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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE AS FUNÇÕES PSICOMOTORAS Nezio Eneas Nunes Orientadora Professora: Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2004.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AS FUNÇÕES PSICOMOTORAS

Nezio Eneas Nunes

Orientadora Professora: Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2004.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AS FUNÇÕES PSICOMOTORAS

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes

como condição prévia para a conclusão do curso de Pós-

graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade.

Por: Nezio Eneas Nunes.

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AGRADECIMENTOS

A meus pais, que dentro de suas possibilidades

sempre me estimularam a progredir nos estudos.

À minha esposa e amiga Geane Luiza pela sua

paciência e carinho ajudando a organizar meu

tempo e idéias.

Aos amigos que fiz no curso, professores e

alunos como eu que nunca se negaram a dividir

o conhecimento.

À professora Fabiane que com muita paciência

ajudou na orientação dos meus pensamentos para

executar a pesquisa que apresento aqui.

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DEDICATÓRIA

Dedico o meu trabalho aos meus pais e todos

aqueles que neste e em todos os momentos da

vida possam vir a precisar dos conhecimentos

aqui divulgados.

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RESUMO

Ao final do século XIX começam a surgir os primeiros interesses sobre o estudo do

homem-movimento e associações deste movimento com suas estruturas corporais. Com o

passar do tempo foi se verificando que as descobertas do século anterior não estavam tão

corretas e surge aí a primeira visão de psicomotricidade. As pesquisas que antes usavam o

movimento apenas para o estudo da cognição e da afetividade se voltam para o estudo do

movimento em si e sua importância para o desenvolvimento destas outras áreas. Estes

estudos passam a subdividir a psicomotricidade em funções ou áreas, que abrangem todo o

corpo físico e psíquico. Percebem com isto que outros fatores, internos e externos,

influenciam esse desenvolvimento. Que existe além do tempo físico do relógio o tempo

biológico, que é controlado por processos maturacionais sobre o qual não temos controle,

mas que podemos auxiliar no seu andamento como a corda de um relógio. Esse relógio

escondido em todos nós é estudado e tenta-se associá-lo ao cronológico sem sucesso, porém

agora a certeza da não comparação entre seres humanos de mesma “idade” com relação ao

desenvolvimento é uma realidade. Percebe-se que só com um referencial cronológico é

possível orientarmos nossos estudos e o usamos como parâmetro relativo. Com essa base

verifica-se que é durante os primeiros 36 meses que uma criança mais aprende e a

importância destes para seu total amadurecimento. Os estudos continuam e temos certeza da

necessidade do conhecimento desse processo por todos que trabalham com a primeira

infância.

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METODOLOGIA

Este estudo foi confeccionado a partir de uma vasta pesquisa

bibliográfica de autores renomados no assunto que assumiu um profundo

caráter exploratório e foi desenvolvido embaraçando-se em leituras de textos

variados.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – ESTUDANDO O MOVIMENTO

CAPÍTULO II – PSICOMOTRICIDADE

CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO HUMANO

CAPÍTULO IV - DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE DE

ZERO A TRÊS ANOS

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

8

10

13

23

27

42

43

45

46

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INTRODUÇÃO

Atualmente o desenvolvimento motor tem recebido tanta atenção nas pesquisas

quanto o desenvolvimento das áreas cognitiva e afetiva-social. E não é mais tratado como

um mero meio de observação para o estudo das outras duas, mas sim como uma área com

suas especificidades e necessidades. Portanto, hoje, o desenvolvimento motor, já como uma

área de estudo, tem procurado estudar as mudanças que ocorrem no comportamento motor

de um indivíduo, desde sua concepção até a morte, relacionando-as com o fator tempo.

O desenvolvimento motor é um processo contínuo e demorado. Pelo fato das

mudanças mais acentuadas ocorrerem nos primeiros anos de vida, existe a tendência em se

considerar esse estudo como estudo do desenvolvimento da criança, o que não pode ser visto

como verdadeiro já que o corpo humano leva cerca de vinte anos para se tornar maduro. Ao

mesmo tempo, autoridades no desenvolvimento da criança concordam que os anos que vão

do nascimento aos seis anos são anos cruciais para o desenvolvimento infantil. As

experiências que a criança tem durante esse período determinarão, em grande extensão, que

tipo de adulto ela se tornará, sob a visão psicomotora.

Com base nesse conhecimento verificamos a necessidade do adequado

desenvolvimento psicomotor nas crianças de zero a três anos e a importância de se trabalhar

nesse período de forma consciente, pois além do desenvolvimento motor temos o

desenvolvimento cognitivo agindo simultaneamente no aprendizado.

Verificamos que muitas das instituições que abrigam e/ou recebem crianças nesta

idade desconhecem o desenvolvimento e a importância desses estudos, não por intenção,

mas por ignorância dos órgãos públicos que não fazem divulgar a necessidade de atividades

adequadas para esta fase maturacional de um indivíduo.

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Observamos que no ambiente onde a criança passa parte de seu dia tendo orientação

de atividades por pessoas qualificadas, estas desenvolvem maior e mais satisfatoriamente as

habilidades psicomotoras.

Como vivemos em um mundo onde a cobrança de atitudes, posturas,

comportamentos, saberes, eficiência e outras, transformam as pessoas em seres necessários

de habilidades várias para superar os obstáculos, nem sempre esperados, devemos ter a

preocupação de prepararmos o indivíduo da forma mais completa possível para que possa

encarar seus desafios com segurança por ter experiências vividas no seu processo de

formação.

Com isso visamos citar, conceituar e relacionar as funções psicomotoras e a

importância destas no completo desenvolvimento da criança e futuro adulto.

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CAPÍTULO I

ESTUDANDO O MOVIMENTO

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“... obediência ao espírito da parte afetiva à inteligência e a razão”.

(Aristóteles)1

1. BREVE HISTÓRICO

Historicamente o termo “psicomotricidade” aparece a partir do discurso médico,

mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no final do século XIX, nomear as

zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões “motoras”. Com o desenvolvimento

e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se que há diferentes disfunções

graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja localizada claramente.

Distúrbios de atividades gestuais e motoras foram verificados sem que lesões nas regiões

correspondentes do cérebro fossem verificadas. Portanto já não era possível justificar

impossibilidades motoras devido a lesões cerebrais. Dessa forma surge a necessidade

médica de encontrar uma área que explique certos fenômenos clínicos.

A história da psicomotricidade é solidária à história do corpo. Aristóteles já fazia

uma inter-relação entre o corpo e a alma quando afirmava que “... o homem era constituído

de corpo e alma, e que esta deveria comandar” 2. Ele acreditava que os exercícios físicos

deveriam ser feitos por todos, mas que se deveria fazer aquele que mais se adequasse a cada

um, e que na adolescência não fossem muito cansativos “para não prejudicar o

desenvolvimento do espírito” 3 .

As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor correspondem a um

enfoque eminentemente neurológico. Foi Dupré, em 1920, simbolizando um

“entrelaçamento entre o movimento e o pensamento”, que pela primeira vez utilizou o termo

psicomotricidade. Desde 1909, ele já observara e chamava atenção de seus alunos sobre as

dificuldades motoras, que existia uma relação entre as anomalias psicológicas e as anomalias

motrizes.

1 In: (OLIVEIRA, de Campos-Gislene,2002,p.29) 2 Ibidem 3 Ibidem

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Diferentemente de Dupré4, que correlaciona a motricidade com a inteligência,

Wallon ,5 a partir de 1925, estuda a relação entre motricidade e caráter. Esta diferença

permite relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos da

criança.

Estas primeiras relações de similitudes e diferenças entre anomalias psicológicas e

anomalias motora, somadas à contribuição de Wallon relativa à ação recíproca entre

movimento, emoção, indivíduo e meio ambiente, fazem o delineamento de um primeiro

momento do campo psicomotor, da relação entre o corpo, expressado basicamente no

movimento, e a mente, expressada no desenvolvimento intelectual e emocional do

indivíduo.

Um novo momento acontece quando a visão dualista de corpo e mente deixa de

existir, como cita Meleau-Ponty em seu livro Fenomenologia da percepção, 1971, p.113. Ele

diz que o homem é uma realidade corporal, ele é o corpo, é uma “subjetividade encarnada”.

Para ele é na ação que a espacialidade do corpo se completa e a análise do movimento

próprio deve permitir-nos compreendê-la melhor.

Autores como Ajuriaguera, Defontaine, Fonseca, Le Bouche e La Pierre concordam

quando se diz que o indivíduo não é feito de uma só vez, mas se constrói, paulatinamente

através da interação com o meio e de suas próprias realizações.

Atualmente autores como Vitor da Fonseca, Gislene de Campos, Fátima Alves e

Solange Thiers enfatizam a necessidade da avaliação no processo de desenvolvimento

infantil bem como a preocupação com os primeiros três anos de vida do ser humano, já que

é nesse período onde a maior quantidade de aprendizado acontece.

4 In: (LEVIN,Esteban,2000,p.24) 5 In: (Ibidem,p.25)

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CAPÍTULO II

PSICOMOTRICIDADE

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1. DEFINIÇÃO DE PSICOMOTRICIDADE

Vamos antes de iniciarmos os estudos sobre as funções motoras considerar as

seguintes definições:

É a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.6

“A Psicomotricidade consiste na leitura dinâmica das atividades, dos gestos, das

atitudes e posturas, enquanto sistema expressivo, realizador e representativo do”ser-em-

ação” e da “coexistência” com outrem”.7 CHAZAUD, Jacques.

“... a Psicomotricidade envolve toda a ação realizada pelo indivíduo, que represente

suas necessidades e permitem sua relação com os demais. É a integração psiquismo-

motricidade” 8. Fátima Alves, 2003.

Muitos são os autores e pessoas que ao longo dos anos estudam e buscam uma

definição de psicomotricidade. Mas todos concordam com o fato de que o psiquismo está

diretamente ligado ao movimento, interagindo e influenciando as ações motoras sejam elas

de origem consciente ou não. Mas não só as relações internas influenciam esse

desenvolvimento. Fatores externos como o ambiente e as relações interpessoais produzem

efeitos sobre a formação do ser humano. Essa formação pode variar de acordo com o tipo de

experiências vividas e do modo como aconteceram.

Logo se conclui que ao falarmos de Psicomotricidade certamente falamos desses e de

diversos outros fatores e áreas do desenvolvimento humano que se relacionam e que não

devem ser esquecidos. E essas áreas têm seu processo de desenvolvimento acontecendo

6 http://www.sociedadebrasileiradepsicomotricidade.com.br 7 In: ( ALVES,Fátima,2003,p.15 ). 8 Ibidem

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principalmente nos primeiros anos de vida. São denominadas na Psicomotricidade como

Funções Psicomotoras.

Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de

movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja

ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.

1.1 DEFINIÇÃO DE FUNÇÕES PSICOMOTORAS

“São as funções psicomotoras que, agindo de forma integrada, permitem a atuação

harmônica da criança no mundo”.9

Joanna Miranda, que é consultora da coleção de livros intitulados Gira Mundo

resume a Psicomotricidade em seus conceitos funcionais motores como sendo “... a

integralização motora de um indivíduo em um determinado espaço e tempo, cuja ação e

qualidade podem ser percebidas e mensuradas”10. Sendo assim resta descrever que conceitos

funcionais são esses e exemplos de suas atuações.

“Esquema corporal é a representação que cada um faz de si mesmo e que lhe permite

orientar-se no espaço. Baseada em vários dados sensoriais proprioceptivos e exteroceptivos,

esta representação esquematizada é necessária à vida normal e fica prejudicada por lesões do

lobo parietal.”. (H. Pieron)11

À medida que a criança experimenta várias situações que proporcionam o conhecimento total do seu corpo e de suas partes, permite uma comunicação com o meio, favorece a diferenciação das partes do corpo em relação umas às outras, o domínio do seu corpo, sua percepção motora, sua imagem corporal, enfim, é capaz de desenvolver progressivamente a consciência corporal e criar seu próprio conceito de corpo.12

9 (BORGES,José-Célio,2002,p.42) 10 In: (Coleção Gira Mundo,2003, número 13). 11 (Ibidem,p.47). 12 (Ibidem,p.44).

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I – Esquema corporal

É o conhecimento do corpo.

Habilidade de evocar e localizar as partes do corpo. Exemplo: pedir que localize e

mostre o ombro do colega próximo.

• Proprioceptividade

Capacidade de receber estímulos provenientes dos músculos, tendões, que

possibilitem o maior conhecimento do corpo. Exemplo: sensação de fome, de frio; pedir à

criança que inspire profundamente e que depois de expirar conte que sensação sentiu no seu

corpo.

• Lateralidade

Predominância do uso de todos os órgãos pares. Pode ser direita ou esquerda. Devem

ser observados o pé, a mão e o olho. Exemplo: mão dominante; pedir que a criança pegue

um objeto qualquer. Observar a mão que ela usa. Pé dominante; solicitar que a criança chute

uma bola. Observar qual a lateralidade do pé usado. Olho dominante; solicitar que a criança

lhe em um monóculo ou algo semelhante. Observar o olho dominante.

• Organização e expressão

Interiorização das sensações relativas às partes do corpo e sua exteriorização, através

de linguagem, desenho, mímica, etc. Exemplo: montar um boneco com palitos e botões.

Imitar uma expressão de alegria.

II – Motricidade ampla

Realização de grandes movimentos com todo o corpo, envolvendo as grandes massas

musculares.

• Coordenação dinâmica geral

Movimentos que envolvem todo o corpo ao mesmo tempo. Harmonia nos

deslocamentos. Exemplo: marchar batendo palmas, correr, pular, rolar, girar, saltar, etc.

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• Equilíbrio

Manutenção do corpo em uma mesma posição durante um determinado tempo. Pode

ser estático ou dinâmico. Exemplo: brincadeira de “estátua”, caminhar com apoio apenas

nos calcanhares.

• Freio inibitório

Supressão de movimento no tempo e no espaço preciso. Inicialmente, em

movimentos simples e, só depois, usar em folha de papel. Limites na marcha, na corrida, no

ritmo. Exemplo: a atividade “dança das cadeiras”, o jogo “alerta”, onde as crianças correm e

ao ouvirem um determinado sinal devem parar.

• Relaxação

Diminuição da tensão muscular que leva a criança a sentir-se mais a vontade com seu

corpo. Exemplo: relaxar e ficar com o corpo como se fosse um boneco de pano.

III - Motricidade fina

É a capacidade para realizar movimentos específicos, usando os pequenos grupos de

músculos.

• Lingual

Refere-se ao desenvolvimento dos músculos da língua. É importante para a emissão

de uma pronúncia correta. Exemplo: dobrar a língua para cima, para baixo, encostar nos

dentes. Imitar o barulho da abelha, do trem, do vento, etc.

• Labial

Está relacionado com os movimentos dos músculos dos lábios. É importante para

uma linguagem oral correta. Exemplo: fazer bochechas, fazer bico com os lábios, etc.

• Ocular

Diz respeito a movimentação dos olhos. É muito importante na leitura devido a

progressão esquerda-direita. Exemplo: seguir com o olhar uma bolinha se deslocando em um

fio sem mover a cabeça.

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• Manual-digital

Relaciona-se com a movimentação ordenada da mão e dos dedos. Exemplo:

exercícios de movimentação dos dedos, toques das pontas dos dedos. Recorte, desenho,

pintura, picado, dobradura, modelagem, bordado, etc.

• Pedal

Movimentos específicos dos pés. Exemplo: chutar/conduzir bolas, etc.

IV – Percepção sensorial

Aquisição de conhecimento por meio de impressões sensoriais do mundo exterior e

do próprio corpo.

É fenômeno de captar, distinguir, associar e interpretar as sensações.

• Visual

Trata-se da percepção de objetos, pessoas, formas, cores, tamanhos e espessuras.

Exemplo: dizer a cor ou a forma de alguns objetos apresentados.

• Auditiva

Distinção, através do ouvido, de sons, ruídos, ritmo e tonalidade. Exemplo:

identificar a voz de um coleguinha, ou algo que emita som, mantendo os olhos fechados.

• Olfativa

Identificação através do olfato, de diferentes perfumes, odores e cheiros

característicos. Exemplo: identificar o cheiro de uma fruta com os olhos fechados.

• Gustativa

Verificação, pelo gosto, de diferentes sabores: doce, azedo, amargo, salgado, etc.

Exemplo: de olhos fechados identificar o nome da fruta que está provando.

• Termotátil

Interpretação das sensações táteis ou térmicas relacionadas com formas, tamanhos,

textura, peso, temperatura. Exemplo: de olhos fechados dizer o nome do objeto que está

apalpando.

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V – Percepção Espacial

É a percepção da dimensão relacionada a tudo aquilo que nos cerca.

• Posição espacial

Distinguir do local, no espaço, de algo em relação a um observador. A percepção

deficiente nesse aspecto ocasiona troca na identificação do p pelo q e do b pelo d. Exemplo:

imitar posturas apresentadas pela professora ou por gravuras.

• Relação espacial

Habilidade de observar a posição de um objeto ou de uma pessoa em relação a outra

pessoa ou objeto. É o que permite a criança reconhecer a seqüência das letras nas palavras e

estas na frase. Exemplo: pedir para criança ficar de frente para a um colega e de costas para

os outros.

• Adequação espacial

Capacidade de perceber se um objeto se adapta dentro de determinado espaço

proposto. Exemplo: caminhar entre labirintos formados por objetos ou pessoas sem bater

neles. Vestir um casaco ou uma roupa (de tamanhos variados) e concluir se estes servem ou

não servem.

• Direção

Deslocamento de objetos ou de pessoas em um determinado espaço, em função de

um determinado ponto de referência. Exemplo: rolar uma bola para gente, para direita, para

esquerda, para trás.

• Constância de percepção

Condição de percepção que permite compreender que um objeto possui propriedades

invariáveis. Problemas neste aspecto provocam dificuldades em reconhecer sinais gráficos,

quando apresentados de maneira diferente. Exemplo: montar um círculo para criança,

pedindo para ela apontar, no espaço onde estiverem, outros objetos com a mesma forma.

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VI – Percepção temporal

Compreensão das dimensões do tempo em relação a acontecimentos do passado,

presente e futuro. São relacionados à agora, ontem, hoje, amanhã, antes, depois, noite, dia,

novo, velho etc.

• Seqüência de ações

Habilidade de organizar os fatos de acordo com o momento em que estes forem

acontecendo. Exemplo: jogar uma bola para cima e bater palmas quando a bola tocar o chão.

• Velocidade

Está relacionada com movimentos lentos ou acelerados. Exemplo: rolar duas bolas

ao mesmo tempo, uma bem devagar e a outra bem rápido. Perguntar qual das duas chegará

primeiro.

• Duração

Espaço de tempo gasto para realizar determinada ação. Exemplo: fazer o barulhinho

da abelha, enquanto alguém estiver fazendo um risco no quadro.

• Ritmo

Diz respeito à movimentação própria de cada um. Ritmo lento, moderado, acelerado.

Cadência. Exemplo: bater palmas no ritmo da música ou repetir as batidas dadas por uma

pessoa.

VII – Análise e síntese

Compreensão que um todo pode se decompor em partes (Análise) e ser procedida a

recomposição das partes para formar o todo (Síntese).

• Semelhanças e diferenças

Habilidade de comparar, estabelecendo pontos comuns e diferentes que podem ser

quanto a cor, forma, tamanho, espessura, posição, etc. Exemplo: olhar bem duas gravuras e

descobrir quatro diferenças entre elas.

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• Composição e decomposição

Capacidade de reconstruir ou de separar um todo. Exemplo: armar ou desarmar um

quebra-cabeça. Completar o que esteja faltando em um desenho.

• Reprodução

Capacidade de copiar, de imitar um todo preestabelecido. Exemplo: copiar o desenho

de uma bola ou flor, levando em consideração todos os detalhes que as mesmas apresentam.

VIII – Figura-fundo

Capacidade de destacar, de um conjunto, a figura – que é o foco da atenção – e o

fundo – que funciona como segundo plano.

• Visual

Habilidade de discriminar visualmente um estímulo entre vários. Exemplo: recortar

de revistas figuras de objetos, escolhendo-os por sua utilidade: talheres, roupas e outros que

serão foco da percepção; as figuras e gravuras restantes serão o fundo.

• Auditiva

Capacidade de discriminar, através da audição, um som entre vários. Exemplo: entre

três batidas dadas (respectivamente um tambor, um lápis e uma colher) a criança , com os

olhos vendados, deve ser capaz de dizer qual foi o som que ouviu primeiro.

• Tátil

Habilidade de discriminar, através do tato, um objeto, uma textura, espessura, peso

ou temperatura, entre vários. Exemplo: de olhos vendados, a criança deve retirar de um

saquinho com vários objetos apenas aqueles que lhe forem solicitados.

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PERCEPÇÃO

SENSORIAL • Visual • Auditiva • Olfativa • Gustativa • Termo-Tátil

ESPACIAL

• Posição espacial • Relação espacial • Adequação espacial • Direção • Constância de

percepção

TEMPORAL

• Noções básicas• Seqüência de

ação • Velocidade • Duração • Ritmo

ANÁLISE-SÍNTESE • Semelhança • Diferença • Composição • Recomposição • Reprodução

FIGURA-FUNDO

• Visual • Auditiva • Tátil

ESQUEMA CORPORAL

• Conhecimento do corpo • Proprioceptividade • Lateralidade • Organização e expressão

MOTRICIDADE

AMPLA

• Coordenação dinâmica geral • Equilíbrio • Freio inibitório • Relaxação

FINA

• Lingual • Labial • Ocular • Manual – digital • Pedal

PSICOMOTRICIDADE

FUNÇÕES PSICOMOTORAS

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CAPÍTULO III

DESENVOLVIMENTO HUMANO

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3. Padrões de crescimento físico: idade cronológica e idade biológica

O desenvolvimento do ser humano é caracterizado por seqüência fixa de mudanças

em sua morfologia e na funcionalidade de seu organismo. Essas mudanças ocorrem em

velocidades diferentes entre os indivíduos, não devemos com isso usar apenas a idade

cronológica como referência para o desenvolvimento humano, mas também a idade

biológica.

A maturidade tem vários critérios propostos para sua determinação. Os mais aceitos

são os que adotam critérios morfológicos, já que são de mais fácil mensuração e objetivos.

Entre eles temos idade óssea, verificado por meio de radiografias tiradas dos punhos,

dentição e estágio pubertário. É bem verdade que esses parâmetros são antes uma

conseqüência do desenvolvimento funcional do organismo do que sua verdadeira expressão.

O crescimento físico não é linear em todas as idades. Ele varia de acordo com o

período do desenvolvimento humano.

3.1 Desenvolvimento fisiológico e atividades motoras

O aumento das dimensões corporais não significa aumento nas valências físicas ou

performances motoras ao longo do crescimento e desenvolvimento em qualquer ser humano.

Faz-se necessário que estudemos o processo de desenvolvimento de um indivíduo e o

entendamos para uma conclusão sobre a elaboração da abordagem e métodos empregados

no processo formativo.

As crianças possuem características no seu processo evolutivo, nos primeiros anos de

vida, que diferem do desenvolvimento em outras faixas etárias. Veremos como ocorrem

alguns desses processos.

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Desenvolvimento do sistema nervoso – Modificações comportamentais e fisiológicas

são características do desenvolvimento do sistema nervoso central. Por ser um sistema muito

complexo a metodologia de pesquisa sofre muitas dificuldades no seu processo.

Sabe-se que o sistema nervoso atinge dimensões adultas muito antes de todos os

outros sistemas. O número de células nervosas iguala-se ao dos adultos já no período entre a

20ª e a 24ª semanas de vida intra-uterina. O desenvolvimento subseqüente acontece ao nível

de aumento e complexidade da rede neuronal e aumento das superfícies sinápticas e da

mielinização.

O desenvolvimento do sistema nervoso ocorre no sentido crânio-caudal, ou seja, da

cabeça para o final da coluna vertebral. No período pré-natal o desenvolvimento inicial se dá

dos nervos espinhais seguido dos nervos do tronco cerebral. Nos seis primeiros meses pós-

natal se completa o desenvolvimento cerebral e até o fim dos primeiros doze meses o do

cerebelo. Contudo, não antes dos quarenta e oito meses a conexão entre cérebro e cerebelo

se concluirá, pois é quando a criança é capaz de realizar adequadamente a coordenação de

movimentos voluntários. No córtex cerebral verificamos o desenvolvimento de dois modos:

entre as áreas do córtex e dentro de cada uma dessas áreas.

A primeira área cortical a atingir a maturação é a motora, seguida pela somestésica,

visual e a auditiva e vestibular. Independente da área, o desenvolvimento maturacional se dá

progressivamente nas áreas primárias passando seguidamente para as secundárias e

terciárias. Todo esse processo parece completar-se até os vinte e quatro meses de vida, com

exceção do córtex frontal que aparenta manter-se aumentando até os sete ou oito anos de

idade. Por exemplo, se, numa criança, as zonas primárias não se desenvolvem

convenientemente, as zonas secundárias e terciárias podem se tornar comprometidas.

Também é oportuno considerar as influências ambientais sobre o desenvolvimento

cerebral. De um modo geral, é aceito que estas influências são mais significativas sobre as

estruturas que estão em franco desenvolvimento. Nenhum efeito benéfico parece ser obtido

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se as estimulações não ocorrem durante o período de desenvolvimento máximo, também

chamado de período crítico.

O desenvolvimento das capacidades perceptivo-motoras e das capacidades físicas,

em grau adequado para a performance motora, depende além da maturação, da estimulação.

Assim para essas crianças devemos enfatizar o desenvolvimento de habilidades e

capacidades perceptivo-motoras. Pode-se dizer que a atividade deve ser ajustada à criança e

não a criança à atividade.

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CAPÍTULO IV

DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE

DE ZERO A TRÊS ANOS

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4. Uma abordagem consciente

Quando falamos de desenvolvimento infantil estamos falando de seres que estão em

pleno desenvolvimento da personalidade e do corpo físico, da afetividade e do

comportamento motor, da inteligência e da psicomotricidade. A quem trabalha com crianças

não importará tanto o funcionamento desses processos quando estes já se encontrarem

plenamente desenvolvidos, ou seja, na idade adulta ou na velhice com exceção da

psicomotricidade, que deve ser trabalhada em todas as fases da vida, mas aquelas mudanças

que irão ocorrer do nascimento até os seis anos.

A atividade na primeira infância deve ser com enfoque educativo e formativo,

estrutural e interdisciplinar. O profissional que deseja atuar nessa área tem de estar

consciente que seu trabalho deve ser multidisciplinar, integrado a disciplinas como

Psicologia do Desenvolvimento, Psicomotricidade, Pedagogia, Teorias da Aprendizagem

etc., buscando com essa integração extrair as diretrizes que formarão a consciência de quem

trabalha com crianças, que sabe como e porquê da aplicação de determinadas técnicas e o

seu momento oportuno de aplicação, não permitindo assim que o processo ensino-

aprendizagem fique reduzido à mera reprodução de atividades lidas ou vistas em vídeos ou

livros.

4.1 Aspectos do desenvolvimento infantil

A evolução do ser humano é marcada de mudanças na sua estrutura afetiva,

intelectual, motora e afetiva. Tais mudanças são claramente percebidas com as trocas de

tamanho que o corpo sofre, a mudança na textura dos tecidos, alterações dos traços

fisiológicos. As mudanças e o ritmo em que acontecem são absolutamente individuais. A

maturação física e mental ocorre em crianças de mesma idade cronológica de acordo com

suas características biológicas; o histórico familiar de um indivíduo diz muito a respeito de

seu desenvolvimento. Portanto não devemos esperar que crianças se desenvolvam ao mesmo

tempo alcançando as habilidades tão esperadas pelos pais e professores como se fossem um

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único ser. O profissional deve ter a consciência de que isso acontece e ser capaz de explicar

aos pais essa característica do desenvolvimento humano.

Sob esse aspecto do conhecimento evolutivo da criança na primeira infância

podemos citar que os objetivos deverão ser:

a) Favorecer o crescimento e desenvolvimento integral da criança com a

promoção de condições fisiológicas, educativas e recreativas;

b) Fornecer os instrumentos básicos para a estimulação dos processos de

maturação e de aprendizagem nos aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor;

c) Auxiliar a criança e ajudá-la a desenvolver seu espírito de curiosidade para

iniciá-la no processo de compreensão e interpretação do mundo.

4.2 O desenvolvimento da motricidade

Quando falamos do desenvolvimento da motricidade é importante distinguir duas

classes de habilidades: as específicas e as filogenéticas.

As habilidades motoras específicas (HME) são aquelas cujo desenvolvimento

depende da aprendizagem. Aprendizagem refere-se às mudanças no comportamento que

resultam das experiências vividas pelas crianças As habilidades motoras filogenéticas

(HMF) são aquelas cujo desenvolvimento depende principalmente da maturação. Maturação

refere-se às mudanças do desenvolvimento que ocorrem espontaneamente nos indivíduos

normais, desde que o ambiente lhe possibilite amadurecer.

A criança não nasce com a capacidade de saber fazer, mas com condições para poder

fazer; nasce com o potencial para aprender a fazer. Na psicomotricidade o processo

pedagógico depende muito da empatia entre orientador e aluno. O processo de aprendizagem

é favorecido quando o orientador tem amplo domínio do conteúdo a ser transmitido e o

aluno que o recebe tem vontade de receber esse ensinamento. Isto é, para uma criança

desenvolver suas habilidades, o desenvolvimento das habilidades requeridas para este fim,

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dependerão em grande parte do quanto ela deseja e pode praticar, de suas condições

orgânico-funcionais, como do quão efetivo é o professor no ensino desta habilidade. A

habilidade motora que esta mesma criança desenvolve, é uma habilidade específica cuja

aquisição depende da aprendizagem e principalmente da prática.

4.3 Considerações sobre o desenvolvimento da motricidade

O desenvolvimento da motricidade sugere uma perfeita integração entre os processos

evolutivos e o da aquisição pelas experiências vividas. Crescimento, maturação neurológica

e oportunidades de experiência são os componentes vitais para a qualidade de aprendizagem

na infância. Esse desenvolvimento é sempre um misto, embora em graus

extraordinariamente variável, que depende de uma série de fatores, de fatores instintivos

(transmitidos por herança genética) e de fatores adquiridos pela experiência individual

(adquiridos por aprendizagem).

Evolução é o conjunto de processos de desenvolvimento que dependem

essencialmente das condições herdadas e inatas. Aprendizagem é a aquisição e o

aperfeiçoamento de condutas e de conhecimentos, graças às experiências vividas.

Os fatores que atuam na aprendizagem estão ligados ao meio e às condições do

ambiente em que vivemos e nos desenvolvemos. Já os atos instintivos não precisarão de

aprendizagem para serem executados, embora a repetição e o uso os aperfeiçoem. A conduta

instintiva depende, exclusivamente, de fatores herdados.

Concluímos assim que todas as nossas ações são interação entre o nato e o inato.

Esse processo evolutivo não cessa enquanto não morremos, querendo dizer com isso que é

um processo contínuo onde idade, raça, cor ou sexo em nada vão impedir que este processo

aconteça.

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4.4 Características do desenvolvimento da motricidade

O desenvolvimento da motricidade é caracterizado por três padrões de organização:

ação de massa para ação específica, organização cefalocaudal e organização proximodistal.

• Ação de massa para ação específica

Os movimentos da criança utilizam somente os grandes músculos do corpo e

envolvem o corpo todo ao invés de partes específicas. A criança nunca mexe isoladamente

um membro. Toda vez que ela mexe um braço o outro e suas pernas se movem junto.

Com o passar do tempo e com as generalizações das experiências a que o ambiente

submete à criança, as ações motoras se tornam mais específicas, isto é, são utilizados

conjuntos menores de músculos para empreender uma ação. È quando a criança consegue

mexer um braço se que mexa outras partes.

Estas mudanças em uso dos músculos e a atividade motora representam a

transposição da ação de massa para ação específica.

• Organização cefalocaudal

Este termo refere-se ao fato de que o desenvolvimento dos músculos começa com os

que estão mais próximos da cabeça e prosseguem para os membros inferiores, ou seja, o

desenvolvimento do bebê começa pela cabeça (céfalo) e progride em sentido descendente

para as pernas (cauda-caudal). Desta forma, o bebê pode, por exemplo, (e o faz!) coordenar

sua cabeça antes de poder coordenar as pernas.

• Organização proximodistal

O desenvolvimento da coordenação motora começa com os músculos mais próximos

do tronco e prosseguem para as extremidades do corpo. Este padrão é exemplificado pela

capacidade inicial das crianças de coordenar seus braços a partir dos ombros e sua

capacidade, adquirida posteriormente, de manipular os punhos e os dedos. Este padrão de

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desenvolvimento é chamado de próximo (mais perto do centro do corpo) distal (mais

distante do centro do corpo).

4.4.1.Motricidade ampla e motricidade fina

Uma descrição de forma sinóptica das atividades motoras amplas praticadas pela

criança no transcorrer de sua primeira infância parece uma forma pertinente de exemplificar

a evolução que ocorre nesta fase:

• Desde os primeiros dias a criança insiste em levantar e sustentar a cabeça. Esta

“atividade” lhe fortalece a musculatura do pescoço, das costas e dos membros superiores. A

conquista em conseguir manter por meios próprios, a cabeça em posição ereta, é o passo

fundamental para todas as destrezas posteriores.

• Após sustentar sua cabeça, se apoiará sobre os antebraços e começará a deslocar-se

sobre o abdômen para frente e para trás (rastejar). Em seguida, começará a se apoiar sobre

os joelhos e a balançar-se sobre as mãos e os joelhos (posição de “gatas” – quatro apoios).

Surgirá um engatinhar (quadrupedar) descoordenado, a partir do qual sentar-se-á

flexionando o tronco sobre o quadril com rotação deste último. Iniciar-se-á então, um

engatinhar cruzado (quadrupedia com alternância e oposição de braços e pernas), cada vez

mais rápido, até que se realize com desprendimento.

• A criança começa a ficar de pé agarrada nos móveis e a ensaiar, de forma

autônoma, seus primeiros passos, apoiando-se nestes mesmos objetos. Se capaz de repetir

esta mesma ação apoiando-se num adulto por apenas uma das mãos, até total independência

ao caminhar. Sucessivamente, vai adquirindo habilidades como saltitar, saltar, subir e descer

escadas, trepar, agachar-se, já que na medida em que se desenvolvem suas capacidades

motoras, estas também se tornam enriquecidas.

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As atividades que se relacionam à motricidade fina se estruturam nos primeiros

meses de vida com base nos reflexos simples e/ou arcaicos que existem no recém-nascido;

considerando que este último não tenha sido, ainda, submetido a outras experiências

ambientais. Por exemplo:

• O simples reflexo de sucção que aparece frente ao estímulo do mamilo, é

transformado posteriormente por uma busca tátil ativa que substitui uma atitude

passiva.

• Os movimentos da mão, por exemplo, se transformam em pontos de atenção para

olhar; um objeto se transforma em algo para ver, alcançar e, logo, manipular. Pouco

a pouco a criança vai constituindo um campo espacial a medida que o ato de olhar se

coordena com o agarrar e o succionar.

Desta forma, no transcurso do seu desenvolvimento a criança vai assimilando e

ajustando-se às experiências ambientais que se inter-relacionam – no caso específico, com a

aquisição das etapas que envolvem a sua motricidade fina. Assim sendo, a aquisição de uma

destreza serve como ponto de partida para a seguinte. Esta situação permite a criança passar

do movimento simples de mãos e dedos, à manipulação de objetos, até atingir uma etapa

mais avançada que envolvesse, por exemplo, o recorte de figuras ou a cópia de silhuetas

(coordenação óculo-manual). E estas habilidades influenciarão mais tarde no aprendizado da

escrita, a forma e a posição como serão pegos lápis ou canetas, o aprendizado da digitação

de textos, a prática de jogos como ping-pong ou o simples enfiar de linha em uma agulha.

4.5 Comportamentos considerados mais significativos no transcorrer da

primeira infância

“Extraídos de Marinho (1978), Lira (1978), UNICEF-PRO-CEP (1980) e Cirigliano

(1981)”13, serão apresentados a seguir, no intuito de proporcionar uma visão mais ampla do

13 In: (Damasceno,Graffius-Leonardo,1994,p.14-19)

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desenvolvimento infantil, comportamentos considerados esperados de acordo com a idade

cronológica. Apesar disso deve-se considerar as diferenças individuais de cada criança, pois

nem sempre todas elas obedecem ao mesmo ritmo de desenvolvimento. Encontramos

crianças mais rápidas, crianças mais lentas; isso quer dizer que as fases do desenvolvimento

nem sempre obedecem a uma regra pré-definida.

• 1 mês

- percebe o calor e o frio

- percebe ruídos fortes

- segura fortemente um brinquedo e depois o solta

- movimentos sem controle ( a cabeça pende quando sentada )

- em posição de decúbito ventral, levanta de vez em quando a cabeça

- emite alguns sons

• 2 meses

- pode levar as mãos à boca

- consegue controlar um pouco melhor a cabeça

- pode seguir objetos com olhos e fixá-los

- começa a perceber o ambiente

- segura um objeto por pouco tempo

• 3 meses

- brinca com as mãos

- quando tenta pegar um objeto com as mãos , todo o corpo se movimenta

- olha em todas as direções (não fixa a atenção nos objetos por muito tempo)

- começa a ter controle dos braços e pernas

- quando leva a mão a boca, faz isso sem desviar

- quando está deitada em decúbito dorsal, levanta pernas e braços

- emite sons em resposta a um estímulo

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• 4 meses

- tendência em levar objetos à boca

- tendência para rolar

- é capaz de juntar as mãos (brinca com as mãos)

- é capaz de sentar com ajuda

- começa a ter controle da cabeça

- pode passar um objeto de uma das mãos para outra

- gosta de mudar de posição

- a criança já começa a se “comunicar” (solta pequenos gritos ou faz ruídos para

chamar atenção de alguém ou mostrar satisfação)

- começa a perceber detalhes

- começa a notar mudança de ambiente e da pessoa que a cuida

- sorri quando tem vontade

• 5 meses

- é capaz de rolar

- alineação cefalocorporal

- atividade unimanual (dirige ima das mãos a um determinado estímulo, com

segurança)

- senta com apoio por pouco tempo

- começa a brincar de “esconde-esconde”

- é capaz de segurar objetos

- sorri quando se vê no espelho

- nota a presença de pessoas

- maior atividade física

- flexiona voluntariamente os braços

• 6 meses

- senta com apoio por alguns minutos

- consegue trazer um objeto para sí

- segura melhor os objetos, um em cada mão

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- batem os objetos na mesa ou no chão

- gosta de levar objetos à boca

- gosta de cores e objetos brilhantes

- começa a estranhar as pessoas

- reconhece o adulto que passa mais tempo com ela

• 7 meses

- levanta o tronco quando alguém lhe oferece a mão

- demonstra indícios à engatinhar

- pode ficar sozinha sem apoio

- é capaz de bater um objeto contra o outro

- mantém-se em pé por alguns instantes segurando-se em um objeto (móvel) ou

com apoio

- quando deitada em decúbito dorsal, brinca com os pés

- emite sons : da-da, ta-ta etc.

- joga (atira) brinquedos para vê-los e ouvi-los cair

- gosta de sons diferentes

- gosta de estar perto de outras crianças

- gosta de brincar com a água do banho

- senta sem apoio das mãos. Estas ficam livres para fazer e explorar

• 8 meses

- maior atividade física

- começa a agir de maneira pré-determinada: sabe qual brinquedo quer pegar

- começa a compreender algumas coisas que lhe dizem

- gosta que as pessoas falem com ela

- gosta de explorar o ambiente e as pessoas (explorar com as mãos e olhos)

- manifesta amor, carinho

- ainda não fica em pé sozinha

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• 9 meses

- utiliza o polegar e o indicador para pegar as coisas com maior freqüência

- pode engatinhar

- desloca-se utilizando a marcha de urso

• 10 meses

- já pode ficar em pé sozinha mas não anda

- gosta de imitar movimentos, ruídos e sons

- começa a fazer rabiscos imitativos

- é capaz de colocar coisas (objetos-brinquedos) em uma vasilha e tirá-las

- é capaz de segurar o copo no qual está bebendo

- troca de decúbito com habilidade

- senta-se a partir da posição de decúbito dorsal

- da posição de decúbito ventral passa para posição ajoelhada, com apoio

(móveis ou objetos)

- deslocamentos progressivamente mais extensos e autônomos

- arremessa objetos sobre a cabeça sem direção

• 11 meses

- começa a andar com ajuda de outras pessoas

- começa a compreender perguntas simples

- gosta de brincar com recipientes com tampa

- gosta de música e de dançar

- pode ser capaz de notar sons, vozes e pessoas estranhas

• 12 a 14 meses

- predomínio da córtex sobre as funções subcorticais

- marcha independente

- sobe e desce escadas com ajuda

- é capaz de devolver uma bola, rebatendo, quando está é rolada no chão perto de

si

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- gosta de puxar e empurrar objetos (cadeiras, brinquedos etc.)

- gosta de ficar perto de outras crianças, mas não se deve esperar que saiba

brincar com elas

- pega e joga objetos

- quando cai, levanta-se sozinha

- compreende e atende a ordens verbais simples

- gosta de brincar com água

- quando um adulto fala “não”, esta palavra não tem muito efeito

• 15 a 17 meses

- gosta de andar (marcha progressivamente mais ajustada)

- pega e joga objetos

- tira e coloca objetos em recipientes

- começa a brincar com genitais

- coopera para vestir-se (extende braços e pernas)

- tem linguagem própria

- tenta dançar ritmadamente

- mãos: pressão mais ativa e segura, entrega coisas

- puxa brinquedos por uma corda

- tenta chutar uma bola

- trepa sobre objetos baixos

- gesticula para pedir o que deseja

• 18 meses

- distingue “eu” de “você”

- notável aumento da capacidade locomotora

- é capaz de segurar um lápis e riscar uma folha de papel

- nomeia alguns brinquedos

- demonstra ações de tirar, arrastar, empurrar, bater, trepar e arremessar

- lança com ambas as mãos uma bola, da posição abaixada, sem direção

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- gosta de brincar com água, areia , terra, barro etc.

- brinca lado a lado e não com outras crianças

- procura a lua ou o avião no céu

• Até 21 meses

- consegue agarrar uma bola que lhe seja arremessada com precisão e sem

violência, de frente para esta

- dança, canta, imita e nomeia

- brinca sozinha por mais tempo e com maior freqüência

- sob em lugares de onde não consegue descer, sem ajuda

- quando se encontra em “dificuldades”, entra em pequenos acessos de gênio,

demorando a sair deste, mesmo se atendida de forma imediata

- tenta segurar coisas mais pesadas e em maior número do que aquela quantidade

que normalmente conseguiria sustentar. Nestes casos, pede ajuda

- sabe soprar

- diferencia engolir de cuspir

- trepa e desce ventralmente

• Até 24 meses

- sua motricidade manual se aperfeiçoa

- caminha e corre, inclinando ligeiramente o corpo para frente

- arremessa com direção, sobre a cabeça, pequenos objetos

- aumento do interesse e tempo de observação de outras pessoas

- sobe escadas com passos alternados

- consegue tirar algumas roupas

- canta

- diferencia soprar de inspirar

- tenta se equilibrar sobre objetos baixos e pequenos

• Até 36 meses

- corre com rapidez

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- ensaia novas combinações de formas básicas de movimentos

- chuta uma bola no ar (antes que esta toque o solo novamente, após um quique)

- é capaz de saltar sobre obstáculos.

4.6 COMPARAÇÕES ENTRE AS HABILIDADES REFLEXAS E AS

HABILIDADES ADQUIRIDAS

As habilidades reflexas ou atos reflexos são pertencentes a todos as pessoas desde

seu nascimento e sofrem evolução ou “esquecimento” de acordo com as características

maturacionais de cada um destes. As habilidades adquiridas são desenvolvidas com a

vivência de experiência durante o processo evolutivo.

O desenvolvimento de atividades específicas que respeitem o momento presente do

processo maturacional físico e psicológico são de extrema importância para que uma

adequada aquisição de habilidades aconteça de forma satisfatória.

O quadro a seguir foi elaborado com o intuito de facilitar a comparação entre as

principais atividades do recém nascido e as atividades ao se completar o desenvolvimento da

motricidade.

Principais atividades

do recém nascido

Ao se completar o

desenvolvimento da motricidade

Reflexos Atividades escolhidas, executadas e

controladas pela nossa vontade.

Movimentos voluntários

Inatas

Sempre adquiridas por aprendizagem

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Constituídas por um pequeno

número de movimentos

mais ou menos estereotipados

Constituídas por um grande número

de padrões de movimentos que se

combinam numa longa cadeia de ações,

uns servindo de meio e outras servindo

para satisfazer o objetivo final

Não–adaptadas a fins

determinados

Adaptadas totalmente para

satisfazerem os nossos desejos ou

necessidades

Executadas sempre por

movimentos em massa

Executadas pela combinação de

movimentos seletivos e diversificados

dos diferentes seguimentos do nosso

corpo

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CONCLUSÃO

Verificamos ao longo da pesquisa que o desenvolvimento das funções psicomotoras

nos primeiros três anos de vida do ser humano tem fundamental importância para que a

formação plena do indivíduo aconteça.

Que o movimento é a base para o desenvolvimento nos fica claro já no momento da

fecundação, quando observamos a nidação do espermatozóide para encontrar o óvulo. Mas

não basta o movimento pelo movimento, não basta que a pessoa nasça com todas as

estruturas fisiológicas bem formadas, pois sem a oportunidade de experimentações e

vivências motoras está provado que estas estruturas não terão o desenvolvimento esperado.

Por isso devemos nos conscientizar e fazê-lo também com todos que trabalham com

crianças, pois disto pode depender um futuro equilibrado e independente para pessoas que,

quando crianças, são incapazes de saber e agir sobre si mesmos para um desenvolvimento

psicomotor pleno.

Cabe aos profissionais e pesquisadores das diversas áreas ligadas à saúde e a

educação trabalharem em conjunto para auxiliarem outras pessoas a alcançar a alegria da

aquisição das capacidades e habilidades que nos aguardam para serem desenvolvidas.

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45

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – ESTUDANDO O MOVIMENTO 9

1. Breve Histórico 10

CAPÍTULO II – PSICOMOTRICIDADE 14

2. Definição de Psicomotricidade 15

2.1. Definição de Funções Psicomotoras 16

CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO HUMANO 19

3. Padrões de crescimento físico: idade cronológica x idade biológica 20

3.1. Desenvolvimento fisiológico e atividades motoras 23

CAPÍTULO IV – DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE DE ZERO

A TRÊS ANOS

33

4. Uma abordagem consciente 34

4.1. Aspectos do desenvolvimento infantil 35

4.2. O desenvolvimento da motricidade 36

4.3. Considerações sobre o desenvolvimento da motricidade 37

4.4. Características do desenvolvimento da motricidade 40

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 43

ÍNDICE 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

Page 46: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … ENEAS NUNES.pdf · graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade. Por: Nezio Eneas Nunes. 3 AGRADECIMENTOS A meus pais, que dentro

46

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AS FUNÇÕES PSICOMOTORAS

Por: Nezio Eneas Nunes

Entregue em: março de 2004.

Avaliado por: Fabiane Muniz Conceito: --------------

Conceito final: --------------------------------------------------------------------------------------