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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA FRAUDE EM SEGUROS Por: Sonia Cristina dos Anjos Silva Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

FRAUDE EM SEGUROS

Por: Sonia Cristina dos Anjos Silva

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

FRAUDE EM SEGURO

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito e Processo Penal.

Por: Sonia Cristina dos Anjos Silva.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu maridão e meu filho,

companheiros em todos os momentos

de minha vida.

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DEDICATÓRIA

Dedicado em memória de meu pai, José

Andrade Silva, que sempre se orgulhou

do meu interesse pelo estudo.

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RESUMO

O presente trabalho versará sobre a fraude no seguro.

Visando dar maior elucidação ao tema, abordaremos o princípio da boa-

fé, sua historicidade e conceito, 'bem como será definida a fraude de uma

forma macro.

Em um segundo momento, apresentaremos a fraude no seguro, seu

aspecto legal, destacando a impunidade.

Daremos tratamento às tipificações dos crimes, caracterizando a fraude

no estelionato, especificando as fraudes comuns praticadas no seguro.

O funcionamento do processual penal será estudado, com o tratamento

legislativo do assunto em epigrafe.

Ao final deste estudo, serão sugeridas abordagens referentes ao

procedimento a ser adotado para minimizar as fraudes senão estratégias de

apuração e comprovação do ilícito, visando à punição dos criminosos.

Palavras-chave:

Seguro; boa-fé; fraude

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METODOLOGIA

Os métodos utilizados para desenvolver o presente trabalho em primeiro

lugar extraído da prática das tarefas exercidas pelo autor deste trabalho

científico, também principal motivo para trazer o tema proposto.

Face à precária doutrina do assunto, a leitura constante de Revista de

Seguros foi importante no desenvolvimento do assunto. Foi feita também

consulta informal ao Departamento Jurídico da CNSEG para melhores

esclarecimentos da legislação aplicável. Revista Veja e Jornais e escassa

doutrina referente ao assunto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O princípio da boa fé 10

CAPÍTULO II - Fraude 13

CAPÍTULO III – A fraude no seguro 19

CAPÍTULO IV – Do crime 24 CAPÍTULO V – O processual penal no seguro 30 CAPÍTULO VI – Estelionato 36 CAPÍTULO VII – O Combate a Fraude no Seguro 37 CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 44

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INTRODUÇÃO

O Código de Consumidor e o Código

Civil trouxe ao domínio público, o termo boa-fé nas relações contratuais.

A estrita boa-fé nos contratos de seguros é exigência veemente e tem

amparo legal.

Cabe ressaltar que a inobservância deste princípio, enseja a fraude,

acarreta prejuízo para os dois polos do contrato de seguro, segurado e

segurador.

Esses princípios se fazem ainda mais relevantes quando habitamos

uma sociedade onde as práticas nem sempre se mantém torneadas pelo

caráter, pela ética e pela boa-fé.

A ausência do princípio da boa-fé em ambos os polos do contrato de

seguro, nos remete a práticas ilícitas que caracterizam o estelionato, ilícito

penal que enquadra à fraude.

Este estudo nos remeterá a esclarecer, se a fraude no seguro decorre

da falta de aplicação de princípios ou se a legislação efetivamente traz falha

punitiva, em relação ao ilícito penal.

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É notória a dificuldade em se combater à fraude em diversos ramos de

seguro no Brasil.

A concepção equivocada de levar vantagem em tudo acaba levando a

práticas ilícitas que caracterizam o estelionato.

Quem nunca ouviu falar de alguém que já emprestou a carteira do

seguro-saúde para um amigo doente passar no médico e pediu para uma

oficina mecânica retocar a pintura de uma parte do veículo não envolvida na

colisão? Isso é fraude. No entanto, fraudar o seguro é considerado normal e

socialmente aceito, assim como sonegar imposto.

Normalmente os envolvidos na relação do problema da fraude é

justamente o consumidor, que não enxergam a gravidade de enganar,

chamados fraudadores ocasionais. Enquanto que os fraudadores de carreira

atuam em quadrilha e são aqueles que têm grande facilidade de burlar por

vários métodos ilícitos e em curto prazo.

A gravidade do problema das fraudes no mercado segurador se

destaca pelo baixo índice de comprovação.

A reflexão do tema da fraude em seguros estudará quem frauda e

quem é fraudado, os princípios, o ilícito penal, a impunidade e a confiança na

aplicação de leis mais severas e a revisão da legislação atual, contribuindo na

discussão do problema.

As fraudes não são exclusividade do ramo de seguros e existem em

praticamente todos os setores da economia, podendo levar uma empresa à

falência seja pelo desvio de recursos ou pelo abalo na confiança dos

consumidores.

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A fraude é uma ameaça à existência das empresas, o enfraquecimento

dos valores morais e sociais, falhas no sistema de controle, pressões

econômicas e impunidade, são razões que elevam a fraude.

Cidadão com valores morais enfraquecidos tem incentivo a cometer

atos ilícitos porque sabe que não será descoberto ou sofrerá qualquer

consequência. Portanto, a detecção e a punição são elementos muito

importantes para coibir as tentativas de fraude.

CAPÍTULO I

O PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

CONCEITO

A boa-fé objetiva fundada na honestidade, na retidão, na lealdade e,

principalmente, traz ensinamentos do Cristianismo e torna-se reconhecida

como regra de conduta.

A boa-fé deve estar presente em todas as relações jurídicas e sociais

existentes e pode ser abordada em diferentes aspectos da vida social.

O estado de espírito de quem acredita estar agindo de acordo com as

normas de boa conduta, é o que identificamos sob o aspecto psicológico,

enquanto que sob o aspecto ético, boa-fé significa lealdade, franqueza,

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honestidade. No aspecto psicológico, caracterizamos a boa-fé subjetiva,

prevalece à intenção do sujeito.

1.1 – Historicidade

O abuso de direito, que é tudo que viola o respeito, lealdade, cuidado,

equilíbrio, representativo da boa-fé, está interligado ao princípio da boa-fé e

foram reconhecido em Roma, e em consequência reconhecida também as

limitações ao exercício do direito subjetivo. Caracterizada por sua forma não

concentrada, para soluções de conflitos, aplicava-se a equidade, caso a caso.

O princípio da equidade foi base para o surgimento do princípio da boa fé, que

hoje, norteia todas as relações jurídicas e a criação de princípios romanos.

Contribuiu para reparar os impasses que a lei nem sempre conseguia

solucionar, afastando nas suas decisões, a má-fé, ao contrário do que

podemos constatar no Direito Canônico que permite o surgimento da má-fé, a

boa-fé era interpretada como a ausência do pecado, prevalecendo o estão de

consciência individual. Assim, o Direito Canônico, influenciou no surgimento

do princípio da autonomia de vontade.

A nossa sociedade sofreu transformações que trouxe uma realidade

que exigia uma justiça avançada da teoria clássica. O contrato passa a ter

mais exigências, com mudanças no vínculo jurídico e na execução.

A época, a teoria clássica embora perdurasse a autonomia de vontade,

a liberdade na prática não era exercida, o que vivemos até hoje, pois não

somos livres para contratar, assumimos obrigações, como todo meio em que a

sociedade é consumerista.

A necessidade de regulamentação foi se acentuando com o

crescimento, cada vez maior, dos contratos de massa, das estratégias de

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marketing, das mudanças tecnológicas e econômicas. Os consumidores

possuíam informações deficitárias a respeito dos produtos e serviços que,

aliados às publicidades enganosas e abusivas, bem como à colocação no

mercado de produtos com vícios, tornaram imperiosa a regulamentação dos

direitos consumeristas.

Dizemos que o princípio da boa-fé teve origem no Direito Romano,

mas foi no Direito Germânico que iniciou a previsão do princípio da boa-fé.

1.2 - A boa-fé nos contratos de seguros

O princípio da boa-fé é um princípio geral do direito e tem valor genérico

que orienta a compreensão e aplicação do sistema jurídico. Isto porque as

relações jurídicas devem ser laureadas de comportamento ético, honesto e

leal. Por vezes, a própria Lei sinaliza expressamente a boa-fé como principal

rumo a ser considerado nos casos concretos.

Na Doutrina, a boa-fé pode ser subjetiva e objetiva. A primeira está

diretamente ligada a comportamentos morais e a segunda está ligada a

valoração de conduta, fundada em regras objetivas.

Dentro desse contexto de seguros, surgiu ainda a expressão “princípio

da boa-fé securitária” porque em matéria securitária, a boa-fé é analisada sob

prisma objetivo, fundado em regras objetivas de valoração. É fato concreto

definido em lei que é apurado. Veracidade do objeto; das circunstâncias das

declarações. Assim, quando no contrato de seguro, o proponente faz

declarações falsas, presume-se que agiu de má-fé, ainda que tenha apenas

assim agido por leviandade ou falta de zelo. Dentre todos os contratos

existentes, no contrato de seguro é fundamental bonae fideli, pois o segurador

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fica à mercê dos elementos fornecidos pelo segurador para calcular o prêmio e

assumir o risco.

CAPITULO II

FRAUDE

CONCEITO

No Brasil, seguro é um artigo de luxo e paga-se caro por ele. Quando

se contrata um seguro contrata-se acima de tudo a sensação de segurança, de

que nada poderá extinguir sua propriedade sobre aquele bem.

Porém, alguns contratam um seguro, objetivando simplesmente fraudá-

lo, ou seja, com práticas ilícitas obter ganhos e/ou lucros e vantagens de forma

escusa, lesando dessa forma a Seguradora.

A fraude contra o seguro nada mais é do que o ato pelo qual alguém

engana a companhia seguradora, passando-lhe falsas informações na

contratação do seguro ou no processo de regulação do sinistro, com o fim de

obter indenização cujos valores são total ou parcialmente indevidos.

Fraudar o seguro é enganar para o efeito de obtenção, para si próprio

ou para terceira pessoa, de vantagem financeira em relação à seguradora.

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Tentativa deliberada de um segurado de requisitar o pagamento de

sinistro sem que as ocorrências previstas na apólice para tal requisição tenham

acontecido.

Qualquer conjunto de artifícios com o fim de receber uma indenização a

que de outro modo não teria direito, independentemente da maneira como tal

efetivamente se apresente.

2.1 – Momentos da fraude

A fraude na contratação do seguro ocorre quando o segurado contrata o

seguro tendo em mente a execução de uma fraude. O segurador é iludido pelo

segurado quanto às condições do risco a ser segurado. Exemplo: o segurado

contrata seguro para auto que já foi roubado ou para auto cujo roubo pretende

simular; contrata seguro de vida omitindo doenças que o levarão à morte;

contrata seguro de responsabilidade civil já anteriormente caracterizada.

A fraude na provocação ou simulação de sinistros ocorre quando depois

de celebrado o contrato de seguro, pode o segurado provocar ou simular a

ocorrência de um sinistro. Neste caso o sinistro não teria ocorrido se não

houvesse a intervenção direta do segurado, o qual provoca o sinistro com o

objetivo de receber indenização do seguro. Exemplo: seguro de vida no qual o

beneficiário provoca a morte do segurado para receber a indenização; seguro

de acidentes pessoais onde o segurado provoca auto lesão; seguro de

automóvel em que o segurado colide seu veículo para conseguir reparos de

danos anteriores ou colide seu veículo com carro de terceiro para que o seguro

repare o carro de terceiro.

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A fraude no pleito de indenização de sinistros ocorridos acontece

quando o segurado deseja tirar vantagem ilícita de um sinistro realmente

ocorrido. Já que existe o contrato de seguro e já que o sinistro ocorreu, o

segurado alega danos maiores do que aqueles que o sinistro causou.

Exemplo: em seguro de incêndio, ocorrido o sinistro, o segurado alega estoque

incendiado maior do que o afetado.

A fraude praticada pelas seguradoras é visível quando cobra preço

muito abaixo do valor praticado no mercado, por exemplo. Infelizmente nosso

consumidor de seguros ainda não foi alertado de que seguro não é produto

que tem seu preço diferenciado de forma significante nos diferentes

fornecedores, como ocorre, por exemplo, com os gêneros alimentícios.

Quando o preço do seguro for muito baixo, quando houver uma variação muito

grande de uma companhia para outra, deve-se desconfiar, porque estas

seguradoras não estão obedecendo aos cálculos atuariais, o que denota o

problema.

2.2 – Quem frauda e quem é fraudado

Os fraudadores atuam em diversas áreas e contra todos os segmentos,

não podendo haver qualquer surpresa pelo fato de que eles atuam também

contra o seguro.

Os fraudadores podem ser criminosos habituais, que decidiram fazer da

fraude um meio de vida, normalmente existe a premeditação e a intenção de

fraudar. São fraudes planejadas e habitualmente executadas por mais de uma

pessoa. Estas são, na maioria das vezes, relacionadas ao crime organizado.

Também podem ser cidadãos comuns, afetados por uma repentina falha

de caráter associada a uma oportunidade tentadora e por necessidade

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financeira. Esta é a fraude que ocorre em função da esperteza momentânea,

ou seja, são ocasionais. Entretanto, acabam por assumir valores expressivos

em função da alta frequência que ocorrem. De uma forma geral não possuem

grande complexidade e, normalmente, são de fácil identificação.

O modus operandi do fraudador de ocasião traz a característica de agir

sozinho, aproveita brechas e oportunidades, é pouco especializado, comete

fraudes já mapeadas e desiste diante do fracasso ou repressão, enquanto que

o fraudador de carreira monta quadrilhas, busca ou cria brechas nos

processos, é um especialista, pois conhece os processos de seguro, descobre

novos métodos de fraudes e persiste se não for processado ou condenado.

É cada vez mais visível a ação de quadrilhas especializadas na

falsificação de documentos, que dão suporte aos processos de regulação. As

quadrilhas especializadas nesse tipo de fraude tem conseguido vencer a

batalha contra a polícia e as seguradoras com a constante mudança de golpe,

e, além disso, sempre que um dos fraudadores desconfia de que sua ação

despertou suspeita, ele simplesmente desiste do pedido de indenização.

Após discursarmos sobre quem frauda, vamos nos ater aqueles que são

fraudados. Temos que uma determinada companhia seguradora pode ser

vítima de fraude por ser reconhecidamente uma presa vulnerável, passível e

disponível, que todos sabem que podem fraudar. Mas, também pode ser

vítima de tentativas de fraude aquela seguradora conhecida pelo rigor com que

trata os processos de sinistro e eficiência com que opera suas sindicâncias. É

certo que aquelas primeiras sofrem uma incidência maior de fraudes, até

porque a sua incompetência em detectá-las acaba por incentivar novos

ataques dos fraudadores.

Dessa forma podemos concluir que com maior ou menor controle de

seus próprios riscos, todas as seguradoras estão sujeitas a assinar contratos

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de seguro onde a fraude ocorra na contratação, a receber avisos de sinistro

fraudulentos e a sofrer fraudes na regulação.

Ao falarmos de quem frauda e quem é fraudado, um dos assuntos que

devemos abordar são segmentos do seguro onde ocorre maior incidência de

fraudes.

Um exemplo concreto de segmento mais fraudado é o DPVAT, o seguro

decorrente de Despesas com Danos Pessoais Causados por Veículos

Automotores.

A fraude no seguro obrigatório de veículos automotores é a que ocorre

em maior número. Existem quadrilhas que agem impunemente, falsificando

documentos, muitas vezes tabelionatos, cartórios e até em delegacias que não

existem, recebem indevidamente, forjam mortes acidentais e uma infinidade de

casos.

Com relação ao segmento de automóveis, portanto, talvez seja a

carteira que mais tem contribuído com fraudes, após o DPVAT. Nesse

segmento se frauda mediante diferentes formas, sendo as mais comuns:

- o auto-roubo - o segurado alega roubo e esconde o veículo para

receber o seguro;

- empréstimo – que ocorre quando o seguro é emprestado para um

terceiro cobrar, no caso do RCF – Responsabilidade Civil Facultativa.

- maquiagem – ocorre quando o segurado ou outra pessoa agrava um

pequeno estrago para fugir da franquia.

- montagem – quando o segurado, com ajuda de terceiro, forja um

roubo.

Quanto ao seguro de incêndio, o que se nota neste segmento é o

número cada vez maior de fraudes. Ricardo Bechara Santos relata um

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exemplo da façanha dos fraudadores, neste segmento de seguro, conhecida

Omo “ratos Kamikazes”, que em verdade, eram incêndios que decorriam de

ação criminosa dos comerciantes que, vislumbrando não deixar vestígios,

capturavam ratos, os envolviam em estopas embebidas em material

inflamável, ateavam fogo neles e os soltavam em meio de casarios velhos de

madeira, causando, assim, incêndios em grandes proporções. De certo,

assim, procedendo, não sem antes realizar um belíssimo seguro. Outro caso

interessante registrado nesta mesma carteira, relatado por Lúcio Antonio

Marques, a época vice-presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio de

Janeiro, foi o de um segurado que trocou toda a fiação de seu prédio comercial

por outra velha e cheia de problemas, ocasionando um grande incêndio. Neste

episódio, foi detectado um indício de fraude, pois houve coprovação da

substituição, desnecessária, as instalações elétricas. Além disso, o seguro foi

feito poucos dias antes de acontecer o acidente e, ainda por cima, com um alto

valor segurado.

Também no seguro de vida encontramos vários tipos de fraude que são

aplicados a este segmento. O Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro,

publicado em 20/07/1984, citou o caso de um segurado que empregou seu

próprio sepultamento, de olho no seguro de vida que a “viúva” iria receber.

Recebido o dinheiro do seguro, a família enlutada, transferiu-se do Rio Grande

do Sul para Mato Grosso. Decorridos poucos meses após o enterro, a

administração do cemitério determinou que o “falecido” fosse retirado do seu

sepulcro, pois a família do morto deixou de pagar três prestações da compra

da sepultura e, para surpresa dos encarregados da remoção, o caixão estava

demasiadamente leve. Vencido o obstáculo inicial dos fundados receios de

uma violação de caixão, este foi aberto e constatado que estava vazio,

deixando claro que o enterro não passara de uma farsa.

Outra prática nesse segmento é alterar o motivo da morte. O fraudador

troca a morte natural por acidental, ou seja, simula um acidente para receber o

dinheiro do seguro.

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Outro segmento que apresenta alta incidência de fraude é o seguro

saúde. Nesse caso, os agentes fraudadores são de diversas naturezas, ou

seja, praticados por médicos, por funcionários, por hospitais e pelos próprios

segurados. Forjam-se atendimentos, exames e também terceiros uso do

seguro, apresentando-se como o segurado.

Há ainda alguns tipos de carteiras que apresentam índices bastante

expressivos de fraudes, por exemplo, o segmento de acidentes pessoais, onde

quadrilhas mutilavam dedos das mãos para receber indenizações.

CAPÍTULO III

A FRAUDE NO SEGURO

ASPECTO LEGAL

Não existe Código de Seguros no Brasil. As leis que regem o mercado

segurador estão no Código Civil e os ilícitos no Código Penal, apesar de

princípios e relações que estabelece. Como consequência, a jurisprudência

fica com a responsabilidade ainda maior de adequar as atuais normas jurídicas

à realidade de um mercado que se desenvolve tão rapidamente.

Fraude em seguros não necessariamente constitui-se crime pelas leis

brasileiras. No Direito Penal a fraude contra seguradora equipara-se ao crime

de estelionato. Pratica fraude no recebimento de indenização ou valor do

seguro quem “destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o

próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença,

com o intuito de haver indenização ou valor de seguro – Código Penal

Brasileiro, inciso V, parágrafo 2º, art. 171”.

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Para que o crime seja caracterizado, será necessário o dolo específico,

ou seja, a intenção, consciência e vontade de praticar a ação visando ao

recebimento da indenização da seguradora. Deverá ser provado q ue o

consumidor estava conscientemente tentando lesar a seguradora. Mesmo em

fraudes cometidas por criminosos, muitas vezes é possível à comprovação do

ilícito civil sem que se obtenha a condenação criminal. Isto decorre devido à

dificuldade em reunir provas para acusar judicialmente o fraudador de acordo

com a legislação vigente. De qualquer forma, caso haja a condenação, a pena

prevista no artigo do Código Penal Brasileiro é a reclusão de um a cinco anos e

multa.

Não temos sequer delegacias especializadas ou mecanismos de

colaboração com a polícia.

A condenação de fraudadores é algo tão raro que não intimida as

tentativas de fraude.

Analisar as leis que o país aplica sobre as fraudes, levaria a todas as

respostas necessárias ao seu combate? Estas leis teriam brechas que

possibilitassem, como é comum, dificultando a punição?

É de conhecimento público que fraude é crime. Se é crime deve ser

reprimido e punido. O grande problema do ilícito no seguro é que ele

dificilmente pode ser provado e só se tem acesso aos indícios e os indícios por

si só não configuram prova cabal que justifique uma condenação.

A existência de responsabilidade penal só se manifesta com a

integralização, no fato, de todos os elementos que condicionam a

aplicabilidade da lei, ou seja, o ato tem que ser uma conduta típica e

censurável para ser considerado criminoso.

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A grande consequência desse problema enfrentado pelo mercado

segurador, qualquer seja, o fato de que a fraude no seguro na maioria das

vezes, só possui indício, não se podendo assim, incriminar seu causador, é

que, no combate à fraude, as seguradoras se limitam ao processo civil e suas

consequências, ou seja, ao cancelamento do contrato, não pagando a

indenização e dando o assunto por encerrado. Dificilmente instauram

processo criminal contra o fraudador, o que incentiva a ação dos fraudadores,

que continuam livres para praticar novos golpes.

3.1 – A impunidade

O que aconteceria se a legislação fosse extremamente severa, mas

houvesse raríssimos casos de punição? O que aconteceria se a sociedade

percebesse que sua Justiça dificilmente condena alguém? Qual é o

impedimento que o fraudador ocasional tem de cometer um ato ilícito se o risco

de ser preso é mínimo?

O ceticismo quanto à aplicação das leis é muito presente na sociedade

brasileira devido à sua experiência em acompanhar julgamentos públicos que

demoram muitos anos e não chegam a punir os envolvidos. Além disso,

determinadas camadas da sociedade não estão sujeitas aos supostos rigores

da lei, como por exemplo, parlamentares que gozam de imunidade e juízes que

são julgados por tribunais especiais apesar de terem cometido crimes comuns.

Este conjunto de fatores traz a sensação de impunidade e tem reflexos

inquestionáveis em cidadãos com propensão a cometer fraudes ocasionais.

Leis severas são importantes, porém perdem o poder de inibir atos

ilícitos se não há certeza de sua aplicação. Existe um chavão no meio jurídico

que diz que mais importante do que a severidade da pena é a certeza de seu

cumprimento. No Brasil, crimes que chocam a sociedade são

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sistematicamente seguidos de discussões para aumentar a severidade das

penas. Alguns acham que leis mais severas por si só seriam suficientes para

intimidar a ocorrência de ações violentas. Outros acham que a legislação atual

é adequada ao combate da criminalidade desde que aplicada corretamente. A

sociedade brasileira viveu um momento que exemplifica esta discussão

quando entrou em vigor o novo Código Nacional de Trânsito podendo ilustrar

bem o efeito da legislação disponível versus a certeza de sua aplicação. Este

exemplo foi escolhido porque diretamente na sinistralidade do ramo de

automóveis e porque trata de dois personagens que muitas vezes se

confundem: o motorista irresponsável e o fraudador ocasional.

As punições previstas pelo Código são multas pesadas e a suspensão

da carteira de motorista e a população simplesmente deixa de acreditar que

será punida e volta a ter o mesmo comportamento de antes.

Deixando de lado o calor suscitado pelas discussões sobre acidentes de

trânsito, por maior que seja a irresponsabilidade, raríssimos são os casos em

que o motorista tinha a intenção de se envolver no ocorrido ou provocar

vítimas. Há culpa, mas não há intenção. A não ser que estejamos lidando

com potenciais suicidas ou um motorista querendo vingar-se de um pedestre

inimigo, não se pode imaginar alguma situação em que houvesse a intenção

do acidente. Assim como o fraudador ocasional, o motorista irresponsável não

é marginal, ma sim um cidadão comum que não mede a consequência de

alguns de seus atos e deve ser informado sobre as punições legais às quais

está sujeito. Especificamente para os motoristas irresponsáveis, a entrada em

vigor de leis mais severas não solucionou o problema, provocando melhora

apenas no curto prazo. Isto pode indicar que o cidadão honesto com desvios

de conduta tolerados pela sociedade, como o fraudador ocasional, não será

sensibilizado no longo prazo por uma nova legislação.

O exemplo do Código Nacional de Trânsito serve para entender que

indivíduos que não são criminosos, mas que tem potencial para cometer

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fraudes, não tem encontrado barreiras legais às suas ações. Sem o medo da

punição, só resta o fator moral para a conscientização sobre fraudes,

A importância do efeito moral, sobre a maneira correta de lidar com

crimes e fraudes, está à imagem que a sociedade faz da sua Justiça.

Entender o que pensa o indivíduo sobre as punições e riscos a que está sujeito

será o caminho para compreender o sentimento do fraudador ocasional e seu

incentivo em cometer um ato ilícito.

A credibilidade conferida às instituições religiosas são características

nacionais que devem ser levadas em consideração no tratamento do fraudador

ocasional apontando as ações para o caminho da conscientização moral ao

invés da conscientização pelo medo das consequências legais.

A morosidade da justiça mesmo quando as provas do crime são

irrefutáveis, é fator que leva o criminoso concluir que a tentativa de fraudar

uma companhia de seguros é atividade de baixo risco.

Revisar a legislação e aplicá-la de forma eficiente é fundamentar para

aumentar a percepção quanto às consequências de cometer atos ilícitos contra

seguradoras. Porém, mudar a percepção dos brasileiros em relação à justiça é

um projeto de longo prazo que muito provavelmente não poderá ser aguardada

pelas seguradoras dada à urgência em se tratar o problema da fraude

ocasional. Levará muito tempo até que as consequências legais possam ser

utilizadas para aumentar a percepção do risco de cometer fraudes em seguros.

Pelo que foi exposto, um caminho para se obter o aumento da

percepção de risco pelo fraudador ocasional no curto prazo é o de explorar a

consequências morais e financeiras de se envolver com o ato ilícito. Estas

poderão dar resultados rapidamente se utilizadas de maneira correta.

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Entende-se por consequência moral a imagem do indivíduo perante a

sociedade e principalmente em sua família no caso de se envolver em uma

tentativa de fraude. Apesar da tolerância da sociedade brasileira com relação

aos atos ilícitos contra seguradoras, nenhum indivíduo gostaria de ser visto

como fraudador pelos familiares ou estar envolvido em algum processo judicial.

O desgaste psicológico dessa situação para o fraudador ocasional pode

diminuir ou mesmo inibir a propensão a fraudar.

As consequências financeiras referem-se basicamente em pagar por um

serviço que não será prestado em caso de sinistro. Fazer o consumidor

entender que, caso não cumpra as regras do contrato, estará pagando por

uma proteção que não receberá na ocorrência de sinistro pode aumentar a

percepção de risco ao cometer uma fraude, porém deve ser utilizada com

muito cuidado uma vez que pode desmotivar a compra do seguro. A

abordagem deve se restringir aos cuidados que o segurado deverá tomar para

não estar sujeito a perder seu direito à indenização. A consequência financeira

pode ser explorada mesmo que o segurado tenha a percepção de que a justiça

lhe é favorável uma vez que é preferível não entrar em uma disputa judicial

com a seguradora.

CAPITULO IV

DO CRIME

CONCEITO

Crime é todo fato típico, antijurídico, culpável e punível. Para que o

crime se formalize, é necessária a presença dos seguintes elementos:

. ação – conduta humana

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. resultado – crime consumado ou tentado

. relação de causalidade – liame entre a conduta e o resultado

. tipicidade – enquadramento do fato concreto a uma norma penal

incriminadora

Tipicidade é o exato enquadramento do fato concreto a um tipo penal,

norma penal teórica.

Conduta antijurídica ou ilegal é aquela contrária ao direito. A ação,

definida a lei como crime, será sempre antijurídica. Ou seja, se o Código Penal

diz que “matar alguém” é crime, matar alguém sempre será uma conduta ilegal

ou antijurídica, a não ser que o mesmo código, em determinados casos

concretos, preveja exceções.

Culpabilidade é o vínculo subjetivo que liga o sujeito ao resultado. O

termo jurídico “culpabilidade” não se confunde com o termo leigo com que

geralmente se utiliza a palavra “culpa”. “Ele é culpado do crime de roubo

praticado na empresa?” ou “Quem tem culpa pela prática desse crime, este ou

aquele?”.

A culpabilidade é a capacidade de alguém para ser acusado. Há

pessoas que não podem sequer ser acusadas, porque não tem capacidade,

condições pessoais mínimas, para ser acusadas.

Para que alguém possa ser responsabilizado pela prática de um crime,

conforme regrado dos artigos 26 e 27 do Código Penal este alguém deve ter

sanidade mental e deve ser maior de dezoito anos.

Culpabilidade é a capacidade legal para ser incriminado, é a

possibilidade de uma pessoa vir a ter ligação teórica com qualquer crime.

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No crime temos a figura da culpa que é a não observância do dever de

cuidado e o dolo que é a vontade consciente e livre de provocar o resultado.

O crime doloso está previsto no artigo 18, inciso I do Código Penal, é o

crime intencional, isto é, praticado pelo agente com a vontade voltada para a

execução da figura típica. O crime culposo também previsto no artigo, inciso II

do Código Penal, é o crime que ocorre quando o agente dá causa ao resultado

por imprudência, negligência ou imperícia.

4.1 – Da tipificação dos crimes que afetam o seguro

Há crimes praticados diretamente contra o seguro e há crimes que

afetam o seguro, porque geram sinistros e, por conseguinte, ensejam

indenização.

O furto, crime previsto no artigo 155 do Código Penal. Consiste em

subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel; sendo equiparada às

coisas móveis, para efeitos legais, a energia térmica, mecânica.

O roubo, crime previsto no artigo 157 do Código Penal. Ocorre quando

há a subtração de coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante grave

ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,

reduzido à impossibilidade de resistência. Como exemplo no ramo de seguro

tem o roubo de carga segurada.

A apropriação indébita, crime previsto no artigo 168 do Código Penal. É

a apropriação de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou detenção.

Caracteriza-se quando o agente toma como sendo sua coisa que justa e

licitamente lhe foi confiada. No ramo de seguro podemos citar o exemplo de

funcionário de seguradora que, tendo em seu poder cheques destinados a

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pagamento de indenizações, deste se apropria, depositando-os em sua própria

conta corrente.

O dano, crime previsto no artigo 163 do Código Penal. Consiste no ato

de destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. Deve haver vontade do agente

na sua conduta, causando prejuízo.

O incêndio, crime previsto no artigo 250 do Código Penal. Ocorre

quando o agente causa incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física

ou o patrimônio de outrem. Este crime se consuma com a efetiva exposição

ao perigo. No ramo de seguro temos o sujeito que incendeia a própria casa

com o objetivo de ser ressarcido pela seguradora, alegando incêndio ocasional

acobertado pela apólice.

A lesão corporal, crime previsto no artigo 129 do Código Penal. É a

ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem. Como dano à integridade

corporal entende-se a alteração anatômica ou funcional, interna ou externa,

que lese o corpo. No ramo do seguro o indivíduo causa lesão no próprio

corpo, para receber o prêmio do seguro.

O homicídio, crime previsto no artigo 121 do Código Penal. Definido

como matar alguém, há inúmeras variações deste delito, podendo ser tentado,

consumado, doloso, culposo, simples, qualificado.

Para executar uma fraude contra o seguro, geralmente, o fraudador

comete outros crimes, chamados de crimes meio, destinados a viabilizar a

execução do estelionato, que é o crime fim.

Dentre esses crimes podemos mencionar os seguintes: falsidade de

documento público, previsto no art. 297 do Código Penal; falsidade de

documento particular, previsto no art. 298 do mesmo código; falsidade

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ideológica, definido no art. 299 do Código Penal; falso reconhecimento de firma

ou letra, art. 300 do Código Penal; uso de documento falso, comunicação falsa

de crime ou contravenção, falso testemunho ou falsa perícia, corrupção ativa

de testemunha, perito. Todos estes últimos previstos respectivamente nos

artigos 304, 340,342 e do Código Penal.

O Estelionato, crime previsto no artigo 171 do Código Penal, é o tipo que

mais define os crimes que ocorrem no ramo de seguro. O crime de estelionato

abrange vários tipos de condutas lesivas às seguradoras em geral. O código

penal tentou exemplificar algumas dessas situações, mas, na grande maioria

das vezes, as fraudes acabam sendo tipificadas no caput do artigo 171, não

obstante os exemplos que o próprio Código Penal resolveu mencionar.

No caput do artigo 171, a redação do código fala em “obter”. Assim, se

o crime de fraude for classificado nesse caput, o crime terá sido consumado se

o segurado “obteve” o valor da indenização. Se o segurado desenvolveu as

atividades necessárias à consecução da fraude, mas não chegou a receber o

dinheiro da indenização, o crime terá sido tentado.

Já na redação do inciso V do parágrafo 2º, do mesmo artigo, o código

fala em “intuito de”. Examinado cada caso concreto, vai-se determinar se o

agente se enquadra na tipificação do caput ou tipificação do inciso V, que é o

intuito.

No caso dos exemplos contidos na redação do artigo, não é necessário

que o segurado efetivamente receba a indenização do seguro para que se

caracterize o crime. Nestes casos, basta o intuito além da prática dos atos de

“destruir, ocultar, lesar, ou agravar” para o crime se consumar, mesmo que a

indenização não seja paga.

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4.2 – Hipóteses de fraudes praticadas no seguro

Nos seguros, classificados de massa, nos quais se incluem o de

automóvel, vida, acidentes pessoais, previdência e saúde, as condutas

delituosas podem ser encontradas nos grupos expostos:

- fraudes ocasionais praticadas por segurados

- fraudes premeditadas praticadas por segurados

- fraudes premeditadas praticadas por segurados em parceria com funcionários

da seguradora ou prestadores de serviços

-fraudes exclusivamente praticadas por funcionários das empresas

seguradoras

- fraudes praticadas por quadrilhas especializadas

As fraudes cometidas pelos segurados ou beneficiários podem ocorrer

em várias hipóteses:

- falsa declaração de roubo ou furto de carga

- falsa declaração de roubo ou furto de veículo

- falsa declaração de roubo, furto, arrombamento, danos elétricos e incêndio

em residências, escritórios, lojas e indústria

- falsa declaração de roubo de bagagem

- inclusão de medicamentos e materiais descartáveis não utilizadas nas contas

médicas

- falsificação de recibos de consultas ou exames médicos

- falsa internação em hospitais para recebimento de diárias de incapacidade

temporária

- falsificação de certidões de óbito, nascimento e casamento

- falsificação de laudos médicos para obtenção de invalidez parcial ou total

- adulteração de valores nos registros contábeis relacionados com sinistros

ocorridos

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- adulteração de vistorias realizadas

- realização de seguro de bens inexistentes, especialmente obra de arte, e que,

posteriormente, são reclamados em situações de roubo, furto e incêndio

- realização de seguros de obras de arte falsificadas como sendo verdadeiras

- apresentação de reclamação de roubo e furto qualificado

- danos dolosamente provocados em bens para recebimento da indenização

do seguro

As fraudes premeditadas cometidas exclusivamente por funcionários

das empresas de seguros, podem ocorrer nas seguintes hipóteses:

- falsificação documental

- adulteração de sistemas e programas de computador

- adulteração de sistemas de controles financeiros e contábeis

- adulterações de outros controles operacionais e/ou gerenciais

CAPITULO V

O PROCESSUAL PENAL NO SEGURO

DEFINIÇÕES

Processo penal é o conjunto de princípios e normas que regulam a

aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias

da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e

respectivos auxiliares.

Ação Penal é a movimentação da máquina judiciária para processar,

julgar, condenar ou absolver. Dependendo de a quem cabe tomar a iniciativa

para oferecer a acusação formal, pode ser pública ou privada. Em sua grande

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maioria, de caráter público, salvo quando a lei expressamente a declare

privada do ofendido, conforme preceitua o artigo 100 do Código Penal.

A ação penal pública tem início com a denúncia do Ministério Público

enquanto que a ação penal privada tem início com a queixa do ofendido.

A denúncia é a peça escrita, de autoria do Ministério Público e que dá

início à ação penal pública. É a acusação formal que o Estado faz contra o

indivíduo, apontando as normas penais infringidas.

A queixa- crime é a peça escrita, subscrita pela vítima ou seu

representante legal, que dá início a ação penal privada, que não depende de

prévia instauração e a conclusão do Inquérito Policial. Equivale à denúncia e

como esta deve ser formulada, juntando-se o Inquérito Policial ou outro

elemento informativo.

O inquérito policial é um procedimento administrativo prévio, instaurado

para apurar as infrações penas e para fundamentar a denúncia ou a queixa. É

presidido pelo Delegado de Polícia que é a Autoridade Policial.

5.1 – Do processo

O processo crime só tem prosseguimento se o juiz aceitar a denúncia.

A denúncia conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas

circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se

possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, a indicação

das testemunhas de acusação e ao final, o pedido de condenação.

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Vale lembrar que nem o Inquérito Policial nem a prisão em flagrante dão

início à ação penal. Ela só tem início com o recebimento da denúncia.

O inquérito policial inicia-se por portaria ou por prisão em flagrante. A

portaria que dá início ao inquérito é baixada de ofício pela autoridade policial,

assim que tiver noticia do crime, ou por requisição do Juiz ou Promotor de

Justiça.

O inquérito policial deve ter justa causa, sem a qual poderá ser trancado

por habeas corpus. A justa causa pressupõe a existência de indícios da autoria

e da materialidade da infração penal. Também não há justa causa para o

Inquérito Policial se tiver ocorrido à prescrição ou a decadência do direito de

queixa ou representação.

Terminada a apuração dos fatos, a autoridade policial elaborará um

relatório objetivo do caso. Depois, tal relatório será encaminhado ao Ministério

Público, sendo, em seguida, remetido para a decisão do Juiz. Caso o

Ministério Público entenda que são necessárias outras diligências para

elucidação dos fatos, pode requisitá-las da própria Autoridade Policial.

Caso o inquérito policial não apresente material probatório indicativo da

ocorrência de um crime, ele deverá ser arquivado. Tal medida cabe somente

ao Juiz, após o devido parecer do Ministério Público. A autoridade policial não

pode arquivar o inquérito policial. Uma vez arquivado, o inquérito policial ao

poderá mais servir como base para denúncia ou queixa, salvo se surgirem

novas provas, caso em que o inquérito poderá ser desarquivado. Desde que o

fato típico não esteja prescrito.

No caso do Juiz não concordar com o arquivamento, enviará o Inquérito

Policial ao Procurador-Geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro

Promotor de Justiça para oferecê-la, ou insistirá no arquivamento, que então o

Juiz terá de atender.

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A requisição da Autoridade Judiciária ou do Ministério Público ou o

Registro ou o Boletim de Ocorrência, bem como a Representação Criminal

levam à autoridade policial a noticia crime que é a notícia de um fato

aparentemente criminoso.

A representação criminal ou o requerimento de instauração de inquérito

narra fatos, indica provas, podendo sugerir a autoria, além de pedir a

realização de diligências que levem à comprovação das suspeitas.

O autor da representação ou o requerente está teoricamente sujeito a

praticar o crime de denunciação caluniosa ou comunicação falsa de crime ou

contravenção.

5.2 – Das provas indiciárias

Prova é o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz e por

terceiros, destinados a levar ao magistrado a convicção acerca da existência

ou inexistência de um fato, da falsidade ou veracidade de uma afirmação.

Trata-se, portanto, de todo e qualquer meio de percepção usado pelas partes

com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação.

Sua finalidade é a convicção do juiz acerca dos elementos essenciais

para o andamento da causa, e seu objeto é toda circunstância, fato ou

alegação referente ao fato.

As provas se classificam em testemunhal, resultante dos depoimentos

prestados por pessoas estranhas ao processo, sobre fatos de seu

conhecimento referentes ao crime; documental, produzida por meio de

documentos e material, obtida por meio químico, físico ou biológico.

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Existem provas proibidas, que são aquelas produzidas em contrariedade

a uma norma legal específica e, portanto, de forma ilícita.

O indício é a prova circunstancial a que se chega por indução. Os

indícios são elementos sensíveis, reais, que indicam um objeto, ao passo que

as presunções são as conjecturas ou juízos formados sobre a existência do

fato probando, conjecturas supostas pela Lei como verdades absolutas.

Salientando a significação das presunções e indícios neste terreno,

dispunha o Código de Processo Civil de 1939 Art. 522 que “o dolo, a fraude, a

simulação e, em geral, os atos de má-fé poderão ser provocados por indícios e

circunstâncias”.

Porém, hoje temos o problema de fraude, o fato de a prova indiciária

ainda não ser bem aceita pelo poder judiciário em virtude da questão da

hipossuficiência do segurado consumidor, uma vez que “o Judiciário sempre

acha que a seguradora é rica e poderosa, mas esquece de que a fraude é

paga pelo bom consumidor, pois é embutida nas estatísticas que servem de

base de cálculo do prêmio tarifário”.

Como consequência direta da prova indicaria não ser muito aceita pelo

Judiciário, temos o grande problema enfrentado pelas empresas seguradoras

no combate à fraude, que é o fato de serem obrigadas a tomarem por base

probante. Na maioria das vezes, apenas indícios.

Que existem centenas de fraudes em todos os ramos de seguro. É algo

tido como certo, ficando o problema apenas na questão de quem na maioria

das vezes o mercado segurador, possui apenas o indício, recaindo o custo da

fraude na indefesa sociedade.

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Corroborando com as afirmações acima, cabe ressaltar que a prova

indiciária deve ser valorizada pelo julgador. Com o advento da valoração da

prova, talvez possa ser evitado que a fraude, não prospere ainda mais e acabe

por afetar todo o mercado segurador, impedindo- de atingir seus fins.

É correto afirmar que, a prova indiciária deve ser ao menos perseguida

pelo regulador/investigador, porque, enquanto na esfera criminal os indícios

nem sempre fazem prova para uma condenação, em face do princípio in dúbio

pro réu, no cível, podem ter eles relevância conforme tem decidido os

Tribunais.

A responsabilidade civil distinguiu-se da responsabilidade penal e é

apurável segundo um regime de provas diversas. No crime, qualquer

presunção, por mais veemente que seja, não autoriza a imposição de uma

pena. No cível, a fraude se comprova especialmente em face de indícios e

presunções. O mesmo fato pode ter tido como insuficientemente demonstrado

para os efeitos da lei penal e suficientemente demonstrados para efeitos da lei

civil, pois, no juízo civil, se exigem provas mais simples.

À vista do que for apurado no indispensável processo investigatório,

mister se faz a regulação se aprofundar até as raízes das irregularidades

apontadas, de modo que a função indenitária do seguro possa não operar e,

conforme o resultado final, em se consolidando as suspeitas e indícios já

sinalizados, seja negada a indenização e, por conseguinte, solicitado às

autoidades competentes que instaure o processo oficial que objetive, ademais,

a punição dos envolvidos.

O Julgador não pode, neste campo, afastar-se dos indícios, demais

porque, o indício tem sido amplamente aceito pela Jurisprudência dos

Tribunais, cujo acesso a esta é garantia fundamental que nos dá o Artigo 58,

inciso 35, da Constituição Federal, esta que também inadmite os “tribunais de

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exceção”, por isso, matéria de exclusiva competência do judiciário à luz do

inciso III do mesmo artigo da referida Carta Magna.

Se o segurador depender da confissão daquele que frauda a instituição

do seguro, jamais lograria recusar um sinistro sequer, repetindo-se aqui

alhures preferidas pelo eminente Ararino Sallum de Oliveira.

CAPÍTULO VI

ESTELIONATO

O estelionato é cometido de várias formas e define bem a fraude em

seguros por ser um crime patrimonial, com vários elementos constitutivos, que

devem coexistir em uma sequência causal, de difícil distinção entre o

estelionato de um mero ilícito civil. Por isso tantas controvérsias ocorrem na

interpretação do crime de estelionato, no Brasil.

O tipo do estelionato é bem mais do que a interpretação tenta

simplificar,de modo que só interprete como a obtenção de vantagem da fraude.

O tipo objetivo do estelionato exige uma sequência ordenada de atos

cometidos: fraude, erro, vantagem indevida, prejuízo alheio.

A fraude, vem descrita como “artifício, ardil, ou qualquer outro meio

fraudulento”. A princípio, a diferença entre artifício e ardil não tem relevância, e

os dois são compreendidos pelo sentido mais abrangente da fraude.

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A lei se vale da fórmula mais genérica “outro meio fraudulento”, impondo

ao intérprete o uso da interpretação analógica, de modo a que tal locução deve

ser interpretada analogicamente ao artifício ou ardil. Tanto doutrina e

jurisprudência entendem que a mentira e, até mesmo, o simples silêncio

podem ser tidos como meio fraudulento.

O erro nada mais é que a falsa percepção da realidade, com o que o

enganado não possui a perfeita noção do que está acontecendo. Ele é o

segundo elemento constitutivo do estelionato.

A diferença entre induzir e manter, é que naquele o agente se vale da

fraude para criar o erro na vítima, enquanto na segunda hipótese a vítima, por

qualquer outra razão, enganou-se e o autor se vale da fraude para manter a

vítima sob erro.

No estelionato a vítima realiza o ato de disposição patrimonial que é a

principal ação. Este ato de disposição decorre prejuízo alheio e vantagem

ilícita, ambos imprescindíveis para a configuração do crime. Para sua efetiva

configuração é preciso que haja o prejuízo.

Se a fraude vem depois da vantagem indevida, não se configura o tipo,

pois a obtenção de vantagem não foi mediante fraude, pois esta não foi o meio

com o qual se alcançou o resultado.

Realidade é que a fragmentariedade da lei penal, inerente aos regimes

democráticos, traz como consequência que certos atos lesivos ao patrimônio

não sejam descritos como condutas típicas. Não se pode, na interpretação da

lei, partir da consideração subjetiva do fato, para argumentar que o crime está

configurado, pois com isso se faz um argumento por derivação, que prejudica a

correta análise dos elementos constitutivos do tipo.

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CAPÍTULO VII

O COMBATE À FRAUDE NO SEGURO

7.1 - Necessidade social de se combater a fraude

O combate à fraude é direito de todos e dever primordial do Estado e

que é mister provocar a conscientização dos diretores das seguradoras que o

seu combate trará o desenvolvimento de suas empresas.

A cada dia se verifica, com maior frequência, a contaminação do seguro

pelos vírus de fraude, por onde segurados desonestos procuram tirar

vantagem em proveito próprio, à custa das seguradoras e da própria sociedade

– visto que o custo da fraude, não poucas vezes, é transferido para o

consumidor. Dessa forma seguem alguns consumidores forjando ou

provocando o próprio sinistro, por outras vezes, fabricando elementos fictícios,

visando a engordar o valor da indenização.

Em função disso que , no exterior, diversos mercados se preparam para

enfrentar os fraudadores. Exemplo de tal fato é a Alemanha, onde existe uma

associação de defesa para consumidores de seguros, e este reclama muito

das companhias de seguros, alegando que elas, às vezes, são liberais nas

suas liquidações, às vezes pagam além do necessário ou não investigam

devidamente acidentes e, com isso, o preço da fraude começa a ser

transferido pelo consumidor. Já no Brasil, com grande prejuízo e sacrifício da

sociedade, não existe trabalho persistente e ordenado com este mesmo

objetivo. Os seguradores, sem alternativa, se limitam a pagar e transferir o

custo para o consumidor.

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7.2 – O sentido social do seguro

Primeiramente cabe afirmar que o sistema segurador é de grande

relevância para a sociedade. É necessário dizer da importância do sistema

segurador para a sociedade. É necessário dizer da importância hoje do risco

e da proteção que deve merecer toda a sociedade contra os perigos que a

rodeiam, principalmente quando máquinas constituem objetivamente já o

próprio perigo, o próprio risco, e destacar que, nessa sociedade, de

competição cada vez mais aguçada, nós estamos a enfrentar situações de

grande perigo a todo nosso patrimônio e à nossa vida.

Daí o mérito do seguro, da proteção que se pode dar através dele,

minimizando os sinistros, quando efetivados, proteção que passou a interessar

sobremodo à nação. Dentro dessa perspectiva, a lei passou a obrigar o seguro

do automóvel – DPVAT e estabeleceu, dentro do próprio Código do

Consumidor, normas disciplinando esse contrato porque, efetivamente a

importância desta matéria ultrapassa o velho código civil. Assim é evidente

que o Juiz, que tem hoje não só aquela preocupação do jurídico, já não cuida

apenas da sua erudição, mas do profissionalismo e do social, na realização

efetiva da justiça.

O setor de seguros tem um papel altamente relevante nas economias

modernas, contribuindo para o crescimento econômico e preservando o acervo

patrimonial dos países, dentro de uma concepção bem ampla. É importante

que se tenha conta a compreensão da função institucional do seguro, dentro

de uma sociedade organizada, onde o consumidor é o alvo maior para a

concentração dos esforços de venda e produtos e serviços.

Por isso mesmo, o Estado, como um todo, não pode desconsiderar a

importância das atividades das seguradoras dadas a sua função econômico-

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social no Brasil e no mundo, desempenhando o seu papel na formação de

capital e das forças produtivas, na defesa econômica contra o risco,

protegendo o segurado honesto, oferecendo-lhe segurança sobre furto incerto,

possibilitando gerações creditícias, tornando mais fácil suportar coletivamente

as consequências danosas dos infortúnios individuais, resguardando a

produção, circulação e distribuição de riquezas, dando segurança às pessoas

de forma individual e coletiva e às coisas, reforçando, enfim, a economia

nacional. Faz-se portanto, imperioso não se compadecer com a fraude.

7.3 – A importância de um apoio jurídico-criminal

A necessidade de profissionais capacitados na área criminal, dentro do

departamento jurídico de empresas de seguro, mostra-se importante não só

pelo constatado no item acima, mas também porque a totalidade dos

processos judiciais instaurados contra as seguradoras, embora tramitem na

área civil, se embasam na apuração de provas testemunhais e periciais

executadas em Delegacia de Policia.

Dessa maneira, é imprescindível, desde o começo, que as seguradoras,

na defesa de suas posições e interesses, providenciem o acompanhamento

das sindicâncias policiais.

No entanto, a grande maioria das seguradoras não dispõe de

criminalistas em seus departamentos jurídicos, quase todos são por advogados

civilistas.

Assim, os processos cíveis ficam com seus alicerces prejudicados, com

as provas preparadas à revelia das seguradoras e, obviamente, com fortes

interferências dos segurados interessados. Desfazer provas já produzidas,

ainda que incompletas ou duvidosas, se torna quase impossível,

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principalmente em razão de serem elas feitas por funcionários dotados de fé

pública.

Necessário é que as seguradoras adotem equipes de advogados

especialistas na área criminal, com condições de atuar na fase inicial das

sindicâncias, em estreita sintonia com os investigadores contratados pelas

empresas. Com tal esquema, a preparação das provas espelhará, com muito

maior eficiência e maior profundidade, a verdade dos fatos, conduzindo à

abertura de Inquéritos Policiais que serão submetidos à justiça na forma da lei.

Há muitos anos, vem se tornando evidente que certos pedidos de

indenização devem ser submetidos à investigação. Para tanto, a atuação de

especialistas tem sido cada vez mais solicitada, deles se exigindo alta

capacitação e astúcia.

Ainda não existe uma solução definitiva e cem por cento eficiente para o

problema da fraude no seguro. Contudo, há meios de combate que permitem

minimizar tal problema, coibindo de forma relevante, o número de fraudes.

Sendo assim, cremos que um meio de combate, seria, a verificação dos fatos

pela delegacia e a comprovação in loco das declarações dadas pelos

queixantes.

CONCLUSÃO

Após pesquisas efetuadas para a confecção do presente trabalho,

algumas conclusões tornam-se evidentes.

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É relevante a correlação existente entre a boa-fé e os contratos de

seguro. Durante todo o transcorrer do trabalho ficou objetivamente

comprovada à necessidade de haver boa-fé nesta relação.

Se de um lado temos evidenciada a necessidade de boa-fé em ambas

às partes contratantes, temos de outro lado o outro polo do problema

abordado, as fraudes.

Pudemos concluir que as fraudes representam um grande risco não só

para as empresas seguradoras, mas também para toda a sociedade. As

fraudes são as grandes motivadoras do alto custo desse serviço no Brasil e por

uma série de ações que “engarrafam” o judiciário brasileiro.

Ao abordarmos o contexto das fraudes, tivemos conhecimento dos

diversos tipos de fraudes praticadas nos diversos segmentos do mercado de

seguros. Observamos que as fraudes são cometidas por indivíduos de

diversas classes sociais pelos motivos mais variados e com fim de obter a mais

diversificada margem de ganho/lucro ou benefício.

Esperar que o Judiciário auxilie de maneira efetiva, seja na aplicação

das leis existentes ou na criação de uma legislação mais adequada, seria

praticamente permitir a livre atividade de fraudadores.

No momento a realidade que se apresenta, é que a solução da

prevenção à fraude é a melhor e está dentro das seguradoras e o esforço junto

ao Judiciário deve ser mantido, mas as soluções dever vir da sociedade

privada.

Em busca de sanear essas práticas fraudulentas, levantou-se que

compete às empresas seguradoras montarem estratégias eficazes e eficiente

que permita de alguma forma cruzar dados, parâmetros e por fim tipificar e

comprovar o ilícito, necessitando o investimento em profissionais gabaritados,

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experientes na apuração de fraudes e nas práticas ilícitas de alguns

segurados.

O combate ao problema da fraude em seguros, requer segmentação e

muito cuidado.

Ainda assim restam as indagações: Resistir é inútil? Todos os recursos

aplicados no combate à fraude em seguros podem ser considerados dinheiro

jogado fora? A guerra contra os fraudadores está perdida?

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALVIM, Pedro. O Contrato de Seguro. 3ed. Rio de Janeiro:Forense, 1999.

BUENO, D. Ataque as fraudes. Revista de Seguros, Ano 88, nº866,2008.

CASTIGLIONE, L.R. Mercado Segurador Brasileiro:fraudes. Revista Plano

Diretor. Ano VI, n° 25. Abril 2001.

CASTIGLIONE, L.R. Mercado Segurador Brasileiro: Vamos brincar de

combater a fraude? Castigline Business, 2003.

COSTA, Judith Martins. A boa-fé no direito privado. São Paulo: Revista dos

Tribunais.

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GIORDANO, V. Falsificação, Adulteração e Contrabando, Revista Brazilian

Business, Ano XIX, nº 198, 2004.

GRECO, Rogério. Vade mecum penal e processual penal. – 2ª ed. Niterói, RJ:

Impetus, 2011.

OLIVEIRA, Ararino Sallum de. Proteção à fraude. In: Plano Diretor de Seguros.

São Paulo: EMTS, 1 abr 1995.

NEGRINI, Pedro Paulo. Eu,Criminalista. Rio de Janeiro: Gry6phus, 2004

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

O PRINCÍPIO DA BOA-FÉ – CONCEITO 10

1.1 – Historicidade 11

1.2 – A boa-fé nos contratos de seguro 12

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CAPÍTULO II

FRAUDE – CONCEITO 13

2.1 – Momentos da fraude 14

2.2 – Quem frauda e quem é fraudado 15

CAPÍTULO III

A FRAUDE NO SEGURO – ASPECTO LEGAL 19

3.1 – A impunidade 21

CAPÍTULO IV

DO CRIME – CONCEITO 24

4.1 – Da tipificação dos crimes que afetam o seguro 26

4.2 – Hipóteses de fraudes praticadas no seguro 28

CAPÍTULO V

O PROCESSUAL PENAL NO SEGURO – DEFINIÇÕES 30

5.1 – Do processo 31

5.2 – Das provas indiciárias 33

CAPÍTULO VI

ESTELIONATO 36

CAPÍTULO VII

O COMBATE À FRAUDE NO SEGURO 37

7.1 – Necessidade social de se combater a fraude 37

7.2 – O sentido social do seguro 38

7.3 – A importância de um apoio jurídico-criminal 40

CONCLUSÃO 41

BLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 44

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