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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA PARA O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO. Por: Fabiana Rosa da Costa Orientador Prof. Caroline Kwee Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA PARA O PROCESSO DE

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO.

Por: Fabiana Rosa da Costa

Orientador

Prof. Caroline Kwee

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA PARA O PROCESSO DE

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO.

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicopedagogia Institucional.

Por: Fabiana Rosa da Costa

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais e ao meu esposo

por me ajudar a alcançar todos os meus

objetivos sempre estando do meu lado

sempre que preciso.

4

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus pais, meu

esposo e aos meus alunos, grandes jóias da

minha vida.

5

RESUMO

Esse trabalho de pesquisa bibliográfica tem por objetivo diferenciar

letramento e alfabetização, analisar as reflexões teóricas da prática pedagógica do

letramento, apresentar como o psicopedagogo pode ajudar no processo de

alfabetização e letramento. Através desse trabalho desse trabalho procuro fazer

com que se perceba a importância dessa temática que muitas vezes passa

despercebida pelo professor quando se pensa em alfabetização.Para que as

crianças se alfabetizem não podemos apenas nos preocupar em codificar ou

decodificar palavras, temos que mostrar a elas a sua função social da leitura e

escrita, ou seja, como que a leitura e escrita estão presentes em seu cotidiano,

como podemos fazer uso da leitura e escrita em nosso dia-a–dia. A alfabetização

não deixa de ser um processo de aquisição de habilidades para que se possa

codificar e decodificar. Porém não se restringe apenas a isso. Para que possamos

alfabetizar nossos alunos com sucesso precisamos de um psicopedagogo dando

apoio e dar aos nossos alunos oportunidades para que percebam a função social da

escrita, para que consiga ver na aprendizagem da leitura e escrita algum significado.

Letramento não pode ser entendido separadamente de Alfabetização, pois estes

são processos distintos, mas que caminham lado a lado. É exatamente isso que

procuro demonstrar ao longo deste trabalho.

6

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido como pesquisa bibliográfica, baseada em livros, artigos

acadêmicos, legislações e revistas. A pesquisa teve embasamento teórico em TFOUNI (1995),

SOARES (2003), KLEIMAN (1995), FREIRE (1987), BARBOSA (1994),VYGOTSKY

(1989), PICHON (1980) , KATO (1999), LEVY (1998), TEBEROSKY (1986), DIAS (2001),

SMITH (1975), FERREIRO (1981), FREIRE (1987), RUBINSTEIN (2009), BARRETO

(2007), DELOURS (1999) , MARCOZZI (1981), BECKER (1998), SNOW (1983),

COLELLO (1981).

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................... 08

CAPITULO I - CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIALÉTICA LEITURA &

ESCRITA ................................................................................................... 11

1.1 – A história da escrita .................................................................. 11

1.2 – Leitura e escrita ........................................................................ 12

1.3 – A psicopedagogia no processo de ensino-aprendizagem ....... 16

CAPITULO II – REFLEXÃO TEÓRICA SOBRE O LETRAMENTO:

DIFERENCIANDO-O DA ALFABETIZAÇÃO ............................................ 19

2.1 – O processo de letramento e alfabetização ............................... 19

2.2 – Diferenças entre letramento e alfabetização ............................ 25

2.3 – O Letramento na Educação Infantil .......................................... 32

CAPITULO III – ALFABETIZAÇÃO E LINGUAGEM: REFLETINDO

SOBRE A LEITURA E A ESCRITA ........................................................... 38

3.1 – Compreendendo a dualidade Alfabetização x Letramento: duas facetas que se complementam .........................................

40

3.2 – A atuação da psicopedagogia no processo de letramento ....... 45

CONCLUSÃO ............................................................................................ 48

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 51

ÍNDICE ...................................................................................................... 54

8

INTRODUÇÃO

Freqüentemente menos que 50% das crianças brasileiras conseguem passar

da 1ª serie do 1º grau, ou seja, conseguem aprender a ler e a escrever. Segundo

dados estatísticos (SEEC_MEC), de cada 1.000 crianças no Brasil, apenas 449

passam para a 2ª série. E atualmente nenhum progresso tem ocorrido, sendo o

Brasil, um país que vem retrocedendo no fracasso em alfabetização.

Acredita-se que um dos motivos que levem as crianças de classes populares

ao fracasso na alfabetização é que muitas vezes buscam-se explicações do

problema ora no aluno (questões de saúde, ou linguagem, psicológicas) ora no

contexto cultural do aluno (ambiente familiar e vivências sócios culturais), ora no

professor (formação inadequada, incompetência), ora no método (eficiência

ineficiência).

Sem dúvida algum desses aspectos contribuem para o fracasso, mas cabe

ressaltar que a partir do contexto cultural do aluno, através do ambiente familiar, das

vivências que o aluno tem, existe implícito um tema de grande importância, o nível

de letramento. Assim sendo, este trabalho abordará o tema: A Contribuição da

psicopedagogia no Letramento e a Alfabetização. Cabe aqui destacar que o

letramento não é importante apenas na educação infantil mais em qualquer situação

onde se proponha identificar a função social da escrita.

Revista Nova Escola (2001), um responsável não queria aceitar que a

professora alfabetizadora de sua filha não utilizasse a cartilha. Depois de algumas

explicações o responsável deu um voto de confiança a professora e no final do ano

foi parabenizá-la por ter conseguido o que ele achava que não daria certo. A

professora organizava a sala com muito material escrito, livros variados, manuais de

instrução entre muitas outras coisas, as crianças chegaram a ler o manual de um

rádio que a professora levou para sala.

9

Infelizmente não é isso que se encontra na maioria das escolas e sim a

preocupação em decodificar a língua. Um exemplo claro disso é quando Ana

Teberosky, afirma que existem duas maneiras de se ensinar leitura e escrita. A

primeira é a alfabetização restringida, que entende alfabetização apenas como

habilidade de decifrar o código alfabético. A segunda é a alfabetização generalizada,

onde se procura mostrar a função social da leitura e escrita, formando indivíduos

participantes e não apenas decifrador do código alfabético.

De acordo também com a revista nova escola no mundo contemporâneo a

escrita está presente em toda parte, nos jornais, nas placas das ruas, nos anúncios,

nos rótulos que nos dão informações sobre os produtos entre outras coisas. Se uma

criança convive com a escrita e sua função social desde cedo ela é letrada antes

mesmo de ser alfabetizada. Conclui-se então que a alfabetização pode ocorrer

mediante ao que já foi dito independente da idade que a criança se encontre.

De acordo com matéria publicada na Revista Pátio (2004), enquanto falar e

compreender a fala é adquirido por exposição, ler e escrever só apareceram nos

últimos milênios, ou seja, não se aprende a ler e escrever como se aprende a falar e

compreender a fala. A importância da reflexão sobre a oralidade é para

compreender o sistema alfabético da escrita. Sendo assim podemos concluir que “a

escrita representa a linguagem, embora correta, pode, por falta de especificação,

conduzir a erros de compreensão do que são habilidades de leitura e de escrita e de

como são adquiridas”. (Revista Pátio, fev./Abr.2004, p. 14).

Esses dois processos (alfabetização e letramento) têm sido freqüentemente

confundidos e até mesmo fundidos, embora sejam distintos são indissociáveis. A

alfabetização só tem sentido quando desenvolvida no contexto da prática social de

leitura e escrita.

Um momento como esse de revisão bibliográfica é desafiador porque

estimula a revisão e reflexão dos caminhos já traçados e busca de novos. Apesar de

o letramento ser um tema bastante importante, é ainda muito pouco pesquisado. É

sabido que uma das maiores importâncias sociais do letramento é ajudar a formar

10

pessoas críticas, de opinião própria, ou seja, formando indivíduos autônomos,

participantes e não apenas decifradores do código alfabético.

Este trabalho tem como objetivos diferenciar letramento de alfabetização,

analisar as reflexões sobre a prática da psicopedagogia no letramento, apresentar

propostas de letramento para crianças de classes populares na educação infantil. A

metodologia utilizada perpassa pelo caminhar e pela vivência no que diz respeito á

contribuição da psicopedagogia nas suas descobertas das infinitas possibilidades

que apode fazer na aprendizagem, pois ela busca respostas e alternativas á

questão do aprender.

O psicopedagogo vem como um agente fundamental para avançar a

educação e fazer com que a aprendizagem tenha um significado, pois reforça a

idéia do aprendizado permanente como um processo e desafio.

11

CAPÍTULO I CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIALÉTICA LEITURA &

ESCRITA

1.1 A HISTÓRIA DA ESCRITA.

A escrita data de cerca de 5.000 anos antes de Cristo. O processo da

adoção do sistema escrito pelas sociedades antigas foi lento, ela tem origem

quando o homem tenta expressar seus sentimentos e pensamentos. Porem antes

de chegarem à escrita, à pintura foi um antecedente da escrita. Depois de algum

tempo o primeiro desenho passa a ser utilizado para identificar pessoas e objetos.

STORING(1990)

Posteriormente o desenho passa a representar o mesmo objeto, para que

assim todos compreendam esse sistema de representação. Depois, com o passar

do tempo um mesmo desenho tinha vários significados como, por exemplo: Sol, que

poderia representar o sol propriamente dito, poderia também, ser interpretado como

brilhante, dia, ou seja, cada significado associado e ainda desligado da fala. O

passo decisivo foi dado pelos Sumérios que escreveram em uma pequena lápide o

nome de seu rei. COntudo, é importante ressaltar que o nome do rei foi escrito com

sinais que representavam idéias e não palavras.

E segundo BARBOSA (1994) a escrita foi considerada um marco na

passagem da pré- história para a história. Segundo MALIONOWSKI (1976, p. 132) :

“Os membros analfabetos de uma comunidade civilizada tratam e consideram as palavras de um modo semelhante aos selvagens”. Ou seja, para ele os selvagens quanto os não alfabetizados não dominam a linguagem, não sendo capazes de ter um raciocínio lógico.

Tradicionalmente se afirma que a aquisição da escrita leva ao raciocínio

lógico. Porém assim estamos confirmando o que nos diz MALINOWSKI, dessa

forma concluímos que de fato a escrita tem como conseqüência desenvolver o

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pensamento lógico, porém se invertermos e dissermos que quem não aprende a ler

seja incapaz de raciocinar logicamente estamos cometendo um erro de acordo com

uma pesquisa feita com adultos não alfabetizados. (TFOUNI, 1984, 1986), pois nada

impede o indivíduo que não tenha a aquisição da escrita de raciocinar logicamente.

A escrita surgiu para que o homem fosse capaz de expressar sua maneira

de pensar e transmitir seus sentimentos. Porém a grande maioria das pessoas não

domina a escrita, pois acredito que essa seja um dos objetivos da classe dominante,

para que esta não perca o controle sobre os dominados. Um exemplo claro disto é

que a escrita resiste a qualquer modificação, é mais rígida e exige uma norma

padrão culta.

A maioria dos adultos que era analfabeto, não via funções para a escrita

embora a considerem importante, para eles a aquisição da habilidade é algo difícil.

Se a maioria dos pais tem essa concepção, o que acaba acontecendo com seus

filhos é que dessa forma as crianças passam a duvidar da própria capacidade de

aprender.

Podemos então afirmar que “alfabetização é um instrumento na luta pela

conquista da cidadania, e é fator imprescindível ao exercício da cidadania”

(SOARES, 2003, p. 59), pois é através da escrita, do falar bem que podemos

reivindicar nossos direitos e nos tornamos cidadãos.

1.2 Leitura e escrita

Por tratar-se de crianças da educação infantil ainda não são alfabetizadas,

mas já estão imersas nas práticas de letramento. Antes de citar exemplos do ensino

fundamental é primordial comentar um pouco sobre como a leitura e escrita são

trabalhadas em sala de aula.

13

Muitas vezes os professores escolhem sempre os mesmos livros para que

os alunos leiam, livros esses que não só provavelmente, os professores, já leram,

assim como as crianças estão lendo. Praticamente não existe renovação dos títulos

escolhidos. Esse tipo de leitura, na maioria das vezes, não interessa ao aluno,

posterior a leitura existem provas de livro ou fichas a serem preenchidas, com o

objetivo de saber se seu aluno realmente leu ou não determinado texto, e, para que

quando chegue o final do ano letivo a escola possa dizer que os alunos leram, por

exemplo, quatro livros no ano. Realmente leram, porém sem nenhum interesse, e

apenas para saber fazer os exercícios propostos posteriormente ficando sempre em

torno dos mesmos.

Para que as crianças gostem de ler, a leitura tem que ser pela busca de

informação que de alguma forma interesse a ela e não uma informação que não as

interessa. O que acaba acontecendo com a leitura e aprendizagem é que passaram

a representar o que tem de pior no ensino da língua materna. A escola muitas vezes

torna a aprendizagem da leitura uma tarefa árdua e tortuosa, onde a leitura é

sinônimo de decifração das palavras. (KLEIMAN, 2000). Para que qualquer

aprendizagem aconteça mediante a interação, o aluno deve conhecer a natureza da

tarefa e deve estar plenamente convencido de sua importância. A aprendizagem

precisa ser significativa para o sujeito aprendente.

Muitas vezes o que acontece é que poucos entendem a linguagem escrita e

todos compreendem a linguagem falada. Isso ocorre porque existe uma diversidade

lexical muito grande, e também pelo fato da escrita requerer na memória grande

número de palavras. Outro fator importante é que existe a necessidade de identificar

pronomes e nomes que estão se referindo a elementos que já foram comentados

anteriormente sendo diferente da linguagem oral. O que acaba acontecendo é que

se o leitor pouco tem conhecimento sobre o assunto, pode tornar a compreensão

praticamente impossível. Outro fato importante a comentar é que na alfabetização é

de muita importância enfatizar a escrita espontânea dos alunos, segue abaixo um

exemplo:

O professor pode, por exemplo, mostrar figuras de livros e pedir que seus

alunos escrevam o que se passa no desenho, o que eles estão entendendo sobre

14

tal gravura. Será somente através da escrita espontânea que o aluno começará a

construir seu conhecimento. Cabe lembrar também que esse exemplo pode ser

utilizado com o objetivo de atividades de produção de textos, pois, ao final de ver

todas as gravuras do livro e escrever o que esta vendo o aluno terá a sua história.

Ao criar condições que favoreçam o desenvolvimento da linguagem, o professor

estará contribuindo para a integração da criança no meio cultural além de seu

pensamento e conhecimento.

Segundo Kleiman (2000) a leitura é um ato individual, porém o ensino da

leitura é feito de forma contrária. A leitura é um diálogo entre autor e o leitor, onde

cada leitor entenderá de acordo com sua subjetividade. Estaremos nos

contradizendo apenas se a leitura privilegiasse apenas a leitura do professor, como

sendo a única correta e autorizada. Não será incoerente, portanto se o ensino da

leitura for entendido como estratégias e habilidades de leitura. E cabe lembrar que

leitores diferentes poderão divergir na interpretação de um mesmo texto. É crucial

que a divergência na interpretação esteja fundamentada na convergência que se

fundamenta na análise crítica que o autor utiliza para conseguir transmitir o que

quer. Para que o leitor compreenda o texto é preciso que ele tenha algumas

habilidades tais como: contar com suas próprias palavras parte do texto ou todo,

fazer resumo. Para o autor:

“Devemos também lembrar que o conhecimento sobre um assunto torna-o mais simples, e o conhecimento sobre um evento torna-o mais familiar. Isto pode ser estendido ao gênero do texto: quanto mais diversificada a experiência de leitura dos alunos, quanto mais familiaridade eles tiverem com os textos narrativos, expositivos, descritivo, mais conhecida será a estrutura desse texto, e mais fácil percepção das relações entre informação veiculada no texto e a estrutura do mesmo”. (p. 87).

Faz parte do ensino da leitura ajudar a criança a construir sentido no texto.

Muitas vezes a escola é cobrada por pais de alunos ou ate mesmo pelos próprios

alunos quando estão em algum curso supletivo de alfabetização de jovens e adultos

que não querem trabalhar com textos e sim aprender a ler e escrever. Nesse caso, o

aluno quer a regra gramatical tradicional que tem que ser memorizada. Não entende

que dessa forma a leitura e escrita não terá grande significado, pois está

desvinculada do saber lingüístico. (CAGLIARE, 2003)

15

A aquisição da escrita hoje não é mais por imitação, repetição, copiando e

reproduzindo letras como muitas vezes ainda acontece nas escolas, e sim um

sujeito que aprende atuando sobre a língua, levantando hipóteses, errando e a partir

do erro reconstrói seu pensamento. Para o professor os erros de seu aluno podem

ser valiosos para que ele possa perceber onde seu aluno tem maior dificuldade, em

qual etapa da aprendizagem da leitura e escrita se encontra. Ao ser introduzido na

escola, o aluno já domina a produção oral, o professor não deve encarar essa

chegada como se o aluno não soubesse nada e está chegando a um mundo

desconhecido embora ainda “analfabeto”. (Kato, 1986)

A criança chega à escola sem saber ainda desenhar as letras e lê-las, mas

o professor não pode ignorar a importância que a leitura e escrita tem em seu dia-a-

dia como, por exemplo, o jornal que algum familiar lê, o bilhete ou a carta que chega

a residência do aluno, os cartazes que ele vê pelas ruas da cidade, o livro que de

repente o irmão mais velho esta lendo, entre outros.

Cabe ao professor não apenas ensinar a ler e escrever, mas fazer uso da

leitura e escrita. Que entenda letramento como um conjunto de práticas de leitura

que dependem da concepção de o quê? Como? Quando? E por que ler e escrever.

É importante que o aluno entenda a leitura como comunicação, que o texto é escrito

para dizer e persuadir, chocar e enganar. O texto é o ponto de partida e de chegada

no processo da aprendizagem da linguagem. (FREIRE, 1959)

Tanto o professor quanto a escola muitas vezes buscam um método de

alfabetização. Uma “receita”, para que consigam a um dos objetivos mínimos da

escola que é ensinar a ler e escrever. Cabe ao professor ter plena consciência das

hipóteses que podem acontecer durante a alfabetização para sua maior segurança

e para que ele possa, por exemplo, modificar sua maneira de ensinar caso sinta

necessidade. (VYGOTSKY, 1998)

Como nos afirma Ferreiro (1981), a escrita pode ser adquirida independente

da leitura, quando nos conta que uma professora lamenta o caso de seu filho que

aprendeu a ler sozinho antes de entrar para a escola, atribuindo esse fato ao

possível insucesso escolar por não saber escrever corretamente. A grande maioria

16

dos métodos de alfabetização traz junto com eles uma concepção de criança.

”Nesse sentido, a criança parece estar bioprogramada ” para percorrer em sua vida

o mesmo caminho percorrido pelos seus ancestrais através dos tempos, sendo a

existência das etapas desse percurso dependentes também da existência de

estímulos ambientais” (KATO, 1999, p.11). O professor deve sempre fazer com que

seus alunos se sintam “desafiados” a ler, sendo aos poucos introduzidos no mundo

da leitura silenciosa.

1.3 A psicopedagogia no processo de ensino-aprendizagem

Para Vygotsky (1989), a relação entre o pensamento e a palavra é um

processo contínuo. O pensamento não é simplesmente expresso em palavras, mas,

por meio delas, ele passa a existir. A psicopedagogia vem com sua prática

contribuir no processo de ensino das instituições, e tem por tarefa realizar um

diagnóstico e desenvolver um projeto de intervenção que atenda as principais

necessidades da escola, com vistas a auxiliar o professor.

É preciso resgatar a imagem do professor e valorizar o seu importante papel

na escola e na sociedade (BARRETO, 2007). O autor afirma que:

A psicopedagogia vem para criar um material que pudesse facilitar o enquadre junto à criança (e / ou adolescente) e seus pais, quando houvesse indicação para uma intervenção psicopedagógica. Frente à dificuldade dos professores em esclarecer, à criança e à família, como e por que seria conduzido o processo de intervenção.

A educação primária pode ser bem sucedida se conseguir das pessoas o

impulso e as bases que façam com que continuem a aprender ao longo de toda

vida, tanto na escola como fora dela (DELOURS, 1999). A psicopedagogia ajuda a

criar um material ilustrado, através do qual, os personagens envolvidos no processo

podem se identificar, este poderia se constituir num instrumento valioso para o

Psicopedagogo. Ao longo da trajetória de criação do material, outras demandas

17

foram se acrescentando a motivação inicial, como por exemplo: a importância de

auxiliar o professor no momento do encaminhamento do aluno com dificuldades; o

esclarecimento aos acadêmicos da área da educação a respeito da especificidade

da psicopedagogia; uma contribuição acerca da complexidade do processo de

aprendizagem escolar, etc. o surgimento da psicopedagogia está relacionado com a

necessidade de atender as crianças e adolescentes que fracassam no âmbito

escolar, pois essa área de estudo está interessada investigar, as causas da

dificuldade de aprendizagem. (RUBINSTEIN, citado por GRASSI, 2009).

A psicopedagogia deverá estar nas instituições já que claramente existe a

preocupação com a qualidade do material, imagens e a didática empregada nas

questões / respostas que surgem a cada momento no processo daqueles que

procuram e necessitam de um trabalho psicopedagógico. Para Pichon (1980), a

aprendizagem é uma estrutura dinâmica em contínuo movimento que funciona,

acomoda ou é movida por motivações psicológicas. A prática da psicopedagogia se

aplica à aprendizagem, seja ela de caráter individual, grupal ou institucional. Não

podemos nos esquecer que a aprendizagem se inicia desde o primeiro contato do

sujeito com o mundo externo e se perpetua por toda a vida, portanto tem que se

levar em conta os acontecimentos desde a infância à vida adulta, o que nos obriga a

considerar a aprendizagem “ad eterno”. Estamos falando, portanto, de um sujeito,

cuja subjetividade é marcada e constituída sob uma ótica que abrange as influências

histórico culturais e, portanto, as mudanças oriundas de várias gerações. Essa

manifestação do sintoma pode se dar de forma consciente, uma vez que o sujeito se

comporta de uma determinada forma em virtude de elucidar o problema e que

muitas vezes se manifesta na queixa do problema; ou de modo inconsciente,

quando o sujeito age de maneira "não adequada" segundo padrões pré-

estabelecidos seja pela família, escola ou sociedade ou mesmo quando somatiza

em vista da dificuldade existente.

Segundo VYGOTSKY (1989), a aprendizagem da criança começa

muito antes da aprendizagem escolar que nunca parte do zero. Toda aprendizagem

da criança na escola tem uma pré-história. A criança percebe o mundo, interage e

troca conhecimento, como todos nós, no entanto, não é ainda dotada de um poder

18

de argumentação para se defender do que incomoda, ou para explicar o que não

está bem, então à escola passa a ser o terreno da manifestação dos sintomas, já

que na maioria das vezes, os pais são contatados pela escola o que os faz dirigir

suas atenções para a criança. DELORS (1999), cita quatro pilares essenciais para

um novo conceito de educação: aprender a conhecer, aprender a viver junto,

aprender a fazer e aprender a ser.

De uma maneira ou de outra, é necessário que seja feita uma análise

eficaz por parte do psicopedagogo, seja relacionada à sua atuação com vistas a

solucionar a dificuldade ou o encaminhamento do sujeito para os profissionais

adequados, o que obriga ao psicopedagogo atuar com responsabilidade e de

maneira interdisciplinar.

19

CAPÍTULO II

REFLEXÃO TEÓRICA SOBRE LETRAMENTO:

DIFERENCIANDO-O DA ALFABETIZAÇÃO.

2.1 O PROCESSO DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO

Segundo Freire (1987), para termos uma aprendizagem de leitura e escrita

significativa, precisamos primeiramente fazer a nossa leitura de mundo, de acordo

com a nossa realidade. Podemos perceber isso claramente quando o autor relata

que foi alfabetizado no quintal de sua casa, onde o chão era o quadro de giz, o

canto e o nome dos pássaros eram suas primeiras letras e palavras, assim como

alguns nomes de árvores e frutas, os animais de estimação também faziam parte de

sua realidade. Fazia parte também desse contexto a linguagem dos mais velhos,

expressando suas crenças, valores, entre outras coisas. Foi dessa forma que com

ajuda dos pais, Paulo Freire se alfabetizou. Quando chegou à escola a professora

apenas aprofundou o trabalho que tinha sido desenvolvido pelos pais, com leitura de

frases e sentenças.

"Quando um "analfabeto" ouve a leitura de uma noticia de jornal feita por um " alfabetizado" que escreva, por ele, uma carta, não está fazendo uso da escrita? E esse fazer uso da língua escrita não e uma das propriedades ou atributos da alfabetização?" (SOARES, 2003, p. 51).

Pesquisas apontam que essa seja melhor maneira de trabalhar a

alfabetização, embora muitas vezes a realidade do educando não seja levada em

consideração pela escola. Um grande exemplo disso é quando Freire (1987)

escreve a Pedagogia do Oprimido, onde ele apresenta seu método de alfabetização.

Antes de tratar de qualquer metodologia a maior preocupação de Freire, era

desenvolver um trabalho para que pessoas de classes populares, que são na

maioria das vezes dominadas pelas classes mais privilegiadas possam deixar de ser

oprimidas, ou seja, levar essas pessoas a refletirem sobre assuntos diversos para

que deixem de ser oprimidos e possam ter voz como os dominantes. Para o autor,

20

de acordo com a concepção bancária da educação, uma de suas características é a

sonoridade da palavra e não sua transformação.

O autor nos alerta que os dominantes fazem exatamente isso, não mostram

aos oprimidos a força de transformação que tem a palavra, porque se o fizerem,

provavelmente irão se sentir ameaçados e possivelmente perderão o domínio sobre

os oprimidos. Dessa forma a educação se torna um ato de depositar. O professor

apenas deposita informações em seus alunos para que eles recebam, memorizem e

repitam. A educação bancária controla o pensar e a ação, levando os homens ao

ajustamento no mundo, inibindo o poder de pensar atuar também no mundo. Nega o

diálogo, pois o mundo é uma realidade estática que não deve ser mudada, inibe a

criatividade e principalmente, não reconhece o homem como um ser histórico,

inacabado. Sendo assim, podemos concluir que o homem é o único ser que pode

transformar a realidade, é através dela que cria história, que se fazem seres

históricos, sociais. Talvez seja por isso que algumas escolas, principalmente as

públicas, acabem adotando a concepção bancária da educação, para que seus

alunos saiam de lá memorizando, repetindo tudo que as outras pessoas falam, e

principalmente, para que eles não percebam que podem transformar a realidade.

Além dessa concepção, existe outra, chamada concepção problematizadora

como prática de liberdade, que é totalmente oposta à bancária. Essa concepção

prioriza o diálogo, se funda na criatividade e reflexão. Não é apenas o aluno que

aprende, o professor assume papel de aprendente, pois ambos são sujeitos do

processo e crescem juntos. O educando agora não é um deposito de informações e

sim um investigador critico que é levado sempre pelo professor a refletir e pensar

sobre cada situação. O educando compreende o mundo como uma realidade em

constante transformação. Essa concepção problematizadora de educação é a que

deve ser utilizada pela escola, pois o aluno não fica repetindo o que os outros

dizem, tem a oportunidade de refletir sobre um determinado assunto, sendo capaz

de chegar a suas próprias conclusões. (FREIRE, 1987)

Quando o professor deseja iniciar o trabalho de alfabetização, o ideal seria

começar pela busca do conteúdo programático, para depois chegar aos temas

geradores que serão trabalhados posteriormente. É importante ressaltar que durante

21

todo o processo durante as etapas de decodificação, os alunos estarão

expressando sua visão de mundo, forma de pensar, a decodificação tem total

relação com a interpretação que o educando tem da sua realidade, de acordo com

sua produção de significado. Dessa maneira, é inviável que um determinado tema

gerador não tenha nenhuma realidade com o contexto do educando, ele só poderá

ser compreendido na relação homem mundo (SOARES, 1998). A temática

desenvolvida em sala será sempre problemas a serem decifrados, nunca como

conteúdos a serem depositados. A educação libertadora tem função de fazer com

que os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo sua visão de mundo.

(FREIRE,1987).

A retomada da língua oral antes de atribuição de sentido ao texto escrito, parece justificar-se pelo fato de a língua oral constituir a experiência lingüística que já possuíam, constituir o já conhecido. A construção da escrita pelas crianças se dá a partir do conhecimento que têm da língua oral e o primeiro passo parece ser o de verificar até que ponto esse conhecimento permite que entendam a escrita. (TERZI citado por KLEIMAN, 1985, p.107).

O que para a maioria, às vezes, é feito sem muito esforço de concentração,

para outros representam grandes obstáculos, como por exemplo, a leitura e escrita.

Tfouni (1995), relata que sempre que pensamos em escrita, alfabetização e

letramento, pensamos em um conjunto de coisas que são distintas, porém são

processos interdependentes e indissociáveis. Para podermos entender melhor

essas três categorias: alfabetização, escrita e letramento segue abaixo uma reflexão

sobre os temas.

Ainda, ampliando a abrangência da alfabetização, podemos analisá-la à

medida que esta reproduz a “formação social existente, ou como um conjunto de

práticas culturais que promove a mudança emancipadora” (DONALDO, 1990: 10).

Historicamente aconteceu um grande marco no ano de 1789 entre

alfabetização e a escola, 200 anos de fracassos que marcaram a trajetória da

escola de tentar garantir a todos o acesso a cultura escrita. As crianças foram

transformadas em alunos, aprender a escrever se sobrepõe a ler, ler se aprende

escrevendo. Porém é importante ressaltar que para escrever era preciso fazer a

dança das mãos, pois nessa época ainda se escrevia com a pena, e seria

22

complicado para uma criança conseguir segurá-la corretamente. Depois de alguns

anos na tentativa de se elaborar um método mais apropriado é inventado o método

Lancaster-Bel. “Se a escrita fosse bem ensinada, não teria sentido fazer o estudo a

parte da leitura, pois todos aqueles que sabem escrever logicamente sabem ler.”

(BARBOSA 1994, p. 18).

Há duas formas segundo as quais comumente se entende a alfabetização: ou como um processo de aquisição individual de habilidades requeridas para a leitura e escrita, ou como um processo de representação de objetos diversos, de naturezas diferentes. (TFOUNI, 1995, p. 64)

Quando pensamos em alfabetização, não podemos, por exemplo, dizer que

uma pessoa se alfabetiza na classe de alfabetização e depois da conclusão dessa

série sua alfabetização se encerrou, pois ela não se acaba. A sociedade em que

vivemos está em constante mudança e exige formas cada vez mais sofisticadas de

leitura e escrita. Para Tfouni (1995) existem duas maneiras de entender o que é

alfabetização: O primeiro “Como um processo de aquisição individual de habilidades

requeridas para a leitura e escrita”, e o segundo “como um processo de

representação de objetivos diversos, de naturezas diferentes.” (p14).

Se entendermos a alfabetização como um processo de aquisição individual

de habilidades, a alfabetização chega ao final em um determinado ponto, porém de

acordo com o sócio-interacionismo a alfabetização não se completa nunca. Quando

entendemos a alfabetização como processo de representação de objetivos diversos,

entendemos que não se deve privilegiar apenas a codificação e decodificação. A

relação entre escrita e oralidade não é uma relação de dependência da primeira a

segunda, mas sim uma relação de interdependência. (VYGOTSKY, 1998).

Ação de escrever exige também da parte da criança uma ação de analise deliberada. Quando fala, ela tem consciência das operações mentais que executa. Quando escreve, ela tem de tomar consciência da estrutura sonora de cada palavra, tem de dissecá-la e produzi-la em símbolos alfabéticos que tem de ser memorizado e estudado de antemão. (Vygotsky, 1979)

Entendamos que alfabetização não deixa de ser um processo de aquisição

de habilidades para que se possa codificar e decodificar. Porém não se restringe

apenas a isso. Para que possamos alfabetizar nossos alunos com sucesso

precisamos dar a eles oportunidades para que percebam a função social da escrita,

para que consiga ver na aprendizagem da leitura e escrita algum significado.

23

De acordo com BARBOSA (1994) muitas vezes é dito que as metodologias

tradicionais de alfabetização não alfabetizam, porém é importante lembrar que

estatisticamente está correto, de fato todos escrevem e lêem, porém a metodologia

tradicional não forma leitores. Essa afirmação parece estar correta também quando

se entende por “alfabetizado o indivíduo que, através do ensino ministrado, adquire

o hábito de oralizar a língua escrita, pois este é o comportamento que as

metodologias de alfabetização se propõem a fazer”. (p30). Essa concepção de

alfabetizado parece ser a mesma utilizada pela maioria das cartilhas de

alfabetização. Para trabalhar com cartilhas na alfabetização, a criança necessita

dominar o mecanismo considerado de base na aprendizagem da leitura e escrita.

Apresenta-se um universo restrito, em que codificando e decodificando aprende-se

a ler e a escrever. Segue abaixo uma pequena lista das metodologias utilizadas

pelas cartilhas:

*Cartilha Sintética - Apresentam-se as vogais, ditongos e tritongos, combinam-se consoantes com vogais, ditongos e tritongos, combinam-se consoantes com vogais, depois o estudo das famílias silábicas, exercícios repetitivos. *Cartilha Analítica-Parte de uma palavra ou frase, chega-se às sílabas.

*Cartilha Mista-Parte de uma palavra chave que se encontra dentro de uma frase para depois se decompor em sílabas, para posteriormente formar outras palavras. (ALVARENGA P.198 (1988)

O que muitas vezes acaba acontecendo quando o professor quer alfabetizar

é que ele tenta buscar um método infalível de alfabetização, que não existe. Cabe a

ele perceber que todas as etapas ditas acima são importantes, não só partir de uma

palavra para se chegar à sílaba, como também a partir de uma sílaba formar

palavras novas. O professor muitas vezes quer uma “receita” pronta de como fazer

que não existe. Acredito que caiba ao professor utilizar um pouco de todas as

metodologias para que seus alunos possam ser alfabetizados da melhor maneira

possível.

De acordo com PIERRE (1999), as escolas tradicionalistas no ensino da

leitura e escritas não conseguem dar conta: 1 - Da importância da leitura na vida

cotidiana do trabalho e do lazer. 2 - Da variedade de situações de uso da escrita

instituída pelo mundo contemporâneo. 3 - Do que fazemos quando lemos. 4 - Do

papel da intencionalidade do leitor nos usos que faz do impresso.

24

Ainda segundo Barbosa (1994) as cartilhas evidenciam o princípio

fundamental que rege o sistema alfabético, ao contrario da alfabetização funcional

que tem como objetivo proporcionar que os indivíduos enfrentem com competência

as várias situações que o mundo lhe propõe. A alfabetização é o processo de

aquisição do código escrito, ou seja, das habilidades de leitura e escrita, que é

codificar e decodificar o sistema alfabético. A alfabetização é também um processo

de compreensão e expressão de significados por meio do código escrito. (Soares,

2003). Quando falamos em escrita não conseguimos imaginar o mundo em que

vivemos sem ela, pois para a sociedade moderna ela está incorporada na vida

social, cultural, econômica do país, além de ser enormemente valorizada. ”O

pressuposto que está presente na visão do analfabetismo como uma ‘praga’ a ser

‘erradicada’. Até mesmo em culturas ágrafas, em que nem mesmo se tem o que

ler.”(SOARES, 2003, p. 58). Já que o analfabeto não se apropriou da leitura e

escrita, ele acaba não percebendo sua importância para o exercício de sua

cidadania.

Muitas das abordagens escolares derivam de concepções de ensino e aprendizagem da palavra escrita que reduzem o processo da alfabetização e de leitura a simples decodificação dos símbolos lingüísticos. A escola transmite uma concepção de que a escrita é a transcrição da oralidade (Cagliari, 1989, p. 26).

A escrita, também, é usada como exercício do poder. A escrita esta

associada desde suas origens ao jogo de dominação e poder. Em muitos casos a

escrita funciona para ocultar e garantir o poder aqueles que a ela têm acesso. Ao

contrário do que muitos pensam que sua finalidade é de difundir idéias. Para poder

explicar melhor gostaria de dar o exemplo de que o analfabeto só teve o direito ao

voto quando foi reconhecido nele, aquele que não sabe ler nem escrever, um

cidadão. Nesse exemplo, fica bastante claro o poder que a escrita tem quando era

negado o voto ao analfabeto, ao qual não era reconhecido cidadão por não ser

alfabetizado.

Outro comentário necessário é o fato da escrita ser diferente da maneira de

como falamos, ela é mais rígida e convencional do que a forma falada. Ela resiste a

qualquer mudança lingüística, onde fica claro o poder que tem. (BARBOSA, 1994).

25

2.2 DIFERENÇAS ENTRE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO

Segundo o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, de Caldas

Aulete na sua 3ª edição, define letramento como vocábulo antigo, antiquado.

Etimologicamente, letramento é a tradução da palavra inglesa “literacy” que

é estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Nesse

conceito a idéia de que a escrita traz conseqüências sociais, culturais, políticas e

econômicas como já foi dito anteriormente. Sendo assim como nos afirma

GINZBURG (1987, p. 132) ”Os instrumentos lingüísticos e conceituais” que o

letramento coloca á disposição dos indivíduos não são “neutros nem inocentes”

(1987, p. 132). Pois será através do letramento que o aluno perceberá a importância

da leitura na vida cotidiana, como a escrita é utilizada no mundo contemporâneo,

entre outras coisas.

(...) refere-se à alfabetização como um processo individual de aquisição da escrita, o que envolve aprendizagem de habilidades para leitura, escrita e práticas de linguagem. Caracteriza-se pela incompletude, “já que a sociedade está em contínuo processo de mudança, e atualização individual para acompanhar essas mudanças é constante”. (TFOUNI, 1995, p.15).

O conceito de letramento começou a ser usado no meio acadêmico para

separar estudos sobre o impacto social da escrita e alfabetização (KLEIMAN, 1991).

Posteriormente, os estudos foram se alongando para descrever como eram e quais

os efeitos das praticas do letramento em sociedades que estavam começando a

interagir com a escrita.

O letramento enfatiza aspecto sócio-históricos de aquisição da escrita e

também procura entender o que acontece com a sociedade quando adota um

sistema de escrita. Segundo SERILMER e COLE (1981), ”podemos definir hoje

letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto

sistema simbólico. E enquanto tecnologia, em contextos específicos para objetivos

específicos”.

26

Um grande acontecimento que demonstra um avanço na área de educação

mais especificamente na alfabetização, é que o censo realizado pelo Governo

Federal para saber exatamente quantas pessoas são alfabetizadas e quantas são

analfabetas, o censo pergunta se elas são capazes de ler e escrever um bilhete

simples.

O que podemos perceber com essa pequena, porém significativa mudança,

é que uma pessoa para ser considerada alfabetizada não precisa apenas saber

escrever o próprio nome como era feito antes pelo censo demográfico. Atualmente

só é considerado alfabetizado aquele que consegue fazer uso da leitura e escrita no

seu cotidiano, o que importa nesse caso é o nível de letramento em que a pessoa se

encontra. Percebemos que codificar e decodificar não é o mais importante, e sim o

nível de letramento do sujeito, que na maioria das vezes é a visão diferente da

escola, pois geralmente ela não se preocupa com o letramento como pratica social.

Uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. (FREIRE, 1987, p.11-12)

Tfouni (1995) nos diz que iletrado não pode ser o contrario de letrado, pois

não existe grau zero de letramento e sim graus diferente como dito acima. E a

função da escola nesse caso é de partir do grau de letramento em que o aluno se

encontra.

Na maioria das vezes a concepção de letramento mais valorizada pela

escola e também pela família é a transposição da língua oral para a escrita, sem

dúvida é também importante, mas não deve ser considerada mais que as outras

habilidades como exemplo a produção escrita e a argumentação.

Segundo Kleiman (1995) o jogo do faz de conta é muito importante para os

alunos, pois é através das brincadeiras, do faz de conta, do brincar de ler que se

encontra o sentido social da escrita de uma determinada cultura. Porém muitas

vezes não é permitido brincar na escola exatamente por esta não entender que o

27

sentido social da escrita se encontre através da brincadeira. Ou por achar que o

aluno tem que chegar na escola com essa habilidade já trabalhada pela família.

O letramento pode atuar indiretamente e influenciar pessoas que não

dominam a escrita, pois é um processo amplo que está relacionado com a

existência do código escrito. Ou seja, apesar de alfabetização e letramento serem

distintos eles não se separam. É importante que de preferência antes da

alfabetização propriamente dita, que o aluno tenha oportunidades de letramento

mesmo sem dominar a escrita ainda. Em uma sociedade “Apesar da maior parte

das atividades serem organizadas na forma de escrita, existem, no entanto, grupos

de pessoas que delas participam de uma forma tangencial, até marginal, visto que

mal sabem ler nem escrever”. São os não alfabetizados, que têm sido descritos

como ‘pré-lógicos’, ‘primitivos’ etc. Já que tradicionalmente se diz que pessoas não

alfabetizadas são consideradas pré-lógicas, porque não são alfabetizadas e

supostamente por isso não conseguem raciocinar logicamente. (TFOUNI, 1995, p.

67).

Pode-se entender que a percepção na maioria dos estudos realizados com

pessoas não alfabetizadas é que as pesquisas reforçam sua inferioridade, pois

enfatizam aquilo que elas não sabem ao contrario dos alfabetizados.

O desenvolvimento da linguagem oral e a escrita se influenciam

mutuamente. No meio letrado a construção da escrita e da linguagem oral

acontecem juntas, ao contrário das crianças iletradas que na maioria das vezes

quando entra na escola já dominam a linguagem oral. (DIAS, 2001)

Segundo KLEIMAN (1995) a oralidade e a construção da escrita se dividem

em duas etapas, a primeira caracterizada pela impossibilidade ou impedimento de

influência da oralidade na construção da escrita. A segunda etapa é quando esse

impedimento é suspenso e a criança passa a relacionar a língua escrita a oral,

sendo o fator gerador da mudança uma redefinição da escrita pelas crianças. Na

primeira etapa, pelo fato das crianças não terem exposição à leitura e escrita na

educação infantil, elas não tiveram a oportunidade de perceber a escrita como

modalidade lingüística. Esse início de letramento é muitas vezes ignorado pela

28

escola, pois ela pressupõe que isso já tenha sido feito pela família. Sendo assim

quando chegam à alfabetização os professores se preocupam apenas em codificar

e decodificar a palavra, que acaba gerando um conceito falso, pois muitas vezes o

aluno lê, mas não entende o que decifrou.

Outra demonstração de que os alunos não compreendem, por exemplo, um

texto é quando se tem nas perguntas de interpretação dicas de qual é a resposta. O

aluno acha no texto o pedaço onde se encontra a pergunta e logo após acha a parte

da resposta, onde ele apenas copiará exatamente o que está no texto. Assim,

quando aparecem perguntas pedindo a opinião dele, ou que o levem a refletir para

responder acabam não conseguindo fazer a atividade, já que na maioria dos

trabalhos realizados em sala a professora não se importa com o contexto. Muitas

vezes o aluno responde a essas perguntas, mas se for perguntado algo que não

esteja escrito explicitamente no texto ele não consegue responder já que está

acostumado a copiar do texto para responder as questões de interpretação.

(HEATH, 1982, 1983).

KLEIMAN (1995) nos afirma que geralmente as crianças que têm

oportunidades de letramento são crianças cujos pais contam histórias, assim elas

expandem seus conhecimentos, pois a leitura ajuda a estabelecer conexões entre a

linguagem oral e as estruturas do texto escrito. A leitura facilita a aprendizagem da

decodificação de palavras. O autor aponta dois tipos de letramento: o autônomo e o

contextualizado.

A escrita no modelo autônomo seria um produto completo em si mesmo, distinta da linguagem oral, pois está determinada pelo funcionamento interno ao texto escrito. Nesse modelo, o letramento é visto como uma tecnologia neutra, na qual se destaca a preocupação com o desenvolvimento da racionalidade (pensamento abstrato) e da lógica, diante do qual se formará dois grupos cognitivamente distintos: os que sabem ler e escrever (os letrados) e os que não sabem ler e escrever (os iletrados). Dessa forma, "poderes" são atribuídos à escrita. Essa concepção conservadora atribui o fracasso escolar como uma falha do aprendiz, que não adquiriu os conhecimentos. (KLEIMAN, 1995).

Já no modelo contextualizado, é destacado o fato de que todas as práticas

de letramento são aspectos não só culturais, mas também de estrutura de poder

numa sociedade. Fala-se de práticas de letramento, subentendendo aqui que não

há apenas um tipo de letramento e que essas práticas mudam segundo o contexto.

29

Nesse modelo, a distinção entre sujeitos letrados e iletrados só pode ser

compreendida quando posicionada ao lado de uma grande variedade de outras

identidades sociais. Aqui, a unidade de estudo é o evento de letramento, isto é,

situações em que a escrita é parte importante na formação de sentido do contexto

tanto em relação à interação entre os sujeitos como em relação aos processos e

estratégias interpretativas. Assim, fala e escrita estão sempre interligados.

(STREET, 1984).

Cabe a escola partir do nível de letramento em que a criança se encontra, o

que muitas vezes não é levado em consideração pela instituição, e ai sim conduzir o

aluno para o nível de letramento valorizado pela escola. Letrar uma criança é dar a

ela oportunidade de perceber a função social da escrita, tentando fazer atividades

em que o aluno perceba que a escrita é importante, que faz parte de sua realidade,

para que assim a aprendizagem de leitura e escrita tenha significado para o

alunado. (SOARES, 1998)

“o letramento representa o coroamento de um processo histórico de transformação e diferenciação no uso de instrumentos mediadores. Representa também a causa da elaboração de formas mais sofisticadas do comportamento humano que são os chamados ‘processos mentais superiores, tais como raciocínio abstrato, memória ativa, resolução de problemas etc.” (VYGOTSKY, 1984, p.21).

Face ao exposto, ratifica-se que o letramento é importante para a

construção da inteligência, haja vista que a diferença entre pessoas e animais são

exatamente as funções mentais superiores (inteligência, memória, imaginação,

percepção, atenção, raciocínio lógico...) o que contribui para a interação social.

Entende-se então por letramento “resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler

e escrever: o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo

como conseqüência de ter se apropriando da escrita” (SOARES, 2003, p. 85).

Com a mesma preocupação em diferenciar as práticas escolares de ensino

da língua escrita e a dimensão social das várias manifestações escritas em cada

comunidade, Kleiman, apoiada nos estudos de Scribner e Cole, define o letramento

como:

(...) um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos. As práticas

30

específicas da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizado ou não-alfabetizado, passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve alguns tipos de habilidades mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. (1995, p. 19).

Importante tocar no assunto do fracasso escolar que durante a alfabetização

tem alto índice de ocorrência. ”Se os programas fracassam, as próprias crianças e

suas famílias serão responsabilizadas, na medida em que se considera que lhes

foram dadas às oportunidades educacionais e, e como não progrediram, são vistas

como incapazes” (KRAMER, 1982, p. 59). Ao refletir acerca do fracasso escolar,

podemos inferir algumas questões como: o fracasso está relegado ao individuo?

Qual a participação do profissional nesse contexto? O aluno teve acesso às diversas

oportunidades de letramento? Cabe a escola oferecer ao alunado oportunidades

para que possam entender a leitura e escrita como pratica social, em que consiga

ter significado para ela, que com certeza não será somente codificar e decodificar.

Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos (SOARES citado po Ribeiro, 2003, p. 91).

Outro elemento de fundamental importância é o material didático utilizado

para alfabetização, este não pode se distanciar da realidade da criança, um

indivíduo do meio rural não pode ter as mesmas vivências que alguém do meio

urbano. Um material utilizado para crianças de classe popular não deve ser o

mesmo para crianças de classe média alta, pois suas realidades são diferentes. A

grande diferença das crianças de áreas rurais e urbanas está exatamente nas

funções mentais superiores, que caracterizam o homem, e que são construídas

através da interação. Se não pararmos para pensar nesses detalhes é provável que

nunca consigamos sucesso com a alfabetização de crianças das classes populares.

A alfabetização só estará contribuindo para a cidadania dessas crianças, se

ao longo do processo os indivíduos tiverem consciência de seus direitos de leitura e

escrita. A escola exige de seus alunos padrões na hora da fala e da escrita, ou seja,

uma linguagem culta, porém é bom lembrar que classes sociais diferentes atribuem

31

funções diferentes ao uso da linguagem que emergem em determinados contextos

como, por exemplo, o grupo familiar.

Há algum tempo, descobriram no Brasil que se poderia usar a expressão letramento. E o que aconteceu com a alfabetização? Virou sinônimo de decodificação. Letramento passou a ser o estar em contato com distintos tipos de texto, o compreender o que se lê. Isso é um retrocesso. Eu me nego a aceitar um período de decodificação prévio àquele em que se passa a perceber a função social do texto. Acreditar nisso é dar razão à velha consciência fonológica. (FERREIRO, 2003, p. 30).

O que muitas vezes leva ao fracasso escolar de crianças de classes

populares é que a escola não costuma aceitar o dialeto não padrão trazido por

essas crianças. Elas trazem a escola uma linguagem que predomina outras funções.

FREIRE (1987). Ou seja, a escola tenta fazer com que todos os alunos fiquem

próximos a norma culta padrão ignorando a maneira de falar que o aluno traz.

(...) há uma dimensão de poder envolvida no processo de aculturação efetivado na escola: aprender – ou não – a ler e escrever não equivale a aprender uma técnica ou um conjunto de conhecimentos. O que está envolvido para o aluno adulto é a aceitação ou o desafio e a rejeição dos pressupostos, concepções e práticas de um grupo dominante – a saber, as práticas de letramento desses grupos entre as quais se incluem a leitura e a produção de textos em diversas instituições, bem como as formas legitimadas de se falar desses textos -, e o conseqüente abandono (e rejeição) das práticas culturais primárias de seu grupo subalterno que, até esse momento, eram as que lhe permitiam compreender o mundo. (KLEIMAN, 2001, p. 271).

As crianças de camadas populares escrevem textos em que a escrita tem

função instrumental (HALLIDAY, 1973), ou seja, não escrevem para expressar-se,

criar. A criança nega o direito de usar a escrita para dizer sua própria palavra e

utiliza-a para ter apenas a aprovação da professora, ou seja, as crianças não

percebem a função da escrita.

É necessário que a sociedade compreenda que o mundo mudou, ler não é

mais apenas decodificar e leitor não é mais o alfabetizado. Ler é sempre colocar

questões ao texto que encontra-se como objeto de leitura, e assim o texto pode ter

diversas interpretações. Precisamos entender que a escrita está presente o tempo

todo em nosso cotidiano, e que o papel do professor é de criar situações

32

significativas, que dê as crianças condições de se apropriarem de um conhecimento,

e dar oportunidades do aluno de utilizar a escrita em contextos significativos.

2.3 O Letramento na Educação Infantil

Talvez se os professores não estivessem preocupados apenas em que

método utilizar, e fazer da sala de aula um lugar de observações de como ocorre o

processo de aprendizagem da leitura e escrita de seus alunos, reduziríamos muito o

fracasso escolar nas classes de alfabetização. Sem dúvida a alfabetização é

importante, mas a escola não deve voltar todos os seus esforços nesse sentido, pois

a formação do leitor e escritor inicia-se antes da criança estar alfabetizada. A

preocupação maior deveria ser função social da língua escrita.

O professor deve tentar fazer com que seus alunos tenham contato com

diversos tipos de textos como bilhetes, rótulos de produtos, listas de compras entre

outras coisas. O importante é colocar a criança em contato com vários tipos de

textos para que ela perceba as varias funções que tem a língua escrita. Isso pode

ser feito através da contação de historia, comunicação, recado, identificação de um

produto, entres outros exemplos. O professor pode ainda montar uma biblioteca de

classe. O professor tem grande importância na formação do leitor e escritor, pois é

ele quem possibilita a interação da criança com a cultura letrada.

Dessa forma, seria função da educação infantil preparar crianças tanto de

minorias étnicas como de minorias dialetais para a tarefa de alfabetização. As

pesquisas em leitura são unânimes em afirmar que na leitura proficiente as palavras

não são lidas letra por letra, sílaba por sílaba, mas sim como um todo, ou seja, pelo

reconhecimento instantâneo.

O reconhecimento de palavras se dá como o reconhecimento de outro objeto qualquer (carro, árvore, criança) e, da mesma forma que

33

identificamos um objeto através de sua configuração geral, podemos reconhecer uma palavra através do todo (seu contorno extensão e etc.) Sem uma análise de suas partes. Da mesma forma, porém, que podemos identificar uma árvore enxergando apenas uma parte de sua copa, a palavra pode ser reconhecida ou adivinhada sem que enxergamos a sua totalidade. A leitura de uma palavra por um leitor competente é feita, pois, de maneira ideográfica. (SMITH, 1975, p. 34).

Existem dois tipos de leitores: o primeiro que aprende facilmente as idéias

principais do texto, é fluente e veloz. Porém por outro lado faz muitas adivinhações

sem procurar confirmá-las. Ou seja, faz mais uso do seu conhecimento prévio do

que propriamente da informação que o texto traz. O segundo tipo de leitor constrói

significado com base aos dados do texto, é vagaroso e tem dificuldade de sintetizar

as idéias principais do texto. Existe ainda o terceiro tipo de leitor, que sabe

exatamente onde utilizar e no momento apropriado o que o primeiro e o segundo

tipo de leitor faz.

Segundo Levy (1998) há ainda, outra concepção de leitor existente, o

reconstrutor, que entende a leitura como um ato de reconstrução dos processos de

produção, ou seja, é um conjunto de pegadas a serem utilizadas para recapitular as

estratégias do autor e chegar a seus objetivos. Sendo assim os resultados textuais

podem surpreender os próprios autores, pois dessa forma a leitura não pode ser

vista como um processo que extrai o sentido final, que delimita a interpretação que

algumas vezes podem não ter sido planejada pelo autor.

Para Smith e Levy (1998), a estratégia de adivinhação é fundamental em

uma leitura significativa, pois a leitura não envolve apenas o visual como também

informações cognitivas do leitor. Porém é importante lembrar que não são todos os

estudiosos que aceitam essa estratégia de leitura como sinônimo de um leitor

competente. Vale lembrar que para ler e escrever a criança não precisa ter

compreendido a base alfabética da escrita, já que pode fazer a seu modo, segundo

suas hipóteses. Jornais, revistas, livros, manuais são sempre bem vindos em sala

de aula. Aproveitando a idéia do jornal à professora pode criar um jornal da turma

ou até mesmo um jornal da escola onde todas as turmas participariam. Para e

leitura e escrita se tornarem uma atividade prazerosa, é fundamental que as

crianças percebam que escrever é comunicar, interagir, que apenas interage quem

tem o que dizer. Para que isso aconteça o professor pode elaborar em conjunto com

34

a turma, por exemplo, um recado para as mães, pais, elaborar uma carta para

alguém entre outras coisas.

A alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado código escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e outras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita (VAL, 2006, p. 19).

Outro tipo de leitura propriamente dita é a linguagem oral de textos. Quando

fazemos a leitura oral de um texto para crianças é importante darmos importância ao

ritmo, sonoridade, musicalidade. Para a criança é importante fazer parecer que os

personagens do texto estão a todo o momento presentes. Uma finalidade também

importante da leitura oral de textos é proporcionar oportunidades que façam com

que os alunos escutem e compreendam com atenção. (MARCOZZI,1981)

O trabalho com a linguagem oral na educação infantil tem por objetivo

principal a ampliação da comunicação da criança. Portanto, a escola deve ser um

espaço para conversação, onde existe uma comunicação positiva, uma relação de

interesse, respeito que possibilitem a criança sentir-se segura para expressar suas

opiniões, dúvidas desejos e frustrações. É através da linguagem que falamos

oralmente ao próximo e a nos mesmos quando estamos organizando nosso

pensamento articulado, ela pode ser falada ou escrita. (BECKER, 1998).

O trabalho com a leitura e a escrita em Educação Infantil supõe a

participação em situações reais e significativas de leitura e de produção de texto.

Tomo as palavras de Vygotsky (1991):

(...) a escrita deve ter significado para as crianças, uma necessidade intrínseca deve ser despertada nelas e a escrita deve ser incorporada a uma tarefa necessária e relevante para a vida. Só então poderemos estar certos que ela se desenvolverá não como um hábito de mão e dedos, mas como forma nova e complexa de linguagem (p.134).

Existem duas maneiras de se falar, a primeira é uma forma bem espontânea

e informal. A segunda é bem coloquial e cuidada. Como sabemos existem

diferenças dialetais, sendo assim essas diferenças são mais bem aceitas e naturais

na linguagem oral do que na escrita, onde geralmente existe um rigor maior para o

uso da norma culta padrão. Cabe ao professor não ignorar o dialeto de seu

35

educando, mas permitir que ele tenha acesso a ela como, por exemplo, lendo livros,

e vídeos. (TFOINI, 1995)

Contudo, o maior dever do professor é fazer com que seu aluno tome cada

vez mais conhecimento sobre a norma culta, dando a ele oportunidades de formular

hipóteses, comparar e tirar suas próprias conclusões, para que saibam exatamente

diferenciar uma linguagem informal da formal. (FERREIRO,1984).

A aprendizagem da escrita de um modo restrito não alteraria o estado ou a condição do indivíduo no que diz respeito a aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e até mesmo econômicos; do mesmo modo, não alteraria determinados grupos sociais, em relação a efeitos de natureza social, cultural, política, econômica e linguística (Soares, 1998, p. 18).

Quando pensamos em expressão oral, podemos também pensar na mímica,

pois ela é um acessório da comunicação e também nos ajuda na comunicação, pois

o corpo humano é capaz de ter uma linguagem significativa que serve de

complemento à fala. A mímica é uma boa opção de atividade para ser feita com

crianças na educação infantil, para que percebam que além de ajudar na hora da

fala, a mímica também pode nos dizer alguma coisa mesmo sem falarmos nenhuma

palavra. O professor pode pedir, por exemplo, que seus alunos façam mímicas de

algumas músicas conhecidas, imite algum parente e pedir que a turma tente

descobrir quem a criança está imitando utilizando a mímica, ou pedir que façam

através da mímica o que as crianças fazem antes e depois de ir para a escola. Se

as crianças estiverem com muita dificuldade deixar que falem alguma palavra para

ajudar. (SNOW,1983)

A análise das unidades mais simples e elementares de palavras não é feita fora do significada que estas partes contribuem para formar. Estes métodos se fundamentam em no fato de que os mecanismos formais da leitura não são necessários nas fases iniciais, podendo até tornar–se um obstáculo (MORAIS, 1996, p. 09).

Cabe ao educador ressaltar que independentemente da distância as

pessoas se comunicam, como, por exemplo, telefone, cartas, e-mails. Dessa forma

as crianças poderão perceber a presença de um interlocutor e que a escrita existe

para ser lida por alguém.

36

Outra atividade interessante é a interpretação pelo desenho, que levará o

aluno a reconhecer na ilustração um enriquecimento e a compreensão do texto.

Embora as crianças já chegarem à escola com competência para falar e ouvir cabe

a escola propor a ela atividades para o desenvolvimento da linguagem oral. Estão

incluídas nas atividades orais, atividades que desenvolvam a consciência fonológica,

ou seja, fonemas que constituem a língua oral (TEBEROSKY, 1986). Em todas as

atividades de linguagem oral é importante focar a produção e recepção do texto, ou

seja, o que falar, para quem falar, o que ouvir e para que ouvir. Em todos esses

momentos estarão sendo desenvolvidas com as crianças habilidades de falar e

ouvir. As atividades de interpretação oral dos textos lidos ou histórias para as

crianças, também são atividades de leitura e linguagem oral (FERREIRO, 2001).

Quando pensamos em ensino de Português pretendemos desenvolver a

oralidade e escrita como já foi dito anteriormente, levando o educando a identificar

as semelhanças e diferenças entre essas duas modalidades. Uma atividade que

pode ser feita para que seus alunos percebam essa diferença, é o professor anotar

frases que geralmente falamos e frases que geralmente encontramos em jornais e

revistas. Depois pedir que as crianças identifiquem quais foram faladas e escritas.

(DIAS, 2001)

O conceito de leitura e escrita e, consequentemente, o de alfabetização vem

se sofisticando ininterruptamente exigindo inclusive a apropriação tanto das novas

tecnologias quanto das formas de comunicação que tais tecnologias cunharam.

Como exemplo, podemos citar o vocabulário próprio e o domínio de leitura dos

chamados ambientes virtuais presentes nos computadores, nos telefones celulares.

(COLELLO, 1981).

Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: O domínio da tecnologia do conjunto de técnicas para exercer arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se letramento que implica-se habilidades várias, tais como: capacidade de ler e escrever para atingir diferentes objetivos (SOARES,1998, p.91).

Assim, todos que pretendem transitar de maneira independente nesses

contextos sociais, precisam estar capacitados para essas práticas e essa

capacitação requer dois aspectos ou "facetas". A primeira faceta é a alfabetização

37

entendida como o domínio de uma tecnologia alfabética e ortográfica, e a segunda é

a competente utilização desse conhecimento para uma eficaz comunicação dentro

dos diversos contextos sociais, ou seja, a faceta do letramento. Dessa forma, o

clímax deste texto é evidenciar a necessidade de se alfabetizar letrando com

metodologias diversificadas de ensino e novos conteúdos que considerem as novas

formas de se executar tarefas cotidianas que envolvam leitura e escrita na

sociedade atual (SOARES, 2003).

38

CAPÍTULO III

ALFABETIZAÇÃO E LINGUAGEM: REFLETINDO SOBRE A LEITURA E A ESCRITA.

A aprendizagem da leitura e escrita, nos dias de hoje, tem se tornado cada

vez mais acessível, visto que é considerada uma atividade essencial para a

comunicação humana.. Assim, cabe aos indivíduos interagirem com os recursos

existentes para que o uso da leitura e da escrita esteja presente. Para Soares

(2003), o que mais propriamente se denomina letramento é a imersão do indivíduo

na cultura escrita, participação em experiências variadas com a leitura e a escrita,

conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material escrito.

“A linguagem tem como objetivo principal a comunicação sendo socialmente construída e transmitida culturalmente. Portanto, o sentido da palavra instaura-se no contexto, aparece no diálogo e altera-se historicamente produzindo formas lingüísticas e atos sociais. A transmissão racional de experiência e pensamento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala humana, oriunda da necessidade de intercambio durante o trabalho.” (VYGOTSKY, 1998. p. 07)

Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo,

ou grupos de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da

aquisição de um sistema escrito por uma sociedade (TFOUNI, 2004, p. 20). Dominar

a leitura e a escrita, nos dias de hoje, é relacionar fatos, tendo em vista, sempre,

objetivos a alcançar. Assim, é possível afirmar que para atuar em meio às

sociedades com o domínio da leitura e escrita é preciso ter determinação e

objetivos, pois a leitura e a escrita só são importantes porque têm grande utilidade

nas relações humanas, comunicação e socialização tanto com os outros quanto com

os elementos que surgem constantemente e cada vez mais elaborados.

As situações de interação cotidiana, quando se vai às compras, por exemplo, quando se guardam na cozinha as mercadorias adquiridas ou quando se prepara a refeição, que podem ser uma oportunidade para aprender outras formas de classificar e interagir com o texto escrito. (TEBEROSKY e COLEMER, 2003, p. 27).

39

Nota-se que os meios, seja de comunicação escrita, ou televisão, rádio e

computador, todos possuem relevância no universo do leitor, pois para desenvolver

as demais atividades de leitura e escrita, principalmente com mais facilidade é

necessário que se conviva constantemente com elas no intuito de praticá-las

devidamente e levar a sério suas funções na escola e na sociedade. O domínio da

leitura e da escrita requer esforço dos alunos que fazem parte do espaço escolar e

social, pois sem o seu domínio de tais atividades fica difícil entender o que se

apresenta constantemente.

Os tipos de informações são diversificados, quer seja em casa, na rua ou na

escola. Teberosky e Colomer (2003,) destacam que outro tipo de material consiste

nos portadores de textos encontrados em casa, a exemplo dos rótulos, signos,

marcas e logotipos feitos sobre embalagens impressas de uma grande diversidade

de materiais como: papel, madeira, lata, vidro, plástico, pano, cerâmica, etc. e

também folhetos, material publicitário, manuais com diversas fontes e cores.

Temos em meio às sociedades uma diversidade infinita de textos,

produzidos pelo próprio homem e que servem de suporte para a prática informal da

leitura. Interpretar as leituras apresentadas diariamente é tarefa fundamental para

aqueles que consideram que a aprendizagem tanto da leitura quanto da escrita é

essencial para uma melhor qualidade de vida. As leituras feitas diariamente também

têm, além da sua relevância para o processamento de informações úteis, influência

sobre o comportamento humano, nas suas colocações, participação ativa em

assuntos que tem mais intimidade. Em suma, a leitura é a arte de compreender os

escritos e os escritos cumprem em sua grande maioria com uma função social, seja

de ensinar, informar, comover, etc.

O desafio de alfabetizar e letrar na escola para SIMONETTI (2005) é o de

conseguir que as crianças leiam e escrevam de forma espontânea, criativa,

construtiva e que possam inserir-se no universo da cultura escrita. Nesse sentido a

autora ainda se ainda se posiciona completando que para nós, alfabetizar e letrar na

Educação Infantil é, antes de qualquer coisa, provocar e despertar nas crianças o

desejo além do prazer de ler e escrever, inserindo-as de forma dinâmica no universo

da leitura e da escrita.

40

(...)a última avaliação do (SAEB) Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica , denunciando que aproximadamente 33% dos alunos com quatro anos de escolaridade são analfabetos, ou seja, a criança termina analfabeta a 4ª série. Além do que os alunos chegam à 8ª série com nível de escolaridade insatisfatório. Apresentamos esses dados estatísticos para não nos acostumarmos com essa situação, mesmo que se diga: “Ah, isso a gente já sabe...” Sabemos, mais o que fazemos? Na maioria das vezes nada, apenas nos acomodamos. (SOARES citado por SIMONETTI, 2005, p. 14).

A preocupação da qualidade do ensino da leitura e escrita deve ser uma

preocupação tanto da escola quanto da família e da própria sociedade, de modo

que se tenha um ideal coletivo referente à qualidade do ensino de determinadas

atividades, pois, vivemos numa sociedade politicamente democrática, onde os

indivíduos tem liberdade de expressar os seus pensamentos e idéias sobre

assuntos relevantes para o andamento e a boa qualidade do ensino no país. O

processo de alfabetização e letramento é formado por atividades que fazem parte

da vida dos indivíduos de forma direta, no caso tanto na escola como na sociedade.

Uma criança em seu contexto escolar está sujeita ao domínio da leitura e escrita,

visto que é através do processo de alfabetização que a criança ou o adulto

analfabeto na escola passa a encarar as letras não como unidades isoladas, mas

sim como uma parte de um todo atribuindo a elas significado.

3.1- Compreendendo a dualidade Alfabetização x Letramento: duas facetas que se complementam .

Enquanto a alfabetização está vinculada ao ensino dos elementos básicos

do código, o letramento identifica-se com a cultura oral na medida em que valoriza o

pensar dentro de práticas sociais de leitura e da escrita. Sobre esse aspecto Olson

(1997), faz algumas considerações nos dando algumas pistas de por que temos

privilegiado por tanto tempo o caráter da alfabetização em detrimento dos aspectos

da funcionalidade da língua. Para o autor, o mito de que escrita é superior à fala,

sendo esta última considerada solta e desregrada por ser do domínio popular, deu

origem a uma prática pedagógica de alfabetização na qual o ensino da escrita, em

parte, é uma forma de ensinar o indivíduo a se expressar de forma correta. Ainda

41

hoje a crença de que a forma culta de expressão, baseada na escrita, é a única e

correta, gera o descredenciamento dos saberes próprios da oralidade e dos

contextos sociais de onde vem a maioria de nossos alunos.

Por muito tempo supomos ser a escrita o único, ou pelo menos o principal

instrumento de desenvolvimento cognitivo, acreditando sempre que o conhecimento

genuíno é apenas aquele que se aprende nos livros e na escola, sendo a

alfabetização o caminho para se obter tal conhecimento. Tal crença tratada por

Olson como mito, promove um descompasso entre alfabetização e letramento por

desconhecer que escrever não é apenas transcrever a fala. "Todas as línguas têm

uma estrutura gramatical e léxica rica, capaz, pelo menos potencialmente, de

expressar a gama total dos significados" (OLSON, 1997, p.25). É a escrita que

depende da fala e não vice versa.

Uma vez que já existem conhecimentos disponíveis sobre a natureza da

leitura e da escrita, tais mitos que persistem até os dias atuais precisam ser

superados através da adoção de uma teoria de aprendizagem da leitura e da

escrita, vinculada a linguagem, ao pensamento e a cultura. Essa teoria deve nos

ajudar a abandonar nossos preconceitos abrindo caminho para a prática do

letramento, na medida em que vemos suprimida.

...a perpetuação do ponto de vista de que os analfabetos são criaturas patéticas e carentes; de que o analfabetismo é um problema social comparável à pobreza, à desnutrição e a doença, com as quais é habitualmente associado; de que os membros da sociedade sem escrita são selvagens ignorantes; de que as crianças que não conseguem aprender a ler são ineducáveis; de que os que não frequentam uma escola pouco poderão saber que valha a pena. (OLSON, 1997, p.35)

Soares (2004), constata a persistência dos mesmos problemas referentes

às práticas de alfabetização, agravados pelo que ela denomina de "desinvenção" da

alfabetização em nome da invenção do letramento. Tal invenção acarretaria a

reinvenção da alfabetização, ou seja, a ampliação do conceito de alfabetização,

somando ao seu caráter de mero domínio do código, a competência de usar

socialmente a leitura e a escrita respondendo às demandas cognitivas impostas

pelas mesmas. Entretanto, na veemente tarefa de distinguir letramento de

42

alfabetização, a autora faz considerações sobre a importância dos métodos no

ensino da alfabetização.

O que aconteceu na trajetória da alfabetização dos anos oitenta para cá foi uma sucessão de práticas de alfabetização que pretendiam resolver o problema da interpretação querendo romper as barreiras dos métodos tradicionais de alfabetização que privilegiavam mais os aspectos da decifração anulando porem esse aspecto não menos importante (...) (SOARES, 2004, p.5 )

E, continua explicando sobre a influência da perda da especificidade da

alfabetização no aumento do fracasso escolar. Certamente essa perda de

especificidade da alfabetização é fator explicativo evidentemente, não o único, mas

talvez um dos mais relevantes – do atual fracasso na aprendizagem e, portanto,

também no ensino da língua escrita nas escolas brasileiras, fracasso hoje tão

reiterado e amplamente denunciado. Ao longo das últimas duas décadas, a

emergência de se promover os aspectos da interpretação e da compreensão levou a

busca por metodologias que valorizam o letramento relegando a segundo plano a

transmissão do código. Em função dessa perda de especificidade o autor ressalta a

necessidade de se manterem claras e distintas as duas facetas do ensino da leitura

e da escrita - alfabetização e letramento - para que não haja a supervalorização de

um em detrimento do outro(SOARES, 2004).

Para o autor, tal equívoco se converte em duas conseqüências igualmente

prejudiciais para a emancipação social do indivíduo via escolarização. A primeira é a

produção do analfabeto funcional que decifra o código, porém não interpreta o que

lê nem tão pouco possui autonomia intelectual. O analfabeto funcional é menos

produtivo e mais dependente, sentindo-se incapaz dentro dos espaços letrados. A

segunda conseqüência é a produção de um indivíduo com certo nível de letramento,

que até é capaz de realizar tarefas simples de leitura e escrita através da dedução

de significados com a ajuda de alguns elementos presentes em portadores que

possuem ilustrações, por exemplo, mas que se vêem cegos diante de portadores de

gêneros desconhecidos e desprovidos de imagens.

Procura sempre pedir para que os pais leiam com as crianças diariamente,

sejam rótulos de embalagens e propagandas, sejam anúncios e os livros que as

crianças levam para casa. “Não se trata, simplesmente, de ensinar a criança a falar,

43

mas de desenvolver sua oralidade e saber lidar com ela nas mais diversas

situações”. (DIAS, 2001, p.36)

“A linguagem tem como objetivo principal a comunicação sendo socialmente construída e transmitida culturalmente. Portanto, o sentido da palavra instaura-se no contexto, aparece no diálogo e altera-se historicamente produzindo formas lingüísticas e atos sociais. A transmissão racional de experiência e pensamento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala humana, oriunda da necessidade de intercambio durante o trabalho.” (VYGOTSKY, 1998. p. 07)

Alfabetizar é a arte da criatividade que representa o mundo através da

palavra, fundindo os sonhos e a realidade da vida prática, transformando-a em um

processo de continuo aprendizado no convívio escolar, formando leitores que

tenham um envolvimento integral com aquilo que lêem, para que, a cada leitura

adquiram mais profundidade e intimidade com o mundo, fazendo perguntas e

buscando respostas para produzir um continuo aprendizado, desenvolvendo a

reflexão e um espírito critico. “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nos

sabemos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” (FREIRE, 1987)

A sociedade precisa quebrar os grilhões que nos aprisionam a uma prática

mecanicista de ensino, onde os alunos ainda são vistos como meros

armazenadores de “determinados” conhecimentos. Devemos sair do discurso e

buscar uma práxis para formarmos não apenas leitores de textos, mas leitores de

mundo e agentes transformadores da realidade. Faz-se necessário trabalhar a

oralidade, a leitura e a escrita como base para alfabetizar, proporcionando ao

educando a oportunidade se apaixonar. Sim! E porque não se apaixonar pelas

letras? Pois a finalidade da educação é formar apaixonados pela vida, pelo

conhecimento, pelo outro, para tornar o ambiente em que vivemos mais humano e

significativo, comprometido consigo e com a sociedade. (SOARES,1998)

O conceito de leitura e escrita e, consequentemente, o de alfabetização

vem se sofisticando ininterruptamente exigindo inclusive a apropriação tanto das

novas tecnologias quanto das formas de comunicação que tais tecnologias

cunharam. Como exemplo, podemos citar o vocabulário próprio e o domínio de

leitura dos chamados ambientes virtuais presentes nos computadores, nos telefones

celulares, nos terminais de caixas eletrônicos e mesmo na televisão. Assim todos

44

que pretendem transitar de maneira independente nesses contextos sociais

precisam estar capacitados para essas práticas e essa capacitação requer dois

aspectos ou "facetas" como propõe Magda Soares. A primeira faceta é a

alfabetização entendida como o domínio de uma tecnologia alfabética e ortográfica,

e a segunda é a competente utilização desse conhecimento para uma eficaz

comunicação dentro dos diversos contextos sociais, ou seja, a faceta do letramento

(SOARES, 1995)

Há mais de vinte anos Magda Soares (1985) em seu texto, "As muitas

facetas da alfabetização", já previa a necessidade de uma alfabetização voltada

para a formação de competências de leitura e escrita dentro das práticas sociais. A

autora publicou em 1998 o livro Letramento: um tema em três gêneros. Nessa obra

ela explica o que vem a ser letramento definindo-o como sendo "(...) o resultado da

ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou condição que adquire

um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da

escrita" (p. 18). A relevância dessa obra encontra-se no pioneirismo em discorrer

didaticamente sobre o letramento destinando-se à três tipos diversos de leitores

interlocutores contribuindo para a difusão do termo no meio educacional, sobretudo

no contexto escolar e de formação de professores alfabetizadores.

A autora nos traz informações de como o letramento entrou para o

vocabulário da Educação e das Ciências Lingüísticas a partir da segunda metade

dos anos 80, sendo Mary Kato a primeira a utilizar o termo em seu livro "No mundo

da escrita: uma perspectiva psicolingüística. A autora continua a reconstrução

histórica do letramento citando Ieda Verdiani Tfouni que em 1988 o distingue de

alfabetização, na introdução de seu livro "Adultos não alfabetizados: o avesso do

avesso". Soares destaca que a partir de Tfouni a palavra letramento começa a ser

citada mais frequentemente "no discurso dos especialistas, de tal forma que, em

1995, já figura em título de livro organizado por Ângela Kleiman: Os significados do

letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita". (p. 16).

Surge uma nova concepção de ensino, pautada na valorização da

compreensão e vivência da leitura e da escrita, vinculada ao que chamamos hoje de

letramento. Tal concepção chega ao contexto escolar descredenciando a antiga

45

crença da memorização, na qual a escola apoiava suas práticas de ensino. O

desafio de nosso tempo é a construção de práticas pedagógicas respaldadas pelos

conhecimentos que informam como a criança aprende sem, no entanto,

desconsiderar a destinação social dessa aprendizagem na vida dos indivíduos

(FERREIRO, 1999).

Para DIAS (2001) nossa tarefa, como educadores, é abordar os mais

variados tipos de textos em sala de aula, analisando as semelhanças e diferenças, a

estrutura textual de cada um, o vocabulário utilizado, buscando incentivar a leitura e

a interpretação.

3.2- A atuação da psicopedagogia no processo de letramento

Sendo a Psicopedagogia responsável pelos métodos estratégicos para

crianças com dificuldades na aprendizagem, pode-se afirmar que a sua função na

escola, em especial no processo de alfabetização e letramento é mediar as

capacidades das crianças, levando-as a partir daí a sentir-se estimulada através da

escola juntamente com o professor e o psicopedagogo numa construção

significativa e de acordo com a sua capacidade de desenvolvimento. No ensino-

aprendizagem da alfabetização e letramento nas escolas, hoje, é notório as teorias

da aprendizagem baseadas nos princípios psicogenéticos.

(...) podemos perceber claramente a relevância da psicologia genética na compreensão do processo de desenvolvimento da criança, isso implica afirmar que as escolas atualmente estão oportunizadas a adotarem meios assegurados não apenas pelo educador individualmente, mas sim pelo conjunto de idéias advindas de estudos voltados para as necessidades especiais envolvendo a criança e a sua aprendizagem (PCN, 1997, p. 43).

No processo de alfabetização e letramento a Psicopedagogia contribui

levando o educador a refletir sobre os seus atos como professor e avaliador da

aprendizagem de crianças com dificuldades tanto de aprendizagem quanto de

outras habilidades ligadas direta e indiretamente à escola envolvendo a escrita

(ANDRADE, 2001). A Psicopedagogia como uma atividade voltada para um

46

atendimento personalizado àqueles alunos que merecem uma atenção especial,

exerce forte influência em todo o processo de ensino-aprendizagem, visto que

através da valorização do aspecto cognitivo como foco de reflexão. Tanto o

educador quanto o aluno passam a viver experiências relevantes não apenas para o

processo de ensino-aprendizagem na escola, mas também para uma convivência

maior que envolve o indivíduo e o seu meio numa construção significativa de

aprendizagens através das experiências vivenciadas diariamente com o mundo e

com as coisas nele existentes. A contribuição da Psicopedagogia no processo da

alfabetização e letramento nos dias de hoje tem sido destaque nas escolas em

geral. Isso porque através de estudos da pedagogia juntamente com a psicologia o

atendimento à criança com necessidade de atendimento especial se aperfeiçoou,

visto que uma das preocupações dos educadores e de todos os envolvidos

diretamente no processo de ensino-aprendizagem está centralizado no

desenvolvimento cognitivo do aluno nas diversas modalidades de ensino.ANDRADE

(2001)

Segundo Pichon, (1980), a aprendizagem é uma estrutura dinâmica em

contínuo movimento, que funciona acionada ou movida por motivações

psicológicas. O processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado,

e pode enriquecer-se com qualquer experiência. A educação primária pode ser

considerada bem sucedida se conseguir transmitir às pessoas o impulso e as bases

que façam com que continuem a aprender ao longo de toda vida, tanto na escola

como fora dela. (DELORS, 1999, p.92).

Evidentemente, tais afirmações têm relações com o objetivo que se

fundamenta às escolas, de modo que o aprendizado do aluno esteja sempre voltado

para um fim significativo e promissor. Os problemas da educação vêm de muito

tempo se apresentando nas sociedades e os interesses dos educadores pelos

problemas psicológicos no processo de ensino da leitura e escrita, assim como

qualquer outra atividade mediada pela escola ainda está em foco, pois o objetivo do

professor é fazer com que o seu aluno aprenda, independentemente de cor, raça,

classe social ou diferenças individuais, no caso, necessidades relevantes de apoio

maior e mais qualificado. (FERNANDÉZ, 2001)

47

O desafio da Psicopedagogia no processo de ensino-aprendizagem, em

especial no campo da leitura e da escrita, tem sido o de encarar com naturalidade

os problemas enfrentados na escola com crianças com dificuldades de

desenvolvimento cognitivo, porém, do outro lado, a escola atualmente investe em

saídas mais humanas, no caso a preparação profissional do educador para lidar

com problemas psicológicos que antes era considerado um desafio bem maior e em

muitos casos, sem saída para o educador, visto que a deficiência não só era do

aluno em se desenvolver nas atividades propostas pela escola, mas também do

educador em encarar as diferenças individuais como um fator relevante a se pensar

no ensino como oportunidade de integração social dos educandos com

necessidades de atendimentos mais qualitativos, no caso, psicológicos.

(ROUDINESCO, 2004)

48

CONCLUSÃO

É importante entender que letramento e escrita são fenômenos

indissociáveis e que acontecem concomitantemente, e mais, que o labor da

docência criativa deve ser o de criar condições reais de leitura e escrita e uma

política de estímulo, com vistas à inclusão nas práticas que favoreçam a apropriação

do letramento sob a justificativa de que ele favorecerá o individuo no sentido elevar

seu nível de consciência crítica frente ao mundo em que vive, dando-lhe

possibilidade de participação na vida política, atributo inerente a todo cidadão livre; e

no bom desempenho na produção escrita, usufruindo com segurança dos gêneros

textuais, dando-lhe inserção nas práticas sociais simples e complexas das esferas

em que freqüenta.

Para aprender a ler, portanto, é preciso interagir com a diversidade de textos escritos, testemunhar a utilização que os leitores fazem deles e participar de atos de leitura de fato: é preciso negociar o conhecimento que já se tem e o que é apresentado pelo texto, o que está atrás e diante dos olhos, recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes (PCNs, 1998, vol. 02, p. 56).

Considerando as afirmativas sobre alfabetização e letramento propostas por

Soares, podemos inferir o que sejam práticas bem sucedidas de alfabetização e

letramento e, consequentemente, ter uma definição de professores alfabetizadores

bem sucedidos. Estes são capazes de alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando.

Sabem lançar mão dos métodos de alfabetização, observando passo a passo a

evolução conceitual de leitura e escrita de seus alunos. Alcançam sucesso nessa

tarefa porque compreendem que a aquisição da leitura e da escrita é um processo

em que o aprendente precisa interagir com seu objeto de estudo, para que possam

construir compreensões transitórias, cada vez mais sofisticadas sobre o que é ler e

escrever, de acordo com as intervenções e informações recebidas sobre a língua.

O movimento do mundo à palavra e, da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo através da leitura que dela fazemos. Podemos dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura de mundo, mas por uma certa forma de ‘escrevê-lo’ ou de ‘reescrevê-lo’, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente (FREIRE, 1984, p. 18).

49

Parece obvio não é? Entretanto esses conhecimentos ainda não são

fluentes para muitos alfabetizadores, os quais, seja pela formação precária ou por

desconhecimento do seu papel social atuam na alfabetização utilizando-se de

práticas que fazem aumentar o fracasso escolar. Sabemos que outros fatores

maiores, de caráter estrutural, histórico e político contribuem para a permanência do

fracasso da alfabetização. Entretanto, o que quero demonstrar é que mesmo dentro

desses condicionantes externos, existem boas iniciativas promotoras da

alfabetização em nosso país, dentre elas as práticas bem sucedidas de

alfabetização e letramento.

Através das considerações apresentadas, pode-se perceber que o termo

letramento é muito abrangente e não pode ter uma definição simplista. Não existe

nível zero de letramento e ele não é fixado pelo grau de alfabetização, por isso,

mesmo um analfabeto pode apresentar níveis significativos de letramento, enquanto

alguém alfabetizado pode ter dificuldades em exercer o letramento. O fato de ser um

cidadão letrado facilita a relação com o meio em que se vive e em vista da

importância de se desenvolver o letramento, o educador deve dar subsídios para

que esse processo ocorra durante o processo de alfabetização do aluno.

[j] Os dados mostram que, de maneira significativa, embora não absoluta, quanto mais longo o processo de escolarização, quanto mais os indivíduos participam de eventos e práticas escolares de letramento, mais bem sucedidos são nos eventos e práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita (Soares, 1998, p. 111).

As Instituições de ensino e todos que estão inseridos no processo de

ensino-aprendizagem da leitura e escrita precisam demonstrar a funcionalidade da

língua escrita, preparando seus alunos para o uso social da leitura e da escrita

através do uso social das mesmas.

“Uma das primeiras tarefas da escola é, pois, proporcionar uma pedagogia da cultura escrita que considere muito concretamente experiências infantis. As aquisições extra-escolares efetuadas em casa, no bairro ou na rua podem e devem servir de ponto de apoio para as aprendizagens feitas em aula”. (Chartier, 1996,p.26).

Finalmente, professores bem sucedidos na prática de alfabetização e

letramento, são aqueles que mediam a construção do conhecimento de seus alunos

através do oferecimento de oportunidades reais de reflexão sobre o funcionamento

50

grafo-fônico e ortográfico da língua escrita, possibilitando que os mesmos

compreendam que escrever significa registrar o pensamento no papel. Além disso,

sabem que precisam demonstrar a funcionalidade da língua escrita, preparando

seus alunos para o uso social da leitura e da escrita através do uso social das

mesmas. Tais ações ampliam as capacidades lingüísticas e cognitivas do sujeito

que passa a ser considerado letrado. É assim que consideram importantes ter em

sala de aula, portadores de textos de gêneros variados ampliando os antigos

conteúdos da alfabetização. Na sala de aula desses professores bem sucedidos o

trabalho com textos, a contação de histórias, as cantigas populares, a produção de

textos orais e escritos dentro de situações da vida real são ações cotidianas, além

do compromisso com a aprendizagem de todos os alunos bem como o amor pela

tarefa de alfabetizar. Professores bem sucedidos na alfabetização e letramento hoje,

são aqueles que estão sempre atualizados sobre os conhecimentos e tecnologias

disponíveis para a realização de seu trabalho com eficiência e amor.

51

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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos

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54

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPITULO I

CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIALÉTICA LEITURA & ESCRITA 11

1.1 – A história da escrita 11

1.2 – Leitura e escrita 12

1.2 – A psicopedagogia no processo de ensino-aprendizagem 16

CAPITULO II

REFLEXÃO TEÓRICA SOBRE LETRAMENTO: DIFERENCIANDO-O DA ALFABETIZAÇÃO

19

2.1 – O processo de letramento e alfabetização 19

2.2 – Diferenças entre letramento e alfabetização 25

2.3 – O Letramento na Educação Infantil 32

CAPITULO III

ALFABETIZAÇÃO E LINGUAGEM: REFLETINDO SOBRE A LEITURA E A ESCRITA.

38

3.1 – Compreendendo a dualidade Alfabetização x Letramento: duas facetas que se complementam

40

3.2 – A atuação da psicopedagogia no processo de letramento 45

CONCLUSÃO

48

BIBLIOGRAFIA 51

ÍNDICE 54