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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE Trilhando Caminhos Necessários: repensando uma proposta psicopedagógica centrada na afetividade e nas relações educacionais. Por: Valéria Silva Bernardo Orientadora Profª Maria da Conceição Maggioni Poppe Rio de Janeiro 2010 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Trilhando Caminhos Necessários:

repensando uma proposta psicopedagógica centrada na

afetividade e nas relações educacionais.

Por: Valéria Silva Bernardo

Orientadora

Profª Maria da Conceição Maggioni Poppe

Rio de Janeiro

2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Trilhando Caminhos Necessários:

repensando uma proposta psicopedagógica centrada na

afetividade e nas relações educacionais.

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicopedagogia Institucional.

Por: Valéria Silva Bernardo

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AGRADECIMENTOS

A DEUS pela vida e por estar sempre ao meu lado nas horas que os meus ideais pareciam inatingíveis. A minha mãe, marido e filhos que souberam compreender os motivos da “minha ausência” e conseguiram transmitir o carinho e a força necessários para eu continuar. Ao meu pai (in memória) que de onde estiver está, com certeza, orgulhoso de mim. Aos meus amigos que sempre ao meu lado valorizaram a importância da educação continuada para o meu dia a dia profissional Aos professores do curso de Psicopedagogia da UCAM que me ajudaram na construção de novos conhecimentos e ser hoje uma pessoa melhor.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à equipe da creche escola EMA E BEATRIZ, pois lá, enquanto coordenadora pedagógica,posso concretizar e orientar toda a comunidade escolar sobre a importância do afeto nas relações sociais e na aprendizagem humana.

RESUMO

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As questões sobre afetividade, vínculo nas relações entre os indivíduos,

devem ser discutidas e inseridas no cotidiano das escolas. Uma vivência

afetiva entre professores, alunos e pais dá a oportunidade de o sujeito

aprender a cuidar de si mesmo, das pessoas que o cercam, da sua

comunidade, da sua cidade, do seu país. Entender o outro e as relações

sociais são aprendizagens necessárias e fundamentais para o

desenvolvimento pleno do ser.

Cuidar adequadamente dos outros como de si mesmo pode ser o início

de uma grande transformação, tanto do ponto de vista individual como do

ponto de vista social. E é nisso que consiste o objetivo deste trabalho --

Trilhando Caminhos Necessários: repensando uma proposta psicopedagógica

centrada na afetividade e nas relações educacionais.

Tratar das questões referentes ao ato de cuidar e educar, tais como: a

importância da afetividade, condição fundamental, o papel da família, da

sociedade e da escola na formação de um indivíduo afetivo, a importância do

afeto nas relações sociais dentro e fora da creche escola, a neurociência e a

afetividade e entender o papel da afetividade e sua função na inteligência.

Como Piaget explica por meio de uma metáfora, afirmando que “a

afetividade seria como a gasolina, que ativa o motor de um carro, mas não

modifica sua estrutura” (Jean Piaget 1954-1980,.p.5). Ou seja, o motor não

funciona sem o seu combustível, assim como as estruturas mentais não

funcionam sem a afetividade. A afetividade é a mola propursora do

funcionamento mental.

Neste sentido, o tema que move esta monografia, procura compreender

alguns elementos que nos auxiliam a pensar a afetividade e o desenvolvimento

da inteligência caminhando juntos, uma ação que necessita ser praticada

urgentemente e que pode ser instaurada, sobretudo pelo intermédio do

Psicopedagogo Institucional no ambiente Escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Vínculo, Afetividade, Aprendizagem e Psicopedagogia

Institucional

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METODOLOGIA

A metodologia do presente estudo está ancorada tanto pela observação

do trabalho de campo realizado com professores, estudantes de

Psicopedagogia, bem como pela análise de livros e periódicos atuais, baseado

nas pesquisas de autores como Miguel Arroyo, Alicia Fernandéz, Marta Relvas,

Jean Piaget, Pichon-Riviére, Jorge Visca, Vygotsky, entre outros e também

pela minha experiência profissional atuando em creches e escolas na

educação de base, mais especificamente na Educação Infantil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

CAPÍTULO I - REPENSANDO AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA: ENFOQUES E TRAJETÓRIA ............................ 1ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

CAPÍTULO II - AFETIVIDADE E O VÍNCULO NO ENSINO APRENDIZAGEM: COM O

CORAÇÃO NAS NUVENS .........................................................................................16

Erro! Indicador não definido.CAPÍTULO III - AFETO E EDUCAÇÃO: UMA UNIÃO

NECESSÁRIA......................35

CAPÍTULO IV - A CRECHE-ESCOLA É UMA HISTÓRIA DE AFETO.......................49

CONSIDERAÇÕES

FINAIS........................................................................................Erro! Indicador não

definido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

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INTRODUÇÃO

Há anos o sistema educacional não se reestrutura, porém o mundo se

modifica, as mudanças tecnológicas avançam e os problemas, dúvidas

aparecem no ponto mais fraco das famílias, nas crianças. Mas há mais ou

menos 20 anos surge a Psicopedagogia, para preencher a lacuna aberta no

processo de aprendizagem escolar.

Processo este que se dá, segundo Piaget no desequilíbrio (SEBER apud

PIAGET,1973, p. 192), e como a vida não se equilibra jamais, somos movidos

pelos desejos e jamais saciados, a Psicopedagogia tem muito trabalho pela

frente.

Somos seres formados por três dimensões relacional, cognitiva e afetiva

e temos que lembrar que este processo acontece de forma integrada.

O que importa, no entanto, é que fique claro para nós futuros

psicopedagogos, que o vínculo estabelecido como nosso cliente, que assim

como nós e constituído, por essas três dimensões e possuímos subjetividade.

A subjetividade se constitui, então, no campo do outro. O outro como ser

social está inescapavelmente no horizonte de toda experiência humana. Aqui é

fundamental o conceito de vínculo, como essa estrutura complexa e

multidimensional que abriga maneira de pensar, sistemas de pensamentos,

afetos e modelos de ação, sentir e fazer com o outro, que constituem as

primeiras sustentações do sujeito e as primeiras estruturas identificatórias que

darão início à realidade psíquica da criança. Não só a trama vincular a abriga;

é condição de sobrevida deste ser que nasce prematuro, incapaz de sobreviver

sem a assistência do outro social: a trama vincular é a própria base iniludível

“O pior dano que se pode fazer a uma criança

é levá-la a perder a confiança em sua própria

capacidade de pensar.” (Freire, 1992)

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para a confirmação de nossa identidade. Sem a presença do outro se desnuda

a fragilidade sobre a qual está constituído o reconhecimento do "si-mesmo" e a

identidade do sujeito. Isto conhece bem os que implantam as celas de castigo

que costumam devastar seus inimigos mediante a privação de estímulos

sensíveis e pela ausência de todo contato humano. Isolados do mundo,

tendemos e desmoronar.

Neste sentido a presente monografia terá como problemática norteadora

a seguinte indagação: ”Como pensar uma proposta psicopedagógica centrada

na afetividade e nas relações educacionais?

Estruturada em quatro capítulos este estudo buscar-se-á em um

primeiro instante, com a confecção do Capítulo I repensar no como o

psicopedagogo pode auxiliar a Instituição Escolar.

Já o segundo Capítulo, terá como objetivo principal conhecer sobre a

teoria do vínculo, das relações humanas no processo de aprendizagem e como

a afetividade é estudada pela neurociência

Com o Capítulo III objetiva-se então repensar acerca da afetividade em

um sentindo amplo, refletindo acerca da sua importância nas relações de

aprendizagem.

E para finalizar este trabalho com a confecção do Capítulo IV buscar-se-

á em repensar no como o psicopedagogo pode auxiliar a Instituição Escolar.

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CAPÍTULO I

REPENSANDO AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA: ENFOQUES

E TRAJETÓRIA

Na Europa, em 1946, J Boutonier e George Mauco, fundaram os

primeiros Centros Psicopedagógicos unindo medicina e pedagogia,

trabalhando nas áreas de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia. Estes Centros

tentavam readaptar As crianças com comportamentos inadequados para a

sociedade, que geravam problemas de aprendizagem eram enviadas para

tratamento nestes centros.

Os estudos feitos com a visão das três áreas Psicologia, Psicanálise e

Pedagogia, eram realizados caso a caso na intenção de reeducar, ou seja,

diferenciar, os que não aprendiam, mas eram inteligentes, dos que tinham

alguma deficiência mental, física ou sensorial diagnosticados cientificamente.

Estes centros apesar de terem um caráter médico pedagógico, foram

importantes para a Psicopedagogia.

O primeiro curso de Psicopedagogia e os Centros de Saúde Mental

iniciaram-se em Buenos Aires, capital da Argentina, a mais de 30 anos. O

trabalho era feito por uma equipe de psicopedagogos, que após um ano de

tratamento com seus “pacientes”, detectavam que ficavam sanados os

problemas de aprendizagem, porém adquiriam distúrbios de personalidade.

Resolveram então incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica.

O homem conquistou tudo o que sonhou e vive assustado com a dimensão da própria obra. A sociedade necessita de alfabetizadores emocionais, urgentemente. É necessário ensinar ao homem desta era, que ousa brincar tão ardentemente de Deus, a ler, interpretar e administrar as próprias emoções. Procuram-se digitadores da informática humana, técnicos capazes de ensinar a auto-estimulação dos hormônios que formam o padrão químico do bem estar. (BOECHAT, 2007 )

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Também na década de 70, a Psicopedagogia chegou ao Brasil, com o

objetivo de contribuir nas questões relacionadas ao fracasso escolar,

fracasso este associado a uma disfunção neurológica denominada de

disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste período, camuflando

desta forma problemas sociopedagógicos. Assim iniciaram em Porto Alegre,

com a duração de dois anos, cursos de formação de especialistas em

Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica.

Até os anos 80, onde não havia um corpo teórico próprio, a

Psicopedagogia tratava os sintomas relacionados a problemas de

aprendizagem.

Entre 80 e 90, baseando-se nos trabalhos de Piaget, o objeto de

estudo da Psicopedagogia passa a ser o processo de aprendizagem e a

preocupação em refazê-los. Nesta época, já apresentando conceitos

próprios.

Jorge Visca, professor argentino, um dos maiores contribuintes da

difusão psicopedagógica no Brasil, foi o criador da Epistemologia

Convergente, que tem suas bases nas escolas psicanalítica, Freud (dois ou

mais sujeitos com mesmo nível cognitivo e diferentes investimentos afetivos

em relação a um objeto aprenderão de forma diferente), Piagetiana(nenhum

ser pode aprender além do que sua estrutura cognitiva permite) e psicologia

social de Enrique Pichon Rivière(se ocorresse uma semelhança do cognitivo

e afetivo em dois sujeitos de diferente cultura, também suas aprendizagens

em relação a um mesmo objeto seriam diferentes, devido as influências que

sofreram por seus meios sócio-culturais) (VISCA, 1991, p. 66).

Na epistemologia convergente, todo o processo diagnóstico é

estruturado de modo a observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o

afetivo, de onde resulta o "funcionamento do sujeito".

Visca propõe o trabalho com a aprendizagem utilizando-se de uma confluência dos achados teóricos da escola de Genebra, em que o principal objeto de estudo são os níveis de inteligência, com as teorizações da psicanálise sobre as manifestações emocionais que representam seu interesse predominante. A esta confluência, junta, também, as proposições da psicologia social de Pichon Rivière,

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mormente porque a aprendizagem escolar, além do lidar com o cognitivo e com o emocional, lida também com relações interpessoais vivenciadas em grupos sociais específicos (França apud Sisto et. al. 2002, p. 101).

Visca implantou CEPs no Rio de Janeiro, São Paulo, capital e

Campinas, Salvador, e Curitiba. Deu aulas em Salvador, Porto Alegre, Rio de

Janeiro, São Paulo, Campinas, Itajaí, Joinville, Maringá, Goiânia.

Também em 1980, um grupo de profissionais já atuantes na área que

se preocupavam com os problemas do processo de aprendizagem, fundaram

a ABPp- Associação Brasileira de Psicopedagogia uma entidade de caráter

científico-cultural, sem fins lucrativos, que congrega profissionais militantes

na área da Psicopedagogia.

Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) dá um norte a esta

profissão. Ela é responsável pela organização de eventos, pela publicação

de temas relacionados à Psicopedagogia, cadastro dos profissionais, etc.

Atualmente, além da sede Nacional, a ABPp localizada na Rua Teodoro

Sampaio, 417 . conj.11 Pinheiros . CEP 05405-000 São Paulo - SP

Fone/Fax: (11) 3085-7567 / 3085-2716 - email: [email protected],

também conta com 14 Seções e 3 Núcleos: São órgãos dirigentes da ABPp:

Conselho Nacional e Diretoria Executiva. No Rio de Janeiro a sua sede está

localizada na Av. N. Sra. de Copacabana, 861 sala 302- Copacabana

Rio de Janeiro – RJ – CEP 22060-000

Tel: (021) 2236-2012/ 2267-6184 seção / 3116-4215 / 9757-1589 cel

[email protected].

Além de Visca o Brasil recebeu contribuições, para o desenvolvimento

da área psicopedagógica, de profissionais argentinos tais como: Sara Paín,

Jacob Feldmann, Ana Maria Muniz, dentre outros.

Atualmente a Psicopedagogia é vista independente da Psicologia e da

Pedagogia como uma ciência, ainda não reconhecida legalmente, mas muito

atuante na área da educação. Hoje o seu objeto de estudo é o ser que

aprende, aquele que interage com o mundo, ser este constituído de afeto e

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cognição. O sujeito único cognoscente, ser múltiplo, íntegro, inserido num

meio ensinante.

A Psicopedagogia atua na área institucional e clínica, pois a análise do

sujeito através de correntes distintas do pensamento psicológico concebeu

uma nova proposta de diagnóstico, de processo corretor e de prevenção,

dando origem ao método clínico psicopedagógico.

...quando se fala de psicopedagogia clínica, se está fazendo

referência a um método com o qual se tenta conduzir à

aprendizagem e não a uma corrente teórica ou escola. Em

concordância com o método clínico podem-se utilizar

diferentes enfoques teóricos. O que eu preconizo é o da

epistemologia convergente (VISCA, 1987, p. 16).

Vamos então falar dos tempos atuais, o século XXI. Após um pequeno,

porém considerável estudo e valorização e luta por parte de profissionais

competentes e de toda uma sociedade, as idéias cartesianas ‘’das partes’’, da

‘’razão pura’’ deixam de ser verdades absolutas para ceder lugar a novos

pensamentos. É o momento conceber um novo homem integrado em uma

relação no mundo em que está inserido. Portanto, é necessário haver uma

mudança de pensamentos e valores para que sejam elaborados novos

paradigmas.

Para que este modo de vida, pensamento educacional realmente

aconteça é preciso um aprender ainda mais elaborado, pensado e despido de

rótulos e preconceitos trazidos através de muitas histórias, cultura na

educação. É preciso aprender a aprender.

Aprender a aprender a ser educador passa pelo desabrochar das

sementes de amor, confiança, alegria, amizade, doçura, troca, que foram

plantadas no seio da humanidade e nos faz recordar nossa essência humana.

É preciso despir-se do lugar de dono do saber. A psicopedagogia veio para

contribuir no olhar plural, ou seja, nos ensinar a olhar o homem a partir dele

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próprio, de sua afetividade, do seu egocentrismo, de sua subjetividade, de sua

intersubjetividade e de seu desprendimento.

A atividade docente vem se modificando em decorrência de

transformações nas concepções de escola e nas formas de construção do

saber, resultando na necessidade de se repensar a intervenção pedagógica na

prática escolar.

O verdadeiro educador tem plantado uma semente de amor no coração,

no desejo e na vida. No coração porque a profissão educador é regada pelo

amor, no desejo, pois, hoje o desejo de estudar e crescer está no ideal de vida

e na vida porque sabem da importante responsabilidade que pode estar ou não

sob suas vossas mãos, as crianças.

Neste momento da pós-modernidade se faz de grande urgência que, em

todos os níveis, educadores estejam presentes em salas de aula.

Vale lembrar um provérbio chinês que diz: se dois homens vêm andando

por uma estrada, cada um carregando um pão e, ao se encontrarem, eles

trocam os pães, cada homem vai embora com um. Porém, se os dois homens

vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia e, ao se

encontrarem, eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas.

Sabemos que o educador só transmite o conhecimento quando ele

internaliza e vivencia os conteúdos. Sabemos que para cumprir com o papel de

mediador na aquisição do conhecimento, apresentando o elenco de

informações de forma adequada ao grau de compreensão que seu aluno é

capaz, estruturalmente, de ter, o professor precisa agir

“psicopedagogicamente”.

E o que é agir psicopedagogicamente?

Ações como: observar, educar o seu olhar na perspectiva do outro,

adotar a escuta como meio de conhecer mais o seu aluno, refletir sobre sua

“práxis”, buscar nas pesquisas e em outros profissionais a resposta para suas

questões, resgatar o seu aluno, conduzindo-o ao prazer de conhecer e

aprender.

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CAPÍTULO II

A AFETIVIDADE E O VÍNCULO NO ENSINO APRENDIZAGEM: COM O

CORAÇÃO NAS NUVENS

Todos nós já brincamos com as nuvens, imaginando carrinhos, bichos,

pessoas andando pelas estradas e montanhas formadas em desenhos.

Quando dizemos para a criança: “Olhe para o céu, o que você consegue ver

nas nuvens? Com uma simples conversa imaginativa como essa, temos a

oportunidade de deslocar a atenção da criança do aspecto somático, do aqui e

do agora, e levá-la para um ambiente que tende a transmitir paz, calma e

sossego e muita imaginação.

O professor, coordenador, orientador, ou seja, qualquer pessoa do

ambiente escolar deve entrar no mundo imaginário da criança, viver a sua

imaginação, brincar com os seus pensamentos e estabelecer assim uma

relação real de afetividade e aprendizagem.

Registrando as informações, construindo sua personalidade, fazendo

sinapses neuronais e guardando no seu inconsciente e memória todas as

informações captadas, ensinadas ou recebidas a criança constrói seu

conhecimento de mundo. Este conhecimento segundo Vygotsky (1994)

acontece a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas, que

nas suas relações utilizam de mediação e internalização; aspectos

fundamentais para a aprendizagem, Portanto é a partir do meio social na qual

está inserida, os estímulos culturais que a criança vai se desenvolvendo.

Quando a criança adapta-se as práticas culturalmente estabelecidas, ela

vai evoluindo, construindo sentidos para as coisas, fazendo sua leitura de

mundo e estruturando seus pensamentos para arquitetar e entender de forma

mais abstratas a vida, este movimento natural que faz parte do

desenvolvimento humano, a ajudará a conhecer e controlar a realidade. Nesse

sentido, fica claro que além da importância do outro no processo de construção

do conhecimento, também é no outro que construímos o nosso próprio eu e as

formas de agir e encarar a realidade. Portanto são as relações humanas que

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formam a essência do objeto de conhecimento, pois este só existe a partir de

seu uso social. Logo, é a partir de um intenso processo de interação com o

meio social, através da mediação feita pelo outro, que se dá a apropriação dos

objetos culturais. É através dessa mediação que o objeto de conhecimento

ganha significado e sentido.

Desde que nasce, a criança vivencia experiências com outras pessoas

que irão marcar e conferir aos objetos um sentido afetivo, determinando, dessa

forma, a qualidade do objeto internalizado. Nesse sentido, no processo de

internalização, estão envolvidos não só os aspectos cognitivos, mas também

os afetivos, pois tudo é absorvido pela criança. Assim, abre-se um espaço para

investigações científicas abordando a influência dos aspectos afetivos no

processo de aprendizagem.

A aprendizagem se dá no ensinar e aprender, e a relação que

caracteriza o ensinar e o aprender decorre a partir de vínculos entre as

pessoas. O bebê, ao nascer, mobiliza o adulto, garantindo assim os cuidados

que necessita através desta forma de comunicação emocional, estabelece-se

o primeiro vínculo, vínculo este puramente afetivo. Portanto, é o vínculo afetivo

estabelecido entre o adulto e a criança que sustenta a etapa inicial do

processo de aprendizagem.

Assim sendo é a partir da relação com o outro, através do vínculo afetivo

que, desde o nascimento, a criança vai tendo acesso ao mundo simbólico e,

assim, conquistando avanços significativos no âmbito cognitivo. Nesse sentido,

para a criança, torna-se importante e fundamental o papel do vínculo afetivo,

que inicialmente apresenta-se na relação mãe-filho, pai-mãe-filho, cuidador-

criança e, muitas vezes, irmão (s).

Conforme o crescimento da criança e o desenvolvimento, os vínculos

afetivos vão ampliando e chegou a hora de ser inserida no ambiente escolar.

Então surge a figura do educador com grande importância na relação de

ensino e aprendizagem.

Para aprender, todos nós necessitamos de alguém que ensina, alguém

que aprende e a relação que se estabelece entre eles. Não conseguimos

aprender através de qualquer pessoa, mas sim daquele a quem

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estabelecemos confiança e damos o direito de ensinar. Toda aprendizagem

está carregada de afetividade, já que ocorre a partir das interações sociais,

num processo de construção de vínculo. Pensando, especificamente, na

aprendizagem na creche-escola, a rede que se tece entre alunos, professores,

brincadeiras, atividades, conteúdos, mundo letrado, etc. não acontece

puramente no campo cognitivo, deve existir um alicerce afetivo permeando

essas relações.

As experiências vividas em sala de aula ocorrem, inicialmente, entre os

sujeitos envolvidos, de forma interpessoal. Através da mediação, elas vão se

internalizando, ganham autonomia e passam a fazer parte da história de cada

um. Essas experiências também são afetivas. Os indivíduos internalizam as

experiências afetivas com relação a um objeto específico.

Cabe ao educador estar sempre pronto para “com o coração nas

nuvens”, ter desprendimento para ensinar, tentar de novo, ter paciência para

começar do zero. E buscar sempre o melhor caminho, a melhor solução para

cada criança atendida. Ser sempre que necessário, um farol pertinho quando

preciso, e um farol distante quando necessário.

2.1-A TEORIA DO VÍNCULO

O educador hoje precisa ter um olhar diferenciado para a prática na

escola, desde a creche ele precisa ser um Construtor de Vínculos Positivos.

Construtor, pois, é através dos vínculos construídos que se faz possível

perceber, os desejos dos alunos, a troca de sentimentos, emoções, e

conhecimentos que estão acontecendo em sala de aula. Então este vínculo

será nosso indicador, o início de uma longa caminhada para desenvolvermos

uma atuação psicopedagógica. Esta atuação psicopedagógica não se constrói

da noite para o dia. É um processo de reorganização e reelaboração do

docente, um exercício constante e infinito.

A Teoria do Vínculo de Pichon Rivière (1986) dá uma excelente

contribuição para a educação, pois, permite analisar a relação professor x

aluno. Esta teoria dinâmica, se estabelece em três dimensões as do

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indivíduo(sujeito), do grupo(objeto) a que pertence e da instituição(local das

interrelações) em questão, elas se integram dialeticamente em processos de

comunicação e aprendizagem. E ainda o mais importante, levando em

consideração a grandeza humana, como centro de tudo, pois o ser humano é

único.

Todo educador deve previamente ter conhecimento sobre a vida de

seus alunos, para poder lidar com as situações cotidianas em sala de aula.,

entender como por exemplo o porque um aluno está num momento de

agressividade. Situações cognitivas, emocionais, afetivas, sociais, ou seja,

situações pertinentes a seres humanos que pensam logo agem, sentem e

atuam na sociedade desde o berço, como explicitado anteriormente. Quando

lhe é permitido conhecer, através de uma anamnese social, o seu aluno e toda

a bagagem que ele trás, a probabilidade de o educador construir vínculos

negativos é muito pequena, podemos dizer inexistente.

Então se inicia a sua atuação diária na construção do vínculo e,

todo vínculo começa com a observação: olhar, ver, ouvir, escutar somados ao

pensar sem julgar, sentir para agir, conhecer para saber. Todas estas ações

possibilitam a base para uma atuação suficientemente boa do educador que

almeja construir uma prática psicopedagógica preventiva.

Vamos então à primeira atuação pensar sem julgar, o que queremos

dizer com isso?

Quando observamos uma criança brincando, nem sempre sabemos o

que está pensando naquele momento. Mas às vezes nos deparamos com uma

situação de conduta não característica à sua idade. Como por exemplo, uma

criança de 8 anos que apresenta um comportamento de 3 ou 4 anos, chorando

incessantemente, não utilizando da linguagem para expressar seus desejos. O

que fazer? Cobrar uma conduta adequada? Rotulá-la? Chamar sua atenção?

O educador deve sair de si mesmo para entender a lógica da criança e

pesquisar, toda ação de uma criança está relacionada com o seu convívio

familiar. Será que nas suas relações familiares ela chora para conseguir as

coisas e é sempre atendida. E a partir disso, reconstruir a história do sujeito,

respeitando as suas particularidades; é perceber em que movimento esta

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criança está. A atuação ideal é pensar, pesquisar, conhecer para cooperar e

modificar. Na prática, a primeira providência é uma boa conversa com a

criança, posteriormente com a família, tentando integrá-la ao meio social

satisfatoriamente. O psicopedagogo é o profissional mais indicado para

intervir nestes casos.

A segunda atuação Sentir para agir.

O ser humano é dotado de sentimentos, emoções, medos, angústias,

alegrias e tristezas. Logo ambos, educadores e alunos apresentam

sentimentos, portanto é preciso agir com o coração aberto, sentir os desejos e

sentimentos das crianças, envolver-se numa situação de afeto, em harmonia

com aquele aluno, único que precisa de colo e atenção, antes mesmo do que

educação. Desta maneira torna-se fácil a relação, pois o aluno ganha

confiança no educador, o educador no aluno e então os dois aprendem como

melhor convier, dada a situação de aprendizagem ou de vida.

Por fim conhecer pra saber.

È preciso conhecer a vida do aluno. Quem são seus pais? Onde vive,

com quem vive? Tem irmãos, tem sanidade básica em sua residência? E sua

alimentação, como é? Qual o transporte utilizado para chegar e ir embora da

escola? E tantas outras questões que se façam necessária para o educador

conhecer o seu aluno. Pronto agora sim se sabe quem é este ser que está se

formando para uma breve atuação em sociedade. Todas estas ações estão

permeadas pela sensibilidade do olhar, olhar plural, mágico, que todo

educador e psicopedagogo deve ter. Só se assimila o que se conhece.

Algumas metodologias são facilitadoras na construção do vínculo nas

escolas, uma delas é a construtivista interacionista, pois, respeita o

funcionamento mental, a lógica operatória e permite a construção de novas

aprendizagens nos educandos, pois através do lúdico configura um espaço de

prazer na busca do conhecimento.

Vamos contar uma história de duas crianças, irmãos gêmeos.

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Um menino e uma menina, irmãos gêmeos são matriculados em uma

creche no pré II, com 5 anos. Filhos temporões, sua irmã mais velha com 28

anos. Eles são o xodó da família e a “paparicação” de todos de sua casa. Ao

chegar à creche se deparam com um grupo pequeno de dez crianças, onde foi

preciso trocar, conversar, brincar. E agora? Os irmãos não participavam de

nada. Não foram criados respeitando as fases do desenvolvimento infantil, não

sabiam comer sozinhos, tomar banho, atitudes esperadas relacionadas à

autonomia, não conseguiam desenvolver relações sociais com todos da

creche, muito fechados, com olhar baixo, sobre as sobrancelhas, nenhuma

relação social e, nem tão pouco tinham desenvolvimento cognitivo adequado a

faixa etária e nem participação das atividades oferecidas. Aos poucos, através

de muito carinho e um trabalho efetivo de auto-estima, foram ganhando

confiança, conquistando os espaços, as amizades, ganhando autonomia e

fortalecendo as relações. Em paralelo um trabalho com a família, através de

reuniões, leitura de textos, a família admitiu que eles fossem tratados como

bebês, e todos de casa não deixavam fazer nada sozinhos. Aos poucos os

irmãos criaram um vínculo forte com a professora de turma, algumas crianças,

a coordenação da creche possibilitando um melhor desenvolvimento e

aproveitamento de suas potencialidades.

Este caso foi uma comprovação plena, que sem vínculo, confiança não

há aprendizado.

Na citação deste caso, também podemos relevar os estudos de Alícia

Fernandez (1991) quando ela aponta três maneiras de apresentação da

manifestação individual do problema de aprendizagem: o sintoma, a inibição

cognitiva e a dificuldade de aprendizagem reativa. A autora afirma que o

sintoma "[...] toma forma em um indivíduo, afetando a dinâmica de articulação

entre os níveis de inteligência, o desejo, o organismo e o corpo, redundando

em um aprisionamento da inteligência e da corporeidade por parte da estrutura

simbólica inconsciente" (FERNANDEZ, 1991, p. 82).

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21 2.2- A AFETIVIDADE REPENSADA A LUZ DAS CONTRIBUIÇÕES DA

NEUROCIÊNCIA

“O ser humano nos é revelado em sua complexidade: ser, ao mesmo tempo, totalmente biológico e totalmente cultural. O cérebro, por meio do qual pensamos, a boca, pela qual falamos, a mão, com a qual escrevemos, são órgãos totalmente biológicos e, ao mesmo tempo, totalmente culturais. O que há de mais biológico – o sexo, o nascimento, a morte – é, também, o que há de mais impregnado de cultura”.

Edgar Morin.(2003- P.40)

A compreensão tão enfatizada nos dias atuais de que o homem é um

ser biopsicossocial é sabiamente defendida nos cursos de formação de

professores. Porém uma análise pautada nas grades curriculares das

graduações e pós-graduações na área da educação torna possível a afirmação

que o discurso competente não se agrega a prática, na medida em que tais

currículos nos revelam a falta de disciplinas que contemplem reflexões sobre

os fundamentos biológicos da educação.

Se educar é promover a aquisição de novos comportamentos e os

comportamentos resultam do funcionamento do cérebro, poder-se-ia concluir

que o conhecimento das bases neurobiológicas do processo ensino-

aprendizagem seria fundamental na formação do educador. Afinal, como

trabalhar a questão da aprendizagem se não é conhecido como ela se

processa no cérebro humano?

A precariedade dos saberes sobre o funcionamento básico cerebral,

bem como a falta de utilização de seus vastos recursos na educação, faz com

que seja premente a união dos aspectos relacionados da psicologia da

educação com a neurociência na formação científica do professor. O modelo

educacional de formação de professores vigente no país tem se mostrado, na

prática, ainda bastante deficitário. Dessa forma, cresce os estudos voltados

para minimizar tal situação. Percebe-se que a formação e qualificação

profissional dos professores são bastante complexas e estão profundamente

ligadas a contextos sociais e culturais, necessitando do rompimento de antigos

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paradigmas. Assim, cabe repensar as grades curriculares dos cursos de

graduação, uma vez que estas não contemplam disciplinas que permitam a

compreensão do discente como seres biopsicossociais.

Após a explosão da “Década do Encéfalo” 1, por volta dos anos 90,

intensificou-se o volume de estudos e pesquisas voltadas para o cérebro

humano, tanto no aspecto biológico quanto psicológico. Dessa maneira, a

pesquisa e o interesse em neurociências têm crescido em resposta à

necessidade de, não somente entender os processos neuropsicobiológicos

normais, mas também para respaldar a ciência da educação.

Assim, desafios históricos estão sendo redimensionados e novos

paradigmas emergidos, os quais impulsionam a ciência e a todos aqueles que

se preocupam com a integridade humana nos aspectos físico, emocional e, em

particular, sócio-cultural. Nesse âmbito atuam os processos sócio-

educacionais, cujos reflexos encontram eco na plasticidade das células

cerebrais.

Com isso torna-se imprescindível minimizar as diferenças culturais entre

estas duas categorias (neurocientistas e educadores) no sentido de promover

sua completa integração, objetivando uma nova ciência da educação, voltadas

para o desenvolvimento da humanidade, utilizando tanto os conhecimentos

provenientes do aprendizado de sala de aula como da função cerebral.

Primeiramente, é necessário compreender que a afetividade é um termo

utilizado para designar e resumir não só os afetos em sua acepção mais

restrita, mas também os sentimentos ligeiros ou matizes de sentimentos, de

agrado ou desagrado, enquanto o afeto é definido como qualquer espécie de

sentimento e (ou) emoção associada a idéias ou a complexos de idéias

(CABRAL e NICK, 1999).

Desde a creche, em geral, alunos experimentam diversos afetos: o

prazer de conseguir realizar algo pela primeira vez, tristeza ao saber da doença

1 Termo proclamado pelo ex Presidente Bush, no Congresso dos EUA, no

intuito de incentivar cientistas a fazerem novas descobertas importantes nessa área. (Cf. Bea; Connnor; Paradiso, 2002, p. 20).

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de um amigo, raiva ao desentender-se com colegas, mesmo que seja pela

disputa de um brinquedo. Além disso, podem gostar ou não de seus

professores, sentirem-se felizes quando seus companheiros de sala os

aceitam e culpados quando não interagem o suficiente.

No entanto, a história da Educação mostra que, desde que a creche-

escola adquiriu seus contornos atuais, houve um prejuízo na dimensão afetiva

da ação pedagógica – o que se tornou ainda mais acentuado na chamada era

pós-moderna, como destaca o trecho da epígrafe inicial deste sub-capitulo2.

Trabalhos como de TEIXEIRA e NUNES (2008) acentuam a construção

ao longo dos últimos séculos, de uma escola disciplinadora e

homogeneizadora que tenta classificar, vigiar e punir. Assim a preocupação

com vínculos afetivos, embora muito difundida atualmente, ainda mereça

grande destaque, afinal como bem destaca Freire (1996 p.53): “Às vezes, mal

se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples

gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente insignificante valer

como força formadora ou como contribuição à do educando por si mesmo.”

Analisando o trabalho de autores consagrados no campo da educação

como o biólogo Jean Piaget, o psicólogo russo Lev Vygostky e o francês Henri

Wallon é possível perceber a compreensão da afetividade para o sujeito

aprendente.

De acordo com Piaget, não existem estados afetivos sem elementos

cognitivos, assim como não existem comportamentos puramente cognitivos.

Quando discute os papéis da assimilação e da acomodação cognitiva, afirma

que esses processos da adaptação também possuem um lado afetivo: na

assimilação, o aspecto afetivo é o interesse em assimilar o objeto ao self (o

aspecto cognitivo é a compreensão); enquanto na acomodação a afetividade

2 Retomando aos conceitos de Damásio vale ressaltar que sua celebre frase “Existo e sinto, logo penso.” é bastante auxiliadora para repensarmos a importância da afetividade para os aspectos cognitivos, na medida em que todas as informações passam primeiro pela emoção.

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está presente no interesse pelo objeto novo (o aspecto cognitivo está no ajuste

dos esquemas de pensamento ao fenômeno).

Com isso o biólogo francês assinala que:

“É incontestável que o afeto desempenha um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação; e conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria inteligência. A afetividade é uma condição necessária na constituição da inteligência, mas, em minha opinião, não é suficiente.Podemos considerar de duas maneiras diferentes as relações entre afetividade e inteligência. A verdadeira essência da inteligência é a formação progressiva das estruturas operacionais e pré-operacionais. Na relação entre inteligência e afeto, podemos postular que o afeto faz ou pode causar a formação de estruturas cognitivas. Muitos autores tem apresentado tal tese, por exemplo, Charles Odier em seu estudo das relações entre psicanálise e meus estudos em psicologia infantil. Odier sustentou que o esquema do objeto permanente - as descobertas que o bebe faz sobre a permanência do objeto quando ele desaparece do seu campo visual - é causado por sentimento, por relações objetais. Ou seja, isto é devido às relações afetivas da criança com o objeto ou pessoa envolvida. Em outras palavras, as relações afetivas da criança com o objeto-mãe, ou outras pessoas, são responsáveis pela formação da estrutura cognitiva.” In:http://haroldovilhena.multiply.com/journal/item/89/Afetividade_-_Jean_Piaget

Nessa perspectiva, o papel da afetividade para Piaget é “funcional” na

inteligência. Ela é a fonte de energia de que a cognição se utiliza para seu

funcionamento. Ele explica esse processo por meio de uma metáfora,

afirmando que “a afetividade seria como a gasolina, que ativa o motor de um

carro, mas não modifica sua estrutura” (2001 p.5). Na relação do sujeito com

os objetos, com as pessoas e consigo mesmo, existe uma energia que

direciona seu interesse para uma situação ou outra, e a essa energética

corresponde uma ação cognitiva que organiza o funcionamento mental. Nessa

linha de raciocínio, diz Piaget, “é o interesse e, assim, a afetividade que fazem

com que uma criança decida seriar objetos e quais objetos seriar” (ibidem

p.10). Complementando, todos os objetos de conhecimento são

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simultaneamente cognitivos e afetivos, e as pessoas, ao mesmo tempo em que

são objetos de conhecimento, são também de afeto.

Já o psicólogo francês Henri Wallon (1879-1962) nos aponta por meio

de uma teoria psicogenética a importância dos conjuntos funcionais que atuam

como uma unidade organizadora do processo de desenvolvimento. O afetivo, o

motor e o cognitivo se relacionam entre si profundamente, a cada momento, e

dá resultado a pessoa individual. Em todas as fases, os aspectos motor,

afetivo e cognitivo reagem a estímulos internos e externos, traduzindo a

passagem do sincretismo para a diferenciação que está presente no processo

de desenvolvimento. O afetivo se origina na interocepção e propriação que são

responsáveis pela atividade generalizada do organismo. Assim o psicólogo nos

revela uma teoria pedagógica tendo o “meio” como um conjunto de

circunstancias no qual as pessoas se desenvolvem interagindo com o outro.

Defende-se um contexto aonde a escola deve ser considerada indissolúvel na

relação da criança com a sociedade e manter o equilíbrio entre elas,

favorecendo a auto-estima do estudante, tendo a sala de aula como uma

oficina de convivência3.

A posição de Wallon a respeito da importância da afetividade para o

desenvolvimento da criança é bem definida. Em sua opinião, ela tem papel

imprescindível no processo de desenvolvimento da personalidade e este, por

sua vez, se constitui sob a alternância dos domínios funcionais (o ato motor; o

conhecimento; a afetividade e a pessoa). São eles que dão uma determinada

direção ao desenvolvimento e no decurso da vida humana. Cada um desses

domínios tem seu próprio campo de ação e organização, mas mantém em

relação com os demais uma espécie de mecanismo interfuncional.

Podemos então perceber por esta teoria que a afetividade é um domínio

funcional, cujo desenvolvimento é dependente da ação de dois fatores: o

orgânico e o social. Entre esses dois fatores existe uma relação estreita tanto

3 Na perspectiva genética de Henri Wallon, inteligência e afetividade estão integradas: a evolução da afetividade depende das construções realizadas no plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende das construções afetivas.

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que as condições medíocres de um podem ser superadas pelas condições

mais favoráveis do outro. Essa relação recíproca impede qualquer tipo de

determinismo no desenvolvimento humano, tanto que “P a constituição

biológica da criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os

seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias

sociais da sua existência, onde a escolha individual não está ausente”.

(Wallon, 1954, p. 288).

Ao longo do desenvolvimento do indivíduo, esses fatores em suas

interações recíprocas modificam tanto as fontes de onde procedem as

manifestações afetivas, quanto as suas formas de expressão. A afetividade

que inicialmente é determinada basicamente pelo fator orgânico passa a ser

fortemente influenciada pela ação do meio social. Tanto que Wallon defende

uma evolução progressiva da afetividade, cujas manifestações vão se

distanciando da base orgânica, tornando-se cada vez mais relacionadas ao

social – e isso é visto tanto em 1941, quando ele fez referência à afetividade

moral, quanto em suas teorias do desenvolvimento e das emoções, que

permitiram evidenciar o social como origem da afetividade.4

A afetividade, com esse sentido abrangente, está sempre relacionada

aos estados de bem-estar e mal-estar do indivíduo. A afetividade se

desenvolve, podendo ser identificada, em duas etapas, sendo a primeira de

No entanto, o autor admite que, ao longo do desenvolvimento humano, existem fases em que predominam o afetivo e fases em que predominam a inteligência. 4 Conceitualmente, a afetividade deve ser distinguida de suas manifestações, diferenciando-se do sentimento, da paixão, da emoção. A afetividade é um campo mais amplo, já que inclui esses últimos, bem como as primeiras manifestações de tonalidades afetivas basicamente orgânicas. Em outras palavras, afetividade é o termo utilizado para identificar um domínio funcional abrangente e, nesse domínio funcional, aparecem diferentes manifestações: desde as primeiras, basicamente orgânicas, até as diferenciadas como as emoções, os sentimentos e as paixões. Embora sejam geralmente confundidas, essas formas de expressão são diferentes. Enquanto as primitivas manifestações de tonalidade afetiva são reações generalizadas, mal diferenciadas, as emoções, por sua vez, constituem-se em reações instantâneas e efêmeras que se diferenciam em alegria, tristeza, cólera e medo. Já o sentimento e a paixão são manifestações afetivas em que a representação torna-se reguladora ou estimuladora da atividade psíquica. Ambos são estados subjetivos mais duradouros e têm sua origem nas relações com o outro, mas ambos não se confundem entre si.

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base mais orgânica, e a outra de base mais social. Quando os motivos que

provocam os estados de bem-estar e mal-estar estão primordialmente ligados

às sensibilidades interoceptivas, proprioceptivas e exteroceptivas5, temos uma

etapa em que a afetividade é de base orgânica – a chamada afetividade

orgânica. Quando os motivos que provocam os estados de bem-estar e mal-

estar já não são limitados às sensibilidades intero, próprio e extero, mas já

envolvem a chamada sensibilidade ao outro, a afetividade passa para outro

patamar, já que de base fortemente social – a chamada afetividade moral, na

terminologia usada por Wallon em 1941. Assim, a afetividade evolui para uma

ordem moral e seus motivos são originados das relações indivíduo-outrem,

sejam relações pessoais ou sociais.

Nesse sentido, torna-se evidente que condições afetivas favoráveis

facilitam a aprendizagem, pois, como afirma Wallon (1971) há um caráter

contagioso das emoções. “A emoção necessita suscitar reações similares ou

recíprocas em outrem e, (...) possui sobre o outro um grande poder de

contágio” (p. 91).

Outro autor de suma importância para a compreensão do presente

trabalho é o professor sócio-interacionista Lev Vygotsky que enfatizou a

importância do aprendizado decorrente da compreensão do homem como um

ser que se forma em contato com a sociedade, afinal como bem destacou: "Na

ausência do outro, o homem não se constrói homem".

No que se refere aos aspectos cognitivos e afetivos o bielo russo (1996)

assinalou que:

"A forma de pensar, que junto com o sistema de conceito nos foi imposta pelo meio que nos rodeia, inclui também nossos sentimentos. Não sentimos simplesmente: o sentimento é percebido por nós sob a forma de ciúme, cólera, ultraje, ofensa. Se

10 São reações que têm por base os estímulos recebidos pelos receptores do organismo. Estes são de três tipos: interoceptores, cujas excitações provêm de estímulos internos e são o ponto de partida de reflexos vegetativos. Proprioceptores são habitualmente estimulados pelas atividades próprias dos órgãos que os contém, por exemplo, os receptores dos músculos. Exteroceptores que são habitualmente estimulados por agentes externos ao organismo.

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dizemos que desprezamos alguém, o fato de nomear os sentimentos faz com que estes variem, já que mantêm uma certa relação com nossos pensamentos."

Tecendo estas questões Vygotsky questiona o dualismo entre as

dimensões afetivas e cognitivas quando menciona que a psicologia tradicional

peca em separar os aspectos intelectuais dos afetivos afirmando

veementemente que os processos pelos quais o afeto e o intelecto se

desenvolvem estão inteiramente enraizados em suas inter-relações e

influências mútuas.

Nos estudos neurocientíficos as emoções são conjuntos de reações

químicas e neurais que ocorrem no cérebro emocional. Na superfície medial

do cérebro dos mamíferos, o sistema límbico é a unidade responsável pelas

emoções. É uma região constituída de neurônios, células que formam uma

massa cinzenta denominada de lobo límbico. O sistema límbico originou-se a

partir da emergência dos mamíferos mais antigos. Através do sistema nervoso

autônomo6, ele comanda certos comportamentos necessários à sobrevivência

de todos os mamíferos, interferindo positiva ou negativamente no

funcionamento visceral e na regulamentação metabólica de todo o organismo.

Embora não haja, como visto na pesquisa para a realização deste

trabalho, completo acordo entre os autores quanto às estruturas que fazem

parte do sistema límbico pontuaremos algumas partes que consideramos

relevantes para a compreensão do mesmo:7

§ Amígdala: faz com que o animal se torne dócil, sexualmente

indiscriminativo, afetivamente descaracterizado e indiferente às situações

de risco. Em humanos, a lesão da amígdala faz, entre outras coisas, com

6 Sistema nervoso autônomo é a parte do Sistema nervoso que está relacionada ao controle da vida vegetativa, ou seja, controla funções como a respiração, circulação do sangue, controle de temperatura e digestão. É também o principal responsável pelo controle automático do corpo frente às modificações do ambiente.

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29 que o indivíduo perca o sentido afetivo da percepção de uma informação

vinda de fora, como a visão de uma pessoa conhecida. Ele sabe quem está

vendo, mas não sabe se gosta ou desgosta da pessoa em questão, como

na síndrome de asperger.

§ Hipocampo: considerada a principal sede da memória e importante

componente do sistema límbico. Envolvido com os fenômenos da memória

de longa duração. Quando ambos os hipocampos (direito e esquerdo) são

destruídos, nada mais é gravado na memória.

§ Tálamo: segundo Relvas (2008) são lesões ou estimulações do dorso

medial e dos núcleos anteriores que estão correlacionadas com as reações

da reatividade emocional do homem e dos animais. A importância dos

núcleos na regulação do comportamento emocional possivelmente decorre,

não de uma atividade própria, mas das conexões com outras estruturas do

sistema límbico. O núcleo dorso-medial conecta com as estruturas corticais

da área pré-frontal e com o hipotálamo.

§ Hipotálamo: É parte mais importante do sistema límbico. Além de seus

papéis no controlo do comportamento, essas áreas também controlam

várias condições internas do corpo, como a temperatura, o impulso para

comer e beber... seu controle está relacionado com o comportamento. Ele

mantém vias de comunicação com todos os níveis do sistema límbico. O

hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções. Especificamente,

as partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva, enquanto que

a porção mediana parece mais ligada à aversão, ao desprazer e a

tendência ao riso (gargalhada) incontrolável.

§ Giro cingulado: Situado na face medial do cérebro entre o sulco singulado

e o corpo caloso, que é um feixe nervoso que liga os dois hemisférios

cerebrais. Há ainda muito por conhecer a respeito desse giro, mas sabe-se

que a sua porção frontal coordena odores, e visões com memórias

agradáveis de emoções anteriores. Esta região participa ainda, da reação

emocional à dor e da regulação do comportamento agressivo.

7 Inspirado em: www.wikipédia.com.br

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§ Área pré-frontal: Não faz parte do Lobo límbico tradicional, mas suas

intensas conexões com o tálamo, amígdala e outras sub-corticais, explicam

o importante papel que desempenha na expressão dos estados afetivos.

Está classicamente dividido em três áreas funcionais e anatómicas: a área

dorsolateral, a área orbitofrontal e a área cingulada anterior. A área

dorsolateral está relacionada com o raciocinio, permite a integração de

percepções temporalmente descontinuas em componentes de ação

dirigidos a um objetivo. A área orbitofrontal representa uma interface entre

os domínios afetivo/ emocional e a tomada de decisões centradas nos

domínios pessoal e social. A área dorsolateral funciona como um

"secretário de direção" da área dorsolateral, ao dirigir a atenção. Tem um

papel igualmente importante na motivação do comportamento. As três

áreas contribuem para o que se designa de "Funções Executivas". Quando

o córtex pré-frontal é lesado, o indivíduo perde o senso de suas

responsabilidades sociais (lesões orbitofrontais), bem como a capacidade

de concentração e de abstração (lesões dorsolaterais). Em alguns casos, a

pessoa, conquanto mantendo intactas a consciência e algumas funções

cognitivas, como a linguagem, já não consegue resolver problemas, mesmo

os mais elementares. Quando se praticava a lobotomia pré-frontal para

tratamento de certos distúrbios psiquiátricos, os pacientes entravam em

estado de "tamponamento afetivo", não mais evidenciando quaisquer sinais

de alegria, tristeza, esperança ou desesperança. Em suas palavras ou

atitudes não mais se vislumbravam quaisquer resquícios de afetividade.

Observe a figura :

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Após a compreensão da composição deste sistema límbico e uma vez

conhecidas as estruturas participativas nas emoções, interessa saber como se

processam e integram estas emoções de acordo com uma emoção específica.

Assim, surge o sistema de prazer e recompensa, medo, alegria, tristeza, raiva

etc.

No que tange a inteligência8, segundo a "Mainstream Science on

Intelligence", que foi assinada por 52 pesquisadores em inteligência, em 1994

é:

"uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender idéias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para sair-se bem em provas. Ao contrário disso, o conceito refere-se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta - 'pegar no ar', 'pegar' o sentido das coisas ou 'perceber'"

Ou nas palavras de Sternberg: "um comportamento adaptativo orientado

a metas”. Caminhando nesta compreensão, ele afirma que a inteligência é feita

de três aspectos integrados e interdependentes: no mundo interno (cognição);

as relações com o mundo externo (percepção e ação); as experiências que

relacionam ao mundo externo e o interno.

Os neurologistas nos revelam brilhantemente que a emoção e o

sentimento, assenta-se em dois processos básicos, que funcionam em

paralelo: "o primeiro, a imagem de um determinado estado do corpo justaposto

ao conjunto de imagens desencadeadoras e avaliativas que o causaram; e o

segundo, um determinado estilo e nível de eficácia do processo cognitivo que

acompanha os acontecimentos descritos no primeiro.”

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A visão do homem como um todo, é a chave para o desenvolvimento

integral do ser. Por isso a preocupação em unir afetividade e cognição na

aprendizagem.

Embora haja um discurso pedagógico competente sobre a importância

da afetividade e cognição, o sistema educativo vigente está em sua maioria

estruturado de um modo predominantemente guiado pelo hemisfério esquerdo,

valorizando e fragmentando erroneamente os aspectos intelectuais

(cognitivos).

Partindo desses pressupostos ainda temos muito que caminhar para

romper com o atual ensino cartesiano que fragmenta a razão da emoção e que

valoriza somente as habilidades lógico-matemática e lingüística.

Por isso, compreender a importância da afetividade e cognição na

aprendizagem sobre o viés da neurociência, abordado no presente trabalho,

nos respalda para a militância de mudarmos enquanto educadores afinal têm

comprovações científicas de que:

“A falta de libidinação gera problemas conflitantes, inibindo o processo de aprendizagem, pois aprender é um ato desejante e sua negação é o não aprender. O desejo é movido pelo inconsciente, que nesse momento do aprender ou não aprender responde ás informações libidinadas-negação, recusa, omissão, rejeição-a emoção está para o prazer assim como o prazer está para o aprendizado e a auto-estima é a ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bons resultados.

(RELVAS 2008 P.52)

Tal compreensão nos permite então afirmar que o professor precisa

despertar no sujeito aprendente a vontade de querer aprender, dispondo de

recursos atrativos para que haja a consolidação dessa aprendizagem por meio

da multiplicação de sinapses, na medida em que a emoção exerce influencia

nos processos cognitivos. Afinal a afetividade/emoção provoca reações

químicas e neurais que ocorrem no cérebro emocional que irão interferir

diretamente no ato de aprender.

8 Embora haja uma vasta discussão sobre esta conceituação, nos apropriamos, após uma extensa pesquisa destes dois últimos conceitos.

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Precisamos educar o nosso olhar da observação para percebermos os

nossos alunos por meio de uma visão holística, rompendo assim os ditames de

um modelo autoritário de educação. A visão do homem como um todo, é a

chave para o desenvolvimento integral do ser. Por isso a preocupação em unir

afetividade e cognição na aprendizagem.

CAPÍTULO III

AFETO E EDUCAÇÃO: UMA UNIÃO NECESSÁRIA

O ser humano desde que nasce utiliza a emoção para comunicar-se

com o mundo. O bebê reconhece o amor, os sentimentos e sensações antes

mesmo da aquisição da linguagem, consegue estabelecer relação com a mãe,

ou pessoa que dele cuida, através de movimentos de expressão,

primeiramente fisiológica, como por exemplo, uma criança que chora porque

está com dor de ouvido, não chora inicialmente para alguém vir acabar com

aquele mal estar causado pela dor, mas chora por causa da dor. Ao receber a

atenção que necessita, vai construindo os significados de cada ação sua e

assimilando os conhecimentos, sensações e emoções através da ação do

outro. O ser humano se apropria destas ações realizadas pelo outro.

Desta forma o bebê estabelece uma comunicação com a mãe (ou

substituta) através das manifestações não-verbais, porém uma linguagem, o

choro. O choro, é uma produção cultural, e os movimentos e gestos do recém-

nascido são carregados de significados afetivos, sendo expressões da

necessidade alimentar e do humor. Aos poucos, a linguagem passa a

substituir a expressão corporal, a sensibilidade orgânica passa a ser

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substituída pela sensibilidade oral e moral e o carinho é substituído pelo elogio.

Portanto o ser humano é produtor de cultura e suas reações inicialmente

corporais, já se dirigem ao mundo social. No desenvolvimento do indivíduo, as

necessidades afetivas tornam-se cognitivas, e a integração afetividade e

inteligência permite à criança atingir níveis de evolução cada vez mais

elevados.

Segundo estudos de Wallon (1979), podemos concluir que a afetividade,

que está diretamente atrelada a um domínio funcional, vem antes mesmo da

inteligência. A afetividade está vinculada às sensibilidades internas de cada ser

e guiada para o mundo social, para a construção da pessoa. Já a inteligência

está ligada a fatores externos e orientadas para o mundo físico. Portanto a

afetividade é determinante nas necessidades e interesses individuais de cada

ser humano.

A emoção possibilita ao homem a formação de grupos, através de sua

capacidade de despertar o espírito de colaboração e cumplicidade de

interesses entre seus pares. Para a educação o aspecto emocional não deve

ter menos importância do que os outros aspectos e deve ser objeto de

preocupação nas mesmas proporções em que o são a inteligência e a vontade.

O amor, a compaixão, as emoções podem vir a ser um talento, uma

competência tanto quanto a superdotação ou a descoberta do cálculo

diferencial. A emoção não é uma ferramenta menos importante que o

pensamento, não se pode separar afetividade e cognição.

Quando afirmamos que a afetividade antecede a inteligência, estamos

afirmando também que as ações sociais precedem a relação com o mundo

físico. Nestas relações interpessoais a emoção tem papel fundamental, pois, é

ela que possibilita ao ser (como o bebê) provocar a ajuda do outro. São suas

emoções que o unem ao meio social. Pode-se dizer, então, emoção e

Na educação, a preocupação do professor não deve se limitar ao fato de que seus alunos pensem profundamente e assimilem a geografia, mas também que a sintam. As reações emocionais devem constituir o fundamento do processo educativo.

(VYGOTSKY, 2003, p. 121)

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inteligência se complementam e que as duas devem estar em equilíbrio.

Portanto podemos concluir que a afetividade é vital em todos os seres

humanos, de todas as idades, mas, especialmente, no desenvolvimento

infantil. A afetividade está sempre presente nas experiências vividas pelos

seres humanos, no relacionamento com o “outro social”, por toda a sua vida,

desde seu nascimento. A criança quando entra na creche, torna-se ainda

mais evidente o papel da afetividade na relação professor aluno. As reações

emocionais exercem uma influência sine qua non e absoluta em todas as

formas de nosso comportamento e em todos os momentos do processo

educativo. Atividades emocionalmente estimuladas resgatam pensamentos,

emoções, experiências e vivências inesquecíveis. A experiência e a pesquisa

têm demonstrado que uma experiência carregada de emoção é recordada de

forma mais sólida, firme e prolongada do que um feito indiferente.

Cada criança aprende a ser um SER. O que a natureza lhe dá quando

nasce, seu gênero, não basta para viver em sociedade. É-lhe preciso conhecer

o que foi alcançado no trajeto do desenvolvimento histórico da sociedade

humana. Promover as interações sociais e educativas é um dos papéis da

escola e da atuação do profissional da Educação, respeitando as

características individuais, conhecendo e propiciando atividades que estimulem

a forma de pensar, agir, sentir, entre os alunos possibilitando a interação com

o meio físico e social ao qual pertence. Para ilustrar esta idéia, relato a história

de uma criança que desde o seu nascimento viveu em um carrinho de bebê,

pois sua mãe trabalhava o dia todo como empregada doméstica e levava seu

filho no carrinho. Não tinha tempo para um olhar, uma fala, um colo, ou um

pouco de chão. O menino não podia atrapalhar o seu trabalho. Ao matriculá-lo

numa creche, após uma análise social o menino passou a ser estimulado e

aprendeu a engatinhar, andar e balbuciar. A família orientada e o trabalho

psicopedagógico realizado. Nos permite então afirmar, que como um

experiência não havia sido tentada, as perdas foram reversíveis.

Sabe-se que o homem nasce portador de funções psicológicas

rudimentares que lhes possibilitam construir funções psicológicas superiores.

Basta ser inserido no meio social, em espaços de interação, espaço este que

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ele interage e influencia nele. Logo, concluímos que, o homem ao transformar

o meio ambiente para atender às suas necessidades primárias, acaba

conseqüentemente, transformando a si mesmo.

Da mesma forma a criança, o aluno inserido num grupo, constitui seu

conhecimento com ajuda do adulto e de seus pares. Desta forma, as

experiências vivenciadas nas relações sociais é que vão determinar a

qualidade do objeto internalizado. Estas experiências acumuladas, vão

constituindo a história de vida de cada um, possibilitando a ressignificação

individual do conhecimento internalizado, ou seja, a construção do próprio “eu”.

A aprendizagem envolve sempre a construção do eu e do outro, entrelaçada à

construção do conhecimento.

Conhecimento este construído na interação com o outro. Não se pode

separar a formação cognitiva do sujeito das suas emoções, aprendemos o

tempo todo através das relações de afeto e inteligência. Não existe

aprendizagem sem afeto, não existe creche-escola sem emoção, não existe

humano sem outro humano. Todos somos dotados de razão e emoção que

devem estar em equilíbrio constante, assim a educação, os conhecimentos

sejam eles qual forem, acontecerão naturalmente em prol de seres melhores e

mais justos, dotados de razão e emoção.

3.1-A formação do educador

Quem são os alunos de hoje e quem devem ser seus professores? Hoje

os alunos chegam às escolas cheios de informações e questionamentos,

inclusive sobre os conteúdos ministrados e exigidos nos seus currículos.

Diferente de um tempo atrás, onde se aprendia, decorava, prestava-se uma

avaliação e aplicava-se ou não na vida, mas não havia tantos ou talvez

nenhum porque, sobre o que se “aprendia nas escolas”.

Hoje a educação mudou, a visão de mundo mudou, independente da

"Um dos grandes pecados da escola é desconsiderar tudo com que a criança chega a ela. A escola decreta que antes dela não há nada."

(Paulo Freire 1992)

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classe social as crianças e adolescentes estão recebendo as informações

instantaneamente e numa velocidade que não pode ser mensurada, nem tão

pouco analisadas para o seu aprendizado. Porém o que deve ficar muito claro

é a questão das emoções, do vínculo afetivo e social que o educador presente

nas salas de aula de hoje, precisa aprender.

Vamos imaginar o primeiro dia de aula num estabelecimento de ensino,

seja ele privado ou público, de uma turma de pré escola I. Qual deve ser a

postura do professor de hoje? Ciente que seus novos alunos estão ali cheios

de expectativas e dúvidas, carentes de orientação, como deve ser a sua

relação. Deve ser uma relação de imposição? Como o dono do saber

conteudista ou o aprendiz e o mediador do saber social e emocional? Os

conteúdos são de suma importância na vida dos educandos, mas a sua

bagagem de vida deve ser conhecida por esse professor que estará lidando

com suas emoções, expectativas, dúvidas, portanto deve ser uma relação de

cooperação, de respeito e de crescimento, mesmo tendo este aluno apenas

meses de vida ou estando na primeira infância. O aluno deve ser considerado

como um sujeito interativo e ativo no seu processo de construção de

conhecimento. Assumindo o educador um papel fundamental nesse processo,

como um indivíduo mais velho, com mais vivência, estudo específico e,

portanto mais experiente. Por essa razão cabe ao professor considerar

também, o que o aluno já traz em sua bagagem social, cultural e intelectual,

para a construção da aprendizagem. O aluno não está sozinho neste processo,

pois também traz consigo toda uma vivência familiar e comunitária, a família é

o primeiro núcleo social o qual pertence e o meio social o segundo. De que

vale os ensinamentos e valores das escolas, sem o prévio conhecimento de

sua clientela.

A escola hoje deve ser transdisciplinar, portanto muda os papéis

tradicionais dos professores, que independente de quanto têm de experiência

profissional e histórias para contar, passam a ser orientadores, coordenadores

tornando-se mais próximos dos alunos, na captação das suas maiores

dificuldades. Principalmente os professores da primeira infância, da educação

de base, a concretude necessária nesta fase de desenvolvimento sempre

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acontece regada de emoções, euforias, novidades, expectativas. A criança é

uma caixinha de surpresa e os educadores devem estar emocionalmente

preparados para lidar com as mais diversas situações do cotidiano.

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A creche-escola, deve estar estruturada com uma equipe de suporte

para superação das dificuldades do ensino-aprendizagem, deve buscar uma

maior integração à sua comunidade, a partir de um sub-projeto Família e

Comunidade, com os pais como parceiros essenciais no processo de

integração e desenvolvimento da criança. Portanto, há um privilegiamento das

relações sociais entre todos os participantes da escola, tendo em vista a

criação de uma rede de socialização.

É preciso restaurar o ser humano sabendo que ele a um só tempo,

físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Um ser único, indivisível,

construtor de conhecimento e cultura e é desse modo que cada um deve tomar

conhecimento e consciência de sua identidade complexa e de sua identidade

comum a todos os outros humanos, inclusive o professor. A formação do

educador deve ser contínua. Seus alunos, a cada instante, estão antenados

com o mundo tecnológico e de informações em uma velocidade inacreditável.

Portanto o professor de hoje deve estar preparado para entender,

compreender, e acompanhar a rapidez de raciocínio e as diversas formas de

comportamentos e emoções que este mundo informatizado traz. Os alunos

carregam consigo muitas dúvidas e questionamentos. Desde a creche são

questões no âmbito emocional e cognitivo que muitas vezes levam o seu

mediador a uma pesquisa. E é assim que deve ser, é preciso “acalmar o

coração de nossas crianças”, justificando, brincando e esclarecendo sempre

que possível, dentro da verdade as questões levantadas, na primeira infância

especialmente não se consegue fazer um trabalho integral com a criança sem

a participação total da família.

Desenvolvendo leituras, pesquisas e elaborando textos estudando não

apenas em textos didáticos, de conteúdos, mas também literários, de natureza

filosófica, psicanalítica, psicológica que o situem na sua historicidade,

proporcionando situações de interrogações sobre “quem somos”, “onde

estamos”, ”de onde viemos” e “para onde vamos”.

A formação do Educador começa na alma, movidos pelo amor a

profissão, professores tem o poder de mudança, de reestruturação de

pensamento, de trabalhar a criatividade e a crítica com seus alunos, desde

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muito cedo. È preciso investir e reconhecer o valor desta profissão, que hoje,

apesar de ainda não reconhecida, se desdobra na psicopedagogia, visto que a

maioria dos psicopedagogos são professores.

3.2-Relação professor- aluno

Quando se fala em educação, fala-se em educação nas relações

sociais, em casa, na igreja, no bate-papo, nas tribos dos amigos, no parque, no

clube, em fim na sociedade. A educação se dá de várias formas e em todos os

contextos. O professor precisa saber entender e aceitar a educação dita não

formal, da formal e respeitar o seu aluno enquanto ser social aprendente desta

sociedade.

No que tange a relação afetiva professor-aluno, precisamos enfatizar

que esta é de suma importância para alcançarmos bons resultados na

aprendizagem. O sujeito aprendente que vê, em seu professor, um mediador,

um colaborador, uma pessoa em quem confia e admira, evita causar-lhe

desgostos, quer ser como ele, e, assim, adota, quase que inconscientemente,

uma conduta de respeito, cooperação e atenção na sua conduta, frutificando

uma aproximação mais rápida e consistente.

O professor, do século XXI, deve funcionar como um facilitador no

acesso a informações. Deve funcionar como um bom amigo que auxilia o ser

social, o sujeito subjetivo e único, a conhecer o mundo e seus problemas, seus

fatos, suas injustiças e suas solidariedades, de forma que o aluno possa

Como disse Paulo Freire: “Verdades da Profissão de Professor. Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho. A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.”(25 novembro 2009, Gilvânia Lopes da Costa)

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caminhar com liberdade de expressão e, conseqüentemente, de ação para

tento o professor deve ser um ser dialógico-dialético, ou melhor, um

profissional capaz de pensar, se submeter a um processo analítico,

identificando as suas posições e contradições. Em contrapartida, o aluno deve

desde a Educação Infantil ser estimulado e educado a aprender a respeitar o

espaço escolar e valorizar o professor, sabendo aproveitar a magia do

momento, o encantamento do aprender-ensinar-aprender. Mas ele só terá esta

abertura de troca de conhecimentos, do aprender a aprender, se o seu

professor lhe respeitar enquanto sujeito e criar um vínculo estreito e humano

nas suas relações. Portanto, o professor hoje é formador, aquele que ensina o

aluno a aprender, aprende com o aluno e orienta-o e, o prepara para ensinar o

que aprendeu, para tal precisa ser criativo, autodidata, gerador de

conhecimento, flexível, integrador, comunicador, questionador, colaborador,

eficiente, difusor de informação e comprometido com as mudanças.

Em primeira instância, é preciso ficar evidente que o espaço de

educação hoje é, portanto, o lugar pertencente a uma nova era que pretende

conscientizar sobre direitos e deveres; resgatar a cidadania; ampliar o universo

sócio cultural; onde o conhecimento de todos sobre uma temática possa,

através da relação dialética, expandir conhecimentos; sociabilizar; informar a

população sobre assuntos de interesse público; valorização do âmbito cultural,

colaborar com os projetos comunitários; solidificar a relação mantenedora dos

bens públicos; desenvolver com seus integrantes formas de geração de renda.

É preciso ter nas escolas uma equipe de profissionais para atuarem junto com

o professor, psicólogo, fonoaudiólogo, orientador educacional, psicopedagogo,

a fim de preventivamente trabalharem o desenvolvimento em todos os seus

aspectos evitando futuros possíveis sintomas na aprendizagem.

Vygotsky na sua época já defendia uma nova escola, uma nova visão

educacional como podemos observar na citação de Rego(2001):

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A aprendizagem é algo que acontece de sujeito para sujeito e despertar

no aluno o desejo de saber é o grande desafio do professor do século XXI.

3.2 -Relação de parcerias família x escola x comunidade

A escola do século XXI, além de ter uma equipe de suporte,

psicopedagogo, orientador educacional, psicólogo, fonoaudiólogo para

superação das dificuldades do ensino-aprendizagem, deve buscar uma maior

integração à sua comunidade, pois é num trabalho a partir da relação de

parcerias Família x Escola x Comunidade, com os pais como parceiros

essenciais no processo de integração e desenvolvimento da criança na escola

e a comunidade como uma fonte de informações sobre o meio social, o

cotidiano vivido do aluno que a instituição escolar poderá intervir para

transformar. Portanto ,há um privilegiamento das relações sociais entre todos

os participantes da escola, tendo em vista a criação de uma rede de

socialização.

Uma proposta que compreende o aluno como um sujeito social e

histórico, que estabelece uma relação com a sociedade, com a escola e com o

saber escolar de atuação e intervenção transformadora.

“os postulados de Vygotsky parecem apontar para a

necessidade de criação de uma escola bem diferente da que

conhecemos.Uma escola em que as pessoas possam dialogar,

duvidar, discutir, questionar e compartilhar saberes. Onde há

espaço para transformações, para as diferenças, para o erro,

para as contradições, para a colaboração mútua e para a

criatividade. Uma escola em que os professores e alunos

tenham autonomia, possam pensar e refletir sobre o seu próprio

processo de construção de conhecimentos e ter acesso a novas

informações. Uma escola em que o conhecimento já

sistematizado não é tratado de forma dogmática e esvaziado de

significado.

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Como podemos observar no quadro acima, percebemos que o aluno,

sujeito único de aprendizagem, está diretamente relacionado à família, meio

social e a escola. A educação escolar, a relação com as famílias de seus

alunos e onde está inserida esta família, devem ser vistas como uma condição

indispensável para garantir cidadania a este aluno. A visão educacional deste

século entende que a Família, o meio social e a escola devem ser

consideradas como parte do compromisso e da responsabilidade de Educar.

Assim, estudar a inter-relação escola-família-comunidade de forma mais

estreita significa construir e desenvolver valores sociais básicos almejando

uma melhor qualidade de vida para o aluno, pois a escola pode articular seus

recursos institucionais, de maneira a assegurar que as reflexões, os debates,

os estudos e as propostas de ação possam servir de embasamento para que o

desenvolvimento social como um todo, se concretize por meio de práticas

pedagógicas educativas concretas. Promover a aliança entre a Família, Escola

e Comunidade é um trabalho fundamental de toda uma equipe escolar,

principalmente do psicopedagogo institucional, fundamental para acolher a

criança e estimular o seu desenvolvimento.

A escola hoje deve abrir suas portas e entender que o seu alunado traz

consigo suas raízes e para crescer e tornar-se uma árvore esplendorosa,

SujeitoSujeito

Família Escola

Aprendizagem comoAprendizagem comoespaespaçço de relao de relaçção.ão.

O psicopedagogo O psicopedagogo como cocomo co--construtor construtor desse processodesse processo

Comunidade

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frutífera e frondosa é preciso ser regada de conhecimento, interação, troca, e

em parceria com o núcleo da sociedade, a família e com o meio social no qual

o seu aluno está inserido. Digo a família constituída do século XXI, não vista

como uma família desestruturada como se falava um tempo atrás, pois o

modelo era pai, mãe e filhos. Hoje os educadores devem repensar e procurar

compreender as famílias dos seus alunos como portadoras de semelhanças e

diferenças, sem menosprezar a relevância que os contextos sociais e culturais

possam ter como demarcadores de características de diversidades e não de

"faltas" e de "carências". Aquilo que o Educador pensa sobre a família das

crianças interfere diretamente no seu empenho de considerá-la parceira. É

preciso ampliar a compreensão sobre a diversidade da família e as diferentes

maneiras como ela apresenta-se. O foco deve ser sempre o aluno, o seu

potencial, como trabalhar com ele a fim de inseri-lo de forma prazerosa na

sociedade.

A escola do século XXI deve apresentar visões inclusivas, que não comportam

qualquer discriminação. Nesse sentido, a família de cada aluno deve ser

respeitada como ela é e todos os alunos devem receber tratamento, na medida

do possível, individualizado, que desenvolva suas potencialidades, respeite

suas peculiaridades, estimule a criatividade, a interação com os demais.

E na prática como o psicopedagogo de forma preventiva pode realizar

este processo? Dar voz a seus alunos, mesmo os pequenos, ouvir suas

necessidades e desejos; criar uma escola de pais, encontros das famílias em

horários alternativos para ouvi-los e orientá-los na construção da cidadania

pessoal e de seus filhos, discutir temas sociais de suma importância para

auxiliar na educação dos pequenos e/ou adolescentes, que façam parte da

mesma família, como agressividade, sexualidade ou drogas.

Da mesma forma o professor deve saber como o aluno vive, as

condições psíquicas, emocionais, sanitárias, financeiras, em fim como e de

que maneira seu aluno vive com esta família e, portanto pertencente a uma

comunidade, meio social. É muito fácil apontar, rotular comportamentos dos

alunos pautados nos modelos do séc. XX, onde o professor era o dono do

saber e a autoridade, mas hoje a agressividade, a participação e as ações dos

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alunos sejam elas passivas ou de grande participação tem uma justificativa

social e, seus professores e integrantes da comunidade escolar devem ter

conhecimento prévio disto.

É preciso lembrar que quando apontamos o dedo para alguém, estamos

apontando três para nós mesmos. Permitir o livre acesso dos familiares dos

seus alunos, despirem-se de preconceitos e parar de fingir que não está

entendendo os porquês relacionados ao comportamento e aprendizagem dos

seus alunos, como: os seus alunos não assimilam os conteúdos, são

agressivos, revoltados, desinteressados, agitados ou apáticos, é condição

primordial para o desenvolvimento e a relação com os alunos. O educador é

um pesquisador não apenas de conteúdos, mas de vida e, torna-se uma

condição sine qua non conhecer antes de apontar defeitos ou qualidades à

vida de cada um e compartilhar com seus colegas de trabalho estes

conhecimentos. A escola é como uma engrenagem, para funcionar todas as

peças são fundamentais e devem estar alinhadas, lubrificadas e depois de

uma boa revisão, caso não funcione devidamente, suas peças devem ser

substituídas. Educação é amor e, ninguém ama e nem vive sozinho. Portanto

só se educa quando se cria uma relação de afeto única e favorável para

ambas as partes.

A busca hoje é de um espaço onde a família e as relações sociais sejam

valorizadas, onde se crie uma rede social de conhecimento e parcerias

pensando em levar o sujeito, um ser político a exercer num futuro breve a sua

cidadania. Este espaço pode ser a instituição de ensino.

CAPÍTULO IV

A CRECHE-ESCOLA É UMA HISTÓRIA DE AFETO

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Creche-escola não é mais um lugar apenas do cuidar e sim um lugar

onde a criança deve desenvolver todas as suas potencialidades. Para o

desenvolvimento das potencialidades as “cuidadoras” devem ter no mínimo em

sua formação profissional a escola normal onde lhes são dados conteúdos

básicos necessários para lidar com as crianças. São tantos conteúdos

necessários para o desenvolvimento de um bom profissional, conteúdos estes

fundamentais para o entendimento do desenvolvimento humano, como

acontece à infância, a descoberta da escrita, a importância da rotina, do

brincar para o desenvolvimento da criança, a sexualidade infantil, avaliação,

violência doméstica, os pensadores e os fundamentos da educação e tantos,

tantos outros conteúdos.

Todos nós sabemos que educar é fazer emergir vivências do processo

de conhecimento. O "produto" da educação deve levar o nome de

experiências de aprendizagem e não simplesmente aquisição de

conhecimentos supostamente já prontos e disponíveis para o ensino

concebido como simples transmissão.

A educação só consegue "bons resultados" quando se tem como objetivo a

preocupação com a geração de experiências de aprendizagem, criatividade

para construir novos conhecimentos e habilidades para saber "acessar" fontes

de informação sobre os mais variados assuntos.

A educação da criança de zero a seis anos além de ser um direito

constitucional, também está comprovada que no processo de aprendizagem

que começa no momento em que a criança nasce e continua ao longo da sua

vida e nos fundamentos do desenvolvimento humano, durante os primeiros

anos da criança que é determinado os seu EU. É na primeira infância que se

constitui o sujeito.

Educar significa incentivar a autonomia individual e a solidariedade,

prevenir insucessos e lutar contra as desigualdades, favorecer o ensino

experimental e o espírito científico, abrir novos horizontes, aliando a

compreensão das origens e raízes à identidade da inovação científica e

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tecnológica, condições essenciais à mudança orientada para um

desenvolvimento humano integral. Os conteúdos devem ser escritos com o

cuidado de proporcionar as educadoras uma visão plural dos assuntos

necessários à educação de base, cientes de que a aprendizagem somente

acontece quando ocorre a mudança de comportamento do ser humano, em

resposta a uma experiência anterior, requerendo a existência de um significado

efetivo para o aprendiz. Propiciar uma aprendizagem significativa consiste em

considerar a maneira própria de pensar das pessoas e perceber as

contradições e inconsistências, buscando saber valorizar o que sabem e o que

ainda precisam saber. A criança não mudou o que mudou foi o

desenvolvimento da cultura.

O educador só ensina o que tem na sua memória, ou seja, o que já

aprendeu, internalizou. Há necessidade de se entender que aprender é um

processo complexo, onde o ser humano deve ser o sujeito ativo na construção

do conhecimento, e que este somente se dá a partir da ação do sujeito sobre a

realidade.

O conhecimento é o principal fator de inovação disponível ao ser

humano. Não é apenas um recurso renovável, ele cresce exponencialmente na

medida em que é explorado, o educador de creche ao adquirir os conteúdos

referentes à sua prática em sala de aula, se transforma, se valoriza e

automaticamente transformam a sua sala de aula num lugar prazeroso onde as

crianças aprendem brincando através de alguém, que agora sabe o porque e o

que está proporcionando para seus alunos através do vínculo, da empatia, do

afeto estabelecidos no cotidiano. O conhecimento não é constituído de

verdades estáticas, mas um processo dinâmico, que acompanha a vida

humana e não constitui em mera cópia do mundo exterior, sendo um guia para

a ação. Ele emerge da interação social e tem como característica fundamental

poder ser manifestado e transferido por intermédio da comunicação e,

trabalhar com criança, principalmente na idade onde sua personalidade está

sendo construída, seus desejos e emoções internalizados, é isso: desejo,

responsabilidade, troca, desenvolvimento, ação. Assim, a capacidade de

aprender, de desenvolver novos padrões de interpretação e de ação, depende

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da diversidade e da natureza do conhecimento.

Não basta que cada qual acumule no começo da vida uma determinada

quantidade de conhecimentos de que se possa abastecer indefinidamente. É,

antes, necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da

vida, todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer esses

conhecimentos, e de se adaptar a um mundo em mudança. Portanto a criança

deve ter desde o início de sua vida estímulos para que possa desenvolver,

assimilar, transformar e internalizar conceitos.

Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação

deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que, ao

longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do

conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da

compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente;

aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas

as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as

três precedentes. É claro que estas quatro vias do saber constituem apenas

uma, já que existem entre elas inúmeros pontos de contato.

Todo ritual de uma sala de aula centra-se diariamente em torno do

conhecimento, devendo todas as ações e práticas desse contexto orientar-se

para a garantia do acesso às fontes de informação, estímulo ao trabalho

intelectual, à mobilização das fronteiras próprias e coletivas do saber,

colocando-o em circulação e incorporando-o à geração de novo conhecimento.

Devemos pensar a educação como um processo ao longo da vida,

reiteramos que estamos falando da intervenção da sociedade para que exista

o estímulo à criatividade individual – que conduz as pessoas a alcançar a sua

plenitude nesse sentido, aliado ao estímulo à criatividade social – que as leva à

integração ao seu grupo cultural, cientes que é na primeira infância que se

estabelecem as primeiras relações de afeto.

4.1-O papel do psicopedagogo na relação de afeto

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Partindo do pressuposto de que a creche-escola é o lugar de construção

de conhecimento, estabelecimento de vínculo e afeto e período escolar onde

as crianças apresentam a construção da base onde se começa a construir o

conhecimento do aluno, o psicopedagogo tem total e importante atuação no

trabalho com as crianças e com toda a comunidade escolar, principalmente no

que diz respeito à prevenção de problemas futuros na aprendizagem. Na

abordagem preventiva, o psicopedagogo pesquisa as condições para que se

produza a aprendizagem do conteúdo escolar, identificando os obstáculos e os

elementos facilitadores, sendo isso uma atitude de investigação e intervenção.

Este trabalho preventivo é uma espécie de assessoria junto a pedagogos,

orientadores, professores e familiares, cujo objetivo é trabalhar as questões

pertinentes às relações vinculares professor-aluno, aluno-aluno, aluno-

familiares e redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e o

cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos, nas diferentes áreas do

conhecimento e na relação que se estabelece dentro da creche-escola. Para

tanto, prioridades devem ser estabelecidas, dentre elas: diagnóstico e busca

da identidade de cada educando, da escola, definições de papéis na dinâmica

relacional em busca de funções e identidades, diante do aprender, análise do

conteúdo e reconstrução conceitual, além do papel da escola no diálogo com a

família e com a comunidade escolar.

O papel do psicopedagogo escolar é muito importante, pode e deve ser

pensado a partir da instituição, a qual cumpre uma importante função social.

Função esta de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o

desenvolvimento cognitivo, pois, através da aprendizagem, o sujeito é inserido,

de forma mais organizada no mundo cultural e simbólico, que incorpora a

sociedade.

Trabalhando de forma preventiva, o psicopedagogo deve levar em

consideração quem são os protagonistas dessa história: professor e aluno,

porém estes não estão sozinhos; participam também a família e outros

membros da comunidade que interferem no processo de aprendizagem e que

decidem sobre as necessidades e prioridades escolares.

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Para tanto, é necessário que se faça uma releitura e reelaboração do

desenvolvimento das práticas curriculares, a criação de atividades de acordo

com cada faixa etária trabalhada focando principalmente no aspecto afeto-

cognitivo, para que haja a integração de aluno (criança) e professor.

Vale salientar que tal criação de atividades é proporcionada pelo

trabalho em grupo de orientadores, psicopedagogos e professores, bem como

o desenvolvimento de projetos e treinamentos ligados à área em questão.

A criação de atividades deve ser atrelada à modulação de exercícios,

pois ajuda na contextualização dos tópicos a serem ministrados, e também na

integração do grupo. Os vínculos devem ser criados entre professor, aluno

(individualmente e inserido no grupo), material didático e realidade.

Ou seja, o aprendizado depende do outro, das relações estabelecidas

entre o outro e o ambiente. As atividades citadas anteriormente podem e

ajudam na integração das pessoas e do meio. Para aprender, é necessário

tornar explícito o implícito – medos, vínculos internos. Tal processo é

desenvolvido através da dinâmica de grupo, jogos os quais lidam com

limitações e projeções. Pichon resgata a aprendizagem como transformação

do ser, e tal proposta de modificação acontece sempre no “aqui e agora”, pois

nela está inserida o passado, presente e o futuro e o grupo pode ser definido

como o espaço que se aprende novas matrizes: o grupo real é o contexto do

aprender.

Finalmente, a família deve ser inserida dentro do contexto escolar, a fim

de auxiliar aluno e professor neste ciclo de aprendizagem. À família cabe a

tarefa de encorajar seus filhos para os estudos, mas com certa cautela para

não projetar seus sonhos frustrados e ansiedade. Também é responsabilidade

da família mostrar aos seus filhos a importância de estar na creche-escola..

Por isso que os “autos” devem ser incutidos desde sempre: auto valorização,

Rivière (1995) defende que o aprendizado em grupo implica em uma relação dinâmica e dialética do homem no contexto social, considerando o homem um ser cujas necessidades são satisfeitas socialmente.

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auto-respeito, auto amor... E isso parte dos pais que são tidos como

referenciais modelos a serem seguidos. Não se pode esquecer que a família é

o primeiro núcleo de vínculo, afeto e ensinamentos de valores, logo a ela o

poder de educar.

E a família (nuclear ou não) deve estabelecer relações estreitas com a

escola e os educadores, de maneira a auxiliar no que for preciso para o

progresso dos educandos. Não basta matricular o filho na creche-escola e

pagar (quando esta for particular), mas sim estar a par do que ocorre e fazer

parte deste meio.

O trabalho psicopedagógico preventivo terá como objetivo principal

trabalhar os elementos que envolvem a aprendizagem de maneira que os

vínculos estabelecidos sejam sempre bons. A relação dialética entre sujeito e

objeto deverá ser construída positivamente para que o processo ensino-

aprendizagem aconteça de maneira saudável e prazerosa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com todo o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos, seja como

coordenadora de creche, formação de educadores, palestrante, professora em

sala de aula ou até mesmo aluna do curso de Psicopedagogia, tenho

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aprendido muito sobre o ensinar e o aprender, e com isso, sobre o próprio viver

com a amorosidade essencial.

Este trabalho foi desenvolvido e escrito de acordo com tudo que acredito

e semeio pela educação a fora. Acredito que em nossa formação no âmbito

escolar, uma nova semente sempre pode ser plantada, vencendo os desafios

da racionalização excessiva e da racionalidade ausente: conhecer novas

iniciativas favorece a ampliação do olhar dos ensinantes do presente, trabalhar

o amor indo além das paredes e muros escolares, numa perspectiva

humanística de alcançar o sonho de termos, de fato, uma educação que

atenda o direito de todos e todas.

Propor novos conteúdos no cotidiano escolar, tornar significativas as

vivências da comunidade escolar, ampliar nossas compreensões sobre a

própria lógica excludente de nosso tempo e buscar a participação ativa de

todos no processo de construção do conhecimento, são ações que viabilizam

experiências educacionais ricas em conteúdos, significados e sentidos. Como

cita Cunha, cáp VI, pg 77

O mais importante, hoje, é refletir sobre a aprendizagem não só no

interior da escola, mas em todos os espaços e tempos do sujeito vivente, que

interage, a seu modo e jeito, com o mundo, com os outros sujeitos, com os

textos, pretextos e contextos, com suas múltiplas dimensões.

Na escola, educação é vida quando se percebe que educar-se não é

tão-somente estar na escola, mas sim estar em movimento de construímos

nossas próprias vidas, relacionando com amorosidade novos modos de

aprender e de ensinar.

Para (re)criarmos uma educação que não seja só do "fabricar", do "fazer

por fazer" é preciso à proposição do "maravilhar-se", do "admirar-se" com a

fantástica beleza da vida, processo possível com a presença de

desenvolvimento de competências interpessoais nos espaços e tempos da

“O amor do educador o faz buscar sempre novos

caminhos. A sua busca não o deixa ser repetitivo, mas

afetivamente criativo.”

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escola e da vida.

A vida é para ser vivida, fato. Mas só o amor constrói as relações

humanas e possibilita através do afeto a construção do saber.

Não existe relação sem vínculo, não existe educação sem amor, logo

não existe aprendizagem sem afeto. Todo ser humano é dotado de razão e

emoção, corpo e alma são únicos e indivisíveis.

Espero que esse trabalho realmente venha nortear as ações que

envolvem a concepção da formação do psicopedagogo para compor uma

verdadeira Sociedade do Conhecimento em direção à construção de uma

Educação Melhor para nossas crianças, uma Sociedade Melhor e mais justa e

por consequencia um Mundo Melhor.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis,

RJ: Vozes, 2000.

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Documentos Eletrônicos

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http://aosolhosdaalma.vilabol.uol.com.br/psicopedagogiaum.htm

http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/brevehistorico.htm

http://www.aosolhosdaalma.vilabol.uol.com.br/psicopedagogiaum.htm

INDÍCE

AGRADECIMENTOS.........................................................................................3

DEDICATÓRIA...................................................................................................4

RESUMO...........................................................................................................5

METODOLOGIA................................................................................................7

SUMÁRIO..........................................................................................................8

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INTRODUÇÃO...................................................................................................9

CAPÍTULO I – REPENSANDO AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA ENFOQUES E TRAJETÓRIA.........................................................................11

CAPÍTULO II – A AFETIVIDADE E O VÍNCULO NO ENSINO APRENDIZAGEM: COM O CORAÇÃO NAS NUVENS...................................16

2.1 – TEORIA DO VÍNCULO............................................................................20 2.2 – A AFETIVIDADE REPENSADA A LUZ DAS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA..............................................................................................24

CAPÍTLO III –.. AFETO E EDUCAÇÃO: UMA UNIÃO NECESSÁRIA ...........23

3.1 - A FORMAÇÃO DO EDUCADOR..............................................................38 3.2 - RELAÇÃO DE PARCERIAS: FAMÍLIA X ESCOLA X COMUNIDADE ...41 CAPÍTLO IV –. A CRECHE-ESCOLA É UMA HISTÓRIA DE AFETO.............47 4.1- O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA RELAÇÃO DE AFETO................50

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................53

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS................................................................55

FOLHA DE AVALIAÇÃO.................................................................................59

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Instituto a Vez do Mestre

Título da Monografia: Trilhando Caminhos Necessários: repensando uma

proposta psicopedagógica centrada na afetividade e nas relações

educacionais.

Autor: Valéria Silva Bernardo

Data da entrega: 13 de abril de 2010

Avaliado por: Profª Maria da Conceição Maggioni Poppe

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Conceito: