universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … filepor mudanças... a você professora ... por ter...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A importância da avaliação no dia -a- dia da Educação Infantil.
Maria das Graças Monteiro de Araújo
Orientador
Prof. Edla.Trocoli
Niterói
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A importância da avaliação no dia -a- dia da Educação Infantil.
APRESENTAÇÃO
Apresentação de monografia à Universidade
Cândido Mendes como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em
Linguagem e desenvolvimento Infantil.
Por Maria das Graças Monteiro de Araujo
3
AGRADECIMENTOS
A você... que mesmo estando com os
seus problemas, tentava entender os
meus, como se fossem os únicos da
sala de aula...
A você... que esteve presente em todos
os meus momentos de dúvidas...
A você... que com seu jeito meigo e
carinhoso conseguiu fazer-me entender
o verdadeiro sentido do que é avaliar...
A você... dedico os meus primeiros
passos da ação reflexiva que anseia
por mudanças...
A você professora Edla, só posso dizer
muito obrigado e ilustrar Minha
mudança de olhar.
4
MUDANÇA DE OLHAR
Sei que tenho muito a aprender, mas você me fez refletir, e muito, sobre
o que se está fazendo com a avaliação dentro das escolas.
Hoje, entendo que, enquanto não conseguirmos fazer a escola
acontecer, depararemos com atos indisciplinares.
A resistência nos remete a uma força que se opõe a outra, a uma
defesa. As vezes, quando julgamos os atos dos alunos como
indisciplinares,não nos damos conta de que esta indisciplina é simplesmente
uma tentativa de se apropriar e participar de um universo do qual se sentem
excluídos. De fazer oposição e resistência a uma hegemonia, mesmo que seja
inconscientemente.
Cabe, pois, a nós professores, grandes protagonistas da escola,
eliminar práticas escolares humilhantes, ineficientes e insatisfatórias, através
de encontros e experiências que potencializem comunicações e relações
significativas com colegas e com objetos de conhecimento. É preciso mudar o
olhar, pois muitas vezes essas forças por sua qualidade de agressão e de
espontaneidade, e por seu efeito de romper cristalizações, movimentar
certezas e resistir à mesmice, são interpretadas como negativas e vividas
como persecutórias.
5
DEDICATÓRIA
A Deus, dedico minha eterna gratidão
por ter me dado tanta coragem e
determinação para trilhar o caminho tão
árduo ao longo de minha vida.
A você minha Mãe, que não mediu
esforços para que eu me tornasse o ser
que hoje eu sou. Meu amor eterno!
Ao meu marido que me deu incentivo
para que eu concluísse a minha jornada
no mundo letrado.
Aos meus filhos que me ajudam em todos
os momentos necessários.
À você Irmã Irenita, porque através de
minha inserção em sua Instituição,
proporcionou-me ampliar o meu saber
fazer pedagógico.
.
6
RESUMO
De um modo geral, os professores e educadores admitem que avaliação
é autoritária, classificatória e sempre repetem o discurso de que a avaliação é
um processo contínuo visando um diagnóstico... entretanto, não percebem “ a
grande distância que existe entre sua intenção e sua ação”, entre o discurso e
a prática, não têm tempo sequer para pensar em sua prática pedagógica.
Muitos professores acham que por não terem intenção ou objetivos
reprodutivistas, estão isentos de caráter de alienação. Porém, não percebem
que a prática é muito mais do que consciência, do que vontade.
A manifestação da alienação do educador, se dá em duas diferentes e
complementares de ações: não sabe da repercussão do que faz, e não sabe
que tem forças para mudar.
Mudar a prática de avaliação implica em mudar todas as concepções de
sociedades existentes.
Nas análises pedagógicas sobre o desenvolvimento do aluno em sala
de aula, nem sempre o educador avalia de forma responsável, pois existe uma
série de fatores que podem interferir na dinâmica avaliativa. Com isso, o
professor acaba angustiado.
Para chegarmos a uma solução, é necessário que os educadores
acreditem em si, na sua capacidade reflexiva, pensando na prática de
avaliação como suporte para o desenvolvimento do aluno e superação nas
contradições existentes na nossa realidade.
7
METODOLOGIA:
A Pesquisa será realizada através de referências bibliográficas,
entrevistas com educadores da área e observações em uma turma de Primeiro
ano da Educação Infantil na Creche Comunitária Sagrada Família.
A referida Instituição é uma Entidade Filantrópica sem fins lucrativos,
fundada em 1965 pela Madre Mary Marcelline, uma americana que teve a
iniciativa de montar uma obra social no Brasil, atendendo principalmente
crianças e adolescentes. A Instituição desenvolve vários projetos sociais que
atendem crianças, jovens, adultos e idosos. É mantida com parceria de
convênios com o município de Niterói e através de colaboração de parceiros e
voluntários que abraçam e apreciam o trabalho da Instituição.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - A Infância e Precocidade: a necessidade de uma Avaliação
Qualitativa para um desenvolvimento globalizado 11
CAPÍTULO II - Infância e pensamento nas abordagens
filosóficas e na atualidade 20
CAPÍTULO III - Reflexão sobre a prática avaliativa para uma
aprendizagem qualitativa 29 CONCLUSÃO 45
ANEXOS 47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58
BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 59
ÍNDICE 60
9
INTRODUÇÃO
O processo de avaliação apresenta em sua amplitude diversos aspectos
sinalizadores para uma ação transformadora e inovadora.
A escolha do tema Avaliação se deu por acreditar que ele é de
fundamental importância devido à especificidade dos objetivos do fazer
pedagógico na administração da avaliação dentro das salas de aulas.
Como ponto de partida, parafraseia-se a LDB, Leis de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, aprovada em 1996, que determina que, a avaliação
seja uma ação contínua e cumulativa e que os aspectos qualitativos
prevaleçam sobre os aspectos quantitativos. Da mesma forma, os resultados
obtidos pelos alunos ao longo do ano escolar, devam ser mais valorizados do
que uma nota final.
Ao lermos o livro Avaliação: Superação da Lógica Classificatória e
Excludente- do “é proibido reprovar” ao é preciso garantir a aprendizagem -
/Celso dos Santos Vasconcellos, sentimos logo na capa a sua indignação
quando ele indaga “ que é preciso superar a lógica de uma avaliação
classificatória e excludente.” A história diz que a avaliação era preciso para
separar os filhos da burguesia dos filhos vassalos, se formos mais além, na
Grécia antiga, só os meninos tinham direitos a serem educados, as meninas,
eram excluídas. Já em nossos dias, no Japão os alunos reprovados cometem
suicídio. Já no Brasil, o suicídio é em massa, porem lento e irrecuperável. O
autor não é contra a avaliação, mas as imposições desse sistema educacional
chamado liberal- funcional; Avaliar para quê? Por quê? E como avaliar? Essa
má formação divide o país em aldeias, entre quem manda e quem vai mandar.
Principalmente no Brasil, um país que tudo que se consegue ao longo de sua
trajetória, é com sangue e revolução. Precisamos alçar vôo como a águia de
Leonardo Boff, sentir todos os elos de uma avaliação educacional arcaica se
romper, porém, só conseguiremos tal vitória, se formarmos professores,
educadores, mediadores e pesquisadores, que não tenham medo do mercado
do trabalho excluí-los, ou chamá-los de “revolucionários.” Precisamos como
10
educadores levantar nossa autoestima e nos avaliarmos, tentando apagar o
mito da caverna, caverna esta que está cheia de sombras como se fossem
monstros a nos engolir a qualquer momento ( Platão – Alegoria da Caverna).
Como diz o próprio Celso Vasconcellos: _ “o professor se sente
mergulhado no velho, porém que o novo, camuflado por uma ideologia que o
justifica e não quer se permitir criticamente olhar a sua prática, e assim esse
professor entra num estágio de alienação,” e Nietzshe completa: “as verdades
são mentiras que os homens se esqueceram que são.”
A avaliação no Brasil são inverdades, como pode um professor em
Parintins falar do cotidiano de uma escola de samba, ou de carnaval, ou de
como o carnaval influencia os cariocas, tendo todo folclore em torno do Bunba-
meu-boi? Como pode um professor amazonense falar das quatro estações
climáticas, tendo uma região com dois movimentos climáticos? Um que é
conhecido como as cheias do rio, onde os peixes se procriam (Friagem), e
outro, quando essas mesmas águas baixam. Onde estão as quatro estações
do ano, ditas no currículo?
A educadora Regina Leite Garcia, traz em suas mãos a bandeira do
multiculturalismo, onde tanto no aspecto pedagógico, político, cultural e
socioeconômico, que cada um trabalhe de acordo com a sua realidade regional
e de sua comunidade.
“Deixar de avaliar a criança num todo, é avaliar o mundo sem a sua
essência.” Essa frase, parafraseia o nosso grande mestre Paulo Freire quando
nos diz: __ vejamos a boniteza de cada olhar e descobrir o mundo, e a partir
daí, construir sua autonomia com sua própria identidade. Para Jussara
Hoffmann, ler o erro, ainda é a esquina do acerto, e só acertamos quando
erramos. “ Avaliar não é solucionar, testar e nem tão pouco excluir, é descobrir
a verdade, é ter coragem de enfrentar as formas estagnadas do poder que
tenta manter o status quo,” é aceitar o desafio da mudança, é o saber para
transformar.
11
CAPÍTULO I
A Infância e Precocidade: a necessidade de uma
Avaliação Qualitativa para um desenvolvimento
globalizado
ALGUNS CONCEITOS
Para iniciar esta discussão é inevitável não falar primeiramente sobre a
concepção de infância, visto que esta se torna um ponto fundamental para que
possamos compreendê-la melhor em meio a esta contemporaneidade mundial.
No de correr dos tempos, a infância foi tratada de diversas formas. As
relações sociais com a família, com a igreja, com o estado e com outras
instâncias da sociedade perpetuaram valores morais, religiosos e culturais,
sendo reproduzidos na infância em seus papéis.
Pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos e Pesquisas Sobre a
Infância – CESPI permitem visualizar alguns atores responsáveis pelo
processo de educação das crianças no Brasil, no decorrer dos séculos e como
era a forma de tratamento das mesmas.
Vale ressaltar que dados a seguir estão situados num âmbito mais
social do que educacional e que apenas sintetizam as diversas formas do
“cuidado” que se tinha com as crianças de acordo com cada época
mencionada. Observemo-nos:
EDUCAÇÃO JUSUÍTICA – Ocorrida no Período Colonial; Extirpação do
paganismo de normas e costumes cristãos. Sistema educacional no Brasil que
seguia as determinações de Portugal. Ao cuidar das crianças índias, os
jesuítas visavam tirá-las do paganismo e discipliná-las, dando-lhes normas e
costumes cristãos, como o casamento Monogâmico, a confissão dos pecados
e o medo do inferno.
1-Os dados cuja sistematização é apresentada, compõem uma intensa pesquisa sobre a história das políticas sociais, da Legislação e da Assistência à Infância no Brasil.
12
SOBRE POSSE DOS SENHORES – CRIANÇAS ESCRAVAS – Mortalidade
infantil proveniente de más condições de vida e por falta de aleitamento
materno ( visto que as mães escravas eram alugadas como ama de leite para
outras crianças). Mesmo após a lei do Ventre Livre (1871) a criança escrava
continuou em posse dos senhores. Sendo escravas ou não, a prática de
abandono de crianças era muito comum nos países “civilizados” até meados
do século XIX.
SOB POSSE DAS CÂMARAS MUNICIPÁIS E DA SANTA CASA DE
MISERICÓRDIA – AS CRIANÇAS EXPOSTAS – Por ordem D. Manuel, desde
1521 as câmaras Municipais ficaram incumbidas de cuidar de crianças
abandonadas. A preocupação com os filhos abandonados (frutos de uma
relação fora do casamento) que eram deixados nas ruas e igrejas, levou a
criação de duas medidas em 1726: Esmolas e recolhimento dos expostos em
asilos. Ocorre a implementação da roda dos expostos.
SOB POSSE DOS ASILOS – A internação de crianças em asilos
(principalmente aqueles que ameaçavam a ordem pública) tornou-se uma
prática corrente que comprometia o desenvolvimento da criança.
SOB POSSE DOS HIGIENISTAS E DOS FILANTROPOS – Em meados do
século XIX, surgiu a puericultura, especialidade médica destinada a formalizar
os cuidados adequados à infância. Foi criado pelos higienistas, os Institutos de
Proteção e Assistência a Infância, sendo o primeiro fundado no Rio de Janeiro
em 1901 pelo Dr. Moncorvo Filho.
SOB POSSE DOS TRIBUNAIS-REFORMATÓRIOS E CASAS DE
CORREÇÃO – Se deu entre os séculos XIX e século XX em que na década de
20 consolidou-se a fórmula de justiça e assistência para menores viciosos e
delinqüentes. Ocorre a criação das escolas de reforma por determinação do
colégio de menores.
SOB POSSE DA POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL – Criação de delegacias
especiais para abrigar provisoriamente as crianças, que eram tratadas com
violência. A função policial de limpeza foi questionada com o advento de noval
legislação na década de 80.
13
NAS MÃOS DOS PATRÔES – A CRIANÇA TRABALHADORA – A partir do
século XIX, ocorria a exploração do trabalho infantil, com a justificativa de que
se retiravam as crianças da ociosidade das ruas.
NAS MÃOS DA FAMÍLIA – Intervenção de Estado na suspensão do pátrio
poder e na apreensão das crianças ditas “abandonas”. Criação da política de
proteção na era Vargas. A família aparece como aquela que não é capaz de
cuidar de seus filhos. As mães eram denegridas e taxadas como prostitutas e
os pais como alcoólatras.
NAS MÃOS DAS FORÇAS ARMADAS – SEGURANÇA NACIONAL – Em
1964 em diante, ocorre a questão da assistência à infância para a esfera de
competência do governo militar. A questão do menor interessava a segurança
nacional tendo em vista os efeitos da dilapidação do seu potencial produtivo
para o processo de desenvolvimento.
Como podemos constatar através desta síntese proveniente de uma
intensa pesquisa do CESPI, a história da criança no Brasil é marcada por
preconceitos, falta de identidade infantil e transferência de responsabilidades
políticas.
Hoje, muito se tem discutido acerca da infância e essa discussão nos
remete enfatizar que ela é uma construção social, e quando assumimos sua
concepção hoje pensamos em sua realidade atual frente ao capitalismo
contemporâneo.
Sarmento (2001), afirma que, se houve sempre crianças não houve
sempre infância. Ele afirma que a nova concepção de infância é muito recente,
considerando um projeto inacabado da modernidade. A criança é um indivíduo
social que interpreta o mundo através de suas próprias concepções e forma de
interpretá-las.
A noção de infância não é natural, mas profundamente histórica e
cultural, ou seja, sua produção e consumo de conceitos estão vinculados com
os discursos e expectativas de uma sociedade ao longo dos anos. Portanto,
“cada época irá proferir o discurso que revela seus ideais e expectativas em
relação as crianças, tendo estes discursos conseqüências construtivas sobre o
sujeito em formação”. (Jobin e Souza; 2000, p. 91)
14
A partir dos estudos realizados por Ariés (1981), pode-se afirmar que no
século XVI na Europa, a criança deixa de ser uma miniatura, a continuidade
inversa do adulto; do anonimato passa a representar a noção de perspectiva,
de futuro. Simboliza, com sua “inocência”, com sua capacidade de inovar, de
incorporar novas concepções e relações, a esperança social.
Áries (1973), nos afirma que o simples questionamento da noção de
infância nos remete a compreender seus momentos e particularidades,
visualizando ainda que de forma abstrata, as experiências e mudanças de
padrões comportamentais.
De acordo com Philipe Ariés, a idéia de infância não tem mais de dois
séculos de existência. Casava-se a criança no início da puberdade, iniciava-se
os trabalhos nos campos, partia-se para a guerra assim que pudesse
desempenhar uma função militar, e vivia-se no mundo dos adultos assim que
se livraram das doenças que matavam uma em cada duas crianças. “São
vários os tempos da infância e nele coexistem realidades e representações
diversas, algumas das quais são hoje minoritárias, eram dominantes em outras
épocas”. (ARIÈS; ibidem, p. 14)
O conceito de infância também é discutido numa linha filosófica, trazido
em várias concepções por grandes pensadores como Platão, Santo Agostinho,
Montaigne, e Rousseau. Essa discussão em linhas filosóficas será abordada
mais a diante, em que poderemos compreender suas complexidades e
singularidades, considerando os costumes e valores vinculados à história de
cada época.
Ao se falar sobre “precocidade” na infância, percebemos que o tema
traz em seu contexto uma série de indagações e complexidades, considerando
o termo precoce muito amplo e constituído de vários significados.
Para situar a discussão proposta, é importante pontuar que o estudo
acerca do tema refere-se às transformações e/ou mudanças no
comportamento nas fases da infância e adolescência. Este comportamento é
caracterizado por vários aspectos, como a tomada da consciência crítica, a
forma como as crianças e adolescentes adquirem novos gostos, como por
exemplo a mudança no visual, a escolha de novas formas de diversão (onde
15
excluem algumas brincadeiras) entre outros aspectos que serão abordados
nesta pesquisa.
Há de se considerar nestas mudanças, os efeitos da globalização, as
transformações ocorridas na estrutura geral da sociedade, a influência dos
meios de comunicação e principalmente a influência no meio social no qual
esta inserida uma criança e um adolescente.
Como foi mencionado anteriormente, o termo precoce traz uma múltipla
variação de conceitos e significados que sinalizam vários aspectos. Para
ilustrar este termo, observemos a seguir o conceito inicial identificado no
dicionário Aurélio (4º Ed. 2001)
• Precoce – prematuro, antecipado, que tem determinadas faculdades prematuramente desenvolvidas.
O termo precoce é conceituado como algo antecipado, que é
geralmente adiantado, acima ou além de seu estágio e/ou nível considerado
normal.
Relacionando este conceito ao tema da pesquisa, torna-se
compreensível a questão da criança precoce, considerando-se o perfil de
comportamentos, práticas e posturas não condizem com sua respectiva fase
da infância (criança e adolescente), sendo esta definida pela Convenção da
Criança (CDC) entre 0 e 18 anos.
Quando descreve-se sobre as práticas condizentes com a fase da
infância, queremos deixar claro que refere-se exatamente às antecipações
adotadas por determinada criança, a partir do momento em que ela deseja e
começa agir como “adulto”. Considerando extremamente importante sinalizar
de que a infância da qual se fala, é, que tipo de criança/adolescente referida
que esta geração criança/infanto-juvenil do século XXI nos revela sobre
precocidade. De acordo com Friedmann (2005), vivemos um a fase de
transcrição, de mudanças de paradigmas em todos os âmbitos do humano.
Considerando as transformações políticas, econômicas e sociais que a
sociedade vem sofrendo nos últimos anos, percebe-se que de certa forma, isto
tem influenciado nas relações de convívio e nos comportamentos do público
infanto-juvenil, no que diz respeito a pluralização de suas identidades
16
acompanhadas pelo efeito globalização. De acordo com Sarmento (2001, p.
13), “os papéis sociais mudam com as formas sociais, portanto, há de se
considerar o “peso” desta estrutura organizacional societária sobre esse grupo
geracional”.
Fazendo um paralelo desta precocidade acompanhada pelo fenomenal
efeito da globalização ,mostra-se a seguir o conceito básico que caracteriza o
termo “Globalização”. Conforme Macêdo (2003; p. 17), “ globalização
compreende um processo de integração entre as economias e sociedades de
vários países, especialmente no que se refere à produção de mercadorias e
serviços, aos mercados financeiros, e à difusão de informações”. O atual
contexto sócio-econômico é marcado por intensos processos de mudanças
econômicas, tanto no mundo como no país, caracterizando-se pelo
crescimento do setor financeiro (globalização), e pela implementação de
sofisticados processos tecnológicos nas empresas. Estes processos estão
marcados por forte concentração de renda, tanto em nível mundial como local,
ao mesmo em que se intensificam as diferenças e contradições na sociedade.
Para facilitar a relação desse conceito à questão da criança precoce no
mundo globalizado, busca-se a seguir pontuar alguns aspectos a serem
discutidos.
Segundo Macêdo (ibidem, p. 16) o fato é que havia se pensado que a
globalização serviria para se aproximar os países, proporcionando igualdade,
melhor qualidade de vida e mais justiça social. O esperado não aconteceu, e
um dos reflexos do processo de globalização em curso, é a exclusão social.
Considerando que um grande número de crianças que mencionada
situam-se em comunidades menos favorecidas e/ou alto risco (morros e
favelas), pontua-se portanto a exclusão social, já que essas crianças, de uma
certa forma, constituem um grupo isolado que sistematicamente vem perdendo
seus direitos de cidadania, e que se encontram desprovidas economicamente
(baixíssimos rendimentos, falta de moradia, de acesso à educação, ao
emprego e a saúde) e que não encontra meios de se inserir totalmente nesses
direitos. Deixemos bem claro, que não podemos enquadrar estes sujeitos
17
como “excluídos”, pois mesmo na pior situação de pobreza, ele tem uma
visão reducionista.
Sarmento (op.cit.) nos pontua que a globalização apresenta uma
constituição
de um mercado global da infância com efeito nos padrões de comportamento e
estilos de vida e nas culturas da infância. “Nesta conformidade, a globalização
social contribui em simultâneo (e contraditoriamente) para homogeneização da
infância, sobretudo em torno da difusão mundial de ‘produtos para infância’ e
da difusão de um ‘discurso de direitos’”. (p.17)
Procura-se abordar alguns dos principais aspectos que caracterizam a
globalização e seus efeitos sobre o público infantil. Frisa-se nessa linha de
pensamento que esta pesquisa possui em seu contexto um caráter social e ao
longo de seu percurso, trazendo questões inerentes a este caráter.
Num primeiro momento, procurar conceituar este termo globalização de
forma simplória, além de discutir com o teórico José Sarmento, os principais
pontos sinalizadores desta relação globalização x infância, o que
contemporaneamente se caracteriza como traço marcante da infância é a
mudança de suas identidades, por efeito da própria globalização, enquanto
fenômeno social.
Através de algumas observações que realizadas em algumas
Instituições de educação infantil, principalmente onde trabalho com crianças
de 0 à 6 ano, percebe-se que é comum, por exemplo, o uso de aparelhos
celulares feito na escola por crianças com idade inferior a 12 anos, seu acesso
ao computador (principalmente no uso da internet) e a informação via mídia.
Com tanta informação à sua disposição, ainda que estas crianças pertençam a
uma realidade caracterizada pela baixa condição, mesmo tendo acesso a
estes recursos tecnológicos elas possuem uma capacidade de absorção dos
A pobreza significa privação de um mínimo necessário para se viver e ter saúde. E a exclusão
comporta valores culturais e discriminações. Ser excluído não é apenas ser privado do
mercado de trabalho. Há rupturas afetivas, familiares, econômicas, ou seja, ela é
multidimensional. (Macèdo, ibidem, p.17).
18
fatos, gerando nelas uma certa criatividade e curiosidade em relação a algo
que lhes agrada e interessa.
Considerando o fato impacto que este fenômeno tem causado nos
padrões de comportamento, especificamente no tocante ao avanço tecnológico
(Macêdo; 2003), frisa-se que, embora se encontrem em um contexto sócio-
econômico marcado pelas dificuldades de acesso e utilização dos diversos
serviços que o mercado global oferece, as crianças e adolescentes (não de
forma generalizada) das camadas menos favorecidas estão, de certa forma,
estabelecendo contatos diretos com a tecnologia (o computador pode ser um
grande exemplo) e com a informação que em segundos chega ater suas
casas, suas escolas etc. A Globalização um fenômeno mundial que está
presente nos quatro cantos do mundo e por essa razão, seus efeitos e
impactos (econômicos e sociais) têm se tornado cada vez mais presentes na
sociedade de um modo geral.
Em meio a tantas mudanças ocorridas no planeta, é percebível que
enquanto o mundo se interliga dia após dia pelas tomadas elétricas, mais
pessoas estão se isolando das outras fisicamente. Mandam-se mensagens e
beijos via celular, namora virtual via internet, cartas via fax etc. “Paralelamente
a globalização cultural e profissional, ocorre a desglobalização pessoal, tudo
fica muito impessoal e através dessa parafernália eletrônica, esconde-se a
manifestação de nossos puros e belos sentimentos”. (p.62)
Em meio a tantas informações e a facilidade como elas chegam até
nós, vamos acumulando-as e esquecendo outras seriam tão importante para a
nossa formação e desenvolvimento como estas que recebemos através de
meios de comunicação. Não pretendem-se afirmar que os produtos
provenientes da globalização e as informações via mídia não são tão
importantes para nossa vida, contudo, sinaliza-se que é preciso que nós, pais e
educadores nos posicionemos diante dos novos valores, “dogmas” e
diversidades que vêm surgindo no nosso meio, no nosso cotidiano e na nossa
sociedade.
A era digital, sem dúvida, trouxe inovações e facilidades para o homem
que superaram de longe o que a ficção previa até pouco tempo atrás. O que se
19
questionava com todo esse avanço tecnológico é o efeito e/ou impacto que ele
causa no desenvolvimento e processo de aprendizagem da criança e do
adolescente. De acordo com Colavitti (2002), conforme o parecer de estudos
científicos, o problema não está propriamente nas novas tecnologias, mas o
uso exagerado delas, o que faz com que deixemos de lado atividades mais
estimulantes, como a leitura, que envolve diversas funções do cérebro. Os
mais prejudicados por esse processo tem sido as crianças e adolescentes,
cujo desenvolvimento neuronal acaba sendo moldado preguiçosamente.
É comum vermos nos dias atuais crianças e adolescente (uma boa
parte) que fica muito mais tempo usufruindo um computador (seja para
pesquisar ou jogar), do que usufruindo um bom livro, de uma boa brincadeira
de criança. Quanto mais informação eles recebem, mais querem satisfazer
suas curiosidades, ficar em frente ao computador, falar ao celular, reproduzir
cenas televisivas etc.
É preciso estimular em nossos “pequenos notáveis” a vontade de ser criança,
o desejo de dividir o tempo da televisão e computador entre divertidos e
prazerosos momentos de brincar, realizar-se e desenvolver-se nas mais
diversas formas de ser criança.
20
CAPÍTULO II
Infância e pensamento nas abordagens filosóficas e
na atualidade
A relação entre infância e pensamento filosófico é composta de
diversos momentos que caracterizam diferentes visões e concepções a
respeito do ser infantil e de suas vivências e posturas.
Através dos diferentes discursos dos pensadores mencionados neste
capítulo, poderemos visualizar e “compreender” as ligações entre
pensamento filosófico e infância ( ainda que elas sejam estreitas) já que tais
ligações, segundo Marie Gagnebin (1997), são privilegiadas não só porque
as crianças colocavam seus pais encabulados as grandes questões
filosóficas sobre o sentido da vida (...), mas também, e antes de tudo porque
reflexão filosófica e re flexão pedagógica nascem juntas.
A discussão proposta permeia por entre linhas, num linear histórico,
que em seu primeiro momento nasce Platão, atravessa a pedagogia Cristã
com Santo Agostinho e chega até nós por meio do racionalismo Cartesiano
e num segundo momento ressalta-se que também nasce em Platão,
atravessa o Renascimento com Montaigne e chega às nossas escolas ditas
alternativas por meio do Romantismo de Rousseau (séc. XVIII).
Sabemos hoje eu a noção de infância é profundamente histórica,
contudo pensamento filosófico da antiguidade do século XX, alguns
pensadores a tratam como uma categoria dita natural. Pra Gagnebin, é
preciso ressaltar que neste pensamento as ligações são estreitas e tão
antigas como a própria filosofia, o que não considera o valor da
historicidade, nem da noção de infância e nem da própria filosofia.
21
Isso nos aponta uma discussão sobre infância e pensamento, duas linhas
que tratam esta relação. A primeira linha, discute-se uma questão mais
conceitual, ela mostra que de acordo com o pensamento filosófico, na linha
do racionalismo cartesiano, a infância inspira-se num conceito relacionado
ao estado animalesco e primitivo, pois em seu sentido mais filosófico, as
crianças são seres irracionais, desprovidos de qualquer grau de inteligência
humana. Devido a este estado comportamental, elas precisam ser
reparadas em suas tendências selvagens, conforme mostra o comentário da
autora.
Nesta discussão filosófica, a autora mostra que tal pensamento sobre
a infância, aponta para a questão não formação do pensamento infantil.
Quando se faz a comparação da criança com um animal e/ou primitivo, isto
nos remete a pensar numa condição natural de conduta comportamental da
criança, já que ela não responde pelos seus atos, pois pratica suas atitudes
de forma irracional.
Em sua segunda, que segundo a autora tem origem de Platão, passa
pelo Renascimento de Montaigne e chega ao Romantismo de Rousseau,
nos trazendo uma discussão, onde o mais importante, é uma educação
voltada para as normas de boa conduta, é uma educação voltada para a
formação espiritual, num preparo adequado de suas almas, para que estas
crianças cresçam e desenvolvam sua inteligência de forma natural, de
acordo com seus interesses e seu ritmo particular.
Ainda com referencia na concepção de que a infância constitui-se um
mal necessário porque o ser humano, devido às suas debilidades naturais
A infância é um mal necessário, uma condição próxima do estado animalesco
e primitivo, e que, como as crianças são seres privados da razão, elas devem
ser corrigidas nas suas tendências selvagens, irrefletidas e egoístas eu
ameaçam a construção consensual da cidade humana graças à edificação
irracional. (p. 85)
22
(riquezas, defeito), necessita da ajuda dos outros para que possa se
desenvolver plenamente bem, a autora analisa as leis Platônicas
Em seu discurso pedagógico, tais leis concedem a criança ainda que
constituída de um pensamento rico em potencial, como alguém que
necessita constantemente ter seus movimentos controlados para que não
faça nada além daquilo que lhe é permitido. Platão compara o ser infantil a
um animal indomável cujo comportamento é caracterizado como astucioso,
enganador e habilidoso.
Embora a criança aqui seja tratada como um ser atribuído de
inteligência, o filósofo enfatiza que esta inteligência precisa ser controlada,
considerando o fato da criança não saber lidar com ela, pois ela mesma age
desorientadamente e de forma animalesca. Quando Platão coloca a questão
de potencialidades sem orientação “do adulto,” ele aborda a importância do
acompanhamento destes movimentos impulsivos e irrefletidos realizados pelas
crianças, porém voltados para um conjunto de normas e regras educacionais
fundadas na ordem da razão.
Acredita-se que por mais potencialidades que tenha a criança, ela deve
ser educada para aprender a lidar, conviver e desenvolver suas habilidades,
sem que seja domesticada e adestrada segundo as normas tradicionais
criticadas por Platão.
Gagnebin vem nos mostrar que, partindo da concepção de Santo
Agostinho, a infância é tida como o testemunho vergonhoso do pecado que
Nenhuma criança pode ficar sem alguém que a vigie e controle em todos os
seus movimentos, pois “a criança é de todos os animais, o animal mais
intratável, e na medida em que seu pensamento, ao mesmo tempo cheio de
potencialidades e sem nenhuma orientação reta ainda, o torna mais
ambicioso, o mais hábil e o mais atrevido de todos os bichos.” (p.p 85-86)
23
nos marca, e além de tudo, é distante da idade da inocência; ela é
profundamente marcada pelo pecado original, e, devido a esta característica
natural de seu desenvolvimento, a criança é propensa a manifestação de
desejos e ódios, e, sob a sua condição (sem fala articulada e sem razão),
essas manifestações só terão censura numa outra fase de desenvolvimento
deste indivíduo. A autora comentando Santo Agostinho, ainda completa:
Santo Agostinho nos traz em sua afirmativa “ a debilidade dos membros
infantes é inocente, mas não a alma da criança” (p. 88). Nesta frase ele coloca
de forma bem enfatizada que a fraqueza dos membros não corresponde a
debilidade e a pureza da alma da criança.
Embora ela nos aparenta um ser dócil e inocente, Agostinho afirma que seu
olhar transfigura um ser malicioso e de temperamentos geniosos. Isto se
baseia num exemplo dado de Santo Agostinho referente a uma criança que
não falava, mas que dizia tudo através de seu olhar invejoso. O pensamento
de Santo Agostinho, de acordo com Gagnebin, se baseia no fato “ da criança
evidenciar nossa natureza pecadora, pois nela ainda não fala nenhuma voz da
razão, cuja luz é o reflexo da luz divina em nós, mas sim só grita a força da
concupsciência” (p.89).
Conforme Badinter (apud 4 Gagnebin, ibidem), com a transição do
pensamento filosófico medieval para o pensamento da renascença e do
Racionalismo “que proclamam a independência da razão em relação às
Cada criança manifesta desejos e ódios, cuja intensidade desproporcional será justamente censurada numa idade mais avançada, e que só tolerada, nela, na criança sem fala nem razão, porque ela é fraca, portanto e felizmente, impotente (apud 3 Gagnebin; 1997)
24
exigências da fé” (p.89), ainda que no racionalismo de Descartes, a infância
continua caracterizada como um terreno perdido e complexo.
Considerando o fato dela ter se destituído como terreno do pecado, ela
procede como território de todos os vícios do pensamento dos quais devemos
nos libertar. “ A infância continua sendo um lugar de perdição e confusão”
(p.89).
Assim como Platão, Descartes, o pai do Racionalismo moderno, propõe
salvar da infância o que é despercebido pela educação tradicional, ou seja, o
saber, o brotar de uma razão que muitas das vezes é sufocado pelo acúmulo
de informações escuras e paradoxais.
A discussão acerca da infância é muito mais ampla e nos convida a
buscar em outras fontes teóricas seu conceito e suas complexidades que
passaram ao longo dos séculos, de lugar de perdição e confusão para
referencias na natureza e essência infantil, e, finalmente, para objeto de
estudo e intervenção da psicologia do desenvolvimento para ampliação
conceituais com bases sociais e culturais.
3 - Santo Agostinho. Confissões. Trd. J. Oliveira Santos e Ambrósio de Pina. São Paulo, Abril, 1988 (Os Pensadores.) [Ligeiramente Modificada] 4 – Ver a respeito. Badinter. Elisabeth. I.’amour em plus, historie de I’amour maternel. Paris. Flammarion, 1980. P.42-45.
25
No pensamento de Rouseau (apud 5 Gagnebin, ibeden), in-fans não
é mais, pois o rastro vergonhoso de nossa natureza corrupta e animal, mas
sim, muito mais, o testemunho precioso e de uma linguagem dos
sentimentos verdadeiros, ainda não corrompidos pela convivência mundana.
Assim, se elabora a pedagogia de respeito à criança, da aceleração de sua
naturalidade, autenticidade, sua inocência em oposição ao mundo adulto.
“Cabe ressaltar que a palavra infância não remete primeiro a certa idade,
mas sim aquilo que caracteriza o início da vida humana: A incapacidade
mais ausência de falar.” (p.87).
Conforme o pensamento de Rousseau que afirma “Em vez de corrigir
a natureza infantil e de querer o mais rapidamente possível torná-la adulta, o
educador Emilio, deve, ao contrário, escutar com atenção a voz da natureza
na criança, ajudar seu desenvolvimento harmonioso segundo regras ditadas
não pelas convenções sociais, mas oriundas da maturação natural das
faculdades infantis” (p. 93), a autora nos mostra que temos neste pensador
a mudança de papéis em termos pedagógicos. Ele enfatiza que o educador
deve abandonar essa prática de tomar a criança precoce e de querer
domesticá-la para então assumir uma postura de agente transformador,
respeitar as particularidades presentes no desenvolvimento infantil e
principalmente ajudar neste desenvolvimento com base nas regras naturais
de maturação das faculdades infantis.
Propriamente dito, chama-se a atenção aqui para a mudança da
educação tradicional com ditação de regras e vigilância para uma educação
pela qual se propõe a criação de condições propícias ao desenvolvimento
infantil, respeitando-se as pluralidades e particularidades existentes.
Quando Rousseau diz que “não devemos seguir as regras das
convenções sociais” (p. 93), é no sentido de que devemos respeitar o
processo de maturação infantil, pois é com base nele que teremos auxílio
26
para melhor orientar e ajudar a criança, já que as regras das convenções
sociais nos remetem a uma prática repreensiva, autoritária e de desrespeito
ao processo natural do desenvolvimento infantil. Não devemos tornar a
criança adulta para gerarmos uma independência e uma autonomia que a
tire do mais belo processo mais belo: A Infância.
Rousseau nos aponta em sua concepção que “ a máxima contestável
da retidão natural leva a defesa de uma educação que não só protege as
crianças, mas a defende contra a dureza e a arbitrariedade da sociedade
oculta” (p.94). Sobre esta concepção, o pensador nos traz à discussão duas
conseqüências relativas à educação da sociedade adulta:
• A primeira consiste no relacionamento das crianças no mundo artificial
da cultura. O pensador propõe que as escolas sejam locais propícios
para o desenvolvimento da criança. A proximidade com a natureza de
forma harmoniosa, é o elemento que difere essa formação proveniente
de um contato com as artificialidades do mundo cultural.
• Na segunda, ele trata acerca do respeito dos próprios ritmos da
natureza infantil no que condiz ao crescimento. É necessário também
que se respeite as particularidades, não tornando precoces os
elementos que constituem parte de seu desenvolvimento (andar, falar,
escrever, pensar...).
Frisa nesta linha de pensamento traçada por Rousseau, a pedagogia do
respeito, onde se possibilita uma infância naturalmente prolongada, sem que
se torne essa criança num adulto.
Essa pedagogia só se torna possível para aquelas crianças que não
foram jogadas no mercado de trabalho, lembrando daquelas que são inseridas
na dura realidade adulta, cheia de obrigações impostas e que lhes roubam a
tão pura e inesquecível infância.
27
Através das abordagens filosóficas que trataram a concepção de
infância ao longo dos anos, pudemos perceber as diversas formas dos
pensadores em compreender o ser infantil, interpretando e caracterizando-o
conforme suas posturas, “incapacidades” e tendências.
5 – Rousseau, J. J. Émile. v. IV, p. 322. Tradução minha.
Precisamos estar atentos a aquisição de um novo olhar que nos permita
compreender melhor a conviver e educar as crianças para que de certa forma
escolheram-nos para aprender alguma coisa e também para nos ensinar
outras tantas lições, é claro, se pudermos ouvi-las.
Cada vez mais se percebe que os educadores têm “abandonado” a
prática das brincadeiras infantis, e as crianças por sua vez, em seus ambientes
domésticos, os jogos, o pula-pula, a brincadeira de corda, as bonecas e os
carrinhos, estão sendo substituídos pelo computador e as cenas de novelas.
Perder esse momento mágico na infância, é retroagir no tempo,
trazendo novamente às salas de aula, uma educação bancária, que nem
mesmo conseguimos quebrar ainda.
Falar de infância, é pensar na conjuntura da sociedade, é repensar seus
conceitos e valores e avaliar os diversos olhares que estão sendo voltados
para esta fase. Içami Tiba, um conceituado psiquiatra e psicodramatista, vem
mostrar que, para lidar com tantas novidades que vem surgindo na sociedade
atual, pai, mãe e educador têm que se preparar para lidar com o desafio do
educar frente aos novos valores que vêm se confrontando com as diferentes
formas de pensar e agir. “ Não é mais possível ser um educador amador.” É
preciso tratar com seriedade a realidade que estamos vivenciando, ou seja,
posicionar-se diante da forma de avaliar os nossos educandos (filhos, alunos).
28
A infância é a fase mais importante do desenvolvimento do ser
(cognitivo e físico), traçada e caracterizada por diversos aspectos que
sinalizam sobre qual tipo de criança, adolescente ou adulto queremos formar.
E essa concepção da formação no desenvolvimento do ser, quanto cidadão
social, moral e ético, só se obtém mudando e modificando histórias, avaliado e
reavaliando olhares.
29
CAPÍTULO III
Reflexão sobre a prática avaliativa para uma
aprendizagem qualitativa
O tema avaliação é um desafio que precisa de cura, e não de
paliativos. Tem sido mostrado por diversos autores e estudiosos no a
emergência de transformação na concepção do “saber fazer pedagógico
tanto quanto a vontade política. A adoção correta da avaliação dentro da
escola, torna-se de fundamental importância devido a especificidade do
valor que ela proporciona ao individuo quando formativa.
A LDB 9394/96 traz certa inquietação no que se refere à avaliação.
Ela determina que avaliação seja contínua e cumulativa, e que os aspectos
qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos. Da mesma forma, todos os
resultados adquiridos ao longo do ano escolar, devam ser mais valorizados
do que a nota da prova final. Mediante isto, levanta-se uma série de
questionamentos: como mudar uma prática tão enraizada no campo
educativo? Como montar uma concepção de avaliação eu não esteja atada
simplesmente à sala de aula?
De acordo com Sandra Maria Kákia, essa nova forma de avaliar põe
em questão, não apenas a um projeto educacional, mas um projeto social,
pois a avaliação quanto formativa, serve a um projeto de sociedade pautado
pela cooperação e inclusão e não pela competição e exclusão.
Outros autores importantes e deram ênfase ao termo avaliação e que
estão preocupados em ampliar a visão de todos os componentes envolvidos
na educação, são Jussara Hoffmann e Celso Vasconcellos. Eles tanto
apontam, como direcionam a concepção do educador no ato avaliativo.
30
Segundo Jussara Hoffmann, o professor não e responsável pelo
aluno, mas comprometido com a aprendizagem. Isto só se faz se estiver
atento nas respostas, nas dificuldades e nos interesses de cada um, e não
baseado na média do grupo.
Se o professor reconhecer a avaliação “prova” como um autoritarismo
que inibi toda a ação construtora de conhecimentos por parte do aluno, esse
professor já deu um grande passo, pois ao fazer essa análise,
automaticamente rompeu com o paradigma no qual foi educado e avaliado,
percebendo também, que essa forma de avaliação não passa de
classificatória, que obedece aos desejos da hegemonia dominante. Elite
esta, que por questões políticas atendem ao chamado do capital, avaliam
seres humanos como mercadoria com ou sem qualidade.
Celso Vasconcellos quer relacionar análise da realidade com a
percepção de uma necessidade de mudança, mostrando com clareza em
seu texto (Processo de Distorção da Avaliação da Aprendizagem), a
busca de superar os mitos e aprofundar a reflexão. Tendo em vista que a
partir de uma reflexão podemos caminhar para uma possível solução, para a
transformação da realidade.
De acordo com Jussara Hoffmann, embora alguns professores ainda
estejam presos a um sistema burocrático, a formação de um profissional
competente está atrelada à autonomia moral, ao desenvolvimento cultural e
a autoestima elevada. Essa formação consciente, é a base na sua visão de
mudança, dando-lhe clareza do que deve ou não fazer, sem medo da
resistência e da pressão, já são ainda, fatores que fortificam a não mudança
no processo de avaliação na sala de aula. Jussara Hoffmann pontua então,
a extrema necessidade de uma discussão prévia que envolvesse aspectos
inerentes ao estabelecimento da avaliação como nota, buscando esclarecer
31
os equívocos existentes no que se refere “avaliar como sinônimo de testar e
medir.”
1.1 Pophan _____ Muitos educadores jogam expressões relacionadas à
avaliação com displicente imprecisão e seria prudente para os educadores
trocarem entre si significados de termologia antes de se envolverem em
discursos prolongados.
Para esses professores, é muito mais difícil conceber a avaliação sem
vínculo obrigatório ao testar e medir.
1.1. 1 Local de maiores problemas no que tange à avaliação
• Existe uma forte não aceitação, quanto ao fato de avaliar através notas,
pois esses professores fazem de forma correta a avaliação de seus
alunos; (observação de todas as etapas do desenvolvimento),ou seja, o
aluno é visto como um todo, e não como fragmentos. Dessa forma, não
aceitam as exigências burocráticas da escola, que tentam reduzir alunos
a um número pré- determinados. No entanto, o sistema não aceita de
que seus professores façam uma avaliação na qual acreditam:
cooperativa e inclusiva. Neste caso especificamente aqui, eles fazem a
resistência.
Esse problema, infelizmente ocorre nos locais de maior importância
quanto a forma de avaliar, pois é justamente onde as crianças estão em
formação dos quatro pilares da educação. (Pré Escolar e nas séries iniciais
do Ensino Fundamental.
32
1.1.2 Equívoco relacionado à termologia pertinente à avaliação
• Tomar consciência da gravidade desses equívocos, torna-os corajosos
em lutar contra esse processo seletivo e sentecista, sugerindo talvez,
aos demais profissionais, novas alternativas.
1.1.3 Testes e Medidas
• São definidos de forma vaga e as respostas não revelam consenso
entre os professores, ou seja, cada professor tem um significado
diferente para estas questões.
Essa experiência serviu de referencial para a organização do quadro de
equívocos, praticados por muitos profissionais da educação.
Medida ____ é a quantificação, sendo assim, como avaliar um aluno, se
não podemos medir seus sentimentos?
Testes _____ é entendido como um instrumento de constatação e
mensuração, e não de investigação.
1.1.4 Equívoco relacionado à termologia pertinente à avaliação
• A avaliação através de notas, vem trazendo uma grande frustração para
o cidadão considerado “sem condições”, é a partir desse pressuposto
que o professor determina quem merece ou não ser eliminado, fazendo
assim a classificação desejada e esperada pelos agentes políticos que
estão comprometidos em reafirmar os anseios da hegemonia
dominante.
Acrescenta-se ainda, o grande perigo das notas atribuídas por métodos
comparativos. O aluno ideal, é o aluno nota (10), os demais recebem
33
notas conforme melhores ou piores, ocorrendo assim, injustiça para com
o educando.
Há casos em que o professor atribui notas diferentes para trabalhos
iguais, ou vice e versa. Se as dissertações possuem liberdade de
expressão, essa injustiça pode ser ainda maior. O entendimento do
aluno não é levado em consideração, pois o educador espera resposta
precisas e de acordo com o livro didático.
1.1.5 Como avaliar o aluno como um todo?
• Enquanto no modelo positivista, a ênfase avaliativa recai sobre a medida
do produto observável, no modelo subjetivista, a preocupação volta-se
também para a apreensão das habilidades já adquiridas, ou em
desenvolvimento, mas que não estão necessariamente refletidas nos
produtos demonstráveis. Trata-se agora, de captar o subjetivo, de
penetrar na “ caixa preta” dos processos cognitivos, valorizando assim, o
seu processo de aprendizagem, encaminhando-os para análise de
aspectos afetivos e psicomotores. Mas para isso, os critérios devem ser
bem definidos. Como desenvolver a adoção da avaliação como
expressão ao desenvolvimento, abandonando o critério de contar os
escores em tarefas ou provas finais?
Quando se quantifica, procura-se fazer uma análise do desempenho do
aluno e não desqualificá-lo ou rotulá-lo. Entretanto e infelizmente, as práticas
rotineiras da avaliação, a superficialidade teórica no tratamento dessas
questões e as críticas de subjetividade possível e inerente ao próprio processo,
provocam na maioria das escolas, o retorno ao uso das notas nos sistemas de
classificação do estudante.
34
1.1.6 Quando a medida assume papel absoluto?
• Os educadores aceitam e reforçam o velho e abusivo uso das notas
sem perceber o mecanismo que privilegia a competição e seleção nas
escolas. Ingenuinamente ou arbitrariamente, obstaculizam o projeto de
vida da criança ou do adolescente, quando na realidade deveriam estar
preocupados em deter os problemas reais que impedem esses alunos
a chegarem à verdadeira aprendizagem.
A medida, embora muito errada, tem sido reconhecida pelos professores como
representação de conhecimentos adquiridos pelo aluno. Como se a sua
história e vivências, pudessem ser obter um número para cada etapa naquilo
que viveu.
1.1.7 O uso equivocado dos testes
• Para os educadores, os testes são a constatação de resultados, aplica-
se para saber se o aluno aprendeu ou não. Porém, o significado não se
resume à sua aplicação, ao seu resultado, mas à utilização como
fundamento para a nossa ação educativa. É um procedimento
investigativo, como um ponto de partida para além do acompanhamento
do processo de construção do conhecimento.
É um instrumento fundamental para questionamentos sobre as
percepções de mundo, avanços ou incompreensões dos alunos.
Quando as tarefas são propostas aos estudantes, o professor
acompanha e testifica. E ao fazer isso, ele não está classificando, mas
sobrepujando os vários questionamentos por parte do professor, como por
exemplo, o porquê do seu aluno responder dessa ou daquela forma.
O teste é um instrumento de investigação sobre a ação dos sujeitos
envolvidos no processo educativo: professor e aluno e jamais poderá ser
35
usado como definição de avaliação, ele não pode representar, apenas
julgamento de resultados.
1.1.8 Dicotomia: Avaliação e Educação
• O professor que acompanha o seu aluno durante todo o período, não
aceita ter que transformar essa observação em nota. Não compreende,
e com toda razão. É difícil fazer a relação entre notas, de tudo aquilo
que observou do aluno ao longo do período
É necessário a conscientização e reflexão a respeito desta
compreensão equivocada da avaliação como julgamento, pois ela veio
se transformando numa perigosa prática educativa.
A avaliação é essencial à educação inerente e indissociável enquanto
concebida como problematização,questionamentos,e reflexões sobre a
ação. Educar, é fazer ato de sujeito, é problemetizar o mundo em que
vivemos para superar as contradições, comprometendo-se com esse
mundo para recriá-lo constantemente.
1.1.9 Exercer a avaliação Como forma de classificação
• Cumprir todo o processo burocrático exigido pela escola, é fazer
antagonismo entre professor e aluno.
Provavelmente o que se espera é justamente o contrário, pois ao fazer
esse cumprimento burocrático, o professor e o aluno perdem o
significado básico de investigação e dinamização do processo de
conhecimento.
36
1.2 Configuração teórica da avaliação como construção do conhecimento
(libertadora)
Não é tarefa simplória. A avaliação, na perspectiva de construção do
conhecimento, parte de duas premissas básicas: confiança na possibilidade
dos educandos construírem suas próprias verdades e valorização de suas
manifestações e interesses.
Uma nova perspectiva de avaliação exige do educador uma concepção de
criança, de jovem e de adulto, como sujeitos de seu próprio desenvolvimento,
inserido no contexto de sua realidade social e política. Seres autônomos
capazes de tomar suas próprias decisões, críticos e criativos, descobridores e
participantes, agindo em cooperação e reciprocidade.
A prática avaliativa coerente, exige do professor o conhecimento amplo e
detalhado de sua disciplina. Fundamentos teóricos que lhe permitam
estabelecer conexões entre hipóteses formuladas pelos alunos e a base
científica do conhecimento. Assim, a avaliação transforma-se numa busca
incessante de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização
de novas oportunidades de conhecimentos.
1.2.1 Tarefa de reconstrução da prática avaliativa
• A avaliação é a reflexão transformada em ação, é a postura do
educador questionador. Ação essa, que nos impulsiona a novas
reflexões.
Uma reflexão permanente sobre a realidade e acompanhamento passo
a passo do educando, e na sua trajetória de construção do
conhecimento. A reflexão nos remete a ação para que se retorne de
forma diferente, pois os alunos podem ter vários conhecimentos que a
escola desconhece.
37
1.2.2 Redefinido a intencionalidade da avaliação
• Se a classificação é o núcleo da distorção da avaliação, mudá-la
radicalmente implica eliminar a possibilidade de aprovação e
reprovação. Embora as escolas já busquem redirecionar a avaliação,
ainda não foi suficientemente eficaz ao ponto de melhorar as condições
da qualidade de ensino. No entanto, construir essas condições, que
exigem um novo horizonte, é fator primordial e decisivo para as
mudanças.
A explicitação do desejo serve ao mesmo tempo, como indicação de uma
direção para a caminhada e como elemento de crítica à prática presente, pois
existe a estreita ligação entre finalidade que o professor se coloca em termos
de avaliação e o conceito que dela, se tem.
Para os educadores, avaliação indica verificação do que se aprendeu ou não,
em alguns casos, já se nota argumentação quanto ao avaliar, pois essa nova
visão indica a avaliação como diagnóstico, mas não representa ainda uma
mudança na prática pedagógica. A concepção de reprovação praticamente
obedece a três critérios básicos:
REPROVAÇÃO COMO ALTERNTIVA PEDAGÓGICA
Professores alegam que se o aluno for reprovado, adquiri
conhecimentos básicos, que são pressupostos para aqueles que não gostam
de estudar. Pois esse mesmo aluno necessita de uma bagagem maior para o
mundo lá fora. Principalmente por enfrentar um mundo altamente tecnológico,
ele deve se mostrar capaz. E quando ele não tem base, não pode ser
aprovado, alegando que o aluno precisa desse conhecimento para não se
sentir desestimulado na série seguinte.
38
REPROVAÇÃO COM RESTRIÇÕES
A reprovação é um mal necessário, dizem que, não pode ser por
punição, mas serve para amedrontar aqueles que não se interessam, no
entanto, essa reprovação depende de cada aluno.
REPROVAÇÃO EM FASE DE QUESTIONAMENTO
Alguns professores não aceitam a avaliação como paradigma na
reprovação, nada é bem definido. Mostram-se angustiados, frustrados e
decepcionados. Afirmando ainda mais, é um fracasso pessoal.
Para outros, os chamados indecisos, não estão preocupados em mudar, estar
bem com a instituição, é o que basta. Não levam e nem querem levar o
processo de mudança à diante.
1.3 Finalidade da reprovação
Inconscientemente, alguns professores reprovam por não perceber que
estão reproduzindo e manipulando da mesma forma que foram educados.
Dessa forma, mesmo que estejam bem intencionados, entram em contradição
com o que está internalizado, ou seja, o pensamento visa mudança, mas a
prática simboliza a reprodução durante toda a sua história. Sendo assim,
consideram a reprovação como oportunidade de aprender: ajuda na formação
do aluno.
A reprovação não é oportunidade para o aluno aprender, nem tão pouco
garante uma nova forma de sujeito, pelo contrário, o aluno é colocado nas
mesmas condições, que lhes proporcionaram o fracasso, quer dizer: repetência
tende a provocar repetência, tornado-se os chamados marmanjos em séries
desproporcionais à idade. Devemos ter muito cuidado nestas alegações,
quando internalizamos de que, reprovado terá mais acompanhamento e muito
mais atenção por parte do educador. No entanto, na prática, é bem diferente.
39
O aluno passa a ser excluído pouco a pouco, pois passam por ironias por parte
dos demais colegas, o que o faz desistir, ou até mesmo evadir da escola. E os
professores por sua vez, preferem alegar que os alunos não têm base, do que
aceitar que o problema está com ele, ou seja, na sua forma de avaliar esse
aluno, pois não conseguiu descobrir onde estava a “deficiência” do aluno.
Parafraseando Celso Vasconcellos, se a escola e o professor
estivessem atentos a este fato, com certeza os primeiros problemas que
surgissem, seriam sanados, mas ao invés de fazer esta análise, o professor
prefere rotular este aluno com vários adjetivos: irresponsável, desinteressado e
etc. Como se pode reprovar um aluno, se sabemos que em outras atividades,
ele demonstra interesse? O aluno é um ser orgânico e inacado, possuidor de
inteligências múltiplas. Onde fica o professor nesta avaliação? Será que este
aluno é o único responsável no processo ensino-aprendizagem?
Onde estão todos? Esses são questionamentos que facilita a reflexão
sobre a ação (Celso Vasconcellos).
1.3.1 Arbitrariedade
• Em muitos casos os alunos fracassam porque não entendem os critérios
da avaliação. Se ela não é processual, não está clara em seus objetivos.
Com certeza não serve a um projeto educacional, muito menos a um
projeto de sociedade pautada na cooperação. A arbitrariedade na
correção da prova coloca o aluno num processo classificatório e
excludente.
1.3.2 Discurso da Escola
• Os conceitos institucionais são de que, se a escola não fizer pressão
sobre este aluno, não estará preparado para enfrentar a vida e o
mundo, principalmente quando perceber a competição e classificação
que irá disputar.
40
Esse ponto de vista da escola refere-se à seleção, tanto para a
universidade quanto para o mercado de trabalho. Com essa retórica, a
escola lava as mãos, e o professor coloca de lado o juramento de
trabalhar em prol da transição do sistema, esquecendo-se da sua crítica
frente a realidade vivida.
1.3.3 Visão de alguns professores no que se refere à avaliação
• A reprovação é vista como fator motivador para os estudos, os alunos
que foram reprovados, segundo professores, não querem passar por
isso novamente. Sendo assim, estudam para passar. Por outro lado, há
também, aqueles que vêem a reprovação como uma arma: reprovar é
uma forma de pressionar.
Sobre esta questão, tanto Celso Vasconcellos quanto Jussara
Hoffmann dizem o seguinte: __ A falta de competência, inconsciente por
parte do professor, ou as vezes por arbitrariedade, deixam de envolver
esse aluno no processo educativo, excluindo de sua própria sociedade e
anulando-o como um ser social diante de sua história. O processo
educacional está no incentivo, e não, no medo. Há uma grande
diferença entre estudar para passar em uma prova, e estudar para se
apropriar de conhecimentos, ou seja, ser conhecedor do mundo no qual
interage.
1.4 Mudança em questão
Em educação a palavra mudança é realmente muito utilizada. É um
discurso presente em todo momento, mas que não avança para a prática que
é a “alma” da construção verdadeira.
A grande preocupação com a avaliação, está na distorção da prática
pedagógica.
41
• Consolidação da Reprovação como Paradigma Pedagógico
Para entender como a avaliação se tornou um paradigma pedagógico, é
necessário combinar e analisar dois elementos: as justificativas ideológicas; de
um lado, isso sempre foi assim, já que existe a inculcação de uma sociedade
manipuladora e a necessidade do uso de uma nota como arma, um
instrumento que mostra e impõe seu poder e autoridade, servindo de
intimidação e ameaça ao aluno.
• Crítica institucional
Devemos ressaltar que o professor não é o único responsável pela
distorção da avaliação.
Esta acontece pela combinação de diversos fatores do contexto institucional.
Uma das grandes dificuldades é que a avaliação está extremamente vinculada
a valores e concepções de homem e sociedade, que de certa forma se
apresentam hoje como naturais. Mudar a prática de avaliação implica em
mudar todas as concepções de sociedades existentes.
Nas análises pedagógicas sobre o desenvolvimento do aluno em sala
de aula, nem sempre o educador avalia de forma responsável, pois existe uma
série de fatores que podem interferir na dinâmica avaliativa. Com isso, o
professor acaba angustiado.
Para chegarmos a uma solução, é necessário que os educadores
acreditem em si, na sua capacidade reflexiva, pensando na prática de
avaliação como suporte para o desenvolvimento do aluno e superação nas
contradições existentes na nossa realidade.
42
1.5 Qualidade de Ensino
A questão enfrentada em relação a qualidade de ensino está na divisão
entre escolas públicas e escolas privadas. Por um lado as escolas ganham
pelo senso comum o dito de “Escolas de Qualidade,” do outro, estão as
escolas denominadas de para o povão, ou seja, “ Escolas de Má Qualidade”.
Quando se fala em qualidade de ensino, espera-se que não haja
distinção entre escolas, mas sim, no desenvolvimento das potencialidades
humanas que obrigatoriamente as escolas devem oferecer.
Quanto a qualidade discutida no texto de Celso Vasconcellos –
Distorção da Aprendizagem, nos faz um alerta: ___ se reprovar garantisse a
qualidade nas escolas, o ensino brasileiro seria o melhor do mundo. Isso é um
mito, pois já foi comprovadamente que esta qualidade, a escola só adquiri
quando há consciência do coletivo na formação da educação para a libertação,
visando o desenvolvimento da cidadania e na busca da construção do
conhecimento, visando criar condições apropriadas de trabalho. No entanto,
escolas e professores não fazem esta leitura. Esquecem que nas escolas
privadas alunos e família possuem forma e condições de vida melhores do que
aqueles que enfrentam as escolas públicas, dando origem assim, ao maior
índice do fracasso escolar.
Muito embora este mito esteja enraizado, atualmente grande número de
escolas, ainda presas à um sistema de manipulação e dominação, buscam
romper com esse paradigma, conscientizando-se um compromisso político
para com a sua comunidade, tentando reformular seus pré-conceitos em
conceitos, objetivando implantar uma avaliação transformadora de seus
modelos arcaico e reprodutor.
1.6 Posicionamento dos autores referente ao discurso
Visando um processo futuro ao qual o aluno passará, as escolas devem
se manter preocupadas em desenvolver neste aluno, sua potencialidade de
vida, sua emancipação humana e social, pois será através deste alicerce, que
43
o aluno com certeza estará para a competição fora da escola. A partir do
momento que ele tiver consciência de que o mundo atende o chamado do
mercado e da hegemonia dominante, automaticamente estará capacitado para
desvencilhar dos seus próprios desejos.
Todos esses conceitos apontados até então, visa mostrar as
concepções no que tange a avaliação desde os primórdios da criança. Se para
os ditos “que já sabem alguma coisa”, avaliá-los é difícil, erros maiores
encontraremos na avaliação da Educação Infantil. Comecemos por esta
citação:
“Quem não usa a vara, odeia seu filho”
“Com mais amor e temor castiga o pai ao filho mais querido”
“Assim como uma espora aguçada faz o cavalo correr, também uma vara faz a criança aprender.”
(LEVIN, 1998).
Esses provérbios são resgatados do século XV. Usar a vara, castigar,
eram demonstrações de amor. Entender assim, significa avaliar
comportamentos de outra época, reconhecendo a realidade histórica. Assim,
ficam as lembranças a cerca de como se foi avaliado.
Hoje, no século XXI, como lidar com as crianças? Qual a postura do
educador, se os pré-conceitos estão arraigados em sua atuação? Ou seja,
possuem uma teoria libertadora, mas uma prática conservadora, negando a
criança qualquer mediação para um desenvolvimento saudável.
Diferente do século XV, a contemporaneidade conta com as escolas de
educação infantil. Estas escolas percebem de formas diferenciadas o conceito
de avaliação.
Em seus estudos, e na educação infantil, Jussara Hoffmann, percebeu
que a partir dos bebês de classe socialmente desprivilegiada, a sociedade
descrê no desenvolvimento infantil e aposta precocemente no seu fracasso.
Constata também, que somava-se ao descaso do poder público a negação
pelos adultos.
O papel do educador mediador, tem por objetivo facilitar o entendimento
da criança, mas em suas observações, pode concluir que, nas creches, e para
44
essas crianças, não é permitido pedir colo, sujar-se, quebrar brinquedos, por
ser “errado”, a criança está sempre condicionada a fazer o que está
determinado pelo adulto. Ajustando-se à rotina, e ao trabalho tranqüilo do
educador.
O mais grave está na preparação dessas crianças para ingressarem na
Alfabetização, que confere à Educação Infantil o caráter de terminalidade,
esquecendo-se de que a formação da criança perpassa pela esfera do
orgânico e do cognitivo, da relação intra e interpessoal, construindo suporte
fundamental para que a criança possa fazer a leitura de mundo. Conhecendo a
si e o outro e o meio em que vive. Isso são pressupostos para avaliar,
Este é o grande dilema, apontado por Jussara Hoffmann, não há como
ensinar melhores fazeres em avaliação. Esse caminho precisa ser construído
por cada um de nós, e, em conjunto. Discutindo “valores, princípios e
metodologias,” que melhor avalie essa criança em sua cotidianidade. É
retomar concepções de democracia, cidadania e de direito à educação. Esta
reflexão está fundamentada nas contribuições de Hoffmann (2002), Kramer
(1989) e no documento oficial do Ministério da Educação : o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil.
45
CONCLUSÃO
Tendo em vista que a partir de uma reflexão podemos caminhar para
uma possível solução, se faz necessária uma tentativa consciente de
mudança, tanto de paradigma, quanto na ação profissional. Pois mediante a
isto, teremos resultados significativos, muito embora, ainda em passos lentos.
Sabemos o quanto tem sido difícil travar esta batalha. No entanto, cada
um, dentro de suas possibilidades, deve estar convicto de que não haverá
transformação, enquanto houver aqueles que mesmo de posse do
conhecimento real, não faz nada para mudar a avaliação no sistema
educacional.
Mudar, com certeza é muito difícil! Assim são as lutas por uma
educação de qualidade. Uma educação que busca construir cidadãos críticos
capaz de transformar realidades.
É importante ressaltar que estes sujeitos – crianças – estão inseridos
num processo de modificações na estrutura da sociedade, e enquanto houver
educadores que estejam trabalhando em prol desta formação de futuros
cidadãos, não haverá inércia, mas sim a reação daqueles que tentam sufocar o
grito de igualdade e liberdade ao longo da nossa história.
Analisando a história, vemos que o problema não é só da avaliação, e
sim de tudo que cerca a educação, até mesmo quando observamos o avanço
da tecnologia mundial, e as coisas que ainda estão em um patamar da época
medieval.
Tudo isso acontece, mas a pressão está sobre o professor, para que
veja uma saída diante de tantos modismos e propostas que se apresentam
como tábuas de salvação, fazendo com que o consumo de idéias cresça com
objetivos de não ficar de fora, e conquistar a receita que parece dar resultado
ou até mesmo o produto pronto para aplicar com sucesso.
Esse é um momento interessante na história da educação, onde vemos
uma crise, e a busca acelerada de alternativas que superem nossas
expectativas.
46
A grande preocupação com a avaliação, não é que essa, seja a parte
principal do problema, mas que esteja gravando distorções na prática
pedagógica. É necessário fazer valer uma prática onde essa avaliação seja:
diagnóstica, formativa e transformadora. Dando-nos esperança, ainda que seja
uma tarefa difícil.
A possibilidade de refletir sobre si e o muno está intimamente ligada ao
pensar e agir sobre as atividades/experimentos propostos na escola para
favorecer o conhecimento de mundo.
Ter consciência de que desenvolver essa atividade não é somente
misturar coisas ou memorizar nomenclaturas, mas também descobrir, e
compreender por que ocorrem determinados fenômenos e acontecimentos,
permitindo o uso dessas experiências com as diferentes linguagens na
construção de elos significativos de aprendizagem e o diálogo sobre elas.
O fato mais marcante sobre avaliação, e o qual será inesquecível, foram
as palavras de Celso Vasconcellos e da consultora Jussara Hoffmann: _”A
reflexão transforma a ação.” A formação competente do profissional será a
base para a transformação, pois através desta, o professor cria seus próprios
mecanismos para que essa ação retorne de forma diferente, criando assim, um
elo eternamente significativo;
Escola+Família+Professor+Aluno+Sociedade+Mundo =
APRENDIZAGEM
47
ANEXOS
Anexo 1 – Avaliar para ensinar melhor, Sandra Maria Kákia;
Anexo 2 – Conhecer o aluno Jussara Hoffmann e Sandra Maria Kákia; Anexo 3 – Superação da Lógica Classificatória e Excludente – Celso Vasconcellos; Anexo 4 – Mediação – Jussara Hofmann Anexo 5 – Questionários . Anexo 6 – Gráfico das Pesquisas Anexo 7 – Avaliação das Pesquisas de Campo
48
ANEXO 1
INTERNETE
AvaliaçãoEscolaProjeto pedagógico. Edição 159 | 01/2003 ... Conhecer o aluno. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996, ... mas uma mudança social", afirma Sandra Maria Zákia Lian Sousa, da Faculdade de ... revistaescola.abril.com.br/.../avaliar-ensinar
Avaliar para ensinar melhor - Nova Escola
Da análise diária dos alunos surgem maneiras de fazer
com que todos aprendam Denise Pellegrini ([email protected])
Observação atenta e constante: bases para uma avaliação que privilegia a
aprendizagem e leva em conta o ritmo de cada estudante. Foto: Gilvan Barreto
Quem procura um médico está em busca de pelo menos duas coisas, um
diagnóstico e um remédio para seus males. Imagine sair do consultório
segurando nas mãos, em vez da receita, um boletim. Estado geral de saúde
nota 6, e ponto final. Doente nenhum se contentaria com isso. E os alunos
que recebem apenas uma nota no final de um bimestre, será que não se
sentem igualmente insatisfeitos? Se a escola existe para ensinar, de que
vale uma avaliação que só confirma "a doença", sem identificá-la ou
mostrar sua cura?
49
ANEXO 2
INTERNETE
Avaliar para ensinar melhor - Nova Escola AvaliaçãoEscolaProjeto pedagógico. Edição 159 | 01/2003 ... Conhecer o aluno. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996, ... mas uma mudança social", afirma Sandra Maria Zákia Lian Sousa, da Faculdade de ... revistaescola.abril.com.br/.../avaliar-ensinar
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996,
determina que a avaliação seja contínua e cumulativa e que os aspectos
qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos. Da mesma forma, os
resultados obtidos pelos estudantes ao longo do ano escolar devem ser
mais valorizados que a nota da prova final.
"Essa nova forma de avaliar põe em questão não apenas um projeto
educacional, mas uma mudança social", afirma Sandra Maria Zákia Lian
Sousa, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. "A
mudança não é apenas técnica, mas também política." Tudo porque a
avaliação formativa serve a um projeto de sociedade pautado pela
cooperação e pela inclusão, em lugar da competição e da exclusão. Uma
sociedade em que todos tenham o direito de aprender.
50
ANEXO 3
INTERNETE
Avaliação: Superação da Lógica Classificatória e Excludente - do “é proibido reprovar” ao é preciso garantir a aprendizagem
Muitas vezes, diante das dificuldades no trabalho cotidiano e das contradições
apontadas na avaliação, pode parecer que o mais importante é buscar logo
uma mudança da prática dos educadores. Neste sentido, refletir sobre as
distorções da avaliação seria perda de tempo, já que deveríamos é nos
preocupar com novas práticas. Embora mudar a prática seja decisivo —visto
que o que pode mudar o real são as ações e não as idéias por si—, a análise
mais atenta dos processos de mudança tem revelado que o problema central
não é tanto mudar a prática, mas transformar a realidade, o que significa
dizer que não é qualquer mudança que nos interessa.
Se o problema fosse simplesmente ter uma teoria nova de avaliação, estaria
mais do que resolvido. O que devemos investigar é: por que, embora tendo
uma nova teoria e até boa vontade, não estamos conseguindo mudar
substancialmente a prática, na direção de um projeto emancipador? Aqui entra
todo o campo das representações, mitos, valores, preconceitos, sentimentos,
etc.
Devemos reconhecer que transformar a realidade é um tanto mais complexo
do que parece à primeira visada de um olhar ingênuo ou voluntarista.
Insistimos: não é qualquer mudança que interessa; temos constatado
alterações na prática que não superam o problema fundamental da avaliação,
por não estarem vinculadas a um novo projeto educacional (e social). O que
51
está em jogo é, sobretudo, uma mudança de prática que venha acompanhada
de uma mudança de concepção, em que o professor tenha uma autêntica
práxis transformadora, e não uma prática diferente, contudo marcada por um
caráter superficial. Nesta medida, torna-se relevante retomarmos aquilo que já
está enraizado quanto à avaliação, visto que, para avançarmos, o desafio não
é simplesmente construir novas concepções, mas olhar cada criança em suas
subjetividades e peculiaridades.
52
ANEXO 4
INTERNETE
ARQUIVO I De como me tornei PROFESSORA
ARQUIVO II Do ensinar ao educar
ARQUIVO III Da definição de rumos
ARQUIVO IV Avaliando redações
ARQUIVO V De readaptações
ARQUIVO VI Faced/ UFRGS e Educação Infantil
ARQUIVO VII Avaliação: mito ou um desafio?
ARQUIVO VIII Uma prática em construção
ARQUIVO IX Das intenções às ações
ARQUIVO X De como me tornei editora
ARQUIVO XI Fazendo o jogo do contrário
MELHORES MOMENTOS
ARQUIVO VI Faced/ UFRGS e Educação Infantil Março de 1986
As gavetas fechadas, os arquivos empoeirados e de folhas já amareladas, tomam vida ao serem vasculhados, lembrados, ressignificados. Como diz Magda Soares, “é esse passado que prossegue e que avança em direção ao futuro que agora busco perceber e contar” (1991, p.98). Encontro, nesses arquivos, um trecho de minhas anotações para a aula ministrada por ocasião do concurso para ingresso na Faced, em agosto de 1985, cujo título sorteado foi "A questão do acesso escolar e os especialistas de educação" e que me valeu um segundo lugar dentre 40 candidatos:
A concepção de mediação, em educação, abordada por Dermeval Saviani e por Guiomar Namo de Mello, apresenta estreita relação com a questão de acesso em seu sentido de permanência na escola e promoção (acesso a outros graus de ensino, acesso ao saber), enquanto ela sugere a necessidade da escola ser a promotora de oportunidades de melhoria de vida a partir do desenvolvimento do conhecimento e de uma análise crítica da realidade pelos educandos, da mesma forma como refere-se ao cotidiano da educação que precisa ser revitalizado. Diz Mello(1985):
Se a escola é, para o aluno, uma das mediações pelas quais se dá sua inserção num destino ou classe socialmente determinada, faz diferença se nesse processo, a experiência escolar é bem ou mal sucedida.(...) A natureza, o grau, a importância, a força dessa diferença é que precisam ser dimensionadas, mas não se pode negá-la simplesmente (Mello, 1985, p.27).
A citação de Mello, como complemento às minhas anotações para o concurso de 1985, presentifica-se, toma vida, ao representar um eixo desencadeador de estudos e pesquisas nas quais me envolvi desde o ingresso nessa universidade até este momento e que vêm “sendo a marca mais forte de toda a minha trajetória profissional”. Em primeiro lugar estaria a negação, pela sociedade, da importância do
53
Galeria de fotos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
caráter mediador das instituições de educação infantil em relação ao destino social das crianças e, principalmente, a completa desconsideração com a educação delas na faixa dos zero aos três anos. Por outro lado, a concepção de mediação, anteriormente abordada, assim como questões de acesso e permanência na escola formam os eixos temáticos principais na continuidade de minhas investigações sobre avaliação do desempenho escolar. Na Faculdade de Educação da UFRGS, realizei estudos e pesquisas em educação infantil, assumindo durante doze anos a Supervisão do Estágio da Disciplina Prática na Pré-Escola I – ação educativa com crianças de zero a três/quatro anos. Para uma maior compreensão sobre a realidade das creches onde se realizavam os estágios, desenvolvi, com a colega e Profa. Maria Isabel Bujes, a pesquisa “O pedagógico na pré-escola: das intenções à realidade (1988 – 1989)”. As conclusões da pesquisa confirmaram a questão da negação pela sociedade da importância das instituições de educação infantil. Constatamos que somava-se ao descaso do poder público a negação, pelos adultos que aí trabalhavam, de um papel verdadeiramente educativo e do respeito às crianças como sujeitos socialmente constituídos:
Às crianças de nossas creches não é dado o direito de pedir colo, sujar-se, brincar na água (porque dá bronquite), brincar na areia (porque dá alergia), acordar antes do tempo, quebrar brinquedos, fazer barulho. O que elas podem ou não fazer é definido pelo adulto e essas decisões estão a serviço da rotina e do conforto das pessoas que aí trabalham, mesmo que inconscientes do seu significado e do autoritarismo nelas subjacente. (Bujes e Hoffmann,1991,p.125)
Participei, nesta época, da comissão de avaliação e conseqüente reestruturação da Creche Creche Francesca Zaccaro Faraco, da UFRGS, atividade em que me envolvi de 1988 a 1990. Conhecendo a creche a partir dos estágios e como campo da segunda pesquisa realizada, o meu envolvimento em sua reestruturação significou o compromisso dialético de pensar, compreender e agir sobre a realidade observada. As memórias resgatadas nos arquivos sobre educação infantil entrelaçam-se à minha trajetória em avaliação educacional. Novos olhares sobre a criança eram provocados por concepções em avaliação e provocavam-me a novos desafios nessa área. Desses estudos, resultaram posteriormente os livros “Ação educativa na creche” (1995) em co-autoria com uma colega e alunas/formandas da Faced, e o livro “Avaliação na pré-escola: um olhar sensível e reflexivo sobre a criança” (1996). Ambas publicações fazem parte da Coleção Cadernos Educação Infantil que coordeno até os dias de hoje sobre experiências educativas que podem ser desenvolvidas com as crianças. Percebi, a partir do trabalho com bebês de classes socialmente desprivilegiadas, o quanto a sociedade descrê de suas possibilidades e aposta precocemente em seu fracasso, passando a trabalhar no sentido de mudar essa realidade.
54
ANEXO 5
QUESTIONÁRIO
Coleta de dados de Pesquisa Monográfica
1- Há quanto tempo você atua na Instituição e qual é a sua formação?
2- Em qual modalidade de ensino você atua?
3- Você acha que os valores morais, sociais e éticos influenciam no
comportamento da criança?
4- Na sua Instituição possui um Projeto Político Pedagógico? Se afirmativa,
como foi elaborado?
5- Qual é a filosofia da Instituição?
6- Como é feita a avaliação das crianças?
7- Que importância tem a avaliação para o corpo docente?
8- Para a vida cotidiana das crianças, a avaliação traz pontos
significativos?
9- Como educador, você acha que a Instituição pode deixar de avaliar
cotidianamente?
10- Que mensagem você deixaria para um educador que faz da avaliação
da criança, um ato de punição ou amedrontamento.
55
ANEXO 6
O gráfico a seguir busca ilustrar um percentual que representa a forma em
que alguns professores utiliza-se do saber fazer avaliativo dentro das creches
comunitárias e escolas particulares
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1° Trim 2° Trim 3° Trim 4° Trim
Escola A - Ótimo
Escola B - Bom
Escola C - Regular
PROCESSO AVALIATIVO EM ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Pesquisa realizada com três profissionais da Educação Infantil
56
ANEXO 7
AVALIAÇÃO DAS PESQUISAS DE CAMPO
De acordo com as pesquisas realizadas com (04) quatro educadores da
Educação Infantil, sendo, (02) duas de Creche Comunitária e (01) uma de
Creche Particular, foi possível perceber que a avaliação está acontecendo de
“melhor” forma entre as Creches Comunitárias, pois devido as respostas, os
educadores dessa área, têm encontros mensais com vários tipos de
especialistas do campo pedagógico; (psicólogos, pedagogos, nutricionistas,
fonoaudiólogos, pediatras e outros). Todas apresentaram um Projeto Político
Pedagógico, onde sua construção conta com a participação de pais ou
responsáveis, Conselho de pais e mestres e da comunidade na qual a Creche
está inserida.
A Creche faz um marco referencial buscando sobrepujar quais as
necessidades que essa comunidade anseia, de posse desse diagnóstico e
junto à filosofia da Instituição, traçam objetivos para que possam atender essa
demanda. Ao fim de cada ano, ou antes, se necessário, avaliam o que
funcionou ou não, e traçam novas perspectivas para o ano seguinte. Nada é
feito sem que haja a participação de todos os envolvidos no processo ensino
aprendizagem. A creche pesquisada tem inscrição em todas as áreas que
representam proteção a criança e o adolescente, como CMDCA, SUAS e
outros.
Entretanto, mesmo percebendo emergente necessidade de uma
avaliação que dê conta desse cidadão independente e autônomo, os
educadores admitem que a avaliação ainda é autoritária e classificatória.
Sempre repetem o discurso de que a avaliação é um processo contínuo,
visando um diagnóstico... entretanto não percebem “a grande distância que
existe entre sua intenção e sua ação”, entre o discurso e prática, não têm
tempo se quer para pensar e refletir em sua prática pedagógica. Acham que,
por não terem intenção ou objetivos reprodutivistas estão isentos do caráter de
57
alienação. Porém, não percebem que a prática é muito mais do que
consciência, do que vontade.
Ao contrário da outra Creche, pois evitam até em pensar quanto a forma de
avaliar, as crianças do Maternal por exemplo, usam livro didático. A filosofia da
escola está em competir com as demais para que o ensino ministrado ali, não,
seja considerado ineficiente. Portanto o aluno vale a nota que tirar, e não visto
como um todo em seu desenvolvimento.
58
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
VASCONCELLOS, Celso dos S. Superação da lógica classificatória e
excludente.
HOFFMANN, Jussara . “É difícil mudar, mas recompensa.” Revista
Escola.jan./fev.,2003.
HOFFMANN, Jussara . Impressões da Termologia: o significado do testar e
medir, Avaliação e Construção do Conhecimento.
KÁKIA, Sandra Maria. “ Conhecer o aluno”, Revista Escola. Jan./fev., 2003.
TYLER, Ralph. Teorias norte – americanas. Revista. Jan./fev.,2003.
SCRIVEN, Michael. Metodologia da Educação. 1967.
59
BIBLIOGRAFIA CITADA
1 – ARIÉS, Philippe. História Social da criança e da familia. Rio de Janeiro:
LTC. Editora S.A, 1981.
2 – GAGNEBIN, Jeane Marie. Infância e Pensamento. In; CHIRALDELLI,
Paulo J. (org) Infancia. escola e modernidade, São Paulo, Cortez, 1997.
3 – JOBIM E SOUZA, Solange (org). Subjetividade em questão – a infancia
como crítica da cultura. Rio de Janeiro. Sete letras, 2000.
4 – SARMENTO, Jacinto Manuel. Globalização e infancia. In; GARCIA Regina
Leite; Aristeo Filho (org). Em defesa da educação infantil. Rio de Janeiro:
DP & A, 2001.
5 – VYGOTSKY, i.s. Linguagem. Desenvolvimento e Aprendizagem. São
Paulo: ícone, editora da Usp, 1998.
60
INDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
MUDANÇA DE OLHAR 04
DEDICATÓRIA 05
RESUMO 06
METODOLOGIA 07
SUMÁRIO 08
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I 11
A Infância e Precocidade: a necessidade de uma Avaliação
Qualitativa para um desenvolvimento globalizado
CAPÍTULO II 20
Infância e pensamento nas abordagens
filosóficas e na atualidade CAPÍTULO III 29
Reflexão sobre a prática avaliativa para uma
aprendizagem qualitativa
1.1.1 Local de maiores problemas no que tange à avaliação
1.1.2 Equívoco relacionado à termologia pertinente à avaliação
1.1.3 Testes e Medidas
1.1.4 Equívoco relacionado à termologia pertinente à avaliação
1.1.5 Como avaliar o aluno como um todo?
1.1.6 Quando a medida assume papel absoluto?
1.1.7 O uso equivocado dos testes
1.1.8 Dicotomia: Avaliação e Educação
1.1.9 Exercer a avaliação Como forma de classificação
1.2 Configuração teórica da avaliação como construção do conhecimento
61
1.2.1 Tarefa de reconstrução da prática avaliativa
1.2.2 Redefinido a intencionalidade da avaliação
1.3 Finalidade da reprovação
1.3.1 Arbitrariedade
1.3.2 Discurso da Escola
1.3.3 Visão de alguns professores no que se refere à avaliação
1.4 Mudança em questão
1.5 Qualidade de Ensino
1.6 Posicionamento dos autores referente ao discurso
CONCLUSÃO 45
ANEXOS 47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58
BIBLIOGRAFIA CITADA 59
ÍNDICE 60
62