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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE EDUCAÇÃO E A ABORDAGEM JUNGUIANA Por: Vanessa Solidade Muniz Orientador Prof.ª Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2009

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Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · relacionados à Psicologia Analítica desenvolvida por Jung. 7 ... INTRODUÇÃO Hoje em dia a ... será apresentada uma breve

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

EDUCAÇÃO E A ABORDAGEM JUNGUIANA

Por: Vanessa Solidade Muniz

Orientador

Prof.ª Mary Sue Pereira

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

EDUCAÇÃO E A ABORDAGEM JUNGUIANA

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Arteterapia em Educação e Saúde.

Por: Vanessa Solidade Muniz

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AGRADECIMENTOS

A todos os amigos, parentes,

professores pelo incentivo e confiança

em mim depositados.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho ao meu amigo e

mestre Carlos, que tanto me ajudou nessa

caminhada. Também à Viviane minha

irmã e ao meu amigo Marcos pela

amizade, companhia e incentivo.

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RESUMO

A situação nas escolas brasileiras é critica. A falta de interesse e

indisciplina dos alunos levam os professores a ficarem desmotivados,

impedindo assim que um bom trabalho seja desenvolvido nas escolas. Além

disso, há uma lacuna entre o que o professor aprende em sua formação e a

realidade das escolas onde este desenvolve seu trabalho pedagógico seja nas

escolas públicas ou privadas. Assim, o objetivo principal desse trabalho é a

partir de uma pesquisa bibliográfica, responder a seguinte questão: Será que a

teoria junguiana poderá nos indicar pistas para reinventar a educação? . Ao

término deste descobriu-se que a teoria junguiana pode apresentar pistas para

que haja uma modificação na educação.

.

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METODOLOGIA

Esse trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica.

Como ponto de partida, tomamos como base teórica a leitura de livros

relacionados à Psicologia Analítica desenvolvida por Jung.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Jung 10

CAPÍTULO II - Jung e a Psicologia Analítica 18

CAPÍTULO III – A Teoria Junguiana e a Educação 26

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO 41

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INTRODUÇÃO

Hoje em dia a situação nas escolas brasileiras é critica. A falta de

interesse e indisciplina dos alunos levam os professores a ficarem

desmotivados, impedindo assim que um bom trabalho seja desenvolvido nas

escolas.

Além disso, há uma lacuna entre o que o professor aprende em sua

formação e a realidade das escolas onde este desenvolve seu trabalho

pedagógico seja nas escolas públicas ou privadas.

Observamos uma grande preocupação em formar seres humanos

racionais aptos para ingressarem no mercado de trabalho com o domínio da

leitura, da escrita e da tecnologia sem levar em conta as suas emoções,

criatividade, personalidade e cultura. Assim, a educação não parece ter um

equilíbrio entre a razão e a sensibilidade formando assim homens incompletos

que acabam buscando no coletivo, ou seja, nas drogas, no álcool, na religião,

bens materiais e no culto ao corpo algo que os complete.

Este quadro mostra claramente o quanto a educação tornou-se

abstrata. Esta ignora o espaço e o grupo social para qual é destinada, fazendo

com que os alunos não entendam a sua relevância.

A fim de reverter este quadro, é preciso que haja uma modificação na

educação, não só no individual mas no coletivo, pois esta não é um fato

isolado. A educação precisa estar dentro do contexto social e da realidade dos

alunos para que a mesma tenha sentido, explicação e conteúdo para estes.

Assim, este trabalho objetiva abordar o tema educação sob a ótica da

teoria junguiana a fim de levar professores e demais profissionais envolvidos

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9em educação a refletirem sobre as relações possíveis desta teoria no campo

educacional.

No capítulo I, será apresentada uma breve biografia de Carl Gustav

Jung. Vale ressaltar que não temos a intenção de abarcar toda a história e vida

de Jung, pois o objetivo é explorar o período de sua vida em que podemos

detectar influências para a formação de seu pensamento original, o que se dá

principalmente após separar-se de Freud.

Após o rompimento com Freud, Jung tornou-se um pensador

independente, suas idéias ganharam espaço próprio e passaram a constituir

um arcabouço teórico chamado, originalmente, de Psicologia Complexa, mais

tarde adquiriu o nome como é conhecida até hoje, Psicologia Analítica. Assim,

o capítulo II, tratará sobre alguns conceitos fundamentais da Psicologia

Analítica de Jung a fim de favorecer àqueles que não estão familiarizados com

este tipo de Psicologia. Vale ressaltar, que este capítulo não se trata de um

glossário sobre Psicologia Analítica, mas da tentativa de, preliminarmente,

apresentar alguns conceitos fundamentais desta que serão pertinentes ao tema

abordado no capítulo III.

No capítulo III, investigará de que forma a teoria junguiana pode

auxiliar professores e alunos no processo de ensino e aprendizagem e na

relação dos mesmos. Esse capítulo tentará responder a seguinte questão: Será

que a teoria junguiana poderá nos indicar pistas para que haja uma

modificação na educação?

A fim de responder essa questão, esse trabalho foi desenvolvido a

partir de uma pesquisa bibliográfica. É importante mencionar que este não tem

a pretensão de apresentar soluções para os problemas educacionais

encontrados hoje, mas apresentar um estudo teórico que sirva como tema de

reflexão para educadores e demais profissionais envolvidos em educação.

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CAPÍTULO I

JUNG

Este capítulo apresenta uma breve biografia de Carl Gustav Jung. Vale

ressaltar que não temos a intenção de abarcar toda a história e vida de Jung,

pois o objetivo é explorar o período de sua vida em que podemos detectar

influências para a formação de seu pensamento original, principalmente ao que

se refere à educação.

1.1- Infância e Juventude

Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho de 1875, em Keswill, na parte

suíça do Lago Constança. Seus pais, Emilie Preiswerk uma simples dona de

casa e Paul Aquiles, um pastor luterano da zona rural.

Paul e Emilie tiveram quatro filhos natimortos, antes do nascimento de

Jung. Isto causou um profundo desgaste na relação do casal, que nem mesmo

o nascimento de Jung, o primeiro filho a sobreviver, foi capaz de superar. A

depressão de Emilie e o isolamento de Paul contribuíram para uma infância

solitária de Jung.

Após o nascimento do menino Jung, Paul conseguiu mudar-se para

paróquias melhores até chegar a Kleinhuningen, uma região da Basiléia onde

morava a família de Emilie, o que contribuiu para que Jung tivesse um convívio

maior com seus primos.

Aos seis anos Jung foi para a escola onde teve um bom desempenho

devido ao ambiente familiar mais intelectualizado em contraste com os seus

colegas de classe que eram filhos de camponeses.

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11Jung, em sua autobiografia, relembra que o convívio com seus

colegas o tornava diferente do que era em casa. Ele relata as suas

experiências com fogo em especial a fogueira:

“Lembro-me de que nessa época (de meus sete a nove anos) gostava de brincar com fogo. Em nosso jardim, havia uma parede construída com grandes blocos de pedra, cujos interstícios formavam curiosos vazios. Com a ajuda se outras crianças, eu costumava manter uma pequena fogueira acesa dentro deles. O fogo deveria arder sempre, portanto, era necessário alimentá-lo continuamente. Devíamos unir nossos esforços a fim de juntar a madeira necessária. Ninguém senão eu tinha licença para cuidar diretamente do fogo. Meus amigos podiam acender outras fogueiras, em outros buracos, mas elas eram profanas e não me diziam respeito. Só o meu fogo era vivo e tinha caráter sagrado. Durante muito tempo, foi esse o meu brinquedo favorito.” (Jung, 1963, p.31-32)

Essas brincadeiras grupais, no entanto, perdiam o caráter coletivo para

tornarem-se objeto de reflexão do menino introvertido Jung, pois próximo a

esse lugar havia uma pedra sobre a qual ele sentava e ficava matutando sobre

os possíveis pensamentos que a pedra poderia ter em relação a ele.

Outra experiência significativa foi o homenzinho que o menino Jung

esculpiu na extremidade da sua régua de madeira, com cerca de seis

centímetros de comprimento. O menino destacou o boneco da régua, tingiu-o

de preto e o guardou em um estojo onde lhe preparou um pequeno leito. Além

disso, colocou junto do homenzinho um seixo de Rheno. O seixo era a pedra

do homenzinho. Jung guardou-o em uma viga no sótão de sua casa. Jung

ficava feliz em pensar que naquele lugar o seu homenzinho com o seixo estava

guardado e o seu segredo assim estava seguro. Com o tempo, passou também

a escrever algumas frases em rolinhos de papel que ia colocar junto ao seu

homenzinho. Tudo isso consistia em um grande segredo que o próprio Jung

não entendia.

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12Esses segredos fizeram parte de experiências intensas que anos

mais tarde foram retomadas em algumas de suas obras a fim de explorar

alguns mistérios como Jung mesmo explica:

“Esqueci-me, depois, totalmente deste fato, até os trinta e cinco anos. Foi então que, da névoa da infância, de novo, com clareza imediata, os fragmentos de lembranças surgiram: quando ocupado na preparação do meu livro Símbolos e Transformações da libido, li acerca dos cachê de pedras da alma, perto de Arleshein e sobre os churingas. Descobri subitamente que eu fizera uma imagem muito precisa de tais pedras, se bem que jamais houvesse visto antes qualquer reprodução delas. (...)Ali estava, na minha frente, a imagem de uma pedra polida, pintada de tal maneira que a parte inferior se distingua da superior. Mas ela não me parecia algo desconhecido e foi, então que me voltou à lembrança o estojo amarelo de guardar canetas e um homenzinho. Este era um pequeno deus oculto dos antigos, um telésforo, que, em muitas representações antigas, aparece perto de Esculápio para o qual lê um rolo que tem na mão.” (in Leal, 1999, p.38)

Percebemos assim que esse período inicial da vida de Jung apresenta

elementos que, de alguma forma, contribuíram para o seu jeito de ser, sua vida

e sua obra. A situação de filho único em um ambiente familiar instável e pouco

caloroso e as várias mudanças de local de moradia também contribuíram para

um movimento mais introspectivo, despertando assim a curiosidade e a

atenção para as vivência internas que eram intensas e provocativas. Jung

privilegiou seu mundo interno desde cedo, conduta esta que ele cultivou até o

fim de sua vida.

Com doze anos, Jung mudou de escola e passou a estudar em um

colégio onde estudavam os filhos das melhores famílias da Basiléia. Foi nesse

momento que Jung tomou plena consciência de sua pobreza. Enquanto seus a

colegas de classe iam de para a escola de carruagem, Jung acordava cedo e

caminhava a cerca de uma hora e meia até chegar nesta. Nessa época Jung

viveu o contraste entre sua realidade e a de seus colegas de turma. No entanto

de forma inversa àquela vivida por ele anteriormente. Antes ele era o que tinha

mais instrução, sabia latim e destacava-se entre os meninos humildes, filhos de

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13camponeses. Agora era o que mal falava o alemão, entre os colegas que

eram fluentes nessa e em outras línguas. Além disso, Jung entrava na

puberdade era o desajeitado, forte e mais alto do que todos de sua idade. Tais

fatos, somados a adaptação ao novo meio social, contribuíram para que Jung

se envolvesse em conflitos e brigas, tendo a agressividade como resposta

comum. Tal conduta fez com que Jung recebesse punições de seus

professores e tivesse um círculo restrito de amigos.

No verão de 1887, ocorreu um fato com Jung digno de nota. Jung

esperava um colega na escola, quando, inesperadamente, um aluno o

empurrou e ele bateu com a cabeça no chão, ficando semiconsciente por

algum tempo. De imediato ele pensou “agora não preciso mais ir à escola.”.

A partir desse acontecimento, Jung passou a ter frequentes desmaios,

fazendo com que fosse afastado da escola. Esta situação durou meses,

tornando-se uma grave preocupação para seus pais. Até que certo dia, ouvindo

uma conversa entre seu pai e um amigo, Jung percebeu a angústia de seu pai

e resolveu com muito esforço pôr um fim aquele comportamento.

A superação desse acontecimento fortaleceu Jung. Este voltou para a

escola mais dedicado e com afinco.Tal atitude, fez Jung obter uma melhora

significativa em seu desempenho escolar, que consequentemente

proporcionou-lhe também maior popularidade entre os colegas. O introvertido e

solitário Jung tornou-se afável e compartilhava das brincadeiras com os

demais.

Foi nessa época que Jung descreve o momento que considerou o fim

da sua infância. Aos treze anos, quando caminhava para a escola, sentiu-se

emergindo de uma neblina ao mesmo tempo em que ouvia dizer para si

próprio: Eu sou eu mesmo!

Pouco tempo mais tarde chegou a época da confirmação religiosa. Seu

pai o preparava para fazer a crisma. Fato que aborreceu seriamente Jung, pois

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14quando achou que poderia ter uma conversa franca e profunda para discutir

com ele as suas dúvidas religiosas, seu pai tinha apenas respostas prontas e

dogmáticas, as mesmas que sempre utilizava em seu magistério.

Esta falta de diálogo entre pai e filho contribuiu para um afastamento

em relação a seu pai. Essa distância somada a vivência da descoberta de si

mesmo, levou Jung a trilhar novos caminhos. Mergulhou na biblioteca de seu

pai, à procura de livros que pudesse responder suas perguntas. Jung leu a

Bíblia, São Thomas de Aquino, Hegel, Schopenhauer e Kant. Chegou a

Nietzche e Goethe, autores que serviram de pontos de partida de sua obra.

Ampliou sua leitura com Shakespeare e outros autores clássicos gregos. Voltou

a estudar latim e dedicou-se ao grego. A partir dessas leituras, Jung formou

sua base intelectual independente e eclética, cujos reflexos são encontrados ao

longo de toda a sua obra.

1.2 - A Escolha da Profissão

Ao terminar o estudo ginasial, Jung decide procurar uma profissão que

lhe proporcionasse um futuro promissor tanto social quanto financeiro. De

início, pensou em fazer arqueologia. Também tinha interesse em filosofia e em

ciências naturais. Certa indecisão profissional persistiu, até que lhe ocorreu a

idéia de fazer medicina. Está carreira, a principio, parecia reunir vários

interesses de Jung.

Jung se formou em medicina. Porém, viu na psiquiatria a área em que

poderia prosseguir com alguns de seus interesses como a religião, a filosofia e

as ciências naturais. Segundo, Jung a psiquiatria era o campo comum da

experiência dos dados biológicos e dos dados espirituais, ou seja, tratava-se do

lugar em que o encontro da natureza e do espírito se tornava realidade.

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15Em 1900, Jung assumiu o posto de psiquiatria do Hospital de

Burgholzli,da Universidade de Zurique, sob a chefia de Eugen Bleuler, famoso

pela sua concepção de esquizofrenia.

Em 1902 Jung esteve em Paris onde estudou com Pierre Janet, que

era um nome importante da escola francesa, de larga influência na psiquiatria

européia. Em 1905, tornou-se professor de psiquiatria, assumindo um pouco

depois o cargo de médico-chefe na clínica. Nesta, organizou um laboratório de

psicologia experimental onde realizou, entre outras, experiências sobre

associações.

Nessas experiências, Jung estava interessado em investigar as

perturbações nas reações dos pacientes, relacionando-as a palavras que

podiam ser vinculadas a conteúdos afetivos. Essas pesquisas o levaram a

formular o conceito de complexo e à demonstração objetiva da existência do

inconsciente, constituindo-se assim, sua primeira importante contribuição para

a psiquiatria na época.

Embora os conceitos formulados por Jung tivessem a herança da

escola alemã, hegemônica na ocasião, estes seguiam um direcionamento

bastante distinto. Jung criticava o posicionamento de seus colegas, que se

preocupavam em catalogar sintomas e diagnosticar e ignoravam o doente

como um ser humano individual. Para Jung, a questão principal era o que se

passava com o paciente. Jung propunha assim uma atitude humanista frente

aos pacientes. Uma vez que estes eram vistos em sua totalidade e não apenas

pessoas com alguns sintomas.

1.3 - O Encontro com Freud

Durante esse período, a preocupação de Jung com seus pacientes o

fez entrar em contato com as obras de Sigmund Freud (1856-1939). Jung

identificou-se com grande parte de suas idéias. Jung enviou-lhe cópias de seus

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16trabalhos sobre a existência do inconsciente, confirmando as concepções de

Freud sobre recalque e repressão.

A partir de então Jung e Freud passaram a se corresponder. O primeiro

encontro entre eles transformou-se numa conversa de treze horas ininterruptas.

Após esse encontro estabeleceram uma intensa e produtiva parceria de

aproximadamente sete anos, durante a qual trocavam informações sobre seus

sonhos, análises e discutiam casos clínicos.

Em 1910, em Nuremberg, após a realização do II Congresso

Psicanalítico, foi criada a Associação Psicanalítica Internacional (IPA). Freud

achando que já não era tão jovem para continuar em sua posição de liderança

do movimento psicanalítico decidiu transferi-la para alguém mais jovem, que

ocuparia seu lugar após sua morte. Sendo assim, escolheu Jung para ser o

primeiro presidente da IPA.

Após ter sido escolhido por Freud, Jung envolveu-se completamente na

produção e divulgação da psicanálise até 1911. Jung mostrava-se insatisfeito

com algumas posições de Freud, principalmente em relação à teoria da libido.

Nesse ano suas divergências tornaram-se insustentáveis com a publicação de

Transformações e Símbolos da Libido, que teve sua segunda parte publicada

no ano seguinte. Tal publicação apresentava em seu conteúdo, o conceito

junguiano de libido como energia psíquica e marca o início do processo de

afastamento de Jung em relação à psicanálise. Assim, pouco depois, após o IV

Congresso Psicanalítico, ocorrido em Munique, em 1913, Jung renunciou à

presidência da Sociedade Internacional de Psicanálise e rompeu com Freud.

1.4 – Buscando o próprio caminho

Após a separação de Freud, Jung seguiu seu próprio caminho, com

desenvolvimento de conceitos que denominou Psicologia Complexa, ou

Psicologia Analítica. A Psicologia Analítica se distingue da psicanálise iniciada

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17por Freud, por um conceito mais amplo de libido e pela introdução do

conceito de inconsciente coletivo.

Ao contrário de Freud, Jung iniciou seu percurso profissional com base

em suas experiências com pacientes esquizofrênicos. Sua prática psiquiátrica

foi importante para o desenvolvimento do conceito de libido. Esse e outros

novos conceitos foram aprimorados e desenvolvidos para a Psicologia

Analítica. Alguns desses conceitos, pertinentes a esse trabalho, serão

abordados no próximo capítulo.

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CAPÍTULO II

JUNG E A PSICOLOGIA ANALÍTICA

Psicologia Analítica foi o termo escolhido por Jung para abarcar toda a

sua teoria psicológica do inconsciente. Esta teoria é ampla e possui raízes

profundas. Desta forma, este capítulo abordará apenas alguns conceitos

básicos da Psicologia Analítica considerados relevantes para a compreensão

dos temas que serão abordados no capítulo III.

Jung foi sujeito de suas próprias experiências relacionadas ao estudo

do inconsciente. Seus sonhos, fantasias, intuições, etc., serviram como uma

fonte de pesquisa e análise. Ao contrário de Freud, Jung não considerava o

inconsciente um depósito de memórias e pulsões reprimidas. Para Jung, o ser

humano nasce inconsciente e traz com ele conteúdos herdados dos ancestrais.

Estes conteúdos são constituídos por memórias, pensamentos, imagens e

emoções que nunca foram conscientes, ou seja, estes são pré-existentes ao

consciente. Segundo ele, o inconsciente vive em constante movimento, produz

conteúdos, reúne os já existentes, e trabalha numa relação compensatória e

complementar com o consciente. No inconsciente encontram-se conteúdos

pessoais, adquiridos ao longo da vida e as produções do próprio inconsciente.

Jung dividiu o inconsciente em Inconsciente Pessoal e Inconsciente Coletivo.

2.1 – Inconsciente Pessoal e Inconsciente Coletivo

O Inconsciente Pessoal refere-se à camada mais superficial de

conteúdos do inconsciente. Tais conteúdos permanecem no inconsciente, pois

são:

(...) percepções e impressões subliminares dotadas de carga energética insuficiente para atingir o consciente; combinações de idéias ainda demasiado fracas e indiferenciadas; traços de acontecimentos ocorridos durante o curso da vida e perdidas pela memória consciente; recordações penosas de serem recordadas.(SILVEIRA, 1981, p.72)

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19Assim, todos estes conteúdos presentes no Inconsciente Pessoal

podem surgir na consciência a qualquer momento.

Já o Inconsciente Coletivo é a camada mais profunda do inconsciente e

constitui-se de elementos que foram herdados da humanidade. Como o próprio

Jung define:

Do mesmo modo que o corpo humano apresenta uma anatomia comum, sempre a mesma, apesar de todas as diferenças raciais, assim também a psique possui um substrato comum. Chamei a este substrato inconsciente coletivo. Na qualidade de herança comum transcende todas as diferenças de cultura e de atitudes conscientes, e não consiste meramente de conteúdos capazes de tornarem-se conscientes, mas de disposições latentes para reações idênticas. Assim o inconsciente coletivo é simplesmente a expressão psíquica da identidade da estrutura cerebral independente de todas as diferenças raciais. (SILVEIRA, 1981, p.72-73)

A fim de esclarecer a diferença entre o Inconsciente Coletivo e

Inconsciente Pessoal Jung os compara:

O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode ser negativamente distinguido do inconsciente pessoal pelo fato de, ao contrário deste, não dever sua existência pessoal. Enquanto o inconsciente pessoal é composto essencialmente de conteúdos que certa feita foram conscientes, mas que desapareceram do campo da consciência por terem sido esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do inconsciente coletivo nunca foram conscientes e, portanto, nunca foram individualmente adquiridos, mas devem sua existência exclusivamente à hereditariedade. Enquanto o inconsciente pessoal consiste em sua maior parte de “complexos”, o conteúdo do inconsciente coletivo consiste em sua maior parte de arquétipos” (JUNG, 1990,p.42)

Nessa citação, Jung menciona dois termos dignos de serem

aprofundados: arquétipos e complexos. É o que será feito no item

subsequente.

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2.2 - Arquétipos e Complexos

Jung chamou de arquétipos as disposições latentes do inconsciente

coletivo. Segundo ele os “arquétipos são possibilidades herdadas para

representar imagens similares (...). São matrizes arcaicas onde configurações

análogas ou semelhantes tomam forma.” (SILVEIRA, 1981, p.77)

Jung compara o arquétipo ao sistema axial dos cristais que determina a

estrutura cristalina na solução saturada sem possuir, no entanto, existência

própria. Assim, embora os arquétipos sejam confundidos com imagens

arquetípicas ou temas mitológicos definidos, é através de uma ou mais

imagens que ele é reconhecido e revelado, isto é, imagens arquetípicas ou

motivos mitológicos são apenas representações conscientes de um arquétipo.

Já os complexos são grupos de idéias, imagens, fantasias e

percepções carregadas de energia e, por conseqüência, possuem uma intensa

força emotiva que se agrupam em torno de um núcleo ou arquétipo.

Os complexos não são negativos, mas seus efeitos, no entanto podem

ser. Muitas vezes os complexos agem de forma autônoma, ou seja,

independente do ego, quando uma parte da psique é dividida devido a um

trauma, um choque emocional ou um conflito moral. Como explica Saiani:

Na verdade, eles (os complexos) são a maior prova de existência do inconsciente, uma vez que possuem um caráter autônomo que desafia a vontade do ego que, aliás, também é considerado um complexo. São eles os responsáveis pelos lapsos de memória, pelos sintomas sem explicação clínica, pelas insônias, por tudo aquilo que faz com que não nos sintomas senhores em nossa própria casa. (SAIANI, 2003, p.50)

No seu sentido positivo, os complexos são nódulos de energia psíquica

que possibilitam a movimentação da psique, estes acabam tornando-se

facilitadores que impulsionam o ser humano para o desenvolvimento psíquico.

Os complexos podem ser superados quando são vividos intensamente e

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21quando o papel que exercem nos padrões de comportamento e nas reações

emocionais for compreendido. Desta forma, os complexos poderão servir como

molas propulsoras para futuras realizações.

2.3 - Alguns Arquétipos

Jung enfatizou amplamente alguns arquétipos que permeiam o

desenvolvimento da personalidade e que de certa forma estão presentes no

nosso dia-a-dia. Assim, são ativados pela psique logo que uma situação típica

surja. Evidentemente, não cabe aqui, explicar cada um deles, pois cada um

precisaria de uma monografia. No entanto, iremos nos aprofundar apenas em

alguns deles considerando a sua relevância para os objetivos desse trabalho.

2.3.1 – A Persona

Ao viver em uma sociedade, o homem necessita desenvolver algumas

características básicas para a sua adaptação social. Jung usou o termo

persona para referir-se ao arquétipo desta adaptação.

Para Jung a palavra persona tem o mesmo sentido da máscara

utilizada no antigo teatro grego para representar diferentes papéis numa peça.

Assim, persona seria :

(...) uma atitude psicossocial que atua como intermediária entre o mundo interior e o mundo exterior, um tipo de máscara que desenvolvemos para exibir uma face relativamente consciente para o mundo exterior, através da qual aqueles com quem nos encontramos possam relacionar-se conosco de modo adequado. (JACOBI, 1976, p.36)

Desta forma, podemos dizer que a persona funciona como facilitadora

para a comunicação do homem com seu mundo externo e para o desempenho

de vários papéis dele exigidos.

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22Embora o seu uso seja necessário hoje em dia, a persona pode ter

um sentido maléfico caso a pessoa identifique-se com o papel por ela

desempenhado. Isto faz com que esta se distancie de sua própria natureza.

Um militar, por exemplo, não é militar o tempo todo. Em casa é o pai, o marido,

o filho e assim usar outras personas fora do seu ambiente de trabalho. Assinala

Saiani: “O uso de uma persona inadequada para um determinado ambiente

também causa estranheza e inadaptação: ” ( Saiani, 2003,p. 67)

Sendo assim, uma persona que tem um desenvolvimento natural é

flexível e fica “suficientemente diferenciada para que o indivíduo a coloque e a

tire a sua vontade” (JACOBI, 1976, p.41).

2.3.2 – A Sombra

Concomitantemente ao desenvolvimento da persona, há também o

desenvolvimento da sombra. Ao experimentar várias personas, em um

processo que tem início na primeira infância, o indivíduo faz escolhas

conscientes e suprime algumas características incompatíveis com a persona

que está sendo formada naquele momento. Explica Jung:

“No curso do desenvolvimento que se segue à

puberdade de, a consciência defronta-se com tendências

afetivas, impulsos e fantasias que, por uma variedade de

razões, não consegue ou não deseja assimilar.” (in

SHARP, 1993, p.140).

Assim, a sombra parece guardar em si os aspectos positivos e

negativos para o desenvolvimento da personalidade. Segundo Sharp, os

aspectos negativos seriam “os desejos reprimidos, impulsos não civilizados,

motivos moralmente inferiores, fantasias e ressentimentos infantis”.

(Sharp,1993, p.149). Já os aspectos positivos seriam “os instintos, habilidades

e qualidades morais positivas que foram há muito sepultados ou que nunca se

tornaram conscientes.” (ibidem,p. 151)

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23Os aspectos que foram reprimidos e os conteúdos que não se

tornaram conscientes podem, do ponto de vista energético, emergir a qualquer

instante na consciência. Vale ressaltar, que a sombra é o lado oposto da

consciência. Esta representa os aspectos que faltam a cada personalidade que

não condizem com a atitude da consciência naquele momento, portanto, não

deve ser descartada. É preciso integrá-la na consciência, pois uma vez que o

indivíduo a reconhece como parte de si mesmo, este irá fazê-lo

constantemente. A partir desse reconhecimento, a sombra torna-se uma aliada

no processo de escolha consciente.

Além disso, os aspectos que foram descartados em determinados

momentos podem retornar, uma vez que forem compatíveis com a adaptação

social do indivíduo. A sombra possui também mecanismos que impulsionam

este para o desenvolvimento da criatividade e busca de soluções quando os

recursos conscientes se esgotam. A inspiração, por exemplo, é uma

manifestação da sombra.

2.3.3 – O Self ou Si mesmo

Segundo Jung, no processo de desenvolvimento total da personalidade

haveria um momento em que ocorreria uma integração entre o consciente e o

inconsciente. Este momento seria representado por um arquétipo que Jung

denominou Self:

A ‘personalidade supra-ordenada’ é o homem total, isto é, o homem como realmente é, não como aparece para si mesmo. A essa totalidade também pertence a psique inconsciente, com suas exigências e necessidades, da mesma forma como as tem a consciência... Costumeiramente descrevo a personalidade supra-ordenada como o ‘Self’, fazendo assim uma nítida distinção entre o ego, que, como se sabe, se extende apenas até onde o faz a mente consciente, e a totalidade da personalidade, que inclui tanto o componente consciente quanto o inconsciente. O ego está, portanto, relacionado com o Self como a parte está para o todo. Nesse sentido, o Self é supra-ordenado. (JUNG, 1990, p.1986s.)

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24O Self seria, então, o centro de toda a personalidade, assim como o

ego é o centro da consciência. Dele origina-se todo o potencial energético que

a psique dispõe. O Self desempenha uma função especial de ordenador dos

processos psíquicos.

2.4 – A Individuação

Jung buscava, através de suas pesquisas, conhecer a si mesmo e o

significado da vida. Percebeu que para desenvolver-se a psique segue um

único objetivo: encontrar o seu próprio centro, a unicidade. A esse objetivo que

a psique segue, Jung chamou de individuação. Jung define:

Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por “individualidade” entendemos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio self. Podemos pois traduzir ‘individuação’ como ‘tornar-se si mesmo’ ou ‘o realizar-se do si mesmo’. (JUNG, 1978, p. 163).

Embora o processo de individuação seja um impulso inato, este só se

dá no confronto do inconsciente com o inconsciente. È neste confronto que

resulta o amadurecimento de vários componentes da personalidade, na união

destes em uma síntese e a realização de um indivíduo único:

Todo ser tende a realizar o que existe nele em germe, a crescer, a completar-se. (...) Assim é para o homem, quanto ao corpo e quanto à psique. Mas no homem, embora o desenvolvimento de suas potencialidades seja impulsionado por forças instintivas inconscientes, adquire caráter peculiar: o homem é capaz de tomar consciência desse desenvolvimento e de influenciá-lo. Precisamente no confronto do inconsciente pelo consciente, no conflito como na colaboração entre ambos é que os diversos componentes da personalidade amadurecem e unem-se numa síntese, na realização de um indivíduo específico e inteiro. (SILVEIRA, 1981, 87)

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25Duas confusões freqüentes são feitas a respeito do processo de

individuação e devem ser esclarecidas.

A primeira que o indivíduo torna-se perfeito. Através do processo de

individuação o indivíduo se conhece, retira suas máscaras e as projeções

lançadas no mundo exterior e integra-as a si mesmo. Passar por todo esse

processo não significa tornar-se perfeito, mas sim completar-se e aceitar suas

qualidades e defeitos. Conforme aponta Silveira:

(...) não se pense que individuação seja sinônimo de perfeição. Aquele que busca individuar-se não tem a mínima pretensão a tornar-se perfeito. Ele visa completar-se, o que muito diferente. E para completar-se terá de aceitar o fardo de conviver conscientemente com tendências opostas, irreconciliáveis, inerentes à sua natureza, tragam estas as conotações de bem ou mal, sejam escuras ou claras. (SILVEIRA, 1981, p.88)

Outro erro é confundir individuação com individualismo. Individuar se

não significa tornar-se individualista, egoísta ou afastar-se de seus

semelhantes. Jung explica:

Individualismo significa acentuar e dar ênfase deliberada a supostas peculiaridades, em oposição a considerações coletivas. A individuação, no entanto, significa precisamente a realização melhor e mais completa das qualidades coletivas do ser humano; é a consideração adequada e não o esquecimento das peculiaridades individuais, o fator determinante de um melhor rendimento social. ...A individuação, portanto, só pode significar um processo de desenvolvimento psicológico que faculte a realização das qualidades individuais dadas; em outras palavras, é um processo mediante o qual um homem se torna o ser único que de fato é. Com isso, não se torna ‘egoísta’, no sentido usual da palavra, mas procura realizar a peculiaridade do seu ser, e isso, com dissemos, é totalmente diferente do egoísmo e do individualismo. (JUNG, 1978, 163)

Desta forma, a principal meta da individuação seria adquirir o

autoconhecimento a fim de relacionar-se bem com si mesmo e com o próximo.

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26

CAPÍTULO III

A TEORIA JUNGUIANA E A EDUCAÇAO

Esse capítulo tem como objetivo relacionar a teoria junguiana com o

campo educacional. Vale ressaltar, que este não tem a pretensão de

apresentar soluções para os problemas educacionais encontrados hoje, mas

apresentar um estudo teórico que sirva como tema de reflexão para

educadores e demais profissionais envolvidos em educação.

3.1 – A Educação sob a ótica da teoria junguiana

Jung interessava-se pela psique humana, pois acreditava que esta era

a fonte de todas as atividades do homem, inclusive a educação. Jung distingue

três tipos de educação: pelo exemplo, coletiva e individual.

A educação pelo exemplo seria a forma mais comum, ou seja, “natural”

de se transmitir conhecimento. Tal educação seria processada, principalmente,

através do comportamento dos pais, pois “o que educa fundamentalmente a

criança é a vida dos pais. Abundantes palavreados e exuberantes gestos não

são eficazes ou mesmo tornam-se contra-producentes. “ (SILVEIRA, 1981. p.

169)

Segundo Jung, este é o tipo de educação mais importante de todas,

pois pode processar-se de maneira espontânea e de modo inconsciente em

todos os âmbitos da sociedade e da família. Além disso, este é o tipo de

educação mais antigo e eficiente, pois se baseia em uma das propriedades

primitivas da psique.

Entretanto, devemos estar atentos, pois esta educação processa-se

tanto para o bem, quanto para o mal, ou seja, é difícil saber das influências

positivas ou negativas que serão exercidas sobre os filhos e alunos.

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27Nesta fase da educação pelo exemplo, os professores, ao lado dos

pais, desempenham um papel muito importante. Assim, Jung chama a atenção

para os mestres conhecerem a si próprios e se educarem a si próprios, uma

vez que as crianças possuem um instinto surpreendente para detectar as

insuficiências destes: “O pedagogo deveria estar atento a seu próprio estado

mental para verificar de onde provêm as dificuldades que encontra com as

crianças que lhe são confiadas. Pode muito bem acontecer que seja ele a

causa inconsciente do mal.” (SILVEIRA, 1981, p.170)

Já a educação coletiva consciente, refere-se às regras, princípios e

métodos, que são necessariamente de natureza coletiva garantem a vida em

comum e a formação de um membro útil da sociedade.

Segundo Jung, a educação coletiva é indispensável, pois uma vez que

vivemos em sociedade precisamos de normas coletivas. No entanto, devemos

estar atentos a dois fatores que podem ser perigosos nesse tipo de educação.

O primeiro é para que não haja uma valorização excessiva das regras,

princípios e métodos:

O perigo da educação coletiva consiste em que a valorização excessiva de regras, princípios e métodos abafe o normal desenvolvimento das individualidades. Em casos extremos formam-se grupos humanos uniformes, cidadãos idealmente obedientes para serem manejados como robôs por ditadores. (SILVEIRA, 1981, p. 170-171)

O segundo fator enfatiza Jung, será preciso distinguir entre as

qualidades específicas de um indivíduo, ou seja, aquilo que existe nele de

único, e o que são excentricidades temperamentais ou incapacidade para

reconhecer os direitos do outro. Além disso, chama particularmente a atenção

para situações em:

...que muitas vezes crianças rebeldes contra normas coletivas são de fato personalidades defeituosas ou doentes, para as quais será mais indicado que se ajustem às regras da sociedade onde vivem do que desenvolvam suas peculiaridades nocivas. (SILVEIRA, 1981, p. 171)

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28Contudo, ao mesmo tempo em que o indivíduo precisa de normas

coletivas para se integrar ao grupo, este precisa se emancipar do coletivo. Daí

a necessidade de uma educação individual. O objetivo da educação individual

é desenvolver a índole específica de cada um, a fim de valorizar suas

singularidades e sua imagem pessoal.

Neste tipo de educação, cabe ao professor encontrar o caminho que o

levará a compreender melhor seu aluno:

Deverão ser tomados em consideração seus dons especiais e também suas dificuldades em relação a certas matérias (matemática, por exemplo). O tipo psicológico da criança terá de ser aceito, sem que o mestre imbuído do preconceito de que só os extrovertidos sejam normais, esforce-se para obter dos introvertidos um comportamento que para estes é contrário a sua natureza. Não se poderá falar em educação individual sem que o mestre conheça a história das primeiras etapas do desenvolvimento psíquico do aluno e suas condições de vida no seio da família. Pais e mestres estarão atentos para não sufocar os germes peculiares à personalidade, que comecem a repontar na infância e na juventude. (SILVEIRA, 1981, p. 172)

Em suma, podemos dizer que os três tipos de educação são

importantes, mas devemos estar atentos de como serão processados a fim de

não influenciarmos de forma negativa no pleno desenvolvimento do educando.

3.2 – A Escola

Segundo Jung, do ponto de vista psíquico, a criança nem existe, ou

seja, ela é ainda um produto dos pais:

... poder-se-ia afirmar que, do ponto de vista psíquico, ela ainda nem existe. Certamente, quando uma criança de seis anos entra na escola, ainda é, em todo o sentido, apenas um produto dos pais; é dotada, sem dúvida, de uma consciência, do “eu” em estado embrionário, mas de maneira alguma é capaz de afirmar sua personalidade, seja como for.” (JUNG, 1981, p.58).

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29Desta forma, para que a criança se desenvolva e construa a sua

própria personalidade é preciso que esta vá aos poucos se libertando dessa

atmosfera psíquica criada por sua família:

Se a falta de sorte da criança não encontrar uma verdadeira família em casa, de outro lado também é perigoso para a criança estar presa demais à família. A ligação muito forte aos pais constitui impedimento direto para a acomodação futura ao mundo. O adolescente está destinado para o mundo e não para continuar a ser para sempre filho de seus pais.” (JUNG, 1991, p.59)

Assim, Jung aponta duas funções importante da escola: contribuir para

a formação de um indivíduo consciente:

Desse modo emerge a consciência a partir do inconsciente, como uma nova ilha aflora sobre a superfície do mar. Pela educação e formação das crianças, procuramos auxiliar esse processo. A escola é apenas um meio que procura apoiar de modo apropriado o processo de formação da consciência. Sob esse aspecto, cultura é consciência no grau mais alto possível” (JUNG, 1991, p. 56).

E a segunda seria ajudar a criança a desprender-se, até certo ponto,

do ambiente familiar, pois a escola é o primeiro ambiente que a criança

encontra fora da família. Assim, a escola representaria a primeira parte do

grande mundo real:

Nesta luta pela independência, a escola desempenha um papel muito importante por ser o primeiro ambiente que a criança encontra fora da família. Os companheiros substituem os irmãos, o professor, o pai, e a professora, a mãe. (JUNG, 1991, p. 59).

Jung ainda questiona o que seria das crianças se as escolas não

existissem: “... se não tivéssemos escolas e se deixássemos as crianças

entregues a si mesmas, deveríamos então responder: as crianças continuariam

inconscientes em um grau muito maior...” (JUNG, 1991, p.59).

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30Poderíamos, então, dizer que a escola contribui no processo de

individuação do aluno uma vez que esta auxilia no seu desligamento da família,

na adaptação ao mundo e estimula a criação de novos vínculos, a atividade

simbólica e o acesso a novas fontes de conhecimento. Alem disso, está

também proporciona o autoconhecimento, pois na escola o aluno tem a

oportunidade de reconhecer quais são as suas potencialidades e limitações.

3.3 – O Professor

Em uma acepção junguiana é importante que o professor esteja

consciente de seu papel. Este precisa ser muito mais que um mero transmissor

de conhecimentos, para ser capaz de também educar pelo exemplo:

Sua tarefa não consiste apenas em meter na cabeça das crianças certa quantidade de ensinamentos, mas também em influir sobre as crianças, em favor de sua personalidade total. Esta atuação é tão importante como a atividade docente, se não até mais importante. (JUNG, 1991, p.59).

Jung vai além ao enfatizar que mais do que as técnicas ou métodos de

ensino, o professor deve ter em primeiro lugar um compromisso consigo

próprio: “Desde que o relacionamento pessoal entre a criança e o professor

seja bom, pouca importância terá se o método didático corresponde ou não às

exigências mais modernas.” (JUNG, 1991, p.60)

Além disso, Jung considera que... “ninguém, absolutamente ninguém,

está com sua educação terminada ao deixar o curso superior.” (ibidem, p. 61)

por isso é necessário que este adquira o autoconhecimento e tenha uma

educação continuada:

O educador não pode contentar-se em ser o portador da cultura de modo passivo, mas deve também desenvolver ativamente a cultura, e isso por meio de si próprio. Sua cultura não deve estacionar, pois, de outro modo, começará a corrigir nas crianças os defeitos que não corrigiu em si próprio. (JUNG, 1991, p.62)

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31É a partir desse autoconhecimento que o educador irá se educar e

estar consciente de sua sombra para não corrigir nos alunos aquilo que não

reconhece em si mesmo. Jung ainda sugere que o educador deva passar por

uma análise específica, pois “como pode alguém educar, se ele mesmo não foi

educado, como pode esclarecer, quando está no escuro no que diz respeito a

si mesmo, e como purificará, se ainda é impuro?” ( JUNG, 1991,p. 169). Jung

enfatiza:

O educador deve estar mais consciente de sua sombra do que a pessoa comum, pois caso contrário a mão esquerda retoma facilmente o que a direita se esforçou para dar. É esta razão por que há muito se vem insistindo numa análise específica para psicoterapeutas clínicos e para educadores. (JUNG, 1991, p. 1160.)

O professor deve sempre refletir e verificar se aquilo que lhe foi

ensinado ao longo de sua vida, ou seja, as tais “verdades psicológicas” como,

convenções morais sociais políticas, religiosas e filosóficas são eficientes:

O educador deve ter sempre em mente que pouco adianta falar e dar ordens; o importante é o exemplo. (..) O próprio educador deve ter sido educado antes e ter experimentado em si mesmo se são eficientes ou não as verdades psicológicas que aprendeu em sua escola. Na medida em que o educador persistir nesse esforço com certa dose de inteligência e paciência, é provável que não seja um mau educador. (JUNG, 1991, 229)

No ato de ensinar, não são as palavras do educador que prevalecem,

mas sim o que ele realmente é, ou seja, a sua verdadeira essência:

(...) aquilo que atua não é o que o educador ensina mediante palavras, mas aquilo que ele verdadeiramente é. Todo educador no sentido mais amplo do termo, deveria propor-se sempre de novo a pergunta essencial: se ele procura realizar em si mesmo e em sua vida, do modo melhor possível e de acordo com sua consciência, tudo aquilo que ensina. (JUNG, 1991, 240)

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32Jung ainda sugere que o professor demonstre a sua personalidade

ao aluno ou ao menos de a oportunidade dele conhecê-la: “(...) o professor

precisa abrir sua personalidade à criança ou, ao menos, dar a oportunidade de

que ela mesma encontre esse acesso.” (JUNG, 1991, p.107). A partir dessa

citação podemos inferir que Jung se refere ao uso das personas. Muitas vezes

preocupados em mantermos a disciplina da turma ou em concluirmos o

conteúdo programático adotamos uma persona até mesmo rígida, que nem

sempre é compatível com a nossa natureza. Esta serve como proteção contra

as características internas que queremos esconder. Isto de certa forma pode

dificultar a relação professor-aluno, uma vez que o aluno não entenda

determinadas atitudes do professor.

Professores competentes são reconhecidos, mas sentimos gratidão

àqueles que tocam a nossa alma: “Recordamos com reconhecimento os

professores competentes, mas sentimos gratidão em relação àqueles que se

dirigiram ao nosso íntimo.” (JUNG, 1991, p.249).

3.4 - O Método

Segundo Jung desde que o relacionamento professor-aluno seja bom,

pouca importância terá o método didático utilizado, pois o que vale é se o que

foi ensinado irá contribuir para que esse aluno torne-se um adulto de verdade:

O êxito do ensino não depende do método. De acordo com a verdadeira finalidade da escola, o mais importante não é abarrotar de conhecimentos, mas sim contribuir para que elas se tornem adultos de verdade. O que importa não é o grau de saber com que a criança termina a escola, mas se a escola conseguiu libertar ou não o jovem ser humano de sua identidade com a família e torná-lo consciente de si próprio. Sem essa consciência de si mesmo, a pessoa jamais saberá o que deseja de verdade e contribuirá sempre na dependência da família a apenas procurará imitar os outros, experimentando o sentimento de estar sendo desconhecida e oprimida. pelos outros. (JUNG, 1991, p.60)

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33Essa citação nos leva a refletir sobre os métodos utilizados em sala

de aula. Será que ao aplicarmos estamos levando em consideração a

verdadeira finalidade da escola? Será que estaremos estimulando funções

como a criatividade, a afetividade que também são necessárias para a

formação do aluno como um todo?

Jung ainda alerta-nos contra o furor pedagógico do professor, ao

pretender mudar as crianças, sem antes olhar para si mesmo a fim de

modificar-se. Este furor pedagógico não deve ocultar uma questão central: o

problema da educação do educador:

Ninguém negará nem subestimará a importância da educação infantil; são sobejamente manifestos os danos graves, que muitas vezes perduram a vida inteira, causados por uma educação tola, tanto em casa como na escola. È, pois absolutamente necessário que se empreguem métodos pedagógicos mais razoáveis. (...) como aconteceu e acontece ainda que se empreguem na educação métodos tolos estultos? Com certeza, pela razão única e exclusiva de existirem educadores tolos, que não são seres humanos, mas autômatos de métodos sob a forma de gente. Se alguém quer educar, que primeiro seja educado. O que ainda hoje se pratica em relação ao método de decorar e ao emprego mecânico de outros não é educação de forma alguma, nem para a criança nem para o educador. (...). (JUNG, 1991, 284)

Jung ainda chama a nossa atenção para um aspecto importante em

relação ao método que vale a pena refletirmos:

Se nossos métodos de educação mostram-se tão precário quanto a ajuda que possam trazer ao jovem em relação aos problemas da primeira metade da vida, seremos obrigados a reconhecer que o indivíduo entra na segunda metade da vida inteiramente despreparado para fazer face aos importantes e inevitáveis problemas que vai encontrar. (JUNG, 1981, p.173)

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34Assim poderíamos dizer que o fracasso ou o êxito na aplicação de

um método não está na eficácia deste e sim na pessoa que o executa: “... o

bom exemplo é o melhor método de ensino. Por mais perfeito que seja o

método, de nada adiantará, se a pessoa que o executa não se encontrar acima

dele em virtude do valor de sua personalidade.” (JUNG, 1991, p.107).

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35

CONCLUSÃO

O objetivo principal desse trabalho era, a partir de uma pesquisa

bibliográfica, responder a seguinte questão: Será que a teoria junguiana poderá

nos indicar pistas para reinventar a educação? . Ao término deste podemos

concluir que sim. A teoria junguiana pode apresentar pistas para que haja uma

modificação na educação.

A partir da breve biografia de Jung, observamos o quanto suas próprias

experiências no que concerne à influência familiar e a escolar contribuíram

para a formação de seu pensamento original, principalmente as relacionadas à

educação. Jung, desde a infância, estava convicto de que para atingir o

verdadeiro conhecimento seria insuficiente considerar apenas a explicação

racional. Assim, após romper com Freud, desenvolveu a sua própria teoria que

chamou de Psicologia Analítica.

Na Psicologia Analítica desenvolvida por Jung detectamos alguns

conceitos que poderiam ser relacionados à educação, pois Jung não

considerou seu trabalho destinado apenas a pacientes com perturbações

mentais, mas colocou a sua teoria a serviço do desenvolvimento psíquico de

uma forma geral. Assim, verificamos através de uma análise cuidadosa em

quais aspectos essa teoria poderia fornecer elementos relevantes para esse

campo aplicativo como é a educação.

Jung distingue a educação em três tipos: a educação pelo exemplo que

seria a forma mais comum, ou seja, “natural” de se transmitir conhecimento; a

educação coletiva consciente refere-se às regras, princípios e métodos que são

necessariamente de natureza coletiva; e a educação individual cujo objetivo é

desenvolver a índole específica de cada um, a fim de valorizar suas

singularidades e sua imagem pessoal.

Quanto à escola, Jung acredita que esta tem um papel fundamental no

processo de individuação do aluno. Ele aponta duas funções importantes da

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36escola A primeira seria contribuir para a formação de um indivíduo

consciente; e a segunda seria auxiliar o aluno no desligamento do ambiente

familiar, pois a escola é o primeiro ambiente que este encontra fora da família.

Assim, a escola representaria a primeira parte do grande mundo real. Através

dessas funções a escola ajudaria o aluno na construção da sua própria

personalidade uma vez que esta estimula a criação de novos vínculos, a

atividade simbólica e o acesso a novas fontes de conhecimento.

Quanto ao professor, em uma abordagem junguiana, é importante que

este esteja consciente de seu papel. Este precisa ser muito mais que um mero

transmissor de conhecimentos, para ser capaz de também educar pelo

exemplo. O professor deve ter em primeiro lugar um compromisso consigo

próprio. Daí a necessidade deste adquirir o autoconhecimento e continuar seus

estudos. É a partir desse autoconhecimento que o educador irá se educar e

estar consciente de sua sombra para não corrigir nos alunos aquilo que não

reconhece em si mesmo

No ato de ensinar, não são as palavras do professor que prevalecem,

mas sim o que ele realmente é, ou seja, a sua verdadeira essência. Assim,

Jung sugere que o professor demonstre a sua personalidade ao aluno ou ao

menos de a oportunidade dele conhecê-la.

Jung ainda alerta-nos contra o furor pedagógico do professor de ao

pretender mudar as crianças, sem antes olhar para si mesmo a fim de

modificar-se. Este furor pedagógico não deve ocultar uma questão central: o

problema da educação do educador:

Em relação aos métodos de ensino Jung acredita que desde que o

relacionamento professor-aluno seja bom, pouca importância terá o método

didático utilizado, pois o que vale é se o que foi ensinado e como isto irá

contribuir para que esse aluno torne-se um adulto de verdade, ou seja, capaz

de agir no mundo como um ser independente e criativo que consiga buscar as

soluções para os problemas sem ser influenciado por outros ou até mesmo

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37imitá-los. Assim poderíamos dizer que o fracasso ou o êxito na aplicação de

um método não está na eficácia deste e sim na pessoa que o executa, pois a

personalidade do professor passa a ser o seu principal instrumento de trabalho.

Embora o escopo desse trabalho tenha sido limitado, este pretende

contribuir para que outras questões possam ser levantadas e outros temas

possam ser estudados no campo educacional. Vale ressaltar, que este não tem

a pretensão de apresentar soluções para os problemas educacionais

encontrados hoje, mas apresentar um estudo teórico que sirva como tema de

reflexão para educadores e demais profissionais envolvidos em educação.

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BIBLIOGRAFIA

JACOBI, Jolande. Complexo, arquétipo, símbolo na psicologia de C. G. Jung. São Paulo, Cultrix, 1991. In: Jung e a Educação, uma Análise da Relação Professor-Aluno. São Paulo Escrituras, 2003.

JUNG, Carl G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Obras Completas. Vol. IX. Petrópolis: Vozes, 2002.

JUNG, Carl G.O Desenvolvimento da Personalidade. Petrópolis: Vozes, 1991.

JUNG, Carl G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.

JUNG, Carl G Símbolos da Transformação. Obras Completas. Petrópolis: Vozes, 1986.

LEAL, José. C. Jung na Fronteira do Espírito. Rio de Janeiro. Leymarie Editora. 1999

NEUMANN E. História da origem da consciência. São Paulo: Cultrix. 1990. In: Jung e a Educação, uma Análise da Relação Professor-Aluno. São Paulo Escrituras, 2003.

SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. São Paulo: Autores Associados,

1987.

SAIANI, C.Jung e a Educação, uma Análise da Relação Professor-Aluno. São

Paulo Escrituras, 2003.

SILVEIRA, N.da. Jung: Vida e Obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

STEIN, M. Jung o mapa da alma. 10 ed. São Paulo: Cultrix. 2000

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Jung 10

1.1 – Infância e Juventude 10

1.2 – A Escolha da Profissão 14

1.3 – O Encontro com Freud 15

1.4 – Buscando o Próprio Caminho 16

CAPÍTULO II

Jung e Psicologia Analítica 18

2.1 – Inconsciente Pessoal e Inconsciente Coletivo 18

2.2 – Arquétipos e Complexos 20

2.3 – Alguns Arquétipos 21

2.31 – A Persona 21

2.3.2 – A Sombra 22

2.3.3 – O Self ou Si mesmo 23

2.4 A Individuação 24

CAPÍTULO III

A Teoria Junguiana e a Educação 26

3.1 – A Educação sob a ótica da Teoria Junguiana 26

3.2 – A Escola 28

3.3 – O Professor 30

3.4 – O Método 32

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40CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO 41

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41

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Instituto a Vez do Mestre

Título da Monografia: Educação e a Abordagem Junguiana

Autor: Vanessa Solidade Muniz

Data da entrega: 28/07/09

Avaliado por: Mary Sue Pereira Conceito: