universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · por muitos em nossa sociedade de que quem tem...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA COMO O EDUCADOR,GESTOR PODE AUXILIAR NO PROCESSO DE INCLUSÃO PARA UMA EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA. Por: MÁRCIA FORTUNA DO VALLE Orientadora Prof: MARY SUE Rio de Janeiro

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

COMO O EDUCADOR,GESTOR PODE AUXILIAR NO

PROCESSO DE INCLUSÃO PARA UMA EDUCAÇÃO

TRANSFORMADORA.

Por: MÁRCIA FORTUNA DO VALLE

Orientadora

Prof: MARY SUE

Rio de Janeiro

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

COMO O EDUCADOR,GESTOR PODE AUXILIAR NO

PROCESSO DE INCLUSÃO PARA UMA EDUCAÇÃO

TRANSFORMADORA.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em ADMINISTRAÇÃO E

SUPERVISÃO ESCOLAR.

Por : Márcia Fortuna do Valle

3

AGRADECIMENTOS

A minha mãe Cecília que sempre está

ao meu lado auxiliando minha

caminhada através de seu amor

incondicional e a meu irmão Renato

que me incentivou a retornar aos

estudos na maturidade, mostrando-me

que sempre é tempo para mudanças e

que elas são possíveis ,é só querer e

acreditar! O meu mais profundo

agradecimento e amor. .OBRIGADA!!!

4

DEDICATÓRIA

Dedico aos amores de minha vida e a

razão maior da minha vontade de buscar

mudanças e realizações, meu filho

Gustavo ,minha filha Bruna , minha mãe

Cecília e meu companheiro Adriano

Guilherme. Sem eles minha vida não teria

a menor graça! AMO VOCÊS!!!!!

5

RESUMO

Quando se coloca em discussão a INCLUSÃO de alunos com

necessidades educacionais especiais nas escolas da rede pública de

ensino,busca-se aquisição de competências e atitudes que favoreçam antes de

qualquer coisa,o respeito e aceitação as diferenças individuais dos educandos.

Para que isso aconteça,busca-se uma formação de professores

especializados,que possam atuar na educação especial auxiliando a realização

da inclusão desses alunos,além de efetuar uma gestão efetiva ,tomando

posição em favor das práticas inclusivas,sendo essa uma realidade norteadora

para execução de adequação das distintas realidades para que haja condições

de efetuar um trabalho efetivo de qualidade e que o educador gestor possa

desenvolver seu trabalho enfrentando os problemas que surgirão,necessitando

para viabilizar essa INCLUSÃO de políticas claras de apoio e condições

favoráveis a essa realidade,onde poderão assumir seu papel de educadores.

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a elaboração dessa pesquisa ,será

baseada no levantamento bibliográfico sobre educação Inclusiva permitindo

identificar questões,experiências,relatos,de autores que contribuíram e

contribuem para execução de trabalhos bem sucedidos na questão da

inclusão,além de apoio de revistas,depoimentos,entrevistas,filmes,todo e

qualquer material que possa auxiliar o desenvolvimento do tema em questão

‘SOBRANTES UM DESAFIO PARA O GESTOR”.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - A Educação Inclusiva

CAPÍTULO II - O papel do gestor,educador na inclusão escolar

CAPÍTULO III – Integração x Inclusão- Direito garantido por lei

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

INTRODUÇÃO

8

Ao longo do tempo, as categorias vítimas de exclusão escolar,que

se reflete até os dias atuais em nossa sociedade,foram muitas

((mulheres,negros,índios,proletariado,...). Esse tema polêmico,inclusão de

alunos com necessidades educativas especiais,em termos concretos,o que

está posto hoje é que, a escola pública que pretende os idealizadores da

inclusão escolar,seja ela o espaço de absorção desses alunos com

necessidades especiais,está em termos de recursos,desequipada

,desinstrumentalizada ,perdendo as condições necessárias ao exercício de sua

função social,de promover o acesso ao conhecimento desses educandos dito

especiais.

Em suma,a escola pública hoje é um espaço de exclusão,seja por

sua ausência de condições concretas,seja pela redução dos custos,diminuição

dos gastos em formação de professores especializados,aumento do número

de alunos em sala de aula,desinstrumentalização ,enfim,ainda hoje existe

resistência ao direito de todos,sem exceção,à uma educação de qualidade

inclusive aos alunos especiais.Sua real inclusão ao processo educacional não

poderia ser diferente e o papel do gestor,educador é o de auxiliar como

possível esse processo de inclusão para uma educação transformadora,onde

se implemente um ensino que priveligie a articulação dos conteúdos,com um

planejamento que possa ser elaborado visando objetivos e temas comuns para

serem trabalhados de forma multidisciplinar e assim ser dinamizado na escola

onde o desejo de mudança incomoda,mas se faz necessário. O educador tem

o papel de acolher esses alunos ,com seus limites,seus desafios,permitindo

seu crescimento e melhorando seu aprendizado ,propiciando resultados mais

satisfatórios.

Perceber,diagnosticar os excluídos,além de apontar metas e

trabalhos a serem desenvolvidos a fim de propiciar,favorecer resultados

satisfatórios de inclusão escolar,aplicando essas metas para os alunos se

tornarem mais motivados e integrados,gerando uma maior orientação sobre o

assunto, para que haja mudança de postura e comportamento saindo do

espaço confortável para realmente gerar mudança significativa.Para auxiliar

9

esse processo o gestor,educador viabiliza a integração e a articulação do

trabalho pedagógico, em constante articulação com os professores

assegurando a unidade da ação pedagógica da instituição escolar,promovendo

ações que assegurem o estreitamento das relações entre a escola,as

famílias,pois a educação deve ser um compromisso onde o indivíduo adquire o

seu desenvolvimento integral como ser humano e suas condições do exercício

pleno da cidadania

Portanto a busca das necessidades a partir da análise sobre a

realidade da escola é muito importante,pois a partir dessa análise poderá se

estabelecer ações concretas,linhas de ação,atividades,planejamentos tendo

em vista as implicações concretas da prática pedagógica considerando,então

as especificidades para propiciar resultados ao acolhimento do educando

sobrante,favorecendo portanto sua inclusão com seus

limites,desafios,buscando sua auto suficiência,sua visão de mundo e melhoria

do seu aprendizado.

Educação é essencial e insubstituível !

CAPÍTULO I

EDUCAÇÃO INCLUSIVA

10

Por certo a história que aqui pode ser lida,serve de aprendizado e

lição de vida para todos. É necessário que se retire o estigma que é colocado

por muitos em nossa sociedade de que quem tem alguma deficiência é

incapaz de ser incluso em uma escola e ter direito a uma educação de

qualidade. Inadmissível em uma sociedade em pleno século xxl ,onde se prega

direitos e igualdades a todos os indivíduos,ter vítimas de processos

sociais,políticos e econômicos excludentes.

A função social da escola vai além de aprender a

ler,escrever,transmitir conhecimentos e verifica-se isto,quando percebe-se que

há muitas escolas sérias que dão importância aos temas trazidos pelas

crianças com necessidades educacionais especiais e os transformam em

projetos pedagógicos.

Essa prática implica em luta por uma proposta pedagógica em que

prioriza o processo de aprendizagem de seus alunos.

A escola inclusiva os professores e os alunos aprendem a maior das

lições,o respeito as diferenças,ao outro,esse sim sem dúvida é o primeiro e

maior aprendizado na construção do ensino de qualidade e a oportunidade de

se construir uma sociedade mais justa.Isso se começa na escola.

Perceber,entender,reconhecer,conviver,compartilhar com

superdotados,alunos com comprometimento mental,autistas,cegos,deficientes

auditivos,enfim pessoas ditas diferentes,é poder estar com e aprender a

interagir com o outro seja pela classe social,cor de pele,deficiência,pois todos

ocupam seu espaço na sociedade e todos tem que garantir seu direito a

educação.

O alvo é eliminar,atenuar a discriminação,a exclusão,assegurando

esse direito a igualdade no sistema de ensino de nossas escolas regulares.A

nova LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ( lei número

9.394/96 ) enfatiza a educação de pessoas portadoras de necessidades

especiais obrigando o Estado a promover ações que possibilitem a educação

de todos na rede regular de ensino fundamental.

11

A inclusão só é possível lá onde houver respeito a diferença e,

consequentemente ,a adoção de práticas educativas...”

Para tanto,é preciso que as práticas pedagógicas sejam

discutidas,revistas. A equipe deve discutir as questões como indisciplina

,repetência,inclusão para que as atividades sejam selecionadas e planejadas

afim de atender as necessidades para que todos aprendam,afinal a\ nossa

Constituição Brasileira desde 1988 nos garante o acesso a todos ao Ensino

Fundamental.”

Não adianta apenas as adequações físicas,rampas e banheiros de

acesso facilitado,é muito mais que isso,a avaliação deve apontar o

crescimento do aluno,o esforço para vencer suas limitações,sem comparação

aos demais,o professor deve e tem que ser estimulado a se reciclar,o número

de alunos em sala de aula tem que ser adequado,a equipe tem que trabalhar

unida e focada em resultados satisfatórios.

O Ministério Público existe para fiscalizar o cumprimento da lei. O

Ministério da Educação através da Secretaria de Educação Especial tem a

preocupação de levar as escolas a entenderem seu papel,buscando ações que

facilitem o agir para colocar tudo em prática.O MEC tem estimulado que as

crianças e adolescentes com deficiência freqüentem o ensino fundamental e

médio em escola regular e tenham aulas de apoio em escolas especializadas

ou em salas multifuncionais.São medidas que possibilitam que aos poucos

haja mudanças significativas nesse contexto com acesso de qualidade.Precisa-

se de material apropriado,currículo adaptado,planejamento consciente da

realidade,avaliações individuais ,profissionais reciclados e qualificados,família

atuante onde o espaço de educação de seus filhos possa ser um espaço de

discussões para se levantar dados que auxiliem os projetos educativos de

inclusão na escola, Tem que se ter comprometimento ,atuar para modificar o

que se faz necessário com consciência da importância do papel que o

educador fará e faz aqueles que sentem-se exclusos,sobrantes ,e necessitam

serem acolhidos com seus limites,desafios,buscando através da aprendizagem

sua auto-suficiência,sua visão de mundo tornando sua realidade,seu dia a dia

mais digno,atuante e fazendo diferença em nossa sociedade.

12

A luta é grande,mas ninguém disse que seria,que é fácil. Qualquer

mudança é um passo difícil a ser dado por qualquer pessoa ou profissional.

Sair da zona de conforto exige coragem,disciplina,estudo,comprometimento e

apoio da equipe e principalmente do gestor de sua escola,pois sem seu

aval,sua ajuda é quase impossível qualquer mudança. Mudança para o

verdadeiro NÃO ,não ao preconceito,NÃO a discriminação das pessoas com

necessidades especiais e SIM,sim a educação inclusiva,onde as famílias

sintam-se seguras com a escola e o ensino que essas escolas regulares

oferecem a seus filhos.

POEMA DE UM JOVEM DA APAE... "Crianças são como borboletas ao vento....algumas

voam rápido....algumas voam pausadamente, mas todas voam do seu melhor jeito....Cada uma é diferente, cada uma é linda e cada uma é especial."

Para compreender como se dá esse atendimento em escolas da

Rede Pública de Ensino do Município do Rio de Janeiro,verifica-se,apontam-se

dados importantes para atender esses alunos com necessidades educacionais

especiais, que haja uma formação de professores para melhor atende-los,nas

turmas comuns onde as práticas pedagógicas desenvolvidas nas classes

devem ser favorecidas a esses alunos e apoiada pela escola como um todo.

O processo histórico da Educação Especial Inclusiva, vem de longa

data , onde foram vítimas de preconceito,descaso e abandono. A partir da

década de 1990 , o Sistema Educacional Brasileiro vem sofrendo modificações

pontuais para oferecer uma Educação Inclusiva para todos os alunos

independente de condição social,econômica,visando o desenvolvimento dos

alunos nas classes comuns do ensino regular.

Para tanto, a escola deve estar preparada para lidar com a

diversidade do alunado, com suportes adequados para que esse aluno se

desenvolva e tenha uma estrutura que possibilite o seu processo ensino-

aprendizagem.

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Dito, A Declaração de Salamanca que é um documento

internacional de grande aceitação no Brasil, onde se preconiza uma educação

de qualidade para todas as pessoas, com deficiência ou não. Essa declaração

é o resultado da Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais

Especiais , promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação ,

Ciência e Cultura ( (UNESCO ) e pelo governo da Espanha em 1994.

A intenção é sempre boa, mas na prática nos deparamos com uma

realidade nas escolas onde na maioria dos casos, a inclusão é apenas física ,

pois o aluno está matriculado na turma mas seu processo de aprendizagem

depende de alcançarmos a transformação da escola em um espaço

educacional aberto a essas diferenças.

São poucos os professores preparados, especializados, para darem

suporte aos professores das classes comuns , tem-se um número excessivo

de alunos em sala de aula, falta adaptar o currículo para atender esses

alunos,buscando ao máximo desenvolver a autonomia desses alunos

relacionando seus conhecimentos adquiridos com sua compreensão de

mundo.

Para isso, a escola tem como missão integrar socialmente esses

educandos e ensinar investindo na capacitação de seus professores na

construção de uma escola de qualidade, onde todos, desde o diretor ao

porteiro estejam engajados e preparados para receber, acolher esses alunos

que são da escola e não apenas do professor.

A Educação Especial, educação para alunos com necessidades

educacionais especiais tem passado por um momento de reflexão sobre a

educação inclusiva e isso se deve também as novas leis implantadas e as

mudanças de atitude sociais que vem ocorrendo ao longo do tempo. O

Sistema Educacional Brasileiro vem junto com seus alunos procurando

trabalhar melhor as habilidades e competências de seus alunos e o acesso a

todos a escola. Todavia, sabe-se que nosso sistema educacional tem entraves

como o preconceito ao aluno especia , a falta de infra-estrutura, professores

despreparados ,falta de material e equipamento pedagógico e muitos outros

entraves , não impossibilidades. Repensar a escola no contexto atual é uma

14

prática comum nos profissionais de educação nos dias de hoje .Busca-se

pesquisar,estudar,as possibilidades,assim como desejo de construir uma

educação justa,com acesso para todos. Nessa discussão sobre a prática da

equipe pedagógica, da supervisão pedagógica busca-se saídas para que as

escolas repensem seus fazeres, sua organização e sua formação continuada.

A reflexão a respeito das políticas públicas de inclusão , seus

conceitos , princípios defendidos com base documental é um movimento de

luta das pessoas com deficiências e de seus familiares em busca dos seus

direitos e de seu lugar na sociedade. Procura-se refletir como pode-se

contribuir para uma prática real , menos preconceituosa. Inclusivo é um

adjetivo usado para todas as pessoas deficientes ou não. Essa luta é das

minorias em defesa de seus direitos ,pois só se inclui quem já foi excluído.

Falar da inclusão escolar é o mesmo que atribuir a educação um

repensar, resignificar todo o processo de construção do indivíduo , propondo

ações que garantam não apenas o acesso , mas a permanência dos alunos

com necessidades educacionais especiais no ensino regular reforçando que as

escolas irão enfrentar muitas dificuldades e desafios,fazendo-se necessário a

avaliação do professor para melhor trabalhar com a diversidade. Toda

discussão sobre a educação inclusiva,nos remete a Constituição Federal de

1988 e a própria Lei 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

que assegura o direito a educação dos educandos com necessidades

especiais

Com isso, houve um grande avanço na atenção á diversidade na

educação brasileira.Sabemos que a realidade desse processo inclusivo ,

requer muitas discussões .

Professores nos apontam muitas dificuldades para o

desenvolvimento de seu trabalho em sala de aula como; falta de horário para

planejamento ,a ausência da família na escola , excesso de alunos , espaço

físico inadequado , falta de apoio técnico pedagógico especializado ,

inadequação do currículo para esses alunos com necessidades educacionais

especiais, enfim é necessário que todos da escola trabalhem visando esse

objetivo apoiando diretamente os professores em sala de aula, com recursos

15

pedagógicos disponibilizados pelos coordenadores , supervisores ,partilhando

,intervindo , observando ,apoiando o ato de ensinar ; orientação de

estudo,planejamento pela especialista e pela coordenação pedagógica ;

avaliações e acompanhamento dos casos específicos que precisam ser

acompanhados por especialistas .

.

[...]A inclusão escolar é o processo de adequação da realidade

das escolas à realidade do alunado que, por sua vez, deve representar

toda a diversidade humana. Nenhum tipo de aluno poderá ser rejeitado

pelas escolas. As escolas passam a ser chamadas de inclusivas no

momento em que decidem aprender com os alunos o que deve ser

eliminado, modificado, substituindo ou acrescentando nas seis áreas de

acessibilidade (arquitetônica, atitudinal, comunicacional, metodológica,

instrumental e programática), a fim de que cada aluno possa aprender

pelo seu estilo de aprendizagem e com o uso de todas as suas

inteligências (SASSAKI, 2004, p.2-3).

Sem dúvida é um grande desafio para todos o desenvolvimento do

trabalho com alunos com necessidades educacionais especiais, tanto para

professores , como para coordenadores , supervisores , enfim todos que os

acolhem . Isso requer um investimento da escola enquanto instituição de uma

escola aberta para todos. A certeza é que incluir exige serviços e recursos de

apoio para os professores e os alunos para um bom desenvolvimento ensino-

aprendizagem.

Enfim,será necessário rever além da política e práticas pedagógicas

, as avaliações. Investir em capacitação, atualização,envolvendo não apenas

os professores , mas toda a comunidade escolar. Aprofundar

discussões,assessorar professores no dia a dia em sala de aula ,usar

metodologias e currículos flexíveis levando em conta cada aluno,respeitando

suas ideias,desafios e ritmo. Diversificar os conteúdos e utilizar práticas que

melhorem a relação professor/aluno,avaliando de forma continuada e

permanente visando a qualidade não a quantidade do conhecimento,tendo em

vista sempre a criatividade , a participação de toda a sociedade na

16

responsabilidade da construção do processo de inclusão escola para alunos

com necessidades educacionais especiais. A escola prepara o futuro ,e as

crianças convivem para aprender a valorizar a diversidade na sala de aula.

A inclusão, o movimento de inclusão nas escolas requer mudanças

e toda mudança requer sair de sua zona de conforto, onde as ações entre o

velho e o novo devem ser revistas.

Sendo assim, para que haja um futuro promissor na educação

inclusiva os projetos escolares tem que ter o compromisso de realmente

transformar a escola para que se adeque aos tempos atuais. Sabe-se que o

sistema educacional não mudará em um passe de mágica. Uma escola de

qualidade deve ser justa e acolhedora onde propicie a realização de um

trabalho com segurança e tranquilidade onde o ensino inclusivo acolhe todas

as pessoas, seja que tenha uma deficiência física,mental , superdotados

,minorias que sofrem qualquer outra discriminação.

Inclusão é estar com , é interagir com o outro. O maior ganho é o

interagir viver a experiência da diferença para vencer seus preconceitos,seja

pela deficiência , classe social ou até mesmo pela cor pois por direito todos

tem que ocupar seu lugar na sociedade a que vivemos como cidadãos onde

lhes é garantido por lei , a todos sem exceção , á educação inclusiva aos

alunos com necessidades educacionais especiais.

Muita gente acredita que o melhor é excluir, manter as crianças em

escolas especiais . Mas, já avançamos e elas tem o direito de ir e estudar na

escola regular . A sociedade está em processo de conscientização e a escola

precisa se adaptar para a inclusão de qualidade.

A luta continua para que seja respeitado o direito a uma educação

de qualidade para todos !

17

18

CAPÍTULO II

O PAPEL DO GESTOR, EDUCADOR NA INCLUSÃO

ESCOLAR

A Supervisão Educacional é uma função que atua selecionando ,

treinando pessoal , providenciando condições de trabalho , assim como

material didático ,acompanhando o processo ensino aprendizagem ,

dinamizando os conteúdos , oportunizando a reflexão , as habilidades e

competências.

O gestor pode auxiliar e muito, no processo de inclusão de alunos

com necessidades especiais,para uma educação transformadora ,pois cabe a

ele a elaboração de planos , orientação ,organização curricular ,prestando aos

seus professores assistência para elaboração de projetos , dos planos de aula

, além de acompanhar todo o processo de avaliação do ensino aprendizagem

organizando os temas,planejando, coordenando , organizando reuniões

pedagógicas que auxiliam o desenvolvimento do trabalho de seus professores.

O gestor também promove ações que asseguram o estreitamento

das relações entre a escola, as famílias,com base em programas pedagógicos

, culturais desenvolvidos a fim de proporcionar um melhor desempenho dos

alunos com necessidades educativas especiais e um melhor desempenho de

todos para atender os objetivos com responsabilidade social.

Fica clara portanto, a responsabilidade da direção da escola ,

enquanto gestor , como também a do supervisor que tendo como base o

conhecimento e competência profissional do seu professorado integrado ao

conhecimento da realidade em que está inserido , a instituição deverá

estimular a busca contínua pela capacitação dinamizando , assistindo e

operacionalizando todo o processo.

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Para que os objetivos sejam verdadeiramente atingidos , sabe se da

necessidade da presença atuante de líderes gestores , que sejam capazes de

implementar ações para enfrentar os desafios que surjam na execução de uma

educação transformadora , de qualidade e inclusiva.

Nas escolas essa liderança surge na figura exercida pela direção.

Essa direção estimula a gestão compartilhada onde o trabalho educacional

passa a valorizar os diferentes talentos, onde todos tem seu papel na

organização da escola assumindo em conjunto as responsabilidades.

No exercício da liderança deve se tornar claros os objetivos

educacionais da escola que se trabalha para que as pessoas, gestores

possam dirigir melhor as ações que encaminham a escola para a direção

desejada.

Onde a gestão é participativa há oportunidade de desenvolver

competências do grupo e os desafios surgem positivamente na equipe, pois as

decisões são compartilhadas entre a direção,supervisão, coordenação

pedagógico e orientação educacional onde precisa ter um entendimento

contínuo entre esses profissionais. Todos tem de assumir e compartilhar as

ações e responsabilidades da atuação da escola.

O segredo é não se acomodar, resultados e competências podem

sempre melhorar e um gestor inteligente mantém a mente aberta a mudanças,

estabelece desafios e se compromete com sua realização, sugere melhorias

para o desempenho dos outros , inspira seus profissionais a trabalharem em

direção a um objetivo comum , tem facilidade em expor suas ideias , soluciona

conflitos contemplando as necessidades de todos os envolvidos na questão ,

cria vínculos , compartilha informações , tem comunicação aberta e

participativa , tem segurança em suas decisões , cumpre compromissos , enfim

exerce um papel fundamental no auxílio do processo de inclusão dos alunos

com necessidades educativas especiais para uma educação transformadora

de qualidade. Com certeza habilidades e o exercício de responsabilidade social

tem o líder, gestor como um empreendedor no processo de motivação dos

interesses e competências do grupo como um todo.

20

Os resultados e competências podem sempre melhorar

compartilhando a liderança.

Para que a equipe tenha desempenho, seu gestor , seu líder deve

ter um espírito empreendedor , onde tenha coragem de executar seus

desafios.

Sendo assim , a seleção de pessoas na construção da equipe pelo

gestor é de suma importância. Para isso deve se criar condições para que seus

funcionários desenvolvam seu melhor empenho e suas capacidades , capaz

de ver o outro e o interesse pelo crescimento da equipe como um todo.

Liderados por um gestor competente para perceber as motivações

onde a equipe decidirá melhor em conjunto . Tem de perceber e ajudar a

desenvolver a capacidade de se relacionar com o outro , o ouvir , dividir

experiências para melhor decisão do grupo . O que produz continuidade é uma

equipe coesa. Auxiliar na construção do futuro, pois a soma das

potencialidades sócio dinâmicas é que irá gerar um conhecimento de toda a

equipe empenhada no desenvolvimento de ações , práticas que auxiliem o

desenvolvimento das habilidades dos alunos com necessidades especiais para

uma educação de qualidade.

O papel do gestor e sua importância para o sucesso do trabalho de

inclusão é fundamental. A ideia de inclusão, está intimamente ligada a uma

sociedade democrática na qual a diversidade é respeitada,e todos ,tem

oportunidades iguais á uma educação de qualidade.

O gestor, diretor é o principal responsável pela escola. A ele

pertence articular, dirigir , integrar os diversos setores da instituição escolar. A

gestão escolar envolve os diversos setores da escola , visando administra-la

como um todo.

As ações do gestor devem estar focadas na prática democrática

com participação e envolvimento de toda comunidade escolar. Uma escola

verdadeiramente inclusiva é uma escola democrática.

Cabe ao gestor ser o agente das mudanças fornecendo os meios

para que as mudanças ocorram de forma tranquila , estimulando a comunidade

escolar a vestir a camisa , se engajar em favor de uma escola nova.

21

O gestor deve trabalhar de forma que as resistências ao novo ,

sejam vencidas de forma construtiva , com muito diálogo , cuidado , firmeza ,

sem imposição , compartilhadas par serem decididas em conjunto pois é um

trabalho de todos.

Busca-se uma reflexão sobre o novo modelo de educação , pois

verifica se urgência em atender as demandas da inclusão e como adotar as

metas que favoreçam essas práticas par a realização pontual do real papel do

gestor , educador diante dessa escola inclusiva.

Considera se um grande desafio o desempenho fundamental do

gestor par que realmente a inclusão se realize. Será esse gestor que poderá

viabilizar ou não , as mudanças estruturais necessárias a escola não apenas

física como , humana , social e filosófica.

Par tanto se faz necessário, constante debate , discussão ,reflexão

e total envolvimento do professorado e educadores da instituição.

A partir dessas reflexões em conjunto é que será possível contribuir

com o gestor , criando uma escola inclusiva que realmente atenda com

qualidade e igualdade a todos que nela se encontram visando uma educação

de qualidade.

Enfim , o gestor é a peça essencial para desenvolver a abertura de

novos espaços , de transformar o dia a dia com inovações pedagógicas que

facilite o processo de inclusão através de um trabalho flexível ,considerando as

diversidades para buscar eficiência em seu trabalho compartilhando suas

ideias e ideais com toda comunidade escolar.

Sua liderança se dá através de suas ações ,onde implementa

práticas que favoreçam unidade e consciência da importância da escola

inclusiva para alunos com necessidades educacionais especiais. Assim todos

tornam se responsáveis pelo sucesso da inclusão escolar , pois o gestor apoia

seu corpo docente ,respeitando a individualidade de cada um. A gestão escolar

tem que ter uma participação ativa , administrativa , técnica , pedagógica .

Quando se trata da gestão nas escolas públicas é pontual a

importância do gestor para garantir o sucesso das relações de ensino

aprendizagem onde o discurso tem que caminhar com as ações de fato.

22

Investigar a história da função do diretor, nos permite entender a

atuação desse profissional nos dias de hoje , como suas principais atribuições.

Analisar o papel do gestor nas políticas nacionais de educação

desde nossa colonização até a atualidade , nos permite verificar que hoje ele

tem um papel efetivo na elaboração , planejamento ,encaminhamento de

propostas no âmbito educacional onde prioriza a formação que possibilita o

entendimento da realidade social intervindo quando necessário de forma

consciente.

O novo conceito redefine o papel do gestor que deixa de fiscalizar

para compartilhar para atingir os objetivos comuns a equipe , ao grupo para a

melhoria da qualidade da educação básica , regular. Nesse aspecto , a

preocupação principal da gestão escolar é contemplar os interesses e as

necessidades de sua comunidade escolar promovendo a participação efetiva

de todos onde o processo de gestão seja objetivo , democrático e que construa

a cidadania na construção de uma sociedade mais justa.

[...] um gestor da dinâmica social, um mobilizador, um orquestrador de

atores, um articulador da diversidade para dar unidade e consistência, na

construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de

Ou ainda....

[...] o diretor coordena, mobiliza, motiva, lidera, delega aos membros da

equipe escolar, conforme suas atribuições específicas, as

responsabilidades decorrentes das decisões, acompanha o

desenvolvimento das ações, presta contas e submete à avaliação da

equipe o desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente

Ao promover a inclusão é preciso rever o PPP, projeto político

pedagógico da escola , pois ele deverá atender á diversidade e o aparato que

a equipe terá para que possa atender com qualidade a todos.

O currículo deve prever essa flexibilização das atividades nas

diversas necessidades que se apresente.

As deficiências físicas , visual e auditiva não costumam apresentar

muitos problemas , no geral conseguem acompanhar a turma. Já os com

deficiência intelectual ou múltipla o gestor deve pedir auxílio a profissionais

especializados.

23

Sabemos que alunos com necessidades educacionais especiais não

atrapalham a qualidade de ensino da turma , pois aprendem de forma diferente

e a atenção que se dá a um determinado aluno não prejudica o

grupo , por isso a necessidade de se atender as necessidades de todos ,

valorizando as diversas habilidades.

Nesse aspecto o diretor , gestor da escola tem um papel de suma

importância ,pois o funcionamento de toda instituição ,físico , relacional ,

material , financeiro , pedagógico passa por ele.

[...] um gestor da dinâmica social, um mobilizador,

um orquestrador de atores, um articulador da diversidade para

dar unidade e consistência, na construção do ambiente

educacional e promoção segura da formação de seus alunos

(LUCK, 2000, p. 16).

Ou ainda....

[...] o diretor coordena, mobiliza, motiva, lidera,

delega aos membros da equipe escolar, conforme suas

atribuições específicas, as responsabilidades decorrentes das

decisões, acompanha o desenvolvimento das ações, presta

contas e submete à avaliação da equipe o desenvolvimento das

decisões tomadas coletivamente (LIBÂNIO, OLIVEIRA e

TOSCHI, 2003, p. 335)..

A preocupação da gestão escolar é de contemplar os interesses e

necessidades da maioria da comunidade escolar, democratizando a gestão

promovendo a participação efetiva da comunidade na escola.

Construir uma gestão pautada nas relações democráticas é construir

um caminho para a construção da cidadania para todo

Ao promover a inclusão é preciso rever o PPP projeto político

pedagógico da escola,pois ele deverá atender á diversidade e o aparato que a

equipe terá para que possa atender com qualidade a todos.

O currículo deve prever essa flexibilização das atividades nas

diversas necessidades que se apresente

24

As deficiências físicas,visual e auditiva não costumam apresentar um problema

,pois em geral os alunos acompanham bem a turma. Já os de deficiência

intelectual ou múltipla o gestor deve pedir auxílio a profissionais

especializados.

Sabemos que alunos com necessidades educacionais especiais não

atrapalham a qualidade de ensino da turma, pois aprendem de forma diferente

e a atenção que se dá a um determinado aluno pelo professor não prejudica o

grupo,por isso a necessidade de se atender as necessidades de

todos,valorizando as diversas habilidades.

Nesse aspecto o diretor,gestor da escola tem um papel de suma

importância pois,o funcionamento de toda instituição,físico, relacional, material,

financeiro, pedagógico passa por ele.

[...] um gestor da dinâmica social, um mobilizador, um orquestrador de

atores, um articulador da diversidade para dar unidade e consistência, na

construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de

Ou ainda....

[...] o diretor coordena, mobiliza, motiva, lidera, delega aos membros da

equipe escolar, conforme suas atribuições específicas, as

responsabilidades decorrentes das decisões, acompanha o

desenvolvimento das ações, presta contas e submete à avaliação da

equipe o desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente

A preocupação da gestão escolar, é de contemplar os interesses e

necessidades da maioria da comunidade escolar ,democratizando a gestão

promovendo a participação efetiva da comunidade na escola .

Construir uma gestão pautada nas relações democráticas ,é

construir um caminho para a construção da cidadania para todos.

Gestão na educação é um processo de articulação para o

desenvolvimento da proposta político pedagógica da escola , fundamentado

numa concepção de educação e de sociedade.

A gestão deve estar acompanhando o processo do planejamento

pedagógico, não apenas as questões administrativas, a função do

25

administrativo é de estar a serviço do pedagógico, dando-lhe suporte para

executar os objetivos educacionais e para muitos gestores isso é um grande

desafio a ser vencido e executado.

A gestão escolar se resume em medidas adotadas para que a

escola desenvolva suas funções com o apoio dos

supervisores,coordenadores,professores para juntos construírem um ambiente

participativo onde o grupo como um todo , irá administrar os problemas que

venham a surgir com análise crítica para que a participação de todos no

processo ensino/aprendizagem seja levado em conta e todos colaborem para o

sucesso do aprendizado e da construção do conhecimento. Parcerias com a

comunidade escolar também é importante para o desenvolvimento dos

trabalhos onde, coordenadores , professores e diretores participam do

desenvolvimento de seus alunos através da gestão participativa para o

desenvolvimento de um trabalho de qualidade onde todos se comprometem

com a educação e estão integrados para cumprir os objetivos traçados pela

escola.

O grande desafio da gestão está em poder auxiliar seus professores

a ajudar a desenvolver nos alunos a capacidade de trabalho colaborativo,

desenvolvimento do espírito crítico ,na capacidade de ouvir o outro , como a si

mesmo e de formar uma auto critica.

A escola deve ser dinâmica , marcada pela integração , flexibilidade

, pela busca constante de qualidade onde as ações reflitam as ideias através

do trabalho de equipe onde cada vez mais os profissionais , desde o gestor

sintam-se responsáveis e busquem habilidades para resolver problemas e

tomar decisões para uma educação transformadora de qualidade para todos,

sejam alunos com deficiência de aprendizagem ou não.

O trabalho de equipe é fonte de superação e valorização do

profissional.

Produzir a vida do professor implica valorizar,

como conteúdos de sua formação, seu trabalho crítico-

26

reflexivo sobre as práticas que realiza e sobre suas

experiências com-partilhadas; Produzir a profissão

docente trata-se de pensar a formação do professor

como um projeto único englobando a inicial e a contínua;

Produzir a escola como es-paço de trabalho e formação,

o que implica gestão democrática e práticas curriculares

participativas, propiciando a constituição de redes de

formação contínua, cujo primeiro nível é a formação

inicial. (NÓVOA, 1992: 29-30).

Enfim,a profissão requer vontade , vontade de realizar com alegria

mesmo diante de tantas dificuldades apontadas e sinalizadas é simplesmente

ter prazer , o prazer imenso de fazer a diferença ao ensinar e ao aprender .

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.

Esses que-fazeres se en-contram um no corpo do outro. Enquanto

ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco,

porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para

constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo.

Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou

anunciar a novidade. (FREIRE, 1996: 29).

A tarefa de ensinar exige uma série de variáveis

por parte do professor, dentre as quais a que nos indicam as

necessidades particulares de cada aluno e cada aluna e de

selecionar as atividades e os meios que cada um necessita

para construção do conhecimento. (ZABALA, 1998: 176

27

Não se pretende e é impossível esgotar o tema em questão, ao

contrário , é um estudo que requer investigação e estudos constantes para

estar sempre antenado e conectado com o novo , pois educar requer

formação continuada, dedicação,visão crítica,construtiva,vitalizadora das ações

educativas colocada a serviço individual e coletivo visando transformar para o

melhor. Ter sempre presente que todos os participantes devem estar

integralmente envolvidos. A articulação subjetiva e objetiva para a

concretização dos objetivos dos professores , sua valorização como pessoa e

educador. A supervisão deve desenvolver o nível de produção acadêmica dos

professores e enriquecer com contribuições significativas , respeitando a

personalidade dos profissionais da educação.

Uma avaliação crítica do seu próprio empenho , análise desde o

planejamento do currículo , precedido de diagnose e acompanhamento de sua

execução. Orientação , controle e avaliação crítica ,adequação da escola ao

contexto , ao tempo e ao momento histórico cultural.

CAPÍTULO III

INTEGRAÇÃO X INCLUSÃO – DIREITO GARANTIDO POR

LEI

Educação inclusiva deve ser considerada como o centro natural de

qualquer política educacional que se preocupe com ensino de qualidade, e

para que isso ocorra é necessário que haja mudanças na escola e em seus

métodos , seus princípios teóricos , sua estrutura física, e nem sempre estão

prontas a essas mudanças, pois visa uma formação integral onde os

conhecimentos estão integrados a vida prática de seus alunos para que o

28

processo ensino / aprendizagem se efetue. A diversidade está presente no dia

a dia do professor e esse compreende que cada indivíduo tem seu ritmo de

aprendizagem .

A escola inclusiva vê a avaliação como um processo de construção

do conhecimento onde os aperfeiçoamentos são progressivos. A convivência

entre os diferentes vislumbra uma sociedade mais cooperativa,humana e

solidária.

Ao falarmos de integração e inclusão estamos falando da integração

escolar como um processo de educar / ensinar juntas, crianças ditas como

normais e as com deficiência durante a totalidade de tempo de permanência

na escola. Para que isso ocorra com sucesso os alunos devem ser preparados

para essa integração

A Política de Educação Especial (MEC,

SEESP) afirma que: A integração é um processo dinâmico de

participação das pessoas num contexto relacional,

legitimando sua interação nos grupos sociais. A integração

implica em reciprocidade. E sob enfoque escolar processo gradual e

dinâmico que pode tomar distintas formas de acordo com

as necessidades e habilidades dos alunos. Sob o

enfoque psicossocial, a integração representa,

portanto, uma via de mão dupla, envolvendo os portadores de

deficiência e a comunidade das pessoas consideradas

"normais" Um novo paradigma esta nascendo, um

paradigma que considera a diferença como algo inerente na

relação entre os seres humanos. Cada vez mais a

diversidade está sendo vista como algo natural.

29

Na integração de todos em nossas escolas é necessário que se

trabalhe todo o contexto do processo que deve ocorrer,para que de certo e não

haja preconceito em torno dos alunos com deficiência., pois trabalhar a dês

segregação é uma tarefa árdua que desenvolve sentimentos de respeito as

diferenças , de cooperação e de solidariedade. E isso não é favor,nem

caridade é direito a cidadania e direito a práticas pedagógicas

inclusiva/integradora nas escolas regulares de ensino.

Precisa-se que o estado valorize o magistério,as condições que se

dá o processo ensino/aprendizagem deve ser acarinhado,a qualidade da

formação dos professores revista,o tamanho das turmas,o projeto político

pedagógico reestruturado,os alunos preparados para a integração com os

alunos com necessidades educacionais especiais,onde serão

incluídos,integrados.

Considerar a educação como direito ,direito de todos .

A escola para ser um espaço inclusivo, deve buscar alternativas que

garantam o acesso e a permanência de todas as crianças, o que se deseja é a

real construção de uma sociedade inclusiva que tenha real comprometimento

com os portadores de necessidades educativas especiais,buscando rumos

inovadores e necessários a inclusão,pois o mais importante em todo esse

processo é sem dúvida a formação da consciência crítica do professor visando

sua responsabilidade pela aprendizagem de seus alunos,deficientes ou não.

A escola como ambiente inclusivo colabora de forma positiva para a

auto-estima que é um aspecto de suma importância no processo de

aprendizagem dos alunos

O respeito as diferenças ,as limitações promove o desenvolvimento

afetivo,cognitivo,moral,social dos alunos com necessidades educativas

especiais e também o torna capaz,produtivo,eficiente apto a aprender no seu

ritmo. A educação numa democracia é de vital importância para o exercício de

suas funções na sociedade ,portanto todos os alunos são contemplados na

Política Nacional de Educação Especial sem exceção.

30

[...] Integração escolar é o processo tradicional de

adequação do aluno às estruturas físicas, administrativas,

curricular, pedagógica e política da escola. A integração trabalha

com o pressuposto de que o aluno precisa ser capaz de

aprender no nível pré-estabelecido pelo sistema de ensino. No

caso de alunos com deficiência (mental, auditiva, visual, física ou

múltipla), a escola comum condicionava a sua aceitação a uma

certa prontidão que somente as escolas especiais (e, em alguns

casos, as classes especiais) poderiam conseguir. E mesmo

aceitos sob esta condição, estes alunos ficavam sujeitos a ser

devolvidos às classes ou escolas especiais se mais tarde

viessem a apresentar dificuldades de aprendizagem e/ou de

relacionamento.

[...]A inclusão escolar é o processo de adequação da

realidade das escolas à realidade do alunado que, por sua vez,

deve representar toda a diversidade humana. Nenhum tipo de

aluno poderá ser rejeitado pelas escolas. As escolas passam a

ser chamadas de inclusivas no momento em que decidem

aprender com os alunos o que deve ser eliminado, modificado,

substituindo ou acrescentando nas seis áreas de acessibilidade

(arquitetônica, atitudinal, comunicacional, metodológica,

instrumental e programática), a fim de que cada aluno possa

aprender pelo seu estilo de aprendizagem e com o uso de todas

as suas inteligências (SASSAKI, 2004, p.2-3)

Inclusão exige serviços e recursos de apoio para os professores e

para os alunos,para um bom processo ensino / aprendizagem , além de

aprimoramento de formação continuada dos professores ,espaços para

reflexão,discussão e troca de experiências que favoreçam o processo de

integração x inclusão , a necessidade de aceitar e valorizar a diversidade é o

primeiro passo para o processo inclusivo de criação de uma escola de

qualidade para todos.

31

Acredita-se que com a qualidade do ensino regular para todos os

alunos resultará naturalmente na inclusão dos alunos com necessidades

educacionais especiais , o ensino passa a ser adequado a heterogeneidade ,

sendo assim uma educação para todos. Uma fusão entre o ensino regular com

o especial.

A integração escolar é uma forma de inserção do aluno ao sistema

escolar ,seja em uma sala regular,uma classe especial, já a inclusão é incluir

um aluno,um grupo de alunos que não foram excluídos. A meta da inclusão é

não deixar ninguém fora do sistema escolar.

Integração e inclusão são empregados para expressar situações de

inserção diferentes.

A integração escolar é ter acesso a educação no ensino regular ou

ao ensino em escolas especiais , oferecendo ao aluno oportunidade de

transitar no sistema escolar,da classe regular ao ensino especial. Os

programas institucionais devem se adaptar as necessidades de cada aluno ,

com deficiência ou não.

A inclusão , o conceito se refere a vida social e

educativa de todos os alunos que devem frequentar as salas de

aula do ensino regular. Integração é inserir um aluno ou um grupo

que foram excluídos anteriormente. Já a inclusão é não permitir

que ninguém esteja excluso desde o começo.

A inclusão não se limita a ajudar somente aos alunos

que apresentem dificuldades , mas apoia todos,

professores,alunos.

Integração escolar é uma forma de inserção que

dependerá do aluno a se adaptar as opções do sistema escolar.

A meta da inclusão é não deixar ninguém fora do

sistema escolar.

Integração e inclusão são vocábulos usados para

expressar situações de inserção diferentes.

Certo é que a educação é um direito de todos

assegurado por lei, número 9.394/96 . LDB Leis de Diretrizes e

32

Bases da Educação Nacional que estabelece que a educação é

um direito de todos garantindo atendimento educacional

especializado aos portadores de deficiência , perspectiva

inclusiva da educação , tornando nossa escola preparada para

lidar com as diferenças ,esse processo deve cada vez mais

ampliar o acesso a todos ao direito a uma educação de qualidade

independente de sexo,cor,religião e origem social baseando-se

no princípio de educação para todos.

A Política de Educação Especial (MEC, SEESP) afirma que:

A integração é um processo dinâmico de participação

das pessoas num contexto relacional, legitimando sua

interação nos grupos sociais. A integração implica em

reciprocidade.

E sob enfoque escolar processo gradual e dinâmico que

pode tomar distintas formas de acordo com as

necessidades e habilidades dos alunos. Sob o enfoque

psicossocial, a integração representa, portanto, uma via

de mão dupla, envolvendo os portadores de deficiência

e a comunidade das pessoas consideradas "normais"

A responsabilidade do educador aumenta pois, para realizar o

aprendizado terá que oferecer condições mínimas para que esse aprendizado

se realize de fato. Integrar o aluno com necessidades educacionais especiais é

uma tarefa que requer formular objetivos integrados para atingir as metas do

processo de inclusão.

O espaço escolar deve ser visto como um espaço de todos e para

todos em que se garanta não apenas o acesso , mas a permanência de todas

as crianças para a construção de uma sociedade inclusiva comprometida

também com as minorias que desejam participar da vida em sociedade,como

tem direito.Buscar rumos novos ,inovadores necessários á inclusão.

33

O professor deve participar de todos os processos que envolvem a

inclusão em sua escola,de todo planejamento,execução e avaliação. Ser parte

integrante e atuante da equipe escolar contribuindo para a melhoria da

qualidade de ensino que é oferecida na escola respeitando a diversidade e

diferenças individuais, pois o professor tem responsabilidade pela

aprendizagem de seu aluno ,deficiente ou não.

Um novo paradigma esta nascendo, um paradigma

que

considera a diferença como algo inerente na relação

entre os seres humanos. Cada vez mais a

diversidade

está sendo vista como algo natural.

É importantíssimo que as diretrizes norteadoras da Política Nacional

de Educação Especial contemplem todos os alunos,sem nenhuma exceção.

Há ainda que se vencer os obstáculos dos investimentos que ainda

são poucos em educação e que esses investimentos reconheçam e valorizem

as diferenças na escola.

“Quando tiver algum problema, faça alguma

coisa!

Se não puder passar por cima, passe por

baixo,

Passe através, dê a volta, vá pela direita, vá

pela esquerda.

Se não puder obter o material certo, vá

procurá-lo.

Se não puder encontrá-lo, substitua-o; se não

puder substituí-lo, improvise.

Se não puder improvisar, inove. Mas, acima

de tudo, faça alguma coisa!!”

(Desconhecido

34

Integração e inclusão são muito importantes. O que se deseja é

alcançar uma sociedade inclusiva e nada melhor que se dá o exemplo na

escola , como acesso a educação de forma inclusiva respeitando-se as

diferenças individuais.

De acordo com o Centro Nacional de Reestruturação e

Inclusão Nacional,

(1994) apud Sassaki (1999, p.122),

[...] Educação Inclusiva significa provisão de oportunidades eqüitativas

a todos os estudantes, incluindo aqueles com deficiências severas, para

que eles recebam serviços educacionais eficazes, com os necessários

serviços suplementares de auxílios e apoios, em classes adequadas à

idade em escolas das vizinhanças, a fim de prepará-los para uma vida

produtiva como membros plenos da sociedade.

A lei regulamenta a educação,mas não é suficiente para dar

respaldo ao professor nem assessoria em sua jornada pedagógica.

Além da estrutura física que deve ser aprimorada

,rampas,banheiros,salas multifuncionais,o professor deve ser

treinado,capacitado,reciclado informado sobre as variáveis que os alunos com

necessidades educativas especiais necessitam,não apenas do ponto de vista

pedagógico. Ele precisa entender com total clareza o conteúdo que irá oferecer

aos seus alunos e como irá oferecer esses conteúdos atendendo as diferenças

individuais ,as diversidades apresentadas.

A escola inclusiva não é simplesmente transferir os alunos das

escolas especiais para as escolas regulares,mas

modificar,remodelar,reconstruir desde as mudanças arquitetônicas , as

pedagógicas para acolher esses alunos portadores de necessidades

educacionais especiais ,desenvolvendo metodologias,estratégias que

favoreçam o processo de inclusão devidamente planejados desde a

adequação do espaço disponível até a reciclagem dos professores através de

35

formação continuada para uma real mudança de postura e comprometimento

com a educação de qualidade,transformadora e capaz de fazer a diferença na

vida de seus alunos,cidadãos brasileiros responsáveis pelo futuro de nossa

nação o Brasil de todos,sem distinção.

Deve reconhecer-se que a integração dos alunos com necessidades

A Educação garante ao aluno o respeito ao indivíduo

proporcionando-lhe condições de exercer a cidadania.

A inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais

não é simples e precisa de comprometimento para que o professor possa

oportunizar o aluno a se desenvolver e progredir em termos educativos e a

escola tornar se um espaço onde o objetivo seja de proporcionar um ensino de

qualidade a todos os alunos propiciando o máximo de acesso aos alunos

portadores de necessidades especiais.

O Estado deve dar além do suporte financeiro , o suporte

pedagógico

para quem for trabalhar com os alunos especiais ,professores,

diretores e outros funcionários, para que esses sintam-se capazes de conduzir

o projeto pedagógico de ensino em uma escola que tenha estrutura adequada

a realizar de forma positiva esse processo.

É um direito de todos os cidadãos Brasileiros com necessidades

educacionais especiais ou não,a um ensino de qualidade onde possa fazer a

diferença e transformar nossa sociedade mais justa ,respeitando as diferenças

individuais que venham existir,É lei,está assegurado esse seu direito.

36

CONCLUSÃO

Pessoas que apresentam necessidades educativas especiais , em

geral apresentam experiências de exclusão. Porém hoje já existe uma nova

proposta educacional , comprometida com uma mentalidade includente que

promove o convívio com a diversidade .

A proposta no âmbito escolar da inclusão está em estimular a

participação desses alunos , não apenas na escola,mas na sociedade como

um todo onde a inclusão tem garantia por lei do exercício do direito á educação

para todos e que se faça cumprir esse direito fundamental do ser humano , o

da educação de qualidade que é um desses direitos.

Para que não fique apenas no discurso , o sucesso do processo de

inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais , deve

ser efetivado através de mudanças reais , desde a participação efetiva da

família até o suporte as escolas capacitando e apoiando professores e

profissionais promovendo as condições necessárias para que se realize a

inclusão desses alunos com os recursos que possibilitem um ensino

transformador de qualidade , onde o gestor / supervisor possa contribuir

37

através do projeto político pedagógico da escola e com ações que

desenvolvam as potencialidades de todos os seus alunos , realizando assim

uma inclusão de verdade.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALONSO,Daniela.O papel do gestor na inclusão.Vozes.

ALVES,Nilda.Educação e supervisão:o trabalho coletivo na escola.São Paulo,SP:Cortez,1991. CARVALHO,Rosita Edler.Educação inclusiva com os pingos nos “is”.Porto Alegre.RS:Mediação,2004 . CRESPO,Lia.Educaçãoinclusiva:o que o professor tem a ver com isso?.Rede Saci. FACCI,Marilda Gonçalves.A exclusão dos incluídos.Editora:Casa do Psicólogo. FACION,José Raimundo.Inclusão escolar e suas implicações.Editora:IBPEX,2008.

38

FÁVERO,Eugênia Augusta.Direitos das pessoas com deficiência:garantia de igualdade na diversidade.Editora:WVA GOMES,C.B.Inclusão escolar do portador de paralisia cerebral:atitudes de professores do ensino fundamental.Revista Brasileira de Educação Especial,UEP,2006. LIBANEO,José Carlos.Organização e gestão da escola:teoria e prática.Goiânia:Editora Alternativa,2001. LUCK,Heloisa.A escola participativa:o trabalho do gestor escolar.Rio de Janeiro:Editora,1998. LUCK,Heloisa.Concepções e processos democráticos de gestão educacional.Petrópolis:Vozes,2006. LUCKESI,Cipriano Carlos.Avaliação da aprendizagem escolar.Editora:Cortez MANTOAN,Maria Teresa Egler.Inclusão escolar o que é? Por que?Como fazer? .SÃO Paulo:Moderna,2006. MARTINS,J.S.Exclusão social e a nova desigualdade.São Paulo:Editora Paulus,1997. MITTLER,Peter.Educação inclusiva:contextos sociais.Porto Alegre:Art Med,2003. PATTO,M.H.S.A produção do fracasso escolar:histórias de submissão e rebeldia.São Paulo:Editora T.A.Queiroz,1990.

39

SASSAKI,Romeu Kazumi.Inclusão:construindo uma sociedade para todos.Rio de Janeiro:WVA,1997. SESTARIO,A.C.,Perez.A cartilha :acesso de pessoas com deficiência ás classes e escolas comuns da rede regular de ensino.São Paulo:São Paulo Publicações,2002. SCARPATO,Marta.Os procedimentos de ensino fazem a aula acontecer.Editora:Avercamp. VASCONCELOS,Celso dos Santos.Superação da lógica classificatória e excludente.Vozes.

40

ANEXOS

ANEXO I : Conteúdo de revista especializada. VEJA 2002

As metas do atual Plano Nacional de Educação estão longe

de ser cumpridas. Confira os resultados e o que

esperar da nova versão, que nasce neste mês.

rumos que o país deve tomar em todos os níveis de ensino.

Dessa conferência sairão as diretrizes que darão

serem alcançadas nos dez anos seguintes. "O PNE traça os

objetivos, mas sua implementação é responsabilidade

dos diferentes níveis de governo, que precisam criar planos

de ação", diz Francisco das Chagas Fernandes,

secretário-executivo do Ministério da Educação (MEC) e

coordenador geral da comissão organizadora da Conae.

Aí mora o problema: para a versão atual do PNE – que está

em vigor desde 2001 e tem encerramento previsto

para este ano –, a esmagadora maioria dos municípios e

estados não aprovou uma legislação que garantisse

recursos para chegar lá nem punição para quem

descumprisse as ações previstas por ele.

41

A União também não ajudou, pois o artigo que recomendava

o investimento de 7% do Produto Interno Bruto

(PIB) em Educação foi vetado pelo então presidente,

Fernando Henrique Cardoso. “Sem verba definida, não dá

para cobrar ações dos governos municipais e estaduais”,

argumenta Mozart Neves Ramos, membro do Conselho

Nacional de Educação (CNE) e presidente-executivo do

movimento Todos pela Educação.

Para a nova versão do plano, as entidades ligadas à

Educação defendem que haja a determinação clara da origem

dos recursos e da área em que devem ser investidos. Se isso

ocorrer, o Plano pode colaborar para a luta por uma

Educação pública de qualidade. Caso contrário, vira letra

morta já em seu nascedouro, como ocorreu em 2001.

“Algumas não são quantificáveis, o que dificulta a

fiscalização. No novo plano, queremos ter menos objetivos, e

todos numéricos e realizáveis”, diz Fernandes. A seguir, você

confere um balanço dos principais indicativos do

maioria vivendo nas regiões Norte e Nordeste. “Garantir a

permanência segue sendo um desafio. É preciso

oferecer condições como transporte, alimentação e apoio às

famílias”, defende Ramos.

matrículas já foram feitas no novo sistema de seriação (veja o

gráfico abaixo). A expectativa é que em

são maiores do que antes. O grande desafio, mais uma vez, é

garantir a qualidade do ensino.

Meta: Incluir crianças, jovens e adulto - Enquanto a

distante do esperado.

seriam o público-alvo dessa faixa de ensino. A inclusão da

EJA no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da

Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Educação (Fundeb) representou uma fonte de recursos

42

para ampliar a oferta, mas não atacou a evasão, hoje em

alarmantes 43%.

dupla ambição: melhorar o fluxo escolar (reduzindo a

chamada distorção idade-série) e garantir a

aprendizagem (evitando a progressão automática de alunos

que não atingiram as expectativas para cada etapa).

período, mantendo-se num patamar muito elevado em

relação aos vizinhos de América Latina e Caribe, que

Meta: Erradicar o analfabetismo até 2010 - O programa Brasil

Alfabetizado, do Governo Federal,

2006). Mas, entre 2001 e 2008, a taxa de analfabetismo caiu

apenas de 13% (16 milhões de pessoas) para 10%

noções rudimentares de leitura e escrita) do que absolutos – que, de

acordo com dados de 2005, representavam só

Infantil apresenta duas situações distintas. Enquanto na pré-escola

faltam apenas 2,4 pontos percentuais

pontos percentuais abaixo do esperado. “Os estudos têm

comprovado como esse atendimento é importante.

Afinal, a primeira infância é fundamental para o sucesso escolar e a

formação do indivíduo. O grande problema é

que uma criança na creche custa mais do que o dobro do que um

aluno no Ensino Fundamental, dificultando a

abertura de novas vagas”, ressalta Ramos.

Tão perto, tão longe - O acesso à Educação Infantil difere de acordo

com o nível de atendimento. Desafio maior é a ampliação de vagas

Meta: Implantar o piso salarial e planos de carreira - O PNE falava

em cumprir a meta já em 2001, mas a

concretização veio bem depois. O piso se tornou uma realidade

apenas em 2009. O valor, que neste ano

atratividade da carreira. A mesma lei que criou o piso estipulou que

os planos de carreira deveriam ser criados até

aprovação nas assembleias legislativas e câmaras municipais.

43

Meta: Aprimorar sistemas de informação e avaliação - Com exceção

da Educação Infantil, todos os

outros níveis de ensino são avaliados pelo MEC (há também

aferições em diversos estados e municípios).

Destaque para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

(Ideb), que fornece um retrato da Educação no

Brasil

44

ANEXO II : ENTREVISTA : Entrevista com JOSÉ CARLOS LIBÂNEO

A escola com que sonhamos é aquela que assegura a todos a

formação

cultural e científica para a vida pessoal, profissional e cidadã.

ENTREVISTA COM JOSÉ CARLOS LIBÂNEO*

Marisa: Prezado Libâneo, vou começar nossa conversa me

referindo ao livro Adeus

de Didática e Prática de Ensino], em Águas de Lindóia. Esse livro

contém três textos

Piracicaba, São Paulo e Belo Horizonte. Na introdução desse livro,

escreves um

parágrafo em que abordas o assunto central desta nossa conversa -

a escola. Vou

pedir licença para ler este pequeno trecho, para que possas

relembrá-lo.

A escola com que sonhamos é aquela que assegura a todos a

formação cultural e científica

para a vida pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma

relação autônoma, crítica e

construtiva com a cultura em suas várias manifestações: a cultura

provida pela ciência, pela

técnica, pela estética, pela ética, bem como pela cultura paralela

(meios de comunicação de

massa) e pela cultura cotidiana. E para quê? Para formar cidadãos

participantes em todas

45

as instâncias da vida social contemporânea, o que implica articular

os objetivos

convencionais da escola − transmissão-assimilação ativa dos

conteúdos escolares,

desenvolvimento do pensamento autônomo, crítico e criativo,

formação de qualidades

morais, atitudes, convicções − às exigências postas pela sociedade

comunicacional,

informática e globalizada: maior competência reflexiva, interação

crítica com as mídias e

multimídias, conjunção da escola com outros universos culturais,

conhecimento e uso da

informática, formação continuada (aprender a aprender), capacidade

de diálogo e

comunicação com os outros, reconhecimento das diferenças,

solidariedade, qualidade de

vida, preservação ambiental. Trata-se de conceber a escola de hoje

como espaço de

* Professor aposentado da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Atualmente é professor titular da Universidade

Católica de Goiás (UCG), onde é vice- coordenador do mestrado em

Educação. Entrevista realizada em Goiânia, por

Então, passados alguns anos destas falas e reflexões que fizeste,

eu

pergunto se continuas a pensar da mesma forma. Se achas que a

escola ainda é

tão importante nas sociedades atuais. Se pensas que ela ainda

precisa dar conta

destas coisas todas. Como é que estás vendo isto hoje?

Libâneo: Ouvindo você ler esse trecho do meu livro eu pensava

aqui comigo: é um

46

sonho mesmo, é um sonho antigo; o que está escrito aí é o que está

na minha

cabeça. Mas deixe-me começar respondendo sua pergunta. Minha

visão hoje é a

de que a função social e política da escola continua sendo a de

educação geral,

mediante a qual crianças e jovens podem dominar os

conhecimentos científicos,

desenvolver suas capacidades e habilidades intelectuais, aprender a

pensar,

aprender e internalizar valores e atitudes, tudo em função da vida

profissional, da

cidadania, da vida cultural, tudo voltado para ajudar na melhoria das

condições de

vida e de trabalho e para a construção da sociedade democrática.

Tenho em mente

a clássica fórmula da educação onilateral, em que a escola apanhe

as dimensões

física, afetiva, intelectual, moral, estética e, se quiser algo mais, a

dimensão

ambiental. Quero dizer, também, que não há como realizar isso sem

a intervenção

pedagógica nas salas de aula pelo trabalho de professores, daí a

necessidade

crucial de bons professores e de definir as melhores estratégias de

preparação

profissional.

Falar do papel da escola hoje implica reconhecer as transformações

gerais da

sociedade ligadas aos avanços tecnológicos e científicos, à

reestruturação produtiva,

47

às mudanças no processo de trabalho, à intensificação dos meios

de comunicação, à

requalificação profissional. Precisamos questionar os interesses que

estão por detrás

dos novos sistemas de produção, a quem interessa a sociedade do

conhecimento

etc., mas a escola defronta-se, de fato, com novas realidades, novas

exigências. A

escola tem concorrentes poderosos, inclusive que pretendem

substituir suas funções,

como as mídias, os computadores e até propostas que querem fazer

dela

meramente um lugar de convivência social. Acho vital compreender

que efetivamente

estamos frente a novos desafios. Em face desse contexto, a escola

precisa manter

aquelas funções nucleares de que falei, mas, simultaneamente,

precisa rever os

processos, os métodos, as formas de educar, ensinar e aprender.

Para que isso

aconteça, é preciso que os professores compreendam que a escola

não é mais a

única agência de transmissão do saber. Na verdade, ela nunca

deteve sozinha esse

papel, mas hoje é fundamental que os educadores percebam que a

educação ocorre

em muitos lugares: nos meios de comunicação, nas empresas, na

rua, nos clubes,

nos sindicatos, nos movimentos sociais. As próprias cidades vão se

transformando

em agências educativas. Venho utilizando bastante a expressão

“escola como

48

espaço de síntese” para explicitar minhas posições de hoje sobre a

escola. Síntese

entre a cultura experenciada que ocorre na comunidade, na cidade,

na rua, nas

praças, nos pontos de encontro, nos meios de comunicação, na

família, no trabalho,

e aquela cultura formal que a escola representa. É claro que a

síntese disso é uma

cultura crítica. A democratização de saberes, saberes em sentido

amplo, requer da

escola o provimento das condições cognitivas e afetivas para que o

aluno aprenda a

atribuir significados às mensagens e informações vindas daquela

cultura

experienciada de que falei. Na escola, os alunos aprendem a buscar

a informação −

na cidade, na TV, no rádio, no jornal, no livro didático, no vídeo, na

internet −;

adquirem os elementos cognitivos para analisar criticamente essa

informação e darlhe

um significado pessoal. Dizendo isso de outro jeito, a cultura

experenciada do

aluno hoje é como um mosaico, é uma informação fragmentada,

lacunar,

desordenada. O que faz a escola? Ajuda o aluno a reordenar e

reestruturar essa

informação. A informação domina, o conhecimento liberta, desde

que saibamos dotar

os alunos dos meios do pensar, dos meios de buscar informação, de

modo que o

aluno desenvolva suas capacidades de receber e integrar

informação mas também

49

de produzi-Ia, de criar conhecimento, na condição d e sujeito do

próprio

conhecimento.

Marisa: Então pensas que a escola ainda precisa dar conta destas

coisas todas de

que tu falas?

Libâneo: Sem dúvida, acho que todos temos uma responsabilidade

social e política

de trabalhar em várias frentes para que a escola possa realizar

essas tarefas. Não é

uma coisa impossível, muitas escolas e muitos professores fazem

isso no Brasil com

muita competência e com muito amor. Não peço muito, mas pelo

menos cinco coisas.

1) Garantir o desenvolvimento de capacidades cognitivas, que é o

aprender a

pensar, por meio dos conhecimentos relacionados com a cultura, a

ciência, a arte.

Chamo isso de uma pedagogia do pensar, que seria o ponto de

partida para

repensar o currículo escolar. 2) Promover bases de cultura geral

(saber aprender,

saber fazer, saber viver junto, saber agir moralmente), visando

preparação para o

mundo do trabalho, incluindo o mundo tecnológico e informacional.

3)Ajudar os

alunos a se constituírem sujeitos na sua individualidade e na sua

identidade cultural;

falo no fortalecimento da subjetividade. Aqui entra a sensibilidade, a

capacidade

estética. Incluo aqui um forte apelo ao reconhecimento das

diferenças, mas penso

50

também em formas educativas de não esconder o conflito. 4)

Formar para a

cidadania, de maneira muito prática, começando nas práticas

escolares, nas formas

de organização dos alunos na escola e nas próprias formas de

organização e gestão

da escola. 5) Formar para valores éticos, cuidar da formação de

qualidades morais,

convicções humanistas e humanitárias. A escola precisa ajudar os

alunos a pensar

metodicamente sobre valores, os alunos podem aprender e

vivenciar conceitos

morais e modos de agir. Veja, então, que não são metas inviáveis.

Durante anos, certos críticos do meu trabalho me chamaram de

"conteudista”;

ainda hoje há gente dizendo que me preocupo apenas com a

transmissão dos

conteúdos. Acho que esse pessoal nunca leu o que escrevi, nem

meus textos iniciais

nem os atuais. Eu nunca identifiquei conteúdo com passar matéria,

sempre falei em

conteúdos em sentido amplo. Para mim, os conteúdos têm, pelo

menos, três

elementos. Primeiro, os conhecimentos sistematizados,

selecionados das bases das

ciências e dos modos de ação acumulados pela experiência social

da humanidade e

organizados para serem ensinados na escola. Segundo, as

habilidades e os hábitos,

vinculados aos conhecimentos, incluindo métodos e procedimentos

de aprendizagem

51

e de estudo. Terceiro, os valores, as atitudes e as convicções

envolvendo modos de

agir, de sentir e de enfrentar o mundo. Tais elementos dos

conteúdos são

interdependentes, um atuando sobre o outro. Eu trabalho com esse

conceito de

Didática, e boa parte das minhas fontes foram autores russos de

orientação

vygotskiana. Então, posso dizer que estou ampliando as idéias que

desenvolvi no

meu primeiro livro. Ou seja, continuo vendo a centralidade da escola

na cultura, uma

cultura critica, um conhecimento crítico como construção social,

portanto subordinado

a interesses de grupos e classes sociais, vinculado a relações de

poder. Mas hoje

não jogo todo o peso da escolarização no conhecimento científico,

acho que eu fazia

isso no começo da formação das minhas idéias. Acho importante

que os alunos

conheçam cientificamente os objetos de conhecimento, mas

também é importante

valorizar o conhecimento informal, a cultura popular, o lado da

cultura do grupo social

em que o aluno vive. Acho também importante a dimensão ética,

valorizar práticas de

pensar sobre valores, a solidariedade, a veracidade, o

reconhecimento das

diferenças. Valorizar a experiência estética e artística, a capacidade

de expressar-se,

de sentir o mundo do outro, sua cultura. Acho que hoje estou bem

mais convencido

52

do que anos atrás de que a razão científica e outros tipos de

saberes se

complementam. Isso não significa renunciar à minha crença na

escola como lugar da

razão crítica, lugar da argumentação, lugar em que o conhecimento

se põe a serviço

da sociedade, dos movimentos sociais. Enfim, num país com tantos

problemas

sociais e econômicos como o nosso, com uma população ainda

necessitada de

acesso aos bens culturais, que ainda precisa contar com

professores muitas vezes

semi-analfabetos, não há como negar valor ao desenvolvimento das

capacidades

cognoscitivas e operativas dos alunos, através do domínio ativo dos

conteúdos

escolares e de outras experiências morais, estéticas, afetivas.

Marisa: Como essas idéias foram se formando na tua trajetória

intelectual?

Libâneo: Essa minha crença forte na escola tem muito a ver com

minha história de

vida. Nasci numa família de lavradores no interior do Estado de São

Paulo, fiz os dois

Meus pais eram quase analfabetos e viviam na roça. Meu pai era

um desses

trabalhadores que lutam, lutam, lutam e nunca conseguem nada, e

cresci num quadro

de multa privação. Mas havia um fator que com o tempo passei a

valorizar: foi a

religião, uma cultura lastreada na religião. A cultura em que cresci

até os 9 anos era

53

aquela cultura católica tradicional de rezas, terço, procissão,

congregação mariana.

Era também um mundo tipicamente pré-capitalista, uma

comunidade de pequenos

sitiantes que tinha uma relação de solidariedade muito grande. O

livro hoje clássico do

Antônio Cândido chamado Os parceiros do Rio Bonito2 conta bem o

que era a cultura

no tipo de localidade em que nasci − um meio rural com muita

religiosidade, vida

coletiva, economia de subsistência, relações de compadrio,

solidariedade,

hospitalidade, tolerância, mas também uma cultura muito próxima

de padrões

patriarcais ajustados às características dos segmentos

empobrecidos da pirâmide

social, como a severidade na educação dos filhos. Essas coisas

marcaram muito

minha infância, e certamente minha idéia sobre escola. Depois, com

a influência do

vigário da cidade, fui mandado para o seminário, com mais uns dez

meninos da minha

região. Você, conhece essa história de seminário, não é?

Marisa: Conheço um pouco. Que cidade era essa?

Paulo, era o seminário menor onde a diocese formava seus

seminaristas.

Marisa: Falavas da relação entre teus primeiros estudos e tuas

idéias sobre escola...

Libâneo: O quero dizer é que há uma íntima relação entre o que a

escola fez comigo

e a formação do meu pensamento sobre a escola. No seminário

havia cerca de 150

54

rapazes, a grande maioria pobre e proveniente de cidades do

interior. Lá havia aquela

rotina de internato: levantar muito cedo, arrumar a cama, fazer

meditação e assistir à

missa, tomar café, aulas durante toda a manhã, almoço, estudo

individual durante a

tarde, jantar, um período de conversas, jogos, música, e, finalmente,

dormir. Nos finais

de semana tinha futebol. Em relação aos estudos, havia ali uma

autêntica formação

geral dentro dos melhores padrões humanistas, um currículo

enriquecido, uma

formação moral. Eu não quero agora fazer juízo de valor sobre essa

formação moral,

mas acho importante assinalar o empenho da educação jesuítica em

implantar aquela

educação unilateral, tão cara ao pensamento de esquerda. Aprendi

muito bem

português, oito anos de latim, três anos de grego, ouvia música

clássica, tinha muito

esporte, jogos, teatro, exercícios de oratória, coral. Imagine eu, um

menino pobre, filho

de lavradores, que nunca tinha tido acesso a nada disso, de

repente, com 11 ou 12

anos, eu tinha lá disponível tudo isso. Mais tarde, quando me

aprofundei no estudo

das teorias da Educação, pude compreender melhor essa

experiência. De fato, no final

do século XIX a pedagogia católica incorporou a pedagogia de

Herbart3 que tem uma

teoria interessantíssima, que ele chama 'teoria dos múltiplos

interesses'. Ele dizia o

55

seguinte: na educação da juventude é preciso trazer à atenção do

aluno

representações que despertem os interesses. Como não sabemos

que escolhas os

alunos farão no futuro, eles precisam do preparo mais amplo e mais

geral possível,

fornecendo-lhes uma multiplicidade de interesses. Então o educador

precisa abrir um

leque de experiências e interesses, porque, quando os alunos se

tornarem adultos,

estarão aptos a fazer as melhores escolhas para suas vidas. A

pedagogia católica

fazia exatamente isso no seminário, e creio que essa idéia está

presente no conceito

de formação geral, desenvolvido mais tarde pelos pedagogos

alemães e que está em

algumas obras de Adorno4. Os alemães dão um peso muito forte ao

termo “formação”,

que é a idéia de formação do espírito cultivado, a busca de

emancipação, autonomia,

autodesenvolvimento, formação interior, ou seja, formação geral.

3 Johann Friedrich Herbart (1776-1841), filósofo e pedagogo

alemão.

4 Theodor Adorno (1903-1969). Eminente sociólogo, filósofo e

musicólogo alemão, destacou-se por ser

um crítico da cultura do século XX. Integrou a famosa Escola de

Frankfurt.

Adorno fala da formação cultural como possibilidade de libertação

individual dos

mecanismos coercitivos e de imposição da indústria cultural. Acho

que essa formação

56

cultural do seminário foi o suporte do meu desenvolvimento

intelectual e afetivo.

Então, Marisa, meu raciocínio é muito simples: se houve um tipo de

escola que

conseguiu introduzir jovens pobres da zona rural no mundo da

cultura, conseguindo o

que os alemães chamam de formação cultural - a Bildung - e

tornando esses jovens

aptos a compreender a realidade e a intervir nela, por que não

tentarmos construir

uma escola pública dentro de parâmetros semelhantes? É claro que

não estou

pensando em pôr a meninada de hoje num tipo de seminário e muito

menos num

sistema de formação religiosa. Estou fazendo apenas uma

comparação para propor

uma estratégia de formação.

Depois do seminário menor, os rapazes eram enviados ao seminário

maior.

Passei um ano na cidade de Aparecida; quando saí, continuei a

estudar Filosofia na

oportunidade profissional muito rica, que foi meu trabalho na equipe

que formava o

Grupo Experimental da Lapa. Você já ouviu falar dessa história de

movimentos de

renovação pedagógica em São Paulo?

Marisa: Não, não ouvi. Podes contar um pouco sobre esses

movimentos? Como foi

tua participação?

experiências de renovação pedagógica na escola pública: o Ginásio

Vocacional, o

57

Grupo Escolar-Ginásio Estadual Experimental, o Colégio de

Aplicação da Feusp

[Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo] e uma

escola de Campinas,

também no Estado de São Paulo. Cada uma dessas escolas era

dirigida por

professoras muito competentes pedagogicamente e com muita

capacidade de

liderança e articulação política, respectivamente, Maria Nilde

Mascelani, Therezinha

localizado na cidade de São Paulo e outros dois em cidades

paulistas do interior. Durante muitos anos foi

professora da PUC-SP. Therezinha Fram organizou e dirigiu, do

início dos anos 1960 até 1973, cinco

unidades escolares, da educação infantil à oitava série, cujo objetivo

principal era realizar o ensino

fundamental de oito anos, articulando e integrando o ensino primário

e o ensino ginasial. Continua

atuando na educação e em movimentos de direitos humanos. Maria

José Garcia Werebe foi uma ativa

pesquisadora das inovações pedagógicas; dirigiu o Colégio de

Aplicação da Feusp a partir de 1962.

O quarto nome não lembro. Em relação aos Ginásios Vocacionais e

ao Colégio de

Aplicação da Feusp, há um livro organizado pelo Walter Garcia6 que

apresenta

resultados de pesquisas sobre o impacto dessas experiências no

ensino público. Em

proposta do Grupo Experimental da Lapa, no qual estive presente e

fiz o relato do meu

trabalho. O que posso dizer sobre essas experiências,

resumidamente, é que elas

58

constituíam um movimento de experimentação educacional em São

Paulo, no início da

inspiradas diretamente em movimento semelhante ocorrido na

França, denominado

“classes nouvelles”. Esse movimento, com traços escolanovistas,

visava ensaiar

inovações nos currículos, horários, metodologia de ensino, avaliação

etc. No Brasil, a

primeira norma legal sobre classes experimentais foi baixada pelo

Ministério da

Educação em 1958. Mais tarde, a LDB 4.024/61 fixou normas para a

organização

dessas classes, cuja aprovação dependia de autorização dos

Conselhos Estaduais de

Educação, no caso dos antigos cursos primário e médio, e do

Conselho Federal de

Educação, no caso dos cursos superiores. Pelo que sei, essas

experiências foram

extintas, ao menos na condição de classes experimentais no início

da década de

Experimental como diretor de uma das quatro unidades escolares.

Foi importante

profissionalmente, mas também intelectualmente, porque essa

experiência influenciou

bastante a formação das minhas idéias sobre educação. Após ter

vivido quase dez

anos amparado na pedagogia jesuítica − talvez a modalidade mais

forte de pedagogia

tradicional − de repente fui colocado como ator dentro de uma

escola genuinamente

escolanovista. No Experimental, não fiz apenas um trabalho

profissional, eu também

59

estudei muito com a equipe as concepções e métodos da Escola

Nova, com uma

Nossa equipe de trabalho fazia sistematicamente sessões de

estudo, nós já

realizávamos essa famosa prática reflexiva de professores na escola

de que tanto se

fala hoje.

Filosofia na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São

Bento, que foi o

mudei-me para Goiânia.

Marisa: Na tua formação em Filosofia tu fizeste, naturalmente, a

licenciatura?

Libâneo: Sim, fiz a licenciatura em Filosofia, eu não fiz Pedagogia.

Mais tarde, a partir

Filosofia da Educação, tudo na PUC de São Paulo.

Marisa: De fato, muita gente, nessa época, fazia exatamente isto:

licenciava-se em

Filosofia e acabava se dedicando à docência em várias áreas afins

(Psicologia,

Sociologia, Didática...) ou a atividades pedagógicas nas escolas,

entre as quais a

coordenação pedagógica, que passa a denominar-se, com a

introdução dos

especialistas na Educação, de Supervisão Escolar ou Supervisão

Educacional.

Libâneo: Foi isso mesmo, íamos para o magistério e para tantas

outras coisas, não é?

Como te contei, fiz somente o primeiro ano de Filosofia no

seminário; quando saí, me

matriculei no segundo ano de Filosofia da PUC, que era urna

continuação da mesma

60

orientação acadêmica do seminário, isto é, a filosofia tomista. O

Severino foi meu

professor, ele estava chegando de Louvain, onde estudou Filosofia

e Teologia.

Dermeval Saviani estudou comigo em Aparecida, saiu no mesmo

ano que eu, e fomos

colegas e amigos durante todo o curso de Filosofia na PUC-SP.

7John Dewey (1859 - 1952). Pedagogo e filósofo norte-americano.

Defensor da “escola ativa', suas idéias

forneceram as bases para o movimento da Escola Nova.

8Carl Rogers (1902-1987). Nascido nos Estados Unidos, formado

em História e Psicologia, destacou-se

no cenário pedagógico por sua oposição ao comportamentalismo.

Suas idéias inscrevem-se na corrente

humanista, que defende uma educação não-diretiva, centrada na

pessoa.

9Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997). Professor e ativista social

brasileiro, mundialmente conhecido,

destacou-se por defender uma pedagogia crítico-libertadora

desenvolvida a partir do diálogo e da cultura

do educando. Publicou inúmeras obras em português, hoje

traduzidas para várias línguas.

baseado na teoria da psicogênese de Jean Piaget. É também um

dos primeiros sistematizadores do

método Paulo Freire para alfabetização.

Inclusive, muitos outros colegas que fizeram carreira intelectual no

campo da

Educação tiveram um percurso de formação parecido com o nosso.

Você conhece

bem todos eles, por exemplo, além do Dermeval, o Gaudêncio, o

Cury, o Pedro

61

Sul; a maioria deles tem origem pobre, de comunidades do interior,

e passou pela

formação de seminário católico.

Marisa: Eu diria que as idéias que apresentas nos teus textos, dos

quais reli um

trecho antes, expressam as influências desta formação que tiveste e

que

adjetivaste como sendo tipicamente humanista. Formação que

depois foi

incorporando todas estas outras preocupações, discussões e

perspectivas que

começaram a surgir no campo pedagógico no Brasil, nessas

movimentações de

renovação pedagógica, como a Escola Nova, e depois também a

aproximação

Libâneo: É isso mesmo, vivenciei intensamente a experiência da

pedagogia

tradicional e depois a da pedagogia nova, junto com toda a

movimentação política

fui militante ativo num partido chamado Ação Popular, onde formei

aquilo que se

tem chamado “consciência política”. Foi ótimo você lembrar

Snyders, que foi urn

dos meus grandes mestres, assumindo a proposta dele chamada de

"pedagogia

progressista”, que integrava os elementos das duas pedagogias

para superá-las

numa perspectiva marxista. Mas eu queria relatar uma coisa

importante que

explica minha chegada a Snyders. Após os seis anos como diretor

de escola em

62

São Paulo, fui trabalhar em Goiânia para dirigir um centro de

formação de

professores, e eu continuava tentando fazer na minha cabeça uma

síntese entre

pedagogia nova e tradicional. Mas eu fazia isso de um modo ainda

muito intuitivo,

sempre tive um lado prático, sempre achei que minha vocação

intelectual deveria

ser a de ajudar o professorado a enfrentar questões muito reais da

sala de aula.

Mas ocorreu uma coisa providencial.

campo da Educação no Brasil: Antônio Joaquim Severino, Dermeval

Saviani, Gaudêncio Frigotto,

Carlos Roberto Jamil Cury, Pedro Demo, Paollo Nosella, Cipriano

Carlos Luckesi. Todos atuaram ou

ainda atuam em universidades brasileiras, além de terem ocupado,

ou ainda ocupar, posições de

destaque na pesquisa, na política e na administração da Educação

no País.

Eu havia ficado cinco anos afastado da universidade por ter sido

cassado pelo

regime militar por conta da minha militância na Ação Popular. Pouco

antes da

precisamente, fazia um cotejamento entre pedagogia tradicional e

pedagogia

nova, e se referia a Snyders. Foi um fato marcante porque vi escrito

o que já

pensava intuitivamente. A partir de então, comecei a estudar não

apenas os

principais textos e livros de Snyders16, mas também os de Antonio

Gramsci,17

63

trajetória de estudioso de uma proposta pedagógica marxista para a

educação,

inicialmente seguindo de perto o trabalho de Saviani. Disso resultou

minha

dissertação de mestrado, minha tese de doutorado e outras

publicações.

Marisa: No trecho que destaquei do teu livro tu te referes à

sociedade

comunicacional, às mídias, aos temas da cultura, das diferenças.

Como estás vendo

estas questões na tua concepção de escola?

Libâneo: Quando escrevi o livro Adeus professor, adeus

professora?, eu já estava

muito sensibilizado para a idéia de uma abertura da escola para as

realidades sociais,

culturais, comunicacionais e, também, para questões que foram

surgindo nas

publicações da área de currículo, cultura, linguagem,

interculturalismo, pósmodernidade.

Quero te dizer que cada vez mais meu interesse está voltado para

ajudar os professores no seu trabalho.

13 Pierre Bourdieu (1930-2002) e Jean-Claude Passeron,

sociólogos franceses contemporâneos que se

destacaram, especialmente, por sua teoria da reprodução, que deu

sustentação a boa parte das

discussões no campo da Nova Sociologia da Educação e das

teorias crítico-reprodutivistas da Educação.

14 LouisAIthusser (1918-1990).Controvertido filósofo marxista

francês do séculoXX, criador da teoria que

situa a educação como um dos aparelhos ideológicos do Estado.

17 Antonio Gramsci (1891-1937). Filósofo italiano que faz uma

leitura singular do marxismo, em uma

64

perspectiva mais humana e mais diversificada, preocupando-se com

problemas da cultura e da

educação.

18 Bogdan Suchodolski (1907-1992). Socialista, provavelmente o

mais importante pedagogo polonês do

século XX, definia a educação como busca da superação

permanente da alienação. Compartilhava as

idéias de Paulo Freire.

Pedagogia. É conhecido, no Brasil, seu livro História da educação

da Antiguidade aos nossos dias,

seu trabalho, na França e no Brasil, em que investiga a relação

entre os jovens e o saber, em diversos

projetos com alunos de bairros populares.

Tenho minhas convicções e minhas referências teóricas e práticas,

mas, a partir daí,

tudo o que vier é lucro. Uma das contribuições mais importantes de

que tenho me

apropriado são os estudos da sociologia crítica do currículo. Nos

anais do VIII

“Algumas abordagens contemporâneas de temas da educação e

repercussão na

didática - a contribuição da pesquisa no campo do currículo”. Nesse

texto trato de

temas como a crise da razão e da ciência, cultura, sociedade do

conhecimento,

linguagem, diferenças. Tenho estudado bastante textos sobre pós-

modernidade,

pedagogia holística, teoria da corporeidade, teoria da ação

comunicativa, teoria da

complexidade, neopragmatismo, neocognitivismo. Acho que todas

as questões

65

postas por esses estudos recentes se projetam muito fortemente na

escola, mas um

tema que, de fato, me mobilizou foi o efeito das mídias na escola e

no trabalho dos

professores. Essas mudanças nos meios de comunicação

produziram vários

impactos na educação. Primeiro, é o domínio que a informação

exerce sobre a

cabeça das pessoas. As mídias nos subjugam a todos, e com maior

força a

juventude, mas, muito especialmente, a população pobre, a

população

desescolarizada. Esse impacto se projeta, obviamente, na política,

nas eleições, nas

relações sociais, nas falas de alunos e professores. A segunda

coisa é que o mundo

da informação e comunicação interfere em nossas estruturas

mentais, nos

mecanismos internos do aprender. A meninada hoje, e mesmo os

com idade entre

vive com a simultaneidade da informação, ou seja, há, de fato,

mudanças nos

próprios processos internos do aprender, que afetam os

conhecimentos que temos

até agora sobre a aprendizagem. Acho que esse fenômeno ainda

não foi

suficientemente investigado pelos psicólogos e muito menos pelos

pedagogos;

enfim, não sabemos exatamente como a criança e o jovem de hoje

aprendem. O

professor tradicional já estava defasado em relação a novidades

pedagógicas

66

correntes, como o construtivismo; imagine agora que a criança vê a

professora lá na

sala de aula como se ela estivesse enquadrada numa telinha de TV.

E veja que isso

não afeta apenas crianças de classe média e alta, afeta a criança

pobre também,

isso se justifica uma preocupação nossa em relação à preparação

de professores.

Outro tema com que me toquei e que está forte nas minhas leituras

é o tema da

cultura. Não na linha que vocês trabalham lá no Sul, dos Estudos

Culturais, que

conheço pouco. Tenho trabalhado a cultura no seu papel na

formação dos

processos mentais e na constituição das subjetividades. Tenho

trabalhado com os

e, mais especialmente, a teoria da atividade da Escola de Vygotsky,

que associa as

categorias de atividade, sociedade, cultura, aprendizagem. Estou

num momento da

minha trajetória intelectual em que não me preocupo mais com

patrulhamentos dos

que dizem, por exemplo, que o Libâneo é neoliberal ou que virou

escolanovista.

Universidade de Valência, Espanha. Tem se destacado por suas

reflexões no campo do Currículo e da

Didática.

seus trabalhos em que discute escola, educação infantil, currículo,

entre outros temas pedagógicos.

Estou ligado nisto: há unia população na escola pública que é uma

população pobre,

67

muito necessitada, é um povo sofrido, que precisa de escola para

ganhar a vida,

para lutar por direitos, para usufruir dos bens culturais e estéticos,

para fazer frente

à dominação midiática. Essas coisas que eu dizia há vinte anos

continuam valendo.

Quero aumentar minha sensibilidade em relação à realidade

empírica, ter mais

clareza sobre as necessidades de formação. Se a pesquisa que eu

leio combina

com minha intuição, com minha própria experiência, se isso vai

ajudar o

professorado a compreender melhor as coisas e a fazer melhor o

que já faz, está ok.

Tenho achado que um dos grandes males do nosso professorado é

a carência da

cultura geral de base; boa parte dos professores não conseguiu se

apropriar

adequadamente de instrumentos de leitura. E não me encanto muito

com as

conversas de que o professor tem a sua cultura, que cada um tem o

seu modo

próprio de responder aos problemas, porque a semicultura que o

professorado está

internalizando impede a aquisição de uma cultura, inclusive, para

compreender e

reinterpretar a sua própria. Nossos problemas vêm de nossa

formação social, que

nos legou urna pobreza cultural, nos legou na verdade uma

semicultura. A ausência

ou sonegação da cultura é preenchida com a semicultura. No fundo,

nosso desafio

68

talvez seja buscar meios formativos capazes de fazer compensar a

precária

educação geral de base do professorado, desde a formação cultural,

passando pela

científica e pela estética.

Marisa: Deixa eu te interromper um pouquinho. Eu fiquei ouvindo,

pensando e

quero te dizer que também me impressiono com esta avassaladora

invasão das

mídias na nossa vida, seja através da televisão, seja através da

informática, da

telemática, enfim, de todo este aparato tecnológico comunicacional

que nos

circunda. O pensador contemporâneo francês Pierre Lévy23 diz que

estamos

passando por uma verdadeira mutação cognitiva, que estamos

mudando, inclusive,

nossas próprias maneiras de sermos humanos. No livro Tecnologias

da inteligência

ele fala disso, mostrando que essa nossa interação com as mídias

está produzindo

transformações radicais no nosso jeito de sermos humanos.

Libâneo: Isso mesmo, Marisa, e estou impressionado com isso.

Marisa: Se pensamos dentro desse quadro do mundo

contemporâneo, muitas

vezes me questiono como é que a escola, com toda a sua

indigência, hoje, seja em

termos materiais - porque sabemos que a escola não acompanha os

avanços

tecnológicos, ela não acompanha, não incorpora e nem consegue

se dar conta de

69

tudo que aí está - seja em termos da precariedade da formação,

atendimento e

remuneração dos recursos humanos que nela atuam, como ela

poderia acompanhar

essas mudanças. Muitas vezes parece que ela não é deste mundo,

pois fica quase

à margem do que acontece na sociedade. Bem, não estou dizendo

que isso é regra

geral, mas sabemos, por nossas experiências, que há escolas que

são totalmente

marginais a todas as benesses sociais. Tanto em grande parte das

escolas públicas

do interior distante quanto naquelas da periferia das grandes

cidades, há uma

indigência muito grande, material e também de recursos humanos.

O poder público

estatal não oferece às escolas as condições mínimas para que elas

possam dar

conta de tudo que a sociedade espera delas. Então, se

reconhecemos isso, eu

acho, às vezes, muito difícil entender como é que a escola consegue

se manter tão

forte nas representações que se fazem dela. Na pesquisa para

minha tese de

doutorado, que focalizava o trabalho docente, uns dez anos atrás,

trabalhei numa

escola de periferia por mais de dois anos. Foi lá que percebi o

quanto a escola ainda

é forte e sólida no imaginário da população. A escola era mesmo

como uni templo

do saber. Por mais indigente que ela fosse, havia um contingente

enorme de

70

pessoas, de famílias, que não estavam lá dentro, mas que

sonhavam em passar por

ela. E isso que estou te dizendo não é uma metáfora. Cansei de

observar pessoas

que ficavam do lado de fora da escola, olhando para ela, para

dentro da alta cerca

de tela que a protegia, como se ela fosse um destino, uma

esperança. E nas multas

conversas que tive nessa época com estudantes dessa escola, eles

contavam que

iam à escola porque seus pais diziam que ela era a única chance

que tinham de

melhorar de vida, de ter uma profissão, de encontrar um emprego.

Também

conversei com moradores da vila que a circundava, e eles

confirmavam isso: ”Quero

que meu filho entre na escola, que estude, porque, se ele não

passar pela escola,

não tem chance de encontrar um caminho na vida”. Então, fico

pensando nisso tudo,

no que se investiu de expectativas na escola, lá pelas décadas de

1960,1970 e

sistematizado, acumulado, pela sociedade. Saberes que chegaram

até o mundo

contemporâneo na forma de disciplinas, e que depois foram

escolarizados,

constituindo- se nas disciplinas escolares. Além de ensinar as

disciplinas, esperavase

da escola, e se espera ainda hoje, que ela desenvolva competências

profissionais para que as pessoas possam encontrar lugar no

mercado de trabalho.

71

Precisariam adquirir, assim, além da cultura geral, aquelas

habilidades básicas e

capacidades técnicas, tecnológicas, enfim, para poder se encaixar

nas atividades

novas que vão surgindo. Seriam indispensáveis, também, saberes

éticos que

ajudem a forjar a cidadania, fazendo com que cada um dos

estudantes se torne, no

futuro, um trabalhador cidadão, crítico, consciente, que contribua

para o

aprimoramento da sua comunidade, da sociedade, e para a

preservação do

ambiente em que ele vive. Veja quanta coisa se espera da escola, e

quão pouco se

dá a ela para que possa concretizar tudo isso. Como é que esse

professor ou essa

professora com formação mínima precária, que conhece tão pouco,

poderia ajudar a

realizar tudo isso que se espera da escola? Como é que vês tudo

isso? Em que

estágio avalias que se encontram estas ambigüidades todas? Será

que é tudo um

sonho mesmo ?

Libâneo: Eu acho o seguinte: não é possível desenvolver cidadania,

ter sujeito

participativo na sociedade, um trabalhador que possa estar inserido

no mundo da

produção, não tendo escola. Pensando especialmente na

população, acho que isso

seria altamente antidemocrático e altamente lesivo aos seus

interesses. Eu gostei

72

do programa para a escola de que você acabou de falar. Também

eu quero pensar

numa escola que se abra para o mundo, que se abra para as

transformações;

prefiro uma escola que vá de dentro para fora e de fora para dentro.

E é por isso

que desenvolvo uma idéia que não é minha, a expressão original

não é minha, mas

acabei incorporando-a ao meu discurso, que é essa história de

escola corno espaço

de síntese. Acho realmente que a escola hoje é um espaço de

síntese entre a

cultura experienciada, vivida pelos alunos, pelas crianças, na

comunidade, no

mundo das fantasias, na rua, na família etc., e a cultura formal que

ainda acho que

tem de ser encontrada na escola. Acho que não há condição de

preparar um

cidadão de hoje para este mundo que sabemos qual é, sem isso

que estou

chamando de formação cultural de base. E que esta formação

cultural de base tem

que ter uma estrutura adequada. Acho que ternos de mexer por

dentro, e daí é que

estou entrando com a terceira coisa desta seqüência de influências

que estão se

passando na minha cabeça, que é o papel da escola no

desenvolvimento de

processos intencionais e sistemáticos de ajudar a pensar Porque

aprender a pensar

depende de um trabalho com a cultura, com a ciência, com a arte

para poderem

73

compreender e analisar a sociedade em que vivem e depende de

processos

sistemáticos do pensar. Estou ligado atualmente a esse tipo de

coisa. Não tem

como a escola dar conta do volume de conhecimentos que se tem

hoje. Aliás, há

muito tempo que se afirma que a escola não pode ser mais o lugar

de considerar

estudantes como depósitos de conteúdos; isso há muito tempo não

faz sentido.

Marisa: Só corno instância informativa ela não se sustenta, é isso ?

Hoje sabemos

que a informação circula de forma muito mais competente em outros

espaços.

Libâneo: Estou de acordo com isso. A partir daquela idéia que eu

falava da escola

como síntese entre a cultura experenciada pelos alunos nos vários

espaços sociais

e a cultura escolar, penso que a escola tem um papel vital que

chamo de ensinar a

pensar, de desenvolver uma pedagogia do pensar. Entendo isso

como as ações do

professor na sala de aula que ajudam os alunos a desenvolver

competências

cognitivas, capacidades de pensar por conta própria: investigar,

argumentar, lidar

com conceitos, comunicar- se, em resumo, desenvolver a

capacidade de raciocínio

e julgamento. A meu ver, podemos encontrar suportes teóricos para

isso na teoria

da aprendizagem de Vygotsky e seus seguidores. Acho que ainda

hoje é a teoria

74

que mais satisfaz quando queremos relacionar cultura, linguagem,

pensamento,

aprendizagem. Minha pesquisa atual é justamente sobre a teoria

histórico-cultural

aproveitando os espanhóis Gimeno-Sacristán e Pérez-Gomez.

Estou ligado,

também, a uma linha de estudos que tem me despertado a atenção

- a chamada

“filosofia para crianças”, do Matthew Lipman27 - que tem vários

livros traduzidos,

mas dois são muito interessantes. Natasha, publicado pela Artes

Médicas, é um livro

em forma de reportagem no qual esse autor trata da aproximação

que ele vê entre

suas posições e as de Vygotsky e de seu seguidor, Davidov. O outro

livro é O

pensar na educação, publicado pela Vozes. Então, resumindo, o

que estou

pensando hoje é isto: a escola tem de ser um lugar de aprender e

reconstruir a

cultura, de aprender a pensar, de aprender a compartilhar. E o

modus faciendi de

aprender cultura é através do desenvolvimento de processos do

pensar, processos

que devem ser sistemáticos, que envolvam desenvolvimento de

capacidade de

investigação, capacidade de raciocínio, capacidade de formação de

conceitos e de

lidar praticamente com conceitos, e a capacidade que estou

chamando de tradução,

que é alguém saber dizer com as próprias palavras os pensamentos

dos outros.

75

24Lev S. Vygotsky (1896-1934). Professor e pesquisador russo que

se destacou no campo das Artes,

Literatura e Psicologia. Ficou conhecido por seus estudos sobre

desenvolvimento psicológico do ser

humano, com ênfase no pensamento e na linguagem.

25Aleksei Leontiev (1904-1979). Foi um dos mais importantes

estudiosos soviéticos, seguidor e

colaborador das idéias de Vygotsky.

26Vasili V. Davidov (1930-1998). Russo, doutor em Psicologia,

professor universitário, aluno, depois

colaborador de Leontiev, centrou seus estudos no desenvolvimento

do pensamento teórico com base

na lógica dialética, afirmando que a escola deve ensinar os alunos a

pensar teoricamente.

para Crianças. Seu objetivo principal é desenvolver conteúdos e

metodologias para introduzir as

crianças no pensar filosófico.

Se esta é a chave do papel da escola hoje, então a formação

profissional dos

professores passa a ser a questão crucial. Ensinar a pensar é,

basicamente, ensinar

os alunos a internalizar os modos de pensar, modos de raciocinar,

modos de

investigar, de cada disciplina do currículo. Trata-se de saber pensar

com a

metodologia de investigação da ciência ensinada. Nesse caso, o

bom professor

seria aquele que desse conta de ajudar os alunos a recorrer aos

processos

investigativos da ciência ensinada. O bom aluno de Geografia seria

aquele que

76

aprendesse a pensar geograficamente. Estou desenvolvendo a idéia

de que lidar

pedagogicamente com o objeto de conhecimento é lidar

epistemologicamente com

este objeto, considerando as peculiaridades do sujeito que aprende

e os contextos

sociais e culturais em que aprende. Acho que as propostas de

formação de

professores, inclusive esse movimento do professor reflexivo, estão

escondendo

muita coisa do exercício do trabalho do professor e que não

poderiam esconder.

Nenhuma professora forma sujeitos pensantes, críticos, se ela

também não for

pensante e crítica. Acho que tem de haver escola e tem de haver o

conhecimento

sistematizado e tem de haver o desenvolvimento de capacidades

cognitivas,

capacidades do pensar, porque é por aí que será possível as

pessoas fazerem a

leitura da informação, a leitura crítica da informação. Os estudos

que tenho lido

sobre os programas de educação a distância e os programas de

várias formas de

ensino via TV têm sido, de maneira geral, mal concebidos. Também

não me encanto

do meu, que é um discurso de que a escola é um lugar de vivenciar

experiências

afetivas. Acho que isso também esconde problemas. Realmente

acredito que tudo

que ocorre nos meios de comunicação, no aparato informático, tudo

isso precisamos

77

ver como é que pode ser apropriado pelas escolas para ajudar no

processo de

aprendizagem. Agora, o processo de aprendizagem, a democracia

na escola hoje,

significa qualidade cognitiva e operativa das aprendizagens

escolares. E não há

corro fazer isso sem a mediação da professora e do professor.

Marisa: Falaste antes de um professor reflexivo, e, como conheço

alguma coisa

sobre esta discussão, gostaria de trazê-la um pouco para a nossa

conversa. Sou de

opinião que esta movimentação toda tende, em parte, a uma certa

endogenia do

professorado, que vai se desenvolver, se aperfeiçoar, no seu próprio

locus de

trabalho, refletindo com seus pares sobre a sua prática e, no fim,

correndo o risco de

ficar restrito, circunscrito à escola e às práticas escolares. Não

concordas que

precisamos muito, hoje, que o professor ou a professora se abram

mais para o

mundo, que não fiquem tão confinados aos problemas e às

compreensões que

emergem do interior da escola, mas que sejam, sim, pessoas

permeáveis, que tragam

as questões do mundo para dentro da escola? Eu penso, por

exemplo, que ir ao

cinema semanalmente talvez amplie mais o horizonte de reflexão

dos docentes do

que ficar duas horas semanais em reunião, discutindo com seus

pares na escola.

78

Talvez as duas coisas sejam importantes, mas, se for preciso optar,

fico com o

cinema! A escola é um microcosmo onde muitas coisas podem

acontecer, pequenas

e grandes coisas, mas a escola como este lugar, como este espaço

de síntese do

qual falaste, requer uni professor menos confinado e mais aberto.

Seria preciso que o,

professor fosse aquele que traz para a discussão na escola as

questões culturais

mais amplas e visões também mais amplas, mais plurais, mais

arejadas.

Por mais que a mídia ocupe um papel pedagógico, e ela ocupa, ela

está cada vez

mais sendo intencionalmente pedagógica, quero dizer

intencionalmente e

estrategicamente pedagógica, ela precisa ser discutida na escola.

Se houvesse

alguma epidemia no Brasil, hoje, como foi o caso da dengue algum

tempo atrás, a

novela das oito tratará disso com repercussão imediata na

sociedade. Se ela tem

esse poder, é preciso examinar seus ensinamentos, e onde se

adquire a competência

para isso?

Libâneo: Exatamente. E é pedagógica para o bem ou para o mal.

Eu gosto dessa

idéia de que algo é pedagógico precisamente por ser intencional.

Marisa: E a mídia não é pedagógica só neste sentido, intencional.

Quer dizer,

quando ela não diz que é pedagógica, e quando ela não é

desbragadamente

79

pedagógica, gritantemente didático-pedagógica, ela também está

ensinando coisas.

As pedagogias culturais levadas a efeito pela televisão são

inúmeras, dos mais

variados matizes, e vão nas mais variadas direções. Isso eu acho

que é urna coisa

que precisava ser discutida na escola, e isso é tarefa do professor.

Mas será que

com essa formação docente que até hoje continua vigorando é

possível esperar

isso? A impressão que tenho, Libâneo, é que não conseguimos, até

hoje, tocar no

cerne das questões da formação docente para este mundo que

começou a se

esboçar a partir da segunda metade do século XX. Há algo aí que

nos escapa, que

universidade, todo ele relacionado à formação de professores, devo

ter participado,

pelo menos, de uns dez projetos em que se pensava revisar a

formação docente no

que diz respeito à estrutura, aos objetivos, ao currículo, à filosofia

dos cursos de

licenciatura. Com todos os relatórios que falavam de uma estrutura

curricular que

não dava mais conta daquilo que se esperava que fossem as

competências

docentes, com tudo que se fez, que se pesquisou, que se disse e se

escreveu, os

cursos de licenciatura mudaram muito pouco. Eles continuam mais

ou menos iguais

império cultural do Ocidente vai muito além do controle político que

os europeus

80

exerceram sobre territórios ultramarinos. Mesmo após a perda das

colônias e do

domínio político sobre elas, mesmo sem a posse do que hoje são os

nossos países,

permaneceu inscrito nessas sociedades, em nome dos interesses

intelectuais do

imperialismo cultural europeu, um conjunto de saberes criados com

a finalidade de

tornar o mundo coerente para o Ocidente. Estes saberes impregnam

nossa

educação e expandem o domínio europeu para muito além do

domínio político.

Então, vamos dizer assim, o entendimento que tenho hoje é o de

que as disciplinas

curriculares são a nossa herança, que é muito poderosa, e com a

qual não

conseguimos romper. Tanto é que temos nos parâmetros

curriculares, hoje, uma

evidência da necessidade de discutir outras questões na escola,

temas novos,

problemas novos.

(Aprendendo a dividir o mundo: educação no fim do império). O livro

recebeu dois prêmios: em 1998-

Research Association Book Award. Há notícias de que esta obra

estaria sendo traduzida para ser

publicada no Brasil pela editora Papirus.

E como é que se resolveu isso? Já que não se pode romper com a

ordem

disciplinar, incluem-se temas transversais. Aquilo que deveria ser

central é

transversal. Aquilo que é problema da juventude hoje - sexualidade,

drogas,

81

comunicação, sobrevivência, como viver neste mundo complexo? -

se resolve nos

temas transversais. A História, a Física, a Matemática, a Biologia

continuam lá,

intocadas, imutáveis, como sempre foram. Então, se a escola, de

qualquer nível, é

tão impermeável às mudanças, e a competência para atuar em

campos novos é tão

difícil de ser implementada, como a nossa conversa já mostrou até

aqui, tu acreditas

que houve uma época, um tempo em que a formação docente foi

melhor? Tu

concordas que ela tenha sido melhor?

Libâneo: Concordo, creio que a formação já foi melhor. Acho que

eu próprio sou

produto de bons professores. É claro que essa afirmação precisa

ser

contextualizada e até relativizada, porque todos nós sabemos que a

formação de

professores foi muito mais valorizada no passado, mas também

sabemos que o

acesso à escolarização era muito mais reduzido, como também

sabemos da

redução do esforço do Estado no financiamento da educação nestas

últimas

décadas. É claro que na nossa época de juventude tínhamos uma

melhor qualidade

de ensino, isso com certeza. Mas também havia várias pessoas que

não iam para a

escola, e ninguém se preocupava com isso. Era uma educação

elitista. É claro que

82

a democratização do acesso amplia os problemas também, de

atendimento, de

demanda. Desde que eu discutia lá nas categorias da dialética

marxista a relação

quantidade-qualidade - questão tratada num texto famoso do Celso

Beisiegel,30

publicado na Revista da Ande -, eu me preocupo com este

problema. E essa

questão ainda está nos desafiando. Como é que se pode garantir

qualidade para o

universo dos que precisam de escola?

Marisa: Eu também acho que sou produto de bons professores,

mas fico pensando:

será que o mundo no tempo em que freqüentamos a escoIa não era

um mundo

menos complexo, talvez, trinta, quarenta anos atrás? E hoje a

complexidade é tão

grande, as pessoas têm que se dar conta de tantas coisas, têm que

aprender tantas

coisas. Eu mesmo, como pesquisadora e intelectual, às vezes, fico

pensando: eu

precisaria saber isso, e mais isso, e aquilo também, mas não, vou

deixar de lado

porque não dou conta de tudo, não tenho tempo para estudar tudo

isso. Até por isso

temos grupos de pesquisa, pessoas que vão lá e que dão conta de

uma perspectiva,

e de outra. Mas com isso tudo, Libâneo, achas que a escola tem

futuro se ela

continuar não dando conta de tantas coisas importantes?

Libâneo: Olha, Marisa, você falou de sua longa experiência em

trabalhar com

83

muita coisa, sempre tentando associar estudo, profissão e

militância. Como muitos

de nós, fico batendo na cabeça para ver onde mexer, porque se

pensa que o

caminho é este, não é, e aí se tentam outras saídas. Queremos ir

fundo nas coisas,

eu quero tentar ver onde tudo começa. Em relação à sua colocação,

acho que são

três aspectos a serem distinguidos. o primeiro é a complexidade do

mundo atual e

como nos comportamos em relação a ele. Estou de acordo com

você que essa

variedade de ofertas de consumo intelectual, de tendências

sociológicas e

pedagógicas, de temas de pesquisa, de problemas de investigação,

me dá até um pouco de depressão. Você me vem com Estudos

Culturais e lhe falo

da teoria histórico-social da atividade, por exemplo. Aí eu penso:

será que tenho que

lidar com essa história de Estudos Culturais, como faço para

dialogar com a Marisa?

É claro, também, que os vários segmentos de profissionais da

educação, das

professoras de educação infantil aos doutores reagem a isso de

uma forma

diferente. Mas o importante disso tudo é que, frente a essa

complexidade, frente a

essa transformação incessante dos conhecimentos e que é um

caminho sem volta,

precisamos compreender que de alguma forma a escola precisa

ajudar nisso, todas

84

as escolas, do pré ao ensino superior. Aí entra o segundo aspecto,

que é a

capacidade da escola de dar conta de suas funções que são

realmente importantes

hoje. Eu não tenho dúvidas: menor ou maior acesso à educação

escolar influi

positiva ou negativamente na qualidade da capacidade reflexiva das

pessoas e,

conseqüentemente, no exercício de cidadania, profissão, usufruto

de bens culturais,

de consumo etc. A escola continua sendo insubstituível, quem não

usufruir dela não

tem acesso às condições intelectuais e políticas de avaliação crítica

da informação,

de produção de conhecimento, de participação nos processos

decisórios da

sociedade. Temos que repensar essa escola, sim, precisamos ver o

espaço escolar

em relação a outros espaços, rever currículos, metodologias, formas

de gestão.

Principalmente, frente a essa catarata informativa, a sociedade de

hoje é, de fato,

uma sociedade do aprendizado, estamos todos condenados a ser

aprendizes

permanentes. Por isso é que já falei, nesta conversa, que o papel

essencial da

escola de hoje é formar sujeitos pensantes e críticos, é aprender a

pensar

metodicamente, é aprender a aprender. A questão hoje é menos

possuir a

informação do que saber encontrá-la, selecioná-la, ufilizá-la de

forma apropriada,

85

saber sua veracidade, sua credibilidade, a que interesses está

servindo. Enfim, há

um terceiro aspecto crucial, a formação de professores. Nesse

assunto, todo mundo

tem um ovo de Colombo. Há a idéia de mexer nos currículos, mudar

do disciplinar

para o não-disciplinar; para mim isso resolve pouco. Outros dizem

que o problema é

o professor mudar a sua postura pessoal, melhorar a auto-estima

das professoras,

ganhar mais segurança pessoal. Há a solução pelo lado da

linguagem, a professora

contribui melhor para a aprendizagem dos alunos, se ela desenvolve

capacidade de

ouvir, essa competência de poder estar acompanhando a fala dos

alunos e tal.

Ultimamente, a salvação é o professor reflexivo. Tudo isso eu acho

que contribui,

mas há uma mania no nosso meio intelectual, que é a dos vieses,

cada intelectual

acha que a solução está na sua especialidade. Quem mexe com

lingüística acha

que o problema está na linguagem, na cultura; quem mexe com

sociologia acha que

o problema é fazer da escola um espaço de socialização. O outro

mexe com

psicologia e acha que o problema está na afetividade, na zona de

desenvolvimento

proximal etc. O professorado fica mesmo perdido, porque ele

deveria dar conta de

puxar vários fios, de várias direções, para compreender melhor o ato

docente, o ato

86

pedagógico. Voltando à formação de professores, temos que

continuar insistindo,

temos que mexer com vontade na formação profissional inicial e

continuada, por

mais batida e desgastada que seja essa fala. Agora, esse quadro

hoje é

decepcionante! Temos que ter coragem de afirmar que a formação

hoje é muito

ruim, você não terá nunca qualidade de ensino, seja o que for que

se entenda por

qualidade de ensino, sem bons professores e boas professoras. Sei

que alguém irá

me contestar, argumentando: e as políticas educacionais? E o

sistema? E a

desvalorização salarial e a falta de condições de trabalho nas

escolas? E as

faculdades privadas de fim de semana? E os problemas de pobreza

e desemprego?

E assim por diante ... Sei, há muita responsabilidade nisso do

sistema público de

ensino, mas vamos ser realistas para dizer que o resultado disso é

um precário

desempenho profissional que compromete a qualidade do

aproveitamento dos

alunos. Tenho dito em minhas palestras que nosso professorado

tem uma frágil

cultura geral. Não acho nada interessante estar dizendo isso, mas

grande parte do

nosso professorado carrega a herança da baixa qualidade de ensino

que tomou

formação cultural de base. Esse problema provoca no sistema de

formação de

87

professores um efeito dominó. Os candidatos a professor entram na

faculdade com

baixo preparo cultural e científico. Os professores universitários ou

desconsiderarn

esse fraco repertório cultural ou rebaixam o nível teórico de

exigência. Ou os

próprios professores formadores são também portadores dessa

baixa formação

cultural de base. Assim, saem licenciados com a incumbência de

formar mentes

construtivistas sem que eles próprios tenham essa cabeça

construtivista. Espera-se

que os jovens alunos reelaborem a cultura, mas seus professores

não têm essa

capacidade. As professoras ensinam Geografia nas séries iniciais,

mas não

conhecem minimamente o campo conceitual da Geografia, o mesmo

acontecendo

com Ciências, Matemática, Português. Se houvesse, hoje, uma

professora que se

apropriasse de uma cultura geral de base, isso ajudaria a

desenvolver a flexibilidade

mental, a capacidade de lidar praticamente com os conceitos,

habilidades e

procedimentos ligados a essa cultura de base, poderíamos deixar de

lado muita

bobagem que as faculdades fazem em torno das metodologias. De

que se precisa

hoje basicamente? De uma professora que dê conta de ajudar os

alunos a lidar com

conceitos, a raciocinar, a pensar, e também a desenvolver múltiplos

interesses no

88

campo literário, artístico, musical, desportivo, do lazer etc. É um

velho discurso do

começo do século XIX, de Herbart, dirão alguns, e por que não pode

ser? Porque

aprender, hoje, é basicamente interlocução, mas interlocução a

partir de se saber

qual é a relação que o aluno tem com o saber E essa relação com o

saber tem que

ser dentro do modo de vida dele, na origem social dele, sob as

influências da cultura

midiática, dessa cultura paralela que estamos chamando de mundo

da mídia, mas

também o mundo da rua, da cidade, dos movimentos sociais. Para

poder fazer isso,

a professora precisa ter uma cultura geral de base. Quando escrevo

sobre isso,

tenho procurado distinguir muito bem, para que as pessoas não

entendam que

estou querendo recuperar a velha cultura enciclopédica. Não é isso.

Cultura de base

é o que o pedagogo italiano marxista Mario Manacorda chamava de

conhecimento

teórico-prático, instrumento concreto de conhecimento, de

capacidade operativa,

produtiva e de capacidade cognoscitiva. É dominar os conteúdos da

cultura, da arte,

da ciência, mas especialmente aprender a pensar com o modo de

pensar de cada

campo de conhecimento com que se está lidando. Acho isso viável,

Marisa; uma

boa professora de Biologia, o que ela quer? Ela precisa dos

conteúdos, sim, mas

89

para desenvolver o que é essencial. É preciso ajudar o menino a ter

um raciocínio

biológico, de maneira que quando ele vê um canteiro de flores ele se

sinta familiar

com aquilo. Da mesma forma, quando ele lê o rótulo de margarina,

que ele pense

nessa margarina quimicamente, isto é, recorra ao modo de pensar e

investigar da

Química. Ou o aluno que aprende o modo de pensar e investigar

próprio da

Geografia, quando ele estiver num cruzamento de ruas em Goiânia

ou em Porto

Alegre, ele pára numa esquina e pensa: “Bem, o fluxo de veículos

desta rua está

mais adensado do que o da outra; então este sinal, aqui, ao invés

de demorar mais

tempo para cá, tem que demorar mais tempo para lá”. Esse aluno

desenvolveu o

essencial do modo de pensar geográfico, que é a especialidade e

sua construção

social desse espaço. Eu penso que isso é viável! Acho que é isso

que as escolas

devem fazer - ajudar a aprender a pensar, e aprender a pensar

metodicamente.

Será que nosso professorado consegue ter essa flexibilidade

mental? Tem que

atuar na formação do professorado, e nada de ficar remoendo

reflexão-açãoreflexão

na escola, pois isso, concordo com você, fica muito restrito ao

mundo local,

e estariam sendo reforçados padrões e hábitos das professoras com

a alegação de

90

que se está partindo da experiência que ela tem. Acho que ela

precisa é ampliar a

experiência que ela tem, porque a experiência que ela tem, do ponto

de vista de

lidar cognitivamente com as coisas, é extremamente restrita. Agora,

como é que se

faz isso? Não tenho solução imediata; quero que isso aconteça,

mas, sei que as

coisas são complicadas, porque, de fato, já perdemos tempo. Outro

dia eu estava na

banca de uma tese de doutorado, na USP, sobre como é que a

formação estética

ajuda as crianças a se desenvolver mais em outras áreas do

conhecimento. É urna

professora de Artes, muito competente, aqui de Goiânia. Segundo a

pesquisa dela,

o conhecimento e a sensibilidade estética do nosso professorado

são extremamente

baixos. Parece-me que há muita coisa que não é mais possível

recuperar A clientela

que faz Pedagogia na Universidade Católica, onde trabalho hoje, e

mesmo a da

Federal, onde já trabalhei, é composta de alunos que chegam com

problemas no

âmbito da formação geral de base, acho que lhes faltam requisitos

cognitivos e

culturais prévios. Então acontece aquele efeito dominó de que eu

falava. E isso não

se resolve num governo apenas, nem em dois.

Marisa: E tudo isso acaba chegando em nós, não é, Libâneo?

Porque quem está

91

nas universidades, formando estes professores e professoras,

também somos nós.

Há anos e anos estamos ensinando, investindo em idéias e teorias

e, ao fim e ao

cabo, descobrimos que batalhamos por caminhos que hoje mostram

não terem sido

adequados para as pessoas se qualificarem mais e melhor. É bem

verdade que

cada vez se amplia mais o número de faculdades voltadas para a

formação de

professores, embora não se possa dizer que a demanda é crescente

por estes

cursos. Isso me parece ambíguo, mas temos visto que a demanda

não tem sido

crescente, pelo menos em algumas regiões e cidades, e as pessoas

têm se

afastado da carreira do magistério. Em muitas universidades lá do

Sul, as inscrições

nos cursos de licenciatura têm decrescido muito. Por outro lado,

também é preciso

ver tudo isso como um circuito. Não falamos de quão precária é a

contrapartida

governamental em termos de investimentos na educação e em

termos de

reconhecimento da importância da formação do professorado. Essa

é outra

discussão - a falta de receptividade às questões cruciais da

educação, em todos os

segmentos e em todos os sentidos. Não temos tido, neste País, a

atenção desejável

e necessária à educação. Esse é outro lado importante da

problemática, que ajuda a

92

dispersar um pouco esse eixo, a repartir as culpas e

responsabilidades. A

precariedade da qualificação do professorado está Inscrita numa

rede de questões e

de problemas que a sociedade não tem conseguido resolver.

Libâneo: É verdade, ainda estamos para ver um governo que

consiga estruturar

com a sociedade um sistema abrangente e articulado de formação

de professores.

É de doer saber que os melhores quadros do magistério, em muitos

Estados,

especialmente do ensino fundamental, já caíram fora há muito

tempo, vão atrás de

empregos em outra atividade. Isso quer dizer que nós estamos,

hoje, com uma ... base

de professorado no Brasil que é o pessoal que sobrou mesmo. Não

gosto de dizer

isso, mas é bobagem tapar o sol com peneira.

93

Para a educadora Maria Teresa Égler Mantoan, na

escola inclusiva professores e alunos aprendem uma lição

que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Esse

é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa

MARIA TERESA EGLÉR MANTOAN "Estar junto é se aglomerar com pessoas

que não conhecemos. Inclusão é estar com, é interagir com o outro". Foto: Kaka

Uma das maiores defensoras da educação inclusiva no Brasil, Maria

Teresa Mantoan é crítica convicta das chamadas escolas especiais. Ironicamente, ela

iniciou sua carreira como professora de educação especial e, como muitos, não

achava possível educar alunos com deficiência em uma turma regular. A educadora

94

mudou de idéia em 1989, durante uma viagem a Portugal. Lá, viu pela primeira vez

uma experiência em inclusão bem-sucedida. "Passei o dia com um grupo de crianças

que tinha um enorme carinho por um colega sem braços nem pernas", conta. No fim

da aula, a professora da turma perguntou se Maria Teresa preferia que os alunos

cantassem ou dançassem para agradecer a visita. Ela escolheu a segunda opção. "Na

hora percebi a mancada. Como aquele menino dançaria?" Para sua surpresa, um dos

garotos pegou o colega no colo e os outros ajudaram a amarrá-lo ao seu corpo. "E

ele, então, dançou para mim." Na volta ao Brasil, Maria Teresa que desde 1988 é

professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas deixou

de se concentrar nas deficiências para ser uma estudiosa das diferenças. Com seus

alunos, fundou o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade. Para

ela, uma sociedade justa e que dê oportunidade para todos, sem qualquer tipo de

discriminação, começa na escola.

O que é inclusão?

É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o

privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A

educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante

com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os

superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por

qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no

cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos.

Já inclusão é estar com, é interagir com o outro.

Que benefícios a inclusão traz a alunos e professores?

A escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para

todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por

isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos.

A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe

social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso

não ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida

cidadã pela metade. Você não pode ter um lugar no mundo sem considerar o

do outro, valorizando o que ele é e o que ele pode ser. Além disso, para nós,

professores, o maior ganho está em garantir a todos o direito à educação.

95

O que faz uma escola ser inclusiva?

Em primeiro lugar, um bom projeto pedagógico, que começa pela reflexão.

Diferentemente do que muitos possam pensar, inclusão é mais do que ter

rampas e banheiros adaptados. A equipe da escola inclusiva deve discutir o

motivo de tanta repetência e indisciplina, de os professores não darem conta

do recado e de os pais não participarem. Um bom projeto valoriza a cultura, a

história e as experiências anteriores da turma. As práticas pedagógicas

também precisam ser revistas. Como as atividades são selecionadas e

planejadas para que todos aprendam? Atualmente, muitas escolas diversificam

o programa, mas esperam que no fim das contas todos tenham os mesmos

resultados. Os alunos precisam de liberdade para aprender do seu modo, de

acordo com as suas condições. E isso vale para os estudantes com deficiência

ou não.

Como está a inclusão no Brasil hoje?

Estamos caminhando devagar. O maior problema é que as redes de ensino e

as escolas não cumprem a lei. A nossa Constituição garante desde 1988 o

acesso de todos ao Ensino Fundamental, sendo que alunos com necessidades

especiais devem receber atendimento especializado preferencialmente na

escola , que não substitui o ensino regular. Há outra questão, um movimento

de resistência que tenta impedir a inclusão de caminhar: a força corporativa de

instituições especializadas, principalmente em deficiência mental. Muita gente

continua acreditando que o melhor é excluir, manter as crianças em escolas

especiais, que dão ensino adaptado. Mas já avançamos. Hoje todo mundo

sabe que elas têm o direito de ir para a escola regular. Estamos num processo

de conscientização.

A escola

precisa se adaptar para a inclusão?

Além de fazer adaptações físicas, a escola precisa oferecer atendimento

educacional especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no

mesmo local. Assim, uma criança cega, por exemplo, assiste às aulas com os

colegas que enxergam e, no contraturno, treina mobilidade, locomoção, uso da

linguagem braile e de instrumentos como o soroban, para fazer contas. Tudo

isso ajuda na sua integração dentro e fora da escola.

96

Como garantir atendimento especializado se a escola não oferece condições?

A escola pública que não recebe apoio pedagógico ou verba tem como opção

fazer parcerias com entidades de educação especial, disponíveis na maioria

das redes. Enquanto isso, a direção tem que continuar exigindo dos dirigentes

o apoio previsto em lei. Na particular, o serviço especializado também pode vir

por meio de parcerias e deve ser oferecido sem ônus para os pais.

Estudantes com deficiência mental severa podem estudar em uma classe regular?

Sem dúvida. A inclusão não admite qualquer tipo de discriminação, e os mais

excluídos sempre são os que têm deficiências graves. No Canadá, vi um

garoto que ia de maca para a escola e, apesar do raciocínio comprometido, era

respeitado pelos colegas, integrado à turma e participativo. Há casos, no

entanto, em que a criança não consegue interagir porque está em surto e

precisa ser tratada. Para que o professor saiba o momento adequado de

encaminhá-la a um tratamento, é importante manter vínculos com os

atendimentos clínico e especializado.

A avaliação de alunos com deficiência mental deve ser diferenciada?

Não. Uma boa avaliação é aquela planejada para todos, em que o aluno

aprende a analisar a sua produção de forma crítica e autônoma. Ele deve dizer

o que aprendeu, o que acha interessante estudar e como o conhecimento

adquirido modifica a sua vida. Avaliar estudantes emancipados é, por exemplo,

pedir para que eles próprios inventem uma prova. Assim, mostram o quanto

assimilaram um conteúdo. Aplicar testes com consulta também é muito mais

produtivo do que cobrar decoreba. A função da avaliação não é medir se a

criança chegou a um determinado ponto, mas se ela cresceu. Esse mérito vem

do esforço pessoal para vencer as suas limitações, e não da comparação com

os demais.

Um professor sem capacitação pode ensinar alunos com deficiência?

Sim. O papel do professor é ser regente de classe, e não especialista em

deficiência. Essa responsabilidade é da equipe de atendimento especializado.

Não pode haver confusão. Uma criança surda, por exemplo, aprende com o

especialista libras (língua brasileira de sinais) e leitura labial. Para ser

alfabetizada em língua portuguesa para surdos, conhecida como L2, a criança

97

é atendida por um professor de língua portuguesa capacitado para isso. A

função do regente é trabalhar os conteúdos, mas as parcerias entre os

profissionais são muito produtivas. Se na turma há uma criança surda e o

professor regente vai dar uma aula sobre o Egito, o especialista mostra à

criança com antecedência fotos, gravuras e vídeos sobre o assunto. O

professor de L2 dá o significado de novos vocábulos, como pirâmide e faraó.

Na hora da aula, o material de apoio visual, textos e leitura labial facilitam a

compreensão do conteúdo.

Como ensinar cegos e surdos sem dominar o braile e a língua de sinais?

É até positivo que o professor de uma criança surda não saiba libras, porque

ela tem que entender a língua portuguesa escrita. Ter noções de libras facilita

a comunicação, mas não é essencial para a aula. No caso de ter um cego na

turma, o professor não precisa dominar o braile, porque quem escreve é o

aluno. Ele pode até aprender, se achar que precisa para corrigir textos, mas há

a opção de pedir ajuda ao especialista. Só não acho necessário ensinar libras

e braile na formação inicial do docente.

O professor pode se recusar a lecionar para turmas inclusivas?

Não, mesmo que a escola não ofereça estrutura. As redes de ensino não estão

dando às escolas e aos professores o que é necessário para um bom trabalho.

Muitos evitam reclamar por medo de perder o emprego ou de sofrer

perseguição. Mas eles têm que recorrer à ajuda que está disponível, o

sindicato, por exemplo, onde legalmente expõem como estão sendo

prejudicados profissionalmente. Os pais e os líderes comunitários também

podem promover um diálogo com as redes, fazendo pressão para o

cumprimento da lei.

Há fiscalização para garantir que as escolas sejam inclusivas?

O Ministério Público fiscaliza, geralmente com base em denúncias, para

garantir o cumprimento da lei. O Ministério da Educação, por meio da

Secretaria de Educação Especial, atualmente não tem como preocupação

punir, mas levar as escolas a entender o seu papel e a lei e a agir para colocar

tudo isso em prática.

98

Heloísa Lück fala sobre

os desafios da liderança

nas escolas

Para a educadora paranaense, somente uma

escola bem dirigida obtém bons resultados

HELOÍSA LÜCK. "A escola deve ser uma comunidade de aprendizagem também em

liderança, tendo em vista a natureza do trabalho educacional."

A escola é uma organização que sempre precisou mostrar

resultados - o aprendizado dos alunos. Porém nem sempre eles são

positivos. Para evitar desperdício de esforços e fazer com que os objetivos

sejam atingidos ano após ano, sabe-se que é necessária a presença de

gestores que atuem como líderes, capazes de implementar ações

direcionadas para esse foco. A concepção de que a liderança é primordial

no trabalho escolar começou a tomar corpo na segunda metade da década

99

de 1990, com a universalização do ensino público. A formação e a atuação

de líderes, até então restritas aos ambientes empresariais, foram adotadas

pela Educação e passaram a ser palavra de ordem para enfrentar os

desafios.

Na comunidade escolar, é recomendável que essa liderança seja exercida

pelo diretor. Mas a educadora paranaense Heloísa Lück, diretora

educacional do Centro de Desenvolvimento Humano Aplicado (Cedhap),

em Curitiba, e consultora do Conselho Nacional de Secretários de

Educação (Consed), vai além. Ela defende o estímulo à gestão

compartilhada em diferentes âmbitos da organização escolar. Onde isso

ocorre, diz ela, nasce um ambiente favorável ao trabalho educacional, que

valoriza os diferentes talentos e faz com que todos compreendam seu

papel na organização e assumam novas responsabilidades.

Doutora em Educação pela Universidade Columbia e pós-

doutora em Pesquisa e Ensino Superior pela Universidade George

Washington, ambas nos Estados Unidos, Heloísa falou a NOVA

ESCOLA GESTÃO ESCOLAR sobre as ações necessárias para o

exercício da liderança. Segundo ela, o primeiro passo é tornar claros

os objetivos educacionais da escola. Só assim as expectativas dos

profissionais com relação à Educação permanecem elevadas,

contribuindo para a construção do que ela chama de "comunidade

social de aprendizagem".

Quando o conceito de liderança, antes restrito ao âmbito empresarial, migrou

para a Educação?

HELOÍSA LÜCK Há algumas décadas, o ensino público era

destinado a poucos e orientado por um sistema administrativo

centralizador. Nesse modelo, a qualidade era garantida com

mecanismos de controle e cobrança. A sociedade mudou e passou a

100

exigir a Educação para todos. Com isso, o ser humano se tornou o

elemento-chave no desenvolvimento das organizações educacionais,

tanto como alvo do trabalho educativo como na condução de

processos eficientes e bem-sucedidos.

É nesse contexto que surgiu a necessidade de haver uma ou mais

pessoas para dirigir as ações que encaminham a escola para a

direção desejada.

Como diferenciar uma escola que conta com essas pessoas de outra que não

tem?

HELOÍSA É fácil perceber isso. Onde não existe liderança, o ritmo

de trabalho é frouxo e não há a mobilização para alcançar objetivos

de aprendizagem e sociais satisfatórios. As decisões são orientadas

basicamente pelo corporativismo e por interesses pessoais.

Geralmente, são instituições cujos estudantes apresentam baixo

desempenho. Além dessas características, há outras menos visíveis,

mas que têm grande impacto. Uma estrutura de gestão debilitada

contribui para a formação de pessoas indiferentes em relação à

sociedade. É alarmante observar como os apelos destrutivos estão

cada vez mais fortes, com os jovens se envolvendo em arruaças e

gangues e usando drogas. Isso se dá pela absoluta falta de modelos.

A escola deveria oferecê-los, pois é a primeira organização formal,

depois da família, que as crianças conhecem. Sem a canalização de

esforços para que a aprendizagem ocorra e haja melhoria e

desenvolvimento contínuos, o ambiente escolar se torna

deseducativo.

É possível aprender a liderar?

HELOÍSA Com certeza. Existem indivíduos que despontam

naturalmente para exercer esse papel e certamente o farão se o

101

ambiente favorecer. Mas mesmo eles precisam de orientação para

empregar essa habilidade e toda a energia em nome do bem

coletivo. Trata-se de um exercício associado à consciência de

responsabilidade social. Onde a gestão é democrática e

participativa, há a oportunidade de desenvolver essa característica

em diversos agentes. Somente governos e organizações autoritários

e centralizadores não permitem isso. E a escola, é claro, não deve

ser assim.

Quais são as principais características de um líder?

HELOÍSA Geralmente, é uma pessoa empreendedora, que se

empenha em manter o entusiasmo da equipe e tem autocontrole e

determinação, sem deixar de ser f lexível. É importante também que

conheça os fundamentos da Educação e seus processos - pois é

desse conhecimento que virá sua autoridade -, que compreenda o

comportamento humano e seja ciente das motivações, dos

interesses e das competências do grupo ao qual pertence. Ele

também aceita os novos desafios com disponibilidade, o que

influencia positivamente a equipe.

Que questões do cotidiano costumam assustar o gestor que é líder de sua

comunidade?

HELOÍSA Os dirigentes que desenvolveram as competências de

liderança nunca se deixam paralisar diante dos desafios. Os que não

as têm, contudo, se sentem imobilizados diante de pessoas que

resistem às mudanças, sobretudo aquelas que manifestam de forma

mais veemente seu incômodo com situações que causam

desconforto. Em vez de colocar energia em atividades burocráticas e

administrativas, fazendo fracassar os propósitos de criação de uma

comunidade de aprendizagem, cabe aos gestores - e a todos os

102

educadores, na verdade - promover o entendimento de que as

adversidades são inerentes ao processo educacional. O

enfrentamento delas implica o desenvolvimento da compreensão

sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o modo como o

desempenho individual e coletivo afeta as ações da organização.

O diretor deve ser o principal orientador das diretrizes da escola?

HELOÍSA Sim. Mas, apesar disso, essa atuação não deve ser

exclusividade dele. A escola precisa trabalhar para se tornar ela

própria uma comunidade social de aprendizagem também no

quesito liderança, tendo em vista que a natureza do trabalho

educacional e os novos paradigmas organizacionais exigem essa

habilidade. Para que isso aconteça, é primordial a atuação de

inúmeras pessoas, mediante a prática da coliderança e da gestão

compartilhada. Em vista disso, atuar como mentor do

desenvolvimento de novas lideranças na escola é uma das

habilidades fundamentais para um diretor eficiente.

Como funciona uma gestão escolar compartilhada?

HELOÍSA Podemos falar em níveis ou abrangências. Num primeiro

nível, ela se circunscreve à equipe central, geralmente formada pelo

diretor, o vice ou o assistente de direção, o coordenador ou o

supervisor pedagógico e o orientador educacional. Nesse âmbito, é

necessário praticar a coliderança, ou seja, uma liderança exercida

em conjunto e com responsabilidade sobre os resultados da escola.

Para isso, é importante haver um entendimento contínuo entre

esses profissionais. Num sentido mais amplo, a gestão

compartilhada envolve professores, alunos, funcionários e pais de

alunos. É uma maneira mais aberta de dirigir a instituição. Para isso

funcionar, é preciso que todos os envolvidos assumam e

103

compartilhem responsabilidades nas múltiplas áreas de atuação da

escola. Num contexto como esse, as pessoas têm liberdade de atuar

e intervir e, por isso, se sentem à vontade para criar e propor

soluções para os diversos problemas que surgem, sempre no intuito

de atingir os objetivos da organização. Estimula-se assim a

proatividade.

O que é uma escola proativa?

HELOÍSA A proatividade corresponde a uma percepção de si

próprio como agente capaz de iniciativas e, ao mesmo tempo,

responsável pelo encaminhamento das condições vivenciadas. Uma

escola pró-ativa é aquela que age com criatividade diante dos

obstáculos, desenvolvendo projetos específicos para as

comunidades em que atua, de modo a ir além da proposta sugerida

pelas secretarias de Educação. O contrário da pró-atividade é a

reatividade, que está associada à busca de justificativas para as

limitações de nossas ações e de resultados ineficazes.

A liderança também pode ser desenvolvida nos alunos?

HELOÍSA A liderança é inerente à dinâmica que envolve ensino e

aprendizagem. Afinal, no jogo da Educação, os protagonistas são os

estudantes. Além de oferecer ensino de qualidade, é obrigação da

escola fazer com que eles se sintam parte integrante do processo

educacional e participantes de uma comunidade de aprendizagem, o

que só se consegue com uma metodologia participativa, sempre sob

a orientação do professor. Os jovens sempre se mostram

colaboradores extraordinários nas escolas em que lhes é dada essa

oportunidade, podendo assumir papéis importantes inclusive na

gestão e na manutenção do patrimônio escolar, nas relações da

família com a escola e dessa com a comunidade.

104

A equipe de gestão escolar, então, deve sempre ser orientada por princípios

democráticos?

HELOÍSA A liderança pressupõe a aceitação das pessoas com

relação a uma influência exercida. Ela corresponde, portanto, a uma

prática que depende muito da democracia para ser bem-sucedida. O

diretor que faz com que os professores cheguem às aulas no horário,

pois do contrário sofrerão descontos, influencia o comportamento

deles no âmbito administrativo. Contudo, no momento em que ele

deixa de impor a pena, tudo volta à condição inicial. Já o gestor que

leva a equipe a compreender como a pontualidade contribui para a

melhoria do trabalho alcança resultados perenes, que são

incorporados naturalmente.

Certamente, atitudes autoritárias não cabem em relações de trabalho assim

estabelecidas.

HELOÍSA É importante destacar a diferença entre ter autoridade e

ser autoritário. Todo profissional deve ter autoridade para o

exercício de suas responsabilidades. E em nenhuma profissão ela é

conseguida pelo cargo, mas pela competência. Já o autoritarismo é

constituído pelo comando com base na posição ocupada pela pessoa

que, não tendo a devida competência, determina e obriga o

cumprimento de tarefas sem fazer com que os envolvidos

compreendam adequadamente os processos e as implicações

envolvidos na realização do trabalho. Quando identifica essa

situação, a tendência da equipe é passar a agir sem

comprometimento, gerando um ambiente de trabalho proforma,

cujos resultados são sempre menos efetivos do que poderiam ser.

O diretor pode ser avaliado por seus pares para saber se está fazendo uma

105

boa gestão?

HELOÍSA Nenhuma ação desenvolvida na escola está isenta de

avaliação, que é a base para a definição de planos de ação e de

programas de formação em serviço. É importante destacar, no

entanto, que não são as pessoas que são avaliadas, mas o

desempenho delas, que é circunstancial e mutável. A liderança é

situacional e, por isso, é essencial desenvolver instrumentos

específicos para cada contexto a ser avaliado. Para que o processo se

efetive, portanto, é interssante que as fichas de avaliação da

liderança sejam preenchidas por todos os membros da comunidade

escolar - professores, alunos, pais e demais funcionários.

Como dirigir uma escola para que ela melhore continuamente?

HELOÍSA O segredo é nunca ficar satisfeito com o que já foi

conseguido. A satisfação leva à acomodação, o que deixa o gestor

impossibilitado de perceber perspectivas para alcançar novos

patamares. É muito comum ouvir diretores dizendo, em cursos de

formação, "isso eu já faço" ou "isso a minha escola já tem". Fica

evidente que, contente com a situação posta, vai ser difícil ele se

mobilizar para qualquer mudança. É preciso ter cuidado, pois os

processos educacionais são complexos e sempre há desdobramentos

novos a desenvolver. Resultados e competências podem sempre

melhorar.

106

ANEXO III : REPORTAGEM

Maria Tereza Esteban

Atuação: Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal

Fluminense e participante do Grupo de Pesquisa Alfabetização dos Alunos das Classes

Populares.

.

Salto – Qual é a relação entre avaliação e educação?

Maria Teresa – A avaliação é um dos processos fundamentais de todo o processo

educativo, então, se nós considerarmos, mesmo nas práticas cotidianas, de educação

informal, nós vamos ter um conjunto de procedimentos de avaliação dessas práticas,

desses processos, dos seus efeitos.

Nas práticas mais formais, também, a avaliação vai acompanhando e vai produzindo

alguns procedimentos, alguns instrumentos, alguns processos mais formais, sempre no

sentido de estar acompanhando o processo educativo e poder verificar os seus efeitos,

sobretudo nos educandos e no processo educativo como um todo. Assim a avaliação é,

pelo menos do meu ponto de vista, um dos eixos centrais da educação, porque através

dela é que a gente pode ir equilibrando esse processo, tendo algumas contribuições

durante o próprio processo e não apenas após o seu efeito já estabelecido, já visualizado,

enfim, a gente pode ir regulando as nossas próprias práticas.

Salto – Quais são os diferentes tipos de avaliação e os seus significados

na escola?

Maria Teresa – Parece-me que na nossa escola nós temos, fundamentalmente, uma

avaliação classificatória, que vai se realizar através de instrumentos diversos e de

procedimentos diferenciados, muitas vezes em modalidades diferentes, mas que têm

como eixo fundamental a produção de uma hierarquia dos estudantes, a partir de

determinados padrões previamente estabelecidos. Então, essa avaliação, ela vai estar

muito articulada a uma pedagogia, que alguns chamam da "pedagogia do exame", em

que todos os procedimentos pedagógicos vão estar atravessados por práticas que visam

107

ao controle e à classificação. Dessa forma, nós vamos ter uma avaliação que, a partir de

um padrão predefinido, vai criando mecanismos de verificação do ponto em que cada

estudante ou que cada grupo e cada setor se encontram, de acordo com aquele padrão

que é tomado como referência. Quais os efeitos disso para o processo educacional? É

que nós vamos criando todo um conjunto de procedimentos, não só de avaliação, mas

todo um conjunto de procedimentos pedagógicos que vão estar alimentando essa idéia

da hierarquia — e que estão também sendo alimentados por essa hierarquia — e aí nós

vamos estabelecendo algumas pautas que são, por princípio, excludentes. Então, parece-

me que a avaliação classificatória vai estar bastante vinculada aos processos de

produção da exclusão escolar, como parte dos processos de exclusão social.

Salto – Como é possível avaliar a escola como um todo?

Maria Teresa – Acho que é fundamental que se coloque a escola, como um todo, num

processo dialógico. É claro que as práticas classificatórias, elas muitas vezes propõem

a avaliação da escola como um todo. As práticas classificatórias não se limitam à

classificação dos estudantes, elas são práticas que têm modalidades diferenciadas que

vão atingindo essa instituição na sua totalidade. Há formas classificatórias de se avaliar

a escola como um todo mas, no meu ponto de vista, o principal movimento da avaliação

da escola, como um todo, deveria ser estabelecer práticas dialógicas por meio das quais

as diversas esferas escolares pudessem estar dialogando entre elas e dentro delas, e que

essa prática dialógica se torne uma prática que vá alimentando a reflexão sobre o

processo educacional que se realiza ali, naquele espaço. Nós podemos ir criando

mecanismos cotidianos e mecanismos mais pontuais que possam favorecer esse

movimento de reflexão sobre o trabalho que nós estamos realizando, porque aí nós só

podemos fazer essa reflexão considerando todos os sujeitos que estão envolvidos nesse

processo, considerando as condições de trabalho, as circunstâncias em que esse trabalho

é realizado. Enfim, nós vamos abrindo um pouco mais esse leque e podendo perceber o

conjunto de relações que vai sendo constituído nessa prática pedagógica e também que

formas nós temos para favorecer esse trabalho pedagógico, criando mecanismos para

potencializar o que esse processo tem de melhor e para poder estar solucionando os seus

problemas.

108

Salto – Como é possível construir uma avaliação que ultrapasse os

limites técnicos?

Maria Teresa – Essa questão da perspectiva técnica da avaliação vem sendo bastante

criticada porque, tradicionalmente, o que nós temos em torno da discussão da avaliação

são os instrumentos e os procedimentos.

Quais são os melhores instrumentos de avaliação? Em que circunstâncias, como é que

eu procedo numa situação ou noutra? Então, nós ficamos na questão técnica. Como

fazer? Mas nós não temos tão consolidada, na discussão sobre avaliação, o próprio

sentido da avaliação e o sentido do processo educacional que está sendo implementado,

que está sendo proposto. Nesse sentido, parece-me que é fundamental recuperarmos a

idéia de que avaliar vem de atribuir valor, portanto, é preciso uma reflexão não só sobre

os procedimentos utilizados, sobre os instrumentos que estão sendo trabalhados mas,

sobretudo, que valores estão orientando a proposição desse processo pedagógico, que

vai se relacionar nos diversos contextos educacionais. Que valores são esses? Para que

nós estamos educando? Quais são as nossas finalidades fundamentais no processo

educativo? Parece-me que também é muito importante que a gente vá pensando quais

são as conseqüências do resultado que essa avaliação vai revelando e trazendo essa

discussão não apenas para o contexto mais limitado, do que a gente pode chamar de

ensino-aprendizagem no sentido de domínio de conteúdos ou desenvolvimento de

competências, mas que a gente possa estar pensando esse processo educacional como

parte da produção da vida dos sujeitos, como parte da produção da vida social e,

portanto, que valores estão encaminhando essa prática pedagógica como uma prática

humana e como uma prática social.

Salto – Agora, gostaríamos que você falasse um pouco mais sobre o

papel da avaliação no processo de ensino-aprendizagem.

Maria Teresa – Acho que, sobretudo, a avaliação tem um papel reflexivo, na medida em

que, nos procedimentos de avaliação e no processo de avaliação amplamente

considerado, nós temos a possibilidade de estar retornando ao que vem sendo realizado.

Nós temos, também, a possibilidade de estar projetando novas possibilidades, novos

caminhos, novas questões, então a avaliação traz em si uma dimensão reflexiva bastante

forte e eu entendo que essa deva ser a dimensão a ser ressaltada na avaliação porque,

109

como eu dizia, o que temos ressaltado, sobretudo, nas práticas classificatórias, é o

controle e a seleção. É claro que até para realizar controle e seleção é preciso uma

dimensão de reflexão. Eu entendo que seja necessário inverter. A prioridade está no

processo reflexivo. Para que eu realize a reflexão, uma reflexão que me ajude a

compreender melhor esse processo ensino-aprendizagem, essa dinâmica estabelecida, os

resultados alcançados, os múltiplos processos que a dinâmica pedagógica vai

instaurando na própria sala de aula. Para que eu possa estabelecer essa dinâmica

reflexiva, preciso de alguns mecanismos de controle, sim. Mas aí o controle está

subordinado à reflexão e não a reflexão subordinada ao controle, o que me parece que é

o movimento mais freqüente que nós temos. Essa avaliação marcada pela idéia da

reflexão, que alguns de nós temos chamado de avaliação como uma prática de

investigação, ela é parte do processo ensino-aprendizagem, principalmente como um

processo que vai tentar compreender melhor esse processo ensino-aprendizagem,

compreender melhor a multiplicidade que atravessa uma sala de aula, multiplicidade de

culturas, de conhecimentos, de formas de aprender, de processos de aprendizagem, de

resultados. Como é que as práticas pedagógicas vão sendo mais favoráveis a

determinados modelos de aprendizagem? Freqüentemente, elas são menos favoráveis a

outros modelos, então para isso é preciso que a gente compreenda essa diferença, para

poder proporcionar atividades pedagógicas, dinâmicas de ensino, proposições que sejam

favoráveis à aprendizagem de todos e não só à aprendizagem daqueles que se encaixam

nos modelos previamente selecionados. Essa dimensão reflexiva ou investigativa da

avaliação potencializa o processo educacional, numa projeção de futuro. Nós realizamos

uma reflexão até aqui, nós fizemos assim, chegamos assim, temos essas questões,

solucionamos desse modo, não solucionamos de outro e, para que a gente possa

continuar, mostra-se mais favorável esse tipo de intervenção, ou aquele outro tipo, ou

tipos diferenciados, na medida em que toda turma é heterogênea e demanda processos

diferenciados.

Salto – Como é que a gente pode relacionar fracasso e sucesso escolar

com inclusão e exclusão social, nessa perspectiva da avaliação?

Maria Teresa – A avaliação não é responsável nem pelo fracasso escolar, nem pela

exclusão social e, portanto, não é apenas mudando os procedimentos de avaliação que

110

nós vamos produzir sucesso escolar e inclusão social. No entanto, as práticas de

avaliação, como as demais práticas pedagógicas, ao direcionarmos a questão para a

avaliação, as práticas de avaliação estão marcadas por essa dinâmica social de inclusão e

exclusão e por esta tensão social, que é uma tensão de inclusão/exclusão dos sujeitos na

própria dinâmica social. Estão marcadas também por essa tensão escolar, que vai se

dando nesse diálogo entre o sucesso e o fracasso. Dessa forma, volto lá na avaliação

classificatória, quando nós produzimos uma avaliação que tem por princípio a produção

de uma hierarquia que classifica e seleciona. Se eu classifico e eu seleciono, para que

que eu classifico e seleciono? Para incluir os melhores classificados e excluir os piores

classificados? Se nós estamos preocupados efetivamente com uma educação de

qualidade para todos, o princípio não pode ser esse. Então, nós precisamos produzir

outras modalidades de avaliação, que tenham como ponto de partida a certeza de que

todos aprendem, todos têm direito a uma escola de qualidade, cabe a nós, enquanto

escola e sociedade, criar condições para uma escola de qualidade para todos. Aí a

avaliação é um procedimento importantíssimo pela sua dimensão reflexiva, como eu

falei anteriormente, pela sua possibilidade de projetar possibilidades e reflexões, e por

esta perspectiva que ela traz, de poder regular os processos pedagógicos, mas não no

sentido de promover a seleção, mas regular os processos pedagógicos no sentido de

proporcionar, favorecer a inclusão de todos. A avaliação não resolve, mas sem dúvida é

necessário que sejam construídos procedimentos mais democráticos de avaliação, que

possam sintonizar com o movimento de democratização da escola e da sociedade.

Salto – Como é possível pensar o processo de avaliação na perspectiva

da complexidade?

Maria Teresa – Acho que é fundamental, porque se nós pensarmos no processo ensino-

aprendizagem, na dinâmica da sala de aula, na dinâmica da escola ou das diversas

instituições que promovem, que realizam o processo educacional, nós vamos ver que

uma das marcas centrais é a complexidade. A aprendizagem não é um efeito linear do

ensino ou, pelo menos segundo determinadas concepções, não é assim que a

aprendizagem se apresenta. A sala de aula é um espaço extremamente marcado pela

diferença, se nós pensamos qualquer coletivo, qualquer grupo é marcado pela diferença.

E a diferença, no processo educacional, ela é freqüentemente compreendida como algo a

111

ser evitado, há uma série de procedimentos no sentido de produzir turmas homogêneas,

de criar mecanismos para reduzir essa diferença, isso me parece o inverso do

movimento mais produtivo. A heterogeneidade, ela potencializa, quanto mais diferentes

nós formos, mais nós temos a ensinar e a aprender uns com os outros. Se todos sabemos

a mesma coisa, a nossa possibilidade de troca é muito reduzida. Então, a sala de aula,

que é constituída por pessoas diferentes, com histórias de vidas diferentes, com culturas

diferentes, com modos de viver diferentes, com problemas diferentes, com

possibilidades de solução também diferentes, vai sendo um espaço marcado por formas

diferentes de aprender, processos diferenciados e também resultados diferenciados. A

avaliação, nessa perspectiva, não pode trabalhar a partir de um padrão preestabelecido,

porque esse padrão preestabelecido, por princípio, ele já está eliminando alguns, se nós

trabalharmos com a idéia de que a diferença é uma das marcas desse processo. Portanto,

é preciso que o processo de avaliação se abra para essa heterogeneidade e é nesse

sentido que nós temos defendido a idéia da avaliação como uma prática de investigação.

Na medida em que eu não posso definir, num primeiro momento, como será o processo

e quais serão os seus resultados, mas eu posso atravessar todo esse processo por uma

prática investigativa que vá me mostrando como é que ele está se realizando, que

múltiplos resultados ele está proporcionando e como é que nós vamos criando

mecanismos pedagógicos para potencializar essa diferença que vai emergindo a cada dia

na sala de aula, então me parece que compreender esse processo, na perspectiva da

complexidade, leva-nos a considerar a heterogeneidade como uma questão fundamental

no processo pedagógico. E surge a necessidade de criar instrumentos e procedimentos

de avaliação que possam potencializar a heterogeneidade naquilo que ela tem de mais

rico e não reduzir a potencionalidade da heterogeneidade, que é o que nós fazemos

quando nós queremos que todos entrem no mesmo padrão.

Salto – Como é que você imagina que os projetos político-pedagógicos

devem encarar ou devem abordar essa questão da avaliação?

Maria Teresa – Acho que a avaliação é um dos procedimentos necessários à realização

do projeto político-pedagógico. Para que nós possamos organizar na escola um projeto

político-pedagógico, é preciso conhecer essa escola e aí nós temos uma dimensão de

avaliação, avaliar o que essa escola tem feito, como ela tem se proposto, que questões,

112

que problemas, que possibilidades, que soluções, então demanda todo um processo de

avaliação. A sua proposição, se é um projeto político-pedagógico, parece-me que é

fundamental que seja um projeto democraticamente constituído pelos sujeitos que estão

ali interagindo. Então, é preciso que esse projeto também vá prevendo mecanismos de

avaliação que possam favorecer o diálogo, a reflexão e a interação entre esses diversos

sujeitos, é preciso que haja a interação entre os diversos pontos de vista que eles podem

ir trazendo sobre essa escola e sobre a sua dinâmica.

Salto – Maria Teresa, você estava dizendo que o projeto político-

pedagógico não pode, não deve sair de uma via que não seja uma escolha

democrática entre todos os atores envolvidos ali, no cotidiano da escola.

Maria Teresa – Pois é, é fundamental que os diversos sujeitos e não só os diversos

setores — porque aí, me parece que tem uma questão da representação, da

representatividade que nem sempre é garantida — então, é preciso que esses diversos

pontos de vista, as diversas vozes, esses diversos saberes e culturas que constituem a

escola possam dialogar na produção desse projeto político-pedagógico e, ainda, que seja

proposto um processo de avaliação compatível com essa dinâmica, compatível com essa

diversidade, compatível com essa idéia de que a escola é para todos e que deve ser e que

tem que ser de qualidade para todos. Então, essa idéia da avaliação que vai estar sendo

um instrumento pensado pelo próprio projeto político-pedagógico, como um

instrumento de avaliação do próprio projeto que está sendo proposto. Então a avaliação

perpassa toda a elaboração, toda a realização desse projeto e não apenas, como muitas

vezes se coloca, acontece ao final de uma determinada etapa ou ao final de um

determinado processo. Para que a gente possa ter informações, elementos, questões, ao

final, é preciso que a gente vá realizando essa prática, coletando informações, tendo

dados durante toda a realização do processo. E aí eu queria só fazer uma pequena

observação, porque o diálogo é uma palavra muito bonita, mas o diálogo nem sempre é

fácil, sobretudo quando a gente pressupõe a diferença. O diálogo freqüentemente traz

consigo o conflito, e essa é uma marca que eu entendo que nós temos que considerar,

nesse processo de avaliação reflexivo e dialógico: a existência do conflito, sendo que

conflito é algo que, ao ser trabalhado, pode nos ajudar a avançar em alguns elementos

do processo que estavam, de certa forma, truncados ou mal elaborados, incorporando

113

efetivamente a diferença, inclusive, aqueles aspectos que num primeiro momento nos

parecem negativos, mas que são parte do processo e que devem ser considerados.

Salto – Então, tudo já deve começar de uma avaliação? Num projeto

pedagógico, como você disse?

Maria Teresa – Eu acho que a avaliação é parte deste princípio, não só a avaliação, mas

o começo do trabalho tem que constar também de processos de avaliação.

114

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 1 – 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8 - 9

CAPÍTULO I 10 - 17

CAPÍTULO II 18 - 27

CAPÍTULO III 28 - 36

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38 - 40

ANEXOS I 41 - 44

ANEXO II 45 - 108

ANEXO III 109 - 116

ÍNDICE 117

FOLHA DA AVALIAÇÃO 118

115

FOLHA DA AVALIAÇÃO

116