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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O MONTANHISMO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Um
olhar sobre os praticantes e as instituições
RIO DE JANEIRO
2011
LUCIANO DE ALMEIDA FEITOSA
O MONTANHISMO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Um
olhar sobre os praticantes e as instituições
Apresentação de Monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Educação Ambiental Por: Luciano de Almeida Feitosa Prof.º Orientador: Vilson Sérgio de Carvalho
RIO DE JANEIRO
2011
i
D e d i c o e s s e t r a b a l h o a t o d o s b u s c am a c a d a d i a f a z e r c om
q u e h omem e n a t u r e z a v i v am em h a rmo n i a e b u s c am um
mundo me l h o r a t r a v é s d e s e u s i d e a i s e i n c e n s á ve i s
c a m i n h ada s .
ii
AGRADECIMENTOS
A DEUS em primeiro lugar, pois sem ELE nós nada seríamos.
SENHOR tende piedade de nós.
A minha família que sempre esteve e sempre estará ao meu lado na
figura da minha mãe Marlucia, meu irmão Luiz Carlos, meus adoráveis
sobrinhos Luiz Felipe e Camile e a minha eterna namorada Taiane.
Aos amigos de sempre, aos meus colegas de trabalho e aos meus
queridíssimos alunos, todos que de uma forma ou outra estão sempre
estimulando e pondo minha mente em ação.
Aos montanhistas, amantes da natureza e demais esportista que nela
encontram um cenário ideal para suas atividades.
Aos professores do Instituto A Vez do Mestre, aos professores que
participaram da minha formação desde a alfabetização e a todos os
compuseram as minhas mais variadas turma, vocês são parte da cada
conhecimento assimilado.
iii
A natureza nossa fuga,
A mochila nossa casa,
O horizonte nosso caminho,
A aventura nosso destino.
(O autor)
iv
Sumário
RESUMO..................................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2
1 OBJETIVOS ......................................................................................................... 3
1.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 3
1.2 Objetivo específico: ...................................................................................... 3
2. METODOLOGIA ................................................................................................. 3
3 ANÁLISE DO PROBLEMA ................................................................................... 3
4 DELIMITAÇÃO ..................................................................................................... 4
5 IDENTIDADE E GRUPO: Interrelações entre indivíduo e instituição ................... 5
6 MONTANHISMO .................................................................................................. 9
6.1 As Instituições de Montanhismo: estatuto e formação de montanhista ....... 11
6.2 Processo de Formação e Currículo de Montanhistas nas Instituições ........ 14
6.2.1 A Educação Ambiental Dentro do Currículo de Montanhismo ......... 19
6.3 Ações Ambientais Através das Instituições de Montanhismo ...................... 26
7 O MONTANHISMO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NUM CONTEXTO LEGAL .. 30
7.1 O Montanhismo no Âmbito da Educação Ambiental ................................... 34
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 36
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 39
1
RESUMO
Esta pesquisa busca observar as relações que ocorrem na educação
ambiental através das instituições de montanhismo da cidade do Rio de Janeiro
e seus praticantes como parte da sociedade civil organizada que possui o
ponto de partida em seus interesses em comum, o esporte como lazer e seus
interesses ambientais, criando uma identidade própria ao grupo. Passando pelo
processo de formação e currículo de seus afiliados, suas atuações e
comparando com os aspectos legais vemos as ações deste segmento como
predominantemente práticas inclinadas a uma educação ambiental não-forma.
Palavras-chaves: Educação ambiental e montanhismo.
2
INTRODUÇÃO
As pessoas possuem características próprias que somadas a diversas
outras a tornam únicas, e da mesma forma são estas características que
em comum a outras pessoas as aproximam, o mesmo podemos aplicar
as instituições, estas reuniões formam o que podemos chamar de gru-
pos e estes acabam por apresentar uma série de características próprias
que o define como tal em meio a muitos outros.
Aplicando esse ponto aos montanhistas e as instituições observamos
uma relação de semelhança e como ponto inicial temos o gosto pela
prática esportiva como lazer e a afinidade pelo ambiente natural associ-
ado. Uma vez criado e desenvolvido uma base institucional passam a
responder como parte da sociedade civil organizada, somando força pa-
ra reafirmarem seus direitos como cidadão em primeiro lugar e em se-
gundo, como usuários dos ambientes naturais em prol do lazer, agindo
em prol desses assuntos de bem comum e relacionando com o poder
público, quando possível e ou/necessário.
No decorrer do trabalho veremos o funcionamento das instituições, o
processo de formação de seus praticantes, as ações ambientais desen-
volvidas e as relações no contexto da educação ambiental e alguns as-
pectos leais que permeiam estas discussões.
3
1 OBJETIVOS
1.1 Objetivo Geral
Abordar o montanhismo através de suas instituições e praticantes no
contexto da educação ambiental
1.2 Objetivo específico:
1.2.1 Investigar as instituições de montanhismo e seus praticantes no
contexto da educação ambiental.
1.2.2 Contextualizar as instituições de montanhismo e seus praticantes no
âmbito da educação ambiental.
1.2.3 Estabelecer as relações teóricas e práticas das instituições de
montanhismo e seus praticantes no contexto da educação ambiental.
2 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada através de um estudo de revisão bibliográfica, com
apoio de investigação de campo, fóruns virtuais, entrevistas e participação em
algumas atividades.
3 ANÁLISE DO PROBLEMA
Estudar as ações de Educação Ambiental promovida pelos clubes de
montanhismo/excursionismo no âmbito de suas práticas e interesses, sendo
este um segmento da sociedade civil organizada com identidade própria
consciente e ativista uma vez que são beneficiários diretos desse processo.
4
4 DELIMITAÇÃO
Foram abordadas as instituições de montanhismo/excursionismo do
Estado do Rio de Janeiro, com ênfase nos situados na capital. Além de
possíveis considerações difundidas por entidades de outros Estados a fim de
exemplificar, validar ou comparar.
5
5 IDENTIDADE E GRUPO: Interrelações entre indivíduo e instituição
Todo indivíduo possui sua identidade formada através do que se consti-
tuiu ao longo da vida e que estará em constante transformação, mesmo
que possuam um aspecto de permanência. São suas peculiaridades que
o diferem dos outros, como por exemplo: profissão, time que torce, natu-
ralidade, hobbie, opção religiosa, lazer, dentre muitos outros. Dentro da-
quelas que possuem um aspecto de permanência ou mesmo o são, ob-
servamos: gênero, nome, timbre de voz, gestos e maneiras de se ex-
pressar, etc. Assim na sociedade um mesmo indivíduo possui diversos
papeis em momentos diferentes, sem com isso deixar de ser o que re-
almente é. Ora é o professor da escola, ora o torcedor do time “X”, ora o
montanhista do clube “Y” ou apenas o alpinista como conhecido no sen-
so comum. Porém as mesmas peculiaridades que o diferencia são as
mesmas que os agrupam, é comum agruparem-se pelas semelhanças
dentre elas por opções de lazer, na busca da aceitação pelo grupo social
e na manutenção do que hoje se consolida pelo que faz, ou seja, o indi-
víduo filia-se a um clube de montanhismo na busca de pessoas com o
mesmo interesse de lazer, na perspectiva de dividir o que possuem em
comum. Assim, sendo aceito pela sua característica em comum que em
outro ambiente o torna diferente, como afirma Bock (1999, p.203): a i-
dentidade permite uma relação com os outros, propiciando o reconheci-
mento de si.
Essa relação de igualdade e diferença por vezes tão arraigadas no con-
texto social poderá o acompanhar mesmo na ausência do fator gerador,
pois, uma vez sendo conhecido em seu trabalho como, por exemplo, o
professor alpinista, mesmo que por qualquer motivo deixe de exercer a
atividade de montanhismo, carregará consigo esta marca, ou vista pelo
outro lado será o montanhista professor.
6 Discorrendo sobre o assunto fica claro que não existe algo permanente
quando se fala de identidade, pois, sabemos que o indivíduo está em
constante evolução e observando pelo lado mais simples pertence a di-
versos grupos sociais e em cada um deles será visto de uma forma dife-
rente tendo esta ou aquela característica em maior evidência.
Na identidade a única coisa permanente é a sucinta transformação, co-
mo relata Bock (1999, p.205) sobre o que trata o ponto de vista teórico
do professor da PUC-SP, Antônio Costa Ciampa.
[...] a identidade tem o caráter de metamorfose, ou seja, está
em constante mudança. Entretanto, ela se apresenta – a cada
momento – como em uma fotografia, como “estática”, como
não-motamorfose, escamoteando sua real dinâmica de perma-
nente transformação.
Relacionando esses princípios com a formação de grupos, encontramos
as instituições ligadas ao montanhismo e excursionismo, através de fe-
derações, confederações, clubes e centros. Estes são formados por
pessoas com características em comum, os gostos por atividades na na-
tureza, e neles se reúnem para em conjunto, planejarem e executarem
suas atividades, gerando com isso uma forma institucionalizada de lazer,
e como tal para uso e bem comum possui normas e regras a serem se-
guidas por seus integrantes.
Uma vez reunidos por seus pontos em comum formam uma identidade
do próprio grupo/instituição através de suas atividades, normas e regras,
integrantes, estatuto, condutas e demais ações desenvolvidas, e ao as-
sumir-se como parte de uma organização o montanhista passa a carre-
gar consigo em suas atividades não só o nome da instituição a qual per-
tence como o de todo o esporte e demais montanhista, gerando uma
responsabilidade que transcende sua simples ação.
7 Observamos no montanhismo características marcantes que formam o
grupo e o afirmam como tal, diferenciando-se dos demais, dentre estes
observamos: a ética, o companheirismo, o aperfeiçoamento técnico e a
preservação ambiental. Cabe ressaltar que estes, em especial o último,
parecem compor uma relação dialética entre indivíduo e grupo através
das instituições, os praticantes sentem-se envolvidos por uma sensibili-
zação ambiental durante sua atividades e passam a incorporar este as-
pecto ao seu comportamento cotidiano que por sua vez reforçam a idéia
do grupo de que se é necessário tal comportamento, gerando assim
uma prática de retroalimentação dos padrões e comportamentos cultiva-
dos pelo grupo. Conforme apontam (ALVES JUNIOR & DIAS. 2007, p.
115):
Dentre os praticantes predominam um pacto ecológico, ao me-
nos oficialmente, ou seja, é essa a postura das associações,
que em todo momento faziam lembrar que no montanhismo re-
side um ideal de sensibilidade ecológica.
Fica explícito que essa necessidade de zelar por aquilo que o auto-
afirma como membro de um grupo torna-se parte constituinte de sua i-
dentidade como uma célula-base, que por sua vez foi originado, em par-
te, por algo que já possuía sendo que agora em proporções maiores,
criando um processo contínuo de desenvolvimento subjetivo em ambas
as direções. Observa-se esta relação em (ZIMERMAN, 1993 apud CA-
PITÃO & HELOANI, 2007, p.52):
Responsável pela construção da identidade, o grupo é a célula-
base por meio da qual o indivíduo adquire valores, introjeta
normas, condutas, adquire necessidades. Estabelece-se assim
um movimento dialético contínuo, que se desenvolve por toda
vida da pessoa, só expirando com sua morte. Através de um
processamento contínuo de intersubjetividades que passam a
transformar-se em elementos socioculturais, o sujeito constrói
8 sua identidade individual e grupal.
O grupo em seu papel torna-se então gerador de ideologias que
reproduzem uma identidade para si, como uma espécie de identidade
coletiva que podem proporcionar grandes influências sobre outros
grupos e pessoas, envolvendo cada vez mais. Na medida em que se
mergulha no seio das discussões, participações, ou seja, quanto maior a
participação das atividades do grupo, neste caso, as instituições de
montanhismo, maior será a possibilidade profundas mudanças na sua
própria identidade, por estar, o indivíduo, em constante evolução. Como
afirma (BION, 1969 apud CAPITÃO & HELOANI, 2007, p.52):
Um grupo tem uma identidade e um psiquismo próprios, uma
mente grupal, uma mente que exerce uma influência sobre
outros grupos, além de influenciar os seus próprios membros.
Dessa maneira, uma pessoa pode sofrer uma profunda
alteração identitária quando contagiada pela mente grupal,
abandonar todas as suas características e assumir a identidade
do grupo que exerce a influência.
Nesse cenário podemos considerar as instituições de montanhismo e
seus praticantes dotados de grande influência sobre os mesmos e seus
pares, as condutas relacionadas à preservação dos espaços utilizados,
os ambientes naturais, ganham fortes aliados por serem práticas usuais
no esporte e possuírem um fator motivador em si mesmo.
Essa consciência coletiva parecer ser o marco norteador para a satisfa-
ção das suas necessidades, pois, sem a existência de condições míni-
mas para o exercício das atividades tornará inviável a manutenção da-
quilo que o identifica e o mantém na condição de montanhista, logo po-
derá vir a extinguir também a célula-base, o grupo, criando um vazio em
toda a relação indivíduo-instituição.
9
6 MONTANHISMO
O montanhismo consiste na ascensão ao cume de montanhas sejam por
caminhadas ou escaladas levando o indivíduo necessariamente ao con-
tanto com o ambiente natural, assim como acontece em outras modali-
dades de excursionismo. Como mostra (CUNHA & RAUSCHMAYER,
2008, p. 5):
O montanhismo pode ser definido como ascensão de monta-
nhas por caminhada ou escalada. Faz parte de um conjunto de
atividades bastante amplo, denominado EXCURSIONISMO.
[...] envolve inúmeras modalidades, tais como o próprio monta-
nhismo, o campismo, a exploração de cavernas, a canoagem,
o mergulho, os roteiros culturais, os passeios recreativos etc.
Esse tipo de atividade vem sendo cada vez mais procurado pelas pes-
soas para a ocupação do tempo ocioso através do lazer e como alterna-
tiva na busca pela melhoria na qualidade de vida, pois, estando em con-
tato com a natureza o indivíduo, tem a oportunidade de aproximar-se
mais de si na medida em que se afasta da agitação dos grandes centros
urbanos. Como aponta (FEITOSA, 2008a):
Os ambientes naturais são cada vez mais procurados para prá-
ticas de atividades, sejam elas em prol do lazer ou da melhoria
da qualidade de vida, no entanto parte dessas atividades ne-
cessita de equipamentos, cursos de habilitação e como fator de
segurança a prática com pessoas mais experientes. Assim en-
contramos o montanhismo, o rafiting, o vôo de asa delta e pa-
rapente, entre outros.
Ao mencionar sobre equipamentos, cursos, companhia de pessoas ex-
perientes como fator de segurança emerge a figura do guia de cordada e
10 do guia de montanha. Estes são pessoas com maior experiência e com
amplos conhecimentos dos assuntos necessários, entre eles educação
ambiental, para conduzir outras pessoas a estas atividades. O primeiro
tem sua atuação na condução de outra pessoa na escalada em rocha
em locais de fácil acesso, a segunda já possui uma atuação maior
quando no planejamento e execução de uma excursão onde, por vezes,
o acesso é difícil até mesmo para equipes de salvamento e nesse caso
aumentam-se as responsabilidades, os riscos e também o conhecimento
para evitá-los e prestar um atendimento se necessário. Esse ponto ilus-
tra parte da estrutura institucional quando na formação de esportistas
aptos a se depararem com situações adversas já esperadas nos ambi-
entes naturais.
Ao contrário do que muitos afirmam o indivíduo que pratica escalada em
rocha é chamado escalador ou mesmo montanhista por ambas as ativi-
dades ocorrerem em montanha. Como deixa claro Sandro Cardoso em
sua coluna no Jornal dos Sports (Escaladores ou Alpinistas? Jornal dos
Sports, Rio de Janeiro, p. 12, 05 nov. 2008.).
[...] não tendo os Alpes para escalar em nossas tropicais terras,
posso então vos afirmar, categoricamente, que não somos al-
pinistas.
Não utilizamos técnicas de escalada alpina em nossas monta-
nhas, o que fazemos, por aqui, é escalada em rocha, portanto,
quem se dirigir a nós favor chamar-nos de escaladores, no má-
ximo montanhista.
Acredita-se que parte da manutenção dessa nomenclatura ocorre por
dois motivos o primeiro peal divulgação desta através dos meios de co-
municação de massa como a televisão, rádios e jornais e, o segundo,
pala falta de aprofundamento das pessoas a respeito do esporte. Uma
vez que existe uma ampla divulgação do futebol como sendo o esporte
11 nacional, acaba-se por não se ter uma maior divulgação do montanhis-
mo e consequentemente menores níveis de informação e adeptos.
6.1 As Instituições de Montanhismo: estatutos e formação
de montanhista
Com a evolução do montanhismo os clubes e centros excursionistas
passaram e se estruturarem como esporte e possuir um caráter institu-
cional para a prática de suas modalidades assim como difusão das
mesmas.
Hoje a estrutura do montanhismo se dá em níveis internacionais tendo
como ligação a Confederação Brasileira de Montanhismo (CBME) fun-
dada em agosto de 2004, que está associada a Union Internationale des
Associations d' Alpinisme (UIAA) e a International Federation of Sport Clim-
bing (FSC). A CBME é o órgão de referência do esporte a nível nacional
e conta com as federações estaduais de montanhismo, entre elas a Fe-
deração de Montanhismo do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ), que
por sua vez recebe afiliações das demais instituições como: clubes, cen-
tros, associações e outros, todos legalmente registrados na forma de
pessoa jurídica. Com isso afirmam seu caráter institucional e ampliam
suas formas de intervenção social junto ao poder público
Este crescimento possibilitou a criação de um espaço relevante perante
a sociedade sobre questões nas quais encontram-se envolvidas, o que
podemos considerar como uma força propulsora para a movimentações
e/ou participação relevante nas questões ambientais quando na partici-
pação de gestão integrada, em particular na cidade do Rio de Janeiro
como expõe (CRESPO & ROVERE. 2002)
A sociedade civil carioca vem apresentando avanços quanto a
sua inserção na participação da gestão integrada na cidade.
Existem cerca de 3.132 entidades associativas que atuam na
12 cidade do Rio de Janeiro, uma lista que inclui igrejas e associ-
ações religiosas, associações de moradores, entidades de as-
sistência social, clubes excursionistas, grupos jovens, escolas
e centros comunitários, clubes de serviços e ONGs.
Esta participação se torna possível pela existência de um conjunto de
ações internas que são discutidas e avaliadas em cada instituição pelos
seus membros que por sua vez possuem condutas parecidas em seu
cotidiano, remetendo ao pensamento de pensar e agir localmente para
gerar resultados globalmente.
6.1.1 Funcionamento das Instituições de Montanhismo na
cidade do Rio de Janeiro
Através da observação na pesquisa de campo e dos materias dispo-
níveis para consulta, seja em meio eletrônico, seja em material im-
presso de distribuição interna, podemos reunir alguns itens em co-
mum que mostram a dinâmica do funcionamento das instituições.
a) As instituições possuem uma rotina de encontros semanais para
fins sociais de onde surge boa parte das idéias iniciais para as a-
tividades de montanhismo, e dentro das atividades sociais encon-
tramos a exposição de filmes, fotos de excursões, confraterniza-
ção de aniversariantes e outros.
b) São elaboradas pelos guias e expostos em pranchetas as ativida-
des oferecidas aos integrantes, entre elas: caminhadas, escala-
das em rocha, passeios culturais diversos, visitações, excursões,
entre outros. Embora possuam o eixo norteador o montanhismo,
por vezes, são feitas atividades diferentes como pedalada, pas-
seio de barco, remada de caiaque e outros.
c) Há a divulgação das atividades, conhecimentos e ideologias das
instituições através de sites, blogs, boletins impressos e outros.
13 As parcerias entre as instituições e os praticantes geram além de
um maior aprofundamento e ampliação dos pontos expostos, e-
naltece um clima de cordialidade, companheirismo e ética exis-
tente extremamente valorizado pelas partes.
d) Os clubes filiados a FEMERJ e avaliados por ela oferecem regu-
larmente Curso Básico de Montanhismo (CBM), condição para
participar das atividades fins, palestras e cursos relacionados co-
mo forma de manterem os membros atualizados com vias de a-
perfeiçoar o esporte e principalmente reduzirem os impactos am-
bientais e acidentes ocasionados por erro humano.
e) A composição de um corpo de guias responsáveis por conduzir as
excursões oficiais da instituição.
f) São regidos por estatutos internos que por sua vez seguem as o-
rientações da CBME e FEMERJ, e normalmente aborda itens
como: formação dos conselhos, diretorias, assembléias, símbo-
los, admissão, punição e exclusão de membro entre outros ne-
cessários para o bom funcionamento de um órgão. Também en-
contramos nos estatutos a valoração de alguns aspectos, por ve-
zes, tidos como finalidades entre estes cito: preservação do meio
ambiente, promoção do esporte, ética, realização de cursos e pa-
lestras, e outros.
Estas características representam as peculiaridades da especificida-
de do montanhismo como parte organizada da sociedade civil que
partindo de seus suas características em comum de lazer, somam
força na busca de não só desfrutarem de um respaldo institucional
que identificam e o afirmam como membro de um grupo, mas tam-
bém serve como participam ativamente nos movimentos ligados a
preservação do meio ambiente. À medida que exercem suas práticas
de lazer no ambiente natural, estão também pondo em práticas seus
conhecimentos e posicionamentos em comum que são pontualmente
abordados de diversas formas em suas instituições. Sobre caracte-
14 rísticas das instituições que participam ativamente a cidade do Rio de
Janeiro podemos associar o descrito com o que escreve (CRESPO &
ROVERE. 2002):
A trajetória da sociedade civil organizada na cidade do Rio de
Janeiro apresenta hoje algumas características comuns que
podem ser assim resumidas:
1. Tendência a afirmar sua autonomia em relação ao Mercado
e ao Estado, mesmo que agindo em complementaridade às
ações desenvolvidas pelos atores destas duas esferas.
2. Uma estruturação muito variada baseada em organizações e
instituições, que representam interesses diversos,
particularmente quanto aos aspectos econômicos, religiosos e
culturais de segmentos específicos como grupos raciais,
gênero, infância, idoso e portadores de deficiências.
3. Representatividade “construída” em função das afinidades
estabelecidas entre seus membros, a partir de valores comuns,
sujeita a mutações na composição social e nos contornos.
4. Os atores destas organizações têm origens diversas,
relativizando os limites de classe, ideológicos e políticos que
caracterizaram a atuação dos movimentos sociais das décadas
de 1970/1980.
5. Estes atores participam, em muitos casos, simultaneamente,
de várias organizações e movimentos da sociedade civil.
6.2 Processo de Formação e Currículo de Montanhistas
nas Instituições
Na sociedade como a concebemos hoje existe uma série de funções in-
terligas em forma de rede para que seus diversos segmentos possam
funcionar e fazer com que todos os demais funcionem. Nesse conjunto
de ações cada indivíduo possui um papel que somado a muitos outros
fazem as “engrenagens” do sistema funcionar. Essas funções em sua
15 maioria não são habilidade e conhecimentos que possam ser supridos
única e exclusivamente pela sabedoria do senso comum e com os anos
vividos por cada um, embora estes possam ser de grande valia se incor-
porados a uma formação.
Em alguns casos por tamanha especificidade da função exercida, e da
mesma forma a capacitação do indivíduo para o exercício da mesma,
acaba se por limitar as ofertas de cursos de aperfeiçoamento. Uma vez
que reunir estas pessoas para incluírem no seu cotidiano corrido um
momento para o estudo e ao mesmo tempo torna-se uma tarefa árdua.
Por este motivo muitas empresas inventem na formação e capacitação
de seus funcionários dentro dos próprios locais e horários de trabalho,
na perspectiva alcançar melhores resultados tendo como ponto de parti-
da o funcionário
Sob esse aspecto voltamos o olhar para as necessidades de uma institu-
ição de montanhismo que, embora possa se assemelhar em muito os
aspectos de uma empresa, possui peculiaridades que não são desen-
volvidas em outro campo senão nas próprias instituições, devendo esta
ser responsável por oferecer cursos de formação e capacitação em
montanhismo e áreas afins para seus integrantes. Assim podemos ca-
racterizar a instituição de montanhismo como sendo um ambiente de
ensino formal no que tange as suas atividades.
Emerge nesse cenário a figura dos guias, que são pessoas responsá-
veis por planejar, conduzir e zelar pelos demais montanhistas durante as
excursões oficias do clube, além de formarem novos montanhistas e
guias, logo estes devem estar em constante aperfeiçoamento. Por se-
melhança as instituições, os guias podem ser comparados, dentro desse
universo, como os responsáveis pelo processo de seleção e planeja-
mento dos conteúdos pertinentes ao montanhismo, bem como o ensino-
aprendizagem.
16 Para um melhor entendimento e exemplificação desse funcionamento,
podemos correlacionar o papel da instituição e do guia com o papel da
escola e do docente no que diz (LIBÂNEO, 1994, p. 221):
O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a
previsão as atividades didáticas em termos de sua organização
e coordenação em face aos objetivos propostos, quanto a sua
revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. O
planejamento é um meio para se programar as ações docentes,
mas também é um momento de pesquisa e reflexão
intimamente ligado à avaliação.
Embora o planejamento dos cursos não esteja dotado da eficiência e
competência dos desenvolvidos por professores e pedagogos, existem
pontos que são relevantes, devido a sua função, quando são esquemati-
zadas com vias as possíveis situações adversas oferecidas pelo ambi-
ente natural, são os apontados por (HAIDT, 2004, p. 104)
[...]
c) Adequar o trabalho didático aos recursos disponíveis e às
reais condições dos alunos.
d) Adequar os conteúdos, as atividades e os procedimentos de
avaliação aos objetivos propostos.
c) garantir a distribuição adequada do trabalho em relação ao
tempo disponível.
Como o intuito é formar o montanhista para que este ao final esteja apto
a participar das atividades fins do clube podemos relacionar estes da
seguinte forma: em relação ao item “c)” é extremamente importante que
o indivíduo saiba como e quando usar os materias de montanhismo, em
especial os de escalada, nas funções que este pode vir a exercer numa
excursão; em relação ao item “d)” a maior avaliação feita é a desenvoltu-
ra do próprio indivíduo na prática perante ao que ele está se formado,
17 seja montanhista ou guia, pois é de extrema necessidade que ele ao fi-
nal do curso não haja dúvidas sobre sua conduta e sobre as ações a se-
rem tomas, uma vez que erros desse tipo podem custar vidas, inclusive
a dele; e em relação ao item “d)” aplica-se com mais incidência sobre as
aulas práticas, pois tão importante quanto saber fazer é saber a hora de
não fazer ou mesmo de abandonar a atividade e regressar, uma vez es-
tando no ambiente natural é comum situações na qual não há como in-
tervir e sim aceitá-las e agir conforme esta se apresentar.
Uma vez que existe uma oferta regular de CBM´s gera uma rotina de es-
tudos dos guias e também dos demais montanhistas que aproveitam es-
ses cursos para fazerem uma espécie de reciclagem de seus conheci-
mentos, além de trazerem suas experiências, que uma vez divididas
com o grupo, são agregadas a formação de cada um e servem de pon-
tos iniciais de novas discussões a respeito de técnicas, procedimentos e
práticas entre não só o grupo como dependendo a comunidade de mon-
tanhista.
Além dos cursos é comum haver palestras pontuais sobre os assuntos
que envolvem as atividades exercidas pelas instituições, fóruns em meio
eletrônico, confecção de boletins informativos que por vezes trazem te-
mas para estudo e discussão. Esse aspecto contribui para a formação
continuada tanto de guias quanto dos demais montanhistas.
Os conteúdos encontrados nos cursos oferecidos por essas instituições
estão em sua maioria alinhavada com as questões ambientais como
forma de reconhecimento de que a preservação desses espaços é con-
dição para a qual a atividade seja desenvolvida ao longo das gerações,
este processo de formação se apresenta de forma mais efetiva pelo mo-
tivo de se vivenciar a prática constantemente, sendo até possível afirmar
que essas ações geram hábitos que por sua vez contribuem para a ge-
ração de atitudes fazendo com que aconteça o que mais se deseja no
18 âmbito da educação ambiental, o estado efetivo de se pensar e agir com
vias ao meio ambiente. Sobre os conteúdos podemos ilustrar com o que
nos apresenta (HAIDT, 2004, p. 127):
É por meio dos conteúdos que transmitimos e assimilamos
conhecimentos, mas é também por meio do conteúdo que
praticamos as operações cognitivas, desenvolvemos hábitos e
habilidades e trabalhamos as atitudes.
Nesse cenário podemos observar uma representatividade da organização
social em função de capacitação, competência e trabalho, em micro
proporções, dentro das instituições de montanhismo no sentido de satisfazer as
necessidades funcionais específicas da mesma e mesmo sendo de caráter
voluntário e voltado ao lazer esta formação apresenta critérios de seleção ao
qual não podem ser negligenciados, pois, os danos futuros podem ser
irreparáveis. Por isso se faz necessário a constante prática de estudo,
avaliação e seleção de conteúdos específicos e adequados.
Para exemplificar a necessidade da formação inicial e continuada, e que
mesmo assim estas não excluem em sua totalidade os riscos oferecidos
podemos citar parte do texto que alerta sobre o assunto, como diz (QUEIROZ &
DAFLON, 2002, p. 6):
Esta é uma publicação que descreve as principais vias de
escalada da Urca, a ascensão destas vias é uma atividade
inerentemente perigosa. Você não deve depender
exclusivamente das informações expostas neste livro para sua
segurança durante a escalada. A sua segurança depende do
seu próprio julgamento, baseado numa instrução competente,
experiência e conhecimento da sua real habilidade em escalar
(seus limites).
Esta publicação não é um substituto para um instrutor ou guia
de escalada em rocha [...]
19 A utilização deste livro indica que você assumiu a possibilidade
de morte ou de acidentes graves como um dos riscos
resultantes da escalada;
Ao contrário do universo escolar o rendimento nos cursos de montanhismo, em
muitos casos, é observado com a mesma ênfase pelo próprio praticante, antes
mesmo que o guia mostre suas dificuldades, este a reconhece e busca
aperfeiçoá-las, este fato é observado principalmente na formação inicial do
praticante.
6.2.1 A Educação Ambiental Dentro do Currículo do Monta-
nhismo
Os cuidados envolvidos na formação inicial e continuada dos monta-
nhistas estão sempre considerando os aspectos ambientais tanto pa-
ra uma melhor execução das suas práticas quanto na preservação
dos espaços utilizados. Com isso é comumente encontrarmos nos
currículos temas voltados ao meio ambiente cujo seu estudo está di-
retamente ligado a prática e associados entre si, desta forma pode-
se perceber a importância do conteúdo estudado no cotidiano do seu
lazer esportivo o que estimula, em muitos casos, atitudes pautadas
nos preceitos da ética e assim se consolidando como educação am-
biental. Sobre esta relação de conteúdo e finalidade prática citamos
(LIBÂNEO, 1994 p. 128):
Conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos,
habilidades, hábitos modos valorativos e atitudinais de atuação
social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em
vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua
prática de vida.
20 Ao abordar sobre os conhecimentos, hábitos e habilidades dos conteú-
dos de modos valorativos e atitudinais podemos aplicá-los na prática do
montanhista, pois o mesmo encontra relação de causa e efeito à medida
que percebe na prática a necessidade desses conteúdos e os assimila
com maior facilidade e onde sua prática de vida nesse caso encontra-se
diretamente ligada a prática do esporte. Para ilustrar a respeito da res-
ponsabilidade e compromisso institucional da formação de seus prati-
cantes, podemos citar o artigo “Como formar Guias de Montanha” do bo-
letim informativo do Clube Excursionista Light (CEL) n.º 368, página 12,
do bimestre nov/dez (2010).
O montanhista começa a guiar muita gente em trilhas ou vias, e
com isso vem sua responsabilidade de saber o que fazer
quando nem tudo ocorre dentro do previsto.
O CEL tem guias muito curiosos e responsáveis, tanto de
escalada quanto de caminhada. Mais que isso, pessoas muito
interessadas em ensinar e aprender sobre montanhismo. Para
criar esse espaço de profundo saber, em outubro de 2010
iniciamos um CFGM, curso de formação de guias de montanha,
destinado aos guias comissionados do clube. Seu conteúdo é
baseado nos padrões de competência para guias voluntários
da CBME, com duração prevista de um ano.
Corroborando com o que expôs Libâneo (1994) anteriormente sobre
conteúdos encontramos (HAIDT, 2004, p. 133):
Com relação à organização dos conteúdos, o professor deve
considerar também a estrutura da disciplina, para que o aluno
possa ter uma visão global do campo de conhecimento
estudado e para que possa ter acesso às idéias mais
significantes e relevantes da disciplina, sistematizando-as e
aplicando-as em áreas correlatas.
21 Embasado no que aponta esses dois pensadores e associando ao
contexto até aqui exposto podemos perceber que não é possível
conceber o montanhismo, principalmente em seus processos de for-
mação e aperfeiçoamento através das instituições e suas excursões
oficiais sem incluir as questões ambientais na forma essencialmente
prática, pois, pode-se entendê-las como áreas correlatas que permi-
tem uma visão global.
Dentre os cursos oferecidos pelas instituições afiliadas a FEMERJ,
selecionamos 6 (seis) da capital do Rio de Janeiro, exceto a última
que se encontra na região serrana do Estado, para fins de exemplifi-
cação de seus conteúdos e sucinta análise sobre suas ligações com
a educação ambiental.
Sigla
Instituição
Temas relacionados à
Educação Ambiental
CEC Clube Excursionista Ca-
rioca
- Mínimo impacto,
- Caminhada e acampamento.
CEG
Centro Excursionista da
Guanabara
- Animais peçonhentos,
- Ética e mínimo impacto,
-Reflorestamento,
-Caminhada, acampamento e biva-
que
- Orientação
CEL
Clube Excursionista Li-
ght
- Animais peçonhentos,
- Mínimo impacto
- Leitura de mapas e croquis
CERJ
Centro Excursionista Rio
de Janeiro
- Ética, ecologia e mínimo impacto,
- Nutrição e técnicas de caminhada,
bivaque e acampamento
- Técnicas de Orientação I e II
22
CET
Centro Excursionista
Teresopolitano
- Mínimo impacto,
- Técnicas de caminhada e acampa-
mento.
A seguir veremos de forma resumida os tópicos listados no quadro
acima no que tange as ações ambientais e sua singela descrição re-
ferentes à mesma.
a) Mínimo impacto – são ações diversas que visão a utilização dos
ambientes naturais na forma esportiva ou de lazer, sem gerar da-
nos ao mesmo.
b) Caminhada – expõe sobre condutas e procedimentos utilizados
durante as caminhadas para que além de prever a segurança dos
participantes, não gerar danos ao meio ou mesmo interferir nos
ecossistemas presentes. Como por exemplo: andar em pequenos
grupos e nunca sozinho, utilizar somente as trilhas já demarcadas
e não usar atalhos, produzir o mínimo de ruído, entre outros.
c) Acampamento e bivaque – procedimentos adotados durante o
alojamento provisório e pernoite nos ambientes naturais provendo
a segurança dos participantes sem danificação dos meio naturais.
Como por exemplo: não cavar valetas em torno da barraca, cozi-
nhar utilizando fogareiro portátil e com os devidos cuidados, entre
outros.
d) Animais peçonhentos – consiste num esclarecimento dos tipos e
espécies, comportamentos e habitat na intenção de evitá-los, pro-
teger-se e quando encontrados atuar de forma a preservar a vida
animal e humana. Como por exemplo: verificar os locais ao redor
antes de iniciar qualquer atividade, em caso de acidente não ma-
tar o animal e se possível levá-lo junto com a vítima para o hospi-
tal (no caso de não conseguir identificar), saber os locais de refe-
rências para estes acidentes e outros.
e) Ética - aborda assuntos relacionados à convivência e postura do
montanhista, o relacionamento com as comunidades dos arredo-
23 res, cordialidade, companheirismo e demais assuntos que estão
ligados prática e imagem do montanhismo. Como por exemplo:
solicitar permissão para acessar as vias de escaladas quando es-
tas estiverem em propriedades particulares, ser cordial com os
moradores locais, principalmente em vilarejos, e outros.
f) Reflorestamento – são ações normalmente exercidas pelos clubes
em apoio aos parques naturais nos/ou em locais utilizados. Por
vezes aproveitam os alunos do curso para esta tarefa para au-
mentarem o efetivo.
g) Orientação, Técnicas de Orientação e Leitura de Mapas – são co-
nhecimentos de cartografia utilizados para o acesso aos locais
desejados para que com isso evitem se perderem em meio ao
ambiente natural e, caso ocorra, saber valer-se desses conheci-
mentos para se reencontrarem ou auxiliar as equipes de busca.
h) Leitura de croqui – são formas de interpretar os croquis das vias
de escaladas, como forma de planejamento da escalda para as
medidas de segurança e evitar com que se danifiquem as vegeta-
ções.
Esses conteúdos abordados pelos cursos seguem as orientações da
CBME e FEMERJ e visa uma espécie de currículo mínimo comum
nas entidades afiliadas sob perspectiva de se alcançar o maior nú-
mero possível de esportistas de montanha, que pelas vias institucio-
nais abrem a possibilidade de desenvolver um pensamento ambien-
talista dentro do esporte. Essa aliança contribui significativamente
para esse pensamento pelo fato da aproximação do homem com a
natureza de forma consciente de suas atitudes como aponta (DARI-
DO & RANGEL, 2008, p. 184):
O esporte de aventura, sobretudo aquele realizado juto à
natureza, representa mais uma possibilidade de aproximação
entre o indivíduo e o meio ambiente, devido à interação com os
24 elementos naturais e suas variações, como sol, vento,
montanha, rios, vegetação densa ou desmatada, lua, chuva,
tempestade, desencadeando atitudes de admiração, respeito e
preservação.
É óbvio que o simples contato com o ambiente natural não é fator
decisivo para o desenvolvimento desse pensamento ambientalista,
mas ocorrendo de forma sistematizada dentro das instituições contri-
buem significativamente para esse acontecimento, que reforçam os
questionamentos feitos a respeito no decorrer do discurso dos auto-
res (Ibidem, p.184):
Seria ingênuo acreditar que o simples contato com a natureza
fosse condição suficiente para considerar o indivíduo como
defensor do meio ambiente, porém a reflexão e discussão
sobre essas vivências podem constituir mais uma possibilidade
para atividades de lazer [...]
Os processos de formação desenvolvidos pelas instituições aliados
as identidades e formações de grupos com características próprias
fazem do montanhismo uma prática que transcende o esporte e suas
facetas comportamentais vão de encontro direto com o que Pigeaus-
sou (apud DARIDO & RANGEL, 2008, p. 184) apresenta como pen-
samento ambientalista ao confrontar com o pensamento tradicional
esportivo:
25
Pensamento
tradicional
Pensamento
ambientalista
Objetivo
Máximo
Melhor
Pretensões
Performance e eficiên-
cia
Prazer e beleza
Modelo de relaciona-
mento
Competição
Convivência harmônica
(Pigeaussou apud DARIDO & RANGEL, 2008, p. 184)
Esses assuntos trazidos à tona são parte das ações pontuais de es-
tudos exercidas pelas instituições e em especial os CBM´s que acon-
tecem em média uma vez ao ano em cada uma das entidades. Com
maior freqüência aparecem as palestras, também pontuais, porém
bem mais elevadas, seguidas pelas reuniões semanais nas próprias
sedes e os fóruns em meio eletrônico que são diários com menor
freqüência aos finais de semana, aonde a maioria os montanhistas
vão a campo fazer o que mais gostam.
Sabemos também que a discussão ambiental é parte integrante des-
se processo, porém não é esse o principal motivo de tal estruturação
e mesmo participando de forma secundária nesse cenário, ainda sim,
apresenta ações muito mais efetivas.
Cabe aqui ressaltar que as comparações entre guia e professor, e,
instituição e escola dão-se apenas como forma de exemplificação
do funcionamento por possuírem um funcionamento parecido po-
dendo vir a contribuir ainda mais, não sendo esse o interesse de
ambos ou mesmo desta pesquisa, e nem a possibilidade de estes
substituírem aqueles em seus papeis, formação e autonomia.
26
6.3 Ações Ambientais Através das Instituições de Monta-
nhismo
Um dos maiores benefício que as instituições podem trazer são suas
participações ativa nas questões que envolvem o meio ambiente e prin-
cipalmente no tocante ao montanhismo. Estas participações vão desde
uma simples caminhada respeitando o ambiente como a publicação de
livros especializados onde se dedicam parte da obra para a divulgação
de assuntos relacionados. Esses textos incluem incentivos a prática do
mínimo impacto, da ética, do respeito, da preservação do meio ambien-
te, entre outros como forma de legar estes locais a gerações futuras da
mesma forma com a vêm hoje. Para exemplificar utilizaremos a citação
de um livro que oferece parte de seus agradecimentos a instituições e a
montanhista pelo motivo de seus auxílios, onde diz assim (DAFLON &
DAFLON, 2007, p. 281):
A escalada é uma atividade que não é regida por regras
formais. Portanto, para respeitarmos os conquistadores, os
escaladores e o meio ambiente, é necessário seguirmos um
conjunto de princípios, que vêm sendo definido ao longo de
gerações, fundamentados na ética ambiental e no respeito
mútuo entre os escaladores. A ética ambiental é definida a
partir de atitudes ou utilização de técnicas que ajudam a reduzir
ao máximo o impacto da passagem do escalador pela
montanha.
Possuindo um ativismo ambiental pautado excessivamente pelas ações
cotidianas, estas acabam por servirem como exemplo aos demais indi-
víduos que de uma forma ou outra acabam por se relacionarem, mesmo
que indiretamente e contagiam pelas boas práticas, sendo assim pode-
se afirmar com certa segurança que as informações apresentadas são
uma constante aos leitores que têm ali um reforço ou mesmo, quem sa-
27 be, um reconhecimento. O fruto desse conjunto de ações estreitaram os
laços sociais das instituições e praticantes junto às chefias dos parques
o que geraram bons resultados como descrito no plano de manejo do
Parque Nacional da Tijuca (BRASIL, 2008, p. 256, 257):
O PARNA Tijuca se distingue da maioria das unidades de
conservação brasileiras pela intensidade da visitação e
diversificação de atividades, graças à participação da iniciativa
privada, em especial das operadoras de turismo, organizações
não governamentais e clubes de serviço, perfazendo um total
de 50 instituições que atuam nas atividades de uso público.
Vale citar que esse tipo de atuação não tem qualquer relação
com o Parque, as operadoras atuam de forma independente na
exploração dos atrativos turísticos do Parque, Tabela 66.
Tabela 66: Relação das Principais Operadoras, Agências e Clubes de Serviços de
Turismo que Atuam no Parque Nacional da Tijuca, Estado do Rio de Janeiro.
Operadoras Atividades Desenvolvidas
Azimuth Expedições Montanhismo
Curtirio Montanhismo
Ecobrax Montanhismo
Igarapé Expeditours Montanhismo
Jequitibá Turismo Ecológico Montanhismo
Limite Vertical Rapel/Escalada
Novos Rumos Montanhismo
Projeto Ecotribo Montanhismo
Qualitours Montanhismo
Rio Adventures Montanhismo
Rio Turismo Radical Montanhismo
Rio Hiking Montanhismo
Trilharte Ecoturismo Montanhismo
Tangará (Agência de Viagem Caminhadas Ecológicas
Centro Excursionista Light Montanhismo
28 UNICERJ – União de Caminhada, Escalada do RJ Montanhismo
Instituto Pedra da Gávea Montanhismo
Recorte adaptado da tabela 66 extraído do Plano de Manejo do Parque Nacional da
Tijuca.(BRASIL, 2008, p.257)
Podemos observar nessa tabela que parte significativa das instituições
que atuam nas atividades de uso público são de montanhismo ou pos-
suem atividades afins, ao todo 17 dos 50 citados, uma representativida-
de de 34%, este valor refere-esse somente as instituições citadas na
época em que foi feito o levantamento, nesse não consideramos outras
instituições que exercem as suas atividades, como também os monta-
nhistas que exercem seu lazer de forma isolada, ou seja, sem estar em
excursões oficiais.
Uma forma de legitimação das instituições de montanhismo como ativis-
ta junto ao poderes públicos é o reconhecimento pelo mesmo como
sendo de utilidade pública conforme visto nos casos do Centro Excur-
sionista Brasileiro, da capital do estado, de acordo com a lei n.º 345, de
19 de agosto de1980, que diz em seu Art. 1º “É considerado de utili-
dade pública o CENTRO EXCURSIONISTA BRASILEIRO, com sede
e foro no Município do Rio de Janeiro.”, e do Centro Excursionista
Friburguense, da região serrana do estado, de acordo com a lei n.º
2.742, de 16 de junho de 1997, como visto em seu Art.1º “Fica consi-
derado como de Utilidade Pública o CENTRO EXCURSIONISTA
FRIBURGUENSE do Município de Nova Friburgo.”.
Outra faceta do ativismo dos montanhistas são as ações cotidianas das
atividades desenvolvidas, uma vez que estes possuem suas imagens
associadas às instituições a qual pertence ou mesmo a todas de uma
forma generalizada. Suas práticas visam uma forma de educar pelo e-
xemplo surge na crença que todos podem atuar em cooperação em prol
do bem comum, do meio ambiente preservado, como vemos na afirma-
29 ção de Feitosa (2008b) “A sintonia com a natureza é importante. Todos deve-
riam saber que a preservação é o mais importante nessa nossa atividade” , no
contrário se sentem incomodados ao verem práticas agressivas ao meio,
práticas de poluição como é relatado na reportagem abaixo:
Sempre que faço trilha levo sacos plásticos extras comigo, para
catar o lixo que encontro pelo caminho e nesse dia não foi
diferente. Graças a pessoas que esquecem o respeito e o bom
senso em casa, meus sacos, com trocadilho e tudo, ficaram
cheios durante a trilha de volta a estrada.
(CARDOSO, Sandro. Escaladores ou Alpinistas? Jornal dos
Sports, Rio de Janeiro, 19 nov. 2008. Aventuras reais).
Outro caso relatado é o reflorestamento na Pedra Bonita no Parque Na-
cional da Tijuca como parte do CBM 2010 do Clube Excursionista Light,
em seu boletim informativo no artigo “Reflorestamento na Pedra Bonita”
n.º 367, página 13, do bimestre set/out (2010).
[...] nunca pensei muito sobre o sentido da vida, fico um pouco
confuso com tantos mistérios sem explicação. Mas arrisco
afirmar que a intenção é deixarmos um legado para o futuro.
[...]
Tivemos a chance de plantar uma mudinha durante a visita ao
reflorestamento da trilha da Pedra Bonita, marcada para
sábado, dia 29 de maio, como parte da aula prática de
caminhada do CBM 2010.
Assim podemos apontar as ações das instituições de montanhismo pau-
tadas majoritariamente pelas práticas exercidas tanto com institucional
quanto com suas representatividades menores que são seus membros,
representando em parte a sociedade civil organizada no âmbito da edu-
cação ambiental.
30
7 O MONTANHISMO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NUM CONTEXTO LEGAL
No decorrer desse trabalho abordamos um pouco sobre o montanhismo
através de uma visão a respeito das instituições e seus praticantes, dis-
correndo sobre seus caracteres de identidade e grupos, sua organização
e funcionamento enquanto organização da sociedade civil, seu processo
de formação e currículo de seus praticantes, suas concepções e ações
ambientais, como também sua relevância social.
Diante desses assuntos se faz viável e necessário um enquadramento
de suas ações no âmbito da educação ambiental sob os aspectos legais
com o intuito de apresentar questões suscetíveis de discussão pela so-
ciedade e em particular no âmbito acadêmico para que se possa cada
vez mais pensar as práticas ambientais como executar tais práticas pau-
tadas no pensamento acadêmico, pois, entendemos que uma educação
ambiental efetiva fora desses preceitos terá maiores dificuldades. Outro
ponto a ser levantado é a possibilidade de aproximar as áreas acadêmi-
cas a uma reflexão e prática ambiental como necessária a convivência
humana, como neste caso se apresenta esporte e lazer área de estudo
da Educação Física, através da multidisciplinaridade e interdisciplinari-
dade.
Para legitimar o direito de todos a um meio ambiente salutar a vida, ve-
mos na Constituição Federal (1988), Artigo 255:
Art. 255. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
31
Tendo este como ponto de partida vemos os montanhistas, antes de tu-
do, como cidadãos críticos que estão engajados em seus direitos e le-
vam este engajamento para dentro de sua prática de lazer com forma de
romper barreiras levando as pessoas a refletirem sobre os assuntos am-
bientais e surgem com isso produções formais e informais de conheci-
mento que vão sendo amplamente difundidos livros, produções científi-
cas e acadêmicas, sites, blogs, fóruns, informativos entre outros. Nesse
vemos apoio legal na (Ibidem, Artigo 5º, Incisos IV, IX e XIV):
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de censura
ou licença;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício
profissional;
Essas ações ganham maiores proporções e faz com que montanhistas,
afiliados ou não as instituições, e demais pessoas adeptas aos ideais e
questionamentos desse grupo organizem movimentos em prol do espor-
te como também as questões ambientais associadas. Um bom exemplo
disso é a Abertura da Temporada de Montanha que ocorre todos os a-
nos próximo ao início do outono, e no caso da cidade do Rio de Janeiro,
passando a compor o calendário oficial da cidade. Como relatado no o
artigo “Abertura de Temporada de Montanhismo” do boletim informativo
do Clube Excursionista Light (CEL), n.º 366, página 12, do bimestre a-
br/maio (2010).
Este ano a ATM entrou para o calendário oficial do Rio de
Janeiro. Acontecerá no próximo dia 25 de abril, a Abertura da
Temporada de Montanhismo 2010, na Praça General Tibúrcio,
32 localizada na Praia Vermelha (RJ) entre 9 e 18hsApós um
verão extenuante, atingimos o clima ideal para a prática do
montanhismo no Outono carioca, celebrando este momento
com uma grande reunião, em praça pública, no maior palco de
escaladas urbanas do mundo (Urca) – onde reúnem-se clubes,
federações, praticantes e interessados em montanhismo de
todo os Brasil.
Este tipo de movimento como as reivindicações e denúncias que ocor-
rem e/ou possam ocorrer deste grupo estão respaldadas na (Ibidem, Ar-
tigo 5º, Incisos XVI e LXXIII):
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em
locais abertos ao público, independentemente de autorização,
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada
para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência;
Ampliando a discussão para o âmbito institucional, vimos que estas re-
forçam os ideais cidadãos e suas reivindicações e dão a eles uma forma
de “identidade institucional” além da do grupo já constituído e lhes ofere-
ce melhores condições junto ao poder público, uma vez que apresenta
um grau maior de organização dentro da sociedade civil como descrito
(ibidem, Artigo 5º, Incisos XVII e XVIII):
33 XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de
cooperativas independem de autorização, sendo vedada a
interferência estatal em seu funcionamento;
Ao tratar de questões de cunho ambiental em ações, discussões, divul-
gações entre outras dentro de uma determinada organização, as institui-
ções de montanhismo colaboram com o poder público na promoção da
educação ambiental, uma vez que é dele, o poder público, essa incum-
bência. Vide (ibidem, Artigo 225, §1º, Inciso VI):
Art. 225. [...]
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público:
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de
ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente;
Não podemos deixar abordar que junto a toda essa discussão está as-
sociado o fator gerador que é o lazer através do esporte de montanha,
também associado em outros momentos como recreação, turismo eco-
lógico e por ser diretamente ligado ao ambiente natural permite uma
maior interação e possibilidades de interpretação ambiental apresentan-
do desta forma uma relevância legal como previsto em um dos objetivos
do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC
(Lei n.º 9.985/00 de 18 de julho de 2000.):
Art. 4o O SNUC tem os seguintes objetivos:
XII - favorecer condições e promover a educação e
interpretação ambiental, a recreação em contato com a
natureza e o turismo ecológico;
34 Diante desse cenário há e pode haver maiores contribuições de diversas
áreas do conhecimento, especialmente acadêmica, para as questões
ambientais e tendo em vistas o montanhismo ser uma atividades física,
encontramos um aliado para a produção de conhecimento e ações junto
a estas questões numa perspectiva multidisciplinar e interdisciplinar co-
mo os de cunho pedagógico, científico e demais previstos em lei, como
visto na Lei n.º 9.696/98 de 1º de setembro de 1998, Artigo 3º:
Art. 3o Compete ao Profissional de Educação Física, [...]
realizar treinamentos especializados, participar de equipes
multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes
técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de
atividades físicas e do desporto.
7.1 O Montanhismo no Âmbito da Educação Ambiental
No decorrer desta discussão foram apontados diversos pontos que sus-
tentam o montanhismo apresentado através de suas instituições e prati-
cantes com parte integrante da educação ambiental e agora caminha-
remos no sentido de afirmá-lo de forma legal e estabelecer uma compa-
rações sob seu âmbito de ensino.
Legalmente afirmando seu caráter citamos a Lei n.º 9.765/99 de 27 de
abril de 1999, Artigo 1º:
Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por
meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade.
35 Complementado pelo (ibidem. Artigo 3º, Inciso VI):
Art. 3o Como parte do processo educativo mais amplo,
todos têm direito à educação ambiental, incumbindo:
VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à
formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a
atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a
identificação e a solução de problemas ambientais.
No que tange sobre a modalidade de ensino educacional encontramos
na forma da lei o caráter formal e não-formal. Como visto em (Ibidem,
Artigo 2º):
Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e
permanente da educação nacional, devendo estar presente, de
forma articulada, em todos os níveis e modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não-formal.
Sendo assim podemos enquadrar, na forma da lei, as instituições de
montanhismo dentro do caráter não-formal uma vez que na referida lei o
caráter formal é tratado na Seção II “Da Educação Ambiental no Ensino
Formal”, do Capítulo II e definida no Artigo 9º que versa:
Art. 9o Entende-se por educação ambiental na educação
escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das
instituições de ensino públicas e privadas, englobando:
I - educação básica:
a) educação infantil;
b) ensino fundamental e
c) ensino médio;
II - educação superior;
III - educação especial;
IV - educação profissional;
V - educação de jovens e adultos
36 Como forma de validar a afirmativa de classificação das instituições de
montanhismo no contexto legal de caráter não-formal, suscitamos no-
vamente Lei n.º 9.765/99 de 27 de abril de 1999, Artigo 13, Incisos IV e
VII):
Art. 13. Entendem-se por educação ambiental não-formal
as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da
coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização
e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.
Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal,
estadual e municipal, incentivará:
IV - a sensibilização da sociedade para a importância das
unidades de conservação;
VII - o ecoturismo.
Cabe ressaltar que hoje já surge no debate acadêmico um terceiro cará-
ter de educação ambiental, o caráter informal e com a consolidação
desses novos estudos pode haver a possibilidade de enquadrarmos as
instituições de montanhismo nesse caráter ou mesmo por sua identidade
possuir característica de ambas, porém como não foi abordado nesse
estudo esta forma e, também, não constar em forma de lei posicionare-
mos nesse estudo as instituições de montanhismo como educação am-
biental não-formal.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As instituições de montanhismo apresentam em sua identidade uma
consciência ambiental coletiva entre seus integrantes como sendo marco
norteador sem os quais poderão tornar inviável suas atividades, quando
na não manutenção daquilo que os identifica e o mantém na condição de
montanhista. Logo poderá extinguir também a célula-base, o grupo,
37 criando um vazio em toda a relação indivíduo-instituição.
O crescimento das instituições possibilitou a criação de um espaço
relevante das discussões ambientais que podemos considerar como
uma força propulsora para a movimentações e/ou participação na
sociedade
Embora muitas vezes pontuais alguns cursos e outros processos de
ações educacionais apresentam certa regularidade e buscam, em boa
parte na figura dos guias, um processo de formação inicial e continuada
para o aperfeiçoamento de seus praticantes e do esporte..
Os conteúdos abordados pelos cursos seguem orientações da CBME e
FEMERJ e visa uma espécie de currículo mínimo comum sob
perspectiva de se alcançar o maior número possível de esportistas
através das vias institucionais e a possibilidade de desenvolver um
pensamento ambientalista dentro do esporte. Contudo reconhecem estar
cientes que estes processos não excluem em sua totalidade os riscos
oferecidos.
Esta discussão apontou diversos pontos que sustentam o montanhismo,
através de suas instituições e praticantes, como parte integrante da
educação ambiental. Possuindo um ativismo ambiental pautado
excessivamente pelas ações cotidianas, por usualidade e por
acreditarem, mesmo que indiretamente, contagiam os demais indivíduos
as boas práticas ambientais. Apontando, assim, para uma educação
ambiental alinhavada com o caráter não-formal, porém não sendo esta
uma proposição estática.
A luz destes conhecimentos buscou-se mostrar que há e pode haver
maiores contribuições de diversas áreas do conhecimento,
especialmente acadêmica, para as questões ambientais numa
38 perspectiva multidisciplinar e interdisciplinar com vistas à produção de
conhecimento de cunho pedagógico, científico e demais relacionados
como neste se encontram a educação ambiental e a educação física na
figura do esporte e do lazer.
39
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOCK, Ana M. Bahia. Psicologias: uma introdução ao estudo de psico-
logia. 13º edição. 7ª Tiragem 2004. São Paulo: Saraiva, 1999.
BOETIM INFORMATIVO [DO] CLUBE EXCURSIONISTA LIGHT. Rio de
Janeiro, Ano 52, n. 366, abril/maio. 2010.
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