeu que, quando estiver caracterizada uma relação de consumo, as
disposições do Código de Defesa do Consumidor, devem prevalecer .
Responsabilidade Civil. Transportador. Limitação de Indenização. Código de Defesa do Consumidor. Convenção de Varsóvia. Editada lei específica em atenção a Constituição ( art.5º XXXII), destinada a tutelar os direitos de consumidor, e mostrando-se irrecusável o reconhecimento da existência
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
32
de relação de consumo, suas disposições devem prevalecer. Havendo antinomia, o previsto em tratado perde eficácia, prevalecendo a lei interna posterior que se revela com ele incompatível [...] .
Muito embora esse entendimento tenha sido sufragado por
unanimidade na 3ª turma, ele ainda foi objeto de algumas resistências dentro
do próprio STJ, como podemos notar no acórdão da 4ª turma no Recurso
Especial nº 135.535/PB, julgado uma semana depois daquele acórdão
proferido no Recurso Especial nº 169.000/RJ. No entanto, a jurisprudência
acabou sendo uniformizada no sentido do entendimento esposado na 3ª turma,
quando a 2ª seção do STJ não conheceu dos Embargos de Divergência em
recurso
especial nº 269353/SP, referente a um extravio de bagagem, visto que
entendeu não mais existir divergências entre as 3ª e 4ª turmas. A partir desse
momento, já foi possível dizer que as divergências entre as 3ª e 4ª turmas
foram superadas e que a responsabilidade civil do transportador aéreo pelo
extravio de bagagem ou de carga é regida pelo Código de Defesa do
Consumidor, se o evento ocorreu em sua vigência, ficando afastada a
indenização prevista na Convenção de Varsóvia16
Quando identificada a antinomia entre a Convenção eo CDC, o STJ, em
seus julgados, propõe ora a perda da eficácia da Convenção anterior, ora a
derrogação das normas do Tratado ou uma nova interpretação da norma
“conforme a Constituição”
Contudo, entendemos que o melhor entendimento é o da perda da
eficácia. Lei ordinária interna não pode revogar tratados ou convenções
internacionais, pois revogar significa, etimologicamente, cassar a voz, ou seja
retirar a eficácia, o que é permitido apenas aos Estados partes, quando em
uma deliberação decidem conjuntamente por revogar tácita ou expressamente
as disposições de um Tratado. O estado individualmente considerado, pode
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
33
somente denunciar, mas nunca revoga-lo, instrumento de competência do
chefe do Estado brasileiro.
No entanto, como os tribunais devem solucionar os conflitos de normas,
eles podem somente afastar a aplicação dos tratados, determinando a adoção
do direito interno. Assim, se revogada a lei interna que afastou a aplicação de
determinado tratado, este voltara a produzir seus efeitos (se recepcionado e
ainda não denunciado), visto que, se não pode ser revogado, o fenômeno da
repristinação não é vedado(art 2º §3º, LICC)17
Na doutrina Sergio Cavalieri Filho ainda utiliza outro argumento para
defender a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, o de que os
Tratados internacionais foram colocados no mesmo plano que as leis
ordinárias pela constituição de 1988, visto que ao tratar da competência do
Superior Tribunal de Justiça, dispõe no art 105, III,a, que cabe recurso especial
contra decisão recorrida que “ contrariar tratado ou lei federal , ou negar-lhes
vigência”. Afirma o autor que “se os tratados tivessem status de lei
constitucional o recurso cabível em tais hipóteses seria o extraordinário pra o
Supremo Tribunal Federal, e não o especial.18
Antecipando os argumentos contrários que iremos citar mais a frente,
não cabe aqui alegar o art 102, III,b, que prevê o cabimento de recurso
Extraordinário para decisões de única ou ultima instancia que julguem a
inconstitucionalidade de tratado ou lei Federal, como faz Paulo Henrique de
Souza Freitas. Em primeiro lugar, o que se discute nessa hipótese é a ofensa
a constituição e não ao próprio tratado, como na hipótese do Recurso Especial.
16 NORONHA,Fernando.A Responsabilidade civil do transportador aéreo por danos a pessoas , bagagens e cargas.Revista de direitodo Consumidor.nº44.São Paulo: RT,2002 17 REZEK,Francisco. Direito dos tratados.1 ed. Rio de Janeiro:Forense, 1984.p.474 18 Op.cit..p.317
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
34
Em segundo lugar, de qualquer maneira, a constituição é a fonte de validade
do tratado, pois alem de ser o parâmetro para a sua recepção, ela estabelece
todo o rito para a sua recepção, a partir de quando produzira efeitos na ordem
interna. Assim, não pode o tratado ir de encontroas disposições
constitucionais , a sua própria fonte de aplicação e validade.
E assim não poderia deixar de ser. Para que os tratados produzam
efeitos na ordem jurídica brasileira, após serem devidamente celebrados pelo
representante do estado brasileiro , devem ser aprovados pelo congresso
Nacional , sob a forma de Decretos Legislativos ( art 49, I, CRFB) e
posteriormente promulgados pelo chefe do poder executivo através de um
decreto Presidencial (art 84, VIII, CRFB), publicado no Diário Oficial da União,
Seção I.Somente a partir dessa publicação é que os tratados possuirão
executoriedade, cumprindo o que dispõe o Decreto nº 4520/2002:
Art 1 Incumbe ao Poder Executivo, por intermédio da
imprensa Nacional da casa Civilda Presidência da Republica, a publicação: I- das leis e doa demais atos resultantes do processo legislativo previsto na constituição: II- dos tratados , convenções e outros atos internacionais aprovados pelo Congresso nacioanl; ... Art 2 São obrigatoriamente publicados, na integra , do diário oficial da união : I- as leis e demais atos resultantes do processo
legislativo do congresso nacional II- Os tratados, as convenções e outros atos
internacionais aprovados pelo congresso Nacional e os respectivos decretos de promulgação;
...
Assim de acordo com o que vivos anteriormente, a revogação do
Decreto- Presidencial não implica na revogação do tratado, pois este decreto é
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
35
apenas um instrumento de publicação do tratado , condição de sua eficácia no
direito interno.
Contudo, parte da doutrina ainda entende pela aplicação da Convenção
de Varsóvia ao transporte aéreo internacional. Assim, para fins deste trabalho,
citaremos apenas alguns expoentes deste posicionamento, para que, após,
possamos debater cada argumento.
Ricardo Alvarenga tem como argumento principal o status de norma
internacional da Convenção de Varsóvia, predominante sobre a lei interna.
Alega também que o art.5º, § 2º, DA Constituição, dá prioridade aos tratados.
José Gabriel Assis de Almeida defende a aplicação da Convenção de
Varsóvia pela preponderância do direito internacional sobre o direito interno,
pela sua especialidade (em virtude do disposto no art.2º, § 2º, da LICC) e pela
impossibilidade de aplicação do CDC além do território brasileiro, pois este só
prevê responsabilidade decorrente de fato ocorrido em território brasileiro, e
nunca, no estrangeiro.
Em sua singular obra de responsabilidade civil, Rui Stocco defende
igualmente a aplicação da Convenção de Varsóvia pela maioria dos
argumentos citados acima, mas pela razão fundamental do art.178 da
Constituição dispor que “a lei disporá sobre a ordenação dos transportes
aéreo, aquático e terrestre,devendo, quando à ordenação do transporte
internacional, observar os acordos firmados pela União “ , o que significaria
uma preocupação do legislador em honrar os acordos e tratados
internacionais, uma vez que a norma nacional deve obrigatoriamente respeitar
os acordos e tratados internacionais.
Coma devida vênia aos ilustres autores, sabemos que os tratados,
muitas vezes, são marcados pelos interesses econômicos dos países centrais
que, na maioria das vezes, fazem prevalecer a sua vontade nos organismos
internacionais. Claúdia Lima Marques, invocando os ensinamentos de
Francisco Rezek, diz que
A Constituição Brasileira de 1988 não prestou maiores homenagens ao Direito Internacional Público a não ser àquelas que ele realmente merece, isto porque as regras
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
36
do cenário internacional não estão totalmente fixadas e dependem ainda muito do poder econômico e da importância política de cada país. Assim, não é pelo simples fato de ter sido uma norma inserida em um ato internacional que assegura a ela o fato de ser uma norma justa ou de aplicação conveniente no Brasil.19
Embora o Código de Defesa do Consumidor seja, na correta técnica
legislativa, uma lei ordinária, a defesa do consumidor foi alçada ao nível de
direito fundamental e de princípio da ordem econômica, como já vimos
anteriormente. Destarte, cabe fazer a ponderação do que se deve prevalecer,
a defesa do consumidor ou o princípio do pacta sunt servanda ? O pleno do
Supremo Tribunal Federal já assentou o entendimento de que a Constituição
da República deverá sempre prevalecer frente aos tratados internacionais.
O primado da Constituição, no sistema jurídico brasileiro, é oponível ao princípio pacta sunt servanda, inexistindo, por isso mesmo, no direito positivo nacional, o problema da concorrência entre tratados internacionais e a Lei Fundamental da República, cuja suprema autoridade normativa deverá sempre prevalecer sobre os atos de direito internacional público. 20
A ordem jurídica internacional não pode atentar contra a soberania do
Estado. Estes têm a faculdade de afastar a aplicação de determinada cláusula
disposta em tratado que contrarie a sua Constituição, ainda mais quando se
fala em cláusula pétrea (art.60, § 4º,IV, CRFB), onde nem o legislador pátrio
pode atuar contra.Esta é a chamada doutrina da supremacia constitucional
sobre as normas que ingressam no ordenamento jurídico por meio de atos e
tratados internacionais defendida por Canotilho e Moreira, quando tratam sobre
regra similar na Constituição Portuguesa:
19 Op. Cit,532 20 STF.Pleno.ADI 1480MC/DF Rel. Min.Celso de Mello.julgamento:04/09/1997 Publ. DJ: 18/05/2001
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
37
...as normas de direito internacional público vigoram na ordem interna com a mesma relevância das normas de direito interno, desde logo quanto à subordinação à Constituição – sendo, pois, inconstitucionais se infringirem as normas da Constituição\ ou de seus princípios.21
6. CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E O CODIGO BRASILEIRO DE
AERONAUTICA
O Código Brasileiro da aeronáutica procurou seguir a disciplina da
Convenção de Varsóvia , ou seja conferir uma certa “proteção” as empresas de
transporte aéreo com relação a sua responsabilidade civil, tendo em vista o
seu alegado alto custo de operação, os maiores riscos a que estavam
submetidos, etc. Dessa maneira alem das disposições semelhantes quanto a
responsabilidade do transportador, o CBA trouxe igualmente um prazo de
2(dois) anos para a ação responsabilidade civil, mas agora submetido
expressamente ao instituto da prescrição(art 317)
Por trazer disposição similares a Convenção de Varsóvia , o código de
defesa do consumidor também colidiu com o código brasileiro de aeronáutica,
por trazer consigo disposição que procuram restabelecer o equilíbrio das
relações contratuais , protegendo o consumidor , e que eliminam qualquer
“privilegio” que impossibilite, atenue ou exonere a responsabilidade do
fornecedor de serviços( a exceção de uma relação constituída com um
consumidor –pessoa jurídica, nos termos do art 51 do CDC)
De acordo com o que dissemos no capítulo anterior, a maior
controvérsia dentro do debate que agora enfrentamos é quanto ao critério de
especialidade das normas ora conflitantes, visto que, ambos , o CDC e o CBA,
são normas de mesma hierarquia ( leis ordinárias federais), onde seria, em
21 MORAES,Alexandre de.Direito Constitucional 11º ed. São Paulo :Atlas,2002 p.570
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
38
tese , aplicável o disposto na regra lex posterior generalis non derrogat priori
speciali ( art.2º, § 2º,LICC).
Antes, devemos esclarecer que este não é exatamente o mesmo caso
do conflito com a Convenção de Varsóvia, pois neste ultimo são discutidas a
hierarquia , principalmente, e a especialidade das normas.Dessa forma, o
entendimento que daqui extrairmos. Sobre a regra da especialidade, também
pode ser aplicado ao conflito anterior.Mas, como dissemos anteriormente ,
preferimos trata-lo melhor nesse ponto, ao qual se aplica com mais
propriedade.
Na doutrina e na jurisprudência não resta duvidas quanto a
especialidade do Código Brasileiro de Aeronáutica , que trata exclusivamente
do transporte aéreo nacional e , supletivamente , do internacional. Assim a
primeira vista, no conflito com o CDC seria aplicável o principio do art 2§ 2 da
lei de introdução ao código civil : “ A lei nova , que estabeleça disposições
gerais ou especiais a par das existentes , não revoga nem modifica a lei
anterior”. Portanto, o CBA prevaleceria por se tratar de norma especial quanto
ao transporte aéreo. No entanto, como pondera Caio Mário da Silva Pereira,
não se pode dizer “ que uma lei geral nunca revogue uma lei especial, ou vice-
versa, porque nela poderá haver dispositivo incompatível com a regra
especial, da mesma forma que a lei especial pode mostrar-se incompatível
com o dispositivo inserto em lei geral “ . Ao intérprete, acrescenta, “ cumpre
verificar, entretanto, se uma nova lei geral tem o sentido de abolir disposições
preexistentes”.21
Contudo, há aqueles que defendem a especialidade da lei do
consumidor, como Antônio Herman Benjamin, entendendo que além de ser
daquelas leis “horizontais” que invadem todos os demais campos do Direito ela
também se caracteriza pela sua especialidade:
São normas que têm função, não regrar uma determinada matéria, mas proteger sujeitos particulares, mesmo que estejam eles igualmente abrigados sob outros regimes jurídicos.Daí o caráter “especializado” do
21 PEREIRA,Caio Mario da Silva. Apud GONÇALVES,Carlos Roberto.p.169
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
39
Direito do Consumidor. Enquanto o Direito Aeronáutico é disciplina especial em decorrência da modalidade da prestação, o Direito do Consumidor é disciplina especial em razão do sujeito tutelado.21
Portanto, neste caso, estaríamos diante de um conflito de duas normas
especiais, mesmo que em planos diferentes. Fernando Noronha entende que
não podemos falar, neste caso, de especialidade de uma norma em relação à
outra, visto que não há uma inserção total do âmbito de atuação de uma em
outra, como haveria no Direito Civil.
Comete-se um equívoco quando se afirma que o Código Brasileiro de Aeronáutica e a Convenção de Varsóvia são leis especiais perante o Código de Defesa do Consumidor, Só se pode dizer que dois ramos de direito estão, um em relação ao outro, numa situação de direito comum para direito especial quanto o âmbito do segundo se insere totalmente dentro do âmbito maior do primeiro, só tendo como nota distinta o acréscimo de alguns elementos específicos daquele. Só se pode falar num direito especial quando, se ela existisse, todos os casos por ele abrangidos caíssem no âmbito geral, para serem por ele regulados. Ora, não é isso que acontece com o direito das relações de consumo e com o direito da responsabilidade civil do transportador aéreo. A posição em que estes se encontram, um em relação ao outro, é a de dois direitos especiais, e por isso mais complexa 22.
Desta maneira, não cabe aqui utilizar o princípio lex posterior
generalis non derrogat priori speciali, pois, como visto, este princípio não
tem aplicação no caso do conflito de duas leis especiais. Tese defendida
com grandes méritos, por Sérgio Cavalieri Filho:
[...] é impertinente a regra lex posterior generalis non derrogat priori speciali, porque, tratando-se de relações de consumo, o Código do Consumidor é a lei própria , específica e exclusiva; a lei que estabeleceu a Política Nacional de Relações de Consumo, consolidando em um só diploma legal todos os princípios pertinentes à matéria, em razão de competência que lhe foi atribuída pela própria Constituição Federal. E, na matéria de sua competência específica, nenhuma outra lei pode a ele
21 Op.cit,p.17-18 22 Op.cit.p. 179-180
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
40
(Código) se sobrepor ou subsistir.Pode apenas coexistir naquilo que com ele não for incompatível.23
Resta, portanto, aplicar o brocardo lex posteriori derrogat priori, adotado
pelo legislador pátrio no art.2º, § 1º , da Lei de Introdução ao Código Civil que
diz que “ A lei posterior revoga a anterior quando regule inteiramente a matéria
de que tratava a anterior”.
É necessário frisar, que mesmo que seja claro, que o comando desta
regra não é apenas o de que lei mais nova derroga lei mais antiga, como
muitos crêem. Para que exista a revogação (ab- rogação ou derrogação) é
necessário que haja uma expressa declaração da lei revogadora, uma
incompatibilidade flagrante entre as normas ou quando a revogadora regule
inteiramente a matéria tratada na anterior.
Sabemos que o Código de Defesa do Consumidor limitou-se em seu
art.119 ao genérico”revogam-se as disposições em contrário “ e que tão pouco
regula a matéria relativa aos transportes aéreos. Portanto a aplicação daquela
regra se dará pela incompatibilidade entre as leis do consumidor e do
transportador aéreo, mesmo que aquela, lei nova, seja incompatível apenas
parcialmente com esta, como ressalta Caio Mário:
Incompatibilidade poderá surgir também no caso de disciplinar a lei nova, não toda, mas parte apenas da matéria, antes regulada por outra, apresentando o aspecto de uma contradição parcial. A lei nova, entre os seus dispositivos, contém um ou mais, estatuindo diferentemente daquilo que era objetivo de lei anterior. As disposições não podem coexistir, porque se contradizem, e, então, a incompatibilidade nascida dos preceitos que disciplinam diferentemente um mesmo assunto, impõe a revogação dos mais antigos.24
Na pesquisa da incompatibilidade das normas, o intérprete deve buscar
a intenção e os objetivos do legislador e analisar se efetivamente a lei nova
não pode coexistir com a velha , pois, caso não haja incompatibilidade, ambas
permanecerão vigentes, regulando o que lhes pertence.
23 Op.cit,p. 332-326 24 PEREIRA,Caio Mario da Silva.Instituições de direito civil Vol I 19ª ed. atual.RJ Forense ,2002.p.84
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
41
Desta maneira, o Código de Defesa do Consumidor ao obedecer ao
comando constitucional, tutelando os interesses dos consumidores, avocou a
regulação de todos as relações de consumo, sejam elas contratuais e
extracontratuais .
No entanto, não fez ressalvas a privilégios existentes em leis anteriores,
que se mostram não condizentes com a realidade social, assim,
revogando(derrogando) estas disposições. Portanto, é aplicável o prazo
de 05 (anos) do Código de Defesa do Consumidor.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
42
7. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E O CÓDIGO CIVIL
Sem a pretensão de querer esgotar o tema, devemos, por último, posto
que mais recente, analisar o que dispõe o Código Civil de 2002. O art.206, § 3º, V,
reduziu para 3(três) anos o prazo da “ pretensão e reparação civil” , antes
regulada genericamente pelo art. 177 do Código Civil de 1916 que estipulava um
prazo de 20 (vinte) anos para as ações pessoais.
Embora seja louvável a política de redução geral dos prazos de
prescrição, o legislador acabou por criar um descompasso com a lei consumerista,
que dispõe um prazo de 5(cinco) anos para reparação de danos causados por fato
do produto ou serviço (art.27).
Não obstante este evidente descompasso, ambos os prazos continuarão
vigendo, onde forem aplicáveis. Neste caso, é de simples constatação que há a
relação de especialidade entre o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil
( que não há entre o CDC e o CBA ). Portanto, continuará subsistindo o prazo
quinquenário da lei do consumidor, mas somente quando se tratar de ações de
responsabilidade civil derivadas de danos causados por fato do produto ou do
serrviço,” até que, de lege ferenda, se adapte a lei especial à política prescricional
em boa hora adotada pelo Código Civil de 2002”25
Analisando os pontos de convergência entre o Código Civil de 2002 e o
Código de Defesa do Consumidor, Ruy Rosado de Aguiar Júnior entende que
devem ser aplicadas as regras do Código Civil quando estas regulamentarem
especificamente uma situação de consumo, porque se trata de lei mais recente .
Cita o exemplo do contrato de transporte de pessoas, onde embora exista uma
regulamentação específica do Código Civil desta espécie de contrato
25 Humberto Theodoro Junior.Comentarios do noco codigo civil. Vol III 2ª ed. Rio de janeiro:forense,2004.p.299
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
43
(diferentemente do Código Civil de 1926, que nada dispôs), não deixam de ser
aplicados os princípios de uma relação contratual consumerista.
Porém, quando trata dos prazos de prescrição, o eminente Ministro
defende a aplicação do disposto na lei do consumidor, posição que entendemos
ser a mais correta:
Pergunto se essa disposição nova do Código Civil, que reduz o tempo de prescrição da pretensão indenizatória para três anos, também se aplica à relação de consumo. Acredito que, em razão de sua especificidade, que se denota inclusive pela regra própria sobre o início de sua contagem, manté –se para o cálculo da prescrição da pretensão de reparação do dano causado ao consumidor a regra do Código de Defesa do Consumidor, permanecendo o prazo de cinco anos.
Contudo, tal posição há de ser afastada quando o dano for resultado de
um simples descumprimento de prestação contratual e não causada pelo fato
do produto ou do serviço, caracterizando assim um foro de aplicação do
disposto na lei comum, como dispõe Humberto Theodor Júnior:
Se se trata de exigir cumprimento de prestação contratual, para a qual o Código Civil tenha estabelecido prazo específico, a prescrição será a nele prevista, e não a do Código do Consumido. É o caso , por exemplo, do contrato de seguro , cujo lapso prescricional, tanto para a pretensão do segurado, como dôo segurador, é de um ano ( art. 206, §1º,II ). Dessa maneira [ citando o Des. Sylvio Capanema], “ prazo do Consumidor, só se aplicará quando o segurado pretender indenização de danos causados por fato do serviço, e não o simples adimplemento do contrato.
Em sentido contrário, Rui Stocco defende a aplicação do prazo de
prescrição do Código Civil a todos os casos de reparação de danos, não dando
margem à atuação do princípio da especialidade. Para o autor (que descarta
a aplicação do Código de Defesa do Consumidor por entende-lo lei geral ), o
Código Civil trouxe “ regra geral que deve prevalecer para toda e qualquer
hipótese de ação visando a reparação civil do dano , visto que disciplinou
especificamente sobre esta ação ( art. 206,§3º,V).
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
44
Entende ainda inaplicável o disposto em legislação especial sobre
transporte aéreo, pelo motivo do Código Civil ter disposto em seu art.732 que “
aos contratos de transporte, em geral, são aplicáveis, quando couber, desde
que não contrariem as disposições deste Código, os preceitos constantes da
legislação especial e dos tratados e convenções internacionais” (grifo nosso).
Assim, para o autor , o prazo de 2 (dois) anos do Código Brasileiro de
Aeronáutica e da Convenção de Varsóvia, mesmo que em leis especiais sobre
a matéria, contraria o que dispõe o Código Civil, que unificou, e
posteriormente, o prazo da ação de reparação civil e que elegeu sua
supremacia sobre toda a legalização que apanhou no momento de sua
entrada em vigor “.
Contudo, tais argumentos não prosperam. O Código Civil, ao disciplinar
supervenientemente e especificamente sobre uma relação tipicamente de
consumo, como é o contrato de transporte, determinou que suas regras
fossem aplicadas em detrimento da regras do Código do Consumidor.
Contuso, ao contrário do que prega o autor, o art.732 estabelece a supremacia
do Código Civil somente em relação aos contratos de transporte.
A Ação de reparação civil , bem como a sua prescrição, não devem
estar regulados no lugar onde os contratos. A ação e, conseqüentemente a
prescrição, pertencem ao direito de ação dos indivíduos e, verdadeiramente,
derivam da pretensão de reparação de danos de uma vítima de acidente que,
por isso, se situa em lugar diferente do código, que não estabelece, como faz
no capítulo que trata dos contratos de transporte, a supremacia das suas
disposições. Desta forma, entendemos que o prazo do Código de Defesa do
Consumidor, lei especial, continua sendo aplicável.
8. CONCLUSÃO
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
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Ao longo de todo século XX, a avaliação comercial desempenhou um
papel de fundamental importância dentro do fenômeno da globalização.Foi ela
em parte responsável pelo”salto” na integração cultural e econômica dos
paises, ao permitir que mais e mais pessoas transitassem ao redor do mundo
com maior facilidade, levando consigo todo o valor que agregam as viagens,
sobretudo as de negócios e de turismo. Isso nos permite fazer a comparação
de que a aviação comercial esta para o capitalismo, assim como as grandes
expedições marítimas estiveram para o Mercantilismo.
Tendo em vista essa singularidade de transpor facilmente as fronteiras
Territoriais, já em 1966, em sua famosa obra Tratado de Direito Privado,
Pontes de Miranda alertava para a maior capacidade de produzir danos do
transporte aéreo :” a conquista do espaço, por mais seguro que seja,
corresponde possibilidade mais extensa de danos”26 . De lá para cá, com a
evolução tecnológica da aviação civil comercial, voar tornou-se ainda mais
seguro, o que podemos confirmar com a expressiva diminuição do numero de
acidentes aeronáuticos.
Contudo, não obstante ser atualmente um dos meios mais seguros de
transporte, a aviação civil ainda esta sujeita a imprevistos da natureza, a falhas
mecânicas e aos erros humanos, o que na maioria dos casos, causa danos
aos passageiros . Estes devem sempre ser indenizados integralmente, ou seja
, de acordo coma a extensão dos danos, sob pena de estar-se legitimando um
tratamento desigual e que não tem mais razão de ser , conforme entendimento
de maior parte da doutrina e da jurisprudência.
Desta forma, e por tudo o que foi exposto e debatido, a ação de
responsabilidade civil em face do transportador aéreo deve sempre seguir o
que dispõe o Código de defesa do Consumidor , verdadeira lei de função social
dentro da ordem jurídica brasileira, obedecendo , assim , em ultima instancia, a
26 MIRANDA,Pontes de.Tratado de Direito Privado.Parte especial Tomo LIII. RJ :Borsoi,1966.p.415
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
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própria Constituição, lei máxima do sistema, ao dar efetividade a proteção ao
consumidor.
Portanto, todos os operadores jurídicos, sobretudo os tribunais, devem
orientar-se pela proteção ao consumidor , deferindo-lhe um tratamento mais
favorável e, assim, mais isonômico. Devem, porem, sempre observar os limites
desta proteção especial, para que não seja instalada a chamada “ditadura do
consumidor”, que acabara, por um lado, atentando contra a iniciativa privada e,
por outro, desconfigurando a real intenção desta proteção.
ANEXOS
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes- a Vez do Mestre
Título da Monografia: Ação de responsabilidade civil em face do
transportador aereo
Autor: Bianca Szlana F Finkielsztejn
Data da entrega: 01/02/2007
Avaliado por: Conceito: