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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PRESCRIÇÃO PENAL E AS ALTERAÇÕES DA LEI Nº 12.234/2010 Por: Daniela Vitória Duarte Edde Orientador Prof. Francis Rajzman

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PRESCRIÇÃO PENAL E AS ALTERAÇÕES DA LEI Nº 12.234/2010

Por: Daniela Vitória Duarte Edde

Orientador

Prof. Francis Rajzman

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PRESCRIÇÃO PENAL E AS ALTERAÇÕES DA LEI Nº 12.234/2010

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito e

Processo Penal.

Por: Daniela Vitória Duarte Edde

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a minha mãe, que me ajudou de

todas as formas, aos meus amigos, meu

orientador e as demais pessoas que de alguma

forma contribuíram para a minha felicidade.

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DEDICATÓRIA

... dedico a minha mãe e aos meus

amigos.

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RESUMO

O presente trabalho pretende analisar de forma sistemática toda a

prescrição penal dos art. 109 ao 118 do Código Penal, relativos ao jus puniend do

Estado e seu prazo legal, que foi alterado pela Lei nº. 12.234, de 05 de maio de

2010, e discutir as referidas modificações, principalmente no que tange a extinção

ou não da prescrição punitiva retroativa.

De certo, que o diploma legal em comento diz apenas que a prescrição

não pode em nenhuma hipótese, ter por termo inicial "data anterior à denúncia ou

queixa", razão pela qual, pelos critérios de hermenêutica devemos interpretar a

omissão (oferecimento ou recebimento) da forma mais benéfica ao acusado, o que

ocorre com a consideração da data do oferecimento e não do recebimento da peça

inicial.

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METODOLOGIA

No trabalho atual foi realizada uma pesquisa do tipo bibliográfica e

documental, sendo usado como fontes primárias, o Código Penal, Lei nº

12.234/2010, Constituição da República e Constituição Federal e no que compete as

fontes secundárias, doutrinadores como, Rogério Greco, Damásio de Jesus, Julio

Fabrinni Mirabete e outros mais. O método a ser realizado será o crítico, com

procedimento de decomposição do material relacionado para ratificar a análise dos

resultados obtidos.

Insta mencionar que o acervo bibliográfico e documental, como livros

dos doutrinadores supramencionados, documentos jurídicos se encontram em

cúmulo pessoal e em bibliotecas, e os sites www.jusnavegandi.com.br e

www.googleacademico.com.br e www.mundojuridico.com.br também fizeram parte

da pesquisa a ser apresentada.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO______________________________________________________8

CAPITULO I – A EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL_________________________9

1 – HISTÓRIA PENAL_________________________________________________9

1.1 – PERÍODO HUMANITÁRIO________________________________________11

1.2 – ESCOLAS PENAIS_____________________________________________11

1.2.1 – ESCOLA CLÁSSICA___________________________________________11

1.2.2 ESCOLA POSITIVA_____________________________________________12

1.3 SANÇÃO PENAL________________________________________________13

1.3.1 TEORIAS ABSOLUTAS__________________________________________14

1.3.2 TEORIAS RELATIVAS___________________________________________14

1.3.3 TEORIAS MISTAS, ECLÉTICAS OU UNIFICADORAS__________________15

1.4 ASPECTO HISTÓRICO DA PRESCRIÇÃO PENAL______________________16

CAPITULO II – O INSTITUTO DA PRESCRIÇÃO PENAL___________________19

2 – PRESCRIÇÃO___________________________________________________19

2.1 – NATUREZA JURÍDICA__________________________________________21

2.2 – ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO_____________________________________21

2.2.1 – PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA________________________21

2.2.1.1 – PRESCRIÇÃO ABSTRATA____________________________________23

2.2.1.2 – PRESCRIÇÃO RETROATIVA__________________________________24

2.2.1.3 – PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE OU SUBSEQUENTE_____________26

2.2.2 – PRESCRIÇÃO EXECUTÓRIA___________________________________27

CAPITULO III – AS ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº 12.234/2010___31

3 – PRESCRIÇÃO E A LEI Nº 12.234/2010 _______________________________31

3.1 – PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA, OU VIRTUAL, OU ABSTRATA_______32

3.2 – PRESCRIÇÃO RETROATIVA E A LEI Nº 12.234/2010__________________33

3.3 – CAUSAS DE SUSPENSÃO_______________________________________36

3.4 – CAUSAS DE INTERRUPÇÃO____________________________________37

CONCLUSÃO______________________________________________________41

BIBLIOGRAFIA____________________________________________________42

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INTRODUÇÃO

O tema em deste estudo são as alterações promovidas pela Lei

12.234/2010, em termos de extensão, não foram muito grandes, pois que

sepultaram tão somente dois artigos do Código Penal e mesmo assim alterando-os

não inteiramente, mas apenas em alguns pontos específicos. Contudo, as mudanças

operadas são de suma importância no que concerne a repercussões na sistemática

da contagem dos prazos atribuídos ao Estado em seu jus puniendi, ampliando

sobremaneira o tempo disposto ao Estado para a apuração das infrações penais,

visto que, ao mesmo tempo em que o Estado não pode ficar ad eternum no encalço

do réu ele tem, também, o dever de atuar de forma eficiente para a persecução de

seus fins, no caso, a aplicação do Direito ao caso concreto.

Prescrição é justamente a causa de exclusão da punibilidade

consistente na punição que se aplica ao Estado que foi inerte na consecução do jus

puniendi no prazo fixado pela lei.

Um Direito Penal inovador, de suma importância e dimensão, que é a

prescrição, merece ser analisado na sua praticidade, haja vista que em matéria

teórica o legislador, em um primeiro estudo, alcançou a necessária evolução jurídica

inserindo o texto legal no cotidiano dos operadores do direito.

Cumpre esclarecer que com o desenvolvimento desse trabalho iremos

conhecer as transformações inseridas no Código Penal, no que compete ao tema

Prescrição Penal, bem como o resultado da aplicação dessa teoria no que tange a

fixação do referido prazo, demonstrando uma ordem jurídica justa, estável e segura,

e se desenvolvendo segundo os direitos e garantias individuais consagradas na

nossa Carta Magna.

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CAPITULO I - A EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL

1 – HISTÓRIA PENAL

O Direito Penal, em seu sentido formal, é o ramo do Direito Público que

estabelece as infrações penais, bem como atribui as respectivas apenações. “É o

conjunto de normas jurídicas estabelecidas pelo Estado, que associam ao crime

como fato e a pena, como legítima conseqüência, e em seu sentido material,

considera crime os comportamentos altamente reprováveis ou danosos ao

organismo social, que afetam gravemente bens jurídicos indispensáveis à sua

própria conservação e progresso.

O Direito Penal atravessou várias fases em seu processo evolutivo, que

não se apresentam de maneira isolada e sim interagindo e dividindo o mesmo

momento histórico.

A punição, antigamente, tinha caráter sacral, sendo ditadas por emoções

e sentimentos, tendo em vista que naquela época inexistia o raciocínio em torno do

delito e sua correspondente punição, pois o homem primitivo não compreendia os

elementos da natureza que o rodeava, sendo orientado por impulsos.

Preleciona Julio Fabbrini Mirabete,

“Em Roma, evoluindo-se das fases de vingança, por meio do talião e da composição, bem como da vingança divina na época da realeza, Direito e Religião separam-se. Dividem-se os delitos em crimina pública (segurança da cidade, parricidium), ou crimes majestatis, e delicta privata (infrações consideradas menos graves, reprimidas por particulares). Seguiu-se a eles a criação dos crimina extraordinária (entre as outras duas categorias). Finalmente, a pena torna-se, em regra, pública. As sanções são mitigadas, e é praticamente abolida a pena de morte, substituída pelo exílio e pela deportação (interdictio acquae et igni).Contribuiu o Direito Romano decisivamente para a evolução do Direito Penal com a criação de princípios penais sobre o erro, culpa (leve e lata), dolo (bonus e malus), imputabilidade, coação irresistível, agravantes, atenuantes, legítima defesa etc.”1

Os grupos primitivos firmaram regras proibitivas em razão do convívio

mantido nas comunidades, as normas representavam os tabus (instituição que

demonstrava o domínio da magia e da crença em fenômenos extraordinários sobre o

1 MIRABETE, Julio Fabbrini. http://xoomer.virgilio.it/direitousp/curso/mira24.htm. Acessado em: 27jan2011

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homem), e o descumprimento das mesmas representava forma de ataque ao

espectro sacral, sendo a punição aplicada com intensidade elevada, podendo levar

até a morte como forme de satisfação e busca do perdão.

O período da Idade Média foi marcado por grande influência da Igreja

Católica que, em matéria penal, tinha atuação intensa nos julgamentos do Tribunal,

tendo como predomínio absoluto as penas corporais como obtenção de confissão do

acusado, como também de apenamento.

Luiz Regis Prado ressalta ser

“ forçoso reconhecer que a legislação penal dessa época se caracteriza pela grande crueldade na execução das penas (quase sempre corporais e aflitivas), como objetivo apenas de vingança social e intimidação. Tem-se um Direito gerador de desigualdades, cheio de privilégios, heterogêneo, caótico, construído sobre um aglomerado incontrolável de ordenações, leis arcaicas, editos reais e costumes; arbitrário e excessivamente rigoroso.”2

Quando a tortura começou a ser utilizada contra os hereges, as

autoridades eclesiásticas, que em princípio, desaprovavam, passaram a apoiá-la.

Sendo formalizada através da aprovação de utilização dessa prática nos processos

inquisitórios pelo Papa em 1480.

Evidencia-se que,

“Durante a etapa conhecida como inquisição, o Tribunal do Santo Ofício julgava, de forma violentíssima, aqueles que eram considerados hereges, sendo-lhes aplicadas severas punições, em geral a morte, porém, não sem antes toda uma série de torturas, a causar-lhe um sofrimento físico elevadíssimo. Em grande parte, as vítimas da ação da inquisição foram mulheres, revelando os estudos contemporâneos que várias parteiras foram intituladas de bruxas, sofrendo todos os castigos de tal fato decorrentes (tortura, morte). As análises antropológicas demonstram que esse fato tem origem no ataque proposital à maternidade, posto que a possibilidade da concessão de vida a um novo ser sempre foi reveladora de Poder, razão pela qual muitas das sociedades primitivas calcaram-se no matriarcado, ainda hoje encontrado em comunidades onde as tradições são mais rigorosamente preservadas, como em determinadas tribos indígenas.”3

A pena de morte era aplicada em larga escala, atingindo o ponto

culminante da perversão, com o pedido dos mais variados para que a morte

2 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2002, p 57-58 3 ADEL EL, Tasse. Teoria da Pena. Curitiba, Juruá, 2009, p 31

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chegasse de forma lenta e dolorosa, como, por exemplo, com a utilização de

instrumentos que matavam através do lento esmagamento dos ossos.

1.1 PERÍODO HUMANITÁRIO

No século das Luzes, XVIII, surgiram os filósofos pregando o domínio da

razão, criticando as tradições da época e à intolerância religiosa. As idéias

iluministas foram fundamentais para a humanização das penas, cabendo ressaltar

algumas delas: o universo é governado por leis inflexíveis; existem leis naturais,

inatas ao homem, e, portanto, de observância obrigatória, criadas por um Deus

único, que rege todo o Universo; liberdade na expressão das idéias.

Aduz Adel El Tasse,

“Em verdade, Beccaria foi quem, de forma mais objetiva, transportou as aspirações e princípios filosóficos do Iluminismo ao campo do Direito Penal, tornando-se símbolo de uma batalha ideológica em prol de uma melhor compreensão do fenômeno do crime e mais justa aplicação da pena. A sua obra assume, como objeto de análise, a situação da legislação criminal, mas, na realidade, fica evidente a intenção de Beccaria de estender a crítica a todos os aspectos de uma sociedade assentada no preconceito e na injustiça. A obra inscreve-se plenamente no projeto elaborado pelos iluministas. Mesmo as condenações do uso da tortura e do bárbaro rito da pena de morte não nasceram apenas da instância humanitária, mas, sobretudo, de uma rigorosa reflexão sobre a vida social, sobre os modos, sempre variados, pelos quais os atos do poder estatal penetram no tecido da psicologia coletiva. Muitas advertências, sobre os resultados de uma má administração da justiça, são colacionadas no seu estudo, assim como a luta pelo abrandamento da sanção penal.” 4

1.2 ESCOLAS PENAIS

1.2.1 ESCOLA CLÁSSICA

Tem origem na filosofia grega antiga, que sustentava ser o Direito

afirmação da justiça, no contratualismo e, sobretudo no jusnaturalismo. A escola

clássica está inserida no período humanista e a obra de Beccaria “Dei Delitti e Delle

Pene” é uma das precursoras do pensamento classicista., mas, somente com as

idéias de Francesco Carrara que ocorreu a consolidação de idéias e fixação do

entendimento da escola clássica.

4 ADEL El, Tasse, ibidem, p 31

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Nesse sentido,

“Francesco Carrara embasa sua doutrina nos pressupostos jusnaturalistas, sustentando existir uma lei eterna e imutável, formulada diretamente por Deus, para pautar a vivência do homem em sociedade. Os direitos e deveres adviram dessa ordenação, racionalmente construída por Deus. A pena, objetivamente analisada por Carrara, constitui uma sanção ao preceito fixado pela lei de natureza divina. Sendo assim, o autor conclui que o crime não é um ente fático, uma vez que está presente tão-somente no campo jurídico, aduzindo, deste modo, ser o crime um ente jurídico.”5

O indivíduo cede parte de sua liberdade individual em prol do convívio

coletivo e a possibilidade de punição surge por esse abandono da liberdade

individual, quando, então, se passa a viver em sociedade, através da normatização

política para a felicidade comum, em defesa e segurança da sociedade.

O crime é um fato em que se viola a tutela do Estado, infringindo-se a lei

e, portanto, passa a ser ele um ente jurídico. O delito é resultante de um ato do

homem porque somente o homem pode delinqüir. O ato pode ser positivo quando se

refere a ação, fazer algo, ou negativo quando se relaciona com a omissão (não fazer

o que deveria ser feito). O agente é "moralmente imputável" já que a pena se

fundamenta no livre arbítrio de que dispõe o ser humano são, e o ilícito é

politicamente danoso por perturbar ou prejudicar o cidadão e a própria sociedade,

pela instabilidade, e repercussão sociais que provoca.

1.2.2 ESCOLA POSITIVA

Tem origem no naturalismo de nas doutrinas evolucionistas (Darwin),

materialista (Buchner), sociológica (Comte, Spencer), frenológica, fisionômica. O

Direito Penal passa a ser tratado como uma ciência empírica, baseado na realidade

social e não em critérios religiosos como na teoria clássica.

Na fase antropológica, o avanço das ciências naturais foi o propulsor do

surgimento da escola positiva, dando-se inicio aos estudos biológicos e sociológicos

e a principal referência é o médico italiano César Lombroso que desenvolveu seus

estudos através da ciência, que teve o evolucionismo de Darwin como inspiração

para percorrer hospitais e estabelecimentos prisionais, em busca de caracteres

morfológicos que lhe permitissem encontrar explicação científica para o fenômeno

5 ADEL El, Tasse, ibidem, p 42

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do crime, associando o crime à anomalia que encontrou no crânio de um

delinqüente, sendo o indivíduo predestinado ao cometimento do delito, em virtude de

fazer parte de um grupo de seres que, por razões biológicas, podem regredir aos

estágios primitivos e selvagens.

Nesse sentido,

“Em seguida, Lombroso abandonou esta concepção, passando a ligar o fenômeno do crime à epilepsia, o que nominou loucura moral. Embora não mais tendo como causa a anomalia craniana, mas a epilepsia, permanece o criminoso, em seu entendimento, predestinado ao crime, podendo-se detectar, no mesmo, caracteres físicos que indicam a tendência delituosa. Exemplos de tais caracteres físicos seriam a assimetria do crânio, o uso majoritário da mão esquerda, a invulnerabilidade, maior envergadura que altura, entre outros aspectos ricamente delineados na obra L’uomo delinqüente, na qual Lombroso sintetiza sua concepção sobre o fenômeno do crime.” 6

Já na fase sociológica a principal referência foi o advogado Henrique

Ferri, realizando um estudo direcionado aos fatores exógenos (influência social),

sendo o crime fruto de um convívio social.

O mestre Mirabete diz,

“Dividiu os criminosos em cinco categorias: o nato, conforme propusera Lombroso; o louco, portador de doença mental; o habitual, produto do meio social; o ocasional, indivíduo sem firmeza de caráter e versátil na prática do crime; e o passional, homem honesto, mas de temperamento nervoso e sensibilidade exagerada. Dividiu as paixões em sociais (amor, piedade etc.), que devem ser ampara- das e incentivadas, e anti-sociais (ódio, inveja, avareza etc.), que devem ser reprimidas severamente.”7

Ferri preocupava-se mais com a prevenção do que com a repressão,

colaborando para o surgimento de medidas voltadas à modificação nos elementos

sociais que influenciam no cometimento do crime, buscando readaptar o condenado

ao convívio social através da pena.

1.3 SANÇÃO PENAL

Três posições doutrinárias sistematizam os estudos das conseqüências

jurídicas ao delito levando em conta suas finalidades e fundamentos, quais sejam,

teorias absoluta, teorias relativa e teorias mista. 6 ADEL El, Tasse, ibidem, p 45 7 MIRABETE, Julio Fabbrini. http://xoomer.virgilio.it/direitousp/curso/mira24.htm. Acessado em: 27/01/2011

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1.3.1 TEORIAS ABSOLUTAS

Seus adeptos veem a finalidade da pena como retribuição do mal pelo

mal, preconizando idéia de justiça, pune-se a agente porque cometeu o crime.

Kant preconizava que a pena é um imperativo categórico (norma

imperativa da qual não se pode desviar ser fugir da reta razão), uma consequência

natural do delito, uma retribuição jurídica, pois ao mal do crime deve-se impor o mal

da pena, disso resulta a igualdade e só esta igualdade pode trazer a justiça. Ainda

sustenta que o castigo compensa o mal e dá reparação à moral, sendo imposto por

uma exigência ética.

O réu, na tese de Kant, deve ser punido pela simples razão de ter

delinquido, sem levar em consideração a utilidade da pena para ele ou para os

demais integrantes da sociedade, negando toda e qualquer função preventiva da

pena.

Já para Hegel, a pena encontra sua justificação na necessidade de

restabelecer a vigência da vontade geral que foi negada pela vontade do

delinqüente.

Nesse contexto,

“ Para Hegel, outro integrante dos adeptos da corrente absoluta, a pena anula o crime, emprestando à sanção uma reparação de natureza jurídica e não de ordem ética, neste sentido é bastante conhecida sua regra dialética pela qual a essência da pena estaria na negação da negação ao direito.”8

1.3.2 TEORIAS RELATIVAS

Nessa teoria, pune-se para que não se cometa crime, enxergando na

pena, um fenômeno prático e imediato de prevenção especial (dirigida a pessoa que

está sofrendo a pena) ou geral (dirigida ao corpo social, afastando a idéia de

qualquer pessoa pensar em praticar um crime.

Assim,

“Cabe, a este propósito indagar como seria possível conciliar a finalidade ressocialização com sistema penal de execução por tempo certo? Ora, ao menos teoricamente, o condenado pode muito bem alcançar a meta optada do programa ressocializador antes ou

8 ADEL El, Tasse, ibidem, p 66

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depois do final da pena. Se alcançá-la antes, não deveria, então, ser imediatamente posto em liberdade, por desaparecerem as razões que determinaram e justificaram o confinamento? Pelo reverso, o condenado, ao término da pena, não teria que permanecer preso até a data em que vier a ser declarado apto para a vida em liberdade? Mas, em ambas as situações onde ficaria a segurança jurídica colimada pelo sistema de penas fixas?!” 9

A prevenção especial em seu aspecto negativo ocorre pela intimidação

do agente, corrigindo-o para que não volte a delinqüir, enquanto pelo seu aspecto

positivo relaciona-se à reeducação, tendo por finalidade a readaptação do sujeito ao

convívio comunitário.

A prevenção geral tem por objetivo intimidar os potenciais delinqüentes,

com a ameaça de inflição de pena, na prevenção geral negativa, também chamada

de prevenção por intimidação, o indivíduo é sacrificado para que os demais

aprendam a não delinqüir. A prevenção geral positiva, por sua vez, teria por fim

perpetrar a eficácia estabilizadora da norma através da pena.

1.3.3 TEORIAS MISTAS, ECLÉTICAS OU UNIFICADORAS

Essa é a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro em seu artigo 59,

sendo a fusão das duas correntes citadas anteriormente. A pena tem sua natureza

retributiva, porém, com finalidade mista de educação e correção, objetivando,

simultaneamente, retribuir e prevenir a infração. A retribuição limita o poder punitivo

do Estado e não é absoluta, posto que limitada pelos postulados humanistas e pela

idéia utilitarista presente na prevenção especial, quando se busca permitir ao

condenado que se readapte para a vida em sociedade.

Aduz Adel El Tasse,

“Sintetizando, é possível afirmar que a aceitação da escola eclética decorre em muito do fato de que analisam a pena de forma multifacetária, abordando todos os estágios da reação penal, não cometendo o equívoco de isolar-se em apenas um dos aspectos presentes nas conseqüências jurídico-penais aos delitos.”10

9 ADEL El, Tasse ibidem, p 69 10ibidem, p 75

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1.4 ASPECTO HISTÓRICO DA PRESCRIÇÃO PENAL

Origina-se a palavra prescrição do termo latino praescriptio que por sua

vez derivado verbo prescrever, significando um “escrito posto antes”.

O instituto da prescrição foi identificado, primeiramente, nas injunções

romanas, sendo também conhecido no direito grego, estendendo-se posteriormente

a generalidade de crimes, mantendo-se exceções como no caso de parricídio (é o

crime de matar o pai ou matar a mãe), esta era baseada na prescrição da pretensão

punitiva do Estado, limitando o interesse em punir à certo prazo fixado em Lei, de

modo que o processo penal não se estende-se por tempo indeterminado.

Merece destacar,

“Homem algum entregou gratuitamente parte da própria liberdade, visando ao bem público, quimera esta que só existe nos romances. Se isso fosse possível, cada um de nós desejaria que os pactos que ligam os outros não nos ligassem. Cada homem faz de si o centro de todas as combinações do globo. A multiplicação do gênero humano, pequena por si só, mas muito superior aos meios que a estéril e abandonada natureza oferecia para satisfazer as necessidades que cada vez mais se entrecruzavam, é que reuniu os primeiros selvagens. As primeiras uniões formaram necessariamente outras para resistir àquelas e, assim, o estado de guerra transportou-se do individuo para as nações. Foi, portanto, a necessidade, que impeliu os homens a ceder parte da própria liberdade. É certo que cada um só quer colocar no repositório público a mínima porção possível, apenas a suficiente para induzir os outros a defendê-lo. O agregado dessas mínimas porções possíveis é que forma o direito de punir."(Beccaria, 1997, p. 28-29).”11

O surgimento do instituto da prescrição, no direito romano, fundava-se

na idéia de que o lapso temporal promoveria a purificação e o perdão do homem,

aliada as crenças religiosas, sendo fixado o prazo prescricional em cinco anos,

tendo em vista o festejo religioso da purgação e do perdão do indivíduo, que ocorria

neste decurso de tempo. Quanto às ações penais privadas de origem pretoriana,

prescreviam em um ano, Actio Iniuriarum.

O tempo exerce influência importante nas provas necessárias para uma

condenação. Testemunhas se esquecem, outras morrem, documentos

11 ALFRADIQUE, Eliane. Prescrição penal e a atualidade de sua aplicação. http://www.mundojuridico.adv.br. Acessado em 27/01/2011

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desaparecem, o transcorrer do tempo vai apagando os vestígios do crime,

prejudicando a apuração da verdade, o que vai causar grandes dificuldades para a

formação do convencimento do julgador.

Na idade média os prazos prescricionais sofreram reduções, acarretando

em críticas para postular sua exclusão do ordenamento jurídico, acarretando, assim,

em ampliação do referidos prazos e do rol dos delitos imprescritíveis.

Nesse sentido,

“O instituto da prescrição fomentou posicionamentos contrários desde seus primórdios, sob o argumento de que cometido o delito deveria ser imposta a pena de modo a não estimular-se o cometimento de delitos e afastando a prescrição para determinados crimes considerados de maior gravidade, a existência de posicionamentos contrários promoveu inúmeras alterações no referido instituto ao longo de seu desenvolvimento nos mais variados povos e culturas, com períodos de alargamento e restrições de seus prazos. Com desenvolvimento dos Estados e a consolidação da autoridade Estatal nos moldes modernos os argumentos da inércia do Estado e de seu interesse em punir ganhou fôlego, aliada aos demais fundamentos doutrinários relativos ao reconhecimento da prescrição, que serão a seguir abordados. Certo é que este controverso instituto ainda está longe de encontrar um ponto pacífico, posto que, ainda hoje, enquanto alguns buscam fundamentos para seu alargamento, existem posições que defendem a extinção de tal instituto.” 12

O Código de Processo Criminal de 1832 e leis posteriores vieram

regulamentar a prescrição da ação no Brasil. Essas legislações já consideravam

prazos maiores para os delitos inafiançáveis e menores para os crimes afiançáveis.

De sorte que, o legislador se fundamentava na presunção da negligência do Estado

no exercício de punir. Com a Lei n.º 261, de 03 de dezembro de 1841 e do

Regulamento n.º 120, de 31 de janeiro de 1842, maior severidade foi dada à

prescrição estabelecendo-se prazo único de 20 anos, ainda permanecendo

hipóteses de crimes imprescritíveis e o requisito da presença do delinqüente para o

reconhecimento da prescrição.

Já a prescrição da condenação foi normatizada no ano de 1890 pelo

Decreto n.º 774, que elencava os prazos da prescrição com base no tempo da pena.

Com os Códigos Penais de 1890 e 1940 consagraram-se as duas modalidades de

prescrição, assim como no Código Penal vigente, de 1984.

12 SILVA, Nalcir. http://siaibib01.univali.br/pdf/Nalcir%20Silva.pdf. Acessado em 27/01/2011

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Nesse contexto,

“Em sede de Direito Criminal a prescrição é matéria de ordem pública devendo ser decretada de ofício, ou a requerimento das partes, em qualquer fase do processo, conforme o disposto no art. 61 do Código de Processo Penal, podendo se pleiteada nos próprios autos, através de habeas corpus ou pela via da revisão criminal. Sendo questão de ordem pública, os casos e as condições para sua ocorrência deverão estar expressamente regulados em lei, não podendo ser interpretada extensivamente ou por analogia.”13

Merece destacar a CRONOLOGIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO IMPÉRIO: CÓDIGO CRIMINAL, DE 1830.

REPÚBLICA: -CÓDIGO PENAL, DE 1890. -CONSOLIDAÇÃO LEI PENAL (1932). -CÓDIGO PENAL, DE 1940. -CÓDIGO PENAL, DE 1969. -CÓDIGO PENAL, DE 84/85.

13 SILVA, Nalcir. http://siaibib01.univali.br/pdf/Nalcir%20Silva.pdf. Acessado em 27/01/2011

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CAPITULO II – O INSTITUTO DA PRESCRIÇÃO PENAL

2 – PRESCRIÇÃO

A prescrição é uma das causas extintiva da punibilidade (é a

possibilidade jurídica de o Estado impor a sanção) elencada no inciso IV do artigo

107 do Código Penal, não sendo taxativo e sim exemplificativo, pois existe causas

extintivas da punibilidade fora do rol dessa disposição como por exemplo se o

agente cumpriu pena no estrangeiro pelo crime lá cometido, opera-se a extinção da

punibilidade em relação à pretensão punitiva do Estado brasileiro.

Nesse contexto:

“A prescrição extingue a punibilidade e é causa impeditiva da persecutio criminis ou torna inexistente a condenação. Singular é constatar que o elenco de causas do art. 107 do CP não é numerus clausus, v.g, o art. 82 do CP que dita “que expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena privativa de liberdade”.Bem como o art. 90 do citado estatuto, segundo o qual “o término do período de prova do livramento condicional, sem motivo para revogação, opera a extinção da pretensão executória no concernente à pena restante”; art. 240, parágrafo 2º, “a morte do ofendido no crime de adultério extingue a punibilidade”, pois a titularidade do direito de queixa é personalíssima (a ação penal só pode ser requerida pelo cônjuge ofendido); art. 7º, parágrafo 2º, d, “se o agente cumpriu pena no estrangeiro pelo crime cometido, opera-se a extinção da punibilidade em relação à pretensão punitiva do Estado brasileiro”; art. 312, parágrafo 3º, 1ª parte, “a reparação do dano no peculato culposo, antes da sentença irrecorrível, extingue a punibilidade”. Se a prescrição é a perda do direito de punir do Estado pelo decurso do tempo, justifica-se o instituto pelo desaparecimento do interesse estatal na repressão do crime, em razão do tempo decorrido, que leva ao esquecimento do delito e à superação do alarma social causado pela prática do crime.”14

O momento de ocorrência da extinção da punibilidade, em regra, é antes

da sentença final ou depois da sentença condenatória irrecorrível.

Damásio de Jesus preleciona sobre seus efeitos:

“Em regra, as causas extintivas da punibilidade só alcançam o direito de punir do Estado, subsistindo o crime em todos os seus requisitos e a sentença condenatória irrecorrível. Nesse sentido: TACrimSP, RCrim 613.785, RT, 663:314-5. excepcionalmente, a causa resolutiva do direito de punir apaga o fato praticado pelo

14 ALFRADIQUE, Eliane. Prescrição penal e a atualidade de sua aplicação. Disponível na Internet: http://www.mundojuridico.adv.br. Acesso em 25/01/2011

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agente e rescinde a sentença condenatória irrecorrível. Assim, os efeitos das causas extintivas da punibilidade operam ex tunc ou ex nunc. No primeiro caso, as causas extintivas tem efeito retroativo; no segundo, efeito para o futuro, i.e., produzem efeito a partir do momento de sua ocorrência. Possuem efeito ex nunc, não retroagindo para excluir conseqüências já ocorridas.”15

Pode-se dizer que em algumas situações o Estado pode abrir mão do

seu direito de punir e, em outras, pode vir a perdê-lo, haja vista que é uma

ocorrência que o Estado, em virtude do decurso de tempo, perde seu ius puniendi,

apesar de existir controvérsia, entendendo ser uma renúncia ao direito de punir por

parte do Estado e não uma perda. Entende-se da primeira forma, pois, o Estado

pode renunciar ao seu exclusivo ius puniendi, com a graça, anistia, ou indulto, ao

contrário da prescrição, que apesar de querer exercer, não poderá.

Rogério Greco aduz que: “a prescrição como o instituto jurídico mediante

o qual o Estado, por não ter tido capacidade de fazer valer o seu direito de punir em

determinado espaço de tempo previsto pela lei, faz com que ocorra a extinção da

punibilidade.” 16

Alguns motivos apareceram durante os anos para justificar a prescrição,

dentre eles, pode-se citar, o esquecimento a respeito da infração penal, a dispersão

de provas (teoria da dispersão das provas: tem por base a idéia de que o decurso do

tempo provoca a perda das provas, tornando quase impossível realizar um

julgamento justo. Nesse caso, haveria maior possibilidade de ocorrência de erro

judiciário), além do fator tranqüilidade para o autor da infração penal, haja vista que

o crime não pode persegui-lo para sempre.

A prescrição penal tem tríplice fundamento: o decurso do tempo (teoria

do esquecimento do fato, baseia-se no fato de que, após certo lapso de tempo, que

varia conforme a gravidade do delito, a lembrança do crime apaga-se da mente da

sociedade, não mais existindo o temor causado pela sua prática, deixando de haver,

por isso, motivo para a sua punição); a correção do condenado; e 3º a negligência

da autoridade.

15 JESUS de, Damásio. Código Penal Anotado, São Paulo, Saraiva, 2009, p 333 16 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Rio de Janeiro, Impetus, 2009, p 731

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2.1 – NATUREZA JURÍDICA

Ainda se discute qual a natureza jurídica da prescrição penal, ou seja,

uns consideram o instituto de natureza material (penal), outros consideram o instituto

de direito processual penal, e há, ainda, os que atribuem um caráter misto.

A corrente majoritária a considera como de Direito Penal, embora haja

conseqüências imediatas de Direito Processual Penal, é considerada um direito do

réu, de não ser julgado ou punido após o decurso do tempo previsto para se

extinguir a punibilidade.

Com efeito,

“Se a prescrição ocorre depois do trânsito em julgado da sentença condenatória, esta subsiste com seus efeitos secundários, como, por exemplo, o de forjar a reincidência. Se a prescrição ocorre antes do trânsito em julgado da sentença final, vindo o sujeito a cometer novo crime, não é considerado reincidente, pois falta o pressuposto da recidiva (sentença condenatória anterior com o trânsito em julgado).”17

Ressalte-se que a Carta Magna estabeleceu que, sendo instituto de

natureza material, a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.

2.2 – ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO

A legislação prevê duas espécies de prescrição: Prescrição da pretensão

punitiva (artigo 109 do Código Penal) e prescrição da pretensão executória (artigo

110 do Código Penal), conforme ocorra antes ou depois do trânsito em julgado da

sentença condenatória.

2.2.1 – PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA

A pretensão punitiva é a exigência de submissão do direito de liberdade

do cidadão ao direito de punir do Estado. Portanto, praticado o ato delituoso e antes

da sentença penal transitar em julgado, o Estado possui o direito da pretensão

punitiva, exigindo do Poder Judiciário a prestação jurisdicional pedida na acusação

para objetivar o julgamento da pretensão punitiva e impor a sanção penal. Caso não

17 JESUS, Damásio de, Ibidem, p 349.

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ocorra, até a sentença transitar em julgado, o decurso do tempo faz com que o

Estado perca o direito de punir e aplicar a sanção abstrata.

Com o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva, que, em

regra, seu prazo é calculado, tomando-se em consideração a pena máxima

cominada ao crime, confrontada com os incisos do artigo 109 do Código Penal, o

Estado não tem a possibilidade de formar o seu título executivo, ele pode até proferir

um decreto condenatório, mas tal decisão não terá força de título executivo. A

referida prescrição, ocorre entre o cometimento do crime, ou o termino da atividade

criminosa, e a sentença transitada em julgado, podendo existir causas que

suspendam ou interrompam esse lapso prescricional.

Nesse sentido,

“A conclusão pela prescrição da pretensão punitiva terá repercussões importantíssimas tanto na esfera penal como na cível. O réu do processo no qual foi reconhecida a prescrição da pretensão punitiva ainda continuará a gozar do status de primário, e não poderá ver maculado seus antecedentes penais, ou seja, será como se não tivesse praticado a infração penal. Na esfera cível, a vítima não terá como executar o decreto condenatório, quando houver, visto que a prescrição da pretensão punitiva impede a formação do título executivo judicial.”18

Reconhecida a prescrição, deve ser decretada extinção da punibilidade

nos termos do artigo, 107, IV do Código Penal, e se ainda não há inquérito policial,

não poderá ser instaurado, ou se o inquérito policial está me andamento, deve ser

remetido ao juízo para que o Promotor de Justiça requeira ao juiz a extinção da

punibilidade, se foi oferecida a queixa ou denúncia, caberá ao juiz rejeitá-las, agora

se a ação penal foi iniciada, cabe ao juiz, de ofício, decretá-la ou absolver

sumariamente o réu e por fim, em grau de recurso ou revisão criminal, a sentença

não produzirá nenhum efeito.

Até então, essa pretensão era subdividida em prescrição abstrata,

retroativa e intercorrente, onde mais a frente entenderemos a razão.

18 GRECO, Rogério. Ibidem, p 732

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2.2.1.1 – PRESCRIÇÃO ABSTRATA

Denomina-se prescrição abstrata porque ainda não existe pena

concretizada na sentença para ser adotada como parâmetro aferido no lapso

prescricional. O prazo é dado pela pena máxima privativa de liberdade cominada à

infração penal. Assim, por exemplo, a pretensão estatal prescreve em vinte anos se

o máximo da pena for doze anos. Pode haver também causas modificadoras desse

prazo, sendo essas majorantes ou minorantes e a idade do agente.

Aduz Damásio de Jesus acerca da contagem do prazo,

“ É regulado pela pena abstrata cominada na lei penal incriminadora, seja simples ou qualificado o delito. O prazo prescricional varia de acordo com o máximo da sanção abstrata privativa da liberdade, com desprezo da pena de multa, quando cominada cumulativamente ou alternativamente. Para saber qual o prazo de prescrição da pretensão punitiva devemos verificar o limite máximo da pena imposta in abstracto no preceito sancionador e enquadrá-lo em um dos incisos do art. 109 do Código Penal.”19

Os prazos prescricionais são regulados pelas pena em abstrato

cominada no artigo 109, caput do Código Penal, com desprezo da pena de multa,

seja ela cumulativa ou alternativamente cominada, não se distinguindo entre as

penas restritivas de direitos ou privativas de liberdade, conforme artigo 109,

parágrafo único do Código Penal. O prazo é computado incluindo-se o dia do

começo, durante o lapso previsto em lei de acordo com a pena abstrata até as 24

horas do dia anterior do cometimento do delito, do ano fixado em lei.

Nesse contexo,

“Com a redação dada ao art. 109, percebe-se que o primeiro cálculo a ser feito sobre a prescrição deve recair sobre a pena máxima cominada em abstrato para cada infração penal. Se o cálculo deve ser realizado antes mesmo de qualquer sentença condenatória, onde nela é concretizada a pena aplicada ao agente, podemos concluir que a prescrição que leva em consideração a pena máxima cominada a cada infração penal diz respeito à pretensão punitiva do Estado.”20

Considerando os crimes de competência do Juízo Singular a prescrição

punitiva pode ocorrer entre a data da consumação do crime e do recebimento da

19 JESUS, Damásio de. Ibidem, p 350 20 GRECO, Rogério. Ibidem, p 734

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denúncia ou queixa. A eventual instauração de inquérito policial ou oferecimento da

denúncia, ocorrida a prescrição devem ser rejeitados, conforme artigo 432, II do

Código de Processo Penal. Surge também entre a data do recebimento da denúncia

ou queixa e a da publicação da sentença final, em ocorrendo à prescrição não há

julgamento de mérito.

Em relação aos crimes de competência do Tribunal do Júri, os prazos

prescricionais computam-se entre a data do fato e do recebimento da denúncia;

entre a data do recebimento da denúncia e a da publicação da pronúncia; a data da

pronúncia e sua confirmação; e entre a data da pronúncia ou sua confirmação e

sentença final. Havendo desclassificação, o prazo final será regulado pela pena

máxima cominada à infração para qual foi desclassificada, se ocorrida à prescrição o

Juiz poderá declará-la de ofício.

2.2.1.2 – PRESCRIÇÃO RETROATIVA

A prescrição da pretensão punitiva retroativa, constituindo forma de

prescrição da pretensão punitiva, que, com as alterações promovidas pela Lei

12.234/2010, foi, aparentemente, sepultada, que será tema do próximo capítulo,

portanto, abordado em outra oportunidade, ocorre quando o cálculo prescricional é

refeito, retroagindo-se, partindo-se do primeiro momento, que é a data do fato, para

sua contagem com algumas peculiaridades. Levando em consideração a pena

concreta aplicada na sentença, ao contrário da abstrata, que tem como referência a

pena máxima cominada ao delito. É considerada entre a consumação do crime e o

recebimento da denúncia ou queixa, ou entre este e a sentença condenatória. Para

que haja essa prescrição, não deve ocorrer como na prescrição abstrata, a sentença

condenatória deve ter sido prolatada, ter ocorrido transito em julgado para a

acusação ou improvimento de seu recurso.

No mesmo sentido,

“Desde que transitada em julgado para a acusação, ou julgado improcedente o seu recurso, verifica-se o quantum da pena imposta na sentença condenatória. A seguir, adapta-se tal prazo a um dos incisos do artigo 109 do Código Penal. Encontrado o respectivo período prescricional, procura-se encaixá-lo entre dois pólos: a data do termo inicial, de acordo com o artigo 111 do Código Penal, e a do

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recebimento da denúncia (ou queixa) (RT, 627: 349), ou entre esta e a da publicação da sentença condenatória.”21

Não obstante, a recente Lei n. 12.234, de 5 de maio de 2010, modificou

parcialmente o regime da prescrição: elevou o prazo prescricional nos crimes de

pena máxima não superior a um ano: de dois para três anos (artigo 109, VI do

Código Penal). Assim, o prazo, que era de dois anos antes da lei nova, passa para

três. Essa modificação se reflete sobre todas as modalidades de prescrição, vale

dizer, sobre os prazos da prescrição da pretensão punitiva e executória.

Imperioso mencionar que a supramencionada lei configura novatio legis

in pejus, sendo, portanto, irretroativa, tendo em vista que o aumento do prazo

apresenta natureza gravosa, de modo que se aplica exclusivamente a fatos

praticados a partir da entrada em vigor da nova Lei, ou seja, do dia 6 de maio de

2010.

Sendo assim,

“Qual o fundamento da modificação? Cremos que ocorreu o seguinte: o Estado, em vez de dotar o sistema judiciário criminal com meios suficientes para a entrega rápida da prestação jurisdicional, aumentou o prazo da prescrição. É uma confissão, como se reconhecesse: em certos crimes, é muito exíguo o prazo prescricional de dois anos entre o fato e a denúncia ou entre esta e a sentença; vamos passar para três.”22

A prescrição retroativa encontra amparo no parágrafo segundo do artigo

110 do Código Penal, sendo assim, terá que ser percorrido todo o caminho, desde a

data do fato até o despacho de recebimento da denúncia ou da queixa e ato

contínuo, se fará o calculo entre a data do recebimento da denúncia (queixa), até a

sentença penal condenatória recorrível. Se entre os dois marcos interruptivos houver

decorrido a prescrição retroativa, deverá ser declarada a extinção da punibilidade.

O prazo prescricional é contado da data da publicação da sentença

condenatória retroagindo até a data do recebimento da denúncia ou queixa, ou entre

esta data e a da consumação do crime.

Nos crimes dolosos contra a vida, cujo julgamento é realizado através do

Tribunal do Júri, conta-se o prazo entre a pronúncia e a sentença condenatória, ou

entre o fato e o recebimento da denúncia.

21 JESUS, Damásio de. Ibidem, p 360 22 JESUS, Damásio, http://blog.damasio.com.br/?p=1402 Acesso em 24/01/20111

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As causas de aumento e diminuição da pena, bem como as agravantes

e atenuantes, são consideradas na sentença condenatória, e por isso não interferem

no prazo prescricional. No caso de concurso formal, considera-se a pena base

imposta na sentença condenatória excluindo-se o acréscimo legal. No crime

continuado, leva-se em conta cada uma das penas, sendo iguais, ou mais grave, se

diversas, desprezando-se o aumento. No concurso material cada infração tem seu

prazo prescricional considerado isoladamente.

A menoridade relativa ou a maioridade senil permitem a redução do

prazo prescricional pela metade, aplicando o artigo 115 do Código Penal. No tocante

a reincidência, apesar de duas correntes, não aumenta o prazo prescricional visto

que já foi considerada na sentença que a reconheceu.

Cumpre mencionar que as causas interruptivas da prescrição retroativa

estão elencadas no artigo 117 do Código Penal, e são elas: a publicação da

sentença condenatória anulada; a comunicabilidade nos casos de concurso de

agentes, salvo o caso da reincidência; e o início ou continuação do cumprimento da

pena.

“Em relação as causas interruptivas (art. 117, CP), o prazo pára temporariamente o seu curso até a cessação da causa que lhe deu origem, voltando a correr do início, ou seja, sem aproveitamento do já decorrido anteriormente. São elas: o recebimento da denúncia ou queixa (art. 117, I, CP); a data da publicação do despacho que a receber, sendo que eventual retificação ou ratificação não obsta a interrupção; a pronúncia (art. 117, II e III, CP), prevalecendo a data da publicação desta; a desclassificação para outro crime de competência do Júri (art. 408, §4º); a sentença condenatória recorrível (art. 117, IV, CP), ainda que parcialmente reformada pelo tribunal, se anulada não produz efeito interruptivo; e os embargos infringentes, que também interrompem o prazo prescricional quando interpostos contra acórdão absolutório. Em concurso de agentes, a causa interruptiva se comunica, exceto em caso de reincidência ou continuação do cumprimento da pena.”23

2.2.1.3 – PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE OU SUBSEQUENTE

A diferença entre a prescrição intercorrente (artigo 110, §1º do Código

Penal) e a prescrição retroativa (artigo 110, §2º do Código Penal) é que a

intercorrente tem seu prazo contado da publicação da sentença em diante e a

retroativa tem seu prazo considerado entre a data do cometimento do crime e a do 23 http://jus.uol.com.br/revista/texto/965/do-instituto-da-prescricao-penal . Acesso em 24/01/2011

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recebimento da denúncia ou queixa ou entre essa e a data da publicação da

sentença.

Damásio de Jesus assim trata a matéria,

“Há, contudo, uma exceção, prevista no § 1º do artigo 109 do Código Penal, considerado isoladamente. Transitando em julgado a sentença condenatória para a acusação, ou não obtendo provimento o seu recurso, a partir de sua publicação começa a correr prazo prescricional regulado pela pena concreta. Verifica-se que, embora ainda não se possa falar em prescrição da pretensão executória, uma vez que a decisão ainda não transitou totalmente em julgado, não é mais a pena abstrata, mas a concreta, o termo fixador da prescrição. A razão reside em que, ou porque somente o réu apelou, ou, não tendo apelado, pode fazê-lo, ou porque a decisão transitou em julgado para a acusação, ou foi improvida sua apelação, a condenação, quanto à quantidade da pena, não pode mais ser alterada em prejuízo da defesa. Diante disso, a partir da sentença condenatória não existe fundamento para que a prescrição continue a ser fixada pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada em abstrato.” 24

A prescrição da pretensão punitiva intercorrente ou subsequente volta-se

para o futuro, ao contrario da prescrição retroativa. Ocorre quando há prescrição

após o trânsito em julgado para a acusação, ou do improvimento do seu recurso,

tomando por base a pena fixada na sentença penal condenatória.

A sentença condenatória não poderá ser executada na área cível,

devendo valer-se da ação civil, conforme preceitua o artigo 64 do Código de

Processo Penal, nem tampouco se lançará o nome do réu no rol dos culpados não

gerando, desta forma, sua reincidência.

2.2.2 – PRESCRIÇÃO EXECUTÓRIA

No tocante à pretensão executória, o Estado, em razão do decurso do

tempo, somente terá perdido o direito de executar sua decisão, dentro de um certo

lapso temporal, sendo o título executório formado com o trânsito em julgado da

sentença penal condenatória, mas sem força de ser executado se não for exercitado

pelos órgãos estatais o direito dele decorrente, verificando-se então a prescrição da

pretensão executória. O condenado poderá ser reincidente se vier cometer novo

crime, importando inclusive, em maus antecedentes.

Assim preleciona Rogério Greco: 24 JESUS, Damásio de. Ibidem, p 358

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“Assim, suponhamos que a prescrição somente tenha ocorrido depois da sentença penal condenatória que já havia transitado em julgado para o Ministério Público. Imagine-se que não houve entre os marcos interruptivos da prescrição, anteriores à sentença penal condenatória, lapso de tempo que pudesse conduzir ao reconhecimento da prescrição, sendo que tal fato ocorreu depois do recurso interposto pela defesa, antes mesmo do julgamento pelo Tribunal competente. O fato de ter o decisum transitado em julgado para o Ministério Público não faz com que a prescrição ocorrida posteriormente à sentença penal condenatória seja considerada como a pretensão executória, pois que, aqui, como se percebe, o Estado não conseguiu formar o seu título executivo judicial. Por mais que quisesse, o Estado não poderia executar a sua decisão, razão pela qual a natureza de tal prescrição deverá ser considerada como a pretensão punitiva.”25

Não se confunde a prescrição, em que o direito de punir, é diretamente

atingido, com a decadência, em que é atingido o direito de ação e, indiretamente, o

direito de punir do Estado.

Com o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva, o Estado,

não poderá impor qualquer seqüela ao agente pela prática do crime, e se

considerada a prescrição da pretensão executória, todos os efeitos da sentença

penal estarão mantidos, sendo o trânsito em julgado da sentença penal um dos

requisitos para que se possa concluir pela referida prescrição

A contagem do prazo é regulado pela quantidade da pena imposta na

sentença condenatória, variando de acordo com os lapsos fixados nos incisos do

artigo 109 do Código Penal, os lapsos são considerados em face da pena concreta.

Embora o termo inicial corresponda à data do trânsito em julgado da condenação

para a acusação, há que se observar a necessidade que esta também se tenha

tornado irrecorrível para a defesa, momento este que o Estado adquire a pretensão

executória.

Na pena imposta não se desconsideram causas de agravamento ou de

aumento eventualmente reconhecidas, salvo os casos concurso formal e crime

continuado. No caso de revogação do livramento condicional, não ocorre a

prescrição da pretensão executória, durante o período de prova, a prescrição regula-

se pelo lapso temporal que ainda restar da pena, inadmitindo a aplicação do

princípio da detração penal em termos de dedução do tempo da prisão provisória,

incabível também no caso de concessão do perdão judicial.

25 GRECO, Rogério. Ibidem, p 736

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Havendo reincidência, o prazo prescricional executório é aumentado de

um terço. Este aumento pressupõe que a sentença condenatória tenha reconhecido

a reincidência. O aumento incide sobre o prazo e não sobre a pena, conforme

Súmula nº 220 do STJ. Nos concursos de crime e no crime continuado a prescrição

executória opera da mesma forma que na prescrição punitiva. Cada delito tem seu

prazo prescricional isolado, ainda que as penas tenham sido impostas na mesma

sentença, sem o aumento.

No tocante ao crime continuado, sustenta Damásio de Jesus,

“O prazo prescricional deve ser contado de acordo com a pena-base imposta na sentença, sem o aumento. Entende-se, porém, que no cálculo da pena concreta, para efeito da prescrição da pretensão da executória, é necessário desintegrar a sanção resultante do crime continuado e distribuí-la pelos delitos componentes, incidindo a prescrição sobre a pretensão estatal em relação a cada crime, considerado isoladamente, sem o acréscimo legal. Essa posição hoje tem o apoio no artigo 119 do Código Penal.”26

À prescrição executória também aplicam-se o disposto quanto a

menoridade relativa, quando no momento da ação ou omissão, era menor de 21

anos e a maioridade senil, quando na data da sentença for maior de 70 anos,

reduzindo-se pela metade.

As causas suspensivas são aquelas elencadas no artigo 116 do Código

penal, que suspendem o curso do prazo prescricional que começa a correr pelo

tempo restante após cessadas as causas que determinaram. O tempo anterior é

somado ao tempo posterior à cessação da causa que determinou a suspensão do

curso do referido prazo.

Nesse sentido,

“Como exemplo da primeira hipóteses de suspensão, prevista pelo inciso I do art. 116 do Código Penal, podemos citar o delito de bigamia. Se a validade do casamento anterior estiver sendo discutida no juízo cível, o curso da ação penal ficará suspenso, suspendendo-se, também, o prazo prescricional, até que seja resolvida a questão prejudicial. Sendo decidida a questão prejudicial, o processo retoma o seu curso normal, bem como tem-se por reiniciado o lapso prescricional, ficando o juízo criminal vinculado à decisão proferida pelo juízo cível, conforme já decidiu, com acerto, o extinto TACrim. – SP.”27

26 JESUS, Damásio de. Ibidem, p 356 27 GRECO, Rogério. Ibidem, p 745

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As causas interruptivas também previstas no artigo 117, V e VI do

Código Penal ocorrem quando do início ou continuação do cumprimento da pena,

caso o condenado fuja, o prazo prescricional começa a correr a partir da sua fuga, e

será regulado pelo tempo restante da pena, e a partir deste instante também estará

interrompida a prescrição da pretensão executória, e pela reincidência, outro marco

interruptivo da prescrição, tem o poder de gerar efeito a partir da data do trânsito em

julgado da sentença condenatória do autor do delito, embora haja outra corrente que

entenda que o lapso prescricional da pretensão executória é interrompido pela

prática do novo crime.

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CAPITULO III – AS ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº 12.234/2010

3 – PRESCRIÇÃO E A LEI Nº 12.234/2010

Prescrição é uma das modalidades de extinção da punibilidade. É de

conhecimento que o Estado tem o poder de punir. Assim sendo, na medida em que

ocorre uma infração penal surge para o Estado a possibilidade de punição do autor

desta conduta.

Extingue-se a punibilidade pela prescrição, decadência e perempção. A

extinção da punibilidade pela prescrição fulmina no jus puniendi em dos dois

momentos em que ele é exercível o primeiro na dedução da pretensão de ser

reconhecido, com a aplicação da sanção, e o segundo na dedução da pretensão de

cumprir a sentença penal condenatória obtida na persecução penal. Logo, é

incontestável a afirmação de que a prescrição divide-se como pretensão punitiva e

como prescrição executória. A linha demarcadora de uma e outra situação é,

logicamente, a que separa as duas pretensões, o trânsito em julgado da sentença.

As regras da prescrição são ditadas pelo próprio Código Penal, onde

estão estabelecidas os prazos prescricionais correspondentes às penas e as

subespécies de prescrição. Tal instituto extingue a punibilidade e é causa impeditiva

da persecutio criminis ou torna inexistente a condenação, sendo norma de direito

material, embora algumas de suas conseqüências influam sobre a ação penal e a

condenação. Por conseguinte, a contagem do prazo prescricional obedece à regra

do artigo 10 do Código Penal, computando-se naquele o dia do começo.

Atualmente, a legislação brasileira prevê quatro modalidades de

prescrição, sendo três delas relacionadas à prescrição da pretensão punitiva – quais

sejam: prescrição em abstrato (ou propriamente dita), prescrição intercorrente (ou

interveniente) e prescrição retroativa – e uma de prescrição da pretensão executória,

que ocorre quando o Estado não providencia, em certo tempo, a execução de uma

pena já aplicada. A doutrina e parte da jurisprudência dos tribunais de primeiro grau

se encarregam de afirmar a existência de mais um tipo de prescrição da pretensão

punitiva: a prescrição virtual (ou antecipada).

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3.1 – PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA, OU VIRTUAL, OU

ABSTRATA

A prescrição em perspectiva, também conhecida como antecipada ou

virtual, é criação doutrinária com fins de beneficiar o réu e diminuir a morosidade do

Poder Judiciário; concedendo aos operadores do direito a possibilidade de antever o

resultado do processo sem a necessidade de passar por todas as suas fases, desse

modo impede, o desperdício de dinheiro e principalmente de tempo com um

processo que ao final não terá conseqüência alguma para o réu.

Sendo assim,

“Embora não concordemos em reconhecer aquilo que ainda não ocorreu efetivamente, como seria o caso do reconhecimento da prescrição considerando-se uma provável pena a ser aplicada ao autor do fato, a situação merece uma análise mais aprofundada, até mesmo para trazer outros fundamentos que impeçam o início da ação penal ou conduzir à extinção do processo sem julgamento do mérito.”28

A referida prescrição é aquela que leva em consideração a pena máxima

em abstrato prevista no tipo penal, já que não se sabe a pena que será aplicada ao

sujeito. Dessa maneira, sabendo a pena máxima, bem como as qualificadoras e as

causas de aumento e de diminuição da pena que poderão ser aplicadas e, com a

utilização do artigo 109 do Código Penal, é possível descobrir o lapso temporal

prescricional. O que acontece é que a nova lei que trata da prescrição alterou o

inciso VI, do artigo 109, do Código Penal. Antes, o prazo prescricional era de 2 (dois)

anos, se a pena máxima fosse inferior a 1 (um) ano. A partir de 06 de maio de 2010,

o prazo prescricional passa a ser de 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a

1 (um) ano.

A título de raciocínio,

“... suponha-se que alguém, depois de ter sido provocado por terceira pessoa, a agrida, causando-lhe lesões corporais de natureza leve. A vítima apresentou sua representação, permitindo o início das investigações. Independentemente de ser fato da competência do Juizado Especial Criminal, imagine-se que a conduta tenha sido praticada no dia 1º de fevereiro de 2003. somente dois anos e meio depois dos fatos é que as investigações foram encerradas, tendo os autos sido remetidos à Justiça. Verificando todas as provas nele constantes, bem como das causas de diminuição e de aumento de pena, o Promotor de Justiça verifica

28 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Rio de Janeiro, Impetus, 2009, p 757

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que o julgador jamais poderá, naquele caso concreto, aplicar a pena máxima para o delito de lesões corporais leves, vale dizer, um ano de detenção. Daí, perguntamos: Poderá o Promotor de Justiça solicitar o arquivamento do inquérito policial sob o argumento do reconhecimento antecipado da prescrição, uma vez que a pena a ser aplicada em caso de condenação será sempre inferior a um ano, o que conduzirá, fatalmente, naquela oportunidade, ao reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva do Estado?”29

Entende o ilustre doutrinador Rogério Greco que “Entendemos ser

negativa a resposta, pois que não se pode reconhecer aquilo que ainda não

aconteceu”.

Enquanto a prescrição retroativa exige uma sentença ou acórdão

condenatório, a prescrição virtual ou antecipada os dispensa. Nesta, em face dos

elementos que instruem os autos, a acusação, considerando que a prescrição

retroativa irá ocorrer, a requer, antes da denúncia. Supõe, sem o devido processo

legal, em perspectiva, a condenação do réu e qual será a pena aplicada (pena

presumida, hipotética), atitude que contradiz a Constituição Federal. Era a

interpretação que a norma permitia antes da lei nova. Diante da desconfiança de

que, ainda se entendesse admissível levar-se em conta a demora da prestação

jurisdicional durante o decurso de tempo entre o fato e a denúncia ou queixa para a

declaração do encerramento da persecução penal, a lei quis demonstrar que

também não a acolhe por qualquer razão sob diverso preceito, como, por exemplo, o

da falta de justa causa para a ação penal, a lei quis deixar claro que também não a

acolhe fundamento. Por isso mencionou não podendo, em nenhuma hipótese.

3.2 – PRESCRIÇÃO RETROATIVA E A LEI Nº 12.234/2010

A prescrição retroativa, que faz parte da segurança jurídica, originou-se

com a edição da súmula 146 pelo STF em 1964, O instituto originou-se com a

edição da súmula 146 pelo STF em 1964, e deu margem a muita discussão

jurisprudencial e doutrinária. Enquanto uns analisam tal possibilidade como forma de

diminuir a demora do Poder Judiciário e aguçar a justiça; outros preferem ver a

prescrição retroativa sob a ótica de meio de promoção da impunidade, tendo em

vista à possibilidade de benefício que tal instituto concede aos condenados. Esta

prescrição é regulada, em regra, pela pena em abstrato, mas pode, 29 GRECO, Rogério. Ibidem, p 758

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excepcionalmente ser regulada pela pena em concreto, isto é, pela pena cominada e

decorrente de uma sentença condenatória

A prescrição da pretensão punitiva retroativa ocorria quando após a

sentença, tomando-se por base a pena aplicada e o prazo prescricional

correspondente, observava-se que antes da referida sentença já havia transcorrido o

lapso temporal suficiente para que se justificasse a prescrição.

Nesse entendimento, aduz Damásio de Jesus:

“O decurso do tempo possui efeitos relevantes no ordenamento jurídico, operando nascimento, alteração, transmissão ou perda de direitos. No campo penal, o transcurso do tempo incide sobre a conveniência política de ser mantida a persecução criminal contra o autor de uma infração ou de ser executada a sanção em face de lapso temporal minuciosamente determinado pela norma. Com a prescrição o Estado limita o jus punitionis a lapsos temporais, cujo decurso faz com que considere inoperante manter a situação criada pela violação da norma de proibição.”30

Até a entrada em vigor da lei 12.234/2010, a referida prescrição poderia

basear-se no decurso do prazo prescricional em dois instantes, entre a ocorrência

do fato e o recebimento da denúncia ou da queixa, quer dizer, durante a

investigação criminal e a apreciação do caso pelo Promotor de Justiça, e entre o

recebimento da denúncia e a prolação da sentença ou acórdão. Com a modificação

do §1° e a revogação do §2°, emanadas do mandamento legal de número

12.234/2010, tornou-se impossível o início da contagem do prazo da prescrição

retroativa antes do oferecimento da denúncia ou da queixa.

O prazo prescricional é contado em dias – incluindo-se em seu cômputo

o dies a quo (artigo 10 Código Penal) – segundo o calendário comum.

Ocorrendo a instituto da prescrição, não há pena (efeito principal), nem

inscrição no rol dos culpados, nem fixação do pressuposto da reincidência, nem

eventual pagamento de custas (efeitos secundários).

A nova lei não modificou a essência do instituto em questão, apenas

restringiu sua aplicabilidade ao intervalo de tempo entre o oferecimento da denúncia

ou da queixa e a da sentença ou acórdão.

Nesse sentido,

“Assim, a autoridade policial fica autorizada a investigar um indivíduo durante anos, sem se preocupar em terminar a investigação. O limite máximo da investigação é o prazo

30 JESUS de, Damásio. Código Penal Anotado, São Paulo, Saraiva, 2009, p 349

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prescricional condicionado à pena máxima abstrata, sendo que o prazo prescricional agora ficou difícil de ser atingido durante esta fase inquisitorial.” 31

Houve, na realidade, extinção da prescrição punitiva retroativa de forma

parcial, haja vista que não houve impedimento de ocorrência da mesma entre a data

do oferecimento da denúncia ou queixa e a publicação da sentença condenatória

recorrível.

Em sentido contrário,

“Para nós, entretanto, a Lei n. 12.234/2010 não excluiu somente um período prescricional antecedente por via da desconsideração do prazo prescribente entre o fato e o recebimento da denúncia ou queixa. Aplicando interpretação gramatical, teleológica e sistemática, além do elemento histórico e de Política Criminal e, com isso, alcançando o sentido literal da norma (resultado), estamos seguramente convencidos de que ela declarou a extinção integral da prescrição retroativa.”32

Para que efetivamente ocorresse a extinção da prescrição punitiva

retroativa, seria necessário que o legislador tivesse estabelecido que a prescrição

depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação, regula-

se pela pena aplicada, não podendo, ter por termo inicial data anterior à publicação

da sentença condenatória ou acórdão.

Nesse contexto,

“Importante ressaltar que a prescrição retroativa verificada entre a data dos fatos e o recebimento da denúncia, extinguida pela Lei 12.234/2010, foi introduzida no Brasil a partir de construção jurisprudencial sedimentada no Supremo Tribunal Federal e, posteriormente, foi ratificada pelo Código Penal na Reforma da Parte Geral de 1984,(1) tendo como premissa ser a prescrição uma punição aos entes do Estado em face da inércia derivada da perda do jus puniendi.”33

Deve-se perceber que se trata de alteração mais severa ao réu, sendo,

portanto, irretroativa, conforme preceitua a nossa Carta Magna em seu artigo 5º.

Significa entender, que do início da fluência do primeiro decurso de

tempo, que ocorre a partir da data do fato criminoso até a primeira causa

interruptiva, qual seja, o recebimento da denúncia ou queixa, somente poderá haver

a prescrição pela pena máxima abstrata, a genuína prescrição da pretensão

31 http://www.realeadvogados.com.br. Acessado em 24/01/2011 32 http://blog.damasio.com.br/?p=1498. Acessado em 25/01/2011 33 http://www.realeadvogados.com.br. Acessado em 24/01/2011

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punitiva. A prescrição retroativa, contudo, ainda é admissível entre a denúncia ou

queixa e a publicação da sentença, acórdão e pronúncia recorríveis.

Na prescrição retroativa extingue-se a própria pretensão de obter uma

decisão a respeito do crime, implica irresponsabilidade do acusado, não marca seus

antecedentes e nem gera futura reincidência. O réu não responde pelas custas do

processo e os danos poderão ser cobrados no cível por via ordinária.

3.3 – CAUSAS DE SUSPENSÃO

As causas da suspensão estão previstas, taxativamente, no artigo 116

do Código Penal e são aquelas que suspendem o curso do prazo prescricional, o

tempo anterior é somado ao tempo posterior à cessação da causa que determinou a

suspensão do curso do prazo prescricional.

As questões prejudiciais, inciso I do referido artigo, se a decisão sobre a

existência da infração depender de solução de controvérsia, que o Juiz repute séria

e fundada, provocam a suspensão, o termo inicial da suspensão da prescrição é a

data da publicação do despacho judicial determinando o sobrestamento da ação e a

data final é a do trânsito em julgado da decisão que decidiu a matéria, como, por

exemplo, o crime de bigamia, se a validade do casamento estiver sendo discutida na

área cível, a persecução penal ficará suspensa, juntamente com o prazo

prescricional até que se resolva aquela demanda.

No caso de superveniência de doença mental (artigo 152 do Código de

Processo Penal) em relação à pratica da infração penal, em que a ação é

sobrestada até o restabelecimento do acusado, não há a suspensão prescrição.

Nesse contexto

“O legislador criou mais uma causa suspensiva (ou impeditiva) da prescrição. Sobrestado o processo, o prazo prescricional cessa o seu curso até o comparecimento do acusado, data em que novamente recomeça a correr, computando-se o tempo anterior. Assim, cessada a suspensão, a prescrição prossegue, levando-se em conta, no cálculo, o tempo anteriormente decorrido. Suponha-se que um ano após o recebimento da denúncia, causa interruptiva do prazo prescricional (CP, art. 117,I), o processo venha ser suspenso. O ano anterior à suspensão deve ser computado, prosseguindo o decurso do tempo prescricional. Termo final do prazo de suspensão é a data de comparecimento do acusado, pessoalmente ou por

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intermédio de defensor, e não a do despacho que determina o prosseguimento do feito, se posterior.”34

O cumprimento da pena pelo agente no estrangeiro, inciso II, suspende

o prazo prescricional da pretensão punitiva estatal, por não caber extradição. Não

impede o decurso do prazo prescricional, portanto, estar o condenado cumprindo

pena, em razão de outro processo, no Brasil.

Além do artigo 116 do Código Penal ser taxativo, a Carta Magna de 1988

prevê a suspensão do prazo prescricional no artigo 53, § 1º, parte final e § 2º; o

artigo 366 do Código de Processo Penal estabelece a suspensão do prazo

prescricional quando o réu for citado por edital e não comparecer e nem constituir

advogado.

3.4 – CAUSAS DE INTERRUPÇÃO

Na interrupção o prazo para temporariamente o seu curso até a

cessação da causa que lhe deu origem, voltando a correr do início, ou seja, sem

aproveitamento do já decorrido anteriormente.

Deve-se destacar que o Código Penal exige, para fins de interrupção da

prescrição, o recebimento, e não somente o oferecimento da denúncia ou queixa,

dentre os demais elecandos, taxativamente no artigo 117 do Código Penal, não

podendo, portanto, ser ampliado.

Damásio de Jesus declara;

“A adotar a tese benéfica, como o recebimento da denúncia ou da queixa interrompe o prazo prescricional, o intérprete teria que aceitar erro da lei ao desconhecer a existência de efeito diverso, em matéria de prescrição, entre seu oferecimento e recebimento. Não houve, contudo, erro do legislador nem da lei. Ocorre que não mais se permite à acusação obter, com fundamento na prescrição virtual, o arquivamento de inquérito policial antes da denúncia ou da queixa. Por isso, a norma mencionou somente denúncia e queixa, não desconhecendo o legislador os efeitos da distinção entre seu “oferecimento” e “recebimento”.35

O despacho que rejeitar a denúncia ou queixa, não tem força interruptiva

da prescrição, nem tampouco se recebida por juiz incompetente, apenas

interrompendo o recebimento pelo juiz natural.

34 JESUS, Damásio de, Ibidem, p 374. 35 http://blog.damasio.com.br/?p=1498. Acessado em: 25/01/2011

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O aditamento da denúncia também não interrompe a prescrição, a não

ser que contenha novos fatos que se traduzam em nova infração penal, ou que

inclua novo acusado.

No caso do inciso II do referido artigo, as ações de competência do

Tribunal do Júri, quando o juiz determina, através de sentença de pronúncia, seja o

réu julgado pelo Conselho de Sentença, o pronunciando, pois foi convencido da

materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de

participação, tal decisão tem força de interromper o prazo prescricional, contando-se

tal marco interruptivo a partir da sua publicação em cartório.

No que concerne o inciso IV do referido artigo, aduz o doutrinador

Damásio de Jesus,

“Se o réu recorre da pronúncia e o tribunal a confirma, o acórdão também interrompe a prescrição (CP, art. 117, III), o mesmo ocorrendo quando é impronunciado (art. 414, caput) ou absolvido sumariamente (CPP, art. 415) e o tribunal o pronuncia”.36

No tocante ao inciso IV a interrupção se dá com a publicação da

sentença ou acórdão condenatórios, em se tratando, apenas, de sentença

condenatória recorrível, a publicação se dará com a sua entrega ao escrivão ou, se

a decisão for proferida em audiência, com a sua leitura, não possuindo essa força,

aquela de natureza absolutória.

Outra interrupção da prescrição que encontra-se no artigo 117 do Código

Penal é o início ou continuação do cumprimento da pena, que incide sobre a

pretensão executória, ou seja, iniciando o prazo da prescrição com o trânsito em

julgado da sentença condenatória, interrompe pelo começo do cumprimento da

pena, caso o condenado fuja, a prescrição começa a contar da data da fuga e

quando recapturado interrompe o prazo prescricional.

Concernente a reincidência (o agente comete novo crime no curso do

lapso prescricional) expõe-se que o lapso prescricional da pretensão executória é

interrompido pela prática do novo crime e não pela sentença condenatória com

trânsito em julgado que o reconhece. Essa interrupção, porém ficará condicionada à

condenação do réu, se este vier a ser absolvido, não haverá, obviamente, a

reincidência e conseqüentemente não haverá a interrupção do prazo prescricional.

36 JESUS, Damásio de, Ibidem, p 386.

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Para que a reincidência interrompa a prescrição é necessário que a

segunda sentença expressamente a tenha reconhecido e havendo a reincidência, o

prazo prescricional executório acresce-se em um terço

Na mesma linha de raciocínio,

“Como ressaltam Zaffaroni e Pierangeli, a prescrição da pretensão executória é interrompida na data do trânsito em julgado de nova sentença condenatória, ou seja, com sentença condenatória por um segundo crime e não na data do cometimento desse crime, muito embora parte da jurisprudência se oriente em sentido contrário, ora pela data da prática do novo crime, ora pela data da instauração de nova ação penal”37

Na ocasião de co-autoria ou participação, a interrupção da prescrição

produz efeito a todos os participantes do crime, alcançando igualmente a todos os

agentes, a não ser aqueles que gozem de uma qualidade especial que lhe permita

ter um prazo diferenciado dos demais, como é o caso dos menores de 21 anos ao

tempo do crime, bem como aos maiores de 70 anos, na data da sentença, portanto,

a condenação de um deles interrompe a prescrição em relação ao absolvido. No que

diz respeito aos crimes conexos estende-se aos demais a interrupção da prescrição

relativa a qualquer deles.

No concurso de crime, material, formal e continuado, a prescrição

incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente, conforme artigo 119 do Código

Penal, embora a pena final aplicada possa ter sido fruto de um concurso de crimes,

para a prescrição encontra-se a pena de cada um dos delitos, e sobre ela faz-se o

cálculo prescricional.

Exemplificando;

“Suponhamos que alguém, culposamente, ao limpar sua arma, faça com que ela dispare e, em razão do referido disparo, duas pessoas tenham sido atingidas, sendo que uma delas morre e a outra se fere. Temos aqui, como se percebe, um concurso formal heterogêneo entre os crimes de homicídio culposo e lesão corporal também de natureza culposa. Quando o juiz for levar a efeito o cálculo do lapso prescricional, deverá observar, primeiramente, a pena máxima de cada delito em abstrato. Se não tiver ocorrido a prescrição considerando-se a pena máxima em abstrato, partirá, depois da sentença condenatória, para o cálculo da prescrição, considerando-se, agora, a pena aplicada na sentença, com trânsito em julgado para a acusação. Suponhamos que, com base no exemplo fornecido, tenha i agente sido condenado ao cumprimento de uma

37 GRECO, Rogério. Ibidem, p 754

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pena de 1(um) ano e 2 (dois) meses, ou seja, foi aplicada a pena mínima prevista para o delito de homicídio culposo (um ano) e sobre ela fez incidir o aumento de um sexto, previsto pelo art. 70 do Código Penal”38

O parágrafo segundo do artigo 117 do Código Penal determina que seja

extinto o prazo decorrido antes da interrupção, recomeçando a correr a prescrição

por inteiro, com exceção da interrupção da prescrição pelo início ou continuação do

cumprimento da pena, neste, o prazo prescricional não recomeça, haja vista que se

trata de sanção que está sendo executada.

A distinção entre causas suspensivas e interruptivas é que na suspensão

o tempo decorrido antes da causa não é computado no prazo, e na interrupção,

interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr por inteiro.

38 GRECO, Rogério. Ibidem, p 756

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CONCLUSÃO

O instituto da prescrição teve origem com a finalidade de impor ao

Estado uma norma que limitasse o seu direito de punir, aos parâmetros da razão e

convivência social, bem como, tem por escopo amenizar a situação do réu,

objetivando livrá-lo da punibilidade pelo lapso de tempo, marcado pela inércia do

Estado em exercer tal seu poder. Logo, a prescrição é um meio de viabilizar a justiça

penal com a realidade fática e não um estímulo à impunidade ou criminalidade.

Como já mencionado ao longo do trabalho, as alterações fomentadas

pela Lei nº 12.234/10 não foram longas, mas sim substancial.

Em termos de extensão atingiram os artigos, ambos do Código Penal,

109 mantendo praticamente todos os seus incisos, com exceção da alteração do

inciso VI e no artigo 110 houve modificação no “caput”, adequando à nova

configuração dos parágrafos, sem qualquer mudança de conteúdo.

De sorte que, o legislador decidiu findar com a chamada "Prescrição

Virtual", tornando, inclusive, desprezível a Súmula 438, STJ que estabelecia sua

vedação, pois a "Prescrição Virtual", deixou de existir por força da Lei 12.234/10.

Em suma, embora complexo, o instituto da prescrição se faz necessário

no ordenamento para não atribuir ao Estado um direito ilimitado, sendo inconcebível

perpetrar uma relação jurídica ad eternum, salvo exceções apontadas pela nossa

Constituição Federal, nos casos de crimes imprescritíveis. Visa impedir eventuais

incertezas que possam surgir em razão da indolência estatal em cumprir com os

direitos e obrigações advindos de sua natureza. Assim, vencido o lapso temporal

determinado em lei para que ocorra a extinção da punibilidade através da

prescrição, esta deve ser decretada ex officio ou a requerimento do próprio

interessado.

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BIBLIOGRAFIA

ADEL EL, Tasse. Teoria da Pena. Curitiba, Juruá, 2009 ALFRADIQUE, Eliane. Prescrição penal e a atualidade de sua aplicação. http://www.mundojuridico.adv.br GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Rio de Janeiro, Impetus, 2009 JESUS de, Damásio. Código Penal Anotado, São Paulo, Saraiva, 2009 JESUS, Damásio, http://blog.damasio.com.br/?p=1402 MIRABETE, Julio Fabbrini. http://xoomer.virgilio.it/direitousp/curso/mira24.htm. PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2002 REALE, Miguel. http://www.realeadvogados.com.br. Acessado em 24/01/2011 SILVA, Nalcir. http://siaibib01.univali.br/pdf/Nalcir%20Silva.pdf