universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · o termo “família”, segundo stanhope...

57
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A GESTÃO NA EMPRESA FAMILIAR E O PROCESSO SUCESSÓRIO Por: Maria Alice F.L.Vasconcelos Orientadora Profª. Mary Sue Carvalho Pereira Rio de Janeiro 2009

Upload: phammien

Post on 09-Feb-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A GESTÃO NA EMPRESA FAMILIAR E O PROCESSO

SUCESSÓRIO

Por: Maria Alice F.L.Vasconcelos

Orientadora

Profª. Mary Sue Carvalho Pereira

Rio de Janeiro

2009

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A GESTÃO NA EMPRESA FAMILIAR E O PROCESSO

SUCESSÓRIO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão

Empresarial

Por:. Maria Alice Ferreira Lima de Vasconcelos.

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

3

AGRADECIMENTOS

Ao programa de Pós-Graduação em

Gestão Empresarial do Instituto A Vez

do Mestre, que me propiciou a

aquisição de novos conhecimentos e,

em especial aos professores pela

dedicação e competência na

transmissão de seus conhecimentos;

À companheira de trabalho Ana Rosa

de Brito Aguiar, que com seu exemplo

pessoal me deu a força que faltava

para buscar esta especialização.

Ao Dr. Jefferson de Almeida, com

quem aprendi muito, através da sua

inteligência e sabedoria, agradeço pela

sugestão do tema da presente

monografia.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

4

DEDICATÓRIA

A Deus, acima de tudo e de todos.

Aos meus queridos pais, que

atravessaram o Oceano Atlântico, com o

firme propósito de proporcionar instrução

às suas filhas. A eles o meu amor

incondicional, e a certeza de que foram

vitoriosos nos seus ideais.......

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

5

RESUMO

Este estudo é sobre a Empresa Familiar, evidenciando os laços afetivos

e o processo sucessório. Enfatizamos neste trabalho, que desde o começo da

humanidade, já era notório que a atividade, ou o ramo de atuação, passava de

pai para filho. Na economia do Brasil e na maioria dos países do ocidente as

empresas familiares representam mais de 80% das organizações. É desejo do

fundador que a gestão do negócio permaneça no âmbito familiar, passando a

sucessão para os herdeiros de 1º grau, de 2º grau e assim sucessivamente. O

que não espera o fundador, é que os conflitos afetivos acabem impactando de

forma prejudicial o lado profissional da empresa. A complexidade da empresa

familiar são os estreitos vínculos entre a família, a propriedade e a forma de

gerir o negócio, tornando-se difícil a administração das relações afetivas /

familiares e as relações sócio-econômicas. Por vezes a situação é muito mais

crítica, quando alguns membros da família fazem parte ativamente da direção

da empresa e outros não, tornando ainda mais tênue, a relação familiar. Nesse

momento, o grau de confiança da família repercutirá na forma de gestão

adotada pela organização. No âmbito geral a participação do fundador é

primordial para governar a empresa, definindo valores, a visão e os objetivos

da empresa. Os relacionamentos interpessoais são extremamente importantes

numa empresa familiar. Se um membro da família tenta impor seus valores

com muito empenho a outro membro, os resultados provavelmente serão

desastrosos. Como fazer para manter a integridade e os laços familiares, após

o processo sucessório? É através da capacitação profissional e do

conhecimento, que a empresa familiar conseguirá sobreviver a essa transição.

Se for bem conduzida, a transição fortalecerá a empresa e a tornará mais

competitiva. Além de promover a continuidade dos negócios familiares.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

6

METODOLOGIA

Este trabalho tem como objetivo identificar o ciclo evolutivo das

empresas familiares. Numa tríade que envolve: negócio, família e propriedade.

O presente trabalho foi elaborado através do estudo sistematizado, da

consulta minuciosa à vasta bibliografia existente, procurando alinhar as idéias,

que permeiam o objeto deste estudo.

Para isso, foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos:

1. Pesquisa dos autores que abordaram o tema aqui desenvolvido; 2. Leitura dos conteúdos significativos, análise e interpretação; 3. Elaboração do trabalho com base na pesquisa efetuada.

E tomando-se por base a máxima de Descartes:

“Método ou raciocínio dedutivo, é aquele que procede

do geral para o particular, do princípio para a

conseqüência” ...

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - A Família 09 CAPÍTULO II - A Empresa 16 CAPÍTULO III - A Empresa Familiar 23 CAPÍTULO IV - Racionalidade e Conflito 40

Conclusão 46

Anexos 47

Bibliografia 50

Atividades Culturais 54

Índice 55

Folha de Avaliação 57

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

8

INTRODUÇÃO

No final dos anos 90, surgiu no Brasil a discussão das questões

trazidas pela globalização. Questões como: o desemprego, a falta de

qualificação de mão-de-obra e a exigência de um mercado mais competitivo.

Para a resolução da crise surgida por tais necessidades, torna-se necessário,

soluções ou políticas públicas que levem à geração de novos empregos e ao

aquecimento da economia.

Neste cenário, a prioridade reforça a necessidade do levantamento de

dados sobre as organizações, e a sua situação real no Brasil, assim como a

sua inserção no mercado globalizado.

No Brasil, e no mundo, cerca de 80% das empresas são familiares, e

surgiram a partir dos sonhos e dos valores pessoais dos seus fundadores.

Assim, consideramos neste estudo, que as empresas familiares, são aquelas

organizações empresariais, que mantém sua origem e sua história vinculadas

a uma mesma família há pelo menos duas gerações, ou aquelas que mantêm

membros da família na administração dos negócios. A empresa familiar ao

abarcar duas instituições complexas e vitais ao homem, família e organização,

traz consigo um grave conflito de papéis, que assume seu ápice no processo

sucessório e que pode determinar a estabilidade, expansão ou declínio do

empreendimento, por envolver delicados e intrincados conflitos interpessoais.

Este quadro, é o responsável pelo elevado índice de mortalidade das

empresas familiares. E tem na análise dos principais obstáculos do processo

sucessório na empresa familiar, a chave para a reflexão sobre uma questão

de vida. Através dos aspectos inconscientes que se impõem a interesses

racionais, em que predomina a ambivalência de sentimentos presentes no jogo

das relações de poder. Que se deslocam do foro familiar, para instalar-se no

interior da empresa, determinando sua organização final, e influenciando

fortemente sua estrutura, estratégia e futuro.

Hoje, muitas das empresas familiares estão se confrontando com uma

forte competição por parte das multinacionais estrangeiras, o que força as

mesmas a repensarem as suas estratégias de governança e gestão.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

9

CAPÍTULO I

A FAMÍLIA.

“Nada há de permanente, exceto a mudança”

Heráclito

1.1 Definição

“A palavra família, segundo Prado (1988), significa: pessoas

aparentadas que vivem em geral na mesma casa, particularmente o pai, a mãe

e os filhos. Ou ainda, pessoas de mesmo sangue, ascendência, linhagem,

estirpe ou admitidos por adoção”.

O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim

famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi criado na Roma

antiga, para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas,

ao serem introduzidas à agricultura e também para a escravidão legalizada. Se

nesta época predominava uma estrutura familiar patriarcal, em que um vasto

leque de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe. Nos

tempos medievais, as pessoas começaram a estar ligadas por vínculos

matrimoniais, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia também

parte a descendência gerada, que assim tinha duas famílias, a paterna e a

materna. Com a Revolução Francesa, surgiram os casamentos de diversos

tipos no Ocidente, e, com a Revolução Industrial tornaram-se freqüentes os

movimentos migratórios para as cidades maiores, construídas ao redor dos

complexos industriais. Estas mudanças demográficas originaram o

estreitamento dos laços familiares.

“Nessa época, a família era definida como um “agregado doméstico”

composto por pessoas unidas por vínculos de aliança, consangüinidade ou

outros laços sociais” (Moreira, 2001 – Stanhope 1999).

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

10

Na cultura Ocidental, uma família é definida especificamente, como um

grupo de pessoas de mesmo sangue ou unidas legalmente, como no

matrimônio e na adoção.

Ainda, de acordo com Stanhope (1999), muitos etnólogos,

argumentam que a noção de “sangue” como elemento de unificação familiar,

deve ser entendida através de uma metáfora. Se por um lado, em muitas

sociedades culturais não-ocidentais, a família é definida por outros conceitos

que não “sangue”, a família poderia assim se constituir de uma instituição

normatizada por uma série de regulamentos de afiliação e aliança, aceitos

pelos membros. Alguns destes regulamentos envolvem a exogamia, a

endogamia, o incesto, a monogamia, a poligamia e a poliandria.

Através dos tempos, a família vem-se transformando e acompanhando

as mudanças religiosas, econômicas e sócio-culturais.

Ainda segundo Stanhope (1999), a família é um espaço sócio-cultural

que deve ser continuamente renovado e reconstruído; o conceito de próximo

encontra-se realizado mais que em outro espaço social qualquer, e deve ser

visto como um espaço político de natureza criativa e inspiradora.

Prado (1988) ressalta também que ”a família é uma instituição social

variando através da história e apresentando até formas e finalidades diversas,

numa mesma época e lugar, conforme o grupo social que esteja sendo

observado”.

Neste sentido, a família deverá ser encarada como um todo que

integra contextos mais vastos como a comunidade em que se insere.

De encontro a esta afirmação, Stanhope (1999), diz que a família é um

“sistema de membros interdependentes que possuem dois atributos:

comunidade dentro da família e interação com outros membros”.

1.2 Funções da Família

De acordo com Prado (1988) “as funções de cada família dependem em

grande parte, da faixa que cada uma delas ocupa na organização social, e na

economia do país a qual pertence”.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

11

Como os papéis, as funções estão igualmente implícitas nas

famílias. Elas, como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem

ou renunciam às funções de proteção e socialização dos seus membros,

como resposta às necessidades da sociedade pertencente.

Destacam-se como funções familiares: “geradora de afeto”, entre

os membros da família; “proporcionadora de segurança e aceitação

pessoal”, promovendo um desenvolvimento pessoal natural;

“proporcionadora de satisfação e sentimento de utilidade”, através das

atividades que satisfazem os membros da família; “asseguradora da

continuidade das relações”; proporcionando relações duradoras entre os

familiares; “proporcionadora de estabilidade e socialização”,

assegurando a continuidade da cultura da sociedade correspondente;

“impositora da autoridade e do sentimento do que é correto”,

relacionado com a aprendizagem das regras e normas, direitos e

obrigações, características das sociedades humanas.

Além das funções familiares acima citadas, Stanhope acrescenta

a relativa à saúde, na medida, em que a família protege a saúde dos seus

membros, dando apoio e resposta às necessidades básicas em situações

de doença.

“A família, como uma unidade, desenvolve um sistema de

valores, crenças e atitudes face à saúde e à doença que são expressas e

demonstradas através dos comportamentos de saúde-doença dos seus

membros (estado de saúde da família)”. A autora diz ainda que: a família

tem como função primordial, a da proteção, podendo formar uma barreira

defensiva contra agressões externas.

Reforça que a família ajuda a manter a saúde física e mental do

indivíduo, por constituir o maior recurso natural para lidar com situações

potenciadoras de estresse associadas à vida na comunidade.

Relativamente à criança, a necessidade mais básica da mesma,

remete-se para a figura materna, que alimenta, protege e ensina.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

12

A família é então, para a criança, um grupo significativo de

pessoas de apoio, como os pais, os pais adotivos, os tutores, e os irmãos,

entre outros.

Assim, a criança assume um lugar relevante na unidade familiar,

onde se sente segura.

No processo de socialização, a família assume, geralmente, um

papel muito importante, já que é ela que modela e programa o

comportamento e o sentido de identidade da criança.

A família tem um papel essencial para com a criança, que é o da

afetividade, tal como já foi referido. Ainda conforme Stanhope (1999) a sua

importância é primordial, pois considera o alimento afetivo tão

imprescindível, como os nutrientes orgânicos. “Sem o afeto de um adulto, o

ser humano, enquanto criança, não desenvolve a sua capacidade de

confiar e de se relacionar com o outro”. Deste modo, “a família constitui o

primeiro, e o mais importante grupo social de toda a pessoa, bem

como o seu quadro de referência, estabelecido através das relações e

identificações que a criança criou durante o desenvolvimento,

tornando-se a matriz da identidade.

1.3. Socialização primária

“É através da própria família, que a criança se integra no mundo

adulto. É no seio familiar que ela aprende a canalizar seus afetos, avaliar e

selecionar suas relações”. Prado (1988) evidencia que “toda família visa,

primeiramente, reproduzir-se a si própria em todos os sentidos: seus

hábitos, costumes e valores que transmitirão por sua vez às novas

gerações.

Para Stanhope (1999), a família representa um grupo social

primário, que influencia, e é influenciado por outras pessoas e instituições.

É um grupo de pessoas ou um número de grupos domésticos ligados por

descendência, a partir de um ancestral comum, matrimônio ou adoção.

Dentro de uma família existe sempre algum grau de parentesco. Membros

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

13

de uma família costumam compartilhar do mesmo sobrenome, herdado dos

ascendentes diretos. Reciprocamente, “A família é unida por múltiplos

laços capazes de manter os membros moralmente, materialmente e

uma vida e durante as gerações”.

Podemos sintetizar que família é na verdade um conjunto invisível

de exigências funcionais, que organiza a interação dos membros da

mesma considerando-a, igualmente, como um sistema, que opera através

de padrões transacionais. Assim, no interior da família, os indivíduos

podem constituir subsistemas, podendo estes, ser formados pela geração,

sexo, interesse ou função, havendo diferentes níveis de poder. E onde o

comportamento de um membro, afeta e influencia os outros membros. A

família como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de

desenvolvimento, diferindo em nível dos parâmetros culturais, mas

possuindo as mesmas raízes universais.

1. 4 Estrutura Familiar / Tipos

Ainda segundo Stanhope (1999), a estrutura familiar compõe-se

de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente

reconhecidas, com uma interação regular e socialmente aprovada.

A família pode, então, assumir uma estrutura nuclear ou

conjugal, que consiste num homem, numa mulher, e nos seus filhos,

biológicos ou adotados, habitando num ambiente familiar comum. A

estrutura nuclear tem uma grande capacidade de adaptação. Existem

também famílias com uma estrutura de pais únicos ou monoparental,

tratando-se de uma variação da estrutura nuclear tradicional, devido a

fenômenos sociais, como o divórcio, óbito, abandono de lar, ilegitimidade

ou adoção de crianças por uma só pessoa.

A família ampliada ou consangüínea é outra estrutura que

consiste na família nuclear, mais os parentes diretos ou colaterais,

existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e

netos. Além das estruturas mencionadas, existem também as denominadas

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

14

de alternativas, sendo elas, as famílias comunitárias e as famílias

homossexuais. As famílias comunitárias, ao contrário dos sistemas

familiares tradicionais, onde a total responsabilidade pela criação e

educação dos filhos se restringe aos pais e à escola, nestas famílias, o

papel dos pais é descentralizado, sendo as crianças da responsabilidade

de todos os membros adultos. Nas famílias homossexuais existe uma

ligação conjugal ou marital, por contrato entre duas pessoas do mesmo

sexo, que adotaram crianças ou, um ou ambos os parceiros tem filhos

biológicos de casamentos heterossexuais.

Numa família, Lévi-Strauss em Stanhpe (1999), relaciona três

tipos de relações pessoais. São elas a de aliança: casal, a de filiação:

pais e filhos e a de consangüinidade: irmãos. É nessa relação de

parentesco, de pessoas que se vinculam pelo casamento, e / ou, por

uniões sexuais, que se geram os filhos.

Segundo a autora, a família é um sistema social uno, isto é,

composto por um grupo de indivíduos, cada um com um papel atribuído, e,

embora diferenciados, consolidam o funcionamento do sistema como um

todo.

Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada

membro ocupa determinada posição ou tem determinado estatuto, como

por exemplo: marido, mulher, filho ou irmão, sendo orientados por papéis.

Esses papéis não são mais do que, “as expectativas de comportamento, de

obrigações e de direitos que estão associados a uma dada posição na

família ou no grupo social”. (DUVALL; MILLER apud por STANHOPE,

1999, p.502).

Portanto, se começarmos pelos adultos na família, os seus

papéis variam muito, considerando como característicos os seguintes: a

socialização da criança, relacionado com as atividades contribuintes para o

desenvolvimento das capacidades mentais e sociais da criança: “os

cuidados às crianças”, tanto físicos como emocionais, objetivando o seu

desenvolvimento saudável; “o papel de suporte familiar”, que inclui a

produção e ou a obtenção de bens e serviços necessários à família, “o

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

15

papel de encarregado dos assuntos domésticos”, onde estão incluídos os

serviços domésticos, que visam o prazer e o conforto dos membros da

família; o papel de manutenção das relações familiares, relacionado com a

manutenção do contato com parentes e implicando na ajuda, quando em

situação de crise; os “papéis sexuais”, relacionado com as relações sexuais

entre ambos os parceiros; o “papel terapêutico”, que implica a ajuda e o

apoio emocional diante dos problemas familiares; “o papel recreativo”,

relacionado com o proporcionar divertimentos à família, visando o

relaxamento e desenvolvimento pessoal.

Quanto aos papéis dos irmãos, estes são promotores e

receptores; em simultâneo; do processo de socialização na família,

ajudando a estabelecer e manter as normas, promovendo o

desenvolvimento da cultura familiar. “Contribuem para a formação da

identidade uns dos outros, servindo de defensores e protetores,

interpretando o mundo exterior, ensinando os outros sobre retidão,

formando alianças, discutindo, negociando e ajustando mutuamente os

comportamentos uns dos outros”.

Cabe ressaltar que nos papéis atribuídos, será ideal a existência

de alguma flexibilidade, podendo existir ocasionalmente a troca desses

mesmos papéis, quando, por exemplo, um dos membros não possa

desempenhar o seu.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

16

CAPÍTULO II

A EMPRESA

“Sabedoria nos negócios, é enxergar o foco necessário no momento

certo, e não ter medo de colocar em prática o que planejou”.

(Michael Klein)

2.1 Breve História

Sempre existiram formas de trabalho organizadas e dirigidas. Contudo

as empresas desenvolveram-se de forma lenta até a revolução industrial.

Muitos estudiosos dividem a história da empresa em seis fases.

2.1.1 – Fase Artesanal

Desde a antiguidade, até 1780, o regime de produção esteve limitado a

artesãos, e a mão-de-obra intensiva não qualificada, principalmente mais

direcionada para a agricultura. O sistema de comércio, era de troca por

troca (trocas locais).

2.1.2 – Fase da Industrialização

Através da revolução industrial, as empresas sofreram um processo de

industrialização ligado às máquinas.

O uso do carvão, nova fonte de energia, veio a permitir um enorme

desenvolvimento nos países. A empresa assume um papel relevante no

desenvolvimento das sociedades, introduzindo novas máquinas, consoante

o material que se queria produzir, como a máquina de fiar, tear, máquina a

vapor, locomotivas, etc.

2.1.3 – Fase do Desenvolvimento Industrial

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

17

Os dois expoentes marcantes desta fase são o aço e a eletricidade. O

ferro é substituído pelo aço, como fonte básica da indústria, e o vapor é

substituído pela eletricidade e derivados de petróleo. O desenvolvimento do

motor de explosão e do motor elétrico estabelece uma relação entre a

ciência e o avanço tecnológico das empresas. Isto fez com que se desse o

desenvolvimento dos transportes e das comunicações, o que permitiu

encurtar as distancias entre diferentes áreas, o que permite o

desenvolvimento rápido do intercambio comercial.

2.1.4 – Fase do Gigantismo Industrial

Nesta fase as empresas atingem enormes proporções, passando a

atuar em operações de âmbito internacional e multinacional.

Surgem os navios cada vez mais sofisticados e de grande porte, grandes

redes ferroviárias e auto-estradas cada vez mais acessíveis.

O automóvel e o avião tornam-se veículos cada vez mais usuais, e com o

aparecimento da televisão as distâncias encurtam-se.

2.1.5 – Fase Moderna

Corresponde à fase em que o desenvolvimento científico e tecnológico

das empresas se afirma de forma surpreendente e a utilização de meios

tecnológicos cada vez é mais necessária.

Nos países desenvolvidos surgem novos materiais básicos. (ex. plástico,

alumínio, fibras sintéticas, etc.). Junto com o petróleo e a eletricidade,

surgem novas formas de energia, como a nuclear e a solar. Com o

surgimento de tais energias, o circuito integrado e a informática, permitem

a sofisticação da qualidade de vida quotidiana. O uso de TV a cores,

computador, comunicação por satélite e os carros, permite dinamizar as

empresas. Existe uma relação direta entre empresa, consumo, e

publicidade.

Os consumidores são cada vez mais exigentes em termos de

tecnologia. Surge então a competição entre as empresas, no intuito de

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

18

satisfazer os clientes, o que leva de forma direta e indireta ao avanço

tecnológico.

2.1.6 – Fase de Incerteza Pós-Moderna

Hoje em dia, as empresas encontram-se num clima de turbulência.

O ambiente externo das empresas caracteriza-se por uma complexidade e

mobilidade que os empresários não conseguem “gerir” de forma adequada.

Nesta fase, as empresas lutam com a escassez de recursos e cada

vez é mais difícil colocar os produtos no mercado.

As empresas tendem a estagnar, o que não é recomendável, pois

a empresa deve assumir-se como um sistema aberto a mudanças e

inovações em todos os níveis, principalmente a nível de produtos internos

e gestão.

2.2 Definição de Empresa

Uma empresa é um conjunto organizado de meios, com vista a exercer

uma atividade particular, pública, ou de economia mista, que produz e oferece

bens e/ou serviços, com o objetivo de atender a alguma necessidade humana.

O lucro, na visão moderna das empresas privadas, é conseqüência do

processo produtivo e o retorno esperado pelos investidores. As empresas de

titularidade do Poder Público têm a finalidade de obter rentabilidade social. As

empresas podem ser individuais ou coletivas, dependendo do número de

sócios que as compõem.

2.3 Categorias de Empresas

A concepção de uma empresa seja ela grande ou pequena, com ou

sem fins lucrativos, não se torna possível sem a adoção de uma série de

princípios administrativos, que irão engendrar a organização e o conseqüente

desenvolvimento da empresa.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

19

Segundo a Teoria Sistêmica, esses princípios administrativos são

dados por quatro fatores:

- Planejamento

- Organização

- Direção

- Controle

Ainda segundo a Teoria, chamada de Organicista, o conceito da

administração, pode ser dado ao ato ou efeito de organizar, de criar

organismos, que compreendem um conjunto de órgãos constituindo uma

empresa.

A racionalização, importante fator de organização, é toda ação

reformadora que visa substituir processos rotineiros e arcaicos, por métodos

baseados em raciocínios sistemáticos. Hoje, porém, a palavra organização é

comumente substituída pelo termo “Organização e Método” (O&M).

A organização pode ainda ser dividida em duas fases:

- Economia Rudimentar: consumo reduzido, baixa produção,

artesanal, falta de organização.

- Economia Evoluída: aumento do consumo, produção empresarial,

desenvolvimento da organização.

A empresa é uma associação organizada. É uma firma ou pessoa

jurídica, que explora uma determinada atividade, com o objetivo de lucro.

Dentre os diversos tipos de empresa, temos a de produção,

construtora e a de serviços.

As empresas podem ainda ser classificadas quanto à:

- Objetivos - comerciais, industriais, de prestação de serviços;

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

20

- Tamanho - grande, média, pequena, micro;

- Estrutura - individuais, coletivas, públicas, mistas;

- Volume de Trabalho - Interno (simples ou complexas);

- Organização - linear ou militar, funcional, Estado Maior ou “Staff”.

Para as empresas, o ato de transformar recursos materiais em bens de

consumo pela atividade comercial, é chamado “Produzir”. E “Desperdício” é a

perda de materiais por negligencia, imperícia ou imprudência do agente

administrativo. O desperdício pode ser causado por tipos de origem: fator

material, humano ou racional.

Pode-se ainda classificar as empresas, pelo setor econômico.

Dependendo do tipo de prestação da empresa, têm-se as seguintes

categorias:

- Setor primário – Correspondendo à agricultura;

- Setor secundário – Correspondendo à indústria;

- Setor terciário – Correspondendo ao setor de serviços.

Também pelo número de proprietários:

O proprietário da empresa pode ser apenas uma pessoa, é o caso das

empresas individuais, como podem ser mais de uma, formando sociedades.

Existem as seguintes modalidades de empresas, nas legislações

portuguesas e brasileiras:

- Empresa em nome individual;

- Sociedade por quotas;

- Empresa de Responsabilidade Limitada, (Ltda);

- Sociedade Anônima (SA);

- Cooperativas, (CRL);

- Em Comandita.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

21

Pelo tamanho:

A empresa pode ser ainda categorizada pelo seu tamanho, de acordo

com um ou uma série de critérios, como o número de empregados, volume de

negócios, etc., podendo ser:

- Microempresa;

- Macroempresa;

- Pequena empresa;

- Empresa de médio porte;

- Grande empresa.

E pelo fim:

- Fim lucrativo;

- Fim não lucrativo.

Há apenas uma ressalva em relação ao que é uma empresa sem fim

lucrativo. Uma empresa, ao declarar que ter lucros não é um fim em si próprio,

não implica que a empresa não crie lucros, mas antes, que esses lucros não

irão ser redistribuídos pelo(s) dono(s) da empresa.

A empresa pode aplicar esses lucros para começar, e para poder

suportar os custos da sua atividade, e o restante (o chamado lucro) poderá

muito bem ser aplicado na expansão da sua atividade (alargamento), aumento

de eficiência (melhoria de qualidade de funcionamento), ou, ainda, como

também tem sido muito usado: praticar um preço igual ao custo. Esta é uma

das razões muito apontadas para a falência financeira deste tipo de empresa,

pois não incorpora o custo de inovação e de eficiência (não poupam para

poderem investir).

Já a falência é o ato de decretar o fim das atividades de algo: o fim de

uma empresa, de uma sociedade, etc.

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

22

Diz-se que uma empresa se encontra em falência técnica, quando o

passivo (dívidas), é superior ao ativo (patrimônio), ou seja, a situação líquida é

negativa. Manter uma empresa viva torna-se, nos conturbados dias atuais, um

dos maiores desafios de qualquer administrador.

As rápidas alterações ambientais de mercado, que tem de ser levadas

em consideração, superam em muito a capacidade de vários gestores. Na

maior parte das vezes, lhes falta a formação necessária para enfrentar esses,

desafios, em muitas outras, a falta é de visão. A formação como empresário,

ou dirigente precisa ser ágil o suficiente para permitir agir a tempo, nas

situações de risco, para as quais a informação é o mais poderoso aliado.

Quando a falência dá-se com uma pessoa física, usa-se o termo insolvência.

Outra abordagem que se faz necessária aqui, é com relação à

separação entre gestor e o dono da empresa, pois atualmente nos mercados

mais competitivos, há uma distinção entre as funções, com o objetivo de

melhor conduzir a empresa rumo ao sucesso.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

23

Capítulo III

A EMPRESA FAMILIAR

“A família trabalha para a empresa, e não, a empresa para a família”

3.1 Introdução:

Existem alguns pressupostos para que a ligação de dois conceitos

(empresa e família) possa interagir. Em primeiro lugar, que haja história de

gerações (duas no mínimo) e que os interesses da empresa sejam

reciprocamente inseridos nos da família; em segundo lugar – não no sentido

hierárquico de sentidos e importâncias – estão as questões afetivas,

emocionais, os vínculos de parentesco, seu perfil institucional (hierarquia,

herança, casamentos), seu histórico, convivência liberada ou forçada; em

terceiro lugar, há os pressupostos que promovem a interação empresa/família,

criterizados pela confiança mútua entre os seus membros na estruturação

hierárquica e na identidade de papéis e fatores organizacionais, a ligação entre

família e reputação da empresa, a expectativa de liberdade, de ideal, entre

outras variáveis.

Alguns autores defendem que essa ligação empresa/família

pressupõe todos os elementos arrolados, porém há um fundamental: a

profissionalização. Vidigal (1997) defende a tese da profissionalização da

família, ou seja, que se devem treinar jovens que apresentam indícios

vocacionais para serem futuros executivos; sugere, também, que se treinem

futuros herdeiros para serem acionistas competentes, sendo interessante que

adentrem no campo da legislação empresarial, da contabilidade e da

administração. Porém vários autores (dentre eles Vidigal, 1997 e Bernhoeft,

1989) insistem em dizer que não há uma receita única, sendo cada caso um

caso.

A vinculação entre propriedade e gestão passa por dificuldades que

transcendem a capacidade de gestão, adentrando em questões subjetivas

(sentimentos, poder) e em questões objetivas: abertura econômica,

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

24

globalização, associações, sucessões, coragem de abrir mão do controle

absoluto e do apego ao passado que não pode mais estar presente. Kets de

Vries (1997), ao procurar razões que expliquem o comportamento das pessoas

na empresa familiar, deparou-se com uma série de mitos:o da harmonia, dos

estereótipos, do martírio, do bode expiatório, etc.

O equilíbrio entre os interesses da família e os da empresa, segundo

Donnelly (1987), é em geral, de cunho psicológico, fruto de próprio senso de

responsabilidade pessoal da família em relação à empresa. Em contrapartida,

a especificidade do fato de ser família (envolvimento com parentes, nepotismo)

poderá constituir ações que manifestem certa irracionalidade econômica,

dentre elas, um frágil sistema de controle de custos; a preocupação exagerada

com a família, anulando o potencial de percepção de novos mercados e novas

oportunidades de desenvolvimento; pressões e problemas de família. Esses,

muitas vezes, influenciam nos critérios que definem metas e objetivos da

empresa.

Nem tudo, porém, é desvantagem. A relação empresa/família carrega

consigo lealdade, dedicação, sensibilidade, integridade de diretrizes

administrativas, sacrifícios feitos pela família, ajuda mútua, orgulho familiar,

concepção da continuidade e uma consciência profunda dos objetivos da

empresa. Sob uma visão socioeconômica mais ampla, é bom lembrar que

empresas familiares procuram assumir compromissos de mais longo prazo,

tanto com clientes como com funcionários. Todos esses elementos não são

prerrogativas específicas da empresa familiar, porém manifestam-se mais

nessas, pois eficiência e eficácia, ser empreendedor e empresário também

pressupõem e tem por base a compreensão mais ampla das relações

humanas.

Ao tentar definir a expressão empresa familiar, constatam-se

contradições até mesmo entre os dirigentes empresariais. As definições que

alguns executivos apresentaram à Lodi (1993) são as mais variadas,

demonstrando uma falta de clareza teórica do termo, que possa dar conta das

suas especificidades. Possivelmente devido ao fato de os livros e cursos de

administração, tratarem quase que exclusivamente das empresas de capital

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

25

aberto e dirigidas por profissionais, raramente mencionam-se as empresas

familiares. Entre muitas definições, destaca-se uma: as “gerações familiares

em sucessão permitindo um traço de união entre o passado e o futuro, entre

os valores do fundador e as vocações e visões pessoais dos dirigentes atuais”.

As palavras utilizadas pelos dirigentes empresariais para definirem a

empresa familiar apresentam uma conotação clara da importância dada ao

conjunto de valores e crença do fundador, os quais, obrigatoriamente, devem

estar incorporados aos dirigentes atuais para caracterizá-la como tal. Eis um

grande questionamento, uma vez que Aquino (1997) observa que os

descendentes de famílias proprietárias de grupos e empresas (Matarazzo,

Copacabana Palace e outros) consideradas insuperáveis e que não tiveram

continuidade, cometeram o grave erro de incorporar os valores e hábitos de

vida e trabalho dos pais, avós, enquanto o mundo e o Brasil iam mudando. A

conclusão a que se chega é de que a empresa fica em meio à família a ela

ligada e o ambiente mutável que a rodeia.

3.2 Conceito de Empresa Familiar

Empresa familiar, segundo Donnelley (1964) é aquela em que a família

está identificada com a empresa há pelo menos duas gerações, e tem sua

política marcada por interesses e objetivos específicos.

Bernhoeft e Gallo (2003) definem a questão da empresa familiar no Brasil com

uma história vinculada à figura de imigrantes que em algum momento

abandonaram seu país, aportando no Brasil sem grandes capacidades de

investimento, porém com duas características importantes para o nascimento

do espírito empreendedor: a capacidade ímpar de correr riscos, e

determinadas habilidades amparadas pela forte intuição.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

26

Por essa lógica, conclui Bernhoeft e Gallo (2003) que os empresários

brasileiros não conseguem separar e distinguir a família da propriedade, e da

empresa.

3.3 História da Empresa Familiar

Werner (2004), Leone (2005), apresentam que a origem das empresas

familiares está nos primórdios do Brasil, com as capitanias hereditárias como

marco inicial da modalidade de empreendimento privado. A onda de imigração

européia do final do século XIX, e início do século XX, foi a responsável pelo

ciclo econômico mais importante para o Brasil, com o surgimento da indústria e

pelo início de uma nova fase da empresa familiar.

Oliveira (1999), conclui que por traz do ciclo econômico brasileiro, sempre

houve uma categoria de empreendedores que abandonaram suas terras em

seus países de origem, para aportarem em terras desconhecidas, com

mercados insipientes e sem qualquer tipo de proteção e regulamentação.

Diferente dos Estados Unidos, cuja formação das empresas ocorreu por

mecanismos de financiamento via bolsa de valores, e como resultado a

pulverização do capital da propriedade.

No Brasil, em razão de questões culturais de origem portuguesa e italiana, o

apego à propriedade, fez com que as empresas aqui constituídas se

desenvolvessem através de capital próprio, ou com financiamentos onerosos,

concentrando o capital.

Esse modelo se deu em razão da inexistência do mercado de capitais

brasileiro, cujo início ocorreu na década de setenta, com o surgimento da Lei

das Sociedades por Ações, e da Comissão de Valores Mobiliários, entidade

que regula as empresas de capital aberto.

Antes desse período, não existiam mecanismos de captação de

recursos via mercado de capitais. Favorecendo ainda mais, para o

desenvolvimento das empresas com o modelo citado.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

27

Outro ponto desse modelo ocorreu com a economia que sempre esteve

sob o comando excessivo do Estado. Dificultando o aparecimento de modelos

privados de financiamento da produção, e da aceitação do risco e lucro de

forma menos criminosa, apesar da característica do povo brasileiro, de

empreendedor.

Álvares ET AL (2003), Leone (2005) e Oliveira (1999), confirmam que o

crescimento e desenvolvimento da economia brasileira deram-se

calçados sobre as empresas familiares, que estão hoje, nos mais diversos

setores da economia.

Daí a importância no contexto econômico do país, desses modelos de

empresas, sejam pequenas, médias ou grandes, que são grandes

empregadoras de mão-de-obra nas mais diversas regiões, correspondendo á

sustentabilidade de uma grande parte da população.

3.4 Características das Empresas Familiares

Conforme citado por Leone (2005), Bornholdt (2005), Oliveira (1999) e

Muniz et al (2006) são características das empresas familiares:

- A importância do papel do empreendedor: Suas aspirações, suas

motivações e seus objetivos pessoais;

- O papel do ambiente: A empresa deve se adaptar ao ambiente em

que está inserida, não sendo uma atitude reativa;

- A natureza da organização: As empresas atuam como um espaço de

transmissão tendo configurações das mais diversas, desde artesanatos

até estruturas mais sofisticadas tecnicamente;

- A natureza das atividades: elas escolhem naturalmente uma

estratégia de especialização e se apóiam sobre competências distintas e

muito específicas.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

28

Oliveira (1999), Neubauer et al (1999), Werner (2004), concordam e

afirmam que na questão da gestão, as características são mais peculiares,

confundindo muito os sistemas de família, empresa e sociedade, em que,

questões e problemas da empresa são discutidos dentro do ambiente familiar e

problemas de família são discutidos em ambientes da empresa.

Essa confusão ou falta de capacidade de separar esses sistemas

distintos, é que transformam essas organizações em um ambiente de pólvora

que apenas seu fundador e empreendedor conseguem gerir adequadamente.

Enquanto a empresa está com suas operações rentáveis e sob domínio de seu

fundador, as questões empresariais discutidas em ambiente familiar referem-

se a situações de cotidiano sem maiores conflitos.

Entretanto, no momento em que a empresa inicia uma fase de

dificuldade, ou o comando está sendo disputado, as questões empresariais

discutidas em família, tornam-se insustentáveis nesse ambiente. Fazendo com

que os problemas de relacionamento familiar; ocasionados por essas

discussões; tornem-se questões empresariais, e na sequência, societários.

3.5 Problemas das Empresas Familiares

Lodi (1998) afirma que os problemas das empresas familiares estão

relacionados a cinco pontos cruciais:

- O conflito de interesse entre a família e a empresa que reflete na

descapitalização, falta de disciplina, e contratações ineficientes de

gestores;

- Uso indevido de recursos por membros da família, transformando-a em

um cofre dos parentes;

- Falta de planejamento financeiro, apuração da estrutura de custos e

formação adequada de preços;

- Dificuldade de aceitação de novos modelos de gestão e novas

tecnologias, principalmente na área de vendas;

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

29

- Favoritismo na contratação e promoção de parentes sem competência

comprovada.

Nessa linha, Lansberg et al(1996) afirma que 70% das empresas encerram

as atividades com o falecimento do seu fundador e que o ciclo médio de

vida da empresa é de 24 anos.

Conclui ainda que as principais causas da morte dessas empresas estão

ligadas à concentração em um produto específico; falta de planejamento

estratégico e brigas de sucessão.

Nessa perspectiva as questões problemáticas nas empresas familiares estão

intimamente ligadas ao poder e ao governo.

Bornholdt (2005) define que as questões ligadas aos conflitos nas

empresas, compreendem quatro grandes áreas importantes:

1 – Interno: no sistema inter-familiar na empresa;

2 – Entre o sistema empresarial e o sistema familiar;

3 – Entre o sistema empresarial e o sistema societário;

4 - Entre o sistema familiar e o sistema societário.

Para entender essas questões, o quadro abaixo demonstra as interações

sistêmicas nas empresas familiares:

Família Sociedade Empresa

Relacionamento Acordo de acionistas Lucros e ou invest.

Desenvolvimento pessoal O patrimônio O negócio em si

Conflitos Retorno Gestão

Desenvolvimento Sucessão profissional O mercado

Saúde física e emocional A perpetuação A competência para

competir.

Fonte: adaptação de Ehlers(2001), citado por Bornholdt (2005).

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

30

A partir desse contexto em que as principais questões de

sobrevivência das empresas familiares, estão diretamente ligadas ao

relacionamento e à sucessão, Werner (2004) e outros pesquisadores

definem que o principal motivo que envolve a mortalidade dessas

empresas, é: o processo sucessório.

3.6 O processo de Sucessão

O termo sucessão não deve ser visualizado como causa da

desestruturação de toda empresa familiar. Nem que os sucessores possam se

apoiar nela, para julgar quaisquer problemas como um reflexo do processo

sucessório pelo qual a empresa esteja passando. Mas como um problema é

similar a outro, precisa ser planejado para evitar complicações futuras. Esta

sucessão pode ocorrer de duas formas: através da sucessão familiar ou

sucessão profissional.

3.7 As Questões dos Sucessores

Os sucessores normalmente não estão preparados para assumir o

comando do negócio, mesmo sendo, em alguns casos, preparados para isso.

Ocorre que, além das questões técnicas envolvidas, observa-se que ao

assumir a gestão, sofreram as agruras de não terem sido orientados para a

formação do relacionamento pessoal, ou seja, as questões de liderança.

Não raro é o caso da falta de condições e tempo dos próprios

empreendedores natos, para o efetivo preparo psicológico de liderança de

seus sucessores. Não raro também, essas pessoas têm em seu âmago o

poder que se confunde com autoridade e liderança, dificultando todo o

processo de comando na empresa.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

31

Isso caracteriza o despreparo na gestão dos recursos da empresa, em

que o privilégio do pessoal, se sobrepõe ao empresarial. Uma visão diferente,

a empregada pelo empreendedor, dificultando a perpetuação dos negócios.

Outra situação que envolve essa questão pode ser separada em duas

partes, conforme descrevem Werner (2004), Bornholdt (2003), Babic (2003):

- A primeira quando a família ou famílias dos empreendedores possuem

mais de um pretendente ao comando. As discussões ficam para aqueles

que foram preteridos, os quais, quando não são bem preparados podem

atuar de forma contrária aos interesses da empresa, com o único

objetivo de dificultar a atuação daquele que foi escolhido;

- A segunda, envolve mais as discussões entre familiares dos sócios

fundadores que, sem preservar os interesses do coletivo da

organização, atuam fortemente em privilegiar seus pares, com medidas

objetivando a expropriação de riquezas, e direcionando para aqueles

mais íntimos.

3.8 Questões dos profissionais despreparados

Oliveira (1999), Babic (2003), Lodi (1998), dentre outros pesquisadores

são unânimes em concluir que: as empresas, além dos sucessores

familiares despreparados, podem sofrer com aqueles profissionais

contratados que se valem de suas competências técnicas e percebendo

as fraquezas nos relacionamentos entre familiares, incentivam os

conflitos para obterem maior espaço dentro da empresa.

Os empreendedores fundadores contratam profissionais cujo perfil se

encaixa aos objetivos sociais, e demonstram competência suficiente para o

crescimento da empresa.

Ocorre que as discussões societárias extrapolam os limites da família,

chegando ao interior da empresa. Neste momento, aquele executivo

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

32

contratado, reconhecendo a impossibilidade de qualquer sucessor assumir os

negócios, e, sabendo do sucesso do empreendimento que dirige, começa a

atuar de forma que aumenta o conflito societário ao limite da impossibilidade

do relacionamento, e acaba por liquidar o negócio, vendendo para esses

profissionais, o negócio, por valores irreais.

3.9 Aspectos da Sucessão nas Empresas Familiares

Álvares et al (2003) descreve que um dos maiores desafios que

determinam a continuidade de uma empresa familiar de uma geração para a

outra, é o planejamento do processo de sucessão.

Bornholdt (2005) define que o processo sucessório é um tema muito

estudado, discutido e descrito por pesquisadores, professores, consultores e

profissionais, tendo os casos, peculiaridades das mais variadas, concluindo

que não existe uma formatação única que possa ser utilizada em qualquer

caso.

Bernhoeft e Gallo (2004), Oliveira (1999) e Bornholdt (2005),

justificam ainda que cenários internos e externos influenciam as

questões do processo sucessório, sendo os mais conhecidos

relacionados a seguir:

- O tamanho e a complexidade da empresa;

- O nível de harmonia entre os familiares e ou núcleos familiares;

- O perfil e personalidade dos sucedidos e dos sucessores;

- A participação acionária, as alianças societárias e o controle do

capital;

- A estrutura familiar, seus núcleos e a quantidade de herdeiros, idade

da primeira, segunda e terceira geração;

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

33

- Fase do processo sucessório, se na primeira, segunda ou terceira

geração, o que dependendo da situação, a distância dos familiares é

maior quanto maior a geração, e o modelo de gestão vigente;

- Os órgãos complementares, como características do conselho de

administração, conselho fiscal, conselho de família e conselho

consultivo.

Com essas características influenciadoras do processo sucessório,

distingue-se e reconhece-se a situação da empresa, da família e da sociedade.

Werner (2004), Bornholdt (2005), Muniz et al (2006), descrevem o modelo dos

três círculos como sistema da empresa familiar, composto por três sistemas

independentes, porém interligados entre si, sendo ainda composto pela família,

a sociedade e a empresa. As partes externas podem ser identificadas nas

partes que interligam o modelo sistêmico.

1 – Família não sócia e que não trabalha na empresa;

2 – Sócios que não pertencem à família e não trabalham na empresa;

3 – Executivos que não pertencem à família e, que não são sócios;

4 – Familiares que trabalham na empresa, e não são sócios;

5 – Sócios familiares que não trabalham na empresa;

6 – Executivos e sócios não familiares;

7 - Sócios familiares que trabalham na empresa.

Fonte: Adaptação de Gersick et al., citado por Borholdt (2005).

5

FAMÍLIA

SOCIEDADE EMPRESA

1

5 4

6

7

2 3

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

34

Nesse modelo, todas as influências estão vinculadas e se relacionando

com os demais sistemas. De membros da família que não trabalham, dos

familiares que trabalham, mas não são sócios, dos sócios familiares que não

trabalham e dos externos, executivos e sócios não familiares.

Bornholdt (2005) justifica ainda que a questão da gestão normalmente é

relacionada com a diretoria, a presidência e o conselho de administração.

Entretanto, nas empresas familiares, a questão da gestão não compreende

apenas esses papéis citados, alcançando outros que não são necessariamente

vinculados diretamente à gestão, podendo ocupar funções estratégicas ou em

outros conselhos, como de família, de sócios ou ainda conselhos consultivos.

Álvares et al (2003), cita que existem dificuldades enormes na renúncia

do poder gerencial pelo empreendedor e fundador da empresa, em que por

vezes estão relacionadas à não existência de sucessores disponíveis e

qualificados, o que levam nestes casos o empresário a vender seu negócio.

Entretanto, outras situações decorrem de fatores eminentemente

psicológicos que impedem a transferência de poder para a próxima geração.

Levinson citado por Álvares et al (2003), declarou:“Para o empreendedor, os

negócios são essencialmente uma extensão de si mesmo, um meio de

satisfação pessoal e de realização, acima de tudo. E se ele estiver

preocupado com o que vai acontecer com o seu negócio depois que ele

morrer é como se ele estivesse pensando na espécie de monumento que

vai deixar para trás”.

Desta forma, a saída do fundador da empresa torna-se ainda mais

complexa e difícil já que não existem duas pessoas que tenham pensamentos

exatamente iguais para situações iguais.

As decisões tornam-se complexas e temerosas para aqueles que substituem,

principalmente se o substituído ainda estiver ativo na empresa.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

35

Leone (2005) defende que as empresas mais expostas às questões

sucessórias, são as pequenas e médias, pois devem fazer simultaneamente a

transmissão do capital / propriedade, e do poder / gestão.

Assim, questões relacionadas à sucessão não podem ser feitas do dia

para a noite. Normalmente é um processo de longo prazo e com planejamento

e organização muito bem preparada, alcançando não somente o sucessor,

mas também e principalmente o sucedido.

Leone (2005) e Bernhoeft (2004) demonstram dois tipos de

processos de sucessão que podem ser identificados nas empresas

familiares: A sucessão profissional e a sucessão familiar.

3.10 Sucessão Profissional

É um modelo em que os fundadores contratam executivos para ocupar

os cargos diretivos na empresa, transferindo os familiares para ocuparem um

conselho do tipo consultivo, podendo ainda atuar como um conselho de

administração.

Esse modelo é citado por Della e Luz (2003) como uma preocupação

das empresas. Nesse modelo de profissionalização da gestão objetivando a

identificação dos pontos fortes e fracos, sua potencialidade e procurando criar

estratégias para aumento da competitividade no mercado em que atuam.

Ocorre que não é possível a aplicação em negócios pequenos e médios, pois

comprometem os custos e sua competitividade de negócio.

Pádua citado por Leone (2005) afirma que a profissionalização deve

iniciar quando a empresa deixa de ser apenas um negócio de família,

tornando-se uma empresa profissional, em que a separação, entre a

propriedade e a gestão torna-se uma realidade, vista com maior nitidez.

Bernhoeft (1991) justifica ainda que profissionalizar não é apenas criar

uma estrutura implantada segundo modelos existentes, mas, principalmente

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

36

deve se iniciar com a família, já que detém o direito absoluto sobre a vida e a

morte da empresa.

Os herdeiros devem ocupar um conselho consultivo, para, e com a

exclusiva finalidade, de elaborar o planejamento estratégico, deixando clara a

separação da propriedade e da gestão da empresa.

3.11 Sucessão Familiar

Esse modelo ocorre quando uma geração deixa a seguinte assumir o

comando da empresa, e é a que tem tido maior ênfase nas empresas

familiares, principalmente aquelas pequenas e médias.

Werner (2004) justifica que as vantagens ocorrem quando o comprometimento,

conhecimento, flexibilidade de tempo, trabalho e dinheiro, percepção de longo

prazo seja absolutamente reconhecido pelas partes, começando ainda com o

compartilhamento da gestão para o sucesso do modelo.

Em todas as características dos processos sucessórios nas empresas

familiares, uma questão é básica e homogênea para todas: a questão do

controle, não aquele da propriedade, mas o controle por fatores de

transferência de responsabilidade, coordenação e autoridade.

Outros fatores importantes para a sucessão, segundo a maioria dos autores é:

A cultura nas empresas familiares e a profissionalização.

3.12 A Cultura nas Empresas Familiares

Segundo Thévenet (1986), “A cultura de empresa, que se manifesta

através de sinais e símbolos, é a síntese de uma herança histórica, de uma

profissão específica e de um sistema de valores. Define a identidade de uma

empresa.”

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

37

Para Schein (1982), “A cultura é um modelo de pressupostos básicos

inventados, descobertos ou desenvolvidos por um determinado grupo, à

medida que aprende a enfrentar problemas de adaptação externa e interna,

considerados válidos, e que pode ser ensinado aos membros da empresa,

como uma forma correta de aceitar, pensar e sentir esses mesmos problemas.”

Para Gallo e Ribeiro (1996), “Costuma-se entender por cultura de um

grupo humano a sua forma habitual e tradicional de pensar, de sentir e de

reagir ao enfrentar os problemas que se lhe colocam. Por outras palavras, o

conjunto de hábitos e conhecimentos adquiridos como resultado da sucessiva

aplicação de faculdades intelectuais, que constitui os padrões de atuação dos

membros deste grupo.”

Ainda de acordo com Schein, a cultura de uma empresa está estruturada em

três níveis de elementos estreitamente relacionados entre si, mas que se

podem distinguir em função da importância da sua influência na formulação da

sua estratégia, e no delinear e gestão da organização, os “instrumentos”, os

“valores” e os “pressupostos”.

Ao visitar uma empresa e ouvindo os sócios fundadores, é notória a

existência de uma cultura própria que marcou esta empresa. Ao primeiro nível,

os “instrumentos”; com facilidade nos apercebemos da sua existência pelos

objetos visíveis, como fotografias dos sócios fundadores, quadros com fotos e

reportagens relativas a visitas de altas individualidades governamentais,

insígnias, logotipos e troféus, por todo o espaço administrativo e comercial da

empresa. Ainda a este nível, e conversando com os sócios fundadores, é

freqüente ouvi-los contar as histórias das dificuldades por que passaram na

fase inicial da implementação da empresa, bem como, foram ultrapassadas

essas dificuldades e alcançaram os seus êxitos.

Ao segundo nível, os “valores”, que correspondem aos “princípios

operativos” específicos, e importantes, que influem na programação de planos

de ação ou decisão entre as alternativas comparáveis. Pode constatar-se que

a empresa tem procurado investir nos seus produtos, a fim de procurar diminuir

o risco do negócio, alargando a venda de produtos. A auto-exigência pela

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

38

procura de elevados níveis de qualidade, na produção de produtos fabricados

e/ou, na comercialização, reconhecida quer a nível nacional, ou internacional.

Ao terceiro nível, o dos “pressupostos”, formado pelos fundamentos

mais profundos do modo particular de atuação da empresa. Pode ser

constatado, que ao nível organizacional, a estrutura de gestão foi

completamente alterada em 1990, ao transformar-se em sociedade anônima,

na tentativa de ultrapassar problemas importantes. Tais como: o crescimento

da empresa e a sua forma de gestão, a dispersão do capital pelos filhos, de

modo a ultrapassar parcialmente o penalizante imposto sucessório, e por

último, de modo a serem tributados pelo imposto sobre os lucros, bastante

favorável aos acionistas nas sociedades anônimas (25%), do que, ao nível do

rendimento singular dos sócios das sociedades por quotas, onde atingia os

40%.

De acordo com Martins (1999), “É de relevar o papel do fundador na

criação da cultura de empresa, que deriva, na maioria dos casos, das suas

próprias experiências pessoais vividas, e que interage de forma complexa, com

as crenças e valores que o restante grupo organizacional vai definindo na sua

própria experiência de vida e trabalho. Neste processo interativo, “a cultura do

fundador, tende a ter um impacto determinante na vida da empresa,

influenciando o modo como o restante do grupo, resolve os seus problemas de

integração interna e externa”.

3.13 A Profissionalização da Empresa Familiar

Para Hofer e Charan (1984), a evolução da gestão empresarial para a

gestão profissional numa organização, ocorre não só em termos das práticas

de gestão, mas também em termos dos valores culturais das próprias

empresas.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

39

O crescimento dos negócios ou o sucesso da transição de gerações, cada vez

mais, requer a evolução de uma gestão empresarial para uma gestão

profissionalizada.

Bernhoeft, citado em Camarinha (1990), é de opinião que a empresa

necessita de ser preservada em primeiro lugar, e só depois a família, referindo-

se, no entanto, que a profissionalização não consiste em criar uma estrutura

organizacional à semelhança de um manual de gestão, nem somente entregar

a administração dos negócios a um gestor profissional.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

40

Capítulo IV

RACIONALIDADE E CONFLITO

"O poder é o meio através do qual, conflitos de interesse são, afinal,

resolvidos. O poder influencia quem consegue o quê, quando e como."

(Morgan)

4.1 Introdução:

Segundo Lodi (1994), muitos familiares estão no negócio pelo dinheiro e

pela obrigação, não pelo comprometimento. Algumas pessoas trabalham por

que tem que trabalhar, não porque querem trabalhar. Este é o início da morte

das empresas de família; os valores estão obscuros, as lealdades divididas e

as motivações são baseadas no dinheiro.

O plano de sucessão do negócio familiar depende do tipo de comprometimento

das pessoas, e da capacidade de transmiti-lo.

Para Scheffer (1995), o questionamento das dificuldades envolvendo o

momento da transferência de liderança, com o exame do que será melhor para

a empresa, facilitará a gradual separação entre os sistemas empresarial e

familiar, uma das fontes de conflito.

Para Levinson (1977), os sentimentos de rivalidade do filho são reflexos

das frustrações que o pai pode impor ao seu desejo natural de expansão, e

aquisição de maiores responsabilidades, a não delegar o poder e a autoridade,

e não cumprir as promessas de aposentadoria. O filho pode se aborrecer ao

ser mantido em um papel infantil, pela necessidade do pai em assegurar-se

constantemente de que somente ele é competente para garantir o êxito de sua

organização. Aparecem sentimentos de perda da masculinidade relacionados

com a perda do poder.

Para o mesmo autor, o pai abriga o sentimento de que o filho jamais será

homem bastante para gerir o negócio, e o filho pode desenvolver sua carreira

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

41

em outras organizações não familiares, assumindo normalmente cargos de

direção, aguardando sua vez de entrar em cena. Qualquer que tenha sido a

combinação de fatores, o filho provavelmente terá de assumir o comando de

uma organização, com muitas fraquezas ocultas, por trás da poderosa fachada

do líder recém-saído. Por tudo isso, muitas empresas, ao fim da gestão de

seus fundadores, se desintegram, são saqueadas ou se fundem formando

outra organização.

4.2 Conflitos Intra-Familiares no Sistema Empresarial

Segundo Bornholdt (2005), conflitos intra-familiares no sistema

empresarial, são aqueles originados de diferenças entre membros das famílias,

como idade, valores pessoais, metas de vida e até mesmo capacidade de lidar

com o estresse. Os conflitos mais comuns são:

- Entre cônjuges que trabalham na empresa, e que algumas vezes

acabam refletindo nas questões empresariais.

Para Longeneker (1997) o cônjuge do empreendedor exerce um papel

importante, pois é necessário um trabalho em equipe que pode exigir

flexibilidade de ambas as partes e ajudar também a mediar possíveis conflitos

entre filhos.

- Entre pais e filhos, que segundo Bornholdt (2005) é um dos temas

mais complexos, pois essa relação está carregada de emoção e

ambigüidade e possui alguns agravantes como diferenças de idade,

conhecimento de novas tecnologias e processos sucessórios e que se

não for planejado adequadamente pode gerar frustrações e/ou

problemas empresariais sérios;

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

42

- Relações entre irmãos, que muitas vezes desenvolvem habilidades

diferentes em áreas distintas, e não precisam competir e se medir e

desenvolvem-se com naturalidade dentro e fora da empresa. Porém

em casos onde existe o confronto direto pelo poder, é necessário muita

cautela para administrar tais conflitos.

Algumas empresas escolhem medidas atenuantes como rodízio entre irmãos

na presidência, mas não se caracteriza como medidas conclusivas.

- Relações entre primos e tios, costumam ser bem divergentes devido

a criações como: valores, crenças e costumes muito diferentes, onde é

muito importante que todos conheçam os valores da empresa, e as

informações, sejam divulgadas a todos e em caso de conflitos,

recomenda-se que seja revisto o acordo societário.

4.3 Conflito entre o Sistema Empresarial e Familiar

Segundo Bornholdt (2005), as relações entre sistema familiar e o

sistema empresarial, podem ser harmoniosas quanto aos objetivos da

empresa, entradas e saídas, remuneração e plano de carreira. Enquanto a

demanda na organização, é maior que a disponibilidade de familiares com

idade para trabalhar, pois quando essa demanda se inverte; somada as

expectativas individuais de emprego; poder, espaço e remuneração surgem os

conflitos que Bornholdt (2005), caracteriza por dois pontos de vista diferentes.

O primeiro relacionado aos familiares que atuam na empresa, e desejam seu

desenvolvimento. Outro ponto de vista é dos familiares que não trabalham na

empresa, e, geralmente precisa de lugar para os herdeiros trabalhar. Também

necessitam de remuneração e tem expectativas de retorno do capital

(herdado), e entendem que os membros da família atuantes na empresa são

privilegiados, e em muitos casos essa condição não corresponde à realidade.

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

43

Esses prismas mostram a grande diferença entre expectativas e

entendimento entre sistema empresarial e familiar. O sistema empresarial tem

um papel de poder, reconhecido e bem remunerado e tem benefícios por conta

da empresa, já o sistema familiar, representa o núcleo das relações afetivas.

Com o dos negócios, estando distante de tensões e possíveis crises próprias

ao comando de uma empresa.

Para administração desses conflitos é necessário através de negociações,

definir critérios de entrada e saída da empresa, remuneração, normas sobre

planos de carreira e um código de ética de atitudes e condutas das

organizações. A negociação para decidir critérios de temas conflituosos, são os

primeiros passos para o início da governança na empresa familiar.

4.4 Conflito entre os Sistemas Familiares e Societários

O conflito entre os sistemas familiares e societários acontece, conforme

Bornholdt (2005), porque geralmente membros da família se consideram

proprietários da empresa, e não consideram que ser sócio de uma empresa

tem outros aspectos como: a participação acionária e quotas que nem sempre

são iguais entre os sócios; patrimônio considerável, sem poder disponibilizá-lo

com liquidez; pessoas da família casam e formam novo núcleo familiar que

possuem novo status social e patrimonial diferentes; processos tributários,

onerosos e complexos em processo de herança, separações e doações.

Diante dessa complexidade, é necessário criar regras e critérios

negociados entre familiares, para evitar danos à empresa. Bornholdt (2005)

destaca como principais pontos a serem definidos:

- Compra e venda de ações e quotas. Recomenda-se a aplicação de

tag along (todas as ações e quotas têm o mesmo valor); limite de

compra e venda de quotas, manterem reservas para situações

imprevistas;

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

44

- Definição de pacto pré-nupcial. (Observa-se uma crescente

instabilidade nos novos relacionamentos conjugais, dessa maneira

recomenda-se um pacto pré-nupcial com cláusulas de

incomunicabilidade de ações / quotas;

- Definição de direito de voto. É preciso que familiares acionistas

definam quem serão seus representantes legais, com poder de voto

por meio de uma holding ou por participação direta nas assembléias;

- Seqüestros, mortes e outras estratégias. Devem-se registrar

acordos em relação a esses temas de forma sigilosa e segura.

Esses pontos muitas vezes são evitados por membros da família, por

acreditarem que sejam pontos de maior possibilidade de conflito, porém se

negligenciados, podem dar início a uma série de conflitos de difícil resolução.

4.5 Conflitos entre Sistema Societário e Empresarial

Conflitos entre sistema societário e empresarial são gerados na maioria,

por sócios que desejam participar no processo de decisão, em relação aos

rumos da empresa, critérios de investimentos e modelos de gestão. E

percebem a inadequação da gestão. Por outro lado, os executivos têm

dificuldade em aceitar opiniões, sugestões e reclamações, devido a falta de

experiência dos sócios não atuantes; porém, os sócios, são donos do capital e

precisam saber o que está acontecendo.

Essas diferenças precisam ser tratadas através de diálogo entre as partes, pois

geralmente são oriundos de conclusões equívocas, sobre as vantagens que

cada uma das partes pode estar recebendo.

De acordo com Bornholdt (2005), executivos não podem receber

gratificações apenas por desempenho de curto prazo. É necessário que se

estabeleçam padrões de longo prazo, ou demonstre periodicamente, qual o

valor agregado pela empresa. Recomenda-se também, que seja mostrado,

quanto a empresa gera de caixa para o capital de giro, e investimentos. Essas

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

45

medidas ajudam para desenvolver um ambiente harmonioso, ou, ao menos

reduzir as fantasias e ansiedades entre o sistema societário e empresarial.

Tecendo um paralelo, sobre as considerações de todos os autores, no

tocante às semelhanças e diferenças de opiniões, foi possível compreender

que: a sucessão ocorrida, num processo gradual e planejada, permite que

sucessores, sejam adequadamente capacitados, e adquiram os

conhecimentos específicos do seu ramo do negócio. Essa seria a sucessão

mais aconselhável, uma vez que evitaria traumas ou conflitos profundos para a

organização, e para os envolvidos.

A maior lição que se pode tirar das empresas familiares, são as experiências

positivas, passadas de pai para filho, de sucedido para sucessor e assim por

diante.

“Um velho pai no momento da morte, revela a seus filhos a

existência de um tesouro enterrado em seus vinhedos. Os filhos

cavam, mas não descobrem qualquer vestígio do tesouro. Com a

chegada do outono, os vinhedos produzem mais do que em

qualquer outra região. Só então compreenderam que o pai havia

lhes transmitido certa experiência: a felicidade não está no ouro,

mas no trabalho”.

(Benjamim – apud Barros, 1987)

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

46

CONCLUSÃO

As empresas familiares têm especificidades, que requerem um tipo de

gestão diferente de qualquer outro tipo de sociedade.

A posse de sua propriedade, não deverá interferir com a gestão do

negócio, sendo os problemas específicos do binômio, família-empresa,

debatidos em sede própria. Também a qualidade de proprietário, não é

condição necessária para ser seu administrador. Sendo aconselhável, um

equilíbrio entre competências específicas do negócio, proprietários e

administradores independentes, com vista a perpetuar uma sociedade.

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

47

ANEXO I

Empresa Familiar Sustentável? Qual é o segredo?

José Renato de Miranda

Consultoria de Impacto, Gestão & Marketing Ltda

Rio de Janeiro – RJ

Votorantim, Empório Chiapetta, Eliane, Itaú, Wal-Mart, Ford, Tigre, Cedro

Cachoeira, Sul América, O Globo, J.Di Giorgio...vão bem, obrigado. Superaram

as catastróficas estatísticas mundiais de mortalidade das empresas familiares

– só 5% sobrevivem até a 3ª geração. E assim caminham vitoriosas para 4ª,5ª

e outras gerações.

Afinal, qual o segredo? Quando se trata de empresa familiar, de fato, cada

caso é um caso: os empreendedores, ramos, circunstâncias, épocas e regiões

são diferentes. Se entrar em detalhes, discussão é interminável, a exemplo

daquelas de futebol quando torcedores começam a comparar times e

seleções: qual foi melhor? Mas, três pontos estão fixados na base das

empresas que se sustentam, das pequenas às gigantescas, varejo, indústria

ou serviço:

1. Não demorar a descentralizar. Tempo passa, família cresce, chegam

parentes diretos e indiretos e, com eles, os conflitos que causam a

acentuada queda de empresas familiares. Conflitos profissionais e

humanos, que existem em qualquer empresa, a diferença é que nestas,

eles têm interferências domésticas ativadas por sangue-interesses-

emoções.

Não se devem abafar os conflitos, tentar negá-los, mas sim antecipá-los

com construtiva convivência para que tenham limites. As chances de

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

48

sucesso são proporcionais ao tempo em que problemas são

enfrentados com antecedência e diálogo. Descentralização deve ocorrer

com critério e jamais apressada;

2. Preparação dos parentes. Se o parente pode entrar na empresa sem

conscientização e treinamento, é porque basta ter o mesmo sangue que

terá a mesma competência dos que nela já trabalham? Se assim fosse,

notáveis grupos seriam eternos. O império Matarazzo continuaria a ser o

número um da América, e hoje é zero; Pão de Açúcar não teria entrado

no vermelho, aliás, no roxo, para depois se recompor; Bom Bril

continuaria a limpar concorrentes sem ter ido para outras mãos...

Gerações não são necessariamente competentes, têm que ser

preparadas: analisadas a vocação, habilidades, vontade de atuar no

negócio da família, em contrapartida, ter explicações sobre filosofia,

funcionamento, metas da empresa. Um diálogo imprescindível, precisa

entrar como profissional que virá a ser chefe, e não, o filho que está ali

para ajudar o pai. Se não tiver vocação/desejo, é melhor não entrar.

Gerações preparadas trazem três benefícios, principalmente, humanos:

A- Qualidade de vida para o titular. Ao descentralizar, tem mais tempo

para si mesmo, para usufruir o que acumulou, do lazer. A matemática

empresarial diz: soma da centralização, mais parente despreparado, é

igual a enfartes, gotas, separações, diabetes...

B- Garantia para o negócio. Parente capaz é a ponte para o futuro.

Tem energia, força para inovar e enfrentar concorrentes. Abre novo

ciclo.

3. Família. O titular fica com a mente tranqüila: cumpriu o dever de deixar a

empresa pronta para as gerações, poderão ter o desejado – ou igual

padrão de vida.

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

49

4. Gestão mista por período ou permanente. A presença de um consultor

capaz em gestão e relacionamento é estratégia. Administram debates,

tendências, soluções empresariais-familiares. Consultor é contratado

por empresas familiares vitoriosas porque entra com a determinação de

fazer o negócio continuar a prosperar e, junto, puxa os ajustes

familiares. Atua no sentido de colocar a família para trabalhar para a

empresa, e não, o contrário.

A empresa familiar sustentável une descentralização-treinamento-gestão

de olho no mercado, visa trabalhar no que é de todos para satisfazer

clientes, afinal, eles é que darão dinheiro e tranqüilidade para a empresa e

para os lares. Em média, 85% das empresas são familiares e... precisam

ser competitivas, portanto, é hoje extremamente oportuna a reflexão-ação

sobre este tema.

José Renato de Miranda, autor do livro Gestão e Marketing. – Consultor da

Fecomércio, Cedae e CDL.

Artigo publicado na revista: Geração Sustentável – A Revista do

Desenvolvimento Sustentável Corporativo.

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

50

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AQUINO, Cleber, Empresa Familiar, Sucessão e Continuidade.

Gazeta Mercantil, p.A-Z, 17 julho 1993.

ARRUDA, Maria Cecília Coutinho. Relação Empresa-Família: O Papel da

Mulher. Revista de Administração de Empresas. SP vol.36, n.3 pp.6-13

jul/ago/set. 1996.

BERNHOEFT, Renato, Empresa Familiar; Sucessão Profissionalizada ou

Sobrevivência Comprometida. São Paulo, Nobel, 1991.

BERNHOEFT, Renato, GALLO, Miguel A., Governança na Empresa Familiar,

2ª.Ed. Editora Campus, Rio de Janeiro, 2003.

BERNHOEFT, Renato, Renata, PASSOS, Édio e TEIXEIRA, Wagner; Família,

Família, Negócios à Parte; como fortalecer laços e desatar nós na empresa

familiar. São Paulo; Editora Gente, 2006.

BETHLEM, Agrícola de Souza. A Empresa Familiar; oportunidades para

pesquisa. Revista de Administração. SP. Vol.29, n.4, p.88-97, out/dez. 1994.

CAMARINHA, Rui; Sem Herdeiros para o Negócio, Revista Exame. Ed. Control

Jornal, n.15, jun 1990.

CATTANI, Marco Aurélio. Empresa Familiar, mandatos e mitos no comando de

uma empresa. Dissertação (Mestrado em Administração); Depto. De Ciências

Econômicas, UFRGS. 1993, Porto Alegre.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria da Administração, 4ª Ed. SP,

Makron, 1994.

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

51

DONNELLEY, Robert G. , A Empresa Familiar., In Biblioteca Harvard de

Administração de Empresas, São Paulo, Abril. TEC Editora, 1976.

DONNELLEY, Robert G. A Empresa Familiar, Harvard Business Review, São

Paulo. Nova Cultural, 1987

DRUCKER, Peter F. Administrando em Tempos de Grandes Mudanças, 2ª.ed.

SP. Ed, Pioneira, 1995.

DRUCKER, Peter F.; Os Novos Desafios, HSM Management, São Paulo,

1999.

FLORIANI, Oldoni Pedro. Empresa Familiar, ou Inferno Familiar? Curitiba,

Juruã, 2002.

FRITZ, Roger, A Empresa Familiar: uma visão empreendedora. São Paulo.

Makron, 1993.

GARAY, Angela B.S., Entraves à Sucessão em Empresas Familiares. Análise,

Porto Alegre, v.7, n.1, p.163-179, 1996.

GERSICK, Klein E.; LANSBERG, Ivan; DAVIS, John A; HAMPTON, Marion,

M. De Geração para Geração, Ciclos de Vida das Empresas Familiares. São

Paulo. Negócio Editora, 1997.

GRZYBOVSKI, Denize, TEDESCO, João Carlos., Empresa Familiar X

Competitividade: Tendências e Racionalidades em Conflito. Teoria e Evidência

Econômica, Passo Fundo, vol.6, n.11, PP.35-67, Nov. 1998.

KETS DE VRIES, M.F.R. , Family Business: Humam Dilemmas in the Family

Firm, London; International Thomson Business Press, 1996.

Page 52: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

52

KETS DE VRIES, Manfred F.R. Liderança na Empresa: como o

comportamento dos líderes afeta a cultura interna. SP. Atlas, 1997.

LANZANA, Antonio, CONSTANZI, Rogerio. As Empresas Familiares

Brasileiras Diante do Atual Panorama Econômico Mundial. In: Martins, J.

(Coord.);

Empresas Familiares Brasileiras: Perfil e Perspectivas. São Paulo. Negócio

Ed., 1999.

LEONE, Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. Sucessão na Empresa Familiar:

Preparando as Mudanças para Garantir Sobrevivência no Mercado

Globalizado. São Paulo; Atlas, 2005.

LETHBRIDGE, Eric. Tendências da Empresa Familiar no Mundo. Revista do

BNDS, n.7, Brasília, 1997. Disp. Na Internet no site. HTTP:

WWW.bndes.gov.br.

LODI, João Bosco. A Empresa Familiar, São Paulo; Pioneira, 1993.

LÓPEZ, Elena Rivo. El Papel Del Accionista em La Empresa Familiar. Best

Papers Proceedings VIII International Conference. São Leopoldo, Unisinos,

1999.

PRADO, Danda. O Que é Família.10ª. Ed., Editora Brasiliense,1988.

REBOUÇAS, D.P.O. Empresa Familiar: Como Fortalecer o Empreendimento e

Otimizar o Processo.

STANHOPE,Márcia. Teorias e Desenvolvimento Familiar. Lisboa: Lusociência,

1999. Disponível em: WWW.inclusao.com.br/projeto-textos-03.htm. Acesso em

nov 2008., HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/empresa acesso em nov 2008.

Page 53: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

53

VIDIGAL, Antonio Carlos. Viva e Empresa Familiar. Revista Exame, ano 29,

606ª. Ed. N.7, 27 mar 1996. Empresa Familiar, mitos e Verdades, Gazeta

Mercantil, p.A-2, 5 ago 1997.

Page 54: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

54

ATIVIDADES CULTURAIS

Page 55: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

55

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A FAMÍLIA 09

1.1 – Definição 09

1.2 – Funções da Família 10

1.3 – Socialização Primária 12

1.4 – Estruturas Familiares / Tipo 13

CAPÍTULO II

A EMPRESA 16

2.1 – Breve História 16

2.2 – Definição 18

2.3 – Categorias de Empresas 18

CAPÍTULO III

A EMPRESA FAMILIAR 23

3.1 – Introdução 23

3.2 – Conceito de Empresa Familiar 25

3.3 – História da Empresa Familiar 26

3.4 – Características das Empresas Familiares 27

3.5 – Problemas da Empresa Familiar 28

3.6 – O Processo de Sucessão 30

3.7 – As Questões dos Sucessores 30

Page 56: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

56

3.8 – Questões dos Profissionais Despreparados 31

3.9 – Aspectos da Sucessão nas Empresas Familiares 32

3.10 – Sucessão Profissional 35

3.11 – Sucessão Familiar 36

3.12 – A Cultura nas Empresas Familiares 36

3.13 – A Profissionalização da Empresa Familiar 38

CAPÍTULO IV

RACIONALIDADE E CONFLITO 40

4.1 – Introdução 40

4.2 – Conflitos Intra-Familiares no Sistema Empresarial 41

4.3 – Conflitos entre o Sistema Empresarial e Familiar 42

4.4 – Conflitos entre os Sistemas Familiares e Societários 43

4.5 – Conflitos entre o Sistema Societário e Empresarial 44

CONCLUSÃO 46

ANEXO I 47

BIBLIOGRAFIA 50

ATIVIDADES CULTURAIS 54

ÍNDICE 55

FOLHA DE AVALIAÇÃO 57

Page 57: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O termo “família”, segundo Stanhope (1999), é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este termo

57

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: A GESTÃO NA EMPRESA FAMILIAR E O

PROCESSO SUCESSÓRIO

Autor: MARIA ALICE FERREIRA LIMA DE VASCONCELOS – K209386

Data da entrega: 04/02/2009

Avaliado por: MARIE SUE CARVALHO PEREIRA Conceito: