universidade cÂndido mendes pÓs-graduaÇÃo … silva de almeida.pdf · a capital para o interior...

82
UNIVERSI DADE CÂ NDI DO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” DO DISTRITO FEDERAL A O ESTADO DA GUA NABA RA: A TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL FEDERAL Autor: Enio Si lva de Almeida Orientador: Prof. Jorge Tadeu V. Lourenço Data: 25/09/2006

Upload: hoangnhan

Post on 10-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

DO DISTRITO FEDERAL AO ESTADO DA GUANABARA: A

TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL FEDERAL

Autor: Enio Silva de Almeida

Orientador: Prof. Jorge Tadeu V. Lourenço

Data: 25/09/2006

Page 2: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

DO DISTRITO FEDERAL AO ESTADO DA GUANABARA: A

TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL FEDERAL

OBJETIVOS:

Trabalho de Conclusão de curso apresentado por

Enio Silva de Almeida ao Departamento de pós-

graduação como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Especialista em Gestão

Estratégica.

CURSO: GESTÃO ESTRATÉGICA

Autor: Enio Silva de Almeida

Page 3: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

3

DEDICATÓRIA

Dedico esta obra e seus efeitos a toda a minha

família que muito me ajudou, motivando e

acreditando em minhas vitórias.

Dedico a você, meu pai, Sr. Enio Almeida; a você,

minha mãe, Sra. Ivonete Almeida e a vocês meus

irmãos, Henrique, Miriam e Denise Almeida. Quero

em especial dedicar a você meu filho, que muito

amo, Felippe Barros de Almeida, razão maior da

minha vida.

Page 4: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que foram fundamentais na realização

desta obra. Cada sorriso, cada sugestão, cada crítica, cada

frase, cuja, principal “vai dar tudo certo” foi a alavanca

principal para a certeza do sucesso que juntos iremos

compartilhar com mais essa grande vitória.

Page 5: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

5

“Capital na Colônia, Capital no Império e na República sua situação ímpar lhe impõe

um estatuto diferente. O Rio é a cidade de todo o Brasil, a cidade que se identifica com

o Brasil, a cidade-cenária de acontecimentos políticos culminantes que levaram aos

confins do país, vibrações de toda a ordem”.

(Deputado Munhoz da Rocha, em discurso na Câmara dos Deputados, em

12/02/1960).

Page 6: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

6

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO páginas

1- A Idéia da interiorização da capital – Síntese histórica 8

2- A Política no Rio de Janeiro Distrito Federal 18

2.1- O Rio de Janeiro como Distrito Federal

2.2- O mapa político do Rio de Janeiro 34

2.3- As tentativas de impedir a transferência da capital 39

2.4- A relação entre o Governo Federal e o Governo Local 48

2.4.1- Autonomista x Intervencionistas

2.4.2- As relações entre a Câmara dos Vereadores do Distrito 51

Federal, o Senado Federal e o Prefeito.

3- A imprensa e a transferência da capital 54

4- Conclusão 61

5- Bibliografia 66

6- Anexos

7- Anexo 1

8- Anexo 2

9- Anexo 3

10- Anexo 4

11- Anexo 5

12- Anexo 6

13- Anexo 7

14- Anexo 8

15- Anexo 9

Page 7: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

7

INTRODUÇÃO:

Esse trabalho analisa a transferência da Capital Federal da cidade do Rio de

Janeiro para Brasília. O Rio de Janeiro foi sede do governo Colonial, Imperial e

Republicano e este fato marcou profundamente a história da cidade. Falar

sobre a transferência da Capital é um desafio pois são muitas as informações e

aspectos que se podem abordar da política à economia. Catalogar estas

informações e retratar uma parte do que ocorreu neste momento crítico para a

cidade é objetivo principal desse trabalho. O trabalho busca avaliar as

condições em que o processo de transferência foi feito, principalmente no que

se refere aos aspectos políticos envolvidos na ação da mudança da Capital. A

Guanabara, um dos produtos finais da interiorização da Capital Federal, era a

realização de um antigo sonho carioca de conquistar sua autonomia política e

afastar a influência do poder federal, sendo certo afirmar que a acidade,

mesmo tendo perdido o status de Capital Federal, ganhou o que mais

almejava: sua liberdade política.

A estruturação do trabalho se apresenta da seguinte forma: o capítulo 1,

consiste no resumo histórico das idéias de interiorização da Capital Federal,

desde a Inconfidência Mineira até o ano de 1955, quando Juscelino Kubistchek

é eleito Presidente da República e concretiza esta idéia. As fontes utilizadas

para construir este retrospecto das idéias foram os Anais do Parlamento

Nacional do Império da República, discursos e mensagens dos Presidentes da

República, Decretos Presidenciais e as Constituições de 1891, 1934, 1937 e

1946.

O capítulo 2 é dedicado à política, a partir de uma síntese da história política do

Distrito Federal até a transferência da Capital em 1960. Foram descritas as

mudanças institucionais ocorridas desde o Município Neutro até ano de 1955,

ano de eleição presidencial.

Page 8: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

8

É traçado um mapa político da Capital Federal com o objetivo de analisar no

período compreendido entre 1956 a 1960 , quais forças dominavam o cenário

político à época da discussão da transferência, a fim de se analisar a relação

entre o Governo Federal e o Governo Local ao longo da história republicana do

Distrito Federal. A descrição do processo de aprovação das leis relativas à

transferência e a ação da oposição e suas tentativas de impedir a respectiva

mudança foram os objetivos desta seção do capítulo 2. Por último, ainda neste

capítulo é discutida a luta travada entre os defensores da autonomia, intitulados

“Autonomista”, e os membros do Executivo e do Senado Federal, denominados

de “Intervencionista”, com ênfase nas relações entre a Câmara Municipal e o

Senado Federal, que eram instituições vitais na administração do Distrito

Federal. Para a elaboração deste capítulo foram utilizadas as seguintes fontes:

Anais das Assembléias Gerais Constituintes do Império e da República; do

Parlamento Nacional do Império e da República; as Constituições de 1891,

1934, 1937 e 1946, bem como Leis e Decretos Presidenciais referentes ao

Distrito Federal. Além destas foram utilizados depoimentos de políticos e

diversos recortes de jornais do Rio de Janeiro da época, como o Correio da

Manhã, o Jornal do Brasil e a Tribuna da Imprensa.

Finalmente, no capítulo 3 um artifício foi usado para avaliar as reações da

sociedade carioca sobre a mudança da Capital Federal. Tais reações foram

analisadas através da leitura da imprensa carioca, buscando elementos que

retratassem o que a sociedade carioca pensava acerca da mudança da Capital

e de que maneira os jornais abordaram o assunto. Os periódicos consultados

para a elaboração deste capítulo foram: o Jornal do Brasil, o Correio da Manhã,

a Tribuna da Imprensa, O Globo, a Última Hora, o Jornal do Comércio, O Dia, A

Notícia, O Diário Carioca e O Jornal, todos com edições dos anos de 1958,

1959 e 1960.

Page 9: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

9

CAPÍTULO 1

A idéia da interiorização da capital – Síntese Histórica

A idéia da interiorização da capital federal remonta ao ano de 1789 e

está presente nos arquivos da Inconfidência Mineira. A conspiração de Vila

Rica tinha como principal objetivo constituir uma República em Minas Gerais e

uma das providências, após a proclamação, era transferir a capital para o

interior do país, mas especificamente, para a cidade de São João Del Rei. Para

os inconfidentes a área seria favorável para a expansão da lavoura e da

agropecuária, que eram atividades econômicas mais aconselháveis, após a

crise e queda da mineração. Além disso, com a mudança da capital, “Vila Rica

se transformaria numa cidade universitária, uma nova Coimbra, centro de

estudos superiores da República.“(Barros, Edgard L. “Os sonhadores de Vila

Rica”. RJ Ed.Histórias em Documentos, 1989. 6ª ed., cap. 2, pág. 28.) A idéia

portanto, era transferir o eixo cultural e político do país para Minas Gerais.

Mais tarde, em 1822, José Bonifácio fez a seguinte referência aos deputados

da corte de Lisboa, acerca da transferência da capital da colônia:

“ Parece-nos também muito útil que se levante uma cidade central no

interior do Brasil para assento da Corte ou da Regência, que poderá ser

na latitude, pouco mais ou menos, de 15 graus, em sítio sadio, ameno,

fértil e regado por algum rio navegável.” (Carta de José Bonifácio aos

deputados de Lisboa. “Instruções ao governo provisório de SP aos

deputados às Cortes de Lisboa”. 10/09/1821)

Page 10: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

10

No dia 15 de junho de 1822, a comissão de deputados brasileiros,

encarregada dos artigos adicionais à Constituição portuguesa no que se referia

ao Brasil, recomendava:

“O Congresso Brasileiro ajuntar-se-á na capital, onde ora reside o

Regente do Reino do Brasil, enquanto não se funda no centro daquele

uma nova capital.” (Anais da Assembléia Geral Constituinte e

Legislativa do Império do Brasil, 13/08/1823).

Em 1823, novamente José Bonifácio reafirma a necessidade da

interiorização, em sessão da Assembléia Constituinte e Legislativa do Império

do Brasil. Através de uma “memória”, sugeriu o nom e Brasília para a nova

cidade (Anais da Assembléia Geral Constituinte de Portugal. Comissão de

deputados brasileiros encarregada da redação dos artigos adicionais à

Constituição Portuguesa, referente ao Brasil, 15 de junho de 1822).

.Porém, a Assembléia Constituinte foi dissolvida e na Constituição de 1824 não

era mais citada a transferência da capital do Reino.

Conforme se pode notar nos trechos acima, a preocupação em transferir

a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão

da segurança do Reino parecia ser a idéia inicial. Tal fato pode ser confirmado

pois assim que a República foi proclamada e a primeira constituição

republicana foi promulgada, a transferência da capital, foi prevista nas

disposições transitórias, Art. 3º:

“Fica pertencendo à União, no Planalto Central da República, uma zona

de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada,

para nela estabelecer-se a futura capital federal” e mais, no parágrafo

único: “Efetuada a mudança da capital, o atual Distrito Federal passará

a constituir um Estado”. (Constituição de 1891, art. 3º,parágrafo único,

disposições transitórias).

Page 11: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

11

Segundo o livro de Cláudio Pacheco, cujo conteúdo discute acerca das

Constituições Brasileiras (Pacheco, Cláudio, “Tratado das Constituições

Brasileiras”, RJ, 1965, Volume XIV, pág. 7 e 32) coube ao deputado Tomás

Delfino a iniciativa de definir o local que

“Não devia ser colocada nem ao norte, nem ao sul”., mas de modo a

receber a influência de ambas as grandes divisões territoriais, num

ponto central, traduzindo assim a nossa harmonia, a nossa

confraternização e a nossa força”. Disse ainda que lhe parecia urgente

a mudança da capital para fazer com que o Congresso deixasse de

estar “sob a influência dominadora de uma cidade como a nossa,

agitada, tumultuária, como grande centro que é”.

Portanto, um dos motivos para a proposta da transferência da capital,

presente na Constituição de 1891, foi a preocupação com a segurança, pois tal

proposta fazia referência à sede do governo republicano estar situada em uma

cidade agitada como o Rio de Janeiro, o que não era aconselhável, bastando

citar como exemplo que a cidade foi palco para a Proclamação desta

República.

Outro defensor da transferência da capital par a o centro do país na

Carta Magna de 1891, foi o Visconde de Porto Seguro. Ele argumentava que a

interiorização era importante por uma questão estratégica e de segurança:

“Quando se der trabalho de percorrer conosco o catálogo das nações

da Europa e da América, e fizer o reparo de como as maiores dellas, e

ainda as consideradas como primeiros potenciais marítimos, não têm

seus capitães junto do mar, como a si política ou o instincto da própria

defesa lhes dissesse que estavam mo estão, assim, mais seguras...”

pois “...As grandes cidades, de muita população e movimento, não

convêm para residência do governo e lugar de reunião do congresso,

n’ellas ficam muito expostos à influência de capitaneadas por agitadores

perigosos” e “Quanto ao estado defensável do Rio, e a possibilidade de

resistência, mais haveria que dizer, mas poupemo-nos a mencionar

exemplos de triste recordação para todo o bom cidadão, embora

Page 12: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

12

pudessem fazer argumento em nosso favor” (Pacheco, C. “Tratado das

Constituições Brasileiras”, RJ, 1965, Volume XIV, pág. 30 e 31).

Além das questões de segurança da sede do governo, a pretendida

mudança também foi defendida sob os argumentos de que

“acodem ainda outras razões, além da estratégia e de segurança com

relação a inimigos externos. Collocada em lugar proximamente

eqüidistante dos extremos, como pretende a constituição, facilitam-se

as comunicações e relações com os estados, em múltipla vantagem

para elles e para a União” (Pacheco, C. Op. Cit.p.30 e 3).

Nos trechos acima assinalados, podem-se tirar duas conclusões principais

sobre a inserção da transferência da capital no artigo 3º das disposições

transitórias da Constituição de 1891:

Questão de segurança da sede do governo:

A) Internamente por ser o Rio de Janeiro uma Capital muito desenvolvida,

de indivíduos politizados e dada a agitação político-sociais, também era

uma cidade muito perigosa para ser a sede do governo republicano

recentemente instituído;

B) Externamente interiorizando a capital, estaria protegendo o governo de

um ataque externo, a exemplo de outras nações da Europa.

1 – Com a sede do governo mais distante do litoral, facilitavam-se as relações

com outros estados da nação.

A primeira Constituição republicana não fixava prazos. Era vaga,

imprecisa quanto à formação da Comissão e a divulgação dos seus resultados.

Deixava de definir o local e tampouco indicava em quanto tempo tal local

deveria ser definido pela Comissão. Por fim não definia com precisão como se

resolveria a questão do Rio de Janeiro após a transferência concluída.

Page 13: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

13

Logo após a promulgação da Constituição, foi nomeada uma Comissão

para cumprir o dispositivo constitucional. No dia 12 de maio de 1892, o chefe

do governo, Marechal Floriano Peixoto, em uma mensagem ao Congresso

Nacional, por ocasião da abertura da segunda sessão ordinária, afirmou:

“Reputando de necessidade inadiável a mudança da capital da União, o

governo trata de fazer seguir para o Planalto Central a comissão que

deve proceder à demarcação da área e fazer sobre a zona os

indispensáveis estudos.”

Complementando a resolução presidencial, o Ministro da Agricultura

organizou a Comissão Exploradora do Planalto Central e nomeou o astrônomo

Luís Cruls para dirigi-la. No dia 9 de julho de 1892, a “missão Cruls” seguiu

para o Planalto Central.

Dentre as tarefas da missão, pode-se destacar a demarcação dos

14.400 quilômetros quadrados; o levantamento dos itinerários percorridos

numa extensão de cerca de 4000 quilômetros; o levantamento das lagoas, o

estudo da geologia, a mineralogia e a botânica da região. No final da

expedição, a comissão apresentou dois relatórios ao governo, um em 1893 e

outro em 1894, contendo ambas as informações sobre a topologia, as fontes de

energia, a fertilidade do solo, a abundância de águas, a geologia, a fauna e a

flora, o clima da região, etc., sendo que o último relatório recomendava que a

instalação da Capital fosse no Planalto Central. A área demarcada pela

expedição ficou conhecida como “quadrilátero de Cruls”.

Durante o governo de Prudente de Morais, a missão foi dissolvida por

falta de verba e o assunto foi abandonado até 1919. Neste ano, o senador

Chermont apresentou um projeto para que o governo lançasse a pedra

fundamental do palácio do Congresso, nas comemorações do centenário da

independência, em 1922. Outro senador da República, Rego Monteiro ratificou

a posição do colega, afirmando que:

Page 14: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

14

“A mudança da capital da República está decretada por um dispositivo

insofismável do nosso pacto fundamental; nenhuma discussão é

permitida em torno da necessidade dessa medida. A constituição a

consagrou. É quanto basta para que não seja suscetível a impugnação”.

Em 18 de janeiro de 1922, o presidente Epitácio Pessoa assinou um

decreto administrativo, cujo teor designava que o

“poder executivo tomará as necessárias providências para que, no dia 7

de setembro de 1922, seja colocada no ponto mais apropriado da zona

a que se refere o artigo anterior, a pedra fundamental da futura cidade,

que será capital da União. “ (Decreto nº 4.494, de 18 de janeiro de

1922).

A placa colocada no Quadrilátero de Cruls”, tinha a seguinte inscrição:

Após este evento público e solene, nada mais significativo, no que diz

respeito a transferência, aconteceu. Os governos após 1922 não executaram o

dispositivo constitucional. A Constituição de 1891 foi substituída pela de 1934,

Nesta nova Constituição vinha novamente, no seu artigo 4º, das disposições

transitórias, a questão da mudança da Capital sob os seguintes termos:

“Será transferida a capital da União para um ponto central do Brasil. O

Presidente da República, logo que esta constituição entrar em vigor nomeará

uma comissão que recebendo instruções do governo, procederá aos estudos

das várias localidades adequadas à instalação da capital.” (Constituição de

1934, Art. 4º, das Disposições Transitórias).

A Constituição de 1934 também era vaga. Novamente não estabelecia

prazo para a criação da Comissão e nem para a emissão do relatório. Sequer,

indicava o Planalto Central como a região escolhida para a instalação da futura

sede do governo, denotando, portanto, um claro efeito de retrocesso, já que o

Presidente da República deveria nomear outra comissão, frise-se, quase que

Page 15: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

15

tornando sem efeito os trabalhos realizados pela Comissão anterior, pois além

de tudo ainda ordenou proceder o “estudo de várias localidades”.

Em 1940, Getúlio Vargas lançou um programa de “marcha para o oeste”, numa

atitude demagógica para implementar a interiorização. Mas o programa de

governo não apresentou ações concretas, manifestando-se apenas no campo

do discurso: “o vosso Planalto é o miradouro do Brasil. Torna-se imperioso

localizar no centro geográfico do país poderosas forças capazes de irradiar a

garantir a nossa expansão futura.” (Getúlio Vargas, Discurso de 7 de Agosto de

1940, em Goiânia (GO)).

Na Constituição de 1946, a exemplo das Constituições anteriores –

exceto a de 1937, o artigo da transferência ressurgia nas disposições

transitórias:

“A capital da União será transferida para o Planalto Central do país.

Parágrafo primeiro – Promulgado este ato, o Presidente da República,

dentro de sessenta dias, nomeará uma comissão de técnicos de

reconhecido valor para proceder aos estudos da localidade da nova

capital. Parágrafo segundo – O estudo previsto no parágrafo

antecedente será encaminhado ao congresso nacional, que deliberará a

respeito, em lei especial, e estabelecerá o prazo para o início da

delimitação da área a ser incorporada ao domínio da União. Parágrafo

terceiro – Findo os trabalhos demarcatórios, o Congresso Nacional

resolverá sobre a data da mudança da capital. Parágrafo quarto –

Efetuada a transferência, o atual Distrito Federal passará a constituir o

Estado da Guanabara.” (Constituição de 1946, Art. 4º, das Disposições

Transitórias).

A Constituição de 1946 era muito mais precisa que as demais. Indicava

prazo para que se formasse uma Comissão. Apontava côo o Congresso seria

responsável pela deliberação dos estudos, cuja função consistia em editar leis

complementares para definir a área, a data da transferência e a demarcação do

território do novo Distrito Federal. Caberia ao Congresso também definir de

maneira geral a futura formação do Estado que já teria um nome: Estado da

Guanabara.

Page 16: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

16

O Presidente da República à época, General Eurico Gaspar Dutra, assim

que foi promulgada a Constituição nomeou a Comissão de Estudos para a

Localização da Capital. A nova Comissão, chefiada pelo General Poli Coelho,

era integrada pro agrônomos, engenheiros, geógrafos, geólogos, higienistas,

médicos e militares, deu preferência ao local demarcado por Cruls, ampliando-

o e indicando uma área irregular de 77.250 quilômetros quadrados.

Nos desdobramentos dos estudos sobre a melhor localização da nova

capital, verificou-se a formação de duas correntes: a primeira uma fiel à

transferência da Capital para o Planalto Central, enquanto a outra defendia a

construção da nova cidade no Triângulo Mineiro.

Porém, ao escrever o relatório final à Presidência, o General Poli Coelho

indicou a área sugerida para a construção da Capital Federal no Planalto

Central e ampliou a área para o norte, partindo do quadrilátero antes

demarcado.

O relatório foi enviado pelo presidente Dutra ao Congresso Nacional,

através da mensagem nº 293, de 21 de agosto de 1948 e o assunto ficou em

discussão no Congresso por cinco anos. A lei nº1.803, de janeiro de 1953,

sancionada no governo de Getúlio Vargas, determinava que o poder executivo

realizasse estudos definitivos sobre a localização da nova capital, sendo que o

estudo de Poli Coelho já havia determinado o local onde deveria ser erguida a

nova cidade. A discussão no Congresso causara um retrocesso num ponto que

parecia já ter sido decidido: a localização da nova Capital. Prova disso foi o

decreto nº32.976, assinado em 8 de junho de 1953 pelo presidente Getúlio

Vargas, que novamente criava uma Comissão de Localização da Nova Capital.

O decreto instituía que a Comissão fosse constituída por um Presidente,

nomeado pelo chefe de governo; de um representante de cada Ministério, além

de representante de cada Ministério, além de representantes do Conselho de

Segurança Nacional, do Estado de Goiás, do IBGE, do DASP e da Fundação

Brasil Central. O Presidente nomeou o General Caiado de Castro, chefe da

Casa Militar da Presidência da República, para liderar a nova comissão.

O General Caiado de Castro contratou a empresa Cruzeiro do Sul para

aerofotografar e fazer o levantamento de todo o chamado “Retângulo do

Page 17: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

17

Congresso” (“Retângulo do Congresso” foi o nome dado à área pela Comissão

chefiada pelo General Poli Coelho. A área marcada antes, era de 14.400

quilômetros quadrados (“Quadrilátero de Cruls”). – perímetro de 52.000

quilômetros quadrados escolhidos pelo Congresso, sendo que em janeiro de

1954, toda a área já estava aerografada.

Completada a primeira fase, o presidente da comissão contratou a firma

norte-americana Donald J. Belcher and Associates Incorporated, para

interpretar as fotografias aéreas em melhores condições para a implantação da

Capital. Entretanto, antes da firma entregar o seu relatório final, o General

Caiado de Castro foi substituído pelo Marechal João Pessoa Cavalcanti de

Albuquerque, por ocasião do suicídio do presidente Getúlio Vargas. O Marechal

João Pessoa, nomeado por Café Filho para a presidência da Comissão de

Localização da Nova Capital, tomou ciência das conclusões preliminares da

empresa norte-americana, que indicou cinco pontos melhores de localização,

de 1000 quilômetros quadrados, dentro do chamado “Retângulo do

Congresso”, para a escolha definitiva do local ideal para a construção da

Capital. Em fins de fevereiro de 1955, o relatório final foi entregue, em 15 de

abril de 1955, a Comissão de Localização da Nova Capital escolheu

definitivamente, tendo por base o parecer da Donald J. Belcher, o local onde

Brasília seria construída.

Logo que decidiram sobre o local, o Marechal João Pessoa solicitou que

o Presidente em exercício assinasse um decreto, declarando de utilidade

pública, para fins de desapropriação, toda a área escolhida, a fim de evitar que,

em face da proximidade da construção da Capital, ali tivesse lugar uma corrida

imobiliária especulativa. Café Filho não baixou o decreto, ficando a tarefa para

o governador de Goiás, José Ludovico de Almeida, que assinou o decreto, dia

30 de abril de 1955.

No mesmo dia que a comissão aprovou a área onde seria construída a capital,

o Presidente da Comissão designou uma subcomissão que teria a

responsabilidade de demarcar os limites do futuro Distrito Federal. Essa

subcomissão era formada por engenheiros e por dois membros, do Serviço

Gráfico do Exército. (As comissões nomeadas para tratar da transferência da

Page 18: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

18

capital federal, tinham sempre membros do exército nacional, podendo sugerir

que a interiorização da capital era uma questão de Segurança Nacional)l.

Paralelamente às providências da Comissão, o governo goiano criou

uma Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital Federal, a qual

caberia, a posteriori, a responsabilidade pelas desapropriações na área do

futuro Distrito Federal.

Quando Juscelino Kubitschek assumiu a Presidência da República, a

antiga Comissão de Localização da Nova Capital já havia mudado de nome.

Através do decreto nº 38.281, de 9 de dezembro de 1955, passou a se chamar

Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital, já que a

escolha da localização já havia sido feita. O local foi escolhido, os estudos

foram feitos, mas a ação da Comissão foi interrompida em maio de 1955.

Nessa época, é bem ressaltar, foi erguida uma cruz de madeira que seria

conhecida como “Cruzeiro” e marcou a última providência tomada, antes que o

novo presidente assumisse.

Coube ao presidente eleito, assumindo uma promessa de campanha

transferir a capital para Brasília. Incluiu a construção da cidade no Programa de

Metas do governo, como a “meta-síntese” e transferiu o patrocínio da iniciativa

para o governo de Goiás, estado mais estreitamente ligado à transferência.

Para Juscelino Kubitschek, a transferência da capital era imprescindível

justamente porque

“O Brasil, voltado até então para o mar, teria de assumir uma atitude

diametralmente inversa, isto é, voltar às costas para o oceano e

empenhar-se em tomar posse efetiva de seu território, de cuja

existência só tinha conhecimento através dos mapas.” (Oliveira, J.K.

“Porque construí Brasília. RJ, 1975. Ed. Bloch, pág. 47).

E adotou o nome Brasília como sugerido por José Bonifácio em 1823, para a

nova capital que se ergueria no Planalto Central do Brasil.( Bonifácio, José.

Anais da Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil,

13/08/1823).

Page 19: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

19

CAPÍTULO 2:

2.1 – O Rio de Janeiro como Distrito Federal: uma síntese

A tentativa de explicar como seria o Rio de Janeiro política e

juridicamente organizado às vésperas da transferência da capital requer um

retrocesso em sua história, isto é, de como a cidade-capital transformou-se de

Colônia à Capital da República. A tarefa é bastante complicada, por se tratar de

uma síntese, ou seja, a política do Rio de Janeiro sempre foi truncada, pois em

seu espaço atuavam várias forças que, por vezes, resultaram em mudanças da

nossa História como país. Fazer a síntese do passado desta cidade, que já foi

o centro da República, e seu processo de desmembramento do governo federal

para assumir uma identidade política própria é de vital importância para o

entendimento da articulação da transferência da Capital e a atuação de grupos

interessados nesse movimento.

A cidade do Rio de Janeiro, devido à sua localização e ao surto da

Mineração, tornou-se capital da colônia em 1763. O país ainda vivia seu tempo

de principal colônia do Reino e o fluxo de metais preciosos passava pela

cidade, antes de seguir para além-mar.

O país se tornou independente em 1822, promulgando sua primeira

constituição em 1824, sem que muito se alterasse na vida da agora Capital do

Reino.

Em 12 de agosto de 1834, D. Pedro I decretou o Ato Adicional à

Constituição de 1824, com várias resoluções, entre elas ressalta-se o artigo 1º:

“A autoridade da Assembléia Legislativa da Província em que estiver a

Corte não compreenderá a mesma Corte, nem o seu município.” ( Lei nº

16, de 12 de agosto de 1834, Art. 1º).

Page 20: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

20

Se a Assembléia Legislativa não compreenderá a mesma corte e nem o

seu município, então é um Município Neutro, ou no mínimo diferente das outras

províncias. Estava criado o Município Neutro que, ao contrário das outras

províncias, não tinha autonomia, como descreve mais adiante a mesma lei:

“A sua primeira reunião (da assembléia legislativa) far-se-á nas capitais

das províncias, e as seguintes nos lugares que forem designados por

atos legislativos provinciais; o lugar, porém, da primeira reunião da

assembléia legislativa da província em que estiver a corte será

designado pelo governo”. (Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834, Art. 5º).

O Município Neutro do Brasil, único na América Latina foi criado

seguindo o modelo americano de Distrito, conforme já dizia Visconde de

Uruguai:

“...foi uma imitação da organização dos Estados Unidos, onde o distrito

que é assento do governo, não está sujeito à mesma organização que

os Estados, se bem que entre nós não sendo em igual grau de força as

razões que tiveram os Estados Unidos para esta exceção.” (Uruguai,

Visconde de – Estudos práticos sobre a administração das províncias

RJ, 1865. V.I,p.29).

Depois da promulgação do Ato Adicional e enquanto perdurou o regime

monárquico, coube à Assembléia Geral conferir todos os provimentos

legislativos ao Município Neutro, que também tinha sua Câmara Municipal,

mantendo relações de dependência com o Ministério do Império.

Após a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, a

cidade do Rio de Janeiro passou de Município Neutro a Distrito Federal dos

Estados Unidos do Brasil, sendo que antes da promulgação da Constituição de

1891, o Governo Provisório designou procedimentos a respeito da organização

municipal da Capital. No decreto nº 1, artigo 10 das instruções do governo

provisório, ficou instituído que

Page 21: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

21

“território do Município Neutro fica provisoriamente sob a

administração imediata do governo provisório da República, e a

cidade do Rio de Janeiro, constituída, também provisoriamente,

sede do governo federal.” (Decreto nº 1, Art. 10, de 25 de

novembro de 1889).

Após essa resolução, o Governo Provisório dissolveu a Câmara Municipal e

criou o Conselho de Intendência Municipal com sete membros, nomeados pelo

executivo federal (Decreto nº 50 A, de 7 de dezembro de 1889).

O regime do Conselho de Intendência vigorou de 1889 a 1892, quando

foi promulgada a primei Lei Orgânica ou Distrito Federal (Lei nº 85, de 20 de

setembro de 1892).

Assim, o Governo Provisório manteve o Rio de Janeiro como sede do

governo até a promulgação da Constituição, ao mesmo tempo que extinguiu a

Câmara Municipal carioca

“como condição básica para constituir uma estrutura política na capital

ao mesmo tempo mais representativa e mais autônoma em relação ao

poder central.” (Freire, Américo – República, cidade e Capital: o poder

federal e as forças políticas do Rio de Janeiro no contexto da

implantação republicana”; Artigo em Moraes, Marieta. Rio de Janeiro:

uma cidade na história. Ed.FGV.2000 1/ªed.pág.17).Contudo, o mesmo

instrumento que criava uma estrutura mais livre para a política do

Distrito Federal, paradoxalmente, criava também um “Conselho de

Intendência Provisório”, responsável pela administração da cidade até a

Constituição. O Conselho era nomeado pelo Governo Provisório e tinha

como tal “o direito de restringir, ampliar, suprimir, quaisquer atribuições

confiadas ao Conselho de Intendência.” (Decreto 50 A, de 7 de

dezembro de 1889).

Portanto, como se pode notar, o início do controle sobre a cidade do Rio

de Janeiro foi no começo do governo republicano e o decreto, além de deixar

Page 22: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

22

claro a existência de tal controle, tornou explícito que o novo governo queria

manter este controle.

Além disso, a cidade do Rio de Janeiro poderia significar um grande

perigo pra a República recém instalada. A cidade, conforme foi explicado no

capítulo anterior, era agitada politicamente, formada por uma sociedade

alfabetizada, que lia jornais e, sobretudo, assistiu a derrubada da Monarquia.

Nesse sentido, cabia pensar em restringir o poder político da capital e,

indo mais além, transferir a capital para o interior do país. O novo governo, sem

dúvida, sentia-se ameaçado em sua sede, caso contrário não teria tido o

cuidado de tomar providências acerca da sua Capital já nos primeiros dias do

novo governo.

Como visto anteriormente, um dos argumentos a favor da transferência da

Capital era a questão da segurança do governo, prova disto está no discurso

de um dos deputados da Assembléia Constituinte de 1890, pois o novo

governo se sentia ameaçado em sua própria sede e a solução seria mudar a

sede para o interior do país, longe das “perturbações da massa carioca.” (Anais

da Assembléia Nacional Constituinte, sessão de 13 de dezembro de 1890, pág.

352).

Assim, a Constituição de 1891, Art. 2º das disposições preliminares, dizia que:

“Cada uma das antigas províncias formará um Estado, e o antigo

Município Neutro constituirá o Districto Federal, continuando a ser

capital da União, enquanto não se der execução ao disposto no artigo

seguinte; Art. 3º- “Fica pertencendo à União, no Planalto Central da

República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será

oportunamente demarcada para nella estabelecer-se a futura capital

federal.” E Parágrafo Único: affectuada a mudança da capital, o actual

Districto Federal passará a constituir um Estado.” (Constituição de 1891,

Título I, “Da organização Federal”, Art. 2º e 3º).

Page 23: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

23

Indo ao artigo 34, da mesma Carta Magna, tem-se os poderes do

Congresso Nacional para “legislar sobre a organização municipal do Districto

Federal, bem como sobre a polícia, o ensino superior e os demais serviços que

na capital forem reservados para o governo da União.” (Constituição de 1891,

Art. 34)

No art. 67, em seu parágrafo único, lê-se “Salvo as restrições

especificadas na Constituição e nas leis federais, o Districto Federal é

administrado pelas autoridades Municipais” e que “as despesas de caráter

local, na capital da República, incubem exclusivamente à autoridade

municipal.” (Constituição de 1891, Art. 67). Como se pode notar, a liberdade

era vigiada, não concedendo autonomia total e local, muito embora a

autonomia política do Distrito Federal fora também defendida na constituinte de

1890.

Em 1890, iniciadas as discussões para incluir a mudança na Capital na

Constituição, o constituinte Tomás Delfino se posicionou a favor da

transferência, com o objetivo de transformar a Capital em um novo Estado.

Essa era a proposta defendida pelos parlamentares cariocas. A bancada

fluminense reagiu, argumentando que o Território do Município Neutro havia

sido desmembrado do resto do Estado do Rio de Janeiro unicamente para

representar o papel de Capital do Império do Brasil, uma vez que a República

havia sido Proclamada, “(...) cessada essa função deveria voltar ao que era...”

(Discurso de Érico Coelho, Anais da Assembléia Nacional Constituinte, seção

de 13/08/1890). A cidade do Rio de Janeiro seria incapaz de cumprir o papel de

Capital da República porque “não tem um verdadeiro caráter nacional e parece

mais uma colônia e que predomina o elemento estrangeiro. Não tem feição

alguma que lhe dê um tipo de nacionalidade distinta (Discurso de Érico

Coelho.Op.Cit.).

Aqueles que se opuseram à autonomia se concentravam na bancada do

Estado do Rio, liderados pelo deputado Érico Coelho e França Carvalho. Esta

corrente se empenhava em fazer o Rio de Janeiro retornar ao território

fluminense, quando acontecesse a mudança da Capital. Como justificativa,

argumentavam:

Page 24: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

24

“Senhores, o Distrito Federal fazia parte da ex-província do Rio de

Janeiro, apenas divergia pela administração municipal, um município sui

generis, chamado por isso mesmo Neutro; Porém, havia unidade de

Território havia a mesma origem da população, e sobretudo, unidade

política e judiciária.” (Discurso de Érico Coelho.Op.Cit.).

Com isso, a Constituição de 1891, definiu apenas algumas diretrizes

gerais. A Capital se transformou em Distrito Federal, como já foi dito, com

representação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, similar a

qualquer outro Estado. Determinou também que sua “legislação sobre sua

organização política (...) seria de competência exclusiva do Congresso,

enquanto sua administração ficaria a cargo das autoridades municipais”. Este

dispositivo constitucional deixava em aberto a necessidade de uma legislação

complementar que definisse com mais clareza a organização do Distrito

Federal. (A primeira Lei Orgânica do Distrito Federal foi promulgada em 20 de

setembro de 1892).

Após a definição dos princípios gerais que passariam a reger a capital

republicana, foi criada no Congresso Nacional uma comissão encarregada de

estudar a e formular um projeto de lei sobre a melhor organização municipal do

Distrito Federal. Foram nomeados pelo presidente da Câmara sete membro,

todos pertencentes à Capital Federal. O projeto da bancada carioca foi

apresentado pelo relator Tomas Delfino, na sessão do dia 8 de agosto de 1891,

sendo aprovado pela Câmara dos Deputados e, em contrapartida, foi impedido

no Senado. Um dos seus principais opositores, o senador Quintino Bocaiúva,

julgava errônea a idéia de dar autonomia ao Distrito Federal porque:

“ correria o risco de colocar o próprio poder federal, o próprio governo

da União, na contingência de um atrito contínuo e permanente, com

autoridade até certo ponto subtraída por sua independência à sua ação

direta, e esse poder ficaria quase constituído novas condições de um

intruso ou de um hóspede importuno tolerado, que seria forçado a ver

diminuído a sua autoridade por uma jurisdição autônoma e

Page 25: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

25

independente, criada também ao amparo do princípio eletivo, na

democracia da constituição dos poderes, constituindo-se assim

também, por seu turno, um poder em face de outro poder.” (Anais do

Senado, 20 de outubro de 1891).

O discurso do senador seria um a mais a favor da política

intervencionista que o governo federal impunha ao Rio de Janeiro, controlando

sua ação política. O Governo Federal era muito mais que “um intruso

ameaçado em sua sede”, seria um elemento controlador do campo político da

mais desenvolvida das cidades do país. Esse assunto será tratado mais

detalhadamente adiante, quando for abordada a questão da ação do governo

federal sobre o Distrito Federal.

Varias emendas foram apresentadas ao projeto vindo da Câmara Federal,

sendo que na sessão do dia 30 de dezembro de 1891, elas foram aprovadas

pelo Congresso. O projeto de lei se tornou lei, depois de tramitar novamente na

Câmara e a emenda do artigo que falava sobre a apreciação do veto do

prefeito pelo Senado e do chefe do executivo local, sendo nomeado pelo

Presidente da República, foi mantida. A lei foi a primeira lei orgânica do Distrito

Federal (Lei nº 85, de 20 de setembro de 1892) e o Senado Federal passava a

ser o grande tutor da cidade, que teria sua Câmara Municipal eleita que não

faria a apreciação do veto do prefeito. De certo, não poderia maior interferência

no campo político da cidade.

Mais adiante, será avaliado o poder de barganha que o Governo Federal

adquiriu sobre as bases cariocas, devido a estes dois dispositivos

estabelecidos pela Lei Orgânica de 1892 e os jogos políticos da União,

favoreciam o clientelismo na Capital Federal, ao mesmo que se travavam

embates políticos entre autonomistas e intervencionistas.

No início do governo Rodrigues Alves, com um maior apoio do

Congresso, o presidente, o presidente eleito aprofundou a intervenção na

Capital. Em 29 de dezembro de 1902, foi aprovada a lei nº 939, que alterou a

organização do Distrito Federal. Este, para efeito de eleição, passaria a ter

somente um distrito, extinguindo o voto distrital, com o prefeito e seu substituto

nomeados pelo Presidente da República, sem o aval do Senado. O Conselho

Page 26: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

26

Municipal sofreu uma redução de suas atribuições político-administrativas,

tornando o jogo político local enfraquecido e exercido mais amplamente pelo

Executivo Federal. É certo dizer que foi a lei nº939 que criou a figura do

Prefeito / Interventor Federal. No Art. 1º da Lei nº 939, lê-se que

“O Conselho Municipal do Distrito Federal compor-se-há de 10

intendentes, um dos quais o presidirá, por eleição de seus pares.

Parágrafo único. A Capital Federal constituirá um só districto eleitoral.”

E no Art. 3º, parágrafo único, lê-se aquilo que representa a obrigação do

prefeito: “Reunido o Conselho, o prefeito enviar-lhe-há uma mensagem,

informando-os de todos os actos de sua gestão no período provisório

em que tiver administrado o districto.” (Lei nº 939, de 29 de dezembro

de 1902, Art. 1º e Art. 3º).

Após a Revolução de 1930, onde o Rio de Janeiro serviu de cenário

para o golpe, o novo governo necessitaria de promulgar uma nova Constituição

para o Brasil. A Constituição de 1934 foi a mais liberal para o Distrito Federal,

como se constata nos trechos abaixo, retirados da própria Constituição:

Art. 4º, parágrafo único – “O acutal Districto Federal será administrado

por um prefeito, cabendo as funcções legislativas a uma Câmara

Municipal, ambos eleitos por suffragio directo, sem prejuízo da

representação profissional na forma que fôr estabelecida pelo poder

legislativo federal na lê orgânica (...) A primeira eleição para prefeito

será feita pela Câmara Municipal em escrutínio secreto.” (Constituição

de 16 de agosto de 1934, Art. 4º, parágrafo único).

O prefeito foi realmente eleito e a cidade votou no médico Pedro

Ernesto, mas em 1937 era decretado o Estado-Novo, e uma das primeiras

ações do governo de Getúlio Vargas foi decretar a intervenção no Distrito

Federal para impossibilitar que a Capital Federal se articulasse politicamente

para derrubar o governo, como havia feito na Revolução de 1930. A

Constituição de 1937, a Polaca, simplesmente aboliu a pouca autonomia que o

Distrito Federal havia adquirido. O disposto no Art. 7º deixa claro que

Page 27: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

27

“enquanto sede do governo da República” seria o Distrito Federal “administrado

pela União”. O art. 30 acrescentou que o “Distrito Federal será administrado por

um prefeito de nomeação do Presidente da República, com a aprovação do

Conselho Federal e demissível ad nutum” – a qualquer momento, cabendo a

este mesmo Conselho Federal as funções deliberativas referentes ao Distrito.

Assim, não existia uma Câmara Municipal nem com funções deliberativas,

muito menos com funções legislativas, sendo certo afirmar que não havia

eleições municipais, com base no art.26, embora os Prefeitos municipais

fossem todos nomeados pelos Governadores dos Estados (art.28). A regra era

a eleição indireta e o corpo eleitoral do país era composto, em cada município,

por vereadores das Câmaras Municipais em por mais de 10 “eleitos por

sufrágio direto no mesmo ato da eleição da Câmara Municipal”, constituindo

cada Estado uma circunscrição eleitoral (Art.47). O Distrito Federal ao tinha

Câmara de Vereadores, tampouco podia eleger representantes no Colégio

Eleitoral do Presidente da República por não possuir Câmara Municipal

(art.82). Assim, o Rio de Janeiro não elegeria representantes no parlamento e

nem concorreria à eleição para a presidência da República. Sendo assim,

“...como o Distrito de Columbia, o nosso atual Distrito Federal não elege

representantes ao parlamento, nem concorre para eleição do Presidente

da República”. (Castro, Araújo. “A Constituição de 1937.Estudos de

Direito Constitucional. RJ, 1951, pág. 123).

Em 1945, após o fim do Estado-Novo, o novo governo democrático

necessitou substituir novamente a Constituição por uma outra mais condizente

como o momento político do país. O ano de 1945, foi marcado por importantes

transformações políticas, pois após um longo período de ditadura, foram

realizadas eleições diretas para Presidente da República, para deputados e

senadores. Diversos partidos políticos foram criados, entre eles, o Partido

Democrático, o Partido Trabalhista Brasileiro conquistou a legalidade, podendo

então participar de todo o processo eleitoral.

Page 28: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

28

O vencedor para Presidente da República foi Eurico Gaspar Dutra, da

coligação PSD-PTB e a aliança entre estes dois partidos também foi

vencedora na maioria das eleições parlamentares.

É importante notar que mais da metade dos parlamentares constituintes

eram do PSD, à exceção da bancada carioca, onde o partido era minoria. Na

bancada da capital, a maioria era do Partido Comunista, valendo ressaltar que

o senador eleito com a maior votação do país foi o Sr. Carlos Prestes. A

representação dos partidos está discriminada nas tabelas abaixo:

REPRESENTAÇÃO DOS PARTIDOS DA BANCADA DO DISTRITO FEDERAL

NA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE DE 1946:

(Ferreira, Marieta de M.”Os apaziguados anseios da Terra Carioca – lutas

autonomistas no processo de redemocratização pós-45”. Artigo em Ferreira, Marieta

de Moraes, Rio de Janeiro; uma cidade na história, Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2000,

p.62).

União Democrática Nacional 4 representantes

Partido Social Democrático 2 representantes

Partido Trabalhista Brasileiro 7 representantes

Partido Comunista Brasileiro 4 representantes

Total: 17 parlamentares

REPRESENTAÇÃO DOS PARTIDOS NA CONSTITUINTE DE 1946:

(Ferreira, Marieta de M. Op. Cit.)

Partido Comunista Brasileiro 15

Partido Trabalhista Brasileiro 24

União Democrática Nacional 87

Partido Social Democrático 177

OUTROS 17

TOTAL: 320

Page 29: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

29

Logo que iniciaram os trabalhos da Constituinte,a primeira proposta que

circulou sobre a autonomia política foi feita pelo Ministro da Justiça, Sampaio

Dória. A subcomissão de organização federal (da Comissão da Constituição)

apresentou parecer contrário à autonomia do Distrito Federal. O relator da

subcomissão, o constituinte Ataliba Nogueira (PSD-SP), indicou duas razões

para a posição contrária:

“Quisemos fugir a todas as hipóteses remotamente realizáveis, senão

impossíveis, de se transferir a Capital da República para o coração do

Brasil em segundo lugar, porque considerava impossível que o

Presidente do País fosse hóspede na Capital Federal. (Anais da

Assembléia Nacional Constituinte 1946. V.5, p.2229).

Após o parecer, foi incorporada ao anteprojeto da Constituição o Artigo

que estabelecia que o projeto do Distrito Federal seria indicado pelo Presidente

da República. Parecia que a situação havia retornado à Constituição de 1891,

nem tão castradora como a de 1937, mas nem tão democrática como a de

1934.

Era como um grande retrocesso, considerando que a Constituição de

1946 seria a primeira Constituição realmente democrática do Brasil. A bancada

dos cariocas se uniu em prol da autonomia local e o deputado José Romero

(partido Social Democrático-Distrito Federal) foi o representante escolhido pra

expressar a insatisfação dos cariocas destacando que a cidade possuía “uma

grande cultura política e super capacitada de auto dirigir-se além de prover por

si próprio todas as necessidades de sua complexa administração”. (Anais da

Assembléia Nacional Constituinte. 1946, V.19, p.398).

Apesar da coesão da Bancada carioca em defesa do direito de eleição

do Prefeito do Distrito Federal e o direito de veto da Câmara Municipal, as

resistências encontradas na esfera nacional foram de grande dimensões,

neutralizando os esforços dos representantes cariocas. O Partido Comunista foi

Page 30: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

30

o único partido que nacionalmente se posicionou a favor da autonomia do

Distrito Federal. No dia 9 de setembro, foi colocada em votação a emenda nº

2.819. “O Distrito Federal será administrado por um prefeito e uma Câmara,

eleitos pelo povo, cabendo a última poderes legislativos.” (Anais da Assembléia

Nacional Constituinte, 1946 v,24,p.414).

Porém, a emenda chegou à Assembléia e foi rejeitada pelos

constituintes.

Segundo Marieta de Moraes Ferreira, em seu artigo sobre o processo de

redemocratização brasileira pós-45 (Ferreira,M. “Os apaziguados anseios da

letra carioca” – Artigo em Ferreira, Marieta de Rio de Janeiro:uma cidade na

história. RJ Ed. FGV2000, p.59).na Constituinte de 1946, ficaram

“evidenciadas as práticas neutralizadoras implementadas pelo Governo

Federal, através do partido majoritário, o PSD, e de membros da elite

política de outros estados, que tudo fizeram para garantir o direito de

indicação do prefeito pelo Presidente da República.” (–Ferreira, Marieta.

Op.Cit.,p.66).

Sendo o chefe do executivo do PSD e os membros das bancadas

parlamentares, em sua maioria, também do PSD, ficou fácil manter a

intervenção na Capital Federal.

Com a discussão da autonomia, reacenderam as discussões sobre a

transferência, afinal, um assunto estava intimamente ligado ao outro. As

reinvidicações cariocas para obter autonomia política passavam pela

transferência, já que transferindo a sede, automaticamente se formaria um

novo estado. Este fato, pode ter estimulado o surgimento de uma solução

conciliadora: além de conceder a tão sonhada autonomia, a transferência da

Capital para o interior afastaria o Governo Federal da ameaça de revoltas

populares e de uma tentativa de golpe de Estado, haja vista que o eleitorado

carioca era um dos maiores do país, um dos mais alfabetizados e politizados e

a imprensa carioca atuava de maneira eficaz na formação da opinião, já que

alguns políticos do governo e da oposição eram ligados a jornais de circulação

nacional.

Page 31: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

31

Para finalizar o comentário à Constituição de 1946, acerca do Distrito

Federal, vale citar os artigos 25 e 26:

“Art.25 – A organização administrativa e a judiciária do Distrito Federal e

dos territórios regular-se-ão por lei federal...

Art.26 – O Distrito Federal será administrado por um prefeito, de

nomeação do Presidente da República, e terá Câmara eleita pelo povo,

com funções legislativas.

§ 1º - Far-se-á a nomeação depois do Senado Federal houver dado o

assentimento ao nome proposto pelo Presidente da República.

§ 2º - O prefeito será demissível ad nutum.” (Constituição de 1946, Art.

25 e 26).

Segundo trecho acima da Constituição de 1946, haveria a necessidade

de se editar uma Segunda Lei Orgânica que regulamentasse o Distrito Federal,

pois ainda que a mesma Constituição já estabelecesse a nomeação do

prefeito, restava a questão do veto do prefeito. Os autonomistas tentariam

remover este dispositivo, já existente desde 1892.

Após a promulgação da Constituição de 1946, tanto a Câmara de

Deputados como o Senado passaram a discutir diversos projetos sobre a Lei

Orgânica. A lei deveria ser elaborada pelo Congresso Nacional.

A composição do Senado foi fundamental nesse momento, Dos

sessenta e dois senadores, três eram da bancada carioca. O PSD, além de

partido do governo eram maioria no Senado, conforme mostra a composição

da casa em 1946:

Page 32: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

32

COMPOSIÇÃO DO SENADO, EM 1946:(Ferreira, M.Op.Cit,p.70)

Partido Social Democrático 33 representantes

Partido Trabalhista Brasileiro 3 representantes

União Democrática Nacional 19 representantes

Partido Comunista Brasileiro 1 representante

Total: 62 membros

Bancada Carioca no Senado:(Ferreira, M.Op.Cit.p.78)

Luiz Carlos Prestes PCB

Hamilton Nogueira UND

Mário de Andrade Ramos PSD/PDC

Com essa composição do Senado, junto à maioria do PSD na Câmara

dos Deputados, não foi difícil aprovar uma lei orgânica que veio a favorecer o

caráter tutelar do Senado sobre a cidade do Rio de Janeiro.

Aqui cabe ressaltar um momento particular das eleições de 1946, qual

seja, o resultado expressivo do Partido Comunista na cidade do Rio de Janeiro,

pois tal fato poderia explicar uma preocupação maior do Governo Federal com

a Capital e o seu grau de autonomia política.

Naquele ano explodia a “Guerra Fria” entre os Estados Unidos da

América do Norte e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, sendo certo

notar que a tradicional aliança do governo brasileiro com a política internacional

norte-americana teve significativa expressão neste excesso de rigor com a

autonomia política da cidade do Rio de Janeiro, O governo Dutra conspirou

contra o PCB, querendo coloca-lo na ilegalidade, e conseguiu cassar o registro

do partido em 7 de maio de 1947. Com a cassação, as sedes do partido foram

fechadas e os seus representantes eleitos perderam seus mandatos (Dos 50

Page 33: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

33

vereadores eleitos para a Câmara em 1946, 18 eram do Partido Comunista

Brasileiro).

Portanto, sendo o PCB a voz a favor da autonomia no âmbito nacional,

essa voz se calou quando o governo pôs o partido na ilegalidade isso

representou um duro golpe para a luta autonomista na composição da Lei

Orgânica.

Quanto à Câmara dos Vereadores, que era o principal órgão interessado

na mobilização, houve uma tentativa a favor da autonomia. Os vereadores, em

um esforço conjunto e sem distinção de partidos, tentaram pressionar o

Senado nas votações da lei orgânica e combatiam na imprensa a intervenção

“Câmara e Senados Federais pretendem fazer a Câmara Municipal (...)

um órgão apenas parcialmente deliberante, anódino, inócuo, para que

continue no Distrito, como na União, a ditadura que já devia estar morta

e enterrada.” (Correio da Manhã, de 21/03/1947) “Não devendo o

Partido Comunista. Defendo a democracia (...) Enquanto estiver

fechado o Partido Comunista não escreverei nenhuma palavra contra

ele nem contra qualquer de seus membros.”( “Correio da Manhã” – de

08/05/1947).

Contudo, apesar de todo o esforço do governo local, o projeto da Lei

Orgânica que determinava a apreciação do veto do prefeito do Distrito Federal

como de responsabilidade do Senado foi aprovado. Ainda que na Câmara dos

Deputados houvesse emendas a esse dispositivo, embora a Comissão de

Constituição e Justiça da Câmara e do Senado tenha considerado o artigo

inconstitucional, o item foi incluído, sem maiores justificativas.

Somente no governo seguinte as lutas autonomistas tomaram novas

direções. O primeiro passo neste sentido foi a emenda à Constituição nº 2, de 3

de julho de 1956:

Page 34: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

34

“Art. 1º - O atual Distrito Federal será administrado por um prefeito,

cabendo as funções legislativas a uma Câmara de Vereadores, eleitos

estes e aquele, por sufrágio direto, simultaneamente, pelo período de

quatro anos.

Parágrafo Único – A primeira eleição para prefeito realizar-se quando se

efetuar a de Presidente da República para o próximo período

governamental” (Emenda Constitucional nº 2, de 3 de julho de 1956, Art.

1º.)

Na realidade, a emenda somente previa um fato que aconteceria

inevitavelmente com a transferência da Capital e o nascimento do Estado da

Guanabara: a autonomia política da cidade do Rio de Janeiro.

Page 35: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

35

2.2 – O Mapa político do Rio de Janeiro – de 1956 à 1960

Nessa seção, será esboçado o mapa político da cidade do Rio de

Janeiro à época da mudança da Capital. É importante mapear o campo político

da cidade para se entender o jogo político que estava implícito na transferência

desta mesma Capital. Para tanto, torna-se essencial identificar os principais

partidos políticos a fim de entender as forças que atuaram a favor e contra a

proposta de interiorização da Capital.

Conforme dito na seção anterior, a historia do Rio de Janeiro como sede

do governo sofreu muitas modificações e seria natural que o campo político da

cidade fosse bastante específico e singular, dado as forças que atuavam dentro

do mesmo espaço. As redes de poder na capital se cruzavam e não havia

muita separação entre o que era o poder local e o que era o poder nacional.

Por duzentos anos a cidade teve essa peculiaridade e, sendo assim, falar de

política do Rio de Janeiro é falar de exercício do poder político bastante

concentrado. Esta informação, portanto, torna-se de vital importância para

fundamentar as próximas seções. Para isso, nada melhor do que falar de

partidos políticos e correntes dentro desse espaço de conflito de interesses,

sendo que o ponto de partida são as eleições de 1954 e 1958.

Após 1945, surgiram vários partidos políticos aproveitando o momento

de democracia que o país atravessava. Tais partidos seriam os responsáveis

pelo exercício do poder a partir daquele momento em diante. Nas primeiras

eleições presidenciais, após o longo período de ditatura, a política do Rio de

Janeiro começou a ser reconstruída, já que a cidade perdeu toda a sua

representatividade política no governo de Vargas (Ver seção 2.1, desta

monografia) Começava a ser desenhada a “cara” do novo Brasil e o Rio de

Janeiro foi o local onde se iniciou este processo de redemocratização.

Surgiram partidos como o Partido Social Democrático, a União

Democrática Nacional e o Partido Trabalhista Brasileiro, que balizaram todo o

movimento pós-45.

Page 36: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

36

O Partido Social Democrático, tão getulista, quanto conservador, não só

elegeu dois presidentes, como se tornou o partido oficial do governo.

Situacionista, defendia a intervenção do Estado na economia e tinha grande

apelo ao capital, sendo estruturado por fortes raízes nacionais. Pregava o

chamado movimento da “modernização conservadora”.

O Partido Trabalhista Brasileiro, ou PTB, também getulista, defendia

igualmente a intervenção do Estado na economia, sendo que a diferença com

relação ao PSD estava na formação do partido: o PTB, um partido popular, era

o partido das classes operárias, principalmente das indústrias. Já dizia Getúlio

Vargas sobre os dois partidos que “ganhava a eleição com o PTB e governava

o país com o PSD.”

Apesar das diferenças, as alianças entre estes dois partidos se

tornariam comuns e os desentendimentos também. Era muito difícil conciliar

interesses de diversas linhas, onde um partido usava o outro para se perpetuar

no poder. No caso destes dois partidos, quem ganhava a eleição era o partido

das massas (PTB) e quem exercia o poder era o PSD. Os petebistas, às vezes,

não aceitavam muito essa regra, conforme será exemplificado na próxima

seção, pois como disse Celina Vargas, em um depoimento, “o PTB era de

esquerda...”, “O PTB era o braço do trabalho...o PSD era o braço do capital.

(Depoimento de Celina Vargas, extraído do livro “Histórias do Poder”, SP,

ed.34, ano de 2000. V.3, p.38 organizadores: Alberto Dines, Florestan

Fernandes JR. E Nelma Salomão).

Um outro partido muito importante nesse período foi a UDN. A União

Democrática Nacional foi fundado em 1945, por um grupo de bacharéis da

oligarquia da cidade do Rio de Janeiro, também com fortes raízes nacionais,

conservadores e com grande apelo para o capital, não defendiam a intervenção

do Estado na economia e eram a favor da abertura do país ao capital

estrangeiro. Mas a grande diferença para o PTB e para o PSD estava

localizada na figura de Getúlio Vargas, pois os udenistas tinham verdadeiro

horror ao retorno do Estado-Novo.

A UND era a grande oposição ao governo pós-45, representando os

partidos liberais, a partir dos liberais. Tinha como membros grandes intelectuais

Page 37: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

37

da época, como Afonso Arinos de Mello Franco e Carlos Lacerda. Alguns

nomes influentes do país em nossos dias foram membros da UDN, como

Antônio Carlos Magalhães e José Sarney. Era um partido forte, altamente

articulador e muito barulhento: suas campanhas eram feitas com grandes e

inflamados discursos, com carreatas nas ruas do Rio. Como disse Sandra

Cavalcanti, que foi vereadora pela UDN em 1954 e constituinte em 1961, na

Guanabara:

“a UDN era uma União. E era uma União Democrática. Quando a UDN

foi fundada...ela acolheu vários das mais contraditórias correntes

políticas do país...o objetivo era liberar o país daquela ditadura e

daquele sistema fascista que estava montado no Brasil”. (Depoimento

de Sandra Cavalcanti, op. Cit.,vol2,p.39).

Mas até a UDN tinha divisões do mesmo partido. Figura como Carlos

Lacerda, José Sarney e outros, faziam parte da bancada mais radical,

enquanto Magalhães Pinto e Emival Caiado eram mais moderados.

Este fato gerou muitas desavenças, que também serão citadas na

próxima seção, e foi responsável pelo enfraquecimento da oposição na

resistência à transferência da capital.

Existiam ainda os partidos menores que exerciam influência e faziam

alianças com partidos maiores para se elegerem (Era o caso do PDC, PTN,

PST, PRT, PL, PSP, PRP e o PR. O PCB continuava na ilegalidade desde

1947, mas exercia influência nos bastidores do poder, principalmente no Rio de

Janeiro. Os nomes dos partidos, por extenso estão presentes nos anexos 2 e

4, deste mesmo trabalho) porém, o enfoque deste capítulo será para os

partidos maiores, que exerceram influência direta sobre a política do Distrito

Federal e a transferência da Capital.

Nas eleições de 1954, ganhou Juscelino Kubitschek, candidato da

aliança PTB-PSD. Na Câmara dos Deputados eleita em 1954, 114 membros

eleitos eram do PSD, 74 da UDN e 56 do PTB, sendo o total da casa de 326

membros. Deste número, correspondia à bancada do Rio de Janeiro 6

Page 38: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

38

membros da UDN, 6 membros do PTB, 2 membros do PSD, dois membros do

PSP e um membro do PRT (ANEXO 1).

Cabe ressaltar que o PSD não era muito popular na antiga Capital, fato

que pode ser comprovado pelo número de vereadores eleitos desse partido na

Câmara dos Vereadores e o favoritismo na capital da UDN e do PTB (ANEXO

2). Aliás, cabe também o comentário de que, analisando os partidos políticos

eleitos para exercer o legislativo local em 1954, pode ser verificado que este

mesmo poder local era bastante pulverizado e heterogêneo , o que dificultava a

ação e a mobilização política, principalmente junto ao governo federal. Não que

a Câmara dos Vereadores, por ser mais fragmentada, não tivesse influência

junto ao poder federal. A Lei Orgânica do Distrito Federal favorecia um maior

entrosamento entre o legislativo municipal e o Senado, que detinha o poder

sobre o veto do prefeito do Distrito Federal. Este assunto será abordado mais

tarde, na seção 2.4, deste mesmo capítulo.

Das 50 vagas disponíveis na eleição de 1954, 9 eram da UDN, 9 do

PTB, 7 do PSD, 6 do PSP, 5 vagas para o PR e as demais vagas para partidos

menores.

As eleições de 1958 foram marcadas por choque entre o PTB e a UDN.

O PTB fazia a política mais ligada aos sindicatos, mas

“O PTB que deveria ser um partido urbano, classista, um partido as

massas, na verdade, estava totalmente ligado ao corporativismo estatal,

totalmente ligado ao Estado, porque o Estado dominava todos os

sindicatos e, portanto, passava a dominar também o partido

trabalhista.”( Lúcia Avelar, cientista política, em depoimento ao livro

“Histórias do Poder”. Op.Cit.V3, p.55).

A UDN não concordava com a postura popular do partido, contrária ao

que ele efetivamente exercia, a começar pela aliança com um partido de elite,

como o PSD, que sozinho não elegeria dois presidentes da República. Dos 326

deputados eleitos em 1958, 70 eram da UDN, 66 membros do PTB, 115

membros do PSD e 75 membros de outros partidos (ANEXO 3). Consolidou-se,

assim, a maioria do governo na Câmara dos Deputados e, portanto, mais fácil

Page 39: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

39

de implementar e aprovar os projetos do “Programa de Metas” do governo de

Juscelino Kubitschek, incluindo a Meta-Síntese, que era Brasília. Destes

deputados eleitos, a bancada da capital tinha 17 vagas, 6 da UDN, 5 do PTB, 4

do PSP e 2 de partidos menores. Novamente se pode notar que o PSD não

conseguiu eleger ninguém pela bancada carioca.

As eleições para senador do Rio de Janeiro em 1958 merecem um

especial destaque. Havia uma única vaga disponível para a bancada carioca e

a UDN não tinha representante algum dentro do Senado. Carlos Lacerda,

aproveitando-se deste momento, lançou, juntamente com outros elementos do

partido, a candidatura de Afonso Arinos de Mello Franco. A disputa se tornou

acirrada, pois Afonso Arinos concorreu com Metro Vargas, do PTB e a UDN

jamais poderia permitir que o filho de Getúlio Vargas ganhasse a única vaga do

Rio de Janeiro dentro do Senado Federal. Graças a eficaz campanha do

partido dentro da capital, o candidato da UDN venceu. Quanto à Câmara dos

Vereadores do Distrito Federal no pleito de 1958, a composição de suas 50

vagas ficou assim: 8 vagas para a UDN, 7 para o PTB, 7 para o PSD, 5 para o

PSP e 23 vagas divididas para os partidos menores (ANEXO 4). Confirmou-se

então o favoritismo da oposição na capital, ainda que com grande

fragmentação na formação dos partidos na Câmara Municipal.

A formação do Congresso Nacional e o poder local em 1958 será o

ponto de partida para o entendimento das forças políticas que atuaram e, mais

especificamente, como o Executivo Federal atuou para a consolidação da

transferência da capital dentro de um mesmo governo. Cabe salientar que o

presidente era do PSD e o vice-presidente era do PTB, frise-se os mesmos

partidos que tinham a maioria no Congresso Nacional. Então, era fácil aprovar

leis, e ainda que a oposição fosse muito eficaz, mesmo assim seria fraca frente

à força política que gozava o Governo Federal naquele momento.

Page 40: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

40

2.3 – As tentativas para impedir a transferência da Capital Federal –

Conflitos dentro do poder federal

Ao assumir o governo,o presidente eleito iniciou o movimento para

concretizar a transferência da Capital Federal ainda em seu mandato. Juscelino

Kubitscheck encaminhou à Câmara dos Deputados o projeto de lei que previa

as providência para a construção da nova capital e criava, no mesmo

dispositivo, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (NOVACAP), que teria

a tarefa de atuar diretamente nas obras de Brasília.

Quando o projeto passou pela análise na Câmara dos Deputados, em

fevereiro de 1956, um líder udenista, que participava da Comissão de Justiça,

pediu vistas ao processo e o engavetou no mês de abril. O governo, verificando

a demora na tramitação do projeto de lei, buscou apoio na bancada de Goiás,

que era o estado mais interessado na rápida resolução do impasse. O

deputado udenista Emival Caiado foi o encarregado de recupera o projeto para

prosseguimento e votação (O governo tinha a maioria no Congresso Nacional,

mas contava com elementos da bancada de Goiás). Quando, finalmente, o

projeto deixou a Comissão de Justiça e foi encaminhado ao plenário houve

votação favorável e conseqüente aprovação pela Câmara dos Deputados.

Seguiu para o Senado, onde o PSD era maioria. A lei nº 2.874 (ANEXO 5),

sancionada em 19 de setembro de 1956, significou o primeiro passo para a

mudança da capital, concretamente. Contudo, não estabelecia a data da

transferência, o que caberia ao Congresso Nacional deliberar posteriormente.

Dos membros da oposição, uns votam contra, outros a favor, justamente por ao

acreditarem que o presidente conseguiria concluir a construção da capital

dentro do seu mandato. Na verdade, confiavam na hipótese de que o governo,

tentando concluí-la em tempo hábil, jamais conseguiria, e, conseqüentemente,

aniquilaria-se perante a opinião pública.

Em junho de 1956, enquanto o projeto de lei ainda tramitava pelo

Congresso, o governo se antecipava, iniciando o edital para a realização do

concurso para o plano-piloto da nova cidade. O edital foi publicado, no Diário

Page 41: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

41

Oficial da União, quase no mesmo dia da sanção da lei 2.874, em 30 de

setembro de 1956.

Após estas medidas, a cidade foi se tornando realidade. Tanto que em

um ano, o Congresso precisou marcar a data da transferência da capital. No

dia 1º de outubro de 1957, a lei nº 3.273 fixava a data da transferência para o

dia 21 de abril de 1960 (ANEXO 6).

A oposição, que até então não acreditava que a mudança ocorreria

concretamente, pôs-se em estado de alerta. Nos jornais cariocas de oposição,

que apelidaram a futura cidade de “ali vai ser”, começaram a surgir com mais

freqüência a questão dos gastos com a acelerada construção. Para que a

cidade fosse construída do nada, foi necessário criar toda uma infra-estrutura

no local, bem como estradas, que ligassem Brasília a todas as partes do país,

promovendo a interiorização ou um “novo surto bandeirante” (J.K.Op.Cit.,p.9).

Os deputados udenistas, principalmente da facção mais radical, tentaram

embargar, pela segunda vez, a ação do governo justamente no que se referia à

questão dos custos na construção da cidade. Argumentavam que os gastos

eram elevados em sem propósito. O poder de influência da UDN foi, no

entanto, limitado. Além do governo ter a maioria na Câmara dos Deputados

junto à opinião pública, o presidente procurou elaborar um projeto de lei para a

capital – que resultaria na lei 2.874, que “uma vez aprovada fosse o diploma

legal completo, capaz de cobrir todas as fases de execução da transferência

sem que fosse obrigado a recorrer, de novo, ao Congresso” (J.K.Op.Cit.,p.9). A

idéia, portanto, era neutralizar a ação da oposição, no que tangia a realização

da mudança da capital.

Em abril de 1959, a UDN e seus deputados tentaram pela segunda vez

impedir a concretização da meta-síntese. Os oposicionistas, constatando que

Brasília já estava em adiantado estágio, o que indicava que terminaria em

tempo hábil, articularam um plano para paralisar a obra. A tentativa consistia

em buscar adesão da maioria dos deputados pra tornar possível a instauração

de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar as contas da

NOVACAP. Assim que fosse estabelecida a CPI, as obras seriam paralisadas

imediatamente, o que implicava no não comprimento da meta de inaugurar

Page 42: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

42

Brasília até 21 de abril de 1960. Em última análise, significava a derrota do

governo.

A princípio, a oposição lançou nos jornais a campanha da

“inoportunidade”, argumentando que o Brasil passava por dificuldades

econômicas, sendo inoportuna a ação do governo de gastar muito construindo

uma Capital no interior do país.

Então, os udenistas mudaram de tática. Passaram a divulgar nos jornais

que não eram contra Brasília, mas contra a maneira como a cidade estava

sendo feita. Havia o esforço no entendimento com outros deputados para obter

o número regimental necessário para a instauração automática da CPI, no

mesmo momento em que a oposição buscava explorar as constantes

desavenças entre o PSD e o PTB. O PSD era o partido do Presidente da

República, mas o PTB era o partido de sustentação do governo do Congresso,

conforme foi visto na seção anterior. A UDN tentava, então, enfraquecer esta

aliança e precisava obter êxito, pois, do contrário, não conseguiria o mínimo de

assinaturas para a CPI.

O Presidente e o Vice-Presidente João Goulart tinham divergências

políticas. O PTB não se mostrava favorável à transferência e somando-se a

isso, o Presidente havia feito um convite para que o professor San Tiago

Dantas assumisse o Ministério da Agricultura. A solução proposta pelo

presidente foi sugerir a instauração de uma CPI no dia 22 de abril de 1960,

portanto um dia depois da inauguração da nova capital. Além disso, o

candidato que iria assumir a pasta da Agricultura recusou o convite. As duas

ações fizeram com que muitos membros do PTB e a Comissão Parlamentar de

Inquérito automaticamente. Mesmo assim, no documento já constavam cento e

nove assinaturas e, portanto, faltava somente uma assinatura para a

constituição automática da CPI. Somente um deputado udenista não havia

assinado o documento, pois estava viajando: Jânio quadros. A adesão deste

deputado não parecia muito complicada, visto que se declarava publicamente

contrário à transferência da Capital. Entretanto, ao voltar ao país, Jânio não

assinou o documento e a CPI não pode ser viabilizada.

Page 43: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

43

A derrota fez com que a oposição reavaliasse sua estratégia. Não

podiam negar: Brasília já existia. Não deveriam ser contrários às metas, porque

assim seriam contrários ao desenvolvimento nacional, mas algo deveria ser

feito para a inauguração não ocorresse na data marcada.

Contudo, em abril de 1959, começavam a surgir os movimentos dentro

dos partidos visando a sucessão presidencial. A UDN passou a ter, dentro do

mesmo partido, três interesses distintos: a sucessão presidencial, o

impedimento à transferência da Capital e a eleição para prefeito do Rio de

Janeiro, quando a cidade se transformasse em Estado da Guanabara.

Além desta divisão de interesses, que dificultava a ação comum, outro

fato acentuou o enfraquecimento do partido: a convenção udenista de maio de

1959.

Nesta convenção foi aprovado o nome do mineiro Magalhães Pinto para

a presidência do partido, cuja postura mais conciliadora junto ao governo não

agradou a banda mais radical do partido. Os movimentos dissonantes dentro

da UDN geraram uma crise política, enfraquecendo ainda mais sua atuação,

tanto que em 10 de setembro de 1959, Carlos Lacerda, que era

incompatibilizado com Magalhães Pinto, renunciou ao cargo de líder da UDN

no Distrito Federal. Carlos Lacerda descreveu assim “

“a crise que ocorria em grande parte ao modo pelo qual os agentes do

grupo econômico do Sr. Magalhães Pinto, na imprensa e no rádio,

completam a obra do Sr. Juscelino Kubitschek” (Dulles, John W.F.,

“Carlos Lacerda-A vida de um lutador”.RJ.Ed.Nova Fronteira, 1992. V1,

p.358).

Ao mesmo tempo que a crise na UDN se aprofundava, o governo

buscava se consolidar e se reafirmar com os membros do PSD. O partido

chegou a promover um encontro das principais líder o deputado Armando

Falcão, que declarou em nome do partido:

“nós temos o compromisso solene com o eminente correligionário que

ascendeu a chefia da nação (Jornal do Brasil, 5 de abril de 1959)”.

Page 44: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

44

Sendo irreversíveis a transferência da Capital e a construção de Brasília,

a questão que passou a povoar as discussões dentro da Câmara dos

Deputados foi a da organização administrativa e judiciária da nova Capital e o

futuro do ex-Distrito Federal. Estas questões, obviamente atreladas uma a

outra, já faziam parte das discussões da sociedade carioca, desde 1959 (Sobre

as discussões acerca do que será o Rio de Janeiro após a transferência, ver

capítulo 3), conforme demonstram as reportagens da época, mas por

conveniência do governo, somente foram postas em pauta ao apagar das

luzes, em março de 1960.

Quanto à situação do Rio de Janeiro como Estado da Guanabara, a

proposta inicial foi do deputado udenista Menezes Cortes. Tal proposta tinha o

nome de emenda nº 6 (ANEXO 7) que foi modificada, através de substitutivos,

pelo deputado San Tiago Dantas (PTB – MG), anexando vários projetos

anteriores, sobre a instauração da Guanabara (1828/56, 3273/57 e 622/59).

Três pontos mobilizaram os debates: a relação entre a União e o novo Estado,

no que se referia aos serviços antes mantidos pela União e a concessão de

recursos financeiros decorrentes da perda da condição da cidade como sede

do governo; a extinção da Câmara dos Vereadores, finalmente, o governo

provisório depois da mudança e antes das eleições de outubro de 1960, que

era prevista na emenda constitucional nº 2 (Mais informações sobre a emenda

constitucional nº 2, vide seção 2.1 deste trabalho e cap.3).

Ao reabrir o Congresso, em 15 de março de 1960, a oposição lançaria

mão de seu último recurso para atrasar a inauguração da Capital, que já estava

pronta, mas sem a devida organização administrativa e judiciária. Esta

organização era de vital importância para o funcionamento da nova capital, pois

se referia ao funcionamento dos poderes dentro do novo Distrito Federal.

Juntamente com a organização, vinha no bojo das discussões o estatuto do

novo Estado da Guanabara, que deveria estar pronto quando a capital fosse

transferida, já que ditaria as normas de seu funcionamento. Afinal,

Page 45: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

45

“como administra a cidade em um período de transição entre a

cessação das atribuições dos atuais governantes da municipalidade

carioca (Câmara dos Vereadores e o prefeito nomeado pelo Presidente

da República até 3 de outubro) e a eleição dos dirigentes do futuro

Estado da Guanabara (Assembléia Legislativa e Governador)?

(Abranches, Carlos D.,Jornal do Brasil, 20/06/59, 1º caderno).

A facção mais radical da UDN se aproveitou da necessidade da

aprovação desta lei para articular o atraso da transferência. Os principais

articuladores eram Carlos Lacerda (UDN-DF) e João Agripino (UDN-PB).

Desde o início de 1960, estes udenistas e outros que não concordavam com

mudança, buscavam conscientizar o funcionalismo público federal,

principalmente aquele ligado ao primeiro escalão do governo, acerca do fato de

que a transferência era impossível, pois a futura cidade não possuía infra-

estrutura para abrigar suas famílias, ao mesmo tempo em que o governo fazia

circular listas para que os servidores optassem se quereriam ir ou não. Os

oposicionistas tentavam argumentar, alegando que a atitude era impositiva.

Nos jornais, eram bastante comuns as matérias que diziam que viver em

Brasília era impossível, porque

“não possuía requisitos essenciais para a instalação e funcionamento

dos três poderes neste mês de abril (Jornal do Brasil, 05/04/1960,

2ºcaderno).”

Mas a oposição estava enfraquecida, o que facilitava ainda mais os

sucessos das ações do governo. Em fevereiro de 1960, surgiu um movimento

dentro da UDN de resgate do partido, contra as atitudes amorais utilizadas pelo

governo, o “desaparecimento da oposição na Câmara, com a propaganda de

Juscelino (José Sarney, em carta à Carlos Lacerda, em 06/02/1960)”,

procurando não atacar as metas governamentais para não serem acusados de

contrários ao desenvolvimento. Esse movimento recebeu o nome de “Bossa

Nova” e era liderado pelos deputados José Sarney e Clóvis Ferro Costa.

Page 46: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

46

“Por muitas vezes a gente pensa que naquela época do Juscelino as

coisas se desenvolviam todas muito bem, que era um mundo de

desenvolvimento, mas não era não (...) o que se combatia naquele

tempo era que justamente o Juscelino tinha uma visão absolutamente

desenvolvimentista, só pensava na parte econômica, na parte do

desenvolvimento, e havia um certo abandono na parte social

(Depoimento de José Sarney, “Histórias do Poder”, Op.Cit.V.3,p.280)”.

Lacerda retornou à luta, argumentando que a transferência para Brasília

era um crime, pois a cidade não se encontrava em condições de funcionar.

Elaborou um projeto de lei que manteria o Congresso no Rio de Janeiro até 3

de outubro de 1960, salientando que, enquanto havia sido gasta uma fortuna

nas comemorações da inauguração da capital, as vítimas das inundações no

Ceará “estavam famintas” (Tribuna da Imprensa, 02/04/1960). Contudo, ao

mesmo tempo que o projeto era apresentado em plenário, Emival Caiado

(UDN-Goiás), comentava que “um projeto desses não valia nada” (Correio da

Manhã, 05/04/1960) e outros membros, como Jânio Quadros e Magalhães

Pinto, já elogiavam a transferência da Capital.

O projeto da organização administrativa e judiciária e o estatuto da

Guanabara foi muito discutido e foi conduzido a “um impasse só resolvido na

madrugada do dia 12 de abril” (Motta, Marly S. da.”Saudades da Guanabara”.

RJ.Ed.FGV,2000,p.33). Quando a lei orgânica e administrativa do futuro Estado

da Guanabara chegou ao plenário, o PTB em sua postura sempre ambígua,

resolve assumir a mesma posição da UDN, sendo contrário à aprovação do

estatuto. O ponto de discórdia era a palavra “interventor”, que seria nomeado

pela Presidente da República, com funções de dirigir o Estado até a posse do

governador que seria eleito pelo povo. Na realidade, o Partido de sustentação

do governo achou que o Presidente pudesse indicar o nome do Ministro da

Justiça, Sr. Armando Falcão para assumir o cargo de “interventor”. O nome do

Ministro não era aprovado pelo PTB para assumir o cargo. A resolução mais

rápida foi estabelecer uma emenda em plenário oralmente, retirando a palavra

“interventor” do estatuto. Um segundo substutivo foi apresentado “como a

Page 47: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

47

fórmula de tranqüilidade dos espíritos” (Anais da Câmara dos Deputados,

12/04/1960). A lei nº3.751 (ANEXO 8) foi aprovada e ficou conhecida como Lei

San Tiago Dantas. Tal lei regulamentava a vida da cidade após a transferência,

da situação dos funcionários públicos, das eleições, além de outras questões

que diziam respeito à administração da cidade-estado. Mas, apesar de toda a

discussão gerada em função do estatuto, ele ainda mantinha algumas

ambigüidades:

1- Mantinha o artigo que previa a escolha do governador provisório do

Presidente da República, que exercia o cargo de interventor até dezembro de

1960;

2- Ainda se mantiveram indefinidas as relações entre o governo da

União e o ex-Distrito Federal, deixando em aberto todos os repasses das

verbas federais para a Guanabara;

3- O artigo 7º, que tratava do poder legislativo local, estabelecia que a

Câmara dos Vereadores deveria exercer função administrativa até a

promulgação da nova Constituição da Guanabara, ou seja, durante alguns

meses, o Estado teria duas Assembléias: uma eleita em 1958 e outra eleita em

3 de outubro de 1960, mantendo os 50 vereadores eleitos em 1958 e elegendo

30 deputados constituintes.

Com isso, o novo Estado ganhou um triste arremedo em forma de

estatuto, que pela pressa deixou indefinidas questões essenciais para o bom

funcionamento de mais uma das unidades de federação. Como disse um

jornalista, dias depois de aprovado o estatuto:

“os dois maiores inimigos da dignidade – a pressa e a violência – foram

fadas melancólicas que se debruçaram sobre o berço do novo Estado

da nação: o da Guanabara.” (Correio da Manhã, 15/04/1960).

A aprovação do novo estatuto da Guanabara e da organização

administrativa e judiciária, não havia mais impedimentos institucionais. O

projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados no dia 13 de abril de 1960 e

seguiu para o Senado, onde também foi aprovado. A preocupação política

passou a ser a indicação do governador provisório e a sucessão presidencial.

Page 48: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

48

O governador escolhido foi José Sette Câmara, chefe da casa civil de JK, que

exerceu o mandato até dezembro de 1960.

O senador Mem de Sá foi um dos únicos a declarar sua posição

contrária ao projeto da organização administrativa e judiciária, definindo-o “um

perfeito, nítido e justo reflexo da própria construção de Brasília: uma aberração,

um monstrengo”. E, deflagrando a situação política confortável do governo em

aprovar suas leis, ponderou sobre a situação política, da seguinte forma:

“antes, quero registrar o masoquismo que domina o Congresso

Nacional...” e “...sempre tão pronto a declarar que o poder executivo é

perfeito, supremo, maravilhoso, fabuloso, incapaz de erros e falhas...”,

“...no caso atual do Brasil, o poder executivo conta com maioria sólida

das duas casas do Congresso”, “...é o poder executivo que estabelece a

hierarquia, o programa, a ordem das medidas legislativas do que carece

para a execução de seus objetivos.” (Anais do Senado Federal,

13/04/1960).

Page 49: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

49

2.4- A relação entre o Governo Federal e o governo local

2.4.1- Autonomista x intervencionistas

Uma das maneiras de analisar a relação entre a União e o governo do

Distrito Federal é refletir sobre a situação que existia entre intervencionistas e

autonomista dentro do espaço físico da cidade do Rio de Janeiro. As forças

atuavam dentro da mesma realidade da capital, mas com interesses diferentes.

As decisões nacionais eram tomadas na cidade, que tinha também seus

projetos a realizar, seus problemas locais. Os interesses, além de diferentes,

tinham graus bem distintos – o governo federal era bem mais forte que o poder

local, naturalmente. Esta singularidade que conferia à cidade um caráter

nacionalizador muito poderoso. Às vezes, o que era Rio de Janeiro se

confundia com o que era Brasil.

Na primeira parte deste capítulo, quando foi abordada a história

institucional do Rio de Janeiro como sede do governo, buscou-se mapear a

situação da cidade para servir de base nesta discussão. A situação da cidade

foi uma das forças atuantes no processo de transferência na Capital Federal e

o presidente Juscelino Kubistchek sabia disso pois, em seu livro “Porque

construí Brasília”, o presidente chegou a afirmar que “a população do Rio de

Janeiro ansiava por exercer plenamente seus direitos políticos” (Op.Cit.p.275).

Este foi um dos argumentos utilizados para a transferência: para atender às

reinvidicações cariocas, e ao mesmo tempo cumprir a constituição,

“mudaremos a capital”.

Conforme já mencionado, na seção 2.1 deste capítulo, sobre as leis

orgânicas de 1892 e 1948, ambas restringiam o poder político da cidade do Rio

de Janeiro, seja na nomeação do prefeito, que era feito pelo Presidente da

República, seja pelo poder do Senado, de derrubar o veto do prefeito do

Distrito Federal. A cidade não tinha autonomia política em duzentos anos de

sua história como sede do governo. Estas leis controlavam as ações políticas

da cidade. O poder federal, inicialmente se valendo do pretexto de “segurança

Page 50: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

50

dentro sua rede”, intervinha na vida local, tornando-o soberano na Capital, ao

mesmo tempo em que limitava o poder local. Em um segundo momento, mais

precisamente após a Revolução de 1930 – portanto já na lei orgânica de 1948

a preocupação do poder central consistia em um poder politicamente auto-

suficiente dentro do Distrito Federal. Sem exercer seu poder pleno, o Rio de

Janeiro era a cidade mais politizada do país, palco da mais bem-sucedidas

ações políticas que ocorreram no Brasil. A solução de intervir na cidade e

limitar a ação de grupos políticos seria a decisão que garantia mais segurança

do governo em sua sede. Este era o objetivo explícito do controle: a segurança.

Sendo assim, quando o Presidente nomeava um prefeito, ou era seu amigo

particular, ou era membro do partido do governo; quando o Senado derrubava

o veto do prefeito, o fazia porque

“caso entregasse o veto aos vereadores, o poder executivo municipal,

indicado pelo presidente, ficaria inteiramente nas mãos da Câmara

Municipal eleita”. (Depoimento de Erasmo Martins Pedro, concedido a

equipe CPDOC.RJ.Ed.ALERJ/FGV,1999,p.63).

Esta postura de intromissão na vida política da cidade, conferiu ao poder

central a denominação de intervencionistas.

A posição intervencionista do governo, implicitamente, favorecia ao

controle da máquina administrativa da capital da República e “dava ao

Presidente da República imenso poder de barganha política” (Ferreira, Marieta

de Moraes, Op.Cit.p.76). O enfraquecimento político do poder local, por sua

vez, “abria o campo político carioca pra o lançamento de candidaturas

inteiramente afinadas como governo federal” (Ferreira, Marieta de

Moraes,op.Cit.p.77). Então, era muito interessante para o poder federal

controlar o Rio de Janeiro, O campo político da Capital favorecia a prática do

clientelismo entre o governo federal e o poder local – principalmente nas

relações entre o Senado e a Câmara dos Vereadores.

O governo local, por sua vez, iniciou sua luta pela autonomia política

local a partir da primeira lei orgânica do Distrito Federal, em 1892. Em 1933, os

políticos da cidade, inconformados com a situação limitada da capital,

Page 51: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

51

fundaram o Partido Autonomista do Distrito Federal, de caráter nacionalista e

com forte mobilização das forças políticas locais. O partido, resultado direto dos

anos de “sufocamento imposto pelo mecanismo interventivo de “pacificação” e

de “domestificação” da política carioca”. (Sarmento,Carlos E., “A arquitetura do

impossível”, Artigo,op.cit.Ed.FGV,2000,P.39), lutava pelo direito de eleger seu

prefeito e de julgar vetos. Os prefeitos nomeados eram quase todos

“estrangeiros”, ou seja, figuras que não pertenciam à vida política da cidade e

incapazes de identificarem muitos dos problemas urbanos locais. A intervenção

externa “assumia contornos variados, de acordo com as conjunturas políticas.”

(Freire,Américo,Op.Cit.p.31), isto é, a nomeação era perfeitamente consonante

com a política vigente no Governo Federal, e nada de acordo com as

necessidades da cidade. Então, “a permanência do Governo Federal na cidade

sufocava uma vibrante vida política que clamava por se manifestar”.

(Depoimento de Erasmo Martins Pedro.Op.Cit.p.57). Os que pertenciam a esta

corrente, recebiam o nome de Autonomistas. Para esse grupo, a transferência

da capital era interessante porque libertaria o Rio de Janeiro, quando este se

transformasse em um novo Estado. Pela Constituição de 1946, o antigo Distrito

Federal se transformaria em um novo Estado, ao mesmo tempo em que a

capital fosse transferida. Por isso, de um modo geral, os políticos locais eram a

favor da mudança da capital.

Page 52: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

52

2.4.2- As relações entre a Câmara dos Vereadores do Distrito

Federal, o Senado Federal e o Prefeito

Para identificar os movimentos implícitos dentro da esfera local, foi

necessário utilizar o depoimento de um parlamentar da época – Erasmo

Martins Pedro, a fim de tentar descobrir como agiam as forças políticas no

Distrito Federa.

2.4.2.1- Sobre a escolha do prefeito do Distrito Federal

“Era muito importante ser prefeito do Distrito Federal que ser Ministro. O

prefeito era uma escolha pessoal do Presidente da República. Às vezes,

as nomeações eram feitas com critérios partidários. Nas negociações

para a indicação do prefeito alguns acertos também eram feitos para

garantir a maioria na Câmara dos Vereadores.” (Erasmo Martins

Pedro,Op.Cit.,p.59).

Os prefeitos nomeados nesse período seguiam esta tendência, eram

nomeados sem que houvesse identificação com o povo carioca, por isso eram

denominados de “estrangeiros” (ANEXO 9).

PREFEITOS DE 1956 À 1960 (Motta,Marly Silva da.Op.Cit.,p.20)

Negrão de Lima 1956/1958 PSD

Sá Freire 1958/1960 PSD

O prefeito Negrão de Lima era um político mineiro do PSD e foi Ministro

do governo de Getúlio Vargas. Do tipo conciliador, saiu da prefeitura do Distrito

Federal para ser Ministro das Relações Exteriores do governo de Juscelino

Page 53: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

53

Kubitschek. O prefeito Sá Freire Alvim pertencia a uma tradicional família de

políticos cariocas – seu tio Milcíades Sá Freire foi prefeito do Distrito Federal

(1919/1920): era secretário-geral do Distrito Federal na administração de

Negrão de Lima, quando foi indicado para substituí-lo em “função também das

suas relações com a política local” e “ele sempre procurava atender às

demandas da Câmara na nomeação do secretariado.” (Erasmo Martins Pedro,

Op.Cit.,p.61). Foi um dos únicos prefeitos que teve alguma relação

administrativa anterior com o Distrito Federal.

Entretanto, o prefeito após assumir, estava em posição delicada entre a

Câmara dos Vereadores e o Senado Federal. Isso acontecia porque um dos

pontos mais difíceis da política do Distrito Federal era a apreciação dos vetos

do prefeito que, de acordo com a lei orgânica cabia ao Senado Federal. O

prefeito tinha quinze dias para sancionar uma lei, depois desta, se aprovada,

passava pela Câmara dos Vereadores. Se vetasse, o veto não retornava à

Câmara dos Vereadores, indo para o Senado Federal, o único que podia

derruba-lo. Portanto, a articulação da Câmara Municipal com o Senado era

uma articulação-chave.

“Tenho que alguns vereadores entravam em acordo com os Senadores

e apresentavam determinados projetos meio absurdos que obrigava o

prefeito a vetar. O veto ia então para o Senado, e lá sua manutenção

era negociada. Essa negociação muitas vezes era a oportunidade para

a distribuição de cargos e empregos. A grande parte dos bons cargos

era ocupada por filhos de senadores ou parentes de senadores”.

(Erasmo Martins Pedro.Op.Cit.,p.61).

Ou seja, a máquina administrativa municipal ficava muito marcada pela

influência direta do Senado Federal.

Nesta realidade, o prefeito tinha que cuidar, ao mesmo tempo, do

Senado Federal, por onde passavam seus vetos, e da Câmara Municipal, para

ter sua maioria e apoio político. O Senado Federal era o poder moderador, mas

a Câmara Municipal também tinha sua força política. E o legislativo local tinha

que desenvolver e ampliar a sua rede de interesses para poder sobreviver. Por

Page 54: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

54

isso, justificava-se a fala do vereador Erasmo Martins Pedro quando fez

menção em seu depoimento, quando falava ao poder da Câmara Municipal:

“Se um vereador fazia uma indicação para calçar uma rua, a rua tinha

que ser calçada, porque o prefeito ficava dependendo do apoio político.

Nenhum prefeito podia sobreviver se não tivesse o apoio do poder

legislativo”. (Erasmo Martins Pedro.Op.Cit.,p.57).

Page 55: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

55

CAPÍTULO 3:

A imprensa (os principais jornais para consultados para a análise

deste capítulo foram a Tribuna da Imprensa, o Jornal do Brasil e o

Correio da Manhã) e a transferência da capital

A imprensa era muito presente na política do antigo Distrito Federal. No

Rio de Janeiro dos anos 50, existiam muitos jornais na capital, a maioria deles,

ou eram ligados a grupos políticos ou exerciam forte oposição a eles. A

imprensa escrita tinha um importante papel na formação da opinião da

população carioca, que tinha por hábito ler os jornais e acompanhar as

decisões nacionais partindo da cidade. Além disso, a imprensa tinha grande

penetração dentro da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o que

facilitava retratar os acontecimentos, principalmente políticos, que ocorriam

dentro do Congresso Nacional. Assim foi descrita a presença da imprensa

carioca na vida política da cidade:

“No Rio de Janeiro antigo, no Rio Capital, nessa fase de ouro da

eloqüência parlamentar, do Congresso girando em torno da oposição e

governo, ambos da mesma estrutura conservadora... A UDN com suas

fumaças liberais... o PSD mais pousado nas suas bases interioranas,

um partido com enorme competência na administração do poder.” “a

vida partidária girava em torno dos partidos no palco do Congresso. O

jogo do poder era feito no Congresso e as reuniões partidárias, que

eram regulares. Com hábitos diferentes de partido. A UDN, que era o

grande partido de oposição...se dava a esse requinte de fazer reuniões

de portas abertas.” “o PSD, não (...) eram reuniões fechadas”. “Era uma

casa (o Congresso) que forçava o convívio, o convívio partidário e o

convívio interpartidário. Porque o gabinete das lideranças era o ponto

de encontro das bancadas. E de freqüente obrigatória pelos repórteres

(...) todos freqüentávamos obrigatoriamente a Câmara (...) Tínhamos a

bancada da imprensa na Câmara, que ficava dentro do plenário (...)

Page 56: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

56

Então, tínhamos absoluta intimidade, assistíamos vis à vis à disputa do

poder (...) a vida girava em torno dos partidos. E os jornalistas cobriam

os partidos.” (Depoimento do jornalista Luiz Antonio Villas-Boas Corrêa.

“Histórias do Poder”.Op.Cit.,v.2, p.84 e 85).

Quanto ao posicionamento político de alguns jornais da época, no Rio de

Janeiro, ainda Distrito Federal, pode-se dizer que havia jornais de caráter mais

regional e outros de abordagens mais nacionais. De cunho nacional, estavam a

“Tribuna da Imprensa” do deputado udenista Carlos Lacerda, “O Globo” e o

“Correio da Manhã” que eram oposicionistas também. Na linha do governo e

declaradamente mudacionistas estavam “A Última Hora”, de Samuel Wainer,

“O Jornal”, “O Jornal do Comércio”, do petebista San Thiago Dantas, “Jornal do

Brasil e o “Diário Carioca”. Os jornais “O Dia” e “A Notícia” eram mais voltados

para os acontecimentos do Distrito Federal. “O Dia” era o paladino das massas,

defensor do servidor público, e conseguiu eleger muitos vereadores do PSP

para o Distrito Federal. Os donos do Jornal eram Adhemar de Barros e Chagas

Freitas, do PSP. (Sobre a influência política destes dois jornais, ler “Chagas

Freitas”, de Carlos Eduardo Sarmento. Ed.FGV,1999). A imprensa elegia os

políticos e os derrubavam também:

“Ao final da apuração dos votos (em 1954), o PSP-DF havia dobrado

sua representação na Câmara dos Deputados.” “...o fato de os

candidatos terem praticamente triplicado a votação que haviam obtido

quatro anos antes dava indícios da eficácia da estratégia de divulgação

através das páginas de “O Dia” e “A Notícia” (Ler “Chagas Freitas”,

Op.Cit.).

As notícias que eram divulgadas, ainda que tendenciosas, serviam para

retratar alguns assuntos abordados pela sociedade carioca no período

considerado neste trabalho. Uma das discussões que mais apreciam nos

jornais, principalmente entre julho e agosto de 1958, tratavam sobre a

construção de Brasília e a transferência da capital – que naquela altura já era

Page 57: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

57

irreversível, e o que aconteceria com a cidade do Rio de Janeiro após deixar de

ser Capital Federal. Simultaneamente, “O Correio da Manhã”, “A Tribuna da

Imprensa” e o “Jornal do Brasil” publicaram reportagens sobre o destino do Rio

de Janeiro, após a transferência, o que era uma clara indicação de que esse

era o assunto que mobilizava o povo e a imprensa carioca.

A inexistência de uma legislação capaz de definir com certeza a futura

situação da cidade pode ser atribuída em parte ao governo que parecia

satisfeito com a indefinição reinante. Prolongando o impasse, iam transferindo

a capital ainda sem uma clara institucionalização sobre o destino do Rio de

Janeiro. O governo Juscelino Kubistchek não decidiu nada ao longo dos cinco

anos e deixou para os últimos dias que dispunha a definição acerca do futuro

do novo estado. Foi uma manobra proposital pois o governo, no afã de

sacramentar a transferência, acabou por atrela-la à criação de um estatuto para

o novo Estado, na noite do dia 12 de abril de 1960, nove dias antes, portanto,

da inauguração da nova Capital.

A Constituição de 1946, como já foi dito, citava a criação do Estado da

Guanabara. E só. A emenda constitucional nº 2, previa a eleição direta para o

prefeito do Rio de Janeiro após a transferência, coisa que também era óbvia, já

que, transformando-se em Estado, a Guanabara exerceria suas funções

políticas plenas. Como disse Lopo Coelho, deputado carioca do Partido Social

Democrático (PSD) e relator da comissão que estudava as necessidades do

futuro estado, “a Guanabara boiava no ar” (Lopo Coelho, “Que será do Rio?”,

Correio da Manhã, 18/07/1958).

Muito mais polêmico que a discussão sobre a transferência da capital

para Brasília, o debate sobre o futuro ex-Distrito Federal, envolveu um impasse

sobre a definição da identidade da cidade após a mudança: a cidade passaria a

ser Território, Estado ou Município: O elemento fundamental para este debate

foi o passado de cidade-capital do Rio de Janeiro.

Em agosto de 1958, o Ministro da Justiça Cirilo Junior apresentou o

projeto de transformar o Rio de Janeiro em Território da Guanabara por um

período de dez anos. A proposta visava preservar a cidade como uma área

especial no quadro da federação brasileira. Mas, a idéia implícita parecia ser a

Page 58: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

58

de manter a cidade neutra dentro da política brasileira, antevendo talvez os

pleitos de 1960 e 1965. A proposta ameaçava a autonomia da cidade, e isso

era impensável. Seria como transformar a antiga Capital em “um simples

território como o Acre” (“Intervenção no Distrito” – Tribuna da Imprensa,

03/09/1958) O custeio dos principais serviços ficariam a cargo da União, como

se a cidade ainda se mantivesse como Capital, em uma condição diferenciada

dos demais estados da nação (“Estado, Território ou reintegração ao Estado do

Rio?” – Jornal do Brasil – 12/07/1958). A oposição, principalmente da UDN, foi

diretamente contrária a esta idéia, talvez por enxergar que o governo preparava

suas bases de retorno na eleição de 1965. Como citado na própria “Tribuna da

Imprensa”:

“Nem Território da Guanabara, nem cidade livre, nem junção com o

estado do Rio, idéia da moda (...) A constituição não permite dúvidas.

Mudada a capital, o Distrito será estado da Guanabara. Só.” (“Território

da Guanabara”, Tribuna da Imprensa, 07/08/1958).

No caso da transformação do Distrito Federal em Estado da Guanabara

– como definia a Constituição -, o ponto central do debate foi a viabilidade do

ex-Distrito Federal se tornar mais um estado na federação, com organização

jurídica-política semelhante aos demais, ou ao contrário, ser um estado

especial, uma cidade-estado. O status especial de capital que a cidade

desfrutava por tanto tempo, talvez tenha sido o maior empecilho ao seu

engajamento como um Estado normal. Constantemente, havia a lembrança de

que “a cidade do Rio de Janeiro já tomou feição tão particular...que se distingue

claramente não só da velha província fluminense, como dos demais estados da

União” (“Que será do Rio?” – Correio da Manhã, 15/08/1958).

“quer queiram, quer não, os mineiros que agora nos governam, e os

fluminenses, que hospedamos cordialmente, mas que ainda não nos

governam, o Rio de Janeiro, através da sua história, graças ao seu

desenvolvimento social por ter sido a corte e depois a capital

republicana, possui características psicológicas que devem ser

Page 59: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

59

preservadas, que enriquecem a cultura nacional” (José Artur

Rios,sociólogo, “Que será do Rio?” – Correio da Manhã – 06/08/1958).

E havia uma terceira corrente que apoiava a fusão da cidade do Rio de

Janeiro ao estado, já em 1960. Este grupo era formado basicamente por

udenistas. Eles, temendo que a cidade se transformasse em território da União

– submetida ao controle federal e vulnerável pra a composição das forças do

PSD-PTB -, para o pleito de 1960 e 1965, e buscando resolver os impasses da

seção fluminense do partido (Ver Motta, Marly S.da, “O Rio de Janeiro continua

sendo...”Tese de Doutorado, UFF,1997, c.2.), queriam que a cidade do Rio de

Janeiro se juntasse à antiga província do Rio de Janeiro. Os defensores da

fusão deveriam definir o lugar a ser ocupado pela cidade do novo estado do

Rio de Janeiro, A antiga capital poderia ser a capital do novo estado ou uma

cidade comum. As opiniões divergiam. Uns achavam que, após a fusão, o Rio

deveria se tornar um grande centro, como o geógrafo fluminense Alberto

Lamego:

“a capital do novo estado deveria ser deslocada para Petrópolis,

Friburgo, ou qualquer outra cidade nas proximidades do centro

geográfico fluminense. Continuaria o Rio como grande comercial que já

é, e se evitariam maiores agitações políticas aqui. Pois não é esse um

dos motivos para a transferência para Brasília?” (Alberto Lamego, “que

será do Rio?”, Correio da Manhã, 19/07/1958).

Outros consideravam vantajoso para o novo estado que o predomínio da

antiga capital na política e na administração deveria se manter, para

transformar o estado do Rio de Janeiro em “um estado poderoso, um novo São

Paulo” (Correio da Manhã, 06/04/1960).

Esses debates sobre o futuro do antigo Distrito Federal, provocados pela

mudança da capital e a passividade com que o governo federal tratava a

matéria, foi se prolongando até a fatídica noite do dia 12 de abril de 1960 e

resultou em atropelos desnecessários para a criação de um novo estado, que

Page 60: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

60

poderia vir a ser o mais importante do país, ainda que perdesse seu título de

Capital Federal.

“Separa-se a União do Rio, mas em que estado civil fica o Rio?” (Jonas

Baiense, deputado petebista fluminense, autor da emenda constitucional

prevendo a fusão, ao Correio da Manhã, 16/07/1958).

Era o momento de apreensão que a cidade estava vivendo ante à

indefinição. Daí, vieram a emenda constitucional nº 6, de Menezes Cortes, que

era vice-presidente da UDN, defendendo-se ao mesmo tempo, as emendas nº5

(da fusão) e a nº 2 (da organização da Guanabara). A emenda proposta pelo

deputado previa a criação do Estado da Guanabara, que poderia vir a ser fundir

com o estado do Rio de Janeiro e formar um novo estado, mediante plebiscito.

Deste modo, na eleição seguinte, 3 de outubro de 1960, os eleitores dos dois

estados poderiam optar pela fusão dos respectivos territórios, para constituir

um novo Estado (Para acompanhar o andamento da votação do estatuto da

Guanabara, ver cap. 2 deste trabalho). Esta emenda foi embargada e o

problema do governo de Juscelino quanto à situação do Rio de Janeiro. Tudo

parecia demonstrar a intenção de prorrogar pelo maior tempo possível esta

situação. As denúncias do desinteresse do executivo, no que se referia ao

problema carioca, partiria dos parlamentares udenistas, o que já era esperado.

Em discurso inflamado, o senador Afonso Arinos (UDN/DF) alertava que:

“assim o Distrito Federal vai ser um burgo podre de eleição de 1960, por

que vai ter todos os instrumentos da ação pública entregues a um

delegado do Presidente da República. Vamos assistir à entrega do

centro, do cérebro,enfim, do cume das tradições cívicas do país, num

ano decisivo para a nacionalidade, à discrição do poder federal, para a

realização de um pleito que interessa a toda a nação, sendo este dos

maiores e seguramente o mais livre dos colégios eleitorais do país”.

(Anais do Senado Federal, seção de 03/02/1960).

Do deputado petebista carioca Sérgio Magalhães, vieram acusações

mais explícitas. Depois de lembrar das manifestações de vários parlamentares

Page 61: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

61

em apresentarem projetos para a nova organização política do Rio de Janeiro,

lançou a afirmação de que o que estava acontecendo não era por acaso:

“não é sem plano, por comodismo, mas desinteresse ligado, sem dúvida

alguma, a qualquer coisa de muito sério que se trama nessa República

(...) em que se percebe a ação dos grupos econômicos que

enriqueceram à custa desse grande plano de desenvolvimento

econômico, e que pretendem um continuísmo” (Anais da Câmara dos

Deputados, em 08/02/1960).

A solução final foi a criação do Estado da Guanabara, como previa a

Constituição de 1946, com interventor e tudo. Nascia um novo Estado da nação

e uma nova Capital. Porém ainda permaneceu a polêmica sobre a inserção do

novo estado como um estado normal dentro da nação. Mas, um estado que

teve uma história como o Rio de Janeiro teve como ex-capital, dificilmente

formaria um estado como outro qualquer da federação.

“A identificação do Rio com o Brasil penetrou tão profundamente o

espírito de sua metrópole que as grandezas do Rio são as Grandezas

do Brasil; as fragilidades do Rio são as fragilidades do Brasil; o calor do

Rio, o calor do Brasil; a paisagem do Rio, paisagem do Brasil.”

(Deputado Munhoz da Rocha, em Anais da Câmara dos Deputados,

12/02/1960) .

Page 62: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

62

CONCLUSÃO

O trecho que utilizei como epígrafe deste trabalho é um parte do

discurso proferido pelo deputado paranaense Munhoz da Rocha, dias antes da

última seção da Câmara dos Deputados no Rio de Janeiro ainda como Capital

Federal, demonstra claramente a preocupação em se manter a cidade numa

situação de excepcional idade no quadro federativo brasileiro. Contudo, o mais

novo membro da federação tinha problemas justamente em razão do estatuto

aprovado para a regulamentação de sua organização possuir indefinições que

comprometiam o seu futuro, principalmente no que dizia respeito ao repasse de

verbas do Governo Federal para a Guanabara. Um dos principais objetivos do

presidente Juscelino Kubitschek era concluir a transferência da Capital para

Brasília ainda no seu mandato. Desta maneira, o processo de mudança da

Capital foi muito mais rápido do que seria recomendável, visto que ao mesmo

tempo que o Governo criava uma nova cidade, um novo Estado surgiria no

país. Portanto, não houve o menor cuidado na elaboração do estatuto legal,

pois a preocupação em cumprir as metas dentro dos prazos era o que

realmente importava.

É bom ressaltar que a idéia de transferir a sede do Governo brasileiro

para o interior do país era muito anterior ao governo de Juscelino Kubitschek.

Em 1789 os inconfidentes já planejavam transferir a Capital para o interior,

tendo sido tal idéia reforçada e discutida nos anos seguintes e esteve presente

em quase todas as Constituições brasileiras. Quando o Presidente eleito em

1955 assumiu, a área que mais tarde seria Brasília já havia sido demarcada,

aerografada, catalogada, estudada e tinha até o nome da futura cidade.

Naturalmente, muito poderia ter sido feito antes de 1956, afinal a transferência

já constava nas Disposições Transitórias desde a primeira Constituição

Republicana, datada de 1891. Ao presidente que assumiu em 1956, coube a

Page 63: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

63

vontade de executar a obra e a institucionalização das leis referentes à nova

cidade e ao novo Estado. Porém, os méritos não eram exclusivamente dele.

Um segundo ponto a comentar, foi que a mudança da Capital também

envolvia a questão de Segurança Nacional. Desde o início da República

envolvia a questão de Segurança Nacional. Desde o início da República houve

uma preocupação muito grande com a permanência da Capital no litoral, tanto

que, no primeiro Decreto, promulgado pelo Governo Provisório, um dos pontos

relevantes abordava a questão da manutenção da Capital do Rio de Janeiro,

até a definição da nova Constituição. Depois, já na Constituição de 1891, a

preocupação passou a ser a interiorização a Capital. Para justificar a

necessidade de transferir a Capital, foram alegadas questões de Segurança

externa e interna. Extremamente, seria melhor que a Capital estivesse mais

longe do litoral para que, caso houvesse uma guerra ou um ataque externo, a

sede do poder não ficasse tão exposta. Contudo, foi a preocupação com a

questão interna que pesou mais. O Rio de Janeiro não era o tipo de cidade

segura para que um novo governo republicano se consolidasse e se

estabelecesse posto que a ex-Capital Federal tinha fama de revolucionária,

sendo também altamente politizada. Governar o Brasil dentro do Rio de Janeiro

era um grande risco.

Um terceiro ponto diz respeito exatamente ao processo pelo qual o

Governo Federal articulou e manuseou as Leis para conseguir governar o país

no Rio de Janeiro. A cidade se beneficiava com a presença do poder federal

sendo, em contrapartida, o único lugar do país que até 1960 não havia exercido

plenamente a democracia. O Rio de Janeiro esteve por dois séculos sendo

contida politicamente e administrativamente através de Constituições, Leis

Orgânicas e Decretos, cujo objetivo era limitara a política e, por fim, as ações

políticas dentro do antigo Distrito Federal. Com isso, criou-se um espaço

institucional muito diferente do resto do país, com uma grande idéia de

representar a nação brasileira. Essa característica tornou-se um problema para

a cidade que após 1960, teve que se enquadrar primeiro como um Estado

qualquer da federação e, depois da fusão, como um município comum da

nação. O Rio de Janeiro perdeu muito com a transferência, pois a cidade que

Page 64: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

64

tinha um passado de acontecimentos nacionais permaneceria, após a

mudança, como se tivessem roubado sua identidade de “Vitrine do país”

precisando assumir uma nova identidade – de Estado da Guanabara – seguida

de outra – na Fusão com o Estado do Rio de Janeiro – mais desconhecida que

a primeira.

Ao elaborar o mapeamento político da ex-Capital é importante registrar a

formação de um grande número de partidos políticos pós-1945, dentro do

espaço da cidade, pois a formação de uma grande quantidade de partidos no

Rio de Janeiro só poderia representar uma enorme reação aos anos da

ditadura e à Constituição de 1937, quando o antigo Distrito Federal

praticamente deixou de existir como núcleo de representatividade política. Dos

partidos que surgiram três tiveram muita relevância: o Partido Social

Democrático, o Partido Trabalhista Brasileiro e a União Democrática Nacional.

Tais partidos foram responsáveis pelas articulações políticas dentro e fora do

Distrito Federal e vieram a formar outros partidos de importância para a

realidade política atual.

É interessante constatar, ainda analisando o processo da transferência

da Capital, a facilidade com que o Governo Federal aprovou as Leis referentes

à transferência da Capital. Basicamente, foram três Leis principais e o governo

não teve nenhuma grande dificuldade em aprova-las, já que tinha a maioria no

Congresso. Outro ponto a favor que facilitou muito a ação do governo, foi o

enfraquecimento da oposição. Ela não agiu unida para tentar alterar o quadro

que se apresentava, pois estava dividida por interesses divergentes e, como se

não bastasse, dentro do maior partido de oposição – a UDN – existiam

membros que apoiavam o governo. A ação contra a transferência, portanto,

nunca poderia ter tido um bom resultado, como efetivamente não teve. Cabe

frisar que a bancada de Goiás, o estado mais favorecido com a transferência,

agiu em conjunto, buscando assegurar os interesses da região sem se prender

às filiações partidárias. Os acontecimentos narrados neste trabalho mostram

que o Governo Federal foi bastante eficaz e articulado no que se referia à

aprovação das leis sobre a mudança da Capital, o que lhe possibilitou alcançar

os objetivos de maneira satisfatória.

Page 65: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

65

Uma das constatações desta pesquisa foi o descaso com que o Governo

Federal cuidou da situação da cidade do Rio de Janeiro após a mudança da

sede do governo. Deixou propositalmente relegado a segundo plano o

problema da organização administrativa e judiciária do novo Distrito Federal,

assim como a questão do Estatuto do Estado da Guanabara. Somente, dias

antes da data marcada para inauguração de Brasília, no “apagar das luzes”,

chegou-se a uma decisão acerca do referido estatuto. O resultado dessa ação

não poderia ser mais desastrosa para a cidade do Rio de Janeiro que, após

dois séculos como capital não recebeu uma única indenização do Governo

Federal, por deixar de ser Distrito Federal. Os encargos que eram pagos pela

União foram repassados para o novo Estado, indiscriminadamente. Tudo feito

às pressas. A idéia com isso era de agilizar a transferência, já que a aprovação

da organização administrativa e judiciária da nova cidade estava atrelada à

aprovação do estatuto do Estado da Guanabara. E deveria ser desta maneira

para fazer cumprir o que determinava a Constituição: um novo Estado passaria

a existir automaticamente o que determinava a Constituição: um novo Estado

passaria a existir automaticamente com a transferência da Capital para outro

lugar do território nacional.

As relações políticas na cidade do Rio de Janeiro eram ambíguas e a

Câmara dos Vereadores, devido a Lei Orgânica do Distrito Federal, e na busca

de maior poder dentro da política da cidade, mantinha uma relação de troca de

favores com o Senado Federal. Possivelmente, foi a maneira encontrada para

sobreviver à intervenção permanente do Governo Federal. O poder local

barganhava a aprovação no Senado para seus projetos que eram vetados pelo

Prefeito. Em contrapartida, o Senado Federal ganhava cargos, dentro da antiga

Capital para aprovar os atos do Prefeito nomeado pelo Presidente da

República. Essa relação pode ser comprovada pelo depoimento de um

parlamentar na época, pois nem nos Anais tal situação estava bem definida. As

relações entre o poder local e o poder federal consistia em uma relação de

interesses, onde o poder local tentava garantir alguma vantagem sobre o

intervencionismo federal.

Page 66: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

66

Na sociedade carioca a imprensa escrita era muito importante na vida da

população. Este fato fica evidenciado pela grande quantidade de jornais que

circulavam na antiga Capital e o conteúdo de suas informações. Os jornalistas

tinham acesso à vida política do país quase que integralmente, e conseguiam

estar presentes até em reuniões de partido. Tal aproximação facilitava a

circulação de uma grande quantidade de informações, cujo teor contribuía pra

a formação da opinião pública da sociedade carioca.

A imprensa, por se manter próxima à sociedade carioca, retratou a

opinião do povo do Rio de janeiro naquele momento crítico, em que a cidade

perdia sua identidade. O que pôde ser constatado é que a população do ex-

Distrito Federal não estava preocupada com a perda da cidade do status de

Capital Nacional. A preocupação maior dos cariocas era com o futuro do Rio de

Janeiro, quando deixasse de ser Capital. Assim, no momento da transferência

da Capital, existia uma cidade de passado grandioso e futuro incerto, que

sofreu e sofre com as opções daquele período. A cidade que abrigou por tantos

anos o Governo do país não devia ter sido “abandonada”, haja vista que em

nenhum momento houve a preocupação do Governo Federal com o futuro do

Rio de Janeiro ou mesmo com os meios pelos quais a ex-Capital se adaptaria à

sua nova realidade. O Estado da Guanabara estava em situação mais difícil

que outros estados do país, porque precisava se transformar em uma unidade

auto-suficiente imediatamente e sem nenhum auxílio da União. Entretanto

mesmo assim, o Rio de Janeiro continuava a ser a “vitrine do país” para o

mundo.

Page 67: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

67

BIBLIOGRAFIA:

FONTES PRIMÁRIAS:

1. BRASIL. ASSEMBLÉIA GERAL CONSTITUINTE E LEGISLATIVA DO

IMPÉRIO DO BRASIL. Anais.1823

2. BRASIL. ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. Anais. 1890.

3. BRASIL. ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL. Anais. 1946.

4. BRASIL. Constituição (1891). Constituição da República Federativa dos

Estados Unidos do Brasil. Distrito Federal. RJ, 1891.

5. BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República Federativa do

Brasil. Distrito Federal. RJ, 1934.

6. BRASIL. Constituição (1937). Constituição da República Federativa do

Brasil. Distrito Federal, RJ, 1937.

7. BRASIL. Constituição (1946). Constituição da República Federativa do

Brasil. Distrito Federal. RJ, 1946.

8. BRASIL. Emenda Constitucional (1946( nº 2, fr 1956.

9. BRASIL. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Anais. De jan à abril de 1960.

10.BRASIL. Decreto nº 1, art. 10 de 25 de novembro de 1889.

11.BRASIL. Decreto nº 50 A, de 7 de dezembro de 1889.

12.BRASIL. Decreto nº 4.494, de 18 de janeiro de 1922.

13.BRASIL. Decreto nº 32.976, de 8 de junho de 1953.

14.BRASIL. Decreto nº 38.281, de 9 de dezembro de 1955.

15.BRASIL. Emenda Constitucional nº 6, de 27 de janeiro de 1960.

16.BRASIL. Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834.

17.BRASIL. Lei nº 85, de 20 de setembro de 1892.

18.BRASIL. Lei nº 939, de 29 de dezembro de 1902, artigos 1º e 3º

19.BRASIL. Lei nº 1.803, de 15 de janeiro de 1953.

20.BRASIL. Lei nº 2.874, de 19 de setembro de 1956.

Page 68: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

68

21.BRASIL. Lei nº 3.273, de 1 de outubro de 1957.

22.BRASIL. Lei nº 3.751, de 13 de abril de 1960.

23.BRASIL. Segunda Lei Orgânica do Distrito Federal, 15 de dezembro de

1947.

24. BRASIL. SENADO FEDERAL. Anais. De jan. à abril de 1960.

PERIÓDICOS:

25. Correio da Manhã. “O que será do Rio?”, de julho à setembro de 1960.

26. Correio da Manhã, abril de 1960.

27. Jornal do Brasil, de julho à setembro de 1958, abril de 1959 à abril de

1960.

28. Jornal do Brasil, de abril de 1959.

29. Tribuna da Imprensa, de julho à setembro de 1958 e abril de 1960.

LIVROS E ARTIGOS:

30. BARROS, Edgard de S. Os sonhadores de Vila Rica. Rio de Janeiro,

ed. Histórias em Documentos, 1989.

31. CAMPANHOLE, Hilton L. Constituições do Brasil. Rio de Janeiro, ed.

Atlas, 1989.

32. CASTRO, Araújo. A Constituição de 1937. Rio de Janeiro, ed. Estudos

de Direito Constitucional, 1951.

33. DINES, Alberto et. Al. Histórias do Poder: 100 anos de política no Brasil.

São Paulo, ed. 34, 2000.

34. DULLES, John W. F. Carlos Lacerda: a vida de um lutador. Rio de

Janeiro. 2ª edição, ed. Nova Fronteira, 1992.

35. FERREIRA, Marieta de M. et al. Rio de Janeiro: uma cidade na história.

Artigos. Rio de Janeiro, ed. FGV 2000.

36.MOTTA, Marly S. da Saudades da Guanabara. Rio de Janeiro, ed. FGV,

2000.

37.MOTTA, Marly S. da. (Coordenadora). Depoimento de Erasmo Martins

Pedro. Rio de Janeiro. Ed. ALERJ/FGV – Núcleo de Memória Política

Carioca e Fluminense, 1999.

Page 69: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

69

38. OLIVEIRA, Juscelino K. Porque construí Brasília. Rio de Janeiro, ed.

Bloch, 1975.

39.PACHECO, Cláudio. Tratado das Constituições Brasileiras Rio de

Janeiro, ed. Imprensa Oficial, 1965.

40.PICALUGA, Izabel F. Partidos Políticos e Classes Sociais: a UDN na

Guanabara. São Paulo, e. Vozes, 1984.

41.SARMENTO, Carlos E. Chagas Freitas. Rio de Janeiro, ed. ALERJ/FGV

– Núcleo de Memória Política Carioca e Fluminense, 1999.

42.URUGUAI, Visconde de. Estudos Práticos sobre a administração das

províncias. RJ, 1865, v1.,p.29.

Page 70: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

70

ANEXOS

Page 71: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

71

ANEXO 1

DEPUTADOS FEDERAIS ELEITOS EM 1954 NO RIO DE

JANEIRO (DISTRITO FEDERAL)

NOME PARTIDO POLÍTICO QTDE. DE VOTOS

1- Carlos Lacerda UDN 159.707

2- Odilon Braga UDN 8.960

3- Mário Martins UDN 8.993

4 Adauto Lúcio Costa UDN 6.993

5- Anésio Frota Aguiar UDN 5.926

6- Francisco Valente UDN 5.198

7- Luthero Vargas PTB 120.913

8- João Machado PTB 10.315

9- Rubens Berardo PTB 10.271

10- Danton Coelho PTB 6.370

11- Sérgio Magalhães PTB 5.128

12- Georges Galvão PTB 4.829

13- Lopo Coelho PSD 13.546

14- Eurípedes Cardoso de Meneses PSD 12.264

15- Benjamim Farah PSP 15.471

16- Antonio Chagas Freitas PSP 11.250

17- Antonio Buzzi de Mendonça PRT 45.137

Fonte: Izabel F. Picaluga. Partidos Políticos e Classes Sociais:

UDN na Guanabara, ed. Vozes, 1984, p. 194 à 201.

Page 72: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

72

ANEXO 2

VEREADORES ELEITOS EM 1954 (50 VAGAS)

NOME PARTIDO POLÍTICO QTDE. DE VOTOS

1- Raul Brunini UDN 27.034

2- Gladstone Chaves de Melo UDN 11.115

3- Ligia Lessa Bastos UDN 11.069

4- José Candido de Souza UDN 9.497

5- Sandra Cavalcanti UDN 3.474

6- Armando Nogueira UDN 3.050

7- Domingos D’Ângelo UDN 2.845

8- Aníbal Espinheira UDN 2.559

9- Wilson Leite Passos UDN 1.868

10- Luis Paes Leme PTB 8.207

11- Sagramor Scruvero PTB 5.603

12- Celso Lisboa PTB 5.179

13- José Lima Romero PTB 4.931

14- Geraldo Moreira PTB 4.922

15- Odilon Braga PTB 4.913

16- Milton Castro Menezes PTB 4.609

17- Salomão Hassem Filho PTB 4.419

18- Gentil de Castro PTB 4.071

19- Levi Neves PSD 5.603

20- Álvaro Tolentino Dias PSD 4.035

21- Luis Gonzaga da Gama PSD 3.980

22- Ari Almeida Costa PSD 3.758

23- Hugo Ramos Filho PSD 3.491

24- Joaquim Couto de Souza PSD 3.189

25- Frederico Trotta PSD 2.976

26- Edgard Carvalho PSP 3.590

27- Manoel Blásquez PSP 3.511

28- Índio do Brasil PSP 3.462

29- Antonio Mourão Filho PSP 3.444

Page 73: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

73

ANEXO 2 (Continuação)

VEREADORES ELEITOS EM 1954 (50 VAGAS)

NOME PARTIDO POLÍTICO QTDE DE VOTOS

30- Telêmaco Gonçalves Maia PSP 3.279

31- Miécimo da Silva PSP 3.154

32- Alcides Miguel de Oliveira PR 22.940

33- Mário Luis Piragibe PR 2.449

34- José Augusto Bretas PR 2.076

35- Nilo Romero PR 1.810

36- Hélio Luis Walcacer PR 1.789

37- Dulce Magalhães PDC 2.694

38- Indaléceio d’Araújo Iglesias PDC 2.544

39- Manoel da Silva Junior PDC 2.282

40- Raimundo Magalhães PSB 3.325

41- Isaac Isecksonh PSB 2.810

42- José Machado Wanderlei PST 1.836

43- Pedro Alves de Faria PST 1.678

44- João de Freita Ferreira PTN 2.206

45- Alexandrino Mendes Soares PTN 1.685

46- Cipriano Fernandes Lima PL 1.339

47- Raul Gomes Ferreira PL 959

48- Walter Viana de Carvalho PRT 1.684

49- Francisco Durso PRT 1.223

50- Alberto Cotrim Neto PRP 2.252

Fonte: Izabel F. Picaluga. Op. Cit.

Page 74: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

74

ANEXO 2 (Continuação)

NOME DOS PARTIDOS POLÍTICOS, POR EXTENSO,

SEGUNDO RESPECTIVAS SIGLAS

UDN – União Democrática Nacional

PTB- Partido Trabalhista Brasileiro

PSP – Partido Social Progressista

ADN – Aliança Democrática Nacionalista

PSD – Partido Social Democrático

PSB – Partido Socialista Brasileiro

PRT – Partido Republicano Trabalhista

PR – Partido Republicano

PTN – Partido Trabalhista Nacional

PL – Partido Libertador

PDC – Partido Democrático Cristão

PST – Partido Social Trabalhista

PRP – Partido da Representação Popular

Page 75: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

75

ANEXO 3

DEPUTADOS FEDERAIS ELEITOS EM 1958

NOME PARTIDO POLÍTICO QTDE. DE VOTOS

1- Carlos Lacerda UDN 143.012

2- Geraldo Menezes Cortes UDN 60.579

3- Adauto Lucio Costa UDN 19.797

4- Eurípedes Cardoso de Menezes UDN 15.633

5- Hamilton Nogueira UDN 8.305

6- Mário Martins UDN 7.421

7- Elói Dutra PTB 59.780

8- Rubens Berardo PTB 26.213

9- Sérgio Nunes Magalhães PTB 20.094

10- Waldir Simões PTB 17.786

11- Licio Hauer PTB 15.664

12- Antonio Chagas Freitas PSP 94.999

13- Ângelo Mendes de Morais PSP 36.729

14- Benjamim Farah PSP 16.099

15- Franciso Gurgel PSP 7.407

16- Breno da Silva ADN 9.480

17- Nelson Carneiro ADN 16.067

Fonte: Izabel F. Picaluga. Op. Cit.

Page 76: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

76

ANEXO 4

VEREADORES ELEITOS EM 1958 PARA A CÂMARA DO

DISTRITO FEDERAL

NOME PARTIDO POLÍTICO QTDE. DE VOTOS

1- Raul Brunini Filho UDN 24.361

2- Arnaldo Nogueira UDN 16.700

3- Ligia Lessa Bastos UDN 8.687

4- Jair Martins UDN 7.934

5- Murilo Miranda UDN 5.174

6- Paulo Areal UDN 4.940

7- Domingos D’Ângelo UDN 4.234

8- Francisco Sales Neto UDN 3.898

9- Geraldo Moreira PTB 11.737

10- Armando da Fonseca PTB 7.647

11- Celso Lisboa PTB 6.567

12- Velinda da Fonseca PTB 5.762

13- Salomão Hassem Filho PTB 4.356

14- Roberto Gonçalves Lima PTB 3.980

15- Milton de Castro Menezes PTB 3.706

16- Hugo Ramos Filho PSD 9.789

17- Frederico Trotta PSD 6.861

18- Erasmo Martins Pedro PSD 6.450

19- Rubens Cardoso Filho PSD 5.986

20- Osmar Lopes de Rezende PSD 5.659

21- José Maria de Carvalho PSD 5.239

22- Pedro Alves de Fria PSD 4.995

23- Antônio Mourão Filho PSP 10.171

24- Miécimo da Silva PSP 6.920

Page 77: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

77

ANEXO 4 (Continuação)

VEREADORES ELEITOS EM 1958 PARA A CÂMARA DO

DISTRITO FEDERAL

NOME PARTIDO POLÍTICO QTDE. DE VOTOS

25- Ubaldo da Silva Oliveira PSP 6.846

26- Nelson José Salim PSP 6.705

27- Levi Neves PSP 4.371

28- Cesário de Melo PSB 4.371

29- Isaac Isecksohn PSB 3.850

30- Francisco Silbert Sobrinho PSB 3.440

31- Antônio Dias Lopes PSB 2.555

32- Manoel Navella PRT 5.347

33- Waldemar Viana PRT 4.450

34- Lauro do Vale PRT 3.794

35- Aníbal de Gouveia PRT 2.882

36- Telêmaco Gonçalves Maia PRT 4.238

37- Sami Jorge PRT 3.872

38- Nilo Romero PRT 3.361

39- Jurandir Cícero PRT 3.235

40- Albano Fonseca Marquês PTN 3.062

41- José Romero Dantas PTN 2.687

42- Alexandre Mendes Soares PTN 2.566

43- Luciano Lopes PL 3.337

44- Cristiano Salinas Lacorte PL 3.197

45- Horácio Cardoso Franco PL 2.576

46- Gladstone Chaves de Melo PDC 5.886

47- Dulce Magalhães PDC 3.257

48- Antônio Luvizaro PST 3.131

49- Nilton Moreira Pereira PST 2.422

50- Benedito Inácio Maria PRP 2.372

Fonte: Izabel F. Picaluga. Op. Cit.

Page 78: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

78

ANEXO 5

Lei nº 2.784, de 19 de setembro de 1956.

Page 79: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

79

ANEXO 6

Lei nº 3.273, de 1 de outubro de 1957.

Page 80: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

80

ANEXO 7

Emenda Constitucional nº 6, 27 de janeiro de 1960.

Page 81: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

81

ANEXO 8

Lei nº 3.751, de 13 de abril de 1960.

Page 82: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SILVA DE ALMEIDA.pdf · a capital para o interior do território brasileiro era antiga, sendo que a questão da segurança do Reino

82

ANEXO 9

RELAÇÃO DOS PREFEITOS DO DISTRITO FEDERAL (DE

1930 À 1955)

PREFEITO MANDATOS

Adolfo Bergamini 24/10/30 à 21/09/31

Pedro Ernesto 30/09/31 à 03/04/36

Olímpio de Melo 04/04/36 à 02/07/37

Henrique de Toledo Dodsworth 03/07/37 à 03/11/45

Filadelfo de Barros Azevedo 03/11/45 à 30/11/46

Hildebrando de Araújo Góes 31/01/46 à 13/06/47

Ângelo Mendes de Moraes 13/06/47 à 24/04/51

Joá Carlos Vital 25/04/51 à 12/12/52

Dulcídio Cardoso 12/12/52 à 24/08/54

Alim Pedro 05/09/54 à 11/11/55

Fonte: Marly Silva da Motta. Saudades da Guanabara. RJ. Ed. FGV,

2000, p.20.