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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O TRABALHO, A ALIENAÇÃO E O ADOECIMENTO PSÍQUICO
Por: Rosélia Carneiro Rocha
Orientador
Prof. Ana Claudia Morrissy
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O TRABALHO, A ALIENAÇÃO E O SOFRIMENTO PSÍQUICO
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre
– Universidade Candido Mendes como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em Gestão de
Recursos Humanos.
Por: Rosélia Carneiro Rocha
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e à minha família, pelo
apoio e compreensão neste momento de
dedicação a minha carreira. Agradeço
também aos meus amigos, pela ajuda de
indicações de bibliografias e por me
acompanhar neste percurso de
especialização.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus familiares,
amigos especiais, colegas de turma e mestres.
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RESUMO
Este trabalho tem como tema o trabalho como produtor de adoecimento. Este
aborda as diferentes concepções do trabalho humano, mostrando sempre o que há
de positivo e negativo neste. Diante da concepção mais relativa para o estudo deste
trabalho, mostra-se o sistema capitalista do modo que realmente é e as suas
conseqüências na vida produtiva do homem. O capitalismo após a Revolução
Industrial, movido pelo pela obtenção de lucro, faz com que o trabalho deixe de ser e
ter a visão imposta pelo Renascimento, ou seja, fonte de identidade e auto-
realização humana. O trabalhador passa a ‘vender’ o que possui sua mão-de-obra,
para garantir a sua sobrevivência e de sua família. A sua produção tornar-se
essencial para que seja possível aumentar a lucratividade daquela organização. A
partir do momento que o produtor não se reconhece em seu produto, diante das
condições que lhe são impostas, este torna-se um ser alienado. A alienação lhe traz
sofrimento, tendo como conseqüência o adoecimento psíquico e físico. E somente
através da reapropriação que o homem consegue se manter vivo e saudável.
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METODOLOGIA
Este trabalho foi pautado em revisão bibliográfica, com foco em autores que
desenvolveram literaturas sobre a alienação no trabalho. Sites da internet que
retratam os diversos sentidos da palavra trabalho também foram utilizados para o
desenvolvimento da monografia.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I - As diferentes faces do trabalho 10
CAPÍTULO II - Organização do trabalho no Capitalismo 17
CAPÍTULO III – A alienação no trabalho 27
CAPÍTULO IV – Da alienação ao sofrimento 34
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA 46
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INTRODUÇÃO
A origem da palavra trabalho possui, tanto um sentido positivo como um
sentido negativo. Em seu sentido positivo, o trabalho significa momento de criação,
construção do ser. Porém se pensarmos o trabalho em seu sentido negativo,
estaremos dizendo de castigo, de um instrumento de tortura.
Desde os primórdios da civilização o homem tem, como forma de extração
de seu sustento, o trabalho. Para suprir suas necessidades de alimento, abrigo e
vestimentas o homem vem criando formas de extração e acumulação cada vez mais
eficazes. Criou e aperfeiçoou ferramentas, formas de troca de produtos que não
possuía, enfim, ele criou maneiras de sobrevivência.
Com a evolução surge o modo de produção capitalista, é nele que surge a
fragmentação da tarefa, a divisão social do trabalho e as formas de controle. É
nesse momento também que o sujeito passa a vender sua força de trabalho, já que
não mais possui os meios de produção, lhe cabe apenas cumprir o que lhe é
determinado operando as máquinas.
A partir do Capitalismo, a necessidade de administrar os modos de
produção fica evidente, surge então as teorias de administração do trabalho: a
administração científica de Taylor e a teoria clássica de Fayol. Essas teorias
surgiram no início do século XX em um momento histórico, onde cresciam fábricas
de maneira desordenadas e com os mais diversos problemas.
Essas teorias introduziram formas de tornar o trabalho mais eficiente e
eficaz. É aqui que as medições de todos os processos de produção sofrem uma
maior fragmentação como forma de fazer aumentar a produção, maior
aproveitamento do maquinário, da matéria prima, e principalmente do trabalhador.
Tudo torna se mensurável e padronizado.
A maneira da organização do trabalho provoca no trabalhador um
desconforto ao desempenhar sua tarefa que, com o passar do tempo, esse pode
adoecer tanto física como psicologicamente. As pressões de produção por tempo, a
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divisão do trabalho, as padronizações, etc, enfim tudo que desapropria o sujeito de
si pode ser forma de promoção de adoecimento.
O trabalho torna – se, então alienado, exatamente pela cisão entre sujeito
e objeto. O distanciamento do objeto produzido, promovido pela divisão do trabalho,
é tão grande que, ao final o sujeito não se reconhece naquilo que produz. Aquele
parafuso que apertou não lhe faz mais nenhum sentido.
O tempo todo o que se tem são pressões das mais diversas ordens, onde
ao individuo não é dado o direito de pensar ou se quer opinar sobre a tarefa que
desenvolve. Ele deve ser um cumpridor de tarefas, um executor. Daí surge o
sofrimento, em virtude dessa impossibilidade de desenvolvimento das aspirações em
relação à qualificação.
Diante disso há uma ruptura; isso gera grande sofrimento no sujeito
quando não consegue criar formas de reapropriação. De fato, o objeto não lhe
pertence; o trabalhador apenas vende sua mão de obra ao capitalista que é dono
dos meios de produção e do lucro obtido através da exploração da força de trabalho.
A cisão entre sujeito e objeto, razão e afeto no campo do trabalho podem
promover grandes danos ao sujeito. Mas ele pode se reapropriar através dos vícios,
como o álcool, o esporte e outros, pois é nesse momento que ele se sente poderoso,
dono de si. Se não há formas reapropriação possíveis, pode levar o sujeito ao
adoecimento físico ou mental.
Pode-se dizer que as formas de organização do trabalho são ponto
fundamental no adoecimento do sujeito, através do trabalho. A forma como o sujeito
se percebe nesse meio e as situações a que está submetido são fatores que podem
de fato levar ao adoecimento.
Sendo assim o objetivo desta monografia é realizar o estudo sobre o
trabalho humano tentando verificar como ele pode ser fonte de adoecimento
dependendo das formas de organização do trabalho.
Ao longo da pesquisa pretende-se realizar um percurso histórico das
origens da palavra trabalho, levando em consideração as bases históricas do termo
e seus reflexos na cultura. Serão levantadas também as origens das formas de
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organização tendo como base as teorias de administração do trabalho. E por fim
demonstrando como o trabalho pode levar ao adoecimento, tomando como base as
formas de alienação.
O trabalho acadêmico é organizado através de capítulos, onde o capítulo
1 retrata as faces do trabalho, levantando sua visão positiva, os sentido religioso e
traços do Capitalismo. Seguindo, o próximo capítulo abrange a organização do
trabalho na produção Capitalista, destacando a Administração científica, de Taylor e
a Teoria Clássica da Administração, de Fayol. Já a alienação será abordada dentro
do segundo e terceiro capítulos, conceituando-a e demonstrando sua aplicabilidade
dentro do mundo do trabalho e seus reflexos. Quando se fala em alienação em
relação ao trabalho, diz-se de um distanciamento do indivíduo em relação àquilo que
produz, ele não se reconhece no fruto do seu esforço.
Diante das conseqüências das condições de trabalho humano, verifica-se
a importância de abranger nesta pesquisa o termo alienação, pois como já citado
acima, a psicodinâmica do trabalho se desenvolve no campo de alienação social.
A metodologia utilizada na pesquisa é a busca por bibliografias
pertinentes ao tema, ressaltando os autores que introduziram, na literatura, os
termos utilizados ao longo do trabalho.
Através dessa pesquisa, o que se pretende é buscar maior número de
informações sobre o adoecimento psíquico provocado pelo trabalho, suas origens e
suas conseqüências, fazendo com que seja possível, aumentar o conhecimento
sobre o assunto.
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CAPÍTULO I
AS DIFERENTES FACES DO TRABALHO
Ao pensar de maneira positiva no trabalho, estamos falando de um momento
de criação, de construção do ser, isto é, segundo Viegas (1989), pensar no trabalho
como labor. Labor está diretamente relacionado ao cultivo. “Cultivar é fazer cultura”
(VIEGAS, 1989, p. 1), ou seja, é o trabalho considerado como um processo de
transformação do sujeito que o faz.
Ao pensar na história da sociedade, observamos a evolução do trabalho dos
homens.O ponto de encontro entre o passado e o futuro, projetos e sonhos que se
materializam por e pelo trabalho, mostrando que o homem se construiu através do
próprio trabalho. Segundo Codo (1995), quando o trabalho permite ao sujeito criar
algo, ele se vê imortalizado no fruto de seu esforço, já que parte dele está impressa
no produto final. Nesse momento, o sujeito alterou a natureza, assim como também
sofreu mudança ao criar seu produto.”Transformamos a natureza, que também nos
transformou” (CODO,1995, p.14).
Para Braverman (1987, p.53), “o trabalho é a força que criou a espécie
humana e a força pela qual a humanidade criou o mundo como conhecemos”.Ainda
conforme descreve esse autor o trabalho evoluiu porque o homem, através da
cultura, dá continuidade experiência subjetiva acumulada, ou seja, ele é capaz de
guardar aquilo que aprendeu e promover desenvolvimento à partir de que já
conhece.
Segundo Codo (1995) o trabalho também é um modo de identificação com o
outro, pois ele nos insere num grupo, nos assemelha e nos diferencia dos outros
indivíduos, trazendo a significação de ambos.
Pelo trabalho, o homem transforma a natureza, e nessa atividade se
distingue do animal porque sua ação é dirigida por um projeto (antecipação da ação
pelo pensamento), sendo, portanto, deliberada, intencional.
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O trabalho estabelece a relação dialética entre a teoria e a prática, pela qual
uma não pode existir sem a outra: o projeto orienta a ação e esta altera o projeto,
que de novo altera a ação, fazendo com que haja mudança dos procedimentos
empregados, o que gera o processo histórico.
Além disso, para que o distanciamento da ação seja possível, o homem faz
uso da linguagem: ao representar o mundo, torna presente no pensamento o que
está ausente e comunica-se com o outro. O trabalho se realiza então, e sobretudo,
como atividade coletiva.
Desde os primórdios da civilização, o trabalho faz parte da vida das pessoas.
É claro que devemos considerar que seu grau de importância vem se alterando ao
longo do tempo. A concepção de trabalho como fonte de identificação e auto-
realização humana, foi constituída a partir do Renascimento. O trabalho adquire
então um significado intrínseco, “as razões para trabalhar estão no próprio trabalho e
não fora dele ou em qualquer de suas conseqüências” (ALBORNOZ, 1994, p. 59).
Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino procura reabilitar o trabalho
manual, dizendo que todos os trabalhos se equivalem, mas, na verdade, a própria
construção teórica de seu pensamento, calcada na visão grega, tende a valorizar a
atividade contemplativa. Muitos textos medievais consideram a arte mecânica uma
arte inferior.
Tanto na Antiguidade como na Idade Média, essa atitude resulta na
impossibilidade de a ciência se desligar da filosofia.
Na Idade Moderna, a situação começa a se alterar: o crescente interesse
pelas artes mecânicas e pelo trabalho em geral justifica-se pela ascensão dos
burgueses, vindos de segmentos dos antigos servos que compravam sua liberdade
e dedicavam-se ao comércio, e que portanto tinham outra concepção a respeito do
trabalho.
A burguesia nascente procura novos mercados e há necessidade de
estimular as navegações; no século XV os grandes empreendimentos marítimos
culminam com a descoberta do novo caminho para as Índias e das terras no Novo
Mundo. A preocupação de dominar o tempo e o espaço faz com que sejam
aprimorados os relógios e as bússolas. Com o aperfeiçoamento da tinta e do papel e
a descoberta dos tipos móveis, Gutenberg inventa a imprensa.
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No século XVII, Pascal inventa a primeira máquina de calcular; Torricelli
constrói o barômetro; aparece o tear mecânico. Galileu, ao valorizar a técnica,
inaugura o método das ciências da natureza, fazendo nascer duas novas ciências, a
física e a astronomia.
A máquina exerce tal fascínio sobre a mentalidade do homem moderno que
Descartes explica o comportamento dos animais como se fossem máquinas, e vale-
se do mecanismo do relógio para explicar o modelo característico do universo.
Se há muitos séculos o trabalho era obrigatório para escravos, hoje o que se
tem é uma grande necessidade de trabalhar para merecer o reconhecimento da
sociedade moderna e se manter vivo.
Marx (2003) toma como princípio que o trabalho é a atividade vital do
homem, ou seja, a base que fundamenta a realização do seu gênero. Marx
compreende que o homem expressa seu verdadeiro caráter genérico enquanto
trabalhador, na produção e reprodução de sua vida material.
A vida produtiva, entretanto, é a vida genérica. É a vida criando vida.
No tipo de atividade vital está todo o caráter de uma espécie, o seu
caráter genérico; e a atividade livre, consciente, constitui o caráter
genérico do homem (MARX, 2003, p. 116).
É a da maior significação, a esse respeito, ressaltar que a característica
fundamental dessa atividade é seu caráter consciente e livre. Pois é essa
característica que diferencia a espécie humana dos outros animais.
O produto final do trabalho, o esforço que é transformado em coisa física,
constitui a objetivação da vida genérica do homem. O homem criador percebe sua
própria imagem no mundo por ele criado, ele se identifica com a sua produção, pois
é o resultado do desejo, da vontade da sua consciência livre. “O produto do trabalho
é o trabalho que se fixou num objeto, que se transformou em coisa física, é a
objetivação do trabalho” (MARX, 2003, p.112).
A partir do trabalho, o homem transforma o ambiente para atender suas
necessidades; “a espécie humana partilha com as demais, a atividade de atuar
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sobre a natureza de modo a transformá-la para melhor satisfazer suas
necessidades” (BRAVERMAN, 1987, p. 49). Com isso, o meio em que imprime sua
força e capacidade de mudança, fica assim semelhante àquele que o modificou, o
homem.
O sistema que rege nossa sociedade hoje, o capitalismo, não cumpri as
necessidades humanas, ou seja, se mantêm na carência do cumprimento dos seus
próprios objetivos, já que é descartado o excesso de produção quando esta ameaça
atender as necessidades.
A constituição do homem, segundo Codo (1994, p.146), vem de sua relação
prática com a natureza. É essa relação que promove sua sobrevivência através das
ligações entre si pelo produto de seu trabalho. Ainda segundo o mesmo autor, “o
homem se transforma ao transformar, pelo domínio, a natureza, constrói a si
mesmo”.
As relações sociais, o tipo de roupa que veste, a forma de se comunicar etc.
tudo reproduz o dia-a-dia do sujeito que está inserido em um trabalho. “Cada gesto,
cada palavra, cada reflexão, cada fantasia traz a marca indelével, indiscutível de sua
classe social, do lugar que o indivíduo ocupa na produção” (CODO, 1994, p. 139). O
indivíduo se constitui pelo trabalho, sofre modificações em todo o seu contexto
sócio-econômico-cultural de acordo com a atividade laboral que exerce. O trabalho é
o meio de vida, e é o que torna este homem vivo e parecido consigo mesmo. Assim
estudando o trabalho na sua versão original, deslocando-o do regime que hoje
atende, encontramos o prazer por trabalhar e se reconhecer nele.
Por outro lado, a etimologia da palavra trabalho, segundo Viegas (1989),
significa fixar, enterrar no solo, e sua derivação significa pau ou palha. Tripalium, que
é a origem latina da palavra trabalho, é um instrumento de tortura. “instrumento feito
de três paus aguçados, algumas vezes ainda munidos de ponta de ferro, nas quais
agricultores bateriam o trigo, as espigas de milho, o linho, para rasgá-los e esfiapá-
los” (ALBORNOZ, 1994, p.10).Assim, podemos pensar que o trabalho recebeu uma
conotação negativa, que vem perpetuando ao longo dos séculos, em função de seus
vários sentidos negativos. “É que o trabalho é ao mesmo tempo criação e tédio,
miséria e fortuna, felicidade e tragédia, realização e tortura dos homens” (CODO,
1995, p.9).
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Temos também, no sentido religioso do trabalho, a concepção de que ele é
um castigo, pois, se Eva comeu a maçã que lhe era proibida, ela foi condenada ao
‘trabalho do parto’ e Adão foi condenado a conseguir, por si só, o sustento da
família. O homem, ao comer a maçã da sabedoria, quis equiparar-se a Deus, isto é,
libertar-se dele. Seu castigo foi a vida real, na Terra. A partir daí deveria lutar pelo
conhecimento partindo da ignorância, e não mais como dádiva divina, deveria. Isso
reforça ainda mais a concepção negativa que se tem do trabalho, trabalho como
castigo.
A noção de trabalho humano associa-se a um significado penoso, expresso, por exemplo, na formação cultural cristã, pela condenação de Adão no Velho Testamento, e gratificamente, expresso pela interpretação humanista do trabalho como mimesis do ato divino de criação (LIEDKE, 1997, p.272).
Com a introdução do capitalismo, o indivíduo passa a vender sua força de
trabalho, já que é a única “coisa” que possui e que serve ao dono dos meios de
produção. A mão-de-obra do trabalhador passa a ser vista e tratada como
mercadoria, é ela que é vendida ao capitalista, que detém os meios de produção, o
homem; “produz, mas não domina a técnica de produção” (CODO, 1995, p. 17).
Embora na história o surgimento da mercadoria seja bem anterior ao desenvolvimento do capitalismo, é no capitalismo que ela ganha sua forma mais completa, assumindo uma face universal no sistema capitalista. Nas sociedades escravistas feudais já havia mercadoria, mas não havia pelo menos enquanto forma de trabalho transformado em mercadoria (CODO, 1995, p.30).
Quando o capitalista assumiu o comando e o trabalho se tornou organizado,
para Codo (1995), passa a existir uma cisão entre produto e produtor, o sujeito não
tem acesso àquilo que produz e só lhe é permitido consumir aquilo que não
produz.”O trabalho, modo de sobrevivência do homem, transformou-se em modo de
exploração de um homem pelo outro” (CODO, 1995, p.29).
Essa mercadoria, a força de trabalho, é o único capaz de produzir
excedente, a ‘mais-valia’ conceituada por Marx em ‘O Capital’, ou seja, segundo
Codo (1994, p.145) “o trabalho é vendido como qualquer mercadoria, pelo preço de
custo de sua produção (...) e pode ou deve produzir mais valor do que custou (...)”.
“Eu pago ao trabalhador que realiza o produto o necessário para que ele sobreviva e
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vendo o produto no mercado pelo valor que ele tem” (CODO, 1995, p.29). As
máquinas se desenvolvem ainda mais com a introdução do capitalismo, e o trabalho
mercadoria precisa gerar mais para que a mais-valia aconteça, ou seja, era
necessário desenvolver cada vez mais a maquinaria com o intuito de aumentar a
exploração da mão-de-obra.Como o salário se mantém o mesmo, cresce o lucro,
enquanto o trabalhador se afasta cada vez mais do seu produto, na medida em que
a tecnologia afasta dele os mecanismos de decisão sobre o próprio gesto. Então
diante deste cenário, Codo (1994) afirma que há uma fragmentação do trabalho para
que seja possível a redução do tempo gasto para produção de uma peça, mas o
trabalhador é obrigado a passar o mesmo número de horas na unidade fabril.
O sistema capitalista é um sistema centrado na mercadoria e no lucro. É na transformação do trabalho humano em mercadoria, através da mercantilização do trabalho, que o valor pode criara si mesmo, ou seja, o valor pode gerar mais valor. Esta mais-valia está organizada socialmente de maneira que o trabalho é coletivo e a posse dos meios de produção é individual. Em outras palavras, a sociedade está dividida entre os donos dos meios de produção e os espoliados que só têm a força de trabalho para vender (CODO, 1995, p.41).
A produção capitalista separa o trabalhador dos meios de produção;
assim, capitalista e trabalhador estabelecem um contrato onde, por um determinado
período de tempo do dia, o empregado estará à disposição do empregador,
entregando sua força de trabalho para que peças sejam produzidas. O empregado
não possui outra maneira de ganhar a vida, precisa vender seu trabalho para que
possa se sustentar e à sua família.
Estando os homens disponíveis para vender a sua própria força de trabalho no mercado, foi possível a apropriação do trabalho humano e sua transformação em mercadoria, o que, em última instância define o próprio capitalismo (CODO, 1995, p.30).
No modo de produção capitalista, temos a divisão do trabalho. Essa divisão
é muito importante, pois é ela que permite a existência da mercadoria, já que agora
uns dependem da mercadoria produzida por outros. A satisfação de necessidades
do indivíduo agora depende dos outros para que seja saciada. Não existe mais a
auto-suficiência característica do feudalismo.
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A necessidade do consumo segundo Codo (1995) cria necessidades de
produção, além de satisfazer o destino das mercadorias. A produção por si só já é
consumo dos meios de produção, é consumo de força de trabalho, e é condição
para a própria produção, pois em consumo não há produção e vice-versa.
Quanto mais o tempo passa, mais ainda torna-se imprescindível que o
capitalista detenha todo o controle sobre o trabalhador, pois só assim ele poderá
obter aquilo que precisa daqueles que lhe vendem a força de trabalho. É com a
extração máxima de força do trabalhador que o capitalista poderá chegar ao lucro
que quer.
Torna-se portanto, fundamental para o capitalista que o controle sobre o processo de trabalho passe das mãos do trabalhador para as suas próprias. Está transição apresenta-se na história como alienação progressiva dos processos de produção do trabalhador; para o capitalista, apresenta-se como o problema de gerência. (BRAVERMAN, 1987, p. 59)
A alienação toma conta do processo produtivo; além de não ser o dono dos
meios de produção, o trabalhador não sabe qual o resultado de seu esforço e fica
submetido ao que o capitalista quer dele; sugar toda sua energia na produção da
mais-valia.
Surge a necessidade de controlar, prever, fragmentar todo o processo de
trabalho de um sujeito dentro de uma cadeia produtiva. Na indústria, principalmente,
isso fica muito evidente. Os sujeitos são obrigados a se sujeitar às regras do patrão.
O trabalho se torna completamente fragmentado e o sujeito não consegue saber o
que é produzido por si próprio. “A unidade de concepção e execução pode ser
dissolvida. A concepção pode ainda continuar e governar a execução, mas a idéia
concebida por uma pessoa pode ser executada por outra” (BRAVERMAN, 1987, p.
53).
Surgem as formas de administração do trabalho para que seja dominado
cada passo do processo, o que vai fazer do capitalismo aquilo que se vê hoje:
produção excessiva e exploração da mão-de-obra.
CAPÍTULO II
A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO CAPITALISMO
Capitalismo
Cultiva guerras Destrói nações
Dinheiro e poder Suas razões Capitalismo
Um mal incurável Capitalismo
O homem é irresponsável
Capitalismo Destrói natureza
Mata animais Só o dinheiro importa
O restante são coisas banais Mal incurável Capitalismo
Ganância e ambição Em qualquer situação
Está gerando um caos na humanidade Esta é a triste realidade. (RATOS DO PORÃO)
Quando o capitalismo industrial surgiu, os trabalhadores, apesar de
prestarem serviço para um único capitalista, não se encontravam reunidos sob o
mesmo teto. Naquele momento, o que acontecia era a realização do trabalho de
forma disseminada: os artesãos produziam em suas casas ou oficinas. Havia um
capitalista que contratava um ‘artesão’ e este subcontratava várias pessoas para
fazer o trabalho. Segundo Braverman (1987), durante muito tempo pessoas eram
subcontratadas para fazer os serviços em suas próprias oficinas, que nada mais
eram do que aglomerados de pequenas unidades produtivas. Nesse momento, o
produtor ainda possuía o controle de seu modo de produzir, tinha liberdade de
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escolher quantas horas trabalhar por dia, a que horas começar e terminar seu dia de
trabalho.
Com a passagem do Feudalismo para o Capitalismo, o capital acumulado
permite a compra de matérias-primas e de máquinas, o que faz com que muitas
famílias que desenvolviam o trabalho doméstico nas antigas corporações e
manufaturas tenham de dispor de seus antigos instrumentos de trabalho e, para
sobreviver, se vejam obrigadas a vender a força de trabalho em troca de salário.
Com o aumento da produção aparecem os primeiros barracões das futuras
fábricas, onde os trabalhadores são submetidos a uma nova ordem, a da divisão do
trabalho com ritmo e horários preestabelecidos. O fruto do trabalho não mais lhes
pertence e a produção é vendida pelo empresário, que fica com os lucros.
Está ocorrendo o nascimento de uma nova classe: o proletariado.
No século XVIII, a mecanização no setor da indústria têxtil sofre impulso
extraordinário na Inglaterra, com o aparecimento da máquina a vapor, aumentando
significativamente a produção de tecidos. Outros setores de desenvolvem, como o
metalúrgico; também no campo se processa a revolução agrícola.
Porém, com o passar do tempo, os capitalistas perceberam que havia muita
perda de tempo e principalmente de produção, exatamente pela falta de controle da
mesma, já que se encontrava disseminada nas pequenas oficinas, onde os
“artesãos” determinavam como o trabalho seria feito.
Surgiu a necessidade de reunir os trabalhadores sob o mesmo teto para que
fosse possível aumentar o controle exercido sobre essas pessoas. Tudo isso exigia
funções de concepção e coordenação que na “indústria capitalista assumiram a
forma de gerência” (BRAVERMAN, 1987, p. 62). A partir desse momento, tudo
passa a ser controlado: os horários de parada, o descanso entre uma jornada e
outra de trabalho etc. Surge a necessidade de administrar.
O verbo to manage (administrar, gerenciar), vem de manus, do latim, que significa mão. Antigamente significava adestrar um cavalo nas suas andaduras, para faze-lo praticar manège. Como um cavaleiro que utiliza rédeas, bridão, esporas, cenoura, chicote e adestramento desde o nascimento para impor sua vontade ao animal, o capitalista empenha-se, através da gerência (manegement), em controlar” (BRAVERMAN, 1987, p. 68).
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Ainda segundo o mesmo autor, o controle é o fundamento principal das
teorias de gerência que surgem após a criação das grandes fábricas. Neste sentido,
conforme Morgan (1996) irá assinalar, a divisão do trabalho passou a ser uma
necessidade, o que desencadeou a falta de qualificação do funcionário. Dessa
forma, o funcionário executa tarefas repetidas, monótonas e gera uma
desarticulação do funcionário no processo como um todo.
à medida que os fabricantes procuravam aumentar a eficiência, reduzindo a liberdade de ação dos trabalhadores em favor do controle exercido por suas máquinas e supervisores. Novos procedimentos e técnicas foram também introduzidos para disciplinar os trabalhadores para aceitarem a nova e rigorosa rotina de produção na fabrica (MORGAN, 1996 p.25).
No início do século XIX, foram pensadas várias formas de chegar a uma
maneira eficiente de administrar; para isso, foi dada grande importância ao
planejamento e principalmente a divisão do trabalho.
A Abordagem Clássica da Administração, segundo Chiavenato (1993),
surge para suprir uma necessidade gerada pela Revolução Industrial. Com o
crescimento desordenado das empresas houve necessidade de abordagem que
substituísse o que predominava até aquele momento, que era o “empirismo e a
improvisação” (Chiavenato, 1993, p.81). A outra necessidade que surgiu após a
explosão da Revolução Industrial foi “aumentar a eficiência e competência das
organizações” (Chiavenato, 1993, p.81). buscando obter o melhor rendimento dos
recursos disponíveis, para que fosse possível concorrer com as demais empresas
que surgem nesse momento. É aqui que aparece a produção em massa.
Na produção coletivada dos trabalhadores contribuem na obtenção do
produto, mas nenhum deles domina o processo de produção, já que cada
trabalhador realiza apenas uma tarefa dentro da divisão do trabalho.”Os operários
produzem, mas não têm a mínima idéia de como se produz o produto que eles
mesmos fazem” (CODO, 1995, p.36).
O panorama industrial no inicio deste século tinha todas as características e elementos para poder inspirar uma Ciência da Administração: uma variedade incrível de empresas, com tamanhos
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altamente diferenciados, problemas de baixo rendimento do maquinário utilizado, desperdício, insatisfação generalizada entre os operários, concorrência intensa, mas com tendências pouco definidas, elevado volume de perdas envolvido quando as decisões eram mal formuladas etc (CHIAVENATO, 1993, p. 82).
A Abordagem Clássica da Administração compreende, segundo Chiavenato
(1993), duas grandes teorias: A Administração Científica, de Taylor, onde
preocupava-se em aumentar a eficiência da indústria por meio, inicialmente, da
racionalização do trabalho operário e a Teoria Clássica da Administração, idealizada
por Fayol, onde preocupada em aumentar a eficiência da empresa por meio da sua
organização e da aplicação de princípios gerais de administração em bases
científicas.
Taylor iniciou o seu estudo observando o trabalho do operário. Sua teoria
seguiu um caminho de baixo para cima, e das partes para o todo; dando ênfase na
tarefa. Para ele a administração tinha que ser tratada como ciência.
Frederick W. Taylor desenvolveu técnicas de racionalização do trabalho do
operários. Suas idéias preconizavam a prática da divisão do trabalho. A
característica mais marcante do estudo de Taylor é a busca de uma organização
científica do trabalho, enfatizando tempos e métodos e por isso é visto como o
precursor da Teoria da Administração Científica. Segundo Chiavenato (1993), Taylor
via necessidade de aplicar métodos científicos à administração para assegurar seus
objetivos de máxima produção a mínimo custo, para tanto seguia os seguintes
princípios, onde denominava-se Organização Racional do Trabalho:
• Seleção científica do trabalhador - O funcionário desempenha a
tarefa mais compatível com suas aptidões;
• Tempo padrão - O funcionário deve atingir a produção mínima
determinada pela gerência;
• Trabalho em conjunto - Os interesses da empresa e dos
funcionários quando aliados, resultam numa maior
produtividade;
• Gerentes planejam, funcionários executam;
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• Divisão do trabalho - A tarefa subdivide-se ao máximo, dessa
forma ganha-se velocidade, produtividade e o funcionário
garante lucro de acordo com seu esforço. Enfim, a idéia básica
era de que a eficiência aumenta com a especialização: quanto
mais especializado for um operário, maior será sua eficiência.
• Supervisão- Taylor propunha a chamada supervisão funcional,
que é a existência de diversos supervisores, cada qual
especializado em determinada área, e que tem autoridade
funcional, relativa somente à sua especialidade sobre os
mesmos subordinados.
• Ênfase na eficiência - Há uma única maneira certa de se fazer o
trabalho. Para descobrí-la, é necessário um estudo de tempo e
métodos, decompondo os movimentos das tarefas exercidas;
• Homem movido pelo dinheiro, Homo Economicus- Toda pessoa
é concebida como profundamente influenciada por
recompensas salariais, econômicas e materiais. Em outros
termos, o homem procura o trabalho não porque gosta dele,
mas como um meio de ganhar a vida por meio do salário que o
trabalho proporciona. O homem é exclusivamente motivado a
trabalhar pelo medo da fome e pela necessidade de dinheiro
para sobreviver.
• Condições de trabalho, ou seja, a eficiência depende também
de um conjunto de condições que garantam o bem-estar físico
do trabalhador e diminuam a fadiga.
• Padronização- A ORT se preocupou com a padronização dos
métodos de trabalho, através da seleção, por métodos
científicos, da melhor maneira de executar uma tarefa.
Preocupou-se também com a padronização das máquinas e
equipamentos, ferramentas e instrumentos de trabalho,
matérias primas e componentes, no sentido de reduzir a
variabilidade e a diversidade no processo produtivo e,
22
conseqüentemente eliminar o desperdício e aumentar a
eficiência.
• Princípio da exceção.
• Incentivos Salariais e Prêmios de Produção- A idéia básica
deste quesito era a de que a remuneração baseada no tempo
não estimulava ninguém a trabalhar mais e deveria ser
substituída por remuneração baseada na produção de cada
operário.
• Desenhos de cargos e salários - É a maneira pela qual um
cargo é criado, projetado e combinado com outros cargos para
execução das tarefas maiores. Pela descrição de tarefas e
cargos, e pela simplicidade de cargos, o ocupante pode
aprender rapidamente os métodos prescritos, exigindo um
mínimo de treinamento, permitindo um controle e
acompanhamento por parte do supervisor.
Em 1911, Taylor lança seu livro “Os Princípios da Administração Cientifica”,
que vai propor um aumento da produtividade através da “decomposição de cada
processo de trabalho em movimentos componentes e da organização de tarefas
fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempos e movimentos” (MAROCHI,
2002, p. 17). Taylor era obcecado pelo controle. Segundo levantado por Chiavenato
(1993), Taylor introduziu o controle com o objetivo de que o trabalho seja executado
de acordo com uma seqüência e um tempo pré-programado, de modo a não haver
desperdício operacional, certificando-se de que o trabalhador está executando as
tarefas de acordo com o método estabelecido e segundo o plano de produção.
A necessidade de planejamento ressaltado por Taylor (1911) desenvolve
intensa burocratização. Os burocratas são especialistas na administração de coisas
e de homens, estabelecendo e justificando a hierarquia e a impessoalidade das
normas. A burocracia e o planejamento se apresentam com a imagem de
neutralidade e eficácia da organização, como se estivessem baseados num saber
objetivo, competente, desinteressado. Mas é apenas uma imagem de neutralidade
que mascara um conteúdo ideológico eminentemente político: na verdade, trata-se
de uma técnica social de dominação.
23
É Taylor também o responsável pela criação do “princípio de separar o
planejamento e a organização da sua execução (...) divide o trabalhador” (MORGAN,
1996, p. 35). Para Taylor, os operários não passavam de “energia ou força requerida
para tocar a máquina organizacional” (MORGAN, 1996, p. 35); para ele, era
necessário simplificar ao máximo a tarefa, pois os trabalhadores tinham que ser
baratos, de fácil treino (entendendo treino como instrução para realização do
trabalho), facilitando a supervisão e a substituição. Desta forma acreditava-se que,
oferecendo instruções sistemáticas e adequadas aos trabalhadores haveria
possibilidade de fazê-los produzir mais e com melhor qualidade.
Quanto mais o trabalho se despersonaliza através da simplificação excessiva nas linhas de montagem, mais o trabalhador individual se despersonifica enquanto sujeito e, ao mesmo tempo, mais se identifica nãa apenas subjetiva, mas também objetivamente com seus pares (CODO, 1995, p.71).
Segundo Chiavenato (1993, p.92), o que Taylor fez para conseguir maior
produção, no menor tempo e de forma padronizada foi “substituir métodos empíricos
e rudimentares pelos métodos científicos em todos os ofícios”, ou seja, ele fez uma
análise do trabalho, onde visava obter métodos planejados e testados. Com essa
análise foi possível perceber onde havia desperdício de tempo, quais os movimentos
poderiam ser simplificados, racionalizados ou fundidos. Após muitos estudos houve
a padronização.
A padronização traz consigo a rotinização do trabalho. À partir dos estudos
dos tempos e movimentos foi possível chegar ao método da realização do trabalho,
que evitava perdas, desperdícios, não se permitia mais, a partir daquele momento,
executar a tarefa de maneira diferente do padrão. Além disso, há uma fragmentação
do trabalho, ou seja, o sujeito fica com uma pequena parte da tarefa, não sendo
possível vê-la como um todo.
Para Taylor, quem é capaz de decidir quem, quando, como e onde a tarefa
será realizada são os superiores do operário. “o bom operário não discute as ordens,
nem as instruções, faz o que lhe mandam fazer” (MORGAN, 1996, p.37).Há uma
repartição de responsabilidades: uma parte fica com a administração e o
planejamento e outra parte com a execução. E seu foco principal de estudo é o
operário e sem posto de trabalho.
24
Conforme assinalado anteriormente, outra teoria dessa abordagem é a
Teoria Clássica de Administração, que segundo Morgan (1996, p.27), tem como
principal teórico Henry Fayol, estudioso francês que crê na administração como
“processo de planejamento, organização, direção, coordenação e controle”.
Fayol viveu as conseqüências da Revolução Industrial e da Primeira Guerra.
Aos 25 anos já era gerente da empresa onde trabalhava; esta se encontrava em
situação complicada quando assumiu o comando. Porém, sua forma de
administração foi tão eficaz que, quando passou seu cargo, a empresa estava em
ótimas condições. Para ele, o fato de ter sido bem sucedido em sua forma de gestão
tem a ver com o método adotado.
Fayol divide a organização em seis funções essenciais: técnica, produção de
bens ou serviços da empresa; comercial, compra, venda, permutação ; financeira,
gerencia de capitais; segurança, proteção e preservação de bens e das pessoas;
contábil, inventários, registros, balanços, custos e estatísticas; e administrativa,
Coordenação e sincronização, sendo a função administrativa a mais importante pois,
é ela que dá um rumo a todas as demais.
Nenhuma das cincos funções essenciais precedentes tem encargo de formular o programa de ação geral da empresa, de constituir seu corpo social, de coordenar os esforços e de harmonizar os atos. Essas atribuições não fazem parte da função técnica, nem comercial, nem financeira, nem de segurança, nem de contabilidade. Elas constituem uma outra função designada habitualmente pelo nome de Administração (FAYOL, in CHIAVENATO, 1993, p. 142).
Segundo Chiavenato (1993, p.142), “Fayol define o ato de administrar
como sendo: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar”. Diante disso, é
possível perceber que há um enrijecimento: tudo passa ser padronizado. Quem é
pago para pensar define a tarefa e cabe aos executores apenas cumprir o que foi
determinado. É retirado do trabalhador o direito à criação, já que procedimentos
estão pré-estabelecidos e ele é apenas um executor. Há uma fragmentação; isso
gera funcionários mais especializados e aumenta a diferenciação das tarefas, pois,
para Fayol, aumentar a divisão do trabalho promoveria maior eficiência.
Segundo Chiavenato (1993), Fayol também tentou definir os Princípios
Gerais de Administração sistematizando-os em quatorze princípios:
25
• Divisão do trabalho
• Autoridade e Responsabilidade- direito de dar ordens e ser obedecido
• Unidade de Comando- autoridade única
• Subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais
• Disciplina
• Concentração de autoridade no topo de organização
• Linha de autoridade do nível mais alto ao mais baixo
• Unidade de Direção- Um plano para cada grupo com mesmo objetivo
• Remuneração de Pessoal
• Ordem, na sentido de organização;
• Eqüidade, onde todos são iguais, não respeitando as diferenças particulares;
• Estabilidade do pessoal- Baixa rotatividade dos trabalhadores;
• Iniciativa- visualizar um plano e assegurar seu sucesso
• Espírito de equipe
Esses princípios se mantêm nos dias atuais, quando falamos, por exemplo,
de administração por objetivos e alguns outros métodos que vão se preocupar com
planejamento e controle.
Após Taylor e Fayol surgiram escolas que aperfeiçoaram métodos de
seleção, adestramento e motivação dos operários. Essas escolas se interessavam
pelos estudos de condições que iriam induzir o trabalhador a cooperar mais no
trabalho, enquadrando-os.
A aclimatação aparente do trabalhador aos novos modos de produção surge da destruição de todos os modos de vida, a contundência das barganhas salariais que permitem certa maleabilidade dos costumeiros níveis de subsistência da classe trabalhadora, o emaranhado da rede da vida capitalista moderna que torna finalmente todos os outros meios impossíveis (BRAVERMAN, 1987, p. 133).
26
Os novos modos de administração destroem toda liberdade do individuo,
retira, inclusive seu poder para escolha de onde e com que atividade irá se manter
ativo. Segundo Codo (1995) para a sociedade capitalista, no trabalho ocorre uma
ruptura, uma quebra, um desvinculo entre o produto e o produtor. O trabalhador
produz o que não consome e consome o que não produz.
O trabalho perde sua materialidade, não há mais matéria no preço, o preço é abstração que independe da natureza. Na padaria, na loja, o que há são quantidades de trabalhos injetados em produtos de um lado e outro transformados em preço, trocados entre si. O trabalho virou uma abstração metafísica, trata-se de uma entidade social estritamente, passando a independer do indivíduo concreto que o realizou ou que o utiliza (CODO, 1995, p.26).
Além do que já levantado, segundo Codo (1995) o sistema capitalista, para
se manter, precisa que os cidadãos assumam os seus valores, e por isso se coloca
ao trabalhador com a promessa de ascensão social, levando-o à aspiração,
totalmente fantasiosa, de abandono da sua atual classe social. Porém esta “técnica”
atende a uma necessidade do sistema capitalista que demanda trabalhadores bem
comportados, padronizados, deslocando suas energia que deveria ser gasta em
reivindicações e dividindo a classe operária devido as diferentes ambições.
27
CAPÍTULO III
A ALIENAÇÃO NO TRABALHO
O operário em construção
Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia Da sua grande missão: Não sabia, por exemplo,
Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão. De fato, como podia
Um operário em construção Compreender por que um tijolo
Valia mais que um pão? Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria. Quanto ao pão, ele o comia,
Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia, À mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado
De uma súbita emoção Ao constatar assombrado Que todo naquela mesa
— Garrafa, prato, facão — Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário, Um operário em construção. (VINICIUS DE MORAES)
28
O conceito de alienação do trabalho foi formulado pela primeira vez nos
Manuscritos de 1844. Desde então este conceito passou a ocupar um lugar central
nas reflexões teóricas de Marx. Este já havia percebido os problemas da alienação
humana na sociedade burguesa em trabalhos anteriores. Mas é somente neste texto
que ele reconheceu pela primeira vez a alienação do trabalho como chave de todo o
complexo de alienações.
Marx (1844) inicia alegando que o trabalhador não cria sem a natureza, sem
o mundo exterior sensorial, já que é somente através deste que se concretiza o
trabalho, em que o trabalhador atua, com o qual e por meio do qual o produtor
produz coisas.
Como a natureza proporciona os meios de existência do trabalho, na acepção de este não poder viver sem objetos aos quais possa aplicar-se, igualmente proporciona os meios de existência em sentido mais restrito, ou sejam os meios de subsistência física para o próprio trabalhador (MARX, 1844).
Quanto mais o trabalhador se apropria do mundo externo por seu trabalho,
tanto mais se despoja de meios de existência sob dois aspectos: o mundo exterior
sensorial se torna cada vez menos um objeto pertencente ao trabalho dele ou um
meio de existência de seu trabalho; e ele se torna cada vez menos um meio de
existência na acepção direta, um meio para a subsistência física do trabalhador. Sob
esses dois aspectos, portanto, o trabalhador se converte em escravo do objeto:
primeiro, por receber o trabalho, e em segundo lugar por receber meios de
subsistência. Assim, o objeto o capacita a existir, primeiro como trabalhador/produtor
e depois como sujeito físico.
O conceito de alienação do trabalho gerou uma série de dificuldades na
compreensão do legado teórico de Marx. Há autores que sustentam que o conceito
de alienação consiste numa formulação que está presente apenas em Marx.
Mészaros (1970) observa que foi somente a partir do momento em
que Marx reconheceu a alienação do trabalho como a causa última de todo o
complexo de alienações, que se tornou absolutamente essencial o aprofundamento
dos conhecimentos das leis e dos mecanismos do sistema do capital, tarefa
indispensável para a revolucionária superação do sistema do capital.
29
Marx (1844) não considera a alienação do trabalho como uma determinação
ontologicamente inalterável da atividade produtiva. Para ele, a alienação do trabalho
é um fenômeno de caráter estritamente histórico, ligado a um modo determinado de
os homens se relacionarem entre si.
O fundamento deste fenômeno encontra-se na radical separação dos
produtores em relação às condições objetivas de produção. A partir deste momento,
os produtores se encontram numa situação de subordinação em relação àqueles
que detêm controle de tais condições.
A alienação se manifesta a partir do momento que o objeto fabricado se
torna alheio ao sujeito criador, ou seja, ao criar algo fora de si, o funcionário se nega
no objeto criado. As indústrias utilizam de força de trabalho, sendo que os
funcionários não necessitam ter o conhecimento do funcionamento da indústria
inteira, a produção é totalmente coletivizada, necessitando de vários funcionários na
obtenção de um produto, mas nenhum deles dominando todo o processo -
individualização.
Uma das características da produção social que ocorre nos marcos do
sistema do capital, consiste no fato de o trabalhador não mais se reconhecer nas
obras que ele próprio produz. Ele produz um mundo material que lhe é estranho e
antagônico. Sua atividade criativa, ao invés de enriquecer a sua existência, só faz
reforçar e ampliar o poder material que o domina. Essa alienação revela-se de forma
clara no contraste entre o mundo de riqueza criada pelos trabalhadores e a pobreza
da vida que levam.
Certamente o trabalho produz maravilhas para os ricos, mas produz privação para o trabalhador. Produz palácios, mas choupanas para o trabalhador. Produz beleza, mas enfermidade para o trabalhador. Substitui o trabalho por máquinas, mas atira uma parte dos trabalhadores num trabalho bárbaro e transforma outra parte em máquinas. Produz espírito, mas, para o trabalhador, produz a bestialização, o cretinismo (MARX, 1996, p.111).
A partir da análise do modo de produção capitalista, Marx (1844) apresenta
a alienação como constituinte do próprio processo de produção baseado na divisão
social do trabalho. Neste sentido, destaca duas formas de alienação concernentes
ao processo de trabalho: a primeira refere-se ao próprio produto do trabalho e a
30
segunda refere-se à atividade do trabalho. Na primeira forma, o produto do trabalho
no capitalismo, ao se transformar em mercadoria, torna-se objeto estranho para ao
próprio trabalhador: o trabalhador se relaciona com o produto de seu trabalho como
um objeto estranho porque ele passa a existir fora dele, ele o produz, mas não tem
sobre ele nenhum controle, ele o produz não para o uso, mas para outro, que lhe dá
valor de troca. Ao se tornar trabalhador, portanto, o sujeito humano se torna também
mercadoria, pois ao vender sua força de trabalho, incorpora-se ao produto do
trabalho, a mercadoria. A segunda forma, a atividade do trabalho, o ato da produção,
é também alienada no trabalho capitalista. A atividade do trabalho aliena o
trabalhador porque é exterior a ele. No processo de trabalho capitalista, o
trabalhador não decide sobre essa atividade, não tem controle sobre a organização
do tempo e da intensidade do trabalho. Essa é a relação do trabalhador com sua
própria atividade humana como algo estranho e não pertencente a ele mesmo, traz a
atividade como sofrimento, como uma atividade voltada contra ele mesmo.
Assim, o seu trabalho não é voluntário, mas imposto, é trabalho forçado. Não constitui a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras necessidades (MARX, 1993,p.162).
A alienação no trabalho é gerada na sociedade devido à mercadoria, que
são os produtos confeccionados pelos trabalhadores explorados, e o lucro, que vem
a ser a usurpação do trabalhador para que mais mercadorias sejam produzidas e
vendidas acima do preço investido no trabalhador, assim rompendo o homem de si
mesmo. "A atividade produtiva é, portanto, a fonte da consciência, e a ‘consciência
alienada’ é o reflexo da atividade alienada ou da alienação da atividade, isto é, da
auto-alienação do trabalho" (MESZAROS, 1981, p.76).
A alienação do trabalhador em relação aos produtos por ele criado á a
conseqüência da alienação do trabalhador em relação à sua atividade produtiva. Por
meio dessa alienação, o trabalho, ao invés de realizar o homem, torna-se uma
atividade produtiva. Por meio dessa alienação, o trabalho, ao invés de realizar o
homem, torna-se uma atividade de sacrifício e de martírio. Transforma-se em
trabalho forçado. Deixa de ser um meio de realização da essência humana, para se
converter num simples meio de manutenção de sua existência física, não como
homem, mas como uma mera personificação do trabalho.
31
A desvalorização do mundo humano aumenta na razão direta do aumento de valor do mundo dos objetos. O trabalho não cria apenas objetos; ele também se produz a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e, deveras, na mesma proporção em que produz bens (MARX, 1993).
Segundo Marx (1844), a alienação do trabalhador em seu produto não
significa apenas que o trabalho dele se converte em objeto, assumindo uma
existência externa, mas ainda que existe independentemente, fora dele mesmo, e
que com ele se defronta como uma força autônoma. A vida que ele deu ao objeto
volta-se contra ele como uma força estranha e hostil.
Ao alienar a sua atividade criativa e livre, o trabalhador aliena-se de sua
própria espécie, aliena-se de sua própria natureza humana. É no tipo de atividade
produtiva que se revela o caráter de uma espécie, o seu caráter genérico. No
homem, atividade produtiva que se revela o caráter de uma espécie, o seu caráter
genérico. No homem, a atividade produtiva se manifesta como uma atividade livre e
consciente. No entanto, sob o regime de alienação, a atividade genérica do homem
torna-se um simples meio de vida, um meio de conservação de sua existência física.
Sua vida genérica transforma-se num simples meio de vida individual.
Uma conseqüência imediata da alienação do homem em relação à sua vida
genérica é a alienação do homem em relação ao homem. Quando o homem se
contrapõe a si mesmo, ele também se opõe aos outros homens.
De uma maneira geral, dizer que o homem é estranho a seu ser genérico, é dizer que os homens se tomaram estranhos uns aos outros e que cada um deles se tornou estranho à essência humana (MARX, 1996, p.117).
Após Marx (1844) confrontar a economia política, lançando pela primeira vez
o termo ‘alienação no trabalho’ e suas conseqüências no cotidiano das pessoas,
Marx expõe pela primeira vez a alienação da sociedade burguesa – fetichismo, que
é o fato da pessoa idolatrar certos objetos (automóveis, jóias). O importante não é
mais o sentimento, a consciência, pensamentos, mas sim o que a pessoa tem.
Sendo o dinheiro o maior fetiche desta cultura, que passa a ilusão às pessoas de
possuir tudo o que desejam a respeito de bens materiais.
32
Assim verificamos também o problema da alienação se manifestando no
consumo. Marx (1996) observa um sentido positivo no aumento das necessidades
através da criação de novos objetos pelos processos de produção dominados pelo
capital. Mas não deixou de mostrar o outro lado desse processo: o da criação de
uma série de necessidades pobres e homogeneizadas. O capital estimula uma série
de necessidades, não como o objetivo de promover o desenvolvimento da
personalidade do indivíduo, mas apenas com o objetivo de atender a única
necessidade que realmente importa ao capital, valorizar-se. A alienação do
trabalhador na esfera do consumo pode ser resumida na seguinte frase: “O
trabalhador só deve ter o suficiente para querer viver e só deve querer viver para ter”
(MARX, 1978, p.18).
Há também a questão de alimentar a alienação, sendo outro prejudicial
perante o consumo, que se trata das propagandas de produtos, que desumaniza os
homens, tendo o objetivo de relacionar o produto com o consumidor, apropriando-se
dos homens, e atingindo seu propósito a partir do momento que o produto é
consumido, e a sensação de humanização entregue após a utilização.
Segundo Mészaros (2002) o capital é um sistema que precisa de
personificações que realizem a mediação de seus imperativos alienados. O que
aparece no trabalhador como atividade de alienação é condição de alienação da
personificação do capital. Nesse sistema, a personificação do capital revela-se um
ser social incapaz de tomar qualquer decisão autônoma. Ele é um simples “servidor
do capital”, onde toda a sua liberdade restringe-se tão somente em escolher os
melhores meios de realizar os objetivos que o sistema lhe determina. “Sua alma é a
alma do capital” (MÈSZAROS, 2002, p.271).
Para Marx (1978), a alienação é um fenômeno que está ligado a um
determinado período da história social humana, e não uma determinação ontológica
da própria atividade produtiva. Por isso, não deixa de identificar as possibilidades de
separação artificial imposta historicamente entre o produtor e as condições objetivas
de produção. Somente quando isso ocorrer, deixará de existir a divisão estrutural
hierárquica que suborna o trabalho ao capital e, junto com ela, o próprio sistema de
metabolismo social do capital.
33
Em síntese, para melhor compreender o problema da alienação é importante
observar sua dupla contradição. Por um lado, há a ruptura do indivíduo com o seu
próprio destino e há uma síntese de ruptura anterior, que apresenta novas
possibilidades de romper à mesma alienação. O outro lado se apresenta como uma
contradição externa, sendo o capital tentando tirar suas características como
humano, que leva o homem a lutar pela reapropriação de seus gestos.
O problema da alienação permanece tão atual hoje como nos tempos de
Marx. Nenhuma transformação verificada nesse sistema ao longo de sua história
alterou a sua essência radicalmente alienada. Independentemente do grau de
desenvolvimento das formas que o sistema do capital assume, sua natureza é
sempre a mesma, segundo Marx (1998).
Enfim, a alienação no trabalho é constituída pelo trabalho externo ao
trabalhador não fazer parte de sua natureza, e por conseguinte, ele não se realizar
em seu trabalho mas negar a si mesmo; ter um sentimento de sofrimento em vez de
bem-estar; não desenvolver livremente suas energias mentais e físicas mas ficar
fisicamente exausto e mentalmente deprimido devido aos seus afazeres. O
trabalhador, portanto, só se sente à vontade em seu tempo de folga, enquanto no
trabalho se sente contrafeito. Seu trabalho não é voluntário, porém imposto, é
trabalho forçado. O trabalho não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas
um meio para satisfazer outras necessidades.
34
CAPÍTULO IV
DA ALIENAÇÃO AO SOFRIMENTO
Segundo Codo (1995), Há vários sentidos para o conceito de alienação.
Juridicamente, significa a perda do usufruto ou posse de um bem ou direito
pela venda, hipoteca etc. Nas esquinas costumamos ver cartazes de marreteiros
chamando a atenção dos motoristas: ‘Compramos seu carro, mesmo alienado’.
Referimo-nos a alguém como alienado mental, dizendo, com isso, que tal
pessoa é louca. Aliás, alienista é o médico de loucos.
A alienação religiosa parece nos fenômenos de idolatria, quando um povo
cria ídolos e a eles se submete.
A soberania do povo é inalienável, isto é, pertence somente ao povo, que
não deve outorgá-la a nenhum representante, devendo ele próprio exercê-la. É o
ideal da democracia direta.
Na vida diária, chamamos alguém de alienado quando o percebemos
desinteressado de assuntos considerados importantes, tais como as questões
políticas e sociais.
Segundo Codo (1998, p.248), o sujeito alienado é “aquele que transfere para
outrem o domínio de si”, ou seja, O homem alienado é um homem desprovido de si
mesmo. É preciso entender como o homem se constrói, para que saibamos como
ele se nega. Foi através do trabalho que o homem se construiu, e este também lhe
nega.
No modo de produção capitalista, o que se tem é uma desapropriação do
sujeito em relação ao objeto produzido, o sujeito está alienado em relação ao
produto de seu trabalho. Isso significa que a humanidade impressa no produto pelo
trabalhador defronta a ele mesmo como coisa, como mercadoria. E imprimi a ele,
35
coisificando, a sua humanidade alienada, onde o produto aparece como pessoa e
com humanidade.
Ao transmitir o seu ser para o trabalho, e ao romper os elos entre ele e o produto, se transforma em coisa e transforma a coisa que produz em ser.Transmite humanização ao produto, mas se afasta dele, portanto, inverte a relação entre homem e objeto, o homem passa a ser objeto de produção, e o produto passa a ter a magia humana (CODO,1995, p.49).
Em decorrência da organização social do trabalho no capitalismo como
trabalho imposto, alienado, temos a alienação do homem com relação à natureza e
dos homens entre si. Essa cisão provoca outra: a cisão no interior do próprio sujeito.
O trabalhador, é, portanto, um homem unilateral; cindido em sua atividade vital; o
trabalho, não se desenvolve plenamente, não se realiza, mas se cinde. A realidade
objetiva da divisão do trabalho no capitalismo produz portanto sujetividades cindidas.
A alienação interioriza o antagonismo no homem.
No trabalho alienado essa identidade se transforma em antagonismo, o outro se apresenta a mim como um ser estranho, independente, irreconhecível. Alienação inventa a solidão humana, transforma cada um de nós em seres irreconhecíveis perante o outro, sem par perante a própria espécie (CODO, 1995, p. 33).
No capitalismo também o dono dos meios de produção controla o
trabalhador, define horários para as atividades do sujeito dentro da rotina de
trabalho, o que afeta diretamente sua vida fora dele. Para o mesmo autor, a
ideologia surge e se desenvolve nas relações de produção, ocupa papel importante
no capitalismo, onde o trabalho, mesmo alienado, passa a ser visto como um valor
supremo.”O homem se divorcia de si mesmo pela alienação e, o que não deixa de
ser irônico, a trilha que conduz o homem a perder-se é a mesma que o constrói - o
trabalho” (CODO,1995, p.19).
Para o operário pré-Tayloriano tudo se passava como se atividade motora
fosse regulada, modulada, equilibrada em função das aptidões e do cansaço do
trabalhador por intermédio da programação intelectual espontânea do trabalho.
Assim o corpo obedecia o pensamento, que por sua vez era controlado pelo
36
aparelho psíquico, lugar do desejo e prazer. O sistema Taylor age, de alguma
maneira, por subtração do lugar da atividade cognitiva e intelectual.
Até os devaneios aos quais os operários se livram são nefastos para a produção e seria conveniente um fim a isso através de um meio. Não só o espírito entregue à deriva distrai o operário de sua tarefa arriscando um alteração na qualidade e quantidade do trabalho mas também a imaginação liberta alimenta ilusões insensatas (DEJAVOURS, 1980, p.44).
Segundo Dejavours (1980) a organização do trabalho defronta-se com a
vida mental do trabalhador e, mais precisamente, com a esfera de aspirações, das
motivações e dos desejos. No trabalho artesanal que precedia a organização
científica do trabalho uma parte da organização do trabalho provém do próprio
operador. A organização temporal do trabalho, a escolha das técnicas operárias e os
instrumentos utilizados deveriam permitir ao trabalhador adaptar o trabalho às suas
aspirações e as suas competências.
A definição de trabalho como um trabalho alienado vem da cisão
promovida pelo modo de produção capitalista, que visa o lucro crescente, entre
homem e a mercadoria/produto.”Essa dupla relação – mercadoria e lucro – promove
a ruptura entre o homem e o seu próprio gesto, entre ação e o dono dela, entre o
trabalho e o seu produtor; eis como a alienação é gerada na nossa sociedade”
(CODO, 1995, p.31).O trabalho capitalista torna-se estranhado e alienado, na
medida em que suas relações sociais de produção colocam em contraposição
capital e trabalho.
Quando o produto do trabalho do homem se rompe, se separa e se
apresenta indiferentemente a ele, automaticamente este mesmo homem se aliena
da sua própria humanidade. A alienação, como um processo objetivo transforma a
mercadoria e o capital por ela gerado em produtores de si próprios, e transforma as
relações sociais entre pessoas em relação entre coisas (subordinadas ao capital) e
as relações entre coisas (mercadoria) se apresentam como relações entre pessoas.
O capital rouba do homem a sua própria transcendência, a sua historicidade, o
reconhecimento de si como ser histórico e universal. Historicamente, o
desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção proporcionaram
uma contradição dialética instaurada na apropriação do trabalho pelo capital.
37
“Capital e trabalho se opõem, mas não podem existir sem a presença do seu oposto,
dado que o capital produz o trabalhador e o trabalhador, o capital. Sua relação é um
confronto de contraposições em reciprocidado” (RANIERI, 2001, p. 33).
As relações de produção estabelecidas, contrapõem o caráter genérico do
homem à realização da sua atividade vital. Assim, o trabalho deixa de ser uma
escolha livre e consciente e perde sua característica essencial. Ora, o homem
também perde sua característica fundamental, enquanto ser genérico, enquanto
espécie humana.
Na medida em que o trabalho alienado tira do homem o elemento da sua produção, rouba-lhe do mesmo modo a sua vida genérica, a sua objetivação real como ser genérico, e transforma em desvantagem a sua vantagem sobre o animal (MARX, 2003, p. 117).
O trabalho alienado tem aspectos principais de manifestação, como:
O homem estranho à objetivação do seu trabalho, “a relação do homem
com mundo exterior dos sentidos, os objetos da natureza, na qual o ser humano é
compreendido como indivíduo estranhado desta última” (RANIERI, 2001, p. 13).
Marx denomina esse primeiro aspecto de “estranhamento da coisa”.
O homem estranho à sua própria atividade, o que expressa a relação do
trabalhador com o ato de produção, na qual o processo produtivo se torna alheio ao
homem. Ou seja, “a relação do trabalhador com sua atividade, estranha, alheia, que
não lhe oferece qualquer satisfação, a não ser no momento de vendê-la a alguém”
(RANIERI, 2001, p. 13). Segundo este mesmo autor é denominado por Marx como
“auto-estranhamento”.
O homem estranho ao seu ser genérico, onde o trabalho alienado
transforma o caráter genérico do homem em algo estranho a ele.
Trata-se do estranhamento do homem com relação a si mesmo como pertencente a um gênero, assim, como acontece com o estranhamento de sua existência (natureza) exterior e o estranhamento de sua existência espiritual (RANIERI, 2001, p. 14).
O homem estranho ao próprio homem e aos outros homens. É o
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estranhamento do homem com relação ao próprio homem, que se concretiza no
estranhamento do homem ao produto do trabalho dos outros homens. “é o
coroamento do estranhamento do homem com relação tanto à natureza como a si
mesmo, que é o estranhamento do homem na sua relação com a humanidade”
(RANIERI, 2001, p. 14).
Segundo Marx a alienação do homem não se manifesta apenas na
miséria dos trabalhadores, mas também o próprio capitalista é também um alienado,
desumanizado, pelo seu culto ao dinheiro. Os proprietários dos meios de produção
se alienam nas relações de mercado e são atingidos objetiva e subjetivamente ao se
submeterem à lógica desse mercado. O capital aparece para todos como
“naturalmente” determinante das vidas das pessoas e das classes sociais.
Esta alienação manifesta-se em que o refinamento das necessidades e dos seus meios de um dos lados provoca no outro lado o embrutecimento bestial, uma total e grosseira simplicidade abstrata da necessidade... Mesmo a necessidade de ar livre deixa de ser para o operário uma necessidade, o homem recomeça a habitar em cavernas, mas estas são agora envenenadas pelo ignóbil sopro pestilencial da civilização e o operário só as habitas a título precário. (MARX, 2003, p.202).
Com a introdução das teorias de administração, o processo produtivo
passou a ser controlado, medido. O capataz obrigava o trabalhador a produzir,
dentro de um período de tempo, um determinado número de peças. Porém o
operário não sabe o que produz, já que a tarefa foi fragmentada, só lhe cabe “torcer
um parafuso”. Não lhe é permitido pensar, deve apenas seguir aquilo que lhe foi
passado na instrução para a realização do trabalho.
Nenhum deles (trabalhadores) utiliza sua criatividade, seu raciocínio, suas capacidades humanas, em outras palavras, foram transportados em força de trabalho. Não é necessária nenhuma especialização para se realizar esse trabalho, qualquer ser humano o realizaria sem nenhuma habilidade anterior (CODO, 1995, p.38).
No mundo moderno, o trabalho se apresenta como uma padronização de
formas de agir, pensar e sentir do trabalhador. Segundo Rebouças (1989), no intuito
de aumentar a produção, o capitalista organiza o trabalho, elaborando e igualando
como cada produto deve ser produzido, elabora a escala hierárquica e molda as
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relações de trabalho. Ao trabalhador restou apenas a tarefa de executar. “O capital
transformou o trabalho em força de trabalho, eliminou habilidades humanas” (CODO,
1995, p.38).
No modo de produção capitalista, o trabalho se torna completamente
fragmentado, onde cabe a uns planejar, criar e a outros a execução de parte de um
produto que, na maioria das vezes o sujeito desconhece o final;
o trabalhador é despossuido de sua autonomia, onde o seu corpo deve funcionar (necessidades fisiológicas, movimentos, pensamentos e desejos) segundo enquadramento determinado pela gerência (REBOUÇAS, 1989, p. 37).
Um conflito é gerado. O corpo pede, mas é proibido de ser satisfeito. “O
processo de alienação radical, corresponde à morte no sentido psicológico, social e
mesmo físico” (CODO, 1995, p.70). A conseqüência disso é o surgimento de
manifestações patológicas, tanto no corpo como no psiquismo.
Ainda segundo o mesmo autor e obra, a grande simplificação das tarefas
leva o capitalista a necessitar de mão-de-obra desqualificada. O trabalhador sente
isso como “fator que promove embotamento da criatividade” (p. 35). Essa
desqualificação do trabalhador tem um motivo: ele precisa ser facilmente substituído.
“Uma vez simplificada a tarefa, o ritmo de trabalho é intensificado e a exigência da
produção é cobrada e controlada de várias formas” (CODO, 1989, p. 36).
O homem se constitui e é constituído através do trabalho. É nele que o
sujeito transforma e é transformado. No trabalho o sujeito se funda. Porém com a
introdução do capitalismo se separam criação e execução. “Foi através do trabalho
que o homem se construiu. Nossa herança e nossos projetos se materializam por e
pelo trabalho, ponto de interseção entre o passado e o futuro, sinônimo de história”
(CODO, 1997, p. 9). Entretanto, agora o sujeito se estranha diante daquilo que
produz, não se reconhece no produto de seu trabalho. Isso gera adoecimento do
sujeito e para tentar evita -lo o sujeito cria maneiras de se defender do mal que o
assola.
É que paralelamente à alienação, divórcio entre o homem e o produto do homem, foi se concretizando a cisão entre o trabalho e o afeto, a razão e a paixão: o afeto, a paixão, a liberdade, ficaram sitiados na reprodução da força de trabalho, expulsos da produção.
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Este homem, obrigado a recolher do trabalho os pedaços de sua subjetividade, (...), só pode expressar o seu sofrimento depois que soa o apito (CODO, 1998, p. 267).
De forma geral, o trabalho alienado tem como conseqüência imediata à
deterioração do indivíduo.
Já que o trabalho alienado aliena a natureza do homem, aliena o homem de si mesmo, o papel ativo, a sua atividade fundamental, aliena do mesmo modo o homem a respeito da espécie; transforma a vida genérica em meio da vida individual (MARX, 2003, p.116).
Assim, o homem passa a empregar sua vida produtiva em uma atividade
fora da sua liberdade consciente. Como se vê, se reverte à relação que o homem
teria com o trabalho, no sentido em que este se torna apenas um meio de vida.
Segundo Codo (1998) para tentar fugir do adoecimento, o sujeito busca
forma de reapropriação do objeto que lhe foi expropriado; é a ruptura sujeito-objeto,
inerente às formas de organização do trabalho, que vão causar o adoecimento do
sujeito. Ainda segundo o mesmo autor, o modo de produção separa afeto e razão,
então o sujeito busca tomar de volta o afeto através de outros meios, é o aumento
da erotização.
Existem mecanismos, formas de reapropriação buscadas pelos sujeitos
que procuram preencher a necessidade de retomada da tensão sujeito-objeto: os
mecanismos podem estar no nível real que é “quando exerce uma atuação de
retorno do locus da ruptura” (CODO, 1998, p. 264), ou pode estar no nível mágico,
que é “quando retoma o controle, instaura a reapropriação, na ausência do set que
desenha a ruptura e sem possibilidades de retorno à situação-locus” (CODO, 1998,
p. 264).
Ainda segundo o mesmo autor, “a ruptura sujeito-objeto retira o controle
do indivíduo sobre o seu meio e sobre si mesmo” (p. 265) e se esse trabalhador
reapropriar-se apenas solitariamente ele estará à beira do adoecimento mental. “O
trabalho é o momento significativo do homem, é a possibilidade da felicidade, da
liberdade, da loucura e da doença mental” (CODO, 1998, p. 267), ou seja, no
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trabalho o homem transforma a si mesmo e ao seu meio, é ali que ele se reconhece,
produz significados e só se realiza quando se torna outro, quando transcende.
O adoecimento psíquico se dá quando falham os modos de
reapropriação. Para Codo (1998) a ruptura é a base para que ocorra o sofrimento
psiquico, mas isso só vai acontecer se o sujeito não encontrar modos de
reapropriação.
É possível pensar, como já foi dito, que o trabalho constitui e é constituído
pelo homem, é fundante do indivíduo, se o sujeito não possui aquilo que produz, há
uma ruptura entre ambos e se os modos de burlar isso não conseguem ser eficazes,
há o adoecimento do sujeito. O modo de produção capitalista visa o lucro e faz,
através do sujeito, com que isso seja possível. Explorando a mão de obra,
fragmentando a tarefa, empregando e desempregando sujeitos ao sabor da
necessidade, a forma de organização do trabalho faz com se tenha a cada dia mais
sujeitos adoecidos, pois cinde sujeito do objeto produzido, sem proporcionar formas
de reapropriação.
“De acordo com Marx, uma vez que a atividade vital deixe de ser
regulada com base na propriedade privada e na troca, ela irá adquirir o caráter de
atividade do homem como ser genérico” (MÉSZÁROS, 2006, p.132). A reposição da
atividade do homem livre e consciente só pode ocorrer mediante a suplantação da
divisão do trabalho, da mercadoria, do dinheiro, do lucro, do trabalho assalariado, da
mais-valia, etc. Em suma, somente mediante a supressão das categorias
capitalistas.
Não se pode esquecer também que num mundo em que predomina a
produção alienada, também o consumo tende a ser alienado. A produção em massa
tem por corolário o consumo em massa.
O problema da sociedade de consumo é que as necessidades são artificialmente
estimuladas, sobretudo pelos meios de comunicação de massa, levando os
indivíduos a consumirem de maneira alienada.
A alienação é, portanto, ao mesmo tempo um fenômeno objetivo e
subjetivo, individual e coletivo, e não pode por isso ser superada apenas em uma de
suas dimensões. Portanto, a consciência da condição alienada não pode por si
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própria promover a superação da alienação. A consciência da alienação pode
significar uma mudança individual e subjetiva, no entanto, incapaz de promover a
transformação do mundo real. Decorre dessas considerações que o enfrentamento
da alienação se faz pela práxis, que é ação prática refletida, pensada
historicamente, ou, como diz Marx (1980) “a prática eivada de teoria”, o que nos leva
a pensar nas relações entre teoria e prática.
A relação entre teoria e prática é uma relação simultânea e recíproca, por meio da qual, a teoria nega a prática enquanto prática imediata, isto é, nega a prática como um fato dado, para revelá-la em suas mediações e como práxis social, ou seja, como atividade socialmente produzida e produtora da existência social (CHAUÍ, 1984, p. 81).
Segundo Dejavours (1980) a organização do trabalho exerce, sobre o
homem, uma ação específica, cujo impacto é o aparelho psíquico. Diante de
algumas situações, emerge um sofrimento no trabalhador que pode ser atribuído ao
choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperanças e
desejos, e uma organização de trabalho que os ignora. Esse sofrimento, de natureza
mental, inicia quando o homem, no trabalho, já não pode fazer nenhuma
modificação na sua tarefa no sentido de torná-la mais adequada as suas
necessidades fisiológicas e desejos psicológicos.
Considerando a importância do trabalho na sociedade, a questão é saber
que tipo de homens a esta fabrica através na organização atual do trabalho.
Entretanto, o problema não é criar novos homens, mas encontrar soluções que
permitiriam pôr fim à desestruturação de um certo número deles pelo trabalho.
Enfim, Dejavours (1999), o trabalho precisa estar integrado à vida, ter um
sentido, não pode se restringir a ser um meio de sobrevivência. O indivíduo precisa
vislumbrar a possibilidade de realização dos seus planos e projetos, desvinculados
do mero acesso a bens materiais e suas simbologias. Uma atividade profissional que
incorpora um significado intrínseco, que tem valor por si mesma, ajudará na
construção de uma nova sociabilidade, marcada por valores éticos. No entanto, isto
também exige uma outra antítese das condições atuais, isto é, trabalho para todos.
O mundo do trabalho torna-se, de forma rápida e surpreendente um complexo monstruoso, que se por um lado poderia ajudar, auxiliar o
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homem em sua qualidade de vida, por outro lado, patrocinado pelos que mantém o controle do capital, da ferramenta diária que movimenta a escolha de prioridades, avassala o homem em todos os seus aspectos (HELOANI, 2003, p.102).
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CONCLUSÃO
A teoria econômica tem passado por diversos momentos polêmicos de
fundamental importância para a sua evolução. O sistema Capitalista desde sua
implantação tem realizado mudanças da relação produtor x produto.
A obsessão pelo lucro e a ideologia vão influenciar também o
comportamento dos homens na sociedade. O lucro é uma categoria econômica
basicamente aplicável a ao processo de produção capitalista. As suas
conseqüências vão se fazer sentir nas relações entre os homens, na ideologia da
sociedade.
Se, por um lado, o capitalista busca o lucro a qualquer preço e para isso tem
de competir com outros capitalistas, o trabalhador também terá de competir com
outros trabalhadores para conquistar uma melhor posição no mercado de trabalho.
O trabalhador, que vende a sua força de trabalho para o capitalista, vai
receber o mínimo salário possível e lhe será exigido o máximo de produtividade. Isso
não significa que o capitalista é um homem mau que quer explorar o trabalhador. O
sistema é que assim o exige.
Diante deste contexto a realização do trabalho aparece como desrealização
do trabalhador, a objetivação com perda e servidão do objeto, a apropriação como
alienação.
A alienação do trabalhador no seu produto significa não só que o trabalho se
transforma em objeto, mas que existe independentemente fora dele e a ele estranho.
O reconhecimento perante a sua produção não mais existe, e este fator lhe
proporciona o sofrimento.
A reapropriação foi levantada por autores distintos como forma de o homem
se reencontrar, ou seja, de se reconhecer. Ele poderá, através de diversas formas,
se sentir como dono de sua própria identidade.
A reapropriação deve ser estudada com detalhes já que através dela
verificamos o início de questões sociais que hoje afetam grande parte da população.
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As conseqüências dos atos de reapropriação podem ser negativas para a sociedade
e, principalmente, para o ator desta.
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BIBLIOGRAFIA
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