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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
HABEAS CORPUS
Por: CLÁUDIA MARIA MAIA PIRES
Orientador
Prof. FRANCIS RAJZMAN
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Apresentação de monografia à AVM
Faculdade Integrada como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em
Direito Penal e Processo Penal.
Por: . Cláudia Maria Maia Pires
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DEDICATÓRIA
.
Aos meus queridos
avós, tios, parentes e amigos que
não se encontram entre nós e
deixaram muito amor em meu
coração.
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RESUMO
O presente trabalho trata-se do estudo do
instituto do habeas corpus previsto em nossa legislação, abordando a
doutrina e jurisprudência.
A monografia apresenta um breve histórico,
conceito, natureza jurídica, cabimento, competência, tipos, destacando-se
a sua importância perante a sociedade, como garantia constitucional da
liberdade de locomoção.
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METODOLOGIA
A presente monografia adota o método dogmático – descritivo, em cotejo com a jurisprudência, objetivando visualizar o instituto do habeas corpus conforme nosso ordenamento jurídico.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Noções Gerais 09
CAPÍTULO II - Do Procedimento em Geral 19
CAPÍTULO III – Notificação do Advogado 37
CAPÍTULO IV – Transgressões Disciplinares 44
CAPITULO V – Dos Recursos 45
CONCLUSÃO 46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52
INDICE 53
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INTRODUÇÃO
A presente monografia busca apresentar o
instituto do habeas corpus, desde o seu surgimento, com aprofundamento
do estudo referente a sua utilização, ressaltando que não se trata de um
recurso e sim de uma ação.
O habeas corpus pode, de fato, ser utilizado
como recurso, mas na realidade, sua natureza jurídica, é mais ampla,
apresentando-se como verdadeira ação, que tem como escopo estancar
prontamente a ofensa ao direito de ir e vir de qualquer indivíduo,
colocando-se, assim, como importantíssimo instrumento de salvaguarda do
direito à liberdade, um dos valores mais sagrados da vida humana.
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CAPÍTULO I
NOÇÕES GERAIS
1.1 Origem histórica e conceito
A origem do habeas corpus remonta ao século XIII, quando foi
editada, sob a égide do Estado Absolutista pelo Rei João sem Terra, em
1215, na Inglaterra, a célebre Magna Charta Libertatum concordia inter
regem Johannem et barones, surgindo assim, o gérmen do habeas corpus.
Dizia o capítulo 29 dessa carta: “Nullus liber hommo capiatur, vel
imprisionetur, aut dissaisietur, aut ultragetur, au exuletur, aut aliquo modo
destruatur, nec semper eum ibimus, nec super eum in carcerem mittemus,
nisi per legale judicium parium suorum vel per legem terrae” ( Nenhum
homem livre será detido, feito prisioneiro, posto fora da lei ou exilado nem
de forma arruinado (privado de seus bens), nem iremos nem mandaremos
alguém contra ele, exceto mediante julgamento de seus pares e de acordo
com a lei da terra). A carta fora escrita em latim, que à época, era a língua
da Corte, por influência da Igreja. Daí “writ of habeas corpus”, misto de
inglês e latim, e, tudo indica, a expressão se deve aos clérigos, que
conheciam o Direito e o latim.
Mas a expressão habeas corpus ao que parece, somente veio a
surgir em 1679, no reinado de Carlos II, na Espanha, com o Habeas
Corpus Act.
No Brasil, o habeas corpus foi introduzido na ordem jurídica pelo
Código de Processo Criminal, de 29 de novembro de 1832, mas elevado
ao nível constitucional pela Constituição Republicana de 1891. A partir de
então, estabeleceu-se a previsão do cabimento do citado instrumento de
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defesa sempre que o indivíduo sofrer ou se achar em iminente perigo de
sofrer violência ou coação por ilegalidade ou por abuso de poder. Com a
reforma constitucional de 1926 foi conferido ao habeas corpus o caráter
atual de medida voltada exclusivamente para combater a prisão ou o
constrangimento ao direito de locomoção.
No vocabulário jurídico de De Plácido e Silva, o mencionado
instituto compõe-se do verbo latino ‘habeas’, de habeo (ter, tomar, andar
com), e ‘corpus’ (corpo), de modo que se pode traduzir: ande com o corpo
ou tenha corpo.
A expressão habeas corpus significa exiba o corpo, apresente a
pessoa que está sofrendo ilegalidade na sua liberdade de locomoção. A
expressão é “writ of habeas corpus” – ordem para apresentar a pessoa que
está sofrendo o constrangimento.
A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, XV e LXVIII, ao
disciplinar os direitos e garantias individuais, estabelece que “conceder-se-
á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade
ou abuso de poder”.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, no termos seguintes:
XV – é livre a locomoção no território nacional
em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
LXVIII – Conceder-se-á “habeas corpus” sempre
que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
Tal instituto está destinado a remediar e prevenir toda e qualquer
restrição legal ou abusiva da liberdade de ir, vir e ficar. Assim, não visa a
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atacar apenas medidas e decisões de juízes criminais, mas quaisquer
atos judiciais, administrativos e até mesmo de particulares que possam
interferir com a liberdade pessoal.
O habeas corpus é um remédio jurídico que tem o objetivo de
proteger um direito líquido e certo específico, que é a liberdade de
locomoção, tendo que estar demonstrada a ilegalidade, não cabendo no
habeas corpus análise de provas e discussão probatória.
1.2 Natureza Jurídica do Habeas Corpus
O presente instituto, no Código de Processo Penal, ao lado da
apelação, do recurso em sentido estrito, do protesto por novo júri, dos
embargos, da revisão e da carta testemunhável, encontra-se no rol dos
recursos.
Embora encartado no CPP como recurso, toda a doutrina,
quase sem discrepância, considera-o verdadeira ação. Hoje, poucos são
os que sustentam a natureza recursal do habeas corpus. Basta frisar,
por exemplo, que o recurso pressupõe decisão judicial não trânsita em
julgado. O Habeas corpus pode ser impetrado contra decisões judiciais
transitadas ou não em julgado, contra atos de autoridades outras que
não as judiciárias e até mesmo contra atos particulares.
Sustenta o Mestre Eugênio Pacelli de Oliveira, que embora
inserido no Código de Processo Penal entre os recursos, trata-se de
verdadeira ação autônoma, cuja tramitação pode ocorrer antes mesmo
do início da ação penal propriamente dita (condenatória). E o simples
fato de se tratar de ação, e não de recurso, já nos permite uma
conclusão de extrema relevância: O habeas corpus pode ser impetrado
tanto antes quanto depois do trânsito em julgado da decisão restritiva de
direitos. E mais: pode ser usado como substituto do recurso cabível, ou
mesmo ser impetrado cumulativamente com ele. Pode ser impetrado
em situações em que nem há processo e até contra atos administrativos
de particulares; com o substituto do recurso cabível ou cumulativo a ele.
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Nesse sentido, ensina Paulo Rangel, que não se trata de
recurso porque este pressupõe decisão não transitada em julgado e o
habeas corpus pode ser impetrado de decisão que já transitou em
julgado, quando o juiz era absolutamente incompetente, ou ainda, se já
estiver extinta a punibilidade em face da prescrição da pretensão
executória; porque o recurso é interposto sempre de decisão judicial e o
habeas corpus pode ser impetrado contra autoridade administrativa ou,
de ato de particular. O recurso é interposto dentro da mesma relação
jurídico- processual e o habeas corpus instaura uma nova relação
jurídica, independentemente daquela que deu origem à sua instauração,
ou até mesmo, sem uma relação jurídica instaurada.
Pelas considerações acima, o Professor Paulo Rangel posiciona-
se no sentido de que o habeas corpus não é um recurso, e sim, uma
ação autônoma de impugnação cuja pretensão é de liberdade, e,
compartilhando com a mesma posição, os professores Fernando da
Costa Tourinho Filho, Antonio Magalhães Gomes Filho, Antonio
Scarance Fernandes, Tales Castelo Branco, José Frederico Maques,
Pontes de Miranda e Ada Pellegrini Grinover.
No entanto, o professor Magalhães Noronha, diverge em seu
posicionamento, entendendo ser o habeas corpus tanto um recurso
como uma ação, dando-lhe um caráter misto.
Segundo o professor Mirabete é uma ação penal popular
constitucional, embora por vezes possa servir de recurso.
Qualquer indivíduo tem legitimidade para impetrá-lo, razão pela
qual podemos dizer que trata-se de verdadeira ação penal popular,
objetivando o restabelecimento a liberdade de ir, vir e ficar, ou ainda, na
remoção de ameaça que possa pairar sobre esse direito fundamental da
pessoa, quando ilegal.
Como a ação de habeas corpus é de natureza informal, podendo
qualquer pessoa fazê-la, desnecessária portanto, a apresentação de
procuração da vítima para ter ajuizamento imediato. Poderá ainda, ter
um provimento meramente declaratório, quando se declara extinta a
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punibilidade; ou constitutivo, quando rescinde sentença transitada em
julgado, não havendo possibilidade de um provimento condenatório,
pois o habeas corpus tem uma pretensão liberatória.
1.3 Espécies de Habeas Corpus
O habeas corpus pode ser liberatório ou preventivo, conforme seja
concedido após, ou antes, à efetiva coação à liberdade de locomoção.
LIBERATÓRIO – também denominado repressivo – pretende a
restituição da liberdade do indivíduo que se encontra preso. O pedido de
concessão da ordem deverá visar à expedição de alvará de soltura.
Trago à colocação julgados abaixo discriminados.
Sexta Turma EXCESSO. PRAZO. PRISÃO PREVENTIVA.
FLAGRANTE.
Os pacientes foram denunciados por furto de 21 reses bovinas qualificado pelo concurso de agentes e se encontram presos em razão do decreto preventivo, designada audiência para oitiva de testemunhas. Anote-se haver prisão em flagrante ocorrida em outra comarca pela prática de idêntico crime. Diante disso e do fato de haver excesso de prazo na formação da culpa, visto que presos por quase dez meses sem que se conclua a instrução, a Turma entendeu conceder a ordem dehabeas corpus com a expedição do respectivo alvará de soltura, se por outro motivo não estiverem presos. Destacou o Min. Relator, ao referir-se ao art. 7º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, promulgada pelo Dec. n. 678/1992, e o art. 5º, LXXVIII, da CF/1988, que as coisas hão de ter tempo e fim, forma e medida, tal como os acontecimentos jurídicos. Precedentes citados: HC 43.263-PA, DJ 14/11/2005, e HC 44.676-MS, DJ 6/3/2006.HC 68.041-GO, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 14/11/2006.
Sexta Turma PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO. PRONÚNCIA.
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Trata-se de prisão preventiva que, segundo o parecer da subprocuradora-geral, opinou pela concessão dohabeas corpus ao argumento de que a conduta do paciente não preencheu as exigências do art. 312 do CPP, e a decretação prisional cautelar, pela sua excepcionalidade, não poderia se basear apenas em hipóteses ou meras probabilidades. O Min. Relator explicou que, nesses casos, adota o posicionamento, que é o mesmo da Turma, de conceder a ordem. Isso porque, se há ilegalidade por carecer o ato prisional preventivo de fundamentação e a pronúncia também deixou de sanar a ilegalidade preexistente, não se justificaria a manutenção da segregação cautelar apenas por sua aceitação na pronúncia. Ademais, a coação era primitivamente ilegal, conseqüentemente não deixou de sê-lo, porquanto faltou a efetiva fundamentação da constrição nos dois momentos. Precedente citado: RHC 17.127-RJ. HC 37.504-SP, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 15/9/2005.
PREVENTIVO: O judiciário se antecipa na apreciação da legalidade
de uma prisão, antes mesmo de que esta se concretize. Neste caso,
existe apenas ameaça de violação ao direito à liberdade, por ilegalidade
ou abuso de poder.
Embora o Código de Processo Penal estabeleça a violência ou
coação ilegal deva ser iminente, a previsão constitucional alargou o
cabimento, permitindo a impetração do remédio heróico mesmo quando
o risco de prisão estiver distante. Mas desde que esse risco
efetivamente exista, o HC preventivo apresenta-se como fundamental
instrumento de defesa.
Quando o paciente não se encontra preso, o pedido de concessão
da ordem deverá ser para revogar a ordem de prisão já eventualmente
expedida (risco iminente) ou para trancar o inquérito policial ou a ação
penal em curso ou mesmo para expedir salvo-conduto.
Outros julgados:
Sexta Turma HC. TESTE. BAFÔMETRO.
Não se pode considerar como fundado receio apto a propiciar a
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ordem de habeas corpus (preventivo) o simples temor de alguém de, porventura, vir a submeter-se ao denominado teste do “bafômetro”quando trafegar pelas ruas em veículo automotor. Precedentes citados: AgRg no HC 84.246-RS, DJ 19/12/2007; AgRg no RHC 25.118-MG, DJe 17/8/2009, e RHC 11.472-PI, DJ 25/5/2002. RHC 27.373-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/6/2010 (ver Informativo n. 435).
Quinta Turma MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. CUMPRIMENTO. TRÂNSITO EM JULGADO.
No habeas corpus preventivo, pretendia-se que o cumprimento de eventual medida socioeducativa a ser imposta pelo juízo fosse iniciada após o trânsito em julgado da sentença. Quanto a isso, a jurisprudência que se formou em torno da interpretação do art. 198, VI, do ECA (revogado pela Lei n. 12.012/2009) firmou-se no sentido de que a sentença que insere o adolescente na medida socioeducativa possui apenas o efeito devolutivo, o que não obsta o imediato cumprimento da medida aplicada, salvo quando há possibilidade de dano irreparável ou de difícil reparação, caso em que o apelo também é recebido no efeito suspensivo. No caso dos autos, não há como aferir a legalidade dessa eventual medida. Daí que não há coação ou ameaça concreta de lesão à liberdade de locomoção do paciente a afastar seu interesse de agir, imprescindível ao conhecimento da impetração ora em grau de recurso. Precedentes citados: RHC 21.380-RS, DJe 2/2/2009; HC 82.813-MG, DJ 1º/10/2007, e HC 54.633-SP, DJe 26/5/2008.RHC 26.386-PI, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 18/5/2010.
Sexta Turma SALVO-CONDUTO. TESTE. "BAFÔMETRO".
O recorrente, visando obter salvo-conduto para não ser obrigado a se submeter ao teste do “bafômetro”, alega que a Lei n. 11.705/2008 encerra conteúdo inconstitucional, ameaçando seu direito de ir e vir e que ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo. Ressalte-se, porém, que o habeas corpus preventivo tem cabimento quando, de fato, houver ameaça à liberdade de locomoção, isto é, sempre que fundado for o receio de o paciente ser preso ilegalmente. E tal receio resultará de ameaça concreta de iminente prisão. A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso sob o argumento de que, na
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espécie, não há efetiva ameaça, atual ou iminente, capaz de autorizar a expedição de salvo-conduto, por isso o que se pede é, por via reflexa, à custa de desrespeito a princípios constitucionais, eximir o impetrante do âmbito da vigência da lei supramencionada, especificamente quanto à realização do referido teste. Além do que, este Superior Tribunal já firmou o entendimento de o habeas corpus, remédio constitucional destinado a reparar ilegalidades que envolvam o direito de locomoção do cidadão, não ser via adequada para impugnar medidas administrativas, como ocorre na hipótese. Precedentes citados: HC 141.282-SP, DJe 6/8/2009; HC 124.468-RJ, DJe 5/8/2009, e HC 113.415-PE, DJe 12/5/2009. RHC 27.590-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 18/5/2010.
Sexta Turma HC PREVENTIVO. EMBRIAGUEZ. LEI N. 11.705/2008.
O habeas corpus preventivo é cabível quando haja fundado receio de que o paciente possa vir a sofrer coação ilegal a seu direito de ir, vir e permanecer. Não se pode considerar como fundado receio o simples temor de, porventura, ter o paciente de se submeter ao chamado teste do bafômetro ao trafegar pelas ruas em veículo automotor. Uma vez que não existe qualquer procedimento investigatório direcionado ao paciente, não está configurada a ameaça à sua liberdade de locomoção, mesmo que em potencial. Assim, a Turma negou provimento ao recurso. RHC 25.311-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 4/3/2010.
Sexta Turma HC PREVENTIVO. EXAMES. BAFÔMETRO. SANGUE. Trata-se de advogado que, em causa própria, interpôs agravo regimental contra decisão que indeferiu liminarmente o recurso de habeas corpus, insistindo nos mesmos argumentos utilizados no habeas corpuspreventivo interposto no Tribunal de Justiça, no qual requer a concessão de salvo-conduto para se negar a submeter-se ao exame de alcoolemia ou de sangue para fins do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro. Argumenta que ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo. A Turma negou provimento ao recurso diante do fato de não existir qualquer lesão ou ameaça concreta ao direito de ir, vir e ficar do recorrente. Observa o Ministro Relator que não se pode considerar como fundado receio o simples temor de um dia ser chamado a submeter-se ao exame de alcoolemia quando na direção de veículo automotor nas ruas. Ressaltou que a nova lei
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não obriga o cidadão a produzir prova contra si próprio, tendo em vista que, além do “bafômetro” e do exame de sangue, subsistem os demais meios de prova em direito admitidos para constatação de embriaguez, sendo certo que a recusa em submeter-se aos testes implica apenas sanções administrativas. Ademais, a norma do art. 165 do CTB está sendo apreciada na ADIn. 4.103-DF pelo STF. Precedentes citados: AgRg no HC 84.246-RS, DJ 19/12/2007, e RHC 11.472-PI, DJ 25/2/2002. AgRg no RHC 25.118-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 9/6/2009.
Quinta Turma COMPETÊNCIA. CRIME CONTRA A ORDEM ECONÔMICA. Trata-se de habeas corpus preventivo em que o paciente e demais co-réus, todos representantes legais de sociedades empresariais, foram denunciados pela suposta prática dos crimes previstos no art. 4º, III, a, b e c, da Lei n. 8.137/1990 (cartel) e no art. 288 do CP (formação de quadrilha) c/c o art. 69 do CP (concurso material). Narra a denúncia que, mediante acordos, convênios, ajustes e alianças, os denunciados controlavam artificialmente o preço do gás industrial no mercado nacional. Nesse habeas corpus, discutiu-se somente a competência para processar e julgar a ação penal intentada contra os pacientes, ficando as demais questões suscitadas para o juízo competente apreciar. Explica o Min. Relator que a competência traz certa controvérsia porque, de acordo com o disposto no inciso IV do art. 109 da CF/1988, os crimes contra a ordem econômica ou contra o sistema financeiro nacional somente serão julgados na Justiça Federal na hipótese de haver previsão expressa em lei ordinária. Para os crimes contra o sistema financeiro, essa previsão encontra-se no art. 26 da Lei n. 7.492/1986; ao contrário, nos crimes contra a ordem econômica, já que a Lei n. 8.137/1990 não contém dispositivo fixando a competência da Justiça Federal, o julgamento de tais crimes compete, em regra, à Justiça estadual. Porém, a norma não afasta, de plano, a competência da Justiça Federal desde que se verifiquem as hipóteses elencadas no art. 109, IV, da CF/1988. Por outro lado, diante da magnitude da atuação, prejudicando setor econômico estratégico e o fornecimento de serviços essenciais (oxigênio) com propensão a abranger vários Estados-membros, o interesse da União é patente (nesse sentido, a Turma tem decisão). Com essas considerações, entre outras, a Turma concedeu a ordem tão-só para reconhecer a competência da Justiça Federal, sem prejuízo da ulterior avaliação nos termos da Súm. n. 150-STJ. Precedente citado: HC 32.292-RS, DJ 3/5/2004. HC 117.169-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 19/2/2009.
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Quarta Turma PENHORA. SAFRA FUTURA. PRISÃO CIVIL
Trata-se de habeas corpus preventivo contra acórdão do TJ que autorizou o decreto de prisão civil do paciente, resultante de não ter havido devolução do bem ou depósito do equivalente em dinheiro da safra de café, objeto de depósito judicial nos autos de execução movida por cooperativa de crédito rural. O Tribunal a quo, ao negar provimento ao agravo de instrumento dos impetrantes, entendeu que o paciente ofertou à penhora safra futura de café, estipulada em 1.670 sacas em cédula de crédito rural. Assim, concluiu que o descumprimento do encargo levou à caracterização do depositário infiel, autorizando o decreto de prisão. O impetrante assevera ser incabível o decreto de prisão por infidelidade no cumprimento do encargo de depositário judicial de safra futura. O Min. Relator ressaltou que, apesar de a safra futura de café ter sido ofertada à penhora pelo próprio paciente, esse fato, por si só, não é capaz de tornar incólume de revisão a decretação de prisão sancionada pelo Tribunal indigitado. O entendimento deste Superior Tribunal tem chancelado a penhora de bem fungível e aplicado a pena de prisão ao depositário judicial infiel. Todavia, no presente caso, há a figura de depósito de coisa futura, a safra de café não colhida à época da penhora. Aqui, o tratamento é diferenciado: a infidelidade do depósito de safra futura, mesmo que judicial, não autoriza a pena de prisão civil. Precedentes citados: RHC 13.600-MS, DJ 18/8/2003; RHC 15.907-SP, DJ 16/11/2004; RHC 17.900-DF, DJ 10/10/2005, e HC 26.639-SP, DJ 1º/3/2004.HC 88.308-SP, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 7/2/2008.
Deve ser ressaltado que para a impetração do habeas corpus deve
estar presente o fumus boni iuris, ou seja, a fumaça do direito, e o
periculum in mora, que significa o perigo de se ocorrer dano irreparável.
A violência é a via absoluta, que se traduz em constrangimento físico
e a coação é constrangimento moral, do fazer ou não fazer alguma
coisa.
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CAPITULO II
DO PROCEDIMENTO EM GERAL
Como instrumento destinado à tutela do direito à liberdade de
locomoção contra ilegalidade manifestas, a ação de habeas corpus
impõe um procedimento célere, através do qual essa proteção deve ser
rápido e eficaz.
As características essências desse procedimento são a simplicidade
e sumariedade.
2.1 - Da ação e suas condições
Ação é um direito de pedir ao Estado a prestação de sua atividade
jurisdicional em um caso concreto. O direito de ação é de natureza
pública. Como se trata de verdadeira ação, o habeas corpus, está
sujeito as mesmas condições a que se subordinam as ações penais
pública e privada: possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e
legitimidade “ad causam”.
A possibilidade jurídica do pedido consiste na dedução de um
pedido que tenha previsão jurídica expressa ou que não seja vedado
pelo ordenamento jurídico. Haverá possibilidade jurídica do pedido
sempre que houver violência ou coação ilegal ao exercício do jus
manendi, eundi, veniendi, ultro citroque (direito de ficar, ir e vir de um
para outro lugar).
Importante consignar que a via do habeas corpus tem sido
amplamente admitida, sem maiores formalidades ou restrições, mas
desde que haja risco ou ofensa à liberdade de locomoção do paciente.
Contudo, a própria Constituição Federal, no artigo 142, § 2º, cuidou de
estabelecer uma única causa impeditiva de impetração de habeas
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corpus. Prevê o dispositivo citado que não caberá o remédio heroico em
relação a punições disciplinares militares.
Deve ser ressaltado que as carreiras militares primam
fundamentalmente pela relação hierárquica entre seus membros, de
modo que os respectivos regimentos fixam diversas punições
administrativas que envolvem a privação da liberdade. Por esse motivo,
o constituinte de 1988 estabeleceu a citada restrição. Ocorre que a
vedação apontada no âmbito militar não pode ser considerada absoluta.
A regra nesses casos é o não cabimento de habeas corpus, mas,
havendo flagrante ilegalidade ou abuso de poder, a pessoa ofendida
poderá socorrer-se do remédio heroico.
É certo que, em tais casos, não caberá o Poder Judiciário examinar
o mérito das decisões administrativo-militares. Mas analisar, como
apontado, os pressupostos de legalidade, pela via do HC, constitui
matéria a respeito da qual não se pode negar a prestação jurisdicional.
O certo é que o habeas corpus, salvo o impedimento apontado, é
amplamente admitido para a salvaguarda do direito à liberdade. Não
caberá a impetração do habeas corpus quando a pena imposta ao
condenado não põe em risco sua liberdade de locomoção.
Interesse de agir consiste na demonstração da utilidade e satisfação
da prestação jurisdicional pleiteada. Tem que existir a coação, pois se
ela já desapareceu, obviamente faltará interesse processual.
2.2 – Legitimidade ativa
O Código de Processo Penal estabelece que o habeas corpus pode
ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem bem
como pelo Ministério Público, conforme prevê a Lei Orgânica Nacional
do Ministério Público.
Consta, na doutrina (Tourinho Filho), que Rui Barbosa dizia: “ a
liberdade de locomoção não entra no patrimônio particular, como as
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cousas que estão no comércio, que se dão, trocam, vendem ou
compram; é um verdadeiro condomínio social; todos o desfrutam, sem
que ninguém a possa alienar, e se o indivíduo, degenerado, a repudia, a
comunhão, vigilante a reivindica”.
Portanto, toda pessoa pode impetrá-lo, pouco importando se maior
ou menor, nacional ou estrangeira, sem a presença de advogado. Deve
ser ressaltado, que inclusive o próprio beneficiário, tenha ou não
capacidade postulatória pode impetrar o writ. Se o paciente for
analfabeto, alguém poderá assiná-lo a seu rogo. O Juiz não pode
impetrá-lo, a menos que ele seja o paciente. A função de juiz não é
postular. A pessoa jurídica pode impetrá-lo em favor de pessoa física.
Por todos os motivos descritos, parte da doutrina o considera
verdadeira ação penal popular.
Por fim, é importante registrar que o habeas corpus pode ser
ordenado de ofício pelo juiz, ou seja, sem que tenha sido requerido por
qualquer pessoa.
Pertencente a matéria, algumas súmulas do Supremo Tribunal
Federal e alguns julgados:
Súmula 395: “ Não se conhece recurso de habeas corpus cujo
objeto seja resolver sobre ônus das custas, por não estar mais em
causa a liberdade de locomoção”.
Súmula 692: “ Não se conhece de habeas corpus contra omissão
de relator de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro
cuja prova não constava nos autos, nem foi ele provocado a
respeito”.
Súmula 693: “Não cabe habeas corpus contra decisão
condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por
infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”.
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Súmula 694: “Não cabe habeas corpus contra imposição da
pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função
pública.
Súmula 695: “ Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena
privativa de liberdade”.
Processo HC 210012 / MG HABEAS CORPUS 2011/0137640-7 Relator(a) Ministra LAURITA VAZ (1120) Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento 06/10/2011 Data da Publicação/Fonte DJe 17/10/2011 Ementa
Acórdão
HABEAS CORPUS. PENAL. CRIME DE TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. PENA-BASE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL. ARGUIDA NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO QUANTO À ANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL. ART. 33, § 4.º, DA NOVA LEI DE TÓXICOS. CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA AFASTADA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA. REQUISITO OBJETIVO NÃO PREENCHIDO. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA EXTENSÃO, DENEGADA. 1. Fixada a pena-base do Paciente no mínimo legal, não há interesse processual na declaração de nulidade da sentença por ausência de motivação quanto à análise das circunstâncias judiciais. 2. Não se aplica a causa de diminuição inserta no § 4.º do art. 33 da Lei 11.343/2006, na medida em que, conforme consignado no acórdão impugnado, de forma devidamente fundamentada, o Paciente não preenche os requisitos legais para obtenção da benesse. Precedentes. 3. Não é possível, na estreita via do habeas corpus, afastar o entendimento exarado pelas instâncias ordinárias quanto à dedicação do ora Paciente à atividade criminosa, por demandar incabível reexame do conjunto fático-probatório. Precedentes. 4. O Paciente não preenche o requisito objetivo necessário para a concessão da substituição da pena privativa de liberdade por sanções restritivas de direitos. 5. Ordem parcialmente conhecida e, nessa extensão, denegada.
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Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmente do pedido e, nessa parte, denegar a ordem. Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Marco Aurélio Bellizze, Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ/RJ) e Gilson Dipp votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Processo HC 135872 / SP HABEAS CORPUS 2009/0088741-7 Relator(a) Ministra LAURITA VAZ (1120) Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento 27/09/2011 Data da Publicação/Fonte DJe 10/10/2011 Ementa
HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. DOSIMETRIA DA PENA. AFASTAMENTO DA REINCIDÊNCIA. FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL. ARGUIÇÃO DE NULIDADE PELA FALTA DE INTIMAÇÃO DO RÉU PARA CONSTITUIR NOVO DEFENSOR, ANTE A RENÚNCIA DO ANTIGO PATRONO. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA QUE NÃO SE CONSOLIDA, JÁ QUE EFETIVADA A INTIMAÇÃO. PACIENTE QUE PERMANECEU SOLTO DURANTE A INSTRUÇÃO CRIMINAL. AUSÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA. IMPOSSIBILIDADE, SE NÃO PRESENTES OS REQUISITOS PARA A SEGREGAÇÃO CAUTELAR, COMO NO CASO. PRINCÍPIO DA NÃO CULPABILIDADE. 1. Verifica-se não haver interesse processual quanto ao pedido de afastamento da agravante da reincidência, uma vez que o Tribunal a quo, ao julgar os embargos infringentes e de nulidade interpostos pelo Paciente, efetivou tal providência 2. O Tribunal impetrado não reconheceu a nulidade por ausência de intimação do réu pois, o ora Paciente foi intimado para constituir novo patrono através de carta precatória, em 24/05/2007. E, quanto a intimação da sentença condenatória, o acórdão recorrido afasta a ocorrência de qualquer nulidade uma vez que, o defensor do ora Paciente foi intimado, e ainda, o próprio réu, por ser advogado e deter conhecimento técnico, apresentou, segundo afirma a Corte impetrada, razões de apelação. 3. Segundo a legislação penal em vigor, é imprescindível, quando se trata de nulidade de ato processual, a demonstração do prejuízo sofrido, em consonância com o princípio pas de nullité sans grief, o que não se observa, na hipótese. 4. Constata-se, na espécie, entretanto, a ocorrência de ilegalidade por não estar demonstrada a necessidade da medida cautelar. Segundo orientação do Plenário do Supremo Tribunal Federal, "ofende o princípio da não-culpabilidade a execução da
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pena privativa de liberdade antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, ressalvada a hipótese de prisão cautelar do réu, desde que presentes.
2.3 - Legitimidade Passiva
Legitimado passivo na ação de habeas corpus é o coator, ou seja, a
pessoa responsável pelo ato de restrição ou ameaça ao direito de
liberdade de locomoção.
Não se exige que o coator seja autoridade pública, pelo que é
admissível a impetração contra ato particular. Por exemplo, a concessão
da ordem para assegurar a liberdade de pacientes impedidos de deixar
hospital sem pagamento de despesas de internação; para o empregado
que estava sendo retirado pelo empregador, em imóvel rural para
pagamento de eventuais dívidas.
Embora o Código de Processo Penal refira-se à autoridade coatora,
é pacífica a possibilidade de impetrar-se habeas corpus contra particular.
Deve ser observado que a Constituição refere-se não somente a abuso de
poder que poderia fazer pressupor ato de autoridade, mas também à
ilegalidade da qual qualquer pessoa pode praticar uma ilegalidade.
2.4 – Requisitos
O pedido deve ser formulado por escrito e na língua portuguesa,
tendo neste sentido o HC. 72.391-8 do Supremo Tribunal Federal, no
ano de 1995, relator ministro Celso de Mello, decidido que a petição
deve ser em português, sob pena de não conhecimento do writ.
O Código de Processo Penal enumera os requisitos da petição,
devendo ressaltar que a identificação e assinatura do impetrante são
essenciais, não podendo ser admitido pedido anônimo, apesar do writ
não recomendar excessivo formalismo, podendo o órgão jurisdicional
conceder a ordem de ofício.
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Quanto ao coator, embora exija o Código de Processo Penal a
menção do seu nome, nos casos em que não for possível, bastará a
simples referência ao cargo, ou ainda, a indicação do detentor.
O código exige a menção à espécie de constrangimento e é
conveniente que a petição seja instruída por documentos aptos a
demonstrar a ilegalidade ou ameaça.
2.5 – Do cabimento
O habeas corpus dirige-se contra ato atentatório da liberdade de
locomoção. Para configuração de um ato atentatório ao direito de
locomoção não é necessário a ocorrência de uma ordem de prisão
determinada por autoridade judiciária ou que seu titular encontre-se
preso. Será objeto de habeas corpus tanto a ameaça real, concretizada
como ameaça potencial.
A simples instauração de inquérito policial ou procedimento
investigatório será suficiente para configurar situação de ameaça
potencial a liberdade de locomoção.
Caberá impetração quando o auto de prisão em flagrante não atender
às exigências legais.
Mesmo que o fato descrito constitua crime, caso os autos do inquérito
ou peças de informação que instruíram a denúncia ou queixa não
contenham algum elemento sério de convicção quanto à existência do
crime ou sua autoria, cabe habeas corpus para trancar a ação penal, por
falta de justa causa (artigo 648, I do CPP).
Desde que o Juiz decrete prisão preventiva sem fundamentá-la,
caberá a impetração do habeas corpus por falta de justa causa.
A concessão do habeas corpus determinará o trancamento do
processo, sem solução de mérito, irradiando os efeitos da coisa julgada
formal. Deve ser ressaltado que uma vez reunido material probatório
apto a lastrear uma imputação penal, nada obstará uma nova investida
persecutória.
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A lei nº 7960/89 que trata da prisão temporária, fixa expressamente
um prazo máximo de 05 (cinco) dias ou 30 (trinta), se hediondo o crime,
podendo ambos ser prorrogados.
No caso de crime organizado a Lei nº 9.034/95 prevê o prazo
máximo de 81 (oitenta e um) dias para o encerramento da instrução
criminal.
Ante a ausência de legislação específica, a jurisprudência adotou
prazo máximo para o encerramento da instrução criminal no
procedimento comum que seria de 86 (oitenta e seis) dias, pelo
somatório dos prazos constantes dos procedimentos cabíveis para cada
infração penal), sendo que em alguns casos, em face da complexidade
dos fatos juntamente com a dificuldade da instrução, deverá ser
respeitado o princípio da razoabilidade.
Quando o condenado, após cumprir a pena, continua no cárcere,
cumprindo eventual medida de segurança, cabe habeas corpus (art.
648, II).
Contudo, poderia o habeas corpus cumprir o papel da ação de
revisão criminal, ou seja, enfrentar a coisa julgada, conforme dispõe o
artigo 648, III e IV do Código de Processo Penal, nos quais se
contempla o citado writ para combater condenações proferidas por juiz
absolutamente incompetente, ou veiculadas em processo
absolutamente nulo.
Quando não for admitido prestar fiança, nos casos que a lei autoriza
(artigo 648, V).
Mesmo depois de haver transitado em julgado eventual sentença
condenatória, caso o processo seja manifestamente nulo, por exemplo,
quando o crime deixa vestígio e não há exame de corpo de delito, direto
ou indireto, quando não citação ou esta se faz irregularmente, quando a
Defesa não intervém, caberá a impetração do writ (artigo 648, VI).
Estando extinta a punibilidade (artigo 648, VII). São causas de
extinção de punibilidade, entre outras enumeradas no artigo 107 do
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Código Penal: anistia, graça e indulto; abolitio criminis; prescrição,
decadência, perempção e perdão judicial.
Se o Juiz, no sursis, impuser condição estapafúrdia que implique
constrangimento, caberá habeas corpus: Por exemplo: “Se o Juiz, em
um processo-crime por agressão do marido contra a esposa, na
sentença condenatória conceder o sursis, estabelecendo, como uma
das condições, dever o condenado, mensalmente, ir com a esposa ao
Fórum”.
Quanto ao não cabimento do ‘writ’, tem-se no STJ: AgRg no HC 217245 / RJ AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS 2011/0206244-0
Relator(a) Ministro GILSON DIPP (1111)
Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento 27/09/2011
Data da Publicação/Fonte DJe 14/10/2011
Ementa
CRIMINAL. HABEAS CORPUS. WRIT IMPETRADO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR. INVIABILIDADE DE ANÁLISE POR ESTA CORTE. NECESSIDADE DE EXAURIMENTO DA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. IMPETRAÇÃO QUE DEVE SER COMPREENDIDA DENTRO DOS LIMITES RECURSAIS. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. I. Esta Corte mantinha o entendimento no sentido do não conhecimento do habeas corpus impetrado em face de decisão monocrática, quando a parte não cuidava de interpor agravo interno, em razão do não esgotamento das instâncias ordinárias. A Quinta Turma desta Corte, no entanto, em revisão deste entendimento, passou a admitir o habeas corpus nas hipóteses em que, não obstante o esgotamento das instâncias ordinárias por ausência de interposição de agravo interno, restasse evidenciado o trânsito em
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julgado da decisão impugnada (HC 131.291/MS, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 25/04/2011). II. Orientação que vai de encontro com a nova inteligência acerca da real amplitude do habeas corpus, que não pode ser erigido em remédio para qualquer irresignação, no mais das vezes muito longe de qualquer alegação de violência ou coação contra a liberdade de locomoção. III. Dentro dessa nova perspectiva, deve ser reafirmado o entendimento no sentido do não cabimento do habeas corpus nas hipóteses em que o impetrante, diante da decisão monocrática do Relator, ao invés de interpor agravo interno, para que sua irresignação fosse submetida ao Colegiado daquela Corte, impetra diretamente o mandamus. IV. Hipótese dos autos que revela, ainda, uma peculiaridade, eis que a questão de fundo sequer foi alvo de apreciação pelo Desembargador Relator, que extinguiu o processo sem julgamento do mérito, o que inviabiliza de qualquer modo a apreciação da matéria por esta Corte, sob pena de indevida supressão de instância.
V. Agravo regimental desprovido.
HC 205578 / DF HABEAS CORPUS 2011/0099517-6
Relator(a) Ministro JORGE MUSSI (1138)
Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento 27/09/2011
Data da Publicação/Fonte DJe 13/10/2011
Ementa
HABEAS CORPUS. FALSIDADE IDEOLÓGICA. AUTOS DE AÇÃO CÍVEL. DETERMINAÇÃO DE REMESSA DE CÓPIA AO
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MINISTÉRIO PÚBLICO PARA EXAME. IMPETRAÇÃO DE HABEAS CORPUS. NÃO CABIMENTO. AÇÃO MANDAMENTAL DE TUTELA DO DIREITO CONSTITUCIONAL À LIBERDADE DE IR E VIR. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. ORDEM NÃO CONHECIDA. 1. O habeas corpus é ação de índole constitucional, marcado por cognição sumária e rito célere, que tem como escopo resguardar a liberdade de locomoção contra ilegalidade ou abuso de poder. 2. In casu, não se verifica constrangimento ilegal diante da simples determinação do juízo processante de remessa dos autos de uma ação cível ao Ministério Público para exame de eventual crime de falsidade ideológica alí perpetrado por uma das partes. 3. Ordem não conhecida.
:
HC 208928 / SP HABEAS CORPUS 2011/0128903-4 Relator(a)
Ministro OG FERNANDES (1139) Órgão Julgador
T6 - SEXTA TURMA Data do Julgamento
23/08/2011 Data da Publicação/Fonte
DJe 05/09/2011 Ementa HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. DEDICAÇÃO A ATIVIDADES CRIMINOSAS. AFASTAMENTO DA APLICAÇÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO ART. 33, § 4º, DA LEI Nº 11.343/06. CRIME COMETIDO PRÓXIMO A INSTITUIÇÃO DE ENSINO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. NÃO CABIMENTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INEXISTÊNCIA. 1. Segundo o § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06, nos crimes de tráfico ilícito de entorpecentes, as penas poderão ser reduzidas de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), desde que o agente seja primário, de bons antecedentes e não se dedique à atividades criminosas nem integre organização criminosa. 2. É inaplicável a minorante legal ao caso, pois, embora o paciente seja primário e sem antecedentes, não atende ao requisito previsto no mencionado artigo, em razão da elevada quantidade e diversidade da droga apreendida 18 (dezoito) porções de maconha
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e 39 (trinta e nove) papelotes de cocaína, e as circunstâncias evidenciarem que o acusado se dedicava a narcotraficância. 3. Para a incidência da majorante prevista no art. 40, inciso III, da Lei nº 11.343/06, não se faz necessário comprovar que o tráfico efetivamente atinja o seu público alvo, a saber, os estudantes, bastando que seja praticado nas imediações de estabelecimento escolar. 4. Para concluir em sentido diverso, haveria necessidade de revolvimento do acervo fático-probatório, providência descabida na via estreita do habeas corpus. Precedentes do STJ. 5. Ordem denegada.
2.6 – Competência
A competência é um tema muito importante. Embora esta ação
constitucional não exija maiores formalidades para seu conhecimento,
nem sequer a obrigatoriedade do ajuizamento por intermédio de
advogado, é certo que a incompetência do juízo impedirá a prestação
jurisdicional.
Mesmo que o constrangimento se revele evidente, sem competência
para conhecer da ação, não terá como o Juiz ou Tribunal que recebeu o
mandamus determinar o estancamento do constrangimento a que se vê
submetido o paciente, pois o órgão do Poder Judiciário deve ficar adstrito
aos limites da sua jurisdição, como preceitua o artigo 649 do CPP.
Cabe consignar que, para definir a competência, devem ser
tomados como princípios a territorialidade e a hierarquia.
Quanto ao primeiro, basta lembrar que o Código de Processo Penal
adotou, como regra, a teoria do resultado, ou seja, será competente para
conhecer da ação penal o Juiz ou Tribunal do lugar onde ocorreu a
infração. Do mesmo modo, diante da ameaça ou ofensa à liberdade de
locomoção, o Juiz ou Tribunal do local da ocorrência é quem terá
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competência para conhecer do mandamus, sendo que os Tribunais
Superiores têm competência em todo o território nacional.
No tocante à hierarquia, estabelece o parágrafo 1º do artigo 650 do
CPP que “ a competência do juiz cessará sempre que a violência ou
coação provier de autoridade judiciária de igual ou superior jurisdição”.
Desta forma, resta patente que a competência estará sempre em órgão do
Poder Judiciário de jurisdição superior àquele que provocou o ato de
constrição à liberdade do paciente.
Há outro princípio ainda de que se têm valido a doutrina e
jurisprudência para a fixação da competência. Quando certa autoridade
estiver sujeita à jurisdição de determinado Tribunal, ao figurar ela como
coatora ou paciente do mandamus, será este mesmo Tribunal o
competente para conhecer da ação constitucional, tal qual o disposto no
art. 102, I, i, da CF, que define as competências do STF.
Constata-se portanto, que, em sede de habeas corpus, deve-se
conhecer muito bem a competência para se obter a devida e eficaz
prestação jurisdicional, que terá como mister afastar a ameaça ou a
violência à liberdade de locomoção da pessoa interessada.
2.6.1 - Competência dos Tribunais.
a) Supremo Tribunal Federal
Competência originária
Quando o paciente for o Presidente da República, o Vice
Presidente, os membros do Congresso Nacional, os próprios ministros do
STF, o Procurador-Geral da República, os Ministros de Estados, os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os membros dos
Tribunais Superiores, os membros do Tribunal de Contas da União e os
chefes de missão diplomática de caráter permanente.
Competência recursal
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Julgar, em recurso ordinário, o habeas corpus decidido em única
instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão.
b) Tribunais Superiores
Competência originária
Quando o coator ou paciente for o Governador de Estado ou do DF,
o desembargador dos Tribunais de Justiça dos Estados e do DF, membro
dos Tribunais Regionais Federais, membros dos Tribunais de Contas do
Munícipio e membros do Ministério Público da União que oficiem perante
tribunais.
Competência recursal
Julgar, em recurso ordinário, o habeas corpus decidido em única ou
última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados e do DF, quando denegatória a decisão.
c) Tribunal Superior do Trabalho
Deve ser ressaltado que os órgãos que compõem a Justiça do
Trabalho não têm competência criminal. Todavia, importante destacar que
a EC n.45/2004 deu nova redação ao inciso IV do artigo 114,
estabelecendo que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar “os
mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato
questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição”,
Uma das únicas hipóteses de decisão da Justiça do Trabalho que
poderá causar restrição ao direito de ir e vir da pessoa está relacionada à
prisão do depositário infiel. Nesse caso, após a promulgação da
mencionada EC n.45/2004, quem deverá conhecer habeas corpus contra
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decisão que decretou a prisão do depositário infiel serão os próprios
órgãos que compõem a Justiça do Trabalho.
Competência originária
Contra ato do TRT em matéria sujeita à jurisdição da Justiça do
Trabalho.
Competência recursal
Julgar, em recurso ordinário, o habeas corpus decidido em única ou
última instância pelo TRT, quando denegatória a decisão.
d) Tribunal Superior Eleitoral
Reza o Regimento Interno do TSE que “dar-se-á habeas corpus
sempre que, por ilegalidade ou abuso de poder, alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção,
de que dependa o exercício de direitos ou deveres eleitorais”.
Dessa forma, importa sustentar que caberá aos órgãos que compõem
a Justiça Eleitoral processar e julgar os habeas corpus que envolvam
matéria eleitoral.
Competência originária
Decidir habeas corpus , em matéria eleitoral, contra ato do
Presidente da República, dos Ministros de Estado e dos Tribunais
Regionais Eleitorais.
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Competência recursal
Julgar, via recurso, o habeas corpus quando decidido em única ou
última instância pelos Tribunais Regionais Eleitorais, se denegatória a
decisão.
e) Superior Tribunal Militar
Estabelece a Constituição Federal que à Justiça Militar compete
processar e julgar os crimes militares definidos em lei, A lei maior dispõe
que “não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares
militares”, salvo se houver flagrante ilegalidade ou abuso na fixação da
medida disciplinar,
Competência originária
Decidir habeas corpus , em matéria de sua competência, contra ato
dos Tribunais Militares e Juízes Militares de instância imediatamente inferior.
Competência recursal
Decidir, via recurso, os habeas corpus, em matéria de sua
competência, quando decididos em única ou última instância pelos Tribunais Militares ou pelos Juízes Militares de instância imediatamente inferior.
2.6.2 - Competência dos Tribunais de Segunda Instância
Considerando o foro originário em razão da prerrogativa da função
nas infrações penais comuns e de responsabilidade, compete ao Tribunal
de Justiça o julgamento do juiz de direito e do promotor de justiça.
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Com o advento da extinção dos Tribunais de Alçada, a competência
para apreciar os habeas corpus contra as autoridades coatoras acima
mencionadas será sempre do Tribunal de Justiça, independentemente da
matéria, não havendo mais qualquer discussão acerca da matéria.
2.6.3 – Competência dos Juizados Especiais Criminais
Na doutrina, o Professor Paulo Rangel, discorre em seu livro de Código
de Processo Penal que se o juiz singular do Juizado Especial Criminal for
apontado como autoridade coatora, a competência para processar e julgar o
habeas corpus será da Turma Recursal dispondo que “ é sabido por todos
que os Juízes e os Tribunais podem conceder de ofício ordem de habeas
corpus e seria um contra sensu argumentarmos que a Turma Recursal pode
conceder, ex ofício, durante o julgamento de uma apelação, ordem de
habeas corpus, mas não pode conceder esta mesma ordem em impetração
originária.
Neste sentido contrário estão os mestres Julio Mirabete e Ada Peregrini
Grinover, que entendem ser da competência dos Tribunais de Alçada ou
Justiça, conforme matéria. Os Tribunais de Alçada foram extintos com o
advento da EC nº 45/2004.
2.6.4 – Competência do Juízo Cível
Nos casos de prisões decretadas por Juízo Cível, de devedor de
prestação alimentícia, o habeas corpus analisará apenas se a prisão foi
decretada nos estritos limites previstos pelo Código de Processo Civil.
2.6.5– Competência do Juízes de Primeiro Grau
Os Juízes de primeiro grau possuem uma espécie de competência
residual, pois deverão conhecer dos habeas corpus impetrados contra
delegados de polícia, particulares ou quaisquer outras autoridades ou
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funcionários que não estejam sujeitos à jurisdição de Tribunal, tornando-se
relevante apenas diferenciar a competência da Justiça Federal e da Justiça
Estadual.
Quando se tratar de crime federal será competente o juiz federal,
mesmo quando a investigação for feita pela polícia estadual. Se a coação
for praticada por qualquer autoridade do Banco Central ou da Receita
Federal que não tenha foro privilegiado, será julgado pelo juiz de primeira
instância, conforme discorre a Constituição Federal.
2.7 - Intervenção do Promotor de Justiça na Ação de Habeas
Corpus perante o 1º grau de Jurisdição
A lei ordinária silencia quanto à necessidade de intervenção do órgão
do parquet na ação de habeas corpus perante o primeiro grau de
jurisdição, quando a autoridade coatora for, por ex. o delegado de polícia
ou particular.
Divergem na doutrina os autores, entretanto, a intervenção é
obrigatória sob pena de nulidade. A magna Carta alçou o Ministério
Público à condição de instituição essencial à função jurisdicional do
Estado, dando-lhe a incumbência de garantir a ordem jurídica, o regime
democrático e os interesse sociais e individuais indisponíveis ( direito e
garantias fundamentais).
Ressalte-se que a liberdade de locomoção inscreve-se nos direitos
fundamentais do indivíduo (artigo 5º, XV) e, portanto, deve o Ministério
Público adotar as providências necessárias a sua garantia. O Ministério
Público tem legitimidade para impetrar ordem de habeas corpus em favor
do paciente em face da primazia do direito, não fazendo sentido que não
deva intervir para fiscalizar o cumprimento do exercício deste mesmo
direito.
O Ministério Público tem legitimidade para interpor recurso na
qualidade de custos legis, logo, tem legitimidade para intervir no curso do
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writ, portanto, a intervenção do parquet, através do promotor de justiça em
exercício no primeiro grau de jurisdição é obrigatória, pois ele é um
garantidor do cumprimento da lei,
2.8. - A concessão de Liminar
Em habeas corpus não se tem previsão legal da concessão da liminar,
sendo criação da jurisprudência, na concessão in limini do mandado de
segurança para casos em que a urgência, necessidade e relevância da
impetração se mostrem de forma indiscutível na própria inicial e nos
elementos probatórios que a acompanham, por isso, deve-se apresentar
prova pré constituída para imediato conhecimento da matéria alegada.
Não ocorrendo, ou seja, não se evidenciado o alegado constrangimento
com a nitidez que lhe colore a inicial, merece indeferimento o pedido
liminar, e o juiz ou Tribunal poderão requisitar informações para apreciar o
pedido de habeas corpus.
CAPÍTULO III
NOTIFICAÇÃO DO ADVOGADO PARA COMPARECER
A SESSÃO DE JULGAMENTO.
Não é pacífico o entendimento da obrigatoriedade da notificação do
advogado para comparecer à sessão de julgamento e nem o Código de
Processo prevê tal notificação. Contudo, a Constituição Federal assegura
o direito a ampla defesa, com todos os meios e recursos a ela inerentes.
Na prática deve ser requerida, em a petição inicial, a notificação do
comparecimento do patrono à sessão de julgamento.
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No que pertine à notificação de advogado para a sessão de
julgamento, entende-se que sua ausência gera nulidade absoluta, mas há
de ser cabalmente demonstrada por evitar que o patrono apresente
memoriais ou faça a sustentação oral, o que cerceia a ampla defesa, mas
tal nulidade há de ser sustentada tão logo seja permitida a manifestação
da parte, e se não houver outra possibilidade, não por decurso de prazo,
mas por falta de outro instrumento ou via.
Insistindo nas considerações sobre a teoria e a prática na aplicação da
lei, é importante apresentar alguns julgados.
Neste sentido:
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HC 108014 / SP - SÃO PAULO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI Julgamento: 25/10/2011 Órgão Julgador: Primeira Turma
Publicação
PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-226 DIVULG 28-11-2011 PUBLIC 29-11-2011
Parte(s)
RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
PACTE.(S) : EDSON LUIZ CORDEIRO DA CRUZ
IMPTE.(S) : PAULO SERGIO DE OLIVEIRA
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Ementa EMENTA Habeas corpus. Processual penal. Ausência de intimação do advogado para a sessão de julgamento de writ impetrado no Superior Tribunal de Justiça. Impossibilidade de realização de sustentação oral. Existência de pedido de intimação constante dos autos. Cerceamento de defesa. Direito à prévia comunicação para dar eficácia à garantia
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constitucional da ampla defesa. Nulidade configurada. Precedentes. 1. Havendo pedido nos autos, a falta de intimação para a sessão de julgamento suprime o direito da defesa de comparecer para realizar a sustentação oral, que constitui instrumento de efetivação da garantia constitucional da ampla defesa, para cujo exercício a Constituição da República assegura “os meios e recursos a ela inerentes” (art. 5º, LV). 2. Nulidade do ato praticado nessa condição. 3. Ordem parcialmente concedida.
Decisão
Por maioria de votos, a Turma concedeu, em parte, a ordem de habeas corpus, nos termos do voto do Relator, vencido, em parte, o Senhor Ministro Marco Aurélio, que a concedia em maior extensão. Falou o Dr. Paulo Sergio de Oliveira, pelo Paciente.
Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. 1ª Turma, 25.10.2011.
HC 108271 / GO - GOIÁS HABEAS CORPUS Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 06/09/2011 Órgão Julgador: Segunda Turma
Publicação
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 21-09-2011 PUBLIC 22-09-2011
Parte(s)
RELATOR : MIN. RICARDO LEWANDOWSKI IMPTE.(S) : NELSON PINHEIRO MOURA PACTE.(S) : NELSON PINHEIRO MOURA ADV.(A/S) : EZIZIO ALVES BARBOSA COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO AI Nº 1325893 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Ementa Ementa: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEFENSOR DATIVO. DECISÃO QUE NÃO CONHECEU DO AGRAVO DE INSTRUMENTO NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. NULIDADE ABSOLUTA. ORDEM CONCEDIDA PARA ANULAR O TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO. I – A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que é necessária a intimação pessoal do defensor público ou dativo para sessão de julgamento, em face de expressa disposição legal. Precedentes. II – O mesmo entendimento
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deve ser aplicado ao caso sob exame, por se tratar de ato processual sem o qual fica o defensor impedido de interpor o recurso cabível e, por consequência, realizar a ampla defesa do acusado, nos termos constitucionalmente previstos. III – Ordem concedida para anular o trânsito em julgado da condenação e determinar que o advogado dativo seja intimado pessoalmente da decisão que não conheceu do agravo de instrumento interposto no STJ.
Decisão
Decisão: Habeas corpus concedido para anular o trânsito em julgado da condenação e determinar que o advogado dativo seja intimado pessoalmente da decisão que não conheceu do agravo de instrumento interposto no Superior Tribunal de Justiça, nos termos do voto do Relator. Decisão unânime. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa. 2ª Turma, 06.09.2011.
RHC 107758 / RS - RIO GRANDE DO SUL
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 06/09/2011 Órgão Julgador: Primeira Turma
Publicação
DJe-186 DIVULG 27-09-2011 PUBLIC 28-09-2011 EMENT VOL-02596-01 PP-00077
Parte(s)
RELATOR : MIN. LUIZ FUX RECTE.(S) : CLÉBER DA SILVA MOTTA ADV.(A/S) : GABRIEL SCHMIDT ROCHA E OUTRO(A/S) RECDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
Ementa Ementa: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE ESTUPRO (ART. 213 C/C 29 DO CÓDIGO PENAL) NULIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA DEFESA DA DATA DE JULGAMENTO DA APELAÇÃO CRIMINAL. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO NO MOMENTO OPORTUNO. PRECLUSÃO. TRÂNSITO EM JULGADO. O WRIT NÃO É SUCEDÂNEO DE REVISÃO CRIMINAL. SUSTENTAÇÃO ORAL. ATO ESSENCIAL À DEFESA. DESCARACTERIZAÇÃO. RECURSO ORDINÁRIO
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DESPROVIDO. 1. A nulidade não suscitada no momento oportuno é impassível de ser arguida através de habeas corpus, no afã de superar a preclusão, sob pena de transformar o writ em sucedâneo da revisão criminal (Precedentes: HC 95.641/SP, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julgamento em 2/6/2009; HC 95.641/SP, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julgamento em 2/6/2009; HC 102.597/SP, Relator Ministra Cármen Lúcia, Primeira Turma; HC 96.777/BA, Relator Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, Julgamento em 21/9/2010). 2. In casu, a parte pretende a anulação de acórdão de apelação criminal pela ausência de intimação do defensor constituído da data da sessão de julgamento sem, no entanto, ter arguido a matéria na primeira oportunidade que teve para falar nos autos, vale dizer, quando da interposição dos embargos de declaração cuja decisão transitou em julgado. 3. É cediço na Corte que a não intimação do defensor constituído para o julgamento da apelação importa tão-somente na supressão da sustentação oral, que não é ato essencial à defesa, tanto assim que não é necessária a constituição de advogado dativo para a sua prática, na falta do patrono (HC nº 76.970/SP, Relator Min. Maurício Corrêa, DJ de 20.4.2001). E, mais, a falta de intimação pessoal, quer para o julgamento do recurso, quer da publicação do acórdão, configura nulidade sanável, que deveria ter sido arguida na primeira oportunidade, pois como dispõe o art. 571-VIII, do Código de Processo Penal, as nulidades decorrentes do julgamento em plenário ou em sessão do tribunal deverão ser arguidas logo depois de ocorrerem, sob pena de preclusão. (Precedentes: HC 90.828/RJ, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Julgamento em 23/10/2007; AI 781.608-AgR/RS, Relator Min. Ayres Britto, Segunda Turma, Julgamento em 24/8/2010; HC 94.515/BA, Relatora Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, Julgamento em 17/3/2009). 4. Recurso ordinário desprovido.
Decisão
Por maioria de votos, a Turma negou provimento ao recurso ordinário em habeas corpus, nos termos do voto do Relator, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio. Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. 1ª Turma, 6.9.2011.
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INFORMATIVO Nº 638
TÍTULO Publicação de pauta e prazo para julgamento
PROCESSO RE - 607056
ARTIGO Em virtude de violação ao § 1º do art. 552 do CPC [“Art. 552. Os autos serão, em seguida, apresentados ao presidente, que designará dia para julgamento, mandando publicar a pauta no órgão oficial. § 1º Entre a data da publicação da pauta e a sessão de julgamento mediará, pelo menos, o espaço de 48 (quarenta e oito) horas”], a 1ª Turma deferiu habeas corpus para determinar que o STJ reexamine o recurso especial do ora paciente. Na espécie, a publicação da pauta de julgamento ocorrera na sexta-feira que precedera o feriado de carnaval e o recurso fora apreciado na sessão de quarta-feira de cinzas. Entrementes, tão logo intimado dessa data, o patrono da causa postulara que o julgamento do recurso fosse adiado, haja vista que pretendia realizar sustentação oral e que estaria em viagem ao exterior por um mês. O STJ indeferira esse pleito e, ato contínuo, julgara o recurso. Reputou-se configurada nulidade em face de cerceamento de defesa, porquanto necessária a observância do prazo mínimo de 48 horas entre a intimação para a pauta e a apresentação do feito em mesa, bem assim porque o pedido de postergação não fora apreciado com antecedência, de modo a permitir ao causídico, inclusive, eventual substabelecimento do apelo para realização de sustentação oral. Acrescentou-se, por fim, que referido prazo só poderia ser suprimido ou diminuído se houvesse anuência do advogado. HC 102883/SP, rel. Min. Luiz Fux, 30.8.2011. (HC-102883)
INFORMATIVO Nº 625
TÍTULO Apelação criminal e nulidades - 4
PROCESSO
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RHC - 106731
ARTIGO A 2ª Turma retomou julgamento de habeas corpus em que se reitera a alegação de nulidade de acórdão do TRF da 4ª Região, em virtude de: a) ausência de intimação de advogado do paciente, ora impetrante, da pauta de julgamento de apelação e de seu resultado e b) não-participação de revisor original na sessão de julgamento de recurso criminal — v. Informativo 603. Em voto-vista, o Min. Joaquim Barbosa acompanhou a Min. Ellen Gracie, relatora, e denegou a ordem. Aduziu que, quanto à não-participação do revisor originário na sessão de julgamento, não haveria qualquer nulidade, tendo em vista que sua substituição por juíza convocada ocorrera com base em previsão legal e regimental. No que se refere ao outro argumento, consignou que o impetrante sabia que as intimações dos atos processuais foram feitas em seu nome e no de outro advogado que vinha sendo intimado desde o primeiro grau de jurisdição. Portanto, caber-lhe-ia requerer, nos autos, que as publicações não fossem mais realizadas no nome deste último, mas, tão-somente, em seu próprio nome. Deste modo, ressaltou que se aplicaria a regra do art. 565 do CPP (“Nenhuma das partes poderá argüir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse”). Após, o Min. Gilmar Mendes pediu vista. HC 102433/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 3.5.2011.
(HC-102433)
INFORMATIVO Nº 603
TÍTULO Apelação Criminal e Nulidades - 1
PROCESSO HC - 98712 ARTIGO
A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em que se
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reitera a alegação de nulidade de acórdão do TRF da 4ª Região, em virtude de: a) ausência de intimação de advogado do paciente, ora impetrante, da pauta de julgamento de apelação e de seu resultado e b) não-participação de revisor original na sessão de julgamento de recurso criminal. Na espécie, a Corte Federal, ao dar parcial provimento à apelação da defesa, diminuíra, pela metade, a sanção imposta ao paciente, substituindo a pena privativa de liberdade por restritiva de direito, mantida a multa arbitrada na sentença. Sustenta a impetração ofensa à ampla defesa, tendo em conta a intimação realizada com o vocábulo “e outro”, em fase recursal. Nessa intimação, constaria expressamente o nome de advogado substabelecido, com reserva de iguais poderes, no Juízo processante, o qual, entretanto, não subscrevera a petição de interposição e de razões recursais da apelação. Diz, ainda, que fora violada a garantia do devido processo legal e o princípio do juiz natural, em razão de ter participado do colegiado juíza convocada em substituição de revisor que teria aposto visto e requerido dia para julgamento. HC 102433/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 5.10.2010. (HC-102433)
CAPÍTULO IV
TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES
A Constituição de 1946 proibia o habeas corpus quando se tratasse de punição disciplinar: “ Nas transgressões disciplinares não cabe o habeas corpus”, dizia o texto. A atual Constituição acabou com a restrição. Havendo o constrangimento caberá o remédio heroico. Não assim se tratar de punições disciplinares militares, por força do § 2º do artigo 142 da CF, ressalvado o aspecto formal. No entanto, havendo vício de formalidade, tal proibição não impedirá a impetração do citado remédio. Logo, não se permite em termos, mesmo porque, se quem punir não tiver autoridade para fazê-lo, se houver excesso de prazo da medida constrangedora, se não houver previsão legal, por exemplo, o writ é impetrável.
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Ressalte-se que o Judiciário apenas irá analisar os requisitos extrínsecos da prática do ato e não o mérito da punição disciplinar, se certa ou errada.
CAPITULO V
DOS RECURSOS
5.1 – Recurso em Sentido Estrito
O habeas corpus é ação autônoma de impugnação de decisões
judiciais e constata-se que os efeitos da decisão que concede a ordem,
do ponto de vista da persecução penal que se achar em curso, podem
ou não ser semelhantes a uma decisão interlocutória.
No caso de ser concedida a ordem, objetivando o trancamento de
inquérito ou trancamento da própria ação penal, sob o fundamento de
atipicidade do fato, a decisão equivaleria à absolvição sumária prevista
no artigo 397, III do CPP, cujo recurso cabível seria o de apelação. No
entanto, quando se reconhece a ausência de condições da ação ou de
pressupostos de existência do processo, o trancamento teria o mesmo
efeito de decisão interlocutória mista, cujo recurso cabível seria o
previsto no artigo 581, X, do mencionado diploma legal, ou seja, recurso
em sentido estrito.
5.2 - Recurso Extraordinário e Especial
Quando os Tribunais dos Estados e Distrito Federal ou Tribunais
Regionais Federais denegam ordem de habeas corpus, oponível será o
recurso ordinário constitucional para o Superior Tribunal de Justiça, nos
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termos do artigo 105, II, a, da CF. Se o habeas corpus for impetrado
originariamente a qualquer dos Tribunais Superiores da República, se
denegatória a ordem caberá recurso ordinário-constitucional para o STF
(art. 102, II, a, da CF).
E se o Tribunal conceder o writ? Nesse caso, o recurso a ser
interposto tanto poderá ser o extraordinário como o especial. Será o
extraordinário se a hipótese se subsumir na moldura do artigo 102, III, b,
c ou d, da CF, Será especial se se tratar de decisão dos Tribunais
Estaduais do Distrito Federal ou Tribunais Regionais Federais, se a
hipótese se enquadrar no artigo 105, III, a, b ou c da CF.
CONCLUSÃO
O presente estudo tem por finalidade, sempre avivar na memória, o
instituto jurídico que é o guardião do direito indisponível da essência
humana, que é o direito de locomoção, na acepção mais ampla da palavra.
Em um passado não tão remoto, o habeas corpus sofreu restrições
impostas pelo regime militar, através dos Atos Institucionais números 05 e
06 de 1968 e 1969, que suspenderam a garantia do writ, nos casos de
crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social
e a economia popular.
O que se pretendia com o presente ensaio, seria a demonstração de
uma ferramenta para a tutela do direito de liberdade, o HC, com suas
funcionalidades e aplicações.
Não há como concluir o tema presente, sem rememorar, ao menos,
algumas premissas basilares contidas no do curso de direito.
Direito é uma forma de pacificação dos conflitos sociais,
apaziguando os ânimos dos litigantes por meio de uma decisão que seja a
mais justa ou adequada ao escopo social.
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Para alcançá-la, estatuiu-se o devido processo legal, com normas e
regramentos próprios, com vistas à adequada composição da lide. Ocorre
que diante da imprecisão humana, e da dinâmica social, passou-se a exigir
cada vez mais uma célere prestação jurisdicional. Todavia, impõe
destacar-se que muitas vezes, o caminho mais célere não se mostra o
adequado para todos os casos, ponto que parece ter sido olvidado pelos
aplicadores e demais atores do Direito.
Como se inferiu no curso do trabalho, este remédio alçado a garantia
constitucional, hodiernamente tem sido uma verdadeira multiferramenta,
para diversas aplicações.
Observa-se em alguns feitos, que patronos, ao argumento de estarem
defendendo interesse de seus representados, burlam o agravo de
execução, apresentando diretamente ao Tribunal, o pleito que
originalmente deveria vir pelo rito adequado, valendo-se do writ,
justamente por ter rito mais célere.
É cediço que o procedimento do habeas corpus é mais célere que
os demais procedimentos previstos para situação afins, ocorre que no atual
caminhar e com a imperativa necessidade de resultados cada vez mais
rápidos, todo o devido processo legal passa a ser contaminado pelo desvio
de função deste remédio, que originalmente só deveria tutelar o direito de
liberdade de um indivíduo, e atualmente é utilizado de forma anômala para
o trancamento de investigações, análise de provas com conteúdo meritório,
e outras medidas que se não tidas por teratológicas, por certo mostram-se
atentatórias ao devido processo legal, e ao fim colimado pelo direito e pela
adequada e tempestiva prestação jurisdicional.
Dispõe o art. 5º, LXVIII da Constituição, dar-se-á ordem de habeas-
corpus quando alguém sofrer ou estiver ameaçado de sofrer violência ou
coação em sua liberdade de ir e vir por ilegalidade ou abuso de poder, a
significar que é essencial na conduta impetrada a mínima visualização da
violência ou coação.
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Extrai-se do voto do ministro Gilson Dipp, no HC 128.590, critica a
utilização indiscriminada do remédio heroico.
Deve ser ressaltado que no Jornal do Commercio, datado de 09 de janeiro de 2012, à fl. B-7, consta a seguinte redação:
“ Embora o uso do habeas corpus tenha sido ampliado pelos tribunais, é preciso respeitar “certos limites”, em homenagem à Constituição. Esse foi o entendimento da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao julgar habeas corpus que buscava rever a dosimetria da pena. ...”.
Com o seu uso indiscriminado, fomenta prejuízos a todo o corpo
social, que não se encontra apaziguado de modo algum. O habeas Corpus,
como cediço, constitui ação autônoma e que terá sua própria
fundamentação.
Segue alguns julgados:
RHC 555 / RJ RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 1990/0001889-7
Relator(a)
Ministro EDSON VIDIGAL (1074)
Órgão Julgador
T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento
18/04/1990
Data da Publicação/Fonte
DJ 21/05/1990 p. 4436 RSTJ vol. 30 p. 91
Ementa
CONSTITUCIONAL. PENAL. RECURSO DE 'HABEAS CORPUS' . TRANSGRESSÃO
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DISCIPLINAR. SOLDADO BOMBEIRO MILITAR. RECURSO IMPROVIDO.
- NÃO CABE 'HABEAS CORPUS' NOS CASOS DE TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR
(CF, ART. 142, PAR-2.).
- OS INTEGRANTES DOS CORPOS DE BOMBEIROS ATUAM COMO FORÇA AUXILIAR E RESERVA DO EXERCITO, APLICANDO-SE-LHES, PORTANTO, AS SANÇÕES QUE EM RESGUARDO DA DISCIPLINA MILITAR FOREM ESTABELECIDAS EM LEI (CF, ART. 144, IV, PAR-6.).
- REGULAMENTO DISCIPLINAR DO CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FOI EDITADO EM VIRTUDE DE LEI E CONSAGRA A HIERARQUIA E A DISCIPLINA COMO BASES INSTITUCIONAIS DA CORPORAÇÃO.
- RECURSO IMPROVIDO.
HC 205608 / SP HABEAS CORPUS 2011/0100216-2
Relator(a)
Ministro JORGE MUSSI (1138)
Órgão Julgador
T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento
20/09/2011
Data da Publicação/Fonte
DJe 13/10/2011
Ementa
HABEAS CORPUS. DESACATO. CRIME MILITAR. ART. 298, CAPUT, DO CPM.
COAÇÃO DE TESTEMUNHAS. MATÉRIA NÃO APRECIADA
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PELA CORTE ESTADUAL.
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. NÃO CONHECIMENTO.
1. A questão acerca da coação de testemunhas não foi apreciada pelo Tribunal de origem, circunstância que impede qualquer manifestação deste Sodalício sobre o tópico, evitando-se, com tal medida, a ocorrência de indevida supressão de instância (Precedentes STJ).
NÃO CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE DESACATO. ALEGADA PRÁTICA DE TRANSGRESSÃO MILITAR. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO WRIT. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADA POR ELEMENTOS IDÔNEOS. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
1. A alegada descaracterização do crime de desacatado em face da ocorrência da transgressão disciplinar é questão que demanda aprofundada análise de provas, o que é vedado na via estreita do remédio constitucional, que possui rito célere e desprovido de remédio constitucional, dilação probatória.
2. No processo penal brasileiro vigora o princípio do livre convencimento, em que o julgador, desde que de forma fundamentada, pode decidir pela condenação, não cabendo, então, na via do writ, o exame aprofundado de prova no intuito de reanalisar as razões e motivos pelos quais a instância anterior formou convicção pela prolação de decisão repressiva em desfavor do paciente.
3. No caso, o decisum hostilizado afastou as teses defensivas, fazendo, na sequência, cotejo das provas carreadas aos autos, concluindo pela condenação do paciente, com fundamento em contexto fático-probatório válido para demonstrar o crime e sua autoria.
CRIME MILITAR DE DESACATO. CONFIGURAÇÃO. PRÁTICA PERANTE TERCEIRA PESSOA. ELEMENTOS DO TIPO PENAL. ART. 298 DO CPM. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
1. Para a configuração do crime militar de desacato não é exigível a sua prática perante terceira pessoa, pois tal situação não constitui elemento essencial do tipo inserto no artigo 298 do CPM.
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2. Ordem parcialmente conhecida e, nessa extensão, denegada
A intenção deste trabalho é dar uma visão sistêmica do instituto previsto na Magna Carta, outorgada em 05/10/1988 e como pode depreender, trata-se de um remédio extremamente poderoso que, se corretamente conhecido pelo nosso povo, pode transformar a nossa sociedade.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
RANGEL, Paulo, Direito Processual Penal, 16ª Ed.
Rio de Janeiro, 2009.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli, Direito Processual Penal,
9ª Ed., Rio de Janeiro, 2008.
CAPEZ, Fernando, Curso de Processo Penal, 15ª Ed.
2008.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Prática de
Processo Penal, 28ª Ed. 2007.
PESQUISAS INFORMATIZADAS.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – 2009
JORNAL DO COMMERCIO – Dia 09/01/2012 – fl. B-07.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
NOÇÕES GERAIS
1.1 – OrIgem Histórica e Conceito 09
1.2 – Natureza Jurídica do Habeas Corpus 11
1.3 _ Espécies de Habeas Corpus 13
CAPÍTULO II
DO PROCEDIMENTO EM GERAL
2.1 – Da ação e suas condições 19
2.2 – Legitimidade Ativa 20
2.3 - Legitimidade Passiva 24
2.4 – Requisitos 24
2.5 – Cabimento 25
2.6 – Competência 30
2.6.1 – Dos Tribunais 31
2.6.2- Dos Tribunais de segunda Instância 34
2.6.3 – Dos Juizados Especiais Criminais 35
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2.6.4- Do Juízo Cível 35
2.6.5- Do Juízes de Primeiro Grau 35
2.7 – Intervenção do Promotor de Justiça
perante o 1º Grau de Jurisdição. 35
2.8 – A Concessão de Liminar 37
CAPÍTULO III
Notificação do Advogado 37
CAPÌTULO IV
Transgressões Disciplinares 44
CAPITULO V
Dos Recursos 45
5.1 – Recurso em Sentido Estrito 45
5.2 – Recurso extraordinário e Especial 45
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA 52
INDICE 53