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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE SISTEMA DE COTAS PARA NEGROS NAS UNIVERSIDADES Projeto de pesquisa apre- sentado ao professor Nel- som Jose Veiga Magalhães. RENATO DOS SANTOS DA COSTA RIO DE JANEIRO CAMPUS CENTRO 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

SISTEMA DE COTAS PARA NEGROS NAS

UNIVERSIDADES

Projeto de pesquisa apre-

sentado ao professor Nel-

som Jose Veiga Magalhães.

RENATO DOS SANTOS DA COSTA

RIO DE JANEIRO

CAMPUS CENTRO

2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

SISTEMA DE COTAS PARA NEGROS NAS

UNIVERSIDADES

RENATO DOS SANTOS DA COSTA

Monografia apresentada ao

curso de Docência do En-

sino Superior que visa

discorrer sobre ações a-

firmativas.

RIO DE JANEIRO

CAMPUS CENTRO

2004

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AGRADECIMENTOS

A meus familiares que por

muitas vezes deixaram de

ter para oferecer, possi-

bilitando o meu crescer e

a meus amigos que direta-

mente ou indiretamente

contribuíram para a rea-

lização deste trabalho

acadêmico.

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DEDICATÓRIA

Dedico este projeto a mi-

nha avó e tia avó que du-

rante anos investiram em

minha formação, a meu

primo Wilson Carvalho e a

minha noiva Dra. Taís

Cristina pelo constante

apoio e incentivo.

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Não estamos aqui para so-

breviver e sim para ex-

plorar a oportunidade de

vencer adquirindo o sa-

ber.

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RESUMO

A sociedade brasileira vive hoje uma grande crise de

consciência social reflexa de nossa história que permeou

injustiças entre relações raciais.

Conquistamos uma “pseudo” igualdade racial, pois não

foram oferecidos meios iguais para que as raças tivessem

crescimentos homogêneos. Embora, tenhamos à muito con-

quistado normas materiais (leis) que garantissem a isono-

mia nacional, como as previstas no art. 3 inciso IV de

nossa Constituição Federal, permanecemos com diversas

barreiras de acesso a riqueza que podem ser facilmente

percebidas quando nos deparamos com a pobreza nas ruas ou

refletimos sobre a existência de negros na elite brasi-

leira, juízes, médicos ou engenheiros... Será uma fatali-

dade? Incapacidade? Ou os mesmos estão sendo levados a

seguirem caminhos diferentes pela carência de algo que

deveria ser comum a todos (educação)?

“... a elite era uma ilha de le-

trados num mar de analfabetos.”

(José Murilo de Carvalho)

Ao nos conscientizarmos do problema em questão, o que

fazer? Corrigi-lo! Da forma mais fácil e Rápida sendo ca-

paz de gerar novas mazelas sociais?

Tal tema, imerso de polêmicas morais, jurídicas, e

anseios, nos leva a pesquisar a finalidade perseguida e

ponderar o tratamento desigual para os desiguais com ra-

zoabilidade a fim de oferecer igualdade absoluta, sempre

em conformidade com o bem estar do homem e as noções de

validade jurídica.

Precisamos quebrar o grande paradigma de se resolver

problemas através da criação de outros novos problemas.

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Reflita de acordo com a estória a seguir, escrita em

uma realidade colonial anos e anos atrás:

“ – Ouvi dizer que de Europa vol-

taste feito doutor?!

- Parece-te isso impossível?!

É verdade sim senhor!

- E por que academia? E qual ci-

ência então?

- Isso não sei: o diploma é es-

crito em Alemão.”

(Gregório de Matos)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................... 9

CAPITULO 1 – ETNIA.................................. 10

1.1 ETNIA BRASILEIRA................................ 10

1.2 GRUPOS DE NEGROS TRAZIDOS PARA O BRASIL......... 12

1.3 COLABORAÇÃO DOS NEGROS NA FORMAÇÃO CULTURAL DO POVO

BRASILEIRO.......................................... 12

1.4 A GÊNESE DO ABOLICIONISMO....................... 13

1.5 SITUAÇÃO DO NEGRO NO BRASIL APÓS ABOLIÇÃO....... 13

1.6 O NEGRO NOS EUA................................. 16

CAPITULO 2 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL................... 19

2.1 EVOLUÇÃO........................................ 19

2.2 PRINCÍPIO DA ISONOMIA........................... 21

2.3 IGUALDADE, DESIGUALDADE E JUSTIÇA............... 22

2.4 ISONOMIA FORMAL E MATERIAL...................... 26

2.5 IGUALDADE “SEM DISTINÇÃO DE ORIGEM, COR OU RAÇA”..

.................................................... 28

2.6 PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE...................... 29

CAPITULO 3 – DA EDUCAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL... 31

CAPITULO 4 – DAS AÇÕES AFIRMATIVAS.................. 40

4.1 EVOLUÇÃO NO DIREITO COMPARADO NO BRASIL......... 40

4.2 SISTEMA DE COTAS NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA..... 42

4.3 COMPARAÇÃO ENTRE O MODELO BRASILEIRO E O AMERICANO

.................................................... 46

4.4 VANTAGENS E DESVANTAGENS........................ 47

CONCLUSÃO........................................... 52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................... 54

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INTRODUÇÃO

A Constituição Federal tem como objetivo fundamental

promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, ra-

ça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discri-

minação.

Com base nesses preceitos constitucionais, de obser-

vância obrigatória o governo brasileiro vem tentando me-

lhorar a condição social de sua população e principalmen-

te a dos hiposuficientes. Para tanto, vem empregando po-

líticas voltadas a reduzir estas desigualdades.

Muito se discute atualmente acerca de medidas legis-

lativas e administrativas, as chamadas de “ações afirma-

tivas”, que estipulam “sistema de cotas para negros”. São

vagas reservadas para acesso as universidades, vagas para

acesso a cargos públicos, tudo em nome da histórica dívi-

da que o Estado brasileiro e a sociedade tem para os A-

frodescendentes.

Esse tema, extremamente atual e discutido, está imer-

so em polêmicas que exaltam e dividem as opiniões. Carre-

ga questões morais, preconceitos e anseios por justiça

social.

Discute-se a validade jurídica atinente ao sentido do

Princípio Constitucional da igualdade, bem como a exis-

tência de fatores determinantes que afastem o negro do

Ensino Superior.

O Entrave se dá na confrontação das noções de igual-

dade e privilégio, da validade e da negativa quanto ao

sistema de cotas, que ambas as correntes fundamentam so-

bre o mesmo argumento, qual seja a observação do Princí-

pio da Isonomia.

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CAPÍTULO 1 – ETNIA

1.1 A etnia brasileira

No Brasil há fundamentalmente, três grandes grupos

étnicos que contribuíram para a formação do povo brasi-

leiro, num longo e lento processo: o branco, o negro e o

índio. Destes originaram-se os mestiços, como resultado

da miscigenação (cruzamento entre raças): O Mulato: mes-

tiço de branco com negro; O Mameluco (caboclo): mestiço

de branco com índio; O Cafuso: mestiço de negro com ín-

dio.

Outros grupos étnicos, em menor escala, também con-

tribuíram na formação do povo brasileiro. No Segundo Rei-

nado, a população brasileira já se compunha em sua grande

maioria por negros, após terem aqui desembarcados 3 mi-

lhões de escravos. O governo com o intuito de “ branque-

ar” esta população, facilitou a imigração e a fixação no

território brasileiro, de novos grupos étnicos vindo de

diversos paises da Europa.

Já no inicio do século XX, foi a vez dos imigrantes

japoneses se fixarem no Brasil.

O elemento branco: Desde o descobrimento do Brasil,

na segunda metade do século XVI, ate meados do século

XIX, o principal elemento branco foi o português, consi-

derado como o mais qualificado para colonizar uma região

como o Brasil, devido a sua facilidade de miscigenação e

aclimatação a regiões tropicais.

O elemento índio: Os portugueses quando chegaram ao

Brasil, encontraram um vasto território ocupado por ín-

dios que aqui já viviam muito antes da sua chegada. For-

mavam varias tribos com costumes e linguagem diferentes,

e de uma cultura em estagio muito primitivo. Sua organi-

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zação social e política era extremamente simples. Viviam

da caça, da pesca e da pratica de uma rudimentar agricul-

tura.

Os colonos brancos, de inicio, necessitando de braços

para os trabalhos agrícolas tentaram escravizar estes ín-

dios. A escravização, entretanto, não teve êxito por que

os mesmos não estavam habituados aos trabalhos forçados,

pois sempre foram homens livres e selvagens. Quando cap-

turados, fugiam constantemente para o meio da mata onde

muitas vezes não eram mais reencontrados.

Ao longo dos anos, muitos colonos brancos, e índios,

morreram em constantes combates. Outro fator foi a oposi-

ção dos jesuítas em escraviza-los.

O elemento negro: Para substituir o índio como mão-

de-obra escrava, e atenderem as necessidades nas ativida-

des econômicas e domesticas, voltaram-se, pois,os colonos

para o negro africano. Conhecedores do trabalho agrícola,

uso dos metais e o pastoreio, eram trocados facilmente,

através do escambo, por bugigangas de vidro, facões, fumo

e cachaça.

Eram trazidos para o Brasil em navios negreiro (tum-

beiros), sendo que a cada três que embarcavam na África,

apenas um chegava vivo. Estes eram desembarcados princi-

palmente nas províncias de Salvador, Recife e Rio de Ja-

neiro.

Com o desenvolvimento da Colônia, o trafico negreiro

tornou-se uma atividade altamente lucrativa, aos interes-

ses da Coroa ( fonte de renda para o tesouro Real).

Os primeiros africanos teriam entrado no Brasil com a

expedição de Martim Afonso de Souza no fim do século XVI,

mas a entrada de escravos em grande quantidade somente

teria começado com o desenvolvimento da lavoura canaviei-

ra no século XVII.

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Esperava-se sempre civilizar o negro pelo trabalho,

poder tê-lo com um animal domesticado. Assim não sendo,

atribuiu-se ao negro os atributos do vicio, da brutalida-

de, da selvageria.

1.2 – Grupos de negros trazidos para o Brasil

Os principais eram: Sudaneses : oriundos da Nigéria,

Daomei, Costa do Ouro ( Iorubas, Geges, Fantiashantis),

vieram principalmente para a Bahia; Bantos: divididos em

dois grupos: Angola-Condoles e Moçambiques, vieram prin-

cipalmente, para Pernambuco e o Rio de Janeiro; Malês:

Sudaneses islamizados.

1.3- Colaboração do negro na formação cultu-

ral do povo brasileiro:

Os negros contribuíram muito na formação cultural do

povo brasileiro, através de sua religião, no folclore,

nos instrumentos musicais, na vestimenta e na alimenta-

ção. A musicalidade e o jeito festivo e alegre do brasi-

leiro são a herança deixada por eles. Nestes longos anos

de historia, hoje, torna-se quase impossível separarmos o

que na nossa cultura não tenha a influencia deles.

Hoje, os negros representam 46% da população brasi-

leira, o que nos coloca na posição de segunda maior nação

de população negra no mundo, perdendo apenas para a Nigé-

ria, que é um pais africano.

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1.4- A gênese do abolicionismo:

Os primeiros movimentos pela liberação do negro foram

feitos pelos próprios negros, desde o século XVII através

dos Quilombos.

Os principais: De Palmares, entre Pernambuco e Alago-

as, o da Carlota, em Mato Grosso, do Mocambo, na Bahia, e

do Rio das mortes, em Minas Gerais.

Somente no século XIX, iniciativas foram feitas a

partir do proprioi Estado, como a Lei Euzébio de Quairoz

e Nabuco de Araújo, em 1850, proibindo o trafico negreiu-

ro; a Lei do Venrtre Livre ou Lei Visconde do Rio Branco

em 1871; a Lai do Sexagenário ou Lei Saraiva-Cotegipe em

1885, e finalmente a Lei Áurea, assinada pela Princesa

Isabel em 1888.

1.5- Situação do negro no Brasil após a Abo-

lição:

A aristocracia escravista, arruinada com a abolição,

sem indenização, culpou o governo a passou a engrossar as

fileiras do Partido Republicano, o que conseqüentemente

apressou a queda da monarquia.

Quanto aos negros, a tão sonhada liberdade, não mu-

dou em nada as sua miseras vidas. Financeiramente não

herdaram nada pelo seu trabalho. Foram 300 anos de escra-

vidão, gerações e mais gerações não puderam conhecer a

liberdade.

Foram libertados, mas sem a menor preocupação do

Estado em regular a sua sobrevivência, o que forçosamente

os obrigou a continuarem a viver as margens da sociedade.

Alguns negros permaneceram no campo praticando uma econo-

mia de subsistência, enquanto outros buscaram as cidades

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a procura de trabalho e de uma vida mais digna. Não en-

contrando nem mesmo o respeito da sociedade, que ainda

não os viam como homens livres, pelo obvio, como toda i-

deologia discriminatória, não faltaram fundamentos frívo-

los, para diferencia-los, entraram num processo de margi-

nalização e de integração na sociedade.

Marginalizados e desempregados, passaram a viver em

barracos, cortiços, nos arredores das cidades, sem o mí-

nimo de conforto ou higiene, o que não diferenciava nada

das senzalas o qual viveram. Não muito diferente, os mes-

tiços, principalmente os de origem negra, tiveram também

o mesmo destino.

Somente após 42 anos, com o movimento modernista, na

década de trinta, a Republica começou a reconhecer e a se

deixar entender a lógica que massacrou o negro no pais.

Desta forma, se desfez as justificativas do sistema es-

cravista, tendo ele declarado desumano. Reconheceu-se a

divida cultural com os negros e admitiu-se que o povo

brasileiro constituía-se de um único povo mestiço.

Segundo o sociólogo Gilberto Freire, para quem não

havia no Brasil distinções rígidas entre brancos e negros

e a descriminação era social, feita aos pobres. Esta i-

déia que, prospera ate hoje, de que o Brasil é um pais

de interação de raças e culturas, impediu que negros e

índios denunciasse o racismo e requisitassem melhores

condições.

Fortalecidos principalmente nos anos 70 e 80, o movi-

mento negro teve como objetivo levar para a sociedade a

noção de quanto havia discriminação racial, oriunda do

momento escravocrata, o qual era nefasto para os afros-

descendentes.

Na década de 80, precisamente em 1988, foi promulgada

a nova Constituição brasileira, moderna e democrática,

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veio para atender aos anseios de todos em reduzir as de-

sigualdedes, promover o bem de todos sem preconceitos ou

qualquer outra forma de discriminação.

Nos anos 90 já se contava com o movimento bastante

firme, mais organizados. Os movimentos internacionais,

como os direitos civis dos Estados Unidos e posteriormen-

te a luta pela libertação de Mandela, na África do Sul,

fortaleceram a visão da extensão do racismo no mundo e a

situação deficil do Brasil, ate pelo fato de ter sido o

ultimo pais do mundo a fazer a libertação da escravatura.

Desde então, organizações de defesa dos negros, ganharam

forças para pressionarem com maior intensidade o governo,

afim de que se revertesse a situação, através da pratica

dos preceitos defendidos pela nova Carta Magna. A partir

daí, em todos os níveis da federação, começou a surgir a

vontade política dos dirigentes em equacionar os proble-

mas. Neste sentido, o governo brasileiro tornou-se signa-

tário de diversos tratados internacionais o qual foram

ratificados pelo Congresso nacional e Ações afirmativas

tornaram-se uma nova realidade.

Hoje, 115 anos após a abolição dos escravos, é notó-

rio que houve uma grande evolução na situação dos negros,

mas as desigualdades ainda são muito profundas, há muito

mais a fazer.

Os dados sociais mais recentes do Instituto de Pes-

quisa Econômica Aplicada (IPEA), apresentados por Ricardo

Henriques e pela Socióloga Luciana Jaccoud, confirmam es-

ta situação.

Em 1999, os que se consideravam negros e pardos, re-

presentavam 46% da população, com uma renda per capita

media de R$ 205,00; uma taxa de analfabetismo de 18% e

uma media de anos de estudo em torno de 4,7%, enquanto os

brancos representavam 54%, com uma renda per capita de

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R$482,00; uma taxa de analfabetismo de 8% e com a media

de anos de estudo de 6,9%.

1.6- O negro nos EUA.

Nos EUA, há uma peculiaridade histórica, que hoje, os

diferenciam dos demais paises.

Quando tornaram-se independentes, formaram inicial-

mente uma associação de Estados soberanos integrados pe-

las ex- treze colônias.

Os Estados ao norte, eram mais desenvolvidos, comer-

cialmente e industrialmente, neles se localizavam as

principais cidades e portos. Eram formados por uma socie-

dade mais liberal, com uma elite intelectual atuante e

envolvida com os ideais de liberdade. Para a burguesia

nortista a abolição da escravidão era interessante por-

quanto representaria uma ampliação do mercado consumidor

interno.

Este fato propiciou um melhor tratamento e uma maior

liberdade dos escravos negros que ali se encontravam, que

em pouco tempo, finalmente tornaram-se livres.

A noticia correu rapidamente, entre os Estados Confe-

derados, transformando estes Estados, abolicionistas, em

um verdadeiro eldorado dos escravos fugitivos do sul.

Muitos na tentativa de alcançar a tão sonhada liberdade

foram mortos.

Os Estados do Sul, menos desenvolvidos economicamen-

te, eram formados por uma sociedade agrária. Tradicional

e escravista, tinham como sua principal atividade econô-

mica a produção agrícola.

Aferrava-se a escravidão, pois a vulgarização do des-

caroçador de Eli Whitney e a expansão da industria têxtil

inglesa de algodão valorizavam a cotonicultura, baseada

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na mão-de-obra escrava. Como em todos os paises escravis-

tas, os negros eram tratados como animais, e mercadorias.

Não tinham a menor condição de vida.

Posteriormente, passaram a sofrer uma maior pressão,

do governo central, para que libertassem os seus escra-

vos. Este fato e outros, agravou ainda mais as divergên-

cias, o que foi um estopim para o inicio da mais sangren-

ta insurreição ocorrida em todos os tempos, a Guerra de

Secessão.

Ao fim da guerra, os Estados do Sul, derrotados e

destruídos, foram reintegrados a União, tiveram que reco-

nhecer a abolição da escravatura definitivamente fixada

pela Emenda XIII a Constituição.

Diferentemente de outros paises, muitas famílias ne-

gras obtiveram terras do governo, o que possibilitou a

fixação deles no campo, evitando assim, uma desordenada e

grande migração para as cidades.

Estas medidas não foram suficientes para evitar a

marginalização deste povo sofrido. Sem dinheiro, muitos

passaram a viver de ajuda e outros a produzirem somente

para comer.

Muitos que migraram para as cidades, a procura de uma

vida mais digna, so encontraram a fome e a miséria. Anal-

fabetos e sem nenhuma experiência, so poderiam encontrar

uma vida não muito diferente que as que viveram.

Os que permaneceram nos Estados do Sul, sofreram uma

segregação racial muita forte, não muito diferente dos

tempos atuais. E certo, no entanto, que o radicalismo da

Reconstrução, o Sul esteve militarmente ocupado ate 1877,

o que serviu de pretexto para o surgimento de sociedades

secretas, tais como a dos Cavaleiros da Camélia Branca e

a Ku-Klux-Klan, que empregavam o terror e a violência pa-

ra perseguir os negros e defender a segregação racial.

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Negros não casavam com brancos, havia igrejas de ne-

gros, igrejas para brancos. Sua economia circulava dentro

da própria comunidade negra, que se desenvolveu sem se

integrar a sociedade branca.

O tempo passou e obtiveram grandes conquistas, mas há

muito que fazer.

Hoje, quando o assunto é a inclusão social da popula-

ção negra, a situação dos Afros-descendentes nos EUA,

deixa muito a desejar.

Para cada dólar pago a um branco, um negro recebe o

equivalente a 40% desse valor.De acordo com indicadores

sócio-conômico do Censo norte-americano sobre a década de

90,10% da população branca vivi na pobreza, contra 29,5%

da negra. Os dados são do sociólogo americano David Wil-

lians, do Institute for Social Research da Universidade

de Michigan, EUA.

Segundo ele, o racismo não esta apenas nos setores

educacionais e no mercado de trabalho.

Presume-se que a qualidade de vida de uma população

esteja diretamente ligada a condição sócio-economicas. No

entanto, mesmo pagando pelo mesmo serviço, segundo Willi-

ans, a receptividade e o tratamento dado a negros e bran-

cos é diferente. Com um acesso dificultado a saúde e a

uma renda melhor, o ingresso no ensino superior diferen-

ciado não haveria de ser diferente.

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CAPÍTULO 2 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL

2.1- Evolução

O constitucionalismo brasileiro sempre adotou o prin-

cipio da isonomia, o que não deve ser levada a falsa de-

dução de que tinha sido elaborado nos mesmos moldes atu-

almente pretendidos. Isso não ocorreu nem em sua acepção

formal, uma vez que o principio chegou a conviver ate

mesmo com a escravatura, na Carta de 1824, quando negros

não eram considerados gente.

Na primeira Constituição elaborada n republica, em

1891, todos os privilégios foram formalmente erradicados

e previu-se que todos seriam iguais perante a lei. Toda-

via, o autoritarismo, os títulos e as arbitrariedades,

ainda que não escritas, foram mantidas com a força.

Na Constituição de 1934, mantiveram a igualdade pe-

rante a lei, e incluíram algumas normas programáticas de

direitos e garantias, consideradas inovadoras. Infeliz-

mente, por falta de interesse dos poderes Executivo e Le-

gislativo, ficaram apenas limitadas ao reconhecimento das

desigualdades.

Entretanto, a oportuna menção inovadora foi excluída

da Constituição seguinte, a de 1937. Na vigência desta,

destaca-se a Consolidação das Leis do Trabalho, a qual

tornou defesa a diferenciação nos rendimentos com base no

sexo, nacionalidade ou idade. Na pratica, atualmente re-

velam a insuficiência de previsão.

A constituição de 1946 reafirmou o principio da i-

gualdade e proibiu-se todos os tipos de preconceitos de

raça ou classe.

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Com isso, o Brasil, seguindo a comunidade internacio-

nal, se atêm para a necessidade de se observar o princi-

pio da realidade.

Quanto a Constituição de 1964, deve-se mencionar que

o Brasil tornou-se signatário da Convenção nª 111 da OIT

( Organização Internacional do Trabalho), a qual definiu

a descriminação como: “ toda distinção, exclusão ou pre-

ferência, com base em raça, cor, sexo, religião, opinião

política, nacionalidade ou origem social, que tenha o e-

feito de anular a igualdade de oportunidade ou de trata-

mento em emprego ou profissão”.

Persistiu a formalidade pura e simples do preceito na

Constituição de 1967, havendo que se mencionar somente

que se deu a constitucionalização da punição do precon-

ceito de raça.

Em 1968, a Convenção Internacional sobre eliminação

de todas as formas de racismo, ratificada pelo Brasil,

manifesta um importante salto na concepção da igualdade,

ao dispor que “ não serão consideradas discriminação ra-

cial as medidas especiais”, admitindo a necessidade e a

validade de ações para o progresso de determinados grupos

raciais.

A atual Constituição brasileira, promulgada em 5 de

outubro de 1988, foi elaborada sob os preceitos mais no-

bres existentes no direito. O que tornou-a a mais Demo-

crática entre todas as Constituições que já tivemos.

Ela inovou já no seu preâmbulo ao eleger a igualdade

como valor supremo de uma sociedade pluralista e sem pre-

conceitos.

Anunciada no seu artigo 3º,uma ação afirmativa, uma

determinação para se mudar a realidade em conformidade

com os valores de um Estado do bem estar social. Objeti-

va-se promover o bem de todos, sem preconceitos de ori-

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gem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de

discriminação.

Alem disso, na messe dos direitos e garantias indivi-

duais, destaca-se o caput do art.5º, com a previsão de

que todos são iguais perante a lei e ainda garante aos

brasileiros e estrangeiros residentes no país, a inviola-

bilidade do direito a igualdade, dentre outros.

Neste mesmo artigo, cabe citar o inciso XLI, que de-

fine que a lei punirá qualquer discriminação atentatória

dos direitos e liberdades fundamentais e o inciso XLII,

que define a pratica de racismo como um crime inafiançá-

vel e imprescritível.

O principio da igualdade permeia toda a constituição.

A universalidade da seguridade social, a declaração de

que homens e mulheres são iguais em direitos e obriga-

ções, igualdade de acesso e permanência na escola.

Contudo, por falta de vontade política, a Constitui-

ção, ora considerada a mais democrática que já tivemos,

não tem sido suficiente para igualar materialmente, as

enormes desigualdades de uma sociedade que tanto clama

por justiça.

2.2- Principio da isonomia

O direito de igualdade é um principio fundamental par

a existência da democracia, pois não admite os privilé-

gios e distinções que um regime simplesmente liberal con-

sagra. Por isso que não tem merecido tantos discursos co-

mo a liberdade, é que um regime de igualdade contraria os

interesses das classes dominantes e da a liberdade senti-

do material que não harmoniza com o domínio em que assen-

ta a democracia liberal burguesa.

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As Constituições só tem reconhecido a igualdade no

seu sentido jurídico-formal: igualdade perante a lei. A

Constituição de 1988 sobre o capitulo dos direitos indi-

viduais com o principio de que todos são iguais perante a

lei, sem distinção de qualquer natureza (art. 5º, caput).

Reforça o principio com muitas outras normas sobre a i-

gualdade ou buscando extinguir as desiguais pela outorga

de direitos sociais substanciais. Assim é que, já no mes-

mo art. 5º , I, declara que homens e mulheres são iguais

em direitos e obrigações. Depois, no art. 7º, XXX e XXXI,

Vêm regras de igualdade material, regras que proíbem dis-

tinções fundadas em certos fatores, ao vedarem diferenças

de salários, de exercícios de funções e de critérios de

admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil e

qualquer discriminação no tocante a salário e critérios

de admissão do trabalhador portador de deficiência. A

previsão, ainda que programática, de que a Republica Fe-

derativa do Brasil tem como um de seus objetivos funda-

mentais reduzir as desigualdades sociais e regionais (

art.3º,III), veemente rejeita a qualquer forma de discri-

minação ( art. 3º,IV), a universalidade da seguridade so-

cial, a garantia ao direito a saúde, a educação baseada

em princípios democráticos e de igualdade de condições

para o acesso e permanência na escola, enfim a preocupa-

ção com a justiça social como objetivo das ordens econô-

mica e social ( art.170,193,196 e 205) constituem reais

promessas de busca da igualdade material.

2.3- Igualdade, desigualdade e justiça.

A igualdade como ideologia filosófica, sempre foi

discutida em todo mundo. Desde a Grécia antiga, Aristóte-

les trabalhou o tema durante muito tempo e o vinculou a

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idéia de justiça, afirmando que o legislador deveria tra-

tar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os

desiguais.

O conceito de igualdade sempre provocou posições ex-

tremadas. Há os que defendem que a desigualdade é a ca-

racterística do universo. Assim os seres humanos, ao con-

trário da afirmativa do art. 1º da Declaração dos Direi-

tos do Homem e do Cidadão de 178, nascem e perduram desi-

guais. Nesse caso, a igualdade não passaria de um simples

nome, sem significação no mundo real, pelo que os adeptos

dessa corrente são denominados nominalistas. Na corrente

oposta encontram-se os idealistas, que defendem um igua-

litarismo absoluto entre os indivíduos. Afirmam-se, em

verdade, uma igual liberdade natural ligada à hipótese do

estado de natureza, em que reinava uma igualdade. Era, em

essência, também a posição de Rousseau que, no entanto,

admitia duas espécies de desigualdade entre os homens:

uma, que chamava natural ou física, porque estabelecia

pela natureza, consistente na diferença das idades, da

saúde, da educação, das forças do corpo e das qualidades

do espírito e da alma; outra, que denominava desigualdade

moral ou política, porque depende de uma espécie de con-

venção, e é estabelecida, ou ao menos autorizada, pelo

consentimento dos homens, consentindo nos diferentes pri-

vilégios que uns gozam em detrimento dos outros, como ser

mais rico, mais nobres, mais poderosos. Uma posição, con-

siderada realista, reconhece que os homens são desiguais

sob múltiplos aspectos, mas também entende ser exato des-

crevê-los como criaturas iguais, pois, em cada um deles,

o mesmo sistema de característica inteligíveis proporcio-

na, à realidade individual, aptidão para existir. Em es-

sência, como seres humanos, não se vê como deixar de re-

conhecer igualdade entre os homens.

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Não fosse assim, não seriam seres da mesma espécie.

A igualdade aqui se revela na própria identidade de es-

sência dos membros da espécie. Isso não exclui a possibi-

lidade de inúmeras desigualdades entre eles. Mas são de-

sigualdades fenomênicas: naturais, físicas, morais, polí-

ticas, sociais etc., e diz Cármen Lúcia Antunes Rocha:

“Não se aspira uma igualdade que

frustre e desbaste as desigualdades que

semeiam a riqueza humana da sociedade

plural, nem se deseja uma desigualdade

tão grande e injusta que impeça o homem

de ser digno em sua existência e feliz

em seu destino. O que se quer é a igual-

dade jurídica que embase a realização de

todas as desigualdades humanas e as faça

suprimento ético de valores poéticos que

o homem possa desenvolver. As desigual-

dades naturais são saudáveis, como são

doentes aquelas sociais e econômicas,

que não deixam alternativas de caminhos

singulares a cada ser humano único” .

Aristóteles vinculou a idéia de igualdade à idéia de

justiça, mas, nele, trata-se de igualdade de justiça re-

lativa que dá a cada um o seu, uma igualdade, como nota

Chomé, impensável sem a desigualdade complementar e que é

satisfeita se o legislador tratar de maneira igual os i-

guais e de maneira desigual os desiguais. Cuida-se de uma

justiça e de uma igualdade formais, tanto que não seria

injusto tratar indiferentemente o escravo e seu proprie-

tário; sê-lo-ia, porém se os escravos, ou seus senhores,

entre si, fossem tratados desigualmente. No fundo, preva-

lece, nesse critério de igualdade, uma injustiça real.

Essa verificação impôs a evolução do conceito de igualda-

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de e de justiça, a fim de se ajustarem às concepções for-

mais e reais ou materiais.

A justiça formal consiste em um princípio de ação,

segundo o qual os seres de uma mesma categoria essencial

devem ser tratados da mesma forma. Aí a justiça formal se

identifica com a igualdade formal. A justiça concreta ou

material seria para Perelman, a especificação da justiça

formal, indicando a característica constitutiva da cate-

goria essencial, chegando-se às formas: a cada um segundo

a sua necessidade: a cada um segundo seus méritos; a cada

um a mesma coisa. Porque existem desigualdades, é que se

aspira à igualdade real ou material que busque realizar a

igualização das condições desiguais, do que se extrai que

a lei geral, abstrata e impessoal que incide em todos i-

gualmente, levando em conta apenas a igualdade dos indi-

víduos e não a igualdade de grupos, acaba por gerar mais

desigualdades e propiciar a injustiça, como nota Georges

Sarotte daí, porque o legislador:

“O impulso das forças criadoras do

direito, teve progressivamente de publi-

car leis setoriais para poder levar em

conta diferenças nas formações e nos

grupos sociais: o direito do trabalho é

um exemplo típico.”

Pois, como diz Cármen Lúcia Antunes Rocha:

“Igualdade constitucional é mais que

uma expressão de Direito; como pilar de

sustentação e estrela de direção inter-

pretativa das normas jurídicas que com-

põem o sistema jurídico fundamental”.

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2.4 – Isonomia formal e material

A afirmação do art. 1º da Declaração dos Direito do

Homem e do Cidadão cunhou o princípio de que os homens

nascem e permanecem iguais em direito. Mas aí firmara a

igualdade jurídico-formal no plano político, de caráter

puramente negativo, visando a abolir os privilégios, i-

senções pessoais e regalias de classe. Esse tipo de i-

gualdade gerou as desigualdades econômicas, porque funda-

da numa visão individualista do homem, membro de uma so-

ciedade liberal relativamente homogênea.

Nossas constituições, desde o Império, inscreveram o

princípio da igualdade, como igualdade perante a lei, e-

nunciado que, na sua literalidade, se confunde com a mes-

ma isonomia formal, no sentido de que a lei e sua aplica-

ção tratam a todos igualmente, sem levar em conta as dis-

tinções de grupos. A compreensão do dispositivo vigente,

nos termos do art. 5º, caput, não deve ser assim tão es-

treita. O intérprete há que aferi-lo com outras normas

constitucionais, conforme aqui apontadas, especialmente,

com as exigências da justiça social, objetivo da ordem

econômica e da ordem social.

A Constituição procura aproximar os dois tipos de

isonomia, na medida em que não se limitara ao simples e-

nunciado da igualdade perante a lei; menciona também i-

gualdade entre homens e mulheres e acrescenta vedações e

distinção de qualquer natureza e qualquer forma de dis-

criminação.

O princípio não pode ser entendido em sentido indivi-

dualista, que não leve em conta as diferenças entre gru-

pos. Quando se diz que o legislador não pode distinguir,

isso não significa que a lei deva tratar todos abstrata-

mente iguais, pois o tratamento igual, esclarece Petzord,

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não se dirige a pessoas integralmente iguais entre si,

mas àquelas que são iguais sob os aspectos tomados em

consideração pela norma, o que implica que os “iguais”

podem diferir totalmente sob outros aspectos ignorados ou

considerados como irrelevantes pelo legislador. Este jul-

ga, assim, como “essenciais” ou “relevantes”, certos as-

pectos ou características das pessoas, circunstâncias ou

das situações nas quais essas pessoas se encontram, e

funda sobre esses aspectos “essenciais” previstos por es-

sas normas são

consideradas encontrar-se nas “situações idênticas”, ain-

da que posam diferir por outros aspectos ignorados ou

julgados irrelevantes pelo legislador; vale dizer que as

pessoas ou situações são iguais ou designadas de modo re-

lativo, ou seja, sob certos aspectos.

Esses fundamentos é que permitem, à legislação, tute-

lar pessoas que se achem em posição econômica inferior,

buscando realizar o princípio de igualização, como sali-

enta Pontes de Miranda, in verbis:

“A desigualdade econômica não é, de

modo nenhum, desigualdade de fato, e sim

a resultante, em parte, de desigualdades

artificiais, ou desigualdades de fato

mais desigualdades econômicas mantidas

por leis. O direito que em parte as fez,

pode amparar e extinguir as desigualda-

des econômicas que produziu. Exatamente

aí é que se passa a grande transformação

da época industrial, como a tendência a

maior igualdade econômica, que há de co-

meçar, como já começou em alguns países,

pela atenuação mais ou menos extensa das

desigualdades.”

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2.5 – Igualdade “sem distinção de origem,

cor e raça”.

O texto constitucional, que proíbe preconceito de

origem, cor e raça e condena discriminações com base nes-

ses fatores, consubstancia, antes de tudo, um repúdio à

barbárie de tipo nazista que vitimara de pessoas, e con-

sagra a condenação do apartheid, por parte de um povo

mestiço, com razoável contingente de negros. O repúdio ao

racismo nas relações internacionais foi, também, expres-

samente estabelecido (art. 4º, VIII).

Nele se encontra, também, o reconhecimento de que o

preconceito de origem, raça e cor especialmente contra os

negros não está ausente das relações sociais brasileiras.

Disfarçadamente ou, não raro, ostensivamente, pessoas ne-

gras sofrem discriminação até mesmo nas relações com en-

tidades públicas.

O dispositivo, finalmente, significa que a “lei pe-

nal tem de inserir regras jurídicas sobre crime de pre-

conceito de raça, para que, no plano do direito penal,

não possam ficar sem punição os atos que ofendam a ou-

trem, porque a acusação se prende aos preconceitos de ra-

ça”, como salientou Pontes de Miranda.

A Constituição é mais abrangente do que as anterio-

res; veda preconceitos e discriminação com base na ori-

gem, raça e cor. Empregava-se raça que não é termo sufi-

ciente claro, porque, com a miscigenação, vai perdendo

sentido. O racismo indica teorias e comportamentos desti-

nados a realizar e justificar a supremacia de uma raça. O

preconceito e discriminação são conseqüências da teoria.

A cor só não era elemento bastante, porque dirigida à cor

negra. Nem raça, nem cor abrangem certas formas de dis-

criminações com base na origem, como, por exemplo, dis-

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criminações de nordestinos e de pessoas de origem social

humilde.

Além das normas gerais contrárias às discriminações

de origem, a Constituição inseria uma hipótese específi-

ca, para dizer o óbvio: que a lei não poderá estabelecer

distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo

os casos previstos na Constituição (art. 12, § 2º).

2.6 – Princípio da razoabilidade

A Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da

igualdade de direitos,

prevendo a igualdade de aptidão, ou seja, todos os cida-

dãos tem o direito de tratamento idêntico pela lei, em

consonância com os critérios albergados pelo ordenamento

jurídico.

Dessa forma, o que se veda são as diferenciações arbitrá-

rias, as discriminações absurdas, pois, o tratamento de-

sigual dos casos desiguais, na medida em que se desigua-

lam, é exigência tradicional do próprio conceito de jus-

tiça, pois o que realmente protege são certas finalida-

des, somente se tendo por lesado o princípio constitucio-

nal quando o elemento discriminador não se encontra a

serviço de uma finalidade acolhida pelo direito, sem que

se esqueça, porém, como ressalvado por Fábio Konder Com-

parato, que as chamadas liberdades materiais tem por ob-

jetivo a igualdade de condições sociais, meta a ser al-

cançada, não só por meio de leis, mas também pela aplica-

ção de políticas ou programas de ação estatal.

A igualdade se configura como uma eficácia transcen-

dente de modo que toda situação de desigualdade persis-

tente à entrada em vigor da norma constitucional deve ser

considerada não recepcionada, se não demonstrar compati-

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bilidade com os valores que a constituição, como norma

suprema, proclama.

O princípio da igualdade consagrado pela constitui-

ção opera em dois planos distintos. De uma parte, frente

ao legislador ou ao próprio executivo, na edição, respec-

tivamente, de leis, atos normativos e medidas provisó-

rias, impedindo que possam criar tratamentos abusivamente

diferenciados a pessoas que encontram-se em situações i-

dênticas. Em outro plano, na obrigatoriedade ao intérpre-

te, basicamente, a autoridade pública, de aplicar a lei e

atos normativos de maneira igualitária, sem estabeleci-

mento de diferenciações em razão de sexo, religião, con-

vicções filosóficas ou políticas, raça, classe social.

A desigualdade na lei se produz quando a norma dis-

tingue de forma não razoável ou arbitrária um tratamento

específico a pessoas diversas. Para que as diferenciações

normativas possam ser consideradas não discriminatórias,

torna-se indispensável que exista uma justificativa obje-

tiva e razoável, de acordo com critérios e juízos valora-

tivos genericamente aceitos, cuja exigência deve aplicar-

se em relação à finalidade e efeitos da medida considera-

da, devendo estar presente por isso uma razoável relação

de proporcionalidade entre os meios empregados e a fina-

lidade perseguida, sempre em conformidade com os direitos

e garantias constitucionalmente protegidos.

Assim, os tratamentos normativos diferenciados são

compatíveis com a Constituição Federal quando verificada

a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional

ao fim visado.

Somente ela poderá indicar quando e quais desigual-

dades hão de ser ponderadas legitimamente, sob pena de

causar novas desigualdades após a satisfação de suas fi-

nalidades.

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CAPÍTULO 3 – DA EDUCAÇÃO COMO DIREITO FUN-

DAMENTAL

No final do século XX, apesar de ações isoladas do

Governo, o Brasil continua a enfrentar sérios problemas

na educação.

Os números mostram que, mesmo em termos quantitati-

vos, o Brasil avançou muito pouco. A maioria dos brasi-

leiros continuam excluídos das oportunidades educacio-

nais:

EVOLUÇÃO DAS MATRÍCULAS DO ENSINO PRIMÁRIO 1

Anos População Matrículas Matr./pop. (%)

1940 41.236.315 3.068.269 7,4

1950 51.944.397 4.366.792 8,4

1960 70.119.071 7.458.002 10,6

1970 94.501.554 13.906.484 14,7

1980 119.070.865 22.148.809 18,6

1985 135.364.396 24.769.736 18,3

1 PILLET apud Romanelli, Otaíza de O. História da Educação no Brasil, 1930-1973.2ed. Petrópolis, vozes, 1980.p.64. (Dados de 1920 a 1970.) IBGE. (Dados de 1980)

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EVOLUÇÃO DAS MATRÍCULAS DO ENSINO MÉDIO 2

Anos População Matrículas Matr./pop. (%)

1940 41.236.315 260.202 0,63

1950 51.944.397 477.434 0,91

1960 70.119.071 1.177.427 1,68

1970 94.501.554 4.989.776 5,28

1980 119.070.865 2.823.544 2,37

1985 135.364.396 3.016.138 2,23

EVOLUÇÃO DAS MATRÍCULAS DO ENSINO SUPERIOR 3

Anos Matrículas

1960 93.202

1962 107.299

1964 142.388

1966 180.109

1968 278.295

1970 425.478

1972 688.382

1974 897.200

1976 1.035.000

1978 1.225.557

1980 1.377.286

1989 1.518.904

A taxa de analfabetismo, embora tenha diminuído

constantemente, ainda se mantém elevada.

2 17 PILLET apud Romanelli, Otaíza de O. História da Educação no Brasil, 1930-1973.2ed. Petrópolis, vozes, 1980.p.64. (Dados de 1920 a 1970.) IBGE. (Dados de 1980) 3 Idem

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TAXA DE ANALFABETISMO NO BRASIL 4

Anos População de 15

anos ou mais

Analfabetos de 15 anos ou

mais

Taxas de analfabe-

tismo

1940

23.639.769

13.279.899

56,17

1950 30.249.423 15.272.432 50,48

1960 40.187.590 15.815.903 39,35

1970 54.336.606 17.936.887 33,01

1980 74.600.285 19.356.092 25,94

1989 93.642.547 17.587.580 18,80

Um dos mais graves problemas da educação escolar

brasileira é a sua alta seletividade. A escola continua

excluindo a grande maioria dos alunos que a procuram. A

situação é grave, apenas 59% dos alunos que iniciaram o

1º grau, em 1978, conseguiram ingressar no ensino superi-

or em 1989, observando-se uma queda em relação aos que

ingressaram em 1978, 7,4%.

A exclusão da escola verifica-se já durante o 1º

grau, para a grande maioria. Aproximadamente 18% dos que

iniciam o 1º grau conseguem terminá-lo. Em grande parte,

a responsabilidade por essa exclusão cabe às precárias

condições sócio-econômicas, à inadequação da escola e,

como conseqüência, ao elevado índice de reprocação nas

primeiras séries.

Quase a metade dos alunos matriculados na 1ª série

não chegam à 2ª série do início do ano seguinte; cerca de

19% dos brasileiros com quinze anos e mais são analfabe-

tos; cerca de 82% dos que iniciam o 1º grau deixam a es-

cola antes de chegar ao 2º grau; em 1989, aproximadamente

cinco milhões de crianças de sete a catorze anos estavam

4 PILLET apud Romanelli, Otaíza de O. História da Educação no Brasil, 1930-1973.2ed. Petrópolis, vozes, 1980.p.64. (Dados de 1920 a 1970.) IBGE. (Dados de 1980)

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fora da escola. Estes e outros dados mostram que a nossa

realidade educacional está numa situação muito grave.

Entretanto, existem tendências e perspectivas, a

partir da nova Constituição, que levam a prever dias me-

lhores para educação brasileira.

É neste sentido que a Educação foi recepciona da na

Constituição brasileira nos art. 205 a 214, e declara

que: é um direito de todos e dever do Estado. Tal concep-

ção

importa em elevar a educação á categoria de serviço pú-

blico essencial que ao Poder Público impede possibilitar

a todos, daí a preferência constitucional pelo ensino pú-

blico, pelo que a iniciativa privada, nesse campo, embora

livre, é, no entanto, meramente secundária e condicionada

art. 209 e 213. É que, como lembra Anísio Teixeira 5:

“Obrigatória, gratuita e universal,

a educação só poderia ser ministrada pe-

lo Estado.Impossível deixá-la confiada a

particulares, pois estes somente podiam

oferecê-la aos que tivessem posses (ou

a “protegidos”) e daí operar antes para

perpetuar as desigualdades sociais, que

para removê-las.

A escola pública, comum a todos, não

seria, assim, o instrumento de benevo-

lência de uma classe dominante, tomada

de generosidade ou de medo, mas um di-

reito do povo, sobretudo das classes

trabalhadoras, para que, na ordem capi-

talista, o trabalho (não se trata, com

efeito, de nenhuma doutrina socialista,

5 TEIXEIRA, apud Aranha, Maria Lúcia de Arruda, História da Educação, Ed. Moderna, 1997.

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mas do melhor capitalismo) não se

conservasse servil, submetido e degrada-

do, mas igual ao capital na consciência

de suas reivindicações e dos seus direi-

tos.”

A consecução prática dos objetivos da educação conso-

ante o atr. 205 – pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho – só se realizará num sistema educacional

democrático, em que a organização da educação formal (via

escola) concretize o direito ao ensino, informado por

princípios com eles coerentes, que, realmente, foram aco-

lhidos pela Constituição, como são: igualdade de condi-

ções, para o acesso e permanência na escola; liberdade de

aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a

arte e o saber; pluralismo de idéias e de concepções pe-

dagógicas, e coexistência de instituições públicas e

privadas de ensino; gratuidade do ensino público em esta-

belecimentos oficiais; valorização dos profissionais do

ensino garantido na forma da lei; planos de carreira para

magistério público, com piso salarial e profissional e

ingresso exclusivamente por concurso público de provas e

títulos; gestão democrática; garantia de padrão de quali-

dade (art. 206).

São princípios que, sem dúvida, constituem avanços

em ralação aos textos constitucionais anteriores, que não

faziam referência à “permanência na escola”, ao “plura-

lismo de idéias e de concepções”, à “valorização dos pro-

fissionais do ensino”, à “gestão democrática”. Garante-

se, por outro lado, a existência de instituições privadas

de ensino, as quais, de acordo com o artigo 209, deverão

cumprir as “normas gerais da educação nacional” e subme-

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ter-se a “autorização e avaliação de qualidade pelo poder

público”.

Se o Estado realmente cumprir os deveres alencados

no art. 208 da Constituição, teremos em pouco tempo uma

nova realidade educacional no país, bem diferente da atu-

al, em que a maioria da população sequer completa o 1º

grau. O mesmo artigo permite inclusive, em seu parágrafo

2º, responsabilizar a autoridade competente pelo não-

oferecimento ou pela oferta irregular do ensino obrigató-

rio.

Resta à sociedade, permanecer a postos na existência

do cumprimento de tais obrigações pelo Estado e da exten-

são das mesmas, mediante a conquista de um ensino público

e gratuito para todos, em todos os níveis.

A preferência Constitucional pelo ensino público im-

porta em que o poder público organize os sistemas de en-

sino de modo a cumprir o respectivo dever com a educação,

mediante prestações estaduais que garantam, no mínimo:

ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurado,

inclusive sua oferta gratuita a todos os que a ele não

tiveram acesso na idade própria (EC 14/96).

O dever Estatal com a educação implica a União, os

Estados, o Distrito Federal e ou Municípios, cada qual

com seu sistema de ensino em regime de colaboração mútua

e recíproca, destinando, anualmente, a União não menos de

dezoito por cento da receita de impostos, e os Estados e

Municípios, cada um, no mínimo, vinte e cinco por cento

da receita de impostos, compreendida a proveniente de

transferências, com prioridade de aplicação no ensino o-

brigatório.

A gratuidade do ensino oficial nos três níveis, fun-

damental, médio e superior, é velha tradição do sistema

educacional brasileiro.

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A educação é um serviço público integrante dos fins

do Estado Democrático. Por isso é que a Constituição, a-

colhendo a evolução, elevara a educação à categoria de

direito de todos e, correlativamente, à categoria de de-

ver do Estado.

Apesar disso, certas correntes de educadores e de pu-

blicistas ainda insistem em condenar a tradição e a evo-

lução, assim como o sentido das normas Constitucionais,

postulando o ensino pago como “uma forma de praticar a

justiça social”, pois que, segundo essa tese, há profunda

desigualdade entre a situação de alunos pobres, obrigados

a pagar anuidades em estabelecimentos particulares, e a-

lunos ricos, dispensados de fazê-lo em estabelecimentos

oficiais. Diga-se, em primeiro lugar, que a desigualdade

enunciada

destaca alunos pobres pagando escolas particulares e

alunos ricos auferindo a gratuidade

nas escolas oficiais, desprezando a igualdade de alu-

nos ricos e pobres recebendo ensino

gratuito nas escolas publicas e pagando igualmente

nas particulares.

A injustiça social, a desigualdade, não decorre da

vida escolar de ambas as classes.

Ela se instaura, como lembra Luiz Navarro de Britto,

a partir de pré-escolar ou mesmo antes, acumulando-se, e

estreitando-se progressivamente as possibilidades de a-

cesso até o nível superior, e não será a Universidade e

muito menos o ensino pago, acrescenta, que poderão corri-

gir a injustiça e as discriminações impostas pela estru-

tura sócio-econômica da comunidade.

Há, ainda, a freqüente afirmativa de que as escolas

oficiais gratuitas são de alcance muito mais fácil pelos

alunos ricos, porque dispõem de condições mais favoráveis

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para superar as provas de ingresso, especialmente nas U-

niversidades, já que podem pagar “cursinhos” caros para

se prepararem, enquanto os pobres não podem. Mas é aí que

situa a injustiça e a desigualdade de tratamento, pois

compete ao Poder Público, desde a pré-escola, ou até an-

tes, proporcionar, aos alunos carentes, condições de i-

gualização, para que possam concorrer com os abastados em

igualdade de situação. Com os “cursinhos” na cabe argu-

mentar, porque são uma distorção do sistema escolar. Os

exames de ingresso (seleção, vestibulares) revelam defi-

ciências na oferta de escolas, que a extensão da rede

precisa eliminar.

A verdade é que, se a Constituição estabeleceu que a

educação é direito de todos e dever do Estado, significa

que a elevou à condição de serviço público a ser prestado

pelo Poder Público indiscriminadamente e, portanto, gra-

tuitamente aos usuários, ficando seu custeio por conta

das arrecadações gerais do Estado. Ora, o modo de fazer

justiça social dentro da escola pública não depende de

cobrança de contribuição dos alunos ricos. A justiça so-

cial dentro da escola pública, procurando igualar pobres

e ricos, terá que ser feita por outros mecanismos, tais

como: fornecimento de materiais e outros auxílios (inclu-

sive de transporte) para os alunos que provarem, aí sim,

falta ou insuficiência de recursos, que a Constituição

prevê (art. 208, VII, e 212 §4º); aumento do imposto so-

bre a renda, por exemplo, de 5% para quem aufira rendi-

mentos líquidos acima de 20% ou 30 % do quantum hoje pre-

visto para o início da incidência do teto de 25%, desti-

nada a importância arrecadada ao custeio da escola pú-

blica.

Instaurando uma política educacional descente, que

destine as verbas públicas para o ensino público, com di-

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retrizes educacionais coerentes e continuidade de implan-

tação, evitando os desencontros das políticas governamen-

tais; valorizando o professor (salário, carreira, forma-

ção continuada, concurso de ingresso), o que certamente

manteria na ativa os profissionais de qualidade; escola

para todos, mas com qualidade de ensino, com rede escolar

suprida de bibliotecas, obras de referência, instalações

adequadas, condições reais de reunião educacional e peda-

gógicas. Essas seriam as condições mínimas para implantar

a escola pública, universal, gratuita democrática e de

qualidade.

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CAPITULO 4 – DAS AÇÕES AFIRMATIVAS

4.1 – Evolução no direito comparado no Brasil

A Convenção Internacional Sobre Eliminação de Todas

as Formas de Discriminação Racial, ratificada pelo Con-

gresso Nacional brasileiro em 26 de março de 1968 dispôs

que:

“Não serão consideradas discriminação racial as

medidas especiais, tomadas com o único objetivo de asse-

gurar o progresso adequado de certos grupos raciais ou ét-

nicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que pos-

sa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indi-

víduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liber-

dades.”

Desta forma, o país passou ao campo das ações afir-

mativas, imbuído de forma efetiva na igualização entre os

grupos e indivíduos.

Todavia, pouquíssimo se fez desde então, para a im-

plementação de tais ações.

Mas, a partir da Conferência Mundial da ONU Contra o Ra-

cismo, a Discriminação, a Xenofobia e Intolerância Corre-

lata, que ocorreu no mês de setembro de 2001, muito tem

se avançado na discussão do tema.

Como resultado de diversas conferências internacio-

nais, em 1990, definiram-se sete metas a serem alcançadas

até 2015, no intuito de reduzir drasticamente a pobreza e

as condições subumanas de vida, quais sejam: redução da

proporção de pessoas vivendo em extrema pobreza em 50%;

eliminação de disparidade em gênero na educação até 2005;

redução da mortalidade infantil das crianças menores de

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cinco anos em 75 %; redução da mortalidade materna; aces-

so universal a serviços de saúde reprodutiva; implementa-

ção de estratégias nacionais para o desenvolvimento sus-

tentado até 2005, de forma a reverter às perdas de recur-

sos ambientais até 2015.

Em tempo, diversas conferênciais foram realizadas,

todavia pouquíssimo se fez neste campo. Contudo, a plata-

forma de Durban (África do Sul), sanou esse erro, impri-

mindo a ação de redução ou eliminação das diferenças ra-

ciais e étnicas antes de 2015, o que passou a compor a

pauta das Nações Unidas. Reiterou-se a necessidade de e-

fetivação das medidas especificas de combate ao racismo,

a efetivação da igualdade como inserção social e econômi-

ca da comunidade negra; a liberdade de culto às religiões

africanas....

Talvez o maior mérito, foi o reconhecimento da ne-

cessidade de promover a integração de todas as pessoas

discriminadas através de ações positivas por parte das

instituições públicas e privadas.

Em julho de 2003, realizou-se na Cidade do México o

Primeiro Seminário Regional de Especialistas para a Amé-

rica Latina e Caribe sobre o cumprimento da programa de

ação adotado em Durban.

Reiterou-se a necessidade de efetivação das medidas

específicas de combate ao racismo contra os grupos vulne-

ráveis, solicitou-se ao Conselho Permanente da Organiza-

ção Interamericana Contra a Discriminação Racial e suge-

riu-se que as agências e organizações de desenvolvimento

levantem e apresentem dados anuais em relação às metas

almejadas, como forma de controle.

O cumprimento dos acordos é um compromisso de Estado

brasileiro com a comunidade internacional e com a popula-

ção afro-descendentes do país. Assim, tem-se dado os pri-

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meiros passos nesta direção. Tanto, que o governo tem os-

tentado em conferências, que o tema do novo milênio é a

“igualdade de oportunidades”24.

Este fato vem criando um grande debate entre os mo-

vimentos sociais e o Governo, visando à mudança do quadro

de desigualdade social no país, no âmbito do trabalho e

da educação, através das ações afirmativas. Felizmente,

diversos projetos de Lei e até mesmo o programa do Gover-

no firmou-se nesta direção.

4.2 – Sistema de cotas nas universidades.

O Brasil é um Estado de Igualdade de Oportunidades,

jamais poderia escusar-se de ofertar educação a toda po-

pulação.

Em uma nação que, quer tornar-se desenvolvida com

justiça social, a educação é primordial. Trata-se ser o

principal processo de socialização.

Na própria Carta Constitucional, dispõe que “a edu-

cação, direito de todos e dever do Estado e da família,

será promovida e incentivada com colaboração da socieda-

de”.

Agora, cumpre a árdua tarefa de colocá-la em práti-

ca, efetivando-a, com a consciência de sua importância e

dos resultados positivos que poderão ser gerados.

Uma dessas possibilidades é o atendimento das justas

necessidades e a inserção social de grande parcela da po-

pulação, através da promoção da igualdade entre negros e

brancos. Com certeza, uma das principais formas de se al-

cançar essa situação é a criação de cotas para o ingresso

de negros no ensino superior.

A universidade tem função de destaque no prol da so-

ciedade e da cultura. Tanto, que um dos seus principais

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compromissos é estender a toda a comunidade ás idéias e

as ações nela cultivadas.

Outra formação que a universidade objetiva, é despertar

uma reflexão dos privilegiados alunos, as questões de sua

especialidade e os problemas sociais.

Diante disso, espera-se que com a inserção efetiva

de negros na universidade, em quantidade suficiente,

cria-se uma elite negra intelectual atuante e consciente

do papel que sua educação superior representa à comunida-

de negra.

Todavia, cumpre anotar a importância de voltar-se à

educação para a superação das dificuldades e não para a

confrontação dos indivíduos ou grupos sociais.

Destarde, criou-se um grande debate entre movimentos

sociais e o governo brasileiro, visando à mudanças desse

quadro de desigualdade social, mormente no âmbito do tra-

balho e da educação, através das ações afirmativas, como

sistemas de cotas nas Universidades e no funcionalismo

público.

Dois estados da federação já implementaram o sistema

de cotas para negros e outros em fase de implementação:

Bahia e Rio de Janeiro, D.F. e Pernambuco 25.

No caso do Estado do Rio de Janeiro, uma Lei e um

Decreto foram criados e vêm gerando polêmica: A Lei nº

3.524/2000, que estabelece que 50% das vagas são reserva-

das a candidatos que estudaram a vida inteira em escolas

públicas e o Decreto nº 30.766/2002, prevê que 40% das

vagas sejam preenchidas por estudantes que se declaram

negros ou pardos.

A Lei e o Decreto vêm provocando enormes discussões

sobre a sua constitucionalidade.

Neste compasso, a lei implantada parece ser menos

demagógico. A premissa aqui utilizada parece ser mais

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sensata, por não fazer distinção entre raças, o que será

sempre fato gerador de preconceitos e de mais segregação.

Do mesmo modo, busca minimizar a situação de desigualdade

gerada pelo deficiente padrão do ensino público, utiliza-

do, pela população de baixa renda.

Quanto ao Decreto, muitos candidatos se declaram ne-

gros ou pardos apenas para se beneficiarem desse sistema.

Dois problemas surgiram com a aplicação da Lei: 1º) a di-

ficuldade de se definir objetivamente os critérios para

raça e cor; 2º) o sentimento de injustiça dos alunos que

tiveram pontuação mais altas do que os afro-descendentes

e que, mesmo assim, por causa das cotas, não ingressaram

nas universidades do estado.

A polêmica tornou-se ainda maior porque existe um

Projeto de Lei 26 tramitando no Congresso Nacional, de

autoria do Senado José Sarney, que pretende introduzir a

política de cotas em todo território nacional, nos vesti-

bulares das universidades públicas e particulares, nos

concursos públicos federais, estaduais e municipais e no

fundo de financiamento ao estudante do ensino superior.

A diferença entre o projeto de lei e o decreto esta-

dual, é a de que, no caso do decreto, quem considera

“pardo” ou “negro” tem direito à reserva de 40% das vagas

das universidades estaduais. No texto do projeto de lei,

quem se declarar “afro-descendente” se beneficiará de co-

ta de 20%.

Algumas autoridades já vem se posicionando sobre o

assunto, como o Ministro da Educação do atual Governo,

Cristóvão Buarque: “O sistema de cotas nasceu sem nenhum

debate mais profundo e que uma Lei nesse sentido pode a-

cirrar a discriminação”.

Esse tema, extremamente atual e discutido, está i-

merso em polêmicas atinentes à abrangência e ao sentido

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do Princípio Constitucional da Igualdade, bem como a e-

xistência de fatores determinantes que afastem o negro do

ensino superior.

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4.3 – Comparação entre o modelo brasileiro e o

americano.

Nos EUA, onde nasceram às políticas compensatórias

para as minorias raciais, a discussão da legalidade sobre

sistema de cotas, contém ensinamentos muito interessantes

sobre o grau de amadurecimento de cada sociedade.

De início, não se utilizava o termo cotas porque há

convicção, entre as partes, de que se trata de uma idéia

antidemocrática.

Já se passaram 25 anos desde que, em 1978, a Suprema

Corte Americana decidiu que é inconstitucional reservar

determinado número de vagas para minorias nas escolas pú-

blicas.

Há na raiz do conceito um tropeço legal: se todos

são iguais perante a lei, uns não podem ser menos iguais

que outros.

Portanto, o estabelecimento de cotas, como acontece

hoje na UERJ, para eles seria ilegal, mas as universida-

des podem levar em conta outros critérios, além dos tes-

tes, no processo de seleção de um estudante. Na universi-

dade de Michigam, alunos negros, hispânicos ou que são

bons atletas ganham a mais no processo seletivo, que são

somados aos pontos obtidos nos testes.

A diversidade étnica no campus das mais concorridas

universidades norte-americanas é uma política voluntária

dessas instituições, não são obrigadas a estipular esses

critérios.

As universidades procuram a diversidade porque, nos

EUA, muitas empresas grandes incentivam a diversidade do

trabalho. Por fazerem isso, elas querem empregados que,

de preferência, já tenham convivido na universidade com

políticas de ações afirmativas.

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No entanto, nenhuma universidade concorrida aceita-

riam abrir mão totalmente do critério acadêmico na admis-

são de estudantes de minorias. É por isso que estudantes

de minorias com bom desempenho nos testes são tão dispu-

tados pelas universidades.

No Brasil isso não existe. O acesso ao ensino supe-

rior se dá por meio do vestibular, que por definição,

concede vaga com base num teste objetivo e independente

da cor (o maior índice de negros entre as profissões no

Brasil está entre os funcionários públicos, justamente

porque ali a admissão é feita por concurso). Pode-se acu-

sar o vestibular de muita coisa, inclusive de traduzir a

história social de cada estudante no momento da prova.

Ainda assim, não há como negar que todo candidato é jul-

gado por um critério único, o desempenho.

A mistura de dois sistemas diferentes, baseados em

conceitos diversos, explica por que as cotas da UERJ ti-

veram resultados tão polêmicos. É o que acontece quando

se tenta fazer atalhos para resolver problemas sérios,

como a falta de qualidade do ensino básico, a verdadeira

razão para o fracasso de boa parte dos negros no vestibu-

lar.

O Brasil deve tomar cuidado ao importar idéias para

adaptá-las aqui. As realidades são muito diferentes. Nem

tudo que é bom para os EUA, é bom para o Brasil.

4.4 – Vantagens, desvantagens e desafios.

No Brasil, em razão de fatores históricos e sociais,

a maioria da população negra se submete ao ensino públi-

co, enquanto a população branca tem uma possibilidade de

acesso ao ensino particular que, por razões óbvias, ofe-

rece maiores condições de acesso às instituições de ensi-

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no superior público, gerando uma situação inversa: quem

pode pagar por um bom ensino fundamental alcança as vagas

das universidades públicas e gratuitas, enquanto que os

que precisam se sujeitar às escolas públicas, mesmo que

logrem êxito em alcançar uma vaga em instituições parti-

culares, certamente não terão como custeá-la.

Não há como negar que a origem do problema encontra-

se, predominantemente, na má distribuição de renda, entre

outros fatores de ordem social, que não será minimizado

por medidas únicas e uniformes que comprovadamente desta

forma não lograram êxito em outros países. Neste compas-

so, um outro modelo foi implantado, com o mesmo intuito

de equalizar a situação de desigualdade, no Rio de Janei-

ro, a Lei nº 3524/2000, o qual, estabelece que metade das

vagas das instituições de ensino superior públicas são

reservadas a alunos de escolas públicas.

Este modelo, não faz distinção entre raças, o que

será sempre fato gerador de preconceitos e de mais segre-

gação. Do mesmo modo, busca equalizar a situação de desi-

gualdade gerada pelo deficiente padrão do ensino público,

utilizado pela população de baixa renda.

Deve-se preocupar em não ferir o princípio da igual-

dade alencada na nossa Lei Maior.

O certo é que a efetiva igualdade entre os cidadãos

não advirá de medidas paliativas, mas sim de mudanças so-

ciais mais profundas que, ainda que necessitem de um lon-

go prazo para a sua implementação, a tornem sólidas e i-

nabaláveis e representem o ideal do estado democrático de

direito, que provê aos cidadãos as mesmas oportunidades.

Assim sendo, propiciar o acesso da população negra

às instituições de ensino superior mediante o modelo pro-

posto é combater as conseqüências de um problema e não as

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suas causas, fazendo com que ele permaneça sempre laten-

te.

Atualmente, calorosas discussões estão sendo trava-

das a respeito das ações afirmativas e, principalmente,

em relação à criação de cotas, devido à iminência de sua

normatização.

O tema não foge a regra quanto em toda as discussões

jurídicas, havendo parte da doutrina que questiona a le-

galidade e a conveniência da criação para a inserção do

negro no ensino superior.

Nessa linha, posicionam-se os professores e juristas

William Douglas e Silvio

Motta 27, em artigo publicado que expõe as questões con-

trárias às cotas, valendo suscitar e combater os princi-

pais argumentos.

Os autores defendem a inconstitucionalidade de se

distinguir as pessoas pela cor da pele.

A Constituição brasileira promulgada em 1998, cons-

titui no seu artigo 3º, entre os seus objetivos fundamen-

tais, promover o bem de todos, sem preconceitos de ori-

gem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de

discriminação. Continuando, no seu artigo 5º, inciso XLI-

I, DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, descreve que a prá-

tica do racismo constitui crime inafiançável e imprescri-

tível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da lei.

A grande maioria da doutrina em todo mundo consente

em relação à realização efetiva do princípio da igualdade

em consonância com os ideais democráticos, através de me-

didas positivas.

Se a intenção do princípio fosse manter a situação,

sua existência seria dispensável. Ele existe para promo-

ver a igualdade, conforme apresenta toda a Constituição.

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No mesmo artigo, em referência e defesa da criação

de cotas a população de baixa renda, manifestam-se assim

os autores, anotando que nossas leis estão repletas de

tratamentos diferenciados, usucapiões especiais, Defenso-

ria Pública, proteção especial ao índio, idoso, à crian-

ça, ao adolescente, etc.

Então, a diferenciação pela cor da pele também não pode

ser vista como inconstitucional, uma vez que a lógica

capta perfeitamente a diversidade de situações.

Outro argumento utilizado é de que a criação das co-

tas e das demais ações afirmativas seria a assunção de

inferioridade da raça beneficiada, o que seria intolerá-

vel.

Impugnam-se as cotas também, por que existiriam em

detrimento de outros grupos discricionados, tais como os

índios.

A proposta de cotas deve ser implantada e aperfeiço-

ada, até prova em contrário. Não é por que no Brasil e-

xistem milhares de sonegadores, que se defenda a extinção

da cobrança de impostos, mas tão somente a evolução dos

meios de cobrança e controle. Outro argumento

desfavorável em relação as cotas, seria a suposta impos-

sibilidade de se aferir quem é, ou não, negro. Inicial-

mente, o Direito jamais pode se escusar de regular uma

situação em vista da possibilidade de existência de frau-

de.

Ninguém contesta a existência do negro. Assim, se existe

alguém a quem é dado um direito, cabe ao legislador criar

a melhor forma de garanti-lo.

Outro pesquisador que defende o sistema de cotas, é

o ex-presidente do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA),

Dr. Roberto Martins, ele defende a política brasileira de

cotas, mesmo acreditando que elas acirrarão conflitos.

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Propõe uma solução polêmica para o problema do branco que

se declara negro para se beneficiar da cota: comissões de

julgamento de raça. Comissão esta implantada nas próprias

universidades.

Para Roberto Martins, a polêmica maior ocorreu na

universidade estadual do Rio de Janeiro(UERJ), com a cu-

mulatividade da cota de estudantes de escolas públicas

com a de negros. Isso resultou numa cota muito alta, o

que poderia ser corrigido se fosse eliminado o primeiro

critério.

Quanto à inconstitucionalidade das cotas, defendida

por muitos, que alegam que ferem o princípio da igualda-

de. Martins que é da mesma opinião do Ministro Marco Au-

rélio Mello (ex-presidente do Supremo Tribunal Federal),

que já defendeu a legalidade:

“A Constituição não apenas permite a adoção de co-

tas como induz a isso, pois pede que se busquem meios para

promover a igualdade. “Não se quer tratar iguais de forma

desigual, o objetivo é tratar desiguais de forma desigual, se-

gundo ele, se não existisse esse meio como poderíamos justi-

ficar os privilégios dados aos deficientes físicos e idosos. Isso

só existe porque reconhecemos uma desvantagem dessas pes-

soas que precisa ser compensada, o mesmo acontece com os

negros, a diferença racial não é natural. Ela foi criada e ago-

ra precisa ser desconstruída com ação temporária.

Quanto às afirmações que as ações afirmativas não deram certo em outros países,

Martins, defende, alegando que o maior exemplo desta política, começou nos EUA, em

1975. Hoje a classe média negra americana é quatro vezes maior, com empresários, advoga-

dos e médicos negros. Colin Pawell (Secretário de Estado Norte Americano), é um produto

da ação afirmativa. Portanto algumas décadas podem gerar um efeito de grandes proporções.

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CONCLUSÃO

Seria um grande equívoco se a doação de cotas para

negros nas universidades brasileiras tivesse por objetivo

apenas resolver uma injustiça histórica. A universidade

não é boa para isso, até porque essa não é sua função. De

nada adianta adotar o regime de cotas na universidade, se

a escola elementar e a escola média continuarem na inópia

em que se encontram.

A decadente qualidade de ensino nesses níveis, é que

constitui uma das principais causadoras de injustiça so-

cial neste país.

Os alunos que são barrados no vestibular não o são

por sua raça. Eles o são, negros ou brancos, porque não

atingem o nível mínimo e básico de conhecimento para in-

gressar na universidade. A escola deficiente é apenas o

reflexo de outras muitas injustiças próprias de um país

em que ainda há trabalho escravo.

As desigualdades sociais que geram péssimas condi-

ções de vida na maioria da população, não serão corrigi-

das com o sistema de cotas.

A cota não supre o saber inexistente e necessário

para seguir um bom curso universitário.

Certamente é justa a demanda dos afros-descendentes,

que vem sendo feita. A fórmula, porém, copiada do modelo

americano, não só não resolve essa injustiça, como cria

outras, como se viu no vestibular da UERJ.

Não há como negar que a origem do problema encontra-

se, predominantemente, na má distribuição da renda, entre

outros fatores de ordem social, que não será minimizado

pela proposta.

O verdadeiro sujeito dessa questão não é o negro.

Nem toda vítima é negra e, hoje, nem todo negro é vítima.

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O débito não é primordialmente a injustiça, e sim o

empobrecimento da sociedade.

Ainda que o princípio da igualdade entre os cidadãos

instituídos pela Carta Magna não seja uma realidade prá-

tica, não há como adotar uma política que dele se distan-

cie, como a pretendida, sob pena de jamais alcançá-la de

fato. O certo é que a efetiva igualdade não advirá de me-

didas paliativas, mas sim de mudanças sociais profundas

que, ainda necessitem de um longo prazo para a sua imple-

mentação, sejam revertidas de solidez inabalável e repre-

sentem o ideal do estado democrático de direito, que pro-

vê aos seus cidadãos as mesmas oportunidades.

Enfim, propiciar o acesso da população negra às ins-

tituições de ensino superior mediante o modelo proposto é

combater as conseqüências de um problema e não as suas

causas, fazendo que ele permaneça latente. Além disso, a

medida iria subtrair de seus destinatários o mérito pelas

suas próprias conquistas criando, ao mesmo passo, uma si-

tuação ilusória que serviria ainda mais para discriminá-

los.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto nº 30.766, de 04 de março de 2002. Disci-

plina o sistema de cota para negros e pardos no acesso à

universidade do estado do Rio de Janeiro e à universidade

estadual do norte fluminense e dá outras providências.

Rio de Janeiro, 2002.

RIO DE JANEIRO. Lei nº 3524, de 28 de dezembro de 2000.

Dispõe sobre os critérios de seleção e admissão de estu-

dantes da rede pública estadual de ensino em universida-

des públicas estaduais e dá outras providências. Rio de

Janeiro, 2000.

BRASIL. Projeto de Lei nº 650, Brasília, DF 1999, Senado.

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ANEXO 1

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ANEXO 2