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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSO AVM FACULDADE INTEGRADA MACONDO: LIÇÕES APRENDIDAS Por: Anderson Henrique da Silva Fernandes Orientadora: Maria Esther de Araújo Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSO

AVM FACULDADE INTEGRADA

MACONDO: LIÇÕES APRENDIDAS

Por: Anderson Henrique da Silva Fernandes

Orientadora: Maria Esther de Araújo

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM FACULDADE INTEGRADA

MACONDO: LIÇÕES APRENDIDAS

Anderson Henrique da Silva Fernandes

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada –

Universidade Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão Ambiental

Orientador: Maria Esther de Araújo

Rio de Janeiro

2013

3

AGRADECIMENTOS

Felipe Carvalho

Daivid Menezes

Daniel Martins

Manoela Teixeira

Daniel Cruz

4

DEDICATÓRIA

À minha esposa Adriana pelo apoio e atenção.

5

RESUMO

Em 2010 a plataforma Deepwater Horizon da British Petroleum, sofreu um grave

acidente e afundou, provocando um grande vazamento de petróleo para o mar. A poluição

atingiu principalmente o litoral dos estados americanos da Flórida, Alabama, Mississipi e

Louisiana. Durante uma operação de cimentação do poço de petróleo, no qual a plataforma

atuava, ocorreu o Kick de gás no qual não foi detectado a tempo de se fechar o poço. Como

resultado, houve um Blowout (erupção do poço), seguido de uma grande explosão, afundamento

da plataforma e poluição do mar. Para a realização do trabalho, foram feitas basicamente duas

análises. A primeira sobre as falhas das barreiras de segurança que provocaram esse acidente,

causado vazamento de petróleo no fundo do mar (Blowout submarino). Através da elaboração de

um Bowtie, baseado nas informações da British Petroleum, ficou evidenciado que o projeto do

poço foi falho em vários itens de segurança, como mostra o seu relatório do acidente. A segunda

análise foi sobre o impacto ambiental provocado pelo vazamento de petróleo no mar. Também

foram descritos basicamente a estrutura operacional de uma plataforma de perfuração, com o

objetivo de esclarecer um pouco o trabalho off shore de construção e manutenção de poços no

mar. Através dessa abordagem em conjunto ficou evidente que as atividades de sondagem no

mar são um grande risco para a segurança ambiental se não for adotado a risca modelos de

gestão de segurança operacional e de processo. Ficou evidenciado que ações de eliminação das

não-conformidades no processo de perfuração e completação de poços também aumentam os

níveis de segurança operacional. O desastre com a plataforma de perfuração Deepwater Horizon

mostrou que os acidentes de processo podem ocorrer, mesmo numa sonda moderna de ultima

geração e com equipes de trabalho experientes. A elaboração de indicadores de segurança para

perfuração pode ajudar os gestores a atuarem de forma precisa na elaboração das “barreiras de

segurança” contra esse tipo de desastre.

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METODOLOGIA

A metodologia foi baseada primeiramente na pesquisa bibliográfica sobre os temas

segurança de poço, gestão de segurança de processo, degradação ambiental e segurança nas

operações de perfuração. Buscaram-se também artigos, fotografias, relatórios, etc. relacionados

ao acidente de Macondo e a degradação ambiental causada pelo vazamento de petróleo no mar.

A internet serviu como ferramenta básica na busca de informações específicas sobre o acidente

de Macondo.

Numa segunda etapa foi realizado o estudo do material referente à metodologia do

Bowtie e sobre o conceito de Segurança Operacional e de Processo. A construção de um Bowtie

serviu para a análise de integridade das barreiras de segurança na plataforma de perfuração.

Na terceira etapa foi feita o estudo de todo o material, a construção de gráficos e

planilhas e a elaboração do presente trabalho escrito.

Buscou-se, sobretudo focar as relações entre a gestão de segurança na atividade de

sondagem marítima com a segurança ambiental. A abordagem em Segurança de Processo, que se

fundamenta na idéia de que a ocorrência de “pequenas falhas” ao longo de um processo

industrial de produção pode culminar com um grande acidente ou um “acidente de processo”,

serviu como referencia ao entendimento teórico das causas que levaram ao acidente e,

conseqüentemente, ao desastre ambiental.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 8

CAPÍTULO I

A perfuração de poços de petróleo................................................................................................10

CAPÍTULO II

O acidente de Macondo.................................................................................................................18 CAPÍTULO III

Os danos ambientais versus Gestão de segurança.........................................................................23

3.1 Degradação das barreiras de segurança na Deepwater Horizon..............................................35

3.2 Efeito do óleo no mar..............................................................................................................38

CONCLUSÃO ............................................................................ Erro! Indicador não definido.44

BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................................46

WEBGRAFIA .............................................................................................................................. 48

ANEXOS ...................................................................................................................................... 52

8

INTRODUÇÃO

A gestão ambiental é imprescindível na indústria petrolífera, sobretudo em atividades

críticas como a perfuração de poços de petróleo offshore, em função dos grandes riscos

ambientais envolvidos (Santos, 2013; Ziolli, 2013). No Brasil e no mundo o segmento de

perfuração de poços de petróleo deverá expandir muito suas atividades nos próximos anos,

principalmente em função de novas descobertas como o Pré-sal na plataforma continental

brasileira e no Golfo do México (Milani, 2000; Petrobras, 2013). Estima-se que a produção em

2017 no Brasil deverá alcançar um milhão de barris/dia só com a produção do Pré-sal (Petrobras,

2013). A crescente demanda nacional e internacional exige volumes cada vez maiores desse

recurso natural fóssil. (EPE, 2008). Diante desse cenário “promissor”, o número de plataformas

de perfuração em atividade vem aumentando rapidamente no mundo, sobretudo no Brasil (EPE,

2008). Concomitantemente, a quantidade de desastres ambientais poderá aumentar (Silva, 2011).

Grandes desastres ambientais ocorridos recentemente com plataformas de perfuração no

Golfo do México, chamam a atenção devido a sua gravidade (Silva, 2011). Em 2010 a

plataforma de perfuração Deepwater Horizon de propriedade da Transocean∗ e contratada pela

British Petroleum, sofreu um grave acidente e afundou, provocando um grande vazamento de

óleo para o mar. O Blowout submarino que durou vários dias causou grandes danos ambientais

na região. A poluição atingiu uma grande área da superfície do mar e alcançou a costa dos

estados americanos da Flórida, Alabama, Mississipi e Louisiana. Segundo o ITOPF (2013) foi o

maior desastre ambiental marinho dos EUA.

Segundo Aleixo (2007) petróleo lançado no mar pode se degradar rapidamente ou não

dependendo de vários fatores como a quantidade lançada, localização do acidente e clima.

Porém, os ecossistemas marinhos e os próprios seres vivos podem ser gravemente prejudicados

quando em contato com o óleo. Várias espécies do fitoplancton (base de a cadeia alimentar

marinha), de peixes, pássaros, mamíferos, zooplancton, etc., têm o desenvolvimento de vida

prejudicado. Substâncias tóxicas do petróleo podem ir se acumulando na cadeia trófica marinha,

podendo ocorrer a biomagnificação (Ziolli, 2013).

O objetivo geral do trabalho é discutir as causas e as conseqüências do acidente

ambiental com plataforma Deepwater Horizon. O objetivo específico é discutir as questões que ∗ * Transocean é um fornecedor internacional líder de serviços de perfuração offshore sob contrato para empresas de energia.

9

envolvem segurança operacional e meio ambiente na perfuração e mostrar que ferramentas de

suporte a decisão como o Bowtie podem ajudar os gestores na tomada de decisões, tanto na fase

do projeto como na operação e ainda na análise e gestão dos riscos. Sobretudo, buscar identificar

as lições deixadas. Segundo o relatório da BP (2010) o desastre de Macondo ocorreu devido a

uma seqüência de falhas, que resultaram num kick, seguido de um blowout que provocou a perda

da plataforma e do poço. O blowout submarino lançou milhões de barris de petróleo no mar,

provocando a degradação de ecossistemas marinhos como os salt marshes, corais, contaminação

dos sedimentos litorâneos e da água do mar (ITOPF, 2013).

A perda do poço e da plataforma foi só uma pequena parcela se comparado com os

imensos prejuízos ambientais, financeiros, sociais e com a perda das vidas humanas (ITOPF,

2013). As causas que levaram ao acidente com a plataforma da British Petroleum - Deepwater

Horizon e as conseqüências ambientais serão analisadas.

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CAPÍTULO I

A perfuração de poços de petróleo

Para manter a produção de petróleo é necessário haver continuamente a perfuração de

novos poços (EPE, 2008). Os poços cuja produção decaiu com o passar do tempo, necessitam de

um workover ou uma intervenção de manutenção (Almeida, 2006). Poços que já não produzem

mais são abandonados e tamponados com cimento. Todas essas atividades requerem uma sonda

de perfuração, na qual possui equipamentos apropriados que possuem robustez e confiabilidade

exigidas nas atividades diárias (Almeida, 2006). Os riscos são minimizados através de

procedimentos operacionais especiais e com pessoal altamente capacitado (Thomaz, 2004).

Muitos campos petrolíferos no mundo estão localizados nas plataformas marítimas de

alguns continentes (EPE, 2008; Milani, 2001). Normalmente, segundo Santos (2013), atividades

de exploração de petróleo no mar requerem um planejamento minucioso das operações para se

prevenir acidentes e diminuir os riscos. É comum um poço de petróleo atravessar rochas porosas

que contém fluidos em alta pressão (Rocha, 2009). Durante a perfuração de um poço, o que

mantém esses fluidos retidos nas formações rochosas é a pressão hidrostática gerada pelo fluido

de perfuração, que possui uma determinada massa específica (Rocha, 2009). O fluido de

perfuração, nesse contexto, é considerado a primeira barreira de segurança, pois dentre as suas

várias funções, também impede que os fluidos da formação invadam o espaço anular do poço ou

que ocorra um influxo indesejável chamado de kick (Santos, 2013). O BOP (fig. 1), sigla de

Blowout Preventer (Preventor de Erupção) é um equipamento robusto e complexo que possui um

conjunto de válvulas ou preventores que fecham o espaço anular do poço, com ou sem coluna de

perfuração no seu interior, a comando do Sondador. Esse procedimento ocorre principalmente

em função da perda da primeira barreira de segurança do poço (Rocha, 2009).

Os Equipamentos do Sistema de Controle de Poço Submarino (ESCP) são fundamentais

para garantir a segurança das operações de perfuração e/ou intervenções em poços, por isso são

considerados equipamentos críticos para a segurança e geralmente possuem um plano de

manutenção especial para aumentar a confiabilidade (Thomas, 2004). Os ESCP incluem o BOP,

válvulas de segurança de coluna, Diverter, Separador Atmosférico e a vácuo, Choke manifold e o

Trip tank. Os ESCP têm como funções principais: circular gás do riser (riser de perfuração é um

tipo de conduto que liga o BOP no fundo do mar - mud line – até a sonda), fechar o poço,

circular kick, detectar kick, monitorar o poço etc. O BOP deve fechar o poço em qualquer

situação, mesmo havendo um blowout ou um blackout na sonda. Deve ainda possuir

redundâncias de acionamento e funcionamento dos seus sistemas. Esse conceito visa diminuir o

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risco causado por falhas no equipamento, pois deve haver uma redundância para cada função

considerada importante para o controle do poço. Quando há perda dessa redundância diz-se que

o equipamento ou a plataforma de perfuração encontra-se em “estado degradado”, pois ela não

se poderá contar com uma segunda alternativa em caso de falha do equipamento degradado.

Logo, dependendo da importância do equipamento para a segurança, deve-se fazer uma

avaliação dos riscos da situação operacional do momento e efetuar o reparo o mais rápido

possível para se recuperar a redundância (Rocha, 2009; Santos, 2013).

Numa plataforma de perfuração é fundamental que o programa de manutenção nos

equipamentos críticos funcione adequadamente, para que esses equipamentos atendam as

exigências extremas das operações. Todos esses equipamentos devem estar sempre funcionais e

devem ainda ser testados de acordo com os padrões e normas vigentes. Suas integridades devem

ser observadas e monitoradas rotineiramente. Os sensores numa sonda também são elementos

fundamentais para a segurança, pois auxiliam na detecção de gases vindos do poço como H2S,

ocorrência de incêndios, vazamentos, pressão das linhas, etc. No caso das “áreas classificadas”

os equipamentos elétricos devem ser certificados “Ex” ou “a prova de explosão”, pois no caso de

vazamento de gases inflamáveis não deverá haver pontos de ignição. Algumas ferramentas

devem ser especiais como as marretas de bronze, para não produzir faíscas. Essas “áreas

classificadas” são discriminadas devido à possibilidade de formação de atmosfera explosiva em

função da possibilidade de vazamento de gases inflamáveis provenientes do poço de petróleo

(Thomaz, 2004; Santos, 2013; Rocha, 2009).

As atividades com sondas de perfuração são essenciais para construção e manutenção dos

poços. Além da perfuração, as sondas ou drilling rigs, são projetadas para construir os poços e

ainda intervir neles (poços já construídos) para manutenção ou workover. Não há produção de

petróleo se não houver renovação através da perfuração de poços em novos campos e workover

em poços antigos, com baixa produção ou depletados∗. A vida de um poço pode ser resumida da

seguinte maneira: elaboração do projeto do poço; perfuração propriamente dita, que envolve uma

sonda; completação, no qual o poço é equipado para produzir; produção; intervenção e

recompletação (workover) para manutenção da produção; abandono. O abandono se faz quando

o reservatório(s) fica depletado e sua estimulação é inviável economicamente. Porém, as

exigências para manter a produção total é muito grande. Devido a esse fato e aos altos preços das

diárias das sondas, surgem novas tecnologias voltadas para a perfuração, que exige uma

atualização dos conhecimentos quase que diariamente, por parte dos trabalhadores da sonda. A

∗ Um poço de petróleo pode estar em plena operação, maduro ou depletado (exaurido).

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produção de um poço exige muito investimento, pois sem isso a produção não se mantém

(Thomaz, 2007; Corrêa, 2012; Santos, 2013).

A construção de um poço no mar (projeto) começa com o estudo da área para obtenção

de dados geológicos locais (sísmica, mapas, etc.) e informações obtidas de poços que já foram

perfurados na região. Em seguida, deve-se obter os dados da locação (meteorologia,

oceanografia, relevo submarino, ecologia local, etc.) quanto maior a quantidade de informações

melhor para o projeto e para segurança. Em seguida a determinação das geopressões (pressão

dos poros da formação) para se determinar as características do fluido de perfuração que será

utilizado e os equipamentos que serão usados na perfuração como tipo de BOP, composição da

coluna de perfuração etc. (Rocha, 2009; Thomaz, 2007; Santos, 2013).

As características da sonda são fundamentais para se perfurar o poço. Deve haver um

critério de requisitos mínimos para escolha da sonda: capacidade máxima do guincho,

capacidade do BOP, capacidade de lâmina d’água, custos operacionais, Tipo de sonda:

posicionamento dinâmico, ancorada ou alto-elevatória, etc. (Thomaz, 2004).

As etapas da perfuração no mar (offshore) se iniciam com o posicionamento da

plataforma de perfuração sobre o ponto determinado pelas coordenadas geográficas. Se for uma

sonda semi-submersível ancorada deve-se primeiramente elaborar o projeto de ancoragem

(Anchor Manual, 2013), que irá ser elaborado com base nos dados ambientais coletados na fase

de coleta de dados. Os principais dados são profundidade local, correnteza predominante, relevo

submarino, presença de corais, tipo de solo marinho, ventos predominantes e ondas

predominantes. Deve haver sempre uma preocupação com o meio ambiente local (Rocha, 2009;

Santos, 2013; Cedre, 2011-b).

Sendo feita a ancoragem da plataforma através dos AHTS (Anchor Handling Tug

Supply) ou rebocador de ancoragem, o controle é entregue a sonda de perfuração que dá inicio

aos trabalhos, executando a seqüência de operações de perfuração do inicio de poço (Anchor

Manual, 2013).

A perfuração é realizada através da torre de perfuração e dos equipamentos auxiliares,

tais como: bombas de lama; top drive; tanques de lama; compensador de movimento da coluna;

coluna de tubos e comandos; heavy weight; mesa rotativa; Iron Rougneck; e outros. A escolha

da broca de perfuração é feita em função do diâmetro do poço que se quer, da fase a ser

perfurada e da dureza da rocha. A coluna de perfuração, assim montada, irá perfurar as rochas

através da rotação, do peso sobre a broca e dos jatos de fluido. A coluna de perfuração é

sustentada pela torre, na qual permite também que se faça as conexões de novas seções,

conforme o poço vai sendo perfurado. Ao mesmo tempo em que é feita a perfuração, o fluido de

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perfuração é injetado através do swivel pela coluna até a broca, na qual possui saídas por onde o

fluido sai sob pressão, fragilizando a formação rochosa, resfriando e lubrificando a broca e

carreando fragmentos de rocha resultantes até a superfície (Machado, 2002; Rocha, 2009). A

passagem de fluido para a coluna só é possível através de um equipamento chamado swivel, no

qual permite a injeção do fluido com rotação de coluna. A equipe de trabalho é composta pelo

sondador, plataformista, torrista e colaboradores. O sondador é o responsável pelos trabalhos na

sonda, segurança do poço e segurança da equipe, além de deter todo o conhecimento das

operações e de todos os equipamentos de perfuração da sonda. Deve ainda possuir habilidades

em liderança e coordenação. Os plataformistas e torristas trabalham sob a liderança do sondador,

executando os trabalhos na “boca da mesa” e no Moon Pool, que é a área inferior da sonda de

perfuração marítima, onde fica alojado o BOP durante o intervalo das perfurações. (Thomas,

2004; Santos, 2013).

A primeira fase do poço se inicia com descida da base guia temporária e com uma coluna

de perfuração sem o riser de perfuração, para perfurar a fase de 36” e instalação, em seguida, do

revestimento estrutural. Nesse caso como as rochas superficiais não oferecem riscos de kick, a

água do mar é utilizada como fluido de perfuração. Todo material perfurado é depositado no

fundo do mar. Terminada a perfuração dessa fase, o poço precisa ser revestido por um tubo de

revestimento e cimentado por fora entre a sua parede externa e a formação. Nesse caso o

diâmetro do revestimento é um pouco menor que o diâmetro do poço aberto (significa que o

poço não esta revestido, ou seja, o poço ou determinada fase está com a(s) formação(s)

exposta(s)). Terminada a primeira fase, tem inicio a segunda fase com um diâmetro inferior e

assim o processo se repete sucessivamente até se chegar à zona(s) produtora(s). Um poço pode

ter até oito fases. A partir da perfuração da segunda fase, é necessário instalar o BOP para

garantir a segurança. Esse equipamento permite que se feche o poço em situações de emergência

(kick) ou mesmo se corte a coluna e feche o poço, para que não ocorra a evolução do kick.

Concluída a perfuração e o revestimento com cimentação de todas as fases do poço, é preciso

limpar o poço e canhonear a fase produtora para instalação da coluna de produção ou os

equipamentos de produção (completação do poço). Completar um poço significa equipar o poço

para que produza óleo ou gás (Santos, 2013). A instalação da árvore de natal (ANM) e a

realização de testes de produção concluem os trabalhos (Thomaz, 2004; Rocha, 2009).

O BOP (Fig. 1) é um equipamento fundamental para os trabalhos de perfuração e

completação. Sem o BOP não há segurança contra um kick quando a primeira barreira é rompida

(o fluido de perfuração). Dessa forma não é possível perfurar ou completar um poço (Santos

2013).

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Fig. 1 - BOP

O BOP é um equipamento robusto cuja função principal e mais importante é fechar e vedar o poço quando há risco de blowout. Ele possui um espaço anular, que liga o poço à sonda, por onde passa a coluna de perfuração e havendo necessidade, os preventores ou gavetas específicas fecham esse espaço sem danificar o tubo, vedando o poço. Ele é considerado um equipamento crítico, do ponto de vista da segurança operacional. Pode pesar até quatrocentas toneladas e uma altura em torno de doze metros. Não há perfuração de poços de petróleo sem o BOP, pois é o principal equipamento de segurança do poço durante essa atividade. BOP’s podem pesar até 400 toneladas. Fonte: http://www.google.com.br/imgres; (Thomas, 2004).

Um poço de petróleo é uma estrutura que pode ser construída tanto em terra (on shore)

quanto em mar (off shore). O alvo do poço é uma formação produtora que, após avaliações

indiretas (sísmica e gravimetria, por exemplo), é considerado, a princípio, viável

economicamente. Um projeto de poço contém etapas que vão depender de vários fatores que

incluem, entre outros: finalidade do poço, zonas anormalmente pressurizadas, zonas com perda

de circulação e o máximo comprimento de poço aberto. As diferentes fases são revestidas por

tubos de revestimento de diferentes diâmetros e resistência. Esses tubos quando posicionados no

poço são revestidos externamente com cimento. A formação produtora é canhoneada para que o

hidrocarboneto possa influir para o poço no momento da produção. O poço também pode ser

direcional ou vertical de acordo com a necessidade. No caso de poço direcional, a tecnologia

usada na perfuração é bem mais sofisticada que num poço convencional. Após a perfuração, o

poço tem que ser “completado” ou equipado com uma coluna de produção para poder entrar em

operação (Rocha, 2009; Thomaz, 2004).

Durante a perfuração ou completação há muitos riscos operacionais. O momento mais

crítico para a segurança é a ocorrência de um kick. O kick (influxo indesejável para o poço) pode

ser de óleo, gás ou água, mas o kick de gás é extremamente perigoso e pode evoluir para um

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blowout (erupção do poço), podendo resultar em explosão e possíveis vazamentos de óleo para o

mar, com danos aos ecossistemas e as pessoas (Santos, 2013). Segundo Rocha, (2009), todo kick

deve ser tratado como kick de gás, até que se tenha certeza de sua composição. O volume de um

kick correspondente a um barril de gás poderá chegar à superfície com um volume centenas de

vezes maior e com pressões altíssimas (Santos, 2013). Um poço HPHT de gás em águas

profundas e ultraprofundas é o que apresenta os maiores riscos, pois o controle do poço é mais

complicado devido a uma série de complicações (Santos, 2013). Um desses fatores é a

dificuldade de detecção do kick, pois é imperativa a sua identificação o mais cedo possível

(Santos, 2013). Outro grande problema é a janela operacional estreita em poços profundos

(Santos, 2013; Rocha, 2009). Um kick de gás ocorre principalmente quando o fluido de

perfuração tem um peso errado, ou seja, a pressão hidrostática exercida pelo fluido no poço é

menor do que a pressão da formação produtora. Porém, se a pressão hidrostática for maior que o

necessário, pode provocar rachaduras nas rochas, processo conhecido como fraturamento ou

fazer com que ocorra a injeção de fluidos para dentro da rocha (perda de circulação). Portanto,

deve haver uma janela operacional, no qual se delimite a máxima e a mínima pressão

hidrostática para se operar (Rocha, 2009). Portanto, cada poço possui sua própria janela

operacional e o seu monitoramento é fundamental para a segurança (Rocha, 2009). Há vários

meios de se identificar a eminência da ocorrência de um kick, alguns dos principais são: aumento

da velocidade de perfuração, corte da lama por gás (a incorporação de fluidos da formação no

fluido de perfuração é conhecida com o nome de “corte de lama”), características da forma dos

cascalhos, alterações nas propriedades do fluido de perfuração e aumento da temperatura do

fluido de perfuração (Santos, 2013). As contaminações do fluido podem mudar suas

características e aumentar os riscos de perda da segurança de poço. A pressão hidrostática do

fluido de perfuração é dada pela formula Ph (em PSI) = 0,1704.ρ.h onde 0,1704 é uma

constante; ρ é massa específica do fluido e h é a altura em metros (na vertical) da coluna de

fluido. A condição ideal é a de que a pressão hidrostática mantenha os fluidos da formação

(rochas produtoras) fora do espaço anular do poço, não deixando haver qualquer tipo de kick e ao

mesmo tempo sem fraturar a formação (Santos, 2013). Por isso que o fluido de perfuração, que

se constitui na primeira barreira de proteção contra o kick, deve ser bem dimensionado. Em

resumo, qualquer mudança nos parâmetros do fluido deve ser considerado e avaliado. O fluido

de perfuração é uma mistura complexa de sólidos, líquidos e produtos químicos. Ele é projetado

de forma a garantir uma perfuração rápida e segura, apresentando as seguintes características: ser

bombeável, estabilizar as paredes do poço, resfriar e lubrificar a broca, gerar pressão

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hidrostática, transmitir potencia hidráulica, etc. podendo ser classificado da seguinte forma

(Santos, 2013):

a) Base d’água

b) Base óleo – usado principalmente em poços HPHT e formações como o pré-sal.

c) Base ar – usado em zonas com perda de circulação severas

O conhecimento prático das operações e o treinamento das equipes são essenciais para o

sucesso das operações, sem ocorrência de acidentes (Reason, 1997).

Em resumo, o importante é que quando houver a expectativa de hidrocarbonetos, devem

existir pelo menos duas barreiras de segurança não degradadas (principio da redundância) e

independentes entre si que são o fluido de perfuração e o BOP (Rocha, 2009; Santos, 2013). O

tempo em que o sondador percebe o kick e o fechamento do poço deve ser o mais curto possível,

pois quanto mais demorar mais gás poderá entrar no poço, tornando o seu controle mais difícil

ou até mesmo impossível. Mesmo que não se tenha certeza do tipo de kick (gás, água ou óleo)

ele deve ser tratado como gás (Santos, 2013). Toda a equipe de trabalho deve possuir uma

certificação de Controle de Poço e os conhecimentos necessários para ser prevenir ou amenizar

os riscos de kick. A manutenção dos equipamentos de perfuração é também extremamente

importante para segurança e o controle do poço. A utilização do conceito de “requisitos

mínimos” para a escolha das plataformas de perfuração é fundamental, pois permite com que não

se contrate uma sonda que seja inadequada ao projeto do poço. Por exemplo: uma sonda que

tenha um BOP com capacidade máxima de pressão igual a cinco mil psi (psi = pound force per

square inch) não poderá trabalhar num projeto de poço onde as pressões esperadas são superiores

a este valor (Rocha, 2009; Santos, 2013). Existem particularidades associados à perfuração que

interferem diretamente na segurança das operações. Essas particularidades poderão representar

um risco a mais às atividades e exigem um desempenho mais atencioso das equipes de trabalho

com a segurança. Segue abaixo alguns exemplos dessas características especiais mais críticas

(Rocha, 2009):

a) Geohazards: é qualquer processo geológico ou hidrológico que possa oferecer riscos

aos trabalhadores ou às instalações de perfuração. São exemplos de alguns geohazards: gases

rasos, hidratos, deslizamentos, terremotos, etc. antes de iniciar o trabalho de perfuração, deve ser

feito um trabalho de investigação de possíveis geohazards para escolha correta da sonda e da

locação.

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b) Perfuração em zonas de sal: o planejamento do poço deve considerar que a camada de

sal pode se comportar como um fluxo plástico e, dessa forma, colapsar o poço. Os fluidos de

perfuração não podem solubilizar o sal da formação.

c) Poços HPHT: são poços que atravessam zonas anormalmente pressurizadas e com

altos gradientes de temperatura. São poços com janelas operacionais estreitas e com problemas

de manutenção dos parâmetros reológicos do fluido de perfuração.

d) Falsos kicks: são influxos resultantes do retorno do fluido de perfuração por alivio da

pressão no poço, causado pela pressão de bombeio da sonda. Esse fenômeno pode “mascarar”

um kick verdadeiro.

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CAPÍTULO II

O acidente de Macondo

Segundo o relatório da BP (2010), o acidente de Macondo mostrou que a segurança

operacional deve ser prioridade nas atividades de perfuração de poços. Segundo Milani (2001), o

Golfo do México é uma região rica em petróleo, mas não tanto quanto a Venezuela. Ele salienta

que desde 1985 até os dias de hoje, tem ocorrido uma acelerada busca pelas riquezas petrolíferas

situadas em águas profundas (lâminas d’água superiores a 401m) e ultraprofundas (lâminas

d’água superiores a 1500m) dos taludes e sopés das margens continentais de determinadas

regiões do planeta. Por se tratar de poços mais profundos, feitos a partir do leito marinho, a

grandes profundezas de lâmina d’água, são mais complexos e envolvem riscos de impactos

maiores ao meio ambiente.

Segundo os dados da ITOPF (2013), o poço de Macondo está localizado numa região

onde a atividade pesqueira é muito importante. O reservatório onde se situa o poço do acidente

com a Deepwater Horizon é o campo de Mississipi Canyon, no bloco 252, chamado de

Macondo. Era um poço de exploração que visava a detecção de hidrocarbonetos em quantidade

economicamente viável. Porém, Macondo possui peculiaridades que deveriam ser bem tratados

durante o projeto inicial do poço: situado em águas profundas e do tipo HPHT ou poço com

pressões e temperaturas anormalmente altas, que representam riscos adicionais para ocorrência

do kick, pois a “janela operacional” deve ser estreita, ou seja, não se deve elevar o peso do fluido

de perfuração para se gerar uma condição melhor de segurança (margem de segurança) sob pena

de fraturar as rochas da formação (BP, 2010). Por outro lado, qualquer pequena variação

negativa do peso da lama, provocada, por exemplo, por contaminantes (água, óleo, etc.) ou

mesmo diminuição do nível hidrostático do fluido no poço, por descuido do sondador, pode

provocar um Kick por diminuição da pressão hidrostática. Em resumo, as margens de variação

do peso da lama, tanto pra mais, quanto pra menos, são muito pequenas para águas profundas

(Rocha, 2009).

Há vários parâmetros (indicadores) de zonas anormalmente pressurizadas como o

aumento da taxa de penetração durante a perfuração e o aspecto dos cascalhos. O sondador deve

ficar atento a todos os indicadores, pois representam um possível alerta. O poço de Macondo

(Fig. 2) estava sendo perfurado em lâmina d’água profunda, o que traz uma série de aspectos

importantes para segurança, como por exemplo, a ausência de “Margem de Segurança de Riser”,

que é um adicional de peso no fluido de perfuração para melhorar a segurança em caso de

desconexão de emergência. (Rocha, 2009).

19

O acidente de Macondo foi um dos maiores já ocorridos na perfuração mundial (ITOPF,

2013). A busca por petróleo torna-se cada vez mais complicada em função das condições

geoambientais das novas descobertas (Rocha, 2009). As novas reservas estão localizadas em

lâminas d’água cada vez mais profundas, poços perfurados em largas camadas de rochas de sal,

presença de H2S ou CO2, riscos de formação de hidratos∗ e com características HPHT como dito

anteriormente (BP, 2010).

O Golfo do México possui uma plataforma continental larga em quase todos os pontos da

costa, com a presença de grandes reservas de petróleo em alguns pontos (principalmente a

oeste), que é explorado através de plataformas marítimas. Porém, possui vários ecossistemas

importantes para a manutenção da pesca local como os salt marshes e os corais. Segundo o

IADC (2011b) o drástico acidente resultou num enorme impacto ambiental no Golfo do México

e foi um grande alerta para a necessidade de expandir o comprometimento das empresas com a

segurança. De acordo com ITOPF (2013) o afundamento da Deepwater Horizon foi só o começo

de um drama que permanecerá por anos (Fig. 17). Nem mesmo suas características tecnológicas

de ultima geração evitaram o desastre. Ela era uma plataforma semi-submersível, de

posicionamento dinâmico, classe três (plataforma de perfuração com geradores separados,

isolados e com sistemas de geração elétrica independente), podia operar em águas ultra-

profundas (lâmina d’água acima de 1500 m de profundidade). Foi construída em 2001 pela

Hyundai Heavy Industries em Ulsan (Coreia do Sul). Era de propriedade de Transocean e estava

arrendada à British Petroleum (BP), uma empresa multinacional sediada no Reino Unido que

opera no setor de energia, sobretudo de petróleo e gás. De acordo com o relatório da BP (2010)

no dia 20 de abril de 2010, a cerca de 80 km da costa do estado da Louisiana EUA, a Deepwater

Horizon sofreu uma explosão, causada por um blowout que não foi contido a tempo. Dezessete

pessoas ficaram feridas e onze morreram. A Guarda Costeira americana conseguiu evacuar

rapidamente 115 dos 126 trabalhadores da plataforma (ITOPF, 2012). Dois dias depois, a

plataforma afundou e os 2.000 a 2.500 m3 de óleo estocado na plataforma foram lançados ao

mar, além do fluido de perfuração contido no riser (Tubulação que faz a ligação entre o poço e a

sonda de perfuração). Ocorreu uma intensa mobilização de pessoas e equipamentos em resposta

ao acidente. Observações realizadas por submarinos operados remotamente (ROV’s) mostrou a

ocorrência de um blowout submarino, com uma vazão de 159 m3 de óleo cru por dia, numa

profundidade de 1.500 metros (BP, 2010). Dias depois, novas estimativas revelaram que o

vazamento poderia ser cinco vezes maior do que o inicialmente imaginado. Assim, estariam

∗ Hidratos de metano ou clatrato é um gelo com gás metano formado em condições determinadas de temperatura e pressão.

20

vazando em torno de 800 m3 de o petróleo bruto diário (ITOPF 2012). No dia 30 de abril, os

estados americanos da Louisiana, Alabama, Flórida e Mississippi declaram estado de

emergência, pois seus ecossistemas litorâneos estavam seriamente ameaçados a uma poluição

maciça de petróleo. O governo americano fez um comunicado declarando o vazamento como um

"desastre nacional". Em dois de maio, o presidente dos EUA, Barack Obama, voou para

Louisiana para inspecionar pessoalmente as operações de resposta, em uma demonstração de

solidariedade para com os pescadores locais e as populações costeiras. A principal estratégia das

autoridades americanas era impedir que o óleo chegasse ao litoral, principalmente em áreas

consideradas críticas do ponto de vista ecológico. Assim, diversas técnicas foram utilizadas para

recuperar o óleo como o uso de dispersantes químicos e as barreiras de contenção (Fig. 10).

A BP (2010) tentou tamponar o vazamento com uma câmara de contenção. Duas cúpulas

de metal foram especialmente projetadas e construídas na Louisiana. Uma dessas câmaras de

contenção foi levada para o mar na noite de cinco de maio de 2010 para tentar conter o

vazamento. Vários navios de apoio foram mobilizados, voluntários trabalharam na recuperação

de animais e pesquisadores acompanhavam a evolução da mancha no mar por satélite. Em cinco

de agosto, as autoridades norte-americanas anunciaram que através de uma operação especial

tinham controlado o vazamento com sucesso (Fig.8). Em paralelo foram perfurados dois poços

de alívio para a injeção de fluido pesado na formação e, em seguida, dia dezenove de setembro o

poço é cimentado (ITOPF 2012).

A Deepwater Horizon, apesar de ser considerada uma plataforma de alta tecnologia, com

uma equipe de trabalho experiente, não foram requisitos suficientes para evitar as falhas que

possibilitaram o rompimento das barreiras de segurança que poderiam evitar o desastre (ITOPF,

2013). Durante a operação de cimentação do poço, a cinco mil e quinhentos metros de

profundidade, aproximadamente, ocorreu o Kick que não foi detectado a tempo de fechar o poço.

Segundo o relatório da BP (2010), as falhas no projeto de cimentação, nos equipamentos de

segurança de poço e na detecção do kick foram os principais responsáveis pelo desastre. Nem

mesmo o sondador ou alguém da equipe percebeu os indícios do influxo de gás no poço, o que

corresponderia a uma falha humana grave. Alguns alarmes de detecção de gás no fluido estavam

por algum motivo desligados (BP, 2010).

O Relatório Baker (2013), produzido após o acidente numa refinaria do Texas

pertencente à BP∗, em 2005, apontou que faltava uma "cultura de segurança" entre os

trabalhadores e que havia foco na excelência de segurança pessoal, mas não de processos. O

∗ British Petroleum é uma companhia de petróleo multinacional sediada no Reino Unido

21

Relatório salientou também que apesar da BP possuir políticas rígidas de segurança, a sua

aplicação não era consistente nas unidades. De acordo com a análise do relatório do acidente de

Macondo, (BP, 2010) o mesmo ocorreu com a Deepwater Horizon. Após as análises da

comissão de investigação da BP, não havia evidências claras sobre a reação imediata do pessoal,

nem sobre o funcionamento do Blowout Preventer (Fig. 1) e nem dos seus sistemas de Backup.

A causa primordial, segundo a comissão que investigou o acidente da Deepwater Horizon, foi

um erro no projeto de cimentação que levou a um kick mais as falhas subseqüentes nas barreiras

de segurança (CEDRE, 2011; BP, 2010).

Segundo os dados do relatório da BP (2010), após a descida do revestimento no poço, foi

iniciado o processo de cimentação através do bombeio de pasta pela coluna de trabalho, para que

o cimento preencha o espaço entre a formação e a parede externa do revestimento. A função do

cimento é a de prover um suporte para o revestimento e ainda isolar as formações, de modo que

não haja migração de fluidos entre diferentes zonas produtoras. Porém, de acordo com o

relatório a Deepwater Horizon utilizou uma pasta especial. Consultando a Halliburton, empresa

prestadora de serviços de cimentação, a BP optou por usar a “pasta de cimento nitrogenada”,

uma fórmula de cimento aerada com pequenas bolhas de nitrogênio, que é injetado na pasta de

cimento imediatamente antes de ser bombeado para o poço. Essa formulação foi escolhida por

deixar o cimento mais leve, de 16.7 para 14.5 ppg (pounds per gallon ou libras por galão)∗,

reduzindo, portanto, a pressão que ele exerceria sobre a frágil formação. As bolhas, em teoria,

também ajudariam a balancear a pressão de poros da formação e limpar o fluido de perfuração

do espaço anular conforme o cimento fluísse (BP, 2010).

Ainda segundo o relatório da BP (2010) a Halliburton é a empresa líder no segmento em

espuma de cimento, mas a BP tinha pouca experiência com tal tecnologia usada para cimentar os

revestimentos de produção naquela profundidade. As condições do poço de Macondo eram

peculiares, pois se tratava de um poço HPHT (Fig. 2) e formação rochosa frágil. A pressão de

poros da formação acabou vencendo a barreira hidrostática do cimento (kick), fazendo com que o

gás invadisse o poço e entrando pela coluna de bombeio do cimento, graças a um defeito numa

válvula que deveria impedi-la. O gás, por diferencial de densidade, se deslocou em direção a

sonda. Nesse momento o poço deveria ser fechado o que não ocorreu. Todo fluido invasor do

poço é detectável pelo sondador através de vários equipamentos que monitoram as condições do

poço, contudo o sondador da Deepwater Horizon possivelmente não deveria está atento a aos

“avisos” que o poço emitia. Ele deveria, após detectar o influxo indesejável, fechar o poço

∗ Galão é uma unidade de medida de volume de líquidos, utilizada na comunidade anglo saxônico e equivale a 3,78 litros. Libra internacional é a unidade de massa definida como exatamente 0,45 quilogramas

22

imediatamente para que o kick não evoluísse com a continuidade do influxo de gás para o espaço

anular. O sondador só percebeu o Kick quarenta minutos depois do primeiro influxo, tornando a

partir de então, qualquer operação extremamente perigosa. Nesse ponto, o controle da situação

era extremamente crítico, pois o gás, em tese, já poderia possuir um enorme volume no poço e,

estando próxima a sonda, poderia causar um vazamento e explosão. Quando o sondador tomou a

iniciativa de fechar o poço, já era muito tarde, pois o fechamento do poço deve ser

necessariamente realizado nos primeiros momentos da ocorrência do kick. Quanto antes se

fechar o poço melhor para controlá-lo posteriormente, pois o volume de gás é menor. Contudo, o

relatório do acidente indicou que o BOP falhou ao ser acionado, até mesmo seus sistemas Back-

up’s* e todos os outros equipamentos críticos para o controle do poço. No acidente com a

Deepwater Horizon, novamente o nome da BP – uma das primeiras petroleiras no mundo a

investir na construção de uma imagem ambientalmente correta – aparece no centro de um grande

desastre, mostrando que mesmo uma empresa de alto nível em gestão, pode sofrer um grande

acidente de processo (BP, 2010; ITOPF 2012).

Fig. 2 - Esquemático do poço de Macondo

O desenho do poço de Macondo, mostrando as diferentes fases do poço. Tanto o revestimento quanto a cimentação do poço são fundamentais para manter sua integridade e viabilizar a extração de óleo ou gás. Após a perfuração da primeira fase é necessário instalar o BOP para segurança da sonda. A fase mais crítica é quando se atinge a formação produtora. Nessa fase os parâmetros da perfuração devem ser monitorados continuamente pelo sondador para que no caso de um Kick o poço possa ser fechado o mais rápido possível, para que a pressão no poço não permita mais o influxo. Quanto mais se demorar no fechamento do poço, maior será o Kick e mais difícil e perigoso será retirá-lo do poço. No caso de Macondo, o Kick ocorreu na cimentação do ultimo revestimento em função de um erro na composição do cimento, que provocou um decréscimo na pressão hidrostática. O gás invadiu o espaço anular e entrou por dentro da coluna de cimentação em função de um defeito numa válvula. A pressão do kick,

* Sistema acústico do BOP no qual permite o acionamento de algumas funções remotamente.

23

checada na sala de bombeio do cimento, foi confundida com a completação da cimentação, fazendo com que ninguém suspeitasse do influxo. Por outro lado, a linha de kill, por onde se verificada a pressão do poço, estava bloqueada. Logo, o sondador não tinha como detectara pressão pelo kill. Quando o gás alcançou a mesa rotativa (área da sonda), o sistema de proteção contra gás no riser chamado Diverter falhou por não suportar alta pressão ou não foi acionado e a área da sonda foi tomada pelo gás (blowout). O Diverter poderia ter direcionado o gás para fora da plataforma o que não ocorreu devido à outra falha. Quando houve a explosão seguida do incêndio, o sistema de prevenção contra fogo também falhou. Durante o blowout o BOP poderia ser fechado, mas provavelmente falhou e os sistemas de redundância acústica estavam desabilitados. Uma seqüência de falhas provocou acidente e, conseqüentemente, o desastre ambiental. Fonte: http://www.csaq.org.br

CAPÍTULO III

Os danos ambientais versus gestão de segurança

O petróleo é um recurso natural praticamente insubstituível na nossa sociedade (Almeida,

2006). É uma fonte de energia não renovável, de origem fóssil e é matéria prima da indústria

petrolífera e petroquímica (Almeida, 2006). Além de ser uma importante fonte de energia

mundial, é também uma fonte de milhares de produtos da petroquímica (Fellenberg, 1980;

Almeida, 2006). Porém, diante de tamanha importância para as sociedades, contraditoriamente,

quando é lançado acidentalmente no meio ambiente, torna-se um importante poluidor de águas e

ecossistemas (Silva, 2011). Segundo o cientista Ed Overton*, ITOPF (2013), especialista em

meio ambiente da Universidade de Louisiana, em entrevista a rede de televisão inglesa BBC

(ITOPF, 2013), afirmou que o óleo que não for recolhido será degradado naturalmente por

microorganismos que se alimentam do óleo e que em função das condições climáticas da região,

favorecem a decomposição do óleo. Porém, prossegue ele, a exposição dos ecossistemas a

poluição traz conseqüências adversas à vida marinha. Os ecossistemas de alto mar são

relativamente pouco afetados em função do alto grau de dispersão do óleo (Fellemberg, 1980).

Porém, os ecossistemas costeiros, principalmente os manguezais, as praias planas de areia com

granulometria fina e em baías são os mais afetados devido à pequena capacidade de dispersão

nesses meios (ITOPF 2013). Segundo o relatório da BP (2010) a extensão do litoral do estado da

Luisiana, principal estado afetado pelo acidente de Macondo, é de 639 km, sendo recortados por

várias baias, ilhas e estuários, com grande destaque para o delta do rio Mississipi. Joye (2010)

argumenta que as conseqüências de uma poluição aguda de petróleo (acidental) vão depender do

tipo do óleo e a localização geográfica, que pode ser numa área confinada ou em mar aberto. Ele

prossegue salientando que a quantidade vazada também é importante, porém os efeitos podem

não ser proporcionais a quantidade de óleo. Ziolli (2012) comenta que um dos grandes

* Professor do Dept. of Environmental Sciences, Louisiana State University.

24

problemas é que mesmo após a remoção do óleo no mar, a fração solúvel em água (FSA)

permanece no ambiente marinho, sendo difícil de ser detectada sem o auxílio de análises

químicas específicas. A FSA sigla que corresponde a elementos químicos da fração de baixo

peso molecular, composta principalmente por hidrocarbonetos aromáticos (Fellenberg, 1980).

Farias (2008) mostra que composição do petróleo inclui basicamente hidrocarbonetos e outros

elementos como oxigênio, enxofre, nitrogênio e metais (vanádio, níquel, ferro e cobre) e que os

hidrocarbonetos vão desde moléculas simples, com poucos átomos, até moléculas complexas de

alto peso molecular. O petróleo derramado se espalha pela superfície da água formando uma fina

camada superficial que afeta a passagem da luz, podendo prejudicar a fotossíntese marinha e

ainda dificultando a troca de gases com a atmosfera (Ziolli, 2012; Fellenberg, 1980). O

derramamento de petróleo prejudica não só diretamente os ecossistemas marinhos, mas também

ecossistemas costeiros, onde milhares de famílias podem depender da pesca (Ziolli, 2012). Joye

(2010) comenta que a biodiversidade das regiões afetadas no Golfo do México pode ser

severamente comprometida em função da grande mortandade de espécies que podem ser

endêmicas ou em vias de extinção. Ziolli (2012) comenta que o petróleo possui compostos

altamente tóxicos, muitos dos quais são reconhecidos pela Agência de Proteção Ambiental dos

Estados Unidos como carcinogênicos e mutagênicos. Segundo Ziolli (2012) os peixes podem, ao

entrar em contato com o óleo, sofrer dificuldades respiratórias e de locomoção em função do

óleo grudado nas brânquias e nadadeiras. A exposição dos ovos de peixe ao petróleo causa o

aumento da taxa de má formação dos embriões. A ingestão do óleo causa problemas hepáticos,

desordens neurológicas e bioacumulação de substâncias tóxicas nos peixes e mamíferos.

A disponibilidade reduzida de oxigênio no fundo do mar faz com que a degradação do

petróleo dependa da ação de microrganismos anaeróbicos (Joye, 2010).

Resumo dos principais problemas relacionados com a poluição do petróleo no mar (Ziolli, 2012;

Fellenberg, 1980):

1. Redução da atividade fotossintética das algas, uma vez que a película de óleo sobre a água

dificulta a penetração de luz; nas plantas flutuantes o petróleo veda a entrada dos estômatos,

prejudicando a respiração e a fotossíntese; se o óleo infiltra-se no solo, ele bloqueia a absorção

de nutrientes minerais pelas raízes das plantas litorâneas.

2. Redução da difusão de oxigênio da atmosfera para a água e vice-versa, pois o petróleo

quando derramado se espalha e forma uma fina película sobre a água.

25

3. O petróleo adere-se às brânquias dos peixes, levando-os à morte por asfixia;

4. O petróleo adere-se às penas das aves aquáticas, reduzindo o colchão de ar retido entre as

penas, podendo levar à morte por hipotermia. Além disso, dificulta a obtenção de alimento e, na

tentativa de retirar o óleo das penas, acabam ingerindo-o, o que ocasiona a morte por

intoxicação;

5. Morte por intoxicação de outros organismos devido à transferência pela cadeia alimentar. As

substâncias solúveis do petróleo como fenóis e piridina são muito tóxicas para peixes e pequenos

crustáceos.

6. Os animais e o homem não possuem enzimas capazes de decompor o petróleo, dessa forma, o

mesmo impede a absorção dos alimentos pelas mucosas do aparelho digestivo; Água

contaminada por petróleo não deve ser ingerida, mesmo em pequenas doses.

Ainda segundo o professor Ed Overton (ITOPF 2012), um vazamento de óleo como o de

Macondo (Fig. 3) não é totalmente eliminado do meio ambiente. Na maior parte dos casos, os

remanescentes desses desastres ambientais se dispersam, diluem e afundam formando um

“mousse” de óleo. Muitos organismos marinhos podem degradar os hidrocarbonetos, mas

nenhum é capaz de decompor sozinho um determinado óleo completamente, mas é necessário

um conjunto de diferentes espécies para otimizar essa decomposição. Os principais produtos

resultantes da biodegradação são: gás carbônico, água, alcoóis e fenóis (Ziolli, 2012; Fellenberg,

1980). A biodegradação apesar de ser um processo natural fundamental na recuperação do

ambiente marinho, é relativamente lenta e incompleta, pois depende de muitas variáveis como o

tipo de óleo, as características da biota local e as condições ambientais locais como temperatura,

disponibilidade de nutrientes, salinidade, disponibilidade de oxigênio e presença de outros

poluentes (ITOPF 2012; Fellenberg, 1980; Joye, 2010)

26

Fig.3 - A extensão do vazamento

Imagem de satélite mostrando a mancha do óleo próximo ao delta do rio Mississipi EUA.

Fonte: http://blogs.tudiscovery.com/

As atividades de perfuração vêm ganhando um grande impulso no mundo, com destaque

para o Brasil, onde as estimativas de crescimento da produção no mar são grandes,

principalmente devido ao Pré-Sal (EPE, 2008). O Golfo do México é uma região muito rica em

reservatórios de petróleo, mas também possui rica biodiversidade (Milani, 2001; Cedre, 2011-b).

O Golfo está localizado ao sul dos EUA e a leste do México (EPE, 2008). Os dois países

exploram há muitos anos essas reservas que são consideradas estratégicas do ponto de vista da

logística de transporte. Com o crescimento contínuo do consumo de combustíveis e derivados no

mundo, principalmente nos EUA e na China, a demanda por petróleo tem aumentado assim

como o preço do barril∗ (EPE, 2008; Filho, 2008). A prosperidade econômica de muitos países

está baseada em suas reservas de petróleo (Silva, 2011; Milani, 2001). Porém, com o

crescimento da demanda por combustíveis e derivados de petróleo, crescem junto às atividades

de perfuração e workover para manutenção os poços (da produção). Nesse contexto, o risco de

poluição causada por vazamentos acidentais de petróleo poderão crescer se não houver um

aprimoramento da gestão de segurança nas empresas de perfuração (Silva, 2011; Milani, 2001).

Reason (1997) avalia que atualmente há uma necessidade urgente de se aprimorar modelos de

∗ Barril tem um volume de 159 litros

27

segurança e de gestão de segurança de processo. Segundo ele, os acidentes organizacionais

(processo) são raros, porém, com conseqüências graves para os trabalhadores e meio ambiente.

Muitos alertas sobre riscos ambientais são dados a todo instante pela imprensa

internacional ou pelas entidades civis como o Greenpeace ou WWF (WWF – Brasil, 2013).

Contudo, Reason (1997) aponta que muitos acidentes ocorrem ainda devido a degradação de

barreiras de segurança, que deveriam receber mais atenção.

A indústria de petróleo e gás de hoje requer, por assim dizer, uma licença social para

operar (Silva, 2011). Como a percepção positiva do público diminui, a indústria do petróleo deve

se adaptar a um padrão mais elevado de operação para reduzir seu impacto ambiental em

qualquer lugar do mundo (Silva, 2011). Sampaio (2003) observa que há uma percepção

equivocada de que a gestão ambiental envolve um preço proibitivo. As companhias petrolíferas

precisam do apoio ou aquiescência da população em áreas onde eles produzem o óleo (BP,

2010). Operações de perfuração têm percorrido um longo caminho para melhorar a segurança da

tripulação e proteção do meio ambiente. As empresas que operam hoje reconhecem os benefícios

de proporcionar um ambiente de trabalho mais seguro e minimizar o impacto ambiental causado

pela suas atividades (IADC, 2010; OGP, 2013; Cedre, 2011; Silva, 2011).

No Golfo do México, nos meses de janeiro até maio do ano passado – último período com

estatísticas disponíveis – ocorreram 39 incêndios ou explosões em plataformas de petróleo

(ITOPF, 2013). Investigações feitas pela americana Environmental Protection Agency – EPA,

pela Occupational Safety and Health Administration – OSHA e pelo U.S. Chemical Safety and

Hazard Investigation Board, WWF – Brasil (2013), nos acidentes ocorridos em refinarias de

petróleo ou em petroquímicas sempre apontam três causas recorrentes: análise de perigos de

processo inadequada, utilização de equipamentos inadequados ou mal projetados e indicação

inadequada de condições de processo (Silva, 2011).

Reason (1997) menciona que a prevenção de acidentes e a boa imagem das organizações

têm sido consideradas uma prioridade das gestões atuais e que os acidentes ambientais estão

entre os mais críticos, pois expõe negativamente a empresa ao publico em geral. Essa concepção,

segundo ele, tem motivado investimentos, por parte das empresas, em SMS e treinamento

contínuo dos seus funcionários. Por outro lado, muitas dessas empresas investem no meio

ambiente como forma de compensação de suas atividades poluidoras ou mesmo para melhorar a

sua imagem frente ao público consumidor (IADC, 2010). Ainda, segundo Reason (1997), uma

gestão eficiente traz resultados positivos, que refletem no desempenho das empresas, e assim

28

passam uma imagem positiva ou responsabilidade social∗ ao publico. Para atingir metas

específicas, dentro do contexto de gestão, as empresas dispõem de algumas ferramentas de

análise e suporte a decisões eficientes como o Bowtie (IADC, 2011). Em 1990 James T.

Reason∗∗ (Reason, 1997) propôs o Modelo do Queijo Suíço (Fig.4) para demonstrar o conceito

de barreiras de segurança. Esse modelo consiste-se de múltiplas fatias de queijo suíço colocadas

lado a lado como barreiras à ocorrência de erros ou falhas. Em algumas situações (Fig. 12) os

buracos do queijo se alinham, permitindo que um erro passe pelas múltiplas barreiras causando o

dano ou incidente. O modelo é citado com freqüência para explicar a ocorrência de acidentes. O

professor Reason (1997), defende que as adversidades ocorrem quando uma barreira que deveria

evitá-las não funciona adequadamente, criando uma situação crítica de insegurança e que

incidentes graves raramente resultam de uma única causa, mas sim de múltiplas falhas que

coincidem e coletivamente resultam num evento excepcional, com conseqüências graves (Fig.

4). No caso do vazamento no Golfo do México, ele se insere exatamente nesse modelo de

ocorrência de falhas (IADC, 2011-b). Após análise do acidente pela comissão de investigação,

foram identificados oito itens de falhas que poderiam ter evitado o Blowout e,

conseqüentemente, o acidente ambiental (BP, 2010; IADC, 2011b).

Um modelo de análise que vem sendo adotado pela indústria do petróleo: Bowtie (IADC,

2011), pode ajudar os gestores na tomada de decisões tanto na fase do projeto, quando na fase

operacional.

∗ A responsabilidade social é um conceito segundo o qual, as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. ∗∗ O modelo foi originalmente proposto por James T. Reason da Universidade de Manchester em 1990, e desde então ganhou ampla aceitação e uso na saúde, no setor de segurança da aviação e em organizações de serviços de emergência.

29

Fig. 4 – Modelo de Reason

(Reason, 1997)

O Bowtie é uma ferramenta de analise das barreiras de segurança (preventivas e

mitigadoras) existentes para cada um dos MAH (Major Accident Hazards ou evento topo como

um Blowout) identificados durante HAZID (HAZID é uma ferramenta para a identificação de

perigos, usado no início de um projeto, incluindo uma classificação de criticidade de barreiras

para a identificação dos elementos críticos) e da APR (Análise Preliminar de Riscos). Podemos

estabelecer alguns passos para identificação e construção do Bowtie (Reason, 1997; IADC, 2011;

OGP, 2013):

1. Coleta das informações necessárias

2. Identificação dos equipamentos e instalações mais perigosas na plataforma, etc.

3. Seleção dos equipamentos ou operações que apresentam os maiores perigos

4. Associação de eventos críticos para cada equipamento ou operação selecionado

5. Para as causas de cada evento crítico construir uma árvore de falhas

6. Para as conseqüências de cada evento crítico construir uma árvore de eventos

7. Para cada evento crítico construir um Bowtie

30

A APR é o estudo feito por especialistas das diversas áreas de atuação que durante a fase

de concepção e desenvolvimento de um projeto, tem a finalidade de determinar os possíveis

riscos que poderão ocorrer na fase operacional de uma atividade (Reason, 1997).

O conceito de Segurança de Processo (OGP, 2013) tem sido adotado pelas grandes

indústrias de alto risco do mundo (Monteiro, 2012). O fundamento principal é a idéia de que a

ocorrência de “pequenas falhas” (Fig. 4), ao longo de um processo industrial de produção pode

culminar com um grande acidente ou um “acidente de processo” (Reason, 1997). A abordagem é

mais abrangente que os acidentes industriais, pois no caso do acidente de processo, as barreiras

de segurança são rompidas em seqüência, resultando num desastre de grandes proporções ou

evento topo. As grandes companhias tem adotado o modelo de gestão de segurança de processo,

com o intuito de reduzir os riscos de eventos catastróficos que levam a incêndios, explosões e

liberações de produto para o meio ambiente e conseqüentemente grandes desastres naturais

(OGP, 2013; IADC, 2011; Monteiro, 2012).

Como ferramenta de análise de grandes eventos, o Bowtie (Fig.5)mostra todas as

barreiras que impedem o avanço de ameaças a esses grandes desastres. Essas barreiras poderão

ser monitoradas por indicadores∗ que irão mostrar os níveis de degradação de cada barreira,

possibilitando a atuação do gestor para recuperá-la (IADC, 2011). Abaixo, (Tab. 1 e 2), observa-

se a planilha de informações baseada no relatório da British Petroleum (BP, 2010) sobre o

acidente de Macondo e, logo em seguida, o modelo gráfico do Bowtie (Ilustração 5) com dados

do acidente de acordo com o relatório da BP (2010).

∗ São métricas que quantificam o desempenho das barreiras de segurança. Fonte: http://www.ogp.org.uk/pubs/456.pdf

31

Tabela 1 – Planejamento de um Bowtie baseado nas conclusões do relatório da BP

Ameaças: Barreiras: Cimentação deficiente Composição química do cimento adequada ao projeto;

avaliação correta e detalhada da pressão de poros da formação que poderia levar a um erro de projeto de cimentação; monitoramento dos parâmetros operacionais da cimentação; realizar HAZOP

Falha na elaboração da janela operacional

Peso específico correto da pasta de cimento; avaliação e interpretação correta dos parâmetros do poço; monitorar contaminação da pasta; testar “pega” do cimento; realizar HAZOP

Confiabilidade baixa das ferramentas da cimentação

Projeto de cimentação do poço mais adequado com maior nível de segurança em poços HPHT; equipamentos com certificação adequada; manutenção adequada dos equipamentos; treinamento adequado na montagem das ferramentas de cimentação

Falha do sondador em detectar o kick

Treinamento adequado; manutenção periódica nos equipamentos de detecção de kick; presença de pelo menos um sondador com experiência na operação; realizar auditorias comportamentais

Falha na análise dos dados do poço (poço HPHT) durante o projeto

Aumentar o nível de segurança operacional no projeto; contratar sondas adequadas ao poço (requisitos mínimos); realizar o HAZID

Falha nos equipamentos de controle de poço

Incluir os ESCP na lista de equipamentos críticos; redefinir e melhorar os testes dos equipamentos; utilizar peças de reposição originais; realizar auditorias de processo; realizar HAZOP

Projeto de áreas classificadas deficiente (com equipamentos Ex)

Realizar gestão de mudança das áreas classificadas; realizar auditorias de segurança de processo

Falha na avaliação ambiental

Aumentar o nível de segurança em função da localização geográfica do poço; realização de um Estudo de Impacto Ambiental mais rigoroso em função do poço HPHT e das características ambientais locais; fazer uma APR ambiental abrangente

Falha no plano de emergência

Elaborar um plano de emergência mais adequando ao projeto do poço e/ou locação; avaliar melhor os riscos e incertezas

Falha na comunicação Realizar cursos para os trabalhadores; elaborar plano de manutenção nos equipamentos de comunicação mais adequados

Falha na elaboração da APR

Elaborar APR com equipe técnica multidisciplinar que atenda as características geoambientais da locação e da sonda

Perda de redundância dos equipamentos considerados críticos para a segurança das operações, pessoas e da própria sonda)

Realizar manutenção imediata do equipamento

32

Tabela 2 – Evento Topo: Kick com blowout

Mitigação Conseqüências Fechar o poço o mais rápido possível e circular o kick para retirada do gás do poço

Bolha pode alcançar a coluna de riser

Fechar o poço através do BOP pelo Acústico (redundância de segurança para o acionamento do BOP) em caso de blowout ou falha no acionamento de superfície

Perda da sonda e vazamento de fluidos para o mar

Efetuar Shutting Down nível alto (ESD) para não haver a possibilidade de ignição no caso de o gás chegar à sonda

Explosão; incêndio

Construir poço de intervenção com outra sonda em caso de blowout

Vazamento descontrolado de petróleo em grande quantidade para o mar

Tripulação abandonar a sonda imediatamente em caso de blowout

Pessoas acidentadas

Emitir alerta de socorro e acionar plano de emergência em caso de kick

Perda da sonda e do poço

O Bowtie integra, em uma representação única:

1. O Perigo e o Evento Topo (cenário);

2. As Ameaças relacionadas, os possíveis modos de falhas;

3. As Conseqüências que podem ocorrer a partir deste Evento Topo;

4. As Barreiras e as Medidas Mitigadoras que, respectivamente, evitam o evento indesejado e

mitigam as conseqüências;

5. Os Fatores de degradação das barreiras e das medidas mitigadoras;

6. E, por fim, os Controles para garantir a integridade das Barreiras e Medidas Mitigadoras

(IADC, 2011; Reason, 1997; OGP, 2013)

33

Fig. 5 – Bow

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34

O tipo de abordagem do Bowtie permite ao gestor ambiental identificar as

barreiras de segurança, preventivas e mitigadoras. Ela se assegura como um modelo de

análise elucidatório, pois facilita a compreensão do que pode dar errado numa atividade

potencialmente perigosa. O Bowtie ajuda a estabelecer salvaguardas contingenciais e a

priorizar o atendimento das recomendações de segurança operacional para o projeto do

poço (Reason, 1997; IADC, 2011).

Uma situação de Blowout é o evento mais crítico e perigoso que pode ocorrer

durante a atividade de perfuração ou completação de um poço (Rocha, 2009). Quando

ocorre em alto mar, os trabalhadores são obrigados a abandonar a plataforma (Rocha,

2009). O Blowout pode resultar em explosões catastróficas, destruindo a plataforma e

poluindo o mar (Santos, 2013). Segundo Rocha (2009) os poços HPHT de gás no mar

são os mais críticos. É por isso que as operações devem ser realizadas com extrema

cautela e atenção aos parâmetros do poço (IADC, 2012; Rocha, 2009). Durante a

perfuração, os riscos são controlados, porém a margem para erros é muito estreita

(Santos, 2013; Rocha, 2009). Por conta disso, é preciso evitar o kick a qualquer custo,

pois, caso ocorra, o risco de se perder o controle do poço e resultar num blowout é

grande (Santos, 2013). A manutenção da integridade da primeira barreira de segurança

no poço (o fluido de perfuração/completação) deve ser priorizada e os parâmetros

reológicos desse fluido devem ser continuamente monitorados para não haver alterações

em suas características que favoreçam o kick (Rocha, 2009; Santos, 2013). A pressão

hidrostática, gerada pelo fluido de perfuração, é o que mantém o fluido

(hidrocarbonetos) na formação rochosa. Uma resposta rápida ao primeiro indício de

kick é fundamental para o sucesso do controle do poço. A falha humana pode ser

determinante para a evolução do kick, pois o sondador pode não percebê-lo a tempo de

fechar o BOP (Santos, 2013).

A integridade das barreiras depende de uma gestão de segurança eficiente e que

também atenda todas as diretrizes de segurança da companhia (BP, 2010; Reason,

1997). O cumprimento dos planos de manutenção dos equipamentos, exercícios de

simulados de emergência com as equipes de trabalho e a gestão de mudanças são

fundamentais para a segurança das operações (BP, 2010; OGP, 2013). O Bowtie (Fig.

15) num primeiro momento pode apontar falhas das barreiras que comprometem as

operações (Reason, 1997; OGP, 2013).

Em todo mundo a indústria de petróleo e gás tem feito um grande esforço para se

prevenir de graves acidentes em suas instalações (IADC, 2011). Dessa forma foram

criados vários indicadores de desempenho e novos padrões para justamente fortalecer as

35

barreiras de segurança. Os riscos potenciais maiores para as populações interna e

externa podem e devem ser identificados, avaliados e mantidos sob controle (Reason,

1997). O interesse sobre gestão de segurança de processo cresce e a abordagem se faz

também pelo conjunto e não apenas como partes excludentes de uma determinada

cadeia de produção (OGP, 2013). A falta de uma cultura de segurança por parte dos

empregados da companhia falta de indicadores de segurança, redução de custos na área

operacional sem uma eficiente análise de riscos, falta ou deficiência na capacitação ou

treinamento dos empregados, etc. todas essas deficiências são criticas e se constituem

em fortes evidências de degradação ou má gestão de segurança, que favorece a

ocorrência de grandes acidentes (Reason, 1997).

3.1 Degradação das barreiras de segurança na Deepwater Horizon

As evidências apontadas pelo relatório da BP (2013) apontam que a equipe de

perfuração da Deepwater Horizon não foi capaz de detectar o kick a tempo de uma

reação. A falta de atenção dos operadores, despreparo com a situação de emergência,

falta de conscientização dos riscos envolvidos e falta de treinamento específico seriam

os prováveis culpados. A BP não estava apta a atender as demandas básicas dos seus

operadores sobre SMS, levando a fragilização sistemática das barreiras de segurança

(Joye, 2010; OGP, 2013; BP, 2010; Reason, 1997). Segundo Reason (1997) os riscos

inerentes às atividades da empresa devem ser identificados, avaliados e gerenciados, de

modo a evitar a ocorrência de acidentes e/ou assegurar a minimização de todos os seus

efeitos (Reason, 1997). Para a segurança de processo, o fundamento básico é a idéia de

que a ocorrência de “pequenas falhas” ao longo de um processo produtivo industrial

pode culminar com um grande acidente ou um “acidente de processo” (OGP, 2013).

Atualmente num contexto de alta competitividade e exigência em sustentabilidade

ambiental, um acidente de grandes proporções pode inviabilizar gravemente a

continuidade das operações de uma empresa, além de causar forte impacto no meio

ambiente, resultando em prejuízos não só para a empresa, mas também para a sociedade

(OGP, 2013).

Através da análise do relatório da BP (2010) é possível observar que a utilização

da pasta de cimento ou pasta espumada com nitrogênio no poço de Macondo,

lembrando que o poço de Macondo é HPHT, sugere falta de uma análise preliminar de

riscos adequada, além de uma análise mais apurada (gestão de mudança) da nova

tecnologia empregada no poço. A cimentação é uma operação crítica, que deve envolver

36

todo um cuidado técnico, pois a qualidade da cimentação do poço assegura uma longa

vida útil de produção. Portanto a segurança depende da qualidade da cimentação

(Rocha, 2009). Falhas nesse processo podem levar a conseqüências prejudiciais como a

redução da produtividade do poço devido a contaminações; kick de gás; redução da

eficiência da segurança, corrosão do revestimento em contato com a formação e custos

elevados de recuperação. A migração de gás durante a cimentação de poços é um dos

principais problemas da engenharia de poços de petróleo, que podem levar a perda de

controle do poço e acidentes (Rocha, 2009).

Novas tecnologias podem trazer benefícios para aumentar a segurança

operacional nas plataformas de perfuração como, por exemplo, os fluidos de perfuração

sintéticos, que são mais eficazes na perfuração e menos tóxico para o meio ambiente. A

gestão de novas tecnologias é um item fundamental para o desenvolvimento das

companhias do petróleo, sobretudo no combate a emergência como um Blowout (Fig.

8). De acordo com o relatório da BP (2010), durante o Blowout de Macondo haviam

características de projeto que tornavam o controle do poço ainda mais difícil. A começar

pela grande profundidade da lâmina d’água, em torno de 1544 metros. O número de

fases, ou revestimentos, eram nove, o que tornava a situação mais difícil devido a sua

complexidade maior, comparativamente a um poço padrão, com quatro fases. O

“casing” de 7” ou o revestimento de produção tinha características novas. A cimentação

propriamente dita que resultou no desastre era uma das mais profundas do mundo. A

pasta de cimento não era estável quimicamente para aquele cenário, provocando a

estimulação a ocorrência do kick. Como não houve detecção do influxo, a operação

prosseguiu com a troca de fluido do poço, através do bombeio do novo fluido pela

coluna. Quando foi percebido o problema pela equipe de perfuração, a bolha de gás já

havia atingido o riser de perfuração. A gaveta cisalhante, que corta a coluna e veda o

poço, do BOP foi fechado mais falhou por não cortar a coluna do seu interior. Esse

procedimento possibilitaria uma desconexão de emergência através do Low Mariner

Riser Packed e tanto a sonda quanto ao poço estariam possivelmente a salvo, e ainda

sem poluição. Porém devido a falha, o operador acionou o Diverter da sonda,

direcionando o fluxo do riser erroneamente para o separador atmosférico de fluidos,

provocando um colapso e o rompimento de linhas do sistema devido a alta pressão (BP,

2010). Com o vazamento de gás inflamável na sonda houve a explosão (Santos, 2013;

Rocha, 2009). A degradação das barreiras poderiam ser evitadas se houvesse uma

gestão eficiente. Na perfuração, quando a segurança das operações for mantida integra,

não há desastres ambientais e nem poluição (Santos, 2013; Rocha, 2009).

37

Com a utilização de ferramentas como o FEMEA (Análise dos Modos de Falha

e seus Efeitos), representa um método qualitativo de análise de confiabilidade eficiente,

que envolve o estudo dos modos de falhas dos equipamentos como BOP, etc. (Sampaio,

2003). O Bowtie tem a vantagem de mostrar de modo simples todas as barreiras de

segurança que devem ser mantidas intactas e funcionais (OGP, 2013).

Uma falha importante que poderia evitar a maior parte dos problemas do

acidente da Deepwater Horizon foi do não funcionamento adequando do BOP, que não

vedou o espaço anular. Este equipamento é considerado como a segunda barreira de

segurança. Ele é dimensionado para suportar altas pressões provenientes do poço e

possibilitar o recondicionamento do poço caso seja necessário. Ele próprio possui

redundâncias de acionamento das funções tanto na sonda quanto remotamente: o

acústico, por exemplo, quando o acionamento da função do BOP é feita remotamente

através de ondas sonoras. Novas tecnologias para o BOP surgem freqüentemente e

contribuem para aumentar o nível de segurança como gavetas de corte (cisalhante) com

capacidades maiores e BOP’s Multiplex. Contudo o plano de manutenção é

fundamental para segurança de qualquer equipamento (Santos, 2013; Rocha, 2009).

Os planos de emergência, principalmente, sobre os procedimentos relacionados à

segurança operacional, devem ser bem conhecidos pela tripulação de qualquer

plataforma (Santos, 2013). Outro item importante é a revisão periódica desse material,

por profissionais capacitados, para o aprimoramento dos procedimentos. Essa revisão

não só deve abordar o conhecimento acadêmico, mas também nas experiências

vivenciadas com as operações ou situações de emergência (Santos, 2013; Rocha, 2009;

Reason, 1997). A previsão de desastres como em Macondo não podem ser antecipados

facilmente, mas o desafio é identificar e anular todas as condições “anormais” ou

“desvios” que possam, ao longo do tempo, culminar com grandes acidentes (Reason,

1997).

Os trabalhos de perfuração offshore são sempre cercados de grandes riscos de

ocorrência de acidentes que envolvam desastres ambientais. Por isso a preocupação com

a segurança deve ir além dos seus efeitos na própria plataforma. Os equipamentos de

perfuração estão sujeitos aos mais diversos efeitos causadores de falhas como: altas

pressões inesperadas, salinidade, extremos de altas e baixas temperaturas, grandes

profundidades de lâmina d’água, efeitos do clima local, tensões mecânicas constantes,

etc. Portanto, além do trabalho numa sonda ser desgastante e cansativo para as equipes,

os equipamentos precisam funcionar adequadamente nesse ambiente de condições

severas. Portanto, há uma necessidade de se atuar na identificação, disseminação e

38

uniformização das melhores práticas de operações de sonda com segurança (Rocha,

2009).

3.2 Efeito do óleo no mar

Quanto ao derramamento de óleo no mar, em última análise, o ambiente marinho

“assimila” óleo derramado através de processos em longo prazo de biodegradação por

bactérias e pelo intemperismo causado principalmente pela radiação solar ultravioleta

(Souza, 2004). A maior parte dos processos como a evaporação, dispersão, dissolução e

de sedimentação, leva ao desaparecimento de petróleo a partir da superfície do mar, ao

passo que outros, em particular a formação de água-em-óleo (“mousse”) e do respectivo

aumento da viscosidade, promove a sua persistência. Geralmente, os componentes

persistentes contêm uma proporção considerável de frações pesadas ou substâncias de

alto ponto de ebulição. Componentes que são normalmente classificados como

persistentes incluem óleos brutos de petróleo, diesel pesado e óleos lubrificantes

(Ferrão, 2005). Eles não se dissipam rapidamente e, portanto, representam uma ameaça

potencial para os recursos naturais e ecossistemas quando “liberados” para o meio

ambiente (Fig. 9). Em contraste, os componentes não-persistentes são geralmente de

natureza volátil e são compostos por frações de hidrocarbonetos mais leves. Quando

liberado no ambiente tende a se dissipar rapidamente por evaporação. Os acidentes com

grandes derramamentos de petróleo podem ter efeitos graves sobre a vida marinha e

costeira. Nem todos os efeitos da poluição marinha por petróleo são completamente

compreendidos em função da complexidade de reação e os diferentes graus de

sensibilidade dos ecossistemas (Ziolli, 2012).

No entanto, a chave para a compreensão da gravidade dos danos e sua importância é

a constatação em campo do resultado dos efeitos no meio ambiente, como por exemplo,

a queda no sucesso reprodutivo dos peixes, a manutenção da produtividade primaria do

fitoplancton, a manutenção da biodiversidade, taxa de extinções e o funcionamento

global do sistema (ITOPF 2010).

Os organismos marinhos têm diferentes graus de resistência natural às mudanças em

seus habitats. A maior preocupação é, na maioria dos casos, sobre possíveis efeitos em

longo prazo (“sub-letal”) da população (ITOPF 2010). A natureza exata e a duração de

quaisquer impactos de um derrame de óleo dependerão de uma série de fatores com

destaque para o tipo de óleo, a quantidade derramada, a localização geográfica e seu

comportamento, pois, quando derramado, as características físicas da região, as

39

condições meteorológicas típicas e da estação do ano, o modo e a eficácia da resposta de

limpeza de emergência, o grau de resiliência e resistência ecológica da região irão

interferir nos resultados do impacto. Efeitos típicos nos seres marinhos variam em

função da toxicidade das diferentes substâncias presentes no petróleo. A presença de

substâncias tóxicas nem sempre causa um evento de mortalidade, mas pode induzir a

efeitos temporários como prejudicar a reprodução, fotossíntese ou a alimentação.

Algumas alterações típicas do petróleo são descritos na figura abaixo. A luminosidade

ou radiação solar, temperatura, atividade dos seres vivos, ventos, chuva, são os

principais agentes causadores da desintegração e decomposição ao longo do tempo (Fig.

6). Os principais fatores responsáveis pelo comportamento do petróleo no mar seriam

(ITOPF; 2013; Ziolli, 2013):

a) Espalhamento – causado pelo vento e correntezas marinhas;

b) Oxidação – reações químicas com um oxidante

c) Dispersão – o óleo se espalha para o fundo do mar

d) Evaporação – substâncias voláteis do petróleo

e) Emulsificação – mistura entre dois líquidos imiscíveis formando uma mistura

estável: óleo e água

f) Dissolução – mistura de um soluto em um solvente

g) Biodegradação – causadas principalmente por bactérias

h) Sedimentação – deposição no fundo do mar

Fig. 6 – Degradação do óleo no mar

Exemplo de como o derramamento sofre diversas alterações no mar.

40

Fonte: http://www.itopf.com/marine-spills/fate/weathering-process/

Em regiões tropicais os manguezais dominam as áreas estuarinas sendo um dos

mais importantes ecossistemas marinhos, pois fornecem alimentos e abrigo para peixes,

além de representar um berçário de peixes, crustáceos, aves, mamíferos, etc. (Cedre,

2011-b). O “equivalente” aos manguezais na região atingida pelo vazamento no Golfo é

o chamado salt marshes ou “pântano de sal”, também conhecido como pântano costeiro

de sal ou pântano de maré, que também é um ecossistema costeiro que sofre influencia

das marés, porém localizado entre a terra e a água salgada ou salobra que é

regularmente inundada pelas marés. É dominado por densos bancos de plantas

tolerantes ao sal, como ervas, gramíneas, ou arbustos baixos (Fig. 20). Essas plantas são

de origem terrestre e são essenciais para a estabilidade do pântano de sal formando

armadilhas de sedimentos. Desempenham um grande papel na cadeia alimentar

aquática, pois fornece nutrientes para as águas costeiras além de abrigo e local de

reprodução de espécies marinhas. No salt marshes (Fig.7), também existem animais

terrestres que buscam abrigo e alimentos. É um ecossistema extremamente rico e

diversificado, funcionando como uma barreira de proteção costeira contra erosão e

poluição. Constitui-se de áreas de berçário importantes para peixes e outros animais. O

dano mais provável, causado pela presença do óleo no salt marshes (Fig. 7), seria a

inibição do funcionamento das raízes das plantas, causada pela presença de óleo que

impede a absorção de nutrientes. As substâncias tóxicas do óleo também penetram nos

sedimentos e atingem os habitats específicos da biota do solo de subsuperfície (Cedre,

2011-b). A recuperação natural dessa estrutura diversificada e produtiva pode demorar

décadas segundo a análise do relatório da comissão do acidente da BP (2010).

Segundo as recomendações do relatório da BP (2010) para se evitar desastres

como o de Macondo, as companhias de perfuração devem implementar uma eficiente

gestão de SMS. Devem investir na capacitação de equipes de trabalho, desde as áreas de

apoio até as frentes operacionais. Uma premissa básica na perfuração é a observação da

adequação da sonda à complexidade do projeto do poço, seguida da adequação da mão

de obra à complexidade das operações de sonda (requisitos mínimos)∗. O uso de

ferramentas de gestão de segurança como o Bowtie, APR, HAZID e HAZOP

contribuem muito para tomada de decisões sobre questões de segurança na fase de

projeto (Sampaio, 2003). A disseminação de uma cultura de segurança entre os

∗ Termo que se refere a adequação de uma sonda à locação.

41

trabalhadores, na forma de palestras, incentivos, cursos e treinamentos, constitui numa

barreira de segurança eficiente contra desvios e incidentes que poderiam culminar em

graves acidentes. Todas as companhias devem dar prioridade ao atendimento das

normas e padrões de SMS. A elaboração de planos de emergência é imprescindível na

mitigação das conseqüências de um eventual acidente. A gestão de mudança é outra

forma de atuação imprescindível para enquadrar os projetos nos conceitos de segurança

e segurança de processo (OGP, 2013). Outra ação efetiva para segurança é a realização

de Benchmarking para se buscar as melhores práticas na indústria petrolífera ou não,

que conduzem ao desempenho superior das operações (IADC, 2013).

Sendo o projeto do poço localizado em regiões de grande biodiversidade e/ou de

relevância ecológica é necessário um estudo rigoroso de impacto ambiental para

minimizar ou eliminar qualquer efeito negativo que possa advir sobre o ambiente

(Cedre, 2011-b; Souza, 2013).

É notório que o evento topo foi resultado de uma série de pequenos desvios e

incidentes que remontam desde a concepção do projeto do poço ao descuido do

operador durante as operações. Todas essas “falhas” se “alinham”, e podem resultar

numa catástrofe ambiental (Fig.9). Mesmo numa plataforma de perfuração de última

geração, com uma equipe bem treinada e experiente, perfurando numa área já conhecida

pela geologia, as falhas ocorreram e as barreiras de segurança foram rompidas (BP,

2010). Talvez a existência de Indicadores de Segurança Proativos, tornasse mais

evidente a degradação das barreiras de segurança, evitando as falhas e

conseqüentemente o acidente (Monteiro, 2012; Reason, 1997).

A segurança de processo está baseada na confiabilidade dos equipamentos e na

manutenção dos mesmos. Grandes empresas como a BP têm adotado o modelo de

gestão de Segurança de Processo, porém, sua implantação envolve grandes

investimentos e trabalho contínuo (BP, 2013). A conscientização ambiental e de

segurança dos dirigentes em altos escalões tem importante influência na cultura geral da

empresa (Reason, 1997). Uma premissa básica na perfuração é a observação da

adequação da sonda à complexidade do projeto do poço, sem esquecer o meio ambiente

(OGP, 2013).

42

Fig. 7 – Salt Marshes

Fotografias dos salt marshes da região costeira dos EUA. Ocorrem em regiões de baixa energia de

ondas e em zonas costeiras temperadas. Comumente estas áreas consistem de lama ou areia (também

conhecido como planícies de maré) que são alimentadas com sedimentos de rios e córregos. Estes

geralmente incluem ambientes protegidos em função da sua importância ecológica. Nos trópicos eles são

substituídos por manguezais. São dominados por vegetação tolerantes ao sal. A maioria dos salt marshes

tem uma topografia plana, com altitudes baixas, mas são largos, tornando-se extremamente convidativo

para ocupação humana. Os salt marshes possuem ainda algumas feições como deltas dos rios, estuários,

enseadas e pântanos adjacentes (ITOPF, 2013).

Fig. 8 – Poço selado

Poço fechado pela BP após acidente foram necessários dois poços de alívio para

combater o blowout. Fonte: Google.

43

Fig. 9 – Extensão da mancha

Imagem de satélite mostra extensão da mancha no Golfo do México, com as áreas mais

vermelhas indicando águas mais afetadas pelo desastre. Fonte: NASA

44

CONCLUSÃO

O desastre de Macondo mostrou que os desafios para exploração de petróleo e

segurança ambiental são grandes. Com poços cada vez mais profundos, com

características HPHT e em lâmina de água profunda exigem o máximo desempenho dos

equipamentos e da equipe de trabalho. Um dos grandes problemas que surgem

atualmente é perfurar com uma janela operacional muito estreita, não havendo muita

tolerância a erros (Rocha, 2009). Apesar de a perfuração envolver muita tecnologia, o

conhecimento e a experiência do pessoal que trabalha direta ou indiretamente com o

poço é fundamental e insubstituível. O acidente de Macondo custou dezenas de bilhões

de dólares, somando ainda os prejuízos ambientais, sociais e econômicos.

A características peculiares dos reservatórios HPHT faz aumentar os riscos

operacionais e, conseqüentemente, os riscos ambientais (Santos, 2013; Rocha, 2009).

Diferentemente dos poços em terra, os poços marítimos são muito mais

complexos de se construir, pois envolvem uma série de operações mais complicadas e

equipamentos mais apropriados às condições extremas de pressão e temperatura.

Contudo, há outros problemas como fortes correntezas, gases rasos, formações salinas,

formação de hidratos, H2S, perda de posição da sonda, colisão entre embarcações,

tempestades severas, underground blowout, blowout submarino, etc. A

imprevisibilidade do comportamento do poço é um item que mais preocupa os

operadores e gestores. São tantas as variáveis que a equipe tem que manter registros

constantes da seqüência operacional executada. Tais registros servirão tanto para a

passagem de serviço para a outra equipe, quanto para a segurança das operações, que

poderão depender das informações registradas anteriormente. A omissão, por qualquer

motivo, de informações durante a passagem de serviço poderá resultar em graves

acidentes, pois o sondador dará prosseguimento às operações tendo como base as

informações repassadas pela equipe anterior.

Atualmente num contexto de sustentabilidade com alta competitividade, um

desastre ambiental de grandes proporções pode inviabilizar a continuidade das

operações de uma empresa, em função da grande extensão do prejuízo com que ela terá

que arcar. No caso do acidente de Macondo, a British Petroleum teve a sua imagem

“manchada” não só pela perda de vidas humanas, o que foi mais grave, mas também

devido ao grande desastre ambiental, provocado pelo vazamento de petróleo no Golfo

de México. Tais conseqüências ganharam a mídia internacional e repercutiu na opinião

pública do mundo todo. Já o meio ambiente afetado provavelmente levará anos para se

recuperar totalmente (Ziolli, 2012; BP, 2010).

45

As referências bibliográficas sobre gestão de segurança voltada para o poço e

para os problemas ambientais gerados pela atividade de perfuração ainda são escassas.

Por outro lado ocorre uma crescente importância da gestão ambiental no mundo

offshore da perfuração. Consciente da importância climática e ecológica dos oceanos, as

sociedades não toleram mais desastres ambientais como o de Macondo (Ziolli, 2013;

Cedre 2011-b). Desse modo, a indústria petroleira se destaca por possuir uma

importância fundamental para a sociedade mas, ao mesmo tempo, deve assumir uma

responsabilidade ambiental muito grande (Joye, 2010). As lições que o acidente deixa

são o aprimoramento dos modelos de sustentabilidade, pois as frentes de exploração

estão mais críticas (grandes profundidades, poços HPHT, novas áreas descobertas,

novas demandas). Por outro lado os mercados estão mais exigentes quanto as questões

ambientais. Danos ambientais podem significar também danos a imagem da companhia

gerando grandes prejuízos.

46

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ANEXOS

Fig. 10 – Fotografia aérea da poluição

Fotografia aérea mostrando e extensão da poluição atmosférica causada pelo incêndio da Deepwater Horizon. Observa-se no canto inferior direito a mancha de óleo no mar. Fonte: http://www.itopf.com/marine-spills/fate/weathering-process/

Fig. 11 – Fotografia aérea da poluição no litoral

Óleo de Macondo atinge o litoral. Praia do Golfo do México tomada pelo óleo. As praias turísticas de Pensacola, no norte da Flórida, foram atingidas pela maré negra no Golfo do México, forçando as autoridades a proibirem o banho de mar em plena temporada de verão.

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Fonte: http://mediagallery.usatoday.com/Oil-leak-in-the-Gulf-of-Mexico/G1559,A6792

Fig. 12 – Detalhe do Impacto Ambiental

Muitas autoridades parecem não perceber a gravidade dos efeitos da poluição provocada pelo lixo e pelo derramamento de óleo no mar. Na foto, poluição do óleo “soma-se” aos outros poluentes. Os ecossistemas atingidos na costa americana foram os ecossistemas litorâneos, planícies de maré, estuários e praias. Fonte: http://mediagallery.usatoday.com/Oil-leak-in-the-Gulf-of-Mexico/G1559,A6792

Fig. 13 – Detalhe do Impacto no Ecossistema

A maior ameaça dos poluentes talvez seja a de provocar a extinção de espécies endêmicas ou em vias de extinção das áreas afetadas. O oceano é a maior fonte de alimentos para a humanidade. Responsável pela manutenção da vida do planeta, os

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oceanos são os responsáveis pela regulação da temperatura atmosférica global e pela produção (renovação) de grande parte do oxigênio (O2) atmosférico. Os oceanos são também responsáveis pelo equilíbrio do clima global, são sumidouros de carbono e uma fonte importantíssima de alimentos ricos em proteínas, de emprego e constituem vias naturais de comunicação, transporte e comércio. Na foto fauna ameaçada pela degradação causada pelo vazamento de óleo em Macondo. Fonte: http://mediagallery.usatoday.com/Oil-leak-in-the-Gulf-of-Mexico/G1559,A6792

Fig. 14 – Combate ao incêndio 1

Navios lançando água sobre a plataforma como forma de amenizar o calor na

Deepwater Horizon.

Fonte: http://www.onip.org.br/temas/macondo/

Fig. 15 – Combate ao incêndio 2

Aumento do incêndio.

Fonte: http://www.onip.org.br/temas/macondo/

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Fig. 16 – Blowout Submarino

Blowout submarino visto pelo ROV.

Fonte: http://www.onip.org.br/temas/macondo/

Fig. 17 – Incêndio na Deepwater Horizon

Incêndio causado pela explosão da Deepwater Horizon a oitenta quilômetros da costa da Louisiana EUA. Os reservatórios são sempre compostos de gás, óleo e água em diferentes proporções. Porém, para um poço ser produtor, a formação precisa ser composto por rochas porosas e permeáveis. Quando a sonda da Deepwater Horizon estava cimentando a fase que continha gás houve o Kick, que não foi detectado a tempo e, dessa forma, após mais de quarenta minutos, a bolha de gás ultrapassou o BOP e invadiu a sonda. Fonte: http://veja.abril.com.br/tema/desastre-ambiental-no-golfo-do-mexico

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Fig. 18 – Queima de óleo no mar

A destruição do ambiente marinho foi grande. Queima do óleo no mar como forma de

conter o avanço do óleo para o litoral. http://mediagallery.usatoday.com/Oil-leak-in-

the-Gulf-of-Mexico/G1559,A6792

Fig. 19 – Impacto no Ecossistema 2

O Meio Ambiente já não suporta mais tanta agressão causada pela poluição. A fauna e a

flora são patrimônios naturais da humanidade e devem ser poupados de qualquer dano

causado pelo homem.

http://www.onip.org.br/temas/macondo/

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Fig. 20 – Barreiras Flutuantes

Barreiras físicas são utilizadas para proteger o litoral. Várias técnicas são empregadas

para conter o avanço do óleo, porém devido à grande quantidade de óleo derramado fica

muito difícil controlar o seu espalhamento. Quando há um vazamento de petróleo no

mar, esse óleo pode atingir as praias através da difusão, sendo empurrado pela ação do

vento e pelas correntes marinhas. Quando o óleo atinge as praias, o óleo combina-se

freqüentemente com os sedimentos, assumindo uma forma persistente que pode

permanecer inalterada por mais de dez anos.

http://mediagallery.usatoday.com/Oil-leak-in-the-Gulf-of-Mexico/G1559,A6792

Fig. 21 – Transporte da Deepwater Horizon

A plataforma Deepwater Horizon sendo transportada por um navio. O comissionamento é uma fase importante para segurança de processo, pois é assegurado que todos os sistemas equipamentos foram projetados, instalados, testados, operados e mantidos de acordo com as necessidades e requisitos operacionais necessários. A regularização, controle e certificação de embarcações nos aspectos relativos à segurança da navegação, salvaguarda da vida humana e da prevenção da poluição ambiental devem ser seguidas rigorosamente, além das vistorias e auditorias de conformidade legal. http://www.onip.org.br/temas/macondo/

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GLOSSÁRIO

1. APR – consiste no estudo, durante a fase de projeto que possui a finalidade de se

determinar os possíveis riscos que poderão ocorrer na sua fase operacional.

2. Árvore de falhas – processo dedutivo que partindo de um evento indesejável pré-

definido, busca as possíveis causas de tal evento.

3. Biomagnificação – é um fenômeno que ocorre quando há acúmulo progressivamente

maior de uma substância tóxica de um nível trófico para outro ao longo da cadeia

alimentar por causa da redução da biomassa.

4. BP – originalmente Anglo-Persian Oil Company e depois British Petroleum, é uma

multinacional com sede na Inglaterra que opera no setor de petróleo e gás.

5. Blowout – erupção do poço ou fluxo descontrolado de fluidos da formação

permeável para o poço e deste para o fundo do mar, para a atmosfera ou para outra

formação. A forma de ocorrência pode ser na superfície, no fundo do mar, underground

(de uma formação para a outra) e shallow gás (gás raso). O tipo de fluido pode ser:

água, óleo ou gás. Ocorrendo blowout há o risco de incêndio e explosão, ocorrência de

gases tóxicos (H2S) e risco de afundar a plataforma com a pluma de bolhas com LA <

300m.

6. CO2 – gás incolor e inodoro, podendo causar asfixia em altas concentrações.

7. Hidratos – Hidrato de gás ou clatrato é um sólido cristalino sendo composto de água

e gases de peso molecular pequeno. Pode se formar em linhas de produção ou dentro da

Árvore de Natal, obstruindo-os.

8. H2S ou Gás Sulfídrico – é um gás incolor, mais pesado que o ar, corrosivo, com

odor desagradável de ovos podres, e é altamente tóxico e irritante.

9. HAZID – é uma ferramenta para a identificação e classificação dos riscos das

atividades a serem realizadas pelas unidades.

10. HAZOP – ferramenta para identificar os possíveis desvios das condições normais

de operação dos sistemas da unidade.

11. Kick – é um fluxo descontrolado de hidrocarbonetos (gás ou óleo) saindo de um

poço de petróleo para a superfície.

12. MARPOL – convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios,

criado em 1973 ela foi criada com o intuito de minimizar a poluição dos mares.

13. Offshore – operar ao largo da costa.

14. Perda de circulação – é uma diminuição da eficiência da circulação normalmente

causada pela absorção anormal de fluido pela formação

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15. Poços HPHT – possuem alta temperatura, acima de 149 graus Celsius e alta pressão

ou gradiente de pressão de poros de 2,62 PSI por metro. Nesse caso o BOP deve ter uma

pressão de trabalho acima de 10.000 PSI.

16. PSI – (� úmen force per square inch) ou libra força por polegada quadrada, é a

resultante de uma força de uma libra-força aplicada a uma área de uma polegada

quadrada.

17. Shutting Down (ESD) – desligamento de um equipamento ou um sistema pela

atuação de uma proteção. O ESD possui quatro níveis o mais alto é a parada total da

plataforma e preparação de abandono.

18. Workover – é a intervenção para manutenção do poço.

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