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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
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A INTERVENÇÃO DO PEDAGOGO NO AMBIENTE HOSPITALAR
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Por: Josiane Peyroton Silva
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Orientador
Prof. Nome do Orientador
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
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TÍTULO DO TRABALHO
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Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Pedagogia Empresarial.
Por: Josiane Peyroton Silva
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AGRADECIMENTOS
A Deus por ser meu refúgio, refrigério, meu TUDO.
A minha mãe, meu pai e meu irmão, que souberam compreender e
me ajudar diante de todas as dificuldades da vida, sempre
acreditando no meu potencial e dedicando suas vidas à minha para
a realização deste sonho.
4
DEDICATÓRIA
Não apenas este trabalho, mas todas
as minhas conquistas são dedicadas
à Deus e aos meus pais, Enilton e
Armyr, que em nenhum momento
deixaram de me apoiar. (Eu vos
amo!!).
5
RESUMO
Atualmente se discute a reorganização dos serviços de saúde no Brasil. E é
neste movimento “renovador” que o uso da Brinquedoteca como instrumento
de humanização parece ganhar autonomia e potencialidade em diferentes
campos. Os avanços terapêuticos possibilitam a realização ao nível de
assistência a crianças e seus familiares, no entanto este se mostra tão
desgastante e cansativo quanto a hospitalização. Com isso, é importante que
exista um espaço para que a criança possa distrair-se, além de expressar suas
angústias e ansiedades com relação a sua nova realidade – o mundo da
doença e do tratamento. A brinquedoteca surge então como possibilidade de
favorecer o aprender brincando de maneira livre e prazerosa, contribuindo para
seu desenvolvimento. A partir dessas concepções, procura-se entender as
dificuldades e as contribuições do movimento pela humanização, destacando-
se a interdependência e os limites das mudanças setoriais na área da saúde
frente às concepções e valores gerais da sociedade. Este trabalho torna-se
relevante, pois traz em seu bojo uma discussão atual e necessária, uma vez
que reflete o desejo, por parte das organizações de saúde, dos profissionais
envolvidos e dos clientes, de um novo modo de assistir nos serviços de saúde
pautados no respeito e dignidade ao ser humano. Para os hospitais
legitimarem-se e manterem-se em um ambiente inovador, precisam
desenvolver a capacidade de mudar; portanto, a dificuldade para a construção
do hospital do amanhã é a habilidade para aprender a mudar, ou seja, a
capacidade institucional para aprender a escutar e a compreender todas as
pessoas envolvidas no processo.
Palavras chave: pedagogo, ludicidade, assistência humanizada.
6
METODOLOGIA
Os métodos que levam ao problema proposto, como leitura de livros, jornais,
revistas, questionários, e a resposta, após coleta de dados, pesquisa
bibliográfica, pesquisa de campo, observação do objeto de estudo, as
entrevistas, os questionários, etc. Contar passo a passo o processo de
produção da monografia. É importante incluir os créditos às instituições que
cederam o material ou que foram o objeto de observação e estudo.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A História 11
CAPÍTULO II - Mercado 20
CAPÍTULO III – Humanização na assistência hospitalar 39
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA 55
ANEXOS 58
ÍNDICE 59
8
INTRODUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
A educação integra o saber e fazer desde os primórdios da história.
Porém, inúmeras transformações têm alterado o cenário mundial e
desencadeado mudanças no processo educacional. Neste sentido Lingnau
(2006, p.01) relata que:
A idéia de mudança na educação implica aspectos históricos, culturais, sócio-econômicos, tecnológicos, biológicos, enfim, implica uma série de setores, por isso é difícil caracterizar a mudança como algo instantâneo, já que ela só acontece como processo e atrelada a vários elementos.
Desta forma, tais aspectos contribuem para a construção de uma nova
realidade que tende a ser interpretada como um processo global. O que tem
despertado no sistema de ensino a necessidade de ampliar e implementar
novas perspectivas de aprendizagem.
O profissional de educação hoje pode atuar de forma coletiva junto a
outros profissionais e buscar alcançar novas possibilidades, ao desempenhar
suas atribuições como um dos recursos que promova a assistência aos
indivíduos, familiares e comunidade. Assim, a intervenção do Pedagogo no
ambiente Hospitalar, atenta pela melhoraria da prestação de serviços,
garantindo a qualidade do atendimento, tendo em vista que toda sua atuação
esta pautada na dimensão humana. Assumir um caráter humanístico
fundamentado numa relação mais próxima e menos hierárquica. Nessa
acepção Moscovici (1985 p.111) citado por Mezzomo expressa que:
O envolvimento emocional, a conjugação de informações e experiência e sua incorporação pelo intelecto e pela emoção, pensamento e sentimento, analisando e raciocinando, expressando sentimentos num misto de lógica e ingenuidade permite ‘insight’ conscientização que modificam percepções, conhecimentos e sentimentos.
9
Percebe-se que o processo de globalização, a crescente difusão de
novas tecnologias e a socialização dos meios de comunicação tornou o
consumidor mais consciente dos seus direitos. Expressando com mais
convicção seus desejos de um tratamento com um alto padrão de qualidade.
Para alcançar e garantir a qualidade no serviço prestado é fundamental
implementar medidas que orientem o caminho a ser seguido. Neste contexto, é
necessário e relevante padronizar os processos e utilizar itens de controle do
padrão de qualidade da assistência possibilitando a geração de melhorias no
desempenho.
Em razão da preocupação com a qualidade somada a vulnerabilidade
do consumidor foi aprovada em 1990 a Lei nº. 8.078, que dispõe sobre a
proteção do consumidor e em seu Art. 2° esclarece que:
A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo.
Ao se procurar conciliar os interesses dos usuários e dos profissionais o
Ministério da Saúde lançou o Programa Nacional de Humanização. Assim
como a qualidade preza pela satisfação do cliente o Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar, do Ministério da Saúde (MS), tem o
mesmo princípio. Ambos procuram “atender a pessoa do doente (= usuário),
como ser humano, em todas as suas dimensões{...}” (MEZZOMO, 2003, p.
141).
Nesse contexto, a Educação avança e um novo espaço se revela como
campo privilegiado de operacionalização, capaz de constituir e resgatar uma
visão de totalidade humana e histórico-sócio-cultural. De acordo com Freire
(2005, p. 55) “Histórico-sócio-culturais, mulheres e homens nos tornamos seres
em que a curiosidade, ultrapassa os limites que lhe são peculiares no domínio
vital, se torna fundamental da produção do conhecimento”.
É oportuno, então, que todos os que se encontrem envolvidos com o
processo educativo, reconheçam o quanto às condições ambientais favoráveis
10
são relevantes para a manutenção e promoção da saúde das crianças. A
qualidade de formação dos educadores, também, tem a função primordial
alicerçando um novo papel no processo ensino-aprendizagem.
Por fim, possibilitar o redimensionamento do pensar e agir da profissão
no processo de hospitalização enfatizando o binômio “humanização-qualidade”
tão fecundo nas idéias de Mezzomo (2003).
11
CAPÍTULO I
LÚDICO NA DIMENSÃO PEDAGÓGICA
A idéia de mudança no contexto educacional ocorrida ao longo
dos séculos XVII e XVIII difundia a importância do lúdico como contribuição em
torno do desenvolvimento infantil e conseqüentemente, ao processo ensino-
aprendizagem. Um período então, marcado por uma nova abordagem em
relação ao brincar, visto que as brincadeiras e os divertimentos já ocupavam
um lugar de destaque nas sociedades antigas. Àries apud Negrine (2004, p.16)
observa que: [...] “a partir daquele momento histórico, passa a existir um novo
sentimento de infância”.
Diante da concepção que cada cultura tem maneiras diferentes de tratar
e educar a criança aborda-se uma delas, a qual norteia idéia que a criança é
um adulto em miniatura, tratada como ser inacabável sem nada específico e
original e para contrapor essa idéia Rousseau a partir do século XVIII reivindica
a especialidade infantil, de forma a valorizar a criança como portadora de
natureza própria a ser desenvolvida. A esse respeito Kishimoto (2004, p. 25)
pontua que: “a infância é portadora de uma imagem de inocência: conduta
moral, associada à natureza primitiva dos povos, um mito que representa a
origem do homem e da cultura”.
Ao representar a imagem da infância faz se necessário valorizar a idéia
que o adulto contempla a sua memória de criança, mesmo que por uns
instantes, ele se envolve emocionalmente no tempo e no espaço, enfim, no
imaginário da própria descoberta do Sr. Bechelard, (1988 apud KISHIMOTO,
12
2005, p.25) comenta que “há sempre uma criança em todo adulto, que o
devaneio sobre a infância é um retorno à infância pela memória e imaginação”.
A busca incessante da criança no sentido de conhecer seu universo se
faz mediante o brincar, essa visão desperta a importância do lúdico como
contribuição no desenvolvimento infantil, de forma a aproximar o processo
educacional a realidade social-cultural. O lúdico tem sua origem na palavra
latina “ludus”, que do ponto de vista etimológico, quer dizer jogo, mas se
ficasse confinado somente à sua origem, o termo lúdico estaria se referindo
apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. O lúdico segundo
Feijó (1992) extrapola esse conceito, o lúdico é uma necessidade básica da
personalidade, do corpo e da mente, faz parte das atividades essenciais da
dinâmica humana.
Entretanto, a ludicidade como estratégia de ensino pode oferecer a
criança um contato com mundo real das significações, transferindo para suas
ações naturais o desenvolver da linguagem, do pensamento e da
socialização, integrado a sua saúde física, intelectual e emocional. Essa
estreita relação realça a importância da afetividade como aspecto favorável a
um ambiente feliz e fundamental para o desenvolvimento pleno do ser
humano. Pois, no brincar, especial circunstância do cotidiano infantil,
encontra-se rica fonte de informação acerca do mundo interno dela: suas
emoções e pensamentos. Assim, Sheridam (1971, p.12) elucida o brincar
como [...] “envolvimento ansioso em esforço físico ou mental agradável para
obter satisfação emocional”. Pois em sua concepção através da brincadeira a
criança experimenta coisas e pessoas, armazena sua memória, estuda
causas e efeitos, resolve problemas, constrói um vocabulário útil, aprende a
controlar suas reações emocionais, centralizadas em si própria e adaptar
seus comportamentos aos hábitos culturais do seu grupo social.
Desta forma, a ludicidade é uma via válida no processo ensino-
aprendizagem, por estabelecer um paralelo constante entre a vida intelectual
da criança e o prazer de aprender. Para Pinto (1997, p. 336) “não há
aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer”.
O lúdico é um recurso que proporciona a criança à oportunidade de
manifestar suas potencialidades e ao observá-las poderá enriquecer sua
13
aprendizagem, fornecendo através dos brinquedos os nutrientes necessários
ao seu desenvolvimento.
Mesmo sem intenção de aprender, quem brinca aprende. Essa
construção da aprendizagem torna-se possível devido ao acesso livre e
manuseio de brinquedos, uma vez que o ato de brincar, se faz presente no
resgate da infância. Blow (1991) apud Kishimoto (2005, p. 27) observa que foi
Froebel o responsável pela introdução de brinquedos e brincadeiras no jardim
de infância. “concebe o brincar como uma atividade livre e espontânea,
responsável pelo desenvolvimento físico, moral, cognitivo, e os dons ou
brinquedos como objetos que subsidiam as atividades infantis”.
Froebel foi o primeiro educador a enfatizar o brinquedo, a atividade
lúdica nas escolas de modo a favorecer a compreensão do significado da
família nas relações humanas. Idealizou recursos sistemáticos para as
crianças se expressarem, os blocos de construção material utilizado em
atividades criadoras, papel, papelão, argila e serragem. O educador aborda
dentre as principais concepções: a educação como base a evolução natural
das atividades das crianças, a importância de respeitar o momento de
aprendizagem de cada criança, o verdadeiro desenvolvimento advém de
atividades espontâneas, o brinquedo e essencial no processo inicial da
criança na escola.
No que tange a relação entre brincar e brincadeira pode-se observar a
percepção de Vygotsky (1988, p. 105) “o brinquedo preenche necessidades
da criança, nada mais são do que uma intelectualização pedante da atividade
de brincar”. A abordagem vai mais além, quando associa a atividade do
brinquedo como atividade condutora e essencial no desenvolvimento infantil e
questiona as necessidades das crianças relacionadas à motivação como
incentivo que as levam a prática da ação.
Neste aspecto, é indispensável que a criança sinta-se atraída pelo
brinquedo, visto que, a motivação para brincar é intrínseca à própria atividade.
Os afetos devem estar presentes, uma vez que, são fontes fundamentais de
motivação. A motivação através da ludicidade apresenta-se como uma
estratégia no auxílio da aprendizagem, o desempenho e atenção, uma vez
que ambas influenciam com propriedade em todos os tipos de
14
comportamento, permitindo um maior envolvimento ou uma simples
participação nas atividades propostas.
Sobre a temática Mednick (1983, p.21) afirma [...] “a motivação sem
aprendizagem redundará, simplesmente, numa atividade à cegas;
aprendizagem sem motivação resultará, meramente em inatividade, como o
sono”.
Etimologicamente a palavra motivo vem do latim “movere, motum” e
significa aquilo que faz mover em conseqüência motivar significa provocar
movimento. (Campos, 1986).
Neto (2004, p.01) ressalta a importância de conciliar à motivação
intrínseca da criança (por meio da percepção dos avanços obtidos por ela
própria e do processo necessário para que eles ocorram), com apoio da
motivação extrínseca ou externa (avaliação dos adultos, informações a
respeito, elogios verdadeiros etc). O autor define motivação como “energia
para a aprendizagem, o convívio social, os afetos, o exercício das
capacidades gerais do cérebro, a superação, a participação, a conquista, a
defesa, entre outros”.
A atividade lúdica aplicada como recurso pedagógico pode despertar a
participação das crianças no processo de construção do conhecimento,
estimular a descoberta da sua identidade e principalmente favorecer sua
relação social. Pois segundo Piaget (1967 apud Ramos 2007), “o jogo não
pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar
energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e
moral”.
Portanto, enquanto a criança brinca, coisas muito sérias acontecem. É
ela quem dá sentido ao brincar e, através desse brincar, incorpora-se
constantemente aprendizagens flexíveis, não quantificáveis e das quais pode
dar conta. Esses momentos são importantes e se constituem, aos olhos de um
observador atento, em oportunidades preciosas nas quais se aprende, de
maneira significativa, sobre a construção da inteligência da criança, do seu
conhecimento, da sua forma de pensar o mundo e da sua felicidade.
Em atribuição ao jogo, pode-se acompanhar o processo histórico-
cultural, de maneira a compreender o conceito homo lúdico, isto é, o homem
15
que se diverte (brinca), passa a ser valorizado como foco fundamental no
desenvolvimento humano.
A criança através do jogo de faz-de-conta, por exemplo, reproduz papéis
sociais bem próximos a sua realidade, uma representação de desejos, sonhos,
sentimentos, violência, na verdade estabelece uma relação com o cotidiano.
Ao criar personagens capazes de caracterizar sua própria história, muitas
vezes essa reprodução ocupa uma dimensão diferenciada no contexto da
prática educacional. Neste sentido Borba (2001, p.2) reforça a idéia de
Vygotsky “na atividade criadora, imaginação e realidade constituem uma
unidade dialética, relacionando-se mutuamente e possibilitando a expansão e
a transformação da experiência sensível do homem na sua relação com o
mundo”.
As diferentes abordagens sobre a temática permitem sair do sentido
comum, pois fazem perceber que o brincar extrapola a infância, o tempo e o
espaço, envolve todas as etapas da vida humana. No âmbito hospitalar o
brincar suaviza o impacto provocado pela doença, diminui o sentimento de
impotência da criança. O brinquedo traduz o real para a realidade infantil.
Os brinquedos dividem-se em dois tipos: brinquedo livre e o brinquedo
dirigido. Os brinquedos livres são atividades desenvolvidas que utilizam todos
os materiais disponíveis, mas orientadas e observadas por um coordenador.
Apesar do aspecto livre da atividade, as crianças não brincam por brincar, na medida que durante todo período procuramos conversar, orientar e apóia-las da melhor maneira possível. O próprio brinquedo nos mostra o caminho escolhido pela criança e pelo qual devemos adentrar e trabalhar os conteúdos existentes. (Chiattone, 1988, p.99 apud Oliveira, 2003, p.05)
As atividades com o brinquedo dirigido são previamente estruturados,
relacionadas a um tema específico e que podem ser desenvolvidas para uma
ou um grupo de crianças. A manipulação dos brinquedos pode ser feitos
através de bonecos, carrinhos, livros de histórias e etc. De forma que possam
abordar temas hospitalares ou processo de saúde, ou seja, a criança mesmo
num ambiente hospitalar não perde contato com a ludicidade. A partir desse
contexto as crianças estabelecem situação muito aproxima a realidade
hospitalar. A manipulação do material lúdico propicia a criança no período de
16
hospitalização vivenciar a realização dos procedimentos médicos, à conhecer
equipe de enfermagem, e principalmente facilitar o enfrentamento dos seus
próprios sentimentos no processo de saúde-doença.
Enfim, as relações cognitivas e afetivas da interação lúdica em qualquer
ambiente, propiciam um amadurecimento emocional, construindo assim a
socialização infantil. Brincar é a manifestação do amor à criança. Mas à
medida que a criança cresce, aprende que há uma hora destinada para
realização de atividades e uma hora para o estudo. Enquanto os primeiros
brinquedos eram espontâneos, governados pelas fantasias, com a chegada da
idade vai se transformando em jogos de equipe, jogos de sociedade, com suas
regras copiadas dos adultos. E assim a criança vai se adaptando à vida, ao
mundo, com mudanças que ocorrem nas diferentes fases da infância, sempre
auxiliada pelos brinquedos e brincadeiras.
1.2 - Brinquedoteca – Espaço do brincar
Entendidas como processos sociais, pedagogia e tecnologia caminham
lado a lado para a integração do homem e sua preparação para modernidade,
17
modernidade esta, geradora de grandes transformações nos padrões sócio-
econômico, político e cultural. Na maioria das vezes, atinge e interfere na
formação e no desenvolvimento psíquico, cognitivo e moral do indivíduo.
As crianças hoje passam brincar com menos liberdade nas ruas e
praças, movidos pela falta de segurança e pela violência urbana, se prendem
aos brinquedos eletrônicos e à televisão, percebe-se então, que o processo de
globalização, a crescente difusão de novas tecnologias e a socialização dos
meios de comunicação tornou mais atraente aos interesses da criança e como
a educação pode estar ocupando um espaço de mediação entre a criança e o
mundo das máquinas. A esse respeito Mrech (2005, p.63) diz que:
Os computadores são um novo tipo de produto social. Eles são chamados ‘produtos inteligentes’, isto é, produtos com possibilidades de desencadear alterações nas relações entre as pessoas. Portanto, o que os caracteriza basicamente é que eles não são meros produtos para um consumo imediato, trazem acoplado novos rumos para aqueles que os utilizam.
Ainda nesse sentido, de acordo com Belloni (1998, p.03), “o campo da
educação enfrenta, pois, mais este desafio: o de constituir-se em espaço de
mediação entre a criança e esse meio ambiente tecnificado e povoado de
máquinas que lidam com a mente e o imaginário”. Principalmente, para os
educadores que hoje assumem o compromisso político de encaminhar uma
reflexão sólida e intervir de modo crítico de formar o cidadão autônomo,
competente técnica e politicamente. Logo, Cunha (2001) reforça a idéia que a
educação é uma via promissora para conquista de valores sociais, uma vez
que sua formação educacional seja voltada para que a criança possa produzir
bem e para que se integrem às expectativas familiares e sociais.
Neste contexto a brinquedoteca veio contribuir para o desenvolvimento
humano, sendo um espaço repleto de ludicidade, que ajuda a suprir a
necessidade das crianças no resgate da infância, na recuperação da
afetividade, dos sonhos e fantasias, nas conquistas de valores e na interação
social. Id.,2005, p.14 “além de resgatar o direito à infância, a brinquedoteca
tenta salvar a criatividade e a espontaneidade da criança tão ameaçadas pela
tecnologia educacional de massa”.
18
A brinquedoteca é um ambiente colorido com a finalidade de proporcionar
à criança a oportunidade do contato direto com o universo lúdico e a
valorização do brincar e reconhecida como instituição educacional
pedagógico. De acordo com a Declaração Universal dos Direitos da Criança
(1959, p.01), [...] “a criança deve desfrutar plenamente de jogos e
brincadeiras os quais deverão estar dirigidos para educação; a sociedade e
as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício deste
direito”.
A brinquedoteca surgiu da valorização do brinquedo, e tem como
objetivos básicos o empréstimo de brinquedos e a criação de um espaço
destinado à exploração lúdica. A partir dos anos 60, a brinquedoteca passou a
ser conhecida e mais amplamente divulgada na Europa, assim chamada de
“Toy-Library” (biblioteca de brinquedos), e no Brasil, chamada de
Brinquedoteca ou Ludoteca, surgiu nos anos 80, na intenção de estimular
instituições a destinarem a atenção ao brincar. (KISHIMOTO, 2005)
Para Negrine (1997), o espaço destinado a atividade lúdica, a
brinquedoteca representa uma forma inovadora e atual do pensar pedagógico,
representada pela importância de incluir às atividades lúdicas no processo de
desenvolvimento e aprendizagem do indivíduo.
De acordo com Friedmmann (1998), a primeira brinquedoteca surgiu em
1934, em Los Angeles, nos E.U.A., época da depressão americana quando o
proprietário de uma loja de brinquedos reclamou ao diretor da escola municipal
que as crianças estavam roubando brinquedos de sua loja. O diretor concluiu
que isto estava ocorrendo porque as crianças não tinham brinquedos para
brincar. Assim iniciou-se um trabalho que até hoje existe, em Los Angeles, que
objetiva o empréstimo de brinquedos e que é chamado Los Angeles Toy Loan.
Em 1963, a Suécia inaugura a sua primeira brinquedoteca, em Estocolmo,
organizada por professoras, com o objetivo de orientar e realizar empréstimo
de brinquedos a famílias com filhos excepcionais visando estimular o brincar. A
partir de 1967, surge na Inglaterra as primeiras “Toy Libraries” (bibliotecas de
brinquedos) com o objetivo de conceder empréstimo domiciliar de brinquedos
aos seus usuários, as crianças. Contudo, a finalidade das “toy libraries”
19
expandiu-se e além de um serviço de empréstimo de brinquedos, era realizado
apoio aos familiares, orientação educacional e de saúde mental, estímulo à
socialização e resgate de cultura lúdica de um povo. Graças principalmente
aos eventos como o II Congresso Internacional de Brinquedotecas, em 1981,
em Estocolmo, Suécia; 1987 – Congresso Internacional de Toy Libraries
(Toronto-Canadá) e em 1990 V Congresso Internacional de Brinquedotecas
realizado em Turim, Itália, e 1993 Encontro Mundial sobre o brincar em
Melbourne, Austrália, O movimento de brinquedotecas ganha o mundo. Além
destes países citados, os a seguir, também implantaram suas brinquedotecas,
com a finalidade de empréstimo, entretenimento e desenvolvimento da criança
que, embora com denominação e funções distintas, mas com o mesmo espírito
de trabalho baseado no amor pelas crianças e o reconhecimento da
importância das atividades lúdicas são eles: África do Sul, Argentina, Bélgica,
Canadá, China, Coréia, Finlândia, França, Grã-bretanha, Itália, Hungria,
Islândia, Índia, Israel, Irã, Japão, Jordânia, Nova Zelândia, Noruega, Portugal,
Suíça, República da Irlanda, etc.
Em 1981, a pedido do Ministério da Educação e Cultura foi editado o
livro “Material Pedagógico – Manual de Utilização” – com a finalidade de
apresentar os brinquedos aos educadores como instrumentos capazes de
enriquecer o processo de aprendizagem. Desse modo, os brinquedos
passaram a ser mais parte importante da realidade escolar, sendo amplamente
difundido por diversas teorias educacionais.
Em 1985, criou-se a Associação Brasileira de Brinquedotecas
responsável pelo crescimento da preocupação com o brinquedo e com as
brincadeiras por todo o Brasil, hoje representado em diferentes estados, de
vários tipos e funções. A Associação Brasileira de Brinquedotecas/A.B.B. é
uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 28 de abril de 1985, instituída
por professores e profissionais da área de educação. Entre os objetivos da
A.B.B. estão a assessoria as pessoas e instituições que desejam instalar
brinquedotecas, estabelecer parceria com pesquisadores e instituições
interessados no assunto, promover e incentivar a divulgação do
desenvolvimento de pesquisas na área, oferecer cursos e treinamento para a
formação de qualidade de educadores e brinquedistas.
20
Ainda na década de 80, as brinquedotecas brasileiras tomaram impulso
e foram surgindo por todos lados: brinquedoteca de Natal – RN, a primeira do
Nordeste; brinquedoteca terapêutica na APAE de São Paulo; brinquedoteca da
prefeitura de São Bernardo do Campo; brinquedoteca da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo. Hoje existem mais de 300
brinquedotecas espalhadas pelo Brasil e mantidas por instituições públicas,
privadas e comunitárias, por parcerias com empresas e comunidade.
Para Cunha (2001), as brinquedotecas têm como finalidade propiciar
estímulos para que a criança possa brincar livremente, atender e respeitar as
necessidades de afetividade, proporcionar o direito de ser criança, enquanto
desenvolve as capacidades e habilidades infantis com espontaneidade e
criatividade, princípios importantes que levam a minimizar a influência dos
métodos extremamente rígidos nos sistemas educacionais. Pode-se assim
considerar, a brinquedoteca como agente inovador e colaborador para a
mudança do processo de ensino-aprendizagem. Além disso, a brinquedoteca
objetiva respeitar as necessidades de afetividade, promove a integração social,
enquanto desenvolve as capacidades infantis com espontaneidade e
criatividade.
De acordo com Lopes (1980), os primeiros fatores básicos da
motivação humana são o hedonismo e o idealismo. O primeiro explica que o
homem não ama a dor e o desconforto, mas o prazer e o conforto. Eis aí a
razão dos conselhos acerca de como tornar agradáveis as condições e o
ambiente de trabalho, a fim de que aquele fator seja satisfeito, resultando no
aumento da motivação.
CAPÍTULO II
O VÍNCULO DA CRIANÇA HOSPITALIZADA COM A
EDUCAÇÃO
21
O processo de internação provoca uma ruptura entre a criança e o seu
cotidiano, uma vez que se afastar da relação com a família, amigos, escola,
brinquedos e até mesmo de seu animal de estimação. Essa transferência de
ambiente muitas vezes lhe é traumatizante, principalmente por ser um
momento em que se encontra tão frágil e sensível. Sabe-se que toda criança
tem a sua própria individualidade, seus sonhos, seu jeito de ser, e é ela que
constrói sua própria história. A mudança na rotina pode promover uma série de
alterações na criança e familiares, porém, uma internação não interromperá o
curso do desenvolvimento infantil, visto que a criança não perde a percepção
do que acontece à sua volta e o desejo de participar, ser ouvida e respeitada.
Ao se deparar numa instituição hospitalar, a criança se vê assustada,
pois lhe é imposto o desconhecido, formado por imposições de regras, limites
e tudo que lhe cerca são leitos com pessoas enfermas, estranhas, paredes
lisas e o silêncio. Segundo Mezzomo (2003, p.138) a infância vibra no mundo
encantado das fantasias e desenhos animados e para as crianças “o hospital,
muitas vezes é um ambiente terrivelmente ‘chato”. Desse modo, a criança
torna-se facilmente envolvida pelo medo, pela tristeza e insegurança,
sentimentos que despertam atitudes agressivas o que certamente poderá
dificultar a aceitação do tratamento, bem como a sua recuperação. (CUNHA,
2001)
Durante o período de internação, a criança necessita do
acompanhamento de médicos, enfermeiros e, sobretudo de atenção, ou seja,
um ambiente que busque diminuir os efeitos nocivos da doença, um
atendimento humanizado que promova alegria e amenize a falta dos familiares.
Porém, a situação não é muito próxima à realidade, pois é o que Leite e Shimo
(2006, p.1093-94) descrevem, a respeito do profissional de saúde (enfermeiro),
que embora esteja diretamente ligado a criança, perceba choros, birras e o
ignore, direcionando seu trabalho apenas para recuperação da saúde biológica
de seu cliente, “a atenção, o brincar, as explicações que as crianças
demandam para enfrentar melhor esse momento em suas vidas, ficam
colocados em segundo plano”.
22
Na tentativa de promover uma assistência a saúde mais humanizada e
assim, atender melhor as necessidades da criança hospitalizada, alguns
hospitais contam com a ajuda de brinquedotecas e/ou grupos de voluntários
que vestidos de palhaços transformam o ambiente hospitalar num espaço
colorido, descontraído e alegre, de modo aliviar as angústias, ansiedades e o
medo da hospitalização. Segundo Oliveira, Dias e Rozzi (2003, p.05) “a
aplicação de recursos lúdicos transforma-se em um potencializador no
processo de recuperação da capacidade de adaptação da criança
hospitalizada, diante de transformações que se dão a partir de sua entrada no
hospital”.
As atividades recreativas realizadas pela criança antes da hospitalização
continuam sendo partes naturais da sua existência. A brinquedoteca é, pois, o
resgate da continuação da infância, a função do brincar não se descaracteriza
com sua hospitalização. O brinquedo é capaz de colaborar em diversas áreas
do conhecimento, assim como é de grande importância na promoção à
assistência à saúde, ele humaniza o atendimento, estimula o contínuo
processo de desenvolvimento global infantil, age na prevenção de sua saúde
mental e promove qualidade de vida coletiva.
Para Cunha (2001, p.97) “para alegrar a criança durante sua
permanência no hospital foi criada a brinquedoteca hospitalar”. Logo, para a
autora os objetivos da brinquedoteca hospitalar estão voltados em preparar a
criança para enfrentar situações novas ocorridas na rotina do hospital, pois, ao
utilizar realizar atividades lúdicas a criança passa a conhecer detalhadamente
a vida no hospital e o tratamento o qual será submetido; ajudar a superar e
preservar a saúde emocional, através do brincar a criança terá oportunidade de
interagir com outras crianças; promover a continuação do processo de
desenvolvimento e interação social, a própria vivência e experiência adquiridas
dentro do hospital contribuem para promover aprendizagem; proporcionar um
ambiente alegre e favorável, o ambiente colorido com brinquedos ajuda a
manter o momento de visita mais descontraído e por fim a autora ressalta a
importância de readaptar a criança na volta para a casa e ao convívio familiar,
uma vez que a criança encontre mais carinho, alimento e atenção no hospital.
23
Neste sentido Mezzomo (2003, p.138) estabelece a importante relação
entre a ludicidade e processo de humanização hospitalar. O autor considera a
brinquedoteca e a literatura infantil como meios de tornar menos sofrido o
período de internação no ambiente de pediatria; entende como necessário,
providenciar voluntários, recreadores, e profissionais de educação, para
divulgação e valorização da atividade lúdica como contribuição no atendimento
à criança hospitalizada. “brincar é a grande atividade necessária para o
equilíbrio psicológico e social.”
Leite e Shimo (2006, p.1094) afirmam que “no hospital, o brincar tende a
transformar o ambiente das enfermarias em um local prazeroso e permite uma
adaptação melhor às novas condições que as crianças encontram e tem que
enfrentar’. Uma tentativa de compreender a nova rotina do hospital, onde a
criança brinca de ser “enfermeira” e “médico”, os doentes são os bichinhos de
pelúcia, assim a criança hospitalizada através da brincadeira representa sua
própria condição.
Para Viegas (2005, p.102) “cada criança internada deixou para trás o
mundo das coisas [...], a brinquedoteca as faz renascer, lhes dá alegria, o
brincar e os brinquedos estimulam sua fantasia, descobrem amigos, é um lugar
cheio de histórias, música, desenhos, teatro”.
O ato de brincar é natural, promove a interação social, saudável e muito
importante para o acompanhamento no processo de desenvolvimento da
infância, uma vez que a criança em contato com brinquedos e brincadeiras,
descobre, aprende, cria, transforma, explora o mundo e a si mesma. A
brinquedoteca é, portanto considerada uma proposta rica em recursos de
intervenção realizado com a criança hospitalizada, que tende ao resgate a
saúde e a melhora na qualidade de vida. Cely (2005, p.126) valoriza esse
espaço “como um espaço de animação lúdico e criativo de socialização,
transformando dia a dia pela imaginação, espontaneidade e alegria de todos”.
No hospital, a atividade lúdica também pode ser realizada com o
propósito de levar apoio pedagógico às crianças afastadas da escola, um
trabalho voltado para o desenvolvimento cognitivo, afetivo-social e psicomotor.
O brincar é o manifesto da criatividade e através do jogo de “faz-de-conta” a
criança realiza atividades lúdicas como desenhos, pinturas, histórias,
24
brinquedos e brincadeiras e é capaz de criar e representar o mundo com
satisfação, diversão e espontaneidade, estes procedimentos visam minimizar
as seqüelas causadas pela doença e devolve o prazer e alegria da vida.
Cunha (2001, p.28) destaca que “se a criança for respeitada em seus
interesses e subsidiada em suas buscas, com certeza manterá vivo o prazer de
aprender e fará da construção do seu conhecimento uma deliciosa aventura no
caminho da sabedoria”. A brincadeira de “faz-de-conta” contém um elemento
de motivação que poucas atividades tem para a infância, o prazer da atividade
lúdica. Assim, todas as propostas de desenvolvimento podem ser realizadas
dentro do espaço da brinquedoteca, aproveitando o caráter lúdico. Para Cely
(2005,p.127) “a criança aprende brincando e brincando ela é feliz”.
Dentro do contexto Friedmann (1998) relata as diferentes reações das
crianças quando mesmo hospitalizadas entram numa brinquedoteca, umas
mais calmas outras mais agitadas. Porém todas demonstram o mesmo desejo,
o de brincar, explorar os brinquedos e o espaço. Em contato com os variados
brinquedos a criança aprende a dividir, emprestar, trocar e a compartilhar os
objetos. Por isso, a brinquedoteca ocupa um lugar especial no mundo
imaginário, pois nas mãos das crianças o brinquedo toma vida, transforma a
rotina numa brincadeira e aprende de forma prazerosa e coletiva.
A brinquedoteca favorece um aprendizado baseado na comunicação e
na integração social.
Tem criança que chega sozinha, sem conhecer ninguém. Seu primeiro contato é com os brinquedos. Eles são a ponte para a criança comunicar-se e expressar-se. O brinquedo aproxima, convida a brincar junto, a partilhar, a entrar na brincadeira, a inventar. Mas o brinquedo pode gerar ciúmes e sentimento de posse, assim como ser motivo de disputa, quando uma criança o toma de forma exclusiva. É justamente esse tipo de reação que o espaço da brinquedoteca desmistifica: os brinquedos são de todos e, ao mesmo tempo, de cada um. (ibid, p.71)
2.2- Brincar como uma ação legal
25
Conforme o exposto na lei maior que rege o nosso país, a Constituição
Federal de 1988, mais precisamente no Título VIII – Da Ordem Social, Capítulo
III – Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção I, artigo 205:
“a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
A partir do que determina a Constituição Federal de 1988, podemos
entender, portanto, que o direito à educação é de todos e para todos, em
quaisquer circunstâncias que esteja e que necessite. Consoante as diretrizes
da LDB – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96, a
educação também é considera direito de todos da seguinte maneira:
TÍTULO II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
Sendo , pois, a educação um direito de toda e qualquer criança e
adolescente, inferimos que as crianças e adolescentes que estejam
hospitalizadas também devem ter garantido esse direito. No Brasil, somente na
década de 90 foram criadas leis especificas para a “Classe Hospitalar”, por meio
das quais houve um olhar especifico para esta necessidade.
Somado ao direito a Educação, o brincar assume função primordial e
reconhecida no restabelecimento da saúde, uma vez que considerado como
potencializador da continuidade no processo de desenvolvimento pedagógico.
Desse modo, a implantação brinquedoteca tornou-se tão importante no
ambiente hospitalar que o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente, aprovou a Resolução 41 de 13 de outubro de 1995 (Anexo I) que
aprova na íntegra o texto da Sociedade Brasileira de Pediatria, relativo aos
direitos da criança e do adolescente hospitalizados, considerando o artigo 9º
26
em que a criança ou adolescente internados tem o “direito de desfrutar de
alguma forma de recreação, programas de educação para saúde,
acompanhamento do currículo escolar durante a sua permanência hospitalar”.
Cabe então reforçar que em 21 de março de 2005, o Presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei 11.104, a qual dispõe
sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de
saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação. Descrita
parcialmente abaixo:
Art. 1º Os hospitais que ofereçam atendimento pediátrico contarão, obrigatoriamente, com brinquedotecas nas suas dependências. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se a qualquer unidade de saúde que ofereça atendimento pediátrico em regime de internação. Art. 2º Considera-se brinquedoteca, o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar. Art. 3º A inobservância do disposto no art. 1º desta Lei configura infração à legislação sanitária federal e sujeita seus infratores às penalidades previstas no inciso II do art. 10 da Lei nº. 6.437, de 20 de agosto de 1977.
Essas leis visam a proteger a infância e a juventude, sendo um
instrumento de tentar garantir uma sociedade mais justa. A classe hospitalar
está inserida na LDB 9.394/96 como educação especial, em uma visão de
educação inclusiva. Atualmente, incluem-se alunos com necessidades
educacionais especiais os deficientes mentais, auditivos, físicos, com
deficiências motoras e múltiplas, síndromes no geral e os que apresentam
dificuldades cognitivas, psicomotoras e de comportamento, além daqueles
alunos que estão impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de
tratamento de saúde que implique internação hospitalar ou atendimento
ambulatorial.
A publicação do MEC mais recente referente à classe hospitalar e ao
atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações, foi publicada em
2002, no Brasil. Está publicação enfatiza que:
Tem direito ao atendimento escolar os alunos do ensino básico internados em hospital, em sérvios ambulatoriais de atenção integral à saúde ou em domicilio; alunos que estão impossibilitados de
27
freqüentar a escola por razões de proteção à saúde ou segurança abrigados em casas de apoio, casas de passagem, casas-lar e residências terapêuticas.
Dessa forma, o direito prescrito em diferentes legislações, necessita ir
para além de letras que se encontram e as conformam. A legislação necessita
ser transformada em prática de vida, materializada na inter-relação do ser que
cuida e do ser que é cuidado, numa relação dialógica do encontro com o outro.
A partir de então, verifica-se o quanto é necessário modificar os conceitos de
saúde vigentes, visto que a atual situação aponta para uma assistência
inovadora à criança.
CAPÍTULO III
O PEDAGOGO NA PRÁTICA HOSPITALAR
A Pedagogia amplia o campo de atuação do pedagogo para fora dos
limites da escola, levando-o para diferentes lugares onde a educação se faz
necessária.
Não há uma única forma nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar em que ela acontece..., o ensino escolar não é a única prática, e o professor profissional não é o seu único praticante. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender; para ensinar; para conviver; todos os dias misturamos a vida com a educação. (Brandão, 1981 apud CADINHA 2006, p.23)
Nesse sentido, a educação no ponto de vista pedagógico é um processo
que ocorre em toda a vida do indivíduo, seja na modalidade formal e informal
viabilizando o desenvolvimento psico-intelecto-social e cultural.
Ao longo dos anos crianças vêm sendo hospitalizadas no meio da sua
trajetória escolar e muitas vezes não tem condições de retomá-las a tempo
para concluírem o ano letivo e por este motivo acabam tendo que repetir o ano.
Sendo assim, a prática pedagógica extrapola o âmbito escolar e alcança um
novo campo de atuação. O profissional Pedagogo alcança um novo cenário, o
28
ambiente hospitalar, onde realiza um trabalho educativo de extrema
importância com as crianças e adolescentes hospitalizados e que podem
melhorar cada vez mais como indivíduos inseridos num processo mais
humanizado.
A hospitalização, não só afasta a criança de seu viver cotidiano, como o
modelo assistencial adotado, a afasta de seu direito legal de ter atendimento e
atenção integral. Como ser humano em construção, com características
individuais e necessidades e desejos próprios, necessita de cuidados que lhe
são inerentes. Um tratamento prolongado acaba tendo defasagem de
escolaridade e muitas vezes abandona a escola devido às dificuldades que
encontra ao retornar a ela. O atendimento pedagógico – educacional -
hospitalar é um direito de todos os educandos que, devido às suas condições
especiais de saúde estejam hospitalizados ou sob outras formas que impeçam
a participação na escola.
A criança não pode ser prejudicada pelo longo período de internação
que sofre, o trabalho do pedagogo no hospital é propiciar uma prática
educativa visando à formação integral do aluno enfermo numa proposta de
amenizar a possível desmotivação e o estresse ocasionado pela internação;
Promover a integração entre a criança, a família, a escola e o hospital,
amenizando os traumas da internação e contribuindo para a interação social;
Dar oportunidade ao atendimento às crianças e adolescentes hospitalizados
em busca da qualidade de vida intelectiva e sociointerativa; Aproximar a
vivencia da criança no hospital à sua rotina diária anterior ao internamento,
utilizando o conhecimento como forma de emancipação e formação humana;
Fortalecer o vinculo com a criança hospitalizada, possibilitando o fazer
pedagógico na pratica educacional dos ambientes hospitalares e proporcionar
à criança hospitalizada a possibilidade de, mesmo estando em ambiente
hospitalar, ter acesso à educação.
Aprender mesmo vivendo um período difícil e continuar se
desenvolvendo em todos os aspectos, com maior normalidade possível
redimensionando o ensino e as ênfases cognitivas com que se opera o
processo ensino-aprendizagem.
29
Neste contexto o lúdico apresenta-se como possibilidade de ruptura, de
transformação, de instituir o novo, de re-significar tempo, espaço,
hospitalização e ser humano. O lúdico como atitude frente à vida, um modo de
ser e viver. E como negar o lúdico à criança hospitalizada. Na esteira de Santin
(1994, p.88) observa-se que: [...] "se o grande laboratório onde ocorre a
química lúdica, o grande palco onde se constroem as grandes cenas da
ludicidade tem como cientistas e como atores as crianças"? O brincar surge
como elemento mediador entre a possibilidade ou impossibilidade do riso, da
alegria, da corporeidade vivificada.
Brincar significa fazer o corpo sentir, amar, viver e vibrar; e não levá-lo a executar tarefas. (...) O brinquedo transforma o corpo num instrumento musical, a cada estímulo nasce uma sensibilidade, a cada gesto acompanha uma vibração, a cada movimento vive uma emoção, a cada toque brota um sentimento. Brincar é amar e viver a plenitude do corpo em todas as suas nuances que compõe a melodia da vida. (Santin, 1994 p. 32)
O trabalho do pedagogo em hospitais, no sentido de enriquecer o
atendimento global do paciente, estimula a socialização, humaniza o ambiente
hospitalar e aproxima os pacientes de sua rotina, não interrompendo assim o
processo de aprendizagem. A presença do professor que conhece as suas
necessidades curriculares torna-se um catalisador que, ao interagir com ele,
proporciona-lhe, principalmente condições para a aprendizagem. Ele precisa
desenvolver sua sensibilidade, compreensão e comprometimento, agindo com
paciência e ousadia para atingir suas metas. Isto aproxima o educando dos
padrões cotidianos da vida.
A pedagogia hospitalar demanda necessidades de profissionais que tenham uma abordagem progressista, com uma visão sistêmica da realidade hospitalar e da realidade do escolar doente. Seu papel principal não será de resgatar a escolaridade, mas de transformar essas duas realidades fazendo fluir sistemas que as aproxime e as integre”. (Matos, 1998; p.12).
Ainda não é relevante a participação de professores atuando nesse
âmbito. Assim, pode-se propor que tal fato se deva ao recente crescimento da
oferta/procura nessa área, uma vez que os professores já atuavam em escolas
regulares por tempo significativo. Apesar desta informação, é importante
30
ressaltar uma possível relação entre o significativo interesse na implantação de
classes hospitalares devido às mudanças políticas e os avanços científicos nas
áreas: pediátrica, pedagógica, de educação básica e de saúde coletiva.
Faz-se necessário transpor barreiras e, por meio de esforços unificados,
garantir a excelência dos serviços, sejam estes prestados por professores,
pessoal da saúde ou quaisquer outros profissionais que atuam no ambiente
hospitalar, contribuindo, assim, para a qualificação da assistência prestada em
hospitais.
3.2 - Brincando para viver – Uma ação pedagógica concretizadora.
O processo de hospitalização quase sempre proporciona momentos
traumatizantes tanto para as crianças quanto para seus pais. A aplicação de
recursos lúdicos, o uso das brinquedotecas hospitalares transforma-se em
potencializador no processo de recuperação e adaptação da criança desde de
sua entrada no hospital. Logo, o brinquedo assume o significado de
instrumento, com funções específicas e formas próprias de aplicabilidade. Um
recurso com importante valor terapêutico, intervindo sobre as dificuldades
específicas da criança, de modo a atender as crianças com deficiência física,
mental e com dificuldade de aprendizagem.
Neste sentido quando se trata de crianças hospitalizadas, o brinquedo
influência na sua interação social de maneira lúdica, estimulando-as e
motivando-as a brincar e fazer uso funcional do brinquedo.
A esse respeito Françani et all (1998, p. 28) dizem:
Tratando-se de crianças hospitalizadas, o brinquedo tem também um importante valo terapêutico, influenciando no restabelecimento físico e emocional pois pode tornar o processo de hospitalização menos traumatizante e mais alegre, fornecendo melhores condições para a recuperação.
A brinquedoteca terapêutica tem a preocupação em oferecer através
das atividades lúdicas a oportunidade de ajuda as crianças que busquem
superar dificuldades específicas. Cunha (2001, p. 100) comenta que: “a
brinquedoteca terapêutica proporciona à família da criança portadora de
31
necessidades especiais, um tipo de apoio que pode contribuir de forma
decisiva para a melhoria de sua qualidade de vida”.
Alem do beneficio terapêutico, é evidente a importância da continuidade
da escolarização no ambiente hospitalar, sem prejuízos maiores a formação
escolar proposta, respeitando o individuo como cidadão em seu direito a
educação.
Existem dois tipos de projeto desenvolvidos nas brinquedotecas
terapêuticas: O primeiro visa atender portadores de deficiência física, mental,
auditiva ou visual. Onde, os objetivos propostos demonstram a preocupação
em proporcionar à criança portadora de deficiência, auxiliar aos pais sobre
como utilizar o brinquedo e a brincadeira de forma a trazer benefícios a seus
filhos; fazer empréstimo de brinquedos para que os familiares possam levar
para casa; facilitar a interação entre as crianças e seus familiares. Para então
atingir a meta desejada, este tipo de brinquedoteca necessita de uma equipe
de profissionais especializados na deficiência que se propõe a atender, ou pelo
menos, de uma supervisão eficiente de especialistas.(CUNHA, 2001)
O segundo Projeto é destinado a atender crianças com dificuldades na
aprendizagem, um trabalho que deve contar com a ajuda de um profissional
em educação. Desse modo, a realização do diagnóstico psicopedagógico
auxiliará a criança na escolha dos jogos e brinquedos, que contribuirão no
tratamento. É possível encontrar crianças que demonstram determinadas
dificuldades no ambiente escolar que não são comuns aparecerem durante
seu desempenho nas brinquedotecas. Na ótica de Cunha (2001, p.102) “a
descontração, a afetividade e, principalmente, a ausência de cobranças que
caracterizam o ambiente de uma brinquedoteca fazem com que as crianças
acabem manifestando capacidades que em clima de tensão não conseguem
manifestar”.
Para Chiattone (2003, p. 103), “brincar é essencial parceira à criança
hospitalizada, uma vez que em contato com brinquedo ela poderá
experimentar sua nova forma de ser”. O brincar sendo encarado naturalmente
poderá se transformar em excelente instrumento preventivo, diagnóstico e
terapêutico. O diagnóstico de uma doença poderá levar não só a criança
doente, como também aqueles que lhes são mais próximo a buscar formas de
32
lidar com uma realidade que, em geral, é vivida com muita ansiedade e
apreensão, pois a elaboração do processo da doença e eminência da morte
torna a rotina da criança muito triste, é, portanto importante criar oportunidades
através de atividades que facilitará a criança a retomar seu equilíbrio psíquico
e sua auto-estima. “primordialmente, deve-se incentivar o compartilhar de
sentimentos e promover auto-descoberta para que a criança possa
reconhecer, aceitar e expressar seus sentimentos”.
Acerca da atual situação se faz necessário conhecer os projetos
desenvolvidos pelo Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer
(GRAACC) instituição sem fins lucrativos, localizado na Cidade de Campinas
no Estado de São Paulo.
A Brinquedoteca Terapêutica Ayrton Senna do Centro Infantil Boldrini,
hospital situado na cidade de Campinas foi inaugurada no dia 27 de Junho de
2001 patrocinada pelo Instituto Ayrton Senna, responsável então pela
implementação do projeto, pela manutenção e assessoria da equipe. A
Brinquedoteca Terapêutica é considerada um importante agente no processo
da humanização hospitalar, com compromisso voltado para melhorar a
qualidade no atendimento e a promoção ao estado físico e emocional da
criança e adolescente hospitalizados. Composto de um ambiente totalmente
colorido, lúdico e criativo, o espaço da brinquedoteca terapêutica é destinado e
preparado para estimular a criança a brincar, criar, através do acesso de
brinquedos, jogos e arte. Nela, os diferentes cantos contemplam a diversidade
de interesses de crianças. Há o canto dos bebês, o canto do faz-de-conta, o
canto da oficina de artes, além dos cantos de jogos, de leitura e de informática.
O trabalho conta com o desempenho e colaboração de Profissionais -
Voluntários - Família, uma parceria que faz importante presença,
principalmente em valorizar a ludicidade como recurso no tratamento das
crianças e jovens acamados, ou seja, uma tentativa de aliviar o mal-estar,
inevitavelmente causado pela doença ou pelos procedimentos necessários ao
tratamento.
A Brinquedoteca Seninha pertence ao Grupo de Apoio ao Adolescente e
à Criança com Câncer (GRAACC), criado há 15 anos com objetivo de oferecer
às crianças e adolescentes com câncer, dentro do mais avançado padrão
33
científico, o direito de alcançar todas as chances de cura com qualidade de
vida, destacou-se como pólo multiplicador da proposta de contribuição para a
humanização do atendimento hospitalar.
No ano de 1994 foi criada Fundação Orsa que promove a formação
integral de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social. Em
Abril de 2004 foi inaugurado a Quimioteca Fundação Orsa localizada também
no Hospital do GRAACC. Iniciativa inédita no Brasil, a quimioteca do Graacc foi
planejada a partir do sucesso das brinquedotecas com o objetivo de suavizar
sofrimento e o desconforto que o paciente com câncer enfrenta nas sessões
de quimioterapia com brincadeiras, imaginação, carinho, bem-estar e alegria,
uma maneira de discontraída de promover o regate da auto-estima e a
garantir o direito de um tratamento adequado e digno independente da
condição financeira. Destinado aos pacientes de quimioterapia o ambiente
colorido e alegre transforma a vida das crianças e adolescentes com câncer,
sem perder a funcionalidade que o tratamento exige. Ressalta o Dr. Sérgio
Petrilli (2004, p.03) “a quimioteca despertará em nossos pacientes o que mais
esperamos deles: a vontade de ficar curado”.
A Quimioteca é um projeto inovador que em seu primeiro ano de
funcionamento atendeu 2.767 crianças e adolescentes e realizou 9.564
quimioterapias. Em 2005 atendeu 3.102 crianças e adolescentes e realizou
9.501 sessões de quimioterapias. JESUS (2006, p.896)
A idéia do projeto surgiu com intenção de tornar a quimioterapia o
menos traumática possível, transformando assim o ambiente hospitalar em um
espaço mais alegre, colorido com brinquedos e livros. Durante o período de
hospitalização, foi verificado que uso da brinquedoteca descontraia as crianças
o que contribuía com tratamento e quando paravam de brincar na
brinquedoteca para aguardarem a sessão de quimioterapia o processo do
tratamento era prejudicado. É o que comenta Ione Queiroz (2005, p.01).
Muitos acabavam chorando ao ir ao tratamento porque era um ambiente hospitalar normal. Além disso, o tratamento é muito desagradável e doloroso para elas. Por isso resolvemos reformar todo o local da quimioterapia e criar um espaço novo, incorporando a questão do brincar, favorecendo o riso e bem-estar.
34
As atividades realizadas são desenvolvidas pela pedagoga Maristela do
Carmo Freire, ludotecária, mestre em Ciências pela Pediatria, responsável pela
organização do material seguindo as necessidades e o desenvolvimento de
cada criança. “a assistência lúdica que oferecemos aqui ameniza o trauma da
criança, ela ganha mais confiança e se sente segura com a afetividade que a
brincadeira proporciona” (2005, p. 01)
Além da pedagoga, o projeto conta com a participação de uma equipe
composta por 14 enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos,
terapeutas ocupacionais, endocrinologista, profissionais de saúde que
acompanham os casos do GRAACC. A Persinotti, (2005, p.01) destaca a
importante colaboração dos 60 voluntários comprometidos com humanização
do tratamento quimioterápico, visto que, estão totalmente envolvidos com o
dia-a-dia do tratamento, uma grande contribuição para alívio da mães que
acompanham seus filhos mais alegres. A referida autora explica que
”trabalhamos muito integradas com a equipe de enfermagem, seguindo as
normas, a ética e a seriedade necessárias para ajudar os pacientes” A
Quimioteca representada pelo GRAACC faz parte do modelo de parceria
tripartite entre a empresa, universidade e comunidade, onde todos ajudam as
crianças com câncer a viajarem ao mundo da fantasia e imaginação,
desenvolvem atividades como as oficinas, música, artesanato e teatro, muitas
vezes vestidos como palhaços ou contadores de histórias, as crianças então
passaram a ter melhores condições de administrar seus medos, incertezas
com fantasia, diversão, carinho e alegria, interagindo com a equipe de
voluntárias.
Em entrevista a Revista Nursing (2006, p. 896) a enfermeira Ione
Queiroz de Jesus a Quimioteca da Fundação Orsa tem por objetivos: oferecer
um espaço completamente descontraído, alegre para que familiares possam
acompanhar o tratamento e o paciente possa enfrentar o tratamento com mais
qualidade de vida; atender as crianças e adolescentes com câncer de maneira
individualizada respeitando as necessidades de cada um; proporcionar um
ambiente hospitalar mais alegre e colorido; facilitar a união e a complacência
ao tratamento; tornar-se um modelo e pólo multiplicador para outras iniciativas
na área.
35
A inserção do brincar na rotina hospitalar a fim de minimizar o
sofrimento da criança e sua família decorrente do processo de doença-
hospitalização também é parte integrante da missão dos Doutores da Alegria
onde buscam através de uma organização proeminentemente dedicada levar
alegria às crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde. Os
Doutores da Alegria fazem parte de uma organização artística, que desde os
anos 1990 levam o trabalho de atores profissionais para dentro de hospitais.
Utilizam a figura do palhaço caracterizado de médico e realizam “exames” e
“consultas”, o artista passa a fazer parte do dia-a-dia das enfermarias.
Atualmente, é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que
realiza cerca de 50 mil visitas por ano a crianças internadas em hospitais de
São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Composta por mais de 30 palhaços. O
início do programa se deu no Hospital e Maternidade Nossa Senhora de
Lourdes, em São Paulo (hoje Hospital da Criança). É através da arte do
palhaço, que transforma o ambiente hospitalar sustentando esta forma de
expressão como meio de enriquecimento da experiência humana.
Dentre tantos motivos citados acredita-se ser de fundamental
importância um espaço lúdico dentro do hospital, por se tratar de crianças e
adolescentes que além de estarem com uma doença são seres bio-psico-
sócio-espiritual, e apresentam necessidade de brincar. Considera-se a
Quimioteca um projeto perfeito de ação capaz de transformar o atendimento
hospitalar, sendo que fatores como o ambiente físico, o cuidado com pacientes
e familiares e a relação entre as equipes de profissionais são agentes
formadores da humanização hospitalar, visto que para atingir a humanização é
necessário melhorar a assistência à saúde e conseqüentemente a qualidade
de vida de todos os profissionais envolvidos na área.
O ambiente hospitalar deve criar alternativas de atuação ao utilizar de
recurso lúdico para transformar o ambiente hospital e atender melhor os
pacientes e familiares. Além disso, a relação entre a equipe de saúde e os
pacientes deve ser marcada pelo respeito, amor e apoio, sentimentos
fundamentais no processo de hospitalização. A criança debilitada sente imenso
alívio quando acompanhada e protegida pela família, pois a relação de amor e
esperança ajuda suporta o impacto do diagnóstico, enfrenta o sofrimento de
36
um tratamento geralmente doloroso e agressivo. “o amor é o único nexo
permanentemente válido nas relações familiares. Amar e ser amado é um
desejo de todos. E também é um direito que a sociedade deveria proteger e
estimular.” (Knobel,1992 apud CHIATTONE 2003, p.131)
A Quimioteca da Fundação Orsa é uma grande demonstração de
dedicação e respeito às crianças e adolescentes com câncer, principalmente
aos seus familiares pela força e garra que demonstram em momentos tão
difíceis e tristes que passam. Lidar com a doença é lidar com a morte a todo
tempo, é uma incerteza que se faz presente, ocasionando angústias e
frustrações. Alves (2003, p.73) elucida o poder dos homens perante a morte.
E, por isso, os homens e as mulheres dedicavam-se a ouvir a sua voz e
podiam tornar-se sábios na arte de viver. Hoje, a morte foi definida como
inimiga a ser derrotada. Com isso, nos tornamos surdos às lições que ela pode
nos ensinar. E nos encontramos diante do perigo de que, quanto mais
poderosos formos perante ela (inutilmente, porque só podemos odiar...) mais
tornamos na arte de viver. E quando isso acontece, a morte que poderia ser
conselheira, sábia transforma-se em inimiga que nos devora por detrás. Acho
que para recuperar um pouco da sabedoria de viver seria preciso que nos
tornássemos discípulos e não inimigos da Morte.
Neste sentido Chiattone (2003, p. 70) comenta que: [...] “pela própria
vivência da situação de doença, as crianças doentes e hospitalizadas
apresentariam uma intensa capacidade de percepção de mudanças físicas em
seu corpo, o que facilitaria a percepção prematura da morte”.
CAPÍTULO IV
Humanização na assistência hospitalar
37
4.1- Política de humanização
O termo “humanização” tem sido empregado constantemente no âmbito
da saúde, porém, a problematização em torno do tema no campo da saúde no
Brasil e no mundo é algo relativamente recente. Pois, somente em 1974, foi
criado o Instituto para o Estudo da Medicina Humanizada, nos Estados Unidos
da América.
A discussão sobre a temática humanização da assistência hospitalar
surgiu mediante pesquisas e avaliações dos serviços de saúde, que apontaram
à qualidade da atenção como um ponto mais crítico do sistema de saúde
brasileiro. Neste sentido podemos dizer que a humanização da atenção à
saúde tem seu fundamento na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
que afirma no art. 1º: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns
com os outros em espírito de fraternidade”.
No entanto, o final da década de 90 foi marcado pela ampliação de
proposições políticas governamentais referentes à humanização na atenção à
saúde. Compreendendo que a eficácia do Sistema de Saúde está diretamente
atrelada à qualidade da relação humana existente entre os profissionais e os
usuários no processo de atendimento hospitalar, o Ministério da Saúde lançou
algumas ações e programas no campo da humanização, como por exemplo:
Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares – PNASH (1999);
Programa Centros Colaboradores para a Qualidade e Assistência Hospitalar
(2000); Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (2000); Norma
de Atenção Humanizada de Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru
(2000).
A iniciativa sobre foco humanização iniciou de forma mais consistente
no ano de 2000, com a XI Conferência Nacional de Saúde (CNS) tendo como
referencial “Efetivando o SUS: Acesso, Qualidade e Humanização na Atenção
à Saúde com Controle Social”. Neste mesmo ano o Ministério da Saúde lança
o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH).
38
Programa este que sugere um conjunto de ações integradas com o objetivo de
modificar os padrões de assistência aos usuários no ambiente hospitalar
público do Brasil. Tendo como objetivo principal aprimorar a relação entre os
profissionais de saúde, usuários e o hospital com a comunidade, que quando
mobilizados são capazes de transformar a realidade vigente. Neste mesmo
sentido, o programa enfoca a necessidade de ocorrer uma transformação
cultural no ambiente hospitalar, orientada pelo atendimento humanizado ao
usuário, na perspectiva de alcançar através das ações desenvolvidas um
resultado com mais qualidade e eficácia.
O Programa destaca a importância dos termos “tecnologia” e “fator
humano e de relacionamento”, uma vez que possuir tecnologias modernas
nem sempre é dispor de delicadeza do cuidado e por outro lado a falta de boas
condições tecnológicas pode acarretar em conflitos entre os profissionais de
saúde. Portanto, embora se confirme que ambos constituem a qualidade do
sistema, o fator considerado estratégico pelo documento PNHAH e o “fator-
humano”.
[...] as tecnologias e os dispositivos organizacionais, sobretudo numa área como a da saúde, não funcionam sozinhos – sua eficácia é fortemente influenciada pela qualidade do fator humano e do relacionamento que se estabelece entre profissionais e usuários no processo de atendimento (MS, 2001, p.5).
O PNHAH tem como finalidade os objetivos: a melhoria na qualidade e
na eficácia da atenção dispensada aos usuários da rede hospitalar
credenciada ao SUS; a capacitação dos profissionais para um novo conceito
de atenção à saúde que valorize a vida humana e a cidadania; a implantação
de novas iniciativas de humanização dos hospitais de forma a beneficiar os
usuários e profissionais de saúde e por fim, atualização das relações de
trabalho no âmbito dos hospitais públicos, transformando as instituições mais
harmônicas e solidárias, de modo a resgatar a imagem pública dessas
instituições junto à comunidade. MS (2001, p.14)
A partir de 2003 o então Programa foi substituído por uma perspectiva
transversal, constituído por uma política pública de assistência e não apenas
mais um programa específico, instituída pelo Ministério da Saúde e intitulada
39
Política Nacional Humanização - PNH, conhecido também como – Humaniza
SUS.
Uma política com aplicabilidade nos diversos serviços em toda rede do
SUS, pois segundo o Ministério da Saúde (2004, p.07) “a Humanização, como
uma política transversal, supõe necessariamente que sejam ultrapassadas as
fronteiras, muitas vezes rígidas, dos diferentes núcleos de saber/poder que se
ocupam da produção da saúde.
A implementação da Política de Humanização busca consolidar como
prioridades no desenvolvimento de sua prática humanizadora: o tratar com as
dificuldades de acesso dos usuários aos serviços e suas injustas
conseqüências – as filas de espera, a necessidade de ampliação dos
mecanismos de comunicação e informação, o incentivo a formas de
acolhimento que levem à otimização dos serviços e ao acesso dos usuários a
todos os níveis de atenção do sistema de saúde, com mecanismos de
referência e contra referência e a garantia de participação dos funcionários e
usuários numa gestão democrática. (MS, 2004)
Neste sentido o Ministério da Saúde reforça:
[...] tomar a saúde como valor de uso é ter como padrão na atenção o vínculo com os usuários, é garantir os direitos dos usuários e seus familiares, é estimular a que eles se coloquem como atores do sistema de saúde por meio de sua ação de controle social, mas é também ter melhores condições para que os profissionais efetuem seu trabalho de modo digno e criador de novas ações e que possam participar como co-gestores de seu processo de trabalho.
Se que "humanizar" as relações entre usuários e trabalhadores,
conseqüentemente "humanizando" o processo de produção de serviços de
saúde, significa reconhecer os sujeitos como dotados de desejos,
necessidades e direitos.
Para o Ministério da Saúde dentro de PNH (2004, p.06) “humanizar é,
então, ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos
com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de
trabalho dos profissionais”.
O processo conceitual de humanização abre espaço par banalização,
uma vez que seja confundida com ações caritativas, benevolentes,
40
paternalistas. Logo, a transformação do ambiente hospitalar, o aumento dos
padrões de qualidade no atendimento e a ampliação de acesso são questões
importantes na construção de modelos de atenção à saúde centrados no
usuário e suas necessidades de saúde, no entanto, definitivamente, não
esgotam o conceito de humanização num sentido mais amplo, de
reconhecimento da saúde como direito das pessoas e de busca contínua da
satisfação de necessidades de saúde.
4.2- Conceitos de humanização vigentes e ações concretizadoras
A medicina atual busca novas formas de atendimento aos doentes, e
preocupa-se cada vez mais em oferecer a eles um tratamento mais
humanizado. O desafio é, portanto compreender o sentido e a complexidade
do tema, uma vez que naturalmente é esperada uma atitude humana dos
seres humanos.
Então, há necessidade de diferenciar o ser humano e seus atos.
Notoriamente este mesmo ser, dotado da capacidade de raciocinar começa a
adquirir os valores humanos desde o seu nascimento, apresentado
primeiramente pela mãe, depois familiares e em seguida pelo meio social a
qual esta locado.
Valores estes que vão se moldando com seu desenvolvimento
corporal/cognitivo. Para Mezzomo (2003, p.33) “a humanização da assistência
hospitalar tem a missão de revelar os valores que constituem o ser humano,
como pessoa, de uma forma abrangente e completa”.
Uma outra característica que torna este ser humano é a linguagem.
Pois através dela há uma comunicação entre os seus semelhantes.
Entendido assim, humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética. Ou seja, o sofrimento humano e as percepções de dor ou de prazer no corpo, para serem humanizados, precisam tanto que as palavras que o sujeito expressa sejam reconhecidas pelo outro, quanto esse sujeito precisa ouvir do outro palavras de seu reconhecimento. Pela linguagem fazemos as descobertas de meios pessoais de comunicação com o outro, sem que nos desumanizamos reciprocamente. (BRASIL, 2000)
41
Verifica-se que com o advento de novas tecnologias no contexto da
saúde, a atenção tem privilegiado a doença como foco principal, e o “ser” que
abriga a patologia um mero “coadjuvante”. Tornando assim, a assistência
empregada de caráter “frio”, distante, desumano. Segundo Miziara (2003, p.22)
“visão corrente entre muitos que procuram o auxílio de um médico, para
diminuir seus sofrimentos, é de que a medicina ganhou tanto em tecnologia
quanto perdeu em humanidade”. Portanto, o desafio dos que se propõem
cuidar da saúde alheia é tentar conciliar a frieza de raciocínio, imposta pelos
avanços tecnológicos, com um comportamento mais humano, fundamental
para uma saudável relação médico-paciente.
A humanização começa, avança e acontece nas relações humanas,
onde supõe troca de saberes, incluindo os dos pacientes e familiares, diálogo
entre os profissionais e modos de trabalhar em equipe. Leva em conta as
necessidades sociais, os desejos e os interesses dos diferentes atores
envolvidos no campo da saúde constituindo a política em ações materiais e
concretas.
Tais ações políticas têm a capacidade de transformar e garantir direitos,
constituir novos sentidos destacando a importância e o desafio de se estar,
constantemente, construindo e ampliando os espaços da troca, de forma a
caminhar na direção da qualidade/humanização desejada. À medida que o
movimento pela humanização se eleva da predicação moral para uma
preocupação operativa do direito à saúde, com a reorganização dos serviços e
das práticas em saúde, ele incorpora de maneira simbiótica a categoria da
satisfação dos usuários.
A análise das narrativas da construção das iniciativas de humanização
da assistência à saúde, permite inferir a vitalidade e legitimidade de suas
reinvidicações. A implementação da humanização nos hospitais começa com
fatores estruturais com a marcação da consulta, como direito do cliente ser
informado das etapas do atendimento, abertura de prontuário, consultas entre
outros. Cabe aos trabalhadores da Unidade compreender as necessidades do
outro, cliente, e acolhê-lo com resolutividade. Este é um fator importante que
deve favorecer a relação entre competência e afetividade e,
consequentemente o estreitamento da aliança terapêutica. Lacaz (2001, apud
42
Mezzomo, 2003, p. 161) contempla de forma muito intensa a contribuição do
exercício da medicina para assistência hospitalar, “procuremos assumir, em
relação aos nossos semelhantes, um comportamento cada vez mais humano,
porque este é o sentido que se deve dar à vida, o mais alto, mais nobre e mais
difícil, a única que pode tornar o homem verdadeiramente digno de seus
deveres”.
O tratamento dispensado ao paciente deve seguir orientações acerca da
qualidade da atenção, como: higiene, horários das medicações, qualificação
técnica da equipe de trabalhadores, manutenção dos equipamentos. Além, de
ser informado sobre a doença e respeitado seu desejo.
A questão da qualidade no atendimento é uma preocupação de
administração pública. O Governo Federal já conta com normas sobre o
assunto, entre as quais destaca-se o Decreto Nº 3.507, de 13 de junho de
2000, o qual “dispõe sobre o estabelecimento de padrões de qualidade do
atendimento prestado aos cidadãos pelos órgãos e pelas entidades da
Administração Pública Federal direta, indireta e fundacional, e dá outras
providências”.
Logo, no artigo 1º, o Decreto diz que “ficam definidas as diretrizes
normativas para o estabelecimento de padrões de qualidade do atendimento
prestado [...] diretamente aos cidadãos”, enquanto o 2º explica que os referidos
padrões “deverão ser observados na prestação de todo e qualquer serviço aos
cidadãos-usuários; avaliados e revistos periodicamente; mensuráveis; de fácil
compreensão; e divulgados ao público.
Entretanto, como não é possível forjar outra realidade num passe de
mágica, se faz necessário valorizar este instrumento e entendê-lo como veículo
que poderá ser capaz de conduzir o serviço de assistência à saúde a dias
melhores. Um ajuste indispensável entre a norma e o exercício da cidadania.
Entender e realizar um atendimento humanizado é perceber o outro
como ser humano, único, dotado de significância em todas as suas dimensões.
Desta forma, “O cuidado somente surge quando a existência de alguém tem
importância para mim. Passo então a dedicar-me a ele, dispondo-me a
participar de seu destino, de suas buscas, de seus sofrimentos e de sucesso,
43
enfim, de sua vida”. (BOFF, 2000 apud MARITA, MARX e BENTO, 2003, p.
88).
Como já mencionado, a Brinquedoteca, agente importante da
humanização hospitalar, tem uma intenção claramente voltada para a melhoria
do estado físico e emocional. Sua contribuição é entendida como valor
humanístico na medida em que resgata o respeito à vida humana, em
dimensões que atingem as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e
psíquicas presentes em todo relacionamento humano. Assim, a utilização da
brinquedoteca como estratégia de interferência no processo de produção de
saúde, leva em conta que os sujeitos sociais, quando mobilizados, são
capazes de transformar realidades transformando a si próprio nesse mesmo
processo.
A humanização é, portanto, uma tarefa para a qual todos são
responsáveis: doentes, família, administração, profissionais, médicos,
voluntários e instituições. Um alerta para a sociedade sobre necessidade de
aprimoramento das condutas técnicas, profissionais e humanas. Resultando
num tratamento e cuidado digno, solidário e acolhedor. “É importante que, no
início do novo milênio, seja dado um novo impulso à evangelização no mundo
da saúde, como um lugar privilegiado para se tornar um precioso laboratório da
civilização do amor” (JOÃO PAULO I, 1993, apud MEZZOMO,
44
CONCLUSÃO
Após a realização da revisão de literatura, a implementação da
metodologia e a descrição dos resultados obtidos, podem-se chegar a algumas
considerações, como:
A literatura é bastante ampla com relação à importância do brinquedo
para a criança. Contudo, fiquei surpresa com a dificuldade na fundamentação
teórica sobre o tema proposto. Motivo que não fez desanimar e desistir, uma
vez que já havia me apaixonado pela possibilidade de através da pesquisa
conhecer e divulgar grandiosa capacidade que as crianças hospitalizadas tem
em apropriar-se da brincar. Uma vez que brincando seus olhos passam a
enxergar novas perspectivas até então desconhecidas, tirando-a da condição
passiva de doente e colocando-a ativamente colaboradora de seu tratamento.
Assim, concordo com Mitre (2000, p. 113) quando afirma que:
“podemos considerar o brincar uma ‘janela’ que se abre num espaço, onde mais do que olhar a vida, pode-se vivê-la. Uma janela que pode ser aberta pela própria criança, para que o hospital, enquanto lugar de dor e restrições, possa dar espaço ao exercício da vida, ainda que breve.”
Desta forma, é possível afirmar que, independente da criança estar em
tratamento hospitalar ou ambulatorial, uma vez que ambos são desgastantes e
dolorosos, a brinquedoteca como instrumento de humanização contribui para
que ela continue se desenvolvendo integralmente, com dignidade e respeito
apesar do adoecimento.
A atuação pedagógica é, antes de mais nada, ajudar a criança ou adulto
enfermo hospitalizado para que o mesmo vivendo um período difícil, consiga
continuar se desenvolvendo em todos os aspectos, com maior normalidade
possível. Aprender com essas sensações e emoções redimensiona o ensino e
as ênfases cognitivas com que se opera o processo ensino-aprendizagem.
45
Neste período foi possível conhecer no campo da saúde a necessidade
de proporcionar uma assistência humanizada a criança e seus familiares, pois
acredito que a Brinquedoteca pode ser um instrumento viável para que este
processo aconteça. De forma a oferecer um tratamento pautado na atenção,
no carinho e no respeito. É importante ressaltar o que diz Édem (2006 p. 77)
“quanto mais as pessoas acreditam em uma coisa, quanto mais se dedicam a
ela, mais podem influenciar no seu acontecimento”.
Neste sentido o meu presente estudo despertou o interesse da
ampliando assim as possibilidades de formação profissional na região.
A partir do sugerido como tema investigativo, determinado a partir da
situação problema do estudo acerca a intervenção do Pedagogo no ambiente
hospitalar como estratégia de humanização à assistência a criança e a família.
Em relação aos objetivos intermediários ou específicos do estudo, deve-
se atentar para essa nova perspectiva da ação profissional, bem como
perceber e compreender o valor e o papel do pedagogo no ambiente
hospitalar. Porém, torna-se urgente o entendimento por parte da sociedade
das múltiplas possibilidades da brinquedoteca no ambiente hospitalar, pois o
que se propõem é o cuidado da pessoa, no caso especifico do estudo, o
cuidado com a criança e não o trato do doente, pois isso como já se sabe,
compete aos profissionais da saúde.
46
ANEXO I
Edição Número 225 de 24/11/2005
Ministério da Saúde Gabinete do Ministro
PORTARIA N o 2.261, DE 23 DE NOVEMBRO DE 2005
Aprova o Regulamento que estabelece as diretrizes de instalação e funcionamento das brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação.
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições, e
Considerando o disposto na Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005, que dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação; e
Considerando que toda criança hospitalizada tem direitos especiais após a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, da Resolução nº 41, de 13 de outubro de 1995, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, e da Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente, ressaltando-se o direito de ser acompanhado por sua mãe ou responsável, durante todo o período de sua hospitalização, o direito de desfrutar de formas de recreação, formas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar, e o direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para a sua cura e reabilitação, resolve:
Art. 1º Aprovar, na forma do Anexo a esta Portaria, o Regulamento que estabelece as diretrizes de instalação e funcionamento das brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
SARAIVA FELIPE
ANEXO
REGULAMENTO
Diretrizes de instalação e funcionamento das brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação, de acordo com a Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005.
47
Capítulo I
DOS OBJETIVOS
Art. 1º A Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005, tem por objetivo a obrigatoriedade, por parte dos hospitais que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação, de contarem com brinquedotecas em suas dependências.
Art. 2º Tornar a criança um parceiro ativo em seu processo de tratamento, aumentando a aceitabilidade em relação à internação hospitalar, de forma que sua permanência seja mais agradável.
Capítulo II
DAS DEFINIÇÕES
Art. 3º Entende-se por brinquedoteca o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar, contribuindo para a construção e/ou fortalecimento das relações de vínculo e afeto entre as crianças e seu meio social.
Art. 4º Entende-se por atendimento pediátrico, para efeitos da Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005, a atenção dispensada à criança de 28 dias a 12 anos, em regime de internação.
Capítulo III
DAS DIRETRIZES
Art 5º Para o cumprimento do disposto nos artigos anteriores, deverão ser observadas as seguintes diretrizes:
I - os estabelecimentos hospitalares pediátricos deverão disponibilizar brinquedos variados, bem como propiciar atividades com jogos, brinquedos, figuras, leitura e entretenimento nas unidades de internação e tratamento pediátrico como instrumentos de aprendizagem educacional e de estímulos positivos na recuperação da saúde;
II - tornar a criança um parceiro ativo em seu processo de tratamento, aumentando a aceitabilidade em relação à internação hospitalar, de forma que sua permanência seja mais agradável;
III - agregação de estímulos positivos ao processo de cura, proporcionando o brincar como forma de lazer, alívio de tensões e como instrumento privilegiado de crescimento e desenvolvimento infantil;
IV - ampliação do alcance do brincar para a família e os acompanhantes das crianças internadas, proporcionando momentos de diálogos entre os familiares, as crianças e a equipe, facilitando a integração entre os pacientes e o corpo funcional do hospital; e
48
V - a implementação da brinquedoteca deverá ser precedida de um trabalho de divulgação e sensibilização junto à equipe do Hospital e de Voluntários, que deverá estimular e facilitar o acesso das crianças aos brinquedos, do jogos e aos livros.
Capítulo IV
DO DIMENSIONAMENTO DA BRINQUEDOTECA
Art. 6º O dimensionamento da brinquedoteca deve atender à RDC/ANVISA nº 50/2002, conforme descrito na Tabela Unidade Funcional: 3 - Internação:
I - para os hospitais já em funcionamento e que não possuem condições de criar este ambiente específico é permitido compartilhamento com ambiente de refeitório desde que fiquem definidos os horários para o desenvolvimento de cada uma das atividades;
II - deve ser prevista uma área para guarda e higienização dos brinquedos;
III - a higienização dos brinquedos deve ser conforme o definido pela Comissão de Controle de Infecção do Hospital (CCIH);
IV - os horários de funcionamento devem ser definidos pela direção do hospital, tendo a criança livre acesso; e
V - para as crianças impossibilitadas de andar ou sair do leito, os profissionais devem facilitar o acesso desses pacientes às atividades desenvolvidas pela brinquedoteca, dentro das enfermarias.
Capítulo V
DOS PROFISSIONAIS
Art. 7º A qualificação e o número de membros da equipe serão determinados pelas necessidades de cada instituição, podendo funcionar com equipes de profissionais especializados, equipes de voluntários ou equipes mistas.
Capítulo VI
DO FINANCIAMENTO
Art. 8º O financiamento para a criação das brinquedotecas contarão com subsídios do próprio estabelecimento hospitalar pediátrico ou com subsídios externos nacionais ou estrangeiros, recursos públicos ou privados.
Capítulo VI
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 9º O Ministério da Saúde estabelecerá as políticas e as diretrizes para a promoção, a prevenção e a recuperação da saúde da criança, cujas ações serão executadas pela Política Nacional de Humanização - HumanizaSUS.
49
Art. 10. Para os fins previstos neste Regulamento, o Ministério da Saúde poderá promover os meios necessários para que os estados, os municípios e as entidades governamentais e não-governamentais atuem em prol da eficácia das ações de saúde da criança, observadas as diretrizes estabelecidas no artigo 3º deste Regulamento.
Art. 11. Os casos omissos nesse Regulamento serão resolvidos com o apoio do Ministério da Saúde no que lhe couber.
50
ANEXOS
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
(TÍTULO) 11
1.1 - A Busca do Saber 12
1.2 – O prazer de pesquisar 15
1.2.1 - Fator psicológico 15
1.2.2 - Estímulo e Resposta 17
CONCLUSÃO 48
ANEXOS 49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52
BIBLIOGRAFIA CITADA 54
ÍNDICE 55