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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A INCIDÊNCIA DO ISS NOS CONTRATOS DE LEASING Por: Ana Isabel Cunha Monteiro da Silva Orientador Prof. Flávio Souza Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … fileA INCIDÊNCIA DO ISS NOS CONTRATOS DE LEASING Por: Ana Isabel Cunha Monteiro da Silva Orientador ... 1.2) A Regra-matriz de Incidência

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A INCIDÊNCIA DO ISS NOS CONTRATOS DE LEASING

Por: Ana Isabel Cunha Monteiro da Silva

Orientador

Prof. Flávio Souza

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A INCIDÊNCIA DO ISS NOS CONTRATOS DE LEASING

Apresentação de monografia à AVM

Faculdade Integrada como requisito

parcial para obtenção do grau de

especialista em Gestão e Planejamento

Tributário.

Por: Ana Isabel Cunha Monteiro da Silva

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a

Deus pela força e amparo

nos momentos difíceis. Aos

meus queridos pais pelo

apoio e investimento na

minha carreira profissional.

Ao Professor Flávio Souza

por orientar esse trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo abordar a questão da

incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza nos

contratos de arrendamento mercantil, ou também chamado de

leasing, mais especificamente sobre a constitucionalidade de tal

incidência. Parte-se do texto constitucional, especialmente do

art.156, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988, o qual concede aos Municípios a competência para a

criação do tributo, com base nos serviços definidos em lista anexa à

Lei Complementar 116/2003. Ainda, no intuito de compreender o

arrendamento mercantil, verifica-se a análise da sua finalidade

econômica, natureza jurídica, características e espécies do instituto.

Com base no art.110 do Código Tributário Nacional, a discussão

adentra no Direito Privado, em razão da necessidade de se

conceituar o arrendamento mercantil como serviço ou não, mediante

os conceitos das obrigações de dar e de fazer. Pretende-se

propiciar uma contribuição ao conhecimento de como a legalidade

da exigência do ISS sobre as operações de arrendamento mercantil

vem sendo interpretada pelos Tribunais Superiores.

Palavras Chave

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – Regra-matriz -

Contrato de Leasing – Finalidade Econômica – Natureza Jurídica –

Características - Espécies – Incidência do ISS nos Contratos de

Leasing – STF

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METODOLOGIA

A metodologia empregada foi a pesquisa exploratória e

bibliográfica. O trabalho foi feito com leitura de livros, artigos, teses,

monografias, notícias retiradas da internet.

A monografia foi realizada de acordo com o ordenamento

jurídico brasileiro vigente. As principais normas jurídicas utilizadas

foram: Código Tributário Nacional, Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, Lei Complementar n.º 116/2003, Lei

6.099/74, Resolução 2.309/1996.

Além disso, o trabalho foi desenvolvido com pesquisas

jurisprudenciais do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de

Justiça.

Alguns materiais foram coletados para observação e estudo

do tema em questão. As instituições que cederam as obras foram:

FEA-USP (Pós-graduação em Administração de Empresas); Instituto

Brasileiro de Estudos Tributários (Curso de Especialização em

Direito Tributário); Universidade de São Paulo (Faculdade de

Direito); Universidade do Vale do Itajaí (Curso de Direito).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................06

1. CAPÍTULO 1: IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE

QUALQUER NATUREZA

1.1) Origem e Legislação......................................................08

1.2) A Regra-matriz de Incidência do Imposto......................09

1.3) Considerações Finais....................................................15

2. CAPÍTULO 2: CONTRATO DE LEASING

2.1) Noções Gerais e Finalidade Econômica.......................16

2.2) Natureza Jurídica e Características...............................19

2.3)Espécies.........................................................................21

2.4) Considerações Finais....................................................24

3. CAPÍTULO 3: INCIDÊNCIA DO ISS NOS CONTRATOS DE

LEASING

3.1) Breve Histórico..............................................................25

3.2) Impossibilidade da Norma Tributária Modificar Institutos

do Direito Civil......................................................................26

3.3) O Entendimento do STF sobre a Incidência do ISS nos

Contratos de Leasing............................................................28

3.4) Considerações Finais....................................................30

CONCLUSÃO...........................................................................32

BIBLIOGRAFIA........................................................................34

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INTRODUÇÃO

A ideia do trabalho é trazer à tona a discussão doutrinária e

jurisprudencial sobre a incidência do Imposto sobre Serviços de

Qualquer Natureza – ISS nas operações de leasing, diante da

complexidade que envolve esse tipo de contrato.

O tema, em baila, é de suma importância tendo em vista que

possui nítida finalidade fiscal, constituindo-se fonte de recursos para

o desempenho da atividade financeira dos Municípios e de

consideráveis despesas por parte das instituições financeiras.

Assim, para melhor compreensão do presente trabalho, esta

obra é dividida em três capítulos.

O capítulo inicial traça as linhas gerais do ISS através de

sua origem e legislação, de modo que fiquem estabelecidos os seus

fundamentos constitucionais e suas principais características dentro

do sistema jurídico.

Além disso, é feito o estudo da análise de cada elemento de

sua regra-matriz de incidência tributária (material, temporal,

espacial, pessoal e quantitativo).

O segundo capítulo dedica-se ao contrato de leasing,

buscando seus elementos constitutivos dentro do ordenamento

jurídico brasileiro. Primeiramente, busca-se uma noção geral do que

é o contrato de leasing através de sua finalidade econômica, sua

natureza jurídica e características.

Logo em seguida, desenvolve-se uma distinção entre suas

modalidades existentes, quais sejam: leasing operacional, leasing

financeiro e leasing de retorno, também conhecido como lease-

back.

O terceiro capítulo consiste no ponto central do trabalho,

onde trata propriamente da incidência do ISS nos contratos de

leasing. A primeira parte do capítulo aborda um breve histórico.

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Ademais, a questão da impossibilidade da norma tributária

modificar institutos do Direito Civil, tendo em vista, que a prestação

de serviços é disciplinada pelo Código Civil, de forma que a lei

tributária não pode alterar sua definição, conteúdo e alcance,

conforme dita o art.110 do Código Tributário Nacional – CTN.

Por fim, é feita uma análise das decisões dos Tribunais

Superiores que tratam sobre o tema em baila.

O que se espera desse estudo é a demonstração dos

posicionamentos existentes nos principais pontos que a doutrina e a

jurisprudência divergem, de forma a se entender melhor a incidência

do ISS nos contratos de leasing e o apontamento do que parece ser

a solução mais constitucionalizada da matéria.

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CAPÍTULO 1

IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER

NATUREZA

1.1 – Origem e Legislação

O imposto sobre serviços de qualquer natureza, ou

simplesmente denominado ISS, foi introduzido no sistema

tributário nacional pela Emenda Constitucional nº 18 de 1965 à

Constituição Federal de 1946, substituindo o antigo imposto de

indústrias e profissões1.

A Constituição Federal de 1988, segundo o art.156, III

conferiu aos Municípios a competência para tributar serviços de

qualquer natureza, definidos em Lei Complementar, com exceção

daqueles previstos no art.155, II, CF, de competência dos

Estados.

Assim, ressalvados os serviços constitucionalmente

colocados sobre o campo de incidência do ICMS (comunicação e

transporte interestadual e intermunicipal), qualquer serviço pode

ser tributado pelos Municípios, desde que definido em lei

complementar2.

As normas gerais do ISS estavam contidas nos artigos 8º a

12 do Decreto-Lei n.º 406/68, que, possuía status de lei

complementar. Entretanto, veio a Lei Complementar n.º 116/2003,

com base no art.146, III, da CF, que revogou o referido Decreto e

passou a traçar as normas do Imposto3.

1 JUNIOR, Luiz Emygdio F. da Rosa. Manual de Direito Financeiro e Direito Tributário. 20ª ed. Rio de janeiro: Renovar, 2007. p. 883. 2 ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 4ª ed. São Paulo: Método, 2010. p. 639. 3 JUNIOR, Luiz Emygdio F. da Rosa. Op. Cit., p. 884.

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1.2 – A Regra-matriz de Incidência do Imposto

Para Paulo de Barros Carvalho, a esquematização formal da

regra-matriz de incidência é um útil instrumento científico para a

identificação e conhecimento aprofundado da imposição

tributária. Seu emprego é prático, permitindo, quase que de forma

imediata, penetrarmos na essência normativa, analisando-a de

maneira minuciosa4.

A análise da regra-matriz de incidência do ISS será feita

através do conjunto dos seguintes critérios: material, temporal,

espacial, pessoal e quantitativo.

1.2.1 – Critério Material

Como critério material pode-se entender o comportamento

de determinada pessoa que é tributado por estar previsto

abstratamente na norma jurídica tributária5.

O Imposto sobre serviços de qualquer natureza está previsto

no art.156, III, CF, senão vejamos:

Art. 156. Compete aos Municípios instituir imposto sobre: (...) III – serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.

Assim, os Municípios poderão instituir o ISS sobre a

prestação ou circulação de serviços (definidos em lei

complementar), excluídos os serviços de transporte intermunicipal

e interestadual e os serviços de comunicação, que pertencem ao

campo de incidência do ICMS, de competência estadual.

4 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 342. 5 CARVALHO, Paulo de Barros. Op. Cit., p. 251.

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Sobre o tema, José Eduardo Soares de Melo diz que o cerne

da materialidade da hipótese de incidência do imposto em

comento não se circunscreve a “serviço”, mas a uma “prestação

de serviço”, compreendendo um negócio (jurídico) pertinente a

uma obrigação de fazer, de conformidade com os postulados e

diretrizes do direito privado6.

O vocábulo “serviço”, juridicamente, consiste em uma

obrigação de fazer divergindo-se essencialmente da obrigação de

dar por envolver uma prestação de fato, e não de coisa7.

Por sua vez, Sérgio Pinto Martins, ressalta que “o ISS é um

tributo que onera determinado bem econômico (serviço, bem

econômico imaterial) que se encontra na etapa da circulação (das

transferências econômicas)8”.

Porém, o que precisa estar claro é que somente podem ser

tributados pelo ISS os serviços constantes na Lista de Serviço

prevista na LC 116/2003 tendo em vista que o Supremo Tribunal

Federal – STF, já entendeu que referida lista tem o caráter

taxativo e exaustivo, não se admitindo, em relação a ela, o

recurso da analogia, visando alcançar hipóteses de incidência

distantes das ali elencadas, devendo a lista subordinar-se à lei

municipal9.

1.2.2 – Critério Temporal

6 MELLO, José Eduardo Soares de. Aspectos teóricos e práticos do ISS. 2ª ed. São Paulo: Dialética, 2001. p. 31. 7 RODRIGUES, Silvio. Direito civil. Parte geral das obrigações. V.5. 30ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 31. 8 MARTINS, Sérgio Pinto. Manual do ISS. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 33. 9 STJ, REsp n. 656.918/PR, Rel. Min. José Delgado, Brasília, 1ª T., 05/10/2004. p. 211.

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Segundo Paulo de Barros, o critério temporal é o “conjunto

de elementos que nos habilitam a identificar a condição que atua

sobre determinado evento, subordinando-o no tempo10”.

Deste modo, como o ISS é um imposto devido em

decorrência de prestação de serviços, deve o legislador

considerar o momento em que tal prestação se deu por finalizada,

ou seja, no adimplemento da prestação-fim do serviço.

O ISS consiste em prestar serviços, conforme o critério

material, de modo que somente após prestado o serviço é que

poderá ser exigido o tributo, tendo em vista que antes de sua efetiva

prestação não haverá que se falar na realização do critério material.

Para tanto, conforme salienta Susy Gomes Hoffman, deve-se

observar o tipo de serviço prestado, que pode ocorrer de uma única

vez, ser divisível ou ser feito por um período duradouro, com

prestações sucessivas11.

Quando o serviço ocorre de uma única vez, considera-se que

o momento é o término da prestação de serviço. No segundo caso,

o critério temporal é o momento do término de cada etapa do

serviço. E, no caso do serviço ser prestado por um período

prolongado, o momento será o do fim de cada período eleito da

prestação do serviço12.

1.2.3 – Critério Espacial

O critério espacial da norma tributária consiste no local em

que, ocorrida a conduta humana prevista no critério material da

hipótese de incidência tributária, nascerá a obrigação jurídico-

tributária entre outros seus respectivos sujeito ativo e passivo.

10 CARVALHO, Paulo de Barros. Op. Cit., p. 279. 11 HOFFMAN, Susy Gomes. O Imposto sobre serviços de qualquer natureza. In: Estudos e pareceres: direito do petróleo e gás. Rio de janeiro: Renovar, 2005. p. 522. 12 Ibid., p. 522.

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Barros ensina a possibilidade de três hipóteses para

perfeitamente identificar o critério espacial de um tributo:

Acreditamos que os elementos indicadores da condição de espaço, nos supostos das normas tributárias, hão de guardar uma dessas três formas compositivas, diretriz que nos conduz a classificar o gênero tributo na conformidade do grau de elaboração do critério espacial da respectiva hipótese tributária: a)hipótese cujo critério espacial faz menção a determinado local para a ocorrência do fato típico; b)hipótese em que o critério espacial alude áreas específicas, de tal sorte que o acontecimento apenas ocorrerá se dentro delas estiver geograficamente contido; c)hipótese de critério espacial bem genérico, onde todo e qualquer fato, que suceda sob o manto da vigência territorial da lei instituidora, estará apto a desencadear seus efeitos peculiares13.

O critério espacial entendido como o “espaço no fato” nos

informa o local em que devemos considerar ocorrido o fato

imponível. A Lei Complementar 116/2003, em seu artigo 3º,

estabelece que o espaço no fato deve ser o estabelecimento

prestador, com as exceções ali enumeradas, casos em que o

serviço se considerará prestado nos locais indicados14.

Trata-se, portanto, de uma presunção absoluta, pois, estando

comprovada a relação entre a prestação do serviço e o

estabelecimento prestador, não há possibilidade, salvo as exceções

expostas no artigo, de considerar-se o serviço prestado em outro

lugar.

Quando o critério espacial não for estabelecido, sob a

perspectiva de espaço no fato, será o domicílio do prestador. Sendo

13 CARVALHO, Paulo de Barros. Op. Cit., p. 290. 14 FORTES, Maurício Cezar Araújo. A Regra-matriz de incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza. São Paulo. 2009. p. 13. Tese (Faculdade de Direito) – Universidade de São Paulo.

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este incerto, o local de sua residência habitual e, sendo esta

também não certa, o centro habitual de sua atividade15.

1.2.4 – Critério Pessoal

O critério pessoal da regra-matriz de incidência tributária

consiste nas pessoas que, caso realizada a hipótese de incidência,

serão sujeitos da relação jurídico-tributária. O sujeito ativo é o titular

do direito subjetivo de exigir a prestação pecuniária, enquanto que o

sujeito passivo é aquele de quem se cobra a prestação16.

No caso do ISS, o sujeito ativo que detém a competência

tributária é o Município, dentro do âmbito de seu território.

Estabelecido o tributo, será também o Município quem irá parecer

na relação jurídico-tributária como sujeito ativo, tendo a capacidade

para cobrar o tributo17.

Do outro lado, no polo passivo da tributação está o

contribuinte ou o responsável tributário. O conceito de sujeito

passivo é a pessoa física ou jurídica capaz de concretizar a hipótese

de incidência tipificada no texto legal18.

Assim, será considerado como tal, aquele que der causa aos

efeitos da regra-matriz de incidência tributária. Não pode, portanto,

o legislador ordinário, atribuir sujeição passiva àquele que não

tenha relação direta com o fato jurídico tributário19.

15 FORTES, Maurício Cezar Araújo. A Regra-matriz de incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza. São Paulo. 2009. p. 13. Tese (Faculdade de Direito) – Universidade de São Paulo. 16CARVALHO, Paulo de Barros. Op. Cit., p. 310. 17 SILVA, Tiago Andreotti e. A Incidência do ISS nos Contratos de Leasing. Campo Grande/MS. 2009. p. 13. Monografia (Curso de Especialização em Direito Tributário) – Instituto Brasileiro de Estudos Tributários. 18 Fengler, Vinícius. A Incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza- ISS nas Operações de Arrendamento Mercantil - Leasing. Biguaçu. 2009. p. 61. Monografia (Curso de Direito) – Universidade do Vale do Itajaí. 19 BARRETTO, David Sampaio. ISS - Imposto Sobre Serviços. Disponível em <http://www.constitucionalistas.com.br/news/iss-imposto-sobre-servi%C3%A7os/>. Data de acesso em 09 jul. 2013.

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Especialmente no caso do ISS, somente pode ser onerado o

prestador de serviços, posto que revelada sua capacidade

contributiva pela execução do fato imponível.

1.2.5 – Critério Quantitativo

O critério quantitativo é formado por dois elementos, quais

sejam, a base de cálculo e a alíquota, que são combinados para

compor o valor da prestação que o sujeito passivo será obrigado a

pagar ao sujeito ativo.

Luiz Emygdio define a base de cálculo do tributo como

expressão econômica do fato gerador, e, sendo um dos elementos

da obrigação tributária, só pode ser determinada mediante lei20.

Ricardo Alexandre complementa o conceito, explicando que a

base de cálculo do ISS é o preço do serviço, conforme definido pelo

art.7º da LC 116/2003. Não poderia ser diferente, pois a base de

cálculo deve ser sempre uma grandeza que quantifique a riqueza

tributada pelo imposto21.

Nota-se que a base de cálculo está diretamente ligada ao

critério material da norma, já que ao mensurar as reais proporções

do fato, ela serve para determinar a quantidade daquilo que foi

previsto no critério material22.

No que tange à alíquota, a mesma é o percentual, definido

em lei, aplicável sobre a base de cálculo para apurar-se o montante

devido do tributo. No caso do ISS, esta é a razão aplicada ao preço

do serviço para a obtenção do objeto da prestação tributária

municipal23.

20 JUNIOR, Luiz Emygdio F. da Rosa. Op. Cit., p. 908. 21 ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. Op. Cit., p. 643. 22 SILVA, Tiago Andreotti e. Op. Cit., p. 14. 23 BARRETTO, David Sampaio. ISS - Imposto Sobre Serviços. Disponível em <http://www.constitucionalistas.com.br/news/iss-imposto-sobre-servi%C3%A7os/>. Data de acesso em 09 jul. 2013.

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O estabelecimento das alíquotas é de competência dos

municípios, e cada um irá estabelecê-las conforme sua necessidade

de política tributária, não podendo ultrapassar os cinco por cento, de

acordo com o art.8º da LC 116/200324.

1.3 – Considerações Finais

O primeiro capítulo tem como objetivo traçar o fundamento

constitucional do ISS, destacando os limites impostos pela

Constituição Federal para sua instituição pelos entes competentes.

Após é feita uma análise de cada elemento de sua regra-

matriz de incidência tributária, com o propósito de estabelecer as

características principais do referido Imposto.

24 SILVA, Tiago Andreotti e. Op. Cit., p. 14.

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CAPÍTULO 2

CONTRATO DE LEASING

2.1– Noções Gerais e Finalidade Econômica

Fábio Ulhoa Coelho conceitua o leasing como um contrato de

locação com opção de compra do bem ao final do prazo contratado.

Esquematicamente, esse contrato seria a sucessão de dois

contratos, o de locação e o de compra e venda, não sendo o

segundo obrigatório25.

O surgimento do contrato de leasing se deu no começo do

século XX, quando Boothe Junior, proprietário de uma fábrica de

produtos alimentícios na Califórnia, necessitando atender um

importante contrato de fornecimento firmado com o exército, e não

possuindo equipamentos e disponibilidades suficientes para adquiri-

los, resolveu alugá-los26.

Outra parte da doutrina, como, por exemplo, o autor Arnaldo

Rizzardo, cita algumas empresas responsáveis pela origem do

instituto, principalmente as de fabricação de aparelhos e

maquinários. Essas empresas se desenvolveram de acordo com o

avanço da tecnologia e se tornaram em desuso ao longo do tempo27.

Por isso, a causa sócio-econômica do leasing, conforme

entende Rodolfo Mancuso, pois através desse instituto, o

empresário poderia constantemente renovar seus bens de produção

na medida em que se tornassem obsoletos, sem precisar paralisar

25 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, 3º v. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 145. 26 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 3º v: Teoria das Obrigações Contratuais e Extracontratuais 24ª ed. rev., atual. e ampl. de acordo com a reforma do CPC e com o Projeto de Lei n. 276/2007. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 720. 27 RIZZARDO, Arnaldo. Leasing: Arrendamento Mercantil no Direito Brasileiro. 4ª ed. rev. e ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 25.

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seu capital de giro, renovando seus meios de produção

continuamente28.

Em 1967, a prática do leasing no Brasil se iniciou com a

empresa “Rent-a-maq”, pequena empresa independente, localizada

em São Paulo, que tinha como objeto do contrato o arrendamento

de máquinas de escrever29.

Com a evolução, criou-se a Associação Brasileira das Empresas

de Leasing – ABEL, com o objetivo de atuar conjuntamente aos

pioneiros, bem como promover a regulamentação da atividade.

O leasing era um contrato atípico, onde as partes podiam

pactuar livremente suas cláusulas. Ocorre que, devido a

preocupações sobre os efeitos tributários desse tipo de operação,

foi editada a Lei 6.099/74, tornando-o típico30.

A Lei 6.099/74, que dispõe sobre o tratamento tributário das

operações de arrendamento mercantil, alterada pela Lei 7.132/83,

define o arrendamento mercantil no seu art.1º,§ único:

Parágrafo único - Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.

Em 1996, a regulação específica do leasing passa a ser feita

pela Resolução 2.309, do Conselho Monetário Nacional, que

disciplina e consolida as normas relativas às operações de

arrendamento mercantil.

O contrato de leasing é interessante tanto para a arrendadora

quanto para a arrendatária. A arrendadora irá remunerar seu capital,

pois irá cobrar um preço onde poderá cobrir os custos que teve com

28 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Leasing. 3ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 15. 29 SILVA, Geraldo José Guimarães da. Direito Bancário e temas afins. Campinas: CS Ed, 2003. p. 24.

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a realização do negócio. Enquanto que para a arrendatária não

necessitará mobilizar o seu capital para utilizar um bem31.

Para Milanez Souza, vários são os objetivos para a procura por

parte da arrendatária do financiamento na forma de leasing de bens.

Esse tipo de operação permite a expansão ou modernização da

empresa ou a instalação de uma nova unidade industrial, sem a

necessidade imediata de imobilização de capitais próprios,

substituindo-se às amortizações devidas no caso da compra, pelo

pagamento de contraprestações do arrendamento32.

Além disso, elimina a diminuição de algumas deficiências e

pontos de estrangulamento existentes, na atual estrutura das

entidades de crédito, quando a empresa necessitar de

financiamentos.

E por fim, Sílvio Venosa diz que possibilita à arrendatária

usufruir de equipamentos modernos e caros, podendo substituí-los

tão logo se tornem obsoletos, além da utilização de benefícios

fiscais outorgados pela lei33.

Assim, sob o ponto de vista econômico, o leasing é utilizado

para remunerar o capital do arrendador, que, no contrato irá prever

a cobrança de um valor suficiente para cobrir seus custos e realizar

um certo lucro sobre a operação34.

E para o arrendatário, que não possui capital em quantidade

suficiente para alocar na compra de determinado bem, possibilita a

realização de um empreendimento que, sem esse instrumento, não

seria possível.

Entre as principais vantagens do arrendamento mercantil pode-

se identificar a minimização do perigo da venda por preços

30 SILVA, Tiago Andreotti e. Op. Cit., p. 17. 31 Ibid., p. 18. 32 SOUZA, Milanez Silva de. Leasing como instrumento de desenvolvimento econômico. São Paulo, 1997. p. 66. Artigo (Pós-graduação em Administração de Empresas) – FEA-USP. 33 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Contratos em espécie. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 615. 34 SILVA, Tiago Andreotti e. Op. Cit., p. 19.

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inferiores ao valor real, atuando como uma arma contra a inflação,

propiciando um financiamento a longo prazo e diluindo o controle e

a propriedade da empresa35.

Por último, proporciona a existência de maior flexibilidade e

possibilita a amortização elástica, beneficiando a liquidez da

empresa.

2.2 – Natureza Jurídica e Características

A autora Fran Martins discorre sobre a natureza jurídica do

arrendamento mercantil:

O arrendamento mercantil é de natureza complexa, compreendendo uma locação, uma promessa unilateral de venda (em virtude de dar o arrendador opção de aquisição do bem pelo arrendatário) e, às vezes, um mandato, quando é o próprio arrendatário quem trata com o vendedor na escolha do bem. Cada um desses atos e contratos dá origem a obrigações: pela locação, o arrendatário é obrigado a pagar as prestações, enquanto que o arrendante é obrigado a entregar a coisa para que o arrendatário dela use; pela promessa unilateral do arrendador, aceita pelo arrendatário, aquele se obriga irrevogavelmente a vender a coisa pelo valor residual, findo o contrato; pelo mandato, o arrendador, no caso mandante, responde pelos atos praticados pelo arrendatário, adquirindo a coisa por este escolhida e pagando ao vendedor o preço convencionado36.

Venosa37 sustenta que o arrendamento mercantil é formado por

um complexo de relações negociais, nas quais podem ser

identificados claramente vislumbres de locação, promessa de

compra e venda, mútuo, financiamento e mandato. Tanto assim o é

que, ao final do período locatício, o arrendatário pode escolher entre

devolver o bem, renovar o contrato de leasing ou adquirir a coisa.

35 SOUZA, Milanez Silva de. Op. Cit., p. 67. 36 GOMES, Fábio Bellote. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Manole, 2003. p. 205. 37 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. V.2. p.. 625.

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20

Na mesma linha de pensamento, Lúcio Delfino, define o

arrendamento mercantil como um contrato complicado, composto de

características de outros contratos, tornando-os inseparáveis

(unidade indissolúvel), tendo a função comum de assegurar o

resultado do negócio jurídico. O descumprimento ou a inexistência

de um desses elementos descaracteriza o contrato como um todo,

frustrando seu resultado38.

Assim, infere-se que o leasing é um contrato misto, por conter

elementos obrigacionais de origem diversa, autônomo, próprio e

típico.

O leasing é um contrato bilateral ou sinalagmático, ou seja, gera

direitos e obrigações para os contratantes. O contrato é realizado

entre instituição financeira e cliente, no propósito de oferecer

recursos para aquisição de bens, sem que o arrendatário tenha que

dispor de capital, em contraposição à obrigatoriedade de venda do

bem pelo arrendante caso opte o arrendatário pela compra da coisa,

ao final do contrato39.

Além disso, de acordo Maria Miranda, tem caráter oneroso

porque traz vantagens para ambos os contratantes, que sofrem um

sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito desejado40.

Ante o pagamento do arrendatário, a instituição responsável

pelo leasing deve conceder aquele a posse do bem, assim como a

outorga do domínio conforme a escolha.

É comutativo, porque cada contratante, além de receber do

outro prestação relativamente equivalente à sua, pode verificar de

imediato, essa equivalência. Tem natureza real em razão da

indispensabilidade da entrega de alguma coisa.

38 DELFINO, Lúcio. Arrendamento mercantil: atentado contra a sua natureza jurídica. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n.º 39. 2000. Disponível em <http://jus.com.br/revista/texto/629>. Data de acesso em 10 jul. 2013. 39 FENGLER, Vinícius. Op. Cit., p.69. 40 MIRANDA, Maria Bernadete. O Contrato de Arrendamento Mercantil ou Leasing. São Paulo. 2008. p. 9. Artigo (Revista Virtual Direito Brasil- v. 2, n.º 2).

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21

Outra característica, afirmada por Venosa, é o trato sucessivo

em razão do pagamento em prestações. Por último, é um contrato

consensual, pois, pois se perfaz pela simples anuência das partes, a

não ser pela necessidade de constar prazo, preço, opção de

compra41.

2.3 – Espécies

Na visão de Ricardo Alexandre, o leasing é um contrato que,

em face da diversificação das relações de consumo, tem assumido

diferentes características de acordo com a modalidade adotada em

cada caso concreto42.

Na prática do mercado, há de se distinguir basicamente três

tipos de leasing: o operacional, o financeiro e o de retorno.

No leasing operacional, o produtor de determinado bem ou

uma empresa comercial especializada cede o direito de uso de tal

bem, comprometendo-se a fornecer a manutenção, assistência

técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem

arrendado43.

Em contrapartida, recebe um montante que engloba o valor

correspondente ao direito de uso (equivalente à locação), aos

serviços inerentes a sua colocação à disposição da arrendatária e à

margem de lucro, não podendo ultrapassar 75% (setenta e cinco por

cento) do custo do bem arrendado44.

O preço para a opção de compra não pode ser livremente

pactuado, devendo ser o valor de mercado do bem e não há

previsão de pagamento de valor residual garantido.

Essa modalidade está prevista no art. 6º da Resolução

2.309/1996 do Conselho Monetário Nacional:

41 VENOSA, Sílvio de Salvo. Op. Cit., p. 625. 42 ALEXANDRE, Ricardo. Op. Cit., p. 606. 43 Ibid., p. 606.

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Art. 6º Considera-se arrendamento mercantil operacional a modalidade em que: I - as contraprestações a serem pagas pela arrendatária contemplem o custo de arrendamento do bem e os serviços inerentes a sua colocação à disposição da arrendatária, não podendo o valor presente dos pagamentos ultrapassar 90% (noventa por cento) do "custo do bem;" II - o prazo contratual seja inferior a 75% (setenta e cinco por cento) do prazo de vida útil econômica do bem; III - o preço para o exercício da opção de compra seja o valor de mercado do bem arrendado; IV - não haja previsão de pagamento de valor residual garantido45.

Já o leasing financeiro, tradicional ou clássico necessita do

envolvimento de três agentes, os quais são o arrendante, o

arrendador e o fornecedor.

Ricardo Alexandre entende que esta é uma das formas mais

utilizadas dos contratos de leasing no nosso País. Sua finalidade é

o financiamento, tendo em vista que determinada instituição

financeira adquire bem específico e o cede, para uso e por prazo

certo, mantendo-se como proprietário daquele46.

As despesas de manutenção, assistência técnica e serviços

correlatos à operacionalidade do bem arrendado devem ser de

responsabilidade da arrendatária.

Terminado o prazo locativo, admite-se que o locatário possa

optar entre a devolução do bem, a renovação da locação, ou a

compra pelo preço residual fixado no momento inicial do contrato.

Para que seja caracterizado esse tipo de leasing, o preço

para o exercício da opção de compra deve ser livremente

pactuado47.

Esse tipo de leasing está previsto no art.5º da Resolução

2.309/1996, senão vejamos48:

44 SILVA, Tiago Andreotti e. Op. Cit., p. 18. 45Banco Central do Brasil, Resolução n.º 2.309/1996. Disponível em <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/1996/pdf/res_2309_v5_P.pdf.> Data de acesso em 10 jul. 2013. 46 ALEXANDRE, Ricardo. Op. Cit., p. 606. 47 SILVA, Tiago Andreotti e. Op. Cit., p. 18.

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Art. 5º Considera-se arrendamento mercantil financeiro a modalidade em que: I - as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos; II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária; III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado.

Percebe-se que, em ambas as modalidades, é possível ao

arrendatário devolver ao arrendador o bem arrendado no término do

contrato. Entretanto, no leasing financeiro, as partes claramente

desejam a futura transferência da propriedade, até porque a

instituição financeira não tem qualquer interesse de ser

definitivamente proprietária de tal bem49.

Assim é correto afirmar que no leasing operacional predomina

a locação; já no financeiro, o financiamento.

Conforme a Resolução 2.309/1996, no seu art.8º, I e II, há

diferença quanto ao prazo necessário para que se caracterize o

contrato. No financeiro, o prazo mínimo é de dois anos, se a vida útil

do bem for igual ou inferior a cinco anos, ou de três anos, para os

demais bens. Enquanto que no leasing operacional, para ser

caracterizado, necessita de prazo mínimo de noventa dias.

E finalmente, o leasing de retorno, também chamado de

lease-back, ocorre quando uma empresa, proprietária de um bem

móvel ou imóvel, o transfere a outra, que, por seu turno,

simultaneamente o dá em arrendamento à vendedora50.

48Banco Central do Brasil, Resolução n.º 2.309/1996. Disponível em <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/1996/pdf/res_2309_v5_P.pdf.> Data de acesso em 10 jul. 2013. 49 ALEXANDRE, Ricardo. Op. Cit., p. 606. 50 FENGLER, Vinícius. Op. Cit., p. 69.

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Jônata Milhomens explica que tal prática é típica de

empresas que possuem capital engessado (na forma de bens

móveis ou imóveis) e que necessitam de capital de giro, não

podendo recorrer a empréstimos bancários, sobretudo em elevadas

montas51.

Milanez Souza não destoa do mesmo pensamento quando diz

que a operação visa praticamente a reposição do capital de giro da

empresa, que antes estava imobilizado em itens do ativo fixo. O

arrendatário é o próprio vendedor do equipamento ou imóvel52.

Esta transação ocorre quando há escassez de recursos nas

fontes tradicionais de crédito, ou por estas representarem alto custo

financeiro para o tomador, tendo em vista o montante da operação

em questão.

2.4 – Considerações Finais

O segundo capítulo analisa o contrato de leasing, pois a

compreensão de sua base teórica é essencial para o estudo da

incidência do ISS, que será realizado no próximo capítulo.

Inicialmente busca-se uma noção geral do que é o contrato

de leasing e sua finalidade econômica. A última parte estabelece os

tipos de leasing existentes dentro do ordenamento jurídico brasileiro

com o intuito de verificar em qual deles haverá a incidência do

Imposto.

51 MILHOMENS, Jônatas; MAGELA ALVES, Geraldo. Manual Prático dos Contratos. 7ª ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 330. 52 SOUZA, Milanez Silva de. Op. Cit., p.67.

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CAPÍTULO 3

INCIDÊNCIA DO ISS NOS CONTRATOS DE LEASING

3.1 – Breve Histórico

A incidência do ISS nas operações de leasing teve sua

origem no Decreto-Lei 406/68. O Item 79 da lista anexa do referido

DL previa a incidência do ISS sobre locação de bens móveis,

inclusive arrendamento mercantil. Isto é, o arrendamento mercantil e

contrato de aluguel de bens móveis eram dispostos de forma

conjunta na redação.

Nessa época, já havia discussão se haveria alguma relação

entre arrendamento mercantil e locação de bens móveis, se seriam

equivalentes, se haveria alguma relação gênero-espécie, o que

poderia atrair a incidência, ou se seriam modalidades de contratos

diferentes53.

O tema alcança o STF, sob uma ótica mais específica, sobre

apenas o contrato de locação de bens móveis. E ao fazer a análise

desse contrato, o STF revela não haver incidência do ISS, porque a

locação de bens móveis é uma obrigação de dar que não se

confunde com obrigação de fazer (prestação de serviço)54.

Cumpre frisar, que o STF apenas reconheceu a

inconstitucionalidade quanto à incidência de ISS sobre as

operações de locação de bens móveis, de maneira que sequer

analisou, naquela oportunidade, a questão do arrendamento

mercantil. Até porque, caso contrário, não poderia o STJ ter editado

53 CARVALHO, Cristiano. A questão do ISS nas operações de leasing: Análise da polêmica e da atual posição dos tribunais. Porto Alegre. 2008. p. 6. Artigo publicado na Revista Jurídica Tributária n.º 1. 54 JUNIOR, Luiz Emygdio F. da Rosa. Op. Cit., p. 889.

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o verbete sumular n. 13855: “O ISS incide na operação de

arrendamento mercantil de coisas móveis”.

.

3.2 – Impossibilidade da Norma Tributária Modificar Institutos

do Direito Civil

Ricardo Alexandre56 explica que a prestação de serviços é

disciplinada pelo Código Civil, de forma que a lei tributária não pode

alterar sua definição, conteúdo e alcance.

A imposição à norma tributária no sentido de invariavelmente

ter que observar os conceitos oriundos do Direito Privado tem

origem na rigidez da qual se reveste CF/88. Tal mandato,

direcionado à questão de definição ou limitação de competência

tributária, vem estampado no art.110 do Código Tributário Nacional:

Art. 110 - A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.

Para Luiz Emygdio57, como a CF no art.156, III, agasalhou o

conceito de “serviços” consoante o direito privado, para definir a

competência dos Municípios no que toca ao ISS, a lei tributária não

pode alterá-lo, sob pena de ferir a norma constitucional.

Se o legislador tributário altera esse termo de direito privado

utilizado pela Constituição, ele incorre em inconstitucionalidade

porque está em desconformidade com a Constituição.

55 Súmulas do Superior Tribunal de Justiça, Súmula n.º 138/1995. Disponível em <http://www.dji.com.br/normas_inferiores/regimento_interno_e_sumula_stj/stj__0138.htm.> Data de acesso em 10 jul. 2013. 56 ALEXANDRE, Ricardo. Op. Cit., p. 639. 57 JUNIOR, Luiz Emygdio F. da Rosa. Op. Cit., p. 889.

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Salienta o autor Ricardo58, que segundo a concepção civilista,

a prestação de serviços se afigura como obrigação de fazer, o que

levou o STF a declarar a impossibilidade de se confundir a locação

de serviços, cuja tributação é legítima, com a locação de bens

móveis, de tributação impossível.

Esse entendimento é disposto no RE/SP n.º 116.121, cuja

ementa se transcreve abaixo:

Ementa TRIBUTO - FIGURINO CONSTITUCIONAL. A supremacia da Carta Federal é conducente a glosar-se a cobrança de tributo discrepante daqueles nela previstos. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS - CONTRATO DE LOCAÇÃO. A terminologia constitucional do Imposto sobre Serviços revela o objeto da tributação. Conflita com a Lei Maior dispositivo que imponha o tributo considerado contrato de locação de bem móvel. Em Direito, os institutos, as expressões e os vocábulos têm sentido próprio, descabendo confundir a locação de serviços com a de móveis, práticas diversas regidas pelo Código Civil, cujas definições são de observância inafastável - artigo 110 do Código Tributário Nacional.59

Com a edição da Lei Complementar 116/2003, a lista de

serviços do DL 406/68 foi revogada, inclusive, o Item 79.

Quando a nova lista de serviços se direciona para a sanção

do Presidente, nascem dois itens relevantes para serem analisados:

o Item 3.01 e o Item 15.09. O Item 3.01 previa locação de bens

móveis e o Item 15.09 dispunha sobre o arrendamento mercantil.

Nota-se que essa nova lista desmembrou a locação de bens,

colocando de um lado o arrendamento mercantil e do outro lado, a

locação stricto sensu.

O Item 3.01 não chegou a prosperar por conta de veto do

Presidente da República, que invocou a citada jurisprudência do

STF para fundamentar a providência. Contudo, o Item 15.09 é

mantido, prevendo a incidência do ISS sobre arrendamento

58 ALEXANDRE, Ricardo. Op. Cit., p. 639. 59STF, RE n. 116121/SP, Rel. Ministro Marco Aurélio, Brasília, 11 out. 2000.

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mercantil, quando se refere a serviços relacionados ao setor

bancário ou financeiro60.

Daí surge a dúvida se há separação da ideia do

arrendamento mercantil e a locação ou se o arrendamento,

necessariamente, pressupõe a locação, tendo em vista que o

contrato de arrendamento é complexo, não ensejando possibilidade

de separá-los para fins de tributação do ISS.

Esse tema é debatido no STF, tendo sua repercussão geral

reconhecida, e o fundamento principal do debate incide sobre o art.

110, do CTN, pois é preciso saber se a incidência do ISS sobre as

operações de arrendamento mercantil desvirtua ou não o conceito

de serviço.

3.3 - O Entendimento do STF sobre a Incidência do ISS nos

Contratos de Leasing

No dia 02 de dezembro de 2009, o STF divulga, no portal do

seu site, a notícia de que Municípios e Distrito Federal podem

cobrar ISS nas operações de leasing:

Notícias STF - Quarta-feira, 02 de Dezembro de 2009 - Municípios e Distrito Federal podem cobrar ISS nas operações de leasing A cobrança do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), pelos municípios, em operações de arrendamento mercantil do tipo leasing financeiro é constitucional. Por maioria dos votos, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) deram provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 547245 (com repercussão geral), interposto pelo município catarinense de Itajaí para cobrar ISS sobre financiamentos de veículos pelo Banco Fiat. O voto-vista apresentado pelo ministro Joaquim Barbosa acompanhou o entendimento do relator, ministro Eros Grau, no sentido de que o leasing financeiro é um serviço e, portanto, pode incidir o ISS. Barbosa ressaltou que o leasing tem regime jurídico próprio que não se confunde com as normas aplicáveis isoladamente ao aluguel à compra e venda e as operações de crédito.

60 JUNIOR, Luiz Emygdio F. da Rosa. Op. Cit., p. 889.

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“Se a operação de arrendamento mercantil não se confunde com negócio jurídico do aluguel ou de financiamento, por suas virtudes intrínsecas, não há óbice, nesta perspectiva para a incidência do Imposto Sobre Serviço”, disse o ministro Joaquim Barbosa. O ministro votou pelo provimento do recurso, considerando que a operação de leasing constitui serviço tributável pelos municípios e pelo Distrito Federal. Para a maioria dos ministros, a União agiu de maneira plenamente compatível com o texto da Constituição, ao editar a Lei Complementar 116/03 e ao incluir na lista de serviços o arrendamento mercantil para efeito de tributabilidade pelos municípios mediante ISS. Abriu divergência o ministro Marco Aurélio, votando pelo desprovimento do recurso, ao entender que locação, gênero, não é serviço. “O tributo da competência dos municípios diz respeito a serviço prestado, ou seja, a desempenho de atividade, a obrigação de fazer e não de dar”, afirmou61.

Então o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o ISS

incide sobre o leasing, ocasião em que o ministro Eros Grau indicou

que o cerne do negócio jurídico de arrendamento mercantil consiste

na colocação de um bem à disposição do arrendatário, ou seja, o

núcleo do negócio é o financiamento, e financiamento é serviço62.

Abaixo a ementa do acórdão RE n.592.905/STF:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO TRIBUTÁRIO. ISS. ARRENDAMENTO MERCANTIL. OPERAÇÃO DE LEASING FINANCEIRO. ARTIGO 156, III, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. O arrendamento mercantil compreende três modalidades, [i] o leasing operacional, [ii] o leasing financeiro e [iii] o chamado lease-back. No primeiro caso há locação, nos outros dois, serviço. A lei complementar não define o que é serviço, apenas o declara, para os fins do inciso III do artigo 156 da Constituição. Não o inventa, simplesmente descobre o que é serviço para os efeitos do inciso III do artigo 156 da Constituição. No arrendamento mercantil (leasing financeiro), contrato autônomo que não é misto, o núcleo é o financiamento, não uma prestação de dar. E financiamento é serviço, sobre o qual o ISS pode incidir, resultando irrelevante a existência de uma

61Notícias STF. Municípios e Distrito Federal podem cobrar ISS nas operações de leasing. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=117241>. Acesso em 11 jul. 2013. 62WALD, Arnoldo. O ISS e o Contrato de Leasing. Disponível em <http://www.oim.tmunicipal.org.br/?pagina=detalhe_noticia&noticia_id=40356>. Acesso em 11 jul. 2013.

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compra nas hipóteses do leasing financeiro e do lease-back. Recurso extraordinário a que se dá provimento63.

Uma corrente doutrinária, como, por exemplo, o autor Aires

Barreto64, tem o entendimento de que nos contratos de

arrendamento mercantil não há prestação de serviço, mas sim

cessão do direito de uso, sendo este inconfundível com a atividade

de prestar serviços.

Assim, este posicionamento baseia-se na inclusão indevida

do arrendamento mercantil na lista de serviços da Lei

Complementar 116/2003, pois, assim como a locação de bens,

essas atividades são vistas como uma obrigação de dar e não de

fazer, não sendo consideradas como prestação de serviço.

Mantendo a mesma linha de pensamento, o doutrinador

Sérgio Martins65 também considera indevida a tributação do ISS nas

operações de arrendamento mercantil. Porém, ele não compara o

arrendamento mercantil com a locação de bens móveis, mas o

considera como atividade financeira.

Atualmente, esses entendimentos contrários à incidência do

ISS nos contratos de leasing não vem sendo aplicados, e, portanto,

não devem prosperar nos Tribunais Superiores.

Conclui-se, baseando-se na decisão do STF acima exposta,

que no arrendamento mercantil, especificamente no leasing

financeiro, incide o ISS, sendo irrelevante a existência de uma

compra66.

Apesar desse posicionamento do STF, ainda existem inúmeras

ações sendo ajuizadas por contribuintes que tentam eximir-se ou até

mesmo procrastinar-se do recolhimento do ISS.

3.4 – Considerações Finais

63 STF, RE n.592905/SC, Rel. Ministro Eros Grau, Brasília, 05 mar. 2010. 64 BARRETO, Aires F. ISS na Constituição e na Lei. 3ª ed. São Paulo: Dialética, 2009. p. 166. 65 MARTINS, Sergio Pinto. Op. Cit., p. 264. 66 STF, RE n.592905/SC, Rel. Ministro Eros Grau, Brasília, 05 mar. 2010.

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31

O terceiro capítulo consiste no ponto central do trabalho,

onde se analisa a incidência do ISS no contrato de leasing. A

primeira parte do capítulo traça com maior precisão os contornos do

critério material da regra-matriz de incidência, estudando

detalhadamente o conceito de “serviço”.

Por último, discute-se a incidência do ISS no contrato de

leasing, examinando os posicionamentos existentes no cenário

jurídico atual, mais especificamente do STF.

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32

CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo abordar a questão da

possibilidade de incidência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer

Natureza sobre a execução dos contratos de leasing, tendo em vista

os vários posicionamentos doutrinários e da discussão instaurada

no âmbito do Judiciário.

Os dois pontos mais relevantes para a resposta desse

assunto consistem na definição do conceito de “serviço” para fins de

incidência do ISS, e se o objeto do contrato de leasing se enquadra

nesse conceito.

A matéria controvertida é de caráter constitucional, pois a

Constituição Federal utiliza o vocábulo “serviço” ao delimitar as

competências tributárias no ordenamento jurídico brasileiro.

Portanto, pode-se afirmar que existe um conceito pressuposto

de “serviço”, que não pode ser alterado pelo legislador

infraconstitucional, que deve se limitar a apontar quais “serviços”,

dentro daqueles que se encaixam no conceito constitucional,

poderão ser tributados pelos Municípios.

Diante da falta de uma conceituação expressa de “serviço”

pela Constituição Federal foi necessária a realização de um

levantamento doutrinário sobre o tema, onde foi possível concluir

que o instituto consiste em uma obrigação de fazer.

Estabelecida essa premissa, foi preciso analisar o contrato de

leasing no ordenamento jurídico brasileiro para extrair seu objeto,

sob o ponto de vista jurídico.

O arrendamento mercantil compreende três modalidades:

leasing operacional, leasing financeiro e o chamado lease-back. No

primeiro caso há locação, nos outros dois, serviço.

No leasing operacional, o fabricante de um bem o dá em

locação a quem dele fará uso. No leasing financeiro, a arrendadora

adquire bens de um fabricante ou fornecedor e entrega seu uso e

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gozo ao arrendatário, mediante pagamento de uma contraprestação

periódica.

Ao final da locação abri-se a este a possibilidade de devolver

o bem à arrendadora, renovar a locação ou adquiri-lo pelo preço

residual combinado no contrato.

No leasing financeiro prepondera o caráter financiamento,

enquanto que, no leasing operacional sobreleva o aspecto locação.

No lease-back, a própria arrendatária vende um bem que lhe

pertence à arrendadora e, em seguida, toma-o de volta, em

arrendamento mercantil.

Pelo exposto, de acordo com a pesquisa realizada no

presente trabalho, conclui-se que no leasing financeiro e no lease-

back há prestação de serviços, sobre o qual é constitucional a

incidência do ISS, ao passo que no leasing operacional há locação

de bens, logo, de tributação impossível. Assim sendo, diante do

acima exposto, verificou-se que o objetivo da pesquisa foi

alcançado.

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